Vergonha no - agencia.ecclesia.pt · A frase foi escutada recentemente no ambiente do deserto da...

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04 - Editorial: Paulo Rocha06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião: D. José Cordeiro22 - Opinião: DNPJ24 - Opinião: LOC/MTC26 - Semana de.. Carlos Borges28 - Dossier A Igreja na transição democrática

30 -Entrevista Manuel Braga da Cruz50 - Multimédia52 - Estante54 - Vaticano II56 - Agenda58 - Por estes dias60 - Por outras palavras61 - YouCat62 - Programação Religiosa63 - Minuto Positivo64 - Liturgia66 - Ano da Vida Consagrada70 - Família72 - Fundação AIS74 - Lusofonias

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Vergonha noMediterrâneo[ver+]

Católicos emdefesa dosimigrantes[ver+]

A Igreja no pós-25 de Abril[ver+]

D. José Cordeiro |Paulo Rocha |Carlos Borges | Manuel Barbosa |Paulo Aido Tony Neves | JoãoAlmeida | LOC/MTC

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O valor das pessoas

Paulo Rocha Agência ECCLESIA

“A terra e a água valem muito mais do que aspessoas”.A frase foi escutada recentemente no ambientedo deserto da Judeia, na Terra Santa. Lá, ondemuitos acontecimentos já comprovaram essaafirmação, mesmo assim incapaz de suster asurpresa sempre que é dita. Na ocasião,apresentavam-se as idiossincrasias de povos eculturas com distintas pertenças, crentes eétnicas, manifestadas em convivências esobretudo em confrontos ao longo de umahistória milenar.Naquele território, referido como eixo central defluxos populacionais e comerciais entrecontinentes, continuam também hoje asperplexidades e as expectativas quando aoamanhã. E sempre com um horizonte de possívelconflito que vitima pessoas. Apenas se procura agarantia de manter ou mesmo alargar a posse deterra e de água, mesmo que conquistadas deforma unilateral e delimitadas por fronteirasimpostas através de muros desenhados em umqualquer estirador. Nestes casos, apenas semantêm ativas pressões contra o outro, temendo“erupções” comportamentais a qualquer instante…A mesma determinação pela conquista de terra ede água leva muitas outras pessoas aultrapassar fronteiras, a se lançarem num mar deincertezas,

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esperando que na linha dohorizonte estejam as condições devida que tanto procuram na terraque pisam. Nestes casos, é aindamais incerto o valor das pessoas,disperso por completo nastentativas de ultrapassar oMediterrâneo à “boleia” de ilusõesvendidas por traficantes daimigração clandestina, compromessas e garantias à chegadaque logo à partida sãocompletamente impossíveis.Os naufrágios no mar, que este anojá provocaram 50 vezes mais mortesdo que no ano passado, mostram aausência do valor da pessoa. Tantodas que morrem como das queprovocam a morte. E estas sãomuito mais do que aquelas. No casoda imigração africana à conquistadas costas da Europa, osvendedores de ilusões nos paísesde origem e os construtores defortalezas nos de chegada atuamsempre à margem do valor dapessoa, da grandeza maior que, emqualquer momento da história, temde determinar leis, políticas,decisões,

opções: a dignidade da pessoahumana.Há 40 anos, em Portugal, foitambém o valor da pessoa,nomeadamente a garantia daliberdade e da justiça social, quemotivou tensões quando foinecessário definir modelos deorganização democrática. A abril de1974 sucedeu-se um contexto derevolução, de confronto entrediferentes propostas para aconstrução de uma sociedade livre efundada na expressão popular,nomeadamente pelo voto. Osucesso deste projeto,permanentemente em curso, tem nasalvaguarda da justiça social e dadignidade da pessoa humana oprincipal indicador…O mundo oriental, África, a bacia doMediterrâneo, a Europa e todoslocais do mundo nunca poderãoescapar a um desafio essencial:encontrar estratégias de valorizaçãoda pessoa humana, de salvaguardarda sua dignidade. E caso sejanecessário saber como fazer, bastaler o que foi dito pelas Pessoasdivinas, há dois mil anos…

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Membros do Conselho Europeu guardaram um minuto de silêncio pelos 800 imigrantes mortos no Mediterrâneo, antes de uma reunião dedicada àquela

crise humanitária © Conselho Europeu

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- “Antes, a ciência era pouca, poucoconhecida e reconhecida. Depoisdele, há mais ciência, tanto no paíscomo no mundo. Comunicou aciência de modo à sociedade mudar.Foi ele que pôs a ciência nagovernação”, Físico Carlos Fiolhais,em entrevista à Agência Lusa, sobrea morte do cientista e político JoséMariano Gago (17.04.2015) - “Quem queira salvar a Europa temde voltar a uma política muitoprudente, uma política que não dêpasso nenhum sem garantir umacoisa: que as nações europeias sãovirtualmente iguais”. José PachecoPereira, em entrevista ao jornal I(18.04.2015)

- “Uma solução duradoira implicauma grande cooperação entre aUnião Europeia e os paísesafricanos, a imigração ilegal não ésó um problema dos paíseseuropeus que fazem a fronteira suldo Mediterrâneo, mas afeta atodos”. Pedro Passos Coelho,primeiro-ministro português, emMarrocos (Jornal Público,20.04.2015) - “Os jovens, os desempregados delonga duração, os trabalhadoresprecários e independentes e asfamílias de rendimentos médios ebaixos suportaram a maior parte doscustos da crise. As soluções para acrise têm que ser soluções tambémpara os seus problemas”. Relatório“Uma década para Portugal”, onde oPartido Socialista apresenta umconjunto de propostas para o paísnos próximos anos (21.04.2015)

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Somos todos pessoasUm conjunto de organizações daIgreja Católica em Portugalmanifestou a sua “consternação eindignação” face às tragédias quevitimaram mais de 1500 pessoaseste ano, na travessia doMediterrâneo. Agência ECCLESIA,Cáritas Portuguesa, Conferênciados Institutos Religiosos de Portugal(CIRP), Comissão Nacional Justiça ePaz, Comissão Nacional Justiça, Paze Ecologia dos Religiosos,Departamento Nacional da PastoralJuvenil, Fundação Ajuda à Igrejaque Sofre, Obra CatólicaPortuguesa de Migrações, RádioRenascença e Serviço Jesuíta aosRefugiados apelam a todos osportugueses para que, no próximodomingo, coloquem nas suasjanelas um pano branco ou usemuma peça de roupa branca, numa“manifestação de indignação”.Os católicos são ainda convidados aum momento de “oração ou umminuto de silêncio”, unindo-se “aosmilhares de pessoas que se sentemsolidárias com todos os que buscamuma vida melhor para si e para assuas famílias e partem diariamentedas suas terras na procura legítimade melhores condições de vida”.Em comunicado, as instituições

alertam para a atual situação demuitos migrantes que “têm sidoultrajados na sua dignidade humanaao tentarem atravessar fronteiras” àprocura das “mais básicascondições para a sua sobrevivência”.Este ano, mais de 1500 pessoasmorreram no Mar Mediterrâneo, umnúmero 50 vezes superior ao de2014, com destaque para onaufrágio que vitimou cerca de 800pessoas no último domingo. “Osacontecimentos dos últimos dias (…)obrigam-nos a não ficar calados,sob pena de sermos cúmplices deum verdadeiro massacre quedeveria envergonhar o mundo,particularmente os que têmresponsabilidades políticas”, podeler-se, na nota divulgada hoje.Em todas as Eucaristias celebradasno próximo domingo vai ser incluídauma prece no momento da Oraçãodos Fiéis, rogando a Deus queajude a construir “uma só famíliahumana”.As organizações da Igreja Católicacontam com o apoio da ComissãoEpiscopal da Pastoral Social eMobilidade Humana. “São pessoascomo nós que se vêm obrigadas afugir do seu país porque vivemsituações que ferem gravemente asua

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dignidade e colocam em risco a suasobrevivência e das suas famílias”,assinalam.Os signatários sustentam que aUnião Europeia “pode e deve fazermais por cada uma destaspessoas”, nomeadamente atravésda ação nos países de origem. Asorganizações da Igreja Católicapedem medidas que “ultrapassem aexcessiva preocupação securitária ede controlo de fronteiras” e esperam“alternativas

de maior humanização”.O comunicado sugere um marcador(hashtag) para as redes sociais,‘#somostodospessoas’, citando aintervenção do Papa Francisco noúltimo domingo: “São homens emulheres como nós, irmãos queprocuram uma vida melhor, famintos,perseguidos, feridos, explorados,vítimas de guerras. Procuram umavida melhor, procuravam afelicidade”.

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Relatório da Cáritas denunciaaumento da pobreza infantilO secretário-geral da CáritasEuropa pediu que as políticas daausteridade sejam revistas edenunciou o aumento da pobrezainfantil e desemprego de longaduração na apresentação dorelatório europeu deacompanhamento da crise daorganização católica. “A crise nãopassou para muitas pessoas, apobreza e a desigualdade aumentaem todos estes países, em Portugala pobreza infantil destaca-se. ACáritas Europa e todas as Cáritasafetadas pela crise pedemsobretudo que se renunciem aspolíticas de austeridade”, disseJorge Nuño Mayer, em Lisboa.O secretário-geral da CáritasEuropa acrescenta a necessidadedos governos reverem as políticasde serviços sociais porque odesemprego de longa duração vaiser “estrutural”, sem solução nospróximos anos. “Todos os cidadãostêm direito a participar na sociedadee necessitamos apoios básicos queassegurem a subsistência e adignidade das pessoas”, preveniu.O relatório ‘O aumento da pobreza edas desigualdades - Modelossociais justos são necessários paraa solução’

foi apresentado pelo terceiro anoconsecutivo pela Cáritas Europaque analisou a situação dosprincipais países afetados pelacrise: Chipre, Espanha, Grécia,Irlanda, Itália, Portugal e Roménia.Seis anos depois do início da crise,o documento alerta para o“crescimento reduzido e enormesníveis da dívida; mais desemprego emilhões de pessoas na pobreza”.Para o presidente da CáritasPortuguesa, a pobreza infantil “nãoé isolada” uma vez que as criançassão pobres porque estão emfamílias pobres onde os pais“perderam trabalho, rendimentos” eproteções sociais como “abono,Rendimento Social de Inserção”,explicou.

