Avaliação de serviços ecossistêmicos e recursos hídricos ...
VALORAÇÃO DOS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS DO...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE BACHARELADO
VALORAO DOS SERVIOS ECOSSISTMICOS DO
PARQUE NACIONAL DA TIJUCA
THAIS DE OLIVEIRA COELHO
matrcula n: 111012574
ORIENTADOR(A): Prof. Carlos Eduardo Frickmann Young
ABRIL 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE BACHARELADO
VALORAO DOS SERVIOS ECOSSISTMICOS DO
PARQUE NACIONAL DA TIJUCA
__________________________________
THAIS DE OLIVEIRA COELHO
matrcula n: 111012574
BANCA EXAMINADORA
PROF. CARLOS EDUARDO FRICKMANN YOUNG (ORIENTADOR)
PROF. ROMERO CAVALCANTI BARRETO DA ROCHA
MSc. MARCIO ALVARENGA JUNIOR
ABRIL 2016
As opinies expressas neste trabalho so de exclusiva responsabilidade do(a) autor(a)
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, gostaria de dedicar esse trabalho aos meus pais e agradec-los por
nunca terem medido esforos para que eu chegasse at esta etapa da minha vida. Essa, com
certeza, no uma vitria s minha, mas de vocs tambm.
Aos meus amigos e colegas de faculdade, pelo apoio mtuo de todos esses anos e por
terem tornado a faculdade um lugar no qual jamais esquecerei. Obrigada pela amizade e pelo
companheirismo de sempre. Agradeo tambm ao Matheus pelo carinho, compreenso e pela
capacidade de me trazer paz nos momentos que eu mais precisava. Seu apoio foi fundamental
para que eu conseguisse me dedicar a esse trabalho.
Agradeo ao meu orientador Cadu Young, pelo incentivo e a confiana que me
ajudaram a concluir esse trabalho. Ao Leonardo Bakker, por ter se mostrado disponvel a
ajudar sempre que precisei e aos alunos do GEMA, por terem sempre se mostrado solcitos
tambm.
Por fim, agradeo a todos os professores que passaram pela minha vida, desde o
primrio at a graduao, e me ajudaram a chegar at aqui. Cada um de vocs teve uma
participao fundamental nesse processo.
RESUMO
O principal objetivo desta monografia fazer um estudo de valorao dos servios ecossistmicos prestados pelo
Parque Nacional da Tijuca, a fim de mostrar seu valor econmico para o municpio do Rio de Janeiro. Para isso,
foi utilizada a metodologia desenvolvida por Young et al (2015) em seu estudo de valorao das unidades de
conservao da Fundao Boticrio. Os resultados encontrados mostram que a conservao florestal no Parque
Nacional da Tijuca gera servios que superam um bilho e meio de reais anuais. Isso gera um impacto
econmico importante ao municpio do Rio de Janeiro. Ou seja, o Parque no somente tem seu valor atrelado a
conservao per se, mas tambm a prestao de servios ambientais que geram alteraes no bem-estar da
sociedade, logo, possuindo valor econmico. Com isso, mostramos que as unidades de conservao so
importantes instrumentos ambientais que alinham os objetivos de conservao ao de gerao de benefcios
econmicos e sociais.
NDICE
INTRODUO ..................................................................................................................................................... 7
CAPTULO I - UNIDADES DE CONSERVAO: O CONTEXTO BRASILEIRO. ................................... 9
I.1 - O CONTEXTO BRASILEIRO DE DEGRADAO E CONSERVAO AMBIENTAL ............................ 9
I.2 - O SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAO (SNUC) ................................................ 13
I.2.1- A LEI DA SNUC ...................................................................................................................................... 13
I.2.2- PANORAMA DAS UNIDADES DE CONSERVAO BRASILEIRAS ................................................... 18
I.3 - DESAFIOS IMPLEMENTAO DE UCS ................................................................................................ 24
I.4 - FONTES DE INVESTIMENTO DAS UCS ................................................................................................... 27
CAPTULO II - VALORAO ECONMICA DOS RECURSOS AMBIENTAIS: CONCEITO E
METODOLOGIAS. ............................................................................................................................................ 34
II.1 - VALOR ECONMICO DOS RECURSOS AMBIENTAIS (VERA) ......................................................... 37
II.2 - MTODOS DE VALORAO ................................................................................................................... 39
II.2.1 - MTODO DE PRODUTIVIDADE MARGINAL (DOSE-RESPOSTA)................................................. 40
II.2.2 - MTODO DE MERCADO DE BENS SUBSTITUTOS ......................................................................... 43
II.2.3 - MTODO DE MERCADO DE BENS COMPLEMENTARES .............................................................. 46
II.2.4 - MTODO DE VALORAO CONTINGENTE .................................................................................... 48
CAPTULO III - VALORAO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA E SEU IMPACTO
ECONMICO NO MUNICPIO DO RIO DE JANEIRO. ............................................................................. 50
III.1 - USO PBLICO ........................................................................................................................................... 51
III.2 - REPARTIO TRIBUTRIA: ICMS ECOLGICO ................................................................................ 54
III.3 - PROTEO DO SOLO POR EROSO EVITADA ................................................................................. 57
III.4 - CAPTURA DE CARBONO (REDD) ......................................................................................................... 61
III.5 - CONCLUSO DOS RESULTADOS......................................................................................................... 63
CONCLUSO ..................................................................................................................................................... 65
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................................................... 68
[IE/UFRJ1] Comentrio: Pgina: 1 [Quando o trabalho estiver completo e paginado, d aqui o comando: Inserir
ndice
INTRODUO
Uma das grandes discusses que assolam o mundo atualmente diz respeito forma
como o meio ambiente e a sociedade moderna se relacionam. O desenvolvimento econmico
pressiona a natureza em diversos sentidos. O uso imprudente dos recursos naturais, e
consequentemente, a deteriorao da natureza, gera um perfil de crescimento econmico que
se mostrou insustentvel ao planeta. Em consequncia, a natureza, em algum momento,
externaliza os impactos negativos de sua deteriorao. Problemas como poluio do ar e da
gua, aumento da incidncia de doenas respiratrias, aumento da desertificao, falta de
gua, aquecimento global, mudanas climticas drsticas, entre tantos outros, comearam a se
tornar frequentes, chamando a ateno da sociedade para a questo ambiental. Desde que a
sociedade percebeu as consequncias negativas desse uso irresponsvel, os agentes
econmicos passaram a ser pressionados para tomarem atitudes em relao forma como o
sistema se comporta. Porm, alm do homem depender do meio ambiente para sobreviver,
no se pode ignorar o fato de que o meio ambiente tambm um recurso fundamental para o
desenvolvimento econmico. Dessa forma, necessrio que haja um engajamento da
sociedade a fim de encontrar um ponto de equilbrio que una essas duas atribuies da relao
ser humano e meio ambiente: como promover o crescimento econmico aproveitando os
recursos da natureza, e ao mesmo tempo, preserv-los e garantir a sobrevivncia do ser
humano?
A relao entre a economia e o meio ambiente ressalta a importncia da integrao
dessas reas de estudo. No se pode mais falar de um sem considerar o outro. A questo sobre
como conciliar o crescimento econmico com a preservao do meio ambiente o principal
desafio que existe atualmente nesse campo de estudo. Uma das solues existentes
realizar/promover atividades econmicas no exploratrias, ou seja, que precisam das
florestas vivas para existir. Para isso, preciso mostrar que a floresta preservada tambm
capaz de gerar benefcios econmicos, chegando a valer at mais do que se ela fosse
destruda. A explorao madeireira, quando realizada de forma sustentvel, um exemplo de
atividade econmica que precisaria da floresta preservada para gerar retorno. O turismo
recreativo em locais de natureza tambm um exemplo de atividade econmica rentvel que
dependeria dessas reas naturais preservadas para acontecer, o que estimularia a preservao
8
destas. Se os agentes econmicos tivessem essa percepo de que a floresta em p mais
valiosa do que desmatada, talvez encontraramos um caminho ideal que unisse o crescimento
econmico conservao ambiental.
Entretanto, fazer essa comparao do valor da floresta em p versus a floresta
desmatada no uma tarefa fcil. O quanto vale a floresta desmatada de fcil estimao,
pois corresponde ao valor econmico das atividades exploratrias, que j so transacionadas
no mercado. Porm, como estimar o valor da floresta em p? Os recursos provenientes da
natureza no possuem preos definidos no mercado, e alm disso, o meio ambiente prov
diversos servios que no so diretamente percebidos pela sociedade. Isso dificulta a
estipulao do valor econmico da floresta em p. A fim de solucionar esse problema, foram
desenvolvidas tcnicas no mbito de estudo da economia do meio ambiente, que estimam o
valor monetrio desses servios e recursos ambientais que no so diretamente definidos no
mercado. A esse conjunto de tcnicas chamamos de valorao ambiental, e esse ser o
principal instrumento utilizado nesse trabalho (SEROA DA MOTTA, 1997; NOGUEIRA,
2000; YOUNG et al., 2015).
A valorao ambiental j um tema bastante desenvolvido na rea de economia do
meio ambiente. Com as tcnicas e metodologias de valorao, conseguimos expressar em
valores monetrios os benefcios sociais e econmicos providos pelas reas naturais
preservadas, e com isso, demonstrar a sua importncia econmica. A motivao desse
trabalho foi baseada nessa ideia. A fim de contribuir com os diversos estudos que comprovam
o valor econmico das unidades de conservao, esse trabalho se prope a realizar um estudo
de valorao dos servios ecossistmicos do Parque Nacional da Tijuca. O principal objetivo
aplicar a metodologia de valorao ambiental desenvolvida por Young et al. (2015) no
Parque da Tijuca, e com isso, mostrar a importncia da sua existncia ao municpio do Rio de
Janeiro.
O trabalho est organizado em trs captulos. O primeiro apresenta o conceito de
unidades de conservao, contextualizando o cenrio brasileiro. So apresentados um breve
contexto de degradao e conservao ambiental no Brasil, o Sistema Nacional de Unidades
de Conservao (SNUC) e os principais desafios sua implementao no pas. O segundo
captulo detalha algumas metodologias de valorao ambiental e a teoria econmica que as
embasa. No terceiro captulo apresentado o exerccio de valorao dos servios
ecossistmicos associados conservao do Parque Nacional da Tijuca e que so passveis de
aplicao da metodologia desenvolvida por Young et al (2015) na unidade de conservao
9
escolhida, e mostrados os seus resultados. O captulo final apresenta a concluso chegada por
esse estudo.
