X Anped Sul - FLORIANÓPOLISxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1778-0.pdf · rede conceitual, enquanto...

16
 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio     Resumo Neste artigo, proponho a utilização de mapas conceituais no ensino de Filosofia  disciplina que integra os currículos escolares do ensino médio das escolas do país –, tendo em vista o caráter versátil desse recurso, bem como a íntima relação que  entre Filosofia e conceitos. Para tanto, teço breves considerações acerca da análise conceitual e sua relevância para a Filosofia, além de caracterizar os mapas conceituais, conforme a teoria de Joseph Novak (1932 ‐). Por fim, para ilustrar e, ao mesmo tempo, corroborar a minha proposta, apresento cinco modelos de mapas conceituais resultantes de minha prática como professora de Filosofia no ensino médio.  Palavraschave: Ensino de Filosofia. Ensino Médio. Análise Conceitual. Mapa Conceitual.   Daiane Cristina Faust Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected]          Introdução No presente artigo, proponho a utilização de um recurso didático  conhecido no campo da educação, porém ainda pouco explorado pelos professores de Filosofia que atuam no ensino médio das escolas do país, a saber, o mapa conceitual. Outrossim, teço breves considerações acerca da análise conceitual e sua relevância para a Filosofia. Tal 

Transcript of X Anped Sul - FLORIANÓPOLISxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1778-0.pdf · rede conceitual, enquanto...

 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio    

 

Resumo Neste  artigo,  proponho  a  utilização  de mapas  conceituais no ensino de Filosofia – disciplina que  integra os currículos escolares do ensino médio das escolas do país –, tendo em vista o  caráter  versátil  desse  recurso, bem  como  a  íntima relação que há entre Filosofia e conceitos. Para tanto, teço breves  considerações  acerca  da  análise  conceitual  e  sua relevância para  a  Filosofia,  além de  caracterizar os mapas conceituais,  conforme  a  teoria  de  Joseph  Novak  (1932  ‐). Por  fim,  para  ilustrar  e,  ao  mesmo  tempo,  corroborar  a minha  proposta,  apresento  cinco  modelos  de  mapas conceituais  resultantes de minha prática  como professora de Filosofia no ensino médio.  Palavras‐chave: Ensino de Filosofia. Ensino Médio. Análise Conceitual. Mapa Conceitual.  

 Daiane Cristina Faust 

Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] 

      

 

 

 

Introdução 

No presente artigo, proponho a utilização de um recurso didático já conhecido no 

campo da educação, porém  ainda pouco explorado pelos professores de  Filosofia que 

atuam no ensino médio das escolas do país, a saber, o mapa conceitual. Outrossim, teço 

breves  considerações acerca da análise  conceitual e  sua  relevância para a Filosofia. Tal 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.2 

 

X A

nped Sul

esforço  se  faz  pertinente  na medida  em  que  procura  contribuir  para  a  resolução  do 

problema  “como  ensinar  Filosofia?”. O  objetivo  específico  da  proposta  em  questão  é 

precisamente este: mostrar diferentes possibilidades de aplicação dos mapas conceituais 

no ensino de  Filosofia,  a  fim de  auxiliar os professores no desenvolvimento da prática 

docente  específica  e,  sobretudo,  tornar mais  acessíveis os  conteúdos da disciplina  aos 

estudantes do ensino médio. 

O  estudo  se  torna oportuno por duas  razões. A primeira delas  é que os mapas 

conceituais podem  ser  utilizados não  apenas  no  ensino de  Filosofia, mas  em qualquer 

outra  disciplina,  uma  vez  que  sua  função  básica  é  representar  graficamente  relações 

conceituais,  e  conceitos  se  fazem  presentes  em  todas  as  áreas  do  aprendizado.  A 

segunda razão é que este recurso didático vai ao encontro de um objetivo fundamental 

para o ensino de Filosofia e, de modo geral, para a educação, qual seja, a promoção do 

pensamento crítico1. Tendo em vista que um mapa só pode ser compreendido à medida 

que  o  estudante  se  empenha  em  extrair  as  proposições  resultantes  das  ligações 

estabelecidas  entre os  conceitos,  com  efeito, podemos  afirmar que  a  apropriação dos 

mapas conceituais requer esforço intelectual e, mais do que isso, pensamento crítico.  

