Violência e concórdia

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Prof. Ítalo Colares

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Prof. Ítalo Colares

O termo violência vem do latim violentia que remete a vis(força,vigor,emprego de força física, recursos do corpo para exercer a sua força vital).

(FOUCAULT apud ZALUAR,2004).

A violência é um atributo do ser humano livre e como tal constitui uma prática deliberada, voluntária.Uma das dificuldades para identificar os atos violentos encontra-se na avaliação de culturas diferentes da nossa.

Para definir violência, comecemos pelo caráter de disputa, luta, de conflito, que envolve pessoas ou grupos com interesses divergentes em que a solução apresentada é o recurso abusivo da força. Nesse processo, há que se destacar , de um lado, a intencionalidade de um autor e, de outro, uma vítima. A violência é movida, portanto, por um desejo de destruição do outro, que se configura a partir de diversos tipos de intenção.

Vamos examinar os conceitos que às vezes são identificados indevidamente à violência, tais como força, poder e autoridade.Lembre-se que poder é uma relação entre pessoas ou grupos capazes de produzir efeitos sobre outros indivíduos ou grupos. Para agir, usam o recurso da força ou da autoridade, conceitos que não se identificam necessariamente à coerção violenta ou ao desejo de dominação.

O poder, a força e a autoridade só se transformam em violência quando extrapolam os seus limites e se configuram como abusivos, contrariando os interesses de uma das partes.

A obediência à lei proposta pelo povo ou pelos seus representantes legítimos não seria coerção, mas liberdade.

A formação do Estado Moderno partiu da ideia da centralização do poder, agregado sob seu comando as instituições políticas, jurídicas, administrativas, policiais e econômicas.

A violência do indivíduo é contida ao se submeter à lei e aos trâmites legais de julgamento: as ações transgressoras serão julgadas por instâncias apropriadas e ninguém está autorizado a “fazer justiça com as próprias mãos”, como nos linchamentos ou nos esquadrões da morte. O ideal civilizatório que se configura é o da predominância do “estado de direito”.

A violência surge também nos chamados “poderes paralelos”, tais como as forças econômicas e as máfias do crime organizado.

Nicolau Maquiavel entendeu a política como um campo de forças cuja atuação vai sendo tecida no conflito dos interesses antagônicos.A violência capaz de instaurar uma nova ordem.

No séc. XVIII, Thomas Hobbes dizia que “o homem é um lobo para o homem” e que viveríamos em “guerra de todos contra todos” caso não fosse instituído um pacto para a criação do Estado.Segundo Hobbes, “os pactos sem espadas (swords) não são mais que palavras (words).

No séc. XIX, as influências de Marx e Engels foram decisivas na visão da violência como o único meio de transformação e de superação da sociedade dividida.

Na definição de violência, destacamos a existência de um conflito entre dois opositores.Mas a violência se esconde e se não se mostrar como tal, deve ser por nós desvelada e acusada.

VIOLÊNCIA ESTRUTURAL

Conhecida também como violência branca, “não salta os olhos”. Nela o agressor não é identificado imediatamente e, às vezes, a própria vítima não percebe a violência a que está submetida.Essa violência passa despercebida como se apenas resultasse da “ordem natural das coisas”, e não da ação humana. Mas, à medida que descobrimos as relações de exploração de um sistema injusto, precisamos agir para modificar essa situação.

VIOLÊNCIA PASSIVA

Ou violência por omissão, ocorre toda vez que deixamos de agir para evitar sofrimentos ou salvar vidas.

VIOLÊNCIA SIMBÓLICA

Resulta da força de natureza psicológica que atua sobre a consciência, exigindo a adesão irrefletida, só aparentemente voluntária. Ou seja: não existe violência simbólica quando tentamos persuadir alguém, estando, nós próprios, também dispostos a mudar de ideia pelo convencimento do outro. Isso abre espaço para o diálogo.

Iremos usar a ideia de discriminar como algo que classifica as pessoas de modo a privilegiar umas e segregar outras.Esse processo representa a incapacidade de aceitar o diferente, que muitas vezes passa a ser considerado “inferior” e até “perigoso”.A discriminação é a recusa em reconhecer o outro como alguém que tem igual direito à plena inclusão social.

A socióloga Heleieth Saffioti distingue três tipos de preconceito: •Sexual ou de gênero;•Raça/Etnia;•Classe Social.Quando se expõem as características de cada um desses quatro eixos normatizadores, conclui que as pessoas mais poderosas são aquelas situadas no topo das quatro hierarquias: homens, brancos, ricos e adultos.

O ELITISMO é uma ideologia burguesa nascida durante a segunda metade do século XIX, dos trabalhos de dois sociólogos italianos, Vilfredi Pareto (1840-1923) e Gaetano Mosca (1858-1941). Nesta época, a burguesia, que acabava de arrancar o poder político das mãos da aristocracia, via-se, por sua vez, ameaçada por uma classe operária cada vez mais ativa e imbuída dos princípios marxistas. Pareto e Mosca pretendiam refutar a doutrina marxista e desmentir formalmente a possibilidade de uma revolução socialista que eliminaria o sistema de classes. Opondo-se a Marx, afirmavam que o talento político designava os verdadeiros dirigentes e que, por outro lado, toda a sociedade seria sempre governada por uma ou mais elites.