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1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ OLGA MARIA DA SILVA TEDERIXE A ARTE ORATÓRIA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA LOCUTORES DE RÁDIO CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

OLGA MARIA DA SILVA TEDERIXE

A ARTE ORATÓRIA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA LOCUTORES DE

RÁDIO

CURITIBA

2012

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OLGA MARIA DA SILVA TEDERIXE

A ARTE ORATÓRIA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA LOCUTORES DE

RÁDIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada

ao Curso De Gestão e Produção de Rádio e

TV da Universidade Tuiuti do Paraná, como

requisito parcial para a obtenção do título de

especialista.

Orientador: José Nascimento

CURITIBA

2012

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TERMO DE APROVAÇÃO

Olga Maria da Silva Tederixe

A ARTE ORATÓRIA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA LOCUTORES DE

RÁDIO

Esta monografia foi julgada e aprovada com nota 9,0 para a obtenção do título de especialista no programa MBA

em Gestão e Produção em Rádio e Tv da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 04 de julho de 2012.

________________________

MBA em Gestão e Produção em Rádio e TV

Universidade Tuiuti do Paraná

Profª. Doutora Ana Paula da Rosa

Coordenadora dos cursos de comunicação

Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. Especialista Dátames Egg Segundo Professor dos cursos de Rádio e TV

Universidade Tuiuti do Paraná

Profª Mestre Patrícia Leal de Brum

Coordenadora do MBA em Gestão e Produção em Rádio e TV

Universidade Tuiuti do Paraná

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RESUMO

O rádio é, sem dúvida, um dos meios de comunicação mais fascinantes que existem.

Seus principais instrumentos são a voz e a imaginação. Por trabalhar basicamente com

esses elementos, o rádio precisa oferecer qualidade na transmissão de seus programas

para despertar o interesse e a audiência do ouvinte. Dentro deste contexto, o objetivo

principal é entender que a arte oratória, com todas as suas técnicas, pode contribuir

muito para esse sucesso. A oratória nasceu na Grécia, chegou a Roma, se expandiu por

todo o mundo, fazendo sua trajetória até os dias atuais. Deixou pela história inúmeros

oradores que marcaram suas épocas com seus discursos. Para o locutor de rádio, a arte

oratória pode oferecer muitos recursos que o ajudam no aperfeiçoamento da profissão.

O trabalho da voz é essencial para o comunicador de rádio. Deve ainda se preocupar

com a forma de expressão, com o entusiasmo, a naturalidade e principalmente com o

conhecimento do assunto. César, em sua obra Como Falar no Rádio de 1993, comenta

que para um locutor, a habilidade da fala é tão importante que se torna difícil conceber

seu trabalho dentro de um veículo, como o rádio, sem a linguagem. César destaca que

o bom profissional de rádio é avaliado pela sua originalidade, pelo poder de síntese,

criatividade, improvisação, carisma e uma voz bem colocada e que comunicar-se de

maneira equilibrada e criativa é fundamental para o sucesso do trabalho do locutor. O

comunicador que busca os recursos da oratória, pode ir mais longe em sua carreira e

consegue manter por mais tempo sua saúde vocal através de exercícios específicos.

Ainda neste contexto, a obra ―Bastidores do Rádio‖ de 1997, escrita por Fábio

Guerreiro, mostra que a voz é a identidade. É o principal veículo da emoção e do

pensamento. Técnicas vocais como respiração, dicção, articulação, projeção adequada

da voz, entre outras, contribuem para uma comunicação de mais qualidade.

Especialistas entrevistados concordam que a busca por qualificação é um dos meios

mais eficazes para alcançar a qualidade de comunicação exigida pelas grandes

emissoras, e fazer do locutor um profissional preparado. Todos apontam o uso das

técnicas de expressão verbal como um meio de adquirir cada vez mais o

aperfeiçoamento que leva ao locutor segurança na transmissão de seus programas e

revelam que a arte oratória pode contribuir para isso.

PALAVRAS-CHAVE: Oratória. Locução. Rádio. Comunicação. Técnica Vocal.

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ABSTRACT

The radio is undoubtedly one of the most fascinating media that exist. His main

instruments are his voice and imagination. By working primarily with these elements,

the radio needs to offer quality in the transmission of their programs to pique the

interest of the listener and audience. Within this context, the main objective is to

understand the oratorical art, with all its techniques, can contribute greatly to this

success. The oratory was born in Greece, came to Rome, spread throughout the world,

making his trajectory to the present day. He left numerous speakers in history that

marked his times with his speeches. For the broadcaster, the oratorical art can offer

many features that help in improving the profession. The voice work is essential for

the radio communicator. He should also worry about the form of expression, with

enthusiasm, naturalness and especially with the knowledge of the subject. Caesar, in

his book How to Talk Radio in 1993, says that for a speaker, the ability of speech is so

important that it becomes difficult to conceive of their work inside a vehicle, like

radio, without language. Caesar notes that a good professional radio is valued for its

originality, the power of synthesis, creativity, improvisation, charisma and a voice and

well placed to communicate in a balanced and creative is key to the success of the

work of the speaker. The communicator who seeks the resources of oratory, can go

further in your career and get to keep more of their vocal health through specific

exercises. Also in this context, the book "Behind The Scenes of Radio" from 1997,

written by Fabio Guerrero, shows that the voice is the identity. It is the main vehicle of

emotion and thought. Vocal techniques such as breathing, diction, articulation, proper

voice projection, among others, contribute to a better quality communication. Experts

interviewed agree that the quest for qualification is one of the most effective means to

achieve the quality of reporting required by the major networks, and make the speaker

a professional prepared. All point to the use of verbal techniques as a means of

acquiring more and more improvement that leads to the speaker transmission security

of their programs and show that art can contribute to this speech.

KEYWORDS: Oratory. Speaker. Radio. Communication. Vocal Technique.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 07

1 A HISTÓRIA DA ORATÓRIA E SUA IMPORTANCIA PARA A COMUNICAÇÃO

......................................................................................................................................................... 10

1.1 OS GREGOS E OS ROMANOS ........................................................................................... 10

1.2 ORADORES CONTEMPORÂNEOS ................................................................................... 13

1.3 ARTE DA PALAVRA NOS DIAS ATUAIS ........................................................................ 20

1.4 A CONTRIBUIÇÃO DA ORATÓRIA PARA A COMUNICAÇÃO DE RÁDIO ............... 21

2 A ARTE ORATÓRIA E SUA APLICAÇÃO PARA LOCUTORES DE RÁDIO ........ 24

2.1 INSTRUMENTO FUNDAMENTAL DA COMUNICAÇÃO ............................................. 25

2.1.1 A voz ...................................................................................................................................... 25

2.1.2 Saúde vocal ............................................................................................................................ 27

2.1.3 Respiração .............................................................................................................................. 28

2.2 ARTICULAÇÃO, DICÇÃO E RITMO ................................................................................. 29

2.3 A MUSICALIDADE DA FALA ........................................................................................... 31

2.4 O CONHECIMENTO ............................................................................................................ 33

2.5 O ENTUSIASMO .................................................................................................................. 34

2.6 A NATURALIDADE ............................................................................................................ 35

2.7 O GESTUAL .......................................................................................................................... 36

2.8 O VOCABULÁRIO ............................................................................................................... 37

2.9 O USO DO MICROFONE ..................................................................................................... 38

2.10 EXPRESSÃO VOCAL NO RÁDIO JORNALISMO ............................................................ 39

3 LEVANTAMENTO DE CAMPO ...................................................................................... 41

3.1 DESCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS .................................................................................... 41

3.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS .......................................................................................... 42

3.2.1 Análise das entrevistas com os locutores ............................................................................... 42

3.2.2 Análise das entrevistas com os professores ............................................................................ 47

3.2.3 Análise das entrevistas com as fonoaudiólogas ..................................................................... 54

3.3 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 58

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 62

OUTRAS REFERÊNCIAS........................................................................................................... 65

APÊNDICE .................................................................................................................................... 66

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INTRODUÇÃO

Vivemos na era da comunicação. Pode-se dizer que a comunicação é uma das

base para interação humana, do relacionamento entre seres humanos. E é mais do que

comprovado que o rádio ocupa lugar privilegiado entre os meios de comunicação

social no Brasil, sendo o mais popular e de maior alcance público. E dentro desse meio

de comunicação está o locutor. O dicionário define locução como "o modo especial de

falar, linguagem. Maneira de dizer, dicção. Reunião de palavras equivalentes a uma

só". (FERREIRA, A. B. H. - 1980). Portanto, o locutor é elemento fundamental no

rádio. O rádio mudou muito desde o seu nascimento e hoje utiliza uma linguagem mais

próxima do dia-a-dia das pessoas. Porém, a comunicação de qualidade é fator

fundamental no rádio. Para isso é indispensável o aprendizado das técnicas vocais, da

linguagem clara e bem articulada, do gestual, do texto bem elaborado e de recursos

que auxiliem o locutor na sua atividade profissional. A expressão verbal, ou oratória, é

arte de falar em público e as técnicas dessa arte precisam ser buscadas e trabalhadas

por todo aquele que deseja tornar-se comunicador de sucesso. Muitos comunicadores

marcaram a história deixando sua contribuição através dos tempos. Mesmo antes do

surgimento do rádio, grandes comunicadores fizeram o público vibrar com sua voz,

eloquência e poder de persuasão.

O maior orador que o mundo já conheceu foi Jesus Cristo. Porém, Jesus nada

escreveu. A única vez que escreveu foi na areia, mas seus ensinamentos foram

transmitidos de viva voz e suas lições atravessam o tempo e chegam até os dias de hoje

(OLIVEIRA, 2000). Sócrates também jamais escreveu alguma coisa. Todavia, seus

ensinamentos formaram a mentalidade de seu povo. A grande influência de Sócrates

deve-se a sua forma de falar que ia diretamente ao coração dos discípulos. No entanto,

tem-se em Demóstenes, o maior dos aradores da antiguidade, que chegou à perfeição

apesar dos obstáculos de sua constituição física. Demóstenes resolveu triunfar de todos

os obstáculos e tornou-se o pai da oratória. Assim, tem-se em Demóstenes um

aplicador literal das regras estabelecidas para a arte de falar, iniciada pela praticidade

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de Corax1, ampliada pela engenhosidade artística de Isócrates e aprimorada pela

inteligência de Aristóteles, que soube associar a prática da primeira com a elevação do

pensamento desta última, transformando as duas disciplinas, oratória e retórica, numa

arte admirável. Arte que chegou a Roma e consagrou Cícero como o maior orador

romano (POLITO, 2002).

E o que esta pesquisa pretende? Mostrar que a arte oratória pode ser

desenvolvida por todo profissional da voz, inclusive por locutores de rádio. É neste

foco que esse estudo vai trabalhar, esclarecendo a importância da comunicação de

qualidade transmitida através das ondas do rádio pelos locutores e profissionais da

voz. A grande questão é se a qualidade na comunicação tem sido considerada um fator

importante nos diversos programas de rádio e até que ponto os locutores dão

importância às técnicas de expressão verbal para melhorar a comunicação e a

compreensão do ouvinte. A valorização das técnicas verbais é uma das primeiras

necessidades para comunicadores de rádio. Segundo os estudiosos pesquisados para a

realização deste trabalho, as técnicas oratórias são um meio de melhorar a

comunicação e fazer o ouvinte compreender e aderir ao conteúdo oferecido.

O principal objetivo desta pesquisa é permitir que se compreenda a contribuição

das técnicas oratórias para locutores, conhecer suas técnicas e sua importância para a

comunicação, principalmente em programas de rádio. E também perceber porque é

relevante a aplicação das técnicas vocais e de expressão verbal por parte dos

profissionais de rádio, permitindo que as mesmas os ajude no aperfeiçoamento da

profissão. A pesquisa analisa e compara os diversos pontos de vista de locutores de

rádio, professores de cursos de oratória e fonoaudiólogos sobre a importância destas

técnicas para os profissionais da locução radiofônica.

1 Corax de Siracusa, advogado e orador famoso, escreveu o primeiro tratado de que se tem conhecimento sobre a

arte de falar. A obra tinha o nome de Tekné, foi escrito com a ajuda de seu discípulo Tísias. Corax escreveu esta

obra para orientar os advogados que se propunham a defender as causas das pessoas que desejassem reaver seus

bens e propriedades tomados pelos tiranos.

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A pesquisa visa gerar conhecimento teórico e prático do assunto proposto com o

fim de buscar uma compreensão satisfatória. No primeiro capítulo serão utilizadas

obras que narram a história desta arte tão antiga e sua evolução para os dias atuais

revelando sua importância em todos os ramos da comunicação, com destaque para a

comunicação de rádio. O segundo capítulo mostrará como a aplicação da oratória pode

melhorar a comunicação dos locutores de rádio, com o objetivo de aperfeiçoar a

projeção de voz, adquirir mais habilidade na fala, alcançar um padrão que ajude o

locutor a fazer uso de sua voz por mais tempo e com mais saúde vocal, além de

proporcionar uma comunicação com mais qualidade. No terceiro capítulo serão

entrevistados apresentadores de programa de rádio, professores de cursos de oratória e

expressão verbal, e fonoaudiólogos que apreciam a comunicação de rádio, onde serão

estudadas as opiniões e registradas para a devida comparação.

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1 A HISTÓRIA DA ORATÓRIA E SUA IMPORTÂNCIA PARA A

COMUNICAÇÃO

A arte da palavra, ou arte de falar com eloqüência, desempenhou um papel

capital desde as origens da história até os nossos dias. Em todos os tempos e lugares,

as multidões vibraram diante da palavra veemente dos grandes comunicadores

(SENGER, 1960). O brilho da eloquência em todos os tempos, fascinou a humanidade.

Das eras mais remotas aos dias atuais, o manejo da palavra serviu para deleitar,

convencer, persuadir. Grandes artistas da apalavra apareceram ontem e aparecem hoje

(CARNEIRO, 1981). O conhecimento das técnicas práticas, ligadas ao

desenvolvimento de uma melhor condição de comunicação oral, está voltada à arte de

persuadir, e preocupada, sobretudo, com a beleza da fala e da voz. (LOPES, 2000).

Para entender mais sobre esse assunto e conhecer importantes técnicas de oratória, é

interessante relembrar um pouco de sua história.

1.1 OS GREGOS E OS ROMANOS

Os gregos, que inventaram a democracia, foram os primeiros a estudar as

técnicas do discurso e a dedicar-se à arte de falar em público. Comunicar-se bem era a

coisa de que todos precisavam e que deviam aprender. Não demorou muito para que

todos desejassem conquistar os segredos dessa nova arte. A palavra que até então não

havia sido levada a sério, passou a ser objeto de estudo. Então surgiu a Retórica,

palavra grega que deriva de retos, que é a palavra falada (SILVA, 2008). Segundo

Camara, (1989), foi em Atenas, entretanto, que a retórica encontrou campo fértil para

o seu desenvolvimento. Nesta arte, se destacaram os sofistas, filósofos e mestres

respeitáveis que muito contribuíram para a formação da sociedade grega.

Senger (1960, p.13-14) comenta sobre o ensino dos sofistas:

Os sofistas vangloriavam-se não só de falar abundante e espontaneamente sobre

qualquer assunto, mas de comunicar aos discípulos este dom. A sofística exerceu por

certo grande influência sobre a oratória. Os sofistas possuíam numerosos

conhecimentos úteis que comunicavam aos seus discípulos, que aprendiam a falar

efusivamente e, sobretudo, a argumentar. O ensino dos sofistas podia dividir-se em

quatro processos: as leituras públicas, redigidas numa bela linguagem e declamadas

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diante de um auditório geralmente muito variado; as sessões de improviso, onde

davam-se oportunidade a longas exposições em resposta a questões formuladas pelos

ouvintes; a crítica dos poetas, que era uma espécie de leitura explicada das obras de

Homero ou de Hesíodo, ou ainda considerações sobre as regras de versificação e de

gramática e as disputas erísticas, conhecidas como combates de palavras.

Isócrates2 implantou a disciplina da retórica no currículo escolar dos estudantes

atenienses. Foi professor de eloqüência por cinqüenta e cinco anos. Isócrates foi muito

dedicado no estudo e ensino da oratória, colaborando para a formação de muito

atenienses. Para ele, a retórica é a fonte inspiradora de todos os saberes que fecundam

a cultura humana, pois se dedica ao ensino de todas as formas de discurso em que a

mente humana se expressa. O ensino deste mestre pode ser caracterizado como prático

O estilo deveria ser claro e de fácil compreensão, que ao ouvinte atento ele pudesse

revelar um conjunto de alusões históricas ou filosóficas, de ficções ou ornamentos,

com fim educacional (ROHDEN, 1997).

Outro grande destaque da arte retórica foi Aristóteles. Ramos (1971, p.105)

admite: ―O maior filósofo da antiguidade, verdadeiro espírito enciclopédico, estendeu

sua influência não somente à cultura grega e latina, mas a toda cultura francesa.‖ Este

grande pensador escreveu um livro intitulado Retórica, uma das mais antigas obras do

gênero chegadas até nós e da qual se extraiu a matéria de todos os tratados antigos de

arte oratória e, mesmo, modernos (RAMOS, 1971).

Para Aristóteles a retórica pode ser definida como a faculdade de observar

meios de persuasão disponíveis em qualquer caso. Essa não é a função de uma arte

qualquer. Todas as outras artes podem instruir ou persuadir sobre seus próprios

objetivos de estudo específicos. Nenhuma outra arte esboça conclusões opostas,

somente a dialética e a retórica são capazes de fazê-lo. A retórica é considerada como

o poder de observar os meios de persuasão em quase todos os assuntos que se

apresentam. Camara (1989, p. 85-86) diz: ―Fundava-se Aristóteles mais no sentimento

2 Isócrates foi um proeminente orador, comentador político, figura ligada a Educação. Foi contemporâneo e amigo de

Platão. Foi também aluno de Górgias e Pródico. Fundou a Escola de Retórica -Levando sua oratória a perfeição, foi

conhecido nas gerações seguintes como ―gênio pedagógico‖. -Produziu várias críticas, entre elas aos Dialéticos, aos que

ensinavam ―discursos políticos. Já com idade avançada, tornou-se campeão do discurso escrito. Foi professor de Retórica.

Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/1704259-is%C3%B3crates-vida-obra-import%C3%A2ncia/#ixzz1w55M0qsA

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do que nas provas, enquanto os sofistas baseavam-se na lógica e na dialética. Para ele,

a retórica era o instrumento da opinião ideológica‖.

Mas quem foi considerado o maior orador grego? Demóstenes, o maior dos

oradores da antiguidade, chegou à perfeição apesar dos obstáculos de sua frágil

constituição física. Mesmo com suas limitações na elocução e na voz, que lhe

dificultavam a pronuncia do ―r‖ e não permitiam se fizesse ouvir à distância, fatos que

lhe custaram apuros e fracassos, conseguiu, à força de muitos exercícios e grandes

sacrifícios, ser considerado não apenas o maior orador de seu tempo, como de toda a

antiguidade. D‘Araujo (1974, p.25), comenta o esforço de Demóstenes para corrigir

seus problemas: ―Demóstenes declamava com a boca cheia de seixos para corrigir

vícios de pronuncia e passava meses a fio em casa, para estudar a obra de Tucídides3 e

imitar seu estilo‖.

Com determinação e perseverança, Demóstenes resolveu triunfar de todos os

obstáculos. Sobre isso, Senger (1960, p. 18) relata:

Primeiro fortaleceu o peito por meio de longas corridas. A fim de vencer o cacoete do

ombro, exercitava-se diante de um espelho e sob a ponta de uma espada suspensa, cuja

picada dolorosa o advertia de que era preciso conter-se. Para não se distrair de seus

trabalhos, fechou-se num aposento subterrâneo, construído à propósito. Mandou

escanhoar a metade da cabeça e da barba, para que a vergonha de aparecer em público

o impedisse de sair. Um célebre comediante, seu amigo Sátiro, deu-lhe aulas de

declamação, formou-o na ação oratória e na pronúncia.

E o que dizer de Roma e seus grandes oradores? Em Roma a retórica foi

retomada como oratória e ficou consagrada, dentre outros, por Cícero, o grande orador

romano. Se na Grécia antiga a oratória obteve prestigio extraordinário, devido à

cultura de seu povo e aos debates polêmicos, já o mesmo não ocorria no Império

Romano, onde se valorizava a disciplina guerreira e a obediência às leis. Mas nos

meados do II século a.C., com a incorporação da Grécia ao Império Romano, como

sua província, a arte retórica floresceu em Roma e o gosto pela palavra e a arte de

persuadir, de passar idéias e aprimorar os discursos começou a ser buscado. Houve

mais interesse pelas figuras de ornato, o aprimoramento do estilo retórico, a formação

3 Tucídides, 460 a.C., 400ª.C., (Grécia) foi General-Historiador, escreveu uma história da Guerra do Peleponeso

O livro traz uma ampla introdução, na qual trata das origens da raça helênica. A História, contudo, permaneceu

incompleta, detendo-se abruptadamente nos eventos do ano 400 a.C. Uol Educação. WWW.educação.uol.com.br

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das frases melhores, a gesticulação, a elocução e o capricho da disposição dos

assuntos, passaram a ser a preocupação de todos aqueles que tinham necessidade de

usar da palavra e, como conseqüência, os retores eram procurados (RAMOS, 1971).

