Vida de São Bento, por Gregório

download Vida de São Bento, por Gregório

of 69

Transcript of Vida de São Bento, por Gregório

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    1/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BENTO Nursia 480 - Monte Cassino 543 : Index.

    S. Gregrio Magno

    SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BENTO

    Nursia 480 - Monte Cassino 543

    ndice Geral

    PREFCIO DE S. GREGRIO MAGNO AOS QUATROLIVROS DOS DILOGOS

    PRLOGO DE S. GREGRIO MAGNO AO SEGUNDOLIVRO DOS DILOGOS

    CAPTULO I. REPARAO DO CRIVO QUEBRADO.

    CAPTULO II. VITRIA SOBRE A TENTAO DACARNE.

    CAPTULO III. O COPO DE VIDRO QUEBRADO COM O

    SINAL DA CRUZ.

    CAPTULO IV. O MONGE DIVAGANTE RECONDUZIDO SALVAO.

    CAPTULO V. GUA QUE BROTOU DE UMA PEDRA NOALTO DO MONTE.

    CAPTULO VI. O FERRO QUE VOLTOU AO PRPRIOCABO.

    CAPTULO VII. MAURO CAMINHA SOBRE AS GUAS.

    CAPTULO VIII. O PO ENVENENADO QUE O CORVOLEVOU PARA LONGE.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/0-GregorioMagnoVidaSaoBento.htm (1 of 4)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    2/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BENTO Nursia 480 - Monte Cassino 543 : Index.

    CAPTULO IX. A ENORME PEDRA LEVANTADA PORORAO.

    CAPTULO X. O INCNDIO IMAGINRIO DA COZINHA.

    CAPTULO XI. O MONGE ESMAGADO

    RESTABELECIDO PELA ORAO DE BENTO.

    CAPTULO XII. OS MONGES QUE COMERAM FORA DOMOSTEIRO.

    CAPTULO XIII. O IRMO DO MONGE VALENTINIANO,QUE COMERA EM VIAGEM.

    CAPTULO XIV. BENTO DESCOBRE O DISFARCE DOREI TTILA.

    CAPTULO XV. DUAS PROFECIAS.

    CAPTULO XVI. O CLRIGO LIBERTADO DO DEMNIO.

    CAPTULO XVII. BENTO PREDIZ A DESTRUIO DO

    PRPRIO MOSTEIRO.

    CAPTULO XVIII. O BARRIL OCULTO.

    CAPTULO XIX. A ACEITAO DOS LENOS DESCOBERTA.

    CAPTULO XX. O PENSAMENTO ORGULHOSO DE UMMONGE.

    CAPTULO XXI. A FARINHA QUE APARECEU EMPOCA DE FOME.

    CAPTULO XXII. O PIANO DO MOSTEIRO DETERRACINA TRAADO POR BENTO EM UMA VISO.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/0-GregorioMagnoVidaSaoBento.htm (2 of 4)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    3/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BENTO Nursia 480 - Monte Cassino 543 : Index.

    CAPTULO XXIII. AS MONJAS MORTAS RESTITUDAS COMUNHO DA IGREJA.

    CAPTULO XXIV. O MONGE SEPULTADO QUE A TERRAREJEITOU.

    CAPTULO XXV. O MONGE QUE ENCONTROU UMDRAGO NO CAMINHO.

    CAPTULO XXVI. O MOO CURADO DA LEPRA.

    CAPTULO XXVII. O DINHEIRO ENTREGUE PORMILAGRE AO DEVEDOR.

    CAPTULO XXVIII. A GARRAFA QUE NO SEQUEBROU.

    CAPTULO XXIX. O TONEL QUE APARECEU CHEIO DEAZEITE.

    CAPTULO XXX. O MONGE LIBERTADO DO DEMNIO.

    CAPTULO XXXI. O CAMPONS SOLTO PELO SIMPLESOLHAR DE BENTO.

    CAPTULO XXXII. O MORTO RESSUSCITADO.

    CAPTULO XXXIII. O MILAGRE DE ESCOLSTICA, IRMDE BENTO.

    CAPTULO XXXIV. BENTO V A ALMA DA IRM SAIRDO CORPO.

    CAPTULO XXXV. O MUNDO DIANTE DOS OLHOS DEBENTO E A ALMA DE GERMANO.

    CAPTULO XXXVI. BENTO ESCREVEU A REGRA DOSMONGES.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/0-GregorioMagnoVidaSaoBento.htm (3 of 4)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    4/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BENTO Nursia 480 - Monte Cassino 543 : Index.

    CAPTULO XXXVII. BENTO ANUNCIA AOS IRMOS ASUA MORTE.

    CAPTULO XXXVIII. A MULHER LOUCA CURADA NAGRUTA DO SANTO.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/0-GregorioMagnoVidaSaoBento.htm (4 of 4)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    5/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.1.

    S. Gregrio Magno

    SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SOBENTO

    Nursia (480) - Monte Cassino (543)

    PREFCIO DE S. GREGRIO MAGNO AOS QUATRO LIVROS DOSDILOGOS

    Abatido, um dia, por causa da excessiva afluncia de algunsseculares - aos quais, em suas dificuldades, somos muitas vezes

    obrigados a pagar at o que sem dvida no devemos -, procurei umlugar retirado, amigo de minhas mgoas, onde pudesse ver comclareza tudo que me desagradava em minhas ocupaes e terlivremente sob os olhos tudo quanto me costumava afligir. Enquantoali me achava, amargurado e em silncio por muito tempo, estevecomigo meu amado filho, o dicono Pedro, que desde a mais tenraidade me familiarmente ligado por grande amizade, e tambmcompanheiro no estudo da Palavra Sagrada. Vendo-me o coraodevorado de mgoa, disse-me:

    Ter acontecido algo de novo, pois ests mais triste que decostume?

    Pedro, respondi-lhe, a tristeza que sofro cada dia, para mimsempre velha, porque contnua, e, simultaneamente, sempre nova,porque sempre aumenta. Meu pobre esprito, atacado do mal dassuas ocupaes, recorda o que foi outrora no mosteiro, como ascoisas instveis lhe estavam por baixo, e quanto ele transcendia

    tudo que passa, acostumado que era a no pensar seno nas coisascelestes; recorda que, embora retido no corpo, j ultrapassava pelacontemplao os limites da carne; e a morte, que para quase todos punio, ele j a desejava como a entrada na vida e o prmio dosseus trabalhos. Agora, porm, sofre com as dificuldades dosseculares, por ocasio da cura pastoral. Depois de tanta formosurado tempo da sua paz, est hoje enfeiado do p da atividade terrena.E como, por condescendncia com muitos, ele se dissipa pelascoisas de fora, mesmo quando retoma o curso da vida interior, ,

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-1.htm (1 of 3)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    6/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.1.

    sem dvida, debilitado que a ela volta. Estou, pois, avaliando o quesofro, avaliando o que perdi; e, enquanto considero o que perdi,pesa-me ainda mais o que suporto.

    Eis, com efeito, sou agora batido pelas vagas de alto mar, e osventos de forte tempestade despedaam a nau de minha mente;quando me lembro da vida anterior, suspiro como se estivesse

    vendo atrs de mim o litoral. E, o que ainda mais triste, enquantosou levado no tumulto de imensas ondas, mal posso ver o porto quedeixei; pois esta a lei das quedas do esprito: primeiro, ele perde obem que possui, mas ao menos se lembra de o ter perdido; depois,quando avana mais longe, acaba esquecendo o prprio bem queperdeu, e, finalmente, no v mais, nem de memria, o que antespossua por experincia. Da se segue o que antes eu disse: senavegarmos mais adiante, j nem o porto de tranqilidade quedeixamos, podemos ver.

    s vezes, tambm, para aumento de minha dor, volta-me lembrana a vida de alguns homens que de toda a mente deixarameste sculo. Vendo as alturas a que chegaram, fico sabendo quantome encontro por baixo. A maioria deles agradou ao Criador numavida retirada; para que o seu esprito novo no envelhecesse porocupaes humanas, Deus onipotente no quis que se ocupassemcom trabalho deste mundo.

    Mas poderei relatar melhor o dilogo (travado entre mim e Pedro), sedistinguir perguntas e respostas pela indicao dos nomes dosinterlocutores.

    Pedro: No sabia que na Itlia alguns homens brilharamnotavelmente pelas virtudes de sua vida. Ignoro, pois, quem soestes cuja comparao te inflama. No duvido, verdade de quehouve neste pas homens bons, mas penso que ou no operaramabsolutamente sinais e milagres, ou, se os operaram, foram at hoje

    de tal modo pas- sados em silncio que no sabemos que ospraticaram.

    Gregrio: Pedro, se eu referir o que desses homens perfeitos eaprovados eu s, pobre homenzinho, vim a saber do testemunho degente boa e fidedigna, ou aprendi por mim mesmo, penso que o diaacabar antes da narrativa.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-1.htm (2 of 3)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    7/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.1.

    Pedro: Gostaria de que em resposta a perguntas minhas contassesalguma coisa desses homens. No deve parecer condenvelinterromper com isto a exposio da Escritura, porque no menosedificao provm da lembrana dos milagres. Na exposio daEscritura conhece-se o modo de encontrar e conservar a virtude; nanarrao dos milagres, conhecemos como se manifesta a virtudeencontrada e conservada. E h muita gente que mais pelo exemplo

    do que pela palavra se inflama de amor pela ptria celeste. Muitasvezes mesmo os exemplos dos Pais trazem alma do ouvinte umadupla ajuda, pois, se, de um lado, ele se afervora no amor da vidafutura pela comparao com os que o precederam, de outro lado,tambm se humilha, se julga ser alguma coisa, ao conhecer queoutros foram melhores.

    Gregrio: O que fiquei sabendo pela narrao ouvida de homensvenerveis, tambm eu o narrarei sem hesitao, seguindo um

    exemplo de santa autoridade; pois me mais claro do que a luz queMarcos e Lucas aprenderam, no por ver, mas por ouvir, oEvangelho que escreveram. Todavia, para tirar aos leitores qualquerocasio de dvida, referirei em cada caso que descrever, os autorespor quem fui informado. Quero, porm, chamar a tua ateno para oseguinte: em alguns casos guardarei apenas o sentido, enquanto,em outros, tanto o sentido como as palavras dos relatores. A razo que, se de todas as pessoas eu quisesse conservar textualmente aspalavras, a linguagem de escritor no poderia reproduzir dignamente

    as que foram proferidas em linguagem rstica.

    Foi de ancios muito venerveis que ouvi o que passo a contar.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-1.htm (3 of 3)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    8/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.2.

    PRLOGO DE S. GREGRIO MAGNO AO SEGUNDO LIVRODOS DILOGOS

    Houve um varo de vida venervel, Bento tanto pela graa quantopelo nome, que desde a infncia possua um corao maduro.Superior, pelo seu modo de proceder, ao verdor da idade a nenhumavolpia entregou seu corao, e assim, enquanto se achava nestaterra, da qual por algum tempo pudera gozar livremente, desprezou,como j murchas, as flores do mundo.

