UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FERNANDA...
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
FERNANDA ZIER DE MOURA
Gastrite crônica e úlcera gástrica em cão – Relato de Caso
CURITIBA
2016
1
FERNANDA ZIER DE MOURA
Gastrite crônica e úlcera gástrica em cão – Relato de Caso
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao curso de Medicina
Veterinária da Universidade Tuiuti do
Paraná, como requisito parcial para
obtenção de título de graduação.
Orientadora
Profa. MSc. Fabiana S. Monti
CURITIBA
2016
2
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
REITOR
Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
Carlos Eduardo Rangel Santos
PRÓ-REITORA ACADÊMICA
Prof. Dra. Carmen Luiza da Silva
DIRETOR DE GRADUAÇÃO
Prof. Dr. João Henrique Faryniuk
COORDENADOR DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
Prof. Dr. Welington Hartmann
COORDENADOR DE ESTÁGIO CURRICULAR
Prof. Dr. Welington Hartmann
3
TERMO DE APROVAÇÃO
FERNANDA ZIER DE MOURA
Gastrite crônica e úlcera gástrica em cão – Relato de Caso
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do
título de Médica Veterinária pela Comissão Examinadora do Curso de Medicina
Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus pela vida e capacidade de concluir essa
graduação, através desse trabalho de conclusão de curso.
Agradeço minha mãe Rosemary Zier e meu padrinho Oscar Roberto
Zier, por tornarem possível a realização desta graduação.
Agradeço minha irmã Marina Zier e ao meu noivo Guilherme Meucci por
todo o apoio e paciência.
Agradeço aos amigos, principalmente a Bianca Terçariol e a Ketelin
Grein que me acompanharam nessa caminhada e me ajudaram no meu
crescimento pessoal, acadêmico e profissional.
Agradeço aos médicos Veterinários Gilson Frentzlaff, Gustavo Zemke,
Cleiton Zemke, Elisa Fischer por todo o conhecimento compartilhado durante a
realização do estágio final. E a médica veterinária Daniela Borges pelo suporte
nos exames de imagem.
Agradeço a minha professora orientadora Fabiana Monti, por aceitar me
orientar em um dos momentos mais importantes na minha formação
profissional.
Por fim, agradeço meus filhos de quatro patas e todos os meus animais
resgatados, eles foram o motivo do início dessa caminhada e apesar de alguns
terem partido antes da conclusão do curso, sempre serão lembrados com muito
amor.
5
RESUMO
A gastrite é uma doença comum em pequenos animais, ocorrendo com
frequência na clínica em medicina veterinária. As principais causas de doenças
gástricas envolvem hábitos indiscriminados na dieta, hipersensibilidade
alimentar, presença de parasitas, infiltrado linfoplasmocitário doenças
sistêmicas, doenças virais, substâncias corrosivas, predisposição racial e
administração de fármacos como anti-inflamatórios e antibióticos. As
gastropatias mais relatadas são as úlceras gástricas, gastrite aguda e crônica,
corpo estranho, neoplasia gástrica e dilatação vólvulo gástrica O diagnóstico
envolve histórico, exame físico e principalmenteexames complementares como
radiografia, ultrassonografia e endoscopia, muitas vezes necessários para
conclusão diagnóstica. Os sinais clínicos mais comuns incluem anorexia, perda
de peso e principalmente vômito agudo ou crônico. O tratamento pode ser
clínico por meio de fluidoterapia, antiácidos, protetores da mucosa gástrica,
antieméticos, antibióticos, ou ainda cirúrgico,em casos de neoplasia, corpo
estranho e dilatação vólvulo gástrica. Em geral, o prognóstico é bom no caso
de úlceras, gastrites e corpo estranho e reservado em casos de neoplasia e
dilatação vólvulo gástrica. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso
clínico de gastrite crônica e úlcera gástrica em um cão.
Palavras – chave: Gastropatias, vômito,estômago
6
ABSTRACT
The gastritis is a common disease in small animals frequently occurring in
clinical veterinary medicine. The major causes of gastric diseases involving
indiscriminate dietary habits, food hypersensitivity, the presence of parasites,
lymphoplasmacytic infiltrate systemic diseases, viral diseases, corrosive
substances, breed predisposition and administration of drugs as anti-
inflammatories and antibiotics. The most frequently reported gastropathies are
gastric ulcers, acute and chronic gastritis, foreign body, gastric neoplasia and
gastric volvulus dilatation Diagnosis involves history, physical examination and
additional tests mainly as radiography, ultrasound and endoscopy, often
required for diagnostic conclusion. The most common clinical signs include
anorexia, weight loss and especially acute or chronic vomiting. The clinical
treatment can be by means of fluid, antacids, gastric mucosa protectors,
antiemetics, antibiotics, or surgery in cases of neoplasms, foreign bodies and
gastric dilation volvulus. In general, the prognosis is good in the case of ulcers,
gastritis and foreign body and reserved in cases of cancer and gastric volvulus
dilatation. This work aims to report a case of chronic gastritis and gastric ulcer
in a dog.
Keywords - Gastropathies, vomit, stomach
7
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Recepção da Clínica Veterinária 4 Patas .................................... 13
FIGURA 2 - Consultório 1 da Clínica Veterinária 4 Patas ................................ 14
FIGURA 3 - Consultório 2 da Clinica Veterinária 4 Patas ................................ 15
FIGURA 4 - Sala de radiologia Clinica Veterinária 4 Patas .............................. 15
FIGURA 5 - Sala de exames laboratoriais Clínica Veterinária 4 Patas ............ 16
FIGURA 6 - Internamento Clínica Veterinária 4 Patas ..................................... 16
FIGURA 7 - Centro cirúrgico Clínica Veterinária 4 Patas ................................. 17
FIGURA 8 - Regiões anatômicas do estômago de monogástricos .................. 24
FIGURA 9 - Ilustração anatômica da glândula do corpo do estômago com seus
tipos celulares característicos .......................................................................... 25
FIGURA 10 - Imagem ultrassonográfica evidenciando espessura de parede de
estômago e perda de estratificação parietal, de cão, macho, Fila Brasileiro, com
idade de três anos e onze meses, com histórico crônico de êmese e dilatação
abdominal. ........................................................................................................ 39
FIGURA 11 - Imagem ultrassonográfica evidenciando espessamento de parede
gástrica, medindo 1,77 cm, com presença de gás na luz do estômago, de cão,
macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e onze meses, com histórico
crônico de êmese e dilatação abdominal. ....................................................... 40
FIGURA 12 - Imagem ultrassonográfica evidenciando espessamento e perda
de estratifcação da parede estomacal, com hiperecogenicidade tecidual
adjacente, de cão, macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e onze
meses, com histórico crônico de êmese e dilatação abdominal. ...................... 41
FIGURA 13 - Imagem ultrassonográfica evidenciando perda de estratificação
de parede estomacal e diminuição de ecogenicidade de cão, macho, Fila
Brasileiro, com idade de três anos e onze meses, com histórico crônico de
êmese e dilatação abdominal. ......................................................................... 42
FIGURA 14 - Imagem ultrassonográfica indicando linfonodo reativo em região
hipogástrica esquerda, de cão, macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e
onze meses, com histórico crônico de êmese e dilatação abdominal. ............ 43
FIGURA 15 - Área mucosa lesada do estômago com presença de úlcera, em
cão, macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e onze meses, com
histórico crônico de êmese e dilatação abdominal. ......................................... 44
FIGURA 16 - Fragmento retirado por gastrotomia, com mucosa esbranquiçada
e presença de úlcera, em cão, macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e
onze meses, com histórico crônico de êmese e dilatação abdominal. ............ 45
8
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Quantidade de cães e gatos atendidos na Clinica Veterinária 4
Patas no período de 15/02/2016 á 18/05/2016 . Error! Bookmark not defined.8
GRÁFICO 2 - Quantidade de fêmeas e machos dentre os cães atendidos na
Clinica Veterinária 4 Patas no período de 15/02/2016 á 18/05/2016 ......... Error!
