Gregório de Nissa - Vida de Moisés

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    . Gregrio de Nisa 335 - 394 SOBRE A VIDA DE MOISS

    S. Gregrio de Nissa

    335 - 394

    SOBRE A VIDA DE MOISS

    s SOBRE AVIDA DE

    MOISS

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    . Gregrio de Nisa 335 - 394 SOBRE A VIDA DE MOISS :Index.

    S. Gregrio de Nissa

    335 - 394

    SOBRE A VIDA DE MOISS

    Traduo segundo a Patrologia Grega de Migne com base na versode D. Lucas F. Mateo

    ndice Geral

    s PRIMEIRA PARTE: HISTRIA DE MOISS

    s SEGUNDA PARTE: INTERPRETAOMSTICA DA VIDA DE MOISS

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    GREGORIONISSASOBREAVIDADEMOISES: PRIMEIRA PARTE HISTRIA DE MOISS , Index.

    PRIMEIRA PARTE

    HISTRIA DE MOISS

    ndice

    PREFCIO

    CAPTULO 1.

    CAPTULO 2.

    CAPTULO 3.

    CAPTULO 4.

    CAPTULO 5.

    CAPTULO 6.

    CAPTULO 7.

    CAPTULO 8.

    CAPTULO 9.

    CAPTULO 10.

    CAPTULO 11.

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    GREGORIONISSASOBREAVIDADEMOISES: SEGUNDA PARTE INTERPRETAO MSTICA DA VIDA DE MOISS , Index.

    SEGUNDA PARTE

    INTERPRETAO MSTICA DA VIDA DE MOISS

    ndice

    CAPTULO 1.

    CAPTULO 2.

    CAPTULO 3.

    CAPTULO 4.

    CAPTULO 5.

    CAPTULO 6.

    CAPTULO 7.

    CAPTULO 8.

    CAPTULO 9.

    CAPTULO 10.

    CAPTULO 11.

    CAPTULO 12.

    CAPTULO 13.

    CAPTULO 14.

    CAPTULO 15.

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    CAPTULO 16.

    CAPTULO 17.

    CAPTULO 18.

    CAPTULO 19.

    CAPTULO 20.

    CAPTULO 21.

    CAPTULO 22.

    CAPTULO 23.

    CAPTULO 24.

    CAPTULO 25.

    CAPTULO 26.

    CAPTULO 27.

    CAPTULO 28.

    CAPTULO 29.

    CAPTULO 30.

    CAPTULO 31.

    CAPTULO 32.

    CAPTULO 33.

    CAPTULO 34.

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    CAPTULO 35.

    CAPTULO 36.

    CAPTULO 37.

    CAPTULO 38.

    CAPTULO 39.

    CAPTULO 40.

    CAPTULO 41.

    CAPTULO 42.

    CAPTULO 43.

    CAPTULO 44.

    CAPTULO 45.

    CAPTULO 46.

    CAPTULO 47.

    CAPTULO 48.

    CONCLUSO

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    . Gregrio de Nisa 335 - 394 SOBRE A VIDA DE MOISS : L.0, C.1.

    S. Gregrio de Nissa

    335 - 394

    SOBRE A VIDA DE MOISS

    PRIMEIRA PARTE

    HISTRIA DE MOISS

    PREFCIO

    Os aficionados pelas corridas de cavalos, embora aqueles a quemapoiam nos esforos das corridas no se descuidem um instante emsuas tentativas de ser velozes, nas arquibancadas e envolvendocom os olhos todo o certame, gritam no desejo de os ver triunfar, ecom os gritos incitam ao cocheiro e aos cavalos ao menos assim ocrem - a um impulso mais forte; dobram os joelhos ao mesmotempo que os cavalos e estendem as mos para a frente, agitando-as como um chicote. No atuam assim porque estas coisas causema vitria, mas pelo interesse que sentem pelos participantes, que osleva a mostrar sua preferncia com a palavra e com o gesto. Algosemelhante me parece acontecer contigo, o mais estimado dosamigos e irmos: enquanto no estdio das virtudes te empenhasvalentemente na competio divina e avanas com passos geis erpidos para a recompensa do chamado que vem de cima, te animocom minhas palavras, e te apresso, e te exorto a aumentar o esforopara ser mais veloz. Atuo assim no como quem se deixa levar porum impulso irrefletido, mas como quem proporciona a um filhoquerido tudo o que lhe grato. Como na carta que me enviaste

    recentemente me pedes um conselho para a vida perfeita, mepareceu conveniente te propor com minhas palavras algo que talvezs te ser til se se converter para ti em um exemplo eficaz deobedincia. Com efeito, se eu, que estou colocado no lugar de paipara tantas almas, considero conveniente a meus cabelos brancosaceder ao pedido de tua juventude virtuosa, tanto mais convenienteser que se reforce em ti a disposio docilidade, agora que a tuajuventude tem sido instruda por mim a uma obedincia voluntria. E

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    j basta deste tema. Iniciemos j o assunto proposto, tomando aDeus como guia de nosso discurso. Pediste-me, meu querido, que tetrace um esboo de qual a vida perfeita, com a inteno evidentede aplicar a tua prpria vida se o que procuras se encontra emminha resposta a graa indicada por minhas palavras. Sinto-meigualmente incapaz destas coisas: confesso que se encontra acimade minhas foras tanto o definir com palavras em que consiste a

    perfeio, como o mostrar em minha vida o que o espirito entendedela. Talvez no s eu, mas tambm muitos dos grandes eavanados na virtude confessaro que uma coisa assim tambm no alcanvel para eles. Explicarei com a maior clareza o que estoutentando dizer, para no parecer, dizendo-o com as palavras doSalmo, que tenho temor onde no deve haver temor (Sal 13, 5). Emtodas as coisas pertencentes ordem sensvel, a perfeio estcircunscrita por alguns limites, como sucede com a quantidadecontnua ou descontnua. Com efeito, tudo aquilo que se pode medir

    quantitativamente se encontra em limites bem definidos, e algumque considere um pedao ou o nmero dez sabe bem que, paraessas coisas, a perfeio consiste em ter um comeo e um fim. Poroutro lado, com relao virtude, aprendemos com o Apstolo queo nico limite de perfeio consiste em no ter limite. Aquele divinoApstolo, grande e elevado de pensamento, correndo sempre pelocaminho da virtude, jamais cessou de se lanar para a frente, poislhe parecia perigoso deter-se na corrida. Por que? Porque todo obem, pela prpria natureza, carece de limites, e s limitado pela

    presena de seu contrrio, como a vida limitada pela morte e a luzpelas trevas; em geral, tudo aquilo que bem tem seu fim naquiloque considerado o oposto do bem. Assim como o fim da vida ocomeo da morte, assim tambm o deter-se na corrida pela virtude o princpio da corrida ao vcio.

    Por este motivo, no nos enganava nosso raciocnio ao dizer que, noque diz respeito virtude, impossvel uma definio da perfeio,j que demonstramos que tudo que se encontra demarcado por

    alguns limites no virtude. E como eu disse que para aqueles quevo atras da virtude impossvel alcanar a perfeio, esclarecereimeu pensamento com relao a esta questo. O Bem em sentidoprimeiro e prprio, aquele cuja essncia a Bondade, esse mesmo a Divindade. Esta chamada com propriedade e realmente tudoaquilo que implica sua essncia. Como j foi demonstrado que avirtude no tem mais limite alem do vcio, e foi demonstrado tambmque na Divindade no cabe o que contrrio, conclui-seconsequentemente que a natureza divina infinita e ilimitada.

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    Portanto, quem busca a verdadeira virtude no busca outra coisaseno Deus, j que Ele a virtude perfeita. Com efeito, aparticipao do Bem por natureza completamente desejvel paraquem o conhece, e, alem disso, o Bem ilimitado; segue-se, pois,necessariamente que o desejo de quem busca participar dele coextensivo com aquilo que ilimitado, e no se detm jamais.Portanto, impossvel alcanar a perfeio, pois, como j dissemos,

    a perfeio no est circunscrita por nenhum limite; o nico limiteda virtude o ilimitado. E como poder algum chegar ao limiteprefixado, se este limite no existe? Porem o fato de havermosdemonstrado que o que buscamos totalmente inatingvel, nojustifica que se possa descuidar do preceito do Senhor, que diz:Sede perfeitos, como perfeito vosso Pai celeste. Com efeito,aqueles que tm bom senso julgam grande ganncia no carecer deuma parte dos bens verdadeiros, ainda que seja impossvel alcana-los de forma completa. Deve-se portanto, por todo ardor em no

    estar privado da perfeio possvel e, em conseqncia, em alcanardela tanto quanto sejamos capazes de receber em nosso interior.Talvez a perfeio da natureza humana consista em estar sempredispostos a conseguir um maior bem. Parece-me oportuno tomar aEscritura como guia nesta questo. De fato, a voz de Deus diz pormeio da profecia de Isaas: Lanai os olhos para Abrao vosso pai, epara Sara que vos deu luz (Is 51,2). A palavra divina faz estaexortao queles que erram longe da virtude, para que assim comoos navegantes que se desviaram de sua rota para o porto corrigem-

    se de seu erro graas a um sinal que se lhes faz visvel vendo umsinal de fogo posto no alto ou em cima de um monte assimtambm aqueles que erram no mar da vida levados por uma mentesem timoneiro, se dirijam novamente ao porto da vontade divinaseguindo o exemplo de Abrao e Sara. A natureza humana se divideem feminino e masculino, e a escolha entre virtude e vicio seapresenta igualmente ante ambos os sexos. Por esta razo, apalavra divina oferece o exemplo de virtude correspondente a cadauma das partes, para que, olhando cada uma para o que lhe afim

    os homens para Abrao e a outra parte para Sara as duas seencaminhem para a vida virtuosa com exemplos que lhe sejamprximos. Tambm ser suficiente para ns a lembrana de umdestes personagens ilustres por sua vida, para faze- lo desempenharo papel de guia, e mostrar assim como possvel que a alma chegueao porto seguro da virtude, onde j no estar exposta de nenhumaforma s tempestades da vida, e onde no correr o risco de cair noabismo do vicio por causa dos sucessivos embates das ondas daspaixes.

