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    Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., So Paulo, v. 12, n. 4, p. 743-751, dezembro 2009

    Bayle e a descrio da aracnoiditecrnica na paralisia geral:

    sobre as origens da psiquiatriabiolgica na Frana

    Mrio Eduardo Costa Pereira

    A tese de medicina defendida em 1822, em Paris, por Antoine-LaurentBayle, intitulada Pesquisas sobre as doenas mentais, constitui ummomento de virada na histria das concepes biolgicas empsicopatologia. Apoiado sobre um mtodo antomo-clnico rigoroso, Bayle

    apresenta seis observaes clnicas de pacientes com uma histria crnicae progressiva de comportamento exaltado, ideias de grandeza, de poder ede ambio que se transformam ao final de algum tempo em delriosmanacos com agitao psicomotora. Simultaneamente, vai-se instalandoum quadro de paralisia progressiva de vrios grupos musculares, chegandoat incapacidade fsica extrema. Na fase terminal, os pacientes apresentamuma condio tipicamente demencial e de profundo comprometimentocorporal, que os conduz morte. Ao exame cadavrico, Bayle constatou apresena sistemtica de uma inflamao crnica das meninges cerebrais(aracnoidite crnica) qual ele atribui o fundamento biolgico dos

    sintomas observados. Dessa forma, Bayle realiza uma descrio clnicarigorosa de uma entidade psicopatolgica tpica, de evoluo crnica eprogressiva e demonstra sua relao com uma leso cerebral especfica eobjetivamente demonstrvel. Tal descoberta, inicialmente recebida commuitas reservas, constituiria posteriormente uma espcie de paradigma paraa pesquisa e para o projeto terico e teraputico para a psiquiatriabiolgica que comeava a se organizar na Frana ao longo do sculo XIX.

    Palavras-chave: Paralisia geral, psiquiatria biolgica, Bayle, aracnoidite crnica

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    No mesmo ano em que o prncipe regente Dom Pedro de

    Bragana e Bourbon proclamava a Independncia do Brasil, naFrana, o jovem mdico Antoine-Laurent Bayle apresentava umtrabalho que se tornaria um divisor de guas na histria da psi-copatologia. Em 1822, esse aluno de Royer-Collard defende emParis sua tese de medicina intitulada Recherches sur lesmaladies mentales, na qual no apenas descreve de formarigorosa as manifestaes clnicas da paralisia geral, como tam-bm demonstra a relao especfica desse quadro psicopatol-gico com a inflamao crnica de uma das membranas

    cerebrais, a aracnoide. Pela primeira vez na histria da psi-quiatria demonstravam-se os substratos antomo-patolgicos demanifestaes psicopatolgicas tpicas, evolutivas e universal-mente observveis. A tradio pineliana, que tendia a concebera alienao mental como expresso de desregramentos morais,entrava em crise. Abriam-se as portas para as pretenses damedicina quanto legitimidade de sua abordagem biolgica nocampo dos transtornos mentais.

    Bayle nasceu em 13 de janeiro de 1799, na localidade de

    Vernet, no sudeste da Frana. Muito jovem instala-se em Parispara iniciar seus estudos mdicos, sendo que aos 18 anos deidade j ocupa um posto de interno em Charenton, no serviode Royer-Collard. Ele tem apenas 23 anos quando apresenta Faculdade de Medicina de Paris sua famosa tese. O objetivo deseu trabalho ambicioso: trata-se de abordar, a partir de basesempricas e antomo-clnicas, o espinhoso tema da naturezantima da alienao mental. Bayle reconhece que esse proble-ma, dada sua extrema complexidade, foi metodologicamente

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    deixado de lado mesmo pelas maiores autoridades no campo psiquitrico de seutempo. Ele tinha em mente, em toda evidncia, a tradio descritiva e os pontosde vista quasi-psychological(Berrios, 1996, p. 175) de Pinel e Esquirol. Retoman-

    do a distino estabelecida por Georget entre as alienaes essenciais (decor-rentes de uma afeco idioptica, cuja natureza desconhecida) e as alienaessintomticas (decorrentes de alteraes verificveis dos rgos corporais), Baylese prope a provar com a ajuda de certo nmero de fatos, (...) que [alm de sin-tomtica] a alienao mental pode ser simptica, ou seja, um distrbio dos r-gos cerebrais determinado por um distrbio de outros rgos perifricos. Emoutros termos, o autor busca demonstrar que pelo menos em algumas situaesclnicas possvel se encontrar alteraes biolgicas especficas a elas correla-cionadas.