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26 anos de Vida e Paz

O presidente da Comunidade Vida ePaz (CVP) fez um balanço“extremamente positivo” do trabalhodesenvolvido, que consideroutambém “denúncia” do muito queestá mal e falta fazer na sociedade,no contexto do 26.º aniversário dainstituição. “Quanto maistrabalhamos e mais situações temospara trabalhar é sinal de que hámais pessoas a necessitar de ajuda.Os números neste caso, quando sefala de sucesso, é sempre aomesmo tempo uma denúncia eultimamente de facto têm vindo acrescer e também emcomplexidade”, explicou HenriqueJoaquim.À Agência ECCLESIA, o responsávelcontextualiza que a organizaçãonasceu num contexto social epolítico diferente hoje há mais“dependências de álcool e muitascom problemas de saúde mental”.“Às vezes derivado da própria crisefinanceira outras de

destruturação familiar que mal oubem também estão ligadas a essecontexto”, revela, acrescentandoque se observa o aumento de casosde “recaídas” e situações dedesemprego.O 26.º aniversário foi umaoportunidade para a CVPapresentar a aplicação ‘emvolta.pt’,que vai permitir registar, acolher,avaliar e desenvolver processos deformação, gerir o trabalho na rua e“retirar indicadores” conhecendo osperfis e as necessidades relatadasdas pessoas que acompanham.“Uma aplicação informáticatotalmente inovadora, feita de raiz,que poderá se útil para outrasorganizações no futuro. Estamos aensaiar gerir o voluntariado demaneira diferente”, comentouHenrique Joaquim, que destacouque a CVP tem de o “grandedesafio” de gerir de forma muitoregular cerca de “600 voluntários”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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Fundação Fé e Cooperação lança Presentes Solidários para o Dia da Mãe

Igreja/Ciganos: Comité Católico debate discriminação por parte dos media

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Vergonha no MediterrâneoO Papa Francisco foi dos primeirosa levantar a voz após a novatragédia no Mediterrâneo que matoumais de 800 imigrantes queviajavam com destino à Itália.“Dirijo um sentido apelo para que acomunidade internacional atue comdecisão e rapidez, a fim de evitarque tais tragédias se venham arepetir”, declarou, perante milharesde peregrinos reunidos na Praça deSão Pedro para a oração do‘Regina Caeli’.O Papa manifestou a sua “maissentida dor” perante “tal tragédia”:“São homens e mulheres como nós,irmãos que procuram uma vidamelhor, famintos, perseguidos,feridos, explorados, vítimas deguerras. Procuram uma vida melhor,procuravam a felicidade”.No dia seguinte, o responsável doVaticano pelo setor das migraçõesmanifestou a sua “vergonha eindignação”. “Este desastre éapenas o último de uma série semfim que não pode deixar deprovocar vergonha e indignação”,referiu o cardeal Antonio MariaVegliò, presidente do ConselhoPontifício para a Pastoral dosMigrantes e Itinerantes, ementrevista

ao jornal do Vaticano.Para o colaborador do PapaFrancisco, por trás de cadaimigrante que morre no mar “há umrosto, uma família, uma história”.“Somos todos responsáveis porestas tragédias, ninguém pode ficara observar o problema de fora semse deixar envolver”, afirma.A Comissão dos Episcopados daUnião Europeia (COMECE)lamentou também a tragédia e pediuque as instituições comunitáriasreajam a esta “tragédia humana”.“Esta nova catástrofe noMediterrâneo constitui uma derrotapara tudo o que faz da UniãoEuropeia uma comunidade devalores”, refere um comunicadoassinado pelo presidente doorganismo, cardeal Reinhard Marx,e enviado à Agência ECCLESIA.O Alto Comissariado das NaçõesUnidas para os refugiados confirmouque 800 imigrantes morreram nonaufrágio de uma traineira, no marMediterrâneo, depois de falar comos sobreviventes do desastre.A COMECE sublinha que “muitomais” de mil pessoas morreram natravessia rumo à Europa, nosúltimos dez dias, pelo que a UniãoEuropeia

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“não pode ficar sem reação face aesta tragédia humana”. “Nadajustifica que se fechem os olhos àtragédia humana que decorre noMediterrâneo, que a União Europeiadeve enfrentar”, insiste o organismorepresentativo dos bispos católicos.A diretora da Obra CatólicaPortuguesa das Migrações (OCPM),Eugénia Quaresma, defende anecessidade de “uma maiorcooperação entre as

Nações Unidas, a União Europeia eos países de origem destaspessoas”, para evitar que casosdeste género continuem aacontecer.Ao mesmo tempo, sublinha aimportância “da Igreja Católica, dosseus bispos, estruturas ecomunidades”, colaborarem na“sensibilização” das populaçõespara o “acolhimento” deste “fluxo,não só de imigrantes mas derefugiados”.

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Secretário-geral da ONU vai visitarFrancisco

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, vai encontrar-se com o Papano próximo dia 28, no Vaticano, paradebater o problema do tráfico depessoas. O anúncio foi feito pelapresidente da Academia Pontifíciadas Ciências Sociais (Santa Sé),Margaret Archer, em conferência deimprensa no final da assembleiaplenária deste organismo, queestudou este tema desde sexta-feira.A responsável sustentou que acriminalização tem de ser “maiseficiente”.

“É uma condição necessária, masnão é o suficiente para eliminar otráfico de pessoas”, observouMargaret Archer.Os participantes nesta assembleiaforam recebidos no sábado peloPapa Francisco, o qual apelou à"denúncia" e ao "combate" às novasformas de escravidão,reconhecendo a importância deaumentar a "consciencialização"sobre o fenómeno.Na audiênciaFrancisco apelou às autoridadespara que "tomem consciência destatragédia".

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UNICEF une-se a projeto escolar doPapaO Fundo das Nações Unidas para aInfância (UNICEF) associou-se aoprojeto ‘Scholas Ocurrentes’,promovido pelo Papa Francisco,para apoiar crianças e adolescentesdesfavorecidos. A parceria “parte dacrença comum no potencial e poderdos jovens”, refere uma notadivulgada pelo organismo da ONU,após um encontro entre o pontíficeargentino e o diretor-executivo doUNICEF, Anthony Lake.A colaboração de cinco anos vaicentrar-se no “aumento do acesso àtecnologia, desporto e arte” com acriação de “plataformas para aeducação, participação econstrução da paz” que envolvamas novas gerações.Francisco disse que as ‘Scholas’,rede mundial de escolas peloencontro,

visam “congregar os esforços detodos em favor da educação” dascrianças e adolescentes. “AsScholas procuram incluir a cultura, odesporto e a ciência, procuraconstruir pontes, a partir do‘pequeno’, para chegar a todos.Hoje, esta perspetiva, estainteração, está a ser implementadaem todos os continentes”, precisou.A plataforma ‘Scholas Ocurrentes’conta atualmente com 400 milescolas dos cinco continentes, comuma média de 500 alunos em cadauma.Este projeto promovido pelo Papa eo UNICEF vão colaborar,inicialmente, em “ações conjuntasglobais”, que visam, entre outrosobjetivos, “acabar com a violência” epromover a ligação entre os jovens,favorecendo o seu acesso “aferramentas” de comunicação.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Francisco recebeu o presidente italiano Sergio Matarella

Regina Caeli, Papa Francisco, 19.04.2015

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Virtudes cardeais

Prudência

D. José Cordeiro Bispo de Bragança-Miranda

As virtudes cardeais são quatro: a prudência, ajustiça, a fortaleza e a temperança.Porque é que se chamam assim? Virtudes,porque são forças. Cardeais, porquedesempenham um papel charneira, são comoque as dobradiças que fazem girar uma porta. Asvirtudes cardeais são aquelas que constituem abase de todas as virtudes e que circulam e fazemgravitar bem a nossa vida. As virtudes cardeaissão, com efeito, dotações naturais que temos deexercitar.A Bíblia convida à virtude, que permite à pessoade dar o melhor de si mesma: «tudo o que éverdadeiro, nobre e justo, tudo o que é puro,amável e de boa reputação, tudo o que é virtudee digno de louvor, isto deveis ter nopensamento» (Fil 4,8).Na continuidade bíblica e da Tradição, oCatecismo da Igreja Católica apresenta, de modofeliz, a virtude da prudência nestes termos: «Aprudência é a virtude que dispõe a razão práticapara discernir, em qualquer circunstância, onosso verdadeiro bem e para escolher os justosmeios de o atingir. “O homem prudente vigia osseus passos” (Pr 14, 15). “Sede ponderados ecomedidos, para poderdes orar” (1 Pe 4, 7). Aprudência é a «recta norma da acção», escreveSão Tomás seguindo Aristóteles. Não seconfunde, nem com a timidez ou o medo, nemcom a duplicidade ou dissimulação. Échamada “auriga virtutum – condutor dasvirtudes”, porque guia as outras virtudes,

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indicando-lhes a regra e a medida.É a prudência que guiaimediatamente o juízo daconsciência. O homem prudentedecide e ordena a sua condutasegundo este juízo. Graças a estavirtude, aplicamos sem erro osprincípios morais aos casosparticulares e ultrapassamos asdúvidas sobre o bem a fazer e o mala evitar» (nº 1806).A prudência, a primeira e a guia dasvirtudes humanas, é aquela queorienta a inteligência na escolha doque é honesto e melhor serve obem social. Na continuidade de S.Tomás de Aquino, podemos atéafirmar: sem a prudência, as outrasvirtudes nem sequer existem.Às vezes, a prudência éapresentada como cautela,diplomacia ou timidez. Todavia, aprudência é a arte de saberescolher o mais vale na vida emordem a um fim maior. A prudência éa

capacidade de discernir o bem.Prudente e providente formam umasó coisa, ou seja, é aquele que vêprimeiro e fixa os olhos no êxito dasboas acções. A prudência torna-nosrealistas e a evitar os idealismos. Ocontrário da prudência é anegligência e a astúcia.Refletir, perseverar nas coisas boas,preferir a simplicidade que acomplexidade são linhas indicadorasdo bem viver a relação humana. Aprudência também ensina que omelhor itinerário é mesmo o de viverdia por dia. Há que ter muitaatenção com o cristalizar da vida.Igualmente há que cuidar e vigiar asdistracções. O prudente constrói umcaminho onde Deus vem ao seuencontro.Hoje, as palavras de Jesus Cristocontinuam a ecoar no caminho davida: «sede, pois, prudentes comoas serpentes e simples como aspombas» (Mt 10, 16).

