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1 IV SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO DE RUMINANTES NO CERRADO Uberlândia-MG, 12 e 13 de abril de 2018 ANAIS Tema: Eficiência Produtiva e Impacto Ambiental na Produção de Ruminantes COORDENAÇÃO: Prof. Dr. Gilberto de Lima Macedo Júnior Prof a . Dra. Simone Pedro da Silva FAMEV UFU

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IV SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO DE RUMINANTES NO

CERRADO

Uberlândia-MG, 12 e 13 de abril de 2018

ANAIS

Tema: Eficiência Produtiva e Impacto Ambiental na Produção de Ruminantes

COORDENAÇÃO: Prof. Dr. Gilberto de Lima Macedo Júnior

Profa. Dra. Simone Pedro da Silva

FAMEV UFU

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IV SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO DE RUMINANTES NO

CERRADO

Uberlândia-MG, 12 e 13 de abril de 2018

ANAIS

Tema: Eficiência Produtiva e Impacto Ambiental na Produção de Ruminantes

COORDENAÇÃO: Prof. Dr. Gilberto de Lima Macedo Júnior

Profa. Dra. Simone Pedro da Silva

Uberlândia

FAMEV UFU

2018

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IV Simpósio Brasileiro de Produção de Ruminantes no Cerrado

Promoção e Organização

Universidade Federal de Uberlândia

Faculdade de Medicina Veterinária

Realização

Universidade Federal de Uberlândia/Faculdade de Medicina Veterinária

Comissão Organizadora

Prof. Dr. Gilberto de Lima Macedo Júnior

Profa. Dra. Janine França

Profa. Dra. Simone Pedro da Silva

Ana Caroline Rodrigues da Cunha

Andressa Rodrigues Gomes

Beatriz Mendes Cardoso

Ester Ferreira Felipe

Fernanda Colen Barboza

Gabriel Corsino Borges

Paulo Arthur Cardoso Ruela

Raphaella Arantes Pereira

Vitor Gabriel Resende Olive

Comissão Técnico Científica

Prof. Dr. Gilberto de Lima Macedo Júnior

Profa. Dra. Simone Pedro da Silva

Comissão Editorial Profa. Dra. Simone Pedro da Silva

Paulo Arthur Cardoso Ruela

Revisão ortográfica

Prof. Dr. Gilberto de Lima Macedo Junior

Profa. Dra. Simone Pedro da Silva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S612 a

Simpósio Brasileiro de Produção de Ruminantes no Cerrado (4. : 2018:

Uberlândia, MG)

Anais / IV Simpósio Brasileiro de Produção de Ruminantes no

Cerrado, 12 e 13 de abril de 2018 em Uberlândia, Minas Gerais;

coordenadores Gilberto de Lima Macedo Júnior, Simone Pedro da Silva. -

Uberlândia : UFU, 2018.

272 p.

ISBN: 978-65-80045-00-6

Inclui bibliografia.

Tema: Eficiência produtiva e impacto ambiental na produção de

ruminantes.

1. Veterinária - Congressos. 2. Ruminante - Congressos. 3.Bovino –

Nutrição. 4. Meio ambiente. 5. Sustentabilidade. I. Macedo Júnior, Gilberto

de Lima. II. Silva, Simone Pedro de III.. Universidade Federal de

Uberlândia. IV. Título.

CDU: 619

Universidade Federal de Uberlândia - Faculdade de Medicina Veterinária Campus

Umuarama - Bloco 2T - Av. Pará, 1720 - Bairro Umuarama

Uberlândia - MG - CEP 38400-902 [email protected]

http://www.eventos.ufu.br/iv-simprucerrado/

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PREFÁCIO A palavra simpósio é de origem grega, sendo formada pela junção do prefixo

syn, que significa “junto”, com o sufixo posion, com significado de “beber”. Dessa

forma, simpósio pode ser definido etimologicamente como “beber em grupo”. De fato,

na Grécia Antiga, os simpósios eram encontros sociais nos quais os participantes

bebiam e filosofavam. O ato de filosofar consiste em meditar, raciocinar, discorrer ou

discutir sobre questões relacionadas a um tema qualquer. Nesse contexto, nesta quarta

edição do Simpósio Brasileiro de Produção de Ruminantes no Cerrado

(SIMPRUCERRADO), realizado pela Faculdade de Medicina Veterinária, da

Universidade Federal de Uberlândia, o tema a ser apresentado e analisado é a

“Eficiência produtiva e o impacto ambiental na produção de ruminantes”.

A busca por eficiência deve ser uma constante nos sistemas de produção de

ruminantes, isto é, sempre que possível deve-se almejar a melhor produção com o

mínimo de erros. E dentre os possíveis erros, aqueles relacionados às questões

ambientais (e.g. degradação do solo, poluição da água e da atmosfera, perda de

biodiversidade) estão em evidência, são relevantes e, portanto, não podem ser

negligenciados.

A produção de ruminantes é importante para o Brasil, pois está presente em

praticamente todos os municípios, é fonte de divisas e gera milhões de empregos diretos

e indiretos. Porém, essa atividade necessita de constante aperfeiçoamento, a fim de se

manter competitiva frente às alternativas de uso da terra. Por isso, a divulgação e a

análise crítica das mais recentes tecnologias geradas no Brasil e no mundo são

fundamentais para o desenvolvimento sustentável dos sistemas brasileiros de produção

de ruminantes.

Nesse sentido, a realização de simpósios, como o SIMPRUCERRADO, por

reunirem profissionais e pesquisadores que são referências em suas áreas de atuação,

consiste em maneira efetiva de divulgar o conhecimento e, certamente, contribui para a

formação dos profissionais da área.

Tenho certeza que os temas apresentados e discutidos durante o evento (e agora

reunidos neste Anais!) serão de grande auxílio para todos aqueles que acreditam que o

uso do conhecimento é premissa para a adequada gestão dos sistemas de produção de

ruminantes.

Manoel Eduardo Rozalino Santos Professor na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia

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APRESENTAÇÃO

Diante da importância da agropecuária na produção de alimentos e geração de

renda, recentemente muito se discute sobre o impacto ambiental das atividades

pecuárias e agrícolas, principalmente pertinentes às mudanças climáticas, sendo a

pecuária muito criticada por emitir grandes quantidades de gases de efeito estufa (GEE)

oriunda da fermentação entérica. O Brasil devido ao grande tamanho do rebanho, idade

ao abate tardia e sistema de criação em pastagens, com predomínio de áreas em estágio

de degradação é visto como um dos maiores contribuintes nas emissões de GEE.

Gases gerados durante o processo de fermentação ruminal, metano em

particular, representam não só problemas de ordem ambiental, mas constitui perda

parcial de energia da alimentação. Dessa forma, o desenvolvimento de estratégias para

reduzir a emissão de metano por ruminantes consiste em melhorar a eficiência de uso da

energia por esses animais. Nesse sentido, diversas pesquisas têm sido desenvolvidas

para buscar aumento de eficiência alimentar e com isso gerar menor produção de GEE.

Várias alternativas como manejo adequado da pastagem, alta produtividade animal,

melhoramento genético e redução da demanda por novas áreas de pastagens têm

contribuído para uma pecuária mais sustentável. Ademais, novas tecnologias utilizadas

na nutrição de ruminantes, como o uso de aditivos alimentares podem gerar menor

emissão de gases do efeito estufa para a atmosfera.

Além da responsabilidade relacionada à emissão de GEE oriundas da produção

animal, nos últimos anos tem crescido também a preocupação com o uso da água nos

sistemas de produção. Valores de pegada hídrica recentemente publicados são

extremamente altos para produção de carne e leite no mundo e tem levado organizações

governamentais e não governamentais, bem como a sociedade discutir e desenvolver

ferramentas para diminuir o consumo de água na produção de produtos de origem

animal. Dessa forma, torna-se de fundamental importância o desenvolvimento de

pesquisas realizadas no Brasil para quantificar o consumo de águas nesses sistemas.

Nessa perspectiva, verifica-se grande demanda por profissionais da área de

Medicina veterinária, Zootecnia e Agronomia, também pela comunidade acadêmica por

informações atualizadas sobre a produção de ruminantes visando máxima eficiência

produtiva e redução nos impactos ambientais. A Faculdade de Medicina Veterinária da

Universidade Federal de Uberlândia oferece os cursos de Zootecnia e Medicina

Veterinária, sendo assim, existe uma constante busca por informações técnicas

relacionadas à produção de ruminantes, de forma a gerar dados de pesquisa e atender a

demanda da sociedade que está ligada a este tema. Por este motivo, o IV Simpósio

Brasileiro de Produção de Ruminantes: eficiência produtiva e impacto ambiental na

produção de ruminantes, tem por objetivo trazer informações sobre produção, nutrição

de ruminantes e manejo das pastagens visando à sustentabilidade do sistema produtivo.

Os Editores

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ÍNDICE

PALESTRAS

1. Eficiência na produção de bovinos e o impacto ambiental da atividade

pecuária

12

Ricardo Andrade Reis, Abmael da Silva Cardoso, Lutti Maneck Delevatti,

Rhaony Gonçalves Leite, Débora Siniscalchi, Ana Cláudia Ruggieri

2. Estratégias de manejo do pastejo para redução de impactos ambientais 20

Marília Barbosa Chiavegato, Guilhermo Francklin de Souza Congio, Sila

Carneiro da Silva

3. Oportunidades de mitigação de metano por meio do melhoramento

genético animal

42

Maria Eugênia Zerlotti Mercadante, Roberta Carrilho Canesin, Elaine

Magnani

4. Pegada hídrica na produção de carne e leite bovino no Brasil 55

Julio Cesar Pascale Palhares

5. Produção de Carne carbono neutro: um novo conceito para carne

sustentável produzida nos trópicos

73

Patrícia Perondi Anchão Oliveira, José Ricardo Macedo Pezzopane, André

de Faria Pedroso, Maria Luiza F. Nicodemo, Alexandre Berndt

6. Técnicas para mensurar emissão de metano em bovinos 85

Alexandre Berndt, Paulo de Méo Filho, Leandro Sannomiya Sakamoto,

Marcela Morelli

7. Uso de taninos para melhorar a eficiência de uso da energia e reduzir

emissão de CH4

97

Marcelo Manella, Iorrano Andrade Cidrini

8. Emissão de gases do efeito estufa em métodos de conservação de

forragem

Patrick Schmidt e Camilla Maciel de Souza

116

9. Sistema Produtivo para uma Pecuária Sustentável

Gustavo Rezende Siqueira, Ivanna Moraes de Oliveira, Cleisy Ferreira do

Nascimento, Valquíria Alencar Beserra, Felipe Almeida Nascimento, Flávio

Dutra de Resende

129

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RESUMOS EXPANDIDOS

1. Acesso à Informação e Caracterização da Produção de Bovinos de Corte

do Sudeste Goiano

145

Vitória Mendes André, Jéssica M. Paranhos Borges, Isadora de Ávila

Caixeta, Laya Kannan S. Alves, Janine França

2. Analise econômica em Brachiaria híbrida Convert HD 364 submetida à

aplicação de adubo foliar no final na época das águas

150

Hygor Luís G. de Fátima, Paulo Vitor Pereira, Camilla Souza Ferreira,

Lorena Borba Vilela, Leandro Martins Barbero, Natascha Almeida Marques

da Silva

3. Análise de metabólitos hepáticos e energéticos em ovelhas adultas

recebendo volumoso extrusado com leveduras e óleo essencial como

aditivos

154

Mylena Cristina Ribeiro Borges, Gilberto de Lima Macedo Junior, Rosemar

Alves de Carvalho Júnior, Tamires Soares de Assis, Karla Alves Oliveira,

Carolina Moreira Araújo

4. Avaliação de metodologias para estimativa de massa de forragem

disponível em capim-braquiária

159

Nathalia Tami Nishida, Jorge Luis Malafatti, Lucas da Rocha Carvalho,

Valdo Rodrigues Herling, Lilian Elgalise Techio Pereira

5. Avaliação do metabolismo energético de ovelhas gestantes alimentadas

com diferentes fontes lipídicas

164

Luciana Melo Sousa, Thauane Ariel Valadares de Jesus, Maria Júlia

Pereira de Araújo, Adriana Lima Silva, Marco Túlio Santos Siqueira,

Gilberto de Lima Macedo Júnior

6. Avaliação do metabolismo protéico em borregas alimentadas com níveis

crescentes de um complexo enzimático exógeno

169

Marcio Henrique Viana, Jhone Tallison Lira de Sousa, Adriana Lima Silva,

Marco Túlio Santos Siqueira, Gilberto de Lima Macedo Junior, Luciano

Fernandes Sousa

7. Avaliação dos metabólitos proteicos de ovelhas adultas com dieta

baseada em volumoso extrusado com diferentes aditivos

174

Mylena Cristina Ribeiro Borges, Gilberto de Lima Macedo Junior, Rosemar

Alves de Carvalho Júnior, Tamires Soares de Assis, Karla Alves Oliveira,

Carolina Moreira Araújo

8. Avaliação dos metabólitos proteicos de ovinos alimentados com

volumoso extrusado contendo diferentes aditivos

178

Débora Adriana de Paula Silva, Gilberto de Lima Macedo Junior, Laura

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8

Ferrari Monteiro Varanis, Karla Alves Oliveira, Carolina Moreira Araújo,

Tamires Soares de Assis

9. Avaliação dos metabólitos proteicos em ovinos consumindo volumoso

extrusado com diferentes aditivos

183

Jhoanny Rodrigues Dutra, Gilberto de Lima Macedo Júnior, Rosemar Alves

de Carvalho Júnior, Tamires Soares de Assis, Laura Ferrari Monteiro

Veranis, Karla Alves de Oliveira, Carolina Moreira Araújo

10. Comportamento ingestivo de borregas alimentadas com níveis

crescentes de enzima amilolítica

188

Jhone Tallison Lira de Sousa, Debora Adriana de Paula Silva, Paulo Arthur

Cardoso Ruela, Paola Rezende Ribeiro, Gilberto de Lima Macedo Junior,

Luciano Fernandes Sousa

11. Consumo de água e escore fecal de borregas alimentadas com níveis

crescentes de um complexo enzimático exógeno

193

Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor

dos Santos, Lucas Rodrigues Queiroz, Gilberto de Lima Macedo Junior,

Luciano Fernandes Sousa

12. Determinação da lignina em feno de capim-tifton 85 por diferentes

métodos

198

Bruno Fernandes Vireira, Leandro Galzerano, Eliane da Silva Morgado

13. Dinâmica do alongamento de folhas e colmos ao longo da rebrotação em

pastos de Brachiaria decumbens cv. Basilisk submetidos a regimes de

fertilização

202

Lilian Elgalise Techio Pereira, Bruna Scalia de Araújo Passos, Jorge Luis

Malafatti, Luan Jardim de Sousa, Caio Augusto Bertolini, Valdo Rodrigues

Herling

14. Efeito de diferentes aditivos alimentares sobre os metabólitos hepáticos

e energéticos de ovinos

207

Débora Adriana de Paula Silva, Gilberto de Lima Macedo Junior, Laura

Ferrari Monteiro Varanis, Karla Alves Oliveira, Carolina Moreira Araújo,

Tamires Soares de Assis

15. Metabólitos energéticos e hepáticos de ovelhas no final da gestação

suplementadas com dois níveis de concentrado

212

Marco Túlio Santos Siqueira, Gilberto de Lima Macedo Júnior, Thauane

Ariel Valadares de Jesus, Maria Julia Pereira de Araújo, Adriana Lima

Silva, Paulo Arthur Cardoso Ruela

16. O Lactobacillus buchneri pode afetar as perdas fermentativas em um

período curto de armazenagem da silagem de milho?

217

Marina Elizabeth Barbosa Andrade, Luis Gustavo Rossi, Carlos Henrique

Silveira Rabelo, Ricardo Andrade Reis

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17. Padrão da distribuição nictemeral do comportamento de borregas

alimentadas com níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno

221

Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, Karla Alves

Oliveira, Carolina Moreira Araújo, Gilberto de Lima Macedo Junior,

Luciano Fernandes Sousa

18. Perfil glicêmico de borregas alimentadas com níveis crescentes de um

complexo enzimático exógeno

226

Marcio Henrique Viana, Jhone Tallison Lira de Sousa, Maria Julia Pereira

de Araújo, Thauane Ariel Valadares de Jesus, Gilberto de Lima Macedo

Junior, Luciano Fernandes Sousa

19. Perfil metabólico energético e enzimático de ovinos recebendo volumoso

extrusado com diferentes aditivos

230

Jhoanny Rodrigues Dutra, Gilberto de Lima Macedo Júnior, Rosemar Alves

de Carvalho Júnior, Tamires Soares de Assis, Laura Ferrari Monteiro

Veranis, Karla Alves de Oliveira, Carolina Moreira Araújo

20. Presença de urânio em fontes de fósforo para a nutrição animal 235

Avelar A.C1., Ferreira W.M., Faria P.H.R., Torres S.A., Eller J.C

21. Produção de forragem de pastos de Brachiaria brizantha cv. Xaraés em

resposta à adubação nitrogenada

240

Jorge Luis Malafatti, Caio Augusto Bertolini, Lucas da Rocha Carvalho,

Luan Jardim de Sousa, Nathalia Tami Nishida, Lilian Elgalise Techio

Pereira

22. Qualidade da silagem de sorgo confeccionada com diferentes tipos de

vedação

245

Karin Van Den Broek, Felipe Antunes Magalhães, João Victor Silva

Barbosa, Vinícius Pereira da Silva, Gustavo Segatto Borges, Matheus

Felipe Barbosa Dias

23. Relação entre interceptação luminosa e altura pré-corte em pastos de

Brachiaria decumbens cv. Basilisk submetidos a regimes de fertilização

250

Lilian Elgalise Techio Pereira, Bruna Scalia de Araújo Passos, Jorge Luis

Malafatti, Luan Jardim de Sousa, Caio Augusto Bertolini, Valdo Rodrigues

Herling

24. Taxas de acúmulo de forragem em pastos de Arachis pintoi cv. Belmonte

submetidos a estratégias de pastejo rotativo

255

Lucas da Rocha Carvalho, Bia Anchão Oliveira, Luiz Henrique Goulart

Bernardes, Lilian Elgalise Techio Pereira, Sila Carneiro da Silva

25. Tendência genética de características de conformação corporais de

touros Gir Leiteiros de centrais de inseminação

260

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10

Isadora de Ávila Caixeta, Nayara Ferreira Gomes, Vitória Mendes André,

Laya Kannan S. Alves, Janine França

26. Utilização do Foragge 52,5% em substituição à silagem de milho sobre

parâmetros metabólicos de ovinos

264

Marco Túlio Santos Siqueira, Gilberto de Lima Macedo Júnior, Carolina

Moreira Araújo, Karla Alves Oliveira, Tamires Soares de Assis, Rosemar

Alves de Carvalho Júnior

27 Avaliação do metabolismo proteico de ovelhas gestantes alimentadas

com diferentes fontes lipídicas

268

Luciana Melo Sousa, Thauane Ariel Valadares de Jesus, Maria Júlia

Pereira de Araújo, Adriana Lima Silva, Marco Túlio Santos Siqueira,

Gilberto de Lima Macedo Júnior

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PALESTRAS

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12

Eficiência na produção de bovinos e o impacto ambiental da atividade pecuária

Ricardo Andrade Reis

1, Abmael da Silva Cardoso

1, Lutti Maneck Delevatti

1, Rhaony Gonçalves

Leite1, Débora Siniscalchi

1, Ana Cláudia Ruggieri

1

1 Departamento de Zootecnia, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, Universidade Estadual

Paulista (UNESP), Jaboticabal-SP, email: [email protected]

Resumo: A ingestão de proteínas de origem animal provocou um aumento no tamanho

do cérebro dos seres humanos que posteriormente associada a conquista do fogo

possibilitou o desenvolvimento de ferramentas e o estabelecimento da civilização. Na

sociedade contemporânea, modernas técnicas são utilizadas para a produção de animais.

Porém, a produção de alimentos de origem animal necessita de constantes

aprimoramentos para responder aos desafios ambientais, econômicos e sociais. Entre os

desafios ambientais está o uso da terra, pois, essa atividade demanda extensas áreas de

terras, que associada a ineficiência do uso de nitrogênio e a consequente emissão deste

como óxido nitroso, um potente gás de efeito estufa, volatilização de amônia e

lixiviação do nitrato e a emissão de metano pelos ruminantes. No que se refere a parte

econômica tem-se a remuneração ao produtor (custo de produção x preço da arroba) e o

acesso ao produto carne pelos consumidores. Mormente aos aspectos sociais temos a

qualidade de vida dos pecuaristas e os hábitos de consumo de proteína animal pela

população. Neste texto abordaremos os impactos ambientais para a produção de bovinos

de corte e como aumentar a eficiência agronômica, zootécnica e ambiental da produção

de bovinos em sistemas de produção a pasto.

Palavras-chave: bovinocultura de corte, emissão de gases efeito estufa, suplementação

animal, adubação de pastagens.

1. Introdução

Em 2017 a bovinocultura de corte brasileira mais uma vez foi grande

responsável pela geração de receitas e saldo comercial para o Brasil. De acordo com a

consultoria Safras & Mercados em 2017 o Brasil exportou 1,21 bilhões de toneladas de

carne bovina, um aumento de 12,4% sobre o ano anterior e o total exportado foi

equivalente a aproximadamente 17,3 bilhões de reais. A atividade pecuária ocupa em

torno de 170 milhões de hectares de terra e atingiu em 2016 um rebanho de 218 milhões

de hectares (IBGE, 2017).

O sucesso da pecuária brasileira está em parte relacionado a sua produção com

base na utilização de pastagens. Com a introdução de forrageiras do continente africano

e algumas melhorias no manejo das pastagens (ex. adubação e controle de invasoras) a

taxa de lotação média passou de 0,5 UA no começo dos anos 1970 para 1,29 nos

meados da corrente década (Wedekin et al., 2017). Atualmente as principais forrageiras

utilizadas no Brasil central são as cultivares de Brachiaria (Marandu, Xaraés e Piatã),

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Panicum (Tanzânia e Mombaça) e em menor quantidade forrageiras dos gêneros

Penissetum, Cynodon, Andropogon e Hyparrenia. As forrageiras tropicais são

caracterizadas, em geral por possuírem baixo teor de proteína e elevados teores de fibra.

Além de uma variação sazonal na produção de massa de forragem e composição

química. Portanto, exigindo estratégias para contornar essa variação e as deficiências

nutricionais.

Dentre as estratégias de manejo de pastagens, a suplementação da dieta do animal

em pastejo tem como objetivo oferecer os minerais que não são supridos pelo consumo

de forragem, aumentar o sincronismo entre as liberações de energia e proteína e a

quantidade de nutrientes digestíveis totais ingeridos pelos animais de forma a aumentar

o desempenho animal (Reis et al., 2009). A suplementação animal é estratégica para o

aumento da eficiência da produção animal, pois, além de aumentar o ganho de peso

também reduz as taxas de mortalidade e pode elevar a lucratividade. Os suplementos

podem estimular o crescimento microbiano aumentando a fermentação e,

consequentemente aumentar a digestibilidade das fibras e aproveitamento da forragem.

Atualmente os principais impactos ambientais ocasionados pela produção de

ruminantes em pastagens estão relacionados a emissão de gases de efeito estufa (GEE).

O aumento da concentração destes gases na atmosfera pode estar ocasionando um

incremento na temperatura média da superfície. Entre 2001 e 2016 o recorde de

temperatura média global foi superado 8 vezes. A temperatura média global já está 1,8

ºC acimada da temperatura média anterior a 1750. Os principais GEE são o dióxido de

carbono (CO2) que em sistemas de pastagens é emitido principalmente quando ocorre

oxidação da matéria orgânica do solo, ou seja, perda de estoques de carbono. O segundo

gás mais relevante é o metano (CH4), este é produzido durante a fermentação dos

alimentos no rúmen sendo eructado pelos animais e em menor parte pelas fezes dos

animais. O terceiro gás emitido de forma significativa é o óxido nitroso (N2O) que é

emitido pelas excreções de fezes e urina pelos animais e utilização de adubos

nitrogenados.

Os dados mais recentes sobre emissão de GEE pelo Brasil, referentes ao ano de

2015, mostram que a agropecuária é responsável por 31% do total de gases emitidos

pelo país. A participação da agropecuária no total emitido pelo país tem diminuído nos

anos recentes, principalmente devido a melhoria nos índices produtivos. Dentro das

atividades agropecuárias a fermentação entérica é responsável por 17,6%, os solos

agrícolas por 11,1% e o manejo de dejetos de animais por 1,2% do total emitido pelo

Brasil (MCTI, 2017).

Para reduzirmos o impacto ambiental causado pela produção de bovinos de corte

um conceito bastante discutido atualmente é a intensificação sustentável. A

intensificação sustentável visa aumentar a produção de alimentos sem aumentar a área

necessária para produção e ao mesmo tempo aumentar os processos e serviços

ecossistêmicos. Na bovinocultura de corte isso significa aumentar a taxa de desfrute do

rebanho e, principalmente manejar as pastagens para aumentar as taxas de lotação

médias que são muito baixas no Brasil.

2. Impactos ambientais

Como citado acima a fermentação entérica é responsável por 17.4% de todas as

emissões de GEE do Brasil. Isto ocorre porque durante a fermentação dos alimentos no

rúmen do animal é produzido o gás CH4. A produção deste gás é um processo natural

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para remover o excesso de hidrogênio do rúmen que é produzido durante a fermentação

de carboidratos fibrosos. Sem a remoção do hidrogênio o processo de fermentação seria

inibido levando ao colapso do processo de digestão. Entre 3 e 11% da energia bruta

ingerida pelos ruminantes é perdida na forma de CH4. Quanto maior for a quantidade de

fibra na dieta e pior a sua qualidade, maior será a produção de CH4. O processo de

produção de CH4 é mediado por micro-organismos, principalmente do grupo Archaea

(Cottle et al., 2011).

Diversas estratégias têm sido apontadas para redução da emissão de CH4 por

bovinos. As estratégias para mitigação são a inibição da metanogênese, redução da fonte

de substrato, promover outros processos ou aumentar a vida de outros organismos que

consomem hidrogênio e assim aumentar a produtividade animal (Hristov et al., 2013).

A metanogênese pode ser inibida por substâncias como o 2-bromoetanosulfanato

(BES), a utilização de metabolitos secundários de plantas tais como taninos

condensados, óleos essenciais e vacinação para reduzir a população de archaeas. A

influência destes inibidores varia de acordo com o grupo de micro-organismos

metanogênicos.

A quantidade de hidrogênio disponível para produção de CH4 pode ser

influenciada pela ingestão de ionóforos como monensina, aumentar a quantidade de

concentrado na dieta, inclusões de nitrato e sulfato na dieta.

Já o aumento de produtividade, por exemplo, aumento do peso e rendimento de

carcaça, pode levar a redução de CH4 por kg de carne produzida. Essa estratégia é

atingida através da oferta de alimento de alta qualidade, manejo e genética. Para

avaliarmos essa estratégia de mitigação o melhor indicador é a pegada de carbono que

mede a intensidade de emissão.

Cardoso et al., (2016) estudaram a pegada de carbono de diferentes sistemas de

produção de bovinos de corte no Brasil central. Eles observaram que a pegada de

carbono foi de 58.3, 40.9, 29.6, 32.4 e 29.4 kg/kg carcaça em sistema extensivo, semi-

intensivo, intensivo com leguminosas, intensivo e intensivo com terminação em

confinamento, respectivamente. De Figueiredo et al., (2016) avaliaram o efeito da

degradação e sistemas integrados sobre a intensidade de emissão em sistemas de

produção de bovinos de corte. Estes autores observaram que a maior emissão ocorre em

sistemas de pastagens degradadas 37.0 kg CO2/kg de carcaça que é praticamente o

dobro do emitido por kg de carcaça em pastagens produtivas (Tabela 1).

Tabela 1 – Pegada de carbono (kg CO2/kg) em diferentes sistemas de produção de

bovinos de corte no Brasil Central.

Sistema de Produção Pegada de carbono Autores

Extensivo 58,3 Cardoso et al., (2016)

Semi-intensivo 40,9 Cardoso et al., (2016)

Intensivo com leguminosas 29,6 Cardoso et al., (2016)

Intensivo 32,4 Cardoso et al., (2016)

Intensivo com terminação em

confinamento

29,4 Cardoso et al., (2016)

Pastagens degradadas 37,0 De Figueiredo et al., (2016)

Pastagens produtivas 18,8 De Figueiredo et al., (2016)

Integração lavoura-pecuária-

floresta

25,2 De Figueiredo et al., (2016)

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A avaliação de CH4 de origem entérica é custosa, especialmente a pasto o que

dificulta a realização de estudos massivos em nível de país. No que se refere ao efeito

do manejo do pasto sobre a emissão de CH4, Barbero et al., (2015) avaliaram o efeito da

intensidade de pastejo (3 alturas de manejo de capim-marandu, 15, 25 e 35 cm) e

encontraram uma produção de metano por animal dia que variou de 123 a 132

g/animal/dia que não foram estatisticamente diferentes. Porém, o total emitido foi

inferior ao preconizado pelo IPCC (Painel Intergovernamental para Mudanças

Climáticas) 46,5 kg/cabeça/ano medido no estudo de Barbero et al. (2015) versus 56 kg/

cabeça/ano definidos no guia do IPCC de 2006.

Outra estratégia de manejo do pasto (manejo da adubação nitrogenada) encontra-

se em avaliação como estratégia para mitigar as emissões de CH4. Neste estudo

conduzido na Unesp de Jaboticabal no nordeste paulista está-se avaliando o efeito de

doses de nitrogênio (0, 90, 180 e 270 kg/ha/ano) em pastos de capim-marandu

manejados em sistema de lotação continua e carga variável a 25 cm de altura sobre a

emissão de CH4 por tourinhos Nelore. Os resultados preliminares indicam que não há

diferenças na emissão por animal em função da dose de adubo em média 113,6

g/animal/dia. Porém, decaiu quando a emissão de metano foi avaliada em relação ao

ganho de peso (g de CH4/ kg de ganho de peso). De forma similar ao trabalho de

Barbero et al. (2015) neste estudo em progresso as emissões também são inferiores a

preconizada pelo IPCC.

No que tange aos impactos ambientais causado pelo uso de nitrogênio está a

emissão de N2O. O óxido nitroso é um potente gás de efeito estufa; o seu potencial de

aquecimento global é 265 vezes maior do que o do CO2 em um horizonte de 100 anos.

A emissão de N2O ocorre durante as reações de nitrificação e desnitrificação do ciclo do

nitrogênio, depende da quantidade de N disponível (amônio e nitrato) e carbono

disponível do solo, este processo é regulado, principalmente pela umidade e temperatura

do solo (Cowan et al., 2017).

Para realização de inventários de gases ou calcular a pegada de carbono o fator de

emissão (quantidade de N excretada ou aplicada emitida como N2O) estabelecido pelos

autores do IPCC é de 2% para o N excretado na forma de urina e fezes em pastagens e

de 1% pela aplicação de adubos nitrogenados, independente da fonte, forma de

aplicação ou dose (Herron et al., 2017). No entanto, avaliações em pastagens tropicais

tem demostrado que a emissão de N2O por excretas bovinas é muito menor do que o

preconizado pelo IPCC. Cardoso et al. (2018) avaliaram a emissão por fezes, urina,

fezes + urina e aplicação de ureia em pastos de capim-marandu. Os autores encontraram

emissões de 0.47, 0.32, 0.34 e 0.71% do N aplicado, respectivamente, nas fezes, urina,

fezes + urina e ureia.

A opções de redução do impacto ambiental pela emissão de N2O foram

compiladas por Ruggieri e Cardoso (2017) que são: Manejo da pastagem visando

reduzir a compactação do solo pelo uso do maquinário e pisoteio dos animais, aumentar

a matéria orgânica do solo através da manutenção de resíduos culturais do pasto.

Aumentar a utilização do N pelos animais através do balanço entre proteína e energia

metabolizável. Melhorar o uso de N pelas forrageiras através do parcelamento da

adubação nitrogenada e época de adubação. Aumentar o uso de forrageiras leguminosas.

Reduzir o uso de fertilizantes nitrogenados. Evitar queimadas. Utilizar fertilizantes

protegidos ou com inibidores de uréase. Igualar a quantidade de N aplicado com a

quantidade exigida pela forrageira. Integrar a produção animal e vegetal. Evitar

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aplicação de fertilizantes a lanço. Utilizar fertilizantes de liberação controlada e

inibidores de nitrificação.

Além da poluição por N2O ainda temos as perdas de nitrogênio na forma de

amônia (NH3). Estima-se que até 50% do N aplicado pode ser perdido na forma de NH3.

Entre os fatores que afetam a produção de NH3 está a umidade do solo e a forma de

aplicação do fertilizante nitrogenado. Para o melhor aproveitamento do fertilizante é

necessário que haja umidade no solo disponível para hidrolise da ureia e evitar

aplicação a lanço (Zhao et al., 2016). Avaliações realizadas no verão de 2018 em pastos

de capim-marandu na Unesp de Jaboticabal encontrou-se que a fonte de nitrogênio e a

dose afetaram significativamente as perdas de N na forma de NH3. A produção de NH3

foi de 3,53%, 4,30% e 27,62% do N aplicado, respectivamente, quando se aplicaram o

sulfato de amônio, nitrato de amônio e ureia. Em relação as doses de N as perdas

aumentaram linearmente de 6,05% para 19,18% do N aplicado, quando variaram as

doses de 90 para 270 kg/N/ha. (Correa et al., dados não publicados).

No que se refere ao manejo nutricional dos bovinos de corte para diminuir os

impactos ambientais derivados do nitrogênio a oferta da correta necessidade de proteína

para os animais e a busca por um sincronismo entre energia e proteína da dieta podem

resultar em uma melhor eficiência do uso de N. Como sabemos em função das

características morfofisiológicas e de manejo, o valor nutritivo de gramíneas tropicais

pode ser muito baixo e ocorre uma variação tanto no teor de proteína como no de fibras

ao longo do ano, portanto, é necessário ajustes na dieta através da suplementação

estratégica para aumentar o desempenho animal e reduzir as perdas de N.

3. Eficiência na produção de bovinos de corte

Para discutirmos eficiência em sistemas de produção de bovinos de corte

necessitamos de indicadores para comparar os diversos sistemas de produção entre si.

Dentre os indicadores de eficiência temos o agronômico que é expresso em kg de

forragem por kg de insumo, o zootécnico que é expresso através de kg de carne

produzida por kg de insumo, o econômico em termos de lucro por kg de carne

produzida e o ambiental, geralmente reportado na forma de pegada de carbono ou água.

Com o intenso desenvolvimento de novos cultivares de forrageiras e a adoção de

sistemas integrados de produção forrageira novos estudos sobre adubação de forrageiras

se fazem necessários. Em média, no Brasil se aplica 80 kg de N/ha/ano (Cardoso et al.,

2016). Dellevatti et al. (dados não publicados) avaliaram por 3 anos o efeito de doses de

nitrogênio sobre a produção de forragem no período das águas para o capim-marandu. A

taxa de acúmulo de forragem aumentou linearmente de 42 para 120 kg/MS/dia/ha sem

aplicação de nitrogênio para aplicação de 270 kg/N/dia/ha (Figura 1). Para cada kg de N

aplicado resultou-se em um incremento de 0,29 kg/MS/dia/ha.

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Figura 1. Produção de forragem (kg /MS/dia/ha) em função da aplicação de diferentes

doses de nitrogênio.

Os autores acima citados também avaliaram o desempenho animal em função de

doses nitrogenadas. Em média, o ganho médio diário foi de 925 g/animal/dia,

independente da dose de N aplicada. Porém, o ganho de peso corporal por hectare

durante a recria nas águas aumentou de 514 kg/ha para 967 kg/ha. A adubação

nitrogenada possibilitou dobrar a taxa de lotação de 3.37 UA/ha para 6.55/ha nas águas

(Tabela 2). No Brasil, a média de ganho médio diário nas águas é inferior a 300

g/animal/dia e a taxa de lotação inferior a 2 UA/ha. A aplicação de doses moderadas de

nitrogênio elevou a eficiência agronômica e zootécnica em pastos de capim-marandu.

Para obtenção de alta produção de forragem e desempenho animal, portanto,

aumentar a eficiência de produção e a ambiental é necessário o correto manejo do pasto.

No estudo acima os altos resultados foram obtidos em pastos de capim-marandu

manejados visando atingir 95% de interceptação luminosa que segundo Broughan et al

(1958) ocorre a taxa máxima de acumulo liquido de forragem e a melhor relação valor

nutritivo e produção de forragem. Além do manejo para obtenção de alta produção de

forragem é necessário o ajuste correto da taxa de lotação de forma que a oferta de

forragem, sobretudo de massa de folhas, seja elevada o suficiente para altos

desempenhos. No estudo aqui escrito a oferta de forragem em média foi de 2.50

kg/MS/kg/peso corporal.

Tabela 2. Efeito da adubação do capim-marandu com diferentes doses de nitrogênio

sobre o desempenho de tourinhos nelore na recria. (Médias de 3 dias de avaliação).

Item Tratamento (kg Nha) Efeito (p-valor)

0 90 180 270 SEM Linear Quad Cúb

Desempenho animal Taxa de lotação (AU/ha) 3,37 4,64 5,81 6,55 0,23 <0,001 0,213 0,711 GMD (kg/animal/dia) 0,939 0,985 0,879 0,898 0,017 0,138 0,702 0,074 GPH (kg PC/ha) 514 769 848 967 51 <0,001 0,175 0,401 GPN (kg PC kg/N aplicado - 2,84 1,86 1,68 0,36 <0,001 0,787 0,289

Unidade animal (UA) = 450 kg peso corporal (PC), matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína

bruta (PB), ganho médio diário (GMD), ganho por área (GPH), ganho por kg N aplicado (GPN), erro

padrão da média (SEM). ANOVA significância (Taxa de lotação P<0.001; GMD P=0.032; GPH P<0.001;

GPN P<0.001).

Ainda para se aumentar a eficiência da produção de bovinos de corte a pasto

devemos considerar o conceito clássico de Mott (1960), que esse autor traça uma

relação entra a taxa de lotação (TL) e as produções por área e por animal, em condições

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de subpastejo podemos aumentar o desempenho por área, e em condições de

superpastejo temos o desempenho individual e por área prejudicados. Segundo este

autor temos uma relação entre a TL e TL no ótimo da pressão de pastejo aproxima-se de

1,0. Nessa condição obtemos a capacidade de suporte (CS) de uma pastagem. A CS de

um sistema de produção animal em pastagens pode se definido como a TL no ótimo da

pressão de pastejo ou oferta de forragem, na qual se garante a persistência da pastagem,

sem, contudo, obter os máximos ganhos por animal e área (Reis et al., 2017). O manejo

inadequado da pastagem leva a degradação que resulta em perdas de produtividade e

impactos ambientais com a redução dos estoques de C do solo, uma eficiente forma de

mitigar as emissões de C.

5. Considerações finais

A pecuária de corte é atividade fundamental para a adequada nutrição animal,

pois, fornece proteína de alta qualidade. No entanto, causa impactos ambientais tais

como a produção de gases de efeito estufa que atualmente são considerados os

responsáveis pelo incremento da temperatura média do planeta. Esses impactos podem

ser mitigados com estratégias de manejo dos pastos que elevam a eficiência agronômica

e zootécnica da produção de bovinos de corte.

A utilização de doses moderadas de nitrogênio tem resultado em alta eficiência de

produção de forragem, desempenho animal e impactos ambientais menores do que os

preconizados pelo IPCC. Além desta estratégia de manejo do pasto ainda devemos

estudar estratégias de suplementação a pasto para reduzir as emissões de gases, tais

como a utilização de substâncias como tanino, 3-nitroxipropanol, sulfatos e nitratos.

6. Referências

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level to optimize growth and productivity of yearling bulls. Animal Feed Science and

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20

Estratégias de manejo do pastejo para redução de impactos ambientais

Marília Barbosa Chiavegato

1, Guilhermo Francklin de Souza Congio

1, Sila Carneiro da Silva

1

1 Departamento de Zootecnia, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ/USP), São Paulo. Email:

[email protected]; [email protected]; [email protected]

Resumo: Atualmente, a preocupação ambiental é indissociável da produção pecuária

bem-sucedida. Nesse contexto, os pecuaristas possuem o desafio de suprir a demanda

por alimentos e produtos agrícolas por meio de práticas que sejam ambientalmente

seguras e economicamente favoráveis, atingindo, dessa forma, a intensificação

sustentável dos sistemas de produção. Os componentes do ecossistema (e.g. solo,

planta, animal, atmosfera) estão intimamente ligados e modificações num determinado

componente podem resultar em alterações em um ou mais componentes, gerando um

efeito entre impactos ambientais ou entre tipos de impactos. Uma abordagem sistêmica

das estratégias de manejo do pastejo, que permita a quantificação simultânea de

diferentes impactos ambientais assim como de sua produtividade, é necessária para

identificar estratégias que proporcionem o equilíbrio entre sustentabilidade e

produtividade. Comparado a um ecossistema natural, um ecossistema manejado (ou

agroecossistema) é mais complexo, apresentando maior número de fluxos de nutrientes

para dentro e para fora do ecossistema, menor capacidade de estocar nutrientes e menor

ciclagem de nutrientes. O manejo do pastejo que promove redução dos impactos

ambientais e mitigação do fluxo líquido de emissões em CO2 equivalente é aquele que

tem como objetivo manter ou melhorar a produção de forragem e a eficiência de pastejo

por meio da melhoria das propriedades químicas, físicas e hidrológicas do solo. O

manejo do pastejo bem-sucedido promove serviços ecossistêmicos por meio do uso

eficiente e sustentável dos recursos solo, água e planta. O manejo do pastejo com essas

características combina princípios científicos e conhecimento local para encontrar

estratégias de manejo que intensificam os quatros principais processos ecossistêmicos:

conversão eficiente da energia solar pelas plantas, interceptação e retenção da água da

chuva pelo solo, otimização da ciclagem de nutrientes e aumento da biodiversidade.

Palavras-chave: intensificação, ciclagem de nutrientes, emissões de gases de efeito

estufa, processos ecossistêmicos.

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1. Introdução

O crescimento da população global demandará 100% mais alimento até 2050

(Godfray et al., 2010). Atualmente, a preocupação ambiental é indissociável da

produção pecuária bem-sucedida. Nesse contexto, os agricultores e pecuaristas possuem

o desafio de suprir a demanda por alimentos e produtos agrícolas por meio de práticas

que sejam ambientalmente seguras (Tilman et al., 2002) e economicamente favoráveis

(Foote et al., 2015; Gregorini et al., 2017), atingindo, dessa forma, a intensificação

sustentável dos sistemas de produção (Godfray et al., 2010). Uma vez que as pastagens

são característica comum dos diferentes sistemas de produção animal no Brasil, a

identificação de práticas adequadas e eficientes de manejo do pastejo é essencial. A

estratégia de manejo ideal deve permitir o aumento da produção por animal e por área

além de promover o desenvolvimento sustentável da atividade com mínimo impacto

ambienta.

As atividades antrópicas podem ser prejudiciais ou favoráveis ao ecossistema

natural, ou seja, podem gerar ou diminuir pressões ambientais. Pressão ambiental se

refere ao uso dos recursos naturais (tais como energia, terra, água) como input às

atividades humanas e a geração de subprodutos (resíduos, emissões de gases de efeito

estufa (GEE), poluição da água e do ar; Miedzinski et al., 2013). As pressões ambientais

impostas nos ecossistemas envolvem uma variedade de processos naturais e causam

modificações nas características ambientais do ecossistema. Essas modificações podem

resultar em impactos nas funções sociais e econômicas do ecossistema, afetando a

disponibilidade de recursos ambientais e a biodiversidade. Os impactos ambientais

normalmente ocorrem em sequência, por exemplo, o aumento das emissões de GEE

causam aquecimento global (efeito primário) que, por sua vez, resulta em aumento da

temperatura atmosférica (efeito secundário), levando ao aumento dos níveis do mar

(efeito terciário) e, finalmente, resultando em perda de biodiversidade (Miedzinski et

al., 2013).

Os componentes do ecossistema (e.g. solo, planta, animal, atmosfera) estão

intimamente ligados e modificações num determinado componente podem resultar em

alterações em um ou mais componentes. Nesse sentido, o manejo do pastejo empregado,

por exemplo, determina as taxas dos processos ecofisiológicos das plantas tais como

crescimento, senescência e decomposição (Da Silva et al., 2009; 2015) que por sua vez

afetam as respostas animais tais como perdas de forragem por pastejo (Carnevalli et al.,

2006; Silveira et al., 2013), taxa de lotação (Voltolini et al., 2010; Gimenes et al., 2011),

distribuição de dejetos (White et al., 2001; Auerswald et al., 2010) e quantidade de

nutrientes excretados pelos animais (Vibart et al., 2017). Esses fatores afetam as

condições do solo (i.e. umidade, temperatura, pH, aeração e densidade) que, por sua

vez, interferem no crescimento da comunidade microbiana do solo e na sua atividade

(Bardgett et al., 1999) determinando a intensidade dos processos associados a produção

de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) no solos de

pastagens. Além disso, o manejo do pastejo modifica a estrutura do dossel forrageiro,

determinando a qualidade da forragem e consequentemente a produção de CH4 entérico

(Chiavegato et al., 2015a; Congio et al., 2018). Outro exemplo seria o aumento na

produção primária das pastagens pela adição de fertilizantes nitrogenados, que pode

favorecer o estoque de carbono (C) abaixo da superfície do solo, mas simultaneamente

aumentar as emissões de N2O e CH4 (Vuichard et al., 2007). Esse efeito compensatório

(ou trade-off) pode ocorrer tanto entre impactos ambientais, um refletindo em outro, ou

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entre tipos de impactos (econômicos e ambientais). A avaliação dos impactos

ambientais precisa levar em consideração os efeitos compensatórios para permitir a

compreensão de como os impactos ambientais ocorrem frente aos benefícios sociais e

econômicos da atividade, ou se a atividade produtiva pode gerar benefícios ambientais

significativos ainda que com algum custo econômico.

Uma abordagem sistêmica das estratégias de manejo do pastejo, que permita a

quantificação simultânea de diferentes impactos ambientais assim como de sua

produtividade, é necessária para identificar estratégias que proporcionem o equilíbrio

entre sustentabilidade (redução dos impactos ambientais) e produtividade (fornecimento

de produtos agrícolas e animais).

2. Ciclagem de nutrientes em pastagens manejadas

De maneira geral a ciclagem de nutrientes é bastante eficiente em ecossistemas

naturais ou pouco perturbados como florestas e pastagens nativas (Crossley et al.,

1984). Nesses ecossistemas existe um alto nível de sincronização entre a oferta de

nutrientes disponíveis e a demanda pelas plantas. O resultado é uma baixa concentração

de nutrientes disponíveis na solução do solo, promovendo uma ciclagem eficiente entre

solo-planta-solo (Magdoff, 1997).

Comparado a um ecossistema natural, um ecossistema manejado (ou

agroecossistema) é mais complexo, apresentando maior número de fluxos de nutrientes

para dentro e para fora do ecossistema, menor capacidade de estocar nutrientes e,

consequentemente, menor ciclagem de nutrientes (Figuras 1 e 2; Hendrix et al., 1992).

Ainda, em agroecossistemas existe uma maior quantidade de nutrientes em condições

solúveis, maior perturbação do solo e períodos mais longos com solo descoberto

(Magdoff, 1997). Em ecossistemas de pastagens, as entradas de nutrientes ocorrem por

alimentos oferecidos aos animais, fertilizantes orgânicos ou inorgânicos e deposição de

excretas dos animais. Numa estimativa bastante abrangente, Whitehead (1995) sugeriu

que uma pastagem adubada com 250 kg N/ha.ano receberia entrada de 5000 a 8000 kg

MS/ha.ano em resíduos vegetais. Considerando um teor médio de nitrogênio (N) na MS

de 1,7%, haveria uma entrada anual de 85 a 140 kg N/ha. Nesse cenário, a

decomposição das raízes adicionaria aproximadamente 5000 kg MS/ha.ano, com teor

médio de N de 1%, representando um adicional de 50 hg N/ha. Finalmente,

aproximadamente 80% do N ingerido pelos animais é excretado, resultando em entrada

de N da ordem de 200 kg/ha.ano. Essas entradas somam aproximadamente 390 kg

N/ha.ano, os quais são potencialmente recicláveis. Nos ecossistemas, nutrientes em

excesso, não utilizados pelas plantas ou imobilizados pela biomassa microbiana, são

perdidos. As perdas de nutrientes em agroecossistemas podem ocorrer por escoamento

superficial, erosão, lixiviação, volatilização ou emissão de GEE.

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Figura 1. Ciclo simplificado e fluxos de nutrientes em ecossistemas naturais (adaptado

de Magdoff, 1997).

Figura 2. Ciclo simplificado e fluxos de nutrientes em ecossistemas manejados

(adaptado de Magdoff, 1997).

Os nutrientes na forragem representam uma porção mínima do total de nutrientes

contidos no ecossistema de pastagem, em contraste com a matéria orgânica do solo

(MOS), que é o maior reservatório de nutrientes (Dubeaux et al., 2004). Entretanto, os

pools nutrientes na forragem e na excreta se tornam mais relevantes devido à sua

decomposição mais acelerada em relação à MOS e à biomassa abaixo da superfície do

solo (Dubeaux et al., 2006a). Porém, o retorno de nutrientes via excreta animal nas

pastagens não é uniforme, uma vez que os animais tendem a se agrupar em

determinados locais, normalmente perto de sombras ou bebedouros (Mathews et al.,

1996; Haynes e Williams, 1999). O agrupamento dos animais nesses locais cria áreas de

concentração de nutrientes em contraste a outras áreas de menores fertilidade (Dubeaux

et al., 2006b).

Mais de 60% do N é excretado via urina, sendo aproximadamente 80% na forma

de ureia (Haynes e William, 1993). Os destinos possíveis do N da urina após deposição

no solo são: imobilização, absorção pela planta, adsorção por colóides ou saída do

sistema via volatilização de amônia (NH3), perda de N2 e N2O ou lixiviação (Saggar et

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al., 2004). A deposição de urina em solos fornece condições ótimas para produção de

N2O, tais como umidade, temperatura e pH. As perdas de N da urina na forma de NH3 e

N2O estão diretamente relacionadas ao teor de N na dieta animal. Sendo assim, o teor de

proteína bruta (PB) da dieta é um dos fatores mais importantes na determinação da taxa

de reciclagem de ureia e utilização pelos microrganismos no rúmen (Reynolds e

Kristensen, 2008). O aumento da PB na dieta de vacas leiteiras pode aumentar o teor de

proteína no leite produzido, mas também resulta em maior quantidade de N excretado

via urina (Hristov et al., 2011). Chiavegato et al. (2015b) observaram que a redução da

concentração de PB na dieta de novilhos de 13% para 10% não afetou o peso vivo ou o

consumo de MS dos animais, mas diminuiu as emissões de NH3 provenientes do

armazenamento de dejetos (urina e fezes misturados). Os autores ainda verificaram que

a modificação na concentração de PB da dieta não aumentou as emissões de CH4

entérico pelos animais, ou a perda de NH3, CH4 e N2O provenientes dos dejetos quando

aplicados sobre a superfície de solos de pastagens.

O uso eficiente de N é considerada a principal estratégia associada a redução das

emissões de N2O provenientes dos solos (Eckard et al., 2010). A reciclagem e a

manutenção do N no sistema diminuem a necessidade de aporte inorgânico externo e

aumentam a utilização de N da urina pelas plantas ou comunidade microbiana do solo.

De Klein e Eckard (2008) sugeriram que se a urina dos animais fosse depositada de

maneira mais uniforme nos piquetes, a taxa efetiva de aplicação de N pela urina

diminuiria, potencialmente diminuindo as emissões de N2O. O método de pastejo

rotativo foi associado a deposição mais uniforme de urina nas áreas (White et al., 2001).

Porém, a melhor distribuição de urina nas áreas de pastagens ainda não foi

conclusivamente associada a reduções de N2O provenientes dos solos (Eckard et al.,

2010).

Dentre os macronutrientes primários presentes nas fezes, o N e o fósforo (P)

assumem papel importante pela quantidade disponibilizada (Rowarth et al., 1985) e

possíveis impactos ambientais. As fezes contêm pouco N rapidamente metabolizável

(Whitehead, 1995), diferentemente do N presente na urina. Como consequência, o

processo de degradação e transformação do N das fezes em formas prontamente

disponíveis para as plantas é mais lento e gradual, diminuindo as perdas desse nutriente

por lixiviação ou volatilização. A excreção fecal de N independe da concentração de PB

da dieta (Lantinga et al., 1987). Trabalhando com vacas leiteiras, Lantinga et al. (1987)

encontraram valores de N contido nas fezes de aproximadamente 132 g N/vaca.dia,

independente do valor de N na MS consumida (450 ou 775 g N/vaca.dia). Sendo assim,

a manipulação da dieta não é considerada estratégia viável para modificar a excreção e a

ciclagem do N das fezes. Dessa maneira, o principal fator que afeta a ciclagem do N

fecal é a taxa de decomposição da fezes.

Existem dois processos principais responsáveis pela degradação de fezes e

liberação de nutrientes nos solos de pastagens: (i) quebra física das fezes, causada pelo

impacto da chuva e pisoteio animal e (ii) degradação biológica pela biota do solo como

fungos, bactérias, minhocas e insetos. A liberação inicial de nutrientes é muito

dependente de fatores que afetam a quebra física das fezes (Rowarth et al., 1985). O

pisoteio pode ser manejado modificando a densidade de lotação, de modo que altas

densidades de lotação promovem maior pisoteio das fezes e rápida liberação de

nutrientes. Pastejo rotativo com 1 dia de ocupação foi associado a distribuição mais

uniforme de fezes na área relativamente a pastejo rotativo com 7 dias de ocupação ou

lotação contínuo (Vendramini et al., 2007). Por outro lado, outros autores afirmam que a

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estratégia de pastejo tem pouca influência sobre a distribuição de excretas na área,

principalmente quando há variação das áreas de concentração, como movimentação dos

bebedouros e diversos pontos de sombra (Matthews et al., 1994). Com relação às

emissões de GEE, a perda por N2O pode ocorrer em fezes embora com menor

proporção do que ocorre com N da urina. Yamulki et al. (1999) registraram 0,56% de

perdas por N2O em patches de urina e 0,19% em fezes.

Normalmente as fezes estão associadas à produção de CH4, pois fornecem todas

as condições adequadas para o desenvolvimento de metanogênicos (microrganismos

produtores de CH4), tais como temperatura e umidade adequadas e alto teor de C

prontamente disponível (substrato). As emissões de CH4 proveniente das fezes ocorrem

durante um período de 4 dias a 2 semanas (Williams 1993; Flessa et al. 1996; Saggar et

al., 2004). Os metanogênicos são microrganismos anaeróbicos e, quando as condições

favoráveis ao seu desenvolvimento não mais permanecem (i.e. quando o processo de

decomposição das fezes resulta em condições aeróbicas e diminuição do teor de C), a

produção de CH4 cessa. Nesse momento, a população de microrganismos

metanotróficos (que retiram o CH4 da atmosfera, produzindo CO2) predomina e o

sequestro de CH4 da atmosfera ocorre. O sequestro de CH4 em locais onde as fezes

foram depositadas e decompostas pode permanecer por até 1 ano (Maljanen et al.,

2012). Zhou et al. (2008) sugerem que intensidades de pastejo diferentes afetam

diferentemente a comunidade de metanotróficos. Nazaries et al. (2011) estudaram

fluxos de CH4 provenientes de solos de pastagem e observaram que o sequestro de CH4

podia ser manipulado e até aumentado com variações no manejo do solo. Maiores

densidades de pastejo, com subdivisões do pasto, poderiam diminuir a oportunidade de

seleção de forragem dos animais, promovendo pastejo mais homogêneo dos piquetes

(diminuindo a rejeição de consumo de forragem em locais onde as fezes foram

depositadas no ciclo de pastejo anterior; Mathews et al., 1999).

Os efeitos de diferentes estratégias de manejo do pastejo na ciclagem e

distribuição de C no ecossistema pastagem foram (e têm sido) intensamente estudados.

Nos solos sob pastagens, particularmente, foi identificado alto potencial de sequestro de

C atmosférico. Entretanto, a literatura indica que o potencial de sequestro de C dos

solos sob pastagem varia de acordo com o manejo implantado, principalmente

intensidade do pastejo, aplicação de fertilizante e irrigação (Soussana et al., 2004; Smith

et al., 2008; van Wesemael et al., 2010). Os resultados relacionando efeito do manejo no

potencial de sequestro de C dos solos de pastagens ainda são contrastantes e a literatura

ainda não oferece relação clara entre manejo do pastejo e sequestro de C. Alguns

estudos reportam que ausência de efeito da estratégia de manejo sobre o C orgânico do

solo (e.g. Milchunas e Laurenroth, 1993), outros reportaram aumento no sequestro de C

(e.g. Smith et al., 2014) e outros redução (e.g. Ward et al., 2016). A falta de associação

clara entre manejo do pastejo e sequestro de C foi associada a diferenças de clima,

propriedades do solo, relevo, composição da comunidade de plantas, densidade do solo

e práticas de manejo (Reeder e Schuman, 2002; Ward et al., 2016), fatores que afetam a

ciclagem de C e o potencial de sequestro das pastagens. Soussana et al. (2010)

sugeriram que o principal fator que modifica o fluxo de C no solo pela excreta é a

pressão de pastejo. Efeitos secundários do pastejo no ciclo do C em ecossistemas de

pastagens incluem o papel dos dejetos sobre a mineralização da MOS e ciclagem de N

(principalmente em pastagens de solos de baixa fertilidade) e os efeitos do pisoteio e

desfolhação que reduzem a área foliar e fotossíntese (Soussana et al., 2010).

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3. Manejo do pastejo e intensificação dos processos ecossistêmicos

O manejo do pastejo que promove redução dos impactos ambientais e mitigação

do fluxo líquido de emissões em CO2 equivalente é aquele orientado para conservação

ou conservation-oriented livestock grazing (Teague et al., 2011). Esse tipo de manejo

tem como objetivo manter ou melhorar a produção de forragem e a eficiência de pastejo

por meio da melhoria das propriedades químicas, físicas e hidrológicas do solo. A

intensificação de sistemas de produção baseados em pastagens (i.e. maior produção por

unidade de área; Foote et al., 2015) foi associada ao aumento de inputs ao sistema como

fertilização nitrogenada e suplementos externos (Beukes et al., 2012; Foote et al., 2015;

Macdonald et al., 2017). Entretanto, essas práticas também estão associadas a impactos

ambientais, tais como aumento das emissões de GEE (Foote et al., 2015). Assim,

estabeleceu-se que a intensificação dos processos produtivos estaria associada aos

impactos ambientais ou à degradação das pastagens. Para que essa associação seja feita

apropriadamente é necessário especificar a que se refere o termo intensificação. Quando

intensificação representa aumento de inputs externos, de fato o resultado será o aumento

das perdas de nutrientes ou C e, consequentemente, dos impactos ambientais. Porém, se

a intensificação ocorrer sobre a otimização do uso da forragem produzida e sobre a

utilização dos nutrientes, ela será acompanhada de intensificação na ciclagem e no

reaproveitamento de nutrientes, diminuindo as perdas. Esse caso poderia ser classificado

como a intensificação dos processos ecossistêmicos.

Estratégias de manejo do pastejo que otimizem a utilização de forragem pelos

animais e aumentem a digestibilidade da MS permitem a intensificação sustentável em

sistemas de produção baseados em pastagens (Muñoz et al., 2016; Gregorini et al,

2017). Estratégias que aumentem a senescência podem reduzir a ciclagem de nutrientes,

a entrada da luz solar no dossel, a fotossíntese e a produção como consequência da

diminuição da qualidade da forragem (Pieper, 1994; Olff e Ritchie, 1998). Em manejos

controlados e com adequada pressão de pastejo, a biomassa senescente torna-se resíduo

vegetal que serão incorporados no solo pela ação do pisoteio e movimentação animal,

contribuindo para aumento do teor de MOS (Teague et al., 2011). Considerado o

animal, metas de pastejo que otimizem a produção de folhas e o valor nutritivo da

forragem consumida (e.g. meta de entrada baseada em 95% de interceptação luminosa

(IL) pelo dossel forrageiro) maximizam o consumo de MS devido à maior proporção de

folhas no estrato pastejável (Da Silva e Carvalho, 2005; Gregorini et al., 2011) e o

desempenho animal (Voltolini et al., 2010; Gimenes et al., 2011).

As emissões de GEE foram identificadas como o impacto ambiental mais

significativo de sistemas de produção pecuária (O´Brien et al., 2012; Guerci et al., 2013;

Gregorini et al., 2016). O CH4 entérico é o principal GEE proveniente desses sistemas

(Crosson et al., 2011; Aguirre-Villegas et al., 2017), variando de 30% (em sistemas com

alta proporção de concentrados na dieta animal) a 84% (em sistemas

predominantemente baseados em pastagens) do total de CO2 equivalente em sistemas de

produção de leite (Guerci et al., 2013). A produção entérica de CH4 proveniente da

digestão animal está associada ao consumo de MS e à composição química da forragem

consumida (Janssen et al., 2010). As estratégias de manejo do pastejo podem ser

definidas no sentido de reduzir a intensidade das emissões de CH4 (i.e. g CH4/kg de

produto final).

Congio et al. (2018) avaliaram estratégias de manejo do pastejo definidas com o

objetivo de otimizar os processos relativos ao crescimento das plantas, a interface

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animal-planta e animal-microrganismos do rúmen. O objetivo do estudo foi aumentar os

benefícios ambientais do sistema por meio da redução da intensidade de emissão de

CH4 entérico e do aumento na produtividade de leite. Os autores avaliaram estratégias

de pastejo rotativo caracterizadas pelas metas de entrada nos piquetes de 95% e máxima

IL pelo dossel forrageiro (IL95% e ILMáx) durante a rebrotação de capim-elefante

(Pennisetum purpureum Schum. cv. Cameroon) pastejado por vacas em lactação. As

alturas de manejo associadas às metas de entrada de IL95% e ILMáx foram 100 e 135 cm,

respectivamente. As características morfológicas e químicas da forragem estão

apresentadas na Tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Características de manejo e composição morfológica da forragem em

pastagens de capim-elefante manejadas com meta de entrada baseada em 95% e máxima

interceptação luminosa pelo dossel (IL95% e ILMáx, respectivamente), durante o período

experimental (dezembro 2015 a abril 2016).

Item

Tratamentos

EPM

Efeitos

IL95% ILMáx Trat Per

Trat ×

Per

Ciclos de pastejo, n⁰ 5,6 3,5 0,16 <0,001 - -

Período de ocupação, dias 1 1,4 0,06 <0,001 - -

Período de descanso, dias 21,1 31,7 0,6 <0,001 - -

Massa de forragem, kg MS/ha 2890 4890 207,9 <0,001 0,362 0,341

Folhas, % 95,1 81,1 0,93 <0,001 0,765 0,105

Colmos, % 3,5 16,6 0,52 <0,001 0,092 0,200

Material morto, % 1,4 2,3 0,2 0,313 0,014 0,446

Relação folha:colmo 32,8 4,6 3,5 <0,001 0,001 0,001

Acúmulo de forragem, kg MS/ha 15441 16683 847 0,108 - -

Acúmulo de folhas, kg MS/ha 14611 13276 730,2 0,013 - -

Acúmulo de colmos, kg MS/ha 795 3322 264,2 <0,001 - -

Oferta de forragem, kg

MS/vaca.dia 21,2 29,7 2,53 0,016 0,503 0,441

Perda forragem, kg MS/ha 292 1203 100,3 <0,001 <0,001 <0,001

Eficiência de pastejo, % 89,3 79,9 2,88 0,001 0,004 0,775

A meta de entrada IL95% proporcionou maior número de ciclos de pastejo, com

períodos de descanso mais curtos, assim como menores perdas de forragem, maior

acúmulo de folhas e maior eficiência de pastejo. O período de descanso mais longo

resultante da meta de entrada ILMáx proporcionou maior massa de forragem pré-pastejo,

com maior porcentagem de colmos, menor porcentagem de folhas e menor relação

folha:colmo. Adicionalmente, a meta de entrada IL95% resultou em maior concentração

de PB e menor concentração de FDA e lignina na forragem.

Tabela 2. Composição química da forragem em pastagens de capim-elefante manejadas

com meta de entrada baseada em 95% e máxima interceptação luminosa pelo dossel

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(IL95% e ILMáx, respectivamente), durante o período experimental (dezembro 2015 a

abril 2016).

Composição química

da forragem, % MS

Tratamentos EPM

Efeitos

IL95% ILMáx Trat Período Trat × Per

Matéria seca 19,5 19,2 0,91 0,699 0,072 0,275

Proteína bruta 21,0 19,4 0,5 0,001 <0,001 0,039

FDN 61,2 63,0 1,26 0,112 0,144 0,286

FDA 33,9 36,3 1,14 0,025 0,260 0,735

Lignina 3,3 3,8 0,16 0,004 0,243 0,468

A taxa de lotação foi 33% mais alta para a meta de entrada de IL95%. Os animas

mantidos nas pastagens manejadas com meta de entrada IL95% tiveram maior consumo

de forragem, maior produção de leite (aumento de 15%) e incrementos na qualidade do

leite, tais como aumento de 8% na concentração de proteína, 15% na concentração de

lactose e 6% na concentração de sólidos do leite. Não houve efeito de meta de entrada

sobre o peso vivo e o escore de condição corporal dos animais. A emissão diária de CH4

entérico não foi afetada pelas metas de entrada. Entretanto, uma vez que houve aumento

na produção de leite, acompanhada de emissão de CH4 entérico constante para as metas

de entrada, a intensidade de emissão (g CH4/kg leite) e a produção de CH4 entérico (g

CH4/ MS consumida) foram reduzidas em 21% e 18%, respectivamente, para a meta

IL95% comparada a ILMáx (Tabela 3).

Tabela 3. Produção de leite e intensidade de emissão de CH4 entérico de vacas leiteiras

mantidas em pastagens de capim-elefante manejadas com meta de entrada baseada em

95% e máxima interceptação luminosa pelo dossel (IL95% e ILMáx, respectivamente),

durante o período experimental (dezembro 2015 a abril 2016).

Item Tratamentos

EPM Efeitos

IL95% ILMáx Trat Período Trat × Per

Taxa de lotação, vacas/ha 9,3 7 0,98 0,005 - -

Consumo forragem, kg MS/vaca 12,3 10,1 0,52 0,002 0,007 0,178

Produção, kg/dia

Leite 18,1 15,7 1,01 <0,001 <0,001 0,777

Gordura 0,646 0,608 0,04 0,200 0,071 0,355

Proteína 0,556 0,515 0,03 0,001 0,001 0,836

Lactose 0,792 0,687 0,05 <0,001 <0,001 0,559

Sólidos do leite 2,07 1,95 0,11 0,006 0,001 0,795

Ganho de peso 0,437 0,553 0,36 0,611 0,003 0,609

Variação escore corporal -0,06 0,01 0,05 0,133 0,828 0,714

Emissões CH4 g/dia 297,8 296,1 13,3 0,853 <0,001 0,898

g/kg leite 16,2 20,5 1,09 <0,001 <0,001 0,136

g/kg gordura leite 438,9 515,3 24,7 0,001 <0,001 0,999

g/kg proteína leite 525,2 604,6 22,4 <0,001 <0,001 0,193

g/kg sólidos do leite 133,5 159,5 6,71 <0,001 <0,001 0,467

g/kg MS consumida 20,2 24,7 1,33 0,012 <0,001 0,001

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Quando os resultados foram expressos por hectare, houve aumento das emissões

de CH4 entérico nas pastagens manejadas com IL95%, como consequência das maiores

taxas de lotação (Tabela 3). Simultaneamente, houve maior produção de leite e dos

componentes do leite por hectare para a meta de IL95%. Sendo assim, houve aumento de

51% na produção de leite por hectare, acompanhado de 29% de aumento produção de

CH4, resultando em mitigação de 16% das emissões de CH4 associada a meta de entrada

IL95%. Wims et al. (2010) e Munoz et al. (2016) reportaram redução de 10% para

pastagens de clima temperado a partir de modificações no manejo do pastejo. Vale

mencionar que a intensidade de emissão de CH4 nas áreas manejadas com meta de

entrada IL95% foi 16,8 g CH4/kg leite, valor menor que os resultados reportados em

pastagens de clima temperado (18,8 g CH4/kg leite) e a produção de CH4 por unidade de

MS consumida foi semelhante àquela relatada para pastagens de clima temperado

(Wims et al., 2010; Munoz et al., 2016).

Tabela 4. Produção de leite e de seus componentes por hectare e relação entre

produtividade e emissões de CH4 entérico de vacas leiteiras mantidas em pastagens de

capim-elefante manejadas com meta de entrada baseada em 95% e máxima

interceptação luminosa pelo dossel (IL95% e ILMáx, respectivamente), durante o período

experimental (dezembro 2015 a abril 2016).

Item Tratamentos

EPM Efeitos

IL95% ILMáx Trat

Leite, kg/ha.dia 169,8 112,4 20,4 0,001

Gordura, kg/ha.dia 6,1 4,3 0,71 0,015

Proteína, kg/ha.dia 5,2 3,7 0,62 0,003

Sólidos do leite, kg/ha.dia 19,5 13,9 2,42 0,006

CH4, kg/ha.dia 2,7 2,1 0,24 0,005

Produtividade e emissão de CH4 Leite, kg/kg de CH4/ha.dia 62,2 53,8 4,79 0,001

Gordura, kg/kg de CH4/ha.dia 2,22 2,06 0,132 0,115

Proteína, kg/kg de CH4/ha.dia 1,91 1,76 0,135 <0,001

Sólidos do leite, kg/kg de CH4/ha.dia 7,13 6,66 0,55 0,001

Esses resultados diferem do que é normalmente apontado na literatura, de que

pastagens de clima tropical resultam em maiores emissões de CH4 entérico devido à

baixa qualidade da forragem consumida. Esses resultados sugerem a necessidade de

rever a afirmação de que pastagens tropicais têm baixa qualidade de forragem quando

manejadas em condições controladas de manejo (Stobbs, 1975; Sollenberger e Burns,

2001). O manejo do pastejo estratégico otimiza os processos ecológicos ligando plantas

e herbívoros com a saúde do ecossistema para melhorar os sistemas produtivos

(Gregorini et al., 2017).

4. Efeito compensatório das medidas de redução de impactos ambientais

Os fluxos de GEE em ecossistemas de pastagens estão intimamente ligados ao

manejo do pastejo. Em pastagens, o CO2 é trocado entre o solo e a vegetação, o N2O é

emitido pelos solos e o CH4 é emitido pela atividade biológica do rúmen e pelo solo.

Sendo assim, as decisões a respeito da estratégia de manejo do pastejo para reduzir o

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balanço líquido de GEE podem causar efeitos compensatórios ou trade-offs. Allard et

al. (2007) observaram que as emissões de CH4 entérico, expressas em CO2 equivalente,

afetam grandemente o balanço de GEE em pastagens manejadas intensivamente e

extensivamente (diminuindo em média 70% do efeito sequestrador total em termos de

CO2 equivalente do sistema). Por outro lado, Soussana et al. (2007) observaram que a

adição de CH4 entérico e N2O dos solos de pastagens resultaram em redução relativa do

total de CO2 sequestrado (19% em média). Quando o CO2 consumido pela vegetação é

incluído no balanço líquido de GEE, esses ecossistemas são normalmente classificados

como sequestrados de GEE (Allard et al., 2007; Soussana et al., 2007).

Semelhantemente, quando o acúmulo de C orgânico no solo é considerado no balanço

líquido de GEE os resultados também tendem a ser negativos, classificando os sistemas

como sequestradores (Liebig et al., 2010). As pastagens modificam o acúmulo de C

orgânico do solo pela modificação das entradas de C, principalmente pela decomposição

de raízes e alocação de C entre parte aérea e sistema radicular (Ogle et al., 2004).

O solo é um importante componente de C, sensível ao manejo implantando na

área. Teague et al. (2016) indicaram que a erosão causada pelas práticas agrícolas

resulta em perda total de C de 1,86 Gt C/ano e adição de 0,5 ppm de CO2 por ano para a

atmosfera. O solo pode ser fonte ou dreno de CO2 e, nesse contexto, tem importância

significativa em balanço de GEE de sistemas de produção. Em muitos estudos de

balanço total de GEE o C do solo não foi considerado (Stackhouse-Lawson, et al., 2012;

Capper & Bauman, 2013), apesar de ter sido observado o grande impacto que possui

quando explicitamente adicionado no cálculo (Liebig, et al., 2010; Wang, et al., 2015).

O estoque de C orgânico no solo apresenta alta variabilidade espacial e temporal,

especialmente em pastagens. Pesquisas anteriores demonstraram que a variabilidade é

devida principalmente a coletas em diferentes profundidades (Bird et al., 2002), clima

(Conant et al., 2001), textura do solo (Parton et al., 1987) e falta de avaliação da

distribuição de C nos piquetes (Schuman et al., 1999). A habilidade de identificar

diferenças nos estoques de C orgânico do solo depende do tempo desde o primeiro

monitoramento, a homogeneidade espacial do solo e a intensidade da coleta e do

monitoramento (Schipper et al., 2010).

Em estudo realizado em condições de clima temperado, Chiavegato et al.

(2015c) monitoraram o fluxo de C em estratégias contrastantes de manejo do pastejo. O

fluxo de C foi determinado a partir das emissões de N2O, CH4 e CO2 em CO2

equivalente e estoques de C e N no solo. Foram comparados um sistema extensivo, com

taxa de lotação de 1 animal/ha e densidade de lotação de 112.000 kg PV/ha, sem

irrigação ou adubação (SysA) e um sistema intensivo, com irrigação e adubação (no

primeiro ano), taxa de lotação de 4 animais/ha e densidade de lotação de 32.000 kg

PV/ha (SysB). O estudo foi realizado no início e no final da estação de crescimento das

pastagens, durante 3 anos consecutivos em condições de campo não simuladas. Os

sistemas foram comparados a uma área de pastagem sem pastejo animal (GE). Os

autores observaram aumento no estoque de C orgânico no solo, até 30 cm de

profundidade, no SysB tanto em relação ao SysA quanto em relação a GE.

Semelhantemente, houve aumento no estoque de N orgânico. Os autores sugerem que o

período de descanso mais longo no SysA (60 a 90 dias) em relação ao SysB (18 a 30

dias) promoveu deposição de grande quantidade de material vegetal na superfície do

solo. A deposição de resíduos vegetais, associada ao pastejo com alta densidade de

lotação, promoveu a quebra física de partículas e acelerou sua decomposição. A

decomposição de raízes também foi associada ao aumento no C orgânico do solo, pois a

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desfolhação intensiva durante o pastejo (consequência da alta densidade de lotação)

resultou em diminuição da respiração das plantas, causando morte de raízes e

decomposição.

De maneira geral a principal diferença referente às emissões de GEE entre

tratamentos ocorreu nas emissões de CH4 entérico, resultante da maior taxa de lotação

do SysB em relação ao SysA. As emissões diárias de CH4 entérico não variaram entre

tratamentos, apesar a diferença em valor nutritivo da forragem. Entretanto, quando o

fluxo foi avaliado em termos de CO2 equivalente, considerando as emissões dos três

gases (CH4, CO2 e N2O) e das duas fontes de emissão (solo e animal), não houve

diferença entre os tratamentos. Ou seja, o aumento no CH4 entérico não foi suficiente

para aumentar o fluxo total de GEE para a atmosfera. Vale ressaltar, que avaliando o

fluxo de GEE separadamente por período em cada ano, os autores observaram que

durante o primeiro período do ano de 2013 (início da estação de pastejo), houve

aumento das emissões de CH4 entérico no SysB devido ao aumento da taxa de lotação,

mas esse aumento foi compensando pelas emissões de N2O que foram mais altas no

SysA, não havendo diferenças entre tratamentos em termos de CO2 equivalente,

sugerindo que CH4 entérico não é sempre o principal responsável pelas diferenças no

fluxo líquido de GEE entre estratégias de manejo. Robertson et al. (2000) mostraram

que metade do total de CO2 equivalente de solos agrícolas resulta da contribuição do

N2O. O estudo de Chiavegato et al. (2015) sugere que o mesmo padrão possivelmente

se aplica a solos de pastagens. Esses resultados refletem a importância de considerar

diferentes fontes de GEE para a definição de sustentabilidade das estratégias de manejo

do pastejo.

5. Princípios de manejo do pastejo bem-sucedido

O ecossistema de pastagens está em constante modificação (Teague et al., 2013).

O manejo do pastejo bem-sucedido promove os serviços ecossistêmicos por meio do

uso eficiente e sustentável dos recursos solo, água e planta (Walters et al., 1986; Holling

e Meffe, 1996; Walker et a., 2002; Teague et al., 2013). O manejo do pastejo com essas

características combina princípios científicos e conhecimento local para encontrar

estratégias de manejo que intensificam os quatros principais processos ecossistêmicos:

conversão eficiente da energia solar pelas plantas, interceptação e retenção da água da

chuva pelo solo, otimização da ciclagem de nutrientes e aumento da biodiversidade

(Stinner et al., 1997; Reed et al., 1999; Savory e Butterfield, 1999; Sayre, 2001; Gerrish,

2004; Barnes et al., 2008; Diaz-Solis et al., 2009; Teague et al., 2009b).

O manejo do pastejo que possibilita a maximização dos processos

ecossistêmicos são aqueles que seguem cinco princípios básicos (i) produção de

forragem de qualidade para oferecimento de dieta equilibrada e em quantidade

adequada; (ii) consumo homogêneo do dossel forrageiro, evitando super-pastejo de

plantas específicas; (iii) manutenção da biomassa foliar pós-pastejo para garantir a

capacidade fotossintética e interceptação e infiltração da precipitação, resultando em

rebrota rápida e eficiente; (iv) recuperação adequada da biomassa vegetal pós-pastejo,

mantendo o vigor das plantas e composição de plantas adequada; e (v) planejamento e

implantação de pressão de pastejo adequada para possibilitar os quatro princípios

anteriores (Teague et al., 2013).

