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ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 1308 VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA E METAMORFOSES NA REPRODUÇÃO CULTURAL NO BAIRRO PATRIMÔNIO EM UBERLÂNDIA-MG Carlos Roberto Bernardes de Souza Júnior [email protected] Graduação em Geografia - Universidade Federal de Uberlândia Jéssica Soares de Freitas [email protected] Graduação em Geografia - Universidade Federal de Uberlândia Resumo A cultura se movimenta, se metamorfoseia e age de acordo com cada sujeito. Nos espaços urbanos o tradicional está cada vez mais apagado pelas novidades proporcionadas pela globalização. O bairro Patrimônio localizado na cidade de Uberlândia estado de Minas Gerais está inserido nesse contexto. Bairro excluído em outrora se torna alvo de construtoras sedentas por prédios cada vez mais altos e menos populares. Dessa forma, seus moradores acabam por vender suas casas já que não conseguem mais se sustentar naquele espaço. Contudo, por meio da festa, especificamente o carnaval, os vínculos com o bairro permanece e se fortalece. Neste trabalho mostraremos como se dá esta dinâmica territorial e como os sujeitos fazem para continuarem conectados ao seu lugar que lhe é de direito. Abstract Culture is a moving thing, it metamorphoses itself and acts according to each subject. In the urban spaces the tradition is being evermore erased by the novelties occasioned by the globalization. Patrimônios neighborhood in Uberlandia City in Minas Gerais is inserted in this context. An once excluded neighborhood, now it is a prime place for the investments of the civil industry, which is working towards tall buildings for the middle class. This way, its residents sell their home seeing that they cant sustain themselves where they lived for a long time. However, by the meanings of the festivity, specifically the Carnival, the bonds between place and subject are not only preserved, but fortified. In this paper we try to show how the territorial dynamic is and how the subjects find ways to continue connect to the place that is in their right. Palavras-Chaves: Bairro Patrimônio; Lugar; Globalização; Festa. Keywords: Patrimônios Neighborhood; Place; Globalization; Festivity. Eixo 8: Geografia Urbana INTRODUÇÃO A cultura é algo que se constrói de geração a geração, sendo um processo que está sempre em movimento, assim como a realidade, portanto nunca será possível

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VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA E METAMORFOSES NA

REPRODUÇÃO CULTURAL NO BAIRRO PATRIMÔNIO EM

UBERLÂNDIA-MG

Carlos Roberto Bernardes de Souza Júnior [email protected]

Graduação em Geografia - Universidade Federal de Uberlândia

Jéssica Soares de Freitas [email protected]

Graduação em Geografia - Universidade Federal de Uberlândia

Resumo

A cultura se movimenta, se metamorfoseia e age de acordo com cada sujeito. Nos espaços urbanos o tradicional está cada vez mais apagado pelas novidades proporcionadas pela globalização. O bairro Patrimônio localizado na cidade de Uberlândia estado de Minas Gerais está inserido nesse contexto. Bairro excluído em outrora se torna alvo de construtoras sedentas por prédios cada vez mais altos e menos populares. Dessa forma, seus moradores acabam por vender suas casas já que não conseguem mais se sustentar naquele espaço. Contudo, por meio da festa, especificamente o carnaval, os vínculos com o bairro permanece e se fortalece. Neste trabalho mostraremos como se dá esta dinâmica territorial e como os sujeitos fazem para continuarem conectados ao seu lugar que lhe é de direito.

Abstract

Culture is a moving thing, it metamorphoses itself and acts according to each subject. In the urban spaces the tradition is being evermore erased by the novelties occasioned by the globalization. Patrimônio’s neighborhood in Uberlandia City in Minas Gerais is inserted in this context. An once excluded neighborhood, now it is a prime place for the investments of the civil industry, which is working towards tall buildings for the middle class. This way, it’s residents sell their home seeing that they can’t sustain themselves where they lived for a long time. However, by the meanings of the festivity, specifically the Carnival, the bonds between place and subject are not only preserved, but fortified. In this paper we try to show how the territorial dynamic is and how the subjects find ways to continue connect to the

place that is in their right.

Palavras-Chaves: Bairro Patrimônio; Lugar; Globalização; Festa.

Keywords: Patrimônio’s Neighborhood; Place; Globalization; Festivity.

