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COMO EJORQUATOvoce tambem se foi"desafinando o coro dos contentes do seu tempo"como eu dizia nos bons tempos de 68sousandrade no ouvido(estrofe 61 do inferno de wall street)mas logo agoraalguns dias depois que o velho pound se foideformado e difamadopela cozinha litero-funeraria dos jornaispor um erroentre tantos acertosneste desertocom tantos lite-ratos dando sopase vendendo por um lugar ao solvoce deu as costas ao lugar e ao solproclamo mas reclamoa morte nos fez mais uma falsetamas nao pensem que isto e" um poemaso porque estou cortando as linhascomo faziam os poetasisto e" apenas uma conversa no desertoparte da conversa que a gente nao teve em4anosvou falando e parando onde devo pararseria fcicil glosar tuas proprias letrascheias de tantas dicas de adeusadeus vou pra nao voltara vida e assim mesmoeu fui-me emboraeu nunca mais vou voltar por afdif fcil e conversar agoravoce sabe ha tanto tempo a gente nao se viafui ouvir de novo as tuas coisas"louvacao" & "rua"no primeiro Ip de gil"zabel" & "minha senhora" (com gil) & "nenhuma dor"(com caetano) no primeiro Ip de caetano e gal"domingou" & "marginlia II"no primeiro disco tropicalista de gil& "mame coragem" com caetano (gal cantando)to grandes quanto antes& "a coisa mais linda que existe"(com gil) no Ip de gal (1969)& "ai de mim Copacabana" num compacto com caetanomeu estoque termina a(no tenho o "pra dizer adeus")e recomeava agora com macallefs play thatuma obra filho e algumas primasvoc olha nos meus olhos e no v nadano "no posso fazer troana boca uma lasca amarga"mas tambm no quero repetir a conversa de maiacvskicom iessinin ( muito arriscado)estou pensandono mistrio das letras de msicato frgeis quando escritasto fortes quando cantadaspor exemplo "nenhuma dor" ( preciso reouvir)parece banal escritamas visceral cantadaa palavra cantadano a palavra faladanem a palavra escritaa altura a intensidade a durao a posioda palavra no espao musicala voz e o mood mudam tudoa palavra-canto outra coisanha mo da mi na ra temse dos greetc&minha amada idolatradasalve salve o nosso amorj antecipava os antihinossalve o lindo pendo dos seus olhoscomo voc diria depoismas voc tem muito mais% um poeta s um poeta tem linguagem pra dizereu quero eu posso eu quis eu fizfeijo verdura ternura e paztropical ia bananas ao ventoum poeta desfolha a bandeiraagora voc se mandou mesmopra no mais voltar(deixe que os idiotas pensem que isto poesia)nem a so paulo nem a estaespaonavelouca chamada terratenho saudadecomo os cariocasdo tempo em que sentiasim a euforia se foi a alegriaera a prova dos novemas fomos todos reprovadosVAI BICHOns por aqui vamos indonaviloucospoucosocosum beijo preso na gargantano doce infelicdio da formicidadeDESAFINARmedula & osso0 CORO DOS CONTENTEScom gelia at o pescooaugusto de campos*

cogitoeu sou como eu soupronomepessoal intransferveldo homem que inicieina medida do impossveleu sou como eu souagorasem grandes segredos dantessem novos secretos dentesnesta horaeu sou como eu sou presentedesferrolhado indecente feito um pedao de mimeu sou como eu souvidentee vivo tranqilamentetodas as horas do fim.20.10.70

GELEIA GERALCordiais saudaes /13Problemo /14As travessuras de superoito /15Make love, not beds ou isso mesmo /16Histria antiga /17Transemos em vdeo-tape /18Pessoal intransfervel /19Almondegrio /20A palavra subterrnea /21Mais desfrute, curta /22Marcha reviso /23A morte ataca /24Hoje tem espetculo /25A todo vapor /26No barato dos milhes /27Material para divulgao /28Mais conversa fiada /29Assunto pessoal /30Mal iniciado, mas iniciado /31Mastigando um sapo /32Al, idiotas /33 proibido soprar /34Literato cantabile /35Por hoje, acabou /36Esse tiro vai sair pela culatra /37Em matria de porforice /38Filmes /39Nas quebradas da noite /40Miedo de perder-te /41Na segunda se volta ao trabalho /42D. Diana maluca? /43Let's play that /45Baio de sempre /47 s de brincadeira, no di /48Quem cala consente /49Partindo pra l /51Antes que zarpe a Navi louca /52Quando pode ser onde, onde quando /53A Famlia do Barulho