USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

109
USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO FERRAMENTA PARA A GESTÃO DA SEGURANÇA E DA SAÚDE EM OBRAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Vítor Magno Pereira de Góes Telles Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Prof. Jorge dos Santos Rio de Janeiro Março de 2019

Transcript of USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

Page 1: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO FERRAMENTA PARA A GESTÃO DA SEGURANÇA E DA SAÚDE EM

OBRAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL

Vítor Magno Pereira de Góes Telles

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Prof. Jorge dos Santos

Rio de Janeiro

Março de 2019

Page 2: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO FERRAMENTA PARA A

GESTÃO DA SEGURANÇA E DA SAÚDE EM OBRAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

VÍTOR MAGNO PEREIRA DE GÓES TELLES

PROJETO DE GRADUAÇÃO APRESENTADO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO

GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

_________________________________

Prof. Gilberto Olympio Mota Fialho

_________________________________

Prof. Jorge dos Santos (orientador)

_________________________________

Prof. Wilson Wanderley da Silva

Rio de Janeiro

Março de 2019

Page 3: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

ii

Telles, Vítor Magno Pereira de Góes.

Uso dos requisitos da norma NBR ISO 45001 como

ferramenta para a gestão da segurança e da saúde em

obras da construção civil / Vítor Magno Pereira de Góes

Telles – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola Politécnica, 2019.

98 p.

Orientador: Jorge dos Santos

Projeto de graduação – UFRJ/ Escola Politécnica / Curso de Engenharia Civil, 2019.

Referências bibliográficas: p. 94-98.

1. Considerações Iniciais. 2. Revisão Bibliográfica. 3. Discussão e Resultados. 4. Considerações Finais. 5.

I. Jorge dos Santos. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III. Uso dos requisitos da norma NBR ISO 45001 como ferramenta para a gestão da segurança e saúde em obras da construção civil

Page 4: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Rodolfo e Isabel, e minha irmã, Vitória, que

sempre me apoiaram ao longo de toda a essa caminhada e que, mesmo com dificuldades,

nunca deixaram faltar carinho e atenção. Agradeço por todas as oportunidades que me

proporcionaram e pelo suporte incondicional em minhas decisões. Com vocês aprendi que

mais do que conhecimento, é importante ter caráter, ética e fazer sempre o meu melhor,

independente das circunstâncias.

Aos meus amigos, agradeço pela atenção, carinho e companheirismo pois, mesmo

que muitas vezes estivessem fisicamente distantes, sempre se fizeram presentes em todos

os momentos importantes de minha vida. Agradeço e dedico este trabalho, especialmente,

ao meu grande amigo Gustavo Barud, que me mostrou o verdadeiro sentido de coragem e

perseverança mas que, infelizmente, não está mais entre nós.

Agradeço aos professores e colegas de trabalho por todos os conhecimentos

passados, pelas experiências profissionais e acadêmicas proporcionadas e pelo

compromisso com o aprendizado ao longo desta graduação. Em especial, agradeço ao meu

orientador, Jorge dos Santos, pela paciência, dedicação e por me guiar durante todo o

trabalho.

Page 5: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

iv

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Uso dos requisitos da norma NBR ISO 45001 como ferramenta para a gestão da segurança

e da saúde na construção civil

Vítor Magno Pereira de Góes Telles

Março/2019

Orientador: Jorge dos Santos

Curso: Engenharia Civil

Este trabalho apresenta um conjunto de ferramentas e boas práticas baseadas nos

requisitos da ISO 45001 para o apoio da gestão da segurança e saúde ocupacional. A

elaboração do trabalho se deu através de pesquisa bibliográfica, dividida em três etapas.

Inicialmente, foram identificados os conceitos, as legislações, decretos e normas de

segurança vigentes relativas às atividades da construção civil e as práticas usadas pelo

setor para seu atendimento. Em seguida apresentam-se as certificações e modelos de

conformidade para a SSO, introduzindo a norma OHSAS 18001, seu impacto na indústria,

evolução e posterior substituição. Subsequentemente, apresenta-se a norma NBR ISO

45001, sua metodologia e objetivos, as principais mudanças à certificação anterior, processo

de certificação, seus requisitos e formas de atendimento e seu panorama de aplicação. São

apresentadas 19 ferramentas de gestão e, para cada uma, são descritas as definições,

objetivos, áreas de aplicação e as instruções para implementação, exemplificando seu uso

nas atividades da construção civil e sugerindo modelos de formatação e modificações para

sua adequação a organizações de diferentes portes. A análise mostra que devido ao alto

nível de integração da ISO 45001 com os outros sistemas ISO, a aplicação de ferramentas

de gestão da qualidade e meio ambiente é viável e pode ser tão feita de forma tão

simplificada ou complexa quanto necessário, e que devido às particularidades da indústria

da construção o processo de planejamento, monitoramento e melhoria contínua é essencial

para o sucesso dos SGSSO.

Palavras-chave: Ferramentas de Gestão; Construção Civil; Segurança e Saúde

Ocupacional.

Page 6: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

v

Abstract of Undergraduate Thesis presented do the Polytechnic School/ UFRJ as part of the

requisites for the degree of Civil Engineer

Use of NBR ISO 45001 standard’s requisites as an occupational health and safety

management tool in the construction industry

Vítor Magno Pereira de Góes Telles

Março/2019

Academic Advisor: Jorge dos Santos

Course: Civil Engineering

This work aims presents a set of tools and good practices based on ISO 45001 requisites

that can support occupational health and safety management. This work was developed in a

three-part literature research. Initially, the concepts, laws, ordinances and safety standards

related to construction industry activities were identified, as well as current practices of the

sector. Next, OHS certification and conformity standards are presented, introducing the

OHSAS 18001 standard, its industry impacts, evolution and later substitution. Subsequently,

the ISO 45001 safety standard is introduced, as well as its methodology, objectives, the main

changes from the previous standard, the certification process, requisites, compliance forms

and application context. A total of 19 management tools are presented, each individually

defined, with described objectives, areas of application and implementation instructions, as

well as examples of their use in the construction industry, structure formatting suggestions

and possible modifications for use in organizations of different sizes. The analysis shows that

due to the high integration level between the ISO 45001 and other ISO standards, the

application of quality and environment management tools is viable and can be as simplified

or complex as necessary, and that because of the construction industry’s characteristics, the

planning, monitoring and continuous improvement processes are essential do the success of

the safety management systems.

Keywords: Management Tools; Construction Industry; Occupational Health and Safety.

Page 7: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

vi

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ viii

LISTA DE QUADROS ................................................................................................ ix

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ..................................................................... x

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................. 1

1.1. Apresentação do trabalho .......................................................................................... 1

1.2. Objetivo do trabalho ................................................................................................... 2

1.3. Justificativa do trabalho .............................................................................................. 2

1.4. Metodologia Empregada ............................................................................................ 2

1.5. Conteúdo dos capítulos .............................................................................................. 3

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 4

2.1 Segurança e saúde do trabalho na construção civil – Aspectos gerais ........................ 4

2.1.1. Conceituação ............................................................................................ 4

2.1.2. Legislação ................................................................................................. 4

2.1.3. Normas Técnicas .................................................................................... 11

2.1.4. Acidentes do trabalho ............................................................................. 11

2.2 Norma OHSAS 18001 como base para a edição da ISO 45001 ................................ 13

2.3 Norma NBR ISO 45001 – Contextualização .............................................................. 16

2.3.1. Aspectos gerais ...................................................................................... 16

2.3.2. Principais mudanças ............................................................................... 17

2.3.3. Processo de certificação ......................................................................... 19

2.3.4. Panorama de aplicação .......................................................................... 21

2.4 Norma NBR ISO 45001 – Requisitos ......................................................................... 22

2.4.1. Seção 4 – Contexto da Organização ...................................................... 22

2.4.2. Seção 5 – Liderança e Participação dos Trabalhadores ......................... 23

2.4.3. Seção 6 – Planejamento ......................................................................... 24

2.4.4. Seção 7 – Suporte .................................................................................. 26

2.4.5. Seção 8 – Operação ............................................................................... 27

2.4.6. Seção 9 – Avaliação de desempenho ..................................................... 29

2.4.7. Seção 10 – Melhoria ............................................................................... 30

3. DISCUSSÃO E RESULTADOS ............................................................................ 32

3.1 Ferramentas e técnicas desenvolvidas para atender a ISO 45001 ............................ 32

3.1.1. Generalidades ......................................................................................... 32

3.1.2. Análise SWOT ........................................................................................ 32

3.1.3. Diagrama de Fluxo .................................................................................. 36

3.1.4. Análise de Árvore de Falhas (AAF) ......................................................... 37

3.1.5. Análise Preliminar de Risco (APR) ......................................................... 39

3.1.6. Quadro de Prioridades ............................................................................ 42

3.1.7. Análise de Modos e Efeitos de Falha (FMEA) ........................................ 44

Page 8: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

vii

3.1.8. Planilha de Requisitos Legais ................................................................. 46

3.1.9. Quadro de Responsabilidades ................................................................ 48

3.1.10. Planilha de Treinamentos ..................................................................... 49

3.1.11. Quadro de Aquisições (QA) .................................................................. 51

3.1.12. Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) ......................... 53

3.1.13. Planilha de Documentos ....................................................................... 56

3.1.14. Plano de Atendimento a Emergência (PAE) ......................................... 58

3.1.15. Auditoria Interna .................................................................................... 60

3.1.16. Auditoria Comportamental .................................................................... 65

3.1.17. Quadro de Incidentes ............................................................................ 67

3.1.18. Mapa de Riscos .................................................................................... 69

3.1.19. Quadro de Auditorias ............................................................................ 72

3.1.20. Ficha de Verificação (FV) ...................................................................... 74

3.2 Análise e resultados obtidos na gestão de SST na construção civil........................... 76

3.2.1. Generalidades ......................................................................................... 76

3.2.2. Análise SWOT ........................................................................................ 76

3.2.3. Diagrama de Fluxo .................................................................................. 77

3.2.4. Análise de Árvore de Falhas (AAF) ......................................................... 77

3.2.5. Análise Preliminar de Risco (APR) ......................................................... 78

3.2.6. Quadro de Prioridades ............................................................................ 79

3.2.7. Análise de Modos e Efeitos de Falha (FMEA) ........................................ 80

3.2.8. Planilha de Requisitos Legais ................................................................. 80

3.2.9. Quadro de Responsabilidades ................................................................ 81

3.2.10. Planilha de Treinamentos ..................................................................... 82

3.2.11. Quadro de Aquisições (QA) .................................................................. 83

3.2.12. Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) ......................... 83

3.2.13. Planilha de Documentos ....................................................................... 85

3.2.14. Plano de Atendimento a Emergência (PAE) ......................................... 85

3.2.15. Auditoria Interna .................................................................................... 86

3.2.16. Auditoria Comportamental .................................................................... 87

3.2.17. Quadro de Incidentes ............................................................................ 88

3.2.18. Mapa de Riscos .................................................................................... 88

3.2.19. Quadro de Auditorias ............................................................................ 90

3.2.20. Ficha de Verificação (FV) ...................................................................... 90

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 92

4.1. Críticas e Comentários ............................................................................................. 92

4.2. Recomendações para Futuros Trabalhos. ................................................................ 93

5. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 94

Page 9: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Modelo de SGSSO para a OHSAS 18001..............................................................15

Figura 2: Ciclo PDCA aplicado à ISO 45001..........................................................................17

Figura 3: Matriz SWOT...........................................................................................................32

Figura 4: Aplicação de Matriz SWOT.....................................................................................34

Figura 5: Fluxograma de acidente de trabalho.......................................................................36

Figura 6: Árvore de Falhas simplificada de um incêndio........................................................38

Figura 7: Escala de urgência..................................................................................................43

Figura 8: PAE de vazamento de substância inflamável.........................................................60

Figura 9: Definição do processo de Auditoria Interna.............................................................62

Figura 10: Execução da Auditoria Comportamental...............................................................66

Figura 11: Ficha de Verificação para Auditoria Comportamental...........................................67

Figura 12: Processo de elaboração do mapa de riscos tradicional........................................70

Figura 13: Mapa de riscos tradicional.....................................................................................70

Figura 14: Processo de elaboração do mapa de riscos temporal..........................................71

Figura 15: Mapa de riscos temporal.......................................................................................72

Figura 16: Modelo de Ficha de Verificação de requisitos da NR-18......................................75

Page 10: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

ix

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Normas técnicas de Saúde e Segurança Ocupacional.........................................11

Quadro 2: Aplicação do Quadro de Responsabilidades à Análise SWOT.............................35

Quadro 3: Planilha de Análise Preliminar de Riscos..............................................................40

Quadro 4: Aplicação da Análise Preliminar de Riscos...........................................................41

Quadro 5: Quadro de Prioridades...........................................................................................42

Quadro 6: Aplicação do Quadro de Prioridades.....................................................................44

Quadro 7: Análise de Modos e Efeitos de Falha....................................................................44

Quadro 8: Aplicação da Análise de Modos e Efeitos de Falha...............................................45

Quadro 9: Planilha de Requisitos Legais................................................................................46

Quadro 10: Aplicação da Planilha de Requisitos Legais........................................................47

Quadro 11: Quadro de Responsabilidades............................................................................48

Quadro 12: Aplicação do Quadro de Responsabilidades.......................................................49

Quadro 13: Planilha de Treinamentos....................................................................................50

Quadro 14: Aplicação da Planilha de Treinamentos..............................................................50

Quadro 15: Quadro de Aquisições.........................................................................................51

Quadro 16: Aplicação do Quadro de Aquisições....................................................................52

Quadro 17: Relação das subatividades da ICC......................................................................55

Quadro 18: Número de membros da CIPA por atividade e número de empregados.............55

Quadro 19: Planilha de Documentos......................................................................................56

Quadro 20: Aplicação da Planilha de Documentos................................................................57

Quadro 21: Quadro de Incidentes..........................................................................................67

Quadro 22: Aplicação do Quadro de Incidentes.....................................................................68

Quadro 23: Quadro de Auditorias...........................................................................................72

Quadro 24: Aplicação do Quadro de Auditorias.....................................................................73

Page 11: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

x

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

APR – Análise Preliminar de Risco

BSI – British Standards Institute

CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

DDS – Dialogo Diário de Segurança

FMEA – Failure Mode and Effect Analysis

FV – Ficha de Verificação

HLS –High Level Structure

IAF –International Accreditation Forum

ICC – Indústria da Construção Civil

INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia

ISO –International Organization for Standardization

MTE – Ministério do Trabalho e do Emprego

NBR – Norma Brasileira

NR – Norma Regulamentadora

OHSAS – Occupational Health and Safety Assessment Series

PAE – Programa de Atendimento à Emergência

PCMAT – Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção

PPRA – Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais

PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

SBC – Sistema Brasileiro de Certificação

SESMT – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho

SINDUSCON – Sindicato da Indústria da Construção

SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade

SGSSO – Sistema de Gestão da Saúde e Segurança Ocupacional

SSO – Segurança e Saúde Ocupacional

SWOT –Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats

TST – Tribunal Superior do Trabalho

Page 12: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1.1. Apresentação do trabalho

O crescente número de artigos e trabalhos publicados e legislações cada vez mais

restritivas mostra que a importância que a Saúde e Segurança Ocupacional (SSO) tem

ganhado no cenário mundial. Segundo Benite (2004), cada vez mais é necessário que as

empresas demonstrem, não só competitividade econômica, mas sua ética e

responsabilidade com a segurança de seus empregados, do entorno e do meio ambiente.

Para Choe e Leite (2017a), a melhor forma de realizar a gestão de SSO é atuar

preventivamente, no entanto, a construção civil apresenta um dos piores históricos de SSO

dentre todos os setores da indústria (BENITE, 2004; CHOE; LEITE, 2017a).

Diversos autores atribuem esse comportamento a um conjunto de características

específicas da construção civil. Contrário aos outros setores da indústria, a ICC não possui

locais de trabalho fixos e seus processos raramente são padronizados, sendo comum

encontrar grandes variações de empresa para empresa. Além disso, os projetos e

especificações são únicos à cada empreendimento realizado, sendo necessário que os

métodos construtivos sejam adaptados não só às particularidades do empreendimento, mas

também à tecnologia e mão de obra disponíveis e às condições físicas do local onde o

canteiro de obras é instalado. Tem-se como exemplo dessas variáveis as diferenças de

prazo e orçamentos entre projetos, as características climáticas, meteorológicas, e do solo

local, disponibilidade de maquinário, facilidade de acesso, entre outros (ARAUJO, 2002;

BENITE, 2004; CHOE; LEITE, 2017a; COSTELLA et al, 2014).

Além destes, Santiago (2018) aponta também para um número de problemas

relacionados às pessoas empregadas pela indústria. De um lado da hierarquia, observa-se

os gestores em uma constante busca por eficiência e redução de gastos que, por conta

disso, acabam por contratar serviços em função dos menores custos, comumente

resultando no emprego de profissionais pouco qualificados que emitem documentos apenas

para fins legais. Já no outro extremo da hierarquia tem-se a mão de obra de baixo nível de

instrução que desconhece a legislação e, frequentemente devido a fatores culturais e

socioeconômicos, não dão a devida importância às medidas preventivas e de segurança.

Assim observa-se o cenário atual vivido pelo setor, principalmente no Brasil, onde

frequentemente são empregadas medidas de prevenção e controle de riscos ineficientes

que aliados aos escassos treinamentos e sensibilizações resultam no grande número de

acidentes noticiados pelos meios de comunicação e apresentados na literatura publicada.

Page 13: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

2

1.2. Objetivo do trabalho

Este trabalho visa apresentar um conjunto de ferramentas baseadas nos requisitos da

norma NBR ISO 45001, nas práticas utilizadas pelo mercado para atendimento de requisitos

legais e normativos, na literatura publicada, bem como nas práticas utilizadas nas demais

áreas da gestão que possam auxiliar no gerenciamento da saúde e segurança ocupacional

na construção civil. Cada ferramenta listada será definida, sendo apresentados os objetivos

e aplicabilidade, bem como exemplos específicos à construção civil, destacando as

características, vantagens e desafios associados ao seu uso.

1.3. Justificativa do trabalho

Apesar de jovem, datando de 1977, a legislação brasileira de SSO apresenta um

grande número de regulamentos e requisitos de segurança. No entanto, a indústria da

construção brasileira ainda é vista como um dos setores mais perigosos, marcado por

acidentes de trabalho e liderando o ranking de acidentes com morte. Segundo o Tribunal

Superior do Trabalho (2018), somente em 2010 o número de acidentes foi de 54.664, dos

quais 66% são considerados “acidentes típicos”, como quedas em altura (apontada como a

causa mais comum de lesões e morte).

Apesar desses dados e da construção civil empregar um modelo produtivo centrado

em pessoas, o tema ainda é pouco discutido nas instituições de ensino, sendo comum

encontrar no mercado profissionais gerenciais pouco fluentes e sensibilizados quanto ao

assunto. Estes agravantes puderam ser observados durante as obras de infraestrutura

realizadas no país para a Copa do Mundo de futebol e Olimpíada, marcadas por acidentes

de trabalho, no rompimento da barragem na cidade de Mariana e, mais recentemente, em

Brumadinho (PASSARINHO, 2019).

Tais acontecimentos demonstram o despreparo dos profissionais e do setor como um

todo com relação ao gerenciamento de riscos e da segurança dos seus empregados, da

população e do meio ambiente. Devido a este panorama, escolheu-se o tema buscando

obter um conjunto de boas práticas que possa auxiliar na gestão da segurança ocupacional,

visando a prevenção de riscos e mitigação de seus impactos.

1.4. Metodologia Empregada

Para que os objetivos almejados pudessem ser alcançados, em um primeiro momento

o tema de segurança ocupacional foi estudado de maneira mais abrangente, visando um

melhor entendimento sobre o assunto e sua disseminação na indústria.

Consolidadas as informações principais, deu-se início à pesquisa bibliográfica, onde

foram identificados os conceitos, as legislações, decretos e normas de segurança vigentes

Page 14: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

3

relativas às atividades da construção civil e as práticas usadas pelo setor para seu

atendimento. Em seguida foram estudados os modelos de conformidade, sua aplicação no

cenário brasileiro e evolução até o padrão atual das certificações e sistemas de gestão

utilizados, analisando seus requisitos, desafios e benefícios associados.

Por fim, de posse dessas informações desenvolveu-se, a partir da literatura publicada,

das práticas de mercado e dos requisitos normativos, um conjunto de ferramentas para

auxiliar na gestão da saúde e segurança ocupacional

1.5. Conteúdo dos capítulos

O primeiro capítulo tem caráter introdutório, trazendo a importância do tema, as

dificuldades no gerenciamento da saúde e segurança ocupacional enfrentadas pela indústria

da construção civil e o panorama nacional de acidentes. São apresentados a metodologia

empregada e os objetivos do trabalho.

O segundo capítulo apresenta a revisão bibliográfica dos conceitos e definições

necessários ao desenvolvimento deste estudo, discorrendo sobre a legislação de segurança

e requisitos normativos vigentes no Brasil que regulam as atividades da construção civil.

Introduz-se o conceito de modelo de conformidade, a certificação OHSAS 18001, sua

evolução e posterior substituição. Em seguida, apresenta-se a norma ISO 45001 e sua

metodologia, descrevendo as principais mudanças em relação à certificação anterior, o

processo de certificação e panorama de aplicação, seus requisitos e formas de

cumprimento.

A partir das informações levantadas, o terceiro capítulo traz um conjunto de

ferramentas, técnicas e boas práticas que podem auxiliar nos sistemas e na gestão da

saúde e segurança ocupacional da construção civil, apresentando individualmente suas

definições, objetivos, aplicações, metodologia para implantação e benefícios associados.

Para cada ferramenta listada são sugeridos modelos de formatação e elaboração, exemplos

aplicados à construção civil e possíveis modificações que possam auxiliar sua utilização em

organizações com diferentes características.

Finalmente, no quarto capítulo são apresentadas as críticas e comentários

relacionados ao trabalho, as lições aprendidas quando da elaboração do mesmo e

recomendações para estudos futuros.

Page 15: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

4

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Segurança e saúde do trabalho na construção civil – Aspectos gerais

2.1.1. Conceituação

Define-se segurança no trabalho como um conjunto de medidas empregadas para a

prevenção de acidentes, sejam elas médicas, psicológicas, técnicas ou educacionais,

visando a eliminação das condições inseguras e a instrução das pessoas para sua

implantação no ambiente de trabalho (ZÓCCHIO, 2002).

A Organização Mundial da Saúde (1946, p. 1) define como saúde o “Estado de

completo bem-estar físico, mental e social e não a simples ausência de doença e

enfermidade”. A integração entre os estados social, físico e mental permite uma análise

mais abrangente sobre as condições de saúde e trabalho, permitindo a associação de

doenças psicológicas e psicossomáticas aos fatores sociais e estresse (SANTIAGO, 2018).

A legislação brasileira faz uso do termo Saúde e Segurança no Trabalho (SST) nas

diversas normas, leis, decretos e outros instrumentos afins. No entanto, exceto quando da

citação de texto legislativo, será adotado o conceito equivalente de Saúde e Segurança

Ocupacional (SSO) utilizado pelas normas ISO para os objetivos deste trabalho, a fim de

facilitar a associação com os requisitos da certificação.

2.1.2. Legislação

A lei 8.080/1990 (BRASIL, 1990) regulamenta as condições da promoção, proteção e

recuperação da saúde às pessoas que exercem atividades de caráter permanente ou

eventual, posteriormente modificada em 2013 pela lei de número 12.864/2013. A alteração

do art. 3º torna formal o caráter condicionante e decisório da atividade física na saúde.

“Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do

País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a

alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho,

a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos

bens e serviços essenciais” (BRASIL, 2013, p. 1)

No Brasil, a saúde e segurança ocupacional é regida por um conjunto de trinta e seis

Normas Regulamentadoras (NR) que, em conjunto, abrangem as diferentes áreas da

indústria e do trabalho, assim como situações específicas (MINISTÉRIO DO TRABALHO,

2018a). As NRs são de caráter mandatório, devendo ser atendidas pelas diversas

instituições públicas e privadas, pelos órgãos da administração pública e dos Poderes

Legislativo e Judiciário que empreguem pessoas em regime CLT (Consolidação das Leis do

Trabalho).

Page 16: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

5

NR-1 - Disposições Gerais

NR-2 - Inspeção Prévia

NR-3 - Embargo e Interdição

NR-4 - Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT

NR-5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes- CIPA

NR-6 - Equipamento de Proteção Individual - EPI

NR-7 - Exames Médicos

NR-8 - Edificações

NR-9 - Riscos Ambientais

NR-10 - Instalações e Serviços de Eletricidade

NR-11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais

NR-12 - Máquinas e Equipamentos

NR-13 - Vasos Sob Pressão

NR-14 - Fornos

NR-15 - Atividades e Operações Insalubres

NR-16 - Atividades e Operações Perigosas

NR-17 - Ergonomia

NR-18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção

NR-19 - Explosivos

NR-20 - Combustíveis Líquidos e Inflamáveis

NR-21 - Trabalhos a Céu Aberto

NR-22- Trabalhos Subterrâneos

NR-23 - Proteção Contra Incêndios

NR-24 - Condições Sanitárias dos Locais de Trabalho

NR-25 - Resíduos Industriais

NR-26 - Sinalização de Segurança

NR-27 - Registro de Profissionais

NR-28 - Fiscalização e Penalidades

Page 17: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

6

NR-29 - Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário

NR-30 - Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário

NR-31 - Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura,

Exploração Florestal e Aquicultura

NR-32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde

NR-33 - Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados

NR-34 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e

Reparação Naval

NR-35 - Trabalho em Altura

NR-36 – Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de

Carnes e Derivados

A indústria da construção tem suas atividades regidas, inicialmente, pela NR-18, que

apresenta diversas diretrizes de caráter administrativo, organizacional e de planejamento

para a implantação de sistemas e medidas preventivas e de controle da SSO no ambiente

de trabalho, suas condições e processos produtivos associados (MINISTÉRIO DO

TRABALHO, 2018b). Segundo o item 18.1.2 da NR-18, são consideradas como atividades

da ICC:

“as constantes do Quadro I, Código da Atividade Específica, da NR 4

- Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do

Trabalho e as atividades e serviços de demolição, reparo, pintura, limpeza e

manutenção de edifícios em geral, de qualquer número de pavimentos ou

tipo de construção, inclusive manutenção de obras de urbanização e

paisagismo.”

O Quadro I da NR-4 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2016a), mencionado no segmento

anterior, apresenta os serviços e atividades dos diferentes setores da indústria e comércio.

As entradas referentes à construção civil são encontrados no item F do quadro, sendo:

Construção de Edifícios:

a) Incorporação de empreendimentos imobiliários

b) Construção de edifícios

Obras de Infraestrutura:

c) Construção de rodovias e ferrovias

d) Construção de obras-de-arte especiais

Page 18: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

7

e) Obras de urbanização - ruas, praças e calçadas

f) Obras para geração e distribuição de energia elétrica e para telecomunicações

g) Construção de redes de abastecimento de água, coleta de esgoto e

construções correlatas

h) Construção de redes de transportes por dutos, exceto para água e esgoto

i) Obras portuárias, marítimas e fluviais

j) Montagem de instalações industriais e de estruturas metálicas

k) Obras de engenharia civil não especificadas anteriormente

Serviços Especializados para Construção:

l) Demolição e preparação de canteiros de obras

m) Perfurações e sondagens

n) Obras de terraplenagem

o) Serviços de preparação do terreno não especificados anteriormente

p) Instalações elétricas

q) Instalações hidráulicas, de sistemas de ventilação e refrigeração

r) Obras de instalações em construções não especificadas anteriormente

s) Obras de acabamento

t) Obras de fundações

u) Serviços especializados para construção não especificados anteriormente

Deve-se devotar especial atenção para os casos em que a NR-18 faz referência a

outras NRs, quando a atividade em questão abrange outras áreas, tornando mandatórias as

exigências dessas outras normas. Por exemplo, o item 18.6.16, referente à execução de

fundações e escavações sob ar comprimido remete à NR-15 (Atividades e Operações

Insalubres), já o item 18.14.11, que trata do levantamento manual de cargas, cita a NR-17

(Ergonomia). Devem também ser observadas as instâncias em que a NR-18 modifica os

requisitos de outras normas regulamentadoras, como no item 18.33, que altera e apresenta

condições adicionais às previstas na NR-5 (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes)

no âmbito da construção civil (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2018b).

