VOLUME 2 I Número 1 I setembro 2019 ISSN 2527 – 1873 · A base de toda atividade agrícola é o...
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VOLUME 2 I Número 1 I setembro 2019 ISSN 2527 – 1873
Juiz de Fora – MG
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REITOR DO IF SUDESTE MG Charles Okama de Souza
PRÓ-REITORA DE ENSINO Glaucia Franco Teixeira
PRÓ-REITOR DE PESQUISA E INOVAÇÃO André Narvaes da Rocha Campos
PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO Valdir José da Silva
PRÓ-REITOR DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL Aluísio de Oliveira
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO Fabricio Tavares de Faria
CONSELHO EDITORIAL MSc. Carla Gomes Teodoro Fernandes Dr. Carlos Miranda de Carvalho Dr. Hélcio Ribeiro Campo Dra. Janaina de Assis Rufino MSc. José Honório Glanzmann Dra. Juliana Sena Calixto Dr. Marco Antônio Pereira Araújo Dr. Márcio de Paiva Delgado MSc. Maria Helena Furtado Santiago Dr. Natalino da Silva de Oliveira Dr. Rui Gonçalves de Souza MSc. Valdir José da Silva
CONSELHO EXECUTIVO Antônio Carlos Caires Costa Elisa Carmo Franco de Almeida Rui Gonçalves de Souza
Tamyris Moraes Santos da Silva
Coordenação Editorial Rui Gonçalves de Souza
Secretária Ana Boaretto de Miranda Motta
Revisão gramatical Antônio Carlos Caires Costa
Arte e Diagramação Rui Gonçalves de Souza
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EDITORIAL
A Extensão na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica, vem conseguido resultados surpreendentes nos últimos anos, seja
pelas ações que realizam, como estratégia de aproximação do conhecimento
adquirido em sala de aula com a prática e a realidade vivida pelas comunidades,
seja pela necessidade de consolidar o papel da Rede de dialogar com a sociedade.
No Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, essa realidade não é diferente.
Conhecer de perto as ações que são registradas na Pró-Reitoria e nas
Diretorias de Extensão dos campi nem sempre é oportunizado à comunidade
acadêmica. Propor ações práticas para que os estudantes, docentes, servidores
técnico-administrativos e a sociedade conheçam o que o IF Sudeste MG faz no dia
a dia, dentro da sua área de atuação, torna-se necessário para dar mais visibilidade
àquilo que é, muitas vezes, invisível aos olhos dos que se relacionam com a
Instituição. Uma dessas estratégias para dar visibilidade aos projetos que dialogam
com as comunidades é a publicação de periódicos.
Portanto, é com grande satisfação que estamos apresentando à
comunidade acadêmica o segundo número da Revista Muriqui: a Revista de
Extensão do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG). Como
vem acontecendo com a grande maioria dos periódicos de natureza científica, a
partir desse número, a revista passa a ter a sua versão online, podendo ser
impressa.
Esta edição da Muriqui é constituída por trabalhos que podem ser
caracterizados como uma amostra da diversidade de ações de extensão que estão
sendo realizadas nos campi. São, ao todo, treze textos, sendo doze relatos de
experiência e um artigo cientifico.
Os relatos de experiência selecionados e que estão sendo publicados nesta
edição são relacionados com ações voltadas para a agricultura familiar, para o
cuidado com os animais usados no trabalho em pequenas propriedades rurais, para
o empoderamento de mulheres e grupos sociais em vulnerabilidade social. Ações
extensionistas preocupadas com a melhoria da qualidade de vida da população do
espaço social do IF Sudeste MG também estão contempladas nesta edição, mais
precisamente, em relação aos idosos e à utilização da medicina alternativa. A
inclusão social e digital em ações voltadas para populações menos assistidas, assim
como ações complementares ao ensino regular de nível médio também fazem
parte dos relatos de experiência aqui divulgados, bem como ações voltadas para a
cultura, preocupadas com a formação de coletivos, formação de público e
educação musical.
Há, ainda, um artigo que destaca a relevância da qualidade da água ofertada
a bovinos leiteiros em áreas rurais e o seu reconhecimento como nutriente
essencial.
Rui Gonçalves de Souza
Editor Executivo
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Sumário
Relatos de Experiência
Troca de Saberes com a agricultura familiar: o manejo sustentável do solo ........................... 5 José Alcir Barros de Oliveira, Marcelo Zózimo da Silva, Guilherme Augusto Mendes da Silva, Mikaela de Oliveira Abranches, Julia Tatiana
Souza e Silva, Pablo Alexandrino da Silva
Técnicas de manejo visando melhorar o bem-estar dos equídeos usados para o trabalho nas
pequenas propriedades de Barbacena, Minas Gerais ............................................................ 14 Marcelo José Milagres de Almeida, Jorge Luiz Baumgratz, Janaina Miranda Resende, Isabella Silveira Carvalho, Ana Carolina Gonçalves Silva
Análise quantitativa e qualitativa de perdas pós-colheita em frutíferas na região de
Barbacena ................................................................................................................................ 21 Anderson Conde da Silva, Camila Maria Grigorio Almeida, Teresa Drummond Correia
Cidadania de gênero em debate nas comunidades rurais e periurbanas da mesorregião do
Campo das Vertentes de Minas Gerais ................................................................................... 29 Andressa Lisboa Martins, Parley Lopes Bernini da Silva, Josenilder Carlos da Silva, Vilma Maria Azevedo
Voz e visibilidade para os remanescentes indígenas e quilombolas do entorno de Barbacena,
Minas Gerais ............................................................................................................................ 40 Gabriela de Rezende Garcia, Ana Carolina Pedrosa Tavares, Higor Leonardo D. dos Santos, Leandro Eustáquio Elias, Vilma Maria Azevedo
Ensino de ciências e matemática para adolescentes em situação de vulnerabilidade social:
unindo a ação extensionista com a educação ........................................................................ 48 Rayane da Silva Dias, Carlos Henrique de Mendonça, Paula Reis de Miranda
Inforubá: informática básica para EJA e Casa Semear ............................................................ 57 Heudes Eduardo Rogério, Gilson Soares Toledo, Eduardo Pereira da Rocha, Priscila Oliveira Ribeiro, Neurimária Soares Peixoto
Florescer para a terceira idade ............................................................................................... 65 Maria Luiza Firmiano Teixeira, Michele Carvalho Lopes de Paiva, Priscilla da Costa Ferreira, Raquel Fernandes, Thaís Brito Dibo
Ginástica na melhor idade......... ...................................................................................... 75 Fabianne Furtado, Jhéssyca Aparecida Machado de Araújo, Flaviane Aparecida Pereira Henriques, Natiele Aparecida da Cunha, Vanessa
Malta Matheus
Experiências extensionistas sobre qualidade de vida e de ambiente em 2016 .................... 84 Joseane Turquete Ferreira, Gabriela Dayana Campos Amancio, José Henrique Pazutti Magri, José Emílio Zanzirolani de Oliveira, Josélia
Barros da Silva, Viviane Modesto Arruda
Projeto Musicanto 2017: arte e cultura no Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais –
Campus Barbacena .................................................................................................................. 93 Claudilene Márcia F. Ferrão, Fabiana Grigório da Silva, Jussara Cândida Soares, Parley Benini
Tecnologia a serviço da cultura: restauração e construção de instrumentos de baixo custo
para musicalização ................................................................................................................ 101 Alexsandro Magno Bahia Junior, Rafhael Ramos Boscaro, Tiago Fiereck, José Luiz Cuco, Sara Del Vecchio, Diana Esther Tuyarot
Artigo
A Importância da água para bovinos leiteiros: extensão rural para produtores de Rio Pomba,
Minas Gerais .......................................................................................................................... 108 Arnaldo Prata Neiva Júnior, Maurílio Lopes Martins, Thaise Mota Sátiro, Hugo Eduardo De Leon Flauzino, Eduarda Popolino Diniz, João
Paulo Ferreira Gomes, Kelvia Xavier Costa Ramos Neto
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Troca de Saberes com a agricultura familiar:
“o manejo sustentável do solo”
Exchange of Knowledge with Family Farming:
“Sustainable Soil Management”
José Alcir Barros de Oliveira – [email protected]
Marcelo Zózimo da Silva – [email protected]
Guilherme Augusto Mendes da Silva – [email protected]
Mikaela de Oliveira Abranches – [email protected]
Julia Tatiana Souza e Silva – [email protected]
Pablo Alexandrino da Silva – [email protected]
Resumo: A partir da vivência extensionista com o meio rural da região do Campo das
Vertentes foi possível detectar as fragilidades profissionais dos agricultores quanto ao
conhecimento sobre o manejo sustentável do solo. Assim, nasceu o projeto que foi
realizado nas comunidades rurais dos municípios de Barbacena e Ressaquinha,
objetivando trocar saberes pedológicos com os jovens rurais e agricultores familiares,
partindo do pressuposto de que o solo é a base de tudo no agroecossistema.
Palavras-chave: Extensão agroecológica; Profissionalização da agricultura familiar;
Educação em solos.
Abstract: From the extensionist experience with the rural environment of the Campo
das Vertentes region, it was possible to detect the professional fragilities of the farmers
regarding the knowledge about the sustainable management of the soil. Thus, the
project was born that was carried out in the rural communities of the municipalities of
1 Engenheiro Agrônomo, Mestre em Educação Agrícola, Professor do Núcleo de Ciências Agrárias, IF Sudeste MG, Campus Barbacena. 2 Engenheiro Agrícola, Doutor em Solos e Meio Ambiente, Professor do Núcleo de Ciências Agrárias, IF Sudeste MG, Campus Barbacena. 3 Discente do Curso de Engenharia Agronômica, IF Sudeste MG, Campus Barbacena. 4 Discente do Curso de Engenharia Agronômica, IF Sudeste MG, Campus Barbacena. 5 Discente do Curso de Engenharia Agronômica, IF Sudeste MG, Campus Barbacena. 6 Discente do Curso Técnico em Agropecuária, IF Sudeste MG, Campus Barbacena.