Os cinco princípios podem ser implantados utilizando estratégias de manejo com

foco ecológico, fisiológico e comportamental. Essa estrutura compreende quatro ações

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operacionais: fornecer recuperação adequada da área foliar, como demonstrado no

estudo realizado por Congio et al. (2018); modificar a distribuição dos animais na área;

regular a intensidade de pastejo; e modificar a nutrição dos animais e o comportamento

ingestivo, como demonstrado por Chiavegato et al. (2015; Figura 3).

Figura 3. Princípios básicos de manejo do pastejo para maximização dos processos

ecossistêmicos e ações operacionais necessárias para sua implantação (adaptado de

Teague et al., 2013).

6. Considerações finais

Os componentes do ecossistema (e.g. solo, planta, animal, atmosfera) estão

intimamente ligados e modificações num determinado componente podem resultar em

alterações em um ou mais componentes. As estratégias de manejo do pastejo

determinam as taxas dos processos ecofisiológicos das plantas, as respostas animais,

distribuição de dejetos e quantidade de nutrientes excretados pelos animais. Por meio de

efeitos compensatórios, as estratégias de manejo afetam as condições do solo que, por

sua vez, interferem no crescimento da comunidade microbiana do solo e na sua

atividade determinando a intensidade dos processos associados as impactos ambientais.

Dessa forma, a identificação de estratégias de manejo do pastejo que permitam a

quantificação simultânea de diferentes impactos ambientais, assim como de sua

produtividade, depende de uma abordagem sistêmica.

Estratégias de manejo do pastejo que otimizem a utilização de forragem pelos

animais e aumentem a digestibilidade da matéria seca permitem a intensificação

sustentável em sistemas de produção baseados em pastagens. Entretanto, Quando

intensificação representa aumento de inputs externos, o resultado será o aumento das

perdas de nutrientes ou C e, consequentemente, dos impactos ambientais. Porém, se a

intensificação ocorrer nos processos ecossistêmicos (uso da forragem produzida,

utilização, ciclagem e no reaproveitamento de nutrientes) as perdas e, consequentemente

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os impactos ambientais, poderão ser reduzidos. O manejo do pastejo bem-sucedido

promove os serviços ecossistêmicos por meio do uso eficiente e sustentável dos

recursos solo, água e planta. O manejo do pastejo com essas características combina

princípios científicos e conhecimento local para encontrar estratégias que intensificam

os quatros principais processos ecossistêmicos: conversão eficiente da energia solar

pelas plantas, interceptação e retenção da água da chuva pelo solo, otimização da

ciclagem de nutrientes e aumento da biodiversidade.

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42

Oportunidades de mitigação de metano por meio do melhoramento genético

animal

Maria Eugênia Zerlotti Mercadante

1, Roberta Carrilho Canesin

1, Elaine Magnani

1

1Centro APTA Bovinos de Corte, Instituto de Zootecnia, Sertãozinho, SP

Resumo: O setor pecuário enfrenta o difícil desafio de reduzir as emissões de GEE

enquanto responde a um crescimento significativo da demanda por produtos. As

intervenções possíveis para reduzir as emissões são, em grande parte, baseadas em

tecnologias e práticas que melhoram a eficiência da produção animal e do rebanho. Esta

revisão traz um resumo das técnicas de fenotipagem dos animais para emissão de

metano entérico, definição das características relativas à emissão de metano e

estimativas de herdabilidade, correlações fenotípicas e genéticas dessas características

com outras características de importância econômica em bovinos, seleção direta e

seleção indireta para diminuir as emissões de metano, e redes de pesquisa de cooperação

internacional.

Palavras-chave: emissão de metano, fenotipagem, herdabilidade, correlação genética.

1. Introdução

O setor pecuário tem um papel importante nas mudanças climáticas pois

contribui com emissões mundiais estimadas em 7,1 gigatoneladas de CO2-eq por ano,

representando 14,5% das emissões dos gases de efeito estufa (GEE) induzidas pelo

homem. Os bovinos são os principais contribuintes para as emissões do setor com cerca

de 4,6 gigatoneladas de CO2-eq, representando 65% das emissões da pecuária. A

produção e processamento de alimentos bem como a fermentação entérica dos

ruminantes são as duas principais fontes de emissões, representando, respectivamente,

45 e 40% das emissões do setor. Os bovinos emitem a maior parte do CH4 entérico

(77%), seguidos dos búfalos (13%) e pequenos ruminantes (10%).

O setor pecuário enfrenta o difícil desafio de reduzir as emissões de GEE

enquanto responde a um crescimento significativo da demanda por produtos (projetado

para +70% entre 2005 e 2050), impulsionado pela crescente população mundial (9,6 mil

milhões até 2050) e pelo aumento da riqueza e urbanização. Reduzir a emissão de CH4

do rebanho bovino é uma necessidade para diminuir a pegada de carbono da produção

de carne bovina, que varia de 17 kg equivalentes de dióxido de carbono (CO2 eq)/kg de

carne de carcaça para bovinos terminados em confinamento no Canadá (Verge et al.,

2008; Beauchemin et al., 2010; Basarab et al., 2012) até 40 CO2 eq/kg de carne de

carcaça para bovinos terminados a pasto no Brasil (Cederberg et al., 2011). Além disso,

a produção de metano pelos bovinos é uma perda de energia, afetando a eficiência

energética, e representa entre 2 a 12% do consumo total de energia bruta (Nagaraja,

2012).

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43

As intervenções possíveis para reduzir as emissões são, em grande parte,

baseadas em tecnologias e práticas que melhoram a eficiência da produção animal e do

rebanho. Uma gama de tecnologias promissoras, tais como aditivos alimentares, vacinas

e métodos de seleção genética, têm forte potencial para reduzir as emissões (Gerber et

al., 2013). No entanto, o procedimento de mitigação mais prático e rápido, pode ser

reduzir a emissão de CH4 através da seleção genética, pois essa é permanente e

cumulativa (Alford et al., 2006).

A seleção de bovinos para aumento do ganho de peso (assim como a seleção

para aumento da fertilidade) tende a diminuir as emissões de metano por unidade de

produto. Isso ocorre porque as emissões de metano têm alta correlação com o consumo

de alimentos, e os animais de maior ganho de peso diluem o consumo de alimentos para

mantença sobre mais unidades de produto (carne). Do mesmo modo, animais mais

férteis também diluem o consumo de alimentos para mantença sobre maior número de

bezerros nascidos e, novamente, mais unidades de produto (carne). As características de

crescimento em bovinos têm herdabilidade de média magnitude (de 0,30 a 0,40) e

respondem bem à seleção (Ceacero et al., 2016). O Brasil trabalhou e trabalha

fortemente, tanto na seleção dos animais como na comercialização do material genético

melhorado, e tem tido muito sucesso (por exemplo,

http://www.ancp.org.br/sumario#.WrkHTi7waM9, https://qualitas.agr.br/sumarios/,

http://agrocfm.com.br/touros-cfm/, http://www.deltagen.com.br/ ).

Entretanto, a seleção para diminuição dos níveis de emissão de metano será mais

rápida e efetiva se os animais forem selecionados diretamente com base nas

características altamente correlacionadas com os níveis de emissão de metano (Hayes et

al., 2013), como o consumo de matéria seca ou mesmo a própria característica “emissão

de metano”, havendo a necessidade nesse caso de obter esses fenótipos diretamente nos

animais, ou seja, quantificar individualmente o consumo de alimentos e a emissão de

metano entérico de todos os animais, de todos os machos, ou em parte deles, por

exemplo, após a desmama.

Com o desenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas de mensuração da

emissão individual de metano entérico, tais como câmeras respirométricas (Donoghue et

al., 2015), técnica do Fourier transform infrared (Lassen e Løvendahl, 2016),

GreenFeed systems (Hristov et al., 2015) e gás traçador SF6 (Deighton et al., 2014),

atualmente é possível incluir características relativas à emissão de metano nos

programas de melhoramento genético de bovinos. Entretanto, a sua mensuração é difícil

e de alto custo.

O consumo alimentar residual (CAR) tem sido usado como critério de seleção

para bovinos de corte visando o aumento da eficiência alimentar individual (Grion et al.,

2014; Ceacero et al., 2016). Animais mais eficientes (baixo CAR) têm, evidentemente,

vantagem econômica significativa, pois consomem menos matéria seca que o esperado

para seu peso e ganho de peso (Carberry et al., 2012), e, portanto, a seleção de animais

de baixo CAR tem potencial para reduzir, significativamente, os custos da produção de

carne. Além disso, a seleção de animais mais eficientes pode resultar em menor emissão

de metano entérico proporcionalmente ao menor consumo alimentar (Hegarty et al.,

2007).

Revisão de literatura

1. Fenotipagem dos animais para emissão de metano

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A mensuração da emissão de metano individual em bovinos é difícil e onerosa.

Sabe-se que a emissão diária de metano entérico individual está principalmente

relacionada à quantidade e à fermentabilidade da dieta. Entretanto, é necessário o

entendimento das variâncias dentro e entre os dias de mensuração, dentro de indivíduo,

para garantir que os dados coletados reflitam o fenótipo de emissão de metano de um

animal durante um certo período de sua vida, ou seja, que o fenótipo tenha certa

repetibilidade, como outros fenótipos de características de produção. A obtenção de

registros para fins de melhoramento genético será sempre uma escolha entre a acurácia

de um fenótipo e o número de registros factíveis de ser obtido (Pickering et al., 2015),

uma vez que para estudos de melhoramento genético, e para inclusão da característica

em programas de seleção, são necessários milhares de animais medidos.

A emissão de metano entérico individual pode ser mensurada utilizando uma série

de equipamentos e técnicas, e elas diferem com relação à unidade da medida e a

duração. Há técnicas que medem a massa de metano por dia (continuamente por 24 h,

como as câmaras respirométricas e a do gás traçador SF6) e outras que medem a

concentração de metano no ar excretado via respiração e eructação (amostras pontuais,

como métodos sniffer, o GreenFeed Emission Monitoring system e o sistema de

detecção de metano a laser) (Haas et al., 2018). Câmaras respirométricas e gás traçador

SF6 têm sido as metodologias usadas para estimar a emissão de metano entérico em

bovinos de corte com propósito de seleção (Donoghue et al., 2016; Manzanilla-Pech et

al., 2016).

O princípio das câmeras respirométricas é coletar todo o ar exalado do animal e

medir a concentração de metano e, portanto, são consideradas o método padrão para

estimar a emissão de metano uma vez que o ambiente pode ser controlado e a

confiabilidade e a estabilidade dos instrumentos pode ser mensurada (Johnson e

Johnson, 1995). Entretanto, as mesmas têm a limitação de serem de alto custo,

capacidade de apenas um animal por vez, e ser um ambiente diferente e estressante para

o animal, influenciando o consumo alimentar e, consequentemente, a mensuração da

emissão de metano. Piñares-Patino et al. (2013) relataram alta repetibilidade entre

emissão de metano (g CH4/dia) em dias consecutivos (0,94) e em anos consecutivos

(0,53) usando essa técnica em ovinos, assim como Herd et al. (2014) que também

relataram alta repetibilidade (0,95) entre emissão de metano em dias consecutivos em

bovinos. Os últimos autores recomendaram período de 48 horas para estimar a emissão

de metano de bovinos com um ano de idade em câmaras respirométricas, entretanto

Arthur et al. (2016) observaram alta correlação genética (0,99) entre emissão de metano

obtida em 24h e a obtida em 48h, indicando que 24h são suficientes para obter a

emissão de metano de bovinos de corte em câmeras respirométricas.

Na técnica do gás traçador hexafluoreto de enxofre (SF6), a idéia básica é que a

emissão de metano pode ser mensurada se a taxa de um gás traçador (atóxico,

fisiologicamente inerte, estável, e que se misture com os gases no rúmen da mesma

maneira que o CH4) no rúmen é conhecida. Esta técnica possibilita estimar a emissão de

metano de grande número de indivíduos sem a necessidade de confiná-los.

Recentemente, Deighton et al. (2014) identificaram, corrigiram erros substanciais e

validaram a técnica comparando as emissões estimadas por esta técnica modificada do

gás traçador SF6 e por câmera respirométrica. As estimativas de emissão de metano

obtidas por SF6 e por câmeras respirométricas foram estatisticamente similares, a

correlação entre as duas medidas foi alta (0,83) e o coeficiente de variação entre animais

(cerca de 7%) foi similar para as duas técnicas, sugerindo que a técnica modificada do

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gás traçador SF6 é o método mais acurado depois das câmeras respirométricas

(Deighton et al., 2013 e 2014).

Um método de amostragem pontual (a cada 5 s durante a alimentação e ordenha em

sistema robotizado, por 7 dias) foi descrito por Lassen et al. (2012), que usou uma

unidade portátil Gasmet DX-4000 (Gasmet Technologies, Helsinki, Finland) em

propriedades comerciais de bovinos de leite para estimar a emissão de metano de mais

de 3.000 vacas (Lassen e Løvendahl, 2016). A técnica FTIR (infrared transmission

spectrum) usa um espectro infravermelho de uma amostra de ar, e pode ser calibrado

para fornecer densidades dos gases de cada amostra. A razão entre CH4 e CO2 é medida

(em ppm) pela unidade FTIR, e é combinada com unidades de produção de calor de

cada vaca, estimado usando os registros de produção de leite corrigida para energia,

peso vivo e dias em gestação. O fenótipo final emissão de metano é expresso l/dia

(Zetouni et al., 2018). Uma vez que a atividade influencia a quantidade de CO2

produzido, a metodologia pode ser menos acurada que os métodos de quantificação

contínuo (Storm et al., 2012). A característica de todo sistema de mensuração de metano

on-line em amostras pontuais durante a alimentação é que as medidas são altamente

variáveis, entretanto inúmeras medidas são obtidas em um pequeno período de tempo e

a média de emissão de metano da vaca pode ser estabelecida, sendo repetível e

relacionada às emissões verdadeiras. A vantagem esmagadora das técnicas on-line, em

comparação com o SF6 e o laser, é que a coleta é automatizada, sem necessidade de

mão de obra.

2. Definição das características relativas à emissão de metano e estimativas de

herdabilidade

Há várias maneiras de definir características relativas à emissão de metano entérico

com o propósito de inclui-las em programas de melhoramento genético de bovinos de

corte (Donoghue et al., 2016; Herd et al., 2014 e 2016; Hayes et al., 2016; Lassen e

Løvendahl, 2016; Manzanilla-Pech et al., 2016; Zetouni et al., 2018). Características

como: emissão de metano (CH4 l/dia ou g/dia), rendimento de metano (CH4/consumo

de matéria seca), intensidade de emissão de metano (g CH4/kg de ganho em peso) e

aquelas definidas como resíduo baseadas na regressão genética ou fenotípica de CH4

sobre o consumo de matéria seca, ou CH4 sobre o consumo de matéria seca e peso vivo,

têm sido avaliadas quanto a estimativas de herdabilidade (Tabela 1) para delinear

programas de melhoramento genético.

Tabela 1. Definição de características relativas a emissão de metano e estimativa de

herdabilidade

Característicaa unidade definição h

2

Taxa de produção de

metano (TCH4)

g ou L/dia Emissão diária (obtida por um dos

métodos descritos acima)

0,25b

Rendimento de

metano (RCH4)

g ou L/kg MS TCH4 por kg de matéria seca

consumida (CMS)

0,23b

Intensidade de metano

(ICH4)

g ou L/kg GMD TCH4 por kg de ganho em peso 0,19b

Metano residual

(CH4Res)

g ou L/dia Resíduo da equação de regressão

TCH4 observado=CMS

0,17b

Ganho médio diário kg/dia Ganho médio diário em teste de 0,41c

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(GMD) desempenho de no mínimo 70 dias

Consumo de matéria

seca (CMS)

kg/dia Consumo de matéria seca em teste

de desempenho de, no mínimo, 70

dias

0,45c

aDonoghue et al. (2016); Herd et al. (2016).

bMetanálise de Brito et al. (2018), somente

resultados em bovinos, incluindo tanto metano mensurado como metano predito. cCeacero et al. (2016).

Além da variação no método de obtenção da TCH4, há variação no período de

obtenção do CMS e GMD, essenciais para o cálculo de RCH4, ICH4 e CH4Res. Em

geral, recomenda-se no mínimo 63 dias para obter GMD e 35 dias para obter CMS

(Wang et al., 2006). Nos estudos há variação do período de obtenção do CMS, que em

geral refere-se ao consumo de matéria seca somente durante o período de mensuração

da emissão de metano (Pinares-Patiño et al., 2013; Donoghue et al., 2016).

As estimativas de herdabilidade, obtidas exclusivamente em Bos taurus, tanto em

raças de corte como em raças leiteiras, são de média magnitude e, portanto, a seleção

para menor TCH4 ou RCH4 pode responder à seleção. As estimativas de ICH4 e CH4Res

são de menor magnitude, provavelmente porque parte da variação genética é devido à

variação no CMS e no GMD.

3. Correlações fenotípicas e genéticas com outras características de importância

econômica

Há poucos resultados sobre as associações, principalmente genéticas, entre emissão

de metano obtido por umas das técnicas comentadas anteriormente e outras

características de relevância econômica em bovinos. Há estudos em que a emissão de

metano foi predita por equações contendo consumo alimentar, peso corporal, produção

de leite, e esses resultados não foram incluídos abaixo.

a) Emissão de metano x crescimento ou produção de leite.

A taxa de produção de metano (TCH4) é fenotipicamente (0,50 a 0,61) e

geneticamente (0,79 a 0,86) correlacionada com os pesos a desmama, peso ao ano e

peso final (20 meses de idade) em bovinos de corte (Herd et al., 2014; Donoghue et al.,

2016). TCH4 também é fenotipicamente (0,43 a 0,52) e geneticamente (0,71 a 0,80)

correlacionada aos pesos ao desmame e aos 8 meses de idade em ovinos (Pinares-Patiño

et al., 2013). Em bovinos leiteiros não é diferente (Lassen et al., 2016; Breider et al.,

2018). TCH4 é correlacionada à produção de leite corrigida ou não para gordura e

proteína, tanto fenotipicamente (0,12 a 0,17) quanto geneticamente (0,26 a 0,43); sendo

também geneticamente correlacionada (0,42) com o peso vivo das vacas (Breider et al.,

2018). Portanto, a seleção para diminuição da TCH4 invariavelmente levará à seleção

para menor ganho de peso e menor produção de leite, diminuindo a produtividade

animal, e por essa razão foram propostas outras formas de expressar a TCH4 (Tabela 1).

b) Emissão de metano x consumo alimentar ou consumo alimentar residual.

Dos fatores que influenciam a emissão de metano, o consumo alimentar é o que

causa maior variação nas emissões diárias de metano. Há aumento da emissão de

metano após 15 minutos de um evento de alimentação e subsequente fermentação, e

essa emissão elevada perdura por várias horas (Haas et al., 2017). Em bovinos de corte,

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a taxa de produção de metano (TCH4) é altamente correlacionada com o consumo de

matéria seca (CMS), tanto fenotipica (rf=0,71) quanto geneticamente (rg=0,86)

(Donoghue et al., 2016). O mesmo ocorre em bovinos de leite (rf=0,51; rg=0,34)

(Breider et al., 2018), em em ovinos (rf=0,46; rg=0,42) (Paganoni et al. (2017).

Portanto, a seleção para diminuição da TCH4 invariavelmente levará à seleção para

menor consumo alimentar, que por sua vez é altamente geneticamente correlacionado ao

peso corporal e ganho de peso em bovinos de corte (Ceacero et al., 2016) e à produção

de leite (Breider et al., 2018), diminuindo a produtividade animal. Uma alternativa é

selecionar com base na característica rendimento de metano (RCH4) ou na característica

metano residual (CH4Res), as quais são minimamente, fenotipica (-0,01 a -0,02) e

geneticamente (-0,04 e -0,05), correlacionadas com o consumo alimentar (Donoghue et

al., 2016), embora apresentem herdabilidade inferior à TCH4, provavelmente porque

parte da variância genética de TCH4 é devido à variância genética do CMS, o que leva a

uma menor mudança genética. A seleção com base em uma característica definida como

uma razão de duas outras dificulta a predição da mudança genética devido à pressão

desproporcional exercida no numerador e no denominador, e por essa razão, a seleção

com base em CH4Res é mais recomendada do que a seleção com base em RCH4.

Se as emissões de metano são tão fortemente positivamente correlacionadas

(fenotipica e geneticamente) com o consumo alimentar, o consumo alimentar residual

(CAR) também deve ser fortemente (ou pelos menos medianamente) e positivamente

correlacionado à emissão de metano, uma vez que bovinos CAR negativo consomem

menos que o esperado em relação ao seu peso vivo e ganho em peso. Espera-se,

portanto, que a emissão de metano seja menor em animais CAR negativo

proporcionalmente ao menor CMS.

Durante a última década, estudos recomendaram fortemente a seleção de animais

mais eficientes (CAR negativo) como um meio indireto para reduzir as emissões de

metano pelos bovinos, embora essas recomendações tenham sido feitas com base em

associações fenotípicas, e não genéticas, entre essas características. Entretanto, com o

aumento no número de estudos essa hipótese não se mostrou totalmente verdadeira. Os

resultados mostraram que a associação entre emissão de metano e CAR é positiva em

dietas de alta digestibilidade (Nkrumah et al. 2006; Hegarty et al., 2007; Jones et al.,

2011), e que bovinos CAR negativo apresentam menor TCH4 e menor RCH4. Por

outro lado, em bovinos alimentados com dietas de baixa digestibilidade, como as que

predominam no Brasil, a associação fenotípica entre emissão de metano (TCH4) e CAR

é nula ou mesmo negativa (Jones et al., 2011; Freetly e Brown-Brandl, 2013;

Mercadante et al., 2015; Velazco et al., 2016), sugerindo que a emissão de metano

entérico individual por CMS (rendimento de metano-RCH4) seja maior em animais

mais eficientes (CAR negativo). Esse fato é provavelmente relacionado à maior

digestibilidade e taxa de fermentação ruminal em bovinos CAR negativo, aumentando a

produção total de ácidos graxos de cadeia curta com proporcional aumento da emissão

de metano. Embora essas correlações simples e fenotípicas forneçam uma indicação das

correlações genéticas, elas não são exatamente apropriadas para inferir sobre resposta à

seleção.

Em relação às estimativas de correlação genética entre CAR e TCH4 ou RCH4,

não foram encontrados resultados com esse parâmetro genético em bovinos de corte ou

de leite, embora Donoghue et al. (2016) e Breider et al. (2018) tenham relatado

estimativas de herdabilidade para TCH4, RCH4 e CMS, em corte e leite, e correlação

genética entre TCH4, RCH4 e CMS. Em ovinos, Paganoni et al. (2017) verificaram

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correlação fenotípica (0,16) e genética (0,17) positiva entre CAR e TCH4 e concluíram

que a seleção de animais com menor CMS e menor CAR reduzirá a emissão de metano

em animais alimentados com dieta de alta qualidade.

c) Emissão de metano x microorganismos do rumen

A metagenômica possibilita a identificação da composição total da comunidade

microbiana do rumen, assim como a abundância de seus genes. As archaea

metanogênicas presentes no rumen contribuem significativamente para a emissão de

metano entérico. Wallace et al. (2014) verificaram que a razão archaea:bactéria no

conteúdo ruminal de animais vivos pode ser usada para predizer as emissões de metano,

pois são fenotipicamente correlacionadas (0,49). O elo genético do hospedeiro que

controla a produção microbiana de metano é desconhecido. Com este desafio, Roehe et

al. (2016) investigaram a abundância de genes microbianos como uma característica

alternativa para reduzir a emissão de metano de bovinos de corte. Animais extremos

para emissões de metano foram selecionados e seus genes microbianos ruminais

determinados usando metagenômica. A razão archea:bactéria (obtida dos animais vivos

logo após a saída das câmaras respiratórias) e as emissões de metano, expressas como

TCH4 ou RCH4, foram altamente correlacionadas (rf=0,80 e rf=0,65). As correlações

também foram altas (rf=0,72 e rf=0,67, respectivamente) entre as emissões de metano e

as razões archeas:bactérias obtidas nas amostras do conteúdo ruminal no abatedouro. Os

autores verificaram que há um efeito genético aditivo do animal hospedeiro na

quantidade de metano emitido via efeitos da comunidade microbiana ruminal, ou seja,

características da comunidade microbiana ruminal de cada hospedeiro (por exemplo,

razão archaea:bactérias) podem ser usadas como critério de seleção para mitigar as

emissões de metano. Roehe et al. (2016) verificaram ainda que a abundância relativa

dos genes microbianos está mais intimamente associado à emissão de metano que a

abundância da comunidade microbiana (para a qual a razão archaea:bactérias é o melhor

preditor), sugerindo ser essa uma característica melhor para ser selecionada.

4. Seleção direta para diminuir as emissões de metano

Um dos desafios de selecionar para reduzir as emissões de metano é decidir

sobre o objetivo de seleção. Atualmente, não há um consenso claro sobre qual

característica deve ser alterada por seleção e ainda há pouco conhecimento sobre a

arquitetura genética das diferentes medidas (Manzanilla-Pech et al., 2016). Os estudos

mostram que variação genética na emissão de metano está presente nas populações

bovinas e ovinas avaliadas e há potencial para aplicar seleção genética direta para

reduzir as emissões de metano em ruminantes. Em bovinos de corte, a seleção para

baixo TCH4 pode inadivertidamente levar à seleção para menor crescimento e pode ter

efeitos indesejáveis na produtividade, por isso a seleção para menor RCH4 ou CH4Res

(regressão TCH4 sobre DMI) é recomendada por Donoghue et al. (2015). Em bovinos

de leite a seleção genética direta para menor TCH4 também diminuirá a produção de

leite, como ressaltado por Lassen e Løvendahl (2016). Nos programas de melhoramento

atuais, os animais para reprodução são selecionados com base em um índice de seleção

composto por várias características produtivas. Quando a TCH4 tiver um valor

econômico e/ou social, seja por venda de créditos de CO2 ou pelo maior valor agregado

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ao produto com menor pegada de CO2, a característica TCH4 receberá uma ponderação

apropriada no índice de seleção (que incluirá, além de características de produção e

funcionais, também características de impacto ambiental). Isso resulta em menor ganho

genético para cada uma das características do índice, mas uma boa resposta para o

objetivo de seleção “eficiência de produção e impacto ambiental" (Pickering et al.,

2015). O ganho genético em um programa de seleção é afetado pela acurácia de seleção

(que, por sua vez, é afetado pelo número de registros), intensidade de seleção (que, por

sua vez também é afetada pelo número de registros) e intervalo de gerações. Portanto, as

possibilidades de seleção direta para TCH4 (ou uma das características definidas

anteriormente) necessitarão de grande quantidade de animais fenotipados, o que pode

demorar um tempo, considerando a dificuldade e o custo dos métodos de mensuração

descritos acima. A população referência a ser mensurada (Haas et al., 2017) tem que ser

bem delineada de modo a representar e conectar geneticamente um grande número de

rebanhos de seleção, para maximizar os benefícios do alto custo investido na

fenotipagem da TCH4. A genômica auxiliará no aumento da acurácia de seleção e

diminuição do intervalo de gerações, aumentando o ganho genético na característica.

5. Seleção indireta para diminuir as emissões de metano

Vários grupos de pesquisa têm trabalho fortemente na análise de características

indicadoras e/ou preditoras da emissão de metano, mais especificamente para bovinos

leiteiros (Negussie et al., 2016), sendo algumas delas tão difíceis e caras de serem

obtidas em grandes populações como a mensuração direta da TCH4. Toda a abordagem,

e resultados, no sentido de diminuir as emissões de metano por meio do melhoramento

genético são muito recentes e podem mudar rapidamente com o avanço das pesquisas.

Mas além da seleção visando diretamente a diminuição de TCH4 direta ou

indiretamente (através de características indicadoras de TCH4), há a possibilidade real

de selecionar para obter respostas correlacionadas no sistema (ou rebanho) como um

todo, no sentido de diminuição de TCH4: 1) aumento da eficiência e 2) redução do

desperdício (Wall et al., 2010). A seleção para aumento da eficiência resulta em menos

CH4 por kg de carne ou leite produzido, simplesmente porque menor número de

animais (novilhos e vacas de corte e de leite) é necessário para produzir a mesma

quantidade de carne ou leite. Ou seja, reduzindo o número de animais necessários para

produzir uma quantidade fixa de produto (carne ou leite, e animais geneticamente

melhorados para maior GMD ou maior produção de leite), reduzirá a emissão de gases

de efeito estufa (incluindo CH4) por unidade de produto. Além da seleção para

características de produção (peso, GMD, leite), a seleção para características adaptativas

(duração da vida produtiva, saúde, fertilidade) tem também grande impacto na redução

das emissões pela redução do desperdício/descarte de animais (Haas et al., 2017).

6. Redes internacionais de pesquisa

Várias redes internacionais se formaram no intuito de estudar as metodologias e

treinar pessoal, e formar uma base de dados internacional para avaliar os (poucos)

resultados de TCH4 entre metodologias, raças, países, etc, deixando claro que

cooperação internacional é essencial para obter avanços mais rápidos nesta área:

METHAGENE (www.methagene.eu), ASGGN (www.asggn.org), The eficient dairy

genome project (http://genomedairy.ualberta.ca/).

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Pegada hídrica na produção de carne e leite bovino no Brasil

Julio Cesar Pascale Palhares

1

1 Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, São Paulo, email: [email protected]

Resumo: As ameaças à quantidade e qualidade das águas no Brasil e no mundo

compreendem: o crescimento populacional, a urbanização, a industrialização, as formas

de uso do solo, a produção agropecuária, as mudanças climáticas e as fontes de poluição

(pontuais e difusas). No Brasil também é um problema crônico a falta de saneamento

urbano e rural. Quanto maior o grau de poluição e contaminação de nossas águas maior

o impacto econômico do uso da água nos custos de produção dos alimentos, maior a

vulnerabilidade sanitária e menor a competitividade do país na produção de

commodities agropecuárias. O setor agropecuário precisa internalizar o manejo hídrico

definido como: uso cotidiano de conhecimentos e práticas que garantam a oferta de

água em quantidade e qualidade. O cálculo da pegada hídrica pode auxiliar na geração

de conhecimento a fim de manejar os recursos hídricos nas atividades agropecuárias e

agroindustriais. A pegada hídrica é definida como o volume de água consumido, direta e

indiretamente para produzir o produto. A avaliação da pegada se propõe a ser uma

ferramenta analítica, auxiliando no entendimento de como o produto se relaciona com a

demanda e a escassez hídrica. As análises e cálculos da pegada são ações multiatores,

pois necessitam do conhecimento e engajamento de todos para que seja reconhecida

como instrumento de suporte a decisão. Portanto, incentiva-se e discussão, reflexão e

negociação sobre a atividade e seus impactos ambientais, o que tem como consequência,

a redução dos conflitos na cadeia de produção e desta com a sociedade. Também insere

uma ação educativa, pois possibilita que produtores, técnicos, profissionais, empresários

e agentes de governo ampliem seu conhecimento ambiental. A falta deste conhecimento

é uma das maiores barreiras para uma evolução ambiental perene e próspera.

Palavras-chave: consumo de água; dessedentação animal; mitigação, nutrição;

poluição

1. Introdução

Na 5ª edição da pesquisa “O que o Brasileiro pensa do Meio do Ambiente”,

publicada pelo Ministério do Meio Ambiente (2012) a preservação, conservação,

poluição e desperdício de recursos hídricos são citados com frequência pelos

respondentes. Dentre as opiniões analisadas nas várias edições, a que apresenta maior

variação nos últimos quinze anos é a concordância sobre a insustentabilidade da forma

como a água vem sendo utilizada. Em 1997, 55% dos respondentes brasileiros

concordavam com a afirmação. Atualmente, 82% da população concorda com a

afirmação. Das intenções citadas visando mudar o comportamento a fim de tornar a

relação com o meio ambiente mais amigável destaca-se: comprar produtos que utilizem

menos água, citado por 82%.

As ameaças a quantidade e qualidade das águas no Brasil e no mundo

compreendem: o crescimento populacional, a urbanização, a industrialização, as formas

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de uso do solo, a produção agropecuária, as mudanças climáticas e as fontes de poluição

(pontuais e difusas). No Brasil também é um problema crônico a falta de saneamento

urbano e rural. Quanto maior o grau de poluição e contaminação de nossas águas maior

o impacto econômico do uso da água nos custos de produção dos alimentos, maior a

vulnerabilidade sanitária e menor a competitividade do país na produção de

commodities agropecuárias.

Em nossa cultura gastronômica algumas duplas são indissociáveis, café com leite,

arroz com feijão, goiabada com queijo, frango com polenta, etc. Todas elas estão

baseadas em outra dupla indissociável: água e alimento. Não é possível existir produção

de alimentos sem água em quantidade e com qualidade. Se um dia consumirmos

proteína animal produzida em laboratório, ainda assim, necessitaremos de água para

produzi-las. Enfim, o que fazemos, seja na produção de carnes, ovo, leite, soja, milho,

etc. é produzir água enriquecida com nutrientes essenciais a vida.

Os estudos mostram que nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a maior

parte da água captada e consumida é utilizada pela agropecuária. Em países

desenvolvidos a maior parte é utilizada pelos setores industrial e de serviços.

Anualmente, a Agência Nacional de Águas divulga a publicação Conjuntura dos

Recursos Hídricos no Brasil. A edição de 2016 traz a informação que 75% da água

consumida no país foi utilizada pela irrigação e 9% para dessedentação animal.

Portanto, a agropecuária representou 84% do consumo. Em vista desses números,

podemos concluir que a produção de alimentos é intensiva no uso da água, tendo assim

o dever de prezar pelo uso eficiente deste recurso natural.

Historicamente, a relação da produção animal brasileira com a água é de

exploração do recurso. Isso se deve a perpetuação da ideia de que o país é rico em água,

por isso ela nunca irá faltar. Essa ideia não é de toda verdade. O Brasil detém

aproximadamente 12% da água doce do mundo, mas quase 70% desta está concentrada

na região Norte do país (Bacia Amazônica). O Sudeste, região mais urbanizada, detém

em torno de 6% para ser consumido entre cidades, indústrias, serviços e agropecuária,

então se não houver gestão hídrica, situações de escassez e conflito serão cada vez mais

comuns, independente, da falta de chuva. Em diversas regiões brasileiras conflitos pelo

uso da água estão presentes, pois a necessidade dos usuários é maior do que a oferta de

água.

O setor agropecuário precisa internalizar o manejo hídrico definido como: uso

cotidiano de conhecimentos e práticas que garantam a oferta de água em quantidade e

qualidade. Não existe o melhor manejo! Deve-se considerar as características

produtivas, econômicas, culturais e ambientais para propor o manejo hídrico mais

adequado a essa. A imposição de “receitas” não irá dar segurança hídrica, trará maiores

custos econômicos e frustrações. Qualquer manejo que for proposto deve prezar pela

segurança hídrica. Segurança Hídrica é aqui definida como: condição na qual o uso e o

consumo de água propiciam a manutenção dos benefícios ambientais, econômicos e

sociais ao indivíduo e a sociedade e a conservação do recurso natural em quantidade e

qualidade.

É possível desenvolver atividades agroindustriais e agropecuárias sem agredir o

meio ambiente, mas para isso temos que querer. Simplesmente, achar que temos as

produções mais sustentáveis do planeta, não irá torná-las sustentáveis. O meio ambiente

tem que ser parte da tomada de decisão que produtores, agroindústrias e todos os elos

das cadeias produtivas, incluindo consumidores, fazem diariamente. Dispomos de

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muitos conhecimentos e tecnologias para utilizar a água de forma eficiente, reduzir os

impactos ambientais negativos e produzir alimentos sem culpa ambiental.

2. Pegada Hídrica

Uma pergunta que começa a ser feita pela sociedade e por aqueles que têm como

missão gerenciar os recursos hídricos é: quanto de água se consome para produzir um

quilograma de carne, leite, ovo, milho, soja, etc.? Nos últimos anos, estudos com o

objetivo de responder a essa pergunta começaram a ser feitos. Existem vários métodos

que podem ser utilizados nesses estudos. Um dos que tem tido maior aceitação pela

comunidade científica, governos e destaque na mídia é o método da pegada hídrica. O

cálculo da pegada hídrica pode auxiliar na geração de conhecimento a fim de manejar os

recursos hídricos nas atividades agropecuárias e agroindustriais. O Brasil deve ter

estudos que avaliem as demandas hídricas de suas commodities agropecuárias, caso

contrário, o país será sempre refém de estudos internacionais.

A pegada hídrica é definida como o volume de água consumido, direta e

indiretamente para produzir o produto. A avaliação da pegada se propõe a ser uma

ferramenta analítica, auxiliando no entendimento de como o produto se relaciona com a

demanda e a escassez hídrica. A proposição de cálculo da pegada hídrica surgiu no

início do século (2001/2002) e foi proposta pelo pesquisador Arjen Hoekstra da

UNESCO, sendo aprimorada por pesquisadores da Universidade de Twente na Holanda.

Atualmente, grande parte dos estudos são feitos pela Water Footprint Network

(www.waterfootprint.org). A essência do cálculo é a mesma que já vinha sendo

desenvolvida pelas pegadas ecológica e de carbono, entender os sistemas de produção

como elos de uma cadeia produtiva, que se inicia na geração de insumos e termina na

oferta de produtos ao consumidor.

Recentemente, outras escolas científicas surgiram realizando cálculos de pegada

hídrica, mas de forma diferente da escola holandesa. Dessas escolas, a de maior

destaque é a que utiliza a metodologia de Análise de Ciclo de Viva. O conceito de ciclo

de vida relaciona determinado produto a um fluxo de processos executados ao longo de

uma cadeia produtiva e além dela. A análise abrange a extração e processamento de

matérias-primas, manufatura, transporte, distribuição, uso, reuso, manutenção,

reciclagem e disposição final do produto. Portanto, a análise de ciclo de vida é bem

mais ampla que o método de cálculo da pegada hídrica, pois considera todos os aspectos

e impactos ambientais relacionados a um produto. Em 2014, a Organização

Internacional de Normalização (ISO) editou a ISO 14046 que estabelece os princípios e

requerimentos para o cálculo da pegada hídrica, seguindo a metodologia de análise de

ciclo de vida. No dia 10/05/2017 a Associação Brasileira de Normas Técnicas finalizou

o processo Consulta Nacional do Projeto de norma ABNT NBR ISO 14046 – Gestão

ambiental – Pegada hídrica – Princípios, requisitos e diretrizes. Este Projeto foi

elaborado pela Comissão de Estudo de Avaliação do Ciclo de Vida e pelo Comitê

Brasileiro de Gestão Ambiental. A norma brasileira é prevista para ser idêntica à norma

internacional ISO 14046:2014.

O método holandês entende consumo de água como: consumo de águas

superficiais e subterrâneas; água evaporada e transpirada na produção das culturas

vegetais (processo de evapotranspiração), água que retorna para outra unidade

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hidrográfica que não a sua unidade de origem ou para o mar e água incorporada ao

produto. A pegada pode ser expressa em: m3 de água/ano, m

3 de água/hectare e m

3 de

água/kg de produto.

O cálculo também diferencia o consumo de água verde (água evapotranspirada

pelas culturas vegetais). Ressalta-se que a água verde não significa a água da chuva,

pois essa não considera as águas que escorrem ou infiltram no solo. Entende-se que essa

água não é consumida pela cultura agrícola. Água azul, consumida de fontes superficiais

e subterrâneas, e utilizada na irrigação das culturas vegetais, dessedentação dos animais,

lavagem de equipamentos, etc. Água cinza, volume de água necessário para diluir os

efluentes da atividade. Portanto, a pegada hídrica é composta por componentes indiretos

(ex. água utilizada na produção dos alimentos) e diretos (ex. água consumida na

dessedentação dos animais e serviços).

Existem vários estudos calculando a pegada hídrica dos produtos animais. Na

Tabela 1, observa-se a quantidade de água consumida por várias espécies e para três

sistemas de produção. Os valores da Tabela 1 são médias mundiais, portanto para

calculá-los fez-se muitas inferências. Certamente, para países com dimensões

continentais e diversos sistemas de produção como o Brasil, o melhor valor será aquele

calculado para as realidades produtivas brasileiras. Isso não invalída as médias globais,

pois um dos objetivos do cálculo da pegada é explicitar a íntima relação entre produção

de um produto e os recursos hídricos.

Tabela 1. Valor da pegada por categoria animal e sistema de produção (Gm3/ano).

Categoria Sistema de Produção a Pasto Sistema de Produção Misto*

Sistema

Industrial Verde Azul Cinza Verde Azul Cinza Verde Azul Cinza

Bov. de Corte 185 4,5 2,1 443 20 12 112 10 9,0

Bov. de Leite 83 3,6 3,7 269 27 26 48 4,1 3,8

Total 461 17,8 13,2 1210 90 90 442 43 55

*Sistema de produção que envolve pastejo e confinamento dos animais.

Fonte: Mekonnen & Hoekstra (2011)

É possível que a pegada seja calculada sem considerar todos os consumos,

podendo ter como fronteira a fazenda, região, o estado ou país. Na interpretação do

valor deve estar claro o que foi considerado no cálculo e qual a fronteira. Portanto,

pode-se ter uma pegada de 40 L/kg de carne bovina, neste caso a “fronteira” utilizada

foi reduzida, se limitando aos galpões de uma propriedade rural, sendo considerado

somente o consumo de água azul (dessedentação). Para o mesmo produto o valor pode

ser de 15.000 L/kg de carne bovina, aqui o cálculo considera toda a cadeia de produção,

da extração e manufatura dos insumos a oferta dos produtos ao consumidor. Sem esses

esclarecimentos a interpretação do valor conduz a erros. A Figura 1 apresenta as

possíveis fronteiras de cálculo para a cadeia produtiva de bovinocultura de corte. Por

exemplo, a fronteira pode ser a propriedade rural, o abatedouro, o hipermercado ou toda

cadeia produtiva.

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Figura 1. Fronteira de cálculo da pegada hídrica na cadeia de bovinocultura de corte.

Deve-se ressaltar que o mais importante não é o valor numérico da pegada, mas

sim a relação deste com a disponibilidade hídrica do local e região e a proposição de

ações mitigatórias. Na Figura 2, apresentam-se as etapas de cálculo da pegada hídrica.

Observa-se que a geração do valor numérico é somente uma das etapas e não o objetivo

fim do método. O objetivo fim é utilizar o indicador para promover o uso eficiente da

água e a gestão do recurso natural. O método também considera a análise de

sustentabilidade no qual são avaliados aspectos econômicos e sociais relacionados ao

uso da água.

Calcular a pegada sem propor ações e soluções para melhorar o manejo hídrico

não promoverá grandes avanços e poderá gerar mais conflitos do que consensos.

Quando os primeiros valores da pegada começaram a ser divulgados no Brasil, os

setores agropecuários se mostraram contra o conceito e seus resultados. A razão dessa

revolta inclui erros da mídia na forma de comunicação do conceito e a falta de

conhecimento dos setores ao cálculo. Hoje, o conceito é mais aceito e já internalizado

por algumas agroindústrias, pois o método foi esclarecido e melhorado e se entendeu

que o indicador tem conteúdo para subsidiar a gestão hídrica.

ESTABELECER OS OBJETIVOS E O ESCOPO DE CÁLCULO

CÁLCULO DA PEGADA HÍDRICA (águas verde, azul e cinza)

AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA DO LOCAL COM O VALOR DA PEGADA

PROPOSIÇÃO DE AÇÕES MITIGATÓRIAS (envolvendo as culturas vegetais, os manejos produtivos, os processos

industriais e as tecnologias disponíveis)

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Figura 2. Etapas de cálculo da pegada hídrica.

Para interpretar os valores de pegada hídrica, relacionando-os com o aumento da

eficiência do uso da água é necessário entender e manejar a água nas três dimensões que

ela tem em um sistema de produção animal: alimento, insumo e recurso natural. A água

é o alimento mais importante para os animais, é uma fonte de nutrientes, devendo ser

conservada, manejada e oferecida de acordo com os padrões de qualidade. O

desempenho e o bem-estar dos animais dependem deste alimento oferecido em

quantidade e com qualidade. A água é um insumo quando usada para lavar uma

instalação ou equipamento, refrescar os animais ou remover os resíduos da produção.

Na condição de recurso natural a água deve ser conservada a fim de proporcionar a

resiliência do sistema produtivo. A Figura 3 mostra como essas três dimensões estão

relacionadas com águas verde, azul e cinza. A melhoria da eficiência hídrica é um

processo dinâmico. Portanto, é fundamental atualizar os conhecimentos e promover a

capacitação de agricultores e profissionais.

Figura 3. Dimensões da água em um sistema de produção animal e suas relações com a

pegada hídrica.

DIMENSÕES DA ÁGUA

ALIMENTO INSUMO RECURSO NATURAL

INTERPRETAÇÃO Águas Verde, Azul e

Cinza Água Azul e

Cinza

Avaliação de Impacto (Relacionar a

disponibilidade com a demanda hídrica e o

impacto na qualidade das águas)

BOAS PRÁTICAS Práticas agrícolas, de conservação de uso

do solo e uso de eficiente de

fertilizantes. Manejo e tecnologias em nutrição animal

Internalização do manejo

hídrico. Práticas para o correto manejo dos

resíduos

Práticas para conservação das águas

superficiais e subterrâneas e do solo

Eficiência Hídrica

Melhoria da eficiência hídrica da água verde e redução do valor

da pegada hídrica

Melhoria das eficiências hídricas das águas azul e

cinza e redução do potencial de

impacto ambiental da atividade

Melhoria da condição de segurança hídrica e resiliência do sistema e da sustentabilidade da

pegada hídrica.

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Independente do método utilizado no cálculo da pegada hídrica as limitações para

os produtos de origem animal são: inexistência de uma cultura hídrica nas cadeias de

produção; falta de informações para o cálculo, aumenta a necessidade de inferências,

aumenta as incertezas e os conflitos; pouca interação pecuária e agricultura; a produção

animal é uma fonte de poluição pontual e difusa, por isso é preciso dimensionar essas

duas fontes para ter um cálculo mais robusto; determinação das fronteiras do cálculo

(sistemas de produção e áreas geográficas); ausência de visão sistêmica dos atores das

cadeias e tomadores de decisão; baixo entendimento do método pelos atores e pela

sociedade; sensacionalismo da mídia na divulgação da pegada e poucas ações que visem

o esclarecimento da sociedade quanto ao método.

3. Cálculos da pegada hídrica

Neste item apresentam-se estudos de cálculo em pegada hídrica, bem como

proposições de manejos e intervenções a fim de tornar o uso da água pela atividade mais

eficiente.

3.1. Bovinocultura de Leite

Esse estudo teve o objetivo de avaliar as pegadas hídricas verde, azul e cinza de

dois sistemas de produção de leite, convencional e orgânico. Os cálculos foram feitos

para o período de um ciclo de lactação (10 meses). Ambos os sistemas possuíam

características comuns: manejo alimentar baseado em sistemas rotacionados de pastejo,

no período seco foi realizada a suplementação de volumoso com silagem de milho na

propriedade convencional e com silagem de cana-de-açúcar na orgânica e ambos

utilizavam irrigação para aumento da oferta de alimentos na seca. Na Tabela 2 são

apresentados os valores das pegadas para os dois sistemas.

Tabela 2. Pegadas hídricas de sistemas convencional e orgânico de produção de leite.

Águas Convencional Orgânico

Pegada Hídrica Verde

Pegada Hídrica Azul

Pegada Hídrica Cinzanitrato

884

75

3,6

702

97

8,6

(Litros de água/Volume de Leite corrigido*) 962,6 807,6

*Volume de Leite corrigido: expressa a quantidade de energia no leite produzido e

ajustado para 3,5% de gordura e 3,2% de proteína. Fonte: Palhares (2015).

Alimentos concentrados representaram 62,5% de pegada de água verde no sistema

convencional e 68,27% no orgânico. Em geral, a intensificação é acompanhada de

redução da dependência sobre a alimentação a pasto e aumento do uso de alimentos

concentrados. Os sistemas de produção precisam aproveitar a capacidade do rúmen de

converter a proteína das forragens em proteína do leite. Isto irá reduzir os custos de

produção e a pegada hídrica e permitir que os sistemas se tornem mais independentes de

recursos externos.

Tanto no convencional, como no orgânico, o consumo de água para irrigação

representou a maior percentagem de água azul. Os resultados são importantes para

mostrar o impacto que essa técnica tem na demanda hídrica de um sistema de produção

de leite, principalmente, em regiões e bacias hidrográficas onde já existem conflitos

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pelo uso da água. Nesta situação, a irrigação deve ser planejada e manejada buscando a

máxima eficiência de uso do recurso natural. Se não houvesse irrigação nos sistemas, a

pegada azul para o sistema convencional seria de 3 litros por kg de volume de leite

corrigido e de 4 litros por kg de volume de leite corrigido para o sistema orgânico. A

manutenção da produção de leite por ano nos dois sistemas poderia ser alcançada sem

irrigação, mas utilizando-se elevadas quantidades de concentrado na dieta. Esta seria

uma estratégia recomendada para regiões e bacias hidrográficas com escassez de água,

ainda que o custo de produção de leite seja superior. Outra estratégia seria reutilizar o

efluente da sala de ordenha para fertirrigação. Com isso, além de reduzir os valores de

pegada azul, também haveria impactos positivos sobre a eficiência de utilização de

nutrientes presentes nas águas de lavagem da ordenha.

Também foi calculado o indicador de escassez de água azul em ambas as

propriedades. No sistema convencional o valor foi de 0,11 e no orgânico, de 0,13. Os

resultados mostram que o sistema convencional consumiu 11% da água azul disponível

no ano de referência e o orgânico, 13%. Isso ocorreu devido às menores

disponibilidades de águas superficiais e subterrâneas na propriedade orgânica. Para

calcularmos essas disponibilidades consideramos os volumes de água outorgados e a

vazão ecológica dos rios que atravessam as propriedades. A transição para o estresse

hídrico ocorre com valores de 0,2 e de estresse para escassez com 0,4. Apesar dos

indicadores de escassez de água azul serem confortáveis, melhorias na eficiência de uso

da água azul podem permitir a distribuição de água para outros usos e consumidores,

além de contribuir para a redução dos conflitos sociais. O cálculo da pegada hídrica azul

e sua relação com a disponibilidade de água na região de produção auxiliam na tomada

de decisão, pois fornecem informações para se avaliar o risco de escassez hídrica da

atividade.

A produção de alimentos é o maior utilizador de água em um sistema de produção

animal. Esta situação pode ser entendida como uma oportunidade para melhorar a

eficiência de uso da água na agricultura e promover a integração entre agricultura e

pecuária. Portanto, deve-se ter atenção na eficiência da produção dos alimentos e

conversão destes em produtos de origem animal. Melhorar a eficiência da água no

desenvolvimento das culturas vegetais é uma abordagem eficaz para otimizar o uso da

água e reduzir os valores das pegadas. Os especialistas em nutrição animal devem ser os

responsáveis por encontrar a combinação mais sustentável destes elementos, ou seja,

menor utilização de água pela cultura vegetal, mantendo os requisitos de proteína e

energia para os animais. No manejo nutricional o custo da alimentação tem grande

importância. A análise hídrica e econômica para a produção de uma tonelada de

forragem, grãos ou silagem pode demonstrar qual tipo de alimento tem menor consumo

de água e custo de água.

O consumo de água no processamento do produto também pode ser considerado

nos cálculos de pegada hídrica. Devido ao setor agroindustrial também ser um relevante

consumidor do recurso utilizou-se uma unidade de produção de leite tipo A, queijos,

iogurtes e manteiga para calcular a pegada hídrica azul do laticínio, bem como apontar

possíveis práticas de gestão do recurso. No cálculo da pegada hídrica azul foi

considerado somente o uso direto de água pela unidade industrial para suas demandas

de processamento do produto e higienização das instalações.

O leite foi originado de um rebanho de 1,5 mil vacas em lactação, de um total de

3,6 mil fêmeas holandesas entre jovens e adultas, criadas em instalações FreeStall. A

produção média foi de 11.500 kg por vaca por ano, com vacas ordenhadas três vezes por

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dia em uma sala de ordenha “sidebyside” 2x30. O manejo alimentar era baseado em

ração e volumoso acrescidos de caroço de algodão, polpa cítrica e minerais.

O consumo foi mensurado pela leitura diária, durante 63 dias, de um hidrômetro

instalado na rede hidráulica de entrada da unidade industrial.

Na Figura 4, observa-se os valores da pegada hídrica azul. O valor médio da

pegada foi de 0,25 L de água kg de leite-1, sendo a máxima pegada de 1,29 a mínima

0,06 L de água kg de leite-1.

Figura 4. Pegada hídrica azul da unidade industrial.

Silva (2006) e Castro (2007) encontraram relações de 6,1 L de água kg de leite-1

e

5,7 L de água kg de leite-1

, respectivamente. Saraiva et al. (2009) obteve 3,2 L de água

kg de leite-1

e Machado et al.(2002) valores entre 3 e 4,5 L de água kg de leite-1

. Saraiva

et al.(2009) é importante ressaltar que o consumo de água em um laticínio pode variar

conforme as técnicas, os processos e equipamentos utilizados nas etapas de

processamento e até mesmo o mês em que os dados foram coletados.

O estudo de caso demonstrou que leite e derivados podem ser produzidos com

reduzida pegada hídrica azul. É importante destacar que existem diferenças entre

unidades industriais de produção de leite e essa variabilidade deve ser objeto de futuras

pesquisas para que mais melhorias e melhor gestão possam ser atingidas e propostas.

Com isso o setor poderá desenvolver novos processos, visando reduzir a pressão sob os

recursos hídricos.

Em outro estudo calculou-se a pegada hídrica cinza de um sistema de produção de

leite.

Os dados produtivos utilizados no estudo foram levantados por entrevistas com os

responsáveis e coletas a campo em fazenda localizada no município de Descalvado-SP.

O efluente da ordenha era conduzido para um sistema de separação de sólidos (peneira e

prensa) e armazenado em três lagoas em série com tempo de retenção hidráulica

estimado em 20 dias. Diariamente, o efluente era bombeado da terceira lagoa e aplicado

superficialmente em área de 100 ha cultivada com milho e capim Tifton 85.

Os dados da produção de leite (kg) foram disponibilizados pela fazenda e se

referem ao ano de 2016. A produção média diária até novembro de 2016 foi de 56.217

kg de leite. O laticínio da propriedade produz leite tipo A, iogurte e manteiga.

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Segundo a empresa, o volume de água utilizado para o flushing das instalações do

sistema de produção é de 600.000 L dia-1. Oito coletas no período 2014/2015 para

caracterização do efluente quanto às concentrações de nitrato foram realizadas após a

terceira lagoa de tratamento. As concentrações de nitrato no efluente estão representadas

na Tabela 1.

O cálculo da pegada hídrica cinza foi feito com base em (Hoekstra et al, 2011) e

nas concentrações mensais de nitrato do efluente gerado pelo sistema de produção. A

fonte poluidora foi considerada como difusa devido ao aproveitamento desse efluente

como fertilizante na propriedade rural.

No caso de fontes difusas de poluição, estimar a porcentagem da carga aplicada

que foi escorrida e/ou infiltrada não é simples. Neste estudo optou-se por utilizar o

cenário Tier-1, no qual o valor de α é estimado de forma qualitativa. Portanto, estima-se

a fração geral de escoamento-infiltração. Assim, atribuiu-se o valor de 10% para α. O

cenário Tier-1 é suficiente para uma primeira estimativa, mas os resultados devem ser

interpretados com cuidado, (Franke et al., 2013). A concentração máxima aceitável para

o elemento nitrato nos corpos d´água brasileiros é de 10 mg L-1

(CONAMA 357, 2005).

Considerou-se o valor zero para a concentração natural do elemento no corpo hídrico.

Na Figura 5 observam-se os valores da pegada hídrica cinza por mês e o valor

médio do período. Quanto maior for o valor de nitrato no efluente, maior será a pegada

hídrica cinza. Portanto, justifica-se a observação do maior valor de pegada no mês de

julho e a menor no mês de fevereiro.

A variação da concentração de nitrato no efluente é multifatorial, sendo um dos

fatores de maior influência o manejo nutricional dos animais. Por exemplo, nos meses

de inverno a relação volumoso/concentrado da dieta é diferente da dos meses de verão.

Isso irá determinar diferentes eficiências de uso de nutrientes e, conseqüente, diferentes

composições de fezes, urina e dos efluentes.

Figura 5. Pegada hídrica cinza no período.

Comparando-se o valor médio da pegada hídrica cinza (2,7 L de água kg-1

de

leite) com os valores de cada mês, é possível observar as variabilidades. Na maioria dos

casos de intervenção ambiental, a tomada de decisão é baseada em valores médios,

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justamente por não se dispor de dados precisos como neste caso, por mês. Os resultados

mostram que tomar decisão a partir de dados médios poderá incorrer na escolha de

práticas e/ou opções tecnológicas sub ou superestimadas o que pode significar maiores

custos e capacitação da mão de obra.

Antes da tomada de decisão é necessário entender a variabilidade da concentração

de nitrato no efluente, visando à redução do elemento. O tipo de tratamento é um dos

fatores que interfere na qualidade final do efluente. Assim, faz-se necessário o

aprimoramento do sistema de tratamento, com monitoramentos frequentes e gestão

eficiente.

O estudo de caso demonstrou que o sistema de produção pode reduzir seu impacto

ambiental utilizando práticas e tecnologias que melhorem a qualidade do efluente. Com

isso, é importante incorporar nos processos produtivos técnicas de produção mais

limpas, reuso de materiais e medidas ambientalmente corretas, sem impactar de maneira

negativa a economia da atividade. Destaca-se a importância da utilização de ferramentas

que promovam a gestão de recursos hídricos como a abordagem da pegada hídrica. Esta

deve ser objeto de pesquisa visando o manejo e a eficiência do uso da água no setor

agropecuário.

3.2. Bovinocultura de Corte

Confinamentos de bovinos podem provocar impactos ambientais negativos nos

recursos hídricos, no ar e no solo. Apesar de o Brasil ser o segundo maior produtor e

exportador de carne do mundo, ainda é pequena a produção em confinamento, porém os

especialistas preveem a tendência de aumento futuro desse tipo de sistema.

Considerando esse cenário, calculou-se a pegada hídrica de 17 fazendas de bovinos de

corte da raça Nelore terminados em confinamento do estado de São Paulo. Os cálculos

foram feitos considerando somente os usos diretos e indiretos da água na fazenda: fase

de cultivo das culturas vegetais, manejo nutricional e a água consumida pelos animais e

a contida nos produtos. O período foi de um ciclo de produção (de 80 a 110 dias, média

de 90). Para o cálculo foi considerada a somatória da pegada azul (água consumida na

dessedentação dos animais, no processamento dos alimentos e embutida no produto) e

da pegada verde, com base nos dados locais de cada fazenda (precipitação diária,

produtividade da cultura vegetal e sua evapotranspiração).

A pegada hídrica apresentou média de 5.718 litros por quilo de carne, variando de

1.935 a 9.673 litros/kg (Tabela 3). A pegada azul representou 15% desse valor e a

verde, 85%. Esses valores não devem ser comparados com a média global para

produção de um quilo de carne, que é de 15,4 mil litros de água. Essa média foi

calculada para sistema de semiconfinamento e considerando toda a cadeia produtiva,

desde a produção de insumos até a oferta do produto ao consumidor. Os resultados

demonstram a expressiva variabilidade que pode existir entre os valores de pegada de

uma fazenda para outra quando se calcula com base em dados específicos de cada

fazenda e região.

As maiores eficiências no uso da água foram observadas nas fazendas que

utilizaram alimentos com elevada produtividade agrícola (T/ha). Os menores valores,

1.935 e 3.871 litros por quilo de carne, estão relacionados a porcentagens elevadas de

volumoso (cana picada, bagaço de cana ou silagem de milho) nas dietas.

As fazendas com maiores quantidades de concentrado na dieta apresentaram altos

valores de pegada, ou seja, demandaram mais água por quilo de carne produzido, já que

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a água verde é a maior contribuinte para a pegada total. Nos casos em que a propriedade

usou 90% da dieta com concentrado, a pegada hídrica variou de 6.685 a 9.673 litros por

quilo de carne. Já, a redução de concentrado para 80% representou uma variação de

4.628 a 5.236 litros. Por exemplo, as fazendas 4 e 5 utilizaram bagaço de cana e

apresentaram os mesmos ganhos de peso diário (1,5 kg/dia), pesos inicial e final dos

animais e período de confinamento (90 dias). No entanto, a fazenda 4 usou 80% de

concentrado na dieta e a fazenda 5 utilizou 90%. A pegada da propriedade 4 foi de

4.628 e a 5, de 7.103 litros por quilo de carne, ou seja, usou 53,5% mais água. O

aumento da quantidade de concentrado na dieta resulta em pegadas mais elevadas. A

decisão sobre utilizar mais ou menos concentrado depende de muitos fatores. Aspectos

como o desempenho dos animais, as condições econômicas e gestão das fazendas

devem ser considerados. A quantidade de concentrado também afeta outros indicadores,

como a pegada de carbono e as de nitrogênio e fósforo. A utilização de subprodutos na

alimentação animal pode reduzir os valores da água, bem como pegadas ecológicas ou

de carbono, já que apenas parte da água consumida pelo produto principal é alocada ao

subproduto.

As diferenças locais de evapotranspiração e rendimentos da cultura agrícola

também determinaram valores de pegadas menores ou maiores. Maior

evapotranspiração resulta em maior uso da água, indicando que, dependendo da região,

a pegada hídrica total muda significativamente. A produtividade agrícola dos alimentos

também desempenha papel fundamental, isto é, maior produtividade resultará em menor

pegada hídrica. Isso demonstra que a eficiência hídrica de uma proteína animal é

dependente da eficiência hídrica na agricultura, pois todos os aspectos produtivos estão

interligados. Independentemente do fato de o pecuarista produzir ou não a alimentação

do gado em sua propriedade, o desempenho hídrico dos insumos produtivos devem ser

considerados no cálculo da pegada hídrica. Os resultados mostram que o aumento da

produtividade agrícola tem impactos positivos na pegada hídrica. Em média, o aumento

da produtividade significou uma redução de 19,4% no valor da pegada. Por outro lado, a

menor quantidade de toneladas de grãos por hectare resultou em um aumento médio de

26,4% do valor da pegada. Se os grãos utilizados pelas 17 fazendas tivessem aumento

de 25% na produtividade agrícola, resultaria numa redução de 20% da superfície

agrícola necessária. Por outro lado, uma redução de 25% na produtividade resultaria em

33% mais área à produção de ração.

O consumo médio de água por animal por dia foi de 37,8 litros para uma ingestão

de matéria seca de 10 kg por dia. A temperatura máxima nas fazendas variou de 25 a

31,3°C e precipitação de 2,7 a 4,8 mm ao dia. As fazendas com temperaturas mais

elevadas apresentaram maior consumo de água, 39,6 litros por animal ao dia. Nas

propriedades com temperaturas menores o consumo foi 34,9. A quantidade de água

consumida pelo animal é determinada pelo tipo de dieta, condições zootécnicas dos

animais e conforto térmico do sistema de produção.

A fazenda 5, que mostrou a maior temperatura máxima, poderia implementar

práticas e tecnologias para dar mais conforto térmico. Se a temperatura fosse reduzida

em 2°C, o consumo de água por animal ao dia seria de 38,2 litros, uma diferença de 1,4

litros ao dia.

Os resultados demonstram que os valores de pegada hídrica são determinados, em

grande parte, pelo tipo de alimentação dos animais, bem como pelos seus indicadores de

desempenho zootécnico. A relação volumoso-concentrado e o tipo de volumoso são os

aspectos nutricionais que mais influenciam no valor da pegada hídrica. Volumoso com

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menor valor nutricional demanda maior inclusão de concentrado por outro lado se esse

volumoso for um subproduto ele terá uma menor pegada hídrica verde o que pode ser

uma vantagem se o alimento for produzido em uma região de escassez hídrica, bem

como uma vantagem econômica, pelo subproduto ter um valor de aquisição menor do

que a matéria-prima original. Se a maior inclusão de concentrado significar maior ganho

de peso diário e produtividade de carne e, consequentemente, menor ciclo de produção,

isso pode ter impactos positivos na redução do valor da pegada, mas para que isso seja

alcançado não só o manejo nutricional é determinante. O manejo zootécnico também

tem que ser adequado, inclusive na fase anterior ao início do confinamento. A nutrição

animal é um fator importante na determinação da eficiência hídrica do produto carne

bovina, mas se os outros aspectos do sistema de produção não forem manejados da

melhor forma, esses influenciarão no desempenho nutricional.

Tabela 3. Pegada hídrica verde e azul de bovinos terminados em confinamento.

Fazenda

Consumo de

água pelo

volumoso

(%)

Consumo de

água pelo

concentrado

(%)

Água

Verde

(%)

Água

Azul

(%)

Pegada

Azul

(L/kg)

Pegada

Verde

(L/kg)

Pegada

Hídrica

(L/kg)

1 12,7 87,3 85,8 14,2 773 4.686 5.459

2 1,9 98,1 87,5 12,5 769 5.400 6.169

3 4,1 95,9 80,2 19,8 768 3.103 3.871

4 1,0 99,0 83,4 16,6 769 3.859 4.628

5 0,3 99,7 89,2 10,8 770 6.334 7.104

6 0,8 99,2 85,3 14,7 767 4.468 5.235

7 0,4 99,6 89,5 10,5 774 7.378 8.151

8 1,0 99,0 92,0 8,0 773 8.899 9.672

9 12,1 87,9 84,0 16,0 768 4.021 4.789

10 8,9 91,1 60,2 39,8 769 1.165 1.934

11 1,3 98,7 87,1 12,9 768 5.210 5.978

12 1,3 98,7 89,7 10,3 771 6.703 7.474

13 4,8 95,2 88,3 11,7 767 5.818 6.585

14 19,1 80,9 76,0 24,0 766 2.422 3.188

15 2,8 97,2 80,0 20,0 766 3.058 3.824

16 0,3 99,7 88,5 11,5 769 5.916 6.685

17 0,01 99,99 90,4 9,6 770 7.221 8.991

Fonte: Palhares (2017).

Neste estudo de caso o objetivo foi monitorar a pegada hídrica cinza de um

abatedouro de bovinos e propor medidas mitigadoras para reduzir o valor da pegada.

Os dados produtivos utilizados no estudo foram levantados em abatedouro

localizado no Estado de São Paulo. As águas residuais provenientes da unidade eram

oriundas das atividades de recebimento dos animais, processos industriais e

higienização, além de esgotamento sanitário. Havia duas linhas distintas de efluentes

líquidos, linha verde (constituída por esterco e material orgânico proveniente da

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68

lavagem do bucho) e linha vermelha (constituída basicamente de sangue).

Primeiramente, ambos os efluentes passavam por peneiramento estático. O líquido

proveniente do peneiramento originário da linha vermelha passava por flotação. Após,

ambos os efluentes se misturavam, sendo direcionados dois biodigestores que

trabalhavam em série. Após o tratamento por biodigestores o efluente era conduzido

para um sistema de três lagoas em série. O destino final era o despejo em curso d´água

superficial.

O cálculo da pegada hídrica cinza foi feito com base em (Franke et al., 2013) e na

concentração de fósforo total do efluente gerado pelo abatedouro. A fonte poluidora foi

considerada como pontual, uma vez que o efluente é liberado em curso d´água

superficial. A concentração máxima aceitável para o elemento fósforo nos corpos

d´água superficiais em ambientes lóticos é de 0,1 mg L-1

(CONAMA 357, 2005).

Considerou-se o valor zero para a concentração natural do elemento no corpo hídrico.

Nas Figuras 6 e 7 observam-se os valores das pegadas hídricas cinza nos anos de

2013 e 2015. No ano de 2013 o valor o médio foi de 3.199 m³ Ton-¹de carne e no ano de

2015 1.265 m³ Ton-¹ de carne. No ano de 2013, o mês que obteve maior valor foi junho

(4.866 m³ Ton-1

de carne), enquanto que no ano de 2015, o mês com maior valor foi

março (2.800 m³ Ton-1

de carne).

Comparando-se o valor médio da pegada hídrica cinza de 2013 com os valores de

cada mês, é possível observar diferenças. A variável TAQ é calculada a partir da vazão

do efluente multiplicada pela concentração de fósforo neste. Assim, quanto maior a

concentração de fósforo no efluente maior o valor da pegada. O tipo e manejo do

sistema de tratamento são fatores que interferem na qualidade final do efluente. O

aprimoramento e monitoramento da eficiência do sistema de tratamento proporcionarão

efluentes com menores cargas de elementos e, consequentemente, menores pegadas

cinzas.

Muitas vezes, a tomada de decisão como tentativa de mitigar os danos negativos,

é baseada em valores médios, pelo fato de não se dispor de dados precisos como neste

caso, por mês. Logo, os resultados do estudo mostram que tomar decisão a partir de

dados médios poderá implicar na escolha de práticas e/ou opções tecnológicas não

fundamentadas, o que pode significar maiores custos e capacitação da mão de obra.

Portanto, antes da tomada de decisão é necessário descobrir quais fatores interferem

para o aumento da pegada, para posteriormente fazer uma escolha embasada.

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69

Figura 6. Pegada hídrica cinza no ano de 2013.

Figura 7. Pegada hídrica cinza no ano de 2015.

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70

4. Considerações finais

O conhecimento da pegada hídrica é uma oportunidade para:

Assegurar a disponibilidade de água em quantidade e qualidade;

Conhecer o consumo das águas verde, azul e cinza pelos diversos

sistemas de produção e nas diferentes regiões a fim de facilitar a gestão desse recurso

natural;

Promover a eficiência do uso da água e o estabelecimento de boas

práticas hídricas, principalmente, nas áreas de concentração das produções;

Reduzir a vulnerabilidade mercadológica dos produtos nacionais;

Reduzir os conflitos entre a cadeia produtiva e a sociedade e com os

atores externos;

Detectar áreas vulneráveis, identificando onde a demanda tem o maior

impacto ambiental, social e econômico;

Formular políticas e estabelecer metas de redução da demanda hídrica

(aumento da eficiência e da produtividade hídrica);

Auxiliar na formulação de zoneamentos e programas de gestão da água;

Conhecer os fluxos de água virtual;

Identificar a dependência hídrica de outros países pela importação de

nossos produtos;

Mudar a visão de unidade de produção para a de sistema de produção, a

unidade faz parte do sistema e é neste que ocorrem os fluxos e processos ambientais,

econômicos e sociais;

Facilitar a adequação ambiental a legislação, pois a análise ambiental

explicita todas as relações da atividade com o meio ambiente e seus recursos,

possibilitando intervenções precisas, planejadas e de menor custo e o cumprimento das

políticas federal e estaduais de recursos hídricos e de seus instrumentos de gestão

(outorga e cobrança pelo uso da água);

As análises e cálculos da pegada são ações multiatores, pois necessitam do

conhecimento e engajamento de todos para que seja reconhecida como instrumento de

suporte a decisão. Portanto, incentiva-se e discussão, reflexão e negociação sobre a

atividade e seus impactos ambientais, o que tem como consequência, a redução dos

conflitos na cadeia de produção e desta com a sociedade. Também insere uma ação

educativa, pois possibilita que produtores, técnicos, profissionais, empresários e agentes

de governo ampliem seu conhecimento ambiental. A falta deste conhecimento é uma

das maiores barreiras para uma evolução ambiental perene e próspera.

10. Referências

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73

Produção de carne carbono neutro: um novo conceito para carne sustentável

produzida nos trópicos

Patrícia Perondi Anchão Oliveira1, José Ricardo Macedo Pezzopane1, André de Faria

Pedroso1, Maria Luiza F. Nicodemo1, Alexandre Berndt1

1

Pesquisadores da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP. email:[email protected]

Resumo: Do ponto de vista do aquecimento global e das mudanças climáticas, os

sistemas de produção agropecuários podem ser benéficos ou maléficos ao ambiente,

visto que podem funcionar tanto como dreno ou fonte de emissões de GEE. Sistemas

intensivos, integrados ou não, apresentaram potencial de mitigação dos GEE e

possibilidade de zerar a pegada de C da carne e ainda gerar créditos de carbono.

Sistemas integrados possuem vantagem no abatimento das emissões de GEE por causa

do sequestro de C do componente arbóreo. Esses fatos tornam possível a produção e

carne com o selo “Carne Carbono Neutro”; que é uma marca-conceito desenvolvida

pela Embrapa, que visa atestar a carne bovina, que tiver seus volumes de emissão de

gases de efeito estufa neutralizados durante o processo de produção, pela presença de

árvores em sistemas de integração do tipo silvipastoril (pecuária-floresta) ou

agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-floresta), por meio de processos produtivos

parametrizados e auditados. Planejamento estratégico de longo prazo em que ações

como investimentos em PD&I, extensão rural e transferência de tecnologia, bônus aos

produtores adotantes de tecnologias sustentáveis, isenções fiscais e linhas de crédito

competitivas para fomento à pecuária sustentável são importantes para incentivar a

produção de “Carne Carbono Neutro”. As questões relacionadas às ferramentas para

mensuração e reportação das emissões e remoções de cada propriedade agrícola, aos

meios para ordenar mercado e aos mecanismos de precificação e bonificação dos

créditos de carbono também são entraves atuais que precisam de atenção para trilharmos

o caminho da pecuária sustentável.

Palavras-chave: Emissão de Gases de Efeito Estufa, Sequestro de Carbono, Produção

Sustentável, Pecuária de Corte.

1. Introdução

As mudanças climáticas são foco de atenção e preocupação mundial, devido aos

iminentes desastres ambientais nos seus diferentes graus de intensidade, como

tempestades, enchentes, secas, elevação do nível do mar e eventos extremos como

tornados e furacões. As consequências desse processo são a fome, sede, prejuízos e

desalojamento de famílias e a perda de áreas, quer seja por inundação ou por

desertificação. O aquecimento global pode contribuir e acentuar essas mudanças

climáticas. A emissão de gases de efeito estufa (GEE) por ações antrópicas contribui

para o aquecimento global e deve ser estudada profundamente de forma a diminuir seu

impacto sobre o ambiente (OLIVEIRA, 2015). As emissões contínuas de GEE causarão

mais aquecimento e terão o potencial de prejudicar gravemente o ambiente natural e

afetar a economia global, tornando-se a ameaça global mais premente a longo prazo

para a prosperidade e segurança mundiais futuras (SILVA E SANQUETTA, 2017).

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74

Dentre as ações antrópicas, a contribuição da pecuária para as mudanças

climáticas ganhou destaque no início desse século. Um dos artigos mais debatidos foi

“LIVESTOCK'S LONG SHADOW: environmental issues and options”, (A extensa

sombra da pecuária: questões ambientais e opções), publicado pela FAO em 2006, em

que o papel da pecuária sobre as mudanças climáticas era discutido, havendo muitos

questionamentos acerca de como era realizada a pecuária no Brasil, sendo atribuído a

ela a degradação das terras, a emissão de gases de efeito estufa e a perda de

biodiversidade, visto que a pecuária se expandia sobre florestas convertidas em

pastagens.

Como o setor pecuário é muito importante no Brasil, por responder por parcela

importante do PIB, por contribuir com a balança comercial, por estar presente em todo o

território nacional e se tratar de atividade de milhões de produtores rurais e dessa forma

contribuir com a estabilidade social e financeira brasileira, tais questionamentos foram

internalizados e geraram muitas preocupações na cadeia produtiva da carne que

começaram a se mobilizar para entender o real papel da pecuária e para procurar formas

de melhorar a forma como a carne é produzida no país, ação essa estratégica, visto que

existem projeções de crescimento dessa atividade no Brasil.

Além disso, os alimentos pecuários tem sido foco relevante de questionamentos

por parte dos consumidores. Preocupações como a qualidade, a segurança e a

rastreabilidade dos alimentos tornaram-se mais presentes nas cadeias produtivas,

tornando-se necessários novos arranjos produtivos para atender aos mercados

consumidores. A preocupação é tão premente, que, em alguns casos, ações extremas

como a adoção de dietas restritivas ao consumo de carne tornou-se realidade.

Quando se considera as exportações, uma das principais preocupações com

relação ao crescimento da pecuária no Brasil está relacionada aos possíveis impactos

ambientais, o que certamente colocará em evidência o tratamento dispensado pelo nosso

país em relação às questões ambientais (OLIVEIRA, 2015).

Esse artigo tem por objetivo discutir a possibilidade e a importância de se realizar

a produção de carne com suas emissões de gases de efeito estufa mitigadas, os

principais entraves para que isso se torne realidade e possíveis formas de fomentar esse

tipo de produção sustentável.

2. A Problemática na interface pecuária e meio ambiente

No Brasil, o agronegócio é um setor muito importante, sendo responsável por

parcela relevante da economia, respondendo por mais de 20% do PIB. Em 2016

somente a pecuária respondeu por 4,21% do PIB brasileiro, com uma renda anual da

cadeia de corte de 200,4 bilhões de reais (BARROS, et al./CEPEA/USP, 2017). Trata-se

de um setor importante para a estabilidade financeira e social do país (OLIVEIRA et al.,

2015), que está presente em todos os munícipios do Brasil (IBGE, 2010). O setor

contribui também com a balança comercial brasileira, sendo que no ano de 2017 as

exportações de bovídeos foram de U$ 8,65 bilhões e representaram 9% das exportações

do agronegócio brasileiro (BARROS, et al./CEPEA/USP, 2017).

As projeções do agronegócio brasileiro 2015/2016 a 2025/2026 (MAPA, 2016)

preveem aumento para o setor pecuário. As projeções de carnes para o Brasil mostram

que esse setor deve apresentar intenso crescimento nos próximos anos e a expectativa é

que a produção de carne no Brasil continue seu rápido crescimento na próxima década

(OECD-FAO, 2015, citado por MAPA, 2016). Ainda segundo essas instituições, os

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preços ao produtor devem crescer fortemente durante os próximos dez anos,

especialmente para carne de porco e carne bovina, enquanto os preços do frango devem

crescer a taxas mais modestas (OECD–FAO, citado por MAPA, 2016). A produção de

carne bovina tem um crescimento projetado de 2,4% ao ano, o que também representa

um valor relativamente elevado, pois consegue atender ao consumo doméstico e às

exportações.

Tão importante quanto o desempenho econômico e o crescimento da pecuária, a

forma como os alimentos pecuários vem sendo produzidos, tem sido foco relevante de

questionamentos por parte dos consumidores. Preocupações como a qualidade, a

segurança e a rastreabilidade dos alimentos tornaram-se mais presentes nas cadeias

produtivas, fazendo com que novos arranjos produtivos aparecessem para atender aos

mercados consumidores. Por exemplo, restrições quanto ao uso de agrotóxicos e seus

possíveis resíduos nos alimentos, impulsionaram a produção de alimentos orgânicos.

