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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA FACULDADE DE ENGENHARIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL MATHEUS SOUZA RUIZ ESTUDO COMPARATIVO DO IMPACTO DA POLUIÇÃO DIFUSA NA BALNEABILIDADE DAS PRAIAS LOCALIZADAS NAS BAÍAS DE SANTOS E DE SÃO VICENTE (2014-2015) Santos-SP Dezembro/2016

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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA

FACULDADE DE ENGENHARIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

MATHEUS SOUZA RUIZ

ESTUDO COMPARATIVO DO IMPACTO DA POLUIÇÃO DIFUSA NA

BALNEABILIDADE DAS PRAIAS LOCALIZADAS NAS BAÍAS DE SANTOS E DE

SÃO VICENTE (2014-2015)

Santos-SP

Dezembro/2016

UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA

FACULDADE DE ENGENHARIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

MATHEUS SOUZA RUIZ

ESTUDO COMPARATIVO DO IMPACTO DA POLUIÇÃO DIFUSA NA

BALNEABILIDADE DAS PRAIAS LOCALIZADAS NAS BAÍAS DE SANTOS E DE

SÃO VICENTE (2014-2015)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como

exigência parcial para obtenção do título de bacharel à

Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Santa

Cecília, sob orientação dos professores Me. Alexandra

Franciscatto Penteado Sampaio e Me. Renan Braga

Ribeiro.

Santos-SP

Dezembro/2016

MATHEUS SOUZA RUIZ

ESTUDO COMPARATIVO DO IMPACTO DA POLUIÇÃO DIFUSA NA

BALNEABILIDADE DAS PRAIAS LOCALIZADAS NAS BAÍAS DE SANTOS E DE

SÃO VICENTE (2014-2015)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção de título de

bacharel à Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Santa Cecília.

Data da aprovação __/__/____ Nota:_______

Banca Examinadora

_________________________________________

Prof. Me. Alexandra Franciscatto Penteado Sampaio

_________________________________________

Prof. Me. Renan Braga Ribeiro

_________________________________________

Prof. Me. João Guedes Neto

_________________________________________

Prof. Dr. Fabio Giordano

DEDICATÓRIA

Dedico este estudo aos meus pais Amauri e Gislene e a minha irmã Camila, vocês são as pessoas

mais importantes da minha vida, amo vocês.

AGRADECIMENTOS

Profª. Me. Alexandra Franciscatto Sampaio Penteado e Prof. Me. Renan Braga Ribeiro, pela

orientação e todo o conhecimento compartilhado nesses dois anos de estágio no Núcleo de

Pesquisas Hidrodinâmicas, além de riquíssimas conversas e conselhos que sigo e continuarei a

seguir.

Profª. Me. Nilene Janini de Oliveira Seixas, por ter me indicado para este estágio que tanto

agregou em minha vida pessoal e profissional.

A todos os professores, que ao longo desses cinco anos de curso fizeram valer cada minuto

dedicado ao estudo e agregam conhecimento profissional e pessoal a todos os alunos.

A todos os amigos que fiz durante esses 5 anos de curso, que tornaram meus estudos ainda mais

prazerosos. Amigos que espero levar para toda a vida.

A UNISANTA, onde aprendo mais a cada dia durante os últimos anos.

A todos os colaboradores que contribuíram de alguma forma para esse projeto.

A imaginação é mais importante que o conhecimento.

(Albert Einstein, 1931)

RESUMO

A poluição difusa proveniente da drenagem é complexa e provém de diversas fontes. As praias de

Santos e São Vicente, localizadas no litoral do Estado de São Paulo, apresentam-se impróprias para

banho em muitos momentos, comprometendo o potencial turístico da região. Apesar de ambas as

cidades possuírem sistema de drenagem urbana composto por canais abertos junto as praias, apenas

Santos possui comportas, evitando que as águas de drenagem deságuem continuamente nas praias,

ao contrário do que ocorre em São Vicente. Entretanto, grandes precipitações implicam na abertura

dessas comportas, comprometendo a balneabilidade das praias localizadas na Baía de Santos. O

presente estudo visa relacionar a influência das chuvas locais na balneabilidade das praias em

Santos e São Vicente e avaliar os aspectos e impactos ambientais da poluição difusa proveniente

dos canais de drenagem afluentes às praias. Foram considerados dados de concentração de

Enterococcus coletados pela CETESB e PMS, bem como dados de chuva de pluviômetros do

CEMADEN, de janeiro de 2014 a dezembro de 2015, totalizando dados analisados de 104 semanas.

Através do software MATLAB® foi realizada uma análise percentual comparativa de frequência

de ocorrência de concentrações superiores a 400 UFC/100 ml – valor estipulado pela legislação

como imprópria para banho a partir de uma única amostra – bem como a frequência de ocorrência

de praias impróprias devido ao segundo critério da legislação – quando a média das últimas 5

amostragens é superior a 100 UFC/100 ml. Ambas análises foram efetuadas considerando a

precipitação acumulada nas 24, 48 e 72 horas anteriores às amostragens. Além disso, através de

dados disponíveis das características da drenagem e da modelagem numérica para simulação da

hidrodinâmica e da qualidade da água, foi possível analisar e comparar a influência das cargas de

drenagem na poluição das praias em estudo. Através dos resultados obtidos, observa-se que as

praias localizadas na Baía de São Vicente, onde há a menor taxa de renovação das águas

(Milionários, Gonzaguinha e Prainha – ambas do município de São Vicente) apresentam altos

valores de Enterococcus durante o ano todo e, além disso, possuem menor relação (entre 52 a 73%)

entre altas concentrações de Enterococcus e altos valores de precipitação nas 24, 48 e 72 horas

anteriores à coleta, quando comparadas às praias da Baía de Santos, que apresentam uma maior

relação (entre 50% a 100%), evidenciando assim uma maior influência dos eventos de chuva na

qualidade das águas balneares. Também através de resultados do modelo pode-se concluir que as

descargas provenientes da drenagem urbana em período chuvoso geram impactos expressivos nas

praias da Baía de Santos enquanto que nas praias da Baía de São Vicente, tanto as descargas

provenientes em período seco como em período chuvoso afetam a qualidade da água dessas praias

para fins balneares.

Palavras-chave: Balneabilidade; Enterococcus; Modelagem numérica; Poluição difusa; Baía de

Santos.

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Grupo de microrganismos de poluição fecal ........................................................... 16

FIGURA 2 – Informação de Praias impróprias devido à floração de microalgas (Acima -

Julho/2016; Abaixo - Agosto/2016) .............................................................................................. 18

FIGURA 3 – Área de estudo (à esquerda); Municípios de Santos (Acima) e São Vicente (Abaixo)

....................................................................................................................................................... 22

FIGURA 4 – População fixa e população flutuante para o ano de 2015. A população flutuante

considera apenas a população presente em domicílios de uso ocasional, não incluindo os demais

turistas ............................................................................................................................................ 24

FIGURA 5 – Densidade demográfica na região de estudo, segundo o censo demográfico do IBGE

(2010) no recorte dos setores censitários ....................................................................................... 24

FIGURA 6 – Médias mensais de temperatura média diária na cidade de Santos. Em barras

temperaturas médias diárias máximas e mínimas (1996-2016)..................................................... 25

FIGURA 7 - Médias mensais de chuva de Santos (CIIAGRO - 1996-2016) e São Vicente (DAEE

– E3-056 – 1938-2016) .................................................................................................................. 26

FIGURA 8 – Marés de sízigia (de águas vivas) e quadratura (de águas mortas) .......................... 27

FIGURA 9 – Espaço de trabalho configurado para apresentar resultados do modelo hidrodinâmico

(AQUASAFE) ............................................................................................................................... 28

FIGURA 10 – Sistema de canais de macrodrenagem pluvial urbana localizados na cidade de Santos

....................................................................................................................................................... 29

FIGURA 11 – Condições sanitárias no SESS utilizando como base o recorte espacial dos setores

censitários ...................................................................................................................................... 32

FIGURA 12 – Localização das fontes de poluição associadas ao saneamento básico na Baixada

Santista em 1999. Em laranja as fontes associadas a drenagem .................................................... 33

FIGURA 13 – Classificação anual das praias de Santos e São Vicente nos últimos 10 anos (amarelo

– regular, laranja – ruim, vermelho – péssima, branco – sem dados) ........................................... 34

FIGURA 14 – Porcentagem de tempo em situação Própria ou Imprópria em Santos em 2015, por

praia ............................................................................................................................................... 35

FIGURA 15 – Porcentagem de tempo em situação Própria ou Imprópria em São Vicente em 2015,

por praia ......................................................................................................................................... 35

FIGURA 16 – Resultados das análises de E.coli e Coliformes Termotolerantes (eixo y na escala

104) ................................................................................................................................................ 36

FIGURA 17 – Fluxograma para avaliação da qualidade das praias de acordo com as recomendações

da OMS .......................................................................................................................................... 38

FIGURA 18 – Porcentagem de águas balneares costeiras na EU por classificação...................... 39

FIGURA 19 – Qualidade de águas balneares na EU de 2011 a 2015 ........................................... 40

FIGURA 20 – Fontes tópicas (pontuais) e fontes difusas de poluição .......................................... 42

FIGURA 21 – Crescimento ocupacional de submoradias localizadas no bairro São Manoel, em

Santos ............................................................................................................................................ 43

FIGURA 22 – Crescimento ocupacional de submoradias localizadas na Vila dos Pescadores, em

Cubatão .......................................................................................................................................... 44

FIGURA 23 – Crescimento ocupacional de submoradias localizadas na Vila Esperança, em

Cubatão .......................................................................................................................................... 44

FIGURA 24 – Esquematização dos canais de drenagem de Santos e localização dos pontos de

coleta CETESB e pluviômetros do CEMADEN ........................................................................... 46

FIGURA 25 – Variações de T90 da bactéria Enterococcus e cenários simulados ........................ 49

FIGURA 26 – Grades numéricas utilizadas (à esquerda) e respectivas batimetrias interpoladas nas

grades numéricas (à direita), a escala de cores representa a profundidade em metros.................. 51

FIGURA 27 – Sistema de downscaling para simulação da circulação hidrodinâmica na região em

estudo ............................................................................................................................................. 52

FIGURA 28 – Localização de todas as descargas consideradas na modelagem numérica ambiental

....................................................................................................................................................... 53

FIGURA 29 - Balneabilidade das praias da região no período de estudo (2014-2015) ................ 62

FIGURA 30 – Relação entre altas concentrações de Enterococcus e altos índices pluviométricos

....................................................................................................................................................... 62

FIGURA 31 – Resultados do modelo numérico considerando T90 variável. (a) sem considerar as

cargas da drenagem urbana; (b) considerando as cargas da drenagem urbana ............................. 66

FIGURA 32 – Séries temporais de concentrações bacterianas durante um evento de precipitação,

considerando uma taxa de decaimento bacteriano variável........................................................... 67

FIGURA 33 – Resultados do modelo numérico considerando T90 fixo em 70 horas. (a) sem

considerar as cargas da drenagem urbana; (b) considerando as cargas da drenagem urbana ....... 68

FIGURA 34 – Séries temporais de concentrações bacterianas durante um evento de precipitação,

considerando uma taxa de decaimento bacteriano fixa em 70 horas ............................................. 69

FIGURA 35 – Resultados do modelo numérico considerando T90 fixo em 15 horas. (a) sem

considerar as cargas da drenagem urbana; (b) considerando as cargas da drenagem urbana ....... 70

