Vida Nova nº 5

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Vida Nova nº 5 Maio de 2013 Página 1 Nº 5 Maio de 2013 O oásis açoriano Como é do conhecimento de todos, os Açores constituem um oásis implantado no meio do oceano Atlântico, onde, ao contrário do que acontece no território continental português, a crise é apenas uma miragem. Mas não é só a crise, algum cheirinho a liberdade que aconteceu com o 25 de Abril de 1974, por aqui foi sol de pouca duração. Com efeito, os adeptos do Estado Novo logo no dia 26 de Abril daquele ano deram a conhecer uma organização separatista, o MAPA, cujo grande objetivo era continuar a manter as populações na miséria e continuarem os de sempre a explorar os açorianos como sempre fizeram e continuam a fazer. Os salazaristas e muitos democratas de última hora foram-se distribuindo pelos vários partidos políticos para assaltarem o poder logo que a oportunidade chegasse. Inventaram uma falsa autonomia apenas com o objetivo das delegações dos partidos nacionais governarem, algumas vezes completamente subordinadas aos governos da república, outras vezes a fingir que em oposição aos mesmos. Os partidos da chamada esquerda como o PCP ou o BE, parecem satisfeitos com o sistema eleitoral pois dá-lhes a oportunidade de serem representantes do povo que cada vez acredita menos na ditadura partidária. A economia vai de vento em popa, a prova é que há medida de fecham empresas surgem mais organizações “governamentais” ou “privadas” de solidariedade social para prestar apoio aos pobres, mesmo que seja apenas para a distribuição de sopa. O desemprego não para de crescer, os direitos sociais dos trabalhadores e os seus salários não param de minguar e o regulamentado, pelo patronato com o apoio dos sindicatos do regime, direito à greve é cada vez mais posto em causa por todos os adeptos do capitalismo selvagem, verde ou vermelho. Para eles que dizem não contestar o sagrado direito à greve, o que está em causa é o seu exercício em dias e horários de trabalho. Greve com certeza, mas ao sábado e ao domingo e mesmo assim, fora dos horários das missas. José Libertário

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Boletim libertário açoriano

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Nº 5 Maio de 2013

O oásis açoriano

Como é do conhecimento de todos, os Açores constituem um oásis implantado no meio do

oceano Atlântico, onde, ao contrário do que acontece no território continental português, a crise

é apenas uma miragem.

Mas não é só a crise, algum cheirinho a liberdade que aconteceu com o 25 de Abril de 1974, por

aqui foi sol de pouca duração. Com efeito, os adeptos do Estado Novo logo no dia 26 de Abril

daquele ano deram a conhecer uma organização separatista, o MAPA, cujo grande objetivo era

continuar a manter as populações na miséria e continuarem os de sempre a explorar os açorianos

como sempre fizeram e continuam a fazer. Os salazaristas e muitos democratas de última hora

foram-se distribuindo pelos vários partidos políticos para assaltarem o poder logo que a

oportunidade chegasse.

Inventaram uma falsa autonomia apenas com o objetivo das delegações dos partidos nacionais

governarem, algumas vezes completamente subordinadas aos governos da república, outras

vezes a fingir que em oposição aos mesmos. Os partidos da chamada esquerda como o PCP ou o

BE, parecem satisfeitos com o sistema eleitoral pois dá-lhes a oportunidade de serem

representantes do povo que cada vez acredita menos na ditadura partidária.

A economia vai de vento em popa, a prova é que há medida de fecham empresas surgem mais

organizações “governamentais” ou “privadas” de solidariedade social para prestar apoio aos

pobres, mesmo que seja apenas para a distribuição de sopa.

O desemprego não para de crescer, os direitos sociais dos trabalhadores e os seus salários não

param de minguar e o regulamentado, pelo patronato com o apoio dos sindicatos do regime,

direito à greve é cada vez mais posto em causa por todos os adeptos do capitalismo selvagem,

verde ou vermelho. Para eles que dizem não contestar o sagrado direito à greve, o que está em

causa é o seu exercício em dias e horários de trabalho. Greve com certeza, mas ao sábado e ao

domingo e mesmo assim, fora dos horários das missas.

