VSD_02_alcool

3
O CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS POR PESSOAS COM DIABETES NÃO É PROIBIDO, DESDE QUE SEJAM OBSERVADOS ALGUNS CUIDADOS Até parece clichê, mas é impossível não falar des- te tema sem citar a frase que vem ao final de todas as propagandas de bebida al- coólica: “beba com modera- ção”. A advertência também é uma recomendação médica quando o assunto é diabetes e álcool. A boa notícia é que os diabéticos não precisam deixar de beber sua cervejinha com os amigos nos finais de se- mana ou se privar de tomar um champanhe nas festas de fim de ano, mas é importante ado- tar certos cuidados. Moderação significa não beber mais do que dois drinques por dia para os homens e apenas um no caso das mulheres. Uma dose equivale, em média, a 360 ml de cerveja, a 45 ml de bebida destilada e a 150 ml de vinho ( veja mais no box ). As restrições são válidas tanto para quem tem quanto para quem não tem a disfunção. Os diabéticos que têm o hábito de beber precisam estar com a glicose bem controla- da e devem se alimentar durante o consumo. Álcool e diabetes Álcool 30 | Vida Saudável & Diabetes

description

 

Transcript of VSD_02_alcool

Page 1: VSD_02_alcool

O cOnsumO de bebidas alcOólicas pOr pessOas cOm diabetes nãO é prOibidO, desde que sejam

ObservadOs alguns cuidadOs

Até parece clichê, mas é impossível não falar des-te tema sem citar a frase que vem ao final de todas as propagandas de bebida al-coólica: “beba com modera-ção”. A advertência também é uma recomendação médica quando o assunto é diabetes e álcool. A boa notícia é que os diabéticos não precisam deixar de beber sua cervejinha com os amigos nos finais de se-mana ou se privar de tomar um champanhe nas festas de fim de ano, mas é importante ado-tar certos cuidados.

Moderação s ignif ica não beber mais do que dois drinques por dia para os homens e apenas um no caso das mulheres. Uma dose equivale,

em média, a 360 ml de cerveja, a 45 ml de bebida destilada e a 150 ml de

vinho (veja mais no box). As restrições são válidas tanto para quem tem quanto

para quem não tem a disfunção. Os diabéticos que têm o hábito de beber

precisam estar com a glicose bem controla-da e devem se alimentar durante o consumo.

Álcoole diabetes

Álcool

30 | Vida Saudável & Diabetes

Page 2: VSD_02_alcool

A aplicação da insulina ou o uso de agentes orais

não devem ser esquecidos por quem consome bebidas

alcoólicas. Da mesma forma, não é recomendado aumentar

a dose do medicamento.

Essas recomendações são fundamentais, já que o álcool é absorvido no estômago e no intestino, mas grande parte é metabolizada pelo fígado. Se a ingestão da bebida alcoóli-ca for mais rápida do que o tempo de diges-tão do organismo, ela percorrerá a corren-te sanguínea e chegará a outros órgãos. “O consumo de bebida alcoólica jamais deve ser feito em jejum por causa do risco de hipo-glicemia”, alerta o endocrinologista Roberto Betti, coordenador do Centro de Diabetes e Doenças Metabólicas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

Em excesso, o álcool prejudica o raciocí-nio, diminuindo, ou até mesmo suprimindo a capacidade de perceber ou reconhecer os sintomas da hipoglicemia. Assim, é impor-tante fazer a ponta de dedo antes, durante e depois da ingestão e entender as variações glicêmicas que acontecem nessas ocasiões. É importante ficar atento aos episódios de hi-poglicemia que podem ocorrer até 24 horas depois do consumo da bebida.

MedicaMentos e insulinaA aplicação da insulina ou o uso de agentes

orais não devem ser esquecidos por quem tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas. Da mesma forma, não é recomendado aumentar a dose do medicamento, pois as chances de hi-poglicemia, nestes casos, são maiores.

O endocrinologista Roberto Betti chama a atenção dos pacientes tipo 2 que fazem tratamen-to com a metformina. Se associado ao consumo de altas doses de álcool, o fármaco pode causar graves danos ao fígado. “Além disso, o álcool esti-mula o apetite e leva o paciente a comer mais do que o necessário, favorecendo o descontrole gli-cêmico”, completa o endocrinologista.

Já a nutricionista Tarcila Beatriz Ferraz de Campos ressalta que o álcool é uma fonte de energia vazia, ou seja, não oferece nutrien-tes importantes à saúde. “Pelo contrário, ele possui sete calorias por grama e, dessa for-ma, favorece o aumento do peso e diminui a absorção de vitaminas e minerais, o que leva a carências nutricionais”. O corpo enxerga a substância como uma toxina (e não como uma fonte de energia) e age tentando expulsá-lo.

