VERIFICAÇÃO PARCIAL DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO CURUPI … · 2019-07-13 · hídrica...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP
INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS
ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL
VERIFICAÇÃO PARCIAL DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO CURUPI- SINOP-MT
JUCIANE DE OLIVEIRA
SINOP
MATO GROSSO - BRASIL
2016
JUCIANE DE OLIVEIRA
VERIFICAÇÃO PARCIAL DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO CURUPI- SINOP-MT
Orientador: Prof.ª Drª. Roselene Maria Schneider Trabalho de Curso apresentado à Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT - Campus Universitário de Sinop, como parte das exigências para obtenção do Título de Engenheiro Agrícola.
SINOP
2016
DEDICO...
Aos meus pais Mariano e Vanilde de Oliveira, e minha irmã Jaqueline
por todo amor, paciência e compreensão, por todos os ensinamentos e
incentivo de lutar sempre pelos objetivos....
Aos amigos de fé, irmãos camaradas, que estiveram de perto ou longe,
sempre presentes em minha caminhada, lutando ao meu lado e sempre
mostrando e vivendo, a melhor parte da vida.
Obrigada pela amizade.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por permitir, guiar e iluminar a minha vida e este trabalho;
A minha família, por me aturarem e me darem sempre todo apoio e força para buscar
meus objetivos;
A Professora Roselene M. Schneider por me aceitar, pela orientação, paciência, e
por toda dedicação dada aos seus orientados, alunos e laboratório;
Aos amigos, Ubiara Henrique, Felipe Gobbi, Estêvão Querino, Rafael Menon, e a
irmã Jaqueline que me ajudaram a realizar as coletas em campo, sem vocês não teria
conseguido;
As amigas Daiane Rúbia e Jéssica Brito pela parceria, conselhos, conversas e
risadas, e pela total disposição em ensinar e ajudar em todas as análises em laboratório.
Aos técnicos dos laboratórios utilizados para realização das análises, em especial a
Luciana que sempre foi mais que atenciosa e prestativa.
Aos amigos da primeira turma da Engenharia Agrícola e Ambiental, amizades
verdadeiras e valiosas que com certeza levarei pra toda vida... Thalyson, Paulo Henrique,
Eduardo, Franciele, Daiane Rúbia, Daiane Maria, Briny, Catiane etc., e aos amigos das
outras turmas que se tornaram também parte da minha vida... Verônica, Patrícia, Lílian.
Obrigada pela amizade sincera, pela acolhida, ensinamentos e pelo coração sempre aberto.
Aos amigos, irmãos que a vida me deu e que sempre levarei no meu coração, eles
que me entenderam na minha falta de tempo, estresse, e correrias que a vida acaba
envolvendo, e sempre de uma maneira carinhosa e prestativa, me ajudaram nas
dificuldades, em especial ao amigo Aleson, que como um verdadeiro amigo, nunca negou
conselhos dicas, ajuda em tudo que eu precisei.
A todos que direta ou indiretamente ajudaram na realização desde trabalho.
E a todos que de alguma maneira contribuíram para minha formação.
Obrigada.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 8
2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 10
2.1 Gerenciamento dos recursos hídricos ............................................................... 10
2.2 Agentes Poluidores ........................................................................................... 10
2.3 Água e suas características............................................................................... 11
2.1.1 Temperatura ............................................................................................... 12
2.1.2 Turbidez ...................................................................................................... 12
2.1.3 Condutividade Elétrica ................................................................................ 13
2.1.4 Potencial Hidrogeniônico ............................................................................ 13
2.1.5 Oxigênio dissolvido ..................................................................................... 14
2.1.6 Demandas química e bioquímica de oxigênio ............................................. 14
2.1.7 Nitrogênio ................................................................................................... 14
2.1.8 Fósforo ....................................................................................................... 15
3. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 16
3.1 Área de estudo .................................................................................................. 16
3.2 Procedimento de coleta de amostras e análises laboratoriais ........................... 18
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 20
5. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 28
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 29
RESUMO
A qualidade das águas superficiais, em geral, reflete os usos e ocupações dos solos, podendo inferir a poluição por despejos de efluentes e por práticas agrícolas. O objetivo deste trabalho foi verificar parcialmente a qualidade da água do rio Curupi em Sinop, Mato Grosso. Para tanto, foram monitorados dois pontos, um a montante e outro a jusante do rio Curupi, com a realização de cinco coletas de água durante o ano de 2014. Os parâmetros monitorados e determinados em campo foram o pH, a condutividade elétrica e o oxigênio dissolvido, e os monitorados e determinados em laboratório foram turbidez, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), nitrogênio total Kjeldahl e fósforo total. Os resultados obtidos mostraram que houve pouca variação entre os pontos de coleta ao comparar os períodos de chuva e de estiagem, tanto em relação as análises do mesmo ponto, quanto entre ambos os locais. As concentrações de oxigênio dissolvido, DBO, nitrogênio e fósforo estavam dentro dos limites estabelecidos para rios classe 2 pela Resolução CONAMA n° 357, de 2005. Os valores de turbidez apresentaram valores baixos, indicando baixa concentração de sólidos em suspensão e baixa entrada de sedimentos no corpo hídrico. Os valores de pH apresentaram-se baixos durante todo o período de coletas, sendo menores do que o limite mínimo indicado pela legislação. Esses baixos valores são reflexo da água subterrânea da região que apresenta águas ácidas. Os resultados demonstram baixos valores de matéria orgânica e de nutrientes. Considerando os parâmetros investigados, os resultados demonstram que o rio Curupi apresenta boa qualidade de suas águas.
