Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

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Vilson de Almeida Sousa Níveis de cádmio no solo e na água de consumo em Buriticupu-MA Rio de Janeiro 2016

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Vilson de Almeida Sousa

Níveis de cádmio no solo e na água de consumo em Buriticupu-MA

Rio de Janeiro

2016

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Vilson de Almeida Sousa

Níveis de cádmio no solo e na água de consumo em Buriticupu-MA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente

da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio

Arouca na Fundação Oswaldo Cruz, como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Ciências.

Orientadora: Profª. Drª. Maria de Fátima

Ramos Moreira

Rio de Janeiro

2016

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Catalogação na fonte

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

Biblioteca de Saúde Pública

S725n Sousa, Vilson de Almeida.

Níveis de cádmio no solo e na água de consumo em

Buriticupu, MA. / Vilson de Almeida Sousa -- 2015.

101 f. : ilust.; mapa; tab. ; graf.

Orientador: Maria de Fátima Ramos Moreira

Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde

Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2015.

1. Cádmio-Análise. 2. Cádmio-Toxidade. 3. Água Potável. 4.

Solo. 5. Poluição Ambiental. 6. Indicadores Biológicos. 7.

Indicadores de Contaminação. I. Título.

CDD - 22.ed. – 615.92566209812

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Vilson de Almeida Sousa

Níveis de cádmio no solo e na água de consumo em Buriticupu-MA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente

da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio

Arouca na Fundação Oswaldo Cruz, como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Ciências.

Aprovada em: 06 de outubro de 2015

Banca examinadora

____________________________________________________________________

Profª. Drª. Maria de Fátima Ramos Moreira (Orientadora), ENSP/FIOCRUZ

____________________________________________________________________

Profº. Dr. Aldo Pacheco Ferreira, ENSP/FIOCRUZ

____________________________________________________________________

Profª. Drª. Simone Lorena Quiterio de Souza, IFRJ

Rio de Janeiro

2016

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Às minhas filhas Nívea e Tácila, Edilene, minha esposa, pela compreensão e apoio

incondicional neste período em que, mesmo presente, permaneci ausente.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, por sua infinita bondade, por sempre me proporcionar grandes

vitórias;

À amada minha, Edilene Freitas, pelo incentivo, pelo apoio incondicional

recebido antes mesmo da seleção para este mestrado;

Às minhas filhas, Nívea Victória e Tácila Nicole, pela compreensão nos

momentos de ausência;

À minha sogra Querubina, pelo apoio, orações e incentivos.

Aos meus cunhados, pela compreensão de minha ausência em reuniões de família;

Aos meus pais Manoel e Isabel, que, mesmo com suas limitações, fizeram-me

acreditar que sonhos podem ser conquistados quando se vai à luta;

Aos meus irmãos, pelo apoio e palavras de incentivo e pela compreensão na

ausência em reuniões da família;

Ao meu amigo Elson Silva, por sempre estar disponível a me ajudar, não fazendo

distinção entre feriados, finais de semanas e horário de descanso;

Ao meu amigo Adalton, motorista do IFMA Campus Buriticupu, que abraçou

minha causa no período de coleta e transporte das amostras, dispondo-se a me ajudar mesmo

que seu horário de expediente ainda não tivesse iniciado ou depois dele. Muito obrigado!

Ao Instituto Federal do Maranhão, por meio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-

Graduação, pela promoção desta parceria com a Fundação Osvaldo Cruz, possibilitando

minha qualificação.

À Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, em nome de todos aqueles

que não mediram esforços para que este projeto fosse executado.

Ao Professor Sergio Koifman (in memoriam), um pesquisador comprometido,

um ser humano cativador, exemplar, que nos ensinou o significado de humildade e

perseverança durante o período em que esteve conosco e por acreditar que este Mestrado em

Meio Ambiente e Saúde Pública poderia, sim, ser de qualidade mesmo quando oferecido fora

dos grandes centros de pesquisa.

Ao IFMA Campus Buriticupu, pelo apoio recebido por meio da compreensão dos

momentos de atropelos nas conclusões das disciplinas, no período estabelecido pelo

calendário acadêmico.

Ao Departamento de Ensino Superior e à Coordenação do Curso de Licenciatura

em Biologia, em especial ao coordenador e amigo professor Edivan Silva Almeida, pelo apoio

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e compreensão em todos os momentos deste mestrado.

Aos professores Ronald Ribeiro Corrêa, Diretor Geral do Campus; Edmilson

Arruda dos Santos, Diretor de Desenvolvimento de Ensino e Évila de Castro Costa, Chefe do

Departamento de Ensino Profissional, pela compreensão e apoio nesta reta final de meu

trabalho. A vocês, meu muito obrigado!

Aos alunos do IFMA Campus Buriticupu, tanto os do ensino técnico quanto os do

ensino superior, pela compreensão nos períodos de ausência.

À Professora Tânia Maria da Silva Lima, que não mediu esforços, por meio de

seus contatos, para encontrar laboratórios para a realização das análises.

Ao professor Dr. José Machado Moita Neto, por se prontificar a me ajudar nas

análises estatísticas e outras dúvidas.

À professora Ana Roberta Miranda, por investir seu tempo em conversas ao

telefone, as quais foram bastante esclarecedoras.

A todos os meus colegas do mestrado por ter contribuído grandemente com a

conquista desta vitória.

Aos meus amigos Glauber Coimbra e Taffarel Morais, por transformarem

momentos de tensão, no período das aulas, em momentos de descontração.

Ao Felipe Rizzo, que mesmo na correria da conclusão de sua dissertação, ajudou-

me na resolução de algumas dúvidas e no processamento de alguns dados.

À minha orientadora, professora Drª. Maria de Fátima Ramos Moreira, pelas

orientações recebidas e por ter depositado sua confiança na minha pessoa. Sou muito grato

pelo conhecimento adquirido!

Aos professores que contribuíram com o curso, compartilhando seus

conhecimentos conosco, em especial à professora Drª. Carmen Freire pelo apoio prestado.

À professora Drª. Rosalina Koifman e Gina Torres, pelo carinho, cuidado,

dedicação e seriedade transmitida ao longo do mestrado.

Enfim, a todos aqueles que contribuíram direta e indiretamente com a realização

deste almejado objetivo.

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Não foi por força nem por inteligência. Não foi por

mérito próprio. Foi sim, pelo amor, cuidado e a

misericórdia de Deus que me fez chegar até aqui.

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RESUMO

Esta pesquisa foi norteada pelo objetivo de determinar as concentrações dos níveis de cádmio

(Cd) no solo e na água de consumo do município de Buriticupu-MA, comparando os teores de

cádmio encontrado no solo e nas diferentes fontes de abastecimentos de água de consumo

com os níveis estabelecidos pela legislação nacional e internacional. Buscou-se, também,

analisar as concentrações de cádmio encontradas em áreas próximas à BR 222 e aos lixões da

cidade. Foram coletadas 50 amostras de solo e 30 de água. As coletas ocorreram em março de

2015, sendo que os procedimentos de coleta do solo seguiram as recomendações protocoladas

pela USEPA (1989 e 1991) e Byrnes (1994). As análises da água foram realizadas no Centro

de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH), da Escola Nacional de

Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), seguindo o protocolo já estabelecido pelo

laboratório, que utilizou a espectrometria de absorção atômica eletrotérmica. Os

procedimentos para a digestão de cádmio na água seguiram o método EPA 3020A. Os

procedimentos para determinação de cádmio no solo, seguiram o método USEPA 3050B, da

Agência de Proteção Ambiental dos EUA (USEPA, 1998a), no Laboratório de Solos da

Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), mediante espectrometria de emissão atômica

com plasma acoplado indutivamente (ICP-OES). Os níveis de cádmio encontrados na água

variaram entre ≤ 0,04 µg L-1 e 0,22 µg L-1, sendo que 77% dos valores ficaram abaixo do

limite de detecção (0,04 µg L-1), com uma média de 0,053 µg L-1. Não houve diferença entre

os teores de cádmio nas diferentes fontes analisadas de abastecimento de água para consumo.

Os níveis de cádmio encontrados no solo variaram entre ≤ 0,14 mg Kg-1 e 4,089 mg kg-1, com

uma média geral de 0,705 mg Kg-1. Quase metade das amostras (44%) se encontravam em pH

ácido (4,5-5,5) e, em 20%, a concentração de cádmio estava acima de 1,3 mg kg-1. Constatou-

se variação nos níveis de cádmio entre os bairros e dentro deles, como também nos pontos

próximos à BR 222 e lixões da cidade. Os resultados encontrados para os níveis de cádmio na

água de consumo analisada, neste estudo, apresentaram níveis abaixo daqueles estabelecidos

pela legislação nacional e internacional, não incorrendo, portanto, em riscos à saúde da

população local. Contudo, para as concentrações de cádmio no solo, observou-se algumas

áreas com a nítida perturbação antropogênica, sobretudo nas proximidades dos lixões.

Palavras-chave: Cádmio em solo. Cádmio em água. Elementos-traço. Metais-traço.

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ABSTRACT

The aim of this research was to determine the cadmium (Cd) levels in soil and drinking water

in the city of Buriticupu located in the state of Maranhão, comparing the cadmium content

found in the soil and different sources of water supply for consumption with levels established

by national and international laws. This study also aimed to determine cadmium concentration

in the surroundings areas of the Brazilian highway 222 and landfills of the cited city. Fifty

soil samples and thirty of water were collected. The sampling occurred March of 2015, and

the sampling procedures for soil followed recommendations of US EPA (1989 e 1991) and

Byrnes (1994). The analysis of water was conducted in the Center for Studies on Workers’

Health and Human Ecology (CESTEH), from the National School of Public Health Sergio

Arouca (ENSP/Fiocruz), following a protocol previously established by the laboratory, which

used the electrothermal atomic absorption spectrometry. The procedures to digest cadmium in

water followed the method EPA3020A. The soil digestion followed the US EPA 3050B in the

Soil Laboratory of the State University of Maranhão (UEMA), and cadmium was determined

by inductively coupled plasma optical emission spectrometry (ICP-OES). cadmium levels

found in water ranged from ≤ 0.04 µg L-1 to 0.22 µg L-1, wherein 77% of the values were

below the limit of detection (0.04 µg L-1), averaging 0.053µg L-1. There were not differences

among cadmium content in different sources analyzed of water supply for consumption.

Cadmium levels in soil found varied between ≤ 0.14 mg Kg-1 and 4.089 mg kg-1 with a

general average of 0.705 mg Kg-1. Almost half of the samples (44%) was in an acid pH (4.5-

5.5) and, in 20% of them, the cadmium concentration was over 1.3 mg kg-1. A variation in

cadmium levels was found between neighborhoods and within them as well as in the

surroundings of the Brazilian highway 222 and landfills in the city. The results for cadmium

levels in drinking water revealed levels below those set by national and international laws and

shall not pose, therefore, a risk to the health of local people. However, related to cadmium

concentrations in soil, there are some areas with distinct anthropogenic disturbance especially

in the vicinity of landfills.

Keywords: Cadmium in soil. Cadmium in water. Trace elements. Metals trace.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mudança nas concentrações de cádmio no gelo da Groenlândia e da neve entre

1800-1995. ................................................................................................................................ 27

Figura 2: Tendência nos padrões de consumo de cádmio entre 2005 e 2010. ........................ 39

Figura 3: Localização geográfica do município de Buriticupu em destaque no mapa do

Estado Maranhão e seu respectivo mapa da zona urbana ......................................................... 48

Figura 4: Cisterna de cimento usado para acondicionamento de água. ................................... 50

Figura 5: Zona urbana de Buriticupu destacando os pontos de descartes de lixo (em

vermelho) e pontos de lixões (em amarelo).............................................................................. 51

Figura 6: Pontos de coleta das amostras de solo, distribuídos ao longo da zona urbana de

Buriticupu ................................................................................................................................. 52

Figura 7: Pontos de coleta das amostras de solo, distribuídos ao longo da zona urbana de

Buriticupu ................................................................................................................................. 52

Figura 8: Pontos de coleta das amostras de solo, com os locais de retirada das subamostras

em realce ................................................................................................................................... 53

Figura 9: Distribuição dos pontos de coleta das amostras de água ......................................... 54

Figura 10: Retirada do solo do centro do trado para evitar contaminação .............................. 55

Figura 11: Limpeza do local a ser amostrado ......................................................................... 56

Figura 12: Descarte da primeira coleta de cada ponto amostrado ........................................... 57

Figura 13: Ocorrência de chuva no primeiro semestre de 2015 .............................................. 62

Figura 14: Distribuição dos pontos das coletas por bairro ...................................................... 63

Figura 15: Teor natural médio de cádmio no solo (mg kg-1) em diferentes países ................. 69

Figura 16: Teor natural médio de cádmio no solo (mg kg-1) em alguns estados brasileiros ... 69

Figura 17: Frequência dos níveis de cádmio no solo de Buriticupu-MA, de acordo com

intervalos de concentração........................................................................................................ 70

Figura 18: Níveis de cádmio no solo dos bairros de Buriticupu-MA ..................................... 71

Figura 19: Estatística descritiva por bairro ............................................................................. 73

Figura 20: Agrupamento hierárquico das similaridades dos níveis de cádmio nos bairros de

Buriticupu-MA ......................................................................................................................... 75

Figura 21: Correlação entre os níveis de cádmio e a distância dos pontos em relação à BR

222 ............................................................................................................................................ 76

Figura 22: Correlação entre os níveis de cádmio e a distância dos pontos em relação ao lixão79

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Figura 23: Percentagem das diferentes fontes de abastecimento de água. Fonte: Dados

colhidos na pesquisa. ................................................................................................................ 84

Figura 24: Níveis de cádmio encontrados na água de abastecimento em Buriticupu-MA. .... 85

Figura 25: Frequência das concentrações de cádmio encontradas nas amostras de água de

abastecimento em Buriticupu. .................................................................................................. 87

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Níveis naturais de cádmio no ambiente ................................................................... 29

Tabela 2: Diferentes fontes de contaminação ambiental ......................................................... 31

Tabela 3: Níveis típicos de cádmio no ar atmosférico em alguns países ................................ 32

Tabela 4: Principais fontes de contaminação das águas por cádmio ....................................... 34

Tabela 5: Comparação entre os valores máximos permissíveis estabelecidos por diferentes

instituições governamentais para metais na água para consumo público ................................. 35

Tabela 6: Padrões internacionais para a exposição ao cádmio ................................................ 46

Tabela 7: Valores de referência de qualidade da água e solo para o cádmio no Brasil 46

Tabela 8: Limites para cádmio no ar e água ............................................................................ 47

Tabela 9: Níveis de cádmio encontrado no solo na zona urbana de Buriticupu-MA .............. 64

Tabela 10: Estatística descritiva geral da área estudada .......................................................... 65

Tabela 11: Limites nacional e internacional para cádmio no solo .......................................... 67

Tabela 12: Percentis dos valores encontrados para cádmio no solo ........................................ 72

Tabela 13: Análise descritiva dos níveis de cádmio encontrados nos pontos de amostras de

solo em relação aos lixões e à BR ............................................................................................ 75

Tabela 14:Análise descritiva das características químicas do solo urbano em Buriticupu-MA81

Tabela 15: Níveis de cádmio encontrados na água potável da área estudada ......................... 86

Tabela 16: Estatística descritiva das amostras de água ........................................................... 87

Tabela 17: Comparação do nível máximo de cádmio na água potável de Buriticupu com

diferentes legislações ................................................................................................................ 88

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA Amostra de Água

ATSDR Agency for Toxic Substances and Disease Registry

CAEMA Companhia de Água e Esgoto do Maranhão

CESTEH Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana

CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de

São Paulo

CRA Centro de Recursos Ambientais

ENSP Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

USEPA United States Environmental Protection Agency

EU European Union

FIOCRUZ Fundação Osvaldo Cruz

IARC International Agency for Research on Cancer

ICDA International Chromium Development Association

ICP-OES Espectrometria de Emissão Atômica com Plasma Acoplado

Indutivamente

IPCS International Programme on Chemical Safety

LMR Limite Máximo Recomendável

OMS Organização Mundial da Saúde

PASCd Ponto de Amostra de Solo para Cádmio

PNRS Política Nacional dos Resíduos Sólidos

POPs Poluentes Orgânicos Persistentes

RfD Dose de Referencia

UEMA Universidade Estadual do Maranhão

USPHS United States Public Health Service

VP Valor de Prevenção

WHO World Health Organization

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LISTA DE SÍMBOLOS

Ar Arsênio

Cd Cádmio

Cu Cobre

g Grama

Hg Mercúrio

HNO3 Ácido nítrico

L Litro

mg Miligrama

mg m-3 Miligrama por metro cúbico

Mg(NO3)2 Nitrato de magnésio

mL Mililitros

ng Nanograma

ng m-3 Nanogramas por metro cúbico

ºC Graus Celsius

Pb Chumbo

pg Picograma

SO2 Dióxido de Enxofre

t Tonelada

Zn Zinco

ZnCO3 Carbonato de Zinco

ZnS Sulfeto de zinco

g Micrograma

g g-1 Micrograma por grama

g L-1 Micrograma por litro

g m-3 Micrograma por metro cúbico

g mL-1 Micrograma por mililitro

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 18

2 OBJETIVOS .................................................................................................................. 21

2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 21

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................................... 21

3 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 22

4 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................ 24

4.1 CÁDMIO ......................................................................................................................... 24

4.2 PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS ................................................................... 24

4.3 FONTES DE EMISSÃO ................................................................................................. 25

4.3.1 Fontes naturais ............................................................................................................... 27

4.3.2 Fontes antropogênicas ................................................................................................... 29

4.4 CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL ................................................................................ 31

4.4.1 Ar .................................................................................................................................... 31

4.4.2 Água ................................................................................................................................ 33

4.4.3 Solo .................................................................................................................................. 35

4.5 USOS E APLICAÇÕES DO CÁDMIO .......................................................................... 36

4.6 TRANSPORTE, DISTRIBUIÇÃO E TRANSFORMAÇÃO NO AMBIENTE ............ 39

4.7 FONTES DE EXPOSIÇÃO ............................................................................................ 41

4.7.1 Alimentos ........................................................................................................................ 41

4.7.2 Tabaco ............................................................................................................................ 42

4.7.3 Ambiente ocupacional ................................................................................................... 42

4.8 TOXICOLOGIA DO CÁDMIO ...................................................................................... 42

4.9 MONITORAMENTO DA EXPOSIÇÃO ....................................................................... 44

4.9.1 Indicadores biológicos de exposição ............................................................................. 45

4.9.2 Indicadores ambientais ................................................................................................. 45

5 METODOLOGIA ........................................................................................................... 48

5.1 ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................................ 48

5.2 PONTOS DE COLETA DAS AMOSTRAS .................................................................... 50

5.3 COLETA E CONSERVAÇÃO DAS AMOSTRAS ........................................................ 54

5.3.1 Solo .................................................................................................................................. 54

5.3.2 Água ................................................................................................................................ 57

5.4 PROCEDIMENTOS PÓS-COLETA DAS AMOSTRAS .............................................. 58

Page 17: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

5.5 EXPERIMENTAL .......................................................................................................... 58

5.5.1 Descontaminação do material utilizado ....................................................................... 58

5.5.2 Instrumental ................................................................................................................... 59

5.5.3 Determinação do carbono orgânico e matéria orgânica do solo ............................... 60

5.9 DETERMINAÇÃO DO pH EM CaCl2 .......................................................................... 60

5.10 ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................................. 61

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 62

6.1 SOLO .............................................................................................................................. 62

6.2 ÁGUA .............................................................................................................................. 84

7 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 90

REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 91

Page 18: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

18

1 INTRODUÇÃO

Os metais são encontrados naturalmente no meio ambiente ou provenientes de

fontes antropogênicas (ROSA, FRACETO, MOSCHINI-CARLOS, 2012). Após a Revolução

Industrial, com a intensa utilização dos metais, houve uma perturbação relevante dos ciclos

biogeoquímicos naturais. Como resultado deste processo, os metais se tornaram um dos

principais e mais perigosos contaminantes ambientais na atualidade (SISINNO, 2013).