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Barbacena and Ressaquinha, aiming to exchange pedological knowledge with rural
youth and family farmers, assuming that the soil is the basis of everything in the
agroecosystem.
Keywords: Agroecological extension; Professionalization of family agriculture;
Education in soil.
Introdução
O município de Barbacena e mais 13 municípios ao seu entorno formam uma
das três microrregiões pertencente a mesorregião geográfica do Campo das
Vertentes. A microrregião de Barbacena tem uma relevância ambiental por conter
duas grandes e importantes bacias hidrográficas brasileiras: a do Rio Grande e a do
Rio Doce. No aspecto econômico é reconhecida, nacionalmente, com seu potencial
agropecuário nas atividades de Horticultura a qual engloba três grandes áreas da
Agronomia: olericultura (hortas), floricultura e fruticultura. A olericultura é atividade que
predomina, sendo trabalhada por um número maior de agricultores familiares em
pequenas áreas de terras de relevo muito acidentado, onde, atualmente, existe uma
preocupação por parte das autoridades competentes ligadas à área quanto ao manejo
sustentável do solo e da água, em grande parte, pelo uso indiscriminado de insumos
agroquímicos nas lavouras, principalmente fertilizantes químicos e agrotóxicos e
também por problemas na conservação do solo nas áreas produtivas.
Segundo Oliveira (2011), estas famílias de agricultores, em sua maioria,
desprovidas do serviço público de extensão rural, fica dependente da assistência
técnica realizada pelas empresas que comercializam tais insumos para as lavouras.
Sofrem as consequências do processo de globalização no campo e, cada vez mais,
necessitam de apoio na organização em associativismo e ou cooperativismo,
capacitações e informações tecnológicas e de mercado adaptadas às suas reais
necessidades. Elas clamam por um apoio das instâncias governamentais e esperam
por seus direitos garantidos na constituição brasileira.
De acordo com estudos atuais na área de saúde pública, hoje, presenciamos a
triste realidade na atividade agrícola referente ao alto índice de intoxicação humana
pelo uso irracional de agroquímicos nestas lavouras. Os agricultores, a maioria sem
capacitação e qualificação profissional, para tentar controlar os prejuízos
fitossanitários usam muitos produtos químicos que, na maioria das vezes, não
solucionam os problemas da cultura. Um trabalho alicerçado nos princípios da
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extensão agroecológica servirá para voltar a atenção dos agricultores à base de todo
sistema agrícola: O Solo.
A base de toda atividade agrícola é o solo e tudo começa com sua análise,
proveniente de uma amostragem correta, dentro das recomendações do livro 5ª
Aproximação (CANTARUTTI et al., 1999).
O solo deve estar equilibrado em termos químicos e biológicos e para isso é
necessário um manejo agrícola sustentável. No mundo rural atual, em meio a tantas
inovações tecnológicas e problemas fitossanitários aliado à falta de assistência
técnica, o trabalho de extensão se torna imprescindível com uma capacitação
profissional adequada às especificidades reais da agricultura familiar, podendo ser
utilizada uma ferramenta que vêm ocupando espaço no atual cenário agrícola: a
agroecologia. Para Altieri (2002), autor renomado desta área:
A agroecologia representa uma abordagem agrícola que incorpora cuidados especiais relativos ao ambiente, assim como aos problemas sociais, enfocando não somente a produção, mas também a sustentabilidade ecológica do sistema de produção (ALTIERE,2002, p.26).
Segundo Silva (2014), o desenvolvimento rural, concebido como sinônimo de
modernização, tem implicações sérias na questão da sustentabilidade, tanto
econômica, como social e ambiental, e na agricultura de um modo geral,
principalmente, na agricultura familiar. No manejo sustentável, a conservação do solo
e da água, são funções básicas para desenvolver uma atividade agrícola saudável.
No estudo da fertilidade do solo para produção sustentável, uma importante decisão
é fazer uma correta amostragem do solo para identificar as condições químicas do
solo para efeito de aplicação racional de corretivos e fertilizantes.
Então, o agricultor sendo conhecedor da maneira correta de se realizar a
amostragem de solos terá condições de realizar um trabalho profissional, reduzindo
custos de produção em sua lavoura, aumentando a produtividade agrícola e, ao
mesmo tempo, protegendo e conservando seu solo, tornando-o mais fértil e mais
propício ao desenvolvimento das culturas.
A partir de uma amostragem correta do solo, é feita análise dos atributos
químicos, uma técnica de rotina utilizada para avaliação de sua fertilidade
(CANTARUTTI et al., 1999).
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Sabendo destes fatos, se torna relevante este projeto de extensão sendo seu
objetivo principal trocar saberes pedológicos, levando conhecimento acerca da
amostragem de solo e da sua importância no contexto da produtividade agrícola a
estas famílias das comunidades rurais, buscando minimizar erros e obter resultados
representativos para um racional manejo do solo e assim melhoria da qualidade de
vida.
Plano de Trabalho
As ações do projeto foram realizadas nas cidades de Barbacena e
Ressaquinha, Minas Gerais, durante um período de 8 meses, no ano de 2017. Visou-
se atender, prioritariamente, agricultores familiares, mulheres e jovens rurais. As
práticas aconteciam nas propriedades dos agricultores envolvidos no projeto, sendo o
dia e horário marcados com os líderes rurais das comunidades, onde além da
capacitação em amostragem de solo outros assuntos relacionados às práticas
agrícolas eram discutidos, agregando experiência aos alunos bolsistas, futuros
profissionais da área de ciências agrárias.
Os alunos e professores coordenadores do projeto reuniram-se, previamente,
meses antes do início do projeto com as lideranças das comunidades em cada
município a ser contemplado e diretores de escolas municipais com objetivo de
alcançar maior número de pessoas e possibilitar o planejamento das atividades.
Além das capacitações em campo, foram realizadas também atividades no
Laboratório de Análise de Solos e Folhas do IF Campus Barbacena. Os estudantes
dialogaram e conheceram o perfil do público assistido pelo laboratório, no momento
da entrega da análise de solo. Além disso, foram conhecidas todas as etapas da
análise de solo, desde a recepção até o resultado final. Com o intuito de atingir os
jovens rurais estudantes e conhecer um pouco de sua realidade, foram realizadas
reuniões prévias e posteriormente capacitações à cerca do tema amostragem de solo
com os jovens rurais nas escolas parceiras, sendo a Escola Municipal Cel. Camilo
Gomes de Araújo situada no distrito rural de Pinheiro Grosso (Fig.1), e a Escola
Estadual Galdino Ananias de Sant’Ana (Fig.2) situada na cidade de Ressaquinha.
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Figura 1. Troca de saberes pedológicos e capacitação em amostragem de solos com alunos da Escola Municipal “Cel. Camilo Gomes de Araújo”, distrito rural de Pinheiro Grosso, Barbacena-MG. Fonte: Guilherme Augusto Mendes
No IF Sudeste Campus Barbacena, também ocorreu uma capacitação com os
alunos do 1º ano do curso técnico em agropecuária, sendo a prática e o assunto
teórico acerca da amostragem e análise de solo conteúdo essencial na formação dos
futuros profissionais.
Figura 2. Reunião inicial com a diretora da escola estadual local, secretária da Emater Local, vereador e agricultor- líderes rurais, coordenadores, bolsistas e estudantes do projeto na Escola Estadual Galdino Ananias de Sant’Ana, em Ressaquinha-MG. Fonte: Mikaela Abranches.
Resultados Alcançados
Visando a redução dos erros e a conscientização dos agricultores, foram
realizadas dez reuniões com troca de saberes em assuntos relacionados a solos, e
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sete capacitações com demonstração técnica em amostragem de solo, atingindo um
número de 120 pessoas. As comunidades rurais beneficiadas foram: Vargem dos
Cochos –Barbacena, (Fig.3), Costas (Barbacena), Dias (Ressaquinha), Córrego do
Onça - Ressaquinha, (Fig.4) e as escolas: Escola Municipal “Cel. Camilo Gomes de
Araújo” -Pinheiro Grosso, IFSEMG – Campus Barbacena e Escola Estadual Galdino
Ananias de Sant’Ana- Ressaquinha. Cada capacitação foi alternada em teoria e
prática, buscando melhor aprendizagem dos presentes.
Figura 3. Troca de saberes pedológicos e demonstração técnica da amostragem do solo na comunidade rural da Vargem dos Cochos, Barbacena-MG. Fonte: Mikaela Abranches.
A partir do contato, diálogo e durante as capacitações profissionais com os
agricultores compreendeu-se que a grande maioria entende a importância de se fazer
a amostragem do solo, porém a faziam de maneira e com equipamentos incorretos e
quase não tinham contato com o documento da análise de solo e do entendimento e
discussão técnica de seus índices e consequente avaliação do estado do solo em
questão. Outro fato pertinente e percebido é de que os agricultores são carentes de
outras tecnologias da agricultura, pois em meio a capacitação eram sanadas outras
dúvidas consideradas simples, entretanto, entendeu-se que o agricultor, muitas vezes,
não dialoga com o técnico que o assiste, o que na extensão rural chamamos de
diálogo humanizador, troca de saberes. As informações tecnológicas devem sempre
vir precedidas de um conhecimento prévio da vida do agricultor e sua situação
socioeconômica e cultural para que estas possam ser adequadas a quem as utilizará.