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    Talvez a histria destes homens ilustres tenha sido escritadetalhadamente para isto: para que a vida dos que vm depois sedirija para o bem imitando as coisas que foram feitasprecedentemente com retido. Talvez algum diga: se eu no soucaldeu como sabemos que foi Abrao, nem fui criado pela filha doEgpcio como conta a histria de Moiss, nem tenho nada em

    comum na forma de viver com nenhum destes homens de outrostempos, como conformarei minha vida com a de um deles, se notenho como imitar a algum que me to afastado em sua forma deviver? Respondemos que no pensamos que ser caldeu seja vicioou virtude, nem que ningum se encontre afastado da vida virtuosapor viver no Egito ou habitar na Babilnia. Pelo contrrio, nem Deusse faz conhecer somente na Judia daqueles que so dignos, nemSio, entendido em sentido literal, a casa de Deus (Sal 75, 2-3).Portanto, teremos necessidade de uma interpretao mais sutil e deum olhar mais agudo para discernir sempre, a partir da histria, deque caldeus ou egpcios havemos de nos distanciar e de quecativeiro da Babilnia devemos escapar para conseguir a vida bem-aventurada. Daqui para a frente, em nosso discurso, tomamosMoiss como modelo de vida. Em primeiro lugar, recorreremosrapidamente sua vida, conforme a conhecemos pela divinaEscritura; depois buscaremos o significado espiritualcorrespondente histria, para receber um ensinamento sobre avirtude. Assim conheceremos em que consiste para os homens avida perfeita.

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    CAPTULO 1.

    Diz-se que Moiss viu a luz quando a lei do tirano proibia mantervivos os vares que nascessem (Ex 1, 16) e que com sua graapressagiava j toda a graa que com o tempo haveria de reunir.Parecia to belo j em fraldas (Ex 2, 2), que seus pais resistiram adestrui-lo com a morte. Depois, quando a ameaa do tirano se fezmais forte, no o atiraram sem mais corrente do Nilo, mas ocolocaram em uma cesta cujas junes haviam sido calafetadas combreu e piche, e desta forma o entregaram corrente. Assim oexplicam aqueles que refizeram cuidadosamente a histria que a elese refere. Guiada por uma fora divina, a cesta arribou a umaencosta transversal, levada a este lugar pelo prprio movimento dasguas. A filha do rei veio regio da praia onde se encontrava acesta e, sendo alertada pelos vagidos que vinham da caixa,converteu-o em achado da rainha. Imediatamente, a princesa, vendoa beleza que resplandecia dele, encheu-se de benevolncia e oadotou como filho. E posto que ele rechaasse instintivamente umpeito estranho, foi alimentado com o peito materno graas a um ardilde parentes (Ex 2, 1-9). Durante sua educao de prncipe, instrudonas cincias estrangeiras, ao sair da infncia no escolheu as coisasque eram tidas em grande apreo pelos estrangeiros, nem deixouver que confessava como me quela me inventada que o haviafeito filho adotivo, mas retornou sua me natural e se misturou

    com os que eram de sua estirpe. Tendo-se originado uma briga entreum hebreu e um egpcio, tomou o partido do compatriota e matou oegpcio (Ex 2, 1113). Pouco depois, quando brigavam dois hebreus,tentou acalmar a querela fazendo-os notar que, entre irmos, bomtomar como rbitro das divergncias a natureza e no a ira (Ex 2, 1315). Rechaado por aquele que se inclinava injustia (Ex 2, 16-21)(At 7, 23-28), fez desta afronta o ponto de partida para uma filosofiamais alta: depois disto, tendo se afastado da convivncia com amultido (Ex 2, 15), passa a vida na solido e contrai parentesco

    com um estrangeiro sagaz para discernir o melhor e acostumado ajulgar os costumes e a vida dos homens. Bastou a este uma nicaao refiro-me ao ataque dos pastores para descobrir a virtudedo jovem: como havia lutado pela justia sem pensar em seu prprioproveito, mas por achar que o justo valioso por sua prprianatureza, e como castigara a injustia dos pastores, que no haviamfeito nenhum dano a ele. Tendo admirado o jovem por estas coisas,e estimando que, apesar de sua manifesta pobreza, sua virtude eramais valiosa que uma grande riqueza, entrega-lhe sua filha por

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    esposa, e permite-lhe levar uma vida segundo seus desejos.

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    CAPTULO 2.

    Ele escolheu conduzir nos montes uma vida solitria, afastada dotumulto das praas e dedicada a guardar os rebanhos no deserto. Ahistria nos conta (Ex 3, 1-6) que, passado algum tempo nesta vida,Moiss recebeu uma surpreendente apario de Deus: em umtranqilo meio dia, reluziu ante seus olhos uma luz mais forte que aluz do sol; estranhando o inusitado do espetculo, levantou os olhospara o monte e viu um arbusto do qual saia um resplendor como defogo. Como os ramos da planta estavam verdes como se as chamasfossem orvalho, disse a si mesmo estas palavras: vamos e vejamoseste grande espetculo. Isto nos diz que o prodgio da luz nosomente se mostrou a seus olhos mas, o que mais impressionantede tudo, seus ouvidos foram iluminados com os resplendores da luz.Com efeito, a graa da luz foi distribuda a ambos os sentidos: osolhos foram iluminados com os resplendores da luz, e os ouvidosforam levados luz com instrues purssimas. Isto , a voz quesaa daquela luz proibiu Moiss de aproximar-se do monte comcalados feitos de peles mortas; quando ele livrou seus ps doscalados, tocou assim aquela terra que estava iluminada com a luzdivina. Depois dessas coisas, no julgo oportuno que o discurso seentretenha muito na histria deste homem, para ater-nos mais anosso propsito, fortalecido com a teofania que vira, recebeu amisso de livrar o seu povo da escravido dos egpcios. E para que

    melhor se convencesse da fora que recebia do alto, ele, pordisposio de Deus, faz a experincia com o que tem nas mos. Estafoi a experincia: o basto que sua mo deixou cair se animou, equando foi retomado por suas mos, voltou a ser o que era antes detransformar-se em animal. Depois o aspecto de sua mo quando atira do seio se transforma em um branco como de neve, ereintroduzida ao seio recobra seu aspecto natural (Ex 4, 2-7).Quando Moiss descia do Egito levando consigo sua esposa, queera estrangeira, e os filhos que tinha tido com ela, conta-se que um

    anjo saiu-lhe ao encontro causando-lhe um medo de morte, e que amulher o aplacou com o sangue da circunciso do menino. Foi entoque ocorreu o encontro com Aaro que fora impelido por Deus paraeste encontro (Ex 4, 24-28). Ambos convocam ento o povo parauma assemblia geral e anunciam aos que estavam oprimidos pelopadecimento dos trabalhos, a libertao da escravido. Sobre estetema ele teve uma conversa com o tirano. Por causa dessas coisas,aumentou a clera do tirano contra os que dirigiam os trabalhos econtra os israelitas: aumentou ento o tributo de ladrilhos, e enviou

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    uma ordem mais pesada, de forma que os israelitas no spadeciam pelo barro, mas tambm eram sobrecarregados por causada palha e das canas (Ex 5, 1-23). Depois o Fara, este era o nomedo tirano egpcio, tentou fazer frente, com os encantamentos dosfeiticeiros, aos prodgios que eles faziam pela vontade de Deus.Quando Moiss tornou a converter seu basto em animal ante osolhos dos egpcios, a magia pareceu realizar o mesmo prodgio nos

    bastes dos magos. Porem o engano foi desmascarado, pois aserpente surgida da transformao do basto de Moiss, ao comeros troncos dos magos, isto , as serpentes, demonstrou assim queos bastes dos magos no tinham nenhuma fora para se defendere nem para viver, mas apenas a aparncia de um truque mgico paraverem os olhos daqueles que eram fceis de enganar (Ex 7, 8-12).Quando Moiss viu que todos os sditos estavam de acordo com oprncipe da maldade, fez vir uma praga geral sobre todo o povoegpcio, sem que ningum escapasse da experincia dos males. E

    para infligir este castigo aos egpcios, cooperaram com ele osmesmos elementos que vemos no universo: a terra, a gua, o ar, ofogo, que trocaram suas foras conforme a vontade dos homens.

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    CAPTULO 3.

    Com efeito, quem estava livre de culpa permanecia inclume,enquanto que com a mesma fora, ao mesmo tempo e no mesmolugar, era castigado o culpado. Ao comando de Moiss todo tipo degua se converteu em sangue para o Egito, ao ponto de que tambmos peixes morressem por causa da densidade carnosa em que sehavia transformado a gua; o sangue, por outro lado, voltava a seconverter em gua para os hebreus, quando a tomavam. Aqui osmagos reaparecem para simular, na gua que tinham os hebreus, aaparncia de sangue (Ex 7, 20-22). Sucedeu o mesmo com as rsque invadiram o Egito: sua apario at uma proliferao de talmagnitude no pode ser avaliada como uma conseqncia danatureza, mas que o comando dado espcie das rs modificou anatureza conhecida destes animais. Todo o Egito foi atormentadopor estes animais que invadiram inclusive as casas, enquanto a vidados hebreus se mantinha limpa dessas coisas repugnantes (Ex 7, 25-29). Da mesma forma, a atmosfera no permitia aos egpciosnenhuma distino entre a noite e o dia; permaneciam em umobscuridade uniforme, enquanto para os hebreus, nas mesmascircunstncias, nada havia mudado em relao ao habitual. E domesmo modo com relao a todas as demais coisas: o granizo, ofogo, os mosquitos, as pstulas, as moscas, a nuvem degafanhotos. Cada uma, segundo sua prpria natureza, feriu os

    egpcios; os hebreus, ao contrrio, sabiam do sofrimento de seusvizinhos por rumores e relatos, pois no experimentaram em simesmos o ataque dessas calamidades. Depois, a morte dosprimognitos fez mais clara a diferena entre o povo hebreu e oegpcio: uns se desfaziam em lamentaes pela perda dos seresmais queridos (Ex 12, 29); os outros permaneciam em totaltranqilidade e segurana, porque tinham a salvao confirmadapela asperso do sangue e por haverem marcado as portas comsangue, como senha, em cada um dos lados das ombreiras e no

    montante que as unia (Ex 10, 21-23). Depois disso, enquanto osegpcios estavam abatidos pelo desastre dos primognitos echoravam sua desgraa, solitrios ou todos juntos, Moiss comeoua dirigir o xodo dos israelitas, aps haver advertido que levassemconsigo, como emprstimo, a riqueza dos egpcios. Quando j sepassavam trs dias de caminho fora do Egito conta-nos a histria

    pareceu insuportvel ao Egpcio que Israel no permanecesse naescravido e, havendo mobilizado todos os seus sditos para aguerra, correu atras do povo com sua cavalaria. Este, quando viu o

