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Varal do Brasil www.varaldobrasil.com 1 ® ISSN 1664-5243 Ano 5 - Julho de 2014—Edição no. 30

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Revista literária Varal do Brasil. Literário, sem frescuras!Edição no. 30, julho/agosto de 2014.

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®

ISSN 1664-5243

Ano 5 - Julho de 2014—Edição no. 30

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®

ISSN 1664-5243

LITERÁRIO, SEM FRESCURAS

Genebra, verão de 2014

Edição no. 30 - Julho de 2014

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EXPEDIENTE Revista Literária VARAL DO BRASIL

NO. 30- Genebra - CH - ISSN 1664-5243

Copyright : Cada autor detém o direito sobre o seu texto. Os direitos da revista pertencem a Jacqueline Aisenman.

O VARAL DO BRASIL é promovido, organizado e realizado por Jacqueline Aisenman

Site do VARAL: www.varaldobrasil.com

Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com

Textos: Vários Autores

Ilustrações: Vários Autores

Foto capa: © Patrizia Tilly - Fotolia

Foto contracapa: © Jacqueline Aisenman

Muitas imagens encontramos na internet sem ter o nome do autor citado. Se for uma foto ou um desenho seu, envie um e-mail aqui para a gente e teremos o maior prazer em divulgar o seu ta-lento. Agradecemos sua compreensão.

Revisão parcial de cada autor

Revisão geral VARAL DO BRASIL

Composição e diagramação:

Jacqueline Aisenman

PARITICIPE DAS PRÓXIMAS EDIÇÕES:

• Até 25 de JULHO você pode enviar textos para nossa edição de setembro que trará o tema AMOR!

• As inscrições podem ser encerra-das antes se um número ideal de participantes for atingido.

BLOG DO VARAL

Você pode contribuir com arti-

gos, crônicas, contos, poemas,

versos, enfim!, você pode escre-

ver para nosso blog. Também po-

de enviar convites, divulgação de

seus livros, pinturas, fotografias,

desenhos, esculturas. Pode di-

vulgar seus eventos, concursos e

muito mais. No nosso blog, como

em tudo no Varal, a cultura não

tem frescuras!

(www.varaldobrasil.blogspot.com

) Toda contribuição é feita e di-

vulgada de forma gratuita e deve

ser enviada para o e-mail

[email protected]

A revista VARAL DO BRASIL circula

no Brasil do Amazonas ao Rio Gran-

de do Sul...

Também leva seus autores através

dos cinco continentes.

Quer divulgação melhor?

Venha fazer parte do

VARAL DO BRASIL

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*Toda participação é gratuita

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Chegamos com mais uma edição de nossa revista!

Dizer para vocês o imenso prazer que é ter tanta gente participando, é quase impossível, pois esta alegria vem des-de o nosso primeiro número, quando mesmo com poucos participantes levá-vamos em frente o nosso desejo de di-vulgar, sem frescuras, todos os que amam escrever.

Este ano participamos com sucesso do 28o Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra. Foi nossa ter-ceira participação e conseguimos, en-tre autores participantes e visitantes, obter uma química inigualável!

Mostramos que o objetivo principal de quem aprecia a literatura é divulgá-la, apresentá-la em sua melhor forma e dar ao público a oportunidade de co-nhecer autores que ele não conheceria de outra forma, já que a mídia não pro-paga a grande maioria dos novos auto-res.

Mostramos também que a vida literária não é feita tão somente de prêmios e medalhas como muitos pensam: fomos bem além deste estereótipo!

Lançamos durante o evento em Gene-bra o livro Varal Antológico 4, quarta antologia de nosso projeto.

Contando com uma diagramação arro-jada e textos de qualidade, o livro Varal Antológico 4 foi sucesso junto ao públi-co leitor!

E é realizando atividades de qualidade, onde a literatura, sem frescuras, une o público com os autores, que o Varal do Brasil tem seguido o seu caminho ple-no de êxito.

Agradecemos aos autores que partici-pam conosco de nossas atividades, as-sim como ao público que nos brinda com sua leitura, sua presença e seu carinho.

Agradecemos aos que nos apoiam.

E seguimos em frente. Já preparando o Salão do Livro de Genebra para 2015 e o livro Varal Antológico 5.

Esperamos que você venha conosco!

Até a próxima edição!

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• ADINA WORKMAN

• ALCILENE MAGALHÃES

• ALEX MONTEIRO

• ANA CRISTINA C. SIQUEIRA

• ANA ROSENROT

• ANAXIMANDRO AMORIM

• ANTONIO CABRAL FILHO

• BENILDA CALDEIRA ROCHA

• BILÁ BERNARDES

• CARMEN LUCIA HUSSEIN

• CAROLINE BAPTISTA AXELSSON

• CELESTE FARIAS DIAS

• CLEBER REGO

• DANIEL DE CULLA

• DIAS CAMPOS

• ELISA ALDERAN

• ELOISA MENEZES PEREIRA

• ESTHER ROGESSI

• EVALDA DE A. SILVA COSTA

• EVELYN CIESZYNSKI

• FÁTIMA RIBEIRO SOARES

• FELIPE CATTAAN

• GERMANO MACHADO

• GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA

• GUACIRA MACIEL

• HAZEL SÃO FRANCISCO

• HEBE C. BOA-VIAGEM A. COSTA

• HILDEBRANDO RIBEIRO

• HUGO DALMON

• INÊS CARMELITA LOHN

• IRIS SAMPAIO

• ISABEL C. S. VARGAS

• ISABELA GOMES

• IVANE LAURETE PEROTTI

• JACQUELINE AISENMAN

• JANIA SOUZA

• JEREMIAS FRANCIS TORRES

• JOSÉ ALBERTO DE SOUZA

• JOSÉ CARLOS BRUNO

• JOSÉ ROBERTO ABIB

• JULIA ANTUERPEN

• KLEBER NUNES

• LEPOTA L. COSMO

• LUIZ CARLOS AMORIM

• LUIZ MANOEL F. MAIA

• MARCELO DE OLIVEIRA SOUZA

• MARCOS ROGÉRIO DE OLIVEIRA

• MARIA JOSÉ V. JUSTINIANO

• MARIA SOLER

• MARILU F. QUEIRÓZ

• MARINA FERNANDA FARIAS

• MARIO REZENDE

• MARLUCE ALBES F. PORTUGAELS

• MIRIAN MENEZES DE OLIVEIRA

• NICE ARRUDA

• NILZA AMARAL SOUZA

• ODENIR FERRO

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• ODIBAR J. LAMPEAO

• OLIVEIRA CARUSO

• PAULO JOSE PIRES

• REGINA MERCIA S. SOARES

• RENATA CARONE SBORGIA

• RICARDO SANTOS DE ALMEIDA

• RO FURKIM

• RO MIERLING

• ROGERIO ARAÚJO (ROFA)

• RONIE VON ROSA MARTINS

• ROSE ROCHA

• ROSSANDRO LAURINDO

• ROZELENE FURTADO DE LIMA

• SELMA ANTUNES

• SERGIO EDUARDO DEL CORSO

• SILDECY L. ALVES MARTINS

• SILVIO PARISE

• SONIA NOGUEIRA

• TANIA B. BAROS CAVADINI

• TEODORO BALAVEN

• TIAGO GONÇALVES

• VIVIAN DE MORAES

• VO FIA

• WELBER ROCHA

• YARA DARIN

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Guerra e Paz

Por Adina Worcman

Por que a Guerra? Quem quer a Guerra? Queremos Vida, queremos Paz!

Pessoas boas, crianças, inocentes, Vidas se perdem, é tudo tão cruel,

O mundo perde, nada se faz! Queremos Paz!

Para que a Guerra? Não entendemos!

Queremos Vida, queremos Paz! O sangue jorra, tinge a terra, Rompe famílias e nada trás!

Só trás desgraça, destrói cabeças, Pessoas boas, Queremos Paz!

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A TV...

Por Alcilene Magalhães Como pode um objeto Ser tão dono de poder Que faz tantas famílias Ficarem passivas, e até adormecer.

A cada dia a TV se transforma Mas na vida nada muda Tudo fica da mesma forma.

Porque será que o individuo Não enxerga o que ele ver A imagem desfigura A historia de nosso ser.

Na TV o homem faz o tempo O tempo faz a historia De comunidades sem vitória.

Na TV se ver de tudo Que faz o homem sorrir e chorar Pois a vida é uma novela Retratada na TV pro homem recobrar.

A TV afeta nossa razão Na doença ou na alegria ela nos dar in-formação, conhecimento e ilusão Fazendo o longe ficar perto Diante da televisão.

Entre a transmissão do bem ou do mau ATV sobrevive de fatos O telespectador assiste, Mas nem sempre entende os fatos.

Na TV tudo vira noticia A fama cresce e decresce família Governo ou companhia Mas só é rico, quem se vicia. Palavras voam no tempo Imagens valem mais que palavras Quem deixa o certo pelo incerto Ou é doido ou não é esperto.

A vaidade da TV É moeda de duas faces O dinheiro que compra pão Não é o mesmo que paga a gratidão Daquele sem razão.

A TV e mente vazia É oficina do Diabo Tenha cuidado: realidade ou ficção A TV compra sua atenção.

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Minha Vó

Por Alex Monteiro

Minha avó...

Te devo uma poesia...

Mas confesso, cá pra nós...

Tua grandeza me refuta a pequenez de minha palavra.

Mas um dia desses,

Talvez quando eu tiver o teu tamanho, vou chegar de

Mansinho, e enquanto

Te faço um cafuné, vou lançar ao vento uma palavra,

Mais outra palavra, uma de cada vez,

Tendo cuidado com cada uma delas.

Mas não quero pressa sabe?

Tem que ser uma a uma.

Mas Primeiro as distantes, as esquecidas,

Terão gosto de infância, saudade de quintal,

Mesa posta, sombras de proteção.

Te trarei depois as outras

Mesmo sem sabor

Tímidas, confusas, perdidas, saudosas

Mas guardadas há tanto tempo

Tendo presa de encontro

Me deixe falar, esvaziar meu coração

Tenha paciência como sempre teve

Me faça sentir menino

Teu menino de outrora

Minha Avó.

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PERPLEXIDADE

(inspirado em “A gralha e a tralha”, de Francisco A. Ribeiro)

Por Ana Cristina Costa Siqueira

A despeito de uma gralha, codinome tralha,

metida nuns confins na história contada por um poeta,

herdei, por minha vez, a voz estridente, dita “de taquara”,

como tudo o que range – dentes, porta, bambuzal,

o roçar de galhos, varais improvisados

que se esticam entre madeiras velhas.

Entre dentes, falarei de amor e conjugarei o verbo;

falarei de amor aos bichos e às plantas,

a eles direi meus versos

de uma forma que só eles entendam.

Talvez, por isso, ainda teça, neste país imaginário,

ao modo das tecelãs, o seu riso amado:

onde a lei do silêncio não alcance a gralha.

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CABEÇA DE TOCO

Antonio Cabral Filho

Naquelas curvas

que dão voltas no sertão

há casos que o povo conta,

casos de poeira

que sobe nos braços do vento

e faz a Virgem Maria

trazendo anunciação

casos de assombração

que vai em nossa frente

andando andando

sem olhar para trás

sem deixar rastros

nem fazer movimentos

casos de toco toco sim

punhado de tocos

que vivem na beira da estrada

seguindo a nossa viagem

e ficam ali parados

olhando as gentes passar...

e tem toco que vai

segue os passos da gente

e faz o pobre parar

e pôr a mão na cabeça

abestado que só vendo

e perguntar ao sertão

"mas eu num já vi esse toco (?!)

passei por ele agorinha..."

mas tem toco que exagera

e tira tudo do sério:

É toco que tem cabeça,

toco que tem cabeça, é!

Dizem que é...

não é cabeça de boi,

que é maioria

e não dá nem pra somar;

não é cabeça de burro,

que há em profusão

e ninguém dá conta de contar;

não é cabeça de gente,

que de gente há multidão!

Dizem os andarilhos do sertão

que as cabeças que os tocos tem

é a cabeça do bicho,

é, a cabeça do bicho,

cabeça do bicho, é é é é !!!

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“O SÁBIO, O DISCÍPULO E O PRESIDENTE SARTORI”

Por Benilda Caldeira Rocha

Digo-vos como disse um Diretor de Santana.

Recordo sempre com muito carinho:

Inda que não vejamos.. ”Há sempre um Olho que tudo

Vê e conhece bem, nossas intenções”.

Ah! Como era calmo o Dr. Luís! Esse era seu nome. Foi

Numa tarde de grandes intempéries mentais.

Sabe Excelência, creio que compete

A cada um fazer bem o que deve ser feito. Com

Responsabilidade e esforço, o

Trabalho ficará mais suave. Temos certeza, foi

O melhor que podias fazer e o nosso coração o sabe.

Receba este Acróstico que vai com carinho. SOIS

INCRÍVEL! O mais Humano Presidente que o Tribunal já teve!

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Germinação

Por Bilá Bernardes

“Uma rosa não é só uma rosa”

Uma rosa é um botão que se abriu

semente que germinou

planta que cresceu

recebeu alimento, luz e calor

são espinhos que a defenderam

mãos, cuidados, carinho, suor

“Uma rosa não é só uma rosa”

Uma rosa é a vida que

teve chance de se mostrar flor

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A beleza

Por Carmen Lucia Hussein

Rezo quando contemplo a beleza

Vejo Deus na beleza

Da música

Da poesia

Da verdade na ciência

Das boas atitudes

Do amor

No sorriso de uma criança

E no canto do sabiá nas árvores

A beleza está além das palavras

Que se transformam em poesia

E em música

A vida toda não seria uma busca da beleza

No meio do caos sem sentido?

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CULTíssimo

Por @n[ Ros_nrot

Para você o que significa a liberdade? É dizer o que pensa? É poder ir e vir? Ou é apenas um estado de espírito, independente do corpo físi-co? Liberdade é ilusão ou redenção? Um escritor ousou responder a essas perguntas (ou não) e um roteirista e produtor levou para as telas toda a grandeza desta ideia; falo de Stephen King (o mestre do terror) que escreveu o conto Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank (Rita Hayworth and the Shaw-shank Redemption, 1982), um dos belos traba-lhos incluídos no livro Quatro Estações (Different Seasons, 1982) homenageando a pri-mavera e Frank Darabond, conhecidíssimo por produzir a série televisiva The Walking Dead, que adaptou o conto e produziu um filme que em 2007 foi colocado na 72ª posição dos “Maiores Filmes de Todos os Tempos” pelo American Film Institute; foi considerado em 2008 o melhor filme de todos os tempos, no site IMDb.com; o 4º melhor filme já feito, pela revis-ta Empire (em setembro de 2008) e o maior in-justiçado do Oscar por ter recebido 7 indica-ções e não ganhar em nenhuma; mas você sa-be que filme é esse? Um sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption) estrelado por Tim Robbins e Morgan Freeman, mostra que podemos ser livres mesmo encarcerados em uma prisão (metáfora comum para as várias prisões existentes em nosso cotidiano), nos faz pensar sobre o valor de uma amizade, sobre os sonhos que sempre existirão dentro de nós, en-sina que nunca devemos parar de lutar e de buscar justiça (mesmo que pareça impossível) e que cada segundo é importante, portanto de-vemos viver plenamente, com liberdade e res-ponsabilidade. Esse lindo filme teve uma das piores bi-lheterias da história do cinema, arrecadou so-mente 28 milhões de dólares e ainda enfrentou problemas com a American Human Association (associação que monitora o uso de animais em filmes) que vigiou as cenas envolvendo um cor-

vo que era o bicho de estimação de um dos de-tentos. Durante a cena em que ele o alimenta com uma minhoca, a AHA objetou que havia crueldade com a minhoca (????) e requisitaram que usassem uma minhoca que tivesse morrido por causas naturais (do coração, por exemplo). Uma foi finalmente encontrada, e a cena foi fil-mada; mas em 1995 aconteceu a grande vira-da: o filme foi o mais alugado da história e tor-nou-se Cult devido à apreciação do público que dura até hoje em suas várias reprises na T.V., tonando-se um grande clássico visto por mi-lhões. Se você ainda não viu está perdendo a oportunidade de assistir um filme humano que fala de coragem, boa vontade, obstinação, per-sistência, esperança, enfim, que tem algo a di-zer a cada um de nós; então não perca mais tempo e veja essa obra prima do cinema Cult. Até a próxima e muito obrigada pelo ca-rinho!! (Segue)

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Um Sonho de Liberdade (Shawshank Redemption, The, 1994) • Direção: Frank Darabont •Roteiro: Stephen King (conto), Frank Darabont (roteiro) • Gênero: Drama • Origem: Estados Unidos • Duração: 142 minutos Sinopse: Em 1946, Andy Dufresne (Tim Robbins), um jovem e bem sucedido banqueiro, tem a sua vida radicalmente modificada ao ser condenado por um crime que ele não tem certeza se come-teu, o homicídio de sua esposa e do amante dela. Ele é mandado para uma prisão que é o pesadelo de qualquer detento, a Penitenciária Estadual de Shawshank, no Maine. Lá ele irá cumprir a pena de duas prisões perpétuas. An-dy logo será apresentado a Warden Norton (Bob Gunton), o corrupto e cruel agente peni-tenciário, que usa a Bíblia como arma de con-trole e ao Capitão Byron Hadley (Clancy Brown) que trata os internos como animais. Andy faz amizade com Ellis Boyd Redding (Morgan Free-man), um prisioneiro que cumpre pena há 20 anos e controla o mercado negro da instituição. O corpo de Andy está preso, mas ele lutará pa-ra que sua alma permaneça livre.

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ESTOCOLMO

Por Caroline Baptista Axelsson

Arquipélago divino às margens do Mar Báltico

Beleza gelada com calor de primavera, à espera

Hoje espera o verão, amanhã o inverno

Entre uma estação e outra

está o dia-a-dia em bosques de magia

Mergulho profundo

Caminhos perdidos

Existe algum lugar no mundo repleto de sonhos que o tempo não mata?

Se eu pudesse morderia o presente

deixando morangos na boca

Anemona neumorosa

Abraço de urso polar

Resplendor de barcos à vela

apontando ao céu azul ou borrado

Amo você, cidade linda

Relâmpago de Thor que acende a faísca de mortos

Revolta de lua em eclipse nua

Tentáculo molhado e terra de pedra

Agonia de morte com fôlego de vida

Pincelada de prata

Beijo que sufoca

Suspiro de Escandinávia

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Transpiração poética

Por Celeste Faria Dias

Me envolvi com as letras,

Lancei belas palavras

Ao vento

Apaguei de minh’alma

Todo tormento

E transpirei poesia!

Mas vale transpirar um poema, a respirar um ódio!

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ASSIM ME FALOU ZARATUSTRA.

“Exorto-vos, meus irmãos, a permanecer fiéis à terra e a não acreditar em quem vos fala de esperanças supraterrestres”.

(Friedrich Nietzsche)

Por Cleber Rego

Loucos são os homens que não se rendem a uns goles de cerveja

ao sol do meio-dia de qualquer segunda-feira.

Que amam apenas uma mulher,

que depositam nos clubes de futebol a esperança das suas grandes vitórias,

que creem na esquerda,

que usam gravata, que seguem a bíblia ou as universidades.

Loucos são os homens que não amam a vida

e vivendo o amanhã, morrem todos os dias.

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LA VENATRIZ

Por Daniel de Cullá

Sucede en Francia. La Venatriz velluda acababa de salir preñada del Condado Venasino o simplemente “El Condado”, residencia de los papas antes de la revolución francesa, profirien-do expresiones y lanzando exclamaciones de cólera y enojo, pues no recordaba por cual de los papas había sido follada.

Ella, que había sido invitada, sin adivinarlo, para escardar cebollinos, andaba, ahora, co-mo huyendo de algo, recordando cuando la levantaron el culo por la espalda y la jodieron. Re-cuerda, también, que había sito atada con un vencejo, lazo o ligadura como los que se atan los haces de las mieses, sobre una felpa o terciopelo de algodón de pelo muy corto, sin recordar si fue sobre una cama o sobre el suelo.

Un venático papa, maniático del culo, extravagante, llamado Carpentras, le puso una ven-da en los ojos, dominándola, subyugándola, refrenándola, Se montó en ella, la superó de lado, de costado, ladeando, torciendo o inclinando su columna, saliéndose con la suya al tercer ensa-yo o segunda repetición del coito.

Aunque odiaba a muerte a quien le estaba haciendo esto, un algo casi divino influyó en su ánimo, de modo que se dejó engañar con un pirulí de la Habana, como los niños se dejan enga-ñar por el Sacamantecas o aquel Chorrasebo del cuento a las puertas de un Colegio.

Carpentras alardeaba de valimiento o privanza como un poderoso en vendeja, comiendo pasas e higos. Alegre, con la alegría de los hijoputas, decía:

.-A mejor cazador, mejor conejo. Cuando de cazador nada, pues había puesto cebo a la Venatriz para traerla a su caza.

Ella, que era pariente lejana de la princesa de Lamballe, que fue amiga muy íntima de Ma-ría Antonieta, quien después pasó a querer locamente a la Duquesa de Polignac, se limpiaba las lágrimas con el orillo de un paño, y, arrebatada su honra, estando vendida como estaba, prome-tió hacerse jacobina, y luchar por llegar a cortarle la cabeza a su violador y a los demás papas, Se dejaría ver con Robespierre y, con él, viendo las cabezas caer en el vendimiario, primer mes del calendario de los revolucionarios franceses, gritar:

-Después de vendimias, cuévanos.

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O DESAFIO

Por Dias Campos

Bueno de Andrade, prata da casa de um

dos periódicos mais influentes da capital cea-

rense, há algum tempo sentia queimarem-lhes

as orelhas com os disse me disse que corriam

à solta pelos corredores da empresa. Escapa-

vam, aqui, que seus textos estagnavam-se na

mesmice; corriam, ali, que seus artigos desem-

bocavam no previsível; e insinuavam, acolá,

que sua coluna já carecia de admiradores.

Não que isso lhe fosse completamente

estranho à carreira... nos anos que se foram,

mais de um redator chegou a irritá-lo com mui-

tas e férteis acridezes, fosse no jornal em que

trabalhava, fosse no atrevido concorrente. De

outra parte, esses fatos também não lhe soa-

vam tão perigosos a ponto de antever, em pe-

sadelos, a demissão chegando pelo correio ou

um lépido e promissor recém-formado sentado

em sua cadeira. Só que, desta vez, o aroma

desses mexericos, odorosos de perfídia, e a

ligeireza com que se difundiam, tão limosos

quanto a peste, conseguiram arranhar o peito

do velho Andrade de tal modo, que até o cigar-

ro ele pensou em ressuscitar.

- Já soube da última?

- Diga lá...

- Ouvi, no cantinho do café, que até suas

crônicas beiram ao tédio.

- Como assim?

- Pois é, meu amigo, até elas vêm sendo

tachadas de herméticas e impessoais.

- Ah, não, isso já foi longe demais!

- E o que podemos fazer se quem lança

as plumas ao vento protege-se com o anonima-

to?

- Sabe, Gonçalves, nesse final de sema-

na, quando balançava na varanda...

- Na famosa varanda?

- Pois é, alguns têm ideias no chuveiro;

outros, como eu, na varanda.

- Continua, então.

- Como dizia, entre um e outro vaivéns,

assopraram-me uma maneira bem divertida de

pôr fim a essas chocalhices. É verdade que é

um pouco arriscada, mas nunca tive medo de

ousadias; você sabe disso muito bem.

- De fato. Mas, continuo sem entender.

- É simples: quem não tem competência

não se estabelece, certo?

- Dá pra melhorar?

- Claro. Ora, as plumas lançadas ao vento

pelo mexeriqueiro...

- Ou mexeriqueira.

- É, pode ser. Seja como for, não foi vo-

cê que disse que as infâmias que esse ser fica

espalhando têm por fim mostrar que estou ul-

trapassado? Ou, como ele adoraria dizer, que a

minha pena está mais seca que as arvoretas

da caatinga?

- Sim, disse. Mas, e daí?

(Segue)

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- Pois bem, a maneira que vislumbrei de

fazer calar essa criatura é, justamente, mostrar

a ela quem é o competente aqui. E, para isso,

nada melhor que forçá-la a vir à tona; ou, em

outras palavras, constrangê-la a mostrar o seu

trabalho. Assim, mesmo que não descubra

quem é o invejoso, ele fatalmente se calará di-

ante da sua própria mediocridade.

- Sem querer parecer pleonástico, de du-

as, uma: ou o seu raciocínio está muito além da

minha capacidade, ou a minha capacidade está

muito aquém do seu raciocínio. Não entendi

patavina!

- É simples: vou lançar um desafio.

- Um desafio?

- Sim. Uma espécie de concurso literário

interno, em que todos terão a oportunidade de

mostrarem-se por seus textos, incluindo, por

óbvio, o mentor desses ataques.

- Entendi! Uma vez tendo mostrado sua

“competência”, e uma vez tendo sido derrotado,

só restará a esse crápula calar-se para sempre.

- Elementar, meu caro Gonçalves.

- E se alguém se recusar a participar, já

terá contra si, pelo menos, o peso da desconfi-

ança.

- É óbvio. Portanto, acho difícil que al-

guém se esquive.

- Mas...?

- Mas, o quê?

- Não que eu esteja duvidando da sua

capacidade. Mas, e se você perder?

- É por isso que disse que havia um cer-

to risco.

- Entendo.

- Mesmo assim, não voltarei atrás. O que

acha?

- Acho que quem teve a insensatez de

cutucar a onça, deveria ter usado uma vara

bem mais longa. – E ambos riram.

- A propósito, já que gostou da minha

ideia, deixo a você o privilégio de escolher o

tema.

- Não está desconfiando de mim, está?

- Fica tranquilo, Gonçalves, isso jamais

me passou pelas ventas. Apenas que, como

sempre lhe tive em grande estima, gostaria que

fosse você o escolhedor do mote fatal.

- Tudo bem, tudo bem... Que tal...? O

aquecimento global e o desmatamento; mais do

que nunca esse é o tema do momento.

- Perfeito!

- E qual será o veículo desta contenda?

- Ora, já que a última desfaçatez teve por

objeto as minhas crônicas, que seja a crônica,

então!

A euforia a que o experiente jornalista se

entregava, sobretudo depois que o desafio foi

lançado, assemelhava-se ao êxtase que arre-

bata um duelista pela certeza de sua perícia.

Tanto que ninguém lhe via diminuir o sorriso,

apertar os lábios ou suar em demasia. Pelo

contrário, a confiança em si mesmo, comenta-

vam nos corredores, exalava-se à farta, e a ca-

da adesão ao certame, mais entusiasmado fica-

va.