Diante da crescente perturbação do ambiente derivada das atividades antrópicas

com metais (Cu, Zn, Ar, Pb, Cd e Hg, por exemplo), tem havido uma considerável

contaminação ambiental. A elevação dos níveis dos metais no ambiente tem interferido de

forma direta na saúde na população (ANJOS, 2003). Ao lado do Hg, o cádmio é apontado

como sendo um dos metais mais tóxicos aos seres humanos (ROSA, FRACETO,

MOSCHINI-CARLOS, 2012). Em 2007, foi categorizado na sétima posição dentre os

elementos químicos da lista prioritária de substâncias tóxicas da ATSDR – Agência para

Substâncias Tóxicas e Registro de Doença (ATSDR, 2010).

A literatura pontua o cádmio como um elemento químico que não desempenha

função biológica aparente (PRADO-FILHO, 1998; ANJOS, 2003; ICDA, 2013). E, mesmo

em concentrações traço, apresenta riscos à biota visto que pode afetar os seres vivos, inclusive

o homem, em função de suas propriedades e alta mobilidade no solo (LEI et al., 2010).

O cádmio é um metal encontrado na natureza, associado a sulfitos de minérios de

Zn, Cu e Pb. É um metal relativamente raro e se encontra amplamente distribuído, podendo

ser encontrado em rochas de sedimentos e fosfatos marinhos em concentrações elevadas

(WHO, 1992; PELOZATO, 2008).

Processos naturais como o intemperismo, o vento e a água da chuva, por exemplo,

favorecem a disponibilização natural do cádmio na biosfera. Entretanto, os maiores riscos

relativos estão associados à sua distribuição no ambiente por meio das atividades

desenvolvidas pelo homem (WHO, 2010; ATSDR, 2012), principalmente através da produção

e o consumo de metais não ferrosos (ICDA, 2013).

As propriedades intrínsecas ao cádmio favorecem sua empregabilidade em uma

variedade de aplicações industriais tais como recobrimento de aço e ferro, baterias de níquel-

cádmio, ligas, entre outras. Graças a sua excelente resistência à corrosão, baixa temperatura

de fusão, assim como elevadas ductilidade, condutibilidade térmica e elétrica, o seu uso e

Page 19: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

19

comercialização ocorre em nível mundial (IARC, 2012). Atividades relacionadas à fundição,

refino de metais, baterias industriais, plásticos, revestimentos e painéis solares expõem as

pessoas que trabalham nessas áreas (OSHA, 2014).

Diferentes mecanismos favorecem a dispersão do cádmio no ambiente. No ar, é

liberado em forma de material particulado procedente das erupções vulcânicas, do aspergir

das águas do mar, emissão das indústrias, queima de combustíveis fósseis e lixo urbano e

partículas liberadas do solo erodido (CARDOSO; CHASIN, 2003; PNUMA, 2010). O

cádmio, uma vez depositado na superfície das águas e dos solos pode ser absorvido por

plantas e animais, alcançando, posteriormente, o ser humano por meio da cadeia alimentar

(USMAN; MOHAMED, 2009; BALDANTONI et al., 2010).

A água é um compartimento do ambiente muito vulnerável à contaminação por

cádmio. Informações contidas na literatura têm demonstrado sua mobilidade por até 50 km de

distância da fonte poluidora (AZEVEDO; CHASIN, 2003). Pode ser encontrado na forma

hidratada ou complexada com outras substâncias orgânicas e inorgânicas (CRA, 2001).

A aglomeração de pessoas em centros urbanos tem gerado uma elevada demanda

de água para abastecer às necessidades da sociedade. A população contribui para a

contaminação das águas subterrâneas por meio da produção e descarte dos resíduos sólidos,

contendo inúmeras substâncias químicas, dentre elas medicamentos e metais. Além disso, os

resíduos provenientes das indústrias e agroindústrias são os principais responsáveis pela

contaminação das águas superficiais e subterrâneas (BEREZUK; GASPARETTO, 2002).

A cadeia alimentar é a principal via de exposição humana para pessoas não

fumantes e não expostas ocupacionalmente, pois o metal entra na alimentação por meio do

consumo de produtos de origem animal e vegetal contaminados (LEI et al.,2010; WHO, 2010;

OLIVEIRA, 2013).

Outro compartimento importante é o solo, pois é passível de contaminação pelo

cádmio, mesmo a longas distâncias das fontes geradoras, por meio das partículas contidas na

atmosfera e transportadas pelo vento. Todo esse processo pode ocorrer por deposição seca ou

precipitação, sendo a adsorção do cádmio no solo influenciada pelo pH, o que pode, inclusive,

tornar-se irreversível com o aumento do pH (ATSDR, 2012).

Em decorrência dessa exposição ao cádmio, pode haver, entre outros sintomas,

transtornos gastrintestinais, vômitos, diarreias (nos casos de exposição aguda, por exemplo),

insuficiência renal e até câncer (IARC, 2012).

O Brasil tem uma produção média diária de 240 mil toneladas de lixo

(MEDEIRO, 2015). Os lixões a céu aberto ainda são uma realidade bem presente e com

Page 20: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

20

perspectiva de permanecerem ainda por muito tempo, se levados em consideração os atuais

esforços para solução deste problema. Apesar da Lei nº 12.305/10, que instituiu a Política

Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em vigor desde 2014, a Confederação Nacional dos

Municípios do Brasil divulgou, em 19 de maio de 2015, um levantamento o qual mostra que

50,6% dos municípios brasileiros ainda não dão um destino final aos resíduos sólidos

(MEDEIRO, 2015). Esse dado é preocupante, visto que a incineração e descarte inadequado

de lixo são fontes de contaminação do ar, solo e água por metais (BEREZUK;

GASPARETTO, 2002; SILVA, 2002; CHAVES, 2008; PNUMA, 2010; ROSA; FRACETO;

MOSCHINI-CARLOS, 2012).

Buriticupu é um município localizado a Oeste do Maranhão, a 400 km da capital

São Luís. Conta, atualmente, com uma população estimada em 69.548 habitantes 1 . Sua

extensão territorial é de 2.545,440 km², já a zona urbana compreende cinco km² de extensão

territorial.

A zona urbana de Buriticupu apresenta características tais como coleta de resíduos

deficiente, cultura de queima dos resíduos, lixões dentro da cidade (desativado) e às suas

margens, intensa prática de queima das pastagens e roçados no município, vasta área de

plantio de eucalipto que utilizam adubos fosfatados nesta cultura.

Em relação ao descarte e destino final do Lixo urbano em Buriticupu-MA, foi

identificado algumas práticas e costumes que, em geral, contribuem para a contaminação do

ambiente por metais. Inúmeros pontos de descarte de lixo (em ruas, avenidas, muros de

escolas, terrenos baldios, entre outros pontos), lixões erguidos dentro e às margens da cidade,

queima do lixo foram algumas das observações feitas que podem comprometer a qualidade

ambiental da zona urbana (SOUSA, 2003).

Os municípios distantes dos grandes polos industriais podem estar sendo

acometidos pela contaminação por cádmio proveniente de outras fontes de emissão, visto que

este metal pode ser transportado, por meio do ar, por longas distâncias com possibilidades de

comprometer não somente os ecossistemas locais, mas também, nacional e internacional.

1 Dados publicados no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:

http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php. Acesso em 26/08/2015.

Page 21: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

21

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Determinar as concentrações dos níveis de cádmio no solo e água de consumo

no município de Buriticupu-MA.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Determinar as concentrações de cádmio no solo da zona urbana do município de

Buriticupu;

Comparar os níveis de cádmio encontrados no solo do município de Buriticupu

com os níveis estabelecidos pela legislação nacional e internacional;

Analisar os níveis encontrados de cádmio no solo em relação às proximidades de

lixões e da rodovia BR222.

Determinar as concentrações de cádmio na água de consumo do município de

Buriticupu;

Comparar as concentrações de cádmio na água fornecida pela Companhia de

Água e Esgoto do Estado do Maranhão (CAEMA) em Buriticupu, com aquela

fornecida por caminhões-pipa e poços artesianos.

Comparar os níveis de cádmio encontrados na água de consumo com aqueles

estabelecidos pela legislação nacional e internacional;

Page 22: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

22

3 JUSTIFICATIVA

Dependendo da forma química com que o cádmio se apresenta no ambiente, pode

trazer riscos à saúde da população, bem como preocupações ambientais. A ingestão de

alimentos e água contaminados, fumo, queima de resíduos sólidos e combustíveis fósseis são

algumas fontes de exposição que podem levar à contaminação humana e ambiental

(BUTTERMAN; PLACHY, 2002).

Buriticupu está localizado a Oeste do Maranhão a 400 km da capital São Luís. É

uma cidade interiorana, fruto de uma colonização agrícola que se iniciou em 1973 e culminou,

em 1994, com sua emancipação política (SILVA, 2015). No ano 2000, tinha 51.059

habitantes (IBGE, 2010), mas conta, atualmente, com uma população estimada em 69.548

habitantes. Sua extensão territorial é de 2.545,440 km², já a zona urbana compreende 5 km² de

extensão territorial.

Em 2003, foi identificado mais de 50 (cinquenta) pontos de descarte de lixo

distribuídos na zona urbana, sendo que, deste total, aproximadamente sete lixões foram

erguidos dentro e nas margens da sede do município. Ruas, avenidas, muros de escolas,

terrenos baldios, etc., comumente compreendiam os locais de despejos de resíduos sólidos

pela população residente (SOUSA, 2003). Esta prática pode contribuir para a elevação dos

níveis naturais de cádmio no solo e na água de consumo da zona urbana por meio da liberação

deste e outros metais encontrados comumente nos resíduos descartados. Desta forma, expõe a

população aos riscos que os metais podem provocar a saúde dos seres humanos por meio do

consumo de água e alimentos contaminados adquiridos por meio da cadeia alimentar.

Diante das características físico-químicas do cádmio e sua ampla aplicação, da

intensa prática de queima de lixo assim como pastagens e roçados no município, e ainda da

existência de uma vasta área de plantio de eucalipto, utilizando adubos fosfatados, fez-se

necessário realizar um estudo para avaliar o nível de exposição ao cádmio na zona urbana

deste município. Estas informações serão úteis para um gerenciamento ambiental eficaz e

capaz de inferir sobre possíveis riscos a que a população e os ecossistemas locais estão

submetidos.

Há de se pontuar que grande parte das informações sobre contaminação por

metais são oriundas de países desenvolvidos. Há, portanto, uma escassez de informações

sobre a contaminação por metais em cidades distantes de polos industriais (principalmente no

Brasil), o que pode comprometer não somente a vigilância ambiental local como também a

Page 23: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

23

nacional.

Nesse contexto, este trabalho contribuirá para o conhecimento da realidade local,

submetida a constantes agressões e transformações oriundas das atividades antrópicas. Tais

informações serão imprescindíveis para adoção de novos comportamentos na relação homem-

ambiente, segundo o qual o homem deve utilizar os recursos físicos, bióticos e

socioeconômicos de forma a preservar as características de produtividade destes recursos para

futuras gerações. Além disso beneficiará toda a população local com informações que serão

úteis nas tomadas de decisões, voltadas para a preservação do meio ambiente e da vida, pelos

órgãos e entidades competentes. Poderá, ainda, servir de estímulos para que outros

pesquisadores possam investigar a presença de contaminantes ambientais em municípios com

as características similares a Buriticupu-MA.

Page 24: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

24

4 REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 CÁDMIO

A história do cádmio começa em 1810 quando foi encontrado o primeiro cristal

com, aproximadamente, um centímetro de espessura. Na época, não se tinha conhecimento da

existência deste metal, por isso foi facilmente confundido com esfalerita (ZnS) (ATKINS;

JONES, 2001; UNEP, 2010; ICDA, 2013).

Sete anos mais tarde, 1817, o professor de metalurgia Friedrich Strohmeyer em

Goettinger, na Alemanha, ao realizar experimentos com carbonato de zinco (ZnCO3),

percebeu que, ao aquecer o mesmo, originava um material de cor amarelada em vez de

branca. Ao fazer observações mais rigorosas, Strohmeyer separou parte deste óxido e, por

precipitação com gás sulfídrico, isolou tal metal, concluindo, assim, que o responsável pela

variação da cor era o óxido de um elemento até então desconhecido, o cádmio (AZEVEDO;

CHASIN, 2003; PELOZATO, 2008; ICDA, 2013).

Simultâneo aos achados de Strohmeyer, K.S. Hermann isolou o mesmo sulfeto, só

que, desta vez, de outro minério de zinco. Sem conseguir identificar, Hermann enviou-o a

Strohmeyer que concluíra que se tratava do mesmo metal recém-descoberto. O nome atribuído

ao metal por Strohmeyer deu-se em função de o mesmo ter sido extraído de cadmia, termo

utilizado para designar calamina rico em carbonato de zinco (AZEVEDO; CHASIN, 2003).

Contudo, a origem do nome é incerta, pois tanto pode ser oriundo do latim cadmia

quanto do grego kadmeia, uma vez que ambas apresentam o mesmo significado, calamina. O

cádmio era também conhecido como cádmium fornacume, zinc flowers ou flores de zinco, em

referência à forma de apresentação desse metal nas paredes dos fornos de fundição de zinco

(AZEVEDO; CHASIN, 2003).

4.2 PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS

O cádmio é um metal não essencial à vida (ANJOS, 2003; UNEP, 2010),

apresentado, na tabela periódica, com o símbolo Cd, de número atômico 48 e número de

massa 112,40, ocupando, ao lado do Zn e do Hg, o grupo 12 da tabela periódica (SISINNO,

2013).

Apresenta-se como um metal branco-prateado (cinza claro) de brilho metálico e

Page 25: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

25

estado de oxidação +2. Tem um aspecto mole, dúctil, maleável e de fácil oxidação em contato

com o ar, o que torna sua superfície escura. Apresenta uma condutividade térmica a 18 ºC,

22% em relação à prata, enquanto que a condutividade elétrica é de apenas 21,5%

(MAINIER, 2006; SISINNO, 2013).

É um metal encontrado na natureza, sendo associado a sulfitos de minérios de Zn,

Cu e Pb. Há uma semelhança nas propriedades físicas e químicas com o zinco, o que explica

sua ocorrência com este metal na natureza variando, respectivamente, numa proporção de

1:100 e 1:1000 (ILO, 1998; CETESB, 2012).

Pode ser obtido industrialmente pelo processo carbotérmico ou por meio de

eletrólise de soluções de íons Cd2+, sobretudo de soluções de sulfeto de cádmio. No primeiro

processo, o óxido de cádmio é reduzido por carvão com a reação: 2CdO + C→2 Cd + CO2; no

segundo, diz respeito à obtenção do cádmio de alta pureza (MAINIER, 2006).

Em relação aos seus isótopos, são encontrados oito na seguinte forma: 106

(1,21%), 108 (0,88%), 110 (12,39%), 111 (12,75%), 112 (24,07%), 113 (12,26%), 114

(28,86%), 116 (7,58%) e dois radioisótopos, 109 e 115 (AZEVEDO; CHASIN, 2003).

É considerado de fácil transferência para a atmosfera em função de certas

características, tais como pontos de fusão e volatilização, considerados baixos para um metal,

em torno de 320ºC e 765ºC. Essas propriedades aliadas a uma pressão de vapor

razoavelmente alta, propicia facilmente sua transferência para compartimentos atmosféricos,

onde se transforma em diferentes compostos (óxidos, carbonatos, hidróxidos, sulfatos, etc.),

em função de sua rápida oxidação como, também, presença de CO2, SO2, vapor de água etc.

Além disso, têm uma elevada mobilidade no solo (LEI et al., 2010; SISINNO, 2013).

4.3 FONTES DE EMISSÃO

O cádmio pode ser liberado no ambiente por fontes naturais e antropogênicas14.

As rochas sedimentares, fosfáticas (de origem marítima) podem chegar a apresentar uma

concentração de cádmio de até 500 ppm (WHO, 1992; DISSANAYAKE; CHANDRAJIHT,

2009).

As condições climáticas podem exercer influências importantes na liberação do

cádmio, sendo estimada em 17 mil toneladas por ano. Entretanto, é a atividade vulcânica que

tem maior contribuição na liberação de cádmio para o ambiente, com até 800 toneladas/ano

(AZEVEDO; CHASIN, 2003). Quanto à liberação do cádmio por meio de incêndios

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26

florestais, sua emissão varia de 1 a 70 toneladas/ano (AZEVEDO; CHASIN, 2003; ICDA,

2013).

Antes da primeira Guerra Mundial, não existia a preocupação de retirar o cádmio

liberado junto aos resíduos industriais. A Alemanha foi a primeira e única a produzir o

cádmio até este período (ICDA, 2013). Como consequência, houve uma relevante

contaminação por este metal nas adjacências das indústrias durante décadas (SISINNO, 2013).

Thomas A. Edison, nos Estados Unidos, e Waldemar Junger, na Suécia,

desenvolveram as primeiras baterias de níquel-cádmio (NiCd) no início do século XX (ICDA,

2013). Somente a partir daí o cádmio começou a ser produzido comercialmente. Por ser um

produto oriundo da atividade secundária na metalurgia do zinco, sua emissão para o ambiente

está relacionada diretamente com as atividades econômicas (SISINNO, 2013).

Em consequência da industrialização do ocidente e o expressivo aumento na

queima de combustível fóssil, os níveis ambientais de cádmio aumentaram substancialmente.

Nos últimos 50 anos, desde 1960, houve uma redução nos níveis de cádmio no ambiente

devido às novas tecnologias utilizadas no controle de emissão de queima de combustíveis

fósseis, melhor tecnologia para produção, utilização e/ou redução ou eliminação de cádmio

em produtos devido a uma legislação mais rigorosa (ICDA, 2013).

A Figura 1 representa as concentrações de cádmio ao longo do período de 1800 a

1995. Observa-se que o cádmio no ambiente começou a ascender por volta de 1850,

continuando sua elevação durante um século inteiro, atingindo 2 pg g em 1995. A partir desse

período, tem-se constatado uma redução dos níveis de cádmio no ambiente, o que pode estar

relacionado com um maior controle na emissão devido a tecnologias mais eficientes e

legislação mais rigorosa. Contudo, globalmente, as emissões de cádmio para o ambiente ainda

são preocupantes, principalmente considerando as nações não ocidentais (ICDA, 2013).

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27

pg g-1 = picogramas por grama.

Figura 1: Mudança nas concentrações de cádmio no gelo da Groenlândia e da neve entre

1800-1995. Fonte: www.cadmium.org.

A queima dos resíduos sólidos urbanos (hospitalares e outros) tem contribuído

para a biodisponibilização do cádmio no ambiente. Embora haja tecnologia capaz de capturar

mais de 99% das emissões de fumos de cádmio em incineradores, esta tecnologia não está

disponível em todas as regiões (ICDA, 2013).

Dentre as diversas formas de contaminação do ambiente por cádmio, estão as

diferentes atividades desenvolvidas na indústria e na agricultura, em que a contaminação por

metais é comum e tem trazido grande preocupação aos pesquisadores e órgãos

governamentais envolvidos no controle de poluição da água. Preocupação pertinente, pois “a

água, além de ser um dos mais importantes fatores da preservação da vida, está em vias de se

tornar escassa no mundo; está sendo contaminada com o despejo de rejeitos industriais e

urbanos e várias outras atividades humanas” (OLIVEIRA et al.,2001; UNEP, 2010).

4.3.1 Fontes naturais

Considerado um metal relativamente raro, o cádmio é encontrado puro na

natureza, em média, entre 0,1-0,4 mg kg-1 na crosta terrestre (AZEVEDO; CHASIN, 2003;

SISINNO, 2013). Entretanto, concentrações de até 15 mg kg-1 podem ser encontradas em

rochas de sedimentos como, também, fosfatos marinhos. É um metal amplamente distribuído

na crosta terrestre e disponibilizado naturalmente para a biosfera ou por ação antrópica

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28

(WHO,1992; KABATA PENDIAS; PENDIAS, 2001; SISINNO, 2013).

As mudanças climáticas são uma forma importante de liberação deste metal por

ação do intemperismo, inclusive precipitações. Os ventos e a água das chuvas são muito

importantes na distribuição do cádmio na biosfera (VALADARES, 1975 apud OLIVEIRA,

2013; ICDA, 2013).