10
CAPTULO I UNIDADES DE CONSERVAO: O CONTEXTO BRASILEIRO.
I.1 O contexto brasileiro de degradao e conservao ambiental
O Brasil um pas mundialmente conhecido por sua grande disponibilidade de
recursos naturais. o pas de maior biodiversidade do planeta e abriga 7 biomas: Amaznia,
cerrado, pantanal, mata atlntica, caatinga, campos sulinos e o bioma costeiro (MMA 2011).
em territrio brasileiro que est localizada a maior parte da maior floresta tropical do
mundo, a floresta Amaznica, que tambm a que possui maior biodiversidade. Segundo o
Ministrio do Meio Ambiente, o Brasil abriga mais de 20% das espcies do Terra, elevando o
pas ao posto de nao mais biodiversa do mundo. O Brasil tambm o pas que conta com o
maior potencial hdrico do mundo, o que o deixa em uma situao muito privilegiada em
comparao aos outros pases. Tamanha abundncia em recursos naturais foi fundamental
para o desenvolvimento econmico do Brasil, desde o incio de sua histria at os dias atuais.
Pode-se dizer que o Brasil e sempre foi dependente economicamente de sua natureza,
constatao que vai desde o fato de sua principal fonte energtica ser proveniente das
hidreltricas at o fato de sua principal atividade econmica ser baseada na produo de
produtos primrios (YOUNG, 2015).
Toda essa diversidade biolgica tem grande importncia econmica. Em 2015, cerca
de 8% do PIB foram gerados pelo setor primrio (agropecuria e indstria extrativa),
atividades que dependem diretamente do patrimnio gentico provido pela diversidade
biolgica. Os produtos primrios so tambm os mais importantes dentro da pauta de
exportao do pas. Em 2015, os produtos que registraram os maiores aumentos nas
exportaes foram a soja, o petrleo e o minrio de ferro. Alm disso, ainda em 2015,
enquanto os setores da indstria e de servios registraram fortes quedas, o da agropecuria
teve crescimento de 1,8%, e a extrao mineral de 4,9%, sendo esses dois setores os nicos
que registraram um aumento significativo em um ano de crise. O que percebemos com isso,
que as atividades econmicas que dependem da diversidade biolgica possuem uma
importncia estratgica para o pas, fazendo com que a preservao da biodiversidade adquira
uma importncia que vai alm da conservao per se, sendo tambm uma causa de interesse
econmico.
11
Ao olharmos o passado, vemos que foi o surgimento da sociedade industrial e o
consequente aumento da demanda por energia e por recursos naturais que intensificou a
problemtica ambiental. Desde ento que as aes antrpicas pressionam o meio ambiente,
causando problemas como a poluio da gua, do ar e do solo, que por sua vez tm efeito
direito nas atividades econmicas e no bem-estar da populao. Atualmente, a presso sobre
os recursos ambientais no mais um problema exclusivo de pases desenvolvidos e
capitalistas. Muito pelo contrrio, hoje os problemas ambientais est presente em todos os
sistemas econmicos, e em quase todos os pases do mundo.
Esses efeitos negativos causados pelas transformaes no meio ambiente passaram a
preocupar o homem h apenas algumas dcadas atrs, quando finalmente o interesse pela
questo surgiu e medidas de precauo e aes de preservao do meio ambiente comearam
a ser tomadas. Foi a partir da dcada de 80 que estudos sobre o meio ambiente entraram em
pauta nas universidades, conceitos como o de desenvolvimento sustentvel foram criados,
acordos mundiais como o protocolo de Quioto foram realizados, sendo, portanto, o momento
chave no qual a problemtica ambiental entrou definitivamente na pauta da sociedade,
incluindo at mesmo o governo. Ainda que essas transformaes no meio ambiente sejam
causadas por diferentes motivos, e em diferentes amplitudes, os problemas ambientais hoje
uma questo de dimenso mundial.
No Brasil, o meio ambiente vem sofrendo historicamente das mais distintas formas
de impactos: destruio de habitats (desmatamento, desertificao, queimadas, eroso do solo,
minerao, represamento, urbanizao e abertura de vias de transporte); comrcio e caa
ilegais das espcies silvestres; sobre explorao dos recursos naturais; introduo de espcies
exticas; poluio e mudanas climticas globais. (...) Devido s falhas de mercado, a floresta
em p subvalorizada, e os benefcios oriundos dos servios ambientais por ela fornecidos
no so considerados pelos agentes que tomam a deciso de desmatar. (GELUDA, 2010)
Um dos grandes obstculos conservao ambiental no Brasil a prevalncia da viso
em vrios setores da sociedade, incluindo o prprio governo, de que a conservao da
natureza representa um entrave ao crescimento econmico. O principal desafio hoje no que
concerne adoo de polticas ambientais no Brasil, a necessidade de alterar o discurso
acerca do por que investir em conservao, para uma direo que mostre que os benefcios
sociais e econmicos superam os recursos pblicos e privados alocados para isso
(MEDEIROS & YOUNG, 2011).
12
Dessa forma, o discurso de defesa sobre a conservao do meio ambiente ser uma
soluo e no um entrave ao crescimento econmico, deve passar pelo fato de que as reas
naturais so capazes de fornecer uma srie de benefcios para a sociedade. Os servios
ambientais que elas prestam, ainda que muitas vezes no possam ser percebidos pela
sociedade, geram no s impactos no desempenho econmico da regio, mas tambm
alteraes no bem-estar dos indivduos de diversas formas. Em diversas reas protegidas que
existem atualmente possvel a realizao de atividades econmicas sustentveis, como a
produo madeireira em unidades de conservao na Amaznia, por exemplo. Alm disso, o
uso pblico e a visitao nessas UCs tambm so capazes de movimentar a economia local e
um potencial pouco explorado atualmente. As reas protegidas tambm funcionam como
estoques de carbono, regularizam os fluxos hdricos, aumentando a captao de gua, evita o
agravamento da eroso, entre outros servios que impactam positivamente na economia
(MEDEIROS & YOUNG, 2011). Outros estudos mostram que a presena de reas verdes
prximas aos locais de moradia so capazes de reduzir a incidncia de doenas como estresse,
depresso e ansiedade na populao (INSTITUTO SEMEIA, 2014). Ou seja, as reas verdes e
o contato com a natureza tambm possui um grande potencial no que tange melhoria da
sade da populao em diversos aspectos.
Esses benefcios relacionados sade, juntamente com o potencial econmico e os
ganhos da conservao, servem para fortalecer o argumento de que parques, florestas e outras
reas de alguma forma protegidas por lei e que buscam conservar suas caractersticas naturais
devem ser vistas como ativos para o pas, ou seja, como oportunidades para melhorar o bem-
estar dos usurios desses espaos, que em sua grande maioria so pblicos. (INSTITUTO
SEMEIA, 2014)
Entretanto, a falta de conhecimento da sociedade sobre esses servios ambientais e os
benefcios sociais gerados por eles faz com que o valor da floresta em p ainda seja
subestimado. Por isso que valorizar os servios que o meio ambiente nos oferece atravs do
reconhecimento financeiro destes seria uma forma muito eficaz de conceder ao meio ambiente
o devido valor que ele possui preservado, e no desmatado. Assim, o valor da floresta em p
poderia ser igualmente comparado com o valor dos outros usos que a floresta possui que so
provenientes de sua explorao, o que ajudaria a influenciar a tomada de deciso a favor da
preservao da floresta.
Uma das formas mais eficazes, se no a mais eficaz, de preservar a biodiversidade a
proteo de grandes reas naturais que contribuam para a manuteno de ecossistemas e dos
13
processos evolutivos. O esforo nacional para garantir que reas naturais sejam, em diferentes
graus, conservadas, est intimamente relacionado criao e manuteno de unidades de
conservao da natureza. (GELUDA, 2010).
E para que isso seja feito de forma eficiente e eficaz, fundamental que o governo
veja valor na conservao do meio ambiente e se envolva diretamente em todo o processo.
Desde a criao at a manuteno de unidades de conservao, o governo precisa dar apoio
financeiro, direcionando verba pblica para a gesto ambiental, e tambm o apoio
institucional, garantindo que o sistema seja favorvel s medidas de preservao ambiental.
Logo, o papel do governo para evitar o desmatamento e garantir o uso sustentvel do
meio ambiente vai muito alm de garantir a existncia de reas protegidas. necessrio que o
governo defina e execute uma poltica para o desenvolvimento sustentvel, atravs por
exemplo, de sistemas de compensao para aqueles que conservam suas terras, concedendo
vantagens econmicas para aqueles que utilizam prticas de manejo sustentvel da floresta,
investindo em pesquisa e desenvolvimento nas reas ambientais, e tambm, criando e
mantendo de forma eficiente as unidades de conservao e outras reas protegidas, que o
instrumento que esse trabalho se prope a estudar mais profundamente.
De forma geral, o principal obstculo para a adoo de polticas ambientais pelo
governo a falta de priorizao poltica e consequentemente, de recursos financeiros. Isso fica
muito claro quando vemos a distribuio dos gastos pblicos municipais, federais e estaduais,
como apresentam Young et al (2012). O estudo de Geluda et al (2015) mostra tambm que,
em 2014, o Ministrio do Meio Ambiente (MMA) executou R$ 2,3 bilhes, correspondendo a
apenas 0,12% do oramento executado pelo governo federal. Ainda assim, de todo o montante
do MMA, coube ao ICMBio executar 22,8%, o que representa insignificantes 0,028% do total
do oramento federal. Em termos absolutos e considerando a inflao, o valor executado pelo
ICMBio em 2014 foi de R$ 522 milhes, sendo superior aos valores de 2013 e 2012, mas
inferior ao de 2011. Porm, em termos relativos, 2014 representa o pior ano desde 2011,
perodo em que a participao do ICMBio caiu de 0,038% para 0,028% do oramento federal
executado.
