Disciplina de Jornalismo e redes Digitais MBA Jornalismo Empresarial.
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Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH)
Departamento de Ciências Sociais Aplicadas (DCSA)
Curso de Comunicação Social - Jornalismo
Jornalismo online
Um estudo de caso do site da BBC Brasil
BRENDA MARQUES PENA
Belo Horizonte – MG
Novembro 2002
BRENDA MARQUES PENA
Jornalismo online
Um estudo de caso do site BBC Brasil
Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Comunicação Social
Orientador: Prof. Adriano Messias de Oliveira
Belo Horizonte – MG
Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni—BH)
2002
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Dedico esta pesquisa a Deus, que me deu forças para realizar este trabalho, aos
meus pais Renato Soares Pena e Suely Maria Marques Pena, que me apoiaram e
custearam o curso de jornalismo, ao Centro Universitário de Belo Horizonte, por
ser a instituição de ensino para a qual esta monografia foi escrita. Agradeço ao
professor Adriano Messias pela paciência na orientação, ao Diretor da BBC Brasil
Américo Martins, que concedeu a entrevista que está incluída nos anexos sobre o
meu objeto de estudo, o site da BBC Brasil, e a todos que colaboraram de alguma
forma para que as próximas páginas fossem escritas.
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SUMÁRIO
1. Introdução..........................................................................................pág 05
2. Capítulo 1 - Novas Tecnologias: o surgimento da Internet como meio e do
hipertexto como linguagem da rede...................................................pág 09
3. Capítulo 2 - Jornalismo Online: como os bits interferem na produção
jornalística...........................................................................................pág 21
4. Capítulo 3 - BBC Brasil: um site de noticiais internacionais feito para
brasileiros sem anúncios publicitários.................................................pág 34
5. Conclusão............................................................................................pág 45
6. Bibliografia...........................................................................................pág 50
7. Anexos................................................................................................ pág 52
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Introdução
Esta monografia tem como objetivo levantar um panorama do jornalismo
online que se efetivou no Brasil na década de 90 e de quais estratégias são
adotadas para se atrair leitores/usuários em meio a um emaranhado de sites de
informação. A partir de um histórico das novas tecnologias aplicadas à produção
de conteúdos jornalísticos para a Internet é possível verificar como as empresas
de comunicação exploram este novo sistema eletrônico.
O estudo do desenvolvimento da Internet e da convergência de outras
redes de comunicação para a grande rede interessa tanto aos jornalistas como à
sociedade, pois consiste na integração de todos os meios de comunicação. A
interatividade potencial é um dos pontos de partida desta pesquisa, que tem como
objeto de estudo o site www.bbcbrasil.com, que foi escolhido por seu caráter de
independência econômica e editorial em um período de crise no jornalismo online
no Brasil por falta de investimentos no setor. A escolha também se devido à
utilização de todos os recursos multimídia (áudio, imagem e texto) pelos
produtores do site.
Com esta monografia pretendo trazer reflexões para o meio acadêmico por
meio da análise do jornalismo online e das possibilidades que a Internet propicia
para a prática jornalística. A partir de um histórico do surgimento da Internet no
mundo e de sua instalação como rede no Brasil, procuro traçar uma linha de
pesquisa em que mostre os desafios e as possibilidades do novo meio.
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Wilson Dizard Jr, autor do livro A Nova Mídia, examina os avanços
ocorridos na tecnologia da informação com o advento da Internet e o impacto
dessas mudanças na comunicação de massa e na sociedade.
Até o fim dos anos 80, a Internet era um obscuro brinquedo tecnológico usado basicamente por pequenos grupos fanáticos por computadores. Desde então, ela se transformou na rede de computadores com maior crescimento no mundo inteiro, com cerca de 300 milhões de PCs, em mais de 150 países. (DIZARD, 2000: p.24)
O que se sabe é que a Internet é uma experiência humana rara e a
concretização da profecia de McLuhan sobre a “Aldeia Global” descrita em O meio
é a mensagem. McLuhan afirma que vivemos numa Aldeia Global: um
acontecimento simultâneo em que o tempo e o espaço desapareceram. Para ele,
os media eletrônicos estão a pôr-nos de novo em contacto com as emoções tribais
de que a imprensa nos tinha divorciado, por meio da reconstituição de uma
tradição oral que coloca nossos sentidos no jogo do mundo virtual.
A definição de Michael Dertouzos da Internet, em seu livro O Mercado da
Informação na Era da Informação como a reunião de pessoas, computadores,
meios de comunicação, softwares e serviços que são engajados nas transações
de informações interpessoais é uma forma de se observar como o meio traz novas
possibilidades para a sociedade.
Manuel Castells (1992), no livro A Sociedade em Rede apresenta a Internet
como um meio para promover a integração potencial de texto, imagens e sons no
mesmo sistema – interagindo a partir de pontos múltiplos em uma rede global em
condições de acesso aberto e preço acessível. Para o teórico, a Internet é capaz
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de mudar de forma fundamental o caráter da comunicação. O surgimento do novo
sistema eletrônico de comunicação, segundo o autor, é caracterizado pelo seu
alcance global, integração de todos os meios de comunicação e interatividade
potenciais.
Pierre Lévy (1993) pesquisou o hipertexto como a linguagem das novas
tecnologias. No livro As tecnologias da Inteligência, ele relata que o hipertexto
surgiu nos anos 60 para exprimir a idéia de escrita e leitura não linear em um
sistema de informática.
A mente humana funciona através de associações e desta forma, o hipertexto é capaz de trazer uma nova engenharia para as publicações que ordene as redes de comunicação através da interação entre sons, imagens e textos gravados que auxiliarão no armazenamento de informações científicas e nas relações sociais. (LÉVY, 1993: p.28 e 29)
Segundo Manuel Castells, dois cenários fortes se consolidam nos tempos
atuais: o uso dos computadores como meios de acessar, processar, analisar e
disseminar informações, e a inevitável necessidade dos jornalistas de usarem este
tipo de ferramenta. Estas evidências indicam que na comunicação deste novo
século, o controle do mundo contemporâneo subentende o domínio da tecnologia.
Ana Paula Camargos, em Desafios da difusão nos países em
desenvolvimento: estudo de caso do Brasil examina os desafios técnicos, políticos
e econômicos que as nações em desenvolvimento como o Brasil, enfrentam em
relação à decisão sobre conectar e expandir suas redes nacionais e analisa o
papel do governo e do capital privado no subsídio das redes. Já Eurípedes
Alcântara, em A rede que abraça todo o planeta, descreve a Internet como a
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espinha dorsal da comunicação global mediada por computadores a partir dos
anos 90.
Ciro Marcondes Filho no livro Jornalismo Fin-de-siécle, caracteriza os
jornalistas na era digital pós-modernista não como engajados militantes de uma
causa revolucionária, mas como cidadãos compenetrados de que se algum
espaço restou na perspectiva de uma regeneração social e humana, mais do que
qualquer outro, à imprensa ocupá-lo.
O jornalismo do futuro de Sebastião Squirra introduz o conceito de
jornalismo de “muitos para muitos”, onde o autor explica que as novas tecnologias
de comunicação podem transformar o receptor em possível produtor da
informação. Enquanto, o artigo Os Bits da notícia: jornalismo na era da Internet, de
Hélio Freitas, apresenta questões para um debate sobre as mudanças que a
emersão do jornalismo na Internet pode acarretar tanto no processo de produção
e edição da notícia, quanto no papel que esta atividade deve exercer na atual
sociedade de consumo.
Esta pesquisa mostra como são explorados os recursos lingüísticos,
técnicos e mercadológicos da Internet na produção jornalística. A notícia para ser
veiculada na rede não pode apenas ser reciclada de outros meios, ela precisa
ganhar um formato que a integre no cyberespaço e aos valores da nova tecnologia
Com esta monografia pude concluir que a BBC Brasil tem explorado estes
recursos e tem se firmado no mercado brasileiro por ser uma empresa pública,
prestadora de serviços à comunidade e a outras empresas de comunicação, que
independe de patrocinadores para sobreviver.
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Capítulo 1- Novas Tecnologias: o surgimento da Internet como meio
e do hipertexto como linguagem da rede
A primeira grande transformação tecnológica da mídia de massa nos
tempos modernos aconteceu no século XIX, com a introdução das impressoras a
vapor e do papel de jornal. Em 1920 e 1939, com a transmissão por ondas
eletromagnéticas, o rádio e a televisão foram viabilizados. O mundo dos
computadores multimídia, compact discs, bancos de dados portáteis, redes
nacionais de fibra ótica, mensagens enviadas por fax de última geração, páginas
de web e outros serviços que surgiram nos últimos trinta anos são os
responsáveis por inaugurar uma nova era da informação.
No livro A Nova Mídia, Wilson Dizard Jr. Examina os avanços ocorridos na
tecnologia da informação com o advento da Internet e o impacto dessas
mudanças na comunicação de massa e na sociedade.
Até o fim dos anos 80, a Internet era um obscuro brinquedo tecnológico usado basicamente por pequenos grupos fanáticos por computadores. Desde então, ela se transformou na rede de computadores com maior crescimento no mundo inteiro, com cerca de 300 milhões de PCs, em mais de 150 países. A rede se expandiu em 50% a cada ano durante a década de 90, impulsionada pelo interesse dos usuários comuns de computadores na World Wide Web e nas demais ferramentas da Internet. (DIZARD, 2000: p.24)
O advento da computação pessoal, a comunicabilidade de redes e a
explosão da Internet em decorrência de avanços tecnológicos ocorreu nos
processos de busca de informação na rede. Criada pelo governo americano
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durante a Guerra Fria, na década de 60, a nova mídia traz em si um potencial
capaz de transformar a cultura e a comunicação da humanidade.