 

Filosofia no ensino médio 

Desde 2008, a presença da Filosofia nos currículos escolares de todas as séries do 

ensino médio das escolas do país é obrigatória2. Quando falamos do ensino de Filosofia 

na educação básica do Brasil, portanto, estamos tratando de um assunto relativamente 

novo, já que se passaram menos de dez anos a contar de sua regulamentação3. Dado seu 

caráter  hodierno,  muitos  professores  da  área  encontram  dificuldades  com  relação  à 

escolha  dos  métodos  e  técnicas  para  lecionar  a  disciplina.  Um  agravante  para  essa 

                                                            1 O  inciso terceiro do artigo 35 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da 

Educação Nacional (LDB) –, aponta como finalidade do ensino médio “o aprimoramento do educando, 

incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”. 2 Lei nº 11.684, de 02 de junho de 2008, que altera o artigo 36 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, 

para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. 3 Há um precedente da Filosofia como disciplina obrigatória nos currículos escolares brasileiros na primeira 

metade do século passado (XX), no entanto, este tópico não será contemplado no presente trabalho. 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.3 

 

X A

nped Sul

situação  reside  no  fato  de  que  a  Filosofia  não  possui  um  corpo  consensual  de 

conhecimentos,  diferente  de  disciplinas  como  Matemática  e  Língua  Portuguesa,  por 

exemplo.  Devemos  compreendê‐la  como  uma  disciplina  de  caráter  “naturalmente 

aberto”,  no  sentido  de  que  as  questões  filosóficas  nascem  a  serviço  do  debate  e  se 

expandem  através  do  intercâmbio  de  perspectivas,  num  movimento  incessante.  No 

entanto,  há  certa  conformidade  de  opiniões  quanto  à  prática  filosófica,  em  que  a 

investigação  por meio  da  análise  conceitual  se  destaca.  Diante  dessa  convergência,  a 

Filosofia pode  ser minimamente definida  como “[...] uma  atividade  crítica que procura 

resolver  problemas  de  caráter  conceitual  [...],  apresentando  teorias  sustentadas  por 

argumentos”  (MURCHO,  2002,  p.  21‐22).  Além  disso,  no  que  tange  ao  seu  ensino, 

devemos  fazer da  Filosofia  algo  instigante,  inquisidor, mas nunca  impositivo. Qualquer 

que seja a metodologia adotada ou o recurso didático utilizado, o importante é convocar 

a  atenção  do  aluno, mas  não  apenas  isso:  desenvolver  nele  a  capacidade  de  análise 

conceitual  é  condição  necessária  para  que  a  natureza  aberta  da  Filosofia  seja 

resguardada.  

 

Conceitos, análise conceitual e Filosofia 

Os  conceitos  são  instrumentos  de  representação  daquilo  que  é mais  geral  ou 

comum  a  vários objetos. Conceituar  é  conceber;  assim,  um  conceito  é  algo  concebido 

pela mente, com o intuito de ordenar experiências (ROCHA, 2008). Ao apontar o conceito 

de um objeto, fazemos referência às diferentes concepções que o circundam, na medida 

em  que  estas  concepções  sejam  convergentes  (WILSON,  2005).  Por  exemplo:  se  um 

indivíduo  “A”  diz  “cachorro”,  enquanto  outro  indivíduo  “B”  diz  “dog”  e  um  terceiro 

indivíduo  “C”  diz  “perro”,  sabemos  que  nos  três  casos  o  referencial  é  o mesmo:  um 

animal  não‐humano,  que  anda  sobre  quatro  patas,  é  coberto  de  pelos,  dentre  outras 

características. Portanto, apesar das diferentes perspectivas, há convergência entre “A”, 

“B” e “C”.  