(Segue)

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O mais interessante, porém, não foi a

unânime adesão à contenda, fato que se com-

provou com o término do período de inscrições

e com o qual o decano já contara, mas, sim, a

mitigação na verve dos boatos, o que só fez

corroborar o acerto de sua atitude.

- É, Gonçalves, parece que o fulano não

só entendeu o recado como também está se

borrando de medo.

- Disso não tenho dúvida. E...?

- Fala, meu fiel escudeiro.

- E como anda a sua crônica? Lembre-se

de que o prazo de recebimento acaba daqui a

duas semanas.

- Ela vai muito bem, obrigado. E não me

olhe com esta cara de cachorro pidão, pois vo-

cê só a conhecerá no momento em que publi-

carem os textos vencedores.

- Puxa, sempre soube de sua autoconfi-

ança; mas desta vez você se superou!

- Meu amigo, ou creio em minha capaci-

dade, ou naufrago por antecipação. Aguarda

mais um pouco e garanto que se impressionará

com a peculiaridade do meu texto.

- Como assim? Como uma crônica pode

ser peculiar?

- Espera e verá.

Ao voltar para sua residência, Bueno de

Andrade preferiu uma refeição frugal ao pesado

e formal jantar que sua esposa preparara. Não

que ela tenha ficado muito contente com a súbi-

ta mudança no cardápio... mas, como sempre

estivera a par daqueles dissabores, nada faria

que pudesse sequer arranhar a harmonia de

que seu marido tanto precisava, a fim de que

sua criação fosse a melhor possível.

- Pois bem, meu caro Bueno – comenta-

va consigo mesmo, e diante do computador –,

trata de caprichar, pois só o inusitado é que te-

rá condições de vencer este concurso.

Houve, sim, entre as dezenas de inscri-

tos, primorosos textos jornalísticos. A forma e o

tema sugeridos nunca foram tão bem trabalha-

dos! Era como se os concorrentes, dando do

seu melhor, quisessem demonstrar solidarieda-

de para com aquele que fora abjetamente injus-

tiçado. Um, no entanto, sobressaiu-se a olhos

vistos. A criatividade e a originalidade desta

crônica venceram, e não só sedimentaram as

plumas que um dia ousaram pairar, como tam-

bém resplandeceram o Argentum que sempre

se fez brunir naquela casa:

O Anátema.

Pode-se afirmar que a audiência ocorrida

ontem em Haia, e que foi presidida por Deméter

à frente da Comissão de Aquecimento Global e

Desmatamento, conquistou o seu lugar na his-

tória! A divindade que um dia decidira não retor-

nar ao Olimpo enquanto sua filha não lhe fosse

devolvida – fora raptada por Hades –, e que,

por força de sua ausência, tornara estéril toda a

Terra, soube deixar claro aos dignitários convi-

dados a dar explicações que não mais admitiria

evasivas. Sem nenhuma dúvida, a filha de Cro-

nos estava determinada a obter medidas con-

cretas à boa recondução do planeta. O motivo,

publicaram-no para quem quisesse ler: de acor-

do com a FAO, órgão da Organização das Na-

ções Unidas para a agricultura, o Brasil é o mai-

or desmatador do planeta! Aliás, e segundo es-

se mesmo estudo, a América do Sul lidera o

(Segue)

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desflorestamento no mundo, com cortes anuais de 4 milhões de hectares/ano, sendo seguida pelo continente africano, com 3,4 milhões.

Ora, como o assunto é de vital e global impor-

tância, houveram por bem indicar como delega-

dos os verdadeiros defensores das matas, das

florestas e dos animais silvestres, o índio Curu-

pira e o sui generis Boitatá. Assim, os folclóri-

cos representantes passaram a ouvir todo um

elenco de fatos, de números, de porcentagens

e de projeções desesperadores. Foram-lhes

relembrados, por exemplo, os malefícios que o

desflorestamento acarreta: a nocividade sobre

o solo virgem, sobre a perda da biodiversidade,

sobre o regime de chuvas e sobre a temperatu-

ra local. Com relação a este último tema, tive-

ram que enfrentar um relatório sobre o aqueci-

mento do planeta, elaborado pelo Banco Mun-

dial e apresentado em Lima. Por meio desse

documento souberam que poderá ocorrer a ex-

tinção da floresta amazônica em 2020, e sua

transformação em grandes extensões de sava-

na; uma carência de água que afetará 77 mi-

lhões de pessoas na América Latina, pois os

Andes serão afetados; o desaparecimento dos

recifes do Caribe, minando-se a proteção natu-

ral que eles opõem às tormentas marítimas; e

estragos no Golfo do México, tornando-o mais

vulnerável aos furacões, que serão mais fortes

e frequentes.

Dada a palavra aos ilustres enviados, a

mãe de Perséfone ouviu-lhes os seguintes

anúncios: que a Europa terá energia limpa até

2050, sendo alimentada por usinas hidrelétricas

na Escandinávia e nos Alpes, por painéis sola-

res instalados no norte da África e por centrais

eólicas na Espanha e no Mar do Norte; que o

Programa das Nações Unidas para o Meio Am-

biente tornou-se o 100º membro da Rede de

Pegada Hídrica, o que permitirá o fornecimento

de padrões globais para o cálculo do consumo

de água e para a formulação de políticas para a

sua conversão; e que o Instituto Florestal acaba

de divulgar o novo inventário da vegetação nati-

va em São Paulo, estimando-se que tenha ha-

vido uma recomposição vegetal de 95 mil hec-

tares nos últimos sete anos, o que permitirá,

daqui a 50 anos, a retirada de 28 milhões de

toneladas de dióxido de carbono da atmosfera.

É verdade que, confrontada com esses

fatos positivos, com esses programas esperan-

çosos, a deusa da terra cultivada, das colheitas

e das estações bambeou em sua potestade. No

entanto, como o divinal orgulho sentiu-se arra-

nhado, e como Demetra descera ao mundo dos

mortais decidida a transformar a sessão que

presidiria em um verdadeiro divisor de águas,

Curupira e Boitatá tiveram que engolir a última

palavra, quedando-se silentes ante a apocalípti-

ca promessa: - Cumpram à risca o que me ofe-

receram. Caso contrário, tornarei a bradar o

anátema que fiz pesar sobre toda a Terra,

quando o deus dos infernos levou minha filha. –

“Ingrato solo, que tornei fértil e cobri de ervas e

grãos nutritivos, não mais gozará de meus fa-

vores!”

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PALAVRA

CRÔNICA

Anaximandro Amorim

O RECALQUE TÁ NA MODA

"O meu sensor de Periguete explodiu/ Pega sua inveja e vai pra..."

"Beijinho no ombro", Valesca Popozuda

Popozudas e popozudos do meu Brasil: o re-calque tá na moda! E só com muito beijinho no om-bro pra ele passar bem longe! É aquela história: em lago que tem Facebook, recalcado nada de costas... e se defende com um post! Quem nunca sentiu uma invejinha sequer, que cante o primeiro funk. De todos os Sete Pecados Ca-pitais, ela é, certamente, o mais atual e, parece que com o Facebook, a coisa ganhou uma poderosa for-ça motriz. Saiu, aliás, na revista Veja: antes de apro-ximar amigos, familiares, a rede, nesse contemporâ-neo louco, serve, também, pra um propósito só: cau-sar inveja. Afinal, quem nunca postou aquela foto da viagem dos sonhos, do vestido chique ou da última conquista material, só pra deixar o coleguinha, no mínimo, babando? Ok, você me afirma que não. Mas, veja bem: ninguém coloca foto suado, desca-belado, remelento ou chorando numa rede social. Coloca? O tema, aliás, é tão espinhoso que já o abor-dei, uma vez, numa crônica sobre Alexsander de Almeida, o “rei do Camarote”. Houve até quem se ofendesse! Inveja do moço? Coisa de recalcado? Não sei. Só sei que, contra tanta polêmica, só com muito “beijinho no ombro” pra escapar ileso às pe-dradas. Aliás, fico pensando se gente como Shakes-peare, Machado, Guimarães Rosa, Alexandre Du-mas, Zuenir Ventura ou Dante também não tomaram algumas. Não, leitor, não estou me comparando com eles. Mas, obras como, respectivamente, "Otelo", "Esaú e Jacó", "O recado do morro", "O Conde de Monte Cristo", "O Mal Secreto" e até "A Divina Co-média" já trataram do tema, tão humano, demasiada-mente humano que ele é. E o fizeram tão bem que dá até inveja... Mas é na música que eu noto como o tema tá na moda! Principalmente na popular brasileira. Mas na bem popular, mesmo. É cantora pedindo pra você

se preparar, senão vai ficar babando... é cantor di-zendo que pega mesmo, só pra botar os caras com inveja... e, é claro, aquela famosa canção, que man-da o recalque passar longe! Essa, aliás, da polêmica Valesca Popozuda, alçada ao patamar de pensadora do momento e chancelada numa questão de prova, em Brasília. Discussões à parte, pra mim, a Valesca é, antes de mais nada, como artista que é (gostando ou não do estilo dela), um arauto do que está aconte-cendo à nossa volta. E, não só ela, como todas as músicas que tocam na rádio, de Valescas, Anittas e outros cantores, mostram o nosso lado podre, desu-nido, tocando naquela ferida: somos, de maneira ge-ral, um povo invejoso, recalcado. Tanto que Tom Jobim (este, sim, um invejável artista e um dos íco-nes da MPB) disse: "No Brasil, sucesso é ofensa pessoal". Dizem, aliás, que a arte é um espelho de uma época, de uma sociedade. Brincadeiras à parte, se o recal-que tá na moda, então, os psicanalistas agradecem. Parece que a maior quantidade de lixo encontrado nas águas do rio Tâmisa, em Londres, é caixa de tarja preta. Divã de analista tá tão cheio que tem gente dispensando cliente. Oras, será que ninguém reparou o quanto estamos adoecendo? Esse contem-porâneo, ao mesmo tempo que nos desconectou de algumas amarras, se tornou um "cada um por si" tão grande que, sem perceber, colocamos as respostas (Segue)

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às nossas agruras no consumo. E aí, tem gente se matando pra conseguir satisfazer o seu. De tal modo que a grama do nosso jardim tem de ser sempre a mais verde. O problema é que isso nem sempre acontece e, quando os argumentos acabam, não raro, eu ouço um "você está com inveja!", quando, muitas vezes, a coi-sa se dá ao contrário. E aí, só com muito “beijinho no ombro”, mesmo. Para quem não sabe, “beijinho no ombro” significa “não tô nem aí”, na linguagem dos funkeiros. Co-mo eu sei disso? Eu tenho alunos... tá bom, vai! Eu sei que essa desculpa não cola mais. Confesso: eu tam-bém já ouvi a Popozuda (quem não?)! “Grande Pensadora”? Não sei. Só sei que ela é o produto de uma época, de uma cultura que preza muito mais a imagem, o ter, e outros valores que fazem com que o recal-que esteja, sim, muito em moda. E, como diria a mais nova “filósofa” de plantão, “beijinho no ombro”. Pro recalque passar longe. Bem longe.

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UMA NOITE DE CHUVA

Por Elisa Alderani

Aquela noite, saindo da escola,

nos surpreendeu a chuva.

Não tem problema, ele disse,

Eu tenho o guarda-chuva...

A chuva engrossava.

Pegue no meu braço, ele me disse...

Senti a pele arrepiar, o coração bater.

Mais forte mais forte.

E ele disse...

Eu a acompanho até a estação!

E assim foi a primeira noite.

Depois vieram outras noites...

E caminhamos de braço dado

por muito tempo!

Imagem by Dragon88

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Canto do silêncio

Por Eloisa Menezes Pereira

Na multidão vozes sussurram

As lembranças do recente passado

Imagens atravessam os encontros

Deleitando –se na saudade

Silenciosas, cantam à História

A sobrevivência da memória

Pensamentos desajeitados lastimam

O silêncio dos olhares

O tempo persistente

Cantando suas perdas recordações

Mudo, transforma as emoções

Nos espaços da vida, insiste

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ROSEIRAL DE FOLHAS

Aos 125 anos de Cora Coralina

Por Emérita Andrade

Nas dispersas páginas Seguirei cantando

Contos de segredos Segredos – vinténs...

Que creiam que os contos São meus e só meus Nas horas dos sonos

Refletindo luzes Cromáticos – vinténs.

Os cantos das vozes Sinceras vaidades

Os pássaros reclamam Jamais por vintém

Tinteiros sem tintas Reflexo de luzes Grafados a pincel

Meu livro sem preço Legado a vintém.

Caminheira da vida Pintando brancuras Sonhando acordada Sem qualquer vintém

Flores de papel Colhidas da aurora

Nas sombras da tarde Das noites sem lua Bordando vintém.

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QUEM É DANIEL DAY-LEWIS

Por Esther Rogessi

Esteticamente falando, pode-se afirmar que Da-niel Lewis é um dos homens mais belos do pla-neta – a revista inglesa Empire o elegeu um dos cinquenta homens mais bonitos do mundo no ano de 1990 – quanto as suas origens sabe-se ter nascido em Londres, filho de família in-fluente; sua mãe - filha de judeus e atriz con-ceituada, de nome Jill Balcon; seu pai um poeta laureado britânico, de nome Cecil Day-Lewis; sua irmã mais velha, de nome Tamasin Day-Lewis, uma conceituada cineasta, documenta-lista e chefe de TV.

O seu pai, não denotava interesse pelos filhos, faleceu quando Daniel tinha 15 anos de idade. Day-Lewis, não sentiu a sua perda, e diante do fato, lamentou a própria falta de emoção e dis-se: – Gostaria de ter sido mais íntimo de meu pai.

Daniel cursou escolas públicas e deixou os es-tudos aos 13 anos de idade; apaixonou-se pe-las artes dramáticas, conseguiu um papel no drama Domingo Maldito - John Schlesinger-, com empenho e dedicação buscou mais que apreender, pois, o que se aprende pode ser perdido, porém, o que se apreende, segue co-nosco – as minúcias do ofício.

O seu zelo profissional, e seriedade o fez, e o faz de fato, um dos homens mais belos do pla-neta. Após o seu primeiro papel, só voltou às telas dez anos após, quando se considerou amadurecido, e apto para expor o seu talento e técnicas. A representação, a dramaturgia, corria-lhe nas veias, porém, ele quis mais que isso, buscou si encontrar, para que pudesse repre-sentar e, assumir os seus personagens. A fama da família, certamente, lhe abriria às portas - ele foi além, buscou ser porta e ter a sua pró-pria chave.

Atuou em filmes para a TV, conseguiu papeis irrelevantes no cinema, o seu coração ansiava por um papel marcante, impactante, que lhe

permitisse colocar à mostra a sua versatilidade, e potencial interpretativo - um desafio, antes de

tudo, para si. Enfim, aconteceu!

A sua chance de ouro surgiu com a proposta de atuação, no filme "Minha Adorável Lavandaria " que, viria impactar, a indústria cinematográfica americana. O filme em questão relata a paixão entre um inglês e um árabe – administradores de uma lavandaria. Por este, e outro filme lan-çado simultaneamente, de título: Uma janela para o amor, onde Daniel atua um personagem distinto, face ao primeiro, Day-Lewis recebeu o prêmio da Associação de Críticos de New York, de o melhor ator secundário do ano.

A partir daí sucederam-se os convites para pa-péis marcantes.

Um dos mais impressionantes papéis de Day-Lewis aconteceu, no filme O meu Pé Esquerdo, show de interpretação, onde Lewis se negou, a sair da cadeira de rodas, onde vivia o seu per-sonagem, mesmo nos intervalos cinematográfi-cos - queria absorver mais e mais, das limita-ções de seu personagem – Christy Brown – um quadriplégico filho de uma família pobre, irlan-desa. O personagem considerado, por todos, como que inútil teve em sua mãe, a Ms. Brown, o único apoio e reconhecimento de um ser inteligente.

O único órgão funcional do corpo desse perso-nagem, o seu pé esquerdo, que não o impediu de se tornar escritor e pintor. Indiscutivelmente, esse filme, nos traz uma maravilhosa lição de vida, de superação tão bela, e grandiosa, quanto a de Daniel Day-Lewis buscando, sem-pre apreender, e se aperfeiçoar, visando dá o seu melhor – respeito para consigo, e para com o público.

A ele, os nossos aplausos!

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O sobrenome Machado *

Por Evalda de Andrade Silva Costa

A estrada àquela hora não era empoei-

rada nem quente. Na verdade, caminhar por

ela, às seis da manhã, quando grande parte da

população de Monte Belo ainda dormia, era

algo que podia dirimir as dores de um corpo e

alma solapados na vida. O sol leve, amigo,

aquecia as plantas orvalhadas de uma madru-

gada fria. A estrada levava alguém para longe.

Para além, muito além, da vida e das pessoas

de Monte Belo.

Passado um pequeno morro, e por um

rudimento de ponte, que mal podia sustentar

um burrico e seu dono, ambos velhos e que

carregavam capim para a criação, via-se, logo

acima, a fonte de água mineral, recém-

descoberta e recém-sensação da cidade. Por-

que aos poucos chegavam novidades e proje-

tos para o desenvolvimento da região. Ali, jazia

um engenho muito antigo, cujo herdeiro desco-

brira a tal água pura que, passada por uma sé-

rie de laudos técnicos, estava pronta para ser

comercializada.

Mas quem passava por ali além, é claro,

do burrico e de seu dono, percebia a beleza

fragmentada da estrada, toda retorcida de su-

bidas e descidas, apesar das dores que força-

vam essa pessoa a um caminhar lento e vaci-

lante. Mas o mato fresco orvalhado e o cheiro

da terra nas estradas expandiam a visão e o

olfato de até mesmo qualquer um acostumado

àqueles caminhos matutinos. Os anuns tam-

bém faziam uma festa. Pois já cedo, se deita-

vam na estrada e se alguém lhes atrapalhasse

o sossego, não tinha problema, esvoaçavam e

se ajeitavam nas estacas que demarcavam as

terras e engenhos dos homens dali.

Quem por ali passava além do burrico e

de seu dono carregava a alma um tanto escu-

recida. E nessas coisas simples do mundo ha-

via uma beleza restauradora, tão contrastante

aos negrumes de outrora... Mas quem ia as-

sim? Sem compromisso com a ida, sem hipó-

tese de volta? Karolina Machado. Mulher duns

trinta anos. Bonita, morena, olhos escuros. Po-

rém, um tanto pálida e sem viço. Um vestido

largo, nada de pulseiras e brincos. Cabelos

compridos, soltos ao ar fresco da manhã. Dei-

xara a rua do prostíbulo assim...

(Segue)

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Karolina parou um instante. As águas vindas do córrego eram limpas e atraentes. A Natu-

reza era atraente. Karolina namorou um riachinho dissidente que cortava os matos e que vinha

dos córregos acima. Bebeu-lhe da água. Murmurou uns sentimentos desencontrados. Desespe-

ro? Arrependimento por ter feito o que fez? Não, não. Tudo, absolutamente tudo havia sido feito

como quem executa um plano bem arquitetado, um projeto há muito articulado que amadurece-

ra numa persistência quieta dos anos, mas que só exigia uma última faísca de esperança se es-

vair para poder eclodir. Karolina deixou uma lágrima irromper. Mais uma. Mais outra. E mais ou-

tras tantas que vieram sem sufocar. Depois delas, um sentimento forte de gratidão animou seus

pensamentos e conclusões: as correntes que lhe atavam invisivelmente àquela condição sofrível

de vida estavam sendo, definitivamente, quebradas para sempre! Seu sobrenome Machado, sua

mãe não lhe legara à toa. (...)

*Trecho do romance Karolina Machado

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SONO

Por Evelyn Cieszynski

da (mo)rte ao nasci(mento)

tac-tic

– anti-horário –

não afogar

burlar

bengalas abandonadas para engatinhar

abrir os olhos

O es(cu)ro é o (co)meço

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Perdidos em Minas

Por Fátima Ribeiro Soares

Como se reencontra um homem perdido nas lonjuras de Minas? Guimarães me socorre!

Não sei me mover nas tuas veredas. O meu grande sertão é uma estreita faixa, Pernambuco.

Tenho fomes, tenho ânsias, tenho sedes. Cansaço de tanta lida...

Preciso encontrar uma trilha e alimentos para a alma.

Como se reencontra um amor perdido nesse estado diverso, nesse mar de gente?

Drumond me ensina! Em calçadas de ferro não sei me mover.

Venho de verdes mares, não nasci em Itabira. Embora traga singelas prendas para oferecer:

Desejo inconfidente, saudade barroca, amor rococó. Porém meu caminho está cercado de pedras.

Como se reencontra a pessoa perdida por essas montanhas?

Fernando Sabino! Tu sabes? Se sabes me ajuda!

Me indica um trem, uma estrada. Não sou um Giramundo.

Por essas lonjuras já estou mentecapto. E o que trago no íntimo já não posso entender.

Como se reencontra a perdida certeza?

Apelo a Gonzaga. Do exílio me diz: “As glórias que vêm tarde, já vêm frias,”

E o que foi às Gerais não volta pra ti. Sou Dirceu sem Marília perdido em Minas.

Porém, tal qual o pastor com “um coração maior que o mundo” Em dúvida, prossigo ainda buscando o reencontrar.

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Tachismo

Por Felipe Cattapan

Algum autor algum dia em algum livro escreveu que para se escrever poesia basta cortar os pulsos sem agonia e ver o sangue verter sem pudor meu sangue vertido correndo, escorreu recorrendo, discorreu convertido no vértice desta folha de papel: não vi poema, não virei poeta só vejo aqui este borrão sem meta Algum leitor algum dia talvez trace com fantasia o esboço de um sentido para o impulso irrefletido deste meu nada desmanchado Entretido omito a minha dor borrada revendo meu borrão sem estética evitando rever a cor do maior dos borrões sem métrica: este branco latente no papel permanente na sua ausência de ética; inerente às cores de qualquer pincel e onipresente em sua abstrata geometria; indiferente à nossa mancha assimétrica e ao nada de qualquer poesia.

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Camarão a Porto de galinhas

Por Chef Marcelo Romão

Uma receita inovadora do chef Marcelo Romão: Camarão ... feito na frigideira de ferro. Grande com anéis de lula, polvo, peixe namorado, verduras .... E manga!

Chapear os camarões o polvo e as lulas em fio de azeite ate dourar.... Cortar os peixes em cubos ou postas ... Retirar as espinhas Cortar legumes :cebola em pétalas : cenoura e rodelas, Pimentões vermelhos e amarelos Corte quadrados largos 3x3 ou 3x2 : tomate sem Pele : um talo de alho poro Corte as mangas em pedaços generosos ...tampe a frigideira até levantar fumaça e o peixe ficar no ponto .... Decorar com cheiro verde !!!

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Olhar

Por Germano Machado

Inere àquele olhar um pouco

de atenção ao outro olhar

a olhar?

Por que não conferir por dentro

no seu próprio íntimo o seu olhar

e a ânsia de ver e ser visto sem ferir

o outro olhar?

Rirá, um pouco talvez agora

menos irônico, mordaz : ao olhar atrás verá um inicial olhar

a querer ser visto, vendo...

Ver não é olhar: ver,

função da vista com sentimento, emoção,

sem comparar ou recriminar...

Aqueles olhos olham

esses olhos e apenas veem

sem compreender o por quê, o quê do olhar daqueles outros

olhos...

Um horizonte sem nunca chegar; limitar-se no deserto

parado do cego? apenas

conceito, preconceito,

a ferir fundo o peito oposto,

malsinado e posto

de lado...

Nem se trata daquilo da imaginação: apenas colar a pele do espírito abrir um pouco na do corpo...

Encontro

mais metafísico,

pouco, físico,

cobertura material-espiritual da solidão;

Olha o padrão, talvez,

talvez a lei o rei

o esquadro medidor centimetrada régua

sem coração, um tantinho de amor...

Rirá, se compadecerá... oh!

firme e ridículo fecha a porta e a janela do olhar,

friamente apenas raciocinará... oh!

ridículo e firme de novo...

Um dia, se não mudar de perspectiva, altiva

uma voz lhe dirá: nem olhar, nem ver; não há visão,

há somente apenas agora consigo mesmo, um ser em esvaída desilusão!

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SEMPRE FOI ASSIM

Por Gilberto Nogueira de Oliveira

Dr. Inácio e sua calvície,

Sempre lustrosa e perfumada.

Sua imensa barriga,

Sempre cheia e estufada.

Dr. Inácio lança uma ordem

E Orestes, cabisbaixo,

Obedece sem pestanejar,

Com sua barriga vazia,

E sua boca sem comer

O seu pão de cada dia,

E caminha sobre os andaimes

Sempre pronto a despencar,

E assim ele se comporta

Se o chefe necessitar.

Dr. Luis com suas botas

Sempre novas a brilhar.

Lança a chibata sobre Cazuza

Para ele trabalhar.

Cazuza sufoca o ódio

E caminha com sua foice.

Nem sequer percebe o sódio

Pelo corpo a derramar.

Seus olhos são profundos

De tristeza e sofrimento,

Trabalhando de sol a sol

Não descansa um só momento.

Derruba árvores com o machado,

O cabo lhe passa rente à cabeça.

O seu corpo todo inchado,

Não demora para que pereça.

Dr. Meireles lança um gri-to

Para seus subordinados.

Pedro ousa sorri

E ecoa a bofetada.

Pedro rola no chão

E não diz absolutamente nada.

Seu corpo começa a tremer,

Sua boca fica calada.

Em seguida se levanta,

Dr. Meireles, gargalhada.

Pedro sai cabisbaixo,

Seus olhos vertem lágrimas,

Pelo ódio é dominado.

E ainda cambaleante

Com sua fúria recalcada,

Pragueja contra Dr. Meireles

Com o pensamento em voz baixa.

Chora de dor e humilhação,

Com o ódio sufocado,

Orestes, Cazuza e Pedro

Sempre tristes se abraçam.

Inácio, Luís e Meireles

Sempre sorrindo os amordaçam.

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Oh Vida Marvada!

Por Hazel São Francisco

“A luz crua dos dias sertanejos

Brilham ofuscantes

Por muitas léguas. “

O Homem da Terra, agora um Migrante...

O chamado da Urbanização e as condições de pobreza, fez com que a gente do

campo, migrem para a cidade na busca de trabalho.

Sem estar qualificado, tem dificuldade em o encontrar, o que leva ao aumento do

contingente dos desempregados e dos subempregados.

E notória a ruptura familiar tradicional.

Homens abandonam seus lares para procurarem emprego na cidade.

