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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE TRANSPORTES
MODELAGEM E PLANEJAMENTO DE
TRANSPORTES URBANOS
VERSÃO PRELIMINAR PARA FINS DIDÁTICOS
CURSO: ENGENHARIA CIVIL
CÓDIGO DA DISCIPLINA: TT-060
PROFESSOR:
Jorge Tiago Bastos
2017
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
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Sumário
1. NOÇÕES GERAIS DE PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES ........................ 3 1.1 O SERVIÇO DE TRANSPORTE ......................................................................... 3
1.2 DEMANDA E OFERTA DE TRANSPORTE ....................................................... 5 1.2.1 DEMANDA POR TRANSPORTE ........................................................................................... 5 1.2.2 OFERTA DE TRANSPORTE ............................................................................................... 11 1.2.3 EQUILÍBRIO ENTRE DEMANDA E OFERTA DE TRANSPORTES .................................. 12 1.2.4 DEMANDA INDUZIDA ....................................................................................................... 16
2. POLÍTICAS DE TRANSPORTE E PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL
22 2.1 HISTÓRICO ...................................................................................................... 25 2.2 LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA BÁSICA ........................................................... 30
3. OFERTA DE TRANSPORTE ................................................................................ 33 3.1 TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO ................................................. 33
3.1.1 VEÍCULO – TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO ............................................... 34 3.1.2 INFRAESTRUTURA – TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO ............................... 35 3.1.3 REGRAS OPERACIONAIS – TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO .................... 38 3.1.4 ESTRATÉGIAS DE GDM BASEADAS NA OFERTA – TRANSPORTE INDIVIDUAL
MOTORIZADO .................................................................................................................................. 39 3.2 TRANSPORTE COLETIVO............................................................................... 40
3.2.1 VEÍCULO – TRANSPORTE COLETIVO ............................................................................. 40 3.2.2 INFRAESTRUTURA – TRANSPORTE COLETIVO ............................................................ 45 3.2.3 REGRAS OPERACIONAIS – TRANSPORTE COLETIVO .................................................. 56
3.3 TRANSPORTE DE CARGA .............................................................................. 58 3.3.1 VEÍCULO – TRANSPORTE DE CARGA ............................................................................ 58 3.3.2 INFRAESTRUTURA – TRANSPORTE DE CARGA ............................................................ 59 3.3.3 REGRAS OPERACIONAIS – TRANSPORTE DE CARGA .................................................. 64
3.4 TRANSPORTE CICLOVIÁRIO ......................................................................... 66 3.4.1 VEÍCULO – TRANSPORTE CICLOVIÁRIO ....................................................................... 67 3.4.2 INFRAESTRUTURA – TRANSPORTE CICLOVIÁRIO ....................................................... 69 3.4.3 REGRAS OPERACIONAIS – TRANSPORTE CICLOVIÁRIO............................................. 79
ANEXO I ........................................................................................................................ 80
ANEXO II ...................................................................................................................... 83
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
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1. NOÇÕES GERAIS DE PLANEJAMENTO DE TRANSPORTES
O campo da engenharia de transportes é consituido por muitas áreas
distintas e é um campo relativamente novo, sendo tratado como área de
conhecimento a partir da década de 50, aproximadamente. O transporte é parte
integrante do funcionamento de qualquer sociedade, apresentanto uma relação
bastante próxima com aspectos associados à produção, à disponibilidade de
produtos e serviços, ao estilo de vida e às atividades de lazer (MORLOK, 1978).
O planejamento de transportes é uma tarefa complexa, pois não trata de
um tema isolado e independente. Tomando as soluções de um sistema de
transporte urbano como exemplo, elas são, na verdade, resultado da agregação
de uma série de soluções menores de engenharia de tráfego e de transportes.
Além disso, um sistema de transporte urbano está inserido em um sistema de
transporte maior, de âmbito regional ou nacional. Dessa forma, o planejamento
de transportes envolve a análise de problemas em vários níveis. Entretanto, uma
questão essencial do planejamento de um sistema de transporte não é sua
variedade de níveis, mas sim seu dinamismo – função da interação cíclica
decorrente de cada intervenção realizada no sistema, capaz de modificar as
relações ao longo do processo de planejamento (WRIGHT; ASHFORD, 1989).
1.1 O SERVIÇO DE TRANSPORTE
O transporte pode ser conceituado como o deslocamento de pessoas ou
cargas de um lugar para o outro no espaço, ao longo de determinado percurso,
consumindo uma quantidade de tempo e recursos (D’AGOSTO, 2015). O fato do
transporte constituir-se de um serviço, e não um bem, o torna algo não estocável.
O serviço de transporte, comprado a um determinado preço, é composto por um
conjunto de características de desempenho.
Como serviço, o transporte pode ocorrer em cinco modos básicos:
rodoviário, ferroviário, hidroviário, aeroviário e dutoviário. Estes modais devem
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ser combinados de forma que resultem na melhor relação de qualidade e custos,
seja por meio da multi ou intermodalidade. A escolha de qual(is) modo(s) utilizar
para o serviço de transporte deve partir de uma análise das características
básicas de todos os serviços: preço,tempo médio de viagem, variabilidade do
tempo em trânsito, frequência/disponibilidade e risco de perdas e danos.
Um sistema de transporte eficaz ajuda a desenvolver os potenciais
produtivos das demais atividades, agregando valor de tempo e espaço à carga
(ou mesmo à pessoa) transportada transportado. É por meio do transporte que
podemos nos deslocar de uma região para outra e levar os produtos até onde
eles são necessários no tempo adequado. Sob uma perspectiva econômica, o
transporte possibilita a movimentação de bens para locais onde o mesmo é mais
útil ou valioso (MORLOK, 1978; D’AGOSTO, 2015). Um sistema de transporte
eficaz contribui para:
Intensificar a competitividade no mercado, pois reduz o preço dos
produtos em geral;
Aumentar as economias de escala na produção;
Identifique o principal atributo de cada modo de transporte:
Diferencie multi e intermodalidade:
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Melhorar o padrão de vida econômico da população onde o sistema
exerce influência1.
Sendo o transporte um serviço, e, portanto, não estocável, é importante
que haja um planejamento na oferta e utilização deste serviço, para que a
necessidade por transporte de cargas ou pessoas seja adequadamente suprida.
O planejamento de um sistema de transporte está associado à:
Necessidade de prever decisões e evitar erros;
Criação de subsídios para a tomada de decisões;
Tarefa de conciliar os interesses dos decisores e das partes
envolvidas ou atingidas.
1.2 DEMANDA E OFERTA DE TRANSPORTE
1.2.1 DEMANDA POR TRANSPORTE
A demanda por transporte é o desejo de uma entidade (pessoa ou grupo
de pessoas físicas ou jurídicas) de locomover algo (a si próprio, outras pessoas
ou cargas) de um lugar para outro. A demanda por transporte é “derivada” de
outras demandas, ou seja, o transporte não é uma atividade “fim”, mas sim um
meio que outras atividades ou necessidades sejam cumpridas (ORTÚZAR;
WILLUMSEN, 2011).
A demanda por transporte é diferenciada de acordo com:
O tipo de massa transportada – pessoas ou cargas;
1 Como exemplo e leitura adicional: http://www.mobilize.org.br/noticias/4125/os-cinco-melhores-
transportes-publicos-do-mundo.html
Conceitue economia de escala:
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Os motivos de viagem – estudo, trabalho, lazer, negócios, etc. (ver
Figura 1.1);
A importância dos atributos – velocidade, frequência,
disponibilidade, confiabilidade, entre outros.
Figura 1.1: Total de viagens diária por motivo na Região Metropolitana de São Paulo – comparação 1997 – 2007.
Fonte: METRO-SP (2008)2
Outra diferenciação importante da demanda é sua distribuição no espaço,
sendo geralmente consequência da distribuição das atividades. No mapa da
Figura 1.2 é possível identificar o carregamento, em termos de fluxo horário de
automóveis, na rede viária de parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro
– RMRJ, no qual é possível observar a distribuição espacial da demanda por
viagens de automóvel por meio dos principais corredores de deslocamento na
região.
Cabe ainda destacar que a distribuição espacial da demanda também
pode ser analisada em um nível mais macro, como, por exemplo, em relação aos
principais destinos das exportações de determinado país.
2 Para o relatório completo, consulte:
http://www.metro.sp.gov.br/metro/arquivos/OD2007/sintese_od2007.pdf
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Figura 1.2: Fluxo de automóveis no pico da manhã em parte da RMRJ.
Fonte: PDTU-RMRJ (2014)3
Ainda, a demanda por transporte distribui-se em relação ao tempo,
podendo tal variação ocorrer de maneira sazonal, mensal, diária, horária e
mesmo dentro do período de 1 hora4. A Figura 1.3 mostra um exemplo da
flutuação horária das viagens diárias por modo de transporte na Região
Metroppolitana de São Paulo (RMSP).
3 Para o relatório completo, consulte:
http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/5333332/4139325/25PDTUGovEstado092014.pdf 4 Associado ao conceito de Fator Hora Pico, estudado em engenharia de tráfego.
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Figura 1.3: Flutuação horária das viagens diária na RMSP – 2007. Fonte: METRO-SP (2008)
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Demonstre graficamente (gráfico número de viagens x mês do ano e dia da semana) outras formas de distribuição temporal da demanda (mensal e diária) de:
uma rodovia turística (que permite o acesso a um balneário);
uma rodovia ligando uma cidade maior (fonte de empregos) a uma menor (fonte de mão-de-obra).
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Demonstre graficamente (gráfico número de viagens x hora) a distribuição temporal do número de viagens geradas por diferentes tipos de empreendimentos (pólos geradores de viagens) – ex. shopping center, escola, prédio de escritórios, condomínio residencial, estádio, etc.
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1.2.2 OFERTA DE TRANSPORTE
Ao contrário de um produto/bem que pode ser produzido em quantidades
extras e ser estocado para suprir a demanda por ele ao longo do tempo, o serviço
de transporte não pode ser estocado, de forma que a oferta de transporte é
passível de uso durante aquele período de tempo em que está disponibilizada.
Caso haja excesso de oferta de transporte em um período de menor demanda,
a parcela de oferta não utilizada não poderá ser “armazenado” e utilizado em um
momento de maior demanda.
A oferta de transporte dá-se através de diferentes elementos:
Infraestrutura;
Veículos;
Regras operacionais.
No âmbito da oferta de transporte, a infraestrutura (no caso do transporte
rodoviário composta por vias, interseções, pontes e outros elementos)
corresponde à parte mais fixa da oferta de transporte, pois alterações na
infraestrutura de transporte podem demandar grandes recursos e sua execução
pode ser demorada. Assim, variações na infraestrutura de transportes tendem a
ocorrer em médio/longo prazo e devem ser consideradas fixas se o horizonte de
análise é mais restrito (ao longo de um dia, por exemplo).
A quantidade e a capacidade dos veículos de transporte também
influenciam decisivamente na oferta de transporte. Considerando o sistema de
transporte público como exemplo, a quantidade de ônibus de linha pode ser
facilmente alterada alocando-se um maior número de veículos àquele itinerário
Considerando o contexto urbano, dê o exemplo de um artifício que pode tornar a oferta de infraestrutura de transporte mais variável ao longo do dia.
