VOLUME 2 I Número 1 I setembro 2019 ISSN 2527 – 1873 · A base de toda atividade agrícola é o...

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VOLUME 2 I Número 1 I setembro 2019 ISSN 2527 – 1873 Juiz de Fora – MG

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  • VOLUME 2 I Número 1 I setembro 2019 ISSN 2527 – 1873

    Juiz de Fora – MG

  • REITOR DO IF SUDESTE MG Charles Okama de Souza

    PRÓ-REITORA DE ENSINO Glaucia Franco Teixeira

    PRÓ-REITOR DE PESQUISA E INOVAÇÃO André Narvaes da Rocha Campos

    PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO Valdir José da Silva

    PRÓ-REITOR DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL Aluísio de Oliveira

    PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO Fabricio Tavares de Faria

    CONSELHO EDITORIAL MSc. Carla Gomes Teodoro Fernandes Dr. Carlos Miranda de Carvalho Dr. Hélcio Ribeiro Campo Dra. Janaina de Assis Rufino MSc. José Honório Glanzmann Dra. Juliana Sena Calixto Dr. Marco Antônio Pereira Araújo Dr. Márcio de Paiva Delgado MSc. Maria Helena Furtado Santiago Dr. Natalino da Silva de Oliveira Dr. Rui Gonçalves de Souza MSc. Valdir José da Silva

    CONSELHO EXECUTIVO Antônio Carlos Caires Costa Elisa Carmo Franco de Almeida Rui Gonçalves de Souza

    Tamyris Moraes Santos da Silva

    Coordenação Editorial Rui Gonçalves de Souza

    Secretária Ana Boaretto de Miranda Motta

    Revisão gramatical Antônio Carlos Caires Costa

    Arte e Diagramação Rui Gonçalves de Souza

  • EDITORIAL

    A Extensão na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e

    Tecnológica, vem conseguido resultados surpreendentes nos últimos anos, seja

    pelas ações que realizam, como estratégia de aproximação do conhecimento

    adquirido em sala de aula com a prática e a realidade vivida pelas comunidades,

    seja pela necessidade de consolidar o papel da Rede de dialogar com a sociedade.

    No Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, essa realidade não é diferente.

    Conhecer de perto as ações que são registradas na Pró-Reitoria e nas

    Diretorias de Extensão dos campi nem sempre é oportunizado à comunidade

    acadêmica. Propor ações práticas para que os estudantes, docentes, servidores

    técnico-administrativos e a sociedade conheçam o que o IF Sudeste MG faz no dia

    a dia, dentro da sua área de atuação, torna-se necessário para dar mais visibilidade

    àquilo que é, muitas vezes, invisível aos olhos dos que se relacionam com a

    Instituição. Uma dessas estratégias para dar visibilidade aos projetos que dialogam

    com as comunidades é a publicação de periódicos.

    Portanto, é com grande satisfação que estamos apresentando à

    comunidade acadêmica o segundo número da Revista Muriqui: a Revista de

    Extensão do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG). Como

    vem acontecendo com a grande maioria dos periódicos de natureza científica, a

    partir desse número, a revista passa a ter a sua versão online, podendo ser

    impressa.

    Esta edição da Muriqui é constituída por trabalhos que podem ser

    caracterizados como uma amostra da diversidade de ações de extensão que estão

    sendo realizadas nos campi. São, ao todo, treze textos, sendo doze relatos de

    experiência e um artigo cientifico.

    Os relatos de experiência selecionados e que estão sendo publicados nesta

    edição são relacionados com ações voltadas para a agricultura familiar, para o

    cuidado com os animais usados no trabalho em pequenas propriedades rurais, para

    o empoderamento de mulheres e grupos sociais em vulnerabilidade social. Ações

    extensionistas preocupadas com a melhoria da qualidade de vida da população do

    espaço social do IF Sudeste MG também estão contempladas nesta edição, mais

    precisamente, em relação aos idosos e à utilização da medicina alternativa. A

    inclusão social e digital em ações voltadas para populações menos assistidas, assim

    como ações complementares ao ensino regular de nível médio também fazem

    parte dos relatos de experiência aqui divulgados, bem como ações voltadas para a

    cultura, preocupadas com a formação de coletivos, formação de público e

    educação musical.

    Há, ainda, um artigo que destaca a relevância da qualidade da água ofertada

    a bovinos leiteiros em áreas rurais e o seu reconhecimento como nutriente

    essencial.

    Rui Gonçalves de Souza

    Editor Executivo

  • Sumário

    Relatos de Experiência

    Troca de Saberes com a agricultura familiar: o manejo sustentável do solo ........................... 5 José Alcir Barros de Oliveira, Marcelo Zózimo da Silva, Guilherme Augusto Mendes da Silva, Mikaela de Oliveira Abranches, Julia Tatiana

    Souza e Silva, Pablo Alexandrino da Silva

    Técnicas de manejo visando melhorar o bem-estar dos equídeos usados para o trabalho nas

    pequenas propriedades de Barbacena, Minas Gerais ............................................................ 14 Marcelo José Milagres de Almeida, Jorge Luiz Baumgratz, Janaina Miranda Resende, Isabella Silveira Carvalho, Ana Carolina Gonçalves Silva

    Análise quantitativa e qualitativa de perdas pós-colheita em frutíferas na região de

    Barbacena ................................................................................................................................ 21 Anderson Conde da Silva, Camila Maria Grigorio Almeida, Teresa Drummond Correia

    Cidadania de gênero em debate nas comunidades rurais e periurbanas da mesorregião do

    Campo das Vertentes de Minas Gerais ................................................................................... 29 Andressa Lisboa Martins, Parley Lopes Bernini da Silva, Josenilder Carlos da Silva, Vilma Maria Azevedo

    Voz e visibilidade para os remanescentes indígenas e quilombolas do entorno de Barbacena,

    Minas Gerais ............................................................................................................................ 40 Gabriela de Rezende Garcia, Ana Carolina Pedrosa Tavares, Higor Leonardo D. dos Santos, Leandro Eustáquio Elias, Vilma Maria Azevedo

    Ensino de ciências e matemática para adolescentes em situação de vulnerabilidade social:

    unindo a ação extensionista com a educação ........................................................................ 48 Rayane da Silva Dias, Carlos Henrique de Mendonça, Paula Reis de Miranda

    Inforubá: informática básica para EJA e Casa Semear ............................................................ 57 Heudes Eduardo Rogério, Gilson Soares Toledo, Eduardo Pereira da Rocha, Priscila Oliveira Ribeiro, Neurimária Soares Peixoto

    Florescer para a terceira idade ............................................................................................... 65 Maria Luiza Firmiano Teixeira, Michele Carvalho Lopes de Paiva, Priscilla da Costa Ferreira, Raquel Fernandes, Thaís Brito Dibo

    Ginástica na melhor idade......... ...................................................................................... 75 Fabianne Furtado, Jhéssyca Aparecida Machado de Araújo, Flaviane Aparecida Pereira Henriques, Natiele Aparecida da Cunha, Vanessa

    Malta Matheus

    Experiências extensionistas sobre qualidade de vida e de ambiente em 2016 .................... 84 Joseane Turquete Ferreira, Gabriela Dayana Campos Amancio, José Henrique Pazutti Magri, José Emílio Zanzirolani de Oliveira, Josélia

    Barros da Silva, Viviane Modesto Arruda

    Projeto Musicanto 2017: arte e cultura no Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais –

    Campus Barbacena .................................................................................................................. 93 Claudilene Márcia F. Ferrão, Fabiana Grigório da Silva, Jussara Cândida Soares, Parley Benini

    Tecnologia a serviço da cultura: restauração e construção de instrumentos de baixo custo

    para musicalização ................................................................................................................ 101 Alexsandro Magno Bahia Junior, Rafhael Ramos Boscaro, Tiago Fiereck, José Luiz Cuco, Sara Del Vecchio, Diana Esther Tuyarot

    Artigo

    A Importância da água para bovinos leiteiros: extensão rural para produtores de Rio Pomba,

    Minas Gerais .......................................................................................................................... 108 Arnaldo Prata Neiva Júnior, Maurílio Lopes Martins, Thaise Mota Sátiro, Hugo Eduardo De Leon Flauzino, Eduarda Popolino Diniz, João

    Paulo Ferreira Gomes, Kelvia Xavier Costa Ramos Neto

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    Troca de Saberes com a agricultura familiar:

    “o manejo sustentável do solo”

    Exchange of Knowledge with Family Farming:

    “Sustainable Soil Management”

    José Alcir Barros de Oliveira – [email protected]

    Marcelo Zózimo da Silva – [email protected]

    Guilherme Augusto Mendes da Silva – [email protected]

    Mikaela de Oliveira Abranches – [email protected]

    Julia Tatiana Souza e Silva – [email protected]

    Pablo Alexandrino da Silva – [email protected]

    Resumo: A partir da vivência extensionista com o meio rural da região do Campo das

    Vertentes foi possível detectar as fragilidades profissionais dos agricultores quanto ao

    conhecimento sobre o manejo sustentável do solo. Assim, nasceu o projeto que foi

    realizado nas comunidades rurais dos municípios de Barbacena e Ressaquinha,

    objetivando trocar saberes pedológicos com os jovens rurais e agricultores familiares,

    partindo do pressuposto de que o solo é a base de tudo no agroecossistema.

    Palavras-chave: Extensão agroecológica; Profissionalização da agricultura familiar;

    Educação em solos.

    Abstract: From the extensionist experience with the rural environment of the Campo

    das Vertentes region, it was possible to detect the professional fragilities of the farmers

    regarding the knowledge about the sustainable management of the soil. Thus, the

    project was born that was carried out in the rural communities of the municipalities of

    1 Engenheiro Agrônomo, Mestre em Educação Agrícola, Professor do Núcleo de Ciências Agrárias, IF Sudeste MG, Campus Barbacena. 2 Engenheiro Agrícola, Doutor em Solos e Meio Ambiente, Professor do Núcleo de Ciências Agrárias, IF Sudeste MG, Campus Barbacena. 3 Discente do Curso de Engenharia Agronômica, IF Sudeste MG, Campus Barbacena. 4 Discente do Curso de Engenharia Agronômica, IF Sudeste MG, Campus Barbacena. 5 Discente do Curso de Engenharia Agronômica, IF Sudeste MG, Campus Barbacena. 6 Discente do Curso Técnico em Agropecuária, IF Sudeste MG, Campus Barbacena.

