Versão sem agradecimentos

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A Questão Palestina e as “Promessas de um mundo novo” O Conflito e a esperança de paz entre Israel e Palestina, Judeus e Árabes, através de um olhar cinematográfico sobre o problema NICOLAS MAUÉAS MACHADO MONTI Orientação: Carlo Romani UNIRIO – UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CCH – CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA ESCOLA DE HISTÓRIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

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A Questão Palestina e as “Promessas de um mundo novo”

O Conflito e a esperança de paz entre Israel e Palestina, Judeus e Árabes, através de um olhar cinematográfico sobre o problema

NICOLAS MAUÉAS MACHADO MONTI

Orientação: Carlo Romani

Rio de Janeiro

2011

UNIRIO – UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIROCCH – CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAISDEPARTAMENTO DE HISTÓRIAESCOLA DE HISTÓRIACURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

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A Questão Palestina e as “Promessas de um mundo novo”

O Conflito e a esperança de paz entre Israel e Palestina, Judeus e Árabes, através de um olhar cinematográfico sobre o problema

NICOLAS MAUÉS MACHADO MONTI

Trabalho de conclusão de curso apresentado para obtenção do grau de bacharel e licenciado em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Orientação: Prof. Dr. Carlo Romani

UNIRIO – UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIROCCH – CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAISDEPARTAMENTO DE HISTÓRIAESCOLA DE HISTÓRIACURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

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A Questão Palestina e as “Promessas de um mundo novo”

O Conflito e a esperança de paz entre Israel e Palestina, Judeus e Árabes, através de um olhar cinematográfico sobre o problema

NICOLAS MAUÉS MACHADO MONTI

Leitores Críticos:

_________________________________________________________________Prof. Dr. Flávio Limoncic – Departamento de História UNIRIO

_________________________________________________________________Prof. Mestre. Victor Emmanuel Abalada

Trabalho de conclusão de curso apresentado para obtenção do grau de bacharel e licenciado em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Orientação: Prof. Dr. Carlo Romani

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SUMÁRIO

Introdução .............................................................................................................. 1

Capítulo 1 ............................................................................................................... 7

Capítulo 2 ............................................................................................................... 26

Capítulo 3 ............................................................................................................... 45

Comentário Final.................................................................................................... 58

Fontes e Bibliografia ............................................................................................... 60

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Introdução

Em 1948, foi fundado o estado de Israel, mais precisamente no dia 14 de maio,

após uma votação de um plano de partilha realizada por diversos países da Organização

das Nações Unidas. Após muita discussão, a decisão final determinava a criação de dois

Estados independentes, o de Israel, para os judeus, e outro a Palestina, para os árabes. A

cidade de Jerusalém, considerada sagrada para as três grandes religiões monoteístas,

Judaísmo, Cristianismo e Islamismo ficaria sob controle internacional. Um Estado judeu

no meio do Oriente Médio era considerado inaceitável para os estados árabes da região.

Logo, desde o seu primeiro dia, a criação do Estado iniciou um conflito que até hoje

parece distante do fim. As baixas civis desde sempre nesta história se equiparam,

quando não superam, as baixas militares (que também são vidas). Milhões de palestinos

vivem em campos de refugiados em situações de miséria ainda neste novo século.

Cidades são vergonhosamente divididas e pessoas impedidas de ir e vir por diferença de

fé. Em resposta, ataques suicidas são realizados em centros civis israelenses, matando

pessoas que pouco tem a ver com o conflito. Os dados desta guerra são estarrecedores.

E o objetivo do trabalho é buscar uma melhor compreensão de tudo isso. O trabalho é

dividido em três capítulos.

No primeiro capítulo, pretende-se fazer um resumo dos principais conflitos desta

história. Começando pelo Primeiro Congresso Sionista no qual foram definidos os

ideais da criação do Estado de Israel. Em seguida, estudaremos a criação do Estado de

Israel e a consequente imediata guerra civil entre árabes e judeus. Mais alguns anos

adiante, a Guerra dos Seis dias onde Israel obteve uma vitória humilhante sobre diversos

países árabes que o atacaram ao mesmo tempo no ano de 1967. Como último conflito de

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Israel contra os países árabes vizinhos, falaremos da guerra do Yom Kippur, em 1973

quando um ataque surpresa do Egito e da Síria assustaram Israel, que perdia um pouco

do seu sentimento de invencibilidade, adquirido com as últimas vitórias. Por fim, neste

primeiro capítulo serão tratados os dois grandes momentos de revolta do povo palestino

contra o Estado de Israel, conhecidos como as Intifadas, famosas mundialmente pelas

imagens de palestinos munidos de paus e pedras enfrentando soldados israelenses

armados.

Desta forma pretende-se introduzir um contexto que nos permita entender

melhor a questão palestina e, consequentemente, compreendermos melhor os

personagens dos filmes estudados a seguir e a situação a que os mesmos estavam

expostos. É importante frisar que o capítulo visa apenas contextualizar, não fazer uma

análise historiográfica dos conflitos, empenho que resultaria em um outro trabalho,

tamanho a abrangência de material escrito, assim como a própria abrangência de

acontecimentos estudados (e que, mesmo assim, representam apenas uma ínfima porção

de tudo o que deveria ser dito para uma compreensão mais esclarecida do conflito).

Já no segundo capítulo, pretende-se, através de filmes escolhidos como a

principal fonte para a realização da monografia, de certa forma “vivenciar” o conflito

através do cinema realizado por diretores de ambas as partes que vivem o dia-a-dia e

tentam nos passar por vezes seus ideais e por outras, simplesmente as dificuldades

humanas impostas aos palestinos e também israelenses da região. A escolha do termo

“vivenciar” não é gratuita, afinal, como exploraremos no próprio capítulo, a ideia de que

o cinema, no mais das vezes, trabalha com a suspensão da realidade do espectador e a

criação da ilusão de um testemunho é inerente à própria eficiência da magia

cinematográfica, que nos leva a eleger este meio como fonte do trabalho.

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Um dos grandes defensores e pioneiro do uso do cinema na História é o francês

Marc Ferro (que começou pelo artigo, "O filme: uma contra-análise da sociedade?" 1, e

continuou com diversas publicações sobre o assunto como o livro Cinema e História),

que definiu:

Resta estudar o filme, associá-lo ao mundo que o produz. A hipótese? Que o filme, imagem ou não da realidade, documento ou ficção, intriga autêntica ou pura invenção, é História; o postulado? Que aquilo que não se realizou, as crenças, as intenções, o imaginário do homem, é tanto a história quanto a História.2

Para por em prática suas palavras, primeiramente será feito um estudo sobre a

história do cinema na Palestina e em Israel, conhecendo a história de sua criação e de

seu desenvolvimento passando pelos nomes mais importantes nessa história, seja de

diretores, seja de seus trabalhos.

Por fim, no capítulo, serão escolhidas algumas obras de grandes diretores a

serem estudadas detalhadamente tentando mostrar a visão que cada uma das partes tem

a nos apresentar sobre tudo que ali ocorre. Para isso, no caso palestino serão estudados

três diretores, Michel Khleifi, Rashid Masharawi e Elia Suleiman, e algumas de suas

principais obras. Já no caso de Israel, serão focados três grandes obras daquele que, sem

dúvida, representa o principal nome da história do cinema israelense, Amos Gitai.

Através deste diretor, podemos ver como uma parte da cultura hebraica mais esclarecida

poderia combater, usando também a autocrítica, a questão da guerra aos palestinos.

Berlin-Jerusalem, de 1987, Kippur, de 2000, e Kedma, de 2002, foram as obras do

diretor eleitas para serem trabalhadas por acreditarmos que são aquelas que mais podem

nos ajudar nesta tarefa de compreender o cinema da região e como se vê e vive esse

conflito.

1 FERRO, Marc. “O filme: uma contra-análise da sociedade?”. In: LE GOFF, Jacques, NORA, Pierre. (org.). História: novos objetos. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1976.2 FERRO, Marc. Cinema e História. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1992.

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É importante dizer aqui, que alguns desses filmes não chegaram a ser lançados

no Brasil e por isso faltam algumas informações sobre os mesmos nas referências.

Todos os filmes, porém, foram assistidos, pois quando em passagem pela Itália no

começo de 2010, o autor teve contato com uma mostra sobre filmes sobre o conflito na

Universidade de Roma, tendo aproveitado o interesse pelo tema (assim como a própria

monografia) para assistir a tudo que foi possível. Foi então, inclusive, que escolheu-se

abordar os filmes que serão apresentados nesta monografia. Porém, na época, não

havíamos nos atendado à possibilidade que alguns dos filmes escolhidos não tivessem

sido lançados no Brasil, não tendo-se tido, então, a ideia de recolher todos os dados

necessários, porém, como são filmes extremamente importantes, resolvemos optar ainda

assim pelo uso dos mesmos, com auxílio ocasional de um ou outro texto encontrado na

internet, devidamente citados quando utilizados, para suprir a deficiência causada seja

pela maior falta de referências, seja pela falta da oportunidade de rever (e reanalisar)

tais obras.

Finalmente, no terceiro capítulo, passaremos a falar do filme que dá título a este

trabalho. O filme Promessas de um Mundo Novo é um pouco diferente por não ser mais

uma produção de um dos países que vivem o conflito, mas sim um documentário norte-

americano realizado por três diferentes diretores, embora um deles, o norte-americano

B.Z Goldberg tenha, também, passado boa parte de sua vida em Israel, tendo assim

vivenciado de muitas formas o dia-a-dia de Israel e Palestina. A ele juntam-se uma

diretora sul-africana (Justine Shapiro) e um diretor mexicano (Carlos Bolado). Neste

filme são escolhidas algumas crianças, representantes de ambas as partes do conflito, a

quem o diretor pretende dar a voz. Através desse capítulo pretende-se discutir como é a

vida hoje ali, e quais os possíveis destinos que as crianças palestinas e israelenses

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podem esperar. A discussão que se pretende levantar é sobre as esperanças nesse

“mundo novo”, um possível ou não, mundo de paz.

Inicialmente no capítulo, serão apresentados os obstáculos históricos mais

importantes para a resolução do problema, inerentes à própria pergunta que fazemos

sobre a obra. Serão eles: a questão da Cisjordânia; o problema dos refugiados; a questão

da cidade de Jerusalém, e, por fim, a espinhosa questão religiosa. Por fim, retornaremos

e discutiremos o filme, apresentando seus personagens e contando e discutindo sua

história e a das crianças.

O cinema, com o qual pretendo trabalhar mostra este conflito e percebe-se no

mesmo uma tentativa de conversa com as sociedades envolvidas. Tenta-se mostrar o

“inimigo”, como um simples ser humano independente das questões que tanto os divide

e coloca em confronto. O filme escolhe não apenas retratar árabes e judeus juntos ainda

crianças, como também consegue torná-los, em diversos casos, amigos – o que, para

muitos que vivenciam o conflito e mesmo que assistem ao filme, seria impensável. No

entanto, é bom frisar que, posteriormente, o filme destrói as esperanças que nos foram

dadas a principio, ao mostrar as crianças já jovens e como as mesmas esqueceram o que

haviam aprendido e aceitaram ser envolvidas pelas suas respectivas sociedades no ódio

ao outro, seja participando da violência, ou preferindo apenas ignorá-la.

A escolha deste tema se deu por diversos fatores distintos, seja pela questão do

conflito entre Palestina e Israel, seja pela forma como os filmes sobre o mesmo

conseguem atingir as pessoas que os assistem, ou mesmo em relação à importância do

cinema como fonte histórica, e também como uma ferramenta para influenciar no

mundo, neste caso específico, por exemplo, tentando abrir os olhos das pessoas para

uma compreensão menos fechada e mais ampla do conflito.

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A relevância desta questão para a História é gigantesca, já que este conflito é um

dos mais importantes da atualidade e coloca frente a frente duas distintas religiões,

assim como dois países – sem contar que a cultura Islâmica, que cresce de maneira

impressionante no planeta, tem ali uma de suas principais batalhas. Através deste

conflito podemos perceber toda a batalha do mundo Ocidental, e o medo que estes têm

deste outro povo, com outras crenças e objetivos. É indispensável para os historiadores

o estudo de todo esse cenário fazendo uma história do tempo presente, tornando-nos

mais ativos em discussões outrora “pertencentes” apenas a outras áreas de estudos

humanos, como a geografia, antropologia e sociologia3.

A maioria dos trabalhos a respeito do tema é feita por pessoas com alguma

vivência própria do conflito, pessoas que são atingidas diretamente pelo mesmo, de

forma que muitas vezes obtemos versões carregadas de ideologias para os dois lados e

cabe a nós, historiadores, uma análise científica, sabendo passar por todas as intenções

por trás dos documentos, neste caso principalmente os filmes, para compreender melhor

o problema como um todo. E é neste sentido que este trabalho visa atuar.

3 BEBIANO, Rui, "Temas e Problemas da História do Presente". In: D’ENCARNAÇÃO, José (org.). A História Tal Qual se Faz. Lisboa: Edições Colibri – Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2003, p. 225-236.

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Capítulo 1

A história do conflito Israel-Palestina

Contar a história deste conflito que até os dias de hoje é assunto diário em

nossos jornais em um mero capítulo é de fato impossível. A intenção aqui é resumir

alguns dos eventos que moldaram esta história, dando uma idéia geral dos

acontecimentos para que as análises propostas possam ser desenvolvidas no decorrer da

monografia. Para isso, serão escolhidos alguns acontecimentos mais importantes e

relevantes, enquanto outros pontos, infelizmente, serão tratados mais superficialmente.

O Sionismo e o Congresso Sionista de 1897

É difícil, e pode até ser considerado arbitrário definir um momento exato para se

começar a tratar da origem da questão palestina. Optamos, então, pela abordagem mais

frequente de se começar pela criação do movimento sionista. O sionismo foi um

movimento judeu em resposta ao surgimento, no último terço do século XIX, do

antissemitismo moderno4 que lutava pela criação de um Estado judaico no mundo,

capaz de abrigar a todos os judeus que ali quisessem viver. O movimento conformava-

se com a conclusão de que o antissemitismo moderno conduzia a uma crise na própria

existência judaica, espalhada pelo mundo, logo intentava, ao propor o seu grupamento

em um único território que recriasse o Estado judeu histórico, livrar os judeus de

qualquer possível ameaça antissemita. Ainda que ganhe força somente no fim do século

4 Embora o antissemitismo fosse uma realidade presente no mundo ocidental praticamente desde o advento do cristianismo (se não o for anterior), no século XIX ele adquire características novas, refletindo tendências sociais e ideológicas típicas da época, deixa de ser apenas uma questão religiosa (resolvida pela conversão sincera) e ganha aspectos seculares, tornando o problema racial – e, portanto, para algumas correntes extremistas sem solução. Cf: FRISEL, Evyatar. “O Estado de Israel: fundamentos históricos”. In.: Revista de História, publicação trimestral abril-junho vol. LI, n. 102. São Paulo, 1975.

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XIX com o surgimento das novas correntes ideológicas, suas origens vinham desde a

diáspora judaica, o exílio babilônico do século 6 a.C.

Em 1897, especificamente, este movimento ganha uma nova e mais especifica

concepção. Dois anos antes, fora publicado pelo jornalista austríaco, Theodor Herzl, o

livro Der Judenstaat (O Estado Judeu). Neste livro, ele fazia um resumo da história

judaica e mostrava que o antissemitismo só poderia ser resolvido com um Estado

independente que pudesse reunir todos os judeus pelo mundo. Além disso, ele traçava

todo o caminho político, econômico, e todos os esforços e problemas técnicos que

deveriam ser ultrapassados para que este objetivo fosse alcançado. Um ano depois este

livro foi traduzido para o inglês, o que faz com que seu alcance aumentasse

exponencialmente, de maneira que, já em 1897, se presenciasse o primeiro congresso

sionista, seguindo já as orientações do livro, que determinava essenciais para o

movimento encontros mundiais entre os sionistas.