    Oriundo de nobre estirpe da provncia de Nrsia, fora encaminhadoa Roma para o estudo das belas letras. Vendo, porm, muitosnesses estudos rolarem pelo despenhadeiro do vcio, recolheu logoo p que quase pusera no limiar do mundo, no temor de que,tocando algo da sua cincia, viesse tambm ele a despenhar-se porinteiro no tremendo abismo.

    Desprezando, pois, tais estudos, deixou a casa e os bens paternos,e, no desejo de agradar somente a Deus, procurou o santo hbito domonaquismo. Retrocedeu, assim, doutamente ignorante esabiamente insensato.

    No conheo todos os feitos desse varo, mas o pouco que

    contarei, sei-o pela narrao de quatro discpulos seus: Constantino,homem respeitabilssimo, que lhe sucedeu na direo do mosteiro;Valentiniano, que regeu por muitos anos o mosteiro do Latro;Simplcio, que foi o seu segundo sucessor na direo dacomunidade; Honorato, que at hoje dirige o mosteiro onde Bentoantes viveu.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provv...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-2.htm2006-06-01 18:48:43

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    9/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.3.

    CAPTULO I. REPARAO DO CRIVO QUEBRADO.

    Deixando, pois, as humanidades, resolveu procurar um lugar ermo,seguido apenas pela aia, que o amava com ternura. Chegaram,assim, a certa localidade chamada Enfide, onde, entretidos pelacaridade de muitos homens de virtude, ficaram morando junto igreja de S. Pedro Apstolo. Um dia, a ama pediu s vizinhas que lheemprestassem um crivo para limpar o trigo; tendo-o, porm, deixadodescuidadamente sobre a mesa, o crivo caiu e se quebrou, ficandopartido em dois pedaos. Logo que voltou e o encontrou nesseestado, a mulher comeou a chorar muito, aflita por ver quebrada avasilha que tomara de emprstimo. Quando, porm, o piedoso ebondoso jovem Bento encontrou a ,ama chorando, compadecido dasua dor, pegou os dois cacos do vaso, e, levando-os consigo,entregou-se orao com lgrimas. Quando se ergueu da orao,viu junto de si o crivo de tal forma ntegro que nenhum vestgio sepodia descobrir da fratura. Ento, pronta e carinhosamente consoloua ama, devolvendo-lhe so o vaso que levara em cacos.

    Este fato passou ao conhecimento de todos os habitantes do lugar,e foi tido em tanta admirao que penduraram porta da igreja ocrivo restaurado, a fim de que os contemporneos e os psterostodos ficassem sabendo em que grau de perfeio o jovem Bentoprincipiara a graa da vida monstica. A vasilha ficou por muitosanos exposta aos olhares de todos, pendendo parta da igreja atestes tempos dos Lombardos.

    Bento, porm, mais apetecendo os maus tratos que os louvores domundo, e preferindo fatigar-se de trabalhos por Deus a ser aladopelos favores desta vida, fugiu ocultamente da ama e foi dar a umretiro deserto no lugar denominado , distante de Roma cerca dequarenta milhas. A brota uma gua fresca e transparente, que,correndo com abundncia, primeiro forma um grande lago, do qualderiva, afinal, um rio.

    Quando para ali se encaminhava em fuga, encontrou certo monge denome Romano, que lhe perguntou aonde ia. Ciente do seu desejo,no s guardou segredo mas ainda lhe prestou ajuda e deu o hbitodo monacato, servindo-o no que podia.

    Chegado a tal lugar, o homem de Deus recolheu-se apertadssima

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-3.htm (1 of 3)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    10/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.3.

    gruta, onde morou trs anos ignorado de todos, excetuado o mongeRomano. Este ltimo vivia num mosteiro prximo, sob a regra doabade, a cujo olhar piedosamente furtava algumas horas para levar aBento, em determinados dias, a parte de po que conseguirasubtrair ao prprio consumo. No havia caminho do mosteiro deRomano gruta, por causa de alto rochedo que em cima da grutafazia salincia ; mas Romano, do alto dessa pedra, costumava fazer

    descer o po pendurado a uma corda comprida a que prendera umacampainha para que o homem de Deus, ao ouvir-lhe o toque,soubesse que era a hora de baixar o alimento, e sasse a tom-lo.

    Um dia, porm, o antigo inimigo, invejando a caridade de um e arefeio do outro, quando viu descer o po, jogou uma pedra equebrou a campainha. Romano, no obstante, no desistiu deprestar por meios aptos o seu servio.

    No entanto, Deus todo-poderoso queria, de um lado, descansarRomano do trabalho, e, doutro lado, exibir aos homens, paraexemplo, a vida de Bento, a fim de que brilhasse como lmpadasobre o candelabro, iluminando todos os que esto na casa. Poristo, o Senhor dignou-se de aparecer a certo presbtero que moravalonge e acabava de preparar, no dia de Pscoa, a prpria refeio;disse-lhe: Preparas delcias para o teu prprio gozo, enquanto omeu servo em tal lugar atormentado pela fome'. O sacerdotelevantou-se imediatamente e no prprio dia da solenidade de

    Pscoa, com os alimentos que para si preparara, saiu na direoindicada, procurando o homem de Deus atravs dos montesescarpados, pelos vales e fossas do terreno, at que o achouescondido na gruta. Depois de rezarem, assentaram-se bendizendo aDeus todo-poderoso; aps suaves colquios sobre a vida eterna, orecm-vindo disse estas palavras: Eia, tomemos alimento, porquehoje Pscoa. Respondeu-lhe o homem de Deus: Sei que Pscoa,pois mereci a graa de te ver. Morando longe dos homens, Bentoignorava que a solenidade pascal era naquele dia; ms o venervel

    presbtero de novo lho asseverou: Em verdade hoje Pscoa, o diada Ressurreio do Senhor. De modo nenhum te fica bem jejuar,pois aqui fui mandado justamente para que juntos partilhemos asddivas de Deus todo-poderoso . Louvando, pois, o Senhor,tomaram alimento; e, finda a refeio e o colquio, voltou o padrepara a sua igreja.

    Por esse mesmo tempo tambm alguns pastores o encontraramescondido na caverna. Vendo-o entre arbustos, vestido de peles,

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-3.htm (2 of 3)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    11/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.3.

    julgaram a principio que fosse um animal selvagem; mas, quandoficaram conhecendo o servo de Deus, muitos se converteram da suamente animal para a graa de uma vida piedosa. Assim o nome deBento tornou-se conhecido pelos arredores; j desde ento Bentocomeou a ser visitado por muitos que, trazendo-lhe a refeio parao corpo, levavam, em troca, nos coraes, o alimento de vida queprocedia dos lbios do santo.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-3.htm (3 of 3)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    12/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.4.

    CAPTULO II. VITRIA SOBRE A TENTAO DA CARNE.

    Certa vez, quando estava s, apareceu-lhe o tentador: uma dessasavezinhas pretas, conhecidas vulgarmente pelo nome de melro,comeou a esvoaar em torno do seu rosto e a chegarimportunamente to perto que o santo homem, se o quisesse, apoderia apanhar com a mo. Em vez disto, fez o sinal da cruz, e opssaro afastou-se. Desaparecida, porm, a ave, seguiu-se-lhegrande tentao carnal, qual nunca o santo experimentara.Conhecera outrora certa mulher, que o esprito maligno lhe fazia poressa ocasio voltar aos olhos do esprito, inflamando de tal modo ocorao do servo de Deus a lembrana de sua formosura, que seupeito mal podia conter as chamas do amor, e que quase pensava emabandonar o deserto, vencido pela paixo. Mas eis que de repentefoi contemplado pela graa celeste, e voltou a si; vendo, ento, aolado de si crescerem densas moitas de urtigas e espinhos, atirou-se,despido, a essas pontas e a essas chamas, onde se revolveu portanto tempo, que, ao sair, estava ferido por todo o corpo. Assimexpulsou do corpo, pelas feridas da carne, a chaga do esprito:convertera em dor a volpia. Ardendo por fora em justa punio,apagou o que por dentro ilicitamente queimava. Venceu, pois, opecado, porque transformou a natureza do incndio. E a partir dessapoca, como ele mesmo dizia aos discpulos, foi nele a tal pontosubjugada a tentao da volpia que nunca mais a sentiu. Muitos,

    ento, comearam a deixar o mundo e a acorrer ao seu magistrio:livre que estava do mal da tentao, mereceu tornar-se mestre devirtudes. Por isso que Moiss determina que os Levitas sirvam apartir dos vinte e cinco anos, e que, depois dos cinqenta, se tornemguardas dos vasos sagrados (Num 8,24-26).

    Pedro: Entendo em parte o sentido do testemunho (bblico) queaduzes, mas peo que o expliques mais plenamente.

    Gregrio: evidente, Pedro, que na juventude ferve a tentao dacarne, mas, depois dos cinqenta anos, arrefece o calor do corpo;quanto aos vasos sagrados, so as mentes dos fiis. preciso, pois,que, enquanto esto sujeitos tentao, os eleitos sejam submissose sirvam, fatigando-se em obedincia e trabalhos. Quando, porm,na idade tranqila da mente, tenha passado o calor da tentao,tornam-se guardas dos vasos, isto , doutores das almas.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-4.htm (1 of 2)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    13/69

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    14/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.5.

    CAPTULO III. O COPO DE VIDRO QUEBRADO COM O SINALDA CRUZ.

    Gregrio: Vencida a tentao, o homem de Deus, como terra bemcultivada e expurgada de espinhos, produziu com maior abundnciao fruto da seara das virtudes. E, com a divulgao da fama de suaexmia vida monacal, ia-lhe o nome ficando clebre.

    Ora, havia a no grande distncia um mosteiro cujo abade falecera.Toda a comunidade foi ter ento com o venervel Bento, einstantemente pediu-lhe quisesse ficar sua frente. O santo recusoupor muito tempo, predizendo que no poderia harmonizar os seuscostumes com os daqueles irmos. Mas, afinal, vencido pelos rogos,cedeu.

    J porm, que vigiava naquele mosteiro pela observncia da vidaregular e a ningum permitia que por aes ilcitas se desviasse,como antes, do caminho monstico, os irmos que ele aceitara,encheram-se de fria e puseram-se primeiro a acusar a si mesmospor terem pedido a Bento que os regesse; sua vida tortuosa ia emoposio reta norma do abade.

    Como viam que, sob tal abade, o ilcito j no lhes era permitido, e

    como lhes doa abandonar os antigos hbitos, achando eles dura aobrigao de meditar coisas novas na sua mente velha, alguns deles- j que aos maus sempre pesada a vida dos bons - tramaram amorte do abade, e, tomado o alvitre em conselho, deitaram-lheveneno ao vinho. Quando apresentaram ao Pai, sentado mesa, ocopo da bebida pestfera para ser abenoado segundo o costume dacasa, Bento estendeu a mo e fez o sinal da cruz. A este gesto, ovaso, que estava distante, estalou e fez-se em pedaos, como senaquela taa de morte tivesse dado, em vez da cruz, uma pedrada.