O surgimento do novo sistema eletrônico de comunicação é caracterizado
pelo seu alcance global, integração de todos os meios de comunicação e
interatividade potencial. A Internet capta em seu domínio a maioria das
expressões culturais em toda a sua diversidade. Seu advento é equivalente ao fim
7da separação e até da distinção entre mídia áudiovisual e mídia impressa, cultura
popular e cultura erudita, entretenimento e informação, educação e persuasão.
Deste novo sistema de comunicação em redes de computadores está surgindo a
nova virtualidade real.
Para alguns, a comunicação mediada por computadores, especialmente o
correio eletrônico, representa a vingança do meio escrito, o retorno à mente
tipográfica e a recuperação do discurso racional construído. Para outros, a
informalidade, espontaneidade e anonimato do meio estimulam uma nova forma
de “oralidade” expressa em um texto eletrônico. O que se sabe é que a Internet é
uma experiência humana rara e a concretização da profecia de McLuhan sobre a
“Aldeia Global”.1
Michael Dertouzos define a Internet, no livro O Mercado da Informação na
Era da Informação, como a reunião de pessoas, computadores, meios de
comunicação, softwares e outros serviços engajados na transação de informações
1 Em O meio é a mensagem, McLuhan afirma que vivemos numa Aldeia Global: um acontecimento simultâneo em que o tempo e o espaço desapareceram. Para ele, os media eletrônicos estão a pôr-nos de novo em contacto com as emoções tribais de que a imprensa nos tinha divorciado, por meio da reconstituição de uma tradição oral que coloca nossos sentidos em jogo. O novo sistema de comunicação em redes de computadores está surgindo a nova cultura da virtualidade real.
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interpessoais. É um mercado comunitário do século XXI, onde pessoas e
computadores compram vendem e trocam livremente informações e serviços
informáticos.
A web nada mais é do que um modo específico de usar possibilidades de transporte e endereçamento da Internet. Ao aderir a um conjunto de padrões chamados de protocolos, as home pages, os browsers e outros tipos de software possibilitam o sistema familiar de clique o mouse siga o link que tornou a web tão famosa. (DERTOUZOS, 1997: p.404)
Manuel Castells (1992), no livro A Sociedade em Rede, descreve a cultura
da virtualidade real desde os primórdios com a criação da Arpanet (dispositivo de
informática usado para fins militares pelos americanos, como uma espécie de
banco de dados transmitidos em rede) e da Minitel (rede criada pelo governo
francês com a finalidade de aperfeiçoar o sistema de telecomunicações). Apesar
de as propostas serem diferentes entre essas duas formas preliminares da
Internet, elas servem para apontar como a nova mídia traz em si um potencial
imensurável, capaz de transformar a cultura e a comunicação da humanidade.
A partir da tensão entre comunicação alfabética e sensorial não-meditativa,
o autor estabelece um paralelo entre as mídias impressas e áudiovisuais e o novo
sistema capaz de unir a oral, o visual e a escrita.
Uma transformação tecnológica de grande dimensão histórica está ocorrendo com a integração de vários modos de comunicação em uma rede interativa: A formação de um supertexto e uma metalinguagem que integra no mesmo sistema as modalidades escrita, oral e audiovisual da comunicação humana. Com isso, o espírito humano reúne suas dimensões em uma interação entre os dois lados do cérebro, máquinas e contextos sociais. (CASTELLS, 1992: p.354)
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Castells apresenta a Internet como um meio para promover a integração
potencial de texto, imagens e sons no mesmo sistema – interagindo a partir de
pontos múltiplos em uma rede global, em condições de acesso aberto e preço
acessível, capaz de mudar de forma fundamental o caráter da comunicação.
O surgimento do novo sistema eletrônico de comunicação, segundo o autor,
é caracterizado pelo seu alcance global, integração de todos os meios de
comunicação e interatividade potenciais. Por meio dessa poderosa influência do
novo sistema de comunicação em redes de computadores, está surgindo uma
nova cultura, controlada por interesses sociais, políticas governamentais e
estratégias de negócios.
A mídia representa o tecido simbólico da vida e tende a afetar o consciente e o comportamento como a experiência real afeta os sonhos, fornecendo a matéria-prima para o funcionamento de nosso cérebro. A mídia é a expressão de nossa cultura funciona principalmente por intermédio dos materiais propiciados por ela. Assim, com o advento da Internet surge uma nova cultura. (CASTELLS, 1992: p. 394)
Castells estabelece um paralelo entre dois teóricos da comunicação que
representam períodos distintos do estudo da cultura de massa: Gutenberg e
McLuhan. O ponto comum destacado destes autores por Manuel Castells é que,
enquanto a grande mídia for um sistema de comunicação de mão-única, o
processo real de comunicação não o será, pois este depende da interação entre o
emissor e o receptor na interpretação da mensagem.
No livro, A cultura da virtualidade, Castells cita a experiência de Youchi Ito
que, ao analisar a evolução dos usos da mídia no Japão, concluiu que a
sociedade de massa está passando por um processo de evolução que resultará
em uma “sociedade segmentada”, resultante das novas tecnologias de
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comunicação que enfocam a informação especializada, diversificada, tornando a
audiência cada vez mais segmentada por ideologias, valores, gastos e estilos de
vida.
O autor discorre que o processo da informação vai muito além da
comunicação de mão-única. A televisão precisou do computador para se libertar
da tela, mas seu acoplamento veio após um longo desvio tomado pelos
computadores a ponto de serem capazes de conversar com a televisão depois de
aprender a conversar entre si. A partir daí, a audiência passou a participar do
processo comunicativo.
A rede Internet é a espinha dorsal da comunicação global mediada por computadores dos anos 90, uma vez que liga gradativamente a maior parte das redes. E sem discutir sobre a nova tecnologia é impossível falar sobre a comunicação que se dá por meio dela. (...) A história do desenvolvimento da Internet e da convergência de outras redes de comunicação para a grande Rede fornece material essencial para o entendimento das características técnicas, organizacionais e culturais dessa rede, assim abrindo o caminho para a avaliação de seus impactos sociais. (CASTELLS,1992: p.369 e 375).
Manuel Castells considera a universalidade da linguagem digital e lógica
pura do sistema de comunicação em rede como criadora das condições
tecnológicas para a comunicação horizontal. Assim, o advento da computação
pessoal e comunicabilidade de redes estimularam o desenvolvimento dos
Sistemas de Boletins Informativos (BBS), primeiramente nos Estados Unidos,
depois por todo mundo.
Para alguns analistas, a comunicação mediada por computadores,
especialmente o correio eletrônico, representa a vingança do meio escrito, o
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retorno à mente tipográfica e a recuperação do discurso racional construído. Para
outros, a informalidade, a espontaneidade e o anonimato do meio estimulam uma
nova forma de “oralidade” expressa em um texto eletrônico, descreve o autor de A
Sociedade em Rede.
A comunicação de todos os tipos de mensagens no mesmo sistema, ainda que esse seja interativo e seletivo, induz a uma integração de todas as mensagens em um padrão cognitivo comum. Os acessos às notícias, educação e espetáculos audiovisuais no mesmo meio, mesmo a partir de fontes diferentes, intensifica a mistura de conteúdos que já ocorria na televisão direcionada às massas. (CASTELLS, 1993: p.394)
Em suas últimas análises sobre as características no novo sistema, Castells
caracteriza a integração de diferentes veículos de comunicação e seu potencial
interativo na rede como um grande potencial do meio. Entretanto, ele admite que a
multimídia é uma novidade difícil de ser avaliada em sua amplitude e de
dimensionar suas conseqüências para a cultura da sociedade.
Entre as características estudadas por Castells sobre a multimídia, ele
destacou a manutenção em seu estágio padrão social e cultural à segmentação
dos usuários/ espectadores/ leitores/ ouvintes.
As mensagens não são apenas segmentadas pelos mercados mediante a estratégia do emissor, mas também pelos usuários da mídia de acordo com seus interesses, por intermédio da exploração das vantagens das capacidades interativas. (...) Pelo que mostram os estudos empíricos, a mídia não é uma variável independente na indução de comportamentos. Suas mensagens, explícitas ou subliminares, são trabalhadas, processadas por indivíduos localizados em contextos sociais específicos, dessa forma modificando o efeito pretendido pela mensagem. (CASTELLS, 1992: 360 a 361)
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Apesar de Castells apresentar uma visão otimista sobre o novo meio, o
autor aponta a crescente estratificação social entre os usuários. E admite que
enquanto a opção da multimídia ficar restrita àqueles com tempo e dinheiro, o
meio não será utilizado em toda sua capacidade.
Assim como Castells estudou o surgimento e as possibilidades do novo
meio midiático, Pierre Lévy (1993) pesquisou o hipertexto como a linguagem das
novas tecnologias. No livro As tecnologias da Inteligência, ele relata que o
hipertexto surgiu nos anos 60 para exprimir a idéia de escrita e leitura não linear
em um sistema de informática.
A mente humana funciona através de associações e desta forma, o hipertexto é capaz de trazer uma nova engenharia para as publicações que ordene as redes de comunicação através da interação entre sons, imagens e textos gravados que auxiliarão no armazenamento de informações científicas e nas relações sociais. (LÉVY, 1993: p.28 e 29)
Lévy conta como em meados dos anos 60, uma pitoresca comunidade de
jovens californianos inventaram os computadores pessoais. Os membros mais
ativos deste grupo tinham o projeto mais bem definido de instituir novas bases
para a informática e ao mesmo tempo, revolucionar a sociedade.
O ambiente em que esses jovens estudaram ficou conhecido como Silicon
Valley. Foi nesse universo que Bill Gates e Paul Allen desenvolveram a
linguagem de programação para o funcionamento do Basic, o primeiro computador
pessoal. Mais tarde esses computadores foram difundidos como PCS (Personal
Computers) retrata Lévy.
