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    Pea de Tssio Ferreira

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    Personagens:

    P1

    P2

    Enfermeira 1

    Enfermeira 2

    Cenrio:

    Uma vassoura atrs da porta e uma janela prxima ao paciente 1. Duas camas hospitalares. Branco. Vazio.

    P1. Eu j pedi que fechassem a janela. Venta muito, e, eu sinto frio no p.

    P2. Mas o atendimento mesmo precrio, s tomamos banho uma vez por semana.

    P1. Eu no entendo porque no deixam as cartas aqui. A gente tem que ler, e devolver.

    P2. Minha cabea coa muito.

    P1. Voc reclama demais!

    P2. No, voc que reclama!

    P1. No, voc!

    P2. No, o reclamo voc!

    P1. T, assumo que sou eu. (pausa) o que resta.

    P2. E resta alguma coisa?

    P1. Resta muita coisa.

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    P2. o que eu perguntei.

    P1. Foi o que respondi.

    P2. Voc respondeu e no disse nada.

    P1. Voc muito excntrico. Isso me irrita profundamente.

    P2. Quem se irrita profundamente sou eu! Sou obrigado a ouvi-lo todos os dias, todas as horas, todos os minutos...

    P1. E os segundos!

    P2. Cale a boca!

    Silncio.

    P1. J pedi que fechassem janela. Venta muito e, eu sinto frio no p.

    P2. Voc no tem algo mais criativo?

    P1. S se eu voasse pelo quarto.

    P2. Seria bom!

    P1. , seria.

    *

    P1. Comemos hoje?

    P2. No me recordo.

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    P1. Tambm no me recordo.

    P2. Engraado, pensei nisso agora...

    P1. O que pensou?

    P2. Que no me recordo se comi hoje.

    P1. Parece piada!

    P2. Piada? Ento, eu tenho cara de palhao?

    P1. S porque no lembramos se comemos, somos julgados de palhao?

    P2. Ns, no! Voc.

    P1. Voc disse que no se recordava...

    P2. Sim, disse, mas voc que comeou.

    P1. No importa!

    P2. Importa muito. Voc criou essa histria, armou tudo, e ainda se julgou palhao.

    P2 Ri.

    P1. No ria. No vejo graa. Voc deveria concordar comigo. S temos eu e voc esperando.

    P2. No s por estar eu e voc, que devo concordar com tudo que diz. O palhao voc!

    Silncio.

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    P2. Mas o atendimento mesmo precrio, s tomamos banho uma vez por semana.

    P1. Para que banho?

    P2. Ora, minha cabea coa!

    P1. Ento, coce, ora bolas!

    P2. Se eu tivesse como...

    P1 Ri.

    P2. No ria, o caso srio.

    P1. Quando digo que sinto frio no p, voc me acha chato. (pausa) Grite a enfermeira.

    P2. Voc sabe que intil.

    P1. Ora! Sua cabea coa.

    P2. Foi o que eu disse.

    Enfermeira 1 entra.

    Enfermeira 1. (rspida) Oi! Estam bem, pelo que eu percebo. Peo que no se mexam muito, isso provoca uma ativao do metabolismo de vocs, que nesse caso em especial, no interessante. No interessante, porque com o aumento do metabolismo, o organismo gasta mais energia. Vocs no devem gastar a energia que lhes resta. Alm do mais, com o gasto de energia, o organismo libera pelos poros o que chamam no popular de suor. No suem! Vai molhar a cama de vocs, sujar o lenol, e vocs vo feder mais do que esto. Ou seja, nada de movimentao. Temos poucos lenis disponveis, e, mesmo que tivssemos mais, tm que aprender a se educar. No so os nicos aqui. Isso no um ptio de recreao! O silncio tambm muito importante. Aqui no uma casa de shows! No devem gritar e nem cantar. Atrapalha todos que