    Compreendeu logo o homem de Deus que o copo contivera umabebida mortal, pois no pudera suportar o sinal da vida. Levantou-seno mesmo instante, e, com o rosto plcido, a mente tranqila,convocou os irmos, aos quais assim falou: Deus tenha compaixode vs, irmos. Porque me quisestes fazer isto? No vos disse eupreviamente que no se harmonizariam os vossos e os meuscostumes? Ide, e procurai para vs um Pai consoante vossa vida;depois disto j no me podereis reter.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-5.htm (1 of 4)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    15/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.5.

    Voltou, ento, ao recanto da dileta solido, e s, sob os olhares doContemplador Superno, ps-se a viver consigo mesmo.

    Pedro: No entendo bem o que significa isto: viver consigomesmo.

    Gregrio: Se o santo varo pretendesse ter por muito tempo sobseu poder e coao irmos que conspiravam unanimemente contraele e eram de vida to diferente da sua, talvez excedesse o limite dasprprias foras, perdesse a tranqilidade, e. assim, baixasse da luzda contemplao, os olhos da mente. Cansando-se em lidar cada diacom a incorreo de outros, cuidaria menos de si prprio, e, destaforma, talvez viesse a perder-se a si, sem achar os outros. Pois,quando somos arrastados muito fora de ns pela agitao dopensamento, continuamos a ser ns mesmos, mas no estamos em

    ns mesmos, porque deixamos de olhar para dentro de ns evagamos pelas outras coisas. Acaso diremos que vivia consigoaquele que partiu para longe, consumiu o quinho recebido e seempregou na casa de um habitante do lugar, deu de comer a porcos,que via fartarem-se de favas, enquanto ele mesmo tinha fome?Depois, porm, comeou a pensar nos bens que perdera, e ento foiescrito dele: Voltando a si, disse: Quantos mercenrios tm po emabundncia na casa de meu pai! (Lc 15,17). Ora, se estava em simesmo, como que voltou a si?

    Disse eu, pois, que esse venervel homem viveu s consigo, porque,sempre prudente na guarda de si mesmo, vendo-se continuamenteante os olhos do Criador e examinando-se sem cessar, nunca deixouque lhe divagasse fora o olhar da mente. Pedro: Como entender oque est escrito do Apstolo Pedro, quando foi tirado do crcerepelo anjo? Ele, voltando a si, disse: Agora sei, na verdade, que oSenhor enviou o seu anjo e me livrou do poder de Herodes e de todaa expectativa do povo dos Judeus (Atos 12,11).

    Gregrio: De dois modos, Pedro, somos levados para fora de ns:ou camos abaixo de ns mesmos pela queda do pensamento, ousomos transportados acima, pela grafa da contemplao.

    Aquele, pois, que guardou porcos, caiu, por pensamentosdivagantes e imundos, abaixo de si, enquanto aquele que o anjolibertou e arrebatou no xtase do esprito, esteve tambm fora, masacima, de si. Cada um deles, portanto, voltou a si: um, deixando

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-5.htm (2 of 4)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    16/69

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    17/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.5.

    Gregrio: Como o santo homem, vivendo muito tempo naquelasolido, crescesse em virtude e milagres, foi reunindo muitos nolugar para o servio de Deus todo-poderoso. Pde, assim, construir,com a ajuda de Jesus Cristo Senhor onipotente, doze mosteiros, emcada um dos quais colocou doze monges sob um abade institudo;consigo, porm, conservou alguns poucos, que julgou convenientese formassem ulteriormente em sua presena.

    Por esse tempo, tambm, comearam a afluir de Roma pessoasnobres e piedosas, que lhe davam os filhos a fim de que os criassepara Deus todo-poderoso. Foi ento que Equcio fez a entrega deMauro, e o nobre Tertulo, a de Plcido, flores das esperanaspaternas. Mauro, adolescente que se distinguia pelos bonscostumes, comeou a prestar auxlio ao Mestre, enquanto Plcidoainda se achava em idade infantil.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-5.htm (4 of 4)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    18/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.6.

    CAPTULO IV. O MONGE DIVAGANTE RECONDUZIDO SALVAO.

    Em um dos mosteiros que construra ao redor, havia certo mongeque no conseguia ficar em orao. Logo que os irmos seinclinavam nesse exerccio, saa e punha-se a revolver na mentevadia coisas mundanas e transitrias. Admoestado vrias vezes porseu abade, foi por fim conduzido ao homem de Deus, que lheincrepou com veemncia a insensatez; de volta, porm, ao seumosteiro, mal conseguiu observar por dois dias a admoestao dohomem de Deus; j ao terceiro, recaindo no velho hbito, entrou denovo a vaguear na hora da orao. Quando isto foi contado ao servode Deus pelo pai do mosteiro, respondeu aquele: Irei eu mesmo, epessoalmente o emendarei.

    O homem de Deus foi, com efeito, ao dito mosteiro, e na horamarcada, quando os irmos depois da salmdia se entregavam orao, observou que o monge que no podia ficar rezando, eraarrastado por um negrinho, que o puxava pela orla do hbito. vistadisso, Bento perguntou secretamente ao abade do mosteiro,Pompeiano, e ao servo de Deus, Mauro: No vedes, ento, quem que puxa esse monge? Responderam que no. Ao que retorquiu :Oremos para que vejais tambm vs a quem que esse mongesegue. Depois de dois dias de orao., Mauro monge o viu, aopasso que Pompeiano, pai do mosteiro, no o conseguiu.

    Ora, no dia seguinte, saindo do oratrio depois do ofcio, o homemde Deus topou com o dito monge em p do lado de fora, e a comuma vara bateu-lhe de rijo, por causa da cegueira de seu corao.Desde esse dia o monge nunca mais se deixou induzir pelo pretinho,permanecendo sossegado na prtica da orao, e o antigo inimigono mais se atreveu a dominar-lhe o pensamento, como se fora elemesmo que levara as pancadas.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provv...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-6.htm2006-06-01 18:48:45

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    19/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.7.

    CAPTULO V. GUA QUE BROTOU DE UMA PEDRA NO ALTODO MONTE.

    Dos mosteiros que Bento edificara na mesma regio, trs ficavamem cima de rochedos da montanha. Era, por isto, muito penoso aosirmos descer sempre ao lago para buscar gua, tanto mais que odeclive do monte constitua grave perigo para todos aqueles que,cheios de medo, por ele desciam.

    Reuniram-se, ento, os irmos desses trs mosteiros, e foram tercom o servo de Deus, Bento, dizendo: -nos penoso ir todos osdias ao lago buscar gua, e por isto necessrio mudar de lugar osnossos mosteiros. Bento os consolou com brandura e despediu.

    Na mesma noite, porm, com o menino Plcido, de que acima falei,subiu ao rochedo do monte, e ali orou por muito tempo. Acabada aorao, colocou no dito lugar trs pedras como sinal e, sem que osoutros percebessem qualquer coisa, voltou ao seu mosteiro.

    No dia seguinte, tendo os irmos voltado sua presena para tratardas dificuldades da gua, assim lhes falou: Ide, e cavai um pouco orochedo no stio em que achardes trs pedras sobrepostas; DeusTodo-Poderoso capaz de fazer brotar gua at naquele cume de

    montanha, para poupar-vos o cansao de to grande caminhada.Ora, indo eles pedra do monte indicada por Bento, encontraram-naj gotejante. E, quando nela praticaram uma cova, esta logo seencheu de gua, que brotou com tanta abundncia que ainda hojecorre em quantidade, e serpeja desde o pico at as faldas da serra.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provv...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-7.htm2006-06-01 18:48:45

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    20/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.8.

    CAPTULO VI. O FERRO QUE VOLTOU AO PRPRIO CABO.

    Em outra ocasio, certo godo, pobre de esprito, procurou a vidamonstica, e foi recebido com o maior agrado pelo homem de Deus.Um dia, este mandou dar-lhe um instrumento semelhante a umafoice, para remover os espinheiros de certo lugar que devia sertransformado em horta. O lugar que o godo recebeu para limpar,estava situado margem do lago. Quando roava com toda a foraas densas moitas de espinheiro, eis que o ferro, saltando do cabo,caiu no lago, precisamente onde tanta era a profundidade das guasque no havia esperana de recuper-lo. Perdida a ferramenta,correu o godo, todo trmulo para o monge Mauro, a quem narrou odano que causara, fazendo ainda penitncia pela falta.

    O monge Mauro tratou logo de referir o fato ao servo de Deus,Bento. Tendo-o ouvido, o homem do Senhor encaminhou-se para olugar, tomou da mo do godo o cabo e mergulhou-o no lago; namesma hora o ferro subiu do fundo e entrou no cabo. Bento, ento,restituiu a ferramenta ao godo, dizendo: Eis, trabalha agora, e nofiques triste.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provv...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-8.htm2006-06-01 18:48:45

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    21/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.9.

    CAPTULO VII. MAURO CAMINHA SOBRE AS GUAS.

    Um dia, quando o venervel Bento estava na cela, o jovem Plcido,monge do santo varo, saiu para tirar gua do lago. Quando, porm,mergulhou a vasilha que segurava, to incautamente o fez que elemesmo, caindo, a acompanhou. A correnteza logo o colheu e levoupara o meio do lago, distncia da margem de quase uma flexada.

    O homem de Deus, embora na cela, no mesmo instante teve notciado acidente e chamou Mauro depressa, dizendo: Irmo Mauro,corre, pois o menino que foi buscar gua, caiu no lago e j estlonge, levado pela corrente.

    Coisa admirvel e no vista depois do apstolo Pedro! Tendo pedido

    e recebido a bno, Mauro saiu ligeiro movido pela ordem do Pai, enisto correu sobre as guas, pensando que ia por terra, at o pontoaonde chegara o menino arrastado pela onda; agarrou-o peloscabelos e voltou tambm a curso rpido.

    Logo que pisou terra, voltando a si, olhou para trs e viu que correraem cima das guas. E, como no podia presumir que isto deverastivesse acontecido, cheio de admirao temeu o fato. Voltando aoPai, contou-lhe o sucedido. O venervel Bento comeou, ento, a

    atribuir o caso no aos prprios mritos, mas obedincia deMauro. Este, porm, replicando, dizia que era devido somente aomandado do Pai, e que no tinha conscincia daquele prodgio, quesem saber praticara. Nessa amistosa contenda de humildadesobreveio como rbitro o menino que fora salvo; o qual assim falou:Quando eu era arrebatado das guas, via sobre minha cabea amelota do abade, e contemplava-o a tirar-me das guas.