    Dessa forma, Bayle divide sua tese em trs partes: Na primeira, buscamosprovar que a alienao mental , s vezes, o sintoma de uma inflamao crnicado aracnoide. A segunda tenciona demonstrar que essa doena pode ser ocasio-nada, mantida ou modificada por uma gastrite ou gastrenterite crnica. A tercei-ra inclui duas observaes nas quais a loucura parece ter sido determinada poruma gota irregular.

    O elemento verdadeiramente revolucionrio de seu estudo , sem dvida, aprimeira parte, dedicada a demonstrar uma forma sintomtica especfica da lou-cura (folie). Nela, o autor relata seis observaes de pacientes apresentando um

    quadro tpico de alienao mental caracterizado por curso insidioso, mas progres-sivo, iniciando por um estado de exaltao, de intensidade varivel, que evolui paraum quadro de delrio manaco generalizado, rico em ideias de grandeza e de am-bio, irritabilidade e agitao psicomotora. Tais sintomas se intensificam at queo doente atinja uma fase terminal, claramente demencial, com prejuzo importantedo conjunto das faculdades cognitivas, debilidade fsica generalizada e morte. Aolado dessas manifestaes, instaura-se desde o incio, e de maneira igualmenteprogressiva, um quadro de paralisia geral atingindo vrios grupos musculares ese manifestando por diminuio da fora, marcha titubeante, dificuldades para en-

    golir e para falar, incontinncia de esfncteres e acentuada prostrao fsica.Ao exame antomo-patolgico do crebro desses pacientes, Bayle demons-

    tra a presena de uma aracnoidite crnica em todos esses casos, qual atribuios fenmenos psicopatolgicos e neurolgicos neles observados. por isso queprope denominar tal patologia de aracnoidite crnica com alienao mental.Dessa forma, seguindo um rigoroso mtodo antomo-clnico, j plenamente de-senvolvido naquela poca, o autor consegue oferecer uma descrio precisa deum quadro psicopatolgico tpico e especfico, bem como demonstrar sua rela-o necessria com uma inflamao crnica das meninges. Estavam, assim, co-

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    locados os pilares para a edificao legtima de uma abordagem estritamente m-dica de fenmenos psicopatolgicos.

    Na verdade, o quadro clnico especificado por Bayle tem uma longa e incerta

    histria. Sabe-se que ele j havia sido esboado em 1672 por Willis em seu tra-balho Anima bruturum Amstelo dami. Quase um sculo mais tarde, em 1798,tambm na Inglaterra, John Haslam descreveria em seu estudo intituladoObservations on insanityas pretenses ambiciosas de certos alienados que apre-sentavam igualmente uma paralisia difusa, sem contudo chegar a propor que essequadro constitusse uma entidade psicopatolgica autnoma (cf. Postel & Quetel,1983, p. 322). Na Frana, Esquirol j havia indicado a extrema gravidade dos fre-quentes casos de alienao mental que evoluam simultaneamente com paralisia,considerando, contudo, que se tratavam de fenmenos paralelos. Para ele, a pre-

    sena de paralisia indicava um prognstico mais reservado, com evoluo para ademncia. Georget, discpulo de Esquirol, considerava que a demncia era o des-tino final de todas as loucuras incurveis e que, em quase metade dos casos,acrescentava-se a esses estados terminais uma outra molstia: a paralisia muscularcrnica parcial ou geral (cf. Santiago, 1884, p. 8).

    O termo especfico de Paralisia Geral, por sua vez, s seria cunhado apsa tese de Bayle, em 1824 por Delaye e retomado em 1826 por Calmeil, a ttulode Paralysie Gnrale des alins, em um livro especialmente dedicado a essetema (Calmeil, 1826). A denominao mais conhecida, de Paralisia Geral Progres-

    siva (PGP), s seria proposta em 1846 por Requin (Requin, 1846, p. 133) emum debate na Socit de Mdcine de Paris.

