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O PENSAR ESTRATÉGICO NAS ORGANIZAÇÕES E SEUS CONSELHOS

Sumário

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................3

2. ESTRATÉGIA, UM CONCEITO MULTIFACETADO...........................................3

3. O PAPEL DOS CONSELHEIROS NO PENSAR ESTRATÉGICO...................6

3.1) Compromisso com a organização..............................................................................73.2) Conversação e atenção estratégicas.........................................................................8

3.2.1) Abertura ao debate.............................................................................................................................8

3.2.2) Superação de obstáculos internos...........................................................................................9

3.2.3) O valor da intuição...........................................................................................................................11

4. PROMOVENDO O PENSAR ESTRATÉGICO NA ORGANIZAÇÃO..........12

4.1) Diretoria, alta e média gerência.................................................................................124.2) Operações.......................................................................................................................... 144.3) Inteligência estratégica.................................................................................................154.4) Contribuições do comitê de estratégia...................................................................164.5) Ações de reconhecimento e premiação.................................................................16

5. A COMPOSIÇÃO DO CONSELHO ESTRATÉGICO........................................18

6. O DESENVOLVIMENTO DO PENSAR ESTRATÉGICO NOS CONSELHEIROS................................................................................................................19

7. O PENSAR ESTRATÉGICO NA PRÁTICA: EXEMPLOS..............................20

7.1) Informações de mercado na fonte do insight estratégico.............................207.2) Antecipando o estouro da bolha da internet.......................................................217.3) Identificando demandas emergentes.....................................................................227.4) De fornecedor a operador – mudando a missão da empresa......................237.5) Alerta antecipado de indícios de novo competidor global...........................24

Bibliografia...........................................................................................................................25

2Esta é uma versão preliminar e não deve ser utilizada para apresentações ou tomada de decisão. Alterações podem ser realizadas após a consulta pública.

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1. INTRODUÇÃO

Em 2017, o IBGC lançou o documento “O Papel do Conselho de Administração na Estratégia das Organizações”, que integra a série “IBGC Orienta”. O objetivo era oferecer orientações sobre uma das missões essenciais desse órgão: refletir e contribuir com os rumos estratégicos das organizações (IBGC, 2017).

Entre conceitos, experiências e recomendações trazidas pela publicação, o “pensar estratégico” foi um dos pontos que gerou grande interesse nas apresentações realizadas sobre o documento e demandou maior aprofundamento da Comissão de Estratégia, que liderou esse trabalho.

Mas o que seria esse “pensar estratégico” em termos práticos e que papel ele assume na estratégia de uma empresa? Como incorporá-lo na organização e na sua cultura? Existe algum método ideal para se alcançar o pensamento estratégico? Essas foram algumas das questões-chave levantadas nas oportunidades em que o documento foi debatido.

Este documento busca avançar em relação a essas questões, partindo do que foi exposto na publicação apresentada anteriormente, aprofundando conceitos, dialogando com novos autores e propondo caminhos viáveis para aprimorar o pensamento estratégico nas organizações, independentemente de porte, natureza e mercado em que atuam.

2. ESTRATÉGIA, UM CONCEITO MULTIFACETADO

O conceito de estratégia sempre esteve ligado a um curso de ação em direção a um futuro almejado mais favorável ou ao manejo de diferentes cenários de uma organização ou iniciativa. Com princípios e perspectivas próprias ao longo da

3Esta é uma versão preliminar e não deve ser utilizada para apresentações ou tomada de decisão. Alterações podem ser realizadas após a consulta pública.

Conceito

O pensar estratégico é uma atitude permanente de reflexão holística da liderança que, atenta aos sinais positivos ou negativos de seu ambiente de negócios, define eventuais mudanças nas ações, no planejamento estratégico em curso e, até mesmo, na própria visão e definição da missão da organização. É um processo que exige disciplina e prontidão para identificar potenciais disrupções, advindas de tecnologias emergentes, alterações na arena competitiva, mudanças nas tendências do mercado, contextos legais e regulatórios, entre outras questões. Esse “estado de alerta” é essencial para o processo decisório tempestivo, assim como para a definição das diretrizes estratégicas traçadas pelo conselho de administração.

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concepção do conceito, autores apresentaram suas propostas sobre como dominar esse objeto de investigação.

Muito presente em diversas instâncias contemporâneas, entre elas administração de empresas, economia e política, a noção de estratégia, surgiu nas organizações militares. Disseminou-se a partir de publicações milenares que tratavam da arte de planejar e executar movimentos e operações de tropas para superar seus inimigos1. Já nesse contexto, surgiram duas perspectivas conceituais: a “visão estratégica” e o “plano estratégico”. O primeiro ligado ao pensamento por trás da estratégia; e o segundo, à forma de executar ou materializar essa visão.

Em revisão bibliográfica do conceito, pesquisadores apontam que essa forma dialética de tratar o tema segue vigente nos dias de hoje2. Ou seja, por um lado, teríamos o chamado “pensamento estratégico”, ligado ao processo cerebral criativo, divergente, inovador, que encorajaria a troca aberta de ideias e soluções para os desafios imponderáveis dos negócios. Em contrapartida, o “planejamento estratégico” seria a aplicação lógica e sistemática da estratégia pensada, um processo programático e analítico, que transforma ideia e soluções em ações, com etapas, metas e indicadores a serem alcançados em tempo predefinido. Alguns autores chegam a propor que, além de constituírem processos distintos, eles aconteceriam em momentos diferentes, sendo que o pensamento estratégico viria antes, em ordem cronológica3. Essa divisão, contudo, tende a não ser tão simplista no cotidiano das organizações. E isso, talvez, justifique perspectivas alternativas e a ausência de consenso na literatura sobre o tema4.

Uma das principais críticas ao processo de planejamento reside em demandas burocráticas e modelos engessados, que tendem a gerar a perda do espírito questionador e inovador, sendo muitas vezes confundidos com o pensamento estratégico em si. “O planejamento estratégico geralmente deteriora o pensamento estratégico”, afirma Mintzberg (1994, p. 108).

Mas o processo pode ser concebido para evitar essa armadilha, combinando suas duas facetas. Metodologias mais dinâmicas e menos processuais, como o Modelo de Negócios (Mapa Canvas)5 e o Mapa Estratégico6, podem ser úteis nesse sentido. A primeira lança mão de técnicas de design thinking para delinear a proposta de valor do negócio. E a segunda foca em indicadores estratégicos

1 Várias obras tratam dessa origem conceitual, entre elas os livros Da Guerra (C. Clausewitz) e A Arte da Guerra (S. Tzu e S. Pin).2 K. Haycock et al, "Lessons for Leadership from the Literature", 2012.3 L. Heracleous, “Strategic thinking or strategic planning”, 1988.4 Ibidem.5 A. Osterwalder e Y. Pigneur, Business Model Generation - inovação em modelos de negócios: um manual para visionários, inovadores e revolucionários, 2011. 6 BSC (Balanced scorecard)4Esta é uma versão preliminar e não deve ser utilizada para apresentações ou tomada de decisão. Alterações podem ser realizadas após a consulta pública.