    Pedro: Muito grandes so as coisas que narras, e proveitosas para

    a edificao de muitos. De minha parte, quanto mais bebo dosmilagres desse santo varo, mais sede tenho.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provv...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-9.htm2006-06-01 18:48:45

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    22/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.10.

    CAPTULO VIII. O PO ENVENENADO QUE O CORVO LEVOUPARA LONGE.

    Gregrio: J aqueles lugares estavam em grande extensoabrasados do amor de Jesus Cristo, Deus Nosso Senhor, e muitoscristos tinham abandonado a vida secular para ali domar o orgulhodo corao sob o suave jugo do Redentor. Como costume dosmaus invejar aos outros o bem da virtude que eles mesmos noprocuram praticar, eis que o padre de uma igreja prxima, chamadoFlorncio (av do nosso subdicono Florncio), tocado da maldadedo antigo inimigo, comeou a ter cime do santo homem, e ps-se adenegrir sua vida de monge e a impedir quantos podia, de iremvisit-lo.

    Vendo, afinal, que no conseguia opor-se aos progressos de Bento,vendo que crescia a fama de sua santidade, e que muitos, pelosimples prego dessa fama, eram continuamente chamados a umestado de vida melhor, FIorncio, mais e mais abrasado pela inveja,ia-se tornando cada vez pior: os louvores merecidos pela vida deBento, ele os apetecia; vida to louvvel, porm, no a queria levar.

    A tal ponto Boi obcecado pelas trevas da inveja, que chegou a enviarde presente ao servo de Deus todo-poderoso um po envenenado. Ohomem de Deus o recebeu agradecido, mas no lhe ficou oculta apeste que no po se ocultava.

    Ora, acontecia que hora da refeio, costumava vir da florestaprxima um corvo, que recebia po das mos de Bento. Quandoento chegou como de costume, o homem de Deus lanou diante docorvo o po envenenado do presbtero, e deu-lhe esta ordem: Emnome de Nosso Senhor Jesus Cristo, toma este po e atira-o numlugar tal que no possa ser achado por ningum. O corvo, ento, debico e asas abertos, comeou a esvoaar e a crocitar em redor dopo como se dissesse claramente que queria obedecer, mas nopodia. No entanto, o homem de Deus ordenava repetidas vezes:Leva, leva sem medo, e vai jog-lo onde no possa serencontrado. Finalmente, depois de hesitar por muito tempo, o corvotomou o po no bico e, levando-o, partiu. Ao cabo de trs horasvoltou sem o po , que lanara fora, e recebeu das mos do homemde Deus a rao costumeira.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-10.htm (1 of 4)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    23/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.10.

    Vendo o venervel Pai que o corao daquele sacerdote seinflamava de dio contra sua vida, mais se condoa dele que de simesmo.

    Ora, o citado Florncio, j que no lograra matar o corpo do mestre,tomou a peito acabar com as almas dos discpulos.

    Por conseguinte, vista destes introduziu no quintal do mosteiro emque estava Bento, sete moas nuas, que, de mos dadas, danaramdiante deles por muito tempo, a fim de inflamar-lhes o esprito paraas depravaes da luxria. Vendo isto da cela, e temendo a quedados discpulos mais jovens, o santo homem, que bem se dava contade ser o nico motivo da perseguio, acabou por ceder inveja:nomeou os superiores, e distribuiu os irmos pelos mosteiros queedificara; e, levando consigo alguns poucos monges, mudou dedomiclio.

    To logo, porm, o servo de Deus se esquivava humildemente aosdios de Florncio, e j Deus onipotente castigava a este de terrvelforma. Pois, estando no terrao, donde com prazer contemplava apartida de Bento, o mesmo ruiu, enquanto permanecia ileso o restoda casa, e, esmagando o inimigo de Bento, acabou com ele.

    O discpulo do homem de Deus chamado Mauro julgou que deviaimediatamente anunciar o fato ao venervel Pai Bento, que apenas

    caminhara umas dez milhas, e disse-lhe: Volta, pois o presbteroque te perseguia, morreu. Ao ouvi-lo, prorrompeu Bento em forteslamentos, tanto pela morte do inimigo como pela alegria que com elateve o discpulo. Do fato seguiu-se que Bento imps uma penitnciaao discpulo, pois este, ao contar o ocorrido, ousara regozijar-sepelo fim do inimigo.

    Pedro: So admirveis e estupendas as coisas que dizes. Comefeito, na gua que brotou da pedra, vejo Moiss (Num 20,11) ; no

    ferro que voltou do fundo dgua, Eliseu (4 Reis 6,7) ; no caminharsobre as guas, Pedro (Mt 14,29) ; na obedincia do corvo, Elias (3Reis 17,6) ; no luto pela morte do inimigo, Davi (2 Reis 1,11; 18,13).Como posso avaliar, este varo foi cheio do esprito de todos osjustos.

    Gregrio: O homem de Deus, Pedro, possuiu o esprito do Deusnico, que pela graa da Redeno encheu o corao de todos os

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-10.htm (2 of 4)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    24/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.10.

    eleitos, e de quem diz , Joo: Era a verdadeira luz que ilumina todohomem que vem a este mundo (Jo 1,9).

    E ainda: Da sua plenitude ns todos recebemos (ibd. 1,16) .

    De fato, os santos homens de Deus puderam obter do Senhormilagres, mas no os puderam transmitir a outrem. O Senhor,

    porm, deu os sinais da virtude aos seus sditos, Ele que prometeudar o sinal de Jonas aos seus inimigos, de modo que se dignou demorrer ante os soberbos e ressuscitar ante os humildes, para queaqueles vissem o que iam desprezar, e estes contemplassem o quecom venerao deveriam amar. Deste mistrio se seguiu que,enquanto os soberbos s viram o aspecto ignominioso da morte, oshumildes receberam a glria de poder contra ela.

    Pedro: Peo-te agora que digas para que lugar se dirigiu o santo

    homem, e se l praticou novos milagres.

    Gregrio: Saindo o santo homem para outras paragens, mudou delugar, mas no de inimigo. Pois os combates que depois sustentou,foram tanto mais duros, quando foi desde ento o prprio mestre damaldade que teve abertamente contra si.

    O lugar fortificado chamado Cassino est situado no flanco deelevada montanha, a qual o abriga dentro de extensa garganta, edepois, alteando-se ainda por trs milhas, como que prolonga at asnuvens o seu cume. A em cima tinham os antigos um templo onde,segundo o costume dos primitivos gentios, Apolo era venerado porinsensata multido de camponeses. Cresciam por toda a parte emtorno bosques consagrados ao culto dos demnios, onde a turbainsana dos infiis ainda naquele tempo oferecia sacrifciossacrlegos.

    Chegado a tal lugar, o homem de Deus despedaou o dolo,derrubou a ara, incendiou os bosques e estabeleceu no prpriotemplo de Apoio a capela de S. Martinho, enquanto no lugar da arado mesmo Apoio construiu a capela de S. Joo. Alm disto,chamava f, por contnuas pregaes, a multido que morava nasredondezas.

    No podendo suportar tudo isso em silncio, o antigo inimigooferecia-se aos olhos do Pai, no mais ocultamente ou em sonhos,

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-10.htm (3 of 4)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    25/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.10.

    mas em viso manifesta, e queixava-se, com tais clamores, de sofrerviolncia, que tambm os irmos lhe podiam escutar os gritos, sem,todavia, lhe discernir a figura. Conforme referia o venervel Pai aosdiscpulos, o antigo inimigo aparecia diante dos seus olhoscorporais, hediondo e envolto em chamas; com a boca e os olhoschamejantes parecia investir contra ele.

    O que dizia, porm, todos o ouviam. Primeiro, chamava Bento pelonome. J que este no respondia, logo disparava em doestos. Assim que, ao cham-lo Bento, Bento, vendo que no obtinha respostaalguma, imediatamente acrescentava: Maldito e no Bento, quetens tu comigo? Porque me persegues?

    Consideremos agora os novos combates do antigo inimigo contra oservo de Deus, ao qual aquele quis fazer guerra, mas acabou porproporcionar, sem querer, ocasies de vitria.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-10.htm (4 of 4)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    26/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.11.

    CAPTULO IX. A ENORME PEDRA LEVANTADA PORORAO.

    Certo dia, quando os irmos trabalhavam na construo domosteiro, achava-se uma pedra que resolveram levar para a obra. E,j que dois ou trs no a conseguiam remover, outros se lhesjuntaram. A pedra, porm, continuava imvel como se tivesse razesno cho. A coisa era tal que dava claramente a entender que emcima da pedra estava sentado o prprio antigo inimigo, j que asmos de tantos homens no a podiam mover. Mandaram, ento,comunicar a dificuldade ao homem de Deus, pedindo-lhe que viessee, rezando, expulsasse o inimigo, a fim de que pudessem levantar apedra. Aquele veio sem demora, orou, deu a bno, e com tantapresteza foi a pedra erguida, que se diria que nunca tivera pesoalgum.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-11.htm2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    27/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.12.

    CAPTULO X. O INCNDIO IMAGINRIO DA COZINHA.

    Ento ao homem de Deus pareceu oportuno cavarem a terranaquele mesmo stio. Ora, sucedeu que, cavando muito fundo, osirmos encontraram um dolo de bronze. Atiraram-no logo paralonge, indo o mesmo cair por acaso na cozinha; em conseqncia,viu-se de repente sair fogo do lugar, e pareceu aos olhos de todosque o prdio da cozinha era devorado pelas chamas. Como, jogandogua para apagar o fogo, fizessem grande vozerio, o homem deDeus, atrado pelo rudo, aproximou-se. Considerando, ento, que ofogo estava somente nos olhos dos irmos e no nos seus, baixoulogo a cabea em orao, e, chamando a si os irmos que viailudidos pelo incndio fantstico, admoestou-os a persignarem osolhos para que percebessem estar ileso o edifcio da cozinha, edeixassem de ver as chamas imaginrias que o antigo inimigo lhessugeria.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-12.htm2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    28/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.13.

    CAPTULO XI. O MONGE ESMAGADO RESTABELECIDOPELA ORAO DE BENTO.

    Doutra feita, quando os irmos, obedecendo a uma exigncia daconstruo, levantavam um pouco mais certa parede, o homem deDeus conservava-se na cela, aplicado orao. Apareceu-lhe entoo antigo inimigo insultando-o, e deu-lhe a saber que ia ter com osirmos no trabalho. Informado, o homem de Deus mandou-lhes atoda pressa um mensageiro, dizendo: Irmos, agi com cautela, poisa vai agora o esprito maligno. Mal acabara de falar o que levava amensagem, e j o mau esprito derrubara a parede em obras e sobos seus escombros esmagara um jovem monge, filho de certo oficialda corte. Consternados todos e cheios de aflio, no pelo dano daparede mas pelo esmagamento do irmo, correram a contar comprofunda dor o desastre ao venervel Pai Bento. Este ordenou quelhe levassem o corpo dilacerado do rapaz. S puderam lev-lo nummanto, pois as pedras da parede lhe tinham triturado no s osmembros mas tambm os ossos.

