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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.) CURITIBA 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde

Curso de Medicina Veterinária

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

(T.C.C.)

CURITIBA

2011

2

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

(T.C.C.)

CURITIBA

2011

3

Iagom Geovane Cirilo Reis

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

(T.C.C.)

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário. Professor(a) Orientador(a): Prof

a Simone Cristine

Monteiro Dallagnol Orientador Profissional: M. V. MSc. Ewerton Cardoso

CURITIBA

2011

4

Reitor

Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitor Administrativo

Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitora Acadêmica

Profa Carmen Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação

Sr. Afonso Celso Rangel Santos

Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

Prof a Roberval Eloy Pereira

Secretário Geral

Prof. João Henrique Faryniuk

Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária

Prof a Ana Laura Angeli

Coordenadora de Estágio Curricular do Curso de Medicina Veterinária

Prof a Ana Laura Angeli

Metodologia Cientifica

Prof. Jair Mendes Marques

CAMPUS: PROF. SYDNEI LIMA SANTOS

Rua: Sydnei A. Rangel Santos, 238 – Santo Inácio

CEP: 82010-330 – Curitiba - Paraná

Fone: (41) 3331-7700

5

TERMO DE APROVAÇÃO

Iagom Geovane Cirilo Reis

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Este trabalho de conclusão de curso foi julgado e aprovado para obtenção do título de Médico

Veterinário por uma banca examinadora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do

Paraná.

Curitiba, 22 de novembro de 2011.

___________________________________

Medicina Veterinária

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: ___________________________________

Profa Simone Cristine Monteiro Dallagnol

Universidade Tuiuti do Paraná

________________________________

Profa Maria Aparecida de Alcântra

Universidade Tuiuti do Paraná

________________________________

Profº Lourenço Rolando Malucelli Neto

Universidade Tuiuti do Paraná

6

APRESENTAÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de

Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da

Universidade Tuiuti do Paraná, pelo universitário Iagom Geovane Cirilo Reis, como

requisito parcial para a obtenção do título de Médico Veterinário, é composto por

Relatório de Estágio, no qual são descritas as atividades realizadas durante o

período de 01/08/2011 a 01/10/2011 no Hospital Veterinário Florianópolis, localizado

na cidade de Florianópolis - SC e relato de dois casos que versam sobre Carcinoma

de Células Escamosas e Tromboembolia Aórtica.

7

À minha mãe, que usou dos próprios

punhos para pavimentar o caminho que

pelo resto da vida irei trafegar e por tornar

mais um dos meus sonhos realidade.

DEDICO

8

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por iluminar cada passo dado e me

afastando do perigo e ainda me presentear com uma família e amigos divinos.

Á minha mãe, Vera Lúcia Cirilo, que sempre acreditou em mim, muito

obrigado.

Minhas irmãs Joana Cirilo Kinhirin e Manoela Cirilo Kinhirin, agradeço pela

linda forma de se fazerem presentes todos os momentos.

Jacques Machado agradeço humilde e profundamente por cada segundo a

mim dedicado como a força desprendida para me fazer ver mais e melhor e ir além.

Agradeço a paciência e a hombridade. Agradeço a sua fidelidade, amizade e o seu

sorriso. Mais que tudo e todos, sempre foi e sempre será um grande amigo, único,

sempre será o meu parceiro.

Primos e primas, colegas de tantas risadas e amigos serenos, agradeço a

lição da infância, do poder da risada e o cheiro da terra que sempre estará atrelado

às nossas lembranças.

Agradeço do fundo do meu ser à minha família, aquela de sangue que amo e

sempre amarei, e também a que me foi dada, trazida por Deus e talvez nem saiba

que é tão família pra mim. Agradeço os mimos e a atenção, as risadas e as lágrimas.

MSc. Ewerton Cardoso, só me cabe agradecer os momentos de

conhecimento dividido. Minha gratidão à todos os integrantes da equipe do HVF pela

paciência e educação e meu sincero agradecimento pelas oportunidades.

Professora e amiga Simone Monteiro agradeço a paciência e a determinação

de me orientar nessa jornada.

Ioná e Kátia, amigas de profissão e grandes profissionais, muito obrigado.

9

Aos demais professores e amigos da UTP que fizeram da universidade a

extensão do meu lar, aonde fui tão bem recebido e tratado nesses anos todos,

agradeço.

10

A educação faz com que as pessoas sejam

fáceis de guiar, mas difíceis de arrastar;

fáceis de governar, mas impossíveis de

escravizar.

Peter Drucker

11

RESUMO

O estágio curricular supervisionado foi realizado no Hospital Veterinário

Florianópolis, localizado em Florianópolis – SC, durante o período de 01 de agosto a

01 de outubro de 2011. As atividades desenvolvidas totalizaram 360 horas na área

de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, e baseavam-se em

acompanhamentos de consulta e retorno, auxílio na realização de procedimentos

ambulatoriais e cirúrgicos, cuidados com os pacientes sob internação e auxílio em

exames de diagnóstico por imagem tais como radiografia, ultrassonografia e

fluoroscopia que era utilizada para o auxílio em procedimentos cirúrgicos e na

discussão de casos clínicos. O presente trabalho tem como objetivo discutir dois

casos clínicos acompanhados durante o período de estágio, sendo o primeiro sobre

Carcinoma de Células Escamosas e o segundo sobre Tromboembolia Aórtica.

Palavras–chave: tumor, bexiga, aorta, cão, trombo.

12

ABSTRACT

The curricular supervision was conducted at the Hospital Veterinário Florianópolis,

located in Florianópolis - SC, during the period of August 1st to October 1st 2011 and

internship at the Hospital Veterinário de Pequenos Animais and Hospital Veterinário

de Grandes Animais at the Universidade Tuiuti do Paraná, located in Curitiba -

PR during the period of October 17th to October 21st, 2011. The activities summed

360 hours in the fields of Medical and Surgical Clinic of Small Animals, in which they

were held to the accompaniment of consultation and feedback, assistance in the

performance of outpatient procedures and surgical care of patients on admission

and aid in diagnostic imaging such as radiography, ultrasound and fluoroscopy. This

paper aims to discuss two clinical cases followed during the probationary period,

being the first one on Squamous Cell Carcinoma and the second one on Aortic

Thromboembolism.

Key words: tumor, bladder, aorta, dog, thrombus.

13

LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

> maior

< menor

%: por cento

α: alfa

β: beta

δ: delta

µ: micro

AA: acetoacetato

ALT: alanina aminotransferase

AST: aspartato aminotransferase

bpm: batimentos por minuto

BID: bis in die / duas vezes ao dia

oC: graus Celsius

CEMV: Clínica Escola de Medicina Veterinária

cm: centímetro

CT: colapso traqueal

FA: fosfatase alcalina

FDA: Food and Drug Administration

GGT: gama glutamil transpeptidase

GH: growth hormone

GHb: gama-hidroxibutirato

h: horas

HO: hipoglicemiantes orais

HVF: Hospital Veterinário Florianópolis

IM: intramuscular

IV: intravenoso

Kg: quilograma

mg/dL: miligrama por decilitro

mg/kg: miligrama por quilo

ml: mililitro

14

mmol/L: milimol por litro

mpm: movimentos por minuto

NPH: Neutral Protamine Hagedorn

pH: potencial hidrogeniônico

PT: proteína total

SC: subcutâneo

SID: semel in die / uma vez ao dia

SRD: sem raça definida

TCC: trabalho de conclusão de curso

TEA: tromboembolismo aórtico

TID: ter in die / três vezes ao dia

TPC: tempo de preenchimento capilar

U: unidade

UI: unidade internacional

UI/ml: unidade internacional por mililitro

UTP: Universidade Tuiuti do Paraná

VO: via oral

15

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 - FACHADA DO HVF .................................................................... 20

FIGURA 02 - CONSULTÓRIO DE ATENDIMENTO DA ROTINA DO HVF...... 21

FIGURA 03 - CENTRO CIRÚRGICO DO HVF ................................................ 22

FIGURA 04 - GRÁFICO DEMONSTRANDO A PORCENTAGEM DAS ESPÉCIES CANINA E FELINA ATENDIDAS DURANTE 01/08/11 A 01/10/11 NO HVF..............................................................................................