Apreensões éticas sobre a forma como os animais são criados e abatidos e o

impacto da produção de carne sobre as mudanças climáticas levaram a questionamentos

sobre a real necessidade do consumo de carne, aparecendo movimentos como o

vegetarianismo e o veganismo, que preconizam dietas restritivas ao consumo de carne.

O vegetarianismo é o regime alimentar que exclui todos os tipos de carnes e costuma ser

classificado da seguinte forma: Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios,

Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios, Ovovegetarianismo: utiliza ovos e

Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua

alimentação. As razões para se tornarem vegetarianos são: ética com os animais, saúde,

meio ambiente e reponsabilidade social, esse último relacionado ao uso de mão de obra

escrava na pecuária e uso da maioria dos grãos, como soja e milho, para a alimentação

dos animais (SBV, 2018). A filosofia do veganismo (não consumo de qualquer produto

que gere exploração e/ou sofrimento animal) adota o vegetarianismo estrito no âmbito

da alimentação. Além disso, o veganismo é o modo de vida que busca eliminar toda e

qualquer forma de exploração animal, não apenas na alimentação, mas também no

vestuário, em testes, na composição de produtos diversos, no trabalho, no

entretenimento e no comércio. Veganos opõem-se, obviamente, à caça e à pesca, ao uso

de animais em rituais religiosos, bem como a qualquer outro uso que se faça de animais

(SV, 2018).

Essas preocupações muitas vezes têm sido tratadas pelo público de forma leiga e

autônoma, dispensando informações estatísticas e visão mais ampla dos processos

produtivos embasadas por critérios científicos imparciais.

Durante a 140 Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em São Carlos, SP,

Oliveira, 2017, ponderou que “Parece plausível que para se evitar os efeitos das

mudanças climáticas devemos nos alimentar segundo recomendações de entidades

científicas especializadas no tema, o equilibrando a pirâmide alimentar dupla, que traz

tanto a recomendação de consumo alimentar quanto do impacto ambiental da produção

dos alimentos, Figura 1 (BCFN, 2016). Felizmente os alimentos que mais causam

impactos ambientais, apesar de essenciais, são aqueles menos requeridos para a boa

nutrição. É necessário repensar nossas atitudes, priorizando a alimentação adequada,

evitando os excessos e especialmente os desperdícios de alimentos (a emissão de GEE

relativa ao desperdício de alimentos, se fosse um país ocuparia a terceira posição no

ranking mundial de emissões) e a substituição dos veículos por transportes coletivos,

uso de bicicletas e caminhadas, atitudes simples que ajudam a minimizar os efeitos do

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aquecimento global, além de contribuírem para nutrição adequada e prática de

atividades físicas, que garantem uma vida mais saudável”.

Figura 1. Pirâmide alimentar dupla. Fonte: BCFN, 2016.

Com relação às mudanças climáticas, deve-se considerar que a atividade pecuária

produz gases de efeito estufa na forma de metano (CH4), oriundo da fermentação

entérica dos ruminantes, óxido nitroso (N2O), devido ao uso de fertilizantes

nitrogenados, e ambos os gases, a partir do manejo de dejetos e da deposição de dejetos

sobre as pastagens (O´MARA, 2012). Em menor proporção também existe a emissão de

CO2 devido ao uso de combustíveis fósseis e de energia nos sistemas de produção

(O´MARA, 2012). No Brasil em 2014, a agropecuária emitiu 424.473 gG CO2eq (GWP

– SAR) e foi responsável por 33% dos emissões líquidas totais de gases de efeito estufa

do Brasil, que foram no total de 1.284.495 gG CO2eq. Dos 424.473 gG CO2eq emitidos

pela agropecuária, 60% foram oriundos da fermentação entérica de metano (MCTIC,

BRASIL, 2017, o que evidencia a alta participação da pecuária nessas emissões

reforçando a necessidade de adoção de medidas mitigatórias).

Cientistas preocupados com os motivos para a adoção das dietas restritivas em

alimentos de origem animal e com os impactos da pecuária sobre o meio ambiente,

decidiram unir esforços na rede de pesquisa PECUS com a finalidade de esclarecer qual

a verdadeira contribuição da pecuária brasileira nas questões ambientais e iniciaram

estudos sobre o balanço de carbono nos principais sistemas de produção pecuários com

o objetivo de garantir a sustentabilidade da pecuária brasileira.

Como resultado desses estudos, verificou-se que a degradação das pastagens é o

principal problema da pecuária de corte brasileira e está associada à emissão de GEE e

necessidade de maior quantidade de área para produção pecuária, fazendo pressão sobre

a floresta (OLIVEIRA et al., 2018). Mas por outro lado verificou-se que é possível

produzir carne de forma sustentável, a carne carbono neutro (OLIVEIRA et al., 2017).

Para tal foi necessário a realização de estudos multidisciplinares para a avaliação do

balanço entre as emissões de GEE e o sequestro de carbono (C) em pastagens

degradadas, em pastagens recuperadas e intensificadas em diferentes níveis de uso e nos

sistemas integrados de produção, no sentido de verificar o melhor equilíbrio entre os

malefícios ambientais das emissões de gases de efeito estufa e os benefícios do

sequestro de C, e consequente mitigação dos gases de efeito estufa, tanto pela pastagem

como pela inclusão do componente arbóreo.

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77

3. Balanço de Carbono e ações para a mitigação da emissão de gases de efeito

estufa (adaptado de Oliveira et. al., 2017)

Na agropecuária os balanços de emissões e remoções de GEE (balanço GEE)

envolvem a medição dos fluxos de emissões de CO2, CH4 e N2O do sistema solo-planta,

da emissão de metano entérico (CH4) emitido pelos animais e a taxa de sequestro de C

do solo e da floresta plantada, todos expressos em CO2eq. num determinado período,

normalmente um ano. Para expressar esses gases em CO2eq. usa-se o Potencial de

Aquecimento Global (PAG 100), um fator que descreve o impacto do forçamento

radiativo (grau de dano à atmosfera) de uma unidade de determinado GEE relativamente

a uma unidade de CO2 (GHG Protocol), para 100 anos. Existem várias métricas para se

realizar a conversão dos gases para o CO2eq. e elas são constantemente discutidas e

questionadas, entretanto, os inventários e balanços devem explicitar claramente o que

foi utilizado de forma a gerar condições de comparação entre inventários e publicações

científicas. Para fins de inventário é utilizado o PAG-100 – IPCC 1996, acordado no

protocolo de Quioto, em que CO2 equivale a 1 CO2eq., CH4 a 21CO2eq. e N2O a 310

CO2eq., enquanto que cada unidade de C sequestrada equivale a 3,67 CO2eq. Detalhes

sobre o cálculo do balanço de C e limitações para comparação de balanços de C

oriundos de diferentes trabalhos científicos podem ser obtidos em Oliveira, et al., 2017.

Figueiredo et al., 2016 estimaram o balanço de GEE (emissões menos drenos) e a

pegada de carbono para a produção de bovinos de corte em três cenários contrastantes

de sistemas de produção com pastagens de Brachiaria para o Brasil, usando pastagens

degradadas, pastagens manejadas e pastagens integradas com agricultura e floresta

(ILPF). Com relação a pegada de carbono, a emissão total estimada em dez anos foi

maior para o sistema com pastagens manejadas (84.541 kg CO2eq.ha-1

), seguido pelo

sistema de ILPF (64.519 kg CO2eq.ha-1

) e pelo sistema degradado (8.004 kg CO2eq.ha-

1), o que parece ruim para os sistemas mais intensificados; mas resultou em pegada de

carbono de 18,5 kg CO2eq.kg peso vivo-1

no sistema degradado, seguido por 12,6 kg

CO2eq.kg peso vivo-1

para o sistema de ILPF e 9,4 kg CO2eq.kg peso vivo-1

para o

sistema com pastagens manejadas; sem considerar o potencial de sequestro de C dos

solos para o sistema com pastagens manejadas e do solo mais o eucalipto para os

sistemas com pastagens integradas no ILPF. Com relação ao balanço de carbono,

quando considerou o sequestro de C a pegada de C reduziu para 7,6 e - 28,1 kg

CO2eq.kg peso vivo-1

para as pastagens manejadas e para as integradas no ILPF,

respectivamente. Considerando-se o sequestro de carbono do solo e do eucalipto, o

sistema de ILPF é capaz de sequestrar mais carbono, superando a emissões de GEE,

gerando créditos de C.

Cunha, et al., 2016 realizaram o inventário de emissão de GEE e o balanço de C

para dois sistemas de produção de bovinos leiteiros, um mais intensivo e outro em

sistema integrado e utilizaram dois métodos para calcular a emissão de metano entérico,

pelo tier 2 do IPCC (2006) e por medida direta utilizando o gás traçador hexafluoreto de

enxofre (SF6). O sistema de produção integrado possuía 12 animais e área total de 15,6

hectares, 7,8 ha usados para a produção de 37,01 mil litros de leite ao ano, ocupado por

pastagens, cana, milho e eucalipto. O balanço de C foi calculado como a diferença entre

drenos e emissões, ou seja, a diferença entre o estoque das culturas e pastagem e as

emissões de GEE originárias da atividade leiteira (emissão de CH4 da fermentação

entérica e dejetos animais, emissão de N2O da fertilização nitrogenada e emissão de

CO2 do uso de óleo diesel das operações agrícolas e o consumo de energia elétrica com

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a irrigação e com o sistema de ordenha e refrigeração do leite. O balanço de C (usando o

IPCC, 2006 para estimar a emissão CH4 entérico) considerando os drenos de C foi de

162.8 t CO2e/ano e sem os drenos de C foi de - 25.1 t CO2e/ano para a área de 7.8 ha. Já

com a medida direta das emissões de CH4 entérico, o balanço de C foi de 154.0 t

CO2e/ano considerando os drenos de C e - 33.9 t CO2e/ano sem os drenos de C em 7.8

ha, o que resulta em um balanço anual de 19,74 t CO2e/ha.ano e -4,35 t CO2e/ha.ano,

respectivamente. A falta de consideração dos drenos de C sugere que os sistemas de

produção podem emitir mais C do que são capazes de estocar. Entretanto, quando se

considera os drenos de C, o sistema possui potencial de mitigação, zera a pegada de C

do leite e ainda gera créditos de C.

A Embrapa Pecuária Sudeste possui um experimento comparando vários sistemas

de produção para criação de bovinos de corte (garrotes Canchim) em relação às

questões de produtividade, eficiência e sustentabilidade, ocupando área bastante

uniforme quanto às condições edáficas e de relevo. Os sistemas de produção avaliados

são a floresta estacional semidecidual (Bioma Mata Atlântica) e cinco distintos sistemas

de produção: sistema agrossilvipastoril ou de integração lavoura-pecuária-floresta

(iLPF), sistema silvipastoril ou de integração pecuária-floresta (iPF), sistema

agropastoril ou de integração lavoura-pecuária (iLP), sistema extensivo (EXT) com

pastagem de Brachiaria decumbens, e o sistema intensivo (INT). Os sistemas de iLPF,

iLP, iPF e INT foram formados com Urochloa brizantha cv. Piatã, sendo os sistemas

iLPF e iLP com rotação entre lavoura e pastagem (um ano com lavoura e três anos com

pastagem rotacionada). A renovação da pastagem ocorre em um terço de cada área por

ano agrícola, em 2013 foi realizada a ressemeadura do capim simultaneamente com a

cultura do milho (Zea Mays L. var. DKR 390 PRO 2) para produção de silagem.

Em abril de 2011, nos sistemas de iPF e iLPF foi plantada a floresta de eucalipto

(Eucaliptys urograndis clone GG100) com um espaçamento de 15m entre linhas e 2m

entre plantas, resultando em uma densidade de 333 árvores ha. Nos sistemas de iLP,

iPF, iLPF e INT as pastagens foram adubadas a lanço na safra 2013/2014 com 156.6 kg

de nitrogênio (N). ha-1

ano, aplicados parceladamente em doses iguais em quatro

fertilizações, duas na forma de ureia e duas na forma de sulfato de amônio. Somente o

sistema EXT não recebeu nenhum tipo de fertilização ou correção do solo.

Para esses sistemas, a emissão de CH4 entérico representou mais de 98% do total

das emissões de GEE (Tabela 2); esse valor é maior que os utilizados por Cunha et al.,

2016 e Figueiredo et al., 2016, em que, apesar de alta representatividade, a participação

da emissão de CH4 entérico variou de 50% até 87%. A emissão total de GEE dos

sistemas também foi menor que as encontradas por Cunha et al, 2016. Para o sistema

intensivo e ILPF, esse autor reportou emissões de 8,4 e 6,45 t CO2 eq./ha.ano, enquanto

na Pecuária Sudeste, as emissões foram de 5,5 e 3,44, respectivamente. Nos dois

trabalhos, os sistemas intensivos apresentaram as maiores emissões de GEE,

provavelmente devido a maior lotação animal e ao maior ganho de peso dos animais.

As razões para a maior representatividade do metano entérico nos sistemas da

Embrapa Pecuária Sudeste foram as menores emissões medidas no sistema solo-planta,

em função do solo utilizado, um Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico, com textura

média/argilosa, bem aerado e drenado, e do ano seco, que evitou o encharcamento do

solo e a formação de ambientes anaeróbios, desfavorecendo os microrganismos e

processos de emissão de GEE, como a desnitrificação. Outro fato é que nos trabalhos de

Cunha et al., 2016 e Figueiredo et al., 2016 foram usadas as equações estimativas do

IPCC 2006 para quantificar as emissões de GEE, enquanto que, na Pecuária Sudeste, os

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resultados foram obtidos por medidas em câmaras aleatórias, avaliadas em 80 dias a

cada ano, distribuídos nas quatro estações climáticas. Além disso, por enquanto na

Embrapa Pecuária Sudeste, somente as emissões diretas de GEEs foram considerados,

sendo necessário acrescentar no balanço de C as emissões indiretas de GEE pelos

processos de voltatilização de amônia e runoff de N e as provenientes do consumo de

óleo diesel nas diferentes operações realizadas com implementos e máquinas agrícolas

(fertilização das pastagens, plantio, fertilização de cobertura do milho e eucalipto, entre

outras) usadas nos sistemas agropecuários.

O balanço entre as emissões e remoções antrópicas de GEE foi realizado para

todos os sistemas de produção e variou de 3,29 a 29,15 t CO2eq./ha.ano (Tabela 2),

sendo o menor valor para as pastagens extensivas e o maior valor para o iLPF,

evidenciando que os drenos de C (sequestro de C no solo e no fuste do eucalipto) foram

maiores que as emissões de GEE e mostrando que todos apresentaram potencial de

mitigação dos GEE e possibilidade de zerar a pegada de C da carne e ainda gerar

créditos de carbono. Vale ressaltar que os sistemas integrados contendo floresta, como o

silvipastoril e o agrossilvipastoril, pela presença do eucalipto possuem um potencial

superior em relação aos outros sistemas avaliados para a mitigação das emissões

(Tabela 1). Apesar da alta lotação e maior ganho de peso médio do sistema intensivo,

ainda assim foi possível mitigar as emissões de GEE por meio da taxa anual de

sequestro de C no solo das áreas de pastagens, gerando créditos de C.

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1

Tabela 1. Balanço entre as emissões e remoções antrópicas de GEEs, considerando-se apenas os principais processos produtivos em

sistemas de produção de bovinos de corte com ou sem integração.

Sistemas de Produção

Lotação Acúmulo Acúmulo Carbono CH4 emitido N2O solo CH4 solo Emissões Diferença

Animal&

C solo † C fuste* sequestrado£ bovino

€ emitido

§ emitido

§ totais líquida

n./ha ----t/ha . ano--- ----------------------------t CO2 eq / ha . ano--------------------------

Pastagem Extensiva 2.04 1.7

6.24 2.95 0.00203 0.00068 2.9527 3.29

IPF (silvipastoril) 2.73 3.13 5.18 30.5 4.42 0.00193 0.00013 4.4221 26.08

ILP (agropastoril) 2.66 3.13

11.49 3.86 0.03869 0.00108 3.8998 7.59

ILPF(agrossilvipastoril) 2.57 3.13 5.75 32.59 3.40 0.03957 0.00078 3.4404 29.15

Pastagem Intensiva 3.13 3.13

11.49 5.55 0.00068 0.00068 5.5514 5.94

& Resultados obtidos nos sistemas, considerando a área total de cada um, por Oliveira et al., dados não publicados.

† segundo Segnini, et.al, 2007 – resultados para a profundidade de 0-100 cm.

* Resultados obtidos nos sistemas por Pezzopane et al., dados não publicados.

£ usado o fator de conversão 3,67

€ Resultados obtidos nos sistemas por Berndt et al., dados não publicados e considerando-se um fator de correção de 28, oriundo do

potencial de aquecimento 28 vezes maior do metano em relação ao gás carbônico (IPCC, 2013).

§ Resultados obtidos nos sistemas para pastagens por Alves, 2017 e segundo Besen, 2015 para milho. As emissões da lavoura de milho

foram consideradas somente para os sistemas integrados com o componente lavoura, a ocupação com milho foi de 33,33% da área e

50% do tempo do ano agrostológico, representando portanto 16,67% das emissões de GEE. Para o CH4 considerou-se um fator de

correção de 18 e para o N2O um fator de 265, oriundos do potencial de aquecimento de 28 e 265 vezes maior do CH4 e do N2O em

relação ao gás carbônico, respectivamente (IPCC, 2013).

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4. Produção de Carne Carbono Neutro

Sabendo-se do potencial de mitigação das emissões dos gases de efeito estufa

criou-se o selo “Carne Carbono Neutro”; que é uma marca-conceito desenvolvida pela

Embrapa, que visa atestar a carne bovina, que tiver seus volumes de emissão de gases

de efeito estufa neutralizados durante o processo de produção, pela presença de árvores

em sistemas de integração do tipo silvipastoril (pecuária-floresta) ou agrossilvipastoril

(lavoura-pecuária-floresta), por meio de processos produtivos parametrizados e

auditados (ALVES, et al., 2015). Num segundo momento, o ideal seria que fossem

consideradas as emissões líquidas da pecuária, que consideram as remoções de GEE,

por meio do sequestro de C tanto no solo das áreas de pastagens recuperadas e

intensificadas, como no fuste das árvores dos sistemas integrados com a presença do

componente arbóreo. Dessa forma, regiões onde existem limitações para inserção de

árvores nos sistemas produtivos também tornar-se-iam aptas a receber incentivos, desde

que realizassem a recuperação e manutenção das áreas de pastagens apresentando

emissões líquidas com créditos de C, conforme apresentado na Tabela 1.

De certa forma, esse tipo de produção de carne de forma sustentável já possui

incentivos nacionais e estaduais, por meio de ações como o Plano Setorial de Mitigação

e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de

Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC), MAPA, 2012, que fomenta a

recuperação de áreas de pastagens e a adoção de sistemas integrados de produção por

meio de crédito rural e incentivo à divulgação, transferência de tecnologia e pesquisa

sobre o assunto nacionalmente e como Projeto Integra SP (ILPF) para produção

agropecuária e florestal no Estado de São Paulo (CATI, 2013), que prioriza a

recuperação de pastagens e a conservação do solo por meio de recursos em parte

subvencionado.

Apesar de importante; os incentivos por meio de crédito rural ou subvenção não

tem condições de garantir a sustentabilidade econômica dos sistemas de produção de

carne carbono neutro, dada a dificuldade de garantir a continuidade dessas linhas de

crédito por longos períodos a medida que outras prioridades forem surgindo. Além

disso, o crédito gera dependência de recursos públicos por parte do setor produtivo

privado.

A situação ideal viria de solução que garantisse o fomento em longo prazo da

produção sustentável de carne. Entretanto, a grande dificuldade é transformar o selo em

algum benefício; bônus aos pecuaristas que se esforçarem para produzir carne com

mínimo impacto ambiental evitando que o selo se torne somente mais um ônus, pelo

custo de certificação e obrigação de cumprir normas impostas ao produtor rural. Outro

entrave a ser superado é a precificação e o estabelecimento de normas de mercado para

esses créditos de carbono, bem como seu cálculo e certificação.

Segundo Mesquita, 2018, até o início de abril de 2018, especialistas do setor

agropecuário devem divulgar as primeiras sugestões para estabelecer os termos de

remuneração compensatória na emissão de gases de efeito estufa (GEE). Este é o prazo

estabelecido para a finalização da Carta sobre Potencial de Precificação de Carbono na

Agropecuária Brasileira, discutida no fórum nacional “Oportunidades de precificação de

carbono no setor agropecuário”. O documento será enviado ao Ministério da Fazenda,

responsável pela coordenação do Projeto PMR (Partnership for Market Readliness –

Parceria para Preparação do Mercado). O PRM Brasil tem por objetivo discutir a

possibilidade de estabelecer preços para as emissões, em forma de

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tributo ou em mercado de carbono (compra e venda) junto à Política Nacional sobre

Mudança do Clima (PNMC) após 2020.

Outra forma de incentivo seriam as isenções fiscais. Nessa linha a Secretaria de

Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de MS

estabelece que os pecuaristas com propriedades no Pantanal e dentro dos limites do

Mato Grosso do Sul passarão a ter direito à isenção fiscal sobre o recolhimento de

ICMS na comercialização de carne bovina sustentável ou orgânica produzida dentro do

bioma. As isenções fiscais previstas são de até 50% do ICMS para carne sustentável e

de até 67% do valor do tributo devido para quem produzir carne bovina orgânica. Os

parâmetros que delineiam as características desses dois produtos são os mesmos

adotados no protocolo da Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO), que

enfatiza os efeitos benéficos da ação além das questões das mudanças climáticas, como

a fixação do homem pantaneiro no bioma, o uso de tecnologias limpas e a abertura para

novos negócios, sobretudo em certificações e originação de produtos (Mesquita, 2018).

5. Considerações finais

A factibilidade da produção de “Carne Carbono Neutro” per si não resolverá o

problema, para mitigar suas emissões a pecuária de corte depende de planejamento

estratégico de longo prazo em que ações como investimentos em PD&I, extensão rural e

transferência de tecnologia, bônus aos produtores adotantes de tecnologias sustentáveis,

isenções fiscais e linhas de crédito competitivas para fomento à pecuária sustentável

sejam planejadas e implementadas.

As questões relacionadas às ferramentas para mensuração e reportação das emissões

e remoções de cada propriedade agrícola, aos meios para ordenar mercado e aos

mecanismos de precificação e bonificação dos créditos de carbono também são entraves

atuais que precisam de atenção para trilharmos o caminho da pecuária sustentável.

Ações de comunicação tornam-se importantes no sentido de esclarecer a população

quanto aos menores impactos ambientais e a possibilidade de produção de carne

carbono neutro, quando a pecuária é realizada de forma sustentável. Esse

esclarecimento pode evitar a adoção de dietas que possam colocar a saúde pública em

risco e ao mesmo tempo proporcionar um consumo mais consciente, evitando

especialmente o desperdício de alimentos e nutrientes, que causam emissão de GEE e

ineficiência nas cadeias produtivas.

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85

Técnicas para mensurar emissão de metano em bovinos

Alexandre Berndt

1, Paulo de Méo Filho

2, Leandro Sannomiya Sakamoto

2, Marcela Morelli

3

1Pesquisador Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos-SP) 2 Doutorando em Qualidade e Produtividade Animal, FZEA/USP - Pirassununga 3Doutoranda em Nutrição e Produção Animal, FMVZ/USP - Pirassununga

Resumo: Na evolução da humanidade a produção pecuária sempre assumiu papel

importante no desenvolvimento das civilizações até como hoje são conhecidas. Com o

aumento progressivo da população mundial, este setor é exposto a novas barreiras e

desafios, para que possa contribuir significativamente com a crescente demanda por

alimentos. Outro enfoque que traz preocupação ao se tratar desta questão, são os

impactos causados com o uso da terra e emissão de gases de efeito estufa. No caso de

animais ruminantes a maior preocupação é em relação as emissões de gás metano, pois

representam cerca de 22% das emissões de metano globais produzidas por fontes

antrópicas. A compreensão acerca dos processos de emissão de gases de efeito estufa

(GEE) na agropecuária se faz cada vez mais importante, sendo fundamental a

mensuração e quantificação do metano entérico emitido em diferentes sistemas de

produção, a pasto ou em confinamento. Estudos sobre as emissões de GEEs na

agropecuária são fundamentais para a elaboração de inventários nacionais, definição de

novas prioridades de pesquisa, aprimoramento de metodologias e estabelecimento de

estratégias de mitigação, de forma a auxiliar o setor pecuário a aumentar sua produção

em harmonia com a sociedade e o meio ambiente. Este capítulo dedica-se a explanar as

diferentes metodologias disponíveis para quantificar a emissão de metano entérico de

ruminantes em geral, apresentando vantagens, desvantagens e aplicação de cada uma.

Palavras-chave: bovinocultura de corte, fermentação entérica, gases de efeito estufa,

hexafluoreto de enxofre, metano entérico, ruminantes

1. Introdução

Com o crescente aumento da população mundial e expectativa desta alcançar 9,2

bilhões de pessoas em 2050, ou seja, um aumento de aproximadamente 30% existe uma

tendência de crescimento no consumo global de alimentos, em particular aqueles de

origem animal, em função do aumento da renda da população e do processo de

urbanização (FAO, 2013). Segundo pesquisa de orçamento familiar realizada no Brasil

em 2002-2003 (IBGE, 2004) verificou-se a tendência de que quanto maior a renda em

salários mínimos, maior a participação das proteínas de origem animal na dieta da

família. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) o

leite é um dos produtos que apresenta grande possibilidade de crescimento de demanda,

sua produção deverá crescer a uma taxa anual entre 2,4 e 3,3%. Isso corresponderá a

uma produção de 47.474 milhões de litros de leite cru no final do período das projeções

de 2025 (MAPA, 2015).

Para acompanhar essa crescente demanda por alimentos, o rebanho mundial de

bovinos de corte tem demostrado forte crescimento, chegando ao final do ano de 2016

com 998 milhões de cabeças. Deste total, cinco países abrigam mais de 80% dos

animais: Índia (30,39%), Brasil (22,64%), China (10,03%), EUA (9,37%) e União

Europeia (8,94%), de acordo com o USDA (2016). Segundo a publicação Agricultural

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Outlook 2016-2025 (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico

(OECD-FAO, 2016), a produção de carnes deverá ser 16% maior em 2025. Nos países

em desenvolvimento a produção de carne bovina se projeta ainda maior, alcançando

20% e o Brasil é visto como um dos países de grande capacidade em suprir essa

demanda de proteína animal. O Brasil ocupa uma importante posição no mercado

internacional de carne bovina, sendo o segundo colocado em produção, atrás dos

Estados Unidos da América e frequentemente primeiro exportador, disputando com

Índia e Austrália.

A pecuária está diretamente relacionada à emissão de gases de efeito estufa –

GEE, em função da fermentação entérica decorrente dos processos digestivos dos

ruminantes. Dentre os gases de efeito estufa (GEE) emitidos por diferentes setores, a

agropecuária em geral contribui de forma significativa para as emissões de dióxido de

carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) (FAO, 2013). Por isso, os sistemas

de produção de carne tem sido motivo de estudos e discussão no setor agrícola nos

últimos anos devido à sua contribuição para o aquecimento global, principalmente

devido à emissão de metano entérico (Moss, JOUANY e NEWBOLD, 2000).

O CH4 é um hidrocarboneto proveniente de diversos setores, dentre eles a

geração de energia (principalmente a queima de combustíveis fosseis), os processos

industriais, a agropecuária e os sistemas de tratamento de resíduos (MCTI, 2014).

Dentro do setor da agropecuária, o metano pode ter origem a partir dos processos de

fermentação entérica, durante o manejo de dejetos, nos processos relacionados à cultura

de arroz e em na queima de resíduos agrícolas. De todo o metano global produzido por

fontes antrópicas, 22% corresponde à produção entérica (USEPA, 2000). A dinâmica

fisiológica do metano produzido por fermentação no rúmen é de que 95% dele sejam

expelidos por eructação, e a porção de metano que é produzida no trato digestivo

posterior, tem 89% do gás sendo excretado através da respiração e apenas 11% pelo

ânus (Murray, BRYANT e LENG, 1976).

Em 2010, a fermentação entérica contribuiu com 94,9% das emissões totais de

metano da pecuária no Brasil e os bovinos contribuíram com 96,8% destas emissões

(MCTI, 2015). A fermentação entérica do gado de corte é a principal fonte de emissão

de metano, com cerca de 75% das emissões registradas, seguida da fermentação entérica

do gado de leite, que representa 12% das emissões entéricas totais (MCTI, 2014).

De acordo com o Terceiro Inventário Nacional de Emissões de Gases do Efeito Estufa –

Relatórios de Referência, os bovinos emitem cerca de 57 kg de metano por ano, quando

não é aplicada nenhuma estratégia mitigadora de emissão (MCTI, 2015). Porém ainda

há escassez de dados e distorções nas informações relacionadas aos impactos ambientais

que geram preocupações e barreiras ao desenvolvimento do setor. Em recente

publicação na Folha de Paulo, Jank (2018) discutiu a visão internacional negativa sobre

a pecuária brasileira, assim como os reais cálculos da emissão e remoção de carbono

considerando o balanço de GEE e o ciclo de vida da atividade, cujos resultados mostram

que as pastagens tropicais possuem alto potencial de sequestro de carbono e mitigação

das emissões.

Para o Brasil é muito importante aumentar a compreensão acerca dos processos

de emissão e remoção de GEE na agropecuária, sendo fundamental a mensuração e

quantificação do metano entérico emitido em diferentes sistemas de produção, a pasto

ou em confinamento, nos seis biomas brasileiros.

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2. Metodologias para a determinação da emissão de CH4 entérico

Para uma avaliação e mensuração correta de gases emitidos pelos animais

ruminantes, é importante sempre considerar alguns aspectos relevantes:

1. Interferência da metodologia na rotina do animal;

2. Interferência ou mudança no gás emitido a ser avaliado;

3. Mudanças em seu ambiente natural ou produtivo;

4. Facilidade para análise das amostras e dos dados.

Considerando todos esses pontos, ao longo de mais de 60 anos, desde o surgimento

dos primeiros trabalhos com avaliação de emissão de metano entérico, as técnicas e

metodologias foram se aprimorando e se adequando as condições produtivas. Métodos

de pesquisa utilizados para estudar as emissões de CH4 entérico e as práticas de

mitigação possuem elementos em comum, porém diferem em termos de aparatos e

abordagens utilizadas. A medida precisa das emissões provenientes dos ruminantes é

necessária para publicação de inventários nacionais, criação e avaliação das estratégias

de mitigação e desenvolvimento de protocolos para seleção genética (HAMMOND

et.al., 2016). Existem diversas tecnologias utilizadas em todo o mundo para quantificar

a emissão de metano entérico, podendo ser realizadas por métodos in vitro ou in vivo.

Estas diferem em seu modo de aplicação, custo, acurácia e precisão, entre as mesmas

podemos citar:

Câmara respirométrica;

Técnica do gás traçador hexafluoreto de enxofre (SF6);

Face mask system (método do capuz);

Câmara de cabeça para amostragens pontuais (GreenFeed®);

Laser portátil;

Produção de gases in vitro.

3. Câmara respirométrica:

Câmaras respirométricas têm sido utilizadas como calorímetros indiretos para a

mensuração das trocas respiratórias e as perdas de energia na forma de CH4 de

ruminantes por mais de 120 anos (ARMSBY, 1903; KELLNER, 1913), sendo que,

atualmente seu principal foco de uso dentro da pesquisa é medir as emissões de CH4

entérico. O princípio deste sistema é que o ar recolhido do ambiente para o interior da

câmara circula em seu interior e em torno do animal, homogeneizando-se ao CH4

emitido, durante este processo ocorre a amostragem do ar de entrada e o de saída. A

produção de metano é determinada multiplicando-se o fluxo de ar através do sistema

pela diferença entre a concentração do ar de entrada e o de saída (HAMMOND et al.,

2016).

Os diferentes modelos de câmaras são construídos seguindo este princípio, sendo

que os mais sofisticados incluem isolamento, sistema de exaustão anti-sufocamento,

laterais transparentes, controle de umidade e temperatura, enquanto os mais simples não

possuem isolamento térmico (WAINMAN e BLAXTER, 1958), ou apenas a cabeça do

animal é introduzida no equipamento (PLACE et al., 2011). É considerado um método

confiável para a estimativa da emissão de CH4 de ruminantes, já que o ambiente pode

ser controlado e a estabilidade dos instrumentos podem ser medidas (JOHNSON e

JOHNSON, 1995). Em contrapartida, um ambiente artificial indesejável pode ser criado

no interior do equipamento, o que pode afetar por exemplo o comportamento e a

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ingestão de matéria seca do animal (IMS). Considerando que o consumo é um fator

diretamente relacionado à produção de CH4, uma diminuição na IMS não apenas afetará

a emissão total, mas também as estimativas derivadas da mesma (ELLIS et al., 2007).

As medidas de emissão de CH4 são normalmente realizadas por um período de 5-7 dias,

dependendo da finalidade e dos recursos (HERD et al., 2014), medidas durante um

período prolongado demandam controle da temperatura e umidade, para que não haja

interferência destes fatores nos resultados. Fontes críticas de variação para a medição da

emissão de CH4 através de câmaras respirométricas são a taxa de fluxo de ar através da

câmara e a dinâmica de mistura de ar, que determina o tempo de resposta do sensor que

analisa os gases, como também a conduta ao operar o equipamento dentro do

experimento (HAMMOND et al., 2016). Este sistema pode ser utilizado para investigar quase todos os aspectos da

nutrição, e quando empregado em dias sequenciais apresenta resultados com CV abaixo

de 10%, o design e a disposição espacial da câmara podem reduzir o risco de redução da

IMS. O delineamento experimental mais adequado para a comparação é o quadrado

latino (STORM et al., 2012). Porém apesar de sua confiabilidade, o custo de instalação

e a capacidade do equipamento restringem o número de animais que podem ser

avaliados em um mesmo experimento.

4. Técnica do gás traçador hexafluoreto de enxofre (SF6)

De acordo com Hammond et al., 2016, a técnica do gás traçador SF6 foi

desenvolvida e patenteada por Zimmerman em 1993, com o objetivo de medir a

emissão metabólica de gases de animais criados livres (ZIMMERMAN, 1993; STORM

et al., 2012), já que os resultados obtidos em câmaras respirométricas eram

questionáveis pela impossibilidade de aplicar a tecnologia em animais criados em

pastejo (OKELLY e SPIERS, 1992; JOHNSON et al., 1995; STORM et al., 2012). O

primeiro uso para mensurar CH4 entérico de bovinos foi relatado por Johnson et al.

(1994). No Brasil, a técnica foi adaptada por Primavesi et al. (2002) e aprimorada por

Berndt et al. (2014).

O método tem por base que a emissão de CH4 entérico pode ser estimada se a

taxa de emissão de um gás traçador dentro do rúmen for conhecida. Para isso se faz

necessário um gás não-tóxico (LESTER e GREENBERG, 1950; STORM et al., 2012),

estável e que se comporte dentro da dinâmica de gases no rúmen, do mesmo modo que

o metano. O SF6 atende todos esses fundamentos, além de possuir um limite de detecção

extremamente baixo e poder ser aplicado em baixíssimas concentrações (JOHNSON et

al., 1992; STORM et al., 2012).

Esta técnica é adequada tanto para animais confinados bem como livres em

pastejo e baseia-se no uso de um tubo de permeação (cápsula), que é administrado pela

boca do animal e permanece no rúmen/retículo liberando uma pequena e conhecida taxa

do gás traçador. O SF6 liberado pela cápsula mistura-se aos gases da fermentação

ruminal atuando como um traçador do gás metano produzido e eructado pelo animal. O

ar expirado pela narina e boca do animal é continuamente coletado por meio de um tubo

de teflon com cerca de 1 mm de diâmetro interno, equipado com limitador de fluxo

(capilar) para regular a taxa de amostragem. Este tubo é fixado a um cabresto e

conectado a um recipiente de armazenamento previamente evacuado (canga), utilizando

engates rápidos. O intervalo de amostragem recomendando é de 24 h, ao longo de um

período mínimo de cinco dias consecutivos, além de amostras de ar do ambiente

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(brancos), os animais presentes nos diferentes tratamentos devem ser amostrados ao

mesmo tempo (HAMMOND et al., 2016).

As emissões de CH4 são calculadas através da proporção de CH4:SF6 na canga, com

cada um dos gases corrigidos para a concentração do branco, em conjunto com a taxa de

permeação pré-determinada das cápsulas de SF6. Na seguinte equação, onde está

subscrito M indica amostra medida do animal, e o subscrito BG indica a concentração

do branco:

e, ainda, RCH4 (g/d) é a taxa de emissão de CH4 ruminal calculada em g/d; RSF6

representa a taxa de liberação da cápsula de SF6 (mg/d); MWCH4 é a massa molecular do

CH4 (16), e MWSF6 é a massa molecular do SF6 (146). As concentrações de CH4 são

expressas em ppm e as de SF6 em ppt. O fator 1000 realiza a conversão da unidade para

que RCH4 seja expressa na unidade de g/d.

A técnica do gás traçador SF6 vem sendo utilizada e aprimorada a mais de duas

décadas, período em que foram descritas dificuldades e formas de acurar os resultados

(STORM et al., 2012). Se realizada corretamente a técnica do SF6 estima uma emissão

média de CH4 que pode diferir cerca de ± 5-10% da obtida dos mesmos animais em

câmaras respirométricas (HAMMOND et al., 2016). A taxa de emissão das cápsulas de

SF6 é importante e pode afetar a estimativa de emissão de CH4 se não estiver

corretamente determinada, para isso é necessário que a taxa de emissão seja

determinada em condições de laboratório utilizando o método gravimétrico, ou seja

pesando as cápsulas semanalmente por pelo menos seis semanas e que sejam utilizadas

aquelas com emissões altamente lineares (R2

> 0,997) (PINARES-PATIÑO e CLARK,

2008). Para reduzir possiveis erros experimentais inerentes à técnica, devem ser

utilizadas cápsulas com taxas de emissão semelhantes dentro de um experimento

(PINARES-PATIÑO et al., 2008). A distância entre o tubo de amostragem e a boca e

narinas do animal afeta a concentração dos gases mas não a proporção de CH4:SF6 que

será amostrada em relação a que foi expirada e eructada pelo animal, por isso o

posicionamento do dispositivo de coleta se torna fundamental (BERENDS et al., 2014).

Um dos principais requisitos de um gás traçador, é que suas concentrações no

ambiente sejam extremamente baixas, em relação a concentração do traçador nas

amostras coletadas, conhecer as concentrações de fundo no ambiente, são importantes

para isso e para a precisão das estimativas de emissão de CH4 (BERNDT et al., 2014;

STORM et al., 2012). Altas concentrações de fundo do SF6 criam incertezas, gerando

perda de precisão e menor acurácia, contribuindo substancialmente para uma alta

variação nas determinações de SF6 (LASSEY, 2013). As estimativas de emissão através

da técnica do SF6, tanto intra animal como entre animais costumam apresentar um maior

CV quando comparados com as câmaras respirométricas. Em decorrência deste maior

CV podem ser necessários mais dias de coleta e mais animais para detectar diferenças

entre tratamentos (STORM et al., 2012).

5. Método do capuz (Face mask system)

O método do capuz ou face mask system também é citado por diferentes autores

(JOHNSON e JOHNSON, 1995; BHATTA, ENISHI e KURIHARA, 2007; OSS et al.,

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2016) como um sistema alternativo simples e de baixo custo para mensurar a emissão

de CH4 em ruminantes. Esta técnica se assemelha ao princípio das câmaras

respirométricas em termos das medidas de trocas gasosas e mudanças na concentração

de CH4 exalado. A técnica consiste em o animal colocar apenas a cabeça dentro de uma

máscara completamente vedada, dessa forma, todo o ar expirado e eructado é coletado e

quantificado, incluindo a emissão de metano entérico (YOUNG, KERRIGAN e

CHRISTOPHERSON, 1975).

Para a realização das coletas através das máscaras, a forma e o número de

medidas que serão feitas ao animal, podem impactar em seu comportamento diário, pois

há o acesso restrito a água e alimentos (OSS et al., 2016). O hábito alimentar de

ruminantes é, preferencialmente, durante o dia, sendo registrados maior consumo de

alimentos e água (HṺNERBERG et al., 2015). Este hábito padrão resulta em um

aumento contínuo durante o dia até que ocorra um pico seguido por um período de

declínio razoavelmente linear na emissão de CH4 entérico (OSS et al., 2016). A máscara

facial é mais utilizada quando se desejava uma resposta rápida para a medida de trocas

gasosas de animais em curtos períodos de tempo (FERNÁNDEZ, LÓPEZ e LACHICA,

2012). Recentes trabalhos (PICKERING et al., 2015; ROBINSON et al., 2015; OSS et

al., 2016) mostraram que medidas de curto prazo podem estar fortemente

correlacionadas com a emissão diária de metano dependendo do tempo em que, após a

alimentação, a coleta de amostras é realizada.

Esse método apesar de apresentar um menor custo comparado com a técnica do

SF6 e a câmara respirométrica, possui algumas restrições em relação aos resultados

coletados (JOHNSON e JOHNSON, 1995), principalmente em relação a maior variação

nos valores diários de emissão, tendo um impacto negativo na mensuração do metano

nos animais (OSS et al., 2016).

6. Câmara de cabeça para amostragens pontuais (GreenFeed®)

Câmaras respirométricas e a técnica do SF6 são normalmente utilizados para se

obter medidas da emissão de CH4 de um número limitado de animais pelo período de 24

h. Porém existe uma demanda cada vez maior em determinar a emissão de forma

precisa, de um grande número de animais em determinados momentos, durante a

alimentação e a ordenha por exemplo. Medidas repetidas a curto prazo utilizando

máscaras vêm sendo utilizadas (WASHBURN e BRODY, 1937) para se obter

estimativas das taxas diárias das trocas respiratórias e emissão de CH4.

O sistema GreenFeed® (C-Lock Inc., Rapid City, South Dakota, USA) é um

dispositivo estático de medição a curto prazo, que mede individualmente a emissão de

CH4 e CO2 de bovinos, através da integração das medidas de fluxo de ar, concentração

de gás e detecção da posição da cabeça durante a visita de cada animal ao equipamento

(ZIMMERMAN e ZIMMERMAN, 2012). A medida das emissões ocorre após o animal

introduzir a cabeça no cocho, através da combinação de um exaustor e sensor de

posição que induz o fluxo de ar passando pela cabeça do animal, permitindo que o ar

expirado seja recolhido e amostrado. O ar recolhido é homogeneizado, filtrado e a taxa

de fluxo de ar é medida por meio de um anemômetro ultrassônico. A concentração de

CH4, CO2 e O2 presente nas amostras é determinada através de um analisador de

espectro infravermelho não dispersivo (HAMMOND et al., 2016). Similar a outras

técnicas é necessário que os animais sejam treinados a utilizar o equipamento, nem

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sempre todos os indivíduos de cada grupo experimental se tornam usuários frequentes

do GreenFeed (WAGHORN et al., 2013).

Os animais têm liberdade de visitar o equipamento a qualquer momento, porém

a amostragem dos gases só acontece após certo intervalo entre visitas o que é

determinado pela programação pré-estabelecida no sistema. As medidas da emissão de

CH4 através de uma unidade GreenFeed® são normalmente realizadas ao longo de

períodos curtos (5 min), distribuídos durante dias/semanas/meses e dependendo da

visita voluntária do animal. Para distribuir as medidas ao longo do dia, o software de

controle permite ao pesquisador o controle do tempo e da oferta de alimento ao longo

do ciclo circadiano de 24 horas. Este equipamento pode ser utilizado em uma variedade

de sistemas de produção, inclusive a pasto. O software do equipamento agrega os dados

e calcula a emissão de CH4 durante o período de amostragem e apresenta resultados

somente quando o animal visitou a unidade, recebeu uma recompensa alimentar,

manteve adequada posição da cabeça dentro do cocho de amostragem por tempo

suficiente para a tomada de número satisfatório de eructações é também importante

garantir que o equipamento seja instalado de forma que nenhum outro animal

permaneça próximo ao equipamento quando outro animal o estiver visitando

(HAMMOND et al., 2016).

7. Detector portátil de metano a laser

Outra tecnologia que pode monitorar a concentração de CH4 do ar expirado

pelos animais é o “laser detector methane” (LDM) (RICCI et al., 2014). As medidas da

concentração de CH4 são tomadas manualmente por meio de um aparelho portátil na

distância de 1 a 3 metros a partir do animal e são baseadas em espectroscopia de

absorção do infravermelho para o CH4. A coleta dos dados por meio do aparelho ocorre

continuamente por curtos períodos de tempo (2 a 4 min), os dados resultantes consistem

de uma série de picos que representam o ciclo respiratório do animal, apenas os picos

que refletem a expiração ou eructação do animal são considerados durante a análise e

são ajustados de acordo com a distância e medidas do ambiente também obtidas através

do LDM (RICCI et al., 2014). O sistema atual “de mão” acaba acrescendo variação e

demanda por mão-de-obra treinada, outra preocupação é o efeito que as condições

ambientais têm sobre as medidas (CHAGUNDA, 2013).

8. Produção de gases In Vitro

Os métodos in vitro são utilizados usualmente como uma alternativa inicial na

mensuração de produção de metano, devido a facilidade e rapidez na mensuração,

menores custos operacionais e permitem a avaliação dos efeitos dos ingredientes da

dieta e do uso de aditivos nas rações sobre a metanogênese (STORM et al., 2012).

A técnica de produção de gases é muito utilizada para simular a fermentação ruminal de

alimentos e dietas (RYMER et al., 2005), e atualmente tem sido modificada para

estimar a produção de metano (NAVARRO-VILLA et al., 2011). A técnica se baseia na

simulação dos processos metabólicos que acontecem normalmente no rúmen onde a

degradação do alimento depende dos microrganismos e do ambiente ruminal adequado,

formando AGCC, CO2, CH4 e produção de massa microbiana (BLUMMEL, GIVENNS

e MOSS, 2005).

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As amostras de alimentos são fermentadas em condições laboratoriais simulando

as condições ruminais em cultura contínua ou em frascos de fermentação. O método

requer acesso ao fluido do rúmen fresco, obtido a partir de ruminantes fistulados

(MOULD et al., 2005). São coletadas alíquotas de gases dos frascos de fermentação, e a

análise da concentração de CH4 é realizada por cromatografia gasosa.

A principal desvantagem desse método é a mensuração apenas da emissão de metano

ligada a fermentação ruminal, não contabilizando o as emissões de metano e a digestão

do alimento no trato gastrointestinal. Técnicas de traçador isotópico também foram

desenvolvidas e são úteis em condições controladas, mas são limitadas em condições de

produção (STORM et al., 2012).

9. Considerações finais

Atualmente existem muitos métodos para mensurar e estimar as emissões de

metano de ruminantes aplicáveis a animais confinados ou em pastejo, avaliando desde

animais individuais até grupos. Nenhum método, entretanto, é perfeito e se faz

necessário um conhecimento profundo das vantagens e desvantagens das técnicas

experimentais além de um cuidadoso planejamento com objetivo de selecionar qual

metodologia melhor se adapta a cada necessidade.

Neste contexto, é extremamente importante o planejamento de experimentos

desde a concepção até a interpretação de resultados, pois com rigor e imparcialidade na

avaliação haverá confiabilidade nos resultados obtidos.

10. Literatura citada:

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Uso de taninos para melhorar a eficiência de uso da energia e reduzir emissão

de CH4

Marcelo Manella1, Iorrano Andrade Cidrini

2

1 Diretor de Nutrição Animal SilvaFeed Brasil. 2 Mestrando/UNESP, Jaboticabal, São Paulo, email: [email protected]

Resumo: Na presente revisão buscou-se abordar aspectos relacionados ao uso de

taninos em dietas para ruminantes, explorando sua capacidade em promover a mitigação

de GEE e seus efeitos adicionais na melhoria do desempenho. Além disso, desmistificar

seus mecanismos de ação quanto a antigos conceitos. Pois a definição de composto

antinutricional construída de forma mais intensa para aves e suínos, limita a percepção

do imenso potencial atribuído ao seu uso. Taninos possuem a capacidade de modular a

fermentação ruminal, tornando-a mais eficiente e, ainda, promovendo um maior aporte

de proteína metabolizável, através da formação de complexos junto a proteínas em pH

ruminal e posteriormente, ao chegarem no abomaso liberam as proteínas para que seja

absorvidas no intestino pela ação do pH reduzido. Adicionalmente, influenciam a

população de microrganismos ruminais, manipulando diversas rotas que viabilizam seu

uso, como o metabolismo de proteínas e carboidratos. Dessa forma, a utilização dos

taninos em dietas para bovinos tem gerado resultados de desempenho elevado, com

status adicional de produto de origem natural. A busca pelo maior entendimento quanto

aos taninos e seus mecanismos de ação torna-se fundamental.

Palavras-chave: Aditivos, Archeas, by pass, ruminantes, sustentabilidade.

1. Introdução

A agropecuária é apontada como uma das principais responsáveis pela emissão de

gases de efeito estufa (GEE), sendo uma parcela significativa creditada à pecuária,

devido eliminação de metano (CH4) pela fermentação entérica dos ruminantes, assim

como emissão de óxido nitroso (N2O) decorrente de suas fezes (IPCC, 2006). Estima-se

que a produção anual de CH4 seja de 80 milhões de toneladas, representando algo

entorno de 28% da emissão antropogênica (BEAUCHEMIN et al., 2008).

Em termos de potencial de aquecimento, o CH4 se destaca por ser o gás orgânico

com maior abundância na atmosfera (IPCC, 1995), adicionalmente, capta por volta de

23 vezes mais calor em relação ao CO2, ou seja, absorvem mais radiação ultravioleta

por molécula, para o N2O a captação é 295 vezes maior (MOSIER et al.,1991; IPCC,

2006).

Contudo, a emissão de GEE oriundos da pecuária configura-se como uma das

poucas fontes passíveis de manipulação, e isso ocorre, necessariamente, através de

melhoria na composição e formulação de dietas, com maior produção de propionato e,

consequentemente, restando menos H2 para formar CH4 (MOSS et al., 2000), também

pela seleção de animais com potencial produtivo elevado, assim como o uso de aditivos

moduladores da fermentação, inibindo diretamente a produção de CH4 (aumentando a

eficiência do uso da energia), e todos estes contribuindo de forma conjunta para uma

menor produção de CH4 por kg de produto produzido (RIVERA et al., 2010; COTTLE

et al., 2011).

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Neste contexto, o uso de extratos de taninos vem ganhando destaque quando a

eficácia e consistência que apresenta em reduzir a emissão de CH4 entérico

(JAYANEGARA et al., 2012). Além disso, os taninos alteram a rota de excreção de

nitrogênio (N), reduzindo sua eliminação via urina e, consequentemente, reduzindo a

emissão de N2O (PATRA e SAXENA, 2011). Deve-se considerar ainda, o benefício

quanto ao apelo por uso de produtos de origem natural na produção animal.

A presente revisão irá abordar aspectos relacionados ao uso de taninos em dietas

para ruminantes, explorando sua capacidade em promover a mitigação da emissão de

GEE e os efeitos adicionais na melhora do desempenho. Além disso, desmistificar seus

mecanismos de ação quanto a antigos conceitos

2. Taninos, a nova perspectiva de um antigo conceito

Presentes na maioria das plantas, os taninos, representam uma importante classe

de metabólitos secundários, sendo produzidos por seu metabolismo intermediário

(MUELLER-HARVEY, 2006). Podem ser definidos como um heterogêneo complexo

de polifenóis de origem vegetal com alto peso molecular (500 a 3000 Da) (FERREIRA

e NOGUEIRA, 2000; AGANGA e MONASE, 2001).

Atuam nas plantas como agente protetor ao ataque de insetos e herbívoros,

variando sua concentração e composição nas plantas em função de diversos fatores

(Tabela 1.), dentre eles: diferenças genéticas dentre espécies, fertilidade do solo, estágio

vegetativo, estresse hídrico, época do ano, entre outros (MAASS, 1996; LASCANO,

2001).

Tabela 1. Concentração de taninos em diferentes espécies de plantas.

Amostra Fenóis* Taninos* Taninos

condensados

Alfafa 12,51 7,92 0,30

Angico 138,45 126,39 9,00

Aroeira 204,15 194,19 43,50

Feijão bravo 26,02 25,26 1,40

Feijão guandu 27,70 20,34 6,20

Feno de leucena 30,38 24,30 10,00

Gliricídia 13,72 6,86 0,30

Jurema preta 140,06 122,50 69,20

Leucena 92,85 79,33 65,40

Malva branca 74,60 59,55 97,20

Mela-bode 21,69 16,11 0,30

Moleque duro 46,53 39,16 0,20

Sesbânia 14,35 10,60 1,90

*valores expressos em g/kg de MS Adaptado de Nozella, (2001).

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Em relação a sua estrutura molecular, os taninos são classificados como taninos

condensados (TC – polímeros de flavonoides) ou taninos hidrolisáveis (TH – poliésteres

de ácido gálico e vários açucares individuais) (MAKKAR, 2003).

Os TH’s são moléculas complexas com uma fração central, como glicose,

glucitol, ácido quinico, quercitol e ácido chiquímico, parcialmente ou totalmente

esterificado do grupo fenólico, como o ácido gálico ou dímeros de ácido gálico

hexahidroxidiphenico (Figura 1.). São susceptíveis à hidrólise por ácidos, bases ou

esterases, fazendo com que sua estabilidade no rúmen seja baixa (PATRA e SAXENA,

2010).

Figura 1. Estrutura química de tanino hidrolisado.

Figura 2. Estrutura química de tanino condensado.

Os TC’s, ou protoacinidinas, são basicamente polímeros de catequinas e unidades

de galocatequinas, ligados por pontes interflavanóides, monômeros como a

profisetinidinas encontradas no quebracho também estão presentes (Figura 2.). Possuem

elevada estabilidade no rúmen, podendo formar complexos com a proteína no pH

ruminal (6 a 7) e, posteriormente, no abomaso (pH < 3,5) essas ligações serem rompidas

(Figura 3.), possibilitando a digestão gástrica e pancreática da proteína, estando assim

relacionados ao aumento do fluxo de proteína by pass para o intestino (JONES e

MANGAN, 1977; PATRA e SAXENA, 2010).

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Figura 3. Modelo proposto da formação e dissociação dos complexos taninos e

proteína (ZELTER et al., 1970).

Apesar do potencial para se explorar as diversas características descritas acima, os

taninos, foram caracterizados no passado apenas pela capacidade em se combinar com

proteínas da pele animal inibindo a putrefação, processo conhecido como curtimento do

couro (DESHPANDE et al., 1986), ou pela adstringência e, em função disso, inibição

do consumo voluntario (FRUTOS et al., 2002).

No entanto, sabe-se atualmente que restrições quanto ao consumo são observada

apenas em concentrações muito elevadas (60 a 120 g/kg de MS) (FRUTOS et al.,

2002), sendo mais comum encontrar dificuldades quanto a nutrição de aves e suínos,

fator determinante para que o conceito equivocado se difundisse.

3. Taninos determinando a eficiência no uso da energia, mitigação de GEE e

metabolismo de proteínas e carboidratos

Em ruminantes, o alimento ingerido passa pelo processo de fermentação no

rúmen, o qual é realizado pela população de microrganismos ruminais, onde

carboidratos celulósicos são convertidos a ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), sendo

estes utilizados pelo animal como a principal fonte de energia (cerca de 70%)

(MERTENS, 1997).

Contudo, produtos indesejáveis também são gerados durante esse processo de

fermentação, como o CO2 e o CH4. A produção de metano no rúmen reduz a eficiência

de utilização da energia pelos ruminantes, gerando perdas de 2 a 12% da energia bruta

ingerida pelos bovinos, dependendo do tipo, qualidade e quantidade de alimento

consumido (HOLTER e YOUNG, 1992). Porém, sua produção se faz necessária, uma

vez que a fermentação ruminal gera H+ e seu acúmulo resultaria em queda do pH,

podendo ainda haver inibição dos processos enzimáticos, principalmente os que

envolvam a nicotinamida adenosina difosfato (NADH + H+ ↔ NAD

+) (MCALLISTER

e NEWBOLD, 2008).

Dessa forma, o CH4 é um dos principais drenos de moléculas de H2 produzidas e,

responsáveis por manter um ótimo funcionamento do rúmen. Os principais responsáveis

pela sua formação são as Archeas metanogênicas, que utilizam H2 para reduzir o CO2,

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obtendo assim energia e, gerando CH4 como produto final (COTTLE et al., 2011).

Embora seja parte do processo digestivo dos herbívoros, a produção de CH4 entérico

proveniente do rúmen, constitui uma das únicas fontes de emissão passível de ser

manipulada, pois se relaciona a fatores como a dieta, consumo, digestibilidade, tipo de

animal e uso de aditivos (RIVERA et al., 2010).

Neste contexto, o uso de taninos como aditivo, ganha destaque pela consistência

que possuem em reduzir a emissão de metano entérico. Ao se avaliar in vivo as emissões

de metano por vacas leiteiras em pastejo, alimentadas ou não com blend’s compostos

por taninos, obteve-se uma redução média de 23% do grupo recebendo os blend’s em

relação ao controle (Figura 4.). Bhatta et al. (2009), relata supressões na ordem de 12%

da população de matanogênicas com TH em experimentações in vitro, passando 29%

quando as incubações foram realizadas com blend’s de TH e TC.

Em compilação de dados oriundos de 15 experimentos e 41 tratamentos dirigidos

ao estudo do efeito de taninos sobre diferentes parâmetros, Jayanegara et al. (2012),

obteve decréscimos lineares (p<0,05, R² = 0,29; Figura 5.) na relação CH4/MO

digestível.

A literatura tem-se apresentado concisa em relação às reduções de CH4 por parte

do uso de taninos, sobretudo quanto à inibição da Methanobrevibacter ruminantium,

uma das maiores contribuintes para a emissão do gás (TAVENDALE et al., 2005). No

entanto, ela também atua de forma indireta, inibindo um dos principais microrganismos

que liberam H2, os protozoários, que possuem uma associação de simbiose com grupos

de metanogênicas (VOGELS et al., 1980; BEAUCHEMIN et al., 2008).

Os três filos bacterianos (Bacteroidetes, Firmicutes e Proteobacterias) mais

abundantes no ambiente ruminal (OLIVEIRA et al., 2013; MCCANN et al., 2014)

podem sofrer influência dos taninos (ARCHANA et al., 2010). A relação

Firmicutes/Bacteroidetes sofre elevação com o uso de taninos nas dietas e, com isso, há

benefícios diretos na eficiência dos animais. Pois dentre os Bacteroidetes estão

presentes grupos que degradadores de proteínas, produtores de metano e os

Streptococos Bovis, principais produtores de lactato. Assim, a inibição dos

Bacteroidetes proporciona uma maior eficiência de utilização da dieta e seus nutrientes.

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Figura 4. Produção de metano através da técnica do SF6 de vacas holandesas em pastejo

suplementadas ou não com taninos (Silvafeed blend de.Quebracho + Castanheiras).

Adaptado de Barbaro et al. (2007).

Figura 5. Relação entre os taninos na dieta (g/kg de MS) e CH4/MO digestível (ml/g)

em experimentos de avaliação in vivo. Adaptado de Jayanegara et al. (2012).

Dentre os efeitos mais conhecidos dos taninos, está a sua capacidade de

complexar proteínas, reduzindo sua degradação ruminal e, aumentando o fluxo de

proteína metabolizável para os intestinos (MAKKAR, 2003). Por isso, a incorporação

de taninos nas dietas, em concentrações específicas, permite reduzir a deaminação por

bactérias ruminais sem interferir na síntese de proteína microbiana.

A redução da degradação proteica no rúmen pelos taninos pode ocorrer em função

de:

Formação de complexos tanino-proteínas no rúmen (ZELTER et al., 1970) e;

Inibição do crescimento e da atividade proteolítica da microbiota ruminal

(JONES et al., 1994).

Dessa forma, taninos de Quebracho e Castanheira reduzem a fermentação da

proteína verdadeira (Figura 6.), promovendo o by pass, sem alterar os padrões de

produção de AGCC (JOUANY et al., 1993). A degradação proteica no rúmen ocorre,

sobretudo, pela ação de enzimas (proteases, peptidases e deaminases) secretadas

principalmente por bactérias (XIA et al., 2016) e, os taninos por inibirem o grupo das

proteolíticas, afetando inclusive as hiperamoníacas que apresentam baixa taxa de

multiplicação, há uma maior eficiência de utilização do N no rúmen. Assim, o N-NH3

não é gerado em excesso, com menores perdas por absorção pelas papilas, que seria

convertido, posteriormente, à ureia no fígado e excretado pela urina, alterando a rota de

excreção do N.

Y = 46.2 – 0.123 X

p = 0.036; RMSE = 10.21;

R² = 0.286; n = 30

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Figura 6. Fermentabilidade da proteína do farelo de soja (A) e produção de ácidos

graxos voláteis (B). Adaptado de Jouany et al. (1993).

Em trabalho in vivo, Mezzomo et al. (2011), ao adicionar taninos de quebracho na

dieta de animais fistulados, observou uma redução na degradação proteica no rúmen

(Figura 7.), porém sem afetar a digestão total da MS e ou proteína. Observou também,

uma redução significativa da concentração da amônia ruminal (20,17 x 15,11 mg/dl,

p<0,01), indicando não só a redução da degradação proteica pelo complexo proteína-

tanino, como também por inibição de bactérias hiperamoníacas. Dessa forma, há um

favorecimento do uso efetivo dos aminoácidos para que as bactérias façam sua

multiplicação. Tais ações explicam não apenas o aumento total de proteína

metabolizável para os intestinos, como também o aumento de proteína microbiana

(Figura 8.).

Em consequência, temos outro benefício ambiental dos taninos que é a redução na

emissão de óxido nitroso (N2O), também considerado um GEE, devido mudanças nas

rotas de excreção do N, com redução nas excreções via urina e aumento da excreção

fecal. O N fecal apresenta-se principalmente na forma orgânica, com menor

volatilidade, enquanto o nitrogênio urinário é excretado principalmente na forma de

ureia, sendo hidrolisada em amônia e, em seguida, em nitrato. Além de infiltrar-se nos

lençóis freáticos, o nitrato pode ser convertido em N2O e contribuir com a emissão dos

GEE (PATRA e SAXENA, 2011).

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Figura 7. Digestão da MS, MO e proteína no rúmen e intestinos de animais

recebendo ou não taninos. Adaptado de Mezzomo, et al. (2011).

Figura 8. Fluxo de proteína microbiana e metabolizável em animais recebendo ou

não tanino de quebracho na dieta. Adaptado de Mezzomo, et al. (2011).

Os mecanismos de ação dos taninos sob a população microbiana são diversos, isso

se deve ao grande renque de compostos polifenólicos presentes em sua composição, o

quebracho, por exemplo, apresenta 57 compostos químicos na formação de seus

taninos. Assim na literatura estão descritos diversos efeitos, formando “coberturas de

polímero” sobre a membrana celular, impedindo a produção de enzimas e agregação aos

nutrientes por parte das bactérias, podendo romper a membrana celular, ou causar

aglutinação das mesmas (JONES et al., 1994). Enwa et al. (2014) descreve a capacidade

dos taninos “bloqueando” algumas enzimas essenciais para metabolismo bacteriano.

Akiyama et al. (2001), sugere também a capacidade adstringente dos taninos em romper

a membrana, além da capacidade de se ligar a íons de Fe+, impedindo seu uso pelas

bactérias.

Os taninos, também tem demonstrado interagir com carboidratos, complexando e

mudando a velocidade de degradação dos mesmos, sem que a degradação total seja

alterada (MARTINEZ et al., 2005), possibilitando a mudança do sítio de digestão dos

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carboidratos, proporcionando segurança no controle do pH ruminal (Tabela 2.). Jones et

al. (1994), observaram que os taninos podem afetar a população de Butyriofibrio

fibrosalfens e Streptococus bovis, sendo esta ultima além de degradadora de proteína,

uma importante produtora de lactato, corroborando com a manutenção do pH.

Tabela 2. Parâmetros de degradação de cevada no rúmen de bovinos com diferentes

doses de tanino de quebracho.

Doses de Taninos de Quebracho

(g/kg de MS)

Degradação 0 10 25 50

A 41,36a 33,38b 20,56c 12,73

B 50,18a 58,50b 74,34 79,44

C 0,159a 0,110b 0,090c 0,080d

DE 8%h 74,71a 67,27ab 59,91b 0,975c

Adaptado de Martinez et al. (2005).

A partir do exposto, têm-se uma amplitude elevada de efeitos relacionados ao uso

dos taninos em dietas para ruminantes (Figura 9), deve-se entender o conceito para

então emprega-lo de maneira estratégica, assim como qualquer outro aditivo que se

esteja trabalhando

Figura 9. Representação dos efeitos e interações causados pelos taninos. Fonte:

elaborado pelos autores.

4. Taninos para bovinos de corte: o conceito aplicado ao cocho

Vimos até então, os principais mecanismos conhecidos dos taninos e a forma com

que podem contribuir para a nutrição de bovinos. No entanto, para que um produto

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106

tecnológico se consagre, é necessário que imprima ganho aos animais e que isso se

reverta em lucro.

Dessa forma, Barajas et al., (2011), realizou um estudo avaliando o uso de taninos

em dietas para confinamento, onde as respostas foram potencializadas e condizentes

com o conceito, ou seja, os animais foram mais eficientes no aproveitamento dos

nutrientes da dieta, apresentaram um maior consumo de MS (kg) e, ainda com menor

concentração NUP acarretando em menos perdas de N via urina (Tabela 3.). Em relação

a dietas de confinamento, outro fator que merece ser mencionado, é a redução da

incidência de timpanismo, as proteínas solúveis presentes em excesso no rúmen formam

bolhas que retém gases, assim, quando os taninos complexam com as proteínas o

aparecimento do quadro de timpanismo é reduzido (Mueller-Harvey, 2006), este efeito

contribui também para a elevação do consumo, com menores oscilações ao longo dos

dias de confinamento. Segundo Rivera, et al. (2016) os efeitos dos taninos na

performance animal, não podem ser explicados apenas pela melhora no metabolismo

proteico e na modulação da função ruminal, mas também por fatores associados a saúde

intestinal.

Contudo, para um maior entendimento quanto ao uso dos taninos nas dietas,

restava-se definir a dose na qual a resposta seria mais vantajosa. A partir disso, Barajas

et al. (2015), conduziram um experimento com doses crescentes, com o objetivo de

determinar o ponto ótimo para inclusão de taninos nas dietas (Tabela 4.). Foram

observados efeitos quadráticos para o GMD (p = 0,10) e para a CA (p = 0,05), dessa

forma, através dos estudos dose-resposta (Figura 10. A e B) determinou-se que

inclusões na ordem de 1,5 g/kg foram a de melhor retorno.

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107

Tabela 3: Uso de Taninos em confinamentos de bovinos de corte.

GMD: Ganho médio diário; CMS: Consumo de matéria seca; CA: conversão alimentar;

NUP: Nitrogênio ureico no plasma. Adaptado de Barajas et al.( 2011).

Tabela 4: Efeito da dose resposta da mistura de taninos (Quebracho + Castanheira) em

confinamentos de bovinos de corte

Taninos, g/kg de MS

Parâmetros 0 1 2 3 EPM Efeito

Quadrático

Peso Inicial, kg 400,2 399,9 401,7 399,3 2,884 0,33

Peso Final, kg 476,4 485,8 480,8 477,0 3,295 0,10

GMD, kg/dia 1,346 1,533 1,412 1,388 0,059 0,10

CMS, kg/dia 8,620 8,822 8,570 9,009 0,189 0,56

CA, kg/kg 6,320 5,755 6,076 6,491 0,244 0,05

GMD: Ganho médio diário; CMS: Consumo de matéria seca; CA: conversão alimentar.

Adaptado de Barajas et al. (2015).

Parâmetros Controle Taninos EPM1 P - valor

Peso vivo inicial, kg 183,75 184,15 0,22 0,46

Peso vivo final, kg 492,40b 529,20

a 7,63 0,04

Ganho total, kg 308,65b 345,05

a 8,05 0,05

Peso de Carcaça 313,12b 338,55

a 5,25 0,05

Dias para atingir 480 kg, dias 217,4a 194,1

b 5,19 0,02

Dias para ganhar 100 kg 73,3a 65,5

b 1,71 <0,01

GMD, kg/dia 1,365b 1,527

a 0,04 0,04

CMS, kg/dia 8,446b 8,994

a 0,09 <0,01

CA, kg/kg 6,207 5,862 0,16 0,16

NUP dia 2 9,12a 7,66

b 0,55 0,10

NUP dia 56 6,70ab

5,21b 0,43 <0,01

NUP dia 161 12,79a 10,85

b 0,67 0,05

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108

Para uma avaliação quando aos efeitos adicionais oriundos da inclusão dos

taninos nas dietas de confinamento, foram extraídos de alguns trabalhos, 17 tratamentos

distintos e comparados a seus respectivos controles (Tabela 5.), embora não seja uma

comparação inteiramente justa para com o tanino, pois há na comparação tratamentos

com níveis de inclusão acima dos preconizados para melhores respostas, assim como

tratamentos com níveis de proteína verdadeira menor quando na presença dos taninos e

não no controle. Observa-se que para o GMD e CA houve uma melhora de 5%, dessa

forma, todo o conceito em relação ao uso dos taninos se confirma.

Porém, os confinamentos são pagos pela carcaça que produzem, e quando se

utilizou o tanino houve um incremento médio de 5,92 kg de carcaça, com o custo

adicional único e exclusivo do tanino, assim as recomendações do seu uso devem ser

calcadas nesse raciocínio.

A

B

Figura 10. Estudo de doses respostas. A – GMD em função da concentração de

taninos. B – CA em função da concentração de taninos. Adaptado Barajas et al.

(2015).

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Tabela 5: Resumo de dados de Ganho de peso, conversão alimentar e peso de carcaça

de trabalhos publicados com bovinos de corte em confinamento.

Autores GMDc GMDt Adic.

GMD CAc CAt

Adic.

CA

PCc

(kg)

PCt

(kg)

Dif

(kg)

Barajas et al. (2010) 1,33 1,52 14% 5,90 5,42 -9% - - -

Barajas et al. (2011a) 1,37 1,53 12% 6,21 5,86 -6% 313,12 338,55 25,43

Barajas et al. (2011b) 1,35 1,45 7% 6,89 6,55 -5% 309,19 316,37 7,18

Barajas et al. (2011b) 1,35 1,50 11% 6,89 6,27 -10% 309,19 320,05 10,86

Barajas et al. (2012) 1,58 1,77 12% 6,74 6,00 -12% - - -

Mezzomo et al. (2015) 1,12 1,14 2% 6,39 5,68 -13% 207,80 214,50 6,70

Mezzomo et al. (2015) 1,12 1,06 -5% 6,39 6,02 -6% 207,80 208,20 0,40

Mezzomo et al. (2015) 1,12 1,01 -10% 6,39 6,47 1% 207,80 207,90 0,10

Mezzomo et al. (2015) 1,12 1,06 -5% 6,39 6,08 -5% 207,80 207,40 -0,40

Rivera et al. (2016) 1,37 1,42 4% 8,17 7,81 -5% - - -

Rivera et al. (2016) 1,37 1,48 8% 8,17 7,77 -5% - - -

Rivera et al. (2016) 1,37 1,50 9% 8,17 7,80 -5% - - -

Rivera et al. (2016) 1,53 1,64 7% 6,53 6,28 -4% - - -

Rivera et al. (2016) 1,53 1,61 5% 6,53 6,33 -3% - - -

Rivera et al. (2016) 1,53 1,65 8% 6,53 6,48 -1% - - -

Tabke et al. (2017) 1,62 1,66 2% 6,11 6,27 3% 387,00 390,00 3,00

Tabke et al. (2017) 1,62 1,64 1% 6,11 6,26 2% 387,00 387,00 0,00

Média 1,38 1,45 5% 6,74 6,43 -5% 281,86 287,77 5,92

GMDc: ganho médio diário dos tratamentos controle; GMDt: ganho médio diário dos

tratamentos com inclusão de tanino; Adic.GMD: % do ganho adicional comparado aos

grupos controle; CAc: conversão alimentar dos tratamentos controle; CAt: conversão

alimentar dos tratamentos com inclusão de tanino; Adic. CA: % de melhora de CA em

relação ao controle; PCc: peso de carcaça dos tratamentos controle; PCt: peso de

carcaça dos tratamentos com inclusão de tanino; Dif (kg): diferencial em kg de carcaça

dos tratamentos tanino em relação ao controle.

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5. Taninos para bovinos de leite: novamente aplicando o conceito ao cocho

Visto o potencial a ser explorado quanto ao uso de taninos para dietas de bovinos

de corte, passamos agora para uma breve abordagem voltada as vacas leiteiras, pois se

deve considerar que o conceito não se altera.

Dschaak, et al. 2011, utilizaram os taninos na dieta de vacas e observaram que os

valores de nitrogênio ureico no leite (NUL) apresentaram reduções significativas,

melhorando a qualidade do leite. Para vacas leiteiras isso possui uma conotação

especial, pois sabe-se que há uma influencia negativa da concentração elevada de NUL

e nitrogênio ureico no plasma (NUP) na reprodução das vacas, ou seja, os taninos

teriam um efeito indireto melhorando a eficiência reprodutiva. Contudo, isso ainda se

limita ao campo de conceito, pois estudos como esses são onerosos muito carentes na

literatura.

Dschaak, et al. (2011) também observaram que a eficiência alimentar (kg Leite/

kg Ms consumida) melhorou sem que a produção de leite (PL) fosse alterada (Tabela

6.). Explorando os resultados de maneira mais ampla, podemos inferir que o uso dos

taninos nos permite reduzir os custos de produção, pois flexibiliza a formulação de

dietas a partir da adição de substitutos da proteína verdadeira, como a ureia, sabendo

que os níveis de NUL e NUP serão parcialmente manipulados. Assim, teríamos uma

dieta com um custo inferior, mas com a produção mantida, ou seja, o lucro seria

aumentado.

Tabela 6: Uso de Taninos em dietas para vacas leiteiras.

Parâmetros Sem tanino Com Tanino

Leite, kg/dia 34,1 35

Composição

Gordura, % 3,75 3,69

Proteína Verdadeira, % 3,07 3,05

Lactose, % 4,83 4,81

NUL 14,8a 12,3b

Eficiência

Leite/CMS 1,23a 1,37b

Nitrogênio Leite/Ingestão de N 0,229 0,231

NUL: nitrogênio ureico no leite (mg/dl). Adaptado de Dschaak et al. (2011).

6. Considerações finais

Os taninos possuem ação comprovada quanto à inibição da produção de CH4,

aumentando assim a eficiência do uso da energia da dieta. Dessa forma, configuram-se

como uma ferramenta altamente eficiente no auxílio à mitigação da emissão de GEE.

O metabolismo dos ruminantes pode ser manipulado através do uso dos taninos

em dietas com a finalidade de aumentar a produção e, de forma indireta, contribuir para

uma pecuária sustentável. Contudo, uma pequena parcela de seus efeitos é explorada e

conhecida, mas já sendo o suficiente para desmitificar antigos e equivocados conceitos.

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111

Por fim, deve-se ter em mente que os taninos abrangem um vasto repertório de

compostos, assim, os objetivos para o qual serão utilizados devem levar em

consideração os fatores descritos anteriormente.

7. Referências

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Emissão de gases do efeito estufa em métodos de conservação de forragem

Patrick Schmidt e Camilla Maciel de Souza Centro de Pesquisas em Forragicultura – Universidade Federal do Paraná

1. Introdução

Os processos de conservação de forragens são indispensáveis na produção de

ruminantes em todo o mundo, para contornar a escassez sazonal de pastagens ou suprir

a demanda contínua de animais confinados. Como qualquer atividade humana, a

produção de forragens conservadas está associada a um impacto ambiental, que pode ser

maior ou menor conforme as etapas executadas durante o processo. Segundo a

resolução do CONAMA (BRASIL, 1986) o impacto ambiental pode ser definido como:

[...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio

ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades

humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da

população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições

estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais.”

Sabendo que o impacto ambiental da conservação de forragens está altamente

relacionado às perdas no processo produtivo, e que o mesmo sempre ocorrerá em maior

ou menor escala, os esforços para elevar a recuperação de matéria seca (MS), de

nutrientes ou de energia, reduzirão de forma indireta parte importante dos danos

ambientais causados pela atividade.

Dentre os diversos setores produtivos, a agropecuária está incluída como atividade

emissora dos chamados Gases do Efeito Estufa (GEE), sendo muitas vezes criticada e

responsabilizada como atividade prejudicial ao ambiente. Contudo, não há consenso

sobre a contribuição real das atividades agrícolas nas mudanças climáticas no planeta.

Dados do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) indicam que a

Agricultura responde por apenas 13,5% das emissões globais de GEE, em termos de

CO2 equivalente (IPCC, 2007). Frequentemente os meios de comunicação divulgam

informações onde a agricultura e a pecuária aparecem como vilãs, cabendo à

comunidade científica gerar informações técnicas e cientificamente embasadas, bem

como tecnologias para minimizar os impactos ambientais.

O objetivo desta revisão é descrever a emissão de gases oriunda dos processos de

conservação de forragens, e o impacto dos processos produtivos de ensilagem e fenação,

com base nos dados disponíveis.

2. Impacto da produção da forragem

A produção de forragens conservadas impacta o ambiente de diferentes maneiras.

Aqui descreveremos pontos importantes relacionados às principais etapas envolvidas

nos processos convencionais.

O uso de uma grande área com uma única cultura (monocultura) tem conhecidas

implicações na biodiversidade da fauna, flora, e microbiota do solo.