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que contribuem para o direcionamento da organização rumo a sua missão e visão. Uma descrição detalhada dessas metodologias está fora do escopo deste documento. Se o leitor desejar se aprofundar sobre o tema, existe farta literatura disponível.

Neste texto, estamos mais interessados no aprofundamento dos aspectos que propiciam o pensamento estratégico, ocorram eles antes, durante ou depois do planejamento e independentemente da metodologia que cada organização opte por usar para alcançá-lo.

Para além das terminologias, metodologias e cronologia do planejamento, é razoável afirmar que os dois processos são intimamente ligados, necessários e que só fazem sentido e agregam valor quando se complementam. Suas sobreposições e conexões podem depender da cultura e da liderança de cada organização. Ou seja, o pensar estratégico não se apoia num método único. Pode ser mais ou menos formal, mais ou menos democrático, sincrônico, paralelo, continuado ou cíclico. E não pode ser substituído pelo planejamento. Podemos notar graficamente essa interrelação e o papel de cada um desses dois processos na gestão estratégica (figura 1).

Aqui, pretende-se colocar em evidência formas de alcançar um pensamento de qualidade, que trate da análise de oportunidades e problemas a partir de uma

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perspectiva ampla e da compreensão do impacto potencial que suas ações podem ter sobre o futuro da sua organização7.

Esse pensamento não é dado e depende de habilidades individuais e coletivas que devem permear a organização, em especial a liderança. Seu objetivo é imaginar novas estratégias que possam reescrever as regras do jogo competitivo e vislumbrar potenciais futuros significativamente diferentes do presente8.

Diversos autores concordam que pensar estrategicamente não é uma habilidade inata9. Ela decorre de experiências específicas (pessoais, interpessoais, organizacionais e externas) e pode ser aprendida, arraigada por sua aplicação contínua e pela repetição ao longo do tempo10.

Mais do que um conhecedor, o pensador estratégico está em constante aprendizagem, e o pensamento estratégico é o resultado de um processo de desenvolvimento, um diálogo em torno de questões estratégicas. Por meio do diálogo, do questionamento criativo, alcançam-se ideias, que são a base de qualquer estratégia. E a qualidade desse processo depende da riqueza de repertório, assim como da capacidade de interlocução de cada indivíduo envolvido11.

A seguir, destacam-se as principais caraterísticas do pensar estratégico:

É um processo permanente. Não obedece a eventos periódicos ou pontuais do calendário da organização, embora tais eventos (ex.: elaboração do plano estratégico) sejam momentos propícios para o exercício do pensar estratégico.

Pode ser induzido por indícios de perturbações externas e pode emanar da discussão interna sobre possíveis cenários futuros, muitas vezes sendo uma combinação de ambos.

Não se limita à empresa ou ao segmento de atuação. O campo do pensar estratégico é vasto. A identificação de tendências globais ou indicadores indiretos que podem afetar os negócios é também uma das principais fontes do pensamento estratégico.

Para ser eficaz, deve ser uma tarefa que envolva, em maior ou menor grau, toda a organização.

3. O PAPEL DOS CONSELHEIROS NO PENSAR ESTRATÉGICO

7 HBR, HBR Guide to Thinking Strategically, 2019.8 L. Heracleous, “Strategic thinking or strategic planning”, 1988.9 Ibidem.10 E. Goldman, “Strategic Thinking at the Top”, 2007. 11 J. Liedtka, “Strategic Thinking: Can it be Taught?”, 1998.

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O conselho de administração, não obstante ser o órgão responsável pela aprovação da estratégia de uma organização, naturalmente não é a única fonte do pensamento estratégico. E, pretendendo ser, é provável que fracasse nesse intento, dadas as restrições caraterísticas da natureza de sua função, entre elas, ser um colegiado com número limitado de integrantes, com uma agenda de reuniões periódicas, mas sem envolvimento direto com o dia a dia das operações.

A principal responsabilidade do conselho de administração deverá ser a de promover uma cultura que dissemine o pensar estratégico, estimule a livre conversação sobre os negócios, a produção de ideias e a identificação antecipada de ameaças e oportunidades. Ao mesmo tempo, deverá estar atento à implementação de técnicas e ferramentas por parte do corpo executivo que ajudem as pessoas a desenvolver o pensamento estratégico. Certamente, deverá ser também um exemplo, por meio de suas interações e atitudes, promovendo o modo reflexivo e alerta que a organização deverá incorporar para seu sucesso.

Como fazer para levar adiante essa responsabilidade? A seguir, são apresentadas algumas recomendações para remover os obstáculos e impulsionar uma cultura propícia ao pensar estratégico.

3.1) Compromisso com a organização

Os conselheiros deverão conhecer o negócio com maior profundidade do que aquela proporcionada pela participação nas reuniões periódicas do conselho e seus respectivos comitês. Para tal, é recomendável:

a) Ter disponibilidade para conversações informais com outros membros do conselho e com o CEO, fora dos encontros formais do colegiado.

b) Manter diálogos previamente agendados com outros membros da diretoria, procurando compreender as preocupações e os problemas na execução dos planos e programas de cada função e respeitando o papel do CEO.

c) Manter o foco em ouvir e refletir, evitando oferecer soluções aos problemas apresentados sem antes passar pela devida com o CEO.

Tais práticas devem favorecer o raciocínio estratégico e a melhor captura de indícios de oportunidades e ameaças, tendo em vista a experiência em negócios dos conselheiros.

É ainda fundamental que presidente do conselho mantenha uma agenda permanente de discussão estratégica em suas sessões formais, que não se limite ao monitoramento da execução do plano estratégico em curso, tornando o exercício do pensar estratégico uma prática constante.