Alm disso, existe tambm a falta de interesse privado em investir na conservao de
reas ambientais, ainda pouco explorada no pas, enquanto diversas iniciativas no mundo so
amplamente difundidas. Todavia, um exemplo de apoio do setor privado conservao de
reas protegidas evidenciada pela doao voluntria via adoo dos parques no Parque
14
Nacional dos Lenis Maranhenses e do Parque Nacional de Fernando de Noronha pelas
empresas Eneva (R$ 2,1 milhes) e EBX (R$ 11,4 milhes), respectivamente. O
entendimento desse tipo de ao como um investimento ainda pouco difundido, muito por
conta do desconhecimento do retorno que uma unidade de conservao ou qualquer outra
ao pr-meio ambiente pode gerar. nesse contexto que o trabalho de valorao ganha
fora. Valorar os servios ambientais reconhece financeiramente seu valor, sendo capaz de
mostrar que o meio ambiente preservado gera mais retorno do que degradado.
I.2 O Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC)
Essa sesso do captulo abordar mais especificamente a questo das unidades de
conservao no Brasil, mostrando como se d sua implementao, financiamento e os
desafios que o sistema de reas protegidas possui no pas.
I.2.1 A Lei da SNUC
O Brasil um pas megabiodiverso, possui a maior biodiversidade do mundo e
proporciona a sua populao todos os recursos necessrios para se viver. Temos guas limpas
e em abundncia, terras frteis, grande variedade de espcies na fauna e flora, variedade de
ecossistemas, um dos melhores climas do mundo e paisagens paradisacas. extremamente
necessrio proteger as reas naturais do pas e uma das medidas para isso a criao de
Unidades de Conservao, estratgia eficaz para preservar os recursos naturais a longo prazo.
A existncia de objetivos mltiplos de conservao entre diferentes tipos de unidades
de conservao determinou a necessidade de criao de categorias distintas de unidades que,
devidamente ordenadas, fossem capazes de alcanar a totalidade dos objetivos nacionais de
conservao. dessa forma que se evoluiu o conceito de sistema de unidades de conservao.
Esse sistema, materializado pela Lei n 9.985 de 2000, pode ser entendido como um conjunto
de unidades que, planejado, manejado e administrado como um todo, seja capaz de viabilizar
os objetivos nacionais de conservao. (GELUDA, 2010)
A materializao do Sistema Nacional de Unidades de Conservao atravs da lei n
9.985 surgiu da necessidade de criar e organizar um sistema nacional de reas protegidas que
pudesse potencializar o papel das UCs. Para isso, elas seriam constitudas por diferentes
categorias, planejadas e administradas de forma integrada e geridas pelas trs esferas de
governo (federal, estadual e municipal). A Lei estabeleceu critrios e normas para a criao,
15
implementao e gesto de reas protegidas, a fim de assegurar que o principal objetivo de
conservar reas naturais relevantes fosse devidamente cumprido.
O termo unidade de conservao foi definido no artigo 2 inciso I da lei da SNUC da
seguinte forma: espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas
jurisdicionais, com caractersticas naturais relevantes, legalmente institudo pelo Poder
Pblico, com objetivos de conservao e limites definidos, sob regime especial de
administrao, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteo. As UCs asseguram o uso
sustentvel dos recursos ambientais mas tambm propicia o desenvolvimento de atividades
econmicas sustentveis ao seu entorno. Segundo o Ministrio do Meio Ambiente,
permitido o uso econmico em 88,3% da rea total protegida por UC. Ou seja, no se trata de
uma rea intocvel e a presena de UCs no um entrave ao desenvolvimento econmico,
mas sim um instrumento facilitador do desenvolvimento sustentvel.
Os objetivos do Sistema Nacional de Unidades de Conservao esto definidos no
artigo 4 da lei, sendo estes: (1) contribuir para a conservao das variedades de espcies
biolgicas e dos recursos genticos no territrio nacional e nas guas jurisdicionais; (2)
proteger as espcies ameaadas de extino; (3) contribuir para a preservao e a restaurao
da diversidade de ecossistemas naturais; (4) promover o desenvolvimento sustentvel a partir
dos recursos naturais; (5) promover a utilizao dos princpios e prticas de conservao da
natureza no processo de desenvolvimento; (6) proteger paisagens naturais e pouco alteradas
de notvel beleza cnica; (7) proteger as caractersticas relevantes de natureza geolgica,
morfolgica, geomorfolgica, espeleolgica, arqueolgica, paleontolgica e cultural; (8)
recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; (9) proporcionar meio e incentivos para
atividades de pesquisa cientfica, estudos e monitoramento ambiental; (10) valorizar
econmica e socialmente a diversidade biolgica; (10) favorecer condies e promover a
educao e a interpretao ambiental e a recreao em contato com a natureza; e (11)
proteger os recursos naturais necessrios subsistncia de populaes tradicionais,
respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e
economicamente.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC) composto pelo conjunto
de unidades de conservao federais, estaduais, municipais e particulares, distribudas em
doze categorias de manejo. Para garantir que as aes voltadas a proteo ambiental
convirjam para o mesmo objetivo, a SNUC gerida pelas trs esferas de governo (federal,
estadual e municipal) conjuntamente. Cada categoria de manejo se diferencia quanto forma
16
de uso e de proteo permitidos, e essas doze categorias so classificadas em dois tipos: reas
de uso sustentvel e reas de proteo integral. No quadro abaixo, a definio de cada uma
das doze categorias segundo a lei apresentada:
Tabela 1: reas de Proteo Integral
reas de
Proteo
Integral
Estao
ecolgica
rea destinada preservao da natureza e a realizao de
pesquisas cientficas.
Reserva
biolgica
rea destinada preservao integral da biota e demais
atributos naturais existentes em seus limites, sem
interferncia humana direta ou modificaes ambientais,
exceto medidas de recuperao de seus ecossistemas
alterados e aes de manejo necessrias.
Parque
rea cujo objetivo bsico a preservao de ecossistemas
naturais de grande relevncia ecolgica e beleza cnica,
possibilitando a realizao de pesquisas cientficas e o
desenvolvimento de atividades de educao e interpretao
ambiental, de recreao e turismo ecolgico.
Monumento
Natural rea que tem como objetivo bsico preservar stios naturais
raros, singulares ou de grande beleza cnica.
Refgio de vida
silvestre
rea destinada proteger ambientes naturais onde se
asseguram condies para a existncia ou reproduo de
espcies ou comunidades da flora local e da fauna residente
ou migratria
Fonte: Lei 9.985
Tabela 2: reas de Uso Sustentvel
reas de
Uso
Sustentvel
rea de Proteo
Ambiental
rea em geral extensa, pblico ou privada, com um certo
grau de ocupao humana, dotada de atributos abiticos,
biticos, estticos ou culturais especialmente importantes
para a qualidade de vida e o bem-estar das populaes
humanas.
rea de Relevante
Interesse Ecolgico
rea de pequena extenso, com pouca ou nenhuma
ocupao humana, com caractersticas naturais
extraordinrias ou que abriga exemplares raros da biota
regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas
naturais de importncia regional ou local.
Floresta
rea com cobertura florestal de espcies
predominantemente nativas e tem como objetivo bsico o
uso mltiplo sustentvel dos recursos florestais e a
pesquisa cientfica, com nfase em mtodos para
explorao sustentvel de florestas nativas.
Reserva Extrativista
rea utilizada por populaes extrativistas tradicionais,
cuja subsistncia baseia-se no extrativismo, na agricultura
de subsistncia e na criao de animais de pequeno porte,
e tem como objetivos bsicos proteger os meios de vida e
a cultura dessas populaes
Reserva de Fauna
rea natural de posse e domnio pblicos, com
populaes animais de espcies nativas, terrestres ou
aquticas, residentes ou migratrias, adequadas para
estudo tcnico-cientficos sobre o manejo econmico
sustentvel de recursos faunsticos.
Reserva de rea natural de posse e domnio pblicos, que abriga
17
Desenvolvimento
Sustentvel
populaes tradicionais, cuja existncia baseia-se em
sistemas sustentveis de explorao dos recursos naturais
e que desempenham um papel fundamental na proteo
da natureza e na manuteno da diversidade biolgica.
Reserva Particular
do Patrimnio
Natural
rea privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo
de conservar a diversidade biolgica, onde s permitido
a pesquisa cientfica e a visitao com objetivos
tursticos, recreativos e educacionais.
Fonte: Lei 9.985
A Lei do SNUC tambm deu abertura e condies para que outras leis e decretos
surgissem derivados dela. Em 2006, atravs do decreto n 5.758, foi institudo o Plano
Estratgico Nacional de reas protegidas (PNAP), cujos princpios e diretrizes deveriam
orientar o desenvolvimento de um sistema abrangente de reas protegidas, integradas a reas
terrestres e marinhas, at o atual ano de 2015. O PNAP inclui no s as unidades de
conservao, mas tambm as terras indgenas e os territrios quilombolas. Sob a coordenao
principal do MMA, a implementao do PNAP tambm contou com a participao e
colaborao de outros representantes da esfera federal, estadual, municipal e distrital, de
povos indgenas, de comunidades extrativistas e quilombolas, do setor empresarial e da
sociedade civil. Podemos destacar entre os princpios do PNAP: (a) a valorizao dos
aspectos ticos, tnicos, culturais, estticos e simblicos da conservao da natureza; (b) o
reconhecimento das reas protegidas como um dos instrumentos eficazes para a conservao
da diversidade biolgica e sociocultural; (c) valorizao da importncia e da
complementaridade de todas as categorias de unidades de conservao e demais reas
protegidas na conservao da diversidade biolgica e sociocultural; (d) sustentabilidade
ambiental como premissa do desenvolvimento nacional e (e) sustentabilidade tcnica e
financeira, assegurando continuidade administrativa e gerencial na gesto das reas
protegidas.
Segundo Geluda (2010), a importncia do PNAP se d pelo seu objetivo principal de
consolidar e fortalecer o papel da SNUC, atravs da organizao de um sistema estratgico
que pudesse fortalecer os eixos de planejamento e gesto das unidades de conservao, de
fortalecer os componentes do SNUC, de integrar as unidades de conservao a paisagens
marinhas e terrestres mais amplas, entre outros objetivos especficos cruciais para garantir o
melhor funcionamento e a ampliao do sistema nacional de unidades de conservao.