Pacheco (2008, p. 12) comenta: ―A oratória então, se consolidou através do

Império Romano, transformando-se em disciplina obrigatória, já que ensinava como

falar de maneira a conquistar o público.‖ Entre os oradores romanos se destaca Tibério

Graco que pelos seus méritos oratórios fora elevado à categoria de tribuno e seu irmão

Caio, que lutou em campanhas para o povo. (RAMOS, 1971). Porém, quem

conquistou o primeiro lugar na arte oratória em Roma foi Cícero. Marco Túlio Cícero,

o maior orador dos oradores romanos, só depois de longos anos de estudos completos

e minuciosos é que Cícero fez sua primeira apresentação pública. Foi um feliz começo.

Cícero chegou à perfeição oratória porque recebeu da natureza os dons essenciais que

sempre procurou desenvolver por exercícios adequados (SENGER, 1960).

É notável observar nas atividades políticas, os discursos de Cícero. Nesta, o

jovem orador defendia Roscio de Ameria, acusado de parricídio por Crisógono,

favorito de Sila. Embora cauteloso, não ficou sem levantar seu nobre protesto contra

os horrores daquele tempo, que pareciam ter apagado nos homens todo o sentido de

humanidade e que, além do mais, teriam feito desaparecer do mundo toda liberdade. É

significativo, que Cícero tenha iniciado a sua carreira com tal peroração:

Não há ninguém entre vós que não compreenda como o povo romano, julgado uma

vez brandíssimo para com os inimigos, esteja em nossos dias doente de uma

crueldade quase doméstica. Esta, ó juízes, expulsai da sociedade, esta não deixais

que mais não se abata no nosso estado; pois não somente tem em si o mal de ter

tirado do nosso meio sob a forma mais atroz tantos cidadãos, mas também de ter

suprimido no coração dos mais brandos a misericórdia por causa do hábito das

violências. Com efeito, quando a toda hora nós vemos e ouvimos chegar algo de

atroz, também se por natureza somos benevolentíssimos, por causa da freqüência

dos crimes, perdemos todo sentido de humanidade, do nosso ânimo

(CARLETTI,1987p.14-15).

Vale ressaltar o nome de outro orador famoso, Fábio Quintiliano. Chegou muito

jovem em Roma para formar-se na arte oratória nas escolas de declamações e aprender

a falar em público. Tal como Cícero, Quintiliano foi profundamente influenciado por

Isócrates. A finalidade da educação era a formação de cidadãos hábeis no uso da

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palavra e, em particular, aspirantes a altos cargos públicos. O aluno apto para tal

formação deve possuir a excelência moral inata, sem defeitos de caráter, que pode ser

moldado através da disciplina de uma educação completa e profunda. O instrumento

para alcançar essa meta é a oratória. Quintiliano deixou o primeiro tratado sistemático

sobre educação, numa obra intitulada "Institutio Oratoria". Como o próprio título

indica, é uma obra sobre a formação do orador, tratando dos métodos de instrução, em

termos de objetivos, conteúdos e técnicas. (GILES, 1987).

É, porém, difícil falar em retórica romana sem mencionar o nome de Júlio Cezar.

Cezar foi o primeiro orador do seu tempo. Júlio Cezar, incontestavelmente, foi o maior

dos romanos. Reunia em sua pessoa uma gama imensa de qualidades (RAMOS3

1971). Sodré (1948) deixou o seguinte registro sobre Cezar: ―Foi um grande soldado,

um estadista extraordinário. Um escritor fino e elegante. E, também, um orador

primoroso, dos mais notáveis da antiguidade‖.

A respeito de Cezar, Sodré (1948, p. 137), ainda faz o seguinte comentário:

O nome de Cezar é tão glorioso na história militar e política, que seus méritos como

escritor e orador passam, em geral, despercebidos. Mas não importa. A verdade é que

a glória de Cezar permanece como uma das mais puras da antiguidade. As virtudes

oratórias de Cezar são reconhecidas. Seus rasgos de eloqüência ressoam ainda hoje.

Segundo o autor, Cezar foi sempre, invariavelmente, um homem eloqüente. Era uma

figura imponente. Possuía bela voz, tinha fluência, sua gesticulação impressionava.

Tácito chamou-o de rival dos grandes oradores. E Mommsen apontou-o como um

orador da palavra viril, desdenhoso dos artifícios dos advogados, iluminando, dando

calor ao auditório com a sua chama viva e clara.

1.2 ORADORES CONTEMPORANEOS

Mas afinal, quem são os grandes oradores contemporâneos, homens que

marcaram sua época com seus discursos vibrantes e inflamados? Foram pessoas que

convenceram pela arte da palavra e oratória. E é interessante perceber que a oratória,

usada por grandes nomes da vida pública, é um dos recursos mais poderosos que um

ser humano pode ter. Talvez até o mais poderoso. Lula, Vargas, Gandhi… quantos

líderes fizeram uso das palavras para unir multidão.

Entre os muitos nomes conhecidos, destaca-se Martin Luther King, Jr, um dos

mais conhecidos defensores da mudança social não violenta do século XX. As

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excepcionais habilidades de oratória e valentia pessoal de King atraíram a atenção

nacional. Martin Luther King não era um sonhador, perseguia um sonho. Através da

sua oratória conseguiu que milhões de norte-americanos negros o seguissem e se

libertassem do seu medo, da sua escravatura mental, da sua apatia e se atrevessem a

sair à rua para reclamar os seus direitos. Uma das maiores apresentações de King foi o

discurso pronunciado na escadaria do Monumento a Lincoln, em Washington, e que

foi ouvido por mais de 250.000 pessoas de todas as etnias, reunidas na capital dos

Estados Unidos da América. A manifestação foi um estrondoso sucesso, e o discurso

conhecido sobretudo pela frase permanentemente repetida no meio do discurso «I

have a Dream»4 (Eu tenho um sonho), mas também pela frase que é repetida no fim -

«That Liberty Ring» (Que a Liberdade ressoe), que retoma o poema patriótico

«América», tornou-se, com o discurso de Lincoln em Gettysburg, um dos mais

importantes da oratória americana. (AMARAL, 2008). King tinha o poder, a

habilidade e a capacidade de transformar aqueles degraus no Lincoln Memorial em um

púlpito moderno. Falando do jeito que fez, ele conseguiu educar, inspirar e informar

[não apenas] as pessoas que ali estavam, mas também pessoas em todo os EUA e

outras gerações que nem sequer haviam nascido.

Outro modelo de orador, um exemplo de liderança, Mahatma Gandhi, mostrou

ao mundo como mudar o curso da história de toda uma nação através de métodos

humildes e não violentos. Descrito como um líder sem o dom da oratória, Gandhi

conquistou a todos por seu exemplo e por sua coerência entre ação e discurso

(BRASIL ROTARIO, 1999). Analisando a Vida e a Obra do Mahatma percebe-se que

toda ela tem uma coerência formidável, entre o que disse e o que fez, fato muito difícil

de encontrarmos na vida de muitos outros líderes. Como Gandhi, muitos oradores,

independentemente do discurso que defendiam, influenciaram e até inflamaram

multidões. Levaram pessoas ao extremo. Gandhi conseguiu liderar a revolução que

4 É o nome popular dado ao histórico discurso público feito pelo ativista político estadunidense Martin Luther

King, no qual falava da necessidade de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro. O

discurso, realizado no dia 28 de agosto de 1963 nos degraus do Lincoln Memorial em Washington, D.C. como

parte da Marcha de Washington por Empregos e Liberdade, foi um momento decisivo na história do Movimento

Americano pelos Direitos Civis. Feito em frente a uma platéia de mais de duzentas mil pessoas que apoiavam a

causa, o discurso é considerado um dos maiores na história e foi eleito o melhor discurso estadunidense do

século XX numa pesquisa feita no ano de 1999.

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levou a Índia a conquistar sua independência por meio de seu discurso pacifista da

‗não-violência‘ e da ‗verdade‘.

Mas o que é a não-violência? Em que consiste a sua prática? Nas seguintes

palavras de Gandhi é possível entender melhor qual é a essência do pensamento-ação

da não-violência:

«O que quer que façam conosco, não iremos atacar ninguém nem matar ninguém;

estou pedindo que vocês lutem, que lutem contra o ódio deles (do governo inglês),

não para provocá-lo. Nós não vamos desferir socos, mas tolerá-los, e através do

nosso sofrimento faremos com que vejam suas próprias injustiças e isso irá ferí-los,

como todas as lutas ferem, mas não podemos perder, não podemos... Eles poderão

torturar meu corpo, quebrar meus ossos, até me matar, então terão meu corpo

inerte, mas não a minha obediência».

E as suas ideias e sua conduta (discurso e ação) liberaram a mais de 700

milhões de indianos e muçulmanos do jugo, da opressão e domínio do império inglês,

sem o derramamento de uma só gota de sangue da sua parte (BALDOVINO, 1997).

Com tudo isso, seu discurso foi bastante simpático ao ocidente e seu nome foi

sinônimo de tolerância e paz. O discurso de Gandhi serviu exatamente para aquele

momento naquele contexto de extra de desunião. Gandhi nunca pregou a

superficialidade, a hipocrisia ou misturas. Gandhi pregava a unidade, a comunhão e a

tolerância (MAFRA, 2009-2010).

Falando mais proximamente da realidade brasileira, pode-se elencar pessoas na

política e na religião, que marcaram posições e um tempo com discursos fortes. Nome

como o de Getulio Vargas. A sua doutrina e seu estilo político foram denominados de

getulismo ou varguismo5. Os seus seguidores, até hoje existentes, são denominados

getulistas. Getúlio Vargas foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria. Foi um grande

presidente populista. Com seu jeito de se relacionar e sua maneira de discursar, ele

5 O Varguismo foi a ideologia política formulada e comandada pelo grande político Getúlio Vargas no 2º quarto

do século XX. Caracteriza-se pela admiração à pessoa de Getúlio Dornelles Vargas, que ficou conhecido como

―o pai dos pobres‖, esse dirigia o país de forma autoritária, semelhantes ao fascismo. Getúlio foi um político que

atuou entre 1930 a 1954. pt.wikipedia.org/wiki/Varguismo.

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atraía e convencia multidões, sempre direcionando suas palavras ao trabalhador

brasileiro. O trabalho era o assunto preferido do presidente Getulio Vargas. E o povo

consumia as palavras como feitas de mel. O discurso de Getúlio realmente surtia

efeitos. Em Wordpress (2009), encontra-se um trecho do Primeiro de maio de 1938:

Como sabeis, em nosso país, o trabalhador, principalmente o trabalhador rural, vive

abandonado, percebendo uma remuneração inferior às suas necessidades. No

momento em que se providencia para que todos os trabalhadores brasileiros tenham

casa barata, isentados dos impostos de transmissão, torna-se necessário, ao mesmo

tempo, que, pelo trabalho, se lhes garanta a casa, a subsistência, o vestuário, a

educação dos filhos.

O presidente se utiliza de mecanismos de persuasão. Getúlio Vargas invoca o

público por intermédio do vocativo ―Trabalhadores do Brasil‖, no qual o item lexical

―trabalhadores‖ etimologicamente, considerando o significado de palavra, remete a

operários ou empregados de uma empresa. Esta mesma expressão, no seu sentido de

pessoa, é o de serem os construtores da pátria, patriotas que, com seu esforço,

contribuem para o progresso do país. Vargas proferia às massas um discurso que as

subordinava, convencendo os operários de que, estando no poder, suas reivindicações

seriam atendidas. Seus discursos davam resultados? A própria história demonstra isso.

Mas foi em 2003 que explodiu a grande conquista de um homem que lutou na

classe operária até chegar à presidência. Que dizer desse homem que mostrou bravura

através de seus inúmeros discursos para convencer a população brasileira que estava

preparado para assumir a liderança do país? Quanto ao presidente Lula, pode-se dizer

que em seu discurso de posse usou de persuasão e buscou conquistar a multidão.

Observando os componentes linguísticos e retóricos do discurso de Lula em 2003,

podem-se perceber expressões voltadas à classe popular da sociedade, à operária, a fim

de nela obter apoio necessário a estabelecimento do seu governo. Ao proferir

―Companheiros e companheiras‖, dirigindo-se aos cidadãos brasileiros, numa tentativa

de aproximação ao público ouvinte, identifica-se como o homem do povo, oriundo da

classe operária, o que enfatiza o sentido de pessoa da expressão e cria uma identidade

entre o falante e o ouvinte.

Ao finalizar o discurso, ainda na esteira da humildade, pediu a ajuda de todos

para governar: “A responsabilidade não é apenas minha, é nossa, do povo brasileiro

que me colocou aqui”. Lula também apresenta característica de populista no seu

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pronunciamento (DIAS, ACOSTA, 2008). A atitude carismática, conferida à palavra

―discurso‖, no sentido de compromisso assumido com os ouvintes, salienta que tem

consciência de tudo que prometeu e chega ao extremo de afirmar que sua possível

falha, talvez cause um sentimento de desesperança à classe popular. Convidativo e

simples reforça a ideia de união, de cumplicidade com o auditório. O tom do discurso

do presidente procurou ressaltar um ser capaz de desvelar, pelo ato retórico, a

assertividade como meta, a superioridade como verdade, a coragem como princípio.

(RODRIGUES, FERREIRA, 2001)

E o que dizer dos grandes oradores do mundo religioso? Pregadores

evangelistas que levaram multidões a ouvir a mensagem de Jesus Cristo? São muitos

os homens que conquistaram multidões através de palestras convincentes sobre o tema

da salvação. Nesta linha de oradores, é importante destacar a atuação de Charles

Haddon Spurgeon. Este orador missionário foi considerado o príncipe dos pregadores.

Um dos fatores que fizeram com que este pregador recebesse esse título sem dúvida,

foi a sua capacidade de argumentação. Anglada (2005, p. 27), falando da sua

eloquência diz: ―Não faltavam palavras. As palavras eram matéria-prima com as quais

lidava com arte e naturalidade.‖ Spurgeon possuía uma capacidade imensa de

apresentar as verdades das Sagradas Escrituras. Até mesmo aqueles que iam ouvi-lo

apenas com propósitos espúrios, acabavam atraídos pela veemência com que ele lhes

anunciava as verdades bíblicas. Embora fosse jovem, Spurgeon tinha rara habilidade

no manejo da Palavra e demonstrava possuir algumas características fundamentais

para um pregador do Evangelho. Seus discursos cheios de vida e entusiasmo, falavam

aos corações e levavam multidões à compreensão clara do amor de Deus. Ele falava

com a alma, não somente discursava ou pregava, mas convencia por suas palavras de

conhecimento que lhe davam autoridade e segurança para apresentar os assuntos

bíblicos. Suas pregações eram tão eletrizantes e intensas que com o passar do tempo,

Charles Spurgeon se tornou uma celebridade mundial.

É difícil, portanto, falar em oratória religiosa sem mencionar o nome do padre

Vieira. Seu mais belo sermão, pronunciado em 1940, foi na igreja de Nossa Senhora

da Ajuda, na Bahia. Esse discurso teve cunho político e foi dirigido aos invasores

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holandeses e também pelo sucesso das armas de Portugal. Vieira é conhecido até hoje

por ser um grande orador que soube usar os recursos para impressionar os ouvintes,

como voz potente, entonação expressiva, firmeza e energia nas palavras. Seus gestos

eram repletos de vigor. A oratória foi instrumento de seu gênio. Manteve sempre com

entusiasmo em suas pregações a profundidade e a clareza necessárias para a reflexão

dos textos bíblicos. Estudava, pensava, escrevia. Assim, não edificou sua história com

vistas a um desfecho épico nem tampouco se prestou a construções que lhe atribuíssem

um perfil heroico. Ao contrário, usou de sua habilidade política para obter em Roma

um diploma que o isentava da Inquisição portuguesa: gesto nada heróico. Sem a glória

dos heróis, pôde produzir, lentamente, um trabalho precioso, cujo poder de reflexão

mantém sua obra viva até os dias de hoje. Afinal, os sermões eram seu ofício, sua vida.

Vieira escolheu o caminho mais difícil: discutir a doutrina evitando as delações

ou espetáculos. Sua missão realiza-se através de um longo rito de iniciação, em que os

ouvintes aprendiam a pensar com uma retórica que é produzida plasticamente. Sua

linguagem, capaz de se fazer figura, amolecia os motivos que sustentavam os desejos

de violência (THEODORO, 1992).

Em 1655, pronuncia o Sermão da Sexagésima6, onde faz relevantes

considerações sobre a arte da oratória. Refere-se ao estilo pomposo de alguns

pregadores, já destituído de tanta importância, e conclui: ―Antigamente pregavam

bradando, hoje pregam conversando. Antigamente a primeira parte do pregador era

boa voz e bom peito. E verdadeiramente, como o mundo se governa tanto pelos

sentidos, porém, às vezes, mais os brados que a razão (...)‖. mas acrescenta que: ―(...)

O praticar familiarmente e o falar mais ao ouvido que aos ouvidos, não só concilia

mais atenção, mas naturalmente, e sem força se insinua, entra, penetra e se mete na

6 O Sermão da Sexagésima é de autoria do Padre Antônio Vieira. Pregado na Capela Real(Lisboa), em março

de 1655, o Sermão da Sexagésima abre a série de quinze volumes que enfeixam as peças oratórias do Padre

Antônio Vieira, e serve-lhes de prólogo, ao mesmo tempo que encerra uma teoria da arte de pregar, inspirada em

moldes conceptistas.[1]

Ele versa sobre a arte de pregar em suas dez partes. Nele, Vieira usa de uma metáfora:

pregar é semear.

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alma.” (LOPES, 2000). Assim desafiava a ação, dando vida à sua narrativa repleta de

luz e cor.

1.3 A ARTE DA PALAVRA NOS DIAS ATUAIS

À medida que a sociedade moderna cada vez fica mais complexa, há uma

necessidade crescente de comunicação verbal eficaz. Nunca foi tão vital para homens e

mulheres transmitir mensagens verbais que informem, persuadam, divirtam, motivem

e inspirem. Parece que mais pessoas estão fazendo mais discursos do que jamais

ocorreu (FLETCHER, 1983). Pode-se entender, portanto, que a eficiência é a

característica básica da oratória moderna. Ou seja, para ter sucesso, a oratória tem de

atingir determinada finalidade. A oratória de hoje se caracteriza por objetividade,

concisão, simplicidade e praticabilidade, em contraste com grandiloqüência,

verbosidade e linguagem quase poética do passado (MARINHO, 2008).

É verdade que as invenções da ciência moderna, no decurso da primeira metade

do nosso século, tiveram também sua repercussão na arte oratória. Novas técnicas

permitem hoje a gravação, a reprodução e difusão da palavra. A amplificação da voz

mudou as condições físicas requeridas para o candidato a comunicador. A técnica

literária, por sua vez, tem de adaptar-se aos instrumentos microfônicos. Estes são

utilizados hoje em muitas escolas, e seu aperfeiçoamento abre ao ensino da arte

oratória, largos horizontes (SENGER, 1960).

Fazendo uma comparação entre os recursos antigos e os atuais, nota-se que a

grande vantagem é que o aprendizado desta antiga arte conta hoje com extraordinários

elementos que facilitam a assimilação e a prática das técnicas. Os modernos

microfones dispensam o excesso de intensidade da voz dos oradores, permitindo que

se apresentem de maneira espontânea, sem exagero. Os aparelhos de multimídia

permitem a visualização instantânea dos treinamentos, possibilitando a rápida correção

das distorções da fala e da imperfeição da postura e da gesticulação.

A técnica oratória foi amplamente exposta no decorrer dos tempos. Se bem que

lançou-se o descrédito sobre a retórica, mas seus métodos e suas técnicas não foram

desprezados. Outros métodos mais variados e mais flexíveis a substituíram. Nenhum

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deles satisfará completamente aos futuros oradores, mas a oratória moderna tem se

difundido e conquistado cada vez mais adeptos se revelando assim uma necessidade

atual para quem deseja falar bem em publico (POLITO, 2002). E sobre isso,

Castelliano (1997, p.22), finaliza: ―Hoje sabemos que a oratória está ao alcance de

todos, desde que se dispense algum tempo para colocar a teoria dos livros em prática,

com todas as técnicas de que se dispõe‖.

1.4 A CONTRIBUIÇÃO DA ORATÓRIA PARA A COMUNICAÇÃO DE RÁDIO

Antes de falar sobre a comunicação de rádio, é interessante entender o processo

da comunicação. Afinal, o que é comunicação e como ela se dá? No processo da

Comunicação, tem-se o transmissor ou emissor que é o desencadeador do processo da

comunicação. É aquele que transmite a mensagem a ser dada. Outro elemento da

comunicação é o receptor, que é aquele que primeiramente recebe a mensagem.

Porém, o processo da comunicação entre emissor e receptor não se encerra, mas

continua, visto ser o receptor alguém que pode produzir conteúdo do mesmo jeito. Em

seguida vem a mensagem que constitui o conteúdo da comunicação. Outro fator da

comunicação é o código. É constituído pela linguagem verbal-escrita ou oral e pela

linguagem não verbal – sinais visuais, corporais ou não. O canal (meio) é o veículo

que transporta a mensagem fazendo com que ela transite do transmissor até o receptor.