José Libertário

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Cento e vinte cinco anos desde as primeiras manifestações do Primeiro de Maio nos

EUA e os acontecimentos trágicos de 1886: nos dias 3 e 4 de Maio desse ano, nas

calçadas de Chicago correu sangue dos trabalhadores – vítimas da chacina policial. Ao

lembrar mais um dia de luta dos trabalhadores, os trabalhadores do planeta recordam a

luta, a solidariedade de tal forma que o movimento internacional dos trabalhadores

possuem uma luta comum no combate encarniçado contra o capital e seus

colaboradores1.

Em meados da década de 80 do século passado, nos EUA verificavam-se profundos

contrastes sociais. Basta dizer que naquela época o dia de trabalho durava 16 horas, o

que era um anacronismo clamante para os EUA que já então eram a maior potência

industrial do mundo. Isto devia-se, em grande parte, a um desenvolvimento

relativamente fraco do movimento sindical no país, o que, por seu turno, se explicava

por certas particulares de formação de classe operária estadunidense. Até aos princípios

da década de 80 do século XIX, no Oeste do país existiam terras livres e, por

conseguinte, existia a possibilidade de um operário se tornar proprietário dum

terreno.2 A consciência de classe nesse ambiente era muito mais difícil. Uma grande

parte dos trabalhadores qualificados, principalmente os de origem anglo-saxônica,

encontravam-se numa situação privilegiada que melhorava ainda mais, à medida que

cresciam os monopólios industriais.

Esta “elite” operária não desejava amiúde levar em consideração os interesses da

maioria dos trabalhadores constituído, sobretudo, por emigrantes recentes. Estes últimos

estavam divididos por barreiras raciais, religiosas, linguísticas e nacionais. Tudo isso,

juntamente com a política do Estado orientada claramente contra o operariado,

dificultavam o desenvolvimento das organizações operárias nos EUA.

No entanto, em 1881 surgiu uma aliança operária que passou a desempenhar em breve

papel preponderante no movimento operário. Foi a Federação dos Sindicatos Industriais

e Comerciais dos EUA e Canadá que a partir de 1886, passou a ser denominada

Federação Americana do Trabalho. Foi precisamente essa organização que aprovou no

Origem do 1º de Maio

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seu congresso em Outubro de 1885 a histórica resolução sobre o estabelecimento do dia

de trabalho de 8 horas. Os sindicatos foram incumbidos de pôr em vigor a partir do

Primeiro de Maio de 1886 tal resolução.

Qual era o objetivo dos sindicatos de “por em vigor tal resolução” sobre o dia de

trabalho? O procedimento da realização desta exigência foi elaborado também no

Congresso de 1885 e previa a conversa direta dos sindicatos com os empresários, para

fecharem um acordo de ambas as partes, Se essas conversas não obtivessem a redução

pretendida, no 1 Maio de 1886 os sindicatos deviam recorrer à greve, cujos preparativos

já estavam em andamento.

Os preparativos para greve nacional do 1 Maio e manifestação pelas 8 horas revestiram

maior envergadura no coração industrial do país, Chicago, conhecida amplamente nos

EUA como centro do movimento operário mais ativo e de tradições combativas.

Um papel importante nas organizações operárias era a atuação dos anarco-sindicalistas

ou sindicalistas revolucionários para muitos. Inicialmente tinham uma discussão sobre a

questão das 8 horas, da qual viam como paliativa e legitimava a exploração dos patrões

através da regularização do salário de fome sobre o período, dando um entendimento

ilusório que os salários seriam justos nessa situação. No decorrer daquele período

entenderam a necessidade da redução era importante para o processo emancipatório dos

trabalhadores, pois abria espaço para aprofundar as reivindicações imediatas rumo a

ruptura total. Com a participação anarco-sindicalista, a luta tende a ser mais profunda e

radical.

O capitalismo, sobretudo em Chicago, estava coeso e através de informantes infiltrados

e pelas discussões com os sindicatos, também se preparavam para a paralisação do 1º

Maio. Foi dado alerta geral e preparavam-se cuidadosamente a guarda nacional, a

cavalaria, a polícia e unidades de “ajudantes” do xerife. Funcionava ininterruptamente o

“Comitê dos Citadinos”, formado pelos homens de negócios.

Nesse clima, as paralisações ocorreram, nos primeiros dias embora tenso, não houve

conflitos. Mas esse ocorreram quando agentes provocadores da policia e explodem uma

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bomba e atribuem aos anarquista o ocorrido. Muitos se ferem e ao menos dois policiais

morrem.