As diretrizes da NR-18 tratam não só das instalações físicas dos canteiros de obras,

mas também das documentações, e seus respectivos prazos e validades, e dos

Page 19: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

8

treinamentos de mão de obra. Deve-se atentar também para os casos em que a atividade a

ser executada se enquadra em outra NR, mesmo que estas não sejam citadas diretamente

no corpo da NR-18 – por exemplo, quando da execução de serviços em altura ou da

utilização de maquinário ou equipamento mecânico, regidos pela NR-35 e NR-12,

respectivamente.

As disposições da NR-18 devem ser implementados através do Programa de

Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), de

elaboração compulsória para os estabelecimentos com 20 ou mais trabalhadores. O PCMAT

pode ser visto como um conjunto de medidas preventivas de SSO cuja função é a

preservação da integridade física dos trabalhadores da construção civil (DA SILVA, 2015).

O PCMAT deve ser elaborado por profissional legalmente qualificado na área de

segurança e mantido no estabelecimento ao qual é referente. De acordo com o item 18.3.4

da NR-18 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2018b), o Programa deve conter:

a) Memorial sobre condições e meio ambiente de trabalho nas atividades e

operações, levando-se em consideração riscos de acidentes e de doenças do

trabalho e suas respectivas medidas preventivas;

b) Projeto de execução das proteções coletivas em conformidade com as etapas

de execução da obra;

c) Especificação técnica das proteções coletivas e individuais a serem utilizadas;

d) Cronograma de implantação das medidas preventivas definidas no PCMAT em

conformidade com as etapas de execução da obra;

e) Layout inicial e atualizado do canteiro de obras e/ou frente de trabalho,

contemplando, inclusive, previsão de dimensionamento das áreas de vivência;

f) Programa educativo contemplando a temática de prevenção de acidentes e

doenças do trabalho, com sua carga horária.

De acordo com da Silva (2015), o PCMAT é formulado em cinco etapas. A primeira

consiste da análise dos projetos referentes ao empreendimento, e visa identificar os

processos produtivos a serem utilizados durante a construção, englobando os métodos,

instalações, equipamentos e outros elementos necessários para tal.

Em seguida, deve-se vistoriar o local de instalação do empreendimento, analisando as

condições presentes e complementando a análise realizada – a etapa se mostra importante

pois permite identificar situações específicas ao local, como a necessidade de escavações

ou outros condicionantes ambientais.

Page 20: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

9

De posse destes dados, deve-se identificar as condições de trabalho associadas e

realizar a análise de riscos, que por sua vez provém as informações necessárias para o

traçado e implantação das medidas de controle necessárias.

Durante a quarta etapa elabora-se o documento base do PCMAT. As informações

coletadas devem ser registradas, definindo as fases do processo construtivo e as

instalações e medidas necessárias ao controle, mitigação e eliminação dos riscos

identificados.

Finalmente, implementam-se o PCMAT e as medidas nele descritas. O Programa deve

ser atualizado e detalhado para refletir as atividades a serem executadas e as mudanças

que podem ocorrer ao longo do processo construtivo.

Fica disposto no item 18.3.1.1 da NR-18 que o PCMAT deve seguir às disposições

contidas na NR-9, que trata do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), cuja

função é, segundo o item 9.1 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2017):

“preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através

da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da

ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no

ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente

e dos recursos naturais.”

Nele são detalhados os setores de trabalho da organização, as instalações, maquinas

presentes e ferramental utilizado, descritas as atividades e funções desempenhadas pelos

colaboradores expostos aos riscos, bem como as medidas preventivas e controladoras de

riscos existentes, o reconhecimento e avaliações dos riscos ambientais existentes (DA

SILVA, 2015).

A NR-9, no item 9.1.5, define como riscos ambientais “os agentes físicos, químicos e

biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza,

concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde

do trabalhador” (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2017). São considerados como agentes

físicos os ruídos, vibrações, temperaturas extremas, vibrações anormais, radiações

(ionizantes ou não), infrassom e ultrassom. Como agentes químicos, consideram-se as

substâncias, compostos ou produtos passíveis de absorção por via respiratória, tais como

poeiras, fumos, neblinas, névoas, vapores ou gases, ou ainda aquelas que, devido o tipo de

exposição, possam ser absorvidas pela pele ou ingestão. Finalmente, como agentes

biológicos são listados os bacilos, fungos, bactérias, vírus parasitas, protozoários e outras

formas afins (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2017).

Page 21: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

10

Na NR-18 também são apresentados requisitos relativos à formação da Comissão

Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Estes requisitos possuem caráter compulsório

para as organizações da ICC, complementando aquilo descrito na NR-5. O requisito torna

obrigatória a formação de CIPA para as organizações do setor que possuam, na mesma

cidade, um ou mais canteiros de obra (ou frentes de trabalho), devendo ser centralizada

quando empregarem menos de 70 trabalhadoras ou uma Comissão para cada frente, caso

este limite for excedido. Ficam isentos de formar a Comissão os canteiros cuja duração das

operações não excedam 180 dias, exceto quando enquadrados na situação anterior

(MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2018b).

Segundo o item 5.1 da NR-5 (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2011) a CIPA tem por

finalidade “a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar

compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde

do trabalhador”. A formação da Comissão e os benefícios associados são descritos em

detalhe nos itens 3.1.11 e 3.2.11 deste trabalho, respectivamente.

Destaca-se que quando do estudo legislativo, deve ser devotada especial atenção

para as atividades que serão desempenhadas pela organização no empreendimento ou

projeto, pois é possível que um conjunto de normas regulamentadoras sejam aplicáveis. Por

exemplo, a NR-35 – Trabalho em Altura, que fixa “os requisitos mínimos e as medidas de

proteção para o trabalho em altura, envolvendo o planejamento, a organização e a

execução, de forma a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores envolvidos direta ou

indiretamente com esta atividade” (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2016b, item 35.1.1), é de

especial importância para a ICC (SANTIAGO, 2018), uma vez que grande parte das

atividades do setor são englobadas por ela – segundo o item 35.1.2, são considerados

trabalhos em altura as atividades exercidas a mais de 2,00m do nível inferior, passível de

risco de queda (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2016b).

Também ficam definidas na NR-18 as obrigações dos empregadores e empregados.

Cabe ao primeiro elaborar as análises de risco dos serviços e atividades a serem

desempenhados e emitir as permissões de trabalho (conforme necessário), bem como

traçar e implementar os procedimentos e dispositivos de segurança, incluindo a aprovação,

supervisão e suspensão dos serviços, visando a segurança de todos. Já os trabalhadores

devem com as determinações estabelecidas pelo empregador e pela legislação vigente,

zelar pela própria segurança e pela de terceiros que possam ser impactados por suas

ações, incluindo a interrupção das atividades caso as condições locais ponham em risco a

sua saúde ou a de outros (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2016b).

Page 22: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

11

2.1.3. Normas Técnicas

As atividades da construção civil também são regulamentadas pelas Normas

Brasileiras (NBR), publicadas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). O

estudo realizado por Santiago (2018) apresenta um conjunto de NBRs pertinentes à ICC,

conforme publicação no Catálogo de Normas Técnicas de Edificações do Sindicato da

Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (SINDUSCON-MG, 2017). O estudo destaca,

no entanto, que em contraste às NRs e leis, que tem caráter mandatório e são cabíveis de

multa, quando do seu descumprimento, as NBRs funcionam como um conjunto mínimo de

recomendações ou boas práticas – a exceção se dá quando uma NBR é citada em leis,

decretos ou em NRs, tendo, neste caso, caráter compulsório sujeito às mesmas penalidades

citadas. O Quadro 1 apresenta algumas das normas brasileiras inerentes a saúde e

segurança ocupacional.

Norma Título Ano

NBR 6469 Segurança nos Andaimes 1990

NBR 7195 Cores para Segurança 1995

NBR 7678 Segurança na execução de obras e serviços de contrução 1983

NBR 12284 Áreas de Vivência em Canteiros de Obras - Procedimento 1991

NBR 12543 Equipamentos de Proteção Respiratória - Terminologia 1999

NBR 14280 Cadastro de Acidente do Trabalho 2001

NBR NM 213-2 Segurança de Máquinas - Conceitos fundamentais, princípios gerais de projeto - Princípios técnicos e especificações

2000

NBR 15595 Acesso por corda - Procedimento para aplicação do método 2016

NBR 16577 Espaço Confinado - Prevenção de acidentes, procedimentos e medidas de proteção

2017

Quadro 1: Normas técnicas de Saúde e Segurança Ocupacional

Fonte: Autor

2.1.4. Acidentes do trabalho

A lei 8.213/1991 – lei geral da Previdência Social (BRASIL, 1991), define acidente de

trabalho, em seu artigo 19, como aquele:

“que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de

empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados

referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão corporal ou

perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução,

permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.”

Segundo o Ministério do Trabalho (2015), também são considerados acidentes de

trabalho aqueles ocorridos ao longo do trajeto entre a residência e local de trabalho do

Page 23: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

12

segurado, as doenças de trabalho provocadas ou adquiridas pela realização do trabalho ou

atividade ou ainda aquelas desencadeadas por condições específicas intrínsecas à

atividade ou diretamente relacionadas a ela. Entretanto, não são consideradas doenças de

trabalho as doenças específicas a determinado grupo etário, doenças degenerativas,

aquelas que não comprometam a capacidade laboral do segurado e as de caráter endêmico

– salvo quando comprovado que a contração é resultante da exposição ou contato direto

devido à natureza do trabalho.

São equiparados aos acidentes de trabalho aqueles ligados ao trabalho que, mesmo

não sendo causa única, tenham contribuído diretamente à morte do segurado, à redução ou

perda de sua capacidade laboral, ou causado danos que exijam tratamento médico para

recuperação; os sofridos no horário e local de trabalho por conta de atos de terrorismo,

agressão ou sabotagem cometidos por outros profissionais ou terceiros, ofensas físicas

intencionais devido a disputas de trabalho, atos imprudentes, de imperícia ou negligentes de

profissionais ou terceiros, bem como atos de pessoas privadas do uso da razão,

inundações, desabamentos, incêndios ou eventos fortuitos de força maior; as doenças

oriundas de contaminação acidental do segurado durante o exercício da profissão; e ainda

aqueles sofridos fora do horário e local de trabalho, quando da realização de atividades para

ou sob autoridade da empresa, cumprimento de ordem ou prestação de serviço para

benefício para frutos da empresa, e também durante viagens e cursos de capacitação

financiados pela empresa (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2015).

A NBR ISO 45001 (ISO, 2018a) estabelece um conjunto de termos importantes para a

definição de acidente de trabalho, sendo:

a) Lesões e problemas de saúde: “efeito adverso sobre a condição física, mental

ou cognitiva de uma pessoa (...) incluindo doença ocupacional, problema de

saúde e morte” (ISO, 2018a, p. 5).

b) Perigo: “fonte com potencial para causar lesões e problemas de saúde (...)

danos ou situações perigosas, ou circunstâncias com potencial de exposição”

(ISO, 2018a, p. 5)

c) Incidente: “ocorrência decorrente, ou no decorrer, de um trabalho, que pode

resultar em lesões e problemas de saúde” (ISO, 2018a, p. 8).

A partir desses termos, a ISO 45001 define como acidente os incidentes em que

ocorrem lesões e problemas de saúde, e como quase acidente (também referidos como

quase perda ou ocorrência perigosa) aqueles onde não ocorrem lesões e problemas de

saúde, mas existe potencial de ocorrência (ISO, 2018a).

Page 24: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

13

Fica prevista, conforme a legislação previdenciária (lei 8.213/1991), a emissão da

Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) quando da ocorrência de acidentes ou da

comprovação de doença de trabalho. A não notificação do acidente ou doença constitui

crime segundo o art. 269 do Código Penal (BRASIL, 1940, 1991).

No estudo desenvolvido por Silva e Mendonça (2012) foram identificadas as práticas

de SSO empregadas no tratamento de incidentes e acidentes de trabalho por uma empresa

de construção de edifícios de grande porte, situada na cidade de Maceió. Segundo o estudo,

a empresa já possui metodologia de ação estabelecida para eventuais acidentes.

Quando da ocorrência de acidentes, paralisa-se a produção e acionam-se a CIPA e os

trabalhadores próximos ao local do acidente para identificar as possíveis causas e fatores

agravantes, produzindo um plano de prevenção para o mesmo quando necessário. Os

danos causados pelo acidente são classificados em leves ou graves. No primeiro caso, os

acidentados são conduzidos a uma empresa terceirizada responsável pelo monitoramento

da saúde dos trabalhadores, já no segundo, estes são encaminhados para hospitais

públicos de emergência ou conveniados (SILVA e MENDONÇA, 2012).

Durante o estudo foi constatado que a maior parte dos acidentes relatados ocorreram

por falha humana, por isso, logo após a ocorrência, o técnico de segurança presente no

local entrevista, de forma simples e particular, o funcionário acidentado – o diálogo busca

obter informações mais precisas sobre as causas do acidente, abordando não só as

questões intrínsecas ao entorno como também possíveis fatores socioeconômicos que

possam ter influenciado o trabalhador a se expor ao risco. O estudo de Silva e Mendonça

(2012) concluiu que a etapa da execução da estrutura concentra o maior número de

acidentes identificados nas obras.

2.2 Norma OHSAS 18001 como base para a edição da ISO 45001

De acordo com o INMETRO (2017), as certificações funcionam como um indicador ao

público alvo de que o processo, produto, serviço ou sistema fornecido pela empresa atende

a um grupo de requisitos mínimos de qualidade. As certificações e modelos conformidade

incentivam a busca por melhoria contínua, através de benefícios associados ao aumento da

qualidade dos serviços e produtos, melhoria da produtividade e competitividade. A

certificação da OHSAS 18001 não é acreditada pelo INMETRO, em contraste às

certificações ISO, mas é reconhecida internacionalmente como referência para SGSSO

(FERNÁNDEZ-MUÑIZ et al, 2012).

As certificações de conformidade são segmentadas em dois tipos pelo INMETRO

(2017). O primeiro corresponde às certificações compulsórias, que são um tipo de serviço

prestado aos órgãos regulamentadores oficiais da união pelo SBC, englobando questões de

Page 25: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

14

segurança e de interesse da população, proteção da saúde, animais, vegetais, meio

ambiente e afins. O segundo grupo trata das certificações voluntárias, cujo objetivo é atestar

que os processos, serviços, produtos ou sistemas do solicitante estão em conformidade com

os requisitos de normas reconhecidas pelo SINMETRO (Sistema Nacional de Metrologia,

Normalização e Qualidade Industrial).

A Série de Avaliação da Saúde e Segurança no Trabalho (OHSAS) compreende as

normas OHSAS 18001 e 18002, que trazem os requisitos e diretrizes de implantação,

respectivamente, e é uma certificação voluntária internacionalmente reconhecida (BSI,

2007).

O objetivo primário da norma é oferecer às organizações um conjunto compreensivo

de elementos de um SGSSO eficaz que possa ser integrado a outros requisitos e sistemas

de gestão existentes ou planejados, através da especificação de “requisitos para um sistema

de gestão da SST que permita à organização desenvolver e implementar uma política e

objetivos, tendo em consideração requisitos legais e informação sobre riscos para a SST”

(BSI, 2007, p. v).

As seções da norma podem ser descritas de forma simplificada de acordo com as

quatro etapas do ciclo PDCA (Planejar-Executar-Verificar-Agir) no qual sua metodologia é

baseada, conforme ilustrado na Figura 1. A etapa de planejamento trata do traçado dos

processos, objetivos e ferramentas necessários em conjunto com a política de SSO da

organização, para que os resultados pretendidos possam ser alcançados. Durante a fase de

execução, deve-se implementar os elementos definidos anteriormente, coletando dados e

informações sobre os processos executados. Na etapa de verificação os dados coletados

devem ser avaliados de acordo com as metodologias, métricas e objetivos estabelecidos

para os processos e com a política de SSO e requisitos legais aplicáveis, apresentando os

resultados encontrados – através destes, devem ser propostas as medidas corretivas e

potencializadoras pertinentes. Finalmente, na etapa de ação, devem ser implantadas as

ações e medidas definidas durante a análise crítica pela direção visando a melhoria

contínua do SGSSO.

Page 26: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

15

Figura 1. Modelo de SGSSO para a OHSAS 18.001

Fonte: MOREIRA e PACHECHO (2017, p. 3)

De acordo com Conde (2003) o SGSSO proposto pela norma contém os elementos

essenciais ao gerenciamento dos processos e atividades da organização e, por isso, permite

sua aplicação em qualquer atividade industrial ou de serviços. Conde (2003) aponta,

adicionalmente, para a equivalência do modelo de gestão OHSAS para aquele proposto na

ISO 14001 – a única diferença sendo no seu enfoque. Enquanto a norma de segurança atua

nos efeitos internos à organização (acidentes, ocorrências perigosas, etc.), modelo da

norma ISO age nos efeitos externos das atividades da organização, como impactos

ambientais.

Oficialmente publicada em 1999 pelo BSI (British Standards Institution), a OHSAS

18001 foi elaborada por um conjunto de organizações internacionais que somavam, à

época, 80% dos organismos certificadores do mercado (ARAUJO, 2002). A certificação foi

concebida como forma de atender à crescente demanda por uma norma regente aos

SGSSO, perante a qual as organizações pudessem ser avaliadas e certificadas (BSI, 2007).

O código foi desenvolvido em conformidade com os sistemas de gestão ISO 9001 e

14001, para facilitar a integração entre os três modelos, caso desejado (BSI, 2007). Os

requisitos trazidos pela norma permitem o controle efetivo dos riscos da organização,

associando a política de segurança à definição de responsabilidades e realização de

extensos treinamentos e monitoramento das ações (COSTELLA, 2008).

A atualização da norma, trazida em 2007, apresentou mudanças para o texto original,

enfatizando as ações voltadas à saúde do trabalhador e empregando medidas para

melhorar o alinhamento e compatibilidade com as normas ISO 14001:2004 e ISO

9001:2000. Uma das principais mudanças identificadas foi em sua titulação. A primeira

Page 27: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

16

versão da OHSAS apresentava o modelo de conformidade como documento ou

especificação, no entanto, devido à sua grande disseminação no mercado e citação de seus

elementos em outros códigos internacionais, a OHSAS 18001:2007 passou a ser referida

como norma. A revisão trouxe modificações aos conceitos já empregados– como dano,

incidente, acidente, perigo e local de trabalho – e à estruturação do texto, reorganizando e

agrupando suas cláusulas de forma mais similar à vista na certificação ambiental ISO (BSI,

2007).

Durante sua vigência, a OHSAS 18001 foi o modelo de conformidade mais buscado

pelas organizações do mercado, segundo Lo et al. (2014), pois o processo de certificação

requer auditoria por uma organização independente. Atualmente a certificação foi

substituída pela ISO 45001, publicada em Março de 2018.

2.3 Norma NBR ISO 45001 – Contextualização

2.3.1. Aspectos gerais

Publicada em Março de 2018, a ISO 45001 é o novo padrão internacional de

certificação dos SGSSO, e foi desenvolvido pelo Comitê de Projeto ISO/PC 283. A nova

norma substitui o padrão anterior proposto pela OHSAS 18001, sendo assim, as empresas e

organizações já certificadas na norma antiga possuem um prazo máximo de três anos para

se adequar à ISO 45001 (ISO, 2018a).

A ISO 45001 foi desenvolvida utilizando os conceitos e diretrizes empregados pelas

outras normas e certificações ISO, chamadas de Estruturas de Alto Nível (HLS), também

conhecido como Anexo SL, que permite “manter a consistência, alinha diferentes normas de

sistema de gestão, oferece sub-cláusulas correspondentes em relação à estrutura de alto

nível e aplica uma linguagem comum a todas as normas” (BSI, 2018b, p. 4).

A norma é dividida em dez seções, sendo 1 – Escopo, 2 – Referências Normativas, 3

– Termos e Definições, 4 – Contexto da Organização, 5 – Liderança e Participação dos

Trabalhadores, 6 – Planejamento, 7 – Suporte, 8 – Operação, 9 – Avaliação de

Desempenho e 10 – Melhoria.

Apesar dessa divisão, assim como as outras normas ISO, as seções não devem ser

avaliadas isoladamente, mas sim como um ciclo interativo, uma vez que a norma é

estruturada com base na metodologia de melhoria contínua, conforme ilustrado na Figura 2

(os números entre parênteses apresentados na figura correspondem às seções da norma

englobadas em cada etapa do ciclo PDCA).

Page 28: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

17

Figura 2: Ciclo PDCA aplicado à ISO 45001

Fonte: BSI (2018b, p. 4)

2.3.2. Principais mudanças

Como a nova publicação trouxe consigo um conjunto significativo de mudanças em

relação à OHSAS 18001, não só em sua estruturação e subdivisão, mas também no seu

enfoque. Sendo assim, as principais alterações serão abordadas de acordo com as dez

seções da ISO 45001, sendo seus respectivos requisitos discutidos mais especificamente na

seção 2.4 deste trabalho.

A terceira seção, relativa aos Termos e Definições, apresenta os diversos conceitos e

terminologia utilizados no corpo da norma e seus requisitos. Por ter sido elaborada de

acordo com o Anexo SL comum às normas ISO, diversos conceitos anteriormente definidos

pela OHSAS foram modificados ou refinados, bem como foram incluídos novos termos.

Dentre tais, destacam-se, mas não limitados, os conceitos de organização, local de trabalho,

parte interessada, participação e consulta, risco e oportunidade de SSO (BSI, 2018b).

A seção 4, Contexto da Organização, confere um caráter mais estratégico à norma,

sendo necessária a identificação de todas as partes interessadas (internas e externas), suas

necessidades e expectativas, bem como o âmbito em que a organização está inserida e

seus possíveis impactos no traçado do SGSSO (BSI, 2018b).

Page 29: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

18

A quinta seção da ISO 45001 (Liderança e Participação dos Trabalhadores) destaca a

importância da participação ativa da liderança na disseminação da cultura de prevenção, e

na instalação de políticas, processos e meios de consulta aos trabalhadores. Não só

referente à consulta sobre mudanças e identificação de riscos e perigos, a norma prescreve

como responsabilidade da organização a quebra de quaisquer barreiras associadas ao

aprendizado e adequação – como tempo, meios de treinamento, escolaridade, etc. (CICCO,

2018).

A cláusula de Planejamento da ISO 45001 (seção 6) enfatiza a importância da visão

estratégica e conhecimento organizacional, uma vez que é necessário identificar não só os

riscos e perigos à SST relativos às situações internas e externas, mas também associadas

às relações interpessoais entre funcionários, bem como oportunidades de melhoria do

sistema. Dessa forma, é fundamental que a etapa de planejamento seja realizada em

concordância com os resultados obtidos na seção 4, conforme ilustrado na Figura 3 do item

2.3.1 (CICCO, 2018).

A seção 7, Suporte, não sofreu grandes modificações no que diz respeito à

disponibilidade de recursos e competência dos profissionais. No entanto, apresenta

informações mais detalhados no que diz respeito à comunicação interna e externa. Também

é introduzido o conceito de informação documentada (englobando também mídias digitais,

nuvem, etc.), substituindo “documentos” e “registros” utilizados pela OHSAS, apesar dos

requisitos serem similares (BSI, 2018b).

A oitava seção, Controle, trata da aplicação e execução daquilo que foi planejado,

sendo, segundo Cicco (2018), significativamente aprimorada em relação à certificação

anterior, chamando atenção para a utilização do conceito de hierarquia de controles

(detalhado no item 2.4.5 deste trabalho), bem como subitens específicos relativos à

aquisições e gestão de mudanças. Essa adição implanta no estabelecimento de processos

de avaliação de riscos relativos à cadeia de suprimentos da organização, desde

equipamentos até contratações e subcontratações, bem como os impactos (positivos e

negativos) das modificações associadas e previstas.

A seção relativa à Avaliação de Desempenho (seção 9) foi atualizada, apresentando

um caráter mais congruente com o observado nos sistemas de gestão da qualidade, dando

maior ênfase aos processos monitoramento, análise e avaliação, bem como a determinação

de informação relevante (BSI, 2018b).

Os requisitos de ações preventivas anteriormente presentes na antiga certificação

foram removidos da seção 10 (Melhoria), dado o caráter preventivo da ISO 45001 e sua

estrutura focada em risco (como por exemplo a hierarquia de controles mencionada na

Page 30: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

19

seção 8 da norma). Os requisitos relativos à melhoria contínua também foram detalhados,

similarmente ao feito na seção 9 (BSI, 2018b).

Darabont et al. (2016) destaca que a gestão de riscos é frequentemente uma das

dificuldades de implantação dos sistemas devido ao conhecimento incompleto sobre suas

potenciais consequências. Apesar dos profissionais de segurança serem capacitados na

identificação de tais problemas e consequências, a introdução de uma visão mais

estratégica no sistema proposto pela norma pode agravar essa dificuldade, pois necessita

que os gestores identifiquem também os riscos externos à organização (comum nos

sistemas de gestão da qualidade) e também aqueles associados às partes interessadas.

No entanto, realizar a análise baseado em um cenário estratégico pode ser também

uma vantagem, pois permite endereçar não só situações de risco à SSO, mas também

aqueles relacionados à qualidade e meio ambiente – congruente com a proposta da ISO

45001 de facilitar a integração com os demais sistemas (BSI, 2018b; DARABONT et al.,

2016).

2.3.3. Processo de certificação

De acordo com Moreira e Pacheco (2017), pode-se definir a certificação como um

processo onde é verificado, atestado e declarado por uma terceira parte acreditada –

através de um certificado – que o sistema de gestão de uma organização auditada cumpre

com um conjunto de requisitos especificados em um determinado padrão normativo

estabelecido.

No Sistema Brasileiro de Certificação (SBC), organizações acreditadas são aquelas

reconhecidas formalmente pela Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro (Instituto

Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) como tecnicamente competentes para a

realização de serviços específicos, denominadas OAC – Organismo de Avaliação da

Conformidade (INMETRO, 2017).

Como a ISO 45001 foi publicada recentemente, em Março de 2018, existem duas

formas de as organizações interessadas obterem a certificação. Fica estabelecido pelo

Fórum Internacional de Acreditação (IAF), em conjunto com o OHSAS Project Group e

Comitê ISO que as organizações já certificadas na OHSAS 18001 têm um prazo de 3 anos,

a partir da data de publicação da ISO 45001, para fazer a migração de seus sistemas para o

novo padrão. Já aquelas não certificadas podem buscar diretamente a certificação ISO

45001 (IAF, 2018).

Segundo o IAF, o processo de migração possui seis etapas fundamentais. As

organizações interessadas devem obter uma cópia válida da norma ISO 45001 e identificar

Page 31: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

20

as possíveis pendências e lacunas presentes no SGSSO que devem ser sanadas para o

atendimento dos requisitos. Em seguida, devem ser traçados os planos e medidas

necessários para tais. As organizações devem garantir que os profissionais e colaboradores

envolvidos possuam as competências necessárias para o bom funcionamento do SGSSO,

provendo os treinamentos e recursos necessários para sua capacitação sempre que

necessário, bem como sensibilizar as partes interessadas sobre tais (IAF, 2018).

De posse dos conhecimentos sobre as mudanças e dos recursos necessários

(humanos, técnicos, financeiros, etc.), as organizações devem implementar as ações

definidas e atualizar seus SGSSO, comprovando sua efetividade e o atendimento dos

requisitos faltantes (através de documentação, auditorias, e outros meios necessários). As

organizações devem trabalhar em conjunto com seus respectivos OAC (no caso do Brasil),

de forma a obter os auxílios e informações relativas a quaisquer procedimentos específicos

além dos descritos pelo Fórum (IAF, 2018).

Já para aquelas organizações não certificadas, o processo é realizado da mesma

forma que as demais do grupo ISO. De maneira geral, o processo é muito similar ao

anteriormente empregado na OHSAS 18001, a maior diferença sendo que as certificações

ISO emitidas pelos OAC possuem acreditação pelo INMETRO – por conta dessa grande

similaridade, fez-se uso da bibliografia referente à certificação da OHSAS em pontos

específicos para auxiliar na sua descrição e dos benefícios decorrentes de sua obtenção.