Eixo 8: Geografia Urbana

INTRODUÇÃO

A cultura é algo que se constrói de geração a geração, sendo um processo que

está sempre em movimento, assim como a realidade, portanto nunca será possível

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entender a cultura como o todo, tudo o que podemos fazer é entender a sua

perspectiva em um determinado espaço-tempo. Em nosso trabalho abordaremos a

Escola de Samba Tabajara e o bairro Patrimônio visando o período do início do ano de

2013, com um enfoque na época do Carnaval. Contudo é necessário lembrar que eles

não chegaram em 2013 “do nada”, houve uma construção histórica que os trouxe ao

presente, desta forma, tentaremos também entender os processos que levaram a sua

constituição, partindo sempre dos sujeitos da pesquisa, sendo estes tanto os

habitantes do bairro quanto os pesquisadores.

Tentamos neste trabalho nos situar em um ponto da realidade e analisar as

perspectivas culturais da Escola de Samba Tabajara e do bairro Patrimônio em seu

movimento, buscando sempre entender suas manifestações e reproduções dentro das

visões de mundo dos sujeitos. A construção deste espaço se dá primordialmente para

funcionar uma espécie de “depósito de negros”, destinados àqueles que trabalhavam

nas casas de brancos, no Bairro Fundinho, já que eles não podiam se misturar com

seus “sujeitados”.

Dessa forma, o bairro formado por negros recebia pouca ou nenhuma atenção

do governo da cidade, deixando-o de lado e completamente excluído, com apenas

aquilo que não poderia ser colocado no restante da cidade. O frigorífico “Omega”,

símbolo do bairro teve sua existência declarada do início do séc. XX ao fim dos

mesmo, com a chegada do Praia Clube, clube este destinado primordialmente para a

classe média.

Com o fluxo maior de pessoas de alta renda o bairro chamou a atenção de

diversas construtoras, que viram ali uma fonte para construção de prédios seja de

quantos andares for, destinados para pessoas mais abastadas. No entanto, aqueles

que criaram o bairro, fizeram dele seu lugar, com suas danças e cantares se viram

cercados por altas e caras construções de concreto.

Entendemos que os sujeitos não só veem o mundo pelos olhos de suas

culturas, mas o analisam e percebem o que encaram como verdade ou não por meio

de suas tradições, por isso decidimos que tomar o sujeito como ponto de partida seria

o caminho metodológico mais razoável para entender as transformações recentes na

Escola de Samba Tabajara e no bairro Patrimônio. A história é, na nossa visão, uma

sucessão de cotidianos e, por esse motivo, encaramos que precisamos compreender

os costumes, tradições e as culturas pelos olhos dos sujeitos que vivem esse

cotidiano, encarando-os dentro de suas complexidades e alienações, tentando

capturar toda sua densidade no movimento da realidade, fazendo esforços para dar

voz aqueles que não foram ouvidos e procurando entender o que está por trás de seus

discursos.

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REFERENCIAL TEÓRICO

Segundo Willians o termo “Cultura” era utilizado para designar “o crescimento e

o cuidado das colheitas e animais, e, por extensão, o crescimento e o cuidado das

faculdades humanas” (WILLIANS, 1979, p.18), a partir desta reflexão do autor sobre o

termo, podemos perceber que o conceito atual não foge tanto da ideia original, pois

encaramos que a cultura é algo a ser tratado e carregado pelos sujeitos, algo

intrínseco a sua existência, que cresce com a tradição e a sua reprodução,

transmitindo valores humanos. Este conceito se desenvolveu e tomou um sentido

social ao longo do tempo, se transformando em algo mais próximo do que temos hoje,

um dos fatores essenciais para seu desenvolvimento foi a valorização, durante o

século das luzes, das “artes” e a evolução da intimidade dos sujeitos (WILLIANS,

1979).

Indo para algo que se aproxima mais das nossas leituras cotidianas, vemos no

dicionário Soares Amora: “cul.tu.ra sf 1. Ação, arte, modo ou efeito de cultivar; 2.

Lavoura; 3. Criação de certos animais; 4. Biol método para obter a multiplicação de

germes microbianos para estudo; 5. Fig estudo; 6. Instrução, saber; 7. Apuro,

perfeição.” (AMORA, 2000, p.187). Há aqui uma continuação deste sentido “rural” de

Cultura, portanto é possível percebermos que, mesmo com o passar de todos estes

anos desde o século das luzes, a palavra apenas ganhou novos significados, não

perdeu sua significação originária.