Algumas metas importantes foram estabelecidas no decreto como por exemplo: (a) definir os
percentuais de reas protegidas para unidades de conservao de proteo integral e uso
sustentvel para cada bioma; (b) dotar as unidades de conservao de instrumentos de gesto,
infraestrutura bsica e fiscalizao; (c) estabelecer e adotar diretrizes, critrios e melhores
18
prticas para a gesto da SNUC; (d) garantir o estabelecimento e a manuteno da
conectividade entre ecossistemas; (e) propor mecanismos e instrumentos para gesto
colaborativa das unidades de conservao e demais reas protegidas com pases vizinhos;
entre outras que reforam o objetivo de conceder as unidades de conservao condies
bsicas para uma gesto eficiente visando seu melhor funcionamento.
Outra importante lei nacional referente ao sistema de unidades de conservao a que
instituiu o Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMBio). Foi atravs
da Lei n 11.516 em 28 de agosto de 2007 que o IMCBio foi criado com o objetivo principal
de gerir as unidades de conservao, sendo um rgo vinculado ao Ministrio do Meio
Ambiente. Segundo a Lei, as finalidades do ICMBio so: (a) executar aes da poltica
nacional de unidades de conservao da natureza, referentes s atribuies federais relativas
proposio, implantao, gesto, proteo, fiscalizao e monitoramento das unidades de
conservao institudas pela Unio; (b) executar as polticas relativas ao uso sustentvel dos
recursos naturais renovveis e ao apoio ao extrativismo e s populaes tradicionais nas ucs
de uso sustentvel institudas pela Unio; (c) fomentar e executar programas de pesquisa,
proteo, preservao e conservao da biodiversidade e de educao ambiental; (d) exercer o
poder de polcia ambiental para a proteo das unidades de conservao institudas pela
Unio; e (e) promover e executar, em articulao com os demais rgos e entidades
envolvidos, programas recreacionais, de uso pblico e de ecoturismo nas unidades de
conservao, onde estas atividades sejam permitidas.
Alm do desafio de ampliar a proteo dos biomas nacionais, o SNUC tambm tem
trabalhado para consolidar as unidades de conservao existentes. Somente com as UCs
cumprindo devidamente seu papel que as reas naturais sero preservadas e a sociedade
poder usufruir dos benefcios econmicos e sociais que esses espaos podem proporcionar.
Para isso, extremamente necessrio que a sociedade seja conscientizada sobre os benefcios
das UCs, pois a apropriao destas pela sociedade ajuda a legitimar a importncia da
existncia desses espaos, o que influencia diretamente na adoo de condutas e polticas em
prol do meio ambiente. E isso pode ser feito atravs da ampliao da participao social na
criao e gesto das UCs, ao estmulo a interao das pessoas com as reas preservadas, a
valorizao da funo sociocultural e econmica das UCs, entre outras medidas (MEDEIROS
& YOUNG, 2011). O baixo investimento um em reas protegidas se deriva da falta de
conhecimento sobre o retorno financeiro que esses espaos podem gerar. (MMA, 2011, p.13).
19
Conclui-se, com isso, que o dinamismo econmico gerado pelas UCs ainda pouco
conhecido e discutido com a sociedade.
I.2.2 Panorama das Unidades de Conservao brasileiras
O objetivo dessa sesso mostrar alguns nmeros referentes as unidades de
conservao brasileiras, demonstrando com dados o tamanho desse instrumento de
conservao no pas.
A histria das reas protegidas no Brasil iniciou-se com a criao do primeiro parque
nacional do pas em 1937, o Parque de Itatiaia, no Rio de Janeiro. Dois anos depois foram
criados os Parques Nacional de Iguau e o da Serra dos rgos, ambos no Rio de Janeiro.
Muitas outras unidades de conservao surgiram depois da, porm sem seguir uma legislao
ou uma instituio poltica, fazendo com que a gesto dessas reas fosse amadora. Foi
somente em agosto de 1981, com a Poltica Nacional do Meio Ambiente, instituda atravs da
lei 6.938/61, que foi constitudo um grupo de unidades de conservao, ainda que de forma
no muito organizada e carente de uma definio de poltica ambiental. At que com a
Constituio de 1988 a situao da poltica ambiental no Brasil sofreu um importante divisor
de guas, pois esta determinou que houvesse uma regulamentao para os at ento chamados
espaos territoriais especialmente protegidos. Foi assim que alguns anos depois, mais
precisamente em 2000, foi institucionalizada a lei da SNUC, com o objetivo de cumprir essa
regulamentao imposta pela constituio nacional brasileira. A partir do SNUC a expanso
das unidades de conservao foi mais expressiva e consistente do que nos anos anteriores a
ele.
Atualmente, segundo os dados de fevereiro de 2015 do Cadastro Nacional de
Unidades de Conservao, o SNUC conta com 1.940 unidades existentes, sem registrar as
unidades de conservao marinhas. Dessas, 586 so unidades de proteo integral e 1.354 so
de uso sustentvel. Essas unidades correspondem uma rea total de 1,55 milhes de km,
que representa 18% do territrio nacional. As unidades de proteo integral ocupam uma rea
de 528 mil km, enquanto as de uso sustentvel correspondem a 1,02 milhes de km.
Figura 1: Mapa de Unidades de Conservao do Brasil
20
Fonte: MMA (2014), FUNAI (2014)
Abaixo seguem trs tabelas que mostram como as UCs esto distribudas entre as
categorias e as esferas de governo.
Tabela 3: Unidades de Conservao federais
Federais
Categoria Nmero % Extenso (km) %
PROTEO INTEGRAL
Estao Ecolgica 32 22% 74.691 20%
Monumento Natural 3 2% 443 0%
Parque Nacional/Estadual/Municipal 71 50% 252.978 69%
Refgio de Vida Silvestre 7 5% 2.017 1%
Reserva Biolgica 30 21% 39.034 11%
Subtotal 143
369.163 USO SUSTENTVEL
Floresta Nacional/Estadual/Municipal 65 8% 163.913 42%
Reserva Extrativista 62 8% 124.362 32%
Reserva de Desenvolvimento Sustentvel 2 0% 1.026 0,3%
Reserva de Fauna 0 0% 0 0%
rea de Proteo Ambiental 32 4% 100.101 25%
rea de Relevante Interesse Ecolgico 16 2% 447 0,1%
RPPN 634 78% 4.832 1,2%
Subtotal 811
394.681 TOTAL 954 763.844
21
Fonte: CNUC de 17/02/2015
Tabela 4: Unidades de conservao estaduais
Estaduais
Categoria Nmero % Extenso (km) %
PROTEO INTEGRAL
Estao Ecolgica 58 18% 47.513 30%
Monumento Natural 28 9% 892 1%
Parque Nacional/Estadual/Municipal 195 59% 94.889 60%
Refgio de Vida Silvestre 24 7% 1.729 1%
Reserva Biolgica 24 7% 13.449 8%
Subtotal 329
158.472 USO SUSTENTVEL
Floresta Nacional/Estadual/Municipal 39 9% 136.053 23%
Reserva Extrativista 28 6% 20.208 3%
Reserva de Desenvolvimento Sustentvel 29 6% 110.090 18%
Reserva de Fauna 0 0% 0 0%
rea de Proteo Ambiental 185 41% 334.898 56%
rea de Relevante Interesse Ecolgico 24 5% 443 0,1%
RPPN 147 33% 686 0,1%
Subtotal 452
602.378 TOTAL 781 760.850
Fonte: CNUC de 17/02/2015
Tabela 5: Unidades de conservao Municipais
Municipais
Categoria Nmero % Extenso (km) %
PROTEO INTEGRAL
Estao Ecolgica 1 1% 9 2%
Monumento Natural 11 10% 73 20%
Parque Nacional/Estadual/Municipal 95 83% 221 59%
Refgio de Vida Silvestre 1 1% 22 6%
Reserva Biolgica 6 5% 48 13%
Subtotal 114
373 USO SUSTENTVEL
Floresta Nacional/Estadual/Municipal 0 0% 0 0%
Reserva Extrativista 0 0% 0 0%
Reserva de Desenvolvimento Sustentvel 5 5% 176 1%
Reserva de Fauna 0 0% 0 0%
rea de Proteo Ambiental 77 85% 25.922 99%
rea de Relevante Interesse Ecolgico 8 9% 32 0,1%
RPPN 1 1% 0 0%
Subtotal 91
26.130 TOTAL 205 26.503
Fonte: CNUC de 17/02/2015
22
De todas as unidades de conservao, 49% so federais, 40% estaduais e apenas 11%
municipais. Segundo Geluda (2010), a tendncia observada que os Estados criam unidades
menores e de uso sustentvel. J as unidades federais so maiores e com maior equilbrio
entre os dois grupos de uso sustentvel e proteo integral. As unidades municipais ainda no
esto inseridas com representatividade no cadastro pelas prefeituras, tendo muitas unidades
indicadas como no existentes, como mostra a tabela 5. Segundo Medeiros & Young (2011),
estimativas conservadoras do MMA indicavam que existiam pelo menos 600 unidades de
conservao municipais at 2011, o que indica claramente que esses nmeros do CNUC esto
muito subestimados.
As categorias mais abrangentes em rea so as reas de proteo ambiental (APA),
correspondendo a 29% do total das reas protegidas do pas, seguidos dos parques
nacionais/estaduais/municipais, que representam 22% desse total, e das Florestas Nacionais,
com 19%. J em relao a quantidade, as categorias que mais possuem unidades so as
RPPNs, com 782 espalhadas pelo pas, seguida pelos parques nacionais/estaduais/municipais,
com 361 unidades, e em terceiro esto as reas de proteo ambiental (APA), com 294. Por
permitirem a visitao pblica e por propiciarem a maior variedade de experincias entre o
visitante e a natureza, os parques so as unidades de conservao mais conhecidas e
estratgicas do ponto de vista de promover a interao com a sociedade, portanto, faz sentido
serem uma das mais importantes unidades de conservao tanto em nveis de abrangncia,
quanto em quantidade.
Quando olhamos a organizao das categorias de UCs por bioma, temos a seguinte
distribuio mostrada no grfico abaixo. Com exceo do Pantanal, em todos os outros
biomas as unidades de uso sustentvel so mais abrangentes do que as de proteo integral. O
que tambm faz sentido, j que nas unidades de uso sustentvel permitida a realizao de
algumas atividades econmicas de forma sustentvel, oferecendo a melhor combinao entre
proteo ambiental e crescimento econmico.
