Um Cearense pelos corredores do MWG(Este artigo foi publicado no Jornal O POVO em 01 de marco de 2013)

Dizer que o Brasil um dia emprestaria dinheiro ao FMI e que todo brasileiro teria um aparelho celular poderia soar como uma boa piada no século final passado. Estes dois fatos, tornados realidade uma década depois, foram citados pelo Ministro das Comunicações Paulo Bernardo em palestra no Mobile World Congress (MWC 2013), que aconteceu em Barcelona, de 25 a 28 de fevereiro.

Promovido pelo GSMA, uma organização que congrega quase todas operadoras de celulares do mundo (com cerca de 800 associados), o MWC 2013 foi algo extraordinário, fenomenal. 

Não me lembro de ter visto um evento similar na área de informática, em termos de:

Infraestrutura: o Fira Gran Via, o Centro de Eventos de Barcelona, corresponde a 6 ou a 8 vezes o nosso também monumental Centro de Eventos do Ceará, recém inaugurado. A exemplo do Louvre, é impossível "percorrê-lo" em quatro dias.

Organização: segurança, serviço básico, atendimento de qualidade, e informação começando desde o aeroporto, passando pelo metrô e outras vias de transporte;

Conteúdo: presença dos principais atores mundiais (palestrantes, fabricantes e operadores) na área de mobilidade.

OS NÚMEROS DO MWC 2013.

Segundo os organizadores do evento, a Mobile World Congress realizada em 2012 já foi um recorde com seus mais de 40 mil participantes, superada este ano:

67 mil participantes, vindos de 205 países, dentre os quais 38.000 líderes e 3.500 diretores executivos de empresas parceiras do GSMA.

Cerca de 1.500 expositores ocupando 70.500 metros quadrados de espaço para exposição e reuniões de negócios.

5000 profissionais de imprensa, representando os meios de comunicação de 92 países.

O QUE SÃO SISTEMAS DE COMUNICAÇÂO MÓVEL

Sejam os celulares simples, os chamados smarthphones (celulares com funcionalidades de um computador), ou os famosos tablets, os dispositivos móveis estão no cotidiano do homo sapiens eletrônico.

Dispositivos móveis estão se expandindo em taxas acima do que se imaginava no início deste século. Senão vejamos o tempo como as tecnologias levaram para alcançar 50 milhões de usuários (figura 3):

A telefonia fixa: 74 anos Radio: 38 anos

Personal computer (PC): 16 anos Televisão (TV): 13 anos Os dispositivos celulares: 5 anos

As inovações (figuras 1 e 2) têm acontecido tanto na tecnologia da eletrônica empregada na fabricação de dispositivos móveis, quanto nas novas aplicações desenvolvidas (outrora não imaginadas) e, principalmente, na intromissão desta tecnologia em outras áreas do conhecimento humano. É o caso do mHealth (aplicação de dispositivos móveis na saúde), um dos destaques do Mobile World Congress 2013.

Há de se reconhecer que os aparelhos celulares tem sido, na verdade, o principal ator na “briga do rochedo contra o mar” que tem sido a inclusão digital, cujos baixos índices alargam o fosso socioeconômico característico dos chamados países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. 

Os diretores da GSMA estão convencidos de que o Brasil tem hoje uma ótima oportunidade (coerente com os dados do Paulo Bernardo) para liderar na America Latina e África a aplicação de tecnologias dispositivos móveis em várias áreas da atividade humana.

Complemento

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AS NOVIDADES DA FEIRA

A tecnologia NFC (Near Field Communication) x Bluetooth

O NFC foi uma das tecnologias mais badaladas durante o Mobile World Congress. Ela permite transações simplificadas e faz a conexão sem-fio entre dois aparelhos próximos um do outro, a exemplo do popular, e espécie de concorrente, Bluetooth.

Enquanto o NFC é limitado a distâncias de alguns centímetros, o Bluetooth chega a alcançar alguns poucos metros. NO entanto, o NFC consome menos energia, comparado com o seu “desafeto” cibernético, Bluetooth.  A promessa da indústria e operadores é de que os celulares smartphones já saiam da fábrica com este chip embutido. Como afirma entusiasmado Pierre Combelles, diretor do programa NFC da GSMA: "A única coisa que pode limitar a inovação do NFC é a nossa imaginação".

