UTILIZAÇÃO DE CHARGES NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO · Curso de Comunicação Social, com...

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RENATO CESAR PIOVAN UTILIZAÇÃO DE CHARGES NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Assis 2012

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RENATO CESAR PIOVAN

UTILIZAÇÃO DE CHARGES NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Assis

2012

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RENATO CESAR PIOVAN

UTILIZAÇÃO DE CHARGES NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Comunicação Social, com Habilitação em

Jornalismo, do Instituto Municipal de Ensino Superior

de Assis – IMESA e Fundação Educacional do

Município de Assis – FEMA como requisito parcial à

obtenção do Certificado de Conclusão.

Orientador: Cláudio Messias

Área de concentração: Ciências da Comunicação, Jornalismo

Assis

2012

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FICHA CATALOGRÁFICA

PIOVAN, Renato Cesar.

Utilização de charges nos meios de comunicação/Renato Cesar Piovan. Fundação

Educacional do Município de Assis – Assis, SP, 2012.

77 p.

Orientador: Prof. Ms. Cláudio Messias

Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis.

1. Charge 2. Compreensão

CDD: 070

Biblioteca da FEMA

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UTILIZAÇÃO DE CHARGES NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

RENATO CESAR PIOVAN

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Instituto Municipal de

Ensino Superior de Assis, como

requisito do curso de graduação em

Comunicação Social, habilitação em

Jornalismo, analisado pela seguinte

comissão julgadora:

Orientador: Prof. Ms. Cláudio Messias

Analisadora: Profa. Dra. Márcia V. Seródio Carbone

Assis

2012

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DEDICATÓRIA

Ao meu amor, Cátia, grande companheira e quem tanto me apoiou e muito

me ajudou durante este trabalho. Ninguém, melhor do que você, meu amor, sabe

como foram difíceis estes últimos quatro anos. Só consegui vencer porque tinha

você ao meu lado.

“Love You to Death!”

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AGRADECIMENTOS

Dentre muitos nomes a serem lembrados neste trabalho, impossível deixar de citar

alguns professores que passaram pela minha vida nestes quatro anos e que, de

alguma maneira, mudaram o meu conceito de como ver o Jornalismo.

São eles David Valverde, Márcia Seródio Carbone, Eduardo Yuji, Paulo Miguel,

Elson Miguel e Silvana Paiva, além, é claro do professor Claudio Messias que, além

de compartilhar sua larga experiência jornalística com a classe, aceitou o desafio de

ser meu orientador neste Trabalho de Conclusão de Curso.

Agradeço também aos meus amigos de Assis e Pedrinhas Paulista que, por tantas

vezes, foram deixados em segundo plano para que eu pudesse dedicar o tempo

necessário para a elaboração dessa monografia.

Não há como deixar de citar os meus amigos de classe que passaram juntos comigo

por esta importante etapa de minha vida. Mesmo que não tenhamos convivido por

todos os quatro anos do curso, deixo aqui meus agradecimentos a Aline, Bruce,

Bruna, Claudio Júnior, Claudio Pissolito, André Luis “Cid”, Diegão, Fabiane, Felipe

Portes, Ítalo, Jéssica, Kallil, Nestário Luiz, Marcos Smania e Patrícia Dias.

Também ao meu amigo inseparável em horas e horas dedicadas a esse trabalho

sentado na cadeira e com atenção fixada no computador: Black Cat.

Para encerrar, meus agradecimentos aos atenciosos chargistas e cartunistas

Quinho, Aroeira e Mário Alberto, pela valiosa colaboração neste trabalho.

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“Há três coisas a se considerar quando se faz uma charge: o que você quis dizer; o

que você realmente disse; e o que o leitor entendeu”

Laor

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RESUMO

PIOVAN, Renato César. Utilização de charges nos meios de comunicação.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Instituto Municipal de Ensino

Superior de Assis/Fundação Educacional do Município de Assis. Assis, São Paulo,

2012.

Este trabalho apresenta como tema central a utilização de charges e ilustrações nos

meios de comunicação, tendo como objetivo analisar se este recurso agrega

informações nos textos e assuntos que abordam, ou servem apenas como parte

decorativa dos mesmos. O objeto de estudo são as charges e ilustrações na mídia

brasileira nos últimos 20 anos e, para tanto, foram utilizadas pesquisas bibliográficas

teóricas e material coletado produzido pelos artistas analisados, neste período de

tempo, em sintonia com o noticiário e assuntos abordados na época. Também foram

realizadas pesquisas qualitativas e quantitativas, além de uma entrevista informal

com três artistas do setor. Atenção especial também foi dada à relação artista/leitor,

sempre tendo em mente o confronto de intenção de verdade do autor e a

compreensão do interlocutor. Ficou evidente que o gênero analisado possui grande

penetrabilidade na grande camada da população, que tem sua atenção atraída por

esse tipo de alegoria. Porém o leitor deve conter um mínimo de informação sobre o

assunto tratado na charge para entender com eficiência a intenção do autor.

Palavras-chave: Charge, Compreensão, Comunicação, Leitor

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ABSTRACT

PIOVAN, Renato César. Using cartoons in the media. Conclusion Work of Course

(Graduation) – Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis/Fundação

Educacional do Município de Assis. Assis, São Paulo, 2012.

This work has as its central theme the use of cartoons and illustrations in the media,

aiming to examine whether this feature aggregates information in texts and topics

that address, or serve only as a decorative part thereof. The object of study are the

cartoons and illustrations in the Brazilian media the past 20 years and, therefore,

were used theoretical literature searches and collected material produced by the

artists analyzed in this period of time, in tune with the news and issues discussed at

the time. Were also conducted qualitative and quantitative research, and an informal

interview with three artists in the industry. Special attention was also given to the

relationship artist / reader, always keeping in mind the clash of the author's true intent

and understanding of the interlocutor. It was evident that gender analysis has great

penetration in the large segment of the population that has his attention drawn to this

kind of allegory. But the reader must contain a minimum of information about the

subject matter in charge to efficiently understand the author's intent.

Keywords: Cartoon, Compreension, Communication, Reader

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15

Capítulo I .................................................................................................................. 16

1.1 O apelo do visual........................................................................................ 16

1.2 As ilustrações e o novo mercado de trabalho ......................................... 17

1.3 As charges e as crises ............................................................................... 19

1.3.1 A arte e a polêmica ................................................................................. 21

1.4 O início ........................................................................................................ 23

1.4.1 Revista Illustrada ........................................................................................ 25

1.5 Experiência pessoal: o meu “eu pesquisador” ....................................... 26

1.5.1 – Censura e interpretação .......................................................................... 29

Capítulo II ................................................................................................................. 32

2.1 - Ique ............................................................................................................... 32

2.2 – Mundo virtual .............................................................................................. 34

2.3 – Relação delicada ......................................................................................... 36

Capítulo III ................................................................................................................ 41

3.1 – Intenção e interpretação ............................................................................ 41

3.2 – A internet e o feedback imediato ............................................................... 43

3.3 – Charge x Esporte ........................................................................................ 46

Capítulo IV ................................................................................................................ 50

4.1 - Pesquisas ..................................................................................................... 50

4.2 – Objetivos ..................................................................................................... 50

4.3 – Metodologia ................................................................................................. 51

4.4 – Tabulação e análises da pesquisa quantitativa ....................................... 52

4.5 – Análise da pesquisa qualitativa ................................................................. 57

4.6 – Considerações gerais ................................................................................. 58

5. Considerações finais ............................................................................. .............62

6. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 67

6.1 Bibliográficas ................................................................................................. 67

6.2 Eletrônicas ..................................................................................................... 67

ANEXO A .................................................................................................................. 67

ANEXO B .................................................................................................................. 71

ANEXO C .................................................................................................................. 74

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ÍNDICE DE IMAGENS

Imagem 01.........................................................................................................15

Imagem 02.........................................................................................................16

Imagem 03.........................................................................................................17

Imagem 04.........................................................................................................18

Imagem 05.........................................................................................................18

Imagem 06.........................................................................................................19

Imagem 07.........................................................................................................20

Imagem 08.........................................................................................................21

Imagem 09.........................................................................................................22

Imagem 10.........................................................................................................24

Imagem 11.........................................................................................................25

Imagem 12.........................................................................................................26

Imagem 13.........................................................................................................27

Imagem 14.........................................................................................................28

Imagem 15.........................................................................................................30

Imagem 16.........................................................................................................31

Imagem 17.........................................................................................................33

Imagem 18.........................................................................................................34

Imagem 19.........................................................................................................35

Imagem 20.........................................................................................................36

Imagem 21.........................................................................................................37

Imagem 22.........................................................................................................38

Imagem 23.........................................................................................................38

Imagem 24.........................................................................................................40

Imagem 25.........................................................................................................42

Imagem 26.........................................................................................................44

Imagem 27.........................................................................................................46

Imagem 28.........................................................................................................47

Imagem 29.........................................................................................................48

Imagem 30.........................................................................................................57

Imagem 31.........................................................................................................58

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Imagem 32.........................................................................................................62

Imagem 33.........................................................................................................63

Imagem 34.........................................................................................................63

Imagem 35.........................................................................................................64

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INTRODUÇÃO

O foco principal desta pesquisa está na seguinte questão: as charges cumprem bem

o seu papel em acrescentar informações aos textos e assuntos que abordam, ou

servem apenas como parte acessória dos mesmos?

Conforme Maria Lilia Simões de Oliveira, “por empréstimo do francês, a palavra

“charge”, que significa carga, ataque, denomina um tipo de texto no qual a realidade

é (re)apresentada a partir de imagens (ícones) e de palavras (símbolos) – síntese da

observação de um leitor muitíssimo atento” (2001, p. 265).