Bookmark not defined.9
GRÁFICO 3 - Quantidade de filhotes e adultos, acima de 1 ano de idade,
dentre os cães atendidos na Clinica Veterinária 4 Patas no período de
15/02/2016 á 18/05/2016 .................................. Error! Bookmark not defined.9
GRÁFICO 4 - Quantidade de machos e fêmeas, dentre os gatos atendidos na
Clinica Veterinária 4 Patas no período de 15/02/2016 á 18/05/2016 ............... 20
GRÁFICO 5 - Quantidade de filhotes e adultos, dentre os gatos atendidos na
Clinica Veterinária 4 Patas no período de 15/02/2016 á 18/05/2016 ............... 20
9
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Afecções e especialidades acompanhadas em cães e gatos,
durante o período de estágio..... ................................................................... ....21
10
LISTA DE ABREVIATURAS
AINES: Antiinflamatórios não esteroidais
BID: A cada doze horas
DVG: Dilatação vólvulo gástrica
FC: Frequencia cardíaca
FR: Frequência respiratória
I V: Intravenosa
KG: Quilo
MG: miligrama
OSH: Ovariosalpingohisterectomia
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12
2 DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO E DA UNIDADE CEDENTE ............................. 13
3 CASUÍSTICA ................................................................................................. 18
4 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 23
4.1 ANATOMIA DO ESTÔMAGO DE MONOGÁSTRICOS.............................. 23
4.2 FISIOLOGIA DA MUCOSA GÁSTRICA ..................................................... 24
4.3 PRINCIPAIS GASTROPATIAS .................................................................. 26
4.3.1 GASTRITE AGUDA ............................................................................. 26
4.3.2 GASTRITE CRÔNICA .......................................................................... 27
4.4 ÚLCERA GÁSTRICA ................................................................................. 29
4.5 CORPO ESTRANHO ................................................................................. 30
4.6 DILATAÇÃO VÔLVULO GÁSTRICA (DVG) ............................................... 31
4.7 NEOPLASIA GÁSTRICA ............................................................................ 31
4.8 METODOS DIAGNÓSTICOS DAS GASTROPATIAS ................................ 32
4.9 TRATAMENTO ........................................................................................... 34
4.9.1 TRATAMENTO CLÍNICO ..................................................................... 34
4.9.1.1 Fluidoterapia ..................................................................................... 34
4.9.1.2 Antieméticos ...................................................................................... 34
4.9.1.3 Protetores gástricos .......................................................................... 35
4.9.1.4 Dieta .................................................................................................. 36
4.9.1.5 Outras terapias .................................................................................. 36
5 RELATO DE CASO ....................................................................................... 38
6 DISCUSSÃO ................................................................................................. 46
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 48
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 49
12
1 INTRODUÇÃO
As manifestações clínicas associadas ao sistema digestório são
frequentes na medicina veterinária. Os sinais clínicos mais comuns, que
permitem a suspeita de doença gastrintestinal são vômito, anorexia, perda de
peso e diarreia, sendo o vômito o sinal mais frequente (SILVA, et. Al., 2013). A
gastrite é uma doença comum em cães, sendo diagnosticada em 35% dos
animais com histórico de vômito crônico, e em 26 a 48% de cães
assintomáticos afetados (SIMPSON, 2006).
As doenças gástricas estão relacionadas ao desenvolvimento de
gastrites agudas e crônicas e, em alguns casos, úlceras. Dentre as causas
citam-se alimentação indiscriminada; hipersensibilidade alimentar aos
componentes da dieta; doenças metabólicas; ingestão/presença de corpos
estranhos e torção/vôlvulo gástrico. Quando há presença de doença gástrica
crônica o manejo da mesma se torna mais difícil, devido as várias possíveis
causas e dificuldade diagnóstica (GERMAN, A.J.; ZENTEK, J., 2008).
Este trabalho tem como objetivo destacar as principais gastropatias, sua
etiologia, formas de diagnóstico e tratamento, além de relatar um caso clínico
de gastrite crônica proliferativa, associada à úlcera gástrica.
13
2 DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO E DA UNIDADE CEDENTE
O estágio curricular foi realizado na Clínica Veterinária Quatro Patas,
nas áreas de clínica médica, clínica cirúrgica e intensivismo, no período de 15
de fevereiro a 13 de maio de 2016, de segunda a sexta-feira, das 13h30 às
19h30. O estágio teve como orientadora acadêmica a professora Fabiana Monti
e como orientador profissional o Médico Veterinário Gilson Frentzlaff.
A Clínica Veterinária Quatro patas possui atendimento veterinário com
profissionais na área de clínica geral e também nas áreas específicas de
ortopedia, dermatologia e neurologia, com internamento, laboratório para
exames de rotina e centro cirúrgico para procedimentos. Durante o estágio foi
possível acompanhar a rotina de atendimento ambulatorial, exames de
imagem, cirurgias e os pacientes internados.
A estrutura da clínica consiste em recepção (FIGURA1), consultório 1
(FIGURA 2), consultório 2 (FIGURA 3), sala de radiologia (FIGURA 4), sala de
exames laboratoriais (FIGURA 5), internamento (FIGURA 6) e centro cirúrgico
(FIGURA7).