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3.2) Conversação e atenção estratégicas

Uma mudança disruptiva ou algum fato que, de certa maneira, afete a estratégia ou o modelo de negócios da organização, naturalmente não ocorre acidentalmente, de improviso. Um olhar experimentado poderá encontrar seus indícios, inicialmente fracos, mas gradativamente mais claros, no período anterior. Eles assumem a forma de movimentos de concorrentes, anúncios provenientes de segmentos afins, artigos tecnológicos, alterações políticas, novas demandas de consumidores, entre outras informações que estavam disponíveis para observadores atentos. A realidade nos mostra, porém, que esses fatores muitas vezes passam despercebidos ou são subestimados. A organização que não pratica o pensar estratégico permanente mantém-se amarrada à sua estratégia, ao seu modelo de negócios, à sua missão original. E isso pode ocasionar grave perda de valor no longo prazo.

Os conselheiros deverão estar atentos a esse tipo de atitude, tão frequente quanto nociva, e desenvolver na organização um clima de alerta permanente, em que seja normal a aceitação de ideias, a revisão de certezas, a tolerância ao erro.

Para isso, será necessário lidar com as algumas condutas e realidades organizacionais.

3.2.1) Abertura ao debate

A hierarquia rígida ainda é o modelo de estrutura predominante na organização empresarial. Hierarquia não significa apenas autoridade para propor e agir com base na experiência e competência. Significa também que quem a exerce é o detentor exclusivo do poder estabelecido na respectiva definição da função. Essa situação tende a criar barreiras a uma participação mais ampla de todo o corpo de colaboradores da organização, limitando cada indivíduo a cumprir aquilo que sua função determina.

Por outro lado, pode existir também o medo de se expressar. Esse bloqueio se apresenta sob diferentes formas. Nos níveis mais próximos da base da pirâmide hierárquica, está ligado a inibições, como falar em público ou interpelar diretamente um superior. Já nos níveis mais elevados, incluído o conselho de administração, a resistência a expor ideias originais está mais relacionada à preservação da imagem profissional. Essa resistência cresce na medida em que a exposição não esteja imediatamente sustentada em dados e informações estruturadas.

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Desafiar crenças e modelos mentais instalados na organização. Atenção especial deve ser dada aos vieses cognitivos, preconceitos que impedem uma pessoa de enxergar realidades e ameaças evidentes.

Encorajar a gestão, em seus diversos níveis, a conversar sobre assuntos amplos de negócios e estratégia com seus subordinados.

Estimular a expressão de ideias e a contribuição com insights trazidos de fontes diversas de informação.

Assegurar a implementação de um processo que capture o resultado desse fluxo e leve a uma avaliação sem restrições nem vieses, fornecendo feedback aos que contribuíram para ela.

Estimular a liderança na aplicação e no uso de metodologias ágeis para a solução de problemas e construção de soluções.

Demandar a inclusão de programas de incentivos para atitudes proativas.

3.2.2) Superação de obstáculos internos

Dentro de cada organização, existem bloqueios que muitas vezes impedem o desenvolvimento do pensar estratégico. Alguns são descritos a seguir.

a) Arrogância no comando

O conselho precisa fomentar um permanente clima de acolhimento a ideias e propostas originais e sugerir um encaminhamento que permita, de maneira célere, avaliar o potencial ou risco a elas associado. Isso vale tanto para quem traz percepções sobre ameaças e/ou oportunidades do mercado que possam afetar a estratégia como para quem pretende desenvolver uma nova iniciativa para a organização. Muitas vezes, uma atitude proativa é destruída ou desalentada pelas instâncias superiores, quando elas usam mal o poder da hierarquia.

b) Críticas destrutivas dos pares

É bastante comum a reação de desconfiança, desafio e desconsideração às ideias novas trazidas por outras pessoas da organização. Isso pode ser motivado por caraterísticas psicológicas pessoais, segundo as quais apenas as próprias ideias têm espaço e merecem ser consideradas, ou simplesmente por lutas por poder na organização. Não importa a motivação, o resultado é sempre o mesmo: uma possível oportunidade poderá ser perdida devido a esses bloqueios.

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É fundamental que a gestão desestimule essas condutas, assim que detectadas, como forma de enviar a mensagem correta à organização, por exemplo:

Dar feedback claro e diretivo aos indivíduos que se utilizem do poder para combater e desencorajar ideias de outrem.

Providenciar treinamento em desenvolvimento de competências pessoais para aqueles que acham difícil aceitar visões diferentes das próprias.

Garantir que tais comportamentos sejam indicados em avaliações de desempenho/competências, com possíveis consequências para a carreira do indivíduo.

c) Agendas ocultas.

O pensar estratégico implica a exploração de territórios novos e desconhecidos. Sejam esses territórios associados a oportunidades derivadas da própria atividade ou totalmente originais ou ainda provenientes de ameaças latentes, eles provocam mudanças. Essas mudanças podem afetar interesses pessoais, zonas de conforto, aspectos culturais, inseguranças sobre as próprias capacidades, enfim, agendas de indivíduos ou grupos que podem entrar em colisão ou se sobrepor às mudanças necessárias. As “agendas ocultas” frequentemente funcionam como bloqueios às iniciativas de pensamento estratégico, e não são fáceis de detectar.

d) Inércia, sobretudo em tempos de bonança.

Ao detectar atitudes autoindulgentes ou de menor prontidão, por parte do corpo executivo ou do próprio conselho, muitas vezes associadas aos períodos de resultados positivos, deve-se estimular o raciocínio crítico-criativo:

Desafiar afirmações superficiais ou pouco estruturadas, que tenham o claro intuito de valorizar a estratégia em curso.

Rejeitar iniciativas estratégicas puramente embasadas em extrapolações do passado ou em tendências históricas.

Liderar reuniões que fomentem o pensamento e a conversação estratégica. Por exemplo, solicitar à diretoria a construção de um mapa atualizado e completo da cadeia de valor, macrotendências, pesquisas de consumidores, análises de benchmarking, posicionamento da concorrência direta e indireta.

e) Negação das evidências.

Com muita frequência, inclusive nos ambientes mais racionais, quando a realidade entra em conflito com as convicções, as convicções prevalecem.

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Nem sempre devemos atribuir esse fenômeno à miopia ou ao despreparo dos gestores. Ele pode acontecer por dois motivos: porque os executivos estão pessoalmente muito envolvidos na definição das premissas da estratégia implementada (e lidam com o medo de mudar ou com a arrogância da sua “onisciência”) ou porque permanecem afastados demais do campo, e os relatórios muitas vezes filtram informações críticas. Assim, indícios de mudanças são ignorados ou diferidos no tempo, o que pode ser fatal.

Confrontados com possíveis cenários ameaçadores, muitas pessoas tendem a negar os indícios aparentes. Tomam como certeza que algumas coisas nunca vão mudar. Ou que os concorrentes continuarão fazendo o que sempre fizeram. Sempre que aparecer no grupo executivo ou no conselho, essa conduta deve ser desestimulada. O contrário – a organização paranoica – pode ser preferível em certos contextos competitivos, apesar de mais estressante.