Já o termo “ilustração” é definido por Sidney Carlos Aznar como “a imagem que

acompanha um texto e que pode ser expressa por meio de desenho elaborado ou a

traço, de gravura, de fotografia, de gráfico, etc”. (1997, p. 110)

Portanto, as maiores dúvidas eram se (I) o leitor brasileiro é capaz de discernir o que

o produto da charge pretende explanar e que (II) se a charge o leva a alguma

reflexão. Porém, não são todos que possuem a capacidade para serem levados a

alguma reflexão ou, simplesmente, entender a mensagem passada pelo chargista (a

quem também decai o fato de não saber expressar no desenho a sua real intenção).

Para Maria Teresa Gonçalves Pereira (2001), quanto à leitura da imagem, “trata-se

de um exercício complexo, decorrente da falta de hábito e da especificidade do

código, não se admitindo mais, entretanto, a crença de que seja ‘coisa de criança’,

razão pela qual muitos adultos não decodificam imagens, assumindo a imensa

dificuldade da prática em questão”. (2001, p. 257)

Portanto, é necessário, ainda, uma análise do contexto histórico, social e político do

Brasil no momento em que a charge/ilustração foi publicada para que possa ser

definida a eficiência da relação artista/interlocutor. Não é raro constatarmos

polêmicas que surgem desta delicada relação entre artistas e leitores.

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Capítulo I

1.1 O apelo do visual

O brasileiro, assim como o ser humano em geral, independente de nacionalidade ou

origem étnica, é muito ligado ao apelo do visual e pode-se acreditar que a utilização

de ilustrações/charges seja um atrativo a mais para que sua atenção seja atraída

para determinado produto da mídia ou reportagem.

Segundo Ciro Marcondes Filho, “o fascínio da imagem, definido como um critério

principal dos meios visuais, passa a ditar a hierarquia da comunicação: primeiro uma

cena tecnicamente perfeita; depois, um texto, uma narrativa, uma notícia” (p. 31)

Ainda de acordo com Marcondes Filho, “a precedência da imagem sobre o texto

muda a importância da matéria escrita e a submete a leis impressionistas e

aleatória: a aparência e a dinamicidade da página é que se tornam agora decisivos”

(Idem)

Muitas vezes a charge ou ilustração vêm a agregar um valor informativo para o texto

ou, simplesmente, podem trazer um aspecto mais leve e descontraído para um

assunto considerado sério, como é feito em algumas revistas ligadas a saúde, por

exemplo, como mostra a imagem 1.

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Imagem 1 – Publicação em revista, feita em outubro de 2011, por Regisclei.

1.2 As ilustrações e o novo mercado de trabalho

Certamente, essa modalidade de utilização maciça de ilustrações, de 20 anos para

cá, ampliou uma oportunidade de trabalho no mercado para diversos artistas, visto

que em tempos anteriores eram poucos os que tinham espaço nos meios de

comunicação.

Foi nessa oportunidade que nomes como Quinho, Jean Galvão, Baptistão e Lézio

Júnior se uniram a artistas consagrados como Ziraldo, Chico e Paulo Caruso,

Aroeira e Ique. As editorias perceberam que talvez a utilização das charges e

ilustrações poderia trazer novos ares e atrativos a matérias e publicidades

veiculadas.

A assimilação de um texto está ligada à formação de uma imagem. Segundo

Pereira,

as palavras induzem a que imediatamente formemos imagens visuais. Em relação à linguagem, cada um de nós tem armazenado no espírito seu próprio estoque de cores, com diferentes matizes,

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usando-as no momento em que lhe aprouver ou que for mais oportuno. Esse estoque determinará escolhas, responsáveis pela percepção de que se lê e como se lê. (2001, p.263)

Mas é inegável que a incorporação de ilustrações e charges em espaços outrora

ocupados por fotos e gráficos caiu no gosto dos leitores brasileiros e é possível

constatar que a utilização dessa manifestação artística tem crescido mês após mês

nas publicações nacionais.

Diversos chargistas migraram da charge para a ilustração, mercado em constante

crescimento e, certamente, mais rentável. Começaram a surgir novos nomes do

ramo, como Thiago Hoisel, que se dedica à elaboração de ilustrações digitais para

campanha publicitárias ou capas de revistas, como no caso das imagens 2 e 3

Imagem 2 - Capa da revista “Mundo Estranho”, produzida pelo traço digital de Hoisel

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Imagem 3 - Campanha publicitária da AE Investimentos ilustrada por Hoisel, com clara

influência de Salvador Dali

1.3 As charges e as crises

De uma hora para outra passamos a ser ‘bombardeados’ com o uso contínuo de

charges/ilustrações em jornais, revistas, panfletos, etc, uma vez que os meios de

comunicação parecem ter percebido que o leitor talvez tenha sua atenção atraída

por meio da utilização deste chamariz. Oliveira destaca que

como qualquer discurso fundado na linha do humor, os textos de charge ganham mais força expressiva quando a sociedade enfrenta momentos de crise, pois é a partir de fatos e acontecimentos reais que o artista tece sua crítica num texto aparentemente despretensioso (2001, p. 265).

A seguir, alguns exemplos de charges que repercutem momentos da recente história

brasileira:

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Imagem 4 - Charge de Quinho para o jornal O Estado de Minas (MG), em setembro de 2007, quando o Brasil estava mergulhado em uma crise no Senado, deflagrada pela absolvição de Renan Calheiros, comemorada pelo PT do então presidente Lula.

Imagem 5 - Charge de Aroeira para o jornal O Dia (RJ), em agosto de 2012, sobre a crise ética do Judiciário

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Imagem 6 - Charge de Lézio Júnior para o jornal O Diário da Região, de São José do Rio Preto em 2011, mostrando que o Governo Federal tem, sim, colaborado com a melhoria da vida dos mais pobres.

1.3.1 A arte e a polêmica

Devido ao seu forte apelo ideológico, as charges, muitas vezes, estão envolvidas em

polêmicas, colocando seus autores à mercê da ira dos “retratados” ou por alguém

que tenha se sentido ofendido pelo trabalho publicado.

Basta lembrarmos o caso do cartunista dinamarquês Kurt Westergaard, autor de

uma caricatura de Maomé que causou a fúria do mundo muçulmano. Ele e mais 11

artistas publicaram no jornal “Jyllands Posten”, em 1996, charges de Maomé,

causando a ira dos países muçulmanos.

Dos 12 trabalhos publicados, o de Westgaard foi considerado o mais ofensivo.

Trazia Maomé com um turbante em forma de bomba, com o pavio aceso, conforme

mostrado na imagem 7. Após a veiculação do desenho, houve três tentativas de

ataques terroristas ao artista e também contra o jornal.

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Westgaard se negou a desculpar-se, pois a ironia com símbolos religiosos era

permitida pela liberdade de expressão na Dinamarca. Já para os muçulmanos, a

retratação de Maomé, sob qualquer forma, é inadmissível.

Aos 75 anos, cansado de tanta polêmica e buscando diminuir às ameaças à própria

vida, o chargista anunciou sua aposentadoria em 2010.

Imagem 7 - Charge de Kurt Westergaard publicada em 1996 no jornal dinamarquês “Jyllands

Posten”

Em novembro de 2011 a publicação de charges mais uma vez foi alvo do ódio do

mundo árabe. A revista semanal satírica “Charlie Hebdo”, da França, publicou um

desenho de Maomé considerado ofensivo, o que resultou em ataques à sede da

empresa. Desde então o diretor da revista e o chargista passaram a viver sob

proteção judicial.

Como se já não bastasse isso, em setembro de 2012 a “Charlie Hebdo” voltou a

retratar Maomé por meio de charges, decisão criticada até mesmo pelas autoridades

francesas, que consideraram a atitude uma provocação desnecessária. O governo

foi obrigado a reforçar a segurança em sedes diplomáticas, embaixadas e

consulados franceses.

Os responsáveis pela revista se defenderam, alegando que o direito à liberdade de

imprensa da França permite a publicação do conteúdo veiculado.

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Imagem 8 - Charge de setembro de 2012 da revista Charlie Hebdo, que causou novo furor no

mundo árabe

1.4 O início

O ser humano é um povo voltado à atração do visual e, por isso, as ilustrações,

desenhos e charges se tornaram tão presentes no dia a dia de quem lê (ou

simplesmente folheia) jornais, revistas e outras mídias impressas de todo o mundo.

A utilização de charges na mídia brasileira não é uma novidade de nossos dias.

Essa manifestação artística começou realmente a ganhar espaço no país durante o

processo de luta pela abolição da escravidão. As correntes abolicionistas ganharam

força entre a elite da época quando começaram a utilizar charges para criticar o fato

da demora do Brasil abolir a escravidão. A responsável por isso era a Revista

Illustrada.

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Segundo Thiago Vasconcellos Modenesi, o Brasil foi um dos países onde a prática

da escravidão foi longa e sua abolição um processo de lutas e conquistas graduais:

A formação da corrente abolicionista atraiu parte da elite da época que se reunia nos cafés e era influenciada pelas opiniões que chegavam da Europa. Somando-se a isso, uma parcela do povo menos letrado e sem oportunidade de acesso à escola acabou sendo ganha pelas críticas ao Imperador e ao regime vigente. As charges que eram publicadas nas revistas que circularam no país no século XIX foram o grande instrumento para esse acontecimento”. (2011, p. 01)

Houve, portanto, o que pode ser entendido como uma contribuição à crítica com

relação à prática de exploração da mão-de-obra escrava, que colocava o Brasil

como uma das únicas nações do mundo a não adotar a abolição. Esse tipo de crítica

atingia diretamente a elite, que era adepta desse tipo de escravização e detinha o

privilégio do letramento, ou seja, a acessibilidade à leitura do tipo de linguagem

contido nas charges, como no caso da imagem 9.