Neste verbete podemos perceber, principalmente nos significados 6 e 7, uma

certa simbologia da palavra em torno do sentido cultura como erudito, ou seja, o

verbete aliena o leitor a pensar que a cultura é algo exclusivo da “elite da elite” de

nossa sociedade. Situação que, a nosso ver, é assustadora, pois, como visto em

“1984” de George Orwell (1998), a língua trás consigo um poder alienante, quem

controla a língua controla o poder, quando se fala ou se pensa em uma palavra, vários

significados e sentimentos passam pela mente do sujeito, portanto se o termo diz uma

coisa, ele implica em muitas mais; no caso deste verbete de cultura ele aliena o leitor a

pensar que a única cultura é a erudita, como se não existisse uma cultura popular.

Entretanto, o que vemos em nossos estudos e em nosso cotidiano é

justamente o contrário, a cultura existe tanto em um âmbito popular quanto erudito,

sendo o erudito uma versão “diluída” do que se reproduz na realidade do popular.

Entendemos a cultura como as práticas e rituais cotidianos de um grupo, desde

escovar os dentes a soltar foguetes porque seu time ganhou aquele jogo de futebol,

junto com toda a simbologia que esta reprodução de valores humanos trás.

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Entendemos também que a cultura, em toda a sua amplitude (seja ela popular

ou erudita), é um dos fatores que move a história dos homens, influenciando suas

ações e modos de pensar, sendo uma das principais fontes de conflitos e

metamorfoses, por isso pensamos que é de suma importância o seu estudo e sua

reflexão. Também é limitante falar em cultura, achamos que é mais relevante e

abrangente falarmos em culturas, já que a cultura é algo que se constrói, como visto

em Claval (2001), por meio da experiência, considerando que cada sujeito é único em

sua visão e perspectiva da realidade. Podemos inferir que as culturas são tão diversas

quanto são diversos os sujeitos, levando em conta que vivemos em um mundo com

mais de sete bilhões de pessoas, é muita diversidade!

Tendo isso em mente, também é importante lembrarmos que as culturas são

heterogêneas, mas não há uma hierarquia entre elas, não existe uma cultura superior

ou inferior, não existe uma tradição ou um rito mais “evoluído” que qualquer outro. É

essencial percebermos que essas reproduções culturais não estão estáticas no tempo,

elas estão em um constante movimento, sendo metamorfoseadas pelas forças

externas e alterando o seu meio.

A cultura se manifesta também nos sentimentos de pertencimento e identidade

dos sujeitos, podendo ser esta uma identidade nacional, municipal, racial ou outra

qualquer, muitas vezes sendo associada com o lugar, criando um elo ainda mais forte

do sujeito com o ambiente, este é um dos motivos de sua abordagem ser necessária

ao âmbito dos estudos geográficos. Se torna importante, também, sublinhar que a

cultura é parte integral da condição humana, movendo os homens através das eras e

dos séculos e é no dialogo e na metamorfose destas culturas que se fazem as

grandes mudanças no modo de pensar, ser e existir.

Quando pensamos em tradição logo nos vem à cabeça ideias de valores

humanos que se reproduziram ao longo de séculos ou, ao menos, décadas, atos do

cotidiano e rituais que se provaram tão consistentes que continuamos a viver em torno

deles, então o tradicional seria aquelas reproduções culturais mais antigas dos povos?

Na realidade as coisas são mais complicadas que isso. Se levarmos em consideração

a obra de Hobsbawm (HOBSBAWM & RANGER, 1983) esta concepção apresentado

agora a pouco se caracteriza como o costume, sendo tradição a ritualística e as

práticas formais que permeiam o costume, portanto a tradição está diretamente ligada

ao costume, mas não tem uma ligação tão forte assim com o tempo.

Ainda na obra de Hobsbawm (HOBSBAWM & RANGER, 1983), afirma-se que

a tradição é criada na formalização e ritualização por meio da repetição, sendo

normalmente referenciada no passado. Sendo assim, podemos ir ainda mais além e,

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como Giddens (2002), preferimos afirmar que não existem tradições “tradicionais”, ou

tudo é tradicional ou tudo é novo.