3.2.3) O valor da intuição

Existe um forte movimento na atualidade que reconhece a intuição como uma faculdade mental natural e um elemento-chave na resolução de problemas, dada a constatação de que o modelo racional-analítico, aplicado ao processo decisório, não consegue abarcar a complexidade dos fenômenos contemporâneos.

A intuição não é iluminação. Ela se baseia em experiências, erros, acertos, aprendizados, conhecimentos teóricos e práticos, entre outros, acumulados durante a vida do indivíduo. A intuição surge de um estímulo na nossa mente, que “pinça” em nosso acervo subconsciente caminhos, insights, obstáculos, até mesmo desaconselhando certas decisões aparentemente corretas.

No entanto, muitas pessoas podem considerar que a mera intuição não deveria ser aceita como impulso para a discussão de problemáticas de risco. Por isso, embora a intuição faça parte do cotidiano das pessoas, há muitas restrições para a sua utilização formal.

Para contornar essas restrições e preconceitos, é necessário aceitar o processo intuitivo como mecanismo natural de funcionamento da mente. Cultivar as habilidades intuitivas ajuda na investigação, favorece analisar o mesmo problema sob diversos ângulos.

A intuição não rejeita o processo intelectual, muito pelo contrário. Ela está associada à atividade subjetiva desse mesmo processo. A intuição de pessoas como notória experiência como fonte para o pensar estratégico deve ser

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reconhecida e, quando acompanhada por estudos e análises posteriores, pode ser a chave para uma boa decisão estratégica.

Entretanto, as heurísticas por trás da intuição podem conter vieses cognitivos que reforçam a convicção sobre a decisão a ser tomada. Por essa razão, a mesma liberdade dada ao pensamento intuitivo deve ser conferida para questioná-lo e submetê-lo à prova, mais ainda quando se trata de pessoas no topo da estrutura de poder da organização.

4. PROMOVENDO O PENSAR ESTRATÉGICO NA ORGANIZAÇÃO

Uma vez consolidada uma cultura que estimule o livre fluxo de ideias e iniciativas estratégicas, é necessário que a organização responda, desenvolvendo o pensar estratégico em todos os níveis em que isso é possível.

Por exemplo, um vendedor, confrontado diretamente com ações táticas de concorrentes, com aparições pontuais de novos produtos ou matérias-primas, com novos modelos de comercialização, pode trazer excelentes insights que a organização deve avaliar com seriedade. Da mesma forma, um técnico de materiais ou de informática, em reuniões de ex-alunos da faculdade, em visitas a feiras e exposições, ou lendo revistas técnicas da sua matéria, também estará alerta para identificar comentários ou artigos que possam ensejar impactos estratégicos ainda que indiretos, e aportará esses insights à organização.

Para promover essa cultura, o conselho de administração deve se certificar de que técnicas e ferramentas adequadas sejam utilizadas de forma frequente e consistente nos vários níveis da organização.

4.1) Diretoria, alta e média gerência

É essencial implementar e manter um programa de desenvolvimento que permita ao grupo executivo compreender (buy-in) o processo de pensar estratégico, não somente por exigência do conselho, mas porque será fundamental para lidar com a realidade do mercado em que se atua. Isso inclui treinamentos e investimentos para ampliar a visão do time de executivos sobre os negócios da empresa, do segmento, do país.

Como exemplos de processos específicos de desenvolvimento, podemos citar duas ferramentas que desenvolvem a capacidade de pensar estrategicamente e antecipar movimentos e forças motrizes capazes de influenciar a estratégia ou o modelo de negócios como um todo.

12Esta é uma versão preliminar e não deve ser utilizada para apresentações ou tomada de decisão. Alterações podem ser realizadas após a consulta pública.

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a) Uso de cenários

As empresas precisam estar preparadas para um nível muito maior de incerteza em todos os planos: tecnológico, da ordem econômica mundial, dos sistemas sociopolíticos e das ameaças ambientais. O desenvolvimento de cenários é um ótimo exercício para o pensar estratégico. Um grupo de profissionais da organização, escolhido para tal fim, idealiza e constrói cenários a partir da análise das forças motrizes que influenciarão os negócios no futuro.

Vale enfatizar a importância dessa técnica, que não perde vigência como fonte de inspiração para o pensamento estratégico. Em um mundo no qual os negócios mudam com frequência, espera-se que os cenários, que representam diferentes contextos mudem também continuadamente. Não vale, portanto, ficar preso aos cenários teóricos desenvolvidos. Flexibilidade e adaptabilidade são essenciais. Para o escopo do “pensar estratégico”, a análise de cenários dissemina a prática da discussão estratégica na organização, faz as pessoas ficarem em estado de alerta para revisitar os cenários a partir de novos inputs do mercado e, naturalmente, desenvolve nelas o interesse pela estratégia.

b) Jogos de empresas

Essa ferramenta foi desenvolvida no âmbito militar e utiliza jogos e simulações para analisar possíveis campos de batalha, ações e reações. O uso de metáforas épicas é muito comum na gestão de empresas.

O mais importante nesse processo é que as pessoas sejam capazes de raciocinar e agir como os concorrentes o fariam e, para isso, o estudo analítico e a experiência de enfrentar os concorrentes no mercado é fundamental. Por si só, isso já contribui para desenvolver o pensamento estratégico.

Esse é um instrumento útil de treinamento estratégico, mas aqui também é preciso ressaltar que a dinâmica dos negócios e a mudança profunda nas “regras do jogo”, que os diversos segmentos devem e deverão enfrentar, tendem a diminuir sua eficácia como base para a formulação estratégica.

Estas ferramentas são ideais para desenvolver o pensar estratégico nas funções decisórias da organização. Fundamentalmente, eles ajudarão a construir a visão de longo prazo e a desagregar o pensamento estratégico dos planos de curto prazo e do exercício de orçamentação.

c) Outras iniciativas para promover o pensar estratégico

13Esta é uma versão preliminar e não deve ser utilizada para apresentações ou tomada de decisão. Alterações podem ser realizadas após a consulta pública.

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São recomendados também investimentos para favorecer uma visão ampla dos negócios, que cumprem dois objetivos: melhorar a capacitação técnica da equipe e, o que é fundamental, desenvolver o “estado de alerta” para informações relevantes ou indícios de mudanças que podem passar despercebidas se não existir o foco adequado. Devem ser tratadas com cuidado e de forma seletiva, devido a seu possível peso financeiro e ao impacto positivo ou negativo na motivação. Dentre as várias possibilidades, destacam-se:

Estimular a participação em grupos ou associações técnicas profissionais (associações de alumni, sindicatos profissionais, instituições temáticas avançadas e câmaras empresariais, entre outras). Informações muito ricas podem surgir de comentários aparentemente triviais.