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caso haja a necessidade de aumento da oferta em função da grande quantidade
de passageiros (demanda) em determinada hora do dia. A capacidade dos
veículos também pode ser alterada por meio da substituição por veículos
maiores (ex. um ônibus comum de 12m de comprimento, por um ônibus
articulado de 18m de comprimento).
O terceiro elemento importante na oferta de transportes são as regras
operacionais, compostas pelo sistemas jurídico, institucional e de
regulamentação, além de uma política de operação e sistemas de controle de
rotas e programações.
1.2.3 EQUILÍBRIO ENTRE DEMANDA E OFERTA DE TRANSPORTES
O equilíbrio entre demanda e oferta de transporte pode ser entendido
como a satisfação de uma demanda (desejo) de movimentação de pessoas ou
bens com diferentes motivos de viagem em diferentes momentos, usando vários
meios de transporte, dado um sistema de transporte composto por infraestrutura,
equipamentos, operadores e sistemas de gerenciamento (regras, sinalização e
controle), com certa capacidade de operação.
Tal equilíbrio deve, na medida do possível, ser buscado em um sistema,
pois isto está associado a seu grau de racionalidade econômica (utilização
mínima de recursos para atender satisfatoriamente determinado objetivo – neste
caso o de prestar um serviço de transporte com qualidade e segurança). Um
sistema com excesso de oferta de transporte em relação à demanda existente
para tal, apesar de provavelmente satisfatório aos seus poucos usuários, tende
No setor de transporte de cargas, dê um exemplo de algum tipo de regra operacional capaz de alterar a oferta de transporte em um ambiente urbano.
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a ser pouco econômico, prejudicando a sustentação do sistema (seu custo por
unidade de demanda atendida tende a ser alto). Por outro lado, um sistema com
escassez de oferta perante à demanda, apesar de mais econômico em termos
operacionais (seu custo por unidade de demanda atendida tende a ser baixo),
gera alto grau de insatisfação aos seus usuários, afetando a qualidade do serviço
de transporte prestado
Há uma diversidade de medidas/ações capazes de alterar a quantidade
de oferta ou demanda por transporte, cuja combinação pode auxiliar no sentido
da aproximação do equilíbrio adequado entre oferta e demanda – tendo como
resultado final um serviço de transporte de qualidade e economicamente racional
– equilíbrio entre oferta e demanda.
O custo por unidade de demanda atendida, ou simplesmente custo
unitário, representa a relação entre os investimentos necessários para a
operação do sistema (compostos basicamente por infraestrutura, veículos e os
próprios custos operacionais) e a demanda atendida.
A demanda atendida também possui sentido amplo, pois pode ser
representada de diversas formas:
No caso de um serviço de transporte público, por exemplo, a
demanda pode ser representada pelo número de passageiros ou
mesmo “passageiros x distância percorrida por cada passageiro no
sistema” (resultando na unidade pass.km, que nada mais
representa que o nível de utilização deste sistema de transporte
público;
No contexto do transporte individual, a demanda pode ser
representada pelo número de veículos que utiliza determinada
estrada ou mesmo “veículos x distância percorrida por cada veículo
no sistema” (resultando na unidade veic.km). É importante lembrar,
no entanto, que o veículo em si constitui-se de um elemento da
oferta de transportes, já que a demanda consiste no desejo do
usuário em deslocar-se;
No tocante ao transporte de carga, a demanda pode ser
representada pela quantidade de carga transportada, ou mesmo
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“carga transportada x distância percorrida por esta carga no
sistema” (resultando na unidade ton.km).
Dessa forma, o custo unitário de prestação de um serviço de transporte é
dado por:
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑈𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑜 = 𝑁í𝑣𝑒𝑙 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑛𝑜 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 (𝑅$)
𝐷𝑒𝑚𝑎𝑛𝑑𝑎 𝑎𝑡𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎 (𝑢𝑠𝑢á𝑟𝑖𝑜𝑠 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎𝑑𝑜𝑠, 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎𝑑𝑎, 𝑒𝑡𝑐. )
Este custo unitário do sistema pode ser entendido como uma
“desutilidade” do sistema, tendo em vista que a racionalidade deve ser buscada.
Uma oferta reduzida de determinado serviço de transporte presssuõe um baixo
nível de investimento no sistema (seja por parte do poder público, operadores,
investidores privados, ou qualquer outra fonte de investimento) e, se
acompanhada de um excesso de demanda, resulta em um sistema com usuários
insatisfeitos, porém com um custo baixo por usuário atendido. Por outro lado, um
excesso de oferta pressupõe um alto nível de investimento no sistema e, se
acompanhado de uma escassez de demanda, resulta em sistema com usuários
satisfeitos, porém com um alto custo por usuário atendido. Ambos os casos não
são desejáveis, pois no primeiro o serviço de transporte está abaixo de um
padrão de qualidade razoável e no segundo caso o sistema é insustentável ao
longo do tempo.
Um forma teórica de representar o equilíbrio entre oferta e demanda de
um sistema de transporte é plotar as curvas de oferta e demanda (função oferta
e função demanda) em relação ao custo unitário da prestação desse serviço,
conforme Figura 1.4.
É interessante que um sistema de transporte opere no ponto de equilíbrio
(E), no qual a quantidade ofertada se iguala à quantidade demandada. Porém,
em termos práticos, esta é uma situação bastante difícil de se atingir, de modo
que um sistema de transporte adequado deve operar ligeiramente acima ou
ligeiramente abaixo deste ponto de equilíbrio, equacionando a racionalidade do
sistema (medida em termos do seu custo unitário) e a prestação de um serviço
de transporte com um padrão de qualidade razoável (medido por meio da
satisfação do seu usuário).
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Figura 1.4: Representação gráfica do equilíbrio entre oferta e demanda de um serviço de transporte.
Tradicionalmente, há uma preocupação do planejamento de transportes
em estimar a demanda por transporte em longo prazo e ajustar a oferta em
função de tal previsão5. Conforme pode-se observar no gráfico, a relação entre
as quantidades ofertada e demanda é fator determinante para a racionalidade
do sistema em questão.
Dessa forma, devem-se buscar medidas capazes de fazer com que este
ponto de equilíbrio ocorra sob um custo unitário mais reduzido, ou seja, com um
menor nível de desutividade do sistema. Algumas dessas medidas são citadas
a seguir.
MEDIDAS COM ENFOQUE NA REDUÇÃO DA DEMANDA E/OU NO AUMENTO OU MELHOR UTILIZAÇÃO DA OFERTA
Uma série de medidas de gestão do sistema de transporte podem ser
adotadas para reduzir a demanda por espaço urbano e/ou aumentar ou otimizar
a utilização da oferta, tais como:
5 O conceito de demanda induzida, que sera abordado na sequência, faz um contraponto a esta ideia.
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Pedágio urbano para veículos individuais motorizados, ou mesmo
restrição de acesso a automóveis em determinadas áreas;
Redução ou taxação de vagas de estacionamento;
Redução de dias de trabalho;
Redução das distâncias de viagem (locais de moradia mais perto
dos locais de trabalho, comércio e serviços);
Aumento dos preços de combustíveis;
Rodízio de veículos;
Estímulo ao uso de tecnologias/recursos que evitam o transporte
(o chamado “não transporte”) – compras pela internet, home office,
reuniões por vídeo conferência, entre outros.
Transferência de modos de transporte individuais para públicos ou
não motorizados;
Priorização dos serviços de transporte coletivo (faixas exclusivas
de ônibus, corredores de ônibus, prioridade semafórica) e outras
melhorias gerais no serviço de transporte coletivo;
Aumento da taxa de ocupação dos veículos, principalmente
aqueles de transporte individual (por meio de carpool6, por
exemplo);
Aumento/melhoria da infraestrutura para pedestres e ciclistas;
Melhorias de engenharia de tráfego (número de faixas, melhorias
de geometria, interseções em desnível) que conferem maior fluidez
ao sistema – ainda que em um horizonte limitado de tempo;
Melhorias de engenharia de tráfego em termos de controle de
tráfego (semáforos sincronizados e/ou “inteligentes”, por exemplo);
Escalonamento de horários de trabalho ao longo do dia.
1.2.4 DEMANDA INDUZIDA7
6 Exemplo de iniciativa neste sentido: site de caronas “Caronetas” (https://www.caronetas.com.br/site-de-
caronas); 7 Texto adaptado de (FETRANSPOR, 2014) e (ITDP; EMBARQ, 2013)
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Um conceito importante a ser incorporado pelos profissionais de
planejamento de transporte e tomadores de decisão é o de demanda induzida,
que está relacionado ao aumento da demanda motivado pelo aumento da oferta.
Em outras palavras e transferindo o racioncínio para o contexto do transporte
rodoviário, mais pessoas são motivadas a se locomover usando um transporte
individual motorizado quando é criada ou ampliada a capacidade viária para este
modo. Deste conceito fundamental em engenharia de transportes decorre o
conceito, de certa forma análogo, de evaporacão do tráfego (traduzido do ingles
traffic evaporation).
Para ilustrar esse fenomeno, suponha que uma grande obra rodoviária
venha a facilitar os deslocamentos entre duas grandes zonas de uma cidade (A
– comercial e B – residencial), ou mesmo entre duas cidades vizinhas (sendo
uma cidade com grande quantidade de empregos e outra com grande
quantidade de mão de obra e poucas oportunidades de emprego, semelhante),
diminuindo o tempo de viagem por transporte individual motorizado entre elas de
90 para 50 minutos. Por um lado, com o ganho de tempo, um maior numero de
moradores da zona B será estimulado a buscar oportunidades de emprego na
zona A. O mesmo pode ocorrer com outras zonas – a zona A pode se tornar, por
exemplo, também atrativa para moradores de uma zona C, ainda mais distante
que a zona B, porém agora mais facilmente acessível devido ao menor tempo
de viagem.
Por outro lado, anteriormente, quando se tinha um tempo de viagem de
90 minutos entre as zonas A e B, muitas pessoas que trabalhavam na zona A
poderiam ter optado por residir na propria zona A ou em alguma outra mais
proxima, em funcão da inconveniencia do tempo de deslocamento e da
indisponibilidade de uma alternativa de transporte publico atrativa.
Adicionalmente, com a nova obra rodoviária, essas pessoas podem passar a
optar por morar na zona B e se deslocar diariamente para a zona A, ou mesmo
mudar para uma zona ainda mais distante (como a zona C), pois a maior
distância seria compensada por um tempo de viagem menor ou equivalente.
No entanto, a difusão desse raciocínio ao longo dos anos rapidamente
gera, de novo, a saturacão do sistema. Passa, portanto, a ser mais uma vez
“necessário” criar novas vias ou aumentar a capacidade para “aliviar” essa
saturacão – compondo um círculo vicioso que não traz uma solucão de fato para
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a cidade (ver Figura 1.5) . Esse exemplo demonstra que, em curto e médio
prazos, a economia de tempo proporcionada por ampliacoes viárias pode
simplesmente ser utilizada para a realizacão de viagens mais longas.
Figura 1.5: Representação esquemática do processo de demanda induzida. Fonte: FETRANSPOR (2014)
Além disso, em longo ou talvez médio prazo, a infraestrutura viária
disponível é capaz de influenciar as decisoes referentes a local de residencia; ou
seja, as pessoas podem optar por morar mais longe de seus locais de trabalho
ou estudo, aumentando também a distância viajada e a dependencia do
automovel. Desta forma, nota-se que a simples ampliacão da oferta de vias
acaba por gerar ainda mais tráfego, apenas transferindo o problema da falta de
capacidade para um futuro geralmente bastante proximo – e isso a custa de
elevados investimentos públicos (para reflexão, ver Figura 1.6).