24 FIGURA 05 - GRÁFICO DEMONSTRANDO A PORCENTAGEM DE RAÇAS

CANINA E FELINA ATENDIDAS NA CLÍNICA MÉDICA DO HVF ENTRE 01/08/2011 E 01/10/2011 ................

25

FIGURA 06 - GRÁFICO DEMONSTRATIVO DO SEXO DOS PACIENTES ATENDIDOS NO HVF ENTRE 01/08/2011 A 01/10/2011.......... 26

FIGURA 07 - GRÁFICO DEMONSTRATIVO DOS PACIENTES DAS DUAS ESPÉCIES ATENDIDOS NO HVF ENTRE 01/08/2011 A 01/10/2011 CONFORME A IDADE DOS PACIENTES ..............

26

FIGURA 08 - GRÁFICO DEMONSTRATIVO DOS CASOS ATENDIDOS NO HVF ENTRE 01/08/2011 E 01/10/2011CONFORME ÁREA DE ATENDIMENTO ..........................................................................

27

FIGURA 09 -

FIGURA 10 - IMAGEM ILUSTRATIVA DE UMA BIÓPSIA DO TIPO PUNCH . 32

FIGURA 11 - PACIENTE CONAN .................................................................... 36

FIGURA 12 - ASPECTO DO ABDOME E PÊNIS ............................................ 37

FIGURA 13 - EXCISÃO DO TUMOR E AMPUTAÇÃO PENIANA ................... 39

FIGURA 14 - URETROSTOMIA PERINEAL .................................................... 40

FIGURA 15 - MASSA TUMORAL EXCISADA ................................................. 40

FIGURA 16 - IMAGEM DEMONSTRATIVA DO PESO DA MASSA TUMORAL EXCISADA (1,485KG) ............................................. 41

FIGURA 17 - PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO À CIRURGIA EVIDENCIANDO AS INCISÕES DE RELAXAMENTO............... 42

16

FIGURA 18 - PACIENTE FÉLIX ....................................................................... 54

17

LISTA DE TABELAS

TABELA 01 - TABELA RELACIONANDO A MODALIDADE E QUANTIDADE

DE EXAMES IMAGINOLÓGICOS REALIZADOS NO HVF DE 01/08/2011 A 01/10/2011.................................................................................. 28

18

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 19

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO .................................................. 20

2.1 HOSPITAL VETERINÁRIO FLORIANÓPOLIS (HVF) ............................... 20

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ............................................................. 23

3.1 HOSPITAL VETERINÁRIO FLORIANÓPOLIS ......................................... 23

4 CASUÍSTICA ............................................................................................ 24

4.1 HOSPITAL VETERINÁRIO FLORIANÓPOLIS ......................................... 24

5 CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS ............................................ 29

5.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 29

5.1.1 Introdução ................................................................................................. 29

5.1.2 Fisiopatologia e Etiologia .......................................................................... 30

5.1.3 Diagnóstico ................................................................................................ 31

5.1.3.1 Diagnósticos Diferenciais .......................................................................... 33

5.1.3.2 Exames Laboratoriais ............................................................................... 33

5.1.4 Tratamento ................................................................................................ 33

5.1.6 Prognóstico ............................................................................................... 35

5.2 RELATO DE CASO ................................................................................... 35

5.2.1 Histórico .................................................................................................... 36

5.2.2 Exame Físico ............................................................................................. 37

5.2.3 Exames Complementares ......................................................................... 38

5.2.4 Tratamento ................................................................................................ 38

5.2.4.1 Procedimento Cirúrgico ............................................................................. 39

5.2.4.1.1 Uretrostomia Perineal ................................................................................ 41

5.2.4.2 Pós-operatório ........................................................................................... 42

5.2.4.3 Quimioterapia ............................................................................................ 42

5.3 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO .................................................................. 43

6 TROMBOEMBOLIA AÓRTICA ................................................................ 44

6.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 44

6.1.1 Introdução ................................................................................................. 44

6.1.2 Epidemiologia ............................................................................................ 46

6.1.3 Fisiopatologia ............................................................................................ 47

19

6.1.4 Sinais Clínicos ........................................................................................... 48

6.1.5 Diagnóstico ................................................................................................ 49

6.1.5.1 Diagnóstico Diferencial ............................................................................. 50

6.1.6 Tratamento ................................................................................................ 51

6.1.7 Prognóstico ............................................................................................... 52

6.2 RELATO DE CASO ................................................................................... 53

6.2.1 Histórico .................................................................................................... 54

6.2.2 Exame Físico ............................................................................................. 54

6.2.3 Exames Complementares ......................................................................... 55

6.2.4 Tratamento ................................................................................................ 55

6.3 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO .................................................................. 56

7 CONCLUSÃO ........................................................................................... 58

8 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 59

20

1 INTRODUÇÃO

As atividades de estágio foram realizadas em um Hospital Veterinário no

período de 01/08/2011 a 01/10/2011 sob orientação profissional do MSc. Ewerton

Cardoso, médico veterinário cirurgião e diretor do local de estágio, Hospital

Veterinário Florianópolis e a orientação acadêmica por responsabilidade da

professora M.V. MSc. Simone Cristine Monteiro Dallagnol.

O referido estágio foi realizado de segunda à sexta-feira, sendo cumpridas

oito horas diárias, das 8:00 as 18:00 horas, com intervalo de almoço das 12:00 as

14:00 horas, totalizando 360 horas. As atividades desenvolvidas no hospital visaram

o acompanhamento de animais internados, auxílio a consultas e procedimentos

médicos e cirúrgicos, bem como de exames de imagem e discussões de casos

clínicos da rotina médica e cirúrgica, revisando e discutindo casos atendidos.

21

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO

2.1 HOSPITAL VETERINÁRIO FLORIANÓPOLIS (HVF)

O Hospital Veterinário Florianópolis (Figura 01) conta com uma grande

estrutura para atendimento de pequenos animais e está localizado na Rua João

Cruz Silva, número 91, no bairro Estreito em Florianópolis – SC.

FIGURA 01 – FACHADA DO HVF

FONTE: REIS, 2011

O hospital possui atendimento clínico 24 horas e dispõe de um grupo de

quatro profissionais capacitados atuantes nas áreas clínica e cirúrgica. O hospital

conta com uma ambulância à disposição para o transporte de pacientes

caracterizados como atendimentos emergenciais. Estes pacientes são

encaminhados ao hospital para posterior tratamento. Não são realizados

atendimentos domiciliares, não sendo emergenciais.

22

O HVF dispõe de quatro consultórios para atendimento médico, sendo três

deles para atendimento de rotina (FIGURA 02) e um consultório para atendimento

emergencial. Dispõe ainda de uma ala de diagnóstico por imagem onde está a sala

de radiologia, tomografia e ultrassonografia.

Ainda nas dependências tem-se um laboratório de análises clínicas,

isolamento de doenças infecciosas, local de hospedagem de animais dividido em

duas áreas distintas (gatil e canil), centro de pesquisas com células tronco, centro

cirúrgico com fluoroscopia (FIGURA 03), central de esterilização de materiais,

vestiários, escritório de tecnologia da informação, farmácia, sala de reuniões, copa,

lavanderia, almoxarifado, sala de descanso dos médicos veterinários plantonistas e

pátio para banho de sol e uma sala de banho e tosa.