Quem utiliza o método de contagem de carboidratos deve considerar a ingestão de bebida alcoólica no cálculo. De acordo com a endocrinologista Lidiane Indiani, é pre-ciso tomar cuidado com doses de correções de insulina muito próximas. “Se contar, por exemplo, 30 gramas de carboidrato e inje-tar insulina exatamente para essa quantida-de, dependendo do alimento ingerido, pode causar um efeito hipoglicêmico”, explica.

o que beber?As bebidas destiladas como uísque, co-

nhaque, vodca e aguardente têm alto teor alcoólico. Elas são purificadas através de um processo que envolve ebulição e destilação a partir de uma substância fermentada, como frutas e grãos. Precisam ser consumidas pelos diabéticos com muito cuidado, pois a absorção delas no organismo é mais rápida do que os demais líquidos e, por isso, podem causar hipoglicemia.

Em contrapartida, as bebidas fermentadas (ou não-destiladas) apresentam teor alcoóli-co inferior. Isso ocorre porque, quando o pro-cesso atinge alta temperatura, os microorga-nismos morrem e a fermentação para. Vinhos, cervejas, espumantes e sidras são alguns exem-plos. Contudo, elas geralmente são adocica-das, o que faz com que a glicemia suba. “Evite bebidas açucaradas, que contenham leite con-densado ou suco de frutas. Se for o caso, use adoçante e frutas de baixa quantidade de car-boidrato, como maracujá e limão”, orienta a nutricionista Tarcila Ferraz de Campos.

O vinho, que costuma gerar dúvidas nas pessoas, não é proibido e quando consumido com moderação traz benefícios ao coração. O endocrinologista Roberto Betti sugere optar pelo tinto seco. “Ele é o ideal para os pacientes com diabetes, e tem, inclusive, efeitos benéfi-cos para o sistema cardiovascular”, avalia.

31Vida Saudável & Diabetes|

Page 3: VSD_02_alcool

CAIPIRINHA COM AÇÚCARMedida: 1 copoPeso: 200 mlCalorias: 187 KcalCarboidratos: 33 g

CERVEJAMedida: 1 lataPeso: 350 mlCalorias: 147 KcalCarboidratos: 13 g

ESPUMANTEMedida: 1 taçaPeso: 100 mlCalorias: 85 Kcal Carboidratos: 12 g

CHOPPMedida: 1 copo tulipaPeso: 290 mlCalorias: 122 KcalCarboidratos: 11 g

CONHAQUEMedida: ½ copoPeso: 100 mlCalorias: 231 KcalCarboidratos: 0 g

SAQUÊMedida: 1 dosePeso: 50 mlCalorias: 63 KcalCarboidratos: 3 g

UÍSQUEMedida: 1 dosePeso: 50 mlCalorias: 120 KcalCarboidratos: 0 g

VINHO BRANCOMedida: 1 taçaPeso: 80 mlCalorias: 70 KcalCarboidratos: 10 g

VINHO TINTOMedida: 1 taçaPeso: 80 mlCalorias: 64 KcalCarboidratos: 9 g

VODKAMedida: 1 medidaPeso: 40 mlCalorias: 126 KcalCarboidratos: 18 g

Fonte: Manual de Contagem de Carboidratos ADJ Diabetes Brasil

CONTAGEM DE CARBOIDRATOS

quais são os riscos?Pessoas que têm complicações de saúde

relacionadas ao diabetes, como obesidade, dislipidemias (aumento dos lipídios – gordu-ra – no sangue, principalmente do colesterol e dos triglicerídeos), pancreatite e impotên-cia sexual, correm riscos mais graves se toma-rem álcool em excesso.

Além disso, o quadro também pode ge-rar neuropatia diabética, afetando os nervos, principalmente em extremidades do corpo como os pés e as mãos; aumentar a pressão sanguínea e pode agravar a retinopatia diabé-tica. “Por isso, é importante manter sempre o controle glicêmico estável e evitar o consumo em excesso de bebidas alcoólicas”, enfatiza a endocrinologista e educadora em diabetes, Lidiane Indiani.

e se passar do liMite?Os sintomas da hipoglicemia são parecidos com os

da embriaguez, como fraqueza, dor de cabeça, visão alterada, tontura, mal estar, tremores, entre outros.

Nesses casos, o aconselhável é ingerir 15 g de car-boidrato de rápida absorção (mel, açúcar, suco de frutas e refrigerante não diet) e medir a glicemia após 15 minutos para verificar se houve aumento dos ní-veis de glicose no sangue. “É de extrema importân-cia hidratar o corpo e fazer a medição em intervalos regulares, já que pode haver hipoglicemia tardia”, fi-naliza a nutricionista Tarcila Ferraz de Campos. Fontes: Lidiane Indiani, endocrinologista e educadora em diabetes na ADJ Diabetes Brasil; Roberto Betti, endocrinologista e coorde-nador do Centro de Diabetes e Doenças Metabólicas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo; Tarcila Beatriz Ferraz de Campos, nutricionista, educadora na ADJ Diabetes Brasil e Mestre em Ciências com Ênfase em Fisiologia Endócrina pela USP

Foto

s: D

rea

mst

ime

e S

hutte

rsto

ck

Álcool

32 | Vida Saudável & Diabetes