Por fim o retorno (feedback)7 que corresponde a informação de saída de um processo

que serve para corrigir os novos elementos de entrada do mesmo processo (POLITO,

2000)

Quais seriam, no entanto, os objetivos e os deveres do comunicador? O mesmo

autor considera como objetivos que a ideia seja passada de maneira clara e detalhada e

que o grupo interprete a mensagem e se sinta sensibilizado por ela. Analisando os

deveres do comunicador, Polito aborda o fato de que o comunicador deve demonstrar,

apresentar a ideia. Explicar e detalhar o conteúdo, aceitando as objeções. Ele fala ainda

da emoção abordando o fato de que a razão/lógica constroem a mensagem, mas só a

7 Expressão usada para indicar o procedimento que consiste no provimento de informação a uma pessoa sobre o

desempenho, conduta, ou ação executada por esta, objetivando reorientar ou estimular comportamentos futuros

mais adequados

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emoção consegue comunicá-la. Outro dever é incentivar o receptor despertando o

interesse, a vontade de mudar, transformar, contribuir, desenvolver.

Na comunicação de rádio, para o ouvinte que acompanha uma programação, é

essencial que ele entenda o que se está falando. Portanto deve haver uma comunicação

clara e uma linguagem sem muitas formalidades, porém, rica em variações. É difícil o

ouvinte parar para ouvir rádio, a maioria ouve enquanto estão envolvidos em outras

atividades. Esta seria mais uma razão para buscar qualidade na comunicação, usando

uma linguagem fácil, objetiva e clara (CÉSAR, 1997). A informação de qualidade é

um direito que deve ser garantido a todas as pessoas, rompendo lacunas da

desigualdade social. Em casa, no carro, no avião, por meio do aparelho celular, do

computador, é possível dar ouvidos à voz que vem do rádio. E se essa voz traz uma

mensagem importante, precisa mesmo ser ouvida (ALVES, 2001).

Vigil (2003) comenta que para falar no rádio, o locutor deve estar atento aos

componentes: voz, dicção, articulação e entonação. Tudo isso junto, de forma

harmoniosa, possibilita transmitir, com segurança, o que o programa propõe. Para o

autor, não basta ter bons programas com excelentes conteúdos e qualidade técnica, se

o comunicador, através da fala, não consegue transmitir credibilidade, confiança e

simpatia. Portanto, são fundamentais alguns cuidados com a voz para garantir a

qualidade na comunicação. Falar bem é uma arte que exige domínio das regras do

mecanismo vocal: técnica de respiração, técnica de fonação, pronúncia, articulação,

dicção, preparação e perfeita impostação - que é o contrário de rigidez e enfeitamento.

É importante que haja ―colorido‖ na transmissão da informação e que a voz a ser

percebida pelo ouvinte tenha os componentes que se deseja transmitir. Alem disso,

outras características, ligadas a essas técnicas, possibilitam uma melhor comunicação.

Destro deste contexto, destacam-se pontos como entusiasmo, conhecimento,

sensibilidade, sinceridade, etc. A linguagem do rádio é basicamente oral. Cabe ao

comunicador envolver o ouvinte com a sua fala, de uma maneira que crie imagens na

cabeça das pessoas, para que elas ―vejam‖ aquilo que está sendo contado. Sem isso, a

relação do rádio com as pessoas torna-se fria e não há comunicação.

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Ter uma ideia e ser capaz de expressá-la é uma habilidade de uma riqueza

imensurável. As ideias expressas pelo homem fazem coisas grandiosas. Delas surgem

os grandes avanços tecnológicos, mudanças sociais, acordos de paz, melhoria na

qualidade de vida, na saúde e no trabalho. É claro que é também de mentes perversas

que procedem ideias terríveis que transformam a realidade de forma negativa, porém,

há sempre a esperança de mudança, e as mudanças ocorrem porque há pessoas que se

comunicam.

Habilidades de exposição, argumentação e persuasão são responsáveis pela

aquisição de poder na comunicação. Se não há habilidade de comunicar, não há

discurso eficaz, não há interação construtiva e não há modificação da realidade. Só

chegamos a algum lugar por nossa capacidade de comunicar. A comunicação é

extraordinariamente potente em sua capacidade de influenciar, transformar e

conquistar. Comunicar é abrir caminhos, é possibilitar respostas grandiosas. É esse o

compromisso da comunicação de rádio, é esse o compromisso do locutor de rádio

(SANTOS, 2010).

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2. A ARTE ORATÓRIA E SUA APLICAÇÃO PARA LOCUTORES DE RADIO

É engano pensar que ter uma bela voz é tudo o que se precisa para ser um bom

locutor. Hoje se sabe que o mais importante não é uma voz grave e aveludada, mas a

voz natural, trabalhada. E a arte oratória pode, e muito, contribuir para o

aperfeiçoamento do profissional da voz, pois este tem em suas técnicas, recursos que

possibilitam um melhor desempenho em suas atividades. O bom profissional de rádio

é avaliado pela originalidade, criatividade, pela capacidade de improvisar, pelo

carisma e pela voz bem colocada. A linguagem é o meio da comunicação humana por

excelência; é o conjunto de regras gramaticais que permite transmitir idéias, definir

conceitos, avaliar termos e dialogar com nossos semelhantes. O emprego da linguagem

é sempre uma tarefa criativa, já que a mente deve transformar os pensamentos em

sons, respeitando as regras do idioma, usando as palavras de forma bem estruturada

para a correta compreensão do que se quer expressar (MUÑOZ, 2008).

Diversos autores e pesquisadores interessados no estudo da comunicação de

massa valorizam, cada vez mais, o uso qualificado da fala e da voz, buscando

especificar e caracterizar algumas habilidades de locução. A voz dos locutores vem

sendo observada e comentada por profissionais da área de comunicação (locutores,

jornalistas, radialistas, oradores...) e tem despertado a realização de pesquisas recentes

na área da fonoaudiologia, principalmente voltada ao estudo da voz falada (uso

profissional da voz). Apesar dos diversos trabalhos existentes, observam-se

imprecisões conceituais e nas terminologias8 utilizadas, o que favorece interpretações

errôneas e confusas a respeito do adequado uso da fala e voz, suscitando dúvidas ao

8 Em sentido amplo, refere-se simplesmente ao uso e estudo de termos, ou seja, especificar as palavras simples e

compostas que são geralmente usadas em contextos específicos. Terminologia também se refere a uma disciplina

mais formal que estuda sistematicamente a rotulação e a designação de conceitos particulares a um ou vários

assuntos ou campos de atividade humana, por meio de pesquisa e análise dos termos em contexto, com a

finalidade de documentar e promover seu uso correto. Este estudo pode ser limitado a uma língua ou pode cobrir

mais de uma língua ao mesmo tempo (terminologia multilíngüe, bilíngüe, trilíngüe etc). Na tradução, a gestão da

terminologia é um elemento central de uma boa legibilidade e correção técnica de textos traduzidos. Os

tradutores profissionais administram a terminologia na forma de glossários bilíngues, usando ferramentas de

controle de qualidade que fazem com que o mesmo termo técnico seja traduzido uniformemente em todo o texto.

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comprometimento da saúde vocal do locutor. Além disso, a literatura nacional é

escassa de estudos que abordem o momento específico da locução. Diversos autores

preocupam-se com a qualidade da voz como um recurso para ganhar a credibilidade

dos ouvintes, aumentando a capacidade de persuasão, o que reflete comunicação de

qualidade (SAMPAIO, 1971).

Para Polito (2002), um comunicador deve adquirir habilidade para o sucesso de

suas comunicações. Não adianta apenas falar com eloqüência, é preciso persuadir e

motivar. Dizem que a grande diferença entre os dois dos maiores oradores que o

mundo conheceu, Demóstenes e Cícero, é que, quando Cícero discursava, o povo

exclamava: ―Que maravilha!‖ e quando Demóstenes falava, o povo seguia sua marcha.

Desta forma, é essencial para o comunicador de rádio adquirir algumas habilidades,

que vão ajudá-lo no sucesso da profissão. A oratória, arte de falar em público, envolve

pontos relevantes que todo locutor deve valorizar e buscar conhecer para o melhor

desempenho de sua atividade profissional. Dentro deste contexto, destacam-se vários

fatores que a pesquisa mostra a seguir.

2.1 UM INSTRUMENTO FUNDAMENTAL DA COMUNICAÇÃO

Antes de falar sobre a aplicação das técnicas oratórias para locutores de rádio, é

importante conhecer o principal instrumento do locutor que é a voz. É necessário saber

também como ela se projeta e quais são os cuidados indispensáveis para ter uma boa

voz e mantê-la por mais tempo no seu uso profissional, promovendo saúde vocal e

qualidade de comunicação para os comunicadores, afinal oratória sem bom uso da voz,

não pode se tornar uma arte precisa.

2.1.1 A Voz

A Voz tem um papel fundamental na comunicação e no relacionamento

humano. Ela enriquece a transmissão da mensagem articulada, acrescentando à palavra

o conteúdo emocional, a entoação, a expressividade, identificando o indivíduo tanto

quanto sua fisionomia e impressões digitais. De seu uso satisfatório depende o êxito

pessoal e profissional. Ao estudá-la, aprende-se cada vez mais, o quão importante é o

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equilíbrio entre razão e sensibilidade; ciência e arte; condições orgânicas e funcionais

adequadas do aparelho fonador, assim como de todo o corpo, para que flua de maneira

harmoniosa (PEDROSO, 1997)

E quando se fala em rádio, não há dúvida de que a voz ocupa seguramente um

lugar privilegiado na comunicação radiofônica. A sua função consiste não apenas em

assegurar o contato com o ouvinte, mas também mantê-lo. A voz é um elemento que

participa na significação da mensagem (LAVOINNE, 2000). Para Silva (1999, p.54)

―A voz faz presente o cenário, os personagens e suas intenções; a voz torna sensível o

sentido da palavra que é personalizada pela cor, ritmo, fraseado, emoção, atmosfera e

gesto vocal‖.

O som inicialmente produzido pelas pregas vocais é bastante simples, no

entanto, é constante mente modificado pelo sistema de ressonância do trato vocal e

pelas estruturas que o compõem, além das habilidades da fala que são a velocidade,

articulação, dicção, inflexão, entonação. Ainda são levadas em conta as características

culturais e de comportamento da cada pessoa. (PLACHA, 2011).

É importante observar que, para realizar uma correta produção vocal, é

necessário que exista integridade anatomofisiológica do aparelho fonador9, bem como

um comportamento vocal sem ocorrência de mau uso e/ou abuso vocal, evitando,

assim, o surgimento de patologias que prejudiquem a produção da voz (CIELO E

BAZO, 2008). Nos dias de hoje, com o avanço da tecnologia e dos meios de

comunicação, existe maior necessidade de conhecimento dos mecanismos de produção

e utilização correta da voz como fator decisivo na obtenção dos resultados pretendidos,

principalmente pelos profissionais que a possuem como instrumento de trabalho, os

quais têm demonstrado um interesse crescente na busca destes conhecimentos quando

devidamente conscientizados (PEDROSO, 1997).

9 É denominada aparelho fonador o conjunto de órgãos responsáveis pela fonação humana, são eles os

seguintes:Pulmões, Traqueia, Laringe (cordas vocais e glote), Lábios, Dentes, Alvéolos, Palato duro, Palato mole

(véu palatino e úvula), Parede rinofaríngea, Ápice da língua, Raiz da língua.

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2.1.2 Saúde Vocal

Todo o corpo precisa de saúde. Com os órgãos vocais não é diferente. Por este

motivo é preciso dar aos órgãos vocais cuidadosa atenção e cultivo. Eles são

fortalecidos pelo devido emprego. Pesquisas indicam que a maioria dos locutores

inicia sua carreira sem nenhum preparo ou treino vocal prévio, e muitos não observam

certos princípios básicos de higiene vocal. É de ideal para todo comunicador cuidar

dos órgãos vocais de tal maneira que os mantenha em condições saudáveis. A

educação da voz ocupa lugar importante na cultura física, visto que ela tende a

expandir e fortalecer os pulmões. A modulação da voz é perdida quando os órgãos

vocais são forçados (WHITE, 1978).

(LOPES, 2001), relata o mecanismo da voz:

É produzida na laringe através da vibração das pregas vocais. Estas realizam seu

movimento graças ao fluxo de ar que vem dos pulmões e à ação dos músculos da

laringe. Assim, a voz é o resultado do equilibrio entre a força do ar que sai dos

pulmões e a força muscular da laringe. Se houver um desiquilibrio nesse mecanismo,

poderá ocorrer uma alteração na voz. É importante os cuidados que se tem que ter com

a voz, como evitar gelados, alimentos pesados antes do uso intenso da voz, lugares

com ar condicionado sem o uso de um recipiente com água, pois o mesmo provoca

ressecamento da mucosa do trato vocal. Deve-se evitar gritar, falar por muito tempo

ou tentar competir com o barulho falando em ambientes ruidosos. A recomendação é

uso de bastante água, descanso vocal, alimentos saudáveis e uso de maçãs antes da

fala.

Ferraretto (2000) completa as dicas sobre o cuidado citando uma série de

atitudes que podem prejudicar o uso da voz. Entre outros problemas, o fumo causa

irritação nas pregas vocais, pigarro, tosse e aumento de secreção. O álcool causa

amortecimento, o que prejudica a comunicação de qualidade. Antes do uso

profissional da voz não é recomendada a ingestão de alimentos ou líquidos muito frios

ou quentes. Colocando em prática essas dicas, todo locutor que quer manter por mais

tempo seu instrumento de trabalho, pode ter excelentes resultados. Mcleish (2001,

p.90) recomenda: ―não coma doces nem chocolates antes da leitura, o açúcar engrossa

a saliva. Deixe um copo de água ao seu alcance‖.

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2.1.3 Respiração

Estando a voz ligada com a respiração, Lopes (2001) afirma que é essencial

para o orador obter boa respiração. A respiração é responsável pela produção da

pressão aérea expiratória, que deverá formar o som laríngeo, mantê-lo e permitir a sua

propagação através da cavidade de ressonância, ou seja, voz é antes de tudo, ar

expirado, portanto a reeducação da respiração tem como objetivo prolongar a fonação,

regular a respiração e aumentar a capacidade vocal. (BASTOS, 1976) admite: ―Saber

respirar é uma condição concomitante e, ao mesmo tempo, primordial para quem faz

uso da voz. A voz gasta o que a respiração fornece.‖

Lopes (2001) ressalta que existem três tipos predominantes de respiração: a costal

ou superior, que é a elevação da região superior do tórax, e muitas vezes até mesmo

dos ombros; a diafragmática ou inferior, sendo o uso do músculo diafragma e a costo-

diafragmática, que é a movimentação do diafragma com expansão antero-posterior e

lateral. O tipo respiratório mais adequado para quem fala é aquele em que há

predominância funcional da região costo-diafragmática10

. Este tipo respiratório é ideal

para a fonação devido ao uso intenso da voz pelos comunicadores.

Durante a locução, o não-controle do ar expirado, isto é, a incoordenação

pneumafônica, faz com que o indivíduo inspire várias vezes durante a leitura ou fala,

não conseguindo obedecer a pontuação, o que pode levar, também, à distorção do

significado do que o locutor está falando. (CÉSAR, 1997). A necessidade do exercício

respiratório é demonstrada pela quantidade de locutores que se sentem cansados logo

às primeiras palavras. Há quem procure falar quando já não tem mais ar no pulmão,

cortando muitas vezes uma frase, onde não deveria ser cortada. Tais fatos são graves

defeitos que enfeiam constantemente a comunicação, razão pela qual convém ter uma

respiração regular e bem controlada para evitar tais problemas (SANTOS, 1958).

É interessante notar que o uso profissional da voz vem ocupando,

progressivamente, um lugar maior na mídia e na vida das pessoas. Cada vez mais nota- 10 Movimentação do diafragma com expansão Antero-posterior e lateral. O tipo respiratório mais adequado para

a fala é aquele em que há predominância funcional da região costo-diafragmática.

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se pessoas que têm, na voz, seu principal instrumento de trabalho, o qual, de forma

direta ou indireta, chega ao ouvinte através de diversos meios de comunicação, como a

televisão, o telefone, o rádio, entre outros. Logo, para o indivíduo que necessita de sua

voz como requisito fundamental para o exercício de sua profissão, os cuidados vocais

tornam-se imprescindíveis a fim de manter a saúde vocal, sendo o conhecimento da

técnica vocal uma necessidade (VEGA E HAYAMA, 2005).

2.2 ARTICULAÇÃO, DICÇÃO E RITMO

Além de manter a voz em condições saudáveis, o locutor deve se preocupar

com a articulação e com a dicção, fatores tão importantes para locução de rádio.

Segundo Hartmann e Muller (1998), a articulação significa capacidade de tornar claras

e distintas as diversas sílabas que formam cada palavra. Carneiro (1981) comenta que

a articulação das letras e sílabas não deve ser negligenciada. Muitos locutores não

pronunciam bem as sílabas iniciais e as finais. Com isso, há ruído vocal à má

articulação. O autor recomenda um exercício fácil e eficaz para corrigir defeitos e

adquirir boa pronúncia, que é a leitura diária, em voz alta, de uma página de poesia,

fazendo realçar todas as sílabas. Esse exercício é excelente para os problemas de

articulação e de dicção. Ele ajuda a corrigir os defeitos na dicção, que são, muitas

vezes, adquiridos por falta de cuidado.

Mas o que significa dicção? A dicção é a pronúncia correta dos sons das

palavras, é dizer bem. Nota-se que a sua deficiência é quase sempre provocada por

problemas de negligencia. Polito (2002) afirma que é costume quase generalizado

omitir os ―r‖ e os ―s‖ finais, da mesma forma que se omitem comumente os ―is‖

intermediários de janeiro, cadeira, bandeira e assim por diante. Segundo ele, certos

vícios de linguagem também provocam erros na pronúncia das palavras. O

Rotacismo11

, por exemplo, que é a troca do l por r: crássico, no lugar de clássico.

11

Este é um fenômeno Linguístico muito comum, mas que as muitos não têm conhecimento, tendendo a agir

com preconceito, que é chamado de preconceito linguístico, em relação aos falantes que fazem tal uso.

Rotacismo é a troca do R pelo L ou vice -versa. O fonema que é alveolo-dental passa a ser palatal. Também pode

ocorrer pelo fato da língua estar mais acomodada. Ao se falar pobrema ao invés de problema, o falante terá que

levantar menos a ponta da língua, ocorrendo uma acomodação linguística, ou seja, é mais fácil pronunciar a

primeira que a segunda palavra. Dicionário inFormal. www.dicionarioinformal.com.br.

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Portanto, é essencial que os locutores façam leitura em voz alta articulando bem para

alcançar uma melhor dicção.

Neste mesmo contexto, é interessante notar a importância do ritmo na fala e na

leitura. O ritmo, juntamente com a entonação na performance do locutor, que se faz

diferença da entonação explorada na mídia, deve reproduzir a naturalidade e a variação

presentes na expressão oral do dia-a-dia, explorando criativamente a sonoridade de um

texto elaborado para este acústico coordenado essencialmente pelo tempo. O ritmo é a

musicalidade da fala, a colocação mais ou menos prolongada das vogais, levando em

conta sua acentuação, a alternância da altura da voz e da velocidade que se imprime às

frases, ora alta, ora normal, ora baixa; rápida em certos momentos, lenta em outros,

fazendo com que este conjunto melodioso influa no espírito e na vontade do ouvinte

(POLITO, 2002).

O locutor monótono ou não tem nenhuma inflexão na voz ou ao subir e descer a

tonalidade torna-se regular e repetitivo. É a previsibilidade do padrão vocal que faz a

locução se tornar marcante. Uma ênfase significativa, no lugar de um padrão aleatório,

pode ajudar muito mais. A inflexão é a modulação que se faz com a voz a fim de dar

vida, colorido e ênfase à leitura ou a mensagem que se está transmitindo (MCLEISH,

2001).

Associando tudo isso, pode-se concluir que este conjunto harmonioso de

articulação, dicção, ritmo e inflexão, favorecem a clareza e desta forma, a

compreensão do ouvinte. Quando o ritmo é associado com a velocidade e a intensidade

correta da fala e o locutor usa a inflexão para dar vida à comunicação, pode-se concluir

que o resultado será satisfatório no que se refere à compreensão por parte do ouvinte.

O locutor deve falar com intensidade adequada. O mesmo vale para a velocidade.

Alternando a intensidade e a velocidade, o ritmo da emissão vocal será, por sua vez,

agradável (FERRARETTO, 2000).

E por que tudo isso se torna importante? Porque o rádio possui um grande

privilegio em relação à TV, o de se dirigir aos olhos da alma e não aos do corpo. A

pessoa da TV tem somente o rosto que tem, a pessoa do rádio tem todos os rostos que

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os ouvintes lhe quiserem emprestar, fazendo unicamente fé nas suas inflexões vocais.

E aí que mora a magia do rádio, é aí que está o segredo de articular as palavras para

que se tornem vivas no sentimento dos ouvintes (LAVOINNE, 2000-2004).

2.3 A MUSICALIDADE DA FALA

A voz é uma música. O locutor habilidoso e preparado sabe trabalhar muito

bem esse ponto da inflexão e da musicalidade da fala. A voz surpreende a escrita

engendrando e revelando outros valores que, na interpretação, integram-se ao sentido

do texto, transmitindo, enriquecendo-o e transmitindo-o, por vezes, a ponto de fazê-lo

significar mais do que diz (SILVA, 1999). O tom precisa ser convincente, de quem

acredita no que está falando. As palavras finais das frases devem ser bem articuladas.