FIGURA 02 – CONSULTÓRIO DE ATENDIMENTO DA ROTINA DO HVF

FONTE: REIS, 2011

23

FIGURA 03 – CENTRO CIRÚRGICO DO HVF

FONTE: REIS, 2011

Todos os pacientes são recepcionados e devidamente cadastrados para

posterior atendimento clínico. Durante a consulta é realizada a triagem para posterior

tratamento específico e exames complementares. Os pacientes que necessitem de

exames complementares são encaminhados para a sala de coleta e realizados os

procedimentos para a realização de exames tidos como de rotina, sendo eles,

bioquímico (ALT, AST, PT, FA, Creatinina e Uréia) e hemograma completo.

Pacientes que necessitam de tratamento hospitalar ou cirúrgico são

encaminhados para internamento e seu responsável preenche um formulário

específico, que consiste em um termo de autorização para o tratamento proposto

seja um termo cirúrgico, internação ou de responsabilidade.

24

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

3.1 HOSPITAL VETERINÁRIO FLORIANÓPOLIS

Foram desenvolvidas no estágio curricular supervisionado, atividades ligadas

ao exercício da Medicina Veterinária, tais como auxílio ao atendimento médico em

consultas, coleta de materiais biológicos para exames, procedimentos ambulatoriais

como retirada de pontos, curativos e administração de medicamentos sob

supervisão médica, auxílio na execução de exames laboratoriais e por imagem,

acompanhamento e auxílio nos procedimentos cirúrgicos, acompanhamento na

formulação de laudos de exames de imagem, cuidados e supervisão dos pacientes

internados, assim como limpeza e manutenção de bens, materiais e cômodos do

HVF.

25

4 CASUÍSTICA

4.1 HOSPITAL VETERINÁRIO FLORIANÓPOLIS

Durante a realização do estágio curricular assistido no Hospital Veterinário

Florianópolis foram acompanhados 146 atendimentos sendo 111 na área de clínica

médica e 35 procedimentos cirúrgicos. As espécies atendidas, sexo e raça dos

pacientes atendidos estão representadas respectivamente nos gráficos das figuras

4, 5 e 6.

FIGURA 04 – GRÁFICO DEMONSTRANDO A PORCENTAGEM DAS ESPÉCIES

CANINA E FELINA ATENDIDAS DURANTE 01/08/11 A 01/10/11 NO HVF

78%

22%

Espécies Atendidas

Canina Felina

26

FIGURA 05 – GRÁFICO DEMONSTRANDO A PORCENTAGEM DE RAÇAS

CANINA E FELINA ATENDIDAS NA CLÍNICA MÉDICA DO HVF ENTRE 01/08/2011

E 01/10/2011

1 2

1 1 1 1 2 2

1

5

2

4

1

9 10

4

23

3

1 1

4 4

28

17

4

1

14

0

5

10

15

20

25

30

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eric

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ull

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iwaw

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Shar

pei

Shit

zu

Siam

ês

SRD

Can

ino

s

SRD

Fel

ino

s

Teck

el

Wes

t H

igh

lan

d W

hit

e Te

rrie

r

York

Sh

ire

Raças atendidas

Raças atendidas

27

FIGURA 06 – GRÁFICO DEMONSTRATIVO DO SEXO DOS PACIENTES

ATENDIDOS NO HVF ENTRE 01/08/2011 A 01/10/2011

FIGURA 07 – GRÁFICO DEMONSTRATIVO DOS PACIENTES DAS DUAS

ESPÉCIES ATENDIDOS NO HVF ENTRE 01/08/2011 A 01/10/2011 CONFORME A

IDADE DOS PACIENTES

49%

51%

Sexo dos Pacientes

Macho Fêmea

27

18 11 8

12 8 11

3 4

44

Idade dos Pacientes

Idade dos Pacientes

28

Na figura 08 abaixo, o gráfico demonstra a porcentagem dos casos atendidos

por área da medicina durante o período de estágio e a tabela 01 a quantidade de

exames de imagem realizados no mesmo período.

FIGURA 08 – GRÁFICO DEMONSTRATIVO DOS CASOS ATENDIDOS NO HVF

ENTRE 01/08/2011 E 01/10/2011 CONFORME ÁREA DE ATENDIMENTO

A figura 09 demonstra entre os pacientes relatados com doenças

endocrinológicas quais as doenças que os caracterizaram como tais.

Clínica Cirúrgica 28%

Dermatologia 2%

Diagnóstico por Imagem

11%

Endocrinologia 5%

Emergência 17%

Gastroenterologia 9%

Infectologia 2%

Neurologia 2%

Odontologia 6%

Oftalmologia 2%

Ortopedia 10%

Otorrinolaringologia 2%

Parasitologia 4%

Área Médica

29

FIGURA 09 – DEONÇAS ENDÓCRINAS QUE ACOMETERAM OS PACIENTES

RELATADOS NO PERÍODO DE ESTÁGIO DE 01/08/2011 A 01/10/2011

TABELA 01 – TABELA RELACIONANDO A MODALIDADE E QUANTIDADE DE

EXAMES IMAGINOLÓGICOS REALIZADOS NO HVF DE 01/08/2011 A 01/10/2011

Exames Nº realizado Radiografia 58 Ultrassonografia 12 Ecocardiografia 01 Fluoroscopia 11 Tomografia 00

TOTAL 82

Endocrinologia

Diabete

Hipotireoidismo

Insuficiência Hepática

Insuficiência Renal

Pancreatite

30

5 CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS

5.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.1.1 Introdução

O carcinoma de células escamosas (CCE) é um tumor maligno dos

queratinócitos. É também conhecido como carcinoma de células espinhosas,

carcinoma espinocelular ou carcinoma epidermóide (ROCHA et al, 2010). Os

carcinomas de células escamosas podem ocorrer secundariamente a uma

exposição à luz ultravioleta em gatos e cães com áreas hipopigmentadas. Eles se

originam do epitélio escamoso estratificado. A célula de origem é o queratinócito.

Esses tumores aparecem freqüentemente como lesões não-cicatrizantes,

necrosadas e ulceradas. Os locais comuns nos cães incluem abdomen ventral,

dedos (especialmente leito ungueal), membros, escroto, lábios e nariz. Nos gatos

eles incluem os pavilhões auriculares, os lábios, o nariz e as pálpebras. Os tumores

proliferativos podem lembrar uma placa firme e vermelha ou uma lesão semelhante

à couve-flor (BIRCHARD & SHERDING, 2003).

Histologicamente, os carcinomas de células escamosas consistem em

massas irregulares ou cordões de ceratinócitos que proliferam para baixo e invadem

a derme. Os achados freqüentes incluem formação de ceratina, pérolas córneas,

pontes intercelulares, mitoses e atipia (BENTO, 2009).

Essas células epiteliais são poligonais e podem se queratinizar à medida que

amadurecem. Observam-se freqüentemente células epiteliais típicas misturadas com

células queratinizadas. As células epiteliais escamosas em envelhecimento tendem

a ficar mais angulares ou poliédricas, com um núcleo picnótico e um citoplasma mais

31

azul. Observa-se freqüentemente uma abundância de neutrófilos e outras células

inflamatórias (BIRCHARD & SHERDING, 2003).

O carcinoma de células escamosas é uma neoplasia cutânea de grande

relevância em países de clima tropical como o Brasil, uma vez que a exposição

crônica à radiação ultravioleta é um dos fatores importantes para o desenvolvimento

da doença. A precocidade no diagnóstico tem efeito fundamental no prognóstico

(FERREIRA, RAHAL, FERREIRA, & CORRÊA, 2006).

