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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃOCENTRO DE CIÊNCIAS HUMANASDEPARTAMENTO DE ARTES

    CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAISTEORIA E CRÍTICA DA ARTE

    PROFª DRª. VIVIANE MOURA DA ROCHA

    LEITURA DA O OBRA DE ARTE: DESCRIÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAOBRA DE FRANCIS BACON, ESTUDO DO RETRATO DO PAPA INOCÊNCIO X,

    1953

    JOSÉ LUIZ FERREIRA CAVALCANTI

    Dezembro/2015

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    Dentre os muitos conceitos elaborados sobre o que é arte, podemos

    considerar o pensamento de que se trata de uma experiência humana e de

    conhecimento que transmite e expressa ideias e sensações. Por isso, para a

    apreciação da própria se faz necessário aprender a observar, a analisar, a refletir, a

    criticar e a emitir opiniões. Prática esta, diretamente relacionada à experiência

    estética que nos remete a um conjunto organizado de princípios que buscam a

    explicação de diferentes fenômenos recorrentes na natureza e na cultura das mais

    diversas sociedades.

    No contexto da arte existem diversas teorias que contribuem para o

    entendimento de tais fenômenos provenientes da relação entre o individuo e a obra

    de arte. Este ensaio utiliza-se como fundamentação de análise, descrição einterpretação, a teoria da Fenomenologia que descreve aquilo que está latente,

    invisível, mas que se manifesta na obra de arte. Ressalta de que maneira a

    consciência humana percebe e interpreta as imagens seja do ponto de vista do

    espectador ou dos processos de criação do artista. E também a luz da teoria

    Formalista que atribui à arte uma organização, que valoriza a importância e a

    maneira de como os elementos da linguagem visual se relacionam no processo de

    construção e compreensão da obra de arte. As formas possuem um conteúdosignificativo próprio, que nada tem a ver com o tema histórico, mitológico ou religioso

    que cada obra de arte esteja buscando transmitir mais especificamente.

     A obra escolhida é o “Estudo do retrato do Papa Inocêncio X”, produzida em

    1953 por Francis Bacon, sob a técnica óleo sobre tela, com as dimensões de 153 x

    118 cm, sistema de representação figurativo não naturalista e a faz a utilização das

    seguintes cores: amarelo, branco, cinza, marrom, preto e roxo. Na tela podemos

    observar a presença de um individuo sentado em uma cadeira, apresentandoindumentária que nos remete a uma autoridade religiosa e a cena acontece

    aparentemente em recinto fechado, de fundo escuro e desprovido de outros objetos.

     A criação imagética de Bacon vislumbra traços de linguagem que nos

    remetem ao movimento Expressionista, amplamente difundido na primeira metade

    do século XX. A figura humana era um tema recorrente na obra do artista em que

    ele retratava de forma dramática e distorcida com o intuito de expressar a angústia e

    as aflições da nova sociedade, da qual também fazia parte, que acabara de

    experimentar o terror de duas guerras mundiais.

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     A deformação do personagem representado por Bacon já nos evidencia

    características que rompem com arte considerada clássica. A combinação de cores

    reverenciada pelo artista, sobretudo na indumentária do pontífice, na presença do

    amarelo e do roxo atraem imediatamente o olhar por serem cores complementares e

    estas quando dispostas uma do lado da outra se tornam mais vivas. Em relação às

    cores complementares Pedrosa afirma que “toda cor se destaca mais ao lado de sua

    cor contrária: azul-avioletado ao lado do amarelo-dourado [...]” (PEDROSA, Israel.

    Contrastes simultâneos de valores de tons. In: Universo da Cor. 2003).

     A dramaticidade da pintura é conferida na utilização de iluminação uni-

    direcional que produz um forte contraste entre e o branco da túnica do papa e fundo

    escuro que se apresenta por pinceladas vigorosas em linhas verticais que sugeremmovimento e velocidade. Há uma desvalorização da linha, como recurso

    demarcador, em relação ao contorno das formas o que favorece a ligação entre os

    objetos representados proporcionando a obra de Bacon um caráter pictórico.