FIGURA 1 - Recepção da Clínica Veterinária 4 Patas
14
FIGURA 2 - Consultório 1 da Clínica Veterinária 4 Patas
15
FIGURA 3 - Consultório 2 da Clinica Veterinária 4 Patas
FIGURA 4 - Sala de radiologia Clinica Veterinária 4 Patas
16
FIGURA 5 - Sala de exames laboratoriais Clínica Veterinária 4 Patas
FIGURA 6 - Internamento Clínica Veterinária 4 Patas
17
FIGURA 7 - Centro cirúrgico Clínica Veterinária 4 Patas
18
3 CASUÍSTICA
No período de estágio, realizado de 15/02/2016 á 18/05/2016, foi
possível acompanhar um total de 269 casos clínicos. Destes, 229 foram de
cães e 40 de gatos (GRÁFICO1). Dentre os cães,foram atendidos 123 fêmeas
e 106 machos. (GRÁFICO2), sendo 37 filhotes e 192 adultos (GRÁFICO3). De
todos os gatos acompanhados, 26 eram machos e 14 fêmeas (GRÁFICO4),
sendo 15 filhotes e 25 adultos (GRÁFICO5). Portanto, o maior número de
atendimentos foi de cães, fêmeas, adultas.
GRÁFICO 1: Quantidade de cães e gatos atendidos na Clinica Veterinária 4
Patas no período de 15/02/2016 á 18/05/2016
CÃES (85,13%)
GATOS (14,87%)
19
GRÁFICO 2: Quantidade de fêmeas e machos dentre os cães atendidos na
Clinica Veterinária 4 Patas no período de 15/02/2016 á 18/05/2016
GRÁFICO 3: Quantidade de filhotes e adultos, acima de 1 ano de idade, dentre
os cães atendidos na Clinica Veterinária 4 Patas no período de 15/02/2016 á
18/05/2016
FÊMEAS (53,71 %)
MACHOS (46,29 %)
FILHOTES (16,16%)
ADULTOS (83,84%)
20
GRÁFICO 4: Quantidade de machos e fêmeas, dentre os gatos atendidos na
Clinica Veterinária 4 Patas no período de 15/02/2016 á 18/05/2016
GRÁFICO 5: Quantidade de filhotes e adultos, acima de 1 ano de idade, dentre
os gatos atendidos na Clinica Veterinária 4 Patas no período de 15/02/2016 á
18/05/2016
Notou-se que a quantidade de cães foi muito maior do que a quantidade
de gatos. Não houve diferença significativa na quantidade de machos e fêmeas
atendidos dentre os cães, porém dentre os gatos houve mais atendimento de
machos. Dentre os cães a quantidade de adultos atendidos foi maior, assim
como dentre os gatos.
FÊMEAS (35%)
MACHOS (65%)
FILHOTES (37,5%)
ADULTOS (62,5%)
21
Afecções acompanhadas, do número total de animais estão divididas em
sistemas, conforme Tabela 1.
TABELA 1: Afecções e especialidades acompanhadas em cães e gatos,
durante o período de estágio.
AFECÇÕES/ESPECIALIDADES CÃES GATOS
Gastrenterologia 44 7
Ortopedia 34 6
Dermatologia 30 1
Cirurgias eletivas 29 3
Traumatologia 14 3
Neurologia 14 0
Odontologia 12 1
Nefrologia 11 4
Cardiologia 8 0
Oncologia 8 2
Oftalmologia 7 0
Urologia 7 8
Toxicologia 6 5
Pneumologia 3 0
As especialidades mais atendidas, conforme Tabela 6 foram as que
envolvem a gastroenterologia, cirurgias eletivas, ortopedia e dermatologia.
Dentro da gastroenterologia destacam-se as gastrites, agudas, crônicas
e acompanhadas de úlcera gástrica, causadas pelo uso de AINES, de origem
alimentar ou causas não definidas. Colites e presença de corpos estranhos
também se destacam com maior casuística.
22
Na ortopedia os cães atendidos apresentavam, em sua maioria, fraturas
de fêmur, displasia coxofemural e ruptura do ligamento cruzado.
Dentre as cirurgias eletivas, a maior casuística em cães e gatos foi OSH
e orquiectomia.
Dentre os gatos a urologia se destaca com casos de obstrução urinária e
cistite, seguido da gastroenterologia com casos de gastroenterite e corpo
estranho.
23
4 REVISÃO DE LITERATURA
4.1 ANATOMIA DO ESTÔMAGO DE MONOGÁSTRICOS
O estômago é um órgão de formato piriforme e irregular que fica
posicionado transversalmente á cavidade abdominal, caudal ao fígado e
adjacente ao baço (SILVA, et.al., 2013). Sua curvatura maior volta-se para a
esquerda e a curvatura menor para a direita. Ele consiste de cinco partes
principais anatômicas: o cárdia, o corpo, fundo, antro e piloro(FIGURA 8). O
cárdia se conecta ao esôfago; o fundo está localizado á esquerda e dorsal ao
cárdia; o corpo é a porção média maior do órgão e o antro e o piloro unem o
corpo gástrico ao duodeno (HALL, 2005)
A estrutura da parede do estômago é dividida em mucosa, submucosa,
camada muscular e peritônio. A mucosa próxima ao esôfago é aglandular,
enquanto a glandular reveste o restante do estômago, formando pregas. A
submucosa é uma camada delgada e contém veias, nervos gástricos, tecido
adiposo, tecido linfático e fibras colágenas e elásticas. A camada muscular é
formada de músculo liso e responsável pela digestão mecânica. O peritônio é
composto pela serosa visceral, que recobre todo o órgão e se adere ao
músculo subjacente, pela serosa conjuntiva e serosa parietal (KONIG;
LIEBICH, 2011).
A artéria gástrica, na curvatura menor e a artéria epiplóica na curvatura
maior, derivam das artérias esplênica e celíaca, e são responsáveis pela
irrigação do estômago (FOSSUM, 2014).
24
FIGURA 8 - Regiões anatômicas do estômago de monogástricos
Fonte:Eyng, 2015.
4.2 FISIOLOGIA DA MUCOSA GÁSTRICA
A mucosa gástrica possui uma barreira de defesa contra bactérias e
ácidos, composta por secreções, células e fluxo sanguíneo. As secreções
normais do sistema digestório incluem ácido, muco e bicarbonato, sendo o
epitélio estomacal o responsável por não permitir que esses componentes
agridam o estômago através de reparação, quando ocorre alguma injúria
(WEBB, C., TWEDT, D.C., 2003).
A área do estômago, em sua maioria, é coberta por células mucosas de
superfície, que produzem muco, uma secreção espessa responsável pela
proteção do epitélio estomacal. Cada região da mucosa possui glândulas com
diferentes funções, conforme seus tipos celulares (FIGURA 9). Na porção
parietal, as células são responsáveis pela secreção de ácido clorídrico (HCL).
Ainda nessa porção, no colo das glândulas, existem as células mucosas que
secretam um muco mais fino e, além da função secretória, são chamadas de
células progenitoras da mucosa, por serem as únicas capazes de divisão.
Estas células, quando se dividem, migram e se diferenciam em qualquer uma
25
das células maduras das superfícies e glândulas gástricas. Na base das
glândulas gástricas, ainda encontram-se as células principais, responsáveis
pela secreção de pepsinogênio, que é o precursor da enzima digestiva pepsina.