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    aqui precisam trabalhar. Fora os moribundos, que sofrem muito mais. A alimentao de vocs vem na hora que tiver que vir. Parem de pedir comida! Sabemos o que vocs precisam ou no. No riam a toa. O riso tambm provoca movimentao dos msculos faciais e abdominais. Olha o metabolismo acelerado? Outra coisa. Se ajudem, cambada de preguiosos! No somos empregadas de ningum. Usem a aparadeira. Parem de urinar na fralda. Que horror! Detesto trocar fraldas... Aqui no berrio! (pausa) Se pagassem mais... Talvez... No o caso. Se o soro de vocs acabar, pacincia. No temos outro. A gua acabou ontem. Bebam outra coisa. Estou cansada de tudo. Preciso descansar. Quanto a vocs. Se for muito importante, podem chamar. Caso contrrio, durmam!

    Enfermeira 1 sai.

    *

    P1. Curioso essa coisa das cartas.

    P2. Isso eu tenho que concordar, apesar de nunca mais ter recebido nenhuma.

    P1. Eu gosto de coisas materiais. Se a carta minha, eu queria ela aqui do meu lado.

    P2. Eu no fao questo!

    P1. Claro, no tem como peg-la.

    P2. Voc gosta de ferir os outros.

    P1. Voc no gosta de ouvir a verdade. Esconde tudo com falsas imagens iguais a todo mundo.

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    P2. Eu no escondo quem sou! Estou aqui, aberto. (Pausa) Pare de tirar concluses acerca de mim!

    P1. o que fazem a todo o momento.

    P2. Voc no precisa reproduzir o pensamento da maioria.

    P1. No fao isso. Eu ouo e reflito.

    P2. No parece!

    P1. Simplesmente, concordo com o que dizem.

    P2. No deveria.

    P1. Agora voc quer controlar tambm meus pensamentos?

    P2. intil.

    P1. O que intil?

    P2. Tentar estabelecer um dilogo lgico.

    P1. Que se dane a lgica! Eu sou artista!

    P2 Ri.

    P1. Pare de rir!

    P2. Porque no disse que era artista?

    P1. Porque ainda no morri.

    P2 Ri.

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    P1. Isso inveja, porque no detm o conhecimento das artes.

    P2. Arte falta do que fazer.

    P1. Mas, arte, no falta do que fazer. Porque pensa assim?

    P2. Ora, convivo com voc.

    P1. Isso quer dizer muita coisa?

    P2. E como, quer dizer.

    P1. No entendo as coisas que diz.

    P2. Deveria entender, j que se rotula importante.

    P1. No disse que sou melhor que voc.

    P2. Foi voc que falou que era artista.

    P1. Voc pattico/

    P2. (corta) Voc puxou o assunto.

    P1. Foi preciso, e o pior... Voc no esclareceu a falta do que fazer.

    P2. O que voc faz aqui?

    P1. Nada!

    P2. Est respondido.

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    P1. No vejo a resposta.

    P2. (ri)

    P1. Voc deveria ter mais pacincia comigo. Explique-se!

    P2. Voc no cria nada. E no tenho que pedir desculpas em nada.

    P1. Criar?

    P2. Artista o que prope, cria, materializa as coisas.

    P1. Isso no arte!

    P2. (ri) No deve ser mesmo. Por isso, detesto arte.

    P1. Eu continuo artista...

    P2. Voc acabou de confirmar tudo.

    P1. No falemos disso. Me irrita profundamente seu descaso para o que penso.

    P2. Ok! No falemos.

    * Enfermeira 2 entra.