Grfico 1: Categorias de UCs por bioma
23
Fonte: elaborao prpria com base na CNUC de 17/02/2015
No grfico abaixo, podemos ver a relao entre a quantidade de UCs em cada bioma
com a rea total protegida por esses biomas. Ao colocarmos essas informaes lado a lado,
percebemos que apesar do bioma da Mata Atlntica possuir a maior quantidade de unidades
de conservao em seu territrio (1071), ela corresponde apenas a terceira maior rea
protegida em extenso, ficando atrs do Cerrado e da Amaznia. A maior rea protegida em
extenso o bioma Amaznico, que corresponde a 73% da rea total protegida no pas. O que
est em linha com o fato de a Amaznia ser o maior bioma no s do Brasil, mas tambm a
maior floresta tropical do mundo.
Grfico 2: rea e quantidade de UCs por Bioma
Fonte: Elaborao prpria com base no CNUC de 17/02/2015
24
Outro ponto interessante de se notar que desde a criao do SNUC, em 2000, ntida
uma expanso mais consistente das unidades de conservao em comparao aos perodos
anteriores. A partir de 2000, perodo no qual o SNUC entrou em vigor, possvel ver um
grande crescimento, tanto em quantidade como em rea, das unidades de conservao. At
1999, as reas protegidas do Brasil correspondiam a aproximadamente 10% do territrio
nacional. Atualmente, 16 anos depois, as reas protegidas correspondem a 18% do territrio
nacional, quase o dobro. Ou seja, em 16 anos de SNUC, o Brasil conquistou quase a mesma
quantidade de reas protegidas que haviam sido conquistadas em 62 anos, desde 1937, quando
foi criada a primeira unidade de conservao, at 1999. No grfico abaixo conseguimos ver
como esse crescimento foi expressivo.
Grfico 3: Crescimento do SNUC
Fonte: ICMBIO
Entretanto, apesar de nos ltimos anos a expanso do SNUC ter sido bastante
significativa, vemos que todo esse esforo ainda no foi capaz de fazer atingir as metas
nacionais de proteo dos biomas, mostrando que ainda existe muito espao para o
crescimento do sistema. De acordo com o Plano Estratgico de Biodiversidade 2011-2020,
ratificado pela Comisso Nacional de Biodiversidade (CONABIO), foi estabelecido que at
2020 sero conservadas, por meio de unidades de conservao, pelo menos 30% da
Amaznia, 17% dos demais biomas e 10% das reas marinhas. Com o grfico abaixo, vemos
que ainda falta bastante para que alguns biomas alcancem as metas estabelecidas, mesmo com
todo o esforo realizado nos ltimos anos. Com exceo da Amaznia, que o nico bioma
25
que est bem avanado em relao a meta, todos os outros ainda no conseguiram atingir 60%
do que foi estabelecido.
Grfico 4: Percentual de proteo nos biomas X Metas nacionais
Fonte: Elaborao prpria com base no CNUC de 17/02/2015
Apesar de todo o esforo, ainda prevalece uma interpretao equivocada de que a
poltica de criao de unidades de conservao representa um entrave ao desenvolvimento
visto que atividades produtivas como minerao, pecuria, gerao de energia, entre outras
so incompatveis com a conservao e que os investimentos feitos em conservao no
retornam benefcios tangveis pela sociedade. Este falso dilema se sustenta na significativa
carncia de dados e informaes sistematizadas sobre o real papel das unidades de
conservao no provimento de bens e servios que direta e/ou indiretamente contribuem para
o desenvolvimento econmico e social do pas. (MEDEIROS & YOUNG, 2011)
I.3 Desafios implementao de UCs
Apesar das unidades de conservao serem um importante e eficaz instrumento para a
preservao de reas naturais, e a SNUC ter proporcionado grandes avanos nesse sentido,
ainda existem uma srie de fatores que impedem e prejudicam o seu melhor funcionamento.
Sejam problemas relacionados a gesto, ao oramento ou falta de interesse da sociedade,
inegvel que o SNUC ainda tem muitos desafios pela frente para fortalecer o sistema como
um todo.
26
Geluda (2010) apontou em seu trabalho que as unidades de conservao que ainda
carecem de consolidao so at oito vezes mais suscetveis a atividades ilegais do que
aquelas que j foram implementadas. Mas por outro lado, mesmo essas unidades que foram
criadas e ainda no possuem uma estrutura completa funcionam como uma barreira contra o
desmatamento e o uso ilegal dessas reas. Portanto, criar uma unidade de conservao
melhor do que no criar, mesmo que leve um tempo at a sua consolidao. Porm muito
mais inteligente consolidar uma rea protegida do que apenas garantir a sua existncia. Ainda
que o SNUC tenha melhorado muito o cenrio para a criao e manuteno de reas
protegidas, ainda assim implementar e consolidar uma UC hoje passa por diversos desafios e
obstculos.
O ICMBio, em sua estratgia nacional de ampliao e consolidao do SNUC para os
prximos anos, apontou quais so os principais problemas enfrentados pelo sistema
atualmente. Esses problemas foram apresentados em quatro grandes questes, que seriam: (1)
o SNUC ainda no tratado de maneira sistmica; (2) a falta de regulamentao, que fragiliza
a gesto do sistema; (3) a existncia de lacunas de capacitao para o SNUC e (4) a existncia
de lacunas de consolidao das UCs. Como se pode ver, os principais problemas apontados
pelo ICMBio em relao ao sistema nacional de unidades de conservao dizem respeito a
problemas institucionais e de gesto. Por exemplo, hoje temos uma gesto das UCs muito
pouco integrada ao contexto socioeconmico local, perdendo o potencial de conexo e a
integrao que essas UCs poderiam conquistar frente a sociedade. Alm disso, muitas vezes
as UCs so geridas por diferentes rgos, e essa gesto acaba ocorrendo de forma isolada,
podendo gerar perdas de produtividade. Problemas institucionais, como a falta de
regulamentao em diversos setores, podem interferir na gesto financeira, assim como os
reajustes oramentrios e a imprevisibilidade de recursos disponveis.
Outro importante limitador para a implementao de uma rea protegida, que muitas
vezes acaba sendo a origem de diversos outros problemas, a verba destinada ao sistema
nacional de unidades de conservao. Normalmente essa verba no suficiente para cobrir as
despesas, forando as unidades a operarem com receitas abaixo das suas despesas necessrias,
o que impede uma gesto eficiente dos recursos. Estudos mostram que o nmero de reas
protegidas cresce muito mais do que o oramento destinado a elas pelo governo, o que
significa um menor volume de investimento disponvel para ser dividido entre as reas
protegidas. Trata-se de um grande problema, pois criam-se unidades de conservao, mas no
lhes do condies para que sejam consolidadas.
27
Alm disso, a gesto ambiental compete igualmente com outras reas do governo pela
diviso dos recursos oramentrios, como sade, educao e defesa, e normalmente entende-
se que essas reas so mais prioritrias, fazendo com que a gesto ambiental receba um aporte
muito inferior as outras reas. O investimento recebido pelo SNUC, deve ser dividido entre o
ICMBio, MMA, IBAMA e SFB, de forma que o ICMBio costuma ser responsvel por mais
de 80% do investimento, conforme apontou Geluda (2010). A distribuio desses recursos,
que j so escassos, muitas vezes no consegue cobrir todas reas essenciais para a
consolidao do projeto de uma UC. Desse dinheiro recebido pelo ICMBio, por exemplo, a
maior parte destinada ao pagamento de pessoal e encargos sociais e para outras despesas
correntes, ficando apenas uma pequena parte a ser destinada a atividades fins, ou seja, aquelas
que tem relao com o cumprimento direto dos objetivos das unidades. Um estudo realizado
pelo MMA em 2009 estimou qual seria o custo mnimo para uma gesto efetiva do SNUC,
mais precisamente de 836 unidades de conservao, sendo 304 federais e 532 estaduais
(nmeros da poca). O resultado apontou que a despesa mnima seria de R$ 904 milhes,
172% maior do que o oramento recebido pelo SNUC em 2008, de R$ 331,6 milhes,
comprovando a lacuna que existe entre a demanda desse setor e o financiamento recebido.
Nota-se ento, que alm da insuficincia do volume de investimento recebido em relao a
quantidade de unidades existentes, existe ainda um problema de gesto financeira dessas
unidades.
Este cenrio mais dramtico quando so comparados os oramentos para as reas
protegidas no Brasil com o de outras naes. Embora na comparao com outros oito pases o
Brasil ocupe posio intermediria e frente de outros pases em desenvolvimento, ele se
posiciona abaixo da metade dos recursos necessrios para consolidao do sistema e
representa o menor investimento por hectare. Pases como o Mxico e a frica do Sul
investem entre dez e dezessete vezes mais que o Brasil na manuteno dos seus sistemas por
hectare de rea protegida (MEDEIROS & YOUNG, 2011).
Outro problema que limita a gesto eficaz de unidades de conservao referente
falta de pessoal, sendo o maior dficit no pessoal de campo. A falta de recursos tambm um
fator que influencia na contratao de funcionrios, mas mesmo quando h recursos no se
trata de algo fcil de ser resolvido, pois a contratao de funcionrios pblicos depende da
autorizao do Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto, ou seja, est fora da alada
de deciso do MMA (GELUDA, 2010, p.18). Segundo Medeiros e Young (2011), o Brasil
possui uma das maiores relaes de rea protegida por funcionrio do mundo. Enquanto na
28
frica do Sul, por exemplo, essa relao de 1.176 hectares para cada funcionrio, no Brasil
essa relao at 20 vezes maior.
Existem ainda outros fatores que impedem as unidades de conservao de cumprirem
seus objetivos de forma eficaz. A falta de informao e de dados organizados sobre as
unidades de conservao, por exemplo, poderiam auxiliar no estabelecimento de metas,
estratgia importante para priorizar o uso dos recursos. Ainda que na lei da SNUC esteja
prevista a criao e manuteno do Cadastro Nacional de Unidades de Conservao (CNUC),
esse banco de dados ainda no funciona de forma muito eficaz, necessitando melhorias
tambm.