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    Barbacena and Ressaquinha, aiming to exchange pedological knowledge with rural

    youth and family farmers, assuming that the soil is the basis of everything in the

    agroecosystem.

    Keywords: Agroecological extension; Professionalization of family agriculture;

    Education in soil.

    Introdução

    O município de Barbacena e mais 13 municípios ao seu entorno formam uma

    das três microrregiões pertencente a mesorregião geográfica do Campo das

    Vertentes. A microrregião de Barbacena tem uma relevância ambiental por conter

    duas grandes e importantes bacias hidrográficas brasileiras: a do Rio Grande e a do

    Rio Doce. No aspecto econômico é reconhecida, nacionalmente, com seu potencial

    agropecuário nas atividades de Horticultura a qual engloba três grandes áreas da

    Agronomia: olericultura (hortas), floricultura e fruticultura. A olericultura é atividade que

    predomina, sendo trabalhada por um número maior de agricultores familiares em

    pequenas áreas de terras de relevo muito acidentado, onde, atualmente, existe uma

    preocupação por parte das autoridades competentes ligadas à área quanto ao manejo

    sustentável do solo e da água, em grande parte, pelo uso indiscriminado de insumos

    agroquímicos nas lavouras, principalmente fertilizantes químicos e agrotóxicos e

    também por problemas na conservação do solo nas áreas produtivas.

    Segundo Oliveira (2011), estas famílias de agricultores, em sua maioria,

    desprovidas do serviço público de extensão rural, fica dependente da assistência

    técnica realizada pelas empresas que comercializam tais insumos para as lavouras.

    Sofrem as consequências do processo de globalização no campo e, cada vez mais,

    necessitam de apoio na organização em associativismo e ou cooperativismo,

    capacitações e informações tecnológicas e de mercado adaptadas às suas reais

    necessidades. Elas clamam por um apoio das instâncias governamentais e esperam

    por seus direitos garantidos na constituição brasileira.

    De acordo com estudos atuais na área de saúde pública, hoje, presenciamos a

    triste realidade na atividade agrícola referente ao alto índice de intoxicação humana

    pelo uso irracional de agroquímicos nestas lavouras. Os agricultores, a maioria sem

    capacitação e qualificação profissional, para tentar controlar os prejuízos

    fitossanitários usam muitos produtos químicos que, na maioria das vezes, não

    solucionam os problemas da cultura. Um trabalho alicerçado nos princípios da

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    extensão agroecológica servirá para voltar a atenção dos agricultores à base de todo

    sistema agrícola: O Solo.

    A base de toda atividade agrícola é o solo e tudo começa com sua análise,

    proveniente de uma amostragem correta, dentro das recomendações do livro 5ª

    Aproximação (CANTARUTTI et al., 1999).

    O solo deve estar equilibrado em termos químicos e biológicos e para isso é

    necessário um manejo agrícola sustentável. No mundo rural atual, em meio a tantas

    inovações tecnológicas e problemas fitossanitários aliado à falta de assistência

    técnica, o trabalho de extensão se torna imprescindível com uma capacitação

    profissional adequada às especificidades reais da agricultura familiar, podendo ser

    utilizada uma ferramenta que vêm ocupando espaço no atual cenário agrícola: a

    agroecologia. Para Altieri (2002), autor renomado desta área:

    A agroecologia representa uma abordagem agrícola que incorpora cuidados especiais relativos ao ambiente, assim como aos problemas sociais, enfocando não somente a produção, mas também a sustentabilidade ecológica do sistema de produção (ALTIERE,2002, p.26).

    Segundo Silva (2014), o desenvolvimento rural, concebido como sinônimo de

    modernização, tem implicações sérias na questão da sustentabilidade, tanto

    econômica, como social e ambiental, e na agricultura de um modo geral,

    principalmente, na agricultura familiar. No manejo sustentável, a conservação do solo

    e da água, são funções básicas para desenvolver uma atividade agrícola saudável.

    No estudo da fertilidade do solo para produção sustentável, uma importante decisão

    é fazer uma correta amostragem do solo para identificar as condições químicas do

    solo para efeito de aplicação racional de corretivos e fertilizantes.

    Então, o agricultor sendo conhecedor da maneira correta de se realizar a

    amostragem de solos terá condições de realizar um trabalho profissional, reduzindo

    custos de produção em sua lavoura, aumentando a produtividade agrícola e, ao

    mesmo tempo, protegendo e conservando seu solo, tornando-o mais fértil e mais

    propício ao desenvolvimento das culturas.

    A partir de uma amostragem correta do solo, é feita análise dos atributos

    químicos, uma técnica de rotina utilizada para avaliação de sua fertilidade

    (CANTARUTTI et al., 1999).

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    Sabendo destes fatos, se torna relevante este projeto de extensão sendo seu

    objetivo principal trocar saberes pedológicos, levando conhecimento acerca da

    amostragem de solo e da sua importância no contexto da produtividade agrícola a

    estas famílias das comunidades rurais, buscando minimizar erros e obter resultados

    representativos para um racional manejo do solo e assim melhoria da qualidade de

    vida.

    Plano de Trabalho

    As ações do projeto foram realizadas nas cidades de Barbacena e

    Ressaquinha, Minas Gerais, durante um período de 8 meses, no ano de 2017. Visou-

    se atender, prioritariamente, agricultores familiares, mulheres e jovens rurais. As

    práticas aconteciam nas propriedades dos agricultores envolvidos no projeto, sendo o

    dia e horário marcados com os líderes rurais das comunidades, onde além da

    capacitação em amostragem de solo outros assuntos relacionados às práticas

    agrícolas eram discutidos, agregando experiência aos alunos bolsistas, futuros

    profissionais da área de ciências agrárias.

    Os alunos e professores coordenadores do projeto reuniram-se, previamente,

    meses antes do início do projeto com as lideranças das comunidades em cada

    município a ser contemplado e diretores de escolas municipais com objetivo de

    alcançar maior número de pessoas e possibilitar o planejamento das atividades.

    Além das capacitações em campo, foram realizadas também atividades no

    Laboratório de Análise de Solos e Folhas do IF Campus Barbacena. Os estudantes

    dialogaram e conheceram o perfil do público assistido pelo laboratório, no momento

    da entrega da análise de solo. Além disso, foram conhecidas todas as etapas da

    análise de solo, desde a recepção até o resultado final. Com o intuito de atingir os

    jovens rurais estudantes e conhecer um pouco de sua realidade, foram realizadas

    reuniões prévias e posteriormente capacitações à cerca do tema amostragem de solo

    com os jovens rurais nas escolas parceiras, sendo a Escola Municipal Cel. Camilo

    Gomes de Araújo situada no distrito rural de Pinheiro Grosso (Fig.1), e a Escola

    Estadual Galdino Ananias de Sant’Ana (Fig.2) situada na cidade de Ressaquinha.

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    Figura 1. Troca de saberes pedológicos e capacitação em amostragem de solos com alunos da Escola Municipal “Cel. Camilo Gomes de Araújo”, distrito rural de Pinheiro Grosso, Barbacena-MG. Fonte: Guilherme Augusto Mendes

    No IF Sudeste Campus Barbacena, também ocorreu uma capacitação com os

    alunos do 1º ano do curso técnico em agropecuária, sendo a prática e o assunto

    teórico acerca da amostragem e análise de solo conteúdo essencial na formação dos

    futuros profissionais.

    Figura 2. Reunião inicial com a diretora da escola estadual local, secretária da Emater Local, vereador e agricultor- líderes rurais, coordenadores, bolsistas e estudantes do projeto na Escola Estadual Galdino Ananias de Sant’Ana, em Ressaquinha-MG. Fonte: Mikaela Abranches.

    Resultados Alcançados

    Visando a redução dos erros e a conscientização dos agricultores, foram

    realizadas dez reuniões com troca de saberes em assuntos relacionados a solos, e

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    sete capacitações com demonstração técnica em amostragem de solo, atingindo um

    número de 120 pessoas. As comunidades rurais beneficiadas foram: Vargem dos

    Cochos –Barbacena, (Fig.3), Costas (Barbacena), Dias (Ressaquinha), Córrego do

    Onça - Ressaquinha, (Fig.4) e as escolas: Escola Municipal “Cel. Camilo Gomes de

    Araújo” -Pinheiro Grosso, IFSEMG – Campus Barbacena e Escola Estadual Galdino

    Ananias de Sant’Ana- Ressaquinha. Cada capacitação foi alternada em teoria e

    prática, buscando melhor aprendizagem dos presentes.

    Figura 3. Troca de saberes pedológicos e demonstração técnica da amostragem do solo na comunidade rural da Vargem dos Cochos, Barbacena-MG. Fonte: Mikaela Abranches.

    A partir do contato, diálogo e durante as capacitações profissionais com os

    agricultores compreendeu-se que a grande maioria entende a importância de se fazer

    a amostragem do solo, porém a faziam de maneira e com equipamentos incorretos e

    quase não tinham contato com o documento da análise de solo e do entendimento e

    discussão técnica de seus índices e consequente avaliação do estado do solo em

    questão. Outro fato pertinente e percebido é de que os agricultores são carentes de

    outras tecnologias da agricultura, pois em meio a capacitação eram sanadas outras

    dúvidas consideradas simples, entretanto, entendeu-se que o agricultor, muitas vezes,

    não dialoga com o técnico que o assiste, o que na extensão rural chamamos de

    diálogo humanizador, troca de saberes. As informações tecnológicas devem sempre

    vir precedidas de um conhecimento prévio da vida do agricultor e sua situação

    socioeconômica e cultural para que estas possam ser adequadas a quem as utilizará.