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Foi em um ciclone de pessoas, idéias e paixões que saiu o computador pessoal. Não o objeto definido apenas por seu tamanho, não o pequeno computador de que os militares já dispunham há muito tempo, mas sim o complexo de circuitos eletrônicos e de utopia social que era o computador pessoal no fim dos anos setenta: a potência de cálculo arrancada do Estado, do exército, dos monstros burocráticos que são as grandes empresas e restituída, enfim, aos indivíduos. (LÉVY, 1993:p.45 e 46)
O autor, a partir da abordagem clássica dos fenômenos de comunicação,
traça um perfil dos interlocutores no processo comunicativo que fazem intervir o
contexto para interpretar as mensagens que lhes são dirigidas. A comunicação,
neste contexto, só se distingue da ação em geral porque visa mais diretamente ao
plano das representações. Para Lévy, o jogo da comunicação consiste em, por
meio de mensagens, precisar, ajustar, transformar o contexto compartilhado. Os
atores da comunicação de uma mensagem são os responsáveis por construir e
remodelar universos distintos.
A estrutura do hipertexto não dá conta somente da comunicação. Os processos sociotécnicos também têm uma forma hipertextual, assim como vários outros fenômenos, sobretudo. O hipertexto é talvez uma metáfora válida para todas as esferas da realidade em que significações estejam em jogo. (Lévy, 1993:p.25)
A linguagem do hipertexto, descrita por Pierre Lévy, é dinâmica e está
constantemente em movimento. Com um ou dois cliques, um certo detalhe pode
ser ampliado ou uma estrutura complexa esquematizada. Para o autor, não se
trata de uma rede de macrotextos, mas sim um metatexto de geometria variável.
Um parágrafo pode aparecer ou desaparecer sob uma palavra, um ensaio sob
uma das palavras de um capítulo de um livro e assim, virtualmente sem fim.
O hipertexto retoma e transforma antigas interfaces da escrita, conforme
discorre Pierre Lévy. A interface informática, para ele, nos coloca diante de um
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pacote redobrado, com pouquíssima superfície que seja diretamente acessível em
um mesmo instante. Partindo de traços tomados de empréstimo de várias outras
mídias, o teórico caracteriza o hipertexto como uma rede original de interfaces. A
quase instantaneidade da passagem de um link a outro permite generalizar e
utilizar em toda a sua extensão o princípio da não-linearidade. Isto se torna uma
norma, um novo sistema de escrita, uma metamorfose da leitura, batizada de
navegação.
Os conteúdos informativos estão em constante mutação, como aborda
Lévy. A inovação da informática abriu a possibilidade de novas relações entre
homens e computadores: códigos de programação cada vez mais intuitivos,
comunicação em tempo real, redes, micro e novos princípios de interfaces.
Ana Paula Camargos, em Desafios da difusão nos países em
desenvolvimento: estudo de caso do Brasil examina os desafios técnicos, políticos
e econômicos que as nações em desenvolvimento como o Brasil, enfrentam em
relação à decisão sobre conectar e expandir suas redes nacionais e analisa o
papel do governo e do capital privado no subsídio das redes.
Segundo a autora, ao oferecer informações valiosas para pessoas em todos
os continentes, a Internet tem o potencial de melhorar a qualidade de vida,
fortalecer a cooperação entre os países e promover o crescimento econômico.
Todavia, estes aspectos positivos podem ser comprometedores se a Internet não
alcançar todas as nações do mundo. Os países não conectados à rede podem
ficar à margem do mundo científico e dos negócios, tornando-se ilhas isoladas em
um planeta entrelaçado.
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Amparada pelas políticas governamentais nos Estados Unidos e no exterior, a Internet está em constante crescimento. Todavia, a expansão da rede tem sido desorganizada e anárquica porque nunca teve um controle central. Os benefícios potenciais da Internet serão percebidos em toda sua extensão quando todos os países tiverem amplo aceso à rede. As disparidades entre os países tendem a aumentar, transformando a Internet em um instrumento de exclusão mais do que de integração. (CAMARGOS, 1997:p.17 e18)
Em junho de 1995, a estimativa era de que 30 milhões de pessoas de todo
o mundo estavam na Net, e um milhão de novos adeptos chegam todo mês. A
popularidade da Internet pode ser em parte explicada pela utilidade de suas
aplicações. A rede de computadores tem o potencial de satisfazer as
necessidades de informação dos países em desenvolvimento fornecendo a eles
um meio de acesso a bancos de dados e especialistas de outra forma
inacessíveis. Com o surgimento da Internet, a comunicação torna-se mais fácil e
mais barata.
Ana Paula Camargos aponta a baixa qualidade das instalações das
telecomunicações como o principal obstáculo ao crescimento da Internet nos
países em desenvolvimento O custo de montagem e gerenciamento da rede local
e o preço da conexão à Internet é relativamente alto para países em situação de
pobreza e disparidade econômica.
Céticos do governo e da população não acreditam que a Internet possa
ajudar os países em desenvolvimento a superar seus problemas econômicos e
sociais. Em vez disso, a vêem como um meio elitista, acessível apenas a
pequenos grupos da população que estão equipados com computadores e são
capazes de escrever e ler em inglês, a língua franca da Internet. Tal situação
agrava a marginalização dos setores já alienados dessas sociedades.
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Os defensores da rede sustentam que os países em desenvolvimento
precisam enfrentar as conseqüências negativas, potenciais da comunicação
global, em vez de apenas recusar-se a entrar na Internet. Eles sugerem, por
exemplo, que os países em desenvolvimento estabeleçam seus próprios bancos
de dados para oferecer informação sobre suas economias e culturas ao mundo, e
não apenas receber informações do exterior. E rejeitam o argumento de que a
comunicação é um luxo supérfluo porque a população tem outras necessidades
básicas que ainda não foram satisfeitas. Eles defendem que as comunicações
podem ser a chave para um crescimento econômico, que eventualmente permitiria
que esses países solucionassem seus problemas sociais.
A multimídia é novidade e é difícil avaliar suas conseqüências para a cultura da sociedade, apesar de estarem ocorrendo transformações fundamentais. A rede mundial representa uma das raras janelas que a tecnologia moderna abriu e que se descortina com a mesma amplitude para os países ricos e pobres. (CAMARGOS, 1997:p.23)
Como outras nações em desenvolvimento, o Brasil ambicionou ter os
benefícios potenciais de tal sistema, mas enfrentou desafios para sua instalação,
devido às políticas de protecionismo, que sobreviveram ao fim da ditadura militar.
O Brasil entrou no século XXI com menos computadores que seus vizinhos
Colômbia, Venezuela, Chile e Argentina. Hoje, o país é considerado um dos
mercados de computadores pessoais emergentes que mais crescem no mundo.
A Internet instalou-se no Brasil de forma efetiva no início dos anos 90. As
universidades do Brasil estão ligadas a redes de computadores mundiais desde
1989. Naquele ano, havia conexões com a Bitnet, uma rede semelhante à Internet,
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em várias instituições, como as universidades federais do Rio Grande do Sul e do
Rio de Janeiro. Os serviços disponíveis restringiam-se a correio eletrônico e
transferência de arquivos. Somente em 1990 a Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa de São Paulo) conectou-se com a Internet e a tecnologia foi ampliada
para inicialmente para 11 Estados, com pontos-de-presença em cada capital.
Ana Paula Camargos, no livro Desafios da difusão nos países em
desenvolvimento: estudo de caso do Brasil fala sobre os desafios que os países
em desenvolvimento enfrentam nessa era da informação. Eles têm de decidir
entre conectar-se à Internet e construir redes nacionais ou esperar até que tenham
os recursos disponíveis. Os países em desenvolvimento receiam que a
comunicação global e a comercialização da Internet possam ameaçar sua
soberania e prejudicar suas culturas nacionais. Apenas o futuro revelará se a
Internet viverá à altura de suas promessas para os países em desenvolvimento
como o Brasil.
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Capítulo 2– Jornalismo Online:
como os bits interferem na produção jornalística
O jornalismo online surgiu com os Sistemas de Boletins Informativos (BBS),
primeiramente nos Estados Unidos, depois por todo mundo. Os protestos
eletrônicos contra os acontecimentos da Praça da Paz Celestial na China, em
1989, via redes de computadores operadas por estudantes chineses no exterior,
foram uma das manifestações mais notórias do potencial dos novos dispositivos
de comunicação.
Segundo Manuel Castells, dois cenários fortes se consolidam nos tempos
atuais: o uso dos computadores como meios de acessar, processar, analisar e
disseminar informações, e a inevitável necessidade dos jornalistas de usarem este
tipo de ferramenta. Estas evidências indicam, que na comunicação deste novo
século, o controle do mundo contemporâneo subentende o domínio da tecnologia.
As publicações online representam uma grande possibilidade de independência para jornalistas que procuram espaço próprio, longe da grande imprensa. No ciberespaço qualquer cidadão com um modem, um computador, uma linha telefônica e alguma coisa a dizer pode tornar-se um editor e disponibilizar seu produto comunicacional. (CASTELLS 1992:p.310)
Eurípedes Alcântara em A rede que abraça todo o planeta descreve a
Internet como a espinha dorsal da comunicação global mediada por computadores
a partir dos anos 90. Uma página de texto colocada por qualquer membro da rede
pode ser lida por milhões de pessoas. Com a Internet, tanto o jornal quanto a
televisão são mostrados na forma de vídeo, fotos coloridas, textos e áreas
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interativas em que o usuário manda suas opiniões ou ainda encomenda um jornal
só com notícias de esporte ou comentários sobre finanças via correio eletrônico.
A diversidade, a dinâmica e a sedução visual dos novos meios já
conquistaram os leitores das mais diferentes classes sociais do mundo. Hoje, as
grandes enciclopédias e jornais estão convertidos em versões digitais, e
oferecidos online em CD-ROM. A tecnologia de telecomunicações disponível na
atualidade permite a melhoria da pesquisa jornalística e não somente a sua
difusão mais abrangente. Entretanto, para criar uma linguagem para o jornalismo
online não basta veicular notícias na web. A notícia não pode apenas ser reciclada
de outros meios, ela precisa ganhar um formato que a integre no cyberespaço e
aos valores da nova tecnologia.