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Figura 4. Troca de saberes pedológicos e capacitação em amostragem do solo na comunidade do Córrego do Onça, Ressaquinha-MG. Fonte: Júlia Souza
Como as capacitações contavam com parte teórica e prática, os agricultores
eram instruídos a entender e interpretar de sua maneira os dizeres do documento de
análise de solo e tirarem dele algumas conclusões básicas para que tivessem mais
autonomia e argumentos não apenas para discutir tecnicamente com os vendedores
no momento da compra de calcário, fertilizantes e outros insumos, mas para um nível
maior: ficar consciente das ações sustentáveis para as atividades laborais no manejo
e conservação do solo de suas propriedades rurais.
Os encontros dialogados entre alunos e os agricultores e/ou profissionais da
assistência técnica no Laboratório de Solos e Folhas do IF Sudeste Campus
Barbacena foram feitos com objetivo que conhecer o perfil sociocultural do público que
frequenta o mesmo. A partir dos dados obtidos concluiu-se que na maioria das vezes
não é o agricultor quem entrega a amostra de solo, deixando esta responsabilidade
para o técnico da assistência particular. Também, a grande maioria dos agricultores
não reconhece a importância do documento Análise de Solo e muitas vezes não
acontece uma troca de saberes sobre a análise, tornando-se apenas uma ação
automática e mecânica de cálculos para a aquisição dos insumos. E ainda existem
situações em que o agricultor não tem contato com o documento gerado.
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Conclusão
Ao final do projeto, conclui-se que o trabalho não está acabado e sim se
iniciando. O conhecimento adquirido tanto pelos alunos quanto pelos professores
envolvidos da problemática sociocultural e econômica das famílias de agricultores nos
municípios mineiros de Barbacena e Ressaquinha proporcionou um entendimento de
que é urgente a necessidade de mais trabalhos de extensão rural agroecológica, onde
no diálogo humanizador se constrói a organização rural em associativismo e em
atividades práticas com as capacitações profissionais em metodologias direcionadas
para cada realidade a ser trabalhada.
Com base no que dizem os renomados pesquisadores e extensionistas rurais
Caporal e Costabeber (2000) em sua frase clássica: “É preciso reconhecer que entre
os agricultores e suas famílias existe um saber, um conjunto de conhecimentos, que
embora não sendo de natureza científica é tão importante quanto os nossos saberes”,
assim entende-se que os agricultores capacitados terão conhecimento para gerar
opinião e servir de multiplicadores dos saberes nas comunidades onde vivem,
esperando-se que tenham adquirido base técnica e crítica para realizar o manejo
sustentável do solo dentro de uma unidade maior: a sub bacia hidrográfica.
Referências Bibliográficas ALTIERE, M. Agroecologia: Bases científicas para uma agricultura sustentável.
Guaíba: Agropecuária; ASPTA,2002. 592.p
CAPORAL, F.R. COSTABEBER, J.A. Agroecologia e Desenvolvimento Rural
Sustentável: Perspectivas para uma Nova Extensão Rural. Agroecologia e
Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, vol.1, n.1, Jan./Mar.2000.37p.
Disponívelem. Acesso em: 20 de jul.
2018.
CANTARUTTI, R. B.; ALVARES VENEGAS, V. H.; RIBEIRO, A. C. Amostragem de
solo. In: RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P. T. G.; ALVARES VENEGAS, V. H. (Ed.),
Recomendação para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5ª
aproximação. Viçosa: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais,
1999. P 13 – 20.
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OLIVEIRA, J. A. B. As Representações Sociais de Estudantes e Egressos do
Curso Técnico em Agropecuária do Instituto Federal do Sudeste de Minas
Gerais Campus Barbacena sobre o Mercado de Trabalho Agropecuário. 2011. 86
p. Dissertação (Mestrado em Educação Agrícola). Instituto de Agronomia,
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. 2011. Disponível em:
. Acesso em: 20 de jun. de 2018.
SILVA, M. Z. Comportamento Morfológico, Químico e Físico-Hídrico dos Solos
de área cultivada com morango em Alfredo Vasconcelos, MG. 2014. 126 f. Tese
(Doutorado em Ciências Ambientais) – Universidade Federal de Goiás.
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Técnicas de manejo visando melhorar o bem-estar dos equídeos
usados para o trabalho nas pequenas propriedades de Barbacena,
Minas Gerais
Management techniques to improve the welfare of equidae
used for work on small farms in Barbacena, Minas Gerais
Marcelo José Milagres de Almeida; [email protected]
Jorge Luiz Baumgratz; [email protected]
Janaina Miranda Resende; [email protected]
Isabella Silveira Carvalho; [email protected]
Ana Carolina Gonçalves Silva; [email protected]
Resumo: O presente relato de experiência descreve as técnicas e ações tomadas
durante o projeto de extensão desenvolvido em 2017, em Correia de Almeida, com o
intuito de melhorar o bem-estar dos equídeos que auxiliam pequenos produtores em
suas atividades, esporádicas ou diárias, melhorando assim a qualidade de vida
desses animais, buscando, como consequência, aprimorar a eficiência do trabalho
dos produtores que necessitam desses animais para realizarem suas atividades.
Palavras-chave: Equídeos; Bem-estar; Manejo; Interação social.
Abstract: The present experience report describes the techniques and actions taken
during the presentation project launched in 2017 in Correia de Almeida with the aim of
improving the welfare of equidae that help small generations in their activities, sporadic
or daily, As well as the quality of life, animals, such as efficiency, efficiency and
performance of animals to carry out their activities.
Keywords: Equines; Welfare, Management; Social interaction.
1 Doutor em Zootecnia; Professor do curso de Bacharelado em Agronomia, Núcleo de Zootecnia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 2 Mestre em Educação; Professor do curso de Bacharelado em Agronomia, Núcleo de Zootecnia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 3 Discente do curso de Bacharelado em Agronomia, Núcleo de Zootecnia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 4 Discente do curso de Bacharelado em Agronomia, Núcleo de Zootecnia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 5 Discente do curso de Bacharelado em Agronomia, Núcleo de Zootecnia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena.
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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Introdução
Pequenos produtores que utilizam equinos e muares como força de trabalho ou
para lazer, muitas vezes, não percebem a necessidade de manejar adequadamente
os animais. Geralmente, não se preocupam com questões sanitárias, nutricionais, de
condicionamento físico, sobrecarga de trabalho, dentre outras. O presente projeto
visou mudar e aprimorar tal concepção, utilizando práticas alternativas e recursos que
se adequassem à realidade dos pequenos produtores, melhorando, assim, a
qualidade de vida do animal e de maneira indireta a do próprio produtor.
Plano de Trabalho
De início, a ideia principal do trabalho era a realização de vistas às
propriedades dos produtores interessados em participar do projeto, para um primeiro
contato. Contamos com a colaboração dos representantes da Associação dos
Moradores de Correia de Almeida, distrito de Barbacena, que se prontificaram a
convidar os produtores para a primeira reunião, junto aos membros engajados no
projeto.
Neste primeiro encontro, estiveram presentes um grande número de voluntários
interessados em desenvolver as atividades propostas. Houve relatos individuais,
mediados pelos extensionistas, sobre experiências com equinos e muares, para
conhecer as reais necessidades e carências dos pequenos produtores quanto ao
manejo adequado, chegando-se à conclusão de que para a otimização de tempo e
aprendizado em comunidade seria interessante adotar a ideia de realização de
reuniões em formato de palestras, com temas sugeridos pelo grupo, pois, assim,
aconteceriam, simultaneamente, a difusão de conhecimento técnico e a interação
social na comunidade, principalmente entre aqueles com o interesse comum de
melhorar o bem-estar dos equinos. Chegaram a uma sequência de assuntos a serem
discutidos: bem-estar animal, casqueamento, principais doenças e vacinações. O
assunto de maior interesse levantado pelos participantes foi sobre a questão do
manejo nutricional, sendo este o tema discutido na reunião que se sucedeu (Figura
1).
Com a domesticação desses animais, houve mudanças drásticas no estilo de
manutenção, de natureza livre e hábito de pastejo extensivo. Os animais passaram a
ser criados em áreas cada vez menores, chegando até mesmo ao confinamento
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permanente em baias, desprezando e contrariando o estilo natural, o que acabou por
acarretar problemas digestivos e comportamentais (DITTRICH, J. et al. 2010).
Essas mudanças desrespeitam uma das principais particularidades evolutivas
da espécie, o complexo anatômico e fisiológico do aparelho digestório. Essa estratégia
de criação e utilização do cavalo desencadeou na simplificação da dieta em duas
classes principais de alimentos, os volumosos (pastos e forragens conservadas) e
concentrados (alimentos com alto conteúdo energético e/ou proteico), com a
preocupação quase que exclusiva de atender às necessidades nutricionais sem levar
em consideração aspectos relacionados às formas de disponibilização desses
alimentos e o comportamento alimentar dos equinos (DITTRICH, J. et al. 2010).
Figura 1. Encontro com abordagem do tema: Nutrição de Equinos. Fonte: Queila Tavares.
O manejo nutricional pode ser considerado o principal ponto do bem-estar de
equinos, pois quando realizado de maneira adequada, o animal tem seu desempenho
melhorado.
No decorrer do projeto, em interação com a comunidade, além do trabalho com
os produtores, surgiu o convite da diretora da Escola local: “E. E. Deputado José
Bonifácio Lafayette de Andrada”, para participar das atividades realizadas pela escola
em sua tradicional feira anual. Foram realizadas visitas à escola, para que pudesse
ser alinhada a melhor forma de trabalho, bem como para selecionar os alunos que
estariam envolvidos, dando prioridade àqueles que já lidavam com os animais em
suas propriedades. Muitos deles eram filhos de produtores que já participavam do
projeto. Os alunos selecionados participaram de um minicurso no Instituto Federal de
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Educação Ciência e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais - Campus Barbacena, com
o tema: “Introdução à Equideocultura, e Técnicas de Manejo”. Tal minicurso foi
ministrado pelas estudantes bolsistas do projeto, sob a supervisão do professor Jorge
Luiz Baumgratz (Figura 2). A conscientização dos jovens a respeito da importância do
manejo adequado dos animais é de grande importância, pois muitos deles serão os
futuros profissionais que irão lidar diretamente com os animais.