As erupções vulcânicas são fontes importantes para a liberação e mobilização de

cádmio da crosta da Terra, mesmo que estes se encontrem em baixa atividade. Em relação aos

vulcões submersos, não se tem um número preciso de suas emissões de cádmio para o

ambiente aquático. Contudo, estima-se que este seja responsável pela emissão de 100 a 500

toneladas do movimento natural do cádmio (WHO, 1992; WHO, 1998; NMR, 2003).

O deslocamento do cádmio na natureza se dá por diferentes meios, sendo que o

volume transportado pelo ar, solo e água do mar é bastante representativo (NRIAGU, 1990;

WHO,1992; AZEVEDO; CHASIN, 2003; SEMMLER, 2007; UNEP, 2010).

Por ser um metal de baixas concentrações na natureza, raramente pode ser

encontrado em concentrações elevadas em um compartimento ambiental. As concentrações

mais elevadas são observadas em solos onde se encontram depósitos naturais de minério Zn,

Cu e Pb. Em face da exploração desses minérios, há um aumento considerável da

contaminação do solo e da água dessa região (WHO,1992; KABATA PENDIAS; PENDIAS,

2001).

Em áreas afastadas das minas de minérios como o Zn, Cu e Pb, a ocorrência de

cádmio se dá em torno de 0,1 a 0,4 mg kg-1 no solo. Na água doce, os valores são inferiores a

0,01-0,06 ng L-1. Os níveis de cádmio em águas superficiais em mar aberto são inferiores que

5 ng L-1, sendo que, no sentido vertical, a coluna de água apresenta, gradativamente, maior

concentração do metal na superfície. A possível explicação para este fenômeno está

relacionada com a absorção do cádmio pelo fitoplâncton que habita esta zona. Entretanto,

correntes marítimas ascendentes podem contribuir para um enriquecimento de cádmio nas

águas superficiais (WHO,1992; FINKEL, 2007).

Alguns níveis típicos de ocorrência natural deste metal são apresentados pela

International Cadmium Association (ICdA). Este órgão mostra a ocorrência natural de cádmio

em alguns compartimentos.

A Tabela 1, a seguir, apresenta informações sobre os níveis de cádmio naturais no

ambiente.

A Tabela 1 resume informações sobre os níveis de cádmio considerados naturais

encontrados no ambiente das diferentes agências World Health Organization (WHO),

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29

International Cadmium Association (ICDA) e Agency for Toxic Substances and Disease

Registry (ATSDR).

Tabela 1: Níveis naturais de cádmio no ambiente

Meio

Concentração

0,1 a 4 ng m³

Atmosfera 0,01 a 0,04 ng m³ - áreas remotas

90 ng m³ - aerodispersoides junto ao vulcão do Monte Etna

Crosta terrestre 0,1 a 0,4 ppm

0,01 a 1,0 ppm

Solos vulcânicos 4,5 ppm

Rochas sedimentares Até 15 ppm

Fosfatos marinhos ~1 ppm

Sedimentos marinhos 0,1 a 1,0 ppm

~0,1 µg L

Água do mar <0,5 ng L (água superficial)

0,02 a 0,1 µg L

0,01 a 0,06 ng L

Água doce ~0,1 µg L

Gelo 5pg/ (Ártico) / 0,3 pg g (Antártico)

Fonte: Azevedo e Chasin (2003).

4.3.2 Fontes antropogênicas

A contaminação do ambiente pelo cádmio torna-se mais preocupante quando as

fontes de emissão são as antrópicas (WHO, 1992; ANJOS, 2003; UNEP, 2010). A Alemanha

foi o principal produtor de cádmio até o início da Primeira Guerra Mundial. Em 1912, sua

produção anual foi estimada em 43 toneladas (t) (SIEBENTHAL, 1918 apud BUTTERMAN;

PLACHY, 2002).

Nos Estados Unidos, sua produção comercial se deu no início de 1907 graças a

Grasselli Chemical Co. de Cleveland, Ohio, que recuperou 6 t do metal proveniente de

subproduto de minério de zinco (BUTTERMAN; PLACHY, 2002).

Diante das restrições comerciais resultantes da I Guerra Mundial impostas pela

Alemanha, os Estados Unidos tornaram-se o maior produtor mundial de cádmio em 1917. A

partir daí os dois países passaram a ser os maiores produtores mundiais de cádmio

(BUTTERMAN; PLACHY, 2002).

As aplicações em galvanoplastia estimularam a produção comercial em 1919,

com aplicações em revestimentos de ferro e aço, ligas em motores de automóveis durante

Page 30: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

30

anos na década de 1930. Em 1940, a galvanoplastia já representava ¾ do consumo de cádmio.

Em 1969, os Estados Unidos produziram 5.700 t de cádmio e o consumo foi estimado em

6.800 t (BUTTERMAN; PLACHY, 2002). Na segunda metade do século 20, a principal

aplicação do cádmio aconteceu na produção da fabricação de baterias de NiCd, chegando no

ano 2000 a representar ¾ de sua aplicação neste segmento40. Houve intensa produção do

cádmio na década de 1970. Em 1987, a produção mundial atingiu suas 18.566 toneladas

(WHO, 1992).

Fatores tais como mudança de indústrias responsáveis pela produção de zinco

primário dos Estados Unidos para outros países e preocupações ambientais, em relação à

toxicidade de algumas formas de cádmio, promoveram o declínio da produção e consumo do

cádmio nos Estados Unidos (BUTTERMAN; PLACHY, 2002).

Na década de 1990, em diversos países desenvolvidos, houve grandes pressões

para a redução e/ou eliminação do cádmio, as quais foram sustentadas pelas evidências dos

perigos e riscos à saúde humana. As agências estaduais e federais nos Estados Unidos criaram

regulamentações sobre o metal. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA)

criou regulamentações e, nestas, uma relação de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) e

bioacumulativos. A lista de POPs incluía 11 metais, sendo um deles o cádmio. Com isso, foi

estipulada uma meta para reduzir em 50% o uso deste metal, fato que ocasionou a

desvalorização do cádmio nos anos que se seguiram (AZEVEDO; CHASIN, 2003).

Entre as várias atividades de origem antropogênicas que contribuem com a

liberação de cádmio para o ambiente pode-se apontar o uso em ligas metálicas, revestimento

de produtos ferrosos e não ferrosos, estabilizantes de plástico e pigmentos amarelos e

vermelhos em plásticos e vidros e incineração do lixo urbano e industrial (AZEVEDO;

CHASIN, 2003; SILVA; QUEIROZ; DIAS, 2004; SILVA, 2005; FONTAINE et al., 2008).

Nesse sentido, pode-se afirmar que as maiores fontes antropogênicas estão

relacionadas a:

(1) atividades envolvendo mineração, produção, consumo e disposição de

produtos contendo cádmio: tais como baterias, pigmentos, estabilizadores PVC,

eletrodeposição, ligas e componentes eletrônicos;

(2) fontes “inadvertidas” (cádmio como constituinte natural do material): metais

não-ferrosos, ligas de Zn, Pb e Cu, emissão de indústria de Fe e aço, combustíveis fósseis

(carvão, óleo, gás, turfa e madeira), cimento e fertilizantes fosfatados;

(3) Lixo urbano: cádmio proveniente de várias fontes, que contaminam compostos

orgânicos (produtos da reciclagem da parte orgânica do lixo) e o chorume (líquido gerado no

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31

lixo) lançado nos rios ou que pode penetrar no solo e alcançar águas subterrâneas (ROSA;

FRACETO; MOSCHINI-CARLOS, 2012; ICDA, 2013).

4.4 CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL

Há diversas fontes que contribuem para a elevação dos níveis de cádmio no ambiente.

Na Tabela 2, estão apontadas as principais fontes de emissão de cádmio para o ambiente.

Tabela 2: Diferentes fontes de contaminação ambiental

Fonte de exposição

%

Fertilizantes fosfatados 41,3

Combustão de Combustíveis Fósseis 22,0

Produção de ferro e aço 16,7

Fontes naturais 8,0

Metais não-ferrosos 6,3

Produção de Cimento 2,5

Produtos contendo cádmio 2,5

Incineração de lixo 1,0

Fonte: ICDA (2013)

4.4.1 Ar

Estimou-se que a emissão total de cádmio na atmosfera, de origem antropogênica,

foi de 85% a 90%, com 7.570 toneladas no ano de 1983, compreendendo a metade da

produção deste metal naquele ano (SISINNO, 2013).

A queima de resíduos sólidos urbanos é uma fonte importante na contaminação

atmosférica, visto que muitos resíduos como plásticos, pilhas e baterias, contêm cádmio.

Outra fonte relevante de contaminação atmosférica por cádmio é a produção de aço

decorrente da reciclagem de aparas que são produzidas nesse processo (PNUMA, 2010;

ROSA; FRACETO; MOSCHINI-CARLOS, 2012; SISINNO, 2013).

A queima de combustíveis fósseis, a incineração de resíduos municipais, as

atividades relacionadas com a fundição de Zn, Cu ou Pb são consideradas as maiores fontes

de dispersão de cádmio no ar (ATSDR, 1997; ROSA; FRACETO; MOSCHINI-CARLOS,

2012).

Page 32: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

32

No que diz respeito à concentração de cádmio no ar, deve-se levar em

consideração o ar ambiente (exterior), o ar de ambientes ocupacionais e o ar de áreas

contendo fumaça do cigarro. O cádmio presente no ar é depositado na água e/ou no solo,

podendo ser absorvido por plantas e animais e, posteriormente, chegar ao ser humano por

meio da cadeia alimentar. Por outro lado, as pessoas expostas ocupacionalmente em áreas

com níveis elevados de cádmio ou expostas à fumaça de tabaco correm sérios riscos devido à

inalação do metal (ICDA, 2013).

Os níveis de cádmio no ar sofrem variações, oscilando de 0,1 a 5 ng m-³ em áreas

rurais, de 2 a 15 ng m-³ em áreas urbanas e de 15 a 150 mg m-³ em regiões industrializadas

(ICDA, 2013).

Vários estudos foram realizados para verificar os níveis de cádmio encontrados

no ar de alguns países, cujas concentrações podem atingir em média 0,3 µg m-3 em locais

próximo às fundições de metais (CADMIUM, 1998). A Tabela 3 mostra o tipo de área

avaliada e sua respectiva faixa de concentração.

Tabela 3: Níveis típicos de cádmio no ar atmosférico em alguns países

Tipo de área

Faixa de concentração do

cádmio (ng m3)

Período de coleta de

amostra

Rural remota

- Atol Pacífico

- Europa

- Atlântico

0,0025-0,0046

0,1-0,3

3x10-6 –6,2x10-4

NI

NI

NI

Rural

- Bélgica

- República Federal da Alemanha

- Japão

1 (valor médio)

0,1 a 1

1 a 4

24 horas

<24 horas

24 horas

Urbana

- Bélgica

- República Federal da Alemanha

- Japão

- Polônia

- USA (Nova York)

50 (valor médio)

10-150

3-6,3

2-51

3-23

24 horas

<24 horas

1 ano

1 ano

1 ano

NI – Não informado. Fonte: Azevedo e Chasin (2003).

A aplicação de normas mais rigorosas aliadas a tecnologias atualizadas permitiu a

redução dos níveis de cádmio no ar nas últimas décadas (ICDA, 2013). Anteriormente, os

teores de cádmio no ar eram de 100 a 200 mg m-³, enquanto que esses valores oscilaram de 2

a 50 mg m-³ (ACGIH, 1999).

Na intenção de proteger a saúde humana e o meio ambiente, com a redução das

emissões de poluentes, os Estados membros da União Europeia determinaram que os

Page 33: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

33

princípios base para a avaliação e gestão do ar ambiental apoiassem-se na “definição e

estabelecimento de objetivos para a qualidade do ar ambiente” (Diretiva 96/62/CE, de 27 de

Setembro). Por meio de minuciosas revisões, esta diretiva foi substituída pela nova Diretiva

marco 2008/50/CE, de 21 de maio que entre outros objetivos tem o de “definir e fixar

objetivos relativos à qualidade do ar ambiente destinadas a evitar, prevenir ou reduzir os

efeitos nocivos para a saúde humana e para o ambiente na sua globalidade” (MOREIRA,

2010).

4.4.2 Água

As principais fontes de cádmio na água superficial são provenientes do

intemperismo, erosão do solo, descargas atmosféricas diretas devido a operações industriais,

vazamentos de aterros e locais contaminados e pelo uso de lodos de esgoto e fertilizantes na

agricultura (AZEVEDO; CHASIN, 2003; UNEP, 2010).

Importante frisar que a contaminação ambiental por cádmio em nível local assim

como global dos ecossistemas aquáticos está relacionada com a extração e o processamento

de minérios de metais não ferrosos (SISINNO, 2013).

Despejos industriais de jazida de zinco e chumbo denominada de Kamioka e da

respectiva usina de processamento de chumbo e zinco, localizadas a 50 km das margens do

rio Jintsu, na região de Funchu-Machi, no Japão, causou a maior contaminação ambiental por

cádmio que se tem conhecimento atualmente. Foi quando plantadores de arroz e pescadores se

viram acometidos de dores reumáticas e mialgias, doença conhecida como itai-itai

(MAINIER, 2006; UNEP, 2010).

Outras fontes de contaminação de cádmio nos ecossistemas aquáticos provêm da

extração e processamento de minérios de metais não ferrosos. Embora as atividades de

exploração em minas venham a ser desativadas, as contaminações nas adjacências continuam

por vários anos (SISINNO, 2013).

O cádmio pode ocorrer na forma de hidrato ou complexado com substâncias

orgânicas. Sua mobilidade está relacionada com sua capacidade de solubilização na água. As

formas solúveis têm a capacidade de mobilizar-se na água enquanto as formas insolúveis ou

adsorvidas ao sedimento são relativamente imóveis. É também bioacumulativo com meia vida

variando entre 10 e 30 anos (USPHS, 1997). No meio ambiente, pode permanecer por

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34

décadas, com meia vida variando entre 13 a 1100 anos (KABATA-PENDIAS e PENDIAS,

2001).

Abaixo, a Tabela 4 resume as principais fontes de contaminação de água por

cádmio.

Tabela 4: Principais fontes de contaminação das águas por cádmio

Fonte de contaminação

Caracterização da contaminação

Representatividade da

contaminação

Mineração de metais não

ferrosos.

A contaminação ocorre pela drenagem

das minas, águas residuais dos processos

de mineração, inundação de lagoas de

estagnação e chuvas originárias de

regiões de mineração.

O cádmio contido no minério, a política

de manejo da mina e também as

condições climáticas e geográficas

podem influenciar nas quantidades de

metais lançadas em diversos locais.

Representa a maior

fonte de cádmio para o

ambiente aquático.

Fundições de minério não

ferroso.

Devido às descargas de efluentes líquidos

produzidos por lavagem dos gases e

drenagem de suas águas.

São consideradas

importantes fontes de

contaminação para o

meio ambiente

aquático.

Extração de rochas

fosfatadas e manufatura

de fertilizantes

fosfatados.

Na manufatura de fertilizantes fosfatados

há uma redistribuição do cádmio da

rocha entre o ácido fosfórico e o resíduo

argiloso.

Importante fonte de

contaminação quando

lixiviados.

Acidificação de solos e

lagos.

Os oceanos absorvem mais de 26% do

dióxido de carbono emitido pela

atividade humana na atmosfera,

resultando em elevada acidez dos

oceanos (pH reduzido). Essa acidez

elevada tem diversos efeitos sobre

organismos e ecossistemas, sendo o mais

significante a diminuição na

concentração/disponibilidade de íon

carbonato para o plâncton e espécies de

conchas que fixam carbonato de cálcio.

Pode aumentar a

mobilização dos metais

ali depositados,

aumentando seus níveis

nas águas superficiais e

profundas.

Corrosão em soldas de

juntas ou tubos de zinco

galvanizados.

Passagem de água ácida pode dissolver o

cádmio e produzir seu aumento na água.

Pouco relevante em

relação a outras fontes.

Fonte: Adaptado de Azevedo e Chasin (2003).

A presença de cádmio em água potável está associada a vários fatores tais como

as impurezas dos tubos galvanizados e soldas em acessórios, aquecedores e refrigeradores de

água, e torneiras, entre outros. Porém, a exposição por meio da ingestão de água se torna,

relativamente, de pouca relevância em comparação com a exposição por meio do consumo

de alimentos contaminados (WHO,1992; EFSA, 2011)

Page 35: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

35

A Tabela 5 apresenta uma síntese das normas governamentais em relação ao

limite máximo de cádmio presente na água.

Tabela 5: Comparação entre os valores máximos permissíveis estabelecidos por diferentes

instituições governamentais para metais na água para consumo público

Concentração de Cd máxima permissível (mg L -1)

Padrão de potabilidade

Padrão de qualidade

ambiental5

Elemento Portaria

36/90MS1

Portaria

1469/00MS2

WHO3 EPA4 Classes I, II Classe III

Cd 0,005 0,005 0,005 0,01 0,001 0,01 1Ministério da Saúde, Portaria n°36/90 (Decreto Estadual 12.342/78, Código Sanitário). 2Ministério da

Saúde, Portaria n°1469/2000 (29/12/2000). 3WHO (World Health Organization): Guia para Água

Potável/Valor experimental – nova Portaria vigente. 4EPA – Environmental Protection Agency (EPA, 2003) (EUA) – Critério de Qualidade de Água. 5CONAMA, resolução Conama 357 de 2005.

Fonte: Adaptado de Chaves (2008).

4.4.3 Solo

No solo, a disponibilidade do cádmio é bem menor do que no ar e água (ICDA,

2013). Removido da atmosfera por deposição seca ou precipitação, pode chegar a áreas

distantes da fonte poluidora. Verificou-se que a concentração de cádmio no solo se dá de

forma crescente em áreas rurais (em menor concentração), urbana e industrial (maior

concentração). A adsorção do cádmio no solo é influenciada pelo pH, podendo, inclusive,

tornar-se irreversível com seu aumento (ATSDR, 1997). Os níveis de contaminação da

atmosfera refletem-se na contaminação da superfície do solo e da vegetação local (UNEP,

2010).

Os níveis de cádmio encontrados em rochas fosfatadas podem apresentar uma

enorme variação, dependendo da origem dessas rochas. Esse metal pode ser liberado no meio

ambiente por meio de várias fontes como, por exemplo, a fabricação de fertilizantes, que

contaminam a água e o solo por meio do descarte dos efluentes oriundos de seu processo de

fabricação e da aplicação de fertilizantes em solos agrícolas (SISINNO, 2013).

As atividades de aplicação de fertilizantes fosfatados e lodo de esgoto em áreas

agrícolas assim como deposição atmosférica, ou ainda, de águas contaminadas com cádmio

contribuem, também, para a elevação dos níveis deste metal. A prática de se utilizar o lodo de

esgoto para fins de adubação tem contribuído para a propagação deste metal no ambiente. O

lodo oriundo de estações de tratamento urbano contém menor concentração de cádmio em

Page 36: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

36

relação àqueles provenientes de estações industriais (SISINNO, 2013).

A contaminação do solo por cádmio mediante a aplicação de fertilizantes gerados

a partir do lodo de estações de tratamento é pequena em relação àquelas causadas pela

aplicação de fertilizantes fosfatados e deposição atmosférica (BERTI; JACOBS, 1998).

Um estudo conduzido para avaliar a distribuição de cádmio, Cr, Cu, Pb, i e Zn em

solos cultiváveis, tratados com esgoto municipal em três áreas diferentes, encontrou uma

distribuição lateral dos metais associada com a movimentação física das partículas do solo,

decorrentes das práticas agrícolas (BERTI; JACOBS, 1998).

Concluiu, também, que os metais encontravam-se entre 15 a 30 cm de

profundidade e que o cádmio, com profundidade variando em torno de 0 a 30 cm, apresentou

concentrações de 7,0 mg kg, 4,5 mg kg e 4,9 mg kg nas três áreas estudadas. Neste estudo,

ainda, foi possível inferir que houve uma recuperação de 69% a 79% de todo o cádmio

oriundo do lodo de esgoto aplicado nas áreas estudadas em função da movimentação do solo,

do processo de absorção das plantas, da erosão eólica e hídrica (AZEVEDO; CHASIN, 2003).