O impacto no ambiente e no solo causado pela atividade agrícola em si depende

de vários fatores, como nível de adubação, grau de mecanização, status hídrico do solo

durante as operações de campo, tecnologias de cultivo e colheita, entre outras (Domizal

e Hodara, 1990; Domizal et al., 1991 apud Horn et al., 1995). A preparação do solo

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pode ser feita da forma convencional ou utilizando o sistema de plantio direto. O plantio

convencional tem um maior impacto devido à etapa de revolvimento, que expõe o solo

sem a presença de cobertura morta, aumentando a possibilidade de degradação física e

química do mesmo, com danos ao meio ambiente (Andrioli e Prado, 2012). O sistema

de plantio direto, uma prática conservacionista, perturba o solo somente na linha de

plantio, e proporciona uma camada de forragem seca que protege o solo da chuva,

reduzindo a erosão e a lixiviação de matéria orgânica e nutrientes. A redução de etapas

mecanizadas proporcionada pelo plantio direto tem efeitos benéficos na redução de

custos (Duarte Jr. et al., 2008) e na menor compactação do solo. Assim, embora o

impacto ao ecossistema seja inevitável, práticas conservacionistas na produção de

forragens minimizam os danos ao solo e acarretam maior produção da forragem.

O outro aspecto de teor mais prático do impacto ambiental diz respeito a escolha

da variedade de planta a ser utilizada e a produtividade do cultivar. Observa-se que a

produtividade de grãos tem grande efeito do híbrido utilizado (Paziani et al., 2018).

Características agronômicas como produtividade, maturidade e composição morfológica

devem ser observadas. Os autores recomendam a observação da produção de MS

digestível como um bom parâmetro de escolha do híbrido, já que engloba características

de produtividade total e digestibilidade de várias frações da planta. Se considerarmos o

impacto ambiental causado durante todo o processo produtivo de forragens, não faz

sentido desprezar a alta produtividade e qualidade de híbridos selecionados. A escolha

de melhores híbridos (produtivos e adaptados), portanto, leva ao menor impacto

ambiental relativo por tonelada de forragem produzida.

2.1. Adubação nitrogenada

Segundo De Jong et al. (2009), a utilização de adubação nitrogenada tem crescido

em vistas de otimizar a produtividade e atender a crescente demanda por alimentos e

energia; por isso, faz-se necessário um balanço preciso entre os requerimentos de

nitrogênio (N) e a eficiência do seu uso, de forma a minimizar as perdas desse nutriente

nos sistemas agropecuários. Dentro do sistema tradicional de produção, a redução no

impacto ambiental é possível evitando-se o uso excessivo de fertilizantes. Porém, o uso

de fertilizantes químicos em si tem provocado um dos maiores impactos da atividade

humana no planeta. Segundo o relatório do Millenium Ecosystem Assessment (2005), a

quantidade de nitrogênio reativo produzido pela atividade humana aumentou nove vezes

entre 1890 e 1990, e a maior parte desse aumento aconteceu na segunda metade do

século vinte.

Em artigo publicado na seção News Focus da revista Science, Kaiser (2001) relata

os principais assuntos discutidos na Segunda Conferência Internacional sobre

Nitrogênio (Second International Nitrogen Conference, 14 – 18/10/2001). A autora

ressalta que, segundo os especialistas, a poluição por nitrogênio se iguala à provocada

pelos gases do efeito estufa em termos de ameaça ambiental. Ela explica que a principal

fonte é a produção de fertilizantes químicos pelo processo de Haber-Bosch, descoberto

em 1913, que faz reagir o N2 inerte da atmosfera com hidrogênio resultando em

amônia, que pode ser utilizada pelas plantas. Ressalta ainda que quando o nitrogênio é

convertido em nitrogênio reativo, ele passa de uma para outra forma de poluição, desde

ácido nítrico (causadores de chuva ácida), nitratos (responsáveis por eutrofização de

cursos de água) até o óxido nitroso (potente gás do efeito estufa). Independentemente de

qual for fonte sintética de nitrogênio (petróleo ou síntese química), em ambos os casos o

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nitrogênio foi retirado de um estado latente ou inerte, e a desnitrificação bacteriana

natural nunca vai contrabalancear esse desequilíbrio.

Por outro lado, vale ressaltar que a redução do uso de fertilizantes nitrogenados

sem uma estratégia para suprimento das demandas das plantas resultaria em queda

marcante de produtividade, tornando necessária a expansão horizontal no uso da terra.

Este cenário não é o desejado, uma vez que poderia aumentar o impacto ambiental da

atividade. Pimentel et al. (1973) propuseram o uso de fontes alternativas de maior

eficiência energética para suprir a demanda de N na cultura de milho, como a aplicação

de esterco e a utilização de adubação verde pela rotação de culturas com leguminosas,

como o trevo doce ou a ervilhaca, economizando de 2,7 a 3,7 milhões de kcal ha-1 em

relação a utilização de fertilizante nitrogenado comercial. Contudo, desde então essas

práticas têm sido sistematicamente abandonadas.

2.2. Uso de maquinário

A utilização de maquinário, apesar de não ser normalmente mencionada, deve ser

computada dentre as fontes de impacto da produção de forragens conservadas. Além das

operações mecanizadas da preparação da terra, plantio e manejo da cultura, a produção

de feno conta com mais sete operações mecanizadas (sega, reviragens, enleiramento,

enfardamento e recolhimento dos fardos) e mais uma operação (embalagem) no caso da

produção de silagens pré-secadas em fardos embalados. Já na produção de silagens de

milho e cana em silos de grande porte, apenas duas operações são requeridas (colheita e

picagem e compactação no silo com trator).

Uma máquina agrícola, como outros veículos automotores, impacta o ambiente

em três fases: fabricação (desde a extração da matéria prima até o gasto de água, energia

e materiais no processo de fabricação da máquina), vida útil (que inclui o uso de

combustível, fluídos de motor, pneus e materiais de manutenção) e sucata (o que sobra

após terminar a vida útil da máquina). Mikkola e Ahokas (2010) classificaram o “input”

de energia do maquinário agrícola em direto (combustível e eletricidade durante o uso)

e indireto (energia utilizada em fabricação, entrega, armazenamento, reparo e

manutenção). Os autores apontam que o “input” de energia direto é fácil de identificar e

mensurar, enquanto que o indireto é também relativamente fácil de identificar, porém,

mais difícil de analisar. Com base em dados da literatura, os autores estimaram que o

“input” indireto de energia equivale a 30% do “input” total de energia durante a vida

útil de um trator.

Os equipamentos de colheita disponíveis para a ensilagem de plantas eretas de

grande porte são ensiladeiras acopladas ao trator (normalmente pertencentes à fazenda)

e ensiladeiras automotrizes (normalmente pertencem a um prestador de serviço). Apesar

de a ensiladeira automotriz ser uma máquina de maior potência e consumo de

combustível muito mais alto por hora de trabalho, ela proporciona menor produção de

gases por tonelada de forragem colhida, em função de sua alta eficiência. Ainda, a

maior velocidade de enchimento do silo proporcionada por esses equipamentos, reduz

as perdas na forma de gás ocasionadas pela respiração da planta e ação de

microrganismos aeróbios antes da vedação do silo.

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3. Aspectos inerentes ao processo de ensilagem

A ensilagem consiste no processo de fermentação controlada, através do qual

carboidratos solúveis são fermentados a ácido lático (Weinberg et al., 2007), reduzindo

o pH e protegendo o material contra a degradação microbiana. O fator mais importante

que influencia a eficiência desse processo de conservação é o grau de anaerobiose

obtido em todo o silo, em todas as fases do processo (Woolford, 1990). A qualidade de

um material ensilado depende diretamente da qualidade inicial da forragem, mas

também das perdas que ocorrem no processo.

3.1. Impacto do tipo e dimensionamento do silo

A escolha do tipo de silo também influencia o impacto no ambiente. Por muito

tempo, o silo torre foi considerado a forma mais efetiva de conservar forragem na forma

de silagem, devido à pequena área do silo exposta ao oxigênio e à alta compactação

obtida nesses silos (McDonald et al., 1991). Com o advento da lona plástica e a

popularização dos tratores, o silo em torre caiu em desuso. Hoje, os silos mais usuais

são: silo de superfície, silo trincheira, silo de fardo embalado e silo tipo bag. Segundo

levantamento recente realizado por Bernardes e Rêgo (2014) em 260 fazendas leiteiras

no Brasil, os silos em trincheira foram os mais comuns, presentes em 60,4% das

fazendas. Os silos em superfície estiveram presentes em 38,1% das propriedades, e os

silos em bag em apenas 1,5%.

Os silos em bag e em fardos embalados são protegidos por camadas sobrepostas

de filme plástico (não reutilizável), embora exista a possibilidade de reciclagem. Os

silos de superfície podem ser montados sobre lona plástica ou diretamente sobre a terra,

e revestidos com lona plástica, enterrada nas laterais. Os silos trincheira são

normalmente construídos aproveitando a declividade natural do terreno, e podem ser

revestidos de vários materiais, como lona, madeira, concreto ou terra, e sempre são

cobertos com lona plástica para vedação. Silos revestidos de concreto são mais duráveis

que silos revestidos de terra ou madeira; em contrapartida, o resíduo gerado ao fim da

vida-útil do mesmo é de difícil reincorporação ao meio ambiente.

Forragens úmidas podem produzir grande quantidade de efluente, que é altamente

corrosivo ao concreto (O’Donnell et al., 1995), reduzindo a vida útil dos silos

(Barbhuiya et al., 2010), gerando impacto ambiental dos resíduos da construção antiga e

da matéria-prima e energia envolvidas na reforma ou construção de um novo silo.

O’Donnell et al. (1995) avaliaram o efeito do efluente da silagem na corrosão do

concreto e perceberam uma propriedade muito interessante: a silagem próxima (<3 mm)

do concreto foi submetida a uma neutralização de pH por ação do concreto, que levou à

fermentação secundária por ação de clostrídios. Barbhuiya et al. (2010) avaliaram o

efeito da substituição de parte da areia utilizada na preparação do concreto por resíduo

da refinaria da bauxita, sobre a resistência do concreto ao efluente de silagem. A adição

do resíduo na proporção de 10% proporcionou maior resistência do concreto tanto à

exposição prolongada ao efluente de silagem, aumentando a vida útil deste.

O dimensionamento do silo é uma etapa importantíssima, e muitas vezes

negligenciada pelos produtores. É comum, em pequenas propriedades, que a área da

face do silo seja muito grande para o número de animais consumindo silagem, fazendo

com que a taxa de remoção diária (ou seja, a espessura média da fatia retirada do silo

por dia) seja muito pequena. A consequência disso é que o ar atmosférico, que contém

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oxigênio, penetra pela face exposta do silo mais rapidamente do que a silagem é

retirada, causando degradação aeróbica do material, com perdas em quantidade e

qualidade. Quando se perde em qualidade ou quantidade, o impacto ambiental acontece

por duas vias: pela geração de resíduos da perda (gases) e por redução na eficiência do

processo, com aumento do impacto relativo. Desta forma, o silo deve ter um tamanho

máximo de área de secção transversal, que permita uma taxa de remoção diária de, no

mínimo, 20 cm. Se a área da face do silo for muito menor do que este tamanho máximo,

o impacto relativo à massa de silagem também aumenta, pois em um painel de pequena

área, a silagem próxima à lona e às bordas que precisa ser descartada representa uma

maior porcentagem em relação ao todo, se comparado a silos com painéis maiores. A

recomendação de 20 a 30 cm pressupõe condições ideais de compactação, pois, se esta

for insuficiente, o ar atmosférico penetrará a uma maior velocidade no silo, aumentando

a fatia mínima que deve ser retirada por dia.

O correto dimensionamento do silo é prática fundamental para minimizar as

perdas no processo e, diretamente, o impacto ambiental oriundo dessa etapa.

3.2. Impacto do ponto de colheita e do tamanho de partícula

A decisão sobre o momento da colheita para silagem é um dos pontos críticos do

processo, uma vez que erros aparentemente pequenos podem aumentar as perdas de MS

e reduzir a qualidade da silagem de forma drástica. De forma geral, observa-se que para

qualquer forragem, a fermentação ótima ocorre quando o teor de MS está compreendido

entre 30 e 35%. Forragens mais úmidas tendem a apresentar maior perda de matéria

seca por efluentes, apesar de o teor de MS certamente não ser o único fator que

influencia a produção de efluentes (Jones e Jones, 1995). O milho, o sorgo e a cana-de-

açúcar atingem naturalmente o teor de matéria seca ideal para ensilagem com boa

qualidade nutricional, bastando que, para isso, o momento da colheita seja preciso.

Entretanto, os capins tropicais e de clima temperado apresentam alto teor de umidade no

momento ótimo de colheita, necessitando, portando de práticas de manejo para elevar o

teor de MS do material, tal como a pré-secagem ou a utilização de aditivos absorventes

de umidade (Schmidt et al., 2014). O monitoramento do teor de matéria seca pode ser

feito da forma tradicional, por secagem de amostra em estufa de circulação forçada a

60°C por 72h, ou por secagem e micro-ondas, com a vantagem da rapidez deste último

método, apesar da menor precisão.

Johnson et al. (2002) fizeram seis experimentos em arranjo fatorial para

determinar a influência da maturidade e do processamento mecânico na estabilidade

aeróbica da silagem de milho e na densidade de compactação dos silos. Os autores

concluíram que tamanho de partícula, densidade de compactação e estabilidade aeróbica

são variáveis inter-relacionadas. A densidade de compactação tende a aumentar quando

o tamanho de partícula diminui. Os autores concordaram que a maior densidade de

compactação faz com que menos oxigênio penetre na silagem durante o

armazenamento, o que leva a uma maior estabilidade aeróbica durante o

descarregamento da silagem, provavelmente pelo menor desenvolvimento de

microrganismos aeróbicos espoliadores na fase de armazenamento. Os autores também

encontraram menor densidade de compactação à medida que o estádio de maturação do

milho avançava (parcialmente devido ao aumento no teor de MS e parcialmente porque

a planta fica mais “grosseira” com o avanço da maturidade).

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Rabelo et al. (2012) avaliaram cinco estádios de maturidade na ensilagem de

milho com ou sem inoculantes bacterianos. A inoculação reduziu perdas de MS em 1,7

pontos percentuais, porém, a variação maior foi entre estádios de maturação: as silagens

feitas de milho nos estádios “sem linha do leite”, “1/3 da linha do leite” e “1/2 da linha

do leite” apresentaram quase o dobro (8,96; 8,17; 7,56%, respectivamente) das perdas

de MS observadas nas silagens das plantas colhidas nos estádios “2/3 da linha do leite”

ou “camada negra” (4,86; 4,31%, respectivamente). Estes dois últimos estádios de

maturação também proporcionaram menores perdas por efluentes (3,368; 1,642 contra

26,138; 22,348; 11,647 kg t-1 MV).

Associado ao teor de MS no momento da colheita, o tamanho de partícula é outro

fator a ser considerado. Forragens mais secas grosseiramente picadas apresentam

dificuldade de compactação, pois as estruturas fibrosas tendem a reassumir a posição

inicial após a passagem do trator. A compactação deficiente, além de aumentar a

quantidade de ar residual no silo, reduz a capacidade de armazenamento do mesmo, o

que é econômica e ambientalmente inviável. Durante a fase de descarregamento, silos

mal compactados apresentam maior porosidade, o que aumenta a taxa de infiltração de

ar atmosférico pela face exposta do silo resultando em maiores perdas de MS (Pitt,

1986). Se, por outro lado, a forragem for picada em partículas muito pequenas (<10

mm), o principal ponto de perda é no âmbito nutricional, principalmente se a silagem

for a única fonte de fibra longa da dieta dos ruminantes. O tamanho reduzido diminui a

efetividade da fibra, reduzindo a ruminação, o que pode levar a acidose e queda no teor

de gordura do leite (Mertens, 1997). A perda de valor nutritivo de uma forragem

aumenta o impacto ambiental relativo a maior necessidade de alimento para

proporcionar o mesmo desempenho.

3.3. Tempo para enchimento de vedação do silo

O tempo de enchimento do silo deve ser o menor possível, preferencialmente não

ultrapassando 1 ou 2 dias. A vedação deve ser realizada logo após o enchimento, pois o

atraso prolongado na vedação causa conhecidos efeitos deletérios na qualidade da

silagem (Kim e Adesogan, 2006).

A lona utilizada na vedação e/ou revestimento do silo (normalmente constituída

de polietileno ou outro polímero) é fonte importante de resíduo, pois são materiais

provenientes de petróleo, de longo período de decomposição, pequena durabilidade e

normalmente não são reaproveitados por mais que uma vez. A qualidade da lona tem

importância fundamental na preservação da silagem, pois lonas comuns podem rachar

devido à incidência de raios solares, expondo o material à deterioração aeróbica. Lonas

de dupla-face com proteção contra raios ultravioleta são de maior qualidade, e são

usadas por 77,7% das fazendas de leite no Brasil, enquanto 18,8% ainda utilizam a lona

preta comum (Bernardes e do Rêgo, 2014). Uma lona chamada “barreira de oxigênio”,

com permeabilidade ao oxigênio dez vezes menor que a lona comum, foi avaliada por

Borreani et al. (2007) em dois silos em fazendas diferentes: um silo com silagem de

milho não aditivada, com taxa de remoção de silagem de 19 cm dia-1; e um silo com

silagem de milho aditivada com Lactobacillus buchneri, com taxa de remoção de 33 cm

dia-1. Na primeira fazenda (considerada como uma situação de desafio), a lona barreira

de oxigênio reduziu drasticamente as perdas de MS da silagem próxima à lona. Já na

segunda fazenda, não houve diferença entre lonas, mas as perdas em geral foram

pequenas. Isso mostra que o bom manejo ainda é o melhor investimento.

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Lonas de baixa permeabilidade ao oxigênio estão disponíveis no Brasil, e seu uso

pode ser considerado, embora o preço possa ser restritivo. Além de utilizar uma lona de

qualidade, deve-se prezar pela integridade da mesma até o término do uso da silagem,

protegendo a superfície do silo de animais (tanto pequenos animais selvagens como as

próprias vacas) através de cercamento da área em que se encontra o silo. Convém

utilizar algum material sobre a lona, como terra ou sacos de areia, para evitar a entrada e

propagação do ar pela superfície do silo. A silagem bem vedada, com menores perdas

impacta menos o ambiente. Contudo, o descarte adequado da lona plástica, reutilizando-

a na propriedade, ou encaminhando o material para reciclagem, deve ser obedecido. A

prática comumente adotada de incinerar restos de lonas deve ser abolida das

propriedades.

3.4. Perdas e gases do efeito estufa

Sem dúvida, as perdas no processo de ensilagem são a fonte de impacto ambiental

com maior relevância econômica para o produtor e, portanto, onde há maior

preocupação com a redução das mesmas. Elas ocorrem durante todas as etapas do

processo de ensilagem, e o aumento das perdas reflete diretamente no aumento do

impacto ambiental relativo, pois o mesmo impacto total será dividido por uma menor

quantidade ou qualidade de alimento no final da cadeia.

As perdas de campo, sejam mecânicas ou por respiração, não geram impacto pelo

resíduo deixado, porem reduzem a produtividade final da silagem. As perdas por gases

(CO2) e compostos orgânicos voláteis (COV) são potencialmente impactantes ao meio

ambiente, porém, a quantidade produzida desses voláteis parece ser insignificante, em

relação a outras fontes emissoras de gases em uma fazenda (Schmidt et al., 2013).

Schmidt et al. (2013) mediram produção média de 113 g de equivalente-carbono (CO2-

eq) por tonelada de forragem ensilada, muito abaixo das estimativas de 6 kg de CO2-eq

por litro de leite produzido.

As perdas por oxidação foram classificadas por McDonald et al. (1991) em quatro

fases aeróbicas que ocorrem no processo de ensilagem: fase de campo, fase aeróbica

inicial no silo, fase de infiltração de ar e fase de deterioração após a abertura. O contato

com o oxigênio atmosférico deve ser minimizado em todas essas fases, através da

adoção de boas práticas de manejo, tais como: menor intervalo possível entre o corte da

forragem e o fechamento do silo; compactação eficiente para redução do ar residual

dentro do silo; vedação perfeita, com lona de qualidade e camada de terra ou outro

material sobre o silo, a fim de evitar a entrada de ar no silo durante o período de

armazenamento; cuidado com a integridade da lona, evitando o acesso de animais ao

local onde se encontra o silo; dimensionamento do silo compatível com a retirada de

uma fatia mínima diária de 20 cm; manejo cuidadoso do painel do silo para manter a

estrutura do silo e evitar a penetração excessiva de ar; retirada de uma camada uniforme

do silo, evitando a formação de “degraus”; e reduzindo ao mínimo o intervalo entre a

retirada da silagem do silo e o fornecimento aos animais.

Dentre todas as perdas na ensilagem, a perda por efluentes é a de maior impacto,

devido ao alto potencial poluente desse resíduo. A produção de efluentes da ensilagem

foi bastante estudada no passado, principalmente em silagens de capins. Paterson e

Walker (1979) avaliaram a composição de efluentes de silagens de capim, e

encontraram teores de MS entre 6,2 e 11,0%, e a composição média de PB de 26,2% da

MS; cinzas de 14,9 a 21,7% MS; de ácidos de 11,8% (com predominância de ácido

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acético); e estimaram teor médio de carboidratos de 42,0% MS. Devido à sua

composição, o efluente de silagem é considerado uma das fontes mais perigosas de

poluição de cursos de água (Barry e Colleran, 1984). Ao mesmo tempo, a produção de

efluentes representa a perda de compostos de alta digestibilidade, reduzindo a

recuperação de nutrientes na silagem.

Sabe-se que o volume de efluente produzido está inversamente relacionado ao teor

de MS da forragem ensilada (Foy et al., 1994). Estes pesquisadores fizeram análise de

correlação entre diversas variáveis e a taxa de incidentes de poluição por silagem. O

teor de MS esteve correlacionado (R2 = 0,29) com a redução dos incidentes, sendo que

cada ponto percentual de aumento de MS esteve associado à redução de 9,5 incidentes

Mt-1 de silagem. As perdas por efluente normalmente são poucas quando o teor de MS

excede 25%, mas podem chegar a mais de 200 L t-1 de capim ensilado quando o teor de

MS é menor que 15% (Bastiman, 1976 apud Foy et al., 1994). Galanos et al. (1995)

encontraram valores de demanda química de oxigênio (DQO) para efluentes de silagens

de capim entre 54.600 e 72.500 mg L-1, mas sabe-se que este valor pode ultrapassar

80.000 mg L-1 (Foy et al., 1994; Arnold et al, 2000). Nosso grupo analisou efluente de

silagens de cana-de-açúcar, e encontrou impressionantes 568.000 mg L-1 em análise de

DQO (Novinski et al., 2011), valor 1000 vezes superior ao encontrado em esgoto

doméstico (Peralta-Zamora et al. 2005). Estimou-se que um silo de 200 t de silagem de

capim pode produzir uma carga de poluição equivalente à poluição diária de uma cidade

de 75 mil habitantes (National Rivers Autority, 1993 apud Stephens et al., 1997). Uma

forma de pesquisa de contaminação por efluentes foi investigada através do uso das

reações de glucose oxidase e lactato oxidase para detectar a presença de glucose e

lactato (provenientes de efluentes de silagens) em água fluvial. O sensor de lactato foi

capaz de detectar efluente de silagens maduras em diluições de 1/1000, enquanto que o

sensor de glucose foi mais eficiente para detectar efluentes de materiais recém

ensilados, que apresentam maior concentração de glucose que efluentes de silagens

prontas (Stephens et al., 1997).

Um dos possíveis destinos que se pode dar ao efluente produzido na silagem é a

fertirrigação. Apesar de esta prática necessitar de um monitoramento ambiental, o

impacto certamente é menor do que simplesmente deixar que o efluente seja levado por

águas de chuva até os cursos de água ou lençóis freáticos superficiais. Espalhar o

efluente no solo tem, porém, suas limitações, pois pode ocorrer queima das folhas da

pastagem ou de outras culturas (Burford, 1976, apud Arnold et al., 2000). Patterson e

Walker (1979) estudaram a possibilidade de inclusão de efluente na dieta de porcos em

terminação, e concluíram que 10% MS de inclusão supriria praticamente todos os

requerimentos protéicos e minerais estabelecidos pelo NRC. Leidmann et al. (1994)

avaliaram o potencial de remoção de metais pesados de solos contaminados através de

lixiviação por efluente de silagem de capim. Os testes, feitos em coluna e em batelada,

mostraram variadas taxas de remoção para cada metal pesado avaliado (Cd 74,7%; Zn

55,7%; Cu 53,5%; Ni 38,9%, Cr 12,7% e Pb 8,9%).

O tratamento de resíduos é um destino alternativo para os efluentes produzidos na

ensilagem. Tratamentos com leveduras, tratamentos aeróbicos e sistemas de tratamento

vegetal já foram estudados por, respectivamente, Arnold et al. (2000), Deans e Svoboda

(1992) e Faulkner et al. (2011), todos com algum efeito positivo na redução do

potencial poluente dos efluentes.

Apesar da viabilidade teórica desses sistemas, o grande problema ainda

permanece na realidade de campo. Mesmo que algumas medidas apresentem ótimos

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resultados em escala laboratorial, normalmente as estações de tratamento requerem

plantas complexas de custo elevado. Deans e Svoboda (1992) apontam que, apesar da

sazonalidade na produção de efluentes (o que deixaria a planta inativa, aumentando os

custos), as estações de tratamento poderiam ser adaptadas para outros resíduos, como

dejetos do gado. A sazonalidade também representa um problema na destinação dos

efluentes para outros fins, uma vez que o armazenamento dos mesmos nem sempre é

higiênico ou viável. Dessa forma, operações de manejo que visem reduzir ao máximo as

perdas de matéria seca e produção de efluentes ainda são a melhor opção, considerando

que podem ser implementadas no tempo presente, sem depender de grandes

investimentos ou de medidas impostas pela legislação.

4. Aspectos inerentes ao processo de fenação

O processo de fenação é parecido, em alguns aspectos, com a ensilagem de

forragens pré-secadas em fardos embalados. As vantagens ambientais do feno em

relação à silagem pré-secada são a ausência de embalagem com lona ou filme plástico e

a ausência de produção de efluentes. As perdas no processo de fenação são variáveis e

dependem principalmente do manejo e das condições climáticas, porém impactam

muito pouco o ambiente, sendo rapidamente degradadas e recicladas. As perdas na

fenação só aumentam o impacto devido à redução na recuperação de MS de forragem, e

o maior gasto energético por unidade de feno efetivamente produzida.

A necessidade de várias operações mecanizadas, entre sega, reviragens,

enleiramento, enfardamento e recolhimento dos fardos, impacta o ambiente tanto pela

utilização de combustível fóssil do maquinário, como pela compactação do solo.

Em condições climáticas favoráveis para a fenação, este método é menor

impactante ao meio ambiente do que a produção de silagem pré-secada em fardos

embalados. Porém, este último método pode ser uma alternativa quando as condições

climáticas inviabilizem a secagem completa da forragem, principalmente quando há alta

possibilidade de chuvas na fase final de desidratação. É preferível utilizar o filme

plástico a perder todo o capital investido e todo o impacto já causado até essa etapa final

na conservação da forragem.

Dessa forma, além dos fatores previamente discutidos, as etapas mecanizadas de

produção de fenos, realizadas por tratores movidos a óleo diesel são as responsáveis

pelo principal impacto ambiental da produção dos fenos. Contudo, alternativamente é

possível produzir feno de forma totalmente manual, em pequena ou média escala.

Fazendas com preocupação ambiental têm resgatado tecnologias usadas na era “pré-

mecanização”, para aplicar na rotina de produção de forragens conservadas, de forma

manual e envolvendo trabalho familiar (http://onescytherevolution.com).

4. Considerações finais

Como qualquer atividade antrópica, a conservação de forragens impacta

negativamente o ambiente onde é realizada. A magnitude deste impacto é muito difícil

de ser quantificada, bem como o número de variáveis a se considerar nessa avaliação.

Os gases do efeito estufa provenientes da conservação de forragens são oriundos

de várias fontes, como mudança de uso do solo, adubação, queima de combustíveis

fósseis, gases provenientes da fermentação, entre outras fontes.,

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A redução nas perdas durante os processos de conservação deve ser o primeiro

objetivo dos técnicos e produtores, no intuito de reduzir o impacto ambiental

(principalmente o decorrente dos efluentes da silagem), pois acarreta diretamente

benefícios econômicos e nutricionais.

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Sistema Produtivo para uma Pecuária Sustentável

Gustavo Rezende Siqueira1, Ivanna Moraes de Oliveira

2, Cleisy Ferreira do

Nascimento3, Valquíria Alencar Beserra

3, Felipe Almeida Nascimento

3, Flávio Dutra de

Resende1

1Pesquisador, APTA-Colina; Professor na Pós-graduação, UNESP-Jaboticabal 2Pesquisadora PNDP=CAPES, UNESP-Jaboticabal 3Doutorando em Zootecnia, UNESP-Jaboticabal

Resumo

Para que os sistemas produtivos tenham longevidade, a produção de alimentos

deve atender a demanda do crescimento populacional visando os quatro pilares

fundamentais da sustentabilidade: econômico, social, ambiental e tecnológico. Estes

pilares são aplicados de forma sinérgica e de acordo com as condições próprias de cada

sistema de produção. Estratégias que abordam o uso eficiente da terra, pastagens e

criação de animais são adotadas a fim de reduzir as limitações tecnológicas dos sistemas

de produção brasileiros. O manejo adequado de pastagens pode minimizar efeitos

negativos associados a fatores climáticos e, consequentemente, da sazonalidade de

produção no desempenho animal. Cada período de produção da forragem possui

particularidades, as quais devem ser levadas em consideração no planejamento de uma

propriedade. O uso da suplementação, por exemplo, contribui de maneira positiva para

ajustar o antagonismo entre estes períodos (seca e águas), fornecendo nutrientes

necessários para adequar o sincronismo entre proteína e energia na dieta dos animais.

Adicionalmente, devido à crescente preocupação com o aquecimento global, os sistemas

devem ser produtivos e, ao mesmo tempo, atender a demanda mundial para

desenvolvimento limpo, com menor emissão de gases do efeito estufa (GEE). Devido

aos processos naturais de fermentação de matéria orgânica, os ruminantes contribuem

para a emissão de metano. O fornecimento balanceado dos nutrientes pode influenciar

na utilização da dieta pela população microbiana do rúmen, reduzindo as perdas na

forma de metano, culminando em incremento no desempenho animal (metano/kg

produto final) e produção mais limpa. Pastagens produtivas também podem contribuir

para mitigação de GEE, por terem a capacidade de armazenar maior quantidade de

carbono no solo. A Integração Lavoura Pecuária é uma das estratégias utilizadas para

recuperar pastagens, maximizando o uso dos ciclos biológicos na interface planta-

animal e seus resíduos. Outra forma de contribuir para a mitigação de GEE é a redução

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no ciclo de vida do animal. Por fim, a perspectiva sustentável somente é possível, no

contexto mencionado, quando levamos em consideração o pilar econômico,

identificando a diferença entre o empresário rural e o produtor, para que ele possa

decidir o que será melhor para o seu sistema de produção, unificando o pensamento

racional (lucro) e emocional (apego). Além de ter em mente que a educação, em todos

os níveis sociais, é sempre o primeiro passo para resolver os desafios atuais e futuros da

indústria pecuária.

Palavras-chave: ambiental, econômico, metano, pastagem, social, tecnológico

Introdução

Com uma área total de pouco mais de 8,5 milhões de km², o Brasil possui 165

milhões de hectares de pastagem natural e 219 milhões de cabeças de gado (ABIEC,

2017). Tal fato, coloca-nos em uma posição significativa, uma vez que a estimativa de

crescimento populacional será de 9,4 bilhões até 2050 (U.S. CENSUS BUREAU,

2016). Dessa forma, a produção de alimentos para atender essa demanda requer

preocupação tanto do ponto de vista produtivo, no qual, a produção deve ser eficiente e

economicamente viável, quanto do ponto de vista racional no uso de recursos naturais,

garantindo o fornecimento constante e inesgotável destes para as gerações atuais e

futuras.

Os sistemas de produção de ruminantes podem variar de subsistência para tipo

intensivo de agricultura, disponibilidade de recursos, acessibilidade de infraestrutura,

demanda de alimentos e potenciais de mercado, dependendo da localidade (WANAPAT

et al., 2015). De maneira geral, os sistemas de produção brasileiros possuem adoção de

tecnologia limitada e, com isso, produtividade comprometida. Estratégias como manejo

e adubação de pastagens, suplementação, confinamento, entre outros, podem ser

utilizadas como opções na busca de uma produção mais sustentável.

A intensificação dos sistemas de produção deve ser realizada de acordo com a

estrutura disponibilizada e adequada para o sinergismo entre o empresário e o produtor.

Dada a complexidade de tais sistemas, o uso de metas produtivas é necessário para que

as ferramentas adotadas, para o aumento da produtividade, se adequem da melhor forma

na estrutura de uma determinada fazenda. A utilização de metas possibilita executar e

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verificar se os resultados estão de acordo com as propostas iniciais e identificar as

mudanças necessárias para a obtenção do objetivo estipulado. Dessa forma, a empresa

rural conduzirá o sistema de produção de forma efetiva e sustentável, visando atingir

suas metas de produção (MAKKAR, 2016; TEDESCHI et al., 2017).

Ao considerarmos os pontos citados, propomos um sistema de produção

sustentável, o qual é baseado em quatro pilares fundamentais: econômico, ambiental,

social e tecnológico. Estes pilares são aplicados de forma sinérgica, adequando a

estrutura, tamanho da propriedade, capital disponibilizado para investimentos e uso da

mão de obra na região da propriedade (THOMAS; CALLAN, 2010). A partir disso,

podemos avaliar quais são as melhores tecnologias para serem adotadas em determinado

sistema de produção.

Revisão de literatura

Pecuária brasileira

O uso de pastagem como alimento para os rebanhos é a base dos sistemas de

produção brasileiro, desta forma, é importante conhecer as características da planta e

seu valor nutritivo durante as diferentes épocas do ano (período da seca e das águas).

Este conhecimento permite adequar o fornecimento de alimento aos requerimentos

nutricionais dos animais, para que eles atinjam determinado nível de produção. Em

função de fatores climáticos, a produção de forragem é desuniforme ao longo do ano, o

que pode comprometer a produção de alimento e, consequentemente, o consumo pelo

rebanho. Entretanto, com o manejo adequado da pastagem, pode-se garantir a redução

de efeitos negativos da sazonalidade no desempenho animal, assim como a possível

degradação da pastagem em situações de superpastejo.

O diferimento da pastagem é uma estratégia que pode ser utilizada para garantir

quantidade de pasto suficiente para o rebanho no período seco do ano. Tal prática

consiste na preservação de determinada área, normalmente no período das águas, que

será utilizada posteriormente, no período de escassez de pasto (FONSECA et al., 2014).

Embora esta área preservada garanta taxa de lotação constante ao longo do tempo, o

valor nutritivo da gramínea é reduzido. Para que a redução na qualidade da forragem

não implique em maiores prejuízos ao desempenho animal e garanta a longevidade do

sistema, é importante ter cautela quanto: a área a ser diferida, tanto no tamanho quanto

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na taxa de lotação que pode ser estabelecida; qual o tipo de forrageira mais apropriada

ao diferimento; época do ano; início e duração do diferimento e, também, manejo da

altura do pasto, por meio de pastejo intenso anterior ao diferimento, removendo o

material velho, para garantir melhor rebrota.

Cada período de produção da forragem possui particularidades inerentes, as quais

devem ser consideradas no planejamento de uma propriedade. Por um lado, o período

seco pode comprometer o desempenho dos animais devido redução nos teores de

carboidratos solúveis e proteína bruta e aumento da fração de fibra indisponível,

decrescendo o valor nutritivo da gramínea (DETMANN et al., 2014). Por outro lado, no

período das águas a qualidade da forragem é melhor, porém o desempenho animal ainda

pode ser limitado. Nesta estação, a forragem apresenta alto teor de proteína degradável

no rúmen, exigindo maior demanda de energia. Normalmente, não há sincronismo entre

a liberação de amônia e energia, pois, com o avanço na maturidade fisiológica há maior

concentração de tecidos de sustentação e teores de nitrogênio complexados nas frações

fibrosas (SOLLENBERGER; VANZANT, 2011). A suplementação, por exemplo, pode

contribuir de maneira positiva para incrementar o nível de proteína bruta na estação seca

e ajustar a relação entre proteína e energia na estação das águas.

Diversas estratégias podem ser adotadas para a melhoria do sistema de produção,

tendo como consequência o aumento da rentabilidade em um ambiente sustentável,

entre elas, a manutenção do sistema de manejo solo-planta (análise de solo, correção e

adubação - proveniente de fonte orgânica ou mineral) conciliada com manejo de pasto

adequado. Pois, ainda que a pastagem apresente teor de nutriente suficiente para o

desempenho animal, a taxa de lotação, altura de pastejo e oferta de forragem são fatores

inerentes a utilização da área, os quais causam impacto direto no consumo de forragem

e, consequentemente, na conversão em produto comercializável (REIS et al., 2009). O

manejo da altura de pastejo implica em diferenças quanto ao ganho médio diário dos

animais, taxa de lotação, ganho por área (DA SILVA et al., 2013; BARBERO et al.,

2015) e pode melhorar a qualidade nutricional da forragem (BOLAND et al., 2013).

Após todas as medidas adequadas tomadas, os processos de digestão nos bovinos

ainda passam por entraves quanto ao uso eficiente dos nutrientes. E, embora a perda de

energia por meio da formação de metano no ambiente ruminal seja necessária para o

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funcionamento de tal ambiente, ela afeta a sustentabilidade do sistema, existindo formas

de redução da emissão deste gás. Este será assunto para o próximo tópico.

A pecuária e o aquecimento global

A decomposição da matéria orgânica em meio aquoso é realizada por bactérias

que fermentam o substrato em condições anaeróbicas, seja este ambiente, campos

alagados para o cultivo de arroz ou o ecossistema ruminal. Tal processo resulta em

diversos produtos inerentes ao tipo de substrato fermentado, sendo a produção de

metano inevitável. Em função da crescente preocupação com o aquecimento global,

dentre as atividades antrópicas, a agricultura pode ter uma importante participação na

emissão dos GEE. Segundo o IPCC (2007), a emissão de metano representa 14% do

total gerado por atividades antrópicas e, dentro deste percentual, 13,5% corresponde a

agricultura no mundo.

Contextualizando, o Brasil, por ser um país agrícola, possui participação

significativa na emissão de GEE, principalmente quando consideramos o tamanho do

rebanho bovino, o qual é responsável por 69% do total de emissão de metano do país.

Vale lembrar que, embora a percentagem seja significativa a nível nacional, esta

emissão corresponde a 2,5% do total produzido no mundo (IPCC, 2007). Assim, a

contribuição do Brasil, a nível mundial, representa menos de 3% do total da emissão de

GEE oriundos de atividades antrópicas e, devido a programas de incentivo e

conscientização (mecanismos de desenvolvimento limpo – MDL), os países com maior

índice de emissão de GEE investem em países em desenvolvimento, para que a emissão

desses gases seja quantificada e racionalizada (SOUZA et al., 2012). Ou seja, nós

produzimos gases de efeito estufa abaixo dos níveis globais e o pouco que produzimos

já está sendo quantificado e trabalhado para que a produção seja eficiente e

ambientalmente viável.

Seguindo essa perspectiva, nas duas últimas décadas observou-se maior interesse

em pesquisas que propõem alternativas para a redução da metanogênese ruminal,

levando-se em conta a possibilidade de melhoria da eficiência na utilização do alimento,

com redução da produção e liberação de gás metano (RUVIARO et al., 2016;

MAKKAR, 2016). Resolver esse dilema ajudará a aumentar a produção de carne, por

meio do aumento na eficiência de produção, para o atendimento da crescente demanda

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global por produtos pecuários (WANAPAT et al., 2015; MAKKAR, 2016; GUYADER

et al., 2016).

O fornecimento de uma alimentação adequada e balanceada pode influenciar no

uso da dieta pela população microbiana do rúmen, reduzindo as perdas em forma de

metano, culminando em incremento no desempenho animal (metano/kg produto final).

Todo incremento no desempenho implica em produção eficiente e/ou redução no ciclo

de produção. Sistemas intensivos podem proporcionar este cenário em função do

manejo de pasto adequado, utilização de integração, entre outros, concomitante, ou não,

ao uso de suplementação, e uso de dietas com melhor qualidade durante a terminação

(RUVIARO et al., 2016; MAKKAR, 2016), seja ela realizada no confinamento ou de

forma intensiva no próprio pasto.

Pastagens produtivas podem contribuir para a mitigação de GEE por terem a

capacidade de armazenar maior quantidade de carbono no solo, superando muitas vezes

a incorporação por matas nativas (ALVES et al., 2006). No processo de fotossíntese, as

plantas absorvem dióxido de carbono da atmosfera e o incorporam nos carboidratos,

armazenando carbono no solo. Em pastagens produtivas haverá maior taxa de renovação

e, consequentemente, maior sequestro de carbono; enquanto em matas nativas e

florestas, esse sequestro é mais acentuado somente durante o crescimento da planta.

A estratégia de recuperação de pastagens é uma prática importante para sequestrar

o carbono excedente da atmosfera, além de tornar o sistema mais produtivo

(BERNEDTI et al., 2010). Os benefícios ambientais potenciais dos sistemas baseados

em forragens recuperadas podem ser ampliados, considerando suas outras contribuições

ecológicas, como conservação da biodiversidade, melhoria da saúde do solo e da

qualidade da água e o fornecimento de habitat natural (GUYADER et al., 2016).

A recuperação das pastagens, em geral, é feita por meio de adubação nitrogenada

para a reposição de nitrogênio do solo. Ressalta-se que essa prática, quando realizada de

forma inadequada, pode contribuir para o aumento nas emissões de óxido nitroso, em

função do acúmulo via adubação e/ou pelas excretas dos animais (fezes e urina). A

recuperação de maneira indireta e integrada pode representar uma alternativa viável, na

qual, a Integração Lavoura Pecuária é uma das estratégias utilizadas no momento.

Os sistemas integrados propõem maximizar o uso dos ciclos biológicos na

interface planta-animal e seus resíduos, sendo ideal do ponto de vista sustentável, uma

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vez que propõem a redução do uso de compostos inorgânicos, por meio do plantio

consorciado, em sucessão ou rotacionado, para promover o sinergismo entre os

componentes do ecossistema. Isso implica no uso mais eficiente de máquinas e

equipamentos, mão-de-obra e preservação do meio ambiente (KICHEL et al., 2011).

Outra forma de contribuir para a mitigação de GEE e, consequentemente, praticar

a sustentabilidade do sistema, é a redução do ciclo de vida do animal. Tal proposta se

estabelece de estratégias que otimizem o máximo potencial de produção do animal, por

meio do manejo e fornecimento de dieta adequada, e a maior eficiência da utilização da

mesma. Dentre estas tecnologias, algumas se destacam por melhorar uma fase

específica da vida do animal ou por ser empregada em mais de uma fase, trazendo

benefícios econômicos e vantagens ambientais.

Construindo uma pecuária sustentável

Conforme já mencionado, devido as flutuações sazonais na qualidade e

quantidade da forragem ao longo do ano, raramente existe um equilíbrio entre os

nutrientes fornecidos pela planta e a exigência dos animais (DETMANN et al., 2014).

Para contornar esta limitação, a suplementação é utilizada para melhorar a eficiência de

utilização das pastagens e otimizar o ganho animal e por área (CASAGRANDE et al.,

2011; SOLLENBERGER; VANZANT, 2011; REIS et al., 2013).

Segundo Barbero et al. (2015) animais recebendo suplementos com maiores

teores de carboidratos solúveis apresentam melhor desempenho, além de produzirem

menos metano por kg de ganho de peso corporal. Vários ingredientes podem ser

utilizados na dieta dos animas para o uso mais eficiente da mesma, seja por

concentração de nutrientes, ou por manipulação da população microbiana. Dentre eles,

destaca-se a gordura protegida, a qual pode incrementar o desempenho dos animas e o

ganho por área, através do aumento na densidade energética da dieta. Além disso,

atualmente, sabe-se que os ácidos graxos têm a capacidade de alterar a expressão

gênica, através da velocidade da codificação de fatores de transcrição (JUMP, 2002),

sendo a composição da gordura protegida importante para a ativação destes genes.

Vellini (dados não publicados) forneceu suplementação na quantidade de 0,3% do

peso corporal, sem ou com adição de blend de ácidos graxos específicos, para novilhos

Nelore na recria. A autora observou que o consumo de blend de ácidos graxos

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136

proporcionou incremento de 8,75% no ganho médio diário e de 6,38% no ganho por

área, com aumento médio de 15 kg de peso corporal ao final da recria. Nascimento

(2017) trabalhando com a inclusão de óleo de soja protegido e blend de óleo vegetal

protegido (mistura de ácidos graxos saturados e insaturados) em dietas de terminação,

observou que os animais que consumiram a dieta com o blend de óleo vegetal

apresentaram 13 kg a mais de carcaça, comparados aos animais que consumiram a dieta

com óleo de soja protegido.

Vellini (dados não publicados) e Nascimento (2017) não avaliaram a emissão de

metano, mas, segundo Machado et al. (2011) pode haver redução na produção de

metano com a adição de lipídeos, em função da redução de matéria orgânica

fermentável no rúmen, redução da atividade de microrganismos metanogênicos,

toxicidade deste nutriente para bactérias celulolíticas e captura de hidrogênio do meio

pela biohidrogenação.

Além do adensamento da dieta, o uso de aditivos em suplementos e rações é uma

prática comum para manipular o ecossistema ruminal, a fim de otimizar a utilização dos

nutrientes e/ou minimizar os impactos negativos do uso de alimentos menos fibrosos no

ambiente ruminal. Com intuito de reduzir o impacto ambiental, a utilização de nitrato

encapsulado é uma alternativa viável. Hristov et al. (2013) classifica o nitrato como um

aditivo que tem efetividade e alto potencial em mitigar metano. Isso ocorre pois há

consumo de 8H+ para reduzir nitrato a nitrogênio amoniacal ruminal, ao mesmo tempo

em que há uso de H+ para produção de metano. Porém, reduzir nitrato a nitrogênio

amoniacal ruminal conserva mais energia para os microrganismos quando se compara

com a produção de metano (GUO et al., 2009).

Considerando a dinâmica da fermentação ruminal, para cada mol de nitrato

ingerido, seria mitigado 1 mol de metano, ou seja, a cada 100 g de nitrato ingeridos,

seria mitigado 25,8 g de metano (VAN ZIJDERVELD et al., 2010). Fernandes (2018)

avaliou a utilização de nitrato encapsulado durante a recria e terminação intensiva a

pasto de bovinos Nelore. O autor observou que, no período seco da recria, o uso do

nitrato tendeu a diminuir a produção de metano (g/dia) em 17%. No período das águas,

a emissão de metano tendeu a ser reduzida em 34 g/dia com nitrato, reduzindo também

a emissão de metano a cada kg de peso corporal ganho e a cada kg de matéria seca

consumida.

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137

Em dietas de terminação, o milho é o ingrediente mais utilizado como fonte de

energia para os animais (OLIVEIRA; MILLEN, 2014), dessa forma, tem-se buscado

aumentar a eficiência de utilização deste grão para alimentação de ruminantes. Uma

técnica de processamento que tem apresentado bons resultados no aumento da

digestibilidade do amido do milho é a ensilagem dos grãos de milho (FERRARETTO et

al., 2013; SILVA, 2016). Durante o processo de ensilagem, os ácidos produzidos

durante a fermentação ajudam na solubilização e proteólise da matriz proteica

(VIERSTRA, 1996). Com isso, há melhora na digestibilidade ruminal do amido, devido

maior acesso dos microrganismos ruminais aos grânulos do mesmo (Hoffman et al.,

2011).

Segundo Silva (2016), o fornecimento de silagem de grão úmido de milho, na

terminação de bovinos Nelore, reduz o consumo de matéria seca em 19,6%, sem afetar

o ganho médio diário e o peso de carcaça quente, melhorando a eficiência alimentar em

21%, quando comparado ao uso de milho seco. Estes resultados ocorrem devido ao

aumento na digestão do amido, em consequência do incremento na sua fermentação

ruminal (SILVA, 2016).

Conforme mencionado, o processamento do milho é uma alternativa muito

eficiente para melhorar o aproveitamento dos nutrientes do mesmo, seja na forma de

silagem de grão úmido, floculação, moagem, entre outros. No entanto, cada tipo de

processamento apresenta variações quanto a disponibilidade de nutrientes e coeficiente

de digestibilidade. Desta forma, o fornecimento de enzimas que façam o ajuste fino na

maximização do uso deste ingrediente é pertinente, uma vez que o uso de enzimas é

baseado em mecanismos naturais e já existentes no ambiente ruminal.

Nascimento et al. (2016) observaram 9 kg a mais de carcaça em animais Nelore

recebendo enzimas amilolíticas na dieta de terminação. Concomitante a avaliação do

desempenho, Nascimento et al. (2017) avaliaram diferenças no metabolismo dos

animais recebendo enzimas amilolíticas e identificaram incremento de 8,72% na

concentração molar de propionato comparada àquela dos animais que não receberam

enzima, além de aumento na digestibilidade da proteína bruta e da fibra da dieta. Tais

resultados podem elucidar as possíveis respostas encontradas no desempenho,

demonstrando que a adição de enzimas pode contribuir para maior aproveitamento de

ingredientes da dieta e, consequentemente, melhora no desempenho.

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138

Assim como enzimas amilolíticas, enzimas fibrolíticas são utilizadas para

melhorar a digestibilidade da fibra e, com isso, incrementar o consumo voluntário do

animal. Miorin et al. (2017) testaram a adição de enzimas fibrolíticas na terminação a

pasto de bovinos Nelore, relatando aumento de 8 kg na carcaça dos animais que

consumiram dieta com adição de enzimas.

Todas estas tecnologias citadas têm por finalidade reduzir o ciclo de produção e,

com isso, aumentar a produtividade e a qualidade da carne no país. A redução na idade

de abate, indiretamente, diminui a produção de resíduos e a emissão de gases de efeito

estufa, como o metano (CHIZZOTTI et al., 2011). Assim, o aumento da produtividade

dentro de um sistema de produção, sem a necessidade de novas áreas, contribui também

para o uso adequado do solo e preservação do ecossistema local (RUVIARO et al.,

2016; MAKKAR, 2016; GUYADER et al., 2016), permitindo paralelamente maior

sustentabilidade dos sistemas.

Entendendo os pilares da sustentabilidade

A perspectiva sustentável somente é possível, no contexto mencionado, quando

levamos em consideração o pilar econômico, identificando a diferença entre o

empresário rural e o produtor, para que ele possa decidir o que será melhor para a sua

propriedade, unificando o pensamento racional (lucro) e o emocional (apego).

O uso de metas produtivas, que organizem e planejem a introdução de novas

ferramentas, para a melhoria da fazenda, permite a sustentabilidade da empresa rural.

Isso porque a utilização das metas faz com que o pecuarista comece a conhecer os

fatores de produção da sua propriedade (terra, capital e trabalho) e identificar quais

fatores podem ser melhorados para maior rentabilidade e lucratividade do sistema. Este

processo possibilita executar e verificar se os resultados estão de acordo com as

propostas iniciais e identificar as mudanças necessárias para a obtenção do objetivo

estipulado. A partir disso, é possível realizar a tomada de decisão operacional para a

melhoria do sistema, como por exemplo, quais as vantagens e desvantagens de

terceirizar máquinas e equipamentos; aluguel de pasto para terceiros ou rebanho

próprio; intensificar ou agregar valor no rebanho. Dessa forma, a empresa rural

conduzirá o sistema de produção de forma efetiva e sustentável, visando atingir as metas

de produção (MAKKAR, 2016; TEDESCHI et al., 2017).

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139

É importante esclarecer a relação entre pecuária e meio ambiente, visto que

existem várias fontes poluidoras, as quais impactam na aceleração do aquecimento local

e do ecossistema (THOMAS; CALLAN, 2010; MAKKAR, 2016). Dentro do pilar

ambiental, observando o eixo animal, a melhoria dos índices zootécnicos traz benefícios

econômicos e ambientais. A melhoria dos ganhos/unidade é uma redução no número de

animais para “produzir” os mesmos ganhos produtivos anteriores, tendo como

consequência o aumento da produtividade e redução da emissão de gás metano/área.

No pilar social devemos ter em mente que a maior parte da produção de carne

bovina do país é destinada para o mercado interno. No mesmo raciocínio, a educação

em todos os níveis sociais é o primeiro passo para resolver os desafios atuais e futuros

da indústria pecuária (TEDESCHI et al., 2017). Desta forma, com aumento na

remuneração da mão de obra brasileira como um todo, haverá aumento do consumo de

carne de forma indireta. E, mesmo a mão de obra estando entre os maiores custos dentro

do sistema de produção, é necessário que os trabalhadores sejam bem remunerados e

tenham tratamento digno. E, ao serem bem remunerados, estes tendem a realizar as

tarefas de forma melhor, ocasionando vários efeitos diretos e indiretos para o sistema de

produção (THOMAS; CALLAN, 2010).

O pilar tecnológico, per si, deve ser considerado a partir da interação solo-planta-

animal, como já discorrido acima, pois percebemos que a tecnologia escolhida foi a

mais sustentável, para determinada fase da propriedade, no sistema de produção. Como

dito anteriormente, o aumento do uso de tecnologias, dentro dos sistemas de produção,

deve ocorrer de acordo com a capacidade produtiva, econômica e estrutural da

propriedade (THOMAS; CALLAN, 2010). Alinhando isso, ao uso da mão de obra no

campo, podemos trabalhar a produção de forragem e uso de suplementos com efeito na

taxa de lotação, produtividade do rebanho e custo de produção, por exemplo.

Considerações finais

Percebemos que possuímos ferramentas para a introdução de uma pecuária mais

sustentável nos sistemas de produção brasileiros. Sendo necessária a interação e

sinergismo entre as tecnologias disponíveis no mercado e as particularidades das

propriedades rurais ao longo do país, adequando as tecnologias em função das

necessidades e recursos disponíveis no local. Assim, desmitificamos a

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140

insustentabilidade dos sistemas de produção de bovinos brasileiros e aumentamos a

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144

RESUMOS

EXPANDIDOS

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145

Acesso à Informação e Caracterização da Produção de Bovinos de Corte do

Sudeste Goiano1

Vitória Mendes André2, Jéssica M. Paranhos Borges

3, Isadora de Ávila Caixeta

2, Laya

Kannan S. Alves2, Janine França

4

1Parte do trabalho de conclusão de curso do segundo autor 2Aluna de graduação do curso de zootecnia. e-mail: [email protected] ; [email protected];

[email protected] 3Zootecnista. e-mail: [email protected] 4Zootecnista. Docente na Universidade Federal de Uberlândia. e-mail: [email protected]

Resumo: A pecuária de corte é de grande importância dentro da produção animal

brasileira, sendo importante a caracterização da produção e acesso a informação de

produtores de bovinos de corte. Assim, foi aplicado um questionário simples, impresso,

presencial para 31 produtores de bovinos de corte do sudeste goiano com o objetivo de

caracterizar a produção em suas propriedades e a busca por informações e atualizações,

abordando os temas: (1) Sistema de Criação; (2) Solos e Pastagens (3) Água; (4)

Melhoramento Genético; (5) Manejo Reprodutivo; (6) Informação e Atualizações.

Verificou-se que 97% dos produtores utilizavam sistema de criação com suplementação

mineral e terminação a pasto. Todas as propriedades utilizavam a Brachiaria,

predominando pastagens de idade média e antiga. Apesar de 29 dos entrevistados

realizarem adubação do solo apenas dois realizavam análise de solo. Outro ponto

relevante é uso da água, em que 100% dos produtores não realizavam o uso racional.

Para o manejo reprodutivo 93% dos produtores utilizavam a monta natural e 27

buscavam por gado melhorado e conheciam algum programa de melhoramento

genético. A grande maioria dos produtores possuía acesso a informação e atualizações

na área principalmente em programas de televisão com conteúdo rural. Portanto, ainda é

necessário um maior incentivo em relação ao uso racional de água e adubação correta

do solo para um sistema solo-planta-animal ideal visando uma criação sustentável e

rentável.

Palavras–chave: acessibilidade; bovinocultura de corte; produtividade, sustentabilidade

Access to Information and Characterization of Beef Cattle Production in Southeast

Goiás

Abstract: Cattle breeding is of great importance within Brazilian animal production,

being important the characterization of the production and access to information of beef

cattle producers. A simple, questionnaire was then applied to 31 producers of beef cattle

from southeast Goiás State, Brazil, with the purpose of characterizing the production in

their properties and the search for information and updates, addressing the following

themes: (1) Creation System; (2) Soil and Grassland (3) Water; (4) Genetic

Improvement; (5) Reproductive Management; (6) Information and Updates. It was

verified that 97% of the producers used breeding system with mineral supplementation

and pasture termination. All properties used Brachiaria, predominating pastures of

middle and old age. Although 29 of the producers did fertilize the soil, only two

performed soil analysis. Another relevant point is water use, in which 100% of the

producers did not rational use. For the reproductive management 93% of the producers

used the natural mount and 27 opted for genetically improved cattle and knew of some

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146

breeding program. Most producers had access to information and updates in the area

mainly on television programs with rural content. Therefore, a greater incentive is still

needed in relation to the rational use of water and correct fertilization of the soil for an

ideal soil-plant-animal ideal system at a sustainable and useful husbandry.

Keywords: accessibility; beef cattle; productivity, sustainability

Introdução

A pecuária de corte tem ocupado lugar de destaque dentro da produção animal, e

vem assumindo posição de liderança no mercado mundial de carnes. O Brasil sendo um

país de clima tropical e com ampla extensão de terra, possui grande potencial para

atender essa demanda mundial, principalmente devido a carne bovina brasileira advir de

sistemas de produção que usam recursos nutricionais de baixo custo relativo, como as

gramíneas tropicais sob pastejo (Hoffmann et. al., 2014).

Nesse cenário brasileiro, vários estados contribuem para o desenvolvimento da

pecuária de corte, entre eles o estado de Goiás que segundo relatório do IBGE (2017), o

abate de 49,62 mil cabeças de bovinos a mais no primeiro trimestre de 2017, em relação

ao mesmo período do ano anterior, foi impulsionado por aumentos em 11 das 27

Unidades da Federação (UFs). Os aumentos mais intensos ocorreram em Goiás (+97,26

mil cabeças), e no ranking das UFs, o estado de Goiás subiu da 5ª para 3ª posição no

comparativo dos primeiros trimestres 2017/2016, com uma contribuição de 10,1% da

participação nacional.

Porém, para o sucesso da atividade pecuária, destaque-se a atuação do produtor

rural, buscando rentabilidade e lucratividade, controlando diversos fatores que

influenciam a produção. Dentre esses fatores o sistema solo-planta-animal Ñ essencial

para a atividade, sendo complexo e abordando componentes como: manejo reprodutivo,

melhoramento genético, forrageira utilizada, uso da Água, sistema de criação adotado.

Assim, a pecuária vem exigindo cada vez mais que o produtor se atualize e busque

informações, pois, manter-se informado e atualizado Ñ um diferencial perante os

demais produtores, tornando-o capaz de favorecer a sua produção. Para isso o

levantamento de dados a respeito do acesso do produtor a informações e atualizações na

Área da atividade Ñ de suma importância para a caracterização das propriedades e

apontamentos que possam ser melhorados na atividade de pecuária de corte,

contribuindo de forma significativa para atender eticamente o mercado consumidor e

meio ambiente. Neste sentido o presente estudo visou avaliar o acesso a informações e

atualização do produtor e a caracterização da produção de bovinos de corte na região do

Sudeste Goiano.

Material e Métodos

Para condução deste trabalho, foram utilizadas 31 fazendas de bovinos de corte

situadas no sudeste goiano, com animais anel orados. Foi aplicado um questionário

simples, impresso, no ano de 2015 aos produtores de bovinos de corte com o objetivo

caracterizar a produção em suas propriedades e a busca por informações e atualizações

na Área. O questionário foi estruturado abordando as seguintes questões: (1) Sistema de

Criação – (1a). animais suplementados e terminados em confinamento; animais

suplementados e terminados a pasto? (2) Solos e Pastagens – (2a). realiza análise de

solos?: sim ou não?; (2b). executa adubação do solo: sim ou não?; (2c). tipo de

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forrageira cultivada – especificar; (3) água – (3a). executa alguma técnica de uso

racional de água: sim ou não?; (3b). Realiza análise da água de bebida do gado: sim ou

não?; (4) Melhoramento Gentio – (4a). gado utilizado na atividade Ñ melhorado

geneticamente: sim ou não?; (4b). conhece algum programa de melhoramento genético

de bovinos de corte: sim ou não? (5) Manejo Reprodutivo – (5a). qual o tipo de manejo

reprodutivo adotado: monta natural; inseminação artificial; ambas ou outra

biotecnologia reprodutiva?; (6). Acesso a informação e Atualizações – (6a). acessa a

internet: sim ou não?; (6b). participa de eventos (palestras; eventos científicos;

encontros de produtores; dias de campo) na área da atividade: sim ou nÉo?; (6c).

participa de leilão: sim ou não?; (6d). prefere buscar informações relacionadas ä

atividade: programas de televisão; revistas e catálogos; internet? Das propriedades

avaliadas, 11 possuía entre 50 a 100 animais e 20 mais de 100 animais, todas com

bovinos anelorados, em fase de terminação. A aplicação dos questionários foi realizada

presencial, e os dados obtidos foram tabulados e os resultados obtidos através do

programa Microsoft Excel (2010).

Resultados e Discussão

Em relação ao sistema de produção verificou-se que 97% das propriedades o

sistema de criação e caracterizado por animais suplementados apenas com sal mineral, e

terminados a pasto. E em apenas 3% os animais além de ser suplementados eram

terminados em confinamento. No estado de Goiás, há predominância da forrageira

braquiária, devido baixo custo de produção e boa rentabilidade ao produtor, de acordo

com o referido estudo em 100% das propriedades cultivavam essa forrageira para a

produção de bovinos de corte.

Adubar o pasto Ñ necessário quando a pastagem encontra-se em algum nível de

degradação, devido ä ausência de prática de manejo relevante como a adubação, tendo

um ciclo de produção naturalmente decadente, assim, no estudo, 29 entrevistados

realizavam adubação do solo visando melhor a produção de forragem, porém apenas

dois realizavam análise do solo para verificar a real necessidade, isso pode acarretar

excessos e/ou deficiências no solo, além de investimentos em adubação que poderão ser

desnecessários ou de menor valor.

O fato de 60 a 80% das pastagens do Brasil Central Pecuário apresentarem-se

com algum grau de degradação, ou seja, sem produtividade compatível com a condição

ecológica local, permite imaginar o impacto e a relevância econômica do processo de

degradação das pastagens em âmbito nacional. Pastagens mais velhas este em níveis

maiores de degradação (Martha Junior & Vilela, 2002). Assim Ñ de extrema

importância a realização do manejo correto do sistema solo-pastagens. De acordo com

os resultados obtidos, a idade das pastagens em 45% das fazendas era média, 45%

antiga e apenas 10% eram novas, sendo que em todas as propriedades foram

encontradas a pastagem estabelecida Braquiária. Ainda, segundo Martha Junior &

Vilela (2002), isso possivelmente está relacionado ao fato de que por ser uma planta

pouco exigente, a Braquiária se configura como suporte alimentar essencial na criação

de gado, tanto de corte quanto de leite.

Integrando a sustentabilidade do sistema de produção de bovinos de corte, a

água tem papel fundamental dentro dessa produção animal. A água é um elemento

essencial ao animal, em caso de restrição poderá ocasionar perdas produtivas à

bovinocultura de corte. Mesmo com os questionamentos gerados atualmente sobre o uso

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da água na pecuária, nenhum dos produtores praticavam o uso racional de água em suas

propriedades. Além disso, a água fornecida aos animais, deve ser de boa qualidade e

livre de patógenos, mesmo assim apenas duas propriedades realizam análise da água

que o animal ingere, o que poderá acarretar em prejuízos na produção. De acordo com

Palhares (2015), o manejo hídrico adequado na propriedade rural pode contribuir para

reduzir o consumo de água na agropecuária e tornar a atividade mais sustentável e

rentável, melhorando a gestão da água na propriedade, sendo importante ferramenta

para a preservação e conservação dos recursos naturais.

A eficiência do gado em produzir carne é outro fator extremamente importante

para um clico mais curto e menor demanda em quantidade, por exemplo, de pasto.

Assim, o cruzamento constitui uma forma rápida, e muitas vezes econômica, de

produzir carne bovina, porém não eliminando a necessidade, nem diminuindo a

importância, da seleção como método de melhoramento genético a ser realizado

concomitantemente (Euclides Filho, 1997). O gado estudado foi anelorado, a pesquisa

apontou que das 31 propriedades, 27 utilizavam gado melhorado geneticamente,

otimizando a produção e obtendo um melhor ganho de peso. Isso se deve ao fato

também desses mesmos produtores terem conhecimento de algum programa de

melhoramento genético.

No Brasil o manejo mais adotado de reprodução é a monta natural em bovinos

de corte criados em sistemas extensivos a pasto, com uma relação de um touro para

vinte e cinco vacas, em condições normais (Machado, 2008). Verificou-se que em 93%

das fazendas estudadas, adotam o manejo reprodutivo de monta natural, e 7% realizam

manejo de inseminação artificial associada com a monta natural. Esses dados podem ser

explicados, pois a monta natural é um sistema de fácil aplicação pelo fato de não

necessitar mão-de-obra especializada para sua utilização. Porém, se a relação 1:25 não é

seguida, isso acarretará em uma baixa quantidade de bezerros/ano impactando de forma

negativa nos índices zootécnicos e produtividade da atividade.

O acesso a informação e atualizações na área contribuem para o sucesso da

atividade, portanto dentre os produtores estudados, vinte e nove acessavam a internet,

mostrando que o produtor busca novas informações e procura se atualizar. A frequência

do uso da internet foi significativa diariamente e a cada 15 dias, representando

respectivamente dez e dezenove dos produtores entrevistados, sendo que apenas dois

produtores não acessavam à internet. Outro fator significativo foi que grande parte dos

produtores (61%) participavam de eventos na área de bovinocultura. A busca de

informação não fica apenas na internet com páginas específicas de conteúdo rural, que

contam com apenas 2% dos produtores, mas sim 93% buscam informações relacionadas

à atividade em programas de televisões com conteúdo rural, que na maioria das vezes se

trata de leilões virtuais que atualiza o produtor com preço da arroba, preço do boi gordo,

dentre outras informações.

Conclusões

Ficou evidente que as propriedades do sudeste goiano, devido às condições

favoráveis para a atividade de pecuária de corte, essa é caracterizada pela terminação a

pasto, monta natural, com adubação de solo, porém sem análise de solo e uso racional

de água. Apesar do grande número de produtores que buscam atualização e informações

na área, ainda é necessário um maior conhecimento a respeito do uso racional de água e

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solo obtendo de forma efetiva sistema de criação a pasto com animais eficientes em

sistemas sustentáveis e rentáveis.

Literatura citada

EUCLIDES FILHO, K. O melhoramento genético e os cruzamentos em bovino de

corte. 1.reimp. Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC, 1997. 35p. (EMBRAPA-CNPGC.

Documentos, 63).

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estatística da Produção Pecuária -

Junho de 2017. Instituto HOFFMANN, A.; MORAES, E. H. B. K.; MOUSQUER, C. J.;

SIMIONI, T. A.; JUNIOR GOMES, F.; FERREIRA, V. B.; SILVA, H. M. Produção de

bovinos de corte no sistema de pasto-suplemento no período seco. Nativa, Sinop, v. 02,

n. 02, p. 119-130, abr./jun. 2014. Pesquisas Agrárias e Ambientais.

IBGE. 2017, 47p. disponível em: <

ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Pecuaria/Fasciculo_Indicadores_IBGE/abate-leite-couro-

ovos_201701caderno.pdf >. Acessado em: 13/03/2018.

MACHADO, G.P.E, Inseminação artificial versus monta natural em bovinos de corte:

aspectos reprodutivos, produtivos e econômicos, Belo Horizonte, UFMG-EV, 2008.

MARTHA JÚNIOR, G. B; BUENO, L. Pastagem no Cerrado: baixa produtividade pelo

uso limitado de fertilizantes. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2002. 32 p. (Embrapa

Cerrados. Documentos, 50).

PALHARES, J. C. Consumo de água na pecuária pode ser reduzido com manejo

correto. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-

/noticia/2514861/consumo-de-agua-na-pecuaria-pode-ser-reduzido-com-manejo-correto

>. EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Acessado em:

20/03/2015

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150

Analise econômica em Brachiaria híbrida Convert HD 364 submetida à aplicação

de adubo foliar no final na época das águas

Hygor Luís G. de Fátima¹, Paulo Vitor Pereira², Camilla Souza Ferreira², Lorena

Borba Vilela³, Leandro Martins Barbero4, Natascha Almeida Marques da Silva

4

1Estudante de Zootecnia. e-mail: [email protected]

²Estudante de Agronomia. e-mail: [email protected] 3Estudante de Medicina Veterinária. e-mail: [email protected] 4Faculdade de Medicina Veterinária FAMEV. e-mail l: [email protected]

Resumo: As áreas de pastagens no Brasil, em sua grande maioria encontram-se

em algum estágio de degradação. Degradação esta que se dá pela falta de

reposição de nutrientes ao solo. O objetivo do presente estudo foi analisar

economicamente estratégias de adubação de pastagens na vedação do pasto. O

experimento foi conduzido em Uberlândia - MG, durante a vedação do pasto e

consistiu em quatro tratamentos, com quatro repetições, sendo eles: a adubação

com uréia, adubação com 2 litros de OROGRASS/ha, adubação com uréia + 2

litros de OROGRASS/ha e a testemunha. A cultivar utilizada foi a Brachiaria

híbrida Convert HD 364. A análise dos resultados mostrou que todos os três

tratamentos obtiveram melhor desempenho do que a testemunha. A aplicação de

ureia otimizou a produção de massa de forragem e possibilitou o aumento da taxa

de lotação, o que também foi possível com a aplicação do adubo foliar

OROGRASS, porém, no que se refere à lotação, a ureia possibilitou um aumento

ligeiramente maior e no que se refere ao custo de implantação, o OROGRASS

possui o menor preço. A união dos dois tratamentos apresentou os melhores

resultados em todos os aspectos analisados, sendo, portanto, a melhor forma de

incrementar a produtividade de pastagens através de adubação. Diante dos

resultados, conclui-se que a aplicação de ureia combinada com adubação foliar na

vedação do pasto, proporciona melhor retorno econômico para a atividade.

Palavras–chave: adubação, pastagens, produção, micronutrientes, uréia,

Abstract: The pasture areas in Brazil, for the most part, are at some stage of

degradation. This degradation is due to the lack nutrient replacement to the soil.

The objective of the present study was to analyze economically strategies of

pasture fertilization in the pasture. The experiment was conducted in Uberlândia,

MG, during the pasture sealing and consisted of four treatments, with four

replications: urea fertilization, fertilization with 2 liters of OROGRASS / ha,

fertilization with urea + 2 liters of OROGRASS / ha and the witness. The forage

used was the hybrid Brachiaria Convert HD 364. Analysis of the results showed

that all three treatments performed better than the control. The application of urea

optimized forage mass production and allowed the increase of the stocking rate,

which was also possible with the application of the OROGRASS leaf fertilizer,

however, with regard to the stocking, urea allowed a slightly larger increase and

in terms of the cost of implementation, OROGRASS has the lowest price. The

union of the two treatments presented the best results in all aspects analyzed,

being, therefore, the best way to increase the productivity of pastures through

fertilization. In view of the results, it was concluded that the application of urea

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151

combined with leaf fertilization in the pasture fence, provides a better economic

return for the activity.

Keywords: fertilization, pasture, production, micronutrients, urea,

Introdução

Podemos definir como pecuária qualquer atividade ligada a criação,

tratamento e reprodução de rebanhos. A pecuária bovina brasileira se comparada

mundialmente, apresenta o maior rebanho comercial e atividade voltada

principalmente para a produção de carne. Na contemporaneidade, as áreas de

pastagem ocupam cerca de 170 milhões de hectares no Brasil. Sendo assim, as

pastagens são a forma mais econômica e prática de alimentação dos bovinos, com

isso torna-se prioridade aumentar a produção de forragens via otimização do

consumo e disponibilidade de nutrientes (Zanine & Macedo JR., 2006).

Contudo, aproximadamente 80% das áreas destinadas a produção de pasto

encontra-se em algum estado de degradação, limitando o potencial produtivo de

inúmeras cultivares forrageiras distintas. Fatores como solos inférteis, baixo

investimento tecnológico, aliado a altas taxas de lotação, são delineadores dessa

degradação, que tende a aumentar com a baixa procura por profissionais e

técnicos especializados.

A pecuária nacional apresenta uma sazonalidade, sendo justificado pelo alto

desenvolvimento forrageiro na época das águas e o inverso na seca, tendo como

forte variável, a chuva. Fato que ocorre anualmente e pode ser otimizado pelo

produtor, se este adotar uma adubação estratégica, aproveitando todo o potencial

genético da forrageira escolhida e consequentemente um alimento de maior

qualidade para o rebanho. O clima tropical unido a forrageiras de alto potencial

produtivo, proporciona uma atividade pecuária de baixo custo e alta rentabilidade,

desde que bem planejada e atribuídas técnicas cabíveis.

Material e Métodos

O experimento foi realizado no setor de forragicultura na Fazenda

experimental Capim Branco da Universidade Federal de Uberlândia, localizada no

município de Uberlândia –MG no período das secas do ano de 2017. Constituído

de 4 tratamentos (tabela 1) com 4 repetições, sendo destes: uma testemunha (sem

produto); testemunha (sem produto) + 50 kg de N/ha; ORO-GRASS (2L/ha);

ORO-GRASS (2L/ha) +50 kg de N/ha, em 16 parcelas experimentais com

tamanho único de 16m2 cada.

As parcelas foram implantadas em novembro de 2013, utilizando adubadeira

manual tipo entre covas com sementes da gramínea Brachiaria hibrida Convert

HD 364. No início do mês abril do ano de 2017, as parcelas foram rebaixadas a

aproximadamente 10 cm da altura do solo, manejo característico de vedação de

pasto e então, foi aguardado aproximadamente 15 dias para se fazer a aplicação

do adubo foliar e adubação de base. A aplicação do produto foi realizada em

22/04/2017, aproveitando a queda do regime de chuvas da região.

Após o estabelecimento do experimento as parcelas foram submetidas a

corte com roçadeira manual motorizada com intuito de simular um pastejo com

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lotação rotativa. As amostragens foram retiradas com o uso de armação metálica

de 1,0 x 0,50 m, colocadas à 15cm do solo em 4 pontos por parcela,

representativos a altura média de meta do pasto, onde toda forragem dentro da

armação foi cortada. Após o corte, as amostras foram armazenadas em saco

plástico identificados, pesadas e feitas quantificação e homogeneização da massa

de forragem. De cada amostra, foram apanhadas duas sub-amostras, sendo uma

para mensuração do teor de matéria seca e outra para separação manual dos

componentes morfológicos folha, colmo e material morto. Após a esses processos

as sub- amostra e todos os componentes morfológicos foram colocados para secar

em estufa a 65°C por 72 horas, obtendo assim o peso seco, que representa toda

porção nutricional da planta ao animal, com o peso seco dividido pelo peso verde

tem-se a matéria. As avaliações foram realizadas durante 3 ciclos de rebrotação

até vedação das parcelas, sendo avaliado com intervalo de 28 dias.

A partir da produção de forragem foi feito a estimativa de retorno econômico

com o uso das estratégias de adubação. Foram considerados os seguintes

parâmetros para cálculo econômico: Animais com 400 kg de peso vivo; Ingestão

de Matéria seca de 2,2% do peso vivo; eficiência de pastejo de 80%; ganho médio

diário de 600g por animal por dia; custo da ureia R$12000/t; Custo Orograss

R$50/há; diária animal no pasto R$0,25 (sal mineral, medicamentos, etc); Valor

de venda da arroba R$123,00.

Resultados e Discussão

Os resultados econômicos do presente experimento estão apresentados na

tabela 01. Nota-se como os dados que os custos com produtos foram maiores nas

parcelas submetidas ao tratamento com ureia + 2L de Orograss por hectare. Isso

indica que nesta situação o produtor teria um maior desembolso com tecnologia.

Entretanto, quando avaliada a produção de forragem, nota-se que neste tratamento

a produção foi maior se comparada aos demais, sendo 103% a mais que as

parcelas controle. Isso indica um aumento substancial com o uso da tecnologia.

Quando observamos a taxa de lotação (número de animais em pastejo),

percebe-se um aumento substancial com o uso das tecnologias, em virtude da

maior produção de forragem e consequentemente maior oferta de alimento para

que uma lotação maior pudesse ser suportada nestes pastos. Consequentemente,

com uma maior taxa de lotação, à medida que as tecnologias foram sendo

inseridas, a produção de @ por hectare também aumentou, seguida também da

receita bruta.

Quando observado a receita bruta menos o custo da tecnologia, verifica-se

que com o uso de ureia mais adubo foliar, possibilita melhores resultados. Sendo

assim, a diferença em reais para o controle, quando comparadas as tecnologias,

verifica-se também um grande aumento.

Finalizando, em termos percentuais fica claro que o uso, seja do adubo foliar

ou ureia exclusivo, ou então os dois associados, são percentualmente melhores do

que não se usar destas tecnologias no pasto. Quando extrapolados os valores para

uma área de 500 hectares, verifica-se que o produtor teria anta rentabilidade

quando do uso das tecnologias.

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TABELA 01. Estimativa de receita com o uso das tecnologias em Convert HD364

submetido a aplicação de adubo foliar e ureia na vedação do pasto, em uma área de

aplicação de 500ha

Tratamentos

CONTROLE UREIA

2L

OROGRASS/

HA

UREIA+2L

OROGRASS/

HA

Custo ureia R$0,00 R$133,00 R$0,00 R$133,00

Custo Orograss R$0,00 R$0,00 R$50,00 R$50,00

Operacional Orograss R$0,00 R$0,00 R$30,00 R$30,00

Operacional ureia R$0,00 R$50,00 R$0,00 R$50,00

Produção de forragem (kg de MS/ha)* 1684,29 2645,47 2486,27 3435,17

Número de animais em pastejo 60

dias** 2,55 4,01 3,77 5,20

Produção de @ ** 3,98 6,25 5,88 8,12

Receita bruta (R$/ha)** R$489,67 R$769,11 R$722,83 R$998,70

Custo da tecnologia (R$/ha)** R$0,00 R$183,00 R$80,00 R$263,00

Gastos com animais (sal, vacinas,

etc...)** R$38,28 R$60,12 R$56,51 R$78,07

Receita bruta - custo tecnologia

(R$/ha)** R$451,39 R$525,99 R$586,32 R$657,63

Diferença para o controle (R$/ha)** R$74,60 R$134,93 R$206,24

Diferença para o controle (%)** 17% 30% 46%

Diferença em 500 hectares de

aplicação**

R$37.298,

12 R$67.465,32 R$103.117,92

*Dado coletado; **Dado calculado

Conclusão

Em vista dos dados apresentados, é possível c que o uso de tecnologias de

adubação de pastos antes da vedação, seja ureia ou foliar exclusivo, ou os dois

combinados, aumentam a produção de forragem, taxa de lotação e rentabilidade do

produtor. Vale ressaltar que o uso combinado de ureia mais adubo foliar apresenta

melhor retorno econômico ao produtor.