Assinar revistas técnicas (mercadológicas, macroeconômicas, políticas, científicas, etc.) de acordo com o nível do grupo executivo.

Estimular processos periódicos de benchmarking intersetoriais, trazendo provocações de pessoas de fora do setor de atuação, que não estão habituadas ao modo de pensar da indústria específica.

Estimular o relacionamento com think tanks (nacionais e internacionais) e com especialistas que estimulem nos executivos um olhar crítico do negócio, um pensar “fora da caixa”.

Participar de eventos e feiras, mercadológicos ou tecnológicos, locais, regionais ou internacionais, solicitando relatórios sobre as novidades encontradas e opiniões fundamentadas sobre os últimos acontecimentos e como eles podem afetar a empresa.

Estimular conversas com outros players (fornecedores, empresas de outros segmentos, grandes clientes, etc.) que integram o ecossistema da organização. Eles podem também dar valiosos indícios de mudanças disruptivas.

4.2) Operações

Os programas de melhoria contínua (TPM, Six SIGMA, Lean Enterprise, Kaizen e outros), que nasceram nas plantas japonesas do pós-guerra (notadamente na Toyota) são ferramentas consolidadas úteis, sobretudo em organizações industriais maduras.

Eles se concentram claramente em melhoria nas operações, e o seu conteúdo estratégico é escasso. Mas a aplicação dessa filosofia e das metodologias nas

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operações, além de produzir ganhos importantes em curto prazo, prepara as pessoas para futuras discussões estratégicas e para o pensamento estratégico.

Organizações que operam em mercados muito competitivos, inovadores ou fora de atividades industriais podem utilizar outras ferramentas mais ligadas à gestão de conhecimento, como as metodologias Design Thinking, Agile, Hackathon (as últimas mais relacionadas com a transformação digital das organizações).

Todas as metodologias aqui mencionadas são eficientes instrumentos técnicos e verdadeiras escolas de pensamento out-of-the-box, o que é essencial para o pensar estratégico. A caraterística comum é a de privilegiar o trabalho de equipes interfuncionais para a solução de problemas. Abre as mentes, desafia paradigmas, aceita as opiniões alheias.

Existem aqui também abundante literatura acadêmica, relatos de experiências empresariais e consultorias especializadas.

4.3) Inteligência estratégica

Pesquisas realizadas com executivos de grandes empresas americanas mostram que 92% deles foram surpreendidos por eventos de impacto significativo e inesperado para sua indústria ao menos uma vez nos últimos cinco anos (GILAD, 2004). Todos concordaram que os sinais desses eventos devastadores já existiam e que somente se transformaram em surpresas devido à inabilidade da organização em detectar seus indícios ou, pior, ignorá-los.

De partida, deve-se assumir que as fontes convencionais de informação, às quais todos têm acesso, não são suficientes, pois não oferecem vantagem competitiva e raramente revelam mudanças em gestação.

A boa notícia é que, se os itens anteriores foram devidamente cuidados e implementados, provavelmente a organização já esteja vivenciando uma cultura de livre produção e trânsito de iniciativas e ideias, e as pessoas já tenham sido treinadas nas diversas modalidades que alimentam o pensar estratégico.

Entre outras iniciativas, é possível selecionar na organização um grupo interfuncional, verdadeiro detector de sinais e perturbações no ambiente externo, que aportará indícios de mudanças capazes de exercer grave impacto se não consideradas a tempo. São vendedores, supervisores, técnicos, analistas e gerentes que demonstrem disposição de participar da discussão estratégica. Eles serão os sensores da organização, que alimentarão a cadeia do pensamento estratégico.

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Adicionalmente, o crescente uso de grandes volumes de dados oriundos de diferentes fontes e processados em alta velocidade (big data), a inteligência artificial e o data analytics, que surgiram a partir novas tecnologias de informação, vêm também contribuindo para o desenvolvimento do pensar estratégico. Conhecer, em tempo quase real, as reações do mercado – inclusive com a possibilidade de fazer monitoramento individual e segmentações inviáveis pelos métodos estadísticos tradicionais – traz para a organização um ativo de inestimável valor. São informações que embasam mudanças de rumo, com maior velocidade e probabilidade de sucesso. Vale destacar, contudo, que essas tecnologias levantam questões éticas sobre a privacidade dos usuários, tema fundamental, mas que foge ao escopo desde texto.

É necessário designar um responsável pela função de canalizar as informações e iniciativas que surjam dentro e fora da organização e avaliar rapidamente sua viabilidade e impacto, produzindo relatórios periódicos para a diretoria e o conselho.

Se a dimensão da organização comportar uma estrutura dedicada a esse fim, deverá ser criada uma área de Inteligência Competitiva para exercer essa função. Caso contrário, será igualmente necessário identificar uma área na estrutura organizacional na qual a função possa ser desenvolvida, como a de Marketing. Alternativamente, pode ser constituído um grupo multifuncional (sem necessariamente incremento de headcount) que, periodicamente, se reúna para deliberar sobre o assunto.

Em culturas organizacionais mais evoluídas no pensar estratégico, podemos esperar também que, fora do grupo de sensores escolhidos, qualquer outro membro da organização possa contribuir com insights através desse mesmo canal e receber feedback adequado. Se os insights levarem ao reconhecimento de indícios de perturbações, eles serão analisados tecnicamente e poderão ascender na organização até serem deliberados pelos entes decisores. Se forem iniciativas estratégicas ou ideias inovadoras, elas poderão ser incluídas no plano estratégico ou, até mesmo, substituir ações do plano atual.

4.4) Contribuições do comitê de estratégia

Quando decide que é necessário promover e disseminar a cultura do pensar estratégico na organização, o conselho pode constituir um comitê de estratégia. Isso absolutamente não significa a delegação da sua responsabilidade no processo.

Esse comitê, além das suas funções naturais (ver publicação “O Papel do Conselho de Administração na Estratégia das Organizações”, item 2.8), pode ajudar na implementação dos vários passos que já foram explicitados neste 16Esta é uma versão preliminar e não deve ser utilizada para apresentações ou tomada de decisão. Alterações podem ser realizadas após a consulta pública.

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documento. Para isto, é preciso que o conselheiro que o coordena tenha conhecimentos de estratégia ou que algum membro do comitê, interno ou externo, seja especialista em estratégia. A ação de um comitê desse tipo pode ser fundamental para monitorar o processo em todas as suas fases e funções envolvidas e para ajudar na implantação.