Figura 2: Alunos da escola “E. E. Deputado José Bonifácio Lafayette de Andrada” participando do Minicurso: Introdução à Equídeo cultura, e Técnicas de Manejo. Fonte: Coordenação do projeto.
Durante a execução do projeto, um interesse em comum demonstrado pelos
produtores foi aprender ou aperfeiçoar os conhecimentos sobre técnicas de
casqueamento e ferrageamento, visto que os cascos são os responsáveis por suportar
o peso do animal, absorver o impacto com o solo e auxiliar no retorno de sangue
venoso aos membros. “O casco é uma parte insensível que tem a denominação de
escudo do pé e indica que essa função protetora necessita de uma completa estrutura
anatômica para que, por muito tempo, atenue as pressões e reações. ” (MILEN, 1984).
O curso foi realizado no dia 02 de dezembro de 2017, no Núcleo de
Equideocultura do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Sudeste de
Minas Gerais - Campus Barbacena, por um profissional externo, com experiência de
anos no mercado e de renome regional. (Figura 3).
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Figura 3: Curso de Casqueamento e Ferrageamento oferecido aos participantes do projeto. Fonte: Coordenação do projeto.
O casqueamento e o ferrageamento não afetam somente a parte externa do
casco, mas também as suas estruturas internas, bem como influenciam as estruturas
proximais do membro. Muitos médicos veterinários e ferradores afirmam que muitos
casos de claudicação poderiam ser evitados ou solucionados com a utilização de
práticas adequadas de ferrageamento adequadas. (TRIDENTE, 2011, página 9).
Figura 4. Realização da prática de casqueamento e ferrageamento. Fonte: Coordenação do projeto.
De maneira bem dinâmica, os participantes do projeto tiveram a oportunidade
de realizar a prática de casquear e ferragear, sanando as dúvidas dos que já
trabalhavam no ramo de maneira informal e repassando conceitos básicos aos que
ainda não tinham tido o contato técnico com a prática (Figura 4). Durante o curso,
foram abordados temas como: anatomia do casco, equipamentos utilizados, tipos de
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ferraduras e suas indicações, casqueamento corretivo, e de manutenção, a
importância do balanceamento através de medição de ângulos para um correto
nivelamento do casco, entre outros.
O Curso foi realizado como atividade de encerramento do projeto, com uma
pequena confraternização no mesmo local, onde houve uma enorme troca de
experiências e saberes. Posteriormente, todos os participantes receberam um
certificado de participação no curso, emitido pela Diretoria de Extensão.
Resultados
O projeto apresentou inúmeros pontos positivos, tanto para os extensionistas,
quanto para os voluntários envolvidos, pois, além do conhecimento técnico adquirido
e da interação entre meio acadêmico e a comunidade, foi despertada nos acadêmicos
a importância da consciência social. Em relação aos produtores voluntários do projeto,
além da oportunidade de discutir dentro de sua própria comunidade um tema de
interesse em comum, aprenderam, através das orientações técnicas recebidas, que
para manejar de maneira adequada seus animais, não há a necessidade de gastos
que extrapolem seus orçamentos, pois podem e devem usar os próprios recursos
disponíveis em suas propriedades.
Ao final do projeto, além da interação, das orientações para melhorar o manejo
e para reduzir custos, os produtores terão a possibilidade de desenvolver trabalhos
que gerem rendas extras, até mesmo fixas como, por exemplo, o produtor Jodi M. R.
C. Filho que já trabalhava com ferrageamento, mas apresentava várias dúvidas e
cometia equívocos por falta de conhecimento técnico, o que foi resolvido com a
realização do curso de Ferrageamento oferecido aos produtores.
Outro fato importante a ser citado, foi a participação dos estudantes da escola
estadual do município, pois, além da interação com o conhecimento sobre os equinos,
usufruíram da oportunidade de ter contato com o trabalho do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas, o que pode despertar o
interesse de futuramente tornarem-se alunos da instituição, sendo este um excelente
caminho de desenvolvimento futuro da comunidade, além de divulgar o IF Sudeste
MG.
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20
Conclusão
Até o final do projeto, cerca de 50 pessoas se envolveram em alguma atividade
desenvolvida com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos animais, através da
capacitação de seus proprietários, extrapolando as iniciativas, pois o projeto
conseguiu envolver toda a comunidade, inclusive crianças, sendo assim, agiu não só
como difusor de conhecimento técnico como também mobilizador e transformador
social.
Agradecimentos
Ao Programa Institucional de Apoio à Extensão (PIAEX) Edital 08/2017, pelo
apoio e bolsas concedidas aos estudantes.
A todos da comunidade de Correia de Almeida que se predispuseram a
participar do projeto.
Ao professor Jorge Luiz Baumgratz, por acompanhar todo o projeto e prestar
todo o auxílio necessário para que o projeto caminhasse de maneira satisfatória.
Referências
DITTRICH, João Ricardo et al. Comportamento ingestivo de equinos e a relação
com o aproveitamento das forragens e bem-estar dos animais. Revista Brasileira
de Zootecnia, Sociedade Brasileira de Zootecnia. V.39, p. 130-137,2010.
TRIDENTE, Márcia. A importância do casqueamento e ferrageamento do cavalo
atleta. 2011. 17f. Trabalho de conclusão de curso, Faculdade de Medicina Veterinária
e Zootecnia da Universidade “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Botucatu, São
Paulo, 2011.
MILLEN, Eduardo. Guia do Técnico Agropecuário - Veterinária e Zootecnia.
Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1984.
-
21
Análise quantitativa e qualitativa de perdas pós-colheita
em frutíferas na região de Barbacena
Quantitative and qualitative analysis of postharvest losses
on fruit plantations in the Barbacena region
Anderson Conde da Silva, [email protected]
Camila Maria Grigorio Almeida, [email protected]
Teresa Drummond Correia, [email protected]
Resumo: O projeto relata a pós-colheita em frutíferas, bem como as perdas e os seus
motivos causadores, tendo como objetivo propor soluções para melhoria e maior
lucratividade para o produtor rural. Além disso, propõe estudos para solução de
problemas, como o caso do ataque de aves conhecidas popularmente como
“maritacas” (Psittacara leucophthalmus), que atacam os frutos ainda na planta,
reduzindo muito a produção final.
Palavras-chave: Pragas; Fruticultura; colheita.
Abstract: The project reports the post-harvest on fruit, as well as the losses and the
reasons caused, aiming to propose solutions for improvement and greater profitability
to the rural producer. In addition, it proposes studies to solve problems, such as the
attack of birds popularly known as "maritacas" (Psittacara leucophthalmus) that attack
the fruits still in the plant, greatly reducing the final production.
Keywords: Pests; Fruticulture; Harvest.
1 Acadêmico do curso de Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena 2 Acadêmico do curso de Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena 3 Doutora em Fisiologia Vegetal, Professora do Curso de Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena.
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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Introdução
A fruticultura brasileira se destaca não somente pela capacidade de produção,
mas também pela diversidade de frutas e adaptação de algumas fruteiras exóticas
cujo cultivo vem crescendo no Brasil.
A região de Barbacena tem grande potencial de crescimento na produção de
fruteiras. Porém, os produtores rurais que não possuem informações técnicas sobre
as culturas implantadas, devido à falta de assistência técnica, produzem muito menos
que a capacidade ou abandonam a atividade.
Sendo assim, são necessárias ações para auxiliar o produtor rural a diminuir as
perdas pós-colheita dos frutos e aumentar a renda familiar. Essas ações podem ser
de assistência agronômica, durante a produção dos frutos, ou, até mesmo,
promovendo incentivos ao aproveitamento de frutos deformados, para produção de
geleias, doces, polpas, dentre outros produtos. Esses frutos deformados são
descartados por não atenderem aos padrões para a comercialização in natura da
fruta, representando perdas para o produtor. O controle da etapa de colheita e pós-
colheita na produção é muito importante, haja vista que perdas se transformam em
prejuízos econômicos, prejuízos ambientais e desperdício. Com a diminuição das
perdas e o consequente aumento da produção, o produtor terá mais lucros, podendo
atender demandas maiores do comércio regional e vender para outros estados.
A avaliação quantitativa e qualitativa das perdas na colheita e pós-colheita de
fruteiras, na região de Barbacena, objetiva conhecer as principais causas das perdas
e apresentar soluções para as mesmas, contribuindo diretamente para o aumento da
produção e da lucratividade do pequeno produtor.
Metodologia
O presente estudo foi realizado em uma comunidade rural de Barbacena,
denominada Costas da Mantiqueira, com a colaboração de um estudante que mora
na localidade e dos produtores da associação OMOPRUC (Organização dos amigos,
moradores e produtores rurais dos Costas), sendo todos residentes na localidade.
Inicialmente, foi feito contato com o presidente da associação, para expor o projeto e
explicar como seria realizado. A aceitação foi ótima. Foram realizadas visitas aos
produtores envolvidos, para conhecer as propriedades e acompanhar a colheita. Nem
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23
todos os produtores envolvidos estavam colhendo frutos na época da realização do
trabalho, no entanto, optou-se por manter a visita para um maior conhecimento das
práticas adotadas por eles. Antes das visitas, os produtores foram consultados sobre
a disponibilidade. As visitas ocorreram na parte da manhã.