Levantamentos feitos em São Paulo pela CETESB, em 2001, mostraram que o

metal apareceu na 4ª posição na escala de contaminantes do solo naquele Estado (CETESB,

2001).

Considera-se importante ressaltar que os principais fatores que favorecem às

diferentes espécies, adsorção e distribuição do cádmio em solos são pH, teor de matéria

orgânica solúvel, teor de óxido de metal hidratado, teor de argila e a presença de ligantes

orgânicos e inorgânicos, e competição de outros íons metálicos (ICDA, 2013).

4.5 USOS E APLICAÇÕES DO CÁDMIO

A partir do século XX, deu-se início à produção comercial do cádmio2. A maioria

do cádmio metálico, atualmente, é produzida como um subproduto da extração, fundição e

refino dos metais não-ferrosos, Zn, Pb e Cu (ICDA, 2013). As propriedades inerentes ao

cádmio possibilitam que o mesmo seja empregado em uma variedade de aplicações

industriais. Graças a sua excelente resistência à corrosão, baixa temperatura de fusão, alta

ductilidade, alta condutibilidade térmica e elétrica, o seu uso e comercialização ocorrem

amplamente no mundo (IARC, 2012).

As aplicações do cádmio são distribuídas em cinco categorias:

No recobrimento de aço e ferro, visto que apresenta alta resistência à

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37

corrosão, sobretudo em ambientes alcalinos e marinhos, é usado para

eletrodeposição em outros metais. Apresenta, também, um baixo coeficiente de

atrito, possibilitando um bom contato elétrico. É utilizado em parafusos, porcas,

fechaduras e várias partes de aeronaves e motores de veículos, equipamentos

marítimos e máquinas industriais, em plataformas de petróleo offshore (ILO,

1998; OLIVEIRA, 2011; HSDB, 2000);

Como estabilizador para cloreto de polivinila (PVC), já que o cádmio pode

ser utilizado sob diferentes formas de sais inorgânicos, sendo o estearato de

cádmio o que se destaca como estabilizador em PVC (ILO, 1998);

Em pigmentos para plástico e vidro, visto que a maior parte dos pigmentos

de cádmio permanece com cor fixa para o plástico, vidro, cerâmica ou esmalte

em que eles estão incorporados. Há boa dispersão em polímeros, produzindo

forte coloração, alta opacidade e bom poder de tingimento (ILO, 1998; ICDA,

2013).

Em baterias de níquel-cádmio, pois leva a maior demanda do consumo de

cádmio pela indústria mundial. Este fato se dá em função das propriedades da

capacidade de reações eletroquímicas reversíveis de níquel e cádmio. O baixo

custo, as altas densidades de energia e potência, adicionados a um maior ciclo de

vida e durabilidade mecânica e elétrica fizeram com que o uso de cádmio na

indústria de fabricação de baterias níquel-cádmio passasse de 55% em 1994

(CARDOSO; CHASIN, 2003), 79% em 2004 para 85% em 2010 (ICDA, 2013).

Usado em ligas. Embora o cádmio apresente limitações de uso em seu estado

puro, é associado a outros elementos que apresentam características favoráveis a

uma gama de utilidades. Melhor resistência ao desgaste, dureza, resistência

mecânica e fadiga e mobilidade são algumas das vantagens propiciadas pela

adição de pequenas quantidades de cádmio em mistura a outros metais (ICDA,

2013).

Por ser amplamente utilizado, o cádmio apresenta ainda outras aplicações

(AZEVEDO; CHASIN, 2003; ICDA, 2013).

• fotocélulas e células solares (sulfito de cádmio);

• fungicida (cloreto de cádmio);

• pirotecnia;

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38

• aditivo em indústria têxtil;

• produção de filmes fotográficos;

• manufatura de espelhos especiais;

• coberturas de tubos eletrônicos a vácuo (em eletrodos de lâmpadas de vapor de

cádmio);

• semicondutores;

• vidro e cerâmicas esmaltadas;

• solda para alumínio;

• sistema de proteção contra incêndio;

• reagente analítico para a determinação de nitrato de amônia;

• televisão;

• absorvedor de nêutrons em reatores nucleares;

• amálgama em tratamento dentário (1Cd:4Hg);

• carregador de reatores de Jones;

• uso como anti-helmíntico para suínos e equinos (sais de cádmio, especialmente

o óxido antrasilato);

• em barras de controles de reatores;

• fios de transmissão de energia.

De acordo com o Serviço Geológico dos EUA, em 2007, as principais aplicações

de cádmio foram baterias de níquel-cádmio (NiCd), representando 83%; pigmentos, 8%;

revestimentos e placas, 7%; estabilizadores para plásticos, 1,2% e outros (incluindo ligas não-

ferrosas, semicondutores e dispositivos fotovoltaicos), 0,8%. O cádmio também está presente

como impureza nos metais não-ferrosos (zinco, chumbo e cobre), ferro e aço, os combustíveis

fósseis (carvão, petróleo, gás, turfa, e fertilizantes de madeira), cimento e fosfato (USGS

2008).

Diante da toxicidade, há restrições em relação ao seu uso, o que implica, portanto,

em restrição quanto à sua aplicação nas indústrias de alimentos e produtos farmacêuticos

(OLIVEIRA, 2011).

A Figura 2 mostra as tendências nos padrões de consumo do cádmio entre 2005 e

2010, percebe-se que, nesse intervalo, o cádmio foi mais solicitado pela indústria na produção

de baterias de NiCd, ocorrendo uma ligeira elevação no período. As demais aplicabilidades

(produção de pigmentos, revestimentos, estabilizantes, ligas e células solares) praticamente

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39

não sofrem mudanças, havendo apenas uma leve flutuação ao longo deste período.

Figura 2: Tendência nos padrões de consumo de cádmio entre 2005 e 2010. Fonte: ICDA,

2013.

4.6 TRANSPORTE, DISTRIBUIÇÃO E TRANSFORMAÇÃO NO AMBIENTE

O cádmio é um metal que, em seu estado natural, dificilmente é liberado em

quantidade que venha trazer riscos ao meio ambiente. O intemperismo de rochas fosfatadas e

erupções vulcânicas são exemplos de fontes emissoras de cádmio para o ambiente. Entretanto,

é a ação antrópica que se destaca, contribuindo para que este metal seja liberado no meio em

quantidades suficientes para atingir longas distâncias de suas fontes poluidoras,

transportando-o até milhares de quilômetros de suas fontes geradoras (PNUMA, 2010).

Os pontos de fusão e volatilização são algumas características que facilitam a

transferência de cádmio para a atmosfera que se transforma, posteriormente, em diferentes

compostos tais como óxidos, carbonatos, hidróxidos, sulfatos, entre outros (SISINNO, 2013).

O vento e a água das chuvas são muito importantes na distribuição do cádmio na

biosfera. Naturalmente, o movimento do cádmio pode ocorrer pelo ar, pelo solo e pela água

do mar, por meio de materiais biológicos e queimadas, além de ser transferido em cadeias

tróficas. Pelo ar, estima-se que a emissão total de cádmio, a partir de fontes naturais, gira em

torno de 150 a 2.600 toneladas (NRIAGU, 1990; WHO,1992; CARDOSO; CHASIN, 2003;

SEMMLER, 2007; UNEP, 2010).

No ar, o cádmio se encontra em forma de material particulado oriundos de

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40

diferentes fontes como, por exemplo, erupções vulcânicas, emissões provenientes de

indústrias e erosão do solo, entre outros (CARDOSO; CHASIN, 2003; PNUMA, 2010). Pode

ser transportado a curtas e grandes distâncias, podendo atingir não somente o ambiente local,

mas também abranger escalas regionais, nacionais e até intercontinentais (PNUMA, 2010).

O tamanho das partículas, a altura dos pontos de emissão e condições

meteorológicas são outros fatores que contribuem para a dispersão. O cádmio tem um tempo

de permanência relativamente curto na atmosfera, variando entre um período de dias até

semanas. Contudo, este tempo não o impede de atingir regiões longínquas percorrendo

milhares de quilômetros de suas fontes geradoras (PNUMA, 2010). Uma das formas de

remoção natural do cádmio da atmosfera ocorre por meio da deposição úmida ou precipitação

(ATSDR, 1997; UNEP, 2010).

Assim, a atenção quanto à liberação e a consequente contaminação do cádmio no

ambiente não devem ficar somente nas proximidades das fontes poluidoras, requerendo dos

órgãos de vigilância ambiental uma atenção especial para este tipo de metal. A incineração é

uma forma que contribui para a liberação de cádmio na atmosfera. No processo de combustão,

partículas de diâmetro menor que 10 mm são liberadas no ar, podendo, portanto, adentrar o

corpo humano por meio das vias aéreas (AZEVEDO; CHASIN, 2003; PNUMA, 2010).

O óxido de cádmio é o mais abundante na atmosfera, podendo, também, o cloreto

de cádmio ser encontrado em tal compartimento (ATSDR, 1997). Esses compostos por serem

estáveis não sofrem transformações relevantes e são facilmente dispersos pelo vento, que os

transportam até milhares de quilômetros de suas fontes geradoras, chegando, posteriormente,

ao solo (PNUMA, 2010).

A água é outro compartimento do ambiente que merece atenção quanto à

contaminação por cádmio. O transporte pela água é considerado o maior fluxo global do ciclo

do cádmio, pois chega a transportar entre 9.400 a 15.000 toneladas por ano (NRIAGU, 1990;

WHO,1992; AZEVEDO; CHASIN, 2003; SEMMLER, 2007).

De fácil mobilidade na água, o cádmio pode ser transportado por distâncias de até

50 km. Dessa forma, em toda esta extensão, poderá haver contaminação das áreas adjacentes

ao leito do rio. Caso alguma cultura seja irrigada com esta água, a mesma poderá ser

comprometida (CRA, 2001; AZEVEDO; CHASIN, 2003; ICDA, 2013).

Outro compartimento importante e passível de ser contaminado por cádmio é o

solo. Removido da atmosfera por deposição seca ou precipitação, pode chegar a áreas

distantes da fonte poluidora. Verificou-se que a concentração de cádmio no solo se dá de

forma diferente em áreas rurais, urbana e industrial (UNEP, 2010; ICDA, 2013).

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A adsorção do cádmio no solo pode ser influenciada pelo pH, pode, inclusive,

tornar irreversível (ATSDR, 1997). O pH influencia, também, a absorção do cádmio por

vegetais (PNUMA, 2010). E os níveis de contaminação da atmosfera, por meio da deposição

e da precipitação, refletem-se na contaminação da superfície do solo e da vegetação local

(AZEVEDO; CHASIN, 2003, UNEP 2010; ICDA, 2013).

4.7 FONTES DE EXPOSIÇÃO

4.7.1 Alimentos

A absorção de cádmio pelas plantas adubadas por fertilizantes, lodo de esgoto,

esterco e deposição atmosférica, contribuem para que a maior exposição da população em

geral ao cádmio seja por meio da ingestão de alimentos contaminados (ICDA, 2013).

A cadeia alimentar é a principal via de exposição ao cádmio para pessoas não

fumantes e não expostas ocupacionalmente (WHO, 2010). Esse metal entra na alimentação

humana por meio do consumo de produtos de origem animal e vegetal. Os frutos e sementes

apresentam menor concentração de cádmio do que as folhas (CRA, 2001). Entretanto, rins e

fígado de mamíferos com dietas ricas em alimentos contaminados apresentam níveis elevados

desse elemento. Certas espécies de peixes, ostras, vieiras, mexilhões e crustáceos também

podem apresentar níveis expressivos de cádmio (CRA, 2001; WHO, 2010).

Concentrações menores de cádmio são encontradas em vegetais, cereais e raízes

ricas em amido. Entretanto, por ser a ingestão desses alimentos mais frequente, os mesmos

representam a maior parte da ingestão diária de cádmio para a maioria das populações (WHO,

2010).

O resultado dos esforços de inúmeras políticas públicas de saúde tem contribuído

para a redução da ingestão de cádmio pela população e tem acontecido de forma acelerada.

Em decorrência desta política, a ingestão de cádmio, na maioria dos países europeus,

encontra-se abaixo do recomendado pela OMS (FRIIS, 1998). A dose de ingestão diária de

cádmio é estimada entre 10 e 85 µg. O Japão, por exemplo, têm dietas com valores de

ingestão média diária de cádmio por pessoa estimada em 3.59 μg (UNEP, 2010).

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42

4.7.2 Tabaco

Um grupo da população com maior exposição ao cádmio é a população fumante

que pode chegar a inalar 0,2 µg de cádmio por cigarro consumido, atingindo, assim, o dobro

da ingestão diária normal, absorvendo até 50% desse total (CRA, 2001). O fato de o fumante

estar mais exposto ao cádmio ocorre pela característica da própria planta que normalmente

acumula, relativamente, altas concentrações de cádmio em suas folhas (WHO, 2010; UNEP,

2010).

Comparados à população geral, fumantes passivos e possivelmente trabalhadores

da fumicultura, também, são pessoas expostas a maiores níveis de cádmio devido à presença

do elemento na fumaça e folhas dessas plantas (AZEVEDO; CHASIN, 2003).

4.7.3 Ambiente ocupacional

Nos EUA, estima-se que 300 mil trabalhadores estão expostos ao cádmio no local

de trabalho (OSHA, 2014). Os ambientes de maior exposição ocupacional se encontram em

fundições de cádmio, fábricas de baterias de NiCd, fundições de ligas de cádmio-cobre, e

outras indústrias relacionadas com o metal. Entretanto, a exposição pode ocorrer, também, em

outros ambientes (CANADA, 1994; OSHA, 2014).

Atividades como fundição, refino de metais, baterias industriais, plásticos,

revestimentos e painéis solares são alguns exemplos de trabalhos com exposição ao cádmio

(OSHA, 2014).

Ainda no que diz respeito à exposição do trabalhador, OSHA (2014) levanta uma

preocupação para os dias atuais e futuros em função de processos empregados na reciclagem

de baterias, pois esta atividade é uma fonte de exposição para o trabalhador ao cádmio. Outras

atividades que trazem preocupação são a galvanoplastia, usinagem de metais, solda, pintura,

trabalhadores envolvidos nas operações de aterros sanitários, reciclagem de componentes

eletrônicos, de compostagem e catadores de lixo (OSHA, 2014).

4.8 TOXICOLOGIA DO CÁDMIO

Nos últimos anos, tem-se observado uma crescente atenção voltada para a

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43

toxidade dos metais devido aos diversos efeitos biológicos (neurológicos, hematológicos,

endocrinológicos, renais, cardiovasculares, carcinogênicos, gastrintestinais, sobre o

crescimento, sobre a reprodução e o desenvolvimento) que estes têm causado em função das

diferentes formas de exposições a que a população está submetida (MOREIRA; MOREIRA,

2004).

Apenas cerca de 2% a 6% do cádmio é absorvido e distribuído pelo organismo

após ingestão. A forma química em que o cádmio se apresenta, o estado atual de saúde do

indivíduo em relação às concentrações de metais essenciais, proteínas e gorduras, solubilidade

e tamanho das partículas podem ser determinantes no grau de absorção do cádmio (ICDA,

2013). Todavia, a principal rota de exposição é a inalação, pois cerca de 30% a 64% de

cádmio podem ser absorvidos (ICDA, 2013).

Mesmo em concentrações-traço, o cádmio é considerado altamente tóxico devido

a sua propriedade de bioacumulação e por não ser essencial para a vida humana (PRADO-

FILHO, 1998; ANJOS, 2003; ICDA, 2013).

A literatura tem apontado que uma longa exposição ao cádmio em baixas doses

está, frequentemente, associada a uma doença tubular com perda de capacidade de reabsorção

de nutrientes, vitaminas e minerais. Os efeitos da incapacidade de reabsorção refletem

diretamente a perda de zinco e cobre, ligados à metalotioneína, glicose, aminoácidos, fosfato,

cálcio, β2-µglobulina como também proteína de ligação ao retinol (IPCS, 1992).

Quando ingerido em altos teores, por meio da água e alimentação contaminada,

provoca transtornos gastrintestinais e irritação da mucosa estomacal, produzindo vômitos e

diarreias. Nos casos mais graves, pode levar à morte do indivíduo (AZEVEDO; CHASIN,

2003). Entretanto, a ingestão crônica em baixas concentrações provoca sérios danos renais

como também é responsável pelo aparecimento de osteomalácia e câncer (ATSDR, 1997;

MEDITEXT, 2000; ICDA, 2013).

Desde 1950, com o advento da ocorrência da doença itai-itai no Japão, o metal

tem sido estudado extensivamente. Os estudos têm evidenciado que o zinco, em

concentrações normais no organismo humano, tem sido um fator de proteção contra o cádmio,

visto que esses dois elementos são quimicamente semelhantes e o mecanismo de ação no

organismo é por competição. Assim, quando o cádmio é absorvido em altas concentrações,

pode deslocar o zinco e causar efeitos tóxicos em organismos vegetais e animais, incluindo os

seres humanos (UNEP, 2010; OLIVEIRA, 2013).

O rim é o principal órgão em que o cádmio se acumula por um período de 20 a 30

anos. Em níveis elevados pode acometer o sistema respiratório e os ossos. Os estudos têm

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44

focado em indícios precoce na disfunção renal e insuficiência pulmonar em populações

expostas ocupacionalmente (ICDA, 2013).

Em níveis baixos de exposição, os efeitos renais podem ser reversíveis se a

exposição de cádmio for reduzida ou removida (ICDA, 2013).

Pesquisas realizadas com pessoas contaminadas por cádmio evidenciaram, por

meio de testes cognitivos, que o acúmulo de cádmio, após longo período de exposição em

adultos, pode estar relacionado com leve queda do desempenho em tarefas que requerem

atenção e percepção (CIESIELSKI et al., 2013).

O cádmio pode induzir à apoptose em células epiteliais da próstata humana e está

relacionado com o câncer nesta glândula (AIMOLA, 2012). Em se tratando de célula, o efeito

da exposição ao cádmio pode levar à desmontagem dos microtúbulos em células animais

(WAN, 2012). O metal também é apontado como potencial cancerígeno para o pâncreas

humano (LUCKETT, 2012), podendo ser classificado, bem como seus compostos como

carcinogênicos para humanos pela International Agency for Research on Cancer (IARC,

2012). Esta instituição o identificou no grupo 1 na lista de classificação estabelecida pelas

monografias sobre a avaliação de riscos carcinogênicos de substâncias para humanos da

IARC.

Informações epidemiológicas sobre o cádmio têm sido extraídas a partir de

trabalhadores ocupacionalmente expostos ou através de populações concentradas em áreas

com níveis elevados de cádmio como é o caso de populações japonesas (ICDA, 2013).

4.9 MONITORAMENTO DA EXPOSIÇÃO

A avaliação dos riscos à saúde determina a relação entre a exposição e os efeitos

adversos. A identificação do perigo, avaliação de dose-resposta, avaliação da exposição e a

caracterização do risco são as principais etapas envolvidas neste processo. A avaliação da

exposição é a medida da concentração de uma substância química presente no ambiente

(monitoramento ambiental) e/ou no organismo (monitoramento biológico). Nos dois tipos de

monitoramento, as avaliações são realizadas por meio da utilização de indicadores ambientais

e biológicos, que mostram alterações proporcionais à intensidade de exposição e/ou do efeito

da substância (MOREIRA; MOREIRA, 2004b).

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45

4.9.1 Indicadores biológicos de exposição

O indicador biológico de exposição estima a dose interna de uma substância,

refletindo a sua distribuição pelo organismo. Assim, a concentração desse agente químico

presente no ambiente e em contato com esse organismo é a dose externa. A determinação da

substância química ou seu produto de biotransformação em meios biológicos tais como

sangue, urina, cabelo entre outros, permite a quantificação do composto no organismo

(AMORIM, 2003; TROJANOWSKI et al., 2010).

Diferentes indicadores têm sido desenvolvidos para quantificar as concentrações

de cádmio no organismo humano. Portanto, a avaliação da exposição ao metal ocorre por

meio da utilização de indicadores biológicos disponíveis como, por exemplo, níveis do metal

na urina, sangue, fezes, cabelos e unhas (IPCS, 1992; ATSDR, 2012).