Em 1995, o Brasil já tinha 50000 usuários conectados à Internet, número
que se expandiu de forma espantosa, alcançando a marca de 7 milhões de
usuários em 2002, segundo dados do Instituto de Pesquisa Ibope. Entretanto,
verifica-se uma certa dificuldade em se manter o jornalismo como negócio neste
novo meio. Vários sites são inaugurados e fechados a cada dia na rede. Nestes
primeiros anos do século XXI, verifica-se uma crise que está afetando as
empresas ponto com.
Nossa época está sendo marcada pela transformação dos átomos em bits. Essa transformação já está causando um impacto sem precedentes nas leis de propriedade intelectual, na educação, nos meios de comunicação e na indústria da diversão. Os bits são a maior riqueza deste fim de século, ou sua mais completa tradução. (ALCÂNTARA, 1995:p.118)
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Uma das pesquisas mais completas sobre a demanda da multimídia,
realizada por Charles Piller em amostra nacional de seiscentos adultos nos
Estados Unidos, revelou o interesse muito mais profundo pelo uso da multimídia
para acesso à informação, questões comunitárias, envolvimento político e
educação. Mediante o conteúdo dessa pesquisa, o meio mostrou-se frutífero ao
desenvolvimento do jornalismo online.
Por meio de um estudo da história do desenvolvimento da Internet e da
convergência de outras redes de comunicação para a grande rede, é possível
colher um material essencial para o entendimento das características técnicas,
organizacionais e culturais dessa rede, e abrir o caminho para a avaliação de seus
impactos sociais.
O cenário brasileiro de comunicação, mesmo com o inegável crescimento
das opções pela Internet, ainda tem problemas sérios e estruturais. Até a
expansão da telefonia fixa esbarra na desigualdade da distribuição de renda, já
que as pessoas não têm sequer dinheiro para pagar as contas telefônicas.
Só nos primeiros nove meses de 2001, segundo dados da Anatel, cerca de
2,5 milhões de terminais foram desligados simplesmente porque os usuários não
tinham recursos para honrar as assinaturas. Parece que o mesmo fenômeno está
acontecendo com a televisão a cabo. O ex-ministro das Comunicações, Sérgio
Motta, previu que, em 2002, o Brasil teria 12 milhões de domicílios com TV a cabo.
Mas este número não chega hoje aos 3.500 domicílios. E o montante, ao em vez
de subir, está caindo, por causa da inadimplência2.
2 Site www.comunique-se.com.br, 10 de agosto de 2002
23
Ciro Marcondes Filho no livro Jornalismo Fin-de-siécle, caracteriza os
jornalistas na era digital pós-modernista não como engajados militantes de uma
causa revolucionária, muita menos como românticos sonhadores com uma
imprensa acima de qualquer poder, mas como cidadãos compenetrados de que,
se algum espaço restou na perspectiva de uma regeneração social e humana,
mais do que qualquer outro, cabe à imprensa ocupá-lo.
A prática do jornalismo neste fim de século e na passagem para o novo milênio é marcada por traços básicos do período, que diferem radicalmente do contexto em que se fazia jornalismo nas décadas de 50 e 60, mais ainda, do jornalismo do período anterior e durante as guerras. A época hoje é das novas tecnologias de comunicação sem mencionar ao mesmo tempo este novo quadro marcado e influenciado por estas tecnologias. (MARCONDES FILHO, 1993:p.83)
A estrutura técnica, as organizações complexas, o princípio absoluto da
racionalidade marca o que se chama hoje de “crise do humanismo”, que o filósofo
Heidegger caracterizou como incidente no ápice do desenvolvimento técnico. A
era das novas tecnologias introduz critérios, formas e um arranjar do mundo
absolutamente diferentes do que conhecíamos até agora e que herdamos
principalmente do iluminismo. Nossas ciências, nosso saber, nossas forma de
trabalhar o mundo que nos rodeia têm de ser radicalmente transformados a partir
desses novos elementos.
A vida das sociedades neste final de século e na entrada do século XXI é marcada por um ritmo veloz nas relações sociais. As máquinas funcionam com rapidez, giram freneticamente a produção, o consumo, a informação. O compasso da vida torna-se mais ligeiro não porque tenhamos nos tornado de uma hora para outra mais rápidos, mas porque as tecnologias fornecem muito mais possibilidades de ação, de trabalho, de formas de lazer e outras tantas atividades a um só tempo”. (MARCONDES FILHO, 1993:p.92)
24
O autor, chama de imaterialidade jornalística o novo caráter do jornalismo
adotado na sociedade que se torna cada vez mais permeada por sofisticados
sistemas de comunicação e tecnologias de informação. O texto, a imagem, a
prática jornalística e o processo de trabalho são os quatro itens da imaterialidade
jornalística que emergem nesse contexto. Ao lado disso, opera-se um afastamento
das qualidades literárias do texto jornalístico no momento em que os sistemas de
computação realizam por si mesmo as revisões ortográficas e as ordenações
estilísticas, fazendo com que o jornalista não precise desse conhecimento para
produzir seu texto. O jornalista torna-se mais um técnico no “dizer simples” do que
um perito da linguagem.
Em termos de elaboração redacional do que deve ser uma matéria jornalística, trabalha-se na imprensa sob o ritmo da compressão. Deve-se suprimir notícias longas e as matérias não devem ter mais do que três parágrafos. Assim, elas devem pulverizar-se em pequenos drops informativos que são fornecidos a conta-gotas nas páginas do jornal online (MARCONDES FILHO, 1993: p.97)
O autor descreve o texto como algo manipulável repetindo-se aqui, mais
uma vez, o citado anteriormente da quebra da linearidade discursiva do
jornalismo. O texto agora é apenas uma imagem, um cintilar de luzes na tela do
computador e não tem mais existência física , pois torna-se algo abstrato.
Para Ciro Marcondes Filho, não apenas o texto se evapora na nova
realidade jornalística; o próprio papel do jornal, como conjunto de folhas impressas
que se traz para o escritório ou para casa, sofre também progressivamente a
concorrência do vídeo. A tendência na sociedade eletrônica é que se tenha
25
acesso ao jornal também a partir de uma tela. É o fim do componente espaço nas
redações jornalísticas em favor da precedência do tempo.
Isto fica claro também no desaparecimento da própria redação, ao não ser
mais preciso que jornalistas vão a redação fazer suas reuniões de pauta, discutir
suas matérias, podendo de suas próprias casas, fazer matérias e enviá-las pelo
computador. A supressão de espaços na sociedade tecnológica remete a vida
social ao enclausuramento em casas, quartos, compartimentos isolados,
conectados com o mundo só pela tela (imaginária) do computador. A sociedade de
alta tecnologia é também a da alta solidão.
A procedência da imagem é o que caracteriza a situação das culturas
contemporâneas como num processo de “dislexia”, segundo a qual está reduzindo
nas pessoas a capacidade de ler textos, principalmente textos longos ou que
envolvem certa abstração. Esses textos tornam-se ilegíveis, já que a ociosidade
visual com decodificação exclusiva de cenas ocupa o lugar dessa informação.
Com o surgimento da Internet, parecia que o Brasil encontraria uma saída
para a padronização do noticiário. Afinal, tratava-se de uma mídia inteiramente
nova, sem vínculos com a estrutura tradicional. Mas o tempo foi nos mostrando
que até o jornalismo na Web também sucumbiu e acabou contaminado pela
prática da imprensa do papel. 3
Para Sandro Guidalli, editor-chefe da newsletter www.depois.com.br, dois
erros fundamentais foram cometidos: o primeiro foi que em vez de buscar o
distanciamento dos fatos para melhor analisá-los e publicá-los, os sites de notícias
3 Site www.comunique-se.com.br, 09 de abril de 2002
26
partiram para uma corrida maluca para ver quem consegue noticiar antes do outro
um determinado acontecimento. O resultado foi à publicação de erros e mais erros
de informação, de português e de avaliação. O segundo erro decorre do primeiro
e foi ter acreditado que bastaria agilidade de cobertura para garantir a audiência.
À exceção dos sites dos grandes jornais cuja leitura sempre será
relativamente garantida, principalmente em acontecimentos como o 11 de
setembro, não há no cenário jornalístico na Internet brasileira quem esteja
seduzindo leitores com um produto mais bem pensado, livre das amarras da
padronização e sem qualquer vínculo ideológico. Feito sem pressa e focado
exclusivamente nos leitores e não dos seus editores e repórteres, este jornalismo
deveria, entretanto, ser a marca da web, não sua exceção.
A cada dia surgem novas soluções para o mercado de jornalismo online.
Nos Estados Unidos, por exemplo, jornalistas de nome estão criando suas páginas
pessoais ou weblogs (informativos online que podem ser criados por qualquer
usuário de Internet para disseminar fatos e discussões sobre um tema específico
como uma espécie de fanzine na rede) para postarem seus furos e opiniões.
Quem mantém esse tipo de negócio são os próprios usuários, que contribuem em
função da confiança depositada nos jornalistas. 4
Sebastião Squirra, no texto O jornalismo do futuro, introduz o conceito de
jornalismo de “muitos para muitos”, explicando que as novas tecnologias de
comunicação podem transformar o receptor em possível produtor da informação.
4 Site www.comunique-se.com.br, 03 de maio de 2002
27
No ciberespaço qualquer cidadão com um modem, um computador, uma linha telefônica e alguma coisa a dizer pode tornar-se um editor e disponibilizar seu produto comunicacional. As publicações online representam uma grande possibilidade de independência para jornalistas que procuram espaço próprio, longe da grande imprensa. Publicar algo na Internet realmente torna a pessoa um editor. Entretanto, este fato não o coloca no mercado editorial. A verdadeira batalha é construir um negócio dentro disto”. (SQUIRRA, 1996:p.77 a 80)
Squirra cita Rheingold que estudou sobre o poder que a tecnologia será
capaz de das às pessoas comuns, pois estas não terão de se sujeitar mais aos
cortes mercadológicos dos detentores da indústria cultural de massa que praticam
a comunicação vertical.