4.5) Ações de reconhecimento e premiação

O conselho que decida promover uma cultura de engajamento e criatividade, com foco no pensamento estratégico, deverá estimular que as pessoas saiam de sua zona de conforto e provavelmente revisitar o plano de incentivos e recompensas (financeiros e não financeiros) vigente na organização.

O órgão fornecerá diretrizes às áreas operacionais para que o sistema de prêmios permita identificar com clareza as condutas e ações que a empresa precisa desenvolver, além de desestimular comportamentos que tendam a criar barreiras à nova cultura a ser implementada. Dessa forma, será possível fazer confluir as energias da organização para um mesmo objetivo.

Há várias formas de premiar os indivíduos que se identifiquem como multiplicadores da cultura e que pratiquem o pensamento estratégico livre. A seguir, são apresentadas algumas sugestões.

Sendo o pensar estratégico uma habilidade e um estado mental que visa à sustentabilidade da empresa no longo prazo, premiações unicamente baseadas em sistemas tradicionais (real versus planejado ou versus o ano anterior) não contribuem para formar a cultura pretendida e podem enviar mensagens contraditórias à organização. É preciso estabelecer premiações com foco em resultados de longo prazo.

Devem ser ainda reconhecidas as contribuições de funcionários que trazem insights oportunos a partir das suas observações do mercado. Essas ações são positivas não somente no sentido de capturar oportunidades e neutralizar ameaças, mas também pelo efeito multiplicador para a consolidação de uma cultura de pensar estratégico.

O trabalho em equipe tem que ser estimulado como meio de enriquecer as discussões e incorporar o conhecimento coletivo, sempre maior que o individual. A premiação ao grupo, e não aos indivíduos, favorece o engajamento dos participantes da equipe.

Claramente, nem todos os incentivos devem ser financeiros. Aos que se destacam no processo de pensar estratégico, pode-se dar a oportunidade de participar de seminários e cursos reconhecidos, assim como de tornarem-se membro de instituições respeitadas, às custas da empresa. Dentre outros

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exemplos desta natureza, essas iniciativas reforçariam na organização o que se espera de sua liderança.

Tão importante quanto os sistemas de incentivo são os critérios para promoção e retenção de talentos. Promover pessoas que oferecem resistência à mudança cultural (ainda que como prêmio pelos bons resultados) não comunica de forma adequada os objetivos da organização que busca fomentar o pensar estratégico. Também deve ser cuidadoso o processo de recrutamento de novos funcionários, cujas competências para somar na nova cultura de pensar estratégico precisam ser bem avaliadas.

5. A COMPOSIÇÃO DO CONSELHO ESTRATÉGICO

A construção de uma cultura que favoreça o pensar estratégico na organização se beneficia do envolvimento do conselho de administração. Ele deverá liderar e desafiar o corpo executivo, no sentido de eliminar obstáculos à livre produção de ideias e propostas, estruturar canais adequados na organização para o trânsito das diferentes propostas até o board, e promover a implantação de um plano de incentivos que premie aqueles que demostram estar alerta a inputs relevantes para o negócio, transformando insights em iniciativas estratégicas.

Nesse ponto, o conselho haverá de se perguntar (e o presidente do conselho tem papel fundamental nesse processo) se os atuais membros que compõem o órgão e trouxeram a organização até o momento atual (independentemente do sucesso obtido) são os mesmos capazes de desenvolver a cultura do pensar estratégico que é essencial para o futuro, como descrita neste documento.

Algumas questões fundamentais deverão ser consideradas para se construir um conselho que favoreça o pensar estratégico na organização:

a) A diversidade ampla no conselho propicia e estimula o pensar estratégico. A homogeneidade conspira contra o surgimento e a aceitação de ideias inovadoras. A diversidade pode ter dimensões diferentes (de gênero, etnia, profissão, experiências e vivências, idades, região geográfica, etc.) e sobrepostas. É importante ainda obter um adequado equilíbrio entre especialidades relacionadas com as novas tecnologias emergentes e experiências relevantes em negócios e em estratégia. Dependendo da empresa e do mercado onde se atua, é válido que o conselho, conduzido pelo presidente, pondere e defina uma diversidade ideal para o momento da organização e a compare com a composição existente. Na avaliação de propostas de novos candidatos para o conselho, esse aspecto deve ser considerado pelos acionistas.

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b) Os conselheiros têm de se sentir independentes para contestar a cultura e o pensamento dominante. Conselheiros nomeados pelos sócios e/ou que já cumpriram ou cumprem funções executivas podem tender a apresentar uma atitude de adesão intelectual e emocional aos fundadores/controladores ou a princípios e práticas vigentes na organização. Essa postura pode inibir o livre pensar estratégico e limitar a contribuição deles.

c) É conveniente que um ou alguns dos membros do conselho tenham as habilidades que caracterizam o “pensador estratégico” (SCHOEMAKER; KRUPP; HOWLAND, 2013):

Curiosidade permanente e “estado de alerta” aos indícios e tendências do mercado.

Boa capacidade de comunicação para facilitar a cultura do pensar estratégico por meio do diálogo.

Humildade necessária para ouvir e compreender a visão do interlocutor. Habilidade para pensar grande, no longo prazo e, assim, utilizar os

inputs do dia a dia para contextos futuros, evitando ficar preso no presente.

Foco no mercado, sobretudo nos clientes. Olhar mais para fora da empresa que para dentro dela.

Adaptabilidade, ou seja, capacidade de aceitar e promover mudanças de rumo quando existem transformações no contexto.

Atitude de desafio ao status quo.

d) Por último, para o processo de pensar estratégico os membros do conselho devem estar dispostos a aprender, desaprender e reaprender continuamente. O conselheiro que acredita ter todas as respostas e não abraça a educação permanente dificilmente poderá liderar um processo de disseminação do pensar estratégico na organização; muito provavelmente, será um obstáculo.

6. O DESENVOLVIMENTO DO PENSAR ESTRATÉGICO NOS CONSELHEIROS

Para compreender o ecossistema de negócios em que a organização está inserida, estar atualizado sobre as tendências e práticas do mercado e estar apto a questionar a efetiva geração de valor, algumas boas práticas são recomendadas aos conselheiros:

Construir uma sólida e qualificada rede de relacionamentos, não se limitando ao mercado de atuação da organização. Estar em contato com agentes decisores possibilita o acesso a informações preciosas quando se mantém um pensamento alerta.

