Vantagens e Desvantagens da História para a Vida · conhecem ainda, o porvir. É preciso,...

1Advantages and Disadvantages of History for LifeFórum Eugénio de Almeida

Exposição / Exhibition 24.09.16 – 08.01.17

Vantagens e Desvantagens

da História para a Vida

Advantages and Disadvantages of History for Life

2 Vantagens e Desvantagens da História para a Vida

“O homem que é incapaz de se sentar no limiar do instante esquecendo todos os acontecimentos passados, aquele que não pode, sem vertigem e sem medo, pôr-se de pé um instante, como uma vitória, jamais saberá o que é uma felicidade e, o que é pior, nunca fará nada para dar felicidade aos outros.”

—Friedrich Nietzsche

A História é a grande Mestra da Humanidade: devíamos aprender com ela para não repetir os erros, corrigi-los, melhorar; o conhecimento do passado, o património, a memória colectiva e pessoal, são fundamentais para compreendermos a identidade de um povo ou de uma pessoa; é necessário pesquisar a tradição para podermos resgatar o que ficou esquecido e que, por tão antigo, é, hoje, novo - na história há muitas promessas por cumprir; o ponto de vista histórico permite relativizar o presente, habitualmente exagerado, para o bem ou para o mal, e também pôr em causa falsas idades de ouro ou paraísos prometidos. No entanto, é preciso cuidado para não tornar o sentido da história uma “virtude hipertrofiada”, como bem explicou Nietzsche, em 1872, na Segunda consideração intempestiva - de onde adaptámos o título para esta exposição-ensaio, e que introduz uma dúvida no estado de coisas habituais, um desacerto que é também um programa-manifesto: porquê desvantagens?

Temos que evitar a “doença histórica” que não estimula a vida; o conhecimento meramente artificioso do passado que paralisa a acção. Neste sentido, o passado pode ser um fardo - e o tempo, um peso que recorda, permanentemente, que somos mortais. É preciso dominar o tempo e aprender a esquecer para experimentar a alegria do presente, como uma criança que brinca e para quem nada mais tem importância: “toda a acção exige o esquecimento - escreveu Nietzsche -, do mesmo modo que toda a vida orgânica exige não somente a luz, mas também a obscuridade”.

3Advantages and Disadvantages of History for Life

Se a história aponta para o já existente, o cânon seguro; se diz que a grandeza já existiu e é só preciso vê-la no passado; os criadores, os fundadores, os inquietos, aqueles que na verdade fazem a história, são os que não olham apenas para trás, mas agem e cuidam daquilo que está a nascer. Se viram os seus olhos para o passado é para que esse solo os sustente no salto para o que não conhecem ainda, o porvir. É preciso, lembrando os ensinamento evangélicos, deixar que “os mortos enterrem os seus mortos” (Lc 9, 60), porque aquele que pega no arado não pode ficar a olhar para trás. Não basta repetir o já feito, acomodar-se ao já conhecido e à herança recebida: é preciso tornar o passado em terreno fecundo de novidade. A história é preciosa, conhece-la é fundamental, mas tem de estar ao serviço da vida, do presente. Aqui e agora é sempre o instante decisivo.

Nesta exposição-ensaio, na Primeira Parte focamos a atenção na nossa condição histórica: no tempo que somos; no peso da história e da imensidão dos seus vestígios fragmentados; na perda e ausência a que dá origem. Na Segunda Parte, reflectimos sobre o instante que exige a nossa participação activa: a importância do esquecimento para que algo de novo surja, e os perigos, as surpresas e promessas do nascimento.

Partindo do património de Évora e da região, com obras e objectos das colecções públicas e privadas da cidade, muitos deles nunca expostos ou guardados nas reservas, outros considerados sem importância ou menores, cruzando-os com obras de arte contemporâneas, algumas realizadas propositadamente para esta exposição, propomos um ensaio sobre a nossa relação com a história, ou melhor, com a vida na sua plasticidade.

Paulo Pires do Vale / Curador

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“He who cannot sink down on the threshold of the moment and forget all the past, who cannot stand balanced like a goddess of victory without growing dizzy and afraid, will never know what happiness is — worse, he will never do anything to make others happy.”