    Enfermeira 2. Sou a enfermeira! Vim para ajudar. No informaram muito bem a questo da excreo. Venho esclarecer melhor. A excreo responsvel pela manuteno do volume e da composio do lquido extracelular do indivduo dentro de limites compatveis com a vida. A excreo nos seres humanos ocorre de duas formas: atravs do suor e da urina. A funo principal do suor no a mesma que a da urina. O suor est relacionado perda de calor pelo corpo, funcionando como uma forma de

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    refrigerao. A formao do suor regulada pela temperatura do corpo e no pela composio qumica do sangue ou dos lquidos que banham as clulas. Pelo suor eliminado cido rico, uria, sais minerais, aminocidos, algumas vitaminas e gua. J a quantidade e composio da urina eliminada depende da regulao renal. A composio da urina difere da do lquido extracelular em alguns aspectos: enquanto 95% dos solutos do fluido extracelular so constitudos por ons. A urina tem altas concentraes de molculas sem carga, particularmente uria. A quantidade de solutos e gua da urina bastante varivel e, depende da alimentao variada. Isto significa que existe uma relao estreita entre a ingesto diria e a excreo urinria. Um indivduo normal quando ingere uma quantidade excessiva de sal na alimentao, apresenta na urina mais sdio que o normal. Quando a ingesto de gua grande, o volume urinrio bem maior. Ocorrendo o contrrio, quando o indivduo passa por uma restrio de gua. Cerca de 20% do fluxo plasmtico renal convertido em urina final por ultrafiltrao atravs dos capilares glomerulares. A urina primria semelhante ao plasma, exceto por conter pequena quantidade das maiores protenas plasmticas. (pausa) Espero ter contribudo para a melhora de vocs.

    Enfermeira 2 sai.

    P2. Esperar cansa!

    P1. No precisa esperar.

    P2. Isso verdade.

    P1. o que disse...

    P2. Voc s vezes se supera.

    P1. Eu sei disso.

    P2. Alm de ser convencido.

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    P1. Eu tenho braos.

    P2. Pare de ferir os sentimentos dos outros.

    P1. Braos tm sentimentos?

    P2. No, mas eu tenho.

    P1. Pois , eu no falei de voc, falei de seus braos, que, alis, voc no os tm.

    P2. Os braos fazem parte do resto do corpo, logo, se ferir meus sentimentos, os braos estam envolvidos.

    P1. Pode at ser. Eles podem ter envolvimento para quem os tem. No o seu caso.

    P2. Voc merece mesmo perder seu outro p.

    P1. (pausa longa) No demora nada.

    P2. Para que?

    P1. Perder meu nico p.

    P2. No se entristea.

    P1. No estou triste.

    P2. Pensei que estivesse.

    P1. Estava, agora, desisti.

    P2. Isso melhor.

    P1. Por qu?

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    P2. Vejo voc triste, pela situao do frio no p.

    P1. Voltei a entristecer.

    P2. Como voc mesmo disse...

    P1. E eu disse?

    P2. Disse muito.

    P1. E eu disse o que?

    P2. Que breve no ter o outro p.

    P1. Por isso, no estou triste.

    P2. Ao contrrio de mim.

    P1. Voc est feliz?

    P2. No.

    P1. No porque est, ou no, porque no est?

    P2. No consigo ficar triste ou feliz.

    P1. Por qu?

    P2. Minha cabea coa.

    P1. Isso me entristece.

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    P2. Por qu?

    P1. No posso ajud-lo.

    P2. No pedi ajuda.

    P1. Foi o que eu disse.

    P2. Foi o que respondi.

    P1. Voc me irrita profundamente!

    P2. Voc me cansa!

    P1. Voc muito excntrico!

    P2. Eu quero chorar!

    P1. Chore!

    Silncio.

    P1. Eu j pedi que fechassem a janela.

    P2. intil.

    P1. Sinto frio no p.

    P2. Cubra o p!

    P1. Se pudesse...

    P2. Estamos iguais!

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    P1. Voc no fala nada que eu possa entender.

    P2. Eu sinto a cabea coar e voc sente frio no p.

    P1. Eu no me orgulho disso.

    P2. Falei por falar.

    P1. Bebemos gua hoje?

    P2. Vai saber.

    Silncio.

    P1. Curioso, pensei que sentia sede.