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“Vem encontr@rte e viver a Alegriada Fé” no Fátima Jovem

Padre Eduardo NovoDiretor do DepartamentoNacional da PastoralJuvenil

Ir ao Fátima Jovem, este grande encontro dejovens cristãos em Portugal, é ir ao regaço damãe.Promovida pelo Departamento Nacional daPastoral Juvenil (DNPJ), a peregrinação nacionalde jovens a Fátima é um encontro decompromisso, que oferece aos jovens, de todasas dioceses, experiências únicas de fé, alegria etestemunho. O DNPJ pretende que os jovensdescubram o sentido significado e valor da vida eque aprofundem a sua identidade como Cristãos,reafirmando esse compromisso em todas asdimensões da vida, quer familiar, quer notrabalho, na paróquia e no grupo de amigos. Poroutro lado, é uma oportunidade de cada jovemse encontrar consigo mesmo, com Cristo e comos outros jovens que comungam da mesma Fé efazer novos amigos.O Fátima Jovem 2015, terá lugar nos dias 2 e 3de Maio e tem o belo tema “Felizes como Maria, aCheia de Graça”, Maria a primeira discípula, amãe doce e terna, que nos conforta e anima nocaminho da Fé! Assim, o DNPJ convida todos osque queiram, de uma forma diferente, unidos emCristo estar mais próximos de Maria, a juntarem-se a nós nesta grande peregrinação.Quanto ao Programa Oficial, depois da chegadaa Fátima todos serão acolhidos pelo STAFF doEncontro e com um momento musical no CentroPastoral Paulo VI. Nesta altura são distribuídosalguns materiais, designadamente o “Kitperegrino”.

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Ao fim da tarde há a Saudação aMaria na Capelinha das Aparições,seguida de um “Espaço Jovem”recheado de muitas atividades -culturais, musicais, de reflexão/formação, no Centro Pastoral PauloVI.À noite, teremos o Rosário e aProcissão de Velas na Capelinhadas Aparições, seguida da VigíliaJovem na Igreja da SantíssimaTrindade. Depois, o espetáculo dogrupo “Jovem Levanta-te”, os jovensfinalistas do programa “Got TalentPortugal, novamente no CentroPastoral Paulo VI.Ao longo de toda a tarde/noite desábado, existe um espaço onde osjovens têm oportunidade para

celebrar o Sacramento daReconciliação.No domingo, dia 3 de maio, após aOração da Manhã, feita por gruposde peregrinos nos locais dealojamento, reunimo-nos todos norecinto do Santuário para o Rosárioe Procissão, seguida de EucaristiaSolene e envio.E são todos estes motivos que noslevam a fazer-vos o convite a estaPeregrinação plena de momentosde encontro, de reflexão, de oraçãomas também de convívio e de festacom jovens de todas as dioceses emovimentos.Aceitas este nosso convite? Atreves-te! Vem encontr@rte e viver aAlegria da Fé…

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DOCUMENTO

Não podemos ficar sossegadosO 1º de Maio é, desde 1889,reconhecido como Dia Internacionaldos Trabalhadores. Maio éconsiderado por muitos como mêsda Solidariedade, da valorização dotrabalho digno e tempo paracomemorar e afirmar a luta pormelhores condições de vida e detrabalho, pela qual, muitostrabalhadores sofreram e algunsperderam a vida. Hoje, Para alémdas situações de injustiça e de faltade dignidade e de humanização,que conhecemos de perto epodemos ver todos os dias, existem,no mundo, situações de trabalhomuito próximas da escravatura, quejustificam, lembrar e continuar essaluta.A maioria das pessoas nos paísespobres trabalha sem qualquer tipode regulamentação laboral, semsegurança no trabalho e semqualquer proteção social.A ganância e o dinheiro contammuito mais que a natureza e adignidade das pessoas. Asmultinacionais não têm o maispequeno interesse nas pessoas,olham para elas como produtoresou como consumidores.Apesar das muitas declarações ereivindicações por um trabalho

digno, apresentadas por exemplonas encíclicas sociais dos Papas eem numerosas publicações da OIT-Organização Internacional doTrabalho, se manifestam contra taissituações e defenderem a dignidadedo trabalho e da pessoa, a justa eequitativa distribuição da riquezaproduzida e o bem comum, arealidade continua a contrariaresses ensinamentos, mostrando queno mundo, e também em Portugal asituação se agrava. Para essa situação contribuem, emgrande medida, as desigualdadesna distribuição da riqueza que semantêm em crescendo no mundo, eque também se acentuam emPortugal. Mesmo em tempos decrise, os ricos são cada vez mais emais ricos, e os pobres também sãocada vez mais e mais pobres. EmPortugal, segundo estudosrecentes, o número de pessoas emrisco de pobreza continua aaumentar, encontrando-se em maiorrisco, a população desempregada.E, com os nossos altos índices dedesemprego, facilmente, se percebeque o número de pobres vaicontinuar a crescer.Como diz o Papa Francisco na

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Evangelii Gaudium nr. 53, “temosque dizer Não a uma economia deexclusão e desigualdade social. Éuma economia que mata. É incrívelque não se faça notícia quando umidoso, que se vê obrigado a viver narua, morre de frio, enquanto se faznotícia de uma queda de 2 pontosna bolsa”.Como trabalhadores e cristãos não

podemos ficar sossegados perantetão graves e desumanas situações edevemos participar e desafiar asociedade para a promoção dasolidariedade, da justiça e dadignidade humana.

LOC/MTC - Movimento deTrabalhadores Cristãos

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Branco, o “dress code” da liberdade(e da responsabilidade)

Carlos Borges Agência ECCLESIA

Onde estavas no 25 de abril de 74? É a celebrepergunta que nestes dias volta a ecoar nasmemórias e é revivida na televisão, rádio, folhasde jornal, internet e inúmeras iniciativas.Eu não estava e como não estava, sempre meencantou este período histórico. Gosto de ouviras memórias de quem o viveu e neste contexto,privilégios da profissão, tive o prazer dedesgravar a entrevista com algumas dasmemórias da ex-secretária de Estado para oPlaneamento, no I Governo constitucional (1976-77), sobre os católicos neste tempo específico.“A fé em Jesus Cristo não impõe uma ideologia”foi das primeiras frases de um novelo de 25minutos que permite tentar visualizar/imaginaralguns destes passos, assim como um livro bom.“Houve uma diversidade enorme de tomadas deposição da parte dos católicos. As pessoasentraram no processo revolucionário segundo osseus próprios interesses, a sua maneira de ver,os seus compromissos”, comentou também aantiga presidente da Comissão Nacional Justiça ePaz.A professora Manuela Silva à Agência ECCLESIA(podem ler, página 40) frisou que esta situaçãofoi possível não apenas porque com a revoluçãomudou a política nacional mas pelo trabalho quevinha sendo feito, com exemplos concretosdesde reuniões, manifestações, congressos eaté prisões.Hoje, os apelos à sociedade, e aos católicos em

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particular, têm sido muitos, diversosmas concretos, relacionados com obem-comum dentro e fora dasfronteiras nacionais. Relacionadas nãosó com o saber onde está o meuirmão mas também com está e emmuitos casos eles aparecem nasnotícias. Nas más notícias, se assim aspodemos classificar.Cristãos, e outras minorias religiosas,são perseguidos, mortos, usadoscomo exemplo porque afirmam e nãodesistem da sua fé. Noutros casos é ofundo dos mares que acaba porencarcerar histórias e memórias dequem procura alcançar um futuro,uma vida, a esperança, quem sabecom o odor a cravos e a liberdade.Desde o fim-de-semana, o MarMediterrâneo tornou a invadir o

tempo de antena com mais umacatástrofe de centenas de mortes,de quem procura as condições quenão tem na sua terra natal e vê naEuropa oportunidades e sonhos.E nós, mesmo no nosso retângulo àbeira mar plantado, podemos usar anossa liberdade para pedir mais emelhores medidas dos responsáveise decisores políticos, seja nascondições de travessia, noacolhimento ou mesmo nos paísesde origem dos migrantes,cooperando para que exista umaconjuntura favorável para viverem enão apenas para que sobrevivam.Desta forma, pela vida destesirmãos o convite e o desafio lançadohoje em Portugal é para que o“dress code” deste domingo sejabranco e que invada tambémjanelas e varandas.

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A revolução de Abril de 1974 trouxe novas

dinâmicas à sociedade portuguesa, que envolveu aIgreja Católica na transformação democrática, numprocesso de consolidação que não ficou isento de

riscos. O papel da hierarquia e do laicado é passadoem revista num conjunto de depoimentos e

testemunhos da época, acompanhado por umaentrevista a Manuel Braga da Cruz, antigo reitor da

UCP, sobre o papel dos católicos na transição para aDemocracia.

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d pa

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Papel da Igreja foi determinante natransição democrática após o 25 deAbrilManuel Braga da Cruz, investigador e antigo reitor da Universidade CatólicaPortuguesa, aborda em entrevista à Agência ECCLESIA os principaismomentos da relação Igreja-Estados nos momentos que se seguiram àrevolução de 1974, sublinhando a importância das posições dos bispos paratravar e corrigir excessos que teriam colocado em risco a construção de umnovo regime político constitucional.

Entrevista conduzida por Octávio Carmo Agência ECCLESIA (AE) - Como éque a Igreja Católica se adaptou àmudança de regime político emPortugal após a revolução de 1974?Manuel Braga da Cruz (MBC) - Opapel da Igreja Católica na transiçãopara a democracia foi um papelmuito importante de moderação ede orientação, de retificação dedesvios. E esse papel começouantes do próprio 25 de Abril. Em1972, quando os sinais de colapso,de fracasso da tentativa detransição marcelista começavam aser claros, sobretudo com a débilrevisão da Constituição, queprovocou alguma deceção, e com ofracasso de uma eleição para aPresidência da República de alguémque pudesse pilotar essa transição,a Conferência Episcopal publicouuma

importante carta pastoral, no 10.ºaniversário da ‘Pacem in Terris’,onde fazia clara e abertamente adefesa da participação política doscidadãos, defendia o pluralismopolítico legítimo e fazia um apelo àresponsabilidade cívica doscidadãos. Para bom entendedor, eraum convite à introdução na vidapública portuguesa de elementosclaramente democráticos.Quando surge a revolução - e surgede uma forma abrupta, através deum golpe de Estado -, a primeirareação da Igreja foi a de secongratular com as perspetivas deabertura da sociedade portuguesa,mas apela à concórdia e à paz,porque eram visíveis os sinais deque a conflitualidade poderiaassumir proporções indesejáveis.

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AE - A mudança trouxe alguma

tensão…MBC - Houve desde logo sinaispreocupantes, embora o I GovernoConstitucional fosse apresentarcumprimentos ao senhor cardeal-patriarca, no sentido de quererestabelecer com a Igreja asmelhores relações - essa visita foido primeiro-ministro, Palma Carlos,e do ministro dos NegóciosEstrangeiros, Mário Soares.A verdade é que houve algunsepisódios, como por exemplo aquelatransmissão televisiva de umprograma que faltava ao respeito,de forma agressiva, ao cardealCerejeira, então vivo, e tambémalguns sinais preocupantes de ocupação de órgãosde ensino e de órgãos de comunicação. A Igreja sentiu-se nanecessidade, já no verão de 74, de chamar a atençãopara o que era o conceito cristão de Democracia e de se pronunciar sobre as opções partidárias doscatólicos, para sublinhar que o pluralismocatólico é um pluralismo balizado,com critério.