Palavras-chave: Monitoramento, parâmetros de qualidade, recurso hídrico.
ABSTRACT
The quality of surface water, in general, reflects the uses and occupations of the soils, being able to infer the pollution by effluent discharge and agricultural practices. The objective of this work was to partially verify the water quality of the Curupi River in Sinop, Mato Grosso. For this purpose, two points, one upstream and one downstream of the Curupi River were monitored with five water harvesting during the year 2014. The parameters monitored and determined in the field were pH, electrical conductivity and oxygen Dissolved, and those monitored and determined in the laboratory were turbidity, biochemical oxygen demand (BOD), total Kjeldahl nitrogen and total phosphorus. The results showed that there was little variation between the collection points when comparing the rainy and dry periods, both in relation to the analyzes of the same point, and between both sites. The concentrations of dissolved oxygen, BOD, nitrogen and phosphorus were within the limits established for Class 2 rivers by CONAMA Resolution No. 357, 2005. The values of turbidity presented low values, indicating low concentration of suspended solids and low sediment entry in the water body. The pH values were low throughout the collection period, being lower than the minimum limit indicated by the legislation. These low values are a reflection of the underground water of the region that presents acidic waters. The results show low values of organic matter and nutrients. Considering the investigated parameters, the results show that the Curupi River presents good quality of its waters. Keywords: Monitoring, quality parameters, water resource.
8
1. INTRODUÇÃO
É de conhecimento geral a importância e necessidade da água para o
desenvolvimento humano, bem como também da importância de que essa seja de boa
qualidade. Segundo Rebouças et al., (2006) a água doce é essencial ao
abastecimento para consumo humano e também para o desenvolvimento de suas
atividades agrícolas e industriais. Ela está diretamente relacionada ao crescimento da
população humana, ao grau de urbanização, aos usos múltiplos que afetam sua
quantidade e qualidade e também se relaciona com a saúde humana, pois muitas
doenças se propagam neste meio (TUNDISI, 2011).
Embora três quartos da superfície da terra sejam constituídos por água, a
maior parte não está prontamente disponível ao consumo humano, pois apresentam
propriedades impróprias à utilização ou encontram-se inacessíveis em oceanos,
mares, geleiras ou armazenadas em fontes subterrâneas (ANA, 2003). Além dessa
reduzida disponibilidade para o homem, em termos proporcionais, sua distribuição na
terra é muito heterogênea (ESTEVES, 1998). Exemplo disso é o Brasil que possui um
imenso potencial hídrico, porém a grande maioria está inserida na região amazônica,
onde se encontra a menor densidade populacional, já na região nordeste que
comporta 1/3 da população brasileira possui a menor parcela de disponibilidade
hídrica (FIGUEIREDO et al., 2011).
De maneira geral, as características da água refletem os fenômenos naturais
somado com a atuação do homem nas bacias hidrográficas. Durante milênios, as
causas da poluição foram pouco numerosas e de importância limitada, resultando
sobretudo da contaminação localizada das águas superficiais e dos lençóis freáticos
por patógenos e substâncias oriundas de dejetos domésticos que estavam presentes
em pequenos volumes (SALDANHA, 2004). Porém, a interferência humana assumiu
papel importante ao longo do tempo ao contribuir com a introdução de compostos mais
complexos nos despejos domésticos, efluentes industriais, e das práticas agrícolas,
(VON SPERLING, 1996).
Esses impactos, entretanto, podem ser reduzidos ou evitados quando o esgoto é
submetido a tratamento prévio adequado (NUVOLARI, 2009). Para serem lançados
em corpos receptores de água os efluentes devem atender às condições e padrões de
lançamento de efluentes e não ocasionar alterações de classe estabelecidas para os
corpos hídricos, nas condições da vazão de referência (BRASIL, 2005). No Brasil
desde o século passado, há noções de valorização e conservação de seus recursos
9
hídricos, com a construção de leis e políticas específicas de cuidados às suas águas.
Com esse intuito, a Política Nacional de Recursos Hídricos – Lei nº. 9.433/97 a
conhecida Lei das Águas, criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, esta lei promove a valoração e valorização da água, quando, estabelece em
seu artigo 1º que a água é bem de domínio público e possui valor econômico. No
estado do Mato Grosso a concretização de cuidados de dá através da Lei nº. 6.945/97
que estabelece a Política Estadual de Recursos Hídricos, que, como a nacional, têm
seus objetivos de assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade
de água em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos.
A água possui múltiplas finalidades que devem satisfazer critérios de qualidade
em função dos seus usos, assim, a resolução normativa nº. 357 do CONAMA vem
estabelecer a classificação das águas doces, salobras e salinas em classes de acordo
com a sua utilização, e tem parâmetros de qualidade para cada uma das classes. Para
que se possa acompanhar de forma temporal a qualidade dos cursos hídricos e
atestar se os mesmos estão com os parâmetros de acordo com sua classe, é
realizado o monitoramento da qualidade da água, o mesmo é feito em pontos
estratégicos a fim de se observar a evolução de sua qualidade, identificação de
tendências e apoio a elaboração de diagnósticos. Os resultados obtidos no
monitoramento permitem a identificação de locais onde é necessário maior
detalhamento.