FIGURA 36 – Séries temporais de concentrações bacterianas durante um evento de precipitação,

considerando uma taxa de decaimento bacteriano fixa em 15 horas ............................................. 71

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Relação entre balneabilidade e precipitações elevadas nas 24, 48 e 72 horas anteriores

às amostragens na Ponta da Praia em Santos, de janeiro de 2014 a setembro de 2015 ................. 19

TABELA 2 – Crescimento populacional das cidades de Santos e São Vicente............................ 23

TABELA 3 – Informações sobre coleta e tratamento de esgoto e o ICTEM (Índice que leva em

consideração aspectos em relação à coleta, afastamento e tratamento de esgoto) nos municípios da

RMBS ............................................................................................................................................ 30

TABELA 4 – Classificações relativas ao nível de atendimento sanitário ..................................... 31

TABELA 5 – Número de habitantes por nível de atendimento sanitário nos municípios da RMBS

....................................................................................................................................................... 32

TABELA 6 – Especificações da Classificação Anual para as praias com amostragem mensal ... 34

TABELA 7 – Critérios de classificação das praias segundo a OMS ............................................. 34

TABELA 8 – Water Quality Index - Classificação dos principais países em estudo ................... 37

TABELA 9 – Localização geográfica dos pontos de coleta de balneabilidade CETESB ............ 46

TABELA 10 – Localização geográfica dos pluviômetros automáticos CEMADEN ................... 47

TABELA 11 – Variação horária de T90 da bactéria Enterococcus ................................................ 48

TABELA 12 – Cenários simulados e analisados no presente estudo ............................................ 49

TABELA 13 – Relação entre chuva e balneabilidade na Ponta da Praia em Santos no período de

2014-2015 ...................................................................................................................................... 55

TABELA 14 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia da Aparecida em Santos no período

de 2014-2015 ................................................................................................................................. 55

TABELA 15 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do Embaré em Santos no período de

2014-2015 ...................................................................................................................................... 56

TABELA 16 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do Boqueirão em Santos no período

de 2014-2015 ................................................................................................................................. 56

TABELA 17 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do Gonzaga em Santos no período

de 2014-2015 ................................................................................................................................. 57

TABELA 18 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do José Menino (R. Olavo Bilac) em

Santos no período de 2014-2015 ................................................................................................... 57

TABELA 19 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do José Menino (R. Fred Ozanan)

em Santos no período de 2014-2015 ............................................................................................. 58

TABELA 20 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia da Divisa em São Vicente no período

de 2014-2015 ................................................................................................................................. 59

TABELA 21 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do Itararé em São Vicente no período

de 2014-2015 ................................................................................................................................. 59

TABELA 22 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia da Ilha Porchat em São Vicente no

período de 2014-2015 .................................................................................................................... 60

TABELA 23 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia dos Milionários em São Vicente no

período de 2014-2015 .................................................................................................................... 60

TABELA 24 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do Gonzaguinha em São Vicente no

período de 2014-2015 .................................................................................................................... 61

TABELA 25 – Relação entre chuva e balneabilidade na prainha em São Vicente no período de

2014-2015 ...................................................................................................................................... 61

TABELA 26 – Comparação entre o número de semanas impróprias e as concentrações de

Enterococcus na área de estudo no período 2014-2015 ................................................................ 64

LISTA DE SIGLAS

CEMADEN Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais

CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

CIIAGRO Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica

EEA Europe Environment Agency

EPA Environmental Protection Agency

EPC Estação de Pré-Condicionamento de Esgoto

EPI Environmental Performance Index

ETE Estação de Tratamento de Esgoto

EU European Union

FES Finite Element Solution

GFS Global Forecast System

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICTEM Índice de Coleta e Tratabilidade de Esgotos da População Urbana de Municípios

IST Instituto Superior Técnico de Lisboa de Portugal

JBIC Japan Bank International Cooperation

NPH Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas

OMS Organização Mundial da Saúde

PMS Prefeitura Municipal de Santos

RMBS Região Metropolitana da Baixada Santista

SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

SESS Sistema Estuarino de Santos e São Vicente

SWMM Storm Water Management Model

UNEP United Nation Environment Programme

UNISANTA Universidade Santa Cecília

UFC Unidades Formadoras de Colônias

WQI Water Quality Index

WHO World Health Organization

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 16

1.1 JUSTIFICATIVA ................................................................................................ 20

1.2 HIPÓTESE ........................................................................................................... 20

2 OBJETIVOS .............................................................................................................. 21

2.1 OBJETIVOS GERAIS ......................................................................................... 21

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 21

3 ÁREA DE ESTUDO ................................................................................................. 22

3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS E ASPECTOS DEMOGRÁFICOS ................. 22

3.2 CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS ................................................................ 25

3.3 HIDRODINÂMICA COSTEIRA E ESTUARINA ............................................. 26

3.4 SISTEMA DE DRENAGEM .............................................................................. 28

3.5 SANEAMENTO BÁSICO .................................................................................. 29

3.6 BALNEABILIDADE .......................................................................................... 33

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................... 37

4.1 CENÁRIO MUNDIAL DA BALNEABILIDADE ............................................. 37

4.1.1 Organização Mundial da Saúde .................................................................. 38

4.1.2 União Europeia ............................................................................................. 38

4.1.3 Estados Unidos ............................................................................................. 40

4.1.4 Canadá .......................................................................................................... 41

4.1.5 Brasil ............................................................................................................. 41

4.2 FONTES DE POLUIÇÃO ................................................................................... 42

5 METODOLOGIA ..................................................................................................... 45

5.1 ANÁLISE PERCENTUAL COMPARATIVA ................................................... 45

5.2 MODELAGEM NUMÉRICA ............................................................................. 47

5.2.1 Sistema de modelos MOHID ....................................................................... 50

5.2.2 Grade numérica e batimetria ...................................................................... 50

5.2.3 Condições iniciais e de fronteira ................................................................. 51

5.2.4 Descargas consideradas ............................................................................... 52

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 54

6.1 ANÁLISE PERCENTUAL COMPARATIVA ................................................... 54

6.2 MODELAGEM NUMÉRICA ............................................................................. 65

6.2.1 Taxa de decaimento bacteriano variável ................................................... 65

6.2.2 Taxa de decaimento bacteriano fixa em 70 horas ..................................... 67

6.2.3 Taxa de decaimento bacteriano fixa em 15 horas ..................................... 69

7 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 72

8 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................................... 74

16

1 INTRODUÇÃO

Balneabilidade é o termo designado para a qualidade das águas destinadas à recreação de

contato primário, funcionando como um instrumento de verificação de critério de uso e de controle

de qualidade das praias. Pode ser determinada a partir da quantidade de Enterococcus, Escherichia

coli ou Coliformes Termotolerantes presentes na água (Figura 1), sendo o indicador comparado a

um padrão previamente estabelecido, identificando assim se a água está própria ou imprópria para

banho (AURELIANO, 2000; BERG et al., 2013).

Figura 1 – Grupo de microrganismos de poluição fecal

Fonte: Cetesb, 2016

Devido à alta densidade populacional das regiões costeiras urbanas, a balneabilidade dos

corpos hídricos e das águas superficiais é um problema frequente e se mostra presente até mesmo

em regiões com alto índice de cobertura de esgotos.

Em toda a sua história, foram muitos os problemas da Baixada Santista relacionados à falta

de saneamento. Além das epidemias que quase dizimaram a população, sua economia também foi

prejudicada diversas vezes, ora por restrições à atracação de navios em função do risco de

contaminação por patógenos, ora por quedas acentuadas no turismo local (SARTOR et al., 2000;

MACIEL, 2003).

17

O desenvolvimento econômico de Santos, aliado ao aumento populacional e à

falta de planejamento urbano, gerou, nas últimas décadas, uma série de aspectos

ambientais que, mal geridos, acarretaram em impactos negativos aos elementos

bióticos e abióticos dos ecossistemas do município. A poluição das praias por

agentes biológicos é uma das principais consequências da urbanização, em

decorrência de diversos fatores, como o descarte irregular de efluentes e resíduos

sólidos (LESCRECK, 2016).

Entre 1905 e 1912, foi desenvolvido um programa de saneamento por Saturnino de Brito

baseado no princípio de separar as águas de drenagem do esgoto – 80 km de rede de esgoto e 177

km de canais de superfície para as águas pluviais – tornando evidente a melhoria no saneamento

básico da região após essas obras (ANDRADE, 1991). Atualmente, Santos conta com um sistema

separador absoluto – que permite a independência entre os sistemas pluvial e sanitário. A cidade

possui 7 km de praias e um sistema de macrodrenagem urbana composto por canais, dos quais seis

deságuam nas praias e possuem comportas localizadas na orla e em regiões intermediárias. As

comportas da orla ficam permanentemente fechadas em períodos secos e de baixa precipitação, e

neste período a água dos canais de drenagem é conduzida para a Estação de Pré-Condicionamento

(EPC) através de interceptores. Entretanto, grandes precipitações implicam na abertura das

comportas da drenagem e a descarga dessas águas nas suas praias. A cidade de São Vicente possui,

por sua vez, canais de drenagem que deságuam diretamente no mar sem nenhum mecanismo de

controle, fato que implica em descargas constantes dessas águas nas suas praias.

São diversos os fatores diretos e indiretos que podem influenciar na balneabilidade das

praias, como a fisiografia da praia, ocorrência de chuvas e condições de maré, bem como a descarga

dos rios, do emissário submarino e de moradias sem tratamento de esgoto, onde a mesma é

despejada diretamente no Estuário. Segundo Sampaio (2010), a baixa qualidade das águas

estuarinas afeta a balneabilidade em todo o Sistema Estuarino de Santos e São Vicente (SESS) e,

nas marés de sizígia, pode afetar a qualidade das praias da Baía de Santos e de São Vicente. Além

disso, devido à localização geográfica da região a taxa de renovação das águas na Baía de Santos

é baixa (NPH, 2008). A balneabilidade das praias pode ser prejudicada ainda por um eventual

vazamento de óleo ou por floração de microalgas potencialmente nocivas, como ocorrido entre

julho e agosto de 2016 (Figura 2).

18

Figura 2 – Informação de Praias impróprias devido à floração de microalgas (Acima - Julho/2016; Abaixo -

Agosto/2016)

Fonte: Cetesb, 2016

Apesar da implantação da primeira fase do “Projeto de Recuperação da Qualidade

Ambiental da Baixada Santista” – conhecido popularmente como “Projeto Onda Limpa” – pela

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) através do contrato

SABESP/JBIC (DIARIO DO SENADO FEDERAL, 2004), no qual foram construídos mais de

1000 km de redes coletoras, ainda há um grave problema relacionado à população residente em

submoradias, em sua maior parte situadas à margem de rios e dos canais do Estuário em áreas

classificadas como áreas de preservação permanente pelo CONAMA (2002), por se tratar de

regiões de extrema importância no ciclo reprodutivo de inúmeras espécies marinhas (SAMPAIO,

2010).

Segundo um estudo recente (RUIZ et al., 2015), de janeiro de 2014 a setembro de 2015, a

relação entre chuva e balneabilidade, considerando apenas a região da Ponta da Praia, em Santos,

foi considerável (Tabela 1). Os autores verificaram que em 100% dos casos onde o resultado da

amostra foi superior a 400 UFC/100mL - valor estipulado pela legislação como imprópria para

19

banho a partir de uma única amostra - houve uma precipitação de pelo menos 15 mm nas 48 horas

antecedentes, indicando assim uma grande influência da chuva, e consequentemente das descargas

da drenagem, na balneabilidade da praia estudada.