  • 11

    Figura 4. Troca de saberes pedológicos e capacitação em amostragem do solo na comunidade do Córrego do Onça, Ressaquinha-MG. Fonte: Júlia Souza

    Como as capacitações contavam com parte teórica e prática, os agricultores

    eram instruídos a entender e interpretar de sua maneira os dizeres do documento de

    análise de solo e tirarem dele algumas conclusões básicas para que tivessem mais

    autonomia e argumentos não apenas para discutir tecnicamente com os vendedores

    no momento da compra de calcário, fertilizantes e outros insumos, mas para um nível

    maior: ficar consciente das ações sustentáveis para as atividades laborais no manejo

    e conservação do solo de suas propriedades rurais.

    Os encontros dialogados entre alunos e os agricultores e/ou profissionais da

    assistência técnica no Laboratório de Solos e Folhas do IF Sudeste Campus

    Barbacena foram feitos com objetivo que conhecer o perfil sociocultural do público que

    frequenta o mesmo. A partir dos dados obtidos concluiu-se que na maioria das vezes

    não é o agricultor quem entrega a amostra de solo, deixando esta responsabilidade

    para o técnico da assistência particular. Também, a grande maioria dos agricultores

    não reconhece a importância do documento Análise de Solo e muitas vezes não

    acontece uma troca de saberes sobre a análise, tornando-se apenas uma ação

    automática e mecânica de cálculos para a aquisição dos insumos. E ainda existem

    situações em que o agricultor não tem contato com o documento gerado.

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    Conclusão

    Ao final do projeto, conclui-se que o trabalho não está acabado e sim se

    iniciando. O conhecimento adquirido tanto pelos alunos quanto pelos professores

    envolvidos da problemática sociocultural e econômica das famílias de agricultores nos

    municípios mineiros de Barbacena e Ressaquinha proporcionou um entendimento de

    que é urgente a necessidade de mais trabalhos de extensão rural agroecológica, onde

    no diálogo humanizador se constrói a organização rural em associativismo e em

    atividades práticas com as capacitações profissionais em metodologias direcionadas

    para cada realidade a ser trabalhada.

    Com base no que dizem os renomados pesquisadores e extensionistas rurais

    Caporal e Costabeber (2000) em sua frase clássica: “É preciso reconhecer que entre

    os agricultores e suas famílias existe um saber, um conjunto de conhecimentos, que

    embora não sendo de natureza científica é tão importante quanto os nossos saberes”,

    assim entende-se que os agricultores capacitados terão conhecimento para gerar

    opinião e servir de multiplicadores dos saberes nas comunidades onde vivem,

    esperando-se que tenham adquirido base técnica e crítica para realizar o manejo

    sustentável do solo dentro de uma unidade maior: a sub bacia hidrográfica.

    Referências Bibliográficas ALTIERE, M. Agroecologia: Bases científicas para uma agricultura sustentável.

    Guaíba: Agropecuária; ASPTA,2002. 592.p

    CAPORAL, F.R. COSTABEBER, J.A. Agroecologia e Desenvolvimento Rural

    Sustentável: Perspectivas para uma Nova Extensão Rural. Agroecologia e

    Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, vol.1, n.1, Jan./Mar.2000.37p.

    Disponívelem. Acesso em: 20 de jul.

    2018.

    CANTARUTTI, R. B.; ALVARES VENEGAS, V. H.; RIBEIRO, A. C. Amostragem de

    solo. In: RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P. T. G.; ALVARES VENEGAS, V. H. (Ed.),

    Recomendação para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5ª

    aproximação. Viçosa: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais,

    1999. P 13 – 20.

  • 13

    OLIVEIRA, J. A. B. As Representações Sociais de Estudantes e Egressos do

    Curso Técnico em Agropecuária do Instituto Federal do Sudeste de Minas

    Gerais Campus Barbacena sobre o Mercado de Trabalho Agropecuário. 2011. 86

    p. Dissertação (Mestrado em Educação Agrícola). Instituto de Agronomia,

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. 2011. Disponível em:

    . Acesso em: 20 de jun. de 2018.

    SILVA, M. Z. Comportamento Morfológico, Químico e Físico-Hídrico dos Solos

    de área cultivada com morango em Alfredo Vasconcelos, MG. 2014. 126 f. Tese

    (Doutorado em Ciências Ambientais) – Universidade Federal de Goiás.

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    Técnicas de manejo visando melhorar o bem-estar dos equídeos

    usados para o trabalho nas pequenas propriedades de Barbacena,

    Minas Gerais

    Management techniques to improve the welfare of equidae

    used for work on small farms in Barbacena, Minas Gerais

    Marcelo José Milagres de Almeida; [email protected]

    Jorge Luiz Baumgratz; [email protected]

    Janaina Miranda Resende; [email protected]

    Isabella Silveira Carvalho; [email protected]

    Ana Carolina Gonçalves Silva; [email protected]

    Resumo: O presente relato de experiência descreve as técnicas e ações tomadas

    durante o projeto de extensão desenvolvido em 2017, em Correia de Almeida, com o

    intuito de melhorar o bem-estar dos equídeos que auxiliam pequenos produtores em

    suas atividades, esporádicas ou diárias, melhorando assim a qualidade de vida

    desses animais, buscando, como consequência, aprimorar a eficiência do trabalho

    dos produtores que necessitam desses animais para realizarem suas atividades.

    Palavras-chave: Equídeos; Bem-estar; Manejo; Interação social.

    Abstract: The present experience report describes the techniques and actions taken

    during the presentation project launched in 2017 in Correia de Almeida with the aim of

    improving the welfare of equidae that help small generations in their activities, sporadic

    or daily, As well as the quality of life, animals, such as efficiency, efficiency and

    performance of animals to carry out their activities.

    Keywords: Equines; Welfare, Management; Social interaction.

    1 Doutor em Zootecnia; Professor do curso de Bacharelado em Agronomia, Núcleo de Zootecnia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 2 Mestre em Educação; Professor do curso de Bacharelado em Agronomia, Núcleo de Zootecnia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 3 Discente do curso de Bacharelado em Agronomia, Núcleo de Zootecnia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 4 Discente do curso de Bacharelado em Agronomia, Núcleo de Zootecnia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 5 Discente do curso de Bacharelado em Agronomia, Núcleo de Zootecnia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • 15

    Introdução

    Pequenos produtores que utilizam equinos e muares como força de trabalho ou

    para lazer, muitas vezes, não percebem a necessidade de manejar adequadamente

    os animais. Geralmente, não se preocupam com questões sanitárias, nutricionais, de

    condicionamento físico, sobrecarga de trabalho, dentre outras. O presente projeto

    visou mudar e aprimorar tal concepção, utilizando práticas alternativas e recursos que

    se adequassem à realidade dos pequenos produtores, melhorando, assim, a

    qualidade de vida do animal e de maneira indireta a do próprio produtor.

    Plano de Trabalho

    De início, a ideia principal do trabalho era a realização de vistas às

    propriedades dos produtores interessados em participar do projeto, para um primeiro

    contato. Contamos com a colaboração dos representantes da Associação dos

    Moradores de Correia de Almeida, distrito de Barbacena, que se prontificaram a

    convidar os produtores para a primeira reunião, junto aos membros engajados no

    projeto.

    Neste primeiro encontro, estiveram presentes um grande número de voluntários

    interessados em desenvolver as atividades propostas. Houve relatos individuais,

    mediados pelos extensionistas, sobre experiências com equinos e muares, para

    conhecer as reais necessidades e carências dos pequenos produtores quanto ao

    manejo adequado, chegando-se à conclusão de que para a otimização de tempo e

    aprendizado em comunidade seria interessante adotar a ideia de realização de

    reuniões em formato de palestras, com temas sugeridos pelo grupo, pois, assim,

    aconteceriam, simultaneamente, a difusão de conhecimento técnico e a interação

    social na comunidade, principalmente entre aqueles com o interesse comum de

    melhorar o bem-estar dos equinos. Chegaram a uma sequência de assuntos a serem

    discutidos: bem-estar animal, casqueamento, principais doenças e vacinações. O

    assunto de maior interesse levantado pelos participantes foi sobre a questão do

    manejo nutricional, sendo este o tema discutido na reunião que se sucedeu (Figura

    1).

    Com a domesticação desses animais, houve mudanças drásticas no estilo de

    manutenção, de natureza livre e hábito de pastejo extensivo. Os animais passaram a

    ser criados em áreas cada vez menores, chegando até mesmo ao confinamento

  • 16

    permanente em baias, desprezando e contrariando o estilo natural, o que acabou por

    acarretar problemas digestivos e comportamentais (DITTRICH, J. et al. 2010).

    Essas mudanças desrespeitam uma das principais particularidades evolutivas

    da espécie, o complexo anatômico e fisiológico do aparelho digestório. Essa estratégia

    de criação e utilização do cavalo desencadeou na simplificação da dieta em duas

    classes principais de alimentos, os volumosos (pastos e forragens conservadas) e

    concentrados (alimentos com alto conteúdo energético e/ou proteico), com a

    preocupação quase que exclusiva de atender às necessidades nutricionais sem levar

    em consideração aspectos relacionados às formas de disponibilização desses

    alimentos e o comportamento alimentar dos equinos (DITTRICH, J. et al. 2010).

    Figura 1. Encontro com abordagem do tema: Nutrição de Equinos. Fonte: Queila Tavares.

    O manejo nutricional pode ser considerado o principal ponto do bem-estar de

    equinos, pois quando realizado de maneira adequada, o animal tem seu desempenho

    melhorado.

    No decorrer do projeto, em interação com a comunidade, além do trabalho com

    os produtores, surgiu o convite da diretora da Escola local: “E. E. Deputado José

    Bonifácio Lafayette de Andrada”, para participar das atividades realizadas pela escola

    em sua tradicional feira anual. Foram realizadas visitas à escola, para que pudesse

    ser alinhada a melhor forma de trabalho, bem como para selecionar os alunos que

    estariam envolvidos, dando prioridade àqueles que já lidavam com os animais em

    suas propriedades. Muitos deles eram filhos de produtores que já participavam do

    projeto. Os alunos selecionados participaram de um minicurso no Instituto Federal de

  • 17

    Educação Ciência e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais - Campus Barbacena, com

    o tema: “Introdução à Equideocultura, e Técnicas de Manejo”. Tal minicurso foi

    ministrado pelas estudantes bolsistas do projeto, sob a supervisão do professor Jorge

    Luiz Baumgratz (Figura 2). A conscientização dos jovens a respeito da importância do

    manejo adequado dos animais é de grande importância, pois muitos deles serão os

    futuros profissionais que irão lidar diretamente com os animais.