5.1.2 Fisiopatologia e Etiologia

Esses tumores ocorrem mais freqüentemente em gatos, especialmente

brancos ou com áreas hipopigmentadas que são mais prováveis de serem expostas

à luz solar, especialmente pontas de orelhas e nariz. Os cães apresentam uma

freqüência elevada desses tumores no abdômen ventral, no tronco, no escroto e nos

lábios. São localmente invasivos, com metástases tardias nos linfonodos locais e

nos pulmões (BIRCHARD & SHERDING, 2003).

Não foi detectada uma associação da neoplasia com o vírus da leucemia

felina, porém não está totalmente esclarecido se há relação desta com o vírus da

imunodeficiência felina. (BENTO, 2009)

Os tumores podem ser de dois tipos: produtivos ou erosivos. Os produtivos

possuem aspecto papilar de tamanho variável com aspecto de couve-flor,

normalmente com superfície ulcerada e sangram com facilidade. Os erosivos são os

mais comuns e são formados por úlceras cobertas com crostas, que se tornam

profundas e formam crateras (ROCHA, SANTOS, TRENTI et al., 2010)

O tumor pode ser observado em gatos jovens, mas a média de idade é 11

anos e quatro meses. A afecção pode estar presente por meses ou anos e, em

32

geral, a história clínica está associada à presença de ferimento que não cicatriza

(FERREIRA, RAHAL, FERREIRA, & CORRÊA, 2006).

5.1.3 Diagnóstico

Conforme (ANDRADE, 2002) o diagnóstico da neoplasia para a seleção da

quimioterapia adequada e a avaliação e monitoramento do paciente consiste

basicamente na realização dos seguintes exames:

Exame clínico – bastante criterioso por se tratar de paciente com grande risco

de vida, dependendo do tipo de neoplasia (ANDRADE, 2002). Uma anamnese e

exame físico criterioso além dos seguintes exames complementares:

Citologia – a citologia aspirativa com agulha fina deve ser o primeiro exame a

ser realizado para identificação do processo neoplásico. Este exame é efetivo para

diagnóstico de massas na pele e subcutâneo, assim como massas em órgãos

internos ou tecidos como linfonodos, fígado, baço, rins, próstata, tireóide, pulmão,

etc. Nestes casos, pode ser necessário o exame de ultra-sonografia para guiar a

agulha com mais segurança ao local de punção. Porém, este exame pode não ser

conclusivo, necessitando a realização de biópsia e exame histopatológico.

Biópsia – a avaliação histológica é necessária quando a citologia não é

conclusiva. Dependendo da localização e do tamanho da massa, o fragmento para

pesquisa pode ser obtido por meio de agulha, punch (FIGURA 09), ou

cirurgicamente pela remoção do mesmo. (ANDRADE, 2002)

Conforme (ANTONIO ET AL., 2006) a biópsia de punch é um pequeno tubo

metálico com extremidade cortante. A borda cortante do punch é circular e fabricada

em diâmetros que variam de 1mm a 1cm. A técnica consiste em simples movimento

de rotação, pressionando e introduzindo o instrumento até a profundidade desejada,

33

e seccionando a base. Se necessário, são realizados pontos para aproximar as

bordas e conter hemorragias.

FIGURA 10 – IMAGEM ILUSTRATIVA DE UMA BIÓPSIA DO TIPO PUNCH

FONTE: LUGO, 2006

Diagnóstico por imagem – neoplasias malignas requerem uma avaliação mais

extensa para detecção de possíveis metástases ou grau de invasividade. Desta

maneira, o uso de exames radiográficos e ultrassonográficos são necessários

(ANDRADE, 2002).

Conforme (SOUZA et al., 2003) a ressonância magnética e a tomografia

computadorizada são importantes métodos de exames complementares para o

diagnóstico das doenças da cavidade oral. O carcinoma de células escamosas é a

neoplasia maligna mais freqüente dessa região.

Histologicamente, os carcinomas de células escamosas consistem em

massas irregulares ou cordões de ceratinócitos que proliferam para baixo e invadem

a derme. Os achados freqüentes incluem formação de ceratina, pérolas córneas,

pontes intercelulares, mitoses e atipia (BENTO, 2009). Observa-se que a lesão se

estende por meio da derme estando ou não associada à proliferação ou

34

espessamento da epiderme, formando ilhas, cordas e trabéculas de células epiteliais

neoplásicas que demonstram um grau variável de diferenciação escamosa (ROCHA,

SANTOS, TRENTIN et al., 2010)

5.1.3.1 Diagnósticos Diferenciais

O diagnóstico diferencial inclui numerosas neoplasias e distúrbios

granulomatosos.

Esporotricose, criptococose, hipersensiilidade alimentar, atopia e complexo

pênfigo apresentam lesões nodulares e/ou erodo-ulcerativas. Lesões nas unhas

podem ser confundidas com paroníquia. A biópsia é necessária para confirmar o

diagnóstico (MAFFEZZOLLI & ZOTTI, 2007)

5.1.3.2 Exames Laboratoriais

ANDRADE (2002), aponta os exames laboratoriais e complementares como

necessários para avaliação da condição do paciente antes, durante e depois da

quimioterapia, por meio de exames de hemograma, bioquímicos, urinálise,

eletrocardiograma, endoscopia, etc.

5.1.4 Tratamento

Recomenda-se uma excisão cirúrgica completa no caso de carcinomas de

células escamosas, se estes se encontrarem em uma localização operável.

Aconselha-se uma ressecção completa do pavilhão auricular em casos de tumores

auriculares e amputação digital em casos de carcinoma de células escamosas

digital. Há de se considerar radioterapia e terapia fotodinâmica em casos de cães e

gatos com carcinomas de células escamosas incompletamente excisados ou não-

35

resseccionáveis. Deve-se examinar a possibilidade de uma quimioterapia em casos

de tumores não-resseccionáveis ou metastáticos, usando cisplatina, carboplatina,

bleomicina, mitoxantrona ou doxorrubicina (BIRCHARD & SHERDING, 2003).

A quimioterapia antineoplásica pode ser considerada uma ciência antiga, pois

há relatos de que na Grécia antiga tratavam-se tumores através da aplicação direta

de substâncias. Em geral, utilizavam-se substâncias cáusticas, alcalóides, metais e

seus sais. Hoje em dia, procuram-se modalidades de tratamento efetivas e pouco

multilativas que, quando administradas sistemicamente, sejam capazes de erradicar

as células tumorais (SPINOSA et al., 2002).

Segundo (ROCHA et al., 2010) melhor resultado a longo prazo pode ser

obtido por ressecção cirúrgica seguida de radioterapia pós-cirúrgica; além da

prescrição de quimioterápicos como cisplatina e piroxicam. No entanto, o

prognóstico é reservado, sendo a taxa de recorrência alta quando o tumor é

marginalmente extirpado. Aproximadamente 50% dos pacientes morrem em um ano.

Nódulos linfáticos regionais devem ser retirados se houver a suspeita de

metástases.

A radioterapia é utilizada para neoplasia localizada ou regional ou como

terapia paliativa em pacientes terminais. Em virtude da radiação ser bastante efetiva

para tumores de volume pequeno, pode ser utilizada em conjunto com a cirurgia ou

quimioterapia (ANDRADE, 2002).

A radioterapia é uma especialidade que utiliza equipamentos e procedimentos

de instalação complexos, além de um planejamento e tratamento específicos. É o

uso controlado de radiação ionizante para fins terapêuticos, impedindo o

crescimento e a divisão das células. Os tratamentos de radioterapia podem ser

realizados segundo várias modalidades:

36

Radioterapia externa ou plesioterapia: as fontes radioativas são colocadas

sobre as lesões;

Radioterapia intracavitária ou braquiterapia: as fontes radioativas são

colocadas em cavidades naturais do organismo, ou no próprio tumor;

Radioterapia intersticial: as fontes são introduzidas no organismo através do

sangue. A vantagem é que ela dá uma dose muito grande ao tumor com o

mínimo de radiação para os tecidos vizinhos normais. O elemento radioativo é

colocado em proximidade ou dentro do órgão a ser tratado. Para isto são

utilizados elementos radioativos específicos, de pequeno tamanho e formas

variadas, que são colocados na posição de tratamento através de cateteres

ou sondas.