Imagem 9 - Charge de Agostini na "Revista Illustrada" de agosto de 1886: crítica à escravidão

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1.4.1 Revista Illustrada

A grande responsável pelo surgimento dessa nova mentalidade e, principalmente,

pela cumplicidade de ideias entre a elite e os menos abastados foi a Revista

Illustrada, que possuía apenas oito páginas e uma tiragem semanal de quatro mil

exemplares. Seu maior atrativo era retratar de modo satírico os fatos ocorridos, em

especial acerca da escravidão, e os desmandos do imperador.

A Revista Ilustrada foi fundada no Rio de Janeiro pelo ítalo-brasileiro Ângelo

Agostini, tendo circulado de 1876 a 1898. Segundo Balaban, aquela não foi a

primeira experiência de Agostini no gênero:

Dono de traço inconfundível, Agostini - que já havia participado como ilustrador de outras publicações - iniciou sua própria edição semanal da Revista, tornando-se rapidamente num dos grandes veículos opositores ao regime monárquico e à escravidão. Em suas páginas o caricaturista atacava de modo contumaz e ácido a figura do Imperador Pedro II, sendo considerado um dos responsáveis pela deterioração da imagem pública do soberano: para se ter ideia da ferocidade dos ataques, numa edição de 1882 a Revista traz uma história em quadrinhos onde o soberano é acusado de acobertar os ladrões das joias da coroa, como se fosse cúmplice destes. Tais ataques exerciam grande influência na opinião pública. (BALABAN, 2009)

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Imagem 10 - D. Pedro II dormindo ao ler os jornais do dia, em charge de Ângelo Agostini na

Revista Illustrada em1888

1.5 Experiência pessoal: o meu “eu pesquisador”

Neste trecho do trabalho, faço a opção de produzir tal relato em primeira pessoa, por

ser parte integrante desse processo de relação leitor/artista. Como chargista atuante

na imprensa regional há 15 anos, sinto na pele a tênue linha em que os artistas têm

que se “equilibrar” a fim de que não sejam mal interpretados ou, ainda, maculem os

interesses editoriais do meio de comunicação pelo qual atuam e muitas vezes, de

onde tiram o seu sustento.

Foi essa experiência no trato com tais situações que me levou a escolher tal tema

para o Trabalho de Conclusão de Curso. Fazer a graduação em Jornalismo já era

um sonho antigo; terminá-la com uma pesquisa voltada a outra paixão seria fechar o

curso com “chave de ouro”.

O prazer em desenhar vem desde os tempos de criança, quando já rabiscava as

paredes de casa e não havia quantia suficiente de cadernos de desenho para

minhas “artes”. Comecei a atuar na imprensa regional em 1995, como repórter free

lancer em alguns jornais de amigos e conhecidos. Porém, sempre tinha uma visão

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voltada ao humor involuntário em algumas situações que eu presenciava ou das

quais fazia a cobertura jornalística.

Em 1997 coube à minha atual esposa incentivar que eu colocasse essas

observações sarcásticas no papel, em forma de ilustração. Foi o que eu fiz,

ironizando algumas situações envolvendo o prefeito assisense da época. Mas qual

órgão de imprensa iria publicar aquele tipo de trabalho, visto que a Prefeitura

comandava os jornais da cidade com rédea curta e o então prefeito não era famoso

por ter senso de humor e estar aberto a críticas?

Eis então que enviei algum material ao Jornal da Segunda, única vertente da

imprensa que fazia oposição declarada à gestão municipal. O jornal, que é dirigido

até hoje por Reinaldo Nunes, circula em Assis desde 1989 e tem como fator

ideológico promover críticas e revelar os bastidores da política do município. Foi

colocado um envelope debaixo da porta do jornal, endereçado ao diretor do

periódico, que era vereador pelo PT na época.

Na edição seguinte, em junho de 1997, já estava uma charge produzida por mim,

sobre uma polêmica entre a Prefeitura e as escolas, que acabou tirando crianças

das salas de aula e acabou deixando-as sem vaga nas instituições de ensino de

Assis.

Imagem 11 - Charge publicada no Jornal da Segunda em junho de 1997

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Em pouco tempo já senti o peso da mão do então prefeito que não era muito aberto

a críticas e ironias. A segunda charge publicada (imagem 10) no JS já foi alvo de

processo judicial. Ela fazia uma ironia ao chefe do Executivo e a “Semana da

Faxina”, evento promovido pela afiliada da TV Globo regional, que recolhia nas

cidades os materiais inservíveis, que deveriam ser deixados nas calçadas. O

processo, no entanto, foi arquivado.

Imagem 12 - Charge publicada em junho de 1997 no JS e que foi alvo de processo

Dali por diante comecei a enviar trabalhos ao JS, muitas vezes sem remuneração e

apenas pelo prazer de ver meus desenhos publicados. O jornal sempre mostrava o

outro lado dos fatos, o que não era noticiado pela mídia em geral. E minhas charges

faziam parte desse processo, muitas vezes servindo como complemento de

informação que fazia parte da coluna de curtas “Dropes” (imagem 13).

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Imagem 13 - Página 02 do JS em dezembro de1998, onde as charges eram destaque

1.5.1 – Censura e interpretação

Segundo Pereira, o chargista, ao carregar na linguagem iconográfica, pretende levar

o interlocutor de seu texto à reflexão de momentos históricos da comunidade em que

ambos – artista e leitor – estão inseridos. É por isso, diz a autora, que os textos

chargísticos constituem um vasto material de memória social, sem a qual não

poderia existir a História, que só se constitui pelo discurso (2001, p. 266).

Entendemos, nesse “carregar na linguagem iconográfica”, que os artistas podem ser

mal interpretados ou esbarrar na linha editorial do jornal. Exemplo disso é charge

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produzida por mim em 2009, para o jornal Voz da Terra, de Assis (imagem 14), de

circulação regional e que traz conteúdo convencional dos demais meios de imprensa

da cidade.

Na época Assis estava debatendo qual tema teria o portal de entrada do município

e, ao mesmo tempo, a cidade estava com altíssimos índices de assaltos. Na charge,

dei minha sugestão para o portal (que deveria explorar algum potencial da cidade).

O desenho foi considerado “muito pesado” pela diretoria do jornal e não foi

publicado, ficando apenas em meus arquivos. Dois anos depois, porém, fez muito

sucesso na internet, por meio da rede social Facebook. Porém, mesmo com aquela

restrição imposta à minha expressão, ainda mantenho colaboração periódica com o

jornal, normalmente sobre algum fato cotidiano ou político do cenário nacional.

Imagem 14 - Charge de 2009 para o jornal Voz da Terra

Foi nesse tipo de circunstância, pois, que começou a amadurecer a ideia de, um dia,

analisar a conturbada relação entre chargistas e leitores/editores. Ocorre que, pela

imprensa, eu acompanhava as polêmicas que também havia com alguns dos meus

ídolos do traço, como o foi publicamente declarado por Ique, Angeli, Glauco e

Aroeira.

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Em 2009, finalmente, consegui iniciar meu grande sonho de cursar Jornalismo. E

junto com isso, ressurgiu a ideia da análise. E ela seria feita por meio do Trabalho de

Conclusão de Curso, obrigatório para a finalização do curso. Desde então comecei a

ampliar meus horizontes acerca do assunto, notando que na mídia nacional se

iniciava um uso abundante de ilustrações nas mais variadas publicações.

Nesse processo, novos nomes surgiram no mercado de charges e ilustrações e, na

contra a mão da situação, grandes e renomados artistas deixaram esse cenário, não

acompanhando as novas tendências ou rejeitando a “modernização” da área.

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Capítulo II

2.1 - Ique

A modernização do setor trouxe, além de novos talentos, baixas significativas.

Dentre os artistas mais admirados no ramo de charges está Ique, jornalista,

cartunista, escultor e roteirista. Ique foi chargista do Jornal do Brasil por mais de 27

anos (imagem 15) e também colaborador para inúmeras revistas como a Veja,

Playboy, Vejinha, Mad, Fatos, Courrier International e Revista da Semana. Mas, vem

perdendo espaço.

O artista ganhou dois prêmios Esso de Jornalismo (em 1990 e 1991) e surpreendeu

a todos quando se recusou a continuar como chargista do JB (Jornal do Brasil). Em

2010 o jornal anunciou que encerraria a sua circulação impressa, passando a ser

apenas uma mídia na internet. Ique publicou no jornal o seu último trabalho no dia

31 de agosto de 2010, a última edição impressa em papel jornal (imagem 16).

Imagem 15 - Primeira charge oficial de Ique publicada no JB em 1985. Tancredo havia sido eleito e dominava o mundo com seu carisma.

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Imagem 16 - A última charge, de 31 de agosto de 2010 mostra a pressa da candidata Dilma em ocupar o lugar do presidente, que ainda não é seu

Segundo Ique em seu blog pessoal1, sua decisão foi pragmática e baseada nas

informações anunciadas pelo comando da empresa, acerca do projeto de se tornar

uma mídia virtual. Ele acredita que o lugar de uma charge é na mídia impressa e não

na virtual.

Conforme o próprio Ique, “é sabido por todos, que o JB vinha vivendo mergulhado

em uma grande e profunda crise. Era necessária muita resignação, que eu tive,

protelando essa decisão a cada momento de dificuldade apresentado pelos

comandantes da náu a deriva. Isso por acreditar que alguma solução milagrosa seria

encontrada a qualquer momento, pra salvar aquele lugar mágico que foi meu ninho,

minha escola, meu palco. O palco de muitas conquistas importantes como os dois

"PRÊMIOS ESSO DE JORNALISMO" de 1990 e 1991. Honraria que só o Jornal do

Brasil recebeu na história do prêmio e do jornalismo brasileiro. Minha decisão foi

pragmática e baseada nas informações anunciadas pelo comando da empresa, a

1 Blique-oblogdoique.blogspot.com.br

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cerca do audacioso projeto, que não se encaixou em minhas expectativas pessoais

para este momento profissional” (agosto de 2010)

2.2 – Mundo virtual

Isso leva a uma análise do fato como um repúdio de Ique ao imediatismo da internet.

