Venda de artigos de luxo pela Internet

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2015/2016 Artigo Científico Venda de produtos de Luxo pela Internet Disciplina: Estágio Docente: Prof. Dr. João Paulo Peixoto Aluna: Cátia Alexandra Rodrigues Oliveira Licenciatura em Gestão e Negócios

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2015/2016

Artigo Científico

Venda de produtos de Luxo pela Internet

Disciplina: Estágio

Docente: Prof. Dr. João Paulo Peixoto

Aluna: Cátia Alexandra Rodrigues Oliveira

Licenciatura em Gestão e Negócios

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“The quality remains long after the price is forgotten”

Sir Henry Roice

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Índice

1. Resumo ........................................................................................................................................... 3

2. Abstract .......................................................................................................................................... 4

3. Capítulo 1 – Introdução ................................................................................................................... 5

4. Capítulo 2 - Revisão Teórica ........................................................................................................... 8

5. Capítulo 3 – Análise Empírica........................................................................................................ 17

a) Definição do Problema

b) Dados

c) Metodologia

d) Hipóteses

e) Análise dos Dados

6. Capítulo 4 – Resultados ................................................................................................................ 23

7. Capítulo 5 – Conclusões .............................................................................................................................. 33

8. Capítulo 6 – Limitações e Investigação Futura………………………………...………………….…….36

9. Capítulo 7 – Implicações na Gestão Empresarial………………………………….…………………...38

10. Agradecimentos………………………………………………………………………..………………...40

11. Referências ................................................................................................................................. 41

12. Anexos ........................................................................................................................................ 43

Apêndice 1: Resumo Executivo ......................................................................................................... 56

Apêndice 2: Revisão da Literatura ..................................................................................................... 59

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1. Resumo

“ São as necessidades que sustentam os corpos dos homens e os fazem vivos, entretanto, são os

desejos e as vontades que fazem deles seres verdadeiramente intensos – mente, psique e coração. Na

contemporaneidade, não importa do que se precisa, mas sim, o que se quer. E o luxo é o querer elevado

ao máximo.” 1

Entre as muitas definições que aparecem quer seja num ambiente informal, quer e/ou até em

produções audiovisuais ligadas à publicidade e comunicação, o luxo é referenciado de forma bem distinta:

pode ser olhado como algo de supérfluo ou, noutros contextos, como algo associado ao glamour e, em

determinadas vertentes, até necessário.

O luxo pode ser encarado como uma necessidade para um determinado grupo de pessoas, assim

como pode ser perspetivado como algo que presenteia os sentidos sem, contudo, ser uma necessidade,

ou ainda, algo que vai além do necessário para a utilidade, algo supérfluo, um capricho.

O mercado de luxo, quando do surgimento dos meios de comunicação online, tendeu a rejeitar este

canal como canal de distribuição dos seus produtos – rejeição deste canal como ponte de relacionamento

e venda com os potenciais consumidores.

O presente artigo tem por objetivo analisar a relevância do comércio eletrónico quando desenvolvido

no âmbito dos produtos de luxo, ou seja, perceber o que motiva ou pode motivar o consumidor de produtos

de luxo a optar por este tipo de canal.

Palavras-chave: produtos de luxo, canais de venda, comportamento do consumidor, internet

1 Barth, Mauricio:” Da necessidade ao desejo: o consumo de luxo e a ascensão do querer”, Revista Electrónica Temática

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2. Abstract

"These are the needs that sustain the bodies of men and make them alive, however, are the desires

and wishes that make them truly intense beings - mind, psyche and heart. In contemporary times, no

matter what you need, but what you want. And luxury is wanting raised to the maximum. "

Among the many definitions that appear either in an informal setting, whether and / or even in

audiovisual productions related to advertising and communication, luxury is referenced very different way: it

can be regarded as something superfluous or in other contexts, such as something associated the glamor

and, in certain aspects, even necessary.

Luxury can be seen as a need for a certain group of people as well as can be perpetivado as

something that presents the senses without, however, be a need, or even something that goes beyond

what is necessary for the utility, superfluous, a whim. Luxury is currently increasingly in reference sphere of

all individuals.

The luxury market has been tended to reject this channel as a distribution channel for their products -

rejection of this channel as a relationship bridge and sale with potential consumers.

This article aims to analyze the relevance of e-commerce when developed within the luxury goods, ie,

understanding what motivates or can motivate the luxury goods consumer to chosse for this type of

channel.

Keywords: luxury products, sales channels, consumer behavior, internet

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3. Capítulo 1 - Introdução

O fenómeno das compras online (ou e-commerce), e o seu ritmo de crescimento são um movimento

relativamente recente em Portugal. Com os desenvolvimentos da tecnologia, foi possível utilizar a internet

para o comércio o que, deste modo, passou a constituir-se, também, como um canal de vendas.

Uma das questões, básica, que se coloca quando se fala na Internet como um novo canal de

comercialização é, desde logo, quantas pessoas estão já ligadas à Internet e quantas o estarão num

determinado horizonte temporal considerado razoável, dado que será a partir daí que estarão sujeitas a

todo o conjunto de estratégias de comunicação por parte das empresas, uma vez que são estes

utilizadores/consumidores o segmento alvo das empresas que procuram novos clientes e mercados

através da Internet.

O mundo em constante mudança, a globalização da economia, a forte alteração da Europa, o

alargamento da economia de mercado a vários países, a ampliação da comunicação eletrónica e das

trocas comerciais por esta via; o surgimento de um perfil de consumidores muito mais atentos, informados

e exigentes, provocaram o incremento da concorrência entre as empresas, em todos os segmentos, pelo

que cada vez mais as estratégias de penetração e manutenção no mercado têm que ser mais cuidadas e

completamente orientadas ao mercado e ao consumidor, sob pena de serem altamente penalizadas.

Vendas ‘online’ ou ‘vendas virtuais’ como as quisermos denominar, este tipo de compra passou a

representar uma parcela relevante do mercado em volume e valor das transacções de vendas realizadas

em todo o mundo, e Portugal não é exceção.

Segundo a informação dada pelo presidente da Sociedade Interbancária de Serviços (SIBS), que

consta no relatório “SIBS MARKET REPORT”2, os portugueses gastaram 678 milhões de euros em

compras pela Internet em 2011, correspondentes a 8,4 milhões de transacções e a 1,2% do total das

compras pagas com cartão bancário.

“Clientes do comércio online cresceram até 20% num ano. Vendas pela Internet continuam a evoluir

e as expectativas são de um aumento sustentável. O comércio electrónico tem vindo a ganhar adeptos”.

De acordo com um relatório da ACEPI/Netsonda3, no terceiro trimestre do ano 2010, 65% dos sites

analisados afirmaram que o número de clientes subiu até 20%. As expectativas são de crescimento

continuado. ”Estes são os dados avançados pela Associação do Comércio Electrónico e da Publicidade

Interactiva (ACEPI).

A internet passou a ser reconhecida pela sua capacidade de largo alcance. O acesso à informação,

a alta velocidade de troca de dados e a manutenção da comunicação garantem um vasto canal de

exposição, que só poderá ser bem-sucedido se for monitorado com segurança e retorno permanente aos

valores de distinção, enfatizados como essenciais. Desta forma, é imprescindível ter cuidado na forma

2 SIBS Market Report, Sociedade Interbancária de Serviços, 2011.

3 Relatório ACEPI/Netsonda, 3.º Trimestre 2010, Associação do Comércio Eletrónico e da Publicidade.

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como os players de mercado se posicionam online, não escapando a esta realidade as marcas de

produtos de luxo.

A atividade neste âmbito da realidade digital, associada ao surgimento de players, nomeadamente

nacionais, que desenvolvem a sua atividade enquadrados nesta realidade, de que é exemplo a Farfetch

(www.farfetch.com), empresa considerada uma das 20 mais inovadoras pela revista ‘Fast Company’, e que

têm crescido entre o mercado dos produtos de luxo e a aposta em canais digitais para a comercialização

de produtos, motivou a opção pela análise e exploração desta área de estudo e investigação.

Neste contexto, o objetivo geral deste paper é analisar o comportamento do consumidor no que diz

respeito à compra de produtos de luxo através do canal Internet e consequentemente tentar perceber se

este tipo de consumo é, efetivamente, uma realidade existente ou não, ou pelo menos começa a ter alguns

contornos, mesmo que débeis no panorama do comércio eletrónico português.

Desta forma, procura-se perceber e sugerir relacionamentos entre três conceitos:

O comportamento do consumidor;

O ambiente de compra online;

A sua aplicação a um sector específico - o mercado de produtos de luxo.

Assim, irá procurar-se avaliar os hábitos de consumo relativos a produtos de luxo, através do canal

internet, particularmente em Portugal.

Para isso, desenvolveu-se um estudo de mercado com a finalidade de recolha de dados que

permitam obter informações e orientações ou conclusões das quais se possam extrair tendências que nos

levem a concluir sobre o sentido da questão levantada.

O primeiro passo será converter o problema, num problema de investigação capaz de ser

desenvolvido segundo uma estrutura e metodologia adequada.

Nesta perspetiva definiu-se como objetivos para o presente estudo compreender, numa perspetiva

cientifica, se os produtos ditos de luxo (ou percecionados como tal) são passíveis de integrarem o canal

vendas online, e procurar compreender que atributos caraterizam as transações quando acontecem, ou

que fatores influenciam o processo de decisão de compra dos consumidores envolvidos no processo.

Procurar-se-á apresentar uma explicação fundamentada, que contribua para o conhecimento

empírico e cientifico no que concerne a estes produtos, dos comportamentos e suas variações de acordo

com o canal de vendas utilizado, aferindo das intenções por parte dos consumidores da utilização deste

novo canal de vendas para produtos com características distintas nos processos de decisão de compra e

de experiência de consumo.

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São estas as hipóteses a serem levantadas e fundamentadas, ou não, contribuindo para a

melhor compreensão do consumidor e das suas atitudes e comportamentos no campo particular,

beneficiando os atores nestes mercados, marcas e empresas, particularmente para o mercado português.

Neste caso concreto, a avaliação dos consumidores face a bens/serviços de luxo via online, será

investigada recorrendo a um questionário individual que permita avaliar diferentes parâmetros de

consumo, como a aceitação, a frequência ou a preferência.

Dentro desta etapa do processo do estudo de Mercado, podemos definir os diversos objetivos a

atingir com esta pesquisa:

Determinar o género que mais consome produtos/serviços de luxo.

Determinar a existência de uma relação entre a faixa etária e o consumo de bens de luxo.

Determinar o impacto do rendimento no consumo de bens de luxo.

Conhecer quais as categorias de produtos/serviços de luxo, mais suscetíveis à compra

online.

Determinar os atributos com maior importância na compra de bens de luxo.

Determinar quais os atributos com maior relevo na compra online.

Conhecer os canais de distribuição preferenciais destes consumidores.

O estudo proposto será baseado nos princípios de um estudo quantitativo não documental,

implicando obrigatoriamente uma recolha de dados, com uma definição prévia da amostra em causa. Será,

para isso, desenvolvido um formulário de recolha capaz de analisar diversos parâmetros pertinentes, aos

objetivos de investigação propostos.

O questionário em causa, será a fonte de dados, que se deverá dirigir à amostra definida no quarto

passo e que deverá ser recolhida no quinto.

Consecutivamente, será realizada uma análise dos dados recolhidos validados por princípios

estatísticos e recorrendo a programa específico para tratamento de dados. Através do devido software,

orientado à estatística, será possível obter, de forma rápida e simples, informação dos dados obtidos,

relacionamento de variáveis e correlações existentes entre elas, bem como o esboço de qualquer tipo de

gráfico necessário ao problema de investigação.

Por fim, serão retiradas as conclusões/sugestões possíveis em face dos dados recolhidos,

encontradas possíveis relações existentes ou decisões a tomar face à informação obtida, bem como

deverão ser encontradas tendências orientadoras para as questões propostas no início deste estudo de

mercado.

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4. Capítulo 2 – Revisão Teórica

A análise do tema em apreço tem apresentado uma crescente pertinência, tanto na perspetiva da

evolução do comércio como da crescente adaptação das marcas de artigos de luxo, no seu pleno

espectro.

Muita informação é produzida a este nível, mas dada a relevância da sua credibilidade e da

qualidade dos seus dados, optou-se pela seleção de alguns exemplos que complementam e substanciam

as informações em análise, assim como as interrogações levantadas pelo presente estudo.

Neste âmbito, houve uma entidade que, no decurso do ano de 2015, desenvolveu, realizou e

apresentou várias conclusões no âmbito do E-commerce de artigos e bens de luxo.

A Mckinsey & Company, na sua publicação mensal, e em colaboração com algumas outras

entidades, analisou a progressão deste mercado e as suas tendências, nomeadamente com a realização

de estudos de escala global orientados para os comportamentos dos consumidores para este canal e

mercado.

Nestas várias análises vemos consubstanciada a pertinência do estudo matéria, nomeadamente

quando aplicada ao espaço nacional, onde as informações são mais escassas a este nível,

particularmente no que se refere aos produtos e mercado deste segmento.

Como é referido no estudo anual desenvolvido pela Altagamma-Mckinsey, "Digital Luxury

Experience": "Abraçar esta nova realidade digital exige uma mudança completa na abordagem das marcas

de luxo no contacto com os consumidores."

Pelo que a análise das realidades transversais em termos de países ou culturas, deverá proporcionar

a possibilidade de avaliar a forma como os consumidores estão a reagir às mudanças neste âmbito, pelo

que as informações publicadas que foram selecionadas proporcionam um complemento relevante e

fundamentação complementar.

Igualmente relevante, nomeadamente no que se refere à importância da matéria em apreço, será o

esforço desenvolvido pela Comissão Europeia no sentido de apoiar as iniciativas de desenvolvimento de

soluções digitais por parte das empresas e marcas de luxo.

Esta intenção encontra-se expressa no documento desenvolvido pelo designado:

"COMPETITIVENESS OF THE EUROPEAN HIGH-END INDUSTRIES" onde uma das principais áreas

destacadas é: "Proteger os esforços criativos das empresas luxo e facilitar o seu crescimento no mercado

digital." (T. do A.).

Mas ir-se-á analisar alguns destes artigos, estudos e dissertações, e de que forma contribuem para o

desenvolvimento e fundamentação do presente estudo.

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4.1. "Altagamma-McKinsey Digital Luxury Experience observatory 2015"

"Our latest research shows that three out of four luxury purchases, even if they still take place in

stores, are influenced by what consumers see, do and hear online. Digital, in other words, is now the

engine of the

luxury shopping experience. The question is no longer if and when luxury brands should embrace the

digital opportunity, but how they should go about doing it."

Neste estudo anual, foi analisada a evolução da orientação de "omnichannel" (que se refere à

utilização de políticas de comunicação e de marketing uniformes aos vários suportes e canais) por parte

de 7000 consumidores de 8 geografias, 4 categorias de produtos.

É objetivo deste documento demonstrar como os consumidores têm evoluído e alterado a sua forma

de se relacionar com estas marcas, nomeadamente na adoção cada vez maior de práticas relacionadas

com os mercados e as soluções digitais.

O crescimento deste canal de vendas, principalmente a partir dos web-sites das marcas, tem

demonstrado a relevância e importância deste canal como forma de atingir consumidores, nomeadamente

de segmentos etários distintos, todos ávidos utilizadores de equipamentos e soluções digitais.

"The acceleration of luxury sales realized online is a first manifestation of this growing awareness:

they reached 14€bn in 2014, a +50% vs. 2013. The importance of the digital business opportunity makes it

now a must for all players, and a key source of revenues growth."

O estudo concluiu mesmo que no ano de 2014, o crescimento de 5 biliões de euros de bens de luxo

foi resultado praticamente em exclusivo do canal de vendas digital.

Apesar de que nem todos os segmentos de produtos de luxo se comportam da mesma forma em

termos de crescimento e de volume, mas todos beneficiam deste crescimento.

Tanto que os autores do estudo concluem, em termos de projecção que:

"Confronting this perspective with our extensive knowledge of other industries that are more mature in

their digital development like Mass Fashion or Consumer electronics, we forecast the global luxury e-

commerce market to follow a similar trajectory than the one experience by the brands themselves.

We expect the share of online sales to double in the next 5 years – from the 6 percent today to 12

percent in 2020. And by 2025, it will triple to 18 percent, or €70 billion, making e-commerce the world’s third

largest luxury market, after China and the U.S."

O estudo analisa, também, os diferentes "touchpoints" (pontos de contacto) com os quais os

consumidores interagem no seu processo de decisão de compra, e isto numa abordagem que cobriu os

vários países em análise.

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De entre estes demonstra-se relevante a obrigatoriedade de as marcas estarem presentes em todos

os pontos de contacto possíveis, nomeadamente através de web-sites próprios, presença nos motores de

busca e de redes sociais.

As marcas passam a necessitar de estar disponíveis como e quando os consumidores quiserem

estar em contacto com elas, permitindo uma "experiência de marca" completa e que contribui para

influenciar os seus comportamentos de compra e o seu processo de decisão de compra proporcionando

um leque mais abrangente de possibilidades de contacto ("engagement") com os consumidores.

Como é referido no estudo, é necessário desbloquear a abordagem que combine os altos níveis de

exigência dos artigos e marcas de luxo, com a agilidade e dinâmica das plataformas digitais pode ser a

chave para desbloquear o sucesso neste novo canal de venda.