Literatura citada

ZANINE, A.M. MACEDO JUNIOR, G.; Importância do consumo de fibra para

nutrição de ruminantes. Revista Eletrônica de Veterinária. v.7, n.4, p.1-12, 2006ª

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154

Análise de metabólitos hepáticos e energéticos em ovelhas adultas recebendo

volumoso extrusado com leveduras e óleo essencial como aditivos¹

Mylena Cristina Ribeiro Borges², Gilberto de Lima Macedo Junior³, Rosemar Alves de

Carvalho Júnior4, Tamires Soares de Assis

4, Karla Alves Oliveira

4, Carolina Moreira

Araújo4

1Trabalho financiado com recursos do CNPq. 2Graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal de Uberlândia . e-mail: [email protected] 3Professor Associado FAMEV/UFU. e-mail: [email protected] 4Mestrando do programa de pós graduação FAMEV/UFU. e-mail: [email protected],

[email protected], [email protected], [email protected].

Resumo: A inclusão de diferentes aditivos no volumoso extrusado da dieta dos

pequenos ruminantes possibilita maior rendimento na produção, pois melhora o

processo de absorção de nutrientes, auxilia no ganho energético e fermentação do

animal. O experimento ocorreu na Universidade Federal de Uberlândia em Outubro de

2017, no intervalo de tempo de quinze dias, sendo dez para adaptação e cinco para

coleta. Foram manuseadas 20 ovelhas adultas da raça Santa Inês com idade acima de

quatro anos, mantida em gaiolas metabólicas individuais de piso ripado suspenso,

dispostos de comedouro e bebedouro (padrão INCT). Os tratamentos foram

caracterizados pela inclusão de diferentes aditivos no volumoso extrusado: Foragge®

Essential; Foragge®

AA; Foragge® Factor; Foragge

®, fornecidos duas vezes ao dia, às

8:00 e 16:00 horas. O delineamento foi inteiramente ao acaso. As amostras de sangue

foram coletadas em três dias alternados, no período de coleta do experimento, para a

análise dos metabólitos hepáticos e energéticos - Colesterol, Triglicerideos, VLDL -

lipoproteína de muito baixa densidade e AST - enzima asparto transiminase. O estudo

dos metabolitos hepáticos e energéticos resultou-se em médias gerais dos tratamentos

fora dos valores de referência, com exceção da média dos triglicerídeos que

apresentaram um bom resultado evidenciando o aumento do fornecimento de energia

que a dieta concedeu aos animais.

Palavras–chave: aditivos, extrusado, metabólitos, volumoso, ovelhas

Analysis of hepatic and energetic metabolites in adult sheep receiving bulk

extruded with yeasts and essential oil as additives

Abstract: The inclusion of different additives in the extruded bulk of the diet of the

small ruminants allows a higher production yield, as it improves the process of nutrient

absorption, helps the energy gain and fermentation of the animal. The experiment took

place at the Federal University of Uberlândia in October 2017, at the interval of fifteen

days, ten for adaptation and five for collection. Twenty adult female sheep of the Santa

Inês breed, aged over four years old, were kept in individual cages of suspended slatted

floor, disposed of feeder and drinking fountain (standard INCT). The treatments were

characterized by the inclusion of different additives in the extruded bulk: Foragge®

Essential; Foragge® AA; Foragge® Factor; Foragge®, supplied twice a day at 8:00

a.m. and 4:00 p.m. The design was entirely randomized. Blood samples were collected

on three consecutive days in the collection period of the experiment for the analysis of

hepatic and energetic metabolites - Cholesterol, Triglycerides, VLDL - very low density

lipoprotein and AST - aspartic transiminase enzyme. The study of hepatic and energetic

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155

metabolites resulted in general means of treatments outside the reference values, except

for the average triglycerides that showed a good result evidencing the increase in the

energy supply that the diet gave the animals.

Keywords: additive, bulky, extruded, metabolites, sheep

Introdução

A produtividade na ovinocultura está ligada diretamente à boa alimentação

oferecida aos animais. Nesse sentido, vem sendo adotado a implementação de aditivos

na dieta do animal, visto que eles auxiliam no ganho energético – aditivos com inclusão

de óleos, melhora na fermentação, que consequentemente aumenta o processo de

absorção dos nutrientes e com isso proporciona uma melhora significativa na formação

de proteína microbiana no rúmen animal.

A avaliação dos metabolitos hepáticos e energéticos (Colesterol, Triglicerídeos,

VLDL e AST) proporciona análise para corrigir os desbalanços nutricionais do animal.

Entende-se que estudos buscam elucidar melhor a inter-relação entre o que é consumido

e qual resposta ou sinal metabólico venham a ocorrer, devam ser realizados com a

intenção primeira de adequações de manejo alimentar e nutricional e, por fim, da

possibilidade de se evitar a ocorrência de problemas de ordem produtiva e sanitária dos

rebanhos, como deve ser desejado (JUNIOR, 2010). O trabalho teve como objetivo

verificar os efeitos sobre o metabolismo energético e hepático de ovinos com a inclusão

de diferentes aditivos no volumoso extrusado.

Material e Métodos

O experimento foi efetuado na Universidade Federal de Uberlândia, na fazenda

experimental Capim Branco no setor de caprinos e ovinos, ocorreu em Outubro de

2017, no intervalo de tempo de quinze dias, sendo dez para adaptação e cinco para

coleta. Foram utilizadas 20 ovelhas adultas, com média de peso inicial de 64,40kg, de

idade acima de quatro anos, da raça Santa Inês. Os animais foram mantidos em gaiolas

metabólicas individuais de piso ripado suspenso, dispostos de comedouro e bebedouro

(padrão INCT).

A alimentação baseava-se nos produtos fornecidos pela empresa Nutratta® (tabela 1).

Os tratamentos foram caracterizados pela inclusão de diferentes aditivos no volumoso

extrusado: Foragge®

Essential – associado com óleo essencial, Foragge® AA –com

resíduo de levedura, Foragge® Factor –com levedura purificada, Foragge

® - sem

inclusão de aditivos, fornecidos duas vezes ao dia, às 8:00 e 16:00 horas. O volumoso

extrusado utilizado para a produção do Foragge® foi a Uruchloa.

Tabela 1. Composição bromatológica dos tipos de Foragge®

. Dados fornecidos pela

fabricante Nutratta.

Nutriente (%) Foragge®

Essential

Foragge®

Foragge®

AA

Foragge®

Factor

Matéria Seca 90,0 90,0 90,0 90,0

Proteína bruta 7,2 7,1 7,2 7,2

Fibra em detergente

Neutro

42,2 42,3 42,3 42,3

Fibra em detergente 26,3 26,3 26,3 26,3

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156

Foragge® Essential – associado com óleo essencial, Foragge

® AA – com resíduo de

levedura, Foragge® Factor –com levedura purificada, Foragge

® - sem inclusão de

aditivos

As amostras de sangue foram coletadas em três dias alternados durante o período

de coleta antes da primeira refeição do dia, foram realizadas por venupução jugular com

o auxilio de tubos Vacutainer sem anti-coagulante. Essas amostras foram centrifugadas

a 3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros separados em alíquotas, guardado em

microtubo e armazenados em freezer a -5ºC para uma analise laboratorial. Os

metabólitos proteicos determinados foram: Colesterol, Triglicerídeos, VLDL -

lipoproteína de muito baixa densidade - obtida pela divisão dos valores de triglicerídeos

por cinco e AST - enzima asparto transiminase. Não houve adição de mais nenhum

alimento, exceto sal mineral para ovinos.

O delineamento foi inteiramente ao acaso. Obteve-se cinco repetições por

tratamento. Todos os dados apresentam normalidade e homogeneidade. Para avaliação

dos resultados utilizou-se teste T (P<0,05).

Resultados e Discussão

Observa-se que o índice da média geral de colesterol (Tabela 2) está 6,6%

abaixo dos valores de referência e não apresentou diferença entre os tratamentos.

Tabela 2. Concentração dos metabólitos hepáticos e energéticos em função dos

tratamentos com volumosos extrusados com diferentes aditivos.

VLDL – obtida pela divisão dos valores de triglicerídeos por cinco. Médias seguidas de

letras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge® ES –associado com

óleo essencial; Foragge® AA –com resíduo de levedrua; Foragge® Factor –com

levedura purificada®; Foragge® - sem inclusão de aditivos; MG – média geral; CV (%)

– coeficiente de variação; VR: valor de referência (KANEKO, HARVEY e BRUSS,

1997).

O colesterol é imprescindível na formação de hormônios sexuais, na produção

das membranas das células, de sucos digestivos e vitamina D, além de desempenhar

Ácido

Extrato Etéreo 1,9 2,0 1,9 2,0

Matéria Mineral 3,7 3,7 3,7 3,7

NDT 55,7 55,8 55,8 55,7

Amido 25,5 25,6 25,4 25,5

Tratamentos Colesterol

(mg/dL)

Triglicerídeos

(mg/dL)

VLDL

(mg/dL)

AST (U/L)

Foragge®

42,86 14,40 2,88 111,40

Foragge® Essential 48,19 17,26 3,45 145,73

Foragge® AA 50,20 13,46 2,69 111,86

Foragge® Factor 53,00 14,26 2,85 130,73

MG 48,56 14,85 2,96 124,93

CV (%) 18,38 23,65 23,65 39,90

Valor de P

VR

0,3597

52-76

0,3698

9,0-30,0

0,3698

3-4

0,7884

0-90

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papel importante nos tecidos nervosos e originar sais biliares (LEONARDO, 2014). O

menor tamanho da partícula do volumoso extrusado, baixas quantidades de lipídeos

podem explicar os valores de colesterol abaixo da recomendação de literatura.

Nos resultados da tabela 2 os triglicerídeos não apresentaram diferenças entres os

tratamentos e a média geral obtida está dentro dos valores de referência. Esse indicador

bioquímico evidencia boa qualidade dos tratos fornecidos, pois indica o aumento do

fornecimento de energia que a dieta proveu. Os triglicerídeos servem, principalmente,

como fonte de energia metabólica celular, acumulando-se no tecido adiposo, seu

principal local de metabolismo endógeno nos ruminantes, de onde são mobilizados em

resposta às demandas de energia do corpo (ESPINOZA et al., 2008).

Não houve diferenças estatísticas de VLDL - lipoproteína de muito baixa

densidade (Tabela 2), semelhante aos triglicerídeos, entre os tratamentos. Ao comparar

os índices da média geral desse indicador bioquímico entende-se que seu nível está

abaixo de 1,33% do necessário. O VLDL possui como função transportar e secretar o

triglicerídeo endógeno (GODOY et.al., 2008). Mas como esse valor foi pequeno não

resultou em mudanças ao animal.

A média geral de AST - enzima asparto transiminase - está 38,8% acima do

valor de referência (Tabela 2). Essa enzima quando analisada acima das concentrações

consideradas normais, indica que o animal pode desenvolver lesão hepatocelular

secundária, devido à excessiva mobilização lipídica (SANTOS et.al., 2015).

Mesmo os dados das médias gerais apresentados (Tabela 2) indicarem resultados

fora do valor de referência não foram observados nenhum distúrbio metabólico nos

animais avaliados.

Conclusões

A inclusão de aditivos no Foragge® não promoveu alterações nas médias dos

metabólitos energéticos e hepáticos. Contudo não houve relato de distúrbio metabólico

durante o experimento.

Literatura citada

ESPINOZA, J. L. et al. Efecto de lasuplementación de grasas sobre lasconcentraciones

séricas de progesterona, insulina, somatotropina y algunos metabolitos de los lípidos e

novejas Pelibuey. Archivos de medicina veterinaria, v. 40, n. 2, p. 135-140, 2008.

GODOY, H.B.R. et.al. O uso da silagem de subprodutos da filetagem de peixe na

alimentação de suínos em crescimento – parâmetros séricos. Revista animal Science.

São Paulo, v. 45, n. 6, p. 430, 2008.

JÚNIOR, C.O.P., Perfil Metabólico Energético em dois Grupos Genéticos de Vacas

Holandês x Gir de Segunda Ordem de Parição em Dois Períodos da Lactação na Época

da Seca nos Trópicos. 2010. 15 f. Dissertação (Mestre em Ciências Veterinárias) -

Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, 2010.

KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of

domestic animals. 5 th ed. New York: Academic Press, 1997. P. 877-901

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158

LEONARDO, A. P. Composição dos ácidos graxos e teor de colesterol da carne de

ovinos pantaneiros. 2014. 28 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Faculdade de

Ciências Agrárias, Univerdidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2014.

SANTOS, R.P. et.al. Parâmetros sanguíneos de cordeiros em crescimento filhos de

ovelhas suplementadas com níveis crescentes de propilenoglicol. Revista Brasileira de

Ciências Agrárias. Recife, v.10, n.3, p.476, 2015.

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159

Avaliação de metodologias para estimativa de massa de forragem disponível em

capim-braquiária¹

Nathalia Tami Nishida2, Jorge Luis Malafatti

3, Lucas da Rocha Carvalho

4, Valdo

Rodrigues Herling5, Lilian Elgalise Techio Pereira

5

1Parte do trabalho de conclusão de curso da primeira autora 2Graduação em Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:

[email protected] 3Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, FZEA/USP. e-mail: [email protected] 4Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciências, na área de Ciência Animal e Pastagens, USP. e-mail:

[email protected] 5Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:

[email protected]; [email protected]

Resumo: Um dos principais desafios de sistemas baseados em pastagens é a elaboração

de planejamentos estratégicos capazes de incorporar a produção sazonal de forragem ao

longo do ano para definição das taxas de lotação a serem empregadas. As estimativas de

forragem apresentam-se como fundamentais para nortear o planejamento forrageiro

porém, os mesmos apresentam variação conforme a metodologia empregada. O objetivo

do trabalho foi analisar as possíveis diferenças encontradas nas metodologias de

estimativa de massa de forragem disponível e os seus impactos na taxa de lotação. O

experimento foi realizado na FZEA-USP, de dezembro de 2017 a março de 2018.

Realizaram-se 5 cortes em um intervalo médio de 21 dias no final de primavera e 28

dias no verão, e as avaliações de MFD foram realizadas sempre na condição pré-corte

(C1 em 01/12/17; C2 em 22/12/17, C3 em 13/01/18, C4 em 10/02/18 e C5 em

10/03/18). Foram monitoradas 6 parcelas (40 m²), sendo que três delas receberam 30

kg/ha/corte de N e as demais não receberam adubação. A MFD foi estimada pelas

seguintes metodologias: Salman, que considera toda a forragem acima do nível do solo

sem nenhum ajuste, DiasFilho, toda a forragem é colhida acima do nível do solo com

ajustes para eficiência de pastejo (50%) e perdas (30%); ‘Acima’, onde a MFD é

determinada acima da altura de resíduo (10 cm) mas sem correção para perdas,

‘AcimaP20’ e ‘AcimaP30’ similar ao anterior, mas com ajustes para perdas estimadas

em 20% e 30%, respectivamente. A metodologia proposta por Salman apresentou

valores superestimados em todos os ciclos. De forma geral, quanto maior a quantidade

de forragem que cresce acima da altura de resíduo (seja pela adoção de adubação ou

ajuste de manejo), mais próximas as estimativas de MFD e, por sua vez, das taxas de

lotação, obtidas por DiasFilho, AcimaP20 e AcimaP30.

Palavras–chave: adubação nitrogenada, método destrutivo, taxas de lotação,

Brachiaria decumbens

Instructions for elaborating abstract of IV Brazilian Symposium of Ruminant

Production

Abstract: One of the main challenges of pasture-based systems is the elaboration of

strategic plans capable of incorporating the seasonal forage production throughout the

year in order to define the stocking rates to be used. The estimatives of available forage

mass (AFM) are essential to guide the fodder planning, but significant differences in the

estimated values can be obtained according the method used for calculation. The aim of

this work was to analyze the possible differences in the AFM estimated from different

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160

methodologies as well as their impacts on stocking rates. The experiment was carried

out at FZEA-USP, from December 2017 to March 2018. Five cuts were performed at

21-day-intervals during late spring and 28 days-interval during summer, and AFM

evaluations were always performed at pre-harvest (C1 in 01/12/17; C2 in 22/12/17, C3

in 13/01/18, C4 in 10/02/18 and C5 in 10/03/18). Six plots (40 m²) were monitored,

three of which received 30 kg/ha/cut of N and the others did not receive fertilization.

For all plots, AFM was estimated by the following methodologies: Salman, which

considers all the material above ground level without any adjustment, DiasFilho,

material is harvested above ground level but AFM is adjusted for grazing efficiency

(50%) and losses (30%); and estimates of herbage mass above the stubble

recommended for the species (10 cm), with no correction for losses ('Above'), or with

losses estimated in 20% ('AboveP20') and 30% ('AboveP30'). Salman's methodology

resulted in overestimated values in all cycles. In a general way, as high is the amount of

forage growing above the stubble (as a result of fertilization or adjustments in grazing

management) as similar will be the estimated values of AFM, and thus the stocking

rates, from DiasFilho, AboveP20 and AboveP30.

Keywords: Brachiaria decumbens, destructive method, nitrogen fertilization, stocking

rates

Introdução

A eficácia dos sistemas baseados em pastagens está intimamente ligada a adoção

de estratégias de manejo que assegurem quantidade e qualidade da forragem a ser

consumida pelo animal. Todavia, um dos principais desafios desses sistemas é a

elaboração de planejamentos estratégicos capazes de incorporar a produção sazonal de

forragem ao longo do ano para definição das taxas de lotação a serem empregadas.

Segundo Cóser et al. (2002), há uma estreita ligação entre a frequência de estimativa da

disponibilidade de forragem e um adequado manejo da pastagem, tendo em vista que,

com o aumento da frequência de avaliações, é possível mitigar a ocorrência de sub ou

superpastejo. Os métodos diretos de estimativa da massa de forragem são baseados na

extração de parte ou de toda a forragem existente desde o nível do solo, sendo que a

adoção de um ou outro método possui impacto direto sobre as taxas de lotação

preconizadas. Os cortes são realizados com o auxílio de um quadrado de área conhecida

e, consecutivamente, realiza-se a extração de toda forragem contida em seu interior ao

nível do solo (Salman, 2006) ou acima da altura de resíduo recomendada para a espécie

forrageira utilizada. Todavia, Salman et al. (2006) relatam que essa ligeira diferença

entre as duas formas de determinação da massa de forragem disponível no método

direto pode causar uma diferença significativa na estimativa, uma vez que a parte

inferior do dossel, que não é consumida pelos animais, é considerada no cálculo, no

caso de cortes realizados rentes ao solo. Além disso, os possíveis impactos da adoção

destes distintos métodos de estimativa de massa sobre as taxas de lotação a serem

empregadas são pouco explorados na literatura. Dessa forma, o presente trabalho teve

por objetivo analisar as possíveis diferenças encontradas nas metodologias de estimativa

de massa de forragem disponível e os seus impactos na taxa de lotação em pastos de

Brachiaria decumbens cv. Basilisk na época das águas.

Material e Métodos

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161

O experimento foi realizado na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de

Alimentos (FZEA-USP), Campus Fernando Costa, Pirassununga-SP (21º 36’ N; 47º 15’

W, 620 m de altitude), no período de dezembro de 2017 a março de 2018. A área

experimental, constituída de capim braquiária (Brachiaria decumbens cv. Basilisk), foi

dividida em 6 parcelas de 40 m², sendo que três delas receberam (com adubação) 30

kg/ha/corte de N (nitrato de amônio 32%) e as demais não receberam adubação

nitrogenada (sem adubação). A adubação de correção consistiu na aplicação de 45 kg/ha

de P2O5 (superfosfato triplo 46%) e 40 kg/ha de K2O (cloreto de potássio), aplicadas de

forma parcelada em 20/10 e 01/12/17. Roçada de uniformização a 10 cm foi realizada

em novembro de 2017, sendo os ciclos (C) subsequentes monitorados. Realizaram-se 5

cortes em um intervalo médio de 21 dias na época de final de primavera e 28 dias no

verão (Pereira et al., 2018), e as avaliações de massa de forragem (MF) foram realizadas

em cada ciclo, sempre na condição pré-corte, nas seguintes datas: C1 em 01/12/17; C2

em 22/12/17, C3 em 13/01/18, C4 em 10/02/18 e C5 em 10/03/18. Os tratamentos

consistiram em duas metodologias que se baseiam no corte da forragem ao nível do

solo, sendo estas de Salman (2006), que considera toda a forragem acima do nível do

solo sem nenhum ajuste, e Dias-Filho (2012), que sugere ajustes para eficiência de

pastejo (valor recomendado de 50%) e perdas (em torno de 30%); e outras três

metodologias que consideram a estimativa de massa acima da altura de resíduo

recomendada para a espécie (10 cm), mas sem correção para perdas (‘Acima’), ou com

ajustes para perdas estimadas em 20% (‘AcimaP20’) e perdas de 30% (‘AcimaP30’). Os

tratamentos principais (dose de N e metodologias) foram alocados em um arranjo

fatorial 2 x 5, e distribuídos em um delineamento em blocos completos casualizados,

com 3 repetições, sendo os ciclos avaliados separadamente. A análise dos dados foi feita

com o PROC MIXED, do SAS®, as médias foram estimadas pelo LSMEANS, e a

comparação entre elas realizada com o comando ‘PDIFF’. Diferenças foram declaradas

significativas quando P<0,05.

Resultados e Discussão

Houve efeito da dose de nitrogênio e metodologia adotada em todos os ciclos de

avaliação (Tabela 1). A metodologia proposta por Salman apresentou-se sempre com

maiores estimativas que as demais, reforçando que ao computar a quantidade de

forragem ao nível do solo sem nenhum ajuste, resulta em super-estimativa da massa de

forragem disponível (MFD), dado que o animal não ingere o estrato abaixo da altura de

resíduo (Salman et al., 2006). A adubação resultou em valores médios de MFD cerca de

45% maiores em C1 e C2, e 91% maiores em C3, C4 e C5. Nos pastos que não

receberam adubação, os valores de MFD acima da altura de resíduo corresponderam a,

em média, 34% da massa de forragem total, enquanto nos dosséis adubados, esse valor

correspondeu a 45%. Isso indica que, em pastos não adubados, as taxas de lotação

calculadas seriam superestimadas também em Dias Filho, já que nesta foi considerado

que 50% da massa de forragem total estaria disponível para consumo. Houve interação

entre dose de nitrogênio e metodologia em C2 e C3. Em C2, não foram registradas

diferenças entre os métodos DiasFilho, Acima, AcimaP20 e AcimaP30 para pastos sem

adubação, enquanto menores valores foram estimados em AcimaP30 em pastos

adubados. Em C3, para ambos, pastos sem adubação ou com adubação, e em C4,

menores valores foram estimados por AcimaP20 e AcimaP30 comparativamente aos

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162

demais métodos. Em C5, novamente, não houveram diferenças entre os métodos

DiasFilho, Acima, AcimaP20 e AcimaP30.

As taxas de lotação médias estimadas (UA/ha considerando 2,5% de consumo)

pelo método DiasFilho em pastos adubados e não adubados foram, respectivamente, 3,6

e 5,4, enquanto em AcimaP20 os valores foram de 2,6 e 5,5 e AcimaP30 de 2,3 e 4,8,

respectivamente. O que se observa, de forma geral, é que quanto maior a quantidade de

forragem que cresce acima da altura de resíduo (seja pela adoção de adubação ou ajuste

de manejo), mais próximas as estimativas de MFD e, por sua vez, das taxas de lotação,

entre os métodos DiasFilho, AcimaP20 e AcimaP30. Entretanto, essa espécie forrageira

possui ampla plasticidade de adaptação, sendo capaz de modificar seu padrão de

crescimento e alocar parte de suas estruturas abaixo da altura de resíduo (Pereira et al.,

2018). Como consequência, a forragem efetivamente disponível acima do resíduo varia

entre 30 e 40% nessa espécie, particularmente sob menores doses de adubação, fato que

torna os métodos AcimaP20 e AcimaP30 mais adequados para estimativa da MFD

nessa situação.

Tabela 1 – Massa de forragem disponível (kg/ha de MS) em função de distintas

metodologias de estimativa, ao longo de cinco ciclos de avaliação durante a época das

águas, em pastos de Brachiaria decumbens cv. Basilisk. Ciclos de

avaliação C1 C2 C3 C4 C5

Metodologias de

estimativa

Média Sem

adubação

Com

adubação

Sem

adubação

Com

adubação

Média Média

Salman 3797 A 3148 Ab 5431 Aa 3032 Ab 4619 Aa 3539 A 5188 A

DiasFilho 1329 B 1102 Bb 1901 Ba 1061 Bb 1617 Ca 1239 B 1816 B

Acima 1550 B 962 Bb 2094 Ba 1010 BCb 2031 Ba 943 B 2341 B

AcimaP20 1240 B 769 Bb 1675 Ba 808 Cb 1625 Ca 755 BC 1873 B

AcimaP30 1085 BC 673 Bb 1466 Ca 707 Cb 1422 Ca 660 C 1639 B

E.P.M.4 ± 121,4 ± 175,6 ± 175,6 ± 112 ± 112 ± 218,4 ± 298

P-valor

Dose de N <0,0001 0,0382 <0,0001 <0,0001 0,0026

Metodologia <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001 <0,0001

Dose x

Metodologia

0,3317 0,0021 0,0022 0,1301 0,8566

¹C1, C2, C3, C4 e C5 correspondem, respectivamente, às avaliações de massa de forragem disponível

realizadas nas datas 01/12/17, 22/12/17, 13/01/18, 10/02/18 e 10/03/18; ²Pastos com adubação receberam

o equivalente a 45 kg/ha de N após cada corte. 3Letras iguais, maiúsculas nas colunas e minúsculas nas

linhas, não diferem entre si pelo teste t-student (P>0,05); 4EPM, erro padrão médio.

Conclusões

A metodologia proposta por Salman resulta em superestimativas da massa de

forragem disponível. O método DiasFilho, considerando uma eficiência de pastejo de

50%, bem como o método ‘Acima’ sem correção de perdas, não são capazes de

expressar corretamente a massa de forragem disponível em pastos de Brachiaria

decumbens cv. Basilisk submetidos a baixas doses de adubação, sendo os métodos

AcimaP20 e AcimaP30 mais adequados para estimativa da MFD nessa situação.

Literatura citada

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163

CÓSER, A.C.; MARTINS, C.E.; DERESZ, F. Metodologias para estimativa de

produção de forragem em pastagens de capim-elefante. Juiz de Fora: Embrapa,

2002.

DIAS-FILHO, M. B. Formação e Manejo de Pastagens. Belém: Embrapa, 2012. 6 p

PEREIRA, L.E.T. et al. Morphogenetic and structural characteristics of signal grass in

response to liming and defoliation severity. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 48, p.

1-11, 2018.

SALMAN, A. K. D. Método do quadrado para estimar a capacidade de suporte de

pastagens. Embrapa Rondônia, 2006.

SALMAN A. K. D.; SOARES J. P. G.; CANESIN R. C. Métodos de amostragem

para avaliação quantitativa de pastagens. Porto Velho, RO: Embrapa 2006.

Page 164: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

164

Avaliação do metabolismo energético de ovelhas gestantes alimentadas com

diferentes fontes lipídicas¹

Luciana Melo Sousa2, Thauane Ariel Valadares de Jesus, Maria Júlia Pereira de

Araújo², Adriana Lima Silva², Marco Túlio Santos Siqueira², Gilberto de Lima Macedo

Júnior3

1Parte do trabalho de conclusão de curso da primeira autora. 2Estudantes de Zootecnia. FAMEV, UFU. E-mail: [email protected] 3Professor do curso de Zootecnia, FAMEV/UFU. Uberlândia, MG.

Resumo: As principais fontes de lipídeos para a alimentação de ruminantes são os

óleos, as gorduras protegidas e as sementes de oleaginosas. Todos esses alimentos

precisam ser mais estudados na alimentação de ovelhas gestantes, a fim de maximizar o

consumo de energia e evitar distúrbios metabólicos. Objetivou-se avaliar o efeito da

inclusão de diferentes fontes lipídicas sobre o metabolismo energético de ovelhas

gestantes. Foram utilizadas 24 ovelhas, com 60 dias de gestação no início do

experimento, idade média de 12 meses e peso corporal médio de 50kg. O experimento

foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, durante 90 dias. Foram utilizados

três concentrados com diferentes fontes de gordura: controle, nutrigordura (gordura

protegida de palma) e caroço de algodão. A avaliação dos metabólitos energéticos foi

feita quinzenalmente sempre pela manhã, antes da primeira refeição do dia. O

delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com repetição no tempo. Os

metabólitos energéticos analisados foram: colesterol total e frações (HDL e LDL),

triglicerídeos e VLDL. Os metabólitos estudados apresentaram dentro dos valores de

referência ao longo do período e em função do tratamento. Destaca-se o aumento do

colesterol total e suas frações no tratamento com gordura protegida. Conclui-se que a

inclusão de diferentes tipos de gordura altera o metabolismo energético de ovelhas

gestantes.

Palavras–chave: gordura, metabólitos, nutrição, ruminantes

Evaluation of energetic metabolism of pregnant sheep fed different fat sources

Abstract: The main sources of fat for ruminants diets are oils, protected fats and

oilseeds. All these food need to be further studied on pregnant sheep feeding in order to

maximize energy consumption and avoid metabolic disorders. The objective was to

evaluate the inclusion of different fat sources on the energetic metabolism of pregnant

sheep. Twenty four sheep were used - 60 days of pregnancy at the beginning of the

experiment, with an average age of 12 months and average weight of 50 kg. The

experiment was conducted at the Federal University of Uberlândia, during 90 days.

Three concentrates with different sources of fat were used: control, nutrigordura

(rumen-protected palm fat) and cottonseed. The evaluation of energetic metabolites was

made biweekly on the morning, always before the first meal of the day. The

experimental design was completely randomized. The energetic metabolites analyzed

were: total cholesterol and parts (HDL and LDL), triglycerides and VLDL. The

metabolites studied presented regular values compared to the references throughout the

period and due to the treatment. It is important to highlight the total cholesterol

increasement and its fractions in the treatment with protected fat. It was concluded that

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165

the inclusion of different fat sources increases the energetic metabolism of pregnant

sheep.

Keywords: fat, metabolites, nutrition, ruminants

Introdução

As gorduras protegidas são ácidos graxos que são combinados com cátions

bivalentes como o cálcio, formando sais insolúveis no pH ruminal, que confere proteção

a esses ácidos graxos permitindo passarem pelo rúmen “inertes”. Estes ácidos graxos de

cadeia longa fornecidos através da suplementação lipídica são absorvidos e utilizados

com alta eficiência para a lactação, pois podem ser diretamente transferidos para a

gordura do leite poupando energia para outras funções produtivas da glândula mamária

(Palmquist, 1980).

Sabe-se que o peri-parto é um período crítico, e que nele há maior possibilidade

de ocorrerem perdas econômicas. Estas perdas, normalmente decorrentes de manejo

inadequado, podem desencadear problemas metabólicos, nutricionais e reprodutivos

(Caldeira et al., 2007). A avaliação dos parâmetros metabólicos em função de diferentes

alimentos e ou rações permite visualizar o efeito desses no metabolismo dos animais,

auxiliando assim o entendimento das respostas produtivas.

O objetivo do presente estudo é avaliar o efeito da inclusão de diferentes fontes

lipídicas sobre o metabolismo energético de ovelhas gestantes.

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, Fazenda

Experimental Capim Branco, setor de ovinos e caprinos, durante os meses de agosto a

novembro de 2015. Foram utilizadas 24 ovelhas gestantes, com idade média de 12

meses e peso corporal médio de 50 kg. Os animais foram mantidos em três baias

coletivas (oito animais em cada baia) de piso ripado com saleiro, cocho externo e

bebedouro de tambor de plástico, que era limpo e reposto todos os dias. Passaram por

procedimento padrão de pesagem, identificação, vermifugação e posteriormente foram

sorteados nos tratamentos. Esses animais receberam três rações com diferentes fontes de

gordura: controle (isento de gordura suplementar), nutrigordura (gordura protegida de

palma) e caroço de algodão inteiro (Tabela 1). E silagem de milho (volumoso).

Tabela 1. Ingredientes e suas proporções nos concentrados experimentais (%).

Ingredientes Controle Nutrigordura® Caroço de Algodão

Farelo de milho 75,40 65,32 68,60

Farelo de soja 25,60 24,68 19,40

Sal mineral 1,0 4,0 2,0

Ureia 1,0 1,0 1,0

Gordura protegida XXX 5,0 XXX

Caroço de algodão inteiro XXX XXX 9,0

O experimento teve duração de 90 dias. As ovelhas estavam com

aproximadamente 60 dias de gestação no início do experimento. Antes desse período as

ovelhas estavam em pasto de capim Urochloa brizantha, cultivar Marandu recebendo

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166

suplemento proteico e energético na forma de proteinado. As mesmas foram

protocoladas e foi realizado ultrassonografia para a confirmação da prenhez.

As rações foram balanceadas segundo o NRC (2007) para ovelhas em gestação.

As mesmas foram compostas por silagem de milho e os concentrados descritos na tabela

1. A relação volumoso:concentrado foi de 60:40, respectivamente. A oferta de ração foi

à vontade (cerca de 3,5% do peso corporal), de forma que sobrasse 10% da ração total

fornecida. O fornecimento da ração ocorreu duas vezes ao dia (8 e 16 horas).

As coletas de sangue foram realizadas quinzenalmente durante a gestação (60,

75, 90, 105, 120, 135 e 150 dias, no momento do parto), estas ocorreram no período da

manhã antes da primeira alimentação, por venopunção jugular com auxílio de

vacuntainner e tubos sem anticoagulante. Logo após as amostras de cada animal foram

centrifugadas e pipetadas em eppendorfs para posterior análise laboratorial usando kit

comercial da Lab Test®. Os metabólitos energéticos que foram determinados são:

colesterol total (mg/dL) e frações – HDL e LDL, triglicerídeos (mg/dL), VLDL e as

relações Colesterol/HDL e LDL/HDL.

O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com

medidas repetidas no tempo. Cada tratamento teve oito repetições (animais). As médias

foram comparadas pelo teste SNK a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Na tabela 2 podem ser observadas as médias dos metabólitos energéticos.

Observa-se diferença estatística para HDL entre tratamentos e para o colesterol e LDL

houve interação entre período e tratamento. Para o período gestacional, apenas as

relações CT/HDL e LDL/HDL não apresentaram diferença significativa.

A média geral do colesterol apresentou-se dentro da faixa de valores normais

(52-76 mg/dL) preconizado por Kaneko et al., (2008). Os níveis de colesterol total são

indicadores adequados do total de lipídeos no plasma, pois correspondem a,

aproximadamente, 30% do total e tem relação direta com alimentação do animal (Villa

et al., 2009). Nota-se maior valor no tratamento nutrigordura (135 dias de gestação),

uma vez que contém gordura protegida rica em ácido linoleico. O ácido linoleico (n-6),

segundo Gulliver et al. (2012), está associado à elevação nos níveis de colesterol total. É

verificado menor valor de colesterol e LDL no tratamento com caroço de algodão, o que

pode estar relacionado com o perfil de ácidos graxos dessa fonte lipídica.

Tratamento Triglicerídeos

(mg/dL) HDL (mg/dL) VLDL (mg/dL) CT/HDL LDL/HDL

Controle 22,78 12,19 B 4,55 5,02 3,60

Nutrigordura 25,82 15,00 A 5,08 4,66 3,28

Algodão 23,57 14,23 AB 4,71 4,40 3,01

Período (dias

de gestação)

Triglicerideos1

(mg/dL) HDL2 (mg/dL)

VLDL3

(mg/dL) CT/HDL LDL/HDL

60 30,55 10,00 6,06 4,14 2,55

75 17,70 14,37 3,54 3,12 1,98

90 21,29 14,91 4,25 4,56 3,26

105 31,82 13,78 6,36 5,06 3,55

120 26,40 16,20 5,28 5,07 3,43

135 23,71 18,57 4,74 5,05 3,50

Parto 16,81 11,75 3,36 6,98 5,62

MG 23,90 13,77 4,77 4,70 3,30

CV 20,56 32,56 20,45 31,58 39,32

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167

Interação Tratamento x Período – Colesterol (mg/dL)

Período/Trat. Controle4 Nutrigordura5 Algodão6

60 31,83 37,66 37,33

65 44,25 43,00 42,75

90 58,37 71,42 57,44

105 58,62 70,42 60,62

120 68,75 81,33 71,66

135 73,50 AB 104,50 A 64,66 B

Parto 58,66 68,60 76,40

MG = 57,22 CV = 20,71

Interação Tratamento x Período – LDL (mg/dL)

Período/Trat. Controle7 Nutrigordura8 Algodão9

60 18,53 21,76 20,70

65 29,90 27,92 24,70

90 40,93 52,40 38,00

105 42,30 44,82 43,57

120 48,45 67,66 48,80

135 69,20 AB 98,40 A 60,60 B

Parto 45,45 52,48 59,32

MG = 40,61 CV = 25,97

Valores de referência (Kaneko et al., 2008)

Triglicerídeos

(mg/dL) 9-30

HDL (mg/dL) VLDL (mg/dL) Colesterol (mg/dL)

52-76

LDL (mg/dL)

1 y=12,103934 + 0,315254x – 0,001775x² R²=16,37%; 2 y=-10,787751 + 0,476988x – 0,002102x² R²=56,35%; 3

y=2,262057 + 0,065837x – 0,000367x² R²=16,48%; 4 y=-70,580357 + 2,215377x – 0,008856x² R²=93,00%; 5 y=-

100,075170 + 2,855911x – 0,011041x² R²=76,07%; 6 y=14,884127 + 0,417275x R²=88,95%; 7 y=-62,487202 +

1,701769x – 0,006214x² R²=77,80%; 8 y=-100,030119 + 2,461114x – 0,008904x² R²=64,41%; 9 y=-7,372857 +

0,472524x R²=96,13%; HDL: lipoproteína de alta densidade; VLDL: lipoproteína de densidade muito baixa, CT:

Colesterol, LDL: lipoproteína de baixa densidade, MG: média geral, CV: coeficiente de variação

Ghoreishi et al. (2007) sugeriram que dieta suplementada com gordura aumenta

o nível plasmático e folicular do colesterol ligado às HDL-colesterol, o que foi

verificado neste experimento, em que o valor de colesterol total e suas frações foi maior

no tratamento suplementado com gordura protegida. Segundo Freitas Júnior et al.

(2010), o aumento na concentração de colesterol total no sangue ocorre em razão da

elevação da demanda necessária para digestão, absorção e transporte de ácidos graxos

de cadeia longa ingeridos, presentes nas fontes de gordura, o que poderiam, também,

explicar as elevações verificadas nos níveis de colesterol do tratamento nutrigordura. O

aumento da HDL traz benefícios ao animal, pois essa lipoproteína faz o transporte do

colesterol para o fígado, onde pode ser metabolizado e gerar energia ao animal.

Foram observadas equações quadráticas para os metabólitos estudados em

função do período, com exceção, da variável colesterol no tratamento com caroço de

algodão. As equações quadráticas nos mostram que os animais diminuíram o nível

desses metabólitos próximo ao parto, o que pode estar relacionado com a capacidade de

consumo no final da gestação, que diminui à medida que o parto se aproxima.

Os triglicerídeos são moléculas que consistem em três cadeias longas de ácidos

gordos esterificados para uma molécula de glicerol e têm por função basicamente

estocar energia (Lehninger, 2005). No presente estudo, a média geral dos triglicerídeos

apresentou-se dentro da faixa preconizada (9-30 mg/dL) (Kaneko et al., 2008). A

regulação da síntese dos triglicerídeos não é completamente entendida, de modo que

ocorre de diferentes maneiras entre os tecidos. Contudo, sabe-se que esse processo de

síntese ocorre em uma célula adiposa, o triglicerídeo permanecerá nessa célula, sendo

estocado sob a forma de gotícula lipídica. Se a síntese ocorrer no fígado, normalmente

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será exportado para o tecido adiposo sob a forma de VLDL. A lipoproteína VLDL

encontrou-se dentro dos valores de referência.

Os metabólitos estudados apresentaram dentro dos valores de referência ao

longo do período e em função do tratamento. Destaca-se o aumento do colesterol total e

HDL no tratamento com gordura protegida, justificado pelo maior consumo de ácidos

graxos na ração, que proporcionou elevação das respectivas frações relativas ao

metabolismo de lipídeos, transportadas no sangue (Freitas Júnior et al., 2010) e pela

utilização de uma silagem provavelmente de boa qualidade nutricional.

Conclusões

O avanço do período gestacional provocou alterações em todos os metabólitos

estudados, dando ênfase ao aumento da concentração de colesterol total e suas frações

no tratamento com gordura protegida. Contudo, os resultados estão dentro do normal da

espécie. A suplementação de ovelhas gestantes com lipídeos é interessante do ponto de

vista metabólico.

Literatura citada

Caldeira R.M., Belo A.T., Santos C.C., Vazques M.I. & Portugal A.V. 2007. The effect

of body condition score on blood metabolites and hormonal profiles in ewes. Small

Rum. Res. 68:233-241.

Freitas Júnior, J.E.; Rennó, F.P.; Prada e Silva, L.F.; Gandra, J.R.; Maturana Filho, M.;

Foditsch, C.; Venturelli, B.C. Parâmetros sanguíneos de vacas leiteiras suplementadas

com diferentes fontes de gordura. Ciência Rural, v.40, n.4, p.950- 956, 2010.

Gulliver, C.E.; Friend, M.A.; King, B.J.; Clayton, E.H. The role of omega-3

polyunsaturated fatty acids in reproduction of sheep and cattle. Animal Reproduction

Science, v.131, n.1-2, p.9- 22, 2012.

Ghoreishi, S.M.; Zamiri, M.J.; Rowghani, E.; Hejazi, H. Effect of a calcium soap of

fatty acids on reproductive characteristics and lactation performance of fat-tailed sheep.

Pakistan Journal of Biological Sciences, v.10, n.14, p.2389-2395, 2007.

Kaneko J.J., Harvey J.W. & Bruss M.L. 2008. Clinical Biochemistry of Domestic

Animals. 6th ed. Academic Press, San Diego. 916p.

Lehninger, A. L. Principles of Biochemistry. 4th ed. Freeman Press. 2005.

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Avaliação do metabolismo protéico em borregas alimentadas com níveis crescentes

de um complexo enzimático exógeno¹

Marcio Henrique Viana2, Jhone Tallison Lira de Sousa

3, Adriana Lima Silva

4, Marco

Túlio Santos Siqueira4, Gilberto de Lima Macedo Junior

5, Luciano Fernandes Sousa

6

1Parte da tese de doutorado do segundo autor. 2Mestre em Ciência Animal, Departamento de Reprodução Animal, Escola de Veterinária – UFMG. E-mail:

[email protected] 3Doutorando do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT. 4Discente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 5Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 6Docente do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT.

Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar a suplementação de níveis crescentes de

complexo enzimático na dieta de borregas e seu reflexo no metabolismo proteico.

Foram utilizadas 5 borregas com 8 meses de idade. As dietas foram calculadas para um

com ganho de peso médio diário de 200 g.dia-1. O delineamento experimental utilizado

foi quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando

25 unidades experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%)

calculada em função do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-1.dia-1).

Para determinação do perfil bioquímico proteico foi analisado as concentrações de

proteínas totais, albumina, creatinina, ácido úrico e uréia. Não houve diferença

significativa (P>0,05) para concentrações sanguíneas de creatinina, uréia, ácido úrico e

proteínas totais. Para as concentrações séricas de albumina houve diferença significativa

(P<0,05) apresentando comportamento linear decrescente e diminuição de 0,085 mg/dL

para cada 0,5% de inclusão do complexo enzimático. No presente estudo não foi

observado diferenças nas concentrações séricas da maioria dos componentes proteicos

do sangue, creatinina, uréia, ácido úrico e além das proteínas totais sob efeito de

suplementação de complexo enzimático na dieta. No entanto, para concentrações séricas

de albumina foi observado diminuição significativa com aumento da inclusão do

complexa enzimático na dieta.

Palavras–chave: metabolismo, nutrição, proteína sérica, ruminantes

Evaluation of protein metabolism in ewes fed with increasing levels of an

exogenous enzyme complex¹

Abstract: The objective of this work was to evaluate the supplementation of increasing

levels of enzyme complex in the diet of lambs and their reflex in the protein

metabolism. Five lambs, 8 months old, were used. The diets were calculated for one

with a daily average weight gain of 200 g.day-1. The experimental design used was 5x5

Latin square, with 5 treatments and 5 replicates per treatment, totaling 25 experimental

units, with percentages of enzymes (0.0, 0.5, 1.0, 1.5 and 2.0%) calculated in function

of the intake dry matter of animal day (IDM.animal-1.day-1). To determine the protein

biochemical profile, total protein, albumin, creatinine, uric acid and urea concentrations

were analyzed. There was no significant difference (P> 0.05) for blood concentrations

of creatinine, urea, uric acid and total proteins. For serum albumin concentrations, there

was a significant difference (P <0.05) with decreasing linear behavior and a decrease of

0.085 mg/dL for each 0.5% inclusion of the enzymatic complex. In the present study no

differences were observed in serum concentrations of most of the protein components of

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blood, creatinine, urea, uric acid and in addition to total proteins under the effect of

enzyme complex supplementation in the diet. However, for serum albumin

concentrations a significant decrease was observed with increased inclusion of the

enzymatic complex in the diet.

Keywords: metabolism, nutrition, ruminants, serum protein

Introdução

O plasma sanguíneo, de acordo com sua composição, reflete a situação

metabólica dos tecidos animais, de forma a poder avaliar lesões teciduais, transtornos no

funcionamento de órgãos, adaptação do animal diante de desafios nutricionais e

fisiológicos, além de desequilíbrios metabólicos específicos ou de origem nutricional.

A concentração sanguínea de um determinado metabólito é indicador do volume

de reservas de disponibilidade imediata. Essa concentração é mantida dentro de certos

limites de variações fisiológicas, consideradas como valores de referência ou valores

normais. Alguns que apresentam níveis sanguíneos fora dos valores de referência são

animais que podem estar em desequilíbrio nutricional ou com alguma alteração orgânica

que condiciona uma diminuição na capacidade de utilização ou biotransformação dos

nutrientes (WITTWER, 2000).

A proteína da dieta desempenha um papel importante na nutrição de ruminantes,

pois, além de fornecer aminoácidos, é também uma fonte de nitrogênio para a síntese de

proteína microbiana. Dessa forma, é considerada como um importante nutriente, na

maioria das vezes o mais caro da dieta, que deve ser utilizado de forma eficiente

(CHERDTHONG & WANAPAT, 2010).

O objetivo deste trabalho foi avaliar as diferenças do perfil bioquímico proteico

de borregas submetidas a alimentação com diferentes níveis de complexo enzimático na

dieta.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no

Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de

Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Todos os procedimentos foram

aprovados pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da UFU, registrado

pelo protocolo de nº 017/16.

Foram utilizadas cinco borregas, com peso inicial médio de 61,16 ± 5,80 kg e

aproximadamente oito meses de idade. No período de adaptação, todos os animais

foram vermifugados, identificados, pesados e distribuídos aleatoriamente em gaiolas

metabólicas, as quais eram providas de comedouro, bebedouro, cocho com sal mineral e

dispositivo apropriado para coleta de fezes e urina. As dietas foram calculadas para

atender às exigências nutricionais de borregas de porte médio, com ganho médio diário

de 200 g.dia-1. As dietas foram fornecidas duas vezes ao dia, às 08 e às 16h:00, na

forma de ração total misturada (RTM). O delineamento experimental utilizado foi

quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25

unidades experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%)

calculados de acordo com as recomendações do fabricante, sendo cada porcentagem de

enzima calculada em função do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-

1.dia-1).

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Para determinação do metabolismo proteico foi analisado as concentrações de

proteínas totais, albumina, creatinina, ácido úrico e ureia. Todas as amostras foram

processadas em analisador bioquímico automatizado, usando kit comercial da Lab Test.

As colheitas de sangue foram por venopunção jugular com auxílio de vacuntainer.

Todas as colheitas de sangue foram realizadas no período da manhã, antes do

fornecimento da primeira alimentação. As amostras de sangue coletadas foram

centrifugadas a 5000 rotações por minuto (RPM) por 10 minutos, sendo os soros

separados em alíquotas, guardados em microtubos e armazenados em freezer a -5ºC

para posterior análise laboratorial. As análises das amostras sanguíneas obtidas durante

o período experimental foram procedidas no Laboratório de Análise de Alimentos

pertencente ao curso de Zootecnia da UFU, campus Umuarama.

As análises estatísticas foram realizadas utilizado e as médias dos tratamentos

sendo avaliadas por estudo de regressão com nível de significância de 5% de

probabilidade.

Resultados e Discussão

Na Tabela 1 é apresentado o perfil bioquímico sanguíneo de borregas

alimentadas com níveis crescentes do complexo enzimático exógeno. Pode-se observar

que não houve diferença significativa (P>0,05) para creatinina tendo média de 0,84

mg/dL situada abaixo dos valores recomendados que são 1,2 - 1,9 mg/dL (KANEKO et

al., 2008). Não houve diferença significativa (P>0,05) para ureia apresentando valor

médio de 65,8 mg/dL estando acima dos valores recomendados que são 17,12 – 42,8

(GONZÁLEZ e SILVA, 2006). A concentração sanguínea de ureia está em relação

direta com o aporte proteico da ração, bem como da relação energia e proteína da dieta

(GONZÁLEZ, 2000), no entanto, as dietas do presente trabalho não tinham déficit

proteico.

Pode-se observar que não houve diferença significativa (P>0,05) para o ácido

úrico apresentando média de 0,19 mg/dL estando dentro dos valores recomendados por

KANEKO et al., (2008) entre 0 – 1,9 mg/dL. Diferenças nas concentrações de ácido

úrico podem estar associadas a atividades da uricase no fígado e tecido extra-hepático,

alterações na rota de excreção de alantoína e ácido úrico via urina, leite, saliva e outros

meios de excreções e alterações na quantidade e na proporção de perdas endógenas de

purinas, via urina, devido aos diferentes estádios fisiológicos que se encontram os

animais (GIESECKE et al., 1994).

Na análise de proteínas totais (PT) não foi observada diferença significativa

(P>0,05) e o valor médio encontrado para PT foi de 5,71 g/dL estando próximo do

recomendado para a espécie ovina que é de 6 – 7,9 g/dL (GONZÁLEZ & SILVA,

2006). Uma hipótese para o valor médio abaixo do normal para PT pode estar

relacionada a deficiência de PB na dieta; em que dietas nutricionais com baixos teores

de proteína ou casos de subnutrição severa diminuem as concentrações sanguíneas de

PT o que não ocorreu no presente experimento, visto que as dietas foram balanceadas

para ganho de peso de 200 g.anima-1.dia-1 e a relação volumoso concentrado era a

mesma para todos os tratamentos.

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Tabela 1 – Bioquímica sanguínea de borregas alimentadas com níveis crescentes de um

complexo enzimático exógeno.

Variáveis Tratamentos Valor de P CV

(%) 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% L Q DL

Creatinina (mg/dL) 0,77 0,88 0,85 0,89 0,85 0,122 0,099 0,422 8,89

Ureia (mg/dL) 62,40 67,20 67,53 62,06 69,80 0,292 0,995 0,131 9,41 Ácido Úrico (mg/dL) 0,15 0,21 0,25 0,20 0,16 0,916 0,126 0,901 52,68

Proteínas Totais (g/L)1 5,52 5,90 5,69 5,73 5,69 0,667 0,243 0,285 5,05

1Albumina (g/L) 4,62 4,79 4,48 4,37 4,40 0,041 0,882 0,237 5,92

1Y = 4,710800-0,174400X (R2=61,67%);

Houve diferença significativa (P<0,05) para as concentrações séricas de

albumina apresentando comportamento linear decrescente e diminuição de 0,085 mg/dL

para cada 0,5% de inclusão do complexo enzimático. A albumina sérica é considerada o

indicador mais sensível para determinar o status nutricional proteico. No presente

estudo, o valor médio foi de 4,53 g/dL acima do esperado para espécie 2,4 – 3,0 g/dL

(GONZÁLEZ & SILVA, 2006).

Conclusões

Com o presente trabalho concluímos que a medida que os tratamentos

aumentaram a concentração sérica de albumina diminuiu, contudo, não foi observada

modificações nas concentrações séricas dos outros metabolitos proteicos.

Literatura citada

CHERDTHONG, A. & WANAPAT, M. Development of Urea Products as Rumen

SlowRelease Feed for Ruminant Production: A Review. Australian Journal of Basic

and Applied Sciences, v.4, n.8, p.2232-2241, 2010.

GIESECKE, D.; EHRENTREICH, L.; STANGASSINGER, M. Mammary and renal

excretion of purine metabolites in relation to energy intake and milk yield in dairy cows.

Journal of Dairy Science, Champaign, v.81, n.9, p.2408 - 2420, 1998.

GONZÁLEZ, F.H.D. & SILVA, S.C. Introdução à bioquímica clínica veterinária.

2.ed. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006.

GONZÁLEZ, F.H.D. Uso de perfil metabólico para determinar o status nutricional em

gado de corte. In: GONZÁLEZ, F.H.D.; BARCELLOS, J.O; OSPINA, H.; RIBEIRO,

L.A.O. (Eds). Perfil Metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças

nutricionais. Porto Alegre, Brasil, Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, 2000.

KANEKO J.J., HARVEY J.W. & BRUSS M.L. Clinical Biochemistry of Domestic

Animals. 6th ed. Academic Press, San Diego. 916p. 2008.

WITTWER, F. Diagnóstico dos desequilíbrios metabólicos de energia em rebanhos

bovinos. In: GONZALEZ F. H. D.; BARCELLOS J. O.; OSPINA H.; RIBEIRO L. A.

Page 173: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

173

O. (ed) Perfil Metabólico em Ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais.

Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000.

Page 174: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

174

Avaliação dos metabólitos proteicos de ovelhas adultas com dieta baseada em

volumoso extrusado com diferentes aditivos¹

Mylena Cristina Ribeiro Borges², Gilberto de Lima Macedo Junior³, Rosemar Alves de

Carvalho Júnior4, Tamires Soares de Assis

4, Karla Alves Oliveira

4, Carolina Moreira

Araújo4

1Trabalho financiado com recursos do CNPq. 2Graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal de Uberlândia . e-mail: [email protected] 3Professor Associado FAMEV/UFU. e-mail: [email protected] 4Mestrando do programa de pós graduação FAMEV/UFU. e-mail: [email protected],

[email protected], [email protected], [email protected].

Resumo: Boa lucratividade e desempenho do rebanho são pautas imprescindíveis na

produção de ovinos. Com isso o uso de aditivos no volumoso extrusado se torna uma

boa opção, visto que melhora a fermentação, gera melhor produção de ácidos graxos

voláteis e melhora o processo de absorção de nutrientes dos animais. O objetivo do

trabalho foi avaliar a inclusão de três diferentes aditivos no volumoso extrusado.

Utilizou-se 20 ovelhas adultas, da raça Santa Inês, mantida em gaiolas metabólicas

individuais de piso ripado suspenso, dispostos de comedouro e bebedouro. Os

tratamentos foram caracterizados pela inclusão de diferentes aditivos no volumoso

extrusado: Foragge® Essential; Foragge

® AA; Foragge

® Factor; Foragge

®, fornecidos

duas vezes ao dia, às 8:00 e 16:00 horas. O experimento ocorreu na Universidade

Federal de Uberlândia, no mês de Outubro de 2017, no intervalo de tempo de quinze

dias, sendo dez para adaptação e cinco para coleta. Foram coletadas amostras de sangue

para a análise dos metabolitos proteicos – Ureia, Proteínas Totais, Albumina e

Creatinina. Os níveis de ureia apresentaram diferenças estatísticas entre os tratamentos,

em que o Foragge® com aditivos, possuíram melhor aproveitamento de nitrogênio. O

delineamento foi inteiramente ao acaso. Os demais indicadores bioquímicos não

apresentaram diferenças estatísticas e as medias gerais apresentaram dissemelhanças

dos valores de referência, porém não foram relatados distúrbios metabólicos nos

animais avaliados.

Palavras–chave: aditivos, extrusado, metabólitos, volumoso, ovelhas

Evaluation of the protein metabolites of adult sheep with diet based on extruded

roughage with different additives

Abstract: Good profitability and herd performance are essential guidelines in sheep

production. With this, the use of additives in the extruded bulky becomes a good option,

since it improves the fermentation, generates better production of volatile fatty acids

and improves the process of absorption of nutrients of the animals. The objective of this

work was to evaluate the inclusion of three different additives in the extruded roughage.

Twenty adult sheep of the Santa Inês breed were used, kept in individual metabolic

cages of suspended slatted floor, with a feeder and drinking fountain. The treatments

were characterized by the inclusion of different additives in the extruded bulk:

Foragge® Essential; Foragge® AA; Foragge® Factor; Foragge®, supplied twice a day

at 8:00 a.m. and 4:00 p.m. The experiment took place at the Federal University of

Uberlândia, in October 2017, at the interval of fifteen days, ten for adaptation and five

for collection. Blood samples were collected for the analysis of protein metabolites -

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175

Urea, Total Proteins, Albumin and Creatinine. Urea levels showed statistically

significant differences between the treatments, in which the Foragge ® with additives,

had better nitrogen utilization. The design was entirely randomized. The other

biochemical indicators did not present statistical differences and the general averages

presented dissimilarities of the reference values, but no metabolic disturbances were

reported in the evaluated animals.

Keywords: additive, bulky, extruded, metabolites, sheep

Introdução

O uso desses aditivos na alimentação proporciona melhora significativa no

desempenho dos pequenos rminantes, visto que aumentam o processo de absorção dos

nutrientes, e consequentemente proporciona melhora na formação de proteína

microbiana no organismo do animal. O uso de aditivos com a inclusão de óleos tem

função de melhorar o ganho energético do animal, já aditivos com inserção de leveduras

auxilia e melhora a fermentação no organismo dos pequenos ruminantes.

A analise do perfil metabólico permite evitar ou reverter quadros de desbalanços

nutricionais que afetam a saúde e a produção do rebanho, considerando o custo-

benefício que tais medidas possam provocar (Gonález et.al, 2000).

O trabalho teve como objetivo verificar os efeitos sobre o metabolismo proteico

de ovinos com a inclusão de diferentes aditivos no volumoso extrusado.

Material e Métodos

O experimento foi efetuado na Universidade Federal de Uberlândia, na fazenda

experimental Capim Branco no setor de caprinos e ovinos, ocorreu no mês de Outubro

de 2017, no intervalo de tempo de quinze dias, sendo dez para adaptação e cinco para

coleta. Foram utilizadas 20 ovelhas, com media de peso inicial de 64,40kg, adultas com

a idade acima de quatro anos, de raça Santa Inês. Os animais foram mantidos em gaiolas

metabólicas individuais de piso ripado suspenso, dispostos de comedouro e bebedouro

(padrão INCT).

A alimentação baseava-se nos produtos fornecidos pela empresa Nutratta®

(tabela 1). Os tratamentos foram caracterizados pela inclusão de diferentes aditivos no

volumoso extrusado: Foragge®

Essential – associado com óleo essencial, Foragge® AA

–com resíduo de levedura, Foragge® Factor –com levedura purificada, Foragge

® - sem

inclusão de aditivos, fornecidos duas vezes ao dia, às 8:00 e 16:00 horas. O volumoso

extrusado utilizado para a produção do Foragge® foi a Uruchloa.

Tabela 1. Composição bromatológica dos tipos de Foragge®

. Dados fornecidos pela

fabricante Nutratta.

Nutriente (%) Foragge®

Essential

Foragge®

Foragge®

AA

Foragge®

Factor

Matéria Seca 90,0 90,0 90,0 90,0

Proteína bruta 7,2 7,1 7,2 7,2

Fibra em detergente Neutro 42,2 42,3 42,3 42,3

Fibra em detergente Ácido 26,3 26,3 26,3 26,3

Extrato Etéreo 1,9 2,0 1,9 2,0

Matéria Mineral 3,7 3,7 3,7 3,7

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176

Foragge® Essential – associado com óleo essencial, Foragge

® AA – com resíduo de levedura,

Foragge® Factor –com levedura purificada, Foragge

® - sem inclusão de aditivos

As amostras de sangue foram coletadas em três dias alternados durante o período

de coleta antes da primeira refeição do dia, foram realizadas por venupução jugular com

o auxilio de tubos Vacutainer sem anti-coagulante. Essas amostras foram centrifugadas

a 3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros separados em alíquotas, guardado em

microtubo e armazenados em freezer a -5ºC para uma analise laboratorial. Os

metabólitos proteicos determinados foram: Ureia, Proteínas Totais, Albumina,

Creatinina. Não houve adição de mais nenhum alimento, exceto sal mineral para ovinos.

O delineamento foi inteiramente ao acaso. Obtiveram-se cinco repetições por

tratamento. Todos os dados apresentam normalidade e homogeneidade. Para avaliação

dos resultados utilizou-se teste T (P<0,05).

Resultados e Discussão

O Foragge®, sem aditivos, teve concentração de ureia maior estatisticamente que

os outros tratamentos com aditivos (Tabela 2). Logo para esse volumoso extrusado

houve menor aproveitamento do nitrogênio proveniente da proteína, no qual é excretado

do rúmen e desloca-se para a corrente sanguínea.

Tabela 2. Concentração dos proteicos em função dos tratamentos com volumosos

extrusados com diferentes aditivos.

Médias seguidas de letras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge® Essential

– associado com óleo essencial, Foragge® AA – com resíduo de levedura, Foragge

® Factor –

com levedura purificada, Foragge® - sem inclusão de aditivos; ; MG – média geral; CV (%) –

coeficiente de variação; VR – valor de referência (KANEKO, HARVEY e BRUSS, 1997).

Já nos demais tratamentos com aditivos se destacaram positivamente, visto que

apresentaram melhor aproveitamento do nitrogênio e proporcionando uma maior

produção de proteína microbiana no rúmen do animal. De acordo com Gonález et.al

(2000), a ureia é originada pela excreção do metabolismo do nitrogênio e sua

concentração no sangue do animal indica a qualidade da proteína da dieta ingerida.

A média geral dos valores encontrados de proteínas totais, em consequência do

maior valor de ureia no sangue dos animais, está abaixo dos valores de referencia (VR)

NDT 55,7 55,8 55,8 55,7

Amido 25,5 25,6 25,4 25,5

Tratamentos Ureia (mg/dL)

Proteínas

Totais (g/dL) Albumina(g/dL)

Creatinina

(mg/dL)

Foragge® 39,77,A 5,54 3,66 1,23

Foragge® ES 19,70B 5,64 3,85 1,10

Foragge® AA 27,38B 5,67 3,94 1,17

Foragge®

Factor 21,48B 5,56 3,84 1,08

MG 27,08 5,60 3,82 1,14

CV (%) 32,50 3,97 5,06 16,89

Valor de P

VR

0,0099

17,1-42,8

0,7727

6,0-7,9

0,1903

2,4-3,0

0,5887

1,2-1,9

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177

(Tabela 2). O déficit desse indicador bioquímico pode acarretar em transtornos renais e

intestinais, falhas hepáticas, hemorragias ou carência na nutrição (Gonález et.al, 2000).

Mas como esse valor resultou em apenas 6% abaixo do VR, não apresentou nenhum

dano às ovelhas.

O teor de albumina da média geral (Tabela 2) se encontra 27% acima do valor de

referência. A síntese da albumina ocorre no fígado e auxilia com 80% da osmolaridade

do plasma sanguíneo e forma uma necessária reserva proteica (Gonález et.al, 2000, ou

seja, com o aumento da pressão osmótica no sangue aumenta também a concentração

desse metabólito, e consequentemente ocorre um importante crescimento de reserva

proteica no organismo do animal.

Com base no VR (Tabela 2) o valor de creatinina está 5% abaixo do

recomendado. A creatinina é utilizada como referência para corrigir mudanças nas

alterações de ureia sanguínea. Nesse sentido, a quantidade de creatinina formada por dia

depende da quantidade de creatina no organismo, que por sua vez depende da massa

muscular. Entretanto, a quantidade de creatinina formada é relativamente constante para

um determinado indivíduo, sendo pouco afetada pela alimentação, principalmente pelo

consumo de proteína (Kaneko et al., 1997). Mesmo os dados das medias gerais

apresentados na tabela indicarem resultados fora do valor de referencia não foi

observado nenhum distúrbio metabólico nos animais avaliados.

Conclusões

A utilização de diferentes aditivos no volumoso extrusado não altera os

metabólitos proteicos com exceção da ureia, que apresentou melhora no uso do

nitrogênio com a inclusão dos aditivos. Não foram observados distúrbios metabólicos.

Literatura citada

GONZALEZ, F.H.D. et.al., Perfil metabólico em ruminantes. Seu uso em nutrição e

doenças nutricionais. Porto Alegre: UFRGS, 2000, 22-81pg.

KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of

domestic animals. 5 th ed. New York: Academic Press, 1997. P. 877-901

Page 178: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

178

Avaliação dos metabólitos proteicos de ovinos alimentados com volumoso

extrusado contendo diferentes aditivos¹

Débora Adriana de Paula Silva2, Gilberto de Lima Macedo Junior

3, Laura Ferrari

Monteiro Varanis4, Karla Alves Oliveira

4, Carolina Moreira Araújo

4, Tamires Soares de

Assis4

1Trabalho financiado com recursos do CNPq. 2Graduanda em Zoot ecnia pela Universidade Federal de Uberlândia e-mail: [email protected] 3Professor Associado FAMEV/UFU email: [email protected] 4Mestranda do programa de pós graduação FAMEV/UFU e-mail: [email protected],

[email protected], [email protected], [email protected].

Resumo: A utilização de aditivos alimentares é uma forma de incrementar o

desempenho dos animais de produção, promovendo melhoras no desempenho e na

sanidade desses animais. Objetivou-se através de experimentação analisar e comparar os

efeitos do volumoso extrusado Foragge® com diferentes aditivos sobre o perfil

metabólico de ovinos. Para isso utilizou-se 20 ovelhas adultas da raça santa Inês acima

de quatro anos, com média de peso 64,50kg, não gestantes e não lactantes alocadas em

gaiolas metabólicas previamente vermifugadas e vacinadas. O experimento teve duração

de 20 dias divididos em duas fases com dez dias de adaptação e cinco de coleta em

cada. O experimento foi delineado em blocos casualizados com cinco tratamentos e oito

repetições, sendo os tratamentos cinco diferentes volumosos extrusados: Foragge®

Essential; Foragge® Max ; Foragge® AA; Foragge® Bypro e Foragge® Factor,

ofertados duas vezes ao dia, as 8h e as 16h. Foram feitas três coletas de sangue para

análise laboratorial, sempre antes da oferta do alimento. Os componentes bioquímicos

proteicos analisados foram ureia, albumina, creatinina, acido úrico e proteínas totais e

não foram encontradas diferenças estatísticas entre os tratamentos porém os valores de

proteínas totais e creatinina ficaram abaixo dos valores de referência e albumina ficou

acima destes. Conclui-se que os aditivos não tem efeito sobre os metabólitos proteicos

dos ruminantes.

Palavras–chave: extrusão; perfil metabólico; proteínas.

Evaluation of protein metabolites of sheep fed with extrudate containing different

additives

Abstract: The use of food additives is a way of increasing the performance of the

production animals promoting improvements in the performance and health of these

animals. The objective of this study was to analyze and compare the effects of the

extrudated roughage Foragge® with different additives on the metabolic profile of

sheep. Were used twenty Santa Inês ewes over four years, with a mean weight of 64.50

kg, non-pregnant and non-lactating allocated in metabolic cages previously vaccinated

and dewormed. The experiment lasted 20 days divided in two phases with ten days of

adaptation and five of collection each. The experiment was designed in a randomized

block with five treatments and eight replicates, with five different extruded treatments:

Foragge® Essential; Foragge® Max; Foragge® AA; Foragge® Bypro and Foragge®

Factor, offered twice a day, 8am and 4pm. Three blood samples were collected for

laboratory analysis, always before the food supply. The protein biochemical

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179

components analyzed were urea, albumin, creatinine, uric acid and total proteins and no

statistical differences were found between the treatments, but total protein and

creatinine values were below the reference values and albumin remained above these. It

is concluded that the additives have no effect on the protein metabolites of ruminants.

Keywords: extrusion; metabolic profile; proteins.

Introdução

Aditivos como as leveduras, taninos, óleos essenciais e virginiamicina são muito

eficientes no que diz respeito a melhorar a função ruminal dos animais, auxiliando em

uma melhor digestão, aproveitamento dos nutrientes e na sanidade do ambiente ruminal

(Nicodemo, 2001; De Oliveira, De Moura Zanine e Santos, 2005).

Para avaliar o metabolismo proteico de ruminantes usa-se principalmente a ureia

e a albumina como indicadores, visto que a ureia demonstra o estado proteico do animal

em curto prazo pois pode sofrer alterações passageiras durante o dia, principalmente

após a alimentação, enquanto que a albumina o demonstra em longo prazo devido à

baixa velocidade de síntese e de degradação desta proteína nos ruminantes, é necessário

um período mais longo para detectar anomalias. (Payne & Payne, 1987).

O objetivo do estudo foi observar e comparar os efeitos dos Foragges®

aditivados com óleos essenciais, tanino, virginiamicina e leveduras (purificadas ou não)

sobre o perfil metabólico proteico de ovinos.

Material e Métodos

O Experimento foi conduzido no setor de caprinos e ovinos da Universidade

Federal de Uberlândia – MG. Foram utilizadas 20 ovelhas adultas da raça Santa Inês,

acima de quatro anos, com peso médio de 64,50 kg não gestantes e não lactantes,

alocadas em gaiolas metabólicas equipadas com comedouro, bebedouro, saleiro, piso

ripado e artefato para separação de fezes e urina. As gaiolas foram colocadas em galpão

de alvenaria com telhas de barro. O experimento teve duração de 30 dias (outubro a

novembro de 2017), dividido em duas fases de quinze dias cada, onde em cada fase dez

foram para adaptação dos animais às condições experimentais e cinco dias de coletas de

dados. Os animais foram vermifugados com Monepantel e vacinados contra

leptospirose, raiva, clostridioses e botulismo.

O alimento (Foragge®) foi ofertado duas vezes ao dia, as 08h da manhã e as 16h

da tarde. Os animais tinham acesso a sal mineral e agua à vontade. Foram realizadas

diariamente as pesagens do ofertado e das sobras de cada animal para determinar o

consumo. Os animais receberam cinco tipos de volumoso extrusado, divididos entre os

tratamentos. Sendo esses, Foragge® Essential - com óleos essenciais; Foragge® Max –

com Virginiamicina®; Foragge® AA – associado com resíduo de levedura; Foragge®

Bypro – com Tanino; Foragge® Factor – com levedura purificada, todos os produtos

foram oferecidos pela empresa Nutratta®. A composição se encontra na tabela 1.

As colheitas de sangue para avaliação dos componentes bioquímicos foram

realizadas por venopunção jugular com auxílio de tubos Vacutainer® sem anti-

coagulante, durante o período de coleta de dados em três dias alternados, sempre no

período da manhã, antes do fornecimento da primeira alimentação. As amostras de

sangue coletadas foram centrifugadas a 3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros

separados em alíquotas, guardados em microtubos e armazenados em freezer a -5ºC

Page 180: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

180

para posterior análise laboratorial. Todas as amostras foram processadas em analisador

bioquímico automatizado (Bioplus® 2000), usando kit comercial da Biotécnica®. Os

componentes bioquímicos proteicos analisados foram ureia, albumina, creatinina, ácido

úrico e proteínas totais.

Tabela 1. Composição bromatológica dos diferentes tipos de Foragge®*.

Nutriente (%) Foragge®

Essential

Foragge®

Max Foragge® AA

Foragge®

Bypro

Foragge®

Factor

MS 90,0 90,0 90,0 90,0 90,0

PB 7,2 7,1 7,2 7,0 7,2

FDN 42,2 42,3 42,3 44,7 42,3

FDA 26,3 26,3 26,3 29,8 26,3

EE 1,9 2,0 1,9 1,6 2,0

MM 3,7 3,7 3,7 3,9 3,7

NDT 55,7 55,8 55,8 61,2 55,7

Amido 25,5 25,5 25,4 23,2 25,5

MS – matéria seca; PB – proteína bruta; FDN – fibra em detergente neutro; FDA – fibra em

detergente ácido; EE – extrato etéreo; MM – matéria mineral; NDT – Nutrientes digestíveis

totais. *Dados fornecidos pela fabricante Nutratta.

O experimento foi delineado em blocos casualizados com cinco tratamentos e

oito repetições. Foram feitas duas fases, trocando os animais de tratamento e blocando o

efeito de fase. Todos os dados apresentam normalidade e homogeneidade. Para

avaliação dos resultados utilizou-se teste T (P<0,05%).

Resultados e Discussão

Não foram observadas diferenças estatísticas entre os tratamentos para os

metabólitos avaliados (Tabela 2). Contudo pode-se verificar que alguns valores

encontrados ficaram fora dos valores de referência de Kaneko et al (2008), a natureza

dos aditivos utilizados pode ter influenciado nesses resultados.

Tabela 2. Valores médios dos metabólitos energéticos, hepáticos e proteicos de ovelhas

adu ltas em função dos tratamentos.

Metabólitos proteicos

Tratamentos Ureia Proteínas Totais Albumina Creatinina Ácido Úrico

Foragge® Essential 36,52 5,67 3,11 0,79 0,189

Foragge® Max 38,27 5,56 3,08 0,76 0,191

Foragge® AA 39,27 5,66 3,24 0,81 0,204

Foragge® Bypro 47,68 5,90 3,21 0,76 0,295

Foragge®Factor 41,16 5,95 3,26 0,86 0,183

MG 40,58 5,75 3,18 0,79 0,212

CV (%) 21,02 10,30 6,18 19,65 32,14

Valor de P 0,1104 0,6260 0,2752 0,6215 0,2447

VR* 17-43 6-7,9 2,4-3 1,2-1,9 0-1,9

Médias seguidas de let ras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge®

Essential - com óleos essenciais; Foragge® Max com Virginiamicina®; Foragge

® AA –

associado com resíduo de levedura; Foragge® Bypro –com T anino; Foragge

® Factor –com

Page 181: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

181

levedura purificada; MG – média geral; CV (%) – coeficiente de variação – Valores de

referencia segundo Kaneko et al. (2008).

A média dos valores de proteínas totais encontrados ficou 4,1% abaixo do valor

de referência. Considerando descartadas causas patológicas isso poderia indicar

deficiência alimentar (Kaneko et al., 2008), entretanto pode-se observar que os valores

de ureia e ácido úrico ficaram dentro da referência e a albumina ficou 6% acima,

descartando a hipótese de deficiência proteica.

A média da creatinina também se apresentou abaixo dos valores de referencia.

Visto que a creatinina é um produto da atividade muscular e os animais encontravam-se

em confinamento e com restrições de movimento, essas condições podem indicar os

valores de creatinina encontrados. (Gonzalez et al., 2000).

Os níveis de ureia e acido úrico mantiveram-se dentro dos valores de referência.

Ambos refletem o aproveitamento proteico no ambiente ruminal. Após a transformação

da amônia em ácido úrico este é utilizado pelos microorganismos ruminais para a

produção de proteína microbiana. Já a ureia é sintetizada no fígado a partir da amônia

não reciclada no rumem, sendo que a utilização do nitrogênio pelos microoganismos

ruminais afeta diretamente a concentração da amônia e consequentemente a quantidade

de ureia sanguínea. Logo, os valores séricos destes metabólitos tendem a ser

inversamente proporcionais, visto que se a maior parte da amônia é utilizada pelos

microorganismos para produção de proteína haverá menor síntese de ureia no figado.

(Paula, 2015; Fontanelli, 2001; Harmeyer & Martens, 1980; Ortolani, 2002).

Conclusões

A utilização de diferentes aditivos não tem efeitos benéficos ou deletérios sobre os

metabólitos proteicos dos ruminantes.

Literatura citada

FONTANELLI, Roberto Serena. Uso do leite para monitorar a nutrição e o

metabolismo de vacas leiteiras. 2001.

GONZÁLEZ, F. H. D. et al. Variações sangüíneas de uréia, creatinina, albumina e

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182

por meio de fluídos corporais (sangue, leite e urina). Arquivos do 29º Congresso

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PAULA, C, G. Suplementação com melaço de soja na dieta de ovinos: parâmetros

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Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-

Graduação em Ciências Veterinárias, 2015

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1987.