da pesada /54Na corda bamba /55lordiais saudaes ldio, ponha discos, veja a paisagem, sinta o ui ii pode chamar isso tudo como bem quiser. Himitir', ,i disposio de quem queira dar nomes ao mum do redemoinho, entre os becos da tristssimanuh sons de um apartamento apertado no meio det.H|ll',pode sofrer, mas no pode deixar de prestar aten-i nqinto eu estiver atento, nada me acontecer. En-Uiii/;) a fogueira tempo de espera? Pode ser o1 ilft wimpre gira e o fogo rende. O pior de tudo i| nu ias. O lado de fora frio. O lado de fora fogo,Indo de dentro. Estar bem vivo no meio das coisas ii |iui alas e, de preferncia, continuar passando. Isso ai iuu.i vi/ no Pasquim.Iftno Veloso, Emanuel Vianna Teles, um que nof=p.i,nulo por nada ele deve saber, com certeza, que>>< Iplo est sempre no fim, e por isso que ele deixaji ,3i >iii Lido de fora, do lado de dentro. Est vivo, nova-n pr.indo entre as coisas e sabendo que tudo s ivel no meio do fogo e cai no fogo sabendo que vai sem n (Oswald de Andrade est sendo editado agora pelon Nacional do Livro, no ? ) Caetano veio aquin pi ngrama de televiso e ningum, ao que me cons-i exemplo? Necas de Pitibiribas: escolas de samba, carnaval, escambal central do Brasil: pintou proibio. Nessa grande nsia nacional a transa agora proibir instrumentos de sopro nas escolas de samba, pro desfile da tal secretaria.Em nome de qu, calculem: em nome da tradio. Diz a tradio da Secretaria de Turismo do estado brasileiro da Guanabara que samba de escola na avenida nunca teve instrumentos de sopro. E, portanto, fica proibido, por decreto, de vir a ter. parte os argumentos dos sambistas tradicionalistas e ta!, fica mais uma vez o seguinte: a censura atinge limites cada dia mais loucos. O prprio departamento de censura no entrou nessa, mas os free-lancers da coisa trataram o assunto com o mesmo mtodo tradicional: proibiram.Ningum sabe se pode, porque em nome do samba de 1930, um rgo do Governo tomou a iniciativa de castrar possibilidades novas para o samba de 1971, 72. O nome disso, em portugus bem explicado, censura esttica. Ou seja, amizade: de repente, um rgo do Governo proibe novas formas no caso, do samba. E quem no se choca demais com o absurdo tropicalista da transa governamental fica relendo os "considerandos" da tal portaria, atrs de desculpas sambsticas (1930, no mnimo) para a consagrao geral da censura, nesse nvel. E nem pensam na palavra-chave: Censura. Vai tudo ao ritmo daquele sambo acomodado. Viva o Paulinho da Viola e outros que no tm medo de instrumentos de sopro, nem ao menos no carnaval da secretaria do governo. Viva a liberdade que cada escola (no se aprende na escola) deve ter, s de usar instrumentos de sopro no desfile. Viva o instrumento de sopro proibido pela censura da secretaria do turismo. Etc.Nesse pas surrealista, tudo, de repente, fica normal e ningum sente falta do que perdeu. A ala de frente das escolas no ser mais decidida por elas, mas pela censura esttica, que no deixa (por motivos de manuteno) mais de 15 pessoas participando; pratos da bateria?As escolas de samba no tm mais a menor possibilidade para decidir quantos ficam melhor para o som que pretendem: a uniformizao da transa turstica no permite mais de um par. E se a gente precisar de vinte? No pode, amigo: est, j, proibido.E tudo em nome do prprio samba, essa "entidade" abstrata e no entanto concreta, em andamento, andando em 1971 apesar de tal tradio repressiva. Pode, amizade?Reprimir tentar impedir o andamento das transas. Mas no , exatamente, impedir: a lei uma sugesta e s. O samba uma transa e vria. Vria, reviso, com acento. A secretaria de governo do turismo no quer que o samba possa precisar de instrumentos de sopro, pratos e outros sons no desfile do carnaval. Torno a repetir: faz censura esttica prvia, anula as possibilidades, restringe o campo de ao, limita o andamento, proibe usos e invoca o prprio samba como defesa da castrao. Os sambistas engolem essa?Ento engulam. E engulam o meu molho como tempero. Ou ento descontem os pontos no desfile, mas ganhem essa: batam nos pratos, ora bolas!

