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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
PROGRAMA DE PS GRADUAO EM CINCIAS DO AMBIENTE
YARA GOMES CORRA
USO DO STORYTELLING NA EDUCAO AMBIENTAL PARA SENSIBILIZAO
DO PBLICO INFANTIL SOBRE ARRAIAS DE GUA DOCE
PALMAS
2016
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YARA GOMES CORRA
USO DO STORYTELLING NA EDUCAO AMBIENTAL PARA SENSIBILIZAO
DO PBLICO INFANTIL SOBRE ARRAIAS DE GUA DOCE
Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do grau de Mestre em Cincias Ambientais, no Curso de Ps-Graduao em Cincias Ambientais, Ciamb, da Universidade Federal do Tocantins, UFT.
Orientadora: Prof. Dra. Carla Simone Seibert
PALMAS
2016
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Dedico esse trabalho a Deus; a Meishu-Sama; e aos meus pais, Terezinha
Gomes Corra, que no est mais fisicamente entre ns, e Sebastio Manoelino
Corra; pelo amor incondicional e por estarem sempre ao meu lado.
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AGRADECIMENTOS
A minha pequena e amada famlia; papai Corra, Uriel, Anelize, Guilherme e
Gustavo; pela ausncia e, sobretudo, pelo amor e compreenso aos momentos difceis.
Aos meus queridos e grandes amigos, pelo incentivo e apoio constante,
elementos essenciais para o enfrentamento dirio da vida.
minha orientadora, Prof. Dra. Carla Simone Seibert, pelo acompanhamento,
orientao, carinho e amizade.
Ao colegiado do Curso de Ps-Graduao em Cincias do Ambiente, da
Universidade Federal do Tocantins, pelo apoio recebido.
Ao produtor e diretor artstico da historinha em quadrinhos, Ibis Alan de Souza,
bem como ao produtor grfico e de ilustraes, Yuri Alan de Souza Silva, por terem
comprado a ideia, pelo apoio e amizade.
s Escolas Estaduais Irm Aspsia, Dom Pedro II e Frei Maria Audrin, de
Porto Nacional TO, na pessoa da Diretora Glucia Conceio Thron Gomes, pela
pronta colaborao com a pesquisa.
Faculdade Catlica do Tocantins, na pessoa do Diretor Geral Pe. Jos
Romualdo Degasperi, pelo suporte, apoio e torcida.
Ao Instituto Federal do Tocantins, Campus de Porto Nacional, na pessoa da
Diretora Geral Lilissane Marcelly de Sousa; tambm pelo suporte e apoio.
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Quando tiraram meu cho,
descobri que tinha asas
e podia voar.
Ldia Vasconcelos
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RESUMO
A racionalidade humana reduziu sua relao com os animais no humanos, colocando-os num status de objeto. Este fato, aliado ao processo de urbanizao, vm desgastando a interrelao entre animais humanos e animais no humanos ao longo das geraes. A exemplo disso, a relao entre seres humanos e arraias de gua doce, vem sendo evidenciada nos ltimos anos nos rios das bacias Amaznica e do Tocantins-Araguaia. Por um lado, estes peixes encontram-se legitimados pelo seu processo evolutivo e adaptativo, em seu hbitat natural e, por outro, os seres humanos, tambm calcados pela necessidade de desenvolvimento cultural e tecnolgico. Ambos usufruindo do mesmo ambiente, cenrio configurado em Porto Nacional-TO, em que o rio Tocantins foi transformado em reservatrio, em decorrncia da inaugurao da UHE do Lajeado, Lus Eduardo Magalhes. O presente trabalho objetivou utilizar-se do storytelling na educao ambiental para sensibilizar o pblico infantil da regio, quanto sua relao com as arraias de gua doce. A relevncia do mesmo est centrada no fato de garantir meios para a mitigao da viso distorcida que se desenvolveu a partir da relao entre ambas as partes, por meio da interdisciplinaridade. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa-ao com o pblico infantil das escolas pblicas estaduais localizadas no entorno urbano do reservatrio. No primeiro momento, diagnosticou-se os conhecimentos prvios do pblico alvo sobre o objeto de estudo; depois, elencou-se subsdios cientficos que permitissem identificar os princpios norteadores para o desenvolvimento da proposta; a partir da, elaborou-se e produziu-se um material texto visual educativo, o qual foi verificado em termos de aceitao e introjeo de informaes, por parte das mesmas crianas abordadas inicialmente. Como resultado obteve-se uma estorinha em quadrinhos, a qual foi validada pela maioria do pblico alvo. Quanto introjeo das informaes observou-se que a maioria das crianas formulou respostas que contemplaram uma relao positiva com as arraias de gua doce, fato no evidenciado durante a fase diagnstica. Concluiu-se, portanto, que houve eficcia da proposta em termos de sensibilizao do pblico infantil e sugeriu-se test-la para a relao com outros animais no humanos, os quais a relao com seres humanos possa estar igualmente conturbada.
Palavras chave: Educao Ambiental. Arraias de gua Doce. Storytelling.
Interdisciplinaridade.
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ABSTRACT
Human rationality reduced its relationship with non-human animals by placing them in an object status. This fact, coupled with the urbanization process, come wearing the interrelationship between human and nonhuman animals animals throughout the generations. As an example, the relationship between humans and freshwater stingrays, has been shown in recent years in the rivers of the Amazon basin and the Tocantins-Araguaia. On the one hand, these fish are legitimated by its evolutionary and adaptive process, in their natural habitat and, secondly, humans also trampled by the need for cultural and technological development. Both enjoying the same environment, scenery set in National-TO Porto in the Tocantins River was transformed into the reservoir, due to the opening of the UHE Lajeado, Lus Eduardo Magalhes. This study aimed to be used in the storytelling environmental education to sensitize the young audience in the region, as its relationship with the freshwater stingrays. The importance of it is focused on the fact provide ways to mitigate the distorted view that has developed from the relationship between both parties, relying especially with the interdisciplinary bias. Therefore, an action research developed with the child audience of public schools located in the urban environment of the reservoir. At first, she was diagnosed prior knowledge of the target audience about the object of study; later, it has listed and scientific subsidies that might have identified the guiding principles for the development of the proposal; from there, it has prepared and produced an educational text visual material, which was verified in terms of acceptance and internalization of information, by the same children addressed initially. As a result we obtained a little story comic, which was validated by most of the target audience. As for the take-up of information it was observed that most children formulated answers that contemplated a positive relationship with the freshwater stingrays, which was not evident during the diagnostic phase. It was concluded therefore that there was effectiveness of the proposal in terms of awareness of child public and suggested to test it for the relationship with other non-human animals, which the relationship with humans can also be troubled.
Keywords: Environmental Education. Freshwater Stingrays. Storytelling. Interdisciplinary.
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - TABULAO DOS DADOS OBTIDOS A PARTIR DA SEGUNDA PARTE
DA REVISO DE LITERATURA REALIZADA PARA ANLISE BIOTICA
DA INTER-RELAO ENTRE AS ESPCIES
ENVOLVIDAS..............................................................................................5
FIGURA 2 - EXEMPLARES DE ARRAIAS DE GUA DOCE DA BACIA
AMAZNICA................................................................................................6
FIGURA 3 - FERRO DE ARRAIA DE GUA DOCE Potamotrygon
sp..................................................................................................................9
FIGURA 4 - MAPA DE LOCALIZAO DO RESERVATRIO DO
LAJEADO...................................................................................................30
FIGURA 5 - REA DE ESTUDO E LOCALIZAO DAS ESCOLAS PBLICAS
ESTADUAIS SITUADAS NA ORLA URBANA DE PORTO NACIONAL-
TO..............................................................................................................33
FIGURA 6 - PERSONAGENS REPRESENTADOS EM FANTOCHES DE PALITO,
CENRIO E ALGUMAS EQUIPES DE CRIANAS PARA CONTAO DE
HISTRIAS SOBRE SUA RELAO COM AS ARRAIAS DE GUA
DOCE.........................................................................................................37
FIGURA 7 - VERIFICAO DA INTROJEO DAS INFORMAES E PERCEPO
POR PARTE DO MESMO PBLICO
ALVO..........................................................................................................39
FIGURA 8 - CAPA DA HISTRIA PRODUZIDA...........................................................45
FIGURA 9 - QUADRINHOS 1 E 2 (Q1/Q2) DA HISTRIA............................................46
FIGURA 10 - QUADRINHO 3 (Q3) DA HISTRIA..........................................................47
FIGURA 11 - QUADRINHOS 4 E 5 (Q4/Q5) DA HISTRIA............................................47
FIGURA 12 - QUADRINHOS 6 E 7 (Q6/Q7) DA HISTRIA............................................48
FIGURA 13 - QUADRINHOS 8 E 9 (Q8/Q9) DA HISTRIA............................................48
FIGURA 14 - QUADRINHO 14 (Q14) DA HISTRIA......................................................49
FIGURA 15 - QUADRINHO 16 (Q16) DA HISTRIA......................................................49
FIGURA 16 - QUADRINHO 15 (Q15) DA HISTRIA......................................................50
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FIGURA 17 - QUADRINHO 17 (Q17) DA HISTRIA......................................................50
FIGURA 18 - QUADRINHO 11 (Q11) DA HISTRIA......................................................51
FIGURA 19 - QUADRINHO 12 (Q12) DA HISTRIA......................................................51
FIGURA 20 - QUADRINHO 13a (Q13a) DA HISTRIA..................................................51
FIGURA 21 - QUADRINHO 13b (Q13b) DA HISTRIA..................................................52
FIGURA 22 - QUADRINHOS 18 E 19 (Q18/Q19) DA HISTRIA....................................53
FIGURA 23 - QUADRINHOS 21 E 22 (Q21/Q22) DA HISTRIA....................................53
FIGURA 24 - QUADRINHOS 23 E 24 (Q23/Q24) DA HISTRIA....................................53
FIGURA 25 - QUADRINHO 25 (Q25) DA HISTRIA......................................................54
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LISTA DE SIGLAS
AC - Alfabetizao Cientfica
CONAMA Conselho nacional do Meio Ambiente
CTS - Cincia, Tecnologia e Sociedade
DRE - Diretoria Regional Estadual
EA - Educao Ambiental
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renovveis
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
PBA - Programa Bsico Ambiental
PCHs - Barragens para Centrais Hidreltricas
PCNs - Parmetros Curriculares Nacionais
PEAL - Programa de Educao Ambiental do Lajeado
SINAN - Sistema de Informao de Agravos de Notificao
UFT - Universidade Federal do Tocantins
UHE Usina Hidreltrica
UIPN - Unio Internacional para a Preservao da Natureza
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SUMRIO
INTRODUO .................................................................................................................1
REFERNCIAS DA INTRODUO ................................................................................3
CAPTULO 1 - A RELAO ENTRE O SER HUMANO E A ARRAIA DE GUA DOCE:
DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA........................................................................4
REFERNCIAS DO CAPTULO 1 .................................................................................17
CAPTULO 2 PROPOSTA DE SENSIBILIZAO PARA O PBLICO INFANTIL
SOBRE AS ARRAIAS DE GUA DOCE.........................................................................21
REFERNCIAS DO CAPTULO 2 .................................................................................57
APNDICE A OFCIOS ENVIADOS S ESCOLAS...................................................61
APNDICE B INSTRUMENTO DE VERIFICAO....................................................62
APNDICE C ESTORINHA EM QUADRINHOS; ANIMAL E AMBIENTE: AS
ARRAIAS DE GUA DOCE E OS SERES HUMANOS.................................................63
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1 INTRODUO
As arraias e os tubares so animais pertencentes Classe Chondrichthyes,
habitantes do Planeta Terra desde o perodo Devoniano, tambm conhecido como
"Idade dos Peixes", entre 408 e 360 milhes de anos atrs, bem antes do surgimento
dos primeiros homindeos os quais se relacionam a aproximadamente 2 milhes de
anos atrs.