    P2. E no sente?

    P1. No, foram pensamentos, apenas.

    P2. Isso bom.

    P1. Sim, porque se sentisse sede, teria que beber gua.

    P2. Isso problemtico!

    P1. Por isso, conclui que foram pensamentos.

    P2. Com a sede no h quem possa.

    P1. Ainda bem que o homem pensa...

    P2. Viva a lgica!

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    P1. No! A lgica no, viva a Arte!

    P2. Ai! Voc me cansa.

    P1. Voc que me cansa.

    *

    P1. A gente deveria se unir mais.

    P2. Mais?

    P1. , eu sinto voc distante de mim...

    P2. Alguns centmetros nos separam, nada mais.

    P1. disso que eu falo.

    P2. A estrutura essa, voc sabe que no possvel mudar as coisas assim.

    P1. Eu sei...

    P2. Mas insiste!

    P1. que me incomoda sua frieza.

    P2.Quem sente frio, voc!

    P1. Isso no posso negar!

    P2. Em alguma coisa voc concorda comigo.

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    P1. No sou obrigado a concordar com as pessoas. Preciso refletir e ver o que vlido para mim.

    P2. Coisas de pensantes...

    P1. Pare de me criticar! (pausa) Gosto de voc.

    P2. (ri)

    P1. Pense bem, a gente deveria se unir mais.

    P2. S se fizssemos sexo!

    P1. Voc muito excntrico!

    P2. Mais unidos? Passo dias ouvindo suas lorotas.

    P1. Ah! E eu no fico ouvindo as suas?

    P2. Muitas vezes voc finge no ouvir.

    P1. Voc chato demais.

    P2. Voc gosta de ferir os outros.

    P1. Por isso, propus a unio.

    P2. Voc chama unio de paz?

    P1. Entenda como quiser.

    P2. So coisas distintas, paz e unio.

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    P1. Ambas tem princpios em comum. Prope um estado de esprito equilibrado.

    P2. Entendi... uma criao artstica sua.

    P1. Deixe minha arte em paz!

    P2. ( Ri) Fiz um elogio.

    P1. Como voc desalmado!

    P2. (ri) Impossvel, s o que me resta.

    Silncio. Entra Enfermeira 1.

    Enfermeira 1. Eu avisei que s chamassem se fosse imprescindvel! Que coisa. Pensa que somos desocupadas? No somos. Tenho filhos, casa, marido, minha me, minha sogra, meus cabelos, cremes, minhas despesas, minha vagina. (histrica) Eu mestruo, vocs no sabem o que isso? (respira profundamente) Vocs tm pnis. Pois bem, o caso da janela... J disse que ela tem que ficar aberta. Que se dane o frio. No vamos ficar sentindo o fed de vocs pelo corredor. Ela nos ajuda e muito, a nos livrar desse mau cheiro. Deve ficar aberta. No me olhe com essa cara de doente! Isso no me comove. Aprendi a ser assim, e assim devo ser. Faz parte de meu trabalho, que, diga-se de passagem, muito digno. Alis, vocs parecem no saber o significado desta palavra. (pernstica) Eu ainda perco meu tempo trazendo ensinamentos. A janela vai ficar aberta. No vou gastar o purificador de ambientes com vocs. Pode chover ou fazer sol. Est com frio? Se cubra. Antes que eu esquea. As cartas, outra polmica. Elas so feitas de papel. Vocs conhecem a Lepisma saccharina? No conhecem? Deveriam ter estudado mais. No me olhem com essa cara de doente, j pedi. Lavem o rosto para melhorar essa aparncia. Teremos visitas dos diretores amanh, no quero que digam que cuido mal de vocs. Os cabelos, penteiem, ora aqui no Halloween ou filme de terror. Quem v, pensa que somos displicentes. Pois , as Lepisma Saccharinas estam por toda parte. No podemos correr esse risco. Depois vocs morrem e dizem que a culpa nossa. Estamos zelando pela higiene de vocs. Ah! Cansei. Vou dormir.