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Figura 1.6: Charge ironizando a forma mais tradicional de pensamento em relação aos
investimentos públicos para as soluções de mobilidade urbana8.
Porém, esses impactos podem ser induzidos no sentido inverso: se a
capacidade viária no meio urbano é reduzida, uma porcão do tráfego de veículos
anterior deve “desaparecer”, o que é referido como “evaporacão do tráfego”. Da
mesma forma, a maior oferta de vias estimula o aumento do transporte individual
(formando um círculo vicioso).
O uso mais racional do espaco urbano existente contribui para inibir esse
aumento ou mesmo para levar a uma reducão das viagens individuais
motorizadas (compondo um círculo virtuoso). O ideal é que essas viagens sejam
absorvidas, em grande parte, pelo sistema de transporte coletivo, planejado de
modo a oferecer solucoes mais duradouras e compatíveis com as necessidades
futuras.
Disso decorre que a reducão ou não ampliacão da oferta de vias, seja por
meio da desconstrucão de determinada estrutura rodoviária – como um viaduto
(que a experiência das grandes cidades mostra ser um tipo de estrutura que
degrada o ambiente urbano no seu entorno), por exemplo, – ou pela
transformacão de faixas de tráfego comuns em faixas exclusivas de onibus ou
ciclovias, não necessariamente precisa ser compensada por medidas de
aumento da capacidade no sistema viário adjacente. Dois requisitos que
contribuem para isso são:
8 Imagem retirada da internet: https://twitter.com/brenttoderian/status/583321873506697216
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A disponibilidade de uma rede adequada de transporte publico,
com o papel de absorver grande parte dessa demanda (mudanca
de modo de transporte – “migracão modal”);
A populacão afetada pode fazer opcoes mais racionais na
localizacão de sua residencia, em funcão das suas atividades
quotidianas.
Algumas circunstâncias podem justificar acoes de desconstrucão
(demolicão de um viaduto, por exemplo): elevados custos de reconstrucão e
reparacão, revitalizacão economica e valorizacão imobiliária do entorno, recu-
peracão de frentes para corpos d’água (rios, baías, etc.) e oferta de melhores
solucoes para as necessidades de mobilidade.
No contexto brasileiro, um exemplo prático desse conceito ocorreu no Rio
de Janeiro – a derrubada do Elevado da Perimetral. Reacoes como essas
contribuem para certo nível de “evaporacão” do tráfego – fenomeno já verificado
em diversas cidades do mundo que conduziram transformacoes drásticas em
seus sistemas de mobilidade urbana. Outras reacoes podem também colaborar
para esse fenomeno, tais como: uso de rotas alternativas, combinacão de
viagens (por exemplo, casa–trabalho– mercado–casa), veículos compartilhados
(carpool ou carona solidária), mudanca para modos não motorizados de
transporte e reavaliacão da necessidade de deslocamento. Várias cidades em
diferentes países, entre eles Estados Unidos, Coreia do Sul e diversos países
europeus já experimentaram os efeitos positivos dessa transformacão.
A experiencia demonstra que a obtencão de resultados positivos depende
de uma estratégia integrada envolvendo os seguintes elementos:
Visão e comprometimento político;
Estratégia de comunicacão e marketing, despertando o
engajamento da mídia, disseminacão e desmistificacão do conceito
entre a populacão;
Compensacão rápida do que foi retirado, para tornar o benefício da
mudanca mais claro, aumentando assim a aceitacão publica das
acoes que envolvem esse conceito;
Monitoramento das situacoes antes e depois, para suportar e
defender as intervencoes;
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Consultas a populacão.
Em suma, a funcão das rodovias deve ser reservada ao tráfego de longa
distância e alta velocidade (e não para viagens pendulares diárias). Ainda, em
vez de construir novas rodovias urbanas, as cidades podem considerar:
Gerenciamento mais eficaz da capacidade existente;
Investimento em transporte de alta capacidade;
Implementacão de políticas de uso do solo que desencorajem o
espalhamento da cidade e as viagens desnecessárias.
Essas acoes geram, entre outras vantagens, mais seguranca para as
pessoas, no sentido de favorecer tanto pedestres e ciclistas, tidos como os mais
vulneráveis do sistema de trânsito, como os viajantes de transporte motorizado,
pois a realizacão de viagens pendulares menos longas, proporcionadas por um
planejamento adequado do uso e ocupacão do solo, reduz o tempo de exposicão
ao risco de acidentes.
Por que mais estradas levam a mais tráfego?
O viajante egoísta: quando uma estrada é construída, é estranho ver
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como ela atrai trânsito (VANDERBILT, 2009)
No verão de 2002, um conflito trabalhista nos portos de Los Angeles e Long Beach interrompeu o fluxo de mercadorias durante 10 dias. O impacto sobre a I-710, a estrada que a maioria dos caminhões utiliza a partir dos portos foi imediato: nos primeiros sete dias de greve, a estrada teve 9 mil caminhões a menos. Frank Quon, diretor operacional da Caltrans – autoridade rodoviária estadual – percebeu que algo peculiar ocorrera naquela semana. O fluxo total de trânsito caiu apenas 5 mil veículos. Outros 4 mil carros entraram na mistura. Os carros preencheram o volume. Quase instantaneamente, os motoristas pareceram saber que a 710, onde as velocidades aumentaram em média 67% durante a greve, era um bom lugar para dirigir. O curioso é que a 710 não estava necessariamente retirando os carros de vias mais apinhadas. “Se você analisar as vias paralelas, como a rodovia 110”, Quon disse, “os volumes permaneceram praticamente os mesmos.
Foi como se os motoristas tivessem subitamente se materializado do nada para se aproveitar de uma estrada que era, pelos padrões do sul da Califórnia, quase boa demais para ser verdade. E era: na semana seguinte, quando os portos reabriram, o trânsito ficou ainda pior do que antes da greve, com caminhões se acumulando para recuperar o atraso nas entregas.
Engenheiros como Quon chamam o que aconteceu na 710 de um caso de “demanda latente”: a demanda que existe, mas que pelo fato de o sistema ser tão confinado, não se materializa; mas quando você cria capacidade, essa demanda latente retorna e ocupa essa nova capacidade. Basicamente as pessoas que nunca teriam escolhido a 710 por ser congestionada demais, de repente mudaram de ideia. Não sabemos ao certo o que elas faziam antes. Talvez usassem ruas locais. Talvez usassem o transporte público. Talvez apenas ficassem em casa.
A questão é que as pessoas são incrivelmente sensíveis a mudanças nas condições de trânsito e parecem capazes de se adaptar rapidamente até mesmo às mudanças mais drásticas em uma rede de vias. Os engenheiros têm um ditado: tudo se resolverá até sexta-feira. Essa regra prática aproximada significa que, mesmo que na segunda-feira um grande evento venha a ocorrer para abalar os padrões de trânsito normais, até a próxima sexta-feira (aproximadamente) um número suficiente de pessoas terá reagido à mudança de modo a fazer com que o sistema volte a se aproximar do normal.
Construímos mais estradas porque há mais pessoas e mais trânsito ou construir estradas cria um trânsito próprio especial? Na verdade, as duas opções são verdadeiras. O que está em discussão são argumentos políticos e sociais: onde e como deveríamos viver e trabalhar, como deveríamos nos deslocar, que efeito isso tem sobre o ambiente?
Estudos sugerem que a viagem induziada é real: quanto mais quilômetros de estrada são construídos, mais quilômetros são percorridos. Em outras palavras, as novas pistas podem imediatamente trazer certo alívio às pessoas que queiram usar a estrada antes, mas também incentivarão essas mesmas pessoas a usar mais a estrada, além de distanciar os limitadores regionais. A construção de estradas, em comparação com outros serviços públicos, sofre de forma desproporcional o ciclo de feedback: “Você constrói mais estradas e gera mais utilização das estradas. Se a capacidade de esgoto for aumentada, as pessoas irão mais ao banheiro?”
2. POLÍTICAS DE TRANSPORTE E PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
23
A necessidade colocar foco sobre o planejamento de transportes nos
espaços urbanos justifica-se pela predominância da população brasileira vivendo
em cidades, conforme mostra gráfico da Figura 2.1. É também nas cidades onde
ocorre a concentração da demanda por transporte, seja no tempo ou no espaço.
Figura 2.1: Distribuição percentual da população por situação de domicício. Fonte: IBGE (2010)
O Brasil tornou-se, portanto, um país essencialmente urbano. No cenário
urbano brasileiro, o número de viagens se distribui entre os diferentes modos de
transporte conforme os gráficos da Figura 2.2.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
24
Figura 2.2: Divisão modal das viagens realizadas no meio urbano no Brasil. Fonte: ANTP (2012)
Como pode-se observar por meio da figura, as participações do transporte
coletivo por ônibus (20% ônibus municipais e 5% ônibus metropolitanos,
totalizando 25%) e do automóvel (27%) são as principais entre as modalidades
de transporte motorizados ou não. Considerando ainda a motocicleta, além dos
dois modos já citados, tem-se que mais de 56% das viagens no meio urbano no
país são realizadas em veículos de transporte rodoviário motorizado. Em
seguida, tem-se a relevante participação do modo “a pé”, com 36% das viagens.
Por outro lado, destaca-se a relativamente baixa participação da bicicleta
e do transporte sobre trilhos, ambos modos de transporte com grande potencial
de contribuição para os problemas de mobilidade enfrentado na maioria das
cidades de médio/grande porte do país. Entretanto, cabe aqui uma análise
histórica de como a matriz de deslocamentos no meio urbano transformou-se ao
longo dos anos e resultou na configuração atual. As decisões relacionadas aos
sistemas de transporte no país têm tradicionalmente um caráter político, ou seja,
as decisões por investimentos em uma ou outra modalidade de transporte foram
essencialmente decisões políticas.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
25
2.1 HISTÓRICO
Na década de 50, por exemplo, foi quando o então “Novo Plano Nacional
de Viacão” traz em seu texto a especificacão de que as rodovias passariam a
assumir a função pioneira como modadlidade de transporte, de modo que o
desenvolvimento da rede ferroviária deveria ser gradativamente substituído pelo
desenvolvimento de uma rede rodoviária (Novaes, 1996 apud Vasconcellos,
2013).
No meio urbano, a transferência dos investimentos sobre trilhos para os
investimentos no modo rodoviário deu-se por meio da substituição dos bondes
pelos ônibus como principal modalidade de transporte coletivo. O Figura 2.3
contém o exemplo da cidade do Rio de Janeiro, a qual teve sua matriz de
transporte coletivo urbano transformada ao longo do tempo, invertendo-se a
predominância do transporte sobre trilhos para o transporte rodoviário. Tal
transformação também ocorreu em outras capitais brasileiras que já contavam
com um sistema consolidado de transporte de passageiros sobre trilhos.
Figura 2.3: Alteração no uso dos modos de transporte coletivo na cidade do Rio de Janeiro de 1940 a 1970.
Fonte: Barat (1986) apud Vasconcellos (2013)
Na década de 70, o sistema de transporte por bondes praticamente
desaparecei das capitais brasileiras, conforme pode ser observado na Figura 2.4,
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
26
que informa a quantidade de passageiros transportados nos diferentes modos
de transporte coletivo urbano.