Estudos sobre a filosofia da biotica de Singer (2012) entenderam que, tendo-se
aceito o princpio de igualdade como uma slida base moral para aceitarmos seres
humanos de nossa prpria espcie, somos obrigados a aceit-la tambm como uma
slida base moral para as relaes com aqueles que no pertencem ela, ou seja, aos
animais no humanos, como seria o caso especfico entre a nossa relao (humana)
com as arraias de gua doce (no humanas).
No entanto, este princpio tem sido ferido quando ambos passaram a se
relacionar, sobretudo, em municpios banhados por rios e reservatrios de gua doce,
como o caso de Porto Nacional, Tocantins. Arraias e Seres Humanos frequentemente
se envolvem em acidentes s suas margens. As primeiras por sempre terem-nas
habitado, uma vez que filtram o zooplncton camufladas s suas areias e os Humanos,
por usufrurem do mesmo local para lazer, pesca, enfim.
Desvela-se a uma problemtica que envolve o direito de ambas as partes de
continuarem suas prticas. As Arraias de gua Doce continuando com o direito de
existir no seu hbitat natural, bem como de ser preservada juntamente tudo aquilo
que corrobora para isto, incluindo sua integridade fsica; e os Seres Humanos, tambm
possuidores do direito de fazerem usos mltiplos do reservatrio, neste caso, do rio
Tocantins, que banha o municpio de Porto Nacional - TO.
O medo, de acordo com Souza (2011), se constitui como um fator dificultador
para a garantia do direito de ambas as espcies coexistirem harmonicamente na regio.
As Arraias tm medo dos Seres Humanos que vo ao local por elas habitado,
ameaando sua integridade fsica, bem como de sua espcie. Os Humanos possuem
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medo das Arraias devido aos acidentes, os quais seu ferro e muco venenoso causam
muita dor, sobretudo nas primeiras horas.
Na bacia Amaznica, conforme Oliveira et al. (2015), so comuns a morte e a
mutilao de arraias de gua doce, como tambm agravos desses animais em seres
humanos, sobretudo nos membros inferiores do corpo. Emergiu-se ento o problema
central da pesquisa-ao: seria possvel elaborar uma proposta de sensibilizao
quanto esta relao, usando-se o storytelling no contexto da educao ambiental?
Adequ-la contemporaneidade, para o pblico infantil local, pblico este mais
suscetvel internalizao de ideias novas? Construir perspectivas de desmistificar a
relao entre o Animal Humano e a Arraia de gua Doce (Animal No Humano), e
assim popularizar a cincia em prol da harmonia local?
Sups-se que o pblico alvo, ao ser abordado, revelasse uma viso
antropocntrica desta relao, assim como concludo em estudos similares por Souza;
Pereira (2011); Santos; Imbernon (2014); em que, o lado do Animal seria colocado em
ltimo plano na escala de seus pensamentos e prioridades, internalizadas pela
educao emprica que receberam da sua famlia, mantendo e at alimentando o
desequilbrio da referida e inevitvel relao entre Seres Humanos e Arraias de gua
Doce.
A pesquisa fez-se relevante pelo fato de levantar uma proposta que veio a
contemplar a mitigao da viso distorcida que se desenvolveu a partir da relao entre
ambas as partes, contando, sobretudo, com o vis interdisciplinar.
Procurou popularizar dados cientficos por meio do storytelling ou da contao de
histrias, assim como Dorneles; Galiazzi (2012) em proposta similar; esclarecendo
ideias at ento errneas da populao por meio de suas crianas; que garantisse uma
ao mais duradoura e possvel; que viabilizasse uma relao mais equilibrada no
reservatrio; que permitisse seu mltiplo uso pelo Ser Humano; enfim, que preservasse
as Arraias de gua Doce, animais encontrados exclusivamente nas regies
neotropicais.
Para tanto, optou-se subdividir o presente relatrio de investigao em dois (2)
captulos distintos e complementares, os quais foi-se redigindo, de forma discursiva: a
contextualizao, a problemtica, o problema, o arcabouo terico, bem como os
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detalhes sequenciais da pesquisa-ao realizada; a saber: Captulo 1 A Relao entre
o Ser Humano e a Arraia de gua Doce: duas faces de uma mesma moeda; e, Captulo
2 - Sensibilizando do Pblico Infantil sobre Arraias de gua Doce: mergulhando no
universo na pesquisa-ao em educao ambiental por meio do storytelling.
A ideia central foi poder engendrar aquilo que foi descrito de tal forma que um
captulo complementasse o outro e, concomitante, que cada qual possusse seu papel
especfico para o entendimento do todo.
REFERNCIAS DA INTRODUO
OLIVEIRA, A. T. de; LIMA, E. C. de L.; PAES, L. da S.; SANTOS, M. dos S.; ARAJO, R. L.; PANTOJA-LIMA, J.; ARIDE, P. H. R. Relao entre as populaes naturais de arraias de gua doce (Myliobatiformes: Potamotrygonidae) e pescadores no baixo rio Juru, Estado do Amazonas, Brasil. Biota Amaznia. Macap, v. 5, n. 3, p. 108-111, 2015.
SANTOS, J. A. E. dos; IMBERNON, R. A. L. A concepo sobre natureza e meio ambiente para distintos atores sociais. Terrae didat. [online], v. 10, n. 2, p. 151-159, 2014.
SINGER, Peter. tica prtica. Trad. de Jefferson Luiz Camargo. 3. ed. So Paulo: M. Fontes, 2012. 399p.
SOUZA, R. R. de. Papel dos Corticosteroides no Processamento de Memrias Aversivas: consequncias bidirecionais no condicionamento olfatrio de medo. 2011. 132 f. Tese (Doutorado em Farmacologia) - Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Florianpolis, 2011.
SOUZA, P. P. S. de; PEREIRA, J. L. de G. Representao social de meio ambiente e educao ambiental nas escolas pblicas de Tefilo Otoni-MG. Revista Brasileira de
Educao Ambiental (REVBEA), v. 6, n.1, p. 35-40, 2011.
DORNELES, A. M.; GALIAZZI, M. do C. Que roda que se conta? A escrita narrativa na formao permanente. Pibid: experincias e reflexes. RBPG, Braslia, supl. 2, v. 8, p. 563-585, Mar 2012.
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CAPTULO 1: A RELAO ENTRE O SER HUMANO E A ARRAIA DE GUA DOCE: DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA
No presente captulo objetivou contextualizar a problemtica relativa ao equilbrio
ambiental entre ambas as faces, ou seja, Ser Humano e Arraias de gua-Doce,
sobretudo nos seus aspectos: ecolgicos, fisiolgicos, evolutivos e inter-relacionais;
este ltimo, perpassando pela biotica da relao entre os Animais Humanos e os
Animais No Humanos
Outro objetivo no menos importante foi o de elencar as possibilidades de
promoo do equilbrio ambiental sadio em suas relaes, fundamentando-o e
aproximando-o da pesquisa-ao em educao ambiental por meio do uso do
storytelling ou da Contao de Histrias, de forma a sensibilizar o pblico infantil
ribeirinho do reservatrio do lago formado sobre o Rio Tocantins, afluente da Bacia
Tocantins-Araguaia, mais especificamente no municpio de Porto Nacional, sobre as
Arraias de gua Doce, a qual ser pormenorizada no captulo seguinte.