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    arrancar da cavalaria e da infantaria, sendo inexperiente nas artes daguerra e estando pouco acostumado a estes espetculos, deixou-selevar imediatamente pelo medo e rebelou-se contra Moiss. Ahistria conta tambm este feito paradoxal de Moiss: que suaatividade foi dupla. Com efeito, com a voz e a palavra dava nimoaos israelitas e os exortava a ter boas esperanas, e ao mesmotempo apresentava a Deus suas splicas em seu corao em favor

    daqueles que se encontravam em tal apuro, e era instrudo por meiodo conselho divino sobre como poderia fugir de tal perigo (Ex 12, 31-14, 5). Pois Deus mesmo, como conta a histria, escutava sua vozsilenciosa. Uma nuvem guiava o povo por virtude divina, no porsua prpria natureza. Sua substncia, com efeito, no era formadapor alguns vapores ou exalaes como resultado de que o ar sehouvesse feito mais denso por causa de substncia mida e de suacompresso pelos ventos, mas era algo muito maior e que excedia acompreenso humana. Como atesta a Escritura, aquela nuvem era

    um prodgio tal que, quando os raios do sol brilhavam abrasadores,se convertia em uma proteo para o povo, fazendo sombra para osque estavam em baixo e umedecendo o calor excessivo do ar comuma gua fina; durante a noite se transformava em fogo, iluminandoos israelitas com o resplendor de sua prpria luz desde o entardecerat o nascimento do dia (Ex13, 21-23).

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    CAPTULO 4.

    Moiss olhava para a nuvem e ensinava o povo a seguir estefenmeno. Ento chegaram ao mar Vermelho. Ali, enquanto a nuvemdirigia a marcha, as tropas dos egpcios cercaram completamente opovo por traz, sem lhe deixar possibilidade de escapar por nenhumaparte, encurralado entre seus terrveis inimigos e o mar. Foi entoque Moiss, reconfortado com a fora divina, fez o mais incrvel detudo. Tendo se aproximado da margem, golpeou o mar com seubasto. O mar se fendeu com o golpe. E, como costuma acontecercom o vidro que comeando a se rachar em uma parte a fenda chegadiretamente at o outro extremo, assim, fendido todo aquele mar emuma extremidade pelo basto, a fenda das ondas se estendeu at amargem oposta. Onde o mar se havia dividido, Moiss desceu at ofundo; junto com todo o povo, estava nas profundezas, com o corpoenxuto e iluminado pelo sol. No fundo seco do mar, atravessou a pos abismos, sem temer aquela muralha de ondas que se haviamformado de um lado e de outro: uma fortificao reta, feita dos ladosdeles, da solidificao do mar (Ex 14, 19-22). Porem, quando o Faraentrou com os egpcios no mar pelo caminho aberto recentementeentre as ondas, as guas se uniram novamente com as guas; o marfechando-se sobre si mesmo segundo sua forma primitiva, mostroua superfcie da gua novamente unida, enquanto os israelitas, namargem oposta, se refaziam do grande esforo de sua marcha

    atravs do mar. Ento cantaram a Deus um canto de vitria porhaver erguido para eles um trofu sem derramamento de sangue,posto que os egpcios haviam sido aniquilados sob as guas comtodo seu exrcito, seus cavalos, seus carros e suas armas (Ex 14, 26-15, 21). Depois disto, Moiss continuou avanando e, aps haverpercorrido durante trs dias um caminho sem gua, encontrou-seem grandes dificuldades ao no ter como saciar a sede do exrcito.Havia uma lagoa de gua salobra, mais amarga que a gua do mar,ao redor da qual acamparam. Estavam ali sentados em torno da

    gua, devorados pela nsia de gua. Moiss, impelido por umainspirao divina, tendo encontrado um pedao de pau naquelelugar, atirou-o na gua que, imediatamente, se converteu em potvelpela prpria fora daquele lenho, que transformou a natureza dagua de salobra em doce (Ex 15, 22-25). Posto que a nuvemempreendesse novamente a marcha para adiante, eles se puseramtambm em marcha seguindo o movimento de seu guia. Faziamsempre o mesmo, parando onde a deteno da nuvem lhes dava osinal de descanso, e empreendendo a marcha precisamente quando

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    a nuvem recomeava a guia- los. Seguindo este guia, chegaram aum lugar regado por gua potvel, banhado generosamente pordoze fontes e que recebia a sombra de um bosque de palmeiras. Aspalmeiras eram setenta. Apesar de nmero to pequeno, bastavampara produzir grande admirao a quem as olhava porque eram deexcepcional beleza e altura (Ex 15, 27). Tendo o guia se postonovamente em movimento, isto , a nuvem conduz o exrcito dali

    para outro lugar. Este era um deserto de areia seca que queimava,sem uma nica gota de gua que umedecesse aquele lugar. Aqui opovo foi atormentado novamente pela sede. Uma pedra situada auma certa altura, golpeada com a vara por Moiss, deu gua doce epotvel mais que suficiente para a necessidade do exrcito (Ex 17, 1-6). Ali mesmo se acabou a proviso de alimentos que haviam trazidodo Egito para o caminho. O povo foi acossado pela fome e teve lugaro milagre maior de todos: o alimento no lhes brotava da terra comoseria natural, mas vinha gotejado de cima, do cu, em forma de

    orvalho. Pois ao amanhecer do dia caa para eles um orvalho. Esteorvalho se convertia em alimento para os que o recolhiam. O quecaa no eram gotas lquidas de gua, como ocorre normalmentecom o orvalho, mas em lugar de gotas de gua caam grosparecidos com gelo; sua forma era redonda como semente decoentro, e seu sabor parecia a doura do mel (Ex 16, 14).

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    CAPTULO 5.

    Junto com este prodgio observava-se outro. Todos os que haviamsado para a coleta eram evidentemente diferentes em idades eforas. No obstante, no obtinha um mais e o outro menosconforme a diferena de foras existente entre eles, mas o que erarecolhido era proporcional necessidade de cada um, de forma quenem o mais forte conseguia mais, nem o mais fraco tinha menos doque a medida justa. Alem deste prodgio, a histria narra outro: cadaum recolhia para o dia e no guardava nada para depois, e sealgum, por economia, reservava algo do alimento do dia para oamanh, o reservado se tornava intil para a alimentao, pois setornava infectado de bichos (Ex 16, 16 24). Na histria dessealimento deu-se tambm este outro prodgio. Uma vez que um dia dasemana era celebrado com o descanso conforme uma disposioantiga, no dia anterior, embora casse o mesmo alimento dos diasprecedentes e o esforo de quem o recolhia fosse tambm o mesmo,resultava que a quantidade era o dobro da habitual, de forma queno tinham nenhum pretexto para no cumprir a lei do descanso. Opoder divino se mostrou ainda mais plenamente nisto; enquanto assobras se tornavam inteis nos outros dias, s o armazenado no diaanterior ao Sbado, assim se chamava o dia de descanso, semantinha sem corrupo, de modo que em nada parecia maisestragado em relao vspera (Ex 16, 25- 30). Houve uma guerra

    deles contra um povo estrangeiro. A narrao chama amalecitas aosque se uniram ento contra eles. Foi naquela ocasio que osisraelitas se organizaram pela primeira vez no sentido de batalha:no foram lanados luta todos em um exrcito completo, masforam selecionados por seu valor, e os escolhidos foram designadospara a peleja. Nesta peleja Moiss mostrou uma nova forma de luta:enquanto Josu, que era quem guiava o povo depois de Moiss,comandava a batalha aos amalecitas, Moiss, fora da luta, a partir deuma colina, olhava para o cu enquanto, de um lado e de outro, o

    assistiam dois de seus familiares (Ex 17, 8-10). Sabemos pelahistria que, entre as coisas que ento aconteceram, teve lugar esteprodgio: Se Moiss mantinha as mos elevadas ao cu, seu exrcitocobrava foras contra os inimigos: porem, se os abaixava, tambm oexrcito cedia ao assalto dos estrangeiros. Ao perceberem isto, osque assistiam a Moiss, colocando-se de um lado e de outro,sustentavam-lhe as mos quando por alguma causa desconhecidaelas se tornavam pesadas e difceis de se mover. E como eles eramfracos para mante-lo em posio ereta, escoraram sua posio com

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    uma pedra, e conseguiram que Moiss mantivesse as moslevantadas ao cu com este apoio. Feito isto, os estrangeiros foramdominados pelas foras dos israelitas (Ex 17, 11-13). A nuvem queguiava o caminhar do povo permanecia no mesmo lugar; era precisoque tambm no se movesse o povo, j que no havia guia para seucaminhar. Desta forma tinham abundncia para viver sem esforo:acima o ar fazia chover sobre eles um po preparado; e abaixo a

    pedra lhes proporcionava gua; a nuvem aliviava os inconvenientesdo ar livre, pois durante o dia se convertia em anteparo contra ocalor do sol e durante a noite dissipava a escurido iluminando comseu fogo. Por esta razo no lhes era penoso deter-se naqueledeserto ao p do monte em que se havia instalado o acampamento.

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    . Gregrio de Nisa 335 - 394 SOBRE A VIDA DE MOISS : L.0, C.7.

    CAPTULO 6.

    Neste tempo, Moiss foi para eles guia de uma iniciao maismisteriosa: foi propriamente a fora divina que, por meio deprodgios que superam todos os discursos, iniciou no mistrio todoo povo e seu guia. A iniciao no mistrio realizou-se desta maneira:pediu-se ao povo que permanecesse livre de todas as manchas quepodem ocorrer no corpo e na alma, e que se abstivesse de relaesconjugais durante o nmero estabelecido de trs dias, de forma que,purificados de toda disposio passional e corporal, seaproximassem da montanha, livres de paixes para serem iniciados.O nome desta montanha era Sinai. S se permitia o acesso aosseres racionais, e s queles que estavam purificados de todamancha. Havia completa vigilncia e precauo para que nenhumdos seres irracionais subisse montanha, e para que fosseapedrejado pelo povo todo ser irracional que desejasse vir montanha (Ex 19, 1-15).