—Friedrich Nietzsche

History is the Great Master of Humankind. One must learn from the past, not repeating its mistakes, correcting, improving on them — and reclaim its successes. Knowing one’s past and heritage, our collective and personal memories, is essential to creation and to the understanding of the identity of a person or a people. We must explore and investigate tradition in order to reclaim what has been forgotten and, because it is so old, appears as new today —many are the unfulfilled promises of history. An historical perspective allows us to relativize our present woes, which are often exaggerated. Be it used for good or evil, history offers us a different set of lenses through which we can observe our times, question false golden ages or promised paradises. Notwithstanding, one must be careful not to transform one’s sense of history into an “hypertrophied virtue”, as Nietzsche so wisely explained in the second of his Untimely Meditations, and whose title we adapted for this exhibition-essay. This title introduces a doubt in our usual state of affairs, a mismatch that is also a program and a manifest: disadvantages, why?

One must avoid the “malady of history”, which does not favor life; a merely skillful knowledge of the past stops all action in its tracks. In this sense, the past can be a burden — and time, a weight that continually reminds us of our own mortality. We have to control time and learn to forget the past in order to enjoy the present, like a child playing, for whom there is nothing of importance, but the play itself. As Nietzsche has put it: “Forgetting is essential to action of


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any kind, just as not only light but darkness too is essential for the life of everything organic.”

If history points towards what already exists, towards the safe canon; if it tells us that greatness was once real and that one must only look into the past in order to see it; the creators, the founders, the restless, those who truly make history are those who do not look back, but act and care for what is being born. If they ever turn their gaze into the past, they do so in order to use it as the ground they leap on towards the unknown, in the direction of what is to come. Remembering the teachings of the gospels, we need to “Let the dead bury their own dead” (Luke 9:60), because the one handling the plow cannot afford to look back. Repeating the past, accommodating to what we know, to the successes and heritage that has been passed on to us, that is not enough: we need to use them as the fertile grounds for a new harvest. History is precious, knowing it is essential, but it must serve life and the present. The decisive moment is always here and now.

The first part of this exhibition-essay will be focused on our historical condition: on the time we are; on the weight of history and of the immensity of its fragmented vestiges; on the loss and absence it creates. We will use the second part of the exhibition to reflect on the instant: the importance of forgetfulness to the creation of the new, and on the dangers, the surprises and promises of birth.

Using the Heritage of the city of Évora and of its region, pieces from public and private collections, many of which were never shown to the public and have been kept in storage, and others that are considered as minor works, confronting them with works of contemporary art, we propose an essay on our relationship with history, or rather, with life in all its plasticity.

Paulo Pires do Vale / Curator


Máscara dupla face, “ngil” Fang, séc. XX. Gabão ou Guiné Equatorial.

Gabon or Equatorial Guinea. 20th century. Madeira, policromia (vestígios de pigmentos). 39 x 34 x 29 cm.

Wood, polychromy (residues of paint). Colecção Collection José de Guimarães, Lisboa Lisbon

© José Manuel Costa Alves

Prólogo ProloguePara onde olhamos? (ou aquele que deita

a mão ao arado e olha para trás…)Where are we looking at? (or the one who holds

the plow while looking back…)

Parte IPart I

Da História: Doença

ou RemédioOn History: Malady or Remedy


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Capítulo Chapter 1O tempo contado Slipping time

Relógios do Museu do Relógio Clocks from the Watch Museum

© Diogo Caetano


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Capítulo Chapter 2Desaparição (memento mori) Disappearance (memento mori)

Josefa de Óbidos, Natureza Morta com Cardo e Marmelo e Laranjo, 1650 - 1684

Óleo sobre tela Oil on canvas. 44,6 x 56,3 cm.Colecção Collection Museu de Évora / DGPC. © José Pessoa


Capítulo Chapter 3Os olhos do passado The eyes of the past

João Cutileiro, Serafim. Monsaraz, 1959Prova de época Vintage Proof. 20,5 x 15 cm. Colecção do Autor Collection of the Author


Capítulo Chapter 4Querer guardar toda a memória do mundo

Keeping all the world’s memory

Alain Resnais, Toute la mémoire du monde, 1956Filme, preto e branco, som, 21’ Film, black and white, sound.