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    P1. Nada impossvel.

    P2. S para Deus.

    P1. Deus no existe. Para os homens, possvel o impossvel.

    P2. outra poesia sua?

    P1. No vou mais responder.

    P2. Deus energia.

    P1. Deus, ento, mercenrio.

    P2. Como assim?

    P1. Cobra todo ms pelas visitas constantes que ele faz em todas as residncias.

    P2. Pobre de voc.

    P1. Se ele energia, ele nos visita e ainda cobra por isso. (pausa) Deus mais!

    Silncio. O quarto fica escuro. Entra Enfermeira 2 com uma lanterna nas mos, que aponta para o quarto, em seguida para seu rosto.

    Enfermeira 2. Sou a enfermeira! Vim para ajudar. No informaram muito bem a questo da Lepisma saccharina e o caso do papel. Venho esclarecer melhor. Nome comum Traa-dos-livros. Seu Nome cientfico Lepisma saccharina. Seu nome em ingls Silverfish. Gosto da lngua estrangeira. Seu filo Arthropoda. Sua classe Insecta. Sua ordem Thysanura, famlia dos Lepismatidae. Mede cerca de 1 cm. Suas principais caractersticas so: Antenas finas e compridas. Possui trs membros finos semelhantes a caudas. No possui asas. Pernas adaptadas para correr. A comida favorita de silverfish qualquer matria que contenha amido ou polissacardeos como a dextrina

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    dos adesivos. Estes incluem cola, encadernaes de livros, papis, fotos, acar, cabelo e caspa. Silverfish tambm podem causar danos a livros, tapearias e txteis. Silverfish comumente vai pastar e em torno de chuveiros, banheiras, pias e sobre a celulose presente em muitos shampoos, espumas de barbear e assim por diante. (pausa) Para alm destes casos, os danos causados por traas so insignificantes e no tm efeito direto na sade humana, alm do sofrimento psquico para aqueles que esto com medo ou nojo por sua aparncia. Outras substncias que podem ser consumidos incluem algodo, linho, seda e fibras sintticas, e os insectos mortos ou mesmo a sua prpria exvia (exoesqueleto moulted). Durante a fome, um silverfish pode mesmo ataque em couro e tecidos sintticos. Em casos extremos, silverfish podem viver por um ano sem comer. Silverfish podem ser encontrados em qualquer lugar nas casas, incluindo mas no limitados a, garagens, armrios, debaixo de camas, sofs, electrodomsticos, como teclados e geralmente preferem reas escuras. A reproduo de silverfish precedida por uma dana de amor, que envolve trs fases, que podem durar mais de meia hora. Na primeira fase, o cara ficar macho e fmea a face, tocando suas antenas a tremer, em seguida, repetidamente para trs e pular a esta posio. Na segunda fase, o macho foge e grita, enlaou fmea dele. Na terceira fase, ao lado stand masculino e feminino a lado e cabea-de-cauda, com o macho vibrar a cauda fragmenta a boca do sexo feminino. Finalmente, espermatforo o macho fixa um, uma cpsula teia de aranha de esperma coberto de, que corpo a mulher tem em seu atravs de fertilizar ovipositor para os ovos que ela ir beber mais tarde. (pausa) Espero ter contribudo para a melhora de vocs.

    P2. Voc apagou a luz?

    P1. Deus deve ter ido embora.

    P1 ri. Silncio.

    P1. Se pudesse, j teria feito antes.

    Silncio.

    P2. Preciso confessar uma coisa...

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    P1. Fale rpido, o sono chega e o corpo no responde.

    P2 Ri.

    P1. O que foi?

    P2. O poeta falou.

    P1. Voc disse que precisava confessar.

    P2. E, verdade.

    P1. Se apresse...