Os tratamentos com radioterapia externa podem ser realizados com raios-X

de baixa energia (ortovoltagem) e alta energia (radiação eletromagnética), com

radiação gama do Cobalto-60 e através de feixes de elétrons produzidos por

aceleradores lineares. A escolha do tipo de energia depende do tipo e da

profundidade em que se encontra o tumor (MAFFEZZOLLI & ZOTTI, 2007).

5.1.6 Prognóstico

O prognóstico em gatos é ruim, pois uma recorrência local é comum. O

prognóstico em cães é de reservado, aonde cerca de 50% dos cães tratados vivem

por 1 ano.

Segundo (FERREIRA, 2006) a precocidade no diagnóstico tem efeito

fundamental no prognóstico.

5.2 RELATO DE CASO

37

Paciente: Conan (FIG. 11)

Espécie: Canina

Raça: Pitbull

Sexo: Macho

Idade: Desconhecida

Peso: 18kg

5.2.1 Histórico

O responsável relatou que o animal foi recolhido das ruas apresentava uma

ferida com aspecto crostoso e com presença de pus na região do pênis e testículo. A

ferida tinha uma característica exudativa como mostra a figura 10, indiciando a

presença de liquido seroso sanguinolento no chão do consultório. O animal mantinha

um comportamento apático e sem apetite, bastante fraco, não urinava e com uma

aparente desidratação. O responsável, devido à falta de contato prévio com o

paciente, não soube esclarecer maiores fatos sobre a evolução do ferimento e do

quadro nutricional do animal.

38

FIGURA 11 – PACIENTE CONAN

FONTE: REIS, 2011

5.2.2 Exame físico

No exame físico foi observado caquexia e massa corpórea abaixo do normal

(peso 18kg), TPC aumentado, mucosas hipocoradas, FC 70bpm, temperatura

39,7ºC e grande tumefação exudativa em região peniana, abdominal e para peniana,

se estendendo até a região inguinal (FIG. 11).

Com base no exame físico e o aspecto das lesões os diagnósticos

diferenciais foram TVT (tumor venéreo transmissível), carcinoma de células

escamosas, processo inflamatório e infeccioso ou mastocitoma.

39

FIGURA 12 – ASPECTO DO ABDOME E PÊNIS

FONTE: REIS, 2011

5.2.3 Exames complementares

Foi realizado o exame radiográfico de tórax e abdome na busca de possíveis

metástases.

O exame ultrassonográfico não apresentou alterações hepáticas, esplênicas

ou renais.

As alterações observadas no hemograma foram: hemoglobina (19,8 g/Dl) e

hematócrito (58,0%) ambos com valores aumentados. Conforme (BUSH, 2004) os

valores normais de concentração de hemoglobina para cães é de 12 – 18g/dL e de

hematócrito 37 – 55%.

Exames bioquímicos apontaram alterações nos níveis de parâmetro aceitável

para AST (116,4U/L) que conforme BUSH (2004) é de 10 – 88 U/L.

Uma amostra por meio de um swab, secreção da lesão, para exames de

cultura e antibiograma. O resultado apresentado foi a presença de Proteus mirabilis.

40

O antibiograma apontou sensibilidade a Amicacina, Norfloxacin, Amoxicilina + Ac.

Clavulânico, Ceftriaxona e Ciprofloxacin.

Foi retirado um fragmento da massa externa para exame histopatológico,

obtendo como resultado Carcinoma Epitelial de Células Escamosas, apontando

ainda, como uma neoplasia maligna de prognóstico reservado, frequentemente

recidivante, mas geralmente não causando metástases.

5.2.4 Tratamento

O paciente foi submetido a terapia de manutenção imediata de recuperação

de temperatura, hidratação e escore corporal, utilizando reposição hidricaeletrolítica.

O tratamento iniciou-se com enrofloxacina (5mg/kg BID) e ceftriaxona (15mg/kg BID)

e troca dos curativos duas vezes ao dia. A ferida foi tratada diariamente com

curativos (BID), utilizando pomada de metronidazol e bandagem por 5 dias. Após

estabilização do ferimento e recuperação do paciente, foi então, submetido à cirurgia

de remoção da massa tumoral.

5.2.4.1 Procedimento Cirúrgico

Foi realizado excisão cirúrgica do tumor com amputação peniana e uma

uretrostomia perineal para redirecionar o fluxo urinário (FIG. 13 E 14).

O procedimento de excisão foi realizado com o auxilio de um bisturi elétrico

que tem como principal benefício a facilitação da hemostasia porém se mostra um

fator determinante no período de cicatrização que se torna mais longo.

41

FIGURA 13 – EXCISÃO DO TUMOR E AMPUTAÇÃO PENIANA

FONTE: REIS, 2011

A figura 14 mostra a extensão da cirurgia para excisão tumoral e a

uretrostomia perineal finalizada.

FIGURA 14 – URETROSTOMIA PERINEAL

FONTE: REIS, 2011

42

As figuras 15 e 16 mostram a massa excisionada com o peso próximo de

1,450kg.

FIGURA 15 – MASSA TUMORAL EXCISADA

FONTE: REIS, 2011

FIGURA 16 – IMAGEM DEMONSTRATIVA DO PESO DA MASSA TUMORAL

EXCISADA (1,485KG)

FONTE: REIS, 2011

43

5.2.4.1.1 Uretrostomia Perineal

A técnica cirúrgica utilizada no paciente foi uma uretrostomia perineal que é

descrita por BOJRAB (2005): inicia-se com a inserção de um cateter uretral e o

fixando, faz-se então uma incisão elíptica ao redor do escroto e do prepúcio, rebate-

se dorsalmente o pênis e o prepúcio, e inicia-se a dissecção ventral. Identifica-se o

músculo isquiocavernoso, incisando-o com uma tesoura próximo ao ligamento

peniano.

Termina-se a dissecção uretral transeccionando-se o útero masculino em

forma de “V” próximo à uretra. Incisa-se a uretra no interior da luz com o bisturi.

Após terminada a incisão, remove-se o cateter e insere-se pinças na uretra pélvica.

A primeira sutura aproxima as bordas cutâneas dorsais, depois coloca-se a

primeira sutura uretral, envolvendo ambas as bordas cutâneas e o teto uretral

pélvico e então prossegue-se a sutura uretral para baixo da incisão cutânea em cada

lado.

5.2.4.2 Pós-operatório

Apesar do ferimento cirúrgico extenso o paciente manteve-se estável.

Incisões de relaxamento (FIG 17) foram feitas para melhorar a aproximação dos

bordos a serem suturados e sofrem cicatrização por segunda intenção. O paciente

permaneceu internado por 5 dias recebendo tratamento intensivo com curativos

(BID). Foi estabelecido um protocolo terapêutico com amoxicilina 20mg/kg e

ceftriaxona 15mg/kg por 15 dias. Após este período, houve melhora significativa do

paciente obtendo alta.

44

FIGURA 17 – PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO À CIRURGIA EVIDENCIANDO

AS INCISÕES DE RELAXAMENTO

FONTE: REIS, 2011

5.2.4.3 Quimioterapia

Após 5 dias o cão recebeu alta sendo necessário seu retorno para início da

quimioterapia para continuação do tratamento. O protocolo quimioterápico iria ser

estabelecido de acordo o resultado dos exames complementares, porém o animal

não retornou até o período de conclusão do estágio.

5.3 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

O carcinoma de células escamosas é um tumor originário das células do

epitélio escamoso, é um tumor maligno geralmente não mestástico, secundário a

uma exposição aos raios ultravioletas em animais hipopigmentados, e por assim ser,

geralmente em extremidades e abdome ventral (BIRCHARD & SHERDING, 2003).