A leitura deve ser natural como se estivesse falando de improviso. Nenhuma técnica

poderá ser mais importante que a naturalidade (HARTMANN E MUELLER, 1998).

Isso não significa deixar de lado a necessidade de convencer o ouvinte. A arte está em

saber dosar o poder de convencimento com a forma natural de se expressar.

No uso profissional da voz, é importante saber usar a expressão, o tom certo, a

inflexão, a velocidade e intensidade da voz fazendo com que essa harmonia influa de

maneira positiva nos ouvintes. De acordo com (LAVOINNE, 2004 p.20),

A escolha das entonações modifica eventualmente o sentido da mensagem. Pela sua

forte ressonância psicológica e pela importância dos efeitos que põe em jogo, a voz

no rádio, abre o espaço do imaginário onde o ouvinte reconstrói o corpo daquele que

fala a partir do que lhe é sugerido pela sua voz.

Para Hartmann e Mueller (1998), a voz no rádio deve ser dramatizada, receber

vida. Os autores atribuem a isso o fato de a voz ser o único elemento de que se dispõe

no rádio. Portanto acreditam que o tom deve ser convincente e decidido. Tudo isso

visa uma comunicação agradável com o ouvinte, envolvendo-o e, assim, impedindo

que ele desligue o rádio ou mude de emissora. Comparando essas opiniões, conclui-se

que daquele que usa a voz ao microfone, as emissoras exigem atualmente muito mais

clareza e expressividade do que o vozeirão dos anos de ouro do rádio. Ferraretto

(2000), conclui: ―para ser um bom locutor é preciso ter comunicação fácil, simples e

imediata‖.

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Vale a pena ressaltar que se ao locutor falta expressão e musicalidade o ouvinte

pode cansar-se facilmente e trocar o dial do rádio. Segundo Arnheim (1980) ―O

locutor perde sua audiência se descuida o tom melódico‖. O que faz com que o ouvinte

fique atento com a programação é a experiência que este pode ter com a materialidade

do som, que em várias ocasiões é só o que é apreendido, ou seja, a expressão, o ritmo,

a curvatura melódica presente na voz. O autor completa dizendo: ―Sobre as pessoas

mais simples influi mais a expressão da voz de um orador que o conteúdo de seu

discurso‖. É a pura sonoridade, a pura qualidade da voz em jogo, a voz sem discurso,

de que fala Santaella (1993).

Fazendo uma análise, pode se dizer que dentro dessa musicalidade, um fator

fundamental na projeção da voz é a ênfase que se dá às palavras e frases. A ênfase é a

chave para levar ao significado do que está escrito. É difícil imaginar uma boa locução

sem a ênfase nos textos lidos pelo locutor. Sem a ênfase a palavra fica apagada, sem

graça, sem vida. É preciso saber entonar as frases interrogativas, imperativas e

exclamativas, fazendo com que esse conjunto proporcione uma locução agradável,

quase musical e de fácil compreensão (NCEP, 2005).

Dentro deste contexto, a leitura deve receber uma atenção especial por parte do

locutor. De acordo com (MCLEISH, 2001), mesmo locutores de grande experiência e

com tempo de atividade profissional, podem se tornar insípidos e cair na armadilha de

uma leitura mecânica e sem vida. Por isso, antes de transmitir qualquer mensagem, o

locutor deve ler o texto previamente, marcar as pausas e sublinhar as palavras que

devem ser destacadas. É importante verificar se há no texto dificuldade com a

pronúncia de alguma palavra desconhecida ou difícil de ser falada. Outro fato é

observar se há no texto alguma expressão de tristeza ou ironia ou mesmo humorísticos

que exijam uma interpretação diferente (HATMANN e MULLER, 1998).

Por ser arte de falar em público, a oratória não trabalha apenas com a voz, essa

é somente um dos elementos trabalhados durante o preparo do orador ou comunicador,

mas esta arte vai muito mais longe. Ela envolve outros elementos que devem ser

aprimorados junto com o treinamento da projeção vocal formando um conjunto

harmonioso. Portanto, além de trabalhar e aperfeiçoar a voz, a oratória é também arte

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de preparar discurso12

e apresentá-lo. E dentro deste contexto, existe uma série de

elementos com que o locutor deve se preocupar, pois são fatores que fazem parte do

fundamento da oratória. Esses elementos estão presentes na atividade profissional do

comunicador de rádio através das matérias, dos conteúdos e todo o roteiro a ser

colocado no ar. E o locutor deve estar inteirado de tudo para que seu trabalho se

desenvolva dentro do programado.

2.4 O CONHECIMENTO

Um dos elementos fundamentais da oratória e que o locutor deve estabelecer

como meta primordial, é o conhecimento do assunto. O conhecimento determina boa

parte do sucesso. A pessoa que abraça a carreira de locutor deve estar bem consciente

de que escolheu uma função intelectual. Ela irá trabalhar mais com o cérebro do que

com as mãos e os braços. Por isso exige-se que o comunicador seja inteligente, amante

dos livros, criativo e culto, sendo uma pessoa atualizada, isto é, em dia com o seu

tempo. A comunicação de rádio é um elemento de cultura. Portanto, o locutor é um

divulgador de cultura. O locutor de rádio deve ter segurança do que fala, uma vez que

rádio se faz ao vivo. Deve procurar estar sempre bem informado. Ler os jornais do dia,

ouvir bastante rádio, procurar se informar do assunto que está em evidência na mídia,

conhecer a pronúncia de nomes de personagens estrangeiros em destaque, aprender a

ler e pronunciar bem o inglês e o espanhol. Ele precisa saber o que está falando para

poder esclarecer os outros. A demonstração de que ele domina o assunto, inspira

confiança nos ouvintes e lhes facilita a credibilidade e a aceitação.

No pensamento de Polito (2002, p. 80):

Só deve falar quem tem alguma coisa para dizer. O comunicador deve conhecer um

pouco de cada matéria, interessar-se pelas artes, pela História, pela Geografia, pela

Literatura e, principalmente pelos fatos do seu tempo. Aquele que fala não pode viver

12

O termo discurso admite muitos significados. O mais conhecido deles é do discurso como uma exposição

metódica sobre certo assunto. Um conjunto de ideias organizadas por meio da linguagem de forma a influir no

raciocínio, ou quando menos, nos sentimentos do ouvinte ou leitor. Outro significado corrente, muito usado entre

os linguistas, cientistas sociais e estudiosos da Comunicação - como Michel Foucault e Émile Benveniste -,

porém menos difundido, é do o discurso como algo que sustenta e ao mesmo tempo é sustentado pela ideologia

de um grupo ou instituição social. Ou seja, ele é baseado em um conjunto de pensamentos e visões de mundo derivados

da posição social desse grupo ou instituição que permitem que esse grupo ou instituição se sustente como tal em relação à

sociedade, defendendo e legitimando sua ideologia, que é sempre coerente com seus interesses.

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fora da sua realidade, precisa estar sempre atualizado, munido de informações. Pois

quanto mais enraizado estiver o conteúdo, maiores serão as chances de sucesso.

Além de conhecer o assunto, o locutor pode utilizar de um recurso muito

proveitoso, a memória. Um dos maiores auxiliares do locutor é sem dúvida, a

memória. Ela é a faculdade de conservar e de experimentar, de novo, estados de

consciência passados. Quem fala em rádio deve ou saber os fatos e dados que vai

mencionar, ou levá-los anotados para uma consulta. A memória deve, pois, ater-se não

às palavras, às frases, às imagens, mas agarrar-se com firmeza ao plano estudado. Nem

todos são dotados de boa memória. Por isso, quanto menos serviços ela prestar, tanto

maiores esforços deve-se fazer para desenvolvê-la a fim de que ajude o locutor

(BASTOS, 1976).

2.5 O ENTUSIASMO

Uma das frases mais interessantes com relação ao entusiasmo foi dita por Polito

(2002, p. 53): ―É preciso apresentar cada mensagem como se estivesse carregando uma

bandeira para o campo de batalha‖. É realmente empolgante ouvir um locutor

entusiasmado. O fato é que esse é um ponto que pode proporcionar um resultado

satisfatório numa apresentação. O locutor que usa do entusiasmo vai mais longe do

que aquele que não valoriza esta qualidade. Os gregos chamavam ao entusiasmo

―Deus interior‖. Ele é o grande responsável pelas façanhas da humanidade. O homem

vence até sem preparo, mas dificilmente terá êxito em qualquer atividade se não contar

com a força do entusiasmo, capaz de superar todas as adversidades. O entusiasmo é

uma espécie de combustível da expressão verbal. É preciso vibrar a cada afirmação, se

entusiasmar pela ideia, envolver o ouvinte num ambiente emocional de credibilidade.

Se a idéia não empolgar o locutor, dificilmente irá empolgar o ouvinte. Para o autor,

para falar com entusiasmo, é preciso viver com entusiasmo. Para vibrar com as idéias,

é preciso vibrar com a vida. Somente com entusiasmo consegue-se realizar grandes

coisas.

O locutor deve ser sempre simpático, abrir um sorriso ao falar, e as pessoas

que estão ouvindo serão contagiadas por essa alegria. É preciso saber cativar a

audiência. Na concepção de Silva (1981), quando um comunicador transmite as suas

convicções com entusiasmo, não há quem possa resistir. O locutor cheio de entusiasmo

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leva os seus ouvintes com ele. Segundo o autor, o entusiasmo é uma qualidade bem

chegada à sinceridade. Sinceridade de convicção é o fundamento do entusiasmo. E se

o apresentador é sincero, tem a ideia, sabe como transmiti-la e é cheio de entusiasmo,

o povo é envolvido e não tem outra saída, senão aceitar.

2.6 A NATURALIDADE

É difícil continuar ouvindo por muito tempo um locutor que não sabe ser natural

no rádio. Falar com naturalidade e não impostar a voz são características fundamentais

para uma boa locução. Ao falar, o locutor deve ser ele mesmo. Ao ler uma matéria, um

texto de qualquer natureza, é preciso cuidado com o tom. É muito fácil perceber um

locutor mecânico e não natural. Por isso, tomar conhecimento do conteúdo da nota

antes de lê-la no ar é imprescindível. Ao ler um texto, o locutor não deve dar a

impressão de leitura. Para isso, basta acreditar no que está lendo e procurar ser

convincente. É lamentável que alguns profissionais da voz ainda não tenham

alcançado a naturalidade que deve caracterizar um comunicador. Por trabalhar com a

imaginação, o rádio é um veículo onde a naturalidade deve estar presente na atuação

de seus locutores. Por isso, o locutor deve evitar ser mecânico e principalmente não

deve tentar imitar outra pessoa, mas ser ele mesmo, buscando ser natural em toda sua

apresentação.

A naturalidade é uma das qualidades essenciais de um comunicador, se não a

principal. Um orador artificial prejudica com mais intensidade sua apresentação do que

um orador que comete erros como: vícios de linguagem13

, slides confusos, palavras

repetidas, etc. Quando o locutor não é natural, o público sente-se enganado e não

acredita na veracidade da mensagem e do próprio locutor. Assim o locutor abala a sua

credibilidade e do produto ou serviço representados por ele. A falta de naturalidade é

facilmente percebida na voz. E como manter a naturalidade? Speech (2010) dá as

dicas. Respeitar sempre seu estilo como locutor, suas características pessoais e não

13 Vícios de Linguagem são alterações defeituosas das normas da língua padrão, provocadas por ignorância,

descuido ou descaso por parte do falante. São palavras ou construções que deturpam, desvirtuam, ou dificultam a

manifestação do pensamento, seja pelo desconhecimento das normas cultas, seja pelo descuido do emissor.

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manipular sua forma de falar com regras prontas. Cuidado também para não imitar

alguém se acredita ser um bom comunicador. Cada um tem seu estilo próprio e sua

maneira de envolver o ouvinte. Dominar o assunto do qual for abordar é indispensável.

Decorar as informações pode gerar uma forma robótica e linear de falar. Prefira

dominar o assunto para desenvolver a mensagem de forma natural e possibilitar os

improvisos. Outra dica é acredite na mensagem. Se o locutor não acredita nas

informações que vai abordar, não vai convencer ninguém com suas palavras. Ele pode

até dizer que acredita, mas sua expressão vocal pode denunciar o contrário. Portanto,

falar com naturalidade é respeitar o próprio estilo, o público e aqueles que o locutor

representa.

2.7 O GESTUAL

É incrível notar como o gestual é importante para a comunicação. O gesto

desenha o pensamento, a ideia e reforça a mensagem transmitida. Um bom locutor não

se exprime apenas com a voz, mas também com os braços, com as mãos, os dedos, os

movimentos faciais, da cabeça e até dos olhos. Esses movimentos dão certo apoio ao

locutor e o ajudam a desentranhar seu pensamento. Portanto, o gesto deve surgir de

forma natural e espontânea e que trabalhe para complementar e conduzir a mensagem.

É muito interessante observar o locutor em sua atividade quando este faz uso da

linguagem corporal. Ele parece mais firme nas palavras, mais seguro e mais conectado

com a mensagem que está transmitindo. Concordando com este pensamento, Carneiro

(1981), acrescenta que o gesto deve identificar o pensamento e o sentimento do orador,

reforçando a mensagem. O gesto adequado surge naturalmente, quando estão em

harmonia com a voz, a palavra, a fisionomia, a expressividade, etc. O gestual, além de

ressaltar a informação mais importante da fala, também deve acompanhar o tom da

voz.

É claro que todo locutor deve saber usar a melhor postura para que possa

desempenhar sem problemas as suas atividades. Para isso, recomenda-se uma consulta

a um especialista na área para conhecer a melhor postura a ser adotada durante a

atividade profissional, principalmente porque a locutor trabalha sentado e isso pode

dificultar a projeção da voz, prejudicar a respiração e consequente a comunicação.

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Vale lembrar que os hábitos que prejudicam a saúde em relação à postura, devem ser

abandonados. Murta (1943) considera a disciplina e a sobriedade dos gestos como

fundamentais ao acompanhamento das frases. Para ele, os gestos devem ser associados

a sorrisos, mímica14

facial e entonações variadas. Está comprovado que o gestual ajuda

na condução da mensagem dada pelo locutor fornecendo apoio para a fala. Os gestos,

porém, devem ser expressivos, adequados e exatos.

2.8 VOCABULÁRIO

Disse Westland: ―As palavras estão para o discurso assim como a vestimenta

está para o corpo. A escolha das palavras é de suma importância. O comunicador deve

procurar o termo exato para exprimir cada idéia‖(MOTTA, 1981). Lopes (2000)

ressalta que o vocabulário é o elemento que traduz as idéias. Se ele se apresenta

deficiente prejudica a comunicação na sua íntegra. Deve ser o mais vasto e rico

possível. No entanto, o mais importante é saber usar o vocabulário que se tem e

complementa: ―O melhor vocabulário é aquele que se adapta a cada público, a cada

pessoa e situação‖ É praticamente impossível ser um bom locutor sem o domínio da

língua. A gramática correta e um vocabulário preciso e apropriado são fundamentais

para conquistar credibilidade.

O vocabulário, embora simples, traduz as idéias claramente, sem divagações.

Quanto mais abundante for o vocabulário, maior será a capacidade de adaptação aos

mais diferentes tipos de ouvintes. Pesquisadores do assunto dão alguns conselhos para

desenvolver o vocabulário. Ler um bom livro com lápis na mão e um dicionário ao

lado ajuda. Toda vez que deparar com uma palavra desconhecida, anote, veja o

significado, escreva algumas frases com esta palavra, repita-as algumas vezes para

fixar na memória. Conversar com pessoas cultas, com grande conhecimento, ajuda

bastante. Ouvir bons locutores, palestrantes e oradores, pode trazer grandes benefícios.

Praticar é o mais importante. Recomenda-se o cuidado para não fazer o uso de

expressões que possam ferir a ética e causar danos morais bem como efeitos que

sugiram preconceito ou discriminação.

14

O termo mímica refere-se à arte de fazer acompanhar com gestos precisos e adequados a ideia ou sentimento que se exprime.

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Dentro deste contexto, pode-se destacar o cuidado com os vícios de linguagem

que normalmente são usados no dia a dia, mas que não são adequados para

comunicação em rádio. Entre os vícios de linguagem mais comuns estão o cacófato

que é a produção de um som ruim em virtude da junção de palavras. Exemplos: Paguei

cinco reais por cada. A boca dela era perfeita. Conforme já mencionei. O boom da

informática. O Pleonasmo consiste na repetição desnecessária de uma ideia, como por

exemplo: encarar de frente; entrar para dentro; planos para o futuro; há cinco anos

atrás. Surpresa inesperada; sair para fora; etc. O gerundismo é outro vicio de

linguagem. Dá-se o nome de gerundismo ao uso inadequado da forma nominal do

gerúndio ―ndo‖. Portanto, deve-se evitar usar o gerúndio para indicar ação futura. Por

exemplo: Eu vou estar passando seu recado ao gerente. Neste caso, o uso correto seria:

Eu passarei seu recado ao gerente, ou: Eu vou passar seu recado ao gerente.

O locutor deve evitar ainda outros vícios como: Né, daí, então, bem, bom, aí,

veja só, ok, é, etc. Vale lembrar que o bom vocabulário traduz qualidade na

comunicação verbal, portanto o locutor deve estar atento a esse ponto tão importante e

redobrar a vigilância e o cuidado com os vícios de linguagem para evitar ruídos na

comunicação. (POLITO, 2002).

2.9 O USO DO MICROFONE

Seria difícil imaginar os dias de hoje sem microfone. Sua utilidade é

incontestável. Ele permite que a comunicação do locutor seja mais natural e

espontânea. O microfone é muitas vezes visto como um terrível inimigo, chegando a

provocar pânico em determinados comunicadores, principalmente naqueles menos

habilitados com o público (POLITO, 2002). Alguns anos atrás os microfones não

possuíam a tecnologia dos de hoje. Com o avanço dos microfones modernos é possível

ampliar a voz a limites extraordinários. A voz é mais bem detectada, ganhando um

colorido especial (CESAR, 1997). Polito (2002) dá algumas dicas para quem fala ao

microfone: usar uma voz mais grave. Escolher um ponto ótimo. Suavizar a emissão.

Prestar atenção aos /s/ finais. (para não ficar chiado) Pronunciar bem as sílabas finais e

cuidar da postura.

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Ao falar no rádio é importante saber também qual é a distância que o locutor

deve manter do microfone. Isso vai depender muito do tipo de equipamento, da sua

potência e do timbre de voz do locutor. Mas, em geral, aconselha-se uma distância de

20 centímetros, um palmo, entre o microfone e a boca de quem está falando. O locutor

deve procurar falar devagar, pronunciando e articulando de modo inteligente. Para o

profissional da voz, é imprescindível cuidar para não comer os finais das frases e nem

das palavras. Para isso, deve abrir bem a boca e fazer muitos exercícios de leitura em

voz alta para treinar a dicção e tornar a leitura clara (NCEP, 2005).

De acordo com César (1997), essa distância varia conforme o microfone. Para o

autor, é muito desagradável ao ouvinte alguns tipos de ruídos provocados pelo locutor

que não tem habilidade no uso do microfone. Ele destaca a importância de testar o

equipamento antes do uso para evitar problemas. Vale lembrar que com a tecnologia e

o avanço dos aparelhos de ampliação do som, a voz passou a ser mais bem detectada,

ganhando um colorido especial. Mas a tecnologia também trouxe cuidados que devem

ser observados pelos profissionais que fazem uso da voz.

2.10 A EXPRESSÃO VOCAL NO RÁDIO JORNALISMO

O repórter de rádio precisa, acima de qualquer coisa, unir capacidade de

observação com habilidade na comunicação. A isso, juntam-se características como

sensibilidade, criatividade, busca constante pela própria atualização informativa, além

de uma sólida formação intelectual. A informação no rádio precisa ser clara, portanto,

cabe ao jornalista interpretar o texto, transferir a informação, medir o ritmo, ser natural

e concluir bem a leitura. O uso da voz passiva acaba por diminuir o impacto da notícia

por deslocar o foco de interesse do quem para o quê. O locutor jornalista não deve

misturar ideias, mas deixar clara uma informação para depois se dedicar aos outros

dados da noticia (FERRARETTO, 2000).

É interessante observar que embora não seja a único, a fala constitui-se no

principal instrumento da comunicação radiofônica. Quem lê uma noticia ou apresenta

um programa jornalístico, depende em grande parte do uso que faz da sua capacidade

vocal. Falar ao microfone exige uma técnica apurada em que diversos elementos

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expressivos mesclam-se. Nota-se que a instantaneidade da informação no rádio

empresta uma sensação de realidade, mesmo em nível ficcional. Mas para que haja tal

característica, é necessário estabelecer um vínculo harmônico entre o que se fala, quem

fala e como fala (FERRARETTO, 2000).

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3 LEVANTAMENTO DE CAMPO

Neste capítulo a pesquisa traz como foi proposto, um levantamento de campo,

onde serão descritas, analisadas e comentadas as entrevistas realizadas com os

especialistas na área durante o período em que foi realizado o trabalho. No final do

capítulo será feita uma conclusão sobre estas análises para devido esclarecimento,

onde o objetivo da pesquisa poderá ser resgatado.