O autor propõe a criação de uma linguagem específica para o jornalismo.
Para ele, não basta veicular notícias na web, é preciso recriá-las. Ele fundamenta
sua afirmativa com um trecho do texto de Kats, produtor do telejornal CBS
Evening, que era defensor da reinvenção do jornal a ser veiculado na Internet.
para ele não basta a notícia ser reciclada, ela precisa ganhar um formato que a
integre no cyberespaço e aos valores da nova tecnologia como a do hipertexto já
descritos neste quadro teórico.
Squirra apresenta uma visão otimista para o jornalismo online. Ele aponta
que a diversidade, a dinâmica e a sedução visual dos novos meios já
conquistaram os leitores das mais diferentes classes sociais do mundo.
Hoje, praticamente todas as grandes enciclopédias e jornais estão convertidos em versões digitais e disponibilizados online em CD-ROM. A tecnologia de telecomunicações disponível na atualidade permite a melhoria da pesquisa jornalística e não somente a sua difusão mais abrangente. A união do jornalismo com o computador é produtiva, dinamizadora e irreversível. (SQUIRRA, 1996:p. 82)
28
Em praticamente todas as áreas de interesse para os jornalistas, os
repórteres têm aumentado sensivelmente o acesso a distintas informações por
meio das redes eletrônicas de comunicações. Segundo o autor, isso ocorre,
porque os novos sistemas facilitam tanto o acesso à informação em um universo
de fartura de dados disponíveis aos jornalistas e aos pesquisadores.
Desta forma, a explosão do acesso à informação a um volume maior de
fontes tende a tornar a profissão e a tarefa jornalística muito mais valorizada e
respeitada. Além disso, o caminho mais simples de contatar pessoas é pelo
correio eletrônico. Muitas pessoas que se recusam a falar com jornalistas pelo
telefone ou mesmo pessoalmente podem estar dispostas a trocar mensagens
eletrônicas.
Um fator complicante, apontado pelo autor, é a variedade de dados. Os
jornalistas perdem um tempo considerável nas pesquisas, ao se defrontarem com
um volume monstruoso de informações que devem ser averiguadas quanto à
originalidade, à veracidade e seriedade das fontes, para garantir a credibilidade do
meio jornalístico.
A melhor saída para o jornalismo online é separar as partes boas de cada meio – as capacidades eletrônicas instantâneas e a qualidade do relato em profundidade – para a criação de um modelo híbrido que combine o melhor de cada um. Exatamente como predisse McLuhan, ao prever a fusão do modelo antigo com o novo. (SQUIRRA,1996: 82)
O assunto jornalismo online é amplo e requer muita pesquisa para se
acompanhar as constantes mudanças e possibilidades do meio, mas Squirra
29
defende a idéia de que todos sairão lucrando com esta nova realidade:
acadêmicos, jornalistas, comunicadores e toda sociedade conectada.
O artigo Os Bits da notícia: jornalismo na era da Internet, de Hélio Freitas,
apresenta questões para um debate sobre as mudanças que a emersão do
jornalismo na Internet pode acarretar tanto no processo de produção e edição da
notícia, quanto no papel que esta atividade deve exercer na atual sociedade de
consumo. O autor cita Rangel, que introduz um histórico de como a Internet surgiu
e alcançou notabilidade na década de 90.
A Internet remonta da década de 60, em plena Guerra Fria, quando militares americanos resolveram criar um mecanismo de controle do fluxo de informações estratégicas capaz de resistir a ataques e bombardeios dos países comunistas. Com o fim da Guerra Fria, as universidades americanas, a partir da década de 70, começaram a utilizar a rede para trocar informações e intensificar os estudos, de acordo com a necessidade dos pesquisadores e estudantes. Desde então, a Internet não parou de se expandir e o número de usuários é cada vez maior. (RANGEL,1996: 70 e 74)
Hélio Freitas traz uma discussão ampla sobre a Internet, falando sobre as
estatísticas com números de expansão crescente da rede e de como a explosão
da Internet vem causando inquietações para os analistas sociais. A mudança
social estudada pelos analistas, segundo o autor, remonta de como a sociedade
ocidental tem permitido e atribuído aos meios de comunicação o papel de
produtores/reprodutores de práticas cotidianas, desde a descoberta da escrita até
o aparecimento das redes de computadores como a Internet, e sua conseqüente
popularização.
Numa definição sumária dada por Hélio Freitas em seu artigo, o jornalismo
digital envolve toda a produção discursiva que recorta a realidade pelo viés da
30
singularidade dos eventos, que tenham como suporte de circulação a Internet,
demarcando suas particularidades em relação aos demais serviços informativos,
sem qualquer natureza jornalística como o viva-voz, oferecidos aos usuários da
rede.
O ponto central do artigo “Os Bits da notícia: jornalismo na era da Internet” está
nas possibilidades que o novo meio traz para o jornalista na construção de
linguagens híbridas.
Na Word Wide Web (também conhecida como WWW ou W3, parte multimídia da Internet), as informações estão disponíveis em páginas conhecidas como homepages, que podem conter simultaneamente textos, sons e imagens, interligados através de links de hipertexto que facilitam a compreensão e o aprofundamento da notícia. Os recursos de hipertexto rompem com a linearidade da escrita e possibilitam o surgimento de uma nova modalidade de construção lógica e visual do material jornalístico: o design de navegação (FREITAS, 1998:p.105)
Outro ponto relevante considerado pelo autor é o fato de que a notícia,
quando disponível no computador, não se submete à “camisa de força” do espaço
físico dos jornais tradicionais, portanto, proporciona maiores chances de
desdobramento da cobertura jornalística. A abertura jornalística na Internet traz
embutida a oportunidade de potencializar a idéia de interatividade e de oferecer
alternativas reais de participação do leitor/usuário no processo de transformação
do fato em notícia e em seus desdobramentos. Além disso, o autor também
discorre sobre a Internet enquanto suporte de circulação e elemento importante
para a revisão do conceito de comunicação de massa estudado pela indústria
cultural.
31
As teorizações em torno da indústria cultural através dos estudos de Adorno, Horkheimer, Benjamin e Marcuse, são úteis para compreender aspectos relacionados às novas tecnologias e aos meios, pois nada mais atual do que o aumento do consumo de bens simbólicos, proporcionado por essas novas tecnologias e a força que a união entre signo e mercadoria exerce na sociedade de consumo. As características do mercado são outras, mas a lógica que o cria ainda é a mesma. (FREITAS, 1998:p.109)
No Brasil, praticamente todos os grandes jornais e revistas já apresentam
versões digitais se suas publicações de papel, mas a grande dúvida, segundo
Freitas, persiste em saber até que ponto o material veiculado não reproduz o que
é impresso diariamente. Isto é, o jornal tradicional, mesmo com a segmentação, é
um consumo massificado, sem as características de interatividade, personalização
e individualidade propostas pela nova mídia.
Dentro deste contexto, o site da BBC Brasil, objeto de estudo desta
monografia, já se transformou no mais popular serviço de noticiário em áudio do
mundo e investiu para desenvolver os portais com texto, áudio e vídeo em
diversas línguas, inclusive o português para o Brasil. A BBC é uma organização
pública e não-estatal que contribui para a independência de pressões comerciais.
O Serviço Mundial da BBC é mantido pelo Ministério do Exterior britânico, a
independência gerencial é garantida pela legislação que rege o caráter público da
BBC como um todo, que conta com dois canais da televisão aberta, três digitais e
dois internacionais, incluindo a BBC World, noticiário 24 horas por dia, cinco
emissoras de rádio nacionais, dezenas de emissoras locais e um serviço completo
de Internet.
A BBC se instalou no Brasil em 1938 com o objetivo de democratizar o
noticiário internacional por meio do rádio. O site www.bbcbrasil.com foi lançado
32
em 1999, mas só começou a operar com uma redação própria em 2001. Além das
principais noticiais internacionais, ele traz informações sobre economia, ciência,
saúde, tecnologia, cultura e análises dos especialistas da BBC. Guias interativos e
links para temas da atualidade, também compreendem o conteúdo do site.
O site da BBC Brasil também oferece áudio, incluindo os programas de
rádio e destaques de entrevistas, além da Coluna do Ivan Lessa, que pode ser
ouvida ou lida pelo usuário. Um atração exclusiva são os cursos de inglês da BBC,
feitos para os internautas brasileiros aprenderem a língua através das notícias.
A Internet permite que o conceito de parcerias, tão bem sucedido no rádio,
também seja transferido para o mundo virtual. A BBC Brasil já tem acordos de
fornecimento de conteúdo com alguns dos principais portais brasileiros e visa
ampliar ainda mais as oportunidades que a Internet oferece.
O site da BBC Brasil abre as portas para algo que nenhuma outra
organização noticiosa oferece: a oportunidade de ler e ouvir notícias nas 43
línguas, do português ao grego, do árabe ao russo, que formam o verdadeiro
megaportal multilíngüe que é o Serviço Mundial da BBC. Nas próximas páginas
estaremos analisando o conteúdo do site da BBC Brasil e como ele tem se firmado
neste novo mercado de informação que é o jornalismo online.
Capítulo 3 – BBC Brasil: um site de notícias internacionais
feito para brasileiros sem anúncios publicitários
33
O site www.bbcbrasil.com foi lançado em 1999. Nesse primeiro momento, o
conteúdo era formado por notícias traduzidas da BBC internacional para o
português. Em 2001, depois da criação de uma redação própria em São Paulo e
outra em Londres, ele começou a desenvolver pautas nacionais e a ganhar
espaço no mercado de jornalismo online.