    P2. Tenho medo de escuro. Sempre tive. Minha mulher reclamava muito. Brigvamos toda noite. Uma em especial, quase mato meu cachorro. Pisei na cabea dele no escuro. Depois, quase morro de tanto chorar, corri desesperado pelo quarto, depois sa correndo pela casa. Desci as escadas. Tropecei no outro cachorro. O po queimou no forno. Minha cabea comeou a coar. Eu chorava. E o cachorro tambm chorava. O telefone tocou oferecendo ajuda. Pensei em responder, mas tinha preguia. Isso me magoava, larguei o telefone no cho. Senti sede. A pizza que pedimos no veio. Fui socorrer o cachorro. Ele me mordeu. Tive que mord-lo para me vingar, afinal, sou homem da casa. Pulei em ritmo acelerado. Peguei o po queimado e fiz ele comer como castigo. No senti medo. Cocei a cabea. Tirei a roupa toda. Comecei a latir. Subi as escadas de costas olhando para a porta. Fiquei com sede. Fui ver minha esposa. Ela gritou e me bateu freneticamente. Eu abracei ela. Ela no me quis mais. Me enrolei no lenol e chorei. Acho que foi isso.

    Silncio. P1 Comea a roncar.

    P2. Acorde! Sabe que no pode dormir.

    P1. No estou dormindo.

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    P2. Por um instante, pensei que dormia.

    P1. Pensou errado.

    P2. Mas, ouvi seu ronco.

    P1. No foi ronco, estava cantando.

    P2. Claro, claro, arte!

    P1. Isso est ficando srio.

    P2. O peso, a gente que d.

    P1. Chega!

    P1. Me deixe.

    P2. Cale-se!

    P1. Suma!

    P2. Morra!

    P1. Doce!

    P2. Salgado!

    P1. Frio!

    P2. Quente!

    P1. Preto!

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    P2. Branco!

    P1. Fundo!

    P2. Raso!

    P1. Careca!

    P2. Cabeludo!

    P1. Curto!

    P2. Longo!

    P1. Nunca!

    P2. Sempre!

    P1. Grande!

    P2. Pequeno!

    P1. Morto!

    P2. Vivo!

    P1. Noite!

    P2. Dia!

    P1. Alto!

    P2. Baixo!

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    P1. Amar!

    P2. Odiar!

    P1. Rpido!

    P2. Lento!

    P1. Gordo!

    P2. Magro!

    P1. Mau!

    P2. Bom!

    P1. Longe!

    P2. Perto!

    P1. Homem!

    P2. Homem!

    P1. Homem?

    P2. Mulher!

    P1. Norte!

    P2. Sul!

    P1. Forte!

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    P2. Fraco!

    P1. Muito!

    P2. Pouco!

    P1. Burro!

    P2. Inteligente!

    P1. Doce!

    P2. Salgado!

    P1. Frio!

    P2. Quente!

    P1. Preto!

    P2. Branco!

    P1. Fundo!

    P2. Raso!

    P1. Careca!

    P2. Cabeludo!

    P1. Curto!

    P2. Longo!

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    P1. Nunca!

    P2. Sempre!

    P1. Grande!

    P2. Pequeno!

    P1. Morto!

    P2. Vivo!

    P1. Noite!

    P2. Dia!

    P1. Alto!

    P2. Baixo!

    P1. Amar!

    P2. Odiar!

    P1. Rpido!

    P2. Lento!

    P1. Gordo!

    P2. Magro!

    P1. Mau!

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    P2. Bom!

    P1. Longe!

    P2. Perto!

    P1. Homem!

    P2. Homem!

    P1. Homem?

    P2. Mulher!

    P1. Norte!

    P2. Sul!

    P1. Forte!

    P2. Fraco!

    P1. Muito!

    P2. Pouco!

    P1. Burro!

    P2. Inteligente!

    P1. No quero mais!

    P2. Ah!

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    P1. Hunrun!

    P2. Blah!

    P1. Argh!