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Estar próximo a associações de classe, fóruns de discussão, feiras pertinentes ao mercado de atuação.

Investir na construção de repertório, participando de cursos, grupos de estudo, jornadas técnicas e formações diversas em que o desenvolvimento do pensamento estratégico seja prioritário.

Visitar regularmente unidades da empresa. Escutar diversos níveis da organização para compreender as verdadeiras forças, fraquezas e, sobretudo, as inter-relações da organização informal. Perguntar, ouvir muito, evitar dar soluções. O objetivo é apreender.

Sempre procurar uma abordagem sistêmica na análise das informações obtidas nas diversas interações internas e externas à organização, evitando o foco concentrado na empresa, buscando entender a cadeia de valor completa, cenários e hipóteses, sempre com uma visão crítica.

Ter presente e dar valor ao fator tempo, evitando menosprezar as dificuldades de implementação das fases de uma estratégia, bem de desenvolvimento ou aquisição dos recursos necessários (pessoas, ativos e tecnologias).

Incluir a conversação estratégica na rotina do conselho, dedicando tempo necessário às discussões, com a avaliação contínua de cenários novos e diferentes que possam redefinir ou impactar as estratégias da empresa. O convite de especialistas externos ao debate pode contribuir para a qualidade das discussões de assuntos específicos, trazendo novas provocações à mesa.

7. O PENSAR ESTRATÉGICO NA PRÁTICA: EXEMPLOS

Procurando dar mais materialidade às recomendações feitas anteriormente, são apresentados a seguir alguns exemplos práticos e reais em negócios de variados segmentos que foram discutidos ao longo deste trabalho. A empresa não é identificada, mas os exemplos são úteis para ampliar o entendimento de como desenvolver o pensamento estratégico nas organizações. Evitou-se incluir casos de insucesso derivados da falta de uma cultura de pensar estratégico, seja ela causada por falha na captura dos indícios de mudança ou por incompreensão sobre a amplitude da disrupção emergente. Existem na literatura de gestão e administração inúmeros exemplos muito conhecidos. Neste capítulo, destacam-se casos do dia a dia em que a aplicação do pensar estratégico ensejou histórias de sucesso.

7.1) Informações de mercado na fonte do insight estratégico

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Um laboratório nacional, aqui chamado de SMT, decide iniciar um estudo mercadológico com duas fortes motivações: 1) A SMT apresentava crescimento a taxas acima do mercado, mas concentrado em um segmento específico; 2) Análises de mercados mais desenvolvidos demonstravam que os segmentos em que a SMT era menos relevante sugeriam maior potencial de crescimento no médio e longo prazos.

Uma alternativa analisada foi o lançamento de uma segunda marca, mas os esforços desse empreendimento poderiam ser maiores do que aqueles que a empresa poderia acomodar no momento, dados os projetos em andamento. Outra opção seria expandir a marca tradicional, abrindo seu posicionamento, mas havia o risco de desagradar consumidores heavy users, fiéis a essa marca.

Em meio às entrevistas executivas e visitas ao mercado, foram apontadas convicções de que determinado player, com longa tradição e percepção de marca, estaria demostrando sinais de decadência (perda drástica de market share, queda de receitas e dificuldades nos canais de vendas) após ter sido adquirido por uma multinacional com pouca experiência no segmento e desconhecimento do mercado brasileiro.

Na mesma época, coincidentemente, um dos membros da equipe de planejamento assiste a um documentário numa plataforma de streaming sobre escândalos corporativos. Entre as várias empresas citadas, aparecem graves fragilidades relacionadas a essa mesma multinacional. Para o contexto do planejamento em curso, ficou claro que a corporação concorrente teria que passar por drásticas reestruturações e prováveis desinvestimentos para sobreviver. Havia uma possível oportunidade no horizonte: estaria ela disposta a se desfazer dessa unidade de negócio no Brasil?

Decidiu-se então ir mais a fundo e elaborar uma pesquisa para compreender melhor as percepções, preferências e atitudes do consumidor final em relação à categoria e às marcas disponíveis no mercado. Os resultados confirmaram que os problemas da concorrente ainda não haviam chegado à mente dos consumidores, que colocavam a marca no topo de sua preferência.

Seria a combinação perfeita: uma marca forte no portfólio, justamente no segmento em que a SMT era menos expressiva, se beneficiando de toda a gestão e operação que havia transformado a empresa em um player respeitado no mercado em apenas dez anos. Faltava, contudo, confirmar a tese de que o concorrente, parte de um conglomerado internacional, estaria disposto a negociar. Um assessor foi contratado para liderar a inciativa que, finalmente, se demonstrou viável. A operação foi concluída e colocou a SMT na liderança de um mercado que fatura, no Brasil, aproximadamente R$ 2,5 bilhões e está entre os que mais cresce no mundo.

7.2) Antecipando o estouro da bolha da internet

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No início dos anos 2000, a demanda por cabos de fibra óptica crescia rapidamente para atender à ampliação do tráfego de dados com a internet. O investimento no aumento da capacidade de produção de fibras ópticas não acompanhava esse ritmo, e os fabricantes de cabos ópticos passaram a sofrer com a escassez de matéria-prima.

O principal executivo de uma empresa brasileira fabricante de cabos ópticos se viu obrigado a limitar a oferta aos seus clientes. Em viagem aos Estados Unidos para conferência sobre fibras ópticas, ele contatou fabricantes da matéria-prima e, para sua surpresa, obteve rapidamente um compromisso de expansão do suprimento. Lendo jornais americanos no voo de volta ao Brasil, o executivo notou uma série de notícias sobre investidores cancelando projetos de interligação óptica. O fato causou estranheza e acendeu um sinal de alerta.

Na chegada ao Brasil, ele informa à sua equipe de vendas que conseguiu aumentar a oferta de fibra óptica tão reclamada pelos clientes e, portanto, novos contratos podem ser firmados. O problema é que os pedidos não chegam no ritmo esperado.

Intuitivamente, o executivo liga os fatos: maior oferta de matéria-prima, cancelamento de projetos no exterior e dificuldade para conversão de novos contratos. Ele então aciona a diretoria com a orientação de reduzir estoques de matéria-prima e produtos acabados, congelar investimentos e cortar pessoal.

Em poucas semanas, empresas brasileiras operadoras de redes de telecomunicações começaram a cancelar pedidos e frear drasticamente seus investimentos. No fim de 2002, ocorreu o estouro da bolha da internet, com a diminuição drástica de demanda de cabos ópticos, mas a empresa estava preparada e havia se antecipado ao novo cenário de negócios. A maioria dos concorrentes não anteviu a situação, deixando o negócio ou decretando falência.

