9Prefcio

Ao longo da histria, lderes militares enfrentaram o dilema de for-mular o plano ttico correto para conseguir a vitria no campo de batalha. Muito depende da preparao para esse momento: ter as estruturas de fora e o poderio corretos, nveis adequados de treinamento e moral ou ocupa-o das posies mais vantajosas. Contudo, quando a luta comea, os co-mandantes devem buscar usar as foras sua disposio de forma decisiva.

Neste livro ns examinamos e depois analisamos, em uma srie de estudos de caso, 25 das tticas mais importantes empregadas em terra, mar e ar. Elas so ilustradas com exemplos de todo o planeta e ao longo da histria, de modo a demonstrar o valor duradouro de cada uma delas. Embora grande parte do atual debate intelectual sobre a guerra se concentre no que novo, ou mesmo ps-moderno, estamos ansio-sos para mostrar que a despeito de mudanas bvias em armamento, tecnologia e mobilidade certas tcnicas e certos princpios decisivos aplicados com sucesso nos confrontos militares do passado ainda hoje so relevantes. Como muitas obras de histria militar se concentram de forma limitada no Ocidente, selecionamos exemplos de espectro o mais amplo possvel e tentamos chamar ateno para algumas batalhas menos conhecidas. Nossa inteno destacar a funo de cada conceito ttico em seu contexto histrico.

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Como autores, combinamos nossas reas de conhecimento e pes-quisa acadmica, de modo que Rob Johnson escreveu os segmentos sobre guerra na Idade Moderna, Michael Whitby ofereceu contrastes e com-paraes com exemplos do perodo antigo e John France se concentrou em batalhas da Era Medieval.

Rob Johnson, Michael Whitby e John France

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Vencer no campo de batalha: os objetivos e princpios da guerra

Quais so as tticas de guerra mais bem-sucedidas empregadas no campo de batalha ao longo das eras? E o que podemos aprender com elas hoje? Tticas so as tcnicas e os planos de curto prazo utilizados para superar o inimigo, normalmente quando em contato prximo, incluindo as habilidades e manobras que melhor utilizam as prprias foras. Tticas fazem parte do quadro de uma estratgia, que o plano de longo prazo ou ideia condutora, envolvendo a administrao e a manobra de foras e ativos em uma campanha blica, com o objetivo de ter sucesso. Este livro estuda o conceito de ttica por intermdio de uma srie de anlises de casos.

A histria militar no pode oferecer frmulas de sucesso garan-tido na guerra moderna, mas um exame das tcnicas e manobras de comandantes do passado revela padres e princpios que podem ser instrutivos. Um estudo atento dos grandes tericos da guerra tambm pode ser esclarecedor. Talvez o mais antigo deles seja o estrategista chins Sun Tzu, considerado o autor do influente e ainda amplamente lido A arte da guerra, embora sua poca e mesmo sua existncia seja incerta. Dois dos mais famosos tericos da guerra estiveram ligados, de formas diferentes, a Napoleo. Antoine-Henry, depois baro de Jomini (779-869), lutou nos exrcitos napolenicos e esteve presente na Bata-

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lha de Austerlitz. O prussiano Carl von Clausewitz (780-83), cuja obra mais famosa foi traduzida como Da guerra, serviu durante as guerras revolucionrias e napolenicas e foi profundamente influenciado pela experincia de combater Napoleo.

Os princpios da guerra

O baro de Jomini de fato sugeriu que no era possvel uma teoria da estratgia e que, para obter a vitria no campo de batalha, as decises dos comandantes tinham de se basear em uma combinao de intuio, experincia e compreenso dos princpios da guerra. Os preceitos mais comuns, no campo de batalha ou fora dele, podem ser resumidos assim:

O objetivo. Uma poltica ou meta clara e coerente a primeira prioridade. Isso tambm demanda uma correlao de objetivos e meios de modo a que uma vitria militar coincida com a conquista de um objetivo poltico.

Ofensiva. A vitria depende de tomar e manter a iniciativa por interm-dio da ao ofensiva, mas tambm demanda uma clara identificao do centro de gravidade do inimigo e sua derrota ali (ver ). Mesmo quando

obrigado a uma postura defensiva, deve-se buscar todas as oportunida-des de desequilibrar o inimigo e reto-mar a iniciativa, j que muito difcil conseguir a vitria com uma postura puramente reativa.

Alexandre o Grande compreendia que todas as manobras deviam ser executadas com disposio ousada; isso e sua motivao pessoal garantiram a ele um dos maiores imprios do mundo.

Cooperao. A coordenao de aliados e objetivos, armas e logstica um componente fundamental do sucesso.

Concentrao de fora. Clausewitz, talvez o estrategista ocidental mais conhecido, argumentou que a concentrao de fora era, isoladamente, o princpio de guerra mais importante, j que garante a superioridade local em um ponto geogrfico crtico (ver 3). Num plano mais amplo, isso tambm implica que combater mais de um inimigo de cada vez algo a ser evitado, devendo-se buscar dividir as foras inimigas.

Economia de fora. A distribuio eficaz dos recursos exige boa adminis-trao, mas isso especialmente importante se um comandante pretende conseguir a vitria em um conflito breve e decisivo em vez de arriscar uma longa e desgastante guerra de atrito. A exceo a isso a estratgia do insurgente, que demanda preservao de pessoal, enquanto o inimigo esgotado em um perodo prolongado.

Manobra, surpresa e dissimulao. Para Sun Tzu a mais elevada arte da guerra consistia em produzir uma vitria sem recorrer absolutamente s armas, e isso podia ser conseguido com uma combinao de manobra, dissimulao e boa coleta de informaes. A manobra para a posio certa torna possvel todos os outros princpios.

Iluminura de um manuscrito do final do sculo XIV sobre a Batalha de Bouvines: os ousados ataques aos flancos e a ao disciplinada da cavalaria francesa deram a vitria a Filipe Augusto.

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Segurana. A boa segurana fundamental de modo a evitar ser enga-nado, mas tambm imperativo ser capaz de avaliar as foras e fraquezas do inimigo, seus movimentos e at mesmo suas provveis intenes. Conflitos entre Estados so inevitveis em funo de interesses opostos, mas num plano mais amplo algumas guerras ou batalhas podem ser evitadas recorrendo-se a segurana, diplomacia, dissimulao, dissuaso e manobra.

Simplicidade. Considerando-se a complexidade dos conflitos e a neces-sidade de reagir a bem como iniciar operaes, planos simples tm maior chance de sucesso.

Clausewitz: Da guerra

Um guia pragmtico mas refletido de operaes de campo de batalha pode ser encontrado nos escritos de Carl von Clausewitz. Sua obra, pu-blicada postumamente, complexa e pode algumas vezes parecer contra-ditria. Contudo, claro que Clausewitz estava ansioso para analisar a guerra em um nvel bem mais profundo do que as tticas e manobras sim-ples de sua prpria poca. Ele argumentava que a guerra era fundamen-

talmente violncia sem limites naturais, e, consequentemente, seu nico propsito era produzir combates. A guerra, ob-

servou ele, uma extenso da vontade poltica com a utilizao de outros meios, e afirmar a disposio

de um exrcito o objetivo de uma campanha. Postergao, dissimulao e ardis com frequn- cia podem ser perda de tempo, j que no produ-

zem concluses decisivas.

Em seus escritos, Carl von Clausewitz capturou a essncia da guerra em sua poca, mas suas ideias ainda ecoam hoje.