As mulheres forçadas exercer o seu papel de chefe de família, sozinhas, sobrecar-

regadas, passam a questionar o seu tradicional papel...

O homem incapaz de exercer o seu papel tradicional de protetor e provedor, mui-

tas vezes sente-se envergonhado e desesperado...

“A luz crua dos dias largos

Flameja sobre o Homem e a Terra.”

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EU NÃO GOSTO DE ATEUS Eu não gosto de ateus, é o meu pr imeiro li-vro de ficção, publicado no fim de 2013 de forma independente, através da filosofia de financiamento coletivo, crowdfunding, de amigos e parentes que pagaram antes da gráfica imprimir os 300 livros, 30 reais no livro impresso e 10 reais no ebook. A história é sobre um jovem baiano de 18 anos chamado Al Pacino, aluno de direito e morador de Brasília, feliz com a pacata vida universitária. Apai-xonado pela cidade, nas horas vagas se diverte como baterista da banda de rock Flamingo Negro. Em uma manhã recebe em sua quitinete a visita inusitada de Luciffer Grttwanm (Diabo). O homem convida Al para acompanhá-lo em uma jornada internacional em busca de provas que serão usadas para sua defesa na disputa judicial contra seu irmão, Yahweh Grttwanm (Deus). O leitor descobrirá que Luciffer, Yahweh e todos os outros seres divinos de todas as religiões do planeta Terra não são deuses, mas sim seres inteli-gentes, fisicamente similares a nós humanos. Entre-tanto vivem em média 80 mil anos, chegam atingir 18 metros de altura e apresentam um domínio tecno-lógico altamente avançado para os padrões terrá-queos. Todavia, há milhões de anos houve uma guerra devastadora no planeta deles, Ding, que orbita ao redor da estrela Krebbhanj, conhecido por nós terrá-queos como VY Canis Majoris, situada na constela-ção Canis Major. Regiões foram bombardeadas com armas biológicas que foram aos poucos interferindo no processo de fotossíntese realizado pelas plantas, as tornando incapazes de produzir oxigênio. As flo-restas e as algas dos oceanos, responsáveis por gran-de parte da produção de oxigênio do planeta foram afetadas. Após esta catástrofe, todas as autoridades resolveram se unir para salvar Ding. Depois de mui-ta discussão, eles decidiram adotar a pesquisa de um polêmico cientista dingir, que anos antes havia des-coberto em seus experimentos no planeta Bèna, ha-bitado por seres pensantes similares aos terráqueos, que as preces e orações feitas aos deuses poderiam ser captadas por equipamentos específicos e trans-formados em oxigênio. Investimentos nunca vistos foram feitos para construção das turbinas e estações para iniciar rapidamente a captação de preces, sal-vando o mundo dingir. A partir de então, houve uma busca incansável no Universo por novos locais habitados por seres pensantes o que culminou com descoberta de 17 pla-netas, entre eles a Terra. Com o passar do tempo, a captação de preces deixou de ser explorada direta-mente pelos governos e passou para a iniciativa pri-vada que, após captar as preces, vendia para as em-presas responsáveis por transformá-los em oxigênio, um negócio extremamente lucrativo visto que cada

dingir era obrigado a pagar um imposto por respi-rar. Com a profissionalização deste ramo empresa-rial, dingirs começaram a atuar como deuses, insta-lando chips nas cabeças dos seres pensantes de ou-tros planetas, mantendo diálogos com o propósito de manter a fidelidade do indivíduo e assim aumentar a quantidade de preces, significando mais lucro. Isto tornou o ramo de preces altamente competitivo. Dentre as maiores empresas, a YAHFFER GRTTWANM ocupa o topo, tendo como acionistas majoritários os irmãos Yahweh e Luciffer. Em todos os planetas em que atuam, era adotado o duoteísmo como forma de captar fiéis. Todavia no planeta Ter-ra, Yahweh aproveitou o fato de ser responsável por administrar os negócios da empresa e traiu seu irmão Luciffer impondo o monoteísmo aos fiéis judeus e cristãos. Para não ser descoberto, Yahweh manipu-lou planilhas financeiras da empresa para que Lucif-fer e nenhum outro acionista desconfiassem do gol-pe. Mas a mentira foi descoberta e após constatar a traição do irmão, Luciffer entrou com um processo judicial contra ele e por isso recebeu uma autoriza-ção para viajar ao planeta Terra para captar as provas que denunciariam Deus. Ao empreender sua jornada, Luciffer, acompanhado do irônico e divertido ateu Al Pacino, descobrirá as armações de Deus para transformá-lo na própria encarnação do mal E é neste contexto que a viagem internacional pros-segue com descobertas surpreendentes que envol-vem:

O Codex Gigas, popularmente conhecido como a Bíblia do Diabo, que com-põem o acervo da Biblioteca Nacional da Suécia, Kungliga. biblioteket;

O teto da Capela Sistina, no Vaticano, pintada com maestria pelo artista re-nascentista Michelangelo Buonarroti;

Os poemas originais dados como perdi-dos da Commedia do Dante Alighieri, envolvendo a Abadia de Monte Cassi-no, na Itália, e a moderna Singapura;

O Muro das Lamentações, na cidade anti-ga de Jerusalém, onde toda a traição foi iniciada.

Al descobrirá que nem tudo é o que aparenta, e os mocinhos nem sempre estão do lado do bem. Melik Silva Brün Mais informações: www.meliksilvabrun.com

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O Que Nunca É

Por Hugo Dalmon

Não há dúvida presente no que não existe, Há dor de mentira em quem por ora insiste

De ser outra vez uma inventada história Em busca de uma falsa glória, quando nada

vive Em torno de uma bela fuga que se ilude

E com medo de perder o que nunca teve.

Há cor em tudo que mente Há cor em toda essa gente

E o que não existe luta por uma história Quando fora da quimera recalcitrante

Haverá tão só a energia Sem a cor angustiante.

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A DANÇA DO SONHO

Por Inês Carmelita Lohn

Acordei no meio de uma noite Percebi que o vento entrava

Na janela que estava entre aberta As cortinas de renda dançavam

Como bailarinas num palco Numa dança sincronizada.

Por um momento pensei

Que estava sonhando acordada O silêncio, vinha de fora para dentro

Formando um som musicalizado Eu, escutava aqueles sussurros lentos

Como instrumentos harmonizados.

Fiquei de pé no meio do quarto E comecei a dançar lentamente

O vento, tocou em todo meu corpo A janela abriu-se por completo

Eu, dancei, dancei, dancei e dancei Abri meus, olhos e acordei...

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Cuide bem de seus talentos:

um dos pilares para o sucesso empresarial

Davi continuou na Internet lendo seus e-mails e encontrou um depoimento de uma ex-aluna e empresária, que solicitou que disponibi-lizou um discurso para outras pessoas interes-sadas em vencer no campo dos negócios.

****

Melhorei meu empreendimento após a conscientização de que só com o meu conheci-mento e a habilidade de empreendedorismo nato não seriam suficientes para o sucesso da minha empresa.

A vida me ensinou que determinadas ações são realizadas com eficiência e eficácia quando somadas à sua experiência, conheci-mento e a expertises de outras pessoas. Mas para que isso ocorra é necessário ter habilida-de e competência para escolher os talentos que deverão agregar valores ao seu empreen-dimento, através de seus trabalhos e de suas experiências.

Conscientizei-me também que cada pessoa tem sua forma e seu jeito de trabalhar. Às vezes, pessoas com a mesma atividade, embora percorrendo caminhos diferentes, che-gam ao lugar que todos almejam: resultado. “Quando colocadas em um mesmo sistema, as pessoas, mesmo com diferentes perfis, tendem a produzir resultados semelhantes”. (Peter Senge)

É comum, no dia a dia das empresas, a convivência de pessoas com diferentes formas de pôr em pratica sua capacidade, competên-cia e habilidade, porém todas têm sua impor-tância na obtenção dos lucros e do sucesso da empresa. Líder e liderados devem saber convi-ver com a diversidade generalizada, desde o ponto de vista das ideias até as emoções. Tor-na-se mais fácil quando se tem a consciência de que ambos devem saber respeitar, reconhe-cer e valorizar o trabalho de cada um.

Após escolher e decidir com quem vai trabalhar, é de fundamental importância trans-mitir segurança e confiança.

Outro passo relevante é repassar aos colaboradores, com precisão e clareza, infor-mações da empresa e instruções de como se pretende trabalhar, tais como:

Apresentar a missão, a visão de futuro, os va-

lores e a filosofia da empresa;

Mostrar o objetivo do empreendimento e discu-tir o porquê de sua importância;

Apresentar as metas que se pretende alcançar e os caminhos a serem percorridos;

Definir os papéis e falar da importância do comprometimento com a qualidade, com a éti-ca, com o meio ambiente e o social;

Estabelecer metas e prazos que possam ser cumpridos;

Conscientizar-se de que a obtenção de resulta-dos é importante para os dois: empresa e cola-borador;. É necessário que o profissional saiba relacionar-se com suas ideias e com as dos outros, assim como os dirigentes devem saber incentivar o compartilhamento. E que a busca pelos resultados positivos sejam para ambas as partes.

Um dos meios para se obter o sucesso empresarial é aproveitar talentos, capacitar e empolgar os colaboradores a trilhar mais uma milha a cada dia, dar oportunidades e distribuir resultados. “O compromisso com o crescimento pessoal é importante e é especialmente impor-tante para aqueles que ocupam posições de liderança”. (Peter Senge)

É bom para a empresa quando procura proporcionar um ambiente saudável, amigável e sustentável. É nessa linha que se valoriza a alma do empreendimento: pessoas.

Ficar vigilante para que os problemas, as dificuldades e as crises não gerem situações de estresse na ambiência interna da organiza-ção, sem inibir o desempenho e o bom relacio-namento dos talentos da empresa.

Faz toda a diferença para uma empre-sa, no mercado em que atua, quando proporci-ona para os seus colaboradores benefícios e vantagens além dos que eles têm assegurado por lei.

Reconheça, valorize, respeite e cuide com carinho de seus talentos.

Escute a voz de quem tem experiência.

“O homem de grande experiência tem inúmeras ideias; Aquele que muito aprendeu, fala com sabedoria”. (Eclesiástico, 34,9)

Boa Sorte!

Texto retirado do Livro Criar, Empreender e Amar

de Iris Sampaio

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NO UNIVERSO DE

GUACIRA MACIEL

(Des)ordem

Existe uma dimensão que é desconhecida

por quem lê a obra de um autor, que é o processo da

criação... o momento primeiro, quando as ideias vão

surgindo por qualquer motivo; em minha cabeça

esse momento tem uma nuance de caos, em conse-

quência da velocidade com que os pensamentos bro-

tam; da forma incontrolável com que chegam à

mente e vão estabelecendo vínculos, ainda que pare-

çam totalmente incoerentes ou sem elos entre si. Se

fosse escrever nessa não ordem quase absoluta, se-

ria impossível a compreensão daquilo que preciso

dizer. Entretanto, o fato de tentar estabelecer algu-

ma coerência não deverá tirar o que existe de me-

lhor na criação, que traduz a beleza dessa aparente

desordem, ou mesmo incoerência, que a mim se

configura o verdadeiro encanto de escrever. Até

porque, o próprio mundo parece ter-se desvinculado

de qualquer vislumbre dos anteriores paradigmas e

entrado numa vertiginosa busca, não por uma, mas

novas ordens, novas pedras filosofais... muito em-

bora isso não seja novidade, mas um acontecimento

recorrente na trajetória da humanidade.

Venho buscando explicar a mim mesma as

coisas que percebo ao meu redor, a forma como as

compreendo, ou seja, como elas se mostram a mim,

à minha sensibilidade, ao meu universo íntimo, de

acordo com essa percepção e por que o fazem...ou

seria o contrário?...na verdade, isso é muito difícil

de ter um ordenamento linear; elas também poderi-

am evidenciar a percepção que tenho das coisas, de

acordo com a sensibilidade...até achei melhor as-

sim...a minha percepção é desencadeada pela minha

sensibilidade. É isso aí, acho...vê-se, dessa forma,

como não existe uma única ordem na complexidade

do Universo. Vê-se como não existe certo e errado e

que a verdade não tem núcleo, a não ser em univer-

sos pessoais, que podem partir de valores e concei-

tos específicos nos quais também não se pode inter-

ferir, mas que deverão se abrir à luz da considera-

ção dos opostos complementares (mecânica quânti-

ca). Cada um que ler este e, talvez, todos os meus

textos, poderá achar que a ordem seria outra, e a

intenção é essa mesmo: rever conceitos... a minha

compreensão é a de que, qualquer que seja essa or-

dem, significa que uma possibilidade não exclui a

outra, e que a cada nova incursão teríamos outras

tantas a considerar...

Não me proponho a dizer nenhuma verdade;

neste momento penso desta forma, mas, à medida

que for vivendo, aprendendo, estudando, me relaci-

onando, também irei incorporando outras visões,

ampliando ou mudando as que já expus aqui ou em

qualquer outro lugar, podendo reescrever tudo a

(Segue)

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a partir de uma nova ordem, inerente àquele momento, reconstruída ou elaborada nas interseções,

uma vez que o todo não representa, apenas, as partes, mas também um terceiro espaço ou outros mais...

O mais importante para mim é expor essa inquietação e reafirmar a inexistência de uma verdade

imutável e única. A criação é fruto das elaborações de um íntimo e desconhecido universo pessoal, inerente

a cada ser (cada observador), estimulado pelas vivências, buscas, interesses, emoções e estados de espírito

momentâneos, que na dinâmica da vida quase sempre são representados sob diferentes linguagens e nuan-

ces novas. Em sendo assim, vou liberá-los para as suas...

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O MAR

Por Isabel C. S. Vargas

Mar tão sonhado

Por quem não o conhece.

Desbravado pelos navegadores

Em busca de sonhos.

Mar dos poetas, dos apaixonados,

Das serestas, dos devaneios.

Mar que se funde com o céu

No longínquo horizonte

Onde repousa o olhar

De quem busca o infinito.

Mar que rima com luar

Nas noites tropicais

De quem descansa olhando as estrelas

Que guiam navegadores, marujos, poetas

Seres de alma errante em busca da felicidade.

Mar alegria dos jovens, crianças, adultos,

Mar que trás recordações de épocas felizes,

De folguedos de férias, de amores

Que se tornaram eternos navegando

Em ondas de nostalgia.

Mar, ora calmo, ora revolto,

Que a todos recebe com igualdade

Em um clamor de alegria

Tornando-se inesquecível

Para quem em suas águas se revigora.

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Perigo de Guerra

Por isabela Gomes

O anúncio de guerra me estremece a alma. Mesmo que ela ainda não tenha se efeti-vado, mesmo que nunca vá se efetivar. Só a possibilidade de que possa acontecer... me entristece. Quer dizer, se ainda estamos querendo resolver problemas com guerra, não nos diferenciamos em nada dos nossos antepassados que faziam política sobre sangue derra-mado. O fato do próprio exército ainda existir é triste, temeroso. Mesmo que nosso exército seja fraco, nós ainda preparamos homens para a guerra. Hitler preparava homens para a guerra, por exemplo. Esses homens preparados para a guerra tomaram o poder em 64. Não creio que seja necessário dissertar muito sobre isso. Existem alguns anos e nomes que falam por si só. Já ouvi dizerem que precisamos “melhorar nosso exército”. Melhorar nosso exército seria aceitar a regressão e praticá-la descaradamente. Nos meados desses milênios A.C. as coisas eram resolvidas com guerra. Nos anos de 1914 até 1945 as coisas foram decidi-das com guerra. Será que já não temos experiência o suficiente? Será necessário mais uma guerra na Rússia? Quantas Guerras Mundiais são necessárias para fazer uma nação mudar seu rumo? E como nação aqui, peço licença poética para dizer que o mundo inteiro é a mesma nação. Somos a nação mundial. Nós humanos junto com outros animais e vegetais, povoa-mos juntos esse espacinho chamado Terra. Ao invés de nos destruirmos, não seria mais vantajoso nos ajudarmos? A energia e o dinheiro que se gasta com armas e guerras seria muito mais bem gasto em salvas florestas, pessoas famintas, países sem água! O fato de que nós humanos ainda busquemos solução na violência, na guerra, na morte, me estremece a alma. Mesmo que ela não se efetive, alguém pensou que seria uma boa solução.

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GATILHOS CORROMPIDOS: RIMAS EXAUSTAS

NUNCA ANTES A AUTOESTIMA ESTEVE TÃO OUT

Por Ivane Laurete Perotti

“Sob o alpendre

o espelho copia

somente a lua...”

Jorge Luís Borges

Faces plásticas endure-cem a rua pontilhada por cabeças ausentes: descrentes! Quando foi que tudo deu errado? Carcomidas expressões escondem-se em mangas compridas: puídas! Um ás sem copas abriga-se por entre as árvores despeladas na urdidura que ladeia o cortejo descendente: olhos brancos, mãos em riste. Passos vazios atroam no picadeiro das pedras frias. É dia! Outro dia de infinita busca pela calculada eufo-ria. Pecado mortal sentir o vão aberto entre os mundos: moribundos! Viva a hipocrisia! Quan-do foi?

Sonhar o sonho não ti-nha idade: agora carece de juventude, habeas

corpus da alegria. Quem diria?

Cansados do prelo, acor-rentam-se os desejos de ser e ter na orla gasta do destino: vaga e impúbere filosofia. A obscu-ra vontade molhada nas pregas da vida reco-lhe o manto: espanto! Foi-se o tempo da novi-dade, a alma do homem sobrevoa rasante a consciência falida: desmedida! Nem o pão nem o vinho: um sopro da reversa ortodoxia.

Frouxas alavancas da sobrevivência motivam o drible rimado na cur-va da imitação: o que cabe a um cabe a ou-tros. Eu e eus recheiam o singular compasso: coletiva homogeneização. Autoestima, estima

alta... palavras órfãs apelam para o discurso estético, nada poético, funesto gesto de pre-servação. Doloridas dobras sobram às mar-gens do meio, três centeios, rede de peixes, inválido dom da multiplicação. Valham-se as consoantes sem dentes, os dedos pendentes em comiserada oposição: milagre! O homem moderno reage intacto à rude intervenção: sili-cone, fantasia, gravata e terno, salto alto, cirur-gias de opinião.

Intrigante a intimidade que empoa a poesia nua; o costume motiva o mito: sem grito! Frágil linha que aperta o nó da corda por onde, debalde, deslizam os versos em camadas de tinta: cicatrizes da vida adulta, make-up do cotidiano. Milagres da civilização.

Gostar de si mesmo... gostar de si mesmo... gostar de si mesmo... onde estava eu? Ilusão sóbria: muitos sabem quem são. Com o gostar vem o costume, o medo, a compreensão, o tédio, a criativa ele-vação. Mais ou menos como a lua que, ao fa-zer reverência à rosa posta no alpendre, en-contra um jeito para refletir sua devoção: as rimas exaustas cumprem de longe, muito de longe, com o propósito da acomodação. Iro-nia? Talvez, destino de quem pensa e pensa que não encontra razão.

“Qualquer destino, por mais longo e complicado que

seja, vale apenas por um único momento: aquele em

que o homem compreende de uma vez por todas

quem é.”

Jorge Luís Borges

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Carrossel da Irmandade da Vida

Por Jania Souza

Em borbulhas de amor, dedo da Criação

descerra névoa da escuridão na revelação dos dias.

Seu sopro, berço suntuoso da vida

abre as páginas da poesia

escrita com a raridade e a perfeição ímpar

do Idealizador da beleza da diversidade da vida.

Formas multiplicam-se do uni ao pluri

em bandejas, verdes matas cerradas

desertos de areia, de sal, de gelo e até de almas...

A vida espalha-se por terras, rios e ar

na enchente de viventes sobre campos, oceanos, montanhas

até nas profundezas desconhecidas por todos os mortais

donde se ouve o silêncio do canto das flores

sepultura da paz, outrora reino do horizonte sem fim

no abraço à eternidade em pleno arrebol de alegria infinda.

Gotas de orvalho são lágrimas de prazer

sobre a magia debulhada da diversidade da vida.

A passarada entoa convite à reflexão sobre caos no planeta.

O arco-íris, essência da própria felicidade, sorri

e todos se encantam com a mensagem das cores

e o milagre da vida repete-se simples,

constante, sem fim.

Tórrido vendaval esse amor aos sentidos

secreto segredo da abelha rainha

imã na atração à beleza da diversidade da vida.

Seu voo ébrio entre aromas sensuais e díspares

polemiza luxúria no mágico distúrbio de infindos tons

irresistível porta aos pecados humanos mundanos

rico oceano em fulgor, variedade de infinitas espécies

empréstimo ao brilho da harmonia do poder do universo.

Nem mesmo os parcos jardins de espinhos e egoísmo ego

(veneno aterrador a devastar a vida no ecossistema)

conseguem destruir a força da restauração dos sábios dedos das crianças

resistência aguerrida na preservação de todas as espécies.

Ante a resposta dos vivos à necessidade da vida

a Criação em sinfonia rejubila-se

com a variedade diversa da vida

numa beleza de encanto único, imperdível!

Maravilha magnífica de todos os sentidos sensitivos

a relação de baleias, homens, rouxinóis, andorinhas

comunhão do cosmo com o carrossel da irmandade da vida.

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DELÍRIOS ONÍRICOS

Por José Alberto de Souza

Ali estávamos apenas tu e eu,

quando inesperadamente no recinto foi introduzido

e colocado sobre pedestais um suntuoso esquife,

logo depois os candelabros postavam-se de atalaia

e também duas poltronas com assento de palhinha que nos indicaram para sentar

e ficamos ali recebendo equivocadas condolências,

enquanto uma névoa seca subia do chão ao teto

e aromáticas fragrâncias impregnavam o ambiente,

as pessoas chegando demonstravam seu sentimento

e nós sempre impassíveis a representar os papéis que nos foram destinados:

tu - o de prendada viúva

e eu, quem poderia conceber tão esdrúxula ideia?

- o de primeiro pretendente!

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Origem versus Destino...

Por José Carlos Paiva Bruno Platão afirmou que as almas caem em corpos por castigo. Onde protesto e digo: a vida e o homem por si só, são siso das grandes afrontas e desafios ao inimigo. Razão pela qual dis-cordo veemente dos comportamentos antinaturais: tatuar-se, drogar-se, perverter-se, como autoflagelo. A paz do corpo e espírito, saúde; vem do permanente encontro com Deus, que é também toda natureza presente. Para que milagres (intervenções do divino no terrestre) aconteçam, carecemos apenas me-recê-los. Onde o meritório (certamente pós-purgatório) identifica-se naturalmente saudável, nada mais. Não pretendo aqui um tratado da virtude, tão somente auxiliar na busca do me-lhor caminho entre dois pontos, nossa familiar reta. Respeitando todos os pensadores, ante-riores, contemporâneos e ulteriores, seus motivos formas e cores, até mesmo pretensas normas e retóricas... Da agonia de Sartre à perplexidade de Nietzsche. Afinal, as famílias existenciais e a sociedade organizada, definiram-se anteriormente em plano de amor, mere-cemos e optamos em estarmos aqui. Assim, do meu livre arbítrio alcanço o destino que que-ro. Vero verbo; escolho a superação de Santo Agostinho, mundano virtuoso, merecedor da Graça: toma e lê! Chove por aqui; arredores da Serra Bocaina. Manha das águas em retorno evaporação, si-nonímia metáfora, consequência de nossa atitude ação. Quando olho pela janela esse ver-de molhado, lá adiante os cumes azul oxigênio, penso no Deus maravilhoso, soprador da-quele barro Vida... Então, que seja atrevida felicidade! Desconheço qualquer talento oriundo – que é um vindo do fundo – da indiferença... Em pro-sa, sendo seja ou veja; oxalá vindo peregrino, porque despreza norma e medalha circuns-tância, apenas intensidade pureza da manjedoura infância. Esta que descobre a sabedoria, percorrendo a distância. Revendo a Peri Archõn de Orígenes, irremediavelmente reencontro sua triste mutilação. Volitiva crudelíssima autônoma, antagônica a do castigo de Sun Tzu (Arte da Guerra), engendrada via destino inveja. Este sem pés, aquele eunuco; onde rabis-co arguto, sem ópio, sem ódio, ou perda desrespeito irreversível. Respeitando meu corpo alma e outrem, traduzidos templo e vontade divinos. Seja nossa inquietude – tempo – o ver-dadeiro desejo de melhorar...

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Destemor...

Por José Roberto Abib

Destemor,

Horas frias,

Folhas soltas ao vento,

E este rico abarcar de razões

Junto à quietude dos sentimentos,

Na verdade já agora despertos porque

A vida e suas estações voltaram a ser,

Portanto, destemor havendo, ao frio vento

Venceremos,

Até que o chão se alongue ainda mais sob

Os pés que nele caminham,

Continuando a alma enamorada de si própria,

Eis que se sobrepôs ao imprevisível teor

Que um dia a sina, mostrar conseguiu,

Buscando em nós as primeiras respostas

Aos contextos que despontaram qual se fossem

Íngreme desafio à coragem de amar,

Porém, sempre ciosos, nossa propensão fez

Renascer o apego à liberdade,

Cremos na veraz prescrição, os céus fazem

Com que a vida desponte do próprio alcance,

E, se sombrias alamedas percorrermos, o tempo

Dará amparo aos passos com que prosseguir......!!!

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Confissões Conturbadas

Por Julia Antuerpen

O Último Dia para Ela

Era quase meia noite do início de Janeiro, há 5 anos atrás. Eu fazia um bolo enquanto esquecia. Mas a essa altura do casamento, eu já tinha desisti-do de esquecer de primeira. Detestava quando meu marido tirava o leite da geladeira e não voltava. O leite ficava fora o dia todo, quente, até eu chegar à noite. Eu só gosto de leite gelado e ele sabe disso. Ele simplesmente se servia e esquecia o mundo à volta, como se nada mais importasse. O homem que eu amava e admirava era uma fraude.

Correndo o risco de parecer redundante, e certa novamente, telefonei para o marido, que não atendeu. Voltei para o bolo. Fazer o quê com leite quente? Pelo menos essa frustração sumiu. A verda-de é que aí o nosso amor já tinha, há muito tempo, acabado. E o leite quente só piorava.

Quando nos conhecemos, jamais me ocorreu questionar a minha empolgação quando ele dizia que ia trabalhar noite adentro. Estava eu desespera-da para conquistar o reconhecimento e afeição da-quele homem. Admirava onde ele tinha chegado e a maneira como conseguia fazer seu sistema nervoso parar, apenas por dispensar alguns preciosos minu-tos falando com você. Tinha uma ressonância enig-mática e um jeito de herói. Eu precisava de um he-rói naquela época, quando minha moral idônea e minha bondade infantil se acoplavam à minha inge-nuidade. Seria tão melhor se tivesse sido criada na sarjeta! Veria o oportunismo dele de primeira.