O processo de aquisição de conceitos tem início ainda na infância. Ausubel; Novak; 

Hanesian  (1978) estabelecem uma distinção entre dois  tipos principais de  aquisição de 

conceito:  formação  e  assimilação.  Segundo  eles,  “a  formação  de  conceitos  ocorre  em 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.4 

 

X A

nped Sul

crianças pré‐escolares, enquanto que a assimilação é a forma dominante da aquisição de 

conceitos para crianças numa faixa etária mais elevada, assim como para adolescentes e 

adultos”  (ibid., p.  77). No processo de  formação de  conceitos,  a  criança adquire  ideias 

genéricas de modo espontâneo – mas não automático –, fazendo descobertas a partir da 

própria experiência empírica. Esta espontaneidade diz respeito à vontade da criança em 

descobrir coisas novas, à sua inclinação para o esclarecimento, o que só é possível através 

do  esforço  intelectual,  da  reflexão.  Um  exemplo  disso  é  a  aquisição  do  conceito  de 

“casa”: a criança aprende empiricamente que casas são feitas para abrigar pessoas, pois 

ela mora em uma e observa que o mesmo ocorre com seus avós, amigos, vizinhos, etc. No 

processo de assimilação, não há a necessidade da experiência empírica concreta,  isto é, 

podemos  inferir  termos  genéricos  a  partir  de  conceitos  já  adquiridos,  fazendo  uma 

equivalência dos significados novos e antigos.   Como exemplo, podemos tomar o termo 

“apartamento”,  cujo  significado  pode  ser  associado  ao  de  “casa”,  no  sentido  de  que 

ambos possuem a mesma finalidade, a saber, servir de moradia às pessoas. 

Em  Filosofia,  “análise  conceitual”  é  uma  expressão  recorrente.  Analisar  um 

conceito  é  mapear  os  usos  possíveis  e  efetivos  deste  conceito.  Perguntar  sobre 

conceitos,  segundo  John Wilson  (2005), não é perguntar  sobre  fatos,  tampouco  sobre 

juízos de valor. A análise conceitual tem a ver não com o significado das palavras, mas sim 

com o uso delas,  isto é,  com  critérios que determinam o uso deste ou daquele  termo. 

Somado a  isto, a análise conceitual é o processo de dividir um conceito em partes mais 

simples para revelar sua estrutura lógica (BLACKBURN, 1997, p. 13).  

No  trabalho  de  filósofos  como  Frege,  Russell  e Wittgenstein  (em  sua  primeira 

fase), por exemplo, a análise conceitual é vista como um meio de compreender certas 

questões  tradicionalmente  apontadas  como  problemáticas  na  Filosofia,  o  que  é  bem 

ilustrado por Blackburn na seguinte passagem: 

 A análise  filosófica proporcionaria uma abordagem  científica e objetiva dos problemas  tradicionais.  Tal  como  um matemático pode  fornecer  a definição de uma noção complexa, revelando sua  identidade como uma sequência de operações mais simples, também o filósofo deve conseguir identificar a natureza de um conceito complexo em  termos de  ideias e operações simples que o constituem (ibid. p. 13). 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.5 

 

X A

nped Sul

Ademais,  a  compreensão  de  conceitos  faz‐se  necessária  não  apenas  para  a 

Filosofia.  Em  qualquer  tentativa  de  aprendizagem,  para  que  haja  assimilação  de 

conteúdo, é imprescindível que o aprendiz se dedique, primeiramente, à apropriação dos 

conceitos básicos específicos daquela área de estudo  (WILSON, 2005). Em matemática, 

por exemplo, para entender o que são números complexos antes é preciso saber o que é 

um número.  

Tanto  a  análise  conceitual  quanto  a  argumentação,  ambas  consideradas 

ferramentas básicas da Filosofia, caracterizam o pensamento crítico. De acordo com John 

Dewey (1953), pensamento crítico é o estudo criterioso de crenças ou teorias através da 

análise  de  seus  fundamentos,  bem  como  das  conclusões  que  destes  resultam. 