Resultados
Foi possível verificar que, na comunidade acompanhada, a colheita era feita de
forma manual, não havendo colheita mecânica. A colheita manual possui aspectos
positivos, como emprego da mão de obra local e maior qualidade dos frutos. A colheita
era realizada nos horários mais frescos do dia e as frutas eram colocadas em caixas
de polietileno, com dimensões de 556 x 360 x 251 centímetros, com capacidade de
36L (Figura 1).
Ao fim da colheita, as frutas eram transportadas, com auxílio de um trator com
carroceria, até o lugar onde seriam separadas por tamanho, de forma que as caixas
não ficavam muito cheias, para assim evitar perdas no transporte, devido ao impacto
causado (Figura 2).
Figura 1. caixa de polietileno. Fonte: Autor. Figura 2: transporte após colheita no pomar. Fonte: Autor.
As frutas colhidas eram levadas até o local de armazenamento, onde seriam
embaladas para serem encaminhadas, no mesmo dia, aos centros de distribuição ou
durante a semana, no caso daquelas que precisavam completar seu amadurecimento.
Em alguns casos, as frutas eram armazenadas em câmara para completar seu ciclo
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24
de amadurecimento ideal, como era o
caso das ameixas, que necessitavam ficar
por dois dias em câmara para então serem
destinadas aos centros de distribuição.
Depois de embaladas, aquelas que não
necessitavam continuar o ciclo de
maturação em câmara, eram
encaminhadas aos centros de distribuição
(CEASA de Juiz de Fora e Belo
Horizonte). Os produtores da comunidade
dos Costas parecem preferir a
comercialização dos seus produtos via
CEASA’s, como canal preferencial de
comercialização, ao invés de feiras locais
ou venda direta.
Dentre as culturas observadas,
destacam-se a ameixa, o pêssego, a
goiaba e a banana.
A ameixeira é uma planta da família
das Rosaceae do gênero Prunus. É uma
planta proveniente de clima temperado,
podendo ser cultivada acima de 700
metros, ou mesmo em regiões de planaltos, e é colhida em “ponto de vez”, como
citado por (Penteado, 2002). Os produtores fazem a colheita quando observam uma
leve “veia” arroxeada no sentido vertical da base do pedúnculo até o ápice do fruto
(Figura 3). Isso diminui a perda pós-colheita, uma vez que colhendo o fruto neste
ponto e mantendo-o em câmara com carbureto de cálcio por 48 horas, atinge-se o
ponto ideal para comercialização.
A espécie cultivada pelos produtores da região é a Rubimel (Prunus salicina),
também conhecida como Reubennel.
Na colheita da ameixa não ocorreram perdas, o que demonstra o acerto do
produtor na escolha do cultivo para a região e na decisão do momento de colheita. É
importante ressaltar que, apesar de não ocorrer perdas no momento da colheita,
Figura 3. Ponto de colheita “veia” arroxeada. Fonte: Autor.
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25
algumas perdas podem surgir durante o transporte para os centros de
comercialização. A prática do uso do carbureto de cálcio é importante para o
amadurecimento uniforme dos frutos de ameixa. A adoção dessa prática pelo produtor
demonstra um maior nível de conhecimento do mesmo, o que aumenta a qualidade
dos seus frutos no mercado.
Outra frutífera cultivada na região é o pessegueiro, pertencente à espécie Prunus
pérsica, da variedade Maciel. Os frutos dessa cultivar podem ser usados tanto para o
consumo in natura (mesa) quanto para a indústria, na confecção de doces, sucos e
geleias, por exemplo. Além da cultivar Maciel, trabalham também com a cultivar Marli,
que ainda segundo HOFFMANN, A. et al. (2003), é uma cultivar destinada à mesa,
que produz frutos grandes, podendo chegar a 100g.
Os frutos possuem elevada doçura, entretanto, não são tão firmes quando
comparados com a cultivar Maciel e, por isso, necessitam de um cuidado maior no
manuseio e, especialmente durante o transporte, para evitar as perdas após a
colheita.
O ponto de colheita dos pêssegos definido pelo produtor é quando ele começa
a mudar sua coloração de verde, para um leve avermelhado, não deixando ficar
completamente avermelhado.
Na colheita do pêssego da cultivar Maciel, por ser uma cultivar mais firme e mais
resistente ao transporte, não foram verificadas perdas no manuseio durante o
transporte. Porém, assim como na cultivar Marli, os danos observados tiveram como
principal causa a doença podridão parda, como descrita por MEDEIROS e RASEIRA,
(1988), causada pelo fungo Monilinia fructicola, que ocorre com frequência em épocas
de chuvas.
A alternativa adotada para redução das perdas por podridão parda foi a colheita
bem no início da maturação, porém, respeitando o ponto ideal de colheita, como
descrito por DE PAULA JÚNIOR, T. J. (2007).
A goiabeira é uma planta da espécie Psidium guajava, pertencente à família das
Myrtaceae, e tem demonstrado um ótimo resultado de produção. A cultivar plantada é
a Cortibel, uma cultivar que se destaca pela qualidade dos frutos, polpa firme e
excelente aparência. O ponto de colheita adotado pelo produtor é quando o seu tom
de verde começa a mudar para o amarelo, sendo feito bem na fase inicial da mudança
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26
de coloração. Segundo o produtor, a cultivar é bem resistente ao ataque de pragas e
doenças, não sendo esses fatores causas de perdas.
Tanto para pêssegos quanto para goiabas foram observados danos por ataque
de aves, especificamente das maritacas (Psittacara leucophthalmus), totalizando uma
perda de três caixas a cada 10 caixas colhidas. Quando não está em época de chuvas,
a perda reduz para uma caixa a cada 10 colhidas.
Estudos de caso mais aprofundados são necessários para apresentar soluções
para essa causa de perda. Anteriormente, foram testados o uso de espantalhos, uso
de sons, uso de cd’s, porém, não foi obtido sucesso. Em todas as alternativas citadas,
as aves se acostumaram com a técnica usada e voltaram a atacar os pomares.
No caso da goiaba, os frutos danificados são usados pela própria comunidade
local, na confecção de doces para o próprio consumo.
A banana cultivada na localidade é a cultivar Prata, a qual tem maior demanda
de mercado, de acordo com os produtores. A colheita é feita quando começa mudança
de cor de verde para um leve tom amarelado, e seu processo de amadurecimento
ocorre com etileno em câmaras frias, tendo como finalidade, a uniformidade para
então ser destinada aos centros de distribuição.
Na colheita da banana, foi observada uma perda isolada por erro de
armazenamento. As frutas colhidas foram armazenadas em temperatura abaixo de
5ºC, sendo muito inferior à temperatura de armazenamento ideal. A temperatura ideal
para armazenamento de banana em câmara fria deve ser entre 12º a 16º de acordo
com CHITARRA e CHITARRA (2005).
Assim como no caso dos frutos de ameixa, o uso de câmara fria e aplicação do
gás etileno para amadurecimento de bananas indica elevado conhecimento
tecnológico do produtor. Entretanto, uma assistência técnica para auxiliá-lo nas
decisões e realização correta das técnicas adotadas impediria essa perda que ocorreu
por temperatura de armazenamento inadequada.
Ademais, não foram observados outros tipos de perdas, nem por transporte e
nem por pragas ou doenças, uma vez que é feito controle fitossanitário e ainda, após
a colheita os frutos são destinados na mesma semana aos centros de distribuição.
Portanto, as visitas realizadas foram importantes para a troca de ideias e
informações entre os alunos do Campus Barbacena do Instituto Federal e os
produtores. Os dados obtidos sobre as perdas dão base para novos estudos visando
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27
solucionar as causas das perdas encontradas, e assim, aumentar o lucro para o
pequeno produtor. Além disso, houve um maior relacionamento entre os fruticultores
e os discentes da Instituição, contribuindo para a maior vivência dos mesmos na
comunidade rural. Isso fez com que percebessem melhor qual a realidade da
fruticultura na região, suas potencialidades e desafios e onde eles, como futuros
agrônomos, podem agir para o desenvolvimento rural local.
Conclusão
A pesquisa de novas tecnologias no controle de aves pragas, como maritacas
(Psittacara leucophthalmus) se faz necessário, para que haja uma redução nas perdas
provocadas pelas mesmas.
São necessárias ações que aproximem os alunos de Agronomia dos fruticultores
locais, de forma que a troca de informações seja constante. Isso permitirá o
crescimento e autonomia dos pequenos fruticultores locais e a aquisição de
experiência, em campo, dos alunos do curso.
Agradecimentos
À Pró-reitoria de Extensão do IF Sudeste MG e à Diretoria de Extensão do
Campus Barbacena. Aos produtores rurais da localidade do Costas que compõem a
OMOPRUC. Aos docentes, técnico-administrativos e alunos que direta ou
indiretamente contribuíram para a realização.
Bibliografia
CHITARRA M.I.F., CHITARRA A.B. Pós-colheita de frutas e hortaliças: Fisiologia e
manuseio. 2ª Edição. Lavras: UFLA, 2005.
CASTRO, L. A. S. et al. Ameixeira: cultivares indicadas para plantio nas regiões
produtoras brasileiras. Embrapa Clima Temperado-Circular Técnica (INFOTECA-
E),2008. Disponível em:
https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Circular_81_000gixajtev02wx5ok
05vadr1biqsygg.pdf. Acesso em 10/01/2018
PAULA JÚNIOR, T. J. 101 culturas: Manual de tecnologias agrícolas. EPAMIG,
2007.
-
28
H0FFMANN, A. et al. Sistema de produção de pêssego de mesa na região da
serra gaúcha. Embrapa Uva e Vinho ,2003. Disponível em:
https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Pessego/PessegodeMe
saRegiaoSerraGaucha/autores.htm Acesso em 16/01/2018 as 10:32.
MEDEIROS C. A. B, RASEIRA M. do C. B. A cultura do pessegueiro. EMBRAPA.
Centro de Pesquisas Agropecuária de Clima Temperado (Brasília, DF).Brasília, 1988.