Um trabalho que você publica tem repercussão imediata, gerando centenas de

comentários, na grande maioria das vezes, mostrando a total falta de compreensão

de quem o “analisou”.

A internet possibilita que um infinito número de pessoas possa se dar ao direito de

elogiar, criticar ou até mesmo ofender de maneira pessoal um artista ao ter uma

leitura errônea do ritmo da ilustração.

Para Marcondes Filho, “o mundo das virtualidades eletrônicas fascina por permitir

um livre curso às fantasias, às errâncias em múltiplos mundos, ao possibilitar visitas

voyeuristas a todo tipo de universo falsamente fechado” (pg 51).

Ele continua, afirmando que “Mas ilude ao sugerir que esses mundos tragam o

mesmo conforto ou a mesma tranquilidade que o mundo das coisas e das

sensações vividas sem mediação de aparelhos. A praticidade e a rapidez se pagam

com o aumento da insegurança e do desespero” (p 52).

No caminho contrário de Ique, vemos artistas como Renato Aroeira (do jornal O Dia,

do Rio de Janeiro), Lézio Júnior (que publica ilustrações em diversas revistas e

jornais) e Baptistão (de O Estado de São Paulo), que utilizam a internet para um

maior feedback com seus leitores, que hoje se tornaram “seguidores”. Eles não

pensam duas vezes em divulgar seus trabalhos pelas mídias sociais e mantém

contato direto com os leitores, inclusive mostrando o passo a passo da criação de

sua arte (imagens 17 e 18).

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Imagem 17 - Postagem do artista Lézio Júnior no Facebook, feita para a revista Playboy de janeiro de 2012. Nela ele compartilha com seus seguidores o passo a passo do seu trabalho. O feedback é quase instantâneo

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Imagem 18 - Baptistão é outro artista que frequentemente compartilha com seus seguidores do Facebook os métodos de sua obra

2.3 – Relação delicada

Porém a maior polêmica acerca dessa relação entre os meios de comunicação e

seus leitores, que têm as mais variadas reações diante de uma charge, está na

intenção da verdade do artista no encontro com a intenção de verdade do receptor.

É desse contexto que sai a proposta deste Trabalho de Conclusão de Curso:

analisar se em determinados casos a intenção comunicativa foi atendida quando da

elaboração e produção de uma charge ou ilustração ou se houve um processo

comunicativo divergente devido a possível falta de capital cultural e informativo do

leitor. Muitas vezes o receptor entende o assunto abordado na charge, mas não da

maneira como era pretendida pelo artista.

A esse respeito, Roger Mello diz que

toda narrativa verbal é também visual. As ilustrações nos livros de imagem contam histórias e traçam movimentos poéticos. A leitura pressupõe ritmo. Um ritmo sugerido pelo escritos, um ritmo sugerido pelo artista, o ritmo muito pessoal do leitor. O leitor subverte o ritmo” (2001, p. 280)

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Muitas vezes esse erro de interpretação nem parte dos leitores, começando nos

próprios editores ou responsáveis pelo meio de comunicação. Essa interpretações

equivocadas podem ser muito prejudiciais aos artistas. Mas também pode ajuda-los.

Segundo conta o artista Ique, uma decodificação errada de uma charge por parte de

um editor resultou na publicação da mesma no jornal O Estado de São Paulo em 27

de agosto de 1995.

Ique admite que fez um desenho bem explícito, com o então senador Antônio Carlos

Magalhães com o “rabo preso” ao Banco Econômico. Como não podia dizer isso

diretamente ao editor, pintou o rabo da mesma cor da gravata, como pode ser visto

na imagem 19.

Segundo o artista contou a Valente, “Quando o editor me perguntou : ‘Você colocou

o rabo dele preso?’ eu respondi: ‘Não. Botei a gravata porque ela é o símbolo do

político!’. E você fica pensando nessas saídas o tempo todo” (1997, p 156).

Imagem 19 - Charge de Ique, publicada no jornal O Estado de São Paulo em agosto de 1995

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No entanto, na grande maioria das vezes a interpretação de maneira equivocada de

uma charge tem como desfecho a ira de leitores de jornais e revistas contra os

chargistas.

Isso ocorreu em 2011 com o jovem João Montanaro, que criou grande polêmica e foi

alvo da fúria dos leitores da Folha de São Paulo devido a uma charge que mostrava

a tragédia do tsunami no Japão, ocorrida em março daquele ano, como visto na

imagem 20.

Montanaro usou sua criatividade e deu sua interpretação do fato, tendo como

inspiração uma icônica xilogravura do aclamado artista japonês Katsushika Hokusai

(imagem 21), datada de 1829.

Imagem 20 - Charge de João Montanaro publicada na Folha de São Paulo em março de 2011

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Imagem 21 - Xilogravura do artista japonês Katsushika Hokusai, datada de 1829

Era um momento de comoção mundial após o terremoto e o tsunami que destruíram

o norte do Japão e isso, possivelmente associado à falta de bagagem cultural dos

leitores que viram a charge, levaram Montanaro a ser bombardeado por dezenas de

críticas, que consideraram o desenho uma piada com o que havia acontecido.

A obra foi considerada ofensiva ao invés de ser interpretada como uma charge que

mostrava um fato importante e relevante de 2011 e que usava como base uma

aclamada xilogravura do início do Século XIX. A falta de maiores informações levou

uma multidão a atacar um jovem artista por algo que ela sequer conhecia.

Diversos outros artistas pelo mundo usaram a mesma peça para retratarem a

tragédia, como no caso do francês Frederick Deligne (imagem 22) e do eslovaco

Martin Sutovec (imagem 23). Em ambos o caso não houve qualquer comoção

popular, possivelmente pela referência à obra de Hokusai.

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Imagem 22 - Charge do artista Frederick Deligne, da França

Imagem 23 - Tsunami no Japão, visto por Martin Sutovec, da Eslováquia

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Capítulo III

3.1 – Intenção e interpretação

Mesmo sem a utilização da ampla divulgação da internet, ainda hoje os artistas

estão à mercê de interpretações errôneas de suas charges e ilustrações. Porém,

com a possibilidade de uma divulgação mais ampla de sua obra por meio de mídias

sociais eletrônicas - como o Facebook ou Twitter - ou até mesmo em sites e blogs,

essa relação delicada atinge estágios elevados.

Porém, é no jornal impresso que ainda se encontra o elo mais ágil entre chargistas e

comunidade e, nele, não é raro observarmos artistas não terem as suas ilustrações

atingirem o feedback desejado.

Segundo Ciro Marcondes Filho em Bakhtin e o Grupo BMV:... “(..) signos são parte

de um bem comum a todos, que é a cultura, mas cada um reage à sua maneira

diante deles, vendo aquilo que quer ver. Assim, eles não refletem ‘outra’ realidade,

mas realidades; não distorcem nada, são fiéis à visão subjetiva, particularista de

cada um” (p 205). Para exemplificar a situação, mantivemos contato, via internet,

com três renomados artistas do ramo de charges. Foi pedido que eles relatassem

uma ou mais situações onde sua arte não obteve a interpretação desejada e se

existe algum cuidado específico quando se opta por retratar uma situação por meio

da complicada linguagem das charges.

Um dos casos analisados neste trabalho é do cartunista e chargista Quinho, do

jornal O Estado de Minas. Em contato com o artista, por meio de e-mail e bate papo

via Facebook, ele relatou que várias de suas charges já foram interpretadas sob

óticas que lhe surpreenderam e, em alguns casos, até hoje ele não consegue

entender o mecanismo que levou algumas pessoas a ter um entendimento distorcido

do que ele queria transmitir.

Em seus mais de 10 anos de atividade, Quinho argumenta que, curiosamente, isso

ocorre com maior frequência em charges sobre política, futebol e religião – três

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delicados assuntos que, em sua visão, envolvem (em casos mais extremos),

fanatismo e paixão.

O artista cita uma charge que fez durante a Páscoa deste ano (imagem 24). Na

obra, intitulada “Tudo é mais fácil quando se é fofinho”, há um Cristo sofrido pregado

na cruz e o Coelho da Páscoa no chão, sorridente. O coelho carrega uma cesta com

ovos coloridos e uma placa que diz “Símbolo mais popular da Páscoa”.

Na cruz, Jesus diz com ironia “Como se já não me bastasse o Papai Noel”. A charge

deu origem a uma série de protestos dos mais variados, chegando ao ponto de um

religioso do alto escalão da Igreja Católica de Belo Horizonte ligar ao editor do jornal

fazendo muitas críticas e pedindo a cabeça do chargista, pois era “um absurdo

representar Jesus em um contexto como aquele”.

Imagem 24 - Charge de Quinho que causou polêmica com religioso

Segundo Quinho explicou via e-mail, a sua intenção era fazer uma crítica ao

consumismo exacerbado em datas comemorativas e também ao desvio de foco do

personagem principal da Páscoa, o que tem acontecido de forma mais crescente

também no Natal.

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O cartunista destaca ainda que a charge é uma forma de linguagem muito

interessante e cada vez mais moderna, pois ela aplica por meio do humor alguma

síntese sobre o aspecto de um ou mais acontecimentos de forma direta e rápida –

algo bem adequado aos dias de hoje, onde a agilidade de informação é

imprescindível devido ao tempo escasso de cada um.