Figura 2.4: Mudança no tipo de transporte coletivo de grandes capitais brasileiras de 1944 a 1976.
Fonte: Barat (1986) apud Vasconcellos (2013)
O processo de industrialização do país intensificado a partir da década de
50 ocasionou a migração de muitas pessoas do campo para o meio urbano, o
que contribuiu para o crescimento das concentrações urbanas e as
necessidades de deslocamentos associadas. O transporte por ônibus, foi,
portanto, a solução mais comumente adotada para suprir essa demanda por
deslocamentos característica de um ambiente urbano: concentrada no tempo e
no espaço.
Associada ao processo de industrialização do país, está o
desenvolvimento da indústria automobilística. O automóvel surge então como
uma alternativa para suprir a demanda por deslocamentos no meio urbano e,
pouco a pouco, os deslocamentos por automóvel aumentam sua participação na
matriz de deslocamentos no meio urbano. Segundo Vasconcellos (2013),
algumas medidas principais contribuíram para o aumento da utilização do
automóvel como solucação para os deslocamentos urbanos, conforme:
Impactos diretos
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27
Queda no preço do automóvel (popularização do automóvel) –
tornando a oferta deste meio de transporte mais acessível à
população (ver Figura 2.5);
Apoio à indústria automobilística;
Investimentos em infraestrutura rodoviária – aumentando a oferta
de infraestrutura destinada à opção de transporte individual
motorizado.
Impactos indiretos
Aumento da oferta de estacionamentos;
Impostos reduzidos para proprietários de automóveis;
Baixa fiscalização do cumprimento das regras de trânsito,
aumentando a sensação de liberdade proporcionada pela
aquisição e uso do automóvel.
Figura 2.5: Variação do preço médio dos automóveis no Brasil de 1961 a 1987. Fonte: Guimarães (1989) apud Vasconcellos (2013)
A adoção de uma polítcia de incentivo ao modo rodoviário ao longo de
várias décadas resultou, gradativamente, no aumento da taxa de motorização
por automóveis no país (ver Figura 2.6), levando a um processo que alguns
autores denominam de “privatizacão da mobilidade”, pois o automovel se trata
de um elemento privado da oferta de transporte, integralmente à disposição de
seu proprietário.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
28
Figura 2.6: Evolução da taxa de motorização por automóveis no Brasil. Fonte: DENATRAN e IBGE apud Vasconcellos (2013)
Atualmente, em uma frota de cerca de 60 milhões de automóveis
(DENTRAN, 2017). Além do crescimento substancial da motorizaçãoo por
automóvel, outro fenômeno, mais recente, também deve ser analisado: a
proliferação do uso da motocicleta. A partir da década de 90, como resultado de
uma demanda por deslocamentos urbanos mais rápidos e a preços acessíveis,
associado a um conjunto de incentivos aos fabricantes de motocicletas, o país
experimentou um aumento expressivo da participação deste veículo nos
Pesquisa as taxas de motorização (quantidade de veículos para cada 100 habitantes) para diferentes estados brasileiros. Que diferenças você encontrou? A que podem estar relacionadas tais diferenças?
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
29
deslocamentos urbanos – tanto para os serviços de tele-entrega e mototáxi,
quanto para os deslocamentos individuais (ver Figura 2.7).
Figura 2.7: Vendas de mototcicletas no Brasil de 1990 a 2011. Fonte: Abraciclo (2012) apud Vasconcellos (2013)
A partir de 2011, no entanto, esta tendência de crescimento da
participação da motocicleta na frota brasileira aparenta ter reduzido, pois a
proporção deste modo na frota cresceu apenas cerca de 1%, atingindo 27% em
2015 (ver Figura 2.8).
Figura 2.8: Evolução da composição da frota de veículos no Brasil. Fonte: DENATRAN apud ONSV (2017)
No entanto, há sempre de se considerar que a motocicleta é o tipo de
veículo associado ao maior risco de acidentes e lesões – o risco relativo de sofrer
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
30
lesão em uma motocicleta se comparado ao automóvel é 12 vezes maior, e se
comparada ao ônibus é de 24 vezes maior (ELVIK et al., 2009)
Figura 2.10: Vítimas de trânsito atendidas pelo SAMU de acordo com o modo de transporte utilizado para capitais do Brasil e Distrito Federal (2009).
Fonte: Malta et al. (2012) apud Vasconcellos (2013)
Figura 2.11: Distruição das mortes em acidentes de trânsito no Brasil por modo de transporte da vítima para o ano de 2014.
Fonte: Ministério da Saúde apud ONSV (2017)
2.2 LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA BÁSICA
Em um contexto histórico mais recente, a seguir serão tratadas as
principais normas/diretrizes nacionais que tratam da questão urbana. É
importante destacar, no entanto, que há ainda uma grande variedade de normas
estaduais e municipais que podem complementar e detalhar as diretrizes
nacionais, sempre observando a diretriz nacional e sem se contrapor a ela.
Dessa forma, os temas aqui abordados não esgotam o assunto, sendo apenas
uma coletânea básica de informações.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
31
As normas nacionais constituem-se apenas de um quadro balizador das
questões relacionadas ao desenvolvimento urbano, visto que a União possui
competência para legislar sobre o direito urbanístico. Porém, há uma
competência própria do município em promover o adequado ordenamento de
seu território (CASTILHO; MANCINI, 2013).
Por este motivo, inicia-se descrevendo o que a Constituição Federal traz
de orientação sobre o assunto e como ela distribui as responsabilidades aos
municípios para que os mesmos estabeleçam seus processos locais de
planejamento urbano, dando margem ao surgimento de legislações adicionais,
principalmente via Estatuto da Cidade (cujo instrumento é o Plano Diretor) e via
Lei da Mobilidade Plano de Mobilidade. O esquema da Figura 6.2 ilustra a
relação entre as principais leis que regulamentam as questões urbanas:
- Constituição Federal de 1988;
- Estatuto da Cidade – Lei 10.257 de 2001;
- Estatuto da Metrópole – Lei 13.089 de 2015;
- Lei da Mobilidade – Lei 12.287 de 2012;
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
32
Figura 2.12: Legislação urbanística básica. Elaboração própria.
O Estatuto da cidade tem por objetivo ordenar o desenvolvimento das
funções sociais da cidade da propriedade urbana. Seu instrumento, o Plano
Diretor, é obrigatório para municípios:
• com população maior que 20.000 habitantes;
• integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
• integrantes de área de especial interesse turístico;
• inseridos em área de influência de empreendimento com
signifiticativo impacto ambiental;
• inseridos no cadastro nacional de áreas suscetíveis;
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
33
Em municípios com população maior que 500.000 habitantes deve vir
acompanhado de Plano de Transporte Urbano Integrado.
No caso de regioes metropolitanas e aglomeracoes urbanas “legalmente”
definidas como tal, o Estatuto da Metrópole, com base na integração política,
ambiental, social e econômica dos municípios integrantes, prevê a elaboração
de um plano de desenvolvimento integrado.
Finalmente, como uma forma de detalhamento ainda maior das diretrizes
do Plano Diretor, a Lei da Mobilidade determina que todos os municípios que são
obrigados a elaborar o Plano Diretor devem também elaborar o Plano de
Mobilidade. A Lei da Mobilidade estabelece um prazo de três anos a partir da
data de sua publicação, para que os municípios elaborem seus planos. O
descumprimento dessa determinação tem como consequencia a perda de
acesso do município a recursos federais para obras de mobilidade.
3. OFERTA DE TRANSPORTE
Nesta seção, os elementos da oferta de transportes considerando o
cenário urbano serão descritos conforme as seguintes categorias: transporte
individual motorizado (ênfase no automóvel), transporte coletivo (ênfase no
ônibus), transporte de carga (ênfase no caminhão), transporte cicloviário e
transporte a pé.
3.1 TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO
A oferta de transporte individual motorizado que será tratada aqui consiste
na oferta destinada à utilização do automóvel no meio urbano, a qual é composta
pelo próprio automóvel (veículo que representa a oferta privada e individual de
transporte), pela infraestrutura (vias e estacionamentos) e pelas regras
operacionais.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
34
Após a discussão sobre os três elementos fundamentais da oferta de
transporte individual motorizado, são discutidas algumas estratégias de
gerenciamento da demanda de viagens que atuam diretamente sobre a oferta
de transporte, ou seja, altera-se algum aspecto da oferta de transporte
esperando-se que tal alteração resulte em algum impacto sobre a demanda por
mobilidade (GDM). O Institute for Transportarion and Development Policy (ITDP,
2013) define GDM como um conjunto de estratégias destinadas a mudar o
padrão de mobilidade das pessoas (como, quando e para onde as pessoas se
deslocam) com a finalidade de aumentar a eficiência e a racionalidade dos
sistemas de transportes, alcançando os objetivos de uma política pública voltada
para o desenvolvimento sustentável.
3.1.1 VEÍCULO – TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO
O automóvel representa a oferta privada e individual de transporte
caracterizada por um custos inicial (custo de aquisição) e de manutenção
(combustível, impostos, financiamento, manutençãoo mecânica, etc.) elevados.
Isso estimula seu proprietário a utilizar o veículo cada vez mais, de modo que
tais custos são tão diluídos quanto maior for a utilização do veículo. Sendo o
automóvel um elemento privado, seu comprador tem total liberdade na escolha
das características dessa oferta de transporte (modelo, cor, ano, tamanho, etc.),
resultando em uma grande variedade de automóveis em circulação.
Especialmente em termos de dimensões, é possível encontrar uma
grande variedade de automóveis no mercado brasileiro, com larguras, em geral,
variando de cerca de 1,90m até cerca de 2,20m e comprimentos, em geral,
variando de cerca de 3,80 metros até aproximadamente 5,00m. A importância
do conhecimento das dimensões do automóvel, principalmente as medidas de
largura e comprimento, está na relação entre tais medidas e a utilização da
infraestrutura (outro elemento da oferta de transporte que será tratado a seguir)
por este modo. Logicamente, veículos de maiores dimensões ocupam um
espaço maior da oferta de transporte disponível, utilizando-a proporcionamente
mais. A Figura 3.1 ilustra a possibilidade de variação das medidas do automóvel,
com um exemplo de um automóvel de menor porte e outro de maior porte.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
35
Figura 3.1: Exemplos da variação de dimensões de automóveis. Fonte: Imagens da internet9,10
As dimensões da oferta de transporte em termos de infraestrutura devem
ser, portanto, compatíveis com as dimensões dos veículos que nela circulam,
conforme será tratado na seção seguinte.
3.1.2 INFRAESTRUTURA – TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO
A infraestrutura destinada ao automóvel no meio urbano é composta
basicamente por vias para circulação e áreas de estacionamento. Em relação
à via, a partir das dimensões típicas dos veículos que devem nela circular, pode-
se estabelecer a largura das faixas de tráfego. Para acomodar a grande
variedade de dimensões dos automóveis e mesmo de outros veículos que
compõem a corrente de tráfego, recomenda-se uma largura de faixa superior a
9 Disponível em: http://www.manualdecarros.com.br/new-fiesta-2014-preco-fotos-detalhes/ 10 Disponível em: http://carro-ford-edge.blogspot.com.br/2012/10/dimensoes-do-ford-edge.html
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36
3,0m, devendo esta ser aumentada conforme aumenta a proporção de veículos
de maior porte (caminhões e ônibus) e conforme aumenta a velocidade
regulamentar da via, de modo que o impacto da circulação em uma determinada
faixa de tráfego seja mínimo na faixa adjacente, garantindo a adequada
operação no tocante à capacidade e segurança viária.