    Figura 2: Alunos da escola “E. E. Deputado José Bonifácio Lafayette de Andrada” participando do Minicurso: Introdução à Equídeo cultura, e Técnicas de Manejo. Fonte: Coordenação do projeto.

    Durante a execução do projeto, um interesse em comum demonstrado pelos

    produtores foi aprender ou aperfeiçoar os conhecimentos sobre técnicas de

    casqueamento e ferrageamento, visto que os cascos são os responsáveis por suportar

    o peso do animal, absorver o impacto com o solo e auxiliar no retorno de sangue

    venoso aos membros. “O casco é uma parte insensível que tem a denominação de

    escudo do pé e indica que essa função protetora necessita de uma completa estrutura

    anatômica para que, por muito tempo, atenue as pressões e reações. ” (MILEN, 1984).

    O curso foi realizado no dia 02 de dezembro de 2017, no Núcleo de

    Equideocultura do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Sudeste de

    Minas Gerais - Campus Barbacena, por um profissional externo, com experiência de

    anos no mercado e de renome regional. (Figura 3).

  • 18

    Figura 3: Curso de Casqueamento e Ferrageamento oferecido aos participantes do projeto. Fonte: Coordenação do projeto.

    O casqueamento e o ferrageamento não afetam somente a parte externa do

    casco, mas também as suas estruturas internas, bem como influenciam as estruturas

    proximais do membro. Muitos médicos veterinários e ferradores afirmam que muitos

    casos de claudicação poderiam ser evitados ou solucionados com a utilização de

    práticas adequadas de ferrageamento adequadas. (TRIDENTE, 2011, página 9).

    Figura 4. Realização da prática de casqueamento e ferrageamento. Fonte: Coordenação do projeto.

    De maneira bem dinâmica, os participantes do projeto tiveram a oportunidade

    de realizar a prática de casquear e ferragear, sanando as dúvidas dos que já

    trabalhavam no ramo de maneira informal e repassando conceitos básicos aos que

    ainda não tinham tido o contato técnico com a prática (Figura 4). Durante o curso,

    foram abordados temas como: anatomia do casco, equipamentos utilizados, tipos de

  • 19

    ferraduras e suas indicações, casqueamento corretivo, e de manutenção, a

    importância do balanceamento através de medição de ângulos para um correto

    nivelamento do casco, entre outros.

    O Curso foi realizado como atividade de encerramento do projeto, com uma

    pequena confraternização no mesmo local, onde houve uma enorme troca de

    experiências e saberes. Posteriormente, todos os participantes receberam um

    certificado de participação no curso, emitido pela Diretoria de Extensão.

    Resultados

    O projeto apresentou inúmeros pontos positivos, tanto para os extensionistas,

    quanto para os voluntários envolvidos, pois, além do conhecimento técnico adquirido

    e da interação entre meio acadêmico e a comunidade, foi despertada nos acadêmicos

    a importância da consciência social. Em relação aos produtores voluntários do projeto,

    além da oportunidade de discutir dentro de sua própria comunidade um tema de

    interesse em comum, aprenderam, através das orientações técnicas recebidas, que

    para manejar de maneira adequada seus animais, não há a necessidade de gastos

    que extrapolem seus orçamentos, pois podem e devem usar os próprios recursos

    disponíveis em suas propriedades.

    Ao final do projeto, além da interação, das orientações para melhorar o manejo

    e para reduzir custos, os produtores terão a possibilidade de desenvolver trabalhos

    que gerem rendas extras, até mesmo fixas como, por exemplo, o produtor Jodi M. R.

    C. Filho que já trabalhava com ferrageamento, mas apresentava várias dúvidas e

    cometia equívocos por falta de conhecimento técnico, o que foi resolvido com a

    realização do curso de Ferrageamento oferecido aos produtores.

    Outro fato importante a ser citado, foi a participação dos estudantes da escola

    estadual do município, pois, além da interação com o conhecimento sobre os equinos,

    usufruíram da oportunidade de ter contato com o trabalho do Instituto Federal de

    Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas, o que pode despertar o

    interesse de futuramente tornarem-se alunos da instituição, sendo este um excelente

    caminho de desenvolvimento futuro da comunidade, além de divulgar o IF Sudeste

    MG.

  • 20

    Conclusão

    Até o final do projeto, cerca de 50 pessoas se envolveram em alguma atividade

    desenvolvida com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos animais, através da

    capacitação de seus proprietários, extrapolando as iniciativas, pois o projeto

    conseguiu envolver toda a comunidade, inclusive crianças, sendo assim, agiu não só

    como difusor de conhecimento técnico como também mobilizador e transformador

    social.

    Agradecimentos

    Ao Programa Institucional de Apoio à Extensão (PIAEX) Edital 08/2017, pelo

    apoio e bolsas concedidas aos estudantes.

    A todos da comunidade de Correia de Almeida que se predispuseram a

    participar do projeto.

    Ao professor Jorge Luiz Baumgratz, por acompanhar todo o projeto e prestar

    todo o auxílio necessário para que o projeto caminhasse de maneira satisfatória.

    Referências

    DITTRICH, João Ricardo et al. Comportamento ingestivo de equinos e a relação

    com o aproveitamento das forragens e bem-estar dos animais. Revista Brasileira

    de Zootecnia, Sociedade Brasileira de Zootecnia. V.39, p. 130-137,2010.

    TRIDENTE, Márcia. A importância do casqueamento e ferrageamento do cavalo

    atleta. 2011. 17f. Trabalho de conclusão de curso, Faculdade de Medicina Veterinária

    e Zootecnia da Universidade “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Botucatu, São

    Paulo, 2011.

    MILLEN, Eduardo. Guia do Técnico Agropecuário - Veterinária e Zootecnia.

    Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1984.

  • 21

    Análise quantitativa e qualitativa de perdas pós-colheita

    em frutíferas na região de Barbacena

    Quantitative and qualitative analysis of postharvest losses

    on fruit plantations in the Barbacena region

    Anderson Conde da Silva, [email protected]

    Camila Maria Grigorio Almeida, [email protected]

    Teresa Drummond Correia, [email protected]

    Resumo: O projeto relata a pós-colheita em frutíferas, bem como as perdas e os seus

    motivos causadores, tendo como objetivo propor soluções para melhoria e maior

    lucratividade para o produtor rural. Além disso, propõe estudos para solução de

    problemas, como o caso do ataque de aves conhecidas popularmente como

    “maritacas” (Psittacara leucophthalmus), que atacam os frutos ainda na planta,

    reduzindo muito a produção final.

    Palavras-chave: Pragas; Fruticultura; colheita.

    Abstract: The project reports the post-harvest on fruit, as well as the losses and the

    reasons caused, aiming to propose solutions for improvement and greater profitability

    to the rural producer. In addition, it proposes studies to solve problems, such as the

    attack of birds popularly known as "maritacas" (Psittacara leucophthalmus) that attack

    the fruits still in the plant, greatly reducing the final production.

    Keywords: Pests; Fruticulture; Harvest.

    1 Acadêmico do curso de Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena 2 Acadêmico do curso de Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena 3 Doutora em Fisiologia Vegetal, Professora do Curso de Bacharelado em Agronomia, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • 22

    Introdução

    A fruticultura brasileira se destaca não somente pela capacidade de produção,

    mas também pela diversidade de frutas e adaptação de algumas fruteiras exóticas

    cujo cultivo vem crescendo no Brasil.

    A região de Barbacena tem grande potencial de crescimento na produção de

    fruteiras. Porém, os produtores rurais que não possuem informações técnicas sobre

    as culturas implantadas, devido à falta de assistência técnica, produzem muito menos

    que a capacidade ou abandonam a atividade.

    Sendo assim, são necessárias ações para auxiliar o produtor rural a diminuir as

    perdas pós-colheita dos frutos e aumentar a renda familiar. Essas ações podem ser

    de assistência agronômica, durante a produção dos frutos, ou, até mesmo,

    promovendo incentivos ao aproveitamento de frutos deformados, para produção de

    geleias, doces, polpas, dentre outros produtos. Esses frutos deformados são

    descartados por não atenderem aos padrões para a comercialização in natura da

    fruta, representando perdas para o produtor. O controle da etapa de colheita e pós-

    colheita na produção é muito importante, haja vista que perdas se transformam em

    prejuízos econômicos, prejuízos ambientais e desperdício. Com a diminuição das

    perdas e o consequente aumento da produção, o produtor terá mais lucros, podendo

    atender demandas maiores do comércio regional e vender para outros estados.

    A avaliação quantitativa e qualitativa das perdas na colheita e pós-colheita de

    fruteiras, na região de Barbacena, objetiva conhecer as principais causas das perdas

    e apresentar soluções para as mesmas, contribuindo diretamente para o aumento da

    produção e da lucratividade do pequeno produtor.

    Metodologia

    O presente estudo foi realizado em uma comunidade rural de Barbacena,

    denominada Costas da Mantiqueira, com a colaboração de um estudante que mora

    na localidade e dos produtores da associação OMOPRUC (Organização dos amigos,

    moradores e produtores rurais dos Costas), sendo todos residentes na localidade.

    Inicialmente, foi feito contato com o presidente da associação, para expor o projeto e

    explicar como seria realizado. A aceitação foi ótima. Foram realizadas visitas aos

    produtores envolvidos, para conhecer as propriedades e acompanhar a colheita. Nem

  • 23

    todos os produtores envolvidos estavam colhendo frutos na época da realização do

    trabalho, no entanto, optou-se por manter a visita para um maior conhecimento das

    práticas adotadas por eles. Antes das visitas, os produtores foram consultados sobre

    a disponibilidade. As visitas ocorreram na parte da manhã.

    Resultados

    Foi possível verificar que, na comunidade acompanhada, a colheita era feita de

    forma manual, não havendo colheita mecânica. A colheita manual possui aspectos

    positivos, como emprego da mão de obra local e maior qualidade dos frutos. A colheita

    era realizada nos horários mais frescos do dia e as frutas eram colocadas em caixas

    de polietileno, com dimensões de 556 x 360 x 251 centímetros, com capacidade de

    36L (Figura 1).