Para Quinho, a charge também deveria servir para despertar no leitor o interesse

pelo assunto retratado ali, por meio do absurdo. Mas isso só ocorre, na visão dele,

se o receptor daquela mensagem estiver atualizado em relação aos acontecimentos.

Ao elaborar uma charge, o cartunista conta que segue algumas regras, sendo a

mais importante é estar muito bem informado sobre o assunto tratado. Ele procura

focar em aspectos que são determinantes para uma compreensão adequada da

situação retratada.

“Esses aspectos citados são determinantes para que eu me policie no sentido de

não cair no maniqueísmo ou em um ponto de vista que pode não ser um julgamento

justo da situação. São cuidados que todo aquele que produz material formador de

opinião deve ter”, explica ele, respondendo pergunta feita durante bate papo na

internet.

3.2 – A internet e o feedback imediato

Outro artista que está frequentemente envolvido em polêmicas com suas charges é

Renato Aroeira, de O Dia (RJ). No entanto ele não se contenta apenas a ficar

intrigado com a interpretação equivocada de sua obra. Por meio do Facebook, não é

raro observar o artista indignado com a maneira como suas charges são discutidas

pelos seus “seguidores” na Internet.

Um dos casos mais recentes ocorreu em uma charge onde ele expõe a sua visão do

julgamento do Superior Tribunal Federal ao caso do “Mensalão”, retratando uma

boate onde, como um stripper, o ministro Joaquim Barbosa deixa em pânico a

plateia, composta de envolvidos no escândalo que abalou o governo do PT (imagem

25).

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Imagem 25 - Aroeira e Joaquim Barbosa: acusações de racismo via internet, a charge

publicada em outubro de 2012 no Facebook

Segundo Aroeira, sua intenção foi não só colocar os envolvidos no escândalo em

uma situação vexatória, mas também criticar o atual status de celebridade alcançado

pelo ministro do STF, retratando o julgamento em um misto de comédia stand up e

exibicionismo de Barbosa que, para o artista, gostou dos “holofotes”.

Na charge Aroeira ainda usa balões com frases de efeito, ditas por cada um dos

réus, para aumentar a dose de ironia de sua arte, como José Genoino declarando

ser “Inocente demais para isso” ou José Dirceu mantendo a sua arrogância peculiar.

No entanto, bastou divulgar o trabalho no Facebook para que o chargista notar que

seus seguidores não tiveram a leitura que ele desejava da obra, sendo que alguns

reconheceram no desenho até uma manifestação racista do autor.

Outros entenderam que retratar Barbosa como um stripper seria um grande

desrespeito ao “homem que tenta moralizar a política no Brasil”. Um dos seguidores

disse que Aroeira não deveria ridicularizar algo tão sério, sendo que o julgamento se

equivale ao Movimento “Cara Pintada” e a campanha das “Diretas Já”. “Quando se

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quer ‘derrubar’ alguém, desmoralizá-lo pelo riso é o caminho mais curto”,

argumentou o seguidor.

Porém o chargista se mostrou incomodado com as acusações de racismo à sua

arte. Ele comentou que já utilizou esse mesmo conceito (exibicionismo) em outras

charges, porém como não havia personagens negros nelas, não houve

interpretações de que seria racismo ou obsessão com partes sexuais de negros. “Ao

inserir um negro no contexto eu, quando menos esperava, tornei a piada racista”,

alegou ele.

Aroeira comenta que a sua real intenção era criticar tanto o ministro Joaquim

Barbosa quanto a “seleta” plateia. Sendo assim, ele não compreendeu a polêmica

criada com os internautas, sendo acusado de tentar ridicularizar o “maior julgamento

da história do Brasil” ou ter o racismo implícito na charge.

“Trotsky falava sobre a ideia de ‘revolução permanente’, ou seja, a luta não para.

Mas identificar corretamente o inimigo é tão importante quanto a energia e a vontade

para lutar”, comenta Aroeira.

O chargista carioca encara a polêmica como normal e parafraseia o cartunista Laor,

que sempre dizia: “Há três coisas a se considerar quando se faz uma charge: o que

você quis dizer; o que você realmente disse; e o que o leitor entendeu”.

Dois dias depois e pouco se importando com a polêmica anterior, Aroeira retomou a

temática, desta vez utilizando a presença de Lewandoviski na mesma situação de

exibicionista, onde Barbosa cita uma frase com teor irônico “pra menos, eu suponho”

(imagem 26).

Entendemos que essa foi uma forma do chargista ser irônico com aquelas pessoas

que viram na charge um teor racista, ao entenderem que o artista estava frisando o

tamanho do órgão sexual de um negro.

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Imagem 26 - Charge de Aroeira, logo após a polêmica com seguidores do Facebook

3.3 – Charge x Esporte

Mário Alberto é chargista do jornal diário O Lance (dedicado 100% ao esporte) há 15

anos. O artista comenta, por meio de e-mail, que a “mãe” da charge é a política,

porém o cartunista que decide se dedicar às charges voltadas ao esporte

praticamente faz parte de um time que “anda sobre o vidro”.

Se na charge que critica o mau político, o chargista e o leitor estão “do mesmo lado”,

o mesmo não ocorre quando um torcedor fanático se depara com um desenho

satirizando o time do seu coração.

Na verdade, o torcedor mais apaixonado sempre vai querer ver uma charge que

satirize o time adversário, de preferência aquele mais tradicional, como no caso do

Estado de São Paulo, um corintiano sempre vai gostar mais de charges que

mostram e criticam o Palmeiras, São Paulo ou Santos.

Segundo Mário Alberto, é uma parcela muito pequena de torcedores que entende a

charge que satiriza seu próprio time e que leva a situação na esportiva. Ele

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argumenta que rir de qualquer coisa requer inteligência, pois o riso é antecipado

pelo conhecimento daquele assunto tratado. Porém, rir de si mesmo, para o artista,

requer muito mais qualidades pessoais.

“A batata da charge esportiva é quentíssima e tive que me acostumar com esse tipo

de coisa. De tanto queimar a mão, percebo que criei uma casca grossa para

xingamentos e teorias levianas”, diz ele.

Torcedor assumido do Flamengo, Mário Alberto se diz um “privilegiado”, pois se os

jogadores do seu time pouco ouvem os apupos vindos das arquibancadas, com

certeza eles veem as charges, que nada mais são do que uma crítica a algo que

ocorreu com a equipe.

Questionado sobre situações onde suas charges foram mal interpretadas, o

chargista do Lance comenta que são diversas as vezes onde não ocorre uma

“leitura” adequada de sua obra.

Como a mais polêmica das situações, ele lembra da charge que fez quando Ronaldo

sofreu uma grave contusão no joelho em 2000 jogando pela Internazionale (Itália)

depois de ter ficado um certo tempo tratando uma contusão anterior (imagem 27).

Imagem 27 - Charge polêmica de Mário Alberto, em O Lance, retratando a contusão de Ronaldo, então na Inter de Milão

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Segundo o autor da charge, a intenção ao retratar o “Fenômeno” crucificado na folha

do próprio jornal foi uma crítica à pressão da imprensa sobre a volta aos gramados

do jogador, além de ter em seus joelhos e mãos grilhões em forma de cifrão,

remetendo aos valores monetários em torno da volta mais rápida possível de

Ronaldo aos campos.

Para Mário Alberto, a pressão da imprensa pelo retorno aos gramados e os

interesses financeiros do time e dos empresários ligados ao jogador foram os

grandes culpados pela precipitada volta de Ronaldo, o que acabou gerando outra

contusão no mesmo lugar que ele estava recuperando. O jogador foi “crucificado”

por algo que não era sua culpa.

Mesmo sendo uma época onde não havia uma comunicação tão ampla entre leitores

e jornais (já que a internet ainda não era o que é hoje), Mário Alberto foi alvo de

diversas manifestações de revolta de pessoas indignadas, pois entenderam que o

chargista, ao usar o tema “crucificação”, comparara Ronaldo a Jesus Cristo.

Como chargista de um jornal esportivo, Mário Alberto destaca que sua maior

preocupação é deixar de lado a sua paixão como torcedor e focar apenas no lado

profissional. Ele destaca que já chegou a torcer contra o seu time para poder ter

uma boa charge a publicar no dia seguinte. Como pode ser visto na imagem 28.

I

Imagem 28 - Charge de 2012 onde Mário Alberto satiriza seu time do coração, o Flamengo

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“O mais importante é ter amor e respeito ao meu trabalho acima do amor que tenho

pelo meu clube. Sim, eu amo mais desenhar, pintar e ilustrar do que amo o

Flamengo”, encerra.

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Capítulo IV

4.1 - Pesquisas

Uma pesquisa é um método importante e eficiente para que sejam levantadas

informações sobre o tema pesquisado neste trabalho. O instrumento utilizado foi

uma pesquisa quantitativa, onde foram apuradas opiniões por meio de instrumento

padronizado (questionário) e pesquisa qualitativa, onde os entrevistados foram

estimulados a analisar, pensar e falar livremente sobre o tema proposto, no caso

uma charge sobre a Lei da Ficha Limpa (imagem 29).

Imagem 29 - Charge utilizada na pesquisa qualitativa em outubro de 2012

4.2 – Objetivos

A pesquisa teve por objetivo verificar dos entrevistados, como ponto principal:

- Nível de escolaridade

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- Se leem jornal

- Se existe preferência pelo jornal impresso ou on line

- Nível de interesse por charges e ilustrações

- Se estão informados sobre o assunto tratado na charge

- Qual a interpretação que eles têm da charge

4.3 – Metodologia

Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizado o método qualitativo, onde o

entrevistado era deixando livre para dar sua interpretação sobre a charge

apresentada. Em seguida era aplicada uma pesquisa quantitativa, com a

apresentação de um questionário fechado com 11 perguntas diretas (Anexo A).