O carro chefe da produção jornalística do site são as notícias internacionais,
que variam entre ciência, economia, saúde, tecnologia, política e cultura. Além
disso, especialistas da BBC comentam sobre alguns fatos marcantes. Há vários
links para páginas interativas sobre temas da atualidade e dois colunistas
escrevem crônicas semanalmente: Ivan Lessa e Lucas Mendes, que podem ser
ouvidas ou lidas. Outra atração exclusiva são os cursos de inglês que possibilitam
aos internautas brasileiros estudar o idioma por meio de reportagens.
As colunas de Ivan Lessa são de temas gerais, envolvendo algo
relacionado à cultura ou ao comportamento dos londrinos com relação ao Brasil.
Na crônica “Eles não foram à Bahia”, ele conta com humor a história de um casal
de namorados que queria passar as férias em Salvador e acabou comprando
passagem para El Salvador, na América Central. Em “50 anos de invenções”, Ivan
fala sobre uma exposição curiosa das conquistas científicas dos últimos 50 anos e
faz um paralelo entre o cinemascope exposto com sua experiência no cine Palácio
do Rio de Janeiro ao assistir o filme: “O Manto Sagrado”, com Richard Burton,
equipado com o aparelho na época. Essas recordações e comparações entre a
vida em Londres e no Brasil leva o leitor de maneira paralela, a vivenciar a cultura
dos dois países. Lucas Mendes, por sua vez, escreve críticas e análises
34
econômicas de Nova York. “Dívida Mortal” alerta sobre o aumento da dívida
externa americana e “Castigo Light” mostra as conseqüências que as empresas
envolvidas em fraudes nos Estados Unidos sofreram. Diferente do humor e leveza
dos textos de Ivan Lessa, Lucas Mendes apresenta textos de caráter sóbrio com
temas de relevância internacional.Caio Blinder, na coluna Primeira Impressão,
traz uma crítica ao livro As guerras Selvagens da Paz, de Max Boot,
contextualizando o tema com as pequenas guerras que ocorrem entre países
como Afeganistão e de abusos dos americanos nas Filipinas.
Os recursos multimídia são explorados no site: imagem, áudio e texto.
Algumas reportagens dispõem de vídeos que complementam a informação. Todos
os textos possuem fotos. Uma particularidade da BBC Brasil consiste na produção
de especiais sobre os temas relevantes, como o conflito no Oriente Médio, a crise
Argentina, a queda nas bolsas de valores, o domínio do tráfico de drogas na
Colômbia dentre outros.
A BBC Brasil possui acordos de fornecimento de conteúdo com alguns dos
principais portais brasileiros e está desenvolvendo conteúdo para os novos meios
de comunicação, como PDA, SMS, WAP e a Terceira Geração, que consistem em
sistemas de tecnologia pessoal em que as informações são transmitidas por meio
de um telefone celular. Ela funciona como uma agência internacional de notícias e
se viabiliza economicamente com o fornecimento de notícias por meio de
parcerias com outros meios. No site, não há publicidade, todo conteúdo é
dedicado a informar e formar a opinião do leitor de uma forma imparcial e
aprofundada.
35
O design é simples e funcional. As manchetes são visualizadas no centro
da página principal. O lado esquerdo apresenta as seções fixas do site e outros
produtos fornecidos pelo serviço mundial da BBC, com links para versões em sete
línguas e para a BBC News, a BBC Sport e BBC Weather. No lado direito, há um
espaço para buscas por palavra-chave e para cadastro de usuários que desejam
receber diariamente as principais notícias por e-mail. Na mesma coluna, há link
para os especiais produzidos pelos repórteres, para as colunas do Ivan Lessa,
Lucas Mendes e Caio Blinder, um curso de inglês gratuito em que o usuário tem
acesso a algumas reportagens em inglês com um vocabulário das palavras mais
difíceis traduzidos para o português e uma relação de manchetes das últimas
notícias publicadas.
A interatividade é outro fator marcante no site. Os leitores/usuários são
sempre incitados a participar de debates sobre um determinado tema e até
mesmo a enviar perguntas para especialistas. No período das eleições, por
exemplo, toda semana era escolhido um assunto: corrupção, segurança pública,
saúde, e um especialista respondia as perguntas dos usuários da BBC Brasil
todas as sextas-feiras. Comentários eram postados, de forma que todos podiam
opinar sobre o tema em questão.
A BBC Brasil faz da notícia um rizoma, cada tema é ramificado, abordando
vários aspectos de um fato e seus desdobramentos. Há uma predominância de
notícias da política e economia internacionais, apesar de haver uma busca por um
enfoque brasileiro e de como as notícias repercutem no país. Um dos principais
diferenciais da BBC Brasil para outros sites que oferecem a informação jornalística
como principal produto, é a busca por um aprofundamento por meio de retrancas,
36
que são colocados como links e enviados diariamente em boletins informativos via
e-mail, para os usuários cadastrados.
A intercomunicabilidade com outros meios de comunicação pode ser
observada no site. Há links para programas no rádio e na TV, produzidos pelo
serviço mundial da BBC. Esta interação é própria da Internet, que possibilita, como
nenhum outro meio, a exploração dos recursos multimídia na produção
jornalística.
O site foi analisado entre os dias 15 e 31 de julho, a partir dos informativos
que são enviados diariamente via correio eletrônico, que estão anexados nesta
monografia, para todos os usuários que se cadastraram. A partir dos 20
informativos enviados nesses dias, é possível fazer o levantamento de algumas
características sobre a produção jornalística na BBC Brasil. Dentre as colunas
fixas, estão: Repórter BBC, Saúde e Tecnologia, Cultura, Esportes, Economia,
Especiais e as colunas do Ivan Lessa, do Lucas Mendes e a Primeira Impressão,
de Caio Blinder, que comenta lançamentos de livros. Cada informativo possui de 4
a 8 manchetes. O espaço para as notícias nacionais é pequeno, cerca de uma a
duas reportagens por dia, e os fatos relacionados ao Brasil são sempre os de
repercussão internacional.
A crise argentina, o conflito político no Paraguai; a tensão econômica
mundial com a queda das bolsas de valores; o conflito no Oriente Médio e na
Colômbia, descobertas sobre os vários tipos de câncer na coluna sobre saúde e
tecnologia e os ataques americanos ao Iraque estiveram na pauta da quinzena
analisada. A cobertura jornalística desses temas é o objeto desta pesquisa, pois
37
as matérias servem como uma amostragem das características peculiares da
produção da BBC Brasil.
O especial do período foi O Cigarro em julgamento. Uma série de
reportagens foram produzidas abordando os vários aspectos do tema e mostrando
pontos de vista de médicos, da indústria do fumo, dos produtores e dos
consumidores, com fotos e links para o Jornal Britânico de Medicina, para o Forest
(grupo defensor de fumantes) e para a home page “Ação para o Fumo e para a
Saúde”. Desta maneira, foi estabelecido um debate entre os internautas que
também puderam opinar após a leitura do especial da BBC Brasil, respondendo a
pesquisas disponíveis no www.bbcbrasil.com, que manteve uma posição imparcial
sobre o uso do cigarro, deixando a cargo dos leitores a conclusão sobre o tema.
Durante o período analisado, a situação das bolsas de valores, o conflito no
Oriente Médio, a crise na Argentina e o conflito colombiano foram manchetes
quase todos os dias. A abordagem dada as matérias produzidas pela BBC Brasil
tratam da conjuntura internacional atual em que nenhuma economia está isolada e
qualquer decisão nacional na política pode causar sérias repercussões mundiais.
Na reportagem “Uribe busca ajuda dos vizinhos contra conflito colombiano”,
publicada no dia 19 de julho de 2002, fica evidente esta relação de dependência
entre os países e a necessidade de se estabelecer acordos de cooperação. O
presidente da Colômbia eleito, Álvaro Uribe, vê no Brasil um aliado para barrar a
atuação de grupos guerrilheiros e de narcotraficantes colombianos na fronteira, e
considera o projeto Sivam, de vigilância da Amazônia pelo sistema de radares
brasileiros, útil para a Colômbia, que tem um conflito doméstico que pode afetar
toda a América Latina.
38
Há mais quatro matérias sobre o conflito colombiano no período analisado,
que apresentam notícias relacionadas com o tema, permitindo ao leitor tirar suas
próprias conclusões. A BBC Brasil procura, desta forma, oferecer informações que
contribuam com a formação da opinião do usuário do site. Cada notícia é
abordada com ângulos diferentes. A reportagem “Uribe busca ajuda dos vizinhos
contra conflito colombiano”, publicada no dia 18 de julho mostra a opinião do
presidente Uribe, enquanto a matéria “Grupo paramilitar da Colômbia anuncia
dissolução” retrata o posicionamento do grupo paramilitar AUC (Autodefesas
Unidas da Colômbia) sobre a morte de civis envolvidos com o tráfico de drogas.
No dia 24 do mesmo mês, a BBC Brasil trouxe a opinião do chefe da polícia
secreta colombiana que alertou sobre um possível ataque suicida da Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia), o maior grupo guerrilheiro do país, com
aviões contra o palácio presidencial ou prédio do parlamento. No mesmo dia, o
conteúdo de um vídeo mostra a ex-candidata à presidência da Colômbia, Ingrid
Betancourt, seqüestrada por guerrilheiros colombianos, criticando o governo de
ser frágil nas negociações. É importante destacar que a Colômbia é o país onde
ocorre o maior número de seqüestros do mundo, conforme a reportagem da BBC
Brasil do dia 24 de julho “Vídeo mostra política colombiana seqüestrada”. Só em
2001, cerca de 3.000 pessoas foram seqüestradas, incluindo 49 estrangeiros.
Todas as matérias se relacionam no site da BBC Brasil e mostram a
situação grave em que a Colômbia vive com a atuação dos grupos guerrilheiros e
do domínio do tráfico de drogas. As notícias foram tratadas com objetividade, sem
apelos sensacionalistas, mostrando a necessidade de a Colômbia cooperar com
39
os países da América Latina e com os Estados Unidos na contenção dos grupos
guerrilheiros e no combate ao tráfico de drogas.