Sabendo que a captação e tratamento de esgotos no município de Sinop-MT
serão implantados brevemente, fez-se necessário o diagnóstico do corpo hídrico que
receberá esse esgoto tratado, para que no futuro com a estação em funcionamento
seja possível comparar a qualidade da água e verificar se houve alteração de suas
características. Nesse sentido, teve-se por objetivo neste trabalho avaliar a qualidade
da água do rio Curupi em Sinop para a indicação básica de sua qualidade no corpo
hídrico.
10
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Gerenciamento dos recursos hídricos
O Brasil possui cerca de 11,6% da água doce disponível nos mananciais
superficiais do planeta, representando cerca de 50% do total dos recursos da América
do Sul (REBOUÇAS, 1999). No entanto, o país ainda apresenta dificuldades no
monitoramento e gerenciamento hidrográfico, principalmente, pela questão dimensão
territorial nacional e escassez dos recursos financeiros.
Com o intuito de melhor utilização dos recursos hídricos foi criada a Lei das
Águas, a Lei nº 9.433, de janeiro 1997. Esta lei institui a figura dos comitês de Bacias
Hidrográficas como forma de gerenciamento dos recursos hídricos. Além disso, a Lei
apresenta instrumentos de gerenciamento, como a cobrança pelo uso dos recursos
hídricos. A cobrança pelo uso dos recursos hídricos tem por objetivo principal
reconhecer a água como um bem econômico e dar ao usuário uma indicação do seu
valor real, incentivar a racionalização do uso, bem como obter recursos financeiros
para o financiamento de programas de recuperação e conservação dos recursos
hídricos (THAME, 2000).
2.2 Agentes Poluidores
A poluição da água é caracterizada como uma alteração na sua qualidade
natural, tornando-se parcialmente ou totalmente imprópria para consumo ou utilização.
De um modo geral, a poluição das águas pode ocorrer principalmente por esgotos
sanitários, águas residuárias industriais, lixiviação e percolação de fertilizantes e
agrotóxicos, precipitação de efluentes atmosféricos e inadequada disposição dos
resíduos sólidos (STUDART; CAMPOS, 2001).
As principais fontes de poluição dos recursos hídricos são a agricultura, que
pode fornecer nutrientes, sólidos e agrotóxicos de forma difusa em grandes extensões
de áreas (FREIRE et al., 2013); a pecuária que pode favorecer processos erosivos e
disponibilizar coliformes às águas (ANDRIETTI et al., 2016); a mineração que pode
introduzir sólidos às águas, alterando os valores de turbidez de pH PAIVA;
CANÇADO, 2008); a indústria/agroindústria que ao despejar efluentes, mesmo que
tratados, podem alterar a qualidade da água em termos de turbidez, pH e matéria
11
orgânica (SANTOS et al., 2012); e a urbanização que pode favorecer processos de
transporte de sedimentos e lançamento de esgotos (SCHNEIDER et al., 2011).
2.3 Água e suas características
O termo “qualidade da água” não se refere, necessariamente, a um estado de
pureza da água, mas às características físicas, químicas e biológicas desta. Estas
características podem apresentar grau de variação decorrente de uma série de
processos que ocorrem no corpo hídrico e na bacia hidrográfica, como consequência
da capacidade de dissolução de substâncias e de transporte pelo escoamento
superficial e subterrâneo (LIBÂNIO, 2005). Richter e Netto (2011) ressaltaram, ainda,
que as características desejáveis da água dependem da sua utilização e ainda que a
qualidade dessa água está sujeita a inúmeros fatores que podem apresentar grande
variação no decorrer do tempo de análises e abrangendo as diferentes estações do
ano.
Para Von Sperling (1996) as condições naturais, e o uso e ocupação do solo são
o que definem a qualidade de uma determinada água na bacia hidrográfica, pois
mesmo com a bacia preservada em condições naturais o escoamento superficial e a
infiltração no solo resultantes de precipitações atmosféricas, podem afetar a qualidade
dessa água. A interferência do homem seja de forma direta na geração de despejos
domésticos, industriais ou na aplicação de defensivos agrícolas no solo, contribui para
a introdução de compostos na água, afetando assim sua qualidade. Segundo Heller e
Pádua (2010), a caracterização da água corresponde a quantificação das impurezas
de origem física, química, biológica e radiológica presentes na água. A caracterização
da água não se restringe às atividades de laboratório, é necessário definir
antecipadamente um programa que inclua os parâmetros a serem monitorados, os
planos de amostragem, a forma de armazenagem, interpretação e divulgação dos
resultados.
As últimas décadas foram marcadas pela crescente preocupação com o efeito
das atividades humanas no meio ambiente. A sociedade está cada vez menos
tolerante à poluição e contaminação dos corpos de água e as doenças de veiculação
hídrica desencadeando em custos quase sempre crescentes de tratamento de água
para abastecimento público (MÁRQUEZ et al., 2013).
12
O uso da água é definido conforme seu padrão de qualidade. Águas destinadas
ao abastecimento público seguem os padrões de potabilidade, segundo Portaria n°
2914, de 2011, do Ministério da Saúde; águas para fins de recreação de contato
primário seguem os padrões de balneabilidade, dados pela Resolução CONAMA n°
274, de 2000; e as águas destinadas ao uso industrial ou irrigação, que devem seguir
os padrões específicos dependendo da utilização das águas.
