Wayne de Gothan - Tracy Hickman

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  • DADOS DE COPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com oobjetivo de oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem comoo simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.

    expressamente proibida e totalmente repudavel a venda, aluguel, ou quaisquer usocomercial do presente contedo

    Sobre ns:

    O Le Livros e seus parceiros, disponibilizam contedo de dominio publico e propriedadeintelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educao devemser acessveis e livres a toda e qualquer pessoa. Voc pode encontrar mais obras em nossosite: LeLivros.Info ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link.

    Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando pordinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel.

  • Ficha Tcnica

    Wayne of Gotham 2012 by DC ComicsCopyright 2012 DC Comics

    Copyright 2013 Casa da PalavraTodos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998.

    proibida a reproduo total ou parcial sem a expressa anuncia da editora.

    BATMAN and all related characters and elements are trademarks of and DC Comics. (s13)Publicado sob acordo com a Harper Collins Publishers www.dccomics.com

    Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa.

    Direo editorial

    Martha RibasAna Cecilia Impellizieri Martins

    Coordenador do selo FantasyRaphael Draccon

    EditoraFernanda Cardoso Zimmerhansl

    Editora assistenteBeatriz SarloCopidesque

    Marluce MeloReviso

    Raquel MaldonadoCapa

    Rico BacellarFoto de capa

    WBDA/ DC Batman Comics: Urban Legend 6

    CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    H536wHickman, Tracy, 1955-

    Wayne de Gotham / Tracy Hickman ; traduo Edmundo Barreiros. 1. ed. Rio de Janeiro : Casa da Palavra, 2013.ISBN 978-85-7734-416-1

    1. Batman (Personagem fictcio) - Fico. 2. Segredos de famlia - Fico. 3. Fico americana. I. Barreiros, Edmundo, 1966 - II. Ttulo.

    13-04232 CDD: 813CDU: 821.111(73)-3

    CASA DA PALAVRA PRODUO EDITORIAL

    Av. Calgeras, 6, 1001 Rio de Janeiro RJ 20030-07021.2222 3167 21.2224 7461

    [email protected]

  • Este livro dedicado a Ryan Hickmanporque ele pediu

  • PRLOGO

    CRIANDO UM HOMEM

    Manso Wayne / Bristol / 16h24 / 21 de setembro de 1953

    Droga, garoto! Levante-se!Thomas Wayne mais uma vez se encolheu ao ouvir a voz. Era um reflexo enraizado nele.

    Em todos os seus quinze anos de vida aquele recuo havia sido to natural quanto respirar, toautomtico quanto piscar.

    No assim que se segura uma arma!Patrick Wayne era um grande homem em uma grande cidade, com mos largas e fortes que,

    Thomas no tinha dvida, haviam dobrado e dado forma ao prprio ao que estava nasfundaes de Gotham City. Sua voz superava seu tamanho, rugindo na escurido, ecoandonas paredes invisveis em uma cascata de ecos que chegava s entranhas da terra. A lanternade mo do velho lanava uma coluna de luz amarela que feria os olhos do garoto.

    Agarre a coronha com a mo direita na altura do gatilho para poder erguer o cano peloguarda-mo! E que inferno, segure-a cruzada sobre o corpo com o cano para baixo.

    Thomas reajustou devidamente a forma de segurar a escopeta. As mos tremiam tanto quetinha medo de deix-la cair. Suor se acumulava entre as omoplatas sob o suter e a camisacom colarinho, a despeito do frio mido da caverna. Alguma parte de sua mente registrou ofato de que os jeans novos ficariam destrudos. Era uma distrao de sua mente. Ele sentiu oque viria a seguir.

    A grande mo bateu nas costas de Thomas, empurrando-o para dentro da caverna. O jovemodiava o escuro. As paredes e o teto invisveis da caverna o oprimiam. Ele curvou osombros, se apertando enquanto tropeava nas pedras de xisto soltas que eram esmagadas sobseus ps.

    Custe o que custar, garoto, vou fazer de voc um homem rugiu Patrick atrs dele.Thomas conhecia aquela combinao melhor do que os coquetis que sua me o fazia

    preparar para ela toda noite e, ultimamente, toda tarde tambm. Seu pai conseguiradesenvolver doses iguais de fria e lcool com um toque de decepo. Nunca importava deonde vinha quem ou o que irritara o velho era irrelevante, Thomas sabia. Tudo o queimportava agora era que Thomas havia se tornado o centro da insatisfao do pai...Novamente. Sua prpria masculinidade havia sido de alguma forma ameaada, e agora amasculinidade seria injetada no filho a qualquer custo.

    Acha que aqueles quadrinhos iro mant-lo vivo em Gotham City? L fora matar oumorrer, no como aquele mundo de quadrinhos em que voc vive! E voc hoje vaiaprender a matar, filho. Voc ir matar alguma coisa!

    Ele podia ouvi-los.

  • Mesmo acima da voz tempestuosa do pai ele podia ouvir os morcegos acordando.Era de tarde, e ele atrapalhara seu descanso. A luz fraca das Evereadys que se esgotavam

    na lanterna do pai refletia em mil pares de olhos cobrindo o teto acima deles.Os morcegos estavam em casa sob a Manso Wayne, e, ao entrar, Patrick e o filho haviam

    perturbado o silencioso equilbrio na caverna entre o mundo acima e o mundo abaixo. Vamos com isso, garoto!O temor se aprofundava. Ele no conseguia impedir que as mos tremessem. Tentou erguer

    o cano da escopeta, mas aquela coisa pouco familiar parecia insuportavelmente pesada, e eleno conseguiu mover os braos. Lgrimas queimaram seus olhos, se acumulando eescorrendo pelas faces na escurido.

    Thomas tentou falar por entre lbios trmulos. O que voc disse, garoto?Thomas podia sentir a presena massiva do pai crescendo acima dele enquanto a luz fraca

    balanava em suas mos. Fale mais alto, garoto! disse Patrick, a voz sacudindo a caverna.Ele ficou paralisado, mas Thomas sabia que desobedecer s tornaria tudo pior. Ele deu

    sua resposta alto o suficiente para atravessar seus dentes trincados. Eu... Eu no consigo! Voc NO CONSEGUE? disse Patrick, enfurecido. Voc descendente de

    cavaleiros que lutaram nas Cruzadas! Os Wayne participaram de todas as batalhas travadasnos Estados Unidos ou nos arredores, deram seu sangue por este pas. Ns construmos asarmas que tornaram este pas forte e grandioso... E voc me diz que NO CONSEGUE!

    A mo grande. A mo forte. A mo que dobrara o ao de Gotham desceu sobre o rosto dogaroto, derrubando-o no cho.

    Thomas ficou cado de costas, soluando. Podia sentir o gosto do prprio sangue no cantoda boca onde o anel de Patrick raspara ao jog-lo no cho. O lado do rosto iria arder algumtempo, mas a dor em sua alma nunca diminuiria, s iria aumentar.

    A escopeta estava cruzada sobre o corpo enquanto ele chorava; os olhos fechados para aescurido da caverna ao redor... A escurido mais profunda de seu pai de p acima dele. Aescurido vigilante dos atentos morcegos.

    A mo grande. A mo forte.Thomas sentiu seu colarinho se juntar atrs do pescoo. Com isso, o suter se esticou,

    colocando-o de p enquanto a arma caa com um estalo no cho de xisto.A mo de Patrick Wayne segurou o filho em uma pegada firme, colocando os rostos a

    centmetros um do outro. A lanterna tremeluziu ao ser apontada para cima, lanando seusrostos em sombras pesadas e contrastantes. Thomas olhou nos olhos do pai.

    Voc um Wayne, garoto! rosnou Patrick no rosto do filho. As palavras cheiravam afrutas podres caindo da lngua encharcada de usque do pai. S h dois tipos de pessoasneste mundo: os caadores e os caados, e bom voc decidir imediatamente que ir caar!No permitirei que o imprio que constru seja desmontado pelo governo e, pelos fogos doinferno, no o entregarei a um filho rato de biblioteca que tem a cabea cheia de quadrinhose nenhum estmago para sobrevivncia.

  • Patrick pegou a escopeta. O cano polido refletiu a luz fraca enquanto o homem enfiava aarma nas mos do jovem Thomas.

    Seja homem! Me mostre que um homem! rosnou Patrick no rosto do seu garoto. Useisto! Mate alguma coisa!

    Thomas parou de tremer, seus olhos de repente concentrados e firmes. Seus lbios seabriram, revelando dentes trincados. Suas mos agarraram a coronha sem pensar.

    Me mostre! berrou Patrick.Thomas se virou, erguendo a escopeta em um movimento rpido, como havia visto o pai

    fazer vrias vezes na rea de tiro atrs da manso.O cano passou diante do rosto de Patrick em seu arco.Thomas ficou paralisado o cano tremendo no rosto do pai.Eu poderia acabar com isto. Poderia apertar o gatilho e faz-lo parar. Ele iria embora

    e pararia de me machucar... Machucar mame... Machucar qualquer um. Tudo seriamelhor se eu pudesse faz-lo parar... Faz-lo parar...

    Mas o dedo do garoto no se moveu.Patrick contornou o filho, ficando atrs do jovem enquanto o cano se movia no ar,

    inseguro. Thomas quase podia sentir os pelos do bigode do pai em seu pescoo, cheirava ohlito azedo.

    O que est esperando? provocou Patrick, a voz roncando nos ouvidos do filho. Achaque eles iro esperar por voc? Acha que eles hesitariam um s momento caso estivessematrs de voc? V em frente, filho. Mate-os... Mate-os antes que eles o matem.

    As mos de Thomas comearam a tremer mais uma vez. MATE-OS! berrou Patrick.A escopeta rugiu. O recuo do disparo lanou a coronha no ombro do garoto, empurrando-o

    para trs conforme tropeava desajeitadamente sobre a massa do pai s suas costas. O cuexplodiu em barulho e movimento, os morcegos encheram o ar com seus prprios sons econfuso. As paredes da caverna desapareceram no fluxo de asas de couro e gritos de ultrajedos morcegos.

    Novamente, garoto! berrou Patrick. Atire novamente!Thomas sentiu a mo em seu ombro. A mo que dobrava ao...Ele no tinha escolha.Lgrimas escorrendo pelo rosto, ele disparou novamente...E novamente...E novamente...

  • CAPTULO UM

    ENFEITIADO

    Aparo Park Docks / Gotham / 1h12 / Hoje

    Voc no pode correr... No pode se esconder...Batman se lanou no quadrado de cimento, pousando agachado, a capa assentando ao

    redor. Ela suavizava sua silhueta na escurido. O punho direito pressionou o cho e eleergueu a cabea.

    Saia, saia, de onde quer que esteja...Era uma paisagem de pesadelo arrancada de um desenho de M. C. Escher. Escadas de

    ferro partindo do pequeno balco de cimento, ligadas de formas absurdas a outras escadas.As escadas torturadas levavam a mais patamares e mais escadas impossveis, uma cascatade peas metlicas se estendendo at o espao infinito. Luzes de trabalho protegidaspendiam em ngulos retos uma das outras. Seus raios fracos mal iluminavam as figuras nassombras abaixo. Algumas estavam nos lados opostos das mesmas escadas, como se agravidade fosse uma questo de ponto de vista pessoal. Seus perfis sombreados balanavamnervosamente no escuro. Revlver, automtica, escopeta, rifle uma variedade de armasapontadas para o espao em ngulos bizarros. Cada uma era diferente e cada uma erasemelhante em aspectos importantes.

    Mos nervosas as seguravam.Dedos nervosos se retorciam nos gatilhos.Passou por sua cabea uma imagem de outro tempo e lugar muito distantes, mas nunca

    distantes dele. As mos de Joe Chill no tremiam. Elas estavam firmes como granito. Seusolhos to inflexveis quanto uma geleira...