Para tanto, buscou-se primeiramente realizar uma reviso de literatura como
parte de uma pesquisa que caracterizou-se por exploratria, de cunho qualitativo, a
qual subdividiu-se em duas (2) partes. Na primeira, buscando-se subsdios para anlise
dos aspectos ecolgicos, fisiolgicos e evolutivos de ambos os Animais, na qual
obteve-se vinte e trs (23) trabalhos cientficos, por meio do Portal de Peridicos da
Capes, com palavras chave envolvendo cada aspecto supacitado e os Animais em
questo, suficientes o bastante para iniciarmos a anlise dos diversos aspectos das
duas faces desta moeda.
J na segunda parte da reviso de literatura, realizaram-se buscas nos
seguintes sites: Scielo Brazil; Portal de Peridicos da Capes; Revista Cincia &
Educao; Revista de Filosofa Moral y Poltica do Instituto de Filosofia (CSIC):
Isegora; Revista Internacional de ticas Aplicadas: Dilamata; Revista Enrahonar:
Quaderns de Folosofia, An International Jornal of Theoretical and Practical Reason.
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As palavras-chave usadas foram: Biotica; Filosofia da Biotica para Animais
No Humanos; Biotica para Animais No Humanos; Animais; Especismo e
Antropocentrismo; Biotica Animal; Direito Animal No Humano; Especismo; Status
Moral de Animais No Humanos; tica, Meio Ambiente e Biodiversidade; Peter Singer;
Ferrater Moura; Tom Regan; Martyn ONeill.
Nesta parte, totalizou-se cinquenta e seis (56) artigos afins, dos quais 44,6%
sobre uso de animais com finalidade de pesquisa na rea da sade e reproduo
humana; 32,2% sobre produo animal e experimentos agropecurios; 17,8% relativos
questes metodolgicas cientficas, para se escrever sobre o assunto; e 5,4%
envolvendo estudos sobre o assunto no mbito das licenciaturas em Filosofia. Pode-se
dizer que um misto deles foi utilizado para a construo e melhor compreenso do
Captulo 1.
A simples tabulao e anlise preliminar da reviso realizada indicou o claro
antropocentrismo que tem caracterizado as pesquisas cientficas sobre as questes
filosficas da biotica entre Seres Humanos e No Humanos, entre 2010 e 2015,
ofuscando-se o brilho de uma das faces da moeda, em detrimento da outra; os
trabalhos envolviam aplicao direta na vida do animal humano, sobretudo nas
atividades ligadas sade/reproduo e agropecuria, somando-se 76,8% do total
obtido durante o filtro para a referida reviso, conforme demonstra a Figura 01.
Figura 01: Tabulao dos dados obtidos a partir da segunda parte da Reviso de Literatura
realizada para anlise biotica da inter-relao entre as espcies envolvidas. Fonte: da pesquisa, 2016.
Pois bem, de posse das informaes cabveis para a anlise dos aspectos
ecolgicos, fisiolgicos, evolutivos e Bioticos da inter-relao entre o Ser Humano e as
Arraias de gua Doce, pde-se dar incio caracterizao da problemtica relativa s
duas faces da mesma moeda.
A metfora da moeda refere-se justamente s necessidades ecolgicas e
fisiolgicas dos Animais envolvidos: Ser Humano e Arraias de gua Doce, bem como
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das suas histrias evolutivas que acabaram convergindo-as para o mesmo local e, por
fim, da necessidade de convivncia equilibrada neste meio comum, agregando-se
problemtica os aspectos Bioticos da relao entre estes Seres Vivos.
Durante a pesquisa-ao a qual apresentar-se- no Captulo 2, registrou-se em
diversos momentos o conflito entre ambos. Seriam as Arraias de gua Doce to vils
assim? Ou seramos ns, os viles? Por que as Arraias Marinhas no so to temidas
quanto elas? Quais seriam as premissas possveis para a convivncia mais harmoniosa
e equilibrada entre ambos? Esperou-se melhor compreenso destas perguntas a partir
na anlise, que ora se inicia.
As Arraias de gua Doce so pertencentes famlia Potamotrygonidae
(Elasmobranchii: Myliobatiformes) e compreendem um grupo de Chondrichthyes ou
Peixes cartilaginosos que possuem adaptaes para a vida exclusiva para tal hbitat
(THORSON T.B.; WOOTON R.M.; GEORGI T.D., 1978, p. 508).
O conjunto de especializaes, caractersticos das arraias, relaciona-se com a
adoo de hbitos bentnicos e durofgicos, alimentando-se tambm de moluscos de
carapaas. Os principais gneros so: Plesiotrygon, Paratrygon, Potamotrygon e
Heliotrygon (LAMEIRAS et al., 2013, p. 14), ilustrados na Figura 2.
Figura 2: Exemplares de Arraias de gua Doce da Bacia Amaznica. Fotos: Wallice Duncan
(LAMEIRAS et al., 2013, p.15-16).
A explicao para a ofensa por Arraias de gua Doce ser mais dolorosa,
tornando sua relao com Seres Humanos historicamente estremecida, sobretudo no
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cenrio do reservatrio do rio Tocantins, em Porto Nacional, esteja calcada na sua
histria evolutiva, a saber:
Os potamotrigondeos so claramente monofolticos, compartilhando apomorfias morfofisiolgicas nicas, tais como: uma plvis com um processo mediano anterior expandido (processo pr-plvico), sangue com baixa concentrao de uria e reduo da glndula retal. No entanto, a origem deste grupo de batides tem despertado interesse de inmeras investigaes, sendo objeto de diversas hipteses biogeogrficas. (CARDOSO JR., 2010, p. 4).
Ale (2009); Cardoso Jr. (2010) citaram em seus estudos sobre a existncia de
trs hipteses para explicar a origem dos Potamotrigondeos nos rios da Amrica do
Sul. Todas elas corroboram no sentido da importncia das ingresses marinhas ao
continente e subsequentes eventos de especiao concomitantes ocorrncia de
eventos paleogeogrficos que acabaram por isolar um ancestral marinho.
A hiptese mais aceita, para explicar a origem e a diversificao da famlia
Potamotrygonydae, a mais representativa dentre as Arraias de gua Doce, coloca que
houve uma:
Invaso de um ancestral caribenho no sistema fluvial sul americano
durante ingresses marinhas do Mioceno Inferior ( 23 e 15 milhes de anos atrs) no noroeste da Amrica do Sul, seguida de isolamento por alterao de padres de drenagem do Orinoco e formao dos Andes. (ALE, 2009, p. 7).
Contudo, h de se considerar a trajetria evolutiva to significativa e antiga das
Arraias de gua Doce, assim como para outros peixes (peixes-agulha, corvinas,
linguados e outros), cujos processos de especiao culminaram na sua adaptao
plena na Bacia Araguaia-Tocantins, via Bacia Amaznica, em milhares de anos, com
maior capacidade de mimetismo, com fluidos corporais osmorregulados e com maior
capacidade no s de se alimentar, como tambm de se defender para garantir a sua
perpetuao, por presso evolutiva em relao aos seus ancestrais marinhos.
Nutre-se ento, linha de pensamento de que as Arraias de gua Doce, assim
como outros Animais No Humanos e os prprios Animais Humanos, possuem suas
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histrias e lutas evolutivas ao longo de milhares de anos. Quando seus caminhos se
intercruzam, desenvolvem uma relao que pode, ou no, ser conflituosa.
Passou-se ento, para efeitos de concluso, a se elencar, ao longo do presente
relatrio, as possibilidades de um convvio harmnico entre os Humanos e as Arraias
nos ambientes em que coexistem.
Emergindo-se ento, neste contexto, a primeira possibilidade de promoo do
equilbrio entre ambas as espcies num meio em comum, a divulgao desta trajetria
adaptativa milenar das Arraias Marinhas at se instalarem na Bacia Amaznica, bem
como a histria do seu encontro com os Seres Humanos na Amrica do Sul.
A relao desenvolvida entre Arraias de gua Doce e Seres Humanos vem se
desvelando como conflituosa ao longo dos afluentes da Bacia Amaznica e Araguaia-
Tocantins, como explicam Lameiras et al. (2013) e Santos et al. (2015). Estudos de
Foster (2009); Garrone Neto; Haddad Junior (2010); dentre outros, explicitam-na
tambm nos rios da regio sudeste brasileira.
Para Ale (2009), dentre as caractersticas das populaes destes peixes, que se
seguiram selecionadas naturalmente pelo ambiente de gua doce das bacias
hidrogrficas da Amrica do Sul, a modificao na ampola de Lorenzini para
eletrorrecepo tenha sido decisiva para diferenci-las das suas ancestrais marinhas,
tornando seus reflexos mais geis para se defenderem contra ataques de grandes
predadores.
De acordo com Pedroso et al. (2007), outro aspecto que pode estar relacionado
ao aumento da capacidade de defesa das Arraias de gua Doce a quantidade e a
distribuio das clulas secretoras de protenas no ferro.
Para os autores, estudo histolgico realizado com os ferres das Arraias de gua
Doce Potamotrygon leopoldi, P. falkneri, P. orbignyi e das Arraias Marinhas Dasyatis
guttata e Aetobatus narinari, demostrou que, nas Arraias de gua Doce, as clulas
secretoras de protena venenosa apresentam-se em maior quantidade e esto
distribudas por toda a epiderme do seu ferro (Figura 3); enquanto que, nas espcies
marinhas, tais clulas so menos abundantes e esto distribudas apenas ao redor ou
dentro dos sulcos ventrolaterais do ferro.
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Figura 3: Ferro de Arraia de gua Doce Potamotrygon sp. Foto: Wallice Duncan
(LAMEIRAS et al., 2013, p. 17).
Portanto, o Animal utiliza um forte reflexo da sua cauda para defender-se, sendo
uma resposta ao estmulo mecnico desencadeado pelo contato de qualquer outro
Animal, inclui-se a o Ser Humano. Penetrando seu ferro, a Potamotrygon sp. acaba
lesando o tecido da vtima e deixando seu veneno proteico no ferimento.
