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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Charys Narimam Gomes de Oliveira LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Charys Narimam Gomes de Oliveira

LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA

CURITIBA

2011

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LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA

CURITIBA

2011

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Charys Narimam Gomes de Oliveira

LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário. Professor Orientador: MSc, MV Marúcia de Andrade Cruz Orientador Profissional: MV. Elgio João Presotto

CURITIBA

2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

Charys Narimam Gomes de Oliveira

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C)

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção de título de Médica Veterinária por uma banca examinadora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 21 de junho de 2011.

________________________ Medicina Veterinária

Universidade Tuiuti do Paraná

________________________ Orientador: Profª MSc., MV Marúcia de Andrade Cruz

Universidade Tuiuti do Paraná

_______________________ Profª MSc, MV Gisele Ludwig Tesseroli

Universidade Tuiuti do Paraná

________________________ Profª MSc, MV Lucyenne Gisele Popp Brasil Queiroz

Universidade Tuiuti do Paraná

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Dedico à minha amada mãe, que em

meio a tanta dificuldade tornou

possível à realização de um sonho.

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RESUMO

Durante o estágio curricular foi possível acompanhar a rotina clínica e

procedimentos de profissionais que atuam no Garra - Hospital Veterinário, com

atendimento exclusivo a cães e gatos. As atividades desenvolvidas foram nas áreas

de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, com acompanhamento de

consultas e retornos, exames laboratoriais, ultrassonográficos e auxílio na realização

de exames radiográficos, cirurgias, procedimentos anestésicos, procedimentos

ambulatoriais e ainda administração de medicamentos e cuidados gerais com os

pacientes em internamento. Este trabalho de conclusão de curso demonstra a

casuística acompanhada no período de estágio e ainda traz a revisão bibliográfica e

relato de um caso diagnosticado de Leucemia Linfocítica Crônica em uma Golden

Retriever de 9 anos de idade.

Palavras-chave: Leucemia, aguda, crônica, linfóide.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - AMBULÂNCIA (GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO) ................. 10

FIGURA 2 - RECEPÇÃO (GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO) ..................... 11

FIGURA 3 - CONSULTÓRIO I (GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO) ............ 11

FIGURA 4 - CONSULTÓRIO II (GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO) ........... 12

FIGURA 5 - CENTRO CIRÚRGICO (GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO) .... 12

FIGURA 6 - SALA DE ULTRASSONOGRAFIA (GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO) ............................................................................

13

FIGURA 7 - SALA DE RADIOGRAFIA (GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO) 13

FIGURA 8 - LABORATÓRIO ARS (GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO) ...... 13

FIGURA 9 - INTERNAMENTO (GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO) ............ 14

FIGURA 10 - PACIENTE GEMA ........................................................................ 34

FIGURA 11 - MUCOSAS HIPOCORADAS PACIENTE GEMA ......................... 34

FIGURA 12 - IMAGEM ULTRASSONOGRÁFICA DE FÍGADO DA PACIENTE GEMA ...........................................................................................

36

FIGURA 13 - IMAGEM ULTRASSONOGRÁFICA DE LINFONODOS ILÍACOS DA PACIENTE GEMA ..................................................................

36

FIGURA 14 - PUNÇÃO DE MEDULA ÓSSEA .................................................. 38

FIGURA 15 - INTENSA CELULARIDADE EM ESFREGAÇO DE MEDULA ÓSSEA DA PACIENTE GEMA ....................................................

39

FIGURA 16 - LINFOCITOSE EM ESFREGAÇO DE MEDULA ÓSSEA DA PACIENTE GEMA ........................................................................

39

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

BID: (latim - bis in die): duas vezes ao dia

DAPP: Dermatite alérgica a picada de pulga

DNA: Ácido desoxirribonucleico

DUA: Dermatite úmida aguda

FeLV: (Feline Leukemia Vírus) Vírus da Leucemia Felina

FIV: (Feline Immunodeficiency Vírus) Vírus da Imunodeficiência Felina

IgA: Imunoglobulina A

IgG: Imunoglobulina G

IgM: Imunoglobulina M

IV: Intravenoso

LLA: Leucemia Linfoblástica Aguda

LLC: Leucemia Linfocítica Crônica

Mcg (µg): Micrograma

mg/ kg: Miligrama por quilograma

mg/m2: Miligrama por metro quadrado (área de superfície corporal)

MV: Médico Veterinário

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PCR: Reação em cadeia de polimerase

QOD: (latim - quaque altera die): uma vez em dias alternados

SID: (latim - semel in die): uma vez ao dia

SRD: Sem raça definida

VO: Via oral

VG: Volume globular

µL: Microlitros

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 9

2 DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO ............................. 10

2.1 LOCAL DE ESTÁGIO ......................................................................... 10

2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ....................................................... 14

2.3 CASUÍSTICA ...................................................................................... 15

3 LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA ................................................ 20

3.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................... 20

3.1.1 Introdução ........................................................................................... 20

3.1.2 Epidemiologia e Etiologia .................................................................... 22

3.1.3 Fisiopatologia ...................................................................................... 23

3.1.4 Histórico e Sinais Clínicos .................................................................. 25

3.1.5 Diagnóstico ......................................................................................... 26

3.1.6 Diagnóstico Diferencial ....................................................................... 30

3.1.7 Tratamento da Leucemia Linfocítica Crônica ..................................... 31

3.1.8 Prognóstico ......................................................................................... 33

4 RELATO DE CASO ............................................................................ 34

5 DISCUSSÃO ....................................................................................... 41

6 CONCLUSÃO ..................................................................................... 44

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 45

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1 INTRODUÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem o objetivo de demonstrar a

casuística acompanhada e as atividades desenvolvidas no período de estágio, e

ainda relatar um caso de Leucemia Linfocítica Crônica diagnosticado no Garra

Hospital Veterinário.

O estágio supervisionado teve duração de 472 horas (28 de fevereiro a 27 de

maio de 2011), desenvolvido de segunda a sexta-feira, com a orientação profissional

do Médico Veterinário Elgio João Presotto e orientação acadêmica da Professora

MSc, MV Marúcia de Andrade Cruz. Foi possível acompanhar atividades práticas

nas mais diversas áreas da Medicina Veterinária, contando com o apoio de

excelentes profissionais que com total diligência, compartilharam seus

conhecimentos adquiridos em anos de atuação.

Durante este período houve o acompanhamento de uma quantidade

significativa de casos clínicos, procedimentos diagnósticos e protocolos para

tratamento. O caso escolhido a ser descrito neste trabalho, Leucemia Linfocítica

Crônica, trata-se de uma patologia que acomete tanto cães como gatos, sendo de

suma importância o conhecimento de diagnósticos e formas de tratamento, pelo

clínico de pequenos animais, uma vez que a doença com frequência possui sinais

inespecíficos e em determinados estágios a remissão, mesmo utilizando-se

protocolos adequados, torna-se difícil.