3.1 DESCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS

Foram realizadas oito entrevistas sendo três locutores de rádio, três professores

de curso de locução e oratória e duas fonoaudiólogas. As entrevistas foram feitas no

período de três meses com aproximadamente 20 minutos cada uma, com o mesmo

questionário aplicado para os oito entrevistados, onde foram pré-estruturadas cinco

perguntas básicas. Outras perguntas foram complementares e específicas para cada

caso conforme a necessidade. Os entrevistados foram os seguintes profissionais:

Comunicador Roberto Alexandre Pepino, o Beto Junior, locutor da rádio 98 FM, uma

rádio popular e apresenta vários programas de segunda a sexta e nos finais de semana,

As oito na 98, Geral 98, O amor é assim, Locomotiva, Anos 80 e Top list. Locutora

Margot Dobignies que apresenta o programa Por Dentro do Mundo com música e

notícia, na rádio Mundo Livre – uma atitude sonora, 93.9 FM, uma rádio de perfil Pop

Rock. Renato Luiz Gaúcho Idiarte Loss, conhecido como Renato Gaúcho,

apresentador do programa Bom dia com Renato Gaucho pela rádio Caiobá 102.3 FM,

uma rádio popular com música, notícia e entretenimento. Marcelo Cabral da Escola de

Radio e TV trabalha com cursos de locução para rádio, TV e eventos, curso de

animação 2D/3/D para desenhos animados, TV e Cinema, curso de filmagem com

gravação e edição de áudio e vídeo e curso de dublagem para TV, jogos e cinema.

WWW.escoladeradioetv.com.br. O professor Flávio Pereira, psicólogo e diretor do

Curso Cérebro e Comunicação, onde ministra curso de oratória, treinamento

empresarial, palestras motivadoras, liderança motivacional, memorização, leitura

dinâmica além de outros cursos profissionalizantes na área de comunicação.

WWW.institutoflaviopereira.com.br. José Wille, jornalista, palestrante e âncora do

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programa CBN Curitiba pela rádio CBN, 91.1 FM, a rádio que toca notícia, também

ministra treinamentos coorporativos e consultoria em comunicação. Fonoaudióloga

Maria Regina Franke Serratto, fonoaudióloga e coordenadora do curso de

fonoaudiologia da UTP. Daniele Almeida, fonoaudióloga, trabalha desde 2009 com os

jornalistas do Grupo RIC. Vide entrevistas completas no apêndice.

3.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

O ato de entrevistar vários profissionais torna-se muito interessante pelo fato de

que é possível perceber linhas de raciocínio diferentes, porém inteligentes sobre o

assunto. A diversidade de pensamentos e opiniões, além das colocações feitas sobre o

mesmo tema, possibilita ao pesquisador fazer comparações incríveis, além de abrir um

leque em torno da matéria. É possível observar visões diferentes, mas que no final,

chegam ao mesmo alvo que é a conquista do aperfeiçoamento e desenvolvimento da

profissão. Locutores, professores de expressão verbal e locução e fonoaudiólogas,

todos demonstraram profissionalismo e desenvoltura nas entrevistas colaborando com

seus conhecimentos para que esta pesquisa pudesse alcançar seu objetivo: mostrar que

a oratória pode contribuir na comunicação de locutores de rádio. Para esses

profissionais da voz foram feitas algumas perguntas básicas pré-estruturadas, além de

outras questões que surgiram durante o bate-papo. Essas perguntas podem ser

conferidas no anexo um. E é uma análise dessas destas entrevistas que a pesquisa

aborda a partir de agora.

3.2.1 Análise das entrevistas com os locutores

Fazendo uma análise das respostas dos locutores sobre o assunto proposto,

observa-se uma variedade rica de argumentos e colocações. Quando perguntado qual a

avaliação pessoal sobre a qualidade da comunicação de rádio hoje, os locutores se

manifestaram de forma descontraída e falaram sobre seus pontos de vista. Para o

comunicador Beto, a visão que se tinha do rádio no passado é bem diferente da visão

que se tem hoje e tudo é uma questão de competitividade. Por exemplo, as rádios

abertas e as comunitárias não figuravam no cenário radiofônico do passado, mas hoje

se tem tudo isso. Ele destaca ainda as facilidades com a internet e o celular. Tudo isso

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levou o rádio a se moldar conforme a tecnologia atual. Para ele, portanto a qualidade

da comunicação tem que ser maior hoje em dia. Para o Beto a tecnologia é fria, tirando

o rádio, porque no rádio a comunicação ocorre em todo momento. Ficou claro que pelo

avanço da tecnologia, houve a necessidade do rádio acompanhar essa mudança e

buscar uma qualidade melhor. Ele ressalta que: ―o radio é rápido e fantástico e a

qualidade da comunicação precisa acompanhar essa evolução‖.

A comunicadora Margot considera que a comunicação deve ser clara para os

dois lados, tanto para o comunicador quanto para o ouvinte, porque isso revela a forma

como o locutor se relaciona com os ouvintes dele. Para ela, isso se traduz em

qualidade de comunicação. Ela acredita que para atingir o objetivo a comunicação

dever ser muito clara. Nos dezoito anos de trabalho foi observado que esse ponto de

vista é muito importante para que tudo funcione bem entre ouvinte e comunicador e

com isso se mantém a qualidade no rádio.

Renato Gaúcho acredita que tudo o que puder aprimorar e aperfeiçoar é válido.

Ele destaca a projeção ideal da voz e considera de grande importância o nível cultural

e de informação. Mas acredita que o sucesso de um comunicador depende, em grande

parte, da sua capacidade de envolver emocionalmente o ouvinte. Para ele, o emocional

merece destaque na comunicação. Isso reflete uma ideia muito oportuna de um

pesquisador do assunto que diz que a razão e a lógica constroem a mensagem, mas só

a emoção é capaz de transmiti-la. Renato considera isso a parte mais importante para

ter qualidade na comunicação de rádio e depois finaliza dizendo que o resto é

complemento.

Abordando sobre a diferença entre AM e FM no contexto da qualidade da

comunicação, Beto coloca que no passado havia diferença, mas hoje a coisa mudou

devido a novas tecnologias que trouxeram evolução. Ele compara a locução de 1960

com a atual se referindo a uma transformação natural. E como vão surgindo coisas

novas, a linguagem também vai se adequando. É interessante a colocação que ele faz

sobre o rádio quando diz que o rádio não muda, ―porque a roda foi criada e ninguém

vai criar uma roda nova. Pode-se colocar umas calotas novas. O que é calota nova? Ele

define como um programete, uma ou outra coisa diferente, só que a roda já foi

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inventada‖. No seu pensamento, todo mundo que quer inventar uma nova roda, pode

quebrar. Na opinião de Beto, rádio se faz para o ouvinte, se o ouvinte aceitar,

maravilha, se o produto é bom ou não é, é discutível, pois cada um tem sua opinião,

mas quem decide mesmo é o ouvinte.

Na visão de Margot, tanto dentro das rádios AM como FM, tem vários

conceitos. Ela não se considera capaz de avaliar a comunicação de AM por trabalhar

em FM, mas quando apontado o fato de locações de espaços nas rádios AM, ela

argumenta que se o locutor vai lá e usa qualquer tipo de linguagem, vai pegar qualquer

tipo de ibope. É possível perceber, portanto, que há uma necessidade de melhora de

qualidade dentro desses espaços locados onde o comunicador, muitas vezes, trabalha

sem o devido preparo.

Para Renato Gaucho a qualidade na comunicação deve ser apreciada em

qualquer veículo. Na concepção dele as rádios AM, até por tradição, em alguns casos,

não se valoriza muito este aspecto. Ele lembra que no passado as emissoras FM eram

voltadas mais para um público mais sofisticado, uma classe mais alta, porém, isso foi

mudando com o tempo e hoje a coisa já é bem diferente. Ele conclui dizendo que o que

se vê entre AM e FM, é que nos programas de FM se toca mais música, são programas

de perfil musical, enquanto que nas rádios AM o comunicador fala mais, os ouvintes

participam mais e existe mais interatividade.

Durante a entrevista foi perguntado se o ouvinte valoriza mais o conteúdo do

programa ou a forma como o locutor se expressa. Beto afirma que o ouvinte se importa

sim com a maneira de se expressar do locutor e sabe quem é bom e quem é ruim. Sabe

qual é o locutor que está apresentando algo que soma para ele e quem está ali só pra

fazer uma coisinha qualquer. Segundo ele, o ouvinte sabe separar quem faz o trabalho

com alma e quem não faz, quem tá impostando uma voz errada, quem não é natural, o

ouvinte percebe que o locutor não é tudo aquilo, que a voz não é tudo aquilo. Ele

pensa que o locutor não deve subestimar a inteligência do ouvinte. Para Beto, essa é a

parte principal, ou seja, a forma como o locutor se expressa.

Margot vê importância nos dois lados. Ela acredita que um ouvinte pode ter

uma relação mais pessoal com o rádio, ligado mais ao locutor, outro já está mais

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ligado às músicas, por isso é preciso se esmerar em todos esses níveis. Para ela, uma

pessoa que quer falar, se comunicar, mas é tímida, não consegue se comunicar,

portanto, precisa aprender a fazer isso. Desta forma é necessário buscar preparo

através de cursos de oratória, locução, enfim, buscar se qualificar.

Já na opinião de Renato Gaucho, o conteúdo do programa é o mais importante.

Ele considera que os ouvintes dão muito mais valor a programação, do que a forma

como o locutor se expressa, se tem boa voz, boa dicção ou se possui técnicas de

comunicação. Renato diz que essa preferência do ouvinte pelo conteúdo do programa é

disparada.

Quanto à pergunta sobre a contribuição da arte oratória para locutores de rádio,

Beto mostra que em todo o trabalho é preciso uma reciclagem, é preciso buscar

melhoras, através de pessoas qualificadas. Ele indica otorrinos e também

fonoaudiólogos para trabalhar a dicção, a respiração, a impostação de voz e até onde o

locutor pode ir. Beto acredita que muitos locutores ainda tem preconceito quanto a isso

e não buscam essas qualificações. Porém quem gosta de evoluir e quer manter a voz,

busca crescimento. Na visão dele existe muita gente técnica, mas o rádio é feito de

emoção e sensibilidade. Beto se sente privilegiado por ter trabalhado com uma equipe

profissional que lhe ensinou tudo. Confessa que nunca fez curso fora e que tudo o que

aprendeu foi com essa equipe que ensinou desde a técnica até a falar bem a língua

portuguesa. Ele aprendeu todos os pontos essenciais que um locutor precisa saber para

fazer rádio.

Margot lembra que todo candidato a locutor de rádio deve buscar preparo. Ela

destaca pessoas tímidas que tem dificuldade de se comunicar. Essas pessoas devem

buscar cursos de oratória, de como falar em público, treinar em casa até conseguir se

desenvolver. A falta de preparo atrapalha muito. Ela aconselha que antes de entrar em

rádio, o candidato tenha um modelo de locutor com quem se identifica, em quem se

espelha, não para copiar, mas para ter como referencia. Deve ouvir outras rádios e

procurar aprender com outros profissionais. Ela considera esses cursos de expressão

verbal importantes até para quem não é locutor, são técnicas que podem ser aplicadas

no dia-a-dia em qualquer área de trabalho e na vida pessoal também. Ela aconselha o

curso de oratória para qualquer profissional. Para Margot, Curitiba tem muito a

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questão de aprender por ―toque de caixa‖, mas o ideal e partir para os cursos. Ela

também aprendeu por ―toque de caixa‖, mas com determinação e perseverança. Ouvia,

gravava, trabalhava em cima e treinava até que chegou a um resultado satisfatório. Ela

diz que sonhou e buscou até conseguir seu objetivo. Margot completa dizendo que é a

alma da pessoa que define melhor o trabalho dela.

Renato Gaucho acha que todo tipo de preparação, partindo de profissional

competente, é útil. Tudo o que puder ser aperfeiçoado é válido. Portanto considera

indispensável que o locutor busque um aperfeiçoamento e se esse trabalho depende de

cursos, que os locutores busquem esses cursos. Ele, no entanto, até porque, na época

em que começou, não havia muitas opções em termos de cursos, diz que aprendeu

errando.

Conversando sobre a aplicação das técnicas da arte oratória e de expressão

verbal, Beto fala sobre o entusiasmo do locutor. Ele diz que um locutor sem

entusiasmo vai ficar sozinho, sem audiência. Sem entusiasmo o comunicador não

aproxima ninguém, porque as pessoas não podem ver o locutor e o entusiasmo o

aproxima do seu público. Ele destaca também a boa leitura, simpatia, a alegria, o

carisma, que conquistam o ouvinte. Beto acha importante cuidar dos vícios de

linguagem e buscar falar corretamente. O segredo é gravar e ouvir para corrigir os

erros. Outro fator é a questão da impostação da voz. Nem sempre a voz impacta, o que

impacta é o que o locutor faz. Ele acha essencial dentro do rádio colocar bem a voz.

Impostar a voz é horrível na concepção de Beto, o ideal é que o locutor use sua voz

natural, porém de maneira trabalhada. Ele lembra ainda que pela falta da respiração

correta, a leitura dos textos fica comprometida e nesse quesito ele aconselha buscar um

profissional para orientação.

Margot compartilha do mesmo pensamento quando diz que o locutor deve se

gravar para corrigir os erros pedindo ajuda de outros profissionais e acrescenta que

isso é uma postura de humildade. Tudo que mexe com comunicação tem que ser

acompanhado de humildade. Locutor não é celebridade, tem que ter humildade.

Quanto aos sotaques, ela afirma que as emissoras não contratam pessoas que tem

sotaque evidente. Ela lembra que para ser locutor no Rio de Janeiro, em São Paulo, no

Paraná, no Ceará, na Bahia e no Rio Grande do Sul, o locutor não pode ter sotaque. A

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linguagem tem que ser neutra. Uma linguagem que não puxa regionalismo. Margô

acredita que toda pessoa que quer ser locutor pode, com devido preparo, chegar lá.

Na opinião de Renato Gaucho, não há coisa melhor do que treinar em voz alta,

gravar, ouvir, avaliar e se corrigir. Ele mostra que essas práticas podem ajudar muito o

desenvolvimento de qualquer profissional da voz. Para ele, como qualquer outra

habilidade, a profissão de locução é, basicamente, questão de treino. Renato deixa uma

dica especial para aquele que quer entrar no mercado da locução de rádio: ler muito

em voz alta, gravar, e depois fazer uma autoavaliação.

Como dica final, Beto dá a receita: pensar se o que você quer vai ser bom para o

locutor, para sua família e para os amigos. Fazer um curso de Inglês, um curso de

interpretação como teatro, por exemplo. Cuidar com o português e ser humilde para

aceitar os erros. Buscar um fonoaudiólogo para desenvolver a voz. Ler bastante e

buscar o aperfeiçoamento. Ele diz que se é esse o sonho, é só correr atrás.

Na dica final de Margot, pode se notar o incentivo à perseverança. A pessoa tem

que ser determinada e não desistir nunca. Se levar um, dois ou três nãos, continua até

ouvir um sim. Renato Gaucho diz que para as pessoas que falam em rádio, a qualidade

da sua fala depende de exercício. Todo o mundo pode melhorar a sua fala, se treinar

muito, gravar-se, ouvir-se, analisar-se e corrigir-se. Se existe meio mais eficiente de se

tornar um bom comunicador, ele não conhece.

3.2.2 Análise das entrevistas com os professores

Qual é a avaliação pessoal da qualidade da comunicação de rádio hoje? Essa

pergunta foi dirigida a professores e palestrantes de expressão verbal e curso de

oratória e locução. Marcelo aponta falta de preparo em muita gente que faz rádio hoje,

principalmente na questão da locução padrão, o que ele valoriza e ensina no curso.

Tem-se por locução padrão aquela que é aceita em todo o país e partiu do eixo Rio São

Paulo e é a locução usada na TV por telejornais e programas de grande abrangência.

Para ele a locução padrão é exigida por grandes emissoras, quando se contrata um

comunicador. Marcelo aborda o problema visto em muitos cursos de locução que não

preparam devidamente os profissionais para enfrentar programas de rádio. Ele lembra

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que as faculdades de comunicação social e jornalismo não têm disciplinas específicas

na área de locução que preparam os estudantes para o mercado do rádio.

Explicando a locução padrão, Marcelo fala de quatro fundamentos. A questão

da fluência na hora de ler um texto quando as vogais ―e‖ e ―o‖ devem ser trocadas por

―i‖ e ―u‖ para dar uma melhor fluência na leitura e evitar sotaques. O segundo

fundamento é o sorriso. Para ele o sorriso que o locutor passa na voz é muito

importante para conquistar o ouvinte, trazer tranquilidade ao locutor e uma dose de

simpatia que trás bom relacionamento entre locutor e ouvinte. O outro fundamento é o

improviso na leitura trabalhando a pontuação. Isso faz com que a leitura não pareça

leitura e fique mais natural dando ideia de improviso. E por último a própria dicção

que é pronunciar corretamente as palavras levando clareza aos ouvintes. Para ele, tudo

isso junto trás qualidade para a comunicação de rádio, o que na sua avaliação, falta

ainda em muitas emissoras e em muitos locutores.

O professor Flavio complementa esta ideia quando fala que a qualidade da

comunicação de rádio não é das melhores e atribui isso a uma fuga das boas maneiras

e da ética. Na sua visão se fala muito no rádio, mas o conteúdo deixa a desejar,

fazendo com que se perca muito da qualidade da comunicação. Ele considera que os

cursos de locução deveriam trabalhar não só voz, mas também o corpo, além de outros

elementos, formando um conjunto. Para o professor, os locutores devem buscar mais

qualidade no rádio, com programas de qualidade e que o conteúdo atenda as

exigências do mercado.

Wille considera que para ter qualidade em comunicação de rádio o locutor deve

trabalhar com clareza, ter uma comunicação que os ouvintes entendam e usar uma

linguagem coloquial. Ele destaca que essa é uma linguagem mais atualizada e não

como a linguagem do rádio de antigamente quando se falava de maneira artificial. É

interessante a maneira como ele coloca a linguagem antiga como uma forma de falar

bonito e a linguagem de hoje uma forma simples, como se estivesse conversando com

alguém. Porque não precisa falar de forma enfeitada, impostada, para conversar com

as pessoas. Ele lembra que no modelo do rádio do século passado, onde se aprendia

um ouvindo o outro, se falava muito alto devido a deficiência do som. Ele percebe que

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isso ocorre hoje em alguns programas principalmente esportivos, em que os locutores

falam de uma maneira diferente de quando estão conversando no próprio rádio. Ele

acredita que o seguimento esportivo tem essa linha devido ao fato de muitos copiarem

o perfil dos cursos de direito onde os advogados demonstram um jeito mais artificial

de falar com linguagem mais impostada para convencimento de júri, já que se

buscavam muito este tipo de curso por ser o mais aproximado na época para se seguir

uma carreira dentro da área de comunicação.

Quando perguntados sobre a diferença entre AM e FM no quesito qualidade, o

professor Marcelo Cabral percebe muita falta de preparo nos comunicadores de AM.

Ele atribui isso à comercialização de espaço. Para ele falta a locução padrão para

muitos locutores que realizam programas em emissoras AM. Marcelo faz uma

interessante comparação entre AM e FM colocando que a rádio AM é mais

companheira, enquanto a FM é mais lazer. Ela aborda o fato de que numa AM quando

entra o comercial, o ouvinte continua ouvindo porque ele gosta do comunicador, mas

com a FM é diferente, quando termina a música, o ouvinte troca de emissora. Sobre a

parte comercial, Marcelo acrescenta que a rádio que tem um departamento comercial

forte, com uma equipe de venda, consegue trazer recursos para a emissora, o que

facilita na seleção e contratação dos melhores locutores. Isso acontece com as rádios

FM. Ao contrário disso, a maioria das rádios AM precisam trazer os recursos de, o que

faz com que ela utilize os seus comunicadores para essa tarefa. Essas rádios vendem

horário para o público, para locutores ou determinadas pessoas que querem vender um

produto. Ele destaca que nem sempre esse locutor tem o devido preparo para

apresentar um programa de rádio.

Sobre essa questão, o professor Flavio diz que como professor e educador sobre

técnicas vocais, ele aponta as críticas e avalia o desempenho para buscar uma melhora,

mas em sua opinião pessoal, ele dava muito valor para essas coisas no passado, hoje

pensa diferente, apesar de parecer uma contradição. Ainda que recomende cuidado

com o bom desempenho da profissão, já flexibilizou bastante porque para ele o mundo

não é dos perfeccionistas. Flavio considera o mundo perfeccionista chato e preto e

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branco. Ele acredita que as pessoas podem se soltar mais e não ficarem tão presas às

tradições.

Na opinião de Wille a rádio AM perdeu o padrão de qualidade. Ele lembra que

pela estatística, 80% da audiência está nas rádios FM. Isso reflete um processo de

decadência acelerada, que já vem de tempo. Wille comenta sobre um projeto de

transformar AM em um modelo parecido com FM, mas é um plano, segundo ele, para

ser realizado a partir de 2016. Ele explica que é uma possibilidade técnica onde se

aproveita uma faixa de FM que não está sendo utilizada hoje que é do 77 a 88.8 e

passaria o AM para dentro do padrão FM. Ele acredita que isso melhoraria a qualidade

das rádios AM. Wille destaca que no AM tem emissora demais e ouvintes de menos e

assim não consegue mais sustentar, e sendo um dos motivos da locação de espaços

para diversas classes de programadores, o que faz com que a emissora não tenha mais

padrão e nem identidade. Ele comenta que a partir disso, entra o processo de

decadência. Para Wille, o defeito do FM é ser muito musical, não tem muito espaço

para interatividade. Algumas fazem uma programação mais parecida com AM, mas no

geral, elas são muito musicais.