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183

Avaliação dos metabólitos proteicos em ovinos consumindo volumoso extrusado

com diferentes aditivos

Jhoanny Rodrigues Dutra1, Gilberto de Lima Macedo Júnior

2, Rosemar Alves de

Carvalho Júnior3, Tamires Soares de Assis

3, Laura Ferrari Monteiro Veranis

3, Karla

Alves de Oliveira3, Carolina Moreira Araújo

3

1Graduanda em Zootecnia – FAMEV/UFU, Uberlândia, MG. [email protected] 2Professor Associado I FAMEV/UFU, Uberlândia, MG 3Pós-graduando do mestrado em Ciências Veterinárias/UFU, Uberlândia, MG

Resumo: Uma das formas de ampliar a eficácia alimentar e ou ganho diários, é com a

utilização de aditivos alimentares. Objetivou-se avaliar o perfil metabólico proteico de

ovelhas recebendo dieta a base de volumoso extrusado 52,5% Foragge®, Foragge

®

Bypro, Foragge®

Max® e Foragge

® BV. Foram utilizadas 20 ovelhas adultas, da raça

Santa Inês, com idade superior a 3 anos, e peso médio corporal de 64,5 kg, alocadas em

gaiolas metabólicas individuais de piso ripado suspenso, dispostas de bebedouro,

comedouro e cocho para sal mineral. O delineamento experimental utilizado foi o

inteiramente ao acaso, com quatro tratamentos e cinco repetições. A coleta de sangue

foi feita por meio de venopunção jugular, durante três dias alternados anterior à primeira

alimentação, para avaliação dos metabólitos proteicos: Ureia, Proteínas Totais,

Albumina, Creatinina e Ácido Úrico. Houve diferença estatística apenas para os valores

de ureia, com uma maior concentração de ureia nos animais tratados com Foragge®, e

menor concentração para os animais tratados com Foragge® Max. A albumina se

manteve dentro dos valores de referência, as proteínas totais e a creatinina estiveram

levemente abaixo do normal. A utilização das rações extrusadas com diferentes aditivos

manteve os metabólitos proteicos em níveis normais e não foram observados distúrbios

metabólicos nos animais analisados contribuindo para um bom desempenho animal.

Palavras–chave: extrusão, ovinos, ruminantes

Evaluation of protein metabolites in sheep consuming extruded beef with different

additives

Abstract: One of the ways to increase the daily efficacy of food and / or gain is through

the use of food additives. The objective of this study was to evaluate the protein

metabolic profile of sheep receiving a 52.5% Foragge®, Foragge

® Bypro, Foragge

®

Max® and Foragge

® BV extrudate based diet. Twenty adult sheep of the Santa Inês

breed, aged over 3 years, and mean body weight of 64.5 kg were used in individual

cages of suspended slatted floor, disposed of drinking fountain, feeder and trough for

mineral salt. The experimental design was completely randomized, with four treatments

and five replicates. Blood collection was done by means of jugular venipuncture, for

three days before the first feeding, to evaluate the protein metabolites: Urea, Total

Proteins, Albumin, Creatinine and Uric Acid. There was statistical difference only for

urea values, with a higher concentration of urea in Foragge®-treated animals, and lower

concentration for animals treated with Foragge® Max. Albumin remained within

reference values, total proteins and creatinine levels were slightly below normal. The

use of extruded feeds with different additives kept the protein metabolites at normal

levels and no metabolic disturbances were observed in the analyzed animals,

contributing to a good animal performance.

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184

Keywords: extrusion, sheep, ruminants

Introdução

Atualmente no sistema de produção se faz necessário adotar práticas que

melhorem o manejo e desempenho animal sem aumentar a área de produção, o uso de

aditivos na alimentação de ruminantes tem como objetivo melhorar a eficiência

alimentar. A adição de taninos na alimentação animal pode propiciar características

favoráveis, como a proteção das proteínas de degradação do rúmen, prevenção ao

timpanismo e também uma tolerância maior dos animais às helmintoses (Getachew,

1999). Já a virginiamicina proporciona alterações no padrão de fermentação ruminal que

podem aumentar a eficácia da utilização de energia da dieta, além disso, seu uso pode

provocar a estabilização do pH ruminal e reduzir doenças metabólicas como a acidose e

incidência de abcessos hepáticos.

De acordo com González (2000) a avaliação do status nutricional no animal pode

ser abordada mediante a determinação da concentração de alguns metabólitos

sanguíneos, sendo assim é necessário a avaliação de quais serão os impactos nas

condições fisiológicas do animal com a dieta fornecida. O objetivo deste trabalho foi

avaliar os metabólitos proteicos de ovelhas adultas, alimentadas com volumoso

extrusado com inclusão de diferentes aditivos.

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, no mês de

outubro de 2017. Foram utilizadas vinte ovelhas adultas, da raça Santa Inês, com idade

superior a três anos, e peso médio corporal de 64,5 kg, alocadas em gaiolas metabólicas

individuais de piso ripado suspenso, dispostas de bebedouro, comedouro e cocho para

sal mineral. O experimento teve duração de quinze dias, sendo 10 de adaptação e 5 de

coleta de dados, sendo realizado quatro tratamentos com cicno repetições. Os

tratamentos foram caracterizados pela utilização do volumoso extrusado (Foragge) com

diferentes aditivos incluídos (Tabela 1), sendo: 52% Foragge® sem inclusão de aditivos,

Foragge® BV – Foragge associado com Virginiamicina

® + Tanino; Foragge

® Bypro –

Foragge®

com Tanino; Foragge®

Max – Foragge® com Virginiamicina

®. O volumoso

extrusado utilizado para a produção do Foragge® 52,5% foi a Uruchloa. As dietas com

os Foragges foram fornecidas duas vezes ao dia (8:00 e 16:00 horas) e os animais

possuíam acesso ao sal mineral à vontade. Para o acompanhamento do consumo as

sobras foram pesadas e sempre que os valores foram iguais à zero, aumentou-se a

quantidade de alimento fornecido em 10% até atingir sobras equivalentes a 10% do

ofertado.

Tabela 1. Composição bromatológica dos tratamentos. Dados fornecidos pela Empresa

Nutratta®.

Descrição Foragge®

Foragge®

BV

Foragge®

Bypro

Foragge®

Max

Matéria Seca (CMS) % 90,0 90,0 90,0 90,0

Proteína (PB) % 7,1 7,0 7,0 7,1

NDT (NDT) % 55,8 61,2 61,2 55,8

Extrato Etéreo % 2,0 1,6 1,6 2,0

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185

Fibra Det. Neutra

(FDN)

% 42,3 44,7 44,7 42,3

Fibra Det. Ácida

(FDA)

% 26,3 29,8 29,8 26,3

Virginiamicina mg/kg XXX 30,0 XXX 30,0

A coleta de sangue para avaliação dos componentes bioquímicos fora por

venopunção jugular com auxilio de Vacuntainer®

acoplado a tubo sem anticoagulante,

todas as coletas foram realizadas durante três dias alternados antes da primeira refeição

do dia, durante a coleta de dados, as amostras de sangue coletadas foram centrifugadas a

3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros separados em alíquotas, guardados em

microtubos e armazenados em freezer a -5ºC para posterior analise laboratorial. Todas

as amostras foram processadas em analisador bioquímico automatizado (Bioplus®

2000), usando kit comercial da Biotécnica®. Os metabólitos proteicos analisados foram:

Ureia, Proteínas Totais, Albumina, Creatinina e Ácido Úrico.

Foi utilizado o delineamento ao acaso, com quatro tratamentos e cinco repetições.

Para comparações das médias obtidas os dados foram submetidos ao teste SNK a 5 %

de probabilidade de erro.

Resultados e Discussão

Dentre os metabólitos avaliados observou-se diferença estática apenas para os

valores de ureia (Tabela 2). No tratamento Foragge® nota-se maior concentração de

ureia em relação aos outros tratamentos. De acordo com González et al. (2000) a

concentração de ureia no sangue possui relação direta com o aporte proteico da ração,

sendo um indicador de excesso ou carência do nutriente na dieta. O equilíbrio

energia/proteína na dieta de ruminantes é fundamental para o bom aproveitamento da

ureia. O elevado nível de ureia no Foragge®

pode estar relacionado a ausência de

aditivos em sua composição. Os aditivos são utilizados na dieta com o objetivo de

melhorar a eficácia na alimentação dos ruminantes, eles proporcionam modificações na

fermentação ruminal e mudanças na população microbiana do rúmen, fazendo com que

a proteína seja melhor aproveitado pelo animal.

Para os tratamentos Foragge® Bypro e Foragge

® BV não foram observadas

diferenças estatísticas nos níveis de ureia. Isso pode ser explicado devido a adição de

tanino nos dois tratamentos (Tabela 2). Tanto o tanino quanto a virginiamicina e a

associação de ambos modulam a fermentação ruminal, isso afeta o metabolismo

microbiano e o do Nitrogênio no rúmen. Os taninos se ligam a certas proteínas e

protegem as mesmas da degradação ruminal excessiva. Essas proteínas passam pelo

rúmen e são liberadas no duodeno, onde o processo de absorção de aminoácidos ocorre

de forma mais intensa, ocasionando o melhor aproveitamento da proteína da dieta. Além

disso, ocorre maximização da síntese de proteína microbiana no rúmen, com aumento

do fluxo de nitrogênio não-amoniacal para o intestino (Sliwinski, 2002; Makkar, 2003).

A constante reciclagem da ureia produzida no metabolismo nitrogenado dos

ruminantes garante um aporte de nitrogênio no rúmen para síntese de proteína

microbiana. A maior ou menor quantidade de ureia reciclada está relacionada com o

nível de nitrogênio na dieta, assim como o nível de ureia plasmática serve como

regulador da ureia reciclada, e não a quantidade de ureia presente no rúmen, como

poderia supor (OWENS & BERGEN, 1983). As alterações na fermentação ruminal

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186

proporcionadas pela virginiamicina, pode otimizar a utilização de energia da dieta. Ela

age contra bactérias gram-positivo, inibindo o crescimento de bactérias ruminais

produtoras de ácido láctico, aumentando a produção de propionato no rúmen, podendo

diminuir a produção de metano. No tratamento Foragge® Max o valor de ureia foi o

menor comparado aos outros, o mesmo possuía apenas virginiamicina em sua

composição. É importante ressaltar que aumento na produção de amônia e ureia pode

reduzir o apetite do animal e também sua eficácia na produção, desta forma, o

tratamento Foragge® Max mostrou um melhor resultado comparado aos outros.

Tabela 2. Valores médios dos metabólitos proteicos de ovelhas adultas em função dos

tratamentos

Tratamentos Ureia Proteínas Totais Albumina Creatinina Ácido úrico

Foragge®

31,82A 5,30 3,70 1,18 0,08

Foragge® BV 22,12B 5,49 3,63 1,12 0,153

Foragge®

Bypro

21,96B 5,27 3,52 1,26 0,153

Foragge®

Max 14,43C 5,32 3,43 1,12 0,153

MG 22,58 5,35 3,57 1,17 0,135

CV (%) 22,72 5,49 10,11 15,07 44,85

Valor de P 0,0007 0,6443 0,6602 0,6005 0,1817

VR* 17,1-42,8 6,0-7,9 2,4-3,0 1,2-1,9 0,1-2,0

Médias seguidas de letras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge®

BV – Foragge associado com Virginiamicina® + Tanino; Foragge® Bypro – Foragge®

com Tanino; Foragge® Max – Foragge® com Virginiamicina®; Foragge® - sem

inclusão de aditivos; MG – média geral; CV (%) – coeficiente de variação. *VR =

Valores de Referência (Kaneko et al., 2008)

Segundo González et al. (2000) as proteínas totais e albumina irão refletir na

condição nutricional do animal e na quantidade proteica da dieta, sendo assim níveis

baixos desses metabólicos poderão resultar deficiência de proteína na dieta. Enquanto as

proteínas totais mantiveram-se apenas 10,83% abaixo do valor mínimo de referência, a

albumina está dentro da faixa de referência, indicando que as exigências dos animais

foram atendidas.

A creatinina é um metabólito usado para o armazenamento de energia no músculo

(González et al., 2000), a creatinina apresentou valor de 3% abaixo dos valores de

referência. Isso pode estar relacionado com a idade dos animais, pois a creatinina está

relacionada com o crescimento muscular, como os animais já eram adultos e não

estavam em fase crescimento mais, pode ter ocasionado os níveis de creatinina baixos.

Além disso, os animais permaneceram em gaiolas metabólicas durante o período

experimental, isto pode ter limitado o gasto energético pelos animais, provocando

também a queda nos valores de creatinina sanguínea.

O ácido úrico está ligado diretamente com a síntese de proteína microbiana pelos

microrganismos ruminais, o mesmo permaneceu dentro da faixa de referência nos

tratamentos Foragge® Bypro, Foragge® Max e Foragge® BV, ficando 20% abaixo do

valor de referência apenas no tratamento Foragge®, o que pode estar relacionado à

ausência do aditivo no volumoso extrusado.

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Conclusões

Conclui-se que apesar dos valores analisados fora da faixa de referência, não

foram observados distúrbios metabólicos nos animais com a adição de tanino e

virginiamicina na ração extrusada, sendo viável seu uso na alimentação de ruminantes.

Literatura citada

GETACHEW,G. Tannins in tropical multipurpose tree species: localization and

quantification of tannins using histochemical approaches and the effect of tannins on in

vitro rumen fermentation. Stuttgart: Verlag Ulrich E. Grauer, 186p, 1999.

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v. 57, p. 498-518, 1983.

SLIWINSKI, B.J.; SOLIVA, C.R.; MACHMÜLLER, K.M. Efficacy of plant extracts

rich in secondary constituents to modify rumen fermentation. Animal Feed Science and

Technology, v.101, p.101-114, 2002.

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188

Comportamento ingestivo de borregas alimentadas com níveis crescentes de

enzima amilolítica¹

Jhone Tallison Lira de Sousa2, Debora Adriana de Paula Silva3, Paulo Arthur Cardoso

Ruela3, Paola Rezende Ribeiro

4, Gilberto de Lima Macedo Junior

5, Luciano Fernandes

Sousa6

1Parte da tese de doutorado do primeiro autor 2Doutorando do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT. E-mail: [email protected]. 3Discente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 4Mestranda em Nutrição e Alimentação Animal, FCAV - UNESP, Jaboticabal, SP. 5Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 6Docente do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT.

Resumo: O objetivo do presente trabalho foi avaliar o comportamento e eficiência

alimentar de borregas alimentadas com níveis crescentes de enzima amilolítica exógena

na dieta. O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no

Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de

Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Foram utilizadas cinco borregas

mestiças (Santa Inês/Dorper), com peso inicial médio de 54,04 ± 4,5 kg. O

delineamento experimental utilizado foi quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5

repetições por tratamento totalizando 25 unidades experimentais sendo os tratamentos

as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%). Para a avaliação do

comportamento ingestivo os animais foram submetidos à observação visual por vinte e

quatro horas (24 h), no período noturno o ambiente recebeu iluminação artificial sendo

que dias antes as luzes ficavam acesas para que ocorresse adaptação dos animais. Não

houve diferença significativa (P>0,05) para ingestão, ruminação e mastigação, sendo

observadas médias em porcentagem de 10,29%, 19% e 29,16% respectivamente. Não

houve diferença significativa (P>0,05) para a variável ócio. Não houve diferença

significativa (P>0,05) para a eficiência alimentar de ingestão, ruminação e mastigação.

Concluiu-se com este trabalho que o comportamento de borregas não foi alterado com a

inclusão de enzima amilolítica nos níveis testados.

Palavras–chave: alfa-amilase, concentrado, eficiência de alimentação, nutrição, ovinos

Ingestive behavior of ewes fed with increasing levels of amylolytic enzyme¹

Abstract: The objective of the present work was to evaluate the feeding behavior and

efficacy of lambs fed with increasing levels of exogenous amylolytic enzyme in the diet.

The experiment was conducted at the Universidade Federal de Uberlândia (UFU), in the

sheep and goat sector at the Fazenda Capim Branco in the state of Minas Gerais, Brazil,

from September to November 2016. Five mestizo lambs (Santa Inês/Dorper) initial

mean of 54.04 ± 4.5 kg. The experimental design used was 5x5 Latin square, with 5

treatments and 5 replicates per treatment, totaling 25 experimental units. The treatments

were the percentages of enzymes (0.0, 0.5, 1.0, 1.5 and 2.0%). For the evaluation of the

ingestive behavior the animals were submitted to visual observation for twenty-four

hours (24 h), at night the environment received artificial lighting and days before the

lights were on for the adaptation of the animals. There was no significant difference (P>

0.05) for ingestion, rumination and chewing, and averages were observed in percentage

of 10.29%, 19% and 29.16%, respectively. There was no significant difference (P>

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0.05) for the leisure variable. There was no significant difference (P> 0.05) in feed

intake, rumination and chewing efficiency. It was concluded with this work that the

behavior of lambs was not altered with the inclusion of amylolytic enzyme at the levels

tested.

Keywords: alpha-amylase, concentrate, feed efficiency, nutrition, sheep

Introdução

A utilização de enzimas exógenas na nutrição de ruminantes vem sendo cada vez

mais estudada, devido ao grande potencial que esta pode fornecer a nutrição e

consequentemente a produção animal, uma vez que pode aumentar a degradabilidade

ruminal dos nutrientes e diminuir dessa forma o desperdício.

As amilases são enzimas que hidrolizam as moléculas de amido em polímeros

compostos por unidades de glicose Reddy et al. (2003), sendo principalmente utilizadas

na alimentação de animais de alta produção, que geralmente tem dietas com elevado

nível de concentrado. O entendimento e a compreensão de como as enzimas exógenas

se comportam no metabolismo dos ruminantes é de extrema importância para o

desenvolvimento da nutrição e produção animal (REIS et al., 2015). O estudo do

comportamento ingestivo é uma ferramenta que pode ser útil quando utilizada como

parâmetro na avaliação de novos alimentos a serem empregados na nutrição animal.

Diante do exposto o objetivo do presente trabalho foi avaliar o comportamento e

eficiência alimentar de borregas alimentadas com níveis crescentes de enzima

amilolítica exógena na dieta.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no

Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de

Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Todos os procedimentos foram

aprovados pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da UFU, registrado

pelo protocolo de nº 017/16.

Foram utilizadas cinco borregas mestiças (Santa Inês/Dorper), com peso inicial

médio de 54,04 ± 4,5 kg e aproximadamente oito meses de idade. No período de

adaptação, todos os animais foram vermifugados, identificados, pesados e distribuídos

aleatoriamente em gaiolas metabólicas, as quais eram providas de comedouro,

bebedouro, cocho com sal mineral e dispositivo apropriado para coleta de fezes e urina.

As dietas foram calculadas para atender às exigências nutricionais de borregas de porte

médio, com ganho médio diário de 200 g.dia-1. As dietas foram fornecidas duas vezes

ao dia, às 08 e às 16h:00, na forma de ração total misturada (RTM).

Os animais dispunham de água e sal mineral especifico para espécie ad libitum.

As rações eram compostas de milho moído, farelo de soja, sal mineral e ureia como

concentrado, que compunha 80% da ração, e silagem de milho como volumoso

perfazendo os outros 20%. O delineamento experimental utilizado foi quadrado latino

5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25 unidades

experimentais sendo os tratamentos as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e

2,0%). A enzima que foi utilizada é um produto comercial (AMAIZETM) composto por

alfa-amilase, os níveis de enzimas foram calculados de acordo com as recomendações

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190

do fabricante, sendo cada porcentagem de enzima calculada em função do consumo de

matéria seca animal dia (kg.animal-1.dia-1).

Tabela 1 – Descrição da enzima pelo fabricante

Produto Amaize Composição Básica

Enzima alfa-amilase

Mín. 600 u*/g

Levedura inativada e produto seco de fermentação de Aspergillus oryzae

*Uma unidade de atividade enzimática alfa-amilase equivale a quantidade de enzima

que dextriniza 1 grama de amido solúvel por minuto, a pH 4,8 e 30ºC. Aspecto:

AMAIZE é um pó de coloração marrom.

Para a avaliação do comportamento ingestivo os animais foram submetidos à

observação visual por vinte e quatro horas (24 h), no período noturno o ambiente

recebeu iluminação artificial sendo que dias antes as luzes ficavam acesas para que

ocorresse adaptação dos animais. Foram observadas a cada cinco minutos as variáveis

de ingestão de alimento e água, ruminação e ócio, de acordo com a metodologia

proposta por (FISCHER et al. 1998). As observações comportamentais foram realizadas

por observadores treinados, em sistema de revezamento e posicionados estrategicamente

de modo a não incomodar os animais. As observações foram iniciadas às 08:00h da

manhã com término no mesmo horário do dia seguinte. Os cálculos das atividades

foram feitos em minutos por dia, admitindo-se que nos cinco minutos subsequentes a

cada observação, o animal permaneceu na mesma atividade. Já o tempo total de

mastigação foi determinado somando-se os tempos de ingestão e ruminação.

As análises estatísticas foram realizadas utilizado e as médias dos tratamentos

sendo avaliadas por estudo de regressão com nível de significância de 5% de

probabilidade.

Resultados e Discussão

Na Tabela 2 são apresentados os valores relativos ao comportamento ingestivo e

a eficiência alimentar de borregas recebendo diferentes inclusões de enzima amilolítica.

Não houve diferença significativa (P>0,05) para ingestão, ruminação e mastigação,

sendo observadas médias em porcentagem de 10,29%, 19% e 29,16% respectivamente.

Esperava-se uma redução no tempo de ingestão com a inclusão da enzima devido sua

atividade degradativa sobre o amido, disponibilizando maior quantidade de energia. A

ausência de diferença estatística sobre as variáveis comportamentais com a adição da

enzima pode estar relacionada a semelhança das dietas experimentais.

Os tempos despendidos em ingestão e ruminação estão diretamente relacionados

a qualidade da dieta, nesse contexto animais consumindo alimentos com elevado teor de

nutrientes digestíveis totais deverão passar menos tempo exercendo tais atividades.

Consequentemente a qualidade da dieta influenciará os tempos de mastigação, já que

esta é resultante da soma de ingestão e ruminação. Oliveira, (2012) avaliando o efeito de

enzima amilolítica em bovinos de corte não observou diferença na ingestão de alimento,

semelhante ao observado no presente trabalho.

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191

Tabela 2 - Comportamento ingestivo e eficiência alimentar de borregas alimentadas

com níveis crescentes de enzima amilolítica exógena na dieta

Variáveis Tratamentos Valor de P

CV(%) 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% L Q DL

Ingestão (min) 157 150 152 134 148 0,266 0,536 0,447 13,91

Ruminação (min) 255 267 280 268 298 0,244 0,898 0,754 18,37

Mastigação (min) 412 417 432 402 446 0,479 0,707 0,472 12,16

Ócio (min) 1028 1023 1008 1038 994 0,479 0,707 0,472 5,04

CMS.Ing (g/h-1) 0,451 0,444 0,422 0,529 0,471 0,375 0,870 0,299 20,66

CMS.Rum (g/h-

1) 0,280 0,262 0,238 0,250 0,224 0,099 0,810 0,742 19,58

CMS.Mast (g/h-

1) 0,163 0,163 0,151 0,163 0,148 0,310 0,886 0,452 13,14

Consumo de matéria seca em função da ingestão (CMS.Ing); consumo de matéria seca em

função da ruminação (CMS.Rum); Consumo de matéria seca em função da mastigação

(CMS.Mast); Efeito Linear (L); Efeito Quadrático (Q); Desvio da linearidade (DL); Coeficiente

de variação (CV).

Não houve diferença significativa (P>0,05) para a variável ócio. Pode-se

observar que o tempo despendido em ócio foi em média 1018,2 minutos,

correspondendo a 70,7% do tempo diário. Considerando-se que as dietas possuíam 80%

de concentrado, era esperado que os animais aumentassem o tempo em ócio, contudo,

essa porcentagem está abaixo do encontrado por outros autores que avaliaram o

comportamento de ovinos recebendo altas quantidades de concentrado na dieta e

verificaram 79% e 77% de ócio/dia, respectivamente para os seguintes autores Mendes

et al., 2010 e Cirne et al., 2014.

Não houve diferença significativa (P>0,05) para a eficiência alimentar de

ingestão, ruminação e mastigação de borregas alimentadas com níveis crescentes de

enzima amilolítica (Tabela 2). Cirne et al. (2014) trabalhando com cordeiros

alimentados com dietas exclusivas de concentrado encontraram média para eficiência de

ingestão de matéria seca de 0,415 g.h-1 valor abaixo da média encontrada no presente

trabalho de 0,463 g.h-1, ressalta-se que nesse experimento que 20% da dieta era

composto por silagem de milho.

Conclusão

Concluiu-se com este trabalho que o comportamento de borregas não foi

alterado com a inclusão de enzima amilolítica nos níveis testados.

Literatura Citada

CIRNE, L. G. A.; OLIVEIRA, G. J. C.; JAEGER, S. M. P. L.; et al. Comportamento

ingestivo de cordeiros em confinamento, alimentados com dieta exclusiva de

concentrado com diferentes porcentagens de proteína. Arquivo Brasileiro de Medicina

Veterinária e Zootecnia, v. 66, n. 1, p. 229–234, 2014.

FISCHER, V.; DESWYSEN, A.G.; AMOUCHE, E.H. et al. Efeitos da pressão de

pastejo sobre o padrão Nectemeral do comportamento ingestivo de ovinos em pastagem.

Rev. Bras. Zootec., v.27, p.164-170, 1998.

Page 192: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

192

MENDES, C.Q.; TURINO, V.F.; SUSIN, I. et al. Comportamento ingestivo de

cordeiros e digestibilidade dos nutrientes de dietas contendo alta proporção de

concentrado e diferentes fontes de fibra em detergente neutro. Rev. Bras. Zootec., v.39,

p.594-600, 2010.

OLIVEIRA, L. G. Desempenho de bovinos alimentados com dietas contendo enzimas

amilolíticas exógenas. Dissertação (Ciência Animal). Universidade Federal de Goiás.

35p. 2012.

REDDY, N. S.; NIMMAGADDA, A.; RAO, K. R. S. S. An overview of the microbial

α-amylase family. African Journal of Biotechnology, v.2, n.12, p.645-648, 2003.

REIS, R. A, LARA, E. C. RABELO, C. H. S. Enzimas na Nutrição de Ruminantes.

Palestras. Anais... X ução Animal, Teresina, PI: SNPA. p.22. 2015.

Page 193: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

193

Consumo de água e escore fecal de borregas alimentadas com níveis crescentes de

um complexo enzimático exógeno¹

Thaís Gabriela Taveira Bittar2, Jhone Tallison Lira de Sousa

3, José Victor dos Santos

2,

Lucas Rodrigues Queiroz4, Gilberto de Lima Macedo Junior

5, Luciano Fernandes

Sousa6

1Parte da tese de doutorado do segundo autor 2Discente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: [email protected]. 3Doutorando do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT. 4Discente de Medicina Veterinária, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG 5Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 6Docente do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT.

Resumo: O objetivo do presente trabalho foi avaliar o consumo de água e o escore fecal

de borregas alimentadas com níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno. O

experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no Setor de

ovinos e caprinos. Foram utilizadas cinco borregas mestiças (Santa Inês/Dorper), com

peso inicial médio de 61,16 ± 5,80 kg e aproximadamente oito meses de idade. O

delineamento experimental utilizado foi quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5

repetições por tratamento totalizando 25 unidades experimentais sendo as porcentagens

de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%). Não houve diferença significativa (P>0,05) para

o consumo de água (CH2O.animal-1.dia-1), consumo de água em função do consumo

de matéria seca ingerida (L.kgMS), consumo de água em função do peso vivo

(CH2O.%PV-1), consumo de água em função do peso metabólico (CH2O.PV-0,75). O

volume e a densidade da urina não sofreram influência (P>0,05) dos tratamentos. Não

houve diferença significativa (P>0,05) para o peso das fezes na matéria natural o escore

fecal também não foi afetado pela inclusão do complexo enzimático. Concluiu-se que os

níveis testados de enzima exógena no presente trabalho não afetaram nem o consumo de

água nem o escore fecal das borregas.

Palavras–chave: celulase, fezes, hidratação, nutrição, ovinos, protease

Water consumption and faecal score of ewes fed with increasing levels of an

exogenous enzyme complex¹

Abstract: The objective of the present study was to evaluate the water consumption and

fecal score of ewes fed with increasing levels of an exogenous enzymatic complex. The

experiment was conducted at the Universidade Federal de Uberlândia - UFU, in the

sheep and goat sector. Five mestizo lambs (Santa Inês/Dorper) were used, with a mean

initial weight of 61.16 ± 5.80 kg and approximately eight months of age. The

experimental design used was 5x5 Latin square, with 5 treatments and 5 replicates per

treatment, totaling 25 experimental units, with the percentages of enzymes (0.0, 0.5, 1.0,

1.5 and 2.0%) being used. There was no significant difference (P> 0.05) for water

consumption (CH2O.animal-1.day-1), water consumption as a function of intake of dry

matter intake (L.kgDM), water consumption of the live weight (CH2O.% LW-1), water

consumption as a function of metabolic weight (CH2O.LW-0.75). Urine volume and

density were not influenced (P> 0.05) by the treatments. There was no significant

difference (P> 0.05) for faecal weight in the natural matter, and the fecal score was not

affected by inclusion of the enzyme complex. It was concluded that the levels of

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194

exogenous enzyme tested in the present study did not affect neither the water

consumption nor the faecal score of lambs.

Keywords: cellulase, feces, hydration, nutrition, protease, sheep

Introdução

Pouco se sabe sobre a utilização de enzimas na nutrição de ruminantes visto que

estes possuem mecanismos diferentes de obtenção de energia via fermentação de

carboidratos no ambiente ruminal. Enzimas, amilolíticas, fibrolíticas e proteolíticas,

vem sendo testadas ao longo dos últimos anos visando a melhoria do valor nutritivo de

silagens de cereais (YOUNG et al., 2012), uma vez que estas estão entre os principais

alimentos utilizados na nutrição de ruminantes no Brasil (BERNARDES e RÊGO,

2014).

Para atingir máximo benefício com o uso de enzimas na nutrição de ruminantes,

um grande número de enzimas diferentes ou uma enzima com ação sobre diversos

substratos deveria ser usado na dieta, visto que as rações de ruminantes são compostas

por uma enorme variedade de alimentos incluindo volumosos, concentrados, sub e

coprodutos (TAKIYA, 2016).

O consumo de matéria seca está diretamente relacionado ao fornecimento e

qualidade de água consumida sendo o consumo de água uma variável muito importante

na avaliação de novas dietas para ruminantes. Diante do exposto o objetivo do presente

trabalho foi avaliar o consumo de água e o escore fecal de borregas alimentadas com

níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no

Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de

Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Todos os procedimentos foram

aprovados pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da UFU, registrado

pelo protocolo de nº 017/16.

Foram utilizadas cinco borregas mestiças (Santa Inês/Dorper), com peso inicial

médio de 61,16 ± 5,80 kg e aproximadamente oito meses de idade. No período de

adaptação, todos os animais foram vermifugados, identificados, pesados e distribuídos

aleatoriamente em gaiolas metabólicas, as quais eram providas de comedouro,

bebedouro, cocho com sal mineral e dispositivo apropriado para coleta de fezes e urina.

O experimento teve duração de sessenta dias, sendo compostos por cinco dias de

adaptação e cinco dias de coleta de sobras, fezes, urina.

As dietas foram calculadas para atender às exigências nutricionais de borregas

de porte médio, com ganho médio diário de 200 g.dia-1. As dietas foram fornecidas

duas vezes ao dia, às 08 e às 16h:00, na forma de ração total misturada (RTM), e o

consumo era ajustado de acordo com as sobras do dia anterior, sendo admitido as sobras

de 5 a 10% do total fornecido.

Os animais dispunham de água e sal mineral especifico para espécie ad libitum.

As rações eram compostas de milho moído, farelo de soja, sal mineral e ureia como

concentrado, que compunha 80% da ração, e silagem de milho como volumoso

perfazendo os outros 20%. As enzimas utilizadas compõem um produto comercial

(ALLZYME® SSF) composto por pectinase, protease, fitase, Betaglucanase, xilanase,

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195

celulase e amilase, os níveis de enzimas foram calculados de acordo com as

recomendações do fabricante, sendo cada porcentagem de enzima calculada em função

do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-1.dia-1). As enzimas eram

fornecidas diariamente junto com a alimentação e misturadas ao concentrado no

momento do fornecimento.

Tabela 1 – Proporção dos ingredientes na composição do concentrado da dieta

experimental.

Ingredientes g/kg

Milho Moído 605,0

Farelo de Soja 360,0

Ureia 10,00

Sal Mineral 25,00

A determinação do consumo foi feita pela diferença entre a quantidade ofertada

e as sobras durante cinco dias consecutivos. O delineamento experimental utilizado foi

quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25

unidades experimentais sendo os tratamentos as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0;

1,5 e 2,0%).

As análises estatísticas foram realizadas utilizado-se as médias dos tratamentos

sendo avaliadas por estudo de regressão com nível de significância de 5% de

probabilidade.

Resultados e Discussão

Na Tabela 2 são apresentados os dados de consumo de água (CH2O.animal-

1.dia-1), consumo de água em função do consumo de matéria seca (CH2O.CMS),

consumo de água em função do peso vivo (CH2O.%PV-1), consumo de água em função

do peso metabólico (CH2O.PV-0,75), volume, densidade da urina, peso das fezes e

escore fecal de borregas alimentadas com diferentes níveis de um complexo enzimático

exógeno.

Não houve diferença significativa (P>0,05) para os o CH2O.L; CH2O.CMS;

CH2O.%PV -1; CH2O.PV- 0,75. O CH2O médio foi de 3,875 L.animal-1.dia-1 estando

abaixo do normal segundo Nunes, (1998) para animais de clima quente, que é de 5 a 6

L.animal.-1dia-1. De acordo com o NRC (2007), o consumo voluntário de água em

ovinos é de duas a três vezes a ingestão de matéria seca, dessa forma os animais

consumiram o recomendado para espécie.

O volume e a densidade da urina não sofreram influência (P>0,05) dos

tratamentos. A densidade específica da urina está diretamente relacionada com a

capacidade dos rins do animal em concentrá-la. A média para a densidade urinária dos

animais desse experimento foi de 1,034 kg.L estando dentro do recomendado para

pequenos ruminantes que varia de 1,015 a 1,045 (Carvalho, 2008).

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196

Tabela 2 - Consumo de água (CH2O.animal-1.dia-1), consumo de água em

função do consumo de matéria seca ingerida (L.kgMS), consumo de água em função do

peso vivo (CH2O.%PV-1), consumo de água em função do peso metabólico (CH2O.PV-

0,75), volume, densidade da urina, peso das fezes e escore fecal de borregas alimentadas

com diferentes níveis de um complexo enzimático exógeno.

Variáveis Tratamentos CV

(%) 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% L Q DL CH2O (L.dia) 4,102 3,583 4,181 3,630 3,881 0,591 0,654 0,119 13,12

CH2O.CMS

(L,kgMS) 3,956 2,917 3,446 3,051 3,424 0,351 0,120 0,223 20,26

CH2O.%PV-1 6,29 5,55 6,38 5,54 5,97 0,501 0,570 0,086 11,36

CH2O

(mL.PV-0,75) 178,83 157,47 181,60 157,59 169,52 0,524 0,591 0,094 11,80

Volume da

Urina (L) 0,833 0,889 0,932 0,825 0,743 0,371 0,197 0,897 22,05

Densidade da

Urina (kg.L) 1,029 1,030 1,028 1,044 1,042 0,149 0,706 0,585 1,78

Peso das fezes

(g) 0,704 0,610 0,653 0,587 0,703 0,911 0,278 0,673 25,14

Efeito Linear (L); Efeito Quadrático (Q); Desvio da linearidade (DL); Coeficiente de variação

(CV).

Não houve diferença significativa (P>0,05) para o peso das fezes na matéria

natural. O peso das fezes aliado com o escore fecal pode nos indicar a saúde do trato

gastrointestinal o escore fecal também não foi afetado pela inclusão do complexo

enzimático. Novos trabalhos dever ser conduzidos afim de elucidar os mecanismos com

que agem as enzimas no metabolismo animal.

Conclusão

Concluiu-se que os níveis testados de enzima exógena no presente trabalho não

afetaram nem o consumo de água nem o escore fecal das borregas.

Literatura Citada

BERNARDES, T. F.; RÊGO, A. C. Study on the practices of silage production and

utilization on Brazilian dairy farms. Journal of Dairy Science, v.97, n.3, p.1852 -1861,

2014.

CARVALHO, M. B. Semiologia do Sistema Urinário. In: FEITOSA, F.L. Semiologia

Veterinária: a arte do diagnóstico. São Paulo: Roca. Cap. 9, p.389- 409, 2008.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of small

ruminants. Washington, D. C.: National Academy Press., 362 p. 2007.

NUNES, I. J. Nutrição animal básica. 2 ed. Belo Horizonte: UFMG, 388 p. 1998.

Page 197: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

197

TAKIYA, C, S. Desempenho de bovinos alimentados com dietas contendo enzimas

amilolíticas exógenas. 2016. 83 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de São Paulo, Pirassununga. 2016.

YOUNG, K. M.; LIM, J. M.; DER BEDROSIAN, M. C. et al. Effect of exogenous

protease enzymes on the fermentation and nutritive value of corn silage. Journal of

Dairy Science, v.95, n.11, p.6687-6694, 2012.

Page 198: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

198

Determinação da lignina em feno de capim-tifton 85 por diferentes métodos

Bruno Fernandes Vireira1, Leandro Galzerano

2, Eliane da Silva Morgado

3

1Graduando do Curso de Zootecnia da Universidade Federal de Uberlândia. e-mail: [email protected] 2Instituto Federal de Brasília – IFB. e-mail: [email protected] 3Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Medicina Veterinária. e-mail: [email protected]

Resumo: A lignina é um componente da parede celular dos vegetais e sua determinação

é de grande importância na nutrição de ruminantes, pois pode limitar a digestão dos

carboidratos fibrosos. Objetivou-se comparar três metodologias para determinação da

lignina em detergente ácido no feno de capim-tifton 85. As metodologias testadas

foram: método 1 - determinação da lignina pelo método INCT-CA F-005/1; método 2 -

determinação da lignina pelo o método 8 da Ankom Technology modificado; método 3

- determinação da lignina após análise da fibra em detergente ácido (FDA) com abertura

do saco de TNT. Não foram observadas diferenças significativas entre os três métodos

avaliados. Os valores médios de lignina obtidos foram: 7,17 %, 7,10 % e 7,11 % de

lignina na matéria seca, respectivamente, para os métodos 1, 2 e 3. Os métodos 2 e 3

podem ser utilizados quando se pretende realizar as análises sequênciais da fibra em

detergente neutro, fibra em detergente ácido e lignina utilizando-se o equipamento

digestor de fibra. Os três métodos avaliados apresentaram-se satisfatórios na

quantificação do teor de lignina no feno de capim-tifton 85.

Palavras–chave: compostos fenólicos, fenilpropanóides, fibra, parede celular vegetal

Determination of lignin in Tifton 85 hay by different methods

Abstract: Lignin is a component of the cell wall of vegetables and its determination is

of great importance in ruminant nutrition as it may limit the digestion of fibrous

carbohydrates. The objective of this study was to compare three methodologies for acid

detergent lignin determination in tifton 85 hay. The methodologies tested were: method

1 - determination of lignin by the INCT-CA method F-005/1; method 2 - determination

of lignin by method 8 of the modified Ankom Technology; method 3 - determination of

lignin after analysis of acid detergent fiber (FDA) with opening of the bag of TNT. No

significant differences were observed between the three evaluated methods. The mean

values of lignin obtained were: 7.17%, 7.10% and 7.11% lignin in the dry matter,

respectively, for methods 1, 2 and 3. Methods 2 and 3 may be used when performing the

sequential analyzes of the neutral detergent fiber, acid detergent fiber and lignin using

the fiber digester equipment. The three evaluated methods were satisfactory in the

quantification of lignin content in tifton 85 hay.

Keywords: fiber, phenolic compounds, phenylpropanoids, plant cell wall

Introdução

A lignina é um componente da parede celular vegetal formada por um complexo

polímero fenólico altamente condensado e considerada indigestível pelos animais

mamíferos (Van Soest, 1994). A sua estimativa é de grande importância na nutrição de

animais herbívoros, pois está associada a fatores que limitam a digestibilidade dos

nutrientes com: a possível a ação tóxica dos ácidos fenólicos sobre os micro-organismos

ruminais não adaptados; a barreira física que a lignina provoca entre os carboidratos da

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199

parede celular e as enzimas dos micro-organismos ruminais, e a ligação covalente entre

a lignina e os carboidratos da parede celular, que seria o principal mecanismo pelo qual

a lignina inibe a digestão desses carboidratos (Van Soest, 1994).

Objetivou-se com o este estudo comparar três metodologias de determinação da

lignina em detergente ácido utilizando-se como amostra o feno de capim-tifton 85.

Material e Métodos

O experimento foi realizado no Laboratório de Bromatologia e Nutrição Animal

pertencente à Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de

Uberlândia. Foram avaliados três diferentes métodos analíticos para a determinação da

lignina em detergente ácido, com 10 repetições para cada método. O feno de capim-

tifton 85 foi utilizado como amostra, sendo moído em moinho de facas contendo

peneira com crivo de 1mm, e acondicionado em pote plástico devidamente identificado.

As soluções de detergente ácido e de ácido sulfúrico foram preparadas no laboratório

anteriormente as análises, conforme preconizado por Detman et al. (2012).

Os métodos avaliados para quantificação da lignina foram: Método 1:

determinação da lignina em ácido sulfúrico 12 M, pelo método INCT-CA F-005/1

(Detman et al., 2012), no resíduo da análise da fibra em detergente ácido (FDA)

utilizando-se cadinho filtrante e autoclave; Método 2: determinação da lignina em ácido

sulfúrico 12M pelo método 8 da Ankom Technology (2017) modificado, com

substituição do saco F57 (Ankom

®) pelo saco de TNT (100g/m2). A análise da lignina, neste método, foi realizada no

resíduo da análise da FDA sem abertura dos sacos de TNT, sendo estes colocados em

um béquer e adicionado ácido sulfúrico 12M em quantidade suficiente para cobrir todos

os sacos, misturando os sacos a cada 30 minutos, por um período de 3 horas. A análise

da FDA foi feita segundo o método segundo o método INCT-CA F-003/1 (Detman et

al., 2012) utilizando-se o equipamento determinador de fibra e sacos de TNT (100g/m2),

medindo 5 cm de comprimento por 5 cm de largura, mantendo-se a relação de 20 mg de

matéria seca por centímetro quadrado de superfície (Nocek, 1988); Método 3 –

determinação da lignina em ácido sulfúrico 12M, com abertura do saco de TNT após

análise da FDA. A análise da FDA foi realizada segundo o método INCT-CA F-003/1

(Detman et al., 2012) utilizando-se o equipamento determinador de fibras e sacos de

TNT (100g/m2) medindo 5 cm de comprimento por 5 cm de largura, mantendo-se a

relação de 20 mg de matéria seca por centímetro quadrado de superfície (Nocek, 1988).

Para a análise da lignina foi feita a abertura dos sacos de TNT e transferência

quantitativa do resíduo da FDA para cadinhos filtrantes. Foi adicionada, a cada cadinho

contendo os resíduos, solução de ácido sulfúrico 12M até atingir a metade da altura dos

cadinhos, sendo homogeneizado a cada 30 minutos com bastão de vidro até completar 3

horas. Em sequência, os cadinhos foram filtrados sob vácuo e lavados com água

destilada quente e levados para estufa a 105°C por 16 horas. Em seguida os cadinhos

foram pesados e transferidos para forno mufla a 500°C por 3 horas. A quantificação da

lignina foi feita pela perda de peso após incineração.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualisado com três

tratamentos (métodos) e dez repetições. Os dados foram avaliados por meio da análise

de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade,

utilizando-se o programa estatístico R 3.3.2 (2015).

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200

Resultados e Discussão

Não foram observadas diferenças significativas entre os três métodos avaliados

para quantificar o teor de lignina no feno de capim-tifton 85 (Tabela 1).

Tabela 1. Valores médios do teor de lignina do feno de capim-tifton 85 pelos três

diferentes métodos avaliados.

Item % de lignina na matéria seca

Método 1- INCT-CA F-005/1 7,17 a

Método 2- método 8 Ankom Technology modificado 7,10 a

Método 3 – Abertura do saco de TNT da FDA 7,11 a

CV1

9,37

Valor de P 0,95 1Coeficiente de variação. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre

si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

A determinação da lignina pelos métodos 2 e 3 (Tabela 1) pode ser uma boa

alternativa quando se pretende realizar analises sequênciais da fibra em detergente

neutro, fibra em detergente ácido e lignina utilizando-se o equipamento digestor de fibra

e sacos de TNT (100g/m2).

Comparando a demanda de tempo entre os três métodos avaliados e a quantidade

da solução de ácido sulfúrico gasta nas análises, o método 2 apresentou-se como mais

rápido e com menor gasto de solução.

O método 8 Ankom Technology (2017), descreve a análise da lignina em

detergente ácido utilizando saco F57 (Ankom ®

). No presente estudo, o método 2

testado foi o método 8 da Ankom Technology modificado, com o uso de sacos de TNT

(100g/m2) ao invés do saco F57 (Ankom

®). Valente et al. (2011) avaliaram a

determinação da fibra em detergente neutro em aparelho digestor de fibra de diferentes

amostras em diferentes sacos e observaram que a utilização de sacos F57 (Ankom ®) e

de TNT (100g/m2), não diferiram na análise da fibra em detergente neutro, indicando

que o sacos de TNT pode ser utilizado como um tecido alternativo ao F57 (Ankom ®)

de maior custo. No entanto, não foram encontrados trabalhos na literatura com

substituição do saco F57 (Ankom ®) pelo saco de TNT (100g/m

2).

Com os resultados obtidos, no presente estudo, pode-se inferido que o uso de

ácido sulfúrico 12M não causou dano aparente nos sacos de TNT, uma vez que a

solução ácida poderia promover a alteração da estrutura física do tecido de TNT, e

proporcionar perda de partículas da amostra avaliada. No entanto, mais estudos devem

ser realizados relacionados à alteração da estrutura física dos sacos de TNT, após o

tratamento ácido. Como o realizado por Casali et al. (2009), que avaliaram a estrutura

física dos sacos de TNT (100g/m2) e do saco F57 (Ankom

®), por meio de microscopia,

após incubação ruminal para a determinação da fibra em detergente neutro indigestível,

e verificaram que os sacos de TNT não sofrem alteração em sua integridade física após

incubação ruminal e após o tratamento com detergente neutro.

Conclusões

Os três métodos avaliados apresentaram-se satisfatórios na quantificação do teor

de lignina no feno de capim-tifton 85.

Page 201: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

201

Literatura citada

ANKOM. 2017. Method 8 – determining Acid Detergent Lignin in beakers. Disponível

em: https://www.ankom.com/sites/default/files/document-

files/Method_8_Lignin_in_beakers.pdf. Acesso em: 05/08/2017.

CASALI, A.O.; DETMANN, E.; VALADARES FILHO, S.C.; PEREIRA, J.C.;

CUNHA, M.; DETMANN, K.S.C.; PAULINO, M.F. Estimação de teores de

componentes fibrosos em alimentos para ruminantes em sacos de diferentes tecidos.

Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, p.130-138, 2009.

DETMAM, E.; SOUZA, M.A.; VALADARES FILHO, S.C.; QUEIROZ, A.C.;

BERCHIELLI, T.T.; SALIBA, E.O.S.; CABRAL, L.S.; PINA, D.S. LADEIRA, M.M.;

AZEVEDO, J.A.G. Métodos para análise de alimentos – INCT Ciência Animal.

Visconde do Rio branco: Suprema, 2012. 214p.

NOCEK, J. In situ and other methods to estimate ruminal protein and energy

digestibility: a review. Journal of Dairy Science, v.71, p.2051-2069, 1988.

VALENTE, T.N.P; DETMANN, E.; VALADARES FILHO, S.C.; QUEIROZ, A.C;

SAMPAIO, C.B.; GOMES, D.I. Avaliação dos teores de fibra em detergente neutro em

forragens, concentrados e fezes bovinas moídas em diferentes tamanhos e em sacos de

diferentes tecidos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.40, n.5, p.1148-1154, 2011.

VAN SOEST, P.J. Nutrition ecology of the ruminants. Ithaca, New York: Cornell

University Press, 1994. 6p.

Page 202: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

202

Dinâmica do alongamento de folhas e colmos ao longo da rebrotação em pastos de

Brachiaria decumbens cv. Basilisk submetidos a regimes de fertilização¹

Lilian Elgalise Techio Pereira2, Bruna Scalia de Araújo Passos

3, Jorge Luis Malafatti

3,

Luan Jardim de Sousa4, Caio Augusto Bertolini

4, Valdo Rodrigues Herling

2

1Parte da dissertação de mestrado da segunda autora 2Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:

[email protected]; [email protected] 3Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Área de concentração:

Qualidade e Produtividade Animal, Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos

(FZEA/USP). e-mail: [email protected]; [email protected] 4Graduação em Engenharia de Biossistemas,

Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail: [email protected];

[email protected]

Resumo: A compreensão da plasticidade para ajuste em características de crescimento

ao longo da rebrotação é essencial para estabelecer metas de manejo compatíveis com a

amplitude de resistência e tolerância das plantas à desfolhação. Para compreender a

dinâmica do alongamento de folhas e colmos ao longo da rebrotação, pastos de

Brachiaria decumbens cv. Basilisk submetidos a combinações entre regimes de

fertilização e severidades de desfolhação foram avaliados no final de primavera e verão.

O experimento foi realizado na USP/FZEA, de outubro/2016 a março/2017. Os

tratamentos corresponderam a três regimes de fertilização (calagem para elevar a

saturação de base do solo (V%) e adubação com nitrogênio, fósforo e potássio (NPK)):

Fert1= V% de 35 + 1% K/CTC + 9 mg/dm3 de P no solo + 40 kg de N/ha por ano;

Fert2= V% de 50 + 2% K/CTC + 12 mg/dm3 de P no solo + 60 kg de N/ha por ano; e

Fert3= V% de 65 + 3% K/CTC + 15 mg/dm3 de P no solo + 90 kg de N/ha por ano.

Para cada regime de fertilização, os dosséis foram submetidos a duas severidades de

corte (resíduo de 15 e 10 cm). Os tratamentos foram distribuídos em um delineamento

em blocos completos casualizados com três repetições, em arranjo fatorial 3 x 2. A taxa

de alongamento de folhas diminuiu a partir do 15º dia de rebrotação,

independentemente do regime de fertilização ou severidade de corte. Sob menores

níveis de fertilização, a adoção da altura de resíduo a 15 cm favoreceu maiores taxas de

alongamento de folhas, enquanto a maior severidade de desfolhação (10 cm) maximizou

o alongamento foliar quando associada a maiores níveis de fertilização, mas apenas nas

fases intermediárias da rebrotação. O alongamento de colmos ocorre ao final do período

de rebrotação, independentemente do regime de fertilização ou severidade de corte, e

prioritariamente no verão, sendo consequência da entrada da planta no período

reprodutivo nessa época.

Palavras–chave: época de florescimento, fertilidade de solo, saturação por bases

Leaf and stem elongation dynamics during regrowth of Brachiaria decumbens cv.

Basilisk pastures subjected to fertilization regimes

Abstract: The comprehension of plasticity to adjusting growth traits during regrowth is

essential to establish management targets compatible with the range of resistance and

tolerance of plants to defoliation. In order to understand the dynamics of leaf and stem

elongation along regrowth, Brachiaria decumbens cv. Basilisk pastures subjected to

combinations between fertilization regimes and defoliation severities were evaluated

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203

during late spring and summer. This experiment was carried out at USP/FZEA from

October/16 to March/17. Treatments corresponded to three fertilization regimes,

characterized by limestone to increase soil base saturation (V%) to 35, 50 or 65% plus

levels of nitrogen (N), phosphorus (P) and potassium (K) fertilization (Fert1, Fert2, and

Fert3), combined with two defoliation severities (stubble of 15 and 10 cm). Treatments

were distributed in a randomized complete block design with three replications (plots of

80 m²), in a factorial arrangement 3 x 2. Leaf elongation rates decreased from 15º day of

regrowth onwards, regardless fertilization regimes or defoliation severities. Under low

fertilization levels, the stubble at 15 cm promoted higher leaf elongation rates,

meanwhile for higher levels of fertilization, the maximization of this trait was favored

when a stubble of 10 cm was adopted, but only at intermediate phases of regrowth.

Stem elongation occurred during the final phases of regrowth, regardless fertilization

regimes or defoliation severities, and prioritarily during summer, being a consequence

of the entrance in the flowering period of the species during this season.

Keywords: flowering period, soil base saturation, soil fertility

Introdução

A compreensão da plasticidade para ajuste em características de crescimento do

indivíduo ao longo do processo de rebrotação é essencial para estabelecer metas de

manejo compatíveis com a amplitude de resistência e tolerância das plantas à

desfolhação. Para a grande maioria das espécies forrageiras tropicais, esse

conhecimento tem sido utilizado para estabelecer metas pré- e pós-pastejo capazes de

assegurar rápida recuperação da área foliar ao longo da rebrotação e máximo acúmulo

de folhas aliado ao mínimo acúmulo de colmos e material morto, de forma a

disponibilizar forragem com elevado valor nutritivo para o animal em pastejo (Da Silva

et al., 2015). Espécies do gênero Brachiaria são as mais utilizadas em sistemas

baseados em pastagens no Brasil. Neste gênero, a Brachiaria decumbens possui

destaque dado sua plasticidade de ajuste em atributos morfofisiológicos que a permitem

manter persistência sob condições de baixa fertilidade de solo, além de adaptar-se e se

manter produtiva sob amplas condições de manejo (Pedreira et al., 2017). Todavia, sua

habilidade de ajuste em atributos de crescimento do indivíduo ao longo da rebrotação,

particularmente folhas e colmos, permanece pouco explorada (Pereira et al., 2018).

Assim, o objetivo deste trabalho é compreender a dinâmica do alongamento de folhas e

colmos ao longo do processo de rebrotação em pastos de Brachiaria decumbens cv.

Basilisk nas épocas de final de primavera e verão, em resposta a níveis de calagem

associada a adubação com nitrogênio, fósforo e potássio (regimes de fertilização) e

submetidos a distintas severidades de desfolhação.

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de

Alimentos (USP/FZEA), Pirassununga, São Paulo, Brasil (21º 36’ N; 47º 15’ W, 620

m), de outubro de 2016 a março de 2017. A espécie estudada foi a Brachiaria

decumbens cv. Basilisk, estabelecida em Latossolo vermelho distrófico, cuja área

experimental era composta por 18 piquetes com 80 m² (10 m x 8 m). As atividades deste

experimento tiveram início a partir do corte de uniformização a 5 cm de altura,

realizado em julho de 2016. Os tratamentos corresponderam a três regimes de

Page 204: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

204

fertilização (calagem para elevar a saturação de base do solo (V%) e adubação com

nitrogênio, fósforo e potássio (NPK)), definidas com o objetivo de construir distintos

níveis de fertilidade do solo: Fert1= V% de 35 + 1% K/CTC + 9 mg/dm3 de P no solo

+ 40 kg de N/ha por ano; Fert2= V% de 50 + 2% K/CTC + 12 mg/dm3 de P no solo +

60 kg de N/ha por ano; e Fert3= V% de 65 + 3% K/CTC + 15 mg/dm3 de P no solo +

90 kg de N/ha por ano. Para cada regime de fertilização, os dosséis foram submetidos a

duas severidades de corte, correspondentes a alturas de resíduo de 15 e 10 cm. Os

tratamentos foram distribuídos em um delineamento de blocos completos ao acaso com

três repetições, em esquema fatorial 3 x 2. O critério para definir a condição pré-corte

foi o momento em que o dossel interceptava 95% da radiação solar fotossinteticamente

ativa (IL95%), e os cortes foram realizados com auxílio de roçadora costal. As taxas de

alongamento de folhas (TAlF) e colmos (TAlC), em cm/perfilho por dia, foram obtidas

a partir do monitoramento de 5 perfilhos ao longo do processo de rebrotação, durante

um ciclo de rebrotação no final de primavera e dois no verão, e os valores médios são

apresentadas para intervalos de 5 dias. A análise da variância foi realizada

separadamente para cada estação do ano. Os regimes de fertilização, severidades de

corte, fase de rebrotação e suas interações foram considerados fatores fixos e bloco um

fator aleatório. A fase de rebrotação foi considerada medida repetida no tempo. A

matriz de covariância utilizada para ambas as variáveis no final de primavera foi CSH, e

no verão AR(1) e VC para TAlF e TAlC, respectivamente. Os dados foram analisados

com o PROC MIXED, as médias estimadas pelo LSMEANS, e a comparação entre elas

realizada pelo PDIFF, sendo diferenças declaradas significativas quando P<0,05.

Resultados e Discussão

As taxas de alongamento de folhas variaram com a interação regimes de

fertilização x severidade de corte x fase de rebrotação (P=0,0015) no final de primavera.

Todavia, não houveram efeitos significativos sobre a taxa de alongamento de colmos

(P>0,05) nessa época, a qual manteve-se constante ao longo da rebrotação (0,10 ± 0,03

cm/perfilho por dia), indicando que a meta de IL95% foi efetiva em controlar esse

processo (Da Silva et al., 2015). Diferenças em taxas de alongamento de folhas entre os

regimes de fertilização foram registradas na fase correspondente ao 11o e 15º dias de

rebrotação e na fase seguinte, 16o e 20º dias de rebrotação. De forma geral, a adoção da

altura de resíduo a 15 cm favoreceu a manutenção de maiores taxas de alongamento de

folhas para o menor nível de fertilização, enquanto a maior severidade de desfolhação

maximizou o alongamento foliar quando associada aos maiores níveis de fertilização.

No verão, houve efeito apenas da fase de rebrotação para ambas as variáveis

(P<0,0001), com decréscimos nas taxas de alongamento de folhas entre o 11o e 15º dias

de rebrotação, atingindo os menores valores nas fases finais de rebrotação (Figura 1).

Aumentos de cerca de 146% nas taxas de alongamento de colmos nessa época foram

registradas após os 20 dias de rebrotação, independentemente do regime de fertilização

ou severidade de desfolhação (Figura 1). Maiores taxas de alongamento de colmos no

verão, comparativamente ao final de primavera, também foram reportadas por Fagundes

et al. (2006) para a mesma espécie, sendo este padrão de resposta atribuído à entrada no

reprodutivo, fato que afeta inclusive a altura em que os dosséis atingem o ponto de

IL95% (Pereira et al., 2018).

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205

Figura 1 – Taxas de alongamento de folhas (TAlF) e colmos (TAlC) ao longo do período de

rebrotação de pastos de Brachiaria decumbens cv. Basilisk no final de primavera e verão. Para cada

variável e em cada época do ano, letras minúsculas comparam fases do período de rebrotação

(P<0,05).

Conclusões

A taxa de alongamento de folhas em Brachiaria decumbens cv. Basilisk diminui

a partir do 15º dia de rebrotação, independentemente do regime de fertilização ou

severidade de corte. Sob menores níveis de fertilização, a adoção da altura de resíduo a

15 cm favorece maiores taxas de alongamento de folhas, enquanto a maior severidade

de desfolhação (10 cm) maximiza o alongamento foliar se associada a maiores níveis de

fertilização. O alongamento de colmos nessa espécie ocorre prioritariamente no verão,

ao final do período de rebrotação.

Agradecimentos

Ao CNPq, pela concessão de apoio financeiro (Processo Número: 403263/2016-

6) e ao Grupo de Estudos em Forragicultura e Pastagens (GEFEP/FZEA), pelo apoio

nas atividades de campo.

Literatura citada

Da Silva, S.C.; Sbrissia, A.F.; Pereira, L.E.T. Ecophysiology of C4 forage grasses-

understanding plant growth for optimizing their use and management. Agriculture, v.

5, p. 598-625, 2015.

Fagundes, J.L.; Fonseca, D.M.; Mistura, C.; Morais, R.V.; Vitor, C.M.T.; Gomide, J.A.;

Nascimento Jr., D.; Casagrande, D.R.; Costa, L.T. Características morfogênicas e

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206

estruturais do capim-braquiária em pastagem adubada com nitrogênio avaliadas nas

quatro estações do ano. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, p. 21- 29, 2006.

Pedreira, C.G.S.; Braga, G.J.; Portela, J.N. Herbage accumulation, plant-part

composition and nutritive value on grazed signal grass (Brachiaria decumbens) pastures

in response to stubble height and rest period based on canopy light interception. Crop

& Pasture Science, v. 68, p. 62-73, 2017.

Pereira, L.E.T.; Herling, V.R.; Avanzi, J.C.; Da Silva, S.C. Características morfogênicas

e estruturais de capim- braquiária em resposta a calagem e severidade de corte.

Pesquisa Agropecuária Tropical, v.48, p.1-11, 2018.

Page 207: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

207

Efeito de diferentes aditivos alimentares sobre os metabólitos hepáticos e

energéticos de ovinos ¹

Débora Adriana de Paula Silva2, Gilberto de Lima Macedo Junior

3, Laura Ferrari

Monteiro Varanis4, Karla Alves Oliveira

4, Carolina Moreira Araújo

4, Tamires

Soares de Assis4

1Trabalho financiado com recursos do CNPq. 2Graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal de Uberlândia e-mail: [email protected] 3Professor Associado FAMEV/UFU email: [email protected] 4Mestranda do programa de pós graduação FAMEV/UFU e-mail: [email protected],

[email protected],

[email protected], [email protected].

Resumo: A suplementação através de aditivos é uma ferramenta valiosa na

maximização do desempenho dos animais, melhorando conversão alimentar, ganho de

peso, produção de leite e até mesmo estabilização do ambiente ruminal. Objetivou-se

com o experimento analisar e comparar os efeitos do volumoso Foragge® com

diferentes aditivos sobre o perfil metabólico de ovinos. Para isso ut ilizou-se 20 ovelhas

adultas da raça santa Inês acima de quatro anos, com média de peso 64,50kg, não

gestantes e não lactantes alocadas em gaiolas metabólicas, previamente vermifugadas e

vacinadas. O experimento teve duração de 20 dias sendo duas fases com 10 dias de

adaptação e 5 dias de coleta em cada e foi delineado em blocos casualizados com 5

tratamentos e 8 repetições. Os tratamentos foram: Foragge® Essential; Foragge® Max;

Foragge® AA; Foragge® Bypro e Foragge® Factor, ofertados duas vezes ao dia, as 8h

e as 16h. Foram feitas três coletas de sangue para análise laboratorial, sempre antes da

oferta do alimento para analisar triglicerídeos, colesterol, VLDL, AST, GGT e fosfatase

alcalina. Apenas os valores de colesterol e AST apresentaram diferenças est atísticas.

Triglicerídeos, VLDL e fosfatase alcalina não apresentaram diferenças e mantiveram-se

dentro dos valores de referência, os valores de GGT não apresentaram diferenças,

porém a média dos dados coletados ficou acima do valor de referência. Conclui-se que o

Foragge® Bypro e Factor promovem aumento do colesterol e melhor aproveitamento

energético.

Palavras–chave: tanino; leveduras; extrusão.

Effect of different types of food on the hepatic and energetic metabolites of sheep

Abstract: Feed supplementation through additives is a valuable tool in maximizing

animal performance, improving feed conversion, weight gain, milk production and even

stabilization of the ruminal environment. The objective of this experiment was to

analyze and compare the effects o f the extrudated roughage Foragge® with different

additives on the metabolic profile of sheep. Twenty Santa Inês ewes over four years old

were used, with a mean weight of 64.50 kg, non-pregnant and non-lactating, allocated in

metabolic cages previously vaccinated and dewormed. The experiment was designed in

a complete randomized block with five treatments and eight replications and lasted 20

days, divided in two phases with ten days of adaptation and five days of collection in

each phase. The animals received five types of feed: Foragge® Essential; Foragge®

Max; Foragge® AA; Foragge® Bypro and Foragge® Factor, offered twice a day, 8 am

and 4 pm. Three blood samples were taken for laboratory analysis, always before the

food supply to analyze triglycerides, c holesterol, VLDL, AST, GGT and alkaline

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208

phosphatase. Only the values of cholesterol and AST presented statistical differences.

Triglycerides, VLDL and alkaline phosphatase showed no differences and remained

within the reference values, the GGT values did not show differences but the average of

the data collected was above the reference value. It is concluded that Foragge® Bypro

and Factor promote cholesterol increase and better energy utilization.

Keywords: tannin; yeasts; extrusion.

Introdução

Existem diversos suplementos alimentares capazes de promover melhorias no

desempenho de animais ruminantes, entre eles aditivos. Eles são capazes de incrementar

na conversão alimentar, ganho de peso, produção de leite e até mesmo na sanidade dos

animais atuando de diversas maneiras, influenciando na fermentação ruminal,

manutenção do pH e estabilização do ambiente ruminal protegendo-o de agentes

patogênicos (Nicodemo, 2001; De Oliveira, De Moura Zanine e Santos, 2005).

Para estudar os efeitos fisiológicos emprega-se desde 1970 o estudo dos perfis

metabólicos, que é a análise de alguns componentes hemato-bioquimicos específicos

que fornecem informações sobre a homeostase dos animais e até mesmo em relação ao

status nutricional do rebanho (Diaz González et al., 2000). O objetivo do estudo foi

observar e comparar o efeito do Foragge® aditivado com óleos essenciais, tanino,

virginiamicina e leveduras sobre o perfil metabólico energético e hepático de ovinos.

Material e Métodos

O Experimento foi conduzido no setor de caprinos e ovinos da Universidade

Federal de Uberlândia – MG. Foram utilizadas 20 ovelhas adultas da raça Santa Inês,

acima de quatro anos, com peso médio de 64,50 kg não gestantes e não lactantes,

alocadas em gaiolas metabólicas equipadas com comedouro, bebedouro, saleiro, piso

ripado e artefato para separação de fezes e urina. As gaiolas foram colocadas em galpão

de alvenaria com telhas de barro. O experimento teve duração de 30 dias (outubro a

novembro de 2017), dividido em duas fases de quinze dias cada, onde em cada fase dez

foram para adaptação dos animais às condições experimentais e cinco dias de coletas de

dados. Os animais foram vermifugados com Monepantel e vacinados contra

leptospirose, raiva, clostridioses e botulismo.

O alimento (Foragge®) foi ofertado duas vezes ao dia, as 08h da manhã e as 16h

da tarde. Os animais tinham acesso a sal mineral e agua à vontade. Foram realizadas

diariamente as pesagens do ofertado e das sobras de cada animal para determinar o

consumo. Os animais receberam cinco tipos de volumoso extrusado, divididos entre os

tratamentos. Sendo esses, Foragge® Essential - com óleos essenciais; Foragge® Max –

com Virginiamicina®; Foragge® AA – associado com resíduo de levedura; Foragge®

Bypro – com Tanino; Foragge® Factor – com levedura purificada, todos os produtos

foram oferecidos pela empresa Nutratta®. A composição se encontra na tabela 1.

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209

Tabela 1. Composição bromatológica dos diferentes tipos de Foragge ®*.

Nutriente (%) Foragge®

Essential

Foragge®

Max Foragge® AA

Foragge®

Bypro

Foragge®

Factor

MS 90,0 90,0 90,0 90,0 90,0

PB 7,2 7,1 7,2 7,0 7,2

FDN 42,2 42,3 42,3 44,7 42,3

FDA 26,3 26,3 26,3 29,8 26,3

EE 1,9 2,0 1,9 1,6 2,0

MM 3,7 3,7 3,7 3,9 3,7

NDT 55,7 55,8 55,8 61,2 55,7

Amido 25,5 25,5 25,4 23,2 25,5

MS – matéria seca; PB – proteína bruta; FDN – fibra em detergente neutro; FDA – fibra em

detergente ácido; EE – extrato etéreo; MM – matéria mineral; NDT – nutrientes digestíveis

totais. *Dados fornecidos pela fabricante Nutratta.

As colheitas de sangue para avaliação dos componentes bioquímicos foram

realizadas por venopunção jugular com auxílio de tubos Vacutainer® sem anti-

coagulante, durante o período de coleta de dados em três dias alternados, sempre no

período da manhã, antes do fornecimento da primeira alimenta ção. As amostras de

sangue coletadas foram centrifugadas a 3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros

separados em alíquotas, guardados em microtubos e armazenados em freezer a -5ºC

para posterior análise laboratorial. Todas as amostras foram processadas em analisador

bioquímico automatizado (Bioplus ® 2000), usando kit comercial da Biotécnica®. Os

componentes bioquímicos energéticos e hepáticos analisados foram triglicerídeos,

colesterol, lipoproteína de baixíssima densidade (VLDL), aspartato aminotransferase

(AST), gama glutamiltransferase (GGT) e fosfatase alcalina. A VLDL foi obtida pela

divisão dos valores de triglicerídeos por cinco (FRIEDEWALD; LEVV e

FREDRICKSON, 1972).

O experimento foi delineado em blocos casualizados com cinco tratamentos e

oito repet ições. Foram feitas duas fases, trocando os animais de tratamento e blocando

o efeito dessas fases. Todos os dados apresentam normalidade e homogeneidade. Para

avaliação dos resultados utilizou -se teste T (P<0,05%).

Resultados e Discussão

Podemos observar que houve influência dos tratamentos sobre os metabólitos e

apenas as concentrações séricas de colesterol e AST apresentaram diferenças estatísticas

entre os tratamentos (tabela 2). Triglicerídeos, VLDL e fosfatase não apresentaram

diferenças. Contudo, as médias gerais se mantiveram dentro dos valores de referência.

No entanto a média geral da GGT ficou acima do valor de referência, mesmo não tendo

apresentado diferenças estatísticas.

Tabela 2. Valores médios dos metabólitos energéticos e hepáticos de ovelhas adultas em

função dos tratamentos.

Tratamentos Colesterol Triglicerídeos VLDL AST GGT Fosfatase

Foragge® Essential 42,45B 14,56 2,91 99,46B 59,17 259,95

Foragge® Max 44,58B 15,25 3,05 138,03B 65,27 277,41

Foragge® AA 45,20B 15,67 3,13 129,29B 50,86 248,50

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210

Foragge® Bypro 50,05AB 17,53 3,50 170,61AB 83,82 348,12

Foragge®Factor 53,33A 14,76 2,95 242,68A 79,36 281,79

MG 47,12 15,55 3,11 156,02 67,70 283,15

CV (%) 15,94 35,79 35,79 38,96 36,71 37,13

Valor de P 0,0411 0,9239 0,9239 0,0398 0,2194 0,3796

VR* 52-76 9-30 3-4 60-280 20-52 68-387

VLDL – lipoproteínas de baixíssima densidade; AST – aspartato aminotransferase; GGT - gama

glutamiltranferase

Médias seguidas de letras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge® Essential

- com óleos essenciais; Foragge® Max –com Virginiamicina

®; Foragge

® AA –associado com

resíduo de levedura; Foragge® Bypro –com T anino; Foragge

® Factor –com levedura purificada;

MG – média geral; CV (%) – coeficiente de variação. - * Valores de referência segundo Kaneko

et al. (2008)

Os tratamentos o Foragge® Bypro (contendo tanino) e Foragge® Factor

(contendo leveduras purificadas) se destacaram por elevar significativamente os valores

de colesterol e AST. Esse aumento indica maior aproveitamento energético e

consequentemente maior degradação de celulose e hemicelulose, devido ao fato de que

a síntese do colesterol ocorre no fígado a partir do acetil-CoA, provindo do ácido

acético produzido no rúmen pela fermentação da fibra da dieta ou de aminoácidos

provindos de proteínas degradadas no abomaso (Diaz Gonzalez et al., 2003). Esse efeito

pode ser explicado pelos componentes da dieta utilizada uma vez que aditivos como a

levedura tem capacidade de otimizar o funcionamento ruminal e os taninos de melhorar

aproveitamento da proteína ingerida. Os taninos são polifenóis de origem vegetal

capazes de interagir com moléculas de proteína, aminoácidos e polissacarídeos. Uma de

suas propriedades é a proteção de proteínas da degradação ruminal devido à formação

do complexo t aninoproteína, que é insolúvel e estável nas condições do rúmen. A

dissociação e degradação ocorre então no abomaso, proporcionando melhor utilização

da proteína dietética que será degradada em aminoácidos a serem aproveitados no

metabolismo do animal (Cordão et al. 2010). As leveduras também são muito utilizadas

na alimentação de ruminantes devido ao fato de proporcionarem melhor

desenvolvimento da microbiota ruminal, aumentando a população de bactérias

celulolíticas e diminuindo o número de protozoários (Nicodemo, 2010) ocasionando

melhorias na degradação da fibra no ambiente ruminal.

A aspartato aminotransferase (AST) e a gama glutamiltransferase (GGT) são

enzimas bastante utilizadas como indicadoras de atividade hepática (Souza Meira JR. et

al 2009). O aumento da concentração sérica da enzima AST se associado a outros

sintomas como icterícia está relacionado a lesões graves no fígado (De Jesus, De Souza

e Barcelos, 2014). Entretanto visto que as diferenças nos tratamentos promoveram

aumento do colesterol que este é sintetizado no fígado é possível deduzir que houve

maior atividade do órgão, elevando assim os valores de AST e GGT sanguíneos (De

Jesus, Waitzberg e Campos, 2000).

Conclusões

Concluiu-se que o uso de volumoso extrusado aditivados com levedura

purificada e tanino promovem aumento dos níveis séricos de colesterol e maior

aproveitamento energético sem gerar hepatopatias.

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211

Literatura citada

CORDÃO, M.A. et al. Taninos e seus efeitos na alimentação animal: Revisão

bibliográfica. PUBVET, Londrina, V. 4, N. 32, Ed. 137, Art. 925, 2010.

DIAZ GONZALEZ, Felix Hilario et al. Perfil metabólico em ruminantes: seu uso em

nutrição e doenças nutricionais. 2000.

DIAZ GONZALEZ, Felix Hilario; SCHEFFER, Jean LFS. Perfil sangüíneo: ferramenta

de análise clínica, metabólica e nutricional. Simpósio de Patologia Clínica

Veterinária (1.; 2003, Porto Alegre), 2003.

FRIEDEWALD, W. T,; LEVV, R. I.; FREDRICKSON, D. S. Estimation of the

concentration of low-density use of the preparative ultracentrifuge. Clin Chem, v. 18, p.

499-502, 1972.

Page 212: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

212

Metabólitos energéticos e hepáticos de ovelhas no final da gestação suplementadas

com dois níveis de concentrado¹

Marco Túlio Santos Siqueira2, Gilberto de Lima Macedo Júnior

3, Thauane Ariel

Valadares de Jesus2, Maria Julia Pereira de Araújo

2, Adriana Lima Silva

2, Paulo Arthur

Cardoso Ruela2

1Parte do trabalho de conclusão de curso do primeiro autor 2Graduando em Zootecnia, bolsista PIBIC/CNPQ. E-mail: [email protected] 3Professor Adjunto FAMEV/UFU. E-mail: [email protected]

Resumo: Dentro do sistema de produção de ruminantes a nutrição é responsável pela

maior porcentagem dos custos de produção. A suplementação materna no terço final da

gestação tem mostrado efeitos positivos tanto para a mãe quanto para os fetos. Diante

do exposto objetivou-se avaliar os parâmetros metabólicos energéticos e hepáticos de

ovelhas suplementadas com dois níveis de concentrado na dieta durante o final da

gestação. Para isso utilizou-se 41 ovelhas Santa Inês, ½ sangue e ¾ Santa Inês x Dorper,

com idade superior a dois anos e peso médio de 64 kg, separadas em dois grupos de

acordo com o tratamento, que foram diferentes níveis de concentrado na dieta (300 e

400 gramas/animal/dia). A dieta era composta de silagem de milho e concentrado, sendo

o trato fornecido duas vezes ao dia. Obteve-se o sangue coletado por venopunção

jugular, que foi centrifugado e separado o soro para posterior análise em laboratório. Foi

utilizado delineamento inteiramente casualizado, com medidas repetidas ao tempo. Não

houve diferença entre os tratamentos para as concentrações dos metabólitos energéticos

e hepáticos. LDL, CT/HDL, LDL/HDL e AST apresentaram diferença estatística dentro

do período experimental. Conclui-se que as diferentes quantidades de concentrado não

foram totalmente eficientes em manter o metabolismo energético e hepático dos

animais, alterando a concentração de alguns metabólitos no sangue durante o final da

gestação.

Palavras–chave: ovinos, nutrição, ruminantes

Energetic and hepatic metabolites of sheep at the end of gestation supplemented

with two levels of concentrate

Abstract: Within the ruminant production system, nutrition accounts for the highest

percentage of production costs. Maternal supplementation in the final third of gestation

has shown positive effects for both mother and fetus. The objective of this study was to

evaluate the energetic and hepatic metabolic parameters of sheep supplemented with

two levels of concentrate in the diet during the end of gestation. Thirty-one Santa Inês,

½ blood and ¾ Santa Inês x Dorper ewes, aged over two years and mean weight of 64

kg, were separated into two groups according to the treatment, which were different

levels of concentrate in the diet (300 and 400 grams / animal / day). The diet was

composed of corn silage and concentrate, the tract being supplied twice a day. The

blood collected by jugular venipuncture was obtained, which was centrifuged and

separated the serum for later analysis in the laboratory. A completely randomized

design with repeated measurements was used. There was no difference between the

treatments for the concentrations of energetic and hepatic metabolites. LDL, CT / HDL,

LDL / HDL and AST presented statistical difference within the experimental period. It

was concluded that the different amounts of concentrate were not totally efficient in

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213

maintaining the energetic and hepatic metabolism of the animals, altering the

concentration of some metabolites in the blood during the end of gestation.

Keywords: nutrition, ruminants, sheep

Introdução

A suplementação com concentrado para ovelhas gestantes no terço final da

gestação tem se mostrado eficaz em vários aspectos, como aumento do peso ao nascer

de cordeiros e aumento da produção de leite, o que influencia o peso à desmama e causa

redução da duração do anestro pós-parto, impactando diretamente no período de serviço

e no intervalo de partos (GERASEEV et al., 2006). Avaliando o perfil metabólico dos

animais é possível saber se esta nutrição está adequada e atende às exigências

nutricionais dos mesmos, uma vez que em algumas situações de desbalanço nutricional

podem ocorrer alterações nas concentrações de alguns metabólitos sanguíneos

(GONZÁLEZ et al., 2000).

Diante do exposto, objetivou-se avaliar o efeito da utilização de dois níveis de

suplementação com concentrado sobre os parâmetros metabólicos energéticos e

hepáticos de ovelhas gestantes.

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, nos meses

de julho a agosto de 2016. Foram utilizadas 41 ovelhas gestantes, com idade superior a

dois anos, Santa Inês, ½ sangue e ¾ Santa Inês x Dorper, com peso médio de 64 kg, nas

quais foi realizado ultrassonografia para diagnóstico de gestação, um mês após a

cobertura. Todos os animais foram mantidos em piquetes de 800m2 compostos de

Urochloa brizantha cv. Marandu rico em material fibroso de péssima qualidade devido

ao período seco, até o momento do experimento. Todos os animais tinham acesso à

água, sombra e proteinado.