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Literato cantabilePlulas do tipo deixa-o-pau-rolar. Na mesma base: deixa.Primeiro passo tomar conta do espao. Tem espao bossa e s voc sabe o que pode fa^er do seu. Antes, ocupe.npois se vire.No se esquea que voc est cercado, olhe em volta e dI uni role. Cuidado com as imitaes.Imagine o vero em chamas e fique sabendo que porisso mesmo. A hora do crime precede a hora da vingana, eu espetculo continua. Cada um na sua, silncio. Acredite na realidade e procure as brechas que ela sempre deixa. Leia o jornal, no tenha medo de mim, fique sabendo: drenagem, dragas e tratores pelo pntano. Acredite. A barra pesou? Arranje uma transa e segure, mas no se Hpondure. Use um ponto de apoio e bote os ps no cho. Da macrobitica noite do meu bem, tudo segura, no cala, no caia.t No acredite em nada do que eu digo. Eu ainda preciso ma olhar no espelho, igual a Duda na cantiga com Macau. E nlo sei quem est ao meu lado. Pode desconfiar e no em-Uai que nessa.t Esquea tudo o que eu no consigo mais deixar de lado. Aujirea como a luz do sol e no desaparea mais. O mani-cjuHsmo o sistema mais sutil, mas o prprio. Se for por mim no duvide do bem nem do mal e fique sempre na licuta, planto permanente, negra solido: Deus nos livre de tii medo agora, logo agora que chegou na frente o fundo da quiisto: Deus no est de qualquer lado e embora esteja em Iodos continua nos mandando palavras. Acredite.Poesia. Acredite na poesia e viva. E viva ela. Morra por|a se voc se liga, mas por favor, no traia. 0 poeta que traii.i poesia um infeliz completo e morto. Resista, criatura.Quando eu nasci um anjo louco, morto, curto, torto veiolei u minha mo. No era um anjo barroco: era um anjo muito pouco, louco, solto em suas asas de avio. E eis que o anjo me disse, apertando a minha mo entre um sorriso de dentes: vai, bicho, desafinar o coro dos contentes. Macal botou msica clssica e a transa ficou condenada: Lefsplay that? Passo e me esqueo: como um caminho que um amigo meu (eu j contei) encontrou na RioBahia: No Me Acompanhe Que Eu No Sou Novela. T sabendo? Esquea que eu existo. Psiquiatria, por exemplo, est nessa e s est esperando. Mantenha os olhos bem abertos, transe e ande por a, brinque em servio, no brinque, deixe escorrer mas preste ateno: sem grilos, afaste os grilos, no tenha medo, guarde a sanidade como quem guarda a coroa do mundo, use. E nem disso tenha medo. Transe e no se tranque. Principalmente, amor, no se descuide. Bater papo com paredes o fim da picada. Principalmente, amor, no se descuide. Fale de voc. Conte o que voc passou. Vamos falar da gente e nem precisa falar de ningum. Deixe os otrios curtirem passadismo, literrio ou no, no se descuide, fale de voc, conte, se vire. A nossa vida, parte a gente, explica tudo. Autobiografias precoces. Poesia, vida e morte, o corao vagabundo querendo guardar o mundo, serestas. Snteses. Painis. Afrescos. Reportagens. Snteses. Poesia. Posies. Planos gerais. "O Close-Up uma questo de amor" Amor. Plulas do tipo deixa-o-pau-rolar. Na mesma base: deixa. Primeiro passo tomar conta do espao. Faa do seu o que voc puder, depois se vire. E tome. Eu, pessoalmente, acredito em vampiros. 0 beijo frio, os dentes quentes, um gosto de mel.16/11/7135Por hoje, acabou O dia seguinte de repente antes do sim. No fao a menor questo de fazer sentido. Basta o meu amor redivivo. Nmero dois desta seleta: agora, aqui e agora. Citao: leve um boi e um homem ao tal matadouro. 