A principal conclusão a reter do estudo, e em coerência com o que se pode definir como orientação

em termos de desenvolvimento do presente estudo será:

"...with 75% of all luxury sales influenced today by digital (and which could go up to 100% by 2025),

luxury brands have no choice but to embrace the digital era and become truly omnichannel. This will

require them a radical rethinking of both their customer experience of their consumer engagement

strategy."

Podemos concluir, pelos dados referidos no estudo da Altagamma-Mkinsey, que a análise e

desenvolvimento do presente estudo é relevante, particularmente se se procurar estabelecer a relevância

no que se refere ao mercado nacional português.

Que a presença online por parte das marcas e produtos de luxo será mais do que uma necessidade

uma obrigatoriedade.

Aumentando a sua visibilidade e os pontos de contacto com os consumidores, cada vez mais

"ligados" a toda uma comunidade e realidade digital.

Igualmente, e dadas as projecções no que se refere às vendas de bens de luxo online, assim como a

sua evolução recente, existe um mercado online para os produtos de luxo, assim como a necessidade de

desenvolver uma experiência de compra relevante para o consumidor.

No que se refere aos autores, a Altagamma é uma associação que reúne os principais actores em

termos de produtos de luxo em Itália.

Mckinsey & Company é uma consultora multinacional que actua em inúmeros setores do lado de

empresas e organizações.

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4.2. "Luxury shopping in the digital age"

Este estudo, também desenvolvido em colaboração entre a McKinsey e a Altagamma Foundation, e

denominado de: "Digital Luxury Experience 2013", analisa a interação entre as marcas e os consumidores

de produtos de luxo, nomeadamente na vertente das redes sociais.

Realizado antes do anterior estudo apresentado, neste caso aprecia-se as mais eficientes

estratégias no que se refere à atuação online de marcas de luxo.

No entanto, e dada a área de atuação comum e a necessidade de conhecer o consumidor para

desenvolver formas de com ele interagir, é possível inferir algumas ilações no que se refere a

disponibilidade dos consumidores para a utilização destas plataformas de comércio online, particularmente

para o mercado de produtos de luxo.

A maior parte dos consumidores utiliza as plataformas online para a realização de pesquisas e de

interação, ou mesmo comentário, no que se refere a produtos de luxo.

Das classes etárias que realizam maior consumo deste tipo de produtos, a Geração X e os Baby-

bommers, todos são ativos tecnologicamente, e em muitos casos privilegiam o mobile.

O que significa que estarão ativos de forma permanente (ou quase) e a de forma intensiva no que se

refere à sua atuação junto das redes sociais ou à pesquisa nos motores de busca.

No entanto, a maior parte das marcas faz uma utilização reduzida e pouco ativa destas plataformas.

O que quer dizer que se encontram distantes no que se refere às atividades da maior parte dos

consumidores de produtos de luxo.

Nomeadamente no que se refere à manutenção e controlo dos pontos de interacção com os

consumidores.

Tendo sido definido no estudo, nomeadamente pela avaliação de 300 marcas de luxo ou de

"“affordable luxury”, e pela análise profunda do comportamento desses consumidores:

"the team scoured 13 million public online comments, surveyed 300 online respondents, and

conducted in-person interviews with more than 3,000 luxury shoppers in six major luxury markets: France,

Germany, Italy, Japan, the United Kingdom, and the United States. The research team also tracked a set of

70 performance metrics across more than 700 luxury websites.";

a existência de uma predisposição, por parte os consumidores, em realizar compras online deste tipo

de produtos, se bem que não de forma uniforme por entre as categorias de produtos (propensão de

compra online cresce com a redução do valor do produto em causa), tal como é referido no artigo:

"The success of ventures such as Net-A-Porter has shown that consumers are indeed willing to buy

The “right” digital strategy differs for every luxury brand, but the essential elements are the same: a strong

mobile presence, a selective approach to social media, and a tight focus on carefully chosen metrics. luxury

products online, and at undiscounted prices."

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Não obstante a necessidade referida de estar presente nos diferentes "touchpoints" da marca, como

por exemplo a existência de uma loja física, a presença online, nomeadamente nas redes sociais ou pela

venda de produtos em e-commerce, é uma área onde as empresas das marcas de luxo têm desenvolvido

a sua presença de acordo com as suas necessidades de interação e comportamento dos consumidores.

Novamente neste caso é possível retirar a importância e a oportunidade que é colocada às marcas

de produtos de luxo no que se refere à utilização de mais este canal de vendas. Sendo que se demonstra

imperativo a sua presença, quer nas plataformas e redes sociais, como através de plataformas próprias ou

seja websites da marca.

Esta questão, para além de permitir a gestão da presença da marca online e a realização de um

contacto ativo com os seus consumidores (ou potenciais) abre um canal de vendas potencial que tem

crescido mais em termos absolutos que as lojas físicas ou outras formas de comercialização dos produtos.

Daí que se conclui que, para além de ser uma necessidade no que se refere a presença das marcas,

o online é um espaço que tem apresentado potencial enquanto espaço de vendas e que os consumidores

continuam a realizar as suas compras através deste canal, o que é fundamentado pelo crescimento das

vendas a um ritmo superior ao dos restantes canais.

O que mais uma vez contribui como fundamentação para o desenvolvimento deste estudo,

particularmente quando aplicado ao mercado nacional.

4.3. "Competitividade das Indústrias de Segmentos Altos na Europa" -

SWD_2012_286_EN_7667

Demonstrando a relevância desta área de atividade, as equipas da Comissão Europeia têm vindo a

desenvolver informação e análise de apoios e dinamização deste segmento de mercado desde 2012,

nomeadamente porque representa uma área de elevado nível de exportação (70% da produção é

exportada de acordo com os números constantes no documento) assim como a sua dimensão em valor é

muito grande e o seu crescimento, apesar de todas as contingências económicas e financeiras ronda os

10% anuais.

"A recent study estimates that the industry’s contribution to the European economy and growth

should not be underestimated: it corresponds to 3 % of EU (non-financial) GDP with an annual turnover of

above € 400 billion. Some 990 000 people are directly employed in this sector in Europe. This figure does

not include the indirect employment generated by the supply and distribution of products or in related

sectors, such as promotion and marketing, education, media and communication."

De entre as vertentes avaliadas como sendo passíveis de serem dinamizadas encontra-se a questão

da inovação tecnológica e a vertente digital.

"More and more brands offer bespoke services to their customers, both at the point of sale and

online. Brands also use online retail platforms and sophisticated customer relationship management (CRM)

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technologies to improve their knowledge of customers’ preferences and thus personalize their

products and services."

Assim, o documento refere mesmo a necessidade de "facilitar o crescimento no mercado digital"

para estas indústrias, auxiliando, entre outras variáveis o mercado global de transação de produtos deste

segmento, despoletando novas oportunidades e desafios.

"It allows brands to reach new customers and develop new ways of interacting with them. Although

most products are still sold ‘brick and mortar’, high-end companies make major investments in developing

their online presence."

Este tipo de investimento permitirá às marcas protegerem o seu investimento e evitar danos à sua

reputação, imagem e produção.

Naturalmente que uma parte deste esforço se encontra relacionado, por parte da Comissão

Europeia, à questão da contrafação e da salvaguarda dos direitos dos consumidores.

No entanto, demonstra a viabilidade e relevância deste canal de vendas para as diferentes marcas,

particularmente no que se refere à possibilidade de comercialização através das diferentes plataformas em

situações de exportação.

Este tipo de iniciativas, e independente das suas iniciativas regulatórias e de protecionismo das

indústrias europeias, demonstra o interesse e relevância do desenvolvimento digital de marcas que

produzem e exportam produtos para segmentos altos, como os produtos de luxo.

Deste podemos retirar a existência de uma relevância no desenvolvimento de e-commerce para os

produtos de luxo, havendo igualmente um interesse por parte de consumidores de diferentes origens

geográficas, potenciando um canal de vendas relevante e que, com o desenvolvimento da globalização de

canais, se demonstra como interessante e importante para o desenvolvimento das vendas das marcas que

os utilizam.

4.4 "O comércio Electrónico e as Plataformas B2C e C2C: contribuição para o estudo

do comportamento do consumidor online"

Neste documento, desenvolvido para a realização do mestrado em Publicidade e Marketing, o autor,

Dr. Fábio Lima, procurou estabelecer relações entre a utilização de plataformas eletrónicas e os

comportamentos do consumidor online.

A abordagem à temática em apreço necessita obrigatoriamente uma abordagem à questão da

tecnologia e dos comportamentos dos consumidores quando em situações de compra em plataformas

digitais.

A tese em apreço, que decorre numa análise de consumidores e avalia a sua predisposição para a

compra online de acordo com a sua relação com a Internet, quer em plataformas B2C como em

plataformas C2C. Assim como os comportamentos de compra online e da utilização de novas tecnologias.

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Desta análise conclui o autor haver uma predisposição relacionada com a predisposição para a

compra online por parte dos consumidores, onde os de classes mais altas mais facilmente testam, adotam

e utilizam este tipo de plataformas.

Também os influenciadores sociais atuam enquanto condicionadores do comportamento

relativamente a adesão de soluções de compra digital.

Tal como é implícito nos restantes textos apreciados relativamente à compra de produtos online,

nomeadamente nos sites de comércio eletrónico como os desenvolvidos por parte das marcas e que têm

como objeto produtos de maior valor acrescentado, que necessitam de um maior envolvimento no

processo de compra.

Daqui decorre a necessidade de "perceber em profundidade as sinergias entre utilizadores,

experiência de utilização e processos de compra associados".

A análise deste trabalho procurou estipular que se aplica também aqui o determinado por vários

autores, que: "verifica-se uma relação bastante positiva entre o rendimento dos indivíduos e a frequência e

quantidades das compras online, sendo este tipo de plataformas mais utilizadas por indivíduos com

maiores rendimentos."

Assim sendo, as plataformas relacionadas com os produtos de luxo e os comportamentos

associados, terão necessariamente de se tornar atrativas para o seu grupo alvo de consumidores, isto sem

nunca se deixar de se equacionar as questões relativas aos diferentes pontos de contacto que será

necessário possuir de acordo com o seu posicionamento em termos de categorias de produtos.

A considerar, enquanto factor condicionador no que se refere à utilização destas soluções, é a

constatação por parte de vários estudos, que "...confirmam também que quanto mais elevada for a classe

social do indivíduo, maior será a probabilidade de que este faça compras online, justificado por maiores

rendimentos e maior facilidade de acesso às plataformas de comércio eletrónico."

No entanto, e dado que o levantamento terá sido realizado em território nacional, algumas

considerações poderão ser relevantes para a situação em análise, mesmo que seja relacionada com

produtos de luxo.

Nomeadamente no que se refere a:

"Em suma, verificou-se ao longo das entrevistas que estes utilizadores começam a olhar para online

e offline da mesma perspetiva, afirmando, inclusivamente, um deles que: “online não é diferente para mim

(...) sou apenas uma forma diferente de obter o mesmo produto. Muda o meio, mas o serviço tem que se

manter”."

"Investigando em maior detalhe as compras realizadas, e como forma de se verificar a relação entre

os produtos comprados e pesquisados, os entrevistados revelaram apenas comprar online produtos de

baixa implicação (com os homens a escolherem livros, equipamento eletrónico e videojogos e a mulher a

focar-se essencialmente na roupa), apesar de pesquisarem com frequência produtos de alta implicação,

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considerando necessário o toque, o contacto físico, como forma de reduzir o risco percecionado em

compras de maior valor. A par disto, os homens sentem-se mais influenciados por campanhas online,

redes sociais, blogues e youtube, enquanto a mulher por sugestões dadas na própria plataforma

(behavioral marketing)."

"Outra conclusão importante é a de que são as plataformas B2C aquelas que maior adesão tem por

parte dos utilizadores, sendo também preferida a compra online de serviços à de produtos. Todavia,

quando estes são adquiridos tratam-se normalmente de produtos de baixa implicação, o que veio reforçar

a adaptação por nós criada à grelha de Rossiter e Percy que concluía que o ROP (Research Online and

Purchase) está associado a produtos de baixa implicação e que o ROPO (Research Online and Purchase

Offline) a produtos de alta implicação, ou seja, verifica-se que estes não estão tão diretamente

relacionados com o nível de informação necessário à estimulação da compra por serem transversais ao

pólo informacional e ao pólo transformacional."

No fundo poderá ser relevante o facto de as questões culturais, no que se refere à utilização de

plataformas de e-commerce, possam apresentar diferenças, por muito ténues que possam parecer,

relativamente às informações e fundamentações que são partilhadas por muitos dos autores. Enquanto

utilidade para o estudo das plataformas de e-commerce de produtos de luxo, poderá ajudar a fundamentar

as questões relacionadas com os comportamentos na utilização da internet e das plataformas B2C por

parte dos utilizadores de e-commerce portugueses e os processos de compra implícitos.

Tentando, agora, estabelecer uma comparação entre estes casos e o meu caso (objecto de estudo),

e apesar de, face ao número de respostas obtidas, podermos apenas suportarmo-nos em sugestões e não

conclusões, podemos dizer que os resultados obtidos no estudo efectuado pelo presente artigo não

confirmam os resultados já obtidos em vários outros estudos já realizados, quer a nível nacional quer

internacional (por consultoras de renome internacional) que afirmam que a tendência pela opção do canal

online para aquisição de produtos de luxo é actualmente uma realidade crescente.

Os resultados deste estudo estão condicionados pelas características da amostra que, pelo facto de

não poder ser considerada representativa (baixa taxa de respostas e de baixa qualidade), não permite

extrapolar as conclusões obtidas para o universo populacional.

Existem mesmo casos em que existem consumidores de produtos de luxo numa periodicidade

semanal ou mensal e a auferir rendimento na ordem dos 500€ (ou nesse intervalo). Por outro lado, como

os dados estão centrados num grupo principalmente de jovens, indicam que os produtos de luxo estão

mais ligados ao "estilo" do que à "exclusividade", o que não corresponde a outros estudos efectuados

sobre esta matéria.

Todavia, algumas ilações são consentâneas com os dados de outras fontes, nomeadamente que os

mais jovens são mais propensos às compras online, que a notoriedade da marca é importante, etc.

Page 18: Venda de artigos de luxo pela Internet

16

Não obstante os resultados obtidos via inquérito realizado, o fenómeno on line entre as marcas de

produtos de luxo assume-se de forma crescente de relevância, algo que, de certa forma, face à questão

principal enunciada “Qual a preferência de canal de aquisição do consumidor dos produtos de

luxo?"

Os inquiridos da amostra, na sua maior, parte tem o hábito de comprar via canal online (63.2%),

contra 36.8% que dizem que não. Pela análise da amostra, 60 indivíduos declaram já ter consumido bens

de luxo, enquanto 57 dizem que não, no entanto não especificam qual o canal em que adquiriram esses

bens de luxo: presencial? Online?

Page 19: Venda de artigos de luxo pela Internet

17

5. Capítulo 3 – Análise Empírica

a) Definição do Problema

Após o enquadramento teórico da temática, este capítulo inicia-se com a apresentação do quadro

conceptual deste estudo bem como com a definição da questão primordial à volta da qual se traduzirão as

suas hipóteses de investigação.

O estudo em causa visa investigar o comportamento dos consumidores no momento de compra de

produtos de luxo. Através de um modelo que é resultado das leituras efetuadas na revisão bibliográfica e

criado com variáveis retiradas da mesma e específicas da área, procura-se avaliar e analisar o impacto

dessas variáveis na intenção de compra no que se refere aos canais de distribuição em relação ao

público-alvo. Através de formulação de hipótese (s), que procurem explicar o objetivo da pesquisa e a

corroboração (ou não) das mesmas, através do confronto da base teórica com os dados obtidos através

dos inquéritos efectuados.

A maior parte da pesquisa, centra-se nas razões que levam ou não à compra de produtos em

ambiente electrónico e em pesquisas direccionadas da empresa de luxo para a internet ou da internet para

as marcas de produtos de luxo. Esta pesquisa pretende compreender se o e-commerce de marcas de luxo

cresceu, e se isso se verificar, significa, obviamente, que há consumidores virtuais desses itens, que

abdicaram de parte das experiências sensoriais envolvidas na compra física.

Assim sendo, torna-se pertinente a análise dos consumidores que adquirem bens e serviços de luxo,

através da internet e da importância do e-commerce para as empresas na compra e venda de produtos

e/ou bens de luxo online. Logo, o problema central da pesquisa consubstancializa-se no comportamento

dos consumidores em relação à compra de bens/produtos de luxo, através do canal internet.

Assim, a questão central de investigação deste trabalho é:

“Qual a preferência de canal de aquisição do consumidor dos produtos de luxo?"

b) Dados

Os elementos recolhidos foram selecionados por meio de uma amostragem aleatória simples. Trata-

se, por isso, de uma amostra probabilística, tendo todos a mesma probabilidade de ser selecionados para

fazer parte da amostra.

Para a obtenção de dados que pudessem ser objecto de análise, desenvolveu-se um questionário,

utilizando a plataforma Google Forms, para se testarem as hipóteses formuladas, definindo um público-

alvo, saber quais são as suas preferências no que diz respeito à aquisição de produtos de luxo, bem como

à modalidade de aquisição do mesmo, e apurar a sua opinião relativamente à compra, no mercado

produtos de luxo online.