O processo de obtenção da certificação é feito por meio de auditorias externas

realizadas por um OAC, durante o qual é avaliada a conformidade do sistema quanto ao

modelo estabelecido pela norma e o atendimento de seus requisitos. O processo pode ser

feito com o auxílio de consultoria especializada (BSI, 2018a).

A organização deve analisar os requisitos da norma e traçar o plano de ações para

atendê-los, definindo o escopo de seu SGSSO, os processos e procedimentos necessários

(incluindo treinamentos e capacitações) e implementá-los. É comum que as organizações

façam uso de consultorias especializadas nesta etapa (muitas vezes os próprios organismos

avaliadores fornecem este tipo de serviço), de forma a evitar erros e auxiliar na eficácia de

implementação das medidas (BSI, 2018a; ISO, 2018a). A descrição dos requisitos da ISO

45001 e seus objetivos é feita no item 2.4 deste trabalho.

A organização deve operar seu sistema, coletando e documentando as informações

necessárias sobre o funcionamento e eficácia dos processos implementados e do SGSSO,

conforme os requisitos da norma, e realizar auditorias internas a fim de identificar lacunas no

sistema e tomar as ações necessárias para saná-los. De posse das informações e registros

Page 32: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

21

necessários, o processo de auditoria de certificação é iniciado, sendo composto de duas

etapas (BSI, 2018a; ISO, 2018a).

A primeira consiste de uma avaliação documental pelos auditores, a fim de verificar o

cumprimento dos requisitos da ISO 45001, e produz um relatório de conformidades e não-

conformidades – de posse deste, o auditado deve corrigir todas as pendências identificadas.

Feito isso, inicia-se a segunda etapa, onde os auditores avaliarão todas as informações

documentadas recolhidas durante a operação do SGSSO, inclusive relatórios das auditorias

internas e correções conforme os resultados da primeira etapa. Ao final desta é emitido o

parecer sobre o sistema e sua eficácia e, comprovado o cumprimento dos requisitos da

norma e das recomendações anteriores, a certificação é recomendada pelo OAC (BSI,

2018a; ISO, 2018a).

Diversos autores apontam um número de benefícios associados à certificação do

SGSSO, dentre os quais podem ser citados o aumento da credibilidade da organização

frente às partes interessadas e ao mercado, melhoria da segurança operacional, do

ambiente de trabalho, aumento da produtividade e redução de custos com passivos

trabalhistas e indenizações (BEVILACQUA et al, 2016; COSTELLA, 2008; MOREIRA;

PACHECHO, 2017).

No entanto, a grande quantidade de recursos técnicos, financeiros humanos e tempo

necessários à implantação completa do SGSSO podem tornar o processo exaustivo,

principalmente devido ao desgaste e falta de colaboração das equipes por conta das

mudanças nos procedimentos e cultura de trabalho – estas, inclusive, são consideradas

uma das maiores causas de falhas na implantação dos sistemas (BEVILACQUA et al, 2016;

CHEN et al., 2009; MOREIRA; PACHECHO, 2017). Dessa forma, Fernández-Muñiz et al.

(2012) apontam as medidas de conscientização e sensibilização, engajamento da gestão e

a eficácia dos processos de comunicação interna como os fatores decisivos ao sucesso do

SGSSO.

2.3.4. Panorama de aplicação

Como a ISO 45001 substituiu a certificação OHSAS, conforme descrito no item 2.3.3

deste trabalho, as organizações ainda estão em processo de transição e adequação de seus

sistemas para o modelo novo, dessa forma ainda não existem dados publicados sobre o

número de certificações da ISO 45001.

Como o prazo de migração da certificação OHSAS para ISO 45001 ainda está em

vigor, conforme descrito no item 2.3.3 deste trabalho, ainda não existem dados publicados

sobre o número de empresas e organizações certificadas no novo padrão. Assim sendo,

neste item são apresentados os dados relativos à certificação OHSAS, uma vez que é

Page 33: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

22

esperado que as organizações certificadas acatem o novo padrão internacional, bem como

sua contextualização perante as certificações ISO 9001 e ISO 14001.

De acordo com Lo et al. (2014), o panorama de certificação dos SGSSO vem

crescendo mundialmente desde a publicação original da OHSAS em 1999. As pesquisas

conduzidas pelo OHSAS Project Group indicam que o número de empresas certificadas no

padrão cresceu de 8.399 em 2003 para 56.254 em 2009, chegando a 104.480 em 2011

(OHSAS PROJECT GROUP, 2011, 2012). No mesmo período as certificações na ISO

14001 cresceram de 34.996 para 22.974, enquanto as dos modelos de qualidade da ISO

9001 somavam, globalmente, 1.106.356 em 2016.

No Brasil, o número de organizações certificadas na OHSAS 18001 cresceu de 217

para 834 entre 2004 e 2013, apontando para um aumento da preocupação e interesse das

empresas nacionais com a SSO e os benefícios que estes trazem. A publicação destaca, no

entanto, que o resultado da pesquisa é parcial, pois apenas 8 dos 10 organismos

certificadores participaram do estudo (REVISTA PROTEÇÃO, 2014). Já sobre a ISO 9001,

estudos apontam que o número de empresas certificadas cresceu de 6.952 em 2010, sendo

777 atuantes na ICC, para 20.908 em 2016 (ALBUQUERQUE, 2010; QUALYTEAM, 2017).

Durante a pesquisa não foram identificados os quantitativos das certificações de

SGSSO por setor da indústria e, consequentemente, da ICC. Entretanto, publicações

isoladas de revistas e empresas da construção civil que divulgam suas certificações

apontam para uma maior incidência dessas certificações em construtoras e indústrias de

materiais de construção de grande porte (ANDRADE GUTIERREZ, 2018; CIMENTO

ITAMBÉ, 2018; CONSTRUTORA ELOS, 2018).

2.4 Norma NBR ISO 45001 – Requisitos

2.4.1. Seção 4 – Contexto da Organização

Requisito 4.1 – Compreensão da organização e seu contexto:

O primeiro requisito incumbe à organização de determinar quais questões (internas e

externas) são relevantes ao seu âmbito de atuação. Além dos problemas primários e

potenciais diretamente ligados à SSO, esta cláusula deve englobar também elementos mais

estratégicos, como busca por outras certificações, requisitos legais, possibilidades de

mudanças, ou seja, todos aqueles temas que possam impactar os objetivos de SSO (ISO,

2018a).

Requisito 4.2 – Compreensão das necessidades e expectativas dos trabalhadores e

outras partes interessadas:

Page 34: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

23

As partes interessadas, ou stakeholders, são indivíduos ou organizações, internas ou

externas, que possuem influência sobre ou são impactadas pelas atividades da organização,

além dos trabalhadores (como acionistas, residentes do entorno, clientes, etc.). A

organização deve determinar quem são os stakeholders relevantes ao SGSSO, suas

expectativas e necessidades relevantes, e quais dessas necessidades são, ou tem potencial

para se tornar, requisitos legais ou que a organização deva cumprir (ISO, 2018a).

Requisito 4.3 – Determinação do escopo do sistema de gestão de SSO:

Com base nas saídas cláusulas 4.1 e 4.2, a organização deve traçar seu SGSSO,

considerando também as atividades já planejadas e relacionadas ao trabalho, incluindo

todos os elementos que a organização influencia ou controla (como serviços, atividades,

produtos, etc.) que sejam relevantes à implantação e desempenho do sistema (ISO, 2018a).

Requisito 4.4 – Sistema de gestão de SSO:

O último requisito da seção 4 requer que a organização planeje, implemente,

mantenha e aperfeiçoe o SGSSO e todos os processos e procedimentos necessários ao seu

sucesso e bom funcionamento (ISO, 2018a).

2.4.2. Seção 5 – Liderança e Participação dos Trabalhadores

Requisito 5.1 Liderança e comprometimento:

A alta direção deve demonstrar comprometimento com a implantação e sucesso do

SGSSO, assumindo responsabilidade geral e pela segurança, atuando na prevenção de

acidentes, lesões e danos associados às suas atividades (ISO, 2018a).

Cabe à ela desempenhar papel ativo, definindo políticas e objetivos de SSO

compatíveis com as características e direção estratégica da organização, integrando os

requisitos do sistema nos seus processos, disponibilizando todos os recursos necessários

para o funcionamento, monitoramento, medição e melhoria contínua do sistema, visando

atingir os objetivos traçados (ISO, 2018a).

Deve também atuar na comunicação e conscientização de todos os envolvidos quanto

à importância do sistema e da gestão de SSO eficaz e seus requisitos, estabelecendo uma

cultura de prevenção e segurança congruente com os objetivos e resultados esperados do

SGSSO, definindo e assegurando processos de consulta e participação dos trabalhadores,

protegendo-os contra possíveis retaliações ao comunicar problemas e desvios (ISO, 2018a).

Requisito 5.2 – Política de SSO:

A definição e implantação da política de SSO deve estar em conformidade com os

objetivos, natureza, características, riscos e oportunidades específicos da organização.

Page 35: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

24

Ela deve demonstrar o comprometimento com locais e condições de trabalho seguras

e saudáveis, o cumprimento de requisitos legais e opcionais pertinentes, a eliminação,

prevenção e redução de riscos de SSO, a melhoria contínua e a participação e consulta dos

trabalhadores e seus representantes ao longo de toda a hierarquia. A política de SSO deve

ser documentada, comunicada e disponibilizada dentro da organização, bem como às partes

interessadas, conforme apropriado (ISO, 2018a).

Requisito 5.3 – Funções, responsabilidades e autoridades organizacionais:

A delegação de responsabilidades tem por objetivo assegurar a conformidade do

SGSSO com os requisitos da ISO 45001 e comunicar à alta direção as informações sobre o

desempenho do mesmo. Cabe à direção assegurar que tais atribuições sejam comunicadas

ao longo de toda a hierarquia da empresa e devidamente documentadas (ISO, 2018a).

Ao passo que a alta direção é encarregada pelo funcionamento do sistema como um

todo, os trabalhadores e colaboradores ao longo da hierarquia são responsáveis pelos

aspectos do sistema que controlam – por exemplo, uso de EPIs, fiscalização de equipes,

inspeção de materiais, etc. (ISO, 2018a).

Requisito 5.4 – Consulta e participação de trabalhadores:

Os processos de comunicação, consulta e participação dos trabalhadores devem ser

desenvolvidos e implantados ao longo de toda a hierarquia e durante as diferentes etapas

de concepção e aplicação do SGSSO (planejamento, avaliação de riscos, traçado de

medidas e objetivos, definição da política, investigação e controle de incidentes e todas as

demais).

A organização deve disponibilizar os mecanismos e recursos necessários para tal,

promovendo o acesso às informações relevantes de forma oportuna, clara e adequada,

assegurando a eliminação de possíveis obstáculos à participação, como linguagem, grau de

instrução, tempo ou mesmo represálias. Isso pode ser feito, por exemplo, através de um

indivíduo ou entidade que represente os trabalhadores, como a CIPA (ISO, 2018a).

2.4.3. Seção 6 – Planejamento

Requisito 6.1 – Ações para abordar riscos e oportunidades

O requisito 6.1 é composto de 4 subitens. O primeiro, 6.1.1, define os aspectos gerais

necessários à etapa de planejamento. Fica definido que a organização deve identificar e

avaliar os riscos e oportunidades relevantes ao SGSSO, seus resultados, à redução de

efeitos indesejáveis e a melhoria contínua do mesmo, de acordo com aquilo abordado e

identificado nos requisitos 4.1, 4.2 e 4.3. Da mesma forma, devem ser avaliadas as

Page 36: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

25

mudanças previstas, sejam temporárias ou permanentes, antes de sua implementação. Tais

dados devem ser disponibilizados como informação documentada (BSI, 2018b).

O subitem 6.1.2 apresenta definições específicas sobre a identificação e análise de

oportunidades e riscos. Nele é descrito que a organização deve definir e implementar

processos contínuos e proativos para apontar e analisar tais fatores, levando em

consideração as atividades realizadas, rotineiras ou não, os insumos e procedimentos

envolvidos, fatores humanos e sociais (carga e horário de trabalho, vitimização,

discriminação, etc.), histórico de incidentes, situações de emergência, bem como presença

de visitantes, acontecimentos nos arredores da organização que impactem a SSO dos

colaboradores e a eficácia dos controles existentes, visando, sempre que possível, a

eliminação dos riscos (ISO, 2018a).

O terceiro subitem (6.1.3) trata do estabelecimento de processos relativos à

determinação de requisitos legais e outros requisitos pertinentes, seu acesso, a

aplicabilidade e relevância para as atividades da organização. É necessário que os

requisitos identificados sejam mantidos como informação documentada, atualizada e

comunicada aos colaboradores e partes interessadas relevantes (pois podem resultar em

riscos para a organização), assim como considerados na implementação e melhora do

sistema. (ISO, 2018a).

O subitem 6.1.4 aborda o planejamento de ações a serem tomadas em função das

saídas obtidas nos requisitos anteriores, como elas serão implementadas nos processos da

organização, tanto no SGSSO quanto nos demais e como a eficácia dessas ações será

avaliada, atentando para as boas práticas do mercado e as características específicas da

organização (ISO, 2018a).

Requisito 6.2 – Objetivos de SSO e planejamento para alcança-los

Similarmente ao anterior, o requisito 6.2 é formado por dois subitens. O primeiro deles

trata do traçado dos objetivos. Estes devem ser consistentes com a política de SSO e

requisitos legais, ser mensuráveis ou capazes de avaliar o desempenho, congruentes com

as informações obtidas anteriormente (incluindo consulta aos trabalhadores e

representantes), monitorados, comunicados e atualizados (ISO, 2018a).

O segundo subitem trata do planejamento para atender aos objetivos traçados. Cabe a

organização determinar o que será realizado, os insumos associados, os responsáveis, seu

horizonte de conclusão, a forma de avaliação e indicadores associados e como tais ações

serão inseridas nos processos. Os objetivos e planos definidos devem ser mantidos como

informação documentada (ISO, 2018a).

Page 37: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

26

2.4.4. Seção 7 – Suporte

Requisito 7.1 – Recursos

Esta cláusula requer que a organização determine e disponibilize todos os recursos

necessários ao traçado, implantação, manutenção e aprimoramento contínuo do SGSSO – a

definição deve compreender não só os recursos financeiros, mas também os insumos

necessários aos processos, os equipamentos, ferramental e recursos humanos (ISO,

2018a).

Requisito 7.2 – Competência

A organização deve determinar as competências necessárias à realização das

atividades que podem impactar o desempenho do SGSSO, se certificar que os respectivos

funcionários possuam a formação adequada (treinamento, educação ou escolaridade,

experiência, etc.) e manter informação documentada que o evidencie. Esta cláusula também

atenta para a avaliação da eficácia sobre tais decisões (ISO, 2018a).

Requisito 7.3 – Conscientização

A organização deve informar e conscientizar os trabalhadores quanto à política de

SSO, a importância de sua contribuição para o sucesso e eficácia do sistema e seus

benefícios associados, bem como as consequências das não conformidades e atos

inseguros, os riscos, perigos e ações de SSO relevantes às suas áreas de atuação (ISO,

2018a).

Deve também ser dada aos funcionários a autonomia necessária para que se afastem

de situações que julguem apresentar perigo iminente à sua integridade física e protege-los

contra represálias indevidas por fazê-lo (ISO, 2018a).

Requisito 7.4 – Comunicação

Este requisito é subdividido em três partes. A primeira (7.4.1) trata dos aspectos gerais

que compõem o requisito. Nela fica determinado que a organização deve traçar, implantar e

manter os processos necessários à comunicação externa e interna das informações

relevantes ao SGSSO. Para tal, a organização deve determinar o que será comunicado,

para quem, quando e a forma de fazê-lo, levando em consideração as características dos

interessados e os possíveis requisitos envolvidos. As comunicações devem ser mantidas

como informação documentada, conforme necessário (ISO, 2018a).

A segunda subdivisão (7.4.2) trata da comunicação interna, prescrevendo que sejam

repassadas as informações relevantes aos diferentes níveis e funções da hierarquia e que

tais processos permitam aos trabalhadores contribuir para a melhoria contínua (ISO, 2018a).

Page 38: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

27

Fica à cargo da organização determinar a melhor forma de comunicação mais

adequada. Segundo Gonçalves et al. (2012), pode-se fazer uso de diferentes tipos de

comunicação ao longo da empresa, como cartazes, ilustrações, placas ou mesmo a

comunicação direta durante treinamentos e processos de auditoria, assegurando que as

informações pertinentes sejam recebidas e entendidas por todos os funcionários da

hierarquia.

Já a terceira parte (7.4.3), relativa à comunicação externa, determina que os

processos de comunicação repassem as informações relevantes sobre o SGSSO de acordo

com os requisitos previamente estabelecidos (ISO, 2018a).

Requisito 7.5 – Informação documentada

Este item é dividido em três partes. A primeira (7.5.1) especifica que o SGSSO

estabelecido pela organização deve manter como informação documentada o especificado

pela ISO 45001, bem como as informações julgadas pela organização como necessárias ao

bom funcionamento e eficácia do sistema (ISO, 2018a).

A informação documentada, segundo o subitem 7.5.2, deve possuir os dados

relevantes à sua compreensão, sendo estes: identificação e descrição (como número, título,

data, responsável, etc.), formato e mídia (como escrito, visual, físico, eletrônico, etc.),

revisão e aprovação (ISO, 2018a).

Quanto ao controle (7.5.3), a organização deve se assegurar que as informações

documentadas estejam adequadas e disponíveis para uso nos locais e momentos

necessários, devidamente protegidas contra o uso indevido, perda e extravio, mantendo a

confidencialidade necessária. Para tal, os processos de controle de informação devem

especificar a distribuição, acesso, uso, forma de armazenamento e recuperação, controle de

mudanças, período de retenção e forma de descarte. A organização é responsável por

organizar e controlar a informação externa determinada como relevante ao SGSSO

conforme apropriado – como legislação e normas pertinentes, concessões, certificações,

processos, etc. (ISO, 2018a).

2.4.5. Seção 8 – Operação

Requisito 8.1 – Planejamento e controle operacional

De acordo com a primeira subdivisão deste requisito (8.1.1), a organização deve

elaborar, implantar e manter os processos necessários ao atendimento dos requisitos do

SGSSO e das ações estabelecidas na Seção 6, incluindo o estabelecimento de critérios,

métodos e processos de controle, bem como documentar as informações relevantes à

comprovação de sua eficácia. Estes processos devem adaptar o trabalho aos trabalhadores

Page 39: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

28

e coordenar as partes relevantes do SGSSO com eventuais organizações externas

presentes – como terceirizadas. Subcontratadas ou parceiros (ISO, 2018a).

O subitem 8.1.2 é relativo conceito de hierarquia de controles pregado pela ISO

45001. Os processos relativos à eliminação e redução de riscos de SSO devem ser

concebidos de acordo com a seguinte ordem (ISO, 2018a):

1. Eliminar os riscos e perigos;

2. Substituir o processo produtivo, operação ou insumo para outro(s) menos

perigoso;

3. Reorganizar o trabalho e aplicar controles de engenharia;

4. Fazer uso de controles administrativos, treinamentos e capacitações;

5. Disponibilizar e utilizar os equipamentos de proteção adequados.

Os processos gestão, controle e implementação de mudanças são abordados no

requisito 8.1.3. De acordo com este subitem, estes processos devem abranger mudanças

permanentes e temporárias impactantes ao SGSSO, incluindo a alteração ou surgimento de

produtos, processos e serviços associados ao ambiente, organização e condições de

trabalho, equipamento e maquinário utilizado, mudanças nos requisitos aplicáveis (legais e

outros), bem como tecnologia e conhecimentos relativos ou impactantes à SSO. Os

impactos provenientes de tais mudanças devem ser analisados pela organização de forma a

minimizar os efeitos negativos e maximizar as oportunidades (ISO, 2018a).

A última subdivisão (8.1.4) trata de aquisições. Os processos de aquisição de insumos

e serviços devem assegurar a conformidade com a política e SGSSO da organização,

auxiliando na identificação, avaliação e controle de riscos e perigos à organização, seus

trabalhadores e partes interessadas causados por tais. A organização deve se certificar de

que os requisitos do SGSSO sejam atendidos pelos contratados e seus respectivos

funcionários, e que estes estejam congruentes com os objetivos traçados – para tal, podem

ser aplicados critérios de seleção, como comprovação de documentos, realização de

treinamentos ou mesmo controles operacionais específicos conforme necessário (ISO,

2018a).

Requisito 8.2 – Preparação e resposta de emergência

A organização deve estabelecer os procedimentos necessários à identificação,

preparo e resposta a situações de emergência. Os processos devem planejar as ações

necessárias à segurança dos envolvidos e impactados, incluindo prestação de primeiros

socorros, treinamento, testes, exercícios e simulações de acidentes, avaliação de

Page 40: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

29

desempenho, revisão e comunicação de informações e responsabilidades. A organização

fica encarregada de comunicar as autoridades e serviços de emergência pertinentes à

situação de emergência, incluindo as partes interessadas relevantes. Estes dados devem

ser mantidos como informação documentada (ISO, 2018a).

2.4.6. Seção 9 – Avaliação de desempenho

Requisito 9.1 – Monitoramento, medição, análise e avaliação do desempenho

A primeira subdivisão deste item (9.1.1) apresenta os requisitos gerais dos processos

para monitorar, medir, analisar e avaliar o desempenho do sistema. Cabe a organização

implantar tais processos, determinar os temas a serem medidos e monitorados – incluindo

cumprimento de requisitos legais e outros, atividades relacionadas aos riscos apontados

pelos estudos, realização e cumprimento de objetivos e eficácia dos controles – bem como

sua forma e periodicidade de realização, avaliação e critérios a serem aplicados (ISO,

2018a).

Caso o monitoramento dependa de maquinário ou equipamento de medição, estes

devem ser mantidos calibrados e adequados para o uso, quando e onde necessário (deve-

se atentar para possíveis requisitos legais e outros associados à sua manutenção,

calibragem e precisão). A organização é responsável por manter informação documentada,

a fim de comprovar os resultados dos processos de medição, monitoramento e análise do

SGSSO e sua eficácia, bem como os registros relativos aos equipamentos e maquinário

utilizados (ISO, 2018a).

O segundo subitem (9.1.2) trata especificamente da avaliação da conformidade com

os requisitos relevantes (conforme levantamento requerido na cláusula 6.1.3 da norma),

sendo necessário que a organização determine a forma e frequência adequadas de

avaliação, as ações a serem tomadas. A organização deve documentar os resultados desta

avaliação e estar à par de sua situação de conformidade com tais requisitos (ISO, 2018a).

Requisito 9.2 – Auditoria interna

As diretrizes gerais sobre os processos de auditoria são descritas no subitem 9.2.1. A

organização deve realizar as auditorias internas em intervalos determinados, visando obter

informações sobre a conformidade do SGSSO com os requisitos internos da organização,

sua política e objetivos, com os requisitos da ISO 45001, bem como a eficácia de sua

implementação (ISO, 2018a).

Já o elemento 9.2.2 dita que a organização planeje, defina, implante e mantenha os

programas de auditoria necessários, estabelecendo suas periodicidades, métodos

empregados, responsabilidade e padrões de relatório, em conformidade com os requisitos e

Page 41: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

30

seções anteriores e com a NBR ISO 19011 – Diretrizes para auditorias de sistemas de

gestão (ISO, 2018b), assegurando a imparcialidade dos auditores selecionados, a

comunicação adequada à todas as partes relevantes (internas e externas), o traçado de

medidas para correção de irregularidades e melhora contínua do sistema e documentação

dos resultados obtidos durante o processo (ISO, 2018a).

Requisito 9.3 – Análise crítica pela Direção

Segundo o requisito, “a alta direção deve analisar criticamente o sistema de gestão de

SSO da organização, a intervalos planejados, para assegurar sua contínua adequação,

suficiência e eficácia” (ISO, 2018a, p. 24).

Faz parte desta análise crítica considerar o estado das análises anteriores, possíveis

mudanças internas e externas relevantes à organização e seu SGSSO – como requisitos e

expectativas de partes interessadas, requisitos legais, riscos, etc. – a eficácia da política e

objetivos de SSO e seu desempenho, verificando a ocorrência de incidentes, não

conformidades e ações tomadas, resultados de medições, monitoramentos e auditorias,

sugestões, comentários e participações dos trabalhadores e seus representantes, uso de

recursos e outros dados relevantes (ISO, 2018a).

É necessário que os resultados da análise sejam armazenados como informação

documentada, para estudos futuros, comunicação às partes interessadas e trabalhadores e

como forma de evidência de realização (ISO, 2018a).

2.4.7. Seção 10 – Melhoria

Requisito 10.1 – Generalidades

Este requisito prescreve como obrigação da organização determinar as oportunidades

de melhoria, de acordo com os estudos realizados e com os requisitos da seção 9, e

implementar as medidas e ações necessárias a fim de atingir os resultados planejados para

o SGSSO (ISO, 2018a).

Requisito 10.2 – Incidente, não conformidade e ação corretiva

Devem ser estabelecidos, implantados, mantidos e atualizados processos para a

determinação e gerenciamento de incidentes e não conformidades e seus efeitos. Quando

da ocorrência de tais eventos, a organização deve ser capaz de reagir em tempo hábil,

tomando as decisões necessárias para corrigir e controlar a situação identificada e lidar com

seus efeitos (ISO, 2018a).

Devem ser conduzidas as avaliações necessárias para apontar e eliminar suas

causas-raiz, com o apoio e participação dos trabalhadores e partes interessadas (conforme

Page 42: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

31

requisito 5.4 da norma), visando sua prevenção em momentos futuros. As análises podem

ser feitas através de investigações ou revisões do evento ocorrido, busca por ocorrências

similares anteriores ou outros métodos relevantes aplicáveis (ISO, 2018a).

Tomadas as decisões e ações necessárias (de acordo com a hierarquia de controles,

estabelecida no item requisito 8.1.2), a organização deve analisar e revisar a existência (ou

modificação) dos riscos e perigos de SSO e correlatos, a eficácia de tais medidas e do

sistema. As informações relativas à natureza da situação ocorrida e suas consequências

devem ser devidamente documentadas, bem como os resultados das ações tomadas e sua

eficácia. A norma destaca que a investigação sem retardos frequentemente resulta em

informações importantes, que permitem a eliminação dos riscos à SSO e minimização de

possíveis danos (ISO, 2018a).

Requisito 10.3 – Melhoria contínua

Por fim, o último requisito da norma prega que a organização deve continuamente

melhorar o SGSSO, sua adequação, suficiência e eficácia, visando a melhora de seu

desempenho, promovendo a cultura organizacional congruente aos objetivos do sistema, a

participação dos trabalhadores na implantação das ações de melhoria e mantendo-os

informados sobre os resultados de SSO relevantes. A informação relativa à melhoria do

sistema deve ser devidamente documentada como evidência de seu progresso (ISO,

2018a).

Page 43: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

32

3. DISCUSSÃO E RESULTADOS

3.1 Ferramentas e técnicas desenvolvidas para atender a ISO 45001

3.1.1. Generalidades

Ferramentas de gestão são técnicas empregadas pelas organizações para medir e

administrar seus sistemas de gerenciamento e auxiliar nas tomadas de decisão. Na SST,

estes instrumentos são utilizados para avaliar, através de um conjunto de indicadores e

dados quantitativos e qualitativos, os modelos, políticas e processos implementados

buscando o aprimoramento do sistema (COCHARERO, 2007).

3.1.2. Análise SWOT

Definição:

A análise (ou matriz) SWOT (strengths, weaknesses, opportunities and threats),

também conhecida em português como análise FOFA, é uma ferramenta de avaliação das

forças, fraquezas, oportunidades e ameaças que uma determinada organização possui a

respeito de um tema específico.

A figura 3 apresenta a estruturação da matriz SWOT. As colunas da matriz

representam os fatores que podem auxiliar (Favorável) ou dificultar (Desfavorável) o

cumprimento do objetivo foco da avaliação. Já as linhas, estão relacionadas à origem de tais

fatores, podendo vir da organização (Interna) ou do ambiente (Externa).

Figura 3: Matriz SWOT

Fonte: Autor

Objetivo:

Comumente utilizada para comparar a organização em questão com o mercado, a

análise SWOT pode ser utilizada como ferramenta de autoconhecimento e para embasar

tomadas de decisões, traçado e planejamento estratégico de objetivos (CALADO, 2014).