Realizado na Suíça, em Basiléia, com mais de 200 delegados de 17 países, o

encontro resultou na criação da Organização Sionista, tendo o próprio Theodor Herzl

como seu primeiro presidente. A principio, a Palestina ainda não havia sido escolhida e

haviam diversas opiniões sobre onde deveria se situar este Estado judeu. As opções

eram Argentina, Chipre, África Oriental e Congo, além, é claro, da própria Palestina.

Aqui entra em cena a religião judaica, que faz a Palestina ganhar força, por ser a

terra originária do povo judeu, e por ser a terra teoricamente a eles prometida por seu

Deus. Embora muitos judeus fossem contra por acreditarem que a terra deveria ser a

eles devolvida por Deus num ato de perdão, e não por conquistas políticas, a Palestina

tinha muita força para o povo judeu, que se sentia ligado ao local, sagrado para eles,

tornando mais fácil um interesse mundial dos mesmos por uma migração para a terra

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prometida. Principalmente por este motivo, acaba-se escolhendo a Palestina, para

abrigar o estado judeu.

Assim, em três dias de debates, foram alcançadas as seguintes resoluções:

1) Estimular a colonização da Palestina, povoando-a de judeus, mediante uma emigração metodicamente organizada; 2) Organizar o movimento judeu, unificando suas formações espalhadas pelo mundo; 3) Despertar, reforçar e mobilizar a consciência judia em todas as comunidades; 4) Atuar nos diferentes Estados para obter o apoio e a anuência dos mesmos para o movimento sionista5

E desta forma, a partir das resoluções deste congresso se estabelece uma onda

migratória de judeus para a Palestina com a missão de colonizá-la, para posteriormente

transformá-la oficialmente em um reconhecido estado judeu. Os seguintes dados nos

dão uma dimensão do ocorrido:

Em 1880, havia cerca de 20.000 judeus na Palestina. Em 1914, cerca de 30 kibbutzim já se haviam estabelecido, somando 40.000 judeus, embora houvesse crescente restrição dos otomanos. Em 1919, já eram 56.000. Em 1923, após o recenceamento [sic] da Administração Herbert Samuel, a Palestina contava com 757.000 hab, dos quais 83.000 eram judeus. A colonização era feita, principalmente, por meio dos "kibbutzim", colônias agromilitares de inspiração socialista.”...”Entre 1920 e 1925, a Administração H. Samuel, em cooperação com "El Kahal", havia introduzido na Palestina 50.000 imigrantes judeus, que vieram principalmente da Rússia e da Polônia. Entre eles destacam-se: David Ben Gurión, Golda Meir, Jacobo Shapiro, Haim Gebai, Mordkhai Bentof, Moshe Sharet. Ao final do Mandato britânico, eram 600.000 judeus. Em 1916, os sionistas eram proprietários de 241.000 dunums (1 dunum = 1.000 m²); em 1947, de 1.850.000 dunums.6

Estes números demonstram bem as grandes ondas migratórias de judeus que

ocorreram até o ano de 1947 em direção à Palestina. Estas migrações ocorriam não só

5 TRIKI, Hussein. Eis aqui Palestina: o sionismo ao desnudo. [?]: O Popular, 1979, pg. 53.6 MAIER, Félix. "Sionismo e resistência palestina". Disponível em: <http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=808&titulo=Sionismo_e_resistencia_palestina> Acessado em: 06/07/2011.

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pela vontade do povo judeu de criar um Estado próprio, mas também porque muitos

eram forçados a fugir da Europa em correlação com a disseminação dos movimentos

antissionistas pela região, tendo como grande exemplo a Alemanha de Hitler. Desta

forma, em alguns anos os judeus já haviam ocupado grande parte da região e eram

donos de muitos de seus territórios.

Importante aqui também falar sobre o mandato britânico sobre a Palestina que

existiu de 1920 até 1947. A Inglaterra, como uma das grandes vencedoras da Primeira

Guerra Mundial, havia, na partilha, recebido o mandato sobre o território. E este

mandato é importantíssimo para o sucesso do Sionismo, porque se por um lado os

ingleses se declaravam favoráveis à criação de um Estado árabe para o povo palestino,

nos anos de mandato britânico a imigração judaica para o local aumentou de forma

exponencial até porque os princípios expostos na Declaração de Balfour foram de certa

forma oficializados no mandato britânico. A declaração tratava-se, na verdade, de uma

carta enviada pelo representante das relações exteriores inglês, Arthur James Balfour, a

um líder do judaísmo na Inglaterra, na qual prometia apoiar, conforme fosse possível, a

criação de um Estado judeu na região, como podemos ler a seguir:

“Caro Lorde Rothschild, alegro-me em poder comunicar-lhe, em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia pelo movimento judaico-sionista, apresentada e aprovada pelo gabinete oficial: 'A construção de uma pátria para os judeus na Palestina é vista pelo governo de Sua Majestade com bons olhos.Sua Majestade fará tudo o que for de seu alcance para facilitar os caminhos rumo a esse objetivo. Deve-se ressaltar, no entanto, que nada deve ser feito no sentido de prejudicar os direitos civis e religiosos dos povos não judeus que vivem na Palestina, ou de prejudicar os direitos e a situação política de judeus em algum outro país.7”

A guerra civil entre palestinos e judeus e a fundação do Estado de Israel

7 DECLARAÇÃO de Balfour. Disponível em:< http://www.dw-world.de/dw/article/0,,365813,00.html> acessado em 30/10/2011

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No dia 29 de Novembro de 1947, com a Inglaterra deixando o mandato da

Palestina nas mãos da Organização das Nações Unidas, foi realizada uma assembleia

desta entidade, então no começo de sua existência, e vemos acontecer uma de suas mais

importantes e relevantes atuações na história. A resolução 181 votou o fim do mandato

britânico e decidiu que seriam criados dois Estados soberanos e independentes: um

judeu e o outro, árabe. Nesta votação, todas as nações árabes foram contrárias,

mostrando um descontentamento evidente para estes, que defendiam a formação de um

só estado árabe, a Palestina.

A resolução, na tentativa de não desagradar mais nenhuma das duas partes,

deixava a cidade de Jerusalém, considerada sagrada para muçulmanos, judeus e cristãos,

de fora da divisão, sendo considerada uma cidade internacional, sob o controle das

Nações Unidas8.

As lideranças judaicas aceitaram esta divisão, enquanto os árabes palestinos,

com apoio de praticamente todos os países vizinhos, se recusaram a aceitar qualquer

fundação de um Estado hebreu em meio ao território árabe. No dia seguinte à aprovação

da criação de Israel pela ONU, diversos ataques por parte dos árabes passaram a ocorrer

em toda a região. Logo os judeus passaram a reagir e a região passou a viver uma

verdadeira guerra civil, com os ingleses, que só deixariam as terras em definitivo em

maio de 1948, tentando controlar a guerra.

Os esforços dos ingleses, porém, estavam longe de serem suficientes e os

conflitos ficavam cada vez mais violentos. Atos terroristas de ambos os lados tornavam-

se cada vez mais frequentes, e as atrocidades da guerra passaram a atingir cada vez mais

inocentes. Os civis palestinos, recebendo notícias desta violência e informações como,

por exemplo, o massacre de Deir Yassin (em que um vilarejo árabe teria sido destruído

8 VIZENTINI, Paulo Fagundes. Oriente Médio e Afeganistão. Um século de conflitos. Porto Alegre: Leitura XXI.

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e inclusive crianças e mulheres executadas pelo exército israelense), passaram a fugir

para os países vizinhos, abandonando suas terras e suas casas, na esperança de retornar

brevemente, no esperado caso de uma vitória dos árabes contra Israel. Começa, então, a

questão dos refugiados palestinos que até hoje é um dos maiores obstáculos para uma

solução do conflito no Oriente Médio9.

Na primeira semana de maio de 1948, os ingleses enfim deixaram

completamente o território e David-Ben Gurion, no dia 14 de Maio, declarou o

nascimento do Estado de Israel, tornando-se seu primeiro primeiro-ministro. Em seu

discurso original, Ben Gurion tentou pregar a paz, dizendo que os cidadãos árabes dos

territórios agora israelenses teriam tratamento igual ao de qualquer cidadão e dirigiu

palavras de paz também aos países vizinhos:

Nós fazemos um apelo - em meio ao duro ataque lançado contra nós há meses - aos habitantes árabes do Estado de Israel para manter a paz e participar da construção do Estado na base de igual e completa cidadania e através de representação em todas as suas instituições provisórias e permanentes... Nós estendemos nossa mão a todos os estados vizinhos e seus povos numa oferta de paz e boa vizinhança, e apelamos a eles para o estabelecimento de laços de cooperação e ajuda mútua com o soberano povo judeu, estabelecido em sua própria terra. O Estado de Israel está preparado para fazer a sua parte em um esforço comum para o desenvolvimento de todo o Oriente Médio.10

Os “apelos” de Israel, porém, não tem nem tempo de serem ouvidos – ainda que

valha ressaltar, também, que este discurso não precisa ser encarado como uma

demonstração de “bondade” ou boa-vontade do novo Estado, mas sim uma normal ação

diplomática, já que as Nações Unidas estavam do lado da criação de Israel e era

importante a adoção desta posição para a manutenção do apoio geral internacional. No

dia da declaração, inicia-se o que, para os judeus, é até hoje conhecida como “guerra de

9 LIMONCIC, Flávio. “Israel, Palestina e a língua do P: (Paz), paus e pedras no meio do caminho”. In.: Insight Inteligência, ano VIII, no. 31, 2005.10 DECLARAÇÃO de independência do Estado de Israel. Disponível em: <http://taglit.online.com.br/independence.html> Acessado em: 08/11/2010.

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independência”, enquanto para os árabes, não só da Palestina, a guerra e seus resultados

são vistos como uma tragédia histórica.

Como bem resume Michael Oren:

quando em 14 de maios encerrou-se o Mandato Britânico, o Estado judeu foi declarado. Daí em diante, os judeus eram israelenses, ao passo que os árabes da palestina tornavam-se, simplesmente, os palestinos... Foi também nesse dia que a luta civil que latejava desde Novembro explodiu num choque regional entre Israel e os cinco países árabes mais próximos. A Síria e o Iraque, sempre os mais truculentos dentro os anti-sionistas, lideraram a invasão, seguidos pelo Líbano e a Transjodânia. Temendo a expansão territorial de outros Estados árabes, o Egito não pôde resistir ao impulso de se juntar. Milhares de soldados, apoiados por bombardeiros, aviões de combate e tanques, se lançaram à frente no que foi arrogantemente descrito como “uma ação policial”.11

Uma das ações das forças de resistência à criação do Estado de Israel foi a

tomada imediata da cidade de Jerusalém, cortando toda a comunicação da principal

cidade com o resto da região. O grupo dos aliados árabes conseguiu conquistar a cidade

e tomar o quartel judeu ali localizado. A única ligação entre Jerusalém e o resto de

Israel ficou sendo uma estrada que percorria as colinas da Judéia, conhecida como

corredor de Jerusalém. Entretanto, esta rua também veio a ser tomada por soldados

árabes e foi palco de diversas batalhas.

Além de Jerusalém, muitas outras cidades foram atacadas e passaram por essa

tentativa de serem separadas do resto de Israel. A cidade de Naharia, por exemplo, teve

seu contato por terra com Tel Aviv cortado e só podia ser alcançada por mar. O norte

de Israel também era atacada por tropas sírias.

A independência de Israel, porém, levou à criação, ainda no mês de maio, de

uma força de defesa israelense, constituída por um exército, uma marinha e uma

aeronáutica. O exército anterior era comandado pelas lideranças sionistas e passou a

integrar o exército nacional. A força de defesa israelense, embora em menor número e

11 OREN, Michael B. Seis dias de guerra. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.25.

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ainda longe de ser a potência em armamentos que é hoje, tinha em seu favor uma

melhor organização sobre o território, que, até por não ser tão extenso, era mais fácil de

gerir, sendo também um corpo armado bem treinado, pois as possibilidades de

ocorrência destes ataques sempre foram consideradas pelos judeus, conhecedores da

insatisfação árabe com sua presença. Enquanto isso, os exércitos árabes não se

organizavam para um ataque organizado, cada um tentava do seu jeito “varrer” Israel, o

que facilitava a defesa do mesmo.

Como expõe Aura Rejane Gomes em sua dissertação de mestrado:

Entre os governos árabes não havia organização o suficiente para enfrentar essa guerra. Muitos haviam conseguido a independência recentemente e se encontravam desestruturados e sem recursos. Houve também graves problemas de comunicação e comando, além de falta de recursos e armas, fatores que resultaram em vantagens importantes para os israelenses. Os sionistas se preparavam para essa guerra há algum tempo pesadamente financiados pelos americanos.12

Desta forma, em pouco mais de um ano Israel terminou por vencer a Guerra e

não só manteve seu país como se achou no direito de ocupar áreas que na Partilha de

1947 seriam destinadas à Palestina. Ao final da guerra, os palestinos que haviam fugido

da região durante o conflito foram impedidos pelos israelenses de retornarem à suas

próprias casas, pois diversos territórios haviam sido apropriados por Israel, que sequer

aceitou pagar indenização a estes refugiados, como determinou, pouco depois do final

da guerra, uma nova resolução das Nações Unidas.

Ainda seguindo os pontos frisados por Gomes,

É importante destacar que, após o armistício, os palestinos que haviam saído de suas casas, escondendo-se em outros lugares, dentro do próprio país, tentaram

12 GOMES, Aura Rejane. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel. 2001. 142 fl. Dissertação de mestrado (Mestrado em Ciência Política). USP, 2003, p. 100. Disponível em: < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-24052002-163759/pt-br.php>. Acessado em: 15/08/2010.

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retornar, mas suas propriedades, incluindo residências, plantações e indústrias, foram confiscadas por Israel, que nunca as devolveu ou pagou indenização. Até 1949, o conflito produziu 726000 refugiados palestinos, um dos temas centrais e de mais difícil solução no atual processo de paz. A Assembléia Geral provou, na época, a resolução 194 que determina o direito de retorno dos refugiados palestinos ou o pagamento de indenizações aos que decidissem não regressar... o governo israelense que recusou-se (e recusa até hoje) em acatar a Resolução 194 da ONU, argumentou que não se sentia responsável pelos refugiados palestinos.13

Assim, percebe-se como poucos anos depois dos sofrimentos pelos quais passou

o povo judeu, sendo perseguido na Europa e obrigado a fugir na primeira possibilidade,

os próprios, refugiados, em grande parte, não se importaram muito com os “diferentes”

que passavam pela mesma situação, agora pelas mãos do estado de Israel.

Com o final da Guerra e vitória do Estado de Israel uma fortíssima imigração

hebraica para o território passou a ocorrer. Estima-se que cerca de 500 mil judeus

vieram dos países árabes vizinhos no decorrer da década seguinte, e mais algo em torno

de 120 mil sobreviventes do Holocausto vieram da Europa14. Israel foi se tornando uma

potência cada vez mais desenvolvida, que, com a oposição que recebia de seus países

vizinhos, se ligava cada vez mais a países mais distantes, como França e EUA,

construindo importantes relações político-econômicas com estes países. O período

seguinte foi de consolidação de Israel.