Mas alm de todos os impeditivos mencionados anteriormente, outro grande problema
enfrentado pelas unidades de conservao e j comentado anteriormente nesse trabalho, a
baixa percepo de valores pela sociedade no que tange a existncia de reas protegidas. (...)
a criao e manuteno de unidades de conservao no Brasil um tema marginal que, apesar
da importncia adquirida no cenrio internacional, no desperta o adequado interesse da
sociedade brasileira (MEDEIROS & YOUNG, 2011). Se a sociedade compreendesse o valor
dos servios ambientais prestados pelas reas protegidas, que por sua vez s conseguem
prest-los porque esto sendo preservadas e utilizadas de forma no econmica, talvez a
sociedade conseguisse us-lo como argumento para pressionar o governo a rever suas
prioridades em relao a distribuio do investimento pblico. nesse contexto que entra a
importncia e relevncia do estudo de valorao econmica dos servios ambientais, principal
instrumento de estudo desse trabalho.
I.4 Fontes de investimento das UCs
Vimos na sesso anterior alguns obstculos para a implementao e a consolidao de
reas protegidas, sendo a falta de recursos um desses principais impeditivos. Nessa sesso,
ser mostrada com mais detalhes a questo das fontes de investimento das unidades de
conservao, considerando aquelas que atualmente alimentam o SNUC, as suas limitaes e a
necessidade de buscar fontes alternativas e maximizar as existentes para complementar a
necessidade de recursos das reas protegidas.
A principal fonte de investimento das unidades de conservao sempre foi proveniente
do oramento pblico. Porm, na sesso anterior vimos que esses recursos no tm sido
suficientes para arcar com todas as necessidades de custo e investimento das reas protegidas.
29
Com a instituio da Lei do SNUC em 2000, algumas possibilidades de pagamentos pelos
servios ambientais prestados pelas unidades de conservao foram definidas, surgindo
algumas alternativas fonte de recursos principal. Geluda e Young (2005), em seu trabalho
sobre pagamentos por servios ecossistmicos previstos na SNUC, citaram trs fontes
presentes na lei que representariam uma alternativa fonte principal de receita das UCs. A
primeira, presente no artigo 33 da lei, define que a explorao comercial de produtos ou
servios provenientes dos recursos ambientais de unidades de conservao implicar no
pagamento do explorador. Ou seja, a unidade de conservao estaria hbil a receber um
pagamento pelo uso comercial de seus recursos ou servios ambientais. A segunda fonte de
receita, presentes nos artigos 47 e 48 da lei, diz respeito ao pagamento pelo uso de um servio
ambiental especfico prestado pelas UCs, os de protetores de fontes hdricas. Nesses dois
artigos, as empresas pblicas ou privadas de captao de gua ou de gerao e distribuio de
energia que se beneficiam da proteo hdrica oferecida por uma UC, devem contribuir
financeiramente com a implementao dessa unidade. A terceira fonte citada diz respeito ao
mecanismo de compensao ambiental, o que seria a inovao de maior impacto trazida pela
lei da SNUC (YOUNG, 2005, p.5). Previsto no artigo 36, o mecanismo de compensao
ambiental, baseado no princpio do poluidor-pagador, consiste em um recurso privado no
qual todos os empreendimentos de grande impacto ambiental, assim definido pelo rgo
ambiental licenciador, devem obrigatoriamente apoiar a implementao e a manuteno de
unidades de conservao do grupo de Proteo Integral. A princpio, o empreendimento
deveria pagar no menos que 0,5% do valor total do projeto UC impactada, a fim de
compensar os danos causados por ele. Todavia, o valor que antes tratava-se de um valor
mnimo, tornou-se em um valor mximo segundo a legislao federal. Ainda assim,
legislaes estaduais apresentam porcentagens diferentes (Geluda et al, 2015). A
compensao ambiental um instrumento de poltica pblica que tem sua origem no processo
de licenciamento, que busca harmonizar a dinmica ambiental e os processos de
desenvolvimento econmico. (FUNBIO, 2014, p.55).
A compensao ambiental no Brasil, segundo estudo de Lima (2015), foi de pouco
mais de R$ 1 bilho de reais, com maior impacto pelo setor de petrleo e gs natural o mais
relevante com R$ 432 milhes (42% da compensao ambiental entre 2011-2015). Geluda et
al (2015) apresenta projees para a compensao ambiental no Brasil, a partir de duas
metodologias. Primeiramente, a estimativa levou em conta os investimentos realizados e
previstos no Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) entre 2007-2014, podendo variar
de R$ 487 milhes, em um cenrio no qual apenas 10% dos empreendimentos de logstica e
30
energia teriam alto impacto ambiental, at R$ 2,9 bilhes, para um cenrio no qual 60%
desses investimentos teriam alto impacto. A outra forma para estimar a compensao
ambiental apresentada a partir dos dados da Formao Bruta de Capital Fixo (FBCK), com
cenrios futuros de incremento da taxa de investimento e, consequentemente, dos montantes
de compensao. Com base em valores de 2014, a projeo de gerao de compensao
ambiental de 2001 a 2030 poderia chegar a um total de R$ 35 bilhes para um cenrio em que
apenas 10% dos empreendimentos so de significativo impacto ambiental e R$ 213 bilhes
caso 60% dos empreendimentos tivessem significativo impacto ambiental.
Apesar de ter sido um grande passo na busca por novas formas de financiamento
legalizadas, a lei do SNUC ainda deixou algumas lacunas no preenchidas. No caso das duas
primeiras fontes citadas acima, Geluda e Young (2005) destacaram que ainda falta uma
regulamentao e o desenvolvimento de uma metodologia de cobrana para elas. Entretanto,
evolues vm ocorrendo como possvel observar pelo Fundo da Mata Atlntica (FMA) no
Estado do Rio de Janeiro do qual contribui para a implementao e a manuteno das UCs no
estado por meio da aplicao de recursos da compensao ambiental. De acordo com dados
do FMA/RJ, entre 2010 e 2015, foram aportados R$ 250 milhes no mecanismo financeiro,
sendo R$ 142 milhes tiveram destinao especfica e R$ 88 milhes foram executados. O
FMA possui o Funbio como gestor financeiro do fundo (Geluda et al, 2015).
Apesar dessas fontes possurem um grande potencial de gerao de receita, elas ainda
no conseguem ser exploradas da melhor forma. Em relao ao mecanismo ambiental, a
crtica citada pelos autores em relao metodologia do clculo da compensao, que est
baseada no valor total do empreendimento, e no no valor do dano causado. Isso acaba
fazendo com que o pagamento no tenha valores condizentes com o impacto real gerado pelo
empreendimento, que muitas vezes so irreversveis. Voltaremos a falar sobre esse importante
mecanismo mais frente.
Alm do oramento pblico destinado conservao ambiental e dessas fontes de
receita previstas pela Lei da SNUC, existem tambm outras fontes extra oramentrias que
atualmente so destinadas s UCs, como doaes, fundos localizados estaduais, municipais e
privados, repasses diretos de empresas a ttulo de compensao, recursos voluntrios e, ainda,
recursos externos. Entretanto, diversos estudos mostram que os recursos recebidos pelas
unidades de conservao ainda no so suficientes frente a necessidade de custos que as reas
protegidas demandam. O estudo do MMA citado na sesso anterior mostrou que em 2008, os
custos do SNUC foram 171% maior do que a verba destinada a ele. E que alm disso, a maior
31
parte dessa verba destinada a gastos de pessoal e manuteno, deixando uma parte pouco
significativa da verba direcionada a realizao de investimentos nas unidades. A falta de
recursos, portanto, se transfigura em um importante obstculo para a consolidao do sistema
nacional de unidades de conservao, na medida em que dificulta a gesto eficiente dessas
reas e consequentemente, impossibilita a realizao do objetivo final das unidades, que a
conservao ambiental.
Como falado anteriormente, as atuais fontes disponveis de investimento no so
capazes de cobrir sozinhas todas as necessidades de custo da gesto e investimento das
unidades de conservao, levando a necessidade de buscar fontes alternativas de
financiamento.
Alguns obstculos, de certa forma advindos da prpria falta de prioridade poltica e
oramentria ao tema, determinam o baixo uso de instrumentos alternativos ao oramento
pblico como fonte de recursos para as UCs, alguns deles, inclusive, previstos em Lei. Entre
os obstculos podemos citar a centralizao administrativa de gesto das UCs; a pouca
utilizao dos instrumentos legais de gerao de receita e parcerias com o setor privado; a
carncia de regulamentao dos procedimentos tcnicos, administrativos e operacionais; a
insuficiente capacitao dos recursos humanos; e, principalmente, a falta de deciso poltica
em sua adoo. Este conjunto de aes chamamos de preparao institucional. (FUNBIO,
2009)
Apesar das dificuldades encontradas no momento, atualmente h uma srie de fontes
de financiamento alternativas s unidades de conservao, tais como: Compensao
Financeira (royalty), Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), Cota de Reserva Ambiental
(CRA), ICMS Ecolgico, Multas Ambientais, Concesso Florestal, Troca de Dvida por
Natureza, Doaes Internacionais, dentre outras iniciativas incipientes. Portanto, para que
esses recursos alternativos sejam efetivamente utilizados, necessrio que haja uma
capacidade institucional que permita que esses recursos sejam gastos de forma tanto
qualitativa, como quantitativamente. Isto , o SNUC precisaria estar preparado poltica e
administrativamente para receber esses recursos.
O FUNBIO, em seu estudo sobre quanto custa uma unidade de conservao ambiental
de 2009, classificou essas fontes alternativas em fontes potenciais e fontes projetadas. As
fontes potenciais so aquelas que no so alocadas no financiamento das unidades de
conservao, mas que poderiam ou deveriam estar. Por diversas razes essas fontes no so
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destinadas para investir no SNUC, seja porque so direcionadas a outras prioridades ou
porque ainda necessitam de regulamentaes jurdicas. Segundo Geluda (2010) so fontes
que podem, com nveis diferenciados de esforo necessrio, passar a fazer parte do
financiamento das unidades de conservao no curto, mdio ou longo prazo. Um exemplo de
fonte potencial importante so os pagamentos por servios ambientais. J as fontes projetadas
so um conjunto de oportunidades com diferentes estgios de implementao. Elas podem ser
divididas em trs subgrupos: (1) fontes disponveis que podem ser maximizadas, como o
Programa reas Protegidas da Amaznia - ARPA, os acordos multilaterais, a compensao
ambiental e os fundos ambientais; (2) fontes a desenvolver, como a loteria verde e os crditos
de carbono; (3) e os instrumentos financeiros relacionados a novos mercados, como por
exemplo, a criao de um fundo de investimento para atividades em UC.