Todas as tradições são inventadas e reinventadas constantemente para se

adequar ao mundo e a realidade que estão em constante movimento, ou seja,

podemos afirmar, por exemplo, que o carnaval do ano passado não é o carnaval

desse ano, mesmo sendo uma tradição. Percebemos ao longo de nossas pesquisas

bibliográficas e empíricas que o novo é construído através de desconstruções e

reconstruções do passado, portanto o novo é apenas uma reinvenção do que já existe,

assim, seguindo nesse nosso devaneio, o novo não existe, apenas o “tradicional”

existe. Entretanto esse “tradicional”, estes costumes, não são genuinamente antigos,

eles são constantemente renovados, logo temos que classifica-los como “novos”, mas,

como afirmamos anteriormente, não existe o novo, sendo, portanto uma relação

paradoxal.

Por mais que nos pareça estranho, de acordo com Giddens (2002), o próprio

termo “tradição” também é uma invenção moderna, a palavra só aparece no século

das Luzes e vem para criticar os povos que os iluministas consideravam inferiores, ou

seja, o termo “tradição” tem sua gênese em torno daquilo que era classificado como

dogmático ou ignorante. Encaramos como algo de uma ironia incrível da parte dos

iluministas chamar os povos “tradicionais” de dogmáticos, sendo que eles mesmos, no

processo de tentarem racionalizar sua visão de mundo estavam a criar dogmas que

viriam a reger a ciência até os dias atuais.

Vemos assim, novamente, uma alienação na raiz do termo, mostrando uma

utilização do discurso para se garantirem no poder, ou seja, utilizavam de recursos de

exclusão, assim como vistos em Foucault (2012), sendo mais especifico, abusavam da

rejeição, tratavam os “tradicionais” da mesma forma como loucos, porém com um ar

de superioridade e “piedade”, se escondendo atrás de seus racionalismos faziam o

que bem entendiam com estes “tradicionais”.

Voltando ao conceito de tradição como a forma que os sujeitos encontram para

reproduzir suas práticas formais e ritualísticas, chegamos ao mesmo problema que

Hobsbawn (HOBSBAWN & RANGER, 1983), então seriamos nós obrigados a encarar

a burocracia, por exemplo, como uma tradição dos nossos tempos? É claro que sim!

Portanto, por mais que tentemos afirmar que existem sociedades com tradições

intocadas e antigas nunca chegaremos a lugar algum, pois no conjunto da realidade

nada é imune ao tempo.

Assim como afirmamos anteriormente, as tradições são essa amalgama de

invenções e reinvenções, de adaptações e resistências dos costumes a passagem do

tempo. A nosso ver, se todas as tradições fossem realmente estáticas, como alguns

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preferem pensar, o mundo seria um lugar muito mais desinteressante, não teríamos a

quantidade de diferenças que temos hoje.

Desta maneira, encaramos que a tradição se define na perpetuação dos rituais

e na repetição, sempre se renovando de acordo com as mudanças nas condições

externas e internas. Logo, é insuficiente a utilização do termo tradicional para

representar o antigo, falar que algo é tradicional, a nosso ver, significa que este “algo”

reproduz rituais e se repete independente de há quanto tempo e não necessariamente

da mesma forma, sendo uma força que se diferencia pela instituição de algo que se

aproxima de uma espécie de verdade. É na tradição que se dão os modos de vida,

portanto, é na tradição que se faz a sociedade, sem tradição não há a possibilidade de

existir uma sociedade, por mais que ela mude, talvez até sua função não seja mais a

mesma, mas ela estará sempre no centro do convívio social humano.

A tradição é o que determina o passado e o passado é o que determina o

presente, então, como visto em “1984” (ORWELL, 1998), quem controla a tradição

controla o passado, quem controla o passado controla o futuro e quem controla o

presente contra o passado, portanto é necessário tomar cuidado com a forma como

abordamos o “tradicional”. Por mais que tentemos nos manter neutros, somos sempre

sujeitos da pesquisa e, portanto, somos parciais e temos nossas próprias alienações,

as quais ditam nossas tendências dentro da pesquisa.

A tradição não é intrinsecamente benéfica ou maléfica, ela simplesmente faz

parte do conjunto realidade e, assim como a cultura, faz parte, ao menos para os

autores deste, da condição humana, sendo essencial para a reprodução dos valores

humanos. Logo para a cultura e o conhecimento, além disso, é na tradição que o

sujeito vai construir a sua identidade, já que, como dito anteriormente, é nela que a

cultura irá se reproduzir.