    Heinrich Wöllflin no livro Conceitos Fundamentais da História da Arte comenta:

     As possibilidades da arte pictórica começam no momento em que alinha é desvalorizada enquanto elemento delimitador. É como se

    todos os pontos fossem animados por um movimento misterioso. Aessência da representação pictórica confere a linha um caráterindeterminado que busca aquele movimento que ultrapassa oconjunto dos objetos. (Wöllflin, 2006, p. 26-27)

     A sensação de profundidade presente na composição de Bacon se dá pela

    sobreposição de formas onde os planos são desconsiderados como recursos de

    organização espacial entre elementos que compõem a pintura. O caráter expressivo

    da obra é valorizado através da oposição entre luz e sombra. Aspectos estes que

    Heinrich Wöllflin classifica como evolução do plano a profundidade e ainda no

    mesmo livro afirma:

    [...] que nas obras de caráter pictórico manifesta-se a tendência asubtrair os planos aos olhos, a desvalorizá-los e torná-losinsignificantes, a medida em que são enfatizadas a relação entre oselementos que se dispõem a frente e os que se apresentam atrás; oobservador se vê obrigado a penetrar até o fundo do quadro.(Wöllflin, 2006, p.99).

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    Na tela de Bacon observa-se a dinâmica de diagonais que parecem sublinhar

    a expressão do papa. Na metade superior do quadro existem duas diagonais

    formadas pelos ombros e pelos braços que nos levam a cabeça do pontifício

    carregada de significados que sugerem uma multiplicidade de interpretações.

     As linhas que cruzam a obra de Bacon convergem para o centro e atravessa

    o Papa, e através da desconfiguração corpo do mesmo verificamos a presença de

    sentimentos que personificam a própria existência do artista por ter visto de perto a

    hecatombe que foi a Segunda Guerra Mundial. Para Ponty a corporeidade é

    entendida como sentir, como experiência do irrefletido, o filósofo celebra o papel do

    corpo na expressão e em sua análise existencial nos revela:

    O corpo como condição de possibilidade de qualquer experiência. Apercepção implica a significação do percebido. A sensação éespontaneamente interpretada. (MERLEAU-PONTY, Fenomenologiada Percepção, 1994)

     A imagem revelada pelo artista é fruto de sua consciência imaginativa que se

    manifesta na expressividade emanante na representação da figura do chefe

    supremo da igreja católica, que de forma simbólica também representa a toda adesumanidade produzida pelo cristianismo durante toda a Idade Média. A partir

    deste universo observamos a expressão física da pintura de Bacon que nos remete

    a sentimentos como tensão, pavor, raiva, dor, medo, pela humanização de signos

    que se apresentam em detalhes para observador da obra. No quadro visualizamos o

    papa com os braços tensos e as mãos crispadas na cadeira em pânico e desespero.

    O trono dourado sugere a presentificação de uma cadeira elétrica onde o

    personagem sacode de volta a vida pela ultima vez, o papa de Bacon estimulanosso olhar e também nosso ouvido pelo seu grito, levando-nos para perto de um

    universo transcendental. Os traços violentos que representam o papa Inocêncio X

    projetam o espectador numa atmosfera onde domina a „sensação‟ da morte causada

    pela apreensão de ser engolido pelo buraco escuro da boca do papa.

    O que podemos observar aqui é um diálogo entre dois pintores separados por

    300 anos. Enquanto Diego Velázquez nos encanta com o naturalismo de seu

    quadro, esbanjando suavidade com uma imagem quase real, Francis Bacon oferece

    uma realidade ressaltada e suja pela provocação da morte e da decomposição. No

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    que se refere no diálogo entre os autores é satisfatório notar aqui a potencialidade

    retratística de cada um deles em sua época.

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    REFERÊNCIAS

    BERRETT, Terry. A crítica da arte: Como entender o contemporâneo. Tradução:

     Alexandre Salvaterra.. Porto Alegre, 3ª Ed, AMGH, 2014.

    GRAHAM-DIXON, Andrew. O guia visual definitivo da arte: da pré-história aoséculo XXI. São Paulo. Publifolha, 2011. 

    PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. São Paulo: Ed. Perspectiva,

    1976.

    PERAZZO, Luiz Fernando; Ana Beatriz Fares Racy; Denise Alvarez. Elementos dacor . Rio de Janeiro, Ed. Senac Nacional, 1999.

    PILLAR, Analice Dutra. A educação do olhar no ensino das artes/ Organizadora. Porto Alegre, Ed. Mediação, 1999.

    ROCHA, Viviane. Fundamentos de análise da obra de arte. Slides dadisciplinaTeoria e Critica da Arte. Curso de licenciatura em artes visuais. UFMA,2015.2.

    WÖLLFLIN, Heinrich. Conceitos Fundamentais da História da Arte. 4ª ed. SãoPaulo: Martins Pontes, 2000.