Demorou, mas entrei para a lista dele: a es-posa bonita em meio às reportagens na tv, ao cartão de crédito do tamanho do PIB de alguns países, fes-tas chiques, viagens de príncipes com tempo e ener-gia de sobra para toda esta encenação. Ah, sim, há também mais um item da lista: as amantes bonitas. Clichê, né? Mas os clichês estão sempre certos. No começo, perguntei a empregada, revirei gavetas e o stalkiei no facebook. Virei quase um vingador, dis-posto a rodar a cidade atrás do seu inimigo. Me cul-pei por escolher uma pós graduação e não uma aca-

demia. Pensei se na vida passada não fui Ana Bole-na. Não seria um desespero total, mas é um deses-pero total quando você acha que seu marido a trai sem motivos. Tao torto e tão errado foi tudo isso.

Quando limpava a cozinha, já estava num impasse, em vigésima votação, sobre dar ou não outra chance, eis que ele chega. Grandioso, como a cena pedia. Um metro e oitenta de altura, garboso, com um quê de galã. Os anos sempre chegam mais gloriosos para os homens. Estranhou o bolo, eu nunca cozinhava. Me perguntou qual era a ocasião. Mal acabou a frase, que tinha aquele tom de esposa relapsa que nunca cozinha, comecei a gritar em ple-nos pulmões e para todas as casas do quarteirão.

Queria que confessasse. E olha que fazer seu marido confessar uma traição é uma arte. Arte mo-derna, daquelas que ninguém sabe como faz. Mas era isso: uma confissão em alto e bom tom. Sim-plesmente. Nem pedi todas as outras coisas que me eram de direito: os motivos, as vezes, com quem e quem sabia.

Ele se sentou na sua cadeira majestosa do escritório e defendeu-se sobretudo com um silêncio, hora intercalado com um riso do tipo “garota – ele sempre tinha meus anos mais jovens na ponta da manga - não brigue comigo”, como se associar seu amor com uma traição fosse de uma irrelevância absurda. “O que você quer que eu faça, grite, ber-re?” disse ele. Eu só queria mais do que estava ven-do. Lia subtextos no seu silêncio: seus olhos e a ma-neira irritante de estar e não estar ali, fingindo reco-lher as migalhas do prato do bolo, davam o testemu-nho de uma história terrível. Sabia que estava no coração dele também. Os anos mais velhos o permi-tiram ter mais experiência nisso do que eu, mas compreendi o jogo dele. Ele quis deixar a duvida: culpado ou inocente? Uma grande covardia inteli-gente.

“Querida – veja bem este querida era falso, tá? - Tem algo que eu possa fazer por você?” O que diabos eu deveria responder à isso? A resposta foi uma enorme lista, durante a qual ele limitava-se a olhar para o fundo da sua taça de vinho. Nem havia percebido quando ele se serviu. Claro que a taça foi para a parede. No primeiro silêncio desabafei tudo, neste resolvi jogar coisa. Foi tudo que estava ao al-cance da mão.

(Segue)

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Ele permanecia com sua expressão glacial perante este mundo caído, como se tivesse um poli-cial falando que ele tinha o direito de ficar calado e tudo que dissesse seria jogado contra ele. Será que terminava com todas assim ou variava de acordo com a freguesa? De onde eu tirei que eu teria suces-so com tal vendedor?

Depois que acabaram os artefatos quebrá-veis, ele continuava sentado de tal maneira que du-vido que pediu permissão para Zeus para agir como o tal. Finalmente ele se levantou e quase caiu na dobra do tapete. Quis rir. Imaginei que era Zeus o empurrando perante a ousadia que teve. “Está ques-tionando o que eu digo?”, disse ele. Enchi a boca e com orgulho falei: “Sim e a sua índole”. Ele ficou surpreso. “Alguma objeção? Evolução de alma?” continuei. Novamente o silêncio vindo do seu pro-montório provaram que os seus argumentos eram tão mal elaborados quanto suas intenções. A coisa não tá fácil nem na egosfera.

E foi assim noite adentro. Um ficou domi-nando o outro à sua maneira. Porém, somente quan-do isolada em meu quarto, percebi que a reconcilia-ção estava junto com Godot e não viria nunca. A verdade é que querer terminar não muda nada, ter-minar muda tudo. Nossa relação terminou com o nascer do sol quando liguei para o advogado. Ao final, um Mazel Tov irônico. Foi a última coisa que disse para ele, assim, só para acabar com uma pro-vocação. Ele, evidentemente, não percebeu que pre-cisava de alguém tão boa quanto eu.

Nos dias seguintes, almejei por um mundo onde era socialmente aceito sair na rua enrolada num cobertor. Só assim para sair da cama. Me abor-reci muito. Depois, o ódio que senti me deixou con-fusa, mas foi neste momento que resolvi vence-lo em seu próprio jogo. Porém, fui a luta por conquis-tas perenes e por meios verdadeiros. Hoje, 5 anos depois, fui num coquetel do ramo. Ne-le, as pessoas mais de sacanagem que o universo já criou. Tive a oportunidade de ve-lo em uma perfor-mance final de lobo-cordeiro. Ele com uma mulher. Sem surpresa. Ele é cafajeste, é o que eles fazem, é a versão de golfe para eles. Ela com ar de gueixa obediente com gula e um sorriso tímido, mas com belos peitos e ar de primeira dama. Eu, sem o ar de ex esposa sofrida, fui retocar a maquiagem no ba-nheiro, afinal a vontade era de pegar a faca do patê em cima da mesa e enfiar no pescoço dele. Calma. Não convém, senão eu não seria mais convidada

para coquetéis. Ao chegar perto dele, a contra gosto, percebi que, nestes 5 anos que se passaram, parecia que ele havia cometido suicídio em parcelas. “Boa Noite” disse a voz que surgia da máscara. Apenas apertei-lhe a mão firme e sai. A verdade é que ele caiu muito desde que terminamos. Na carreira e na vida. Percebi que agora ele era desprezado – quando e se mencionado. Sua notoriedade de lobo em pele de cordeiro, pelo visto, fortaleceu a deterioração de sua imagem.

E agora, por fim, escrevo esta carta para mim mesma, como prova de autoestima, para mos-trar que, em meio a tantas mentiras nasceu uma grande verdade: eu não precisava da confissão. Per-cebi que não fui eu a jovem que foi seduzida por ele, e sim ele por mim. O imagino hoje voltando para casa, tirando esta máscara que o fazia ser duas pessoas, mas, ao cair o pano, ele se via como não sendo nenhum dos dois, como não sendo nada. Nem um homem, nem um profissional, só um aproveita-dor. Que triunfo terrível. Hoje vejo isso como uma cicatriz de guerra: proeminente e orgulhosa, que me ensinou a sobreviver nesse mundo. A vingança que eu busquei resultou num belo final: eu, o Hamlet sem a indecisão. Ele, a Lady Macbeth sem a sinceri-dade. Não tive a confissão nem tenho ele como ma-rido. Mas agora tinha mais. Tinha a vingança. Tinha a verdade. E leite gelado.

O Último Dia para Ele

Eu sou um homem à minha maneira. Não fico lembrando como foi. Da nossa historia, já em si bastante insossa, em muito já esqueci. Mas ao vê-la hoje no coquetel, me pus a pensar.

Lembro-me que, na noite final, cheguei e ela tinha feito um bolo. Ela não era de cozinhar. Aliás, detestava. Achei um gesto de amor. Numa noite qualquer, uma coisa desnecessária como aquela só podia ser por amor. Perguntei qual era o motivo. Aparentemente o motivo era ser uma quitute para o término. Algo para se comer impulsivamente em meio aos berros e aos choros. Ou simplesmente algo para jogar na minha cara que até no ultimo dia do relacionamento ela havia feito algo por mim.

(Segue)

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Ela me dizia, com um sentimento tão trágico quanto uma heroína martirizada comparável a Prin-cesa Diana, que queria a confissão das minhas trai-ções. Não tinha por que, era exaustivo e o dia estava acabando. Tantos motivos para a inutilidade daqui-lo. Aquela mulher doce, xingando sem nenhum constrangimento, se entregava aquela inquisição de corpo e alma, e eu querendo me livrar para jantar. Não fiz esforço para esconder isso e fui considerado um cara ainda menos confiável. Não sei como as crises anteriores se resolveram. Eu faço mágica, su-ponho.

Tudo que ela queria era me ouvir essa con-fissão como se fosse o ultimo helicóptero de Sai-gon. Confissão. A palavra em si é ridícula, a ideia inútil. Desde quando confissão e verdade são a mes-ma coisa? Sempre achei injusto uma confissão ser tida como prova em tribunais. Tem tantos tipos di-ferentes de mentira, porque não há de ter tantos ti-pos diferentes de verdade?

Escolhi a postura de ficar quieto. Nem se eu quisesse teria dito. Tudo que era verdade, quando dito para as mulheres que estive, parecia transparen-temente falso. Quanto mais eu me esforçava para ser sincero, pior tudo ficava. Acabei me dando por vencido. Então, entre assumir ser um sacana infiel ou deixar tudo na eterna dúvida, tentei ao menos cooperar com minha imagem pública e não dizer nada. Alguma verdade há nisso, não há? “Eu só es-tava trabalhando nos projetos” disse. Elabore isso! Não, não. Só mentiras tem detalhes. Limitei-me a falar com tamanha solidez, como se a frase se en-contrasse no Velho Testamento.

Foram três horas mais ou menos ininterrup-tas de monologo nada amistoso, onde ela, com a empolgação, me informava todas as minhas falhas de caráter. Uma formulação precoce (e não necessa-riamente errada) atrás da outra, para em seguida me torturar com cada suspiro envolto de lagrimas. Vol-ta e meia eu me pegava olhando para o pulso, mas havia deixado o relógio para arrumar.

“Querida, tem algo que posso fazer por vo-cê?” Um silencio agora seria maravilhoso. Mas não. Ela reviveu cada ponto do relacionamento. Caçou todas as bruxas que pode. Moldou a história como uma faca que é minuciosamente afiada. Fez tudo que pode para não aceitar o fato de que coisas ruins acontecem. “Com o dedo de alguém, claro” respon-dia ela. Ironia não lhe servia bem, sugeri voltarmos para a apatia e o gelo. Dai em diante só restou-me

fazer de surdo enquanto ela gritava a sua calma. E de cego enquanto ela chorava a sua força. Ela queria me magoar de todos os jeitos, inclusive com o senti-mento de superioridade que ainda não tinha. Nunca vi uma mulher com uma opinião mais equivocada sobre tudo. Quanta sensibilidade a flor da pele. Por-que diabos mulheres tem tanta necessidade de se-rem sensíveis?

Continuava sentado de frente para ela, como um monumento, uma estátua. Não respondia. Dei-xei tudo eternamente no ar, tal qual dita Miranda Warning. Será ele culpado ou inocente? Mantive a minha postura com firmeza e calma. Olhava para a minha taça de vinho. O vinho parecia mais negro que de costume. De repente, a taça se espatifou na parede. Meu coração foi a mil. Não que a situação de uma taça se espatifando por uma mulher magoa-da fosse inédita para mim. Ela não foi a primeira. Muito menos original. Continuou a destruir todos os copos, taças e xícaras da casa. Peças vindos de via-gens nupciais, quadros comprados em momentos de felicidade extrema, até a jarra finíssima, presente de casamento, guardada desde o tempo das Cruzadas, se espatifou no tapete, sobre o qual eu mesmo já me arrastara com outras mulheres. Mas confesso que cheguei a pensar em tirar a faca do bolo de cima da mesa.

Porém, esse excesso de silêncio produziu resultados muito mais nefastos do que se tivesse admitido. Se tivesse dito a verdade, pensei, não sei até que ponto nada daquilo teria acontecido. Creio que acabaria tudo igual, mas agora seria ela quem daria as cartas. Eu só seria o ser sensacional e nobre (para não dizer burro e vulnerável) com a verdade da traição. Ela não estava errada. Mas estar certo não vale de nada se você não puder defender sua opinião.

Por fim, persisti na minha maldade e foi is-so. Fui mais cruel do que precisava e do que preten-dia ser, como resultado imposto por aquela afronta não tão injusta. Mazel Tov. Ela foi dormir soluçan-do no quarto e eu dormi calmamente no sofá, em meio à prataria quebrada como um campo de guer-ra, que, aliás, fiz questão de não recolher, ela cuida-ria disso, se não se suicidasse ou me matasse duran-te a noite. Ou se o apartamento não pegasse fogo e terminasse em cinzas. Manhã seguinte, advogados contratados, amigos repartidos. E foi tudo.

(Segue)

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Depois de 5 anos de sumiço, nos encontra-mos hoje num coquetel. O acaso forjado não me convenceu em nada. Ela apareceu com um jeito au-toconfiante, (talvez protegida por nada menos do que a sinceridade) com cabelos esvoaçantes saído de algum paraíso. Estes anos foram muitíssimo bem aproveitados. Eu a li de ponta a ponta e ela nem me olhou, nem de longe e nem do alto. Nada além da indiferença. Já aguardava o momento em que ela daria um sorriso superior, mas o fato dela não o fa-zer, não me surpreendeu também. No fundo, eu sempre soube que ela iria longe. Se não visse poten-cial não a teria escolhido. Mas não esperava que ela subisse tão cedo e nem que fosse tão magnânima. E (aqui não vai nenhuma ironia) admito que ela pare-ce que vem ganhando o mundo do jeito antigo: me-recendo.

Agora escrevo esta carta, recluso em minha casa, sem destino algum para este pedaço de papel, além do fato dele servir brevemente como base para essas palavras. Não para convencer ninguém do meu espirito puro e incorruptível. A questão é que eu também quero acreditar nisso. Para mim, precisa existir algum prazer na vida e o meu é este. As pes-soas têm tantos vícios. Sair por ai disfarçado é o meu. Agir como outro, se passar por alguém que você não é, fingir, é uma arte. E as pessoas sempre acreditam no que veem. E assim se domina muito.

Ela queria uma confissão, mais nada. Nem queria saber se eu desejei ou se aconteceu. Desta confissão, então, farei só uma parte (pois ressalto novamente: confissão não é verdade). Pois bem, ei-la: eu tentei trai-la, mas não consegui muito bem. Isso faz de mim um homem melhor ou pior? Tentei e hoje não tento mais. Com ela. Só sendo louco para mexer com alguém como ela se tornou. Hoje, po-rém, não posso deixar de pensar que, se tivesse fica-do ao seu lado, ela me impediria de me ferrar. Mi-mada do jeito que era, me faria ficar ao seu lado, me ensinaria a ser feliz. Mas claro que nunca falaria isso à ela, não por consideração ou culpa, mas por-que meu resto de preservação ainda depende do proveito e favores futuros disfarçados de gratidão. Não posso estar a mercê de sofrer vergonhas ou pu-nições.

Agora uma confissão final: também não te-nho desejo nenhum de ser perdoado. Ela me amou. Amou este ser áspero, severo. Acho que só por essa

afirmação, a culpa é 50% para cada. E assim, abrup-tamente declaro encerrada esta conversa.

ATIVIDADES DO VARAL

• Estão abertas as inscrições para o Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Gene-bra 2015;

• Estão abertas as inscrições para o livro Varal Antológico 5;

• Estão abertas as inscrições para a edição de setembro de nossa revista com o tema Amor!

PARTICIPE! INSCREVA-SE!

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HISTÓRIA DO BRASIL SOB A

ÓTICA FEMININA

Hebe C. Boa-Viagem A. Costa

Maria Firmina dos Reis, a mestra-régia do

Maranhão

1825 – 1917

Maria Firmina é, em Guimarães (MA),

sinônimo de mulher inteligente e instruída. Por quê?

Tudo começou com uma figura marcante que nas-

ceu, em 1825, em São Luis (MA). Mulher, bastarda,

mulata, cresceu numa região onde as condições da

educação eram precárias e também de difícil acesso

para as mulheres. Tudo isso não impediu que Maria

Firmina dos Reis desenvolvesse o seu potencial inte-

lectual. Como conseguiu não se sabe ao certo. O

fato é que fazia tradução do francês para jornais, ga-

nhava a vida como professora e publicava romances,

contos e poesias.

Era conhecida como Mestra-régia, posto

que, num concurso estadual, em 1847, foi a única

aprovada para a instrução primária na Vila de Gui-

marães. Nessa época, a maioria das professoras era

leiga, sem o preparo adequado para ensinar, mas,

assim mesmo eram recrutadas. Esta foi a grande

oportunidade de trabalho para a mulher.

A mãe de Maria Firmina, vaidosa com a

aprovação da filha, queria que ela fosse de palan-

quim tomar posse do cargo. Ela, entretanto, se recu-

sou dizendo: “Negro não é animal para se andar

montado nele”. E foi a pé!

Passou a residir em Guimarães numa ca-

sa de alvenaria de propriedade de uma tia materna.

Nela também lecionava. Era o costume de então a

professora fornecer o local para o exercício de sua

profissão. Aposentou-se depois de trinta e quatro

anos de magistério público oficial, mas depois disso

continuou a lecionar. Aos cinquenta e quatro anos

ia, diariamente de carro de boi, dar aulas para as fi-

lhas de um senhor de engenho. Levava consigo al-

guns alunos formando assim uma classe mista e gra-

tuita. Na época, isso era uma experiência ousada,

que a muitos escandalizou. Segundo declarações de

ex-alunos, Maria Firmina era uma pessoa reservada,

mas acessível e gozava da estima de todos que a co-

nheciam.

Além de professora, Maria Firmina distinguiu-se em

diversos campos participando ativamente da vida

intelectual maranhense. Colaborava na imprensa

local, escrevia contos, livros, musicou Versos da

Garrafa atr ibuídos pelos antigos a Gonçalves Di-

as.

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Foi uma abolicionista atuante dando ao problema da

escravidão um enfoque diferente daquele corrente

entre os outros escritores. Analisou o encontro da

cultura européia com a dos indígenas, também de

uma forma diferenciada e revelou-se como folcloris-

ta.

Em 1859, Maria Firmina publicou o ro-

mance Ursula considerado nosso primeiro romance

abolicionista. Nele mostra a sua crença de que a es-

cravidão contradiz os princípios cristãos que ensinam

o homem a amar o próximo como a si mesmo. Zahi-

dé L. Muzart, no livro “Escritoras do século XIX

considera esse romance” superior a “A escrava Isau-

ra” de Bernardo Guimarães.

Escreveu o conto A escrava publicado na

Revista Maranhense em 1887. É uma história que

mostra a existência da rede abolicionista, que ia de

São Luis a São Paulo, que escondia os escravos fugi-

dos e, legalmente, comprava–lhes a liberdade. Essa

liga de mulheres, que surgiu por volta de 1870, abri-

gava participantes de todas as camadas sociais. É

nesse cenário que se desenvolve o conto. O Hino da

libertação dos escravos foi feito por ocasião da

assinatura da Lei Áurea.

Gupeva (1861 /1865), um conto publi-

cado no jornal literário O jardim das maranhenses foi

muito bem recebido pelo público e, por isso, foi pu-

blicado três vezes, sempre como folhetim. Nele mos-

tra o embate violento entre a cultura européia e a in-

dígena. Usa, como pano de fundo, a história da ida

de Paraguaçu à França e do seu batismo pela rainha

Catarina de Médicis.

Poeta, em 1871, publicou Contos à beira-

mar.

Embora respeitada, admirada por muitos,

nas costumeiras anotações de alguns momentos de

sua vida, revela que ninguém a conhecia realmente.

Sendo uma pessoa reservada, atrás de sua figura plá-

cida e acessível, havia uma mulher amarga. Tinha

tido, na sua juventude, sonhos que nunca se realiza-

ram.

Continuou escrevendo enquanto pode.

Morreu pobre e cega, aos noventa e dois anos, na

casa de uma ex-escrava, mãe de um de seus filhos de

criação.

Recentemente suas obras foram republi-

cadas pelos estudiosos maranhenses Horácio de Al-

meida e José Nascimento Morais Filho.

Para saber mais:

• COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico de

escritoras brasileiras, São Paulo: Escrituras Ed -

2002.

COSTA. Hebe C. Boa-Viagem A. Elas, as pioneiras

do Brasil - São Paulo- Ed. Scortecci – 2005

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Quando dói somos iguais

Por Kleber Nunes

Quando nos tornamos refém da dor

Quando o medo nos assombra

Quando a morte nos espreita e a sentimos por perto

Não importa quem somos

O que temos

Não importa nossa cor

Nosso credo

O coração aperta

O estomago sofre

E chorar é quase inevitável

Quando perdemos alguém que amamos

Para a vida ou para morte

É comum nos rendermos à tristeza

E mais comum ainda tudo perder o sentido

Quando a decepção se torna constante em nossa vida

E ninguém mais parece merecer nossa confiança

É muito comum nos fecharmos

Sofrermos

Escolhermos o silêncio

Quando a solidão torna nossas noites mais longas e frias

E a única certeza que temos é que a noite seguinte será igual

É muito comum perdemos a esperança

Diante das dores da alma somos todos iguais

Há tantas lições na dor...

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O senhor

Por L.epota L. Cosmo

Seja despreocupado e misterioso.

O seu céu não tem mar Com o coração em vez do sol.

Você não sabe voar Mas você é um poeta-beija-flor

O cormorao com gravata E quatro voos sagrados

(Entre as meninas e Diamantes)

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Sombra fugidia

Por Luiz Manoel F. Maia

Naquela primeira noite em que foram definidos os pares para a

formação do grupo de dança, não se ouviu qualquer pergunta so-

bre a jovem desconhecida, apenas alguém observara que ela ha-

via chegado às escondidas. Certamente ela ouvira falar sobre a

reunião e recebera despretensioso convite. Um jovem, porém,

acreditava que o destino a conduzira até ali para deixá-lo fascina-

do com sua feminilidade desabrochada em alegria, envolvê-lo com

sua simpatia e torná-lo cativo de seu olhar, de sua voz e de seu

sorriso. Daí em diante ele nunca duvidou que essas lembranças

lhe ficassem para sempre. Na noite seguinte e nas demais em que

ele tentou alongá-las na felicidade de tê-la junto a si, não acalma-

va seu espírito em cada despedida e inquietava-se enquanto a

misteriosa jovem não chegava novamente. Suspirava e sentia seu

coração exultante quando finalmente a via aproximar-se em pas-

sos ligeiros, com sua sombra esguia deslizando fugidia pelos mu-

ros, na rua mal iluminada. Nesses encontros juntavam-se porções

de uma paixão que corria a rédeas soltas, ávida e intensa a cada

escapulida do aprisco que a guardava para outro. Entretanto, ele

antevia com tristeza as vezes de espera em vão e que ela não es-

taria presente por longo tempo em sua vida.

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Árvore da vida

Por Marcelo de Oliveira Souza

Árvore da vida Tão castigada hoje em dia

Trocada por prédios sem nostalgia Vem sumindo rapidamente...

As cidades se desenvolvem

As florestas somem, Parques arborizados

Transforma-se em parque tecnológicos.

Sem nenhuma lógica A vida empedra-se

Vemos um mundo predial Casa encima de casas...

A razão virou lucro Nosso sangue verde solidifica-se

E a nossa vida Virou dúvida, dívida...

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TRITOFES

Por Maria José Vital Justiniano

TRITOFES é um estilo literário criado pela poetisa Maria José Vital Justiniano.

É composto de três estrofes. Cada estrofe de-verá ter no primeiro verso só uma palavra mo-nossílaba; no segundo verso uma dissílaba e no terceiro verso uma trissílaba. Lembrando que são três (TRI) estrofes (TOFES) Os versos trissílabos devem rimar, isto é, em cada estro-fe os últimos versinhos devem rimar. A rima pode ser gramatical ou poética.

Vi Dama

Pensando

Ela Está

Amando

Por Isso

Chorando

*************************************

Nasceu um poema

As pedras soltas na rua, O vento que agora me empurra

Esta gota de lágrima teimosa Que insiste em descer pela face

Tudo isso é poesia...

No entanto, nem as pedras Nem o vento

Nem a lágrima Podem fazer um poema Pois o poema já nasceu

Nasceu ontem quando fui a rua

E me esbarrei na pedra Assim o vento me tocou

Jogou-me na rua e chorei E uma lágrima derramei

A poesia se fez presente Me entregando a pedra

Me jogando ao vento E derramando uma lágrima...

Pedra, vento ,lágrima se uniram...

A revista VARAL DO BRASIL circula

no Brasil do Amazonas ao Rio

Grande do Sul...

Também leva seus autores através

dos cinco continentes.

Quer divulgação melhor?

Venha fazer parte do

VARAL DO BRASIL

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*Toda participação é gratuita

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Pinturas da artista Maria Soler

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QUEM É VOCÊ

Por Marilu F Queiroz

Finge amar a vida,

mas ama o infinito.

Pensa ser um estranho...

mas é fútil, corriqueiro.

Quer fazer do mundo de todos

O seu fiel escravo.

Dos sentimentos humanos...

As vazantes da sua alma.

Quem pensa ser, afinal?

Um extra- terrestre, um sábio...

Um dominador de reflexões,

Ou ser humano comum?

É somente peça incólume

Projeto esquecido de ideais...

Alma transladada de outrora,

Para a turbulenta vida atual.

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Caráter

Por Marina Fernanda Farias

Sentimento mais difícil

Aquele pelo qual as pessoas pouco têm

Será que isso é verdade?

Ou será que a mentira prevalecerá?

Em mundo obscuro

Certas verdades escondem-se

Entre as almas perdidas

Desejando derrubar os outros

Perdas

Lágrimas

Uma falta de caráter sem sentido

Caminhos incertos que alguns escolhem seguir

Enquanto vários se matam

Almas choram

Eu vou seguir...

Medo

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MEU DIA É ASSIM

Por Mário Rezende

Um bocejo, um gracejo

e o amor de minha mulher

no comecinho do meu dia.

Café com leite bem quentinho

pão e manteiga derretida como ela

pelo sol que ultrapassa a janela

e ilumina a nossa cama.

Eu me lanço no mundo

precisão da lida dessa vida,

despendendo um dia inteiro

nessa coisa complicada

que o homem construiu.

Mas quando o sol vai embora

e a lua toma o seu lugar,

finalmente chega a hora

de voltar para o meu lar.