    O homem de Deus mandou no mesmo instante que o pusessem emsua cela sobre a esteira onde costumava rezar. A seguir, despediuos irmos, fechou a cela e debruou-se em orao mais instante doque de costume. Coisa admirvel! Na mesma hora, o abade mandavanovamente o jovem ao trabalho, so e forte como dantes, para queterminasse a parede com os irmos aquele de cuja morte se queriaaproveitar o antigo inimigo para zombar de Bento.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-13.htm2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    29/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.14.

    CAPTULO XII. OS MONGES QUE COMERAM FORA DOMOSTEIRO.

    Nesses entrementes, comeou o homem de Deus a possuir tambmo esprito de profecia, predizendo o futuro e anunciando aospresentes as coisas distantes.

    Era costume do mosteiro, todas as vezes que os monges saiam paraqualquer misso, que se abstivessem de comer e beber fora domosteiro.

    Observava-se com toda a solicitude esse uso da Regra. Certo dia,porm, saram alguns irmos a mandado, e viram-se obrigados aficar fora at hora mais tardia. Sabendo que perto donde estavam

    residia uma religiosa mulher, entraram em sua casa e tomaramalimento. Quando tarde voltaram ao mosteiro, pediram, como decostume, a bno ao Pai; o qual logo os interrogou: Ondecomestes? - Em parte alguma, responderam. Ao que retorquiu:Porque mentis desse modo? Acaso no entrastes na casa de talmulher? No tomastes tais tais comidas, no bebestes tantoscopos? Como o venervel Pai lhes descrevesse no s ahospedagem da mulher, mas tambm o gnero dos pratos e onmero dos copos que haviam tomado, reconheceram tudo quehaviam feito, e, caindo trmulos a seus ps, confessaram a falta. Ohomem de Deus, porm, logo lhes perdoou a culpa, considerandoque para o futuro no tornariam a cometer tal em sua ausncia, poissaberiam que lhes estava presente em esprito.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-14.htm2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    30/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.15.

    CAPTULO XIII. O IRMO DO MONGE VALENTINIANO, QUECOMERA EM VIAGEM.

    O monge Valentiniano, j mencionado no incio, tinha um irmo,homem leigo mas piedoso, o qual, para receber a bno do homemde Deus e visitar o irmo, costumava anualmente ir, em jejum, dasua casa ao mosteiro. Certa vez, quando estava em viagem para ali,associou-se-lhe outro viajante, que levava alimentos para a jornada.Quando a hora ia adiantada, este disse-lhe: Vamos, irmo, comeralguma coisa para no nos cansarmos no caminho. Aquele, porm,respondeu-lhe: Longe de mim, irmo; no farei isto, pois sempretive o costume de comparecer em jejum ante o venervel Pai Bento.Ouvindo esta resposta, o companheiro calou-se por algum tempo.Depois, porm, de terem caminhado mais um pouco, insistiunovamente em que comessem. Aquele que decidira chegar emjejum, recusou. O que convidara, ento, tornou a calar-se, econsentiu em prosseguir um pouco mais com ele, sem comer.

    Quando caminhavam mais adiante e a hora tardia chegou a fatig-los de tanto andar, deram com um prado e uma fonte, e tudo maisque podia parecer agradvel para restaurar o corpo. Disse, ento, ocompanheiro de viagem: Aqui temos gua, temos relva e temos umlugar ameno, onde podemos recobrar foras e descansar um pouco,a fim de terminar em boas condies a nossa marcha. Com osouvidos afagados por essas palavras e os olhos seduzidos pelolugar, o irmo de Valentiniano deixou-se persuadir pelo terceiroconvite; consentiu finalmente e comeu.

    tardinha chegou ao mosteiro. Levado presena do venervel PaiBento, pediu-lhe que o abenoasse. Mas no mesmo instante o santohomem exprobrou-lhe o que fizera em viagem, dizendo: Como ,irmo, que o maligno inimigo, que te falou pela boca docompanheiro, no conseguiu induzir-te nem da primeira vez, nem dasegunda, mas da terceira convenceu-te e alcanou sobre ti a vitriaque planejava? Reconhecendo ento, a culpa do seu fraco esprito,o visitante prosternou-se aos ps do santo, e tanto mais chorava ese envergonhava, quanto via que, apesar da distncia, a sua faltafora cometida ante os olhos do Pai Bento.

    Pedro: Bem vejo que no corao desse santo homem habitava oesprito de Eliseu, que esteve presente ao discpulo distante (4 Reis

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-15.htm (1 of 2)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    31/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.15.

    5,26).

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-15.htm (2 of 2)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    32/69

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    33/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.17.

    CAPTULO XV. DUAS PROFECIAS.

    Ento Ttila foi ter pessoalmente com o homem de Deus. Quando orei, de longe, avistou Bento assentado, no ousou aproximar-se,mas prostrou-se por terra. E, como o homem de Deus lhe dissessepor duas ou trs vezes: Levanta-te, sem que o rei se atravesse afaz-lo, Bento, servo de Jesus Cristo, se dignou de encaminhar-sepessoalmente at o rei prostrado, levantou-o do cho, censurou-lheas ms aes e ainda prenunciou em poucas palavras tudo queestava para suceder-lhe: Muito mal cometes, muito mal cometeste;j tempo de pores termo iniqidade. Na verdade, entrars emRoma, atravessars o mar, reinars nove anos e no dcimomorreras. Ouvido isto, o rei encheu-se de terror e, aps pedir aorao do santo, foi-se embora. A partir desse tempo, comeou a sermenos cruel. Pouco depois entrou em Roma e, em seguida, passoua Siclia. N o dcimo ano do seu reinado, a juzo de Deus onipotente,perdeu o reino ao mesmo tempo que a vida.

    Tambm o bispo de Cansio costumava visitar o servo de Deus, quemuito o amava pelo mrito de sua vida. Um dia, conversando oprelado com Bento sobre a entrada de Ttila em Roma e a runa dacidade, disse aquele: Por esse rei a cidade ser de tal mododestruda que deixar de ser habitada. Ao que redarguiu o homemde Deus. Roma no ser destruda pelos gentios, mas, devastadapor tempestades, raios, tormentos e terremotos, definhar por simesma. Os mistrios desta profecia j nos so mais claros do quea luz, pois vemos nesta cidade desmoronadas as muralhas,derribadas as casas, destrudas as igrejas pelo furaco, econtemplamos como em fre- qentes desabamentos vm abaixa osedifcios, esfalfados de adiantada velhice. O discpulo Honorato dequem tenho o relato, no o assevera ter ouvido do prprio santo,mas afirma que pelos outros irmos lhe foi contado que Bento odisse.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-17.htm2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    34/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.18.

    CAPTULO XVI. O CLRIGO LIBERTADO DO DEMNIO.

    Pela mesma poca certo clrigo da igreja de Aquino estava sendoatormentado pelo demnio. J Constncio, bispo dessa igreja, ofizera percorrer muitos sepulcros de mrtires para alcanar a cura.Alas os santos mrtires de Deus no lhe quiseram conceder o domda sade, para assim demonstrar quanta graa havia em Bento.

    Foi, pois, o clrigo levado ao servo de Deus onipotente, Bento, oqual, orando ao Senhor Jesus Cristo, logo expulsou do possesso oantigo inimigo. Depois de cur-lo, o santo preceituou-lhe: Vai, e deagora em diante no comas carne, nem te atrevas a receber umaordem sacra; no dia em que ousares profanar uma ordem sacra,recairs imediatamente sob o poder do demnio. Foi-se embora oclrigo curado e, como o castigo recente costuma amedrontar,guardou por algum tempo tudo que o homem de Deus mandara.Quando, porm, depois de muitos anos, mortos todos os seussuperiores, viu que outros mais jovens lhe passavam frente nasordens sacras, negligenciou, como que esquecido pelo longo tempo,as palavras do homem de Deus, e apresentou-se ordenao. Nomesmo instante apoderou-se dele o diabo, que j o deixara, e nocessou de o atormentar at que lhe arrancou a alma.

    Pedro: Esse homem de Deus, a meu ver, chegou a penetrar at nossegredos da Divindade, pois viu claramente que o clrigo estavaentregue ao demnio para que no ousasse apresentar-se ordenao. Gregrio: Porque no havia de conhecer os segredosda Divindade aquele que da Divindade guardou os mandamentos?Pois est escrito: O que adere ao Senhor, um s esprito (1 Cor6,17).

    Pedro: Se aquele que adere ao Senhor, se torna um s esprito como Senhor, porque que o mesmo grande pregador diz : Quemconheceu a mente do Senhor, ou quem foi seu conselheiro? (Rom11,34). Parece muito incongruente que algum ignore o pensamentodaquele com o qual se tornou um s.

    Gregrio: Os santos vares, enquanto so com Deus uma s coisa,no ignoram o pensamento do Senhor. o mesmo Apstolo quemdiz: Que homem sabe aquilo que do homem, seno o esprito dohomem que est nele? Assim tambm o que de Deus, ningum

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-18.htm (1 of 3)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    35/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.18.

    conhece seno o Esprito de Deus (1 Cor 2,11). Mas, para mostrarque sabia as coisas de Deus, Paulo acrescentou: Ns norecebemos o espirito deste mundo, mas o esprito que deDeus (ibd. 2,12). E de novo diz: O que olho no viu, nem ouvidoescutou, nem subiu ao corao do homem, o que Deus preparoupara os que o amam; a nos, porm, Ele o revelou pelo seuEsprito (ibd. 2,9-10).

    Pedro: Se, portanto, ao mesmo Apstolo foram reveladas peloEsprito divino as coisas de Deus, como, ento, nos preveniu com asseguintes palavras sobre a questo que eu propus: O abismo dasriquezas da sabedoria e da cincia de Deus! Como soincompreensveis os seus juzos e imperscrutveis os seuscaminhos! (Rom 11,33).

    Eis, porm, que, ao dizer estas coisas, me aparece outra questo.

    Com efeito, o profeta Davi, falando ao Senhor, diz: Nos meus lbiospronunciei todos os juzos da tua boca (Salm 118,13). E, visto queconhecer menos que pronunciar, porque declara Pauloincompreensveis os juzos de Deus, quando Davi atesta que no sos conheceu todos, mas at os pronunciou em seus lbios?