    Ao fim da colheita, as frutas eram transportadas, com auxílio de um trator com

    carroceria, até o lugar onde seriam separadas por tamanho, de forma que as caixas

    não ficavam muito cheias, para assim evitar perdas no transporte, devido ao impacto

    causado (Figura 2).

    Figura 1. caixa de polietileno. Fonte: Autor. Figura 2: transporte após colheita no pomar. Fonte: Autor.

    As frutas colhidas eram levadas até o local de armazenamento, onde seriam

    embaladas para serem encaminhadas, no mesmo dia, aos centros de distribuição ou

    durante a semana, no caso daquelas que precisavam completar seu amadurecimento.

    Em alguns casos, as frutas eram armazenadas em câmara para completar seu ciclo

  • 24

    de amadurecimento ideal, como era o

    caso das ameixas, que necessitavam ficar

    por dois dias em câmara para então serem

    destinadas aos centros de distribuição.

    Depois de embaladas, aquelas que não

    necessitavam continuar o ciclo de

    maturação em câmara, eram

    encaminhadas aos centros de distribuição

    (CEASA de Juiz de Fora e Belo

    Horizonte). Os produtores da comunidade

    dos Costas parecem preferir a

    comercialização dos seus produtos via

    CEASA’s, como canal preferencial de

    comercialização, ao invés de feiras locais

    ou venda direta.

    Dentre as culturas observadas,

    destacam-se a ameixa, o pêssego, a

    goiaba e a banana.

    A ameixeira é uma planta da família

    das Rosaceae do gênero Prunus. É uma

    planta proveniente de clima temperado,

    podendo ser cultivada acima de 700

    metros, ou mesmo em regiões de planaltos, e é colhida em “ponto de vez”, como

    citado por (Penteado, 2002). Os produtores fazem a colheita quando observam uma

    leve “veia” arroxeada no sentido vertical da base do pedúnculo até o ápice do fruto

    (Figura 3). Isso diminui a perda pós-colheita, uma vez que colhendo o fruto neste

    ponto e mantendo-o em câmara com carbureto de cálcio por 48 horas, atinge-se o

    ponto ideal para comercialização.

    A espécie cultivada pelos produtores da região é a Rubimel (Prunus salicina),

    também conhecida como Reubennel.

    Na colheita da ameixa não ocorreram perdas, o que demonstra o acerto do

    produtor na escolha do cultivo para a região e na decisão do momento de colheita. É

    importante ressaltar que, apesar de não ocorrer perdas no momento da colheita,

    Figura 3. Ponto de colheita “veia” arroxeada. Fonte: Autor.

  • 25

    algumas perdas podem surgir durante o transporte para os centros de

    comercialização. A prática do uso do carbureto de cálcio é importante para o

    amadurecimento uniforme dos frutos de ameixa. A adoção dessa prática pelo produtor

    demonstra um maior nível de conhecimento do mesmo, o que aumenta a qualidade

    dos seus frutos no mercado.

    Outra frutífera cultivada na região é o pessegueiro, pertencente à espécie Prunus

    pérsica, da variedade Maciel. Os frutos dessa cultivar podem ser usados tanto para o

    consumo in natura (mesa) quanto para a indústria, na confecção de doces, sucos e

    geleias, por exemplo. Além da cultivar Maciel, trabalham também com a cultivar Marli,

    que ainda segundo HOFFMANN, A. et al. (2003), é uma cultivar destinada à mesa,

    que produz frutos grandes, podendo chegar a 100g.

    Os frutos possuem elevada doçura, entretanto, não são tão firmes quando

    comparados com a cultivar Maciel e, por isso, necessitam de um cuidado maior no

    manuseio e, especialmente durante o transporte, para evitar as perdas após a

    colheita.

    O ponto de colheita dos pêssegos definido pelo produtor é quando ele começa

    a mudar sua coloração de verde, para um leve avermelhado, não deixando ficar

    completamente avermelhado.

    Na colheita do pêssego da cultivar Maciel, por ser uma cultivar mais firme e mais

    resistente ao transporte, não foram verificadas perdas no manuseio durante o

    transporte. Porém, assim como na cultivar Marli, os danos observados tiveram como

    principal causa a doença podridão parda, como descrita por MEDEIROS e RASEIRA,

    (1988), causada pelo fungo Monilinia fructicola, que ocorre com frequência em épocas

    de chuvas.

    A alternativa adotada para redução das perdas por podridão parda foi a colheita

    bem no início da maturação, porém, respeitando o ponto ideal de colheita, como

    descrito por DE PAULA JÚNIOR, T. J. (2007).

    A goiabeira é uma planta da espécie Psidium guajava, pertencente à família das

    Myrtaceae, e tem demonstrado um ótimo resultado de produção. A cultivar plantada é

    a Cortibel, uma cultivar que se destaca pela qualidade dos frutos, polpa firme e

    excelente aparência. O ponto de colheita adotado pelo produtor é quando o seu tom

    de verde começa a mudar para o amarelo, sendo feito bem na fase inicial da mudança

  • 26

    de coloração. Segundo o produtor, a cultivar é bem resistente ao ataque de pragas e

    doenças, não sendo esses fatores causas de perdas.

    Tanto para pêssegos quanto para goiabas foram observados danos por ataque

    de aves, especificamente das maritacas (Psittacara leucophthalmus), totalizando uma

    perda de três caixas a cada 10 caixas colhidas. Quando não está em época de chuvas,

    a perda reduz para uma caixa a cada 10 colhidas.

    Estudos de caso mais aprofundados são necessários para apresentar soluções

    para essa causa de perda. Anteriormente, foram testados o uso de espantalhos, uso

    de sons, uso de cd’s, porém, não foi obtido sucesso. Em todas as alternativas citadas,

    as aves se acostumaram com a técnica usada e voltaram a atacar os pomares.

    No caso da goiaba, os frutos danificados são usados pela própria comunidade

    local, na confecção de doces para o próprio consumo.

    A banana cultivada na localidade é a cultivar Prata, a qual tem maior demanda

    de mercado, de acordo com os produtores. A colheita é feita quando começa mudança

    de cor de verde para um leve tom amarelado, e seu processo de amadurecimento

    ocorre com etileno em câmaras frias, tendo como finalidade, a uniformidade para

    então ser destinada aos centros de distribuição.

    Na colheita da banana, foi observada uma perda isolada por erro de

    armazenamento. As frutas colhidas foram armazenadas em temperatura abaixo de

    5ºC, sendo muito inferior à temperatura de armazenamento ideal. A temperatura ideal

    para armazenamento de banana em câmara fria deve ser entre 12º a 16º de acordo

    com CHITARRA e CHITARRA (2005).

    Assim como no caso dos frutos de ameixa, o uso de câmara fria e aplicação do

    gás etileno para amadurecimento de bananas indica elevado conhecimento

    tecnológico do produtor. Entretanto, uma assistência técnica para auxiliá-lo nas

    decisões e realização correta das técnicas adotadas impediria essa perda que ocorreu

    por temperatura de armazenamento inadequada.

    Ademais, não foram observados outros tipos de perdas, nem por transporte e

    nem por pragas ou doenças, uma vez que é feito controle fitossanitário e ainda, após

    a colheita os frutos são destinados na mesma semana aos centros de distribuição.

    Portanto, as visitas realizadas foram importantes para a troca de ideias e

    informações entre os alunos do Campus Barbacena do Instituto Federal e os

    produtores. Os dados obtidos sobre as perdas dão base para novos estudos visando

  • 27

    solucionar as causas das perdas encontradas, e assim, aumentar o lucro para o

    pequeno produtor. Além disso, houve um maior relacionamento entre os fruticultores

    e os discentes da Instituição, contribuindo para a maior vivência dos mesmos na

    comunidade rural. Isso fez com que percebessem melhor qual a realidade da

    fruticultura na região, suas potencialidades e desafios e onde eles, como futuros

    agrônomos, podem agir para o desenvolvimento rural local.

    Conclusão

    A pesquisa de novas tecnologias no controle de aves pragas, como maritacas

    (Psittacara leucophthalmus) se faz necessário, para que haja uma redução nas perdas

    provocadas pelas mesmas.

    São necessárias ações que aproximem os alunos de Agronomia dos fruticultores

    locais, de forma que a troca de informações seja constante. Isso permitirá o

    crescimento e autonomia dos pequenos fruticultores locais e a aquisição de

    experiência, em campo, dos alunos do curso.

    Agradecimentos

    À Pró-reitoria de Extensão do IF Sudeste MG e à Diretoria de Extensão do

    Campus Barbacena. Aos produtores rurais da localidade do Costas que compõem a

    OMOPRUC. Aos docentes, técnico-administrativos e alunos que direta ou

    indiretamente contribuíram para a realização.

    Bibliografia

    CHITARRA M.I.F., CHITARRA A.B. Pós-colheita de frutas e hortaliças: Fisiologia e

    manuseio. 2ª Edição. Lavras: UFLA, 2005.

    CASTRO, L. A. S. et al. Ameixeira: cultivares indicadas para plantio nas regiões

    produtoras brasileiras. Embrapa Clima Temperado-Circular Técnica (INFOTECA-

    E),2008. Disponível em:

    https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Circular_81_000gixajtev02wx5ok

    05vadr1biqsygg.pdf. Acesso em 10/01/2018

    PAULA JÚNIOR, T. J. 101 culturas: Manual de tecnologias agrícolas. EPAMIG,

    2007.

  • 28

    H0FFMANN, A. et al. Sistema de produção de pêssego de mesa na região da

    serra gaúcha. Embrapa Uva e Vinho ,2003. Disponível em:

    https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Pessego/PessegodeMe

    saRegiaoSerraGaucha/autores.htm Acesso em 16/01/2018 as 10:32.

    MEDEIROS C. A. B, RASEIRA M. do C. B. A cultura do pessegueiro. EMBRAPA.

    Centro de Pesquisas Agropecuária de Clima Temperado (Brasília, DF).Brasília, 1988.

    Página 15.