Tabela 1 – Relação entre balneabilidade e precipitações elevadas nas 24, 48 e 72 horas anteriores às

amostragens na Ponta da Praia em Santos, de janeiro de 2014 a setembro de 2015

Acumulado

24h (>10mm)

Média

Acumulado

48h (>15mm)

Média

Acumulado

72h (>20mm)

Média

>400

UFC/100mL

12 amostras

25,9

mm

15 amostras

45,6

mm

14 amostras

57,8

mm

(15/185

amostras)

80,0%

100%

93,3%

Imprópria

11 semanas

8,7 mm

13 semanas

18,5

mm

18 semanas

26,5

mm

(40/ 91

semanas)

27,5%

32,5%

45,0%

Fonte: Ruiz et al., 2015

As águas balneares de uma região podem se tornar impróprias por muitos fatores, como

derramamento de óleo ou presença de metais, por exemplo. Porém no presente trabalho será

discutida apenas a balneabilidade em relação a ocorrência de bactérias, com enfoque na

concentração de Enterococcus, que por sua alta resistência à salinidade é o principal indicador de

contaminação fecal em águas salobras, enquanto em águas doces utiliza-se a Escherichia coli como

principal indicador.

20

1.1 JUSTIFICATIVA

As praias de Santos e São Vicente se apresentam como impróprias em muitos momentos

(CETESB, 2014; 2015), e torna-se clara a necessidade de possíveis soluções de Engenharia para

esse problema. Assim o presente estudo visa correlacionar a influência das chuvas locais na

balneabilidade das praias e avaliar os aspectos e impactos ambientais da poluição difusa

proveniente dos canais de drenagem de forma a prover informações para direcionar esforços

futuros para ações de melhoria da qualidade balnear das praias da região.

1.2 HIPÓTESE

Diante do cenário atual de balneabilidade das praias, a poluição difusa que chega às Baías

de Santos e São Vicente através dos canais de drenagem é um dos principais fatores que

influenciam na qualidade dessas águas.

21

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVOS GERAIS

O presente estudo visa correlacionar a influência das chuvas locais na balneabilidade das

praias e avaliar os impactos ambientais da poluição difusa proveniente dos canais de drenagem.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

-Avaliar o grau de contribuição das descargas de macrodrenagem urbana de Santos e São Vicente

na contaminação das praias locais.

-Avaliar os aspectos e impactos ambientais da poluição difusa na balneabilidade das praias de

Santos e São Vicente.

-Analisar e comparar as condições das praias localizadas na Baía de Santos e na Baía de São

Vicente antes e após eventos de altas precipitações.

22

3 ÁREA DE ESTUDO

3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS E ASPECTOS DEMOGRÁFICOS

As cidades de Santos e São Vicente (Figura 3) estão localizadas na porção central da Região

Metropolitana da Baixada Santista (RMBS), no litoral do estado de São Paulo. É uma área de

transição entre as águas salinas do Oceano Atlântico e as águas doces provindas dos rios que

deságuam no mar, formando um ambiente bastante dinâmico, principalmente em marés de sizígia,

nas quais as velocidades são mais intensas e apresentam maior variabilidade espacial, quando

comparadas com as marés de quadratura (SAMPAIO, 2010; ROVERSI et al., 2016).

Figura 3 – Área de estudo (à esquerda); Municípios de Santos (Acima) e São Vicente (Abaixo)

Fonte: Ribeiro, 2012; IBGE, 2016

Ambas as cidades estão localizadas no Sistema Estuarino de Santos – São Vicente (SESS),

um dos mais importantes estuários do Brasil do ponto de vista socioeconômico, principalmente

devido à presença do porto de Santos, o maior do País em tamanho e movimentação de cargas.

Destaca-se também por representar 31% de áreas remanescentes de florestas de mangues no Estado

de São Paulo (SAMPAIO et al. 2009; SCHMIEGELOW et al., 2008; SMA/CETESB, 1998;

HERZ, 1991 apud SAMPAIO, 2010).

23

A Baixada Santista é uma região que apresenta altas densidades demográficas,

principalmente por sua localização geográfica e fatores socioeconômicos. O processo de

urbanização na região, até meados de 1800, se restringia à cidade como uma expansão do Porto de

Santos. A partir de 1822, com a independência do Brasil e a abertura dos portos, esse cenário

começa a mudar e em 1845 registrou-se o primeiro grande embarque de café para países da Europa.

No século XX, com melhorias na estrutura portuária de Santos, implantação do polo petroquímico

de Cubatão e a construção de rodovias ligando a capital ao litoral, a ocupação nas cidades se

intensificou, acompanhada de intensas interferências no ambiente costeiro por despejo de resíduos

industriais e dejetos domésticos (ZÜNDT, 2006; SARTORETTO, 2014).

De acordo com a estimativa do IBGE (2015), as duas cidades somam atualmente 792.348

habitantes residentes, com uma população flutuante estimada em mais de 130.000 pessoas na alta

temporada – considerando apenas a população presente em domicílios de uso ocasional – como

pode ser observado na Figura 4 (CETESB, 2015). Ambas as cidades são subdivididas

territorialmente em duas áreas: insular e continental. A área continental de Santos é quase seis

vezes maior do que sua parte insular – 239,290 km² na área continental e 40,760 km² na área insular,

enquanto São Vicente possui 147,893 km², dos quais aproximadamente 16% são áreas

efetivamente urbanizadas (PÓLIS, 2013). Uma parcela da área continental destes municípios são

áreas de preservação ambiental, portanto sem nenhuma ocupação regular. Desta forma é possível

observar que a maior concentração populacional em Santos e São Vicente ocorre na área insular

(Figura 5), justamente onde estão situadas as praias da região.

Na Tabela 2 observa-se a taxa de crescimento das duas cidades entre 2000 e 2010, nela é

possível constatar que a população de Santos não apresenta crescimento significativo na década

enquanto São Vicente ainda apresenta uma taxa de crescimento próximo de 10%.

Tabela 2 – Crescimento populacional das cidades de Santos e São Vicente

Cidade População

2000 (hab.)

População

2010 (hab.)

População

estimada 2016

(hab.)

Crescimento

Populacional

(2000-2010)

Crescimento

Populacional

(2010-2016)

Santos 417.983 419.400 434.359 0,3% 0,4%

São

Vicente

303.551 332.445 357.989 9,5% 7,7%

Total 721.534 751.845 792.348 4,2% 5,4%

Fonte: IBGE, 2016

24

Figura 4 – População fixa e população flutuante para o ano de 2015. A população flutuante considera apenas a

população presente em domicílios de uso ocasional, não incluindo os demais turistas

Fonte: IBGE, 2015(fixa), Fundação Seade; Sabesp, 2014 (flutuante) apud Cetesb, 2015

Figura 5 – Densidade demográfica na região de estudo, segundo o censo demográfico do IBGE (2010) no recorte dos

setores censitários

Fonte: NPH, 2015

25

3.2 CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS

A RMBS está localizada em uma região tropical e, de forma geral, com altos índices

pluviométricos, principalmente devido à proximidade da Serra do Mar, somada à influência de

frentes frias (RIBEIRO, 2012). De acordo com as Figuras 6 e 7, que representam as médias mensais

históricas de temperatura na cidade de Santos e precipitação nas cidades de Santos e São Vicente,

o mês com a maior média histórica de temperatura é o mês de fevereiro, que apresenta em média,

no mesmo período, 226,8 mm de precipitação. Sendo julho o mês com as menores temperaturas,

apresentando média de precipitação muito inferior, de 107,7 mm. Observa-se então que os períodos

mais chuvosos coincidem com os períodos de maiores temperaturas, ou seja, há um número maior

de banhistas em contato direto e prolongado com as águas costeiras, muitas vezes contaminadas

após eventos de chuva. Além disso, ainda há outro agravante, que é o aumento da população

flutuante na região – demonstrado na Figura 4, fator que implica não só em um consequente

aumento do número de banhistas, mas também maior pressão de carga poluidora que chega ao

sistema de drenagem pluvial e em eventos de chuva é levada diretamente às praias, contaminando

suas águas e colocando a saúde da população em risco. Os dados apresentados de temperatura e

precipitação para Santos foram obtidos através do CIIAGRO e são relativos ao período de 1996 a

2016, e os dados de precipitação disponíveis para São Vicente foram da estação de prefixo DAEE

E3-056 de 1938 a 2016.

Figura 6 – Médias mensais de temperatura média diária na cidade de Santos. Em barras temperaturas médias diárias

máximas e mínimas (1996-2016)

Fonte: CIIAGRO, 2016

26

Figura 7 - Médias mensais de chuva de Santos (CIIAGRO - 1996-2016) e

São Vicente (DAEE – E3-056 – 1938-2016)

Fonte: CIIAGRO, 2016; DAEE, 2016

3.3 HIDRODINÂMICA COSTEIRA E ESTUARINA

O conhecimento detalhado da dinâmica de circulação marítima costeira se mostra de grande

importância para a região, seja para o controle de poluição – como balneabilidade das praias e de

regiões estuarinas, seja para dimensionamento de estruturas marítimas, transporte de sedimentos e

nutrientes, seja por segurança da navegação – uma vez que o Porto de Santos recebe navios cada

vez maiores, ou ainda no intuito de prever eventos de ressacas e monitorar possíveis vazamentos

de óleo (HARARI, 1998; NPH, 2015). É importante ressaltar inclusive que o conhecimento da

circulação oceânica pode resultar para a navegação em otimização das respectivas escalas e

consequentemente em um crescimento econômico significativo.

A oscilação das marés é, em sua maior parte, consequência de forças gravitacionais. A Lua

é o corpo celeste que mais influencia nesse processo devido à sua proximidade da Terra, seguida

pelo Sol, por força de sua massa. Outros planetas e estrelas também influenciam as marés, porém

de forma muito menos significativa. As forças de atração da Lua e do Sol se somam em períodos

de Lua Cheia e Lua Nova, produzindo as marés de sizígia (ou de águas vivas), com preamares

27

muito altas e baixa-mares muito baixas, como observa-se na Figura 8. Já em períodos de quarto

crescente ou minguante da Lua, o Sol e a Lua formam um ângulo de 90 graus, gerando uma

resultante gravitacional menor quando comparada às marés de sizígia e produzindo as marés de

quadratura (ou de águas mortas), com baixas variações entre preamares e baixa-mares (MIGUENS,

1996).

Figura 8 – Marés de sízigia (de águas vivas) e quadratura (de águas mortas)

Fonte: Miguens, 1996

Outros efeitos ainda podem influenciar nas marés, como a circulação termohalina –

provocada diretamente pela radiação solar, e a circulação por efeito de ventos – provocada

indiretamente pela radiação solar, devido ao aquecimento desigual na atmosfera. Os movimentos

termohalinos predominam em regiões profundas, enquanto em regiões costeiras a influência do

vento nas marés é significativa (MIGUENS, 1996).

Na região em estudo, a maré dos canais estuarinos é irregular, de caráter misto e semidiurna,

com período de 12h 42 min. A amplitude média de sizígia é de 1,23 m e a de quadratura 0,24 m

(para o Porto de Santos). As frentes frias (frequentes na região, especialmente no inverno),

produzem alterações no nível médio da maré, que podem ultrapassar 0,5 m (HARARI et al., 1999

apud RIBEIRO, 2015).

28

A Figura 9 apresenta em forma de mapa resultados do modelo hidrodinâmico desenvolvido

por NPH (2015), indicando velocidade e direção das correntes para um determinado período de

tempo, através da plataforma AquaSafe® (LEITÃO, 2015).

