Usabilidade, acessibilidade e desenho universal para...

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6º CONAHPA – João Pessoa – PB – 04 a 06 de setembro de 2013 Usabilidade, acessibilidade e desenho universal para aprendizagem: a experiência de usuários com deficiência na educação à distância Usability, accessibility and universal design for learning: the experience of users with disabilities in distance education. Janaina Ramos MARCOS 1 Susana Cristina DOMENECH 2 Marcelo Gitirana Gomes FERREIRA 3 Luciana D. LOPES 4 Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, SC Resumo O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa que compõe a dissertação de mestrado em Design na Universidade do Estado de Santa Catarina. A pesquisa tratou de analisar as interfaces de um curso de extensão virtual do Centro de Ensino à Distância da Universidade, alocado no ambiente virtual de aprendizagem MOODLE®. O experimento foi dividido em duas fases. Na fase 1, um modelo de análise de usabilidade e acessibilidade foi aplicado na interface atual, vigente do curso (A), com o objetivo de identificar os principais problemas e erros presentes no curso. Na fase 2, foi desenvolvido um protótipo com os mesmos conteúdos, porém organizado e planejado de acordo com os padrões de acessibilidade e usabilidade. As duas interfaces foram apresentadas a um grupo de 9 usuários, composto por pessoas portadores de deficiência visual, deficiência auditiva, voluntários que já haviam feito o curso e designers, objetivando analisar as mudanças e o consequente nível de satisfação destes voluntários. Dois modelos de avaliação de usabilidade foram utilizados e apresentados aos voluntários, o modelo GOMS e o QUIS, com cada interface, e as respostas foram comparadas para analisar o desempenho, a eficácia e a satisfação do usuário, visando melhorar o acesso dos alunos a cursos de educação a distância. Palavras-chave: Acessibilidade. Usabilidade. Interface. Ensino à distância. Design Abstract This paper aims to present the results of research that forms the dissertation in Design at the University of the State of Santa Catarina. The research tried to analyze the interfaces of a virtual extension course at the Center for Distance Learning University, allocated in the virtual learning environment Moodle ®. The experiment was divided into two phases. In 1 [email protected] 2 [email protected] 3 [email protected] 4 [email protected]

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Usabilidade, acessibilidade e desenho universal para aprendizagem: a experiência de usuários com deficiência na educação à distância

Usability, accessibility and universal design for learning: the experience of users with disabilities in distance education.

Janaina Ramos MARCOS1 Susana Cristina DOMENECH 2

Marcelo Gitirana Gomes FERREIRA 3 Luciana D. LOPES 4

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, SC Resumo O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa que compõe a dissertação de mestrado em Design na Universidade do Estado de Santa Catarina. A pesquisa tratou de analisar as interfaces de um curso de extensão virtual do Centro de Ensino à Distância da Universidade, alocado no ambiente virtual de aprendizagem MOODLE®. O experimento foi dividido em duas fases. Na fase 1, um modelo de análise de usabilidade e acessibilidade foi aplicado na interface atual, vigente do curso (A), com o objetivo de identificar os principais problemas e erros presentes no curso. Na fase 2, foi desenvolvido um protótipo com os mesmos conteúdos, porém organizado e planejado de acordo com os padrões de acessibilidade e usabilidade. As duas interfaces foram apresentadas a um grupo de 9 usuários, composto por pessoas portadores de deficiência visual, deficiência auditiva, voluntários que já haviam feito o curso e designers, objetivando analisar as mudanças e o consequente nível de satisfação destes voluntários. Dois modelos de avaliação de usabilidade foram utilizados e apresentados aos voluntários, o modelo GOMS e o QUIS, com cada interface, e as respostas foram comparadas para analisar o desempenho, a eficácia e a satisfação do usuário, visando melhorar o acesso dos alunos a cursos de educação a distância. Palavras-chave: Acessibilidade. Usabilidade. Interface. Ensino à distância. Design Abstract This paper aims to present the results of research that forms the dissertation in Design at the University of the State of Santa Catarina. The research tried to analyze the interfaces of a virtual extension course at the Center for Distance Learning University, allocated in the virtual learning environment Moodle ®. The experiment was divided into two phases. In

1 [email protected] 2 [email protected] 3 [email protected] 4 [email protected]

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phase 1, a model of usability and accessibility analysis was applied in the current interface, the current course (A), with the aim of identifying the main problems and errors present in the course. In phase 2, a prototype was developed with the same content, but planned organized according to the standards of accessibility and usability. Both interfaces were presented to a group of 9 users, composed of people with visual impairment, hearing impairment, volunteers who had taken the course and designers, aimed at analyzing the changes and the consequent level of satisfaction of these volunteers. Two models for usability evaluation were used and they were presented to the volunteers, the GOMS model and WANTED, with each interface, and the responses were compared to analyze the performance, efficiency and user satisfaction, to improve students' experience with e-learning courses. Keywords: Accessibility. Usability. Interface. e-Learning. Design.