São feridas com baixa capacidade de cicatrização, exudativas e com rápido

desenvolvimento, conforme observado no paciente do caso clínico acompanhado.

45

O seu tratamento baseia-se em excisão cirúrgica e protocolo quimioterápico e

radioterápico. Como visto no caso clínico acima descrito o paciente apresentou uma

excelente melhora, poucos dias após o procedimento de excisão do tumor, porém,

não foi possível verificar a resposta ao tratamento quimioterápico uma vez que o

paciente não retornou para os cuidados da equipe do HVF. A radioterapia por sua

vez, não se mostrou um tratamento viável, devido a dificuldade de realização de tal

procedimento no estado de Santa Catarina.

É uma neoplasia com prognóstico ruim (reservado) e com grandes chances

de recidiva.

46

6 TROMBOEMBOLIA AÓRTICA EM FELINOS

6.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

6.1.1 Introdução

A tromboembolia aórtica felina ou tromboembolismo aórtico felino (TEA), é

muitas vezes um verdadeiro desafio para a clínica veterinária, principalmente a partir

de dois pontos de vista. Primeiro: o diagnóstico, pois é confundido com alterações

neurológicas e segundo, o tratamento e prognóstico destes pacientes é bastante

complicado (LYRIO & LOPES, 2008).

Conforme (MUCHA, 2008), a embolização arterial em felinos é geralmente

uma potencial e severa complicação de uma cardiomiopatia adjacente (em qualquer

uma que seja das suas apresentações, seja hipertrófica, dilatada ou restritiva) e

muitas vezes o TEA é o primeiro sinal e/ou motivo da consulta pelo proprietário.

A cardiomiopatia restritiva é caracterizada pela restrição ao enchimento, com

volume diastólico reduzido, em um ou em ambos os ventrículos, com função sistólica

normal ou próxima do normal, além de espessamento da parede ventricular. Pode

ser idiopática ou estar associada a outras doenças, como a amiloidose, doença

endomiocárdica com ou sem eosinofilia, sarcoidose, hemocromatose etc (ALBANESI

FILHO, 1998)

Já a cardiomiopatia hipertrófica, conforme ALBANESI (1998) é uma doença

miocárdica primária, de caráter genético (autossômico dominante), caracterizada

pela hipertrofia ventricular desproporcional, mais freqüente no VE, com maior

acometimento do septo interventricular (SIV), do que da parede livre, podendo, em

alguns casos, reduzir o volume ventricular. O VE é o mais acometido, podendo este

47

envolvimento ser simétrico (concêntrico) ou assimétrico (septal, medioventricular,

apical, lateral e posterior).

Muitos gatos com cardiomiopatia hipertrófica de grau leve ou moderado

apresentam-se assintomáticos. Os casos graves também podem ser assintomáticos,

mas geralmente os gatos apresentam sinais de tromboembolismo arterial e/ou

taquipnéia/dispnéia quando estressados. Além disso, podem apresentar sinais

inespecíficos como anorexia, depressão, intolerância a exercícios e sinais

respiratórios (na presença de efusão pleural e/ou edema pulmonar). À auscultação,

pode-se detectar taquicardia. O ritmo de galope pode estar presente, sendo

indicativo de disfunção diastólica (FERRARI, 2005)

E a cardiomiopatia dilatada por sua vez é uma doença primária do músculo

cardíaco com dilatação e alteração na função contráctil do ventrículo esquerdo (VE)

ou de ambos os ventrículos. Ela pode ser: idiopática, familiar/genética, viral e/ou

imune, alcoólica/tóxica ou associada com doença cardiovascular reconhecida, cujo

grau de disfunção do miocárdio não é explicado pelas condições de anormal

sobrecarga ou extenso dano isquêmico. Predomina a disfunção sistólica, havendo

hipertrofia miocárdica reacional nas áreas não acometidas pelo processo de

agressão miocárdica, podendo evoluir para a insuficiência cardíaca (IC) ou não

(dilatação sem insuficiência), apresentar arritmias atrial e/ou ventricular e resultar em

óbito em qualquer estágio da doença (ALBANESI, 1998).

A formação de trombo ocorre devido ao agregamento de plaquetas e fibrina

com o encarceramento de glóbulos vermelhos, ainda que não se tenha bem

elucidado o mecanismo de formação de um TEA, este pode ser o resultado de uma

estase circulatória em uma câmara aumentada de tamanho (como o átrio esquerdo),

e um estado de hipercoagulabilidade (MUCHA, 2008).

48

Os gatos com qualquer forma de miocardiopatia possuem predisposição para

formar trombos intracardíacos no átrio esquerdo. Quase todos pesquisadores

concordam que o tromboembolismo ocorrerá em pelo menos 10 a 20% dos gatos

com cardiomiopatia hipertrófica (FERRARI, 2005).

MUCHA (2008) ainda aponta que outros pesquisadores interpretam lesões

vasculares e/ou tecidulares, também podem intervir na formação de TEA. Quando

um trombo se forma no átrio esquerdo, podem ocorrer três coisas: o trombo se

mantém estático sem causar danos, pode crescer e obturar o fluxo sangüíneo

intracardíaco e desprender-se e causar um êmbolo.

Um estudo recente demonstrou que gatos portadores de tromboembolia

arterial secundária à cardiomiopatia apresentavam concentrações mais baixas de

arginina circulante do que os gatos portadores somente de cardiomiopatia felina ou

os gatos controle saudáveis. Ainda que estes resultados possam ser somente

conseqüência de um processo de consumo durante a formação do trombo ou em

caso de isquemia, estudos posteriores são necessários até que possamos entender

melhor a função deste aminoácido sobre a tromboembolia arterial felina (FREEMAN,

2008).

6.1.2 Epidemiologia

Normalmente, a distribuição etária é de 1 a 20 anos, com a idade média de

7,5 anos. A incidência é maior em machos do que em fêmeas (2:1). Estudos

americanos citam como raças predispostas os Maine Coons, Persas e animais de

pêlo curto (MUCHA, 2008).

Felinos machos de meia-idade parecem correr maior risco de

tromboembolismo. Os sinais clínicos manifestam-se de forma aguda, onde na

49

maioria das vezes não existe história de doença cardíaca. A trombose ilíaca é

caracterizada por início repentino de gritos ocasionados por dor. O gato pode

apresentar dispnéia aguda, respiração pela boca e as mucosas podem estar

cianóticas (FERRARI, 2005).

Um estudo de Schoeman, indicado por MUCHA (2008), mostra que em 44

gatos com TEA 75% eram machos castrados e 98% eram gatos domésticos de pelo

curto, e 23% dos casos apresentavam doença cardíaca preexistente.

Conforme indicado por MUCHA (2008), 57% dos gatos com cardiomiopatia

hipertrófica, e 17% dos gatos com cardiomiopatia restritiva, desenvolveram TEA,

principalmente devido ao aumento substancial no átrio esquerdo

6.1.3 Fisiopatologia

Embora existam diferenças claras entre a cardiomiopatia dilatada (disfunção

sistólica) e a cardiomiopatia restritiva e hipertrófica (disfunção diastólica), todas

caracterizadas por um átrio esquerdo aumentado, fazendo com que a corrente

sangüínea se densifique formando trombos intracardíacos. Isso é favorecido pela

hipercoagulabilidade, presente em felinos com doenças tromboembólicas, onde as

plaquetas são muito reativas. O coágulo sangüíneo logo atinge a circulação arterial

podendo causar obstrução parcial ou completa (MUCHA, 2008).

Os sinais clínicos vão depender do local e extensão da obstrução. O local

mais freqüente da embolização é na trifurcação aórtica distal (“em sela”), que ocorre

em 90% dos casos (LYRIO & LOPES, 2008).