Em relação ao estacionamento, tem-se um elemento extremamente
importante da oferta, visto que os veículos circulam, em média, apenas 11%%
do tempo, permanecendo, dessa forma, parados na maior parte do tempo
(Ferraz, 2009). Quanto à localização, pode-se encontrar as seguintes formas de
estacionamento:
• Estacionamento na via – com acesso público, podendo apresentar
cobrança ou não (porém tal procedimento de taxação deve ser
regulamentado e controlado pelo órgão municipal de trânsito);
• Estacionamento fora da via – pode ser público sem cobrança,
público com cobrança, ou privado (podendo ser no nível térreo, em
andares, ou subterrâneo11.
As principais dimensões a serem consideradas no dimensionamento de
estacionamentos estão disponibilizadas na Figura 3.2 e Tabela 3.1.
O ângulo de estacionamento é um parâmetro fundamental para o
dimensionamento de áreas de estacionamento, podendo variar de 0 (paralelo ao
alinhamento de referência) a 90° (perpendicular ao alinhamento de referência).
A depender do ângulo de estacionamento e da forma de entrada na vaga (de
frente ou de ré), tem-se maior ou menor facilidade de manobra de entrada e,
consequentemente, de saída e pode-se causar maior ou menor incômodo aos
pedestres devido à emissão de gases do escapamento do veículo (Ferraz, 2009).
A Tabela 3.2 contém os valores recomendados para a largura da via conforme o
ângulo e a disponibilidade de estacionamento em cada um dos lados da via,
além de fornecer a capacidade total de vagas para as diferentes configurações
(correspondente à oferta de vagas de estacionamento), considerando vias com
sentido único de circulação.
11 Geralmente as modalidades de estacionamento em andares ou subterrâneas apresentam cobrança, devido
aos elevados investimentos para construção dessa infraestrutura.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
37
Figura 3.2: Principais dimensões no estacionamento12 Fonte: Ferraz (2009)
Tabela 3.1: Valores recomendados para vagas de estacionamento de automóveis
a
(mínimo)
b C d
(mínimo)
d
(prático)
E
0º 5,50 - 2,20 2,30 3,80 -
30º 4,45 0,33 3,60 3,10 3,80 5,20
45º 3,53 0,33 3,90 3,20 3,80 3,00
60º 2,89 0,33 4,25 3,80 3,80 1,75
90º 2,50 0,33 4,40 4,50 4,50 -
Fonte: Ferraz (2009)
Tabela 3.2: Largura mínima da via e capacidade de vagas conforme ângulo e disponibilidade de estacionamento
Largura mínima das vias de acesso ao estacionamento - vias c/ sentido único de circulação
12 Testes realizados com uma perua Caravan, da General Motors – automóvel que pode ser considerado de
grande porte e equivalente aos veículos de maior porte disponíveis no mercado brasileiro atual.
0
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38
Estacionamento de
um único lado
Estacionamento dos dois lados, sendo
um lado com 0º um lado com 30º
lmín (m)
Capac (v/100m)
lmín (m)
Capac (v/100m)
lmín (m)
Capac (v/100m)
0º 6,00 18 0º 8,20 36 0º 9,60 40 30º 7,40 22 30º 9,60 40 30º 11,00 44 45º 7,70 28 45º 9,90 46 45º 11,30 50 60º 8,05 34 60º 10,25 52 60º 11,65 56 90º 8,90 40 90º 11,10 53 90º 12,50 62
Estacionamento dos dois lados, sendo
um lado com 45º um lado com 60º um lado com 90º
lmín (m)
Capac (v/100m)
lmín (m)
Capac (v/100m)
lmín (m)
Capac (v/100m)
0º 9,90 46 0º 10,25 52 0º 11,10 58 30º 11,30 50 30º 11,65 56 30º 12,50 62 45º 11,60 56 45º 11,95 62 45º 12,80 68 60º 11,95 62 60º 12,30 68 60º 13,15 74 90º 12,80 68 90º 13,15 74 90º 13,30 80
Fonte: Ferraz (2009)
Para automóveis e outros tipos de veículos que serão discutidas nas
próximas seções, a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET-
SP, 1953), em seu Boletim Técnico no 33, apresenta as dimensões necessárias
para diferentes configurações de estacionamento conforme o ângulo. Esta
informação pode ser consultada no Anexo I.
3.1.3 REGRAS OPERACIONAIS – TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) – Lei no 9.503, de 23 de setembro
de 1997, traz o conjunto de regras operacionais de regem a circulação de
automóveis e outros veículos, além de usuários não motorizados, no sistema de
transporte. O código pode ser consultado na íntegra em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9503.htm
Vale ressaltar que os órgãos de trânsito municipais possuem autonomia
para criar regras operacionais adicionais desde que estas não desrespeitem o
que está previsto no CTB.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
39
3.1.4 ESTRATÉGIAS DE GDM BASEADAS NA OFERTA – TRANSPORTE INDIVIDUAL MOTORIZADO
As medidas a seguir são exemplos de estratégias de GDM que consistem
basicamente em intervenções em diferentes elementos da oferta de transporte
com o objeto de causar algum impacto na demanda por viagens.
• Redução do número de faixas de tráfego misto para aumento da
área do passeio, para destinação de faixas exclusivas a veículos
de transporte coletivo ou mesmo para implantação de
ciclovias/ciclofaixas;
• Precificação do estacionamento (ex. EstaR – Curitiba);
• Redução de vagas de estacionamento (proibição de
estacionamento);
• Precificação do congestionamento (ou “pedágio urbano”);
• Adoção de faixas reversíveis nos horários de pico-manhã e pico-
tarde;
• Medidas de melhoria do sistema de controle semafórico, como
sincronização e atuação semafórica;
• Aumento dos preços dos combustíveis ou do valor dos impostos
incidentes sobre os combustíveis ou mesmo dos próprios
automóveis.
Algumas das medidas listadas são melhor detalhadas na matriz de
impactos apresentada na Figura 3.3 a seguir.
Medidas de GDM
Parâmetros
Cobrança de estacionamento
Proibição de estacionamento
Pedágio urbano
Faixas reversíveis
Atuação semafórica
Custo Baixo
Baixo, mas pode exigir obras para dar novo uso à área das vagas eliminadas
Alto, pois exige mecanismo de
Baixo, mas há de se considerar os custos diários de operação
Baixo, caso a interseção já seja semaforizada
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
40
fiscalização sofisticado
Grau de complexidade
Baixo, mas exige um sistema de fiscalização
Baixo, mas depende do porte das obras
Alta Alta Moderada
Tempo de implantação
Curto Curto Curto Curto Muito curto
Aceitação da população em geral
Alta, principalmente se há retorno do valor pago em forma de investimentos no setor
Inicialmente baixa, mas pode aumentar se a mudança de uso do espaço for interessante
Inicialmente baixa, mas pode aumentar se a destinação dos recursos for visivelmente benéfica
Alta Alta
Impacto na oferta
Regula / Restringe Reduz Regula / Restringe
Aumento Aumento
Impacto na demanda
Pode haver efeito compensatório
Reduz, com transferência para outros modos mais sustentáveis
Reduz
Aumento, em função da demanda induzida
Aumento, em função da demanda induzida
Interesse político
Moderado Moderado
Inicialmente baixo, mas com chances de reversão
Moderado
Baixo, pois o efeito pode passar despercebido por parte do usuário
Figura 3.3: Matriz de impactos de algumas medidas de GDM em relação à diferentes parâmetros
3.2 TRANSPORTE COLETIVO
A oferta de transporte coletivo que será tratada aqui consiste na oferta
destinada à utilização do ônibus no meio urbano, a qual é composta pelo próprio
ônibus (veículo que representa a oferta pública e coletiva de transporte), pela
infraestrutura (faixas exclusivas, vias exclusivas, pontos de ônibus, estações de
ônibus e terminais de ônibus) e pelas regras operacionais.
3.2.1 VEÍCULO – TRANSPORTE COLETIVO
O veículo de transporte coletivo aqui considerado será o ônibus, o qual
pode apresentar-se em diferentes configurações de tamanho que variam
principalmente em termos de seu comprimento, já que a largura se mantém
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
41
praticamente invariável em torno dos 2,60m. O comprimento do ônibus
determina, portanto, a capacidade de transporte de passageiros, ou seja, a
quantidade de transporte ofertada por cada veículo. As Figuras 3.4, 3.5, 3.6, 3.8
e 3.9 mostram as configurações de ônibus mais comumente utilizadas nos
sistemas de transporte público urbano brasileiros, com veículo variando em
comprimento de 12 a 28m e capacidade variando de em torno de 60 até 270
passageiros.
Há ainda outras características relevantes que diferenciam os ônibus,
como o nível de acessibilidade (veículos com piso rebaixado e/ou dispositivo de
elevação para embarque de cadeirantes, por exemplo), nível de conforto,
tecnologias de combustível e emissões, entre outras, as quais não são objeto
principal de discussão neste curso.
Comprimento: 12.605 mm, largura externa: 2.500 mm, altura total: 3.485 mm
Figura 3.4: Dimensões do ônibus convencional – 12m (capacidade de cerca de 60 passageiros) Fonte: Imagens da internet13
13 Disponível em: http://paraibabus.blogspot.com.br/2012/08/estudo-das-carrocerias-e-chassis.html
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
42
Figura 3.5: Dimensões do ônibus convencional (piso rebaixado) – 12m (capacidade de cerca de 60 passageiros)
Fonte: Imagens da internet14
Figura 3.6: Dimensões do ônibus articulado – 18 ou 23m (capacidade de cerca de 180 passageiros)
Fonte: Imagens da internet15
A Figura 3.7 ilustra a lógica de substituição dos ônibus convencionais de
menor capacidade para ônibus articulados, de maior capacidade, de modo que
um ônibus articulado equivaleria a três ônibus convencionais em termos de
capacidade. Tal equivalência apenas é alcançada em sistemas troncalizados,
com a concentração da demanda de usuários em um único eixo por meio de
linhas alimentadoras (que utilizam veículos convencionais) e estações de
integração.
Figura 3.7: Substituição dos ônibus convencionais por articulados no sistema troncalizado Fonte: FETRANSPOR (2014)
14 Disponível em: http://paraibabus.blogspot.com.br/2012/08/estudo-das-carrocerias-e-chassis.html 15 Disponível em: http://busologiaaplicada.zip.net/arch2006-07-16_2006-07-22.html
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
43
Figura 3.8: Ônibus biarticulado – 28 (capacidade de cerca de 270 passageiros) Fonte: Imagens da internet16
A Figura 3.9 mostra o ônibus rodoviário que pode ter sua aplicação no
meio urbano para serviços de transporte seletivo (associados a um valor mais
elevado da tarifa) ou serviços de fretamento de empresas ou grandes
condomínios. Esta configuração de veículo apresenta maior potencial de
captação de usuários do automóvel devido a seu maior nível de conforto e
comodidade.