Ainda assim, o final da guerra de 1948, demonstrou que os problemas e conflitos

do Oriente Médio estavam longe de serem resolvidos definitivamente. Na década de 50,

a presença do Estado de Israel na região aliada à questão dos refugiados palestinos ainda

não resolvida, além do contexto da Guerra Fria e a constante mudança de poder nos

países árabes, devido a seguidas guerras de independência e revoluções, criavam um

cenário extremamente instável na região. Tudo isto culminaria, em 1956, na crise de

Suez. Esta, devido sua complexidade, especificidade e abrangência, tratando-se mais de

13 GOMES, Aura Rejane. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel, p. 101.14 SHLAIM, Avi. A muralha de ferro. Israel e o mundo árabe. Rio de Janeiro: Fissus Editora, 2004.

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uma guerra do Egito contra Inglaterra, França e Israel, além de envolver todo o forte

contexto da Guerra Fria, com os EUA e URSS ao fundo, não possibilita uma análise

mais detalhada: qualquer tentativa minimamente adequada exigiria por si só todo um

novo capítulo. Todavia, podemos dizer, em linhas muito gerais, que o conflito tratou-se

de uma guerra pelo controle do Canal de Suez no Egito, que havia sido nacionalizado

pelo então presidente Gamal Abdel Nasser15. O canal seria um ponto extremamente

estratégico para o Ocidente, no Mar Vermelho, que permitia a ligação entre Europa e

Ásia sem ser necessário contornar o continente africano. Para resumir os efeitos e o

desfecho dessa luta geopolítica de poder, recorremos mais uma vez ao trabalho de

Michael B.Oren, já apontando o final da questão e indicando as proporções que a

presença de Israel em meio aos países árabes tomava para o mundo:

O impasse foi finalmente resolvido por dois acordos de “boa-fé”- um entre Nasser e o secretário-geral da ONU, Dag Hammarskjold, e outro entre o secretário de Estado John Foster Dulles e Golda Meir, ministra do Exterior de Israel. Hammarskjold prometeu a Nasser que o Egito teria o direito de remover a UNEF [Força de Emergência das Nações Unidas, criada para ajudar na solução do problema do canal de Suéz em 1956] mas somente depois que a Assembléia Geral considerasse que a força de paz cumprira sua missão. Dulles garantiu que os EUA considerariam toda tentativa egípcia de ressuscitar o bloqueio a Tiran como um ato de guerra frente ao qual Israel poderia responder em autodefesa com base no Artigo 51 da Carta das Nações Nesse caso, Meir se encarregaria de informar os EUA as intenções de Israel. A Grã-Bretanha e a França também aceitaram o acordo, assim como o Canadá e vários outros países ocidentais - Suécia, Bélgica, Itália e Nova Zelândia.... Dessa forma, o conflito árabe-israelense passou a ser um elemento inextricável da vida do Oriente Médio. De uma disputa local nas décadas de 1920 e 1930, ele se ampliou na década de 1940 para envolver toda a região e, na década de 1950, o mundo inteiro. Consolidara-se um contexto de rivalidades e ódio permanente de ambos os lados. Se um novo status quo fora criado, era a instabilidade intrínseca, uma situação explosiva que a menor fagulha podia detonar.16

A guerra dos 6 dias

15 Nome importantíssimo nesta história, e na guerra seguinte é o de Gamal Abdel Nasser, que assumiu a presidência do Egito em 1954 e ali ficou até sua morte em 1970. Nasser se tornou uma figura de liderança para os países de terceiro mundo e adotava ideias socialistas e nacionalistas.16 OREN, Michael B. Seis dias de guerra, p. 34.

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A crise de Suez tinha terminado com uma humilhante derrota diplomática para

França e Inglaterra e com isso o presidente egípcio saiu da guerra sentindo-se

fortalecido. Já o Estado de Israel, embora tenha tido que se retirar dos territórios que

havia conquistado em Gaza e Sinai, manteve seu direito de navegar no estreito de Tiran,

ligado ao mar Morto pelo golfo de Aqaba. Este estreito era uma rota de abastecimento

de petróleo vital para Israel. Porém, este estreito era anteriormente um território egípcio

e havia sido ocupado pelos israelenses na guerra de 1948, de onde as tropas israelenses

jamais haviam saído, apesar das resoluções das Nações Unidas. Era uma questão de

tempo para que Nasser, que sentia ter saído fortalecido da queda-de-braço na Guerra de

Suez, resolvesse reconquistar o território.

O presidente egípcio nos anos seguintes a Suez seguia desempenhando um papel

importante no quadro internacional e buscava sempre unir os países árabes contra o

Ocidente, caracterizado como imperialista e colonialista, enquanto Israel era sempre

descrito como o Ocidente imposto à força dentro da própria região árabe. Como

principal argumento para unir o povo árabe estava a questão palestina e seus refugiados.

Em 1964, Nasser, junto a outros membros da Liga Árabe apóia a criação da OLP

(Organização pela Liberdade da Palestina). A OLP reunia diversos líderes árabes e

diferentes ideais políticos, na tentativa de se juntarem contra o inimigo em comum que

seria o Estado judeu.

No dia 16 de Maio de 1967 Nasser intimou as tropas da ONU a se retirarem da

península do Sinai e levou seu exército para o deserto, deixando clara a iminência de um

ataque. Além disso, realizou um bloqueio marítimo à cidade portuária de Elat em Israel,

fechando o Golfo de Aqaba. E em seus discursos o presidente falava sempre em

eliminar a entidade sionista ocidental ali inserida17. Enquanto isso, os exércitos de Síria,

Iraque, Jordânia e Arábia Saudita aproximavam-se das fronteiras de Israel.

17 OREN, Michael B. Seis dias de guerra, p.29.

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Israel, porém, passou, então, para um chamado “ataque preventivo”, considerado

pelos mesmos a principal chance de não sucumbirem na guerra. Na manhã do dia 6 de

Junho de 1967, aviões israelenses bombardearam de surpresa as bases aéreas do Egito,

Síria e Jordânia. Mais de 400 aviões de guerra foram destruídos sem sequer levantar vôo

e as pistas de decolagens foram inutilizadas. Israel começava a ganhar, muito

rapidamente, a guerra.

Como explica o jornalista Eduardo Spohr,

Os estrategistas judeus sabiam que não poderiam defender o seu território contra um ataque maciço e conjunto, especialmente se este viesse por ar. Ao contrário: a sua única forma de defesa era o ataque, uma ofensiva rápida e em grande escala, que neutralizasse boa parte das forças inimigas. Baseados nesse princípio, Israel efetuou, sem declaração de guerra, um ataque devastador aos aeródromos egípcios na manhã de 5 de junho, dizimando grande parte de seus aviões de combate. De uma população de dois milhões de judeus, 264.000 foram mobilizados em 72 horas e enviados para a batalha. No entanto, sem Força Aérea, o Egito, e também a Jordânia (cujos aeroportos militares também foram atacados) já estavam a um passo da derrota. Seis dias depois, em 10 de junho, a guerra havia terminado. Em apenas uma semana, as forças de Israel tinham vencido o inimigo e redesenhado completamente o mapa do Oriente Médio, quadriplicando o tamanho de seu país. A península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as colinas de Golã e Jerusalém Oriental foram conquistadas. Muitos desses territórios permanecem, até hoje, sob ocupação das forças israelenses.18

Poucas guerras na história foram tão massacrantes. Ao final dos seis dias mais

de 15 mil soldados egípcios, alguns milhares de soldados da Jordânia e cerca de mil

sírios perderam a vida no confronto. Tudo isso enquanto menos de 800 israelenses

morreram nos fronts.

Além disso, Israel havia conquistado vastos novos territórios e estava mais forte

que nunca. Sendo mais específicos:

18 SPOHR, Eduardo. O conflito árabe-israelense: ideologia, nacionalismo e cidadania no Oriente Médio. 2002. 49 pgs. Monografia de conclusão de curso (Comunicação Social). PUC-RIO, 2002, pp. 11-12.

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Seis dias depois, em 10 de junho, a guerra havia terminado. Em apenas uma semana, as forças de Israel tinham vencido o inimigo e redesenhado completamente o mapa do Oriente Médio, quadriplicando o tamanho de seu país. A península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as colinas de Golã e Jerusalém Oriental foram conquistadas. Muitos desses territórios permanecem, até hoje, sob ocupação das forças israelenses.19

Guerra do Yom Kippur

Em 1973, o Estado de Israel festejava seus 25 anos de vida, um período de

notável e amplo crescimento econômico e social, assim como de afirmação do país,

vencedor já de diversas guerras e cada vez mais forte. A 6 de Outubro os judeus

comemoram o “kippur”, o dia do perdão, considerada a data mais sagrada do calendário

judaico, dedicada ao jejum e à reza. Neste ano de 1973, os árabes aproveitaram este dia

na tentativa de devolverem o ataque surpresa que os havia devastado alguns anos antes

na guerra dos Seis Dias. Além disso, a intenção era recuperar os territórios que haviam

sido tomados por Israel na Guerra dos Seis dias, e não devolvidos, apesar de mais

resoluções da ONU determinando a devolução dos mesmos por parte de Israel20.

Sem aviso e sem declaração de guerra, Egito e Síria lançaram, juntos, um ataque

coordenado contra Israel. O exército egípcio atravessou o canal de Suez e superou quase

todos os postos de defesa militares de Israel na Costa Oriental. Ao mesmo tempo o

exército sírio atacava o Oeste do país na altura de Golan. Israel realmente foi pega

desprevenida e, ao fim do primeiro dia, podia-se prever um desfecho favorável aos

árabes.

Entretanto, passado o susto inicial, as forças israelenses se organizaram melhor e

batalharam fortemente por 19 dias, conseguindo parar a invasão e recuperar muitos dos

terrenos inicialmente perdidos. Bombardeios aéreos foram realizados e tropas

19 SPOHR, Eduardo. O conflito árabe-israelense: ideologia, nacionalismo e cidadania no Oriente Médio, p. 12.20 VIZENTINI, Paulo Fagundes. Oriente Médio e Afeganistão. Um século de conflitos. Porto Alegre: Leitura XXI.

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israelenses colocadas para contra-atacar, partindo em direção ao Cairo, no Egito, e

Damasco, capital síria. Os árabes logo perceberam que estavam sendo dominados e

preocuparam-se também em se defender.

Nesta guerra, também, inclusive muito mais do que o que até então se

observara, os EUA ajudaram pesadamente Israel com uma grande quantidade de

armamentos. Como resposta imediata a esta participação norte-americana, a OPEP

(Organização dos Países Exportadores de Petróleo21) determinou um embargo

econômico a todos que se juntaram a Israel, tendo sido suspensa a venda para estes

países.

A guerra chegou ao fim, do mesmo jeito que começou: as forças israelenses

conseguiram empurrar de volta os exércitos de Síria e Egito e praticamente todos os

territórios continuaram sob o mesmo domínio que estavam antes do conflito. Embora

em termos de território, os ganhos tenham sido nulos para os árabes, moralmente,

muitos árabes puderam, de certa forma, se sentir minimamente vingados, pois Israel,

que até então havia sido infalível e impecável nos confrontos contra estes países, havia

enfim sofrido algum dano, tomado um susto, e deixado transparecer alguma

vulnerabilidade, que até então, não sabia-se ao certo existir.

A guerra Palestina pela independência: Intifada

Até aqui no capítulo, tratamos principalmente das guerras vividas por Israel,

contra soldados palestinos e principalmente contra os países árabes vizinhos, tratando-se

assim, principalmente das relações externas do país e as batalhas enfrentadas. A

21 A OPEP compreendia 11 países (Arábia Saudita, Iraque, Irã, Kwait, Catar, Emirados Árabes, Argélia, Líbia, Nigéria, Venezuela e Indonésia) em sua maioria provenientes do Oriente Médio, tendo sido fundada em14/09/1960, como reação à política de diminuição de preços defendida pelas grandes empresas petroleiras ocidentais, também conhecidas como “sete irmãs” (Standard Oil, Royal Dutch, Shell, Mobil, Gulf, BP).

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intenção agora é girar o foco para as condições e problemas mais internos do território,

olhar para as desigualdades de condições e tratamentos que acabaram por levar à

intifada (revolta) palestina e que leva até os dias de hoje muitos a se solidarizarem com

a causa palestina22 – e contra o domínio de Israel.

Como explica Avi Shalaim:

Os acontecimentos nos territórios ocupados receberam intensa cobertura da mídia. O mundo foi assolado por imagens perturbadoras de tropas israelenses atirando contra manifestantes que atiravam pedras ou espancando com porretes as pessoas que capturavam, entre elas mulheres e crianças. A imagem de Israel sofreu um sério dano em conseqüência desta cobertura da mídia. Os israelenses se queixaram de que as informações eram tendenciosas e deliberadamente focalizadas em cenas de brutalidade naquilo que era um esforço normal para restaurar a ordem. Porém, por mais que protestassem, não conseguiam encobrir a mensagem que aparecia constantemente nas fotos dos jornais e nas telas de televisão: um exército estava sendo ativado contra uma população civil que lutava por seus direitos humanos mais básicos e pelo direito à autodeterminação política. A imagem bíblica de Davi contra Golias agora parecia estar invertida, com Israel se assemelhando a um despótico Golias e os palestinos e suas pedras, como um vulnerável Davi... O ministro de David Mellor, no Ministério das Relações Exteriores, deu vazão a sua repugnância às condições nos campos de refugiados de Gaza: “Desafio qualquer pessoa a vir aqui e não fica chocado. As condições são uma afronta aos valores civilizados. É estarrecedor que, poucos quilômetros acima, exista prosperidade e aqui exista miséria em uma escala que não se compara a nada em lugar nenhum do mundo”.23

No ano de 1987, nos territórios ocupados por Israel, ocorreu um levante popular

que visava combater a presença israelense na Palestina. Através de greves,

desobediência civil e lançamento de pedras os protestantes palestinos mostravam sua

revolta com a situação na qual estavam a tempos abandonados. O protesto era também

contra a OLP, que os palestinos acreditavam ter-lhes abandonado. A grande diferença

dos atos contra Israel ocorridos no passado é que agora o levante vinha de dentro do

próprio Estado, nos territórios ocupados tanto na Cisjordânia, quanto na Faixa de Gaza,

nos quais as condições impostas ao povo palestino eram bastante duras. Controle diário

22 Inclusive nomes dentro da própria comunidade judaica, como o importante linguista Noam Chomsky, que, já há algum tempo, vem se dedicando enfaticamente a discutir e escrever sobre questões da política atual (em especial no que tange o governo americano e, claro, o conflito Israel x Palestina).23 SHLAIM, Avi. A muralha de ferro. Israel e o mundo árabe. Rio de Janeiro: Fissus Editora, 2004, p.511.

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do ir e vir dos palestinos em diversos postos militares espalhados pela região, toques de

recolher, pobreza, desemprego, abandono.