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2 DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO

2.1 LOCAL DE ESTÁGIO

O Garra Hospital Veterinário situa-se na Rua Pe. Germano Mayer nº 319, no

bairro Alto da XV, Curitiba-PR. É composto por uma equipe de cinco médicos

veterinários, generalistas, especialistas e mestres, atendendo exclusivamente cães e

gatos. O hospital tem funcionamento 24 horas, contando com apoio de três médicos

veterinários plantonistas. São realizados atendimentos em clínica médica geral,

clínica cirúrgica e especialidades: cardiologia, dermatologia, nefrologia, neurologia,

odontologia, oftalmologia, oncologia, ortopedia. Fazem parte da equipe Garra, três

recepcionistas, três auxiliares de veterinário e uma auxiliar de serviços gerais.

FIGURA 1 – AMBULÂNCIA

(GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO)

FONTE: Garra - Hospital Veterinário (www.garra.vet.br)

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Caso necessário, os atendimentos são realizados em domicílio (Figura 1). Os

pacientes que são levados ao hospital aguardam na recepção juntamente com seus

responsáveis (Figura 2), para então serem encaminhados ao local de atendimento

apropriado.

FIGURA 2- RECEPÇÃO

(GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO)

FIGURA 3 – CONSULTÓRIO I

(GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO)

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FIGURA 4 – CONSULTÓRIO II

(GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO)

FIGURA 5 – CENTRO CIRÚRGICO

(GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO)

O hospital conta com profissionais de excelência à realização de exames

ultrassonográficos (Figura 6), radiográficos (Figura 7) e à realização de análises

clínicas, todos feitos no local. O laboratório ARS, contido na estrutura do hospital

(Figura 8), realiza exames de hematologia, bioquímica sérica, citologia, urinálise e

análise de líquidos cavitários. Cultura e antibiograma, histopatologia e

imunohistoquímica são encaminhados a laboratórios terceirizados.

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FIGURA 6- SALA DE ULTRASSONOGRAFIA

(GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO)

FIGURA 7 – SALA DE RADIOGRAFIA

(GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO)

FIGURA 8 – LABORATÓRIO ARS

(GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO)

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Os pacientes que necessitam de observação pós-cirúrgica, fluidoterapia,

oxigenioterapia, ou qualquer situação que exija cuidados intensivos, são mantidos

em internamento (Figura 9), onde ficam sob cuidados dos médicos veterinários,

estagiários de Medicina Veterinária e ainda dos auxiliares de veterinário que

trabalham no local.

FIGURA 9 – INTERNAMENTO

(GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO)

NOTA: MV. Elgio João Presotto (orientador profissional).

2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As atividades desenvolvidas nas áreas de Clínica Médica e Cirúrgica de

Pequenos Animais foram: acompanhamento de consultas, retornos, exames

laboratoriais, ultrassonográficos e auxílio na realização de exames radiográficos,

cirurgias, procedimentos anestésicos, procedimentos ambulatoriais, colheita de

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material biológico e ainda administração de medicamentos e cuidados gerais com os

pacientes em internamento, estas sob a orientação dos profissionais MV. Elgio João

Presotto, MSc. MV. André Obladen, Esp. MV. Bruno Tammenhain, MSc. MV.

Daniela Ayres Garcia e Esp. MV. Marco A. B. Ostrowski, em suas respectivas áreas

de atuação.

2.3 CASUÍSTICA

O estágio supervisionado teve início em 28 de fevereiro de 2011 e término em

27 de maio do mesmo ano, totalizando 472 horas. Durante este período houve o

acompanhamento de 414 casos, incluindo retornos e novos atendimentos. A maior

casuística se concentra em clínica médica, incluindo patologias do trato

gastrointestinal, sistema respiratório, sistema reprodutivo, doenças endócrinas e

metabólicas e doenças infecciosas de cães e gatos. As doenças infecciosas

incluíram Cinomose, Leptospirose, Parvovirose, Traqueobronquite infecciosa (Tosse

dos canis), Erliquiose, FeLV, FIV e Doença Respiratória Infecciosa Felina. Doenças

endócrinas e metabólicas incluíram Hiperadrenocorticismo, Hipotireoidismo e

Diabete melito. Houve o acompanhamento de 104 cirurgias, dentre estas pode ser

observado que o maior encaminhamento para tratamento cirúrgico foram os casos

de oncologia, mais especificamente as neoplasias mamárias (18 procedimentos de

mastectomia), neoplasia escrotal, neoplasia testicular, adenoma de glândula

perianal, tumores ósseos, tumores orais, tumores cutâneos e subcutâneos, com

excisão e encaminhamento para exame histopatológico (quando autorizado pelo

responsável pelo paciente). A tabela 1 lista alguns dos casos diagnosticados em

oncologia:

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TABELA 1 – NEOPLASIAS DIAGNOSTICADAS NO PERÍODO DE 28/02/2011 A 27/05/2011 NO

GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO

NEOPLASIA QUANTIDADE

Adenoma mamário 5 Adenocarcinoma mamário 3

Carcinoma de células escamosas

2

Digerminoma 1 Leucemia Linfocítica Crônica 1

Linfoma 4 Mastocitoma 4

Melanoma 2 NOTA: Casos que tiveram autorização do responsável pelo paciente para encaminhamento a diagnóstico histopatológico.

Outra especialidade que caminha junto à cirurgia é a ortopedia, visto que, de

40 casos acompanhados 20 tiveram indicação cirúrgica, incluindo osteossíntese com

sistemas de implantes adaptados ao tipo de fratura ( placa e parafuso, fixador linear

externo ou pino intramedular); neurocirurgia (Degeneração tipo I de Hansen -

discopatia em coluna lombar em uma fêmea da raça Dachshund); artroplastia

excisória da cabeça e do colo do fêmur; correção de ruptura de ligamento cruzado,

entre outros. Ainda em ortopedia foi acompanhado uma consulta com subsequente

diagnóstico de Displasia de occiptal, em uma fêmea canina da raça Pinscher, caso

raro que apresentou como principal sinal clínico ataxia dos quatro membros, também

teve indicação para correção cirúrgica, porém não houve o retorno do responsável.