A crise argentina foi outro assunto presente na segunda quinzena de julho
de 2002. A BBC Brasil incluiu o especial: “Economias em crise” como forma de se
aprofundar na questão que está atingindo vários países, principalmente depois
dos atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York, que provocaram a alta
do dólar e a desestabilização da economia mundial.
Na reportagem “Desempregados argentinos improvisam novos trabalhos”,
publicada no dia 19 de julho, Márcia Carmo, correspondente da BBC em Buenos
Aires, mostrou como os argentinos estão fazendo para conseguir trabalho, quando
os índices de desemprego chegaram a 20% e o dólar a 3,60 pesos. O jornal
Hecho em Buenos Aires foi criado neste período de crise para auxiliar os
argentinos, que vendem cada exemplar por 1 peso e recebem 80 centavos.
Outros tentam no trabalho informal, vendendo lanches e bebidas na rua. O
contraste da rua Florida, que exibe nas vitrines roupas e utensílios em couro,
também foi retratado na matéria. Quem compra nestas lojas, na atual crise,
porém, são apenas os turistas chilenos e europeus. Os artistas que trabalhavam
nas ruas em troca de algum dinheiro, quase não recebem mais por isso. O
aspecto do desemprego é mostrado algo grave no país, mas a reportagem da
BBC mostra algumas alternativas encontradas por quem está desempregado. Há
links para as notícias relacionadas sobre o tema.
Outra reportagem sobre a crise, publicada no dia 22 de julho, retrata a
tentativa do presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, negociar com um grupo
de especialistas indicados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) um
40
empréstimo para auxiliar o país, sem que isso acarrete um processo de
hiperinflação, mostrando a tentativa de o governo sair da grave situação
econômica. Já a matéria “A crise argentina favorece empresas do Brasil, diz
analista”, mostra um outro aspecto do tema: a desvalorização cambial acaba
valorizando empresas estrangeiras que precisam investir menos para manterem
seu funcionamento. As empresas brasileiras que somam 190, e foram as únicas a
anunciar investimentos no país neste período. A Petrobrás e a Ambev foram duas
das que se beneficiaram com a desvalorização do peso. Dois links externos foram
indicados como complemento da reportagem: o da Petrobrás e o da Perez
Companc (em espanhol), que foi vendida para a empresa brasileira de petróleo. A
BBC não se responsabiliza pelo conteúdo de qualquer link externo indicado no
site.
Estas foram às notícias relacionadas com a crise argentina no período de
análise, e comprovam a característica das matérias publicas na BBC Brasil de
aprofundar os temas, abordando os vários aspectos da notícia e direcionando o
leitor/usuário que deseja saber mais sobre o assunto em questão para outras
informações complementares dentro ou fora do site.
As notícias sobre as bolsas de valores foram manchetes em quase todos os
dias. Nove reportagens relacionadas foram publicadas de 19 a 29 de julho de
2002. Pelo conteúdo das matérias, observa-se uma queda das bolsas nas três
primeiras reportagens, mostrando uma ligeira alta no dia 23 de julho, na Ásia, em
contraste com o nível mais baixo alcançado pelas bolsas européias em cinco
anos. A reação do mercado mundial está retratada nas quatro reportagens
subseqüentes, que mostraram uma constante alta nas bolsas. É interessante
41
destacar que o jornalismo online possibilita ao leitor/usuário por meio das notícias
relacionadas estabelecer um balanço de como foi o mercado no período, o que
jamais aconteceria no jornal impresso ou nos demais meios de comunicação.
O conflito no Oriente Médio rendeu dez matérias na quinzena analisada do
mês de julho. A alternância de ataques de israelenses e palestinos e as
negociações de paz foram abordadas nas matérias. A intervenção dos Estados
Unidos no conflito armado foi o enfoque das reportagens: “Bush se reúne com
ministros árabes na Casa Branca”, publicada no dia 18 de julho, e “Bush condena
ataque israelense que matou líder do Hamas”, em 23 de julho, em que a BBC
Brasil estabelece um contraponto com a opinião do primeiro-ministro de Israel,
Ariel Sharon, que parabenizou o exército pela morte do fundador do braço armado
do grupo palestino Hamas. Já na reporgem do dia seguinte, “Shimon Peres diz
que ataque a Gaza foi um erro”; o ministro do Exterior de Israel fala em entrevista
à BBC que o que aconteceu foi lamentável, pois o ataque israelense matou 14
civis, dos quais 9 eram crianças.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas também condenou a ação
de Israel em Gaza como mostra a reportagem do dia 25 de julho, “Conselho da
ONU condena ação de Israel em Gaza”, sendo que os árabes pediram pela
aceleração das negociações de paz em comunicado conjunto que exigia a
suspensão total das ações militares de Israel contra palestinos e a retirada das
tropas israelenses dos territórios ocupados.
A falta de um acordo entre israelenses e palestinos gerou mais ataques e
mortes, que foram relatados nas reportagens “Rabino israelense é assassinado
em emboscada”, “Tropas de Israel realizam novo ataque na cidade de Gaza” e na
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“Explosão deixa vários mortos em Jerusalém”. A BBC mostrou, nessa seqüência
de reportagens, como é difícil a vida de quem mora na zona de conflito do Oriente
Médio. A matéria “Odisséia palestina”, do correspondente Claire Marshal,
publicada no dia 31 de julho, mostra como uma simples viagem em tempos de
paz, que duraria menos de uma hora, pode se tornar uma odisséia para os
palestinos, por causa das restrições de segurança impostas por Israel, Mesmo
sem omitir uma opinião clara sobre o conflito, a BBC Brasil busca, com as
reportagens, alertar sobre a necessidade de se estabelecer a paz entre árabes e
judeus que vivem em meio à crise no Oriente Médio, que parece não ter fim.
O Brasil é retratado nas reportagens como um país rico, com esportistas
talentosos, como Guga, Rivaldo e Edmilson, e com empresas que se destacam no
cenário inernacional, como a Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações)
e a Embraer (Empresa Brasileira de Aviação Aérea). Das 13 matérias publicadas,
apenas a reportagem de Denize Bacoccina, “Risco de moratória brasileira divide
economistas”, retrata um aspecto negativo sobre o país, em meio às incertezas
com as eleições. Os economistas entrevistados pela BBC se dividem: uns
acreditam que ainda é cedo para se fazer previsões sobre as atitudes do
presidente que será eleito para 2003, outros acreditam que o país poderia entrar
em crise e não pagar a dívida externa se a esquerda assumisse o poder no Brasil.
A questão econômica é uma das mais retratadas no site e o caráter nacionalista
mostrado nas matérias mostra uma tendência da BBC Brasil em procurar agradar
seu público e também de mostrar um país melhor para os estrangeiros. Essa
característica pode ser uma forma de atrair os leitores brasileiros com notícias
boas sobre o Brasil.
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A BBC envia correspondentes no país em que a matéria é produzida e
trabalha também com a agência Reuters, tanto na produção de conteúdo
jornalístico como nas fotos que são em sua maioria da agência, raras exceções
são da Associated Press. A manutenção de repórteres em diversos países
contribui com a credibilidade do site da BBC e com o aprofundamento das
notícias.
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Conclusão
Por meio da leitura das matérias publicadas no site, pudermos perceber que
a preocupação da BBC não está no furo jornalístico, mas na construção da notícia
com aprofundamento dos temas e busca de diferentes enfoques para cada
assunto. A crise argentina; o conflito político no Paraguai; a tensão econômica
mundial com a queda das bolsas de valores; o conflito no Oriente Médio e na
Colômbia, descobertas sobre os vários tipos de câncer na coluna sobre saúde e
tecnologia e os ataques americanos ao Iraque estiveram na pauta da quinzena
analisada e demonstram como a BBC se aprofunda em um tema, para dar uma
visão mais ampla ao leitor/usuário.
A dificuldade em manter um site no Brasil talvez seja um dos maiores
desafios para quem trabalha com jornalismo online no país. A captação de
recursos para a BBC Brasil é feita por meio da venda de notícias e serviços para
outros portais da Internet brasileira, sendo que atrás disso está a BBC Mundial
que tem o seu serviço entre os mais respeitados em termos de credibilidade e
independência editorial. O fator da BBC ser uma empresa pública pode ser
considerado um dos maiores diferenciais do site, já que ele não possui nenhum
anunciante.
As matérias se relacionam no site da BBC Brasil formando um panorama
mundial de como se comportam os países perante as crises, conflitos políticos e
decisões importantes como as eleições e os acordos internacionais. A conclusão
que se pode tirar da maneira como se faz notícia no www.bbcbrasil.com é de que
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a fidelidade do leitor se dá na notícia publicada como um rizoma que se ramifica
em várias possibilidades para um mesmo tema. Os correspondentes que são
enviados para o local onde ocorre os fatos, buscam sempre temas alternativos
que não seriam encontrados nos cadernos internacionais, por exemplo de forma
tão aprofundada e com objetividade jornalística como pode-se perceber com a
análise do conteúdo do site.
A BBC Brasil explora bem os recursos multimídia (áudio, imagem e texto),
sem excessos como ocorrem em outros sites que ao empregar inadequadamente
os recursos acabam deixando o usuário perdido no meio de tantas possibilidades.
A simplicidade e objetividade que pode ser observada na disposição dos links e no
conteúdo do site da BBC Brasil facilita o acesso a todos que queiram usufruir de
seu conteúdo sem precisar ser um perito em Internet.
A BBC Brasil é coerente com a sua proposta editorial, como pode ser
observado pelas reportagens analisadas. A prioridade para as pautas relacionadas
com a política, saúde, tecnologia, economia e cultura internacionais com um
destaque para temas que despertem o interesse dos brasileiros é mantida pelos
repórteres, o que faz com que o site tenha um público bastante segmentado,
composto em sua maior parte por brasileiros que moram em outros países e por
aqueles que se relacionam de alguma forma com o exterior.