7.3) Identificando demandas emergentes

A década de 1980 produziu uma profunda transformação no mercado da cadeia têxtil mundial. O modelo industrial exportador adotado por países como Taiwan e Coreia do Sul, seguidos por China e Índia, praticamente aniquilou parcelas importantes dessa indústria na Europa e nos Estados Unidos. Em 1990, ambos respondiam por 58% da produção das fibras sintéticas e artificiais (man-made fibers), mas essa participação caiu para 33%, em 2000, e para menos de 20% em 2010.

Mesmo protegido por barreiras tarifárias, o Brasil acabou vendo a escala de produção e os processos modernos dos asiáticos se imporem. E, com a abertura do mercado, em 1990, muitas empresas do setor tiveram de encerrar suas atividades. Umas poucas sobreviveram, graças a alguns fatores históricos relevantes: imagem de marca, marketing focalizado, integração na cadeia produtiva.22Esta é uma versão preliminar e não deve ser utilizada para apresentações ou tomada de decisão. Alterações podem ser realizadas após a consulta pública.

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Em 2005, aconteceu uma reunião de rotina entre uma empresa da ponta da cadeia – fabricante renomada de roupas e materiais esportivos – e sua principal fornecedora de fios, uma empresa líder no segmento de fios “funcionais”, que incorporam aditivos para conferir às peças de roupa um efeito diferenciado. O cliente perguntou se existia alguma solução para dar à roupa de atletas de ponta a capacidade de reduzir o estresse muscular, pensando em fornecer produtos para uniformes dos Jogos Pan Americanos de 2007. Não havia nada no mercado que servisse àquela demanda, e a conversação continuou como habitualmente.

Porém, para algumas pessoas da empresa fornecedora, o tema não passou despercebido. Em discussões internas posteriores, o assunto foi retomado como um excelente meio de abrir mercados e conferir à marca um novo elemento de diferenciação. Decidiu-se, então, levar uma proposta à direção para lançar um programa de prospecção e pesquisa sobre aditivos que trouxessem a funcionalidade desejada. O projeto foi aprovado.

Foram três anos de pesquisa, durante os quais diversas fases da pesquisa adotaram abordagem de inovação aberta. Ao final, seguindo protocolos internacionais de avaliação, a empresa chegou a um produto que não só supria os efeitos desejados para fins de estresse muscular, mas também trazia propriedades surpreendentes de melhoria da elasticidade da pele e redução de sinais de celulite dentro de certas condições de uso.

Essas propriedades tiveram enorme apelo mercadológico e midiático. O valor agregado por essas funcionalidades permitia praticar preços quatro vezes maiores que o de produtos convencionais. Uma patente mundial foi depositada, e o produto passou a ser exportado a partir do Brasil e, posteriormente, licenciado para fabricação na Europa e na Ásia.

Pelo elevado preço e função específica, permaneceu sendo um produto de nicho, mas projetou o nome da empresa no cenário global e abriu caminho para toda uma nova gama de fios funcionais que inclui ação antiodor e biodegradável, entre outras.

7.4) De fornecedor a operador – mudando a missão da empresa

Nas décadas de 1970 e 1980, vários projetos de transmissão de energia foram implementados pelas empresas estatais no Brasil. Por sua quantidade e dimensão, eles permitiram o surgimento de muitas empresas de construção, que se especializaram nas obras dessas redes. No fim dos anos 1980, porém, o Sistema Eletrobrás começou a ter dificuldades financeiras, cancelando ou adiando novos projetos.

Nesse cenário, diversas empresas de construção de sistemas de transmissão se contraíram e passaram a disputar um mercado com poucos projetos e baixa rentabilidade. Muitas deixaram o segmento ou fecharam suas operações.

23Esta é uma versão preliminar e não deve ser utilizada para apresentações ou tomada de decisão. Alterações podem ser realizadas após a consulta pública.

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Ao mesmo tempo, um novo modelo para projetos de transmissão de energia começou a ser viabilizado, substituindo os investimentos do Estado ou de empresas estatais pela concessão de projetos de transmissão à iniciativa privada. O governo, por meio do BNDES, passou a viabilizar linhas de crédito para esses investidores.

O conselho de uma empresa do segmento de construção, observando essas mudanças e analisando-as com base em suas próprias capacidades e recursos, decidiu reposicioná-la nesse novo modelo. Isso representou uma ruptura com o modelo de negócios tradicional, aumentando o campo da sua missão: a empresa deixou de ser somente uma construtora e passou a se dedicar também à operação e manutenção de sistemas de transmissão. Assim, a administração decidiu participar diretamente das licitações de concessão. Com a experiência da organização em construção e na gestão de projetos e seus riscos derivados, houve uma mudança no modelo de negócio para passar a investir com sucesso em concessões e na construção e operação de sistemas de transmissão.

7.5) Alerta antecipado de indícios de novo competidor global

A empresa é uma companhia de telecomunicações que opera na América Latina. Há alguns anos, uma profunda crise monetária no país afetou seriamente os mercados. A empresa viu seu faturamento diminuir drasticamente e se multiplicarem as suas dívidas, todas em moeda estrangeira.

Diante dessa grave situação, os administradores decidiram adotar uma estratégia que privilegiava a rápida geração de caixa, com foco na redução de custos, fechamento de sucursais, diferimento de investimentos e renegociação para reestruturar os passivos.

Pouco tempo depois, uma companhia concorrente, de pequena participação no mercado, foi adquirida por um grupo local sem histórico em telecomunicações.

Funcionários do departamento de marketing da empresa investigaram os pormenores da aquisição e descobriram que um dos compradores tinha relações profissionais com um importante player internacional, até então ausente no mercado doméstico e conhecido pela sua agressividade comercial.

Essa informação transitou pelas instâncias da direção até a mesa do conselho e foi decisiva para produzir uma mudança parcial da estratégia, levando a um forte investimento em modernização e expansão da rede e a planos de fidelização do usuário.

A reação dos credores, uma vez explicada a nova estratégia, foi extremamente positiva.

A concorrente internacional efetivamente entrou logo no mercado com a sua força comercial, mas a empresa conseguiu sobreviver à crise financeira sem

24Esta é uma versão preliminar e não deve ser utilizada para apresentações ou tomada de decisão. Alterações podem ser realizadas após a consulta pública.

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perder a batalha contra os concorrentes e mantendo um bom nível de rentabilidade. Seu valor de mercado cresceu consistentemente desde então.

25Esta é uma versão preliminar e não deve ser utilizada para apresentações ou tomada de decisão. Alterações podem ser realizadas após a consulta pública.

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