Em linhas gerais, o nível de cádmio na urina reflete uma exposição em longo

prazo, antes do desenvolvimento de lesões nos rins. Já o cádmio no sangue é tido como um

indicador de exposição recente ao metal (IPCS, 1992; AMORIM, 2003), sendo que os

eritrócitos contêm a maior percentagem de cádmio. Suspeita-se que parte do cádmio

circulante no sangue reflita a carga corporal do cádmio contido nos rins e fígado, sendo assim

um fator de confundimento com uma possível exposição recente (IPCS, 1992; AMORIM,

2003; ATSDR, 2012).

Por ser a absorção do trato gastrintestinal considerada relativamente pequena, as

fezes podem ser apenas um indicador do nível da exposição diária ao cádmio decorrente da

ingestão de alimentos, água ou deglutição de partículas de poeira em função da exposição

ocupacional, por se tratar da porção do metal que não foi absorvida. Da mesma forma, o

cabelo não é bom indicador da exposição ao cádmio devido à facilidade de contaminação

externa como, por exemplo, de tintura de cabelo e poluição urbana e impossibilidade de

diferenciar o cádmio endógeno do exógeno (IPCS, 1992; TROJANOWSKI et al., 2010).

4.9.2 Indicadores ambientais

Nas últimas décadas, os resultados de estudos envolvendo o cádmio têm

desencadeado uma pressão para regulamentar seu uso, reduzir ou mesmo eliminá-lo, visto que

é um metal tóxico em certas formas e concentrações. Em função disso, pressões para redução

de seu uso ganhou impulso, principalmente, na União Europeia (UE) e outros países

Page 46: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

46

desenvolvidos (PLACHY, 2001).

Muitas agências de saúde estabeleceram padrões de exposição destinados a

proteger o público em geral do excesso de exposição ao cádmio a partir de várias fontes

(ATSDR, 2008) como se pode observar na tabela 6.

Tabela 6: Padrões internacionais para a exposição ao cádmio

Agência

Padrões de Exposição

ATSDR

O nível de risco mínimo para exposição crônica oral (MRL) é de

0,0002 mg Kg-1 por dia de cádmio com base em seus efeitos renais.

O MRL estabelece o limite de cádmio a ser ingerido cronicamente

sem risco de efeitos adversos para a saúde (ATSDR, 1999).

EPA

Alimentação: a dose de referência é de 1 x 10-3 mg Kg-1 por dia

(ATSDR, 1999).

Água: a dose de referência para a exposição humana é de 5 x 10-4 mg

Kg-1 por dia.

Dose de referência (RfD) é uma estimativa de uma exposição diária à

população em geral (incluindo subgrupos sensíveis) que é provável

que seja sem risco apreciável de efeitos deletérios durante toda a vida

(IRIS, 2006).

Organização Mundial

de Saúde (OMS)

Dose semanal admissível para o cádmio em 7 g kg-1 por semana.

Fonte: ATSDR (1997).

Em 2001, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB)

estabeleceu as concentrações para diferentes substâncias em solo, água potável, água

subterrânea, água doce, salinas e salobras. Após a atualização em 2005, a CETESB estipulou

o valor de referência de qualidade em <0,5 mg kg-1 para o cádmio em água potável (CETESB,

2012).

Nas Tabelas 7 e 8, observam-se valores de referência para cádmio em diferentes

compartimentos ambientais, estipulados nacional e internacionalmente.

Tabela 7: Valores de referência de qualidade da água e solo para o cádmio no Brasil

Meio

Concentração

Comentário

Referência

Solo

1,3 mg kg*

3 mg kg*

8 mg kg*

20 mg kg*

Valor de Prevenção

VI cenário agrícola – APMax

VI cenário residencial

VI cenário industrial

CONAMA

420/2009

Água potável 0,005 mg L Padrão de potabilidade PORTARIA

Page 47: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

47

2914/2011

Água subterrânea

5 µg L

50 µg L

10 µg L

5 µg L

VMP (consumo humano)

VMP (dessedentação de

animais)

VMP (irrigação)

VPM (recreação)

CONAMA

396/2008

Águas doces 0,001 mg L

0,01 mg L

VM (classe 1 e

2)

VM (classe 3)

CONAMA

357/2005

Águas salinas 0,005 mg L

0,04 mg L

VM (classe 1)

VM (classe 2)

CONAMA

357/2005

Águas salobras 0,005 mg L

0,04 mg L

VM (classe 1)

VM (classe 2)

* Peso Seco; APMAx = Área de Proteção Máxima; VI = Valor Investigação; VMP = Valor

Máximo Permitido; VM = Valor Máximo; Fonte: CETESB, 2012.

Tabela 8: Limites para cádmio no ar e água

Agência

Compartimento

Descrição

Informações

WHO Ar Qualidade do ar para a OMS 5ng m³

OSHA Ar (exposição

ocupacional – 8h)

Indústria em geral 5μg m3

WHO Água Diretrizes de qualidade da água

para beber

0,003 mg L

EPA Água potável Ingestão diária 0,005 mg L

Fonte: Adaptado de: http://www.atsdr.cdc.gov/toxprofiles/tp5-c8.pdf

Page 48: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

48

5 METODOLOGIA

5.1 ÁREA DE ESTUDO

Buriticupu é um município com uma área de 2.731,8 km² e está localizado na

Latitude: 04º 20' 45" S e Longitude: 46º 24' 04" W. Sua população atual é de 69.548

habitantes2 das quais 50% habitam a zona urbana. Sua colonização teve início em 1971,

incentivada pelo Governo do Estado do Maranhão quando esta região, ainda, pertencia a

Santa Luzia do Tide, na Pré-Amazônia Maranhense. Como o objetivo inicial era colonizar a

região, constituída de mata virgem e madeira de lei em abundância, logo foi alvo dos excessos

na exploração de madeira (SILVA, 2015).

Em 1994, Buriticupu foi desmembrado do município de Santa Luzia, porém, com

uma infraestrutura precária para seu funcionamento, o que incorria, também, no saneamento

ambiental.

A seguir, na Figura 3, pode ser observada a localização do município de

Buriticupu em relação ao Estado do Maranhão, destacando a zona urbana deste município.

Figura 3: Localização geográfica do município de Buriticupu em destaque no mapa do

Estado Maranhão e seu respectivo mapa da zona urbana. Fonte: Adaptação de Wikipedia.org

O município de Buriticupu faz parte de uma estatística preocupante no Brasil no

que diz respeito à política de destino final dos resíduos sólidos. O lixo oriundo das diferentes

2 Dados publicados no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:

http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php. Acesso em 26/08/2015.

Page 49: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

49

fontes é, em sua maioria absoluta, depositado em lixões a céu aberto onde são queimados. Em

ruas em que o serviço de coleta do lixo é deficiente (maioria) ou não é contemplado, são

queimados nos quintais com o propósito de redução do volume, evitar o mau cheiro e repelir

insetos e roedores atraídos pelo lixo. Em período chuvoso, os resíduos que não foram

coletados são arrastados pela água da chuva sendo depositados nas partes mais baixas da

cidade (SOUSA, 2003).

Outro fato que se deve pontuar é que a cidade é cortada por uma rodovia federal

(BR 222) com alto fluxo de veículos e transportes de carga favorecendo, ainda mais, a

emissão de poluentes típicos da queima de combustíveis fósseis. O município é cortado,

também, pela Ferrovia Carajás para transporte de pessoas e minério de ferro.

As terras de Buriticupu e municípios vizinhos estão sendo, desde a década de 90,

alvos de plantação de eucalipto por grandes empresas que atuam no seguimento siderúrgico.

O adubo utilizado nestas plantações para corrigir o solo pode contribuir com uma possível

perturbação do ambiente por metais no município.

O município de Buriticupu carece de rede de saneamento básico. Não há galerias

subterrâneas para captação de águas da chuva e do esgoto doméstico. A água para o

abastecimento público é oriunda de poços artesianos particulares ou poços de

responsabilidade da Companhia de Água e Esgoto do Maranhão (CAEMA). Quando não há

rede de distribuição de água, a população recorre ao abastecimento por caminhões-pipa,

pagando pelo abastecimento.

As residências contempladas com rede de abastecimento sofrem com a

distribuição irregular, visto que a água não é ofertada todos os dias. As tubulações da rede de

abastecimento, muitas vezes, apresentam péssimo estado de conservação. É possível observar

que os encanamentos expostos apresentam rachaduras ou estão quebrados.

Todas as residências têm tanques construídos de cimento para o

acondicionamento de água (Figura 4). Os encanamentos para o abastecimento com água da

CAEMA desembocam nesses tanques (geralmente com capacidade para oito a dez mil litros).

As residências que carecem de encanações, também, guardam a água transportada pelos

caminhões-pipa nessas cisternas.

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50

Figura 4: Cisterna de cimento usado para acondicionamento de água. Fonte: Arquivo pessoal.

5.2 PONTOS DE COLETA DAS AMOSTRAS

A coleta das amostras foi planejada de acordo com a atenção dada ao

recolhimento e descarte dos resíduos sólidos nos últimos 13 anos. A zona urbana do

município de Buriticupu-MA foi escolhida como campo de coleta em função da densidade

populacional, histórico de coleta dos resíduos, queimadas, lixo urbano e lixões. Inicialmente,

o mapa disponível de 2003 da zona urbana do município foi analisado e comparado com o

atual.

Em seguida, foram reunidas informações sobre a distribuição de pontos de

descarte de resíduos sólidos pela Prefeitura Municipal e pela população do ano de 2002 (de

agosto a dezembro) conforme Sousa (2003) a 2015.

Na Figura 5 a seguir, pode-se observar os pontos de descarte de lixo em 2002,

representados aqui por triângulos de cor vermelha. Os triângulos de cor amarela representam

os locais dos antigos lixões (onde, realmente, a prefeitura fazia/faz o descarte de todos os

tipos de resíduos retirados das ruas) há mais de uma década.

Observa-se, neste mapa, a localização de 43 pontos de descarte de lixo

distribuídos ao longo da zona urbana (em 2002) e 11 lixões, dos quais 7 foram identificados

por Sousa (2003).

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51

Figura 5: Zona urbana de Buriticupu destacando os pontos de descartes de lixo (em

vermelho) e pontos de lixões (em amarelo). Fonte: Arquivo pessoal.

Após o levantamento dos pontos de descarte do lixo e locais dos lixões, o mapa da

zona urbana foi dividido em 25 (vinte e cinco) áreas de aproximadamente 600m x 600m

(Figura 6). Para a coleta de solo, cada uma dessas 25 (vinte e cinco) áreas recebeu dois pontos

de coletas equidistantes (Figura 7). A partir do centro de cada ponto foram traçadas três linhas

de aproximadamente 50 metros em sentidos opostos (mais ou menos em forma de “Y”) do

centro do ponto para retirada de três subamostras. As três subamostras coletadas de cada

ponto compuseram uma amostra composta (Figura 8). Já para a coleta de água, o esquema

não seguiu necessariamente a disposição de cada área, mas foi distribuído de forma

equidistante umas das outras para uma representação homogênea (Figura 9).

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52

Figura 6: Pontos de coleta das amostras de solo, distribuídos ao longo da zona urbana de

Buriticupu. Fonte: Google Earth, adaptado.

Figura 7: Pontos de coleta das amostras de solo, distribuídos ao longo da zona urbana de

Buriticupu. Fonte: Google Earth, adaptado.

Por meio do Google Earth foi possível constatar que a área urbana de Buriticupu

equivale a aproximadamente 5,3 km2.

A disposição dos pontos de coletas segue a distribuição sistemática, do manual de

coleta de amostra de solo 6300, da CETESB, que, por sua vez, baseia-se na USEPA (1989).

Todas as coordenadas geográficas de cada local das subamostras foram registradas com um

GPS (Global Positioning System), marca Garmin, modelo eTrex 20.

Page 53: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

53

Figura 8: Pontos de coleta das amostras de solo, com os locais de retirada das subamostras

em realce. Fonte: Google Earth, adaptado.

Dadas às peculiaridades do local de coleta, foi previamente determinado que

quando o ponto de coleta coincidisse com calçadas, estradas, construções etc., este seria

afastado em relação ao centro principal de coleta (aproximadamente 25 metros ou 50% da

distância para mais ou para menos). Os pontos 14, 18 e 25, por coincidirem com locais

inacessíveis (grandes voçorocas) foram deslocados apenas o suficiente para que pudesse ser

efetivada a coleta.

A coleta de solo ocorreu entre os dias 8 a 14 de março de 2015, enquanto que a

coleta das amostras de água aconteceu no dia 29 de março. Nesse período, houve a ocorrência

de chuvas o que pode ter contribuído para alteração dos resultados encontrados. Para a coleta

de água, seguiu-se previamente o planejamento para a distribuição dos pontos de coleta

(Figura 9). Estes foram planejados com base na visualização do mapa no Google Earth,

objetivando que toda a área da zona urbana fosse bem representada e observando se a água

era oriunda de abastecimento público fornecido pela CAEMA ou se tinha como fonte de

abastecimento os caminhões-pipa. À medida que um ponto de coleta coincidia com um local

não habitado (estrada, terreno baldio, etc.), havia o deslocamento para a residência mais

próxima.

Page 54: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

54

Figura 9: Distribuição dos pontos de coleta das amostras de água. Fonte: Google Earth,

adaptado.

Ao todo foram 80 (oitenta) amostras coletadas para determinação da concentração

de cádmio, sendo que 50 (cinquenta) amostras coletadas foram de solo urbano e 30 (trinta) de

água de consumo.

5.3 COLETA E CONSERVAÇÃO DAS AMOSTRAS

5.3.1 Solo

Para a coleta de solo, foi utilizado um trado tipo holandês de 20 cm. Coletaram-se

amostras de solo de superfície com até 10 cm de profundidade. Em cada ponto, composto de

três subpontos (Figura 8), foram coletadas três porções de 500 gramas de solo.

Com o auxílio de uma espátula de aço inoxidável, o material para análise foi

retirado da parte central do volume coletado (Figura 10), evitando a contaminação por contato

com o amostrador. Após a coleta das três subamostras de cada ponto, as mesmas foram

colocadas em um recipiente de plástico de polietileno e misturadas. Depois foram separadas

duas porções de 500 gramas, uma para análise e outra para uma reserva.

A partir daí as amostras foram acondicionadas em sacos plásticos

descontaminados, os quais foram imediatamente identificados com referência ao local de

coleta e colocados sob refrigeração em uma caixa de isopor com gelo. Após cada campanha

Page 55: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

55

de coleta, as amostras eram transferidas para um freezer, permanecendo congeladas até o

processamento.

Figura 10: Retirada do solo do centro do trado para evitar contaminação

Os procedimentos de coleta das amostras do solo seguiram as recomendações

protocoladas pela USEPA (1989 e 1991) e Byrnes (1994), com os pequenos ajustes já

relatados.

Após proceder à limpeza da área a ser amostrada, descartando qualquer fragmento

presente em superfície, foi removido entre 0-1 cm da superfície do solo de uma área de

aproximadamente 30-40 cm de diâmetro ao redor do local. A partir daí, seguiram-se os

seguintes passos:

I. Foi removida, cuidadosamente, a camada superficial de solo até a profundidade

desejada, utilizando-se um facão previamente limpo (Figura 11);

II. Com uma espátula de aço inoxidável, previamente limpa, removeu-se e

descartou-se uma fina camada de solo que teve contato com o instrumento de

limpeza da área;

III. Após a limpeza, a primeira coleta de cada ponto foi descartada para garantir a

eficácia da descontaminação do amostrador (Figura 12);

IV. Coletou-se uma porção de aproximadamente 400g de solo, colocando a

amostra em um recipiente de plástico de polietileno para compor a amostra

Page 56: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

56

composta;

V. Após a terceira coleta das amostras simples ter sido colocada no recipiente de

polietileno, fez-se a homogeneização do solo separado em sacos plásticos

limpos e identificando de acordo com o local amostrado. Procedeu-se à

descrição do local e anotações das condições meteorológicas, horário de

coleta, ocorrência de chuva, direção do vento e anotação das coordenadas

geográficas, entre outras informações;

VI. As amostras foram etiquetadas, identificadas e imediatamente acondicionadas

em uma caixa de isopor com gelo para refrigeração, inibindo a degradação de

suas propriedades por parte dos microrganismos e condições climáticas. Após

cada campanha de coleta, as amostras foram transferidas para serem

acondicionadas em um freezer, onde permaneceram refrigeradas, garantindo a

preservação de suas propriedades naturais.

Após o término da campanha de coleta de solo, com a definição do laboratório

para processamento, as amostras foram levadas para o Laboratório de Solos da Universidade

Estadual do Maranhão, onde seguiu para a fase instrumental, de acordo com os protocolos

daquele laboratório.

Figura 11: Limpeza do local a ser amostrado

Page 57: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

57

Figura 12: Descarte da primeira coleta de cada ponto amostrado

5.3.2 Água

As amostras de água foram coletadas em 30 pontos na zona urbana de Buriticupu-

MA. Em cada ponto, os quais coincidiam com residências particulares, coletou-se uma

amostra. A campanha da coleta das amostras de água ocorreu em apenas um dia.

Alguns procedimentos foram adotados na coleta das amostras de água potável.

Inicialmente, no ponto de coleta, observava-se o tipo de provisão da água, fornecida pela

companhia de abastecimento público ou oriunda de abastecimento por caminhão-pipa ou

poços. Utilizaram-se recipientes de plástico com capacidade de 80 mL, previamente

descontaminados, para o acondicionamento das amostras.

Após o recolhimento da água de torneiras ou baldes de acondicionamento

provisório (tipo de recipiente comum na região para guardar água), os frascos foram fechados

e acomodados em uma caixa de isopor com gelo. Ao final da campanha, os frascos contendo

as amostras foram preservados em um freezer até o envio para o Centro de Estudos da Saúde

do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH), da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio

Arouca (ENSP/Fiocruz).

Foram registradas as coordenadas geográficas de cada ponto de coleta de água,

com um GPS da marca Garmin eTrex 20.

Page 58: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

58

5.4 PROCEDIMENTOS PÓS-COLETA DAS AMOSTRAS

Após serem coletadas e acondicionadas em uma caixa de isopor com gelo, ainda

em campo, para preservar suas propriedades, as amostras de solo receberam as siglas PASCd

(Ponto de Amostra de Solo para Cádmio) antes de cada numeração (01, 02, 03,...). Por outro

lado, as amostras de água foram nomeadas com as siglas AA (Amostra de Água) antes de

cada numeração e identificadas conforme o tipo e o local de coleta.

Além disso, para cada ponto de amostra, foi preenchida uma ficha de coleta e

cada recipiente de amostragem recebeu um número de identificação próprio e algumas

informações básicas como local, data de amostragem, etc. Essas informações foram

complementadas em fichas de coleta de amostras, nas quais, dentre outras, constam: número

da amostra, nome da pessoa responsável pela coleta, data e local de coleta, descrição da

amostra, condições de amostragem (temperatura, ocorrências de chuva), tipo de amostra

(simples ou composta), análises laboratoriais a serem efetuadas, método de preservação

utilizado e outras observações importantes.

Para o transporte, as amostras foram acondicionadas em caixas de isopor com

gelo até o destino final, onde permaneceram refrigeradas até o início do processamento.

5.5 EXPERIMENTAL

5.5.1 Descontaminação do material utilizado

Na análise de elementos-traço é essencial o cuidado com a descontaminação de

todo o material. Assim, neste tópico, são descritas as etapas que foram seguidas antes e depois

da coleta do solo.

A descontaminação dos equipamentos de amostragem foi efetivada antes da coleta

do solo, no próprio local investigado, agilizando, assim, a campanha de amostragem e

evitando a saída de material contaminado da área. A descontaminação dos equipamentos foi

realizada pela remoção física, neutralização/remoção química dos contaminantes.

Os equipamentos diretamente envolvidos na coleta das amostras, tais como o

trado, espátula, etc., que tiveram contato com as amostras, seguiram os seguintes

procedimentos para a descontaminação:

a) removeu-se o solo aderido nos equipamentos de amostragem por meio de uma

espátula e uma escova de cerdas de polietileno;

Page 59: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

59

b) lavou-se os equipamentos com água potável, utilizando detergente neutro

incolor e uma escova de cerdas, também, incolor;

c) os equipamentos foram enxaguados cuidadosamente com água potável;

d) os equipamentos foram enxaguados cuidadosamente com água deionizada;

e) os equipamentos foram enxaguados com uma solução de ácido clorídrico 5%;

f) os equipamentos foram, novamente, enxaguados com água deionizada;

g) os equipamentos foram embalados em sacos plásticos descontaminados até o

próximo ponto de coleta.