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    . Gregrio de Nisa 335 - 394 SOBRE A VIDA DE MOISS : L.0, C.8.

    CAPTULO 7.

    O espetculo no s produzia espanto na alma atravs dos olhos,mas tambm infundia terror atravs dos ouvidos, pois um rudoestrondoso se difundia do alto para todos os que estavam abaixo.Sua primeira escuta j era penosa e insuportvel para todo ouvido,pois parecia o troar das trombetas, porem superava todacomparao pela intensidade e pelo terrvel rudo; ao aproximar-setornava-se ainda mais espantoso a aumentar sempre seu rudo.Tratava-se de um rudo articulado: o ar, pelo poder divino articulavaa palavra sem rgos vocais. Esta palavra no era pronunciada semsubstncia, mas promulgava mandatos divinos. A palavra cresciaem intensidade na medida em que algum avanava, e a trombetaultrapassava a si mesma, superando sempre os sons j emitidoscom os que se seguiam (Ex 19, 19). Todo o povo era incapaz desuportar o que via e ouvia. Por esta razo apresentaram todos umasplica a Moiss: que fosse mediador da lei, pois o povo no senegaria a crer que era mandato divino tudo o que ele lhes mandasseconforme a instruo recebida do alto. Havendo todos descidonovamente ao p da montanha, Moiss foi deixado s e mostrou emsi mesmo o contrario do que poderia parecer natural. De fato,enquanto os demais suportam melhor as situaes temveis seesto todos juntos, este se fez mais animado quando se afastou dosque o acompanhavam, manifestando assim que o medo que

    experimentara no incio no era prprio dele, mas que o haviapadecido por padecer juntamente com aqueles que estavamassustados. Moiss, livre da covardia do povo como de uma carga,fica s consigo mesmo. ento que enfrenta as trevas e penetradentro das realidades invisveis, desaparecendo da vista dos queolhavam. Com efeito, havendo entrado no santurio do mistriodivino, ali, sem ser visto, entra em contato com o invisvel, pensoque ensinando com isto que quem quiser se aproximar de Deusdeve afastar-se de todo o visvel e como quem est sobre um monte,

    levantando sua mente para o invisvel e incompreensvel, crer que adivindade est ali onde a inteligncia no alcana. Chegando ali,recebe os mandamentos divinos (Ex 20, 1-17). Estes consistiam emum ensinamento sobre a virtude, cujo ponto principal a piedade eter uma concepo acertada sobre a natureza divina, isto , que estatranscende todo o conceito e toda a representao, sem que possaser comparada com nenhuma das coisas conhecidas. De fato, elerecebe a ordem de no considerar em sua reflexo sobre aDivindade nenhuma das coisas compreensveis, e de no comparar

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    a natureza que a tudo transcende a nenhuma das coisas conhecidaspor meio de conceitos, mas apenas crer que existe e deixar seminvestigar, como algo inacessvel, como , quo grande seja, ondeest, qual sua origem. A palavra divina acrescenta a isto asorientaes que concernem aos costumes, finalizando seusensinamentos com preceitos gerais e particulares. geral a lei queprobe toda a injustia quando diz que necessrio comportar-se

    em relao ao prximo com amor, pois, ao observ-la, resultarcomo conseqncia que ningum causar nenhum mal a seuprximo. Entre as leis particulares, est prescrito o honrar osprogenitores, e se encontra enumerado o catlogo das faltascondenadas (Ex 21-23). Como se sua inteligncia tivesse sidopurificada com estes preceitos, Moiss avana a uma mistagogia aolhe mostrar o poder divino, o conjunto de uma tenda de campanha.Esta tenda era um santurio cuja beleza era de uma variedadeimpossvel de explicar: os vestbulos, as colunas, os tapetes, a

    mesa, as lmpadas, o altar dos perfumes, o altar dos holocaustos eo propiciatrio; e, no interior do Santo, o impenetrvel e inacessvel.Para que a beleza e a disposio de todas estas coisas no fugissemde sua memria, e para que esta maravilha fosse mostrada tambmaos que estavam no p do monte, ele recebe a ordem de no confia-lo simples escritura, mas de imitar em uma construo materialaquela obra imaterial, utilizando nela os materiais mais preciosos eesplndidos que se encontram sobre a terra.

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    CAPTULO 8.

    Entre estes, o ouro, o mais abundante, revestia todo o permetro dascolunas; a prata era utilizada junto com o ouro paras adornar oscapitis e as bases das colunas com a finalidade isto o quepenso de que com a diferena de cor em cada lado, o ourobrilhasse mais ao ser contemplado. Havia tambm lugares em quese julgou til o material de bronze para que servisse de capitel e debase para a parte de prata das colunas (Ex 25, 1-22). Os vus, ostapetes, os arredores do templo e o toldo estendido sobre ascolunas, todas estas coisas estavam realizadas convenientemente,cada uma tecida com a sabedoria da arte do tecelo e feita damatria apropriada. Algumas telas tinham a cor de jacinto e prpura,o flamejar do rubro vermelho, o esplendor do algodo em suaforma natural e sem artifcio: outras eram feitas de linho, e outras decrinas, segundo o uso dos tecidos. Em alguns lugares haviam sidocolocadas, para adorno das tendas, peles cuidadosamente tingidasde vermelho (Ex 26, 1 4). Aps sua descida do monte, Moiss fezcom que alguns artesos construssem estas coisas conforme omodelo da construo que lhe tinha sido mostrado. Tambm quandose encontrava naquele templo no feito por mo de homem, lhe foiprescrito com que ornamentos era necessrio que o sacerdoteestivesse ataviado ao entrar no santurio; a palavra lhe deuinstrues no que concerne tanto vestimenta interior como

    exterior. As peas destes ornamentos comeam pelo que maisexterior, no pelo que est oculto. O peitoral era bordado dediversas cores, o mesmo para o vu, porem tinha ainda um fio deouro com broches de ambos os lados que prendiam o peitoral e nosquais haviam esmeraldas engastadas em circulo por meio do ouro.A beleza destas pedras provinha do esplendor prprio de suanatureza que reluzia com raios verde-mar que emanavam dela edo prodgio da arte com que haviam sido talhadas. No se tratavadessa arte que executa um talhado para reproduzir a imagem de

    alguns dolos, mas a beleza provinha dos nomes dos patriarcasgravados nas pedras, seis em cada uma (Ex 28, 6-12). Haviampendurado pequenos escudos na parte da frente; as correntes sedesdobravam entrelaadas entre si com certa alternncia como umcordo, e desciam de cada lado desde cima, desde os broches, como fim assim penso de que resplandecesse mais a beleza dotranado, realado pelas coisas que se encontravam abaixo (Ex 28,13-14). Depois aquele ornamento tecido de ouro era colocado diantedo peito, no qual havia pedras de diversas classes em nmero igual

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    ao dos patriarcas, ordenadas em quatro filas, com trs pedrasincrustadas em cada uma, que levavam escritos os nomes dastribos. A tnica que havia em baixo do peitoral descia do colo at aspontas dos ps, adornada nobremente com franjas pendentes. Aborda inferior no s era trabalhada formosamente com variedadede tecido, como tambm com adornos de ouro. Estes consistiam emcampainhas de ouro e roms colocadas alternadamente ao longo da

    fmbria (Ex 28, 15-35). Logo a mitra da cabea era toda violeta; almina da frente, de ouro puro, gravada com um sinal inefvel. E,alem disso, o cngulo, que cingia as pregas da tnica, e a finura dasvestes ntimas, e tudo o que por meio da beleza dos vestidos seensinava simbolicamente sobre a virtude sacerdotal (Ex 28, 36-40).Moiss, depois de envolvido por aquelas trevas que o faziaminvisvel, foi instrudo em relao a estas coisas e a outras parecidaspor inefvel ensinamento de Deus, chegando, pela aquisio dedoutrinas secretas, a ser maior que ele mesmo; ento sai novamente

    das trevas e desce at sua gente para faze-los partcipes dasmaravilhas que lhe haviam sido mostradas na teofania, estabeleceras leis e instituir para o povo o templo e o sacerdcio conforme omodelo que lhe havia sido mostrado no monte. Levava tambm emsuas mos as tbuas sagradas, que eram iniciativa e presentedivino, cuja fabricao no tivera ajuda humana, pois a matria e oque havia escrito nelas eram igualmente obra de Deus. O que estavaescrito era a Lei. Porem o povo resistiu graa e se extraviou naidolatria antes que o Legislador voltasse (Ex 32, 15-16).

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    CAPTULO 9.

    Naquela divina mistagogia, Moiss havia passado em conversaocom Deus um tempo no pequeno e, sob as trevas, havia participadodaquela vida eterna durante quarenta dias com suas noites (Ex 24,18), e havia estado fora de sua prpria natureza. Durante aqueletempo, com efeito, no necessitou de alimento para seu corpo.Ento, como um menino que se encontra longe da vista de seuprofessor, o povo se deixou levar pela desordem de seus impulsosdesenfreados e, reunindo-se em torno de Aaro, o foraram a ele,que era o sacerdote, a que os conduzisse idolatria (Ex 32, 1-9).Tendo feito um dolo de ouro, o dolo era um bezerro, se entregaram impiedade. Quando Moiss volta a eles, quebra as tbuas que trazem nome de Deus, para que eles, privados da graa que Deus lheshavia preparado, recebam um castigo digno de seu pecado (Ex 32,19). Faz ento com que seja expiado o sacrilgio diante dos levitascom o sangue do povo. Havendo aplacado a divindade com seu zelocontra os estrangeiros e tendo destrudo o dolo, depois de outroperodo de quarenta dias, traz novamente as tbuas, escritas pelopoder divino, porem cuja matria havia sido preparada pelas mosde Moiss (Ex 32, 25-29). Ele as traz, depois de haver sado outra vezdos limites da natureza pelo mesmo nmero de dias, levando ummodo de vida diferente daquele que nos conhecido, j que nodava a seu prprio corpo nada do que necessitava a natureza para

    sustentar-se por meio de alimento (Ex 34, 1-28).

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    CAPTULO 10.