    P2. Ka-boom!

    P1. Beep!

    P1. Ixiiii!

    P2. !

    P1. U!

    P2. La l!

    P1. Booo! uuu!

    P2. Buzzz! bzzz!

    P1. Bounce! bim!

    P2. Clang!, blm!, blm!

    P1. Screeech! i!

    P2. Smash! paft! plaft!

    P1. Splop! ploc! ploct! plop!

    P2. Swooish! fuiiim! vuum! zum!

  • Vassoura Atrs da Porta ou Quarto Nmero nada Tssio Ferreira

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    P1. Knock! Knock! toc! toc!

    P2. He! he! he! eh! eh! r! r!

    P1. Glub! glub! Glub! blub! glug!

    P2. Klunk! clunc! plunc! tlunc!

    P1. Rat-rat-rat! r-t-t! ratataa-t

    P2. Tingeling! blim-blm! blim-blom!

    P1. Isso pattico!

    P2. Pelo menos, voc se mantm acordado.

    *

    Entra Enfermeira 1 chorando histericamente. A luz volta a iluminar o ambiente.

    Enfermeira 1. Ahhhhh! Fui demitida seus cretinos! Me pegaram dormindo. Mas eles no sabem como cansativo trabalhar aqui. (ri diabolicamente) Agora terei a vida inteira para dormir!

    Enfermeira 1 sai histrica, rindo muito. Entra Enfermeira 2.

    Enfermeira 2. Sou a enfermeira! Vim para ajudar. No informaram muito bem a questo do sono. Venho esclarecer melhor. Isso exatamente o que os cientistas suspeitam agora. Esqueam-se das velhas idias de quanto demasiado sono ou poucas horas de sono. A pesquisa do mundo do sono virou-se para outro lado, quando se

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    descobriu num estudo de mais de um milho de americanos adultos - depois de se verificar a idade, a dieta alimentar, o tabaco e outras importantes variveis - que dormir mais de sete horas por noite est associado a uma vida mais curta. Estas descobertas foram chocantes. No perodo de investigao de seis anos, o risco de morrer aumentou enquanto as pessoas ficavam na cama mais de sete horas a dormir. As pessoas que tinham uma mdia de oito horas por noite tinham mais 12% de hipteses de morte antecipada e as pessoas que tomavam comprimidos para dormir tambm tinham mais probabilidades de morrer mais novos. Um estudo nico com descobertas to inesperadas como estas podem muitas vezes no ser valorizado por um pblico incrdulo que o considera um acaso. Mas desde a sua publicao, vrios outros estudos, incluindo um no Brigham e Women's Hospital, em Boston (a parte) Adoro o ingls! (Pausa) Chegaram mesma concluso. Por isso a demitiram. Ela est doente, no pode cuidar de vocs. Eu sou a nova enfermeira Chefe! Isso no magnfico? Espero ter contribudo para a melhora de vocs.

    P1. Eu sei cozinhar. s vezes... importe.

    P1. Tem uma receita de famlia. Antes de quebrar o ovo, tem que lavar e secar. A voc pega trs tigelas. Uma menor, para quebrar os ovos, uma para claras e outra para gemas. Quebra o ovo, batendo-o contra a quina do prato. Da, voc o segura acima de uma das tigelas e separa as metades da casca com os polegares. Pega meia casca em cada mo, derrama na tigela a clara que j est separada. Inclina com cuidado a gema, passando-a para a outra casca, derrama a clara separada. Faz isso quantas vezes necessitar para separar a clara da gema. Nunca quebre o ovo diretamente sobre as claras, pois um deles, geralmente, o ltimo pode estar deteriorado e estragar o lote inteiro, j quebrado.

    P1. Estou ouvindo... Continue.

    P1. Acabou!

    P1. Interessante.