Figura 9 – Espaço de trabalho configurado para apresentar resultados do modelo hidrodinâmico (AQUASAFE)

Fonte: NPH, 2015; Leitão, 2015

3.4 SISTEMA DE DRENAGEM

As cidades em estudo possuem sistema de macrodrenagem urbana composto por canais

abertos, porém, que funcionam de maneiras diferentes. Em São Vicente, toda a descarga de água

proveniente da drenagem deságua diretamente nas praias da baía, enquanto em Santos em 6 dos 7

canais numerados, há um sistema de comportas localizadas na orla e em regiões intermediárias que

regulam as descargas em função do regime de marés. Em períodos de ausência ou baixa

pluviosidade, as comportas da orla ficam permanente fechadas, sendo a água dessa drenagem

conduzida para a EPC através do interceptor oceânico controlado também por comportas operadas

pela SABESP. Entretanto, grandes precipitações implicam no fechamento desse fluxo para a EPC

e consequente abertura das comportas dos canais de drenagem e descarga das águas pluviais na

região das praias de Santos para proteger a cidade de alagamentos.

29

A implantação do sistema de saneamento por Saturnino de Brito no início do século 20 foi

de grande importância para a região, que apresentava extensas áreas inundáveis. Porém tal obra

não previu um processo tão intenso de urbanização que, aliado à falta de manutenção, resultou em

uma redução significativa em sua eficiência, resultando em problemas nas áreas de saneamento

ambiental e mobilidade urbana (PÓLIS, 2013). Na figura 10 é possível verificar o sistema de canais

projetado por Saturnino para Santos, bem como canais projetados posteriormente pela Prefeitura

Municipal de Santos.

Figura 10 – Sistema de canais de macrodrenagem pluvial urbana localizados na cidade de Santos

Fonte: PMS, 2014

3.5 SANEAMENTO BÁSICO

Segundo a Cetesb (2016), no que diz respeito aos aspectos de saneamento, a cidade de

Santos tem 98% de seu esgoto coletado – considerando apenas as áreas regulares e passíveis de

atendimento, cujo efluente é lançado no mar através do emissário submarino sem tratamento

primário, passando pela Estação de Pré-Condicionamento onde ocorre apenas a remoção de parte

30

dos sólidos e da areia (através de gradeamento, peneiramento e caixa de areia) e, ainda a

desinfecção com a cloração antes do lançamento no mar. A cidade de São Vicente, tem 71% de

coleta e 18% tratamento de esgoto através de duas ETEs (Estações de tratamento de esgoto),

localizadas nos bairros Humaitá e Samaritá.

Através da Tabela 3 é possível observar a porcentagem de atendimento de esgoto em todas

as cidades da RMBS e o ICTEM (Índice de Coleta e Tratabilidade de Esgotos da População Urbana

de Municípios), que leva em consideração aspectos em relação à coleta, afastamento e tratamento

de esgoto. Verifica-se que as cidades de Santos e São Vicente, embora possuam uma alta

porcentagem de coleta de esgoto, apresentam um ICTEM baixo quando comparado com outras

cidades da região. Ainda assim, é importante ressaltar que mesmo que a coleta de esgoto atenda

toda a população estabelecida regularmente, o esgoto gerado pela parcela da população situada em

áreas de ocupação irregular existente nas duas cidades pode continuar a comprometer a qualidade

das praias da região (CETESB, 2016).

Tabela 3 – Informações sobre coleta e tratamento de esgoto e o ICTEM (Índice que leva em consideração aspectos

em relação à coleta, afastamento e tratamento de esgoto) nos municípios da RMBS

Município

População IBGE (2015)

Atendimento (%)

ICTEM

Corpo Receptor

Total Urbana Coleta Tratamento

Bertioga 56.555 55.661 50% 99% 5,24 Rio Itapanhaú

Guarujá 311.23 311.168 62% 6% 1,59 Enseada/Est. de

Santos

Cubatão 127.006 127.006 60% 100% 6,36 Rio Cubatão

Santos 433.966 433.662 98% 0% 1,67 Baia de Santos e

Canal S. Jorge

São Vicente 355.542 354.866 71% 18% 2,13

Humaitá, R.

Mariana,

Samaritá, R.

Branco; Insular,

Est. de Santos

Praia Grande 299.261 299.261 70% 0% 1,25 Mar

Mongaguá 52.492 52.261 78% 100% 7,06 Mar e Rio

Aguapeú

Itanhaém 96.222 95.318 30% 100% 4,00

Rios Poço,

Itanhaém e

Curitiba

Peruíbe 65.226 64.495 74% 100% 7,23 Rio Preto

Sub-total 1.797.500 1.793.699 73% 15% - -

Fonte: Cetesb, 2016. Ano Base: 2015

31

Neste trabalho para efeito de análise do atendimento sanitário na região, todas as

classificações relativas ao nível de atendimento foram devidas à um cruzamento de dados entre

IBGE, plantas de esgotamento sanitário da concessionária de esgoto e imagens de satélite, de

maneira similar ao publicado no Relatório “Implantação de Sistema de Monitoramento e Previsão

da Qualidade da água por Meio de Modelagem Numérica Ambiental e Desenvolvimento de Base

de Dados na Bacia Hidrográfica do Estuário de Santos-São Vicente” (NPH, 2015), como observa-

se na Tabela 4.

Tabela 4 – Classificações relativas ao nível de atendimento sanitário

Situação Descrição

Rede Operando

Setor com rede de esgoto ligada a algum emissário submarino ou ETE (Estação de Tratamento de Esgoto);

Sem Tratamento

Setor sem rede de coleta e/ou tratamento de esgoto;

Submoradia

Setor classificado pelo IBGE como aglomerado subnormal e sem cobertura pela rede de esgoto, ou classificado com base no conhecimento local e imagens de satélite, além de não ter rede de coleta e/ou tratamento de esgoto;

Sem Informação

Setor sem informação referente ao esgotamento sanitário, segundo plantas de cobertura de esgoto, normalmente em áreas não urbanizadas.

Fonte: NPH, 2015

Portanto, a Figura 11 ilustra o resultado desse cruzamento de dados. Observa-se que na Ilha

de São Vicente predomina a classificação “Rede Operando”, mas é importante ressaltar que, devido

à dinâmica costeira da região, qualquer descarga contaminada pode atingir regiões relativamente

distantes ao seu ponto de origem, dentro do SESS. Neste sentido, apesar da RMBS possuir de forma

geral altos índices de coleta de esgoto, é importante destacar a presença de núcleos de habitações

irregulares nos munícipios da região, classificadas neste trabalho como submoradias e ainda áreas

urbanizadas sem rede operando, que por não receberem adequado atendimento através de rede

coletora de esgoto, pressionam negativamente a qualidade das águas no SESS podendo impactar a

balneabilidade das praias. Através da Tabela 5 é possível verificar o número de habitantes

conforme o nível de atendimento sanitário nos municípios da RMBS, segundo NPH (2015). É

importante ressaltar que 12,6% de toda a população da região está concentrada em habitações

irregulares, classificadas neste estudo como submoradias.

32

Figura 11 – Condições sanitárias no SESS utilizando como base o recorte espacial dos setores censitários

Fonte: NPH, 2015

Tabela 5 – Número de habitantes por nível de atendimento sanitário nos municípios da RMBS

Município

Rede

Operando

Sem

Tratamento Submoradia

Sem

Informação TOTAL

Hab. % Hab. % Hab. % Hab. % Hab.

Santos 388.192 92,6 5.249 1,3 18.164 4,5 7.095 1,7 419.400

São Vicente 235.789 70,9 44.957 13,5 44.659 13,4 7.040 2,1 332.445

Guarujá 178.066 60,5 51.530 17,7 56.426 19,4 4.730 1,6 290.752

Cubatão 53.173 44,8 14.418 12,1 49.134 41,4 1.995 1,7 118.720

Praia

Grande 106.852 40,8 142.884 54,5 10.443 4,0 1.872 0,7 262.051

TOTAL 959.986 67,4 259.038 18,2 179.526 12,6 22.732 1,6 1.423.368

Fonte: Adaptado de NPH, 2015

Desta maneira, através da Figura 12, observa-se que desde 1999 a CETESB aponta os

lançamentos de água de drenagem como fontes de poluição associadas ao saneamento básico, ou

seja, contaminadas por esgotos domésticos e que se apresentam ao longo de toda a região do SESS,

prejudicando as condições das águas estuarinas e costeiras e consequentemente suas praias.

33

Figura 12 – Localização das fontes de poluição associadas ao saneamento básico na Baixada Santista em 1999. Em

laranja as fontes associadas a drenagem

Fonte: Cetesb, 2001

3.6 BALNEABILIDADE

Em relação à classificação anual da balneabilidade para as praias, a Tabela 6 e 7

demonstram quais os critérios adotados segundo a CETESB e a OMS, respectivamente, enquanto

a Figura 13 ilustra a classificação de todas as praias localizadas na região de estudo nos últimos 10

anos, segundo a CETESB.

Os resultados da classificação da CETESB dos últimos dez anos (Figura 13) demonstram

que algumas praias de São Vicente como Milionários, Gonzaguinha e Prainha foram classificadas

anualmente como de péssima qualidade durante todo o período. Enquanto que em Santos as praias

com as piores classificações foram Ponta da Praia e José Menino – R. Olavo Bilac. Por outro lado,

a praia com melhor qualidade no período foi a praia da Ilha Porchat localizada em São Vicente,

entretanto, em alguns anos sua classificação também foi considerada ruim.

34

Tabela 6 – Especificações da Classificação Anual para as praias com amostragem mensal

ÓTIMA Concentração de Enterococcus até 25 em pelo menos 80% do ano

BOA Concentração de Enterococcus superior a 100 em até 20% do ano

REGULAR Concentração de Enterococcus superior a 100 entre 20% e 30% do ano

RUIM Concentração de Enterococcus superior a 100 entre 30% e 50% do ano

PÉSSIMA Concentração de Enterococcus superior a 100 em mais de 50% do ano

Fonte: Cetesb, 2016

Tabela 7 – Critérios de classificação das praias segundo a OMS

Classe Percentil 95 Enterococcus UFC/100mL

A – Muito Boa ≤40

B – Boa De 41 a 200

C – Regular De 201 a 500

D – Ruim >500

Fonte: Adaptado de WHO, 2013

Município

Praia

Ano

06 07 08 09 10 11 12 13 14 15

Santos

Ponta da Praia

Aparecida

Embaré

Boqueirão

Gonzaga

José Menino – R. Olavo Bilac

José Menino – R. Fred Ozanan

São Vicente

Praia da Divisa

Itararé – Posto 2

Praia da Ilha Porchat

Milionários

Gonzaguinha

Prainha (Av. Santino Brito)

Figura 13 – Classificação anual das praias de Santos e São Vicente nos últimos 10 anos (amarelo – regular, laranja –

ruim, vermelho – péssima, branco – sem dados)

Fonte: Adaptado de Cetesb, 2016

35

Considerando também os critérios de classificação da OMS nos últimos anos, a

classificação geral das praias em Santos foi Regular e em São Vicente 50% das praias foram

classificadas na categoria Ruim, 33% na Regular e 17% como Boa.

Analisando o ano de 2015 (Figura 14), verifica-se que 86% das praias localizadas na cidade

de Santos foram classificadas como péssimas e 14% (Aparecida) foram classificadas como ruins.

Ainda de acordo com a Figura 14 observando a situação de cada praia em Santos, verifica-se que

elas permaneceram próprias para banho apenas entre 35% e 60% do ano de 2015.