Alm dessas fontes alternativas consideradas pelo FUNBIO, existem ainda outras
possibilidades, como as descritas no cardpio de fontes de recursos financeiros de Tatagiba
(2008). Previstas em lei, existem as multas administrativas e sanes judiciais, como as
estabelecidas pela lei 9.605/98, que diz que os valores arrecadados por multas de infraes
ambientais devem revertidos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente FNMA, ou a outros
fundos estaduais e municipais. Ainda previstas em lei, existem tambm as fontes tributrias,
como o ICMS e IPTU ecolgico, a compensao financeira pela explorao de recursos
minerais (lei n 7.990/89) e os royalties de petrleo e gs natural. Tatagiba (2008) sugeriu
ainda a busca de receita atravs de patrocnios com parceiros privados, de doaes, de
licenas e papis de mercado.
Vale entender um pouco mais detalhadamente algumas dessas fontes citadas acima
que possuem grande potencial de arrecadao e que poderiam ser melhor exploradas. Por
exemplo, o ARPA (Programa reas Protegidas da Amaznia) um programa que conta com
recursos provenientes de acordos bi e multilaterais, que nada mais so do que acordos
realizados entre as naes que destinam recursos a projetos ambientais em 114 UCs com
quase 60 milhes de hectares. Esse tipo de acordo um importante instrumento utilizado pelo
FUNBIO, pois uma forma de captao de dinheiro muito eficaz. O ARPA dividido em trs
fases: na primeira fase (2003-2010) foram executados R$ 276 milhes; na segunda fase
(2010-2017) esto planejados R$255 milhes; e na terceira fase (2014-2039) esto planejados
R$ 447 milhes (MMA, 2016), segundo o relatrio de reas Protegidas do FUNBIO de 2014,
j recebeu recursos do governo alemo, do BNDES em parceria com o governo da Noruega e
do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os acordos multilaterais permitem que
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os pases se unam para enfrentar desafios comuns, sendo, portanto, uma importante forma de
estimular a cooperao internacional e maximizar a resoluo de problemas ambientais.
A compensao ambiental tambm possui grande potencial como fonte de recurso,
porm no vem sendo utilizada de forma que maximize esse potencial. Geluda (2010)
sinalizou que a execuo dos recursos destinados atravs da compensao muito lenta.
Algumas causas podem explicar essa baixa execuo, como por exemplo, a relutncia dos
empreendedores em efetivar o pagamento, a falta de regras e procedimentos claros, a
excessiva burocracia do governo e a alta complexidade para a proviso de bens e servios
para unidades de conservao. Alm disso, existe tambm a questo de que a maioria dos
recursos provenientes da compensao so executados nos locais que mais possuem
empreendimentos de alto impacto, como a regio da Mata Atlntica, fazendo com que outras
regies do pas que tambm necessitam no recebam esse recurso. A regio Amaznica, por
exemplo, apesar de no sofrer presses desse tipo de empreendimento, sofre com a explorao
de madeireiras e commodities agrcolas, que muitas vezes so atividades ilegais e no so
licenciadas. Somado com os outros problemas citados no incio dessa sesso, a compensao
ambiental ainda esbarra em uma srie de questes e por isso, ainda no atua da forma como
poderia.
Outra fonte potencial citada e que est diretamente relacionada ao objeto principal de
estudo desse trabalho o pagamento por servios ambientais, ou servios ecossistmicos.
Os sistemas de PSE (pagamentos por servios ecossistmicos) tm princpio bsico
no reconhecimento de que o meio ambiente fornece gratuitamente uma gama de bens e
servios que so de interesse direto ou indireto do ser humano, permitindo sua sobrevivncia e
seu bem-estar. (Geluda e Young, 2005)
De acordo com o princpio desse tipo de pagamento, a rea protegida que prover
servios que impactam direta ou indiretamente no bem-estar da populao, como a proteo
de fontes hdricas e mananciais, a captura de carbono, a captao de gua, entre outros,
deveriam receber um pagamento correspondente ao uso direto ou indireto desses servios.
Porm, como nem sempre esses servios provm de recursos com preos definidos no
mercado, necessrio que sejam desenvolvidas metodologias que possam valorar
monetariamente esses servios, chegando um pagamento justo por eles. Atualmente, existe
um projeto de lei em andamento que busca instituir uma Poltica Nacional de Pagamentos por
servios Ambientais, regulamentando o sistema de Pagamentos por Servios Ambientais
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(PSA) estabelecido pelo Cdigo Florestal. De acordo com o projeto de lei do senado 276/13, a
prioridade inicial seria dada para agricultores familiares e empreendedores rurais. Aqueles
que desenvolverem iniciativas de preservao e recuperao ambiental em suas reas podero
ser recompensados financeiramente por isso, seguindo a lgica do pagamento por servios
ambientais. A instituio dessa lei seria um grande passo rumo legalizao do sistema de
PSA, que por sua vez, representa um grande avano nos termos de conservao ambiental.
Com isso, entende-se um panorama geral do sistema de unidades de conservao,
desde o contexto da sua existncia, sua implementao at a consolidao destas. Apesar de
todos os desafios e dificuldades que existem, a crena na importncia das unidades de
conservao como um instrumento de preservao do meio ambiente unnime na gesto
ambiental e por isso deve valer todo o estudo e esforo para enfrentar os obstculos.
No prximo captulo, ser iniciado o tema de valorao. Nele ser apresentado a
importncia de valorar os bens e servios ambientais e algumas metodologias utilizadas, para
depois aplicar o mtodo de valorao na unidade de conservao escolhida nesse trabalho, o
Parque Nacional da Tijuca.
CAPTULO II VALORAO ECONMICA DOS RECURSOS AMBIENTAIS: CONCEITO E METODOLOGIAS
Antes de iniciar o captulo sobre o conceito e as metodologias de valorao
econmica, necessrio introduzir o conceito de servio ambiental. De acordo com a teoria
econmica, algo s possui valor se este for capaz de gerar alterao no bem-estar dos
indivduos, ou seja, se for capaz de gerar alguma satisfao, o que chamamos de utilidade,
mesmo que essa satisfao no seja necessariamente trivial a sua sobrevivncia. Isso significa
que se a utilizao de um recurso ambiental gera utilidade aos indivduos, ou seja, gera um
benefcio social, podemos dizer que esse recurso presta um servio ambiental sociedade e
que possui valor econmico. Como elucidam Young et al. (2105) em sua fundamentao
terica do roteiro de valorao, apesar de o termo servio ambiental ser cada vez mais
utilizado na literatura, o entendimento desse conceito e de suas diversas formas de
classificaes ainda no so homogneos.
Porm, apesar das divergncias em relao ao seu entendimento, podemos entender de
uma forma geral que o servio ambiental somente uma representao mais atraente do
conceito de externalidade positiva prestada pelo meio ambiente (...) (Young et al, 2015).
Dessa forma, o principal desafio da valorao econmica ambiental expressar em valores
monetrios a importncia desses servios prestados por esses recursos ambientais, que na
maioria das vezes so intangveis e no tm preos observados no mercado.
Seroa da Motta (1997), em seu manual de valorao ambiental, introduz o conceito de
valorao a partir da ideia de anlises de custo-benefcio de projetos, mostrando como a
dificuldade em valorar os custos e os benefcios sociais gerados pela utilizao dos servios
ambientais leva opo por desconsider-los dessas anlises, fazendo com que aspectos
sociais importantes no sejam considerados nas tomadas de deciso. Para avaliar a viabilidade
de um projeto ou uma atividade, seja este realizado pelo governo, por uma empresa ou at
mesmo pelas famlias, necessrio colocar no papel todos os custos que sero alocados e o
oramento total disponvel para sua realizao. Uma anlise de custo-benefcio coloca em
uma balana todos os custos que a utilizao de um recurso incorre versus os benefcios que
ele gera em contrapartida, possibilitando o agente a comparar recursos e identificar aqueles
que possuem uma relao custo-benefcio menor e que valem mais a pena serem alocados em
seu projeto ou atividade. Entretanto, o valor social existente nesses parmetros muitas vezes
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no considerado nesses clculos, principalmente os provenientes de recursos e servios
ambientais, devido ao fato de muitas vezes no serem percebidos e no terem preos de
mercado.
A anlise social de custo-benefcio visa atribuir um valor social a todos os efeitos de
um determinado projeto, investimento ou poltica. Os efeitos negativos so encarados como
custos e os positivos so tratados como benefcios. (Seroa da Motta, 1997)
A incluso do valor social impactaria os custos dos projetos ao incluir tambm os
custos sociais, mas tambm ajudaria a viabilizar outros que geram benefcios sociais que at
ento no eram contabilizados. Isso levaria os agentes econmicos a tomarem melhores
decises de investimento. Segundo Ortiz et al (2010), a mensurao das externalidades e de
impactos ambientais fornece o suporte necessrio para a avaliao de projetos de
investimentos.
No anacronismo econmico ainda persiste a ideia de anlise de projetos somente pela
tica financeira, ou seja, da taxa interna de retorno, payback descontado e do valor presente
lquido, no levando em conta benefcios e perdas para a sociedade e custos para o meio
ambiente. (ORTIZ et al, 2010)
Ou seja, o valor social dos bens e servios deve refletir no somente os seus valores de
mercado, mas tambm as variaes de bem-estar social causados pelo uso ou consumo desses
bens. E para avaliar as variaes do bem-estar social decorrente de uma mudana na
quantidade e qualidade disponveis de um determinado recurso natural, um dos caminhos
possveis, por exemplo, seria o que Ortiz et al (2010) destacou em seu artigo, que lanaria
mo do uso de dois conceitos bastante utilizados na economia: a disposio a pagar (DAP) e a
disposio a aceitar desses indivduos (DAC). A disposio a pagar mostra o que o indivduo
estaria disposto a abrir mo em termos de quantidade e qualidade do recurso natural a fim de
obter uma melhora ou evitar uma piora do seu bem-estar. J a disposio a aceitar se refere ao
que o indivduo aceitaria de forma a compens-lo por uma piora no seu bem-estar. Dessa
forma, as variaes de bem-estar social poderiam ser percebidas atravs do somatrio dos
ganhos individuais oriundos da utilizao desse recurso ambiental, que seria representado
pelo somatrio da disposio a pagar reduzido do somatrio da disposio a aceitar.