    Gregrio: Em poucas palavras respondi s duas perguntas, quandoh pouco disse que os santos vares, enquanto so com o Senhoruma s coisa, no ignoram o pensamento do Senhor. Pois todos os

    que seguem devotamente o Senhor, por essa devoo esto comDeus; mas, como ainda se acham sob o peso da carne corruptvel,ao mesmo tempo no esto. Assim, enquanto juntos com Deus,conhecem-lhe os ocultos juzos; enquanto separados, ignoram-nos.Como, de um lado, ainda no penetram perfeitamente os mistriosde Deus, declaram incompreensveis os seus juzos; mas como, deoutro lado, esto unidos de esprito com o Senhor e nessa adesopercebem alguma coisa na medida do que lhes dado nas palavrassagradas da Escritura ou em secretas revelaes, conhecem isso e

    o proferem. Ignoram, portanto, os juzos que Deus cala, e conhecemos que Ele manifesta. Por isto, o profeta Davi, depois de dizer: Emmeus lbios pronunciei todos os juzos, logo acrescenta: da tuaboca, como se dissesse abertamente: Pude conhecer e proferiraqueles juzos dos quais soube que tu os proferiste. Aqueles,porm, que tu mesmo no disseste, os escondes sem dvida aonosso conhecimento. Assim que concordam entre si as duassentenas, a do Profeta e a do Apstolo, segundo as quais so, deum lado, incompreensveis os juzos de Deus, e so, de outro lado,

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-18.htm (2 of 3)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    36/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.18.

    proferidos por lbios humanos os juzos anteriormentepronunciados pela boca do Senhor; pois os juzos de Deus podemser conhecidos pelos homens quando revelados por Deus, e no opodem quando no revelados.

    Pedro: Vejo que, por ocasio da minha pergunta, se esclareceu osentido da coisa. Mas, se ainda h mais sobre os milagres deste

    homem, peo-te que o contes.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-18.htm (3 of 3)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    37/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.19.

    CAPTULO XVII. BENTO PREDIZ A DESTRUIO DOPRPRIO MOSTEIRO.

    Gregrio Certo nobre chamado Teprobo fora convertido pelosconselhos do mesmo Pai Bento, e gozava, por seus merecimentos,de grande confiana e familiaridade junto ao Santo. Entrando certavez na cela deste, encontrou-o a chorar muito amargamente; alideteve-se parado por muito tempo; notando, porm, que as lgrimasno cessavam, e que o homem de Deus, em vez de chorar rezando,como costumava, chorava de tristeza, perguntou-lhe finalmente quala causa de to grande amargura.

    Todo este mosteiro que constru e tudo que preparei para osirmos, respondeu-lhe o homem de Deus, ser entregue aos gentios,a juzo de Deus todo-poderoso; a custo pude alcanar que destelugar me fossem poupadas as vidas dos habitantes. O queTeprobo ento ouviu em palavras, ns agora estamos vendo comos olhos, pois sabemos que o mosteiro foi recentemente destrudopelos Lombardos: durante a noite enquanto dormiam os irmos,entraram ali, faz pouco tempo, e saquearam tudo, mas noconseguiram apoderar-se de um s homem. Assim Deus cumpriu oque prometera ao fiel servo Bento: embora entregasse os bens aosgentios, protegeria as vidas. Nisto se v que Bento teve a sorte de S.Paulo que viu seu navio alijado de tudo, mas recebeu porconsolao a vida de quantos o acompanhavam (Atos 27).

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-19.htm2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    38/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.20.

    CAPTULO XVIII. O BARRIL OCULTO.

    Um dia o nosso Exilarato, que conheceste j feito monge, foi porseu senhor encarregado de levar ao homem de Deus no mosteirodois desses recipientes de madeira, vulgarmente conhecidos pelonome de barris, cheios de vinho. O servo levou um e escondeu ooutro no caminho. O homem de Deus, porm, a quem no ficavamocultos os fatos distantes, recebeu o barril com palavras deagradecimento, acrescentando ao moo que se despedia: Cuidado,filho, no bebas do barril que escondeste, mas inclina-o com cautelae vers o que h dentro: Muito envergonhado, o jovem afastou-sedo homem de Deus; e, uma vez de volta, querendo submeter provao que ouvira, virou o barril, e logo saiu de dentro uma serpente.Ento. o servo Exilarato, por aquilo que encontrou no vinho, sentiupavor do mal que praticara.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-20.htm2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    39/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.21.

    CAPTULO XIX. A ACEITAO DOS LENOS DESCOBERTA.

    No longe do mosteiro havia um povoado onde no pequenonmero de homens fora convertido do culto dos dolos f de Deus,graas s exortaes de Bento; ali viviam tambm algumas monjas.A tal lugar o servo de Deus enviava freqentemente alguns dosirmos para exortarem aquelas almas. Certo dia, como de costume,mandou um monge, o qual depois da alocuo aceitou, a instnciasdas monjas, uns lenos, que escondeu debaixo do hbito. Apenaschegado ao mosteiro, comeou o homem de Deus a repreend-locom a mais viva amargura, dizendo: Como entrou a iniqidade noteu corao? O monge ficou atnito, pois, esquecido do que haviafeito, ignorava o motivo da repreenso. Bento ento lhe disse: Noestava eu presente quando aceitaste os lenos das servas de Deus eos guardaste debaixo do hbito? Prostrando-se logo a seus ps, omonge se arrependeu da estulta ao e deitou fora as peas queescondera.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-21.htm2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    40/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.22.

    CAPTULO XX. O PENSAMENTO ORGULHOSO DE UMMONGE.

    Um dia, quando o venervel Pai tomava, j tardinha, a refeio docorpo, um dos seus monges, filho de certo defensor, estavapresente, segurando-lhe o candeeiro diante da mesa. Enquanto ohomem de Deus comia e ele assistia, fazendo o ofcio da candeia, ojovem, tomado pelo esprito de soberba comeou a revolver, calado,em sua mente, e a dizer de si para si, estas palavras: Quem este aquem eu assisto enquanto come, seguro o candeeiro e prestoservio? Quem sou seu para que lhe deva servir? Voltando-se nomesmo instante, o homem de Deus entrou a repreend-lo comveemncia, dizendo: Persigna o teu corao, irmo; que dizes?Persigna o teu corao! E, tendo chamado sem mais demora osoutros irmos, ordenou-lhes que lhe tomassem o candeeiro dasmos, e a ele, que deixasse o servio e fosse na mesma hora sentar-se sossegado. Perguntaram-lhe, ento, os irmos o que tivera nocorao, e ele por ordem contou de quo grande esprito de soberbase enchera, e as palavras que em pensamento dizia, calado, contra ohomem de Deus.

    Tornou-se assim bem manifesto a todos que nada podia ficar ocultoao venervel Bento, em cujos ouvidos haviam ressoado at aspalavras de um pensamento mudo.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-22.htm2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    41/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.23.

    CAPTULO XXI. A FARINHA QUE APARECEU EM POCA DEFOME.

    Em outra ocasio, a fome devastava toda a regio da Campanha, egrande escassez de gneros angustiava a todos. J faltava trigo nomosteiro de Bento: quase todos os pes haviam sido consumidos,de modo que no se achavam mais de cinco para os irmos horade comer. Vendo-os contristados, o venervel Pai procurou corrigircom repreenso moderada a sua pusilanimidade, e reanim-los comuma promessa: Porque, dizia, se entristece o vosso esprito pelafalta de po? Hoje, na verdade, h muito pouco, mas amanh t-lo-eis em abundncia. De fato, no dia seguinte, encontraram duzentosmdios de farinha em sacos diante da porta do mosteiro, sem quealgum at hoje saiba por quem Deus todo-poderoso os mandoulevar. Vendo isto, os irmos deram graas ao Senhor, e aprenderama no duvidar da abundncia, mesmo em tempo de carncia.

    Pedro: Peo-te que me digas se devemos crer que o esprito deprofecia estava sempre neste servo de Deus, ou se lhe enchia amente apenas de tempos em tempos.

    Gregrio: Nem sempre, Pedro, o esprito de profecia ilumina amente dos profetas, pois, como est escrito do Esprito Santo quesopra onde quer (Jo 3,8), tambm se deve entender que sopraquando quer. Vem da que Nat, interrogado pelo rei se podiaconstruir o templo, primeiro consentiu e depois proibiu (2 Reis 7).Pela mesma razo, Eliseu, ao ver a mulher chorando, sem saber acausa da sua dor, disse ao servo que a queria repelir: Deixa-a,porque a sua alma est amargurada, e o Senhor mo encobriu e nomanifestou (4 Reis 4,27). por disposio de grande bondade queDeus onipotente assim ordena as coisas; pois, ora dando, oraretirando o esprito de profecia, de um lado eleva s alturas a mentedos profetas, e, de outro lado, a conserva na humildade, para que osmesmos, quando recebem esse esprito, saibam o que so pormerc de Deus, e, quando no o tm, conheam o que so por simesmos.

    Pedro: Eis que forte argumento clama que as coisas so comodizes. Peo-te, porm, que continues a expor tudo que te acode memria sobre o venervel Pai Bento.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-23.htm (1 of 2)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    42/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.23.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-23.htm (2 of 2)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    43/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.24.

    CAPTULO XXII. O PIANO DO MOSTEIRO DE TERRACINATRAADO POR BENTO EM UMA VISO.

    Gregrio: Outra vez, um homem religioso pediu a Bento quemandasse alguns discpulos a uma propriedade que tinha perto deTerracina, para construir um mosteiro. Anuindo aos rogos, Bentoescolheu alguns irmos, instituiu-lhes o abade e o que devia ser oseu prior. despedida, prometeu-lhes o seguinte: Ide, em tal diairei tambm eu, e mostrar-vos-ei em que lugar havereis de edificar ooratrio, o refeitrio dos irmos, os aposentos dos hspedes e tudoque for preciso. Recebida a bno, puseram-se logo a caminho;nos dias seguintes, espera ansiosa do dia marcado, prepararamtudo que parecia necessrio para receber os que podiam chegarcom o grande Pai.

    Eis, porm, que na noite em que comeava a raiar o dia prometido, ohomem de Deus apareceu em sonhos ao monge que ele constituraabade, e ao prior deste, e lhes foi designando minuciosamente cadaum dos lugares onde deviam edificar alguma coisa. Quandodespertaram do sono, contaram um ao outro o que tinham visto;mas, por no darem pleno crdito viso, aguardaram o homem deDeus na prometida visita. Este, porm, no chegou no diadeterminado, pelo que foram ter com ele, muito magoados, e lhedisseram: Esperamos, Pai, que fosses como prometeras, e nosmostrasses onde devamos edificar; mas no foste. Ao que lhesdisse: Porque, irmos, porque falais assim? Acaso no fui,conforme prometi? E quando lhe retorquiram: Quando foste?,respondeu: No vos apareci a um e outro quando dormeis, e novos mostrei ento cada local do mosteiro? Ide, e, como ouvistes naviso, construi todas as dependncias do mosteiro. Ao ouviremestas palavras, ficaram profundamente admirados, e voltaram aoreferido terreno, onde construram todos os compartimentos domosteiro como lhes fora revelado.

    Pedro: Gostaria de saber de que modo pode Bento ausentar-separa longe e dar aos irmos que dormiam, instrues que eles emsonho ouviram e compreenderam.