Figura 14 – Porcentagem de tempo em situação Própria ou Imprópria em Santos em 2015, por praia

Fonte: Cetesb, 2016. Ano base: 2015

No mesmo ano na cidade de São Vicente, 4 das 6 praias foram classificadas como péssimas

(Praia da Divisa, Milionários, Gonzaguinha e Prainha) e 2 foram classificadas como ruins (Itararé

e Praia da Ilha Porchat), como observado na Figura 15.

Figura 15 – Porcentagem de tempo em situação Própria ou Imprópria em São Vicente em 2015, por praia

Fonte: Cetesb, 2016. Ano base: 2015

36

No caso das praias de Santos e sua provável contaminação oriunda dos canais de drenagem

às praias, segundo Coelho (2013), os canais de drenagem de Santos possuem elevadas

concentrações de bactérias de origem fecal, contudo, apresentam maiores concentrações de

contaminantes em períodos de baixa pluviosidade, fato que pode estar relacionado a uma possível

diluição dessas águas em eventos de alta pluviosidade. Os resultados obtidos pelo autor estão

representados na Figura 16 e indicam a presença de ligações clandestinas de esgoto, que podem

afetar de forma significativa a qualidade ambiental das praias de Santos. Desta forma, os valores

apresentados a seguir representam a média ± desvio padrão para cada canal analisado, quando

comparados em períodos de alta e baixa pluviosidade (AP versus BP) e a linha tracejada significa

o valor máximo estabelecido pela resolução CONAMA 274/00 para classificação como própria

para banho, sendo a linha tracejada vermelha referência de 0,2x104 UFC/100mL para E.coli e

0,25x104 UFC/100mL para Coliformes totais.

Figura 16 – Resultados das análises de E.coli e Coliformes Termotolerantes (eixo y na escala 104)

Fonte: Coelho, 2013

Portanto, a partir dos resultados obtidos das análises microbiológicas apresentado por

Coelho (2013), observa-se que a presença de contaminação de origem fecal em todos os canais de

Santos consequentemente o classifica como potencial fonte de contaminação das praias em eventos

de abertura de comportas.

37

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.1 CENÁRIO MUNDIAL DA BALNEABILIDADE

Em 2008, no documento “Water Quality: Development of an index to assess country

performance” (UNEP, 2008) classificou os países adotando-se como parâmetro a avaliação de

qualidade da água (Water Quality Index). Na Tabela 8 estão alguns dos países citados nesse estudo

em suas respectivas colocações no ranking em 2008.

Tabela 8 – Water Quality Index - Classificação dos principais países em estudo

País Colocação

Nova Zelândia 1º

Finlândia 2º

Lituânia 3º

Letônia 4º

Eslovênia 5º

Suécia 6º

Canadá 12º

Austrália 30º

Brasil 31º

Estados Unidos 36º

Fonte: Adaptado de EPI, 2008

Segundo a UNEP, em seu relatório Global Metrics for the Environment (2016), 23% dos

países e mais de 80% das águas residuais de todo o planeta não recebem qualquer tipo de tratamento

antes de serem lançadas de volta ao meio ambiente, fato que implica em altos níveis de poluição,

eutrofização das massas de água, altas taxas de coliformes e baixa concentração de oxigênio,

causando a morte de muitos animais marinhos.

No presente estudo foram avaliados os critérios relacionados a balneabilidade em alguns

países e na União Europeia, além de recomendações preconizadas pela OMS (WHO, 2003).

38

4.1.1 Organização Mundial da Saúde

De acordo com as Recomendações da OMS (WHO, 2003), estão como critérios de

avaliação os valores de percentil 95 e inspeção sanitária, com um período de monitoramento de 5

anos e 100 amostras. Além disso, o resultado da Inspeção Sanitária faz parte do processo de

avaliação e classificação de balneabilidade. O fluxograma apresentado na Figura 17 ilustra o

cenário ideal, de forma a evitar qualquer tipo de doença relacionada ao contato primário com a

água. Vale lembrar que, por serem recomendações, nenhum país tem a obrigatoriedade de adotá-

las como diretrizes.

Figura 17 – Fluxograma para avaliação da qualidade das praias de acordo com as recomendações da OMS

Fonte: WHO, 2003

4.1.2 União Europeia

A União Europeia tem como diretriz a E.U. Directive 2006/7/EC (ANON, 2006). Seus

critérios de avaliação são valores de percentil 90 e 95, com período de monitoramento de 4

temporadas (Bathing season). Nos países da União Europeia, a prática da inspeção sanitária é

39

inserida no plano de monitoramento e define os pontos de amostragem. O plano de monitoramento

consiste em:

- Identificar as praias de banho;

- Traçar o perfil sanitário;

- Estabelecer calendário de monitoramento;

- Definição do ponto de monitoramento onde houver maior densidade de usuários ou

maior risco de poluição.

O número de águas balneares em regiões costeiras com boa classificação vem aumentando

na EU desde 1991 (Figura 18). Em 2014, 96,8% dessas águas foram classificadas como

“suficientes” ou “excelentes”. São monitorados 28 países, totalizando 21.255 águas balneares

costeiras e interiores.

Figura 18 – Porcentagem de águas balneares costeiras na EU por classificação

Fonte: EEA, 2015. Ano Base: 2014

Segundo a EEA (2014), em 3 países (Chipre, Luxemburgo e Malta) 100% das águas

balneares foram classificadas como “excelentes”. Na Figura 18 observa-se que a porcentagem de

águas balneares de boa qualidade aumentou nos últimos 15 anos, decaindo significativamente

apenas entre 1994 e 1995 e entre 2009 e 2010, apresentando regularidade ao longo desse período.

40

Em 2015, 96,1% das águas balneares costeiras e interiores localizadas na EU, estiveram

dentro dos valores mínimos aceitáveis de qualidade da água, sendo 11,7% classificadas como

“suficientes” e 84,4% classificadas como “excelentes” (Figura 19).

Figura 19 – Qualidade de águas balneares na EU de 2011 a 2015

Fonte: EEA, 2016. Ano Base: 2015

4.1.3 Estados Unidos

Nos Estados Unidos, a diretriz para os critérios de balneabilidade é dada pela USEPA

Ambient Water Quality Criteria (USEPA, 1986) e a avaliação é feita através de média geométrica,

com períodos de monitoramento de 30 dias e um número mínimo de 5 amostras, sendo a

concentração limite de indicadores fecais específica para cada local e calculada através de

densidades máximas individuais com:

- Desvio padrão logarítmico da série de dados microbiológicos;

- Fator do grau de uso do corpo hídrico avaliado.

Segundo relatório publicado em 2013 pelo Conselho de Defesa dos Recursos Naturais

(NRDC) do governo dos Estados Unidos sobre a qualidade das águas em 2012, ocorreram poucas

melhoras de balneabilidade das praias do país em relação ao ano anterior. Os dados indicam que

somente 1% da poluição registrada em praias diminuiu com relação ao ano anterior que teve 23.000

praias impróprias e segundo o relatório isso ocorreu por causa do menor índice de chuvas. O

relatório ainda destaca a necessidade de filtros, sumidouros e outros sistemas para evitar que as

tubulações pluviais irregulares e esgoto afetem as áreas balneares causando doenças na população

41

e prejudiquem a qualidade da água nos oceanos e aponta a flexibilização dos indicadores e uma

ação menos restritiva de combate as fontes de contaminação pela EPA como responsáveis.

4.1.4 Canadá

O Ministério da Saúde, através do documento Guidelines for Canadian Recreational Water

Quality (2012), determina as diretrizes de qualidade da água no País, sendo a avaliação feita através

de média geométrica, com um número mínimo de 5 amostras e com frequências de coletas

apropriadas para cada diferente local ou região.

4.1.5 Brasil

No Brasil a diretriz é fornecida pela resolução CONAMA nº 274/2000, com critério de

avaliação percentual e período de monitoramento de 5 semanas, com 1 amostra/semana, sendo

estipulados valores fixos de concentração de indicadores fecais, sendo estes:

- Enterococcus: Caracteriza-se pela alta tolerância às condições adversas de

crescimento. A maioria das espécies de Enterococcus são de origem fecal humana,

embora possam ser isolados de fezes de animais. Este indicador aplica-se somente

à águas marinhas;

- Escherichia coli: Abundante em fezes humanas e de animais, sendo encontrada em

esgotos, efluentes, águas naturais e solos que tenham recebido contaminação fecal

recente;

- Coliformes fecais: Podem ser encontrados em fezes humanas e de animais, solos,

plantas ou quaisquer efluentes que contenham matéria orgânica.

Considerando como indicador a bactéria Enterococcus, a praia é dada como imprópria

quando a concentração de Enterococcus da última amostra realizada for superior a 400

UFC/100mL ou a média da concentração das últimas 5 amostras for superior a 100 UFC/100mL.

Ao fazer uma breve comparação, nota-se que os critérios para avaliação da balneabilidade

no Brasil são menos flexíveis e relativamente mais simples e momentâneos por depender de uma

única variável, enquanto que nos Estados Unidos esse limite varia para cada local e em países da

42

União Europeia há um plano mais complexo e mais preciso de monitoramento bem como a adoção

de políticas de gestão e metas para melhoria da qualidade balnear das praias.

4.2 FONTES DE POLUIÇÃO

A qualidade das águas balneares é comprometida uma vez que possa representar algum

risco aos banhistas, seja por excesso substâncias tóxicas (derramamento de óleo), alta concentração

de metais pesados ou bactérias, como as de origem fecal. São muitos os fatores que influenciam na

balneabilidade de uma praia, dos quais destacam-se a fisiografia da praia, suas condições de maré,

a ocorrência de chuvas na região e a existência de córregos afluindo ao mar.

Além disso, as fontes de poluição podem ter diferentes características, sendo usualmente

classificadas segundo sua origem, podendo ser de origem pontual ou difusa (Figura 20).

Figura 20 – Fontes tópicas (pontuais) e fontes difusas de poluição

Fonte: Lopes, 2012

43

A poluição por fonte pontual gera impactos concentrados sobre o meio, sendo assim de fácil

controle. As Estações de tratamento de esgoto (ETEs), emissários submarinos e um possível

vazamento de óleo são exemplos de cargas pontuais.

A poluição difusa provém de diversas fontes – como lixo acumulado nas ruas e resíduos,

orgânicos ou não – e atinge grandes áreas, dificultando os controles de quantidade e qualidade

dessa carga. Normalmente está relacionada com as enxurradas e a consequente lavagem das

cidades, gerando um grande impacto ambiental, principalmente em regiões urbanas com alta

densidade populacional (PRODANOFF, 2005).

O relatório “Inventário Nacional de Qualidade da Água” entregue em 1995 ao Congresso

Americano, afirmou que 30% dos casos identificados de impactos na qualidade da água são

atribuídos às descargas de enxurradas ou de fontes distribuídas (EPA, 1995).

Além das fontes de poluição conhecidas, a Baixada Santista possui um forte agravante, que

é o elevado número de submoradias, o que implica em descargas de esgoto diretamente na região

do Estuário. Através de imagens de satélite foi possível identificar crescimento nas áreas de

submoradias na região entre 2003 e 2015. Através destas imagens é possível observar o

crescimento ocupacional em algumas das submoradias localizadas na região da Baixada Santista

(Figuras 21 a 23).