Page 44: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

33

Aplicação:

Devido ao enfoque no planejamento e conhecimento estratégico da organização, a

matriz SWOT se torna uma ferramenta extremamente útil para o traçado e manutenção dos

sistemas baseados na ISO 45001. Calado (2014) destaca a aptidão da ferramenta como

forma de autoavaliação, sendo comumente utilizada nos sistemas de gestão da qualidade e

nas análises estratégicas de negócios, comparando práticas de mercado e analisando a

posição da organização perante concorrentes. Essa abordagem faz da matriz uma boa

ferramenta para cumprir com o requisito 4.1 da norma, que trata do entendimento

estratégico da organização e seu contexto.

As saídas da matriz também são úteis no traçado do SGSSO e na definição de

responsabilidades – requisitos 5.2 e 5.3, respectivamente. A forma simples, objetiva e visual

de apresentação dos resultados da ferramenta facilitam o entendimento de pontos chaves

do negócio da organização, que por sua vez facilita o traçado de objetivos e atribuições que

auxiliem na minimização dos pontos negativos e fomento das oportunidades.

Como a norma enfatiza a manutenção dos processos de planejamento ao longo da

vida do SGSSO, visando a melhoria contínua, a matriz SWOT também pode ser utilizada

para avaliar os impactos, riscos e oportunidades associados à ocorrência de mudanças,

implantação de processos, assim como a definição de indicadores e objetivos, auxiliando no

cumprimento dos requisitos 6.1 e 6.2.

Implantação:

A aplicação da ferramenta consiste do preenchimento da matriz e sua posterior

análise, dessa forma, para assegurar seu bom funcionamento, deve-se fazê-lo de forma

realista e objetiva. O preenchimento da matriz pode ser feito por comparações com o

mercado ou com uma abordagem de custo-benefício associado a um sistema.

Para a realização da análise é preciso interpretar os pontos apresentados em

conjunto, uma vez que o entendimento global da situação é necessário à definição eficiente

dos objetivos. Uma das funções da ferramenta é o auxílio na tomada de decisão, sendo

assim, deve-se buscar interpretar seus dados de forma imparcial e realista à situação.

Na primeira linha da matriz devem ser descritos os pontos fortes e fracos associados

ao tema estudado (considerando vantagens e desvantagens, práticas de mercado,

burocracia e custo associados, etc.). Já na segunda, devem ser incluídos os fatores

externos influenciadores – no caso de um SGSSO, podem ser observadas uma melhora das

capacidades de resposta aos riscos, do ambiente de trabalho, dificuldades relativas a

participação de trabalhadores, resistência à mudanças, etc. (CALADO, 2014).

Page 45: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

34

A Figura 4 apresenta um exemplo de aplicação da matriz SWOT no estudo da

implantação de um SGSSO baseado na ISO 45001 em uma empresa fictícia do ramo da

construção civil com as seguintes características:

1. Organização de pequeno porte;

2. Funcionários jovens e/ou com pouca experiência;

3. Organização não possui sistema de gestão (qualidade ou ambiental);

4. Pouca flexibilidade financeira.

Figura 4: Aplicação de Matriz SWOT

Fonte: Autor

Quando do traçado de ações, deve-se atentar para a combinação dos fatores

apresentados na matriz, buscando, sempre que possível, utilizar os pontos fortes da

organização para fomentar as oportunidades e minimizar riscos. No caso da empresa fictícia

apresentada, a formação e participação de profissionais com mentalidade de prevenção de

riscos pode auxiliar no engajamento e conscientização de organizações parceiras, assim

como o aumento da satisfação dos colaboradores e da qualidade do ambiente de trabalho

pode reduzir a rotatividade de funcionários.

Deve-se, no entanto, dar atenção especial para a combinação dos itens de ameaça e

fraquezas, pois frequentemente estes serão os pontos determinantes ao sucesso ou

Page 46: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

35

fracasso do sistema – no caso da análise voltada à SSO, serão os pontos com maior

necessidade de enfoque dos esforços de prevenção e correção. No exemplo da Figura 4,

têm-se as combinações entre os riscos de aumento de burocracia e identificação de riscos e

necessidades, bem como da limitação financeira da organização e os custos de

treinamentos e substituição de insumos e processos. Neste caso, podem ser utilizadas,

como exemplos de ações mitigadoras, o uso de treinamentos on the job (durante a

execução do trabalho) associados a listas de verificação para auxiliar a eficiência dos

treinamentos e utilização de recursos. Similarmente, a organização pode optar por implantar

o SGSSO gradualmente, atuando primeiro nas áreas de maior facilidade.

A Matriz SWOT deve ser desmembrada para cada área da organização de forma que

sejam calculados o grau de risco de cada setor – essa subdivisão é feita pois os riscos e

oportunidades podem variar de acordo com os setores específicos, bem como sua

exposição aos mesmos. Assim sendo, uma boa prática para a implementação da ferramenta

é elaborar uma segunda matriz contendo as diferentes situações levantadas na Matriz

SWOT associando-as aos principais setores do organograma da empresa que devem

intervir. Os setores definidos como responsáveis para a situação encontrada devem realizar

a análise de risco de acordo com suas características próprias e traçar os planos de ação

necessários para reduzir o risco ou potencializar a oportunidade.

Pode-se fazer uso do Quadro de Responsabilidades (descrito no item 3.1.8 deste

trabalho) para auxiliar nesta distribuição, conforme exemplificado no Quadro 2.

SITUAÇÃO POTENCIAL DIREÇÃO SUPRIMENTOSRECURSOS

HUMANOSPRODUÇÃO

Equipe jovem é mais flexível

e adaptável à mudançasX X

Quadro 2: Aplicação do Quadro de Responsabilidades à Análise SWOT

Fonte: Autor

A situação potencial “equipe jovem” pode ser uma ótima oportunidade para a empresa,

assim como, se não trabalhada adequadamente, pode se tornar uma ameaça. Pode-se citar

como exemplo de medidas potencializadoras a formação de equipes de trabalho incluindo

estes profissionais, por parte do setor de Produção, para que eles aprendam com as

experiências dos outros membros e desenvolvam sua maturidade de gestão. Da mesma

forma, o setor de Recursos Humanos deve agir ativamente para a disseminação da cultura

de segurança destes profissionais, através de treinamentos e palestras, monitorar seu

desenvolvimento e corrigir eventuais comportamentos indesejados – por exemplo, através

Page 47: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

36

da realização de Auditoria Comportamental (ferramenta apresentada no item 3.1.15 deste

trabalho).

3.1.3. Diagrama de Fluxo

Definição:

O fluxograma, ou diagrama de fluxo, é uma ferramenta gráfica de representação das

etapas que compõem o processo estudado. Os diagramas devem ser elaborados utilizando

simbologia simples, de fácil identificação, associando uma forma exclusiva para cada tipo de

etapa do processo – início, tomada de decisão, etapa rotineira, etc. (SANTOS, 2018). A

Figura 5 ilustra um fluxograma de ações a serem tomadas na ocorrência de um acidente de

trabalho com as diferentes simbologias utilizadas.

Figura 5: Fluxograma de Acidente de Trabalho

Fonte: Autor

Objetivo:

A visualização gráfica das relações entre as diversas etapas do processo permite

entender o funcionamento do processo de forma mais detalhada, além de auxiliar na

detecção de potenciais pontos críticos, problemas e oportunidades de melhoria (SANTOS,

2018).

Aplicação:

Os fluxogramas podem ser utilizados na análise e entendimento de qualquer tipo de

processo, seja existente ou não, na identificação de entradas de materiais e saídas de

produtos e etapas chave. Isso torna a ferramenta especialmente útil na descrição de

procedimentos mais específicos, como na criação, atualização e descarte de documentos,

nos Planos de Atendimento à Emergência, etc.

Page 48: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

37

A ferramenta também pode ser empregada na identificação de situações perigosas

intrínsecas ao método, insumo ou equipamento utilizado (requisito 6.1.2), e auxiliando na

instalação de medidas preventivas, replanejamento de etapas, substituição de insumos, etc.,

conforme a hierarquia de controles apresentada no requisito 8.1.2 da norma. Os

fluxogramas apresentam boa integração com outras ferramentas, podendo ser utilizada em

conjunto com a Árvore de Falhas, FMEA, e auxiliando na Análise Preliminar de Riscos.

Implantação:

Os diagramas de fluxo são desenvolvidos através de uma metodologia iterativa, que

pode variar em duração e complexidade dependendo do nível de detalhamento necessário

para a descrição do processo analisado. A elaboração dos fluxogramas para a

representação de processos existentes ou novos é similar.

Deve-se, primeiramente, identificar os extremos do processo (início e fim). A partir

disso, deve-se examinar o funcionamento do processo, caso este já exista, ou visualizar as

etapas principais que o compõem.

De posse dos resultados da investigação primária, inicia-se o traçado do diagrama e

das etapas identificadas, assinalando as atividades intermediárias, os insumos necessários,

pontos de decisão e saídas do processo.

O fluxograma obtido deve ser analisado criticamente, preferencialmente em conjunto

com os profissionais envolvidos em cada etapa, a fim de identificar possíveis pontos de

melhora ou correção. Concluída a análise, o diagrama deve ser atualizado de acordo com

as sugestões recebidas e submetido à uma nova inspeção, verificando suas fases junto ao

processo real sempre que possível, até que se obtenha um resultado satisfatório.

3.1.4. Análise de Árvore de Falhas (AAF)

Definição:

Segundo Sakurada (2001), as Árvores de Falha são uma forma de análise baseada no

modelo Top-Down (de cima para baixo). Nessa metodologia, a ocorrência ou situação

indesejada é chamada de evento de topo, sobre o qual é aplicada uma abordagem lógico-

dedutiva para buscar as possíveis fontes ou combinações de fatores que causam seu

acontecimento. A Figura 6 ilustra a aplicação da AAF para determinar as causas de um

incêndio.

Page 49: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

38

Figura 6: Árvore de Falhas simplificada de um incêndio

Fonte: BENITE (2004, p. 115)

Objetivo:

Auxiliar no entendimento e determinação das falhas necessárias ao acontecimento de

um evento perigoso, desmembrando possíveis situações e combinações de fatores até que

se obtenha as causas base, onde possam ser realizadas análises quantitativas.

Aplicação:

A análise de falhas em um processo é um estudo pertinente à determinação das

causas de acidentes e situações perigosas, sendo comumente utilizada nas fases de

planejamento dos sistemas de gestão, podendo ser utilizada por si só ou em conjunto com

outras ferramentas, como os fluxogramas e outras ferramentas de análise de riscos.

Implantação:

A Árvore é construída em seções ou níveis hierárquicos, partindo do evento de topo

até chegar nas causas base do evento analisado. Uma vez definido o objeto da avaliação,

deve-se buscar o conjunto de causas diretas. Para tal, deve-se questionar quais as

possíveis situações possibilitaram que o evento acontecesse no momento e local

específicos onde ele ocorreu, assim como apontar os possíveis fatores capaz de inibir ou

Page 50: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

39

facilitar o seu acontecimento. Os resultados desta análise compõem o primeiro nível

hierárquico de eventos da AAF (BENITE, 2004; SAKURADA, 2001).

Para cada causa ou evento intermediário identificado, deve-se repetir a análise até

que não seja possível identificar novas causas (ou que existam dados objetivos e

quantitativos sobre sua existência). Uma vez traçada a Árvore, deve-se definir o

relacionamento entre os eventos, identificando a necessidade de ocorrência simultânea ou a

independência entre as causas – para isto, é usado um Portão (BENITE, 2004; SAKURADA,

2001).

No exemplo da Figura 6, são apresentados por Benite (2004) duas causas diretas (ou

de primeiro nível hierárquico) – “fonte de ignição no ambiente” e “presença de material

combustível”. Em seguida, são identificadas as potenciais causas dos eventos de primeiro

nível, obtendo-se “fontes de calor” e “ocorrência de curto circuito” para o evento de fonte de

ignição. Neste caso, Benite (2004) considerou estas como sendo as causas base de um dos

segmentos da árvore.

A partir das causas obtidos, definiu-se a relação entre os eventos da hierarquia. O

Portão “OU”, utilizado nos eventos base (ou de segundo nível, neste caso), define que basta

que uma das causas aconteça para que o evento superior aconteça, ou seja, caso ocorra

um curto circuito, existirá uma fonte de ignição no ambiente, independentemente da

existência de outra fonte de calor (BENITE, 2004).

Já os eventos de primeiro nível são vinculados pelo portão “E”, destacando que ambas

as falhas devem ocorrer ao mesmo tempo para que o evento de topo seja possível. Por fim,

Benite (2004) institui o evento inibidor “presença de oxigênio”, delimitando que somente

ocorrerá um incêndio se, e somente se, existir oxigênio no ambiente.

3.1.5. Análise Preliminar de Risco (APR)

Definição:

É uma técnica de identificação de perigos e análise prévia dos riscos associados à

execução ou operação de uma determinada atividade.

Para facilitar o entendimento do estudo e objetividade das informações, a análise pode

ser realizada em uma planilha, conforme exemplificado no Quadro 3. O preenchimento da

planilha deve ser feito de forma concisa e objetiva, evitando a utilização de explicações e

textos longos sempre que possível.

Page 51: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

40

ANÁLISE DE RISCOS E PERIGOS GERENCIAMENTO

Item Área Atividade Perigo Risco Dano Freq. Medida de Controle

Legislação Aplicável

PAE Obs.

Quadro 3 – Planilha de Análise Preliminar de Riscos

Fonte: GONÇALVES et al. (2012, p. 7), adaptado pelo Autor

Objetivo:

A ferramenta é comumente utilizada para apontar os perigos e riscos associados a

uma atividade e suas possíveis causas, bem como as medidas de controle necessárias.

Aplicação:

A APR é uma ferramenta empregada na etapa de planejamento de atividades e

sistemas de gestão. Uma vez que contempla a identificação e análise de riscos e perigos,

pode ser utilizada no atendimento aos requisitos 6.1 e 8.1.2 da ISO 45001. Pode ser

utilizada em conjunto com outras ferramentas cujas finalidades se complementem, como os

Fluxogramas, Árvore de Falhas e FMEA apresentados nos itens 3.1.3, 3.1.4 e 3.1.7 deste

trabalho, respectivamente.

Implantação:

Para a implementação da ferramenta, primeiro devem ser identificadas todas as

atividades a serem realizadas de forma minuciosa, pois é a partir deste conjunto que a

análise é realizada. Com base nas atividades, faz-se então a relação dos riscos associados

(identificados por outras ferramentas ou através da própria APR), bem como os possíveis

perigos e danos (GONÇALVES et al., 2012).

A primeira seção da planilha (Análise de Riscos e Perigos) apresenta os dados das

atividades analisadas e seus riscos associados. Na segunda seção (Gerenciamento) são

relacionadas as medidas e ferramentas de controle e mitigação empregadas e a legislação

pertinente à execução do serviço. O Quadro 4 ilustra a aplicação da tabela adaptada do

estudo de Gonçalves et al. (2012) para as atividades de assentamento de cerâmica em

fachada (altura superior a 3m) e corte e montagem de formas.

Page 52: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

41

ITEM ÁREA ATIVIDADE PERIGO RISCO DANO FREQ.MEDIDA DE

CONTROLE

LEGISLAÇÃO

APLICÁVELPAE OBS

SF.1.1 Escoriações Média

SF.1.2 Fratura Média

SF.1.3 Óbito Média

CA.1.1 Escoriações Baixa

CA.1.2 Amputamento Baixa

CA.1.3Detritos nos

olhosMédia

CA.1.4Inalação de

resíduosMédia

Uso de

ferramental

cortante

Corte e

montagem de

fôrmas

Carpintaria

Queda em

altura

--

NR 12

NR 18

NBR 7678

Treinamento,

mudança de

insumo ou

tecnologia,

uso de EPI e

EPC.

Lesões e

ferimentos

ANÁLISE DE RISCOS E PERIGOS GERENCIAMENTO

Serviços de

Fachada

Assentamento

de cerâmica

(altura maior

que 3m)

Trabalho em

Altura--

NR 12

NR 18

NR 35

NBR 6469

NBR 7678

Treinamento,

mudança de

tecnologia,

uso de EPI e

EPC.

Quadro 4: Aplicação da Análise Preliminar de Riscos

Fonte: GONÇALVES et al. (2012, p. 7), adaptado pelo Autor

Todos os riscos devem ser indexados de acordo com uma numeração ou código

pertinente de forma a facilitar o entendimento dos resultados. No exemplo apresentado,

utilizou-se uma combinação das iniciais da área, um dígito para o risco e um digito para o

dano associado, sendo assim o código “CA.1.2” corresponde serviços de carpintaria, risco

de lesões e ferimentos associado a amputamento (dano).

A coluna referente a Área tem como objetivo agrupar atividades pertencentes à um

grupo maior (no caso de serviços de fachada, pode ser incluída a atividade de pintura). Isso

permite realizar uma análise mais global dos riscos encontrados pela empresa, facilitando a

identificação de áreas de enfoque ou melhoria na organização. Já sob o título Atividade,

devem ser preenchidos os serviços específicos a serem realizados, utilizando uma linha

para cada serviço, como a execução de formas e pintura de fachada (GONÇALVES et al.,

2012).

Nos grupamentos de Perigo e Risco, deve-se atentar para sua distinção. Perigo

corresponde à situação perigosa com potencial para exposição (como trabalho em altura).

Já Risco diz respeito à incerteza e sua consequência, ou seja, o incidente que pode ocorrer

devido à situação perigosa (no caso de trabalho em altura, tem-se o risco de queda).

As colunas de Dano e Frequência englobam, respectivamente, os possíveis danos à

saúde do indivíduo sujeito ao risco e a previsão de ocorrência – ou número de ocorrências

registradas, caso existam dados (GONÇALVES et al., 2012).

As ferramentas de controle e mitigação definidas pela organização, incluindo

treinamentos, devem ser apresentadas sob a coluna Medidas de Controle. Se o risco ou

Page 53: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

42

situação perigosa for abordada ou regulamentada pela legislação vigente, estas devem ser

descritas na coluna específica. Conforme o exemplo apresentado, a organização pode optar

pela utilização de fôrmas metálicas ou pela compra de material sob medida (mudança de

insumo ou tecnologia).

Similarmente, no caso de associação à situação de emergência (como trabalhos com

materiais inflamáveis passíveis de incêndio ou explosão), deve-se listar na coluna PAE o

Plano de Atendimento à Emergência respectivo.

A seção de observações destina-se a quaisquer informações adicionais não

contempladas nas colunas anteriores da planilha.

Uma boa prática implementada atualmente por organizações do ramo é a elaboração

da APR de Bolso, ou Sintética. A prática consiste, em suma, da elaboração de uma pequena

tabela onde o profissional lista os riscos associados ao seu trânsito pelas instalações da

organização. A ferramenta é uma ótima forma de disseminar o pensamento de segurança e

promover a reflexão individual entre os colaboradores, sendo especialmente útil para

visitantes e profissionais que realizam serviços temporários.

3.1.6. Quadro de Prioridades

Definição:

Trata-se de uma tabela que apresenta os riscos apontados durante a análise

preliminar, juntamente a uma escala de urgência. Apresenta-se no Quadro 5 um exemplo de

modelo da Planilha.

Item Atividade Risco Dano Probabilidade Gravidade Urgência

Quadro 5: Quadro de Prioridades

Fonte: Autor

Objetivo:

Auxiliar na definição e enfoque de recursos e esforços de prevenção e controle de

acidentes e riscos.

Aplicação:

A Planilha pode fazer parte do quadro da APR ou ser elaborada como um

complemento, auxiliando na etapa de análise de riscos conforme o requisito 6.1 da ISO

45001.

Page 54: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

43

Implantação:

O preenchimento do quadro segue a mesma metodologia utilizada na APR. As

colunas Item, Atividade, Risco e Dano refletem as informações do código de identificação, o

serviço durante o qual o incidente pode ocorrer, a situação perigosa e seu risco associado,

respectivamente, assim como o feito na APR.

As três entradas seguintes são os componentes de uma Matriz PGU, onde é calculado

o grau de urgência associado ao risco específico. As entradas devem ser feitas de acordo

com uma escala – comumente utilizam-se três níveis (alto, médio e baixo) para a

probabilidade e gravidade, cada um associado a um valor numérico (3, 2 e 1,

respectivamente) – que deve estar de acordo com a política e objetivos do sistema de

segurança.

Benite (2004) sugere classificar a probabilidade de ocorrência dos riscos como alta,

média ou baixa e associar suas gravidades ao tipo de dano, como morte e lesões

debilitantes (alta), pequenas lesões e doenças ocupacionais (média) e danos materiais

(baixa). A organização também pode definir sua própria escala em função do seu próprio

histórico de acidentes e quase-acidentes.

A Figura 7 apresenta uma escala de urgência em função do produto entre gravidade e

probabilidade – as células brancas representam os riscos toleráveis, as células da diagonal

englobam os riscos moderados e as células mais escuras, do canto superior direito, marcam

os riscos críticos.

Figura 7: Escala de urgência

Fonte: BENITE (2004, p. 65)

A partir dos procedimentos supracitados e da metodologia proposta por Benite (2004),

foi gerado um Quadro de Prioridades – baseados nos riscos do exemplo da APR do item

3.1.5 deste trabalho – apresentado no Quadro 6.

Page 55: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

44

ITEM ATIVIDADE RISCO DANO PROBABILIDADE GRAVIDADE URGÊNCIA

SF.1.1 Escoriação Média Média Média

SF.1.2 Fratura Média Alta Alta

SF.1.3 Óbito Média Alta Alta

CA.1.1 Escoriações Baixa Média Baixa

CA.1.2 Amputamento Baixa Alta Média

CA.1.3 Detritos nos olhos Média Baixa Baixa

CA.1.4 Inalação de resíduos Média Baixa Baixa

Corte e montagem de

fôrmas

Uso de

ferramental

cortante

Assentamento de

cerâmica (altura maior

que 3m)

Trabalho em

Altura

Quadro 6: Aplicação do Quadro de Prioridades

Fonte: Autor

3.1.7. Análise de Modos e Efeitos de Falha (FMEA)

Definição:

A Análise de Modos e Efeitos de Falha (FMEA), do inglês Failure Mode and Effect

Analysis, é uma ferramenta com foco preventivo que visa a identificação e entendimento dos

mecanismos de falha atuais e potenciais de um determinado dispositivo ou componente

(FERNANDES; REBELATO, 2006). A ferramenta pode ser utilizada através de uma planilha,

conforme exemplificado pelo Quadro 7.

ITEM COMPONENTE FUNÇÃO FALHA EFEITO PROB. GRAVIDADE DETECÇÃO RISCO AÇÃO

Quadro 7: Análise de Modos e Efeitos de Falha

Fonte: Autor

Objetivo:

Auxilia no estudo das falhas e seus mecanismos de ocorrências, visando eliminar ou

reduzir seus riscos associados (FERNANDES; REBELATO, 2006).

Aplicação:

A ferramenta se mostra útil para as etapas de planejamento de atividades e análise de

riscos, podendo ser utilizada em conjunto com outras ferramentas como os Fluxogramas,

Árvores de Falha e APR, contribuindo para o cumprimento do requisito 6.1 da ISO 45001.

Implantação:

Segundo Fernandes e Rebelato (2006), a execução do FMEA é feita em cinco etapas,

iniciando o processo pela identificação dos itens de análise e seus respectivos modos de

falha, existentes ou potenciais. Em seguida, devem ser identificadas as consequências (ou

efeitos) e a severidade de cada mecanismo descrito. Devem ser estudadas as possíveis

causas desses mecanismos, atentando para a probabilidade de ocorrência.

Page 56: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

45

Com base nestas informações, o observador deve avaliar os possíveis métodos e

formas de detecção destas falhas, e suas respectivas efetividades, para então realizar a

análise de risco e traçar as medidas cabíveis para sua mitigação. O Quadro 8 ilustra a

aplicação da ferramenta.

ITEM COMPONENTE FUNÇÃO FALHA EFEITO PROB. GRAVIDADE DETECÇÃO RISCO AÇÃO

MOSQUETÃO

QUEDA

EM

ALTURA

3 7 2 42

INSP. VISUAL (USO)

INSP. AMOSTRAGEM

(MENSAL)

TALABARTE

QUEDA

EM

ALTURA

2 7 1 14

INSP. VISUAL (USO)

INSP. AMOSTRAGEM

(MENSAL)

CABO DE

ANCORAGEM

QUEDA

EM

ALTURA

2 7 1 14

INSP. VISUAL (INST.)

TESTE DE CARGA

(INST.)

TA.CS.01CINTURÃO DE

SEGURANÇA

PREVENÇÃO

DE QUEDA

Quadro 8: Aplicação da Análise de Modos e Efeitos de Falha

Fonte: Autor

A primeira coluna da planilha (Item) deve conter a numeração ou código do item

analisado. As duas entradas seguintes trazem consigo a identificação do item, na coluna

Componente, e sua função, sob a coluna de mesmo nome. No exemplo do Quadro 8,

utilizou-se uma combinação das iniciais da situação perigosa e do componente de

segurança, associados a uma numeração sequencial, dessa forma, o código “TA.CS.01”

corresponde à situação de Trabalho em Altura, realizado com auxílio de Cinturão de

Segurança.

Em seguida, nas colunas Falha e Efeito, devem ser indicados, respectivamente, os

possíveis mecanismos de falha associados componente analisado e as consequências de

cada um destes modos. No exemplo, foram identificados três modos de falha (rompimento

ou falha do mosquetão ou do talabarte do cinto de segurança e rompimento no cabo de

ancoragem), com todos resultando na queda do profissional em questão.

As quadro colunas seguintes trazem os dados referentes ao cálculo do risco de cada

um dos modos de falha, funcionando de maneira muito similar ao Quadro de Prioridades

(apresentado no item 3.1.6 deste trabalho). Para o preenchimento das entradas do Quadro 8

utilizou-se uma escala de 0 a 10. A coluna de Probabilidade apresenta a frequência de

ocorrência da falha específica, enquanto a coluna Gravidade apresenta o impacto dessa

falha.

A coluna Detecção traz as informações referentes ao método de identificação e

detecção da falha (atualmente empregados) antes de sua ocorrência. Chama-se atenção

para a utilização da escala neste item, que deve ser feita de maneira inversa, ou seja,

Page 57: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

46

utiliza-se 0 para o método mais eficiente (que detecta 100% das falhas) e 10 para o menos

eficiente – essa alteração permite considerar que o risco de ocorrência da falha é reduzido

conforme a efetividade do controle empregado.

O cálculo do risco é feito pela multiplicação dos índices apresentados nas colunas

Probabilidade, Gravidade e Detecção. Por fim, devem ser listadas na coluna Ação as

medidas preventivas e mitigadoras traçadas para cada modo de falha identificado – no

exemplo, para controlar as falhas nos mosquetões indicam-se a realização de inspeções

visuais do elemento antes da realização da atividade e inspeções por amostragem mensais.

3.1.8. Planilha de Requisitos Legais

Definição:

A ferramenta consiste de uma planilha apresentando dados específicos e objetivos

que facilitem a identificação, e entendimento dos requisitos legais referentes às atividades

exercidas pela organização, suas medidas de controle e monitoramento, conforme

exemplificado pelo Quadro 9.

IDENTIFICAÇÃO CONTROLE

Item Âmbito Órgão Tipo Nome Objeto Requisitos Cumprimento Plano Monitoramento

Quadro 9: Planilha de Requisitos Legais

Fonte: Autor

Objetivo:

A identificação e monitoramento dos requisitos legais aos quais uma organização está

sujeita é uma tarefa complexa, frequentemente subcontratada à uma terceira parte externa

especializada. Uma das formas de se exercer este controle de forma interna à organização

é através da elaboração de uma planilha contendo as principais informações sobre as

legislações e requisitos pertinentes.

Aplicação:

O monitoramento, controle e cumprimento dos requisitos legais referentes à

organização e suas atividades é essencial aos sistemas de gestão e faz parte dos requisitos

5.2, 6.1.3 e 6.1.4 da ISO 45001.