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AE - O processo democrático nãodecorreu, no entanto, dentro danormalidade que seria desejável.MBC - As coisas tornaram-sepreocupantes quando, com aaceleração do processorevolucionário, algumas liberdadescomeçaram a ser postas em causa.A primeira de todas foi a liberdadesindical, com a polémica sobre aunicidade sindical; depois a próprialiberdade de expressão e deimprensa; e a liberdade de ensino.A Conferência Episcopal, por váriasvezes, teve ocasião de chamar a

atenção para a importância destasliberdades. Numa pastoral, no verãode 74, chamou a atenção para ofacto de estarem a encerrar doisperíodos de grande importânciahistórica: não apenas o regimeautoritário, que soçobrava para darorigem a um regime democrático,mas também um longo período dequase 500 anos de expansãoultramarina e de missionação.Os bispos resolvem fazer umaavaliação do que foram estesperíodos, sem deixar de pôr emevidências aspetos positivos e

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negativos, de uma forma muitosumária e discreta: tentam travaruma leitura exorcista do passado,como se tudo o que tivesseacontecido até então fossemeramente negativo. Chamam aatenção para a importância daviragem que se estava a operar, ouseja, uma viragem no sentido dademocratização e uma viragem nosentido da europeização dePortugal.Nós vínhamos de uma perspetiva deintegração ultramarina,ultrapassada, ou se quisermos atéderrotada, no plano internacional,para uma integração europeia e osbispos assinalam a importânciadesta viragem, como que a chamarà responsabilidade os portuguesesface à delicadeza destes doisprocessos. AE - Qual foi a importância dopluralismo no seio do catolicismopara evitar um cenário deconfrontação, dividindo ainda mais opaís?MBC - O laicado católico, logo aseguir ao 25 de Abril, distribuiu-sepluralisticamente por váriasorganizações e, portanto, opluralismo político era tambéminterno ao próprio mundo católico:isso impediu que se vissem ascoisas como se a Igreja estivesseapenas do lado do

autoritarismo e do lado dademocracia não houvesse Igreja oucatólicos.Pelo contrário. Já tinha havidocatólicos, antes da revolução, emvárias expressões de oposição aoregime autoritário, tinha existidoaliás uma multiplicação de atitudesde católicos nos últimos anos doanterior regime que, muitonaturalmente, se exprimiu emmúltiplas opções. Isso impediu quese tivesse criado uma polarizaçãode atitudes anticatólicas e atitudescatólicas na vida política a seguir ao25 de Abril. Não foi isso queaconteceu.É curioso que uma das primeiraspreocupações do episcopado foidefender e afirmar a independênciae a isenção da Igreja na novasituação política, recomendandoinclusivamente que não seinstrumentalizasse a religião parafins políticos. Mais tarde, aConferência Episcopal chamou aatenção dos católicos para a sualiberdade, o seu pluralismo, mas deuma forma balizada.

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AE - O 11 de março de 1975 veiotrazer mudanças?MBC - Com a aceleração doprocesso revolucionário, algumasforças mais radicais resolveramfazer violação clara de liberdadesda Igreja e de liberdades públicas,nomeadamente com o caso daRádio Renascença. Também algunsabusos, como o caso do arcebispode Braga que foi maltratado ao sairdo aeroporto de Lisboa, levaram aConferência Episcopal a assumirposições muito fortes, sobretudo porcausa da não resolução por partedo Estado do problema que afetavaa Renascença, a incapacidade doGoverno de repor a legalidadenesta rádio, agravado pelamanifestação em frente aoPatriarcado de Lisboa [18.06.1975]e a decisão do executivo deconstituir uma comissãoadministrativa.Isto acontecia depois da ocupaçãodo jornal ‘República’, de orientaçãosocialista, e levou os bispos apromover uma série demanifestações no país em defesadas liberdades: da liberdadereligiosa que estava a ser atingida,da liberdade de expressão etambém a liberdade de ensino.O contributo da Igreja para que asociedade civil portuguesa travasse

a tentativa de radicalização doprocesso revolucionário foi degrande importância. Quando se dáaquela famosa manifestação daFonte Luminosa [19.07.1975] emque Mário Soares pede abertamentea demissão do primeiro-ministroVasco Gonçalves, a Igreja tinha tidoum papel muito importante namobilização da sociedadeportuguesa para impedir que umatransição para a democracia setransformasse numa transição paraoutra forma de totalitarismo político.Esta atuação dos católicos emvárias frentes e em váriasinstituições impediu que se tivessecriado uma questão religiosa com oadvento da III República. Aliás, quero primeiro-ministro Palma Carlos,quer Mário Soares e os líderespolíticos dos partidos emergentestiveram a preocupação de nãopermitir que, à semelhança do queacontecera na I República, ainstauração de um novo regimepolítico se pudesse transformarnuma questão religiosa.

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AE - A caminhada para anormalização constitucional,digamos, tem a marca doscatólicos?MBC - Seguramente. Muitos dosleigos católicos e muitos dosmembros da hierarquia tinham vindoa intensificar as suas relaçõesinternacionais, muitos dos bispostinham estado no Concílio VaticanoII que assumiu posições muito clarasrelativamente à comunidade políticae à participação dos católicos.A dispersão dos católicos por váriasformações partidárias agilizou odiálogo na Assembleia Constituinte,permitiu entendimentos muitoimportantes. Houve um clima deconstrução de pontes, no processo

constituinte, que muito deve ao factode os católicos estarem distribuídospluralisticamente e à sua visão dademocracia, que advinha dasmúltiplas relações estabelecidas. Aprópria Igreja tinha, no ConcílioVaticano II, evoluído nesta matéria,defendendo posições no sentido dadesconfessionalização da vidapolítica. Nesse sentido, reconheceua laicidade das coisas temporais,que a política tinha as suas regraspróprias.Esse contributo enorme foi deextrema importância para a formacomo os católicos ajudaram a pôr depé, digamos assim, a Constituiçãode 1976 e a nova democraciapolítica.

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AE - Muitos movimentos católicosforam um espaço de iniciaçãopolítica, durante a ditadura. Agora,vivendo em liberdade, o que faltapara que exista esse interesse deaprofundamento e preparação paraa vida na sociedade, do ponto devista das convicções católicas?MBC - Não há dúvidas de que logoa seguir à II Guerra Mundialverificamos que todos osmovimentos da Ação Católica têmum papel decisivo na preparaçãodos leigos para a intervenção navida pública, não apenas na vidapolítica, mas na vida pública.

Há muitas dimensões da AçãoCatólica que preparam uma plêiadeimensa de católicos, preparam aselites para uma nova realidade. Nãodeixa de ser curioso que já no finalda década de 50 do século XX, oque motivou a carta do bispo doPorto [D. António Ferreira Gomes] aSalazar, que origina depois o seuexílio, é a pergunta sobre se oscatólicos podem organizar-se econcorrer a eleições. Isto é, o bispodo Porto admitia a possibilidade deos católicos participarem, como tais,na vida pública, na vida política,através

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de um processo eleitoral. Nãoadmira, por isso, que logo a seguirao 25 de Abril verifiquemos que hámuitos antigos militantes da JUC, daJOC e da JEC envolvidos na vidados partidos, de vários partidos. Hámuitos

dirigentes da Ação Católica aparticipar na vida partidária,parlamentar, e a dar um contributomuito importante para a edificaçãode um Portugal democrático.

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Os católicos na formaçãoda democracia portuguesaO 25 de Abril de 1974 foi paramuitos católicos e não católicos umaesperança de liberdade e justiça. Ede incerteza face aos caminhospara concretizar as aspirações detodos os portugueses que exultaramcom a queda do Estado Novo. Quedemocracia seria possível oudesejável instaurar? Como evitarretrocessos ou derivas autoritárias?No processo revolucionário deformação da democraciaportuguesa a intervenção doscatólicos portugueses caracterizou-se pelo seu pluralismo e ativismo.Este posicionamento dos católicosface à política continuava umadinâmica já patente nas eleições de1969 em que católicos militantesparticiparam não só nas listas daAção Nacional Popular, incluindo ogrupo que viria a ser conhecido por«ala liberal», como também emtodas organizações de candidatosoposicionistas e nos grupos que serecusaram a participar nas eleiçõese a dar o benefício da dúvida à«primavera marcelista».Quer os sectores políticos laicosquer a hierarquia católica agiram

de modo a evitar a reabertura deuma «questão religiosa» quefragilizara a I República. Foi delicadoo aparecimento de partidos dereferência democrata-cristã que ahierarquia católica nem apoiou nemdesautorizou publicamente. «Nãoaos partidos cristãos, sim aoscristãos nos partidos» era um lemadefendido por padres em jornaiscatólicos.Católicos praticantes ou que setinham afastado da Igreja Católicamas mantinham uma referênciacristã e ligações a sectores docatolicismo aderiram ou colaboraramcom os mais diversos partidos: opadre Max foi candidatoindependente a deputado pela UDP;o ex-padre Felicidade Alves aderiuao PCP; Nuno Teotónio Pereira aoMES; o ex-jocista João Gomes e oex-jucista José Leitão ao PS; o ex-jocista Manuel Serra primeiro ao PSe depois à FSP; António Guterres aoPS; Sá Carneiro e Mota Amaral aoPSD/PPD; Amaro da Costa e Freitasdo Amaral ao CDS.Os governos do processorevolucionário contaram com acolaboração de católicos

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militantes: Mário Murteira foi Ministrodos Assuntos Sociais do I GovernoProvisório, tendo Lurdes Pintasilgocomo Secretária de Estado daSegurança Social; Maria de LurdesBelchior foi secretária de Estadodos Assuntos Culturais eInvestigação Científica dos I, II e IIGovernos Provisórios; FranciscoPereira de Moura foi ministro sempasta do I e II Governos Provisóriose Ministro dos Assuntos Sociais no VGoverno Provisório.

Juntamente com cidadãos nãocrentes e de outras confissõesreligiosas, os católicos portuguesesdurante o período revolucionáriointervieram nos partidos,associações, sindicatos, nossucessivos governos provisórios enas oposições, contribuindo para aformação de um regime democráticoem Portugal.