Serviços  mais interativos poderão ser prestados mais facilmente com o celular: o cartão de crédito e de débito de seu banco, o tiquete do seu cinema, e mesmo a chave do seu carro A cidade conectada (NFS Concept)

A Cidade Conectada (Connected City), conceito badalado no evento com o apelido de NFC solution, é de lascar o cano! A ideia é antiga. Data do romance 1984, escrito em 1949 pelo admirável Aldous Huxley... ou será que foi  George Orwell? Eu sempre confundo (só sei que fez a criatura Pedro Bial –minha filha é fan dele- ser mais conhecida do que o criador do conceito “Big Brother”).

Anyway (eu gosto de dizer isso...quando não sei mais o que dizer), o fato é que a Cidade Conectada traduz aos poucos o que nos invade ( e nos assusta). Quantas vezes conversamos com os filhos e eles nos respondem ao mesmo tempo que praticam o DPCTC (Digitalizar na Porcaria do Celular Trasnloucada e Compulsivamente)?

O mHeatlh e o SUS

Sabe-se que a Presidente Dilma tem como uma de suas metas a universalização do Cartão Nacional de Saúde (CNS), um mecanismo convencional (igual a um cartão de crédito) que dá acesso de todo cidadão brasileiro ao SUS, o maior sistema público de saúde mundial. Esta missão, hoje confiada ao cearense Odorico Monteiro, Secretário do Ministério da Saúde, tem avançado bastante em seu processo de implantação.

No entanto, a tecnologia NFS (Near Field Communication), um dos temas centrais do MWC2013, poderia ser um excelente mecanismo para uma versão high-tech do CNS, uma vez que todo brasileiro hoje possui um celular.

O sucesso da SUNSUNG

Por onde a gente se virava na feira só se via o Galaxi da Sunsung (me fez pensar em meus tempos de James Jean, no meu carrão Galaxi que chegava a fazer 4 ...litros em um quilômetro).

O Galaxi da Sansung veio com jeito de galo de briga pra cima do iPhone da Apple. Justo quando eu estava visitando o stand da Sunsung, com todos os modelos Galaxi de “última geração” (todo cara que diz isso é brega, ou não sabe do que está falando), meu telefone iPobre, comprado em 5X na Mesbla, tocou forte, lindo (forró do Wesley Safadão) e insistentemente. Fingi que não era o meu. Acabrunhado mas determinadamente, dei aquela sutil desligada nele.

Sem dúvida o marketing da Sunsung superou os demais. Desta vez os asiáticos superaram os mestres americanos na “arte do galo cantar”.

CONVERSA NOS CORREDORES

1) Conversa com Ministro Paulo Bernardo na saída da palestra

Mauro: Ministro, parabéns pela palestra. É agradável ouvirmos no exterior os dados que o Senhor citou como, por exemplo a mudança do Brasil de devedor para credor do FMI, algo impensável há 20 anos.

Min Paulo Bernardo: Tivemos grandes avanços na melhoria da pirâmide social brasileira, na estabilidade econômica e política. A credibilidade é fundamental para atrairmos novos investimentos internacionais.Mauro: Quais os novos desafios em termos de Internet?Min Paulo Bernardo: Estamos otimistas com o aumento recente de usuários de banda larga no País. Há um esforço para o aumento os pontos de troca de tráfego Internet e a comunicação internacional.

2) Conversa com do Secretário Geral do ITU (International Telecommunication Union) Dr Hamadoun Touré, na saída da Palestra

Mauro: Prazer revê-lo, Dr Touré. Parabéns pela palestra e, naturalmente, pela sua recondução à frente do ITU. O que o Senhor está achando do evento?Dr Touré: Estou realmente impressionado com o porte do evento. Na minha palestra abordei os aspectos críticos da banda larga no desenvolvimento socioeconômico. O acesso universal à comunicação móvel pode estimular a produção e criação de empregos.Mauro: Na última vez que nos vimos tratamos sobre os problemas de inclusão digital ...Mr Touré: Lembro que tratamos bem deste assunto quando você me visitou em Genebra, em 2005. Eu era Diretor do Depto de Telecom do ITU e você era do Governo...Mauro: Eu era Secretário do Ministério de Comunicações e discutimos obre como a exclusão digital contribui para o aumento do fosso social países, em especial em países ditos subdesenvolvidos ..Dr Touré: É, esta questão continua sendo uma preocupação constante nossa...

CHEGANDO NA FEIRA

Se a Espanha está em crise, como dizem, não é um fato perceptível nas ruas de Barcelona. Caí na besteira de perguntar a um garoto onde era o metrô mais próximo. Ele olhou pra mi, eu olhei pra ele; ele sacou um iFacil do bolso e me deu a informação completamente...errada!