    Batman se agachou mais. A bat-roupa era nova, e ele estava satisfeito com a reao. Eraessencialmente uma forma de armadura poderosa, embora sua capacidade de bloquear danosainda no tivesse sido testada. O exterior da bat-roupa ainda usava uma variao leve datrama Nomex/Kevlar, mas felizmente muito do peso havia sido reduzido com o abandono dablindagem. Em seu lugar havia agora um conjunto complexo de exomusculatura sob a tramaexterna. Era sua bat-roupa musculosa, que podia aumentar artificialmente seus movimentosnaturais e sua fora. O sistema bidirecional de neurofeedback mantinha uma estabilidadedinmica imediatamente ligada s respostas neurais voluntrias e involuntrias de seu corpo.Que ele pudesse usar os arrectores pilorum de seus pelos corporais como uma fonte neuralpara controle era ainda mais conveniente. Os polmeros eletroativos eram PEAs lquidos deligao inica que mantinham a voltagem baixa em toda a bat-roupa e a gerao de calor nomnimo. O kevlar era sempre passivo; esta bat-roupa tinha uma defesa ativa, uma cargainica que reagia ao trauma. O ponto fraco era que a bat-roupa podia sangrar caso no

  • reagisse suficientemente rpido.A bat-roupa podia morrer em mim.Eu podia morrer na bat-roupa.Um sorriso passou por seus lbios com esse pensamento.Que simetria maravilhosa.A capa se moveu ao redor dele. Seu tecido era do mesmo polmero reativo, e tambm se

    movia como se tivesse vontade prpria. Ela se deslocava ao redor dele como algo vivo. Seuobjetivo original havia sido dissipar calor para a exomusculatura, mas a mente sempreinventiva e adaptadora de Bruce Wayne encontrara outros usos criativos para a capa.

    a caada. Espreitar aquele que espreita. Predar aquele que preda.Batman ergueu a cabea, vasculhando o labirinto louco que se estendia ao infinito em

    todas as direes. Sua mente estava em disparada. O tempo desacelerava. Ele montava ojogo na cabea.

    Agora os pedaos estavam mais claros. Montou cada um na mente. Avaliar. Pensar emestratgia.

    Jillian Masters. ncora do noticirio das onze da WGXX. Roubou quatro bancos em trsdias. Escapou todas as vezes. Todos acharam que estava cobrindo a matria. No fim, elaera a matria. Segura a automtica de lado com firmeza. Quando ela move o cano, elepara, slido como uma rocha. O canho de 9 mm em seus braos parece ser um velhoamigo.

    Aaron Petrov. Chefe da bolsa de diamantes. Liderou a investigao dos roubos por todoo Diamond District. Ningum pensou em olhar em suas bolsas. Fuzil de assalto com boaposio de disparo. Campo aberto cobrindo todas as plataformas independentemente desuas orientaes. Mo insegura. No atirador de elite e no est familiarizado com aarma. Trs ou quatro tiros antes de conseguir acertar um alvo parado.

    Batman continuou a catalogar os obstculos entre ele e seu oponente do outro lado dotabuleiro retorcido. Aquele que procurava era bvio. Spellbinder antes Fay Moffit dealguma forma recebera alta do asilo Arkham seis semanas antes e imediatamentedesaparecera. Fay no era a primeira a assumir os negcios de Spellbinder. Ela aprenderaos poderes de hipnotismo com seu amante, o Spellbinder anterior um criminoso de quintacategoria chamado Delbert Billings. Conquistou o ttulo aps aposentar Delbert com um tirona cabea. Agora ela usara seus talentos para convencer vrios cidados respeitveis deGotham a cometer seus roubos para ela... Novamente.

    Velha histria... Nem mesmo interessante. Apenas um teste para a nova bat-roupa...Com uma caminhada pelo parque.

    Ele continuou a relacionar os oponentes na cabea.Angel Jane-Montgomery, socialite com uma escopeta... William Raymond, bombeiro

    com uma automtica... Diana Alexandria, celebridade da msica pop com um lanador degranada... James Gordon...

    Batman franziu o cenho sob o capuz.Gordon iria exigir alguma sutileza.Batman fechou os olhos.O capuz na cabea tambm era novo. Us-lo exigira considervel treinamento, mas

  • justificava o esforo. Os sensores na beirada das aberturas para os olhos liam seufechamento de olho, ativando um sistema de imagem subsnico como o sonar de ummorcego que se comunicava diretamente com um implante ligado ao seu nervo tico. Aimagem ainda no tinha detalhes claros, mas ele se adaptara a isso, e lhe dava um campo deviso que podia interpretar tridimensionalmente em todas as direes ao seu redor. Eracomo ter olhos nas costas, nas laterais e na frente da cabea, uma conscincia ttica que seestendia para todos os lados.

    A justia cega. Os lbios de Batman se separaram sobre os dentes.O gerador de imagem do sonar tinha uma vantagem adicional. Era baseado em som, e as

    iluses da Casa de Diverses de Spellbinder quanto curvatura da luz iriam desaparecer.Fcil demais...Batman saltou, os msculos sintticos da bat-roupa fortalecendo suas pernas poderosas.

    Disparou pelo espao aberto, girando pela luz distorcida dos espelhos presos ao longo dosaguo.

    Vieram tiros de todas as direes. O fuzil de assalto cuspiu balas pelo cano, produzindoaltos sons graves de chuff a cada rajada. Vrios gritos de fria e medo penetraram acascata de tiros pois de repente Batman parecia estar em toda parte ao mesmo tempo, suaforma escura voando pelo espao espelhado de iluses e de repente multiplicado mil vezes.

    Espelhos de vidro de segurana foram perfurados pela chuva de chumbo. Vriosestilhaaram com um rudo alto, o vidro arredondado de seus restos caindo como nevecintilante entre as luzes de trabalho que agora balanavam.

    um lugar para comear.Jillian Masters girou sua automtica 9 mm no momento em que Batman baixou o ombro

    para a plataforma de cimento. O msculo do ombro contrado se transmitiu para o traje, quetambm contraiu, amortecendo o impacto enquanto ele rolava. A 9 mm s disparou uma vezantes que o impulso de Batman o colocasse de p, atingindo a mo que segurava a arma comas costas do antebrao. A musculatura fortalecida do traje acertou a automtica com tal foraque ela abriu um comprido corte na mo da apresentadora.

    Chuff... Ping! O projtil do fuzil de assalto ricocheteou em um dos degraus de metal.Foi um, Aaron.Os outros cidados hipnotizados continuaram a disparar, mas o labirinto ainda estava no

    caminho, desviando a pontaria. Os espelhos continuaram a sofrer o pior da carnificinaaleatria. Outros mais estilhaavam a cada momento que passava.

    No h mais tempo.Batman agarrou o pulso da apresentadora furiosa, girou seu corpo e a jogou no cho perto

    de uma das escadas metlicas. Ela logo rolou de barriga, se levantando com as mos.Batman rapidamente ajoelhou em suas costas enquanto levava a mo ao cinto de utilidades.

    Chuff... Clang! O disparo foi na escada, a pouca distncia.Foram dois, Aaron... Talvez voc seja melhor do que eu pensei.O Cavaleiro das Trevas tirou uma comprida fita de plstico preto do cinto. Agarrando as

    mos de Jillian, enrolou a fita em seus pulsos e no suporte metlico do degrau. Com umpuxo rpido e um som rascante, Jillian foi presa ao suporte.

  • Braadeiras plsticas. s vezes o simples o melhor.Chuff... Crack!Mas Batman no estava mais ajoelhado no ponto em que o cimento foi lascado pelo

    terceiro tiro de Aaron.Sua forma negra correu novamente, pulando de plataforma em plataforma... Montgomery,

    Raymond, Alexandria...Gordon. Onde est Gordon?

    Aaron Petrov suava de p na plataforma. Restava apenas uma luz de trabalho, brilhandosobre sua reluzente cabea sem pelos.

    Voc no pode ficar com eles! Eles so meus, e voc no pode tir-los de mim! Vocno pode... Voc... Voc no pode ele gritou para a escurido.

    Aaron ergueu os olhos.A luz desapareceu quando a escurido o engolfou.

    Batman se levantou. Aaron Petrov estava com mos e ps amarrados abaixo dele, gemendoe soluando como uma criana.

    PARADO!Ele estava esperando por mim. Est atrs de mim. Automtica oficial. Gordon sempre

    foi um timo atirador. De alguma forma eu sempre soube em minha alma que ele estarial quando eu morresse. Mas no hoje...

    Batman comeou a se virar lentamente. Eu disse PARADO!Batman parou. Calma, Gordon. Voc est sendo manipulado pelo Spellbinder. O inferno que estou! respondeu Gordon. Havia um tremor em sua voz. Spellbinder

    est trancada em Arkham... Eu mesmo a vi l ontem antes... antes que voc...Ele est com raiva. Sente dor. O que est vendo? O que Moffit o convenceu a ver?As palavras de Gordon cortavam como os cacos de vidro espalhados ao redor deles. Como voc pde? Seu desgraado, voc a matou! Quem? Quem eu matei, Gordon? Voc sequer lembra o nome dela? disse Gordon, a voz gelada. Brbara. Minha

    pequena Brbara... Voc a colocou naquela cadeira de rodas, e agora terminou o servio! Gordon, pense! O Coringa a colocou ali... Lembra? Ela ainda est viva, Jim. Eu devia acabar com voc agora mesmo! berrou Gordon. Mas no vai. Voc ir me prender. No! Vou poupar muito trabalho e dinheiro a essa cidade... Eu vou... Voc um bom policial, Gordon disse Batman, se movendo muito lentamente,

    erguendo as duas mos. Voc vai me prender. Vai garantir que seja feita justia.Batman colocou as duas mos atrs da cabea. Fechou os olhos.A justia cega.

  • Gordon ergueu a arma, avanando. O cano da arma de servio enfiado na base do pescoode Batman, sob seus dedos.

    Na base do crnio.Nenhuma blindagem ativa ou no o protegeria a essa distncia. Isso mesmo, Batman! espumou Gordon. Eu vou garantir que a justia seja feita! Eu

    sou a justia, seu filho da...A capa voou, subitamente cobrindo o rosto de Gordon.J no serve apenas para exibio.Gordon atirou no instante em que a cabea de Batman se deslocou para o lado.O disparo explodiu no ouvido de Batman enquanto ele se virava para Gordon. A interface

    neurobinica foi danificada, e por um momento Batman ficou realmente cego ao abrir osolhos. A capa ainda estava enrolada no pulso do comissrio de polcia, puxando-o parafrente, at o alcance de Batman.

    O chute giratrio custou a Gordon seus culos, mas o comissrio estava alimentado porraiva, vingana e desespero. Conseguiu disparar sua arma mais duas vezes em uma loucafria antes de Batman arranc-la de sua mo. Ela caiu no vazio ao redor deles, enquantolutavam. Gordon no tinha nada a perder com a morte de seu oponente. Batman tinha tudo aperder.

    Gordon finalmente caiu, estremecendo sob os golpes cuidadosos de seu velho amigo.Batman o prendeu como havia feito com os outros, embora talvez sem a mesma firmeza.

    Ele se ergueu e fechou os olhos.O capuz estava novamente respondendo.O jogo terminara.Era hora de buscar seu prmio.

    Eu fiz o que exigiu, mestre ela murmurou. Tudo exatamente como pediu. Voc ficousatisfeito, mestre? Eu o deixei satisfeito?

    Batman a encontrou em uma pequena sala com uma nica poltrona de espaldar alto. Estavasentada diante de um santurio.

    No santurio, um boneco de ventrloquo olhava para o intruso com olhos mortos e vaziosenquanto ele se aproximava.

    Batman apertou os maxilares. Conhecia o boneco de madeira bem demais para dar ascostas a ele.