Houve o acompanhamento de 6 cesarianas em fêmeas que apresentaram distocia

(as raças incluíram Akita, Dachshund, Poodle, SRD e Yorkshire Terrier). O

percentual de atendimentos de acordo com a respectiva especialidade pode ser

observado no gráfico 1:

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GRÁFICO 1 – PERCENTUAL DE ATENDIMENTOS POR ESPECIALIDADE

NO GARRA HOSPITAL VETERINÁRIO NO PERÍODO DE 28/02/11 A 27/05/11

Os gráficos 2 e 3 demonstram o maior atendimento à fêmeas e a cães de

pequeno e médio porte:

GRÁFICO 2 – RELAÇÃO MACHO X FÊMEA

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GRÁFICO 3 – PORTE ANIMAL

Em comparação com felinos, nota-se que a população canina esteve presente

em maior número:

GRÁFICO 4 – RELAÇÃO FELINOS X CANINOS

Dermatologia também é uma área com grande incidência no Garra (11% dos

casos). No período foram observados com maior prevalência casos de Atopia,

DAPP, DUA, Dermatofitose, Hipersensibilidade Alimentar, Sarna Sarcóptica, Sarna

Demodécica, Dermatite Solar Actínica, Malassezíase.

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Há uma diversificação marcante entre as raças que fazem parte do quadro de

pacientes, porém os cães SRD, Yorkshire Terrier, Dachshund, Lhasa apso e Poodle

estiveram em maior número, no período, como pode ser observado na tabela a

seguir:

TABELA 2 – QUANTIDADE DE ANIMAIS DE ACORDO COM A

RESPECTIVA RAÇA

RAÇA QUANTIDADE Bichon Frisê, Jack Russel, Pequinês, São Bernardo, Schnauzer standard, Setter Irlandês, Weimaraner, Whippet

1

Bull Terrier, Chihuahua, Chow Chow, Fox Paulistinha, Pastor Belga, Schnauzer miniatura

2

Akita, Maltês, Scottish Terrier

3

Sharpei

4

Bulldog Francês, Bulldog Inglês, Cocker americano, Golden Retriever, Pug, Rottweiler

5

Beagle, Pastor Alemão

6

Boxer

7

Cocker spaniel, Shih tzu

8

Pit Bull

9

Labrador, Pinscher

12

Poodle

20

Dachshund, Lhasa apso

25

Yorkshire Terrier

26

SRD

58

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3 LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA

3.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1.1 Introdução

A carcinogênese é um processo que ocorre em múltiplas etapas, em que as

células, gradativamente, vão adquirindo as características de malignidade por meio

de uma série de alterações genéticas progressivas e cumulativas. Atualmente,

reconhece-se um grande número de agentes carcinogênicos, como metais,

radiações, vírus, radicais livres de oxigênios, inflamações crônicas e xenobióticos

(como tabaco, álcool e pesticidas), entre outros que promovem alterações no ciclo

celular, ocorrendo excesso na taxa de proliferação e deficiências nas taxas de morte

celular (RODASKI & PIEKARZ, 2009).

Durante a vida dos animais e do homem, há contínua produção e

subsequente morte de células do sangue. Esta produção de células hematopoiéticas

ocorre devido à existência de uma pequena população de células-tronco capazes de

sofrer auto-renovação, diferenciação e maturação apropriadas a não exaustão das

células morfo e funcionalmente maduras (SANTANA et al., 2009). Em determinadas

situações, ocorre a incapacidade de essas células sofrerem diferenciação completa

ou apoptose, resultando em uma auto-replicação, onde podem ser visualizados

clones de células geralmente imaturas e afuncionais (STOCKHAM et al., 2003). Este

processo pode ser reconhecido como leucemia, em outras palavras, é possível

observar a proliferação neoplásica das células hematopoiéticas que são originadas

no interior da medula óssea. As leucemias originam-se tanto em células-tronco

hematopoiéticas, ocasionando os distúrbios mieloproliferativos (proliferação

neoplásica de granulócitos, monócitos, eritrócitos, megacariócitos, e mastócitos)

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como em tecidos linfóides, dando origem aos distúrbios linfoproliferativos que se

limitam à proliferação neoplásica de linfócitos e plasmócitos. Outros tecidos podem

subsequentemente ser afetados, à medida que as células neoplásicas disseminam-

se pela circulação (LATIMER, 1997).

A presença de células atípicas ou bizarras ou agrupamento desorganizado de

células imaturas em esfregaços sanguíneos sugere leucemia. Um aumento

persistente e inexplicado de um tipo celular específico no sangue periférico também

é sugestivo de leucemia, como o exemplificado pela Leucemia Linfocítica Crônica

(WALKER, 2009). Porém, como descrito por Nelson e Couto (2010), existem

situações nas quais as células neoplásicas se proliferam na medula óssea, mas

estão ausentes ou escassas na circulação, devendo ser utilizados os termos

aleucêmica e subleucêmica, respectivamente, para tal classificação.

Os sistemas de classificações para leucemia têm seguido critérios humanos e

foi adaptado pelo Grupo de Estudo de Leucemia Animal da Sociedade Americana de

Patologia Clínica Veterinária (TAKAHIRA, 2009).

Tanto as síndromes mieloproliferativas quanto as síndromes linfoproliferativas

podem ser classificadas, em agudas ou crônicas, o que implica na rapidez de

surgimento da afecção, grau de diferenciação da linhagem das células neoplásicas,

e do período de existência esperado do paciente, na ausência do tratamento.

Leucemia aguda implica numa apresentação clínica relativamente breve,

comportamento biológico agressivo, quantidades variáveis de células imaturas

(pouco diferenciadas, ou indiferenciadas [blastos]) no sangue e medula óssea, e

curta expectativa de sobrevida (a morte segue-se logo após o diagnóstico se o

paciente não for tratado). Sua antítese, leucemia crônica, sugere o curso clínico

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prolongado, comportamento biológico menos agressivo, aumento no número de

células maturas (bem diferenciadas [linfócito na Leucemia Linfocítica Crônica e

neutrófilo na Leucemia Mielóide Crônica]), nos esfregaços sanguíneos e de medula

óssea, e expectativa de vida mais prolongada (LATIMER, 1997; NELSON & COUTO,

2010).

Há duas formas principais de Leucemia Linfóide: Leucemia Linfoblástica

Aguda (LLA) e Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) (VAIL, 2008). A Leucemia

Linfocítica é uma das formas mais comuns de leucemia em cães e gatos (LATIMER,

1997). Leucemias verdadeiras são raras no gato, representando menos de 15% de

todas as neoplasias hematopoiéticas. O vírus da leucemia felina (FeLV) está

comumente implicado como uma causa de leucemias em gatos. As leucemias

crônicas estão se tornando mais comuns, isto pode ser devido ao decréscimo

relativo na prevalência das leucemias agudas ou pode representar um fenômeno

verdadeiro (NELSON & COUTO, 2010).

Este trabalho tem como objetivo o relato de um caso de Leucemia Linfocítica

Crônica em um cão e uma revisão de literatura sobre esta moléstia.