Na porção cardíaca e pilórica as glândulas são semelhantes em estrutura com
as da porção parietal, mas contém tipos celulares diferentes, sendo as
glândulas cardíacas responsáveis pela secreção do muco alcalino e as
pilóricas produtoras de gastrina (HERDT, 2008).
FIGURA 9 - Ilustração anatômica da glândula do corpo do estômago com seus tipos celulares característicos
Fonte: Hall, 2005
Além da secreção de muco, a barreira mucosa gástrica ainda conta com
a secreção de bicarbonato, que alcaniliza o gel mucoso viscoelástico e confere
a primeira linha de defesa contra o ácido luminal. A barreira ainda depende da
manutenção correta do fluxo sanguíneo da mucosa; quando há exposição da
mucosa ao ácido, ocorre hiperemia reativa que, reflete em um mecanismo de
defesa vascular, onde através do aumento do fluxo, ocorre aumento do
bicarbonato plasmático e consequente remoção de produtos nocivos como o
ácido e mediadores inflamatórios (HALL, 2005).
26
Um fator não menos importante na proteção da mucosa é a rápida taxa
de renovação do tecido epitelial gástrico, que ocorre normalmente a cada dois
a quatro dias, porém, quando há alguma agressão ao epitélio, a renovação
ocorre através de um mecanismo de reparo que age em 15 a 30 minutos após
a injúria. Esse reparo ocorre por meio de células epiteliais saudáveis ao redor
da lesão que se expandem e recobrem a área atingida, impedindo o
agravamento da mesma, até a ocorrência de um novo ciclo de renovação
epitelial (ARAÚJO; BLAZQUEZ, 2007).
A mucosa recebe cerca de 70% do fluxo de sangue para manter as
barreiras protetoras e funções digestivas do estômago e esse fluxo é suportado
pelas prostaglandinas, que, aumentam a produção de muco e bicarbonato
(PARRAH et. al., 2013). Além de aumentar a produção destes dois
componentes, as prostaglandinas sintetizadas pela mucosa gástrica (PGE²,
PGF², e prostraciclina) previnem o rompimento da barreira mucosa, estimulam
a secreção de células não-parietais, estabilizam lisossomas teciduais,
estimulam processos de transporte celular, estimulam fosfolipídios ativos da
superfície, estimulam a síntese de macromoléculas e ainda modulam a
atividade e muitos imunócitos, incluindo macrófagos e mastócitos, sendo
assim, as prostaglandinasde extrema importância para a barreira mucosa
(HALL, 2005).
4.3 PRINCIPAIS GASTROPATIAS
4.3.1 GASTRITE AGUDA
A gastrite aguda é a inflamação e lesão da mucosa gástrica, que ocorre
em resposta á uma agressão (HALL, 2005). Ela é definida como uma síndrome
clínica e não como doença específica e pode ser multifatorial, normalmente
relacionada á intolerâncias e indiscrições alimentares, ingestão de corpos
estranhos e uso de antibióticos e antiinflamatórios (COSTA, 2014).
Os cães são mais acometidos pela gastrite do que os gatos, pela sua
baixa discriminação nos hábitos alimentares. O sinal clínico mais comum é o
vômito, que pode estar acompanhado ou não da presença de pequena
27
quantidade de sangue. Os animais mostram desinteresse por alimento e
podem manifestar mal-estar, sendo raras manifestações de febre e dor
abdominal (NELSON; COUTO, 2014).
Uma das maiores causas de gastrite em animais é o uso de anti-
inflamatórios não esteroidais (AINES). Cães e gatos são muito susceptíveis aos
efeitos dos AINES devido á sua alta taxa de absorção gastrintestinal, ao
extenso ciclo êntero-hepático e aumento da meia vida das drogas, quando
comparado á outras espécies. Os AINES possuem efeitos sobre a mucosa
gástrica inibindo a síntese de prostaglandinas endógenas. Isto leva á redução
da secreção do muco e bicarbonato e compromete a restituição celular e fluxo
sanguíneo, tendo como consequência a propensão á isquemia e injúrias
epiteliais. O fluxo da mucosa alterado impossibilita a remoção de toxinas e
produtos bacterianos, o que aumenta a susceptibilidade da mucosa á agentes
lesivos (ARAÚJO; BLAZQUEZ, 2007).
A ingestão de substâncias corrosivas e cáusticas também deve ser
levada em consideração, devido a grande ocorrência e gravidade dos casos.
Essas substâncias levam a destruição dos tecidos através de reação de
liquefação ou coagulação e, na fase aguda, provoca edema e inflamação que
pode levar á hemorragias, perfuração gastrintestinal, broncopneumonia, dor e
estenose cicatricial (CARANDINA et. al., 2011).
Outras causas de gastrite aguda são relatadas. Infecções virais como o
parvovírus canino, a panleucopenia felina e a cinomose podem causar lesões
gástricas; e também algumas desordens sistêmicas como uremia, doença
hepática, doença neurológica, choque, estresse e sepse, que resultam em
alteração da barreira mucosa gástrica por modificação do fluxo sanguíneo ou
da secreção de ácido clorídrico. Parasitas estomacais são incomuns, sendo
relatados os da espécie Physaloptera spp. em cães e gatos, mas nem sempre
a infecção está associada aos sinais clínicos de gastrite (JOHNSON;
SHERDING; BRIGHT, 2006).
4.3.2 GASTRITE CRÔNICA
28
A gastrite crônica pode ser classificada em linfocítica, plasmocítica,
eosinofílica, granulomatosa ou atrófica (NELSON; COUTO, 2014). Sua
classificação se baseia no tipo de infiltrado celular predominante, área da
mucosa acometida, gravidade da inflamação, espessura da mucosa e
topografia, sendo a mais comum a que possui infiltrado linfocítico-plasmocitário
(HALL, 2005).
Achados histopatológicos dificilmente revelam a etiologia, porém,
quando há predomínio de linfócitos e plasmócitos, sugere-se uma gastrite
crônica imunomediada. Esta pode resultar em uma gastrite atrófica e/ou
fibrosante que causa perda da capacidade secretora gástrica (BASSO, et.al.,
2007). As alterações glandulares, como a hiperplasia das glândulas gástricas,
que podem ser encontradas na gastrite crônica imunomediada, também podem
resultar em gastrite hipertrófica, caracterizada pelo espessamento das pregas
gástricas (ZACHARY; McGAVIN; 2012).
A gastrite eosinofílica é uma condição rara, de etiologia desconhecida,
causada pela infiltração de eosinófilos. Apesar da causa não ser
específica,sugere-se estar relacionada à hipersensibilidades alimentares, e/ou
migração de parasitas como Ancylostomacaninum, Ascaris lumbricoides,
Trichuristrichiura e Toxocara canis (LAISSE, et. al., 2016). Um aumento
variável do número de linfócitos, neutrófilos e células plasmáticas também pode
associar-se ao aumento de eosinófilos. Nos cães, a gastrite eosinofílica pode
ocorrer de duas maneiras: como infiltrado difuso de eosinófilos ou como lesões
eosinofílicas granulomatosas, únicas ou múltiplas, na mucosa gástrica e
submucosa (JOHNSON; SHERDING; BRIGHT, 2006).