João Miguel Almeida,Centro de Estudos de História

Religiosa - UCP

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A experiência política dos católicosManuela Silva recorda a ação eintervenção dos católicos depois do25 de abril de 1974, no ProcessoRevolucionário em Curso (PREC). Aex-secretária de Estado para oPlaneamento e antiga presidente daComissão Nacional Justiça e Pazconsidera que a “fé em Jesus Cristonão impõe uma ideologia” e explicaque o empenhamento dos cristãosnão foi “determinado só” pelasalterações políticas “maisfavoráveis” mas de um trabalhosilencioso que vinha de trás.“Houve uma diversidade enorme detomadas de posição da parte doscatólicos. As pessoas entraram noprocesso revolucionário segundo osseus próprios interesses, a suamaneira de ver, os seuscompromissos”, analisou ManuelaSilva.A Agência ECCLESIA, a professorauniversitária salienta que estaparticipação foi possível porque jáhavia uma “larga experiência deempenhamento político” feito peloscristãos, nomeadamente oscatólicos, antes do 25 de abril de1974. “Não sob a forma de partidos,uma vez que só havia o partido daUnião

Nacional, onde também estavamcatólicos, mas em diferentessetores”, elucida.Neste contexto, a ex-secretária deEstado para o Planeamento, no IGoverno constitucional (1976-77),lembra que havia católicos quetrabalharam pela “conscientizaçãodos portugueses” relativamente àguerra colonial, um assunto “tabu”,o que originou que algunsestivessem na prisão de Caxiasdurante da revolução dos cravos.Para além destes, a entrevistadarelembra “um gérmen”, umacorrente chamada cristãos pró-socialismo que, com a“cumplicidade” de congregaçõesreligiosas, discutam temas numalinha marcadamente “adversa àpolítica dominante”.“Penso que vinham dos anos 70 eainda é de salientar o facto dealguns católicos se teremempenhado seriamente narenovação da própria comunidadeeclesial”, acrescenta, recordandoque nesta data tinham passado dezanos do final do Concílio Vaticano II.Segundo Manuela Silva os efeitosdo concílio sentiam-se em Portugalde

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uma maneira “muito discreta, muitosuave” mas havia quem manifestava“um grande interesse” pelopensamento conciliar com“iniciativas para o aprofundar e dara conhecer” e comunidades que otentavam colocar na “prática dosseus quotidianos”. “Isso depois veioa ter influência a seguir ao 25 deabril, o terreno estava preparado”,elucida a entrevistada que recordaexperiências de padres operários, a“inovação” que

representava a Diocese de Setúbalcom D. Manuel Martins, que era“uma exceção no panorama eclesialportuguês” ou a Comunidade doRato com o Manifesto da Páscoa de70, que “foi um marco importante”, ea vigília na capela em 1973.Sobre a hierarquia da Igreja católicaportuguesa, a professoracatedrática considera que “geriucom alguma prudência” tempos quese revelaram “difíceis”. A opiniãopública associava

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os bispos ao antigo regime e acompromissos desse passado,mesmo com o contributo “decisivo”de alguns católicos e organizaçõescatólicas no período anterior àrevolução.Desta forma, recorda que ahierarquia nem “sempre” foi umbloco e destacou ações disruptivascomo o bispo do Porto, D. AntónioFerreira Gomes, ou mesmo o futurocardeal de Lisboa, D. AntónioRibeiro, que à época eracomentador na televisão “muitoseguido, ouvido e considerado deabertura”.A antiga presidente da ComissãoNacional Justiça e Paz frisa que osdesafios “eram muito fortes” e oscatólicos aproveitaram a “janela deoportunidade” para “dar expressão”ao que já era a sua prática. “Havialiberdade, a ideia de que aliberdade realmente permitia esseespaço de abertura e criava maiorresponsabilidade. É interessantedizer que os católicos estavam nasdiferentes forças partidárias masque eu saiba não trouxe confrontoentre os católicos”, desenvolveu ainterlocutora para quem “a fé emJesus Cristo não impõe umaideologia”.

Manuela Silva já não era estudantena revolução dos cravos recordaque a Juventude UniversitáriaCatólica, JUC, nos anos 70 “aindatinha um impacto importante” erevela que a sua formação einteresse pelas “questões do mundoe pela presença dos cristãos”começou na faculdade. A JUC eraum espaço de “abertura cultural,empenhamento, debate, discussão”,que marcou, por exemplo, com oprimeiro congresso da organização(entre 15 e 19 de abril de 1953).Com o 25 de abril de 1974, houveuma “transformação muitosignificativa” que se conquistou comuma república democrática, umaconstituição progressista que afirmaos direitos humanos e defende omodelo de Estado Social contudoManuela Silva alerta para astransformações económicas de“produtividade, organização daeconomia” que “não se realizaram”.Desta forma, preocupa-se com adesigualdade na “repartição dariqueza e do rendimento, nasoportunidades de bem-estar edesenvolvimento social” que nãofavorece a coesão social, “pilar dademocracia”. “Aquilo que

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conquistamos como liberdadespolíticas, de expressão eassociação podem ficar em risco senão se cuidar devidamente dacoesão social, incluindo a coesãogeográfica”, analisou.Atualmente, tem a opinião que “hámuita reflexão” e mesmo“preocupação” em aprofundar opensamento da Doutrina Social daIgreja mas alerta para o “défice devisibilidade e de potencialidade

de aproveitamento das iniciativas”.Atualmente na vida da Igreja e dasociedade destaca a figura do PapaFrancisco que é “contagiante”. Nãosó pelas palavras, como o ato de“grande coragem” de falar sobre ogenocídio do povo Arménio, mastambém “pelos gestos proféticos”como a viagem a Lampedusa, umassunto que continua atual.“Realmente há que levantar osassuntos que são tabus”, concluiManuela Silva.

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Responsabilidade e intervençãodos cristãosO cónego António Janela,presidente do Instituto de FormaçãoCristão do Patriarcado de Lisboa,espera que os cristãos "não seinstalem" e assumam "as suasresponsabilidades de intervenção"na construção da cidade. "Que nãoficassem no interior dos templos, noserviço litúrgico, catequético esociocaritativo. Tudo isso é muitoimportante, mas a missão do leigo éno mundo concreto, de família,trabalho, de intervençãosociopolítica", afirmou, à margem daconferência que assinalou os 40anos do Centro de Reflexão Cristã(CRC).Este espaço de reflexão, criado nopós-25 de abril de 1974, "segue alinha do Vaticano II", aponta àAgência ECCLESIA, José Leitão,Presidente da direção do CRC,missão "muito atual e emconsonância com o PapaFrancisco". "As conferências demaio que realizamos mostram essaatualidade e o papel que o CRCcontinua a ter", indica oresponsável.Segundo o cónego Janela, o CRCveio " colmatar um certo vazio, umainstância em que os cristãos eoutras pessoas deviam ter paraescutar a

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cidade" numa perspetiva "não decriticismo, mas de reflexão e decrítica". "Era necessária umareflexão cristã, à luz da palavra,sobre a atualidade que se vivia naaltura, e era importante ser iniciativado laicado. O CRC acabou porintegrar pessoas que se podiam terdispersado no meio da confusãoque veio depois com PeríodoRevolucionário em curso (PREC)".O sacerdote recorda ainda o papelque os cristãos tiveram, "nem

sempre sublinhado", naresponsabilidade de "ser ponteentre posições divergentes". "Méritoesse de uma Ação Católica, do seutempo, que deu frutos", assinala.O 40º aniversário do CRC foiassinalado ao longo do dia com umencontro que juntou numa mesa-redonda Manuela Silva e JoséLeitão sobre o tema «O CRC e arenovação da Igreja - quarenta anosde intervenção cristã».

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A Igreja também falou do 25 de Abril…A sociedade civil portuguesacelebra, dia 25 deste mês, mais umaniversário da chamada revoluçãodos cravos. Uma mudança deparadigma político que teve ocontributo da Igreja. Muitos católicose alguns elementos da hierarquia daIgreja ajudaram a derrubar o regimemusculado e depois apoiaram aconsolidação da democraciavigente.Apresentamos alguns excertos detextos da hierarquia da Igrejaportuguesa nos tempos do 25 deabril de 1974 e anos seguintessobre a turbulência e o embrião deum Estado democrático: - «O movimento de 25 de abril pôstermo a um regime político de quasemeio século e abriu ao povoportuguês a possibilidade de umfuturo marcado pelo idealdemocrático». (In: Carta Pastoral doEpiscopado Português – “Ocontributo dos cristãos para a vidasocial e política”; Lisboa, julho de1974). - «Considero que a Igreja é aindadiplomática, demasiado diplomática.Diplomática em vários dos seusserviços, nas respetivas estruturase sobretudo na mentalidade demuitas

pessoas». (In: D. António FerreiraGomes, bispo do Porto; Jornal deNotícias, 24-08-1974; “Bater aPenitência no Peito dos Outros?!”,Cadernos Telos/11).

- «Finalmente, este conselho querafirmar que pensa terem-se abertonovos caminhos para a libertaçãodo povo português e que tomoumaior consciência do que significapartilhar as alegrias e asesperanças dos homens. (In:Declaração do Conselho Presbiteraldo Patriarcado; “Boletim Diocesanode Pastoral”, Maio/74).

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- «Teoricamente temos maisliberdade que no regime anterior enão somos inquietados pelo quedizemos ou fazemos, mas os meiosde comunicação social maisimportantes – rádio e televisão eimprensa – estão controlados porgrupos sindicais ou políticos, e nãose fazem eco das nossasafirmações ou publicam apenasalguns aspetos» (In: D. AntónioRibeiro, cardeal patriarca de Lisboa;«Le Figaro», de 07-04-75).

- «Os sacerdotes nordestinos têmsido, em certos meios deComunicação Social, acoimados deretrógrados, de atrasados, dereacionários e eu sei lá de quemais. Não somos atrasados nemreacionários, sabemos o quequeremos. Pode a pátria contarconnosco para ajudarmos narenovação de Portugal. Não noscaluniem. Não nos dificultem aação» (In: D. Manuel de JesusPereira, bispo de Bragança;“Manifestação dos Cristãos emBragança”; «Tempo», 31-07-75).

- «Rejeitamos a sociedade em quenão se respeita a liberdade damissão doutrinal da Igreja e se lherouba um instrumento essencialdessa missão: a nossa EmissoraCatólica, a Rádio Renascença». (In:D. Francisco Maria da Silva,arcebispo de Braga; “Manifestaçãodos Cristãos em Braga”, 10-08-75;“Notícias de Viana”, 14-08-75).