Page 20: Venda de artigos de luxo pela Internet

18

A etapa inicial permite identificar as principais características dos inquiridos deste questionário, para

que mais tarde identifiquemos semelhanças entre si. Consiste principalmente em variáveis demográficas e

de comportamento de compra da população em estudo.

Inclui-se ainda uma questão de escolha múltipla acerca da compra de produtos/serviços de luxo, que

separa inquebravelmente os inquiridos: os consumidores de bens de luxo e os não consumidores.

Enquanto os consumidores de bens de luxo serão transportados para a segunda página, com questões

direcionadas para o segmento alvo, os restantes terão o questionário como terminado.

Coloca-se ainda uma questão direcionada para saber quais os tipos de produtos/serviço mais

requisitados, abrangendo não apenas os atuais consumidores, como também potenciais consumidores

dos produtos em estudo.

Simplificaram-se alguns nomes de variáveis, atribuíram-se alguns rótulos aos valores transformados

em ordinais, reduziram-se algumas casas decimais e transformaram-se variáveis em numéricas, para

concluir esta organização dos dados recolhidos.

De forma a poder estudar as variáveis obtidas através de questões de escolha múltipla, criamos uma

variável para cada item com o valor “1” para quem não escolheu essa opção e “2” para quem escolheu

essa opção.

c) Metodologia

Como já foi referido, este artigo concentra-se na pesquisa de como o canal de distribuição internet se

comporta quando em presença de aquisição de produtos de luxo. Neste sentido, realizou-se um estudo

baseado nos princípios de um estudo quantitativo não documental, implicando obrigatoriamente uma

recolha de dados, com uma definição prévia da amostra em causa. Foi, pois, para isso, desenvolvido um

formulário de recolha (inquérito) capaz de analisar diversos parâmetros pertinentes, aos objetivos de

investigação propostos.

O questionário em causa, constituiu a fonte de dados, e as respostas obtidas, a matéria-prima sobre

a qual, com as técnicas adequadas, se procurará encontrar resposta (s) para a questão central formulada.

Será, assim, realizada uma análise dos dados recolhidos validados por princípios estatísticos e

recorrendo ao software SPSS e linguagem de programação R. Através destes softwares - linguagens de

programação orientada à estatística- irá ser possível obter, de forma rápida e simples, informação dos

dados obtidos, relacionamento de variáveis e correlações existentes entre elas, bem como o esboço de

qualquer tipo de gráfico necessário ao problema de investigação.

Por fim, serão retiradas as devidas conclusões dos dados recolhidos, encontradas possíveis

relações existentes ou decisões a tomar face à informação obtida, bem como deverão ser respondidas

a(s) questões proposta no início deste artigo.

As variáveis foram segmentadas, numa primeira etapa inicial, da seguinte forma:

Page 21: Venda de artigos de luxo pela Internet

19

Idade, Género, Rendimento

Consumo de bens de luxo, Consumo Online

Categorias de produtos

A segunda página deste formulário é dedicada na sua exclusividade ao estudo específico dos

consumidores de bens de luxo, que são o segmento-alvo deste artigo. Nesta fase, pretendemos obter

informações acerca dos hábitos de consumo deste tipo de consumidores, questionando sobre diversos

parâmetros de consumo, como a frequência e os canais utilizados.

Avaliam-se quais os principais canais de distribuição que serão objecto de escolha preferencial a

consumidores e potenciais consumidores deste tipo de produto. Nesta caixa de seleção inclui-se o meio

online como veículo de compra dos bens em causa.

Foi construída uma escala de Likert para avaliar as características mais valorizadas na aquisição de

bens de luxo.

Para avaliar a preferência pelo canal online, adicionou-se ainda outra escala de Likert, questionando

diversos os parâmetros de exclusividade, comodidade, segurança e prestígio.

Page 22: Venda de artigos de luxo pela Internet

20

Para se proceder à análise do tipo de consumidores que já utilizam o canal online como canal de

aquisição para produtos de luxo, foram estruturadas perguntas no questionário (numa 2ª página)

orientadas da seguinte forma:

Frequência de consumo online e de bens de luxo

Canais utilizados

Importância aos produtos, Importância da compra online

d) Hipóteses

Os objetivos desta pesquisa focam-se em perceber se este tipo de produtos – de luxo – são

suscetíveis de ser adquiridos por via online e tentar perceber que atributos estão por trás deste tipo de

transação quando tal facto se verifica:

Em que fase(s) do processo de decisão de compra online de luxo, os consumidores são

influenciados pela internet?

Page 23: Venda de artigos de luxo pela Internet

21

De que forma as vantagens da internet influenciam o consumidor no seu processo de

decisão de compra online de produtos de luxo?

De que forma as limitações da internet influenciam o consumidor no seu processo de decisão de

compra online de produtos de luxo?

Quais os fatores influenciadores no comportamento de compra online do consumidor de produtos

de luxo?

Tendo em atenção os objectivos a atingir com este estudo e também a análise da literatura, são

levantadas algumas questões de Investigação.

A primeira questão de investigação levantada neste trabalho é a seguinte: “Qual a preferência de

canal de aquisição do consumidor dos produtos de luxo?"

Com o objectivo de dar resposta a esta questão são formuladas as seguintes hipóteses:

Hipótese H1 Existem diferenças no comportamento de compra do consumidor conforme o canal utilizado

- tradicional ou internet?

Uma segunda questão, para a qual se pretende encontrar respostas, é a seguinte:

É viável a venda online para os produtores/distribuidores de produtos conotados como

produtos de luxo?

Com o objetivo de dar resposta a esta questão foi formulada a seguinte hipótese de investigação:

Hipótese H2 Existe procura para produtos de luxo sendo o seu canal de distribuição/ aquisição feita através

da internet?

e) Análise dos Dados

Após o inquérito que se realizou utilizando a plataforma Google Forms, transferiu-se o ficheiro para o

excel, que foi posteriormente importado para o SPSS.

Foi recolhida uma amostra de 117 respostas. Desta amostra, obitveram-se 60 pessoas que compram

bens de luxo e que pertencem, por isso, ao segmento que definimos como prioritário para este estudo e

que terá um grupo de questões exclusivas.

Retiramos a variável data, que foi automaticamente gerada pelo Google Forms e que não tem

qualquer valor estatístico.

De seguida converteram-se os valores do género para valores ordinais, considerando o “feminino” e

o “masculino” os algarismos 1 e 2, respectivamente. As variáveis relativas à idade, rendimento mensal,

Page 24: Venda de artigos de luxo pela Internet

22

frequência de compra online e frequência de compra de bens de luxo foram convertidas em variáveis

ordinais, tendo em conta os intervalos por ordem ascendente. O mesmo se aplicou às variáveis de

“costuma comprar online?” e “já consumiu bens de luxo?” em que o “Não” passou a 1 e o “Sim” passou a

2.

Simplificaram-se alguns nomes de variáveis, atribuíram-se alguns rótulos aos valores transformados

em ordinais, reduziram-se algumas casas decimais e transformaram-se variáveis em numéricas, para

concluir esta organização dos dados recolhidos.

De forma a poder estudar as variáveis obtidas através de questões de escolha múltipla, criamos uma

variável para cada item com o valor “1” para quem não escolheu essa opção e “2” para quem escolheu

essa opção.

O resultado final, foi o seguinte:

Page 25: Venda de artigos de luxo pela Internet

23

6. Capítulo 4 – Resultados

Nesta etapa do estudo deste artigo, irão ser analisados todos os dados recolhidos no questionário, e

posteriormente submetidos a testes estatísticos que permitam obter (ou não) sugestões - face à dimensão

da amostra: 117 - plausível para as questões e hipóteses colocadas inicialmente.

6.1 Análise dos dados demográficos

Inicialmente procedeu-se à análise das características demográficas (género, idade e rendimento

mensal) e dos hábitos de compra (“costuma comprar online?” e “já consumiu bens de luxo?”) relativos a

toda a população abrangida neste inquérito.

Das 117 respostas recolhidas, 66 pertencem a elementos do sexo feminino e 51 a elementos de

sexo masculino, ou seja, respectivamente, 56.4% correspondem a mulheres e 43.6% a homens.

Género:

Idade:

A faixa etária dos inquiridos situa-se principalmente entre os 19 e 25 anos, se bem que aquela que

está compreendida entre os 26-30 anos também é relevante, correspondendo estas duas faixas etárias a

92 (de 117) dos inquiridos. Entre os 50-60 anos não se obteve qualquer resposta; acima dos 60 anos,

apenas 3 respostas, o mesmo nro para os inquiridos com idades compreendidas entre os 41 e 50 anos.

Page 26: Venda de artigos de luxo pela Internet

24

Rendimento mensal:

94 dos inquiridos auferem um rendimento que não ultrapassa os €1200, sendo que destes, menos

de metade (45) têm rendimentos entre os € 500-€1200, enquanto que os outros 49 têm um rendimento

(ainda) inferior.

8.5% da amostra (10) detém rendimentos mensais entre os €1200-€2000, 6% (7) rendimentos na

ordem dos €2000-€3000, 4.3% (5) entre €3000-€5000 e apenas um com um rendimento acima dos €5000.

Costuma comprar online?

Os inquiridos da amostra, na sua maior, parte tem o hábito de comprar via canal online (63.2%),

contra 36.8% que dizem que não.

Já consumiu bens de luxo?

Pela análise da amostra, 60 indivíduos declaram já ter consumido bens de luxo, enquanto 57 dizem

que não.

Page 27: Venda de artigos de luxo pela Internet

25

6.2 Influência sobre o consumo

Neste segundo passo analisa-se a existência de características dos consumidores que influenciem o

seu consumo de produtos de bens de luxo. Para tal, recorreu-se ao software SPSS para gerar uma tabela

de correlações entre as variáveis principais.

Pela análise do quadro acima, pode concluir-se que não existe nenhuma variável em particular que

influencie o consumo de bens de luxo, nem mesmo o rendimento.

Porém, obteve-se uma correlação relevante, que nos indica que os homens desta amostra, têm

tendência a ter um rendimento mensal superior.

Para complementar esta análise, recorreu-se a uma análise de regressão linear, utilizando um

modelo cuja variável dependente foi a “Compra de bens de luxo” e as independentes foram o Género,

idade, rendimento e a “compra online”.

Page 28: Venda de artigos de luxo pela Internet

26

Obteve-se uma capacidade explicativa do modelo de 0.65, constituindo este um valor muito baixo, o

que é indicador de que as variáveis independentes não são capazes de explicar a variação da variável

dependente, consumo de bens de luxo.

6.3 Preferências sobre os tipos de bens de luxo

A população em estudo foi inquirida acerca dos tipos de bens de luxo, enquanto preferência para

aquisição através de um canal online. As opções elegíveis foram os Acessórios, Carros, Jóias, Tecnologia,

Serviços e Vestuário. A variável que armazenava estes valores, foi dividida e os valores convertidos em

variáveis nominais de “sim” ou “não” e serão analisadas as suas frequências, bem como as correlações

existentes com outras variáveis.

Page 29: Venda de artigos de luxo pela Internet

27

Analisando as frequências obtidas, pode concluir-se que a Tecnologia e o Vestuário são claramente

as duas categorias de produtos a que consumidores atribuem imensa relevância à sua compra online. Em

contrapartida, a compra de carros e jóias através deste canal virtual, obtém uma adesão muito reduzida.

Analisando a tabela de correlações, conseguimos concluir a existência de algumas relações entre as

seguintes variáveis:

o Existe uma relação inversa entre o género dos inquiridos e a preferência pela compra de vestuário

online: o sexo feminino é mais propenso a preferir comprar vestuário online.

o Quanto menor a idade, maior a intenção de compra de acessórios online.

o E quanto menor o rendimento, existe também uma preferência de compra de acessórios online,

com um nível de significância de 1%.

6.4 Importância da compra de bens de luxo no dia-a-dia

Com base nas questões qualitativas presentes no inquérito acerca da importância atribuída à compra

de bens de luxo, irá ser possível perceber se existem relações entre as características, preferências e

comportamentos e dos consumidores, se existirem quais são e a significância estatística dessas mesmas

relações.

Page 30: Venda de artigos de luxo pela Internet

28

Após realizado um teste de correlação, pode concluir-se da existência das seguintes relações entre

variáveis:

- Quanto maior o rendimento mensal, maior é a frequência de compra online, maior a frequência de

compra de bens de luxo e menor é a importância que atribuem à qualidade dos bens de luxo.

- O sexo masculino tem maior apetência a consumir online.

Page 31: Venda de artigos de luxo pela Internet

29

Foram ainda apuradas relações existentes entre as variáveis qualitativas existentes. Foi determinado

que as pessoas que atribuem maior importância ao Design/Estilo, também valorizam mais a exclusividade,

notoriedade da marca e a a qualidade dos produtos/serviços.

Aqueles que atribuem maior relevância à exclusividade, valorizam também a notoriedade da marca e

vice-versa.

6.5 Relevância da compra de bens de luxo online

De seguida, foram analisadas as variáveis qualitativas relativas aos aspectos mais relevantes da

compra online de bens de luxo, onde foram considerados, apenas, os elementos da amostra que

afirmaram ser consumidores deste tipo de bens.

Page 32: Venda de artigos de luxo pela Internet

30

Foi encontrada uma correlação que sugere que os consumidores que compram online, acham este

tipo de compra mais segura, com um nível de significância de 1% (de duas extremidades).

Page 33: Venda de artigos de luxo pela Internet

31

Analisando ainda correlação entre todas no que diz respeito à relevância atribuída às diversas

características de compra de bens de luxo online, é possível inferir que quando alguém atribua relevância

alta a uma delas, tem tendência a atribuir maior relevância também às restantes, já que todas estão

correlacionadas entre si.

6.6 Canais de Distribuição

Para analisar a influência dos canais de distribuição para bens de luxo, decidimos estudar as

frequências e procurar correlações entre variáveis, relativas apenas aos actuais consumidores de bens de

luxo.

Com as respostas obtidas, conclui-se automaticamente que as preferências dos consumidores

recaem sobre a compra online, seguida da compra presencial.

Page 34: Venda de artigos de luxo pela Internet

32

Analisando a tabela de correlação entre as variáveis percebeu-se que os canais presenciais são

influenciados pelo sexo dos inquiridos, para um grau de significância de 5%.

Obteve-se ainda que, para um rendimento maior, se verifica uma preferência pelo canal presencial,

isto dentro de um nível de significância de 5%.

Uma outra sugestão obtida, com base nas correlações, é a proporcionalidade inversa entre a compra

online e a compra presencial, ou seja, quem compra mais pela Internet, compra menos presencialmente.

6.7 Frequência de consumo

Para completar a análise de variáveis demográficas face ao consumo de bens de luxo e conseguir

resultados mais significativos, estudamos também a frequência de consumo daqueles que têm o hábito de

comprar bens de luxo.

Infere-se que o género feminino consome produtos de luxo, com maior frequência.

Verifica-se ainda uma importante correlação entre o rendimento mensal e o consumo de bens de

luxo.

Page 35: Venda de artigos de luxo pela Internet

33

7. Capítulo 5 – Conclusões

Analisando o resultado dos dados trabalhados em relação à amostra, podemos avançar com 7

grupos de conclusões:

Determinar o género que mais consome produtos/serviços de luxo

Apesar de o género feminino ter obtido uma maior taxa de resposta ao questionário realizado, e

recorrendo à análise das correlações, observa-se que não se chegou a nenhuma correlação que

determinasse a influência do género sobre o consumo de produtos/serviços de luxo. Assim, e em face da

amostra em apreço, podemos concluir que o género não influência o consumo de bens de luxo.

Não obstante, consegue-se observar que as mulheres desta amostra apresentam um maior índice

de compra online, em relação aos homens.

Determinar a existência de uma relação entre a faixa etária e o consumo de bens luxo

Relativamente à faixa etária, verificou-se que esta não é determinante do consumo de produtos de

luxo, nem no que diz respeito à taxa de compradores, nem relativamente à frequência de compra.

Também não se constata nenhuma relação entre a faixa etária e a compra via canal online.

Determinar o impacto do rendimento no consumo de bens de luxo

No que diz respeito ao rendimento mensal, constatou-se que este influencia a frequência do

consumo de bens de luxo e o consumo online.

Com a análise dos dados obtidos nesta amostra, pode-se afirmar que quanto maior é o rendimento

mensal, mais se consome produtos/serviços de luxo, bem como mais se consome online.

Conhecer quais as categorias de produtos/serviços de luxo, mais susceptíveis à compra online.

Percebe-se que as categorias de produtos de luxo em que existe maior disposição à sua compra

online, são o vestuário e as tecnologias, e as que têm, eventualmente, menor adesão serão os acessórios

e as jóias.

Verificou-se ainda que o sexo feminino tem tendência a comprar mais peças de vestuário pelo canal

online do que os homens, que os mais novos compram/têm maior propensão à compre de acessórios via

online e que um valor mensal de rendimento menor poderá estar relacionado com a possibilidade de

comprar mais acessórios do que outros produtos.

Page 36: Venda de artigos de luxo pela Internet

34

Determinar os atributos com maior importância na compra de bens de luxo.

Para as pessoas com maior rendimento mensal, verifica-se que atribuem menor importância à

compra de qualidade nos bens de luxo.

Os dados sugerem também que quem atribui importância ao Design/Estilo dos produtos de luxo,

atribui também importância à notoriedade da marca, à qualidade do produto e à exclusividade.