    Gregrio: Pedro, porque que perscrutas o modo como se deramos fatos, e te pes a duvidar dos mesmos? coisa evidente que oesprito de natureza mais gil que o corpo. Ora, sabemos com

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-24.htm (1 of 2)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    44/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.24.

    certeza, pelo testemunho da Escritura, que o profeta, levantado aosares na Judia, foi de repente baixado na Caldia com o seu almoo,que serviu a alimentar outro profeta, e no mesmo instante voltou Judia (Dan 14). Se, pois, Habacuc pde num momento ircorporalmente to longe e entregar um almoo, que de admirar seo Pai Bento obteve afastar-se em esprito e anunciar aos irmosadormecidos o necessrio, de modo que, assim como o profeta se

    locomoveu corporalmente para alimentar o corpo, assim Bento setransportou em esprito para instituir a vida espiritual?

    Pedro: A fora da tua palavra, confesso, dissipou em mim asdvidas do esprito. Agora queria saber que efeito tinham aspalavras desse homem no trato da vida quotidiana.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-24.htm (2 of 2)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    45/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.25.

    CAPTULO XXIII. AS MONJAS MORTAS RESTITUDAS COMUNHO DA IGREJA.

    Gregrio: Dificilmente, Pedro, era a sua palavra, mesmo no tratoquotidiano, desprovida de eficcia; pois, tendo alado aos cus ocorao, no lhe podiam as palavras baixar vazias dos lbios. Se,pois, alguma vez dizia algo, no j decidindo, mas somenteameaando, sua palavra tinha tanta eficcia como se no a tivessedito apenas duvidosa e condicionalmente, mas j em sentenairrevogvel.

    Assim que, no longe do mosteiro de Bento, viviam num stioprprio duas monjas, senhoras de nobre linhagem a quem certohomem religioso prestava servio nas necessidades da vidaexterior. Em alguns, porm, a nobreza da raa produz a vileza doesprito, de modo que essas pessoas, recordando que foram umpouco mais do que outras, so menos dispostas a desprezar-seneste mundo; assim eram as duas monjas, as quais no tinhamreprimido perfeitamente a lngua sob o freio do hbito, efreqentemente provocavam ira, com palavras imprudentes, ohomem que lhes prestava servio nas indigncias exteriores. Este,depois de tolerar por muito tempo tais coisas, dirigiu-se finalmenteao homem de Deus e contou-lhe quantas afrontas sofria. Bento,tendo ouvido como procediam as monjas, logo mandou dizer-lhes:Corrigi vossas lnguas porque, seno vos emendardes, eu vosexcomungarei. Por conseguinte, no proferiu a sentena deexcomunho, mas apenas ameaou.

    As monjas, porm, sem nada mudar dos antigos costumes,morreram dentro de poucos dias e foram sepultadas na igreja. Ora,quando ali se celebrava a solenidade da Missa, e o dicono clamavacomo de costume: Se h algum excomungado, retire-se do lugar,a ama que as criara e costumava oferecer ao Senhor a oblao porelas, via-as erguerem-se da sepultura e sarem da igreja. Havendoobservado muitas vezes que voz do dicono elas saiam e nopodiam ficar no templo, lembrou-se do que o homem de Deus lhesmandara dizer quando ainda viviam, isto , que as privaria dacomunho eclesistica, se no emendassem os costumes epalavras.

    Com grande dor, ento, foi referido o caso ao servo de Deus, que na

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-25.htm (1 of 2)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    46/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.25.

    mesma hora deu com sua prpria mo uma oblao, dizendo: Ide, efazei que esta oferenda seja apresentada ao Senhor em favor delas,e a seguir j no estaro excomungadas. De fato, a oferta foiimolada em sufrgio das duas defuntas, e, quando o diconoclamou, segundo o costume, que sassem os excomungados, noforam mais vistas sair da igreja.

    Com isto ficou indubitavelmente claro que as ditas monjas, no maissaindo com aqueles que estavam privados da comunhoeclesistica, a tinham recuperado do Senhor por intermdio do seuservo.

    Pedro: muito para admirar que esse homem, embora venervel emuito santo, mas ainda vivendo nesta carne corruptvel, tenhapodido libertar almas j colocadas diante do invisvel juzo.

    Gregrio: Acaso, Pedro, no estava ainda nesta carne aquele queouviu: Tudo que ligares sobre a terra, ser ligado no cu, e tudoque desligares sobre a terra, ser desligado no cu (Mt 16,19) ? Opoder dos Apstolos de ligar e desligar, obtm-no hoje aqueles que,cheios de f e santos costumes, ocupam um posto de governosagrado. Contudo, para que o homem, feito do p da terra, goze detamanho poder, veio do cu terra o Criador do cu e da terra; e,para que a carne julgue tambm os espritos, Deus feito carne peloshomens deu-lhe o respectivo poder em sua liberalidade, pois a

    nossa fraqueza se elevou acima de si prpria pelo fato mesmo de seter enfraquecido sob si mesma a fora de Deus.

    Pedro: Em verdade, com o poder dos milagres concorda a eficciadas palavras do santo.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-25.htm (2 of 2)2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    47/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.26.

    CAPTULO XXIV. O MONGE SEPULTADO QUE A TERRAREJEITOU.

    Gregrio: Certa vez um jovem monge, que amava os pais mais doque devia, tendo sado do mosteiro sem bno, para ir casa dospais, morreu no mesmo dia em que a chegou. Sepultado, seu corpo,no dia seguinte apareceu fora da sepultura. Trataram de enterr-lonovamente, mas no dia seguinte encontraram o corpo mais uma vezde fora, insepulto como na vspera. Correndo, ento, sem demora,aos ps do Pai Bento, pediram com muitas lgrimas que se dignassede conceder ao filho a sua graa. O homem de Deus deu-lhesimediatamente com a prpria mo a comunho do corpo do Senhor,dizendo: Ide, com grande reverncia pondo-lhe sobre o peito estecorpo do Senhor, e colocai-o assim na sepultura. Feito isto, a terraguardou o corpo e no mais o rejeitou. Avalias, Pedro, quantomerecimento tinha esse homem junto ao Senhor Jesus Cristo, paraque a prpria terra lanasse fora os despojos daquele que nopossua o favor de Bento.

    Pedro: Avalio bem, e estou muito admirado.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-26.htm2006-06-01 18:48:4

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    48/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.27.

    CAPTULO XXV. O MONGE QUE ENCONTROU UM DRAGONO CAMINHO.

    Gregrio: Um dos monges de Bento se rendera inconstncia, eno queria mais ficar no mosteiro. Apesar de assiduamenterepreendido e admoestado pelo homem de Deus, de modo nenhumconsentia em permanecer na comunidade, e ainda insistia comimportunas splicas para que fosse despedido. Certo dia, ento, ovenervel Pai, j entediado pela importunao, ordenou-lhe iradoque se fosse embora. Logo que saiu, porm, o monge encontrou naestrada um drago sua espreita, de gela aberta. Como o monstroo quisesse devorar, comeou a gritar, todo trmulo e alvoroado: Socorro! Socorro! Pois este drago me quer devorar. Acorreram osirmos, os quais no viram drago algum, mas reconduziram aomosteiro o monge todo trmulo e agitado. Este logo prometeu nuncamais abandonar o mosteiro, e desde essa hora permaneceu fiel promessa, porquanto pelas oraes do santo varo pudera verdiante de si o drago que ele antes seguia sem ver.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-27.htm2006-06-01 18:48:5

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    49/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.28.

    CAPTULO XXVI. O MOO CURADO DA LEPRA.

    Tambm no quero passar em silncio o que ouvi do ilustre varoAntnio. Este contava que um servo de seu pai fora atacado delepra, a ponto de j se lhe entumecer a pele, carem os plos, e nopoder ele esconder o pus cada vez mais abundante. Mandado aohomem de Deus pelo pai de Antnio, o enfermo foi com prestezarestitudo sade anterior.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-28.htm2006-06-01 18:48:5

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    50/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.29.

    CAPTULO XXVII. O DINHEIRO ENTREGUE POR MILAGRE AODEVEDOR.

    Tampouco calarei aquilo que o discpulo de Bento chamadoPeregrino costumava narrar.

    Uma vez, certo homem fiel, impelido pelo aperto de uma dvida,acreditou ser seu nico remdio ir ter com o homem de Deus eexpor-lhe a urgente necessidade. Foi, pois, ao mosteiro, ondeencontrou o servo de Deus onipotente, e contou-lhe a grave aflioque sofria por parte de um credor a quem devia doze soldos.Respondeu-lhe o venervel Pai que no possua os doze soldos,mas, para no deixar de consolar com uma branda palavra a pobrezado homem, acrescentou: Vai, e volta daqui a dois dias, pois hojeno tenho o que te deveria dar. Nesses dois dias, conforme o seucostume, ficou entregue orao. Quando no terceiro dia voltou odevedor aflito, apareceram de repente treze soldos sobre uma arcado mosteiro, que estava cheia de trigo. O homem de Deus mandouapanh-los e entreg-los ao pedinte angustiado, dizendo-lhe quepagasse doze e guardasse um para os prprios gastos.

    Eis que agora volto a contar o que ouvi dos discpulos referidos noincio deste livro.

    Certo homem vivia sofrendo da gravssima inveja de um inimigo,cujo dio o impeliu mesmo a pr veneno ocultamente na bebidadaquele. No pde o veneno tirar a vida, mas a pele do homemperseguido mudou de cor, espalhando-se pelo corpo umas manchasque pareciam de lepra. O doente, porm, levado presena dohomem de Deus, depressa recuperou a sade, pois, logo que este otocou, lhe afugentou as manchas da pele.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-29.htm2006-06-01 18:48:5

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    51/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.30.

    CAPTULO XXVIII. A GARRAFA QUE NO SE QUEBROU.

    Na ocasio em que a falta de alimentos afligia to gravemente aCampanha, o homem de Deus distribura tudo que havia nomosteiro, a diversos indigentes, a ponto de quase nada mais restarna despensa, fora um pouco de azeite numa garrafa de vidro.Apareceu, ento, certo subdicono de nome Agapito, pedindo commuita instncia que lhe dessem um pouco de azeite. O homem deDeus, que tinha resolvido dar tudo na terra para que tudo lhe fosseguardado no cu, mandou que entregassem ao subdicono o poucode azeite que restava. Todavia, o monge encarregado da despensa,apesar de ter ouvido a ordem, retardou-lhe a execuo. Um poucomais tarde, perguntando-lhe Bento se fora dado o que mandara,respondeu que no, porque, se o fizesse, nada sobraria para osirmos. Indignado com isto, Bento ordenou a outros que atirassempela janela a garrafa com o resto de azeite, para que nada ficasse nomosteiro por desobedincia. Assim foi feito. Ora, sob a janela abria-se um grande precipcio eriado de pontas de rochedo. A garrafaarremessada foi dar naturalmente nas pedras, mas ficou inclumecomo se no tivesse sido jogada, de modo que nem ela se quebrounem o leo se derramou. vista disto, o homem de Deus mandouque a buscassem e entregassem, ntegra como estava, aosubdicono. Reunidos depois os irmos, repreendeu em presenade todos o monge desobediente pela sua falta de f e soberba.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-30.htm2006-06-01 18:48:5

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    52/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.31.