No Brasil, a legislação vigente que trata sobre a qualidade da água superficial é
dada pela Resolução CONAMA Nº 357, de 17/03/2005, que estabelece a classificação
dos corpos de água e suas diretrizes ambientais para a classificação e
enquadramento. Todas as análises de qualidade da água devem ser comparadas à
legislação para que se possa identificar se os valores determinados estão dentro dos
limites definidos na legislação. Ressalta-se que diferentes corpos de água têm usos
distintos e, portanto, podem ter diferentes classificações e limites aceitáveis, inclusive
um mesmo corpo hídrico pode apresentar trechos com diferentes classes.
2.3.1 Temperatura
A temperatura da água é um parâmetro importante, pois influencia na
solubilidade dos gases, inclusive do oxigênio, bem como tem influência nas taxas
metabólicas de micro-organismos. A alteração da temperatura das águas naturais
decorre principalmente da insolação e, quando de origem antrópica, de despejos
industriais e águas de refrigeração de máquinas e caldeiras (LIBÂNIO, 2005).
2.3.2 Turbidez
A turbidez é parâmetro físico da água que representa a interferência causada
pela presença de partículas suspensas na água. É expressa por meio de unidades
nefelométricas de turbidez (UNT ou NTU).
A turbidez de águas superficiais varia em função das características da área de
drenagem e do clima, ou seja a presença de matas de proteção, áreas agricultáveis
com ou sem controle de erosão, urbanização, presença de lançamentos de efluentes
etc., interferem na quantidade de sólidos presentes nos corpos de d’água.
13
No Brasil, a turbidez dos corpos d’água é particularmente elevada em regiões
com solos erodíveis, e altas precipitações devido ao carreamento de partículas de
argila, areia, silte etc. (BERTOL et al., 2007). Grande parte das águas de rios
brasileiros é naturalmente turva em decorrência das características geológicas das
bacias de drenagem, de altos índices pluviométricos e do uso de práticas agrícolas
muitas vezes inadequadas (LIBÂNIO, 2005). A Resolução CONAMA n° 357, de 2005,
estabelece que a turbidez máxima aceitável para rios classe 2 é de 100 NTU.
2.3.3 Condutividade Elétrica
A condutividade elétrica indica a capacidade da água natural de transmitir a
corrente elétrica em função da presença de substâncias dissolvidas que se dissociam
em ânions e cátions sendo, por consequência, diretamente proporcional a
concentração iônica (LIBÂNIO, 2008).
Quanto maior for a concentração iônica da solução, maior é a oportunidade
para a ação eletrolítica e, portanto, maior a capacidade em conduzir corrente elétrica
(BRASIL, 2006). As águas naturais têm medidas de condutividade na faixa de 10 a
100 µS.cm-1. A condutividade de águas de ambientes poluídos por esgoto doméstico
ou industrial podem variar entre 100 a 10.000 µS.cm-1 (BRASIL, 2006; CETESB, 1995,
RICHTER; NETO, 2001).
2.3.4 Potencial Hidrogeniônico
O potencial hidrogeniônico (pH) consiste na concentração dos íons H⁺ nas
águas e representa a intensidade das condições ácidas ou alcalinas do ambiente
aquático. Os ácidos e as bases quando se dissolvem na água reagem com ela,
levando a uma alteração da sua acidez ou da sua alcalinidade. Quando, em uma
solução, aumenta a quantidade de ácido, ou diminui a de base, aumenta a sua acidez
e diminui a sua basicidade. Pelo contrário, quando a quantidade de ácido diminui, ou a
de base aumenta, diminui a sua acidez e aumenta a sua basicidade (MORAIS, 2014).
A legislação vigente estabelece que os valores de pH de águas doces, classe
2, devem estar entre 6,0 e 9,0.
14
2.3.5 Oxigênio dissolvido
A concentração de oxigênio dissolvido (OD) é reconhecidamente o parâmetro
mais importante para expressar a qualidade de um ambiente aquático (CAMPOS et
al., 2011). Sempre que ocorre uma descarga de poluentes, tais como esgoto, e este
excede a capacidade de autodepuração do corpo de água, o rio fica sem oxigênio,
provocando problemas estéticos e liberação de odor, impedindo assim a existência de
peixes e outros seres aquáticos (CETESB, 1988).
A quantidade esgoto ou outros despejos orgânicos lançados ao corpo d’água
deve ser proporcional à sua vazão ou ao seu volume, isto é, à sua disponibilidade de
oxigênio dissolvido (BRANCO, 1983). A medida de concentração de OD é diretamente
proporcional à pressão atmosférica – ou inversamente à altitude – e indiretamente
proporcional à temperatura (LIBÂNIO, 2005). O valor mínimo aceitável para OD em
rios classe 2 é de 5 mg.L-1 (BRASIL, 2005).
2.3.6 Demandas química e bioquímica de oxigênio
Os parâmetros demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e demanda química de
oxigênio (DQO) expressam a presença de matéria orgânica, constituindo-se em
importantes indicadores de qualidade das águas.
A DBO refere-se a matéria orgânica passível de ser estabilizada biologicamente,
enquanto a DQO engloba a parcela estabilizada quimicamente, tendo, portanto, valor
sempre superior. As águas naturais apresentam comumente DBO inferior a 5 mg.L-1.