0 que berrar menos merece morrer. o boi. Escutem antes que todos se calem. No prestem a mnima ateno ao que eu diga. Mas, por favor, no me esquea. No se esquea de mim, no desaparea. Deixa que eu conto: trs, dois, um, zero. Tem um vero que vai pintar por a, breve, conforme as oscilaes. Vamos Bahia? No vero daqui, na Bahia, as coisas comeam a acontecer. Conceio da Praia comea com dezembro e depois o pau curte at o carnaval. Tem todas as festas e tem muito espao. Bahia! Vamos viajar. Vamos sair do lado de fora, mesmo aqui do lado de dentro. Vamos acreditar nisso. Vai e volta, firme. Bahia! Por hoje tudo assim mesmo. Voc sabe que isso aqui no tem mais sentido. A gelia geral no deixa de liquidifi-car, mas pelo menos vamos encerrar em paz. Me deixe de lado. Voc, meu amor, no quer saber de compreender. Voc quer julgar. Que juiz esse? Levando a srio: chega. Levando a srio: acabou. Levando a srio: recomecemos. Um dia depois do outro. Notcia: Ivan Cardoso filma em paz, graas a Deus. E todo mundo com muito sacrifcio, graas a Deus. E se no sair disso, graas a Deus, muda de qualquer jeito Eu, pessoalmente, no suporto mais a vossa companhia, prezados leitores. Pode? E nem chega a ser charme, mas podem ficar sabendo: tem gente viva pelas redondezas. Ontem, hoje, sempre: brasas, fogo, purgatrio, inferno tropical. Deus me fez e me juntou a mim minha medula. osso. Quando estiver assim, no me aparea. Cresa e desaparea da minha frente, Thiago, meu filho. Me evite, de preferncia: eu tenho a minha culpa. Adeus. Aparea. Viva. E possvel esse tipo de festa? Fale por mim e diga, meu amor, o que eu no preciso mais dizer. Assim no possvel. Assim, desta maneira, meu amor, me acabas. Tente sacar a minha, cresa, aparea. Se vire. O poeta que no me visita nem me telefona nem me diz adeus; foi meu pai quem me fez assim; nunc et semper; meu pandeiro de bamba, meu tamborim de samba, j de madrugada; meu repertrio faliu. Pode ser mais enrolo? No? No? No? Averiguando as ocorrncias: na gelia geral brasileira a mesma dana na sala, no Caneco, na TV - e quem no dana se cala, no v no meio da sala as relquias, as relquias, as relquias do Brasil. Me olho no espelho. Nada. Meu olho, meus pelos. Cada manh a mesma transa, cada jornada a mesma casa, pode? Abaixo a minha reticncia. Help! Escutem, antes que a gente pense em calar: cavalares ondas do rio-pnico atravessam o oceano e sopram, sopram, sopram. Deixa sangrar. Espero ter acabado por hoje. melhor conversarmos calados, em voz alta, eu, amizade? Abaixo a Gelia Geral. Abaixo a Gelia Geral. Mal, mal, mal, mal, mal, mal. Findou.

3(3 17/11/71Esse tiro vai sair pela culatraT certo, baby, eu no entendo nada de direito jutoral; o que eu sei, todos os compositores fora das diversas (quatro) panelonas esto cansados de saber: a baguna geral e o cartolismo impera. Alis: o mistrio comanda as operaes. Ningum chega a "saber" de nada, efetivamente. Nada alm disso: a patota, a mfia, os cartolas, so quem sabem de tudo. Eu, no.Por no saber e ficar perguntando fui expulso da sociedade a que pertencia. Dou graas a Deus, embora algum ainda me deva explicar quem vai pagar o meu repertoriozinho mixuruca que ainda est por l, e que toca de vez em quanto por a. Mas isso no interessa agora.Interessa o seguinte: se os compositores esto a fim de algum movimento em torno da questo e eu li sobre isso aqui mesmo em UH, um dia desses - a soluo que os mais apressadinhos esto transando no poderia ser pior. J pensou, Carlos Lyra, em que nvel a censura poderia funcionar caso as sociedades fossem dissolvidas para se transforma- rem numa espcie de autarquia? J pensaram, crianas? preciso lutar contra a mfia que domina o negcio (transformou-se num tremendo negcio, sim), mas preciso que os prprios compositores tomem conta dos seus direitos, como acontece em toda parte menos, compreensivelmente, nos pases socialistas. 0 cartolismo no direito autoral deste lugar uma praga. A primeira providncia lgica seria denunci-la atravs da imprensa e adjacncias, sem medo de "ofender" estatutos cheios de armadilhas. Sabendo: como toda mfia, perigosa; mas como todo cartolismo, corrupto. A misso desmoralizar os focos da corrupo, e no entregar o assunto s autoridades sugerindo encampaes e transformaes em autarquias ou outros bichos do gnero burocrtico oficial. A, amigo . . . A, crianas, o tiro sai pela culatra. E como se no bastasse o que j est acontecendo, a transa ia acontecer mesmo na rea econmica, ou, para os "profissionais", na jogada do tutu. A msica popular brasileira anda realmente to sem carter que merea mesmo um presentinho desses?25/11/7137Em matria de porforiceEst nas bancas o quarto