De acordo com Machry (2004); Coutinho (1997); Garrone Neto; Haddad Jnior
(2010), o encontro entre as Arraias e os Seres Humanos podem acarretar em acidente,
o que acomete, na maioria das vezes, atingindo as extremidades dos seus membros
inferiores, como tornozelo e p, em decorrncia dos Humanos, durante o banho, pisam
sobre estes animais.
Isto ocorre, segundo Garrone Neto; Sazima (2009) pelo fato delas habitarem o
fundo arenoso e lodoso do rio, estratgia utilizada para facilitar a captura do seu
alimento, outra adaptao selecionada pelas Arraias de gua Doce das bacias
brasileiras.
Quando ocorre o acidente, a sintomatologia se caracteriza por intensa ao
inflamatria. Garrone Neto; Haddad Jnior (2010) registraram que os Humanos, aps o
acidente, se queixam de dor intensa, desproporcional ao tamanho da leso, compatvel
com a dor neurognica. Outros aspectos observados so a presena de eritema e
edema em torno da leso causada pela introduo do ferro, que pode evoluir para
necrose. Neste contexto,
Em 3,6% dos casos onde acidentes foram referidos, as leses evoluram para cura com seqelas. Em todas essas situaes, a
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perda parcial de movimento do membro atingido foi o caso. Amputaes no foram relatadas. Com relao ao tempo de incapacidade para o trabalho em decorrncia dos acidentes, a maioria dos entrevistados disse no ter tido problemas para desenvolver suas atividades laborais. No entanto, 8,9% relataram ter ficado impossibilitados de trabalhar por mais de um ms. (GARRONE NETO; CORDEIRO; HADDAD JR., 2005, p. 800).
Para Haddad et al. (2004); Garrone Neto; Haddad Jnior (2010), os Humanos
acidentados tambm podem apresentar complicaes sistmicas, como nuseas,
vmitos, salivao, sudorese, depresso respiratria, fasciculao muscular e
convulses, em casos mais raros, levar a morte se o ferro atinge rgos vitais.
Contudo, segundo a proposta de possibilidade de uma abordagem positiva para
o equilbrio ambiental, poder-se-ia popularizar os aspectos ecolgicos, fisiolgicos e
comportamentais supracitados, de ambas as espcies envolvidas, a fim de legitimar
seus Direitos de coexistirem.
As Arraias de gua Doce continuando com o direito de existir no seu hbitat
natural, bem como de ser preservada juntamente tudo aquilo que corrobora para isto,
incluindo sua integridade fsica; e os Seres Humanos, tambm possuidores do Direito
de fazerem usos mltiplos dos mananciais e reservatrios ao longo das bacias
hidrogrficas da Amrica do Sul, porm com vis sustentvel.
Estudos filosficos da biotica realizados por Singer (2002); Regan; Braestrup
(1985); Mora (1979); Horta (2010) sugerem que tendo-se aceito o princpio de
igualdade como uma slida base moral para a aceitao de Seres Humanos da prpria
espcie entre si, obriga-se a aceitao, tambm como uma slida base moral, para as
relaes com aqueles que no pertencem ela, ou seja, aos Animais No Humanos,
como no caso especfico da relao entre os Animais Humanos e as Arraias de gua
Doce (Animais No Humanos).
A ameaa da homeostase de cada organismo envolvido se caracteriza como
fator dificultador da garantia do direito de ambas as espcies coexistirem
harmonicamente no mesmo ambiente.
As Arraias so ameaadas pelos Seres Humanos que vo ao local por elas
habitado, comprometendo sua integridade fsica, alterando as caractersticas fsicas,
qumicas e biolgicas da gua, quando constroem barragens transformando os rios,
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sistemas lticos, em reservatrios, sistemas mais lnticos; quando lanam esgotos
lquidos direta ou indiretamente nos reservatrios; alm de restos de alimentos,
provenientes das atividades humanas nas orlas fluviais e complexos de lazer
construdos em suas margens. E ainda, so procuradas por aquariofilistas e
eventualmente utilizados como recurso alimentar (GARRONE NETO; HADDAD
JUNIOR, 2010, p. 82).
J os Humanos, se sentem ameaados pelos ferimentos muito dolorosos
causado pelo encontro com as Arraias, os quais desencadeiam dor neurognica muito
intensa, ferimentos que podem se estender por muito tempo e provocar leses
permanentes, alm de gastos pblicos com licenas e despesas mdicas. O que
provoca nos Humanos uma memria negativa do Animal, que se perpetua ao longo das
geraes.
Desta forma, tanto Seres Humanos quanto Arraias, ou seja,
[...] todos os organismos vivos tendem a buscar um equilbrio dinmico. Desta forma, qualquer ameaa a estabilidade deste balano, seja fsica ou psicolgica, desencadeia uma resposta de estresse, a qual por sua vez tem como consequncia primordial reestabelecer a homeostase e promover adaptaes. (SOUZA, 2011, p.1).
Neste contexto, so comuns reaes desequilibradas que geram a morte e a
mutilao de Arraias de gua Doce. Um estudo sobre essas reaes conflituosas num
afluente do rio Amazonas trouxe a seguinte informao:
O destino dado s arraias pelos pescadores aps a sua pesca o sacrifcio dos animais (59%), mutilao (35%) e soltura na natureza (6%). Foi estimado que no ano de 2012 houve o sacrifcio de 10.660, mutilao de 3.562 e a soltura de apenas 286 arraias. Metade dos entrevistados sofreram acidentes com os potamotrigondeos, com ataques principalmente nos ps (70%). (OLIVEIRA et al., 2015, p. 1).
Diante de todos os argumentos expostos, emerge-se a necessidade da anlise
do ltimo aspecto, o inter-relacional, o qual este trabalho se props: no estariam Seres
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Humanos e Arraias em meio a um paradoxo filosfico da biotica? No seriam seus
direitos, faces de uma mesma moeda?
Desta feita pode-se elencar a terceira possibilidade de equilbrio ambiental para
ambos os animais propondo-se a reflexo acerca dos reais motivos que geram a fora
motriz da reao unilateral tanto por parte dos Seres Humanos quanto por parte das
Arraias.
Para ir mais a fundo nesta questo, necessitou-se ento de uma base mais
filosfica da biotica entre o Animal Humano e o Animal No Humano, que conduzisse
a uma maior compreenso dessa relao, optando-se por rpida viagem pelos estudos
dos filsofos contemporneos entre 2010 e 2015.
Relatou-se, por exemplo, como vm entendendo as questes acerca do que seja
ou no moral quando se trata da relao entre Humanos e Animais, ou melhor dizendo,
Animais Humanos e Animais No Humanos; ajudando a abrir o caminho necessrio
para a busca de mais possibilidades que poderiam corroborar para a homeostase dos
envolvidos, o equilbrio ambiental e, por tabela, para a conservao da biodiversidade.
A Filosofia Moral se trata de argumentos acerca do que bom, mau, justo,
injusto, argumentos acerca de direitos e deveres de agentes em circunstncias variadas
(MIGUENS, 2011. p. 121). Portanto, pretende-se aqui, trazer tona as concluses dos
investigadores sobre a Filosofia Moral da relao Animal Humano e Animal No
Humano, nos ltimos anos, isto , entre as duas faces desta mesma moeda.
Para Frave (2010) h uma criao de uma tica de juros para animais baseada
na realidade que esses outros seres vivos, assim como o ser humano, tm interesses
individuais dignos de nossa considerao, tanto dentro do mundo da moral pessoal e
tica quanto legalmente falando. No entanto, observa-se que para tanto ter efeito tem-
se que escalonar seus "interesses" humanos, constituindo-se num paradoxo diante do
que seria eticamente correto, ou seja, cada caso seria passvel de anlise prvia para
um diagnstico.
De acordo com Leyton (2010), sempre houve resistncia acadmica para
considerar os Animais como seres morais relevantes at meados do Sculo XX, em que
seus estudos observaram certa refletividade e anlise que visava superar o
antropocentrismo filosfico, tica e moral. Uma caracterstica comum das referidas
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reflexes, segundo ele, a conceituao de uma forma de discriminao, o especismo,
que seria decisiva no tratamento que humanos do aos animais, constituindo-se assim
como violncia e abuso institucionalizados. O autor ainda resgatou um pouco do
histrico deste contexto:
Desde a antiguidade, muitos pensadores como Pitgoras, Plutarco ou Porfirio j consideravam o pensamento da relao humana com os animais, muitas vezes criticando o tratamento abusivo quanto aos ltimos. Durante Idade Mdia no encontrou registros alm dos ensinamentos de So Francisco de Assis que, em virtude da piedade crist quanto aos maus tratos desnecessrios aos animais. ... a partir dos sculos XVIII e XIX vrios autores publicaram suas preocupaes filosficas sobre a preocupao moral para com os animais. O primeiro trabalho que usa o termo "especismo" foi um panfleto auto-intitulado escrito pelo psiclogo ingls Richard Ryder, em 1970. Embora no haja uma definio do termo, indica uma discriminao que estabelece diferena ntida entre a moralidade aplicada ao ser humano e aos animais. Apenas cinco anos depois, o filsofo Australiano Peter Singer quem primeiro definiu o especismo em seu livro Animal Liberation (1975) como uma atitude parcial ou favorvel de prejudicar os interesses dos membros da nossa prpria espcie e contra os de outra." ...1892, quando o humanista Ingls Henry Sal publicou o primeiro trabalho completo na defesa racional animal: Direitos dos Animais considerados em relao ao Progresso Social. ...em 1983, o filsofo americano Tom Regan publicou seu livro The Case for Animal Rights, defendendo uma teoria de direitos animais baseada no apenas na sencincia, ou na capacidade sentir dos animais, mas tambm na condio de todos os seres sencientes como "sujeitos vivos. (LEYTON, 2010. p. 14-15).