5.5.2 Instrumental

A metodologia para a determinação de cádmio seguiu o protocolo já estabelecido

pelo Laboratório de Solos da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), mediante

espectrometria de emissão ótica com plasma acoplado indutivamente (ICP-OES). A exatidão

dos resultados foi garantida por meio da análise em cada série de amostras de materiais de

referência para cada matriz.

Os procedimentos para a determinação de cádmio no solo, seguiram o método

USEPA 3050B, da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (USEPA, 1998a), que utiliza

aproximadamente 0,5g de solo digerido por 10 mL de HNO3 e concentrado em bloco digestor

aberto por 10 minutos a 95±5°C. As amostras foram resfriadas e, após a adição de mais 5 mL

de HNO3, novamente levadas ao bloco digestor para aquecimento a 95±5°C por mais 2 horas.

Em seguida, foram resfriadas, adicionando-se 2 mL de água destilada e 3 mL de H2O2 a 30%.

A seguir, foram conduzidas ao bloco digestor por mais 2 horas a 95±5°C. Por fim, as

amostras foram resfriadas, receberam 5 mL de HCl e 10 mL de água destilada e foram

aquecidas por 5 minutos a 95±5°C. As alíquotas, filtradas e armazenadas em recipiente de

plástico. As amostras foram analisadas em triplicatas. Também foi determinado o teor de

matéria orgânica e o pH do solo.

Para a determinação de cádmio em água, as amostras foram analisadas no

Laboratório de Toxicologia, CESTEH/ENSP/Fiocruz. A metodologia para a determinação de

cádmio seguiu o protocolo já estabelecido pelo CESTEH, utilizando a espectrometria de

absorção atômica eletrotérmica após estudos das figuras de mérito e uso de amostra

certificada para garantir a qualidade dos resultados.

A exatidão do método foi verificada com o uso de material de referência

Page 60: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

60

certificado, uma amostra de água (TM-15, National Water Research Institute, Environment

Canada, Burlington, Ontario, Canadá), com concentração de cádmio igual a 13,2 µg L-

1, diluída 10 vezes em ácido nítrico 0,2% (v/v).

Todas as análises de água foram feitas em triplicatas. Cada bateria de análise teve

uma amostra de referência de teor do cádmio e uma amostra em branco para fins de controle

de qualidade.

5.5.3 Determinação do carbono orgânico e matéria orgânica do solo

Triturou-se em gral de porcelana aproximadamente 20 g de solo e peneirou-se em

uma peneira de 80 mesh. Pesou-se 0,5g do solo triturado e transferiu-se para um erlenmeyer

de 250 mL. Adicionou-se 10 mL da solução de dicromato de potássio 0,4N. Colocou-se um

tubo de ensaio, de 25 mm de diâmetro e 250 mm de altura, com água na entrada do

erlenmeyer, funcionando este com condensador. Foi aquecido em placa elétrica até a fervura

branda, durante 5 minutos. Retirou-se da chapa, deixando esfriar, depois foi colocado 80 mL

de água destilada, 2 mL de ácido ortofosfórico 85% p.a e 3 gotas do indicador difenilamina.

Foi triturado com a solução de sulfato ferroso amoniacal 0,1N até que a cor azul

desaparecesse, cedendo lugar à cor verde. Anotou-se o volume gasto. Incluiu-se um branco

com 10 mL da solução de dicromato de potássio, anotando o volume gasto de sulfato ferroso

amoniacal 0,1N para determinação do fator (f): f = 40/volume de sulfato ferroso gasto na

prova em branco.

A porcentagem de matéria orgânica foi calculada multiplicando-se o resultado do

carbono orgânico por 1,724 que é utilizado em virtude de se admitir que, na composição

média dos humos, o carbono participa com 58%.

C (g/Kg) =[40 – (Volume gasto x f) x 0,6

M.O (g/Kg) = C (g/Kg) x 1,724

5.9 DETERMINAÇÃO DO pH EM CaCl2

Colocou-se 10 mL de solo em um recipiente de plástico de 100 mL e adicionou-se 25

Page 61: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

61

mL da solução de cloreto de cálcio 0,01M. Agitou-se a amostra com bastão de vidro e o

deixou em repouso por uma hora. Após o tempo determinado, introduziu-se o eletrodo na

suspensão e procedeu-se à leitura do pH. O equipamento foi calibrado antes com as soluções

tampão 4,0 e 7,0 (EMBRAPA, 1997).

5.10 – ANÁLISE ESTATÍSTICA

Para a construção do banco de dados e tratamento estatístico dos resultados foram

usados os softwares Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 17.0 for Windows®

(SPSS Inc., Chicago, USA) e Microsoft Excel 2013 (Microsoft, Washington, USA). Os

resultados estão apresentados na forma de tabelas, ilustrações e gráficos. A análise estatística

permitiu avaliar a correlação entre a concentração do cádmio nos diferentes bairros e pontos

específicos de Buriticupu-MA.

Page 62: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

62

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

6.1 SOLO

A coleta do solo foi realizada no mês de março de 2015 quando a ocorrência de

chuvas no período ficou abaixo de 10 mm como se observa na Figura 13.

Figura 13: Ocorrência de chuva no primeiro semestre de 2015. Fonte: INMET (2015)3

Seguindo a disposição dos pontos de coleta contida no manual 6300 da CETESB

e USEPA (1989), optou-se pelo Esquema com distribuição sistemática. Dessa forma, toda a

zona urbana foi amostrada por 50 (cinquenta) pontos equidistantes, sendo que cada amostra

foi composta de três subamostras.

Pela especificidade do esquema de distribuição adotado, não se levou em

consideração a densidade habitada de cada bairro. Portanto, observa-se que quanto maior a

área espacial de um bairro, maior a contemplação com o número de amostra. Na Figura 14, é

possível visualizar melhor a distribuição das amostras por bairro.

3 Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Disponível em:

http://www.inmet.gov.br/sonabra/pg_iframe.php?codEst=A238&mesAno=2015. Acessado em 15/07/2015

Page 63: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

63

Figura 14: Distribuição dos pontos das coletas por bairro

Nesta figura, observa-se que o bairro que recebeu mais pontos de coleta (16) foi a

Vila Davi por apresentar uma área maior do que os demais, compreendendo 32% de todas as

amostras. Em seguida, com 16%, a Terra Bela foi amostrada com oito pontos e o Centro com

12%, correspondendo a seis pontos. Do total de 15 bairros da zona urbana de Buriticupu,

cinco deles compreenderam 10% da área amostrada. Isso se deu em função da

proporcionalidade da área territorial em relação aos demais bairros.

2,0%4,0%

16,0%

4,0%

12,0%

2,0%4,0%

2,0% 2,0%

6,0%

2,0%4,0%

2,0%

6,0%

32,0%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

Page 64: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

64

Tabela 9: Níveis de cádmio encontrado no solo na zona urbana de Buriticupu-MA

Bairro

Pontos de Amostras de Solo

para Cd

(PASCd)

Níveis de Cd

(mg kg-1)

Matadouro 01 0,464

Vila Primavera

02

05

1,049

0,398

Terra Bela

03

04

06

08

11

15

16

19

0,483

0,487

0,461

≤ 0,14

0,700

0,349

2,533

≤ 0,14

EIT 07

10

≤ 0,14

0,184

Centro

09

12

13

17

20

23

1,415

4,089

≤ 0,14

1,30

0,342

0,804

Açude 14 0,353

Caeminha 18

21

≤ 0,14

2,586

Vila Santos Dummont 25 0,572

Baixão 22 ≤ 0,14

Vila Mansueto

26

28

31

1,345

0,238

≤ 0,14

Colégio Agrícola 29 0,982

Vila Isaias 24

30

≤ 0,14

≤ 0,14

Vila Cajueiro 27 ≤ 0,14

Vila Primo

32

34

37

1,766

≤ 0,14

≤ 0,14

Vila Davi

33

35

36

38

39

40

41

42

43

44

45

46

47

48

49

50

1,511

1,200

≤ 0,14

≤ 0,14

0,379

0,174

≤ 0,14

1,377

≤ 0,14

≤ 0,14

2,805

0,572

0,450

1,090

0,260

≤ 0,14

Page 65: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

65

Na tabela 9, é possível observar, também, os níveis de cádmio encontrados no

solo urbano de Buriticupu-MA a partir da análise de 50 amostras compostas. Constata-se que

38% das amostras ficaram com os valores abaixo do limite de detecção (0,14 mg kg-1).

Contudo, a frequência encontrada dos níveis de cádmio acima do Valor de Prevenção (VP) foi

de 20% indicando que as atividades antrópicas têm contribuído para a elevação dos níveis

naturais de cádmio no solo desta região.

Outro fato merecedor de observação é a frequência com que aparecem os valores

que se encontram no intervalo acima dos níveis naturais (0,1- 0,4 mg kg-1) e o VP que juntos

correspondem a 16%. Se esta frequência, considerada acima dos níveis naturais, for somada

com aquelas que estão acima do VP, totalizaria uma frequência de 36% das amostras acima

dos níveis naturais de cádmio (Figura 16). Mais uma vez, esses números podem ser um

indicativo do reflexo da ação antrópica na elevação dos níveis naturais de cádmio na zona

urbana de Buriticupu.

A Tabela 10, compreende a estatística descritiva geral dos resultados encontrados

na zona urbana de Buriticupu para os níveis de cádmio no solo.

Tabela 10: Estatística descritiva geral da área estudada

Compartimento

N

Min Max Média Mediana

DP CV (%)

mg kg-1

Solo 50 ≤ 0,14 4,089 0,7045 366 0,8382 118

A quantidade elevada de elementos-traço no solo geralmente está relacionada com

fontes de poluição oriundas das atividades antropogênicas tais como atividades industriais,

restos de incineração e combustão de combustíveis (MOURA, 2006). Sheppard e Thibault

(1992) pontuaram que, em geral, as concentrações mais elevadas de cádmio se encontravam

em camadas de 10 a 20 cm de profundidade.

Os níveis de cádmio encontrados nas 50 amostras compostas de solo neste estudo

variaram entre ≤ 0,14 a 4,089 mg kg-1, com média igual a 0,7045 mg kg-1. Este valor

encontra-se acima da média mundial, estabelecida em 0,53 mg kg-1 (KABATA-PENDIAS;

PENDIAS, 2001). Contudo, Alloway (1995) pontuou que são esperados níveis abaixo de 1

mg kg-1 para solos não contaminados.

Page 66: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

66

A comparação da média encontrada nas amostras de solo da zona urbana de

Buriticupu com os limites apresentados na Tabela 11 mostra que esse resultado foi menor do

que todos os níveis estabelecidos pelos diferentes países assim como o valor de prevenção

estipulado pela legislação nacional conforme a Resolução do CONAMA 420/2009.

Ao analisar os resultados para cádmio no solo, após estratificação por bairro,

constatou-se que houve variação desses níveis. Os bairros Matadouro, EIT, Açude, Baixão,

Vila Isaias e Cajueiro apresentaram teores médios de cádmio menores que 0,5 mg kg-1,

portanto, abaixo da média mundial que é de 0,53 mg kg-1 (KABATA-PENDIAS; PENDIAS,

2001).

Os bairros citados acima contrastam com os bairros do Centro e Caeminha que

apresentaram, em média, níveis superiores ao VP (1,3 mg kg-1) estabelecidos pela Resolução

420/2009 do CONAMA. Há possíveis justificativas para o primeiro grupo de bairros

apresentarem valores dentro da faixa dos níveis naturais:

a) O ponto de coleta do bairro Matadouro ficou localizado dentro de uma área de

pastagem passível de lixiviação e é, também, um bairro relativamente recente e

sem ocorrência de depósitos de resíduos sólidos aos redores.

b) O bairro EIT tem área com declive, portanto, vulnerável a lixiviação.

c) No Bairro do Baixão, embora o ponto estivesse nas proximidades da BR, a área

sofreu terraplanagem.

d) Nas Vilas Isaias e Cajueiro, embora não sejam bairros recentes, os teores

baixos podem ter sido influenciados pelo número de amostras, o que se aplica

para os bairros Matadouro, EIT e Baixão.

Já o bairro Centro é o mais antigo da cidade, onde há intensa atividade

antropogênica com despejos de resíduos sólidos em diversos locais, inclusive lixão. O centro

concentra comércios que podem contribuir para a contaminação por metais (serralherias,

postos de combustíveis, etc.). E o bairro Caeminha foi amostrado por apenas dois pontos. Um

deles com valor ≤ 0,14 (PASCd 18) e o outro, 2,586mg kg-1 (PASCd 21). Contudo, o PASCd

21 ficou situado a 152m do lixão mais antigo localizado dentro da cidade.

Há de se pontuar, porém, que embora o teor médio de cádmio encontrado nos

bairros Terra Bela, Vila Mansueto, Vila Primo e Vila Davi tenha ficado abaixo de 1,0 mg kg-

1, foram encontrados pontos com teores de 2,533, 1,345, 1,766 e 2,805 mg kg-1

respectivamente.

Page 67: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

67

A Tabela 11 apresenta os valores de referência nacional e internacional para o

solo. São valores orientadores que têm por objetivo a proteção da saúde humana e dos

ecossistemas.

Tabela 11: Limites nacional e internacional para cádmio no solo

País

Critérios Cádmio (mg kg-1)

Nova Zelândia

Limite no solo

Risco mínimo

Sérios riscos

1

1

12

Austrália NIE1 3

Canadá SQG2 – agrícola

SQG – residencial

SQG - Comercial/industrial

1,4

10

22

União Europeia CPES3 1,15-2,3

USA

NPES4 – plantas

Invertebrados

Pássaros

Mamíferos

32

140

0,77

0,36

Reino Unido Valores de proteção do solo 1.5-2.3

Holanda CRG5

VI6

13

13

Brasil VP7 1,3 1Nível de investigação ecológica; 2Diretriz da qualidade do solo; 3Concentração sem efeitos

previsíveis; 4Nível de proteção ecológico do solo; 5Concentração de risco graves; 6Valor de

intervenção; 7Valor de prevenção. Fonte: Adaptado de Resolução CONAMA 420/2009; Ministry for

Primary Industries, (2012).

A proteção do solo é de extrema importância para a preservação da qualidade das

diversas formas de vida. O VP de 1,3 mg kg-1 para cádmio, instituído pela Resolução

420/2009, define a concentração do valor limite, visando não comprometer a qualidade do

solo e sustentar suas funções principais. Alterações na qualidade do solo poderão ocorrer na

medida em que os níveis forem ultrapassados, incorrendo em prejuízos aos ecossistemas. Os

teores de cádmio encontrados neste estudo mostraram que 80% das amostras ficaram abaixo

de 1,3 mg kg-1.

Como se pôde constatar na Tabela 11, a Nova Zelândia estabeleceu o limite

máximo de cádmio para o solo em 1 mg kg-1, enquanto que os níveis ecológicos para o metal

no solo concentraram-se em 3 mg kg-1 na Austrália. O Canadá determinou que a concentração

de Cd no solo para a agricultura fosse de apenas 1,4 mg kg-1. Por outro lado, o Reino Unido e

a União Europeia estabeleceram os mesmos limites de segurança em torno de 1,15 a 2,3 mg

kg-1 para o teor desse elemento na matriz em questão. Nos Estados Unidos, a USEPA (2005)

estabeleceu limites considerados seguro para plantas e animais. Para mamíferos, o nível

Page 68: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

68

máximo foi de apenas 0,36 mg kg-1, enquanto que a Holanda fixou valores de concentração

para riscos graves e de intervenção (MINISTRY FOR PRIMARY INDUSTRIES, 2012).

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, em levantamento feito para

avaliar as concentrações médias de cádmio no solo do estado, constatou que, para este metal,

todas as suas amostras encontravam-se abaixo de 0,5 mg kg-1 (CETESB, 2001). Valores

abaixo de 0,13 mg kg-1 foram constatados também no solo do Espírito Santo por Paye et al.

(2008). Já neste estudo, 64% das amostras ficaram compreendidas no intervalo de até 0,5 mg

kg-1, níveis esses considerados naturais pela literatura (KABATA PENDIAS; PENDIAS,

2001; SISINNO, 2013).

Em comparação aos teores de cádmio encontrados no Reino Unido, quando foram

encontrados valores entre 0,1-2,39 mg kg-1 para os solos urbanos, cuja média é de 0,44 mg kg-

1 (EU, 2007), no solo urbano de Buriticupu-MA, os teores variaram entre ≤0,14 e 4,089

mg/kg-1 com uma média de 0, 7045 mg kg-1, sendo que 80% das amostras ficaram

compreendidas entre ≤0,14 e 1,29 mg kg-1.

É sabido que os teores de cádmio no solo podem ser influenciados pela ação do

homem. Aqueles que ainda não sofreram alterações influenciadas pelas atividades antrópicas

são conhecidas como concentração de fundo ou “background concentration”

(BRECKENRIDGE; CROCKETT, 1995; MOURA 2006).

A determinação de background concentration é utilizada como parâmetro na

determinação de valores de referência da qualidade do solo (CANTONI, 2010). Trabalhos

realizados por Campos et al. (2003), Fadigas et al. (2002) e Oliveira e Costa (2004)

dedicaram-se ao levantamento dessas concentrações de elementos-traço em solos naturais no

Brasil.

Após comparação com as concentrações de fundo listadas nas Figuras 15 e 16,

percebe-se que uma parcela representativa dos níveis de cádmio encontrados, neste estudo,

ficou acima daquelas citadas na literatura, sugerindo que, nestas áreas, têm havido

interferência antrópica. Nessas figuras, é possível identificar os teores naturais médios de

cádmio em alguns países e alguns estados brasileiros.

Page 69: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

69

*Teor médio de cádmio nos solos do mundo varia entre 0,01 - 2,0 mg kg-1.

Figura 15: Teor natural médio de cádmio no solo (mg kg-1) em diferentes países. Fonte:

Adaptado de Santos (2011); Oliveira (2013).

A- Horizontes A; B -Horizontes B.

Figura 16: Teor natural médio de cádmio no solo (mg kg-1) em alguns estados brasileiros.

Fonte: Adaptado de Oliveira (2013).

As figuras 15 e 16 representam valores de teores naturais médios de cádmio no

solo em alguns países e em cinco estados no Brasil. Com base nos dados apresentados pela

Figura 15, apenas Austrália com 1,0 mg Kg-1 e Luxemburgo (0,80 mg kg-1) apresentaram

valores médios naturais superior àqueles encontrados neste estudo, em que a média de cádmio

encontrada no solo urbano de Buriticupu foi igual a 0,704 mg kg-1. Países como a Argentina

(Buenos Aires) e Holanda foram os que apresentaram teores que mais se assemelharam

0,30

0,33

0,23

0,36

0,67

0,80

0,60

0,30

1,00

0,10

0,50

2,00

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0

Itália (Nápoli)

Bélgica (Flanders)

USA (Flórida)

USA (Califórnia)

Argentina (Buenos Aires)

Luxemburgo

Holanda

Japão

Austrália

China

Irlanda

Solos no mundo*

0,75

< 0,13

0,18

0,62

< 0,50

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

Minas Gerais (A e B)

Espirito Santo (A)

Paraná (B)

Pernambuco (A)

São Paulo (A)

Page 70: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

70

àqueles encontrados em Buriticupu-MA, com cerca de 0,67 e 0,60 mg kg-1, respectivamente

(SANTOS, 2011; OLIVEIRA, 2013).

Em comparação com alguns estados brasileiros, apresentados na Figura 16,

apenas em Minas Gerais se encontrou nível médio de cádmio superior àquele encontrado em

Buriticupu-MA. Apresentando uma diferença de 0,0455 mg kg-1 ou 6% (OLIVEIRA, 2013).

Para melhor visualização dos dados, os resultados gerais estão apresentados na Figura 17,

divididos em cinco intervalos: ≤ 0,14; > 0,14 - 0,49; ≥ 0,5 - 0,99; ≥1,0 - 1,29 e ≥ 1,3.