    Recebeu o nome de Woody quando foi esculpido na penitenciria de Blackgate. O patbulohavia sido desmontado aps uma execuo frustrada em 1962, e um perptuo chamadoDonnegan resgatara um pouco da madeira para manter as mos ocupadas. Donnegan era umgrande f de filmes noir e de gngster, e conseguiu vestir seu boneco com um terno degngster em miniatura, com listras largas e lapelas combinando. Quando Blackgate ficoumais cheia, Donnegan e Woody ganharam em sua cela a companhia de um assassino bastanteimprovvel, um homem normalmente tmido de nome Arnold Wesker. Ele tentou se enforcar,mas, segundo os relatrios psiquitricos da priso da poca, foi convencido a desistir peloboneco, que Wesker alegou ter comeado a falar com ele. Woody persuadiu Wesker a tentar

  • fugir com ele usando um tnel que Donnegan comeara a cavar no ano anterior, mas queabandonara antes da concluso. Donnegan concordou em ajudar, dizendo que terminaria otnel para a escapada de Wesker. Mas ficou chateado ao descobrir que o homem planejavalevar Woody. Ele estava feliz e seguro em sua cela com Woody e no o deixaria partir.Wesker, sob a iluso de que o boneco mudo realmente o instigava, atacou Donnegan na celacom um saca-rolhas. Seu golpe inicial no acertou Donnegan, mas cortou o rosto de Woody,deixando uma feia cicatriz comprida. Wesker matou Donnegan e fugiu com o boneco. Oluntico foragido e sua marionete logo assumiram novas personas: Wesker se tornou oVentrloquo, enquanto Woody era anunciado como Scarface por causa do talho irreparveldeixado pelo saca-rolhas. O Ventrloquo se revelou um pssimo artista pronunciandoerrado todos os Bs e Gs mas sempre alegou que os conselhos de Scarface fizeram dele umgnio do crime. Ambos desapareceram nos subterrneos de Gotham. Wesker acabou mortopor sua prpria gangue, mas Scarface seguiu em frente como um estranho cone entre asociedade oculta de Gotham. Dizia-se que o boneco havia sido amaldioado ou possudo, ealguns no submundo criminoso juravam que tambm falava com eles.

    Os olhos do boneco pareciam seguir Batman enquanto contornava a poltrona.Fay Moffit olhava sem expresso para o boneco enquanto murmurava um monlogo. Voc realmente muito gentil, Scarboy! Obrigada. Obrigada...Ela ficou em silncio, os olhos desfocados e a respirao fraca. A cabea caiu de lado na

    poltrona.Spellbinder... Est enfeitiada? Quem hipnotiza um hipnotizador?Batman prendeu seus pulsos. Ela quase no se moveu, muito menos resistiu. Jogou o corpo

    flcido sobre o ombro e se virou para partir. Solucionou mais uma, hein, tira?Batman se virou imediatamente.Scarface falava com ele. Voc errou o alvo, meganha disse o boneco, a boca se movendo enquanto falava, os

    olhos mortos fixos em Batman. Deixando o chefo escapar. Eu sou o crebro destaoperao e voc s est catando as migalhas. Mas isso, voc nunca viu bem as coisas.

    um aparelho. Um reprodutor de udio ligado a sensores. Mas dirigido a mim. Issotudo foi para transmitir uma mensagem... Mas qual a mensagem, e de quem vem?

    Veja o seu pessoal, por exemplo! Sal da terra! Santos de Gotham! Que tristeza que umbandido louco tenha acabado com eles em Crime Alley disse o boneco, a cabeabalanando para a frente e para trs. Foi assim que contaram a voc... Uma bela histria deninar para que pudesse dormir noite em sua bela cama quente em Bristol.

    Batman ficou paralisado.Quem quer esteja por trs disto sabe quem eu sou.Scarface balanou a cabea de madeira violentamente de um lado para o outro. Mas agora voc est crescidinho, no ? Tem novos brinquedos para brincar e no

    precisa mais de contos de fadas. Talvez possa acordar e saber que todos os santos pagam umpreo e que suas almas nem sempre so limpas. Eu vou fazer uma festa, s para voc. Achaque tem idade para ir?

    O boneco de repente parou de se mover.

  • S ento Batman percebeu o carto na mo do boneco. Ele levaria o boneco com ele,juntamente com todo o equipamento de udio. No seria bom ter aquelas palavras sendotocadas durante qualquer investigao policial posterior.

    Mas primeiro ele esticou a mo enluvada e pegou o carto estendido. Aparentemente erade tamanho padro, em branco atrs com uma nica linha de texto na frente.

    Voc est convidado.

  • CAPTULO DOIS

    CASO ARQUIVADO

    Batcaverna / Manso Wayne / Bristol / 5h51 / Hoje

    Batman abriu a porta de asa de gaivota do batmvel, agarrou a estrutura de titnio e tentouse levantar. As pernas tremeram, mas ele se ergueu dolorosamente do banco baixo. Esgotaraos capacitores de energia da bat-roupa na Casa de Diverses de Spellbinder, que ficava emAmusement Mile, no limite norte de Newtown District. Ele normalmente teria recarregado abat-roupa na volta usando a energia do carro, mas fora uma viagem muito curta de Newtowna Bristol passando pela Kane Memorial Bridge. Ento agora a bat-roupa era um peso extraque seu corpo dolorido lutava para sustentar.

    Colocou-se de p lentamente ao lado do carro, apertando os pontos de liberao na basedo capuz em sequncia. O colarinho macio ajustado ao seu pescoo afrouxou e ele tirou ocapuz com grande veemncia. Seus cabelos escuros se projetaram em ngulos estranhos, osuor escorrendo da testa. A mscara havia sido tirada, e ele era Bruce novamente,respirando com um pouco mais de dificuldade do que gostaria e olhando para o capuz namo como se fosse uma parte dele removida. Ergueu a mo, passando as costas da luvasobre a barba por fazer. A nova bat-roupa funcionava bem, mas podia ser melhorada.

    Tudo precisa ser melhorado. No est certa. No ainda.Bruce olhou de volta para o batmvel.Batmvel... Que piada. Era o nome que a imprensa de Gotham dera ao seu veculo

    especializado quando aparecera pela primeira vez. Ele desafiava as classificaes desistemas de transporte padronizados, ento lhe deram um nome que pudessem usar: obatmvel. Na verdade, houve muitos batmveis diferentes sua disposio ao longo dosanos, alguns especializados e outros tornados obsoletos pela passagem do tempo e datecnologia. Um de seus preferidos era um Lincoln Futura 1955 muito transformado. Haviasido originalmente o carro de seu pai, e Bruce conseguira resgat-lo do ferro-velho bem atempo. Passara anos trabalhando nele. Nunca o usara, mas gostava da aparncia. A maioriados veculos era mais prtica, projetada para as necessidades especficas da poca, e quasetodos estavam sendo constantemente reconstrudos e melhorados. Muitos eram facilmentereconhecidos como um batmvel as carrocerias se espichando at as onipresentes caudasesculpidas e curvas que de algum modo sempre eram incorporadas aos projetos. Os modelosdos anos 1980 eram musculosos, construdos em torno de motores a jato ou enormesunidades de potncia que berravam na noite. Na poca, ele era mais jovem e gostava dopoder sob suas mos. medida que os batmveis evoluam, se tornavam seno menosmusculosos, mais sutis, com tecnologias de disfarce incorporadas fora bruta.

    A atual verso era, como sempre, uma melhoria da anterior. Gotham era, em grande

  • medida, uma ilha isolada do continente pelo rio Gotham. O que significava que s havia umpunhado de pontes ligando os bairros da cidade propriamente dita ao mundo exterior, muitasdelas um pesadelo para o motorista na hora do rush.

    Bruce abriu um sorriso pesaroso. A imagem de um batmvel caudas negras, ngulosameaadores e motor roncando se arrastando pela ponte Trigate em um engarrafamento erairrisrio.

    A justia deve ser gil... Garantida... E final.Ento aquela encarnao especfica do batmvel era uma modificao que conhecia como

    TS8c. Partira da estrutura de um veculo militar de reconhecimento. Ele o casara a um motorde avio modificado e cmbio e diferencial sob medida. Normalmente funcionava comquerosene de aviao RP-1 relativamente comum e fcil de conseguir. Abafar o som domotor de grande torque havia sido um grande problema, solucionado em parte com umsistema eltrico secundrio quando as distncias das fontes de energia eram curtas e eranecessrio ser furtivo. Tambm havia quatro conjuntos de motores modificados de fogueteRCS montados em giroscpios envolvidos pela carroceria do veculo e usando o mesmocombustvel de foguete RP-1 do motor que podiam dar a ele algum controle sobre ocomportamento do veculo caso estivesse em voo. Tambm havia quatro impulsores defoguete PAM-D reduzidos e presos em grupo traseira do chassi. Ele podia usar um de cadavez se precisasse de um impulso significativo. Os encaixes de armas disponveis foramprojetados especialmente para permitir cargas diferentes dependendo do que Batmanconsiderasse necessrio a cada misso. A cabine tinha sua prpria camada de blindagempassiva, enquanto a cpsula do carro usava uma armadura ativa similar da bat-roupa protegendo no apenas controle, armas, direo e sistemas de sensores, alm do prprioCruzado Encapuzado, mas tambm permitindo que a forma externa do veculo mudasse. Elepodia adotar sua forma de melhor aerodinmica em altas velocidades ou modificar suaaparncia em velocidades reduzidas simplesmente para confundir sua presa no meio de umaperseguio. No havia nenhuma janela no veculo, nem luzes o motorista dependiainteiramente de uma gama de cmeras, radares e sensores de sonar para ter uma imagem doambiente sua volta. Contudo, como a superfcie externa podia se tornar alternadamentebrilhante ou fosca de um plano para o seguinte, podia criar a aparncia do vidro escuroencontrado nos veculos mais comuns se misturando temporariamente ao trnsito senecessrio.

    Ele conceitualmente parecia um mvel, admitia Bruce, mas tambm isso era de certomodo uma iluso, porque as rodas do veculo no eram projetadas apenas para operar nasruas. Pontes eram locais de reteno bloqueados com demasiada facilidade pelo trfegocivil ou pela vigilncia equivocada do Departamento de Polcia de Gotham City. Ento, noltimo ano, a Gotham Power and Light estava melhorando graas influncia de vriosfornecedores das Indstrias Wayne sistemas de energia, gua e saneamento por toda a redede Gotham. O objetivo real havia sido instalar locais de acesso rpido em pontos-chaveespalhados pela cidade onde o TS8c pudesse virar uma esquina e desaparecer da rua, asuspenso alterando a posio das rodas enquanto o veculo mergulhava em tneis de metrabandonados, canais de acesso de servios e mesmo linhas principais do metr caso otrfego permitisse. Seu sistema preferido envolvia um par de garras de trilho que podiam se

  • projetar da frente e da traseira do veculo e se ligar aos trilhos de energia especialmenteconcebidos que percorriam todas as pontes de Gotham. A suspenso varivel podia ento seelevar em relao ao fundo da estrutura da ponte como se fosse uma estrada invertida, lhepermitindo cruzar o rio sob as pontes sem bloqueio, enquanto acima o trfego confusoenfrentava eventuais obstculos armados para apanh-lo.

    Bruce andou lentamente at a bancada de testes. Era instalada no caminho queparcialmente cercava a plataforma giratria na qual o carro estava. Pousou o capuz, seapoiou na bancada e respirou fundo, dolorosamente, vrias vezes. Baixou os olhos para asuperfcie brilhante e viu seu reflexo o encarando.

    Eu um dia fui jovem... Ou no? No me lembro de ser jovem. O rosto ainda forte, mash mais linhas nele do que me lembro. Do crepsculo alvorada, do outono primavera...A roda dos anos girou e eu nunca percebi? No h estaes na tumba desta caverna ondeminha alma vive. Gotham existe em uma eterna noite de chuva ou eu apenas a vejo assim?