3.1.2 Epidemiologia e Etiologia

A Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) é menos frequente do que a Leucemia

Linfoblástica Aguda e mais frequente do que as desordens mieloproliferativas. A

idade média é de 10 a 12 anos e a relação macho e fêmea é de 1,8:1. A etiologia em

cães é desconhecida, mas incluem componentes infecciosos (infecções virais

resultam em inclusão de oncogenes no DNA da célula hospedeira), exposição a

contaminantes ambientais, agentes radioativos (promovem quebra e alteração no

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DNA), predisposições raciais e hereditariedade (FRANCO et al., 2008; VAIL &

YOUNG, 2007; SANTANA et al., 2009); diferentemente do que ocorre em humanos,

onde não se conhece fatores ambientais que mostrem forte associação com o

surgimento da doença. Não tem relação com radiação ionizante (sobreviventes da

bomba atômica não apresentaram aumento na incidência da LLC), assim como não

foi demonstrada associação com agentes tóxicos ou virais específicos.

(YAMAMOTO & FIGUEIREDO, 2005). Em uma série de 30 casos de leucemia

linfoblástica aguda, cães da raça Pastor Alemão perfizeram cerca de 27% da

casuística (SANTANA et al., 2009).

3.1.3 Fisiopatologia

Segundo Harvey (1981), duas subpopulações principais de linfócitos foram

identificados no homem e animais: timo-dependentes (linfócitos T) e derivadas da

medula óssea (linfócitos B). Estes podem ser distinguidos por diferenças nos

marcadores da superfície celular. Identificação da natureza de doenças

linfoproliferativas, distinguindo entre linfócitos B e linfócitos T, foram feitas em várias

espécies, incluindo o homem e cão. No homem, Leucemia Linfocítica Crônica é

primariamente um distúrbio de linfócitos B. A maioria das Leucemias Linfoblásticas

Agudas são do tipo de células de linfócitos T. A doença linfoproliferativa, ou

Leucemia Linfocítica, compreende cerca de 10% das neoplasias hematopoiéticas

diagnosticadas em cães. Leucemia Linfoblástica Aguda é caracterizada pela

presença de linfoblastos e/ou prolinfócitos no sangue e/ou de medula óssea. A

Leucemia Linfocítica Crônica, entre outros fatores, é caracterizada pela presença de

mais de 30% linfócitos maduros na medula óssea (SIROIS & ANTHONY, 2005).

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Os linfócitos na LLC são morfologicamente indistinguíveis de linfócitos

pequenos normais. A medula é infiltrada por linfócitos maduros e a extensão da

infiltração é inferior ao verificado em Leucemia Linfoblástica Aguda e distúrbios

mieloproliferativos. Os cães tendem a apresentar anemia, granulocitopenia

(principalmente neutropenia), e trombocitopenia discretas. É comum esplenomegalia

e linfadenomegalia moderada. O acúmulo de linfócitos é o provável resultado da sua

vida útil prolongada (VAIL & YOUNG, 2007; SANTANA et al., 2009).

Segundo Stockham et al., (2003), linfócitos reativos e neoplásicos, por vezes,

são difíceis de diferenciar. Raros linfócitos reativos podem ser encontrados na

maioria das amostras de sangue, mas um aumento do número indica uma doença

inflamatória ou uma resposta imune. Um linfócito reativo tem características

microscópicas que representam alterações reativas, sendo a mais consistente

alteração a maior quantidade de citoplasma. Leucócitos neoplásicos podem ter

características microscópicas de células bem diferenciadas (como ocorre em

Leucemia Granulocítica Crônica e Leucemia Linfocítica Crônica), porém é mais

comum possuirem características de células sanguíneas pouco diferenciadas ou

células indiferenciadas. Apesar da aparência bem diferenciada dos linfócitos na LLC,

essas células podem funcionar de maneira anormal (VAIL & YOUNG, 2007).

É comum o desenvolvimento de uma gamopatia monoclonal, onde o

componente monoclonal geralmente é a IgM, mas componentes de IgA e IgG

também foram relatados (NELSON & COUTO, 2010). A macroglobulinemia por

aumento de IgM, pode desencadear em cães, a síndrome de hiperviscosidade, que

ocorre devido ao elevado peso molecular da imunoglobulina. A alta viscosidade do

sangue pode resultar em várias anormalidades, como diátese hemorrágica, sinais

neurológicos, anormalidades oftalmológicas e cardiomiopatias, sendo todas essas

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alterações decorrentes da baixa velocidade do sangue em pequenos vasos, levando

a transporte ineficiente de oxigênio (O2) e nutrientes, além de anormalidades

coagulativas (SANTANA et al., 2009). Cerca de metade de todos os casos de LLC

em cães apresentará futuramente gamopatia monoclonal (WALKER, 2009).

Um evento terminal em cães com LLC é o desenvolvimento de um linfoma

difuso de grandes células, denominado Síndrome de Richter, que é caracterizada

por uma linfadenopatia generalizada e maciça, e hepatoesplenomegalia. Uma vez

desenvolvido este linfoma multicêntrico, remissões de longa duração induzidas pela

quimioterapia são difíceis de se obter e os tempos de sobrevida são curtos

(NELSON & COUTO, 2010).

3.1.4 Histórico e Sinais Clínicos

Cães com Leucemia Linfocítica Crônica, muitas vezes são assintomáticos, um

grande número de casos de leucemia crônica é diagnosticado incidentalmente

durante o exame físico de rotina e avaliação para um problema não relacionado. Na

maioria dos casos, as queixas por ocasião da consulta são inespecíficas e incluem

letargia, inapetência, vômito e diarréia, poliúria e polidipsia, diátese hemorrágica,

claudicação intermitente e episódios de colapso. É comum palidez de membranas

mucosas e febre. Linfadenopatia, hepatomegalia e esplenomegalia podem estar

presentes (VAIL, 2008; NELSON & COUTO, 2010; SANTANA et al., 2009; VAIL &

YOUNG, 2007). As leucemias crônicas têm uma progressão lenta com células

neoplásicas diferenciadas e, normalmente, os pacientes levam uma vida normal

(TAKAHIRA,2009).

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O curso clínico é variável. É comum a doença ser progressiva por vários

meses ou anos, eventualmente pode ocorrer óbito devido a infecções, doenças

imuno-medidas ou enfraquecimento (WELLMAN & RADIN, 1999).