nmero da Flor do Mal, o jornal da subterrnia (com i) e dos pirados em geral. J leram?Bom: quero falar da cinemateca do Museu de Arte Moderna. No duro: quem acompanha, mesmo de longe, a programao normal e constante da cinemateca, fica sabendo muito fcil que o pessoal ali se vira como pode e, no possvel, trata de oferecer alternativas histricas para a absoluta falta do que ver nos cinemas dos senhores exibidores. "Histrica" porque a cinemateca funciona muito mais na base do Museu do Cinema, j que a importao de filmes experimentais (ou no), da barra pesada norte-americana e europia est inteiramente interditada pela censura, mesmo para salas de pblico especializado e, aqui, reduzidssimo.Pouco sabemos do que est acontecendo em matria de cinema do lado de fora deste terreno aqui. Mesmo na rea "comercial" (Straub, Skolimovski e os "antigos" Berto-lucci, etc), estamos, nesta banda, numa porforice exemplar e a cinemateca, por diversos motivos, inclusive extracen-sura, no tem condies de exibi-los para nossa informao. Depois de One Plus One, Godard e seus amigos (uns & outros) fizeram mais de 10 filmes que no passaram, nem passaro, na cinemateca do MAM enquanto a censura persistir em negar a todos ns o direito de saber o que esses filmes significam. British Sounds, por exemplo, uma feroz liquidao da imagem e foi transado por Godard e o grupo Dziga-Vertov por encomenda da tev inglesa. Le Gai Savoir, produzido pela tev francesa, outra espcie de exerccio, anticartilha godardiana, que as cinematecas de todos os pases onde a censura no chega a ser to feroz exibiram e exibem para informao dos interessados. Aqui, no temos esse direito. Medo de Godard? Medo do cinema?EXPERINCIADo cinema experimental dos americanos pirades (de Warhol a Jack Smith, etc), tambm no conhecemos nada nem podemos exigir da cinemateca a obrigao de exibi-los. Como, se, simplesmente, no possvel? E somente os idiotas completos ignoram ou negam a decisiva importncia que esses filmes tm, e devem ter, nos diversos processos de transformao que o cinema vem sofrendo nesta poca de crises gerais. Mas, aqui, no.Aqui a cinemateca tem que limitar-se a no passar de um museu de cinema, repetindo ciclos interessantes e necessrios, mas impedida de realizar um trabalho de informao completo sem o qual (l mesmo na cinemateca a gente v), o cinema brasileiro se arrasta em exerccios esteticistas ultrapassados, "cinema-verdade" de mentirinha, "reconstitui-es histricas" caducas e calhordas e desinformadas, "documentos" primrios, erudio provinciana, etc. isso. O pessoal da cinemateca se vira e faz o que pode, mas o que est sendo possvel nada em relao ao que seria absoluta e estritamente necessrio. Estamos por fora, no estamos sabendo de nada e, por mais incrvel que parea, estamos nos acostumando. Mas como, amizade? isso. Enquanto o cinema tambm enlouquece do lado de fora, aqui do lado de dentro a "psiquiatria" da censura no permite, ao menos, que uma organizao estritamente cultural (eu disse organizao? Ento fica, deixa), como a cinemateca do Museu de Arte Moderna, cumpra sua misso de informar essa transformao ao pequeno grupo de pessoas, os especializados, cineastas, etc. que tm necessidade e obrigao de saber o que acontece com a linguagem com que transam. isso. No adianta culpar a cinemateca pelo que ela no pode fazer. A gente se queixa, porque sente nas telas da cidade o horror de se saber por fora. A gente vai l e rev os filmes dos bons tempos. Depois trata de arrumar uma passagem e se arrancar para os States ou para a Europa, investindo, como preciso, em in-for-ma-o.26/11/7138Filmes O que eu chamo de "ocupar espao" est, de certa maneira, naquele Teorema de Pasolini. Tambm no seria aquilo, se a gente quiser assim, uma transa de vampiro, um filme de terror? Melhor: uma histria de terror? Ocupar espao, num limite de "traduo", quer dizer tomar o lugar. No tem nada a ver com subterrnea (num sontido literal), e est mesmo pela superfcie, de noite e com muito veneno. Com sol e com chuva. Dentro de casa, na rua. Hoje em dia, com o filme distncia, cada