Com esse ocorrido, começa a perseguição aos mais destacados militantes, todos

anarquistas e sindicalistas, são presos 7 que depois serão julgados, tornando assim os

Mártires de Chicago. O processo ocorreu da forma mais fraudulenta possível, pois o que

estava sendo julgado não era a culpabilidade dos réus, mas a própria anarquia estava no

banco, pois não havia nenhuma prova que ligava diretamente o atentado aqueles

homens e mesmo assim foram sentenciados a morte, sendo que a pena e acusação foram

revistas e removidas, mas não em tempo de salvar as vidas da maioria dos acusados.

1Assim como precarizam os trabalhadores como contratos temporários atribuindo o termo

colaborador a tal exploração.

2As terras não estava “livres” foram tomadas a força dos nativos, que foram assassinados ou

encaminhados a campos de concentração ou “área de proteção” ou “reserva indígena”. Uma

exploração sobreposta a outra em nome do lucro e desenvolvimento do capital.

Fonte: http://anarkio.net/index.php/arti/283-1-maio-origem

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No 1º de Maio de 1897, realizou-se nesta cidade uma manifestação, que classificaram de festa do

trabalho.

Esta festa, que constava de jantares aos presos e asilados, récita de gala no teatro ou circo, musicatas e

archotadas era para escarnecer de nós ou então ludibriar-nos.

Memória: 1º de Maio – Aos trabalhadores Micaelenses

As filarmónicas, compostas de operários, que neste dia tocavam por

quase todas as ruas da cidade, eram pagas com o produto da récita de

gala. Os jantares eram pagos pelos pobres pescadores do bairro de

Santa Clara, que durante o ano depositavam alguns miseráveis

vinténs para tal fim.

Podiam batizar, estas folias, estes bródios, com qualquer outro nome

que melhor condissesse com os srs burgueses; mas chamarem-lhe

festa do trabalho – isso nunca!

Efetuaram-se estas pseudas e irrisórias festas do trabalho desde 1897

até 1904; e durante este longo período já iam tomando um carácter

mais grave: o de politiquice.

O promotor destas festas, que foi e ainda é um ferrenho influente

eleitoral do partido regenerador, não podia continuar à frente deste

movimento com o pseudónimo sempre falso de socialista,

defendendo as 8 horas de trabalho que ele próprio não compreendia

nem podia falar sobre tal assunto.

Um enorme escândalo!

Mas isto não podia continuar. Era uma vergonha que nos colocava a

nós, operários micaelenses, abaixo de toda a cotação social.

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Na noite do 1º de Maio de 1904, deparou-se-nos a ocasião de protestar solene e energicamente, perante

o auditório que assistia ao espetáculo em honra dos operários no Teatro Micaelense, contra o

socialismo do promotor daquelas festas e contra tudo que se fazia em nome dos operários, sem que estes

dessem um real para tais folias e bródios de carácter burguês. Custou-nos este arrojo o sermos detidos

durante uma hora no fim da qual fomos postos em liberdade, a pedido de algumas pessoas honestas que

lhes causou nojo o procedimento indigno do nosso adversário em mandar-nos prender sem motivo

algum. Julgava que procedendo daquela forma nos intimidava ou algemava o nosso pensamento livre –

enganou-se!

No ano seguinte fizemos toda a diligência para realizar no 1º de Maio o mesmo que se fazia em Lisboa.

Ornamentamos alguns carros alegóricos para se formar um cortejo cívico.

É-nos impossível descrever todas as peripécias que se deram e as perseguições que nos moveu o nosso

adversário, para se não chagar a efetuar o que desejávamos.

Mas nada conseguiu.

Este movimento também não podia continuar por dois motivos: o primeiro, porque tínhamos de ir fora

da cidade contratar as filarmónicas para tocarem neste dia, pagando a cada uma 25 a 30.000 reis e

mesmo assim para acederem ao nosso convite , era preciso que nos muníssemos de cartas de

recomendação de alguns cavalheiros, pois que as da cidade, compostas dos nossos camaradas, não

queriam acompanhar-nos; a segunda já porque no Continente não se faziam estas manifestações por

serem muito dispendiosas e inúteis.

Não é com festas que se resolve o grave problema social.

Não é com festas que o operariado terá de emancipar-se do jugo do capitalista, que o alvitra e tortura e o

mata lentamente pela fome.