Diferentemente do que prega o  senso  comum, o  termo  “crítico” não  se  refere  a uma 

dimensão negativa, no sentido de julgar de modo diminutivo. Na verdade, “a essência do 

pensamento  crítico é  suspender  a  formação de  juízos; e  a essência desta  suspensão é 

provocar  uma  investigação  para  determinar  a  natureza  do  problema  antes  de  tentar 

resolvê‐lo (ibid., p. 81).  

Desidério Murcho (2002), por sua vez, observa que o pensamento crítico lança seu 

olhar  para  as  ações  do  cotidiano  e  sobrevoa  os mais  variados  ambientes,  das  artes  à 

religião. Nessa  direção,  a  Filosofia  surge  como  “o  estudo  disciplinado  e  rigoroso”  dos 

conceitos de beleza, Deus, justiça, entre tantos outros, bem como dos problemas ligados 

a eles.  

 

Mapas conceituais no ensino de Filosofia 

Uma vez que a análise  conceitual  se mostra  imprescindível à Filosofia, devemos 

nos  perguntar:  de  que  maneira  ela  pode  ser  mais  bem  trabalhada  no  ensino  dessa 

disciplina? Na década de 1970, o pesquisador norte‐americano Joseph Novak desenvolveu 

um  importante estudo sobre conceitos, que resultou na “teoria dos mapas conceituais”. 

Penso que em tal teoria reside uma boa resposta à pergunta anterior.  

Vejamos: um mapa conceitual deve ser entendido como um “[...] esquema gráfico 

utilizado para representar a estrutura básica de partes do conhecimento sistematizado” 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.6 

 

X A

nped Sul

(FARIA,  1995,  p.1).  É  constituído  basicamente  de  conceitos,  proposições  e  verbos  de 

ligação. Os critérios de seleção dos  itens que devem compor um mapa conceitual estão 

presentes na “teoria da aprendizagem significativa”, de Ausubel. De acordo com ele, os 

itens relevantes são “os conceitos e proposições unificadores de uma dada disciplina que 

tenham  maior  poder  explicativo,  inclusividade,  possibilidade  de  generalização  e  de 

relacionamento  com  o  conteúdo  do  assunto  daquela  disciplina”  (AUSUBEL;  NOVAK; 

HANESIAN,  1978,  p.  139).  Desse  modo,  é  recomendável  que  façamos  primeiro  uma 

delimitação do tema a ser representado e listemos os conceitos (ou melhor, as palavras‐

chave que  correspondem  a eles) de maior  abrangência,  isto é,  aqueles  conceitos mais 

gerais e inclusivos.  

Graficamente falando, os conceitos mais gerais ocupam uma posição superior na 

rede  conceitual,  enquanto  os  conceitos  de  segunda  ordem,  isto  é,  aqueles  que  estão 

diretamente  subordinados  aos  primeiros,  apresentam  um  caráter  de  generalização 

menor. A disposição dos conceitos no mapa deve, portanto, respeitar uma determinada 

ordem, conforme o grau de universalidade ou particularidade dos mesmos. Além disso, os 

conceitos ligam‐se por verbos e é fundamental que a ordem das ligações seja indicada por 

setas, a fim de propiciar uma leitura correta dos elementos (FARIA, 1995). Ademais dessas 

condições,  precisamos  escolher  um  meio  para  a  construção  dos  mapas,  o  que  não 

caracteriza um problema, pois um mapa conceitual pode ser estruturado tanto em uma 

simples folha de papel, quanto numa lousa, ou ainda, com a ajuda de softwares próprios, 

disponíveis para descarga gratuita na internet, como “CmapTools”, por exemplo. 