A disposio a pagar e a aceitar dos indivduos poderiam ser perfeitamente reveladas
pelos preos de mercado no caso de bens privados negociados em mercados competitivos. No
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caso de bens e servios ambientais, muitos no so transacionveis no mercado e por isso, no
tm preos definidos, porm no significa que no tenham valor, j que o valor econmico
existe na medida em que eles so capazes de alterar o bem-estar da sociedade. Pode-se
considerar tambm que os recursos naturais so reservas de valor, ou seja, so ativos, pois
produzem produtos ou fluxos de servios para as pessoas, e estimar o seu valor econmico
fundamental para a gesto eficiente de tais recursos. O processo de valorao econmica
ambiental existe tambm para tentar contornar esse problema, com algumas metodologias
buscando estimar valores para a DAP e a DAC atravs de modelos de avaliao emprica
dessas medidas.
Outro aspecto importante que envolve o conceito da valorao ambiental destacada
por Seroa da Motta (1997) o fato de a proteo ambiental possuir caractersticas inter e
intra-temporal que devem ser igualmente consideradas. Como os custos da degradao
ambiental na maioria das vezes no so pagos por quem os causa, esses custos acabam se
tornando externalidades para o ambiente econmico. O resultado um padro de apropriao
do capital natural onde os benefcios so providos para alguns usurios de recursos ambientais
sem que estes compensem os custos incorridos por usurios excludos. (Seroa da Motta, 1997,
p.3). Dessa forma, a caracterstica intra-temporal da proteo ambiental diz respeito ao fato de
que muitas vezes, o impacto ambiental gera padres desiguais de distribuio de bem-estar. E
por outro lado, deve haver o esforo para impedir que as decises das geraes atuais
impactem a disponibilidade dos recursos e servios ambientais para as geraes futuras, o que
caracteriza o vis inter-temporal da proteo ambiental.
De uma forma geral, o processo de valorao econmica ambiental pode ser definido
como a estimao em valores monetrios de um recurso ou servio ambiental, cuja utilizao
gera alteraes no bem-estar na sociedade. Atravs da valorao ambiental possvel
internalizar monetariamente as externalidades causadas por atividades econmicas que
utilizam os recursos ambientais em sua produo. A internalizao dos custos ou benefcios
associados as externalidades um meio de evidenciar e corrigir as falhas de mercado que
escondem os efeitos e o impacto das atividades econmicas no meio ambiente. Portanto, ao
monetizar aqueles recursos e servios que at ento no possuam preos definidos, os agentes
se tornam capazes de perceber o valor dos custos e dos benefcios totais incorridos nas
atividades econmicas que realizam.
A valorao ambiental , portanto, um instrumento que permite expressar em unidades
monetrias o valor dos bens e servios ambientais atravs de diversas metodologias que, por
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exemplo, permitem estabelecer uma comparao com outros bens e servios existentes no
mercado, estimam o valor da DAP e DAC dos indivduos, entre outros que sero apresentados
na prxima sesso do captulo. importante ressaltar que no se trata de uma tentativa de
mercantilizao do meio ambiente, mas sim de uma ferramenta que busca expressar a
importncia do meio ambiente com uma abordagem econmica.
(...) a valorao um suporte necessrio para a gesto ambiental, para a estimao de
aes judiciais, para a validao de programas de polticas pblicas e para se entender de
forma clara e objetiva at que ponto os seres humanos esto dispostos a pagar pela degradao
e recomposio dos ativos da natureza. (ORTIZ, 2010)
Nas prximas sesses sero apresentadas as formas de classificao do valor
econmico dos recursos ambientais e depois as diferentes metodologias de valorao
ambiental.
II.1 Valor econmico dos recursos ambientais
Como falado anteriormente, os recursos ambientais no possuem preos definidos pelo
mercado que possam refletir seus custos de oportunidade. O objeto dessa sesso, ento,
mostrar como identificar o valor econmico desses recursos.
O preo de um determinado bem definido pelo conjunto de atributos ao qual esse
bem relacionado, e essa mesma lgica utilizada para identificar o preo dos recursos
ambientais. Alm dos atributos que os recursos possuem relacionados ao seu uso e aos
servios prestados por eles, muito comum tambm atribuir a um recurso ambiental o valor
intrnseco de sua existncia. Isto , apenas a existncia do recurso lhe confere um valor, no
sendo necessria a apropriao de um uso presente ou futuro para ele. Assim, podemos
desagregar o valor econmico dos recursos ambientais em dois: valor de uso e valor de no-
uso (SEROA DA MOTTA, 1997).
O valor de uso (VU) pode ser classificado em trs tipos:
Valor de uso Direto (VD): Um recurso pode ser caracterizado como tendo um
valor de uso direto quando h uma utilizao atual e direta deste recurso. Uma
floresta onde atualmente h extrao de madeira ou um rio onde ocorre
produo pesqueira so exemplos de recursos com valor de uso direto.
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Valor de uso Indireto (VUI): Quando o recurso ambiental mesmo no sendo
utilizado diretamente, proporciona benefcios para a sociedade. Por exemplo, a
amenizao climtica proveniente da preservao florestal.
Valor de Opo (VO): Pode ser entendido como valor de uso direto e indireto
percebidos para o futuro. Apesar de o recurso no estar sendo utilizado de
forma direta ou indiretamente agora no presente, a sua preservao pode
proporcionar seu uso no futuro. Pode ser o caso, por exemplo, de plantas em
florestas tropicais, como a Amaznia, que no esto sendo utilizadas hoje mas
podem ter propriedades medicinais que podem ser desenvolvidas no futuro,
caso elas sejam preservadas.
O valor de no-uso equivale ao valor de existncia (VE) do recurso, que no est
associado a um uso futuro ou presente, mas deriva-se de uma posio moral, cultural, tica
ou altrustica em relao aos direitos de existncia de espcies no-humanas ou preservao
de outras riquezas naturais, mesmo que estas no representem uso atual ou futuro para o
indivduo. (SEROA DA MOTTA, 1997, p.12). quando h a comoo em preservar um
recurso, mesmo que no haja expectativa de um consumo presente ou futuro para ele.
Podemos citar como exemplo a comoo que existe em torno da preservao de algumas
espcies animais em extino, como as baleias, o mico leo-dourado, entre outras. O desejo
de preservar essas espcies passa somente pela percepo de valor moral e tico que a vida
deles possui.
Essa diviso dos valores de uso e de no-uso de um recurso natural fundamental
para aplicao das tcnicas de valorao, pois permite a identificao e classificao dos
diversos valores do recurso ambiental e o desenvolvimento de meios para capt-los.
(YOUNG et al, 2015)
Porm, muito importante definir corretamente cada tipo de uso para evitar conflitos,
j que a alocao de um recurso em determinado tipo de uso pode excluir outro tipo de uso
desse recurso. Por exemplo, no caso da presena de uma floresta onde ocorre explorao
madeireira, mas que tambm garante a estabilidade climtica da regio, pode ser que haja
conflito em relao a forma como deve ser classificada, pois poderia ser de acordo com seu
valor de uso direto pela explorao ou por seu valor de uso indireto devido ao benefcio
indireto que ela proporciona. Por conta disso, os mtodos de valorao no so capazes de
estimar completamente todas as parcelas de valor do recurso, pois geralmente so levados em
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conta aqueles considerados mais relevantes. Dessa forma, os resultados obtidos atravs da
valorao normalmente subestimam o valor econmico total dos recursos/servios valorados.
II.2 Mtodos de valorao
Como falado anteriormente, o valor econmico dos recursos ambientais derivado de
seus atributos, que capaz de gerar satisfao aos indivduos seja por meio do consumo
(quando possui valor de uso), seja devido sua prpria existncia (valor de no-uso). Vimos
tambm que atribuir valores aos recursos ambientais uma tarefa um tanto complexa, e essa
dificuldade fica ainda maior quando o recurso em questo possui valor de no-uso. Por outro
lado, a definio de preos para os servios derivados desses recursos ambientais corresponde
utilidade gerada por todos os seus atributos, j que eles no possuem preos definidos em
mercado. Diante disso, existe um conjunto de tcnicas especficas que buscam estimar esses
preos, compondo o que chamamos de metodologias de valorao ambiental.
Segundo Nogueira (2000), no existe uma classificao universalmente aceita das
tcnicas de valorao. possvel ver, na literatura, diferentes formas de classificar de acordo
com diversos autores.
Pearce (1993, p.105-111), por exemplo, afirma que existem quatro grandes grupos de
tcnicas de valorao econmica desenvolvidos a um nvel sofisticado. O primeiro grupo
formado pelas tcnicas que ele chama de abordagens de mercado convencional que utilizam
os preos de mercado ou preos sombra com aproximao, semelhantemente aos mtodos dos
mercados reais de Hufschmidt et al. (1983). O segundo grupo chamado de funes de
produo domstica (ou familiar) . O terceiro, os mtodos de preos hednicos. E o quarto
e ltimo grupo so os mtodos experimentais. J Hanley & Spash (1993) fazem apenas uma
distino dos mtodos de valorao econmica ambiental em dois grupos: i) forma direta,
como o mtodo de valorao contingente (MVC); ii)forma indireta, como o mtodo de preos
hednicos (MPH), o mtodo dos custos de viagem (MCV) e as abordagens da funo de
produo, como o mtodo dos custos evitados (MCE) e o mtodo dose-resposta (MDR).
(NOGUEIRA J. M. et al, 2000)
No roteiro de valorao elaborado por Young et al (2015), os mtodos de valorao
so classificados entre os de preferncia revelada e os de preferncia declarada. Os mtodos
de preferncia revelada so aqueles nos quais os indivduos revelam suas preferncias por
meio da compra de certos bens de mercado associados ao consumo do bem ambiental. Ou
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seja, as preferncias dos indivduos so captadas indiretamente atravs de transaes efetivas
realizadas por eles. So ideias para valorar recursos que so utilizados ou consumidos durante
a produo de um outro bem privado. Por conta disso, esse tipo de mtodo consegue captar
apenas os valores de uso direto e indireto dos recursos. J os mtodos de preferncia
declarada so aqueles em que os indivduos declaram suas preferncias em questionrios
simulando mercados hipotticos. Seriam os mtodos baseados em pesquisas de campo, por
exemplo. Por captar as preferncias dos indivduos de forma direta, esses mtodos so
capazes de captar os valores de opo e no-existncia dos recursos.
Existe ainda tambm a classificao feita por Seroa da Mo