Entre os seis milhões de israelitas, um milhão são palestinianos, que, embora dispondo do direito de voto, são cidadãos de segunda. Viveram, até 1966, sob “regime militar” porque eram considerados (e frequentemente continuam ainda a ser considerados) como “inimigos internos”.Foram sujeitos a confiscação de terras, humilhações, racismo(...)A paz falhou, antes do mais, porque a potência dominante, Israel, tanto governo como opinião pública, recusou reconhecer o Outro, o palestiniano, como um igual, como um ser humano gozando das mesmas prerrogativas de qualquer outro ser humano. O direito dos palestinianos à dignidade, à liberdade, à segurança e a independência foi sistematicamente subordinado ao dos israelitas.(...) Que dizer das humilhações quotidianas que os palestinianos sofreram durante estes “anos de paz”? Um estudante a caminho da sua universidade nunca está certo de passar as barreiras. Um operário que trabalha todos os dias em Israel (não tem o direito de lá dormir por “razões de segurança”) levanta-se às quatro da manhã para constatar que o exército não o deixa passar. Centenas de habitações, supostamente construídas de forma ilegal, foram destruídas.24

A data em que teve início esta Intifada foi o dia 8 de Dezembro de 1987, quando

um caminhão israelense bateu em dois furgões que transportavam operários de Gaza ao

campo de refugiados de Jabaliyya que causou a morte de quatro palestinos. Boatos

afirmavam que aquilo não havia sido um acidente, mas, sim, uma vingança da parte de

israelenses por causa de um assassinato ocorrido alguns dias antes no mercado de Gaza.

Como resposta, na mesma noite começou a revolta. Centenas de pessoas foram às ruas

queimando pneus e tentando de qualquer maneira atacar as forças de defesa israelenses.

A revolta rapidamente se expandiu a outros campos de refugiados, espalhando-se por

todo o território.

Como vimos no texto de Avi Shalaim, a repressão do estado de Israel contra o

levantamento foi muito forte, e menos de um mês depois, no dia 22 de Dezembro, o

Conselho de Segurança da ONU condenou Israel pela violação das convenções de

Genebra devido ao alto número de mortos palestinos nas primeiras semanas da Intifada.

Depois de um ano de conflito, a Intifada já havia resultado na morte de 1.162 palestinos.

24 GRESH, Alain. Israel , Palestina: Verdades sobre um Conflito. Rio de Janeiro: Campo das Letras editora, 2002. p.49.

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No ano de 1992 assume o poder em Israel Yitzhak Rabin25, representando forças

políticas israelenses mais moderadas em relação ao governo anterior. Com isto,

negociações de um acordo de paz entre o governo de Israel e a OLP liderada por Yasser

Arafat tornaram-se possíveis.

Ao fim das negociações, assinou-se um acordo que foi duramente criticado e

considerado por muitos uma grande vitória de Israel. O acordo previa que em 5 anos

Israel deveria retirar suas forças dos territórios ocupados, porém não definia bem as

datas para a desocupação, e nem quais seriam as faixas reais de terra a serem

desocupadas. Em 1993 o acordo foi assinado em plena Casa Branca entre Yasser Arafat

e Yitzhak Rabin na presença do então presidente americano Bill Clinton e rendeu aos

dois que assinaram um prêmio Nobel da Paz. Os radicais árabes, porém, eram bastante

contrários ao acordo, mas a insatisfação árabe era reduzida pela adoração do povo

palestino a Yasser Arafat que era visto como um herói para os mesmos. Em 1994,

porém, Yitzhak Rabin foi assassinado por um extremista judeu que considerava o

acordos feitos pelo líder palestino uma traição contra o estado de Israel colocando em

cheque o acordo de paz. Com a vitória nas eleições de 1996 do direitista Benjamim

Netanyahu para o governo de Israel, o acordo e as expectativas de paz caem por terra,

por ser o mesmo, contrário a devolução de terra para os palestinos26.

A segunda Intifada

Com a morte de Rabin, e a eleição de Netanyahu as coisas se complicaram. Este,

cessou a devolução das terras e ignorou completamente o acordo. Os extremistas árabes

25 General que combatera os Palestinos na Guerra dos Seis Dias.26 CHOMSKY, Noam. Os Caminhos do Poder: Reflexos Sobre a Natureza Humana e a Ordem Social.Porto Alegre : Artes Medicas, 1998.

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na figura do Hamas27 começaram uma onda de ataques em forma de atentados em Israel.

Enquanto isso Israel respondia construindo cada vez mais assentamentos de judeus em

territórios palestinos A situação se tornava cada vez pior e os quadros de uma nova

guerra civil eram iminentes.

No dia 28 de Setembro de 2000, o primeiro ministro israelense, Ariel Sharon

realizou uma caminhada com cerca de 1000 soldados uniformizados e armados na

esplanada das mesquitas, em Jerusalém. O local é considerado o terceiro lugar mais

sagrado do mundo para o Islã, e o mais sagrado para os judeus. Para o povo árabe este

ato arrogante foi o estopim para mais uma revolta palestina contra o Estado de Israel e

contra o povo judeu. O clima de insatisfação do povo Palestino já era grande e este ato

foi o grande estopim. No dia seguinte teve início a segunda Intifada árabe, que tinha no

descontentamento com os assentamentos judeus sua mais forte crítica. Mais uma vez a

guerra civil no país estaria instaurada, e mais uma vez os palestinos armados de paus e

pedras enfrentavam soldados israelenses com suas armas de fogo. A isto somaram-se

ataques terroristas em cidades israelenses. A idéia era a de levar aos judeus, sofrimento

equivalente ao sofrido pelos palestinos nos territórios ocupados e tornar suas vidas

igualmente insuportáveis. A isso, o estado de Israel respondeu com ainda mais terror,

atacando campos de refugiados28.

O objetivo do levante era tornar insustentável a vida dos israelenses, tanto nas

colônias quanto nas cidades. Os ataques aos assentamentos são, por assim dizer, mais

“legítimos”. Por outro lado, os atentados terroristas em cidades reconhecidamente

israelenses têm o único objetivo de levar aos judeus o mesmo sofrimento que lhes é

imposto nos territórios ocupados. A tática do terror ainda que se esconda sob uma

cortina ideológica, é puramente uma forma de clamar vingança. E essa tática também se

27 Movimento de Resistência Palestina, conhecido pelo seus extremismo e atos de terrorismo.28 VIZENTINI, Paulo Fagundes. Oriente Médio e Afeganistão. Um século de conflitos. Porto Alegre: Leitura XXI.

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aplica ao terrorismo de Estado israelense, que ataca campos de refugiados em retaliação

aos atentados suicidas. E atira covardemente contra os revoltosos.

A jornalista israelita Amira Hass publicou este incrível diálogo com um atirador de elite do exército israelita: “Estamos proibidos de matar crianças”, diz, falando das ordens da sua hierarquia. Mas acrescenta: “Não se pode atirar sobre crianças com 12 anos de idade ou menos. Acima dos 12 anos, já é autorizado. É o que eles dizem” (Le Monde, 24 de Novembro de 2000). A organização israelita de defesa dos direitos humanos B'Tselem demonstrou, com base em números do próprio exército israelita que em três de cada quatro dos incidentes mortais, entre o início da Intifada e 15 de Novembro de 2000, não se registara nenhuma presença de atiradores palestinianos (International Herald Tribune, 14 de Dezembro de 2000). A imprensa mencionou numerosos casos em que palestinianos, sim, crianças tinham sido deliberadamente mortas enquanto a vida dos soldados não corria qualquer perigo. A recusa do exército em abrir inquéritos sobre a maioria destes casos desencoraja naturalmente tais comportamentos. E um inquérito do jornalista israelita Joseph Algazy, do jornal Haaretz, revelou o pesadelo de dezenas de palestinianos de 14, 15 ou 16 anos, espancados, maltratados, torturados nas prisões israelitas.29

Dados divulgados no dia 29 de Novembro de 2004, com quatro anos de levantes

mostram os números violentíssimos do conflito. Eram 3499 mortos, sendo 636

israelenses dos quais 110 crianças, e 2827 palestinos sendo 558 crianças e estima-se que

pelo menos 1544 desses mortos não participavam do levantamento segundo o

B’Tselem30. Ainda de acordo com estes números, em 2004 a população de palestinos

presos em Israel era superior a sete mil, dos quais 386 eram crianças. E 760 desses

estavam em “detenção administrativa” sem ainda terem sido acusados ou julgados

formalmente.

Capítulo 2O desenvolvimento do cinema na região e suas visões sobre o conflito

2.1 O nascimento do cinema na região: duas histórias bem distintas

29 GRESH, Alain. Israel , Palestina: Verdades sobre um Conflito. Rio de Janeiro: Campo das Letras editora, 2002. p.10.30 < http://www.btselem.org> B'Tselem - The Israeli Information Center for Human Rights in the Occupied Territories (Centro de informação Israelense pelos direitos Humanos nos territórios ocupados)

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Buscar um reconhecimento dos fatos que acompanharam o nascimento

cinematográfico na região é uma tarefa árdua. São poucos os estudos sobre o tema, e as

duas cinematografias que se desenvolveram naquela região, tanto a israelense, como

principalmente a palestina, só passaram a receber uma maior atenção dos historiadores e

críticos de cinema nos últimos tempos.

O primeiro contato com o cinema ocorreu em 1897 quando Alexandre Promio,

operador de cinema da casa Lumiére, fez uma excursão na região, fazendo exibições nas

cidades de Jaffa, Belém e Jerusalém. E por alguns anos este foi o único contato com o

cinema na região até que os primeiros colonos começaram a produzir os primeiros

filmes de propaganda sionista. Dois fatos importantes que ajudam nessa reconstrução

são a abertura da primeira sala de cinema em Jerusalém em 1908 e a fundação da

primeira empresa cinematográfica na Palestina criada pelo colono Yacov Bem Dov em

1919. Yacov é considerado o pai do cinema Hebreu tendo realizado diversos filmes na

década de 20, todos com forte propaganda ideológica Hebraica. Desta forma, como

podemos ver o cinema inicialmente foi usado pelos judeus para valorizar o povo

Hebraico, destacando sua força e seu trabalho nas mudanças e avanços que ocorriam na

árida terra Palestina, creditando a eles, tudo que fosse relacionado a um crescimento na

região. Além destes filmes de Yacov Bem Dov, também se destacaram na época

documentários que eram realizados com a mesma intenção.31

Já o pioneiro do cinema Palestino, é reconhecido apenas algum tempo depois na

figura de Ibrahim Hasan Sarhan, que realizava diversos documentários e com a venda

dos mesmos conseguiu criar o Estúdio Palestina, sediado em Jerusalém. Conseguiu,

assim, produzir alguns longas-metragens e ficou ali até que em 1948, com a guerra, foi

obrigado a se mudar para a Jordânia onde continuou sua carreira de diretor e produtor.

31 MORINI, Andrea; RASHID, Erfan; DI MARTINO, Anna; APRÀ. Adriano. Il cinema dei Paesi Arabi. Venezia: MARSILIO, 1993.

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A partir deste ano de 1948 com a fundação do Estado de Israel, estas duas histórias

ficaram ainda mais diferentes, enquanto o cinema israelense encontrará rapidamente seu

crescimento e reconhecimento o cinema palestino ficará restrito por muito tempo a uma

rara e precária existência32.

Desenvolvimento do cinema em Israel

Com o fim da guerra de independência (1948), começa um grande fluxo

migratório em direção ao estado de Israel que levará ao novo país diversos cineastas

hebreus de vários países.

Os anos sucessivos a este evento foram relembrados no cinema como os anos da

época heróica. Filmes como The Red Ground (1953) e Hill 24 Doesn't Answer (1955)

do diretor Thorold Dickinson, ou Hem Hayu Asarah (1961) de Baruch Dienar, mostram

figuras heróicas de colonos e combatentes e os seus enormes sentimentos de

solidariedade durante a vitoriosa guerra contra os árabes. Quase todas as produções dos

anos cinquenta foram classificadas assim como clássicos exemplos do cinema

propaganda. Este clima de euforia e invencibilidade do soldado israelense serão temas

representados ainda anos depois, no período posterior a Guerra dos Seis Dias, em 1967,

como no filme Matzor de Gilberto Tofano, em 1969. Esta guerra foi muito importante e

simbólica para o Estado de Israel porque significou a reunificação de Jerusalém e a sua

proclamação como capital, tendo sido vários os filmes-registros posteriores a esta época

que colocavam a cidade no centro do filme, tornando-a a verdadeira protagonista (Dan

Wolman, Ron Havilio, David Perlov).

Os anos 60 devem também ser lembrados na história do cinema de Israel como

os anos de nascimento dos primeiros grandes autores: Menahem Golan e Uri Zohar.

32 MORINI, Andrea; RASHID, Erfan; DI MARTINO, Anna; APRÀ. Adriano. Il cinema dei Paesi Arabi.

Page 32: Versão sem agradecimentos

Sem dúvidas Menahem Golan foi a figura mais importante do cinema israelense

dos anos 60 e 70. Diretor e produtor (seu nome aparece em mais de 50 filmes), surgiu

em 1963 com Eldorado, um filme que mistura ambientes étnicos e uma “atmosfera

gangster”. Em 1973 ele roda o primeiro musical de Israel, Kasablan, que foi comprado

pela MGM para sua distribuição no exterior. O seu estilo, mais descompromissado e de

entretenimento, não o fizeram receber uma grande simpatia da critica mas em

compensação ele assinará os maiores sucessos de público do cinema israelense.

Ao contrário dele, Uri Zohar tentou a estrada do cinema mais empenhado,

fortemente crítico contra as normas do Estado e nos seus trabalhos unia paródia,

comédia e drama social. Inesperadamente interrompeu sua carreira ligando-se

surpreendentemente aos hebreus ultra-ortodoxos.

Nos anos 60 e 70, se desenvolveram também dois tipos de cinema particulares, o

dos “bureka” e o dos “Kayitz”.

Os filmes “bureka”, que viveram seu período de maior sucesso por volta do fim

dos anos 70, eram destinados a um público sefardita33 e eram baseados nos estereótipos

das etnias que faziam parte deste grupo. A audiência desses filmes era de um público

predominantemente popular, como eram os sefarditas.

Já o estilo “Kayitz” (acrônimo de “novo cinema israelense” em hebraico) se

encontra na antítese do estilo “bureka”, dirigindo-se a um restrito grupo de pessoas,

certamente não popular. Os temas tratados pelos diretores deste “novo cinema

israelense” são o comportamento humano, a alienação da sociedade e a perda das

próprias raízes culturais. Um dos expoentes desta corrente foi Moshe Mizrachi (diretor

de Orayach Be’ Onah Hametah de 1970 e Ani Ohev Otach Roza de 1972).

33 O termo sefardita é frequentemente usado em Israel hoje para se referir aos judeus oriundos do norte de África.

Page 33: Versão sem agradecimentos

Os elementos de ruptura que já se evidenciavam no cinema israelense nestes

anos explodirão depois da Guerra de Yom Kippur, em 1973, um evento que se revelou

traumático em muitos níveis. A sociedade israelense se sentiu atingida de surpresa e

todo o encanto sobre uma certeza de serem invencíveis desaparece neste momento.

Os diretores (principalmente os de esquerda) dali em diante passaram a enfrentar

constantemente e examinaram criticamente os aspectos mais problemáticos de se viver

em um estado como Israel: a natureza da guerra, o relacionamento entre os árabes e os

hebreus e o conflito Israel-Palestina. Depois desta data, iniciou-se um forte período de

crítica social que atacava até uma estrutura rígida como o exército e não poupou-se nem

mesmo o “kibbutz”, baluarte da sociedade sionista que, desde o fim dos anos 70, viu-se

cada vez mais em crise.

Não podemos esquecer que estes foram também os anos em que diversos

diretores israelenses com cidadania européia ou estadunidense, explicitamente anti-

sionistas, trabalhavam no exterior. O cinema deles era militante, simpatizante da

extrema esquerda, recusando o Estado de Israel e ostentando o apoio à causa palestina.