Abraços apertados cheios de carinho

eu recebo dos filhinhos

e um beijo de saudade

da dona do meu amor

me enche de vontade

de deitar na nossa cama

e receber e dar carinho

aconchegado ao corpo dela

iluminados pela lua

nossa parceira tão bela

que vem deitar o seu luar.

E esquecido dos problemas

recostar no travesseiro

a cabeça cheia de sonhos

para outros dias que virão.

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Livro de Memórias

Por Marluce Portugaels

O Dia Mundial do Livro, que cabeças bem pen-santes tiveram a ideia de instituir, trouxe-me recordações que eu jamais imaginei estivessem tão vívidas em minha memória. Minha relação com os livros começou bem cedo, quando eu era pequenina, no Seringal Bom-Jardim, de meu avô Chico, no Rio Juruá, e ganhei de pre-sente de meu tio Dai um livro de contos de fa-das, que ele comprou em uma de suas viagens a Manaus. E que eu li e reli com paixão. Hoje, ainda, lembro-me do livro que foi, talvez, o mais belo presente que recebi, porque tinha sete anos, tinha aprendido a ler e, com aquele livro, eu voava para bem longe, para o país das fa-das e das outras personagens nele imortaliza-das. Anos depois, lendo Emily Dickinson con-cluí que, de fato, “não há melhor fragata do que um livro para nos levar a terras distantes.”

Eu ficava ao lado de minha mãe, lendo as histó-rias maravilhosas contadas pelos irmãos Grimm, por Hans Christian Andersen, por Per-rault, enquanto minha mãe lia os livros da Bibli-oteca das Moças, que eu depois também devo-rei. Ainda hoje adoro ler histórias de amor com final feliz!

Lá em casa todo o mundo lia e cada um tinha o seu gênero literário preferido. Além de roman-ces de amor, minha mãe lia com avidez a revis-ta Vida Doméstica, da qual tinha assinatura fei-ta pelo reembolso postal, e que chegava religio-samente ao seringal. Meu pai gostava de ler os jornais velhos que o navio da linha, a chatinha trazia da cidade grande. E as Seleções Rea-der`s Digest, traduzidas para o português. Lem-bro-me também que ele tinha um carinho espe-cial por um livro de título curioso, Como Fazer

Amigos e Influenciar Pessoas. Nós também tí-nhamos um dicionário em casa. Para mim era um livro sério, de capa preta, que as pessoas abriam quando tinham alguma dúvida sobre o que liam nos livros. Foi assim que eu também aprendi a usar dicionários e me apaixonei pela etimologia das palavras. Acho que remonta a

essa época meu desejo de aprender línguas, de brincar com palavras. De viajar pelo mundo, pois, um dia. tio Dai trouxe-me de Manaus um Atlas! A partir daí, tudo mudou!

Num esforço, lembro-me de Neruda, “livro, quando te fecho, abro a vida...” Fecho os olhos e me vejo a bisbilhotar nas caixas que minha avó Lita, professora rural, recebia abarrotadas de cartilhas e de outros livros para distribuir com os filhos dos trabalhadores do Seringal Bom-Jardim. No Seringal havia uma escola e a professora rural tinha a função de ensinar as primeiras letras às crianças, que todos os dias se sentavam ao redor da grande mesa presidi-da pela professora. A aula começava com a professora fazendo os alunos repetirem o A B C, em seguida, juntarem as letras, “um B com A, Bê a Bá”, e, finalmente, formarem frases, “Eva Viu a Uva”. E os alunos, será que já ti-nham visto uva?

O último estágio era a leitura das historinhas como a do Jeca Tatu que era preguiçoso e cheio de vermes, ele, a mulher e os filhos, pois todos andavam descalços e não conheciam bons hábitos de higiene. Mas, um dia, um médi-co lhes prescreveu remédio para vermes e um fortificante. E também lhes disse que andassem calçados. Eles ficaram fortes, corados porque eliminaram os vermes e aprenderam a se cui-dar. Jeca Tatu, então, criou coragem para tra-balhar, prosperou e comprou sapatos para todo o mundo. Até para os porquinhos. E assim ter-mina a história.

Nessa época nem desconfiávamos que a personagem do Jeca Tatu fora criação do grande Monteiro Loba-to, que em seu livro Urupês, com 14 contos, denun-cia a situação de miséria e abandono do caipira da região do Paraíba do Sul. Mas essa também era a re-alidade do caboclo do Amazonas que vivia à beira do rio, o beiradeiro. Dessa forma, não há como não con-cordar com Joseph Conrad, “o autor só escreve meta-de do livro; da outra metade deve ocupar-se o lei-tor...”

(Segue)

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Revivendo tudo, ainda sinto o cheiro de novo das cartilhas, das tabuadas, dos cadernos de cali-grafia... Tenho na memória o ícone das Edições Melhoramentos. Aquele passarinho pousado sobre o globo terrestre, presente em todos os livros que eu folheava, acompanhou-me por toda a vida. A minha impressão era que todos os livros traziam aquela marca.

Devo ter aprendido a ler com minha avó, junto com as outras crianças. No processo, acumulei a função de ajudante da professora. Como era curiosa e queria saber o que continham os livros de historinhas, lia tudo em casa com a permissão de minha avó e, na aula, ajudava-a com os alunos mais lentos. Assim, devo ter forjado a profissão de mestre que finalmente abracei.

Eu ainda teria muitas reminiscências sobre o Livro, esse objeto sedutor, essa caixinha de segre-dos capaz de imobilizar-nos em um canto durante horas, e de transportar-nos a rincões nunca dantes sonhados. Mas, já é tarde e precisa-se parar em algum lugar... Abro os olhos, lentamen-te, e me vejo ainda bisbilhotando livros, mas não os das caixas de minha avó Lita, mas os meus próprios, arrumados em estantes em minha biblioteca. Então, penso que eles, os meus livros, são os únicos objetos que eu não gostaria de deixar para trás, se tivesse de partir rapidamen-te...

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VIDENTE SENSITIVO

TRAGO SEU AMOR DE VOLTA

PAGUE SOMENTE DEPOIS

Por Mirian Menezes de Oliveria

Não se ofenda quem for o proprietário dessa placa! Sinta-se honrado, inclusive... Não citarei qualquer tipo de informação que possa ser rastreada por GPS ou CHIP. Não me interessam: local, pessoas envolvi-das, desfecho, mas o fato... Tenho esta eterna mania de ler anúncios por toda a parte e placas me chamam à atenção. Para que possamos realizar uma boa leitu-ra de placa, precisamos, primeiro, entender todo o contexto que cerca a produção! Certa vez, assustei-me com uma simples expressão: “Casa dos Maca-cos”. Por ser contadora de histórias e escritora, trans-portei-me para o Mundo da Fantasia, imaginei a Mu-lher Barbada, uma Casa de Shows, ou um “conto de fadas”, num reino distante... Enquanto delirava, meu esposo, simplesmente, dizia:

_Loja de autopeças!

“Ah!” Que vexame! Ainda bem que não verbalizei meu pensamento!

Já li placas, com todos os formatos e conteúdos pos-síveis, e nada mais me surpreende, entretanto esta placa me despertou a atenção por vários motivos. Em primeiro lugar, pensei na autoestima e na garantia do VIDENTE SENSITIVO. Hoje em dia, poucas pesso-as garantem tão bem seus serviços e empenham a “palavra de honra” (expressão em desuso), como es-te profissional (vamos chamá-lo assim!). Nesse mun-do consumista, empresas de grande porte, muitas ve-zes cometem deslizes horrorosos com seus consumi-dores e nem contratos dão conta da tão necessária garantia. Se pelo menos, a situação favorecesse o deleite de músicas clássicas ao telefone, poderíamos frisar o trabalho de excelência do Telemarketing, contribuindo para um mundo mais cultural... Mas não! Passamos eternos minutos, ouvindo músicas de qualidade, sem, entretanto, aproveitar o momento. Não há clima para isso! Caso a intenção seja a de diminuir a ansiedade, no meu caso, o stress não per-mite a abertura dos ouvidos para os clássicos. Se vo-cê tem algum problema a ser resolvido, não há CHO-PIN, ou MOZART que dê conta da situação.

No caso específico da placa do VIDENTE, podemos dizer que temos um microempresário bem sucedido, ou não! Na verdade, compadeci-me da “criatura”, pois pensei na quantidade de calotes que já deve ter levado. Há muitos malandros na praça, “de olho” nos serviços fiados.

“PAGUE DEPOIS!” ... Coitado! Quantos casais feli-zes já devem ter se mudado para outros locais nesse mundo: reconciliados e esquecidos do profissional em questão. Nesse mundo, em que tantos desejam “levar vantagens”, o que considero um horror... acre-dito que o VIDENTE já tenha sofrido vários “calotes”! Vender fiado a pessoas que desejam recu-perar um AMOR!

Juro que gostaria de ser diferente e não escrever uma crônica sobre esta placa, mas os simples momentos que vivo são capazes de me despertar reflexões: al-gumas tolas, confesso!... mas o que me importa, real-mente, é não permitir que passe despercebida nossa rica rotina! Se pararmos para observar, encontrare-mos muitas situações dignas de grandes reflexões. Para isso, serve um cronista, para discorrer sobre possíveis “banalidades”. Banalidades?

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Beleza Campestre

Por Nice Arruda

Nos anos 50, existia o conhecido Haras Dulci-

néia, localizado no município de Chorozinho no

meu Ceará, e que até hoje relembra muitas his-

tórias jubilosas, vitórias e premiações de seus

cavalos de raça em Fortaleza e Rio de Janeiro,

contadas e recontadas aos seus visitantes para

o deleite de seus ancestrais.

Há seis anos esse espaço deu lugar a um privi-

legiado hotel fazenda, onde podemos encontrar

simplicidade, bem estar e muito verde , num

agradável contato com a natureza . A maioria

das antigas baias dos animais foi substituída

por confortáveis acomodações pra receber pes-

soas que, como eu gosto de desfrutar de um

ambiente campestre, tranquilo e acolhedor.

A pequena casa de seus antigos proprietários

continua lá, nos convidando a visitar e conhe-

cer um pouco da história desse casal de imi-

grantes europeus quando aqui chegaram. A

velha mobília, lampiões e lamparinas, retratos

nas paredes, troféus, louças de porcelana, po-

te e quartinha de barro , rádio antigo e fogão a

lenha se destacam aos nossos olhos ávidos

por surpresas.

E foi numa dessas tardes quentes de outubro,

durante um divertido passeio de charrete que

pude me encantar com bucólicas paisagens :

Verdes e frondosas árvores que balançavam

ao som dos ventos , pássaros que cantavam

acompanhando essa doce melodia , num baila-

do feliz e harmonioso com os espertos saguis

que corriam por entre as copas das mangueiras

e cajueiros repletos de frutos amarelos. Ao lon-

ge, um carnaubal complementava essa valo-

rosa área de preservação ambiental.

Agora vejo num pequeno ninho um pardal ali-

mentando seu indefeso filhote e passo a con-

templar ainda mais a natureza.

O entardecer vinha chegando e o magnífico

espetáculo do pôr do sol embelezava aquele

momento corriqueiro e às vezes pouco aprecia-

do...

A fulgurante estrela despediu-se rapidamente e

nos brindou com a chegada da lua

cheia .Naquele instante um misto de saudade

e melancolia brotaram em meu coração, lem-

branças contidas no âmago de meu ser...

Os coelhos passavam céleres para seus abri-

gos. As ovelhas silenciavam em seus currais.

Galinhas, gansos e calopsitas também queri-

am se aquietar .Os cavalos já estavam em su-

as baias. Era chegada a hora de dormir.

O céu sublime, inspirador e o clarão da lua nos

convidava a uma noite de mais reflexões e

agradecimentos ao ser supremo por esse mo-

mento efêmero e especial...

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Se na noite, um estranho Por Nilza Amaral

forçando a porta de entrada penetrasse em meu apartamento, e diabólico e cruel, explorasse com seus passos macios e premeditados a minha inti-midade, devassasse a corrente dos meus pensa-mentos, extraindo dos cantos do meu cérebro as palavras não ditas, apenas pensadas, se invadisse os meus aposentos, revirasse as minhas gavetas, à cata do quê? joias, se não as tenho, dinheiro escondido, muito menos, fetiches? tão ocultos jamais expostos, como aquela roupa íntima ver-melha usada nos momentos do sexo mais perver-tido, ou aquele pé de coelho que um dia me ofer-taram com a promessa de que ele amaciaria os caminhos, se esse estranho embaralhasse a minha vida, violentasse o meu pudor sem a minha con-cordância, penetrasse a minha cozinha em busca de alimento, encontrasse aquela sobremesa espe-cial que fiz com carinho, e com um bah de des-prezo, atirasse tudo ao cachorro, não sem antes lhe dar um pontapé no traseiro, em seguida sem aviso, alcançasse a faca afiada e com ela me ameaçasse, se entregue ou eu te furo, e me atiras-se ao chão e me possuísse sob gritos de meu protesto irado, se esse estranho me humilhasse de todas as maneiras, penetrando violentamente to-dos os orifícios de meu corpo em busca do prazer insaciável, achando que o meu dever era aceitar resignada a sua condição de macho de cetro im-piedoso, e a minha de fêmea sempre pronta, per-nas abertas, e se depois da posse, estirado ainda no ladrilho frio da cozinha, acendesse um cigarro e me olhasse com os olhos semicerrados, feliz com a sua conquista e vangloriando-se de ser bom amante, o querido de todas as mulheres do bairro, se esse estranho depois do ato do sexo, percorrendo com uma faca todos os contornos de meu corpo, parando em meus mamilos duros de prazer, penetrando a minha vagina ainda quente, riscando a minha pele eriçada, então se levantas-se e ordenasse, faça um café, mulher, abra uma cerveja, se mexa, me agrade, que eu mereço pois afinal entrei na tua vida para te fazer feliz, ah, se ainda esse estranho resolvesse aportar na minha casa, e dela tomar posse, com promessas de mu-dança e de carinhos, se chegasse todos as noites depois de passar em meia dúzia de bares, embo-ra para que ele não voltasse, eu rezasse todo os terços, que ele me arrancava das mãos pisava so-bre as contas, gritando eu sou teu único Deus, e, se como senhor e dono me exigisse, me possuísse pele enésima vez, gritando, nenhum deus te dará mais aleluias do que eu, e depois de todas as vontades satisfeitas, deitasse na minha cama e dormisse a sono solto, até a manhã seguinte, e se

assim fossem todos os dias, a relação de dois es-tranhos sob o mesmo teto, e se eu mais uma vez rogasse aos santos, sobre meus joelhos sangran-do, para acontecer algum fato, mesmo que fosse uma desgraça, que interrompesse essa corrente, ou que a minha vontade predominasse por alguns instantes, o tempo suficiente para expulsá-lo de minha vida, eu agradeceria pelo resto da vida, mas se a fraqueza, o medo, o amor, o ódio ou o prazer, impedissem o cumprimento dessa vonta-de, e eu insensata o matasse com mil facadas per-furantes que lhe alcançassem a alma de coisa ruim, talvez seu espírito retornasse mais feroz do que o anterior desencarnado, e mais me torturas-se, me penetrando, me violentando, me satisfa-zendo. Se esse estranho a cada dia se fizesse mais odioso e mais desejado, se minasse em meu ínti-mo dia a dia, minuto a minuto, a volição da vida, se arraigasse o desejo insensato de liquidá-lo na hora do orgasmo, a hora da distração e do alhea-mento, se despertasse em mim o lobo interior que leva à crueldade em vez da gazela que bale, se esse estranho me asfixiasse com seu suor, e num momento de fúria eu o estrangulasse ou o aleijas-se cortando seus testículos recheados, e o banisse da minha vida escravizada, então talvez eu des-cansasse e abrisse as portas para a solidão se alo-jar. Se esse estranho não tivesse o riso cínico de superioridade estampado na face, a lubricidade sempre pronta, se não soubesse o poder de sua dominação, da força da perdição que impele à morte, a certeza do seu absolutismo, se esse es-tranho que invadiu a minha noite não tivesse consciência do quanto se tornou imprescindível, se desaparecesse assim como apareceu, com seus passos mansos e sua fala macia, com suas preten-sas promessas de felicidade, se esse estranho que comigo hoje habita se fosse, desistisse de mim, então talvez eu me desesperasse.

Se numa noite, um estranho tentasse entrar em minha vida para se instalar, eu o teria im-pedido, teria trancado com todas as chaves a porta de entrada da minha casa, e mais as entradas de meus sentimentos, fechado o caminho do labirinto do meu corpo, ou gritado por auxílio, e se ele superando a minha força física e as minhas intenções, conseguis-se o seu intuito, e me submetesse ao seu sexo, então eu o assassinaria, e seria em legítima defesa. E se ele implorasse, em nome do passado, do amor, da luxú-ria, eu recusaria para que ele fosse nada mais, ape-nas um estranho na noite tentando forçar a minha porta de entrada. Se na noite, um estranho tocasse a porta da minha alma e do meu destino .

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SOMOS INUMERÁVEIS PESSOAS

Por Odenir Ferro

Muitas, inúmeras pessoas... Bem... Muito embora, sejamos apenas um. Dentro da composição eterna e, – intensa de inumerá-veis e de aglomeráveis (sociáveis?!) – pesso-as. Assim sendo, somos inumeráveis pesso-as. Dentro da nossa individualidade ímpar Quase ou todos nós, temos ações ou rea-ções divergentes- enquanto direcionamos as nossas atenções para que as mesmas se fo-quem num mesmo ângulo em que haja diver-sas pessoas também motivadas a este aten-to, dentro de uma determinada situação qual-quer.

Caminhamos pelo viver, entrelaçando os nossos mais expressivos gestos de indigna-ções, aprovações, reprovações, comoções ou repulsas –, mediante a um determinado acontecimento focado –, quando nem sem-pre este ato – recebe a aclamação geral por unanimidade, pela humanidade. Ou partes dela. Nós somos seres humanos diversos. Diversificados e, atualmente, podemos até sermos anatomicamente deformados ou mo-dificados. Penso que o nosso corpo humano é a mais perfeita máquina. A qual os nossos criadores: Deus e nossos pais, generosa-mente criaram-nos. Sei que cientificamente podemos afirmar que a Natureza é imperfei-ta. Mas, acredito na divindade existencial da nossa alma... Movimentando o nosso corpo, através do ânimo espiritual. Coordenando todas as mais belas, espetaculares, fantásti-cas e complexas estruturas corporais, materi-ais e físicas. Conduzindo-nos a registrarmos página a página o teor histórico da nossa his-tória, atravessando a nossa vivencia corpo-ral, rumo aos incógnitos caminhos da nossa imortalidade (não a física), mas sim, a espiri-tual.

Embora sejamos semelhantes em opiniões que possam ser ou vir a serem diversifica-das, mas sempre ou na maioria das vezes, nós geramos, através dos sensos, os con-sensos ou os contrassensos – que nos posi-cionam intelectualmente, moralmente, virtual-mente, fisicamente... Nos instantâneos es-pontâneos daqueles momentos repentinos, que nos obrigam a formar uma opinião pes-

soal rápida, ou a agirmos ou reagirmos de forma instintivamente mecânica ou impulsiva-mente rápida... Dentro dos estabelecidos pa-râmetros motivados ou impulsionados, pelas regras sociais de cada acontecimento ou en-volvimento sociocultural.

Também, nos divergimos (nós, seres huma-nos somos inflexíveis, mas mesmo assim, vulneráveis) dentro de cada tópico, dentro de uma mesma opinião – ao focarmos as nos-sas polêmicas, impostas dentro de uma de-terminada situação. Encarando-a, através de um foco diferente do qual àquele, sempre aquele: em que estávamos acostumados ou acomodados a vê-lo ou resolvê-lo ou revolvê-lo, ao menos que momentânea ou temporari-amente, dos desígnios de nós, do nosso mundo interior pessoal.

A vida, dentro do contexto geral, é a detento-ra metafísica das regras gerais. E dentro das regras gerais, situam-se os parâmetros (convencionais ou não) das nossas regras emocionais. As quais se circundam em torno da nossa presença pessoal, através das nos-sas vivências comportamentais, fazendo com que possamos, através das nossas experiên-cias pessoais de vida, caminharmos avante, dentro dos seus mais inusitados e inumerá-veis momentos, dentro dos nossos momen-tos em movimentos existenciais. Cujas nos-sas íntimas noções, mesmo estando entra-nhadas no nosso eu cognitivo – fazem, em determinadas vezes, com que encaremos (emocionados ou não) os mesmos fatos. Po-sicionando-os de um modo novo ou diferen-te, da conceituação que até então, as tínha-mos inerentes em nosso ego racional.

Mudando assim, a nossa forma de percep-ção, (ao mesmo momentaneamente) em re-lação ao pensamento crítico, analítico, ou a nossa forma de sensações relacionadas às associações de sentimentos em relação àquele determinado fato.

E, dentro deste novo ângulo de visão, pode-remos vir a ser predominantes ou não. Sem-pre estando aptos a avaliar ou reavaliarmos os nossos procedimentos cognitivos em rela-ção a algo ou a alguém. É por isso que o nosso campo afetivo se renova, se diverge, se corrompe ou se rompe ou se entrelaça e se solidifica, nas raízes do interior de cada um de nós. Fazendo com que socializemo-nos (ou não) com algo ou alguém.

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PONTO DE VISTA

Jeremias Francis Torres

JFT O SUJEITO MAIS CHATO DA FACE DA TERRA!

O cara é chato!

Ainda bem que o admitiu, ape-sar de tarde!

A ansiedade aliada a timidez, ao longo de sua vida, causou-lhe severas “baixas”, razão pela qual, foi ficando cada vez mais “desagradável!”

Não gosta de estar na multidão! De aglomeração! De declamação! Muito menos de associação, exceto, uma “leve” para com seu time do coração, cuja bandeira carrega um verde que lembra as plantas, as matas e as flo-restas e tal, mas, isso não interessa!

Certa vez, quando tentava mais uma novamente, ostentar a sua dupla persona-lidade, foi desmascarado por uma chamada “autoridade” que trabalhava consigo: “quer di-zer que o senhor é um lobo em pele de ovelha, não é?”

Sem saída, descoberto, não teve outro jeito, senão admitir: “eu o sou! Está certo eu sou um lobo! É um lobo! É um lobo!” Merecia “ apanhar na cara ou ser morto por um caçador justiceiro!

Com o passar do tempo e o re-crudescimento de sua personalidade, verdade é que, em alguns aspectos, sofreu algumas metamorfoses. Em alguns casos para melhor, noutros, nem tanto...

É o caso da PAIXÃO por exem-plo, quando paquera uma moça “enche” o saco das moçoilas, até que não aguentam mais e

finalmente dizem: “chega né, o Mané!” Sabe o que responde? Mas, eu não chamo Mané, eu chamo... todo mundo sabe!

Quando isso ocorre e não foi uma única vez que isso aconteceu, ao longo de sua extensa vida, procura imediatamente, hoje, em seus arquivos digitais MP3, sua canção pre-ferida, de seu cantor ídolo: “I Never Fall in Lo-ve Again!”

Mentira! É só até baixar a poei-ra, dali a um tempo, lá está ele de novo, en-chendo o saco de alguém! Diga-se de passa-gem para não haver dupla interpretação, é difí-cil para ele, conquistar um bem (querer).

A impressão que dá é que sofre daqueles modernos “males” que atingem em cheio a humanidade, denominados TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e TAB? (Sim, o famoso Transtorno Afetivo Bipolar), se-rá?

Bom, em suma sem perder o foco: o cara é chato, que às vezes ele mesmo não se suporta... mas, quando isso acontece, acredita numa mudança radical num futuro próximo ou talvez distante!

Bem, espere aí, mas, de quem necessariamente estamos falando?!

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O voo

Por Odibar João Lampeão

Comecei como humano

Incongruente demais para mim mesmo

E na neblina que se acorrenta ao futuro

Destemido, me ofertei de peito aberto a deceção

Eu queria uma trajetória

Que embora minha, não deixasse de ser pra humanidade

Mais um exemplo de vitória

Mas depois, depois do chão,

Quedado e sem folego pra ética

Recomecei como um furacão

Onde os obstáculos trajaram a história de um trilho

Que um dia os homens envelhecidos

Com olhares cravados no meu brilho

Chamaram de voo.

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Água benta

Por Oliveira Caruso

Cai a chuva sobre a capela.

Lava a alma da gente passante.

Reza gente suas preces naquela,

em grande fervor, que segue adiante.

Cai a água benzendo a cidade;

sobram pecados na gente perdida.

Sobram pecados somados na vida;

outros buscam n’água a verdade.

O espelho d’água reflete emoção

de todo o sentir da gente carente,

carente de estar dos pecados ardentes

longe de fato. Com bom coração!

Deixo que a água bem cuide de mim,

levando consigo as árduas querelas,

querelas às quais darei logo um fim!

Deixo que a água expurgue o rancor,

n’ação de despejo do fundo do peito,

trazendo de volta paixão sem torpor!

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O estranho ponto

Por Paulo José Pires

Quando começou não sei, só sei que a primei-ra vez que vi foi no domingo. Parecia uma man-chinha de piche.

Tentei tirar não saiu passei removedor idem, gilete muito menos. Vai ver era minha imagina-ção, sono ou algum problema de vista. O dia passou e lá estava ele, as pessoas passavam por cima dela e não percebiam. Porque só eu via?

No outro dia fui direto para aquele ponto, lá es-tava ele parado, só que maior do tamanho... De um olho. Joguei um prego em cima, nada não puxou, não gemeu. Não podia ser buraco ne-gro, nem ser vivo. Aiiiii! Esse ponto me deixa malucaaa......! Esqueci de dizer meu nome: Ida, passagem só de ida não de volta. É o que to-dos dizem. Voltando ao ponto, agora.

As pessoas começaram a notar, meu filho logo cedo notou:

-Mãe, o que é isso? É piche?

Eu disse que não sabia. Ele disse que depois a gente descobria. Meu marido também pensou que era algum adesivo colocado perto do meu filho:

-Esse Carlinho, é fogo colocou adesivo no chão, passa um removedor depois...

-já passei e não saiu _ disse pra ele que não acreditou, disse pra pedir pra Cleonice tirar com algo. E foi tomar café. Logo depois chegou Cle-onice que perguntou o que era aquilo, eu disse que não sabia. Ela disse que ia tirar de qual-quer maneira. O dia passou, voltei do trabalho e parecia que Cleonice tinha dado um jeito, passou uma tinta da cor do piso. Tomara que desapareça. Não volte mais.