    Assim lhes construiu a tenda e lhes transmitiu as leis,estabelecendo o sacerdcio conforme o que lhe havia sido ensinadopor Deus. Depois fez que se realizassem os trabalhos materiaisconforme a instruo divina: a tenda, os vestbulos, todas as coisasinteriores, o altar de incenso, o altar dos holocaustos, o lampadrio,os tapetes, as cortinas, o propiciatrio no interior do santurio, osornamentos sacerdotais, os perfumes, os diversos sacrifcios, aspurificaes, os ritos de ao de graas, de impetrao contra osmales, de expiao dos pecados; tendo ordenado todas estas coisasda maneira devida, suscita contra si a inveja de seus ntimos, essaenfermidade to familiar natureza dos homens. De fato, tantoAaro, honrado com a dignidade do sacerdcio, como tambm suairm Maria, movida por uma inveja especificamente feminina contraa honra que Deus havia dado a ele, disseram coisas que moveramDeus a castigar este pecado. Nesta ocasio, Moiss se mostroudigno de admirao por sua mansido, pois enquanto Deus queriacastigar a ilgica inveja, ele antepunha a natureza clera eintercedia perante Deus por sua irm (Nm 12, 1-13). A plebe seentregou novamente desordem. O comeo do pecado foi adesmedida nos prazeres do ventre. No lhes bastava viver saudvele agradavelmente do alimento que lhes vinha de cima, mas o desejode iguarias e a nsia de comer carne os fizeram preferir a perptua

    escravido do Egito aos bens que j tinham. Moiss falou com Deusa respeito da paixo que se havia abatido sobre eles, e este, ao lhesconceder alcanar precisamente aquilo que desejavam, os ensinouque no era conveniente se comportar assim. De fato, de improvisofez cair no acampamento uma multido de pssaros que voavam emgrande nmero a rs do solo, com o que facilmente caados saciouo desejo dos que ansiavam por carne fresca (Nm 11, 4-6 e 31-32).Para uma grande parte deles, o excesso de comida transformou oequilbrio dos humores de seus corpos em vmitos corrompidos, e a

    saciedade se converteu em enfermidade e morte. Seu exemplo foisuficiente para levar a temperana a eles mesmos e aos que osassistiam (Nm 11, 33-34). Ento Moiss enviou exploradores quelaregio que, segundo a promessa divina, esperavam habitar. Comonem todos contaram a verdade, mas alguns deram notcias falsas ems, o povo se encheu de ira contra Moiss mais uma vez. Aquelesque desconfiaram da ajuda divina, Deus castigou no lhes deixandover a terra que lhes havia prometido (Nm 13, 1-14, 38). Ao prosseguirsua marcha atravs do deserto, faltou novamente a gua e,

    le:///D|/Documenta%20Chatolica%20Omnia/99%20-%20Pr...0-Da%20Fare/SGregorioNissaSobreAVidaDeMoises0-11.htm (1 of 2)2006-06-02 22:34:16

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    juntamente com ela, lhes faltou a lembrana do poder de Deus. Naverdade, o prodgio da rocha que j havia tido lugar, no lhes foisuficiente para crer que nada do necessrio lhes faltaria agora, mas,afastando-se das mais saudveis esperanas, propalaram ultrajescontra Deus e contra Moiss at o ponto em que mesmo Moisspareceu se deixar levar pela desconfiana do povo. No obstante,novamente realiza o milagre transformando em gua aquela rocha

    bruta (Nm 20, 2-11). Mais uma vez, o prazer vulgar da comidadespertou neles o desejo de fartar-se e, embora ainda no lhesfaltasse nenhuma das coisas necessrias para a vida, sonharamcom a saciedade do Egito. Os jovens rebeldes foram corrigidos comcastigos mais severos, ao lhes inocular veneno as serpentesmordendo-os em um ataque mortal (Nm 21, 4-6). Posto que um apsoutro sucumbiam serpente, o Legislador, movido pelo conselhodivino, fez uma figura de serpente em bronze e mandou coloc-la noalto para que estivesse vista de todo o acampamento. E assim

    deteve o dano que estes animais faziam ao povo, e ps fim a suadestruio. Com efeito, quem olhava para a imagem da serpentefeita de bronze no tinha porque temer nenhuma mordida daserpente verdadeira, porque o olhar debilitava o veneno com umamisteriosa resistncia (Ex 21, 7-9).

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    CAPTULO 11.

    Como mais uma vez se originasse no povo uma rebelio paraconseguir o poder, e alguns tentassem pela fora que fossetransferido para eles o sacerdcio, ele suplicou uma vez mais aDeus pelos que pecavam, porem o rigor do juzo divino foi mais forteque a compaixo de Moiss por sua gente. A terra, que por vontadedivina se abrira como uma boca, fechou-se novamente sobre simesma, tragando totalmente todos os que se opunham a autoridadede Moiss; aqueles que se haviam envolvido em intrigas paraalcanar o sacerdcio, devorados pelo fogo em nmero prximo deduzentos e cinqenta, com sua desgraa ensinaram sensatez aopovo (Nm 16, 1-35). Para que os homens se persuadissem mais deque a graa do sacerdcio concedida por Deus aos que sodignos, Moiss fez com que os homens principais de cada tribotrouxessem bastes, marcados cada um com o sinal de seu dono.Entre estes se encontrava o do sacerdote Aaro. Tendo colocado osbastes diante do santurio, neles mostrou ao povo o desgnio deDeus no que diz respeito ao sacerdcio: dentre todos, somente obculo de Aaro floresceu e produziu fruto do lenho, - o fruto erauma noz -, e o levou ao amadurecimento (Nm 17, 16-24). Mesmo paraos que no criam pareceu um enorme prodgio que o que estavaseco, sem casca e sem raiz, se tornasse frtil de repente, e querealizasse o que realizam as plantas com razes, fazendo, o poder

    divino, para o lenho as vezes da terra, crtex, umidade, raiz e tempo.Depois disto Moiss, guiando o exrcito entre povos estrangeirosque se opunham sua passagem, promete com juramento que opovo no atravessaria suas lavouras nem seus vinhedos, mas queseguiria o caminho real, sem desviar-se nem para a direita nem paraa esquerda. Como nem assim se aquietassem os inimigos, vencendoseu adversrio em combate, faz-se dono do caminho (Nm 20, 17).Ento certo Balac, que dominava sobre o povo mais importante, -madianitas era o nome desse povo-, compadecido da sorte dos

    vencidos e imaginando que padeceria as mesmas coisas por partedos israelitas, no leva em sua ajuda nenhum contingente de armasou de pessoas, mas a arte da magia atravs de certo Balaam, o qualtinha fama de ser versado nestas coisas e, segundo a convicodaqueles que o haviam procurado, tinha certo poder nesta atividade.Sua arte era a da adivinhao, porem com a ajuda dos demnios eratemvel, fazendo cair males incurveis sobre os homens com podermgico (Nm 22, 2-8). Este, enquanto segue aos que o conduzem aorei do povo, conhece pela voz da jumenta que o caminho no lhe

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    seria favorvel. Depois conhecendo por uma viso o que devia fazer,descobriu que sua magia era demasiado dbil para causar danoqueles que estavam acompanhados por Deus na luta. Balaampossudo pela inspirao divina em lugar da energia dos demnios,disse palavras tais que claramente so uma profecia das melhorescoisas que lhes sucederia mais adiante aos israelitas. Ao serimpedido de utilizar sua arte para o mal, tomando ento conscincia

    do poder divino, afastou-se da adivinhao e se fez intrprete davontade divina (Nm 22, 22-24). Depois disto, os estrangeiros foramexterminados pelo povo em um combate contra eles; este por suavez resultou vencido pela paixo da incontinncia pelas cativas.Finias atravessou com uma s lana aos que estavam entrelaadosna ignomnia; ento teve descanso a clera de Deus contra aquelesque se haviam deixado arrastar s unies ilcitas (Nm 25, 1-9).Finalmente, o Legislador, subindo a um monte e contemplando delonge a terra que estava preparada para Israel segundo a promessa

    feita por Deus aos pais, abandonou a vida humana sem haverdeixado sobre a terra nenhum sinal, nem uma recordao de seutrnsito com algum monumento funerrio. O tempo no haviamaltratado sua formosura, nem havia obscurecido o fulgor de seusolhos, nem havia debilitado a graa resplandecente de seu rosto (Dt34,1-7), mas permaneceu sempre idntico a si mesmo e, desta forma,conservou, mesmo na maturidade, a imutabilidade na beleza. Expuspara ti em grandes traos quanto aprendemos sobre a histria dohomem em seu sentido literal, ainda que tambm tenhamos alargado

    necessariamente o discurso naquelas coisas em que de algum modohavia razo para isso. Talvez j seja tempo de aplicar a vida queacabamos de recordar ao objetivo a que nos propusemos em nossodiscurso com o fim de obter alguma utilidade para a vida virtuosa.Retomemos pois o comeo do relato desta vida.

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    SEGUNDA PARTE

    INTERPRETAO MSTICA DA VIDA DE MOISS

    CAPTULO 1.