O que faz do mapa conceitual uma ferramenta  interessante e, ao mesmo tempo, 

funcional  para  a  educação  é  precisamente  seu  caráter  multifacetado.  Os  mapas 

conceituais podem assumir diferentes funções didáticas. Faria (ibid.) sugere as seguintes 

aplicações: mapa como estratégia de apresentação, como estratégia de estudo e como 

instrumento  de  avaliação.  Também  podemos  utilizá‐lo  na  revisão  de  conteúdo  ou  na 

comparação  dos modos  de  apreensão  do  aluno  acerca  de  um  determinado  tema  em 

diferentes etapas do ensino. 

Quando  utilizado  como  estratégia  de  apresentação  de  conteúdo,  o  mapa 

conceitual  deve  ser  bastante  simples,  isto  é,  deve  conter  um  número  relativamente 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.7 

 

X A

nped Sul

pequeno  de  conceitos  e  ligações  para  que  as  proposições  possam  ser  compreendidas 

imediatamente. A disposição dos elementos também é importante, uma vez que ela dita 

a ordem correta do pensamento para quem observa o esquema.  

Quando  utilizado  como  estratégia  de  estudo,  recomenda‐se  que  o  mapa 

conceitual  seja  precedido  de  um  texto  ou  apresentação  oral.  Nesse  caso,  o  mapa 

funciona como uma espécie de resumo textual,  já que para construí‐lo é necessário que 

se  faça uma  leitura  atenta do  texto,  identificando os  conceitos  centrais, bem  como  as 

relações  entre  eles  estabelecidas.  A  diferença  entre  um  mapa  conceitual  enquanto 

estratégia de estudo e um simples resumo é que o primeiro causa maior impacto visual do 

que o segundo. Isso acontece porque o layout de um mapa é menos “poluído” do que o 

de  um  resumo,  quer  dizer,  o mapa  concentra  apenas  os  termos  centrais  do  texto  – 

conceitos e verbos de ligação – facilitando, assim, a assimilação e até a memorização dos 

mesmos, enquanto que o resumo requer frases completas para que possa fazer sentido.      

Segundo  Faria  (ibid.,  p.23),  “os  mapas  conceituais  podem  instrumentalizar  o 

sistema  de  avaliação,  dando‐lhe  mais  eficácia,  pois  focalizam  aspectos  relativos  à 

estrutura  conceitual  do  conteúdo”.  As  representações  gráficas  parecem  cumprir  um 

papel  avaliativo  satisfatório  quando  integradas  ao  processo  de  ensino,  isto  é,  quando 

utilizadas durante o desenvolvimento dos conteúdos como uma espécie de medidor do 

progresso do aluno, mas sem ter como finalidade a atribuição de uma nota (ibid.). 

Por último, o mapa conceitual pode ser utilizado como instrumento de revisão de 

conteúdo. Trata‐se de uma  ferramenta bastante útil, pois os professores podem utilizar 

um  mapa  de  revisão  tanto  como  preparação  para  provas/avaliações  quanto  para 

introduzir  um  novo  conteúdo  que  exija  a  compreensão  manifesta  de  esquemas 

específicos anteriores. 

Para  elucidar  a  teoria,  apresento  agora  cinco  modelos  de  mapas  conceituais 

aplicados à Filosofia. Trata‐se de um material utilizado em minha prática docente em uma 

escola  pública  da  cidade  de  Porto  Alegre,  RS,  no  ano  de  2011,  com  alunos  do  ensino 

médio.  Os  primeiros  dois  exemplos  são  compostos  por  mapas  conceituais  utilizados 

como estratégia de apresentação; no terceiro caso, mostro um esquema gráfico adotado 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.8 

 

X A

nped Sul

como estratégia de estudo; o quarto exemplo refere‐se a um mapa conceitual que serviu 

de  instrumento de avaliação; por  fim, exponho um modelo utilizado como  instrumento 

de revisão de conteúdo.  