- «Exortamos todos os cristãosdesta diocese a participarem, comotestemunhas do Evangelho, namudança de determinadasestruturas da sociedade,autenticamente escravizantes, paraque, pelos atos e gestos da suavida, se façam acreditar comoirmãos de todos, sobretudo dosoprimidos, e sejam sinal de amorentre os homens» (In: Comunicadodo Conselho Presbiteral do Clero daGuarda; «Voz Portucalense», 06-09-75).

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- «O Evangelho dá uma inspiração,dá um sentido à vida, dá critérios,mas não dá soluções concretas deordem política ou social» (In: D.Manuel Franco Falcão, bispocoadjutor de Beja; «Expresso», 25-10-75).

- «A euforia da independência estáa transformar-se em pesadelo,cheio de apreensão einterrogações. A insegurança nopresente e a incerteza do futuro, ocaos económico e o banditismo…»(In: D. Eurico Dias Nogueira, Bispode Sá da Bandeira; «VozPortucalense», 18-10-75.)

- «É preciso que os cristãosacordem, que acordem os queporventura tenham estadoadormecidos, e que vivam asautênticas realidades da nossasociedade» (In: D. Manuel deAlmeida Trindade, bispo de Aveiro;“Manifestação dos cristãos emAveiro”, «Nova Terra, 17-07-75).

- «Nesta hora alta da nossa vidanacional, em que os portuguesesensaiam a convivência democráticae procuram esquemas mais livres emais justos de ordenação dasociedade, fácil é verem surgir,entre eles, as tensões e asdiscórdias, as tentações do ódio eda vingança…» (In: D. AntónioRibeiro, cardeal patriarca de Lisboa,«Saudação e Mensagem para oNatal de 1974».)

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- «A maior parte das culpas eramatribuídas ao clero, acusado deforma virulenta, reacionária eobscurantista. Foi-se ao ponto de,na televisão, um oficial que faziaparte da coluna, se explanar emconsiderações sob o modo como asfreguesias da diocese de Vila Realdeviam ser providas» (In: D. AntónioCardoso da Cunha, bispo de VilaReal; “Manifestação dos católicosem Vila Real, «Nova Terra», 28-08-75). - «O espetáculo do aeroporto deLisboa que todos os dias sereenche de refugiados, com adesilusão e a cólera estampados norosto, é a expressão maisconfrangedora da provação pelaqual está atravessando o país» (In:D. Manuel de Almeida Trindade,Bispo de Aveiro; “Homilia na Missade Fátima”, 12-10-75) - «Mas quando nesta cidade doPorto, ali em frente à estação deSão Bento, uma criança da rua dizao jornalista que pede ao Pai-natal“uma espingarda, por causa do 25de abril, p´ós fascistas” que mais épreciso dizer?! ... O que a infânciaé, na sua própria inocência einconsciência, é o espelho dosadultos e portanto símbolo eexpressão do mundo em que vive»(In: D. António Ferreira Gomes,bispo do Porto; Homilia na Sé doPorto, 01-01-75)

- «A Igreja pode participar naconstrução do estado, masindependentemente. Julgo queserviremos melhor a causa comumestando separados dos poderespolíticos» (In: D. António FerreiraGomes, bispo do Porto;«República», 30-05-74).

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FLOR DE LIS onlinehttp://www.flordelis.pt/

A 23 de abril em todo o mundo secomemora o dia de São Jorge, umdos santos mais venerados nocatolicismo. Aquele que, conformenos diz a lenda matou um dragão, étambém o patrono mundial doescutismo. “O Escutismo é umMovimento Mundial, de carácter nãopolítico, aberto a todos, com opropósito de contribuir para aeducação integral dos jovens deambos os sexos, baseado naadesão voluntária a um quadro devalores expressos na Promessa eLei escutistas, através de ummétodo original que permite a cadajovem ser protagonista do seupróprio crescimento, para que sesinta plenamente realizado edesempenhe um papel construtivona sociedade”.Assim, proponho uma visita ao sítiovirtual da revista oficial do CorpoNacional de Escutas (CNE), Flor-de-lis, que se publica desde Fevereirode 1925, contando com mais de1200 edições em papel.Ao digitarmos o endereçowww.flordelis.pt encontramos oshabituais destaques, sejam elesnotícias, conteúdos multimédia ou

dossiers temáticos. Em“actualidade”, podemos ler todas asnovidades que vão sendodistribuídas por ordem cronológicamerecendo uma leitura atenta. Noitem “internacional”, acedemos atodas as notícias de carácter nãonacional, onde por exemplo,podemos ler que o chefe JoãoArmando é atualmente o presidentedo Comité Mundial, o responsávelmáximo do escutismo em todo omundo. Por outro lado, na área“nacional”, somos informadosacerca de todos os acontecimentosque são alvo de notícia no nossopaís.Caso pretenda aceder aosdiferentes vídeos que vão sendopublicados pelo escutismo nacional,basta clicar em “vídeos”, aí temos,entre outras coisas, a apresentaçãoda mais recente equipa da JuntaCentral para o triénio 2014/2016,liderada pelo aveirense NorbertoCorreia. Por outro lado, em“fotogaleria”, como o nome o refere,podemos aceder a diversasexposições fotográficasrelacionadas com eventosmarcantes do CNE.Uma opção deveras interessante é aárea “dossiers temáticos”, ondepodemos aprofundar diversos temasrelacionados com escutismo.Temos,

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por exemplo, os noventa anos destarevista, um trabalho acerca daBeata Teresa de Calcutá, ou mesmoum conjunto interessantíssimo deconteúdos onde a figura principal éBaden-Powell, fundador doescutismo.Aqui fica a sugestão para acederregularmente ao sítio desta

publicação, ficando assim a sabermais acerca da vida da maiorassociação juvenil nacional que é oescutismo. Porque a “Flor de Lis” éum espaço onde todas as históriasse encontram num único lugar.

Fernando Cassola Marques

[email protected]

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Catálogo do Arquivo Susan LowndesEm 2012 o Centro de Estudos deHistória Religiosa (CEHR) criou acoleção Instrumentos de DescriçãoDocumental, coordenada pelo seuGrupo de Trabalho de Arquivística edestinada à divulgação decatálogos, inventários e outrosinstrumentos resultantes deintervenções arquivísticastecnicamente sustentadas, de modoa contribuir para a preservaçãodeste património e para odesenvolvimento da investigaçãohistórica na sua área deespecialização. Na ocasião, foipublicado o Catálogo do ArquivoProfessor António Lino Neto. Doisanos depois, o Catálogo do ArquivoSusan Lowndes vem materializar oterceiro número da coleção, e denovo através da

publicação do catálogo de umarquivo pessoal.O Grupo de Trabalho de Arquivísticatem, aliás, em execução algunsprojetos de organização e descriçãode arquivos pessoais, cujosInstrumentos de Descriçãoverteremos nesta coleção em tempopróximo.A presente publicação é um pontode chegada que muito deve àconfluência de vários esforços eapoios. Desde logo, o apoio dadopor Ana Vicente, a vários títulos: acedência do espólio, a confiança nonosso trabalho, os esclarecimentosque ajudaram à organização e àdescrição, e a revisão deconteúdos. Necessariamente, adedicação profissional e pessoal daDra. Patrícia Matias Pereira, a quemse deve a matéria e a forma doobjeto

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que temos em mãos. Ainda o apoiofinanceiro do ProgramaIberarquivos-Programa ADAI.É um ponto de encontro e tambémum ponto de partida. Tal comosucedeu com o arquivo doProfessor António Lino Neto, oCEHR não deseja limitar a suaintervenção ao nível técnicoarquivístico. O nosso fim é tambémoutro. Como Unidade deInvestigação na área da História, oCEHR definiu entre as suas trêslinhas temáticas uma quedenominou de “Memória, mediaçõese materialidades do religioso”. Éaqui que se inscreve este trabalho.Conscientes da familiaridadeumbilical e histórica entre a oficinado arquivista e a do historiador, econvencidos do benefício da

articulação entre estes dois labores,queremos que este arquivo e o seucatálogo sejam usados comomemória e mediação para o estudoda história religiosa contemporânea.Como resultado deste trabalho, serápublicada proximamente umaantologia de textos produzidos porSusan Lowndes e selecionados apartir deste arquivo. A par destesdois instrumentos de divulgação, oarquivo em si mesmo fica a partir deagora acessível à consulta por partedos interessados.A edição deste catálogo estádisponível no RepositórioInstitucional da UniversidadeCatólica Portuguesa, com a seguinteligação permanente: http://hdl.handle.net/10400.14/16539.

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II Concílio do Vaticano: Sabia que…

No Dia Mundial do Livro, 23 de abril, o compêndio quecontém todos os documentos promulgados no IIConcílio do Vaticano (1962-1965) é analisado deforma diferente. Não é o conteúdo deste livro que estáno centro, mas os números que deram corpo a estelivro.- Sabia que… O documento que teve mais votantes,padres conciliares, foi o Decreto sobre a atividademissionária com 2399 - Sabia que… Na votação do decreto sobre os meiosde Comunicação Social 164 padres conciliaresvotaram «Non Placet». - Sabia que… O II Concílio do Vaticano é constituídopor 4 constituições e 10 decretos e 2 declarações. - Sabia que… Nas quatros sessões conciliaresestiveram a chefiar os trabalhos dois Papas: João XXIIIe Paulo VI. - Sabia que… A constituição pastoral sobre a Igreja nomundo atual teve 7 votos nulos e 75 padresconciliares que votaram «non placet». - Sabia que… D. Custódio Alvim Pereira foi o bispoportuguês que fez mais intervenções (16) na aulaconciliar. - Sabia que… Todos os documentos conciliares (16)receberam dos padres conciliares «Non placet» - Sabia que… O Decreto sobre os meios deComunicação Social foi o único documento onde o«placet» não chegou aos dois milhares (1960)

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- Sabia que… Apenas 9 documentosconciliares não receberam votosnulos. - Sabia que… O documento commenos votantes (2131) na aulaconciliar foi o decreto sobre osmeios de Comunicação Social. - Sabia que… Todos os textosconciliares foram aprovados nosmeses de outubro (5), novembro (5)e dezembro (6) - Sabia que… O primeiro documentoaprovado foi a Constituição sobre aSagrada Liturgia e o último foi aConstituição Pastoral sobre a Igrejano mundo atual. - Sabia que… O Decreto sobre oApostolado dos Leigos foi odocumento mais consensual navotação, visto que não teve votosnulos e apenas 2 «Non Placet».