Horta (2010) chamou a ateno para a grande quantidade de experimentao
que envolve Animais No Humanos, bem como para a negligncia da biotica sobre o
assunto, sendo que os argumentos para o antropocentrismo moral teriam acabado por
gerar um especismo, cujas argumentaes no so consistentes. Para ele, isto se
aplica tambm a outros campos que usam Animais No Humanos, tais como: de
culinria food, de confeco de roupas, ou de entretenimento.
Feij; Santos; Grey (2010) ao estudarem sobre o status do Animal No Humano
concluram que:
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O status que o ser humano tem designado ao animal no-humano tema que ocupou a filosofia desde tempos remotos, ainda que para colocar esse animal em uma situao de desprestgio. Todavia, os posicionamentos a respeito dos animais no-humanos passaram (e continuam passando) por processos histricos e culturais, conquistando tamanha importncia a ponto de hoje no poderem ser vistos apenas como consideraes filosficas, mas sim como elementos de um debate crucial que se estende ao Direito e a vrios outros ramos cientficos. (FEIJ; SANTOS; GREY, 2010. p. 7).
Isto significa que os Animais Humanos, depois de forte especismo
antropocntrico, vm na contemporaneidade debatendo no s no campo filosfico,
mas estendendo-o para outras reas da cincia, tal como a jurdica, debates pelo
estabelecimento dos Direitos entre as faces da moeda que ora se encontra no cerne da
discusso.
Emerge-se aqui, a quarta possibilidade de equilbrio entre as espcies
envolvidas, ou seja, de equilbrio ambiental, o debate Filosfico da biotica entre
ambos; e, por tabela, a segunda possibilidade, o debate e contribuio jurdica no
mbito daquilo que o Direito de ambos.
Coltro; Ferreira (2011) que, ao revisarem sobre as principais linhas da Filosofia
Moral dos estudiosos contemporneos, concluram que:
As linhas acima destacaram os contemporneos que julgam que os tratamentos infligidos pelos seres humanos aos animais devem ser substancialmente, ou mesmo radicalmente, modificados. No entanto, seria falso acreditar que todos os filsofos pensam que existem direitos do animal ou que sejam defensores da liberao animal. H argumentos srios contra tais teorias. (COLTRO; FERREIRA, 2011. p. 80).
Serena (2012), da Universidade de Oxford, associou argumentos de defesa
apresentados que envolvem Filosofia Moral caa recreativa, mostrando que as
razes dadas por aqueles que defendem a imunidade de caa para a avaliao moral
no se sustentam, tambm no mbito jurdico. Para ela, talvez a verdadeira razo que
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historicamente venha agredindo os Animais esteja relacionada convico Humana de
que a questo trivial, sendo seus benefcios confortveis e levianos.
Berros (2015) ressalta que na Amrica Latina e na Unio Europeia, a vida
selvagem recebeu a tutela regulamentar para recursos naturais dos Animais Humanos,
em nuances complexas, como mercadorias ambientais e que, ao reconhecer a
Natureza como uma entidade legal acabou regulamentando a caa, a pesca e as
coletas, paradoxo entre o Direito de deixar vivo ao de destruir a liberdade individual do
Animal No Humano.
Neste sentido, Sagols (2012) acredita que:
[...] devemos mostrar no s a continuidade da vida e o fato de que a moralidade no exclusiva aos seres humanos, uma vez que eles tm muitos graus, alguns das quais so bsicos e esto presentes em outros seres vivos, mas tambm mostram que h diferena humana, e situa-se no poder dar-nos uma lei (no s a nossa razo, mas integridade) e, portanto, a distncia, atravs de uma prtica renovada e emoes inadequadas. Eu acredito que ns devemos reconhecer, como fazer Franois Jacob (da Biologia) e Paul Ricoeur (a partir da Filosofia): a continuidade-descontinuidade entre animais e moralidade (Cultura) humano. (SAGOLS, 2012. p. 129).
Barbosa et al. (2012), ao investigarem a percepo da comunidade acadmica
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, numa abordagem mais proximal,
obtiveram que a maioria julgou os Comits de tica em Pesquisa com Animais No
Humanos como pouco atuantes no que tange ao seu carter consultivo e, sobretudo,
educativo, reforando o quanto o contexto educacional ligado biotica est aqum do
ideal.
Tafalla (2013) aborda a seguinte questo em seu estudo: Como podemos
educar para o fascnio esttico que sentimos por animais guiado pelo caminho da
admirao e respeito, e no por meio de posse e encerramento explorao?
(TAFALLA, 2013. p. 89).
Para a investigadora a questo da Educao, num esforo multidisciplinar, seria
a chave fundamental para o processo de tomada de conscincia dos Animais
Humanos. Neste contexto, as Cincias Naturais, a Filosofia e o Direito entrariam como
eixos estruturantes na empreitada.
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Desvela-se aqui, a quinta possibilidade de equilbrio ambiental entre Seres
Humanos e Arraias de gua Doce, a abordagem educativa, numa perspectiva
multidisciplinar e, por que no, interdisciplinar.
Em estudos realizados em livros didticos do Ensino Fundamental e Mdio, por
meio da anlise documental categorizada, de Bermudez; Longhi; Gavidia (2015)
corroboraram com o exposto, uma vez que descobriram que apenas 20% de 50 ttulos
continham informaes relevantes sobre razes biolgicas estticas e ticas relativas
conservao da biodiversidade animal.
Estes estudos permitem elencar-se a sexta e stima possibilidades, isto , a
abordagem do pblico infantil e mais jovem e a produo de material didtico que
contenha informaes cientficas mais relevantes em relao s estticas, bem como
de informaes bioticas convergentes conservao da biodiversidade animal.
Para Naves; S (2013) a complexa condio da modernidade buscar em sua
prpria contradio a tica que norteie a convivncia entre todas as espcies. Exige-se
um retorno da tica base do conjunto do ser, uma tica mais holstica, afirmando que
a antiga separao entre o reino subjetivo e o objetivo superada na nova viso, que
prope a re-unio desses reinos, o que s pode ser alcanado pelo lado objetivo, mas
sobretudo pela reviso do papel da Natureza no contexto.
Faria (2014) ponderou que todos ns devemos orientar aes na direo de
reduzir o impacto negativo dos Seres Humanos em Animais No Humanos, que s o
fato de no lhes causar prejuzos no suficiente para aumentar significativamente seu
bem-estar, uma vez que se encontram numa condio muito subjugada.
Logo, a oitava possibilidade de equilbrio ambiental liga-se a necessidade utilizar
argumentos positivos, em detrimento daqueles que so muito negativos; ressaltando-se
aquilo que necessrio para o bem-estar de ambas as espcies envolvidas.
Faria; Paez (2014) consideraram em termos finais dos seus estudos trs
reivindicaes: 1) o antropocentrismo moral no equivalente ao especismo, mas sim
um possvel tipo de vis especista entre muitos; 2) a inevitabilidade da epistmica
antropocentrista no implica que o antropocentrismo moral, pelo fato de tais conceitos
serem distintos, um no implicando necessariamente no outro; e mostraram que 3) o
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antropocentrismo moral, e de fato todos os tipos de especismo, so injustificados.
Nenhuma havendo diviso moral entre todos os Seres Humanos e No Humanos.
Ao realizarem uma ampla reviso de 2009 a 2014 sobre o especismo, Dorado;
Horta (2014) concluram que 1) h diferenas claras entre as posies detidas para os
que questionam o especismo; bem como que 2) aceitvel que Animais No Humanos
sejam considerados moralmente; e que 3) pode-se identificar trs tipos de abordagens:
(I) abordagem favorvel moral dos Animais, sem necessariamente questionar a sua
explorao; (Ii) uma linha contrria ao uso de recursos Animais No Humanos; e (Iii) os
que argumentam contra o Especismo; alis, ressalta-se que estas ltimas vm em
reao ao movimento que contesta a discriminao e a explorao dos Animais e
respondem aos argumentos defendidos contra o Especismo.
Enfim, revelou-se aqui a nona e talvez mais difcil possibilidade de equilbrio
ambiental entre Animais Humanos e No Humanos, a necessidade de se posicionar em
relao abordagem que ser dada ao Especismo, a fim de embasar as estratgias a
serem adotadas.
Diante de tudo que foi exposto, validou-se a metfora da moeda. Os Seres
Humanos e as Arraias de gua Doce, ambos coexistentes em meio comum, realmente
encontram-se no cerne de um paradoxo filosfico da biotica.
Seus direitos so legitimados por serem faces de uma mesma moeda, quer por
conta dos aspectos ecolgicos, fisiolgicos, evolutivos, comportamentais ou inter-
relacionais envolvidos e aqui descritos; quer por necessidade de se buscar o equilbrio
do ambiente e a conservao da biodiversidade, at mesmo assegurados pela
legislao brasileira.
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35
CAPTULO 2: USO DO STORYTELLING NA EDUCAO AMBIENTAL PARA
SENSIBILIZAR CRIANAS SOBRE AS ARRAIAS DE GUA DOCE: A PESQUISA
1. INTRODUO
O presente trabalho objetivou desenvolver, com vista aplicao, uma proposta
de uso do storytelling no contexto da educao ambiental, que sensibilizasse o pblico
infantil das escolas pblicas estaduais e ribeirinhas do reservatrio do lago, na orla de
Porto Nacional TO, sobre a relao entre os Seres Humanos e as Arraias de gua
Doce.