FESTA E METAMORFOSE NO BAIRRO PATRIMÔNIO

A festa, assim como pudemos ver em Santos (2008), entre outras coisas, serve

para o enfrentamento das dificuldades do dia-a-dia, a superação das carências, sendo

uma criação intimamente necessária para a reprodução de seus valores humanos,

auxiliando na passagem da cultura entre as gerações. A festa reúne o lúdico com o

costume, mostrando que os homens não são apenas construtos alienados que

passam seu tempo sendo explorados pelo capital, que eles têm gostos, se divertem e

dividem experiências.

É na festa que os sujeitos da comunidade se reúnem e dividem seus saberes,

suas formas de encarar a realidade e de enfrentar as dificuldades cotidianas, assim, a

festa não é apenas uma reprodução dos prazeres, é uma forma de transmissão de

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cultura e da manifestação dos costumes. Em sociedades com costumes mais

enraizados e que se repetem há muito tempo com certa constância, é comum que

certos sujeitos vivam em função da festa, ou seja, a festa dá significado a vida deles,

eles passam o ano todo a planeja-la e esperam ansiosamente pelo momento de

materializa-la.

Muitas vezes o importante não é a festa em si, mas, como constatamos em

campo, a preparação dela, as reuniões e a movimentação no lugar, os momentos

onde a comunidade está reunida se ajudando. A festa reforça os laços da comunidade

dos sujeitos que habitam o lugar, criando entre eles a necessidade de terem uma

relação harmônica, pois sem uma vizinhança unida, a festa não tem possibilidades de

ser concluída. Assim, verificamos que, mesmo depois que a festa termina, ela não

morre, ela continua viva na comunidade por meio de seu planejamento meticuloso,

como vimos em uma das nossas entrevistas “[...] Assim que terminou a quaresma no

dia oito de Abril [...] No dia nove nós fizemos uma primeira reunião, isso para discutir o

enredo de 2013, isso foi em Abril, as pessoas não imaginam que temos tanta

organização aqui, quando foi em julho nós já tínhamos o enredo pronto [...].”(Entrevista

coletada em campo no dia 26/03/2013), deste modo, a festa se constitui como uma

razão para a existência desses sujeitos.

Encontramos na festa, por ser um momento de reunião da comunidade e de

reprodução dos valores humanos e dos costumes, uma forma de entender melhor as

relações que permeiam o lugar patrimônio, essa manifestação já se repete a décadas

no bairro, mas não é o mesmo carnaval da época da fundação da escola, ele se

transformou com o tempo, abrigando pessoas que não são do bairro, mas que se

identificam com a comunidade e que chegam a adotar o bairro como seu lugar.

Verificamos isso claramente na composição atual da diretoria, onde vários dos

integrantes são “agentes externos”, ou seja, pessoas que não nasceram e cresceram

na Escola de Samba Tabajara, mas entraram em contato com ela em algum momento

de suas vidas e se apaixonaram pelos seus costumes e pela tradição deste povo.

É na festa que os sujeitos se estabelecem socialmente, é nela que surgem as

paixões, as intrigas, os acordos e reconciliações, na amplitude da festa a comunidade

se metamorfoseia constantemente, renovando as tradições. Sem a festa não haveriam

as mesmas vivências e valores, os sujeitos não conseguiriam se afirmar como

membros de um grupo, portanto, sem ela não há uma cultura.

É importante também diferenciarmos a festa do espetáculo, a festa trás consigo

toda esta reprodução de valores humanos e de metamorfoses para os sujeitos, já o

espetáculo é uma versão diluída e capitalizada da festa, onde não há mais uma

preocupação com a reprodução cultural, se procura apenas se vender o lazer. Os

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sujeitos ficam no espetáculo em uma situação passiva, estão lá se divertindo, mas

pouco tem a ver com produção dele, ao contrário do que ocorre com a festa, nela eles

tem a possibilidade de participar ativamente em todas as partes de sua construção e a

conclusão dela é só uma consequência de seus múltiplos esforços.