Figura 21 – Crescimento ocupacional de submoradias localizadas no bairro São Manoel, em Santos

Fonte: NPH, 2016

44

Figura 22 – Crescimento ocupacional de submoradias localizadas na Vila dos Pescadores, em Cubatão

Fonte: NPH, 2016

Figura 23 – Crescimento ocupacional de submoradias localizadas na Vila Esperança, em Cubatão

Fonte: NPH, 2016

45

5 METODOLOGIA

O presente estudo foi realizado em duas partes: Análise dos dados ambientais e modelagem

numérica da qualidade da água na área de estudo. A primeira consiste em uma análise comparativa

percentual da relação entre precipitação e balneabilidade das praias em estudo, enquanto a segunda

tem como objetivo quantificar a influência das descargas de drenagem na balneabilidade das praias,

através de modelagem numérica.

5.1 ANÁLISE PERCENTUAL COMPARATIVA

Para a análise comparativa da relação entre precipitação e balneabilidade, foram

considerados, através da plataforma AquaSafe® (LEITÃO et al., 2015) dados de concentração de

Enterococcus coletados semanalmente pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

(CETESB, 2014; 2015) em 13 pontos localizados nas praias de Santos e São Vicente (Tabela 9).

Para os 7 pontos localizados nas praias de Santos foram também integrados dados da PMS,

aumentando a quantidade total de coletas e consequentemente o nível de precisão da balneabilidade

em relação às praias de São Vicente. Também foram considerados dados de chuva oriundos de dois

pluviômetros do CEMADEN, ambos localizados dentro da área de estudo e próximo às praias: um

localizado na Ponta da Praia e outro no Itararé (Tabela 10). O período de estudo foi de janeiro de

2014 a dezembro de 2015, totalizando dois anos e o equivalente a 104 semanas. A Figura 24 ilustra

todos os pontos considerados no presente estudo.

Através do software MATLAB® foi realizada uma análise percentual comparativa de

frequência de ocorrência das concentrações de Enterococcus superiores a 400 UFC/100mL, valor

estipulado pela legislação como imprópria para banho a partir de uma única amostra, bem como a

frequência de ocorrência da balneabilidade imprópria (quando a média das 5 últimas amostragens

é superior a 100 UFC/100mL), ambas, com a precipitação acumulada nas 24, 48 e 72 horas

anteriores as amostragens.

É importante destacar que foram utilizados dados de chuva de um pluviômetro próximo,

localizado no bairro Ponta da Praia, para 4 dos 13 pontos de coleta – Ponta da Praia, Aparecida,

46

Embaré e Boqueirão– e o pluviômetro localizado no Itararé, próximo da divisa de Santos com São

Vicemte para os pontos restantes – Gonzaga, José Menino (R. Olavo Bilac), José Menino (R. Fred

Ozanan), Divisa, Itararé, Ilha Porchat, Milionários, Gonzaguinha e Prainha.

Figura 24 – Esquematização dos canais de drenagem de Santos e localização dos pontos de coleta CETESB e

pluviômetros do CEMADEN

Fonte: Cetesb; Cemaden, 2015. Elaborado pelo autor

Tabela 9 – Localização geográfica dos pontos de coleta de balneabilidade CETESB

Local

Latitude

Longitude

Ponta da Praia 23°59'10.43"S 46°18'32.19"O

Aparecida 23°58'51.54"S 46°18'46.29"O

Embaré 23°58'34.68"S 46°19'08.31"O

Boqueirão 23°58'21.13"S 46°19'32.20"O

Gonzaga 23°58'12.61"S 46°19'58.44"O

José Menino (R. Olavo

Bilac)

23°58'07.41"S 46°20'54.29"O

José Menino (R. Frederico

Ozanan)

23°58'07.71"S 46°20'32.31"O

Praia da Divisa 23°58'09.30"S 46°21'27.39"O

Itararé (Posto 2) 23°58'15.96"S 46°21'56.30"O

Praia da Ilha Porchat 23°58'24.32"S 46°22'09.74"O

Milionários 23°58'26.09"S 46°22'20.26"O

Gonzaguinha 23°58'09.78"S 46°22'52.50"O

Prainha (Av. Santino

Brito) 23°58'42.00"S 46°23'07.78"O

Fonte: Cetesb, 2016

47

Tabela 10 – Localização geográfica dos pluviômetros automáticos CEMADEN

Local Latitude Longitude

Ponta da Praia 23°58'51.60"S 46°18'00.00"O

Itararé 23°57'54.00"S 46°21'46.80"O Fonte: Cemaden, 2015

5.2 MODELAGEM NUMÉRICA

Utilizando o sistema de modelos MOHID, desenvolvido pelo Instituto Superior Técnico de

Lisboa de Portugal (IST), foi adotado um modelo numérico para simular a hidrodinâmica e

qualidade da água a fim de avaliar a capacidade de dispersão, diluição e decaimento de

Enterococcus, principalmente após eventos de chuva. O modelo numérico utilizado para esta

finalidade foi implementado pela equipe de professores do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas

da Universidade Santa Cecília, que coordenam um projeto mais amplo que têm o objetivo de

previsão de qualidade da água em toda a região. Neste projeto já foi feita a calibração e validação

do modelo numérico a ser utilizado no presente trabalho (NPH, 2015).

O modelo numérico oceanográfico utilizado foi calibrado e validado pelos pesquisadores

do NPH (NPH, 2015) e o período simulado foi de seis dias, durante uma maré de sizígia ou de

águas vivas. Como o objetivo principal deste estudo é analisar e comparar a influência da poluição

difusa na balneabilidade das praias de Santos e São Vicente, não se observou a necessidade da

simulação de um ciclo completo de maré. Foram analisados dois cenários principais: o primeiro

contendo a simulação das áreas descobertas pela rede de esgoto e das submoradias presentes na

região; o segundo contendo uma simulação da descarga dos canais de drenagem, além das áreas

descobertas pela rede de esgoto e das submoradias, avaliando-se assim a influência da descarga

proveniente dos canais de drenagem em determinado período do ano. Cada um desses dois cenários

foi subdividido em três cenários secundários, que variaram em função da taxa de decaimento

bacteriano, conhecida como T90.

T90 é um parâmetro que representa o tempo necessário, em horas, para o desaparecimento

de 90% de uma população de bactérias em determinado ambiente. Na ausência de estudos de

decaimentos em regiões tropicais, o T90 para o indicador de contaminação fecal (Enterococcus) foi

imposto no modelo numérico com base no trabalho de Pommepuy (2005 apud ISPRA, 2010), no

48

qual foram obtidos valores de T90 de 15 horas (céu claro) e 70 horas (céu nublado). Ainda, com

intuito de representar a variação horária do T90, considerando os efeitos da incidência dos raios

ultravioletas ao longo do dia, foi utilizado o trabalho apresentado por da Wallis

(1977 apud ISPRA, 2010), entretanto o autor apresentou valores para coliformes fecais. Nesse

sentido foi imposta essa variação horária para obtenção dos valores de T90 para Enterococcus,

porém com valores entre 15h e 70h, conforme apresentado na Tabela 11.

Tabela 11 – Variação horária de T90 da bactéria Enterococcus

Hora T90 (h)

00:00 61,25

01:00 70,00

02:00 70,00

03:00 70,00

04:00 70,00

05:00 70,00

06:00 39,36

07:00 23,32

08:00 18,36

09:00 16,31

10:00 15,29

11:00 15,00

12:00 15,29

13:00 15,88

14:00 16,46

15:00 17,33

16:00 18,36

17:00 19,38

18:00 21,42

19:00 24,05

20:00 27,69

21:00 32,07

22:00 40,82

23:00 51,03

49

É importante destacar que este estudo em referência foi realizado na Europa, em uma

latitude superior à latitude da região em estudo e, portanto, em regiões com menor incidência da

radiação solar. Estudos relativos à taxa de decaimento bacteriano no Brasil e principalmente na

região Sudeste são necessários para a obtenção de resultados de simulações numéricas ambientais

mais fidedignos. Os cenários adotados estão ilustrados na Figura 25, na qual é possível observar a

variação do T90 em função da radiação solar.

Figura 25 – Variações de T90 da bactéria Enterococcus e cenários simulados

Todos os cenários simulados e analisados podem ser observados na Tabela 12.

Tabela 12 – Cenários simulados e analisados no presente estudo

Cenários de

Descargas de drenagem

Cenários

T90 Descargas de drenagem T90

1

a Não Variação horária

b Não Fixo em 70 horas

c Não Fixo em 15 horas

2

a Sim Variação horária

b Sim Fixo em 70 horas

c Sim Fixo em 15 horas

50

5.2.1 Sistema de modelos MOHID

O sistema de modelos MOHID evoluiu para o atual MOHID Water Modeling System, que

conta com 40 módulos, 150 mil linhas de programação em ANSI Fortran 95 e possui três programas

principais:

- MOHID Water: Simulação de processos em corpos d’água;

- MOHID Land: Modelagem em bacias hidrográficas;

- MOHID Soil: Estudo dos processos em meios porosos.

Neste trabalho está sendo aplicado o programa MOHID Water, com o objetivo final de

simular a circulação hidrodinâmica na região, bem como a dispersão e transporte das cargas de

esgoto, de forma a identificar as regiões mais contaminadas, principalmente em eventos de chuvas.

5.2.2 Grade numérica e batimetria

A grade e batimetria adotadas (Figura 26) derivam de um projeto que têm como finalidade

a previsão de balneabilidade das águas estuarinas e das praias da região (NPH, 2015). São 4 níveis

de grades:

- Level 1: Região costeira da Baixada Santista – 2 km;

- Level 2: Região costeira da Baixada Santista – 2 km;

- Level 3: Região costeira adjacente ao Estuário de Santos – 400 m;

- Level 4: Estuário de Santos – 80 m.

Esta técnica é denominada downscaling e têm como objetivo transferir informações de

modelos de larga escala – e menos refinados – para modelos de pequena escala, tal qual a circulação

é simulada considerando não só os efeitos locais, mas também efeitos meteorológicos, por

exemplo. Segundo Ribeiro (2012), o modelo 2D na vertical apresenta maior eficiência em termos

de tempo de cálculo quando comparado ao modelo 3D. Além disso, a aplicação de um modelo 3D

possivelmente não resultaria em diferenças significativas quando comparado ao modelo 2D para

este estudo.

Os dados de batimetria foram obtidos através da digitalização das Cartas Náuticas de Nos

1701 e 1711, da DHN e de informações provenientes do banco de dados do NPH. Na região dos

manguezais foi realizado um levantamento das áreas cobertas por esse ecossistema (SAMPAIO et

51

al., 2009), sendo os dados interpolados entre o limite dos manguezais e a margem dos canais ou

rios.

Figura 26 – Grades numéricas utilizadas (à esquerda) e respectivas batimetrias interpoladas nas grades numéricas (à

direita), a escala de cores representa a profundidade em metros

Fonte: Ribeiro et al., 2015

5.2.3 Condições iniciais e de fronteira

A grade Level 1 é forçada por uma composição da maré astronômica (obtida através de

resultados do modelo global de maré FES 2012), a segunda grade, Level 2, é forçada com os

resultados da grade Level 1 somados aos resultados de correntes e maré meteorológica (obtidos do

modelo global oceânico do CMEMS). O funcionamento do modelo, bem como as dimensões de

cada grade, é ilustrado na Figura 27.

52

Figura 27 – Sistema de downscaling para simulação da circulação hidrodinâmica na região em estudo

Fonte: NPH, 2015

5.2.4 Descargas consideradas

Foram implementadas no modelo vazões e concentrações de todas as descargas

consideradas importantes para o estudo, a fim de obter resultados próximos de dados reais.