1. Introdução

A sociedade contemporânea vem sofrendo transformações tecnológicas e de

comportamento ao longo deste último século. Consequentemente, a escola e o aprendizado

também estão vivenciando – principalmente nestas últimas décadas – uma série de mudanças.

É o caso da Educação online, também chamada de ensino à distância ou EaD, que Batista

(2008) caracteriza como a modalidade de educação em que o aprendizado se processa pela

internet, pela possibilidade do encontro virtual. Azevedo (2007) acredita que esta modalidade

de ensino acontece através da interação entre as pessoas, podendo ser mediada pela

tecnologia, sendo esta um meio e não um fim. Moran (2003) argumenta que nos próximos

anos, a educação online será o foco central da aprendizagem. Apesar de que ainda existam os

suportes tradicionais da EaD, Silva (2003) acredita que a tendência atual da educação online é

uma exigência da “cibercultura”, pelo fato de possuir estratégias que se desenvolvem

paralelas ao ciberespaço. Assim, a educação online é uma demanda da sociedade da

informação, desse contexto socioeconômico e tecnológico, cujo centro reside na informação

digitalizada como novo modelo de produção.

Mas neste novo modelo de educação, as pessoas portadoras de deficiências muitas

vezes encontram algumas barreiras para seu acesso, e acabam desistindo do curso, sem

completar a formação. Pessoas com deficiência visual não encontram interfaces adequadas

aos softwares de leitura de tela e deficientes auditivos têm dificuldades de acesso à conteúdos

traduzidos para LIBRAS ou legendados, para facilitar sua compreensão.

Em contrapartida, as instituições de ensino também precisam se adequar à legislação

brasileira, sobretudo à Lei de diretrizes e Bases da Educação e a Lei da Acessibilidade, além

das normas para implantação de curso de ensino à distância, regulamentadas pelo Ministério

da Educação.

Neste contexto surge o objeto de estudo da pesquisa de mestrado e seus objetivos,

analisar a usabilidade, a acessibilidade e a experiência de usuário de uma interface de curso

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de ensino à distância além de propor um protótipo para análise dos usuários, com os mesmos

conteúdos, porém desenvolvido segundo padrões de acessibilidade e usabilidade, para

comparar as respostas e obter os níveis de satisfação com ambas interfaces.

2. Referencial teórico

Os principais fundamentos teóricos passaram sobre a legislação brasileira, sobretudo

a LDB (1996), que em seu Art. 59 estabelece que “os sistemas de ensino assegurarão aos

educandos com necessidades especiais: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos

e organização específicos, para atender às suas necessidades”. A “ Lei da Acessibilidade”,

decreto nº 5296, que cita também que deve haver condição para utilização, com segurança e

autonomia, total ou assistida (...) de sistemas e meios de comunicação e informação, por

pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. (BRASIL, 2004)

Sobre usabilidade e acessibilidade digital, o modelo de análise, os conceitos e

fundamentos que nortearam a pesquisa foram propostos por Dias (2007). O modelo utilizado

foi categorizado segundo os Critérios ergonômicos de Bastien e Scapin, Regras de Ouro de

Shneiderman e Heurísticas de Nielsen e distribuídos da seguinte forma:

Quadro 1: Modelo de Análise de Usabilidade

H (heurísticas de usabilidade) C (conteúdo informacional)

P (prioridade da informação)

H1 – visibilidade e reconhecimento do estado, contexto atual e condução do usuário;

C1 – credibilidade P1 – alta

H2 – Projeto estético e minimalista; C2 – suporte P2 – média

H3 – controle do usuário; C3 – previsão P3 – baixa

H4 – Flexibilidade e eficiência de uso;

H5 – prevenção de erros;

H6 – consistência

H7 – compatibilidade com o contexto.