Participaram da pesquisa 20 pessoas das cidades de Assis e Pedrinhas Paulista, de

diferentes faixas-etárias e níveis de escolaridade, sendo de ambos os sexos. Após

receber a charge e ter um tempo de análise de 30 segundos, o entrevistado era

estimulado a dar a sua interpretação da arte apresentada. Logo em seguida era

aplicado o questionário quantitativo, onde a última pergunta dava opções para o

significado da charge.

Com o objetivo de uma análise mais coerente da interpretação da charge, foi

apresentada uma arte elaborada pelo autor deste trabalho, com seu significado pré-

determinado, a fim de se obter uma amostra fiel do nível de decodificação dos

entrevistados.

A charge foi mostrada aos entrevistados em branco e preto, uma vez que é assim

que os jornais da região costumam veicular esse tipo de arte. No nosso entender, a

charge em branco e preto, fiel a como estaria em um jornal, teria o mesmo impacto

como se estivesse sendo publicada em um periódico qualquer.

As entrevistas foram realizadas de modo individual e, após a coleta dos dados, foi

feita a análise, tabulação e interpretação dos resultados obtidos, tanto na pesquisa

quantitativa quanto na qualitativa.

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4.4 – Tabulação e análises da pesquisa quantitativa

Dos 20 entrevistados, 60% são do sexo masculino e 40% do sexo feminino. Destes,

45% têm 36 anos ou mais; 20% possuem idade entre 21 e 25 anos; 15% têm de 15

a 20 anos; 10% possui idade referente entre 31 a 35 anos; e os 10% restantes têm

de 26 a 30 anos.

Quanto à escolaridade, 25% dos entrevistados possuem o nível Superior incompleto.

20% têm o Ensino Médio Incompleto e outros 20% possuem Mestrado. 15% dos

entrevistados possuem o Superior Completo e 10% cursam o EJA (Educação de

Jovens e Adultos). Outros 5% têm Pós-Graduação; e os demais 5% não concluíram

o Ensino Médio.

Entre os 20 entrevistados, encontramos 55% das pessoas com nível salarial de 2 a 4

salários mínimos. Outros 30% dos entrevistados têm renda acima de 4 salários

mínimos e 15% declararam ter renda de um a 2 salários mínimos.

Gráfico 1 – Frequência com que pesquisados leem jornais impressos

Dentre os dados mais relevantes para este trabalho, a pesquisa levantou que a

grande maioria dos entrevistados tem o hábito de ler jornais todos os dias (gráfico

01). O número sobre os gráficos aqui apresentados refere-se ao número da questão.

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Outros 30% disseram que gostam de jornais, mas não contam com o tempo

necessário para isso, lendo apenas de vez em quando. Outros 5% (composto da

parcela mais jovem dos entrevistados) leem jornais quando há algo do seu interesse

e 5% comentaram que não tem o hábito deste tipo de leitura.

Gráfico 2 – Meio de acesso a jornais pelos entrevistados

O gráfico 02 mostra que a maioria dos entrevistados tem acesso aos jornais em seu

ambiente de trabalho. Outros 30% (os de maior nível de escolaridade e maior renda

mensal) preferem ser assinantes, enquanto 20% leem os jornais na escola. 5%

mantiveram a resposta de que não leem jornal.

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54

Gráfico 3 – Plataforma de acesso dos entrevistados aos jornais

Já o gráfico 03 mostra que, ao contrário do que muitos pensam, 50% dos

entrevistados ainda preferem ler jornal da maneira tradicional (impresso em papel).

Fato que chamou a atenção foi que os entrevistados que citaram não ler jornais

declararam preferir o meio impresso. Outros 35% disseram que têm acesso aos

jornais tanto on line quanto impresso. Os 15% restantes (composto da maioria mais

jovem) disse preferir o meio on line.

Gráfico 4 – Assuntos de interesse, segundo os entrevistados

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55

O gráfico 04 mostra a questão 08 do questionário, questão essa que foi dividida

entre quais as editorias de preferência dos entrevistados, sendo que existiam 44

respostas possíveis. Neste levantamento destaque para os 20% que leem todo o

jornal e também para os apenas 2% que se dedicam à leitura dos artigos e editoriais

dos jornais. Interessante é que os entrevistados que citaram não ler jornais opinaram

sobre qual seção mais apreciam neste tipo de publicação.

Gráfico 5 – Nível de percepção dos entrevistados quanto a ilustrações

No gráfico 05 consta uma das mais importantes questões para este trabalho. 80%

dos entrevistados disseram que têm a sua atenção atraída por matérias ou páginas

de jornais que contam com charges, ilustrações ou outra alegoria do tipo,

corroborando o que já fora abordado no Capítulo 01 deste trabalho. Os 20%

restantes disseram que nunca prestaram atenção se isso ocorre ou não.

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Gráfico 6 – Nível de informação dos entrevistados sobre o tema da charge

No gráfico 06 vemos que a maioria esmagadora dos entrevistados (85%) tomou

conhecimento da Lei da Ficha Limpa, da qual trata a charge apresentada, e buscou

mais informações sobre o assunto. Os 15% restantes (composto da maioria mais

jovem) comentaram que ouviram falar da lei, mas não tiveram maior interesse no

assunto.

Gráfico 7 – Prevalência de avaliação

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57

Dos 20 entrevistados, 60% marcaram a opção que condiz com a intenção de

mensagem do autor da charge, enquanto que 20% optaram pela questão que trata

da degradação do meio ambiente. Outros 15% foram induzidos pelo apelo visual e

optaram por acreditar que o candidato teve que gastar muito com propaganda. 5%

dos entrevistados se atentaram apenas para as palavras e cara bonita do político da

ilustração.

4.5 – Análise da pesquisa qualitativa

Cada entrevistado ficou com a charge em mãos por 30 segundos e, logo em seguida

lhe foi preguntado “Olhando esta charge, o que ela quer dizer para você? Qual seria

o significado deste desenho?”

Os 20 pesquisados responderam a questão, sendo que tais respostas espontâneas

giraram em torno do que o autor da charge esperava: uma certa confusão entre o

real significado da mesma e o significado colocado para dispersar o foco principal

(meio ambiente).

Apenas quatro entrevistados (três de nível Superior completo, sendo dois mestres e

um de superior incompleto) atentaram para o fato de que existem alguns “santinhos”

jogados no chão onde constam o número “171”.

O número refere-se ao artigo do Código Penal Brasileiro, que trata de estelionato

(Art. 171 do Código Penal – Decreto Lei 2848/40), definido como o ato de “obter,

para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo

alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.

O artista inseriu esse artifício na charge como uma maneira implícita de demonstrar

o verdadeiro caráter do candidato, que pensava em si e não se importou em sujar

toda a cidade para tentar conquistar seu objetivo: ser eleito. Outro meio de tentar

causar confusão no entrevistado foi o termo “ficha limpa” em conflito com a sujeira

feita na rua, o que também surtiu efeito em algumas pessoas.

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58

Na questão 11 consta uma opção que remete à degradação do meio ambiente.

Como já era esperado pelo autor, a grande maioria dos entrevistados com faixa

etária de 15 a 25 anos citou tanto na pesquisa qualitativa quanto na quantitativa o

fato do candidato agredir o meio ambiente.

Acreditamos que isso ocorre devido ao fato das escolas darem imensa atenção aos

problemas acerca da agressão ao meio ambiente, com palestras, eventos e projetos.

Por outro lado, não se tem informação de que na escola em Pedrinhas Paulista onde

a pesquisa foi realizada, houve qualquer mobilização sobre o tema “Ficha Limpa”,

mesmo sendo 2012 um ano eleitoral.

Houve respostas totalmente condizentes com o real significado da charge e outras

onde parece não ter havido qualquer compreensão ou decodificação da arte

apresentada. Essas mesmas pessoas, na pesquisa quantitativa, citaram conhecer a

Lei da Ficha Limpa, porém afirmaram a falta de interesse em buscar mais

informações sobre o assunto. Todas as respostas dadas na pesquisa qualitativa

foram digitadas da maneira como foram dadas e constam neste trabalho, no Anexo

B.

4.6 – Considerações gerais

As duas pesquisas realizadas mostram que os entrevistados que tinham um maior

conhecimento acerca do assunto tratado (Ficha Limpa) e que se declararam leitores

frequentes de jornais souberam fazer uma “leitura” mais adequada da charge

apresentada.

Isso mostra que a charge, assim como uma matéria qualquer em um jornal ou

revista, necessita de uma base de conhecimento para uma compreensão 100% (ou

próximo disso) correta.

Muitas vezes um leitor tem seu campo de conhecimento apenas voltado ao seu

meio, isso limita não só a sua capacidade de entendimento da charge, mas o seu

próprio interesse ao assunto tratado. Isso ficou

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Para uma melhor demonstração disso, tomo a liberdade de mais uma vez utilizar o

meu “eu pesquisador”. Em uma charge publicada no Jornal da Segunda, em 2011,

foi retratada uma situação onde um casal em Assis fora agredido por um grupo

formado por filhos de pessoas ricas e influentes da cidade.

O assunto era comentado de forma velada na cidade e a mesma charge publicada

no JS foi colocada em minha página no Facebook (imagem 30). Devido ao curto

prazo para fazê-la, a considero mal feita e sem possibilidade em figurar entre as

minhas charges favoritas, pois creio que o assunto não foi retratado de maneira

muito eficiente no que se trata de humor.

Imagem 30 - Charge publicada no JS e no Facebook em 2011 sobre o “caso da Rodobanha”

E eis que para minha surpresa a charge que não era lá essas coisas, acabou tendo

205 compartilhamentos (todos de pessoas de Assis) e, por meio deste

compartilhamento, gerou muita discussão, debates e reflexões entre os que a

dividiram com seus amigos virtuais. Ela obteve, ainda, na página principal, 13

opções “curtir”.