Página 15.
PENTEADO, S. R. Cultivo ecológico da ameixeira (Prunus salicina Lind): Série
Produtor Rural – nº 17. ESALQ - Divisão de Biblioteca e Documentação, 2002.
Disponível em:
http://www4.esalq.usp.br/biblioteca/sites/www4.esalq.usp.br.biblioteca/files/publicaco
es-a-venda/pdf/SPR17.pdf Acesso em 15/01/2018 as 21:20.
https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Pessego/PessegodeMesaRegiaoSerraGaucha/autores.htm%20Acesso%20em%2016/01/2018%20as%2010:32https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Pessego/PessegodeMesaRegiaoSerraGaucha/autores.htm%20Acesso%20em%2016/01/2018%20as%2010:32
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29
Cidadania de gênero em debate nas comunidades rurais e
periurbanas da mesorregião do Campo das Vertentes
de Minas Gerais
Gender citizenship in conversations in the rural and periurban
communities of the meso-region of Campo das Vertentes
in Minas Gerais
Andressa Lisboa Martins, [email protected]
Parley Lopes Bernini da Silva, [email protected]
Josenilder Carlos da Silva, [email protected]
Vilma Maria Azevedo, [email protected]
Resumo: A ação extensionista aconteceu em 2016, na mesorregião Campo das
Vertentes, Minas Gerais, com o objetivo de capacitar mulheres através da metodologia
participativa. Os temas abordados foram: gênero, políticas públicas e organizações
produtivas. O método utilizado foi o descritivo exploratório. Foram realizadas sete
oficinas interativas para quarenta e seis mulheres, divididas em três grupos, e uma
oficina para um grupo extra, composto de vinte e dois agricultores e agricultoras.
Palavras-chave: Empoderamento; Organizações produtivas de mulheres; Políticas
públicas.
Abstract: The extensionist action took place in 2016, in the Camp of Vertentes
mesoregion, Minas Gerais, with the objective of empowering women’s through
participatory methodology. Topics covered: genre, public politics and productive
organizations. The method was the exploratory descriptive. Seven interactive
workshops were held for forty-six women, divided into three groups, and one workshop
for an extra group, composed of twenty-two farmers.
Keywords: Empowerment; Women's productive organizations; Public policies.
1 Acadêmica do Curso Bacharelado em Nutrição, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 2 Acadêmico do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 3 Acadêmico do Curso Superior de Tecnologia em Alimentos, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 4 Mestre em Extensão Rural - UFV, Técnico Administrativo do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena.
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Introdução
O tema Gênero na perspectiva da igualdade de direitos e oportunidades para
as mulheres emergiu após o processo redemocratização política do Brasil e ganhou
destaque nos múltiplos espaços da sociedade: pesquisas, literatura, canais de
comunicação e outros.
A história das mulheres brasileiras foi regida pelo sistema patriarcal, excluindo-
as por um longo tempo dos direitos civis e sociais, das oportunidades educacionais,
do trabalho, do sufrágio e também do acesso aos espaços públicos. Tais fatores
restringiram o campo de ação destas mulheres.
A obra Patriarcado, poder e violência nos revela que o poder e a violência da
cultura patriarcal contrapõe e reproduz a naturalização de hierarquias e desigualdades
de gênero e fortalece: o feminicídio; o desempoderamento feminino; o assédio
moral/sexual e o estupro de mulheres; a negação e ataques aos feminismos e a falta
de políticas públicas fundamentais para a garantia da vida, da segurança e da
cidadania plena das mulheres no Brasil contemporâneo (STEVENS et al, 2017).
Segundo o Portal Brasil, 2015, as mulheres já são mais da metade da
população, o equivalente a 51,4%, e são responsáveis pelo sustento de 37,3% das
famílias. Também os dados da PNAD/IBGE5, apontam que 73% das esposas ganham
menos que os maridos, além de assumirem o aumento crescente de
responsabilidades, no comando de suas famílias.
Nas comunidades rurais barbacenenses, os valores culturais patriarcais
marcam as relações sociais entre agricultores e agricultoras. Estas trabalham na
forma de ajuda, um trabalho sem remuneração; possuem baixa escolaridade, além de
atuarem de forma manipulada nos espaços públicos e comunitários (AZEVEDO,
2012).
Na atualidade, as convenções e os tratados internacionais forçam mudanças
jurídicas, legislativas e sociais em favor da mulher. No caso do Brasil, a Constituição
Federal de 1988, que inovou o campo dos direitos civis e sociais6, vem favorecendo a
redução da disparidade de gênero.
5 Segundo Jussara Prá (2012), a Constituição de 1988, a Constituição Cidadã, inovou o campo dos direitos civis e sociais 6 PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios; IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
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31
Para Sen (2004), a obtenção da autonomia feminina faz parte do que ele intitula
“condição de agente das mulheres”, que são quesitos ligados às oportunidades
sociais, como o acesso à educação, à saúde, ao trabalho, emprego e renda. Na
abordagem do trabalho coletivo, Yannoulas (2001), ao analisar grupos de mulheres,
percebeu o desenvolvimento de suas potencialidades via o acesso à informação, ao
aprimoramento e à interação, quando participaram de programas de formação
baseado em metodologias participativas.
As considerações introdutórias motivaram esta ação extensionista, como um
projeto de extensão, que buscou agir na estrutura das mulheres, sujeitas do estudo,
com o intuito de empoderamento das mesmas, por meio do ganho de cidadania
substantiva, fortalecimento dos grupos, acesso à informação, melhoria da percepção
destas sobre os assuntos de sua ingerência, por meio de capacitação
socioprofissional na abordagem de Gênero, políticas públicas e organizações
produtivas de mulheres, realizada por meio de oficinas interativas e palestras.
Metodologia e Descrição da Experiência
Neste estudo, foi realizada uma pesquisa descritiva exploratória, por meio de
estudo e caracterização das sujeitas do estudo, bem como, dos grupos de mulheres,
com vistas a observar as particularidades de cada um. Para isto, foi elaborado um
survey, no formato de questionário de pequena complexidade, objetivando
caracterizar o público e balizar a ação de acordo com as necessidades e a realidade
social de cada grupo de mulheres.
Os trabalhos foram construídos e desenvolvidos com base nas metodologias
participativas e nos princípios da pedagogia extensionista, buscando atender
demanda sentida e identificada pelas entidades parceiras.
As mulheres participantes, em sua maioria, são artesãs de culinária das
comunidades rurais e periurbanas pertencentes à Mesorregião Campo das Vertentes,
nos municípios de São João del-Rei e Desterro do Melo.
Em São João del-Rei, o projeto atendeu duas comunidades, uma na periferia,
formada por um grupo de dezesseis mulheres, reunidas por meio de oficinas
interativas na Casa da Cidadania7, do poder público local e a outra ação aconteceu
7 Casa da Cidadania, uma ação da Secretaria Municipal de Assistência Social, que atende a população de baixa renda da periferia, com cursos de qualificação profissional e integração, internet e apoio psicossocial.
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32
no salão paroquial de uma comunidade rural, Santo Antônio do Rio das Mortes, para
um grupo de doze mulheres. Os dois grupos foram mobilizados com apoio do poder
público, Secretaria da Assistência Social e participantes do Movimento Social da
Ecosol (Figura 1). Na comunidade rural de Desterro do Melo, dezoito mulheres
agricultoras, reunidas no salão paroquial local, participaram da ação extensionista e
estas foram mobilizadas pelo sindicato rural local e associação rural Alia8r. Os três
grupos totalizaram quarenta e seis mulheres e abaixo apresentados graficamente.
Figura 1. Público participante da ação extensionista.
Fonte: autores do projeto
Fonte: dados da pesquisa
8 Aliar Associação Regional da Agricultura Familiar.
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33
Fonte: dados da pesquisa
Como atividade complementar nesta ação extensionista, foi realizada uma
oficina interativa na abordagem de Gênero, na escola da comunidade rural dos Costas
da Mantiqueira, em Barbacena-MG, para um público de vinte e dois agricultores e
agricultoras.
A ação extensionista buscou adequar as atividades de qualificação, conforme
as peculiaridades de cada grupo e de cada comunidade. As educandas das
comunidades rurais já se encontram em um processo de empoderamento mais
avançado que as da periferia, devido a estas já trabalharem na comercialização de
seus produtos do artesanato de culinária: bolos, pães, doces, broas e outros, em feiras
e políticas públicas rurais (Figura 2).
Figura 2. Fabricação de produtos para as políticas públicas PNAE9 Fonte: obtidas através do projeto
9 Programa Nacional de Alimentação Escolar, política pública do Governo Federal para atender demanda da educação
24%
18% 26%
32%
Gráfico 2
Comunidades Rurais e Periurbanas participantesCasa da Cidadania,
Comunidade da Periferia ( 16)
Comunidade Rural Sto Antônio
do Rio das Mortes ( 12)
Desterro do Melo (18)
Comunidade Rural Costas da
Mantiqueira( 18)
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34
A vigência do projeto foi de setembro a dezembro de 2016. Três etapas
orientaram os trabalhos: Primeira etapa, organizativa, para os pesquisadores,
orientadores e colaboradores e os estudantes, com o aprofundamento teórico e
sensibilização para os temas: Gênero; violência doméstica; políticas públicas
direcionadas paras as mulheres; ONU Mulher10 e políticas públicas rurais PNAE e
PAA11 , além das orientações acerca do método científico e da pedagogia
extensionista. Segunda etapa, nesta fase foi elaborado o questionário de pesquisa de
caracterização das sujeitas do estudo e o instrumento de avaliação das atividades
extensionistas pelas educandas. Terceira etapa: o trabalho de campo (Figura 3).
Figura 3. Oficina interativa junto às educandas na Casa da Cidadania. São João del-Rei – MG. Fonte: coordenadores do projeto.