A produção destes era quase exclusivamente de documentários, com raros contatos com

a ficção. O diretor que conseguiu um maior alcance internacional com este tipo de

filmes foi Ram Loevy34.

Nos anos 80, as novas gerações de diretores decidiram representar aquilo que até

então ninguém tinha tido coragem de enfrentar: o holocausto e os seus sobreviventes

(muitas vezes mal vistos pelos outros judeus), que depois de 1948 tinham passado a

fazer parte do remorso da sociedade israelense, encontravam finalmente espaço nos

esquemas nacionais. Os documentários e ficções rodados sobre o tema narram as

dificuldades que os sobreviventes encontraram para se adaptar à nova vida. Os

problemas que são evidenciados são aqueles de um deslocamento psicológico devido ao

34 Informações sobre o diretor http://www.imdb.com/name/nm0505488/. Acessado em 15/10/2011

Page 34: Versão sem agradecimentos

trauma pelas experiências em campos de concentração. A crítica ao estado de Israel

continuou com uma nova onda de documentários rodados entre outros por Amos Gitai,

(de quem falaremos mais tarde no capítulo) no início de sua longa e prolífica carreira.

Outra fundamental mudança nos temas tratados será a nova construção dos

personagens árabes, não mais representados apenas como beduínos ou camponeses

ignorantes, mas finalmente vistos como indivíduos em com suas complexidades. A

visão sobre o relacionamento entre os árabes e os israelenses é mais madura e as duas

comunidades passam a ser colocadas muitas vezes no mesmo plano. Aqui, filmes como

Hamsim de Dan Wachsmann, e Além das Fronteiras de Uri Barbash, de 1985, são obras

maduras que propõem a convivência entre os dois povos como uma solução possível

para o conflito. Os árabes aparecem no olhar desses diretores como os derrotados e por

isso, segundo os seus pontos de vista pessoais, deveriam receber a compreensão dos

judeus, que no passado passaram por semelhantes sofrimentos. A estas fortes temáticas

se juntam ainda outras, bastando pensar na maior dignidade com que serão desenhadas

as figuras femininas (tanto árabes como israelenses), na liberdade de se poder

representar nos trabalhos relacionamentos sentimentais e sexuais entre árabes e judeus

(antes era proibido) e inclusive a possibilidade de se tratar a homossexualidade, além da

possibilidade de uma critica cada vez maior ao extremismo religioso.

Estas problemáticas acompanharão o cinema israelense nos anos 90 e são índices

de uma maior atenção ao indivíduo e a sua cotidianidade. As fraquezas humanas são

uma constante neste novo homem israelense. Trata-se da opção por explorar mundos

mais íntimos (o ambiente familiar é sempre presente nos filmes dos anos 90), onde a

sociedade é retratada como decadente. Muitos serão os diretores que se cimentaram com

este tipo de cinema, mas o mais importante é sem nenhuma dúvida o já citado Amos

Gitai.

Page 35: Versão sem agradecimentos

Desenvolvimento do cinema na Palestina

O ano de 1948 permanecerá na memória do povo palestino como a data da

diáspora, a dispersão, o início da tragédia deles no mundo. Apenas em 1964 será

recriada uma nova diretriz política oficial com a criação da OLP (Organização pela

Libertação da Palestina). Desta forma, devemos esperar até 1968 para ver nascer enfim

uma primeira organização de cineastas árabes-palestinos; sob direção da Al-Fatah

(grupo político palestino ligado a Arafat) é criada em Amman, na Jordânia, a unidade de

cinema palestina: “Windhat Aflam Filastin”.

Depois de algumas reportagens fotográficas, o coletivo enfrentou sua primeira

produção cinematográfica no próprio ano de 1968 rodando um documentário sobre

alguns ataques militares israelenses, La terra bruciata35. Em 1968 é produzido um outro

documentário, No to the option of surrender, que muitos definem como a ato de

nascimento do cinema palestino. Em 1970, Mustafa Abu Ali36, um dos fundadores do

coletivo, montou com o material rodado por Hani Jawhariya, um filme que apresentou

com o título de With soul and blood, composto de tomadas de massacres perpetuados

pelo exército israelense. O filme conseguiu um grande sucesso no mundo árabe e

venceu o prêmio de melhor documentário na primeira edição do Festival de Cinema de

Jovens de Damasco (1972).

Em 1971, a unidade se transferiu para Beirute, no Líbano, onde conseguiu

incrementar o nível técnico. No ano seguinte, também a sessão cultural da OLP

começou a produzir filmes e, em 1973, as duas organizações, mais uma série de

35 Cf. Itado por MORINI, Andrea; RASHID, Erfan; DI MARTINO, Anna; APRÀ, Adriano. Il cinema dei Paesi Arabi. Pagina.152.36 Seu filme mais premiado, They do not exist (1974), pode ser assistido na íntegra no YouTube, através do link http://www.youtube.com/watch?v=2WZ_7Z6vbsg. (acessado em 10/01/2012).

Page 36: Versão sem agradecimentos

pequenas estruturas que haviam começado a fazer cinema, juntaram-se no Grupo dos

Cineastas Palestinos. No Grupo se uniram todas as hereditariedades do passado, mas

infelizmente os resultados foram poucos, na realidade o “GCP” dirigiu apenas um filme,

Scenes of occupation in Gaza em 1974, de Mustafa Abu Ali. Nesse mesmo ano nasce

um outro grupo, a Associação do Cinema Palestino.

Voltando, o cinema palestino dos anos 70 pode ser assim considerado através de

3 tipos essenciais: os cinejornais, concentrados nos acontecimentos, visando registrá-los

e comentá-los em suas evoluções; os documentários, construídos seja com materiais

diretos e novos, seja com imagens de arquivo antigas, tendo como intenção passar uma

idéia política, e, por fim, os filmes de ficção, que, embora mostrassem a Palestina, eram

todos feitos por diretores árabes não-palestinos.

O crescimento desta cinematografia foi apoiada por inúmeros diretores

estrangeiros, árabes em sua maioria, mas também ocidentais que, implicitamente ou

explicitamente defendiam as causas palestinas. Entre estes podemos citar o egípcio

Tawfiq Salih, o libanês Burhan Alawiya, o iraquiano Qasim Hawal, e também nomes

bem mais conhecidos aqui no Ocidente, como Jean-Luc Godard com o filme Ici et

Ailleurs (1974) e Constantin Costa-Gravas com Hanna K (1976).

Godard foi a Palestina para filmar guerrilheiros suicidas (fedayin) financiado

pela Liga árabe, para fazer um filme sobre a revolução Palestina. Os mesmos são

rapidamente derrotados e o filme fica incompleto. Anos depois ele usa as imagens e faz

uma leitura completamente diferente. Se primeiramente a intenção era saudar os

guerrilheiros e a revolução, nessa revisão de seu trabalho, agora já de volta à França ele

destaca as falhas e o fracasso do projeto37.

37 Informações retiradas do site <http://www.contracampo.com.br/75/aquieacola.htm> Acessado em 02/11/2011

Page 37: Versão sem agradecimentos

Já o filme de Costas-Gravas conta a história de uma advogada israelense que tem

relações complicadas com 3 homens. Um juiz de quem espera um filho; seu marido

Frances; e um jovem palestino, presumidamente terrorista de quem assume a defesa38.

Nos anos 80, gradualmente, o cinema palestino vai se afastando cada vez mais

dos filmes-documentários de propaganda e passa a desenvolver um estilo mais definido

e completo, com uma visão mais ampla de tudo e, ao mesmo tempo, aproximando-se

mais do estilo de filmes de ficção para se debater os temas da região.

O que vai se desenvolvendo a seguir com o fim dos anos 80 e começo dos anos

90, será um cinema cosmopolita, de mestiçagem, que nasce e se alimenta sobre os temas

da migração. Os novos diretores palestinos passam a estudar e adquirir seus

conhecimentos no exterior, em países como a Bélgica, a Holanda e a França que os

acolheram. Destas experiências se alcançará uma maneira até então desconhecida de se

fazer cinema. À Michel er Khleifi e Mai Masri, que surgiram já nos anos 80, se

juntaram nomes como Elia Suleiman, Rashid Masharawi, entre tantos outros. Os filmes,

rodados na clandestinidade nos territórios ocupados, repassam o clima de instabilidade

que o povo palestino vivia no seu dia-a-dia. O gênero que emergirá será o que pode ser

definido como “Documentário-Ficção”. A última tendência que se encontra neste

cinema é a do retorno à pátria, de forma definitiva, de alguns desses diretores, prelúdio

de um possível amadurecimento deste tipo de cinematografia.

2.2 – A visão do conflito pelas duas cinematografias

Como pudemos observar até agora, apenas a partir dos anos 80 podemos notar

mudanças internas consideráveis nas cinematografias tanto de Israel, quanto da

38 Sinopse retirada do site <http://cinema-tv.corriere.it/film/hanna-k/01_12_97.shtml> Acessado em 02/11/2011

Page 38: Versão sem agradecimentos

Palestina. Naturalmente, o impacto destas mudanças será diferente nesses dois casos,

mas o beneficiado mais facilmente percebido, em termos de qualidade, é certamente o

cinema da Palestina. Para esta cinematografia, podemos identificar como ponto de

rompimento com as tradições anteriores o filme Núpcias na Galileia (Urs al-jalil), do

diretor Milchel Khleifi, de 1987, enquanto no caso de Israel este rompimento pode ser

visto em mais de um filme, como o Esther de Amos Gitai (1985), e Além das Fronteiras

(Me'Ahorei Hasoragim, 1985) de Uri Barbash.

Nestes filmes, a visão da sociedade, tanto árabe como israelense, passa a ter

surpreendentes pontos de concordância. É importante perceber o interesse dos novos

diretores de demonstrar também a visão e o problema do outro, do “inimigo” que até

então era simplesmente atacado pelos seus respectivos filmes. Houve uma tomada de

consciência, o fim da indiferença. Do lado palestino se saía oficialmente dos

documentários de propaganda e se partia em direção a filmes principalmente de ficção,

muito mais complexos e abrangentes em relação ao conflito; já da parte de Israel,

abandonaram-se os estereótipos com que sempre se desqualificavam os árabes, para

confrontar com uma visão aberta as injustiças e dificuldades que representavam para o

povo palestino viver no Estado hebraico.

A consagração destes novos caminhos enfim adotados pelo cinema na região

acontece nos anos 90 quando surgem ainda diversos novos autores que serão os porta-

vozes da trágica situação vivida no conflito. Quase todos os autores palestinos que

rodaram seus primeiros filmes nesse período eram filhos da diáspora, de formação

européia ou norte-americana, que logo estiveram longe das suas terras por muitos anos e

usaram muito o cinema para mostrar sua situação como exilados de suas próprias terras.

Desta forma estes diretores possuíam uma visão bastante privilegiada do conflito, por

Page 39: Versão sem agradecimentos

poderem analisá-lo tanto como um homem da região que viveu o conflito, como um

homem de fora que vê o problema sem participar do mesmo.

Assistindo qualquer filme israelense nas últimas duas décadas, não se pode

deixar de notar como muitos diretores da nova geração têm uma sensibilidade similar a

de seus “colegas” palestinos em relação às temáticas a eles mais próximas. Isto se dá

porque ambos estão imersos numa realidade muito forte, impossível de ser ignorada e

que logo se impõe em qualquer tipo de trabalho realizado pelas duas partes. Obviamente

os diretores palestinos tendem a tocar mais as partes mais duras e tristes, como a

ocupação, os campos de refugiados e os muros, porém, também os filmes israelenses

nos levam a descobrir o mal-estar que tal situação provoca na sociedade e as poucas

esperanças que ali existem para um futuro positivo. Assim, acaba ocorrendo, de certa

forma, um encontro de visões, que surge de maneira bastante natural, pelo sofrimento

vivenciado na região, com o conflito infindável entre Israel e Palestina. Aqui, para

facilitar esta percepção, voltamos a separar cada cinematografia, exemplificando a

situação através dos trabalhos de alguns dos principais diretores das duas regiões.

2.2.1 – Palestina

Para retratar o cinema palestino, falaremos de alguns dos filmes de Michel

Khleifi, Rashid Masharawi e Elia Suleiman.

Michel Khleifi nasceu em 1950, mas 20 anos depois emigrou para Bruxelas onde

freqüentou cursos de teatro e televisão, formando-se em 1977. Depois de ter realizado

algumas reportagens para a televisão belga fundou a “Marisa film” e nos anos 80 rodou

seu primeiro documentário, La Mémoire Fertile. Já neste primeiro trabalho o estilo do

diretor oscila entre documentário e ficção; aqui, ele nos conta a história de duas

Page 40: Versão sem agradecimentos

senhoras de diferentes gerações que enfrentam a dura realidade Palestina (uma das

mulheres é Sahar Khalifah, escritora e intelectual, feminista militante, uma das figuras

mais importante da cultura palestina). A passagem definitiva ao cinema de ficção vem

com o histórico Núpcias na Galileia (Urs al-jalil) em 1987, filme que obterá sucesso

em diversos festivais na Europa e dará a Khleifi o título, para muitos, de pai do novo

cinema palestino39.

A sinopse do filme na programação da 33ª Mostra Internacional de Cinema de

São Paulo resume bem sobre o que trata o filme:

O roteiro focaliza o desafio entre dois deuses: um controla o poder militar, o outro detém o poder patriarcal. Mukhtar, chefe de uma vila árabe-palestina, pede ao governo militar israelense permissão para casar seu filho com grande pompa. Para isso, é preciso que a lei marcial, imposta há quatro anos, seja momentaneamente suspensa. O governador concorda, mas exige ser um dos convidados de honra. O filme tenta unir, desta forma, o mito e a realidade, em uma síntese de sons, imagens, ritmos e sentimentos que mostra uma contundente mensagem de liberdade.40

Desta forma, o filme de Khleifi retrata personagens palestinos e israelenses em

contanto intenso, mostrando, inicialmente, a desconfiança recíproca nas relações entre

os dois povos, mas também a tentativa de uma boa e pacífica recepção aos soldados por

boa parte do vilarejo palestino. Alguns jovens, por exemplo, tentam realizar um

atentado contra estes militares israelenses, mas são impedidos por outros palestinos. Aí

aparece de certa forma uma idéia de que uma tentativa de convivência deve existir,

mesmo que por vezes isto acarrete uma aceitação, mesmo que relutante, do povo

palestino de alguns sacrifícios. O tenso final, porém, nos faz entender como a paz ainda

é visto como algo muito difícil e longe, afastando esta visão relativamente positiva e

esperançosa que, teoricamente, seria mostrada nas primeiras cenas. O trabalho seguinte

do diretor será o seu filme mais “militante”. Cântico das Pedras (Nashid al-hajar), de

39 MORINI, Andrea; RASHID, Erfan; DI MARTINO, Anna; APRÀ. Adriano. Il cinema dei Paesi Arabi. Venezia: Marsilio, 1993.40 Arquivo da 33ª Mostra Internacional de Cinema. Disponível em: <http://mostra.org/exib_filme_arquivo.php?ano=11&filme=611&language=en>. Acessado em: 15/08/2011.