    PENTEADO, S. R. Cultivo ecológico da ameixeira (Prunus salicina Lind): Série

    Produtor Rural – nº 17. ESALQ - Divisão de Biblioteca e Documentação, 2002.

    Disponível em:

    http://www4.esalq.usp.br/biblioteca/sites/www4.esalq.usp.br.biblioteca/files/publicaco

    es-a-venda/pdf/SPR17.pdf Acesso em 15/01/2018 as 21:20.

    https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Pessego/PessegodeMesaRegiaoSerraGaucha/autores.htm%20Acesso%20em%2016/01/2018%20as%2010:32https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Pessego/PessegodeMesaRegiaoSerraGaucha/autores.htm%20Acesso%20em%2016/01/2018%20as%2010:32

  • 29

    Cidadania de gênero em debate nas comunidades rurais e

    periurbanas da mesorregião do Campo das Vertentes

    de Minas Gerais

    Gender citizenship in conversations in the rural and periurban

    communities of the meso-region of Campo das Vertentes

    in Minas Gerais

    Andressa Lisboa Martins, [email protected]

    Parley Lopes Bernini da Silva, [email protected]

    Josenilder Carlos da Silva, [email protected]

    Vilma Maria Azevedo, [email protected]

    Resumo: A ação extensionista aconteceu em 2016, na mesorregião Campo das

    Vertentes, Minas Gerais, com o objetivo de capacitar mulheres através da metodologia

    participativa. Os temas abordados foram: gênero, políticas públicas e organizações

    produtivas. O método utilizado foi o descritivo exploratório. Foram realizadas sete

    oficinas interativas para quarenta e seis mulheres, divididas em três grupos, e uma

    oficina para um grupo extra, composto de vinte e dois agricultores e agricultoras.

    Palavras-chave: Empoderamento; Organizações produtivas de mulheres; Políticas

    públicas.

    Abstract: The extensionist action took place in 2016, in the Camp of Vertentes

    mesoregion, Minas Gerais, with the objective of empowering women’s through

    participatory methodology. Topics covered: genre, public politics and productive

    organizations. The method was the exploratory descriptive. Seven interactive

    workshops were held for forty-six women, divided into three groups, and one workshop

    for an extra group, composed of twenty-two farmers.

    Keywords: Empowerment; Women's productive organizations; Public policies.

    1 Acadêmica do Curso Bacharelado em Nutrição, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 2 Acadêmico do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 3 Acadêmico do Curso Superior de Tecnologia em Alimentos, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 4 Mestre em Extensão Rural - UFV, Técnico Administrativo do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena.

  • 30

    Introdução

    O tema Gênero na perspectiva da igualdade de direitos e oportunidades para

    as mulheres emergiu após o processo redemocratização política do Brasil e ganhou

    destaque nos múltiplos espaços da sociedade: pesquisas, literatura, canais de

    comunicação e outros.

    A história das mulheres brasileiras foi regida pelo sistema patriarcal, excluindo-

    as por um longo tempo dos direitos civis e sociais, das oportunidades educacionais,

    do trabalho, do sufrágio e também do acesso aos espaços públicos. Tais fatores

    restringiram o campo de ação destas mulheres.

    A obra Patriarcado, poder e violência nos revela que o poder e a violência da

    cultura patriarcal contrapõe e reproduz a naturalização de hierarquias e desigualdades

    de gênero e fortalece: o feminicídio; o desempoderamento feminino; o assédio

    moral/sexual e o estupro de mulheres; a negação e ataques aos feminismos e a falta

    de políticas públicas fundamentais para a garantia da vida, da segurança e da

    cidadania plena das mulheres no Brasil contemporâneo (STEVENS et al, 2017).

    Segundo o Portal Brasil, 2015, as mulheres já são mais da metade da

    população, o equivalente a 51,4%, e são responsáveis pelo sustento de 37,3% das

    famílias. Também os dados da PNAD/IBGE5, apontam que 73% das esposas ganham

    menos que os maridos, além de assumirem o aumento crescente de

    responsabilidades, no comando de suas famílias.

    Nas comunidades rurais barbacenenses, os valores culturais patriarcais

    marcam as relações sociais entre agricultores e agricultoras. Estas trabalham na

    forma de ajuda, um trabalho sem remuneração; possuem baixa escolaridade, além de

    atuarem de forma manipulada nos espaços públicos e comunitários (AZEVEDO,

    2012).

    Na atualidade, as convenções e os tratados internacionais forçam mudanças

    jurídicas, legislativas e sociais em favor da mulher. No caso do Brasil, a Constituição

    Federal de 1988, que inovou o campo dos direitos civis e sociais6, vem favorecendo a

    redução da disparidade de gênero.

    5 Segundo Jussara Prá (2012), a Constituição de 1988, a Constituição Cidadã, inovou o campo dos direitos civis e sociais 6 PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios; IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

  • 31

    Para Sen (2004), a obtenção da autonomia feminina faz parte do que ele intitula

    “condição de agente das mulheres”, que são quesitos ligados às oportunidades

    sociais, como o acesso à educação, à saúde, ao trabalho, emprego e renda. Na

    abordagem do trabalho coletivo, Yannoulas (2001), ao analisar grupos de mulheres,

    percebeu o desenvolvimento de suas potencialidades via o acesso à informação, ao

    aprimoramento e à interação, quando participaram de programas de formação

    baseado em metodologias participativas.

    As considerações introdutórias motivaram esta ação extensionista, como um

    projeto de extensão, que buscou agir na estrutura das mulheres, sujeitas do estudo,

    com o intuito de empoderamento das mesmas, por meio do ganho de cidadania

    substantiva, fortalecimento dos grupos, acesso à informação, melhoria da percepção

    destas sobre os assuntos de sua ingerência, por meio de capacitação

    socioprofissional na abordagem de Gênero, políticas públicas e organizações

    produtivas de mulheres, realizada por meio de oficinas interativas e palestras.

    Metodologia e Descrição da Experiência

    Neste estudo, foi realizada uma pesquisa descritiva exploratória, por meio de

    estudo e caracterização das sujeitas do estudo, bem como, dos grupos de mulheres,

    com vistas a observar as particularidades de cada um. Para isto, foi elaborado um

    survey, no formato de questionário de pequena complexidade, objetivando

    caracterizar o público e balizar a ação de acordo com as necessidades e a realidade

    social de cada grupo de mulheres.

    Os trabalhos foram construídos e desenvolvidos com base nas metodologias

    participativas e nos princípios da pedagogia extensionista, buscando atender

    demanda sentida e identificada pelas entidades parceiras.

    As mulheres participantes, em sua maioria, são artesãs de culinária das

    comunidades rurais e periurbanas pertencentes à Mesorregião Campo das Vertentes,

    nos municípios de São João del-Rei e Desterro do Melo.

    Em São João del-Rei, o projeto atendeu duas comunidades, uma na periferia,

    formada por um grupo de dezesseis mulheres, reunidas por meio de oficinas

    interativas na Casa da Cidadania7, do poder público local e a outra ação aconteceu

    7 Casa da Cidadania, uma ação da Secretaria Municipal de Assistência Social, que atende a população de baixa renda da periferia, com cursos de qualificação profissional e integração, internet e apoio psicossocial.

  • 32

    no salão paroquial de uma comunidade rural, Santo Antônio do Rio das Mortes, para

    um grupo de doze mulheres. Os dois grupos foram mobilizados com apoio do poder

    público, Secretaria da Assistência Social e participantes do Movimento Social da

    Ecosol (Figura 1). Na comunidade rural de Desterro do Melo, dezoito mulheres

    agricultoras, reunidas no salão paroquial local, participaram da ação extensionista e

    estas foram mobilizadas pelo sindicato rural local e associação rural Alia8r. Os três

    grupos totalizaram quarenta e seis mulheres e abaixo apresentados graficamente.

    Figura 1. Público participante da ação extensionista.

    Fonte: autores do projeto

    Fonte: dados da pesquisa

    8 Aliar Associação Regional da Agricultura Familiar.

  • 33

    Fonte: dados da pesquisa

    Como atividade complementar nesta ação extensionista, foi realizada uma

    oficina interativa na abordagem de Gênero, na escola da comunidade rural dos Costas

    da Mantiqueira, em Barbacena-MG, para um público de vinte e dois agricultores e

    agricultoras.

    A ação extensionista buscou adequar as atividades de qualificação, conforme

    as peculiaridades de cada grupo e de cada comunidade. As educandas das

    comunidades rurais já se encontram em um processo de empoderamento mais

    avançado que as da periferia, devido a estas já trabalharem na comercialização de

    seus produtos do artesanato de culinária: bolos, pães, doces, broas e outros, em feiras

    e políticas públicas rurais (Figura 2).

    Figura 2. Fabricação de produtos para as políticas públicas PNAE9 Fonte: obtidas através do projeto

    9 Programa Nacional de Alimentação Escolar, política pública do Governo Federal para atender demanda da educação

    24%

    18% 26%

    32%

    Gráfico 2

    Comunidades Rurais e Periurbanas participantesCasa da Cidadania,

    Comunidade da Periferia ( 16)

    Comunidade Rural Sto Antônio

    do Rio das Mortes ( 12)

    Desterro do Melo (18)

    Comunidade Rural Costas da

    Mantiqueira( 18)

  • 34

    A vigência do projeto foi de setembro a dezembro de 2016. Três etapas

    orientaram os trabalhos: Primeira etapa, organizativa, para os pesquisadores,

    orientadores e colaboradores e os estudantes, com o aprofundamento teórico e

    sensibilização para os temas: Gênero; violência doméstica; políticas públicas

    direcionadas paras as mulheres; ONU Mulher10 e políticas públicas rurais PNAE e

    PAA11 , além das orientações acerca do método científico e da pedagogia

    extensionista. Segunda etapa, nesta fase foi elaborado o questionário de pesquisa de

    caracterização das sujeitas do estudo e o instrumento de avaliação das atividades

    extensionistas pelas educandas. Terceira etapa: o trabalho de campo (Figura 3).

    Figura 3. Oficina interativa junto às educandas na Casa da Cidadania. São João del-Rei – MG. Fonte: coordenadores do projeto.