3.1.5 Diagnóstico

Identificar a leucemia não é geralmente um diagnóstico difícil, pois na maioria

dos casos, um enorme número de células neoplásicas pode ser observado em

esfregaços sanguíneos. Entretanto, alguns pacientes podem não mostrar qualquer

alteração no sangue periférico. Nas leucemias aleucêmicas, as células neoplásicas

não são observadas em esfregaços sanguíneos, o que representa cerca de 10% dos

casos de leucemia. Em pacientes com leucemia subleucêmica as células

neoplásicas podem estar presentes, porém em número reduzido. Isso faz com que a

presença de qualquer número de células atípicas, em especial se for acompanhado

por citopenias, seja uma forte indicação para a realização de biópsias de medula

óssea, baço ou linfonodos, para pesquisa de neoplasia (TAKAHIRA, 2009). Quando

a contagem diferencial de células de sangue periférico demonstra resultados

ambíguos ou anormais, a avaliação da medula óssea é geralmente necessária para

fornecer detalhe suficiente para o diagnostico (SIROIS & ANTHONY, 2005).

De acordo com Walker (2009), a medula óssea é o maior órgão

hematopoiético do corpo. Nos animais adultos, a maior parte da hematopoiese ativa

ocorre nos ossos chatos e nas extremidades dos ossos longos. A área central de

ossos longos contém principalmente gordura, com muito pouco tecido

hematopoiético ativo. As biópsias aspirativas da medula óssea podem ser coletadas

do úmero proximal, crista ilíaca, fossa trocantérica do fêmur e do esterno de cães e

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gatos. Geralmente podem ser coletadas sem sedação e raramente a anestesia geral

se faz necessária. A hemorragia é uma preocupação teórica em pacientes

trombocitopênicos, porém é difícil a ocorrência de um sangramento significante. As

preparações citológicas devem ser feitas imediatamente, pois a medula óssea

degenera rapidamente após a coleta ou após a morte do paciente.

Nas avaliações citológicas é possível observar que, com exceção do

promielócito, em situações de normalidade, as células tornam-se menores em todas

as fases de maturação e o material nuclear progride de uma aparência difusa para

uma aparência mais condensada (SIROIS & ANTHONY, 2005).

Como descrito por Walker (2009), as células blásticas circulantes da LLA

normalmente ocorrem em grandes quantidades e apresentam núcleos ovais ou em

formato anormal de folha de trevo, com cromatina grosseira e reticulada e

citoplasma basofílico em quantidade moderada. Essas células também podem

apresentar um ou mais nucléolos de tamanho variável e de coloração escura.

As células neoplásicas da LLC sempre ocorrem em grande quantidade em

sangue periférico e aparecem como linfócitos maduros típicos, embora tendam a

variar mais em tamanho e apresentar particularmente citoplasma corado de maneira

escura e poucos vacúolos citoplasmáticos. Histológicamente o baço e os linfonodos

estão difusamente envolvidos com linfócitos neoplásicos (SHIMOMURA et al., 2006).

Segundo Santana et al., (2009) o sinal patognomônico para se diagnosticar a

Leucemia Linfocítica Crônica, assim como na LLA, é a infiltração de células linfóides

neoplásicas na medula óssea. A infiltração torna-se mais extensa conforme a

doença progride lentamente e, eventualmente, as células neoplásicas substituem a

medula normal. A transformação neoplásica de um precursor de leucócitos pode

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resultar na produção de leucócitos descontrolada, gerando uma leucocitose

(STOCKHAM et al., 2003). A maioria dos cães e gatos com leucemia apresenta

leucocitose moderada a intensa, acima de 50.000 leucócitos/ µL em cães e acima de

35.000 leucócitos/ µL em gatos, consistindo predominantemente de população

celular neoplásica (WALKER, 2009).

De acordo com Nelson e Couto (2010), a anormalidade hematológica mais

comum em cães com LLC, que tem como resultado a leucocitose, é a linfocitose

acentuada. As contagens linfocitárias variam de 8.000/µL até mais de 100.000/µL,

mas as contagens de linfócitos acima de 500.000/ µL são raras. Vernau (2004) relata

que em estudos os linfócitos do sangue variaram de 15.000/µL a 1.600.000/µL. A

maior parte dos animais apresenta anemia (normocítica normocrômica e

arregenerativa) (volume globular [VG] menor que 35%) e trombocitopenia (110,000-

190,000 plaquetas/µL), um terço manifesta hiperproteinemia e metade manifesta

gamopatias monoclonais na eletroforese do soro sanguíneo, e com frequência,

proteína de Bence Jones na urina, indicativo de uma origem de linfócito B. Contudo,

evidências recentes sugerem que a maioria das LLC é oriunda de linfócitos T (VAIL,

2008; NELSON & COUTO, 2010; SANTANA et al., 2009; VAIL & YOUNG, 2007).

Alguns pacientes podem desenvolver síndromes paraneoplásicas que incluem

gamopatias monoclonais, anemia hemolítica imuno-mediada, aplasia de células

vermelhas e, raramente hipercalcemia. Hipercalcemia foi relatado em um Schnauzer

Gigante com LLC de linfócitos B, que é altamente incomum, dado que a

hipercalcemia também está associada com disturbios linfoproliferativos de linfócitos

T (VAIL & YOUNG, 2007).

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Neutropenia, trombocitopenia e anemia começam a se desenvolver quando

metade ou mais da medula óssea é substituída por tecido linfóide (HARVEY et al.,

1981).

O clínico deve considerar sinais clínicos, história, achados físicos, a

morfologia das células, e o imunofenótipo para o diagnóstico da leucemia linfóide

com precisão. O conhecimento do perfil de subtipos de linfócitos no sangue

periférico de cães normais é útil para determinar se um subconjunto específico tem

se expandido. Aproximadamente 80% dos linfócitos circulantes em cães são células

T, e cerca de 15% são células B (VAIL & YOUNG, 2007). Na maioria dos cães com

LLC, a população de células neoplásicas é originaria de células T (NELSON &

COUTO, 2010).

A classificação da leucemia pelo tipo celular predominante é concretizada

mediante o uso de esfregaços de sangue e medula óssea, corados pelo método de

Romanowsky, por bateria de corantes citoquímicos, e pela microscopia eletrônica

(LATIMER, 1997).

Algumas amostras de sangue com leucocitose colocam desafio diagnóstico,

quando o exame em microscopia dos leucócitos corados, não tornam possível a

diferenciação de células leucêmicas (por exemplo, linfóide versus mielóide) ou não

diferencia neoplasia de linfócitos hiperplásicos. Novas técnicas estão surgindo a

partir de pesquisa em laboratórios com a promessa de uma melhor identificação das

linhagens celulares em leucemia e melhor diferenciação de algumas leucocitoses

neoplásicas e inflamatórias (STOCKHAM et al., 2003).

Nos pacientes com linfocitose nos quais um diagnóstico confirmatório de LLC

não possa ser realizado, um ensaio de Reação em Cadeia de Polimerase (PCR),

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para detecção de clonalidade irá revelar tipicamente se as células são clonais na

sua origem (NELSON & COUTO, 2010).