    CAPTULO XXIX. O TONEL QUE APARECEU CHEIO DEAZEITE.

    Depois desta repreenso, Bento entregou-se orao com osirmos. No recinto em que rezavam, havia um tonel de leo, vazio etapado. Ora, enquanto o santo homem persistia em orao, a tampado tonel comeou a erguer-se com o azeite que dentro crescia.Deslocada e suspensa a tampa, o azeite que subia, passou asbordas do tonel e acabou alagando o pavimento do lugar em que seachava. Ao notar isto, o servo de Deus Bento logo terminou aorao, e o azeite cessou de escorrer pelo cho. Ento, mais umavez admoestou o irmo pusilnime e desobediente a ter confiana ehumildade. O monge, argido, corou de vergonha, porquanto ovenervel Pai acabava de comprovar com um milagre o mesmopoder de Deus onipotente que em sua admoestao lhe recordara. Apartir de ento, no havia mais quem pudesse duvidar de suaspromessas, j que no mesmo instante tinha restitudo, por umagarrafa quase vazia, um tonel cheio de azeite.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Provvi...ibrary/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-31.htm2006-06-01 18:48:5

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    53/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.32.

    CAPTULO XXX. O MONGE LIBERTADO DO DEMNIO.

    Um dia, quando se encaminhava para a capela de S. Joo, sita noprprio cume da montanha, encontrou-se Bento com o antigoinimigo que, sob a figura de um veterinrio, ia levando um vaso dechifre e trs cordas. Tendo-lhe Bento perguntado: Aonde vais?,respondeu: Eis que vou ter com os irmos para dar-lhes umabebida. O venervel Pai, ento, continuou seu caminho para rezar e,logo que terminou a orao, voltou s pressas. Neste entrementes oesprito maligno, encontrando a tirar gua um velho monge, nesteentrou sem demora, e, prostrando-o por terra, o atormentou com amaior raiva. Quando o homem de Deus, de volta da orao, viu omonge assim cruelmente maltratado, deu-lhe uma bofetada apenas ecom isco logo expulsou o esprito mau, que no ousou voltar aagredir o velho.

    Pedro: Gostaria de saber se, to grandes milagres, Bento osobtinha sempre em virtude da orao, ou se, s vezes, tambm osrealizava por um mero ato de vontade.

    Gregrio: Os que de mente devota esto unidos a Deus, costumamfazer milagres, quando a necessidade o exige, de um e outro modo,isto , ora pela prece, ora pelo prprio poder. Pais que S. Joo diz:A todos os que o receberam, deu-lhes o poder de se tornaremfilhos de Deus (Jo 1,12), que de admirar se os que so filhos deDeus por poder, operam tambm prodgios por poder? Que de duasmaneiras faziam milagres, atesta-o Pedro, o qual, pela orao,ressuscitou Tabita defunta (Atos 9), ao passo que, com umarepreenso, entregou morte Ananias e Safira, que mentiam (Atos2); no se l que tenha orado para que estes morressem, massomente que repreendeu o crime que haviam perpetrado. certo,portanto, que os filhos de Deus realizam prodgios ora por poder,ora pela orao, visto que a estes Pedro, increpando, tirou a vida,enquanto quela, orando, a restituiu.

    Narrarei agora dois feitos do fiel servo de Deus, Bento, nos quais sev claramente que um, ele o pde operar pelo poder recebido deDeus, e o outro, pela orao.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-32.htm (1 of 2)2006-06-01 18:48:5

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    54/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.32.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-32.htm (2 of 2)2006-06-01 18:48:5

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    55/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.33.

    CAPTULO XXXI. O CAMPONS SOLTO PELO SIMPLESOLHAR DE BENTO.

    No tempo de Ttila rei dos Godos, um destes, chamado Zala,partidrio da heresia ariana, a tal ponto de crueldade ardia contra osque eram fiis Igreja catlica, que no houve um s clrigo oumonge que, tendo-o encontrado, escapasse vivo das suas mos.Inflamado, certo dia, pela avareza e a avidez da rapina, ps-se aafligir com cruis tormentos um campons; ora, quando lhe rasgavaas carnes em diversos suplcios, este, vencido pelos sofrimentos,declarou-lhe que havia depositado todos os bens em mos do servode Deus. Bento: o pobre campons esperava que, acreditando ocarrasco nas suas palavras, suspendesse a crueldade, e a vtimapudesse ganhar no intervalo algumas horas de vida.

    Zala, com efeito, cessou de maltratar o campons, mas, atando-lheos braos com fortes correias, obrigou-o a caminhar diante docavalo para mostrar-lhe quem era esse Bento que recebera os seushaveres. Indo frente, de braos amarrados, o campons conduziuZala ao mosteiro do santo varo, que encontraram sozinho a ler,sentado porta do mosteiro. Disse, ento, o campons a Zala, quecheio de raiva o seguia: Eis a o Pai Bento, de quem te falei.

    Na excitao em que ia, com toda a fria do seu perverso corao,Zala ps os olhos no homem de Deus e, pensando poder agir com oterror costumeiro, comeou a gritar-lhe: Levanta-te, levanta-te, edevolve os bens que recebeste deste campons! A sua voz, ohomem de Deus ergueu os olhos da leitura e, tendo encarado Zala,olhou em seguida para o campons, que continuava amarrado.Apenas, porm, posou os olhos nos braos deste, as correias queos ligavam, comearam a desamarrar-se de modo maravilhoso ecom tanta rapidez que teria sido impossvel ao mais presto doshomens desata-las to depressa. Quando aquele que vieramanietado, de repente apareceu solto, Zala, tremendo diante detanto poder, caiu no cho, e, inclinando aos ps de Bento a cabeacruel, recomendou-se s suas oraes. Nem por isto o santo homemse levantou da leitura, mas, tendo chamado os irmos, mandou queo introduzissem no mosteiro para dar-lhe um pouco de po bento.Quando Zala voltou presena do santo, este admoestou-o asuspender tanta crueldade e insensatez; depois do que, o tirano sefoi, comovido, e nada mais ousou reclamar do campons que o

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-33.htm (1 of 2)2006-06-01 18:48:5

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    56/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.33.

    homem de Deus, no pelo tato, mas apenas pelo olhar, soltara.

    Eis a, Pedro, o que eu disse: os que servem familiarmente a Deustodo-poderoso, podem de vez em quando operar milagres tambmpor prprio poder. Esse que, sentado, reprimiu a ferocidade doterrvel godo e com o simples olhar desatou correias e ns queprendiam o inocente, est a indicar, pela rapidez mesma do milagre,

    que recebera o poder de fazer o que fez.

    Agora ainda descreverei quo grande milagre Bento, orando, pdeobter.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-33.htm (2 of 2)2006-06-01 18:48:5

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    57/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.34.

    CAPTULO XXXII. O MORTO RESSUSCITADO.

    Certo dia havia Bento sado com os irmos para os trabalhos docampo, quando um campons, trazendo nos braos o corpo de umfilho morto, veio ao mosteiro, todo aflito pela perda e perguntou peloPai Bento. Quando lhe disseram que o Pai estava no campo com osirmos, sem delongas deps o corpo em frente porta do mosteiroe, transtornado pela dor, lanou-se a correr em busca do venervelPai.

    Naquela hora o homem de Deus j voltava do campo com os irmos.Apenas o campons o viu, comeou a gritar: Devolve meu filho,devolve meu filho! O homem de Deus parou ao ouvir estesclamores, e disse: Acaso te tirei o filho? - Ele morreu, vem,ressuscita-o , respondeu o campons. Ouvindo isto, o servo deDeus ficou muito triste e disse: Retirai-vos, irmos, retirai-vos; talpoder no compete a ns, mas aos santos Apstolos. Porque queresimpor-nos um peso que no podemos suportar? O infeliz, porm,impelido por uma dor profunda, persistia no pedido, jurando que nose retiraria sem que Bento lhe ressuscitasse o filho. Onde est?,interrogou ento o servo de Deus. Ao que aquele respondeu: Ocorpo jaz porta do mosteiro. Quando ali chegou o homem deDeus com os irmos, dobrou os joelhos e debruou-se sobre ocorpinho da criana. Erguendo-se depois, estendeu para o cu asmos, e disse: Senhor, no consideres os meus pecados, mas a fdeste homem que roga lhe seja ressuscitado o filho; e restitui a estecorpinho a alma que tiraste. Mal terminara as palavras da orao,quando o corpinho inteiro da criana estremeceu por a voltar aalma, e todos os presentes viram que no maravilhoso abalo ocorpinho palpitava a tremer. Bento, ento, agarrou-lhe as mos, edevolveu-o vivo e inclume ao pai.

    evidente, Pedro, que no estava em seu poder tal milagre, poisque, para conseguir faz-lo, teve de prostrar-se e orar.

    Pedro: certo que as coisas so como dizes, pois provas comfatos as sentenas que propes. Peo-te agora que ds a conhecerse os santos homens podem tudo que querem, e obtm tudo quedesejam.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-34.htm (1 of 2)2006-06-01 18:48:5

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    58/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.34.

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...ry/001%20-Da%20Fare/GregorioMagnoVidaSaoBento-34.htm (2 of 2)2006-06-01 18:48:5

  • 7/27/2019 Vida de So Bento, por Gregrio

    59/69

    . Gregrio Magno SEGUNDO LIVRO DOS DILOGOS: VIDA DE SO BE: C.35.

    CAPTULO XXXIII. O MILAGRE DE ESCOLSTICA, IRM DEBENTO.

    Gregrio: Pedro, quem ser nesta vida mais sublime do que Paulo,o qual trs vezes rogou ao Senhor que o livrasse do aguilho dacarne, e, contudo, no pde obter o que queria (2 Cor 12,7-9) ; devo,por isto, contar-te que houve coisa que o venervel Pai Bento nopde alcanar.

    A irm de Bento, de nome Escolstica, consagrada desde a infnciaa Deus onipotente, tinha o costume de visitar o irmo uma vez porano; o homem de Deus descia a receb-la numa propriedade domosteiro, no longe da portaria. Foi ela, pois, um dia, como decostume, e seu venervel irmo, acompanhado de alguns discpulos,desceu a v-Ia. Passaram o dia todo em louvores de Deus e emsantos colquios, e, ao carem as trevas da noite, juntos tomaramalimento. Quando ainda estavam mesa, enquanto o tempo entresantas conversaes avanava a uma hora tardia, a monja irm deBento rogou-lhe o seguinte: Peo-te, irmo, que no me deixes estanoite, para podermos falar at a manh das alegrias da vida celeste.Ao que ele respondeu: Que que dizes, irm? Ficar fora domosteiro, de modo nenhum o posso