E, mais especificamente: a) diagnosticou o conhecimento prvio e as
curiosidades do pblico alvo acerca do objeto de estudo; b) elencou as possibilidades
de promoo do equilbrio e conservao da biodiversidade animal com vistas
popularizao da cincia; c) produziu e contou uma estria infantil textual, contendo
uma sequncia lgica de fatos esclarecedores, com cunho cientfico sobre o assunto; e
d) verificou a aceitao e a introjeo das informaes por parte das mesmas crianas
cujo diagnstico tenha sido realizado.
Esta pesquisa-ao parte de uma situao problema centrada na filosofia da
biotica existente na relao entre os Seres Humanos e as Arraias de gua Doce, onde
ambos utilizam um ambiente em comum, as praias artificiais no reservatrio do rio
Tocantins, municpio de Porto Nacional, ambiente modificado devido a construo da
Usina Hidreltrica do Lajeado, em decorrncia de fatores econmicos e polticos.
A situao vem se caracterizando como mais problemtica ainda, na medida em
que os encontros entre ambos os seres tm sido mais frequentes nesses ambientes
alterados e, aliados falta de informao e a fatores culturais da populao, que possui
memria negativa desta relao; justificando-se, ento, a presente proposta.
Para tanto, j foi realizado um estudo que resultou na elaborao do Captulo 1.
Nele relacionou-se os aspectos filosficos da biotica do relacionamento em questo
aos aspectos evolutivos, ecolgicos e biolgicos que a situao envolve.
-
36
Os nove princpios conceituais que corroborariam para uma convivncia mais
harmoniosa entre os agentes envolvidos no ambiente, elencados a partir deste estudo,
serviram para ancorar este Captulo, que ainda apresentou seu aporte terico;
metodolgico; seus resultados; discusso; alm de suas consideraes finais.
2. REVISO TERICA
Para aprofundamento do aporte terico acerca do Storytelling e garantia de sua
aplicao no sentido estrito, realizou-se uma reviso de literatura a partir de ampla
busca em 21 bases de dados, a saber: Begell House Digital Library; Computers &
Applied Sciences Complete (CASC); Dentistry & Oral Sciences Source (DOSS); Kirkus
Reviews; Medline Complete (EBSCO); Philosophical Books; Springer - Journals
Archive; SpringerLink; Zentralblatt MATH; Catlogo de Teses - IBICT; Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertaes; Biblioteca Digital de Teses e Dissertaes da UCB;
Portal de Acesso Livre da CAPES; Scientific Electronic Library Online; Biomed Central;
Public Library Of Science; Pubmed Central; DOAJ - Directory Of Open Access Journals;
Google Acadmico; CNEN - Livre; e Open J-Gate.
Obteve-se 7.000 itens afins, dos quais foram selecionados 448 artigos, sendo:
389 a partir da palavra chave Storytelling; 29 da palavra Contao de Histrias; e 30
do Storytelling na Educao. Todos entre os anos de 2010 e 2015.
A partir da categorizou-se os artigos selecionados conforme recomendado por
Bardin (1979), buscando-se identificar, mais especificamente, a fundamentao terica
necessria para o desenvolvimento da proposta em tela. Os resultados foram diludos
no decorrer do texto, a fim de se evitar que o mesmo ficasse cansativo e, ao mesmo
tempo, que enriquecesse e validasse as tomadas de deciso ao longo do trabalho.
Neste dado momento faz-se necessrio relembrar que a presente pesquisa-ao
objetivou, antes de mais nada, realizar uma proposta de uso do Storytelling como
metodologia, na educao ambiental, para sensibilizao e popularizao da cincia
em relao ao pblico infantil, sobre Arraias de gua Doce.
http://dl.begellhouse-com.ez124.periodicos.capes.gov.br/http://buscador.periodicos.capes.gov.br.ez124.periodicos.capes.gov.br/V/R1E12Q36BUI4TYADYBHA1LRT3JMXEHKSE37N77TCG9GMJVESEE-00662?func=native-link&resource=CAP01096http://buscador.periodicos.capes.gov.br.ez124.periodicos.capes.gov.br/V/R1E12Q36BUI4TYADYBHA1LRT3JMXEHKSE37N77TCG9GMJVESEE-00662?func=native-link&resource=CAP01096http://web.b.ebscohost.com.ez124.periodicos.capes.gov.br/ehost/search/basic?sid=6f2f65f6-773f-441e-8eba-f89b4adff83a%40sessionmgr110&vid=0&hid=116http://www.kirkusreviews.com/kirkusreviews/index.jsphttp://www.kirkusreviews.com/kirkusreviews/index.jsphttp://buscador.periodicos.capes.gov.br.ez124.periodicos.capes.gov.br/V/R1E12Q36BUI4TYADYBHA1LRT3JMXEHKSE37N77TCG9GMJVESEE-03865?func=native-link&resource=CAP03571http://buscador.periodicos.capes.gov.br.ez124.periodicos.capes.gov.br/V/R1E12Q36BUI4TYADYBHA1LRT3JMXEHKSE37N77TCG9GMJVESEE-04174?func=native-link&resource=CAP02668http://buscador.periodicos.capes.gov.br.ez124.periodicos.capes.gov.br/V/R1E12Q36BUI4TYADYBHA1LRT3JMXEHKSE37N77TCG9GMJVESEE-05529?func=native-link&resource=CAP00685http://buscador.periodicos.capes.gov.br.ez124.periodicos.capes.gov.br/V/R1E12Q36BUI4TYADYBHA1LRT3JMXEHKSE37N77TCG9GMJVESEE-05535?func=native-link&resource=CAP00641http://bdtd.ibict.br/http://bdtd.ibict.br/pt/inicio.htmlhttp://bdtd.ibict.br/pt/inicio.htmlhttp://www.bdtd.ucb.br/tede/tde_busca/index.phphttp://www.periodicos.capes.gov.br/http://www.scielo.org/php/index.phphttp://www.biomedcentral.com/http://www.plos.org/http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/http://www.doaj.org/http://scholar.google.com.br/http://livre.cnen.gov.br/Inicial.asphttp://www.openj-gate.com/Search/QuickSearch.aspx
-
37
Neste sentido, coube tambm um breve posicionamento terico sobre a educao
ambiental, a qual nos referimos, bem como sua conexo, neste caso, popularizao
da cincia.
Para Mximo-Esteves (1998), o termo educao ambiental (EA), environmental
education, foi usado a primeira vez na dcada de 1940, num encontro da Unio
Internacional para a Preservao da Natureza (UIPN), em Paris. J Loureiro (2004);
Dias (2010) concordam que tal evento ocorreu na Universidade de Keele, na Gr
Bretanha, em um evento sobre Educao, em 1965.
A anlise que se faz das referidas informaes, quer tenham ocorrido na dcada
de 1940 ou de 1960, que tal conceito tenha surgido em resposta ao incio da crise
ambiental gerada pelo perodo racional da relao histrica entre o Ser Humano e a
Natureza, descrita por Tozoni-Reis (2004).
De acordo com a autora, no sculo XX, o cenrio tem como pano de fundo o
fenmeno da globalizao, impulsionado pela tecnologia que dominou, cada vez mais,
a vida humana, escapando-lhe o poder de deciso e forando-lhe uma transio
paradigmtica, questo central da educao ambiental (EA) na atualidade. Porto-
Gonalves (2004) afirma que a racionalidade vigente impossibilita qualquer avano
efetivo no contexto ambiental.
Buscando-se associar a racionalidade vigente que evita o xito da educao
ambiental eficaz, com a problemtica que por ora tateia-se, pode-se trazer para o centro
da discusso, as obras hidreltricas de grande porte realizadas no rio Tocantins,
estudadas por Arajo (2003), dentre elas a UHE de Lus Eduardo Magalhes (UHE do
Lajeado).
Esta constituiu-se como o piv da transformao da paisagem do rio Tocantins
em reservatrio que corta o municpio de Porto Nacional, local o qual encontra-se
localizado nosso objeto de estudo, a relao conturbada entre o Ser Humano e as
Arraias de gua Doce. Tal obra hidreltrica j havia sido idealizada desde a dcada de
1960, isto , no seio da referida racionalidade vigente.
A fim de melhor explanar o contexto, Dzedzej et al. (2011), informaram aspectos
relativos base legal para aproveitamento das potencialidades do reservatrio e do seu
entorno:
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38
O Plano de Conservao e Usos Mltiplos do Reservatrio da UHE Lajeado, elaborado em 2003, cumpre uma das exigncias da Resoluo CONAMA n 302/2002 e Instruo Normativa do IBAMA n184/2008 (grifo meu), e, busca compatibilizar o aproveitamento das potencialidades do reservatrio preservao do entorno, utilizando, principalmente, o zoneamento da faixa de proteo do reservatrio. No caso da rea de estudo, a faixa de proteo foi dividida em trs reas: zona de uso intensivo, zona de uso extensivo e zona de conservao. (DZEDZEJ et al., 2011, p. 5887).
Os autores apontaram ainda que a Zona de Uso Extensivo, faixa de zoneamento
que contempla a orla e praia atual de Porto Nacional, compreende a rea no entorno do
reservatrio junto as reas urbanas e semiurbanas, sendo nela permitida a instalao
de bosques, parques para lazer, praias e outras atividades que conciliem lazer e
conservao ambiental.
A linha de pensamento por ora adotada, nos permite caracterizar a validao do
modelo de desenvolvimento econmico vigente para a instalao da orla e da praia
artificial em Porto Nacional, permitindo assim, contato mais frequente entre Humanos e
Arraias nos ltimos anos.
De acordo com o Almanaque de Educao Ambiental (2000), o qual faz parte
das atividades do Programa Bsico Ambiental - PBA de EA vinculado ao Projeto de
Construo da UHE do Lajeado, [...] A energia eltrica , sem dvida, uma das grandes
responsveis pelas evolues tecnolgicas indispensveis ao homem moderno. [...]