Determinar quais os atributos com maior relevo na compra online.

Pela análise desta amostra, percebeu-se que os consumidores que compram online, acreditam que

este tipo de compra é mais segura. Foi ainda possível verificar através desta amostra que quem atribui

mais importância a qualquer uma das características, (comodidade, exclusividade, prestígio, segurança),

tem tendência a atribuir maior relevância também a todas as restantes.

Conhecer os canais de distribuição preferenciais destes consumidores.

Os canais preferidos dos consumidores são ambos o online e o presencial, apresentando uma

diferença muito pequena frívola entre ambos. Dos consumidores de bens de luxo, o sexo masculino é que

compra mais recorrendo à internet e quanto maior é o rendimento, menor é a compra presencial.

Uma outra conclusão obtida, com base nas correlações, é a proporcionalidade inversa entre a

compra online e a compra presencial, ou seja, quem compra mais pela Internet, compra menos

presencialmente.

Com este estudo realizado, e nunca esquecendo que a base de análise é a amostra de respostas

conseguida, e os resultados/sugestões/conclusões são obtidos exclusivamente desta, não se consegue

obter uma direção cabal para a resposta para a pergunta central deste estudo, que é: “Qual a preferência

de canal de aquisição do consumidor dos produtos de luxo?"

À pergunta sobre o canal usado para aquisição de bens de luxo, a população da amostra privilegia o

canal online (43 dos inquiridos), no entanto logo seguida por 38 escolhas pelo canal presencial, num

universo de 81 inquiridos. O que daqui se pode inferir automaticamente é que não existe uma preferência

demarcada por um dos canais, ou que a amostra utilizada é pouco representativa do universo que se

pretendia estudar.

Page 37: Venda de artigos de luxo pela Internet

35

No que diz respeito às hipóteses formuladas em concreto (e mais uma vez apenas

baseado na população da amostra obtida), poderá perceber-se que, dependendo do tipo de produto a

adquirir, o comportamento do consumidor varia no que diz respeito ao canal utilizado (H1) – os

consumidores optam pela compra online quando em presença de produtos/serviços ligados à Tecnologia e

ao Vestuário, enquanto quando o que está em causa é a aquisição de carros ou jóias, a adesão a este

canal é claramente baixa.

Relativamente à H2, pode, com base na amostra, concluir-se que a procura de produtos de luxo no

canal internet é já uma realidade, todavia sem se poder afirmar se esta é uma tendência que se afirma

significativa, fazendo já parte dos hábitos de consumo dos consumidores.

Os resultados deste estudo estão condicionados pelas características da amostra que, pelo facto de

não poder ser considerada representativa (baixa taxa de respostas e de baixa qualidade), não permite

extrapolar as conclusões obtidas para o universo populacional.

Os dados recolhidos no inquérito são de fraca qualidade e tal pode ser constatado quando se

relaciona a informação com o nível de rendimentos - 80% dos rendimentos mensais dos inquiridos estão

compreendidos entre 500€ e 1200€, e os indivíduos com menores rendimentos constituem um dos

maiores grupos de consumidores de produtos de luxo, em simultâneo com níveis onde a de compra online

é muito baixa e realizada por jovens.

Existem mesmo casos em que existem consumidores de produtos de luxo numa periodicidade

semanal ou mensal e a auferir rendimento na ordem dos 500€ (ou nesse intervalo).

Por outro lado, como os dados estão centrados num grupo principalmente de jovens, indicam que os

produtos de luxo estão mais ligados ao "estilo" do que à "exclusividade", o que não corresponde a outros

estudos efetuados sobre esta matéria.

Todavia, algumas ilações são consentâneas com os dados de outras fontes, nomeadamente que os

mais jovens são mais propensos às compras online, que a notoriedade da marca é importante, etc.

Os resultados obtidos neste estudo não confirmam os resultados já obtidos em vários outros estudos

já realizados, quer a nível nacional quer internacional (por consultoras de renome internacional) que

afirmam que a tendência pela opção do canal online para aquisição de produtos de luxo é actualmente

uma realidade crescente.

Page 38: Venda de artigos de luxo pela Internet

36

8. Capítulo 6 - Limitações e Investigação Futura

O desenvolvimento do presente artigo teve como sua orientação a validação, tal como foi

desenvolvido pelas consultoras e outras empresas cujos artigos foram apresentados e analisados, de que

o canal de vendas online se apresenta como uma realidade para os produtos de luxo, particularmente no

mercado português, assim como avaliar os atributos que contribuem para o comportamento entre este

canal e canais tradicionais.

Não foi, no entanto, possível verificar, de forma cabal, aferir que as hipóteses levantadas se

verificavam.

Em larga medida esta questão remete-nos para a qualidade e dimensão da amostra.

Entre os diferentes fatores que a condicionaram temos a sua dimensão, a distribuição dos inquéritos

pelos diferentes segmentos etários, assim como a representatividade no que se refere aos rendimentos

mensais. Em suma, os fatores sociodemográficos.

Para além de alguns destes fatores, também a qualidade das respostas produziu um efeito de

enviesamento da amostra (dada a sua dimensão a dispersão das ocorrências não foi atenuada)

demonstrando que a sua representatividade poderia estar comprometida.

Igualmente, e como demonstrado na Revisão Teórica, e apesar de haver muita literatura sobre o

assunto, falta-lhe a credibilidade necessária para consubstanciar os aspetos que se pretende comprovar,

bem como não é possível encontrar muita literatura objetiva e com validade científica no que se refere ao

mercado nacional.

Particularmente com referencial relativamente a artigos de luxo, apesar de surgir alguma informação

relativamente a alguns bens de elevado envolvimento na compra, particularmente ao nível financeiro,

como seja o mercado automóvel ou imobiliário.

Sendo a maior limitação encontrada a associada à dimensão e qualidade da amostra (o que

solucionado permitiria produzir o conhecimento que foi difícil obter enquanto referencial), a investigação

futura deverá, certamente, tomar em consideração a necessidade de alargar, de forma substancial, a

amostra; assim como procurar, seja através de plataformas alternativas para a recolha de informação ou

os canais utilizados para divulgar e solicitar as respostas com o preenchimento do inquérito ou outras

soluções, de forma a alargar o espectro do público respondente, nas diferentes variáveis

sociodemográficas.

Desta forma será possível obter uma representatividade mais nivelada em termos de respostas

orientadas para a obtenção de informações relacionadas com o objeto do estudo.

De qualquer modo, no que se refere à informação recolhida e ao mercado em que se encontrou,

aliado ao facto de estar associada a uma forma de comércio de evolução rápida e com um dinamismo de

extrema importância em termos de presença e abrangência foi-nos dado a perceber a relevância para o

mercado empresarial de hoje, o que pode ser representado pela empresa Farfetch que atua precisamente

nestas duas áreas - produtos de luxo (soft luxury) através de uma plataforma online de dimensão global.

Page 39: Venda de artigos de luxo pela Internet

37

Uma sugestão em termos de melhoria a perseguir (em trabalhos/artigos sobre este mesmo tema)

poderia ser a preocupação de recolha de informação sobre o consumo online (como por exemplo, número

de vezes que o consumidor comprou, quais os gastos totais em canal de distribuição, quais os gastos por

cada compra) com a elaboração de um questionário que fornecesse respostas mais precisas, em maior

quantidade e onde se consiga desenhar um histórico de compras por cada entrevistado.

Como sugestão para novos estudos, alinhados com esta temática, podem ainda ser sugeridos:

Verificação do impacto da politica de comunicação que o site detém ( e transmite) no

comportamento de compra do consumidor;

Comparações entre o impacto que o fenómeno Internet provoca em Portugal e na Europa;

Perceber se a Inovação tem influência direta no incremento de interesse pelos canais online;

Page 40: Venda de artigos de luxo pela Internet

38

9. Capítulo 7 - Implicações para a Gestão Empresarial

No que se refere às implicações para a Gestão Empresarial do presente estudo, tanto pelas

questões e ilações que é possível retirar e foram já referidas na Revisão Teórica, como nas conclusões

retiradas pela análise dos dados recolhidos no inquérito realizado, foi possível demonstrar que o canal

online se demonstra cada vez mais relevante enquanto forma de comunicação e de apresentação dos

produtos e serviços.

Esta presença e forma de contacto demonstram-se tanto mais relevantes quando os públicos-alvo se

apresentam mais jovens (um comportamento expectável quando as novas tecnologias são mais

permeáveis e de maior adoção por este segmento), bem como junto de segmentos como o feminino

quando se trata de produtos relacionados com moda, ou os relacionados com a tecnologia no caso do

segmento masculino.

Toda a relevância desta questão se enquadra na questão do aumento da influência ds soluções

digitais junto dos diferentes públicos.

De tal forma que a experiência de compra obtida nesses canais proporciona a informação que os

utilizadores pesquisam, fazendo cada vez mais parte do processo de decisão de compra.

Nas gerações mais jovens assume-se cada vez mais como a forma de referenciação de marcas e

produtos, sendo mais bem recebida como forma de promoção, venha esta por parte de outros clientes e

utilizadores das soluções digitais como por parte de prescritores e influenciadores (bloggers, opinion

makers, etc.) do que pela promoção e comunicação realizada pelas próprias marcas.

Apesar de a amostra considerada não permitir uma resposta cabal no que se refere às preferências

do canal de vendas, foi possível estabelecer que, no que se refere aos produtos de luxo, existe uma

utilização mista dos canais (físico e digital) traduzindo uma utilização que se propõe de informativa e de

compra.

Não obstante, existe já um comportamento de aquisição online de determinados grupos de produtos

indiciando uma mutação dos comportamentos de compra em direção ao digital, canal aliás como foi

possível observar os consumidores consideram, cada vez mais, seguro e com vantagens no que se refere

à comodidade, rapidez e facilidade de utilização.

Sendo um tipo de compra que se encontra associado a um maior envolvimento, como já foi referido,

apresentando nesta perspetiva um preço premium, a sua adoção depende diretamente do rendimento

disponível do consumidor, como foi determinado.

Esta vertente obriga necessariamente a relacionar o desenvolvimento deste ponto de contacto

considerando as especificidades do estilo de vida e status sócio-económico, matéria no entanto que não

foi abordada no presente artigo, mas que deverá merecer análise por parte dos atores do mercado.

Face às questões expostas, os intervenientes da indústria, dos produtos de luxo em particular,

deverão considerar como preponderante afirmar a sua presença neste canal, considerando as mutações

Page 41: Venda de artigos de luxo pela Internet

39

do comportamento dos consumidores, assim como as suas especificidades, sempre de acordo

com os produtos que pretendem introduzir.

A relevância deste canal de vendas, a sua rápida evolução e, principalmente, a adoção por parte dos

públicos-alvo, não permitem hoje eludir a necessidade de estar presente neste espaço.

Como referido nos relatórios da McKinsey, o crescimento de vendas previsível para esta canal,

refletem a sua importância para as empresas. Igualmente a importância atribuída em termos de

exportações e transações fora do mercado nacional e europeu demonstram um novo espaço de venda

que pode contribuir para gerar uma alavancagem e melhorar as economias de escala no que se refere à

produção e venda.

Naturalmente que a adoção deste canal de vendas como fazendo parte das opções por parte do

cliente para adquirir os produtos requer que haja a atenção a alguns detalhes que podem determinantes

para o seu sucesso. Pode citar-se, por exemplo, a questão da segurança do site no que diz respeito a

pagamentos e a perceção que o consumidor tem deste facto : quanto maior for a segurança nas

transações percebida, maior será o número potencial de vezes que tenderá a comprar, maior o potencial

de gastos totais, logo maior a probabilidade de comprar mercadorias pela Internet.

Tal como podemos observar através dos dados recolhidos, os consumidores cada vez mais

relacionam este espaço de compra com segurança, comodidade e rapidez. Por isso estes fatores

associados ao e-commerce, entre outros, devem ser assegurados e avaliados no desenvolvimento da

solução.

A sua falha pode significar na perda de um potencial cliente em todos os canais, para além de que

essa experiência de compra poderá ser propagada fácil e rapidamente por outros potenciais clientes

através do canal digital em locais como fóruns, redes sociais e blogs.

Como é facilmente percetível, os dados e as conclusões possíveis neste artigo apresentam um largo

conjunto de implicações para a gestão de empresas e marcas neste mercado, mas o que também pode

ser replicado sob a forma de benchmarking para outros.

Deve portanto ser considerada como relevante a parca informação resultante, e como forma de

expandir o sucesso das marcas, o seu alcance e mesmo a sua expansão geográfica.

Page 42: Venda de artigos de luxo pela Internet

40

10. Agradecimentos

Ao terminar este trabalho, não poderia deixar de agradecer às pessoas que mais decisivamente

contribuíram para a sua realização.

Ao Professor Dr. João Paulo Peixoto, pela orientação, críticas e sugestões que contribuíram

decisivamente para o enriquecimento do trabalho.

Ao Staff do IESF, pela disponibilidade e apoio em tudo que foi sendo preciso e solicitado.

À minha família, pelo tempo que não lhe dediquei com o desenvolvimento deste projeto que

contribuirá, estou certa, para a minha valorização pessoal e profissional.

A todos os meus colegas de curso que de uma forma ou outra, fizeram com que este período da

minha vida fosse Especial.

Page 43: Venda de artigos de luxo pela Internet

41

11. Referências

http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnANPAD/enanpad_1999/MKT/1999_MKT12.pdf

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interessa/

http://www.convibra.org/upload/paper/2014/37/2014_37_10318.pdf

http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/a_sociedade_em_rede_-

_do_conhecimento_a_acao_politica.pdf

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Page 44: Venda de artigos de luxo pela Internet

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Page 45: Venda de artigos de luxo pela Internet

43

12. Anexos

1) Inquérito

2) Análise Idade-Género

3) Análise Histórico Consumo de Luxo

4) Análise de Frequência de Compra Online

5) Análise da Distribuição de Rendimento

6) Análise da Idade

7) Análise de Género

8) Análise Consumo-Idade-Género

9) Análise Canais Compra Luxo

10) Frequência compra luxo-online-género

11) Canais usados vrs Rendimentos

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1) O Inquérito

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2) Análise Idade-Género

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47

3) Análise Histórico Consumo de Luxo

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4) Análise de Frequência de Compra Online

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49

5) Análise da Distribuição de Rendimento

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50

6) Análise da Idade

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7) Análise de Género

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8) Análise Consumo-Idade-Género

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9) Análise Canais Compra Luxo

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10) Frequência compra luxo-online-género

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11) Canais usados vrs Rendimentos

Page 58: Venda de artigos de luxo pela Internet

56

Apêndice 1 – Resumo Executivo

“A partir de um conceito pela primeira vez descrito em 1962, a Internet, depois de uma longa história

de desenvolvimento entre as comunidades académica e militar, aparece, por volta de 1993, para a

população em geral.”4 Desde essa altura, a sua importância tornou-se cada vez mais crescente,

impactando com relevo para os profissionais dos mais diversos ramos de atividade, nomeadamente, em

poucos anos a forma de comunicação via e-mail já se tornou prática corrente.

Os impactos da Internet são sentidos em toda a cadeia de valor da distribuição. Atente-se, por

exemplo, no caso eBay, que se baseia na transmissão de conteúdos e informações pela rede usada, ou

ainda em organizações do tipo “intermediários híbridos”, de cujo exemplo, nesta categoria, se pode citar a

“Amazon”.

Desta fazem parte um número elevado de “vendedores” online e que têm como o seu canal de

venda a Internet, e, por último, os chamados “intermediários logísticos”, com capacidade para fazer chegar

entregas a nível do espaço mundial, como é o caso da Federal Expresss.

Contudo ainda há muito por explicar e pesquisar sobre esta temática. Tanto no meio académico

como no empresarial existem muitas interrogações para as quais se procuram respostas. Um dos

fenómenos que suscita grande “curiosidade” prende-se com as taxas de conversão entre visitantes de um

site e o número de compradores efectivo.

Este tipo de situação é indicador da necessidade da melhor e mais vasta compreensão sobre o

comportamento do consumidor digital e evidenciam, reforçando, a necessidade de uma visão integradora

entre Marketing ea as Tecnologia da Informação, particularmente junto daqueles a quem compete o

desenvolvimento dos web sites.

Todos os dados relativos a comportamentos de compra online são necessários para auxiliar e

conduzir as empresas nas suas estratégias para o design dos sites, política de comunicação online, de

distribuição, estratégias de segmentação de mercado, variedade de produtos e stocks. Desta forma, uma

maior compreensão acerca das motivações do comportamento de compra online, bem como dos hábitos

de compra do público desta forma de distribuição, é fulcral para suportar as decisões empresariais no que

diz respeito a este ramo do saber.

Percebe-se com facilidade que o século XXI, no que diz respeito aos mercados e ao Marketing se

irão pautar por princípios completamente diferentes dos até então. A Sociedade da Informação - sucessora

da Sociedade Industrial – vai entrar em todos os aspectos do quotidiano e modificá-los. A revolução digital

mudou de maneira fundamental aos conceitos de espaço e de tempo.

Entre as empresas convencionais que comercializam os denominados produtos de luxo, e ainda

durante algum tempo depois do fenómeno da Internet ser reconhecido como canal de venda, a prática

corrente do entendimento deste tipo de empresas em relação à sua participação ativa nos canais de e-

4 Leiner et all., 1997

Page 59: Venda de artigos de luxo pela Internet

57

commerce, era a de que, quando muito, poderia ser interessante para a distribuição de produtos

enquadrados numa gama de baixa/média baixa qualidade.