    Bruce se virou, novamente se apoiando na bancada. O batmvel estava no centro daplataforma. A entrada original da caverna agora era ladeada por seis tneis escuros quatrobocas negras esquerda e mais duas direita que levavam diretamente s veiasesquecidas sob Gotham. Modelos mais antigos de seus veculos um dia saram passando pelaqueda dgua alm do acesso natural, sacudindo pelas florestas envoltas na escurido atchegar s ruas secundrias do distrito de Bristol, com a silhueta ameaadora da cidade logoalm da margem do rio, chamando-o de volta para a Crime Alley. Chamando mais uma vezpara a caada. Ele gostava de dirigir atravs da gua purificadora das quedas um batismoritual que santificava sua busca.

    O tempo muda tudo. O tempo no muda nada.Bruce escutou a queda da gua ecoando at ele desde a sada natural da caverna. O verde

    suave da floresta de sua propriedade ficava alm. Era um mundo diferente.Os tneis so melhores que a gua. No perfeitos... Mas melhores. Jovem Bruce!A voz irritantemente familiar ecoou pelas plataformas industriais, varas de suspenso e

    esticadores espalhados pela caverna. Bruce fechou os olhos, por um momento pensando emsimplesmente no responder, mas mudou de ideia.

    Na plataforma de veculos, Alfred gritou de volta. O barulho da sola dura do sapato deseu antigo mordomo na plataforma de metal soava como os golpes de uma picareta de gelo. Esta verso do TS8 se saiu bem esta noite.

    E deveria, considerando o custo dos componentes foi a resposta que ecoou. O Sr.Fox queria que eu mencionasse que pode ter havido excesso de custos...

    No se preocupe com a contabilidade, Alfred disse Bruce, dando um risinho. No fazparte das suas obrigaes.

    Minhas obrigaes, como diz, sempre foram um tanto nebulosas respondeu Alfred,descendo suavemente da escada de metal no canto oposto plataforma de veculos.

    Era um homem alto e magro com um bigode fino anacrnico e uma cabeleira brancaesticada para trs. Com uma confiana gil que disfarava sua idade, Alfred Pennyworth semovia em seu terno risca de giz cinza-escuro Collezioni refinadamente cortado. Falava com

  • um sotaque britnico da alta classe que tinha um toque londrino, ainda que tenha sido emgrande medida criado na propriedade Wayne e apenas eventualmente visitado Londres. Seupai, Jarvis Pennyworth, fora o criado da famlia, como esses homens eram to curiosamentechamados na poca do av de Bruce. Aparentemente o sotaque era transmitido com aprofisso da famlia. Para Bruce, os Pennyworth simplesmente tinham vindo com a casa,assim como o terreno ou a moblia. Sempre estiveram ali, embora, para Bruce, Alfredtivesse se tornado o nico lao vivo com seu prprio passado... A nica famlia queconhecia.

    Relacionamentos familiares podem ser complicados. O que , Alfred? perguntou Bruce, suspirando. Por que est me incomodando? H questes que exigem sua ateno, jovem Bruce, e eu esperava... No me chame assim cortou Bruce. Mas senhor, eu sempre... Quantos anos eu pareo ter, inferno? disse Bruce com raiva. Ambos sabemos muito bem sua idade, senhor, e ainda ficar um ano mais velho neste 19

    de fevereiro disse Alfred, com seus nervos subitamente gelados.H quanto tempo estou nesta corrida louca? Faz realmente tanto tempo?Bruce ergueu a cabea, as vrtebras do pescoo estalando. Sou o presidente da maior empresa multinacional sediada nos Estados Unidos e voc

    ainda fala comigo como se eu usasse calas curtas. Voc nunca teria falado assim com o meupai.

    As palavras pairaram entre eles. O senhor no o seu pai, jovem Bruce disse Alfred. Como voc nunca deixa de me lembrar retrucou Bruce, balanando a cabea enquanto

    se empertigava e esticava o corpo. Imagino que no tenha descido to longe apenas parapolir os metais.

    No, senhor respondeu Alfred em seu melhor tom de empresrio. Como colocou demodo to eloquente, o senhor o comandante da maior empresa multinacional dos EstadosUnidos... Embora talvez no por muito tempo.

    Bruce contornou a plataforma, tirando o bico de combustvel do encaixe, a mangueiradeslizando atrs dele na direo do veculo. Bruce tocou a padronagem na superfcie docarro e a abertura do tanque de combustvel surgiu onde antes a superfcie parecia lisa.

    o conselho de diretores novamente? Eles esto com a mesma conversa de me colocarpara fora?

    No, senhor... Bem, sim, senhor, mas desta vez a presso da SEC, a comisso devalores mobilirios prosseguiu Alfred. Lembra-se do escndalo envolvendo a Tri-StateHome and Hearth?

    Bruce enfiou o bico de combustvel na abertura e ligou a bomba. Apoiou-se na lateral doveculo, sentindo a superfcie malevel ceder levemente sob seu peso enquanto cruzava osbraos.

    Seria de imaginar que com todo este poder e um mordomo disposio eu no teria decolocar minha prpria gasolina, no mesmo?

    Senhor, se pudesse se concentrar por alguns poucos...

  • Bruce soltou os fechos das luvas e comeou a tir-las. Sim, me lembro da Tri-State... Era a diviso de hipotecas do nosso setor financeiro.

    Foram eles que concederam todos aqueles emprstimos sub-prime. Carl Rising era o CEO e,junto com seu CFO, Ward Oliver, eles aprovaram essa poltica contra nossas orientaesempresariais.

    Alfred ergueu uma sobrancelha. Eu no apenas uso esta capa, Alfred disse Bruce, esfregando os olhos. O bico clicou e

    ele o tirou do carro, fechando novamente a abertura. Ns arrumamos a Tri-State emantivemos as portas abertas. Eu demiti Rising e Olivier e, se me lembro, ambos tiveramindiciamentos federais.

    Sim, mas a SEC no est satisfeita com eles disse Alfred, ajeitando nervosamente ospunhos de suas camisas de alfaiate, as abotoaduras de nix brilhando mesmo luz fraca dacaverna. Ela procurou o Federal Trade e o Departamento de Justia para investigar aWayne Enterprises sob a Lei Sherman.

    Antitruste? reagiu Bruce com um risinho. Mesmo? Tambm esto falando sobre a Lei RICO, senhor disse Alfred, engolindo em seco aps

    soltar as palavras. Extorso? disse Bruce, balanando a cabea. No podem estar falando srio. Senhor, eles esto procurando uma desculpa... QUALQUER desculpa... para

    desmembrar a Wayne Enterprises disse Alfred, erguendo a mo e ajeitando o colarinho. E com a opinio pblica contra as grandes empresas e toda a publicidade negativa quetivemos com a Tri-State...

    Alfred, esse o seu trabalho disse Bruce, se inclinando para dentro do veculo. Eletirou o boneco Scarface, que ainda segurava o convite. Todos temos um trabalho a fazer. Oseu ser meu diretor de relaes pblicas e assistente pessoal. Foram os ttulos que lhe deicom o aumento. Na poca voc pareceu bastante contente, lembra?

    Sim, senhor, me lembro bem respondeu Alfred, fungando. Embora eu pareacontinuar preparando suas refeies e espanando a balaustrada.

    Exatamente disse Bruce, erguendo o horrendo boneco de gngster com o carto na moenquanto passava rapidamente por Alfred rumo principal plataforma de investigao. Eu,por outro lado, tenho de fazer meu trabalho e descobrir por que Spellbinder foi ela mesmaenfeitiada pelo boneco Scarface do Ventrloquo, e o significado deste estranho convite.

    Mas eu j tenho um, senhor disse Alfred, dando de ombros. Do que voc est falando? perguntou Bruce, colocando o boneco na bancada de testes. Este convite retrucou Alfred, tirando do bolso do palet um carto idntico.Bruce franziu o cenho. Onde voc conseguiu isso? Onde qualquer um conseguiu? disse Alfred dando de ombros, virando o carto na

    mo. Todos em Gotham e municpios prximos receberam um hoje. Est nos noticirios. Todos?Bruce foi at o armrio da bat-roupa enquanto Alfred falava, apertando os pontos de

    liberao pelo caminho. A exomusculatura dos braos se soltou dos pontos de encaixe nos

  • ombros, foi liberada e desceu pelos braos. Ento o segmento do ombro se soltou no tronco,levando com ele a capa por sobre a cabea. Ele rapidamente colocou cada pea em suaposio de apoio.

    Dizem que houve um erro de computao nos escritrios da Gotham Powerball Lotteryque gerou o envio desses cartes defeituosos para todos na cidade. Tambm h um em seunome na mesa de correspondncia do saguo.

    No um erro de computao retrucou Bruce, se sentando no banco junto ao armrio,soltando suas botas e depois as tirando. O cinto de utilidades fonte de energia para a bat-roupa foi colocado na tomada de carregamento dentro do armrio. um disfarce, einventado com pressa, alis.

    Bruce se levantou. Ainda vestindo o comprido traje de microtubos que o mantinha frescosob a armadura eltrica, ele recuou para avaliar sua ltima encarnao da bat-roupa.

    um bom modelo. No perfeito. Ficar melhor da prxima vez. Jovem Bruce?Bruce esticou a mo e arrancou o convite da mo de Alfred. Tenho trabalho a fazer, Alfred. Isso tudo.A sobrancelha de Alfred pareceu erguer seu nariz no ar enquanto comeava a subir a

    escada. Havia um elevador protegido que o levaria at a manso, mas no antes de mais doisandares subindo na escurido da caverna.

    Claro, senhor. Gostaria do caf da manh?Bruce se sentou bancada do laboratrio e acendeu a luz de sua grande lente de aumento.

    Ele virou o carto vrias vezes sob ela. O carto parecia comum, a no ser pela impresso.Havia alguma coisa estranha na tinta...

    Bruce ergueu os olhos. Alfred, voc disse algo? Apenas perguntei se queria seu caf da manh.Havia na voz de Alfred um tom triste que Bruce no se lembrava de ter ouvido antes. Sim, eu quero. Obrigado, Alfred.Alfred anuiu e comeou a subir as escadas.Bruce tentou examinar o carto mais de perto, mas de repente foi distrado por um cheiro

    que despertou algo em sua memria. Era um cheiro quente e embolorado de folhas de outonoe grama verde. Lembrou a ele risadas.

    Alfred?O velho parou na escada. Sim, senhor? Como est l fora?Um segundo silncio tomado de reflexo se prolongou entre eles. Est a promessa de um belo dia, jovem Br... Est um belo dia, senhor respondeu

    Alfred, baixando os olhos para o crculo de luz fraca que iluminava apenas Bruce no meio dacaverna. Um veranico, acredito ser como o chamem. A tempestade sumiu a leste eesperamos temperaturas ligeiramente mais altas sob cu claro. Fresco, com vento, masagradvel.

    Agradvel.

  • Ele rolou a palavra na boca como se fosse uma coisa estranha, desconhecida. Um diaensolarado em Gotham. No, ele pensou, no havia tal coisa. Gotham era uma noite que notinha fim. Gotham era uma chuva que nunca limpava, nunca sarava. Gotham era sujeira,decadncia e apodrecimento crescentes, uma doena para a qual apenas ele era a cura;apenas ele estava entre o grande abismo e a justia para aqueles que chamavam as trevas delar.

    As trevas so Gotham. Trevas so meu mundo. Mais alguma coisa, senhor?Bruce ergueu os olhos.O cheiro de folhas.O som de risadas. Pode me chamar de jovem Bruce, Alfred disse em voz baixa. Est tudo bem, se voc

    gosta. Obrigado, jovem Bruce disse Alfred, sorrindo enquanto se virava e voltava a subir as

    escadas.Bruce Wayne continuou a segurar o carto na mo, mas seus olhos estavam fixos na sada

    da caverna, o som da gua caindo... E o cheiro de um radiante dia de outono.