(ALMANAQUE DE EDUCAO AMBIENTAL, 2000, p. 9); e ainda,
[...] A fim de minimizar os impactos ambientais que a construo de uma hidreltrica provoca, a INVESTCO S/A, empresa responsvel pela Usina Hidreltrica Lus Eduardo Magalhes Lajeado implantou 34 Programas Bsicos Ambientais tratados como PBAs. Entre eles o PEAL - Programa de Educao Ambiental do Lajeado -, iniciado em 1999, nos municpios do entorno [...] (ALMANAQUE DE EDUCAO AMBIENTAL, 2000, p. 9).
No contexto das atividades de EA desenvolvidas pelo PEAL entre 1999 e 2001
nas escolas pblicas do municpio de Porto Nacional, pelo 12 PBA da UHE do Lajeado,
haveria de serem praticadas na transversalidade, de acordo com os Parmetros
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39
Curriculares Nacionais PCNs (1998); e como uma forma de despertar no ser humano
a conscincia crtica de suas aes que vm provocando a destruio da natureza
(ALMANAQUE DE EDUCAO AMBIENTAL, 2000, p. 13). No havendo meno
sustentabilidade, muito menos mudana paradigmtica.
Alis, no tocante s Arraias de gua Doce, quando se fala sobre a fauna
aqutica local e sua preservao e conservao, no h qualquer tipo de nota no
referido Almanaque, sendo o destaque maior para a fauna mais bonitinha aos olhos
humanos, como o caso dos quelnios e dos botos. Os peixes em si, foram meio que
ignorados ou colocados em segundo plano.
No entanto, o mesmo dedicou um captulo inteiro a enaltecer os aspectos
vantajosos decorrentes da construo da UHE do Lajeado em si, nitidamente centrado
no pensamento dominante, incluindo dicas para que o professor utilizasse esta temtica
aliada transversalidade, nas diversas reas do conhecimento.
Unindo-se a relao conturbada entre Seres Humanos e Arraias de gua Doce
aos empreendimentos hidreltricos, tem-se que:
[...] com a construo freqente de barragens para centrais hidreltricas (PCHs) que s vezes transbordam, algumas espcies como as raias (Potamotrygon sp) passaram a se dispersar rapidamente para localidades onde antes no ocorriam, causando acidentes com seres humanos, despertando interesse pelos possveis impactos gerados sobre a populao ribeirinha e turistas. (RAMOS; LIMA; LIMA, 2007, p. 1).
No entanto, Porto-Gonalves (2004) desvela ento, crtica ao uso do conceito de
Sustentabilidade na EA s pelo nome puro e simples, uma vez que no adianta falar
sobre, sem que haja a to propalada mudana paradigmtica. Na contemporaneidade,
o modo de produo visa explorao da mais valia e, desse modo, prope solucionar
os problemas ambientais com novas mercadorias e avanos tecnolgicos.
Ou seja, a lgica do capital sempre continua a mesma; e se faz presente a
problemtica em tela, sobretudo pelo fato de que:
[...] sofremos, reflexivamente, os efeitos da prpria interveno que a ao humana provoca por meio do poderoso sistema tcnico de que hoje se dispe. J no mais contra a natureza que devemos lutar (se que de luta contra a natureza que deveramos tratar) mas, sim, contra os efeitos da prpria
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40
interveno que o prprio sistema tcnico provoca. [...] (PORTO-GONALVES, 2004, p.30).
A transversalidade vem sendo tambm empregada em vo por vrias atividades
de EA, sem barreira crtica mais consistente. Santos (2010); Morin (2005); Gadotti
(2005), em contraponto inteligncia cega da disciplinaridade, trazem a proposta da
interdisciplinaridade e da transdisciplinadade, ou ainda, da ecologia dos saberes, para
se trabalhar num nvel mais robusto.
Conceitos estes, que, de acordo com autores mais contemporneos, como por
exemplo, Costa; Loureiro (2015), vm encontrando muitas dificuldades para se
concretizar, quer seja em relao interdisciplinaridade ou transdisciplinaridade,
como se evidenciou em relao EA desenvolvida pelo PEAL em Porto Nacional.
Nesta perspectiva, para estes autores,
Negar o carter de classe presente na cincia, em seus usos e discursos, e no modo como produzimos conhecimento, significa, portanto, continuar propondo uma educao ambiental interdisciplinar que dicotomiza sociedade-natureza, que naturaliza o que histrico, e que se apresenta como apoltica. (COSTA; LOUREIRO, 2015, p. 695).
Da Reis; Farias (2006) nos instigaram: como tratar ento as questes
ambientais com responsabilidade, visando uma mudana de paradigmas? Por que no
oferecer a oportunidade s crianas de resinificarem seus conhecimentos prvios, bem
como de serem sensibilizadas para as questes ambientais por meio de atividades
prazerosas, motivadoras, criativas, nas quais se sintam impelidas a participar?
Enfim, por que no propor o uso do Storytelling, para uma educao ambiental
mais interdisciplinar e politizada com as crianas que tm se relacionado, agora mais
frequentemente, com as Arraias, em meio tal problemtica? Isto, porque, para:
[...] uma histria ser interessante, prender a ateno, conseguir entreter e despertar curiosidade da criana, no necessrio que seja nova para ela, mas que desperte emoes, que sugira solues, que nem sempre sero aparentes, e que fale na linguagem que a criana se encontra. As crianas querem e precisam reviver a fantasia, pois esta propicia imaginar um mundo com outras possibilidades. (LAZIER, 2010, p. 46).
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41
Corroborando ento com a autora e, numa linha mais instigadora, lanou-se mo
de teatrinhos usando fantoches de palitos, contato com exemplares fixados dos
referidos peixes, figuras e historias textuais, com a ajuda das prprias crianas, a fim de
sensibiliz-las quanto aos aspectos ligados ao crescente nmero de acidentes por
Arraias de gua Doce em Porto Nacional, questo diretamente ligada ao paradigma
dominante, portanto, para alm de filosfica e ecolgica, com evidente vis econmico
e poltico.
Outro conceito relevante o qual se faz necessrio um referencial terico para se
prosseguir na proposta deste trabalho o da popularizao da cincia. A evoluo do
processo de popularizao da cincia nos ltimos anos, colocou-a no centro de um rol
de possibilidades educativas que permitem a desmistificao das Arraias de gua Doce
aos olhos do pblico infantil, permitindo-se assim, o uso do Storytelling no contexto da
educao ambiental mais politizada, mais voltada para o social, enfim, mais propensa a,
pelo menos, contemplar-se na discusso, o velho paradigma.
Portanto, o posicionamento aqui adotado corrobora com os estudos de Lima
Jnior et al. (2014), baseado na obra O Capital de Karl Marx, sobre as relaes entre
Cincia, Tecnologia e Sociedade CTS. Nesta perspectiva, vislumbra-se a
alfabetizao cientfica e tecnolgica do estudante para auxilia-lo a construir
conhecimentos, habilidades e valores necessrios para tomar decises responsveis
sobre tais questes na sociedade e atuar na soluo delas.
Logo, o intuito de perseverar a popularizao da cincia na pesquisa-ao
realizada em Porto Nacional, com estudantes do 3 ano do ensino fundamental pblico,
visou ir alm da desmistificao das Arraias gua Doce a partir de argumentos da
cincia pura existente sobre as mesmas; visou tambm, elencar os aspectos relativos
sociedade e a relao desta com a cincia e a tecnologia, que no caso, foi empregada
para a produo de energia hidreltrica, em detrimento de outros motivos que possam
ser alegados.
Alm disso, pretendeu-se no decorrer desta pesquisa-ao ancorar-se nas
proposies de Avenier; Cajaba (2012) de utilizar um quadro metodolgico para
desenvolver e comunicar conhecimento acadmico relevante para a prtica: o modelo
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dialgico. Modelo este que compreende pelo menos cinco etapas sequenciais:
especificar a questo de pesquisa, elaborar o conhecimento prvio das pessoas
envolvidas, desenvolver o conhecimento conceitual, comunicar o conhecimento, e ativar
tal conhecimento.
3 METODOLOGIA
3.1 ASPECTOS GERAIS SOBRE A REA DE ESTUDO
A rea a ser estudada compreendeu o municpio de Porto Nacional, no estado do
Tocantins, Brasil, em rea urbana prxima ao rio Tocantins, fato que facilita o encontro
dos Humanos com as Arraias.
Porto Nacional localiza-se na latitude 104229 Sul e longitude 4825'02" Oeste,
margem direita do rio Tocantins, que em 2001 deu origem ao atual reservatrio do
Lajeado; entre os rios Areia, gua Suja e So Joo. De Acordo com o IBGE (2016),
Porto Nacional possui uma extenso territorial de 4.449,917 Km2 e uma populao
estimada de 52.182, em 2015.
O reservatrio do Lajeado possui 750 Km2 de extenso e compreende sete (7)
municpios, dentre eles o de Porto Nacional. Foi decorrente da construo da Usina
Hidreltrica Lus Eduardo Magalhes, localizando-se sua jusante (Figura 4).
Figura 4: Mapa de localizao do reservatrio do Lajeado; no detalhe, a localizao de
Palmas, capital do TO, distante 64 Km do municpio de Porto Nacional, sentido Sul (DZEDZEJ et al., 2011, p. 5887).