A interatividade foi outra característica marcante que observada durante a
análise. A promoção de um debate entre os usuários para a formação de uma
opinião cosmopolita sobre cada tema tratado nas reportagens é algo específico do
site possibilitado pelo meio Internet, que tem como vantagem a possibilidade de
46
trocas de informações em tempo real a um custo baixo entre usuários residentes
em várias partes do mundo.
Os boletins informativos enviados para os que se cadastraram no site para
receber este serviço gratuito da BBC preservam a objetividade buscada pela
empresa jornalística. E o interessante é que o leitor gastará pouco tempo com a
leitura daquilo que lhe interessa e isso permite que ele acompanhe as noticiais
diariamente. O fato de a data e o horário de Londres e de Brasília em que foi
enviado o boletim pode ser apontado como outro ponto positivo sobre o site da
BBC Brasil.
A diagramação simples também contribui para que o usuário/leitor se
beneficie de tudo o que lhe interessa no site em um curto espaço de tempo. Sendo
que podemos perceber que portais que oferecem muitos serviços mal localizados
na página principal, podem desviar a atenção do leitor que perderá a paciência por
gastar muito tempo procurando um serviço ou informação que esteja precisando
naquele momento.
A forma como o site aborda as notícias relacionadas com o Brasil é um dos
pontos mais curiosos que podem ser levantados na análise. Há um cuidado em se
noticiar o que está no auge, como os jogadores de futebol que jogam em clubes
fora do país, o tenista Gustavo Kuerten, que é muito respeitado pelas vitórias em
campeonatos mundiais. Na esfera da economia, é dado um destaque as
empresas brasileiras que possuem grandes faturamentos e atuação internacional
como é o caso da Embraer e Embratel. Podemos concluir que este cuidado deve-
se a um interesse da BBC Brasil em conquistar um público formado brasileiros de
forma a agradá-los com noticiais boas sobre o Brasil. O fato é que eles preferem
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destacar o Brasil como um paraíso com muitas qualidades e pessoas de talento
do que suas mazelas. Não que o site não trate da questão da fome, da corrupção
da alta do dólar e estas coisas que afetam o país negativamente, mas este não é
o enfoque mais explorado. Ao ler as notícias um brasileiro se sentirá feliz com as
conquistas de seus ídolos do esporte, com acordos políticos e econômicos que
favoreçam o país e ainda com a produção de artistas brasileiros que façam turnê
em Londres. Ou seja, um brasileiro ou empresa que tenham projeção internacional
serão pauta certa para os repórteres da BBC Brasil.
Pela análise do site podemos concluir também que o objetivo principal da
BBC é fortalecer o seu nome como instituição fornecedora de um serviço público
de informação com qualidade. A difusão da marca da empresa para o Brasil é uma
das prioridades da BBC e o site vem como um aliado na expansão deste serviço
que já tem uma grande aceitação e difusão principalmente para algumas rádios do
país. Como a BBC recebe recursos do Ministério da Cultura de Londres, esta é
também uma forma de mostrar a Inglaterra para o Brasil e atrair turistas e
negociantes em potencial que possam levar algo importante para o país. O fato de
Londres ser uma cidade cosmopolita, onde vivem vários grupos étnicos, faz com
que as noticias internacionais sejam uma forma de promover a cultura londrina de
convivência harmônica entre pessoas de nacionalidades diversas se mantenha.
Da produção jornalística podemos destacar que o trabalho realizado pela
BBC Brasil é um dos melhores em se tratando de noticiais internacionais, pois
possibilita ao leitor/usuário acompanhar a seqüência dos fatos e formar uma
opinião a respeito dos temas abordados de forma interativa. A opinião do leitor
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sobre alguns temas específicos pode ser transmitida a BBC que publica os
comentários no site.
Por meio desta pesquisa, podemos averiguar como o site da BBC Brasil faz
do jornalismo uma forma de transmitir informação por meio da utilização dos
recursos lingüísticos, técnicos e mercadológicos do meio. O mercado a que o
serviço da BBC Brasil é destinado não é o publicitário, mas o dos formadores de
opinião e de brasileiros que se interessem por notícias internacionais. O site da
BBC explora o hipertexto na Internet, por meio da integração no mesmo sistema
as modalidades escrita, oral e audiovisual da comunicação humana nas
reportagens e colunas disponíveis na BBC Brasil.
Talvez uma das maiores reflexões que está pesquisa sobre o site da BBC
Brasil possa oferecer é o fato de que é possível produzir notícias com qualidade,
ouvindo todos os lados possíveis mesmo com a velocidade em que os fatos
acontecem. A busca da credibilidade, por meio de um trabalho jornalístico que
preocupe em aprofundar nos temas com reportagens que procurem preservar a
objetividade jornalística dentro da linha editorial da BBC.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ALCÂNTARA, Eurípedes. 1º mar. 1995 A rede que abraça todo o planeta. Revista Veja. p.104-109
2. CAMARGOS, Ana Paula. Desafios da difusão nos países em
desenvolvimento: estudo de caso do Brasil. 1997. p.23
3. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede vol.1: a cultura da virtualidade real 1992. p.353-399
4. FILHO, Ciro Marcondes. 1993. Jornalismo Fin-de-siécle p.80-93
5. FREITAS, Hélio. Os Bits da notícia: jornalismo na era da Internet. Revista Comunicação e Sociedade. 1996. p.101-113
6. LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência 1993. p. 28-46
7. MCLUHAN. O meio é a mensagem. 1996
8. SQUIRRA, Sebastião. O jornalismo do futuro: comunicação e sociedade. 1992. p. 75-99
9. DERTOUZOS. O Mercado da Informação na Era da Informação. 1997.
p.404
10.DIZARD, Wilson. A Nova Mídia. 2000. p.20-28
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REFERÊNCIAS DA INTERNET
1. BBC Brasil, disponível em <http://www.bbcbrasil.com> acesso de 15 a 31
jul. 2002
2. COMUNIQUE-SE, Jornalismo Online. disponível em
<http://www.comunique-se.com.br> acesso de 09 abr. a 02 set. 2002
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ANEXOS
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Anexo I: entrevista com o diretor da BBC Brasil Américo Martins concedida em 29 de outubro de 2002
1. Qual o público que o site da BBC Brasil busca alcançar?
Américo Martins: Formadores de opinião, estudantes, profissionais liberais,
pessoas interessadas em noticiário internacional, pessoas cosmopolitas.
2. Quais são as estratégias de marketing adotadas pela BBC para difundir seus produtos no país?
Américo Martins: A BBC Brasil tem parcerias com várias empresas de
comunicação no país que transmitem os nossos programas e utilizam parte do
nosso conteúdo de internet. Isso amplia a exposição do nosso material editorial.
Além disso, promovemos vários eventos ao longo do ano no Brasil, inclusive junto
a universidades. De tempos em tempos, também investimos em anúncios na
mídia.
3. O senhor acredita que é um bom momento para investir no seguimento jornalismo online no Brasil?
Américo Martins: Definitivamente sim. Como empresa pública (não confundir
com estatal!), a BBC não busca retorno financeiro e não veicula anúncios
comerciais. Isso nos permite continuar fazendo investimentos independentemente
das condições do mercado publicitário. E, do ponto de vista editorial - que é o que
norteia os nossos investimentos -, faz grande sentido investir em jornalismo num
mercado como o brasileiro.
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4. Qual o diferencial do site da BBC para outros que veiculam notícia na Internet?
Américo Martins: O maior diferencial é a independência editorial total da BBC.
Como empresa pública, a BBC não depende de recursos do governo e nem de
anunciantes para sobreviver. Isso garante que a empresa se guie por critérios
exclusivamente editoriais. Além disso, a empresa tem a maior rede de
correspondentes do mundo e alguns dos maiores especialistas em assuntos
internacionais. Com isso, nós podemos oferecer um produto editorial de qualidade
e profundidade difícil de ser encontrado em outras empresas. Além de fornecemos
material relativo ao mundo todo.
5. Quais os resultados com relação à interatividade e divulgação do site foram observados desde sua inauguração?
Américo Martins: Estamos buscando aumentar a interatividade do site, mas os
resultados até aqui foram excelentes.
6. Qual o interesse da BBC no Brasil?
Américo Martins: O Brasil é um dos maiores e mais ricos países do mundo. Mas,
ao mesmo tempo, o país está numa região do mundo que não tem atraído tanta
atenção como, por exemplo, o Oriente Médio. A cobertura internacional tende a
refletir isso, dando prioridade, por exemplo, a coberturas de assuntos econômicos
relacionados ao Brasil. Mas a BBC tem aumentado a sua cobertura do Brasil. Para
citar um exemplo: quase dez jornalistas foram deslocados para o Brasil
para cobrir as recentes eleições presidenciais para as várias áreas da BBC (rádio,
internet, TV, etc). O interesse no país deve aumentar.
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7. Quando a BBC percebeu a necessidade de se criar um site em português voltado para a comunidade virtual brasileira?
Américo Martins: O nosso site foi criado em 1999. Hoje, a BBC tem sites em 43
línguas, incluindo o português e o inglês. O site para o Brasil é um dos maiores da
empresa, ao lado do em espanhol, chinês, russo e árabe. A empresa deve
continuar investindo no desenvolvimento do site.
8. Como e onde é feita a produção do site?
Américo Martins: O site é totalmente editado em nossa redação em Londres,
mas recebemos muitas contribuições de correspondentes espalhados pelo mundo,
inclusive um jornalista deslocado de Londres para o Brasil (São Paulo).
9. A BBC preocupou-se em adaptar os conteúdos do site aos interesses da cultura brasileira?
Américo Martins: Claro. Tanto é verdade que toda a equipe do site é constituída
de jornalistas brasileiros, a maior parte contratada diretamente no Brasil.
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