    Para o leitor contemporneo, para quem a relao entre a sndrome descri-ta sob o termo de Paralisia Geral e a neurossfilis quase bvia, pode ser dif-cil apreciar com clareza o impacto das proposies de Bayle, formuladas mais decinquenta anos antes que Fournier proclamasse, em 1878, a origem sifiltica dessequadro e quase um sculo antes que o bacteriologista japons Hydeo Noguchiidentificasse, em 1913, o Treponema pallidumno crebro de pacientes mortos emfuno dessa patologia. Dessa forma, o trabalho de Bayle fornece a descrio cl-

    nica detalhada da expresso sintomatolgica de uma aracnoidite crnica, cuja etio-logia bacteriana especfica no ser determinada, com certeza, seno um sculomais tarde.

    Inicialmente, a tese de Bayle foi recebida com muitas crticas e grande ce-ticismo pela comunidade mdica e psiquitrica francesa, pois ela entrava em fran-ca contradio com os pontos de vistas hegemnicos sustentados pela tradiopineliana. Na Frana, at essa poca, segundo a tradio inaugurada por Pinel,todas as formas de loucura eram consideradas a expresso de perturbaes ner-vosas cerebrais. As eventuais leses encontradas nos exames cadavricos de alie-

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    nados mentais eram consideradas apenas fenmenos secundrios, decorrentes daevoluo crnica do transtorno mental de base. Fiel a essa perspectiva, a posi-o sustentada por Esquirol reconhecia a existncia de certos quadros em que se

    encontravam associadas perturbao mental e a paralisia, mas sua concepo eranitidamente dualista, ou seja, as perturbaes paralticas constituam apenas umaintercorrncia secundria ao processo fundamental da alienao mental evoluin-do para a demncia. Tratavam-se, pois, de dois transtornos distintos, a paralisiapodendo ou no acrescentar-se ao curso demencial de certas formas de aliena-o mental. Esta permanecia de etiologia fundamentalmente moral, susceptvelde apresentar complicaes neurolgicas ao longo de sua evoluo. Bayle ser ointrodutor de uma concepo unista que v na paralisia e na demncia aspectosclnicos de um mesmo processo mrbido, a aracnoidite crnica, sendo que uma

    e outra se desenvolvem ao mesmo tempo na maior parte dos casos.Se em um primeiro momento, Bayle sustentava um mbito de validade bas-

    tante limitado para suas proposies, essas tomaro um carter muito mais ge-neralizante em 1825 com sua Nouvelle doctrine des maladies mentales. Nessaobra, o autor defende o ponto de vista segundo o qual a causalidade fundamen-tal da loucura deve ser procurada na flegmasia crnica primitiva das membra-nas do crebro. Nota-se assim que, tal como sustenta Bercherie (1991, p. 57),Bayle no resistiu tentao de estender sua descoberta maior parte dasdoenas mentais.

    Posteriormente, em seu Tratado das doenas do crebro, de 1826, Bayleconfirma que ele descrevera uma doena mental absolutamente especfica cujacausa orgnica era certa (cf. Postel & Quetel, 1983, p. 327).

    Tendo enfrentado uma intensa oposio s suas ideias monistas e generali-zantes referentes s causas e manifestaes da paralisia geral e, por extenso, damaioria das doenas mentais, Bayle termina por abandonar a psiquiatria. Entreseus adversrios mais eloquentes encontravam-se Georget, Calmeil e o prprioEsquirol. Este, com a morte de Royer-Collard em novembro de 1825, passa aocupar o posto de mdico-chefe de Charenton, tornando-se, assim, patron

    do servio em que trabalhava Bayle, fato que precipitou seu abandono da es-pecialidade.

    A aceitao das ideias de Bayle referentes Paralisia Geral foi, portanto, bas-tante lenta, sendo necessrios quase trinta anos para que esta passasse a ser con-siderada uma entidade clnica autnoma e especfica e para que a viso unitriadessa patologia se tornasse dominante.

    Os efeitos de sua descoberta, uma vez assimilados cultura psiquitrica,foram da maior importncia. Mesmo que, conforme Berrios (1996, p. 177) existapouca evidncia de que os alienistas considerassem a paralisia geral uma doen-

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    a-paradigma para as demais doenas mentais, fato que aps a assimilao dasideias de Bayle observa-se um grande impulso no desenvolvimento de uma con-cepo neuropsiquitrica no campo da psicopatologia. A nascente psiquiatria

    biolgica francesa encontrar na descoberta de Bayle uma referncia central e ternas figuras de Jean-Pierre Falret e, sobretudo, de Moreau de Tours, seus primei-ros grandes protagonistas.