Valores mais elevados sucedem-se em corpos d’água receptores de efluentes
domésticos (DBO da ordem de 200 a 300 mg.L-1) e industriais ou de águas lixiviadas
de criatórios de animais (currais ou pocilgas) (LIBÂNIO, 2005). Valores de DBO
inferiores a 5 mg.L-1 são aceitáveis para rios classe 2, de acordo com a legislação
vigente.
2.3.7 Nitrogênio
O nitrogênio, gás mais abundante na atmosfera terrestre, pode ser encontrado
nos corpos d’água em função do seu estado de oxidação sob as formas nitrogênio
orgânico na forma dissolvida, nitrogênio molecular (N₂), amônio (NH₄⁺), nitrito (NO₂⁻) e
nitrato (NO₃⁻) (BRASSEUR; ORLANDO, 1999).
15
Além da origem natural, o nitrogênio apresenta significativa origem antrópica
decorrente do lançamento de despejos domésticos, industriais e de criatórios de
animais, assim como de fertilizantes utilizados em solos agriculturáveis passíveis de
serem carreados pelas chuvas (LIBÂNIO, 2005).
O nitrogênio é um dos elementos mais importantes na manutenção da vida
aquática, porém, sua concentração pode proporcionar tanto, o crescimento
desgovernado de micro-organismos, como se tornar tóxico para os organismos
aquáticos (BRIGANTE; ESPÍNDOLA, 2003). Quando o nitrogênio encontra-se na
forma orgânica, pode sofrer degradação, gerando outras formas como a amônia,
nitrogênio amoniacal, nitrato, nitrito, entre outros, e a soma destes é o nitrogênio total
(BRIGANTE; ESPÍNDOLA, 2003).
Pela Resolução CONAMA n° 357, de 2005, a concentração de nitrogênio
orgânico e amoniacal total, variam em função do pH da água, sendo de até 3,7mg/L N,
para pH ≤ 7,5; 2,0 mg/L N, para 7,5 < pH ≤ 8,0; 1,0 mg/L N, para 8,0 < pH ≤ 8,5 e 0,5
mg/L N, para pH > 8,5.
2.3.8 Fósforo
Por ser menos abundante que o nitrogênio, o fósforo acaba se constituindo no
principal fator limitante ao desenvolvimento de algas e plantas no meio aquático.
Apresenta-se nas formas de ortofosfatos, polifosfato e fósforo orgânico, originando-se
da dissolução de compostos do solo e decomposição da matéria orgânica (LIBÂNIO,
2005).
Quando em excesso em ambientes aquáticos, o fósforo tem sido considerado
responsável por problemas de eutrofização. O transporte de fósforo de solos para
ambientes aquáticos, via escoamento superficial e subsuperficial, pode criar condições
nutricionais favoráveis ao crescimento acima do normal de fito e zooplâncton, além de
plantas aquáticas superiores (NOVAIS; SMYTH, 1999). A concentração máxima de
fósforo total em ambientes lóticos é de 0,1 mg.L-1.
16
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Área de estudo
O monitoramento da qualidade da água foi realizado no rio Curupi (Latitude: -
11°46' 53,36" Longitude: -55°29' 15,83"), tendo sua nascente em zona rural, e
cruzando a BR 163 no perímetro industrial da cidade de Sinop, Norte de Mato Grosso,
Brasil. Este rio pertence a bacia hidrográfica Amazônica e a bacia regional do Teles
Pires, sendo parte do município inserido no Médio Teles Pires e outra parte no Alto
Teles Pires.
A região da bacia, de acordo com a classificação Köppen-Geiger, é
caracterizada pelo clima tropical (Aw), marcado pela ocorrência de duas estações:
verão chuvoso entre os meses de outubro a março e inverno seco entre os meses de
maio a setembro. Mota (2010) relata em seus estudos que a precipitação média anual
na cidade de Sinop-MT varia entre 1327,29 e 1974,47 mm, com temperatura média
anual de 24,70 °C e médias mensais máximas e mínimas de 34,42 ±1,62 e 22,96±1,42
°C, respectivamente.
Foram definidos dois pontos de coleta, o primeiro ponto (P1) localizado a
montante e o segundo ponto (P2) à jusante da futura instalação da Estação de
Tratamento de Esgotos (ETE), as margens da BR 163 Km 844. A área a montante do
ponto, (figura 2) apresenta movimento constante de carretas, caminhões, carros e
motos. Além de apresentar-se próximo a área urbana, há bairros rurais na área.
Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do rio Curupi na cidade de Sinop-MT;
Locação dos pontos de coleta. Fonte: PCA Sinop, 2012
17
A montante do ponto 1 (P1) existem chácaras com criação de animais, tanques
de piscicultura e pequenas propriedades com cultivo de vegetais, além de uma
pequena fábrica de asfalto.
Figura 2 - Ponto 1 de coleta. Rio Curupi. Fonte: Autor.
O segundo ponto de coleta (P2) é localizado numa área de difícil acesso, em
meio a mata fechada nas seguintes coordenadas, Latitude: 11° 40’ 25,45” e Longitude:
55° 29’ 46,71”. Este local, (figura 3), segundo os moradores mais próximos, é utilizado
para pesca e banho, por se tratar de uma área naturalmente favorecida para estas
finalidades.
Figura 3 - Ponto 2 de coleta. Rio Curupi. Fonte: Autor.
O uso das águas a montante dos pontos de coleta, segundo o Sistema de
Monitoramento e Licenciamento Ambiental – SILAM da SEMA, é na modalidade
captação superficial, com outorga deferidas para irrigação; a jusante dos pontos de
coleta não há usuários outorgados ou cadastrados, até o encontro com o rio Teles
Pires.