Um estudo recente (ROVERSI, ROSMAN & HARARI, 2016) apresentou uma análise dos

corpos hídricos afluentes ao Sistema Estuarino de Santos – São Vicente, ilustrando por exemplo

que as águas do Rio Cubatão alcançam a Baía de Santos preferencialmente pela embocadura do

Estuário de São Vicente, diferentemente do Rio Quilombo, cujas águas seguem preferencialmente

pelo Canal do Porto. No presente trabalho as descargas no modelo hidrodinâmico foram

simplificadas e representadas por um único ponto próximo à foz de cada rio, e as vazões utilizadas

foram obtidas por meio de médias históricas, com variações mensais e sazonais.

As cidades de Santos e São Vicente possuem, respectivamente, 8 e 9 cursos d’água

monitorados afluentes às praias, dos quais nenhum atendeu ao padrão de qualidade segundo norma

53

da Cetesb de 2013 (600 UFC E.coli/100mL) no ano de 2015. A partir dos dados obtidos através

desse monitoramento e da correlação entre E.coli e Enterococcus foi estimada a concentração de

Enterococcus.

As descargas das submoradias a serem consideradas foram implementadas em cargas

pontuais e estimadas de acordo com o estudo realizado pelo Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas

da Unisanta (NPH, 2015). Esse processo envolveu o cruzamento de mapas georeferenciados

através da plataforma ArcGIS contendo dados do IBGE e a cobertura da rede de esgoto, bem como

áreas delimitadas das sub-bacias e da rede de drenagem que fazem parte da base de dados do

Comitê de Bacias Hidrográficas das Baixada Santista. Além de todo esse material, imagens de

satélite e o conhecimento local da equipe do NPH também foram recursos utilizados para esta

atividade, bem como, dados fornecidos de vazão horária e de concentração de E.coli do esgoto

tratado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP), para a

caracterização das Estações de Tratamento de Esgoto e de Pré-Condicionamento. Foi simulado um

evento de precipitação de duas horas, incluindo abertura das comportas localizadas na orla de

Santos. As vazões provenientes dos canais de drenagem foram estimadas segundo Gimiliani et al.

(2016).

Todas as descargas consideradas na modelagem numérica ambiental estão ilustradas na

Figura 28.

Figura 28 – Localização de todas as descargas consideradas na modelagem numérica ambiental

Fonte: NPH, 2015

54

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos através da análise percentual comparativa e da modelagem numérica

de qualidade da água foram concordantes. Ambos apresentaram uma influência considerável das

descargas de drenagem na Baía de Santos, enquanto na Baía de São Vicente tanto as descargas em

período seco quanto as descargas de drenagem em períodos chuvosos afetam a qualidade da água.

6.1 ANÁLISE PERCENTUAL COMPARATIVA

Foram consideradas nesta análise precipitações em horas anteriores às amostras com

concentrações superiores à 400 UFC/100mL e anteriores às amostras consideradas impróprias. Os

resultados desta análise comparativa para cada uma das praias estão ilustrados nas tabelas a seguir

(Tabelas 13 a 25).

A partir dos resultados obtidos para cada praia foi possível fazer uma comparação entre as

praias localizadas na Baía de Santos e as praias localizadas na Baía de São Vicente, sendo que a

última de acordo com os trabalhos anteriores possui uma taxa de renovação das águas menor

quando comparada à Baía de Santos. Também foi feita uma análise comparativa do número de

amostras referentes a datas em que cada praia foi considerada própria ou imprópria e a concentração

de Enterococcus (Tabela 26).

Na Ponta da Praia (Tabela 13) há uma forte relação entre altas concentrações de

Enterococcus e altos valores de precipitação, principalmente quando se considera a chuva nas 48

horas anteriores às amostras, resultado semelhante ao de um estudo recente deste autor (RUIZ

2015). Enquanto que as amostras dadas como impróprias não apresentam uma relação expressiva

com os valores de precipitação nas horas anteriores à coleta.

55

Tabela 13 – Relação entre chuva e balneabilidade na Ponta da Praia em Santos no período de 2014-2015

Ponta da Praia

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

21 amostras

25 amostras

24 amostras

(30/290

amostras)

70,0%

83,3%

80,0%

Imprópria

16 semanas

16 semanas

21 semanas

(49/ 104

semanas)

32,7%

32,7%

42,9%

Na tabela 14, verifica-se que a praia da Aparecida apresenta resultados semelhantes à Ponta

da Praia, apresentando forte relação entre as amostras com concentrações superiores a 400

UFC/100mL e altos valores de precipitação e baixa relação quando consideradas todas as amostras

dadas como impróprias. A praia do Embaré também se caracteriza por apresentar uma forte relação

entre altos valores pluviométricos e altas concentrações bacterianas (Tabela 15).

Tabela 14 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia da Aparecida em Santos no período de 2014-2015

Aparecida

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

18 amostras

20 amostras

19 amostras

(23/290

amostras)

78,3%

87%

82,6%

Imprópria

15 semanas

15 semanas

19 semanas

(41/104 semanas)

36,6%

36,6%

46,3%

56

Tabela 15 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do Embaré em Santos no período de 2014-2015

Embaré

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

18 amostras

22 amostras

21 amostras

(28/290

amostras)

69,2%

84,6%

80,8%

Imprópria

20 semanas

19 semanas

22 semanas

(48/104 semanas)

41,7%

39,6%

45,8%

É possível observar que a maior relação se apresenta no acumulado das 48 horas anteriores

à coleta para as três praias (Ponta da Praia, Aparecida e Embaré).

As praias do Boqueirão e do Gonzaga, por sua vez, apresentaram a maior relação nas 72

horas anteriores à coleta (Tabelas 16 e 17). Na primeira, 26 das 28 amostras apresentam uma

precipitação de pelo menos 20 mm nas 72 horas antecedentes à coleta, enquanto na segunda, foram

33 em 38 amostras.

Tabela 16 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do Boqueirão em Santos no período de 2014-2015

Boqueirão

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

21 amostras

25 amostras

26 amostras

(28/290

amostras)

75,0%

89,3%

92,9%

Imprópria

19 semanas

19 semanas

23 semanas

(46/104 semanas)

41,3%

41,3%

50,0%

57

Tabela 17 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do Gonzaga em Santos no período de 2014-2015

Gonzaga

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

30 amostras

31 amostras

33 amostras

(38/290

amostras)

78,9%

81,6%

86,8%

Imprópria

19 semanas

24 semanas

32 semanas

(50/ 104

semanas)

38%

48%

64%

As duas praias localizadas no José Menino (Tabelas 18 e 19) também apresentam forte

relação, acima de 70% e 80% respectivamente, nas 24, 48 e 72 horas antecedentes à coleta.

Tabela 18 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do José Menino (R. Olavo Bilac) em Santos no período de

2014-2015

José Menino (R. Olavo

Bilac)

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

29 amostras

29 amostras

31 amostras

(39/290 amostras)

74,4%

74,4%

79,5%

Imprópria

18 semanas

21 semanas

26 semanas

(48/ 104 semanas)

37,5%

43,8%

54,2%

58

Tabela 19 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do José Menino (R. Fred Ozanan) em Santos no período

de 2014-2015

José Menino (R. Fred

Ozanan)

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

24 amostras

25 amostras

25 amostras

(29/290 amostras)

82,8%

86,2%

86,2%

Imprópria

18 semanas

21 semanas

28 semanas

(49/ 104 semanas)

37,5%

43,8%

57,1%

É importante destacar que, devido às coletas realizadas pela prefeitura, foram realizadas

290 coletas nas praias de Santos neste período de dois anos, enquanto em São Vicente foram 104

amostragens. Portanto as praias de Santos apresentam resultados mais representativos para essa

análise quando comparadas com as praias de São Vicente.

Observando ainda os resultados, as praias de São Vicente localizadas na Baía de Santos

(Divisa, Itararé e Ilha Porchat) raramente apresentam concentrações superiores ao limite

estabelecido pela norma para que a praia seja dada como imprópria por uma única amostra, como

pode ser observado nas Tabelas 20, 21 e 22.

59

Tabela 20 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia da Divisa em São Vicente no período de 2014-2015

Divisa

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

5 amostras

5 amostras

5 amostras

(7/104 amostras)

71,4%

71,4%

71,4%

Imprópria

16 semanas

20 semanas

24 semanas

(51/ 104

semanas)

31.4%

39.2%

47.1%

Tabela 21 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do Itararé em São Vicente no período de 2014-2015

Itararé

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

3 amostras

3 amostras

3 amostras

(3/104 amostras)

100%

100%

100%

Imprópria

11 semanas

14 semanas

16 semanas

(30/ 104

semanas)

36,7%

46,7%

53,3%

60

Tabela 22 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia da Ilha Porchat em São Vicente no período de 2014-2015

Ilha Porchat

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

1 amostras

1 amostras

1 amostras

(2/104 amostras)

50%

50%

50%

Imprópria

11 semanas

16 semanas

18 semanas

(32/ 104

semanas)

34,4%

50%

56,3%

Enquanto que as praias localizadas na Baía de São Vicente são consideradas como

impróprias na maior parte do tempo, atingindo o limite de 400UFC/100mL em aproximadamente

uma a cada 5 amostras. Observa-se também que estas praias não apresentam uma forte relação

entre altas concentrações bacterianas e altas precipitações. Isso se dá provavelmente porque a

região é muito afetada por descargas de esgoto provenientes do interior do estuário e também pela

ausência de comportas na sua rede de drenagem afluente às praias. Os resultados da análise para

estas praias estão ilustrados nas Tabelas 23, 24 e 25.

Tabela 23 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia dos Milionários em São Vicente no período de 2014-2015

Milionários

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

13 amostras

15 amostras

16 amostras

(22/104

amostras)

59.1%

68.2%

72.7%

Imprópria

23 semanas

29 semanas

38 semanas

(89/ 104

semanas)

25,8%

32,6%

42,7%

61

Tabela 24 – Relação entre chuva e balneabilidade na praia do Gonzaguinha em São Vicente no período de 2014-

2015

Gonzaguinha

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

14 amostras

13 amostras

14 amostras

(20/104

amostras)

70%

65%

70%

Imprópria

23 semanas

30 semanas

39 semanas

(89/ 104

semanas)

25,8%

33,7%

43,8%

Tabela 25 – Relação entre chuva e balneabilidade na prainha em São Vicente no período de 2014-2015

Prainha

Acumulado 24h

(>10mm)

Acumulado 48h

(>15mm)

Acumulado 72h

(>20mm)

>400

UFC/100mL

10 amostras

11 amostras

14 amostras

(21/104

amostras)

47,6%

52,4%

66,7%

Imprópria

22 semanas

26 semanas

35 semanas

(80/ 104

semanas)

27,5%

32,5%

43,8%

Verifica-se, através das Tabelas 23 a 25, que as praias localizadas na Baía de São Vicente

(Milionários, Gonzaguinha e Prainha) apresentaram altos valores de Enterococcus durante o ano

todo, o que evidentemente afeta a balneabilidade dessas praias. Este fato também pode ser

observado na Figura 29, que ilustra a porcentagem de tempo em que as praias foram dadas como

62

própria para banho no período de estudo, enquanto a Figura 30 ilustra a relação entre elevadas

concentrações de Enterococcus (superiores à 400 UFC/100 ml) e altos valores de precipitação para

as 24, 48 e 72 horas antecedentes à coleta.

Figura 29 - Balneabilidade das praias da região no período de estudo (2014-2015)

Figura 30 – Relação entre altas concentrações de Enterococcus e altos índices pluviométricos

63

Na Figura 30, observa-se fortes correlações entre a ocorrência de altas concentrações e altos

valores de precipitação para as praias localizadas na Baía de Santos (50% a 100%), enquanto que

para as praias localizadas na Baía de São Vicente não há uma relação representativa (47,6% a

72,7%). Considerando todas as amostras impróprias, é possível observar que não há uma forte

relação para a Baía de Santos (31,4% a 64%) ou para a Baía de São Vicente (25,8% a 43,8%).