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1990, idealmente dedicado à geração da Intifada, conta, na forma de documentário-

ficção, o amor impossível entre um homem e uma mulher durante os dias da mesma. Os

dois haviam passado por momentos de paixão 18 anos antes, em Jerusalém, mas as suas

vidas haviam sido separadas, pois ele havia sido condenado por cometer atos de

resistência, ao que ela decide, assim, emigrar para os Estados Unidos. Depois de se

reencontrarem por acaso não conseguem reacender a paixão que, embora pareça ainda

existir, é sufocada pela guerra e pelos anos em exílio. Ao fundo da história, Khleifi

insere longas sequências do enfrentamento entre jovens palestinos atirando paus e

pedras e o exército israelense, além de muitas imagens dos campos de refugiados e

hospitais onde ficavam os feridos em batalhas, deixando claro o que Peter Burke fala

sobre “a importância do ponto de vista na narrativa visual”41 e como isso é expresso

muitas vezes mais através das próprias imagens, da posição de câmera em determinada

tomada do que nos diálogos ou qualquer espécie de texto propriamente dito. Neste

filme, mais do que nunca aparece a dramática situação do povo palestino sob o domínio

judeu, mostrando a miséria e péssimas condições de vida às quais este povo está

submetido, sendo difícil para qualquer espectador imparcial não se envolver e

emocionar com o lado dos árabes, demonstrando como a arte cinematográfica tem forte

apelo ao pathos e pode proporcionar ao espectador a perigosa sensação de testemunhar

os eventos – perigosa exatamente por ser ilusória, dado que “o diretor molda a

experiência embora permanecendo invisível”42.

Passemos agora ao diretor Rashid Masharawi, nascido no ano de 1962, em Shati,

um campo de refugiados palestinos na faixa de Gaza. De 1986 à 1993, dirigiu diversos

documentários e curtas-metragens, alguns por conta da televisão inglesa como Travel

document, The shelter e Long days in Gaza.

41 BURKE, Peter. Testemunha ocular: História e imagem. Bauru: EDUSC, 2004, p. 209.42 BURKE, Peter. Testemunha ocular: História e imagem, p 200.

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Seu primeiro longa é o filme Toque de recolher (Hatta Ishaar Akhar) (1994).

Rodado em total clandestinidade em uma escola abandonada de Nazaré para internos, e

em campos de refugiados de faixa de Gaza para os estrangeiros, o filme conta a

interminável jornada de uma família presa em sua casa por um toque de recolher de 24

horas decretado pelo exército israelense. O filme evidencia o sofrimento e as frustrações

da vida dos palestinos em suas vidas domésticas, e, não mantendo sempre o foco na

violência, volta-se constantemente em obras que tentam retratar o local.

Já no seu longa seguinte, Haifa (1996), Masharawi constrói uma história em

contrapartida com a obra anterior. Gravado ainda na clandestinidade, mostrou imagens

da Palestina logo depois do histórico aperto de mão entre o primeiro ministro israelense

Yitzhak Rabin e o líder palestino Yasser Arafat. O filme desenha personagens de

diversas gerações às voltas com uma hipotética e esperada mudança em suas realidades:

através da família de Abu Said (um policial com paralisia devido a um acidente) são

representados os diferentes tipos de expectativas então vividas com a proximidade da

esperança. O próprio policial é o mais esperançoso e otimista, mas tem em seu filho

mais novo sua maior antítese, alguém incrédulo no futuro e na raça humana como um

todo. Haifa representa o povo palestino e é um amigo da família que liga todos os

pontos do filme, servidoo de fio-condutor da narrativa.

Nestes filmes de Masharawi podemos ver qual era sua grande motivação, assim

como a de grande parte dos diretores desta geração: eles tinham como intenção fazer

filmes com um forte empenho social, em contato sempre direto com as pessoas, mas

sem prenderem-se às intenções políticas e à realidade quotidiana, tentando ser mais

abrangentes ao tratar também da vida de cada um dos palestinos como indivíduos

singulares.

Page 43: Versão sem agradecimentos

Por fim, voltamos nosso olhar para o diretor palestino que obteve mais

reconhecimento e sucesso no exterior, Elia Suleiman. Nascido em Nazaré no ano de

1960, desde jovem apresentou um espírito rebelde, tendo emigrado para Nova York, nos

Estados Unidos, com pouco mais que 20 anos. Depois de ser introduzido no mundo do

cinema, rodou dois curtas que receberam diversos prêmios que o permitiram pensar em

projetos mais ambiciosos: Introduction to the End of an Argument(1990) e Homenagem

ao assassinato, um episódio do filme coletivo A Guerra do Golfo...e depois?(Harb El

Khalij... wa baad, 1993), que mostra como a visão ocidental em relação aos árabes é

equivocada e desinformada.

Mas será posteriormente, com seus dois primeiros longas, Chronicle of a

Disappearance (vencedor do prêmio de melhor filme do festival de Veneza em 1996) e

Intervenção Divina – A crônica de Amor e Dor (Yadon ilaheyya), ganhador em 2002 do

Prêmio do Júri do Festival do Cannes em 2002, que Elia Sureiman alcançou sua

maturidade expressiva e poética. Nestes dois filmes, extremamente autobiográficos,

Suleiman conta em primeira pessoa, como ator e protagonista, a condição de exilado

que pena a reencontrar a felicidade em sua pátria, deixando no fundo a realidade da

guerra (que a cada dia emerge mais), usando um estilo que tem na emigração a chave do

tema. A diferença de seu trabalho para Khleifi e Masharawi, reside no tratamento dado

ao seu povo, muitas vezes crítico e irônico, por vezes cínico, o que fez com que ele

recebesse muitas vezes pesadas criticas no mundo árabe.

Crônica de um desaparecimento é um filme dividido em duas partes. Na

primeira, se conta a história de Suleivan retornando a Nazaré, da vida cotidiana de sua

família e de seus amigos, entre os quais destacam-se o proprietário do negócio “The

Holyand”, um pescador, o gerente de um café e o excêntrico tio George. Já na segunda

parte, o filme parte para Jerusalém, onde o diretor interpreta o papel de um presumido

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terrorista Palestino, cuja vida parece sempre cruzar com a de uma mulher. Na primeira

parte o filme trata mais dos problemas domésticos e individuais dos palestinos,

enquanto a segunda tenta mostrar mais as questões políticas e ideológicas. Passando

seguidamente de uma parte a outra, ele tenta mostrar o clima de instabilidade vivido

pelos palestinos e pela região.

Muitos dos aspectos temáticos e de forma presentes nesse seu primeiro longa,

estão também presentes em Intervenção Divina, sua segunda obra-prima. Neste filme,

porém, Suleiman é muito mais político e severamente critico ao Estado de Israel,

mostrado um adversário cruel, como não havia sido mostrado antes pelo diretor, ao

menos não tão explicitamente. A grande critica é feita em relação à ocupação israelense

e seus moldes que acabam por cercear e destruir a liberdade de todo um povo, sujeito à

força a regras e imposições que lhes são alheias. A história mais uma vez centra-se no

protagonista vivido pelo próprio diretor, que desta vez dá vida a um homem que divide

o seu tempo entre cuidar de seu pai doente e (tentar) viver sua história de amor. O

problema é que enquanto ele e seu pai vivem em Jerusalém, o amor da sua vida se

encontra em Ramallah e entre eles, além da distância, existe uma barreira israelense que

controla severamente a passagem de qualquer cidadão43.

Em suas tentativas de representar um povo oprimido pela presença judaica e do

Estado israelense, tais filmes servem não apenas como forma de denúncia e protesto da

condição palestina, mas tentam ainda assegurar, em seus dramas diversos, uma

identidade palestina, fazendo ecos das palavras de Andréa França, quando a

pesquisadora se refere ao cinema de terras e fronteiras:

43 Informações adicionais obtidas através do site: http://www.facom.ufjf.br/documentos/downloads/projetos/2006-2/AnaAngelicaSoares.pdf, acessado em 15/11/2011.

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Hoje, não basta dar visibilidade a um povo ou a uma cultura em luta pela sobrevivência. O cinema, a televisão, a publicidade, os jornais não pararam de produzir e nos oferecer imagens de esquecidos, desamparados, caricaturados, qualificando-as como reais. A experiência da desterritorialização, da migração brutal dos últimos anos, a circulação acelerada de imagens do mundo pelo mundo tornam ineficaz a visibilidade pura e simples do outro. É necessário inventar, também através do cinema e das imagens, novas terras, novas nações, novas comunidades ali onde elas sequer existem. Essas novas terras não são geográficas, bem entendido, são territórios afetivos, sensíveis, novos mapas de pertencimento e afiliação translocais. E inventar não significa aqui fazer filmes de ficção apenas, pois existem filmes de ficção sem inventividade ficcional. Invenção significa quebrar o regime ordinário do desfile de imagens e da associação de palavras às coisas, romper com os esquemas mecanizados de perceber e sentir, escapar enfim do consenso cultural.44

2.2.1 – Israel

Na cinematografia israelense existe uma tendência a se mostrar o conflito

sempre de maneira mais indireta. Para exemplificar o caso de Israel, focaremos em três

filmes de Amos Gitai, que é, sem dúvida, o diretor israelense mais famoso e importante

da atualidade (e mesmo da história). Através deste diretor, podemos ver como uma parte

da cultura hebraica mais esclarecida poderia combater, usando também a autocrítica, a

questão da guerra aos palestinos. Berlin-Jerusalem, de 1987, Kippur, de 2000, e Kedma,

de 2002, foram as obras do diretor eleitas para serem trabalhadas, por acreditarmos que

são aquelas que mais podem nos ajudar nesta tarefa de compreender o cinema da região

e como se vê e vive esse conflito.

Partindo de diversos momentos da história de Israel, esses filmes em questão

conseguem trazer à tona os atuais problemas de convivência entre palestinos e

israelenses, nos indicando, assim, uma espécie de guerra cíclica e infinita.

Berlin-Jerusalem, segundo longa de ficção de Amos Gitai, narra a história da

amizade entre duas senhoras de origem hebraica, uma poeta de Berlim, e uma

revolucionária que largou a Alemanha para emigrar para a Palestina. Nos anos 30, as

44 FRANÇA, Andréa. “Cinema de terras e fronteiras”. In.; MASCARELLO, Fernando (org.). História do cinema mundial. Campinas: Papirus, 2006, pp. 398-399.

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duas se reencontram em Jerusalém, quando a poeta, presa a uma difícil existência na

Alemanha nazista, deixará o país. Neste filme já estão presentes muitas das

prerrogativas de estilo e temáticas do diretor, como, por exemplo, a centralidade do

filme em torno de uma figura feminina e o uso massivo de planos-sequência. Os ideais

que levarão os judeus a migrar para a “terra prometida”, e sua tentativa inicial de uma

convivência pacífica com o povo palestino serão abandonados subitamente, inclusive

pelos pioneiros do futuro estado de Israel. Gitai mostra com clareza este comportamento

ambivalente, e a derrota daqueles que acreditavam em um futuro de paz. Os fantasmas

da Segunda Guerra Mundial, evocados pela figura da poeta, se entrelaçam neste filme

com a atualidade da guerra entre Israel e Palestina em um belíssimo plano sequência

final. A poeta, depois de ter encontrado a amiga, percorre as estradas de uma Jerusalém

destruída que lembra Berlim depois dos bombardeios dos aliados num salto temporal

confirmado por uma voz em uma rádio que apresenta os fatos atuais da guerra,

marcando um salto temporal no filme que serve como base para fazer uma correlação do

passado com o problema nos dias de hoje.

Já o filme Kedma nos leva um pouco mais à frente no tempo, para o ano de

1948. Um navio (Kedma, que significa em direção ao Oriente) cheio de judeus chega a

costa Palestina. Carregados de expectativas e muitos fugindo de uma Europa que

consideravam ter-lhes traído, deverão subitamente preparar-se para uma nova guerra. O

filme narra uma batalha pelo controle da estrada para Jerusalém, um evento pouco

celebrado na história de Israel, mas de grande importância para o futuro daquela guerra.

Gitai mostra magistralmente o sentimento de confusão e desorientação, mas também o

medo e a raiva que acompanhava todas as partes na guerra, ingleses, palestinos, judeus,

com o processo de criação do Estado de Israel.

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Também neste filme, Gitai tenta entender quando surgiu o projeto de se fazer

dos israelenses e do Estado de Israel um Estado de guerreiros e, logo, de guerra. O atual

conflito no Oriente Médio tem linhas diretas com os trágicos resultados da guerra de

1948 como vimos no capítulo anterior, levando milhões de palestinos a se tornarem

refugiados, muitos em sua própria terra. E esta ideia de homem guerreiro que estava por

trás da fundação deste Estado de Israel tem um peso notável nas violências perpetuadas

às populações locais. Aqui é forte também a crítica de Gitai à Israel.

Rodado um pouco antes de Kedma, Kippur é o filme em que Gitai mostra de

forma mais direta, embora de certa forma ainda um pouco velada, a brutalidade do

conflito. No dia do “Yom Kippur”, 6 de Outubro de 1973, os exércitos da Síria e do

Egito atacaram Israel, e Amos Gitai era um dos soldados que participou desta guerra,

emprestando ao filme de ficção também sua experiência verdadeira do que foi a guerra.

Podemos encarar o maior mérito do diretor neste filme como o de fazer compreender ao

espectador que a incerteza é, para ele, a verdade mais profunda da guerra. O diretor cria

dentro da própria guerra uma espécie de nomadismo: os personagens se movem em

meio ao combates sem conseguir encontrar uma unidade, que parece despedaçar-se a

cada momento, mesmo nas missões de resgate que se realizam diariamente. A grande

diferença e trunfo de Gitai em relação à todos os outros filmes de guerra da história do

cinema está no enfrentamento bélico ser invisível no filme. Com exceção de uma cena

onde um míssil explode um helicóptero, o filme não mostra, em momento nenhum,

encontros armados, inimigos nos frontes de guerra ou trocas de tiros.

O filme Kippur é voltado contra todas as guerras e não tem como intenção

encontrar uma solução para o atual estado das coisas. Mais simplesmente do que

culpando o passado, ou constatando a dura realidade do presente, a tentativa que

representa é de buscar um ponto de reflexão e crítica em relação aos erros cometidos

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por ambas as partes. Este cinema, então, tem o objetivo de informar, e pode e deve ser

instrumento para análise e aprofundamento sobre a história.

Sobre a missão do cinema o próprio Gitai definiu:

Hoje, as mídias audiovisuais têm um papel problemático no Meio Oriente. Elas compõem uma espécie de novela. Uma manhã são os palestinos que são terríveis, após um atentado-suicida; depois são os israelenses. Um dia os israelenses são bons, no dia seguinte é o contrário. As mortes se tornam uma espécie de moeda de câmbio. Um morto palestino é bom para a causa palestina. Uma morte israelense é bom para a causa israelense. Essa mecânica binária, difundida pela televisão, encoraja os diferentes poderes a procurarem os efeitos fortes. O cinema é obrigado a ser subversivo diante de um loucura tal. Ele deve recusar entrar nesse jogo, nessa clivagem. Há uma outra forma de separação e de posição no Oriente Médio que não passa necessariamente pelas raças, pelas nações ou pelas religiões. Existem pessoas que têm vontade de coexistir, que são palestinas e israelenses. As duas coalizões mais estáveis do Oriente Médio são os integristas árabes e a extrema árabe israelense. Essas duas coalizões conseguiram desestabilizar todos os governos moderados de Israel, conseguiram matar Rabin. Essa divisão binária de perspectivas não se deve aceitar. Deve-se manter sensível ao sofrimento, sem que o sofrimento tenha uma cor, um odor, uma raça, uma nação. Não há nenhuma razão para se fazer mal, para se destruir as casas das pessoas. Chegamos a um estado muito trágico. Eles vão voltar porque não há mais nada como opção. Vimos a Europa, fazem uns cinquenta anos, completamente queimada, com uma dezena de milhões de mortos. Finalmente, eles chegaram a um pequeno pensamento, não muito mais complicado que isso, de que há uma outra forma de dialogar. Eles são obrigados a chegar nesse ponto, mas quantos mortos antes disso? Isto é muito grave.45

Capítulo 3

O tempo presente e as promessas de um mundo novo: Paz?