Figura 3.9: Dimensões do ônibus urbano para uso seletivo ou fretamento – 14m (capacidade de cerca de 45 passageiros - sentados)
Fonte: Imagens da internet17
A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, por meio da NBR
15.570 (2009), apresenta especificações técnicas para veículos de
características urbanas para o transporte coletivo de passageiros. A Tabela 3.3
contém as diferentes classificações de ônibus consideradas na norma, de acordo
com a capacidade do veículo, peso bruto total mínimo e comprimento total
máximo. A Tabela 3.4 apresenta, conforme classe do ônibus, a capacidade
16 Disponível em: http://www.sptrans.com.br/sptrans_acao/acessibilidade.aspx 17 Disponível em: http://busologiaaplicada.zip.net/arch2006-07-16_2006-07-22.html
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
44
máxima de transporte de passageiros em pé por m2 de área do coletivo apta ao
transporte de passageiros em pé.
Tabela 3.3: Capacidade, peso bruto e comprimento máximo de diferentes classes de ônibus
segundo a NBR-15.570
Fonte: ABNT (2009)
Tabela 3.4: Capacidade máxima de transporte de passageiros em pé por m2 de diferentes classes de ônibus segundo a NBR-15.570
Fonte: ABNT (2009)
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
45
3.2.2 INFRAESTRUTURA – TRANSPORTE COLETIVO
A infraestrutura destinada ao transporte coletivo será tratada neste
documento em termos de faixas exclusivas, vias exclusivas, pontos de ônibus,
estações de ônibus e terminais de ônibus.
FAIXAS EXCLUSIVAS
As faixas exclusivas para o transporte coletivo consistem em faixas de
tráfego dedicadas à circulação de ônibus18 do sistema de transporte público local
e são caracterizadas pela ausência de segregação física em relação às faixas
destinadas ao tráfego misto. Geralmente são implantadas no lado direito da via
e nas proximidades de interseções a entrada de outros veículos da corrente de
tráfego é permitida para manobras de conversão à direita.
Os principais benefícios da adoção de faixas exclusivas são (NTU, 2013):
• Reduz o tempo de viagem dos passageiros;
• Geralmente está associada a um maior nível de informação ao
usuário;
• Reduz os custos de operação do transporte (menor consumo de
combustível e maior aproveitamento da frota)
• Atendimento imediato às expectativas dos usuários do transporte
coletivo por ônibus;
• Reduz a emissão de poluentes.
• Baixo custo de implantação (de 100 a 500 mil reais por km);
• Não exige desapropriações (fácil associação do projeto com a área
urbana do entorno);
• Não exige renovação da frota de coletivos.
18 Em alguns municípios é permitida também a circulação de taxis e ônibus de fretamento.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
46
Por favorecerem o desenvolvimento de velocidades mais elevadas dos
ônibus, as faixas exclusivas devem ter uma largura mínima de 3,5m, conforme
indicado na Figura 3.10.
Figura 3.10: “Situacão anterior sem faixa exclusiva de onibus e menor largura de faixa (à esquerda)” x “Situacão posterior com faixa exclusiva de ônibus e maior largura de faixa (à
direita)” Fonte: NTU (2013)
A Figura 3.11 apresenta os principais elementos necessários para a
operação adequada de faixas exclusivas de ônibus. O recuo da parada de
ônibus garante que um veículo coletivo embarcando/desembarcando
passageiros não afete a operação de outro coletivo passando pelo ponto de
parada19. A sinalização vertical de regulamentação estabelece a regra para a
utilização dessa oferta de transporte20. A faixa contínua de sinalização
horizontal estabelece a proibição de entrada ou saída da faixa exclusiva. O
tachão consiste em um reforço à faixa contínua de sinalizaçãoo horizontal e,
apesar de ser transponível, confere certo nível de segregação longitudinal em
relação às faixas de tráfego misto. A faixa não contínua de sinalização
horizontal demarca os locais onde é permitido que o ônibus saia do trajeto com
a priorização e se misture ao tráfego geral, já que nem todo o trajeto de uma
linha de ônibus necessariamente ocorre em faixas exclusivas; as faixas não
contínuas também servem para que veículos consigam realizar manobras de
conversão à direita. converter à direita. O radar eletrônico contribui para a
obediência às regras operacionais associadas à adoção de faixas exclusivas, se
tornando um elemento fundamental, já que não há um nível de segregação física
que por si só seja capaz de impor o respeito aos demais veículos da corrente de
tráfego.
19 Situação comum em sistemas com pontos de parade escalonados. 20 Consiste, portanto, emu ma regra operacional – outro elemento da oferta de transportes.
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47
Figura 3.11: Elementos básicos de um projeto de faixa exclusiva de ônibus Fonte: NTU (2013)
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48
VIAS EXCLUSIVAS (CANALETAS)
As vias exclusivas para o transporte coletivo consistem em faixas de
tráfego dedicadas à circulação de ônibus21 do sistema de transporte público e
são caracterizadas pela presença de segregação física em relação às faixas
destinadas ao tráfego misto. Apesar de diferentes possibilidades de projeto,
geralmente são implantadas junto ao canteiro central. Todas as vantagens das
faixas exclusivas de ônibus também valem para as vias exclusivas, com exceção
apenas das quatro últimas. As faixas de tráfego que compõem uma via exclusiva
devem ter largura mínima de 3,2m (menor que a largura para a faixa exclusiva,
já que agora há segregação física) – ver Figura 3.12.
Figura 3.12: Largura de faixas em vias exclusivas de ônibus Fonte: Ministério das Cidades (2016)
A Figura 3.13 contém as dimensões mínimas para baias em pontos de
parada de ônibus de acordo com o tipo de veículo em operação. A Figura 3.14
mostra o raio de giro mínimo necessário para vias exclusivas de ônibus.
21 Em alguns municípios é permitida também a circulação de taxis e ônibus de fretamento.
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49
Figura 3.13: Largura da baia para embarque/desembarque de passageiros em vias/faixas exclusivas de ônibus
Fonte: Ministério das Cidades (2016)
Figura 3.14: Raio de giro mínimo recomendado em vias exclusivas de ônibus Fonte: Ministério das Cidades (2016)
As Figuras 3.15 a 3.18 apresentam algumas alternativas de projetos de
vias exclusivas em diferentes ambientes atravessados. Em ambientes com
elevada densidade de moradores é necessário garantir um tratamento adequado
das travessias, pois acidentes com pedestres e outros usuários não motorizados
tendem a apresentar uma gravidade alta devido à grande massa e elevada
velocidade do veículo coletivo (favorecida pela própria exclusividade que a
infraestrutura proporciona) – ver Figuras 3.15 e 3.16.
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50
Figura 3.15: Travessia escalonada em duas etapas via exclusiva de ônibus Fonte: WRI (2014)
Na Figura 3.15, qual é a estratégia utilizada no canteiro central para aumentar a segurança na travessia dos pedestres.
Qual o recurso utilizado para reduzir a velocidade dos veículos do tráfego misto?
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
51
Figura 3.16: Travessia escalonada em três etapas em via exclusiva de ônibus Fonte: WRI (2014)
A Figuras 3.17 apresenta um caso em que devido à elevada velocidade
regulamentar (idealmente associado a um entorno com baixa densidade de
moradores), a alternativa pode ser a travessia dos pedestres em desnível por
meio de passarela. Nesta configuração, destaca-se a importância da presenta
de elementos como grades e cercas que impedem a travessia de pedestres em
outros locais que não na passarela.
Na Figura 3.16, qual é o recurso utilizado para reduzir a velocidade dos veículos do tráfego misto?
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
52
Figura 3.17: Travessia em desnível para o pedestre em via exclusiva de ônibus Fonte: WRI (2014)
Figura 3.18: Representação de faixa de ônibus no contrafluxo Fonte: WRI (2014)
Por que faixas/vias exclusivas de ônibus não são recomendadas no contrafluxo?
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53
PONTO DE ÔNIBUS
O ponto de ônibus pode ser considerado como a infraestrutura mínima
para o embarque/desembarque de passageiros do sistema de transporte coletivo
por ônibus. Teoricamente, mantidos inalterados todos os demais parâmetros do
serviço de transporte coletivo urbano, quanto maior a quatidade de pontos de
ônibus e mais próximos eles forem, maior seria a oferta de transporte.
Apesar de constituir-se apenas por meio de sinalização que estabelece
uma regra operacional (“o passageiro apenas pode embarcar/desembarcar”
naquele local”), o ponto de onibus acaba por inevitavelmente incluir o ambiente
ao seu redor, constituindo-se de um espaço mais ou menos agradável para
permanência quando da espera pelo coletivo. A Figura 3.19 contém a situação
de um ponto de ônibus sem nenhum tipo de tratamento.
Figura 3.19: Ponto de ônibus sem nenhum tipo de tratamento Fonte: Imagens da internet22
As Figuras 3.20 e 3.21 mostram situações de pontos de ônibus com algum
tipode tratamento para a melhoria desse elemento da oferta de transporte. É
importante entender, no entanto, que este elemento da oferta de transporte
coletivo por ônibus se situa em um elemento da oferta de transporte a pé – a
calçada – havendo uma interface entre as duas ofertas de transporte. A ideia é,
portanto, garantir que ambas ofertam sejam mantidas sem que uma cause
prejuízo a outra, conforme é ilustrado no caso da Figura 3.21, na qual são
22 Disponível em: http://tribunahoje.com/noticia/85287/cidades/2013/11/26/maceio-tem-carencia-de-500-
paradas-de-onibus.html
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
54
atendidas tanto as necessidades dos usuários do transporte coletivo, quanto as
necessidades dos usuários a pé (que além de passantes podem ser também
usuários do transporte coletivo).
Figura 3.20: Ponto de ônibus com abrigo, banco e informações ao usuário Fonte: NTU (2013)
Figura 3.21: Larguras recomendadas em seção de calçada com ponto de ônibus com abrigo e mobiliário urbano complementar
Fonte: Ministério das Cidades (2016)
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
55
ESTAÇÃO DE ÔNIBUS
Quanto maior for a concentração de usuários em determinado ponto de
ônibus ou em locais estratégicos para a intergração do sistema, maior é a
importância de fornecer ao usuário condições mínimas de proteção e conforto
na espera pelo embarque e no momento do desembarque. As estações de
ônibus representam o elemento da oferta de transporte destinado ao
embarque/desembarque de passageiros nesses casos.
A depender do sistema de pagamento (pagamento antecipado ou
pagamento no veículo) podem consitituirem-se se estruturas com acesso mais
ou menos restrito. As Figuras 3.22 e 3.23 trazem dois casos de estações:
unidirecional, com largura mínima recomendada de 2,65m; e bidirecional, com
largura mínima recomendada de 3,45m.
Figura 3.22: Largura recomendada em seção de estação unidirecional de transporte coletivo
Fonte: Ministério das Cidades (2016)
Figura 3.23: Largura recomendada em seção de estação bidirecional de transporte coletivo Fonte: Ministério das Cidades (2016)
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
56
TERMINAL DE ÔNIBUS
Os terminais de ônibus correspondem aos locais para
embarque/desembarque de passageiros localizados nos extremos (inicial ou
final) de uma de ônibus, caso em que devem incluir áreas para estocagem de
ônibus. Podem também estar localizados em pontos estratégicos do sistema
para proporcionar a integração do sistema.
Sendo o terminal um ambiente de elevada concentração de usuários e
veículos, sua estrutura deve proporcionar o tratamento adequado para a
circulação dos usuários (corredores e áreas de espera compatíveis com a
demanda, travessias seguras no interior do terminal – entre plataformas – para
que as integrações possam ser realizadas com segurança. A Figura 3.24 mostra
um contraexemplo nesse sentido.