    Moiss nasceu precisamente quando o tirano havia ordenado mataros vares (Ex 1, 16). Como o imitaremos com nossa livre escolha ascircunstncias do nascimento deste homem? No est em nossopoder dir seguramente algum comparar aquele ilustrenascimento com nosso nascimento. No obstante, no difcilcomear a imitao por aquilo que parece mis inacessvel. Poisquem desconhece que todo o ser que est sujeito mudana nuncapermanece idntico a si mesmo, mas que continuamente passa deum estado a outro, pois a mudana sempre se opera para melhor oupara pior? Apliquemos isto ao nosso assunto. O feminino da vida,aquele que o tirano quer que sobreviva, a ndole material epassional a que conduzida, ao escorregar, a natureza humana; poroutro lado, o renovo varonil o impetuoso e forte da virtude, que hostil ao tirano e que a este resulta suspeito de rebelio contra seupoder. necessrio que aquele que submetido a mudana seja dealgum modo gerado constantemente, pois na natureza mutvel no

    h nada que permanea totalmente idntico a si mesmo. Alem disso,ser gerado deste modo no provem de um impulso exterior, semelhana dos que geram corporalmente o que no prevem,seno que este nascimento tem lugar por nossa livre escolha.Somos, de certa forma, nossos pais: geramos a ns mesmos deacordo com o que queremos ser. Mediante a livre escolha, nosadaptamos ao modelo que escolhemos: varo ou fmea, virtude ouvicio. Por esta razo, apesar da hostilidade e do desgosto do tirano,nos possvel chegar luz com um nascimento mais nobre, e ser

    contemplados com agrado pelos pais deste parto formoso, estespais da virtude seriam os pensamentos, e permanecer na vidamesmo que isto seja contrrio inteno do tirano. Se partindo dahistria colocssemos mais em evidncia seu sentido ntimo, odiscurso ensinaria isto: que no comeo da vida virtuosa se encontrao nascer que provoca tristeza ao inimigo, referindo-me a esta formade nascimento em que o livre arbtrio faz o papel de parteira. Poisningum causa tristeza ao inimigo se no mostra j, em si mesmo,sinais que do testemunho de sua vitria sobre ele. Pertence

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    exclusivamente ao livre arbtrio dar a luz a este rebento varonil evirtuoso e mante-lo com alimentos convenientes, assim comotambm prover a que se salve inclume da gua. Aqueles queentregam seus filhos ao tirano, os expem nus e sem proteo corrente. Chamo corrente vida agitada com sucessivas paixes; oque cai nesta corrente, afundando, submerge nela e se afoga. Ossbios e providentes pensamentos, que so os pais deste filho

    varo, quando a necessidade da vida os obriga a depositar seu bemdescendente nas ondas da vida, protegem aquele que pem nacorrente em uma cesta para que no se afunde. Essa cesta, tecidacom fibras diversas, a educao, tecida por sua vez com diversasdisciplinas; sobre as ondas da vida, ela manter flutuando aqueleque leva (Ex 2, 3). Graas a ela, este no vaguear muito na agitaodas guas, levado de um lado para outro pelo movimento das ondas,mas tendo chegado estabilidade da terra firme, isto , tendo sadoda agitao da vida, ser empurrado para o estvel pelo impulso

    mesmo das guas. A experincia tambm nos ensina isto: que ainstabilidade e mudana constante dos negcios deixam longe de siaqueles que no esto imersos nos enganos humanos,considerando uma carga intil os que lhes so nocivos por suavirtude. Quem conseguir permanecer fora destas coisas, que imiteMoiss e no evite lgrimas, embora se encontre protegido em umaarca. As lgrimas, com efeito, so proteo segura para os que sesalvam atravs da virtude. E se a mulher sem filhos e estril, que filha do rei, penso que ela representa propriamente a sabedoria

    pag, fazendo passar por seu o recm-nascido, tenta ser chamadame deste, a palavra aceita que no se recuse o parentesco destapretendida me contanto que se considere nela o imperfeito daidade. Porem quem corre para cima, para o alto como sabemos deMoiss experimenta a vergonha de ser chamado filho de quem estril por natureza. A cultura pag verdadeiramente estril,sempre grvida, porem sem jamais dar a luz em um parto. Pois apsseus grandes perodos de gravidez, que fruto pode mostrar afilosofia que seja digno de tais e tantos esforos? Acaso no so

    todos vazios e imaturos, abortados antes de chegar luz doconhecimento de Deus, podendo haver chegado talvez a homens seno tivessem estado completamente fechados no sentido de umasabedoria estril?

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    mistrios. E se for necessrio viver de novo no estrangeiro, isto ,se houver uma necessidade que nos force a tratar com a filosofiapag, faamo-lo depois de haver afastado os perversos pastores douso injusto dos poos (Ex 2, 17), isto , depois de haver refutado osmestres da maldade pelo mau uso da educao. Deste modoviveremos a ss com ns mesmos, sem chegar s mos dosadversrios ou nos colocar no meio deles, mas viveremos na

    companhia dos que esto apascentados por ns, iguais no sentir eno pensar: de todos os movimentos da alma que existe em ns,como ovelhas apascentadas pelo querer da razo que a que dirige.E quando estivermos dedicados a esta paz e a este pacfico repouso,ento brilhar a verdade, enchendo de luz com seus prpriosfulgores os olhos da alma. Deus mesmo a verdade que semanifestou ento a Moiss atravs daquela inefvel iluminao.

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    CAPTULO 3.

    Nem sequer o fato de que o resplendor que ilumina a alma doprofeta se ascende de um arbusto de espinhos (Ex 3, 1-6) intil emnossa busca. De fato, se Deus a verdade (Jo 14, 6; 8, 12), e averdade luz, e a palavra do Evangelho utiliza estes nomessublimes e divinos para o Deus que se nos manifestou atravs dacarne, conclui-se que este caminho da virtude nos conduz aoconhecimento daquela luz, que desceu at a natureza humana, queno brilha com a luz que se encontra nos astros para que no sepense que seu resplendor provem da alguma matria que ali estoculta, mas sim com a luz de uma sara da terra, que com seusresplendores ilumina mais que todos os astros do cu. Estapassagem nos ensina o mistrio da Virgem: a luz da divindade, quegraas a seu parto, ilumina a vida humana, guardou incorrupta asara que ardia sem que a flor da virgindade se secasse no parto.Com esta luz aprendemos o que devemos fazer para permanecerdentro dos resplendores da luz verdadeira: que no possvel corrercom os ps calados at aquela altura da qual se contempla a luz daverdade, mas que necessrio despojar os ps da alma de seuinvlucro de peles, morto e terreno, com o qual foi revestia anatureza no princpio, quando fomos despidos por causa dadesobedincia vontade divina (Gn 3, 21). Se fizermos isto, seguir-se- o conhecimento da verdade, pois ela manifestar a si mesma, j

    que o conhecimento do que , se converte em purificao da opinioem relao ao que no . A meu ver, esta a definio da verdade:no errar no conhecimento do ser. O erro uma iluso que seproduz no pensamento a respeito do que no , como se o que noexiste tivesse consistncia, enquanto a verdade um conhecimentofirme do que verdadeiramente existe. E desta forma algum, depoisde ter passado muito tempo em solido embebido em altasmeditaes, conhecer com esforo o que verdadeiramenteexistente aquilo que tem ser por sua prpria natureza -, e o que o

    no existente, isto aquilo que tem ser s em aparncia, ao ter umanatureza que no subsiste por si mesma (Ex 3, 14). Julgo que ogrande Moiss, instrudo pela teofania, compreendeu ento que forada causa suprema de tudo, na qual tudo tem consistncia, nenhumadas coisas que so captadas com os sentidos e que se conhece como pensamento tem consistncia no ser. De fato, ainda que a menteconsidere diversos aspectos nos seres, o pensamento no vnenhum deles com tal suficincia que no necessite em nada deoutro, isto , com tal suficincia que lhe seja possvel existir sem

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    participar do ser. O que sempre de igual forma, aquele que nemcresce e nem diminui, aquele que no se move a nenhuma mudana,nem para melhor ou para pior, este , na verdade, alheio ao pior eno h nada melhor que ele; aquele que participado por todos eque no fica diminudo com esta participao: este o queverdadeiramente existe e cuja contemplao o conhecimento daverdade.

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    CAPTULO 4.

    Moiss chegou ento a isto, e agora chega tambm todo aquele que,seguindo seu exemplo, despoja a si mesmo de sua envoltura terrenae olha para a luz que sai da sara, isto , o raio de luz que nosilumina atravs da carne cheia de espinhos, que , como diz oEvangelho, a luz verdadeira (Jo 1, 19) e a verdade (Jo 14, 6). Entoeste chega a ser capaz de prestar ajuda aos demais no sentido dasalvao, de destruir a tirania daquele que domina com artes ms, ede encaminhar liberdade os que esto debaixo da tirania deperversa escravido. A transformao da mo direita e a mudanado basto em serpente (Ex 4, 3-7) so o comeo dos prodgios.Parece-me que nestes prodgios se d a entender simbolicamente omistrio da manifestao da Divindade aos homens atravs da carnedo Senhor, graas qual tem lugar a destruio do tirano e alibertao dos que esto oprimidos por ele. Leva-me a estainterpretao o testemunho proftico e evanglico. Pois o profetadiz: Esta a mudana da destra do Altssimo (Sal 76, 11), como se aDivindade, considerada imutvel, se houvesse mudado conformenosso aspecto e figura por condescendncia para com a debilidadeda natureza humana. A mo do Legislador tomou uma cor distinta daque lhe natural ao ser tirada do peito; voltando novamente aopeito, tornou beleza que lhe era prpria e natural. O DeusUnignito, o que est no seio do Pai (Jo 1, 18), a direita do

    Altssimo (Sal 76, 11). Quando se manifestou a ns saindo do seio,se transformou conforme nossa forma de ser; depois de havercurado nossa enfermidade, novamente recolheu ao prprio seio, oseio da direita do Pai, a mo que havia estado entre ns e que haviatomado nossa cor. Ento no tornou passvel o que era de naturezaimpassvel, mas por sua comunicao com o que era impassveltransformou em impassibilidade aquilo que era mutvel e passvel. Atransformao do basto em serpente no h de perturbar osamigos de Cristo como se tivssemos que harmonizar a palavra do

    mistrio com um animal que lhe oposto (Ex 4, 3; 7, 10 e Nm 21, 9).A verdade mesma no afasta esta imagem quando diz com a voz doEvangelho: Como Moiss levantou a serpente no deserto, assim necessrio que seja levantado o Filho do homem (Jo 3, 14). Osentido claro. Se o pai do pecado foi chamado serpente pelaSagrada Escritura (Gn 3, 1), e o que nasce da serpente verdadeiramente serpente, segue-se que o pecado tem o mesmonome daquele que o gerou. Pois bem, a palavra do Apstolo dtestemunho de que o Senhor se fez pecado por ns (2Co 5, 21), ao