A distribuição fenotípica após a realização da imunofenotipagem pode

também estabelecer se a população celular é monoclonal ou policlonal.

Imunofenotipagem se refere à aplicação de anticorpos específicos para antígenos de

diferenciação de leucócitos para identificar linhagens dessas células presentes em

doenças reativas (inflamatórias) ou neoplásicas que envolvem o sistema

imunológico. Imunofenotipagem pode ser realizada em líquidos (como sangue,

medula óssea) por citometria de fluxo. Também pode ser realizada em cortes de

tecido e esfregaços citológicos. Avaliação imunofenotípica já demonstrou ser

bastante útil no diagnóstico de leucemias, linfomas e tumores cutâneos de células

redondas em cães (NELSON & COUTO, 2010; VERNAU, 2004).

A leucemia linfocítica deve constar no diagnóstico diferencial do clínico se

linfócitos atípicos estão em circulação, se o imunofenótipo dos linfócitos em

circulação é homogêneo, ou se um fenótipo que normalmente está presente em

baixos números apresentar-se aumentado (VAIL & YOUNG, 2007).

3.1.6 Diagnóstico Diferencial

Na LLC, geralmente 20% das células nucleadas são linfócitos. Isto pode

dificultar a distinção entre Leucemia Linfocitica Crônica em medula óssea de

hiperplasia linfóide ou linfoma, envolvendo este tipo de células (WELLMAN &

RADIN, 1999). Esta forma de leucemia deve ser diferenciada da linfocitose

fisiológica (especialmente em gatos), da linfocitose induzida por doenças

infecciosas, da resposta pós-vacinal em cães jovens, ou linfocitose induzida por

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epinefrina (LATIMER, 1997; VAIL & YOUNG, 2007). A linfocitose absoluta é o

principal critério diagnóstico da LLC em cães. Embora outras doenças (ex.,

erliquiose, babesiose, leishmaniose, doença de Chagas e doença de Addison)

devam ser consideradas nos diagnósticos diferenciais de cães com discreta

linfocitose (7.000/ µL a 20.000/ µL). A linfocitose acentuada (acima de 20.000/ µL) é

quase patognomônica para LLC (NELSON & COUTO, 2010).

3.1.7 Tratamento da Leucemia Linfocítica Crônica

De acordo com Vail & Young (2007), devido à natureza indolente de LLC em

muitos animais, a questão de saber se todos os cães com a doença devem ser

tratados é controversa. A maioria dos oncologistas recomenda a observação antes

de se iniciar terapia ativa, quando a descoberta da LLC é incidental, quando não há

sinais físicos ou clínicos presentes, e quando não há anormalidades hematológicas

significativas identificadas.

Em humanos, cerca de um terço dos pacientes com pouco ou nenhum

sintoma, irá mostrar pouca evidência de progressão da doença durante um período

de 1-2 anos, sem terapia. Um período de observação sem tratamento é

recomendado em tais pacientes. Muitas pessoas com Leucemia Linfocítica Crônica

morrem de infecções secundárias imputáveis à diminuição das respostas

imunológicas e incapacidade de produzir anticorpos circulantes. Estas alterações

parecem ser causadas por um defeito de resposta dos linfócitos (HARVEY et al.,

1981).

Igualmente em cães, recomenda-se tratamento apenas em casos de

pacientes sintomáticos, com citopenias relevantes (anemia, trombocitopenia e

neutropenia), hepatoesplenomegalia, linfadenopatia ou contagem linfocitária

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extremamente elevada (maior que 60.000 linfócitos/µL). Prednisona e clorambucil

são os medicamentos mais comumente utilizados. A maior parte dos cães responde

bem ao tratamento, com sobrevida média de cerca de um ano e com boa qualidade

de vida (VAIL, 2008).

De acordo com Andrade (2008) as doses dos fármacos antineoplásicos são

geralmente expressas em mg/m2 (área de superfície corporal [ASC]) e não por

mg/kg. A droga mais eficaz é o clorambucil, administrado na dose de 0,2 mg/kg ou 6

mg/m2 (VO) SID, por 7 a 14 dias. Pode-se então reduzir a dose para 0,1 mg/kg ou

3mg/m2, diariamente. Precisa-se ajustar a dose com base na resposta clínica e na

tolerância medular (SANTANA et al., 2009).

Nos pacientes com resistência a estes citostáticos, pode-se incluir vincristina,

com o protocolo de 0,02 mg/kg (IV) semanalmente, clorambucil 0,1 a 0,2 mg/kg (VO)

e prednisona 10 a 30mg/m2 (VO) a cada 24 horas. Quando não houver remissão o

clorambucil pode ser substituído por ciclofosfamida na dose de 50mg/m2 (VO) a cada

24 horas, durante 4 dias consecutivos, semanalmente. Tanto o clorambucil quanto a

vincristina poderão ser administrados por um período indefinido. A monitoração

hematológica de rotina é um indicador importante para as alterações necessárias no

regime de tratamento. Os tratamentos de suporte com reposição de fluidos e

eletrólitos, administração de antibióticos e suporte nutricional, devem ser

estabelecidos para estes pacientes (RODASKI & NARDI, 2008).

Deve-se administrar o clorambucil em jejum, a fim de aumentar a taxa de

absorção. Corticosteróides são linfocitolíticos e levam à morte celular por apoptose,

sendo esses, muito indicados no tratamento associado a outros fármacos

(SANTANA et al., 2009).

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3.1.8 Prognóstico

A LLC é uma doença lentamente progressiva, e alguns animais não

necessitam de terapia (SANTANA et al., 2009). Um cão foi observado por quase 2

anos sem tratamento. Para os cães que são tratados, a normalização da contagem

de glóbulos brancos pode ser esperada em 70% dos casos. Em um relatório de 17

cães tratados com vincristina, clorambucil e prednisona, o tempo médio de sobrevida

foi de aproximadamente 12 meses. Em outros estudos, os cães tratados de forma

intermitente com clorambucil e prednisona tiveram remissões de 10 a 30 meses

(VAIL & YOUNG, 2007). O acometimento sistêmico, com a concomitante observação

de citopenias e outras manifestações de síndrome paraneoplásica, implicam em pior

prognóstico para o caso (TAKAHIRA, 2009).

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4 RELATO DE CASO

Foi atendido no GARRA – Hospital Veterinário, no dia 31/03/11 um paciente

da espécie canina, raça Golden Retriever, fêmea, 9 anos, de nome Gema (Figura

10).