Figura 3.24: Terminal sem tratamento adequado de travessias Fonte: Imagens da internet23
3.2.3 REGRAS OPERACIONAIS – TRANSPORTE COLETIVO
As regras operacionais que determinam a oferta de transporte coletivo
podem estar associadas tanto a características/parâmetros da operação de
determinada linha de ônibus (quadro de horários, por exemplo – ver Figura 3.25,
à esquerda) quanto a regulamentações do sistema de trânsito
(permissão/restrição de passagem do ônibus em determinado local, por exemplo
23 Disponível em: http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2014-08-14/terminal-americo-fontenelle-
privatizado-ha-dois-anos-ainda-nao-recebeu-reforma.html
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
57
– ver Figura 3.25, à direita). Assim como para qualquer veículo, o CTB também
traz definições relativas à regras operacionais para veículos de transporte
coletivo.
Figura 3.25: Exemplos de regras operacionais associadas ao transporte coletivo
O sistema semafórico, por regular a oferta de transporte em uma
intereseção, seria uma regra operacional associada a todos os modos de
transporte afetados pro tal regulação. Mais especificamente no caso do
transporte coletivo, há alternativas de atuação semafórica que permitem a
priorização da operação dos veículos de transporte coletivo, confome o exemplo
mostrado na Figura 3.26.
Figura 3.26: Exemplos de sistema de atuação semafórica para priorização do transporte coletivo
Fonte: Imagens da internet24
24 Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=837472&page=152
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
58
3.3 TRANSPORTE DE CARGA
A oferta de transporte carga é composta pelo veíclo de carga, pela
infraestrutura (vias e terminais) e pelas regras operacionais. As questões
associadad aos locais de carga e descarga serão tratadas nas regras
operacionais.
3.3.1 VEÍCULO – TRANSPORTE DE CARGA
O veículo utilizado para o transporte de carga considerado neste material
é o caminhão, apesar de que, a depender do volume e peso da carga, a mesma
pode ser transportada em veículos de menor porte, como utilitários25,
caminhonetes26, camionetas27 ou mesmo em automóveis. Em alguns casos,
veículos não motorizados ou veículos especiais podem ser utilizados.
Para caminhões, as dimensões máximas admitidas são:
Largura máxima: 2,60 m
Altura máxima: 4,40 m
Comprimento máximo: 30,00 m
As resoluções 210 e 211 do Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN
trazem um detalhamento acerca dos limites de pesos e dimensões dos veículos.
Ambas as resoluções, de 2006, foram posteriormente alteradas pelas
futuramente resoluções 628, 625, 608, 577, 502, 373, 326 e 28428. As
especificações das resoluçòes em termos de peso máximo por eixo e peso bruto
total podem ser consultadas no Anexo II.
25 Denifição de utilitário, conforme DENATRAN: veiculo misto caracterizado pela versatilidade do seu
uso, inclusive fora de estrada. 26 Definição de caminhonete, conforme DENATRAN: veiculo destinado ao transporte de carga com peso
bruto total (PBT) de tres mil e quinhentos quilogramas. 27 Definição de camioneta, conforme DENATRAN: veiculo misto destinado a transporte de passageiros e
carga no mesmo compartimento. 28 As resoluções do CONTRAN podem ser consultadas em:
http://www.denatran.gov.br/index.php/resolucoes
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
59
3.3.2 INFRAESTRUTURA – TRANSPORTE DE CARGA
A infraestrutura destinada ao transporte de carga é composta pelas vias
onde circulam os veículos, pelos locais de carga e descarga e por terminais. Os
terminais portuários e aeroportuários são temas específicos de disciplinas do
Departamento de Transportes, e não serão detalhados aqui. Poderiam ser
também entendidos como parte dessa oferta os locais de armazenamento dos
veículos (garagens) – porém, neste caso não trataremos o tema com tamanha
profundidade.
Considerando os veículos de transporte de carga, o que significa a sigla V.U.C.? Descreva as características de um V.U.C.:
Por que há problemas em relação a diferentes definições de V.U.C.?
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
60
VIAS
O transporte de carga compartilha a infraestrutura rodoviária com os
demais modos de transporte rodoviários, podendo um veículo de carga circular
em qualquer ambiente (exceto quando há restrições explíticas como as que
serão tratadas na seção de regras operacionais). Aspectos associados ao
projeto geométrico de rodovias e importância do transporte rodoviário de cargas
foram abordados nas disciplinas “TT048 – Infraestrutura viáira” e “TT046 –
Sistemas de transportes”. Portanto, esses temas não serão aqui aprofundados,
atribuindo-se maior destaque à questão urbana e à interface entre o meio
rodoviário (rural) e o urbano.
O Manual do DNER29 de projeto de rodovias traz recomendações de
largura de faixa de tráfego conforme classe de projeto e tipo de relevo – ver
Tabela XX. Obviamente, quanto mais avançado for o projeto (o que está
associado a uma maior velocidade diretriz ou de projeto), maior é a largura
minima de faixa de tráfego. Quanto ao gabaraito vertical, o valor mínimo indicado
no mesmo documento é de 5,50 m.
Tabela 3.5: Largura mínima de faixa recomendada no manual de projetos rodoviários do DNIT
Fonte: DNER (1999)
Um desafio para o transporte rodobviário de cargas é a interface com o
meio urbano, a qual ocorre quando da passagem por zonas urbanizadas e,
consequentemente, densamente habitadas. Por si só, a existência de tal
29 Atual DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
61
interface já constitui-se de um problema de planejamento urbano, pois o
ambiente densamente habitado deveria estar distante do ambiente de tráfego de
passagem e elevada velocidade característico de grandes rodovias. A passagem
de veículos de carga por rodovias urbanizadas impõe uma serie de restrições
associadas ao tempo de deslocamento ao veículo de transporte de carga, ao
mesmo tempo de expõe o morador dessas áreas a elevados riscos de ferimentos
devido a acidentes de trânsito, além de questões de poluição atmosférica.
A solução convencial para este tipo de problema é a constribuçào de anéis
rodoviários, que desviam o tráfego de cargas de passagem, evitando a interface
com o meio urbano. Pode-se dizer, portanto, que os anéis rodoviários constituem
importante elemento da oferta de transporte de carga.
Apesar de ser uma obra de custo elevado e longo prazo de execução, a
construção de anéis rodoviários apresenta os seguintes benefícios: redução do
tempo de viagem, redução dos congestionamentos no meio urbano, redução da
poluição atmosférica, redução dos acidentes, entre outros.
As Figuras 3.27 a 3.29 mostram três casos de anéis rodoviários
construídos para desviar o tráfego de carga de passagem do meio urbano
respectivamente em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro (onde, devido à
localização costeira da cidade, tem-se uma configuração de arco).
.
Figura 3.27: Exemplos de sistema de atuação semafórica para priorização do transporte coletivo
Fonte: Imagens da internet30
30 Disponível em: http://portalbrasil10.com.br/rodoanel-mapa/
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
62
Figura 3.28: Exemplos de sistema de atuação semafórica para priorização do transporte coletivo
Fonte: DNIT
Figura 3.29: Exemplos de sistema de atuação semafórica para priorização do transporte coletivo
Fonte: Imagens da internet31
31 Disponível em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/07/rj-inaugura-arco-metropolitano-
apos-40-anos-e-espera-pib-r-18-bi-maior.html
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
63
TERMINAIS
Os terminais de movimentação de carga também fazem parte da oferta
de transporte de carga, pois quanto maior e mais eficiente for este terminal, maior
será a quantidade de serviço de transporte ofertada. Os centros de distribuição
- CD, que podem ser entendidos como terminais privados de carga onde é
realizada a transferência da carga de veículos de maior capacidade de carga
(que realizaram o serviço de transporte de longa distância) para veículos de
menor capacidade de carga (que realizarão o serviço de transporte de distância
mais curta) para fins de distribuição.
Uma característica importante de um CD é a possibilidade de
programação da demanda, o que se torna algo fundamental para o planejamento
da oferta a ser disponibilizada:
Quais seriam as características de um Centro de Distribuição (CD) que basicamente influenciam na oferta de transporte? (lembre-se da função de um CD e das etapas necessárias para cumprir esta função)
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
64
3.3.3 REGRAS OPERACIONAIS – TRANSPORTE DE CARGA
Assim como qualquer outro tipo de veículo automotor que circule em via
pública, os veículos de carga estão sujeitos às regras impostas pelo CTB. No
entanto, algumas regras operacionais podem ser estabelecidas no contexto de
cada município, as quais regulam principalmente a questão da circulação de
veículos de carga em áreas centrais e a realização de tarefas de carga/descarga.
Um exemplo disso é a chamada Zona Central de Tráfego – ZCT (ver Figura 3.30)
de Curitiba que, criada por decreto municipal, disciplina o serviço de carga e
descarga de mercadorias na área central da cidade.
Figura 3.30: Exemplos de sistema de atuação semafórica para priorização do transporte coletivo
Fonte: Imagens da internet32
Na área hachurada da Figura 3.30, a circulação de veículos acima de 7,0
toneladas e/ou comprimento acima de 7,0 metros é proibida no interior da ZCT
32 Disponível em: http://servicos.setran.curitiba.pr.gov.br/autorizacoes/cacambas/docs/MapaZCTA4.pdf
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
65
no período compreendido entre 09:00 e 19:00 em dias úteis, e entre 09:00 e
13:30 de sábado.
As restrições de carga e descarga na ZCT são as seguintes:
I - Veículos utilitários de até 1,8 T podem carregar e descarregar
livremente em qualquer horário e podem estacionar normalmente
nos espaços demarcados para estacionamento de automóveis
(com aplicação normal do EstaR verde e laranja);
II - Veículos de carga com capacidade entre 1,8 e 7,0 T e
comprimento máximo de 7,0 m podem carregar e descarregar
somente em espaços demarcados para carga/descarga, em dias
úteis das 19:30 às 08:30 e fins de semana das 13:30 de sábado às
08:30 de segunda-feira (sujeitos normalmente à faixa horária do
EstaR);
III - Veículos de carga com capacidade entre 7,0 e 14,0 toneladas
e comprimento máximo de 14,0 metros podem carregar e
descarregar somente em espaços demarcados para
carga/descarga, em dias úteis das 19:30 às 07:30 e fins de semana
das 13:30 de sábado às 07:30 de segunda feira.
Figura 3.31: Exemplo de veículo de até 1,8 tonelada associado à restrição I do decreto
municipal
Comprimento = 4.474mmPeso = 1.117 kg
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
66
Figura 3.32: Exemplos de veículos de carga com capacidade entre 1,8 e 7,0 T e comprimento
máximo de 7,0 m associados à restrição II do decreto municipal
Figura 3.33: Exemplos de Veículos de carga com capacidade entre 7,0 e 14,0 toneladas e
comprimento máximo de 14,0 metros associados à restrição III do decreto municipal
3.4 TRANSPORTE CICLOVIÁRIO
A oferta de transporte cicloviário é composta pela própria bicicleta, pela
infraestrutura (vias e locais para estacionamento/guarda de bicicletas) e pelas
regras operacionais.
Comprimento = 5.245 mmPeso = 2.100 kgCapacidade de carga = 1.400 kg
Comprimento = 4.825 mmPeso = 1.800 kgCapacidade de carga = 1.800 kg
Comprimento = até 7.000 mmCapacidade de carga = até 7.000 kg
V.U.C.