Para início do experimento os animais foram confinados aos 135 dias de

gestação até o momento do parto, em baias coletivas, distribuídas em dois tratamentos

que se diferenciaram quanto ao nível de inclusão de concentrado (tabela 1) na dieta,

sendo cinco baias para cada tratamento com aproximadamente quatro animais em cada,

deste modo foram colocados 21 animais no tratamento com 300 gramas/animal/dia e 20

animais no tratamento com 400 gramas/animal/dia. A dieta, composta por silagem de

milho e concentrado foi ofertada de modo a suprir o consumo de 2,5% do peso corporal,

sendo divida em duas refeições diárias ofertadas às 8:00 e 16:00 horas.

Tabela 1. Composição centesimal do concentrado.

Ingrediente %

Farelo de milho

Farelo de soja

Farelo de glúten de milho/Promil

Sal mineral

60

22

15

2,25

Ureia protegida 0,75 Houve a inclusão de 200 gramas de adsorvente para cada 100 kg de concentrado batido.

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214

As colheitas de sangue para avaliação dos componentes bioquímicos foram por

venopunção jugular com auxílio de tubos Vacutainer® sem anti-coagulante realizadas

aos 135 dias de gestação e depois a cada cinco dias. Todas foram realizadas no período

da manhã, antes do fornecimento da primeira alimentação. As amostras de sangue

coletadas foram centrifugadas a 3500 rpm por 10 minutos, sendo os soros separados em

alíquotas, guardados em microtubos e armazenados em freezer a -5ºC para posterior

análise laboratorial. Os componentes bioquímicos para determinação do metabolismo

energético foram: colesterol, triglicerídeos, LDL (lipoproteína de baixa densidade),

HDL (lipoproteína de alta densidade) e VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade).

Para determinação da atividade hepática foram analisados os seguintes componentes

bioquímicos: AST (aspartatoaminotransferase), fosfatase alcalina e GGT

(gamaglutamiltransferase). O LDL foi obtido pela fórmula proposta por Friedewald et

al. (1972); o VLDL dividindo o valor de triglicerídeos por cinco.

LDL = CT – HDL – (TG/5)

Onde: LDL = LDL – colesterol; CT = colesterol total; HDL = HDL – colesterol;

TG = triglicerídeos; TG/5 = VLDL.

Todas as amostras foram processadas em analisador bioquímico automatizado

(Bioplus® 2000), usando kit comercial da GT Lab®.

Adotou-se o delineamento inteiramente casualizado com medidas repetidas ao

tempo, sendo dois tratamentos comparados com o teste de Tukey a 5% e 21 repetições

para o tratamento 300g/dia e 20 repetições para o tratamento 400g/dia. Para comparação

das médias ao longo do tempo foi usado estudo de regressão a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Não foi observado diferença entre os tratamentos para as concentrações dos

metabólitos energéticos e hepáticos (tabela 2), porém para os metabólitos lipoproteína

de baixa densidade (LDL), relação entre colesterol total e HDL, relação entre LDL e

HDL (lipoproteína de alta densidade) e aspartato aminotransferase (AST) observou-se

diferença estatística dentro do período experimental.

Os valores de triglicerídeos encontram-se dentro da referência, uma vez que a

dieta dos animais era constituída basicamente de silagem de milho, e alimentos

volumosos são responsáveis pela maior produção de ácido acético no rúmen que é um

dos ácidos graxos voláteis (AGV’s) precursores da síntese de gordura em ruminantes.

Os teores de colesterol também estiveram dentro do esperado em todos os tratamentos e

em quase todos os períodos, o que mostra que a dieta foi eficiente em manter o

metabolismo energético dos animais.

Os valores de HDL estiveram abaixo da faixa de referência nos dois tratamentos

e durante todo o período experimental. Esta lipoproteína é responsável pelo transporte

de colesterol dos tecidos para o fígado para que estes sejam metabolizados, o que indica

que não houve mobilização de colesterol para o fígado. Por outro lado, o LDL esteve

dentro do esperado e consiste de uma lipoproteína originária do fígado e responsável

pelo transporte de colesterol deste para os tecidos periféricos. Quando há predominância

de LDL, existe a tendência maior de deposição de colesterol nos tecidos, porque eles

não conseguem catabolizar o excesso de LDL.

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215

A aspartato aminotransferase (AST) é uma enzima citoplasmática e

mitocondrial, presente em vários tecidos como fígado, músculos esquelético e cardíaco.

Observou-se efeito linear negativo para esta enzima quando se avaliou o período

experimental. Porém estes valores se encontram dentro do valor de referência,

indicando que não houve alteração hepática nestes animais. Já a fosfatase alcalina é

usada como indicador de diversas condições patológicas, como a sobrecarga hepática.

De forma geral, os valores desta enzima estiveram dentro da faixa de referência

(KANEKO et al., 2008), também indicando bom funcionamento hepático dos animais.

A gama glutamiltransferase (GGT) é uma enzima usada como parâmetro bioquímico

para indicar alterações hepáticas e biliares. Em ambos os tratamentos essa enzima está

dentro dos valores de referência descritos por Kaneko et al. (2008), indicando que o

fígado desses animais encontravam-se em um metabolismo adequado, no entanto, nos

períodos 145 e 150, os valores de GGT ficaram acima do esperado o que pode indicar o

início de uma sobrecarga hepática, porém não suficiente para afetar os animais.

Tabela 2. Concentração média dos metabólitos energéticos e enzimas hepáticas em

função dos tratamentos e período experimental em dias de gestação e no momento do

parto.

Tratamento (g) Colesterol

(mg/dL)

Triglicerídeos

(mg/dL)

HDL

(mg/dL)

LDL

(g/dL)

VLDL

(g/dL)

300 59,58 20,94 24,62 38,92 4,18

400 61,59 23,98 24,70 41,77 4,79

Período

(dias de gestação)

Colesterol

(mg/dL)

Triglicerídeos

(mg/dL)

HDL

(mg/dL)

LDL1

(mg/dL)

VLDL

(g/dL)

135 60,65 18,92 23,85 35,43 3,78

140 52,48 22,68 24,36 35,75 4,53

145 63,98 26,25 24,79 47,42 5,25

150 (parto) 77,53 23,46 27,76 52,16 4,69

MG 60,63 22,53 24,66 40,41 4,50

CV 15,36 13,14 11,41 21,91 20,48

VR 52-76 9-30 49-53 29,4-65,9 3-4

Tratamento (g) CT/HDL

(mg/dL)

LDL/HDL

(mg/dL) AST (U/L)

Fosfatase

Alcalina

(U/L)

GGT (U/L)

300 2,66 1,86 115,03 87,81 47,77

400 2,97 2,16 107,23 89,89 49,17

Período (dias de

gestação)

CT/HDL2

(mg/dL)

LDL/HDL3

(mg/dL)

AST4

(mg/dL)

Fosfatase

Alcalina (g/dL)

GGT

(g/dL)

135 2,77 1,76 138,72 85,62 45,70

140 2,64 1,90 117,19 104,68 45,02

145 2,94 2,39 80,29 74,70 52,85

150 (parto) 3,29 2,19 85,96 86,38 56,76

MG 2,82 2,02 110,94 88,90 48,50

CV 34,68 12,11 7,07 10,87 7,99

VR 60-280 68-387 20-52 *Valores de referência por Kaneko, Harvey e Bruss (2008) e Ghoreishi et al., 2007; HDL:

lipoproteína de alta densidade; LDL: lipoproteína de baixa densidade; VLDL: lipoproteína de

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216

muito baixa densidade; CT/HDL: relação entre colesterol e lipoproteína de alta densidade;

LDL/HDL: relação entre lipoproteína de baixa densidade e lipoproteína de alta densidade; AST:

Conclusões

Conclui-se que a suplementação com concentrado foi eficiente em manter o

metabolismo energético e hepático dos animais alterando a concentração de alguns

metabólitos no sangue durante o final da gestação. Além disso, é importante destacar

que a nutrição durante a fase inicial da gestação pode influenciar negativamente a

produção desses animais, de modo que passam a necessitar de maiores suplementações

ao final da gestação.

Literatura citada

FRIEDEWALD, W. T.; LEVV, R. I.; FREDRICKSON, D. S. Estimation of the

concentration of low-density lipoprotein in plasma, without use of the preparative

ultracentrifuge. Clin Chem, v. 18, p. 499-502, 1972.

GERASEEV, L. C. PEREZ, J. R. O. CARVALHO, P. A. et al. Efeitos das restrições pré

e pós-natal sobre o crescimento e o desempenho de cordeiros Santa Inês do nascimento

ao desmame. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.1, 2006.

GHOREISHI, S.M.; ZAMIRI, M.J.; ROWGHANI, E.; HEJAZI, H. Effect of a calcium

soap of fatty acids on reproductive characteristics and lactation performance of fat-

tailed sheep. Pakistan Journal of Biological Sciences, v.10, n.14, p.2389-2395, 2007.

GONZÁLEZ, F. H. D.; BARCELLOS, J.; PATIÑO, H. O.; RIBEIRO, L. A. Perfil

metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais. 1. ed. Porto

Alegre, 2000. 108 p.

KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of

domestic animals. 6 ed. New York: Academic Press, 2008. 916 p.

Page 217: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

217

O Lactobacillus buchneri pode afetar as perdas fermentativas em um período curto

de armazenagem da silagem de milho?¹

Marina Elizabeth Barbosa Andrade2, Luis Gustavo Rossi

3, Carlos Henrique Silveira

Rabelo4, Ricardo Andrade Reis

5

1Parte da tese de doutorado da primeira autora 2Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, UNESP/FCAV. e-mail:

[email protected] 3Doutorando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, UNESP/FCAV. e-mail: [email protected]

4Discente do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Pelotas/UFPel. e-mail:

[email protected] 5Discente do Departamento de Zootecnia UNESP/FCAV. e-mail: [email protected]

Resumo: Objetivou-se avaliar o efeito da inoculação bacteriana sobre as perdas

fermentativas de silagens de milho armazenadas por 30 dias. O híbrido de milho

Impacto Víptera (Syngenta®) foi colhido mecanicamente com aproximadamente 35% de

matéria seca (MS), e o tamanho médio de partículas foi próximo a 10 mm. Após a

colheita, parte do milho permaneceu sem a aplicação de inoculante (tratamento

controle) e outra parte foi ensilada com Lactobacillus buchneri em uma concentração de

1 × 105 unidades formadoras de colônia (ufc)/g. Tubos de PVC com capacidade de 5 L

foram utilizados como silos experimentais com três repetições por tratamento, os quais

permaneceram fechados por 30 dias. O experimento foi conduzido em delineamento

inteiramente casualizado e as médias foram comparadas pela diferença mínima de

Fisher (opção PDIFF do LSMEANS do SAS; p < 0,05). Em comparação com a silagem

controle, a inoculação da silagem de milho com L. buchneri não alterou (p > 0,05) as

perdas de MS (média geral = 4,58%), produção de efluentes (média geral = 25,4 kg/t de

matéria verde) e perdas por gases (média geral = 0,02% da MS) após o período de 30

dias de armazenamento. O L. buchneri não altera as perdas fermentativas da silagem de

milho armazenada por um curto período de tempo.

Palavras–chave: bactéria heterofermentativa, perda de matéria seca, tempo de

fermentação

Can does Lactobacillus buchneri change fermentative losses of corn silage stored

for a short-period?

Abstract: The objective of this study was to evaluate the effect of bacterial inoculation

on the fermentative losses of corn silages stored for 30 days. The corn hybrid Impacto

Víptera (Syngenta®) was mechanically harvested at ~35% dry matter (DM) content in

order to obtain particles with 10 mm. After harvest, part of the corn remained untreated

(control treatment) and part of the corn was ensiled with at Lactobacillus buchneri at 1

× 105 colony forming unit (cfu)/g of fresh forage. The PVC tubes with 5 L capacity

were used as experimental silos in triplicate. Silos remained stored at room temperature

for 30 days. The experiment was conducted under a completely randomized design, and

means were compared by the Fisher's least significant difference test (PDIFF option of

SAS LSMEANS; p <0.05). As compared with the untreated silage, inoculation with L.

buchneri did not alter DM losses (overall mean = 4.58%), effluent production (overall

mean = 25.4 kg/t fresh matter), and gas losses (overall mean = 0.02% of DM) of corn

silage stored for 30 days. In conclusion, the L. buchneri did not change fermentative

losses of corn silage stored for a short-period time.

Keywords: dry matter loss, fermentation length, heterofermentative bacterium

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218

Introdução

A silagem de milho representa a principal fonte de volumoso na alimentação de

ruminantes no Brasil (Bernardes & Rêgo, 2014). Desta maneira, a busca por estratégias

que melhorem a qualidade de fermentação da mesma é imprescindível. Uma dessas

estratégias é a adição de inoculantes bacterianos, destacadamente o Lactobacillus

buchneri (bactéria ácido-lática heterofermentativa), que reduz a proliferação de fungos e

leveduras após a abertura do silo por meio da maior produção de ácido acético (Pedroso

et al., 2007). Outro ponto importante se refere aos parâmetros fermentativos, em que a

ação do L. buchneri deve modular o processo fermentativo resultando na alteração dos

produtos finais da fermentação e, consequentemente, resultar em alteração das perdas

fermentativas (Oliveira et al., 2013). Com isso, o objetivo do nosso trabalho foi avaliar

o efeito do L. buchneri sobre as perdas fermentativas de silagens de milho armazenadas

por 30 dias.

Material e Métodos

O híbrido de milho Impacto Víptera (Syngenta®) foi colhido com 2/3 da linha

de leite no grão, correspondendo a aproximadamente 35% de matéria seca (MS) em

toda a planta. A colheita do milho foi realizada de forma mecanizada com a ensiladeira

New Pecus® da Nogueira Máquinas, contendo quebrador de grãos, visando obterem-se

partículas com tamanho médio próximo a 10 mm. Após a colheita, parte do milho foi

ensilado com L. buchneri CNCM I-4323 (Lallemand Animal Nutrition, Goiânia, GO,

Brasil) em uma concentração de 1 × 105 unidades formadoras de colônia (ufc)/g de

forragem, e outra parte permaneceu sem a adição do inoculante (controle). O inoculante

foi diluído em água destilada (5 L/t) e aplicado sobre a forragem com auxílio de

borrifador manual sob constante homogeneização da forragem. A mesma quantidade de

água foi aplicada sobre a forragem do tratamento controle.

Tubos de PVC com capacidade de 5 L foram utilizados como silos

experimentais em triplicata por tratamento. A compactação da forragem foi realizada

com auxílio de soquetes de madeira visando obter-se uma massa específica próxima a

600 kg/m3 de matéria natural. Posteriormente, os silos foram lacrados com fita adesiva,

pesados e armazenados em temperatura ambiente por 30 dias. No momento da

ensilagem (tempo 0) e posteriormente (tempo 30), a forragem foi amostrada para

determinação do teor de MS, através do processo de secagem em estufa de ventilação

forçada a 55ºC por 72 horas.

Decorridos 30 dias de armazenagem, os silos foram novamente pesados para a

quantificação das perdas de MS, efluentes e perdas por gases, conforme proposto por

Jobim et al., (2007).

O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado. Os

dados foram analisados utilizando-se o procedimento MIXED do SAS (v. 9.4 SAS

Institute Inc., Cary, NC), considerando inoculação bacteriana como efeito fixo e o erro

como fator aleatório. As médias foram comparadas pela diferença mínima de Fisher

(opção PDIFF do LSMEANS do SAS). Em todos os testes, diferenças significativas

foram consideradas a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

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219

Não se observou diferença estatística entre a silagem de milho controle e a silagem de

milho inoculada com L. buchneri, armazenadas por 30 dias, para as variáveis perdas de

MS, produção de efluente e perdas de gases (p > 0,05; Tabela 1). O fato de não ter sido

observado diferenças entre os tratamentos provavelmente está associado ao baixo tempo

de armazenamento da silagem de milho (30 dias). Efeitos do uso de inoculantes

utilizando bactéria ácido-lática heterofermentativa são melhores observados quando a

silagem é armazenada por períodos maiores, devido, principalmente, ao contínuo

aumento na concentração de ácido acético e 1,2- propanodiol (produtos do metabolismo

do ácido lático pelo L. buchneri; Kleinschmit & Kung, 2006).

Tabela 1. Perdas fermentativas em silagem de milho armazenadas por 30 dias em

função da inoculação ou não com L. buchneri.

Silagem Perdas de MS (%

MS)

Produção de efluente (kg/t

MV) Perdas de gases (% MS)

Controle 4,21 ± 1,36 21,5 ± 4,46 0,020 ± 0,006

Inoculada 4,94 ± 1,36 29,3 ± 4,46 0,021 ± 0,006

p-valor 0,723 0,281 0,879

As perdas de MS verificadas neste estudo estão de acordo com àquelas

reportadas por Kleinschmit & Kung (2006), os quais verificaram perdas em torno de 5%

em silagem de milho por meio de uma abordagem meta-analítica.

Conclusões

A utilização do inoculante L. buchneri em silagem de milho armazenadas por 30

dias não diminuiu as perdas fermentativas.

Agradecimentos

Os autores são gratos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP) pela concessão da bolsa de estudos e auxílio

ceiro.

Literatura citada

Bernardes, T.F.; Rêgo, A.C. Study on the practices of silage production and utilization

on Brazilian dairy farms. Journal of Dairy Science, v. 97, p. 1852-1861, 2014.

Jobim, C,C,; Nussio, L,G,; Reis, R,A,; Schmidt, P, Avanços metodológicos na avaliação

da qualidade da forragem conservada, Revista Brasileira de Zootecnia, v, 36,

suplemento especial, p, 101-119, 2007.

Kleinschmit, D.H.; Kung, Jr., L. The effects of Lactobacillus buchneri 40788 and

Pediococcus pentosaceus R1094 on the fermentation of corn silage during various

stages of ensiling. Journal of Dairy Science, v. 89, p. 3999-4004, 2006.

Page 220: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

220

Oliveira, M. R.; Neumann, M.; Ueno, R. K.; Neri, J.; Marafon, F. Avaliação das perdas

na ensilagem de milho em diferentes estádios de maturação. Revista Brasileira de Milho

e Sorgo, v.12, n.3, p. 319-325, 2013.

Pedroso, A. de F.; Nussio, L.G.; Loures, D.R.S.; Paziani, S. de F.; Igarasi, M.S.;

Coelho, R.M.; Horii, J.; Andrade, A. de A. Efeito do tratamento com aditivos químicos

e inoculantes bacterianos nas perdas e na qualidade de silagens de cana-de-açúcar.

Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p.558-564, 2007.

Page 221: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

221

Padrão da distribuição nictemeral do comportamento de borregas alimentadas

com níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno¹

Thaís Gabriela Taveira Bittar2, Jhone Tallison Lira de Sousa

3, Karla Alves Oliveira

4,

Carolina Moreira Araújo4, Gilberto de Lima Macedo Junior

5, Luciano Fernandes Sousa

6

1Parte da tese de doutorado do segundo autor 2Discente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: [email protected]. 3Doutorando do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT. 4Discente de Mestrado em Zootecnia, FAMEVZ/UFU, Uberlândia, MG. 5Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 6Docente do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT.

Resumo: Objetivou-se com esse trabalho avaliar o comportamento ingestivo de

borregas alimentadas com diferentes inclusões de enzimas exógenas na dieta. O

experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no Setor de

ovinos e caprinos. Foram utilizadas cinco borregas, com peso inicial médio de 61,16 ±

5,80 kg e aproximadamente oito meses de idade. O delineamento experimental utilizado

foi quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando

25 unidades experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%).

O comportamento ingestivo foi realizado durante o período de 24 horas, com

observações de 5 em 5 minutos sendo as variáveis comportamentais: Ócio (O),

Ruminação (R), Ingestão (I) (considerando ingerindo sal, água e alimento) e Mastigação

(M). Não foi observado diferença estatística (P>0,05) para a variável ingestão, ócio,

mastigação consumo de matéria seca em função da ruminação (CMS.Rum), Consumo

de matéria seca em função da mastigação (CMS.Mast). Observou-se diferença

estatística (P<0,05) para as variáveis ruminação e consumo de matéria seca em função

da ingestão (CMS.Ing). Concluiu-se com este trabalho que o comportamento de ovinos

pode ser alterado com a inclusão de complexo enzimático exógeno.

Palavras–chave: aditivo, concentrado, enzimas, nutrição, ovinos, suplementação

Intake behavior nycterohemeral patterns ofewes fed with increasing levels of an

exogenous enzyme complex

Abstract: The objective of this work was to evaluate the ingestive behavior of lambs

fed with different exogenous enzymes in the diet. The experiment was conducted at the

Universidade Federal de Uberlândia - UFU, in the sheep and goat sector. Five lambs

were used, with a mean initial weight of 61.16 ± 5.80 kg and approximately eight

months of age. The experimental design used was 5x5 Latin square, with 5 treatments

and 5 replicates per treatment, totaling 25 experimental units, with the percentages of

enzymes (0.0, 0.5, 1.0, 1.5 and 2.0%) being used. The intake behavior was performed

during the 24 hour period, with observations of 5 in 5 minutes being the behavioral

variables: leisure (L), rumination (R), intake (I) (considering ingesting salt, water and

food) and chew (C). The dry matter intake as a function of chewing (IDM.Chew) was

not statistically significant (P> 0.05) for the intake, leisure, chewing dry matter

consumption as a function of rumination (IDM.Rum). Statistical difference (P <0.05)

was observed for rumination and dry matter intake as a function of intake (IDM.Int). It

was concluded with this work that sheep behavior can be altered with the inclusion of

exogenous enzymatic complex.

Keywords: additive, concentrate, enzymes, nutrition, sheep, supplementation

Page 222: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

222

Introdução

Estudos sobre a eficiência de utilização de alimentos vêm sendo cada vez mais

utilizados visando um maior aproveitamento dos nutrientes pelos animais, diminuindo

assim as perdas econômicas e a poluição ambiental com os dejetos da produção. A

utilização de enzimas na nutrição animal vem crescendo bastante nas últimas décadas,

contudo, poucos trabalhos são encontrados na literatura sobre o efeito de enzimas sobre

o comportamento ingestivo de ovinos.

Takia (2016) destaca que um grande número de enzimas diferentes ou uma

enzima com ação sobre diversos substratos deveria ser usado na dieta, visto que as

rações de ruminantes são compostas por uma enorme variedade de alimentos incluindo

volumosos, concentrados, sub e coprodutos.

O conhecimento do comportamento ingestivo de animais que recebem enzimas

como parte da dieta contribuirá na elaboração de rações, maximizando seu uso e

diminuindo as perdas econômicas. Esse trabalho teve como objetivo avaliar o

comportamento ingestivo de borregas alimentadas com diferentes inclusões de enzimas

exógenas na dieta.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no

Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de

Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Todos os procedimentos foram

aprovados pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da UFU, registrado

pelo protocolo de nº 017/16.

Foram utilizadas cinco borregas, com peso inicial médio de 61,16 ± 5,80 kg e

aproximadamente oito meses de idade. No período de adaptação, todos os animais

foram vermifugados, identificados, pesados e distribuídos aleatoriamente em gaiolas

metabólicas, as quais eram providas de comedouro, bebedouro, cocho com sal mineral e

dispositivo apropriado para coleta de fezes e urina. As dietas foram calculadas para

atender às exigências nutricionais de borregas de porte médio, com ganho médio diário

de 200 g.dia-1

. As dietas foram fornecidas duas vezes ao dia, as 08h e às 16h, na forma

de ração total misturada (RTM). O delineamento experimental utilizado foi quadrado

latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25 unidades

experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%) calculados

de acordo com as recomendações do fabricante, sendo cada porcentagem de enzima

calculada em função do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-1

.dia-1

).

Os animais dispunham de água e sal mineral especifico para espécie ad libitum.

As rações eram compostas de milho moído, farelo de soja, sal mineral e ureia como

concentrado, que compunha 80% da ração, e silagem de milho como volumoso

perfazendo os outros 20%. As enzimas utilizadas compunham um produto comercial

(ALLZYME® SSF) composto por pectinase, protease, fitase, betaglucanase, xilanase,

celulase e amilase.

Para a avaliação do comportamento ingestivo os animais foram submetidos à

observação visual por vinte e quatro horas (24 h), no período noturno o ambiente

recebeu iluminação artificial sendo que dias antes as luzes ficavam acesas para que

ocorresse adaptação dos animais. Foram observadas a cada cinco minutos as variáveis

de ingestão de alimento e água, ruminação e ócio, de acordo com a metodologia

Page 223: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

223

proposta por (FISCHER et al. 1998). As observações comportamentais foram realizadas

por observadores treinados, em sistema de revezamento e posicionados estrategicamente

de modo a não incomodar os animais. As observações foram iniciadas às 08h da manhã

com término no mesmo horário do dia seguinte. Os cálculos das atividades foram feitos

em minutos por dia, admitindo-se que nos cinco minutos subsequentes a cada

observação, o animal permaneceu na mesma atividade. Já o tempo total de mastigação

foi determinado somando-se os tempos de ingestão e ruminação.

As análises estatísticas foram realizadas utilizadas e as médias dos tratamentos

sendo avaliadas por estudo de regressão com nível de significância de 5% de

probabilidade.

Resultados e Discussão

Na Tabela 1 são apresentados os valores relativos ao comportamento ingestivo e

a eficiência alimentar de borregas recebendo diferentes inclusões de um complexo

enzimático exógeno (CEE). Não houve diferença significativa (P>0,05) para ingestão e

mastigação, sendo observadas médias em porcentagem de 24h de 12,81% e 31,59%

respectivamente para essas atividades. A ausência de diferença estatística sobre as

variáveis comportamentais ingestão e mastigação pode estar relacionadas à semelhança

das dietas experimentais. Entretanto, esperava-se uma redução no tempo de ingestão

com a inclusão do CEE devido atividade degradativa das enzimas sobre os componentes

da dieta, disponibilizando maior quantidade de energia e proteína para o hospedeiro.

Houve diferença significativa (P<0,05) para a ruminação apresentando

comportamento linear decrescente, tendo diminuição de 8,6 minutos para cada 0,5% de

inclusão do CEE. O tempo dedicado à ruminação está diretamente relacionado à

qualidade e à quantidade de alimento consumido (MENDES et al., 2010). No presente

trabalho o tempo médio de ruminação em h.dia-1

para essa atividade foi 4,5 h.dia-1

valor

bem abaixo do encontrado por Figueiredo et al, (2013), que avaliaram o efeito de dietas

distintas sobre o comportamento ingestivo em ovinos, utilizaram dieta a base de silagem

de cana-de-açúcar e observaram o tempo de ruminação de 10,38 h.dia-1. Deve-se

ressaltar que no presente trabalho as rações eram compostas por 80% de concentrado.

Pode-se observar que houve diferença significativa (P>0,05) para a eficiência

alimentar de ingestão (E.Ing), apresentando comportamento quadrático e ponto máximo

estimado (Y = 0,321923+0,181129X-0,070314X2) para E.ing em 0,77% de inclusão do

CEE. O menor valor encontrado para E.Ing foi para o tratamento controle de (0,313 g.h-

1), e o maior para (0,433 g.h

-1) o tratamento com 1% de inclusão. Cirne et al. (2014)

trabalhando com cordeiros alimentados com dietas exclusivas de concentrado

encontraram média para eficiência de ingestão de matéria seca de 0,415 g.h-1

valor

próximo da média encontrada no presente trabalho de 0,397 g.h-1

.

Page 224: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

224

Consumo de matéria seca em função da ingestão (CMS.Ing); consumo de matéria seca em

função da ruminação (CMS.Rum); Consumo de matéria seca em função da mastigação

(CMS.Mast); Efeito Linear (L); Efeito Quadrático (Q); Desvio da linearidade (DL); Coeficiente

de variação (CV).

Não foi observado diferença estatística (P>0,05) para a variável ócio. Pode-se

observar que o tempo despendido em ócio foi em média de 985 minutos,

correspondendo a 68,4% do tempo diário. Considerando-se que as dietas possuíam 80%

de concentrado, era esperado que os animais aumentassem o tempo em ócio, contudo,

essa porcentagem está abaixo do encontrado por outros autores que avaliaram o

comportamento de ovinos recebendo altas quantidades de concentrado na dieta e

verificaram 79% e 77% de ócio/dia, respectivamente para os seguintes autores Mendes

et al., 2010 e Cirne et al., 2014.

Conclusões

Concluiu-se com este trabalho que o comportamento de ovinos pode ser alterado

com a inclusão de complexo enzimático exógeno nos níveis testados. Contudo mais

trabalhos devem ser realizados para elucidar os mecanismos com os quais as enzimas

interferem no comportamento dos ruminantes.

Literatura Citada

CIRNE, L. G. A.; OLIVEIRA, G. J. C.; JAEGER, S. M. P. L.; et al. Comportamento

ingestivo de cordeiros em confinamento, alimentados com dieta exclusiva de

concentrado com diferentes porcentagens de proteína. Arquivo Brasileiro de Medicina

Veterinária e Zootecnia, v. 66, n. 1, p. 229–234, 2014.

FIGUEIREDO, M. R. P.; SALIBA, E. O. S.; BORGES, I.; et al. Comportamento

ingestivo de ovinos alimentados com diferentes fontes de fibra. Arquivo Brasileiro de

Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 65, n. 2, p. 485–489, 2013.

FISCHER, V.; DESWYSEN, A.G.; AMOUCHE, E.H. et al. Efeitos da pressão de

pastejo sobre o padrão Nectemeral do comportamento ingestivo de ovinos em pastagem.

Rev. Bras. Zootec., v.27, p.164-170, 1998.

Tabela 1 - Comportamento ingestivo e eficiência alimentar de borregas alimentadas com

níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno.

Variáveis Tratamentos Valor de P

CV (%) 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% L Q DL

Ingestão (min) 456 430 487 448 454 0,883 0,776 0,421 14,44 1Rum (min) 217 178 176 178 174 0,051 0,141 0,558 15,18

Mast (min) 239 252 311 270 280 0,180 0,226 0,314 18,37

Ócio (min) 984 1010 953 992 986 0,883 0,776 0,421 6,67 2CMS.Ing (g/h

-1) 0,313 0,412 0,433 0,417 0,411 0,060 0,054 0,674 17,33

CMS.Rum (g/h-1

) 0,286 0,313 0,265 0,284 0,255 0,334 0,690 0,561 23,00

CMS.Mast (g/h-1

) 0,146 0,174 0,161 0,166 0,154 0,843 0,243 0,630 18,94 1Y = 201,800000-17,200000X (R

2=55,89%);

2Y = 0,321923+0,181129X-0,070314X

2 (R

2=91,60%).

Page 225: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

225

MENDES, C.Q.; TURINO, V.F.; SUSIN, I. et al. Comportamento ingestivo de

cordeiros e digestibilidade dos nutrientes de dietas contendo alta proporção de

concentrado e diferentes fontes de fibra em detergente neutro. Rev. Bras. Zootec., v.39,

p.594-600, 2010.

TAKIYA, C, S. Desempenho de bovinos alimentados com dietas contendo enzimas

amilolíticas exógenas. 2016. 83 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de São Paulo, Pirassununga. 2016.

Page 226: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

226

Perfil glicêmico de borregas alimentadas com níveis crescentes de um complexo

enzimático exógeno¹

Marcio Henrique Viana2, Jhone Tallison Lira de Sousa

3, Maria Julia Pereira de Araújo

4,

Thauane Ariel Valadares de Jesus4, Gilberto de Lima Macedo Junior

5, Luciano

Fernandes Sousa6

1Parte da tese de doutorado do segundo autor. 2Mestre em Ciência Animal, Departamento de Reprodução Animal, Escola de Veterinária – UFMG. E-mail:

[email protected] 3Doutorando do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT. 4Discente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 5Docente de Zootecnia, FAMEV/UFU, Uberlândia, MG, Brasil. 6Docente do Programa de Ciência Animal Tropical, PPGCat/UFT.

Resumo: Objetivou-se com esse trabalho avaliar a curva glicêmica de borregas

suplementadas com níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno. Foram

utilizadas 5 borregas com 8 meses de idade. O delineamento experimental utilizado foi

quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25

unidades experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%)

calculada em função do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-1.dia-1).

Para mensuração da glicemia, realizou-se coletas de sangue por venopunção jugular em

tubos siliconizados com anticoagulante. Os tempos de coleta preestabelecidos foram

(0h, 3h, 6h e 9h e 12h). No presente trabalho o nível de glicose plasmática médio foi de

74,24 mg/dL. Houve diferença significativa (P<0,05) para a glicemia das borregas

alimentadas com 0,5% de enzimas, havendo comportamento linear decrescente e

diminuição de 0,53 mg/dL para cada 0,5% de enzima incluída. Concluímos com o

presente trabalho que a glicemia de borregas pode ser afetada com a utilização de

complexos enzimáticos exógenos.

Palavras–chave: energia, enzimas, glicemia, nutrição, ovinos

Glycemic profile of ewes fed with increasing levels of an exogenous enzyme

complex

Abstract: The objective of this work was to evaluate the glycemic curve of lambs

supplemented with increasing levels of an exogenous enzymatic complex. Five lambs, 8

months old, were used. The experimental design used was 5x5 Latin square, with 5

treatments and 5 replicates per treatment, totaling 25 experimental units, with

percentages of enzymes (0.0, 0.5, 1.0, 1.5 and 2.0%) calculated in function of the inteke

dry matter of animal day (IDM.animal-1.day-1). Blood samples were collected by

jugular venipuncture in siliconized tubes with anticoagulant. The pre-established

collection times were (0h, 3h, 6h and 9h and 12h). In the present study, the mean

plasma glucose level was 74.24 mg/dL. There was a significant difference (P <0.05) for

the glycemia of ewes fed with 0.5% of enzymes, with decreasing linear behavior and

decrease of 0.53 mg/dL for each 0.5% enzyme included. We conclude with the present

work that the glycemia of lambs can be affected with the use of exogenous enzymatic

complexes.

Keywords: energy, enzymes, glycemia, nutrition, sheep

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227

Introdução

O interesse do uso de enzimas como aditivos na alimentação de animais em

produção vem crescendo nos últimos anos, em vista do crescente número de trabalhos,

onde tem-se estudado os efeitos de misturas enzimáticas no valor nutritivo dos

alimentos, bem como seu mecanismo de ação, dose, formas de aplicação, e as possíveis

consequências no desempenho animal (BEEFPOINT, 2003).

A glicose continua sendo o componente de escolha no perfil metabólico de

ruminantes, uma vez que pode ser observada variações nos níveis de glicemia quando

ocorre um balanço de energia negativo ou positivo (PEIXOTO & OSORIO, 2007).

Segundo Caldeira (2005), a informação oriunda destes controles em conjunto com a

avaliação da condição corporal, fase do ciclo produtivo e dietas utilizadas permite aferir

adequação de planos alimentares implementados, possibilitando correções imediatas ou

alterações dos ciclos produtivos seguintes.

Objetivou-se com esse trabalho avaliar a curva glicêmica de borregas

suplementadas com níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Universidade Federal de Uberlândia -UFU, no

Setor de ovinos e caprinos nas dependências da Fazenda Capim Branco no estado de

Minas Gerais de setembro a novembro de 2016. Todos os procedimentos foram

aprovados pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da UFU, registrado

pelo protocolo de nº 017/16.

Foram utilizadas cinco borregas, com peso inicial médio de 61,16 ± 5,80 kg e

aproximadamente oito meses de idade. No período de adaptação, todos os animais

foram vermifugados, identificados, pesados e distribuídos aleatoriamente em gaiolas

metabólicas, as quais eram providas de comedouro, bebedouro, cocho com sal mineral e

dispositivo apropriado para coleta de fezes e urina. As dietas foram calculadas para

atender às exigências nutricionais de borregas de porte médio, com ganho médio diário

de 200 g.dia-1. As dietas foram fornecidas duas vezes ao dia, às 08 e às 16h:00, na

forma de ração total misturada (RTM). O delineamento experimental utilizado foi

quadrado latino 5x5, sendo 5 tratamentos e 5 repetições por tratamento totalizando 25

unidades experimentais sendo as porcentagens de enzimas (0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%)

calculados de acordo com as recomendações do fabricante, sendo cada porcentagem de

enzima calculada em função do consumo de matéria seca animal dia (CMS.animal-

1.dia-1).

Para mensuração da glicemia referente a cada fase experimental, realizou-se o

seguinte; as coletas de sangue foram realizadas por venopunção jugular em tubos

siliconizados com anticoagulante (Fluoreto de Sódio com EDTA 10%) para obtenção de

plasma o sangue foi posteriormente centrifugado e o plasma foi armazenado em

eppendorf para posteriores análises de glicose, os tempos de coleta preestabelecidos

foram (zero hora ou antes do fornecimento da dieta, 3h, 6h e 9h e 12h pós-prandial). As

análises das amostras sanguíneas obtidas durante o período experimental foram

procedidas no Laboratório de Análise de Alimentos pertencente ao curso de Zootecnia

da UFU, campus Umuarama.

O ensaio foi realizado em um delineamento em quadrado latino com medidas

repetidas no tempo para os parâmetros de fluxo contínuo, sendo os tratamentos as

inclusões das dietas e as medidas repetidas os tempos de coleta (zero, 3, 6, 9 e 12h) com

cinco repetições. As análises estatísticas foram realizadas utilizado e as médias dos

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228

tratamentos sendo avaliadas por estudo de regressão com nível de significância de 5%

de probabilidade.

Resultados e Discussão

Na Tabela 1 é apresentado o perfil glicêmico de borregas alimentadas com

níveis crescentes de um complexo enzimático exógeno na dieta. Pode-se observar que

houve diferença significativa (P<0,05) para a glicemia das borregas alimentadas com

0,5% de enzimas, havendo comportamento linear decrescente e diminuição de 0,53

mg/dL para cada 0,5% de enzima. Cunningham, (2008), ressalta o controle deste

metabólito é realizado pela insulina e pelo glucagon, sob influência do cortisol,

mantendo as médias dentro do intervalo da normalidade.

Tabela 1 – Glicemia de borregas (mg/dL) alimentadas com níveis crescentes de um

complexo enzimático exógeno.

Efeito Linear (L); Efeito Quadrático (Q); Desvio da linearidade (DL); Coeficiente de variação

(CV).

Kozloski (2011), cita que os ruminantes possuem uma versatilidade bioquímica

diferente dos não-ruminantes pois dispõem de várias rotas metabólicas gliconeogênicas

hepáticas para a manutenção dos níveis glicêmicos na circulação no período pós-

prandial e jejum. Uma queda linear nos níveis de glicose poderia ser causada por uma

diminuição na fermentação ruminal e menor produção de AGCC, principalmente o

propionato que é o principal precursor gliconeogênicos em ruminantes, (KOZLOSKI,

2011), contudo não foram realizadas avaliações ruminais de AGCC, não sendo possível

associar essa diminuição a da glicose plasmática a produção de AGCC.

No presente trabalho o nível de glicose plasmática médio foi de 74,24 mg/dL

estando dentro do recomendado por Kaneko et al. (2008), 50 – 80 mg/dL. São poucos

os trabalhos referentes ao uso de complexos enzimáticos na nutrição de ovinos e pouco

se sabe sobre os mecanismos de ação desses aditivos, dessa forma faz-se necessário

novas pesquisas que busquem compreender e elucidar o funcionamento das enzimas no

metabolismo de ruminantes.

Conclusões

Concluímos com o presente trabalho que a glicemia de borregas pode ser afetada

com a utilização de complexos enzimáticos exógenos. Contudo outros trabalhos devem

Tratamentos Tempo (h) Valor de P

CV (%) 0 3 6 9 12 L Q DL

0,0% 68,20 64,80 63,00 68,40 66,20 0,979 0,601 0,741 10,5% 81,20 75,20 75,40 73,20 66,20 0,043 0,811 0,768

1,0% 68,20 65,20 67,20 63,20 63,80 0,487 0,948 0,870

1,5% 63,80 69,80 77,60 66,80 66,00 0,928 0,083 0,429 15,78 2,0% 66,00 80,40 76,60 66,20 68,40 0,545 0,095 0,144

L 0,223 0,151 0,103 0,542 0,812

Q 0,535 0,475 0,695 0,893 0,653

DL 0,146 0,222 0,300 0,514 0,960 1Y = 89,173333-1,066667X (R2=87,95%).

Page 229: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

229

ser realizados para que seja melhor explicado como as enzimas afetam o nível glicêmico

em ovinos.

Literatura citada

BEEFPOINT, 2003. Enzimas fibrolíticas como aditivos na alimentação de bovinos de

corte – parte 1/3. Disponível em: http://www.beefpoint.com.br/enzimas-fibroliticas-

como-aditivos-na-alimentacao-de-bovinos-de-corte-parte-13-17199/. Acessado em:

22/03/2018.

CALDEIRA, R. M. Monitorização da adequação do plano alimentar e do estado

nutricional em ovelhas. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v. 100, n. 555-

556, p. 125-139, 2005.

CUNNINGHAM, J. G. Tratado de fisiologia veterinária / 4.ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 710 p. 2008.

KANEKO J.J., HARVEY J.W. & BRUSS M.L. Clinical Biochemistry of Domestic

Animals. 6th ed. Academic Press, San Diego. 916p. 2008.

KOZLOSKI, G. V. Bioquímica dos ruminantes. 3ª ed. Revist a e ampliada. Santa

Maria: Editora da UFSM, 2011

PEIXOTO, L. A. O. & OSORIO, M. T. M. Perfil metabólico proteico e energético na

avaliação de desempenho reprodutivo em ruminantes. Revista Brasileira Agrociência,

Pelotas, v.13, n.3, p. 299-304, jul-set, 2007

Page 230: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

230

Perfil metabólico energético e enzimático de ovinos recebendo volumoso extrusado

com diferentes aditivos

Jhoanny Rodrigues Dutra1, Gilberto de Lima Macedo Júnior

2, Rosemar Alves de

Carvalho Júnior3, Tamires Soares de Assis

3, Laura Ferrari Monteiro Veranis

3, Karla

Alves de Oliveira3, Carolina Moreira Araújo

3

1Graduanda em Zootecnia – FAMEV/UFU, Uberlândia, MG. [email protected] 2Professor Associado I FAMEV/UFU, Uberlândia, MG 3Pós-graduando do mestrado em Ciências Veterinárias/UFU, Uberlândia, MG

Resumo: O estudo do perfil metabólico energético e hepático nos animais é importante

para verificar possíveis disfunções diante da dieta fornecida. Objetivou-se com este

estudo avaliar os metabólitos energéticos e hepáticos de ovelhas recebendo dieta a base

de volumoso extrusado Foragge®, Foragge

® Bypro, Foragge

® Max

® e Foragge

® BV.

Foram utilizadas 20 ovelhas adultas da raça Santa Inês, com idade superior a três anos e

peso médio corporal de 64,5 kg, alocadas em gaiolas metabólicas individuais de piso

ripado suspenso, dispostas de bebedouro, comedouro e cocho para sal mineral. O

delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso, com quatro

tratamentos e cinco repetições. A coleta de sangue foi feita por meio de venopunção

jugular, durante três dias alternados anterior à primeira alimentação, para avaliação dos

metabólitos energéticos e hepáticos: colesterol, triglicerídeos, lipoproteína de baixa

densidade (VLDL), aspartato aminotransferase (AST), gama glutamil transferase (GGT)

e fosfatase alcalina. Não houve diferença estatística para nenhum dos parâmetros no

período de tratamento e avaliação. A gama glutamil transferase, e triglicerídeos

apresentaram valores acima dos níveis recomendados e o colesterol apresentou valores

menores que a faixa normal. De maneira geral, o metabolismo energético e hepático

permaneceu nos níveis normais para a espécie ovina.

Palavras–chave: energia, fígado, nutrição, ruminantes

Energetic and enzymatic metabolic profile of sheep receiving voluminous extruded

with different additives

Abstract: The study of energetic and hepatic metabolic profile in animals is important

to verify possible dysfunctions in relation to the diet provided. The objective of this

study was to evaluate the energetic and hepatic metabolites of ewes receiving a diet

based on extruded forage 52.5% Foragge®, Foragge® Bypro, Foragge® Max® and

Foragge® BV. Twenty adult sheep, crossbred Santa Inês, older than 3 years old, and

mean body weight of 64.5 kg were used, allocated to individual metabolic cages of

suspended slab floor, equipped with a drinking fountain, feeder and trough for salt

mineral. The experimental design was completely randomized, with four treatments and

five replicates. Blood collection was done by jugular venipuncture for three days before

the first feeding, for the evaluation of energy and liver metabolites: cholesterol,

triglycerides, very low density lipoprotein (VLDL), aspartate amino transferase (AST),

gamma glutamyl transferase (GGT) and alkaline phosphatase. There was no statistical

difference for any of the parameters in the treatment and evaluation period. The gamma

glutamyl transferase, and triglycerides presented values above the recommended levels

and cholesterol presented values lower than the normal range. In general, energetic and

hepatic metabolism remained at normal levels for the ovine species.

Page 231: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

231

Keywords: energy, liver, nutrition, ruminants

Introdução

A inclusão de aditivos na ração extrusada visa a melhorar a eficiência na

alimentação. A adição de tanino e virginiamicina na dieta de ruminantes modulam a

fermentação ruminal e afetam seu metabolismo microbiano. Desta forma, é necessária

avaliação de quais serão os impactos fisiológicos no animal. Segundo González et al.

(2000) situações de desbalanço nutricional podem alterar as concentrações de alguns

metabólitos sanguíneos. Sendo assim, analisar o perfil metabólico dos animais é uma

das formas de concluir que a nutrição atende as exigências nutricionais dos mesmos ou

não.

Objetivou-se com este trabalho avaliar os metabólitos energéticos e hepáticos

em ovelhas recebendo volumoso extrusado com diferentes aditivos.

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, no mês de

outubro de 2017. Foram utilizadas vinte ovelhas adultas, da raça Santa Inês, com idade

superior a três anos, e peso médio corporal de 64,5 kg, alocadas em gaiolas metabólicas

individuais de piso ripado suspenso, dispostas de bebedouro, comedouro e cocho para

sal mineral. O experimento teve duração de quinze dias, sendo 10 de adaptação e cinco

de coleta de dados, sendo realizado quatro tratamentos com cinco repetições. Os

tratamentos foram caracterizados pela utilização do volumoso extrusado (Foragge®)

com diferentes aditivos incluídos (Tabela 1), sendo: Foragge®

sem inclusão de aditivos,

Foragge® BV – Foragge associado com Virginiamicina

® + Tanino; Foragge

® Bypro –

Foragge®

com Tanino; Foragge®

Max – Foragge® com Virginiamicina

®. O volumoso

extrusado utilizado para a produção do Foragge® foi a Uruchloa. As dietas com os

Foragges foram fornecidas duas vezes ao dia (8:00 e 16:00 horas) e os animais

possuíam acesso ao sal mineral à vontade. Para o acompanhamento do consumo as

sobras foram pesadas e sempre que os valores foram iguais à zero, aumentou-se a

quantidade de alimento fornecido em 10% até atingir sobras equivalentes a 10% do

ofertado. Não houve restrição ao consumo.

Tabela 1. Composição bromatológica dos tratamentos. Dados fornecidos pela Empresa

Nutratta®.

Descrição

Foragge®

Foragge

®

BV

Foragge®

Bypro

Foragge®

Max

Matéria Seca (CMS) % 90,0 90,0 90,0 90,0

Proteína (PB) % 7,1 7,0 7,0 7,1

NDT (NDT) % 55,8 61,2 61,2 55,8

Extrato Etéreo % 2,0 1,6 1,6 2,0

Fibra Det. Neutra

(FDN)

% 42,3 44,7 44,7 42,3

Fibra Det. Ácida

(FDA)

% 26,3 29,8 29,8 26,3

Virginiamicina mg/kg XXX 30,0 XXX 30,0

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232

A coleta de sangue para avaliação dos componentes bioquímicos foram por

venopunção jugular com auxilio de Vacuntainer®

acoplado a tubo sem anticoagulante,

todas as coletas foram realizadas durante três dias alternados antes da primeira refeição

do dia, durante a coleta de dados, as amostras de sangue coletadas foram centrifugadas a

3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros separados em alíquotas, guardados em

microtubos e armazenados em freezer a -5ºC para posterior analise laboratorial. Todas

as amostras foram processadas em analisador bioquímico automatizado (Bioplus®

2000), usando kit comercial da Biotécnica®. Foram analisados: colesterol, triglicerídeos,

lipoproteína de baixa densidade (VLDL), aspartato aminotransferase (AST), gama

glutamil transferase (GGT) e fosfatase alcalina. Os níveis de VLDL foram obtidos pela

divisão dos valores de triglicerídeos por cinco (Friedewald et al. 1972).

Foi utilizado o delineamento inteiramente ao acaso, com quatro tratamentos e

cinco repetições. Para comparações das médias obtidas os dados foram submetidos ao

teste SNK a 5 % de probabilidade de erro.

Resultados e Discussão

Não houve diferença estatística para as variáveis analisadas (Tabela 2). Os

valores de colesterol ficaram 8% abaixo do valor de referência. O colesterol é precursor

da síntese de hormônios esteróides, sais biliares e vitaminas D, e participa da formação

das membranas celulares. Além do mais, é constituinte das lipoproteínas que são

sintetizadas no fígado e no intestino delgado, e atuam no transporte de lipídios no

organismo (Kaneko et al. 2008). A baixa concentração de colesterol pode estar

relacionada ao alimento extrusado que não é tão eficaz como o volumoso convencional

em produzir ácido acético, principal ácido graxo volátil precursor da síntese de gordura

em ruminantes. Outra explicação é a baixa concentração de lipídeos na dieta.

Tabela 2. Valores médios dos metabólitos energéticos e hepáticos de ovelhas adultas

em função dos tratamentos

Metabólitos energéticos e hepáticos

Tratamentos Colester

ol

Trigliceríde

os

VLDL AST GGT Fosfatase

Foragge®

49,86 37,66 7,53 114,20 56,40 222,26

Foragge® BV 43,66 51,66 10,33 116,13 69,13 152,66

Foragge®

Bypro

46,66 31,80 6,35 75,51 67,80 220,33

Foragge® Max 49,80 48,66 9,73 80,37 62,95 179,64

MG 47,50 42,45 8,48 96,55 64,07 193,72

CV (%) 14,40 30,17 30,17 44,50 37,90 27,97

Valor de P 0,4464 0,0848 0,0848 0,3203 0,8380 0,1649

VR* 52,0-

76,0

9,0-30,0 3,0-4,0 60,0-

280,0

20,0-52,0 0-387,0

Médias seguidas de letras distintas nas colunas diferem pelo teste de T a 5%. Foragge® BV –

Foragge associado com Virginiamicina® + Tanino; Foragge® Bypro – Foragge® com Tanino;

Foragge® Max – Foragge® com Virginiamicina®; Foragge® - sem inclusão de aditivos; MG –

média geral; CV (%) – coeficiente de variação. *VR = Valores de Referência (Kaneko et al.,

2008)

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233

Os valores de triglicerídeos se encontram 41,5% acima da taxa normal. Os

triglicerídeos funcionam como sistema eficiente em acumular energia nas épocas em

que a ingestão ultrapassa as necessidades do animal e quando em fases de profunda

necessidade de energia como períodos de restrição alimentar, ocorre a mobilização de

gordura do tecido adiposo para que a demanda energética seja suprida. Os triglicerídeos

presentes no tecido adiposo após sofrer mobilização darão origem aos ácidos graxos que

na corrente sanguínea e são capturados pelo fígado onde será utilizado como fonte de

energia ou convertido em corpos cetônicos que permanecem como reserva de energia

para vários tecidos. Os valores elevados para os triglicerídeos podem ser em função do

Forrage® que possui amido em sua composição, o amido possui uma alta taxa de

digestão ruminal e é uma das maiores fontes de energia usadas na alimentação de

ruminantes. Outra explicação pode ser o baixo gasto energético pelos animais, que se

encontravam em gaiolas metabólicas, com alimento e água de fácil acesso.

Os níveis de VLDL apresentaram valores superiores à faixa de referência

(112%). A VLDL apresentou comportamento semelhante aos triglicerídeos, pois os

triglicerídeos são recobertos por proteínas para a formação de lipoproteínas de baixa

densidade (VLDL), que transporta os triglicerídeos, do fígado para o tecido adiposo, o

que pode explicar seu valor elevado.

A enzima aspartato aminotransferase (AST) quando identificada acima das

concentrações consideradas normais, evidencia que o animal pode desenvolver lesão

hepatocelular secundária, oriundo da excessiva mobilização lipídica. No entanto, no

presente estudo, as concentrações de AST estiveram dentro do intervalo indicando que

esses animais não desenvolveram lesão hepática. A AST, é uma enzima mitocondrial e

citossólica que necessita de uma lesão maior para que seja liberada na corrente

sanguínea, por isso, a avaliação conjunta com outras enzimas deve ser realizada.

A GGT é uma enzima localizada na membrana celular de tecidos como fígado,

rins, pâncreas e intestino, sua maior concentração é nas células tubulares renais e no

epitélio dos ductos biliares. Sua atividade é relativamente alta no fígado de bovinos,

ovinos e caprinos. Aumentos séricos da GGT são verificados principalmente em

animais com desordens hepáticas (Kaneko et al., 2008). No presente estudo, os valores

de GGT permaneceram 23,21% acima dos valores referenciais para espécie, porém para

indicar que houveram lesões ou alterações no fígado também deve-se levar em

consideração os valores de AST e Fosfatase alcalina, que no presente estudo se

mostraram normais. Segundo Kaneko et al. (2008), a fosfatase alcalina é uma enzima

sintetizada em vários tecidos, sendo as maiores concentrações no intestino, rins, ossos e

fígado. Aumento nos níveis de Fosfatase no plasma sanguíneo é consequência de lesões

nos tecidos hepáticos. Os valores para fosfatase alcalina permaneceram dentro da faixa

de referência indicando que não houve nenhuma lesão.

Conclusões

De modo geral, a adição de tanino e virginiamicina no volumoso extrusado

manteve o metabolismo energético e hepático nos níveis normais para a espécie ovina,

indicando não haver distúrbios metabólicos ou lesões nos animais, sendo uma

alternativa benéfica na alimentação de ruminantes.

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234

Literatura citada

FRIEDEWALD, W.T., LEVY, R.I., and FREDERICKSON, D.S. 1972. Estimation of

the concentration of low-density lipoprotein cholesterol in plasma, without use of the

preparative ultracentrifuge. Clinical Chemistry 18: 499-502.

GONZÁLEZ, F.H.D.; BARCELLOS, J.; PATIÑO, H.O.; RIBEIRO, L.A. (Eds.). Perfil

metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais. 1. ed. Porto

Alegre, 2000. p. 23-30

KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of

domestic animals. 6 ed. New York: Academic Press, 2008.

Page 235: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

235

Presença de urânio em fontes de fósforo para a nutrição animal

Avelar A.C1., Ferreira W.M.

1, Faria P.H.R.

2, Torres S.A.

2, Eller J.C.

2

1Department Of Animal Sciences Dzoo Escola De Veterinaria, Universidade Federal de Minas Gerais Belo

Horizonte, Minas Gerais. Email: [email protected] 2Neurofort Belo Horizonte, Minas Gerais. Email: [email protected]

Resumo: Os fosfatos são as fontes de fósforo mais importantes para a agropecuária na

atualidade. Porém estes produtos de origem mineral possuem contaminantes em sua

composição que podem causar danos à saúde humana e animal. O Urânio é o foco deste

trabalho. O elemento foi quantificado em três fosfatos nacionais e comparado e os

teores foram comparados com valores internacionais. O método de análise escolhido é

conhecido como Análise por Nêutrons Retardados, método nuclear instrumental,

preciso, rápido e não destrutivo. Os teores elevados de Urânio encontrado nos fosfatos

apontam para a necessidade de estudos da deposição do Urânio de origem fosfática no

ambiente e nos tecidos animais.

Palavras-chave: bovinos, fosfatos, ração, contaminantes

Abstract: Phosphates are currently the major source of phosphorus in agriculture and

livestock. However, these mineral products present some contaminants in their

structures which may cause harmful effects in animal and man health. This study deals

with Uranium content in phosphates. Three Brazilian phosphates were analysed and

compared with international values. The analytical method was the Analysis by Delayed

Neutrons, a nuclear technique what is instrumental, highly precise, fast and non-

destructive. Monoamonium (MAP) and dicalcium (DCP) phosphates have presented

high Uranium content in their compositions. Results point out the need to evaluate the

deposition of Uranium released by phosphates in the environment and animal tissues.

Keywords: cattle, phosphates, animal formulation, hazardous elements

Introdução

A deficiência de fósforo é um fator constritor severo para a produção vegetal e

animal, especialmente para bovinos criados em pastos tropicais (Tokarnia, Döbereiner e

Peixoto, 2000).

Os fosfatos minerais produzidos a partir de rochas fosfáticas são as fontes de

fósforo mais usadas na nutrição dos solos, sendo também as mais empregadas nas

formulações industriais para a nutrição animal. No Brasil, os principais depósitos de

rochas fosfáticas estão localizados nos estados da Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais,

Pará, Paraíba, Pernambuco, Santa Catarina, Rio Grande do Norte e São Paulo (Data...,

2002). Oitenta por cento das reservas brasileiras de rocha fosfática são de origem ígnea

(Guimarães, Araújo e Peres, 2005). A produção brasileira de rocha fosfática está

concentrada nos estados de Minas Gerais (Triângulo Mineiro e Alto Parnaíba), Goiás e

São Paulo. Em 2003, o mercado interno movimentou um volume aproximado de 5,5

milhões de toneladas de concentrado de rocha fosfática, ocorrendo um crescimento de

8,8% em relação ao ano anterior (Informe..., 2004).

Com a elevação do preço das fontes tradicionais de fósforo, se vislumbra o uso

de produtos alternativos na formulação de dietas para animais; porém a eficiência e a

segurança destes produtos não são completamente conhecidas (Veloso e Medeiros,

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236

1999). Um aspecto a ser explorado na busca de fontes de fósforo é o dos contaminantes

que são trazidos como elementos acessórios nas fontes inorgânicas de fósforo.

Praticamente toda rocha fosfática possui elementos tóxicos em sua constituição, como

Arsênio, Cádmio e Urânio (Van Kauwenbergh, 1997 citado por Use..., 2004). É este

último elemento que colocaremos em foco, pois com o aumento na produção

agropecuária, sua entrada no ambiente é cada vez mais freqüente, o que torna o assunto

uma questão ambiental e de saúde pública (Mangini et al, 1979; Scholten &

Timmermans, 1996; Toxicological..., 1999; Use..., 2004).

O Urânio é o elemento natural mais pesado que existe; é nocivo à saúde humana

e animal, não só pela sua radioatividade tão comumente lembrada, mas também pela sua

toxicidade como metal pesado. O Urânio não é um elemento raro no planeta, sendo mais

abundante que a Prata (Ag). O elemento está presente no solo, rochas, águas, vegetais e

animais; praticamente todos organismos vivos possuem Urânio em sua constituição,

mesmo que em diminutas quantidades, geralmente apresentadas em ppm - partes por

milhão ou ppb - partes por bilhão (Mineral..., 1980; Toxicological..., 1999).

Diversos depósitos naturais de fosfatos em todo o mundo apresentam

quantidades significativas de Urânio (Data..., 2002; Use..., 2004). As atividades

antropogênicas como a mineração e a agropecuária, aumentam a quantidade de

contaminantes expostos sobre o meio-ambiente e na cadeia alimentar (Mangini et al,

1979; Toxicological..., 2002).

O Urânio pode entrar no organismo por três principais formas: inalação, ingestão

e contato sobre a pele (Health..., 2002; Toxicological..., 2002). O público em geral que

não trabalha em atividades nucleares, também está exposto ao Urânio, uma vez que

grande parte dos vegetais cultivada extensivamente é produzida em solos adubados com

fertilizantes fosfatados, que sabidamente possuem Urânio em sua constituição. Plantas

subaéreas como a batata Solanum tuberosum e a mandioca Manihot esculenta captam

Urânio através de suas raízes e o armazenam em seu caule; no caule destas plantas

podem ser encontradas concentrações de Urânio mais elevadas que as do solo em que

foram cultivadas. A água potável também é veículo para a entrada de Urânio no

organismo humano (Toxicological..., 1999). Em 1979, pesquisadores alemães

apresentaram evidências do aumento da concentração de Urânio em rios de zonas

agrícolas onde havia um elevado consumo de fertilizantes fosfatados; o Urânio presente

nos fosfatos é carreado para o rio desde as camadas superiores do solo onde este estava

adsorvido na formulação do fertilizante fosfatado. A concentração do Urânio

proveniente dos fosfatos, na água se correlaciona à concentração de HCO3- no rio

(Mangini et al, 1979).

Material e Métodos

O método utilizado é conhecido como Análise por Nêutrons Retardados. O

método é rápido, preciso e não destrutivo (Determination..., 2006). Os nêutrons podem

ser produzidos a partir da fissão - quebra de um núcleo pesado, formando dois novos

núcleos - do Urânio presente na amostra desconhecida quando esta é bombardeada com

nêutrons livres (oriundos do combustível nuclear do reator de pesquisa onde se processa

a análise). Vários produtos de fissão são possíveis na fissão do núcleo de Urânio. Um

exemplo de fissão possível de um núcleo de Urânio é mostrado abaixo: 235

U da amostra + nêutron liberado do combustível 236

U instável 90

Kr + 143

Ba + 3 nêutrons

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Nesta reação são formados dois novos núcleos (dois novos elementos) a partir de

um núcleo de Urânio presente na amostra. Neste exemplo o Kriptônio e o Bário são

chamados núcleos precursores de nêutrons. Durante a irradiação da amostra, diversos

núcleos de Urânio da amostra são fissionados. Na quebra do núcleo de Urânio são

liberados 2 ou 3 nêutrons. Porém, nem todos nêutrons são liberados ao mesmo tempo.

Primeiro (tempo<10-12

segundos) são emitidos os chamados nêutrons prontos, que

formam aproximadamente 99% do total de nêutrons liberados, e com um atraso entre

0,0001 ou de até vários segundos, surgem 1% de nêutrons, são os nêutrons ditos

retardados. Os nêutrons prontos de fissão são emitidos com uma distribuição contínua

de energia, enquanto os nêutrons retardados apresentam um aspecto discreto. Os

parâmetros experimentais da fissão do Urânio (tais como a probabilidade da formação

dos precursores de nêutrons, energia e fração de nêutrons liberados com retardado) são

bem estudados pela Física Nuclear, o que permite a quantificação do teor de Urânio na

amostra a partir da detecção de nêutrons retardados. O instrumento utilizado na

contagem é o detector proporcional contendo BF3 (trifluoreto de boro), especifico para

detecção de nêutrons. O sistema de detecção contém dois contadores proporcionais de

BF3 simetricamente colocados em uma caixa de paredes grossas de metal que blindam

possíveis radiações ionizantes externas, evitando interferências. Um sistema eletrônico é

acoplado aos detectores, permitindo controlar o tempo de contagem pré-estabelecido

(Determination..., 2006).

Preparo das amostras: os fosfatos foram adquiridos no mercado de Minas Gerais.

Amostras de 100 gramas foram retiradas e moídas em moinho elétrico com o intuito de

se obter uma granulometria de 0,063 mm (#250 na escala Tyler mesh) em mais de 90%

dos grãos e com ao menos 98% dos grãos passantes na peneira de 0,125 mm (#115 na

escala Tyler mesh). Após a peneiragem, o fosfato foi misturado e homogeneizado para

se garantir maior representatividade de amostra. A amostra com a massa de 1,000 grama

foi colocada dentro de um tubo de polietileno, que é o receptáculo próprio para ser

levado à irradiação no reator. Este tubo de amostra depois de fechado foi acondicionado

em um tubo externo de polistireno, padronizado para a irradiação. No reator IPR-R1 do

CDTN/CNEN (Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear da Comissão

Nacional de Energia Nuclear, Belo Horizonte, Minas Gerais) a amostra foi

bombardeada por nêutrons liberados durante a fissão controlada dentro do reator. A

amostra permaneceu pelo período de 60 segundos sob este fluxo de nêutrons. A amostra

foi retirada do reator pelo sistema pneumático, sendo levada até o local onde fica o

contador de nêutrons. Aos 75 segundos após o início da irradiação se deu o início da

contagem. Depois do 60 segundos, a contagem foi interrompida e a amostra foi retirada

de dentro do equipamento. O tempo de contagem de 60 segundos é suficiente para

garantir a precisão estatística. São necessárias as análises de dois padrões com

concentrações conhecidas de Urânio, certificados pela IAEA (International Atomic

Energy Agency). Foram traçadas curvas de detecção de nêutrons tanto para os padrões

quanto para a amostra desconhecida. Com o uso de equações se calculou a concentração

de átomos de Urânio na amostra.

Resultados:

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238

Fosfato Teor de Urânio [µg/g]

Monoamônico, 22% P totala

183 ± 9b

Triplo, 19% P totala 34 ± 4

b

Bicálcico, 20% P totala

187± 9b

Rocha, 31% P2O5, Estados Unidos

59c

Rocha, 33% P2O5, Marrocos

82c

Rocha, 29% P2 O5, Mali

123c

Rocha, 28% P2O5, Venezuela

51c

aResultados de fósforo por Colorimetria método vanadato-molibdato (Sarruge & Haag,

1974) bResultados da Análise por Nêutrons Retardados

cVan Kauwenbergh,1997 citado

por Use...,2004.

Discussão dos resultados

O teor de Urânio encontrado nos fosfatos analisados é superior aos valores

encontrados na literatura mundial. A origem geológica dos fosfatos determina os

elementos acessórios e contaminantes que estão presentes no fosfato. No Brasil, a

maioria dos fosfatos explorados é do tipo ígneo, que comumente apresentam altos teores

de Urânio.

Conclusões

O uso dos fosfatos na nutrição de solos e de animais é de vital importância para

a sustentabilidade das atividades agropecuárias. O uso de determinadas rochas fosfáticas

ricas em Urânio contribui para o aumento da exposição deste contaminante no meio-

ambiente e na cadeia alimentar humana e animal. O teor de Urânio nos fosfatos deve ser

investigado e comunicado aos trabalhadores da indústria do fosfato, que estão expostos

a estes produtos diariamente em seu ambiente de trabalho (Scholten & Timmermans,

1996). Os produtores de fosfato devem analisar o teor de Urânio nas frentes friáveis de

fosfato antes de explorá-las, preferindo-se explorar as frentes de menor concentração de

Urânio. Deve ser incentivado o desenvolvimento de novos métodos físicos e químicos

para a retirada de Urânio dos fosfatos.

A presença de Urânio na água, nos alimentos e no ambiente deve ser avaliada.

Estudos verificando a possível deposição de Urânio nos tecidos animais devem ser

desenvolvidos in-vivo, utilizando animais de laboratório.

Literatura citada

DATA set of world phosphate mines, deposits, and occurrences - Part A. Geologic

Data, USA: USGS, 2002. 352 p.

DETERMINATION of delayed neutron parameters and Uranium content of a sample.

Budapest: Department of Nuclear Techniques, Budapest University of Technology and

Economics, 2006. Disponível em:

<http://www.reak.bme.hu/nti/Education/Wigner_Course/WignerManuals/Budapest>.

Acesso em: 01 junho 2006.

Page 239: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

239

GUIMARÃES R.C., ARAÚJO A.C., PERES A.E.C. Reagents in igneous phosphate

ores flotation Minerals Engineering, Vol. 18, p. 199-204, 2005.

HEALTH risks of exposure to depleted uranium. The Hague: Health Council of the

Netherlands. Holanda: Gezondheidsraad, 2002 ISBN: 90-5549-387-2, 87 p.

INFORME mineral – Diretoria de Desenvolvimento e Economia Mineral,

Departamento Nacional de Produção Mineral, Ministério de Minas e Energia. Brasília:

Governo Federal do Brasil, 2004. p. 17.

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240

Produção de forragem de pastos de Brachiaria brizantha cv. Xaraés em resposta à

adubação nitrogenada¹

Jorge Luis Malafatti2, Caio Augusto Bertolini

3, Lucas da Rocha Carvalho

4, Luan Jardim

de Sousa3, Nathalia Tami Nishida

5, Lilian Elgalise Techio Pereira

6

1Trabalho desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Forragicultura e Pastagens (GEFEP/FZEA) 2Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Área de concentração: Qualidade e Produtividade Animal,

Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:

[email protected] 3Graduação em Engenharia de Biossistemas, FZEA/USP. e-mail: [email protected],

[email protected] 4Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciências, Ciência Animal e Pastagens, USP. e-mail: [email protected] 5Graduação em Zootecnia, FZEA/USP. e-mail: [email protected] 6Departamento de Zootecnia, FZEA/USP. e-mail: [email protected]

Resumo: A Brachiaria brizantha cv. Xaraés possui grande facilidade de adaptação aos

mais variados tipos de solo e clima, sendo altamente responsiva a adubação nitrogenada.

No intuito de avaliar o potencial produtivo dessa espécie para as condições da região

Sudeste, foram avaliadas as taxas de acúmulo e a produção de forragem ao longo da

época das águas em resposta a adubação nitrogenada. O experimento foi realizado na

USP/FZEA, de outubro de 2017 a março de 2018. Os tratamentos correspondem a três

níveis de adubação nitrogenada: 15, 30 e 45 kg/ha de N, sendo as adubações realizadas

após cada corte, utilizando nitrato de amônio (32% N). Os tratamentos foram

distribuídos em delineamento em blocos completos casualisados, com 3 repetições

(parcelas de 40 m²). Os cortes foram realizados a cada 28 dias, com resíduo de 15 cm de

altura. As taxas de acúmulo de forragem (TXAc) de cada ciclo foram calculadas pela

diferença entre a massa de forragem pré e pós-corte de cada ciclo, dividido pelo

intervalo entre cortes, e a produção total de forragem (PTF) do período foi calculada

como o somatório da diferença entre as massas de forragem pré e pós-corte de cada

ciclo avaliado. As TXAc e a PTF responderam linearmente ao aumento nas doses de

nitrogênio aplicadas (P=0,0126 e P= 0,0049, respectivamente). Aumentos da ordem de

2,6 kg MS/ha por dia e cerca de 0,28 t MS/ha foram registrados por cada kg de N

aplicado após o corte. Dentre as doses testadas, a utilização de 45 kg/ha de N por corte é

recomendada para essa espécie.

Palavras–chave: acúmulo de forragem, perfilhamento, fertilidade do solo, degradação

de pastagens.

Forage production of Brachiaria brizantha cv. Xaraés in response to nitrogen

fertilization

Abstract: The Brachiaria brizantha cv. Xaraés has great adaptability to the most varied

types of soils and climates, being highly responsive to nitrogen fertilization. In order to

evaluate the yield potential of this species to the conditions of Southeastern region, it

was evaluated the daily herbage accumulation rate (HAR) and total herbage production

(THP) throughout the rainy season in response to nitrogen fertilization. The experiment

was carried out at USP/FZEA, from October 2017 to March 2018. Treatments

corresponded to levels of nitrogen fertilization, as follow: 15, 30 and 45 kg/ha of N,

being these levels applied after each cutting using ammonium nitrate (32% N).

Treatments were distributed in completely randomized block design, with 3 replicates

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241

(plots 40 m²). The harvests were performed every 28 days and the stubble corresponded

to 15 cm. The HAR for each regrowth cycle were calculated as the difference between

pre and post-harvest herbage mass, divided by the cutting interval, and the THP of the

period was obtained from the sum of the differences between pre and post- harvest

herbage mass of each cycle. The HAR and THP linearly increased with nitrogen

fertilization (P=0,0126 e P= 0,0049, respectively). For each kg of N applied after

cuttings, HAR and THP increased, approximately, 2,6 kg MS/ha per day and 0,28 t

MS/ha, respectively. Thus, among the nitrogen fertilization rates evaluated, adoption of

45 kg/ha of N after cuttings is recommended to this species.

Keywords: herbage accumulation, tillering, soil fertility, pasture degradation.

Introdução

O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, sendo que cerca de 20%

de sua área agricultável é ocupada por pastagens, as quais representam a base dos

sistemas de produção de bovinos (Moreira et al., 2006). Nesses sistemas, os capins do

gênero Brachiaria representam mais de 50% das pastagens cultivadas, recebendo

destaque por sua adaptação às mais variadas condições de solo e clima, e por propiciar

produções satisfatórias de forragem. Dentre essas a Brachiaria brizantha cv. Xaraés

apresenta características agronômicas notáveis, por ser uma planta muito vigorosa e

altamente produtiva, gerando índices de produtividade por área maiores que outras

cultivares da mesma espécie (Euclides et al., 2009). Todavia, para garantir elevada

produção de forragem nesta espécie, é essencial a adoção de níveis de fertilização

adequados. O nitrogênio é o principal nutriente para as plantas e aquele requerido em

maiores quantidades, uma vez que afeta diretamente o perfilhamento, a expansão foliar

e, consequentemente o potencial produtivo (Cabral et al., 2012). Contudo, a baixa

disponibilidade natural deste nutriente no solo, assim como o baixo investimento

tecnológico no tocante a ajustes de manejo e monitoramento da fertilidade do solo, pode

levar a sua deficiência, sendo a combinação de ambas uma das principais causas da

degradação de pastagens. Cabral et al. (2012), avaliando as respostas do capim-xaraés a

doses crescentes de adubação nitrogenada no Mato Grosso, observaram aumentos de

87% na disponibilidade total de forragem por hectare com a aplicação de 333 kg/ha de

N comparativamente aos pastos não adubados, mas recomendam a adoção de cerca de

250 kg/ha de N na época das águas para maximização da disponibilidade de folhas. No

intuito de avaliar o potencial produtivo da Brachiaria brizantha cv. Xaraés para as

condições da região Sudeste, foram avaliadas as taxas de acúmulo e a produção de

forragem de dosséis manejados sob intervalos de cortes de 28 dias em resposta à

adubação nitrogenada.

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de

Alimentos (FZEA-USP), Campus Fernando Costa, Pirassununga, São Paulo (21º 36’ N;

47º 15’ W, 620 m de altitude), de outubro de 2017 a março de 2018. O solo é

classificado como Latossolo Vermelho Distrófico, e o clima da região é o Cwa, com

temperatura média anual de 21,5oC e precipitação total média anual de 1.395 mm. A

espécie forrageira estudada foi a Brachiaria brizantha cv. Xaraés, e a área experimental

era composta por 9 parcelas de 40 m2. Os tratamentos corresponderam a três níveis de

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adubação nitrogenada (15, 30 e 45 kg/ha de N após cada corte), utilizando nitrato de

amônio (32% N). Os tratamentos foram distribuídos em um delineamento em blocos

casualizados, com 3 repetições, e o critério de bloqueamento foi a fertilidade inicial do

solo. A roçada de uniformização à 15 cm foi realizada em 20/10/2017. Os cortes

subsequentes foram realizados a cada 28 dias à altura de 15 cm (Pedreira et al., 2007). O

primeiro ciclo de crescimento (20 de outubro a 15 de novembro de 2017) foi destinado à

aplicação das adubações de correção (45 kg/ha de P2O5 (superfosfato triplo, 43%) e 30

kg/ha de K2O). A segunda adubação de correção foi realizada em 01 de dezembro de

2017, com o equivalente a 15 kg/ha de P2O5 e 10 kg/ha de K2O por unidade

experimental. Os ciclos de monitoramento foram: C1, de 15/11 a 13/12/17; C2, de

13/12/17 a 10/01/18; e C3 de 10/01 a 10/02/18. As avaliações de massa de forragem

(MF) foram realizadas em cada ciclo, nas condições pós- e pré-corte, a partir de duas

amostras (0,25 m²) coletadas ao nível do solo. Após pesagem, as amostras foram

homogeneizadas e, em seguida, sub-amostradas para determinação do teor de matéria

seca (MS). As taxas de acúmulo de forragem (TXAc) de cada ciclo foram calculadas

pela seguinte equação: TXAc=[(MFpré-MFpós)/intervalo entre cortes, em dias]. A

produção total de forragem (PTF) do período foi calculada como o somatório da

diferença entre as MF pré e pós-corte de cada ciclo avaliado. Os dados foram analisados

com o PROC MIXED do SAS, as médias estimadas pelo LSMEANS, e a comparação

entre elas realizada pelo PDIFF (P<0,05). Para descrever as relações entre dose de

nitrogênio e TXAc e PTF, foi utilizado o procedimento REG, do software SAS®, sendo

as equações escolhidas com base na significância e no coeficiente de determinação (R²).

Resultados e Discussão

As taxas de acúmulo de forragem (TXAc) e a produção total de forragem (PTF)

variaram apenas com as doses de nitrogênio, respondendo de forma linear à adubação

(Figura 1). Aumentos da ordem de 2,6 kg MS/ha por dia e cerca de 0,28 t MS/ha foram

registrados por cada kg de N aplicado via adubação. O aumento na dose de adubação de

15 para 30 kg/ha de N por corte promoveu aumentos de 19,3% e 18,8% em TXAc e

PTF, respectivamente (Tabela 1). Todavia, a aplicação de 45 kg/ha de N por corte,

resultou em aumento de 62,6% e 86,6% em TXAc e PTF, respectivamente, quando

comparada a 30 kg/ha de N por corte. O N é constituinte essencial das proteínas

vegetais e clorofila, interferindo diretamente no processo fotossintético. Além disso, é

necessário no aproveitamento dos carboidratos e auxilia na absorção de outros

nutrientes (Taiz e Zeiger, 2013), sendo o elemento com maior impacto positivo na

produção de forragem, por estimular o perfilhamento, aumentar o índice de área foliar e

a captação de luz pelo dossel (Cabral et al., 2012). Pedreira et al. (2007), trabalhando

com intervalos entre cortes de 28 dias e 120 kg/ha de N, registraram TXAc em torno de

130 kg MS/ha por dia, valores estes inferiores aos observados neste experimento para

uma dose similar de N. Esses resultados evidenciam elevado potencial de resposta dessa

espécie à adubação nitrogenada.

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243

Tabela 1: Taxa de acúmulo (kg MS/ha/dia) e produção total de forragem (t MS/ha) em

pastos de Brachiaria brizantha cv. Xaraés submetidos a doses de adubação nitrogenada

Doses (kg de N/ha por

corte) Taxa de Acúmulo de Forragem Produção total de forragem

15 83±10,4 C 6,9±0,88 C

30 99±10,4 B 8,2±0,88 B

45 161±10,4 A 15,3±0,88 A

P-valor para dose P=0,0126 P=0,0049

Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na coluna diferem entre si (p<0,05).