A perceção generalizada entre esse tipo de empresas assentava na ideia de que o seu segmento de

clientes-alvo – os compradores de luxo - com o seu gosto bem discriminador e de preferência por bens de

preço elevado, não iriam adquirir este tipo de produtos caros via online, na medida em que eles optariam

sempre por um atendimento personalizado, á medida, ao cliente e pela experiência de compra onde

o sentido táctil também é um fator importante no momento da compra.

Esta linha de pensamento tem sofrido evoluções ao longo dos últimos anos. O sucesso de

empreendimentos como “Net-a-Porter” e da “Farfetch” têm demonstrado que os consumidores de produtos

de luxo e associados a preços elevados estão dispostos a aderir a este novo canal de comercialização.

Uma correta estratégia digital é essencial para o sucesso deste tipo de empresas no mercado online,

e têm que incorporar elementos diferenciadores claros entre elas, todavia, se se observar quais os

elementos essenciais de suporte à estratégia digital, percebe-se que os seus elementos são os mesmos:

forte presença móvel, abordagem selectiva dos media e um enfoque rigoroso no que diz respeito às

margens que têm que ser cuidadosamente estudadas e escolhidas.

Recentemente, uma pesquisa sobre o luxo na indústria, realizado em colaboração com a indústria

italiana (grupo Fundação Altagama), indica que as empresas de produtos de luxo estão a reconhecer e,

em vários casos, capitalizando com sucesso, o papel cada vez mais importante que a Internet tem no

alargamento do seu mercado (em quantidade e valor). 5

Neste contexto, o presente artigo tem por objetivo analisar a relevância do comércio eletrónico

quando desenvolvido no âmbito dos produtos de luxo.

Com a análise realizada procurou-se compreender, igualmente, quais os factos influenciadores e os

atributos associados e que serão determinantes na adopção e utilização do espaço de e-commerce em

produtos que são caracterizados pelo seu elevado envolvimento no processo de compra e pela

experiência de compra, cada vez mais relevante.

Para avaliar a questão levantada foi realizado inquérito online com o objetivo de recolher dados que

aferissem ou inferissem as questões levantadas nas hipóteses colocadas em apreço.

O tratamento estatístico e a análise da informação resultantes permitiram retirar conclusões no que

se refere à interação do cliente português com o canal online versus canal tradicional em primeiro lugar, e

em segunda análise as questões relacionadas com os produtos de luxo também neste canal.

5 Digital Luxury Experience 2013- A pesquisa para este relatório abrangeu mais de 300 marcas de luxo e de "luxo acessível" nas

seguintes 12 categorias: vestuário de moda e acessórios, jóias, comida e bebidas, mobiliário e design, relógios, cosméticos e fragrâncias, automotivo, de hospitalidade, vinho e bebidas espirituosas, iates, porcelana fina, e outros (incluindo obras de arte e eletrónica).

Page 60: Venda de artigos de luxo pela Internet

58

No que se refere às questões levantadas, procurou-se determinar se o comportamento do

consumidor se alterava de acordo com o canal de compra utilizado e se haveria uma atividade efetiva,

quer pela procura como pela aquisição de produtos de luxo, através do e-commerce.

Foi possível realizar o cruzamento e validação de dados no intuito de estabelecer correlações e

verificar a significância da informação recolhida face às questões que se procurava responder.

Assim, confirmou-se a adoção por parte dos consumidores de um comportamento, face ao canal e-

commerce, que varia de acordo com os produtos em avaliação.

Igualmente foi obtida uma reação, com base na amostra inquirida, no que se refere à aquisição de

produtos de luxo através de canais de venda online.

No entanto, os principais benefícios e ilações a serem retiradas advém dos conhecimentos gerados

em termos de desenvolvimentos futuros e implicações para a gestão deste tipo de canais, particularmente

para os produtos em consideração, com um elevado envolvimento, isto porque apesar de não ser possível

aferir as questões levantadas de forma cabal, a informação recolhida e analisada demonstra a sua

relevância e a necessidade de desenvolver futuras investigações e a adoção de uma nova perspetiva

relativamente a novos canais, particularmente pelas marcas que se encontram a atuar neste segmento de

produtos.

Palavras-chave: E-commerce, produtos de luxo, canais de venda, comércio online, consumidor,

comportamento, internet.

Page 61: Venda de artigos de luxo pela Internet

59

Apêndice 2 – Revisão da Literatura

Num mundo e num mercado cada vez mais global e interdependente, compreender a forma como

está a evoluir a forma como o consumidor olha para o ‘digital’ e, nessa sequência, perceber quais as

melhores estratégias que as marcas deverão adotar para maximar o seu negócio, serão seguramente, a

chave para o sucesso futuro.

O presente artigo procura perceber melhor o comportamento e perfil do consumidor face à compra

de artigos através da Internet, especificamente no que diz respeito a produtos de luxo, refletindo-se estes

nas opções de e-commerce para as empresas/marcas de luxo, especificamente na escolha dos seus

canais de distribuição.

Neste Apêndice (2) vai elaborar-se uma sistematização do conhecimento sobre este assunto,

revendo o referencial teórico concetual relativamente a estes tópicos, que sejam relevantes para esta

investigação e para as questões a que se pretende responder.

Optou-se, nesta abordagem à organização e sistematização do conhecimento deste tipo de assunto,

por dividi-la em três grandes partes: a primeira foca-se na revisão das principais referências teóricas

relativamente ao comportamento do consumidor e fatores de motivação, a segunda reflete sobre a

definição do conceito de luxo, princípios para a motivação ao seu consumo e tendências futuras, e na

terceira é avaliado o impacto do avanço da tecnologia, nomeadamente com o aparecimento da Internet,

sobre os canais de distribuição e todas as suas novas e potenciais possibilidades (vendas e comércio

eletrónico), com impacto real nas empresas e nos consumidores, para além das vantagens e

desvantagens do comércio eletrónico para o mercado de luxo.

As leituras efetuadas sobre estas matérias deixam perceber que o comportamento de compras

online tem vindo a ser explicado pelo ‘saber científico’ por 3 grandes grupos de variáveis: comportamento

e perfil do consumidor, tipo de uso que este faz da internet e a sua própria atitude/postura em relação a

este canal de comunicação e distribuição.

1. Comportamento de compra do consumidor

“ O Comportamento do Consumidor é uma área de investigação com forte base nas ciências sociais,

e que posteriormente foi alargada ao domínio económico (especialmente marketing). Primeiro de tudo,

devemos assumir que estamos sempre a consumir algo: pode ser tempo, oxigénio, comida,

entretenimento, prazer … praticamente qualquer coisa, mesmo que por vezes não pareça óbvio.

Claro que também há uma questão de perspetiva: se o leitor estiver a apreciar o mar, pode jurar que não

Page 62: Venda de artigos de luxo pela Internet

60

está a consumir nada; por outro lado, se o leitor foi de férias para terras distantes e estiver a contemplar o

mar, essa contemplação já foi paga no pacote de férias – o mar está incluído.”6

A teoria económica do comportamento do consumidor pressupõe que toda compra envolve uma

escolha, efetuada em função da busca de maximização de sua utilidade (o comportamento do consumidor

engloba muito mais do que a simples compra de produtos/serviços).

De acordo com essa perceção de utilidade, o consumidor distribui seus gastos de modo a obter dos

seus recursos (limitados), o maior retorno possível, i.é, distribui os seus recursos em face da sua restrição

orçamental (rendimento), conjugando-a com a sua perceção de utilidade para cada bem bem/serviço.

Aquilo que se retira da compra não equivale ao valor do objeto e sim à sua utilidade para o comprador.

Assim, o comportamento do consumidor espelha a forma como este toma as suas decisões no que

diz respeito à compra/aquisição, consumo, venda de bens, serviços, atividades, experiências, pessoas, e

ideias. 7

O comportamento do consumidor corresponde aos procedimentos envolvidos quando indivíduos ou

grupos seleccionam, compram, usam ou rejeitam produtos, serviços, ideias ou experiências de modo a

satisfazer necessidades ou desejos. O comportamento de compra consiste num processo de escolha de

um determinado produto ou serviço, por parte do consumidor, sendo este condicionado por determinado

grupo de variáveis.

A etapa fundamental num qualquer processo de compra de um produto/serviço, consiste no

momento do ato propriamente dito da compra, sendo este o ‘verdadeiro momento da verdade’.8

Uma vez que existe um número considerável de atos de compra por impulso, é fulcral para as

empresas, perceber os mecanismos que estão por trás do processo de compra do consumidor, por forma

a conseguirem transmitir valor e responder às expetativas e necessidades dos consumidores.

A teoria do comportamento do consumidor, aliada ao estudo do marketing, assumiu importância ao

nível da pesquisa do conhecimento somente nos meados do século XX (por volta de 1950), quando se

começaram a verificar reduções do nível populacional, concretamente em países que detinham um maior

poder de consumo, facto este que, associado aos índices crescentes de industrialização do pós-guerra,

tornou a procura maior que a oferta. Emergiu uma nova realidade nos mercados, com o aumento da

concorrência entre as empresas, alterando a relação de força entre empresas/consumidores: estes viram a

sua posição reforçada face ao mercado, e consequentemente as áreas ligadas ao Marketing

adquirem importância renovada.

De todas as áreas de uma empresa - finanças, produção, administração geral, recursos humanos e

marketing – é o marketing aquele que está mais orientado ao cliente, logo para o mercado e, no contexto

6 http://consumerbehaviorportugal.com/2011/04/. 7 Hoyer & Mancinnis, “Consumer Behavior”, Fifth Edition, South Western Cengage Learning (2008) 8 http://hermanomota.com.br/2012/05/24/comportamento-do-consumidor-uma-revisao/

Page 63: Venda de artigos de luxo pela Internet

61

cada vez mais atual de contínua mudança em ambientes fortemente competitivos, é o seu papel

aquele que mais sobressai, sendo da sua responsabilidade a supervisão do mercado (clientes e

concorrência).

A partir do momento em que os consumidores assumem uma posição mais forte no seu

relacionamento com as empresas (maior variedade, maior facilidade, mais informação, mais canais de

distribuição), as empresas percebem que só se optarem por estratégias de orientação ao mercado e ao

consumidor é que podem ter efetivas possibilidades de sucesso. Torna-se, assim imperativo entender-se

os fatores determinantes do comportamento do consumidor, levando a que estas áreas de estudo fossem

integradas nas áreas de pesquisa/estudo do Marketing.

Desde as primeiras teorias formais de comportamento do consumidor, elaboradas por economistas

que tinham uma visão do consumidor racional (utilidade/restrição orçamental), e por psicanalíticos, como

Freud, que associaram atributos simbólicos ao consumo, diversas outras disciplinas também contribuíram

para o desenvolvimento de teorias nessa área de estudo. A Microeconomia considerou que os

consumidores procuravam maximizar utilidade ou satisfação em relação ao consumo dos produtos, face a

uma determinada restrição orçamental; a Psicologia, cumulativamente às teorias motivacionais, trouxe

para este campo de estudo o estudo da personalidade dos indivíduos, em ordem à determinação de perfis

de consumidores; a Sociologia contribuiu, também, chamando a atenção para a capacidade de influência

dos grupos, principalmente a família, e das subculturas nas atitudes e comportamentos das pessoas;

também a Antropologia alargou as formas de se equacionar o comportamento humano ao considerar a

cultura e as características macros das sociedades como elementos condicionadores de padrões e regras

de comportamento. 9

Solomon em 2002 10 elabora uma Pirâmide de Comportamento do Consumidor, na qual esboça um

resumo dessas contribuições (Fig. 1).

Este autor reforça que o estudo do comportamento do consumidor é extremamente amplo e pode ser

de interesse de diversas disciplinas, considerando desde uma perspectiva de estudo micro até macro.

As áreas de estudo listadas na pirâmide podem ser caracterizadas pelo foco que dão ao

comportamento do consumidor: no topo da pirâmide foram listadas aquelas mais focadas no indivíduo e as

suas características e preferências (questões com foco micro), enquanto à medida que se aproxima da

base da pirâmide, os interesses de estudo ampliam-se, focando atividades que ocorrerão entre grupos de

pessoas cada vez mais numerosos, até, por exemplo, padrões de consumo comuns em membros de uma

mesma cultura ou raça (questões com foco macro).

9 Robertson, Zielinsky, Ward in “Consumer Behavior”, Journal of Advertising, Volume 14, Issue 2, (1984) 10 Solomon, Michael R., in “O Comportamento do Consumidor: comprando, possuindo e sendo” (2002)

Page 64: Venda de artigos de luxo pela Internet

62

Fig. 1 - Pirâmide do comportamento do consumidor.

Fonte: Solomon (2002)

Apesar das muitas contribuições, foi somente nos anos 60 que as teorias do comportamento do

consumidor se tornaram mais consistentes, considerando tanto as atitudes quanto o processamento de

informações realizados pelo consumidor, com o aparecimento também dos primeiros modelos de

comportamento do consumidor, que tinham como objetivo a organização do conhecimento que vinha a ser

discutido. Dada a dificuldade de validação estatística e a quantidade de variáveis envolvidas no processo,

os modelos tornaram-se boas referências para a compreensão do comportamento do consumidor.

Segundo Robertson et al. (1984), aceita-se que o comportamento do consumidor é um processo no qual

apenas probabilidades de comportamentos podem ser determinadas.11

Sheth, Gardner e Garret (1988) apontam que modelos amplos sobre comportamento do consumidor

foram primeiramente desenvolvidos por académicos como Howard (1963), Andreasen (1965), Nicosia

(1966) e Engel, Kollat e Blackwell (1968), sendo que esses últimos geraram o modelo atualmente mais

conhecido sobre processo de decisão de compra – na sua versão mais recente chamado de modelo de

Blackwell, Miniard e Engel (2005).12

11 Robertson et al. in “Consumer Behaviour”, New York :Scott, Foresmann and Company (1984),

12 Sheth, Gardner e Garret in “Marketing Theory: Evolution and Evaluation” 1st Edition, ISBN-13: 978-0471635277 ; ISBN-

10: 0471635278

Page 65: Venda de artigos de luxo pela Internet

63

2. Processo de decisão de compra O que se denomina de mecanismo de decisão de compra representa o conjunto de fases/momentos

que o consumidor atravessa até chegar à sua decisão de compra. Este processo que termina na efetiva

compra de um bem ou serviço, tem o seu início bem antes desse momento e não termina aí, continua

bastante depois. O processo referido pode ser descrito em cincos passos distintos, como ilustra a figura 2

(Kotler et al., 1996).

Fig. 2 - Processo de decisão de compra.

Fonte: Kotler et. Al, 199613

A primeira etapa do processo de decisão é a sensação de carência de algo, que leva à identificação

de uma necessidade - esta fase ocorre quando, por qualquer razão o consumidor não está satisfeito e

procura melhorar essa situação. Em seguida o consumidor vai procurar informação acerca de possíveis

soluções para ‘o seu problema’, nomeadamente o que pode fazer/adquirir para colmatar essa necessidade

ou carência. A forma de obtenção de informação relevante pode ter origens várias, como fontes internas

e/ou próximas, ou fontes de origem externa, como a Internet, comunicações da empresa ou conhecidos.14

Na fase da avaliação de alternativas possíveis, o consumidor efetua a comparação das diversas

alternativas e define quais os critérios base para a sua escolha.

13 Kotler et. Al in “ Principles of Marketing” , Prentice Hall, 1996

14 Hoyer & Mancinnis, “Consumer Behavior”, Fifth Edition, South Western Cengage Learning (2008)

Identificação da necessidade

Comportamento posterior à

compra

Decisão de compra

Procura de informação

Avaliação das alternativas

Page 66: Venda de artigos de luxo pela Internet

64

Após a análise, supostamente cuidada, das alternativas disponíveis, o consumidor toma finalmente a

decisão de compra/aquisição. Por último, depois de usar e experienciar o produto/serviço, o consumidor

apreende o seu nível de satisfação em relação ao mesmo, comparando as expectativas iniciais detidas e o

resultado efetivo sentido com a utilização do produto. É esta experiência, percorrida nas suas várias fases,

que determina se irá existir uma compra continuada ou não. 15

O modelo descrito no parágrafo anterior assenta no princípio do consumidor racional, que pensa

conscienciosamente. Todavia, importa referir que a maioria das decisões tomadas pelo consumidor não

tem por base uma análise reflexiva exaustiva, pois grande parte da informação processada é inconsciente

e resultante de processos cognitivos automáticos, aspeto referido por Mooiji em 2004. 16

Os consumidores nem sempre passam pelas cinco etapas descritas, por vezes podem saltar ou

alterar a ordem de algumas, dependendo do grau de envolvimento na compra. Frequentemente, quando

se trata da compra de produtos habituais, o consumidor passa directamente do reconhecimento da

necessidade para a decisão de compra, saltando a procura de informação e a avaliação das alternativas

(Kotler et al., 1996).17

Pode, pois, dizer-se que o papel do indivíduo no processo de compra acontece em várias

dimensões:

- processo pelo qual os indivíduos/consumidores constroem as suas percepções – modo como eles

organizam e seleccionam os estímulos produzidos pelo marketing, nomeadamente ao nível do preço e da

comunicação;

- processo de estruturação das suas atitudes face a uma determinada marca específica, o que se

torna determinante para o gestor perceber se a estratégia que está a ser seguida é a correcta;

- processo de definição das suas expetativas face aos benefícios que esperam retirar das suas

escolhas, definindo oportunidades para o aparecimento de novos produtos ou reposicionamento dos

existentes;

- as próprias características demográficas onde estão inseridos, estilos de vida e personalidade de

cada um são factores que afectam as escolhas dos indivíduos, na medida em que são importantes para o

agrupamento de consumidores com características semelhantes e posteriormente, para a respetiva

segmentação de mercados.