vez que eu penso nas transas do personagem (aqui desliteralizado) de Ference Stamp, eu encontro um ponto de apoio para tentar explicar, a mim mesmo, certas tcnicas vampirescas da maior atualidade, aqui e em toda parte, em Milo inclusive: iiquela famlia, amizade, muito exemplar demais. A visita, fulminante. Tambm One Plus One, o filme de Godard, tem muito a ver com isso de ocupar o espao. Em primeiro lugar, no caso desse filme de guerra, o espao das telas comerciais/oficiais. Todo mundo sabe: enquanto os Rolling Stones, sentados num estdio gravam Simpathy for the Devil, a criou-lada do lado de fora ensaia tomada de espao branco e uma estudante branca e sozinha pinta paredes em Londres, desenhando poemas. (Godard aproveitou estar no Hilton e dese- nhou tambm nos vidros do apartamento.) Isso tambm tem a ver com a poesia, me das artes & manhas em geral: antes ocupar o espao e logo em seguida poetar conforme for. Na gaveta, baratas e velharias. Poesia, no. Ocupar espao, criar situaes. Ocupa-se um espao vago como tambm se ocupa um lugar ocupado: everywhere. E agentar as pontas, segurar, manter. Ou, como em Teorema, aplicar e sair do filme. Tiro um sarro: vampiro. O nome do inimigo medo. Meu nome ningum conhece. Moro do lado de dentro e nasci na Chapada do Corisco carrego isso. Plano geral na parede: numa encruzilhada vista do alto as pessoas se movem e correm atrs de algo. No sei se uma pelada, no sei se outra coisa. Corta e lemos a palavra: DESA. Fim do cinema, incio do cinema. O espao desocupado, ocupao do espao. Filmes. Sem comeo e sem fim, mas mesmo assim: pelas brechas, pelas rachas. Buraco tambm se cava e a cara tambm se quebra. Mas cuidado com os psiquiatras. Se pintar um grilo, ponha-o para fora voc mesmo e com f em Deus. Querem ocupar o espao da tua mente se assim voc me entende. Esto a fim de te curar, acredite neles. Cuide de sua sanidade. Aqui na terra do Sol, no tenha medo da Lua. Ocupar espao: espantar a caretice: tomar o lugar: manter o arco: os ps no cho: um dia depois do outro.30/11/71 39Nas quebradas da noiteQuente mesmo foi a sesso de cinema que Ivan Cardoso promoveu anteontem nos sales dos Taborda. Quente por causa dos filmes quentssimos de Ivan e quente pela temperatura geral da platia (convidadssima), subindo, subindo, queimando e pegando fogo. Nelson Mtta, por exemplo, foi um que esfriou bastante, mas em matria de excees Nelsi-nho sempre se d muito bem. Em compensao, Paulo Csar deslumbrou a platia meio mal-acostumada aos dolos do futebol, vocs sabem, por a pela noite da granfinagem e tal; Jairzinho, que eu visse, no chegou a ir, mas pintou de gala numa seqncia com automvel e loura: Os Piratas do Sexo Voltam a Matar. Numa s noite e com apenas trs filmes, Helena (Helena), a namorada de Ivan Cardoso, pulou firme para o posto que lhe cabe sem discursos: maior su-perstar do superoito nacional. Todo mundo l.Scarlet Moon me deu um beijo, o poeta Sailormoon, de longe, elogiava; o poeta Capinan dava sua mozinha para maior segurana da projeo; o poeta Daniel Ms chegou atrasado, mas ainda a tempo de ver completo o terceiro filme, tendo perdido por enquanto sua prpria atuao em Nosferato no Brasil; Joel Macedo no gostou muito do filme, mas terminou gostando muito de quase tudo e elogiou bastante a freguesia; Ana Maria Magalhes, com sua barriguinha linda, ouvia os comentrios de Paulo Csar Sar-raceni durante a projeo; por exemplo: enquanto uns garotos se esforam na praia, abertura dos Piratas, Sarraceni perguntava, curioso: "Queres que teu filho seja assim? " Lygia Clark mais o Rubem Gherschman conversavam con-tritos, antes e depois do cineminha; Vergara a tudo adorava violentamente, elogiava, abraava, sorria; Luciano Figueiredo reagia sorrisolndia: "Esto pensando que tudo de brincadeira." As belas atrizes dos trs filmes, quase todas no jardim, sorriam muito e de contentes e muito justamente, sim. Len Hirzmann transava tranqilo no meio de tudo e de tanta agitao; Ricardo Horta, de filme em filme, menos se contia e mais sorria, embevecido com a atuao do vilo; Ivanzinho, de