Perguntados se o ouvinte valoriza mais o conteúdo do programa ou a forma

como o locutor se expressa, Marcelo Cabral acredita que o ouvinte valoriza muito a

boa comunicação do locutor, apesar de ver a importância do conteúdo. O ouvinte de

hoje sabe diferenciar muito bem o profissional que está preparado e o que não está.

Para ele a forma como o locutor fala e se comunica tem muito a ver com o sucesso do

programa e o aumento da audiência. Marcelo considera importante que o locutor

procure falar melhor para conquistar o ouvinte, mas acredita também que ele deve

cuidar da programação em si para que esse conjunto conquiste a simpatia e a audiência

do ouvinte.

Para o professor Flavio não existe programas perfeitos e locutores perfeitos,

tudo vai da dedicação e do aprendizado. Como professor sempre quis boa qualidade,

tudo de boa qualidade, mas hoje ele mediocriza algumas coisas. Para ele, o rádio

precisa de pessoas medíocres. Seria ruim se tudo fosse muito certinho, é preciso haver

pessoas medíocres para serem ajudadas. Não precisa haver tanta exigência para que

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tudo seja perfeito, voz perfeita, português corretíssimo, etc. Mas conclui que o

aperfeiçoamento é relevante e deve ser buscado.

Na visão de Wille, se o locutor se sente inseguro, pronuncia mal algumas

palavras, se tiver falhas na comunicação, o programa não se sustenta. Para ele, quando

o locutor fala no rádio, é como se estivesse conduzindo o pensamento do ouvinte e

essas falhas causa um desconforto. O locutor deve conduzir o ouvinte sem causar

sobressaltos. Ele vê nesta questão duas linhas, o conteúdo do programa que está sendo

passado e a técnica de comunicação utilizada, ou seja, o que o locutor fala e como fala.

Wille ainda aborda o fato de muitos locutores adotarem o perfil de estrelismo por estar

no rádio, o que se torna um ponto muito negativo.

Sobre a contribuição das técnicas de oratória para locutores, Marcelo Cabral

comenta que como as universidades de comunicação não ensinam locução, os cursos

de locução procuram fazer isso, apesar de muitos ainda não trabalharem direito esse

quesito, ou seja, nem percebem essa falta. O aluno vem para o curso sem domínio do

assunto. Ele considera muito importante frequentar esses cursos de preparo. Ele

aconselha buscar formação profissional e cursos que ensinam essas técnicas como

cursos de locução. Ele acrescenta que para os cursos oferecerem mais qualidade, é

preciso trabalhar com poucos alunos pra tornar as aulas mais práticas e ter melhores

resultados.

O professor Flavio aponta que o curso de oratória é completo para esses fins.

Ele considera que os cursos de locução são apenas uma parte, cuidando mais da parte

de voz, enquanto os cursos de oratória são mais completos. E por falta de buscar o

devido preparo, existe muito locutor fora do plumo, ou seja, tem boa voz, mas tem

defeitos especiais. Os cursos de oratória trabalham valores e não só comunicação. Ele

fala da ética, etiqueta e valores que estão acima da voz e tudo isso o curso de oratória

trabalha. Ele coloca que locução é uma coisa e oratória é outra. Ele lembra que é raro

um locutor procurar curso de oratória e atribui a isso o fato de que esses profissionais

não acreditam que precisam desse tipo de ajuda.

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Wille acredita que os cursos de oratória estão defasados. Vieram derivados dos

cursos de direito e quem trabalha com isso, geralmente tem essa ligação. Hoje a

oratória é muito diferente, a palestra é muito diferente. Ele coloca que a conversa de

rádio dever ser interessante e interativa. Ele vê a oratória moderna assim, o problema é

que os cursos de oratória tradicionais, surgiram da fala voltada para o direito, mas que

não se aplica mais a plateias. Ele mostra que a comunicação tem que acontecer e por

isso os cursos precisam se modernizar. Wille aconselha aos locutores que busquem

aperfeiçoamento, que façam cursos de comunicação, apesar de que esses cursos

universitários não tem uma disciplina específica na área de locução, mas pode-se

buscar especialista na área como fonoaudiólogos. O importante é fazer uma faculdade

e depois ir para o mercado de trabalho. Wille pondera que algumas atividades

profissionais se aprendem fazendo na prática e locução é uma delas. Ele lembra que

tinha muito sotaque de interior quando começou. Percebeu que deveria ter uma fala

mais uniforme. Lia em voz alta, prestava atenção em outros profissionais, gravava, se

ouvia e corrigia os erros. Treinava sempre para se aperfeiçoar. Depois teve

atendimento fonoaudiólogo e conseguiu chegar ao profissionalismo no rádio.

Quanto à aplicação das técnicas de oratória para locutores, Marcelo Cabral

destaca a necessidade de um vocabulário rico e um conteúdo bem elaborado. Aborda

também a gesticulação como grande auxiliar para a desenvoltura do locutor e para

passar melhor a ideia, o que ensina em seu curso. Valoriza muito os exercícios de

dicção e de articulação, além de exercícios de relaxamento e aquecimento. Marcelo

considera importante deixar os problemas para fora do ambiente de trabalho, para isso

indica os exercícios de relaxamento que trazem bons resultados. Ele conta que em suas

apresentações, sua primeira fala antes da comunicação oficial, é feita com um lápis na

boca, para melhorar a dicção. Quanto à saúde vocal, ele recomenda evitar alimentos

pesados e gordurosos como leite e derivados para não prender nas pregas vocais e

atrapalhar a fala. Água gelada também pode prejudicar, o ideal é temperatura

ambiente, natural. Ele indica maçã com casca por ser adstringente e auxiliar na

limpeza da garganta e beneficiar a fala. Ele comenta sobre a necessidade da respiração

abdominal para ter mais fôlego e não picotar na leitura de textos. Marcelo finaliza

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dizendo que em geral o locutor deve cuidar da voz e lembra que o melhor e trabalhar a

voz para tê-la por mais tempo.

O professor Flavio participa da mesma opinião sobre a importância dessas

técnicas vocais quando diz que cuidar da saúde vocal é fundamental para locutores de

rádio. Ele destaca pontos como intensidade da voz, velocidade, inflexão e dicção. É

interessante o termo por ele usado para definir esse conjunto. Flavio chama de

engenharia vocal. Para ele o locutor deve saber quando aplicar tudo isso durante sua

atividade profissional. Ele chama a entonação de tempero e revela que a atitude que a

pessoa coloca com a voz e a ênfase, fazem a diferença. Ele trabalha no curso a

respiração correta, exercícios de alongamento e principalmente a libertação dos

traumas que causa o medo de falar em público. Sobre os alimentos, Flavio recomenda

alimentos leves antes do uso profissional da voz e bastante água para hidratação. O

professor comenta sobre a importância de cuidar com a língua, procurando falar o

português corretamente e cuidar com os vícios de linguagem. E na sua didática, ele

trabalha não somente a voz, mas também a ética profissional.

Para Wille, uma autoanálise é muito importante. Ele aconselha gravar a própria

voz, ouvir e corrigir os erros e ver seu desempenho. Ele considera essa prática a

melhor escola. Wille acredita que a própria reação das pessoas pode ajudar o locutor a

se avaliar e pensar como está se saindo. Ele pensa que o maior problema do locutor é a

fluência e afirma que é o mais difícil. Para ele a fluência é conhecimento. Quando o

locutor recebe um tema e consegue discorrer sobre aquele tema, mostra fluência e esse

é o aspecto básico. Ele fala que é importante ter a noção de respiração e outras noções

teóricas, no entanto, não vê, pelo que ele conhece, cursos que tenham se modernizado

para aplicar melhor essas técnicas. Wille conclui dizendo que o locutor deve procurar

se preparar, cursar uma faculdade e entrar para o mercado de trabalho e termina

dizendo que é importante adquirir técnica de contar história e conversar para

desenvolver habilidades, e lembra: não dá para melhorar a voz, mas sim o uso dela.

Em sua dica final, Marcelo Cabral aconselha a trabalhar a voz e buscar a

locução padrão para ter mais qualidade na comunicação. Se o sonho é ser locutor, deve

buscar profissionais que possam ajudar e cuidar da escolaridade. O professor Flavio

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em sua dica final mostra que a oratória é uma filosofia, é a arte da palavra de falar em

público e o locutor entendendo isso vai ser um locutor mais interessante para o seu

ouvinte e conclui: o locutor deve fazer um curso de oratória. Wille também deixa a

dica: o locutor deve desenvolver a clareza e buscar uma maneira de facilitar a fala para

se comunicar bem e realizar uma comunicação de qualidade para ter audiência e

credibilidade no trabalho.

3.2.3 Análise das entrevistas com as fonoaudiólogas

Sobre a qualidade da comunicação de rádio hoje, as fonoaudiólogas entrevistas

apontaram elementos interessantes. Maria Regina, que já trabalhou no mercado do

rádio, destaca que antes de olhar o locutor como alguém com técnicas de locução ou

oratória, é preciso olhar a pessoa que vem junto com isso e que interfere nessa

expressão oral. Em sua prática profissional com radialistas, ela olha o locutor como

uma personagem que vai ao ar, com um padrão vocal que vai ao ar, porém que no dia-

a-dia, não é o mesmo. Envolve as questões de qualidade, velocidade, intensidade,

altura da voz dele para compor esse personagem que é levado ao ar via ondas do rádio.

Para a fonoaudióloga, esse locutor difere bastante da imagem que ele cria no rádio.

Além desses aspectos, Maria Regina acredita que o radialista sofre muito, até porque

ele mesmo não se valoriza neste contexto, se sente inseguros e tudo isso interfere na

qualidade da comunicação. Ela atribui a isso o fato da responsabilidade que o locutor

tem com a emissora para manter a qualidade do programa, ter que estar á frente do

IBOPE, arcar com as conseqüências dos problemas ocorridos e se responsabilizar por

erros e acertos. Ela considera que os empregadores devem se conscientizar que se a

rádio está no ar, se deve a esses profissionais da voz. Ela conclui que a técnica só vai

funcionar bem a partir do momento que o locutor consiga se entender como pessoa.

Para a especialista Daniele Almeida a qualidade depende da expressividade

vocal, ou seja, o quanto a dicção, a projeção da voz, é expressiva. Ela considera

importante a forma como o locutor mostra o seu produto através dessa expressividade.

Se o locutor comanda um programa jovem, ele precisa de mais flexibilidade de voz e

uma agilidade mais notada. Com programa de tema mais centrado, como noticiário,

por exemplo, a expressividade pode ser mais linear, porém com ritmo muito maior.

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Daniele avalia essa qualidade em cima do produto, ou seja, a voz do locutor precisa

combinar com o produto que ele oferece, com a programação que ele comanda.

De acordo com a pergunta sobre a diferença entre AM e FM quanto à qualidade

da comunicação, Maria Regina considera o fato de que as rádios em geral não

preparam seus locutores como as emissoras de TV. Ela até dá seu apoio aos locutores

porque dentro do trabalho na posição que ele ocupa, estão tentando fazer o melhor que

podem. Ela avlia que eles não procuram mais preparo por causa da formação. Ela

acredita que muitos têm baixa escolaridade, principalmente nas rádios de mais

entretenimento. Eles vêm de caminhos simples e humildes, tiveram a oportunidade e

estão trabalhando.

No conceito de Daniele existe muita diferença entre AM e FM no contexto da

qualidade. Ela aponta a rotatividade e a experiência do FM muito maior em relação a

AM. Ela comenta que as rádios AM são muito fechadas para um certo grupo ou

comunidade. A AM permite muito mais flexibilidade de pessoas por ter o sistema de

locação de espaço. Ela vê muita diferença na qualidade de ritmo, de voz, além de

outros aspectos.

Quanto ao conteúdo do programa e a técnica vocal do locutor, Maria Regina

considera ambos importantes. Ela lembra a responsabilidade do locutor ante a

emissora e o compromisso de conquistar o ouvinte para manter a audiência. Daniele se

une na mesma opinião dizendo que não tem como separar as duas coisas. Ela acredita

que o ouvinte identifica o locutor primeiro pela qualidade de voz, se é agradável, se ele

pode dedicar tempo ouvindo aquele locutor, se é uma voz interessante a ponto de

prender o ouvinte. Ao mesmo tempo, não adianta ouvir uma voz agradável, se o

conteúdo não corresponde. Uma coisa completa a outra, finaliza a especialista.

Sobre a contribuição da arte oratória para locutores, Maria Regina afirma que os

locutores de rádio não procuram o devido preparo. Ela coloca que eles entram muito

cedo na carreira e vão tentando se desenvolver lá dentro. Para ela geralmente as rádios

não exigem um locutor com bom preparo, muitas rádios dão mais valor à voz bonita da

pessoa. Quanto ao curso de oratória, ela sabe que os cursos oferecem orientações sobre

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as técnicas necessárias, mas não tem propriedade para falar sobre isso pela falta de

formação. Esses cursos acabam vendendo algo que é inatingível para o profissional,

porque uma pessoa que já está no mercado de trabalho não vai buscar. Quem

geralmente quer entrar para o mercado do rádio é que procura esses tipos de cursos.

Ela concorda que algumas técnicas são bem desenvolvidas pelos cursos de oratória,

mas falta ainda a questão de ver outras barreiras a superar, barreiras que levam ao

medo e a timidez. Maria Regina indica, portanto, preparo em todos os sentidos para

que o profissional da voz possa se desenvolver.

Daniele vê uma grande importância no preparo do locutor. Ela diz que aquele

que não tem preparo, perde a flexibilidade no decorrer do uso, principalmente quando

sua voz é utilizada para várias partes da comunicação como apresentação de show,

eventos, anúncios, palestras, etc. neste caso, o preparo é mais importante ainda. Alguns

locutores não procuram cursos por falta de conhecimento da necessidade. Ela comenta

que alguns locutores não buscam ajuda profissional porque acham que podem perder a

identidade. Ela fala que a escola do rádio é muito antiga, então ainda tem aquele perfil

mais carregado, mais esteriotipado que não permite isso. Daniele pensa que o locutor

iniciante pode buscar uma referencia inicial, alguém em que se espelhar para depois

criar o próprio perfil. Não é o caso de fazer cópia, mas apenas uma referencia em que

se apoiar. Ela acredita também que os cursos de oratória podem ajudar muito os

profissionais da voz. Ela acredita que funciona, mas é preciso ter um aprimoramento

dessas técnicas, que devem cada vez mais evoluir. Ela complementa que os cursos de

oratória devem ser buscados não só para locução de rádio, mas para as demandas de

hoje em dia.

Analisando a importância das técnicas de oratória para locutores, Maria Regina

avalia como indispensável o uso de cuidados com a voz. Ele destaca que o tempo de

uso da voz deveria ser de no máximo 4 horas por dia. Ela mostra algumas

complicações que comprometem a saúde do locutor como edemas de prega vocal

como resultado de abusos. A voz fica mais grave, se torna rouca e o locutor pode

perder a intensidade vocal. Maria Regina também salienta o fato desses edemas

surgirem por falta de cuidados como uso do álcool, fumo e outros fatores que levam a

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perda da qualidade vocal. Ela aconselha respiração correta, que é a diafragmática,

exercícios de aquecimento e desaquecimento e o uso da maçã antes da fala. Outro fator

interessante que ela coloca é a alteração da voz das locutoras no período menstrual ou

de menopausa. Para ela, todo profissional da voz deve levar em conta os fatores que

contribuem para a saúde vocal.

Na visão de Daniele, o abuso também provoca queixas entre os locutores e a

rouquidão é uma das maiores reclamações. Muitos desses casos são resultados da

demanda de trabalho e o despreparo para atender tudo isso. Ela destaca ainda que

alguns locutores usam a voz por um período longo e logo acaba a resistência, sentem

dificuldade articulatória e outros problemas relacionados a essa demanda. Daniele

indica pra locutores trabalhar o ritmo, a fluência, a melódica, a parte linguística, boa

articulação, que é o que passa credibilidade. Ela fala ainda sobre a expressividade que

é muito importante em rádio, que são marcações que não se ouve em lugar nenhum.

Quanto a respiração, ela recomenda uma respiração mista, administrando o conjunto

usando toda a caixa para que se tenha uma sustentação de ar. Para ela a alimentação

também é muito importante no caso do usa da voz. É ideal cuidar da digestão, evitar

frituras, derivado do leite e usar a maçã antes da fala, pois seus benefícios têm

comprovação cientifica. Quanto a voz, ela diz que a questão da impostação mudou em

todo os meios de comunicação. Hoje a voz que se exige não é aquele que tem uma

característica formal e fria, aquele voz muito colocada, distante, mas sim com mais

interatividade, uma voz mais próxima, mas coloquial.

Como dica final, Maria Regina incentiva os locutores a procurar um

fonoaudiólogo para o melhor desenvolvimento da profissão, pois ele depende do bom

uso da voz para o seu trabalho. Daniele também dá uma dica especial: trazer o

aprimoramento das técnicas de expressão verbal para o dia-a-dia, pois todas as pessoas

se expressam na vida.

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3.3 CONCLUSÃO

Resgatando o objetivo do projeto que foi entender como a arte oratória pode

contribuir para locutores de rádio, acredita-se que esse objetivo foi alcançado mediante

pesquisas feitas em torno do assunto. Com a opinião desses especialistas, é possível

concluir que a arte oratória trás uma grande contribuição para o desenvolvimento e

aperfeiçoamento de locutores de rádio. Apesar das opiniões diferentes sobre os

benefícios dos cursos de oratória, conclui-se que mesmo precisando de uma

modernização, suas técnicas ainda podem auxiliar profissionais da voz.

Percebe-se que quanto à qualidade de comunicação de rádio hoje, as opiniões

são de que essa qualidade deve acompanhar a evolução da tecnologia, promover uma

comunicação clara, trabalhar o emocional do ouvinte e usar de expressividade. Nota-se

que para alguns as rádios AM perde muito em qualidade em relação às FM e a isso se

atribui em grande parte às locações de espaço. É interessante observar as opiniões

divergentes sobre o maior interesse do ouvinte em questão de conteúdo e técnica. Para

uns, o conteúdo do programa é o que mais interessa, para outros, a forma como o

locutor se expressa é o mais importante.

Em geral, todos os profissionais entrevistados concordam que a voz merece

cuidado especial e que a desenvoltura e o sucesso no rádio dependem em grande parte

de técnicas como entusiasmo, expressividade, ritmo, clareza, boa dicção e articulação,

além de uma linguagem que aproxime o ouvinte. O vocabulário rico com uma boa

dose de gestual e o sorriso na voz pode complementar esse quadro tão agradável do

locutor de rádio, que tem em sua voz seu instrumento de trabalho, podendo alcançar

cada vez mais o padrão de profissionalismo exigido para a qualidade da comunicação.

É interessante notar a riqueza nas técnicas da arte oratória reconhecida por

muitos que já puderam experimentar seus recursos para melhorar a comunicação. Essa

arte milenar desenvolvida através dos séculos chega ao rádio para proporcionar

condições aos comunicadores dos microfones de rádio de explorar mais a voz, adequá-

la e projetá-la com mais profissionalismo. É um consenso geral dos entrevistados a

necessidade do preparo vocal, do uso das técnicas, da busca por preparo e da conquista

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do ideal de aperfeiçoamento. É opinião comum que a qualidade depende desse

preparo, para que o rádio possa continuar sendo o que é, um meio de comunicação

onde se trabalha com a voz e a imaginação. Um espaço interativo e humanitário onde

as pessoas se relacionam e trocam ideias. O locutor é o elemento fundamental desse

meio e pode fazer maravilhas com a voz, para levar ao ouvinte, pelas ondas do rádio,

uma palavra amiga, uma palavra que pode fazer a diferença na vida das pessoas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A possível articulação da oratória com a locução de rádio, dentro da pespectiva

deste trabalho, reflete a evidência de uma importante ligação entre ambas as partes no

que se refere aos resultados e objetivos propostos. Inicialmente o trabalho indicou uma

pesquisa sobre a história da oratória e sua contribuição nos meios de comunicação,

mais especificamente no rádio. Nesta pesquisa há referência para alguns oradores

gregos e romanos que se destacaram por seus métodos de apresentação pública.

Aponta também oradores contemporâneos, homens que deixaram sua marca na

história da humanidade através de seus discursos marcantes. Esses se destacaram na

política e também no campo religioso.

As obras pesquisadas mostram um relato da trajetória da oratória, trazendo

informações sobre seus primórdios, projetando para os dias atuais, uma arte ampliada

em suas formas e métodos, aprimorada e atualizada para atender às necessidades de

um público atual. Uma arte que tende a conquistar cada vez mais espaço entre os

apreciadores da palavra falada. Sabe-se que hoje, as técnicas da oratória são buscadas

por todas as classes de profissionais da voz.