A bactéria do gênero Helicobacter sp. também é estudada como causa
de gastrite crônica.É encontrada no estômago dos animais domésticos, assim
como no de humanos, sendo a espécie H. pylori a relacionada a gastrite, úlcera
péptica, adenocarcinomas e linfoma gástrico nessa última espécie. A presença
de infiltrado celular inflamatório, compatível com gastrite crônica discreta, tem
sido um achado comum em cães, porém não está necessariamente associado
á presença de Helicobacter (TEKEMURA, 2007).
29
Moutinho ET. AL., 2007 complementa em seu estudo que:
“Independente da região avaliada, não houve associação estatística
entre a gravidade das alterações macroscópicas e a presença de
helicobactérias”.
4.4 ÚLCERA GÁSTRICA
Erosões são lesões superficiais que atingem a mucosa gástrica. Quando
a lesão atinge a camada muscular da mucosa e/ou camadas mais internas é
chamada de úlcera. A úlcera gástrica ocorre quando há falha na proteção da
mucosa estomacal, concomitantemente a fatores agressivos, sejam eles
endógenos ou exógenos. Devido a falha da barreira, os fatores agressivos
atingem a mucosa, causando lesão superficial, chamada gastrite, que pode
evoluir para erosões maiores, para úlceras e até levar á perfuração da parede
estomacal (COSTA, 2014).
A úlcera gástrica pode acometer animais jovens e adultos, mas uma alta
porcentagem é identificada em animais idosos e também em cães atletas,
segundo estudos endoscópicos, que apresentaram uma incidência de 48,5%
de presença de úlcera gástrica nestes animais (PARRAH et.al., 2013).
Cães com mastocitoma, e em menor proporção com gastrinoma,
também são propensos ao desenvolvimento de úlcera, pois o estímulo da
histamina liberado pelos mastócitos neoplásicos, nos receptores H2 das células
gástricas, provoca excessiva secreção de acido clorídrico no estômago,
podendo levar ao aparecimento de erosões e úlceras da mucosa (OLIVEIRA,
et.al.; 2013).
Segundo Hall (2005): “a ulceração ou erosão gástrica pode resultar de
qualquer um dos agentes que causam gastrite aguda ou crônica”. Outros
fatores como o uso de glicocorticóides, pode contribuir para a erosão da
mucosa e, quando combinados á outros fatores de risco, como o uso de
AINES, podem levar á ulceração. Doença hepática e insuficiência renal são
frequentemente associadas á formação de úlcera gástrica devido ao
comprometimento do fluxo sanguíneo em ambas as enfermidades. Neoplasia
pancreática também pode levar á ulceração da mucosa estomacal, pois o
30
mesmo causa hipersecreção gástrica (JOHNSON; SHERDING; BRIGHT,
2006).
Como consequência da úlcera gástrica pode haver perfuração e
desenvolvimento de peritonite, com acúmulo de líquido séptico abdominal
(COSTA, 2014). Caso haja suspeita de perfuração, uma abdominocentese
pode ser realizada e amostras de líquido podem ser enviadas para cultura e
antibiograma e citologia (JOHNSON; SHERDING; BRIGHT, 2006).
4.5 CORPO ESTRANHO
Corpos estranhos gástricos são definidos como objetos ingeridos que
não podem ser digeridos (CARVALHO, et. al., 2012) e são comumente
encontrados na prática da clínica veterinária. Queixas e sinais clínicos variam
conforme a localização e tempo de permanência do corpo estranho. Corpos
estranhos na porção gástrica são mais comuns do que esofágicos, porém,
como possuem uma maior facilidade de serem eliminados através do restante
do trato gastrintestinal, os mesmos não são muito relatados. Podem
permanecer até meses no estômago sem a presença de sinais clínicos, exceto
se causarem alguma obstrução ou irritação da mucosa (BONFÁ, COSTA e
HAGE, 2007).
A ingestão de corpos estranhos é mais comum no cão do que no gato
devido aos seus hábitos não discriminados de ingestão. Os objetos mais
frequentemente encontrados são agulhas, moedas, plástico, pedras, pano,
bolas de borracha e pequenos brinquedos (JOHNSON; SHERDING; BRIGHT,
2006).
A remoção de corpo estranho pode ser realizada através da indução do
vômito, caso o tamanho e forma do objeto não cause problemas pela ejeção
forçada. Essa indução pode ser realizada através da administração de morfina,
peróxido de hidrogênio ou xilazina em gatos (NELSON; COUTO, 2014).
31
4.6 DILATAÇÃO VÔLVULO GÁSTRICA (DVG)
A dilatação repentina do estômago, seguida ou associada à sua torção,
é considerada uma condição grave, que requer tratamento emergencial e está
relacionada a altos níveis de mortalidade em cães (SILVA et. al, 2012). Os
fatores de risco para a DVG incluem cães de raça grande e gigante, com tórax
profundo e estreito, e ainda, cães com meia idade ou idosos (HALL, 2005).
Outros fatores ainda podem ser considerados, como exercício pós-prandial,
ingestão de grande volume alimentar subitamente, aumento na produção ou
ingestão de gás, composição alimentar e comportamento (SILVA et. al, 2012).
Quando ocorre a dilatação concomitantemente à torção, o fluxo gástrico
pode sofrer obstrução, resultando na distensão gasosa, pois quando o
estômago gira, o piloro e duodeno movem-se ventralmente e ficam
posicionados sobre a cárdia, do lado esquerdo. Junto á essa condição pode
ocorrer torção esplênica, deslocando o baço para a porção ventral direita do
abdômen, resultando em obstrução de veias porta e cava superior, diminuindo
o débito cardíaco e levando ao choque hipovolêmico. O fluxo sanguíneo no
estômago também diminui, causando necrose de parede gástrica (NELSON,
COUTO, 2014).
Quando ocorre a correção cirúrgica da torção na DVG, uma das
complicações pós-operatórias é a lesão da mucosa gástrica, causando edema,
ulceração e até perfuração da parede gástrica. As causas não são definidas
mas estão supostamente ligadas á lesão isquêmica por reperfusão (SILVA et.
al, 2012).