amarelo, esfregava as mos, ha, ha, ha, e era porque podia; a maior superstar, Helena, Heleninha, recebia os cumprimentos e Antnio Carlos Fontoura a tudo assistia, de olho em riste, maneirssimo.INVENTARClasse A, artistas & poetas, fotgrafos e cronistas, atores e atrizes, Classe B, classe 2A, jogadores e futebolistas, marginais e pirados, copy-desks, cineastas, vampiros e mocinhas, amor & tara, os divinos e os repelentes, os deuses e os mortos, os mortos-vivos e os vivssimos, publicitrios e mecenas, amantes, desamantes, diamantes, carreiristas e desocupados, o tout-Rio de cima e o tout-Ro de baixo, caras limpas e caras bem quebradas, todo mundo l, todo mundo firme nessa primeira grande noite pblica do melhor cinema brasileiro que este cronista comovido agradece s porque existe.Anotar ainda: Amor e Tara, Nosferato no Brasil e Piratas do Sexo Voltam a Matar: trs filmes: o cinema brasileiro no morreu nem morrer: morreram os trouxas: quem no inventa faz super-produes estpidas: quem no acredita na inveno a qualquer preo no sabe o que malandragem, bate na ponta da faca e ainda se aborrece: suicida so eles: transemos em superoito: nossa curiosidade no tem limites: rogrio e julinho, quentura, viva: fraturas expostas na tela desoficial: quem quiser que viva de barganhas: inveno: transemos com a imagem: godard: preciso confrontar idias vagas com imagens claras: o abstrato versus o concreto armado: nem morreu nem morrer: cinema, Brasil, 1971: Ivan Cardoso apresenta.2/12/7140Miedo de perder-teQuero porque quero o me baio da solido, os ps no cho e as asas, pra voar. E cito Duda: eu nunca sei quem est ao meu lado. Pecado. Repeteco: ai de mim. Copacabana. Miedo de perde r-te. Estou cansado: de que lado isso? Careo: luz e lora. Gs e telefone. Manchete de jornal desta semana: amor mata trs. Lembrana de uma chanchada antiga, Carequi-nha e Fred mais Costinha. Sai de Baixo. Algum a pode me ajudar a lembrar inteira a msica daquele lilme? Aquela marcha, help. Minha esperana quando eu chego em casa: respirar e brincar com Thiago. Enquanto eu estiver atento, etc. Meu lugar no o meu refgio: a minha vida, comeo, meio e fim. Meio e fim. 0 fim no comeo, como sempre, e o meio mesmo eu no revelo. Onde fica? Sem p nem cabea. O filho bebia vinho e pra no beber mais vinho foi mandado para o hospcio onde lhe deram uma impregnao. Foi com um grande amigo meu e no pode mais se repetir. 0 mdico pediu: deixa eu ler os teus poemas. Esse outro grande amigo meu levou os poemas para o mdico julgar. O mdico achou a linguagem "totalmente fragmentada" e, para que ele voltasse a escrever como muito antigamente se fazia, mandou intern-lo e impregnou a sua clula nervosa. Crtica literria. Sem p nem cabea: Estou cansado: de que lado isso? Do lado de dentro, certo preciso. Do Ibope: quem j morreu e no sabe? Respostas para o amigo Carlos Imperial, ali na pgina de trs. Informao: o Pasquim acabou com a Flor do Mal. Sintam o drama. Eu queria mesmo era sair daqui agora e ir para a Bahia, onde o vero maneiro, transeiro e muito iluminado. Eu queria mesmo era sair daqui agora e mergulhar no mar de alguma praia de l. Eu queria mesmo era sair daqui agora sem olhar pra trs: o Rio de dezembro sempre me apavora, uma coisa maluca mas o que que eu posso fazer? Miedo de perder-te. Tremendo bolero. Teve um dia que eu pensei que estava pra morrer. Faz muito tempo, mas eu pensei em Deus ainda a tempo e Deus me salvou. Eu me levantei e sa novamente pela rua, graas a Deus. Informao. Por qu? Porque a morte no vingana e Deus amor, amor, amor, amor. Procure compreender melhor: o inimigo o demnio do medo. Livrai-nos Deus Nosso Senhor. Em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo. Amm.4/12/7141Na segunda se volta ao trabalhos\Pois eu vou contar uma histria.Sem p nem cabea: voc sabe com quem est falando? Eu respondi que no e a autoridade mostrou-se ofendidssima. Foi por isso que explicou assim:Polcia.Ora, eu agradeci, mostrei meus documentos, o cara conferiu que tudo era legal e estava em ordem e em seguida iluminou-se:Ora, bicho, esse