Diante dessa tendência, no segundo capítulo da pesquisa, fica clara a

importância do uso dessas técnicas pelos locutores de rádio. E por ser a locução um

meio de comunica-se, se torna essencial que o locutor comunique-se de modo a atrair a

atenção do ouvinte e despertar nele o interesse de acompanhar a programação. Os

autores concordam que é extremamente relevante para o comunicador adquirir técnicas

como melhora de projeção de voz, respiração correta, uso correto do microfone, boa

dicção, articulação, além de expressividade na fala, entusiasmo, naturalidade e

conhecimento sobre o assunto.

Acredita-se que as possibilidades de se explorar os métodos da comunicação

eficiente, cresçam a partir do momento em que esta necessidade seja sentida pelos

locutores através das exigências crescentes dos ouvintes. É dentro dessa perspectiva

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que o locutor deve buscar os recursos e habilitar-se para atender, da melhor maneira,

aos reclamos de uma comunicação clara e objetiva. Diante disso, pode-se entender a

urgente necessidade de preparo por parte daqueles que pretendem usar a voz na

comunicação de rádio.

A pesquisa se encerra com um estudo de caso, onde profissionais foram

entrevistados. A pesquisa contou com a colaboração de locutores de rádio, professores

de curso de locução e oratória e fonoaudiólogas. Pode-se perceber que estes

profissionais concordam que as técnicas de expressão verbal são muito necessárias

para uma boa qualidade na comunicação de rádio. Eles esclareceram pontos

importantes sobre a contribuição da arte oratória para os profissionais da voz que

fazem do rádio seu meio de comunicação.

É notório que esse assunto deixa margem para muitos estudos e pesquisas com

a tendência crescente entre aqueles que desejam se projetar como profissionais da voz.

A arte oratória se tornou elemento fundamental para aqueles que querem ir pra frente

na vida profissional e social. Nesse contexto, fica a proposta para que se busque cada

vez mais o aperfeiçoamento das técnicas de falar no rádio, contando sempre com a

contribuição da arte oratória.

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OUTRAS REFERÊNCIAS

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PEPINO, Roberto Alexandre. Locutor. Entrevista concedida a Olga Maria da silva

Tederixe. Curitiba, 09 de maio de 2012.

MARIA REGINA. Fonoaudióloga. Entrevista concedida a Olga Maria da Silva

Tederixe. Curitiba, 15 de maio de 2012.

PEREIRA, Flávio Roberto. Professor de Oratória. Entrevista concedida a Olga Maria

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APÊNDICE

ENTREVISTAS

ENTREVISTA COM BETO JUNIOR

Como você avalia a qualidade da comunicação do rádio hoje?

Eu penso o seguinte, com o tempo tudo passa por uma transformação. Claro dez anos

atrás você tinha uma visão, cinco anos atrás, você tinha outra, hoje você vai ter outra,

daqui a pouco você vai ter outra. Acho que é conforme a necessidade de todo mundo.

É a competitividade, a gente tá muito competitivo hoje. Hoje tem a internet, tem

celular, uma série de coisas que levou o rádio a ter que se moldar conforme toda a

tecnologia que está existindo, então a qualidade tem que ser maior hoje em dia. Até a

comunicação tem que ser maior. A exigência é maior. O público tem no computador o

chamado Google, pra quem não sabe, é pesquisa. Então tudo o que ele quer ali, ele vai

ali, coloca e acha. A gente tem pensar o seguinte, toda tecnologia é fria, tirando o

rádio, o rádio não é frio. Vou defender claro, minha classe porque é onde eu trabalho.

Porque o rádio não é frio? Porque no rádio o cara tá toda hora se comunicando, e todo

mundo gosta de ser lembrado. Isso não vai acabar. Por mais que a tecnologia veio, por

mais que veio um monte de coisa, mas o rádio continua sendo o que ele é, fantástico,

rápido, ele é bem mais rápido, até que a internet, porque se você está dentro de um

ônibus ou no teu carro e tem um acontecimento e você precisa entrar em contato, você

pega o teu celular ou telefone da rua, liga e pronto, você já coloca ao vivo lá na radio,

o que ta acontecendo. Coisa que na televisão demora, na internet demora, tudo isso.

Você acredita que a qualidade da comunicação de rádio é diferente entre AM e

FM?

No passado sim. Hoje, não, hoje com a tecnologia nova e com novas cabeças que

surgiram, isso é evolução. Tudo vai evoluindo. Se a gente conversar com alguém que

fazia locução em 1960, ele vai falar uma coisa, quem fazia locução em 1990, é uma

coisa, hoje é outra. É transformação natural, por quê? Porque vão surgindo coisas

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novas, a linguagem também tem que ser mudada. Só que o rádio não muda. A roda foi

criada e ninguém vai criar uma roda nova, a gente pode colocar umas calotas novas. O

que é calota nova? Colocar um programente, uma coisinha diferente, adocicar aqui,

lembrar ali, só que roda já foi inventada. E todo mundo que quer inventar uma nova

roda, quebra. Porque você faz a rádio pro ouvinte, se o ouvinte aceitar, maravilha, se o

produto é bom ou não é, é discutível, aí todo mundo, cada um tem a sua opinião, mas

quem decide mesmo é o ouvinte.

Como você vê a mudança da locução na questão da projeção de voz de rígida para

mais ligth?

Essa mudança ocorreu porque, pela necessidade, como eu falei, antigamente você fazia

um rádio, simplesmente um rádio que você tinha que tocar musica sertaneja, você

tinha que tocar musica gospel, você tinha que tocar gauchesca, tinha que fazer uma

programação, tinha que fazer um feirão dentro de uma rádio. Hoje, o que aconteceu?

Como surgiram várias rádios, então você tem uma rádio que fala linguagem popular,

tem outra rádio que é mais eclética, tem uma rádio que é mais assim, por isso mudou.

O próprio ouvinte foi acostumando com isso e o próprio rádio foi evoluindo sobre isso

e os comunicadores também foram evoluindo. Como daqui a dez, quinze anos, o que

estamos falando aqui, muita gente vai falar assim, ah, mas o que eles faziam lá a dez,

vinte anos atrás, é diferente do dia de hoje. Esse passo é importante e a gente tá dando

um passo interessante. Tanto que a televisão também, a também era quadradona, a

televisão era super quadrada. De repente você vê hoje que alguns programas, o cara

parece que ta ali no sofá da tua casa falando e o rádio também seguiu essa mesma

linha.

O que o ouvinte valoriza mais, o conteúdo do programa ou a forma como o

locutor se expressa? Ele se importa com isso?

O ouvinte se importa sim, ele não é mais bobo não, ele sabe quem é bom e quem é

ruim. Ele sabe qual é o locutor que está apresentando algo que soma pra ele, que ajuda

e ele sabe qual é o locutor ou comunicador que está ali simplesmente só pra fazer uma

coisinha sem a alma. O ouvinte sabe separar quem faz um trabalho com alma e quem

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não faz, quem tá impostando uma voz errada. Se você não for natural, hoje tudo na

vida se não for natural chega uma hora lá na frente, a sua máscara cai, o ouvinte vai

saber que você não é tudo aquilo, que a tua voz não é tudo aquilo. O ouvinte vem em

primeiro lugar. Primeiro você prepara um programa. O ouvinte pensa assim, tudo bem,

o que o comunicador e a rádio quer com aquele programa? Aí você tem que explicar

para o ouvinte, você tem que saber como explicar, sem ser chato, sem subestimar a

inteligência do ouvinte.

Até que ponto você considera importante o locutor procurar preparo vocal,

buscar cursos. Como você vê a importância das técnicas vocais para locutores?

Todo trabalho você precisa se reciclar, em todo trabalho você precisa melhorar. Pra

melhorar você precisa buscar pessoas qualificadas, que são profissionais da área.

Quanto à voz, é bom ter um otorrino para ver como está a voz, e um fonoaudiólogo

que vai trabalha a sua dicção a sua respiração, a sua impostação de voz, até onde você

pode ir. Muitos locutores ainda tem preconceito quanto a isso. Mas precisamos, porque

são profissionais que estudaram aquilo e podem acrescentar. Quem gosta de evoluir,

quem gosta de novidade e precisa dessa novidade e quer manter a sua voz que é um

meio de trabalho, procura um fonoaudiólogo e também um otorrino pra saber como

está o andamento das suas pregas vocais, pois você tem que cuidar do seu instrumento.

É bom fazer um curso de Inglês, porque é importante, porque você falar o inglês, não

que você conversa, mas você tem um universo ali dentro de música internacional e

hoje é globalização. O que aconteceu? O mundo foi aberto. Hoje você está aqui em

Curitiba, mas estão te ouvindo em todos os lugares. Tem a internet que a gente não

pode esquecer.

Que técnicas dentro da oratória você indica para locutores?

O entusiasmo é muito importante, sem entusiasmo o locutor vai ficar sozinho, não vai

ter audiência. Se é o plano dele atingir as pessoas, ele não vai conseguir porque sem

entusiasmo você não aproxima ninguém, as pessoas não estão te vendo, o cara ta

fazendo pra ele. Quando o ouvinte percebe isso, aí ele vai dizer pra que eu vou ouvir

isso? Isso não soma nada, o cara ta fazendo pra ele. Agora quando você entra com

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alegria, com vontade, faz com amor, as pessoas sabem valorizar. Outro ponto

importante é a leitura. Quando a gente fala da leitura, o povo brasileiro tem um

problema sério de não fazer leitura, porque fala que o livro é muito caro, mas nós

temos um monte de livro na biblioteca. E você vai buscando, e hoje a internet, como

eu falei, vai lá no Google, tem uma série de coisas. É aí que você vai ver a diferença

entre locutor e comunicador. O locutor fala nome de música. O comunicador além de

falar o nome da música, ele conversa. Pra você conversar, você tem que ter o quê?

Tem que ter uma experiência, uma base, um preparo. Pra ter um preparo, você vai ter

aonde? Vai ter lendo. Porque a leitura abre um campo enorme, não só no rádio, mas na

vida em si. Sem leitura hoje em dia, as pessoas vão ficar fadadas a ficarem sozinhas. O

locutor precisa ser simpático, transmitir alegria, ser natural. Uma boa técnica é se

gravar e depois ouvir, isso ajuda a corrigir os Erros.

ENTREVISTA COM MARGOT

Como você avalia a qualidade da comunicação de rádio hoje?

Não sou uma ouvinte assídua das rádios AM, por isso não posso avaliar ,mas

dentro do segmento AM, acredito que a comunicação para ser bem feita, tem que

tornar claro para os dois lados, para quem tá falando e para quem tá ouvindo uma

mensagem, se tornou claro, ela funcionou. Por aí se vê a forma como o locutor se

relaciona com os ouvintes, se ele se relaciona de forma clara, atingiu o objetivo, é por

aí.

Você vê diferença entre AM e FM na questão da qualidade de comunicação?

Tanto dentro das rádios AM como FM, tem vários conceitos. Não me considero

capaz de avaliar a comunicação de AM por trabalhar em FM, mas quando se fala em

locação de espaços nas rádios AM, o problema é que se o locutor vai lá em

determinada rádio e usa qualquer tipo de linguagem, vai pegar qualquer tipo de ibope.

Por isso é necessário preparo por parte desses comunicadores para que não perca a

qualidade da comunicação.

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O que o ouvinte valoriza mais, o conteúdo do programa ou a forma como o

locutor se expressa?

Considero os dois importantes. É assim, tem um ouvinte que vai ter uma relação

mais pessoal com o rádio, que tá mais ligado ao locutor, tem outro que tá ligado mais

às músicas, tem outro que tá ligado em todos esses contextos e mais os comerciais.

Então o locutor deve se esmerar em todos esses níveis. Uma pessoa que quer falar,

mas tem vergonha, é tímida, ela não consegue comunicar. Desta forma é necessário

buscar preparo através de cursos de oratória, locução, enfim, buscar se qualificar.

A arte oratória pode contribuir para locutores de rádio?

Toda pessoa que deseja trabalhar em rádio deve buscar preparo. Pode fazer

cursos de oratória, de como falar em público, treinar em casa até conseguir se

desenvolver. A falta de preparo pode atrapalhar muito o trabalho desse comunicador.

Eu aconselho ao candidato a trabalhar com locução, que antes de entrar em rádio,

tenha busque um modelo de locutor com quem se identifica, em quem se espelha, não

para copiar, mas para ter como referência e aí é só criar o próprio estilo. É importante

também ouvir outras rádios e procurar aprender com outros profissionais. Se é uma

oportunidade única, é pegar ou largar, você vai e encara, mas cabe a pessoa ser

humilde e pedir ajuda aos colegas. Se gravar e mostrar para outras pessoas, isso tudo

ajuda muito, e claro, buscar preparo. Acho esses cursos de expressão verbal

importantes até para quem não é locutor, são técnicas que podem ser aplicadas no dia-

a-dia, em casa, no trabalho, em qualquer área de trabalho e na vida pessoal também.

Eu realmente aconselho o curso de oratória para qualquer profissional. Eu vejo que em

Curitiba tem muito a questão de aprender por ―toque de caixa‖, mas o ideal ainda é

partir para os cursos. Eu também aprendi por ―toque de caixa‖, mas com determinação

e perseverança. Me gravava, me ouvia, trabalhava em cima e treinava até que cheguei

a um resultado satisfatório. Sonhei e busquei até conseguir meu objetivo. é a alma da

pessoa que define melhor o trabalho dela.

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Quais as técnicas de oratória você considera importante para o locutor?

Uma das coisas é não ter regionalismo. É necessária uma linguagem neutra.

Paraná, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul são regiões onde não se

pode usar regionalismo. Hoje em dia as rádios estão na internet e as pessoas acham

muito estranho essa questão do regionalismo. As grandes emissoras não contratam

locutores com regionalismo. E como eu falei, deve gravar para corrigir os erros e

manter uma postura de humildade.

ENTREVISTA COM RENATO GAÚCHO

Como você vê a questão da qualidade na comunicação de rádio?

Tudo o que você puder aprimorar é válido — a voz, o nível cultural e de

informação, etc. — mas acredito que o sucesso de um comunicador depende, em

grande parte, da sua capacidade de envolver emocionalmente o ouvinte. O resto é

complemento.

Qual a diferença entre AM e FM no aspecto da comunicação, levando em conta

a qualidade vocal dos locutores?

A qualidade vocal é uma qualidade desejável em qualquer veículo, embora, até por

tradição, as emissoras AM, em certos casos, ainda parecem primar menos por esse

quesito. Antigamente, as emissoras FM eram voltadas a uma classe pretensamente

mais sofisticada, mas isso se atenuou nos últimos anos. Talvez uma diferença que

ainda persista — e, mesmo assim, não em todos os casos — seja que as emissoras FM

tocam mais músicas. No AM, sobretudo nos programas matinais, o comunicador fala

mais, há mais participação de ouvintes...

Na sua experiência, o que o ouvinte considera mais importante, o conteúdo do

programa ou a forma como o locutor se expressa?

O conteúdo do programa, disparado.

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Como você avalia a contribuição da oratória para locutores de rádio?

Acho que todo tipo de preparação, partindo de profissional competente, é útil. Eu,

no entanto — até porque, na época em que comecei, não havia muitas opções em

termos de cursos — aprendi errando.

Quais são, na sua opinião, as técnicas mais importantes PA o locutor?

Na minha opinião, não há coisa melhor do que treinar em voz alta, gravar, ouvir,

avaliar e se corrigir. Como qualquer outra habilidade, locução é, basicamente, questão

de treino. Minha dica, portanto, é ler muito, em voz alta, gravar, e depois fazer uma

autoavaliação.

Se quiser contar sua experiência, ou alguma outra que conheça, pode enriquecer o

trabalho.

Acho que minha resposta à última pergunta é a melhor contribuição que posso

dar a quem queira se dedicar à locução. Claro que ter uma voz grave e aveludada é

uma coisa desejável, mas não acredito que tenha importância vital para o sucesso de

um comunicador. Conheço profissionais de voz bonita de quem ninguém sabe o nome,

bem como conheço outros que, apesar de terem vozes comuns, conseguiram se

destacar. Qualquer pessoa fala — contanto que não seja muda, é claro — e a qualidade

da sua fala depende de exercício. Todo o mundo pode melhorar a sua fala, se treinar

muito, gravar-se, ouvir-se, analisar-se e corrigir-se. Se existe meio mais eficiente de se

tornar um bom comunicador, eu não conheço.

ENTREVISTA COM MARCELO CABRAL

Como você avalia a qualidade na comunicação de rádio hoje?

Eu acho que nós temos muita gente que não está preparada adequadamente para

fazer rádio. Isso se percebe muito nas emissoras AM. Porque acontece isso? Elas

comercializam espaços, mas nem sempre essa pessoa está preparada, principalmente

quanto à locução padrão, o que eu bato muito forte nos curso. Locução padrão é aquela

que é aceita no país todo. Essa locução padrão, eu diria, envolve quatro fundamentos.

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A questão da fluência na hora de ler um texto quando as vogais ―e‖ e ―o‖ devem ser

trocadas por ―i‖ e ―u‖ para dar uma melhor fluência na leitura e evitar sotaques. O

segundo fundamento é o sorriso. Para ele o sorriso que o locutor passa na voz é muito

importante para conquistar o ouvinte, trazer tranquilidade ao locutor e uma dose de

simpatia que trás bom relacionamento entre locutor e ouvinte. O outro fundamento é o

improviso na leitura trabalhando a pontuação. Isso faz com que a leitura não pareça

leitura e fique mais natural dando ideia de improviso. E por último a própria dicção

que é pronunciar corretamente as palavras levando clareza aos ouvintes. Para ele, tudo

isso junto trás qualidade para a comunicação de rádio, o que na sua avaliação, falta

ainda em muitas emissoras e em muitos locutores. Essa locução é exigida por grandes

emissoras na hora de contratar o profissional. Nem sempre os cursos de locução

preparam os locutores nessa locução padrão. As universidades de comunicação não

tem uma disciplina nessa área e aça que os cursos de locução tentam cobrir isso, mas

nem sempre consegue. No nosso curso tentamos passar esse sistema e orientar os

locutores a conquistar a locução padrão. Na locução padrão, por exemplo, não pode

haver regionalismo, porque não é contratado para apresentar um programa,

principalmente quando é muito acentuado. Não se contrata alguém que fala ―leite

quente‖ e sim leiti quenti. Então a locução padrão procura resolver essa questão e

trabalhar uma linguagem mais padronizada.

Entre AM e FM, você vê diferença na qualidade de comunicação?

A grande diferença entre AM e FM, é que AM é uma rádio mais companheira, FM

é uma rádio mais lazer. Na AM o ouvinte acompanha porque gosta do comunicador.

Na hora do comercial, o ouvinte continua ali acompanhando a programação. Na FM é

diferente, terminou a música, está entrando o comercial, o ouvinte muda de estação,

muita gente faz isso. Mas a questão é porque não temos na AM locutores de qualidade

mesmo? Em algumas FM também. A rádio que tem um departamento comercial forte,

consegue trazer todos os recursos que a emissora precisa, com isso ela tem condições

de contratar locutores e selecionar os melhores locutores do mercado para trabalhar na

emissora, isso acontece muito em FM, mas nas AM, quando não tem esse

departamento forte, ela precisa recorrer a outros recursos e parte assim para a

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contratação de pessoas que locam, espaço, mas não tem o devido preparo para isso e

não tem a locução padrão.

Para você o que o ouvinte mais valoriza, o conteúdo programa ou a forma como

o locutor se expressa?

Eu acredito muito que o ouvinte sabe valorizar a boa comunicação do locutor,

do apresentador de um programa de rádio, claro que é preciso valorizar também o

conteúdo da programação proposta pela emissora. Eu vejo ambas as coisas como

muito importantes. O ouvinte de hoje sabe diferenciar muito bem o profissional que

está preparado e o que não está. É visível que a maneira como o locutor fala e se

comunica tem muito a ver com o sucesso do programa e o aumento da audiência.

E as técnicas da oratória, podem contribuir para o desenvolvimento do locutor

de rádio? Como você avalia isso?

Pode contribuir sim , mas é preciso buscar preparo. O mais importante hoje não ter

uma voz grave, impostada, mas a voz natural, porém trabalhada e preparada. Se esse é

o sonho, corre atrás, mas busque pessoas preparadas para ajudar. Locução é prática,

por isso é bom cuidar de tudo isso, mas também da escolaridade, ter uma boa leitura e

ter vontade, isso é o básico para poder correr atrás do sonho.

Quais as técnicas de oratória você usa no curso e indica também para locutores?

Eu trabalho muito a gesticulação no curso, porque através da gesticulação, a gente

consegue passar melhor uma ideia. A gente trabalha também exercício de relaxamento,

porque toda apresentação que você vai fazer, é importante ser profissional, deixar os

problemas de lado e isso se consegue com exercícios de relaxamento. Trabalhamos

ainda exercícios de dicção e articulação, para que aquilo que você está lendo, consiga

falar. As vezes pode haver gagueira, devido ao nervosismo, mas se há um preparo

antes, se você se prepara com esses exercícios, tudo flui melhor. Eu uso antes de falar

um, exercício com lápis para falar melhor depois. Isso cria uma dificuldade e depois

que você tira o lápis, a fala fica mais solta, fica melhor. Isso já era usado por muitos no

passado, claro que com outros obstáculos, mas hoje eu, por exemplo, recomendo o

exercício com o lápis. Outra questão é cuidar da saúde vocal. Eu recomendo alimentos

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leves antes da fala. Os alimentos gordurosos como leite e derivados vão prejudicar a

fala. É bom cuidar com a água gelada, principalmente se estiver com as defesas baixas.