O metrô de Barcelona, mais limpo do que gaveta de barbeiro, é bonito, é bonito e é bonito. Peca pela poluição dos anúncios, como todo metrô no mundo, mas compensa pela criatividade de suas propagandas, como a peça teatral “A Família irREAL”, uma sátira ao Rei das Espanha e seus fantasmas de matar elefantes.

Organizado que só vendedor do Jogo do Bicho, mais sinalizado do que as lojas do Iguatemi em promoção, no caminho para se chegar ao Fira Gran Via, local do MWC2013, tinha mais gente entregando folheto do que sindicalista em boca de urna: de shows na Rambla a tickets do jogo do Barça, passando por iPod feito na China (o mundo é fabricado na China)... Pense num Beco da Poeira de hi-tech!

E não é que tinha uma turma protestando na entrada da Fira Gran Via: um magote de Cabras-da- Peste pedindo a independência da Catalunya, feito corintiano querendo voltar a fazer confusão no estádio.

ALGUMAS PONTOS PARA REFLEXÃO:

1) Né "é nóis" não, né?

Aproveito a expressão da moda no Rio ("é nóis") para dizer o quanto é PREOCUPANTE a ausência da inteligência brasileira no maior evento mundial de comunicação móvel, seja nas empresas presentes, seja exposições de produtos, seja nas palestras. Ou seja, esta tecnologia que se apresenta como a solução futura de todas as mazelas em praticamente todas as áreas (mHealh, mEducation, mTransport, etc.) é uma desconhecida da indústria brasileira, adormecida no aço, no automóvel, no petróleo e outros na cultura do século passado.

Encontrei brasileiros assim como quem anda em Nova York, perto da Time Square. Mas tudo trabalhando nas empresas dos gringos ou perambulando... “que nem eu”!Estamos perdendo o bonde da história na comunicação móvel para os “meninos dos oios estreito”, como aconteceu com hardware e semicondutores dominado predominantemente pelos Vale do Silício. China, Corea e adjacências sabem que a mobilidade é a cereja das TICs no bolo do futuro.

Enquanto economia brasileira é calcada em produtos "in natura" e petróleo, a economia mundial caminha na direção de produtos tecnológicos, cuja dependência é cada vez maior nos países subdesenvolvidos. Por exemplo, nossos 200 milhões de celulares (zero de tecnologia nacional) contribuem FORTEMENTE para a Finlândia (leia-se Nokia e adjacências) tenha a melhor qualidade de vida do planeta.

O que fazer diante deste quadro? Que polítca pública ´precisa ser engendrada pra gente não ser o “fona” nesta corrida maluca dos artefatos tecnológicos que ao afetar a balança comercial põem em cheque a “ruma de bolsas” que tem pautado a política social do Brasil, mexendo sensivelmente na base de sua pirâmides social,. São os dados que falam pelo discurso... queiram ou não gregos e troianos

2) Os pernambucanos perceberam... E "nóis" não!

A política governamental pernambucana que pariu o Porto Digital, este magnífico Centro de Eventos Eletrônico do Recife, foi pura sorte... dizem os invejosos. Na verdade a sorte chama-se Cláudio Marinho (Secretário de C&T), Silvio Meira e Paulo Cunha (eméritos da UPFE) e um governador, acho que foi Jarbas, que foi na onda destes “excêntricos da universidade”, “poetas”, “sonhadores”.

Mais sintonizado do que vigia em dia de jogo no PV, os cangaceiros Cláudio, Silvio e Paulo construíram, passo a passo um modelo que orgulha os conterrâneos de Gilberto Freire e devia servir de referência para o resto do Nordeste.

Se nós, “Ceará do Maracatu Analógico”, já estávamos alguns quilômetros deste “Recife do Frevo Digital” agora é que a coisa vai ficar de baixo de léguas. É que o município dos torcedores do Santa Cruz/Sporte/Nautico resolveu imitar o Porto Digital do Estado: vai criar o seu polo digital. E sabem quem o prefeito chamou para comandar este novo Eden digital? Nada mais nada menos do que o “excêntrico”, “poeta”, “sonhador”, porta-estandarte do bloco “Eu acho é Pouco”.

“By the way”, como vai o nosso "Porto Digital", iniciado no Eusébio no século passado, que não cresceu e nem foi para o centro da cidade, como determinou o Governador? Qual os nossa política de Estado no setor? E a do Município?

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