Implantação:

A planilha é dividida em duas partes principais (Identificação e Controle). A primeira

lista as informações identificadoras do requisito legal, enquanto a segunda apresenta as

medidas de controle adotadas ou planejadas para o atendimento de tais. O preenchimento

Page 58: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

47

da planilha deve ser feito de forma tão detalhada quanto a organização julgar necessário,

prezando sempre pela organização e objetividade das informações. O Quadro 10 ilustra a

aplicação da planilha.

ITEM ÂMBITO ÓRGÃO TIPO NOME OBJETO REQUISITOS CUMPR. PLANO MONITORAMENTO

1 Federal MTE Norma NR - 9 PPRA

Elaboração, implementação e

manutenção do programa de

prevenção de riscos ambientais,

englobando, no mínimo, o

planejamento anual (metas,

prioridades e cronogramas), plano de

ações, modo de registro, manutenção

e divulgação de dados e

periodicidade e forma de avaliação.

Sim -

Inspeção de registros durante

auditorias internas

(semestral), divulgação de

dados relevantes no boletim

da empresa (semestral) e

avaliação crítica do programa e

sua eficácia pela alta direção

(anual).

IDENTIFICAÇÃO CONTROLE

Quadro 10: Aplicação da Planilha de Requisitos Legais

Fonte: Autor

Deve-se preencher na coluna Item a numeração ou código de identificação pertinente

(definido pela organização) de cada requisito listado na planilha, de forma a facilitar sua

identificação.

Os quatro grupamentos seguintes (Âmbito, Órgão, Tipo e Nome) discorrem sobre as

informações da obrigação em si. A coluna Âmbito refere-se à esfera de atuação da

legislação (Municipal, Estadual ou Federal). A próxima (Órgão), sobre a entidade geradora

da legislação (Ministério do Trabalho, ABNT, União, etc.). A terceira, Tipo, apresenta a

classe da legislação (lei, norma, decreto, resolução, portaria, entre outros). Finalmente, a

coluna Nome apresenta a numeração oficial da legislação (no exemplo, NR-9)

Objeto refere-se ao tema da legislação (no caso da NR-9, o objeto é o programa de

prevenção de riscos ambientais), enquanto a coluna de Requisitos apresenta as diferentes

obrigações estipuladas por tal.

As colunas de Cumprimento, Plano e Monitoramento funcionam em conjunto,

apresentando as medidas de monitoramento e controle utilizadas pela organização para

atender às obrigações legais – dependendo do grau de detalhe desejado, pode-se optar por

utilizar uma entrada para cada requisito listado.

Em Cumprimento indica-se a condição de atendimento do requisito, sendo “Sim” para

aqueles já atendidos, “Não” para os não cumpridos e “Em Progresso” para os pendentes

que já têm as medidas necessárias para seu atendimento implantadas (pode-se fazer uso

de cores para facilitar a visualização). Em Plano devem ser listadas as medidas

necessárias, já implantadas ou não, para o atendimento dos requisitos pendentes, conforme

Page 59: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

48

aplicável. Se existirem medidas de controle ou medição periódica, estabelecidas pelo

requisito ou pela organização, estas devem ser preenchidas na coluna Monitoramento.

Adicionalmente, a respeito de requisitos pendentes, é interessante que a organização

estabeleça um plano de ações voltado ao atendimento destes requisitos, listando todas as

medidas e atividades a serem desempenhadas e empregadas pelas diferentes áreas

relacionadas. O monitoramento do progresso dessas ações e atualização do plano,

devidamente mantido como informação documentada, pode ser usado como evidência do

engajamento da empresa e sua gestão com o sucesso do SGSSO, por exemplo, durante

auditorias e inspeções.

3.1.9. Quadro de Responsabilidades

Definição:

Trata-se de uma planilha onde são resumidas as responsabilidades dos funcionários

envolvidos na execução de determinada atividade ou processo. O Quadro 11 exemplifica um

Quadro de Responsabilidades.

Processo Atividade Funcionário 1 Funcionário 2 Funcionário 3

Quadro 11: Quadro de Responsabilidades

Fonte: BENITE (2004, p. 184)

Objetivo:

Apresentar de forma objetiva e simples todos os envolvidos na execução de uma

atividade.

Aplicação:

A definição de responsabilidades e obrigações faz parte do requisito 5.3 da ISO

45001. Caso o quadro inclua entradas referentes ao recebimento de informações, este pode

ser utilizado no cumprimento do requisito 7.4 (comunicação). As definições de

responsabilidade devem ser feitas de acordo com a competência necessária à realização

segura da atividade (conforme requisito 7.2).

A alocação de responsabilidades também pode ser descrita nos manuais de operação,

nas descrições dos cargos ou mesmo no organograma geral da organização (BENITE,

2004).

Implantação:

A organização do quadro pode ser tão detalhada (ou simplificada) quanto necessário

para o atendimento dos objetivos da organização. No modelo adaptado de Benite (2004),

Page 60: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

49

foram adotadas as entradas Processo, Atividade e Funcionários 1, 2 e 3. O Quadro 12

ilustra a aplicação do quadro à atividades da ICC.

PROCESSO ATIVIDADE GESTÃOENGENHEIRO DE

SEGURANÇACIPA

Auditoria

Interna

Avaliação de

indicadores de

segurança

Receber

Informações

(RI)

Responsabilidade

Primária (RP)

Responsabilidade

Secundária (RS)

Mapa de

Riscos

Elaboração e

Atualização

Receber

Informações

(RI)

Responsabilidade

Secundária (RS)

Responsabilidade

Primária (RP)

Quadro 12: Aplicação do Quadro de Responsabilidades

Fonte: BENITE (2004, p. 184), adaptado pelo Autor

As duas primeiras entradas do Quadro (Processo e Atividade) devem apresentar,

respectivamente, as informações necessárias à identificação do processo e da atividade.

Esta subdivisão se mostra útil, por exemplo, quando diferentes partes do processo são

realizadas por profissionais distintos.

Já as entradas relativas aos funcionários devem apresentar as informações relativas

às responsabilidades de cada um deles, refletindo o nível de detalhamento definido pela

organização. Deve-se manter o mesmo padrão de preenchimento ao longo de todo o

quadro, visando a organização e facilidade de entendimento.

As marcações das responsabilidades podem variar desde o simples preenchimento da

célula, indicando apenas o responsável, até um conjunto de siglas específicas (SANTOS,

2018). No exemplo apresentado, foram utilizadas três siglas. A primeira (RI) é relativa ao

recebimento de informações relevantes ao processo e seus resultados. A segunda, RP,

define o profissional responsável pela execução da atividade. Já a terceira, RS, define o

profissional com responsabilidade secundária, como consulta e apoio durante a execução.

3.1.10. Planilha de Treinamentos

Definição:

A ferramenta é uma tabela que apresenta os dados referentes aos treinamentos

necessários ao controle e mitigação de riscos associados à execução de determinada

atividade ou serviço. O Quadro 13 apresenta um modelo de estruturação.

Page 61: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

50

Item Perigo Risco Cargo Treinamento Responsável Frequência

Quadro 13: Planilha de Treinamentos

Fonte: GONÇALVES et al. (2012, p. 8), adaptado pelo Autor

Objetivo:

Apresentar de forma objetiva e sistêmica os treinamentos a serem ministrados aos

diferentes profissionais da organização.

Aplicação:

A definição dos treinamentos necessários à conscientização e capacitação dos

colaboradores faz parte dos requisitos 7.2 e 7.3 da ISO 45001, e são elementos

fundamentais dos sistemas de gestão da segurança.

Implantação:

O preenchimento da planilha está vinculado aos resultados da etapa de análise de

riscos e ferramentas utilizadas (APR, AAF, Fluxograma, etc.). Seu preenchimento deve

seguir os mesmos moldes das ferramentas anteriores, sendo realizado de forma objetiva e

sucinta. O Quadro 14 apresenta um exemplo de preenchimento da planilha.

ITEM PERIGO RISCO CARGO TREINAMENTO RESPONSÁVEL FREQUÊNCIA

T.TA.1Trabalho em

Altura

Queda em

altura

Pedreiro

Servente

Pintor

Trabalho em Altura

(Palestra e Prática)

Engenheiro de

SegurançaAnual

T.FC.1

Uso de

ferramental

cortante

Lesões e

ferimentos

Carpinteiro

Armador

Operação de

Equipamento - serra

de bancada e

circular

(Palestra e Prática)

Engenheiro de

Segurança e

Representante do

fabricante (auxílio)

Anual

Quadro 14: Aplicação da Planilha de Treinamentos

Fonte: GONÇALVES et al. (2012, p. 8), adaptado pelo Autor

Cada entrada na planilha deve ser identificada com a numeração ou código definidos

pela organização na coluna Item. No exemplo, adotou-se uma indexação similar à utilizada

na APR (item 3.1.5), sendo o primeiro dígito, T, referindo que o código se trata de um

treinamento, seguido das iniciais da situação perigosa (sendo FC referente a ferramental

cortante) e finalizado com a numeração do risco. As colunas de Perigo e Risco devem

refletir as situações perigosas e riscos inerentes, respectivamente, identificadas na etapa de

análise.

Page 62: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

51

Na entrada Cargo são listados os profissionais sujeitos ao risco de SSO identificado,

sendo identificados conforme as necessidades da organização – por exemplo, pode-se optar

por listar o nome de uma empresa subcontratada para realização de treinamento de

adequação ao SGSSO.

Os três últimos títulos da planilha apresentam as informações específicas relativas aos

treinamentos. Sob Treinamento, deve-se preencher todos os cursos e capacitações

necessários à execução das diversas atividades, conforme definido pela organização. Em

seguida, apresentam-se o profissional, ou profissionais, responsáveis por sua realização ou

acompanhamento, na coluna de mesmo nome. A última coluna (Frequência) contém a

periodicidade de aplicação dos treinamentos listados, e deve levar em conta a legislação

aplicável, os parâmetros e objetivos da organização

Uma boa prática aplicada pelo setor são os Diálogos Diários de Segurança (DDS). A

prática consiste na realização de conversas diárias objetivas antes do início das atividades,

durante as quais o responsável pela equipe em questão aborda, de forma simples e

objetiva, os pontos principais sobre os serviços do dia (o que será feito e as práticas de

segurança associadas). Os diálogos possuem curta duração, em torno de 15 minutos, e visa

conscientização dos colaboradores.

3.1.11. Quadro de Aquisições (QA)

Definição:

Trata-se de uma planilha onde são descritas as informações principais necessárias à

aquisição de serviços, insumos e mão de obra. O Quadro 15 apresenta um modelo do

quadro.

LEGISLAÇÃO ORGANIZAÇÃO CONTROLE PROFISSIONAL ESPECIFICAÇÃO RESPONSÁVELPERÍODO

REQUISITOS TREINAMENTOSTIPOITEM

Quadro 15: Quadro de Aquisições

Fonte: Autor

Objetivo:

Auxiliar nos processos de contratação e aquisição, considerando os requisitos

normativos e da política de SSO da organização.

Aplicação:

O controle de aquisições faz parte do requisito 8.1.4 da ISO 45001 e auxilia na gestão

e minimização dos riscos relativos aos materiais e equipamentos utilizados, bem como a

colaboração de subcontratados e prestadores de serviços quanto aos objetivos de SSO da

organização.

Page 63: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

52

Implantação:

O preenchimento da planilha deve ser feito de forma objetiva para facilitar o

entendimento pelo usuário. As entradas devem ser indexadas através de numeração ou

código pertinente, conforme definido pela organização. As entradas da planilha podem ser

modificadas, de forma que o detalhamento ou simplificação reflitam as necessidades da

organização. O Quadro 16 ilustra a aplicação do modelo proposto à uma organização fictícia

da ICC.

LEGISLAÇÃO ORGANIZAÇÃO CONTROLE PROFISSIONAL ESPECIFICAÇÃO RESPONSÁVEL

Operador

Operação do

Equipamento

Procedimentos de

Segurança

Procedimentos de

Emergência

Fornecedor

Eng Segurança

Procedimentos de

Segurança

Procedimentos de

Emergência

Fornecedor e

Organização

Pintor e

Auxiliar

Treinamento NR-35

Treinamento NR-18

Conscientização

sobre SGSSO

Subcontratada

(comparecimento)

Organização

(aplicação)

Téc.

Segudança

Procedimentos do

SGSSO

Procedimentos de

Emergência

Organização

Subcontratação -

PinturaSUB.01

2 anos

- Certificado de

treinamentos do

operador

- Comprovante de

certificado NR-12

- Contrato de Garantia

- Relatório de

capacidade técnica

- Caterpillar ou

equivalente técnico

(desejado)

- Fornecimento de

operador ou treinamento

(obrigatório)

- Certificação NR-12

(obrigatório)

- Garantia contra defeitos

(obrigatório)

NR-12

Maquinário -

Aluguel de

Escavadeira

Hidráulica

MAQ.01

PERÍODO

3 meses

- Verificação do CNPJ

- Documentação do

técnico (diploma e

contrato)

- Lista de membros da

CIPA

- CIPA (desejado)

- Técnico de Segurança

(obrigatório)

- Não ter sofrido processo

trabalhista ou sanção

legal relativa à SSO

últimos 3 anos

(obrigatório)

NR-18

NR-35

REQUISITOS TREINAMENTOSTIPOITEM

Quadro 16: Aplicação do Quadro de Aquisições

Fonte: Autor

A coluna Tipo deve apresentar os dados específicos sobre o objeto ou serviço que se

deseja adquirir.

Na seção Requisitos, devem ser preenchidos os requerimentos necessários

associados à entrada. Sob Legislação, colocam-se aqueles requisitos legais e normativos

referentes ao item. Na coluna Organização, as determinações feitas pela empresa. – o

grupamento pode ser detalhado para incluir requisitos de eventuais partes interessadas,

conforme necessário. Já em Controle, devem ser apresentadas as medidas ou critérios de

comprovação do atendimento dos requisitos listados, legais ou internos, conforme aplicável.

As informações relativas aos eventuais treinamentos necessários aos profissionais

envolvidos no uso do insumo listado, na execução do serviço ou operação de maquinário

devem ser listadas nos itens relativos à seção de Treinamentos. Sob Profissional, devem ser

listados todos os colaboradores associados ao item em questão. Em seguida, na entrada

Especificação, devem ser detalhados os treinamentos necessários pelos quais os

profissionais devem passar e, sob Responsável, os encarregados pelos treinamentos.

Page 64: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

53

Por fim, sob Período, deve-se apresentar o tempo de contratação do serviço ou a

validade do produto (no caso de insumos e materiais).

Destaca-se que antes da aquisição de ferramental, equipamento, mão de obra

terceirizada ou insumo devem ser avaliados seus possíveis impactos no processo produtivo

e, principalmente, na análise de riscos correspondente. Sempre que forem constatadas

mudanças significativas no procedimento executivo ou houverem alterações no grau e

tipologia dos riscos, a análise de riscos deve ser atualizada e traçadas as medidas de SSO

necessárias. Para tal, pode-se fazer uso das ferramentas de planejamento (como APR, AFF,

Fluxogramas e Quadro de Prioridades). Essa medida visa prevenir (ou ao menos minimizar)

a ocorrência de situações perigosas e riscos acarretadas pelas mudanças ligadas às

aquisições.

3.1.12. Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)

Definição:

A NR-5 define a CIPA como uma comissão partidária constituída por representantes

dos empregados e dos empregadores que atua em prol da SSO. Os representantes dos

empregados são eleitos por voto secreto, enquanto os representantes do empregador são

apontados por ele (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2011).

Objetivo:

Segundo o item 5.1 da NR-5, é finalidade da CIPA atuar na “prevenção de acidentes e

doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho

com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador” (MINISTÉRIO DO

TRABALHO, 2011, p. 1), contribuindo para a inclusão do trabalhador na identificação de

riscos e perigos associados às suas atividades e para a comunicação eficaz entre as partes.

Aplicação:

No setor da construção civil, a formação e manutenção da CIPA é regulamentada por

ambas a NR-5 e a NR-18. De acordo com a seção 18.33.7 da NR-18 (MINISTÉRIO DO

TRABALHO, 2018b, p. 46) “aplicam-se às empresas da indústria da construção as demais

disposições previstas na NR-5, naquilo em que não conflitar com o disposto neste item”. Ou

seja, quando da formação da Comissão, deve-se atender primeiramente às disposições

específicas da NR-18 e, em seguida, ao que é descrito na NR-5.

O requisito 5.4 da ISO 45001 trata especificamente dos processos de consulta e

participação dos trabalhadores no SGSSO. Nele fica descrito, em suma, que a organização

deve assegurar a participação dos trabalhadores em todas as etapas de concepção,

implantação e manutenção do SGSSO.

Page 65: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

54

Dessa forma, a CIPA se torna uma ferramenta importante para o bom funcionamento

do sistema e no cumprimento de todos os requisitos onde se faz necessária a participação

dos trabalhadores, atuando tanto como representante de seus interesses como facilitador

dos processos de comunicação e conscientização. A ferramenta pode ser utilizada em

conjunto ou integrar outras ferramentas de conscientização, como a Equipe Multiplicadora.

Implantação:

As organizações da ICC tem a formação de CIPA vinculada ao número de funcionários

que emprega e à duração de seus empreendimentos, segundo a NR-18 (MINISTÉRIO DO

TRABALHO, 2018b).

Existem dois casos possíveis para a formação da Comissão. Se as frentes de trabalho

da organização situadas na mesma cidade empregarem 70 funcionários ou menos cada, ela

deverá formar CIPA centralizada, composta por, pelo menos, 1 representante titular e 1

suplente para cada grupo de 50 empregados em cada frente (subitem 18.33.2). Caso

existam mais de 70 empregados em uma ou mais frentes de trabalho, segundo o subitem

18.33.3, a organização deve compor uma CIPA para cada canteiro (MINISTÉRIO DO

TRABALHO, 2018b).

Ficam isentas de formar CIPA, segundo o item 18.33.4, as frentes cujas construções

não ultrapassem 180 dias. Neste caso, deve ser formada uma comissão provisória de

prevenção de acidentes, composta por pelo menos 1 membro efeito e 1 suplente eleitos

para cada grupo de 50 funcionários (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2018b).

Caso a organização empregue subempreiteiras que não se enquadrem na cláusula

18.33.3, estas deverão participar das reuniões, curso e inspeções da CIPA da contratante

com pelo menos 1 representante (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2018b).

Em adição às determinações da NR-18, a NR-5 define os critérios de

dimensionamento da CIPA em função dos grupos de atividades representados na Relação

da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) – dispostas no Quadro III do

corpo da norma (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2011). Os grupos relativos aos serviços da

ICC encontram-se resumidos no Quadro 17.

Page 66: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

55

CNAE Descrição Grupo

41.20-4 Construção de edifícios C-18a

42.11-1 Construção de rodovias e ferrovias C-18a

42.12-0 Construção de obras-de-arte especiais C-18a

42.13-8 Obras de urbanização - ruas, praças e calçadas C-18a

42.21-9 Obras para geração e distribuição de energia elétrica e para telecomunicações C-18a

42.22-7 Construção de redes de abastecimento de água, coleta de esgoto e correlatas C-18

42.23-5 Construção de redes de transportes por dutos, exceto para água e esgoto C-18

42.91-0 Obras portuárias, marítimas e fluviais C-18

42.92-8 Montagem de instalações industriais e de estruturas metálicas C-18a

42.99-5 Obras de engenharia civil não especificadas anteriormente C-18

43.11-8 Demolição e preparação de canteiros de obras C-18a

43.12-6 Perfurações e sondagens C-18a

43.13-4 Obras de terraplenagem C-18a

43.19-3 Serviços de preparação do terreno não especificados anteriormente C-18a

43.21-5 Instalações elétricas C-18

43.22-3 Instalações hidráulicas, de sistemas de ventilação e refrigeração C-18

43.29-1 Obras de instalações em construções não especificadas anteriormente C-18

43.30-4 Obras de acabamento C-18

43.91-6 Obras de fundações C-18a

43.99-1 Serviços especializados para construção não especificados anteriormente C-18

Quadro 17: Relação das subatividades da ICC

Fonte: MINISTÉRIO DO TRABALHO (2011, p. 17 e 18), adaptado pelo Autor

A partir do número de empregados por estabelecimento e da classe de serviços

determinada, deve-se dimensionar a CIPA em função do Quadro I da NR-5. As atividades

da ICC encontram-se resumidas no Quadro 18.

Grupo

Empreg. x

Membros da CIPA

0 a 50

51 a 80

81 a

100

101 a

120

121 a

140

141 a

300

301 a

500

501 a

1000

1001 a

2500

2501 a

5000

5001 a

10000

Mais de 10000 somar para cada 2500

C-18 Efetivos 2 2 4 4 4 4 6 8 10 12 2

Suplentes 2 2 3 3 3 4 5 7 8 10 2

C-18a Efetivos 3 3 4 4 4 4 6 9 12 15 2

Suplentes 3 3 3 3 3 4 5 7 9 12 2

Quadro 18: Número de membros da CIPA por atividade e número de empregados

Fonte: MINISTÉRIO DO TRABALHO (2011, p.7 e 8), adaptado pelo Autor

Page 67: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

56

O estudo realizado por Fonseca (2017) apresenta o dimensionamento da CIPA para

uma empresa construtora de edifícios com duas frentes de trabalho na mesma cidade, a

primeira com 40 e a segunda com 45 funcionários. Assim sendo, foi constatado que a

empresa em questão se enquadra no subitem 18.33.2 da NR-18 e faz parte do CNAE 41.20-

4, grupo C-18a, relativo à construção de edifícios, de acordo com a NR-5. Dessa forma, de

acordo com os Quadros 17 e 18 e as determinações da NR-18, a CIPA desta empresa

deverá ser centralizada, composta por 1 membro titular e 1 suplente apontados pelo

empregador e 1 titular e 1 suplente para cada obra, totalizando três membros titulares e três

suplentes.

3.1.13. Planilha de Documentos

Definição:

Uma das formas de realizar o controle de documentações é através do preenchimento

de uma planilha, conforme exemplificado no Quadro 19, que lista as informações à geração,

atualização, armazenamento e descarte de documentos.

Item Tipo Nome Versão Emissão Responsável Aprovação Cópia Validade Caminho Descarte

Quadro 19: Planilha de Documentos

Fonte: GONÇALVES et al. (2012, p. 9), adaptado pelo Autor

Objetivo:

Facilitar o controle e acesso à informação documentada pertinente aos diversos

setores da organização.

Aplicação:

O controle de informação documentada é tratado especificamente no requisito 7.5 da

ISO 45001 e mencionado em todas as 10 seções da norma, sendo um quesito

especialmente importante dos sistemas de gestão.

Implantação:

O preenchimento da planilha deve ser feito de forma objetiva, evitando o uso de

explicações e textos longos que dificultem sua leitura e entendimento. O Quadro 20 ilustra a

aplicação da planilha a uma obra da ICC, utilizando o modelo adaptado de Gonçalves et al.

(2012).

Page 68: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

57

ITEM TIPO NOME VERSÃO EMISSÃO RESPONSÁVEL APROVAÇÃO CÓPIA VALIDADE CAMINHO DESCARTE

RIN.EPC.1 Rel.

Rel. de

Inspeção

de EPC

1 24-01-19Eng.

Segurança-

Gestor

Eng.

Oper.

CIPA

24-07-19

(C:)/ Obra 1/

Documentos/

Relatorios/

Inspeções

Pasta de obra

(Sala Eng.)

Destruição

de cópia

física após

atualização.

Manter

cópias

digitais.

Quadro 20: Aplicação da Planilha de Documentos

Fonte: GONÇALVES et al. (2012, p. 9), adaptado pelo Autor

A primeira coluna (Item) apresenta o código de identificação do documento. No

exemplo apresentado, a primeira sequência do código, RIN, especifica o modelo do

documento (relatório de inspeção), seguido da sigla de seu objeto e número da versão (1).

As quatro entradas seguintes (Tipo, Nome, Versão e Emissão) apresentam as

informações necessárias à identificação da informação documentada. Sob o título Tipo deve

ser apresentada a tipologia da informação (certificado, relatório, carta, ficha, recibo, ordem

de serviço, etc.) e na coluna Nome, o título do documento (no exemplo, relatório de

inspeção de equipamentos de proteção coletiva). Em Versão e Emissão, devem ser listados

a versão atual do documento e sua data de emissão, respectivamente.

Deve-se indicar o autor do documento na coluna Responsável, por nome ou cargo,

conforme necessário à sua identificação precisa. Quando for necessária a aprovação do

documento, esta informação deve ser listada na coluna Aprovação, sob os mesmos padrões

do responsável.

Deve-se listar em Cópia todas as partes interessadas (internas ou externas) que

deverão receber informações sob a geração ou atualização da documentação.

Adicionalmente, podem ser especificados do tipo de cópia (como aviso, cópia eletrônica ou

física, etc.) bem como o tipo de acesso (visualização, alteração, compartilhamento, etc.),

conforme as necessidades específicas da organização.

A coluna de atualização deve conter a data de validade do documento ou sua

frequência de revisão, conforme aplicável. Em Caminho deve-se apresentar o endereço

eletrônico do arquivo e local físico de armazenamento, conforme pertinente.

Finalmente, em Descarte, deve-se especificar quando e de que forma o descarte da

documentação deve ser feita, conforme necessário.

Page 69: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

58

3.1.14. Plano de Atendimento a Emergência (PAE)

Definição:

O Plano de Atendimento a Emergência é um documento onde são descritas as

informações necessárias, ações e procedimentos a serem tomados no caso da ocorrência

de uma emergência , tais como incêndios, explosões, acidentes de grande porte, ou mesmo

eventos naturais de grande escala (como tempestades, deslizamentos, etc.) visando a

proteção e resguardo à vida das pessoas no local e entorno, conforme aplicável (SENAI,

2011).

Objetivo:

Fornecer um guia de procedimentos que auxilie na gestão de situações de

emergência, preparando os funcionários e colaboradores envolvidos para identificar e tomar

as decisões pertinentes à situação específica – incluindo atendimento a feridos, evacuação

da área, proteção do patrimônio e do meio ambiente, acionamento de autoridades e todas

as outras ações pertinentes ao evento (SENAI, 2011).

Aplicação:

A elaboração de planos para atender e reagir a emergências faz parte do requisito 8.2

da ISO 45001 e constitui requisito legal no Brasil, conforme a lei Nº 13.425 de 30 de Março

de 2017 (BRASIL, 2017).

Implantação:

Os Planos de Atendimento a Emergências devem ser elaborados de acordo com as

situações potenciais de emergência identificadas nas etapas de planejamento e análise de

risco e devem levar em consideração tanto as atividades exercidas pela organização quanto

condições externas que possam afetar a organização e seus trabalhadores, trazendo as

ações e providências específicas às situações indicadas, uma vez que tais situações podem

ter consequências, impactos e procedimentos necessários distintos. Os campos de

aplicação e objetivos do PAE devem ser descritos no corpo de seu texto de forma clara e

objetiva.

Deve-se caracterizar o estabelecimento sujeito à situação de emergência específica

do PAE, as áreas passíveis de serem afetadas, descrevendo os espaços que o compõem –

dimensões, número de pavimentos, serviços desenvolvidos, insumos e ferramental

utilizados, presença de equipamentos, endereço, localização dos pontos de acesso e suas

proporções.

Page 70: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

59

Os dispositivos de proteção e mitigadores dos efeitos devem ser identificados e

listados de forma clara, apresentando sua localização específica, quantidade e aplicação –

incluindo extintores e mangueiras de incêndio, hidrantes, caixas de primeiros socorros,

macas, máscaras e trajes protetores e quaisquer outros existentes. Similarmente, deve-se

descrever os órgãos de apoio relevantes, internos e externos, suas localidades e

informações de contato e formas de acionamento (como hospitais, polícia, corpo de

bombeiros, brigadas internas, etc.).

O PAE deve conter as potenciais situações de emergência e as equipes (ou

funcionários) responsáveis, identificando-os e seus papéis de forma clara, apresentando

todas as informações e instruções necessárias para atender ao evento em questão. Para tal,

pode-se fazer uso de fluxogramas e organogramas descritivos. Devem ser descritos no PAE

os procedimentos de comunicação e registro da situação de emergência, a documentação

necessária para tal e seus locais de acesso, assim como os treinamentos e simulações

necessários e sua periodicidade.