De acordo com FERRARI (2005), muitos gatos com trombos em “sela”

(trombos retidos ao nível da bifurcação das artérias pulmonares (MAN & BUGALHO,

50

2009), especialmente aqueles com oclusões incompletas, readquirirão

funcionamento limitado dos membros pélvicos com tratamento mais conservador.

O trombo em “sela” também pode alojar-se em artérias mesentéricas,

ovarianas, hepáticas, esplênicas, renais, cerebrais e dos membros torácicos

(MUCHA, 2008).

O tromboembolismo da circulação renal, mesentérica ou pulmonar pode

resultar em insuficiência desses órgãos e morte. Se houver trombose renal os rins

podem ficar doloridos ou irregulares à palpação (FERRARI, 2005).

Seguido a tromboembolização, são liberadas substâncias vasoativos do

trombo, como serotonina e prostaglandina que prejudicam a circulação colateral

produzindo uma neuromiopatia isquêmica responsável da síndrome clínica

observada. Ou seja, a falha da condução nervosa, dano isquêmico das bainhas

nervosas periféricas e degeneração Walleriana (degeneração de axônios e suas

bainhas de mielina após secção do nervo (ROSA & FERREIRA, 2005) ocasionam a

disfunção nervosa periférica, e alterações também se representam no tecido

muscular associado (MUCHA, 2008).

6.1.4 Sinais Clínicos

A apresentação dos sinais clínicos com TEA, conforme MUCHA (2008),

geralmente é aguda e vão depender da localização e do grau de obstrução. Se o

TEA está localizado na aorta distal para melhor memorização dos sinais podemos

aplicar o mnemônico dos “6 p” (em inglês):

Pain (dor)

Pallor (palidez)

Paresthesia (parestesia)

51

Paralysis (paralisia)

Pulselessnes (déficit de pulso)

Poikilothermy (poiquilotermia)

De acordo com o grau de obstrução a disfunção poder ser em um ou ambos

os membros, e ser leve ou severa, isso dependerá da intensidade do problema. Na

obstrução completa é comum detectar a ausência do pulso femoral ao tato (ou

melhor ainda com o uso de um Doppler de ultrassom). Outra forma prática de

determinar a chegada de sangue aos membro pélvicos, é o corte das unhas e

observar a presença de sangramento ou não (SARRAFF-LOPES et al., 2008).

Os músculos gastrocnêmios se encontram firmes e dolorosos ao tato, devido

a miopatia isquêmica. Os sinais em membros torácicos são muito menos freqüentes

(MUCHA, 2008).

MUCHA (2008) aponta que se a embolização afetar ambos os rins ela é tida

como severa, muitas vezes podendo provocar a morte por insuficiência renal aguda,

mas podendo ser leve, afetando o parênquima renal e não apresentar sinais clínicos.

A embolização mesentérica, apesar de rara, pode estar acompanhada de diarréia

hemorrágica.

Nos casos de insuficiência cardíaca congestiva concomitante, podemos

presenciar dispnéia, taquipnéia, um sopro de regurgitação mitral secundário (em

qualquer que seja a cardiomiopatia), ritmo de galope e arritmias supra e/ou

ventriculares (LYRIO & LOPES, 2008).

6.1.5 Diagnóstico

O hemograma completo e o bioquímico sangüíneo, afirma MUCHA (2008),

podem indicar anormalidades sangüíneas como:

52

Azotemia: devido à desidratação, diminuição do débito cardíaco pela

cardiomiopatia, embolização renal ou a combinação de qualquer um

dos citados acima.

Hiperatividade de alanina aminotransferase (ALT) e da aspartato

aminotransferase (AST), devido a lesão e necrose do músculo

esquelético.

Aumento da lactato desidrogenase (LDH) e creatina fosfoquinase

(CPK) pela lesão muscular.

Hiperglicemia de estresse.

O diagnóstico geralmente é baseado na anamnese e no exame clínico,

também pode-se usar a angiografia seletiva ou não-seletiva e cintilografia nuclear. A

angiografia é requerida principalmente quando há suspeita de trombose supra-renal

(FERRARI, 2005).

Estudos de coagulação foram realizados porém não apontam dados

diagnósticos, a informação é necessária para o controle da terapia anticoagulante.

As radiografias cardíacas e pulmonares podem indicar aumento cardíaco ou

presença de edema pulmonar. O ecocardiograma e o eletrocardiograma servirão

para detectar a severidade da cardiomiopatia (MUCHA, 2008).

6.1.5.1 Diagnóstico Diferencial

Conforme MUCHA (2008) o TEA é diagnosticado com base em um bom

histórico clínico e exame físico completo. O diagnóstico diferencial inclui:

Doença neuromuscular (ruptura de disco abscesso, ou neoplasia)

Neuropatia diabética

Trauma

53

Miastenia Gravis

6.1.6 Tratamento

Com relação ao tratamento da TEA em si, MUCHA (2008) descreve que as

opções são reduzidas em relação ao uso de medicamentos que dissolvem o trombo

(trombolíticos, como a estreptoquinase). Embora também seja importante notar que

nestes casos deve-se realizar um tratamento de suporte em relação ao manejo dos

sinais de insuficiência cardíaca congestiva associados (dispnéia, taquipnéia,

taquicardia, congestão venosa, etc.), e esse se baseia no uso de oxigênio,

diuréticos, vasodilatadores e drogas que diminuam a freqüência cardíaca (beta-

bloqueadores ou bloqueadores de canais de cálcio).

ALBANESI FILHO (1998) descreve a existência na América do Norte e

Europa um recombinante de ativador tissular do plasminogênio (rt-PA). A

estreptoquinase, se trata de uma enzima bacteriana derivada do streptococus que

atua na fibrinólise, por meio da sua união ao plasminogênio e formação de plasmina,

a qual lisa o trombo. Administra-se por via IV uma dose de 90.000 UI em infusão

contínua durante a primeira hora e logo 45.000 UI/hora durante três horas ou até o

retorno do pulso. Alguns autores recomendam sua injeção diretamente sobre o

trombo por cateterização, como realizado na medicina humana para casos de infarto

do miocárdio. Em contraste, o rt-PA, é constituído por uma recombinação de DNA,

que apresenta uma grande afinidade pelo plasminogênio (encontrado na fibrina da

superfície do trombo). Também administrado por via IV.

A vantagem do uso de fibrinolíticos é a de lisar o trombo e favorecer assim a

circulação e a chegada de oxigênio aos membros afetados. A desvantagem é que é

necessário um monitoramento muito rigoroso das funções hematológicas e o outro

54

problema é o tempo desde que o trombo se instalou até que seja realizado o

tratamento fibrinolítico, porque quanto mais tempo de oclusão, maior é o risco por

reperfusão pós-lise (lesão causada pela liberação de toxinas, potássio, radicais

livres e acidemia). É por isso que o tempo ideal para a utilização de estreptoquinase

é de até oito horas pós-oclusão, sendo, portanto, fundamental o diagnóstico precoce

(MUCHA, 2008).

Conforme citado por ALBANESI FILHO (1998), alguns pesquisadores

desenvolveram técnicas cirúrgicas com a finalidade de remover o trombo, seja

embolectomia por laparoscopia ou também embolectomia por cateterismo (balão),

sendo estas técnicas complicadas e com resultados pouco satisfatórios e

apresentando um alto risco de anestésico e cirúrgico, já que geralmente a TEA é

conseqüência de uma cardiomiopatia de base. Estudos na University of California,

mostram também uma alta reincidência de trombos pós-embolectomia apesar do

uso de agentes anticoagulantes.

É certo que o tratamento da TEA baseia-se no uso de agentes fibrinolíticos e

que o uso de medicações anticoagulantes (heparina, varfarina, cumarinas, etc.) é

restrito a prevenção de novos trombos (MUCHA,2008).