Em todas as localidades, as atividades iniciaram com a reunião de acolhimento
junto às mulheres, apresentação do projeto e, em seguida, discutimos Gênero com
foco no empoderamento da Mulher; na redução das desigualdades e violência contra
Mulher. Na periferia de São João del-Rei, na Casa da Cidadania, as atividades se
deram em três encontros, por meio de oficinas interativas nas temáticas Gênero;
Saúde e Alimentação Saudável. Nesta etapa, houve o apoio de docente da área da
Enfermagem e de dois Nutricionistas da Instituição, servidores técnico-
administrativos. Na comunidade rural Santo Antônio do Rio das Mortes e em Desterro
do Melo, foram realizados dois encontros, em cada comunidade, com oficinas
10 Programa de Saúde da Família, ofertado pelo Governo Federal. 11 PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar e PAA- Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar.
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35
interativas na abordagem de Gênero e As Organizações Produtivas de Mulheres e
Alimentação Saudável. A palestra “O papel da Mulher nas Organizações Produtivas
Rurais”, na comunidade rural dos Costas, em Barbacena-MG, finalizou o trabalho de
campo desta ação extensionista.
O projeto de extensão totalizou oito encontros presenciais, nas quatro
diferentes comunidades, sendo um trabalho desafiador, uma vez que o tempo de
execução do projeto foi curto, porém com momentos de grande aprendizado e ricas
trocas de saberes.
Quanto à análise dos dados desta pesquisa, a opção escolhida para realização
da discussão dos dados foi a da média dos percentuais obtidos de maior significância,
e estes apontaram: no quesito faixa etária das sujeitas do estudo, a maior significância
foi de 40 a 49 anos, com um percentual médio de 42%; quanto ao estado civil a média
de 51% apontou serem estas mulheres casadas. Na questão da escolaridade,
destaque para o Ensino Médio, com percentual de 34%. Na abordagem da ocupação,
as atividades do lar ocuparam o maior percentual: 48% e na ocupação complementar,
39% demonstrou que as educandas exercem atividades urbanas como faxina e outros
trabalhos similares. No que tange a renda pessoal, destaca-se que 65% possuem uma
renda inferior a R$ 440,0012 . Na questão da renda familiar, 38% das entrevistadas
apontaram ser no valor superior a um salário mínimo e inferior a um salário mínimo e
meio.
Os dados apresentados apontam que as mulheres rurais e da periferia vêm
buscando sua inserção socioeconômica, por meio de trabalhos vinculados ao âmbito
privado, como artesanato de culinária e com trabalhos relacionados ao lar, faxina e
outros trabalhos relacionados a uma baixa remuneração, mas que, ainda assim,
trazem consigo uma forma de emancipação pessoal. Segundo Sen (2004), o acesso
ao trabalho e renda são fatores essenciais para que a mulher desenvolva sua
condição de agente, que é uma categoria de análise que se aproxima do
empoderamento pessoal.
Os dados relacionados à questão das educandas possuírem filhos menores
que dezoito anos, ficou em percentual de 53% e na análise individual por grupos, as
mulheres da comunidade rural de São João del-Rei, destacaram percentual de 75%.
Os percentuais apresentados demonstram que as famílias das mulheres participantes,
12 Valor equivalente a meio salário mínimo ano de 2016.
-
36
em sua maioria, possuem filhos que ainda precisam dos cuidados diários da Mãe,
sendo estes crianças e adolescentes. Esses percentuais correspondem à literatura
que aponta serem as mulheres as principais responsáveis pela perspectiva do cuidado
diário dos filhos.
Com relação às políticas públicas de integração social e renda, em 52%
destaca-se o Bolsa Família e em 19% o Salário Maternidade. As demais políticas
públicas não se destacaram com percentual significativo.
A discussão que se segue aborda as relações de poder na família. Os dados
demonstraram que em 73% das famílias as decisões são compartidas, o que nos leva
a crer que há consenso cooperativo nessas famílias, conceito apresentado por Sen
(2004) e relacionado ao ganho expressivo de poder por parte das mulheres que já
opinam e participam das decisões em família.
Com relação ao uso da renda da mulher obtida por meio do trabalho ou das
políticas públicas de integração de renda, um 50% das mulheres do meio rural
sanjoanense, responderam entregar tal renda ao esposo e este decide como gastar
essa renda. Este fator revela um sério desempoderamento dessas mulheres. Quanto
às demais participantes da pesquisa, 53% das mulheres utilizam sua renda com a
família e consigo própria, revelando a existência de um processo de empoderamento
nesta abordagem. Essas mesmas mulheres apontaram, em 62%, que cuidam de sua
saúde, beleza e higiene e as do rural sanjoanense, em 100%, apontaram que
priorizam atividades que as tornem informadas. Quanto à liberdade pessoal de ir e vir,
93% responderam já possuir essa liberdade.
As participantes sanjoanenses rurais e da periferia revelaram em 32% já terem
sofrido violência doméstica e não ter tido coragem de denunciar. Quanto as mulheres
de Desterro do Melo, 84% destas afirmaram nunca terem sido vítimas de violência
doméstica.
Ao analisar o convívio cotidiano com familiar e vizinhos usuários de drogas
lícitas e ilícitas, 93% das sanjoanenses apontaram conviver com esse problema,
embora esta mesma questão para as participantes do Desterro do Melo apresentou
um percentual de 44%.
No debate das políticas públicas em favor das mulheres, um percentual de
83%, revelaram ser conhecedoras destas e 88% já ouviram falar da Lei Maria da
Penha. No debate da igualdade de direitos entre homens e mulheres, 62%
responderam que acham que os direitos são iguais.
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Algumas questões foram apresentadas na discussão acerca das oportunidades
que podem melhorar a condição de vida das mulheres e as que mais se destacaram
foram o acesso ao trabalho, emprego e renda, com percentual de 89%, para os três
grupos estudados e a questão do acesso a creches e escolas em tempo integral, para
75% das sanjoanenses, este fator é relevante para elas, embora, para as participantes
do Desterro do Melo este quesito apresentou um baixo percentual: 16%. Segundo
Andrade (2016), as tarefas cotidianas de cuidados com filhos, idosos, enfermos ficam
a cargo da mulher, especialmente o cuidado com filhos tornam-se obstáculos à
participação feminina no mercado de trabalho. Sendo assim, com base nos dados, o
acesso à creche é indispensável para que a mulher exerça atividades remuneradas.
Considerações finais
Este projeto de extensão foi relevante por favorecer a formação cidadã das
mulheres e estudantes participantes e por melhorar a percepção das educandas nas
questões de sua ingerência, favorecendo a elas ganho de poder, a vivência coletiva,
as trocas de saberes, voz, visibilidade e o acesso à informação e à formação educativa
social, ferramentas imprescindíveis para o processo de empoderamento pessoal e
coletivo destas.
Na abordagem da extensão acadêmica, o projeto propiciou aos estudantes
alargamento de visão sobre temas centrais e transversais, estimulando suas
potencialidades para o trabalho de pesquisador extensionista, favorecendo o
despertar deste no campo da investigação científica e contribuindo para sua formação
acadêmica e de futuro profissional.
Este projeto veio ao encontro das premissas da nossa Instituição de Ensino,
que atua desde sua constituição com responsabilidade social, participando dos
problemas da comunidade e de seu entorno.
Por fim, este foi um trabalho desafiador e envolvente para todos, servidores e
estudantes, bem como, para as mulheres participantes, uma vez que este se revelou
como uma oportunidade de aprendizado, de engajamento, de ouvirmos e nos
envolvermos com as questões vivenciadas por essas mulheres, buscando a
Instituição para os problemas da contemporaneidade, trazendo para o debate
assuntos que ampliarão a visão de mundo de todos nós, por meio da oportunidade de
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acesso e debate de questões emblemáticas, pela vivência coletiva que estreita laços,
favorece reflexões que poderão gerar futuras soluções.
Referência Bibliográfica
ANDRADE, Tânia. Mulheres no mercado de trabalho: onde nasce a
desigualdade? Estudo Técnico de Consultoria Legislativa da Área V Direito do
Trabalho e Processual do Trabalho. Câmara dos Deputados, 2017.
AZEVEDO, Vilma Maria. Os desafios para o empoderamento da mulher a partir
do Programa de Aquisição de Alimentos: o caso de Barbacena-MG. 177p.
Dissertação (Mestrado em Extensão Rural). Universidade Federal de Viçosa-MG,
2012. Disponível em:
http://www.extensao-rural.ufv.br/dissertacoes/2012/Vilma%20Maria%
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GIL, Antônio Carlos Métodos e técnicas de pesquisa social. - 6. ed. - São Paulo:
Atlas, 2008.
GONÇALVES, Andressa Santos (1); GONÇALVES, Cynthia Aparecida (2); SOUSA,
Junia Marise Matos (3); LORETO, Maria das Dores Saraiva de (4). A centralidade do
trabalho feminino. II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em
Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013.
PRÁ, Jussara Reis. Políticas Públicas, Feminismos e Cidadania de Gênero. XI
Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política. Brasília, DF, 2014. Disponível
em
. Acesso em 07 de abril de
2015.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. 44. ed. São Paulo: Companhia
das Letras, 2004.
STEVENS, Cristina, OLIVEIRA Susane, ZANELLO Valeska, SILVA Edlene,
PORTELA Cristiane. (Orgs). Mulheres e violências: interseccionalidades. Brasília,
DF: Technopolitik, 2017. 628 p.
YANNOULAS, Sílvia C. Notas para integração de gênero na Educação Profissional.