  • CAPTULO TRS

    AMANDA

    Bruce Wayne, playboy de Gotham, com inesgotvel riqueza, se tornara o Howard Hughesdo novo sculo.

    Durante mais de uma dcada, ele desapareceu da vida pblica. Comentaristas denoticirios nacionais recebiam cachs para preencher as lacunas sobre o significado de suaausncia remontando seu desaparecimento a 11 de setembro de 2001. Apresentadores locais,por outro lado, anualmente e a intervalos regulares, gastavam um pouco mais de tempo no armostrando o material de arquivo sobre a morte violenta de seus pais posteriormente comreconstituies computadorizadas dos assassinatos e relacionando a peculiar recluso aessas compreensveis razes. Artigos nas pginas de economia do Gotham Globe vendiamjornais com a alegao de que as aberraes mentais do herdeiro dos Wayne tinham origemem meados dos anos 1990 e na ascenso do neoliberalismo. Seu concorrente, o GothamGazette, adotava um ponto de vista inteiramente diferente, insistindo em que as causassubjacentes do seu abalo seriam encontradas na inflamabilidade econmica de um mercadodos anos 1980 libertado dos limites da tica ou da conscincia social. Vrias biografias todas no autorizadas e sempre alvo de um processo rotineiro insistiam em que havia sidoum antigo amor, feminino ou masculino, que abandonara o desequilibrado Wayne. Duasdelas chegaram um pouco perto demais da realidade. Princesa Maculada: Como JulieMadison tornou-se Portia Storme sem fazer esforo fora um livro best-seller centrado tantoem Bruce quanto na vida estranha e meterica de sua antiga namorada de faculdade. A outra,a muito mais sensacionalista Slain Manor: o estranho caso de Vesper Fairchild , revivera ointeresse pelo chocante assassinato da popular reprter de televiso e celebridade, queBruce namorara rapidamente at decidir esfriar as coisas... Apenas para ser preso quando ocorpo dela foi encontrado em sua casa. Esses livros foram a exceo, pois em sua maioria osparticipantes dessas fantasias eram sombras. Aparentemente, o pblico estava ansioso porqualquer notcia escandalosa referente ao Prncipe de Gotham e se dispunha a pagar preosde tabloide e brochura para ler isso. Cada uma prometia destacar uma nova dama em apurosou prostituta com corao de ouro. Suas identidades sempre eram conhecidas apenas peloautor, que s estava disposto a revelar o segredo a algum disposto a comprar seu livro,inflar seus royalties e chapinhar pelos surpreendentes detalhes ficcionais.

    Eles no sabiam absolutamente nada sobre Bruce, mas isso no era admissvel para abocarra da mdia que tinha de ser alimentada, ento preenchiam o silncio com sua prpriaimaginao selvagem e, nesse processo, vendiam ainda mais tempo no ar, jornais, livros eblogs.

    Contudo, todos ficariam ultrajados se soubessem a verdade: que Bruce se deliciava comaquilo.

  • Tudo aumentava o mistrio e nunca chegava perto da verdade um disfarce ainda melhordo que o de antes. A ligao com Hughes era evidente e s precisara de um pequenoempurro. Alfred foi promovido de cavalheiro de um cavalheiro a assessor de imprensa egerente de relaes pblicas praticamente na mesma poca. Alfred Pennyworth se tornou orosto que a imprensa associava a Bruce Wayne sempre que algum telefonava ou precisavade uma declarao. Bruce at mesmo se divertia com o jogo, de tempos em temposaparecendo com uma mscara de ltex que fizera para si mesmo, curvado em uma cadeira derodas e usando grandes culos escuros, um chapu panam de abas largas e um xale sobre osombros. Obrigara Alfred a empurr-lo pelo jardim do leste nesses trajes em intervalosaleatrios at um dos paparazzi aparecer no terreno e conseguir uma ou duas imagenslevemente desfocadas dos dois dando um passeio. Os sensores de segurana espalhados portodo o terreno da manso Wayne haviam alertado Bruce da presena do intruso muito antesque o paparazzo os visse. Ainda assim, a foto se tornara uma imagem icnica de BruceWayne, o recluso: um homem inacreditavelmente rico, mas arrasado. Bruce e Alfredeventualmente eram obrigados a repetir verses da farsa quando outros fotgrafos searriscavam no terreno, mas aquela primeira fotografia se tornara um cone.

    Agora talvez eles me deixem trabalhar.Havia sido um sonho maravilhoso, mas Bruce descobrira que no existe nada to pblico

    quanto ser privado demais. Porm, com o tempo, Bruce Wayne parou de despertar interesse,se tornando uma figura mtica cuja imagem real havia sido to recriada que ningum sabiamais como o verdadeiro Bruce Wayne fora um dia.

    Terreno da propriedade Wayne / Bristol / 6h32 / Hoje

    O multibilionrio Bruce Wayne saiu da ravina vestindo o palet de brim e um bon nacabea. O rosto estava coberto com barba por fazer. Os olhos apertados na manh clara eresplandecente enquanto passava de sombra em sombra em meio floresta. Permitiu que ospassos de suas botas de caa esmagassem os arbustos... Um luxo incomum.

    O grande gramado fica do outro lado da encosta. Meu pai costumava fazer enormesreunies naquele gramado atrs da manso.

    Os gramados sempre foram impecavelmente cuidados, mas agora seu silncio eraquebrado apenas pelo ocasional canto de uma cotovia. A vista magnfica para o brao nortedo rio Gotham e, do outro lado da gua, para o perfil nico da prpria Gotham no eraapreciada. No haveria msica. Nenhum riso iria perturbar uma nica folha de relva.

    Daria um belo cemitrio.Ele precisava pensar. Estava estudando o convite quando, de repente, na escurido das

    cavernas, sua memria o levara de volta a um tempo distinto.Minha me gostava de planejar as festas de jardim mais que todos os outros eventos;

    dizia que o resultado desejado era inevitvel se o evento fosse devidamente organizado.Nunca conseguia pensar dentro de casa... Sempre tinha de ir para algum lugar ondepudesse limpar a mente... Limpar a alma...

    Bruce desceu a encosta, se afastando do gramado que podia ser visto entre as rvores. No

  • pensava no jardim da me h mais de uma dcada. Folhas mortas apodrecendo apsinmeras estaes cobriam a velha trilha.

    Bruce parou, inclinando a cabea para o lado.A parede era quase totalmente encoberta por arbustos altos e trepadeiras, ainda cheias de

    folhas apesar do adiantado do ano. Poderia ter passado despercebida no fosse pelo fato deque a passagem havia sido totalmente despida de arbustos. A porta estava gasta e srevelava vestgios mnimos da tinta esmeralda que sua me escolhera para ela havia tantotempo, mas estava livre de obstculos.

    Pensara vagamente se a sucesso de jardineiros ao longo dos muitos anos tinha seesquecido de sua existncia, assim como ele. No final, parecia que o jardim havia sidocuidado.

    Se voc precisa pensar atentamente em algo, Bruce, melhor encontrar algum lugaragradvel, dissera Martha Wayne.

    Bruce enfiou a mo no palet, tirando uma grande chave de cadeado suja, e foi at a porta.O cadeado estava destrancado... A porta ligeiramente aberta.Bruce ficou imvel, os sentidos atentos. Ting-a-ling-a-ling-tum, ting-tum, ting-tumUm canto. Algum est cantando no jardim de minha me. Ting-a-ling-tum, ting-tum-tae...Eu conheo essa msica... Eu me lembro dessa msica.Bruce lentamente recolocou a chave no bolso do palet. Esticou a mo esquerda,

    colocando-a suavemente sobre a porta e testando sua resistncia. Ela se moveu comsurpreendente facilidade, as dobradias estalando apenas duas vezes enquanto a porta seabria diante dele.

    O jardim estava morto. As rosas haviam se tornado selvagens e morrido durante asequncia de invernos sem cuidado. Seus galhos retorcidos se erguiam como garras daslaterais dos passeios, cobertos de folhas mortas que se decompunham em terra. Os lilasespremiados dos quais sua me tanto se orgulhara subiam ameaadoramente sobre as paredes.O jardim se tornara silvestre, ervas daninhas sufocando e obscurecendo o cuidadosoplanejamento que, agora, estava soterrado e mal podia ser reconhecido.

    O gazebo ainda estava l. A madeira apodrecia e um lado do teto desabara, aparentementecalcinado por um relmpago ou um galho em chamas cado de uma das rvores ao redor, quepoderia ter sido atingida durante uma tempestade. Os bancos de pedra no permetro internodo gazebo permaneciam de p.

    Uma mulher estava sentada de costas para a porta.Bruce trincou os dentes.Os cabelos da mulher eram louro platinado.Seus cabelos eram louro platinado. Ela sempre adorara Kim Novak, pintando seus

    prprios cabelos escuros para imitar a aparncia de Novak.Usava um casaco de pele de camelo com colarinho alto levantado s costas.Ele ainda podia ouvir a prpria voz quando disse: Martha, esse casaco fica fantstico

    em voc! Ela nunca mais usou outro casaco depois disso... Ting-a-ling-a-ling-tum, ting-tum, ting-tum...

  • D um beb a minha me e ela comear essa msica. Ela cantava isso para mim desdeque eu consigo...

    A mulher balanava para frente e para trs no banco, sua voz preguiosamentemurmurando a letra.

    Ting-a-ling-tum, ting-tum-tae...Minha me no jardim... Minha me no jardim para pensar...Bruce se lanou para frente. Cruzou o jardim morto em cinco passadas rpidas, estendendo

    a mo na direo da mulher mesmo enquanto passava entre os postes rachados do gazebo.Ele a agarrou pelo casaco, colocando-a de p diante dele.

    Quem voc? gritou na cara dela. Que diabos est fazendo aqui?Inicialmente sua pele assustou Bruce. O rosto era um alabastro cremoso que se fixou em

    sua mente como sendo quase fantasmagrico em sua palidez. Ela poderia estar na casa dostrinta anos, mas seu rosto tinha uma beleza atemporal que tornava difcil lhe atribuir umaidade. Os olhos eram grandes e cinzentos, mas, enquanto olhava para eles, eram desfocadose ligeiramente dilatados. Seu nariz era levemente arrebitado, com uma covinha quaseimperceptvel na ponta, e suas sobrancelhas haviam sido cuidadosamente depiladas. Oscabelos eram compridos, mas presos em um coque apertado. Era bonita e elegante, mas deuma forma completamente fora de poca.

    Por favor ela disse. Me ajude. Me ajude a encontrar Bruce. O qu? Voc est me machucando... Sim, estou. Quem voc? Eu no... Por favor, me ajude a encontr-lo. Ajud-la a encontrar quem?Seus olhos de repente se concentraram nele com brilhante intensidade. Bruce!Ela me conhece? Eu nunca encontrei essa mulher antes. Eu lhe disse, tenho de encontrar Bruce ela continuou, olhando ao redor. Por favor,

    ele est perdido... Ele est perdido e assustado e tenho de traz-lo para casa. Seja vocquem for, pode me ajudar?

    Mais do que imagina... Espero.Bruce relaxou levemente o aperto em seus ombros. No sabe quem eu sou? Bem, como poderia? retrucou, indignada. Acabamos de nos conhecer!Uma identidade... Um pseudnimo... Quem devo ser hoje? Sou Gerald Grayson... Sou o guarda-florestal daqui.Ela olhou ao redor como se pela primeira vez. Aqui... Onde estou? No sabe?Ela corou levemente. No. Eu... Eu realmente no sei como cheguei aqui. Bem, aqui um lugar onde voc no deveria estar... Est invadindo uma propriedade

  • disse Bruce, soltando os ombros dela e enfiando os polegares nos passadores do jeans. Ovelho Wayne Eremita no gostaria que aparecesse sem avisar.