No terceiro dia fui correndo olhar pra ele. Lá estava... Maior e com uma mancha no meio e do tamanho de uma laranja. Agora parecia um olho, um grande olho imóvel a me olhar. Fui correndo pegar o removedor para tirar a tinta em volta dele, pelo menos ia ficar um ponto menor. Não saiu. Todos passavam e olhavam: primeiro Carlinho:

Olha que olhão mãe!!!!Eu só olhei para ele e não disse nada. Depois veio Nelson, meu mari-do “tinha esquecido de falar o nome dele”, olhou praquilo e comentou:

- Patroa, voltou o negócio de novo pos as mãos nas cadeiras e disse que ia tirar de novo.

Fiquei mais feliz. Será que ia me ver livre da-quele ponto? Cheguei do trabalho e lá estava ele no mesmo lugar.(desta vez Cleonice não conseguiu pintar.) agora estava entre o sofá e a estante. Vou ter que me acostumar a dizer: bom dia, boa noite para ele. Será que ele tem distúrbio de crescimento?

Quarta feira! Será que ele vai querer ver tv ou ouvir rádio? Como será que ele está? Aumen-tou mais? Muito. Do tamanho de uma melancia. Todos já estavam se acostumando, o tratavam como parte da casa. O meu filho, meu marido, a empregada (que o lustrou). Estranho como ele cresce. Não parece célula. Radiação? De onde veio?

Quinta feira. Maior ainda está o dobro do tama-nho de ontem, de melancia, abismal. Se não tomar cuidado posso cair ou tropeçar. O que eu estou dizendo?! Isso é só uma mancha no chão. Tchau, até mais tarde: Cleonice, bom dia.´cê viu? Nossa mancha está maior.

Concordou: é patroa, é impressão minha ou es-tá ficando mais quente. É parece que ´tá sim Cleonice.

Na hora que todos chegaram, perceberam que estava ficando mais quente o chão. O meu ma-rido disse que a gente devia procurar alguém. Eu disse que era perda de tempo porque iam achar que éramos malucos, depois ia ser aque-le vai e vem de cientistas. E o meu filho pergun-tou sobre as visitas. Eu disse que poderia ser uma nova forma de decoração...

Sexta feira.... Parece que ele cresceu muito mais já ocupou o chão todo. Agora que fu-deu....!! Não pode jogar, cair mais nada no chão... Já pensou cair catchup, molho de toma-te? Vai poder virar quadro negro ou pintar qua-drados.É isso que vou fazer! Vou pintar como um tabuleiro. Ai poderá jogar damas, xadrez, etc. na sala. Cleonice você chegou, me ajuda a tirar os móveis. Vou pintar esse chão de tabu-leiro.

Tabuleiro, patroa? É Cleonice, pelo menos pra disfarçar. Na hora que todos chegaram, per-guntaram assustados sobre o que aconteceu. Disse que tinha pintado pra disfarçar.É disse-ram que tinha ficado menos quente...

(Segue)

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Sábado, lá estava ele começando a aparecer na parede. Não vai parar mais?Mas você não me oprimir! É só você preencher a parede que vou pintar de tabuleiro. Hoje estão todos em casa. Ainda tem pouco na parede. Não é preocupante. Meu filho disse que quando chegar no quarto dele ia fazer umas grafites manerooss .Meu marido, Nelsinho, disse que no quarto nem ia preci-sar pintar que era melhor escuro. Minha casa tem: sala, dois quartos, cozinha e banheiro. Como vou pintar a sala quando o preto cobrir?

Passaram-se cinco meses e o ponto tinha invadido toda a casa. Como pode? Um pontinho de aquele tamanho fazer tudo isso? Mas pintei todos os cômodos da casa de sua maneira. O ponto não tinha mais onde cobrir. Acho que não vai chegar na parte externa da casa. Ontem meu filho amanheceu com uma pinta preta no pé. Perguntei para ele o que foi, não soube explicar. Foi no médico que disse ser mancha de pele. Uma pinta. Mas daquele tamanho? No outro dia aquele pé estava todinho preto. Pensamos que podia se câncer.

Nem levamos o menino no médico. E se fosse mesmo câncer? Teria que amputar? O menino nem tirou o tênis na escola. No outro dia sua perna estava preta. Já estava se conformando. á achando legal ficar assim. No fim de duas semanas ele já estava todo preto.

-Me diz agora meu filho. E os colegas como reagiram? Muito preconceito?

Primeiro disse que era uma mancha. Foi Clara quem viu. Noutro dia todos ficaram preocupados falaram para eu ir ao médico. Disse que era um tratamento. E fui inventando. O que eu poderia fazer? Porque ´tá estranhando?

-É que seu pai e eu já estamos ficando com manchas pretas. Seu pai ´ tá com medo de ser despedido.

-Ainda mais naquela empresa...

-Comigo. Acho que não terei problema.

- Eu vou ter que me acostumar.

Passa uma semana.

-Mulher, eu disse pro patrão que é uma doença. Não sei se ele engoliu.

-E você já se acostumou? Vai ter que aceitar. Será assim até o fim. Eu até ´tou gostando.

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Mulher e Mãe Poesia

Por Regina Mércia Sene Soares

É como uma poesia

que define uma figura

Ela é como o fogo

fogo esse que transfigura

marca o tempo e o espaço

para nunca ser esquecida

Mãe é plenitude

onde suas raízes

vem de uma imagem

que existe na ressurreição

Mãe da a vida

e acredita que tudo

é fluxo do Criador

com suas obras magníficas

somando sua plenitude

Mãe propicia o sentir

o desabrochar de um delicado

poema que faz parte

da eternidade onde

gera o amor e a feição

Mãe é a mutação eterna

que um dia esperemos alcançar

como a melhor definição

da estrela amiga desapontando

no céu azul da vida

Mãe parece um sonho

sem ansiedade e passos leves

sempre amiga como uma

água cristalina do riacho

onde mata a sede

de seu ser criado

por ela vendo nós crescermos

como uma rosa criança

a desabrochar no jardim da vida.

PARTICIPE DE NOSSA EDIÇÃO DE SETEMBRO!

VAMOS FALAR DE AMOR, DO AMOR

EM TODAS

AS SUAS FORMAS!

VAMOS FALAR DO

AMOR

DOS SERES HUMANOS

DO AMOR

PELOS ANIMAIS

DO AMOR

PELO PLANETA!

Envie seus textos até 25 de julho para

[email protected]

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A CAIXA

Por Rô Mierling

Eles foram viajar. Adoravam viajar, trabalha-vam praticamente só para isso. A mãe, o pai e o filho de sete anos. Uma família feliz e realizada. Com muitos planos e ideias, escolheram uma ilha afastada para passar o carnaval. A mãe, sempre previdente, sugeriu que saíssem de casa na quarta-feira de cinzas quando todos já estariam voltando, deixando de pe-gar o tumulto tradicional do carnaval.

Como pai e mãe eram autônomos, foi possí-vel seguir a sugestão de mãe e na quarta-feira de cin-cas estavam todos prontos para seguir até a tal ilha. Não seria fácil, pois moravam no interior do Estado, mas tudo vale a pena quando é para viajar e se aven-turar. Primeiro pegaram um ônibus com duas horas do trajeto até a capital do Estado. Depois um táxi até o aeroporto, malas, equipamento de fotografia, de pesca, uma verdadeira tralha familiar. Embarcam no voo até a capital do outro Estado onde ficava a tal ilha. Chegando ao aeroporto de destino pegam um táxi até a rodoviária, mais um ônibus de uma hora, descem numa ferrovia, pegam um trem que atravessa uma serra linda, mais duas horas de trajeto. Chegam à estação final, pegam um táxi e vão para o píer de onde saem os barcos para a tal ilha. Está mais perto do que nunca, todos empolgados, cansados, mas feli-zes, ficarão na ilha de quarta-feira até a segunda-feira seguinte, valerá a pena.

Chegam à ilha. A cabana que reservaram fica do outro lado da ilha que não tem estradas nem car-ros, só picadas abertas no mato. Contratam um rapaz para ajudar a carregar as tralhas. Tudo certo! Eles chegam à cabana, uma graça, tudo arrumado, meio mato meio mar. Foram dias maravilhosos, ninguém mais na praia, as cabanas vizinhas todas vazias, o plano da mãe de chegar no fim do carnaval deu cer-to, tinham a ilha praticamente só para eles. O pai, biólogo e amante das orquídeas e dos bichos, corria atrás de cobras, lagartos e flores, fotografando tudo. A mãe, com muitos livros, lia muito, observava os barcos no oceano, chegando e saindo em um porto próximo. O filho já corria pelado pela praia, assado entre as pernas de tanto rolar na areia e pegar sol,

mas feliz, muito feliz.

De noite faziam fogueira assando salsinhas e contando histórias, sem deixar de limpar tudo na saí-da, afinal eles eram uma família ecologicamente cor-reta. Em dado momento, chegou a hora de voltarem. A mãe começa a recolher as coisas, o trajeto de volta será o mesmo: barco, trem, ônibus e avião. Precisam empacotar tudo e arrumar as malas.

A mãe olha para o pai e vê que ele está preo-cupado, o filho também nota.

A mãe pergunta:

- Amor, o que houve?

- Nada – ele diz.

- Conta logo papai, sabemos que está preocu-pado - diz o filho.

- É que eu peguei umas mudas de orquídeas em algumas árvores para levar para meu orquidário – diz o pai meio sem jeito.

- E qual o problema? Sendo pequenas mudas não tem problema, eu acho – diz a mãe.

- É que não sei onde levá-las, afinal vamos passar pela revista no aeroporto e pode dar problema – diz o pai.

- Que nada amor, se são mudinhas, coloca na bolsa entre as roupas e pronto.

- Amor, acho que não dá – insiste o pai.

- Por quê? – pergunta o filho.

O pai então abre uma sacola de mercado da-quelas grandes e mostra mais de quinze mudas de orquídeas diferentes, todas silvestres, formando uma pequena montanha de verde que dificilmente seria fácil de esconder. Todos olham espantados para as plantas em cima da cama e a mãe diz:

-É melhor deixar ai.

- Não, vou levar de qualquer jeito, deu o mai-or trabalho para subir nas arvores e tirar – diz o pai.

“Nada ecológico isso”, pensa o filho, mas diante do momento tenso, prefere nada falar.

(Segue)

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- Eu tive uma ideia pai – diz o menino.

- Qual? – pergunta o pai.

Coloca tudo numa caixa de papelão e deixa que eu levo, vou fazer uma plaquinha, colar na caixa e embarcamos a caixa normalmente no avião.

A mãe, já com mil coisas para arrumar, deu o assunto como resolvido, virou as costas e continuou fazendo as malas. O pai, indeciso, pensou: “vou mes-mo por as mudas numa caixa de papelão e no embar-que do aeroporto eu me viro”. Tudo pronto! Começa-ram o regresso e depois de todos os trajetos, chega-ram ao aeroporto e até o momento do embarque a cai-xa de mudas (mudas essas que a princípio nunca de-veriam ter saído da ilha por serem consideradas nati-vas e raras) passou despercebida e com várias coisas para se preocuparem não haviam falado mais no as-sunto.

Chega o momento de despachar as malas, o pai então se lembra da caixa de mudas, a mãe fica tensa, a moça despachante de malas pergunta:

- A caixa vai embaixo ou em cima no avião?

Momento tenso. Um fiscal do aeroporto pas-seia por perto.

- E então senhor? A caixa vai ao porão ou vai como bagagem de mão?

O pai pensa: “Estou ferrado, se a caixa for ao porão vai amassar tudo, se eu levar como bagagem de mão, vão passar ela no raio x e agora?”

O menino vendo a tensão do momento grita (criança sempre grita):

- Não se preocupe pai, lembra que eu disse que faria uma placa para colocar na caixa para nin-guém destruir ou amassar as mudas?

- Lembro meu filho.

- Então, eu fiz a placa, me deixa colocar na caixa, só um minuto moça - diz o menino para o pai e para a moça da companhia aérea.

Nesse momento, muitos passantes e fiscais do aeroporto já param para ver o que está havendo. O menino tira então do bolso uma placa de papel, pega uma fita adesiva no balcão da empresa aérea e cola na caixa a tal placa com os seguintes dizeres:

“FRAGIL! CUIDADO! PLANTAS ROU-BADAS E DELICADAS!”

Venha par3cipar de um dos mais

badalados eventos culturais da

Europa, o maior evento literário

suíço!

De 29 de abril a 3 de maio

De 2015

Você pode par3cipar de duas

maneiras:

Vindo pessoalmente, para autografar

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ou

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representamos você!

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Amigos que “entram no jogo”

Por Rogério Araújo (Rofa)

O Brasil sempre para em período de Copa do Mundo, embora a nossa seleção

muitas vezes deixe a desejar com sua atuação. Fiquei pensando sobre o Dia da Amiza-

de, que é comemorado no dia 20 de julho, e percebi o quanto um amigo tem muito

a ver com o futebol, como disse um e-mail que recebi muito interessante sobre esse te-

ma que adaptei para esta crônica.

Todos desejam que a vida seja como uma partida; deste que é o esporte mais po-

pular do Brasil, com craques bem conhecidos como Pelé, Garrincha, Ronadinho, Kaká,

Neymar, dentre outros. E como precisamos driblar todas as tristezas e matar no peito to-

das as angústias para ter uma vida mais alegre no dia a dia.

Precisamos mostrar cartão amarelo para a mentira e a falsidade e mostrar cartão

vermelho, com coragem, para os nossos medos. Que possamos mandar pra lateral

pessoas que são falsas. E se alguém sofrer uma derrota, que esta sirva de lição, sem

deixar revolta. Que possamos chutar para escanteio as más amizades e não cometer ne-

nhuma falta com os adversários ou amigos.

É mais que necessário fazer belíssimos gols, conquistar e comemorar verdadeiras

e leais amizades. E quem “joga bem”, pode realizar-se e ser um(a) verdadeiro(a) campe

(ã)o na vida!

Mas, torna-se fundamental fazer lindas jogadas de paz e amor e comemorar mui-

to. Os verdadeiros e leais amigos, com certeza, estarão na arquibancada, aplaudindo

muito!

Certamente que eu e você estamos na plateia da vida, torcendo para que nos-

sos amigos e amigas façam belíssimos gols e vençam sempre em sua vida! E, é claro,

esperando dos que dispõem de nossa amizade também ajam desta forma.

No entanto, nada disso terá valor se não pedirmos orientações de DEUS, que é

nosso técnico para o jogo da vida, sempre ao nosso lado, para que saibamos as

“melhores táticas” desta partida terrena antes que ela termine.

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LITERATURA & ARTE

LUIZ CARLOS AMORIM

AUTORIA E COAUTORIA Já escrevi várias vezes sobre plágio, mas de vez em quando aparece algum fato que traz o assunto novamente à tona. Todos sabemos – ou deveríamos saber – que “arrumar” ou “melhorar” o texto dos outros não existe. Não podemos modificar em nada um texto de nin-guém, a não ser de nós mesmos. Se eu for edi-tor e achar que o texto que o autor me entregou para publicar na nossa revista, por exemplo, não é bom, eu peço outro. Ou, quem sabe, pe-ço para o autor reescrever, se tiver intimidade para isso. Não vou adaptar, acrescentar ou cor-tar trechos para melhorar, pois estarei adulte-rando uma obra que não é minha. E isso é plá-gio. Se alguém altera um texto de outra pes-soa, esse alguém está se transformando em coautor daquele texto, o que significa que a ou-tra pessoa não é mais a única autora. O referi-do texto não tem mais apenas um autor, tem dois. Se os dois passarem a assinar o texto, ótimo. Mas não é isso que acontece. Há quem altere o texto da gente, quer publicar o texto adulterado e quer que a gente assuma sozinho o resultado. Isso é crime. Isso me volta à cabeça porque fui convidado para participar de uma pequena antologia que seria publicada em alguns outros idiomas, além do português. Havia um assunto específico e mandei um poema meu que talvez se encaixas-se no tema. A editora achou que precisava de uns ajustes, que se suprimíssemos alguns ver-sos ele ficaria perfeito. Aceitei, ela me enviou a nova versão e, como apenas tivessem saído

algumas linhas, sem que quebrasse demais o sentido, eu aprovei. No entanto, quando a editora me enviou o poe-ma “editado”, como ela mesma disse, com a tradução para o inglês, eu me apavorei. Havia modificações no poema em português que eu não havia aprovado, a tradução para o inglês estava um desastre: trechos incompreensíveis, trechos com palavras que não traduziam o que estava no poema, etc. E eu me reportei dizen-do o que não aceitava na “adaptação” do poe-ma original em português e explicando o por-quê. Ela me retornou dizendo que preferia do jeito que havia ficado, que ela achava que esta-va “maravilhoso” assim. Eu então pedi para sair da antologia, já que eu não podia opinar sobre modificações no meu próprio poema. Ela insis-tiu para eu continuar, pediu desculpas e eu pro-pus começarmos tudo de novo Mandei a minha versão do poema, mandei uma outra tradução feita por pessoa que fala fluentemente o inglês e também é poeta. A edi-tora agradeceu e eu achei que estava tudo bem. Dias depois recebi a “edição” final, com o origi-nal e a tradução para eu aprovar. Só que a tra-dução estava diferente do que eu havia manda-do. Palavras que foram usadas para manter o ritmo foram substituídas por outras que não eram a exata tradução do original. O resultado, afinal, não foi bom, sem contar que modifica-ram sem me consultar. O engraçado é que eu não concordei e a “editora” me respondeu lamentando ter que me “tirar” da antologia. (Segue)

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Mas o problema não é esse, eu já havia manifestado interesse em não participar, mesmo. Te-nho todo o processo da história. O caso é que isso prova, mais uma vez, que algumas pessoas não sabem o que é “edição”, que isso não quer dizer alterar o trabalho de outros autores ao bel prazer, que só o próprio autor tem o poder de modificar a sua obra.E não há como confundir es-te ocorrido com revisão, que é a correção do texto sem alterá-lo. Alterar o trabalho dos outros é outra coisa, totalmente diferente. Não podemos alterar, sob hipótese alguma, um texto que não seja o nosso próprio, repito. Só quem pode modificar um texto é o próprio autor. Outra coisa: tra-dução de poema fica melhor se feita por tradutor que também é poeta. Sob pena de transformar o poema em prosa. Não aceite que modifiquem o seu texto. Submeta-o a leitores, para saber o que acham. Se al-guns não gostarem, reescreva-o. Mas não deixe que ninguém “ajude”, “arrume”, “conserte”. Isso não existe. A história que contei parece meio absurda, mas sabemos que ela acontece. Tenho toda a série de mensagens que provam o que houve. Não deixe que ela aconteça com você. Se você tiver que escolher entre publicar um texto seu adulterado, prefira não publicar. De que adi-anta publicar uma coisa que não espelha a sua criação, o seu estilo?

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LUPA CULTURAL

Por Rogério Araújo

(Rofa)

O escritor e seu reconhecimento

No dia 25 de julho no Brasil é comemo-

rado o Dia Nacional do Escritor. E qual a sua

importância e como ser “reconhecido” no mer-

cado e, principalmente, pelos leitores?

Quando alguém descobre que tem esse

dom maravilhoso de conseguir colocar no papel

ou na tela de um computador as palavras inspi-

radas que tem sobre uma verdadeira gama de

gêneros e temas mais variados possíveis, é

possível extravasar o que está por dentro afli-

gindo e incomodando.

Seja um cronista que observa tudo ao

seu redor; seja um contista que cria as maiores

fabulas ou historias ficcionais; ou mesmo os

poetas que usam versos melódicos ou melosos

– todos são escritores e tem seu valor e sem-

pre é reconhecido de uma forma ou de outra.

“A obra literária deve ser sempre melhor

do que o autor”, disse Carlos Drumonnd de An-

drade (1902-1987, poeta e cronista mineiro em

“O Avesso das Coisas”). Ele também disse na

mesma obra que “Tudo que escrevemos não

vale o que deixamos de escrever, certamente

referindo-se às ideias que borbulham na mente

dos escritores e que simplesmente vão embora

como veem como um passara que voa.

“Escritores fazem bem ou fazem mal.

Depende de quem os leia”, disse Daniel Piza

(1970-), jornalista e escritor paulista (do livro

“Dicas da Dad, de Dad Squarisi”). Esta frase

coloca toda a “responsabilidade” para o leitor.

Este que deve ler, refletir e assimilar ou não o

que leu e decodificar sendo bom ou ruim para

sua vida. Isso que é um “leitor ideal” para todo

autor.

“Escrever é não esconder nossa loucu-

ra”, disse Arnaldo Jabor (1940-), jornalista e

cineasta carioca (“A Invasão das Salsichas Gi-

gantes”). Tudo porque um escritor que se preze

não se contém com uma inspiração até ver es-

crito e desenvolvido. Caso contrário, quem fica

”louco” é o próprio autor.

“O escritor não é alguém que vê coisas

que ninguém mais vê. O que ele faz é simples-

mente iluminar com os seus olhos aquilo que

todos veem em sem se dar conta disso”, disse

Rubem Alves (1933-), escritor e psicanalista

mineiro (“O Retorno e o Terno”). É uma grande

verdade. O escritor tem um olhar aguçado que

a todos passa despercebido e a ele não. Algo

especial contido que tem a ver com o DOM que

ele possui.

“Escrevo para viver, quando gostaria de

viver para escrever”, disse Fernando Sabino

(1923-2004), escritor mineiro (“O Tabuleiro de

Damas”). (Segue)

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Quem escreve tem uma agonia intensa

de escrever o que imaginou, senão fica total-

mente incomodado com isso. E pior que não é

compreendido pela maioria das pessoas que

ainda acham que é algo que não serve para

nada e “não dá dinheiro”.

“Para escrever bem não é preciso mui-

tas palavras, só saber como combiná-las me-

lhor. Pense no xadrez”, disse Millôr Fernandes

(1924-), escritor e humorista carioca (“Millôr

Definitivo: A Bíblia do Caos”). E não é verdade?

Um jogo de palavras do escritor para que o lei-

tor decifre esse “jogo” e os dois consigam junto

saírem vencedores: quem escreveu e quem lê.

“Quando alguém pergunta a um autor o

que este quis dizer, é porque um dos dois é

burro”, disse Mário Quintana (1906-1994), poe-

ta gaúcho (“Caderno H”). Frase bem humorada,

mas uma realidade. Às vezes um pequeno e

simples texto emociona e dá de dez em outros

elaborados e feitos para impressionar. Nem

sempre os melhores estão naqueles que usam

palavras difíceis, mas em quem sabe chegar ao

leitor de forma certeira e ser acima de tudo

bem compreendido.

“Não há ninguém que abomine mais um

autor do que outro autor. Um autor só é solidá-

rio com outro no velório do concorrente”, disse

Nelson Rodrigues (1912-1980), dramaturgo e

jornalista pernambucano (“Flor da Obsessão”).

Aqui, o grande cronista brasileiro ironiza a inve-

ja e ciúme entre autores pelo sucesso alheio

dos colegas. O que nem teria sentido se imagi-

narmos que cada um tem seu público e escrita

única a seu modo. Um livro de sucesso inveja-

do pelo “colega” nunca poderá ser escrito por

este que pode conseguir outros feitos, mas não

este porque tem o seu próprio estilo e peculiar.

Sendo assim, por essas e outras frases

de escritores sobre a própria arte da escrita ou

de obras, o reconhecimento de cada autor

acontece em sua excelência pelo leitor. Prê-

mios, títulos ou destaque na mídia nem sempre

querem dizer muita coisa. O que mais importa

é ser elogiado e ter como fã, aquele para quem

uma obra foi escrita e que não teria sentido e

existência de um escritor: o LEITOR.

Um forte abraço do Rofa!

* Escritor, jornalista, autor do livro “Mídia, bên-ção ou maldição?” (Quártica Premium, 2011), colunista do “Jornal Sem Fronteiras”; participa-ções em diversas antologias no Brasil e exteri-or; vencedor de prêmios literários e culturais; membro de várias academias literárias brasilei-ras e mundiais; menção honrosa no Prêmio Va-ral do Brasil de Literatura, com a crônica “O amor... é cego, surdo e mudo?!”.

O que achou da coluna “Lupa Cultural” e deste texto? Contato: [email protected]

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DO TAMANHO DO BRASIL

Por Marcos Rogério de Oliveira

NÃO INCUMBE NO CORAÇÃO

NEM TAMPOUCO SEGURA O SER

ALTO AFETO E FERVOR

DIFÍCIL ENTÃO ABSORVER

SOBREPUJAR ESSE AMOR

AMPLO E DESMESURADO

ABRANDAR , IMPOR SERENO

NO PEITO NÃO CABE

PRA ESSE APEGO ELE É PEQUENO

SURGIU UMA PAIXÃO

UM AMOR NOBRE GIGANTE

ESMERALDINO , ALVO, ANIL

E AMARELO DOURADO

COR DE OURO DO BRASIL

AFEIÇÃO CONTINENTAL

UM SÓ NÃO REPRIME

CONVOCO A NAÇÃO

PRA DOMINAR ESSE BRAZEIRO

PRA CONTER ESSE AMOR

CHAMO TODO BRASILEIRO.