45 GITAI, Amos. Apud: TESSON, Charles. “Amos Gitai, Mon cinéma, forcément subversif.” in: Cahiers du cinema, n. 568, maio de 2002. [Tradução nossa]

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Neste terceiro e último capítulo, focamos em um filme específico para discutir a

questão dos conflitos. O filme escolhido para discutir o tema muda bastante em relação

aos filmes tratados no capítulo anterior, saindo-se do mundo dos grandes clássicos dos

grandes diretores das duas nações aqui tratadas, para um documentário dirigido por três

diferentes diretores(Justine Shapiro, sul-africana; B.Z.Goldberg, norte-americano;

Carlos Bolado, mexicano), em uma produção norte-americana. Ainda que mesmo em

uma abordagem histórica de um filme seja impossível fugir de tais tópicos, o forte de

nossa análise não é comentar a escolha de câmera, planos seqüência, forma e estilo dos

diretores ou o poder de seus nomes, nem mesmo trata-se de discutir quem tem a melhor

forma de contar (ou criar) (um)a realidade e demonstrar seus sofrimentos, críticas e

análises. O filme aqui serve de contraponto ao que já foi falado, um olhar ambíguo

(dado que, israelense, procura dar voz à causa palestina) que merece ser estudado mais

por seu discurso do que pela sua construção estética (por mais que esta, obviamente,

venha a influir no próprio discurso).

A grande questão de Promessas de um mundo novo é como ele tem uma idéia

simples, uma execução simples, e leva, porém, ao espectador todas as questões vividas

pelas crianças, posteriormente adultos, da região. O filme busca explorar os sonhos

destes indivíduos, construídos ou destruídos com o passar do tempo, assim como toda a

rotina, o que julgam “normalidade”, infantilidade e inocência destes, posteriormente

destruídas por suas respectivas sociedades. O filme é impecável ao mostrar que crianças

são crianças e seres humanos são, também, tão simplesmente seres humanos. Logo,

onde está o conflito? Onde está o causador supremo deste mal que parece tão impossível

de se resolver e que a cada dia mata mais inocentes? Porque esta guerra é tão mais

interminável que todas as outras guerras que vieram e passaram desde o século passado?

Page 50: Versão sem agradecimentos

São esses questionamentos, voltados não só para a história do conflito, mas

também para o destino das pessoas que vivem naquela região e seus sofrimentos atuais

que se pretende debater agora, utilizando como principal fonte este documentário, sobre

as então crianças, que hoje, passados dez anos da realização do filme, nada mais são que

as pessoas que vivem e dão seguimento a tanta irracionalidade e a tantas guerras, como

todas as vistas no primeiro capítulo. A pergunta a ser respondida é: dado o estado dos

eventos, a paz se apresenta como possível? Sabe-se que nesse tempo, muitas tentativas

de acordo de paz foram tentadas, e muitas propostas de solução rejeitadas, logo vamos

procurar entender melhor as complicações existentes.

Deixando ainda o filme em si mais para frente, existem muitos fatores que

dificultam imensamente um verdadeiro acordo de paz na região, com a formação de

dois Estados. São quatro as principais questões para esse entrave. Os primeiros são a

questão da Cisjordânia, a situação dos refugiados palestinos e cidade de Jerusalém, estes

três defendidos como principais pelo historiador Flávio Limoncic46. Além desses, talvez

ainda mais importante, há a questão da intolerância e arrogância religiosa, que, assim

como o conflito, parece se arrastar eternamente junto ao egocentrismo humano através

da história.

Sobre a questão da Cisjordânia, Limoncic escreve:

À conquista da Cisjordânia seguiu-se a consolidação da idéia de que, fosse qual fosse o futuro político da região, ela jamais poderia abrigar qualquer exército árabe, passando a servir como um escudo territorial de Israel. A base dessa concepção era o Plano Allan, segundo o qual Israel deveria ocupar uma faixa de terra ao longo do Rio Jordão e outras áreas estratégicas (...) isso permitiria que as FDI (Forças de Defesa de Israel) tivessem tempo hábil de mobilizar e posicionar seus reservistas em caso de um ataque... Até 1977, seguindo a inspiração do Plano Allon, cerca de 5 mil israelenses passaram a viver na Cisjordânia ocupada.47

46 LIMONCIC, Flávio. “Israel, Palestina e a língua do P: (Paz), paus e pedras no meio do caminho”. In.: In.: Insight Inteligência, ano VIII, no. 31, 2005.47 LIMONCIC, Flávio. “Israel, Palestina e a língua do P: (Paz), paus e pedras no meio do caminho”.

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A questão aqui são os planos de segurança de Israel. O Estado acredita que ter

controle sobre esse território é essencial para as possibilidades de defesa em caso de

ataques. O território, ocupado desde a guerra dos Seis dias pelos israelenses, é visto

como um ponto extremamente estratégico. E a relutância de Israel em abrir mão do

território ocupado, de maioria palestina, é um sério entrave para um acordo entre

palestinos e israelenses que se recusam a abrir mão do lugar.

Outro grande obstáculo para uma solução pacífica é a cidade de Jerusalém, sobre

a qual Limoncic explica:

Muito embora as israelenses insistam em dizer que Jerusalém é a cidade mais sagrada do judaísmo e que ocupar apenas o terceiro lugar no ranking da sacralidade territorial Muçulmana – desconsiderando o fato de que o nacionalismo palestino é também cristão – , do ponto de vista político a cidade possui significados próximos para os nacionalismos israelense e palestino. Na disputa por Jerusalém, não há qualquer consideração de segurança ou interesse econômico envolvido, mas o embate de duas memórias nacionais, o que a torna, em certa medida, muito mais complexa.48

A complicação aqui é grande, porque, como vemos no texto acima, o problema

não está apenas na questão da religiosidade que escolhe Jerusalém como sagrada nas

três grandes religiões monoteístas. A princípio os judeus não davam tanta importância

para a cidade até a independência de Israel em 1948. Até então a cidade símbolo para

Israel era Tel Aviv e as propostas de uma Jerusalém sobre controle das Nações Unidas

eram aceitas pelos israelenses. Porém, ao final da Guerra de independência de Israel, a

derrotada Jordânia passou a ver na conquista total de Israel uma questão primordial para

o orgulho árabe. Após o armistício de 1949, Jerusalém Ocidental ficara sob controle de

Israel, enquanto a parte Oriental era da Jordânia, que expulsara dali todos os moradores

judeus e fechara aos mesmos o acesso ao Muro das Lamentações. A partir disso, os

israelenses tomaram como questão de honra recuperar o território por completo o que

48 LIMONCIC, Flávio. “Israel, Palestina e a língua do P: (Paz), paus e pedras no meio do caminho”.

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conseguiram na Guerra dos Seis Dias, oficializando a anexação alguns anos depois em

1980.

Para os palestinos também a importância da cidade vai além das questões

religiosas, que por si já são bastante fortes. O problema é que, além disso, a cidade é

muito representativa do sentimento de perda e dominação sofrida pelos mesmos.

Jerusalém, tida como a principal cidade pelos palestinos, foi sendo perdida aos poucos.

Desde o mandato britânico em 1920, quando foi sede do Império, até sua anexação total

por parte de Israel, foram anos de sofrimentos e derrotas para os árabes da região.

Recuperar a cidade como capital, portanto, seria importantíssimo para a própria

confiança de seu povo. E o que complica ainda mais a questão é que Israel não só exige

a cidade como se recusa até mesmo a dividi-la em Ocidental (Israel) e Oriental

(Palestina), como já aceitaram os palestinos.

O terceiro problema é talvez o mais evidente e conhecido (além de ter sido,

provavelmente, neste trabalho o mais vezes mencionado) que é a questão dos refugiados

palestinos que fugiram de suas casas e se encontram, ainda hoje, em campos de

refugiados na faixa de Gaza e Cisjordânia ou em países vizinhos. Estes refugiados e

descendentes, hoje, formam um grupo de mais de 4 milhões de Palestinos vivendo em

condições precárias, querendo e esperando uma solução. À época da criação do

problema na Guerra de 1948 estes palestinos que fugiram de suas terras foram 700 mil.

Enquanto os judeus dizem que os palestinos saíram estrategicamente aguardando a

destruição dos judeus seguindo orientações dos países que contra Israel guerreavam,

segundo os palestinos o que ocorreu foi uma expulsão por parte dos judeus que

massacravam as aldeias de civis palestinas, buscando, três anos após o fim do

holocausto, eles mesmos, uma limpeza étnica, agora em seu novo território. Desta

forma, enquanto os palestinos exigem uma reparação, inclusive paga por Israel, os

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israelenses se esquivam da culpa e tiram de seus ombros o problema dos refugiados.

Além disso, existe a preocupação de Israel, de, em um futuro próximo, ter em seus

territórios menos judeus que palestinos. Como aprofunda mais uma vez Limoncic:

Para os palestinos, qualquer solução para o conflito que não contemple os refugiados, e que não implique ônus para Israel, é ideológica e politicamente insustentável. Assim, exigem o direito de retorno dos refugiados e seus descendentes às suas terras dentro das fronteiras israelenses, compensações financeiras a todos ou uma combinação de ambos. Para Israel, aceitar a volta dos refugiados implica, como no momento da sua fundação, uma ameaça demográfica à sua natureza judaica.49

Por fim, como último dos problemas, tratemos a espinhosa questão da religião.

O improvável depoimento da atriz Shirley MacLaine serve para iluminar um pouco o

absurdo da questão:

Está a tornar-se claro que a religião está no coração de muitas guerras civis e batalhas internacionais. As pessoas parecem querer matar, mutilar, torturar e morrer pela crença religiosa ou espiritual que as faz acreditarem que a sua fonte de divindade é a única fonte (…) Considere: em nome de Deus, um fatwa contra Salman Rushdie. Em nome de Deus, assassinato nos Balcãs. Em nome de Deus, o atentado à bomba do World Trade Center. Em nome de Deus, o sítio em Waco, Texas. Em nome de Deus, Hindus e Muçulmanos se matam na Índia. Em nome de Deus, guerras sangrentas entre Protestantes e Católicos na Irlanda. Em nome de Deus, Shi’itas e Sunnis estão se enforcando no Iraque e no Irã, tal como os Árabes e os Judeus no Oriente Médio. Em nome de Deus, um médico é assassinado porque acreditou no direito de escolha das mulheres. Em nome de Deus, o que está acontecendo?50

Discutir a existência de Deus é uma tarefa que certamente não cabe ao

historiador. Estudá-lo como uma coisa real é completamente impossível, pois a única

coisa acadêmica que se pode afirmar em relação ao mesmo é que “Ele” não existe,

exceto como um mito, em livros de fábulas, na Bíblia e no imaginário humano. Ao

mesmo tempo, porém, uma figura superior para explicar o que no momento é

49 LIMONCIC, Flávio. “Israel, Palestina e a língua do P: (Paz), paus e pedras no meio do caminho”. 50 MACLAINE, Shirley. Apud: HAUGHT, James. 2000 years of disbelief: famous people with the courage to doubt. Prometheus Books, 1996. [tradução nossa]

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inexplicável, acompanha historicamente a trajetória do ser humano, que buscou, desde

tempos imemoriais, em figuras superiores a explicação para todas as coisas.

Entrando em nosso filme, em uma de suas raras partes em que não se focam as

crianças, os diretores passam sua mensagem sobre os efeitos da religião sobre a região,

como observa Camila Nalino Fróis:

Em um clipe de imagens, são seqüenciadas cenas que revelam o forte apelo religioso (judaico, islâmico e católico) inerente à atmosfera do Oriente Médio. O clipe, utilizado entre falas que demonstram uma quantidade de ódio e intolerância mútua, pode sugerir ou reforçar a idéia do radicalismo religioso como causa do conflito e a guerra. Mas a sugestão se dá em um tom pouco depreciativo, em um plano silencioso sem off - comentário ou legenda: somente imagens e trilha. É preciso reconhecer aqui, entretanto, a força das imagens que muitas vezes se mostram muito mais provocativas do que qualquer texto.51

Enfim, como prolongar-se sobre algo tão espiritual não é o objetivo, basta aqui

registrar que os extremistas das religiões do conflito nunca pensaram em aceitar nenhum

tipo de paz ou acordo. Como eles têm consigo o que acreditam ser as palavras do seu

todo e poderoso Deus, recusam-se a dialogar e a questão se torna uma disputa de que

Deus é o mais forte. Sejam os fundamentalistas árabes, com seus ataques de homem-

bomba, explodindo ônibus e sinagogas, sejam os fundamentalistas judeus, que querem a

limpeza étnica de sua terra e se recusam a ceder em qualquer que seja o ponto contra um

povo que não é o escolhido de Deus para ocupar a terra prometida, uma coisa é certa:

por meio dos que atuam em nome destes livros e crenças, tudo o que os humanos vão

conseguir são mortes e mais mortes em nome de seus bondosos e compreensivos seres

superiores.

51 FRÓIS, Camila Nalino. “O espaço para a subjetividade no cinema documentário: uma análise do filme ‘Promessas de Um Novo Mundo’”. In.: ANAIS do XII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Região Sudeste. Disponível em: <http://www.aligattor.com.br/cdromparacongresso/resumos/R0561-1.pdf>. Acessado em: 15/05/2011.

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Tornemos, enfim, nossos olhos para Promessas de um mundo novo, ou

Promises, no original, o documentário que inspirou este trabalho. O filme é uma

tentativa de mostrar as pessoas que a sociedade humana (na forma de suas pátrias,

deuses, famílias, igrejas, templos, escolas) insiste em tentar nos ensinar que o outro é

nosso adversário, é o mal, e que devemos combatê-lo sempre. Aprende-se

constantemente a ver a crença do outro como a errada, os israelenses vêem os palestinos

como terroristas, assim como os palestinos veem os judeus como dominadores que

tomaram cruelmente suas terras e mataram covardemente seus semelhantes. Esta

impressão pode ser derrubada se deixarmos de aceitar tudo que nos é imposto e

passarmos a olhar o próximo como o que ele com certeza é um ser humano como todos

nós.

O grau dos pré-conceitos que assombram impiedosamente a questão pode ser

apreciado com o seguinte depoimento: “Simpatizei com os palestinos. Conheci e

reconheci o quão pequena era minha própria mente e presumi que se eu tinha um

estereótipo tão rígido em relação aos palestinos, então deveriam haver muitos outros

fazendo a mesma coisa”52

O trecho citado, retirado do site www.humanrightsproject.org , é parte de uma

entrevista realizada com dois dos diretores do filme, a sul-africana Justine Shapiro, e B.

Z. Goldberg, um norte-americano crescido em Jerusalém. A diretora israelense conta

que em determinada situação encontrou-se com um grupo de palestinos e os mesmos

não eram terroristas, ao que ela admitiu ter ficado surpresa com esta óbvia constatação.

Admitidamente pensou que se ela mesma tinha essa cabeça pequena, muitos outros

deveriam ter, e ela podia ajudar a desmistificar isso.