Fonte: Dias (2007).

Moderar testes de usabilidade com algumas populações, segundo Dumas, Loring

(2008), requer um conhecimento adicional, treinamento e preparativos. Mesmo assim,

moderar uma sessão que inclui tecnologia assistiva, intérpretes, ou vários modos de

comunicação pode ser uma experiência muito gratificante. Para recrutar as pessoas que com

deficiência visual, a ferramenta de seleção de usuários para o teste deve incluir, conforme

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Dumas; Loring (2008), algumas questões como: Será que você tem transporte que pode traze-

lo até o local do teste? Precisa de alguma instalação especial? Do que precisa? Qual é o seu

nome? Lê em Braille? Usa tecnologia assistiva (por exemplo, leitor de tela)? Além destas

perguntas, deve-se ler os documentos em voz alta e oferecer documentos para leitura que

tenha letras maiores que 18 pontos, no caso de pessoas com baixa visão. Para pessoas com

deficiência auditiva, o autor (2008) recomenda que talvez seja necessária a presença de um

intérprete durante a avaliação, o que pode aumentar o tempo de execução das tarefas. Não se

deve olhar para o intérprete para ouvir a tradução do que o participante assinalou ou para

assistir o sinal de intérprete para o participante. Na verdade, é considerada uma boa prática

ignorar a comunicação que está ocorrendo e concentrar-se no participante, que está falando.

Para analisar a experiência do grupo de usuários foram utilizados dois questionários.

Com base no método GOMS - Goals, Operators, Methods and Selections rules), proposto por

Card, Moran e Newell, (1983) citado em Cybis et al. (2010, p. 210), foi aplicado um

questionário que tinha por objetivo tomar o tempo das ações físicas e cognitivas associadas à

forma correta de realização de uma tarefa. Outro questionário aplicado foi uma adaptação do

QUIS (questionnaire for user interface satisfaction), citado por Dias (2007), para verificar o

nível de satisfação do usuário com as interfaces apresentadas. O QUIS abrange aspectos da

interface (legibilidade, layout, ícones, apresentação das telas na realização das tarefas e

terminologia adequada).

3. Métodos e procedimentos

O trabalho adotou na fase 1 o estudo de caso e na fase 2 o estudo comparativo como

métodos de pesquisa. Segundo Fialho; Neubauer Filho (2008, p. 4522), o estudo de caso é

um:

tipo de estudo onde o pesquisador geralmente, utiliza como técnicas fundamentais de pesquisa a observação, a entrevista e dados documentais. A técnica da observação tem um papel essencial e, frequentemente, é combinada com a entrevista. Procura-se, de forma geral, organizar e analisar todo o material obtido, afim de se compreender uma dada realidade e propor a sua reprodução ou correções.

Marconi; Lakatos (2011, p. 82), o estudo comparativo é um método que

realiza comparações com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências. […] É usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento.

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O objeto estudado foi o ambiente virtual de aprendizagem do curso de extensão à

distância, intitulado “A deficiência física no contexto escolar”, promovido pelo Laboratório

de Educação Inclusiva, do Centro de Ensino à distância (CEAD) da Universidade do Estado

de Santa Catarina (UDESC). As figuras 1 e 2 mostram duas das telas principais do curso.

Figura 1: Tela de abertura - Interface A - Curso de extensão

Fonte: http://www.moodle.udesc.br

A figura 2 apresenta a tela de abertura do curso de extensão virtual.

Figura 2: Interface A - Vídeo inserido no ambiente do Curso de extensão

Fonte: http://www.moodle.udesc.br

Compondo o grupo para a avaliação de experiência de usuário, modelo citado por

Dias, (2007), Cybis et al. (2010) e Rubin (2008) foram avaliados 15 pessoas, segundo uma

amostra por conveniência definida por Tullis; Albert, (2008) e categorizados em:

• Sujeitos portadores de deficiência visual (DV): completa ou parcial, adultos

(maiores de 18 anos), usuários de tecnologia assistiva para leitura de telas do

computador, familiarizados com tecnologias da informação e comunicação e que

possuam computador com acesso à internet (n= 4);

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• Sujeitos portadores de deficiência auditiva (DA): completa ou parcial,

alfabetizados em LIBRAS ou português, familiarizados com tecnologias da

informação e comunicação e que possuam computador com acesso à internet (n= 3);

• Sujeitos especialistas (DE): designers, adultos, que trabalham e estudam interação e

experiência de usuário e que possuam computador com acesso à internet (n= 5);

• Sujeitos sem deficiência, alunos do curso anterior (AL) : adultos, que fizeram o

curso de extensão do CEAD, completo ou não, que sejam familiarizados com

tecnologias da informação e que possuam computador com acesso à internet (n= 3).