No  primeiro  exemplo  (FIGURA  1),  como  introdução  à  Teoria  do  Conhecimento, 

destaco os dois elementos básicos constituintes da relação de conhecimento, a saber, os 

conceitos  de  “sujeito”  e  “objeto”.  Ao  buscar  uma  aproximação  com  a  linguagem 

ordinária,  estabeleço  uma  relação  destes  conceitos  centrais  com  os  conceitos 

correspondentes  “homem”  e  “realidade”.  Desta  forma,  os  conceitos  de  “sujeito”  e 

“objeto” são transpostos em termos simples, presentes no cotidiano, facilitando, assim, a 

compreensão por parte dos alunos.  

 Figura 1 – Mapa conceitual utilizado como estratégia de apresentação dos elementos básicos do conhecimento 

 

Ao destacar a estrutura lógica do mapa em questão, notemos que a linha superior 

apresenta  a  relação dos  conceitos mais  abrangentes,  enquanto  a  segunda  introduz os 

equivalentes. Neste caso, uso a estratégia do mais geral ao mais particular.  Já na  linha 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

X A

nped Sul

seguinte,  o  conceito  de  “realidade”  é  analisado mais  a  fundo,  desmembrando‐se  em 

outros três novos termos: “coisas”, “fatos” e “fenômenos”. Este ponto pode ainda ser 

acrescido de uma quarta  linha, com a citação de exemplos: o conceito de “coisas” pode 

ser  ligado  ao  conceito  de  “cadeira”,  “mesa”  ou  “porta”;  o  conceito  de  “fatos”  ao 

conceito de “guerra” ou “eleição presidencial”; o conceito de “fenômenos” ao conceito 

de “chuva”, “vento”, etc. 

No segundo caso (FIGURA 2), os conceitos posicionados no topo do mapa são os 

mesmos utilizados na representação gráfica anterior: “sujeito” e “objeto”. No centro do 

mapa  são distribuídos os  conceitos  secundários que, neste  caso específico,  indicam os 

diferentes meios de aquisição de conhecimento.  

 

Figura 2 – Mapa conceitual utilizado como estratégia de apresentação dos tipos de conhecimento 

 

Segundo o esquema, o conhecimento pode ser adquirido através dos sentidos, do 

raciocínio ou pela crença. Estes termos, por sua vez, podem ser ainda mais explicitados se 

seguidos de exemplos: visão, audição ou tato para o conceito de “sentidos”; análise ou 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

X A

nped Sul

comparação para o conceito de “raciocínio”; e autoridade para o conceito de “crença”. A 

última  linha  introduz  os  tipos  de  conhecimento,  que  variam  de  acordo  com  seu 

fundamento. O objetivo deste esquema é conduzir uma investigação a partir de conceitos 

mais gerais ligados ao conceito de “conhecimento” para então chegar a uma classificação 

do mesmo. A partir do mapa, podemos concluir que:  

a) O conhecimento obtido através dos sentidos chama‐se empírico;  b) O conhecimento que parte do raciocínio denomina‐se lógico;  c) O conhecimento baseado na crença é dito conhecimento de fé.  

 O  exemplo  a  seguir  (FIGURA  3)  também  resultou  de  uma  aula  de  Teoria  do 

Conhecimento, em que trabalhei o diálogo platônico “Teeteto”. A passagem selecionada 

apresenta a segunda tentativa de Teeteto, um jovem matemático e discípulo de Sócrates, 

em definir o que é conhecimento.  

  Figura  3  –  Mapa  conceitual  utilizado  como  estratégia  de  estudo  da  segunda  definição  de conhecimento no diálogo “Teeteto” (PLATÃO, 2007, p. 46 ‐ 58) 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.11 

 

X A

nped Sul

  

Neste caso, foram destacados previamente os conceitos centrais da passagem, a 

saber,  “homem  (aprendiz)”,  “sábio”,  “sabedoria”,  “conhecimento”,  “sensação”, 

“aparência”  e  “percepção”.  Coube  então  aos  alunos  distribuir  os  conceitos  em  um 

sistema  gráfico,  respeitando  a  ordem  de  aparição  dos  mesmos  e  as  relações 

estabelecidas no diálogo. Notemos que os  conceitos  foram posicionados de  cima para 

baixo,  revelando  um movimento  em  direção  ao  conceito  final,  isto  é,  aquele  que,  no 

excerto  selecionado,  segundo  Teeteto,  definiria  o  conhecimento:  o  conceito  de 

“percepção”. 