Capítulo Chapter 5Fragmentos, vestígios, ausência

Fragments, traces, absence

Fragmento de escultura (dedo) Fragment of sculpture (finger), séc. I - II - Período Romano (Júlio Claudiano)

1st - 2nd century - Roman period (Julio-Claudian). Mármore Marble. 9 x 6 x 7 cm.

Colecção Collection Museu de Évora / DGPC. © Margarida Chantre


Capítulo Chapter 6Pretérito imperfeito Imperfect tense

Carla Filipe, Rorschach Installation [Instalação Rorschach], 2011-201310 livros comidos por traças 10 books eaten by moths.

Dimensões variáveis Variable dimensions.Cortesia da artista Courtesy of the artist e and

Galeria Múrias Centeno, Lisboa e Porto Lisbon and OPorto


Capítulo Chapter 7Fantasmas Ghosts

Ana Vieira, Ambiente (Sala de Jantar), 1971Madeira pintada, nylon pintado, algodão pintado, rede, loiça, copos, facas, som

Painted wood, painted nylon, painted cotton, net, dishware, glasses, knives, sound.200 x 312 x 312cm. Coleção Museu Calouste Gulbenkian - Coleção Moderna

Calouste Gulbenkian Museum Collection - Modern Collection. © Paulo Costa


Capítulo Chapter 8A tradição como aventura: o passado em benefício da vida

Tradition as adventure: the past profits life

Tiago Pereira, Porque não sou o Giacometti do século XXI Because I am not the 21st Century’s Giacometti, 2015

Filme, cor, som Film, colour, sound 50’.

Parte IIPart II

Da Força Plástica: Ousar

ComeçarOn Plastic

Force: Daring to Begin


Capítulo Chapter 1Esquecimento: suspender o tempo

Oblivion: suspending time

Caixa de relógio rococó vazia Empty rococo tall case clock,séc. XVIII 18th century

Madeira, metal e vidro Wood, metal and glass. 270 x 73 x 41 cm.Coleção Collection Maria Teresa Eugénio de Almeida


Capítulo Chapter 2Ousar escrever o seu nome no mundo

Daring to write one’s name in the world

Ignasi Aballí, Personas, 2000-2012Pó na parede Dust on walls.

Dimensões variáveis Variable dimensions.Coleção Collection Cal Cego. Colección

de Arte Contemporáneo, Barcelona


Capítulo Chapter 3O instante decisivo The decisive moment

Anna Maria Maiolino, Entrevidas, 1981Ovos Eggs. Dimensões variáveis. Variable dimensions.

Cortesia da artista e Galeria Luisa Strina, São PauloCourtesy of the artist and Luisa Strina Gallery, São Paulo


Capítulo Chapter 4Tornar fecundo o passado Making the past fruitful

Bas Jan Ader, 473 Reader’s Digest Digested, 1970 Dois slides de 35mm de cor transferidos para vídeo Two 35 mm color slides (transfered to vídeo).

Cortesia do Courtesy of The Estate of Bas Jan Ader, Mary Sue Ader Andersen & Meliksetian Briggs, Los Angeles. ©The Estate of Bas Jan Ader / Mary Sue Ader

Andersen, 2016 / The Artist’s Rights Society (ARS), Nova Iorque New York. Courtesy of Meliksetian Briggs, Los Angeles


Capítulo Chapter 5Aparição (hic et nunc) Apparition (hic et nunc)

José Pedro Croft, Sem título Untitled, 2016Espelho Mirror. 240 x 320cm. Cortesia do artista e Galeria Filomena Soares, Lisboa

Courtesy of the artist and Filomena Soares Gallery, Lisbon.Fotografia de montagem Installation shot © José Pedro Croft


Epílogo EpilogueNunca nascemos o suficiente

We are never born enough

João Cutileiro, Nossa Senhora do Ó, 1999Ruivina. 66 x 15,5 x 13 cm.

Coleção do Autor Collection of the author


Pos-ScriptumDo intempestivo On the untimely

Rui Chafes, Véu Veil, 2016Ferro Iron. 13x90x200 cm. Cortesia do artista e Galeria Filomena Soares, Lisboa

Courtesy of the artist and Filomena Soares Gallery, Lisbon.Pormenor Detail © Alcino Gonçalves


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