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O ambiente descrito em Porto Nacional corrobora com os fatores descritos no
Captulo 1, que costumam gerar conflitos entre os Seres Humanos e as Arraias de gua
Doce. Sendo assim, pode-se adicionar as seguintes informaes relativas aos usos
mltiplos do reservatrio e seus impactos eminentes:
Os usos mltiplos do reservatrio so diversificados e tornam complexa a gesto dos recursos hdricos. Estes usos mltiplos, que tendem a se diversificar medida que a economia regional se consolida e se fortalece, incluem, no presente e no futuro as seguintes atividades: produo de hidroeletricidade, navegao, recreao, turismo, pesca, aquicultura, irrigao e apoio a atividades agrcolas, abastecimento pblico urbano e rural, atividades extrativas areia e seixos no reservatrio [...] [...] produzem um conjunto diversificado de impactos na bacia hidrogrfica, nos tributrios e na represa, com inmeras conseqncias na qualidade da gua deteriorao da qualidade da gua, florescimentos de espcies de algas indesejveis e nocivas sade humana, perda da biodiversidade e impactos nas atividades de recreao, turismo, pesca e navegao. H perdas econmicas associadas deteriorao da qualidade da gua. (TUNDISI, 2003, p. 2).
Ora, os impactos ambientais afetam diretamente os habitantes do municpio de
Porto Nacional, bem como de sua fauna aqutica, incluindo-se neste contexto, as
Arraias de gua Doce.
Conforme constatado em pesquisa realizada nas imediaes de Porto Nacional
por Santos et al. (2014), utilizando-se a tcnica de amostragem bola de neve
snowball samlpling, a maioria dos acidentes causados por Arraias, no so
notificados, apesar de muito frequentes. De acordo com estes estudos, o no registro
por parte do acidentado nos rgos oficiais de Sade torna a totalizao da quantidade
de ofensas bem difcil de se obter; sendo que, em muitos casos, as pessoas tratam em
casa com remdios caseiros; seja pela falta de um tratamento padro; seja pela
distncia do centro de atendimento.
Isto posto e somando-se ao fato de Porto Nacional sempre ter sido, mesmo
ainda quando antigo Norte Goiano, municpio muito conhecido por belas e visitadas
praias de gua doce, acaba se colocando em destaque quanto relao conflituosa
entre Humanos e Arraias.
Ainda sobre a ocorrncia de acidentes no Tocantins, pode-se dizer que:
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44
Dentre as vrias espcies de arraias de gua doce, as do gnero Potamotrygon so causadoras de um grande nmero de acidentes com seres humanos. No estado do Tocantins, a frequncia dos acidentes alta, muitas sem notificao, variando com a sazonalidade da chuva. No perodo da estiagem, o nmero de acidentes crescente, fator ligado diretamente reduo do volume da gua nos rios e formao de praias de areia, comumente utilizadas por banhistas para lazer, proporcionando, consequentemente, o aumento da probabilidade do encontro de humanos com as arraias. (SANTOS et al., 2014, p. 25).
No Sistema de Informao De Agravos de Notificao SINAN (2016), do
Ministrio da Sade, s possvel obter os valores parciais dos acidentes por Estados,
grandes regies e nacional. Os acidentes por Arraias de gua Doce so registrados
numa opo bem genrica, denominada Acidentes por Animais Peonhentos,
incluindo-se a uma srie de outros tipos de acidentes.
Mesmo diante desta impreciso do SINAN, de acordo com seus registros, entre
2014 e 2015, a incidncia de acidentes por animais peonhentos no Estado do
Tocantins foi maior que em outros Estados da regio Norte do Brasil, contabilizando-se
171 e 165 casos, respectivamente.
3.2 ASPECTOS GERAIS SOBRE O PBLICO ALVO
Em relao delimitao do pblico alvo da presente pesquisa-ao, contou-se
com o apoio da Diretoria Regional Estadual DRE - de Porto Nacional, delimitando-o
num total de 105 crianas, entre 8 e 10 anos de idade; abrangendo cinco (5) turmas do
3 ano do ensino fundamental da educao infantil das trs escolas pblicas estaduais
de Porto Nacional TO, as quais se situam na rea urbana prxima ao reservatrio do
Lajeado e coincidentemente, todas em regime integral.
A escolha do 3 ano do Ensino Fundamental se deu por dois motivos,
basicamente: 1) j possurem certo domnio da lngua portuguesa, uma vez que a
pesquisa depende de leitura, interpretao e escrita por parte das crianas; e 2) devido
ao processo de municipalizao da primeira fase do Ensino Fundamental, ou seja,
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/janeiro/20/2-Incidencia-AnimaisPeconhentos-2000-2015.pdf
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estas se constituam como as turmas de crianas mais jovens na rede pblica estadual
de ensino no momento.
Foram elas: o Colgio Estadual Dom Pedro II, com duas (2) turmas somando 39
crianas; o Colgio Estadual Irm Aspsia, tambm com duas (2) turmas, totalizando 37
alunos; e a Escola Estadual Frei Jos Maria Audrin, que com uma (1) turma de 29
jovens estudantes, conforme representado na Figura 5.
Nos dois primeiros casos, por praticidade e por entender que no afetaria os
resultados, optou-se pela fuso das turmas durante o projeto, ou seja, realizando
ambas as etapas da pesquisa em trs (3) grupos de crianas, um em cada escola.
Figura 5: rea de estudo e localizao das escolas pblicas estaduais situadas na orla urbana de Porto Nacional-TO (GOOGLE EARTH, 2015).
A escolha do referido pblico como alvo da pesquisa foi embasada por
acompanhamentos de casos similares, realizados por Prudente (2013), com pblicos
infantis, que se mostraram mais propensos sensibilizao e Ecosofia descrita por
Guattari (2006).
Prudente (2013), em pesquisa envolvendo a EA em Anpolis, Gois, abordou
como alvo o pblico infantil, pelo fato de estar numa fase cognitiva mais aberta s
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46
atividades sensibilizadoras. Para tanto, usou como pano de fundo a Ecosofia1, ou seja,
como a criana v o outro, como ela se relaciona com o seu semelhante, bem como
com o meio ambiente e at que ponto o bem estar dos seus pares lhe importante.
Deu-se seguimento aos procedimentos necessrios conduo procedimental,
por meio de entrega de pedido formal (Apndice A) s escolas estaduais envolvidas,
uma vez que as etapas metodolgicas a serem realizadas dependiam do planejamento
em conjunto com as mesmas, bem como do consentimento da comunidade escolar,
incluindo o dos pais das crianas.
De acordo com informaes fornecidas pelos diretores das escolas pesquisadas,
a Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigos 5 e 20, no ato da matrcula, o pai ou
responsvel pelo estudante, autoriza a utilizao de sua imagem e/ou udio e escrita
para utilizao em propagandas sem fins lucrativos e/ou pesquisas. Portanto, a figura
do diretor da unidade escolar aceitando o pedido formal, entendeu-se que o restante da
comunidade escolar tambm o fez, evitando-se possveis problemas ticos que possam
ser levantados.
3.3 PROCEDIMENTOS
Quanto caracterizao das etapas procedimentais, o presente trabalho
classificou-se como uma pesquisa-ao, uma vez que se realizou intervenes
concretas Ao; e acompanhou-se/avaliou-se qualitativamente os resultados -
Pesquisa.
Esta modalidade amplamente validada no contexto da educao ambiental e
da popularizao da cincia por Pereira (2012); Thiollent (2011); Almeida; Nunes
(2010); Franco (2005); Engel (2000); dentre inmeros outros autores. Sua adoo
explcita justifica um momento de extenso, mas que ocorreu num contexto de
pesquisa, j que os resultados foram examinados cientificamente.
1 Para Guattari (2006); Prudente (2013), a Ecosofia um campo do conhecimento filosfico sobre o meio ambiente, o que faz parte das concepes de educao ambiental; composta de trs espcies de Ecologia: Mental, baseada na subjetividade humana e na paz do homem com ele mesmo; social, baseada nas relaes sociais e na vontade de estabelecer a paz entre os homens e; ambiental, alicerada na busca por um meio ambiente sadio e na paz entre o ser humano e a natureza.
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Esta modalidade se enquadra no contexto do presente trabalho, quando se
analisa os estudos de Franco (2005). Para a autora, a pesquisa-ao tem suas origens
num contexto de ps-guerra, numa abordagem de pesquisa experimental, de campo.
Em 1950 adquiriu muitas feies fragmentadas e; modificou-se, estruturalmente, a partir
da dcada de 1980, quando absorveu aos seus pressupostos, a perspectiva dialtica, a
partir da incorporao dos fundamentos mais crticos, assumindo como finalidade a
melhoria da prtica educativa docente.
De uma forma genrica, a pesquisa foi qualitativa, uma vez que se diagnosticou
o conhecimento prvio do pblico alvo quanto ao assunto abordado; ou seja, contou
com a subjetividade do pesquisador durante a observao que, ao mesmo tempo,
captou as entrelinhas implcitas nas manifestaes das crianas durante os encontros,
transformando-as em uma histria em quadrinhos, a qual testou-se a receptividade por
parte do mesmo pblico, ao final da pesquisa.
Utilizou-se, portanto, do Storytelling (contao de histrias) tanto no primeiro
momento da pesquisa, em que as crianas criaram e contaram suas prprias histrias
com fantoches de palitos para diagnstico de conhecimento prvio, quanto no ltimo,
em que o pesquisador contou a histria em quadrinhos elaborada a partir do
diagnstico inicial. No conceito no qual se insere a abordagem, ao utilizar-se do
Storytelling:
[...] o narrador reapresenta um conhecimento j existente, reconfigurando o modo como contado, descrito e apresentado, acrescentando aspectos subjetivos que tornem o fato narrado uma linguagem contextualizada, agradvel e simples, procurando aproximar os interlocutores. (FONTANA, 2009, p. 20-21).
De acordo com Borges; Gois; Tatto (2011), a abordagem Storytelling seria um
instrumento para disseminao do conhecimento, pois a interao da narrativa com
seus ouvintes propicia novos insights para o storyteller, ou seja, para o narrador. Isto
significa que as histrias, orais e escritas, nem sempre so fceis de lembrar e
compreender, podendo lembrar-se de pensamentos contribuem para