    Referncias

    BAYLE, A.-L.Recherches sur les maladies mentales . Thse de mdecine de Parisn. 247, 1822. Fac-smile disponvel em: .BERCHERIE, P.Histoire et structure du savoir psychiatrique: les fondements de laclinique I. Tournai: Editions Universitaires, 1991.

    BERRIOS, G. The history of the mental symptoms. Cambridge: Cambridge UniversityPress, 1996.

    CALMEIL, L.-F.De la paralysie considere chez les alins. Paris: Ed. par Ballire, 1826.Um fac-simile dessa obra pode ser consultado no site: .

    GARRAB, J.Histoire de la schizophnie. Paris: Seghers, 1992.

    PESSOTTI, I.A loucura e as pocas. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.

    POSTEL, J. & QUETEL, C. (Org.).Nouvelle histoire de la psychiatrie. Toulouse: Privat,1983.

    POSTEL, J.La gense de la psychiatrie. Plessis-Robinson: Institut Synthlabo, 1998.

    (Les empcheurs de penser em rond).REQUIN. Discussion sur la paralysie gnrale des alins: Socit de Mdcine deParis, sance du 20 fvrier, 1846.Annales Mdico-Psychologiques, tome 8, p. 132-134.

    SANTIAGO, R. F.Da natureza da paralysia geral. Tese apresentada Faculdade deMedicina do Rio de Janeiro, em 30 de setembro de 1884. Um fac-simile dessa tesepode ser consultado em: .

    SHORTER, E.A history of psychiatry: from the era of the asylum to the age of Prozac.New York: John Wiley & Sons, Inc., 1997.

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    Resumo

    (Bayle y la descripcin de la aracnoiditis crnica en la parlisis general: sobre los

    orgenes de la psiquiatra biolgica en Francia)La tesis de medicina defendida en 1822 en Paris, por Antoine-Laurent Bayle,

    titulada Investigacin sobre las enfermedades mentales, constituye un momento deviraje en la historia de las concepciones biolgicas en psicopatologa. Apoyado sobreun mtodo anatmico-clnico riguroso, Bayle presenta seis observaciones clnicas depacientes con una historia crnica y progresiva de comportamiento exaltado, ideiasde grandeza, de poder y de ambicin que se transformaron al final de algn tempo endelirios manacos con agitacin psicomotora. Simultneamente, se va instalando uncuadro de parlisis progresiva de varios grupos musculares, llegando hasta la

    incapacidad fsica extrema. En la fase terminal, los pacientes presentan una condicintpicamente demencial e de profundo comprometimiento corporal, que los conduce ala muerte. Al examen cadavrico, Bayle constato la presencia sistemtica de unainflamacin crnica de las meninges cerebrales (aracnoiditis crnica) a la cual latribuy el fundamento biolgico de los sntomas observados. De esta forma, Baylerealiza una descripcin clnica rigurosa de una entidad psicopatolgica tpica, deevolucin crnica y progresiva y demuestra su relacin con una lesin cerebralespecfica y objetivamente demostrable. Tal descubierta, inicialmente recibida conmuchas reservas, constituira posteriormente una especie de paradigma para la

    investigacin y para el proyecto terico e teraputico para la psiquiatra biolgica quecomenzaba a organizarse en Francia a lo largo del siglo XIX.

    Palabras clave: Parlisis general, psiquiatra biolgica, Bayle, aracnoiditis crnica

    (Bayle et la description de laracnites chronique dans la paralysie gnrale: sur lesorigines de la psychiatrie biologique en France)

    La thse de mdecine soutenue en 1822 Paris par Antoine-Laurent Bayle,intitule Recherches sur les maladies mentales constitue un tournant dans lhistoiredes conceptions biologiques en psychopathologie. Fond sur une mthode anatomo-

    clinique rigoureuse, Bayle y prsente six observations cliniques de patients ayant unehistoire chronique et progressive de comportement exalt, ides de grandeur, depuissance et dambition qui se transforment au bout dun certain temps en dliresmaniaques accompagns dagitation psychomotrice. Simultanment, un tableau deparalysie progressive de plusieurs groupes musculaires se met en place, allant jusqulincapacit physique extrme. Dans la phase terminale, les patients prsentent unecondition typiquement dmentielle et de profond affaiblissement corporel, finissant paren mourir. lexamen cadavrique, Bayle a constat la prsence systmatique duneinflammation chronique des mninges crbrales (arachnites chronique) laquelle ilattribue le fondement biologique des symptmes observs. Bayle nous fournit ainsi une