O PAE deve ser avaliado e atualizado conforme a legislação pertinente e após a

ocorrência de situações de emergência, de acordo com os requisitos da ISO – uma boa

prática é realizar a avaliação crítica do PAE em uma reunião com a participação de

coordenadores e membros da alta direção juntamente com os especialistas de SST. A

análise da adequação e desempenho do Plano deve englobar também os resultados dos

processos de treinamento envolvidos, onde comumente são observados problemas relativos

à não participação ou desenteresse dos colaboradores, definindo ações para sua melhoria

contínua. A Figura 8 ilustra o fluxo de procedimentos do PAE relacionado a um vazamento

de líquido inflamável.

Page 71: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

60

INICIO 1

DETECTAR A EMERGÊNCIA EXISTEM

QUALQUER PESSOA FERIDOS

2

COMUNICAR A EMERGÊNCIA

PARA A ÁREA PERTINENTE

IMPLEMENTAR AÇÕES

DE EMERGÊNCIA

QUEM DETECTOU EQUIPE

PROMOVER AVALIAÇÃO

PRELIMINAR DO NÍVEL

DE EMERGÊNCIA

PROMOVER MEDIDAS

DE CONTROLE

ADICIONAIS

AVALIAR A EFICÁCIA

DO CONTROLE

RESPONSÁVEL DA ÁREA EQUIPE EQUIPE

A EMERGÊNCIA

PODE SER CONTROLADA

PELO PRÓPRIO

USUÁRIO DA ÁREA?

ACIONAR EQUIPES

DE MANUTENÇÃO

E MEIO AMBIENTE

EMERGÊNCIA

CONTROLADA?

EQUIPE

ABANDONO DA

ÁREA

INICIAR O CONTROLE

DO VAZAMENTO

LIMPEZA DA ÁREA E

DESTINAR RESÍDUOS

TÉCNICO DA ÁREA TÉCNICO DA ÁREA EQUIPE

COMUNICAR EQUIPE E

UTILIZAR RECURSOSLIBERAR A ÁREA

TÉCNICO DA ÁREA EQUIPE

2

REGISTRAR ACIDENTE

AVALIAR O NÍVEL

DE EMERGÊNCIA

EQUIPE FIM

1

APLICAR PRIMEIROS

SOCORROS

SIMNÃO

SIM

SIM

NÃO

NÃO

Figura 8: PAE de vazamento de substância inflamável

Fonte: SENAI (2011, p. 17)

3.1.15. Auditoria Interna

Definição:

As normas ISO definem auditoria como um processo sistemático, documentado e

independente de avaliação que determina objetivamente, através de evidências de auditoria,

a eficácia do atendimento aos critérios de auditoria (ISO, 2018b).

Page 72: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

61

Objetivo:

Para os SGSSO baseados na ISO 45001, os processos de auditoria visam avaliar a

conformidade do sistema quanto aos requisitos definidos pela organização, os requisitos da

norma e a eficácia de implantação e manutenção do sistema (ISO, 2018a).

Aplicação:

Os processos de auditoria são amplamente utilizados nos sistemas de gestão e são

fundamentais à sua avaliação e melhoria contínua, fazendo parte do requisito 9.2 da ISO

45001. Os processos de auditoria dos sistemas de gestão ISO são baseados na ISO 19011

(2018b).

Implantação:

A ISO 19011 traz um conjunto de informações e diretrizes específicas sobre os

processos de auditoria, seleção de auditores e definição de equipes, a preparação dos

processos e procedimentos associados à sua aplicação. Estes processos devem ser

definidos de acordo com o tamanho e natureza da organização, refletindo as características

e complexidades de seus processos e atividades, oportunidades e riscos associados, bem

como a maturidade do sistema implantado e da sua gestão – caso o auditado faça uso de

subcontratação ou terceirização de atividades, o processo deve considerar também as

características destes terceiros (ISO, 2018b).

Assim como nas outras etapas do SGSSO, os processos de auditoria devem fazer

parte da avaliação crítica pela alta direção, sendo modificados conforme necessário, visando

sempre a melhoria contínua de todo o sistema. Recomenda-se que a definição dos

programas seja realizada em conjunto com o Quadro de Auditorias, para facilitar o controle

de informações e comunicação.

Durante seu traçado, deve-se assegurar que os programas de auditoria contenham as

informações e recursos necessários para que o processo ocorra de forma eficaz e eficiente.

Estes dados devem incluir os objetivos do programa, seus riscos e oportunidades inerentes,

o escopo e cronograma de suas etapas, os critérios e métodos a serem aplicados, a

documentação necessária e a definição dos auditores. O processo deve assegurar a

independência das partes, visando a objetividade da coleta de dados e análise de resultados

(ISO, 2018b).

A Figura 9 apresenta um fluxograma de definição do processo de auditoria interna,

segundo a metodologia PDCA utilizada nas normas ISO.

Page 73: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

62

Preparar

atividades de

auditoria

Início

Iniciar a

auditoria

Revisar e

melhorar o

programa

Monitorar o

programa

Determinar e avaliar

riscos e oportunidades do

programa

Definir o programa de

auditorias

Implementar

o programa

Revisão de resultados

(se necessário)

Conduzir

atividades

de

Estabelecer

os objetivos

do programa

Preparar e

distribuir

relatórios

Finalizar a

auditoria

Figura 9: Definição do processo de Auditoria Interna

Fonte: ISO (2018b, p. 8)

Quando da definição dos objetivos das auditorias internas, podem ser considerados as

oportunidades de melhoria do sistema e seu desempenho, a capacidade da organização de

determinar seu contexto, riscos e oportunidades, bem como a definição e implementação de

medidas relevantes a tais, conformidade com requisitos legais e outros, alinhamento dos

objetivos do sistema com a visão estratégica da empresa, entre outros (ISO, 2018b).

A norma chama atenção para a existência de riscos associados à organização e seu

contexto que podem interferir no cumprimento com os objetivos de auditoria. Estes riscos

devem ser identificados pelo auditor responsável e apresentados ao auditado (mesmo que

ambos sejam membros da organização), de forma a lidar com estes da melhor maneira

possível (ISO, 2018b).

Como exemplos de riscos pode-se citar a extensão dos objetos de avaliação do

programa, insuficiência de recursos, tempo e treinamentos, definição inadequada da equipe

de auditoria e sua competência, problemas de comunicação, insuficiente ou controle

inadequado de informação documentadas. Podem também ser identificadas oportunidades

Page 74: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

63

como a possibilidade de auditar múltiplas áreas numa mesma visita, coordenação do

cronograma da auditoria com a presença da equipe de produção local, etc. (ISO, 2018b).

Ao longo da definição de todo o processo, deve-se atentar para que o programa seja

consistente com o planejamento estratégico da organização, a política de SSO e seus

objetivos, levando em consideração as necessidades das partes interessadas, as

características dos processos, produtos e previsão de modificações nestes, os requisitos do

sistema, os riscos associados à organização e resultados de auditorias anteriores (ISO,

2018b).

Deve-se assegurar a presença dos recursos necessários à realização das atividades,

tais como disponibilidade de informações e documentação, recursos financeiros,

equipamentos e tempo, assim como garantir a competência adequada da equipe (os

auditores devem possuir conhecimento técnico suficiente sobre a área e/ou atividade pela

qual são responsáveis). O processo de auditoria deve incluir a formas e modos necessários

de comunicação de informações relevantes e resultados, bem como processos para

resolução de eventuais conflitos e disputas (ISO, 2018b).

A aplicação do programa de auditorias a um item ou setor específico do sistema ou da

organização deve seguir os passos e recomendações descritos, adequando os objetivos e

metodologia às áreas foco da auditoria. Ao longo da aplicação do programa e condução das

auditorias, os responsáveis devem assegurar que todos os registros de auditoria sejam

gerados de forma adequada, a fim de comprovar a implementação dos processos e coleta

de dados relevantes e sua objetividade – tais como cronogramas, objetivos, identificação de

riscos, planos e procedimentos, relatórios e evidências de auditoria e não conformidades,

competências, treinamentos e critérios de avaliação (ISO, 2018b).

O monitoramento dos programas deve considerar o cumprimento dos cronogramas e

objetivos de auditoria, o desempenho dos membros da equipe, a qualidade da

documentação e registros gerados, o parecer do auditado e partes interessadas e quaisquer

outros dados relevantes. Da mesma forma, a avaliação e melhoria do processo deve ser

feita pelo auditor responsável em conjunto com o auditado, analisando os itens anteriores

em adição a implementação geral e percepção dos envolvidos, identificação de áreas de

melhoria, disposição de resultados, metodologia utilizada e quais outras informações

julgadas relevantes à situação específica (ISO, 2018b).

Ao iniciar a auditoria, o auditor deve estabelecer contato com o auditado, a fim de

obter, confirmar e estabelecer as informações relevantes quanto a disponibilidade e

obtenção de acesso às informações e documentação relevantes, datas e locais das visitas,

presença de pessoal, objetivos e áreas de interesse e quaisquer outros dados e informações

Page 75: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

64

pertinentes ao processo. O auditor deve estudar a documentação e informações obtidas, de

forma a entender o contexto no qual o auditado se insere, determinar o melhor plano de

ação e atividades a serem executadas e averiguar se as entradas são suficientes à

execução da auditoria, ou se é preferível realizar uma avaliação alternativa (ISO, 2018b).

Confirmada a viabilidade, devem ser determinadas a métrica e amostragem

necessárias, a equipe, suas competências e responsabilidades, as áreas de enfoque, bem

como os objetivos específicos, critérios e referências, as localizações, durações e recursos

necessários. O plano de auditoria traçado deve ser apresentado ao auditado, para que

quaisquer incompatibilidades e eventuais problemas sejam endereçados adequadamente.

Os membros da equipe devem estar munidos de todos os meios necessários e informações

relevantes à auditoria, incluindo, mas não limitados a fichas e listas de avaliação, planos de

amostragem e formulários – que devem ser retidos, pelo menos, até o final do processo, ou

conforme previamente determinado (ISO, 2018b).

Iniciado o processo, deve-se realizar uma reunião de abertura para confirmar

informações recebidas anteriormente e especificidades do processo. Deve-se manter a

comunicação entre auditor e auditado durante o processo, para atualizações de progresso e

informações pertinentes conforme apropriado. Caso seja necessário modificar o plano da

auditoria durante sua execução, esta deve ser analisada de forma crítica e aprovada – pelo

auditor, gerente do programa ou auditado conforme necessário (ISO, 2018b).

As informações devem ser coletadas através dos processos de amostragem definidos

e posteriormente confirmadas, somente sendo aceitas como evidência de auditoria aquelas

informações que possam ser verificadas (entrevistas, fotos, documentos, registros, dados,

medições, contratos, especificações técnicas, notas fiscais, etc.). Todos os dados que levem

a constatações da auditoria devem ser documentados apropriadamente (ISO, 2018b).

As constatações e conclusões devem ser analisadas em conjunto com o auditado,

visando sanar quaisquer dúvidas ou divergências sobre os resultados e assegurar a

precisão das informações, documentando todos os achados. Os resultados devem ser

compilados no relatório de auditoria, apresentando ao auditado os resultados e informações

relevantes e suas possíveis implicações, através de mídias digitais e quaisquer outras

formas de apresentação que auxiliem no seu entendimento. O relatório de auditoria deve

“fornecer um registro completo, preciso, conciso e claro da auditoria, contendo os objetivos,

escopo, metodologia e métrica empregadas, informações do auditado, locais e datas das

inspeções, constatações, conclusões” (ISO, 2018b, p. 27), podendo conter recomendações,

mencionar boas práticas identificadas, áreas não avaliadas e quaisquer outras informações

julgadas pertinentes pela equipe de auditoria (ISO, 2018b).

Page 76: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

65

Para assegurar a veracidade e imparcialidade das avaliações e dos resultados do

processo de auditoria, é fundamental que o auditor responsável, e os membros da equipe de

auditoria, sejam independentes das áreas que avaliarão. Da mesma forma, é necessário

que os auditores possuam conhecimento técnico sobre o objeto da auditoria e sejam

habilitados em curso específico como auditor interno – estes cursos devem englobar a

interpretação e requisitos da ISO 19011, da ISO 45001 e outras normas pertinentes aos

processos ou área do sistema a serem avaliados.

3.1.16. Auditoria Comportamental

Definição:

Trata-se de uma ferramenta de avaliação focada no aspecto humano, priorizando a

observação da situação em que o profissional está inserido e analisando suas ações e

comportamento perante a tais (GARCIA et al., 2013).

Objetivo:

Avaliação da conduta do profissional quanto à SSO, visando a identificação de ações

e situações com potencial de perigo (para o próprio profissional e indivíduos próximos)

durante as atividades diárias realizadas. O foco principal da ferramenta é a conscientização

da mão de obra.

Aplicação:

A Auditoria Comportamental pode ser utilizada juntamente com as Equipes

Multiplicadoras e a CIPA para cumprir com o requisito 7.3 da ISO 45001 (Conscientização),

além de auxiliar nas etapas de controle operacional (requisito 8.1), avaliação do

desempenho (requisitos 9.1 e 9.2) e melhoria (seção 10).

É comum que as auditorias façam uso das Fichas de Verificação para facilitar a

objetividade da coleta de dados.

Implantação:

A Figura 10 ilustra o processo de realização da Auditoria Comportamental.

Page 77: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

66

Não

Início

Sim

Seguir para próxima

área

Houve

comportamento ou

situação insegura?

Abordar o

profissional

Marcar ocorrência

na ficha

Observar

profissional

Figura 10: Execução da Auditoria Comportamental

Fonte: Autor

A Auditoria Comportamental é uma avaliação realizada através da observação de uma

equipe de profissionais ou de um indivíduo. O auditor deve analisar as circunstâncias e o

ambiente em que os profissionais estão inseridos visando identificar os riscos presentes no

local – como limpeza e organização do ambiente, presença de materiais ou ferramental

potencialmente perigoso, etc. (BENEVENUTO et al., 2013).

O avaliador deve observar o comportamento das pessoas perante aos riscos

identificados de acordo com o conjunto de critérios específicos da avaliação – estes podem

incluir a aplicação ou descumprimento das práticas de SSO estabelecidas pela organização,

uso dos equipamentos de proteção disponibilizados, postura de trabalho, entre outros. Caso

sejam observados atos, comportamentos ou situações inseguras, o auditor deve interromper

a execução da atividade e alertar os profissionais envolvidos para os riscos observados e

como corrigi-los, conscientizando-os sobre a importância de sua segurança. O auditor deve

também salientar os pontos positivos observados e sanar as dúvidas e questões dos

auditados, caso existam (BENEVENUTO et al., 2013).

Devido à dinâmica do processo e especificidade dos itens a serem abordados

dependendo da atividade, é comum que as auditorias cmportamentais sejam realizadas com

o auxílio de uma ficha ou planilha que traga essas informações, como no exemplo da Figura

11.

Page 78: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

67

Figura 11: Ficha de Verificação para Auditoria Comportamental

Fonte: BENEVENUTO et al. (2013, p. 5).

O auditor deve assinalar na ficha as situações observadas e o comportamento dos

profissionais após a abordagem (caso ocorra). Ao final do processo de auditoria, as

informações e resultados obtidos devem ser repassados à gestão do SGSSO, para que ela

possa tomar as atitudes necessárias para a melhoria contínua do sistema (GARCIA et al.,

2013).

3.1.17. Quadro de Incidentes

Definição:

Trata-se de uma tabela onde são agrupados os dados sobre os incidentes ocorridos

na organização. Nas investigações sobre as ocorrências relacionadas à SSO, é possível

obter um conjunto de dados preciso sobre o incidente, suas causas e sobre as atividades

relacionadas. O Quadro 21 apresenta um modelo do Quadro de Incidentes voltado para a

segurança ocupacional.

Item Ocorrência Gravidade Mão de

obra Fonte Caminho Local Área Serviço Data

Quadro 21: Quadro de Incidentes

Fonte: Autor

Objetivo:

Compilar de forma coesa os dados relativos à ocorrência de incidentes durante a

realização de atividades na organização durante um período específico.

Page 79: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

68

Aplicação:

Por se tratar, basicamente, de uma base de dados de incidentes, a ferramenta pode

ser utilizada como um indicador quantitativo ou como ferramenta de avaliação da eficácia

das medidas preventivas e mitigadoras de riscos do SGSSO, auxiliando na análise crítica e

tomada de decisões.

A medição e monitoramento do SGSSO fazem parte do requisito 9.1 da ISO 45001.

Para que a ferramenta seja utilizada como métrica ou indicador da eficácia do sistema, a

organização deve reter como informação documentada os dados apropriados. Dessa forma,

faz-se necessário que o preenchimento e avaliação de seus dados sejam feitos

periodicamente, conforme a necessidade de avaliação e objetivos do sistema.

Similarmente, os dados do quadro também podem ser utilizados como entradas em

outras ferramentas, como para a elaboração dos Mapas de Risco (apresentados no item

3.1.17 deste trabalho)

Implantação:

O preenchimento do quadro requer que as informações sobre incidentes sejam

documentadas ou retidas pela organização, como por notificações de parceiros, emissão de

CAT, relatórios de auditorias internas, externas, comportamentais ou mesmo inspeções. O

Quadro 22 ilustra a aplicação do quadro à uma obra fictícia da ICC.

ITEM CLASSE OCORRÊNCIA DANOMÃO DE

OBRAFONTE CAMINHO LOCAL ÁREA ATIVIDADE DATA

AA.01Acidente com

Afastamento

Queda em

altura

Lesão física

(fratura)Pintor CAT 07

(C:)/ Obra 1/

Documentos/

CAT/

Bloco 1 -

Fachada

norte

Serviços

de

Fachada

Pintura (altura

maior que 3m)08-01-19

SP.01Situação

Perigosa

Queda de

ferramental

em altura

próximo a

transitantes

- Servente RAC.ARM.3

(C:)/ Obra 1/

Documentos/

Relatórios/

Auditoria

Bloco 2 -

Pav. 3

Armação

de

Pilares

Assentamento

de armadura10-01-19

Quadro 22: Aplicação do Quadro de Incidentes

Fonte: Autor

As entradas de ocorrências no quadro deve ser indexadas com numeração ou código

pertinente – no exemplo, os códigos refletem as iniciais da classe do incidente, seguido do

número de ocorrências daquele tipo.

Os três títulos seguintes apresentam em conjunto as especificações do evento – como

o preenchimento deve ser baseado em informação documentada existente, este deve ser

feito de forma objetiva e, se necessário, realizar a consulta ao documento fonte. Na coluna

Classe deve ser descrito o tipo de ocorrência (situação perigosa, acidente com afastamento,

Page 80: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

69

acidente com óbito, emergência, etc.). Já a coluna Ocorrência deve apresentar o evento em

si, como perfuração, queda em altura, choque elétrico, queda de ferramental e similares. Em

seguida deve-se descrever o dano causado pelo evento na coluna de mesmo nome –

quando não houver dano associado, como nos quase-acidentes, não preencher.

No segmento Mão de obra devem ser listados os potenciais afetados (no caso de

quase acidentes) ou aqueles lesionados pela ocorrência. Destaca-se que o indivíduo que

sofre lesão pode ser o mesmo que causou o acidente – por exemplo, no Quadro 20, verifica-

se um quase acidente gerado pela queda de uma ferramenta durante o assentamento de

armadura no terceiro pavimento sobre uma área por onde transitava um servente.

As entradas de Fonte e Caminho devem apresentar os dados da informação

documentada originária, respectivamente, o seu código identificador (ou título e número,

conforme utilizado pela organização) e local de armazenamento (eletrônico ou físico).

Sob o título Local, deve-se indicar o lugar específico onde o incidente aconteceu. Já

sob Área e Atividade, devem ser apresentadas as informações relativas ao serviço causa do

incidente, sendo a primeira entrada referente ao grupo e a segunda o serviço específico,

assim como feito na APR. Por fim, deve-se incluir a data do incidente.

3.1.18. Mapa de Riscos

Definição:

Segundo Souza (2014, p. 25) os mapas de risco são “uma forma de representar

graficamente os riscos em que os trabalhadores estão expostos”.

Objetivo:

Representação gráfica dos riscos associados às atividades realizadas nos diferentes

locais da organização. A presença do mapa nos ambientes auxilia no entendimento dos

riscos pela mão de obra e auxilia no posicionamento estratégico de profissionais de

segurança (SOUZA, 2014).

Aplicação:

A NR-5 determina como obrigação da CIPA, no item 5.16, a elaboração dos mapas de

riscos, em conjunto com os trabalhadores da organização e com suporte do SESMT. Se a

organização não possuir CIPA, os mapas devem ser traçados por profissional capacitado de

SSO (MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2011, p. 2).

Quando regularmente atualizados, os mapas de risco podem ser utilizados como

indicadores qualitativos do SGSSO, bem como auxiliar no enfoque das ações preventivas e

de controle de riscos, contribuindo para o cumprimento dos requisitos 6.1.2 (identificação de

Page 81: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

70

riscos), 7.3 (conscientização), 8.1.2 (eliminação de riscos) e 9.1 (avaliação do desempenho)

da ISO 45001.

Implantação:

A aplicação da ferramenta deve ser feita após a etapa de identificação e análise de

riscos e perigos, e pode ser feita para todos os setores da organização. Dessa forma, é

necessário que exista um certo grau de informação documentada, por exemplo, a existência

de planilhas de análise de riscos ou registros de incidentes.

Os mapas de risco tradicionais são elaborados em função dos riscos presentes no

local, de acordo com as atividades executadas. A Figura 12 ilustra o processo de construção

deste tipo de mapa.

IDENTIFICAR

SERVIÇOS

BUSCAR RISCOS

ASSOCIADOS (APR)

AGRUPAR RISCOS

CONFORME TIPO

ELABORAR

MAPA

ALOCAR

EQUIPE

Figura 12: Processo de elaboração do Mapa de Riscos tradicional

Fonte: Autor

Neste tipo de mapa, os diferentes riscos identificados no ambiente são agrupados de

acordo com sua tipologia (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidente),

utilizando uma cor para cada. O traçado do mapa é realizado utilizando círculos com

diferentes diâmetros, crescentes em função do grau de risco, com as respectivas cores

definidas (MONTELO et al., 2011). A Figura 13 apresenta um exemplo do mapa de riscos

tradicional.

Figura 13: Mapa de Riscos tradicional

Fonte: MONTELO et al. (2011, p. 266)

Page 82: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

71

Choe e Leite (2017b) propõem uma abordagem diferenciada, associando os mapas de

risco ao avanço do empreendimento. Para que isso seja possível, atribuem-se valores

numéricos às atividades de acordo com seus riscos e índices de ocorrência de incidentes

(CHOE; LEITE, 2017a). Em função dos valores obtidos, traçam-se os mapas

periodicamente, de acordo com a necessidade da organização.

Apesar de muito pertinente, a elaboração de tais mapas necessita de uma base de

dados histórica de acidentes detalhada e uma análise complexa que não refletem as

características do mercado nacional da ICC. Desta forma, propõe-se uma simplificação do

modelo, elaborado através dos dados representados no Quadro de Incidentes (podem ser

utilizadas outras ferramentas ou fontes de informação diferentes que a organização possua,

bastando apenas que sejam verificáveis). A Figura 14 ilustra o processo de elaboração do

mapa de riscos temporal.

IDENTIFICAR

SERVIÇOS

BUSCAR INCIDENTES

ASSOCIADOS (QUADRO

INCIDENTES)

DEFINIR ESCALA DE

RISCO/GRAVIDADE

(MATRIZ GUT)

ELABORAR

MAPA

ALOCAR

EQUIPE

Figura 14: Processo de elaboração do Mapa de Riscos temporal

Fonte: Autor

Após a identificação dos serviços realizados no ambiente, deve-se buscar os dados

pertinentes sobre o histórico de incidentes daquela determinada atividade – é importante

considerar também os riscos referentes à localização em si, como rotas de transportes de

materiais perigosos ou trajetos de pessoas.

Em seguida, deve-se definir uma escala de risco a ser utilizada nos mapas, atribuindo

índices numéricos aos dados de acidentes, que podem ser simplesmente o número de

ocorrências ou através da Matriz GUT, por exemplo. É importante que a mesma escala seja

utilizada para todos os mapas elaborados para a etapa analisada do empreendimento. O

somatório dos valores definidos proporciona um indicador quantitativo do risco das

diferentes áreas analisadas, permitindo a identificação de áreas críticas no empreendimento.

A Figura 15 apresenta um exemplo deste tipo de mapa – as cores verde, azul e vermelho

indicam, respectivamente, as áreas de risco baixo, médio e alto.

Page 83: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

72

Figura 15: Mapa de Riscos temporal

Fonte: CHOE e LEITE (2017b, p. 342)

Em ambos os casos, é interessante que os mapas sejam atualizados sempre que

ocorram mudanças significativas nas atividades realizadas ou na organização espacial do

canteiro. Adicionalmente, podem ser aplicados treinamentos práticos nos ambientes onde

existam mapas, para facilitar seu entendimento e conscientizar os presentes sobre os riscos

aos quais estão expostos. Similarmente, podem ser fixadas junto aos mapas os

procedimentos de segurança necessários à prevenção e mitigação dos riscos listados.

3.1.19. Quadro de Auditorias

Definição:

A planilha contém os dados de controle de realização de auditorias, contendo as

informações necessárias à identificação de documentos, horizontes de realização. O Quadro

23 apresenta um modelo do Quadro de Auditorias.

Item Tipo Descrição Objeto Responsável Relatório Caminho Data Estado

Quadro 23: Quadro de Auditorias

Fonte: Autor

Objetivo:

A principal função do quadro é agrupar e organizar as informações pertinentes à

realização das auditorias programadas, facilitando seu controle pela gerência do SGSSO e

auxiliar no processo de comunicação dos resultados às partes interessadas, planejamento

de ações e controle dos indicadores.

Aplicação:

A definição dos processos de auditoria e sua periodicidade de realização fazem parte

do requisito 9.2 da ISO 45001, no entanto, o controle e monitoramento de seus resultados

pode auxiliar nos processos relacionados aos requisitos 9.1 (monitoramento) e 9.3 (análise

crítica).

Page 84: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

73

Implantação:

A organização deve definir, através dos processos de auditoria, objetivos traçados e

política de SSO, as áreas e serviços da empresa que devem ser incluídos na realização de

auditorias e a frequência necessária à cada setor especificado. Estas definições devem

levar em consideração os resultados obtidos anteriormente, o desempenho dos setores

(incluindo ocorrência de desvios), a complexidade e riscos associados, a implementação de

mudanças, as métricas empregadas pela organização e quaisquer outros indicadores

pertinentes.

O preenchimento dos campos do quadro deve ser feito de forma objetiva, para facilitar

o entendimento do leitor. O Quadro 24 apresenta um exemplo da ferramenta aplicada à ICC.

ITEM TIPO DESCRIÇÃO OBJETO RESPONSÁVEL RELATÓRIO CAMINHO DATA ESTADO

1Aud.

Interna

Aud. Int.

anual do

SGSSO

SGSSO,

documentos

e indicadores

Eng.

Segurança,

Consultor

Externo

Rel. Auditoria

do SGSSO

2018

(C:)/ Obra 1/

Documentos

/ Relatórios/

Auditoria

19-12-18 Realizada

2Aud.

Comp.

Aud. Comp.

Serviços de

Estrutura

Equipe de

Concretagem

CIPA,

Técnico de

Segurança

- - 07-01-18 Agendada

Quadro 24: Aplicação do Quadro de Auditorias

Fonte: Autor

As entradas do quadro devem ser identificadas com numeração ou código específico,

conforme definido pela organização.

Os quatro títulos seguintes apresentam as informações relativas à auditoria em

questão. Sob Tipo, deve-se indicar a classe de auditoria realizada (interna, externa,

comportamental, etc.). Em seguida, a coluna Descrição deve descrever suscintamente a

auditoria, ou apresentar seu título. A entrada Objeto deve apresentar os focos da inspeção,

quando estes forem disponibilizados. Já sob o título Responsável, devem ser listados os

profissionais ou organizações responsáveis pela execução do processo.

A coluna Relatório deve apresentar o título ou código do relatório emitido, seguido de

sua localização, eletrônica e física, conforme pertinente (descrito na coluna Caminho).

Nestas entradas, podem ser apresentados outros documentos relevantes ao processo de

auditoria em questão, conforme julgado necessário pela organização.

Por fim, deve-se assinalar a data de realização da auditoria na coluna de mesmo

nome e informar sua situação de cumprimento na coluna Estado.