15 Solomon, Michael R., in “O Comportamento do Consumidor: comprando, possuindo e sendo” (2002) 16 Ritcher, Tobias, in International Marketing Mix Management: Theoretical Framework, Contingency Factors and Empirical

Findings from World-Markets, Logos Verlag Berlin GmbH, 2012 17 Kotler et. Al in “ Principles of Marketing” , Prentice Hall, 1996

Page 67: Venda de artigos de luxo pela Internet

65

2.2.1 Motivação

Tauber (1972)18 foi um dos autores que se debruçou sobre as causas que levam as pessoas a

comprar e concluiu que estas não pretendem apenas adquirir os produtos de per si; essa é só uma parte

reduzida de entre complexos motivos pessoais e sociais para ir às compras (Quadro 1).

Entre os motivos pessoais podem-se referir: representar o papel de comprador, fuga da rotina, auto

gratificação, aprender sobre novas tendências, atividade física e estímulo sensorial. Entre os motivos

sociais são considerados a experiência social fora de casa, comunicação com pessoas de interesses

similares, atração por grupo de semelhantes, status social e autoridade.

Quadro 1. Motivos pelos quais as pessoas compram

Motivos pessoais Motivos sociais

Papel exercido

Fuga da rotina

Auto gratificação

Conhecimento sobre novas

tendências

Atividade física

Estímulo sensorial

Experiência social fora de casa

Conversas com pessoas de

interesses similares

Atração por grupos semelhantes

Status social

Autoridade

Fonte: adaptado de Tauber (1972)

Serralvo em 200919, por sua vez, defende um modelo de comportamento do consumidor em que o

enfase é colocado na motivação, e não no processo de decisão de compra. Segundo este autor,

motivação é um termo derivado do verbo em latim ‘movere’ que significa “mover-se”, assim, motivação é

um estado de despertar do organismo que leva as pessoas a determinados comportamentos, compostos

por dois elementos: energia e direção. Energia no sentido que é necessário uma manifestação interna

para o motivo se concretizar e, direção é o caminho para o qual a energia foi canalizada no intuito de

alcançar um comportamento desejado.

Schiffman e Kanuk (2000) apresentam um modelo do processo motivacional (Fig. 3) em que a força

motriz do consumidor será em busca de um comportamento que reduza a tensão gerada por

necessidades e desejos não-satisfeitos. “Os indivíduos esforçam-se – tanto consciente quanto

18 Tauber, E.M., in ‘Why do people shop?’, Journal of Marketing, 1972.

19 Serralvo, C., in “Comunicação Empresarial”, Iesde Brasil SA, 2009

Page 68: Venda de artigos de luxo pela Internet

66

inconscientemente – para reduzir essa tensão através do comportamento que eles esperam que vá

satisfazer as suas necessidades e, portanto, aliviá-los do stress que sentem.” Os autores consideram

ainda que a intensidade, direção e padrão de comportamentos escolhidos pelo consumidor em busca dos

seus objetivos serão influenciados pelos processos de pensamento (cognição) e aprendizagem

individual.20

Fig. 3 - Modelo do processo de motivação

Fonte: Schiffman e Kanuk (2000)

2.2.2 Necessidades e desejos

Nem sempre se verifica a precaução de se diferenciar necessidades de desejos. Numa dissertação

em que o tema fulcral é a decisão de compra de produtos de luxo, este tema – o luxo - o debate à volta

deste conceito e do que tem diretamente a ver com este, tem necessariamente que ser objeto de uma

atenção redobrada.

Em 1994, um autor (Berry) avança com a consideração de que as “necessidades são como algo

objectivo, universal, que é sabido por todos, enquanto os desejos são intencionais, individuais e muito

mais complicados de serem questionados”. Este autor defende ainda que o conceito de ‘desejo’ implica

um estado activo relacionado com a procura por prazer, enquanto o conceito de ‘necessidade’ reflete um

passivo e será, eventualmente, satisfeita.

Os desejos estão associados a conotações mentais, positivas se quando são procurados existe uma

opinião prévia de que a sua satisfação tornar-se-á em algo de bom), negativas quando associados à ideia

de que (apenas) servem para reduzir algo incómodo.

20 Schiffman, Leon G., Kanuk, Leslie L. in “Comportamento do consumidor”, LTC, 2000

Aprendizagem

Necessidades e

desejos não

satisfeitos

Tensão Força

Comportamento Objectivo ou

satisfação de

necessidade

Processo

cognitivo

Redução da

tensão

Page 69: Venda de artigos de luxo pela Internet

67

São os desejos negativos que suprem as necessidades básicas, já os desejos positivos

estariam acima das necessidades, enriquecendo-as, tornando-as mais elaboradas: “as necessidades são

objectivas e possuem um limite, enquanto os desejos são subjetivos e ilimitados”. 21

Para a autora Danielle Allérès, a fronteira entre o campo das necessidades e dos desejos é instável,

em que as necessidades se enquadram no campo do real e os desejos, ao campo do imaginário, do

simbólico. As necessidades precedem os desejos, mas, ao mesmo tempo, as necessidades não podem

existir sem os desejos, uma vez que se a necessidade é uma carência, o desejo é a expressão de tal falta.

“O desejo é, certamente, mais profundo que a necessidade, mas não é de modo algum, mais essencial”

(Allérés, 2000). Segundo esta autora, a necessidade segue a lógica da satisfação, enquanto o desejo

segue a lógica da falta, da carência, da constante insatisfação.

Mas apesar de todas as diferenças nos conceitos, não está claro a fronteira entre um e outro, onde

terminam as necessidades e se iniciam os desejos.

Para este estudo em particular, todavia, não importa a distinção entre necessidade e desejo, mas

sim a clara percepção de que ambos – desejo e necessidade – são as armas que disparam o processo

motivacional. Conforme reforça a mesma autora (Allérès) e na mesma obra, “necessidade e desejo são

duas entidades necessárias à passagem para o acto de consumo”.22 As necessidades podem ser

absolutas (ou elementares), correspondentes à sobrevivência da vida humana, ou relativas, que seriam

aquelas relacionadas ao bem-estar, dependentes do contexto e plano cultural dos consumidores. As

necessidades absolutas são invariáveis, incontroláveis, repetitivas e vitais; as relativas são mais instáveis,

mais subjetivas e mais irracionais. Para esta autora é possível pensar-se numa hierarquia das

necessidades por uma escala de prioridades que vai das necessidades indispensáveis até as mais

dispensáveis, ou supérfluas.

Podem enumerar-se cinco as categorias básicas de necessidades para a vida humana: ‘alimentação,

vestuário, abrigo, lazer e transporte’. Já os desejos, defende, são acções intencionais que especificam as

necessidades.

Outro autor que se pronunciou, também, sobre esta temática foi Maslow em 1943 e que defende

uma lógica semelhante com a sua hierarquia das necessidades. Esta teoria, que vem da Psicologia, é

bastante usada e é a mais reconhecida na área do Marketing (Fig. 4) para sugerir explicações sobre a

motivação humana.

Segundo este autor (psicólogo),23 as pessoas são motivadas pelo desejo de adquirir ou manter as

condições necessárias para que a satisfação de necessidades, tanto básicas quanto as mais intelectuais,

21 Berry, C. J., in “The Idea of Luxury: A Conceptual and Historical Investigation”, Cambridge University Press, 1994

22 Allérès, D., in “Luxo... Estrategias Marketing”, FGV Editora, 2000

23 Maslow, in “ A Theory of human motivation”, Psychological Review, 1943 Fonte: “The Science and Art of Branding”, Franzen,Moriarty, (2008)23

Page 70: Venda de artigos de luxo pela Internet

68

possam ser alcançadas. Essas necessidades estão inter-relacionadas e organizadas numa hierarquia de

predomínio, das mais básicas às mais superiores, em que as dos níveis mais altos ficariam latentes até

que as de níveis mais baixos sejam satisfeitas. Essas necessidades, em ordem crescente, são:

1. Necessidades fisiológicas, como fome, sede;

2. Necessidades de segurança, proteção;

3. Necessidades sociais, sentimento de pertencimento, amor;

4. Necessidades de estima, como auto-estima, reconhecimento, status;

5. Necessidades de auto realização, como desenvolvimento intelectual,

Fig.4 - Hierarquia das Necessidades de Maslow

Maslow reconhece que nem todo comportamento é determinado por motivos, estes também podem

ser resultado de estímulos externos e internos. As necessidades, por sua vez, podem constar do foro do

consciente do individuo ou do foro do subconsciente, no entanto são universais e inerentes a todos os

seres humanos, sendo particulares apenas na forma de satisfazê-las, que será dependente de vários

fatores, como, por exemplo, da cultura onde se insere. O comportamento em prol da satisfação não

será direcionado unicamente por uma necessidade, mas pela combinação de duas, três ou até mesmo

todas as necessidades dos diversos níveis da pirâmide.

Maslow defende, ainda, que os níveis de satisfação são relativos, i.é, não é necessário a satisfação

integral de uma necessidade para que uma outra possa emergir, muito em particular se estas

necessidades forem de níveis diferentes. Pelo contrário, normalmente, à medida que uma necessidade é

parcialmente satisfeita, outra necessidade, pertencente a um nível superior emerge. Uma descrição mais

Page 71: Venda de artigos de luxo pela Internet

69

realista de uma hierarquia ocorre no sentido de que as necessidades superiores tendem a ser

percentualmente menos satisfeitas que as necessidades mais básicas. Uma outra ressalva deste autor

que importa mencionar consiste no facto de ele defender que a hierarquia dessas necessidades não é

necessariamente fixa, podem e existem exceções, como por exemplo, há pessoas para quem a auto-

estima é mais importante que o amor; pessoas que se deixam dominar por necessidades superiores,

privando-se de outra mais básica, ou pessoas com traumas psicológicos em que níveis a que poderão

aspirar nunca serão muito altos ou que não possuem desejo por amor e afeição.24

Especificamente na área de Marketing, pesquisadores dedicados a estudos do consumidor

propuseram as suas próprias classificações das necessidades.

Fennell, em 1978, num jornal da especialidade (Marketing)25 elencou os vários motivos de consumo

baseados em situações de uso. Este autor afirma que quando o foco de preocupação do marketing altera-

se do que o consumidor quer, para as condições que levam o consumidor a querer determinado produto,

nesse contexto, será possível entender as suas necessidades e encontrar situações de uso comuns para

todos os bens e serviços. De acordo com a autora, existem sete situações de uso:

1. Problema atual;

2. Antecipação ou evitar o problema;

3. Manutenção do status quo;

4. Interesse por diversão, novidades, adquirir informações e conhecimentos;

5. Interesse pelo prazer sensorial;

6. Situação de atração-evitação simultaneamente, que ocorre quando consumidor deseja adquirir o

produto, mas, ao mesmo tempo, quer evitar danos que aquele item pode trazer, por ex., tomar um remédio

que cura a doença, mas pode atacar o estômago;

7. Situação de satisfação-frustração, quando consumidor não se satisfaz com nenhuma opção atual

do mercado, normalmente escolhe a opção “menos pior”.

As cinco primeiras situações são geradoras de necessidades e motivam o consumidor em relação à

compra (procura da solução). Já as situações seis e sete referem-se a momentos em que o consumidor já

está à procura de soluções e depara-se com outra necessidade adicional, a de evitar algo que não quer ou

mesmo evitar uma situação de frustração.

24 Maslow, in “ A Theory of human motivation”, Psychological Review, 1943 25 Fennell, G ., in “Consumers' perceptions of the product-use situation”, Journal of Marketing, 1978

Page 72: Venda de artigos de luxo pela Internet

70

Sheth et al. (1988)26 procuram explicar porque as pessoas compram (ou não) produtos por meio de

cinco valores independentes, que podem influenciar o consumo de modo isolado ou combinado (Fig. 5).

Valor Epistémico Valor Emocional

Fig 5 - Os cinco valores (necessidades) que influenciam a decisão de compra

Fonte: adaptado de Sheth et al. (1988)

Cada valor pode ser entendido como cinco necessidades que geram o comportamento de escolha:

1. Necessidades funcionais: serão atendidas pelo desempenho funcional ou efeitos do

produto, por meio das suas características ou atributos. Por exemplo, a compra de um carro pode ser

influenciada pelo seu desempenho económico ou histórico de manutenção.

2. Necessidades sociais: serão atendidas por meio da associação positiva ou negativa a um

ou mais grupos específicos da sociedade, sejam esses demográficos, socioeconómicos ou culturais.

Consumo de roupas e presentes são normalmente relacionados ao atendimento desse tipo de

necessidade.

3. Necessidades emocionais: serão atendidas pela capacidade do bem ou serviço em

despertar, disseminar ou estar associado a estados afetivos ou sentimentais. Estes autores 27 acreditam

que bens e serviços normalmente despertam respostas emocionais, como o romance provocado por um

jantar a luz de velas, enquanto valores emocionais estão associados a causas, como defender uma

religião. Porém, eles também consideram que produtos mais tangíveis e utilitários também podem possuir

essa dimensão, como um perfume com um aroma que lembra a infância.

4. Necessidades epistémicas: serão atendidas quando o produto tem a capacidade de

despertar curiosidade, de trazer novidades e/ou de satisfazer o desejo por conhecimento. Experiências

totalmente novas certamente possuem valores epistémicos, no entanto, pequenas alterações também

26 Sheth et al, in “Marketing Theory – evolution and evaluation”, Jonh Wiley & Sons, 1988

27 Sheth et al, in “Marketing Theory – evolution and evaluation”, Jonh Wiley & Sons, 1988

Valor

Funcional

Valor

Situacional

Valor Social

Comportamento de compra do consumidor

Page 73: Venda de artigos de luxo pela Internet

71

podem estar imbuídas desse valor, como o consumidor estar entediado e resolver experimentar

uma nova marca de café; estar curioso e por isso querer aprender coisas novas e viajar para outro país.

5. Necessidades situacionais: serão atendidas pelo consumo de determinado bem ou serviço

em situações específicas, em que, graças a antecedentes físicos ou contingências sociais, esse produto

adquire ainda mais valor funcional ou social que não teriam fora desse contexto. Exemplos são produtos

sazonais, como cartões de natal; produtos que são usados uma única vez, como vestido de noiva ou ainda

em casos de emergência, por exemplo, o serviço de ambulância.

2.2.3 Luxo: supérfluo ou necessário?

Luxo é, de forma comum, associado a algo que vai além do necessário para a utilidade, a algo

supérfluo, desnecessário, ostentatório, um capricho – é essa uma das principais definições para a palavra

encontrada no dicionário Michaelis.28

“Luxo é simplesmente tudo o que não se mostra indispensável, o supérfluo”, diz Castaréde em 2005.

29

No entanto, após a análise/discussão anterior sobre necessidades e desejos, faz todo o sentido

equacionar a questão: será mesmo que luxo é algo supérfluo ou desnecessário?

Na visão de Berry (1994), 30 o luxo é supérfluo no sentido de que é substituível. Para este autor, luxo

é o refinamento de algo já existente, como por exemplo, um carro que atende a necessidade de

transporte. Conduzir um carro supre a necessidade, mas um carro de luxo adiciona prazeres sensoriais e

simbólicos:

“as pessoas compram o produto não só pelo que ele faz, mas também pelo que ele significa”. Eram

introduzidas as primeiras noções do caráter simbólico e dos significados sociais e psicológicos do

consumo. O objecto de luxo, para Allérès (2000)31, seria o mais representativo de toda esta complexidade

na medida em que conjuga, ao mesmo tempo, “os factores mais racionais da compra (como qualidade,

originalidade) e também os mais irracionais (procura de distinção, gosto pelos objectos de marca, pelos

códigos sociais.)” As marcas de luxo remetem mais ao campo simbólico e experiencial do que ao campo

funcional.

O crescimento do poder de compra e aumento da poupança, a maior participação da mulher na

sociedade do consumo e uma progressiva sofisticação da classe média, emerge um fenómeno que eles

denominaram “trading up” no qual os consumidores procuram não somente satisfazer as suas

28 http://michaelis.uol.com.br 29 Castaréde, in “ O Luxo”, Barcarolla São Paulo, 2005

30 Berry, C. J., in “The Idea of Luxury: A Conceptual and Historical Investigation”, Cambridge University Press, 1994 31 Allérès, D., in “Luxo... Estratégias Marketing”, FGV Editora, 2000

Page 74: Venda de artigos de luxo pela Internet

72

necessidades básicas, mas procuram cada vez mais recompensas simbólicas e emocionais no consumo.

Este é um fenómeno mundial, principalmente nos países em desenvolvimento.