A partir da festa pudemos ver as maneiras encontradas pelos indivíduos para

continuarem seus laços de amizade e pertencimento para com o bairro e a

comunidade do Patrimônio. Portanto, encaramos que a análise da festa é essencial

para os estudos da geografia cultural, pois nela podemos verificar claramente as

sensações de pertencimento e as perspectivas do lugar para os sujeitos, assim,

vemos na festa uma forma de “sentir” o lugar, sendo desta forma um meio para

tomarmos o sujeito como ponto de partida para nossa pesquisa.

Considerando essas análises, vemos que a festa é tão essencial para os

sujeitos quanto os sujeitos são essenciais para a festa, assim, verificamos que o

sujeito participa da festa e a constrói, a festa reproduz seus valores humanos e

transmite os costumes dos povos para as próximas gerações, portanto são

interdependentes. Encaramos, desta forma, que a vida dos sujeitos se manifesta no

lugar, se reproduz nas tradições e se transmite na festa, sendo esta uma das forças

que movem a realidade.

No analisar das entrevistas e das nossas anotações realizadas em campo,

pudemos verificar as alterações que o processo valoração imobiliária realizou sobre o

lugar e, por consequência, a forma como se realizou sobre os sujeitos. Para os

sujeitos, o patrimônio e a Escola de Samba Tabajara são a vida deles, e nestes

ambientes sobrepostos que reproduzem seus valores humanos e tomam referências

para suas decisões.

Para os sujeitos de nossa pesquisa, o bairro ultrapassa as barreiras do físico e

se encarna como uma ideia, o Patrimônio é um centro de significações único na

cidade de Uberlândia, um ponto de gênese cultural para cidade, a resistência da força

negra na cidade, “tudo que é de bom em Uberlândia nasce no patrimônio” (Entrevista

coletada em campo no dia 30/01/2013), eles se orgulham de ser do bairro. Entretanto,

vemos uma situação de confronto quando, através dos processos globalizantes

chegam novos moradores no bairro, os quais vem de um ambiente diferente e

possuem uma carga sociocultural diferente, muitos deles não entendem as

manifestações e festas dos moradores mais antigos do bairro e os desrespeitam.

Esses novos moradores, por possuírem uma situação social melhor, sendo

muitos pessoas influentes na sociedade, abusam destas suas posições para maltratar

os sujeitos que têm os seus costumes pautados no bairro, limitando a duração das

festas, as quais antes duravam a noite toda e agora tem que acabar até as dez horas,

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no máximo meia noite, a própria Escola de Samba Tabajara se viu obrigada a parar de

fazer seus ensaios nas ruas do bairro e foi obrigada a encontrar um lugar e arranjar

aparatos legais para protegê-la, buscando formas de convivência em meio a estes

confrontos culturais. O problema é que estes novos moradores não entendem e,

sequer buscam entender, as práticas dos que já tem seus costumes e enraizamentos

no bairro, gerando uma briga por conta de ignorância, talvez seja necessário um

processo de conscientização destas pessoas, pois, aos olhos dos sujeitos desta

pesquisa, eles pensam que os mais antigos do bairro são todos usuários de drogas

e/ou envolvidos com atividades ilegais só porque tem uma situação social menos

favorecida.

Assim, o que vemos é um conflito não só cultural, mas socioeconômico com

desdobramentos políticos. Os moradores novos, que vieram com a especulação

imobiliária para o patrimônio não entendem as práticas culturais dos moradores mais

antigos por não terem o mesmo sentimento de pertencimento e não terem capacidade

ou interesse de analisar os símbolos destes sujeitos porque tem preconceito, assim,

não se preocupam em preservar estas práticas culturais que permeiam o bairro e, por

ter mais influência, fazem com que o governo municipal ignore os gritos de apelo de

parte da população que tem seu enraizamento neste lugar.

Este conflito se evidencia claramente na juventude do bairro, os jovens sócios

do Praia Clube, de situação financeira mais confortável, em seu caminho para o clube,

com raquetes de tênis, sapatos caros e roupas de marcas são, muitas vezes,

roubados pelos jovens que já moravam a mais tempo no Patrimônio, isto se deve ao

fato que eles tem raiva dos “meninos do praia”, eles veem claramente as diferenças

sociais e se perguntam por que aqueles garotos podem ter tudo aquilo e eles tão

pouco? Por que eles entram no clube que está no meu bairro há tanto tempo e eu

não? Estas perguntas geram um desconforto e, na hora que eles veem estes jovens

sócios indo para o clube, eles enxergam uma oportunidade de “vingança”, entretanto,

ao perpetuar o crime eles aprofundam ainda mais o conflito e fazem com que os novos

moradores desejem que os antigos realmente sejam expulsos, pois pensam que sem

os moradores “tradicionais” do bairro, a violência diminuiria. O próprio clube já tomou

nota desta situação e decidiu que, para tentar apaziguar a situação para os seus

sócios e diminuir a violência, a solução seria a criação de projetos para ajudar a

comunidade que já está presente no bairro há mais tempo, começando com as

crianças.