18
O enquadramento segundo a classe do rio Curupi é definida como 2, tendo sua
vazão de referência Q₉₅ de 483,84 L.s-1 (PCA Sinop, 2012).
3.2 Procedimento de coleta de amostras e análises l aboratoriais
As coletas de amostras foram realizadas em cinco campanhas, no período de
janeiro a dezembro de 2014, sempre no período da manhã, com exceção da primeira
amostragem. As amostras foram coletadas a uma profundidade de aproximadamente
15 cm. Os parâmetros de qualidade avaliados foram, oxigênio dissolvido (OD),
turbidez (TB), pH, temperatura (T), demanda bioquímica de oxigênio (DBO),
condutividade elétrica (CE), nitrogênio total (NT) e fósforo total (PT).
Os parâmetros condutividade elétrica (CE), concentração de oxigênio
dissolvido (OD), temperatura (T) e pH foram determinados in situ com o auxílio da
sonda multiparâmetros Horiba. Os outros parâmetros foram determinados em
laboratório. As amostras coletadas foram armazenadas em frascos de polietileno,
preservadas conforme necessidade e refrigeradas em caixa de isopor, sendo
transportadas para a Universidade Federal do Mato Grosso (APHA, 2012).
As amostras coletadas para análise de nutrientes (nitrogênio e fósforo) foram
acidificadas logo após a coleta, com ácido sulfúrico concentrado, deixando seu pH
próximo de 2. O nitrogênio foi determinado pelo método nitrogênio Kjeldahl; O fósforo
pelo método do ácido ascórbico; A turbidez (TB) sendo medida com o auxílio do
turbidímetro e a demanda bioquímica de oxigênio (DBO) foi determinada pelo método
de incubação das amostras por 5 dias, à 20°C. Todas as análises realizadas tiveram
como embasamento o Standart Methods.
Os resultados dos parâmetros de qualidade analisados foram discutidos com
base na Resolução CONAMA n° 357 (BRASIL, 2005), que consiste na referência
quanto aos parâmetros de qualidade de acordo com o enquadramento do corpo
hídrico.
Ressalta-se que por problemas técnicos, em algumas coletas não foram
analisados alguns parâmetros de qualidade.
19
20
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram verificadas diferenças significativas nas características locacionais dos
pontos e dos trechos da bacia que contribuem para os pontos de coleta de água. O
ponto 1 é um local de fácil acesso, com pequenas propriedades rurais em sua
proximidade, cruza a BR 163 e possui a montante uma área com represamento; o
trânsito de veículos é intenso, assim como de pessoas que esporadicamente
frequentam a área represada para praticar pesca e banho, sendo também é intenso o
acúmulo de lixo nessa seção do rio (Figura 5). Há piscicultura e pouca urbanização na
área à montante.
O ponto 2, por estar localizado em área de mata fechada, tem trânsito menos
intenso, e as pessoas que dali se aproximam também praticam atividade de pesca e
banho. Todo o trecho do rio entre os pontos 1 e 2 apresenta mata de proteção
marginal.
Figura 5 - Acúmulo de lixo no ponto 1 de coleta. Fonte: Autor.
Não foi constatada criação de animais ou moradores nas proximidades
imediatas do ponto 2, mas foi verificada atividade agrícola, como plantio de culturas
anuais de soja e milho até o início da mata de acesso a aproximadamente 1 km de
distância do rio.
4.1. Avaliação espaço-temporal da qualidade da água
Em relação às análises realizadas, notaram-se valores próximos e pouco
variáveis (entre 1 e 2 µS.cm-1) nas coletas e em ambos os pontos monitorados para a
21
condutividade elétrica (Figura 6). Baixos valores de condutividade indicam águas sem
perturbações importantes de qualidade.
Figura 6 – Valores de condutividade elétrica no rio Curupi no ano de 2014.
De acordo com Branco (1986) variações na condutividade elétrica podem
indicar processos de decomposição de matéria orgânica, pois comumente, se observa
aumento desses valores a medida em que se intensifica este processo. Assim,
verificou-se que em termos do parâmetro condutividade elétrica, pode-se inferir que
neste trecho avaliado o ambiente não sofreu interferência em termos de recebimento
de matéria orgânica. Ao contrário de Peres et al. (2009) que em seu estudo verificou
valores elevados de condutividade elétrica em área também com considerável
vegetação e sem despejos de efluentes industriais ou domésticos. Heller e Pádua
(2010), afirmam que a condutividade elétrica da água depende da quantidade de sais
dissolvidos sendo aproximadamente proporcional a sua quantidade, e ainda que a
determinação da condutividade elétrica permite estimar de modo rápido a quantidade
de sólidos totais dissolvidos (STD).
Assim como neste estudo, Andrietti (2016) também não verificou em suas
análises altas variações de condutividade. Já Santos et al. (2012) constataram como a
atividade antrópica interfere nos valores de condutividade, pois foram em pontos onde
essa foi mais intensa, que foram obtidos os valores mais expressivos na
condutividade. Gasparotto (2011), assim como Santos et al. (2012), encontraram altos
valores de condutividade quando analisou nascentes urbanas na cidade de Piracicaba,
porém atribui a esse fato, a natureza e composição do solo e rochas presentes no
local, que entram em contato com a água.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
Jan Fev mar abr mai Jun jul ago Set Out nov Dez
Con
dutiv
idad
e el
étric
a µS
.cm
¯¹
Mês de coleta
P1 P2
22
Os valores encontrados para o parâmetro de qualidade pH apresentaram-se
próximos entre os pontos 1 e 2, e se mostraram baixos, sendo o menor valor de 3,88
encontrado no ponto 1, e o maior valor de 5,80 encontrado no ponto 2 (Figura 7).