Castarède (2005) afirma que, no luxo, não se compra um objeto, mas o símbolo com o qual ele se

identifica, e assim eleva-se do plano material para o mental. Nessa visão, o luxo seria sim indispensável

na medida em que atende necessidades psicológicas. Para Lipovetsky, um dos maiores efeitos da cultura

consumista da sociedade moderna é a relação dos indivíduos com aquilo que de facto é o necessário – os

produtos chamados populares ou de necessidade declinam em favor de um mercado de qualidade e

produtos especiais. Segundo este autor, os consumidores não desejam adquirir apenas o necessário, na

nossa sociedade, “o supérfluo” ganhou títulos de nobreza democrática [e] tornou-se uma aspiração de

massa legítima.” (Lipovetsky; Roux, 2005). 32

Essa ideia remete-nos à já referida hierarquia de Maslow e à lista dos cinco valores enunciados na

obra de Sheth et al. já referenciada apresentada anteriormente: o luxo torna-se uma necessidade humana

a partir do momento em que atende a necessidades superiores (como as sociais, de estima e auto

realização) ou preenche valores sociais, emocionais, situacionais ou epistémicos. Talvez Coco Chanel, de

um modo leigo, tivesse razão quando afirmou que “o luxo é uma necessidade, que começa quando acaba

a necessidade.”

2.2.4 O Mercado de luxo

Luxo pode significar muitas coisas, e possui definições diferentes para pessoas diferentes, ainda

mais quando se considera culturas e países distintos. Uma definição do conceito para o presente estudo

será feita no próximo tópico, mas, por enquanto, vale considerar que luxo normalmente está associado a

termos como exclusividade, sofisticação e qualidade, o que tornam produtos (bens ou serviços) mais caros

que a média de produtos similares.

O mercado de luxo, quando do surgimento da internet, tendeu a rejeitar esse canal como uma nova

opção de venda e relacionamento com o consumidor. No entanto, a dinâmica de mercado mostrou que

essa era uma estratégia que não fazia sentido: as vendas online de artigos de luxo só crescem e surgem

constantemente novos websites especializados em venda de produtos de luxo no país. Hoje, diversas

marcas já se aventuram online, assim como outras redes de retalho do segmento premium; a internet

definitivamente passa a ser considerada um canal de venda de artigos de luxo. Mas, trata-se de um

fenómeno recente, em que a natureza da tecnologia virtual, principalmente impessoal, é um desafio

constante para um setor em que a experiência multissensorial no ponto de venda é considerada um

elemento importante para o negócio.

32 http://www.insite.pro.br/2010/novembro/consumo_desejo_barth.pdf

Page 75: Venda de artigos de luxo pela Internet

73

Em Portugal, mesmo com a recessão económica que se tem feito sentir nos últimos anos,

o luxo expande-se desde a alta relojoaria e joalharia ao sector automóvel e imobiliário. “Em contraciclo

com a crise económica, as vendas de produtos de luxo têm vindo a crescer acima dos 10% nos últimos

três anos e espera-se que atinjam valores de 250 mil milhões de euros em 2015. É claramente uma área

de negócio de futuro, tanto a nível internacional como em Portugal, e com requisitos de formação

específicos”, defende Helena Pinto, professora convidada do Instituto Superior de Economia e Gestão

(ISEG), da Universidade Técnica de Lisboa.

2.2.4.1 Definição de Luxo

Definir conceptualmente ‘luxo’ é fundamental nesta abordagem, uma vez que este é um conceito que

é objeto de interpretações várias, tornando-se, por vezes, até mesmo confuso. Além disso, no senso

comum, a palavra ‘luxo’ é muitas vezes utilizada de forma banal, quer na linguagem diária quer em

discursos promocionais.

Na etimologia da palavra, luxo é derivado do latim ‘luxus’ e pode ser usado como um substantivo ou

adjectivo.

O luxo é associado à beleza, abundância, raridade, qualidade, mas também a algo que vai além do

necessário para a utilidade, a algo supérfluo, desnecessário. Mandeville (1732) segue essa mesma linha –

para ele, luxo deveria ser considerado “tudo aquilo que não é estritamente necessário para a subsistência

do homem”. Mesmo reconhecendo que por esta definição, praticamente tudo seria considerado luxo,

flexibilizar este contexto não agradava ao autor por causa de outra problemática: ele não conseguia definir

claramente onde terminavam as necessidades para se iniciar o que seria considerado um luxo.

Em busca de uma abordagem mais pragmática, o marketing inspirou-se na economia: pelo princípio

da elasticidade seria possível estabelecer um contexto de luxo e diferenciá-lo de necessidade. Sob uma

perspectiva económica, bens necessários não são afetados por alterações de preço, ou seja, são

inelásticos, enquanto o produto de luxo é elástico. O que quer dizer que aumentando o capital, aumenta

também a propensão para o consumo de bens de luxo.

No âmbito de estudos de marketing e luxo, os que estão relacionados a estudos envolvendo o preço,

constituem a atual herança económica mais forte, como por exemplo as defendidas por Groth e McDaniel

33(1993) e Yeoman e McMahon-Beattie (2005)34. Os primeiros analisaram a relação entre preço e

exclusividade, e como resultado desenvolveram um modelo chamado Princípio do Valor Exclusivo, que se

constitui como uma ajuda relevante para as marcas conseguirem mensurar as suas estratégias em relação

33 John C. Groth, Stephen W. McDaniel, "The exclusive value principle: the basis for prestige racing", Journal of Consumer

Marketing , Vol. 10, 1993

34 Yeoman; McMahon-Beattie, in “Luxury markets and premium pricing”, Research Papers, 15th September, 2005

Page 76: Venda de artigos de luxo pela Internet

74

ao seu nível de exclusividade. Já Yeoman e McMahon-Beattie dedicaram-se a estudos de múltiplos casos,

nomeadamente como é que as empresas de luxo têm trabalhado as suas estratégias de preço para

manter sua imagem ascendente. A visão económica, porém tende a ser redutora se se considerar apenas

a relação com o preço. Trata-se de uma variável importante, mas certamente há bastante mais a levar em

linha de consideração num produto de luxo.

Voltando a referir Castarède, até a Idade Média, reinou uma forma de luxo relacionada à religião, em

que o luxo era associado a oferendas, a dádiva. Os que podiam, criavam estátuas e templos, faziam

doações para conseguir a ‘benção’; nos bens, o luxo estava representado pelas coisas comuns, porém

raras, como pérolas, cristais, perfumes, especiarias.

Com a era do Renascimento, uma nova noção de luxo foi introduzida: a noção de luxo como

expressão de individualidade e marcação das diferenças sociais: “o luxo se torna então atributo da

posição.” 35. O luxo é a diferença e o/um privilégio de poucos, que demonstram o seu poder e riqueza no

esbanjamento em festas, nas grandes construções, nos patrocínios de artes. Nos objectos, o luxo é

representado pelo trabalho de grandes artesãos, como as malas de Louis Vuitton, os vestidos de Christian

Dior, entre outras.

Hoje, com a globalização e industrialização, o luxo transforma-se cada vez mais na marca, ou seja,

símbolos que vão além do material e funcional, que representam um mundo de sonhos, signos, motivos

Castarède defende que é nesse instante que se eleva do plano material para o mental, pois não é mais a

compra do objecto em si, mas sim a simbologia que ele representa. Mais recente ainda, há autores que

colocam que a marca já não consegue sustentar isoladamente o conceito de luxo, sendo necessário

envolver o consumidor em experiências (Atwal, Williams, 2009, Pine; Gilmore, 1998).36

É possível notar, segundo os autores, uma migração entre as dimensões em relação ao que é mais

valorizado no conceito de luxo ao longo do tempo: no século XIX, por exemplo, valorizava-se a arte do

artesão e primava-se pela excelência na manufatura dos produtos, portanto o valor predominante era o

funcional, onde se prezava os bens e sua durabilidade. Aos poucos, a dimensão simbólica foi ganhando

importância, os significados dos produtos e marcas para os outros passou a ter mais relevância do que a

utilidade. Uma terceira mudança pode ser vista atualmente, em que se começa a introduzir-se a economia,

conforme afirmam Pine e Gilmore, e o valor predominante, portanto, seria o experiencial.

No composto de marketing, o luxo significa qualidade garantida nos produtos, distribuição

controlada, comunicação focada e preço superior. Traduzido em marca, as de luxo possuem estilo próprio,

identidade forte, amplo reconhecimento no mercado e associações emocionais e simbólicas fortes e

específicas, que de alguma forma remetam à exclusividade.

35 Castaréde, in “ O Luxo”, Barcarolla São Paulo, 2005

36 https://marketing.conference-services.net/

Page 77: Venda de artigos de luxo pela Internet

75

Luxo, portanto, neste estudo, será definido como: remete à exclusividade, raridade e

procura distinção social, incorporado em produtos (bens ou serviços) de qualidade superior e preço

elevado, de marca forte e com significados emocionais específicos associados, transitório nas suas

representações ao longo do tempo e dependente da cultura ou do grupo ao qual está inserido.

2.2.4.2 Motivação para a compra de produtos de luxo

Os autores Vigneron e Johnson (1999)37 basearam-se nos conceitos do que é prestígio e luxo para

as pessoas por forma a poderem modelar o comportamento de compra desse tipo de produto. Para estes

autores, a procura por marcas de luxo é resultado de motivações múltiplas, mas principalmente

relacionadas com procura de afirmação social e auto expressão. Neste contexto, estes explicam as

motivações para consumo de luxo relacionando-as a cinco valores inerentes nesse tipo de compra, de

acordo com a importância dada ao preço do objecto como indicador de prestígio e a direção desejada do

consumo de luxo como auto expressão, se público ou privado: (i) valor percebido, que gera o

comportamento Vebleniano, (ii) valor de exclusividade percebido, que gera o comportamento Presuntuoso,

(iii) valor social percebido, que gera o comportamento Bandwagon, (iv) valor emocional percebido, que

gera o comportamento Hedonista e (v) valor de qualidade percebida, que gera o comportamento

Perfecionista.

Comportamento Vebleniano: o nome foi inspirado em Thorstein Veblen (1899), economista e

sociólogo que sugeriu que as pessoas consomem bens de preço elevado para demostrar riqueza, poder e

status, por isso, consumidores veblenianos seriam aqueles que consomem de modo

ostensivo, voltados para os outros, para diferenciar o seu lugar na sociedade. Preço, portanto, tem

importância para este grupo e o principal objectivo no consumo de luxo é impressionar os demais.

Comportamento presuntuoso para este grupo, o consumo de produtos de luxo refere-se a um

prazer pessoal, mas também é influenciado pelo comportamento dos demais; se muitas pessoas

começam a consumir determinado produto, eles não o querem mais, desejam somente o exclusivo. Assim,

preço é um indicador de exclusividade, apesar de o consumo ocorrer de modo privado.

Comportamento Bandwagon, no sentido de definir consumidores que seguem, imita outros,

principalmente, os presuntuosos. Enquanto os presuntuosos desejam diferenciar-se pela exclusividade, os

consumidores bandwagon querem pertencer a um grupo exclusivo por meio do consumo. Deste modo,

37 Vigneron and Johnson, A Review and a Conceptual Framework of Prestige, Academy of Marketing Science Review, 1999

Page 78: Venda de artigos de luxo pela Internet

76

preço não é tão relevante, não são indicadores de prestígio; para este grupo, o que importa é o efeito que

causarão para os outros ao consumirem produtos de luxo.

Comportamento Hedonista: este grupo de consumidores procura o prazer. Para este grupo, o

consumo de produtos de luxo traz mais sensações e estados de espírito positivos do que funcionalidades

no sentido de resolver problemas práticos. Este grupo está mais interessado nas suas próprias sensações

do que no preço e efeitos sociais do consumo.

Comportamento Perfecionista: os perfeccionistas valorizam ao extremo a qualidade do produto e o

preço pode ser um indicativo da qualidade. Estes consumidores procuram segurança e os produtos de

luxo, por sua alta qualidade e tradição, subtende-se que podem prover isso; o preço é um indicativo

adicional que garante a qualidade.

Num artigo de especialidade da área de marketing é referido que os autores Wiedmann, Hennigs e

Siebels 38, por sua vez, propuseram um modelo ampliado para a percepção de valor no luxo. Além dos

cinco valores já apresentados dos autores Vigneron e Johnson, Wiedmann e os outros dois autores acima

referidos, incluíram mais quatro valores como objectivos procurados no consumo de luxo, e dividiram-nos

em quatro dimensões: (i) financeira, (ii) funcional, (iii) individual e (iv) social.

A combinação das quatro dimensões gera o valor percebido do luxo na vida do consumidor. Assim

como Vigneron e Johnson, em 2004, estes segundos autores referidos, em 2007, também defendem a

preponderância de uma dimensão sobre as outras, apesar de estarem todas inter-relacionadas, para

motivar o consumo de produtos de luxo.

A dimensão financeira é composta pelo valor do preço, ou seja, a percepção do valor/ preço

absoluto é percebido no produto. O preço é um indicador de qualidade e exclusividade e intervém em

todas as compras luxuosas.

A dimensão funcional possui três valores: (i) valor do uso relacionada às funções básicas dos

produtos e aos seus benefícios centrais, (ii) qualidade relacionada ao desempenho dos produtos e (iii) o

grau de exclusividade dos produtos.

A dimensão individual é formada pelo (i) valor da auto imagem, a congruência da imagem que o

consumidor tem de si com a imagem do produto, (ii) pelo valor hedónico em que o consumidor procura

experiências prazerosas além do uso funcional do produto e (iii) pelo valor materialista que ocorre quando

a pessoa acredita que a posse de bens representa status e traz distinção social.

38 www.marketing-trends-congress.com

Page 79: Venda de artigos de luxo pela Internet

77

Finalmente, a dimensão social é composta (i) por um valor de ostentação, ou seja, um

consumo ostensivo direccionado para os grupos de referência e (ii) por um valor de prestígio, entendido

como um consumo de grupo, em que o produto de luxo é um símbolo que os une ou os diferencia de

outros grupos.

2.2.4.3 Segmentação e posicionamento: o poder das marcas no “mundo” do luxo

O conceito de segmentação de mercado surge relevado como fazendo parte da estratégia de

marketing no artigo de Wendell Smith (1956)39. O autor reconhece que, pelo processo de segmentação,

um mercado heterogéneo pode ser agrupado em grupos homogéneos em relação a uma procura

específica que possuam. Isso é feito para satisfação dos desejos e necessidades dos consumidores o que

garante vantagem competitiva para a empresa: “a exploração de segmentos de mercado, que

proporcionam maximização da satisfação dos consumidores, tendem a construir um posicionamento de

mercado mais seguro e levam a empresa a uma maior estabilidade geral.”

O conceito de posicionamento, de acordo com Ries e Trout (2002)40, não consiste na acção exercida

por parte de uma empresa sobre o produto, mas aquilo que é provoca relativamente à expectativa dos

clientes. A marca ou produto da empresa deve fixar-se na mente dos consumidores, através de conexões

diferenciadas dos seus concorrentes. Assim, a proposição desses autores já evidencia um aspecto

relevante em relação ao conceito de posicionamento: trata-se de um termo que possui duas vertentes

distintas, uma referente ao que a empresa (ou produto ou marca) deseja ser, que é diferente da segunda

vertente, relacionada ao que, de facto, é percebido pelos consumidores.

Não se criam segmentos; estes devem ser identificados para que a empresa escolha uma

oportunidade de valor relevante a ser explorada. Após esse processo, a empresa volta-se para si mesma,

para o seu lado interno, para analisar se tem capacidade de atendimento aos segmentos e escolhem-se

os mercados-alvo. Só então, a partir dai, emerge o conceito de posicionamento, que pode ser definido

recorrendo a estratégias, onde se tomam decisões sobre os 4Ps de marketing (produto, preço, distribuição

e promoção), para que o produto (marca) tenha uma percepção específica para os compradores-alvo

escolhidos.

Pode-se, assim, definir segmentação como o processo de identificação e análise de subgrupos de

compradores/consumidores de um produto-mercado com características idênticas no que diz respeito à

39 Smith, W.; “Product Differentiation and Market Segmentation as Alternative Marketing Strategies”, Journal of Marketing, Vol. 21,

1956

40 Diaz et al; “Dirección comercial: los instrumentos del marketing”, Editorial Club Universitario, 2001

Page 80: Venda de artigos de luxo pela Internet

78

forma de resposta. Já a noção de posicionamento levas-nos para a percepção ou para o tipo de

associação que uma organização, uma empresa, uma linha de produtos, ou até mesmo uma determinada

marca pretende ver-se reconhecida no seu mercado alvo.

Uma reflexão possível para o “mundo” do luxo é a proposta pelos especialistas nesta área, em 2009

(Kapferer e Bastien) 41 quando afirmam que as marcas de luxo não se posicionam, simplesmente são,

existem. As marcas de luxo, devido à sua longevidade, já existiam antes das teorias de segmentação e

posicionamento consolidadas pela área de marketing.

Allérès, e na obra já referenciada neste artigo, explica: “no século XIX ou no começo do século XX,

criar modelos únicos, novos, muito bonitos e torná-los atraentes para a classe social dominante era ser

bem-sucedido e ficar célebre. Cultivar, ao mesmo tempo, seu génio criativo e a sua celebridade era

“marketing, sem se saber disso.”