Com festas nada se alcança e nada se alcançará.

Quem assim orientar um povo sem instrução leva-o por um caminho errado e desvia-o do verdadeiro

trilho a seguir para as reivindicações.

Acostumaram-se a chamar ao dia 1º de Maio dia de festa do trabalho quando não é mais do que um dia

de luta em que os operários se digladiam com o capital.

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O 1º de Maio não é dia de brobios nem de folias: é um dia de lutapor toda a parte, onde há operários

cônscios dos seus direitos. Por isso os operários micaelenses devem unir-se, criando as suas associações

sindicais, abrindo escolas para se educarem, e então, unidos em um só pensamento e firmes numa só

ideia, conquistarem uma Vida Nova e uma Sociedade Nova onde não se cometam infâmias e crimes

como os de Chicago, em 11 de Novembro de 1877.

(Vida Nova, nº 1, 1 de Maio de 1908)

Não deixaremos que caia no esquecimento

O regime fascista português não era tão brando como querem fazer querer todos os

que nos últimos anos têm-se esforçado por reescrever a história ou por tentar

esconder todas as atrocidades cometidas em nome de Deus, da Pátria ou da

Autoridade.

A ilha Terceira não serviu apenas como depósito de deportados vindos do continente

português. Com efeito para além dos vários presos políticos que passaram pela

Fortaleza de São João Batista, em Angra do Heroísmo, o fascismo matou naquela ilha

o Fotógrafo Lourenço e José Machado de Melo.

De acordo com o livro Açores- Do 25 de Abril até aos nossos dias, o Fotógrafo

Lourenço era militante da Esquerda Democrática, tendência socialista., foi morto na

prisão em 1939.

Por seu lado, José Machado de Melo, era sapateiro de profissão e militante anarco-

sindicalista, tendo-se suicidado no depósito de presos do Castelo de São João Batista,

depois de ter sido torturado durante muitos dias.

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Em primeiro lugar, deve-se desprezar conceções errôneas segundo as quais "anarquia" seria sinônimo de "bagunça". Anarquia é ausência de governo e mesmo de atividade parlamentar; que os agentes políticos devem atuar diretamente em busca de manter e ampliar todas as formas de participação nos aspetos decisórios da sociedade em que vivem. Ação Direta, aliás, é o nome que adotam várias organizações anarquistas pelo mundo afora.

Diz-nos Malatesta em seus "Escritos Revolucionários" que "Se quiséssemos substituir um governo por outro, isto é, impor nossa vontade aos outros, bastaria, para isso, adquirir a força material indispensável para abater os opressores e colocarmo-nos em seu lugar

* Mas, ao contrário, queremos a Anarquia, isto é, uma sociedade

fundada sobre o livre e voluntário acordo, na qual ninguém possa impor sua vontade a outrem, onde todos possam fazer como bem entenderem e concorrer voluntariamente para o bem-estar geral. Seu triunfo só poderá ser definitivo quando universalmente os homens não mais quiserem ser comandados ou comandar outras pessoas e tiverem compreendido as vantagens da solidariedade para saber organizar um sistema social no qual não mais haverá qualquer marca de violência ou coação".

A atividade do anarquista, do socialista utópico (em sua sublime acepção de conquista da Esperança possível) não é violenta nem repentina, mas gradual, pedagógica, passo a passo.

"Não se trata de chegar à anarquia hoje, amanhã ou em dez séculos, mas caminhar seguramente rumo à anarquia hoje, amanhã e sempre. A anarquia é a abolição do roubo e da opressão do homem pelo homem, quer dizer, abolição da propriedade privada dos meios materiais e espirituais de produção e do governo formal; a anarquia é a destruição da miséria, da superstição e do ódio entre as pessoas. Portanto, cada golpe desferido nas instituições da propriedade privada dos meios de produção e do governo é um passo rumo à anarquia. Cada mentira desvelada, cada parcela de atividade humana subtraída ao controle da autoridade, cada esforço tendendo a elevar a consciência popular e a aumentar o espírito de solidariedade e de iniciativa, assim com a igualar as condições é um passo a mais rumo à anarquia."

Fonte: Lázaro Curvêlo Chaves - Primavera de 2000

http://www.culturabrasil.pro.br/anarquia.htm

O que querem os anarquistas