    Bruce, voc quer dizer falou, como se a palavra tivesse um gosto estranho em sualngua. Eu... Eu preciso encontr-lo. Alert-lo.

    Eu o vejo de vez em quando disse Bruce, dando de ombros. Poderia dar seu recado aele.

    O sorriso dela foi levemente sardnico. Obrigada, mas... Poderia simplesmente me mostrar a sada?Bruce pensou por um momento em como ela poderia ter entrado. O nmero de sistemas de

    alarme e vigilncia instalados, no apenas no permetro, mas dentro do terreno, incluindosensores ssmicos, deveria tornar impossvel que qualquer um circulasse pela propriedadesem ser notado. De fato, embora o prprio Bruce tivesse projetado o sistema, maisrecentemente passara a se sentir prisioneiro em sua prpria gaiola. A ideia antesreconfortante de ser capaz de rastrear qualquer um no terreno desmanchara com o tempo, atBruce sentir que era constantemente observado por Alfred.

    As coisas tinham mudado lentamente entre eles nos ltimos anos. A promoo de Alfredem ttulo e posio na empresa havia sido necessria, mas abalara o delicado equilbrio desua relao. Bruce comeara a se sentir vagamente desconfortvel em sua presena, como ospelos na nuca que se arrepiam sem nenhuma razo identificvel. Alfred era deferente eeficiente como sempre, mas agora havia algo irritante na sobrenatural perfeio dos serviosprestados a ele por seu ex-mordomo. Por isso, Bruce queria algum espao em sua vida queAlfred no pudesse alcanar algo que a segurana da manso, do terreno e mesmo dascavernas abaixo no podiam lhe dar.

    Mas o palet de Bruce tinha em seu revestimento algo que facilitava a soluo: umtransmissor de baixo retorno costurado ali exatamente para tais ocasies. Se quisessecaminhar pelo terreno sem que Alfred soubesse onde estava, teria de ser um fantasma paraseus prprios sistemas de vigilncia. Desde que aquela mulher permanecesse a um metro emeio dele, conseguiria tir-la do terreno sem disparar nenhum dos mltiplos alarmes.

    E talvez ento pudesse descobrir como ela conseguira entrar ali, para comear. Se puder escolt-la disse Bruce, oferecendo o brao dobrado.Ela sorriu enquanto passava sua elegante mo comprida pelo brao. Meu cavaleiro em armadura reluzente.Dificilmente reluzente, madame. Ento voc guarda-florestal? perguntou, enquanto saam do jardim murado e desciam

    a encosta. Ela arqueou a sobrancelha direita ainda mais. Eles ainda tm isso, Sr. Grayson?Com a mo esquerda no bolso, ele brincou com o convite.O mistrio do carto... Agora o mistrio da mulher. Eu queria vir ao jardim para... Por

    que eu vim ao jardim? Por que no fiquei na caverna, onde era seguro e escuro? Por quetive de sair para a luz?

    Eles tm respondeu. Aqui eles tm. E voc ainda no me disse seu nome. Richter ela disse, virando a cabea ligeiramente ao falar. Amanda Richter.No significa nada. Novidade para mim. Guardar e usar mais tarde como referncia. Bem, Sra. Richter, eu a levarei at a guarita dos empregados disse Bruce. Fica no

  • sop da colina, e podemos chamar um txi da sala da guarda. O guarda no se incomodar de o perturbarmos? ela perguntou. No h guarda sorriu. Eles j haviam passado por mais de cem diferentes sistemas de

    alarme e reao a invasores. Ainda assim, no recomendaria que voltasse a pular a cerca. Foi assim que entrei? Amanda perguntou. Escalei a cerca com meu casaco de marca

    e terno de alfaiate? Bem, se o fez lamento no estar l para ver disse Bruce, anuindo. Eis a guarita.Eles estavam no sop da enorme encosta do gramado de trs. O muro de pedra tinha trs

    metros e meio e emergia da floresta esquerda, se estendendo pelos fundos da propriedadeat a floresta no extremo oposto do gramado. A linha s era interrompida pela guarita e olargo porto de ferro junto a ela, bloqueando a estrada que subia pelo limite da floresta at amanso, que estava a cerca de trs quilmetros de distncia, no topo da elevao ao norte.

    Se Amanda ouviu a porta destrancar com sua aproximao, no demonstrou.Bruce a conduziu para dentro da guarita e pela sada do outro lado. Ele deu o telefonema

    pedindo o txi e depois saiu para onde ela estava, de p junto estrada. Dizem que chegar em cerca de dez minutos disse Bruce. Deve haver uma reunio da

    elite em algum ponto de Bristol esta noite se os txis esto to perto.Amanda assentiu, depois voltou os olhos cinzentos para ele. Eu realmente preciso ver Bruce, Sr. Grayson. Chame-me de Gerry Bruce corrigiu. Gerry, ento. No h nenhuma forma de eu... Bem, voc pode pedir disse Bruce.Lembre-se de dar seu sorriso encantador. J faz muito tempo.Bruce se apoiou na guarita, cruzou os braos e apontou com a cabea para o interfone junto

    ao porto.Amanda deu a ele um sorriso de obrigado por nada e foi at o interfone. Apertou o boto

    com um dedo comprido e elegante. Sim?Alfred soa aborrecido. Provavelmente est se perguntando por que no recebeu

    qualquer alerta de proximidade com a chegada dela. Estou aqui para ver Bruce Wayne disse Amanda.Bruce ergueu as sobrancelhas e balanou a cabea em gesto de aprovao. O Sr. Bruce no est recebendo chamadas retrucou do aparelho a voz metlica de

    Alfred. Tenho uma mensagem para ele... Uma mensagem muito importante disse Amanda. Ficarei encantado em transmitir a mensagem, madame respondeu Alfred. De quem

    devo dizer que ? minha. Amanda Richter.A caixa metlica ficou em silncio por um momento.Isso no tpico de Alfred. Reprteres e escritores tentando conseguir algo o abordam

    diariamente, e normalmente com muito mais criatividade que isso. Poderia repetir esse nome? disse Alfred finalmente.

  • Sim. Sou Amanda Richter.Silncio de novo? Estou ouvindo estresse na voz de Alfred? Sra. Richter, por favor, fique onde est disse Alfred. Descerei imediatamente.Bruce continuou a sorrir, mas decididamente havia algo errado. Alfred tinha ordens

    estritas de nunca receber ningum na propriedade, nem permitir que algum entrasse sem serautorizado pessoalmente por ele. No havia excees.

    Pelo visto voc no ir precisar daquele txi disse Bruce. Suponho que no, Sr. Grayson disse Amanda. Ah, e eu no deveria t-la deixado passar pela guarita acrescentou Bruce. Se aquele

    mordomo me vir aqui ser um inferno. Eu poderia perder meu emprego. Prometo no dizer nada disse Amanda, anuindo. Obrigado respondeu Bruce. Foi um prazer, Amanda. Obrigada, Gerry.Bruce deu as costas e entrou na guarita com estudada descontrao. Voltou ao terreno do

    outro lado, registrando o som das trancas das portas se fechando atrs dele automaticamente.Amanda agora estava devidamente trancada fora de seus domnios, embora ele ainda nosoubesse como ela havia conseguido entrar no terreno para comear.

    Ademais, havia a questo de Alfred.Alfred estava com ele desde o princpio. Toda relao tem seus problemas. Ele e Alfred

    haviam passado por tudo juntos desde que Bruce era capaz de recordar. Algumas vezes erafcil, e outras era duro. Recentemente, o relacionamento caloroso entre o criado e seu senhorhavia esfriado um pouco, e os silncios entre eles, se prolongado. Ainda assim, Bruceacreditava que Alfred Pennyworth havia sido absolutamente honesto a seu servio.

    Mas, agora, Alfred estava agindo contra ordens diretas de Bruce por causa de uma mulherque obviamente conhecia uma que de alguma forma havia conseguido penetrar no terrenosem ser detectada.

    So apenas peas do quebra-cabea, Bruce, minha me costumava dizer. Apenasjunte aquelas que fazem sentido, e o resto se seguir com o tempo...

    Bruce voltou rapidamente para a ravina. Podia ouvir o motor do Bentley vindo da manso,sem dvida com Alfred ao volante, e queria estar fora de vista antes que chegasse.

    Bruce se acomodou na enorme cadeira diante de seu console de pesquisa. O ar nabatcaverna agora parecia opressivo em comparao com a manh do lado de fora, mastambm era familiar e um tanto reconfortante aps o estranho encontro que tivera no terreno.

    No se permita ser distrado. Atenha-se ao quadro geral e deixe que as peas secoloquem na posio certa quando descobrir onde se encaixam.

    Tirou o carto do bolso do palet e o colocou diante de si. Depois pegou as luvas dainterface virtual. A gama de telas despertou e ele comeou a pegar informaes do ar com asmos. Elas mudavam no espao sua frente enquanto as estudava. A primeira era o cartoem si. Abriu a anlise qumica do carto e do texto impresso, que surgiu em uma cascata sua esquerda.

    A cobertura laminada dos cartes era, na verdade, um complexo proteico, permevel e que

  • liberava suas ligaes sob ao do calor. Era uma substncia incomum para um revestimentode carto, e compreender suas propriedades demandaria anlise adicional. Ele deixou osequenciador continuar ruminando aquilo e avanou.

    O papel em si era um derivado plstico, em vez de papel real. O gro era uma belasimulao do toque de papel, com uma camada superficial bem fina, e uma comparao entreo carto que pegara no boneco Scarface com aquele que tomara de Alfred mostrou que ospadres de textura eram idnticos at o nvel microscpico.

    um esforo incomum para um convite. Muitos detalhes...Abriu as imagens ticas de alta resoluo dos cartes para examinar a impresso lado a

    lado, buscando variaes na tinta.No havia nenhuma. Sem sangramento, manchas ou variaes borradas que seriam de

    esperar em uma impresso em massa. O texto impresso era idntico at a maior ampliaoda...

    A maior ampliao...Ele ampliou a imagem o mximo possvel.A tinta no era contgua. Era uma imagem em meio-tom na escala de microimpresso mais

    minscula que ele j havia visto. Cada uma das letras era composta de uma srie de pontosespaados. No havia apenas pontos distintos, mas eles pareciam ser do mesmo tamanho emtodos os casos, embora suas posies e os espaos entre eles variassem.

    No... Eles no variam de modo algum. So uma distribuio totalmente uniforme depontos pretos e espaos brancos. um fluxo digital. informao!

    Ele colocou de lado a anlise qumica e baixou um mdulo de anlise grfica, ligando-o aum programa de criptografia. O analisador transformaria a microimagem em um fluxo deinformaes, e ento o programa de criptografia o processaria buscando padresidentificveis. A anlise grfica seria quase instantnea, mas a criptografia poderia levardias ruminando as informaes antes de apresentar possveis padres reconhecveis. Brucedefiniu os parmetros, rodou o programa, tirou as luvas e girou na cadeira.

    Ele mal havia comeado a se levantar quando o console comeou a zumbir.Devo ter cometido um erro na sequncia de comparao.Sentou novamente e se virou para o console, calando as luvas, irritado. O mostrador

    piscava Sequncia concluda. Ele buscou a imagem, clicou nela e esperou que asinformaes inutilizveis aparecessem para poder jog-las fora.