Figura 7: Valores de pH medidos no rio Curupi no ano de 2014.
Percebeu-se que esses valores são baixos quando comparados à legislação
(valores entre 6 e 9). Vale ressaltar que, possivelmente, o uso e ocupação do solo não
têm influência sobre esses resultados. Baixos valores de pH podem representam a
condição natural devido os solos da região serem muito antigos, e terem perdido suas
bases por lixiviação (EMBRAPA, 2006). Andrietti et al. (2016) também encontram
valores baixos de pH na bacia do rio Caiabi, afluente do rio Teles Pires. Maier (1987)
ressalta que os rios brasileiros têm tendência das águas apresentaram valores de pH
de neutro a ácido, sendo que são encontrados alguns rios na Amazônia com pH
próximo de 3. Rios que cruzam áreas pantanosas também podem apresentar valores
de pH muito baixos, devido a quantidade de matéria orgânica em decomposição
presente nesses ambientes.
O pH é uma variável ambiental muito complexa, sendo este parâmetro
influenciado por diversos fatores físico-químicos (GASPAROTTO, 2011). Esteves
(1998) relata sobre as variações no pH, indicando que no período chuvoso o
carreamento de matéria orgânica do solo acaba influenciando a produção de CO2,
bicarbonatos e outros ácidos no leito dos rios, sendo, por isso, um dos motivos dessas
alterações. Salienta-se que valores de pH muito baixos podem ser limitantes para
existência de algumas formas de vida.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Jan Fev mar abr mai Jun jul ago Set Out nov Dez
pH
Mês de coleta
MínimoMáximoP1P2
23
A temperatura da água apresentou variações mínimas entres os pontos de
coleta e durante as coletas. Essa pouca variação em relação à temperatura podem ser
reflexo das temperaturas médias ambientais, uma vez que as coletas foram realizadas
no período da manhã, quando ainda não se tinha o aquecimento das águas. Apenas
para a coleta no mês de janeiro, realizada no período da tarde, verificou-se que a
temperatura da água no ponto 1 foi ligeiramente superior que a temperatura do ponto
2. Possivelmente, a maior incidência de energia no trecho a montante do ponto 1 fez
com que a temperatura de água se apresentasse maior que no ponto 2. O trecho de
rio entre os pontos 1 e 2 apresenta proteção marginal, auxiliou à pequena variação de
temperatura com sombreamento da água. Heller e Pádua (2010) afirmaram que
temperaturas elevadas da água aumentam o potencial de crescimento de
microorganismos e pode aumentar a sensação de gosto e odor, além da cor e da
corrosão.
De acordo com Lopes e Magalhães Jr (2008), as transferências de calor,
quando naturais, que ocorrem no corpo hídrico se dão por radiação, condução ou
convecção, ou ainda por agentes poluidores, que na ausência destes, garantem que a
temperatura do rio acompanhe os períodos climáticos do ano. Confirmando esse fato,
Peres (2009) conferiu temperaturas acompanhando as variações conforme os
períodos climáticos do ano, pois encontrou em seus dados variações de até 10° C, em
locais onde não incide despejos de efluentes, e sim variações de incidência solar e
profundidade. Donádio (2005) analisando a influência de remanescentes de vegetação
ciliar e atividade antrópica, relatou maiores variações de temperatura em locais com
diferentes condições de sombreamento.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Jan fev mar abr mai Jun jul ago Set Out nov Dez
Tem
pera
tura
£C
Mês de coleta
Máximo
P1
24
Figura 8 - Valores de temperatura da água do rio Curupi no ano de 2014.
Os resultados obtidos para o oxigênio dissolvido (OD) mostraram que ambos
os pontos de coleta apresentaram valores dentro do permitido pela legislação,
Resolução CONAMA n° 357, de 2005, que indica que rios de classe II devem
apresentar concentração de OD superior a 5 mg.L-1. Notou-se que no ponto 1 os
valores de concentração de OD foram ligeiramente inferiores aos do ponto 2. Pode-se
atribuir tal diferença pelo fato de que no trecho ligeiramente a montante do ponto 1 de
coleta existe uma área de represamento, que altera a característica do ambiente lótico,
para lêntico. E após o ponto 1, a sinuosidade natural do rio provoca turbulência,
permitindo a reoxigenação da água.
A concentração de oxigênio dissolvido é um parâmetro de extrema importância
para manutenção da vida aquática, pois influencia na sobrevivência dos ecossistemas,
e ainda participa de vários processos químicos (ESTEVES, 1996). Heller e Pádua
(2010) afirmam que o oxigênio dissolvido é inversamente proporcional a temperatura,
pois quando ocorre um aumento desta, há um decréscimo na solubilidade do oxigênio,
e ressaltam ainda que a respiração biológica reduz suas concentrações. Oliveira
(2009) observou grandes variações na concentração de oxigênio dissolvido, quando
analisou o córrego urbano Marlene em Sinop, atribuindo ao fato a atividade antrópica.