Figura 1 – Relação entre as doses de nitrogênio (kg/ha por corte), taxa de acúmulo de forragem

(kg MS ha/dia), e a produção total de forragem (ton MS/ha) em pastos de Brachiaria brizantha

cv. Xaraés

Conclusões

A adubação nitrogenada contribui positivamente para aumentos em taxa de

acúmulo e produção total de forragem em pastos de Brachiaria brizantha cv. Xaraés,

sendo a utilização de 45 kg/ha de N por corte recomendada para essa espécie.

Literatura citada

CABRAL, W.B. et al. Características estruturais e agronômicas da Brachiaria brizantha

cv. Xaraés submetidas a doses de nitrogênio. Revista Brasileira de Zootecnia, v.41,

p.846-855, 2012.

EUCLIDES, V.P.B.; MACEDO, M.C.M.; VALLE, C.B.; DIFANTE, G.S.; BARBOSA,

R.A.; CACERE, E.R.

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244

Valor nutritivo da forragem e produção animal em pastagens de Brachiaria brizantha.

Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.44, p.98-106, 2009.

MOREIRA, F.L.M.; MOTA, F.O.B.; CLEMENTE, C.A.; AZEVEDO, B.M.;

BOMFIM, G.V. Adsorção de fósforo em solos do Estado do Ceará. Revista Ciência

Agronômica, v. 37, p. 7-12, 2006.

PEDREIRA, B.C.; PEDREIRA, C.G.S.; SILVA, S.C. Estrutura do dossel e acúmulo de

forragem de Brachiaria brizantha cultivar Xaraés em resposta a estratégias de pastejo.

Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.42, p.281- 287, 2007.

TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 954p.

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245

Qualidade da silagem de sorgo confeccionada com diferentes tipos de vedação1

Karin Van Den Broek2, Felipe Antunes Magalhães

3, João Victor Silva Barbosa

2,

Vinícius Pereira da Silva2, Gustavo Segatto Borges

2, Matheus Felipe Barbosa Dias

2

1Parte do projeto de iniciação científica da primeira autora. Bolsista PIBIC/FAPEMIG. e-mail:

[email protected] 2Graduando – UFU. 3Faculdade de Medicina Veterinária – UFU.

Resumo: Objetivou-se avaliar as características qualitativas da silagem de sorgo

submetidas a diferentes tipos de cobertura do silo, apenas com lâmina de polietileno e

com a lâmina associada com uma camada de terra por cima da mesma. O delineamento

experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com 10 repetições. Não foi

verificada diferença entre os tratamentos para as médias das variáveis de temperatura,

pH, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, matéria mineral, proteína

bruta e perdas por efluente. Contudo, o teor de matéria seca apresentou

significativamente superior para o tratamento que continha uma camada de terra por

cima do polietileno, 4% superior ao outro tratamento. A adição de terra sobre a lâmina

de polietileno melhora a preservação da silagem.

Palavras chave: controle de perdas, estratégia de vedação, temperatura

Quality of sorghum silagem made from different types of sealings1

Abstract: The objective of this study was to evaluate the qualitative characteristics of

sorghum silage submitted to different types of silo cover, with only a polyethylene

blade and with the blade associated with a layer of soil above it. The experimental

design was completely randomized with 10 replicates. No difference was observed

between the treatments for the average of the variables of temperature, pH, neutral

detergent fiber, acid detergent fiber, mineral matter, crude protein and effluent losses.

However, the dry matter content was significantly higher for the treatment containing a

layer of soil over polyethylene, 4% higher than the other treatment. The addition of soil

on the polyethylene sheet improves silage preservation.

Keywords: losses control, sealing strategies, temperature

Introdução

A ensilagem é uma das técnicas mais conhecidas e empregadas para conservação

de forragens. A planta é colhida e passa por um processo fermentativo anaeróbio, pouco

alterando suas qualidades nutricionais. E, a cultura do sorgo para produção de silagem

tem se mostrado como uma alternativa viável aos produtores rurais, principalmente em

regiões com particularidades edafoclimáticas que limitam o cultivo e/ou o potencial

produtivo da cultura do milho.

Apesar da técnica de ensilagem ser historicamente conhecida e difundida, esta

apresenta perdas, as quais devem ser minimizadas. Assim, para que haja um mínimo de

perdas durante a confecção da silagem além das características das forrageiras, é

importante também o rápido fechamento, boa compactação e expulsão do ar. Logo, este

trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar o efeito de diferentes tipos de

cobertura do silo sobre a qualidade nutricional da silagem de sorgo.

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246

Material e Métodos

O híbrido de sorgo AGX-213 foi plantado no início de novembro de 2015 na

Fazenda Experimental Capim Branco da Universidade Federal de Uberlândia. Utilizou-

se um espaçamento entre linhas de 0,8 metros e distribuição de 5,8 sementes por metro

linear. As plantas de sorgo foram colhidas com cerca de 31% de matéria seca (MS),

utilizando colhedora de forragem tracionada por trator. O equipamento foi regulado para

tamanho teórico de corte de partículas de 10 mm.

O tamanho médio de partículas das silagens foi avaliado por estratificação das

amostras com conjunto de peneiras "Penn State Particle Size Separator superior a 19

mm (0,17%), entre 19 e 8 mm (0,3%), entre 8 e 1,18 mm (0,33%) e inferior a 1,18 mm

(0,2%). O tamanho médio de partículas foi estimado por meio da ponderação da

proporção de retenção do material em cada peneira.

Foram avaliados diferentes tipos de cobertura do silo, apenas com lâmina de

polietileno e com a lâmina associada com uma camada de terra por cima da mesma.

Como silos experimentais (unidades experimentais) foram utilizados vinte caixas

d’águas de polietileno com capacidade de 500 litros e superfície superior de 1,13m².

Durante a ensilagem os silos foram abastecidos em camadas e a computação da

forragem foi realizada por pisoteio humano até uma densidade média de compactação

de 200 quilos de MS/m3. Durante o processo de ensilagem foram colocadas três bolsas

de nylon ao longo do perfil de cada silo (porção inferior, média e superior). Cada bolsa

refere-se a um saco de nylon maleável 100% poliamina, com poros de 85 micrômetros e

dimensões de 12 x 50 cm de diâmetro e comprimento, respectivamente, com capacidade

média de 2.000 g e nível de compactação semelhante ao restante do material ensilado.

Cada bolsa foi identificada, pesada individualmente vazia e novamente pesada após seu

enchimento. Para a vedação do mesmo foi utilizado lacre tipo braçadeira flexível de

PVC (policloreto de vinila).

A determinação da produção de efluente foi realizada mediante diferença de

pesagens do conjunto bolsa de nylon mais braçadeira, depois e antes da ensilagem, em

relação à quantidade de matéria verde ensilada. Efetuou-se a estimativa da produção de

efluente drenado pelo saco de nylon, conforme a equação:

PE = Pef x 1000

MVi

Onde: PE = perdas por efluente (kg/t de MV); Pef = peso de efluente (peso do

conjunto vazio após a abertura – peso do conjunto vazio antes do enchimento); MVi =

quantidade de massa verde de forragem ensilada (kg).

Os silos permaneceram fechados e expostos ao ambiente sem proteção durante

um período de 56 dias. Logo após a abertura dos silos, a temperatura média da silagem

foi medida com termômetro digital tipo “espeto”, na profundidade de 0 a15 cm ao longo

do perfil de cada silo (porção inferior, média e superior).

A camada inicial de silagem, de aproximadamente 10 cm foi descartada, e parte

da forragem foi retirada e homogeneizada em uma bandeja plástica. Após a

homogeneização, foi retirada uma amostra representativa da silagem de cada silo. Uma

amostra de 9 gramas de silagem, na forma in natura, foi colocada em um béquer de 250

mL e adicionado 60 mL de água destilada. A leitura do pH é realizada três vezes

consecutivas por intermédio de potenciômetro digital (Digimed), após um repouso de

30 minutos, com agitação do béquer durante as leituras. Posteriormente, amostras da

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silagem foram pré-secas em estufa de ventilação forçada, a 55ºC por 72 horas. Logo

após, as amostras foram pesadas e moídas em moinho estacionário tipo Willey,

utilizando-se malha de 1mm. O material moído foi armazenado em frascos de

polietileno devidamente vedados e identificados para posteriores análises químicas.

Foi determinado os teores de matéria seca (MS) (INCT-CA, 2012; método G-

003/1), cinzas (INCT-CA, 2012; método M-001/1), proteína bruta (PB)(INCT-CA,

2012; método N-001/1) e conteúdo de nitrogênio (N) pelo método de Kjeldahl; fibra em

detergente neutro (FDN)(INCT-CA, 2012; método F-001/1), fibra em detergente ácido

(FDA)(INCT-CA, 2012; método F-003/1) das amostras pré-secas tanto da forragem no

momento da ensilagem quanto das silagens.

Utilizou-se um delineamento experimental em blocos ao acaso (2 tratamentos x

10 repetições). Os dados coletados para cada parâmetro foram submetidos à análise de

variância, por intermédio do programa estatístico SAS (1999).

Resultados e Discussão

Na Tabela 1 estão apresentadas as variáveis relacionadas com o valor nutritivo

das silagens em função dos tratamentos com ou sem adição de terra sobre o filme de

polietileno em cobertura do silo. Não foi verificada diferença (P>0,05) entre os

tratamentos para as variáveis temperatura, pH, fibra em detergente neutro (FDN), fibra

em detergente ácido (FDA), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB) e perdas por

efluente (kg/t de matériaa verde).

Tabela 1 – Valores médios das variáveis de temperatura, pH, químico-bromatológica e

a perda por efluente da silagem da planta de sorgo submetida a uma vedação adicional

com terra sobre o filme de polietileno ou não no momento da ensilagem

Variáveis Tratamentos CV (%)

Com terra Sem terra

Temperatura 24,50 24,74 8,91

pH 3,71 3,71 1,70

MS 26,00A

25,00B

2,63

FDN1

70,34 70,70 2,30

FDA1

40,20 40,30 4,70

MM1

0,06 0,06 8,34

PB1

5,12 5,30 5,20

Perdas por efluente 10,40 7,10 47,82 MS = matéria seca; MM = matéria mineral; FDN = fibra em detergente neutro; FDA = fibra em

detergente ácido; PB = proteína bruta. CV = Coeficiente de variação em porcentagem. Médias

seguidas por letras maiúsculas distintas na mesma linha diferem estatisticamente entre si pelo

teste Tukey (P<0,05). 1 % na MS

Avaliando os valores médios encontrados nos tratamentos para as variáveis de

MS (25,5%), MM (0,06%), PB (5,21%), FDN (70,52%), FDA (40,3%), perda por

efluente (8,75 kg/t de matéria verde) e pH (3,7), percebe-se que são valores típicos para

silagens nacionais (Valadares et al., 2006). Isso nos mostra que nestas variáveis

analisadas a diferença entre cada tratamento não refletiu em mudança da qualidade da

silagem padrão.

Esperava-se que o uso da terra sobre a lâmina de polietileno iria diminuir a

temperatura da silagem em consequência a promoção de uma barreira aos raios solares

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sobre a lona. No entanto, não foi encontrado diferença significativa na variável de

temperatura em função do fator terra.

Ao avaliar o pH das silagens, seus valores médios foram de 3,7. Segundo

McDonald et al. (1991), por apresentarem valores de pH entre 3,60 e 4,30 podem

garantir a redução da proteólise e inibição de crescimento de microrganismos

indesejáveis. Desta forma, mesmo não sabendo a velocidade de queda do pH das

silagens durante o processo de fermentação, a classificação para a silagem AGX-213 foi

como de boa qualidade para os diferentes tratamentos.

A silagem submetida a uma cobertura de uma camada de terra sobre o filme de

polietileno apresentou maior (P<0,05) média de MS em relação ao outro tratamento,

26% de MS, valor este 4 % maior comparada a silagem sem cobertura de terra. O

resultado é justificado à maior adesão do filme sobre a forragem, evitando a entrada de

oxigênio. Este mesmo resultado foi observado por Benardes et al., (2009), onde

testaram a efetividade de algumas estratégias de vedação objetivando a redução nas

perdas nas camadas periféricas. As menores perdas foram observadas onde sobre o

filme plástico colocou-se cerca de 100 kg de terra por m2.

Já a redução (17% menor) no teor médio de MS (25,5%) em relação à forragem

fresca (31%) é decorrente do processo respiratório da planta e do metabolismo dos

microrganismos anaeróbios durante a ensilagem. Além das perdas na produção de MS,

as atividades de respiração da planta e crescimento de microrganismos produzem água e

contribuem para a formação de efluentes, embora neste trabalho não tenha sido

observada maior produção de efluentes quando aplicada apenas vedação com lâmina de

polietileno. Isto posto, fica explícito que diferentes formas de vedação não é um fator

relacionado às perdas por efluente.

Os teores de FDN e FDA foram superiores aos encontrados por (Neumann et al.,

2002), que avaliaram diferentes híbridos de sorgo (AGX-213, AG-2002, AGX-217 e

AG-2005E) e obtiveram média de 58,27 e 35,38%, respectivamente para o também

híbrido AGX-213. Estes valores superiores, se devem, possivelmente, por uma menor

densidade de compactação no presente estudo, acarretando à um maior consumo de

constituintes do conteúdo celular da planta por parte dos microrganismos na fase

fermentativa.

Bem como, os teores de PB também foram superiores aos encontrados por

Neumann et al.(2002), que obtiveram média de 4,8% de PB para o hibrido AGX-213, o

qual pode ser justificado pelo efeito de concentração em consequência da redução dos

teores de MS observados. Com isso, fica clara a importância de uma vedação adequada

no momento da ensilagem, já que, a perpetuação no teor de MS da silagem ao longo do

tempo demonstra maior preservação de nutrientes.

Conclusão

O uso de terra como estratégia de proteção do filme de polietileno em cobertura

do silo se mostrou eficiente em reduzir as perdas de matéria seca, porém sem promover

alterações na composição química da silagem.

Literatura citada

BERNARDES, T.F.; AMARAL, R.C.; NUSSIO, L.G. Sealing strategies to control the

top losses in horizontal silos. In: The International Symposium on forage quality and

Page 249: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

249

conservation, 2009, São Pedro. Proceedings of the III International Symposium of

forage quality and conservation São Pedro, 2009a, p. 190-209.

DETMANN, E.; SOUZA, M.A.; FILHO, S.C.V.; et al. Métodos para análise de

alimentos. (INCT - Ciência animal). Viçosa: Editora UFV, 2012. 214p.

McDONALD, P.; HENDERSON, N.; HERON, S. The biochemistry of silage. 2.ed.

Marlow: Chalcombe Publications, 1991. 339p.

NEUMANN, M.; RESTLE, J.; ALVES-FILHO, D. C.; et al. Avaliação de diferentes

híbridos de sorgo (Sorghum bicolos L. Moench) quanto aos componentes da planta e

silagens produzidas. Revista Brasileira De Zootecnia, v. 31, n. 1, p. 302–312, 2002.

SAS INSTITUTE. SAS Language reference. Version 6, Cary, NC: 1042p. 1999.

VALADARES FILHO, S.C.; MAGALHÃES, K.A.; ROCHA JUNIOR, V.R.;

CAPELLE, E.R. Tabelas brasileiras de composição de alimentos para bovinos.

Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2006. 329p.

Page 250: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

250

Relação entre interceptação luminosa e altura pré-corte em pastos de Brachiaria

decumbens cv. Basilisk submetidos a regimes de fertilização¹

Lilian Elgalise Techio Pereira2, Bruna Scalia de Araújo Passos

3, Jorge Luis Malafatti

3,

Luan Jardim de Sousa4, Caio Augusto Bertolini

4, Valdo Rodrigues Herling

2

1Parte da dissertação de mestrado da segunda autora 2Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:

[email protected]; [email protected] 3Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Área de concentração: Qualidade e Produtividade Animal,

FZEA/USP. e-mail: [email protected]; [email protected] 4Graduação em Engenharia de Biossistemas, FZEA/USP. e-mail: [email protected];

[email protected]

Resumo: A Brachiaria decumbens cv. Basilisk possui ampla plasticidade fenotípica,

sendo capaz de modificar a arquitetura da parte aérea em resposta a oscilações na

disponibilidade de fatores de crescimento, fato que poderia afetar a altura em que os

dosséis atingem a condição pré-corte (IL95%). O experimento foi realizado na

USP/FZEA, de outubro/2016 a março/2017, final de primavera e verão, para avaliar a

relação entre a interceptação luminosa (IL) e a altura pré-corte em pastos de Brachiaria

decumbens cv. Basilisk. Os tratamentos corresponderam a três regimes de fertilização

(níveis crescente de calagem para elevar a saturação de base do solo (V%) e adubação

com nitrogênio, fósforo e potássio (NPK)): Fert1= V% de 35 + 1% K/CTC + 9 mg/dm3

de P no solo + 40 kg de N/ha por ano; Fert2= V% de 50 + 2% K/CTC + 12 mg/dm3 de P

no solo + 60 kg de N/ha por ano; e Fert3= V% de 65 + 3% K/CTC + 15 mg/dm3 de P no

solo + 90 kg de N/ha por ano, e submetidos a duas severidades de corte (resíduo de 15 e

10 cm). Os tratamentos foram distribuídos em um delineamento em blocos completos

casualizados com três repetições, em arranjo fatorial 3 x 2. A altura da condição pré-

corte, correspondente ao ponto de IL95%, variou apenas com a época do ano (P<0,0001),

independentemente dos regimes de fertilização ou severidades de corte (P>0,05). A

relação entre IL e altura variou segundo uma equação quadrática em ambas as épocas do

ano (final de primavera e verão). Manejo sazonal deve ser utilizado em dosséis de

Brachiaria decumbens cv. Basilisk, quando a altura correspondente a IL95% é utilizada

para definir a condição pré-corte, sendo esse ponto correspondente a 20,2 cm no final de

primavera e 28,0 cm no verão.

Palavras–chave: época de florescimento, fertilidade de solo, lotação intermitente,

saturação por bases

Canopy light interception and sward surface height relationship in Brachiaria

decumbens cv. Basilisk pastures subjected to fertilization regimes

Abstract: The Brachiaria decumbens cv. Basilisk is characterized by its wide

phenotypic plasticity, being capable of modify the shoot architecture in response to

variations in the availability of growth factors, which could affect the height in which

the canopies reach the pre-harvest phase (LI95%). This experiment was carried out at

USP/FZEA, from October/16 to March/17, late spring and summer, aiming to evaluate

the relationship between canopy light interception (LI) and the canopy height at the pre-

harvest stage in pastures of Brachiaria decumbens cv. Basilisk. Treatments

corresponded to three fertilization regimes, characterized by limestone to increase soil

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251

base saturation (V%) to 35, 50 or 65% plus levels of nitrogen (N), phosphorus (P) and

potassium

(K) fertilization (Fert1, Fert2, and Fert3), and subjected to two severities of defoliation

(stubble of 15 and 10 cm). Treatments were distributed in a randomized complete block

design with three replications (plots of 80 m²), in a factorial arrangement 3 x 2. The pre-

harvest canopy height, corresponding to the point of LI95%, varied only with the season

(P<0.0001), regardless fertilization regimes and severities of defoliation (P>0.05). The

variations of LI and canopy height along regrowth followed a quadratic relationship in

both seasons. Seasonal management should be adopted on B. decumbens cv. Basilisk

pastures, when the canopy height corresponding to LI95% is used to define the pre-

harvest stage. This point corresponded to 20.2 cm during late spring and 28.0 cm in

summer.

Keywords: flowering period, intermittent stocking, soil base saturation, soil fertility

Introdução

Grandes avanços com relação ao manejo de pastagens têm sido obtidos no Brasil

nos últimos anos. Metas de manejo têm sido estabelecidas para as gramíneas tropicais

perenes de maior expressão no cenário produtivo nacional, incluindo-se as espécies do

gênero Brachiaria. Apesar disso, critérios adequados de manejo de pastos de Brachiaria

decumbens cv. Basilisk mantidos sob lotação intermitente ainda não foram claramente

definidos.

Metas de manejo são definidas com o objetivo de maximizar o acúmulo de

folhas e, por consequência, o valor nutritivo da forragem disponível ao animal em

pastejo, ao mesmo tempo em que minimizam o alongamento de colmos e estiolamento

dos indivíduos, e acúmulo de material morto. O alongamento de colmos é uma resposta

típica de escape ao sombreamento, fato que torna frequência de desfolhação o principal

modulador da disponibilidade de luz que penetra o dossel, já que define a duração do

período de rebrotação (Da Silva et al., 2015). Em gramíneas tropicais cespitosas, o

alongamento de colmos e a mortalidade de perfilhos são intensificados quando o

período de rebrotação ultrapassa o momento em que o dossel intercepta 95% da luz

incidente (IL95%), sendo esse ponto altamente correlacionado com a altura do dossel.

Portela et al. (2011) descreveram que as metas de manejo que maximizam o

aparecimento e sobrevivência de perfilhos em pastos de Brachiaria decumbens cv.

Basilisk são aquelas em que a interrupção da rebrotação ocorre no ponto correspondente

a IL95% associada a severidade de desfolhação correspondente ao resíduo de 10 cm.

Todavia, Pedreira et al. (2017) e Pereira et al. (2018) relataram que essa espécie possui

ampla plasticidade fenotípica, sendo capaz de modificar a arquitetura da parte aérea em

resposta a oscilações na disponibilidade de fatores de crescimento, fato que poderia

afetar a altura em que os dosséis atingem o ponto de IL95% quando submetida a distintos

condições de fertilidade do solo ou níveis de adubação. Com base no exposto, o

objetivo deste trabalho foi avaliar a relação entre a interceptação luminosa e a altura do

dossel atingida na condição pré-corte em pastos de Brachiaria decumbens cv. Basilisk

submetidos a regimes de fertilização (distintos níveis de calagem + adubação com

NPK), nas épocas de final de primavera e verão.

Page 252: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

252

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de

Alimentos (USP/FZEA), Pirassununga, São Paulo, Brasil (21º 36’ N; 47º 15’ W, 620

m), de outubro de 2016 a março de 2017. A espécie estudada foi a Brachiaria

decumbens cv. Basilisk, estabelecida em Latossolo vermelho distrófico, cuja área

experimental era composta por 18 piquetes com 80 m² (10 m x 8 m). As atividades deste

experimento tiveram início a partir do corte de uniformização a 5 cm de altura,

realizado em julho 2016. Os tratamentos experimentais corresponderam a três regimes

de fertilização (calagem para elevar a saturação de base do solo (V%) e adubação com

nitrogênio, fósforo e potássio (NPK)), definidas com o objetivo de construir distintos

níveis de fertilidade do solo: Fert1= V% de 35 + 1% K/CTC + 9 mg/dm3 de P no solo

+ 40 kg de N/ha por ano; Fert2= V% de 50 + 2% K/CTC + 12 mg/dm3 de P no solo +

60 kg de N/ha por ano; e Fert3= V% de 65 + 3% K/CTC + 15 mg/dm3 de P no solo +

90 kg de N/ha por ano. Para cada regime de fertilização, os dosséis foram submetidos a

duas severidades de corte, correspondentes a alturas de resíduo de 15 e 10 cm. Os

tratamentos foram distribuídos em um delineamento de blocos completos ao acaso com

três repetições, em esquema fatorial 3 x 2. O critério para definir a condição pré-corte

foi o momento em que o dossel interceptava 95% da radiação solar fotossinteticamente

ativa (IL95%), e os cortes foram realizados com auxílio de roçadora costal. A IL foi

monitorada semanalmente durante a rebrotação, com um analisador de dossel LAI-

2000. As leituras foram realizadas em duas áreas amostrais por parcela, compostas por

uma medida acima do dossel e cinco ao nível do solo. Para determinação da altura

média pós- e pré-corte, foram tomadas 20 leituras em pontos aleatórios dentro de cada

parcela, utilizando-se régua graduada em centímetros (cm). A análise da variância foi

realizada utilizando o procedimento MIXED, considerando regimes de fertilização,

severidades de corte, estação do ano e suas interações como fatores fixos e bloco como

fator aleatório. A estação do ano foi considerada medida repetida no tempo. A matriz de

covariância utilizada para altura foi CS. Para descrever a relação entre IL e altura, foi

utilizado o procedimento REG, do software SAS®, sendo escolhidas as equações que

melhor descreveram a relação entre as variáveis com base na significância e no

coeficiente de determinação (R²).

Resultados e Discussão

As alturas na condição pós-corte foram mantidas de acordo com as metas pré-

definidas, com valores médios de 10,4±0,17 cm e 14,4±0,17 cm no final de primavera e

11,1±0,17 cm e 15,3 ±0,17 cm no verão, respectivamente, para as severidades de corte

de 10 e 15 cm. A altura da condição pré-corte, correspondente ao ponto de IL95%, variou

apenas com a época do ano (P<0,0001), independentemente dos regimes de fertilização

ou severidades de corte (P>0,05). Marcantes variações sazonais em atributos da

estrutura do dossel foram previamente reportadas por Pedreira et al. (2017) em pastos de

B. decumbens, sendo atribuídas a transição do período vegetativo para o reprodutivo

entre o final de primavera e verão nessa espécie. Durante a fase reprodutiva das

gramíneas ocorre a elevação do meristema apical, sendo o processo de alongamento do

colmo intensificado no verão para emissão de hastes reprodutivas (Pereira et al., 2018),

fato que contribuiu decisivamente para aumentos em altura do dossel na condição pré-

corte. A relação entre IL e altura variou segundo uma equação quadrática em ambas as

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253

épocas do ano (Figura 1). Com base nessa relação, o ponto em que os dosséis atingiram

IL95% correspondeu a altura média de 20,2 cm no final de primavera e 28,0 cm no verão.

Amplitudes similares de manejo (entre 18 e 30 cm) também foram indicadas por

Pedreira et al. (2017), os quais ressaltaram que no limite inferior dessa recomendação

seria possível obter forragem com maior valor nutritivo, enquanto a adoção de metas

próximas ao limite superior da recomendação resultaria em maior acúmulo de lâminas

foliares. Cabe ressaltar que, enquanto para a maior parte das gramíneas tropicais perenes

a altura correspondente ao ponto de IL95% varia pouco entre épocas do ano (Da Silva et

al., 2015), os resultados registrados neste experimento indicam que manejo sazonal

deveria ser adotado em dosséis de Brachiaria decumbens cv. Basilisk, quando a altura

correspondente a IL95% é utilizada para definir a condição pré-corte.

Figura 1 - Relação entre a altura do dossel (Alt, cm) e interceptação luminosa (IL, %) em pastos de

Brachiaria decumbens cv. Basilisk no final de primavera (FP) e verão (V).

Conclusões

Manejo sazonal deve ser utilizado em dosséis de Brachiaria decumbens cv.

Basilisk, quando a altura correspondente a IL95% é utilizada para definir a condição pré-

corte, sendo esse ponto correspondente a 20,2 cm no final de primavera e 28,0 cm no

verão, independentemente dos regimes de fertilização ou severidades de corte adotados.

Agradecimentos

Ao CNPq, pela concessão de apoio financeiro (Processo Número: 403263/2016-

6) e ao Grupo de Estudos em Forragicultura e Pastagens (GEFEP/FZEA), pelo auxílio

nas atividades de campo.

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254

Literatura citada

DA SILVA, S. C.; SBRISSIA, A. F.; PEREIRA, L. E. T. Ecophysiology of c4 forage

grasses- understanding plant growth for optimizing their use and management.

Agriculture, v. 5, p. 598-625, 2015.

PEDREIRA, C. G. S.; BRAGA, G. J.; PORTELA, J. N. Herbage accumulation, plant-

part composition and nutritive value on grazed signal grass (Brachiaria decumbens)

pastures in response to stubble height and rest period based on canopy light

interception. Crop & Pasture Science. v. 68, p. 62-73, 2017.

PEREIRA, L.E.T.; HERLING, V.R.; AVANZI, J.C.; DA SILVA, S.C. Características

morfogênicas e estruturais de capim-braquiária em resposta a calagem e severidade de

corte. Pesquisa Agropecuária Tropical (Agricultural Research in the Tropics), v.48,

p.1-11, 2018.

PORTELA, J.N.; PEDREIRA, C.G.S.; BRAGA, G.J. Demografia e densidade de

perfilhos de capim‑braquiária sob pastejo em lotação intermitente. Pesquisa

Agropecuária Brasileira, v. 46, p. 315-322, 2011.

Page 255: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

255

Taxas de acúmulo de forragem em pastos de Arachis pintoi cv. Belmonte

submetidos a estratégias de pastejo rotativo¹

Lucas da Rocha Carvalho2, Bia Anchão Oliveira

3, Luiz Henrique Goulart Bernardes

3,

Lilian Elgalise Techio Pereira4, Sila Carneiro da Silva

5

1Parte da tese de doutorado do autor. 2Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciências, na área de Ciência Animal e Pastagens, USP. e-mail:

[email protected] 3Graduação em Engenharia Agronômica, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP). e-mail:

[email protected]; [email protected]. 4Departamento de Zootecnia, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). e-mail:

[email protected]. 5 Departamento de Zootecnia, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP). e-mail:

[email protected].

Resumo: A dinâmica de crescimento de folhas e colmos e seus impactos sobre as taxas

de acúmulo de forragem em pastagens submetidas a pastejos frequentes ou sob longos

períodos de rebrotação é amplamente descrita para gramíneas forrageiras. Todavia,

estudos com leguminosas são escassos. No intuito de avaliar a taxa acúmulo de folíolos

e estolões em amendoim forrageiro (Arachis pintoi cv. Belmonte) em resposta regimes

de desfolhação sob lotação intermitente, as pastagens foram submetidas a combinações

entre duas frequências e duas severidades de pastejo. As frequências de desfolhação

foram definidas com base na interceptação luminosa pelo dossel (IL), e corresponderam

a IL95% e ILMáx (máxima interceptação de luz durante a rebrotação), e as severidades de

pastejo corresponderam a 40 e 60% da altura pré-pastejo. Os tratamentos foram

distribuídos em um arranjo fatorial 2x2, em delineamento de blocos completos

casualizados, com quatro repetições. As medidas de massa de forragem e composição

botânica e morfológica foram realizadas por meio do corte de duas (condições pré- e

pós-pastejo durante um ciclo acompanhado por época do ano, e a partir de onde foram

calculadas as taxas de acúmulo. Marcantes efeitos da época do ano foram observados

para a taxa de acúmulo total de forragem, de folíolos e de estolões (p<0,0001 para todas

as variáveis), com valores superiores registrados no verão I, caracterizando uma fase de

estabelecimento e ocupação da área. Não houve efeito da severidade de desfolhação

sobre essas características, indicando que essa amplitude (40 a 60%) parece estar dentro

dos limites de tolerância da espécie à desfolhação. A taxa de acúmulo de estolões variou

com a frequência de desfolhação (p<0,0301), com maiores valores registrados para

ILMáx.

Palavras–chave: adaptação morfológica, lotação intermitente, interceptação luminosa

do dossel, leguminosas

Forage accumulation rates of Arachis pintoi cv. Belmonte pastures subjected to

rotational stocking strategies

Abstract: Leaf and stem growth dynamics and their impacts on herbage accumulation

rates of pastures subjected to frequent grazing regimes or long grazing intervals are

widely described for forage grasses. However, knowledgement related with growth

dynamics of forage legumes are scarce. In order to evaluate the accumulation rates of

leaflets and stolons of forage peanut (Arachis pintoi cv. Belmonte) in response

defoliation regimes under rotational stocking, pastures were subjected to combinations

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256

of two frequencies and two severities of grazing. Frequency of defoliation was based in

the canopy light interception (LI), and corresponded to LI95% and LIMáx (maximum

canopy light interception during regrowth), and severities of defoliation were equivalent

to 40 and 60% of the pre-grazing canopy height. Treatments were distributed in a

factorial arrangement 2x2, in a completely randomized block design, with four

replications. Measurements of herbage mass, botanical and morphological composition

were made by cutting at soil level and weighing all forage contained in two metallic

frames at pre and post-grazing conditions in one grazing cycle per season of the year.

From those measurements, the herbage accumulation rates were calculated. Season of

the year had a pronounced effect on total, leaflet and stolons accumulation rates

(p<0.0001 for all variables), and the highest values were observed during summer I,

characterizing an establishment phase and a strategy to soil colonization and occupation.

There were no effects of grazing severities on these responses, indicating that this range

(40 a 60%) appears to be within the limits of tolerance of the species to defoliation.

Stolon accumulation rates were affected by frequency of defoliation (p<0.0301), and the

highest value was observed in LIMáx.

Keywords: morphological adaptation, intermittent stocking, canopy light interception,

legumes

Introdução

As gramíneas formam a base dos sistemas de produção de animais a pasto no

Brasil, contudo algumas espécies de leguminosas com potencial de utilização sob

pastejo têm sido identificadas, dentre as quais destaca-se o Arachis pintoi Krapovickas

& Gregory (amendoim forrageiro). Contudo, a ausência de informações acerca de suas

características morfofisiológicas, estratégias de perenização e plasticidade para

expressão de adaptações morfológicas em resposta a distintas metas de manejo ainda

limita de forma marcante sua adoção (Fernandes et al., 2017). O manejo do pastejo sob

lotação intermitente deve priorizar a adoção de metas pré e pós-pastejo compatíveis com

os limites de tolerância da planta, os quais são específicos a cada espécie vegetal. Com

relação à condição pré-pastejo, diversas pesquisas com gramíneas tropicais

determinaram que a frequência ideal de pastejo seria aquela associada com a interrupção

da rebrotação quando o dossel forrageiro intercepta cerca de 95% da luz incidente (IL),

caracterizando pastejos frequentes ou curtos períodos de rebrotação. Esse padrão de

resposta está ligado ao fato de que a frequência de desfolhação modula a

disponibilidade de luz que penetra o dossel, já que define a duração do período de

rebrotação. Sob longos períodos de rebrotação, onde quase toda luz que chega ao topo

do dossel é interceptada (ILMáx), mudanças na qualidade da luz, representadas

principalmente pela baixa relação vermelho:vermelho distante, indicam situações de

potencial competição por recursos luminosos, desencadeando respostas morfológicas

como forma de adaptação à condição vigente. Nessa situação, ocorre redução acentuada

no acúmulo de folhas e aumento no acúmulo de colmos e de mate rial morto com

consequente redução no valor nutritivo da forragem produzida (Da Silva et al., 2015).

Quanto às condições pós-pastejo, severidades de desfolhação correspondentes a uma

amplitude de remoção da altura pré-pastejo entre 40 e 60% têm sido reconhecidas como

as metas que maximizam a produção de forragem. Apesar dessa dinâmica de

crescimento ser amplamente reconhecida e descrita para gramíneas forrageiras, estudos

com leguminosas são escassos. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a taxa

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acúmulo de folíolos e estolões em pastos de amendoim forrageiro submetidos a

combinações entre duas frequências e duas severidades de pastejo.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Escola Superior de Agricultura “Luiz de

Queiroz” (ESALQ/USP), Piracicaba, São Paulo, Brasil (22º42’ N, 47º38’ W, 546 m), de

novembro de 2014 até abril de 2016. A espécie estudada foi o Arachis pintoi cv.

Belmonte, estabelecida em Nitossolo vermelho eutroférrico. A área experimental foi

dividida em 16 piquetes de 200 m². Os tratamentos corresponderam a combinações

entre duas condições pré- (95% e máxima interceptação de luz durante a rebrotação –

IL95% e ILMáx, respectivamente) e duas condições pós-pastejo (alturas pós-pastejo

correspondentes a 40 e 60% da altura pré-pastejo), e foram alocados às unidades

experimentais segundo arranjo fatorial 2x2 e delineamento de blocos completos

casualizados, com quatro repetições. O monitoramento da IL foi realizado com aparelho

analisador de dossel LAI 2000 (LI-COR, Lincoln, Nebraska, EUA) logo após cada

pastejo, e semanalmente durante todo o período de rebrotação, sendo tomadas oito

leituras acima do dossel e 40 ao nível do solo por unidade experimental. A altura do

dossel foi mensurada na condição pré- e pós-pastejo, utilizando-se bastão medidor

adaptado de sward stick, sendo as medidas tomadas em 50 pontos aleatórios por

piquete.

As avaliações de massa de forragem e de sua composição botânica e

morfológica foram realizadas por meio do corte de duas amostras por piquete nas

condições pré- e pós-pastejo. Foram utilizadas armações metálicas de 0,33 m2

(0,90 m x

0,37 m), a forragem foi cortada no nível do solo e as amostras levadas para laboratório,

pesadas separadamente e fracionadas em duas sub-amostras. Uma das sub-amostras foi

submetida a separação manual, de onde obteve-se os seguintes componentes: plantas

invasoras, material morto, estolões, folíolos e pecíolos. Cada componente foi

acondicionado em sacos de papel devidamente identificados e levados à estufa de

circulação forçada de ar para secagem a 65ºC até massa constante. O acúmulo de

forragem foi determinado a partir das amostras colhidas para as avaliações de massa de

forragem, por meio da diferença entre a massa de forragem pré-pastejo atual e o pós-

pastejo imediatamente anterior. A taxa de acúmulo de forragem durante o período de

rebrotação foi obtida dividindo-se o acúmulo de forragem pelo número de dias

compreendido entre as condições de pós e de pré-pastejo e a respectiva porcentagem de

cada componente.

Os dados foram agrupados de acordo com épocas do ano pré-determinadas, e

submetidos à análise de variância utilizando-se o PROC MIXED do pacote estatístico

SAS® (Statistical Analysis System). A escolha da matriz de variância foi feita

utilizando-se o critério bayesiano de Schawrz (BIC). A porcentagem de invasoras na

massa de forragem foi utilizada como covariável, e a matriz selecionada para esses

banco de dados foi ARH(1). As médias dos tratamentos foram estimadas utilizando-se o

“LSMEANS”, a comparação entre elas, quando necessária, realizada por meio do teste

de “Student” e diferenças foram declaradas significativas quando P<0,05.

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Resultados e Discussão

A taxa de acúmulo total de forragem e de folíolos variou apenas entre as épocas

do ano (p<0,0001). Maiores valores de taxa de acúmulo foram registrados durante o

verão I, intermediários no início e final de primavera e verão II e menores no

outono/inverno. Com relação à taxa de acúmulo de folíolos, maiores valores foram

registrados durante o verão I e verão II, intermediários durante o início e final de

primavera e menores durante o outono/inverno. A taxa de acúmulo de estolões variou

com a IL (p<0,0301) e época do ano (p<0,0001). Maiores taxas de acúmulo de estolões

foram registradas nos pastos manejados com a meta ILMáx relativamente àqueles

manejados com a meta IL95%. Com relação às épocas do ano, maiores valores foram

registrados durante o verão I, intermediários durante o início e final de primavera e

verão II e menores durante o outono/inverno. A prioridade no desenvolvimento de

estolões foi evidenciada no verão I, caracterizando uma fase de estabelecimento e

ocupação da área (horizontal e vertical). Este fato elucidaria as diferenças em taxa de

acúmulo total e de estolões entre o primeiro e o segundo período de crescimento (verão

I e verão II). Além disso, o maior tempo para crescimento e desenvolvimento vegetativo

(ILMáx) das plantas proporcionou aumentos no acúmulo de estolões. Esse padrão de

resposta é típico de plantas submetidas à competição por luz, em que restrições em

quantidade e qualidade da luz estimulam o investimento em estolões. As severidades de

pastejo exerceram menores impactos, resposta coerente com aquele descrito para

gramíneas forrageiras submetidas a regimes análogos de desfolhação.

Tabela 1 – Taxa de acúmulo total de forragem (TA), de folíolos (TAF) e de estolões

(TAE) (médias ± erro-padrão da média) em pastos de Arachis pintoi cv. Belmonte

submetidos a estratégias de pastejo rotativo caracterizadas pelas metas de IL95% e ILMáx

de fevereiro de 2015 a abril de 2016

Meta IL TAE

(kg ha-1

dia-1

)

IL95% 37±6,4 B

ILMáx 58±5,9 A

Época TA TAF TAE

(kg ha-1

dia-1

)

Verão I 206±26,4 A 71±6,4 A 93±16,6 A

Outono/Inverno 33±5,0 C 20±1,9 C 9±1,7 C

Início Primavera 103±15,9 B 53±5,6 B 45±6,8 B

Final Primavera 108±13,0 B 63±4,1 AB 51±7,6 B

Verão II 143±16,0 AB 72±3,2 A 40±6,1 B

Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na coluna diferem entre si (p<0,05).

Conclusões

O amendoim forrageiro possui padrão de resposta semelhante ao descrito para

gramíneas forrageiras tropicais, uma vez que maiores taxas de acúmulo de estolões

foram registradas em ILMáx, mesmo que não haja impacto negativo sobre o acúmulo de

folíolos. As severidades de desfolhação aplicadas parecem estar dentro dos limites de

tolerância da espécie, uma vez que não afetaram as taxas de acúmulo em Arachis pintoi

cv. Belmonte.

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259

Literatura citada

DA SILVA, S. C.; SBRISSIA, A. F.; PEREIRA, L. E. T. Ecophysiology of C4 forage

grasses- understanding plant growth for optimizing their use and management.

Agriculture. v. 5, n. 3, p. 598-625, 2015.

FERNANDES, F. D.; RAMOS, A. K.; CARVALHO, M. A.; MACIEL, G. A.; ASSIS,

G. M.; BRAGA, G. J. Forage yield and nutritive value of Arachis spp. genotypes in the

Brazilian savanna. Tropical Grasslands-Forrajes Tropicales, v. 5, p. 19-28, 2017.

Page 260: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

260

Tendência genética de características de conformação corporais de touros Gir

Leiteiros de centrais de inseminação¹

Isadora de Ávila Caixeta2, Nayara Ferreira Gomes

3, Vitória Mendes André

4, Laya

Kannan S. Alves5, Janine França

6

1Parte do trabalho de conclusão de curso do segundo autor 2Aluna de graduação do curso de zootecnia. e-mail: [email protected] 3Zootecnista. e-mail: [email protected] 4Aluna de graduação do curso de zootecnia. e-mail: [email protected] 5Aluna de graduação do curso de zootecnia. e-mail: [email protected] 6Zootecnista. Docente na Universidade Federal de Uberlândia. e-mail: [email protected]

Resumo: A seleção de animais é de suma importância para a eficiência produtiva de um

rebanho, assim a seleção de reprodutores pode ser realizada a partir da avaliação

genética de características de conformação corporais que são de grande valia dentro do

melhoramento genético da raça. Assim, o presente estudo avaliou dados de 73 touros da

raça Gir leiteiro de diferentes centrais de coleta de sêmen, com ano de nascimento de

1987 a 2012. Foram utilizadas as STA (Spand Transmitting Animal) das características

de conformação corporais: altura de garupa, perímetro torácico, comprimento corporal,

comprimento da garupa, largura entre ísquios, largura entre íleos, ângulo de garupa. Os

dados foram coletados de 8 catálogos de 2010 até 2015 de 3 centrais de inseminação.

Para os valores genéticos das características comprimento corporal e torácico, verificou-

se uma evolução nos animais mais jovens, que apresentaram uma maior capacidade

cardíaca, pulmonar e digestiva, já para altura de garupa, os animais mais velhos

apresentaram maiores valores para essa característica. Para comprimento de garupa e

largura de íleos, houve um aumento nos valores genéticos dos animais jovens. Para o

ângulo de garupa os animais mais velhos apresentaram valores mais próximos de zero,

diminuindo para os mais jovens. As características de conformação corporais evoluem

de acordo com a necessidade de seleção ao longo dos anos, sendo importante ferramenta

para o sucesso produtivo dentro de bovinos de leite da raça Gir.

Palavras–chave: bovinos de leite, medidas morfométricas, reprodutores, valores

genéticos

Genetic trend of body conformation traits of bulls Dairy Gir of insemination

centers

Abstract: The selection of animals is of importance for the productive efficiency of a

herd, so the selection of breeders can be performed from the genetic evaluation of body

conformation characteristics that are of great value within the genetic breeding of the

breed. Thus, the present study evaluated data from 73 bulls of the Gir dairy breed from

different semen collection centers, with year of birth from 1987 to 2012. The Spand

Transmitting Animal (STA) of the body conformation characteristics were used: rump

height, thoracic perimeter, body length, rump length, angle rump and hip measures were

evaluated. Data were collected from 8 catalogs from 2010 to 2015 of 3 insemination

centers. For the genetic values of the body and chest length characteristics, there was an

evolution in the younger animals, which presented a higher cardiac, pulmonary and

digestive capacity, already for croup height, the older animals had higher values for this

characteristic. For rump length and width of ileus, there was an increase in the genetic

values of young animals. For the rump angle, the older animals presented values closer

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261

to zero, decreasing for the younger animals. Body conformation characteristics evolve

according to the need of selection over the years, being an important tool for productive

success in Gir cattle.

Keywords: dairy cattle. morphometric measures, breeder, genetic values

Introduçao

Os primeiros bovinos da raça Gir foram trazidos ao Brasil, por volta de 1906,

após esse período também outras importações realizadas, foram de grande importância

para a constituição do Gir brasileiro (Ledic et al., 2008). Já nos anos 30 alguns criadores

viram que necessitavam selecionar o Gir, afim da produção de leite, e começaram a

reunir animais de diferentes fazendas dando início a seleção do Gir leiteiro, que mais

tarde despertou interesse de órgãos governamentais da área de pesquisa (Santos, 2007).

Com isso, perceberam a necessidade de implantar um programa para analisar os touros e

as matrizes dos cruzamentos que já haviam sido realizados (Verneque, 2011).

De acordo com Panetto et al. (2015), os dados sobre as características de

conformação e manejo são de grande importância, por possibilitarem a criação de um

rebanho com uma maior eficiência, mais produtivo e econômico, através da seleção dos

melhores reprodutores. Essas características são o foco do Programa Nacional de

Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL), que tem como objetivo favorecer o

melhoramento genético da raça Gir através da identificação e seleção de touros

geneticamente superiores para as características de conformação, manejo e produção.

Os resultados desse programa são obtidos em PTA (Predicted Transmitting Animal);

STA (Spand Transmitting Animal) e Acurácia e confiabilidade, sendo que a STA é a

PTA (que é a capacidade prevista de transmissão, sendo uma medida do desempenho

(produção) esperado nas filhas de um touro em relação à média genética dos rebanhos)

padronizada para as características de conformação e manejo, ela permite que essas

características possam ser comparadas mesmo que tenham sido medidas em unidades

diferentes. Essa característica é fundamental para auxiliar o criador na avaliação em

conjunto, informando de que forma o touro pode melhorar o rebanho quando acasalado

com vacas médias. Assim, estudos que demonstram a evolução genética das

características de conformação ao longo dos anos de seleção de touros da raça Gir são

necessários.

Material e Métodos

Para o presente estudo foram utilizados dados de 73 touros da raça Gir leiteiro

de diferentes centrais de coleta de sêmen, anos de nascimento variando de 1987 a 2012.

Foram utilizadas as STA das características de conformação corporais: altura de garupa

(AG), perímetro torácico (PT), comprimento corporal (CC), comprimento da garupa

(CG), largura entre ísquios (LEIS), largura entre íleos (LEIL), ângulo de garupa (AG).

Os dados para todas essas características juntamente com a data de nascimento dos

animais foram coletados em 8 diferentes catálogos publicados desde 2010 até 2015 de 3

centrais de inseminação. Para realizar a análise descritiva, primeiramente todos os dados

foram tabulados de acordo com o ano de nascimento de cada touro avaliado. Todas as

empresas utilizavam o mesmo programa de avaliação genética para essas características.

Para cada ano de nascimento foi realizado a média para todas as características de todos

os animais nascidos no mesmo ano. Para avaliação das características foi realizada uma

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262

análise descritiva através da elaboração de gráficos, tipo linhas com a inserção de linha

de tendência através de regressão linear, elaborados no programa Microsoft® Excel

®

(2013), para cada característica analisada de acordo com os anos de nascimentos dos

animais.

Resultados e Discussão

Os resultados para as características de conformação corporais são apresentados

na figura 1:

Figura 1. Tendência genética de características de conformação corporais de touros da raça Gir

leiteiro

Os valores genéticos para as características comprimento corporal, torácico,

foram próximos aos esperados por Verneque et al. (2014). Demonstrando que houve

uma evolução nos animais mais jovens quando comparados aos mais velhos, onde esses

animais apresentam uma maior capacidade cardíaca, pulmonar e digestiva. Os valores

genéticos para altura de garupa foram menores do que o esperado por Verneque et al.

(2014). Provavelmente isso ocorreu pelo fato de que o foco no início do melhoramento

genético era selecionar animais com alturas de garupa cada vez maiores, isso fez com

que as progênies advindas desses animais apresentassem um tamanho muito acentuado.

O tamanho dos animais Ä importante para os produtores que direcionavam a seleção

dos animais para a pista de julgamento, uma vez que as vacas mais altas e fortes

recebem uma maior pontuação. Sendo assim para que fosse possível corrigir a altura

média do rebanho iniciaram uma seleção de animais que apresentassem valores

genéticos menores, sugerindo uma possível mudança de direcionamento da seleção de

animais para a pista em relação a animais que atendam os critérios de seleção.

As características analisadas tanto de comprimento de garupa como de largura

de Íleos, apresentaram um aumento nos valores genéticos dos animais jovens. Sendo

que ambas as características estão relacionadas ao suporte dorsal do úbere, e conforme

Page 263: Uso de sistemas agrossilvipastoris para mitigação de gases de … · 2019-01-23 · Thaís Gabriela Taveira Bittar, Jhone Tallison Lira de Sousa, José Victor dos Santos, Lucas

263

Panetto et al. (2015) os valores desejados são os maiores, pois permitem uma maior

capacidade de colocação do úbere. Sendo assim os dados analisados estão dentro do

esperado, e indicam que o processo de seleção para essas características vem sendo bem

aplicado, resultando em ganhos para o rebanho que utiliza esses animais.

Segundo Panetto et al. (2015), a característica de largura entre Ísquios

juntamente com a largura entre Íleos influencia no suporte dorsal do úbere e na

facilidade de parto. Sendo assim os valores esperados para as progênies dos animais

avaliados são de que eles sejam maiores que 5 (Panetto et al., 2015). Porém os valores

genéticos para largura entre Ísquios demonstraram um valor diferente do esperado, pois

eles foram menores nos animais jovens, diminuindo com o passar da seleção.

O ângulo de garupa auxilia no momento do parto, sendo que os valores extremos

podem causar problemas de parto. Com isso, espera-se que os valores genéticos dos

animais sejam intermediários (Verneque et al., 2014). Entretanto, os dados obtidos neste

estudo foram com valores contrários, sendo que, para os animais mais velhos os valores

estavam mais próximos de zero, diminuindo para os animais mais jovens.

Conclusões

Os produtores de leite podem selecionar animais mais velhos ou mais jovens,

baseando-se nas STAs das características de conformação corporais que evoluem de

acordo com a necessidade de seleção dentro de cada rebanho ao longo dos anos, sendo

importante ferramenta para o sucesso produtivo dentro de bovinos de leite da raça Gir.

Literatura citada

LEDIC, I. L. et al. Gir Leiteiro brasileiro. Gir Leiteiro. Informativo Agropecuário.

Belo Horizonte, MG: EPAMIG. 2008. V.29, n. 243, p. 7-25.

PANETO, C. C. J., et al. Programa nacional de melhoramento do Gir leiteiro – sumário

brasileiro de touros - resultado do teste de progÜnie – 6ª Prova de Pré-Seleção de

Touros. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2015. 82 p. (Embrapa Gado de Leite.

Documentos, 177).

SANTOS, R. O Gir e o Leite na pecuária fundamental. Uberaba, MG: Editora

AgropecuÇria Tropical. 2007. 456p.

VERNEQUE, R. S. et al. Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro –

Sumário Brasileiro de Touros – Resultado do Teste de Progênie – Maio 2011. Juiz de

Fora: Embrapa Gado de Leite, 2011. 58 p. (Embrapa Gado de Leite. Documentos, 145).

VERNEQUE, R. S. et al. Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro –

SumÇrio Brasileiro de Touros – Resultado do Teste de Progênie – 5ª Prova de Pré-

Seleção de Touros – Maio 2014. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2014. 80 p.

(Embrapa Gado de Leite. Documentos, 169).

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264

Utilização do Foragge 52,5% em substituição à silagem de milho sobre parâmetros

metabólicos de ovinos¹

Marco Túlio Santos Siqueira2, Gilberto de Lima Macedo Júnior

3, Carolina Moreira

Araújo4, Karla Alves Oliveira

4, Tamires Soares de Assis

4, Rosemar Alves de Carvalho

Júnior4

1Parte do trabalho de conclusão de curso do primeiro autor 2Graduando em Zootecnia, bolsista CNPQ. E-mail: [email protected] 3Professor Adjunto FAMEV/UFU. E-mail: [email protected] 4Pós-graduando do mestrado em Ciências Veterinárias/UFU

Resumo: O volumoso extrusado Foragge® é composto por 52,5% de fibra da parte

aérea da planta da cana de açúcar, possui alta digestibilidade, é capaz de otimizar o

sistema de produção, se utilizado de forma correta, além disso tem maior palatabilidade.

O objetivo do trabalho foi avaliar os níveis de metabólitos proteicos e energéticos de

ovelhas não gestantes, alimentadas com diferentes níveis de volumoso extrusado

(Foragge®) em substituição à silagem de milho (80F:20S, 60F:40S, 40F:60S, 20F:80S e

100%S, F- Foragge® e S- Silagem de milho). Para isso foram utilizadas vinte ovelhas

da raça Santa Inês, com mais de três anos e peso médio de 54,580Kg, alimentadas duas

vezes ao dia. Todas as coletas sanguíneas foram realizadas no período da manhã,

anteriormente à primeira alimentação, através de venopunção jugular com auxílio de

Vacuntainer® acoplado a tubo sem anticoagulante. A coleta de sangue foi feita no

primeiro e último dia da fase experimental. Logo após a colheita do sangue, as amostras

foram processadas em espectrofotômetro Bioplus® 2000 utilizando kit comercial da

LabTest®. O delineamento utilizado foi inteiramente ao acaso. Nenhum metabólico

analisado apresentou diferença estatística. Porém, colesterol, proteína total, ácido úrico

e creatinina ficaram abaixo dos valores de referência e albumina ficou acima destes

valores. Conclui-se que pode-se utilizar o Foragge® 52,5% fibra de cana substituindo a

silagem de milho em até 80%, sem prejuízos metabólicos aos ovinos.

Palavras–chave: energia, extrusão, nutrição, ovinos, ruminantes

Use of Foragge 52.5% to replace corn silage on ovine metabolic parameters

Abstract: The extruded roughage Foragge® is composed of 52.5% fiber from the aerial

part of the sugar cane plant, has high digestibility, is capable of optimizing the

production system, if used correctly, and has a greater palatability. The objective of this

study was to evaluate the protein and energy metabolite levels of non-pregnant sheep

fed with different levels of extruded roughage (Foragge®) to replace corn silage (80F:

20S, 60F: 40S, 40F: 60S, 20F: 80S and 100% S, F-Foragge® and S-Corn Silage). For

this purpose, twenty Santa Inês sheep were used, with more than three years and

average weight of 54,580 kg, fed twice a day. All blood collections were performed in

the morning, prior to the first feeding, through jugular venipuncture using Vacuntainer®

coupled to an anticoagulant tube. Blood collection was done on the first and last day of

the experimental phase. Soon after blood collection, the samples were processed in

Bioplus® 2000 spectrophotometer using commercial LabTest® kit. The design was

entirely randomized. No metabolic analysis showed any statistical difference. However,

cholesterol, total protein, uric acid and creatinine were below the reference values and

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265

albumin was above these values. It is concluded that Foragge® 52.5% cane fiber can be

used replacing corn silage up to 80%, without metabolic losses to sheep.

Keywords: energy, extrusion, nutrition, ruminants, sheep

Introdução

A extrusão é um processamento mecânico que melhora a digestibilidade e a

palatabilidade do alimento por meio de pressão, umidade e temperatura controlados,

sendo capaz de melhorar a estrutura do alimento para que o animal possa aproveitá-lo

melhor. Outro benefício está relacionado com a facilidade de realização do manejo

alimentar diário, trazendo otimização para o processo de produção (GUERREIRO,

2007).

A avaliação do perfil metabólico é de suma importância, pois revela o estado de

homeostasia dos animais, a quebra da homeostasia pode provocar alterações no

desempenho afetando a produção (González, 2000) e gerando prejuízos ao sistema de

produção. O conhecimento do perfil metabólico possibilita a avaliação e prevenção de

transtornos metabólicos servindo como indicador do status nutricional dos animais.

O objetivo do trabalho foi avaliar os metabólitos energéticos e proteicos de

ovelhas alimentadas com volumoso extrusado (Foragge® 52,5%) feito com a parte

aérea da cana de açúcar em substituição à silagem de milho.

Material e Métodos

O experimento foi realizado na fazenda experimental Capim Branco, da

Universidade Federal de Uberlândia, no setor de Caprinos e Ovinos, no mês de Abril de

2017, com duração de quinze dias, sendo dez dias de adaptação e cinco dias de coletas.

Foram utilizados cinco tratamentos com diferentes níveis de Foragge® 52,5% (F) e

Silagem de milho (S), sendo 80F:20S, 60F:40S, 40F:60S, 20F:80S e 100%S. A coleta

sanguínea foi feita no primeiro, terceiro e quinto dia de avaliação.

Foram utilizadas vinte ovelhas da raça Santa Inês, não gestantes, com mais de

três anos de idade, alocados em gaiolas metabólicas e peso médio de 54,58Kg,

recebendo diferentes relações de silagem de milho e volumoso extrusado (Foragge®)

52,5% feito com a parte aérea da cana de açúcar. Além disso, os animais tinham um

recipiente específico para sal mineral e um balde para água, que ficavam disponíveis

para livre ingestão. A área das gaiolas era coberta, protegendo os animais do sol e

chuva.

O alimento era oferecido duas vezes ao dia, as 8:00 e as 16:00 horas, com dieta

calculada para ter sobras de 10% ao dia. Os metabólicos analisados foram: ureia,

triglicerídeos, colesterol, proteína total, albumina, creatinina e ácido úrico. Todas as

coletas foram realizadas no período da manhã, anteriormente à primeira alimentação,

através de venopunção jugular com auxílio de Vacuntainer® acoplado a tubo sem

anticoagulante. Logo após a colheita do sangue, as amostras foram processadas em

espectrofotômetro Bioplus® 2000 utilizando kit comercial da LabTest®.

Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com cinco tratamentos e

quatro repetições. Para comparação das médias foi usado estudo de regressão a 5% de

probabilidade. O tratamento que apresentou diferença foi analisado por estatística não

paramétrica, com o teste de Kruskal e Wallis (1952).

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266

Tabela 1. Composição bromatológica do Foragge® 52,5%* e silagem de milho

Nutriente Foragge® (%) Silagem de milho (%)

Matéria Seca 92,62 33,25

Proteína Bruta 9,81 6,3

Fibra em Detergente Neutro 32,27 54,6

Nutrientes Digestíveis Totais 71,34 92,27 *Valores fornecidos pelo fabricante; o material fibroso utilizado no processo de extrusão é

composto pela parte aérea da cana-de-açúcar.

Resultados e Discussão

Tanto os metabólitos proteicos, quanto os energéticos não apresentaram

diferença estatística com exceção do ácido úrico. Além disso, colesterol, proteína total,

creatinina e ácido úrico ficaram abaixo dos valores de referência e albumina ficou acima

destes valores (tabela 2).

Segundo Puchala & Kulasek (1992), o Ácido Úrico informa indiretamente a

quantidade de microrganismos ruminais e é indicador do metabolismo ruminal recente.

Os animais que receberam o tratamento 80F:20S tiveram maior concentração de ácido

úrico no sangue, o que pode estar relacionado com maior equilíbrio microbiano dentro

do rúmen, uma vez que quanto maior a fermentação maior a atividade microbiana,

devido à associação da produção de proteína microbiana com os derivados de purina.

Tabela 2. Concentração média dos metabólitos proteicos e energéticos em função dos

tratamentos em mg/dL.

Tratamento Ureia Triglicerídeo Colesterol

Proteínas

Totais

Ácido

úrico1 Albumina Creatinina

80%F:20%S 14,00 19,40 29,90 3,90 0,18 3,58 0,84

60%F:40%S 20,00 15,62 29,25 3,57 0,025 3,25 0,80

40%F:60%S 14,12 18,87 27,25 3,37 0,10 4,05 1,00

20%F:80%S 17,00 18,75 22,00 3,40 0,025 4,07 0,82

100%S 13,75 20,62 31,12 3,52 0,10 3,80 0,95

MG 15,83 18,69 28,00 3,57 0,09 3,74 0,88

CV 27,49 25,41 32,84 13,43 - 27,23 12,35

VR 8,0-20,0 9,0-30,0 52,0-76,0 6,0-7,9 0,1-2,0 2,4-3,0 1,2-1,9 1Estatística não paramétrica - sem distribuição normal; MG: média geral; CV: coeficiente de

variação; VR: valor de referência segundo: Dukes et al. (2006) e Kaneko, Harvey e Bruss

(2008);

De acordo com Gonzales et al. (2000) a creatinina plasmática é oriunda do

catabolismo da creatina presente no tecido muscular, ela é um metabólito utilizado para

armazenamento de energia nos músculos, portanto, pode-se relacionar o fato de os

valores de creatinina deste trabalho estarem 46,3% abaixo dos valores de referência com

a falta de movimentação, os animais estavam em gaiolas metabólicas, com

movimentação limitada. Os valores de proteína total também deram abaixo da

referência. A proteína total apresentou-se 45,1% abaixo do esperado, sendo que, estas

alterações não foram suficientes para prejudicar nutricionalmente os animais.

Quando ocorre concentrações muito baixas de albumina pode indicar dano

severo ao fígado, ou aos rins, porém, neste trabalho a concentração de albumina não

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267

ficou abaixo dos valores de referência, o que nos indica que os animais não tiveram

problemas no fígado e rins.

O colesterol apresentou-se 36,8% abaixo dos valores de referência, pode-se

inferir que o volumoso extrusado provocou alteração nos níveis normais de colesterol,

indicando que havia poucos lipídeos no plasma sanguíneo, que pode ter sido causado

pelo fato de que o alimento é um volumoso extrusado da parte aérea da cana de açúcar,

e por esse motivo, não é um alimento rico em lipídeos, além disso pode ter havido falta

de carboidratos solúveis, uma vez que o colesterol pode ser tanto de origem exógena

(fermentação dos carboidratos da dieta) quanto endógena (sintetizado a partir do acetil-

CoA). A ureia e os triglicerídeos ficaram dentro dos valores de referência propostos por

Dukes et al. (2006) e Kaneko et al. (2008).

Conclusões

Conclui-se que o uso do Foragge® 52,5% substituindo à silagem de milho para ovinos

altera a concentração dos metabólitos energéticos e proteicos, dependendo da relação na

dieta, sem prejudicar o animal nutricionalmente.

Literatura citada

DUKES, H. H. et al (Ed.). Fisiologia dos Animais Domésticos. 12. ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 2006. 954 p.

GONZÁLEZ, F. H. D.; BARCELLOS, J.; PATIÑO, H. O.; RIBEIRO, L. A. Perfil

metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais. 1. ed. Porto

Alegre, 2000. 108 p.

GUERREIRO, L. Produtos extrusados para consumo humano, animal e industrial.

Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro – REDETEC, 2007. 24 p. Disponível em:

<http://sbrt.ibict.br/dossie-tecnico/downloadsDT/MTcy>. Acesso em: 05 abr. 2018.

KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. (Eds.) Clinical biochemistry of

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KRUSKAL, W. H.; WALLIS, W. A. Use of ranks in one-criterion variance analysis.

Journal American Statistical Association, v. 47, 1952. p. 583-621.

PUCHALA, R., KULASECK, G.W. Estimation of microbial protein flow from the

rumen of sheep using nucleic acid and urinary excretion of purine derivatives.

Canadian journal of Animal Science. V.72, P.821-830, 1992.

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Avaliação do metabolismo proteico de ovelhas gestantes alimentadas com

diferentes fontes lipídicas¹

Luciana Melo Sousa2, Thauane Ariel Valadares de Jesus, Maria Júlia Pereira de Araújo,

Adriana Lima Silva, Marco Túlio Santos Siqueira, Gilberto de Lima Macedo Júnior3

1Parte do trabalho de conclusão de curso da primeira autora. 2Estudantes de Zootecnia. FAMEV, UFU. E-mail: [email protected] 3Professor do curso de Zootecnia, FAMEV/UFU. Uberlândia, MG.

Resumo: A utilização de fontes lipídicas na dieta de ruminantes depende

principalmente da disponibilidade regional e do custo. Geralmente as fontes oleaginosas

substituem o milho e o farelo de soja na formulação das dietas, sendo assim, é

interessante saber se a inclusão não prejudicaria o desempenho dos animais. Objetivou-

se avaliar o efeito da inclusão de diferentes fontes lipídicas sobre o metabolismo

proteico de ovelhas gestantes. Foram utilizadas 24 ovelhas – 60 dias de gestação no

início do experimento, com idade média de 12 meses e peso corporal médio de 50 kg. O

experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, durante 90 dias.

Foram utilizados três concentrados com diferentes fontes de gordura: controle,

nutrigordura (gordura protegida de palma) e caroço de algodão. A avaliação dos

metabólitos proteicos foi feita quinzenalmente sempre pela manhã, antes da primeira

refeição do dia. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com

repetição no tempo. Os metabólitos proteicos analisados foram: ácido úrico, albumina,

creatinina, proteína total e ureia. Não foi observada diferença estatística para nenhum

dos metabólitos em função dos tratamentos. Para o período gestacional foram

observadas equações quadráticas para todos os metabólitos, evidenciando o fato de os

animais diminuírem consumo próximo ao parto. Conclui-se que a inclusão de diferentes

tipos de gordura afeta o metabolismo proteico de ovelhas gestantes.

Palavras–chave: gordura, metabólitos, nutrição, ruminantes

Evaluation of protein metabolism of pregnant sheep fed different fat sources

Abstract: The use of fat sources on ruminants diet depends mainly on regional

availability and cost. Generally, oil sources replaces corn and soybean meal at the diet

formulation, so it is interesting to know if the inclusion would not affect the

performance of the animals. Twenty four sheep were used - 60 days of pregnancy at the

beginning of the experiment, with an average age of 12 months and average weight of

50 kg. The experiment was conducted at the Federal University of Uberlândia, during

90 days. Three concentrates with different sources of fat were used: control,

nutrigordura (rumen-protected palm fat) and cottonseed. The evaluation of protein

metabolites was made biweekly on the morning, always before the first meal of the day.

The experimental design was completely randomized. The protein metabolites analyzed

were: uric acid, albumin, creatinine, total protein and urea. No statistical difference was

observed for any of the metabolites from any treatments. For the gestational period,

quadratic equations were observed for all the metabolites, evidencing the fact that the

animals decreased consumption near the birth. It was concluded that the inclusion of

different sources of fat changes the protein metabolism of pregnant sheep.

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Keywords: fat, metabolites, nutrition, ruminants

Introdução

Cada tipo de alimento rico em gordura como soja grão, o caroço de algodão, a

linhaça, óleo de palma, óleo de girassol, possuem suas próprias particularidades e

limites de uso, portanto devem ser estudados de modo a não prejudicar o funcionamento

do rúmen. Segundo Berchielli et al. (2011), quando a gordura representa mais de 10%

da energia metabolizável, em muitas espécies, o consumo de matéria seca tende a

declinar, provavelmente ocasionado pelos limites metabólicos de utilização da gordura,

tanto para oxidação quanto para armazenamento nos tecidos.

Em ovelhas, os distúrbios do metabolismo e a mastite acarretam perdas

econômicas significativas ao produtor, pois podem comprometer a produção de leite,

reduzir o ganho de peso do borrego e até mesmo promover a morte precoce; tais

prejuízos podem ser minimizados a partir do conhecimento das possíveis variações

metabólicas sistêmicas que são desencadeadas na fêmea no periparto e durante a

lactação (Ribeiro et al. 2004).

O objetivo do presente estudo é avaliar o efeito da inclusão de diferentes fontes

lipídicas sobre o metabolismo proteico de ovelhas gestantes.

Material e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, Fazenda

Experimental Capim Branco, setor de ovinos e caprinos, durante os meses de agosto a

novembro de 2015. Foram utilizadas 24 ovelhas gestantes, com idade média de 12

meses e peso corporal médio de 50 kg. Os animais foram mantidos em três baias

coletivas (oito animais em cada baia) de piso ripado com saleiro, cocho externo e

bebedouro de tambor de plástico, que era limpo e reposto todos os dias. Passaram por

procedimento padrão de pesagem, identificação, vermifugação e posteriormente foram

sorteados nos tratamentos. Esses animais receberam três rações com diferentes fontes de

gordura: controle (isento de gordura suplementar), nutrigordura (gordura protegida de

palma) e caroço de algodão inteiro (Tabela 1). E silagem de milho (volumoso).

Tabela 1. Ingredientes e suas proporções nos concentrados experimentais (%).

Ingredientes Controle Nutrigordura®

Caroço de

Algodão

Farelo de milho 75,40 65,32 68,60

Farelo de soja 25,60 24,68 19,40

Sal mineral 1,0 4,0 2,0

Ureia 1,0 1,0 1,0

Gordura protegida XXX 5,0 XXX

Caroço de algodão inteiro XXX XXX 9,0

O experimento teve duração de 90 dias. As ovelhas estavam com

aproximadamente 60 dias de gestação no início do experimento. Antes do início

experimental as ovelhas estavam em pasto de capim Urochloa brizantha, cultivar

Marandu recebendo suplemento proteico e energético na forma de proteinado. As

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mesmas foram protocoladas e foi realizado ultrassonografia para a confirmação da

prenhez.

As rações foram balanceadas segundo o NRC (2007) para ovelhas em gestação.

As dietas foram compostas por silagem de milho e os concentrados descritos na tabela

1. A relação volumoso:concentrado foi de 60:40, respectivamente. A oferta de ração foi

à vontade (cerca de 3,5% do peso corporal), de forma que sobrasse 10% da ração total

fornecida. O fornecimento da ração ocorreu duas vezes ao dia (8 e 16 horas).

As coletas de sangue foram realizadas quinzenalmente (60, 75, 90, 105, 120, 135

e 150, no momento do parto), estas ocorreram no período da manhã antes da primeira

alimentação, por venopunção jugular com auxílio de vacuntainner e tubos sem

anticoagulante. Logo após as amostras de cada animal foram centrifugadas e pipetadas

em eppendorfs para posterior análise laboratorial usando kit comercial da Lab Test®. Os

metabólitos proteicos que foram determinados são: albumina (g/dL), creatinina

(mg/dL), ureia (mg/dL), proteína total (g/dL) e ácido úrico (mg/dL).

O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com

medidas repetidas no tempo. Cada tratamento com oito repetições (animais). As médias

foram comparadas pelo teste SNK a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Na tabela 2 podem ser observadas as médias dos metabólitos proteicos. Não se

observa diferença estatística em nenhuma das variáveis para tratamento. Em função do

período gestacional houve diferença significativa para creatinina, ureia e ácido úrico.

Na avaliação da proteína total não foram observadas diferenças significativas

entre os tratamentos e entre os períodos (Tabela 2), estando à média geral 10% abaixo

da normalidade (Kaneko et al., 2008). Pinheiro & Andrioli (2002) relataram situação

igual no período de estiagem no semi-árido nordestino, em que ovelhas sem raça

definida (SRD) apresentaram no periparto valores desta variável abaixo da normalidade,

sendo recomendada a suplementação proteica para as ovelhas gestantes e lactantes nesta

época do ano. Não podemos dizer que essa diferença de 10% ocorreu devido a falta de

nutrientes na dieta dos animais, como relatado por Pinheiro & Andrioli. Essa

diminuição pode estar relacionada com o fato de a variável responder mais lentamente a

mudanças. O mesmo ocorre com a albumina. Contudo, os valores de albumina

encontram-se situados 18% acima da normalidade considerada por Kaneko et al. (2008).

A albumina é considerada o indicador mais sensível para determinar o estado

nutricional proteico, de modo que valores persistentemente baixos sugerem inadequado

consumo proteico.

No que diz respeito à ureia, não houve diferença estatística entre os tratamentos,

contudo verifica-se aumento em função do período. Esse aumento se deve,

principalmente, pelo fato de os animais estarem a pasto anteriormente e depois

receberem concentrados com ureia em sua composição. A ureia responde mais

rapidamente em relação à albumina a mudanças no aporte proteico da dieta para

caracterização de deficiência proteica e sua concentração no soro sanguíneo reflete

diretamente a quantidade de proteína ingerida (González et al. 2000). A ureia sanguínea

reflete diretamente a amônia gerada no rúmen pela degradação dos compostos

nitrogenados e que não foi convertida em proteína microbiana. Essa amônia excedente

atravessa a parede ruminal, indo diretamente para ser transformada em ureia no fígado

com alto gasto energético. Essa ureia pode ser eliminada na urina, retornar ao rúmen via

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saliva ou difusão na parede ruminal e ser eliminada no leite em caso de animal em

lactação (Wittwer, 2000). É observada variação da ureia no período indicando maior

escape de amônia do rúmen. Além disso, pode refletir na incapacidade da microbiota

fermentar as fontes de carboidratos em função dos efeitos deletérios do lipídeo.

Ocasionando assim aumento da ureia ao longo do experimento. Contudo, a média geral

da ureia encontra-se dentro dos valores de referência (17,12 – 42,80) (Kaneko et al.,

2008).

Tabela 2. Média dos metabólitos proteicos em função do tratamento e do período de

gestação

Tratamento

Albumina

(g/dL)

Creatinina

(mg/dL)

Ureia

(mg/dL)

Potreína total

(g/dL)

Controle 3,46 0,48 35,20 5,34

Nutrigordura 3,58 0,52 29,05 5,29

Algodão 3,60 0,56 31,47 5,57

Período (dias de

gestação)

Albumina

(g/dL)

Creatinina1

(mg/dL)

Ureia2

(mg/dL)

Proteína total

(g/dL)

60 3,22 0,83 9,33 5,44

75 3,46 0,49 37,87 4,96

90 3,76 0,37 39,54 5,50

105 3,60 0,43 40,13 5,72

120 3,21 0,56 30,90 5,34

135 3,60 0,54 30,71 5,26

Parto 3,81 0,54 26,96 5,53

MG 3,54 0,52 32,00 5,40

CV 12,01 30,79 27,16 10,07

Interação Tratamento x Período - Ácido Úrico (mg/dL)

Período/Trat. Controle3

Nutrigordura4

Algodão5

60 0,21 0,25 0,30

75 0,18 0,17 0,17

90 0,32 0,25 0,32

105 0,57 0,62 0,58

120 0,37 0,43 0,56

135 0,40 0,65 0,33

Parto 0,24 0,12 0,08

MG = 0,32 CV = 35,89

Valores de referência (Kaneko et al., 2008)

Albumina

(g/dL)

Creatinina

(mg/dL) Ureia (mg/dL)

Proteína total

(g/dL)

Ácido úrico

(mg/dL)

2,40 – 3,00 1,20 – 1,90 17,12 – 42,80 6,00 – 7,90 0 – 1,90 1

y=1,952361 – 0,027576x + 0,000125x² R²=61,32%; 2

y=-78,671180 + 2,186141x –

0,010071x² R²=67,24%; 3 y=-0,935417 + 0,024735x – 0,000112x² R²=59,05%;

4 y=-

1,290459 + 0,032150x – 0,000145x² R²=39,28%; 5 y=-1,307103 + 0,034394x – 0,000165x²

R²=55,39%; MG = média geral; CV = coeficiente de variação

Não foram observadas diferenças estatísticas em função do tratamento para a

variável creatinina, contudo, nota-se diferença significativa em função do período

gestacional. Os valores de creatinina estão 57% abaixo dos valores de referência

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descritos por Kaneko et al. (2008), o que pode estar relacionado com o fato de os

animais estarem confinados, o que resulta em baixo consumo de energia pelo músculo.

Existe uma correlação positiva entre conteúdo corporal de creatina, que é dependente da

massa muscular e do ECC e taxa de proteólise e utilização de compostos endógenos de

nitrogênio (Caldeira et al., 2007).

Em relação ao ácido úrico, houve interação entre os tratamentos e o período de

gestação. O mesmo se encontra dentro dos valores de referência (0-1,9) relatados por

Kaneko et al. (2008). Foram observadas equações quadráticas em função do período. As

equações quadráticas nos mostram que os animais diminuíram o nível desses

metabólitos próximo ao parto, o que pode estar relacionado com a capacidade de

consumo no final da gestação, que diminui à medida que o parto se aproxima. A mesma

situação é observada para as variáveis creatinina e ureia. A ocorrência de redução desses

metabólitos proteicos com o avanço da gestação está associada ao balanço proteico

negativo (Ribeiro, 2002).

Conclusões

A inclusão de diferentes tipos de gordura afeta o metabolismo proteico de ovelhas

gestantes. Destaca-se um aumento da ureia em função do período gestacional, o que está

relacionado com a velocidade de fermentação dos carboidratos no rumem. Tanto a

proteína total quanto albumina não apresentaram diferença significativa para tratamento

e período, o que está relacionado com a velocidade de resposta dessas variáveis a

mudanças no aporte proteico da dieta.

Literatura citada

BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G. Nutrição de Ruminantes.

Jaboticabal: Funep, 2011, 616 p.

CALDEIRA, R.M. 2005. Monitoração da adequação do plano alimentar e do estado

nutricional em ovelhas. Revista Port. Ciênc. Vet. 100(555/556):125-139.

GONZÁLEZ F.H.D., BARCELLOS J.O., PATIÑO H.O. & RIBEIRO L.A.O. 2000.

Perfil Metabólico em Ruminantes: Seu Uso em Nutrição e Doenças Nutricionais.

Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 108p.

KANEKO, J.J., HARVEY, J.W. & BRUSS, M.L. 2008. Clinical Biochemistry of

Domestic Animals. 6th

ed. Academic Press, San Diego. 916p.

PINHEIRO R.R. & ANDRIOLI A. 2002. Constituintes bioquímico-séricos em ovinos

sem raça definida (SRD) no semi-árido nordestino. Revista Bras. Med. Vet. 24(2):65-

66.

RIBEIRO, L.A.O. 2002. Perdas reprodutivas em ovinos no Rio Grande do Sul

determinadas pelas condições nutricionais e de manejo no encarneiramento e na

gestação. Tese de Doutorado em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Rio

Grande do Sul, Porto Alegre, RS. 106p.