    Que diabos...? murmurou Bruce, olhando para a tela.Era um arquivo PDF coerente. No pode ser assim to simples.Apertando os olhos, Bruce se inclinou para frente e clicou no arquivo para abri-lo.Ele abriu. DEPARTAMENTO DE POLCIA DE GOTHAM CITYNMERO DO CASO: VR/01/04/05/1689INVESTIGADOR: DETETIVE J. GORDONDIVISO DE COSTUMES E EXTORSO28 DE JUNHO DE 1974

  • Dois dias aps a morte de meus pais. Dois dias aps eu morrer com eles.Bruce se inclinou para frente, lendo a fonte indistinta na pgina digital que flutuava diante

    dele. Dica telefnica recebida de certa Marion Richter / Rua Pearl 1426 / Upper West Side em referncia a: morte dosWayne. Eu e meu parceiro, o detetive T. Holloway, conduzimos a entrevista no apartamento de Richter s 10h36.Richter afirmou que a morte de Thomas e Martha Wayne foi um crime por encomenda motivado pelos supostosnegcios de Thomas Wayne com seu pai, o Sr. Ernst Richter (falecido). Alegou ainda que Thomas Wayne tinhaligaes com a mfia Moxon e conspirava com eles havia vrias dcadas. Ela apresentou como prova seis dos diriosencadernados do pai, bem como vrios contratos e papis que parecem ter sido assinados por Wayne e seu pai.Tambm incluiu uma srie de depsitos bancrios e extratos indicando quando haviam sido feitos pagamentos a seu paie, aps sua morte, a ela e irm mais jovem, Amanda, por Thomas Wayne usando como intermedirios os gerentes dacasa Wayne, Jarvis Pennyworth e posteriormente seu filho, Alfred Pennyworth. Esses itens foram catalogados porHolloway e aceitos. Bruce recostou na cadeira, franzindo ainda mais o cenho.Ento no espanta que Alfred tenha descido at a guarita para ver Amanda Richter

    pessoalmente. Mas nunca ouvi falar sobre esses Richter, e certamente no em relao morte de meus pais. Por que Alfred no me falou sobre isso?

    Continuou a ler. A Srta. Richter afirmou ainda que, segundo os dirios do pai, Thomas Wayne tambm mantinha dirios detalhados quecorroborariam seu depoimento. Conclumos a entrevista com Marion Richter s 11h46.

    Seguimos, ento, para a Manso Wayne em Bristol com a inteno de ouvir Alfred Pennyworth sobre ospagamentos feitos aos Richter e os supostos dirios. O Sr. Pennyworth concordou com a entrevista, que fizemos nabiblioteca da Manso Wayne. Alfred admite conhecer os Richter e dar assistncia financeira aos Richter em nome deseu empregador, Thomas Wayne. Negou a existncia de dirios de Thomas Wayne em qualquer forma, eletrnica ououtra. (Mandado de busca solicitado / aguardando.) Nega ainda qualquer ligao entre a mfia Moxon e o... O texto datilografado terminava no p da pgina.Bruce esticou a mo, clicando no documento para passar pgina seguinte.Nada aconteceu.Ele olhou para o canto inferior direito da pgina exibida. Dizia 1/14, significando que

    lera a primeira de catorze pginas. Verificou rapidamente o tamanho do arquivo. A nicapgina era toda a informao existente na microimpresso do carto.

    Bruce cruzou o nmero do caso com a base de dados dos Arquivos de Provas da Polcia.O arquivo citado no documento estava desaparecido dos arquivos.Bruce apertou as mos, os indicadores erguidos diante dos lbios apertados. Esticou a

    mo, apertando o boto do interfone no console. Alfred. Sim, jovem Wayne. Voc mais cedo mencionou algo sobre um caf da manh... E acho que deveramos

    conversar. Claro, senhor disse Alfred, a voz suave como creme. Ento logo estarei a em cima. Ah, com seu perdo respondeu Alfred imediatamente. Eu me desculpo, mas sua

    refeio ficar pronta alguns minutos depois do que imaginava. Temo que precise correr ao

  • mercado por um pouco de coentro fresco. Dever demorar mais uma hora, senhor.Coentro? Em uma hora? Ah, tudo bem, Alfred disse Bruce em um tom equilibrado e treinado. Eu mesmo sou

    mais de brunch. A propsito, havia algum no porto agora h pouco?H uma pausa na resposta. Ele nunca faz pausa... Nunca hesita. No, senhor respondeu Alfred animado. No que eu saiba. Apenas achei ter ouvido o alarme de proximidade. No, senhor. Talvez seja um defeito. Vou cuidar disso imediatamente. Claro respondeu Bruce. Avise quando o caf estiver servido.Bruce soltou o boto do interfone, uma sombra negra cobria seu rosto enquanto reclinava

    na cadeira para pensar.O arquivo de provas est desaparecido. Treze pginas do relatrio de Gordon esto

    desaparecidas. Alfred est mentindo para mim sobre Amanda Richter. As vidas de meuspais esto desaparecidas e, agora, o motivo por trs de suas mortes tambm estdesaparecido.

    Com relutncia, Bruce esticou a mo e puxou um arquivo que fechara havia muito tempo. BC001-0001WAYNE, THOMAS E MARTHA

  • CAPTULO QUATRO

    CADVER DE BOA APARNCIA

    Quartel-general da DPGC / Gotham / 21h07 / Hoje

    James Gordon estava no teto do quartel-general da polcia olhando para a caixa dodisjuntor. O cadeado estava pendurado na porta aberta da caixa. Parara de balanar haviaalgum tempo. A noite estava gelada, sua respirao criando nuvens diante dele, e ele de pna clara noite de outono.

    Como diabos as coisas chegaram a esse ponto?O comissrio de polcia de Gotham City, James Gordon, conhecia a resposta melhor que

    qualquer um. Ele crescera em Chicago com o irmo Roger, os dois brincando de polcia eladro pelo quarteiro do Lincoln Park cercado de sobrados. No importava muito para osgarotos quem era polcia e quem era ladro, e eles muitas vezes tiravam cara ou coroapara decidir qual seria qual.

    Apenas muito tempo depois, Gordon um tenente da polcia recm-promovido que estavade mudana com esposa e filho para um novo emprego em Gotham descobriu como aquelecara ou coroa era arbitrrio no DPGC. Seu primeiro parceiro ali foi Arthur Flass umpolicial absolutamente sujo. Gordon devidamente denunciou a rede de extorso do parceiroao ento comissrio Gillian Loeb. Logo teve sua ingenuidade arrancada com tacos debeisebol por vrios de seus irmos policiais; aparentemente, Loeb recebia uma parte detodos os policiais corruptos da cidade. A surra s conseguiu endurecer ainda mais o jovemtenente. Gordon se tornou conhecido como um policial intocvel, mas, com Loebcomandando a polcia e controlando a Diviso de Assuntos Internos, era bvio que acarreira de James Gordon havia morrido na surra com tacos de beisebol, mesmo que seucorpo no tivesse.

    Ento a sorte de Gordon mudou pelas mos de um morcego.Batman havia sido louvado como um cidado valoroso pelo comissrio Loeb ao surgir.

    Loeb acreditava que aquele Batman poderia ser comprado e controlado quase como qualqueroutra pessoa, e suas estripulias eram uma distrao para os negcios mais obscuros docomissrio. Loeb no contara com esse maluco de capa de olho em sua prpria rede.Ento, quando o morcego abriu a lata de vermes do comissrio, Loeb reagiu classificando-o de criminoso, vingador, anarquista e terrorista. Batman se tornou o criminoso maisprocurado de Gotham.

    E quem melhor para derrotar tal ameaa lei e ordem do que o totalmente limpo,intocvel tenente detetive James Gordon?

    Fora como tentar apagar um incndio com gasolina.Foi o comeo de uma amizade explosiva.

  • Eles eram homens diferentes com abordagens diferentes do problema, mas ambosconcordavam quanto a qual era o problema. Gordon nunca poderia aceitar Batman agindofora do processo legal. Batman com frequncia ficava frustrado com a insistncia de Gordonem um processo que, muitas vezes, prejudicava a justia. Mas juntos eles conseguiram viraro jogo com Flass e, finalmente, Loeb, derrubando os dois.

    Aparentemente, Batman era a salvao da carreira de Gordon, desde que Gordon pudessejustificar a si mesmo o fato de permitir que Batman existisse. Isso exigia distorcer seusprincpios de modo a alcan-los, uma dicotomia que todos os dias o fazia se questionar e svezes se odiar. Ele passara a ver Batman como seu amigo, mas o odiava o odiava pelaviolao que representava em sua vida e pelas coisas que Gordon precisava pedir que o forada lei fizesse quando a justia no podia ser obtida pelas prprias instituies que jurarahonrar e proteger.

    Batman fizera dele um sucesso ao custo de um pedao de sua alma.A sorte de Gordon melhorou na polcia, embora a um alto custo pessoal. A surra que ele

    recebera tambm fora o comeo do fim da relao com a esposa, o estresse de ser umpolicial de princpios finamente se revelando como rachaduras no casamento. Seu irmoRoger e a esposa Thelma haviam morrido em um terrvel acidente de carro, deixando a filhaBrbara sem lar. Os Gordon adotaram a garota de 13 anos em parte por dever e em partepela esperana de que ajudasse a salvar seu casamento. Quando a esposa de Gordon por fimo abandonou, ele amara a garota e se dedicara a ela, transformando-a em uma bela jovemcom um futuro brilhante.

    Ento Batman surgira na varanda de seu apartamento e atirara nela a sangue-frio... Elamorrera sozinha, sangrando no corredor.

    Gordon ficou olhando para a alavanca que acenderia o bat-sinal no teto do quartel-general. J se passaram quinze minutos, Gordon disse a voz rouca acima dele. No consegue

    se decidir?O comissrio deu um pulo com o som, sua mo instintivamente procurando a arma de

    servio. Uma delicada inibio que rondava sua mente se rompeu. Ele sabia que devia parar,mas j havia ultrapassado esse ponto, a arma sacada do coldre, sendo erguida na direo dasilhueta que bloqueava as estrelas com sua forma odiada e excessivamente familiar.

    Desta vez eu vou at o fim, pensou Gordon com distanciamento. Eu realmente vou at ofim.

    Uma substncia fria parecida com gel se projetou da sombra, envolvendo a arma e a mode Gordon em uma massa terrvel. O dedo de Gordon apertou o gatilho, mas o gel estavaendurecendo rpido demais. O comissrio puxou a arma, olhando atravs dos culos para ocano abaixo, preso e envolvido pela massa dura e borrachenta.

    Gordon gritou de fria, tentando soltar a arma da massa densa que a prendia mo direita. Seu maldito! Seu filho da puta! Voc precisa se acalmar, Gordon disse o Cavaleiro das Trevas rispidamente, sua capa

    se movendo levemente atrs dele. Batman estava encarapitado no alto da escadaria, olhandopara o comissrio. As grandes lentes do bat-sinal o nome era outra afetao da imprensa estavam escuras na beirada do teto, o olho invocador fechado. Se voc conseguir apertar o

  • gatilho, a bala no ter para onde ir. A arma ir explodir e voc poder perder a mo... Eacho melhor no envolver minha me nisto.

    Emocionalmente exausto, James Gordon caiu de joelhos. O que est fazendo aqui? Vim porque voc precisa de mim. sussurrou o morcego. Porque a caada no

    terminou... Os monstros ainda esto l fora. O monstro est bem aqui retrucou Gordon. Ele odiava o homem-morcego mais do que

    tudo que j havia odiado na vida. E precisava dele tanto quanto. Eu deveria ter matadovoc quando tive a chance.

    Estenda a mo com a arma disse Batman, descendo silenciosamente de seu posto paraficar de p no teto frente de Gordon.

    O comissrio ergueu o brao. Batman tomou o pulso de Gordon com um firme aperto damo direita, enquanto tirava uma pequena lata de aerossol no cinto de utilidades com aesquerda. Ele jogou o solvente sobre a mo presa do comissrio. O gel cristalizou e a seguiresfarelou em um timo. Batman estava esperando por isso, arrancando a arma de Gordonantes que ele tivesse tempo de reagir. O Cruzado Encapuzado recuou um passo para assombras do teto, os olhos atentos fixos no velho amigo.

    Barbara ainda est viva, Gordon encorajou Batman. Est no norte do estado fazendofaculdade. Foi colocada em uma cadeira de rodas, mas ainda est viva, e eu no fiz isso. OCoringa fez.