Figura 17: Frequência dos níveis de cádmio no solo de Buriticupu-MA, de acordo com

intervalos de concentração.

No solo urbano em Buriticupu-MA, 36% dos níveis de cádmio ficaram ≤0,14,

28% dos níveis encontrados estão >0,14 e <0,49; 10% entre 0,5-0,99; 6% entre 1,0-1,29 e

20% >1,3 mg kg-1. As diferenças nos valores encontrados em apenas 5 km2 de área urbana

pode estar atribuída a certas características tais como declives, proximidades de lixões, áreas

lixiviadas, etc.

Liu et al. (2014), estudando a interação de elementos-traço no solo da cidade de

Taiyuan, China, concluíram que as áreas industriais daquela região afetaram,

consideravelmente, as concentrações de alguns metais, entre eles o cádmio. Entretanto, outra

variável que contribuiu para a poluição por metais foram atividades humanas. Já Grzebisz

(2002), ao pesquisar sobre metais em solos urbanos, encontrou uma média de 0,775 mg kg-1

36%

28%

10%

6%

20%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

≤ 0,14 >0,14- 0,49 0,5-0,99 1,0-1,29 > 1,3

Page 71: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

71

de cádmio em solos da cidade de Poznan na Polônia, um pouco acima da média encontrada

em Buriticupu-MA (0,7045 mg kg-1). No Reino Unido, a diferença nas concentrações de

cádmio no solo foi associada a atividades relacionadas à fundição e à mineração (EU, 2007).

Nas informações contidas na Figura 17, observa-se uma frequência de 36% dos

valores achados acima de 0,5 e 0,99 (acima dos níveis considerados naturais).

As informações apresentadas na Figura 18 foram compiladas a partir dos dados

obtidos por bairros. Ilustra os níveis de cádmio no solo dos bairros Terra Bela, Vila Davi e

Centro, que juntos representam 60% dos locais amostrados. Os demais bairros: Matadouro,

Vila Primavera, EIT, Açude, Caeminha, Vila Santos Dummont, Baixão, Vila Mansueto,

Colégio Agrícola, Vila Isaias, Vila Cajueiro e Vila Primo, por receberem, no máximo, três

pontos de coletas, juntos compreenderam 40% dos pontos amostrados.

Percebe-se que, na maioria dos bairros, o comportamento das curvas relativas à

frequência dos níveis de cádmio é semelhante àquele apresentado na Figura 17. Apenas no

Centro, a concentração de cádmio mantém-se constante até 1,29 mg kg-1. Todavia, há uma

semelhança no comportamento das retas a partir de 1,0 mg kg-1, quando a curva passa a ser

ascendente.

A literatura tem mostrado que as concentrações naturais de cádmio no solo variam

em média de 0,1 a 0,4 mg kg-1 (WHO, 1992; SISINO, 2013). No entanto, sabe-se que a ação

Figura 18: Níveis de cádmio no solo dos bairros de Buriticupu-MA Figura 18: Níveis de cádmio no solo dos bairros de Buriticupu-MA

Page 72: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

72

antrópica tem um papel de destaque na elevação dos níveis de elementos-traço no ambiente

(WHO, 1992; WHO, 2010).

As agências ambientais em todo o mundo têm investido esforços no

estabelecimento de níveis seguros para proteger a saúde da população e ecossistemas, uma

vez que níveis alterados dos elementos-traço no ambiente têm interferido diretamente sobre a

saúde da população (ANJOS, 2003).

A seguir, na Tabela 12, são apresentados os percentis encontrados neste estudo

para as amostras de solo analisadas.

Tabela 12: Percentis dos valores encontrados para cádmio no solo

Número de Amostras

Percentis Cd-solo

(mg Kg-1)

50

25 < 0,14

50 0,366

75 1,05925

Os níveis de cádmio encontrados nos percentis 25, 50 e 75 foram ≤ 0,14, 0,366 e

1,059 mg kg-1, respectivamente. Dessa forma, neste estudo, 75% dos teores encontrados para

cádmio foram menores ou iguais a 0,14 mg kg-1. O percentil 50 ficou em 0,366 mg kg-1,

enquanto que o percentil 75 mostrou que 25% das concentrações encontradas foram

superiores a 1,0592 mg kg-1. Esses resultados são superiores àqueles encontrados por Santos

(2011) na avaliação realizada sobre os níveis de metais em solos de Mato Grosso e Rondônia,

quando o percentil 75 foi ≤ 0,3 mg kg-1. Santos e Alleoni (2013) também encontraram o

percentil 75 abaixo de 0,3 mg kg-1, ao realizarem um trabalho para definição de valores de

referência de elementos-traço nos solos do Brasil, na fronteira agrícola no sudoeste da

Amazônia.

A Figura 19 compreende a estatística descritiva dos resultados encontrados por

bairro na zona urbana de Buriticupu. É possível comparar os valores mínimos, máximos, a

média e o desvio padrão de cada bairro.

Page 73: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

73

Figura 19: Estatística descritiva por bairro

Quando os resultados são agrupados por bairros, tem-se uma visão mais

panorâmica da distribuição dos níveis de cádmio nesta região. Os dados apresentados

compilam informações que facilitam uma leitura rápida e dinâmica da estatística descritiva

entre os bairros. Nela, é possível constatar que, em algumas áreas, os níveis de cádmio

ultrapassaram os valores de prevenção estabelecidos pela Resolução CONAMA 420/2009.

Esta, dispondo sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença

de substâncias químicas e estabelecendo as diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas

contaminadas, fixou em 1,3 mg kg-1 o Valor de Prevenção (VP) para cádmio no solo.

A legislação brasileira, por meio da Resolução do CONAMA 420/2009,

estabelece três valores orientadores para os níveis de substâncias no solo. São eles: Valores de

Referência de Qualidade (VRQs), Valores de Prevenção (VP) e Valores de Investigação (VI).

O primeiro indica o limite de qualidade para que um solo seja considerado limpo de

contaminação por metais. O segundo é a concentração de valor limite de determinada

substância no solo, de modo que seja capaz de sustentar as suas funções principais. O terceiro

delimita a concentração de certos elementos no solo (neste caso, o cádmio) acima da qual há

riscos em potencial, direta ou indiretamente, podendo causar danos à saúde humana

(RESOLUÇÃO CONAMA 420/2009; SANTOS, 2011).

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

Min. Max. Média DP

Page 74: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

74

Os pontos de amostragem que apresentaram níveis de cádmio superiores àqueles

estabelecidos pela referida resolução para os VP, estão localizados nos Bairros Centro

(PASCd 09 e PASCd 12), Terra Bela (PASCd 16), Caeminha (PASCd 21), Vila Mansueto

(PASCd 26), Vila Primo (PASCd 32) e Vila Davi (PASCd 33, PASCd 42 e PASCd 45). No

total, corresponde a 20% das amostras acima de 1,3 mg kg-1.

Deve-se observar, portanto, que os pontos PASCd 02, PASCd 17, PASCd 35 e

PASCd 48, embora apresentando níveis abaixo do VP, os valores estão bem próximos

daqueles estabelecidos pela legislação brasileira que foram 1,049, 1,20 e 1,09 mg kg-1

respectivamente.

Foi realizado um agrupamento hierárquico para melhor análise da similaridade

entre os bairros em relação aos níveis médios de cádmio encontrados. Baseado em Moura

(2006), utilizou-se como medida de similaridade, o quadrado da distância euclidiana e, em

relação à delimitação dos grupos, utilizou-se o método da distância média entre grupos.

Na Figura 20, é apresentado um dendrograma hierárquico no qual é possível

analisar os quatro principais grupos de bairros com maior similaridade entre si em relação aos

níveis de cádmio encontrados. O grupo 1 é composto pelos bairros Vila Santos Dumont, Vila

Mansueto e Vila Primo, já EIT, Açude, Vila Isaias e Cajueiro fazem parte do grupo 2. Por

outro lado, o grupo 3 é formado apenas por dois bairros (Terra Bela e Vila Davi), enquanto

que o grupo 4 é constituído pelo Centro, Colégio Agrícola e Caeminha. Três bairros, Bairro

do Baixão, Vila Primavera e Matadouro, não apresentaram similaridade com os quatro grupos

e, por isso, não participaram de nenhum deles.

Contudo, em comparação ao que foi apresentado na figura 20, há de se pontuar o

seguinte: os resultados encontrados no bairro do açude apresentam média maior que os

demais bairros do grupo 2. Já no grupo 4, o bairro Colégio Agrícola apresenta média um

pouco abaixo de 1 mg kg-1, o que é diferente do Centro e Caeminha, que ficaram acima de 1

mg kg-1. Embora a Vila Primavera não tenha sido agrupada em nenhum grupo, neste bairro

foi encontrado valores médios próximos àqueles do bairro Terra Bela (do grupo 2).

Page 75: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

75

Figura 20: Agrupamento hierárquico das similaridades dos níveis de cádmio nos bairros de

Buriticupu-MA

A Tabela 13 apresenta a análise descritiva dos pontos que foram coletados com

distância de até 200m em relação aos lixões e à BR 222.

Tabela 13: Análise descritiva dos níveis de cádmio encontrados nos pontos de amostras de

solo em relação aos lixões e à BR

Variáveis

N

Min Max Média Mediana DP

mg kg-1

PASCd próximos aos

lixões 6 0,26 2,805 1,342 1,0385 1,102

PASCd próximos à BR 15 <0,14 4,089 0,737 0,238 1,135

Todas as amostras 50 <0,14 4,089 0,7045 366 0,838

DP: Desvio padrão.

A princípio, quando os níveis de cádmio em solo de áreas próximas aos antigos

lixões e à BR 222 foram avaliados, parecia não haver uma correlação entre os resultados

conforme observado nas Figuras 21 e 22. Todavia, os níveis médios de cádmio encontrados

nos pontos até 200m de distância dos lixões foi de 1.342 mg kg-1, valor superior ao teor

estabelecido como VP pela Resolução 420/2009 do CONAMA. Já em relação aos PASCd

com a mesma distância da BR 222, a média encontrada foi de 0,737 mg kg-1, semelhante à

média geral encontrada em toda a área urbana de Buriticupu-MA.

Page 76: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

76

Figura 21: Correlação entre os níveis de cádmio e a distância dos pontos em relação à BR

222

Os resultados encontrados neste estudo revelaram que o ponto de coleta que

apresentou o maior teor de cádmio (outlier) foi o PASCd 12 com níveis de 4,089 mg kg-1 e

está a uma distância de 200m da BR 222. Níveis elevados de metais no solo como este são

geralmente encontrados em áreas de fundição de metais (3.28 mg kg-1), mineração, (5,72 mg

kg-1) e processamentos de metais (5,06 mg kg-1) (SONG et al., 2015).

Observa-se, ainda, que na Figura 21 existe uma correlação inversa, começando no

ponto antes de 50 m e abaixo de 3 mg kg e descende até o ponto antes de 200m e abaixo do

limite de detecção. A 200m (PASCd 12), os níveis de cádmio elevaram-se. Entretanto,

algumas variáveis justificam o fato de este ponto apresentar níveis de 4,089 mg kg-1. O ponto

de uma das subamostras do PASCd 12 fica localizada em uma área de leve declive em um

terreno baldio, propenso ao acúmulo de água lixiviada, oriundas das ruas próximas. Na região

acima deste ponto, está localizado um dos postos de gasolina mais antigo da cidade e uma rua

com maior concentração de atividades de serralheria. Nas serralherias, há manipulação de

materiais tais como ferro, soldas, tintas, solventes entre outros. Níveis elevados de cádmio,

assim, são comumente encontrados em estudos realizados em áreas de fundição (MARTIN;

MORGAN; WATERFALL, 2009).

Estudo realizado por Rovira et al. (2010) pontuou que nenhum dos metais

analisados em sua pesquisa mostrou uma clara e progressiva redução da concentração em

relação à distância de suas fontes poluidoras. Os níveis de cádmio encontrados até 200m dos

lixões em Buriticupu-MA parece seguir esta lógica. Já os teores de cádmio encontrados até

200m da BR tendem a se assemelharem àqueles encontrados por Song et al. (2015). Esses

Page 77: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

77

autores, ao fazerem um estudo sobre a avaliação de risco à saúde, no município de Suxian,

localizado no sul da China, constataram que as concentrações de metais no solo diminuíram à

medida que se distanciou da fonte poluidora (SONG et al., 2015). Contudo, neste estudo, o

teor de cádmio em relação à BR elevou-se a 200m de distância. Este aumento pode ter sido

influenciado pela contribuição de outra fonte de contaminação como serralherias e posto de

gasolina.

Os elementos-traço lixiviados, quando dispostos inadequadamente, compreendem

sérios riscos ambientais e à saúde da população devido a sua natureza tóxica e persistente

(AJAH; ADEMILUYI; NNAJI, 2015). Outro fator que pode agravar, diz respeito ao tempo

em que o cádmio pode permanecer no ambiente, visto que a meia vida deste metal está

estimada entre 13 a 1100 anos (KABATA-PENDIAS e PENDIAS, 2001).

Em um estudo semelhante a este, realizado por Moura et al. (2006), analisou-se a

concentração de metais no solo urbano da cidade de Teresina-PI, constatando que, para os

níveis de cádmio, os valores ficaram abaixo de 0,011 mg kg-1 mesmo em amostras coletadas

próximas a antigas e mais importantes avenidas da cidade. Já a média de cádmio encontrada

no solo até 200m da BR foi de 0,737 mg kg-1. Portanto, mais elevada que os encontrados por

Moura et al. (2006).

Um estudo, que encontrou níveis de cádmio em solos urbanos semelhantes ao

encontrados no PASCd 12, foi realizado por Luo et al. (2012), ao pesquisar níveis de

elementos-traço nos solos de 21 cidades na China. A média encontrada foi de 4,3 mg kg-1 de

cádmio. Ainda segundo Luo et al. (2012), em solos de áreas urbanas há maior mobilidade do

metal devido a maior facilidade de lixiviação e, consequentemente, mais biodisponibilidade

do metal.

Singh, Raju e Nazneen (2015), avaliando os riscos da poluição ambiental,

causados por fontes emissoras de elementos-traço no solo em Varanasi, na Índia, constataram

que, em áreas de despejos e solos de estradas, os níveis de cádmio encontrados na região

foram 0,78 e 0,49 mg kg-1, respectivamente. O primeiro valor é semelhante à média

encontrada neste estudo, próximo à BR 222 (0,737 mg kg-1) que é menor que os níveis

encontrados por Jiang e Wei (2010) em Urumgi, na China, ao determinar níveis de cádmio de

solo de beira de estrada, quando foi encontrado teor igual a 1,17 mg kg-1, o mais abundante

entre nove metais estudados.

Wei e Yang (2010), em uma revisão sobre a contaminação por elementos-traço

em solos urbanos, rodoviários urbanos e solos agrícolas da China, obtiveram uma média de

2,03 mg Kg-1. Teor acima de 2,0 mg Kg-1 foi encontrado em alguns pontos da cidade nos

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78

PASCd 12, 16, 21 e 45 com 4,089, 2,533, 2,586 e 2,805 mg Kg-1, respectivamente. Valor

ainda mais elevado, 10 mg kg-1, foi observado por Salmamanzadeh, Saeedi e Nabibidhendi

(2012), ao estudarem poluição por elementos-traço oriunda de poeira das ruas da cidade de

Teerã, Irã. Já Sun et al. (2010), ao avaliarem a contaminação de solos urbanos em regiões de

Shenyang na China, obtiveram uma média de 0,42 mg kg-1.

Jiang e Wei (2010) relacionam a importância dos processos de lixiviação à

elevação de níveis de elementos-traço em solos da zona urbana de 21 cidades da China. Uma

vez ocorrendo este processo, poderá haver maior biodisponibilidade de metais para a biota.

O relevo e a lixiviação, por exemplo, podem ser variáveis importantes a serem

consideradas para explicar a variação dos níveis de cádmio em alguns pontos específicos

neste estudo, como é o caso do ponto PASCd 12, que apresentou teor elevado de cádmio

(4,089 mg kg-1). Porém, o contrário pode acontecer, como observado nos pontos de

amostragens PASCd 28, apresentando nível de cádmio de 0,238 mg kg-1, o PASCd 22 e

PASCd 37, ambos com valores ≤ 0,14 mg kg-1, que, em relação à BR222, ficaram a uma

distância de 10, 20 e 76m, respectivamente.

Com relação aos níveis de cádmio encontrado até 200m dos lixões em Buriticupu,

percebe-se que há uma variação com os níveis de cádmio mais elevados entre 90m e 150m.

Algumas peculiaridades foram observadas nos locais amostrados como, por exemplo, locais

lixiviados, erosões e lixões com pouco tempo de permanência no local (por conta de invasões

frequentes e consequente limpeza do local). A Figura 22 apresenta a correlação entre os níveis

de cádmio encontrados até 200m dos lixões.

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79

Figura 22: Correlação entre os níveis de cádmio e a distância dos pontos em relação ao lixão

Para Ajah, Ademiluyi e Nnaji (2015), as duas principais preocupações em relação

à eliminação de resíduos sólidos em terra são os riscos de contaminação das águas

subterrâneas por meio da infiltração do chorume e a propriedade inerente dos metais tóxicos

em bioacumular no solo serem absorvidos pelas plantas e, consequentemente, a

biomagnificação dos metais na cadeia alimentar. Outro fator que preocupa é a capacidade que

estes têm em prejudicar a produtividade do solo, interferindo na biota do próprio solo (AJAH;

ADEMILUYI; NNAJI, 2015).

Costa (2005) pontuou que a disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos

são uma das principais fontes responsáveis pela contaminação do solo por metais, o que,

também, é pontuado por Guedes, (2008). Esta disposição inadequada libera, não somente

cádmio, mas outros metais como Pb, Mn, Zn, Ni, Hg, entre outros, potencializando a poluição

e contaminação do meio ambiente (MOREIRA et al., 2010).

Em um estudo realizado por Pinto Filho et al. (2012) no solo do lixão do

município de Apodi-RN, foi encontrado valor médio de 0,36 mg kg-1, enquanto que, neste

estudo, a média foi de 1,342 mg kg-1 em áreas de até 200 metros de distância do lixão. O

resultado deste trabalho também foi superior àqueles encontrados por Becegato et al. (2010).

No referido estudo, os níveis de cádmio encontrados ficaram abaixo de 0,2 mg kg-1, quando se

estudou a distribuição espacial de elementos radioativos e metais traço no lixão desativado da

cidade de Lages-SC.

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80

Comparando-se os teores totais de cádmio para solos de antigos lixões, achados

por Moreira et al. (2010), em Visconde do Rio Branco-MG, e os encontrados neste estudo, em

área de lixão (1,342 mg kg-1), observa-se que os teores são parecidos, visto que o valor

encontrado por ele foi de 1,62 mg kg-1. Contudo, teores de até 6,43 mg kg-1 foram

encontrados por Lopes et al. (2010) em áreas de aterros em diversos municípios do estado do

Rio Grande do Norte. Os valores iguais foram achados por Pinto Filho et al. (2010) em áreas

contaminadas por resíduos sólidos em Assú-RN.

Já um estudo feito para avaliar os riscos ecológicos por dez elementos-traço nas

proximidades de uma área de lixão em Enugu, Nigéria, no período das estações chuvosa e

seca, constatou que o cádmio foi o oitavo metal mais abundante. Os níveis de cádmio no solo

daquela região apresentaram ligeira variação entre os dois períodos. Os valores encontrados

foram 20,15 mg kg-1 e 21,55 mg kg-1 nas estações chuvosa e seca, respectivamente (AJAH;

ADEMILUYI; NNAJI, 2015). Neste estudo, no período de coleta das amostras, a ocorrência

de chuva ficou abaixo de 10mm (Figura 16). Já Adelekan e Alawode (2001), ao analisarem

áreas de despejos de resíduos sólidos, encontraram níveis de cádmio apenas em quantidades

vestigiais (0,0001 mg kg-1). Este valor pode ser justificado pelo fato de muitos dos metais

ainda estarem ligados aos resíduos sólidos nos depósitos de lixos devido a processos inerentes

ao progresso de decomposição dos descartados (AJAH; ADEMILUYI; NNAJI, 2015).