Page 85: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

74

3.1.20. Ficha de Verificação (FV)

Definição:

As fichas, ou listas, de verificação são formulários com entradas padronizadas

utilizados para a coleta objetiva de informação, comumente formatados como tabelas ou

listas, podendo incluir figuras e ilustrações para auxiliar no entendimento (SANTOS, 2018).

Objetivo:

Coleta de informações e checagem de resultados, auxiliando na padronização dos

dados, bem como guiar uma ordem específica de execução de atividades.

Aplicação:

Auxiliar no processo produtivo das atividades evitando erros por esquecimento, na

implantação de procedimentos de segurança, bem como na verificação de tarefas.

O uso das fichas de verificação é frequente nos processos de inspeção, avaliação e

auditoria, facilitando a análise do cumprimento de requisitos e critérios específicos (como

requisitos legais, objetivos e metas, etc.). Na construção civil, a ferramenta é muito utilizada

nos processos de medição e controle de qualidade dos serviços e na verificação do

cumprimento de requisitos normativos, como os da NR-18.

Assim sendo, as fichas podem ser utilizadas no auxílio dos processos diversos

processos dos sistemas de gestão da ISO 45001, especialmente nos que dizem respeito ao

controle operacional e avaliação de desempenho (seções 8 e 9, respectivamente).

Implantação:

Fundamentalmente, as fichas são uma ferramenta de apoio, sendo necessário que

sua formatação seja adequada às especificidades da atividade à qual será aplicada. Dessa

forma, sua elaboração deve ser feita previamente ao início da atividade, levando em

consideração os objetivos específicos e seu usuário. A linguagem utilizada e grau de

detalhamento devem ser tão específicos quanto necessário, a fim de assegurar a coleta de

informações suficientes e precisas.

Similarmente, deve-se adequar a formatação e apresentação da ficha à atividade,

visando facilitar o procedimento em questão. As fichas em forma de tabela são comumente

empregadas na conferência de atividades e requisitos, a exemplo da Figura 16. Já a

apresentação em formato de lista é mais indicada, por exemplo, à descrição do fluxo de

atividades ou procedimentos – como a lista de testes necessários antes da operação de

maquinário, ou do uso de equipamentos de proteção necessários à entrada em um

ambiente.

Page 86: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

75

Figura 16: Modelo de ficha de verificação de requisitos da NR-18

Fonte: NETO (2018a)

Em geral, as FV devem possuir três categorias de informação principais – a função, o

item a ser avaliado e o resultado percebido. Na Figura 17, tem-se como função “Check List

Área de Vivência NR-18”, apresentado no título da ficha. Os itens a serem avaliados são

listados de acordo com os requisitos da NR-18 na coluna Descrição. Já o resultado da

avaliação deve ser especificado dentre três categorias C (conforme), NC (não conforme) e

NA (não aplicável). A planilha apresenta, adicionalmente, uma seção reservada para

possíveis comentários do avaliador na coluna Observação e Medidas.

A descrição do item de análise pode variar de ficha para ficha, de forma a facilitar a

identificação do requisito ou critério necessário, por exemplo, o item “Chuveiros (quantidade

adequada)”, na seção de Sanitários da lista, pode apresentar detalhamento adicional,

especificando, conforme o requisito 18.4.2.4 da norma, a necessidade de 1 unidade de

chuveiros para cada grupo de 10 trabalhadores ou fração (MINISTÉRIO DO TRABALHO,

2018b).

Este tipo de detalhamento pode ser utilizado para evitar erros de preenchimento da

planilha, caso o usuário não possua conhecimento suficiente sobre o requisito, bem como

por erros de atenção. Similarmente, Benevenuto et al. (2013) apontam que esta subdivisão,

ou detalhamento, permite a identificação detalhada de desvios, quando da condução de

Page 87: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

76

auditorias comportamentais por exemplo, facilitando o traçado de medidas preventivas e

corretivas.

As fichas podem também conter informações sobre sua periodicidade de aplicação ou

tempo de validade, assim como apresentar dados sobre evidências de coleta (tais como

fotos ou documentos associados), principalmente nos casos onde são percebidas não

conformidades – a identificação é frequentemente utilizada nos processos de medição de

serviços e auditorias, onde é necessário comprovar a ocorrência em questão.

3.2 Análise e resultados obtidos na gestão de SST na construção civil

3.2.1. Generalidades

As diferentes ferramentas apresentadas no item 3.1 deste trabalho podem ser

utilizadas em conjunto ou individualmente, permitindo a obtenção de resultados

complementares e mais detalhados, a exemplo dos fluxogramas, AAF e APR, comumente

utilizados em conjunto nas etapas de análise de risco, assim como podem servir de base

para outras ferramentas, conforme observado no quadro de incidentes e mapas de risco.

Assim sendo, neste item é desenvolvida uma análise dos resultados e benefícios da

aplicação das ferramentas de gestão no âmbito da construção civil como boas práticas de

SSO e como apoio para implantação dos SGSSO baseados na ISO 45001.

3.2.2. Análise SWOT

O gerenciamento de riscos à nível estratégico é uma prática amplamente utilizada nos

sistemas de gestão da qualidade, por ser um dos fatores mais sua sustentabilidade e

sucesso de aplicação. Por conta de sua fundamentação no Anexo SL, a ISO 45001 aborda

os sistemas de gestão da SSO de forma muito similar aos SGQ, trazendo, dentre outras

características, um foco muito maior na visão e planejamento estratégicos do que observado

anteriormente.

Uma das formas mais comuns para a identificação e análise de riscos e oportunidades

à nível estratégico é através da Análise SWOT. A abordagem simples e visual da ferramenta

facilita o entendimento dos potenciais benefícios e problemas associados ao objeto de

estudo pelo usuário, e pode ser empregada tanto no planejamento e tomada de decisão

como para analisar o cenário em que a organização está inserida. Segundo Nogueira et al.

(2017), apesar de muitos profissionais necessitarem de treinamentos focados no

planejamento estratégico de riscos e objetivos, a Análise SWOT possui grande aceitação

por parte destes usuários, devido à sua simplicidade.

Não só em caráter estratégico, a ferramenta também pode ser aplicada a elementos

internos ao SGSSO, auxiliando na identificação de áreas potencialmente problemáticas e na

Page 88: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

77

adequação dos programas de treinamento e medidas de prevenção de acidentes, definição

de indicadores e objetivos, bem como na análise crítica do sistema pela alta gestão.

3.2.3. Diagrama de Fluxo

A representação gráfica de processos e atividades através da ferramenta proporciona

um melhor entendimento do processo e sua estruturação, permitindo que o observador

analise a atividade tão detalhadamente quanto necessário.

O estudo das diferentes fases permite que sejam identificadas seções potencialmente

problemáticas do processo – como a utilização de insumos perigosos, riscos associados ao

procedimento, etc. – e auxilia no traçado de medidas preventivas. Comparativamente, o

entendimento dos conjuntos de etapas, ou do processo como um todo, auxilia na

sensibilização dos profissionais quanto aos possíveis riscos presentes, mesmo que estes

não possuam conhecimento técnico sobre a atividade – que pode ser particularmente útil no

planejamento estratégico do sistema, por exemplo, ao analisar o funcionamento dos

diferentes setores da organização.

Além dos benefícios associados às atividades de planejamento, a ferramenta é

amplamente utilizada à nível operacional, como nos manuais de operação de equipamentos,

procedimentos de segurança, execução e verificação de atividades e planos de emergência.

3.2.4. Análise de Árvore de Falhas (AAF)

A Árvore de Falhas é uma ferramenta com grau de detalhamento variável, que

funciona bem em conjunto com outras ferramentas (como os fluxogramas e diagramas de

causa e efeito), assim como quando utilizada individualmente. Essa versatilidade permite

que a AAF seja aplicada desde o planejamento do sistema até a execução de atividades.

O processo dedutivo empregado pela ferramenta visa apontar a causa primária (ou

conjunto de causas) que levam à falha analisada, além de proporcionar um entendimento

mais profundo do processo pelo profissional, tornando-a particularmente útil na identificação

de etapas problemáticas, e suas causas, nos fluxogramas.

Durante a elaboração da AAF, pode ser vantajoso empregar profissionais de

diferentes áreas de atuação, experiências e até níveis de instrução, uma vez que a

observação da ocorrência sob diferentes óticas facilita no apontamento de causas e

mecanismos de falha originalmente ocultos.

O emprego da ferramenta em diferentes processos e setores da organização auxilia

na identificação de causas comuns à diferentes falhas, apontando para possíveis áreas

críticas do SGSSO. Para tal, podem ser utilizadas duas abordagens diferentes. A primeira

consiste na elaboração das árvores de diferentes falhas, e a posterior análise das causas

Page 89: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

78

base encontradas, a fim de encontrar possíveis recorrências. Já a segunda se trata de uma

inversão da ferramenta, partindo de uma causa base (ou conjunto) e identificando suas

potenciais consequências – este tipo de abordagem é conhecida como bottom-up (de baixo

para cima), também chamada de what-if (e se?). Além dos benefícios relacionados à SSO, a

caracterização das causas dos eventos e seus mecanismos de falha associados permite à

organização aplicar seus esforços de forma mais eficiente.

Já à nível operacional, é comum utilizar uma simplificação da ferramenta, conhecida

como 5 Porquês. Similar ao feito na AAF, são feitas perguntas até chegar à origem da falha

– sendo muito utilizada nos SGQ para apontar as causas de desvios (SANTOS, 2018). Na

SSO, pode-se empregar a ferramenta na conscientização da mão de obra, por exemplo

durante as auditorias comportamentais, assim como no estudo das causas de acidentes.

3.2.5. Análise Preliminar de Risco (APR)

A APR pode ser aplicada em todas as fases da atividade analisada, visando apontar

possíveis riscos e perigos associados às condições do ambiente no momento de execução

da atividade e de suas características próprias (SAMPAIO, 2015). De acordo com

Gonçalves et al. (2012), a etapa de identificação de riscos é fundamental ao sucesso do

sistema, uma vez que as medidas preventivas e de controle, bem como os programas de

treinamento são definidos à partir das saídas desta etapa. Quando da elaboração da APR,

pode-se fazer uso outras ferramentas – como os fluxogramas, árvores de falha e quadros de

prioridade – para complementar seus resultados e auxiliar na identificação dos riscos.

Para que a organização se mantenha atualizada à respeito dos riscos existentes, e

para assegurar a eficácia das medidas e programas adotados, é interessante que a APR

seja revisada e atualizada sempre que houverem modificações nos procedimentos de

execução, nas áreas de trabalho e seu entorno ou após completar 120 dias de sua emissão,

de acordo com Sampaio (2015).

Também é recomendado o emprego de profissionais de diferentes áreas de atuação

na elaboração da APR pois, segundo Benite (2004), os profissionais diretamente ligados à

execução da atividade podem desconsiderar possíveis riscos por acreditarem ser situações

normais ou desconhecerem pessoas que tenham sido afetadas por elas.

Além das questões internas ao SGSSO, a organização deve atentar também para

requisitos legais relacionados à aplicação da ferramenta, como o item 18.37.7.4 da NR-18

(MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2018b). Nele fica determinado que as atividades que

utilizem métodos ou soluções alternativas tem sua execução vinculada à realização de APR

e emissão de Permissão de Trabalho. Estes documentos devem trazer todas as

informações pertinentes aos treinamentos, processos produtivos, insumos, ferramental e

Page 90: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

79

equipamentos de proteção a serem empregados, individuais ou coletivos, a fim de garantir a

segurança dos profissionais.

3.2.6. Quadro de Prioridades

A principal função da ferramenta é auxiliar na classificação de riscos de acordo com

uma escala global e com a política de SSO da empresa, permitindo apontar quais riscos são

toleráveis e quais devem ser tratados de forma mais imediata. Essa análise deve ser feita e

revisada regularmente, sempre que houverem mudanças nos processos produtivos,

serviços, insumos e na estrutura da organização, em concordância e em conjunto com as

outras ferramentas aplicadas à análise de riscos. O Quadro pode ser inserido na própria

APR ou separadamente, servindo também de complemento na tomada de decisões junto

aos fluxogramas e árvore de falhas (BENITE, 2004).

A definição da escala de classificação deve ser feita em concordância com a política

de SSO da organização, os requisitos aplicáveis a ela (legais, internos ou de partes

interessadas) e, principalmente, com sua realidade e área de atuação. Como a escala de

gravidade influencia diretamente nos esforços da organização, estes critérios visam evitar

que sejam definidos objetivos e metas de segurança inatingíveis que venham a prejudicar o

sucesso do sistema de segurança como um todo.

A classificação de riscos e definição de prioridades permite uma alocação mais

objetiva e eficiente dos recursos e esforços disponíveis nas áreas mais expostas a estes

riscos, e auxilia no traçado de medidas e programas de prevenção (definição do volume de

horas, campanhas de conscientização, equipamentos necessários, etc.).

Deve-se utilizar a mesma escala para a classificação dos riscos, para que a

ferramenta proporcione um panorama real das áreas e serviços potencialmente

problemáticos da organização, podendo também ser utilizada como indicador qualitativo do

funcionamento do sistema, indicando os possíveis progressos na redução de riscos (para

isso, a ferramenta deve ser regularmente atualizada).

Chama-se atenção que a definição da gravidade, e posterior classificação de riscos,

diz respeito aos riscos e perigos de SSO relacionados aos serviços e atividades

desempenhadas pela empresa e seu grau de detalhamento (por exemplo, alto, médio e

baixo). Quando a ferramenta for empregada para analisar os riscos à nível estratégico da

organização, como durante a análise SWOT, é natural que a classificação da gravidade e

urgência varie de acordo com os diferentes setores, pois cada área possui um papel e

características próprias que resultam em graus diferentes de exposição aos riscos.

Page 91: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

80

Similarmente, pode-se utilizar a ferramenta para auxiliar na escolha de medidas a

serem aplicadas, avaliando, neste caso, o potencial impacto gerado e de atuação. Essa

abordagem é frequentemente utilizada nos SGQ (BENITE, 2004; SANTOS, 2018).

3.2.7. Análise de Modos e Efeitos de Falha (FMEA)

O objetivo principal da ferramenta é auxiliar no entendimento dos mecanismos de

falhas inerentes às atividades e serviços desempenhados pela organização, para que esta

possa tomar as ações necessárias à prevenção dos riscos.

Por conta disso, a FMEA funciona bem em conjunto com outras ferramentas de

gestão, como os Fluxogramas e APRs e, especialmente, com as Árvores de Falha, uma vez

que suas saídas são interativos e complementares - enquanto a análise dos mecanismos de

falha auxiliam no preenchimento da AAF, o processo dedutivo empregado na AAF auxilia na

identificação de novos modos de falhas. A ferramenta também engloba o Quadro de

Prioridades durante a etapa do cálculo de riscos.

Durante a elaboração da análise e preenchimento da planilha, pode ser vantajoso

empregar não só profissionais com entendimento sobre a atividade (ou componente)

analisado em si, mas também aqueles de diferentes áreas relacionadas, auxiliando na

identificação de diferentes efeitos problemáticos e mecanismos de falha, tornando o estudo

mais abrangente – destaca-se, no entanto, que a FMEA pode ser tão suscinta ou complexa

quanto necessária, devendo ser elaborada de acordo com as necessidades e objetivos da

organização.

Quando do traçado de medidas preventivas e mitigadoras, a ferramenta pode integrar

ou ser complementada pelo Quadro de Responsabilidades, auxiliando na sensibilização e

comprometimento dos profissionais responsáveis pela aplicação de tais medidas. Da

mesma forma, caso as medidas incluam documentações externas (como laudos, atestados,

resultados de testes e calibrações, etc.), estas podem ser indicadas na planilha da FMEA ou

fazer menção à Planilha de Documentos.

A FMEA deve ser atualizada quando foram identificadas modificações significativas

nos processos produtivos, insumos ou correlatos, assim como feito nas demais ferramentas

pertinentes ao planejamento e análise de riscos.

3.2.8. Planilha de Requisitos Legais

A apresentação simples e objetiva dos requisitos envolvidos nas atividades da

organização é o principal benefício da ferramenta, pois permite a rápida identificação de

possíveis pendências no sistema, facilitando na comunicação, atuação necessária e

emprego de medidas corretivas.

Page 92: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

81

A gestão e cumprimento de requisitos legais e outros requisitos são necessários para

a obtenção das certificações ISO e mantém a organização à par de sua situação, reduzindo

a ocorrência de sanções e aplicação de multas. No entanto, a elaboração da planilha é uma

tarefa complexa, devido ao monitoramento, identificação e interpretação das legislações

vigentes. Dessa forma, é necessário que o profissional ou setor responsável pelo

preenchimento da planilha possua experiência na área (é comum que esta função seja

atribuída ao setor legal da organização ou subcontratado à uma terceira parte

especializada).

Para assegurar o desempenho da ferramenta, a planilha deve ser mantida atualizada,

sendo interessante definir períodos de revisão específicos às diferentes áreas da empresa.

Satisfeita essa condição, a tabela também pode ser usada como indicador do SGSSO, além

de ser um ponto obrigatório de análise durante auditorias.

3.2.9. Quadro de Responsabilidades

Existem benefícios diretos e indiretos associados à aplicação da ferramenta. O quadro

é, basicamente, uma forma de dividir tarefas onde são apresentados de forma objetiva todos

os envolvidos na execução das diferentes atividades realizadas. O nível de detalhamento da

matriz varia de acordo com o seu objetivo, complexidade do planejamento (ou mesmo das

atividades) e dos riscos associados ao processo.

A definição clara das responsabilidades auxilia no rastreamento de informações

relativas aos processos e auxilia na minimização de problemas de planejamento. Como

exemplo de situações que podem ser evitadas, tem-se a ocorrência de responsabilidades

conflitantes e atividades repetidas dentro do processo, procedimentos sem atribuição, falhas

de execução e comunicação causadas por descuido ou desconhecimento, entre outros. A

ferramenta é amplamente difundida nos processos dos SGQ, auxiliando na redução de

falhas e melhoria da eficiência (SANTOS, 2018).

A análise dos processos para a distribuição de tarefas auxilia o gestor na definição da

competência e maturidade necessárias à execução segura das atividades e no traçado dos

programas de conscientização e treinamento (GONÇALVES et al., 2012).

De acordo com Benite (2004), as principais vantagens de adoção da ferramenta estão

associados à comunicação das responsabilidades aos colaboradores, uma vez que o

sucesso do SGSSO está diretamente ligado ao comprometimento de todos os envolvidos.

Esse tratamento atua no senso de responsabilidade do funcionário, trazendo à sua atenção

o quanto suas ações impactam no funcionamento do sistema, seu sucesso ou fracasso. É

fundamental que esta abordagem seja implantada e reforçada em toda a organização – seja

Page 93: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

82

através de treinamentos, manuais, inspeções e auditorias comportamentais – visando o

maior engajamento possível de todos.

3.2.10. Planilha de Treinamentos

De acordo com Bevilacqua et al (2016), é considerado que o fator humano está

diretamente ligado às causas dos acidentes em 80% das ocorrências relatadas. Desta

forma, é imprescindível que as organizações e seus gestores atuem ativamente na

capacitação e conscientização de todos os envolvidos nos seus processos e atividades em

relação à segurança ocupacional. No entanto, o fator humano não necessariamente está

ligado à execução da atividade em si, mas sim no planejamento falho de processos e

medidas de gestão de riscos ineficientes, que acabam por expor os colaboradores aos

riscos ou contribuindo para comportamento inseguro.

Apesar de poder ser feita de diversas formas (memorandos, manuais de serviço, etc.),

a definição de treinamentos e sua posterior apresentação em forma de tabela proporciona

um melhor entendimento por parte da gestão da empresa, assim como a identificação de

pendencias, revisões e atualizações dos programas (GONÇALVES et al., 2012).

Quando do traçado dos programas de treinamento, o gestor deve ter em mente a

política, os objetivos e metas de SSO da organização, atentando também para a legislação

vigente e requisitos aplicáveis, exigências normativas, recomendação de fabricantes ou

fornecedores (no caso de equipamentos e ferramental específico) e, principalmente, os

riscos intrínsecos às atividades desempenhadas pela empresa. Esse processo pode ser

auxiliado e complementado pelas informações obtidas durante a análises de risco e

ferramentas associadas (APR, fluxogramas, AAF, SWOT, etc.).

Segundo Benite (2004), os treinamentos ministrados devem visar a incorporação dos

princípios de SSO aos procedimentos de produção e execução dos serviços. Similarmente,

deve-se priorizar a realização de treinamentos práticos, principalmente na construção civil

(devido à grande variabilidade do grau de instrução dos colaboradores), pois estes facilitam

o entendimento das práticas de segurança e auxiliam na instituição do pensamento seguro

ao longo do tempo, apresentando melhores resultados.

Para atingir os melhores resultados possíveis, segundo Benite (2004), os treinamentos

específicos devem ser complementados por programas de conscientização da mão de obra,

trazendo à sua atenção a importância, os objetivos e as implicações da política de SSO da

organização. Devem ser abordados, além dos riscos e perigos associados às atividades, os

riscos presentes no local de trabalho e seu entorno, as responsabilidades e procedimentos

de ação (operacionais e de emergência), alertando também para o impacto dos atos

inseguros.

Page 94: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

83

Os programas de conscientização devem ser realizados ao longo de toda a empresa,

visando o engajamento de todos, não necessitando ser de natureza complexa, podendo ser

realizados, por exemplo, através dos diálogos diários de segurança e monitorados durante

as auditorias comportamentais.

3.2.11. Quadro de Aquisições (QA)

A inclusão da ferramenta, e procedimentos de aquisição, permitem à organização

exercer um melhor controle sobre os diferentes itens que podem afetar seu planejamento e

possui benefícios associados à diferentes áreas.

A ferramenta pode ser utilizada em conjunto com o Quadro de Responsabilidades para

auxiliar nos processos de qualidade e comunicação. Essa integração é especialmente útil

para o controle técnico dos diferentes itens da planilha, evitando a aquisição de produtos

que não atendam as especificações necessárias de qualidade ou segurança, ou que

acarretem mudanças significativas nos processos da organização.

A necessidade de aprovação técnica do item por profissional qualificado antes da sua

contratação ou compra auxilia nos processos de gestão e controle de mudanças e no

traçado de medidas de prevenção de riscos, promovendo também o uso eficaz dos recursos

da empresa.

Similarmente, a descrição dos requisitos legais e das cláusulas de controle

apresentadas na planilha facilitam a identificação de pendências e o rastreio das

informações correspondentes ao item, evitando falhas causadas por desconhecimento ou

desatenção – este aspecto pode ser beneficiado, por exemplo, pelo uso de fichas de

verificação ou fluxogramas descrevendo as etapas do processo de aquisição.

Para reduzir o tempo de análise necessários para a aprovação dos itens de aquisição,

a organização pode buscar formar parcerias com fornecedores e empresas prestadoras de

serviço que possuam valores e objetivos congruentes, ou através de requisitos específicos –

por exemplo, terceirizar serviços para empresas que possuam SGSSO ou certificações

equivalentes, utilizar materiais de fornecedores com selos de qualidade e segurança, etc.

3.2.12. Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)

A CIPA tem por função principal auxiliar no exercício da política e medidas de

segurança da organização, atuando como agente multiplicador dos valores e objetivos de

SSO, conscientizando os funcionários e colaboradores sobre os riscos presentes no

ambiente de trabalho, atos inseguros e impactos, bem como os benefícios do pensamento

de segurança – através de treinamentos, palestras, cursos, auditorias comportamentais,

diálogos de segurança, ou quaisquer outros meios pertinentes. A CIPA também atua como

Page 95: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

84

representante dos trabalhadores, transmitindo seus interesses de SSO à gestão da empresa

e auxiliando nos processos de comunicação e repasse de informações relevantes. (ISO,

2018a; MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2011).

A CIPA exerce um papel fundamental dentro da organização em todo o planejamento

do SGSSO, não só por requisito da ISO 45001 (participação dos trabalhadores e seus

representantes), mas também por requisitos normativos, conforme as NR-4, NR-5 e NR-18,

devendo atuar e participar ativamente dos processos de análise de risco, elaboração de

planos e procedimentos de trabalho, traçado e implementação de objetivos e medidas, bem

como no controle operacional, verificando indicadores, as condições e os ambientes de

trabalho.

Dessa forma, a organização deve formar a Comissão, conforme os requisitos legais

aplicáveis, e prover os treinamentos e meios necessários para seu funcionamento. Segundo

o item 5.32 da NR-5, todos os membros da CIPA devem passar por treinamento obrigatório

(englobando todos os requisitos do item 5.33 e quaisquer outros conhecimentos necessários

ao desempenho de suas funções dentro da Comissão). É destacada, em conjunto com a

NR-4, a importância da interação entre a CIPA, o SESMT e os demais profissionais de

segurança da empresa, tanto na elaboração de ferramentas, no controle documental e nas

operações diárias, visando o melhor funcionamento possível das medidas de SSO

(MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2011, 2016a).

No entanto, deve-se devotar especial atenção para os conflitos internos gerados pela

estabilidade assegurada aos membros da CIPA pela legislação brasileira, que, segundo

Neto (2018b), é a fonte mais comum de falhas e dificuldades de implantação da ferramenta.

Os conflitos e comportamentos impertinentes podem existir em ambos os lados da

hierarquia organizacional. Por um lado, tem-se a ocorrência de membros que, após eleitos,

atuam em função de interesses individuais ou diminuem sua produtividade, por outro,

observa-se a presença de gestores que interferem no processo eleitoral a fim de manter o

controle sobre a comissão (NETO, 2018b).

Assim sendo, é fundamental que as diferentes partes envolvidas estejam engajadas

no sucesso da ferramenta, dada sua importância e benefícios para o sistema. A maturidade

da gestão necessária para tal (tanto da organização, quanto dos membros da Comissão)

deve ser trabalhada e desenvolvida, através de processos de conscientização sobre a

importância da ferramenta e requisitos legais associados, os impactos da estabilidade e os

benefícios trazidos ao ambiente de trabalho e para a organização como um todo (NETO,

2018b).

Page 96: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

85

3.2.13. Planilha de Documentos

Os processos e ferramentas de controle e geração de informação documentada

auxiliam na identificação, rastreio e comunicação dos dados relevantes às partes

interessadas (internas e externas), bem como no embasamento para tomada de decisões.

Além de servir de resguardo legal – comprovando o atendimento de requisitos legais e

outros, medidas e objetivos, etc. – e auxiliando nos processos internos da organização

(como gestão de contratos e compras), o acesso à informação documentada é uma parte

fundamental aos processos de auditoria e melhoria contínua dos sistemas de gestão

baseados nas normas e certificações ISO (ISO, 2018a).

Dentre os benefícios da ferramenta, também pode ser citada a minimização de erros

decorrentes do uso e consulta de fontes obsoletas – frequentemente observados na ICC,

como versões desatualizadas de projetos e medições, cronogramas e documentos

defasados, etc. – além de auxiliar na preservação e confidencialidade de informações

sensíveis e também na segurança dos colaboradores (como presença de APRs, mapas de

risco e planos de evacuação e emergência).

Deve-se atentar, no entanto, para a burocracia associada à constante verificação

documental, referente à emissão, atualização, aprovação de emissões e descarte. Segundo

Bevilacqua et al. (2016), tal burocracia é apontada como um dos motivos de falha mais

frequentes nos processos de obtenção de certificações, além de gerar certa resistência por

parte dos colaboradores e diminuir a produtividade.

Assim sendo, os processos e procedimentos relativos à informação documentada (e

controle) devem ser adequado às características específicas da empresa, de forma que os

requisitos necessários sejam cumpridos com a menor alteração possível dos processos

produtivos (BENITE, 2004). Chama-se atenção para a atualização de documentação para

informação documentada, trazida pela ISO 45001, que engloba não só documentos e

registros padronizados, mas também o uso de mídias digitais e gráficas (tais como planilhas,

gráficos e plotagens de softwares, etc.), que contribui para uma melhor dinâmica do

processo.

3.2.14. Plano de Atendimento a Emergência (PAE)

Os planos de emergência podem ser vistos como fluxogramas aplicados à situações

críticas, descrevendo uma sequência, ou conjunto, de ações a serem tomadas no caso da

ocorrência, designando responsabilidades e equipes específicas a cada uma delas.