4.7 NEOPLASIA GÁSTRICA
A incidência neoplásica gástrica em cães e gatos é considerada baixa e
contribui para apenas 1% de todas as causas de distúrbios gástricos. Alguns
exemplos de tumores benignos encontrados são os pólipos e leiomiomas e,
como malignos, são citados os linfossarcomas, leiomiossarcomas,
fibrossarcomas, plasmocitomasextramedulares e os adenocarcinomas(HALL,
2005) O adenocarcinoma é descrito como o principal tumor gástrico maligno
32
encontrado em cães, aparecendo como uma massa com ulceração central ou
como infiltração difusa na parede gástrica. Nos gatos a prevalência é do
linfossarcoma que também pode ocorrer de maneira difusa pela parede
gástrica ou em forma de massa com ulceração. (KEALY, MCALLISTER,
GRAHAM, 2012).Weinert et.al, (2013) citam o adenocarcinoma gástrico como
responsável por 42 a 72% dos casos de neoplasias em cães, sendo mais
comum sua ocorrência em cães machos de meia idade. Adenocarcinomas são
encontrados com maior frequência nas áreas do antro e piloro, próximo da
curvatura menor. Podem ser lesões difusas, expansíveis, com ulceração
central ou polipoides e quase sempre possuem aspecto cirroso com a túnica
serosa de consistência firme e esbranquiçada, devido ao conteúdo de tecido
conjuntivo fibroso (HALL, 2005).
Dentre as neoplasias benignas, os pólipos ocorrem com maior
frequência e podem ser responsáveis por gastrite crônica em alguns casos.
Normalmente permanecem assintomáticos, exceto se forem responsáveis por
alguma obstrução pilórica, mas em sua maioria são achados acidentais. Os
leiomiomas se originam dos músculos da parede gástrica e também são
assintomáticos, exceto se causarem obstrução (JOHNSON; SHERDING;
BRIGHT, 2006).
4.8 METODOS DIAGNÓSTICOS DAS GASTROPATIAS
O diagnóstico das gastropatias pode ser obtido por meio do exame
clínico, histórico e exames de imagem. As manifestações clínicas mais comuns
são êmese, anorexia e perda de peso (SILVA, et.al., 2013). O histórico de
ingestão de anti-inflamatórios não esteroidais deve ser levado em
consideração, assim como ingestão de toxinas ou a presença de outras
doenças sistêmicas (PARRAH et. al., 2013).
Exames laboratoriais podem auxiliar no diagnóstico de gastropatias
como a úlcera. Em caso de sangramento pode ocorrer anemia regenerativa,
normalmente acompanhada de hipoproteinemia. Neutrofilia pode estar
presente em inflamações graves e úlceras perfurantes. Exames como o
hemograma, bioquímicos e urinálise também auxiliam na exclusão de outras
33
doenças quando há histórico de vômito (JOHNSON; SHERDING; BRIGHT,
2006).
A radiografia abdominal é um método utilizado para auxílio no
diagnóstico das epigastralgias, mas não é eficiente quando se trata de gastrite
e úlcera (PARRAH et. al., 2013). Segundo Bonfá, et. al., 2007: “a radiografia é
o meio mais comum de diagnóstico de corpos estranhos, sendo
frequentemente necessária a contrastada, para evidenciar corpos estranhos
radiotransparentes”.
A radiografia abdominal é muito utilizada para diagnósticos de DVG e os
achados radiológicos incluem estômago distendido, com grande presença de
gás, deslocamento do piloro para a esquerda, compartimentalização do
estômago na lateral e esplenomegalia (JOHNSON; SHERDING; BRIGHT,
2006).
A ultrassonografia é um método não invasivo muito utilizado para
diagnóstico de afecções gástricas. Na presença de úlcera é possível a
observação de espessamento da parede gástrica, perda da estrutura da parede
gástrica, fossas com acúmulo de líquido ou diminuição da motilidade (PARRAH
et. al., 2013). Corpos estranhos podem ser observados através da
ultrassonografia, como uma interface ecogênica brilhante, seguida de um
sombreamento acústico, porém, nem todos os corpos estranhos são facilmente
vistos no exame, a não ser que ocasionem obstrução completa ou parcial e
acúmulo de fluido (SILVA, et.al., 2013). A ultrassonografia é um método muito
utilizado quando há histórico de vômito crônico e Leib et.al (2010), através de
seu estudo,demonstraram que a ultrassonogafia abdominal não contribuiu
substancialmente para o diagnóstico da causa de vômito em 68,5% dos cães
estudados, porém foi fundamental para o diagnóstico de 22,5% dos casos,
sendo assim considerada de importância diagnóstica.
A endoscopia facilita o diagnóstico de animais com histórico de vômito
crônico, diarreia e perda de peso, pois, através dela, é possível uma
exploração rápida da mucosa gastrintestinal, assim como uma biópsia da
mesma (NELSON; COUTO, 2014). Em casos de neoplasia, a endoscopia
34
também é indicada e permite a obtenção de uma amostra tecidual para
realização do exame histopatológico. A endoscopia é útil para a confirmação da
suspeita de corpo estanho e sua remoção. Por isso é preferível em
comparação a radiografia contrastada, embora seja um procedimento que
necessite de anestesia geral (JOHNSON; SHERDING; BRIGHT, 2006).
A laparotomia exploratória, além de indicada como forma diagnóstica de
úlcera, é útil para avaliação de outros órgãos abdominais como o pâncreas no
caso de presença de nódulos de gastrinoma, últil para a retirada de fragmentos
para biópsia e identificar origem de possíveis obstruções (JOHNSON;
SHERDING; BRIGHT, 2006).
4.9 TRATAMENTO
4.9.1 TRATAMENTO CLÍNICO
4.9.1.1 Fluidoterapia
Quando a gastrite aguda ou crônica vem acompanhada de desidratação
moderada a grave, é indicada a fluidoterapia I. V. (COSTA, 2014). A
quantidade de líquido a ser administrada deve suprir as necessidades diárias
de manutenção, que é aproximadamente 60ml/kg de peso corporal, e também
corrigir as perdas hídricas que podem ocorrer na presença de vômito e diarreia.
O líquido a ser administrado deve ser escolhido conforme o estado eletrolítico e
acido-básico do animal, mas, normalmente, o mais utilizado é o ringer lactato
por ser uma solução eletrolítica balanceada isotônica. Se o vômito for
persistente e resultar em hipocalemia, pode ser incluído o cloreto de potássio
na fluidoterapia, assim como a glicose em casos de hipoglicemia. Casos com
hipocloremia, hipocalcemia e alcalose metabólica são raros mas, caso
ocorram, a solução salina normal á 0,9% deve ser administrada (HALL, 2005).
4.9.1.2 Antieméticos
Alguns fármacos antieméticos são utilizados no controle do vômito
intenso, mesmo que tenham pouco efeito no tratamento primário da gastrite. A
metoclopramida, um antagonista da dopamina, ativa os receptores
35
dopaminérgicos centrais inibindo o vômito. Ela é contra indicada em casos de
obstrução mecânica ou perfuração gástrica pois estimula a motilidade
gastrintestinal (HALL, 2005).