- Sabia que… Dos 16 documentosconciliares, 11 deles foramaprovados na última sessão do IIConcílio do Vaticano. - Sabia que… Nas 16 votaçõesapenas 3 tiveram o mesmo número(2325) de votantes. - Sabia que… No dia 7 de dezembrode 1965 foram promulgados 4documentos, tal como aconteceu nodia 28 de outubro do mesmo ano. - Sabia que… Durante as 4 sessõesdo II Concílio do Vaticano, Portugalesteve representado com 49 padresconciliares. - Sabia que… Apenas 31 padresconciliares portugueses fizeramintervenções escritas e orais nassessões que decorreram na Basílicade São Pedro.

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Abril 2015 Dia 24 de abril* Algarve – Portimão - OSecretariado da Pastoral Escolar daDiocese do Algarve organiza o 2.ºencontro Diocesano de EducaçãoMoral e Religiosa Católica (EMRC)para alunos do 5.º ao 12.º. * Açores - Ilha de São Miguel -Encerramento (início a 20 de abril)do Conselho Presbiteral da Diocesede Angra

* Coimbra - Figueira da Foz -Jornada de Teatro Solidário com oobjetivo de recolher apoios parapessoas e famílias em situaçãoinesperada de carência económica.

* Brasil - Tomada de posse do novopresidente da Conferência Nacionaldos Bispos do Brasil, D. Sérgio daRocha, arcebispo de Brasília.

* Lisboa - Torres Vedras - Encontrodedicado ao «Serviço da caridadecomo evangelização dascomunidades» promovidoDepartamento da PastoralSociocaritativa do Patriarcado deLisboa.

* Santarém - Tomar (BibliotecaMunicipal) - Conferência sobre«Dimensão Social das Festas doEspírito Santo» por frei BentoDomingues e integrada no ciclosobre «O Espírito Santo».

* Faro - Instituto Dom FranciscoGomes - Final do concurso dosjovens talentos solidários,organizado em parceria com osagrupamentos escolares doconcelho de Faro, com o intuito dedar a conhecer novos talentos epotenciar o espírito solidário.

* Braga – Balasar - Comemoraçãodo aniversário da beatificação deAlexandrina de Balasar comcelebração presidida por D. JorgeOrtiga (24 e 25)

* Santarém - Parque Bonito -Celebração do Dia de São Jorge,patrono dos escuteiros (24 a 26)

* Roménia - Mosteiro dos Carmelitasem Snagov - Reunião anual ComitéCatólico Internacional para osCiganos (24 a 26)

* Braga – Barcelos - Festa dasCruzes (24 a 03 de maio).

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Dia 25 de Abril* Portalegre - Dia diocesano daCatequese

* Braga – Balasar - Encontro daFamília Salesiana e apresentaçãoda biografia do padre HumbertoPascoal.

* Lisboa - Colares (FundaçãoBetânia) - Atividade «Aprender aintegrar o físico e o espiritual»promovida pela Fundação Betânia.

* Funchal – Camacha - Diadiocesano do acólito

* Guarda – Seia - Celebração doDia de São Jorge, patrono doEscutismo

* Porto - Ovar - Celebração do Diade São Jorge, patrono doescutismo.

* Fátima - Centro pastoral Paulo VI - VII Encontro de coros infantis coma atuação dos seguintes gruposcorais: Schola CantorumPastorinhos de Fátima; ScholaCantorum da Catedral de Santarém;Pequenos Cantores da Paróquia deS. Salvador de Grijó e Coro dePequenos Cantores de Esposende

* Santarém - Museu Diocesano -Apresentação da edição da revista«Invenire» na iniciativa «Conversassobre Arte», intitulada «Musealizar oSagrado».

* Lisboa - Igreja de São Roque -Espetáculo «Paiaçu ou Pai Grande»do padre António Vieira pelos atoresJoão Grosso e Sílvia Filipe.

* Coimbra - Auditório Justiça e Paz -Conferência sobre «Ordens eCongregações Religiosas e o 25 deAbril: contributos para umasociedade mais democrática»proferida por Eduardo Franco. * Algarve – Silves - A cantora TeresaSalgueiro interpreta músicas do CD«Cânticos da tarde e da manhã» naSé de Silves.

* Algarve – Loulé - Celebração doDia de São Jorge, patrono doEscutismo. Dia 26 de abril* Lisboa - Encontro interdiocesanode delegados do MAAC (Movimentode Apostolado de Adolescentes eCrianças)

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Teatro SolidárioA Cáritas Diocesana de Coimbra vai promover estasexta-feira a 1.ª Jornada de Teatro Solidário da região,com o objetivo de recolher apoios para “pessoas efamílias em situação inesperada de carênciaeconómica”. Pastoral SocialO Departamento da Pastoral Sociocaritativa doPatriarcado de Lisboa promove esta sexta-feira umencontro dedicado ao «serviço da caridade comoevangelização das comunidades», com a presença deD. Manuel Clemente. Bens culturais da IgrejaO Secretariado Nacional para os Bens Culturais daIgreja vai apresentar a mais recente edição da suarevista ‘Invenire’ na iniciativa ‘Conversas sobre Arte’,intitulada “Musealizar o Sagrado”, a 25 de abril, noMuseu Diocesano de Santarém. Francisco encontra-se com Ban Ki-moonO secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, vaiencontrar-se com o Papa no próximo dia 28, noVaticano, para debater o problema do tráfico depessoas. EcumenismoA Comissão Ecuménica da Diocese do Porto vaidedicar no dia 28 de abril uma conferência ao caminhoconjunto que as diversas Igrejas cristãs em Portugalestão a fazer, com a participação do teólogo JoãoPedro Brito.

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POR OUTRAS PALAVRAS

4º Domingo de Páscoa - Ano B

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Por que motivos os cristãossubstituíramo sábado pelo domingo?

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h30Domingo, dia 19 - Ritmos evivências no Mosteiro deSingeverga RTP2, 15h30A RTP comunicou que não vaiemitir o programa Ecclesiaentre os dias 27 de abril e 1de maio. Antena 1Domingo, dia 26 abril - 06h00 - Os católicos e os 25de abril: memórias e análise de quem viveu os diasantes e depois da revolução. Comentário de JoséMguel Sardica. Segunda a sexta-feira, 27 de abril a 1 de maio -22h45 - O dia do trabalhador: Ricardo Resende,plataforma Talentos da Verbum Dei; Rui Nunes, ProjetoGeolife; Projeto Horta Nova Esperança, Cáritas deBeja; Sara Bello, plataforma Talentos da Verbum Dei eBernardo Gomes, GEPE

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Ano B – 4.º Domingo da Páscoa Seguir Cristo,o único Pastor

Neste quarto Domingo da Páscoa, Domingo do BomPastor, celebra-se o Dia Mundial de Oração pelasVocações. Jesus é o Bom Pastor que chama e cuidadas suas ovelhas, as pessoas que respondem ao seuapelo e O seguem.O Evangelho apresenta Cristo como o Pastor modelo,que ama de forma gratuita e desinteressada, até sercapaz de dar a vida por elas. As ovelhas sabem quepodem confiar n’Ele de forma incondicional. O que édecisivo para pertencer ao rebanho de Jesus é adisponibilidade para escutar as propostas que Ele faze segui-l’O no caminho do amor e da entrega.As outras leituras devem ser acolhidas à luz doEvangelho. Na primeira, Pedro afirma que Jesus é oúnico Salvador e avisa-nos para não nos deixarmosiludir por outras figuras, por outros caminhos, poroutras sugestões que nos apresentam propostasfalsas de salvação. Na segunda, João convida-nos acontemplar o amor de Deus por nós, a integrar a suafamília e a tornar-nos semelhantes a Ele.Todos temos as nossas figuras de referência, osnossos heróis, os nossos mestres, os nossos modelos.Para o cristão, o Pastor por excelência é Cristo.Reparemos na forma como Cristo desempenha a suamissão de Pastor: não atua por interesse, mas poramor; não foge quando as ovelhas estão em perigo,mas defende-as, preocupa-Se com elas e até é capazde dar a vida por elas; mantém com cada uma dasovelhas uma relação única, especial, pessoal,conhece os seus sofrimentos, dramas, sonhos eesperanças.No rebanho de Jesus, não se entra por conviteespecial, nem há um número restrito de vagas a partirdo

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qual mais ninguém pode entrar. Aproposta de salvação que Jesus fazdestina-se a todos os homens emulheres, sem exceção.O Papa Francisco, na suamensagem para este dia, propõeque pensemos nas vocações, quesó podem ser missionárias, dediscípulos missionários, de êxodocomo experiência fundamental davocação. Pessoas em êxodo,comunidades a caminho, Igreja «emsaída»... são dinamismos geradosda contemplação do amor de Deus,dom do seu amor.Que este convite tão radical nos

motive a renovar a nossaresposta quotidiana aos apelos deDeus, a distinguir a voz de Jesus deoutros apelos que não conduzem àvida plena. Para isso, é preciso umpermanente diálogo íntimo com oPastor, um confronto permanentecom a sua Palavra e a participaçãoativa nos sacramentos onde se noscomunica essa vida que o Pastornos oferece. Só assim podemos iralimentando a nossa vocação emCristo, Bom Pastor.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.pt

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De operário fabril a monge emSingevergaMiguel Silva, um trabalhador fabrilde 43 anos, deu uma reviravolta nasua vida ao cumprir o sonho deseguir a vida consagrada, nomosteiro beneditino de Singevergaem Santo Tirso. “Eu desde criançaque tinha gosto de ter sido padre,só que como a minha família erapobre, não poderia prosseguir osestudos porque não havia hipótesee então tive que ir trabalhar”, realçao antigo operário da área docalçado, hoje a cumprir a suainiciação religiosa.Com um percurso “sempre” ligado àIgreja Católica, Miguel Silvafrequentou os diversos movimentos

na sua paróquia, em Santa Mariada Feira, desde a catequese aocoro, tendo inclusivamente fundadoo grupo de acólitos local.No entanto, tal como salientou àAgência ECCLESIA, sentia que“precisava de algo mais” que opreenchesse e por isso nuncadesistiu de procurar o seu sonho, dealimentar a “semente” da suaverdadeira vocação. O primeirocontacto com o Mosteiro deSingeverga chegou em 2010 edeixou-o “fascinado pela casa” epelo “modo de vida” daquelacomunidade.Desde essa altura, as visitas à casa

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tornaram-se mais frequentes eMiguel Silva teve finalmente aoportunidade de entrar comopostulante na congregação fundadapor São Bento. “Não foi um projetode um dia para o outro, foi pensadomuitas vezes, será que vai darcerto, será que não, porque tambémestava empregado lá fora e tinhamedo, da situação do país, que ascoisas não dessem certo”, admitiu.Mas o tempo deu força às razões doseu coração e hoje considera-se

“muito feliz”. “Como dizia SantoAgostinho, levei com a martelada edecidi deixar a vida lá fora eintegrar-me aqui na vida emcomunidade, e estou muitocontente”, confidenciou.A história de Miguel Siva, o operáriofabril que sonhou ser padre e setornou monge, esteve em destaqueno Programa ECCLESIA na Antena1. Uma reportagem integrada na52.ª Semana de Oração pelasVocações, que está a decorrer atéao próximo domingo.