Dentre os pontos analisados com até 200m de distância dos lixões, o PASCd 49

foi o que apresentou menor valor 0,260 mg kg-1. Pelas peculiaridades de áreas como essas,

caracterizadas por estradas com intenso tráfego ou por áreas de despejos de diferentes

resíduos em lixões, por exemplo, em geral, esperava-se encontrar teores elevados de metais.

Entretanto, ao se observar as peculiaridades de alguns locais, constata-se que em certos

pontos de coletas, por exemplo, havia pouco tempo de permanência dos resíduos sólidos no

solo do local e coincidências com locais em rota de frequentes lixiviações e/ou área onde fora

retirado o solo superficial para construção de moradias. Estudos de solos em áreas

semelhantes realizados por Adelekan e Alawode (2001) encontraram teores de cádmio apenas

em quantidades vestigiais de 0,0001 mg kg-1.

A literatura pontua que as interações que ocorrem entre os metais e o solo são

complexas, pois estão relacionadas a fenômenos como reações de precipitação, dissolução,

adsorção, dessorção, complexação e oxirredução tanto nas fases orgânicas como inorgânicas

(MOURA et al., 2006; PIERANGELI et al., 2005). Essas interações são influenciadas, ainda,

por fatores tais como espécies de cádmio presentes no solo, a textura do solo, quantidade e

qualidade da matéria orgânica, capacidade de troca catiônica, pH, força iônica da solução do

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81

solo ou condutividade elétrica e da competência entre íons (MCLAUGHLIN; SINGH, 1999;

KABATA-PENDIAS, 2010).

As características químicas da fertilidade do solo coletado na zona urbana de

Buriticupu encontram-se dispostas na Tabela 17. Os valores obtidos para o pH em CaCl2

variaram de 4,4 na amostra PASCd 03 a 7,0 nas amostras PASCd 07, PASCd 13 e PASCd 16.

A média geral foi de 5,8 ± 0,73 com um coeficiente de variação igual a 12,6%.

Tabela 14: Análise descritiva das características químicas do solo urbano em Buriticupu-MA

Compartimento

N Min Max Mediana Média

PD (mg kg-1)

pH em CaCl2

50

4,4 7,0 5,7 5,8 0,73

M.O em g/dm3 7,0 53 14,0 15,48 823

C 4,1 30,6 7,95 8,9 4,8

DP: Desvio padrão; MO: Matéria orgânica; C: carbono.

Os valores encontrados para a matéria orgânica flutuaram entre 7,0 (PASCd 29 e

PASCd 32) e 53 (PASCd 07) conforme mostrado na Tabela 14. A média geral foi de 15,48 ±

8,23 e 53,2 % de coeficiente de variação.

A absorção do cádmio está inversamente correlacionada ao pH no solo, visto que

a medida que diminui o pH no solo, diminui a adsorção de cádmio, ocasionando a elevação

das concentrações do elemento na solução do solo e, por conseguinte, a absorção destes pelas

plantas (MCLAUGHLIN; SINGH, 1999; SELIM; ISKANDAR, 1999; ZEITTOUNI et al.,

2007).

Além do pH, a matéria orgânica influencia na disponibilidade e concentração de

cádmio no solo devido a sua alta capacidade de trocas de cátions (ALLOWAY; STEINNES,

1999; KABATA-PENDIAS, 2010).

Foi observado que 44% das amostras, neste estudo, estão compreendidas entre o

pH 4,5 e 5,5. É sabido que a maior mobilidade do cádmio está compreendida com pH entre

4,5 e 5,5. Neste intervalo, o cádmio fica mais disponível para contaminar as plantas e lençóis

subterrâneos (KOOKANA et al., 1999; KABATA-PENDIAS; PENDIAS, 2001; NAIDU;

BOLAN, 2008). Há estudo, porém, que observou que a máxima adsorção de cádmio ocorre,

principalmente, na faixa de pH entre 5,5 e 6,5 visto que a cada 0,5 de unidade elevada, dobra-

se a quantidade de cádmio adsorvido (OLIVEIRA, 2013).

Em estudos realizados em latossolos brasileiros, Soares et al. (2009) observaram um

aumento entre 20 a 90% na adsorção de cádmio em intervalos de pH entre 4 a 6 em horizontes

superiores (OLIVEIRA, 2013). A média encontrada de 5,8 para o pH no solo urbano de

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82

Buriticupu-MA está dentro do intervalo de 4,5 e 5,5 tido como a faixa de maior mobilidade

para o cádmio (KABATA-PENDIAS; PENDIAS, 2001; KOOKANA et al., 1999; NAIDU;

BOLAN, 2008).

Ainda em relação ao pH, observou-se que 44% de todas as amostras analisadas

estavam compreendidas entre 4,5 e 5,5. Com base apenas nestes achados, seria possível

inferir que haveria grandes possibilidades de a biota vegetal desta região estar passível de

sofrer contaminação por cádmio, o que, consequentemente, chegaria à cadeia alimentar.

Contudo, 20% de todas as amostras se encontram acima do VP (1,3 mg kg-1, Resolução

420/2009) e, deste porcentual, 40% estão na faixa de pH considerado com maior mobilidade

para o cádmio. Desta forma, de todas as amostras deste estudo, 8% apresentaram

convergência entre o pH, com maior biodisponibilidade, e os níveis mais elevados de cádmio

encontrados.

A acumulação de elementos-traço no solo é mais pronunciada na estação seca.

Uma explicação para este fenômeno está relacionada à lixiviação visto que este é o principal

mecanismo de transporte de poluentes no solo, o que dificilmente ocorre durante esta estação

(AJAH; ADEMILUYI; NNAJI, 2015).

Solos contaminados que não têm proteção da vegetação são mais propensos a

erosões e lixiviações, reduzindo a fitodisponibilidade do cádmio (NAIDU et al., 1994;

GROBELAK; NAPORA, 2015).

Carvalho (2006) enfatiza que apenas solos com teores de cádmio acima de 3 mg

kg-1 são considerados tóxicos e principalmente impróprios para o cultivo de espécies vegetais

destinadas à alimentação. Contudo, níveis elevados não significa que haja maior

biodisponibilidade, pois, este fenômeno está associado a fatores como propriedades químicas,

físicas e biológicas do solo assim como as suas interações (ERNST, 1996).

Outra preocupação quanto à contaminação por elementos-traço como o cádmio,

por exemplo, está relacionada à sua relativa mobilidade no perfil do solo por apresentar, deste

modo, riscos à contaminação de águas subterrâneas (SHEPPARD; THIBAULT,1992),

contaminação do ambiente, ser absorvido por plantas e atingir a cadeia alimentar resultando

em graves danos ambientais (USMAN; MOHAMED, 2009; BALDANTONI et al., 2010).

Neste estudo, os níveis de cádmio encontrados acima dos teores naturais (ainda

que abaixo do VP) servem de alerta para a vigilância ambiental local, pois podem ser indícios

de perturbação antropogênica na região, despertando preocupações futuras, tendo em vista a

possibilidade de contaminação do ambiente, atingindo plantas e, consequentemente, a cadeia

alimentar. Dessa forma, a poluição por elementos-traço influencia na redução da população e

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83

na atividade da biomassa microbiana com consequências negativas na capacidade produtiva

do solo com o passar do tempo (CHANDER; BROOKES, 1993 apud FIRMEA;

VILLANUEVA; RODELLA, 2014).

Page 84: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

84

6.2 ÁGUA

As amostras de água coletada foram obtidas de três fontes diferentes de

abastecimentos. Dos 30 pontos selecionados para a coleta, 21 correspondem a fontes

fornecidas pela CAEMA; sete são abastecidos por caminhões-pipa e dois são de poços

particulares. Em todos os casos, a água de abastecimento era obtida de lençóis subterrâneos,

em que a água era extraída de poços artesianos.

Constatou-se que, em residências que não recebiam água regularmente da rede de

abastecimento provenientes da CAEMA, as necessidades eram sanadas por meio da compra

de água transportada por caminhões-pipa. Em dois pontos, a água era proveniente de poços

particulares. Destes, um abastecia um centro de ensino e o outro servia para consumo próprio

e era, também, vendida a proprietários de caminhões-pipa. A água que abastecia os

caminhões-pipa, era proveniente de poços artesianos diferentes daqueles utilizados pela

CAEMA.

A Figura 23 representa, em porcentagem, as fontes de abastecimento de água para

consumo na zona urbana em Buriticupu-MA.

Figura 23: Percentagem das diferentes fontes de abastecimento de água. Fonte: Dados

colhidos na pesquisa.

Na Figura 23, é possível constatar que o abastecimento fornecido pela CAEMA

representa a maior parte do provimento de água para consumo da população, correspondendo

a 70% de todo o volume. Em seguida, com 23%, identificou-se que as necessidades de água

70,00%

23,33%

6,67%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

CAEMA (21 pontos) CAMINHÃO PIPA (7 pontos) POÇOS PARTICULARES (2 pontos)

Fonte de abastecimento de Água

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85

das residências amostradas foram supridas por caminhões-pipa. Ressalta-se que, embora a

água abastecida por caminhão-pipa seja oriunda de poços artesianos, o mesmo é um serviço

pago à parte, ou seja, como o fornecimento da água pela CAEMA é irregular, gera, por vezes,

a necessidade de comprar a água fornecida por esses caminhões.

A Figura 24 compila as informações obtidas a partir dos níveis de cádmio

encontrados na água de abastecimento em Buriticupu-MA das diferentes fontes.

Figura 24: Níveis de cádmio encontrados na água de abastecimento em Buriticupu-MA.

Os valores encontrados para os níveis de cádmio flutuaram entre ≤ 0,04 e 0,22 ±

0,07 µg L-1. Os resultados mostraram que, independente da fonte de abastecimento, os valores

não sofreram variações a ponto de ultrapassar o limite máximo permitido pela legislação

nacional vigente que é de 5 µg L-1 (Resolução do CONAMA 396/2008).

Em A, na Figura 24, observa-se que, das 21 amostras de água coletadas em áreas

fornecidas pela CAEMA, 18 amostras (85,7%) apresentaram os níveis de cádmio abaixo do

limite de detecção (≤ 0,04 µg L-1) e os demais não ultrapassaram 0,22 µg L-1. Em B, das sete

amostras coletadas em áreas fornecidas por caminhões-pipa, cinco estão ≤ 0,04 µg L-1. Em C,

nas duas amostras coletadas dos poços particulares, os níveis de cádmio encontrados foram de

0,04 µg L-1 e 0,14 µg L-1.

Os resultados obtidos para a concentração de cádmio nas amostras de água

coletadas das diferentes fontes de abastecimentos encontram-se na Tabela 15.

0

1

2

3

0,04 µg L 0,14 µg L ≤ 0,04 µgL

0

1

2

3

4

5

0,10 µg L 0,04 µg L ≤ 0,04 µgL

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

0,22 µg L 0,10 µg L 0,04 µg L ≤ 0,04 µg L

A B

C

CAEMA

Poço particular

Caminhão-pipa

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86

Tabela 15: Níveis de cádmio encontrados na água potável da área estudada

AMOSTRA Fonte de abastecimento

Cd – Água

(µg L-1)

AA 1 CAEMA1 ≤ 0,04

AA 2 CP2 ≤ 0,04

AA 3 CAEMA ≤ 0,04

AA 4 CAEMA ≤ 0,04

AA 5 CAEMA 0,22±0,07

AA 6 CP2 0,10±0,01

AA 7 CP2 ≤ 0,04

AA 8 CAEMA ≤ 0,04

AA 9 CAEMA 0,10±0,01

AA 10 CAEMA ≤ 0,04

AA 11 CAEMA ≤ 0,04

AA 12 CAEMA ≤ 0,04

AA 13 CAEMA ≤ 0,04

AA 14 CAEMA ≤ 0,04

AA 15 PP3 0,04 ±0,01

AA 16 CP ≤ 0,04

AA 17 CAEMA ≤ 0,04

AA 18 CAEMA 0,04 ±0,01

AA 19 CAEMA ≤ 0,04

AA 20 CAEMA ≤ 0,04

AA 21 CAEMA ≤ 0,04

AA 22 CAEMA ≤ 0,04

AA 23 PP 0,14 ±0,01

AA 24 CAEMA ≤ 0,04

AA 25 CAEMA ≤ 0,04

AA 26 CAEMA ≤ 0,04

AA 27 CAEMA ≤ 0,04

AA 28 CP ≤ 0,04

AA 29 CP 0,04 ±0,01

AA 30 CP ≤ 0,04 1Companhia de Água e Esgoto do Maranhão. 2Caminhão–pipa. 3Poços particulares.

Fonte: Laboratório Cesteh, Fiocruz.

A Tabela 15 apresenta todos os valores encontrados nas análises das amostras, em

µg L-1, a partir das fontes de abastecimento estudadas.

Já na Figura 25, é apresentada a frequência com que as concentrações de cádmio

foram encontradas nas amostras de água que abastecem a população de Buriticupu-MA.

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87

Figura 25: Frequência das concentrações de cádmio encontradas nas amostras de água

de abastecimento em Buriticupu.

0,10±0,01 0,22±0,07 7%

3% 0,04 ±0,01

13%

≤ 0,04 77%

≤ 0,04 0,04 ±0,01 0,22±0,07 0,10±0,01

Nesta figura, observa-se que 77% dos níveis de cádmio ficaram abaixo de 0,04 µg

L-1, limite de detecção do método. A concentração mais elevada encontrada não ultrapassou

0,22 µg L-1.

A estatística descritiva dos resultados encontrados na água está contida na Tabela

10.

Tabela 16: Estatística descritiva das amostras de água

Compartimento

N

Min Max Mediana Média

DP CV

(%) µg L-1

Água 30 <0,04 0,22 ≤0,04 0,053 0,039 73,25

DP: Desvio Padrão.

A Tabela 17, estabelece uma comparação dos níveis máximos de cádmio na água

potável de Buriticupu-MA com a legislação vigente.

Page 88: Vilson de Almeida Sousa - Oswaldo Cruz Foundation

88

Tabela 17: Comparação do nível máximo de cádmio na água potável de Buriticupu com

diferentes legislações

Cd-água

Buriticupu

(µg L-1)

Padrão de potabilidade

(µg L-1)

Padrão de qualidade

ambiental5

(µg L-1)

CONAMA

396/2008

Portaria

36/90

MS1

Portaria

1469/00

MS2

WHO3

EPA4

Classes I, II

Classe

III

0,22±0,07 5 5 5 5 5 1 10

1MS, Portaria n°36/90 (Decreto Estadual 12.342/78, Código Sanitário); 2MS, Portaria n°1469/2000; 3WHO: Guia para Água Potável/Valor experimental – nova Portaria vigente; 4US EPA, 2003 – Critério de Qualidade de Água; 5CONAMA, resolução 357/2005.

Na Tabela 17, observa-se que a concentração do maior nível de cádmio

encontrado na água de abastecimento em Buriticupu ainda foi menor que aqueles

estabelecidos pela Resolução do CONAMA 396/2008 que determina o Valor Máximo

Permitido (VMP) de 5µg L-1 para águas subterrâneas utilizadas para consumo humano.

Já a Resolução 357/2005 (CONAMA) admite um Valor Máximo (VM) de

apenas 1µg L-1 como padrão de potabilidade ambiental Classe I e II. Comparando os níveis

máximos encontrados nas amostras de água de abastecimento, em Buriticupu-MA, com

aqueles estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 (5µg L-1), ainda assim,

compreenderiam apenas 25% do total estipulado na referida resolução.

Berezuk e Gasparetto (2002), ao pesquisarem sobre a ocorrência de metais em

águas subterrâneas em Maringá-PR, oriundas de poços artesianos com características

similares àqueles encontrados em Buriticupu, inferiram que a população local estava isenta

dos riscos de contaminação por cádmio pela ingestão de água, dado que os níveis de cádmio

na água não foram detectados naquele estudo.

Silva (2002), ao avaliar o nível de contaminação de água subterrânea por metais

(arsênio, bário, cádmio, chumbo, cobre, cromo total, manganês, mercúrio, prata, selênio e

zinco) na água usada para consumo humano, em Feira de Santana-BA, no ano de 2000,

encontrou concentrações de cádmio em 4,1% das amostras com valores acima daqueles

estabelecidos pela legislação brasileira. As amostras foram retiradas de poços subterrâneos

com até cinco metros de profundidade. Entretanto, as características dos poços desse estudo

diferem daqueles encontrados na zona urbana de Buriticupu, visto que, na pesquisa de Silva

(2002), o foco do estudo recaiu sobre poços feitos manualmente com profundidade de cinco

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89

metros, enquanto que os poços de Buriticupu-MA são tubulares e profundos, ultrapassando os

150m.

Um estudo feito por Chaves (2008), que investigou os teores dos metais cádmio,

Pb, Cu, Zn, Cr e Ni na água tratada do município de Lavras-MG, revelou que os níveis de

cádmio se encontraram abaixo daqueles estabelecidos pela legislação nacional e internacional.

Não encontrando, assim, valores significativos que pudessem trazer riscos àquela população

quanto ao consumo de água.

Além das peculiaridades inerentes ao cádmio no que diz respeito a sua mobilidade

nos horizontes do solo, a profundidade em que a água é coletada dos poços artesianos é uma

possível variável que pode estar servindo como fator de proteção contra a contaminação das

águas de abastecimento analisadas, pois, conforme já registrado, nesta região, a água chega a

ser coletada a profundidades que variam de 150 a 300m.

Ao analisar os resultados encontrados na água de consumo de Buriticupu-MA,

para os três tipos de fontes (CAEMA, caminhão-pipa e poços particulares), constatou-se que,

em nenhum dos casos, os níveis de cádmio detectados ultrapassaram os valores estabelecidos

pela legislação e órgãos de vigilância ambiental nacional, tampouco os limites estabelecidos

pelas agências internacionais.

Com esses níveis, inferiu-se que as amostras de água analisadas não

representavam um risco para a saúde da população urbana de Buriticupu, quanto à

contaminação por cádmio por meio do seu consumo.

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90

7 CONCLUSÃO

O estudo confirmou que 20% das amostras de solo apresentaram valores

superiores ao VP estabelecido pela Resolução 420/2009 do CONAMA. Chamam a atenção os

bairros Centro e Caeminha, pois apresentaram médias acima de 1,3 mg kg-1. Contudo, outros

bairros como a Terra Bela, Vila Mansueto, Vila Primo e Vila Davi, embora a média dos

níveis de cádmio tenha ficado abaixo de 1,3 mg kg-1, também, merecem atenção especial, pois

foram encontrados pontos com teores superiores ao estabelecido pela referida Resolução.

Foi constatado que áreas próximas aos lixões e à BR 222 apresentaram níveis

elevados de cádmio superiores ao VP, merecendo atenção por parte do poder público para que

medidas mitigatórias possam ser aplicadas.

O estudo mostrou, também, que há um risco elevado de contaminação para

plantas e animais em 8% das amostras devido às condições combinadas de pH (com maior

biodisponibilidade) e teores elevados de cádmio.

É necessário pontuar que, em função de haver diversas áreas com declives, há a

necessidade de se verificar as concentrações de cádmio em áreas que recebem o solo lixiviado

na região.

Quanto aos níveis de cádmio encontrados na água de consumo, este estudo

mostrou que, nas amostras analisadas, seu consumo não representa um risco para a saúde da

população urbana de Buriticupu-MA, visto que os níveis estão abaixo daqueles estabelecidos

pela legislação vigente.

Como já foi pontuado, as coletas foram realizadas na estação chuvosa, mas, no

período que compreendeu o intervalo de coleta, houve pouca ocorrência de chuva o que pode

ter contribuído para alteração dos valores encontrados. Assim, sabendo que os níveis de

cádmio podem sofrer variações entre as estações secas e chuvosas, sugere-se que estudos

complementares possam ser realizados em condições meteorológicas diferentes a fim de

observar se esta variável tem interferência nos níveis de cádmio obtidos neste estudo. Sugere-

se, também, que se investigue os níveis de metais em áreas mais baixas no entorno da zona

urbana de Buriticupu-MA, já que frequentemente recebem material lixiviados provenientes de

áreas mais altas.

Conclui-se, portanto, que os níveis de cádmio encontrados em certas áreas do solo

urbano de Buriticupu-MA, evidenciam a atividade antropogênica como a principal

responsável pela elevação destes níveis.

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