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O Quadro

Por Ronie Von Rosa Martins

Antes de entrar ele pressentiu. Frio estranho lambendo o corpo. Arrepio bolinando a alma. Com calma. Mesmo assim entrou. Sempre entrava “mesmo assim”. E naquele dia resolveu ver. Observar. Coisas que não via. No cérebro, algo sempre tilintava. Sinal? Tinha sempre a sensação de que sua visão não era boa. De que não conseguia ver tudo. Olhava. Olhava muito. Para tudo. Traços, rostos, relevos, linhas, cores, ângulos, texturas, estilos, épocas, conceitos. Mas algo dentro dizia que alguma coisa estava errada. E ele decidiu. “Não é grande coisa,” um amigo dissera. O outro “que era mediano”. Alguns, por falta de pro-paganda, mídia e badalação, negaram veementemente a intenção. “Não vale a pena, o tem-po, o movimento, as cores, o comentário.” Mesmo assim ele foi. E era estranho. Intrigante. O espaço em que o quadro o corpo em tinta e traço olhava. Espa-ço de brancura iluminista. Claridade anormal cegante-sufocante. Paredes nuas, explícitas. E no meio de todo o nada - ele. O quadro. Único. Mão e olho. Rosto sugerido, cores infringidas. Delirante pincel. Escuro e sombrio. Sombra e cor além da luz. E o olho branco. Vago. Profundo. Janela. E da mão um furo. Outro rasgo. Outra brecha. E as linhas e os cortes. Traços que separavam ou juntavam pedaços. A imagem em constru-ção. Destruição? E então a visão. Toda. Furiosa. Facho, fluxo. O olho no olho e ambos dentro e fora. O quadro e o corpo. Simbiose. Mergulho, naufrágio no olho. Afogamento. Dança erótica e lasciva com todas as sereias recusadas por Ulisses. Todos os caminhos e dimensões sensoriais, corpo-rais e táteis experimentadas por Alice. Valsa fantástica a bordo da nau dos loucos. Tradução-devoração do verbo insano, do verso da não-razão. Antonin Artaud cuspindo saliva e sangue no buraco mágico dos Taraumaras. Explodindo e desorganizando-se em corpo e mente. Cri-ação de outro mundo. Vocábulo do além gramática. Janelas e mais janelas ao suicídio do lu-gar comum. Do senso comum. Corpos em queda. Livres. O incêndio de todas as roupas, de todas as máscaras. Nero bondoso e fantástico e sua lira. Insanidade mortal. Fogo. Roma e Tróia. Incandescentes. Na pausa que se fez. Do olho que ao fechar-se o mundo enclausurou, rio de sal aos poucos vazou. Dor, prazer, júbilo, razão? Ninguém soube ou sabe ou saberá motivo, ideia, intenção. Mesmo assim ele levantou. E pelo olho do quadro nova direção. Da janela aberta em braços e asas saltou. Final. Ponto

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AMIZADE ANTES – AMOR DEPOIS

Por Rose Rocha

Acordo de repente e você na minha mente

Ainda beijando meus lábios no meu sonho um

tanto quente

Quem pudera seu entendimento ouvir meus pensa-

mentos

E por fim compreender todo este sentimento

Quem pudera acreditar

Que no seu coração eu tenho um lugar

Tão claro e espaçoso como diz o seu olhar

Já passei daquele tempo

Que o corpo em seu apogeu

Faria alguém desejar apenas ao olhar

O seu bem coladinho ao meu

Sou mulher e fiquei mais velha

Mas não posso negar

Que a menina dentro de mim

Acha a vida muito bela

O corpo é uma parte

Que na terra vai ficar

Mas o que sinto por você

Para eternidade vou levar

No seu coração estou certa de deixar

A lembrança da minha alegria, do meu sorriso

E do meu jeito de te amar

Sou intensa, mas silenciosa

Não consigo enfrentar

Talvez por incerteza se serei correspondida

Ou um fora vou levar

O recuo é a tentativa

De a mágoa evitar

Vejo nos seus olhos

Um mundo novo

Mas não posso ter certeza

Que você quer mesmo me amar

Se não me deixa uma pista

Ou tem coragem de falar

Recuso-me em dizer que tudo

Pode ser um grande equívoco

É que este sentimento

Me enche de tanta esperança

Que faço dele o meu abrigo

Penso no seu sorriso

E também nos seus dedos longos

Passando pelos cabelos bonitos

Como seria tocá-los

Como seria beijá-lo

Apenas sinto que você na minha pele

Tudo faria mais sentido

Não me cabe duvidar

Quanta paz eu sentiria

Em seus braços no seu aconchego

Muito amor eu teria e seria

Transbordando de alegria

Você é lindo e tão carente

De alguém para lhe aquecer o corpo

E o coração principalmente

Pudera ser eu essa pessoa

Que lhe deixasse contente

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AS MÃOS SOBREPOSTAS DE MAMÃE

Por Rossandro Laurindo

Bradou e um coração nasceu

Um pequeno rosto junto à pele de sua face

A troca de olhares inevitável

A multidão de dentes no sorriso largo de felicidade

A mão adulta sob a recém-nascida

A junção das digitais maternas às do filho

Demonstração de amor simples, mas marcante

Semblante estafado devido ao esforço de conceber a vida

Esforços multiplicados à medida do cuidado

Do ensino no andar e falar do pequeno ser humano

As mesmas mãos que tomou a criação nos braços

Agora guiam as mãos do pequeno escritor nas primeiras letras

As vestes são postas ao corpo minúsculo do ser

Pelos dedos delicados, dedicados ao zelo

O alimento doado de si mesma nutre os órgãos em desenvolvimento

Dependência plena do perpétuo colo materno amável

Os ouvidos da vida adolescente são aconselhados

Pela sabedoria da alma feminina

Inclinação em manter a curiosa alma jovem

Nos caminhos da bondade e justiça

Os olhos, agora maduros, observam a idade maternal avançar

E o início da retribuição dos cuidados antes fornecidos

A dependência oposta será mantida

Por amor à vida que lhe concebeu a vida

As mãos agora invertidas

As do filho sob as enrugadas, envelhecidas

Agradecidas velam o leito materno

Os céus abençoam a família que permanecera no Eterno

Tratando um ao outro como um sendo o outro

A recompensa é olhar-me ao espelho

E enxergar fragmentos de ti em mim

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Delírios da saudade

Por Rozelene Furtado de Lima

Palavras espalhadas no diário empoeirado Páginas escritas pelo tempo passado

Abertas e lidas com emoção pela saudade Atrás da encantada e fugaz felicidade

Quem sabe? Um encontro informal, não marcado

Concebido na intransparência do destino Sempre esperado no delírio do sonho acordado

Dar de cara com teu sorriso divino

Que chega salgando e regando meu corpo por inteiro Ao som do eco da energia dos suspiros sonantes Dedilhando e compondo a canção dos meus ais

Imersos no lago dos desejos, livres, sem roteiro

A ilusão na tensão da lembrança constante Que vibra num tempo que ficou para trás

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DICAS DE PORTUGUÊS

com

Renata Carone Sborgia

“A confiança é um ato de fé e esta dispensa raciocínio.” Carlos Drummond de Andrade

Maria fez uma “micro-radiografia” na mão.

...vamos torcer para que esteja tudo bem o exame, assim como vamos torcer para Maria dominar a Nova Regra Ortográfi-ca!!!

O correto é: microrradiografia.

Dica fácil: nas formações em que o prefi-xo (ou falso prefixo) termina em vogal e o segundo termo inicia-se em r ou s. Nesse caso, passa-se a duplicar essas consoantes e não se emprega o hífen.

Pedro foi ao “auto-escola” renovar a carta de habilitação.

...muito bem, Pedro!!! Vamos torcer para dominar a Nova Regra Ortográfica!!!

O correto é: autoescola

Dica fácil: nas constituições em que o prefixo( ou pseudoprefixo) termina em vogal e o segundo termo inicia-se com vogal diferente—não se emprega o hífen.

Ficamos “ frente à frente” e felizes!!!

... a Língua Portuguesa com sua regra??? Ficou triste!!!

O correto é: frente a frente—sem o acento grave

Regra fácil: nunca ocorre crase nas ex-pressões formadas por palavras repetidas.

Para Você Pensar:

"Amanhã fico triste, Amanhã. Hoje não. Hoje fico alegre. E todos os dias, por mais amargos que sejam, Eu digo: Amanhã fico triste, Hoje não. Para Hoje e todos os outros dias!!!" Encontrado na parede de 1 dormitório de crianças do campo de extermínio nazista de Auschwitz.

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Sonhos

Por Selma Antunes

Menina de olhos tristes, De vestido pintado de nuvens.

Por que se preocupa tanto?

Deixe seus pensamentos voarem comigo, Que eu posso te levar para longe.

Lá onde eu vivo, Não há tempo nem pensamentos.

Nem instantes perdidos.

Existe um lugar, Muito distante,

Onde você pode ficar. E nele você poderá acordar.

Menina que olha para o céu,

Venha comigo. Escute-me,

Que a noite já vem vindo.

Peço que apenas pense em mim. Feche os olhos,

Deixa eu te levar comigo. Que assim é mais fácil sonhar.

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Universos livres

Por Sergio Eduardo Del Corso

“Livro: magias em papéis,

mundos, gentes, culturas,

aventuras, outrora loucuras,

despertam sabedoria,

despertam em grande,

despertam prazer,

acordar da escuridão!

Woolf, Cervantes, Agatha,

Assis, Tolstoy, Clarice,

Verne, Goethe, Shakespeare,

Raquel, Borges, Austen,

Márquez, Cecília, Roberts,

há muito mais no horizonte,

do que se pode prever,

amor, paz, tristeza,

alegria, injúria, guerra,

lua, sol e até a morte,

desenhos de literatura,

enfim, pérolas da vida!

Viajar da mente,

intelecto massageado,

por letras de luz!

Ler... ler... e ler.

Criar e recriar, livre assim,

ideias do oceano de criança,

ser tudo em tempo único!”

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PRESERVAÇÃO DA VIDA: ENTRE O DIREITO PREVISTO NOS PROJETOS DE LEI DE UMA BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA E OS CAPÍTULOS DA NOVELA CHOCOLATE

COM PIMENTA.

Por Sidelcy Ludovico

A PRINCESA DO CERRADO

Há alguns dias atrás, ao tentar iniciar mais um livro, me deparei com vá-rias ilações ou porque não dizer dúvidas com relação ao tema das biografias não autorizadas.

A proposta de um Estatuto Le-gal das Biografias para oferecer a “Liberdade para as Biografias” com o ar-gumento de que as vidas dos indivíduos são parte da história não é nova. A pri-meira idéia foi do ex Deputado e ex Mi-nistro da Fazenda Antonio Palocci que não foi efetiva a ponto de ser aprovada. Em 2011, através do Projeto nº 393/2011, de autoria do Deputado New-ton Lima, houve nova rediscussão do te-ma.

E afinal, de quem se poderia falar, quando as biografias seriam consi-deradas não autorizadas e quais as suas implicações se o trabalho fosse adapta-do para o cinema ou para a televisão. E até quando discutiremos o assunto sem pensarmos em suas conseqüências? Es-se assunto não é novo, mas vamos lá.

Quem, portanto, seriam consi-deradas “pessoas públicas de quem se poderia falar livremente”. No meu cotidi-ano interpreto vários papéis será que se-ria considerada uma pessoa pública a ponto de ensejar Uma Biografia Não Au-torizada.

Nesses vários papéis que interpreto um especial deve ser mencionado, o exercí-cio do cargo efetivo de Advogada da Uni-

ão. No exercício de suas atribuições se-rá que sou considerada uma pessoa pú-blica? Acredito que não. E os Deputa-dos, Senadores, Ministros de Tribunais etc. Destarte não.

Sabemos que há vários traba-lhos das empresas de comunicações que não se enquadram em Uma Biogra-fia Não Autorizada, mas que mesmo as-sim merecem menção. Caso clássico era o quadro TOLERÂNCIA ZERO, produzi-do e exibido pela Rede Globo de Televi-são, em que o filho do ex Presidente do Tribunal de Contas da União, Ministro Iram Saraiva, Iram Saraiva Filho e sua esposa Caroline, eram satirizados.

Outro bom exemplo é o do pro-grama SAI DE BAIXO, exibido pela Rede Globo de Televisão, em que a Deputada Federal e empresária, Magda Moffato, interpretada por Marisa Ortz, sofre uma severa critica, haja vista que dá a enten-der que a mesma não entende de políti-ca tampouco de negócios. A Ministra do Supremo Tribunal Federal Carmen Lúcia da Silva Antunes também foi massacra-da pela novela global Avenida Brasil, com o personagem Carminha.

Evidente que nesses casos al-guns se sentem ou são mais ou menos prejudicados em sua vida pessoal, intimi-dade privacidade, honra etc, mas nesses casos as concessões de televisão e rá-dio poderão ser cassadas, conforme pre-vê o art. 64, “a”, da Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962, que institui o Código de Telecomunicações.

Caso de adaptações de livro para a televisão e que não foram bem sucedidos e que não se respaldou no Estatuto Legal das Biografias, pois ainda não se discutia o tema, foi o da minissé-rie DECADÊNCIA, onde o escritor Dias Gomes tentou contar a história do (Segue)

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também escritor Edir Macedo, o mesmo foi interpretado pelo ator Edson Celulari. Nesse caso o direito de petição foi ime-diatamente e de pronto utilizado e a mi-nissérie não pode mais ser exibida.

Na novela CHOCOLATE COM PIMENTA, exibida originaria-mente de 08 de setembro de 2003 a 07 de maio de 2004, a Rede Globo de Tele-visão conta a “suposta” e “fictícia histó-ria” de ANA CANTO E MELLO e LUDO-VICO CANTO E MELLO.

Nesse caso a bola da vez fo-ram meus bisavôs e consequentemente eu e toda minha família. Na primeira vez que a novela foi exibida não vi, na se-gunda não entendi e adoeci e na tercei-ra já tinha retificado o meu nome para incluir o apelido de família LUDOVICO e acionar a Rede Globo de Televisão e seus proprietários na justiça. Por incrível que pareça a novela ainda foi passada em Portugal. Mais porque Portugal? Já já explico.

Esse trabalho me prejudicou e me prejudica até hoje a ponto de me fez perder uma vaga para ser Ministra do Tribunal Superior Militar e que também a meu ver enseja a cassação da emissora de televisão. Isto porque põe em xeque a reputação de minha bisavó, de meu bisavô e minha reputação ilibada.

No trabalho exibido os proprie-tários do conglomerado imputam a mi-nha bisavó Ana Ferreira, ANA CANTO E MELLO, interpretada por Mariana Xime-nes, um filho fora do casamento com o seu namorado. Posteriormente, ela se casa com o meu bisavô Sebastião Ludo-vico, LUDOVICO CANTO E MELLO, fica com toda a sua fortuna e também viúva e se casa com o namorado o pai de seu filho.

Ocorre que meu bisavô Sebas-

tião LUDOVICO da Silva se casou com minha bisavó Ana FERREIRA da Silva e tiveram dez filhos. Minha avó Luzia, nas-cida no dia 21 de abril, mesmo dia em que se comemora o aniversário de Bra-sília, a mãe de minha mãe, Cleusa Lu-dovico Alves Pereira, Julieta, Divina, Cristina, Maria Madalena, Cândido, Enisvone, Eurípedes, Augusto e José.

Verifica-se que o caso supra-mencionado além de desonrar, denegrir, se apropriar de vidas de pessoas sim-ples se dispõe a excluir todos os des-cendentes de um único casal. Tal fato configura-se gravíssimo para o atual es-tágio da sociedade mundial, haja vista que na versão “fictícia” de CHOCOLATE COM PIMENTA, ANA CANTO E MELLO teve um único filho, e que não foi com LUDOVICO CANTO E MELLO, e por is-so todos os seus descendentes não existem e nem existiriam assim como sua bisneta e ora escritora.

Para acabar de piorar a situa-ção fui checar a minha arvore genealógi-ca que, diga-se de passagem, ainda não está completa, para ver a necessidade de um grande conglomerado de comuni-cação fazer o trabalho que fez. E che-guei à Família Imperial Portuguesa no Brasil.

Isso mesmo pasme. Descobri que a história do Brasil estava mal con-tada mesmo desde o começo e que a Marquesa de Santos, Domitila de Castro Canto e Mello, era a sétima esposa de D. Pedro I e com ele teve quatro filhos. Sua filha mais velha, Isabel Maria de Al-cântara Brasileiro e Bragança, a Duque-sa de Goiás, por sua vez teve também quatro filhos. Seu filho Fernando Fisch-ler se casou com a condessa Isabel Ma-ria Ludovico Francisco Xavier Fischler Von Treuberg, advindo daí a Família Lu-dovico.

(Segue)

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Entrementes, mesmo com tudo isso não acredito que a melhor forma de resol-

ver o conflito seria o uso da censura e por isso expus o problema ao Primeiro

Ministro de Portugal, a Comunidade Comum Europeia, a Organização das Na-

ções Unidas e a Corte Interamericana de Direitos Humanos para que houvesse

a criação da Organização Mundial das Comunicações um fórum ideal para se

discutir assuntos dessa envergadura.

Enfim, será que ainda ouviremos falar ou discutiremos o Estatuto Le-

gal das Biografias? Isso somente o futuro nos dirá.

1 A minissérie Decadência foi exibida entre 05 de setembro de 1995 a 22 de setembro de 1995, e baseada no romance homônimo de Dias Gomes, viúvo de Janete Clair, filha de Carolina Stocco, e escrita pelo próprio Dias Gomes.

2 Chocolate com Pimenta é uma novela escrita por Walcyr Carrasco, com a colaboração de Thelma Guedes, dirigida por Jorge Fernando e exibida pela Rede Globo de Televisão, entre 8 de setembro de 2003 e 7 de maio de 2009. Foi exibida, três vezes no Brasil e uma em Portugal, e deu origem ao Inquérito nº 0003837, processo nº 9957493-71.2014.1.00.0000, em curso no Supremo Tribunal Federal.

3 A reputação ilibada é uma reputação qualificada, ou seja, mais do que somente a própria repu-

tação

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Felicidade

Por Silvio Parise

Sobre os raios de um sol caloroso

num céu azul e simplesmente formoso

saímos para passear nesse dia glorioso

cujas aves insistiam em cantar.

E, como Deus sempre tudo dá,

aproveitamos esse dia maravilhoso

para, juntos irmos passear

dentre campos, lagos e colinas

usufruindo ao máximo a beleza deste lugar.

Porque na realidade sentimos a felicidade

no cotidiano amavelmente nos inundar

talvez, por sermos da paz

e querermos sempre mais

essa paixão constantemente abraçar.

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REFLEXÕES E PRÁTICAS GEOGRÁFICAS

Ricardo Santos de Almeida

“A construção de um Espaço Nacional: Proposta de

novos modos de regionalização do Brasil a partir de

Regiões Geoeconômicas”

Este ensaio foi desenvolvido como ativi-

dade da disciplina Geografia de Alagoas minis-

trada pelo Professor José Pinto Góes Filho, na

Universidade Federal de Alagoas em 2011 com

o intuito de analisarmos a regionalização do

Brasil em suas gêneses e intencionalidades.

Para muitos, o que está descrito e analisado

abaixo pode ser considerado mais do mesmo,

porém, esta é a minha análise e como tal mere-

ce ser respeitada.

É essencial o resgate de nossos percur-

sos na academia, pois percebemos que nossa

análise segue evoluindo. Aproveito este espaço

para lhes recomendar o acesso ao portal do

Núcleo de Estudos Agrários e Dinâmicas Terri-

toriais (NUAGRÁRIO-IGDEMA-UFAL):

www.nuagrario.com onde estão disponibiliza-

das as produções acadêmicas do referido nú-

cleo, bem como artigos e notícias sobre o es-

paço agrícola e agrário brasileiro e mundial.

O texto “A Construção de um Espaço

Nacional” propõe repensarmos os modos de

regionalização do Brasil, a partir de Regiões

Geoeconômicas – onde as atividades econômi-

cas serão os fatos preponderantes para a divi-

são de áreas; Regiões segundo o Índice de De-

senvolvimento Humano – que ressalta a partici-

pação da maioria da população no desenvolvi-

mento sócio-espacial de um país; não esque-

cendo as Regiões pautadas na divisão oficial

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) – que divide o país mediante os aspec-

tos físicos, sociais e econômicos.

A Formação Econômica e Social brasi-

leira é retratada desde os tempos de colônia de

exploração. Posteriormente é explicado como

ocorre o processo de incentivos à plantação de

commodities, tais como o cacau, a cana-de-

açúcar, algodão, café e borracha. Sendo, as-

sim, cada um desses produtos incentivam um

processo singular de formação econômico soci-

al em cada recorte do Espaço Geográfico brasi-

leiro, para além do crescimento ou retração po-

pulacional.

A ideia central do texto, cujo é destacada

pelo seguinte questionamento: Como ocorre o

processo de regionalização brasileira?

(Segue)

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Esta é condicionada pela Formação Eco-

nômica e Social especifica de cada lugar? Pinto

Filho (2010, p. 5) ressalta essa divisão regional

homogeneidade adotada pelo IBGE, pautadas

inicialmente nos aspectos físicos e socioeconô-

micos e posteriormente enfatizando um estudo

mais aprofundado em regiões geoeconômicas.

Ao pontuar os fatos históricos em escala

processual os fatores que fomentaram o real

desenvolvimento regional no Brasil desde os

primórdios, a partir da espacialização e molecu-

larização da produção agrícola. Além deste de-

talhe, encontra-se como base deste processo a

articulação comercial inicialmente dependente

de Portugal e Inglaterra e posteriormente a par-

tir das relações de interdependência regional,

do Brasil já (in)dependente, ainda sob imposi-

ção da espacialização produtiva extremamente

agrícola e ressalta o processo de êxodo rural

como fator primordial na concentração de terra

nas mais de latifundiários:

Entre 1500 e 1930: Inicio das pri-

meiras relações comerciais do

Brasil com o mundo, intermediado

pela metrópole Portugal. Entre os

Séculos XVI e XVIII as relações

sociais se pautavam no regime

escravista de trabalho, onde os

escravos eram submissos aos

poucos membros das oligarquias

canavieira, cacaueira e cafeeira.

Nos Séculos XIX e XX

(basicamente entre 1888 a 1930)

com o fim do regime escravocrata

e com o incremento de novos ca-

pitais estrangeiros há a necessi-

dade de condicionar o Brasil a tor-

nar-se cada vez mais industrializa-

do. Este processo se pauta com

ênfase na atual Região Centro-Sul

(regionalização em regiões Geoe-

conômicas) através do redirecio-

namento do investimento de capi-

tais oriundos da oligarquia cafeei-

ra, a primeiro momento. Ainda

neste século, começa a surgir a

divisão inter-regional do trabalho

condicionada pelo início da diver-

sificação econômica, e também a

atração de imigrantes nas regiões

Sul e Sudeste brasileiro incremen-

tando a singularidade

“progressista” das regiões sob o

pretexto de serem mão-de-obra

mais especializada. Contudo, es-

se longo recorte espaço-temporal

firma o Brasil como tardio no pro-

cesso de industrialização;

Entre 1930 e 1950: Durante a déca-

da de 1930 o Brasil inicia um pro-

cesso de controle da imigração.

Nas regiões Sul e Sudeste as ati-

vidades econômicas são diversifi-

cadas implicando na atração po-

pulacional de outras regiões brasi-

leiras, principalmente o Nordeste

em crescente êxodo rural, servin-

do como mão-de-obra na indús-

tria, comércio e serviços, uma vez

que os imigrantes, mesmo em

condições insalubres de perma-

nência nas fazendas, principal-

mente as cafeeiras, conseguiram

investir em outros setores da eco-

nomia. Há ainda neste período

incentivos para a ocupação do

oeste brasileiro, especificamente

na década de 1940; (Segue)

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Entre 1950 e 1960: O ápice das mi-

grações internas condicionado es-

sencialmente pelo crescimento da

indústria nas regiões Sul e Sudes-

te brasileiro e a construção de

Brasília, novamente absorvendo a

mão-de-obra dos nordestinos. Im-

plementação de Superintendên-

cias Regionais de Desenvolvimen-

to em cada região geoeconômica

(Centro-Sul, Nordeste, Amazônia)

como tentativa de incrementar a

politica econômica;

Entre 1960 e 1970: Ocupação de

pontos mais isolados da Amazô-

nia, sob o intuito de proteger e re-

conhecer a fronteira, desconecta-

da das demais regiões do Brasil.

Ainda neste recorte, estão inclu-

sas a nova atração de capitais es-

trangeiros e mesmo em plena di-

tadura militar;

Entre 1970 e 1980: Atração popula-

cional para os Estados Rondônia

e Roraima condicionada pela ga-

rimpagem, e novamente a popula-

ção nordestina é impulsionada a

migrar e “avançar” a ocupação no

cerrado amazônico;

Entre 1980 e 2000: O país no início

da década de 1980 condiciona-se

como um Brasil emigrante, cuja

parcela populacional arriscava-se

de modo legal e ilegal a trabalhar

em outros países favorecidos pela

difusão do meio técnico-científico-

informacional. Além disso, outro

fator preponderante é a descen-

tralização da concentração das

maiores empresas instaladas nas

regiões Sul e Sudeste motivadas

por ações estatais envolvendo

desde incentivos fiscais, melhor

infraestrutura nos modais de

transporte conectando cada vez

mais o país sob políticas multimo-

dais, expansão da fronteira agrí-

cola – impulsionando os comple-

xos agroindustriais, aumento dos

custos devido a valorização do

solo urbano nas regiões Sul-

Sudeste. A migração brasileira

continua associada, ainda, a fato-

res econômicos, porém, realçada

de modo sazonal, dependendo no

aumento da demanda de produ-

tos, prestação de serviços e a ge-

ração de empregos no comércio.

Ao resgatar aspectos como renda, esco-

laridade e expectativa de vida, mensurados, co-

mo novos elementos para uma regionalização

mais consistente sob utilização do ranking mun-

dial do Índice de Desenvolvimento Humano, em

nível mundial em:

Países de Muito Alto Desenvolvimen-

to Humano;

Países de Alto Desenvolvimento Hu-

mano, destacando-se na 75º posi-

ção, o Brasil;

Países de Médio Desenvolvimento

Humano; e

Países de Baixo Desenvolvimento

Humano.

(Segue)

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Ao abordar a regionalização sob ênfase

Geoeconômica, Pinto Filho (2010, p. 9) relacio-

na a diferenciação singular como um dos condi-

cionantes para a criação de novos Estados bra-

sileiros pautados em diferentes interesses e

ideologias, bem como a proposta miltoniana

que surge a partir da teoria e método sobre o

meio técnico-científico-informacional desenvol-

vendo junto a Maria Laura Silveira (ver figura 1)

uma proposta de regionalização. Enquanto Re-

giões Geoeconômicas o autor as destaca anali-

sando via fluxograma a População Economica-

mente Ativa (PEA) e a distribuição de renda no

Brasil com base em dados de 2001 do IBGE:

Região Centro-Sul: Possui 60% da

população brasileira; está localiza-

do próximo a países que junto ao

Brasil formam o bloco econômico

Mercado Comum do Sul

(MERCOSUL); possui maior inte-

gração inter-regional pautada nos

complexos agroindustriais favore-

cendo uma politica multimodal e

multimodal; cinco regiões metro-

politanas; está em processo de

descentralização econômica e re-

pulsa populacional;

Região Nordeste: Possui 30% da

população brasileira; está em pro-

cesso de desenvolvimento condi-

cionado a partir de incentivos fis-

cais e instalação de empresas e

indústrias (especialmente a de

bens intermediários) antes instala-

das na Região Centro-Sul e eleva-

do refluxo populacional.

Região Amazônica: Mesmo não

constando no texto, deduz-se que

a possui 10% da população brasi-

leira ; recebeu incen5vos estatais

para desenvolver-se, em especial no

final da década de 1960, com a

(Segue)

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instalação da Zona Franca de Manaus como tentativa de ampliar o mercado de traba-

lho, não sendo cobrados nesta, impostos sobre importação de produtos estrangei-

ros; e ainda há como estratégia principal a defesa das fronteiras através da atra-

ção populacional.