Estes sujeitos sofrem historicamente com a questão do preconceito,

constatamos em campo que era no bairro Patrimônio que moravam os trabalhadores

da população negra e indígena da cidade de Uberlândia, lá eles foram segregados e

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simplesmente jogados em meio a uma terra doada por um fazendeiro para a Igreja,

mesmo assim, demonstraram raça e força ao continuarem a reproduzir seus

costumes, festas e tradições, se tornando agentes culturais proeminentes na cidade,

entretanto não eram reconhecidos como tais por serem vistos como seres inferiores,

eles eram apenas a mão de obra dos habitantes do bairro Fundinho. Esperar-se-ia que

hoje a situação haveria de ter mudado, que estes sujeitos estariam a ser

reconhecidos, entretanto, por mais que a situação tenha melhorado, eles ainda não

têm o respeito que tanto merecem, será que esperaremos o bairro morrer para

garantirmos a ele e aos seus habitantes a “honra” de serem aceitos como os grandes

reprodutores da cultura popular de Uberlândia?

Com o desaparecimento da personalidade do bairro, muitos de seus moradores

começam a perder seu norte e a não verem mais sentido em continuarem lá, já que

vários dos seus amigos que estavam lá já foram embora ou morreram, seu lugar

começa a tornar uma forma idealizada, mais metafísica, seus encontros com ele

passam a se tornar menos frequentes e pode chegar um momento onde ele pare de o

frequentar, que o lugar pare de ter sentido em sua vida, que a simbologia já não se

entrelace com suas vivências. E é ai que a Escola de Samba Tabajara, como uma

manifestação da festa, entra, ela faz com que o convívio tenha frequência, criando um

lugar dentro do lugar e dando um sentido para a vida dos sujeitos que perderam o

contato direto com o lugar bairro Patrimônio, ou seja, nasce um novo lugar de

manifestação metafísica.

É importante ressaltar que a Escola de Samba Tabajara não tem um espaço

físico no bairro Patrimônio, ela usa um espaço emprestado por alguns membros que é

o Terreirão do Samba, o qual é usado para várias outras festas do bairro, o que o

torna, por si só, um lugar. Os integrantes da escola realmente lamentam a falta deste,

pois possibilitaria que ela atingisse a comunidade de forma mais direta, propiciando a

criação de projetos e, talvez, criando até empregos, exercendo uma função social e

tirando as crianças das ruas, que é o que o Tabinha tenta fazer, é uma bateria da

escola de samba formada pelos jovens da comunidade, buscando ensina-los algo,

ocupar o tempo deles fora da escola, ensinar princípios morais e reproduzir a cultura

da comunidade.

Por mais contraditório que possa parecer, foi também por conta de agentes

externos que a tabajara se reinventou e passou por um processo de metamorfose nos

tempos recentes, ela passou mais de uma década sem ganhar sequer um título de

vice-campeã e foi somente quando uma nova diretoria, composta por vários membros

que não eram das famílias fundadoras da escola, mas de membros que entraram na

escola por terem se apaixonado por ela em algum momento de suas vidas assumiram

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que começou a atual onda de vitórias. Essa nova diretoria tem a preocupação em

expandir a Escola de Samba Tabajara e renovar os horizontes do carnaval de

Uberlândia, respeitando toda a história desta “senhora” escola que já está quase

completando seus sessenta anos, ou seja, por mais que tenham seus conflitos,

existem novas forças entrando em jogo para fortalecer a festa e a tradição, esses

sujeitos também mostram que você não precisa nascer em um determinado local para

tê-lo como seu, tudo que precisa é estar em sintonia o bastante e ter amor por ele,

reproduzindo sentimentos de pertencimento e respeito por ele, tomando-o como

referência nas suas relações e o levando em consideração no sentido de sua vida.