teu cabelo est muito grande.A eu fui alugar um apartamento para morar. Quem no precisa de um? Quando a gente mora s e tem quem convide, a gente aceita e evita o vexame. Mas quando a gente tem famlia, o jeito aquele mesmo: primeiro enfrentar os porteiros olhando desconfiadssimos para a minha cara enquanto entrega as chaves. Vai a descarta:Acho que nem adianta olhar. Parece que j est alugado.Pelo telefone os caras no me vem, de modo que a informao batata: conversa do porteiro. A eu fui l, acertar a transa, assinar os papis e tal. A o cara olhou para a minha. A ele conferiu muito e a ele decidiu: Tem gente na frente.A eu sa na rua. Primeiro na Tijuca, onde as pessoas se divertem olhando. Depois na cidade, onde as pessoas me cercaram na Rua da Assemblia e gritavam corta o cabelo dele e tal. A gente pensa: vou tomar muita pancada dessa gente. Eles olham com dio para o meu trofu. Meu cabelo grande e bonito espanta, espanta no, agride (a tal palavra) e eu me garanto que eu no corto.Histria de cabelos . . .Um cara suado e de gravata, cara de dio, passa por mim na Conde de Bonfim, cara de uns quarenta anos, cara de pai de famlia classe mdia tpico nacional, passa no seu fusqui-nhasinho e quando me v d um berro:Cachorro cabeludo.Inteiramente maluco, o cara. Doido de pedra. Ou no?Desci do nibus e sai andando pela Gomes Freire. Vinha uma senhora gorda fazendo compras com um garoto pequeno e um tipo filho com jeito de funcionrio sei l de qu. De longe, enquanto eu vinha, eles j sorriam e cochichavam tramando. Eu vi. Bem na minha frente os trs pararam e a vanguarda do movimento adiantou-se era o garo-tinho. homem ou mulher? Eu respondi: Mulher.O rapazinho, o outro, gritou. Ateno:gritou.Cala a boca, cabeludo desgraado.A mulher deu uma gargalhada e eu passei.Inteiramente malucos, doidos varridos, doidos de pedra. Ou no?A, crianas, a gente declara novamente: so uns malucos. So uns loucos. So uns totalitaristas: cabeludo no entra. So uns chatos, so loucos, totalmente loucos, e perigosos. assim que eles esto: doidos, malucos, loucos e perigosos. Ou no?

A? 13/12/1971.D.Diana maluca?Leio no jornal (e acredito) que o Sr. Bruno Quai-no, gerente das Editoras do Poder Globo, vai processar, calnia, Sra. Diana Camargo. Quem l os jornais est por dentro da transa. D. Diana apareceu no tal Festival da Cano e sua Karani-Karanu fo o que se pode chamar "uma das vitoriosas do certame", embora no tenha ganho prmio algum. Mas aquele pblico cantou e danou, a msica tocou nas rdios e todo mundo ouviu, pelo menos, falar nela.Ponto, pargrafo. D. Diana no entende de direito autoral. Ningum que reclame de direito autoral, no Brasil, entende do assunto. Perguntem aos che-fes da mfia . . .Leio no jornal (e acredito): D. Diana Camargo assinou um contrato com a Editora Novo Rumo, do Poder Globo, e pouco depois do seu (dela) xito no festival apareceu, pediu um vale e recebeu os trs mil cruzeiros que pediu. Tudo certo. Mas D. Diana no entende de direito autoral. Precisa fazer um curso com os mafiosos.Porque, se eu no estou maluco, as declaraes de Diana Camargo aos jornais da semana passada davam conta dos 3 mil recebidos e at de mais algum; ela explicava (j que no entende do assunto) que assinou o contrato sem saber o que SSl nava, o que justo e ao que dou f, j que ela no entende de direito autoral e ningum, ao que parece, tratou de lhe explicar. Mas (continuo afirmando), at a tudo OK. D. Diana vai ser processada por calnia, porque veio aos jornais falar de direito autoral. Merece: quem manda ser compositora?Acontece o seguinte, ou ento: eis o lado anormal da histria, que as virulncias do Sr. Bruno Quaino no esclareceram e que D. Diana Camargo apontou em suas declaraes: a Editora Novo Rumo no est filiada a nenhuma das sociedades arre-cadadoras de direitos de execuo pblica existentes nesta banda. Ela foi informada pelo Sr. Bruno Quaino (est nos jornais) que a Novo Rumo perten cia Sicam, e a Sicam desmentiu por cai ia, In foi maram-lhe que no, no era a Sicam, maa Sldflfn bra, ou Sbacem, sei l: ela foi l e a lOi m st.tr'