O delineamento experimental foi dividido em duas fases, análise de usabilidade e

conformidade com o UDL e avaliação de experiência de usuário. A fase 1, estudo de caso que

compreendeu uma avaliação analítica de usabilidade e acessibilidade no conteúdo e

ferramentas propostas pelos professores do curso de extensão virtual promovido pelo CEAD

– UDESC (denominada interface “A”).

A fase 2 envolveu a descrição do perfil dos usuários (separados em 4 grupos: DV,

DA, DE e AL) e avaliação de usabilidade e análise de experiência de usuário nas interfaces

“A” e “B”, através da aplicação do questionário de coleta de perfil, teste de usabilidade

utilizando métricas fundamentadas no modelo GOMS (Goals, Operators, Methods and

Selection Rules) e avaliação de satisfação de usuários através do QUIS (Questionnaire for

User Interface Satisfaction), citados em Cybis et al. (2010).

5. Resultados e discussões

O curso foi aplicado no período de julho a agosto de 2012. A análise de acessibilidade

e usabilidade, realizada durante a fase 1 do experimento, utilizou-se do modelo de Dias

(2007), apresentado pela tabela. Alguns exemplos do resultado da análise podem ser

observados nas figuras 3 e 4 abaixo.

Figura 3: Tela de abertura – Interface A – Análise usabilidade

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Fonte: http://www.moodle.udesc.br

A figura 4 demonstra que o título do curso, apresentado na tela 1 não apresenta

conformidade com a heurística 1 (H1 – visibilidade e reconhecimento do estado, contexto

atual e condução do usuário) e a prioridade 1 (P1 - informação clara) de usabilidade do

modelo de Dias (2007), não apresentado visibilidade e reconhecimento do estado, contexto

atual e condução do usuário, por se tratar de um título com imagem. Para usuários com

deficiência visual, que se utilizam de tecnologia assistiva para leitura de tela, apresentado

dessa maneira, o título torna-se sem legibilidade. Já para portadores de deficiência auditiva, o

problema H1 apresenta-se no próprio título em si, já que pessoas com essa deficiência, muitas

vezes são alfabetizadas em LIBRAS e muitas palavras não possuem sinônimos ou tradução,

como é o caso da palavra "contexto". Esta interface também apresenta problema com a

heurística 4 (H4 – Flexibilidade e eficiência de uso) tanto no título, quanto na imagem

apresentada. A imagem traz uma legenda que deve ser utilizada para descrever a imagem.

Neste, caso, a legenda traz uma frase onde uma palavra está escrita com um carácter especial

"@". A frase "Sejam tod@s bem vindos", pode ser entendida por pessoas "normais" mas para

pessoas com visão baixa ou com cegueira completa, torna-se incompreensível, uma vez que o

leitor não reconhece a "@" como uma letra e não faz a leitura correta da frase. Também não

são atendidas as heurísticas C (C1 – credibilidade e C2 – suporte), uma vez que não é

compreendida completamente a imagem.

A figura 3 apresenta a tela do curso que continha o vídeo de apresentação do curso.

Figura 3: Tela de abertura – Interface A – Análise usabilidade

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Fonte: http://www.moodle.udesc.br

Tais análises geraram um quadro resumo das principais inconformidades

apresentadas pela interface do curso de extensão de acordo com o modelo proposto por Dias

(2007). O quadro 2 apresenta estes resultados.

Quadro 2 – Resumo análise da Interface A conforme modelo Dias (2007)

Tela Código (modelo) Inconformidade encontrada

Tela 1 – Interface (A) – “Meus Cursos”

H1 – visibilidade e reconhecimento do estado, contexto atual e condução do usuário.

P1

A interface deve ser executável em todos navegadores e suportes.

A interface oferece baixo contraste no título.