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Já outra charge que considero uma de minhas favoritas, também datada de 2011,

retrata a morte do ditador Kim Jong-Il (imagem 31). Além de uma melhor estética, a

charge traz diversos elementos que considero importantes para esse tipo de

comunicação, que é a ironia, presente nela seja pelo símbolo de energia nuclear na

“mala” do ditador, seja pelas palavras do mesmo, que utiliza a palavra estouro para

se comunicar com outras figuras nada simpáticas aos olhos da humanidade.

Imagem 31 - Charge publicada no jornal Voz da Terra em 2011 e também no Facebook, sobre Kim Jong-Il

Pois a charge considerada por mim, seu próprio autor, como um bom exemplo deste

tipo de linguagem obteve apenas três compartilhamentos no mesmo Facebook e

escassos três “curtir”.

Isso demonstra que a charge da imagem 30 mobilizou a população assisense em

torno de um assunto que lhe era conhecido, que fazia parte de seu meio, que criou

uma ideologia de revolta visto a impunidade dos “filhinhos de papai”. O oposto de

uma charge que tratava sobre o ditador da Coréia do Norte e que não fazia parte da

realidade da grande maioria dos amigos de Facebook do autor.

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Para Bakhtin e Volochínov, “(...) um produto ideológico pertence a uma realidade

(natural e social) como qualquer corpo físico [...] mas, adicionalmente, ele reflete e

refrata uma outra realidade que lhe é exterior. Tudo que é ideológico possui um

referente que envia a qualquer coisa que se situa fora dele” (1929: 25-27)

Todo cidadão possui uma realidade natural e social. Quando ele se depara com

essa realidade estampada em uma charge, por meio de uma alegoria que lhe

remente a algo, com certeza ela lhe chamará mais a atenção. Assim como ocorre

nos casos tratados nesse trabalho, quando chargistas receberam críticas por

retratarem de maneira sarcástica algumas situações, utilizando símbolos religiosos

ou times de futebol, por exemplo.

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5. Considerações finais

Depois das leituras, pesquisas e entrevistas, este trabalho chega à sua conclusão

proposta: a utilização de charges e ilustrações é uma importante ferramenta para

agregar leitores a jornais, revistas, etc e atrair a atenção das pessoas para

determinados assuntos, sendo, às vezes, mais eficiente do que uma fotografia.

No entanto, ficou claro também que para que haja uma compreensão efetiva do que

foi retratado, é necessário que o leitor tenha um mínimo de conhecimento do

assunto satirizado pelo artista.

Marcondes Filho cita um argumento de Berkeley, seguido por Bakhtin e Volochínov,

onde se destaca que “a consciência não pode conceber aquilo que não é ela, nem

pensar aquilo que radicalmente se opõe a ela e que lhe permanece exterior. Assim,

é absurdo na opinião de Berkeley, admitir a existência de uma realidade de cuja

matéria não temos como formar nenhuma ideia” ( 2002, p 205).

Essa falta de conhecimento sobre o assunto tratado ou, muitas vezes a falta de um

mínimo esforço para buscar entender a intenção dos chargistas, cria alguns “ruídos”

nesta comunicação artista/leitor, mas, ainda assim, a utilização dessa alegoria tem

se mostrado eficiente e ganha, a cada dia, mais e mais espaço na mídia tradicional.

Grandes jornais como a Folha de São Paulo (como pode ser visto na imagem 32), O

Estado de São Paulo (imagem 33), O Lance, O Dia; revistas como a Isto É, Veja

(imagem 34), Mundo Estranho; e até mesmo portais de notícias na internet como o

UOL (imagem 35) já se renderam a essa forma de chamar a atenção dos leitores.

Para demonstrar, expomos charges referentes às eleições municipais de São Paulo

em 2012.

Esse crescimento notado da utilização do trabalho de chargistas e cartunistas nos

últimos anos, substituindo as tradicionais fotografias, foi o grande motivador dessa

monografia.

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Se antes esses profissionais ficavam relegados à página 02 dos jornais, hoje

ganham lugar de destaque nas publicações e contam com diagramações que

buscam trazer a atenção para a sua arte.

É claro que para entender corretamente essa manifestação artística, é necessário

que o leitor possa entender toda a simbologia e ideologia nela contida. Isso pouco

ocorre (em especial no Brasil), mas a massificação das charges e ilustrações tende

a crescer e sempre estar no centro de algumas polêmicas, pois os chargistas não

vão se furtar em retratar situações que muitas vezes têm a ver com religião, futebol,

política e outros assuntos que causam revolta nos grupos ou pessoas que se

sentem atingidos pelo artista.

As pesquisas realizadas (qualitativa e quantitativa) demonstraram que grande parte

dos leitores consegue obter uma compreensão aproximada do real significado da

charge apresentada, sendo que são mais receptivos a assuntos que fazem parte do

seu cotidiano.

Isso pode ser constatado na pesquisa quantitativa, onde os mais jovens tiveram

maior identificação com a opção que apontava a degradação do meio ambiente na

charge apresentada, sendo que a preocupação com o meio ambiente também foi

frequente nas respostas da pesquisa qualitativa. Já os entrevistados de outras

faixas-etárias abordaram mais o tema “ficha limpa”, sendo que os mais informados

sobre o assunto conseguiram ter uma leitura mais adequada da arte.

Já a entrevista com os chargistas pode mostrar que essa manifestação artística

pode causar polêmicas quando trata ou satiriza assuntos que são tabus ou mexem

com algo de grande valor para o leitor, como o futebol ou religião, por exemplo.

Isso pode ser um sinal de que as charges vêm, no decorrer dos anos, cumprindo

seu papel de não ser apenas uma alegoria colocada em uma página de jornal ou

revista, mas trazer à tona, por meio do humor, alguns assuntos velados e fomentar

discussões sobre eles, embora algumas vezes isso ocorra por certa falta de

compreensão dos leitores ao terem acesso à arte ou ao se sentirem “ofendidos” por

ela.

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Aí parte do leitor saber rir de si mesmo ou de algo de sua simpatia, deixar o

fanatismo ou a intolerância de lado e utilizar a inteligência para saber entender que

aquilo que ocorre naquele momento é digno de ser satirizado em uma charge.

Imagem 32 - Folha de São Paulo utilizou muito esse tipo de arte durante as eleições municipais

de 2012

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Imagem 33 - O tradicional Estado de São Paulo também aposta na utilização de charges

Imagem 34 - Até o portal de notícias Uol se rendeu à eficiência das charges

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Imagem 35 - Revista Veja e uma charge de 2012 sobre a “zebra” Russomanno.

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67

6. REFERÊNCIAS

6.1 Bibliográficas

AZEREDO, José Carlos: Letras e Comunicação. Petrópolis, RJ, Editora Vozes, 2001 (vários autores)

AZNAR, Sidney Carlos: Vinheta: do Pergaminho ao Vídeo. Marília, SP: Ed. Arte e Ciência, 1997

BALABAN, Marcelo. Poeta do Lápis - sátira e política na trajetória de Angelo Agostini no Brasil Imperial (1864 - 1888). Campinas, SP: UNICAMP, 2009.

MAGALHÃES, Marcelo de Souza. Crônicas da vida na cidade: o cotidiano

da política nas charges da Revista Illustrada (1892-1898). Rio de Janeiro, RJ: Universidade do Rio de Janeiro, 2010

AZEREDO, José Carlos de (organizador). Letras e Comunicação: uma parceria no ensino da Língua Portuguesa. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2001.Vários autores.

MODENESI, Thiago Vasconcellos: As charges educando no segundo reinado do Império Brasileiro, 2011, dissertação (mestrado) Universidade Federal de Pernambuco, PE.

MARCONDES FILHO, Ciro. Bakhtin e o Grupo BMV: incongruências de uma linguística ortodoxa. In Matrizes, ano 2, n.o 2, jan./jun 2009, p. 199-219.

REGISCLEI, Rey. Encha os pratos, esvazie os pneus. In Men’s Health Brasil. São Paulo, out 2011, p 43

JÚNIOR, Lézio. Até onde vai o fôlego de Russomanno?. In Veja. São Paulo, set 2012, p. 14/15 Piovan, Renato. Charges do Tinho, In Jornal da Segunda, Assis-SP, jun 1997 e dez 1998, p 02

JÚNIOR, Lézio. Serra, Russomano e Haddad chegam ao dia das eleições empatados. In Folha de São Paulo, São Paulo-SP, 7 out 2012, Eleições 2012, p 1.

6.2 Eletrônicas

WOITSCHACH, Victor Henrique. Blique: o blog do Ique. In Blogspot.com, 10 jun 2012. Disponível em http://blique-oblogdoique.blogspot.com.br/ Acesso em 10 jun. 2012

HOISEL, Tiago. Blog Tiago Hoisel. In Blogspot.com, 20 set 2012. Disponível em http://blique-oblogdoique.blogspot.com.br/ Acesso em 20 set . 2012

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68

CRUZ, Beth. Blog Leões e Cordeiros. In Blogspot.com, 20 set 2012. Disponível em http://bethccruz.blogspot.com.br/ acesso em 20 set. 2012

KALIL, Yheuriet. Blog Ambrosia Cultural. In Ambrosiacultural.com.br, 25 set 2012. Disponível em http://ambrosiacultural.com.br/ acesso em 25 set 2012.

ALBERTO, Mário. Blog do Maio Alberto. In Blogspot.com.br, out 2012. Disponível em em http://marioalbertoblog.blogspot.com.br/ Acesso em out 2012

JÚNIOR, Lézio. Facebook [S.I.], 11 jun 2012. Disponível em www.facebook.com.br. Acesso em 11 jun 2012.