A ondansetrona age como antagonista do receptor da serotonina, ela
tem ação central e é utilizada quando a terapia com outros fármacos, como a
metoclopramida, não é efetiva ou contra indicada. O maropitant (cerenia) é um
antagonista do receptor da neuroquinina e também possui função antiemética,
administrado por via subcutânea ele é seguro, porém apresenta uma
farmacocinética não linear e tende a se acumular com a administração
repetida, portanto é indicado por apenas cinco dias seguidos, com intervalo de
dois dias para retomar seu uso (NELSON; COUTO, 2014).
4.9.1.3 Protetores gástricos
Antagonistas de receptores H2, como a ranitidina, suprimem a secreção
do ácido clorídrico através da inibição dos receptores de histamina das células
parietais. Ela é eficaz inibindo 90% da secreção gástrica em menos de uma
hora e meia, porém, quando administrada de forma rápida por via intravenosa,
pode causar vômito (PARRAH et. al., 2013).
O omeprazol, inibidor da bomba de prótons, é um benzamidazol
responsável por bloquear a secreção de íons de hidrogênio na célula parietal
através da inibição da H+, K+- ATPase, na membrana apical. Ele age como
antagonista não competitivo. É indicado em casos não responsivos ao
antagonista de receptores H2, úlceras severas, refluxo esofágico e gastrinomas
(JOHNSON; SHERDING; BRIGHT, 2006). Segundo Costa (2014), inibidores da
bomba de prótons se ligam á bomba de forma irreversível, bloqueando 90 á
95% da produção ácida.
O sucralfato é um polissacarídeo sulfatado utilizado em conjunto aos
antagonistas H2, principalmente no tratamento de úlceras gástricas (PARRAH
et. al., 2013). Ele adere á mucosa, nos locais ulcerados, formando uma barreira
física que a protege da ação do suco gástrico ácido (COSTA, 2014). O
sucralfato, se utilizado juntamente á outros fármacos orais, pode captar
substâncias por adsorção e impedir sua absorção, como nos caso de
36
antagonistas H2, onde é observada uma taxa de redução de 10 a 30% da
absorção pelo sucralfato. Portanto, é recomendado que quando houver
associação destes fármacos no tratamento, o sucralfato deve ser administrado
de uma á duas horas após a administração do antagonista H2 (HALL, 2005).
4.9.1.4 Dieta
O jejum alimentar e hídrico no período de 12 a 24 horas é recomendado
em casos de gastropatias, para evitar a distensão da mucosa gástrica, que
estimula o vômito (COSTA, 2014). Depois de 24 horas sem vômito, deve ser
introduzida uma dieta de alta digestibilidade, baseada em carboidratos e pouca
gordura e, somente após dois a três dias com essa dieta, deve ser introduzida
gradualmente a dieta comum do animal (JOHNSON; SHERDING; BRIGHT,
2006). Haal (2005) reforça que o tratamento dietético se baseia no
conhecimento de que líquidos e carboidratos são esvaziados mais rapidamente
pelo estômago do que os sólidos e as proteínas, e as proteínas mais
rapidamente do que os lipídios, por isso a dieta semilíquida com baixo teor de
gordura e proteína deve ser oferecida em intervalos frequentes para facilitar o
esvaziamento gástrico. Caso o jejum necessite ser prolongado, decorrente do
vômito, um suporte nutricional entérico ou parenteral é indicado.
4.9.1.5 Outras terapias
Segundo Costa, 2014: “O estresse pode ser um fator desencadeante de
gastrites e nesse sentido deve ser minimizado, em alguns casos com
medicação ansiolítica”.
Alguns agentes tamponantes têm sido citados como tratamento para a
úlcera gástrica, como o carbonato de cálcio, bicarbonato de sódio, hidróxido de
magnésio e hidróxido de alumínio, pois estes agentes diminuem a ação da
pepsina. Porém, o fato de não ser palatável torna seu uso menos desejável
(STEINER, 2015).
4.9.2 TRATAMENTO CIRÚRGICO
37
O tratamento cirúrgico é o menos comum no tratamento de úlceras
gástricas, porém pode ser indicado quando há suspeita de perfuração ou
quando há uma grande perda de sangue. A cirurgia também é recomendada
quando não há resposta ao tratamento medicamentoso por 5 á 7 dias
(PARRAH et. al., 2013).
No caso de neoplasia gástrica o tratamento cirúrgico é recomendado,
exceto em casos de linfoma. Se a neoplasia estiver restrita ao estômago, sem
metástases evidentes, pode-se realizar uma gastrotomia parcial ampla para a
retirada da neoplasia, se estiver restrito ao estômago pode ser realizada uma
gastrotomia parcial ampla. No caso de leiomioma, o acesso ao mesmo pode
ser através de laparotomia na linha média, gastrotomia ou toracotomia
intercostal, mesmo (HALL, 2005)
Objetos estranhos podem ser removidos por endoscopia.Para isso é
necessário um endoscópio flexível, com pinça, e o animal deve sempre ser
radiografado antes de submetido á anestesia, para se certificar sobre a
permanência do corpo estranho no estômago. . Caso não seja possível a
remoção através do endoscópio a gastrotomia é indicada (NELSON; COUTO,
2014).
Em muitos casos de DVG, quando há torção, a cirurgia corretiva é
necessária. O estômago é reposicionado e, caso esteja desvitalizado, a área
deve ser retirada e em seguida realizada a gastropexia para evitar recidiva.
Caso haja comprometimento do baço, com necrose ou infarto, deve ser
realizada a esplenectomia (HALL, 2005).
38
5 RELATO DE CASO
Um cão, macho, da raça Fila Brasileiro, de três anos e 11 meses de
idade foi atendido na Clínica Veterinária Quatro Patas com histórico de vômitos
recorrentes com evolução de seis meses e dilatação abdominal com evolução
de três dias.
O exame físico revelou abdômen abaulado, dispneia discreta, ausência
de dor abdominal, FR 32mpm, FC 120bpm e temperatura retal 39,4ºC.O
primeiro diagnóstico diferencial foi de dilatação vólvulo gástrico, devido ao
aumento abdominal e por ser um cão de raça grande, mas o mesmo foi
descartado após a realização da radiografia abdominal. Foram realizados
hemograma, bioquímica sérica e ultrassonografia abdominal. Hemograma
revelou anemia (eritrócitos 3,56 milhões/mm³, hematócrito 24,2% e
hemoglobina 7,9g/dL) e a bioquímica sérica um aumento na ALT (31 mg/dL) e
redução da ureia (10,8 mg/dL).Na ultrassonografia abdominal foi possível
observar grande presença de gás em estômago e uma porção com perda da
estratificação parietal e com ecogenicidade diminuída; espessamento de
parede; intensa vascularização ao mapeamento colorido e hiperecogenicidade
tecidual adjacente; alterações estas, sugestivas de gastropatia focal
(ulceração/neoplasia) com peritonite adjacente. Foi identificado também ao
ultrassom um aumento de linfonodos em topografia epigástrica esquerda
(FIGURAS 10, 11, 12, 13 e 14).