    Em todas as localidades, as atividades iniciaram com a reunião de acolhimento

    junto às mulheres, apresentação do projeto e, em seguida, discutimos Gênero com

    foco no empoderamento da Mulher; na redução das desigualdades e violência contra

    Mulher. Na periferia de São João del-Rei, na Casa da Cidadania, as atividades se

    deram em três encontros, por meio de oficinas interativas nas temáticas Gênero;

    Saúde e Alimentação Saudável. Nesta etapa, houve o apoio de docente da área da

    Enfermagem e de dois Nutricionistas da Instituição, servidores técnico-

    administrativos. Na comunidade rural Santo Antônio do Rio das Mortes e em Desterro

    do Melo, foram realizados dois encontros, em cada comunidade, com oficinas

    10 Programa de Saúde da Família, ofertado pelo Governo Federal. 11 PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar e PAA- Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar.

  • 35

    interativas na abordagem de Gênero e As Organizações Produtivas de Mulheres e

    Alimentação Saudável. A palestra “O papel da Mulher nas Organizações Produtivas

    Rurais”, na comunidade rural dos Costas, em Barbacena-MG, finalizou o trabalho de

    campo desta ação extensionista.

    O projeto de extensão totalizou oito encontros presenciais, nas quatro

    diferentes comunidades, sendo um trabalho desafiador, uma vez que o tempo de

    execução do projeto foi curto, porém com momentos de grande aprendizado e ricas

    trocas de saberes.

    Quanto à análise dos dados desta pesquisa, a opção escolhida para realização

    da discussão dos dados foi a da média dos percentuais obtidos de maior significância,

    e estes apontaram: no quesito faixa etária das sujeitas do estudo, a maior significância

    foi de 40 a 49 anos, com um percentual médio de 42%; quanto ao estado civil a média

    de 51% apontou serem estas mulheres casadas. Na questão da escolaridade,

    destaque para o Ensino Médio, com percentual de 34%. Na abordagem da ocupação,

    as atividades do lar ocuparam o maior percentual: 48% e na ocupação complementar,

    39% demonstrou que as educandas exercem atividades urbanas como faxina e outros

    trabalhos similares. No que tange a renda pessoal, destaca-se que 65% possuem uma

    renda inferior a R$ 440,0012 . Na questão da renda familiar, 38% das entrevistadas

    apontaram ser no valor superior a um salário mínimo e inferior a um salário mínimo e

    meio.

    Os dados apresentados apontam que as mulheres rurais e da periferia vêm

    buscando sua inserção socioeconômica, por meio de trabalhos vinculados ao âmbito

    privado, como artesanato de culinária e com trabalhos relacionados ao lar, faxina e

    outros trabalhos relacionados a uma baixa remuneração, mas que, ainda assim,

    trazem consigo uma forma de emancipação pessoal. Segundo Sen (2004), o acesso

    ao trabalho e renda são fatores essenciais para que a mulher desenvolva sua

    condição de agente, que é uma categoria de análise que se aproxima do

    empoderamento pessoal.

    Os dados relacionados à questão das educandas possuírem filhos menores

    que dezoito anos, ficou em percentual de 53% e na análise individual por grupos, as

    mulheres da comunidade rural de São João del-Rei, destacaram percentual de 75%.

    Os percentuais apresentados demonstram que as famílias das mulheres participantes,

    12 Valor equivalente a meio salário mínimo ano de 2016.

  • 36

    em sua maioria, possuem filhos que ainda precisam dos cuidados diários da Mãe,

    sendo estes crianças e adolescentes. Esses percentuais correspondem à literatura

    que aponta serem as mulheres as principais responsáveis pela perspectiva do cuidado

    diário dos filhos.

    Com relação às políticas públicas de integração social e renda, em 52%

    destaca-se o Bolsa Família e em 19% o Salário Maternidade. As demais políticas

    públicas não se destacaram com percentual significativo.

    A discussão que se segue aborda as relações de poder na família. Os dados

    demonstraram que em 73% das famílias as decisões são compartidas, o que nos leva

    a crer que há consenso cooperativo nessas famílias, conceito apresentado por Sen

    (2004) e relacionado ao ganho expressivo de poder por parte das mulheres que já

    opinam e participam das decisões em família.

    Com relação ao uso da renda da mulher obtida por meio do trabalho ou das

    políticas públicas de integração de renda, um 50% das mulheres do meio rural

    sanjoanense, responderam entregar tal renda ao esposo e este decide como gastar

    essa renda. Este fator revela um sério desempoderamento dessas mulheres. Quanto

    às demais participantes da pesquisa, 53% das mulheres utilizam sua renda com a

    família e consigo própria, revelando a existência de um processo de empoderamento

    nesta abordagem. Essas mesmas mulheres apontaram, em 62%, que cuidam de sua

    saúde, beleza e higiene e as do rural sanjoanense, em 100%, apontaram que

    priorizam atividades que as tornem informadas. Quanto à liberdade pessoal de ir e vir,

    93% responderam já possuir essa liberdade.

    As participantes sanjoanenses rurais e da periferia revelaram em 32% já terem

    sofrido violência doméstica e não ter tido coragem de denunciar. Quanto as mulheres

    de Desterro do Melo, 84% destas afirmaram nunca terem sido vítimas de violência

    doméstica.

    Ao analisar o convívio cotidiano com familiar e vizinhos usuários de drogas

    lícitas e ilícitas, 93% das sanjoanenses apontaram conviver com esse problema,

    embora esta mesma questão para as participantes do Desterro do Melo apresentou

    um percentual de 44%.

    No debate das políticas públicas em favor das mulheres, um percentual de

    83%, revelaram ser conhecedoras destas e 88% já ouviram falar da Lei Maria da

    Penha. No debate da igualdade de direitos entre homens e mulheres, 62%

    responderam que acham que os direitos são iguais.

  • 37

    Algumas questões foram apresentadas na discussão acerca das oportunidades

    que podem melhorar a condição de vida das mulheres e as que mais se destacaram

    foram o acesso ao trabalho, emprego e renda, com percentual de 89%, para os três

    grupos estudados e a questão do acesso a creches e escolas em tempo integral, para

    75% das sanjoanenses, este fator é relevante para elas, embora, para as participantes

    do Desterro do Melo este quesito apresentou um baixo percentual: 16%. Segundo

    Andrade (2016), as tarefas cotidianas de cuidados com filhos, idosos, enfermos ficam

    a cargo da mulher, especialmente o cuidado com filhos tornam-se obstáculos à

    participação feminina no mercado de trabalho. Sendo assim, com base nos dados, o

    acesso à creche é indispensável para que a mulher exerça atividades remuneradas.

    Considerações finais

    Este projeto de extensão foi relevante por favorecer a formação cidadã das

    mulheres e estudantes participantes e por melhorar a percepção das educandas nas

    questões de sua ingerência, favorecendo a elas ganho de poder, a vivência coletiva,

    as trocas de saberes, voz, visibilidade e o acesso à informação e à formação educativa

    social, ferramentas imprescindíveis para o processo de empoderamento pessoal e

    coletivo destas.

    Na abordagem da extensão acadêmica, o projeto propiciou aos estudantes

    alargamento de visão sobre temas centrais e transversais, estimulando suas

    potencialidades para o trabalho de pesquisador extensionista, favorecendo o

    despertar deste no campo da investigação científica e contribuindo para sua formação

    acadêmica e de futuro profissional.

    Este projeto veio ao encontro das premissas da nossa Instituição de Ensino,

    que atua desde sua constituição com responsabilidade social, participando dos

    problemas da comunidade e de seu entorno.

    Por fim, este foi um trabalho desafiador e envolvente para todos, servidores e

    estudantes, bem como, para as mulheres participantes, uma vez que este se revelou

    como uma oportunidade de aprendizado, de engajamento, de ouvirmos e nos

    envolvermos com as questões vivenciadas por essas mulheres, buscando a

    Instituição para os problemas da contemporaneidade, trazendo para o debate

    assuntos que ampliarão a visão de mundo de todos nós, por meio da oportunidade de

  • 38

    acesso e debate de questões emblemáticas, pela vivência coletiva que estreita laços,

    favorece reflexões que poderão gerar futuras soluções.

    Referência Bibliográfica

    ANDRADE, Tânia. Mulheres no mercado de trabalho: onde nasce a

    desigualdade? Estudo Técnico de Consultoria Legislativa da Área V Direito do

    Trabalho e Processual do Trabalho. Câmara dos Deputados, 2017.

    AZEVEDO, Vilma Maria. Os desafios para o empoderamento da mulher a partir

    do Programa de Aquisição de Alimentos: o caso de Barbacena-MG. 177p.

    Dissertação (Mestrado em Extensão Rural). Universidade Federal de Viçosa-MG,

    2012. Disponível em:

    http://www.extensao-rural.ufv.br/dissertacoes/2012/Vilma%20Maria%

    20Azevedo.pdf Acesso em 02 de junho de 2015.

    GIL, Antônio Carlos Métodos e técnicas de pesquisa social. - 6. ed. - São Paulo:

    Atlas, 2008.

    GONÇALVES, Andressa Santos (1); GONÇALVES, Cynthia Aparecida (2); SOUSA,

    Junia Marise Matos (3); LORETO, Maria das Dores Saraiva de (4). A centralidade do

    trabalho feminino. II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em

    Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013.

    PRÁ, Jussara Reis. Políticas Públicas, Feminismos e Cidadania de Gênero. XI

    Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política. Brasília, DF, 2014. Disponível

    em

    . Acesso em 07 de abril de

    2015.

    SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. 44. ed. São Paulo: Companhia

    das Letras, 2004.

    STEVENS, Cristina, OLIVEIRA Susane, ZANELLO Valeska, SILVA Edlene,

    PORTELA Cristiane. (Orgs). Mulheres e violências: interseccionalidades. Brasília,

    DF: Technopolitik, 2017. 628 p.

    YANNOULAS, Sílvia C. Notas para integração de gênero na Educação Profissional.