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O «equilíbrio» que vem da oraçãoe do trabalho

Pedro Rodrigues, um jovem de 29anos natural do Porto, está a iniciarum percurso de vida consagrada noMosteiro de Singeverga, em SantoTirso, e destaca o “equilíbrio” quevem da oração e do trabalho.“Quando oramos, depois ostrabalhos que temos e toda a nossaconvivência, a maneira comoestamos abertos para ouvir osoutros, é sempre muito mais rica,muito mais forte”, salienta

o mestre em Literatura FrancesaClássica, em entrevista à AgênciaECCLESIA.O chamamento de Deus foichegando “pouco a pouco” no meiodos estudos, já na universidade,depois de alguns anos maisafastado da vida ativa na suaparóquia. “Quando Deus bate nósvamos à porta e damo-nos contaque ele já está cá dentro”, explicaPedro Rodrigues, que no entanto“não

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quis entrar na vida consagrada semter os estudos feitos”.Mal os concluiu foi aceite pelacongregação do mosteiro beneditinode Singeverga, onde segue agora oseu percurso como postulante(candidato) à vida religiosa.A regra ‘ora et labora’, criada por

São Bento, convida os irmãos a“povoarem o seu diasimultaneamente” com a oração e“todo o tipo de trabalhos, detarefas”, uma combinação quefortalece a vida espiritual e emcomunidade. “Sentimos que Deusestá cá com todos nós”, frisa PedroRodrigues.

EUAO Papa recebeu no Vaticano uma delegação da Associação dasSuperioras Maiores dos EUA (Leadership Conference of WomenReligious - LCWR), que de 2008 a 2012 foi objeto de uma investigaçãopor parte da Santa Sé. Após a análise levada a cabo pela Congregaçãopara a Doutrina da Fé, foi apresentado no mesmo dia um Relatórioconjunto – assinado por representantes das religiosas norte-americanase do Vaticano – sobre a implementação do documento de avaliaçãodoutrinal, publicado há três anos.O trabalho passou pela revisão do Estatuto da LCWR, das suaspublicações, sobre a preparação e os critérios de escolha dos porta-vozes da mesma associação. “A Congregação acredita que a Associaçãodas Superioras Maiores dos EUA tem clara a sua missão para auxiliar osInstitutos membros, favorecendo uma visão de vida religiosa centralizadana pessoa de Jesus Cristo e radicada na tradição da Igreja”, refere oprefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Müller.

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Declaração de nulidade domatrimónioAumentou nos últimos anos onúmero de processos e pedidos dedeclaração de nulidade domatrimónio, junto da Igreja Católicaem Portugal, uma temática quedominou as primeiras jornadasjurídico-pastorais promovidas pelaDiocese de Lamego. Ovigáriojudicial do Tribunal Patriarcal deLisboa, padre Ricardo AlvesFerreira, salienta que “as pessoasestão cada vez mais despertas paraesta questão”.“E procuram, na medida em que seaproximam ou reaproximam daIgreja, resolver a sua situaçãoanterior,

regularizá-la de modo a teremacessos aos outros sacramentos ese integrarem plenamente” nacomunidade católica, complementao sacerdote.Quando o matrimónio católico édissolvido, por via do divórcio civil,quebram-se os laços entre marido emulher mas eles continuamregistados como tal na Igreja. Daíque aos divorciados e recasadosseja negado o acesso aossacramentos da comunhão e dapenitência, por não se encontraremem conformidade com a lei de Deus.

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Invocando a nulidade domatrimónio, através dos tribunaiseclesiásticos e sempre que hajafundamento para esse recurso, “aspessoas voltam à situação desolteiras”, realça o advogado JúlioBeleza da Costa, que tambémparticipou nas jornadas.Os fundamentos mais comuns paraque efetivamente um matrimónioseja considerado nulo são a falta depreparação, de maturidade ou deponderação de um dos elementosdo casal, assim como a falta de umconsentimento consciente e livre.No evento, acolhido pelo SeminárioMaior de Lamego, estiverampresentes muitos sacerdotes embusca de esclarecimentos para oscasos com que se têm deparado na

sua ação pastoral. Destaque aindapara a participação de diversosespecialistas em direito civil quedemostraram querer estar a par dasrespostas que o Direito Canónicofornece para estas situações.Para o bispo de Lamego, D. AntónioCouto, apesar do aumento donúmero de pedidos envolvendo adeclaração de nulidade domatrimónio, “são poucas as pessoasque põem esses problemas emIgreja”. “Muita gente já nem seinterroga com isso, vai na mesma àcomunhão e funciona como se tudoestivesse normal, os problemas nãose põem, há uma consciência deadormecimento não apenas naIgreja, na sociedade”, lamentou oprelado.

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Iraque: o drama de uma mãe a quem roubaram a filha de3 anos

À espera de CristinaTem um olhar vazio. Um rostoamargurado. Percebe-se queestá triste. Profundamentetriste. No dia em que fugiu dasua cidade, os jihadistas do“Estado Islâmico” arrancaram-lhe a filha de 3 anos, que levavanos braços. Ela foi obrigada adeixar a cidade. A menina ficoupara trás. São milhares de pessoas. Vivemtodas numa espécie de buracos deum centro comercial que ficou porconcluir em Ankawa, norte doIraque. São casas improvisadas emminúsculos espaços, sem qualquerhigiene, sem nada. Estão ali. Sãotodos refugiados. No meio de tantasvidas desfeitas, há uma mulher quepassa os dias a rezar, a implorar aclemência de Deus, a acreditar quevai voltar a ter a sua filhinha nosbraços. Foi em Agosto do anopassado, quando os jihadistas do“Estado Islâmico” conquistaramQaraqosh. Milhares de pessoasfugiram da cidade. Muitos eramcristãos. Como esta mulher. Hádatas que nunca mais se esquecem.A vida de Aida parou

no dia 22 de Agosto de 2014. Elavivia em Qaraqosh, com o marido,Jadder, e cinco filhos. São cristãosassírios. Apesar dos rumores daguerra, viviam bem. Até ao dia emque a cidade ficou à mercê dosjihadistas do ISIS. Foi em Agosto.Praticamente todos abandonaramentão a cidade. A família de Aidatambém.Há datas que não se esquecemmais. Foi no dia 22 de Agosto. Aidae Jadder tinham empacotado assuas coisas. Ficar em Qaraqosh eraimpensável. Ainda por cima parauma família cristã. Empacotaramalgumas coisas sempre naesperança de que um dia iriamregressar. À saída da cidade, haviauma barreira militar. Todos tinhamde passar por ali. Foi então queaconteceu. Eram nove e meia damanhã. Aida levava ao colo a filhamais nova, Cristina, de apenas 3anos de idade. Um jihadista olhoupara ela e, simplesmente, arrancou-a dos seus braços. De nada valeramos gritos, os protestos, as lágrimasjá enrouquecidas. A menina ficava.Eles tinham de partir.

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Fotografia de CristinaUma parte de Aida morreu nessedia, nesse checkpoint à saída deQaraqosh. Que interessa a vidadepois de ver a filha arrancada dosseus braços? E que será delaagora? A menina já tempraticamente 4 anos. Aida vive hoje,com o marido e os outros filhos,num centro comercial inacabado.Parece uma favela. São quase 500famílias que se amontoam por ali.Todos têm histórias trágicas. Masninguém arrepia tanto o nosso olharcomo Aida. Ela está cadavérica etem a fotografia

de Cristina na parede, como seassim pudesse estar mais próximada filha. Aida passa os dias emsilêncio, a murmurar orações, aimplorar pela filha. O seu mundoreduz-se agora a isso. “Acredito emDeus e sei que Ele trará a minhafilha de volta!” Aida está ali, no meiode milhares de pessoas e, noentanto, está só. É só ela, a filha,que espreita na fotografia, e Deus, aquem continua a rezar. E a nós, sónos resta rezar com ela. E acreditar…

Paulo Aido www.fundacao-ais.pt

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Onde estava no 25 de Abril?

Tony Neves Espiritano

Esta pergunta, imortalizada num programa detelevisão, vem a propósito da celebração dos 41anos da chamada ‘revolução dos cravos’.Com gente que gostou e outra que não seidentificou com esta forma de mudar regimes, arevolução abriu uma página da história dePortugal marcada por mais liberdade edemocracia. Os tempos que correram de lá atéhoje mostram que somos um país que podeexprimir as suas convicções, pode escolher porvoto os seus governantes e legisladores. Hádesenvolvimento, há paz.Nem tudo são rosas (ou cravos!) na vida daspessoas em Portugal. O país atravessa umacrise profunda, o desemprego é elevado, osimpostos são esmagadores, os valores estãoabalados, o futuro está comprometido para asnovas gerações. E tudo isto é, claro, angustiante.São de profunda mudança os tempos quecorrem, caracterizados pela palavra‘globalização’. Tentamos ‘copiar’ o melhor do quese faz lá fora, mas acabamos por herdar tambémas ideias e práticas que fazem de nós um paísem crise de valores. Por isso também é para nóso grito do Papa Francisco que pede o combateurgente á globalização da indiferença através davivência de uma globalização assente nasolidariedade sem fronteiras.Abril de 74 trouxe mais escola, mais acesso aoscuidados básicos de saúde, maisdesenvolvimento. Permitiu o nascimento dediversos partidos, lançou o debate sobresistemas políticos e económicos

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a implementar, abriu portas a umanova Constituição, permitiu oaparecimento de uma comunicaçãosocial plural. Tudo isto são valoresinquestionáveis.‘Onde estava no 25 de Abril de1974?’. Pois estava no meu 1º anode ciclo preparatório (assim sechamava então). Lembro-me deuma senhora entrar de rompante nasalada da minha turma, pedirautorização ao professor e dizercom cara de caso: ‘há muitaconfusão em Lisboa, vão todos acorrer para casa!’. Ora,

do centro de Gondomar até áminha aldeia era precisa uma boameia hora de autocarro… Mas eu etodos os da minha terra partimos apé para casa, com pedras nosbolsos, prontos para o que desse eviesse! Esses senhores que faziamconfusão em Lisboa não nosapareceram no caminho, para sortedeles!!!É bom que, em cada 25 de Abril,repensemos a democracia quequeremos, a liberdade quedefendemos, a paz por que lutamos,a justiça onde assentamos a vida.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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