Quando é feita uma comparação entre a balneabilidade das praias de São Vicente

localizadas na Baía de Santos e localizadas na Baía de São Vicente, é possível verificar que a

fisiografia da praia, responsável por interferir na hidrodinâmica, é um fator importante também a

ser considerado na qualidade das águas da região em estudo.

Observa-se também que as vezes uma praia pode ser dada como imprópria devido à média

das últimas 5 amostras, e a mesma apresentar baixas concentrações de Enterococcus. Isso ocorre

porque esta metodologia considera coletas que variaram em um horizonte temporal de

aproximadamente duas semanas (para as praias de Santos) até um mês (para as praias de São

Vicente) anteriores à amostra atual. A Tabela 26 a seguir ilustra o número de semanas em que cada

praia ficou imprópria e em quantas dessas amostras a concentração de Enterococcus observada foi

regular (inferior 100 UFC/100mL) ou baixa (inferior a 50 UFC/100mL). Na mesma Tabela é

possível verificar o número de semanas em que cada praia foi classificada como própria, bem como

quantas dessas amostras apresentaram altas concentrações de Enterococcus, superior a 200

UFC/100mL.

64

Tabela 26 – Comparação entre o número de semanas impróprias e as concentrações de Enterococcus na área de estudo

no período 2014-2015

Praia Nº semanas

próprias

N º amostras >200

UFC/100mL

Nº semanas

impróprias

Nº amostras <50

UFC/100mL

Ponta da Praia

55

2

3,6%

49

18

36,7%

Aparecida

63

3

4,8%

41

10

24,4%

Embaré

56

2

3,6%

48

12

25,0%

Boqueirão

56

2

3,6%

48

12

25,0%

Gonzaga

54

3

5,6%

50

17

34,0%

José Menino (R.

Olavo Bilac)

56

3

5,6%

48

19

39,6%

José Menino (R.

Fred Ozanan)

55

2

3,6%

49

20

40,8%

Divisa

53

3

5,7%

51

23

45,1%

Itararé

74

4

5,4%

30

14

46,7%

Ilha Porchat

72

0

0,0%

32

16

50,0%

Milionários

15

1

6,7%

89

19

21,3%

Gonzaguinha

15

0

0,0%

89

21

23,6%

Prainha

24

0

0,0%

80

18

22,5%

Todas as praias apresentaram uma porcentagem expressiva de amostras impróprias que

apresentaram baixos valores de Enterococcus (21,3% a 50%), sendo que a praia que apresentou a

menor relação entre o número de semanas imprópria e baixas concentrações microbiológicas foi a

praia dos Milionários, em São Vicente (21,3%). Nessa praia, verifica-se que em 19 das 89 semanas

65

em que a praia foi considerada imprópria, a concentração de Enterococcus foi inferior a 50

UFC/100mL. A praia da Ilha Porchat apresentou a maior relação, sendo que das 32 semanas em

que foi considerada imprópria, a concentração foi inferior a 50 UFC/100mL em 16.

Foram menos frequentes as ocorrências de altas concentrações microbiológicas em semanas

que a praia foi considerada própria, observando-se assim que o método utilizado é bastante

conservador. Mesmo assim, é importante destacar que esta é a pior situação, uma vez que o número

de pessoas que entram em contato prolongado com a água tende a ser maior, assim como a

probabilidade de ocorrência de doenças transmitidas através deste contato.

6.2 MODELAGEM NUMÉRICA

Os valores de T90 fixos adotados foram os valores máximo e mínimo da variação diária (15

horas e 70 horas), que representam a pior e a melhor situação, respectivamente. Os resultados dos

cenários simulados podem ser analisados a seguir (Figura 31 a Figura 36).

6.2.1 Taxa de decaimento bacteriano variável

A Figura 31 apresenta os resultados do modelo, considerando uma taxa de decaimento

bacteriano variável ao longo do dia, devido à incidência de radiação solar. Nota-se que as descargas

de drenagem geram impactos consideráveis na região da Baía de Santos, enquanto que a região da

Baía de São Vicente não apresentou grandes variações nas concentrações bacterianas.

66

Figura 31 – Resultados do modelo numérico considerando T90 variável. (a) sem considerar as cargas da drenagem

urbana; (b) considerando as cargas da drenagem urbana

A Figura 32 ilustra resultados de série temporal do modelo para alguns dos pontos durante

um período curto, correspondente a um evento de precipitação e abertura das comportas localizadas

na cidade de Santos. É possível verificar que a praia dos Milionários, localizada na Baía de São

Vicente, não apresentou variações representativas na concentração de Enterococcus. As outras três

praias estão localizadas na Baía de Santos, sendo a praia da Ilha Porchat pertencente ao município

de São Vicente. Nestas, é possível observar a influência das descargas provenientes da drenagem

urbana. As praias da Ilha Porchat e do Gonzaga apresentaram um decaimento bacteriano

relativamente lento após as descargas, enquanto a Ponta da Praia apresentou um pico de

concentração bem definido. Vale ressaltar que o cenário com T90 variável ao longo do dia,

(a)

(b)

67

representa o cenário mais próximo da realidade, apresentando variações na qualidade da água

durante todo período. As altas concentrações de Enterococcus na Ponta da Praia e na praia dos

Milionários em períodos de baixa ou nenhuma pluviosidade estão associadas a descargas no

estuário.

Figura 32 – Séries temporais de concentrações bacterianas durante um evento de precipitação, considerando uma

taxa de decaimento bacteriano variável

6.2.2 Taxa de decaimento bacteriano fixa em 70 horas

A Figura 31 apresenta os resultados do modelo considerando uma taxa de decaimento

bacteriano fixa ao longo do dia (70 horas). No presente cenário, observa-se que as descargas de

drenagem não provocaram alterações consideráveis na concentração de Enterococcus nas praias

da baía de São Vicente, e sim naquelas localizadas na cidade de Santos. Quando comparado ao

cenário anterior (Taxa de decaimento variável), apresenta-se uma situação mais crítica, com

concentrações maiores da ordem de 10³ Enterococcus em 100mL, o que é perfeitamente

compreensível uma vez que neste cenário consideramos um decaimento mais lento em todo o

ambiente.

68

Figura 33 – Resultados do modelo numérico considerando T90 fixo em 70 horas. (a) sem considerar as cargas da

drenagem urbana; (b) considerando as cargas da drenagem urbana

Como observado anteriormente, na Figura 32, é possível verificar que as praias localizadas

na cidade de Santos apresentaram maiores variações, enquanto que as praias de São Vicente

(Milionários e Ilha Porchat) não apresentaram variação expressiva. É possível verificar também

concentrações de ordem de grandeza maior quando comparadas ao primeiro cenário, como foi

demonstrado na Figura 31.

(a)

(b)

69

Figura 34 – Séries temporais de concentrações bacterianas durante um evento de precipitação, considerando uma

taxa de decaimento bacteriano fixa em 70 horas

6.2.3 Taxa de decaimento bacteriano fixa em 15 horas

A Figura 33 apresenta os resultados do modelo considerando uma taxa de decaimento

bacteriano fixa ao longo do dia (15 horas). Assim como os cenários citados anteriormente, é

possível evidenciar que as praias localizadas na Baía de São Vicente encontram-se contaminadas

até mesmo em períodos de baixa ou nenhuma pluviosidade. É possível identificar também que as

praias localizadas na Baía de Santos apresentam, em eventos de precipitação, grandes variações na

concentração de Enterococcus em todos os cenários analisados.

70

Figura 35 – Resultados do modelo numérico considerando T90 fixo em 15 horas. (a) sem considerar as cargas da

drenagem urbana; (b) considerando as cargas da drenagem urbana

Através da Figura 34 o mesmo padrão observado nos cenários analisados anteriormente é

observado. É importante destacar que neste cenário hipotético a concentração bacteriana se mantém

abaixo do limite de 100 UFC/mL nas praias da Baía de Santos, sem considerar as descargas da

drenagem urbana e na Baía de São Vicente acima de 100 UFC/ml. Em eventos de precipitação, a

concentração de Enterococcus atinge o ápice logo após a abertura das comportas e decai

rapidamente. Na Baía de São Vicente ainda há contaminação uma vez que as concentrações nessa

região são mais elevadas quando comparadas com as concentrações na Baía de Santos, embora

nesse cenário elas ainda sejam de menor grandeza quando comparadas aos dois cenários analisados

anteriormente.

(a)

(b)

71

Figura 36 – Séries temporais de concentrações bacterianas durante um evento de precipitação, considerando uma

taxa de decaimento bacteriano fixa em 15 horas

72

7 CONCLUSÃO

Com base na análise percentual comparativa e nos resultados do modelo pode-se concluir

que as descargas provenientes da drenagem urbana em período chuvoso geram impactos

expressivos nas praias da Baía de Santos enquanto que nas praias da Baía de São Vicente, tanto as

descargas provenientes em período seco como em período chuvoso afetam a qualidade da água

dessas praias para fins balneares. Isso se dá principalmente devido a pressão antrópica constante

quando comparado a Santos devido ao maior número de áreas não atendidas pela rede coletora de

esgoto próximas as praias de São Vicente e a ausência de comportas na rede de drenagem afluente

às suas praias, ainda agravadas pela fisiografia da região que caracteriza a baixa hidrodinâmica

local.

De acordo com o presente estudo, as simulações incluindo as variações das taxas de

decaimento bacteriano (T90) foram coerentes com os resultados obtidos, demonstrando a influência

do T90 nas concentrações de Enterococcus na água em toda a região de estudo.

Observa-se também a necessidade de um monitoramento mais intensivo para subsidiar

ações de melhoria na gestão do problema, seja através de mudanças na metodologia adotada,

aumento da frequência de coletas ou na utilização de sistemas de previsão da qualidade da água a

fim de compreender melhor os fatores responsáveis pela má qualidade das águas balneares. Além

disso, estima-se que quanto mais preciso for o monitoramento da qualidade da água, menor será o

risco das pessoas contraírem doenças e a praia poderá ser dada como própria ou imprópria em uma

porcentagem maior do tempo, fato que implica em maior segurança para os banhistas dessas praias,

e no caso do aumento a propriedade das praias, um aumento do potencial turístico da região.

É importante ressaltar a relevância de se buscar soluções de engenharia para melhorar o

nível de atendimento da rede coletora de esgoto nas áreas não atendidas, incluindo as áreas

irregulares, bem como ações para diminuição das cargas de poluição difusa nas drenagens pluviais.

Para a região de Santos, deve ser avaliada a possibilidade de agregar o uso das comportas com

estudos mais detalhados de viabilidade de operação simultânea, tanto aquelas localizadas na orla

como as intermediárias.

Outros estudos futuros também podem vir a trazer contribuições para a região, entre eles a

determinação da taxa de decaimento da bactéria Enterococcus na região costeira do Brasil, e a

continuidade do trabalho realizado pelos pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas

73

da Unisanta, que têm como objetivo final a previsão em tempo real da qualidade das águas

balneares da região, através de projeto citado anteriormente no presente trabalho. Por fim, é

importante ressaltar que devido à grande presença e o aumento ocupacional de moradias irregulares

na região esta questão não pode ser desconsiderada ou ignorada, sendo um problema que deve ser

bem estudado, analisado e enfrentado.

74

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