Embora se conheçam os efeitos antitrombóticos e antiisquêmicos do ácido

acetilsalicílico, não existe evidência objetiva em sua eficácia no tratamento ou

profilaxia do tromboembolismo aórtico em gatos com miocardiopatia (FERRARI,

2005).

6.1.7 Prognóstico

O prognóstico vai de reservado a grave, dependendo da severidade da

paresia ou paralisia, isquemia, circulação colateral, grau de doença cardíaca e

55

muitas vezes pela paciência do proprietário diante a falta de resultados e um curto

prazo, optando pela eutanásia (MUCHA, 2008).

FERRARI (2005) aponta que muitos animais ficam com sinais de danos

nervosos periféricos residuais. A recuperação completa pode levar de 4 a 6

semanas.

Conforme ALBANESI FILHO (1998), um dado importante, é que muitos gatos

que não recebem tratamento tromboembolítico, podem recuperar definitivamente

sua função motora dos membros pélvicos em um tempo de uma a seis semanas.

Confirmando que um meticuloso tratamento de suporte muitas vezes é uma boa

opção. Demonstrou-se que o repouso e a restrição de movimento por um período de

várias semanas, em conjunto com um adequado suporte nutricional, terapia para a

dor e para a falha cardíaca congestiva (se presente), permitirá uma recuperação

gradual da funcionalidade dos membros pélvicos, o suficiente para ter uma boa

qualidade de vida. As próprias enzimas fibrinolíticas da corrente sangüínea do gato

destroem lentamente o coágulo, porem isso pode levar várias semanas e

geralmente não é a opção de eleição do proprietário.

6.2 RELATO DE CASO

Paciente: Félix (FIG. 18)

Espécie: Felina

Sexo: Macho

Raça: Persa

Idade: 3 anos

Peso: 3,2kg

56

6.2.1 Histórico

O paciente foi trazido ao HVF pelo responsável que relatava que o animal

havia perdido o movimento dos membros pélvicos no dia anterior. A suspeita inicial

da proprietária era a correlação com o fato do animal ter sido vacinado recentemente

e a administração de glicocorticóides em outro local devido a um pequena ferida na

boca.

FIGURA 18 – PACIENTE FÉLIX

FONTE: SCHIAVON, 2011

6.2.2 Exame físico

No exame físico o paciente apresentava o peso de 1kg, temperatura de

39,2ºC (normal), sinais de dor (vocalização), especialmente na região lombar,

membros pélvicos hipotérmicos imóveis e pele pálida. Notava-se as mucosas

normocoradas. Não foi detectado no exame físico possibilidade de fraturas em

coluna ou membros.

57

No exame neurológico o paciente não apresentou resposta com movimentos

reflexos, dor profunda e propriocepção negativa.

Realizado teste do corte ungueal, onde não foi observado sangramento ativo.

6.2.3 Exames complementares

Foi submetido ao estudo radiográfico de coluna e membros pélvicos não

havendo alterações radiográficas visíveis.

Realizado o exame de hemograma completo que evidenciou um aumento de

HCM (21,73pg) e CHCM (47,59g/dL) e os demais índices mostraram-se dentro dos

parâmetros tidos como normais, exceto os níveis plaquetários que indicavam

trombocitose (696mil/µl).

Nos exames bioquímicos notou-se o aumento nos índices de AST (168UI/L) e

Uréia (58mg/dL) que seria possível sugerir que houvesse degradação da

musculatura, nesse caso, cardíaca.

O exame ultrassonográfico apontou a formação de trombos aórticos nos

membros pélvicos. Confirmou-se na ecocardiografia a suspeita de cardiomiopatia

hipertrófica que predispunha o paciente ao quadro de tromboembolia aórtica.

6.2.4 Tratamento

O paciente foi submetido à internação por um período de 4 dias para

administração IV de heparina (100UI/kg) para prevenção de novos trombos e

manutenção domiciliar com estreptoquinase (70.000UI/kg inicial e 30.000UI/kg

controle associado com heparina) e ácido acetilsalicílico (1 comprimido a cada três

dias).

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O paciente manteve melhora constante até a recuperação do movimento e

circulação dos membros. Após o período de internação, obtendo alta sob a

prescrição de estreptoquinase e ácido acetilsalicílico (BID) com retorno previsto dali

uma semana a fim de reexaminar o paciente através de exames ultrassonográfico e

exames clínicos como o corte das unhas dos membro pélvicos.

Um tratamento paralelo com a finalidade de estabilizar os efeitos da

Cardiomiopatia Hipertrófica foi instaurado. O protocolo medicamentoso foi à base de

furosemida (2,2mg/kg, BID), benazepril 5mg (0,25mg/Kg, SID), atenolol

(6,25mg/gato, BID) e restrição ao sal.

6.3 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

A tromboembolia aórtica felina é uma doença que facilmente é mascarada por

seus sinais levando a um diagnóstico equivocado se não baseado em eficientes

exames complementares. A exemplo do caso clínico observado que havia a suspeita

de doença neurológica, trauma de coluna ou relação com a aplicação de vacina e

medicação.

Como confirmados no paciente do relato, a doença caracteriza-se pela

formação de um trombo (agregado plaquetário) devido a fatores como baixa de

perfusão sanguinea secundárias a cardiomiopatias (hipertrófica, restritiva ou

dilatada). Cita-se ainda as coagulopatias e doenças autoimunes. Ambas

descartadas de acordo com os exames do paciente atendido.

Como parte dos sinais comuns da doença, o paciente apresentou sinais de

dor, paralisia de membros, hipotermia de membros e coloração pálida, devido a falta

de oxigenação na região.

59

O trombo pode não causar qualquer dano, ou se causar, ainda pode ocorrer a

recuperação integral do paciente sem intervenção médica. O que diferencia do

paciente que necessitou da intervenção medicamentosa para uma melhora do

quadro clínico.

O diagnóstico definitivo é baseado na análise ultrassonográfica que localiza

os trombos. No exame ultrassonográfico observou-se interrupção de fluxo sanguíneo

arterial em alguns segmentos desde a região das ilíacas externas até artéria

femoral. Ainda do ponto de vista ultrassonográfico a tromboembolia aórtica

caracteriza-se pela presença de um trombo obstrutivo que restringe a circulação

periférica. Inicialmente o paciente citado apresentava obstrução completa que foi

apresentando melhora no decorrer do tratamento subdesenvolvendo para obstrução

parcial.

A cirurgia nesse caso não foi indicada, uma vez que somente retira o trombo,

mas não atua na causa da sua formação, poucos relatos mostram sucesso no

processo de remoção cirúrgica do trombo.

O prognóstico é de ruim a reservado, com o paciente em muitos casos não

voltando a estabelecer seu comportamento normal e apresentar danos nervosos

irreversíveis. O paciente observado apresentou melhora seguida de uma recidiva e

mantém-se em tratamento constante para a prevenção de novos trombos.

60

7 CONCLUSÃO

O estágio curricular supervisionado foi eficiente e gratificante, pois foi nesse

período em que estive em contato íntimo com a profissão de Médico Veterinário e

pude finalmente ter uma visão real de toda a bagagem a mim transmitida no

decorrer dos anos de universidade.

Desde a rotina médica comum aos procedimentos de emergência e até

mesmo a relação com o proprietário foram fundamentais para a solidificação da

minha personalidade como médico veterinário e me tornaram mais apto ao exercício

da profissão.

O estágio curricular supervisionado se mostrou uma excelente, porém breve,

inserção na vida profissional, imediatamente mostrando a necessidade de estudo

continuado assim como constante aperfeiçoamento do profissional visando o

mercado de grande demanda qualitativa.

61

8 REFERÊNCIAS

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