Tela 2 – Interface (A) – Sala de Aula

H1 – visibilidade e reconhecimento do estado, contexto atual e condução do usuário

P1

C1,C2 – credibilidade, suporte

H4 – flexibilidade e eficiência de uso.

Título em formato de imagem;

Caractere especial utilizado em palavra, inteligível para softwares de leitura de tela;

Imagem sem legenda descritiva

Tela 3 – Interface (A) –Texto de Ambientação

H1 – visibilidade e reconhecimento do estado, contexto atual e condução do usuário

P1

Caractere especial utilizado em palavra.

Arquivos para download somente com uma opção de formato

Tela 4 – Interface (A) – vídeo de apresentação

H1 – visibilidade e reconhecimento do estado, contexto atual e condução do usuário

P1

C1,C2 – credibilidade, suporte

H4 – flexibilidade e eficiência de uso.

Vídeo sem legendas e sem tradução para LIBRAS;

Vídeo sem opção de áudio.

Tela 5 – Interface (A) –“Fórum de notícias”

H1 – visibilidade e reconhecimento do estado, contexto atual e condução do usuário

Caractere especial utilizado em palavra.

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P1

C1,C2 – credibilidade, suporte

Tela 6 – Interface (A) –“Café cultural”

H1 – visibilidade e reconhecimento do estado, contexto atual e condução do usuário

P1

C1,C2 – credibilidade, suporte

Caractere especial utilizado em palavra.

Tela 7 – Interface (A) –“Avaliação do curso”

H1 – visibilidade e reconhecimento do estado, contexto atual e condução do usuário

P1

Caractere especial utilizado em palavra.

Fonte: Arquivo pessoal

A partir destas informações levantadas, criou-se um protótipo (interface “B”) com as

modificações necessárias para atender os critérios de usabilidade relacionados no quadro 2.

As figuras 4 a 6 apresentam as telas da interface B.

Figura 4: Tela de abertura – Interface B – Protótipo

Fonte: http://www.moodle.udesc.br

A imagem mostra o título do curso "A pessoa com deficiência física no contexto

escolar", agora em forma de título e com cor em contraste. Logo em seguida, configuram-se

as orientações de acessibilidade, sinalizando que o vídeo possui legendas e tradução para

LIBRAS, além de opção somente de áudio. Outro detalhe são as palavras-chave e as teclas de

atalho, servindo de orientação para navegação no espaço. Além disso, o mesmo texto está

disponível em versão de documentos para download, em versão DOC e PDF. Na figura 5

pode-se observar a continuação da tela de abertura (interface B).

Figura 4: Tela de abertura – Interface B – Protótipo

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Fonte: http://www.moodle.udesc.br

Na figura 4, a imagem de abertura na interface B contém legenda descritiva da

imagem com o atributo ALT (legenda) o mesmo texto, além da descrição da imagem: "A

imagem mostra duas crianças, uma cadeirante no lado esquerdo e outra criança sem

deficiência à direita, brincando de bola na beira da praia, ao pôr do sol" e fonte da imagem.

Uma das mais importantes alterações na Interface B em relação à interface A diz

respeito ao vídeo de abertura, onde foram inseridas as legendas em português, tradução para

LIBRAS além da opção de audio. A figura 6 mostra a tela que continha o vídeo de abertura

do curso, agora inseridas as modificações

Figura 6: Protótipo do curso de extensão - tela 1

Fonte: http://www.moodle.udesc.br

Após o desenvolvimento da interface protótipo, realizou-se a fase 2 do experimento

com o grupo de voluntários, apresentando as duas interfaces em encontros virtuais, para

análise dos através da aplicação de questionários formulados com base nas métricas GOMS e

QUIS. Os resultados obtidos nos dois testes foram comparados.

Durante a aplicação do GOMS, foi medido o tempo de resposta das tarefas e a

quantidade de erros encontrados durante a avaliação.

A figura 7 apresenta o histograma de frequências do número de erros encontrados nas

tarefas do GOMS nas Interfaces A e B durante a aplicação do teste GOMS.

Gráfico 1: Histograma de frequências do número de erros encontrados nas

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tarefas do GOMS nas Interfaces A e B

Fonte: arquivo pessoal

Na comparação dos resultados dos erros cometidos nas tarefas do GOMS entre as

interfaces A e B com nível de significância de 5%. Os resultados apresentaram diferenças no

grupo de deficientes auditivos (p= 0.500) e no grupo de designers (p=0.500).