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    Citao/Citation: PEREIRA, M.E.C. Bayle e a descrio da aracnoidite crnica na paralisiageral: sobre as origens da psiquiatria biolgica na Frana.Revista Latinoamericana de Psi-copatologia Fundamental, So Paulo, v. 12, n. 4, p. 743-751, dez. 2009.

    Editor do artigo/Editor: Prof. Dr. Mrio Eduardo Costa Pereira.

    Recebido/Received: 30.10.2009 / 10.30.2009 Aceito/Accepted: 9.11.2009 / 11.9.2009

    description clinique rigoureuse dune entit psychopathologique typique lvolutionchronique et progressive et dmontre son rapport une lsion crbrale spcifique etobjectivement dmonstrable. Telle dcouverte, reue avec beaucoup de rserves au

    dpart, constituera ensuite une sorte de paradigme pour la recherche et pour le projetthorique et thrapeutique de la psychiatrie biologique qui commenait sorganiseren France au cours du XIX sicle.

    Mots cls:Paralysie gnrale, psychiatrie biologique, Bayle, Arachnites chronique

    (Bayle and the description of chronic arachnoiditis in general paralysis: on theorigins of biological psychiatry in France)

    Antoine Laurent Bayles medical thesis, entitled Studies on mental diseases anddefended in Paris in 1822, represented an important advance in the history of biological

    conceptions in psychopathology. Based on a rigorous anatomic and clinical method,Bayle presented clinical observations on six patients with chronic and progressivehistories of exalted behavior and ideas of grandeur, power and ambition, a conditionthat eventually evolved to maniac delusions with psychomotor agitation.Simultaneously, a situation of progressive paralysis of several muscle groups set in,leading to extreme physical incapacity. In the final stage the patients showed a typicallydemential condition with serious physical impairment which led to death. Post-mortemexaminations showed the presence, in all cases, of chronic inflammation of the cerebralmeninges (chronic arachnoiditis), which Bayle held to be the biological basis of the

    symptoms noted. Bayle thus provided a rigorous clinical description of a typicalpsychopathological entity with chronic and progressive evolution, and showed itsrelationship to specific and objectively demonstrable cerebral damage. This discovery,first received with considerable reservation, later served as a type of paradigm forresearch and for the theoretical and therapeutic project for biological psychiatry thatbegan in France during the 19th century.

    Key words: General paralysis, biological psychiatry, Bayle, chronic arachnoiditis

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    Copyright: 2009 Associao Universitria de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental/University Association for Research in Fundamental Psychopathology. Este um artigo delivre acesso, que permite uso irrestrito, distribuio e reproduo em qualquer meio, desdeque o autor e a fonte sejam citados/This is an open-access article, which permits unrestricteduse, distribution, and reproduction in any medium, provided the original author and sourceare credited.

    Financiamento/Funding: O autor declara no ter sido financiado ou apoiado/The authorhas no support or funding to report.

    Conflito de interesses: O autor declara que no h conflito de interesses/The author de-clares that has no conflict of interest.

    MRIOEDUARDOCOSTAPEREIRA

    Psiquiatra, psicanalista; professor titular de Psicopatologia Clnica do Laboratoire dePsychopathologie Clinique et Psychanalyse da Universidade de Provence/Aix-Marseille(Marseille, Frana); doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanlise pela Universida-de Paris 7 (Paris, Frana); diretor do Laboratrio de Psicopatologia Fundamental da Uni-camp; professor do Departamento de Psicanlise do Instituto Sedes Sapientiae de So Pau-lo (Brasil); membro da Associao Universitria de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental(So Paulo, SP, Brasil); autor dos livros Pnico e desamparo(So Paulo: Escuta, 1999) ePsicopatologia dos ataques de pnico(So Paulo: Escuta, 2003).Laboratoire de Psychanalyse et Pscyhopathologie CliniqueUniversit de Provence

    Centre Saint-CharlesCase 373, place Victor Hugo13331 Marseille cedex 3 France

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