Diante dos resultados dos exames e suspeita de neoplasia, optou-se
pela laparotomia exploratória com gastrectomia parcial para exérese da área
mucosa lesada (FIGURA 15 e 16). Parte desta área mucosa lesada foi enviada
para exame histopatológico, no qual não foram evidenciados organismos
morfologicamente compatíveis com Helicobacter sp. , assim como, não foram
observados sinais de infiltração ou transformação neoplásica na amostra. O
diagnóstico foi de gastrite crônica linfoplasmocitária, proliferativa, moderada a
intensa, com extensa área de ulceração da mucosa.
Até a realização da radiografia e ultrassonografia abdominais o
tratamento instituído, baseado na suspeita de vólvulo gástrico, foi enrofloxacino
39
(5mg/Kg,BID, I.V), ceftriaxona (40mg/Kg, BID, I.V), ranitidina (2 mg/Kg,BID, I.V)
e meloxicam (0,1 mg/Kg, SID, I.V). Após a realização da cirurgia o tratamento
instituído foi modificado para amoxicilina 15 mg/Kg ,BID, durante dez dias,
omeprazol1 mg/kg ,SID, durante 60 dias, ranitidina2 mg/kg, SID, durante 20
dias e dipirona 25 mg/kgBID, durante sete dias.
Após 30 dias da realização do procedimento o cão apresentou-se sem
qualquer sinal clínico relacionado à gastrite, com parâmetros normais, alerta e
ativo e com normorexia.
FIGURA 10 - Imagem ultrassonográfica evidenciando espessura de parede de estômago e perda de estratificação parietal, de cão, macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e onze meses, com histórico crônico de êmese e dilatação abdominal.
Fonte: Borges, 2016
40
FIGURA 11 - Imagem ultrassonográfica evidenciando espessamento de parede gástrica, medindo 1,77 cm, com presença de gás na luz do estômago, de cão, macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e onze meses, com histórico crônico de êmese e dilatação abdominal.
Fonte: Borges, 2016
41
FIGURA 12 - Imagem ultrassonográfica evidenciando espessamento e perda de estratifcação da parede estomacal, com hiperecogenicidade tecidual adjacente, de cão, macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e onze meses, com histórico crônico de êmese e dilatação abdominal.
Fonte: Borges, 2016
42
FIGURA 13 - Imagem ultrassonográfica evidenciando perda de estratificação de parede estomacal e diminuição de ecogenicidade de cão, macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e onze meses, com histórico crônico de êmese e dilatação abdominal.
Fonte: Borges, 2016
43
FIGURA 14 - Imagem ultrassonográfica indicando linfonodo reativo em região hipogástrica esquerda, de cão, macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e onze meses, com histórico crônico de êmese e dilatação abdominal.
Fonte: Borges, 2016
44
FIGURA 15 - Área mucosa lesada do estômago com presença de úlcera, em cão, macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e onze meses, com histórico crônico de êmese e dilatação abdominal.
45
FIGURA 16 - Fragmento retirado por gastrotomia, com mucosa esbranquiçada e presença de úlcera, em cão, macho, Fila Brasileiro, com idade de três anos e onze meses, com histórico crônico de êmese e dilatação abdominal.
46
6 DISCUSSÃO
A gastrite linfoplasmocitária é a mais comum das gastrites crônicas.
Consiste num infiltrado de linfócitos e plasmócitos na mucosa gástrica, e é
definida por HALL (2005) como uma gastrite inespecífica com causas variadas,
como as parasitárias causadas por Physalopterasp. e Ollulanussp.;
Helicobacter spp.; doenças hepáticas, renais e endócrinas, gastrite relacionada
á raça e tamanho do animal ou relacionada a terapias com fármacos. No caso
relatado não foi possível determinar a causa da gastrite linfoplasmocitária
diagnosticada por meio do exame histopatológico, e nem qual das afecções
presentes foi o início do quadro, pois segundo JOHNSON; SHERDING &
BRIGHT (2006) úlceras podem desencadear uma gastrite linfoplasmocitária
secundária, mas o mecanismo pode ser inverso, sendo a gastrite
linfoplasmocitária a causadora de úlcera.
Devido a suspeita de dilatação vólvulo gástrica o meloxicam foi
administrado, o que pode ter contribuído para a piora do caso, pois segundo
ARAÚJO E BLASQUEZ (2007), o uso de anti-inflamatórios não esteroidais
provoca lesões na mucosa gástrica por inibir a síntese de prostraglandinas e,
consequentemente, diminuir a secreção de muco e bicarbonato pelo epitélio
gástrico. Também seguindo a suspeita de DVG ou possível perfuração da
mucosa que pode levar á peritonite, optou-se pela terapia associada de
antibióticos que segundo Hall (2005) são indicados via intravenosa.
Protetores gástricos foram instituídos no tratamento, como a ranitidina
no pré-operatoriopois pois, segundo Parrah (2013), a inibição da secreção
ácida, utilizando antagonistas H2 é necessária para produzir alívio do
desconforto. O omeprazol no pós operatório foi o medicamento de escolha pois
JOHNSON; SHERDING & BRIGHT (2006) é muito eficaz na inibição da
secreção de ácido clorídrico e devido a sua longa duração podem ser
administrados apenas uma vez ao dia.
A biópsia procedida por cirúrgica aberta permite o diagnóstico mais
confiável em casos de neoplasias gástricas por permitir coleta de amostras
mais representativas, de fragmentos múltiplos e da mucosa profunda. A biopsia
47
endoscópica também é indicada, porém, pode falhar em diagnosticar
neoplasias quando as lesões forem localizadas na submucosa ou quando
houver necrose superficial, inflamação e ulceração (HALL, 2005). Portanto,
devido a suspeita de neoplasia gástrica, optou-se pela laparotomia exploratória
afim de um diagnóstico definitivo.
O procedimento cirúrgico, de priemeira escolha, justificou-se diante da
suspeita de neoplasia e possibilidade de perfuração da mucosa estomacal, que
poderia desencadear uma peritonite séptica.
48
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As gastropatias são frequentes na rotina da clínica médica de animais de
companhia. As manifestações clínicas mais indicativas de qualquer gastropatia
incluem o vômito, crônico ou agudo, e a partir da identificação ou histórico da
presença deste, são necessários alguns exames complementares, laboratoriais
e/ou de imagem para chegar ao diagnóstico da doença gástrica afim de,
instituir o tratamento correto.
O diagnóstico pode ser difícil e muitas vezes sem causa definida, sendo
o tratamento sintomático. No caso acompanhado neste relato foram
necessários vários exames até o diagnóstico diferencial de neoplasia, o qual,
após biópsia, não foi confirmado. O caso clínico apresentado teve um
prognóstico bom devido á excelente resposta ao tratamento e, apesar da causa
de base não ter sido identificada, o animal encontra-se sem qualquer sinal
clínico relacionado á qualquer gastropatia após o tratamento.
49
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