A água melhor é a de temperatura ambiente. A maçã com casca vai ajudar muito,

porque ela limpa a garganta, tira a gordura e ajuda no desenvolvimento das pregas

vocais. Não podemos esquecer da respiração abdominal, ela é importante para não

ficar picando a leitura e dá ao locutor condição de desenvolver melhor seu trabalho

que é exatamente falar e para isso é preciso respirar. Para adquirir essa respiração,

basta fazer os exercícios específicos.

ENTREVISTA COM JOSÉ WILLE

Como você avalia a qualidade da comunicação de rádio hoje?

Tem vários tipos diferentes de radialistas, de comunicação, posso falar da que eu

acompanho mais de perto. A lógica é ter uma comunicação com clareza, uma

comunicação que as pessoas entendam e que seja coloquial. Isso significa que não é

mais o rádio que se ouvia antigamente, quando o locutor falava de uma forma

artificial, procurava falar bonito, aqui é diferente, se fala de forma simples. Falar ao

microfone é como se você estivesse conversando com alguém, porque na prática isso

mesmo que você está fazendo. Não faz sentido falar difícil, falar de uma forma

afetada, de uma forma enfeitada, ou como se dizia antigamente, com voz impostada,

para conversar com as pessoas. O rádio antigo, do século passado, criou um modelo

onde um aprendia ouvindo o outro. E como o som era muito deficiente, o locutor

falava muito alto, muito mais de voz projetada e se criou uma forma de falar muito

artificial, hoje se vê isso ainda, principalmente no seguimento esportivo. Um vai

copiando o outro e depois muitos seguem o estilo dos cursos de direito, porque alguns

advogados ainda usam a forma de falar muito artificial, uma forma para convencer o

jure, e muitos levam isso para o radio. Mas o ideal é usar uma linguagem mais

simples, falar de uma forma clara, de uma forma culta e para ser entendido, com

objetividade. Basicamente é isso, linguagem coloquial, com sua maneira de falar

normal, objetividade, cuidar com o português e falar com clareza. Infelizmente nossos

cursos de comunicação hoje não tem acompanhamento de profissionais da voz como

fonoaudiólogos que ajudem no preparo dos comunicadores. Se a pessoa for para a

televisão ou para o rádio, ela precisa disso, mas as faculdades não oferecem isso. Não

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existe esse preparo. Essa formação acontece nos próprios veículos de comunicação, as

emissoras contratam esses especialistas para treinar seus profissionais.

Como você essa qualidade entre AM e FM?

AM perdeu a referencia, não tem mais padrão de qualidade. Segundo estatísticas,

80% da audiência está no FM e 20% no AM. AM está num processo de decadência

acelerada, já vem de muito tempo. Então o AM vai sobreviver porque lá na frente há

um projeto para se transforma o AM num modelo parecido com FM, isso é lá pra

2016, então existe essa possibilidade técnica, se aproveita uma faixa de FM que não

está sendo utilizada hoje que é do 77 ao 88.8, os rádio ainda não tem essa faixas e

passaria o AM para dentro dessas faixas do FM, mas enquanto isso, o que acontece? O

AM tem emissoras demais e ouvintes de menos e não conseguem mais se sustentar, as

rádios estão locando seus espaços para igrejas, pastores, políticos, e aí você não tem

mais um padrão, não tem mais uma identidade, você não sabe mais o que é aquela

rádio. A partir do momento que a pessoa paga, ela pode fazer um programa e a partir

disso, entro no processo de decadência. E se não houver essa mudança, vai continuar

dessa forma, cada vez com menor audiência e por conta disso piora a locução, porque

não há condição de manter a qualidade. O FM já tem outro problema que é um estilo

muito musical, não tem espaço para o rádio tradicional. Algumas fazem algo diferente,

mas geralmente FM tem uma característica muito musical.

Na tua opinião, o que ouvinte dá mais valor, ao conteúdo do programa ou a

forma como o apresentador se expressa?

O locutor pé uma ferramenta da comunicação. Se o locutor estiver inseguro, se for

muito artificial, se pronunciar mal em suas colocações, o programa não se sustenta.

Quando você ouve alguém, aquela pessoa está conduzindo seu pensamento. Se ela

ficar dando paradas, freadas, arrancadas e errando, isso vai gerar um desconforto, não

é bom ouvir aquela pessoa. Então a fala nada mais é do uma condução, o locutor tem

que conduzir a pessoa com segurança, sem susto. Contar história, passar emoção,

informar, mas sem sobressaltos, sem exageros. Isso acontece quando a fala não tem

técnica, porque são duas linhas de pensamento, o que eu estou passando e como estou

passando, se eu falhar em um desses não há comunicação efetiva. Se isso continuar, o

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ouvinte abandona. E tem ainda a questão de estrelismo, é preciso ter humildade.

Então, na minha visão, o treinamento de locução deve ser teórico e prático. Deve ter

preparo, humildade e, sobretudo, vontade de crescer.

Você acredita que os cursos de oratória podem ajudar locutores de rádio?

Não sei julgar, porque não conheço o trabalho de cada pessoa, mas os cursos de

oratória estão defasados. Eles vieram de uma oratória que era do curso de direito,

surgiram da fala para o jurado. Hoje não se aplica mais, é muito diferente, hoje a

palestra é diferente. A palestra tem prender a atenção da pessoa, tem que ser interativa

e envolvente. A oratória moderna é isso, os tradicionais vieram desses cursos de

direito, mas não se aplicam mais as plateias de hoje. Porque se o orador não tiver essa

comunicação, ela não acontece. Hoje os cursos de oratória, dos que eu conheço, estão

muito defasados. Tem alguns livros interessantes dessa área que podem ajudar mais

que os cursos de oratória. A pessoa pode melhorar se ela quiser. Isso a partir desse

conhecimento teórico e também com a prática, com as oportunidades que se

encontram, além de exercitar, se gravar e ouvir para corrigir os erros e ver seu próprio

desempenho. É importante observar a reação das pessoas com o seu trabalho, como

elas reagem à sua fala. Acredito que essa é a melhor escola.

Entre as técnicas vocais, o que você considera mais importante?

A questão do locutor, o maior problema dele é a fluência. Isso é o mais difícil. As

pessoas não adquirem fluência. A fluência é conhecimento. Se você consegue

discorrer sobre aquele tema por alguns minutos, isso é fluência, esse é o aspecto

básico. Eu acredito que o importante ter esse conhecimento. É relevante ter essa noção

de respiração, essa noções teóricas de dicção, articulação, eu só não vejo cursos que se

modernizaram, até aqui, nos cursos de oratória. O locutor deve fazer cursos, ter

formação superior e a partir disso, isso para o mercado de trabalho. O ideal é pelo

menos uma vez por semana ouvir sua gravação, ver o que está falando, como está se

saindo, isso ajuda muito no desenvolvimento. Acredito que o caminho seja este. Eu

vim do interior puxando muito o ―R‖, fui gravando e ouvindo, acompanhava outras

rádio, principalmente a El Dourado e observava a fala, o modelo. Eu gravava o que

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falava e ouvia, depois procurei mais preparo. Na minha opinião, você não tem como

melhorar sua voz, a sua voz é essa, é sua identidade o que pode fazer é melhorar o uso

dela, a projeção dessa voz e aliar isso à clareza, a forma de conversar com o ouvinte de

envolver, etc. dessa forma é possível obter uma comunicação de qualidade.

ENTREVISTA COM FLAVIO PEREIRA

Como você avalia a qualidade da comunicação de rádio hoje?

A qualidade da comunicação de rádio não é das melhores. Existe muito a questão

de mídia, a mídia, ou seja, tem que tagalerar, são tagaleras, eu diria assim, são

tagaleras, falam, falam e o conteúdo é pouco. Isso mostra que, por exemplo, o curso de

locução prepara a voz, etc, mas eu gostaria até de ver um livro sobre isso, que mostre

um quadro completo, um trabalho completo sobre o assunto. Quando a gente trabalha

locução, a gente trabalha também o corpo, porque a voz é um efeito sonoro de um

organismo e também tem que ser trabalhado. É um conjunto. Por isso, essa

comunicação poderia ser melhor. Até mesmo a comunicação de TV poderia ser

melhor.

Em questão de qualidade, você vê diferença entre rádios AM e FM?

Como professor e educador sobre técnicas vocais, eu aponto algumas críticas e

acho que deve haver desempenho para buscar uma melhora, mas na minha opinião

pessoal, eu até dava muito valor para essas coisas no passado, hoje penso diferente,

apesar de parecer uma contradição. Ainda que eu recomende cuidado com o bom

desempenho da profissão, já flexibilizei bastante porque o mundo não é dos

perfeccionistas. Considero um mundo perfeccionista muito chato e preto e branco. Eu

acredito que as pessoas podem se soltar mais e não ficarem tão presas às tradições,

porque hoje as coisas mudaram e a gente pode mudar também.

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O ouvinte valoriza mais o conteúdo do programa ou a forma como o locutor se

expressa?

Eu penso que não existe programas perfeitos e nem locutores ou comunicadores

perfeitos, tudo vai da dedicação de cada um e do aprendizado. Como professor, eu

sempre quis ver boa qualidade, tudo com muita qualidade, mas hoje eu até mediocrizo

algumas coisas. Para mim, o rádio precisa de pessoas medíocres. Seria muito ruim se

tudo fosse muito certinho, tudo perfeito, sem nenhum problema. Eu penso que é

preciso haver pessoas medíocres para que possam ser ajudadas. Não precisa haver

tanta exigência para que tudo seja perfeito, voz perfeita, português corretíssimo, etc.

Mas acredito que o aperfeiçoamento é relevante e deve ser buscado por todo

profissional da voz.

A arte oratória pode contribuir para o sucesso do locutor de rádio?

O curso de oratória é completo para esses fins. Porque os cursos de locução são

apenas uma parte, cuidando mais da parte de voz, como falar no rádio, ter uma voz

mais impostada, enquanto os cursos de oratória são mais completos, pois envolvem

toda uma técnica que vai além de voz. Nosso curso é amplo em benefício e o maior

benefício não é a oratória em si. O curso trabalha com a libertação da pessoa. Procuro

libertar a pessoa para ela se resolver, perder a timidez, ter a auto estima elevada, isso a

deixa sem medo de enfrentar o público, aquele medo de se expor, de errar, de encarar

o público. O curso liberta a pessoa disso. A primeira coisa é trabalhar o emocional

dela. Toda pessoa travada pode se libertar e começar a falar normalmente.

Infelizmente os locutores não procuram os cursos de oratória e por falta de buscar o

devido preparo, existe muito locutor fora do plumo, ou seja, tem boa voz, mas tem

defeitos especiais. Os cursos de oratória trabalham valores e não só comunicação. Ele

fala da ética, etiqueta e valores que estão acima da voz e tudo isso o curso de oratória

trabalha. Portanto a locução é uma coisa e oratória é outra. É raro um locutor procurar

curso de oratória. Eu atribuo isso ao fato de que esses profissionais não acreditam que

precisam desse tipo de ajuda.

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Quais são os pontos da oratória que poderiam contribuir para o locutor de

rádio?

Inicialmente a própria voz. Locutor deve saber quando aplicar a intensidade

correta, quando aplicar a velocidade ideal, quando deve fazer altos e baixos, inflexão.

Eu chamo de engenharia vocal. Engenharia de construção, então ao longo de um

discurso, você constrói através da voz com tudo isso que falei, inclusive a emoção e a

atitude que a pessoa coloca com a voz, a ênfase. Aí entra também a variedade da voz,

o alcance, a qualidade da voz, um conjunto melodioso. Trabalho no curso também a

questão da respiração correta, a diafragmática. O locutor deve usar alongamento antes

de usar a voz, para reduzir a tensão. Isso ajuda a gesticulação também. Um ponto

importante é visualizar o ouvinte. O locutor deve cuidar ainda da voz. Eu indico água,

água e água. As pregas vocais precisam de água para se desenvolver, precisam ser

nutridas. Se não cuidar, o profissional da voz pode perder essa voz, portanto, deve

haver esse cuidado. Alimentos leves são os ideais para o uso da voz. O importante é

procurar um profissional da área para receber indicações específicas para manter a voz

por mais tempo.

ENTREVISTA COM MARIA REGINA

Como você avalia a qualidade da comunicação de rádio hoje?

Sou meio suspeita para falar, porque sou um pouco contaminada, já trabalhei com

os radialistas aí no mercado. Antes de falar na questão específica da qualidade deles,

eu acho que há um grande diferencial do olhar que o fonoaudiólogo vai ter sobre o

radialista e uma pessoa que ministra um curso de oratória vai ter em relação a esse

cliente. Além da questão de oratória, de expressão é preciso olhar a pessoa que vem

junto aí. A posição dela como pessoa interfere nessa expressão oral. O que eu quero

dizer com isso é que na minha prática profissional com radialista, normalmente é um

personagem que vai ao ar. Ele compõe inclusive um padrão vocal que no dia-a-dia

dele não é o mesmo. Muitas vezes nessa composição o personagem cria vida, o

personagem que tem a efetividade na relação de comunicação, mas ele como sujeito é

algo a parte. Eu acho que o radialista no meio sofre demais. Acho que de certa forma

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ele é desrespeitado e até ele mesmo não se valoriza nesse contexto. Considero isso

pelo menos na minha vivencia. Se sentem muito inseguros na prática deles por toda

uma questão de veiculação com o IBOPE e outras coisas que eles têm, que digamos

assim, se está bom, não existe o elogio a eles de que eles dão essa sustentabilidade a

emissora, mas se não está bom, também é total responsabilidade deles. Eu acho que

eles não entendem que deveria ser consciente para radialista que se a rádio está no ar

por causa da presença dele. Não pode haver esse discurso do diretor que qualquer

coisa está na rua, ou coisa assim. Por isso que eu digo que a técnica só vai funcionar a

partir do momento que ele se entenda como pessoa no meio desse instrumento. Isso

tudo interfere na qualidade da comunicação do rádio.

Entre AM e FM existe diferença em termo de qualidade de comunicação?

As rádios em geral, no meu pensamento não preparam seus locutores como as

emissoras de TV preparam seus apresentadores. A gente percebe que ela até dá um

certo apoio aos locutores e apresentadores, até porque no seu ambiente de trabalho e

na posição que ocupam, estão tentando realizar o melhor que podem, estão dando

melhor de si. Eu acredito que eles não procuram por um preparo maior devido a

formação. Eu vejo que muitos desses profissionais do rádio têm baixa escolaridade,

principalmente nas rádios de mais entretenimento. Percebe-se que eles vêm de

caminhos simples e humildes, sem grandes experiências na vida, mas tiveram a

oportunidade e estão trabalhando. Eu acho que isso é o que importa.

O ouvinte valoriza mais o conteúdo do programa ou a forma como o locutor se

expressa?

Eu acredito que ambos importantes. Existe a responsabilidade do locutor ante a

emissora e o compromisso de conquistar o ouvinte para manter a audiência. Hoje as

emissoras não estão exigindo mais locutores com vozeirão, coisa que no passado atraia

muito o ouvinte. E muitas vezes contratam pessoas sem experiência ou preparo e Elsa

tem que aprender dentro do próprio rádio. E é claro que o ouvinte percebe quem é

preparado ou não.

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De que forma a oratória pode contribuir para o desempenho do locutor de

rádio?

Como eu disse, geralmente as rádios não exigem um locutor com bom preparo,

emissoras de rádio dão mais valor à voz bonita da pessoa. Mas falando dos cursos de

oratória, eu acredito que muitos desses cursos oferecem orientações sobre as técnicas

necessárias para o desenvolvimento dos locutores, mas eu vejo que eles não tem

propriedade para falar sobre isso pela falta de formação. Alguns desses cursos acabam

vendendo um produto que se torna inatingível para o profissional da voz, até porque

uma pessoa que já está no mercado de trabalho não vai buscar esses tipos de curso. Ou

seja, poucos locutores vão atrás de curso de oratória. Quem geralmente quer entrar

para o mercado de trabalho dentro das rádios é que procura esses tipos de cursos. Eu

concordo que muitas técnicas são bem desenvolvidas pelos cursos de oratória, mas

falta ainda analisar e ver outras barreiras a superar, barreiras que podem levar muitos

locutores e radialistas ao medo e a timidez. Eu indico, portanto, preparo em todos os

sentidos para que o profissional da voz possa se desenvolver bem na sua carreira.

Que técnicas de expressão verbal você considera importante para locutores?

Eu vejo como indispensável o uso de cuidados com a voz. O tempo de uso da voz

deveria ser de no máximo 4 horas por dia, isso é o tempo ideal para o locutor usar sua

voz. Existem algumas complicações que podem comprometer a saúde vocal do locutor

e essas complicações se dão muitas vezes por falta de conhecimento ou negligência

por parte do profissional podemos citar algumas como edemas de prega vocal que é o

resultado de abusos. Dessa forma a voz fica mais grave, se torna rouca e o locutor

pode perder a intensidade vocal e isso prejudica muito o trabalho do dia-a-dia. Eu

quero destacar ainda o fato desses edemas surgirem por falta de cuidados com o uso

do álcool, do fumo e outros fatores que levam a perda da qualidade vocal. Dentro

desse aspecto de cuidados com a voz, quero frisar que a respiração é muito importante.

Eu aconselho respiração correta, que é a diafragmática, além de exercícios para

aumentar essa capacidade respiratória. Outro fator relevante é o uso de exercícios de

aquecimento e desaquecimento, eles fazem grande diferença na locução. Indico o uso

da maçã antes da fala e alimentos leves. Outro fator interessante é a alteração da voz

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das locutoras no período menstrual ou de menopausa. Enfim, eu acredito que todo

profissional da voz deve levar em conta os fatores que contribuem para a saúde vocal.

ENTREVISTA COM DANIELE ALMEIDA

Como você avalia a qualidade da comunicação de rádio hoje?

A primeira coisa, eu vejo a questão da expressividade vocal, o quanto essa voz, o

quanto essa qualidade de dicção, de articulação é expressiva. Porque a expressividade

é que vai combinar essa comunicação com o produto que aquele locutor representa. Se

é um programa jovem, ele tem que ter mais flexibilidade de voz, mais agilidade

articulatória. E se é um programa com tema mais centrado, mais factual, com noticias,

por exemplo, essa expressividade pode ser mais linear. Caso seja um programa de

entretenimento, essa voz tem que ter muito flexibilidade. Então eu avalio em cima do

produto, ou seja, essa voz tem que combinar com o produto.

Você vê diferença entre AM e FM na questão de qualidade de comunicação?

Tem muita. Quem passa pela FM tem uma certa rotatividade de experiência muito

maior. tem uma amplitude muito maior. AM tem uma linguagem muito focada para

uma determinada comunidade, o que não acontece com FM. A flexibilidade de

abertura por conta da locação de espaço, permite uma variedade de pessoas em rádios

AM. Eu vejo diferença na qualidade na parte de voz, de ritmo, etc.

O ouvinte valoriza mais o conteúdo do programa ou a forma como o locutor se

expressa?

As duas coisas, porque não tem como separar. O ouvinte identifica primeiro pela

qualidade de voz, se aquela voz é agradável, se ele tem tempo disponível para ouvir

aquilo. A voz tem que ser interessante a ponto de o ouvinte ficar ali, dentro do carro,

no trânsito, ouvindo. Então tem que ser uma voz muito agradável. Só que o que

adianta ter uma voz agradável e um conteúdo que não corresponde? É um

complemento. As vezes tem uma voz incrível e um conteúdo que não é fluente, que é

muito truncado, ou vive-vessa.

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De que forma a oratória pode contribuir para o desempenho do locutor de

rádio?

É muito importante. Eu sinto que aquele que não tem preparo, com o decorrer do

uso ele vai perdendo essa flexibilidade. Aparecem queixas de saúde de voz mesmo,

porque ele começa se destacar em determinado produto e a emissora começa a colocar

a pessoa para fazer outras coisas, como apresentar eventos, show, festas e ai aumenta a

demanda de trabalho, mas ele não tem um preparo que corresponda, então começam a

aparecer os problemas como rouquidão ou falta resistência, dificuldade articulatória

entre outros problemas. Locutores não procuram cursos de oratória devido a falta de

conhecimento do preparo, falta de esclarecimento de que o preparo vocal vai trazer

longevidade de carreira. Alguns acreditam que se um profissional da área intervir tanto

em seu preparo vocal eles podem perder a identidade. Não posso generalizar, mas é

que a escola do rádio é muito antiga, então muitos ainda tem aquele perfil mais

carregado e muito mais esterotipado que não permite muita coisa.

Quais técnicas de expressão verbal você considera importante para locutores?

Acho que a primeira coisa é ritmo. Cada vez mais trabalhar ritmo de fala, fluência,

a entonação, a melódica a parte linguística mesmo, uma boa articulação para passar

credibilidade. SM boa articulação não se transmite isso. Clareza tem que ser boa. E

claro a expressividade do rádio, que são marcações que não se vê em lugar nenhum,

tem que ser tudo muito mais elaborado. Isso é importante. Outro ponto relevante é a

respiração do locutor. Espera-se uma respiração mais mista possível. Não só no

diafragma, mas a mista é o ideal, que o locutor administre a respiração durante a fala,

para usar toda a caixa e proporcionar mais capacidade respiratória.