In VOGEL, Arno (org.) Trabalhando com a diversidade Planfor: raça/cor, gênero
http://www.extensao-rural.ufv.br/dissertacoes/2012/Vilma%20Maria%25%2020Azevedo.pdfhttp://www.extensao-rural.ufv.br/dissertacoes/2012/Vilma%20Maria%25%2020Azevedo.pdf
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e pessoas portadoras de necessidades especiais. São Paulo: UNESP;
Brasília:FLACSO do Brasil, 2001, p. 69-105.
Pesquisas complementares em Sites e Vídeos Youtube
Vídeo Igualdade de Gênero - Youtube - 16 de mar de 2016 - Vídeo enviado por ONU
Mulheres Brasil
Vídeo Empoderamento da Mulher – Youtube - 16 de mar de 2016 - Vídeo enviado por
ONU Mulheres Brasil https://www.youtube.com/watch?v=6RSc_XYezig
Vídeos Youtube: História de Mulheres e a Mulher na Agricultura Familiar.
Pesquisa no site:.
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Voz e visibilidade para os remanescentes indígenas e
quilombolas do entorno de Barbacena, Minas Gerais
Voice and visibility to the indigenous remnants and
quilombolas surrounding Barbacena, Minas Gerais
Gabriela de Rezende Garcia, [email protected]
Ana Carolina Pedrosa Tavares, [email protected]
Higor Leonardo Domingos dos Santos, [email protected]
Leandro Eustáquio Elias, [email protected]
Vilma Maria Azevedo, [email protected]
Resumo: O presente texto é o relato de experiência de um projeto, realizado em 2017,
que teve como objetivo dar voz e visibilidade aos grupos de remanescentes indígenas
e quilombolas do entorno de Barbacena-MG. O método utilizado neste relato de
experiência foi o descritivo exploratório e metodologias participativas, via cinco
oficinas interativas, cujo objetivo foi o de atender as necessidades dos sujeitos (as) do
estudo, em abordagens no campo étnico-racial, cultural e social.
Palavras-chave: Gênero; Indígenas; Quilombolas; Étnico-racial.
Abstract: The present experience report, carried out in 2017, aimed to give voice and
visibility to groups of indigenous remnants and quilombolas from the surroundings of
Barbacena - MG. The method used was the descriptive exploratory and participatory
methodologies through five interactive workshops, which sought to meet the need of
the people of the study subjects, in ethnic-racial, cultural and social approaches.
Keywords: Gender; Indigenous peoples; Quilombolas; Ethnic-racial.
1 Discente do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 2 Discente do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 3 Discente do Curso Bacharelado em Nutrição, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena. 4 Psicólogo pela UNIPAC-Barbacena e Colaborador Externo 2017, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 5 Mestre em Extensão Rural - UFV, Técnico Administrativo do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena.
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Introdução
Os estudos apontam que o debate acerca de Gênero, com recorte étnico-
racial e nas questões relacionadas às mulheres ganharam destaque e foram
incluídas nas pautas governamentais em tempos recentes, inclusive na Constituição
de 1988, destacada por Prá (2014) como “constituição cidadã”, por inovar no campo
dos direitos civis, políticos e sociais, o que contribuiu para o fortalecimento do citado
debate.
O projeto de extensão em questão, teve a pretensão de atender um público
heterogêneo e multicultural, porém com uma convergência: Mulheres, remanescentes
de populações Indígenas e Quilombolas, que fazem parte dos substratos da
população excluídos das políticas públicas e das agendas governamentais, até o fim
da Ditadura Militar e da instauração do processo de redemocratização política do país.
O público atendido pelo projeto convive diariamente com situações que
reduzem sua cidadania pessoal e coletiva, em função dos preconceitos, da violência
simbólica, da violência de fato, das dificuldades no acesso às oportunidades sociais,
como saúde, educação e trabalho.
Os estudos enfatizam que o sistema patriarcal e sua cultura retroalimentam e
mantêm a naturalização das hierarquias e desigualdades, fortalecendo o genocídio,
feminicídio, desempoderamento, assédio moral/sexual, enfim a falta de políticas
públicas fundamentais para garantia da vida (STEVENS et al, 2017).
Por um longo tempo, as mulheres e as populações étnico-raciais foram
excluídas da própria história da formação do povo brasileiro, com isto, a ação
extensionista se fez necessária, como uma ferramenta na melhoria de vida dessas
populações, na elevação da autoestima, enfim, no fortalecimento de todo público
envolvido na citada ação: estudantes, servidores e familiares da Escola Quilombola e
as mulheres remanescentes indígenas, bem como os estudantes e servidores do
Campus Barbacena e parceiros (equipe extensionista).
Este trabalho foi desenvolvido em comunidades tradicionais, o que implicou na
necessidade de aplicar a ação extensionista, com apoio da Escola local e do Sinter,
uma vez que tal população possui seu modo de ser, fazer e viver distintos dos da
sociedade em geral, o que faz com que esses grupos se autorreconheçam como
portadores de identidades e direitos próprios (MPMG, 2014, p.12).
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Metodologia
A ação extensionista ocorreu de maio a dezembro de 2017, tendo como
universo empírico as comunidades rurais de Ponto Chique do Martelo, conhecida
como comunidade quilombola dos Candendês e Padre Brito, localidade na qual
encontramos remanescentes dos Indígenas Puris6, distritos de Barbacena-MG, com
recorte na Escola Municipal Visconde de Carandaí, que atende um público de crianças
remanescentes indígenas, quilombolas, além dos(as) filhos(as) de trabalhadores
rurais e fazendeiros do entorno.
A escola objeto do estudo possui 92 estudantes, do ensino pré-escolar até o 5º
ano do ensino fundamental, um quadro de 22 servidores públicos municipais e
também o engajamento e integração com as famílias do seu entorno.
As estratégias utilizadas nessa ação extensionista foram inspiradas nos
princípios dialógicos da pedagogia extensionista freiriana e nas metodologias
participativas, respeitando os princípios da interdisciplinaridade e da transversalidade.
A ferramenta de pesquisa se deu por meio de um questionário de baixa
complexidade, com questões abertas e fechadas, que após analisadas favoreceram
conhecer a realidade dos sujeitos e sujeitas do estudo, bem como traçar o perfil
destes, e assim, organizar a proposta com vistas atender às necessidades locais.
A ação foi realizada para atender a demanda sentida e identificada pelos
parceiros do Sinter/Barbacena7 e das associações das localidades estudadas. Vale
ressaltar que, ao longo da execução do projeto, houve, a todo momento, colaboração
e envolvimento dos parceiros e das lideranças locais.
Os trabalhos junto à escola quilombola se deram noventa dias após o início do
projeto, pois, no período anterior, foi realizada a preparação da equipe do projeto, o
levantamento bibliográfico, estudo documental e debate em grupo dos temas
relacionados ao projeto, em reuniões semanais.
Houve também encontros com as lideranças locais, com destaque para as
reuniões com a Mãe de Santo local; a Diretoria e equipe da Escola e também com o
Secretário de Educação de Barbacena, buscando informações, formação de opinião
6 Ponto Chique do Martelo e Padre Brito, comunidades na qual residem remanescentes dos Indígenas Puris. 7 Sinter/Sindicato dos Trabalhadores e Empregados Rurais de Barbacena e região; Associação Regional de Comunidade Remanescente de Índios Puri de Padre Brito e Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Comunidade Quilombola dos Candendês.
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e levantamento das demandas e engajamento. Nesta perspectiva, Gil (2008) explica
que a natureza da pesquisa social, enfatiza o conhecimento dos líderes junto aos
segmentos da população, que lhes concedem autoridade, que se amplia à medida
que seus saberes ganham credibilidade, tornando-se uma verdade, podendo estes
definirem normas e procedimentos.
As ferramentas metodológicas da ação extensionista: os questionários e as
oficinas interativas foram construídos e desenvolvidos durante os primeiros 80% do
cronograma da ação.
Figura 1. Apresentação da bolsista Gabriela na escola Quilombola. Fonte: Vilma Maria Azevedo.
O atendimento da demanda das mulheres remanescentes dos Índios Puris foi
complexo, por várias razões: a) distância de Barbacena a Padre Brito, de 22Km, boa
parte de estrada de chão, um lugar remoto e de difícil acesso; b) dificuldades de a
maioria destas mulheres participarem das ações do projeto, por trabalharem nas
fazendas distantes, além do trabalho no lar. Com isto, foram realizadas três reuniões
com citado grupo de mulheres, sendo que na última discutiu-se direitos e políticas
públicas em prol das mulheres e, atendendo pedido destas, foi realizada uma oficina
interativa, a história oral dos Índios Puris, a valorização e preservação da cultura
indígena8.
8 Aline Puri remanescente indígena Puri e doutoranda da UFRRJ, com estudos abordando as mulheres remanescentes indígenas no contexto das favelas e periferias do RJ e Apoema Puri um remanescente Puri de Piau-MG, membro do movimento nacional indígena, foram os responsáveis por ministrar a oficina interativa em questão.
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Quanto aos remanescentes quilombolas, também houve dificuldades pelas
mesmas razões, trabalho em fazendas remotas, ampla e diferenciada jornada de
trabalho, com pouco tempo para capacitação, com isto, a equipe do projeto se reuniu
com os líderes comunitários: presidente da associação quilombola e a Mãe de Santo
da localidade. Após discussão e consenso, os líderes apontaram a escola local como
o público ideal, além de as famílias poderem participar e integrar as ações do projeto.
Figura 2 Aline Puri e Apoema Puri remanescentes indígenas Puri. Fonte: Vima Maria Azevedo.
As oficinas interativas ofertadas foram as seguintes: 1) Direitos humanos e
empoderamento do ser; 2) Plantas de origem africana; 3) Culinária africana
influenciando a gastronomia brasileira; 4) A diversidade cultural brasileira e o combate
a todas as formas de discriminação e racismo; 5) Valorização e preservação da
Cultura Indígena e a oficina