  • Vassoura Atrs da Porta ou Quarto Nmero nada Tssio Ferreira

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    P1. Lembrei de outra receita de famlia. Antes de usar uma panela de barro nova, pela primeira vez, unte-a com leo de cozinha e leve-a ao fogo, deixando queimar at o leo acabar. Em seguida, deixe a panela esfriar e lave-a. Pronto. Nas prximas vezes que usar, no precisa mais fazer essa operao.

    P1. Essa bem extica.

    P1. Verdade, poucos conseguem faz-la em geral, como deveria ser feita. Coisas de famlia.

    P1. Gosto de coisas de famlia.

    P1. Comemos hoje?

    Silncio.

    P2. Eu quero tomar banho!

    Silncio.

    P1. Eu sinto sede!

    Silncio.

    P2. Minha cabea coa!

    Silncio.

    P1. Voc muito excntrico!

    Silncio.

    P2. Deus energia!

  • Vassoura Atrs da Porta ou Quarto Nmero nada Tssio Ferreira

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    Silncio.

    P1. No sinto mais.

    Silncio.

    P2. No coa mais.

    Silncio.

    P1. No acredito mais.

    Silncio.

    P1. Esperar cansa.

    Silncio.

    P2. No precisa esperar.

    Silncio.

    P1. Eu vou.

    Silncio.

    P2. Posso ir com voc?

    Silncio.

    P1. No deveria. (pausa) Seu cachorro...

    Silncio.

  • Vassoura Atrs da Porta ou Quarto Nmero nada Tssio Ferreira

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    P2. Mas eu quero.

    Silncio.

    P1. Ento... Vamos.

    Silncio.

    P2. J voltamos?

    P1. No vamos voltar. Est preocupado?

    P2. No.

    P1. Ento, vamos...

    Silncio.

    P1. Primeiro voc.

    P2. Ok, eu no tenho mais medo.

    P1. Isso importante.

    P2. Eu dei o po queimado como exemplo.

    P1. Belo exemplo.

    Silncio.

    P2. Eu vou.

    P1. Vou logo logo.

  • Vassoura Atrs da Porta ou Quarto Nmero nada Tssio Ferreira

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    Silncio.

    P2. Para onde vamos?

    P1. Ora, quem vai frente deveria saber.

    P2. Isso verdade.

    P1. Eu sempre falo a verdade.

    Silncio.

    P2. No quero mais ir frente.

    P1. Voc prometeu.

    P2. Mas preciso quebrar a promessa.

    P1. Eu entendo.

    P2. Entende?

    P1. Sim.

    Silncio.

    P1. Porque no fecharam janela? Eu sinto frio no p.

    P2. No deveria.

    P1. O que?

    P2. Desistir.

  • Vassoura Atrs da Porta ou Quarto Nmero nada Tssio Ferreira

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    P1. s vezes preciso.

    P2. Tenho que concordar.

    P1. Mas, porque desistiu?

    P2. Ora, porque no foi possvel.

    P1. Entendo...

    P2. De certo modo, voc tambm desistiu.

    P1. Isso no posso negar.

    Silncio.

    P2. Eu no sei o caminho.

    P1. Eu tambm no.

    P2. Temos que esperar.

    P1. Acho que melhor.

    P2. Devemos chamar algum?

    P1. intil.

    P2. O Atendimento mesmo precrio, s tomamos banho uma vez por semana.

    P1. Eu no entendo porque no deixam as cartas aqui. A gente tem que ler e devolver.

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    P2. Minha cabea coa.

    P1. Voc muito excntrico.

    P2. Se no fosse voc, no sei!

    P1. Mas, eu sei!

    P2. Comemos hoje?

    P1. Quem se importa com isso?

    *

    P2. Agora eu vou.

    P1. Se no fizesse tanto frio, poderia ir com voc.

    P2. Eu vou, mesmo assim, j no posso segurar.

    P1. Mande notcias!

    P2. Sempre que for possvel. No esquea de pedir que fechem a janela.

    P1. L, no ter janelas.

    Cai o pano!

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