    In VOGEL, Arno (org.) Trabalhando com a diversidade Planfor: raça/cor, gênero

    http://www.extensao-rural.ufv.br/dissertacoes/2012/Vilma%20Maria%25%2020Azevedo.pdfhttp://www.extensao-rural.ufv.br/dissertacoes/2012/Vilma%20Maria%25%2020Azevedo.pdf

  • 39

    e pessoas portadoras de necessidades especiais. São Paulo: UNESP;

    Brasília:FLACSO do Brasil, 2001, p. 69-105.

    Pesquisas complementares em Sites e Vídeos Youtube

    Vídeo Igualdade de Gênero - Youtube - 16 de mar de 2016 - Vídeo enviado por ONU

    Mulheres Brasil

    Vídeo Empoderamento da Mulher – Youtube - 16 de mar de 2016 - Vídeo enviado por

    ONU Mulheres Brasil https://www.youtube.com/watch?v=6RSc_XYezig

    Vídeos Youtube: História de Mulheres e a Mulher na Agricultura Familiar.

    Pesquisa no site:.

  • 40

    Voz e visibilidade para os remanescentes indígenas e

    quilombolas do entorno de Barbacena, Minas Gerais

    Voice and visibility to the indigenous remnants and

    quilombolas surrounding Barbacena, Minas Gerais

    Gabriela de Rezende Garcia, [email protected]

    Ana Carolina Pedrosa Tavares, [email protected]

    Higor Leonardo Domingos dos Santos, [email protected]

    Leandro Eustáquio Elias, [email protected]

    Vilma Maria Azevedo, [email protected]

    Resumo: O presente texto é o relato de experiência de um projeto, realizado em 2017,

    que teve como objetivo dar voz e visibilidade aos grupos de remanescentes indígenas

    e quilombolas do entorno de Barbacena-MG. O método utilizado neste relato de

    experiência foi o descritivo exploratório e metodologias participativas, via cinco

    oficinas interativas, cujo objetivo foi o de atender as necessidades dos sujeitos (as) do

    estudo, em abordagens no campo étnico-racial, cultural e social.

    Palavras-chave: Gênero; Indígenas; Quilombolas; Étnico-racial.

    Abstract: The present experience report, carried out in 2017, aimed to give voice and

    visibility to groups of indigenous remnants and quilombolas from the surroundings of

    Barbacena - MG. The method used was the descriptive exploratory and participatory

    methodologies through five interactive workshops, which sought to meet the need of

    the people of the study subjects, in ethnic-racial, cultural and social approaches.

    Keywords: Gender; Indigenous peoples; Quilombolas; Ethnic-racial.

    1 Discente do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 2 Discente do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 3 Discente do Curso Bacharelado em Nutrição, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena. 4 Psicólogo pela UNIPAC-Barbacena e Colaborador Externo 2017, Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena. 5 Mestre em Extensão Rural - UFV, Técnico Administrativo do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Campus Barbacena.

  • 41

    Introdução

    Os estudos apontam que o debate acerca de Gênero, com recorte étnico-

    racial e nas questões relacionadas às mulheres ganharam destaque e foram

    incluídas nas pautas governamentais em tempos recentes, inclusive na Constituição

    de 1988, destacada por Prá (2014) como “constituição cidadã”, por inovar no campo

    dos direitos civis, políticos e sociais, o que contribuiu para o fortalecimento do citado

    debate.

    O projeto de extensão em questão, teve a pretensão de atender um público

    heterogêneo e multicultural, porém com uma convergência: Mulheres, remanescentes

    de populações Indígenas e Quilombolas, que fazem parte dos substratos da

    população excluídos das políticas públicas e das agendas governamentais, até o fim

    da Ditadura Militar e da instauração do processo de redemocratização política do país.

    O público atendido pelo projeto convive diariamente com situações que

    reduzem sua cidadania pessoal e coletiva, em função dos preconceitos, da violência

    simbólica, da violência de fato, das dificuldades no acesso às oportunidades sociais,

    como saúde, educação e trabalho.

    Os estudos enfatizam que o sistema patriarcal e sua cultura retroalimentam e

    mantêm a naturalização das hierarquias e desigualdades, fortalecendo o genocídio,

    feminicídio, desempoderamento, assédio moral/sexual, enfim a falta de políticas

    públicas fundamentais para garantia da vida (STEVENS et al, 2017).

    Por um longo tempo, as mulheres e as populações étnico-raciais foram

    excluídas da própria história da formação do povo brasileiro, com isto, a ação

    extensionista se fez necessária, como uma ferramenta na melhoria de vida dessas

    populações, na elevação da autoestima, enfim, no fortalecimento de todo público

    envolvido na citada ação: estudantes, servidores e familiares da Escola Quilombola e

    as mulheres remanescentes indígenas, bem como os estudantes e servidores do

    Campus Barbacena e parceiros (equipe extensionista).

    Este trabalho foi desenvolvido em comunidades tradicionais, o que implicou na

    necessidade de aplicar a ação extensionista, com apoio da Escola local e do Sinter,

    uma vez que tal população possui seu modo de ser, fazer e viver distintos dos da

    sociedade em geral, o que faz com que esses grupos se autorreconheçam como

    portadores de identidades e direitos próprios (MPMG, 2014, p.12).

  • 42

    Metodologia

    A ação extensionista ocorreu de maio a dezembro de 2017, tendo como

    universo empírico as comunidades rurais de Ponto Chique do Martelo, conhecida

    como comunidade quilombola dos Candendês e Padre Brito, localidade na qual

    encontramos remanescentes dos Indígenas Puris6, distritos de Barbacena-MG, com

    recorte na Escola Municipal Visconde de Carandaí, que atende um público de crianças

    remanescentes indígenas, quilombolas, além dos(as) filhos(as) de trabalhadores

    rurais e fazendeiros do entorno.

    A escola objeto do estudo possui 92 estudantes, do ensino pré-escolar até o 5º

    ano do ensino fundamental, um quadro de 22 servidores públicos municipais e

    também o engajamento e integração com as famílias do seu entorno.

    As estratégias utilizadas nessa ação extensionista foram inspiradas nos

    princípios dialógicos da pedagogia extensionista freiriana e nas metodologias

    participativas, respeitando os princípios da interdisciplinaridade e da transversalidade.

    A ferramenta de pesquisa se deu por meio de um questionário de baixa

    complexidade, com questões abertas e fechadas, que após analisadas favoreceram

    conhecer a realidade dos sujeitos e sujeitas do estudo, bem como traçar o perfil

    destes, e assim, organizar a proposta com vistas atender às necessidades locais.

    A ação foi realizada para atender a demanda sentida e identificada pelos

    parceiros do Sinter/Barbacena7 e das associações das localidades estudadas. Vale

    ressaltar que, ao longo da execução do projeto, houve, a todo momento, colaboração

    e envolvimento dos parceiros e das lideranças locais.

    Os trabalhos junto à escola quilombola se deram noventa dias após o início do

    projeto, pois, no período anterior, foi realizada a preparação da equipe do projeto, o

    levantamento bibliográfico, estudo documental e debate em grupo dos temas

    relacionados ao projeto, em reuniões semanais.

    Houve também encontros com as lideranças locais, com destaque para as

    reuniões com a Mãe de Santo local; a Diretoria e equipe da Escola e também com o

    Secretário de Educação de Barbacena, buscando informações, formação de opinião

    6 Ponto Chique do Martelo e Padre Brito, comunidades na qual residem remanescentes dos Indígenas Puris. 7 Sinter/Sindicato dos Trabalhadores e Empregados Rurais de Barbacena e região; Associação Regional de Comunidade Remanescente de Índios Puri de Padre Brito e Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Comunidade Quilombola dos Candendês.

  • 43

    e levantamento das demandas e engajamento. Nesta perspectiva, Gil (2008) explica

    que a natureza da pesquisa social, enfatiza o conhecimento dos líderes junto aos

    segmentos da população, que lhes concedem autoridade, que se amplia à medida

    que seus saberes ganham credibilidade, tornando-se uma verdade, podendo estes

    definirem normas e procedimentos.

    As ferramentas metodológicas da ação extensionista: os questionários e as

    oficinas interativas foram construídos e desenvolvidos durante os primeiros 80% do

    cronograma da ação.

    Figura 1. Apresentação da bolsista Gabriela na escola Quilombola. Fonte: Vilma Maria Azevedo.

    O atendimento da demanda das mulheres remanescentes dos Índios Puris foi

    complexo, por várias razões: a) distância de Barbacena a Padre Brito, de 22Km, boa

    parte de estrada de chão, um lugar remoto e de difícil acesso; b) dificuldades de a

    maioria destas mulheres participarem das ações do projeto, por trabalharem nas

    fazendas distantes, além do trabalho no lar. Com isto, foram realizadas três reuniões

    com citado grupo de mulheres, sendo que na última discutiu-se direitos e políticas

    públicas em prol das mulheres e, atendendo pedido destas, foi realizada uma oficina

    interativa, a história oral dos Índios Puris, a valorização e preservação da cultura

    indígena8.

    8 Aline Puri remanescente indígena Puri e doutoranda da UFRRJ, com estudos abordando as mulheres remanescentes indígenas no contexto das favelas e periferias do RJ e Apoema Puri um remanescente Puri de Piau-MG, membro do movimento nacional indígena, foram os responsáveis por ministrar a oficina interativa em questão.

  • 44

    Quanto aos remanescentes quilombolas, também houve dificuldades pelas

    mesmas razões, trabalho em fazendas remotas, ampla e diferenciada jornada de

    trabalho, com pouco tempo para capacitação, com isto, a equipe do projeto se reuniu

    com os líderes comunitários: presidente da associação quilombola e a Mãe de Santo

    da localidade. Após discussão e consenso, os líderes apontaram a escola local como

    o público ideal, além de as famílias poderem participar e integrar as ações do projeto.

    Figura 2 Aline Puri e Apoema Puri remanescentes indígenas Puri. Fonte: Vima Maria Azevedo.

    As oficinas interativas ofertadas foram as seguintes: 1) Direitos humanos e

    empoderamento do ser; 2) Plantas de origem africana; 3) Culinária africana

    influenciando a gastronomia brasileira; 4) A diversidade cultural brasileira e o combate

    a todas as formas de discriminação e racismo; 5) Valorização e preservação da

    Cultura Indígena e a oficina