Foi realizada também a comparação de erros entre grupos de indivíduos em ambas

interfaces interfaces e os resultados apresentaram diferenças significativas tanto na interface

A (p=0.042) quanto na interface B (p=0.053).

Fazendo também a comparação aos pares por grupos de indivíduos nas interfaces A e

B percebeu-se que houveram diferenças nos erros quando comparados os grupos de

deficientes visuais (p=0.007) com os designers (p=0.012) em ambas interfaces. Entre o grupo

DV e AL houve diferença somente na interface B (p=0.011). Já entre o grupo DA comparado

ao grupo DE houve diferença estatisticamente significativa somente na interface A (p=0.017).

Em relação à comparação das respostas da aplicação do QUIS, os gráficos também

sugerem benefícios da interface B em relação à interface A. O gráfico 2 apresenta os

resultados da satisfação global por grupo de usuários na comparação entre as interfaces A e B.

Gráfico 1: Histograma de frequências do número de erros encontrados

nas tarefas do GOMS nas Interfaces A e B

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Fonte: arquivo pessoal

Realizando também a comparação da satisfação global entre as duas interfaces por

categorias de indivíduos os resultados apresentaram diferenças significativas no grupo DA

(p=0.500) e no grupo DE (p=0.020). Estes índices podem ser analisados pelo fato do grupo de

designers, por se tratarem de especialistas, terem oferecido sugestões de melhorias em ambas

interfaces.

A comparação aos pares dos grupos de indivíduos da satisfação nas interfaces A e B

indicaram diferenças significativas na satisfação entre os grupos em ambas interfaces. Na

interface A (p=0.009) e na interface B (p=0.009), encontrou-se diferença na satisfação entre

os deficientes auditivos e designers. Encontrou-se diferenças em ambas interfaces também

entre os designers e alunos do curso.

As modificações realizadas no protótipo referem-se somente à parte que é

modificável pelos professores e aos conteúdos que foram publicados, excluindo assim a

interface do MOODLE®, embora muitos indivíduos analisados encontraram problemas e

dificuldades de acesso neste ambiente de aprendizagem.

A observação dos dados levantou algumas discussões sobre a formação e informação

de professores para configuração de ambientes virtuais de aprendizagem, a inexperiência de

designers para desenvolvimento de interfaces gráficas com recursos de acessibilidade e a

ausência de recursos para a correta comunicação com indivíduos portadores de deficiência

auditiva.

As modificações realizadas no protótipo sugerem ferramentas simples e pequenos

ajustes que podem melhorar ou até mesmo proporcionar o acesso de pessoas que antes

encontravam dificuldades de interação com estes ambientes. Após a avaliação, muitos

usuários portadores de deficiência manifestaram interesse em participar de cursos à distância

que fossem desenvolvidos de acordo com o protótipo apresentado.

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4. Referências

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BATISTA, Márcia Luiza França da Silva; MENEZES, Marizilda dos Santos. O Design Gráfico e o Design Instrucional na Educação a Distância. Disponível em: < http://portal.anhembi.br/sbds/pdf/7.pdf > Acesso em: 26 fev.2013.

CYBIS, Walter Otto; BETIOL, Adriana Holtz; FAUST, Richard. Ergonomia e usabilidade: conhecimentos, métodos e aplicações. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Novatec, 2010. 422 p.

DIAS, Cláudia. Usabilidade na WEB: criando portais mais acessiveis. 2. ed. Rio de Janeiro: Alta Books, 2003. 296 p.

DUMAS, Joseph S.; LORING, Beth A. Moderating usability tests: principles and practice for interacting. Amsterdam: Elsevier, 2008. 185 p.

GOMS. Goals, Operators, Methods and Selections rules. Disponível em: < https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dG84R0FMZjNQby00ci1zbDN2amNvNUE6MA#gid=0 > Acesso em: 28 fev.2013

MORAN, José Manuel. Contribuições para uma pedagogia da educação online. In: SILVA, Marcos.(Org). Educação Online: teorias, práticas, legislação, formação corporativa. São Paulo: Loyola, pp. 39-50.

NIELSEN, J. Ten Usability Heuristics. 1994. Disponível em: < http://bit.ly/cE8j52 >

______. Projetando websites. Rio de Janeiro: Campus, c2000. 416 p.

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