52 INTERVIEW with Promises filmmakers, Justine Shapiro and B.Z. Goldberg. Disponível em: <http://www.humanrightsproject.org/vid_detail.php?film_id=9&asset=interview>. Acessado em: 30/10/2011. [tradução nossa]

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O filme, conta a história de sete crianças entre 9 e 13 anos. São elas, de acordo

com a descrição das próprias notas de produção:

YARKO & DANIEL são gêmeos israelenses e judeus seculares preocupados com questões como o exército, a religião e voleibol. Eles passam tempo com seu avô, interrogando-o por maiores detalhes sobre suas experiências no campo de concentração alemão. Eles também tentam pressioná-lo a responder uma questão com a qual eles também lutam: ele acredita em Deus?

MAHMOUD, loiro, olhos azuis, e apoiador do Hamas. Em sua escola, o Corão é ensinado como um manifesto pela emancipação Palestina. Mahmoud nos leva ao Quarteirão Muçulmano na Cidade Velha, onde sua família mantém uma mercearia por 3 gerações. A alguns minutos da loja está a mesquita de Al Aqsa um dos santuários do Islã onde Mahmoud vem rezar.

SHLOMO, um judeu ultra-ortodoxo, reza no Muro das Lamentações. Shlomo estuda a Torah 12 horas por dia. Uma tarde, andando entre os quarteirões Judaico e Muçulmano na Cidade Velha, Shlomo tem uma discussão com um garoto Palestino. O que poderia tornar-se uma sucessão de socos e chutes, transforma-se em uma seqüência metafórica, ao passo que as crianças revelam sua hostilidade e curiosidade sobre o outro em uma competição de arrotos.

SANABEL provém de uma família de refugiados palestinos já em sua terceira geração. É uma família de "modernos" árabes seculares. Ela é uma dançarina e utiliza a tradicional dança palestina como forma de contar a história de seu povo. Seu pai, um jornalista, foi capturado em uma prisão Israelense por dois anos sem direito a julgamento. Nós acordamos com a família de Sanabel, com o sol ainda por nascer, para viajar até a prisão para a visita mensal a seu pai.

FARAJ é um refugiado Palestino que vive no campo de Deheishe. Aos 5 anos ele testemunhou o assassinato de um amigo por um soldado israelense. Após participar de um comício anti-Israel, Faraj e sua avó conseguem passar por um posto de controle fronteiriço e entrar em Israel para visitar a antiga vila de onde ela escapou durante a Guerra de 1948. Sentados em pedras que um dia já foram a casa de sua família, Faraj promete um dia retornar e reconstruir sua propriedade.

MOISHE, um judeu de extrema direita e habitante dos territórios "ocupados", formaliza a essência do conflito: "Deus deu a Abraão a terra, mas os árabes vieram e pegaram-na!". Embora nunca tenha encontrado um árabe, Moishe nos assegura de que quando tornar-se Primeiro Ministro, ele "limpará Jerusalém de todos eles!". Visitando o túmulo de um amigo assassinado por terroristas Palestinos, Moishe jura vingança.53

Estas descrições sintetizam bem essas crianças quanto ao papel que cada uma

representa e quanto às convicções políticas que mesmo tão jovens já adquiriram em suas

vidas. Todos ainda são, visivelmente, reflexos de suas famílias e suas respectivas

posições sócio-ideológicas, tendo como verdades as verdades de seus pais. No entanto,

o filme, que em diversos momentos busca essas discussões mais pesadas investindo no

53 NOTAS da produção: Promessas de um novo mundo. Disponível em: <www.webcine.com.br/notaspro/nppronov.htm>. Acessado em: 20/09/2011.

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debate de suas diferenças e crenças, tem como mérito também mostrar todas como

iguais, como crianças que têm, todas, as suas próprias brincadeiras inocentes. Em uma

de suas tantas cenas marcantes os dois gêmeos judeus, Yarko e Daniel, são levados

pelos diretores para um (até então jamais visitado) campo de refugiados para

encontrarem os árabes Faraj e Sanabel. Os meninos, que até o momento desconheciam

completamente os outros, se reconhecem nos que, até então, eram odiosos inimigos,

chegando a dividirem uma refeição, começarem um esboço de amizade e até a jogarem

futebol juntos. Os diretores percebem (e retratam) ali o que pode parecer simples (em

especial para uma criança, cujos pré-conceitos ainda não foram completamente

moldados e enraizados), mas nesse mundo que complicamos com deuses e anseios de

poder é muitas vezes inalcançável: o que vemos são simplesmente crianças, cada qual

com suas individualidades e sistema de crenças, como tem de ser, porém iguais, sim,

como humanos.

Ao dar voz constantemente às crianças que vivem a questão Palestina por todos

os lado, os diretores criam um microcosmo único e particular. Porém, o diretor norte-

americano em suas perguntas e intervenções não deixa de tentar por vezes dirigir a

conversa para os assuntos maiores e mais delicados, fazendo-se, tal qual preconiza Peter

Burke, uma ponte entre os níveis micro e macro, afinal, “como na história escrita, assim

também nos filmes, o foco particular traz perdas e ganhos para a compreensão dos

fatos”54.

É interessante notar como, afastando-se do estilo do cinema israelense

tradicional, os diretores decidem abordar o tema dos conflitos de maneira direta, muitas

vezes aproximando-se mais da própria cinematografia palestina, seja pelas ideias

apresentadas, seja pela opção narrativa (em especial pela forma documental, porém

interiorizada em um núcleo infantil, miniatura de todos os padrões morais da

54 BURKE, Peter. Testemunha ocular, p. 209.

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sociedade). Os diretores, como tal, não tentam esconder a interferência que produzem

na realidade, não permanecendo invisíveis, mas ainda tentando dar a sensação ilusória

de testemunha ao espectador. Ficamos espantados ao perceber a espontaneidade e a

maturidade das declarações fruto dos diálogos de B. Z. com as crianças, porém jamais

se pode esquecer que há ali não apenas um direcionamento das questões, como a edição,

obviamente, faz seu trabalho.

Ainda assim, os relatos que o filme traz não perdem seu impacto ou seu grau de

veracidade. Moishe, garoto judeu, por exemplo chama atenção pela precocidade

demonstrada no seu conhecimento e envolvimento com questões políticas do seu país.

Um ano depois de suas primeiras declarações, Moishe (assim como alguns outros

garotos, para ser justo), não economiza ressentimento em sua fala. A princípio parece

existir nos depoimentos uma lógica, ainda que não rígida: o roteirista dá oportunidade

para que as crianças exponham seus sofrimentos, seja ao comentarem sobre a realidade

da ameaça terrorista, seja ao servirem de testemunho das consequências da política de

expulsão dos árabes, que acabam por justificar falas dotadas de intolerância e

radicalismo, ressaltando como a questão não consegue dissociar-se dos pré-conceitos

sociais e, claro, das questões de alteridade, dado que o outro jamais consegue ser vido

ou com o devido distanciamento, ou com a devida dose de humanidade que o torna

igualmente humano55.

Em sua análise da obra, Camila Fróis ainda ressalta em todo o discurso de

Moishe uma presença temática curiosa: a morte. Em seu trabalho, ela destaca que

55 De certa forma, podemos aqui fazer uma analogia das posições de israelenses em relação a palestinos e (ainda que em grau menor, devido o peso do poder da dominação e opressão israelense) dos palestinos em relação aos israelenses com o conceito de “orientalismo” de Edward Said, pois ambos, ainda que não sejam apenas estruturas de mentiras e mitos, apresentam visões deturpadas, fantasiosas e quase sempre preconceituosas do outro, tratando-se de “um corpo elaborado de teoria e prática em que, por muitas gerações, tem-se feito um considerável investimento material”. SAID, Edward W. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 33.

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Na fala de Moishe como em muitas outras, a temática da morte está presente. O garoto conta de um amigo que morreu devido a um atentado terrorista. Em seguida, como era de se esperar, ele manifesta seus sentimentos de ódio: "Se eu pudesse escrever o futuro, todos os árabes sumiriam da Terra.". Mais adiante ainda usa de um tom irônico pra falar da necessidade de proteção com relação aos palestinos. "Vivemos cercados por eles e o exército nos protege. Temos a banca de tiro e se os soldados tiverem a mira ruim, azar, capaz de eles acertarem um árabe.” (rindo).56

As falas de Moishe são aquelas no filme que mais podem incomodar a um

espectador desconhecedor do tema. É difícil acreditar em tais palavras e convicção

política vindo de uma criança. E ver nela a certeza de que a culpa dos males está no

povo que não é o seu, que apenas se defende do resto do mundo que não quer o seu

bem. São falas frias, insensíveis, que representam a imagem negativa que Israel passou

a ter em grande parte do mundo, principalmente após a primeira Intifada palestina. Mas,

Moishe, está ai, mostrando que o extremismo está ali, implantado, e sendo passado

adiante em muitas famílias judaicas.

Outra entrevista que vale ser ressaltada para demonstrar o ódio existente já na

infância é a do menino palestino Faraj, que, aos 5 anos de idade, viu um amigo ser

morto por um soldado israelense. No depoimento o mesmo conta sobre a morte

testemunhada e inesquecível do amigo e o ódio que sentiu daquele soldado, a vontade

que, aos 5 anos, ele já desenvolvia de matar uma pessoa, para se vingar de uma gritante

injustiça. Neste depoimento, defende, emocionadamente, a Intifada e explica a todos os

expectadores que, se tivessem, covardemente, matado-lhes algum amigo, ele também

revidaria da forma que fosse possível.

Depois dessas entrevistas iniciais nas quais somos levados a conhecer cada um

dos personagens do filme, o diretor B.Z propõe o encontro entre elas, para que

pudessem se conhecer, se aproximar, e discutir suas idéias e convicções. E, assim,

56 FRÓIS, Camila Nalino. “O espaço para a subjetividade no cinema documentário: uma análise do filme ‘Promessas de Um Novo Mundo’”. In.: ANAIS do XII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Região Sudeste. Disponível em: <http://www.aligattor.com.br/cdromparacongresso/resumos/R0561-1.pdf>. Acessado em: 15/05/2011.

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algumas das crianças se conhecem. E as máscaras do terror, do medo e do ódio, ao

menos por alguns momentos, caem. E se faz a esperança.

O dia do encontro porém chega ao fim e é hora de partir. Antes disso o diretor

Goldberg propõe uma conversa final, onde se discutiria o que se aprendeu. Neste

momento as crianças pouco parecem crianças. E a conversa parece muito mais sã, do

que quando adultos são postos para debater. Muitos se emocionam em mais um ponto

extremamente marcante do filme. O palestino Faraj chora ao constatar que a amizade

que fizera com os irmão judeus terminaria assim que B.Z fosse embora. Que tudo aquilo

que então se gostaria que fosse eterno, não duraria nada. Não demora e a câmera

encontra outros emocionados, e lágrimas caem dos olhos de boa parte dos envolvidos.

Inclusive Goldberg que se mostra mais do que nunca envolvido com cada uma das

crianças e com a triste situação de separação, de divisão. A nova e mais bonita realidade

de aproximação é de certa forma uma criação do documentário e existe somente por

isso. Poderá ela persistir ao fim das gravações e as crianças levarem o que aprenderam

por suas vidas? E poderão elas, porque não serem parte de uma mudança no país, e

lutarem por tempos melhores?

Porém o tempo passa no filme. Dois anos depois as crianças são mais uma vez

procuradas para acompanharmos como continuaram suas vidas. O que se vê em nada

pode animar o espectador. Todos parecem jogar toda a responsabilidade pelo meio em

que vivem para longe de suas mãos. Possíveis soluções para os conflitos parecem estar

bem longe de suas mãos. E cada um segue sua vida, com seus problemas, e com a volta

da ignorância sobre os demais. Enquanto algumas das crianças ainda acreditam no

aumento do contato e proximidade com o próximo para, quebrando barreiras, aumentar

o respeito e até mesmo o carinho mútuo, para outras, a esperança sequer passa pela

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cabeça. O que o fim do filme parece mostrar também é que quanto mais adultos

ficamos, menos a esperança de que como adultos consigamos resolver algo.

Comentário Final

Neste trabalho buscamos compreender melhor o conflito entre Israel e Palestina

utilizando como principal fonte de estudo o cinema. No primeiro capítulo buscou-se

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apresentar a trajetória do conflito, através dos principais enfrentamentos ocorridos desde

a história de Israel que, consequentemente, moldaram a situação a ser vivenciada pelas

crianças do filme Promessas de um mundo novo do terceiro capítulo enquanto o

segundo capítulo ao tratar do cinema da região, de sua criação e desenvolvimento,

apresenta não apenas diferentes formas segundo as quais o conflito foi tratado pelas

duas cinematografias, como mostra o referencial dos próprios diretores (dado que um

deles foi criado na região), consistindo, então, o terceiro capítulo de uma interseção de

ambos os backgrounds em um estudo de caso atual.

Pudemos ver a forte reincidência de guerras e como a criação do estado de Israel

instaurou um caos no Oriente Médio, ao fundar-se um Estado judeu em meio a tantos

países árabes. Mostrou-se o processo de formação deste Estado começando com o

congresso sionista, que teve como uma de suas resoluções a escolha da Palestina para

abrigar o Estado judeu sonhado pelo sionismo para abrigar quaisquer judeus do mundo

e definiu como se daria este processo de colonização. Depois vimos a reação imediata

dos árabes com a guerra que ficou conhecida como Guerra de Independência de Israel,

ao atacarem o país no ato de sua fundação, respeitando uma partilha da ONU de divisão

da Palestina em um Estado judeu e outro palestino. Neste conflito os israelenses saíram

vitoriosos começando a se impor como uma potência na região. Além disso, anexaram

territórios que, pela divisão feita anteriormente, pertenceriam à Palestina, dando início a

uma ocupação que perdura até os dias de hoje. Além disso, vimos que aqui começou

também o problema dos refugiados já que muitos palestinos que fugiram da guerra na

intenção de retornarem a suas casas ao fim da mesma, foram impedidos pelo Estado de

Israel. Sua grande vitória que ratificou o poderio de Israel aconteceu na Guerra dos Seis

dias, em 1967, quando em menos de uma semana Israel venceu facilmente uma guerra

contra 5 países árabes que o atacaram, anexando ainda mais territórios que Israel se

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recusaria a devolver e desocupar depois mesmo com a pressão internacional para que o

fizesse.

Esta situação de domínio e colonização sofrida pelos palestinos, que, como

vimos, passaram a viver sob péssimas condições impostas pelos israelenses, levariam as

Intifadas, onde vimos a união do povo palestino buscando melhores condições e

enfrentando exércitos literalmente a paus e pedras. Estudamos nesse ponto massacres

muitas vezes cruéis realizados pelo Estado judeu, e as também cruéis respostas com

ataques terroristas a civis judeus, realizado por extremistas palestinos.

Conhecendo este cenário estudamos a história do cinema realizado na região e

suas visões do conflito buscando assim compreender através do olhar dos próprios

viventes do problema, o que era viver na região e quais os grandes desafios já

enfrentados e também os desafios ainda por vir.

Esperamos ter assim exposto melhor o problema, e que consigamos gerar

debates a cerca não só de Israel e Palestina, mas da irracionalidade dos seres humanos

quando se trata de temas como terras, religiões e poder. A idéia é perceber e conhecer o

outro, percebendo quantas são suas semelhanças com nós mesmos, e o quanto sofrer-se-

ia menos se a imagem de um inimigo fosse trocada pela de um igual, ou pelo menos, ele

fosse visto e compreendido como apenas diferente, não uma ameaça constante.

Entretanto, a impressão que fica é que as esperanças são poucas e que a desejada

paz será sempre colocada como menos importante que os interesses específicos de cada

grupo ou país.

Referências

Fontes

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