Pinto Filho (2010, p. 10) encerra sua análise a partir do entendimento sobre a nova confi-

guração do processo migratório no Brasil, caracterizado essencialmente através das migrações

pendulares (envolvendo a relação capital e trabalho – onde os habitantes de uma cidade se des-

locam da periferia ao centro e do centro para a periferia), e transumância (onde, em geral, traba-

lhadores sazonalmente mediante a produção agrícola ou aumento na demanda de serviços e

comércio aumentam, deslocam-se para áreas distantes de sua origem, retornando no fim de um

período).

REFERÊNCIAS GEOGRAFALANDO. Espaço Geográfico Brasileiro: Regionalização. Disponível em: <http://geografalando.blogspot.com.br/2013/04/espaco-geografico-brasileiro.html>. Acesso em; 10 dez. 2013. GÓES FILHO, José Pinto. A Construção de um Espaço Nacional. In.: Geografia. 11 p. 2011.

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Ode a Poesia

Por Sonia Nogueira

Sempre que te vejo belo, ó luar! Vivo uma saudade, nasce à poesia,

O pensamento vem se despojar Nas auras da emoção que principia

Na letra, no rabisco, emoldurando Um verso, outro segue, outro vem, A força da palavra vai singrando Navega versos livres aqui, além.

Cada poeta revelando um talento, Como mãe gerando filho em série, No modernismo ou clássico, alento,

Não importa, a poesia é mistério.

O mesmo sentimento de saudade É o mesmo que grita na despedida, Revela no amor com tal verdade

Que versa no leitor crença bendita.

Em cada estilo, o canto é melodia, No desagrado em nada se detém,

Em alguns olhares é beleza e irradia, Nada importa se o poema é refém.

Às vezes não sei quem sou, nem sei, Mas de ti, sei que sou carente terna, Poeta e andarilho, eu sempre serei, Prostrada em santuário ou caverna.

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Um Átimo em Outro Tempo e Espaço Por Tânia Barros

Naquele instante percebi com toda clareza da consciência a existência de dimensões diferentes daquela na qual eu estava respirando. Estava dentro do táxi que avançava numa das principais avenidas da cidade e o trânsito era engarrafado. A via era de mão única e o sol que se punha às costas dos que ali se encontravam em seus veículos além de superaquecer as inquietudes iluminava aquele adiante que parecia inatingível quase inalterado.

Naquele átimo no qual sucedera a coisa tudo parecia não estar convergindo para um só ponto apenas como se desejava. Pareceu-me que ao fim daquela reta, qualquer rota poderia ser tomada por cada cidadão. Naquele momento havia somente a aparência da coisa linear da vida. Somente aparência, sim.

O céu pincelado de azul e branco lembrava-me uma tela envelhecida ao fundo da ilusória concretude daquela cidade. Veio-me então uma sutil sensação de um saber que antes só fora aventado na minha imaginação quando lia a respeito de mundos paralelos ou quando com eles sonhava. Lá estava, pois, o céu e tudo mais ao redor: pessoas, carros, calçadas, lojas, poeira, buzinas, vitrines, semáforos, e até o silencioso motorista do táxi que me conduzia. Tu-do e todos lembravam irrealidades junto as quais eu participava mas consciente de sua relati-vidade, ou pelo menos de que não éramos exatamente os mesmos naquele agora.

Eu estampava uma fisionomia grave, mas paradoxalmente minha alma estava tranquila. Na luz do entardecer desta segunda-feira, com o trânsito pleno, fui capaz de entrever outra configuração do real, e nem mesmo pensava em tal possibilidade àquela hora. Apenas estava a fazer o percurso do centro até minha casa. Estava calada. Cansada. E foi quando a coisa se deu. Percebi a transparência entre uma e outra dimensão, talvez a fluência entre ambas. Não entendi a razão nem a causa deste singular evento exatamente àquele instante.

O que mais me assombrou foi a estranha certeza de que após este fenômeno eu poderia evocá-lo quando assim desejasse. Talvez não uma certeza, mas uma leve pretensão de crian-ça curiosa ao perceber aquilo que poderia representar um desafio verdadeiramente interes-sante.

Estaria sendo abençoada com uma espécie de Iluminação, abertura de chacras ou por-tais? Poderia ser qualquer sinal a todo meu lento processo de perguntas, buscas às demandas da alma? Perguntava a mim mesma. Enfim, eram os mistérios que marcavam parte substanci-al da minha existência.

Senti-me superando um certo qual peso visceral naquele instante. Refletindo sobre isto fui tomada por um temor próprio de quem aprende ainda a caminhar. As coisas não eram apenas o que pareciam ser. Mais que nunca agora eu sabia.

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Casa de Cortázar

Por Teodoro Balaven

“¿ ahora, que importale ? mucho tiempo ya. Afinal:

el que para salsicha nace, del cielo le cae la lata.”

Gregório e Ariel depois de uns tragos de run na va-

randa

Tiene ganas! Tiene ganas! Tiene ganas!

Vidro e alumínio da janelica do banheiro não impe-

diram os gritos de Ariel inundar a pequena e alugada

suíte. “Por Zeus; o que esse cubano está fazendo

agora?”. Motivos da viagem: receber prêmio por

livro que escrevi de encomenda. Calle da Amargura.

Número 268. Habitacion 4. Havana Vieja, por favor.

Sento no taxi. Acendo um cigarro. É isto que gosto

em Cuba; podemos fumar em qualquer lugar. Sem-

pre que chego a Havana lembro de Moliere e seu

Don Juan: ‘quem vive sem tabaco não merece vi-

ver’. Saio do Aeroporto Jose Marti e até a casa onde

estou hospedado o caminho foi Manu. Parece que

todas as coisas já haviam sido. Por que aceitei este

prêmio? Falta de decência dos organizadores, esco-

lhendo a mim, em um país que tem Andre Sant’An-

na. Tremendo erro. Sinto o cheiro da comida. Cerdo,

mouros y cristianos, refresco de abacaxi e com sorte

uma salada de abacate. Refeição completa. Banquete

restrito por aqui. Pelo menos para a maioria, acostu-

mada em abandonar o rigor. Exageros só para turis-

tas. Como eu. Não me abato com os gritos. Impossí-

vel pôr termo a minha masturbação ritualística. Ja-

mais tive coito interrompido com Andy San Dimas;

não abro mão. Andy não tem as tetas mais gostosas.

Andy é a teta mais gostosa. Estou no meio daquelas

tetas: chupando, lambendo, esfregando, açoitando,

tripudiando, mordiscando aquelas tetas que são li-

vres, autônomas, se manifestam e sentem prazer sem

o resto de Andy; aquelas tetas têm seus próprios se-

gredos, são dois melões honestos e servidos em por-

ções generosas. Já estou indo - grito do banheiro.

Culpa. Percebo.

Manu.

Resolveu que viajaríamos para Cuba. Não sei onde

estava com a cabeça quando aceitei. Cuba? Porra

Manu, todo mundo vai para Paris, Veneza, Rio

Grande do Norte e essas coisas. Você quer ir para

Cuba? Para Varadero? Não?

Havana? Ah, não fode Manu. Havana? Tinha mais

essa! Manu sempre que viajava não fodia. Na Ar-

gentina me senti estuprador: sexto dia sem sexo não

pensei duas vezes, ela saiu do banho, peguei sua cin-

tura por trás, encostada no beliche. Gozei. Manu

dormiu. Sexo só uma semana depois. Na volta. Tudo

bem. Quem nunca quis ser Che?

Tiene ganas! Ay que ganas! Mira!

Não é uma culpa qualquer e nem culpa por ser um

homem de 37 anos que se masturba diariamente. É

uma culpa brega, sem sofisticações. Horácio é o

pássaro que Ariel mantém na gaiola de madeira e

arames velhos. Ariel arquitetou aquela gaiola. Como

quase tudo por aqui. Como quase todos os cubanos.

A gaiola fica no corredor curto que traz da sala e

quarto e entrada da casa, para os quartos dos fundos

e a cozinha. La Ventilada; assim Ariel e Carmem

chamam sua habitacion. Cubanos de Camagüey.

Ariel trouxe Horácio de sua cidade. De ônibus. O

bicho quase morreu durante a viagem. Faz 15 dias

Ariel alimenta Horácio com ajuda de uma seringa.

Horácio voltou a comer e os gritos de festejo de Ari-

el não saem de minha cabeça. Horácio parece um

Uirapuru, mas não canta.

(Segue)

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Carmem passa em frente à minha porta com alguns

pratos e grita com divertimento cúmplice: “No grite

demasiado Arieeeel, Gregório etá decansaaaan-

dooooo.”.

Manu.

Era o arquétipo da mulher selvagem mitológica só

que contemporânea. Ela era uma coleção de adjeti-

vos e formas deliciosas de mulher. Com Manu eu

amei sem reservas. Este foi o ponto. Depois de certa

idade não é prudente fazer isto. É como comer tor-

resmo: com o tempo vai pesando e passa a ser estri-

pulia gastronômica. Nós nunca tivemos nenhum nú-

mero especial, nenhum recorde. Diferente de Luisa.

Ah, Luisa. Doze orgasmos na mesma trepada e ela

só não teve mais porque eu não consegui me contro-

lar.

Tiene ganas! No para!

Estou sentindo culpa por ter perdido a paciência. Por

ter mandado tudo a merda. Reajustei o lápis para

deixar de escrever com as tendências – sem violên-

cia, sem palavrões e com a merda da felicidade e

coisa e tal – dai escrevi contos profundos; perdi o

emprego. Escrevi um romance profundo; perdi o edi-

tor. Outro romance profundo e perdi o resto; inclusi-

ve minhas aulas para a faminta classe média. Manu

não gostou. Agora sou cult. Gastei meus últimos di-

nheiros com esta viagem para Cuba. Intelectual.

Marginal. Frustrado. O que eu mais gosto agora em

Havana? O que eu mais gosto é ver as conversas nas

portas das casas e poder caminhar pelas ruas sem

medo de ser o protagonista de um latrocínio. Aqui se

pode caminhar. Caminhar e pensar são as coisas que

faço por aqui enquanto espero o Prêmio Sotomoma-

yor de Literatura Latino Americana. Jogar dominó e

assistir novela também faz parte da minha programa-

ção indecisa. Com Ariel. Dominó. Com Carmem.

Novela.

Manu.

Ficamos hospedados em Havana Vieja. Manu era

dançarina e artista plástica. Isto basta para fazer de

qualquer pessoa um ser supremo. Ela queria o palco.

Queria ser famosa. E quem não iria querer? Eu? An-

damos por toda a cidade nos intervalos de suas apre-

sentações. Manu era aclamada por onde passava. Eu

era ‘o cara do lado da Manu’. Ou era coisa da minha

cabeça. Manu deixava qualquer pessoa assim. Hava-

na Vieja, parte mais antiga da cidade, parecia um

tabuleiro, um labirinto quadrado com suas ruas per-

pendiculares, entrecortadas, suas casas e prédios bai-

xos em ruínas, sofridos de tempo e mar e miséria e

resiliência e beleza e cores e cheiros e sons.

Tiene ganas! Sigue com ganas! Venga!

Carmem. Querida. Não vou jantar. Perdi a fome.

Desculpa/me. Vou tomar um trago. Calle Amargura

até o fim sentido ao mar. Esquerda na Calle Oficios.

Direita na Calle Obispo. 21h – a la hora del cañona-

zo. Havana Vieja e

suas ruas ainda estão cheias de toda sorte de turistas

comprando bugigangas do Che. O argentino virou

uma espécie de MacDonalds;. vende qualquer coisa.

“Queremos capital, não capitalismo” – disse uma

velha cubana. Che para os turistas e celulares para os

cubanos. A fila da CubaCel serpenteia pela Calle

San Ignacio. Pequeno luxo. Devidamente controla-

do. Preciso de um trago. Na Plaza de Armas ainda

encontro uma banca montada, o vendedor com des-

crença me oferece a única biografia escrita e autori-

zada de Camilo Cienfuegos. Preciso de um trago.

Entro em El Floredita. Cinco Daiquiris. Clássico. Eu

sou da opinião de que turista deve fazer coisas típi-

cas: ser enganado, usar pochete, tirar muitas fotos,

etc., é uma ótima chance para sermos ridículos livre-

mente; bancar o nativo é ridículo. Como prova irre-

futável da teoria recebo de um russo uma máquina

fotográfica, que sem constrangimento, pula no pes-

coço fosco-metálico de Hemingway. (Segue)

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A escultura do Nobel estava lá o tempo todo, sorri-

dente. “Ei, o que acha Mr. Hemingway? Fotos com

turistas, hã?”. Me lembro de ‘Meia noite em Paris’,

lembro/me do pronome no lugar certo e que se o ro-

teiro fosse meu morreria em um ménage com Mar-

guerite Duras e Clarice Lispector. O run já mostra

entusiasmo. Peço a conta. Procuro dinheiro nos bol-

sos. Não sei se eu disse ou se pensei: “Teria He-

mingway alugado uma casa em Santa Tereza no Rio

de Janeiro e o Nobel seria brasileiro”. Digo não sei

porque o que lembro mesmo é de ter passado pela

porta giratória sem usar os pés. Cai. Desconhecido.

Calçada.

Manu.

Premiada no Gran Teatro. Luzes. Aplausos. Manu

conquistou todos os jurados. E claro, muito filho da

puta quis comer Manu. Eu fodido. Fim de apresenta-

ção. Fim de premiação. Festa de comemoração no

apartamento do embaixador português. Todos convi-

dados. Festa com muitos artistas é uma bosta. Um

monte de ‘eu’ perambulando. Todos inteligentíssi-

mos. Nietzsche. Lacan. Jung. Simone de Beauvoir.

Gothe. Beckett. Guggenheim. Hemingway foi ou

não foi um grande escritor? Disseram que ele escre-

via todos os dias. Pro

caralho o Hemingway. Eu sempre passei mais tempo

fugindo de escrever do que escrevendo. Escrever era

só preguiça. Sai. Fui andar pelo Malecon.

Tiene ganas. Si.

Não existe nada mais cubano – até para um turista –

do que caminhar pelo Malecon. Havana é uma mu-

lher. De lado para o mar. As pernas. As pernas das

cubanas é o que mais me encanta. Essas mulheres

parecem saber pedir. Sabem cruzar as pernas. Deve

ser impossível dizer ‘não’ para uma mulher cubana.

Passo em outra bodega. Tomo mais quatro doses de

run añejo dos bons. Acendo um cigarro. Os muros

do Malecon segurando o mar do caribe. O céu con-

fundido com o mar. Estou bêbado. Um negro alto,

forte, brilhando de suor, de calça jeans e camiseta

regata branca se aproxima: “Ei compadre, que pro-

curas? Que quieres?”. Pronto. Cá estou eu embriaga-

do, culpado e promíscuo, acompanhando o cubano

sem nome que prometeu. Mulheres. Música. Cele-

bração.

Manu.

A festa havia avançado para a hora mais escura da

noite. Eu estava exausto. Procurei Manu. Queria ir

embora. “Ei amigo, viu Manu?” Na cozinha. Aparta-

mento enorme do embaixador filho da puta. “Ei ami-

ga, viu Manu, a dançarina brasileira?”. Na varanda.

Porra. Todo mundo trincado de cocaína. Salsa co-

mendo solta. Não aguentava mais ouvir ‘Hasta Si-

empre’. Maconha. Run. Salsa. Maconha. Run. Salsa.

Maconha. Cocaína. Freud. Maconha. Run. Salsa.

Maconha. Run. Salsa. Maconha. Cocaína. Tcheckov.

Maconha. Run. Salsa. Maconha. Run. Salsa. Maco-

nha. Cocaína. Porra Manu. Maconha. Run. Salsa.

Maconha. Run. Salsa. Maconha. Cocaína. Fui para o

banheiro. Maconha. Run. Salsa. Maconha. Run. Sal-

sa. Maconha. Cocaína. Precisava mijar. Maconha.

Run. Salsa. Maconha. Run. Salsa. Maconha. Cocaí-

na. Banheiro lotado. Maconha. Run. Salsa. Maco-

nha. Run. Salsa. Maconha.

Cocaína. Procurei outro banheiro. Maconha. Run.

Salsa. Maconha. Run. Salsa. Maconha. Cocaína. Nos

fundos. Maconha. Run. Salsa. Maconha. Run. Salsa.

Maconha. Cocaína. Empurrei devagar a porta. Maco-

nha. Run. Salsa. Maconha. Run. Salsa. Maconha.

Cocaína. Escutei Manu. Maconha. Run. Salsa. Ma-

conha. Run. Salsa. Maconha. Cocaína. Tienes Gana!

Venga. Sigue. Tiene ganas. Si. Ay papito! Enfia esse

pau gostoso! Ay que gana, sigue!

(Segue)

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Entrei.

We are here friend. Pronto compadre. Relax and

enjoy it. Relájese y disfrute O negro tem um inglês

de sotaque eslavo. Welcome to night club Home of

the Cortázar. Bienvenido al Club Nocturno Casa de

Cortázar. Search no more. No busque más. Here are

the best girls from Havana. Aquí están las mejores

mujeres de la Habana. Here is the paradise of the

caribe. Aquí es el paraíso del Caribe. Y ahora bye,

bye. Adiós cumpadre. O luminoso de neon lilás e

azul, na parede do balcão, pisca preguiçoso o que

julgo ser a frase: ‘Fora de seu tempo’. A recepção

suave da mulata de quadril petulante parece ignorar

o bolero “Desengano Cruel” de Benny Moré que

toca no velho jukebox.

“Buenas noches señor ¿Qué es lo que más desea?”

“Las pernas mais bonitas” – em um portunhol etíli-

co.

“Pois não señor, acompanha/me.”

“Aqui estão elas, as pernas, señor.”

Cheiro. de tabaco. De culpa. De desculpa. De dúvi-

da. De angústia. De festa. De vida. Que é só isto

mesmo.

Acendo o meu puro. Tomo o run de um só trago.

“Estoy embarcado... ¿ Cuanto... ¿ Cuanto cobra?”

“Me hace precio.”

“Que picapa mamita!”

“Ah, me vuelves loco...”

“Yo te pago todo.”

“Te levo a São Paulo. Yo tengo una casa en São

Paulo.”

“Vas a ser mi reina.”

“Soy un grand escritor.”

“Ay que linda! Da-me una vuelta! Outra vuelta!”

“Desesperado por meter manos a la obra?!, huuum,

despachado!, tienes gana!, Ay papito! Vamos al

punto caramelo!”

“¿Como te llamas?”

“¿ Manu?”

Em novembro estaremos

comemorando 5 anos de

VARAL DO BRASIL!

Nossa edição de aniversário

terá tema livre!

Par3cipe conosco!

Par3cipe de nossas

a3vidades!

VARAL DO BRASIL:

LITERÁRIO,

SEM FRESCURAS!

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Tudo ter para sozinho viver

Por Tiago Gonçalves

Quem hoje olha para este lugar não imagina o passado no qual se ergueu. O gasto monte que agora nos entristece, foi outrora o farol natural e verdejante que ao sol brilhava nos olhos, de todos os felizardos que por meros segundos ousavam observar a sua hospitaleira beleza. A tentação era arrebatadora e assim, quem aqui sem nada vivia, contentava-se pela prisão da fascinante paisagem na qual existiam. Eu fui o pioneiro urbano que da cidade se anteci-pou e num comboio fugiu, ponderando na minha certeza, com os olhos baten-do nos desertos que vislumbrava. Aqui cheguei, este local que com pequenas pedras trilhava o seu caminho, desde a estação até algures. Sai e corri, rápi-do para não perder a oportunidade que sabia encontrar. Só ouvira falar antes deste lugar por causa deste monte verde, que como diziam, apaixonava. Um pequeno lugar com pouco mais de uma centena de habitantes, cujas ténues vidas eram a agricultura e a religião. Um pequeno lugar de maiores oportuni-dades. Eu as procurava, para cultivar as sementes do meu futuro monopólio na mente desenhado. Com a pequena fortuna com que parti construí casa e trabalho, na vazia calmaria, semeei mais, ganhei mais. Cresceu e assim no-meei ao que antes apenas era um ponto num mapa de ninguém. Nomeei com a mesma expressão que me nomeara, quando me isolara. A expressão da solidão.

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Prof. Germano Machado

Por Varenka de Fátima Araújo

Modesto Prof. Germano Machada

Modesto comemorando seus 88 anos

No seu pensamento de fé e filosofo

No seu discurso eloquente ao CEPA

O qual findou, já faz 63 anos, vivas!

Do benfeitor que carrega discípulos

A voz e o riso e cantando vitórias

No seu testamento da crença ao amor

Salve, o homem que amo, sem amor nada

Sobre mil bênçãos de Todos os Santos

Relança seu livro, Os dois Brasis

Ainda que a noite seja de chuva

Na Câmara de vereadores repleta

Em Salvador-Bahia- Brasil

Um homem brindava a vida com amor.

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o mel

Por Vivian de Moraes

trago pólen no coração

foi depositado por amigos

ao longo de anos e anos

e hoje

as abelhas fazem a festa no meu coração

transmudando em mel

o que é pólen!

e quem terá esse mel?

todos os meus amigos

os passados

os presentes

os futuros

e sempre haverá fartura de mel

para todos os amigo amados

desde que eles

depositem seu pólen.

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PROSOLINO PAMPLONA SOMBLA

Por Maria Aparecida Felicori (Vó Fia)

Naquela vila perdida na base da Serra do Tatu, o povo era simples e poucos eram alfa-betizados e mesmos esses privilegiados não perdiam tempo com leituras, porque todos trabalhavam nas lavouras e era um trabalho pesado e cansativo e quando a noite chegava, só queriam descansar da labuta do dia e além disso lá não chegava nenhum jornal.

Aquela vida tranqüila nunca mudava e o povo se acostumou a viver na ignorância de tudo o que acontecia no resto do mundo e eram felizes por isso, porque ali na Vila do Mandi a paz era total, todos viviam em har-monia, porque quem não era parente era compadre e assim a vida era boa; divertimen-tos quase não existiam, mas também falta não faziam.

Uma vez ao mês o padre Tonico vinha ce-lebrar uma missa, realizar batizados e algum casamento e depois da missa terminar, toda a comunidade se reunia na única praça do lu-gar e almoçavam juntos alegremente ao ar livre, animados com a música do Tito sanfo-neiro, acompanhado pela viola do Zeca Peru, e durante a tarde toda, cantavam e dançavam.

E esse era o único divertimento daquele povo, e para eles estava muito bom e nin-guém desejava nada diferente, mas uma ma-nhã acordaram com som de cornetas e toques de tambores; correram para ver a novidade e pela primeira vez viram artistas de circo des-filando pelas poucas ruas da vila e quando levantaram a lona que cobria o circo, ficaram espantados.

O nome do circo era Grande Circo Prosoli-no Pamplona Sombla e o dono do mesmo usava esse nome estranho e usava uma rou-pa cheia de brilhos de lantejoulas parecida com a veste de um toureiro e como ele era um moreno alto, de cabelos negros e brilhan-tes olhos verde fazia uma bonita figura; as tímidas moças da vila ficaram encantadas com ele.

Na noite de estréia do tal circo, todos os moradores da Vila do Mandi compareceram e se acomodaram nas arquibancadas bem des-confiados e até com um certo medo, mas du-rante o espetáculo foram se ajeitando e pas-saram até a se divertir com as brincadeiras dos palhaços, os equilibristas e trapezistas, mas se assustaram com os maiôs das atrizes.

Ninguém daquela vila conhecia um maiô e quando viram aquelas jovens quase despidas, se horrorizaram e saíram depressa com suas famílias e em poucos minutos o circo estava vazio, mas no dia seguinte o vistoso dono do circo prometeu aos moradores, que suas mo-ças não voltariam a vestir os escândalos maiôs e as funções continuaram.

Alguns dias depois o circo anoiteceu e não amanheceu, sumiu de repente e com ele su-miu a jovem Nininha filha do fazendeiro Os-car Tenório; foi o maior escândalo daquele pacato lugar, mas o fazendeiro se enfureceu e foi atrás dos fugitivos com um bando de ho-mens muito zangados e algumas léguas de-pois alcançaram as carroças do circo.

O tal Prosolino Pamplona Sombla foi agar-rado pelo pai de Nininha, enquanto seus companheiros pegavam o resto do pessoal do circo e foi uma pancadaria caprichada, de-pois o fazendeiro mandou queimar as carro-ças com tudo que tinha dentro e disse: você não é mais Prosolino, agora é o Chico, por-que vai casar com a Nininha e vai trabalhar na lavoura.

Isso foi dito e feito, virado em Chico, o ele-gante dono do circo se casou com a moça e passou a trabalhar no cafezal de Oscar Tenó-rio e seus artistas sem outra opção, se empre-garam em outras fazendas da região e foram capinar café, porque a Vila do Mandi era o fim do mundo, não tinha como sair de lá e assim terminou o Grande Circo Prosolino Pamplona Sombla.

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Soneto de amor II

Por Welber Rocha

Que sentimento é esse que aflora no coração se não é amor?

Que é tão inabalável como uma correnteza

E arde mais forte que o fogo, e às vezes é tristeza

Que provoca tremores em uma pálida flor

Que aparece em belas noites de luar

Junto às alvas... E deixa o mar atormentado

Que sentimento é esse embarcado

Naquele sol em que a chuva insiste em apagar?

Tão suave e frágil como o vento

Que bate sempre nas paredes da primavera

Que cruza a via – láctea sem comprometimento.

E que na poesia é mais do que uma quimera

No fundo, todos queriam que amor fosse algo concreto

Entretanto, acredito que não seja o correto.

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Almas Sutis

Por Yara Darin

Senti o impacto sutil dentro do meu ser,

Quando nossas almas se encontraram.

O triscar de uma partícula celestial,

Resplandeceu por todo o universo.

A forma e a essência do querer,

Numa poção mágica e divinal,

Refletiu em meus olhos o brilho da tua aura.

Prateada e cintilante , luz incandescente,

Mergulhei perdida no sonho ideal,

Naveguei sem limites no espaço sideral.

Afogada na minha inconsciência noturna,

Busquei teu rosto neste sonhar sem fim ,

Moldei teu semblante , adornei,

Te elaborei em fantasia e te fiz só para mim.

A névoa fina existente , envolvente,

Não me deixou ver o teu vulto claramente.

Contemplativa,

Captei o esplendor da tua luz deslumbrante,

Toquei na tua alma!

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Revista Varal do Brasil

A revista Varal do Brasil é uma revista inde-pendente, realizada por Jacqueline Aisenman.

Todos os textos publicados no Varal do Brasil receberam a aprovação dos autores, aos quais agradecemos a participação.

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