FIGURA 10 - PACIENTE GEMA

FIGURA 11 – MUCOSAS HIPOCORADAS PACIENTE GEMA

Paciente apresentava histórico de apatia e anorexia há 1 semana, associado

a emagrecimento progressivo. Possuía diagnóstico prévio de hipotireoidismo (em

21/02/11), com prescrição de Levotiroxina sódica 200 mcg (VO) – BID.

Ao exame físico foi observado leve subpeso e mucosas hipocoradas (Figura

11). Demais parâmetros apresentavam-se dentro da normalidade.

Alguns exames complementares foram solicitados, entre eles,

ultrassonografia abdominal exploratória, que revelou parênquima hepático com

alterações sugestivas a processo inflamatório sistêmico e/ou hepatopatia aguda.

Linfonodomegalia ilíaca. Demais órgãos apresentavam-se dentro da normalidade.

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QUADRO 1 – LAUDO ULTRASSONOGRÁFICO

Animal: Gema Data:31.03.2011

Espécie: Canino Raça: Golden Sexo: Fêmea Idade:9 anos

Laudo ultrassonográfico Fígado: Tamanho e contornos preservados, ecogenicidade diminuída difusamente. Vesícula biliar preenchida por conteúdo anecóico, paredes fina e contorno regular.

Baço: Tamanho, contorno e ecogenicidade preservados.

Rins: Tamanho, contorno e ecogenicidade de córtex preservados. Definição corticomedular

preservada. Pelve esquerda com discreta dilatação.

Bexiga: Normodistendida por conteúdo anecóico, paredes finas e contorno regular.

Estômago: Parcialmente contraído, preenchido por conteúdo gasoso/fluído, parede com espessura e estratificação parietal preservados.

Alças Intestinais: Preenchidas por conteúdo gasoso/mucoso, parede com espessura e estratificação parietal preservadas.

Útero e ovários: Não visualizados.

Outros: Linfonodos ilíacos aumentados de tamanho, com ecogencidade diminuída. Não há evidências de alterações ultrassonográficas em região pancreática.

Impressão diagnóstica:

A imagem hepática tem como diagnóstico diferencial hepatopatia aguda e/ou processo

inflamatório infeccioso.

Linfonodomegalia ilíaca.

Daniela Ayres Garcia

Médica Veterinária

CRMV-PR 7937

Rua: Padre Germano Mayer, 319/ Bairro Cristo Rei / CEP: 80050-270

Curitiba – PR (41) 3362-0206

www.garra.vet.br

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FIGURA 12 – IMAGEM ULTRASSONOGRÁFICA DE FÍGADO

DA PACIENTE GEMA

NOTA: Fígado demonstrando ecogenicidade diminuída.

FIGURA 13 – IMAGEM ULTRASSONOGRÁFICA DE LINFONODOS ILÍACOS DA PACIENTE GEMA

NOTA: Linfonodomegalia ilíaca.

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Foi requisitado hemograma completo, onde observou-se importante

leucocitose (109 mil/µL) por linfocitose severa (82 mil/ µL) e leve anemia

arregenerativa ( Ht. 30%).

QUADRO 2 - HEMOGRAMA COMPLETO DA PACIENTE GEMA

Entrada: 31/03/2011 Saída: 31/03/2011

HEMOGRAMA

Amostra: Sangue com EDTA

Método: CC510 e microscopia

Valores Unidade Referência

Eritrócitos 4,08 milhões/µL 5,7 - 7,4

Hemoglobina 9,7 g/dL 14,0 -18,0

Hematócrito 30 % 38 – 47

VCM 73,53 fL 60 – 77

CHCM 32,33 % 31 – 35

HCM 23,77 Pg 21 – 26

PPT 8,0 g/Dl 6,0 - 8,0

Plaquetas 508 mil/µL 200 – 500

Leucócitos 109.000 /µL 6.000 - 16.000

Relativo Absoluto

Neutrófilos 22% 24.010 3.300 - 12.800

Metamielócitos 0% 0 0

Bastonetes 0% 0 0 – 160

Segmentados 22% 24.010 3.300 - 12.800

Linfócitos 76% 82.945 780 - 6.400

Basófilos 0% 0 0

Eosinófilos 0% 0 60 - 1.440

Monócitos 2% 2045 60 – 960

Observações: Presença de 24.480 reticulócitos/ul. Abaixo de 60.000 considerar anemia não regenerativa.

Devido à alta linfocitose suspeitou-se tratar-se de Leucemia. A paciente foi

encaminhada para punção de medula óssea para análise citológica e confirmação

da suspeita clínica. O acesso escolhido para punção foi o esterno. Foi realizado

tricotomia e antissepsia no local de inserção da agulha (calibre 40x12mm), o

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material foi coletado em seringa de 10 mL, porém em quantidade suficiente apenas

para fazer as lâminas, sem necessidade de sedação da paciente, como pode ser

observado na figura a seguir:

FIGURA 14 – PUNÇÃO DE MEDULA ÓSSEA

NOTA: Punção de medula óssea no osso esterno.

No esfregaço da medula óssea, corado em coloração de Romanowski, foi

visualizado celularidade aumentada, intensa hipoplasia eritróide (1% de

eritroblastos), com hiperplasia mielóide (presença de células em todas as fases de

maturação e na proporção esperada) e presença de linfócitos maduros acima da

normalidade (44%), alteração que veio a subsidiar o diagnóstico de Leucemia

Linfocítica Crônica.

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FIGURA 15 – INTENSA CELULARIDADE EM ESFREGAÇO DE MEDULA ÓSSEA DA PACIENTE GEMA

NOTA: Esfregaço de medula óssea, aumento de 10X, coloração de Romanowski.

FIGURA 16 – LINFOCITOSE EM ESFREGAÇO DE MEDULA ÓSSEA DA PACIENTE GEMA

NOTA: Esfregaço de medula óssea, aumento de 40X, coloração de Romanowski.

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QUADRO 3 – CITOLOGIA ASPIRATIVA DE MEDULA ÓSSEA

Nome: Gema Espécie: Canino Raça: Golden Retriever Sexo: F Idade: 9 anos Entrada: 04/04/2011 Saída: 04/04/2011

CITOLOGIA Amostra: Aspirado de medula óssea. Coloração: Romanowski Metodologia: Citologia Aspirativa por Agulha Fina (CAAF) Celularidade alta. Predomínio de linfócitos pequenos e maduros (44%), com hipoplasia eritróide severa (1% de eritroblastos) e hiperplasia mielóide com células em todas as fases de maturação e na proporção esperados. Observado grande aumento na relação mielóide/eritróide com 54,8 (0,75 - 2,50). Não foram observadas reservas de ferro intramedular. A grande proporção de linfócitos maduros, em quantidade acima de 30%, sugere um quadro de leucemia linfocítica crônica.