Page 97: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

86

O principal objetivo da ferramenta é a preservação da vida humana em situações

emergenciais, tais como incêndios, desastres, explosões, deslizamentos, enchentes, etc.,

além de ser requisito legal vigente (BRASIL, 2017).

O traçado das ações do PAE e sua implantação permitem que a organização atue

rapidamente nas áreas críticas afetadas pela ocorrência específica, agindo na prevenção de

danos aos presentes no local, ao meio ambiente e no entorno e minimizando danos ao

patrimônio da empresa. Contudo, a simples preparação do Plano não é suficiente, sendo

essencial que a organização atue ativamente para a sua implantação, promovendo

treinamentos práticos e simulações, capacitando os colaboradores nas áreas necessárias

ao sucesso do PAE e conscientizando todos os envolvidos sobre a sua importância.

Os planos de emergência devem ser definidos de acordo com a legislação vigente e

requisitos aplicáveis à organização, levando em consideração os riscos e perigos levantados

na etapa de planejamento, as atividades desempenhadas pela empresa, as condições dos

locais de trabalho e do entorno, contando com a participação e apoio dos colaboradores e

órgãos internos pertinentes, tais como a CIPA, SESMT e profissionais de segurança.

3.2.15. Auditoria Interna

Enquanto os processos de vistorias e controles visam avaliar o desempenho dos

processos e procedimentos da organização, as auditorias tem seu foco voltado para o

SGSSO como um todo sendo, segundo Benite (2004), um dos principais benefícios da

ferramenta, permitindo a identificação de áreas de melhoria e correção no sistema. Os dois

tipos de avaliação devem ser empregados em conjunto, permitindo à organização analisar

tanto a eficiência do uso de recursos quanto o cumprimento dos objetivos traçados, ou seja,

sua eficácia.

Deve-se devotar igual atenção à frequência de realização das auditorias, visando

garantir a contínua retroalimentação e melhoria do sistema, conforme prega a metodologia

PDCA. Dessa forma, as auditorias devem ser planejadas com antecedência, levando em

consideração as características do sistema, em conjunto com os processos de avaliação,

medição e indicadores empregados.

Destaca-se, no entanto, que a simples avaliação do sistema não garante sua melhoria,

mas oferece à gestão e aos órgãos internos, como a CIPA, um conjunto de informações

detalhadas e pertinentes sobre ele, auxiliando na tomada de decisões, no traçado de

medidas e na adequação do SGSSO (BENITE, 2004).

Além dos benefícios gerados para o sistema de gestão, Barreiros (2002) atenta para

as contribuições que o processos de avaliação e auditoria trazem para a gestão da

Page 98: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

87

empresa, estimulando o aprendizado e o crescimento da maturidade dos gestores e

colaboradores, seu senso de participação e importância no sucesso das medidas e

desempenho do sistema.

3.2.16. Auditoria Comportamental

A ferramenta pode ser vista como uma forma de avaliar o funcionamento das ações de

segurança implementadas pela organização através da observação do comportamento dos

profissionais durante a realização de suas atividades diárias (BENEVENUTO et al., 2013).

A abordagem focada em pessoas é, segundo Benevenuto et al. (2013), o principal

benefício da ferramenta, pois permite ao auditor identificar especificamente os pontos e

comportamentos diretamente ligados à presença de riscos e ocorrência de acidentes –

sejam estes relativos à atitudes perigosas, uso de ferramental ou maquinário inadequado,

desconhecimento ou mesmo condições inseguras presentes no ambiente de trabalho que

venham a pôr a mão de obra em risco – e atuar diretamente sobre eles, conscientizando os

profissionais e disseminando a política de prevenção de acidentes.

Consequentemente, a identificação destas situações e comportamentos auxilia a

organização na tomada de decisão e traçado das medidas necessárias para evitar sua

recorrência – seja através da abordagem direta em treinamentos, da capacitação dos

profissionais, modificação dos processos produtivos, ferramental, insumos ou quaisquer

outras medidas cabíveis.

A frequência das auditorias comportamentais pode variar em função da maturidade e

engajamento dos profissionais avaliados, até mesmo de setor para setor da organização.

Analogamente, deve-se ajustar a especificidade e foco da auditoria de acordo com os itens

de avaliação.

Para facilitar na execução da auditoria, a objetividade da coleta de dados e

preservação da informação, é comum que se faça uso de fichas de verificação contendo os

itens e critérios de avaliação – como exemplificado na Figura D do item 3.1.15 e das

instruções sugeridas no item 3.1.19 deste trabalho. Similarmente, é desejável que o

profissional selecionado para realizar a auditoria possua experiência ou conhecimento sobre

o processo em questão e esteja alinhado com a política de SSO da organização.

Para estimular o senso de importância e engajamento dos funcionários, podem ser

utilizados quadros apresentando notas em função do comprometimento dos setores com as

ações de SSO (por exemplo, bom, médio e deixa a desejar).

Page 99: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

88

3.2.17. Quadro de Incidentes

O quadro visa o agrupamento das principais informações relativas aos incidentes,

situações perigosas e acidentes ocorridos durante o período avaliado, de acordo com as

necessidades da organização. Sua elaboração não necessita de capacitação ou treinamento

específico, mas a análise das informações e traçado de medidas devem ser feitos por

profissional de segurança ou equipe multidisciplinar, conforme necessário.

Para assegurar a veracidade dos dados apresentados no Quadro e para que este

possa ser utilizado como métrica do SGSSO, o preenchimento das estradas deve ser feito

com base em informação documentada (tais como CAT, relatórios de auditorias

comportamentais e internas, dados de inspeções e vistorias de segurança, etc.) e

periodicamente atualizada. Segundo a ISO 9001, os indicadores dos sistemas devem ser

específicos, mensuráveis, aplicáveis, relevantes e função do período de avaliação (ISO,

2015).

As informações do quadro auxiliam na elaboração de outras ferramentas, como os

Mapas de Risco, e na identificação de áreas e serviços críticos da organização, permitindo

ao gestor ajustar e alocar os recursos e medidas de prevenção de forma mais eficiente e

eficaz.

A ferramenta pode ser elaborada e analisada em função das etapas de obra e do

cronograma. Essa análise temporal traz informações importantes à organização sobre o

grau de risco associado às diferentes fases dos empreendimentos realizados, permitindo a

identificação de fases problemáticas.

O estudo da interrelação entre as datas e locais de realização de atividades com a

ocorrência de incidentes nos canteiros produz um conjunto detalhado de informações,

permitindo ao gestores identificar combinações de serviço potencialmente perigosas – essa

abordagem é base de dados do mapa de riscos proposto por Choe e Leite (2017b). Apesar

da complexidade envolvida neste tipo de análise reduzir sua aplicabilidade à nível

operacional na ICC brasileira, sua utilização pode ser extremamente útil durante a etapa de

avaliação crítica pela direção e no planejamento de empreendimentos futuros.

3.2.18. Mapa de Riscos

Segundo o estudo de Choe e Leite (2017b), o principal benefício dos mapas é a

identificação de áreas e períodos críticos da obra de forma antecipada, auxiliando no

planejamento e implantação de medidas preventivas e mitigadoras de risco. Estas áreas

podem ser originadas pela existência de atividades perigosas ou pela combinação de duas

Page 100: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

89

ou mais atividades de menor risco, por exemplo, execução de serviços em altura com risco

de queda de ferramental sobre uma área de trânsito de pessoas e veículos.

Os mapas de risco podem, em conjunto com os quadros de prioridades e incidentes,

funcionar como indicador de desempenho do SGSSO quando atualizados periodicamente.

Os mapas de risco devem ser baseados em estudos realizados (como a APR) ou em

informação documentada pela empresa, conforme descrito no item 3.1.17 deste trabalho, de

forma a produzir uma ferramenta confiável, dessa forma, é possível que sua aplicação seja

menos favorável em projetos simples onde as informações não sejam suficientes.

Segundo a NR-5, a formulação dos mapas de risco é responsabilidade da CIPA ou,

quando esta não existir, devem ser elaborados por profissional de segurança qualificado. A

capacidade técnica do profissional, ou equipe de profissionais, é especialmente importante

quando da elaboração dos mapas de risco temporais, propostos por Choe e Leite (2017b),

devido à sua complexidade.

Além da identificação de riscos e auxilio na alocação dos esforços de SSO, uma das

funções da ferramenta é a conscientização dos profissionais sobre os riscos à SSO

existentes em seus locais de trabalho. O traçado dos mapas deve ser feito levando em

consideração seu público alvo, assim como nas demais ferramentas, principalmente na

construção civil onde existe grande variabilidade dos graus de instrução. Dessa forma, o

modelo tradicional (exemplificado na Figura 13 do item 3.1.17) é mais indicado para a

distribuição nas instalações da organização.

Como os canteiros de obra da construção civil sofrem diversas alterações na sua

disposição conforme o andamento do cronograma, para que os mapas cumpram sua função

e reflitam a realidade dos riscos dos ambientes, é fundamental que sejam revisados sempre

que houverem mudanças significativas no espaço de trabalho e nas atividades realizadas,

ou quando os riscos presentes forem alterados.

Pode-se citar como boa prática a aplicação dos mapas de risco nos almoxarifados dos

canteiros de obra apresentando os riscos associados aos insumos e equipamentos

presentes no local, dada a variabilidade dos serviços executados e materiais necessários

em função do tempo. Caso existam itens que necessitam de condições especiais de

manuseio e armazenamento, ou instruções específicas do fabricante, estas podem ser

dispostas juntamente ao mapa.

Similarmente, podem ser apresentadas junto aos mapas das áreas de produção as

boas práticas, procedimentos de SSO e equipamentos de proteção necessários ao trânsito

no ambiente ou à execução dos serviços – deve-se optar, sempre que possível, por meios

gráficos e objetivos de informação, como figuras e sinais.

Page 101: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

90

3.2.19. Quadro de Auditorias

As auditorias são uma peça fundamental à melhoria contínua do sistema, portanto não

devem ser realizadas somente uma vez, mas programadas e realizadas ao longo do

andamento dos projetos, da implantação e manutenção do SGSSO.

O quadro auxilia no planejamento, organização e visualização dos pontos principais a

serem abordados durante as auditorias, como as áreas do sistema, setores da empresa,

indicadores, documentos e informações, responsáveis, etc. – com as definições específicas

de rotas de inspeção, fichas auxiliares, métricas e processos de análise, feitas dentro da

ferramenta de auditoria interna – além de facilitar o rastreio de informações e possíveis

pendências.

O formato de tabela facilita a adequação da ferramenta às necessidades específicas

da organização – por exemplo, a subdivisão e detalhamento dos itens a serem auditados,

especificação de requisitos específicos, entre outros. O detalhamento e subdivisão dos

objetos de auditoria pode ser desejável, pois permite a obtenção de resultados mais

objetivos, além reduzir o tempo necessário à avaliação – processos de auditoria extensos

podem ser desgastantes tanto para as equipes de trabalho quanto para os auditores, além

de reduzir a produtividade dos setores auditados devido à paralisações e inspeções.

O planejamento das auditorias com antecedência, e sua apresentação em planilha,

apresenta benefícios para ambos os lados do processo. Para o auditor, tem-se a mitigação

dos riscos envolvidos no processo em si, uma vez que a definição prévia dos objetos

permite uma melhor preparação da documentação e fichas de apoio e a definição e

treinamento da equipe, por exemplo.

Por outro lado, a definição das datas de realização e objetos da avaliação com

antecedência permitem o auditado tome as medidas necessárias para facilitar o processo de

e reduzir o impacto causado por ele – tais como reorganização do cronograma,

disponibilização de pessoal de apoio e documentos, etc.

3.2.20. Ficha de Verificação (FV)

As fichas de verificação são amplamente utilizadas no mercado e nos SGQ para

auxiliar no controle interno. Na construção civil a ferramenta é muito utilizada para checar a

qualidade dos itens após sua realização – dentre os itens mais comuns tem-se os

acabamentos cerâmicos, colocação de pedras, pintura, alinhamento e abertura de

esquadrias, funcionamento de pontos de água e luz, etc. – além de auxiliar nas

composições de custo e orçamentos.

Page 102: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

91

As fichas podem ser aplicadas aos SGSSO para auxiliar no cumprimento de medidas

preventivas e de controle de riscos, por exemplo, na apresentação de procedimentos

operacionais de segurança, na listagem de EPIs necessários ao ambiente junto aos mapas

de riscos, procedimentos de emergência de equipamentos mecânicos, além de serem uma

ótima ferramenta de apoio aos processos de auditoria interna e comportamental, verificação

e treinamentos.

Outro ponto de frequente de utilização das fichas é na avaliação do cumprimento de

requisitos legais, como as fichas de verificação da NR-18 e de auditorias. A disposição

estruturada dos itens e procedimentos a serem realizados apresenta benefícios muito

similares aos vistos nos fluxogramas, auxiliando no entendimento do processo e na coleta

de dados, permitindo ao usuário obter informações específicas sobre o funcionamento das

atividades e setores, bem como minimiza erros de esquecimento ou desatenção.

Como boa prática para promover a sensibilização e comprometimento com a

informação, as fichas devem ser assinadas pelo coordenador ou responsável da área após

o preenchimento pelo usuário.

Page 103: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

92

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.1. Críticas e Comentários

Durante o estudo da norma NBR ISO 45001 foi percebido um grande avanço para a

gestão da SSO, uma vez que a utilização de conceitos comuns aos sistemas de qualidade e

meio ambiente permite uma melhor integração entre as diversas certificações ISO e

modalidades de gestão. No entanto, a interpretação da norma e seus requisitos ainda é uma

tarefa complexa, pois apesar de a ISO 45001 apresentar exigências mais bem definidas e

estruturadas, ainda é necessário que o interessado determine como estes se aplicam à sua

organização e qual a melhor forma de atendê-los, evidenciando o porquê da busca por

consultores e empresas especializadas durante os processos de certificação.

Essa complexidade associada aos custos e dificuldades de implantação do sistema

evidenciam, em concordância com os estudos de diversos autores, a importância do

engajamento e participação da alta direção e liderança da empresa. Outro ponto grande

importância é a determinação dos riscos estratégicos ao sistema e da necessidade das

partes interessadas, dessa forma é interessante que os profissionais responsáveis pelo

traçado do sistema participem de treinamentos de gestão similares aos aplicados nos SGQ.

Esse panorama se mostrou favorável à aplicação de ferramentas que auxiliem na

gestão da SSO, uma vez que estas podem ser inseridas gradualmente nos processos e na

cultura de trabalho da empresa, conforme o amadurecimento da gestão e do SGSSO,

reduzindo conflitos internos e o desgaste das equipes. Essa abordagem é especialmente útil

à ICC, onde frequentemente são encontradas organizações de menor porte com pouca

flexibilidade financeira para arcar de imediato com os custos da certificação.

As ferramentas apresentadas neste trabalho possuem características específicas que

as tornam mais adequadas a diferentes áreas do SGSSO e, da mesma forma, variam em

complexidade de elaboração e utilização. Chama-se especial atenção para a Análise SWOT

que, por conta da grande ênfase da ISO 45001 no planejamento estratégico, se mostrou

uma ferramenta especialmente útil para o atendimento de diferentes requisitos da norma,

auxiliando desde a elaboração da política de SSO até à escolha de controles operacionais.

Por fim, destaca-se que nem todos os benefícios proporcionados pelos sistemas ISO e

ferramentas de gestão apresentadas neste trabalho podem ser observados a curto prazo,

uma vez que estes estão diretamente ligados à maturidade da gestão e do SGSSO. Assim,

é necessário devotar especial atenção aos programas de treinamento e sensibilização e,

principalmente, à avaliação periódica do sistema para que este possa ser continuamente

melhorado e adequado às características da organização e seus empreendimentos.

Page 104: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

93

4.2. Recomendações para Futuros Trabalhos.

Como a ISO 45001 é uma norma muito recente e as organizações certificadas na

OHSAS 18001 ainda estão em processo de adequação, recomenda-se a realização de

estudos quanto aos impactos das modificações dos conceitos e requisitos em relação à

norma anterior, bem como estudos de caso de sua aplicação em organizações da ICC e dos

custos envolvidos.

Por conta da ISO 45001 utilizar os mesmos conceitos das outras certificações do

grupo – conforme as Estruturas de Alto Nível apresentadas no Anexo SL da norma – podem

ser realizados estudos sobre a implantação de Sistemas de Gestão Integrada (SGI)

baseados na nova norma em comparação aos baseados na OHSAS, possíveis diferenças

nos custos associados, assim como a aplicação de ferramentas para este tipo de sistema.

Page 105: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

94

5. REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, D. Um Raio X das empresas certificadas. Disponível em:

<https://certificacaoiso.com.br/um-raio-x-das-empresas-certificadas/>. Acesso em: 6 out.

2018.

ANDRADE GUTIERREZ. Como Fazemos. Disponível em:

<http://www.andradegutierrez.com.br/ComoFazemos.aspx>. Acesso em: 3 nov. 2018.

ARAUJO, N. M. C. DE. Proposta de Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no

Trabalho, Baseado na OHSAS 18001, para Empresas Construtoras de Edificações

Verticais. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2002.

BARREIROS, D. Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho: Estudo de um modelo

sistêmico para as organizações do setor mineral. São Paulo: Universidade de São

Paulo, 2002.

BENEVENUTO, R. DE C. et al. Aspectos Comportamentais da Segurança do Trabalho:

Relato e Reflexões de Experiências na Aplicação de um Programa de Auditoria

Comportamental em uma Empresa de Construção Naval. IX Congresso Nacional de

Excelência em Gestão, 2013.

BENITE, A. G. Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho para Empresas

Construtoras. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004.

BEVILACQUA, M.; CIARAPICA, F. E.; DE SANCTIS, I. How to successfully implement

OHSAS 18001: The Italian case. Journal of Loss Prevention in the Process Industries, v.

44, p. 31–43, 2016.

BRASIL. DECRETO-LEI No 2.848 de 7 de Dezembro de 1940.

---------- LEI No 8.080 de 19 de Setembro de 1990.

---------- LEI No 8.213 de 24 de Julho de 1991.

---------- LEI No 12.864 de 24 de Setembro de 2013.

---------- LEI No 13.425 de 30 de Março de 2017.

BRITISH STANDARDS INSTITUTION. OHSAS 18001 - Sistemas de gestão da segurança

e da saúde do trabalho (Requisitos), 2007.

---------- ISO/DIS 45001 - Compreendendo a nova norma internacional para a saúde e

segurança no trabalho, 2018a.

---------- Certificação OHSAS 18001 - Saúde e Segurança Ocupacional. Disponível em:

<https://www.bsigroup.com/pt-BR/OHSAS-18001-Saude-e-Seguranca-

Ocupacional/Certificacao-OHSAS-18001/>. Acesso em: 9 ago. 2018b.

CALADO, J. M. S. M. Estratégia de Implementação do Sistema de Gestão da Segurança

e Saúde do Trabalho - Estudo de caso na MJO S.A. Setúbal: Instituto Politécnico de

Setúbal, 2014.

Page 106: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

95

CHEN, C.-Y. et al. A comparative analysis of the factors affecting the implementation of

occupational health and safety management systems in the printed circuit board

industry in Taiwan. Journal of Loss Prevention in the Process Industries, v. 22, n. 2, p.

210–215, 2009.

CHOE, S.; LEITE, F. Assessing Safety Risk among Different Construction Trades :

Quantitative Approach. Journal of Construction Engineering and Management, v. 143, n. 5,

2017a.

---------- Automation in Construction Construction safety planning : Site-specific

temporal and spatial information integration. Automation in Construction, v. 84, n.

September 2017, p. 335–344, 2017b.

CICCO, F. DE. OHSAS 18001 x ISO 45001 - As 10 Principais Mudanças e Tabela

Comparativa Completa. Disponível em: <http://www.qsp.net.br/2018/06/ohsas-18001-x-iso-

45001-as-10.html>. Acesso em: 14 jan. 2019.

CIMENTO ITAMBÉ. Prêmios e Certificações. Disponível em:

<http://www.cimentoitambe.com.br/saude-e-seguranca-garantidas/>. Acesso em: 3 nov.

2018.

COCHARERO, R. Ferramentas para Gestão de Segurança e Saúde do Trabalho no

Canteiro de Obras. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007.

CONDE, N. M. Sistema Integrado de Gestão baseado na ISO 9001:2000, ISO

14001:1996 e na OHSAS 18001:1999 - Uma Proposta para Implantação. Campinas:

Universidade Estadual de Campinas, 2003.

CONSTRUTORA ELOS. Certificações e Prêmios. Disponível em:

<http://www.construelos.ind.br/qsms/>. Acesso em: 3 nov. 2018.

COSTELLA, M. F. Método de Avaliação de Sistemas de Saúde e Segurança no

Trabalho (MASST) com Enfoque na Engenharia de Resiliência. Porto Alegre:

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008.

COSTELLA, M. F.; JUNGES, F. C.; PILZ, S. E. Avaliação do cumprimento da NR-18 em

função do porte de obra residencial e proposta de lista de verificação da NR-18.

Ambiente Construído, v. 14, p. 87–102, 2014.

DA SILVA, C. R. Gestão de Segurança em uma Obra de Construção Civil

Multiresidencial. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015.

DARABONT, D.-C. et al. Managing new and emerging risks in the context of ISO 45001

standard. 7th International Multidisciplinary Symposium, p. 11–15, 2016.

FERNANDES, J. M. R.; REBELATO, M. G. Proposta de um Método para Integração entre QFD e FMEA. Revista Gestão e Produção, v. 13, n. 2, p. 245–259, 2006.

Page 107: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

96

FERNÁNDEZ-MUÑIZ, B.; MONTES-PEÓN, J. M.; VÁZQUEZ-ORDÁS, C. J. Safety climate

in OHSAS 18001-certified organisations: Antecedents and consequences of safety

behaviour. Accident Analysis and Prevention, v. 45, n. March, p. 745–758, 2012.

FONSECA, P. T. P. DA. Análise de Implantação de um Plano de Gerenciamento da

Segurança e Saúde do Trabalho em uma Empresa de Construção Civil. Rio de Janeiro:

Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.

GARCIA, J. G. et al. Utilização das Ferramentas de Segurança : Análise Preliminar de

Risco , Auditoria Comportamental e Padronização. XXXIII Encontro Nacional de

Engenharia de Produção, 2013.

GONÇALVES, T. A. et al. Diretrizes para Implementação de Requisitos Da OHSAS

18001 no Sistema de Gestão da Saúde e Segurança no Trabalho: Estudo de Caso em

Indústria Metalúrgica. XIX Simpósio de Engenharia de Produção, p. 1–12, 2012.

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA QUALIDADE E TECNOLOGIA. Sistema

Brasileiro de Certificação (SBC), 2017.

INTERNATIONAL ACCREDITATION FORUM. Requirements for the Migration to ISO

45001:2018 from OHSAS 18001:2007, 2018.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. NBR ISO 9001 - Sistema

de Gestão da Qualidade - Requisitos (Tradução ABNT), 2015.

---------- NBR ISO 45001 - Sistema de gestão de saúde e segurança ocupacional -

Requisitos (Tradução ABNT), 2018a.

---------- ISO 19011 - Diretrizes para Auditorias de Sistemas de Gestão - Requisitos,

2018b.

LO, C. K. Y. et al. OHSAS 18001 certification and operating performance : The role of

complexity and coupling. Journal of Operations Management, v. 32, n. 5, p. 268–280,

2014.

MINISTÉRIO DO TRABALHO. Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho, 2015.

---------- Normas Regulamentadoras. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/seguranca-e-

saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras>. Acesso em: 7 jun. 2018a.

---------- NR 4 - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina

do Trabalho, 2016a.

---------- NR 5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, 2011.

---------- NR 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, 2017.

---------- NR 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção,

2018b.

---------- NR 35 - Trabalho em Altura, 2016b.

MONTELO, R. O.; MARTINS, G. A. DE S.; TEIXEIRA, S. M. F. Avaliação das Condições

de Higiene e Segurança do Trabalho : Estudo de Caso na Feira Livre do Agricultor em

Palmas - Tocantins. Journal of Health Sciences, 2011.

Page 108: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

97

MOREIRA, M. C. DOS S.; PACHECHO, D. A. DE J. Fatores críticos para a

implementação da Norma OHSAS 18001. Revista Espacios, p. 22, 2017.

NETO, N. Checklist de NR-18. Disponível em:

<https://segurancadotrabalhonwn.com/check-list-de-nr-18/>. Acesso em: 31 out. 2018a.

---------- Como fazer a CIPA funcionar – 10 Passos importantes. Disponível em:

<https://segurancadotrabalhonwn.com/como-fazer-a-cipa-funcionar/>. Acesso em: 26 out.

2018b.

NOGUEIRA, W. L. P.; OLIVEIRA, C. S. DE; NOGUEIRA, J. Gerenciamento de riscos com

a matriz SWOT em empresa de pequeno porte. Revista Brasileira de Saúde e Segurança

no Trabalho, v. 1, p. 23–31, 2017.

OHSAS PROJECT GROUP. Results of the survey into the availability of OH&S

Standards and Certificates, up until 2009. Disponível em:

<http://ohsas18001expert.com/wp-content/uploads/2011/05/2009-OHSAS-Certificates-

Survey-Results.pdf>. Acesso em: 6 out. 2018.

---------- Results of the survey into the availability of OH&S Standards and Certificates,

up until 2011. Disponível em: <https://elsmar.com/elsmarqualityforum/threads/survey-or-

statistics-on-the-use-of-ohsas-18001-worldwide.42619/page-7>. Acesso em: 6 out. 2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Constituição da Organização Mundial da Saúde,

1946.

PASSARINHO, N. Tragédia em Brumadinho : As 5 lições ignoradas após tragédia. BBC

News, 2019.

QUALYTEAM. Cresce o número de empresas com certificado ISO 9001 no Brasil.

Disponível em: <http://blog.qualidadesimples.com.br/2017/09/21/cresce-o-numero-de-

empresas-com-certificado-iso-9001-no-brasil/>. Acesso em: 6 out. 2018.

REVISTA PROTEÇÃO. Anuário Brasileiro de Proteção. Disponível em:

<http://www.protecao.com.br/materias/anuario_brasileiro_de_p_r_o_t_e_c_a_o_2014/gestao

_em_sst/A5jyAc>. Acesso em: 6 out. 2018.

SAKURADA, E. Y. As técnicas de Análise dos Modos de Falhas e seus Efeitos e

Análise da Árvore de Falhas no desenvolvimento e na avalização de produtos.

Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2001.

SAMPAIO, J. C. DE A. Programa Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho para a

Indústria da Construção. 3. ed. Brasília: Serviço Social da Indústria Departamento

Nacional (SESI/DN), 2015.

SANTIAGO, V. I. Q. Panorama da aplicação de sistemas de gestão de segurança e

saúde do trabalho na construção civil. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de

Janeiro, 2018.

Page 109: USO DOS REQUISITOS DA NORMA NBR ISO 45001 COMO …

98

SANTOS, J. Apostila Ténica de Ferramentas Básicas e Gerenciais da Qualidade.

Disponível em: <https://sites.google.com/a/poli.ufrj.br/site-prof-jorge-

santos/home/disciplinas>. Acesso em: 26 out. 2018.

SENAI. Plano de Atendimento à Emergência da Escola Antonio Devisate. São José do

Rio Preto, 2011.

SILVA, F. P.; MENDONÇA, T. M. Segurança do Trabalho: um Estudo em uma Empresa

da Construção Civil na Cidade de Maceió. IX Simpósio de excelência em Gestão e

Tecnologia, p. 1–15, 2012.

SINDUSCON-MG. Catálogo de Normas Técnicas: Edificações - Março, 2017. Belo

Horizonte: SINDUSCON-MG, 2017.

SOUZA, F. B. DE. Elaboração de Mapa de Riscos Ocupacionais em Laboratório de

Análises Fisico-Químicas no Sul de Santa Catarina. Criciúma: Universidade do Extremo

Sul Catarinense, 2014.

TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Trabalhadores das obras do Mineirão

participam hoje (22) de ato para prevenção de acidentes. Disponível em:

<http://www.tst.jus.br/noticias/-/journal_content/56/10157/2038399?refererPlid=10730>.

Acesso em: 7 jun. 2018.

ZÓCCHIO, A. Prática da Prevenção de Acidentes: ABC da segurança do trabalho. 7.

ed. São Paulo: Atlas, 2002.