Caminhão Toco ou Semi-pesadoComprimento = até 14m Capacidade de carga = até 6.000kg
Toco ou Semi-pesado(capacidade até 6T e comprimento até 14m)
Caminhão Toco ou Semi-pesadoComprimento = até 14m Capacidade de carga = até 14.000kg
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
67
3.4.1 VEÍCULO – TRANSPORTE CICLOVIÁRIO
A bicicleta representa a oferta privada e individual de transporte não
motorizado, permitindo que seu usuário tenha certo nível de liberdade e grande
efeiciência nos seus deslocamentos de até 5 km, conforme indicado na Figura
3.34 considerando deslocamentos porta a porta.
Figura 3.34: Tempo de viagem x Distância percorrida em diferentes modalidades – bicicleta como o modo de transporte mais eficiente para trajetos de até 5km
Fonte: IEMA (2010)
Apesar da bicicleta apresentar um uso bastante difundido para lazer e
esporte, o foco neste documento é a utilização da bicicleta como modo de
transporte para deslocamentos diários para o trabalho, escola, ou outros motivos
de viagem com maior capacidade de impacto sobre a situação da mobilidade. A
Figura 3.35 contém descrição e ilustração dos principais tipos de bicicleta.
A área ocupada pelo conjunto bicicleta e ciclista é de cerca de 1,75 m2,
porém há de se considerar uma certa folga para garantir a naturalidade do
movimento do ciclista. Levando tal aspecto em consideração a área ocupada
seria de cerca de 2,10 m². As principais dimensões associadas ao conjunto
bicicleta e ciclista estão indicadas na Figura 3.36.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
68
Figura 3.35: Tipos de bicicleta Fonte: Belotto, Nakamori e Fonseca (2016)
Figura 3.36: Necessidades de espaço viário do conjunto bicicleta e ciclista Fonte: Embarq (2014)
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
69
Entre os modos não motorizados, a motocicleta é o que possibilita
percorrer maiores distâncias (levando-se em consideração um igual período de
tempo). A comparação com o modo a pé realizada na Figura 3.37 indica que em
10 min um ciclista normal percorreria 3,2 km, enquanto que um pedestre
percorreria 0,8 km.
Figura 3.37: Distância percorrida em 10 minutos a pé e em bicicleta Fonte: IEMA (2010)
3.4.2 INFRAESTRUTURA – TRANSPORTE CICLOVIÁRIO
A infraestrutura destinada ao transporte cicloviário aqui tratada consiste
nas estruturas destinada à circulação de bibicletas (ciclovias, ciclofaixas,
ciclorrotas, espaços compartilhados e bicicaixas) e estruturas destinadas ao
estacionamento/guarda das bicicletas (bicicletários e paraciclos). É importante
destacar, no entanto, que qualquer via que não dispõe de algum tipo de estrutura
destinada especificamente ao uso de ciclistas, os mesmos devem circular no
bordo da pista no mesmo sentido do fluxo e os estão sujeitos às mesmas regras
operacionais que os demais condutores. Dessa forma, qualquer via pode ser
entendida como parte da infraestrutura destinada ao transporte cicloviário.
DTT/UFPR – TT060 – Modelagem e Planejamento de Transportes Urbanos
70
CICLOVIA
Uma ciclovia caracteriza-se pela segregação física do espaço viário
destinado ao tráfego motorizado, assim como do espaço destinado à circulação
de pedestres, conforme indicado nas Figuras 3.38 e 3.39. Pode ser uni ou
bidirecional, de modo que a largura mínima por faixa não deve ser inferior a 1,20.
É importante destacar que para valores elevados de fluxo de bicicletas a largura
deve ser extendida de modo a acomodar a circulação de maneira adequada.
Figura 3.38: Corte de uma via com ciclovia junto ao canteiro central Fonte: Ministério das Cidades (2014)
Figura 3.39: Vista superior de ciclovia junto ao canteiro central Fonte: Ministério das Cidades (2014)
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CICLOFAIXA
Uma ciclofaixa caracteriza-se como uma parte da pista de rolamento
destinada à circulação exclusiva de bicicletas sem segregação física, com
demarcação por meio de sinalização horizontal e vertical específicas, conforme
indicado nas Figuras 3.40e 3.41. Pode ser uni ou bidirecional
Figura 3.40: Corte de uma via com ciclofaixa Fonte: Ministério das Cidades (2014)
Figura 3.41: Vista superior de ciclofaixa Fonte: Ministério das Cidades (2014)
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CICLORROTA
Uma ciclorrota caracteriza-se pelo compartilhamento do espaço viário
estre ciclistas e demais veículos, com presença de sinalização horizontal
indicativa do caráter da via (rota de ciclistas) – ver Figura 3.42. O objetivo da
ciclorrota pode ser entendido como o de orientar os ciclistas a trafegarem por
vias mais seguras, nas quais os condutores de veículos motorizados estão mais
atentos à sua presença.
Figura 3.42: Ciclorrota Fonte: Ministério das Cidades (2014)
ESPAÇOS COMPARTILHADOS
Apesar da momenclatura de certa forma genérica, os espaços
compartilhados normalmente se referem a áreas de uso compartilhado entre
usuários motorizados e não motorizados. O caso aqui tratado é o do espaço
compartilhado entre ciclistas e pedestres (ver Figura 3.43), o que constitui um
caso especial, já que segundo o CTB, os ciclistas devem utilizar a via quando da
ausência de uma estrutura específica para sua circulação. Para que o ciclista
possa utilizar o passeio, portanto, deve haver sinalização vertical (que pode ser
complementada por sinalização horizontal) que regulamente este
compartilhamento.
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Figura 3.43: Espaço compartilhado Fonte: Ministério das Cidades (2014)
O espaço compartilhado pode ser uma alternativa interessante quando,
além de haver espaço físico suficiente para a circulação de pedestres e ciclistas,
a interação entre o ciclista e o pedestre for proporcionalmente menos arriscada
que a interação entre os ciclistas e os veículos automotores. Para essa
avaliação, é importante avaliar, ainda que subjetivamente, a quantidade dessas
interações.
BICICAIXA
A bicicaixa pode ser definida como uma sinalização horizontal (pintura no
asfalto) aplicada em interseções semaforizadas, em frente à faixa de pedestres,
de modo a destinar um espaço exclusivo para posicionamento das bicicletas à
frente dos veículos motorizados quando o semáforo está fechado– ver Figura
3.44. O objetivo é aumentar a segurança para os ciclistas no momento da
abertura do semáforo, permitindo que os mesmos realizem duas manobras de
“seguir reto” ou de conversão sem a interferencia dos veículos automotores.
Além disso, a redução desse conflito também consiste em uma contribuição
também para a melhoria da fluidez na interseção.
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Figura 3.44: Bicicaixas em Curitiba (esquerda) e Portland (direita) Fonte: Imagens da internet33,34
BICICLETÁRIOS E PARACICLOS
A disponibilização de um local adequado e seguro para
estacionamento/guarda das bicicletas é um elemento fundamental da oferta de
transportes. Nesse sentido, duas estruturas principais se destacam: os
paraciclos e os bicicletários.
Os paraciclos consistem em estruturas fixadas ao piso ou qualquer outro
elemento rígido e fixo para apoiar a bicicleta (com ou sem cadeado) – ver Figura
3.45.
Figura 3.45: Recomendações para instalação de paraciclos Fonte: Embarq (2014)
33 Disponível em: http://fotospublicas.com/implantacao-da-via-calma-em-curitiba-e-oficializada-com-
portaria-que-estabelece-normas/ 34 Disponível em: ttp://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ir-e-vir-de-bike/curitiba-vai-ganhar-bici-caixas-
nos-cruzamentos/
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Logicamente, os paraciclos devem ser posicionados em áreas onde os
ciclistas têm mais probabilidade de circular, de modo que a distância do paraciclo
até o destino final do ciclista deve ser de no máximo 50 m. É interessante que
os paraciclos sejam posicionados em áreas com movimentação de pessoas,
como paradas de ônibus, pontos de táxi, terminais de transporte coletivo,
shopping centers, delegacias e postos de polícia, parques, lojas populares, bares
etc., para que sejam constantemente vigiadas por aqueles que passam pelo
local. Por se tratarem de estruturas simples, podem estar localizados em vários
pontos da cidade (pulverizados). Em termos de dimensões, considera-se que na
mesma área ocupada por sete automóveis estacionados, pode-se abrigar 80
bicicletas estacionadas em paraciclo (ASCOBIKE e ITDP, 2009; Embarq, 2014).
A Figura 3.46 traz recomendações gerais para a instalação de bicicletários
e paraciclos.
Figura 3.46: Recomendações para instalação de paraciclos/bicicletários Fonte: Embarq (2014)
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Os bicicletários consistem em espaços delimitados exclusivamente para
o estacionamento de bicicletas com quantidade suficiente de paraciclos (que
proporcionem mais que 25 vagas), geralmente dotados de cobertura e controle
de acesso, além de sinalização específica. Idealmente podem apresentar
serviços de borracharia. Podem ter as mais variadas dimensões, de acordo com
a demanda por estacionamento de bicicletas naquele local, garantidas as
dimensões mínimas para circulação das bicicletas – ver Figuras 3.47 e 3.48. O
local de instação de um bicicletário deve ser estrategicamente decidido de modo
a atrair o maior número de usuários.
Figura 3.47: Dimensões recomendadas para bicicletários em dispositivo horizontal Fonte: TA (2007)
Figura 3.48: Dimensões recomendadas para bicicletários em dispositivo vertical Fonte: TA (2007)
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INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Como conhecimento adicional, as Figuras 3.49 a 3.51 trazem informações
adicionais associadas à infraestrutura de transporte cicloviário.
Figura 3.49: Inclinação normal e máxima para rampas de bicicleta conforme desnível a vencer Fonte: Embarq (2014)
Figura 3.50: Infraestrutura necessária em locais com desníveis – canaleta de concreto Fonte: Embarq (2014)
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Figura 3.51: Infraestrutura necessária em locais com desníveis – canaleta metálica Fonte: Embarq (2014)
Figura 3.52: Cruzamento rodocicloviário – sinalização horizontal Fonte: CONTRAN (2007)
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3.4.3 REGRAS OPERACIONAIS – TRANSPORTE CICLOVIÁRIO
A circulação de bicicletas tem preferência sobre a circulação de veículos
motorizados, conforme indicado no CTB pelos artigos:
• Art. 38 – Antes de entrar à direita ou à esquerda, em outra via ou
em lotes lindeiros, o condutor deverá ceder passagem aos
pedestres e ciclistas;
• Art. 58 – Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação
de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa,
ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes,
nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação
regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos
automotores. A autoridade de trânsito com circunscrição sobre a
via poderá autorizar a circulação de bicicletas no sentido contrário
ao fluxo dos veículos automotores, desde que dotado do trecho
com ciclofaixa;
• Art. 201 – Classifica como infração média deixar de guardar a
distância laterla de 1,5m ao passar ou ultrapassar uma bicicleta;
A Figura 3.53 contém alguns exemplos de sinalização vertical de
regulamentação que estabelecem regras operacionais para ciclistas.
Figura 3.53: Possíveis regras operacionais associadas ao transporte cicloviário – sinalização vertical de regulamentação. Fonte: CONTRAN (2007)
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ANEXO I
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ANEXO II
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