Vemos nos sujeitos que, apesar de tudo, eles gostam da visualização que o

bairro tem ganhado recentemente devido justamente a especulação imobiliária que

tem minado suas práticas de reprodução cultural, demonstrando seu forte sentimento

de apego ao lugar, mostrando o orgulho que eles sentem por pertencer a ele. Já os

novos moradores, parecem sentir vergonha em falar que moram no Patrimônio,

usando de outros nomes para se referir ao local onde moram, como, por exemplo,

Morada da Colina ou Copacabana, evidenciando que realmente não entendem ou tem

interesse de entender alguma lógica diferente da do capital.

CONSIDERAÇÕES

Ao longo deste, pudemos verificar a forma como o processo da globalização se

reproduz em um lugar próximo a nossa realidade, fazendo um estudo de um caso

especifico, partindo dos sujeitos e tentando os compreender em toda sua

subjetividade, procurando perceber suas contradições e sentimentos dentro da

perspectiva do lugar usando como ponto de referência o carnaval da Escola de Samba

Tabajara, sua festa. Percebemos que estes sujeitos têm carências e enfrentam

problemas devido à especulação imobiliária no seu lugar, roubando-lhes o espaço de

reprodução dos seus costumes e de sua cultura.

Verificamos empiricamente que estes sujeitos apresentam resistências e que

elas se manifestam principalmente na festa, pois reúne todos os sujeitos do lugar,

unindo-os e criando um sentido para suas vidas. Os sujeitos vibram com o samba

enredo, estremecem com a agonia da espera para a contagem de pontos e

comemoram a vitória em comunidade, a festa fortalece seus laços e os ajudam a

superar suas dificuldades. A festa surge em meio às dificuldades como uma luz no fim

do túnel, uma oportunidade de reunião com os que estão longe fisicamente, mas que

no coração ainda estão juntos no lugar, na união conseguem superar as dificuldades

do dia-a-dia e se metamorfosear junto com a festa e a tradição em meio à

globalização.

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Vimos com isso que não existe a possibilidade do tradicional se manter intacto

por muito tempo no mundo contemporâneo, pois os processos globalizantes aceleram

os tempos e os modos de vida, fazem com que as metamorfoses ocorram em

velocidades cada vez maiores e possibilita uma quantidade maior de conflitos e

contatos com outros modos de ver o mundo, com outras culturas. Entendemos que é

nesse contato que o tradicional se renova, se reinventando ou fazendo surgir o novo,

entretanto o novo nada mais é do que uma reinvenção do “tradicional”, portanto,

verificamos a existência do “Paradoxo do Tradicional”.

Também pudemos ver que o carnaval tenta ser um espaço democrático, que

aceita qualquer um, seja esse sujeito da cor, classe social ou gênero que for, todos

tem um espaço na festa. Acreditamos que é através de reproduções culturais como

esta que podemos vislumbrar uma futura “democratização” da democracia, visando

dar voz a todos. A nossa própria prefeitura tem muito a aprender com práticas como

esta, como vimos na situação dos mapas e da delimitação dos limites dos bairros, ela

poderia dar mais voz aos sujeitos, afinal, seu papel é governar nos representando.

É no contato com o mundo que o lugar se metamorfoseia, transformando, por

consequência seus sujeitos e sua festa, seus costumes e tradições mudam, há

perdas, porém também existem ganhos, o que já se reproduzia há tempos e sobrevive

as mudanças se fortalece e garante que os sujeitos possam continuar a reproduzir sua

cultura. Acreditamos que, talvez, no futuro, o lugar Escola de Samba Tabajara deixe

de estar dentro do lugar Patrimônio e o Patrimônio passe a estar dentro da Escola de

Samba Tabajara. Assim, mesmo que o bairro Patrimônio venha a desaparecer um dia

do mapa de Uberlândia, ele sempre vai continuar vivo no coração e na memória dos

foliões da Escola de Samba Tabajara.

Percebemos através de nossas análises e incursões ao campo, que o que

ainda mantém o bairro unido, que oferece resistência as forças globalizantes é a

Escola de Samba Tabajara, onde os sujeitos encontram formas de tentar continuar a

reproduzir seus costumes, valores e tradições mesmo morando em outros bairros.

Podemos ver a força do lugar para os sujeitos, por mais que eles já não morem mais

nele os laços afetivos e sociais não se desfazem.

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