AROEIRA, Renato. Facebook [S.I.], 13 out 2012. Disponível em www.facebook.com.br. Acesso em 13 out 2012.

RAVELLI, Quinho. Facebook [S.I.], 15 out 2012. Disponível em www.facebook.com.br. Acesso em 15 out 2012.

PIOVAN, Renato. Facebook [S.I.], 2012. Disponível em www.facebook.com.br. Acesso em 2012.

BAPTISTÃO, Eduardo. Facebook [S.I.], 23 ago 2012. Disponível em www.facebook.com.br. Acesso em 23 ago 2012.

UNIVERSO, On line. In UOL. Acesso em 25 de out 2012. Disponível em http://www.uol.com.br/. Acesso em 25 de out. 2012

BRASIL, Jornal do. JB on Line. In Terra.com.br, jun 2012. Disponível em http://www.jblog.com.br/ Acesso jun. 2012

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ANEXO A

Pesquisa quantitativa

1 - Sexo

( ) Masculino

( ) Feminino

2 - Idade

( ) De 15 a 20 anos

( ) De 21 a 25 anos

( ) De 26 a 30 anos

( ) De 31 a 35 anos

( ) De 36 a mais

3 - Escolaridade

( ) Ensino Médio incompleto

( ) Ensino Médio Completo

( ) EJA

( ) Superior Incompleto

( ) Superior Completo

( ) Pós Graduado

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4- Faixa Salarial

( ) De 1 a 2 salários mínimos

( ) De 2 a 4 salários mínimos

( ) Acima de 4 salários mínimos

5 - Com que frequência lê jornais?

( ) Todos os dias

( ) De vez em quando

( ) Somente quando há um assunto que me

interesse

( ) Não leio jornais

6 – Como é seu acesso aos jornais?

( ) Sou assinante

( ) Compro nas bancas

( ) No trabalho

( ) Na escola

( ) Não leio jornais

7 – Você prefere ler os jornais on line ou em

papel?

( ) on line

( ) em papel

( ) os dois

( ) não leio jornal

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8 - Qual o assunto que mais lhe atrai em um

jornal?

( ) Esportes

( ) Cultura

( ) Cotidiano

( ) Quadrinhos

( ) Policial

( ) Economia

( ) Política

( ) Artigos

( ) Leio o jornal todo

9 – Ao ler um jornal costuma ser atraído por

matérias que contam com ilustrações?

( ) Sim

( ) Não

( ) Nunca prestei atenção nisso

10– Você sabe o que é a Lei da Ficha Limpa?

( ) Ouvi falar mas não me informei muito sobre

o assunto

( ) Sim, tomei conhecimento e busquei

informações a respeito

( ) Nunca ouvi falar dessa Lei.

11 – Ao observar a charge apresentada, qual

dessas opções lhe parece mais adequada ao

seu significado?

( ) O político merece ser votado, pois ele é

ficha limpa

( ) Mesmo sendo ficha limpa, o candidato teve

que gastar muito com propaganda

( ) Apesar de se dizer ficha limpa,

ironicamente o candidato suja a sua cidade

( ) Graças às eleições, os garis têm seu

emprego garantido

( ) O político não merece ser votado, pois

agride o meio ambiente

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ANEXO B

Tabulação das Questões sobre a Charge "Político x Ficha Limpa"

Questões / Alternativas Pessoas => 20

1- SEXO Quantidades %

Masculino 12 60

Feminino 8 40

2-IDADE Quantidades %

De 15 a 20 anos 3 15

de 21 a 25 anos 4 20

de 26 a 30 anos 2 10

de 31 a 35 anos 2 10

de 36 a mais 9 45

3-ESCOLARIDADE Quantidades %

Ensino Médio Incompleto 4 20

Ensino Médio Completo 1 5

EJA 2 10

Superior Incompleto 5 25

Superior Completo 3 15

Pós Graduado 1 5

Mestrado 4 20

Doutorado 0 0

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4-FAIXA SALARIAL Quantidades %

De 01 a 02 Salários Mínimos 3 15

de 02 a 04 Salários Mínimos 11 55

Acima de 04 Salários Minimos 6 30

5- Com que frequência lê jornais ? Quantidades %

Diariamente 12 60

De vez em quando 6 30

Somente quando há um assunto que me interesse 1 5

Não Leio Jornais 1 5

6- Como é seu acesso aos jornais ? Quantidades %

Sou assinante 6 30

Compro nas Bancas 0 0

No Trabalho 9 45

Na Escola 4 20

Não Leio Jornais 1 5

7- Você prefere ler os jornais on line ou em papel? Quantidades %

On-Line 3 15

Em Papel 10 50

Em Ambos os meios 7 35

Não Leio Jornais 0 0

8-Qual o assunto que mais lhe atrai em um jornal?

(44) Quantidades %

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73

Esportes 7 16

Cultura 7 16

Cotidiano 9 20

Quadrinhos 6 14

Policial 2 5

Economia 2 5

Política 5 11

Artigos 1 2

Leio o Jornal todo 5 11

9-Ao ler um Jornal costuma ser atraído por matérias que contam com

ilustrações? Quantidade %

Sim 16 80

Não 0 0

Nunca prestei atenção nisso 4 20

10-Você sabe o que é a Lei da Ficha Limpa? Quantidades %

Ouvi falar, mas não me informei muito sobre o assunto. 3 15

Sim, tomei conhecimento e busquei informações a respeito. 17 85

Nunca ouvi falar dessa Lei. 0 0

11 - Ao observar a charge apresentada, qual dessas opções lhe parece mais

adequada ao seu significado? Quantidade %

O Político merece ser votado, pois ele é ficha limpa. 1 5

Mesmo sendo ficha limpa, o candidato teve que gastar muito com 3 15

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ANEXO C

Respostas da pesquisa qualitativa

“O candidato fala uma coisa e faz outra. Ele suja a cidade, descumprindo a lei

ambiental e dando ainda mais trabalho para o gari”.

“Nos dias de hoje é tão raro um político ser ficha limpa que, quando ele é,

precisa encher a cidade de propaganda e santinhos para ser reconhecido”.

“É cara de pau como todos os políticos corruptos são, pois fala em ficha limpa,

em cumprir a lei, mas descumpre a mesma, sujando a rua. É um hipócrita que

veste pele de cordeiro para ser votado”.

“A propaganda eleitoral neste país é um profundo equívoco quando permite a

degradação do meio ambiente e promove a poluição visual. O candidato possui

uma retórica mal feita, onde apenas ele se convence. Mas o eleitor mais crítico

propaganda.

Apesar de se dizer ficha limpa, ironicamente o candidato suja a sua cidade. 12 60

Graças as eleições, os garis têm seu emprego garantido. 0 0

O Político não merece ser votado, pois agride o meio ambiente. 4 20

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percebe o paradoxo e não vai votar em alguém que suja tudo. E na charge o

povo é representado pelo gari, que tem que aguentar a sujeira dos políticos”.

“Ele fala para votar em ficha limpa, mas demonstra que não tem preocupação

nem com sua própria cidade e nem noções de cidadania. Está na balada dos

mesmos. O número 171, ali embaixo, mostra isso”.

“O político é mentiroso, pois tem uma imagem perante o público, mas faz

completamente diferente, sujando a cidade, agredindo o meio ambiente e

tentando enganar o povo com uma imagem de certinho”.

“É nítido que como alguém pode ser ficha limpa sujando a cidade? Um ficha

limpa não polui. A mensagem é incoerente com a imagem”.

“É um absurdo um político que se gaba por ser todo arrumadinho e ficha limpa

sujar as ruas da cidade somente para ganhar uma eleição. Ele não pensa no

trabalho que vai dar para limpar depois”.

“Ele argumenta que é ficha limpa, mas suja a cidade para ganhar a eleição e

desperdiça papel, o que prejudica a natureza”.

“O cara é ficha limpa e está querendo mostrar para todo mundo que ele é. Mas

o gari ficou bravo e não vai votar nele porque ele sujou a rua toda”.

“O político é diferente dos candidatos por aí, pois ele é ficha limpa e os outros,

a maioria, é tudo corrupto”.

“O candidato é ficha limpa e mostra para todo mundo que ele é, porque têm

muitos que não são e são eleitos”.

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“Ele diz ser ficha limpa, mas investe em sujeira. E tem uns santinhos com o

171. Ele é um mentiroso. A ficha é limpa, mas deve ter falcatruas e muito bem

feitas. Ele é sujo nos bastidores”.

“Um ficha limpa que suja o patrimônio e faz os servidores limparem a sujeira

que ele fez. Ele é ‘limpo’ entre aspas, porque os seus atos não condizem com o

que ele diz”.

“O político fala que é ficha limpa, mas suja a própria cidade com propaganda,

causando poluição visual e também sujando tudo, prejudicando o meio

ambiente”.

“A charge mostra de maneira bem sutil que o político é 171, pois fala uma coisa

e faz outra. Ele afirma ser ficha limpa, mas não cumpre o básico, que é

respeitar a limpeza de sua própria cidade”.

“Ficha Limpa e faz uma sujeira dessa? Se fosse realmente um político decente,

não faria isso. Ele está tentando enganar o povo com sua cara bonita. Ele,

como mostra o santinho, é um belo 171”.

“O político contradiz o que afirma, pois respeita a lei da ficha limpa e não

respeita as leis ambientais e não respeita a sua própria cidade”.

“Ele diz que é ficha limpa, mas só a ficha é limpa, pois a campanha dele é

muito suja”.

Page 75: UTILIZAÇÃO DE CHARGES NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO · Curso de Comunicação Social, com Habilitação em Jornalismo, do Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis – IMESA

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“Político usa de artifícios para tentar ludibriar o eleitor e propagar que ele é

ficha limpa, mas seus atos mostram uma situação completamente contrária ao

que ele afirma”