Em geral, observa-se que as concentrações de OD têm valores inversamente
proporcionais aos da DBO. Dessa forma, entende-se que altos valores de OD
dissolvido indicam baixa concentração de matéria orgânica na água. De fato, nas
análises realizadas não se identificaram concentrações de matéria orgânica em níveis
de detecção do método empregado (valores acima de 1 mg.L-1). Sperling (2005) afirma
que o principal critério para caracterização de poluição orgânica, é o esgoto
doméstico, Lopes (2007), comprovou interferência da poluição pontual na
concentração de oxigênio dissolvido após lançamento de efluente doméstico e
efluente urbano.
25
Figura 9: Valores de OD quantificados no rio Curupi em 2014.
Conforme indicado pela Resolução CONAMA n° 357 (2005), para rios de
classe 2, os valores de turbidez devem ser abaixo de 100 NTU. Os valores medidos
para a turbidez no rio Curupi (Figura 10) mostram variações importantes entre os
pontos, porém, todos dentro do limite permitido.
Figura 10: Valores de Turbidez quantificados no rio Curupi em 2014.
É possível visualizar notória diferença entre os pontos 1 e 2, que pode ser
explicada devido a diferença de vegetação presente no entorno de cada ponto, sendo
o ponto 1 com pouca vegetação e reduzida quantidade de matéria orgânica, enquanto
no ponto 2, devido ao trecho ser em mata fechada, possivelmente, maior quantidade
de matéria orgânica (folhas, galhos de árvores em decomposição) ajudaram a elevar a
0
1
2
3
4
5
6
7
8
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OD
mg.
L-1
Mês de coleta
Mínimo
P1
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0
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20
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40
50
60
70
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90
100
0 2 4 6 8 10 12
Turb
idez
NTU
Mês de coleta
P1
P2
26
turbidez da água. Schneider et al. (2011) quando quantificou valores para turbidez em
região urbanizada e rural, assim como neste estudo, obteve valores aceitos pela
legislação, e pode notar ainda pequeno aumento nos valores de turbidez na zona
rural. Alguns autores obtiveram resultados diferentes de turbidez para épocas de
chuvas e estiagem, como Andrietti (2016), Lopes e Magalhães Jr. (2010), porém tal
fato não se aplica a todos os casos, havendo assim autores que não observaram a
mesma diferença, como Gasparotto (2011) e Lopes (2007).
Os valores de concentração de nitrogênio total Kjeldahl determinados
para o corpo hídrico foram baixos e dentro do permitido pela legislação. Segundo a
Resolução CONAMA n° 357, de 2005, a concentração de nitrogênio Kjeldahl não deve
ultrapassar valores de 3,7 mg.L-1 para pH menores que 7,5 em ambientes lóticos
evidenciando a não presença de fontes de nitrogênio em sua proximidade imediata,
como a não presença de lançamentos de efluente e também a baixa densidade
populacional que pudesse contribuir com esgoto. O mesmo ocorreu para Schneider et
al. (2011) e Gorayeb et al. (2010) que em suas análises não obtiveram valores fora do
permitido pela legislação. Gasparotto (2011) encontrou em nascentes urbanas, valores
acima do que indica a legislação, assim como Belluta et al. (2016) que em seu estudo
na foz da sub-bacia do rio cascata, verificou altas variações na concentração de
nitrogênio total.
Figura 11: Concentração de nitrogênio total Kjeldahl no rio Curupi em 2014.
As concentrações de fósforo determinadas apresentaram valores abaixo do
valor máximo recomendado pela Resolução CONAMA n° 357, de 2005 (figura 11
). Esta Resolução indica que para rios de classe 2 são permitidos valores de até 0,1
-0,3
0,2
0,7
1,2
1,7
2,2
2,7
3,2
3,7
Jan Fev mar abr mai Jun jul ago Set Out nov Dez
Nitr
ogên
io K
jeda
hl, m
g.L¯
¹
Mês de coleta, 2014
P1 P2
27
mg.L-1. Conforme supracitado, a atividade antrópica e densidade populacional
parecem não ter grande influência na qualidade da água do rio em questão. Sendo
assim, é possível afirmar que a concentração de fósforo presente pode ser
considerada normal para as águas superficiais não poluídas, pois segundo Chapmam;
kimstash (1996), valores entre 0,005 e 0,020 mg.L-1 indicam águas não poluídas.
Souza (2006) realizou estudos em uma área do estado do Espírito Santo, e
constatou alterações com o uso e ocupação do solo em relação a concentração de
fósforo. As águas nas áreas urbanas apresentaram concentrações de fósforo maiores
que 1,0 mg.L-1, enquanto em área vegetada os resultados não ultrapassaram 0,4 mg.L-
1. Donádio et al. (2005), Souza (2006) e Andrietti et al. (2016) constataram maiores
teores de fósforo em épocas com maior intensidade pluviométrica.
Figura12: Concentração de fósforo total no rio Curupi em 2014.
0
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0,07
0,08
0,09
0,1
Jan Fev mar abr mai Jun jul ago Set Out nov Dez
Fósf
oro
tota
l, m
g.L¯
¹
Mês de coleta, 2014
P1 P2
28
5. CONCLUSÃO
Considerando os parâmetros químicos, físicos e biológicos avaliados, conclui-
se que a qualidade da água do rio Curupi é boa e indicam não variar de forma
importante durante o ano.
O pH da água é ácido, sendo característica da região e não indicativo de
influência antrópica.
29
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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