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    revestir-se de nossa natureza pecadora. O smbolo se acomoda aoSenhor como foi dito. De fato, se a serpente pecado e o Senhor sefez pecado, a conseqncia que se segue ser evidente a todos :que quem se fez pecado, se fez serpente, a qual no outra coisaseno pecado. Se fez serpente por ns para comer e destruir asserpentes dos egpcios produzidas pelos magos. Uma vez feito isto,a serpente se transforma novamente em basto (Ex 7, 12) com o qual

    so castigados os que pecam, e so aliviados os que sobem ocaminho escarpado da virtude, apoiando-se no basto da f pormeio das boas esperanas. A f , na verdade, a substncia dascoisas que se esperam (Hb 11, 1). Quem chegou ao entendimentodestas coisas como um deus em relao queles que, seduzidospela iluso material e sem substncia, opem-se verdade e julgamcoisa v escutar falar a respeito do ser. Pois disse o Fara : Quem ele para que eu escute sua voz? No conheo o Senhor (Ex 5, 2). OFara s julga digno aquilo que material e carnal, as coisas que

    caem sob as sensaes irracionais. Ao contrrio, se algum tiversido fortalecido pela iluminao da luz, e tiver recebido tanta fora etanto poder contra os adversrios, ento, como um atletaconvenientemente preparado por seu treinador nos varonisexerccios do esporte, se dispe, confiante e audaz, para o ataquedos inimigos, tendo na mo aquele basto, isto , o ensinamento daf, com o que h de triunfar sobre as serpentes egpcias. A mulherde Moiss, sada de um povo estrangeiro (Ex 4, 20), o acompanhar.H algo nada desprezvel da cultura pag para nossa unio com ela

    com a finalidade de gerar a virtude. Com efeito, a filosofia moral e afilosofia da natureza podem chegar a ser esposa, amiga ecompanheira para uma vida mais elevada, com a condio de que osfrutos que procedem delas no conservem nada da imundcieestrangeira. Pois se esta sujeira no tiver sido circuncidada ecortada ao meio at o ponto em que todo o daninho e impuro hajasido arrancado fora, o anjo que lhes sai ao encontro lhes causarum terror de morte. A mulher o aplaca mostrando-lhe seu filhopurificado pela ablao do sinal pelo qual se reconhece o

    estrangeiro (Ex 4, 24-26). Julgo que a quem esteja iniciado nainterpretao da histria ser patente, por tudo que se disse, acontinuidade do progresso na virtude que mostra o discursoseguindo, passo a passo, a conexo dos acontecimentos simblicosda histria.

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    CAPTULO 5.

    De fato, h algo carnal e incircunciso nos ensinamentos geradospela filosofia; quando isto cortado, o que fica de pura razo juda.Por exemplo, a filosofia pag disse que a alma era imortal. Este umfruto conforme piedade. Porem ela ensina tambm que transmigrade uns corpos a outros, e que passa da natureza racional para airracional : isto uma incircunciso carnal e estrangeira. E assimmuitas outras coisas. Diz que existe Deus, porem pensa que material. Confessa que existe o demiurgo, porem que necessita deuma matria prvia para fazer o mundo. Concede que bom epoderoso, porem que obedece em muitas coisas necessidade dodestino. E se algum se detivesse em cada questo, poderia vercomo, na filosofia pag, os formosos ensinamentos se encontrammaculados com acrscimos absurdos que, se fossem cortados aomeio, o anjo de Deus lhes seria propcio, alegrando-se do frutolegtimo destes ensinamentos. Mas temos que voltar seqncia dotexto, de forma que tambm a ns, que estamos perto da luta comos egpcios, nos saia ao encontro a ajuda fraterna. Recordamos,com efeito, que desde o princpio da vida virtuosa tem lugar paraMoiss um encontro hostil e guerreiro : o do egpcio que oprimia ohebreu e o do hebreu que lutava contra seu compatriota (Ex 2, 11-15).

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    CAPTULO 6.

    Por outro lado, uma vez que por seu grande esforo e pelailuminao que recebeu no cume se elevou maior das aes daalma, tem lugar um encontro amigvel e pacfico, pois Deus moveuseu irmo para que sasse a seu encontro (Ex 4, 27). Se o queacontece na histria for interpretado em sentido alegrico, talvezno se encontre nada que seja alheio a nosso propsito. A quem sededica ao progresso na virtude, assiste uma ajuda dada por Deus anossa natureza, que anterior a ns quanto a sua origem, mas quese mostra e se d a conhecer quando nos dispomos a combatesmais fortes, depois de havermos nos familiarizado suficientemente,com cuidado e diligncia, com a vida mais elevada. Para noexplicar alguns enigmas por meio de outro enigma, exporei maisclaramente o sentido desta passagem. Existe uma doutrina quemerece credibilidade por pertencer tradio dos Pais. Diz que,depois da queda de nossa natureza no pecado, Deus nocontemplou nossa desgraa indiferentemente, mas que colocouperto, como ajuda para a vida de cada um, um anjo que recebeu umanatureza incorprea (Mt 18, 10- 11); e que em oposio, o corruptorda natureza maquinou algo parecido, danificando a vida do homemmediante um demnio perverso e malvado. Como conseqncia, ohomem se encontra entre esses dois que o acompanham compropsitos contrrios, e pode por si mesmo fazer triunfar um ou

    outro. O bom mostra ao pensamento os bens da virtude como socontemplados em esperana por aqueles que agem retamente; ooutro mostra os sujos prazeres nos que no existe nenhumaesperana de bem, pois inclusive o prazer imediato, o que seapreende e se pega, escraviza os sentidos dos tontos. Porem sealgum se afasta dos que induzem ao mal, dirige seus pensamentosao melhor e volta as costas - por assim dizer - ao vcio, pe suaprpria alma - que como um espelho -, frente esperana dosbens, e assim imprime na pureza da prpria alma as imagens e

    reflexos da virtude que lhe mostrada por Deus. ento que acompanhia do irmo lhe sai ao encontro e o assiste (Ex 4, 27). Pelaracionalidade e intelectualidade da alma humana, pode-se, de certomodo, chamar irmo ao anjo. Este, como j dissemos, aparece esocorre quando nos aproximamos do Fara. Que ningum penseque a narrao da histria corresponde to absolutamente com ailao desta considerao espiritual, que se encontrar algo doescrito que no concorda com esta interpretao, por este algo queno concorda rechace o todo. Que tenha sempre presente a

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    . Gregrio de Nisa 335 - 394 SOBRE A VIDA DE MOISS : L.1, C.6.

    finalidade de nossas palavras, a qual temos presente ao expor estascoisas. J adiantamos no prefcio a afirmao de que as vidas dosgrandes homens so colocadas como exemplos de virtude para aposteridade.

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    . Gregrio de Nisa 335 - 394 SOBRE A VIDA DE MOISS : L.1, C.7.

    CAPTULO 7.

    No possvel que aqueles que desejam imita-los passem pelamesma materialidade dos feitos. Como, de fato, se poderia encontrarnovamente o povo que se multiplicou depois de sua emigrao doEgito, e como se poderia encontrar tambm o tirano que oescravizou comportando-se malvadamente com a descendnciamasculina e permitindo descendncia mais branda e fracaaumentar at se converter em multido, e assim todas as outrascoisas que aparecem na narrao? Uma vez que podemos ver que,na materialidade mesma dos feitos, no possvel imitar os gestosmaravilhosos destes bem aventurados, s havemos de transferir deseu acontecer material o ensinamento moral daquelesacontecimentos que assim o admitam, dos que oferecem, para quemse esfora por conseguir a virtude, algum estmulo at este gnerode vida. E se, por fora, algum dos fatos que contem a histria sai daordem e da coerncia com a interpretao que propusemos,passaremos por alto como algo intil e sem proveito para nossafinalidade. Desta forma conseguiremos no interromper a exegeserelativa virtude. Digo isto pela interpretao em relao a Aaro,prevendo uma objeo ao que segue. Com efeito, algum dir queno repele o fato de que o anjo tenha semelhana com a almaquanto incorporalidade e capacidade de entender; que no negao fato de que sua criao tenha tido lugar antes da nossa, nem que

    assista aos que lutam contra os adversrios; porem que no parecebem entender como imagem sua a Aaro, que conduz os israelitas idolatria. Antecipando a ordem do relato, responderemos a isto como que j dissemos: que um episdio estranho no desvirtua acoerncia dos demais fatos, e que, se o mesmo nome designa opapel do anjo e do irmo, se acomoda tambm a cada um segundosignificados contrrios. Com efeito, no s se diz anjo de Deus, mastambm de Satans (2Co 12, 7), e chamamos irmo no s ao bom,mas tambm ao mau. A Escritura fala dos bons quando diz : Os

    irmos sero teis na necessidade (Pr 17, 17). E dos perversosquando diz : Todo irmo prepara armadilha (Jr 9, 3). Aps dizer istoa margem da ordem do discurso e deixando para seu lugaradequado uma considerao mais profunda destas questes,voltemos aos temas que nos propusemos. Moiss, fortalecido com aluz que o iluminou e tendo recebido seu irmo como companheirode luta e como ajuda, fala ao povo valentemente sobre a liberdade,recordando-lhes a grandeza ptria, e lhes d a conhecer comopodero se livrar da fadiga do barro dos ladrilhos (Ex 4, 29-31). Que

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    . Gregrio de Nisa 335 - 394 SOBRE A VIDA DE MOISS : L.1, C.7.

    nos ensina a histria com estas coisas? Que no se deve atrever afalar ao povo aquele que no tiver cultivado sua forma de dizer comuma educao adequada para dirigir-se a muitos. No vs, de fato,como Moiss, quando ainda era jovem, antes de crescer emcapacidade, no foi aceito como digno conselheiro de paz poraqueles dois homens que estavam lutando e agora, ao contrrio, falaao mesmo tempo a milhares de pessoas? Podemos dizer que a

    histria grita que no te atrevas a propor um ensinamento ou umconselho aos ouvintes, se antes no tiveres adquirido autoridadenisto mesmo atravs de muito estudo. Depois de pronunciar Moissas mais valentes palavras e mostrar o caminho da liberdadeexcitando nos ouvintes o desejo dela, o inimigo se irrita e aumentaos sofrimentos dos que do ouvido a estas palavras (Ex 5, 6-14).Tampouco isto alheio ao que nos interessa agora.

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    . Gregrio de Nisa 335 - 394 SOBRE A VIDA DE MOISS : L.1, C.8.

    CAPTULO 8.