    No minta para mim bufou Gordon. Nunca menti para voc retrucou Batman com a voz spera como cascalho. uma

    lembrana falsa, Gordon. Um fantasma conjurado por Spellbinder para fazer com que voc eos outros cometam crimes por toda a cidade.

    No, voc est errado, no foi Spellbinder disse Gordon, sorrindo com satisfaopresunosa. Aquela manaca usa hipnose para controlar suas vtimas, e ambos sabemos quea hipnose se desgasta se no for reforada. Ademais, estamos com Spellbinder, quero dizer,Fay Moffit, em Arkham, e ela est sofrendo de suas prprias alucinaes.

    Ela uma sociopata psictica resmungou Batman. Alucinaes seriam uma evoluopara ela.

    Diz que voc a seduziu para que roubasse o boneco Scarface Gordon retrucou. Etambm acredita nisso.

    Ento no hipnose respondeu Batman. Drogas psicotrpicas, talvez com umcomponente de modificao comportamental ou de memria. Algum lanou um feitio emSpellbinder, ? Ento agora voc tem uma baguna generalizada e quer que eu a limpe. Porisso me queria?

    Eu no queria voc, absolutamente sibilou Gordon. Ento vamos apenas dizer que por isso que voc est de p no teto no usando o bat-

    sinal para me convocar retrucou Batman.Gordon piscou, tentando ver alm de sua fria. H cerca de trs meses, todos que esto cometendo esses crimes receberam um carto

    pelo correio. Ele dizia: Este carto lhe dar sorte. Nada mais, e todos com um carimbopostal da Gotham Central.

  • Deixe-me ver exigiu Batman. No tenho respondeu o comissrio. Joguei fora h meses. Mostre sua carteira exigiu Batman.O comissrio levou a mo s costas e sacou a carteira, abrindo as divises com os dedos.Batman esticou a mo e agilmente tirou o carto. Ei disse Gordon. Eu jurava que no estava a. Mas no foi para isso que voc veio ao teto para no usar o bat-sinal disse Batman,

    examinando o carto cuidadosamente. o mesmo tipo de carto que agora est espalhadopela cidade inteira.

    Isso mesmo respondeu Gordon. Conseguimos rastrear a produo at a LunareProducts, em sua unidade em Dixon Docks, saindo do Englehart Boulevard. umapropriedade em nome de um certo Dr. Chandra Bulan. As duas palavras so pseudnimospara...

    Lua disse Batman, cuspindo a palavra. Ambas so palavras do sudeste da sia paraLua.

    Dr. Moon concordou Gordon. Ele era especialista em manipulao de memria, eisto parece seu modus operandi.

    Era especialista o ponto concordou Batman. Moon est morto, e h anos. Ento ele est muito ativo para um cadver retrucou Gordon. Temos recebido

    relatrios de que h um culto oriental crescendo em Chinatown com o Dr. Moon naliderana.

    No imagino que esteja se referindo a Sun Myung Moon e a Igreja da Unificao disseBatman, sorrindo sob o capuz.

    Estaria perguntando a voc caso estivesse? resmungou Gordon. Voc acha que o Dr. Moon se levantou do tmulo e est espalhando estes cartes por

    toda a cidade afirmou Batman, colocando o carto em um saco de provas em seu cinto deutilidades.

    Algum est espalhando isso por toda a cidade e, se for verdade, este ltimo surto decriminalidade que tivemos foi uma pequena amostra da tempestade que est se formando afirmou Gordon.

    Batman assentiu, depois devolveu a arma a Gordon pela coronha.Gordon olhou para a arma por alguns instantes, depois balanou a cabea. Melhor voc ficar com ela. Isso nunca aconteceu, Gordon insistiu Batman. uma lembrana que no passa de

    sonho.Gordon respirou fundo. No para mim. Eu me lembro de todos os detalhes... V-la cair na entrada do

    apartamento... O sangue se espalhando nos azulejos abaixo dela... Voc de p no umbral.Minha mente racional sabe que tudo falso... Mas se eu pegar essa arma, tambm sei queirei us-la contra voc. Di demais e parece certo demais.

    Batman anuiu. Ejetou o pente e o jogou do outro lado do teto, depois soltou o ferrolho,tirando a haste de guia e a mola do chassi da arma. Espalhou as peas ao redor dele em arco.

  • Avisarei quando estiver terminado. O que voc vai fazer? perguntou Gordon. Visitar um morto respondeu Batman.Gordon ia perguntar como... Mas Batman havia partido.

    Dixon Foundation College / Gotham / 21h42 / Hoje

    Batman suava. A bat-roupa estava esquentando demais, os nveis de energia do cinto deutilidades caindo perigosamente a despeito dos capacitores adicionais que instalara. Osistema de refrigerao da bat-roupa estava sendo forado ao limite, mas, apesar de tudo,Bruce Wayne estava adorando o desafio e apreciando o esforo.

    Oito jovens membros do culto tinham conseguido se lanar contra ele ao mesmo tempo nacabine de som do auditrio que desmoronava. Seus golpes estavam comeando a penetrar naenfraquecida armadura ativa da bat-roupa, chegando s costelas.

    Batman sorria.Era seu tipo de luta.Os membros do Culto Lunar vinham em grande medida das gangues da vizinha Chinatown,

    e a guarda de Moon havia sido bem treinada em artes marciais. Seu entusiasmo pelo lderera fantico e absoluto, impelindo-os com o mesmo tipo de zelo que alimentava Batman. Eletinha a vantagem da experincia, mas seu corpo estava envelhecendo. Eles tinham avantagem do nmero, mas no eram treinados em combate em grupo. Nenhum dos dois ladosiria recuar.

    Era o equilbrio que tornava aquilo interessante para ele.Com um grito, Batman se projetou com toda a sua fora. A bat-roupa reagiu, arrancando

    mais potncia dos esmorecidos capacitores. Os membros do culto foram lanados paralonge, dois atravessando o vidro da cabine e caindo flcidos entre os assentos quebradosabaixo.

    Batman se colocou de p imediatamente. Dois dos guardas remanescentes recuperaramsuas posies, as cabeas raspadas brilhando com sangue, tchacos surgindo em suas mosem um sbito borro.

    Filmes demais. Talvez no seja seu primeiro erro... Certamente ser o ltimo.Batman avanou contra o primeiro, a ponta da arma de corrente zumbindo na direo de

    sua cabea. Ele mudou de posio, e ento bloqueou o tchaco com o antebrao no momentoexato, fazendo com que ele voltasse sobre o rosto do atacante, cujo nariz se partiu com umbarulho satisfatrio. Batman girou, acrescentando ferimento a ferimento, enquanto seucotovelo pegava o nariz partido de baixo para cima e empurrava os ossos para o rosto.

    A virada o deixou diante do segundo adversrio remanescente, cuja arma giravaproduzindo um borro rumo ao Cavaleiro das Trevas ofegante. Batman cruzou os antebraosdiante de si, segurando os bastes entre o punho das luvas. Os braos deslizaram para baixopela madeira lisa, arrancando a arma das mos do jovem e surpreso membro do culto.

    Nunca gire a arma orientou Batman, enrolando os bastes em torno da corrente demetal at ficarem lado a lado em sua mo. melhor segurar com firmeza.

  • Batman enfiou o punho, ainda segurando os bois bastes, sobre o rosto do jovem, jogando-o de joelhos. O sorriso brotou em seu rosto enquanto danou o punho com os bastesrepetidamente, martelando o membro do culto.

    Quando o rapaz parou de se mover, o punho parou.Batman saltou pela janela estilhaada, a capa se abrindo devidamente para desacelerar a

    descida enquanto ele pousava trs metros abaixo sobre os corpos que o precederam.O Dixon Foundation College havia sido um dia uma instituio particular, porm, quando o

    financiamento terminou, o mesmo aconteceu com os alunos. O auditrio de aula estava emrunas, mas panos vermelhos brilhantes haviam sido pendurados como bandeiras ao longodas placas de reboco que despencavam da parede. Havia um plpito, ponto focal doauditrio vazio.

    O Dr. Moon estava no plpito.Tenho de admitir que ele est bastante bem... Considerando que est morto h dez anos.A pele do rosto havia sido esticada para trs em uma mscara com aparncia de couro, os

    lbios retesados em um sorriso hediondo. Moon olhou com rbitas vazias para o Batman,que se aproximava. Usava um chapu de bobo da corte, colorido e com sinos na extremidadede cada uma das cinco pontas. O cabelo que aparecia sob ele estava despenteado e suasunhas eram compridas, mas isso era compreensvel para algum arrancado do tmulo. Vestiauma tnica de seda vermelha resplandecente. No parecia nem um pouco incomodado com ofato de que ele e sua tnica fossem sustentados por um cano de ferro preso verticalmente aopiso, enfiado na base de suas costas e chegando cavidade torcica. As mos de Moonestavam apoiadas no plpito, os dedos ossudos enrolados sobre uma pilha de papis.

    O rosto de Batman ganhou expresso raivosa.Os papis no plpito estavam amarelados pela idade, ressecados e frgeis, mas o

    cabealho antiquado era facilmente reconhecvel.

    WAYNE ENTERPRISES

    DA MESA DO DR. THOMAS WAYNE

    Batman sentiu o suor se acumular na base da coluna, um arrepio correndo a despeito docalor residual da bat-roupa. Empurrou o corpo de Moon, deslocando a clavcula de seuencaixe e fazendo com que o cadver escorregasse pelo cano at formar uma pilha a seusps.

    Batman e todas as camadas da bat-roupa no poderiam proteger Bruce Wayne das palavrasnas pginas que ele tomou nas mos.

    Ao Dr. Ernst Richter

    Caro Ernst,Posso compreender sua reticncia em prosseguir com este projeto, e lhe escrevo hoje na esperana de lanar

    alguma luz sobre minha aparente obsesso por seu trabalho. Ordenei que esta carta lhe fosse entregue pessoalmentepor meu empregado, em quem tenho total confiana, para ficar certo de que chegar unicamente s suas mos.

    Talvez para que voc entenda plenamente, tenho de explicar como Martha me apresentou a Denholm Sinclair emprimeiro lugar e como isso levou minha amizade com Lewis Moxon...

  • CAPTULO CINCO

    ENCONTRO S CEGAS

    The Bowery / Gotham / 23h15 / 4 de outubro de 1957

    Bem-vindo ao Koffee Klatch, Sr. Wayne.Ele quase se virou e saiu.Thomas Wayne estava impecavelmente vestido para qualquer lugar menos aquele. Seu

    corpo saudvel sustentava perfeitamente o palet branco e a gravata-borboleta preta, e eletomara um cuidado extra com o Brylcreem para garantir que seus cabelos escuros seesticassem para trs desde a testa e ficassem lisos. Suas calas sociais afinavam de formaelegante, cortadas para terminar exatamente acima do brilho de seus sapatos sociais de couroenvernizado. Um cravo vermelho na lapela dava cor ao traje afora isso montono, e seurosto estava rapidamente ganhando o mesmo tom.

    Ele teria se encaixado bem em qualquer um dos mais refinados restaurantes e boates dacidade s que no estava em nenhum desses lugares.

    Ele estava beira da anarquia.Pelo menos estava caso a anarquia fosse definida como o nvel superior daquele caf de

    poro em Bowery. O Koffee Klatch ficava em uma rea arruinada de Uptown ao sul dobairro dos teatros Park Row, mas no suficientemente ao sul para ser elegantemente prximoao Riverfront Park. O bairro dos teatros estava cheio de luzes brilhantes, exibindo produesde primeira categoria como My Fair Lady, Auntie Mame e Bells Are Ringing montagensque refletiam o verniz de otimismo que envolvia o pas como um todo. Mas o que alimentavaaqueles sonhos noturnos era um exrcito de atores, msicos, cor