A marca nasce com a função de identificar e diferenciar produtos de um fabricante em relação a

outro. Keller e Machado42, em 2006, propõem uma definição de marca deste tipo: “um nome, termo,

símbolo, um desenho ou uma combinação desses elementos, os quais têm como função identificar,

inequivocamente, os bens e serviços de um fornecedor ou grupo de fornecedores e, portanto, diferenciá-

los dos da concorrência. Para estes autores, as marcas vão para além da identificação e exercem papéis

tanto para os consumidores quanto para os fabricantes que, normalmente, adicionam mais valor para os

produtos do que somente a diferenciação no sentido de distinguir que uma marca é diferente de outra.

2.2.4.4 Gestão de marcas de luxo

Kapferer, na obra referida no ponto anterior, distingue entre o conceito de identidade de marca e

imagem de marca, a primeira relacionada à visão da empresa e a segunda à visão do receptor

(consumidor).

A empresa pode projectar a sua identidade de marca de modo planeado ou não. O consumidor irá

formar a imagem de uma marca a partir dos sinais emitidos pela marca (elementos de marca,

comunicação, distribuição) e por influências externas, como concorrência, denominados pelos autores de

“outras fontes de inspiração”, que podem ser fruto de empresas que desconhecem a sua própria

identidade. Essas fontes podem ser:

(i) oportunismo, quando desejam agradar a todos e despersonalizam a marca;

(ii) imitação, quando seguem a identidade de uma marca concorrente,

ou

41 Kapferer, Bastien, in “The Luxury Strategy”, Kogan Page, 2009

42 Keller, K; Machado, M. in “Gestão estratégica de marcas” , Prentice Hall Brasil, 2006

Page 81: Venda de artigos de luxo pela Internet

79

(iii) idealismo, quando a marca comunicada é espelhada no que a empresa gostaria

de ser e não a realidade, o que pode criar mensagens que serão consideradas enganosas pelo

consumidor.

Deste modo, a imagem de marca é resultado da identidade de marca, de influências externas e de

influências da concorrência, refere Kapfener na mesma obra.

Pode inferir-se, assim que, ao gerir a sua identidade de marca, a empresa realiza branding, ou a

administração das marcas, que segundo Keller e Machado (2006)43 significa fundamentalmente “dotar

produtos e serviços de brand equity”, no entanto, o que importa é o conceito básico, que é o valor que a

marca agrega ao produto, ou seja, sem a marca o desempenho de tais produtos não seriam os mesmos.

Para Aaker (1998)44 são cinco os elementos formadores do brand equity: (i) lealdade à marca, (ii)

conhecimento da marca, (iii) associações com a marca, (iv) qualidade percebida e (v) outros activos da

marca, como marca registada e patentes.

Conforme apontam Keller e Machado (2006) a construção de uma marca forte dependerá da

execução bem-sucedida de quatro etapas sequenciais – identificação da marca, significado da marca,

respostas à marca e relacionamentos com a marca –, de modo racional e/ou emocional do ponto de vista

do consumidor.

As marcas de luxo podem ser consideradas como o auge desse tipo de gestão. De acordo com

Keller as marcas de luxo, “são provavelmente um dos mais puros exemplos de branding, já que a marca e

a sua imagem são comumente fatores-chave criadores de vantagem competitiva, gerando grande valor e

lucratividade para uma organização.”

Assim, o objectivo na gestão de uma marca de luxo deve ser voltado para a manutenção de seu

posicionamento e imagem relevante perante os consumidores. Uma maneira para o profissional de

marketing começar a trabalhar esse ponto é pensando na participação das marcas na vida das pessoas,

sendo válido considerar a perspectiva antropológica de Sherry (2006)45. Esse autor analisa o significado

das marcas e sugere auditorias baseadas na Antropologia para guiar os decisores na gestão desses

significados de marca, ou seja, na definição e manutenção da identidade da marca.

Já Keller enuncia dez características, que podem ser consideradas como regras, para a gestão de

marcas de luxo:

1. Manter uma imagem premium é crucial, portanto, controlar essa imagem deve ser uma prioridade

para as marcas de luxo.

43 Keller, K; Machado, M. in “Gestão estratégica de marcas” , Prentice Hall Brasil, 2006

44 Aaker, D.A., in “Marcas: brand equity : gerenciando o valor da marca”, Gulf Professional Publishing, 1998

45 http://bear.warrington.ufl.edu/weitz/mar7786/Articles

Page 82: Venda de artigos de luxo pela Internet

80

2. O branding de marcas de luxo envolve a criação de muitas associações intangíveis e imagens

aspiracionais.

3. Todos os aspectos do composto de marketing das marcas de luxo devem estar alinhados para

garantir qualidade e experiências de compra prazerosas.

4. Elementos de marca além do nome – logo, símbolo, embalagem, assinatura, etc – podem ser

componentes relevantes para o brand equity das marcas de luxo.

5. Associações secundárias com personalidades, eventos, países e outras entidades podem ser

ferramentas relevantes para a gestão de marca de luxo.

6. Marcas de luxo devem controlar atentamente a sua distribuição por canais de distribuição

selectivos.

7. Marcas de luxo devem empregar uma política de preços elevada com fortes indicadores da

qualidade e pouca política de descontos ou remarcações de preços.

8. A arquitectura de marca para marcas de luxo devem ser trabalhadas com muito cuidado.

9. Concorrência no mercado de luxo deve ser definida de forma abrangente, uma vez que uma

marca muitas vezes compete com outra marca de luxo de outra categoria pelo mesmo dinheiro do

consumidor – “share of pocket”.

10. Marcas de luxo devem proteger-se muito bem legalmente e combater agressivamente o

contrabando e falsificações.

Nota-se que é preciso rigor e coerência no processo de gestão de marcas de luxo. A marca de luxo

não se deve comparar a outras, deve ser fiel à sua identidade, como um artista. Para Kapferer e Bastien 46,

mesmo que o consumidor faça comparações, a gestão da marca não deve cair nessa armadilha para

adaptar-se. O consumidor de uma marca de luxo, por um processo de identificação, tornar-se-á fiel e

deseja essa constância para continuar a adquirir os produtos/bens. E, é a fidelidade que no médio-longo

prazo garantirá a nova compra/venda e consequentemente lucros e liderança da marca no mercado.

2.3 Internet como canal de vendas

A partir da década de 90 uma nova revolução foi anunciada, a era digital. A partir de um conceito

inicial de 1962, a internet desenvolveu-se no meio académico e militar, aparecendo para o grande público

por volta de 1993 por meio da World Wide Web (WWW), “um sistema de armazenagem, recuperação,

46 Kapferer, Bastien, in “The Luxury Strategy”, Kogan Page, 2009

Page 83: Venda de artigos de luxo pela Internet

81

formatação e exibição de informações em ambiente de rede com padrões universalmente

aceitos” (CARO, 2005).

Num levantamento de dados da consultora Kleiner Perkins Caulfield & Byers (2013) demonstram que

o número de internautas no mundo cresceu 8% em 2012 em relação ao ano anterior, chegando a 2,4

bilhões de pessoas. Porém, a rede alcança apenas 34% da população. A China, o país mais populoso do

planeta, também é o que possui o maior número de internautas: 564 milhões.

A pesquisa dá destaque ao papel das plataformas móveis. No mundo, já existem 1,5 bilhões de

assinaturas de serviços de smartphone, crescimento ano a ano de 31%. O aumento no número de

dispositivos reflete-se no tráfego de dados. Em 2009, as plataformas móveis respondiam por apenas 0,9%

do fluxo total de informações. Em 2010, o percentual era de 2,4%. Em maio de 2013, tablets e

smartphones respondiam por 15% do tráfego e, até o fim do mesmo ano, o percentual subiu para 30%.

Para Toledo, Nakagawa e Yamashita (2002)47 “a internet é, talvez, a maior e mais conhecida

implementação de redes interligadas, conectando centenas de milhares de redes individuais ao redor do

mundo todo.” Desde então viu-se uma grande expansão das possibilidades de uso dessa nova rede,

desde comunicação em escala global e em tempo real até a criação de uma plataforma universal para a

compra de bens e serviços.

Atualmente, as empresas utilizam a internet como meio para divulgar e também vender os seus

produtos online. Segundo Rosenbloom (2002)48, quando a internet é usada para “tornar produtos e

serviços disponíveis de tal forma que o mercado-alvo com acesso a computadores ou outras tecnologias

capacitadoras, possa comprar e completar a transacção de compra por meios eletrónicos interativos” tem-

se um canal de marketing eletrónico.

O uso da internet para o comércio (ou e-commerce) adquiriu tal relevância que se consolidou como

um canal de vendas eletrónico que desafia espaço e tempo, como afirma Rosenbloom. Os consumidores

podem ligar-se a redes 24 horas por dia, 365 dias por ano, comparar produtos, procurar informações, e

realizar a sua decisão de compra no momento em que lhe convier, sem contacto físico com a empresa, se

assim pretenderem.

No mercado de luxo, defendia-se/acreditava-se que muito da experiência de compra seria perdida

devido a características específicas do canal (Kapferer, Bastien, 2009), no entanto, o que foi visto foi um

crescimento tanto do uso/ acesso a internet quanto do aumento de compras virtuais, inclusive no mercado

de luxo. O aparecimento de lojistas somente virtuais que comercializam produtos de luxo como Net-a-

porter.com ou a Farfetch.com, evidenciam um possível crescimento do e-commerce no sector. A internet

passa de facto a ser um canal de vendas para o sector.

47 TOLEDO, G. L.; NAKAGAWA, M. H.; YAMASHITA, S. S. O composto de marketing no contexto estratégico da internet. Revista

de Administração Mackenzie, v. 3, n. 1, p. 33-78, 2002.

48 http://icc.oxfordjournals.org/content/11/3/529.short (Rosenbloom and Chesbrough )

Page 84: Venda de artigos de luxo pela Internet

82

2.3.1 Comércio eletrónico

O comércio eletrónico está a provocar mudanças relevantes na organização das empresas e na

relação destas com seus clientes, parceiros e fornecedores, inaugurando uma nova era no mundo dos

negócios. Por trás da aparentemente simples mudança na forma de comprar, há modificações na

economia, na organização da indústria, na legislação, empregos, formas de consumo, de relacionamento e

de criação de valor. A mudança é tão grande que pode dizer-se que o mundo actual está a meio de uma

revolução na forma como se processam as transações comerciais a vários níveis. Neste contexto, é

forçoso que as empresas repensem a forma de operar os seus negócios, pois o comércio eletrónico é uma

dimensão muito mais abrangente do que (mais) forma de vender e comprar em operações de comércio

eletrónico.

Desta forma devemos equacionar o comércio eletrónico como um novo campo de estudo, pois este

tem que ser pensado e investigado de maneira interdisciplinar, unindo conceitos de marketing, das

ciências da computação, da psicologia, de finanças, de economia, de tecnologia da informação, de

contabilidade e auditoria, de gestão, de ética e de direito.

Para os autores Choi, Whinston e Stahl (1997)49 o comércio eletrónico pode ser entendido através de

um modelo composto por três dimensões: (i) produto, (ii) agente e (iii) distribuição, sendo que cada

dimensão pode ser física ou virtual. A combinação dessas dimensões, físicas e virtuais, resultará em

formatos de comércio eletrónico puros ou híbridos.

Na dimensão do produto, os autores afirmam que algumas empresas terão produtos que podem ser

transformados em digitais, enquanto outras não terão essa capacidade. Na dimensão do agente, os

autores referem-se às lojas, se são físicas ou virtuais; e na dimensão da distribuição trata-se da entrega do

produto, que pode ser digital ou somente física.

Algumas empresas, nas quais o seu negócio pode ser digitalizado, tenderão a migrar do modelo

puramente físico para o puramente virtual. Livros, música e filmes são passíveis de ser digitalizados e já

podem ser comprados e consumidos de modo puramente virtual, por exemplo.

Do ponto de vista do consumidor, a compra por meios eletrónicos é mais uma opção de canal de

compra para as pessoas. Uma das decisões que deve ser tomada pelo consumidor no estágio de compra

é em qual ponto de retalho/loja quero e devo comprar, seja ele físico ou virtual. Por tipo de retalhista

entenda-se o conceito do retalho, se físico, virtual ou face a face. Esta escolha ocorre de modo interactivo

e uma influência na outra, sendo determinadas por três critérios: (i) características individuais do

consumidor, (ii) características da compra e (iii) critérios de avaliação utilizados no momento da decisão de

compra.

49 Whinston,A.B., The Economics of Electronic Commerce Textbook Binding,1997

Page 85: Venda de artigos de luxo pela Internet

83

2.3.2 Vantagens e desvantagens da internet e do comércio eletrónico para

o mercado de luxo

O comércio eletrónico traz vantagens e desvantagens para o consumidor e para as empresas.

Para as organizações há autores que apontam como vantagens: expansão do mercado de actuação,

redução de custos de transacção e telefonia, possibilidade de criação negócios bastante especializados,

facilidade para customização, facilidade para integração de sistemas, reengenharia e aumento da

produtividade em diversos processos, que podem reduzir custos, aumento da flexibilidade e até um

possível ganho em imagem, pela inovação e agilidade no atendimento aos clientes. Já para os

consumidores, as vantagens são a possibilidade de comprar em qualquer dia e horário, aumento das

alternativas, facilidade e acesso a maior quantidade de informações, produtos e serviços, entrega imediata

de produtos em alguns casos (por exemplo, livro digital ou música), aumento de competitividade o que

pode trazer reduções de preço e possibilidade de interacção virtual com pessoas distantes (Turban et al.,

2000). 50

Outros autores fazem uma releitura dessas vantagens apontando ideias que as tornam

desvantagens. Por exemplo, o fato de os clientes serem ativos definindo o que querem ver e onde, e não

passivos onde somente receberiam conteúdo, reduz o controlo da empresa vendedora; a possibilidade de

comparação de preços faz com que essa variável torne-se um factor diferenciador relevante nas escolhas

por bens e serviços pelos consumidores – o que no caso de marcas de luxo é ainda mais prejudicial do

que para outros segmentos. Há também, segundo as autoras, o aumento potencial de concorrentes, pois,

do mesmo modo que se atingem mais clientes, também os clientes tem acesso a mais fornecedores; a

quantidade de informações disponíveis tem suas vantagens, mas também pode fazer com que a internet

seja considerada confusa e pouco confiável e, finalmente, existe ainda a insegurança dos usuários para

colocar informações pessoais na rede.

As limitações técnicas (de acordo com Turba et all) são a possível falta de segurança e a não

existência de padrões para o ambiente virtual, incompatibilidade entre alguns softwares e hardwares,

desenvolvimento contínuo de softwares, que gera obsolescência constante e a dificuldade de integrar

bancos de dados à internet, o que pode fazer com que as empresas precisem de infraestrutura ou

servidores especiais. Já as limitações não técnicas são possíveis custos de instalação ou manutenção,

falta de segurança e perda de privacidade, possível resistência dos consumidores, falta de legislação para

o ambiente virtual, dificuldade de obter suporte ou mensurações confiáveis de desempenho, acesso à

internet pode ser caro e não acessível à maioria da população e a possibilidade do ambiente virtual criar

problemas para o desenvolvimento das relações humanas. 51

50 http://www.impgroup.org/uploads/papers/4413.pdf (E-Business in Dyadic Perspective)

51 http://www.impgroup.org/uploads/papers/4413.pdf (E-Business in Dyadic Perspective)

Page 86: Venda de artigos de luxo pela Internet

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Pensando especificamente no mercado de luxo, há muita divergência quanto aos prós e contras do

comércio online para o setor. As vantagens são as mesmas já mencionadas: expansão da área geográfica

de actuação, possibilidade de segmentação e comunicação ampliada com o público-alvo e redução de

custos de transação. De acordo com os autores Kapferer e Bastien ( já referidos), outra vantagem é

facilitar a compra de reposição de clientes regulares, seja através de contactos, reservas ou compra

online. Para estes, essa é uma questão especialmente positiva para o mercado de luxo, pois pode

significar uma fidelização maior ou um aumento na frequência de compra de produtos, uma vez que

muitos consumidores podem não ter acesso ou não querem ter o custo de retornar à loja para repor algum

bem.

Uma vantagem que pode ser elencada para o setor de luxo no que diz respeito à relação

internet/produto(s) de luxo é que esta pode funcionar como um meio de aproximar novos e potenciais

clientes que se sentiam intimidados a entrar nas lojas “templos do luxo” da marca. Por fim, é já um dado

adquirido de que existe uma clara e real mais-valia da existência de um website como ferramenta de

comunicação e possível instrumento para a construção de relacionamento com os clientes.

Mas, há também os pontos que colocam luxo e internet em situações opostas. O principal receio , de

entre vários, gira em torno do efeito banalização, tanto da experiência de compra quanto da marca. Isso

seria causado principalmente por dois processos: o primeiro relacionado ao facto da internet ser

constantemente associada pelos consumidores a descontos, além da comparação fácil de preços, e, o

segundo processo, é um pouco mais complexo, relacionado à perda da “atmosfera” da loja física no

ambiente online, nomeadamente da perda da experimentação dos momentos associados à compra de um

produto de luxo, nomeadamente, para além da ausência dos sentidos do tato, paladar e olfato no mundo

virtual, ocorre também perda dos serviços customizados e interação que ocorre na loja física.

Como uma desvantagem para um website de uma marca de luxo, pode enunciar-se a ausência de

todo o clima e glamour ao redor da loja física, normalmente exclusivo e de prestígio, que ajuda a

enriquecer a experiência de compra do cliente.