    Muitos dos que acolheram a palavra que liberta da tirania e seaproximaram da pregao so maltratados agora pelo inimigo comos assaltos das tentaes. Muitos destes se fazem mais provados efirmes na f, temperados pelo ataque dos que os combatem; aocontrrio, alguns mais dbeis dobram o joelhos diante destesataques dizendo abertamente que prefervel para eles permanecersurdos chamada da liberdade que padecer tais dificuldades porcausa dela. Isto mesmo ocorreu ento devido pusilanimidade dosisraelitas, que acusaram os que os aconselhava o meio de escaparda escravido. Porem no por isso cessar a palavra de atrair para obem, ainda que o imaturo, infantil e imperfeito de entendimento, porsua inexperincia, se assuste ante as tentaes. Isto o que odemnio tenta contra os homens: busca ferir e corromper. Quequem est sujeito a ele no olhe para o cu, mas que se incline paraa terra e faa ladrilhos com lama dentro de si mesmo. De fato, patente a todo mundo como o que pertence ao prazer material derivada terra e da gua, quer se olhe para os desejos do ventre e da gulaou quanto se refere riqueza. A mistura destes elementos - e sechama justamente - barro. Quantos avidamente se enchem dosprazeres do barro, no conseguem manter cheia sua amplacapacidade para receber prazeres, pois uma vez cheia, de novo setorna vazia para aquilo que flui para dentro. Quem faz ladrilhos

    sempre coloca de novo outro barro no molde que ficou vazio; parece-me que quem considera o apetite concupiscvel da alma,compreender facilmente este exemplo. De fato, quem d satisfaoa sua paixo em qualquer das coisas pelas quais lutou, novamentese encontrar vazio com relao quilo mesmo, se lanado pelapaixo a alguma outra coisa. E ao sentir-se satisfeito por esta coisa,se encontrar de novo vazio e com capacidade de desejar algumaoutra coisa. E isto no cessar em absoluto de atuar em ns, at quenos subtraiamos da vida material. A cana e a palha que provem dela

    e que quem est submetido s ordens do tirano obrigado amisturar ao ladrilho, interpretamos conforme o Evangelho de Deus es palavras profundas do Apstolo: ambos significam igualmente, apalha e a cana, matria para o fogo (Mt 3, 12 e 1Co 3, 12-13). Quandoalgum dos que progridem na virtude quer atrair para uma vida livre eplena de sabedoria aqueles que esto escravizados pelo engano,aquele que, como diz o Apstolo, seduz com ciladas variadasnossas almas (Ef 6, 12), sabe opor os sofismas do engano lei deDeus. Tendo presente a Escritura, digo isto referindo-me s

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    serpentes do Egito, isto , s diversas maldades do engano, cujaaniquilao realiza a vara de Moiss (Ex 7, 10-12). Porem isto j estsuficientemente considerado. Assim pois, quem possui estainvencvel vara da virtude que destroi as varas enganosas, avanapor um caminho contnuo at maiores prodgios. A realizao dosprodgios no tem lugar com a finalidade de ser admirada pelos queos vem, mas est dirigida ao aproveitamento dos que se salvam

    (2Tim 3, 16). Com estes prodgios da virtude, se afasta o que inimigo e se reconforta o que da mesma estirpe. Conheamos, emprimeiro lugar, o significado geral destes prodgios; depois talveznos seja possvel adaptar analgicamente este conhecimento a cadaum deles em particular.

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    . Gregrio de Nisa 335 - 394 SOBRE A VIDA DE MOISS : L.1, C.9.

    CAPTULO 9.

    O ensinamento da verdade acolhido segundo as disposies dosque recebem a palavra. De fato, a palavra mostra a todos o que bom e o que mau. Pois bem, quem dcil quilo que lhe mostrado tem a mente na luz, enquanto que quem tem a disposiocontrria e no aceita que a alma olhe para a luz da verdadepermanece na obscuridade da ignorncia. Se a interpretao quedemos ao conjunto da passagem no estiver errada, ento ainterpretao dada a cada um dos detalhes no lhe ser totalmenteoposta, pois a exegese de cada um deles est compreendida noconjunto. Portanto, no h nada de estranho em que o hebreupermanecesse inclume diante das pragas dos egpcios, emboraestivesse vivendo no meio desses estrangeiros, posto que tambmagora possvel ver que sucede a mesma coisa. De fato, estandodivididos os homens nas grandes cidades entre doutrinascontrrias, para uns a gua do manancial da f potvel e lmpida, ea conseguem mediante o ensinamento divino, enquanto a gua setorna sangue corrompido para aqueles que se converteram emegpcios por causa de suas perversas opinies (Ex 7, 20). Muitasvezes os sofistas do erro rondam tambm a gua dos hebreus paraconverte-la em sangue com a contaminao da mentira, isto , paramostrar-nos que nossa doutrina no como , porem noconseguem corromper totalmente a gua, embora a superfcie fique

    avermelhada por causa do erro. Ainda que esteja caluniada pelosinimigos, o hebreu bebe gua verdadeira, sem prestar ateno aparncia de erro. O mesmo cabe dizer da espcie de rs (Ex 8, 1-6),ruidosa e malfica, que se introduz sub- reptciamente nas casas,habitaes e dispensas dos egpcios, sem chegar a tocar a vida doshebreus: sua vida anfbia, seu salto rasteiro; repugnante no spor seu aspecto como tambm pelo fedor de sua pele. Osdesastrosos frutos da maldade que surgem do corao sujo doshomens como gerados no pntano, so certamente como uma

    espcie de rs. Estas rs habitam as casas de quem se fez egpciopor escolha de seu estilo de vida; se deixam ver s mesas, noabandonam os leitos e se introduzem nas dispensas onde seguardam as coisas. Considera a vida suja e desavergonhada,nascida de um verdadeiro limo pantanoso, que, ao imita-lo, seassemelha natureza irracional. Falando com rigor, em seu estilo devida, no pertence a nenhuma das duas naturezas, pois homemsegundo sua natureza, porem se transformou em besta por suapaixo. Por esta razo mostra em si mesma aquele modo de vida

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    anfbio e ambguo. E assim encontrars nessa vida os sinais destapraga, no s nos leitos, mas tambm nas mesas, nas dispensas eem toda a casa. Um homem assim deixa, por onde quer que v, orastro de sua vida dissoluta, de forma que todos podem distinguirfacilmente a vida do homem licencioso da vida do homem puro,inclusive na decorao da casa. De fato, na casa do impuro, sobre oreboco das paredes, encontra-se pinturas feitas com habilidade,

    que, ao trazer memria as formas da debilidade, excitam ao prazersensual e introduzem as paixes na alma atravs da contemplaode coisas vergonhosas, enquanto que na casa do sbio, pelocontrrio, h todo o cuidado e cautela para manter a vista livre deespetculos obscenos. Do mesmo modo a mesa do sbio seencontra limpa, enquanto que a do que se espoja em uma vidalodosa est suja como as rs, e transbordante de comidas. E assimse entrasses nas dispensas, isto , nas coisas ocultas e reservadasde sua vida, encontrarias ali, nas intemperanas, um monto ainda

    maior de rs. A histria diz que o basto da virtude fez estas coisascontra os egpcios. No nos desconcertemos por esta forma de falar.Tambm diz a histria que o tirano foi endurecido por Deus (Ex 9, 12e Rm 9, 17- 18). Como seria digno de condenao aquele que tivessesido feito duro e refratrio por uma fora irresistvel vinda do alto? Odivino Apstolo diz a mesma coisa: Posto que no tivessem por bemguardar o verdadeiro conhecimento de Deus, Deus os entregou spaixes vergonhosas (Rm 1, 28 e 26), falando dos pederastas e dequantos se envilecem com as diversas formas vergonhosas e

    inconfessveis da vida dissoluta. Porm, embora seja verdade que adivina Escritura se expressa dizendo que Deus entregou s paixesvergonhosas aqueles que se entregaram a elas, nem o Fara seendureceu por querer divino, nem a vida srdida, prpria das rs, causada pela virtude. De fato, se a Divindade tivesse querido isto, talquerer teria tido absolutamente a mesma fora sobre todos, deforma que jamais se poderia estabelecer diferena alguma entrevirtude e vcio. Ao contrrio, uns e outros, os que so dirigidos pelavirtude e os que caem no vcio, vivem de formas diferentes, e

    ningum poder, racionalmente, atribuir a uma fatalidadeestabelecida pelo querer divino estas diferenas no modo de viver,que surgem exclusivamente da livre escolha de cada um.

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    . Gregrio de Nisa 335 - 394 SOBRE A VIDA DE MOISS : L.1, C.10.

    CAPTULO 10.

    Vejamos claramente pelo Apstolo quem o entregue "paixovergonhosa": quem no quis guardar o verdadeiro conhecimento deDeus (Rm 1, 28). No significa que Deus o entrega paixo paracastiga-lo por no ter querido conhece-lo, mas que o no falarreconhecido a Deus se converte para ele em motivo de cair em umavida sensual e vergonhosa. como se algum dissesse que o solfez cair uma pessoa no buraco porque no o viu. Ns nopensaramos que o astro, cheio de ira, tenha lanado no buracoquem no o tenha querido ver, seno que esta expresso deve serentendida corretamente no sentido de que a privao de luz tenhasido a causa da queda no buraco daquele que no o viu. Talvez sejaesta a forma correta de entender as palavras do Apstolo: que osque no tinham o conhecimento de Deus foram entregues spaixes vergonhosas e que o tirano egpcio foi endurecido por Deus,no como se a dureza tivesse sido introduzida no corao do Farapelo querer divino, mas sim no sentido de que por livre escolha, porsua inclinao para o mal, no acolheu a palavra que abranda adureza. Tambm assim com o basto da virtude ao mostrar-se anteos egpcios, faz o hebreu livre da vida das rs e, ao contrrio, mostrao egpcio cheio desta praga. Chega ento um momento em queMoiss estende as mos sobre estes, e produz o desaparecimentodas rs (Ex 8, 9). Podemos ver que isto tambm acontece agora. De

    fato, quem conheceu a extenso das mos do Legislador, -compreendes muito bem o que te diz este smbolo, entendendocomo Legislador o verdadeiro Legislador, e pela extenso das mosAquele que estendeu suas mos na cruz-, estes, ainda que atpouco tempo tenham vivido em pensamentos sujos e prprios ders, se olham para quem estende suas mos em seu favor, solibertados dessa companhia perversa, pois a paixo morre e sedissolve. De fato, para os que foram sanados desta enfermidade,depois da morte desses movimentos prprios de rpteis, a

    lem