QUADRO CITOLÓGICO SUGESTIVO: LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA

Após o diagnóstico, instituiu-se o tratamento quimioterápico, onde foi

preconizado o seguinte protocolo: clorambucil 0,2 mg/kg/VO/SID durante 7 dias

consecutivos, após passado para dose de 0,1 mg/kg/VO/SID por tempo

indeterminado; vincristina 0,75mg/m2/IV, uma aplicação a cada 7 dias, por três

semanas; e prednisona 1mg/kg/VO/SID por 7 dias, após 0,5mg/kg/VO/SID por mais

7 dias, mantendo QOD por tempo indeterminado.

Após início do tratamento (07/04), paciente mostrou melhora clínica parcial,

começando a aceitar a alimentação. Em 14/04 foi realizada a segunda sessão de

quimioterapia. O leucograma nesta data evidenciou diminuição do número de

linfócitos circulantes, que de 82 mil (em 31/03) passaram a 64 mil.

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QUADRO 4 - LEUCOGRAMA DA PACIENTE GEMA

Entrada: 14/04/2011 Saída: 14/04/2011

LEUCOGRAMA Amostra: Sangue com EDTA Método: CC510 e microscopia

Valores Unidade Referência

Leucócitos 124.600 /µL 6.000 - 16.000

Relativo Absoluto

Neutrófilos 45% 56.070 3.300 - 12.800

Segmentados 45% 56.070 3.300 - 12.800

Linfócitos 52% 64.792 780 - 6.400 Monócitos 3% 3.738 60 - 960

Após um período de melhora, proprietário entrou em contato pois paciente

tinha vindo a óbito de forma súbita, tendo apresentado no dia anterior diarréia e

apatia. O óbito ocorreu 20 dias após o diagnóstico definitivo de Leucemia linfocítica

crônica.

5 DISCUSSÃO

Vail e Young (2007) descrevem que pacientes com LLC apresentam

sintomatologia inespecífica, como no caso da paciente Gema, que na ocasião da

consulta apresentava apatia, anorexia e emagrecimento progressivo. Nelson e

Couto (2010) relatam que pode estar presente linfadenopatia, hepatomegalia e

esplenomegalia. A paciente do presente relato não apresentava tais alterações no

exame clínico inicial. Na avaliação ultrassonográfica constatou-se alterações em

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fígado sugestivas de quadro inflamatório sistêmico ou hepatopatia aguda e

linfadenomegalia ilíaca.

Apresentava mucosas hipocoradas, o que sugeriu anemia. Ao exame

hematológico foi diagnosticada anemia não regenerativa, devido ao reduzido

hematócrito (30%) e ao baixo número de reticulócitos em sangue periférico (24 mil).

A maior parte dos pacientes apresenta anemia (normocítica normocrômica e

arregenerativa) (volume globular [VG] menor que 35%) (VAIL, 2008).

Outras anormalidades laboratoriais que estarão presentes em animais com

leucemia são a leucocitose, principalmente por linfocitose. Walker (2009) descreve

que a leucocitose vai de moderada a intensa, em cães normalmente acima de

50.000 leucócitos/ µL. A linfocitose acentuada de acordo com Nelson e Couto (2010)

é alteração hematológica mais marcante em animais com LLC, onde as contagens

linfocitárias variam de 8.000/µL até mais de 100.000/µL. O Leucograma da paciente

veio a salientar estas informações, pois revelou uma leucocitose intensa (109 mil) e

ainda linfocitose acima de 82 mil.

Após a constatação de tais alterações torna-se imprescindível indicar punção

de medula óssea para realização da citologia diagnóstica. Segundo Santana et al.

(2009) o sinal patognomônico para se diagnosticar a leucemia linfocítica crônica, é a

infiltração de células linfóides neoplásicas na medula óssea, e ainda, como descrito

por Sirois e Anthony (2005) a LLC já é confirmada com a presença de 30% de

linfócitos maduros. Na citologia de medula óssea da paciente Gema, linfócitos

maduros totalizaram 44%, sendo fechado o diagnóstico definitivo.

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Recomenda-se tratamento apenas em casos de pacientes sintomáticos, com

citopenias relevantes (anemia, trombocitopenia e neutropenia) ou de esplenomegalia

ou linfadenopatia (VAIL, 2008). Por este motivo a terapia foi instituída.

Corticosteróides são linfocitolíticos e levam à morte celular por apoptose,

sendo esses, muito indicados no tratamento associado a outros fármacos

(SANTANA et al., 2009). Desta forma o protocolo utilizado no tratamento, reuniu

clorambucil, vincristina e prednisona, com o objetivo de alcançar a remissão da

leucemia, o que pode ser observado em hemograma realizado uma semana após o

inicio da quimioterapia, onde linfócitos baixaram de 82 mil para 64 mil.

A maior parte dos cães responde bem ao tratamento, com sobrevida média

de cerca de um ano e com boa qualidade de vida (VAIL, 2008). Takahira (2009)

afirma que o acometimento sistêmico, com a concomitante observação de citopenias

e outras manifestações de síndrome paraneoplásica, implicam em pior prognóstico

para o caso. No caso relatado, devido à morte súbita do paciente, não foi possível

avaliar o curso clínico completo após início do tratamento, porém no tempo tratado o

paciente apresentou melhora clínica e laboratorial (diminuição da linfocitose). O

presente caso mostrou a importância dos exames laboratoriais para o diagnóstico

definitivo, bem como a boa resposta inicial ao protocolo quimioterápico da Leucemia

Linfocítica Crônica, patologia incomum na prática veterinária.

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6 CONCLUSÃO

Esta fase da graduação não somente torna possível ao aluno vivenciar a

parte prática de vários assuntos descritos em aula, como também mostra novas

situações não abordadas, tratamentos eficazes, novas técnicas diagnósticas ou até

mesmo as já conhecidas, mas que por muitos profissionais deixam de ser

praticadas.

O assunto escolhido para revisão bibliográfica, Leucemia Linfocítica Crônica,

é também uma demonstração de como é importante e necessário possuir amplo

conhecimento a respeito das patologias que acometem os animais, quando se

almeja atuar na área clínica, visto que esta anormalidade muitas vezes pode

progredir silenciosamente e até mesmo ser diagnosticada em exames rotineiros, não

deixando de ser de suma importância a sua descoberta, já que o desenvolvimento e

progressão da doença podem causar anormalidades que tornam o animal passível

de óbito.

A possibilidade de convivência com profissionais de várias áreas da Medicina

Veterinária tornou possível observar situações diversas da profissão, desde o trivial

até o inesperado, o raro. O que faz neste momento, surgir a percepção de que este

trabalho não deve ser o último, a conclusão, mas apenas o princípio na busca por

conhecimento e excelência.

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