O  esquema  a  seguir  (FIGURA  4)  foi  precedido  pela  seguinte  tarefa:  primeiro, 

entreguei aos alunos uma  lista de onze  termos com os quais  já estavam  familiarizados, 

uma vez que estes haviam aparecido ao  longo do período  letivo nas aulas de Filosofia 

Política. Os  termos  listados  foram: “bom”, “controle”, “Estado”, “legitimidade”, “leis”, 

“mau”,  “obediência”,  “poder”,  “punições”,  “regras”  e  “sujeição”.  Solicitei  aos 

estudantes  que  explicassem  cada  conceito  à  luz  da  discussão  político‐filosófica 

anteriormente praticada. Após esta etapa, orientei‐os  sobre a  construção de um mapa 

conceitual.  Expliquei  que  eles  deveriam  estabelecer  relações  conceituais  partindo  do 

conceito de “Estado”, que deveria ocupar o topo do esquema, por se tratar do conceito 

mais inclusivo e geral da lista. Além disso, salientei o cuidado na disposição dos elementos 

no mapa, para que ficasse clara a subordinação dos conceitos restantes.  

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.12 

 

X A

nped Sul

 Figura 4 ‐ Mapa conceitual utilizado como instrumento de avaliação de conceitos subordinados ao conceito de Estado na Filosofia Política 

 Neste  exemplo,  podemos  notar  um  movimento  circular,  à  medida  que  os 

conceitos de menor generalização são subordinados ao conceito de Estado, partindo dele 

e a ele retornando.  Ao final, podemos extrair as seguintes proposições:  

a) O Estado impõe leis;  b) As leis designam regras;  c) As regras nos condicionam à sujeição;  d) Se não obedecemos as regras, os resultados são punições;  e) As punições caracterizam um tipo de controle;  f) O controle pode ser bom ou mau;  g) O controle é mau se há abuso de poder;  h) O controle é bom se exercido com legitimidade;  i) Poder e legitimidade são características do Estado. 

 

O modelo a  seguir  (FIGURA 5)  foi construído de  forma conjunta com os alunos. 

Para tanto, utilizei apenas o quadro‐negro e giz. O conteúdo representado foi a Filosofia 

Política de Aristóteles e o conceito que serviu como ponto de partida foi “política”. 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.13 

 

X A

nped Sul

 

Figura  5  –  Mapa  conceitual  utilizado  como  instrumento  de  revisão  da  Filosofia  Política  de Aristóteles 

 

Neste caso, distribuí no mapa os conceitos da esquerda para a direita e de cima 

para  baixo,  como  mostram  as  setas.  Alguns  conceitos  presentes  apresentaram 

ramificações, dando origem a novas relações conceituais que, em determinados pontos, 

se  ligaram a conceitos de mesmo nível ou  superiores. Podemos observar  isso em duas 

ocasiões  específicas:  a)  nas  linhas  3  e  4,  referentes  aos  conceitos  de  “felicidade”, 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.14 

 

X A

nped Sul

“indivíduo” e “coletivo”; b) nas  linhas 7 e 8, referentes aos conceitos de “cidadão não‐

livres”,  “escravos”  e  “cidadãos  livres”.  Vejamos  as  proposições  formadas  a  partir  do 

esquema:  

a) Política é a ciência suprema que investiga a melhor forma de governo;  b) A melhor  forma  de  governo  é  aquela  que  garante  a  felicidade  tanto  do 

indivíduo quanto do coletivo;  c) O indivíduo (homem) é naturalmente um animal político e social;  d) O coletivo (sociedade) é formado por indivíduos (cidadãos);  e) O coletivo (sociedade) caracteriza o Estado;  f) O Estado divide‐se em classes;  g) As classes do Estado podem ser formadas por cidadãos livres e não‐livres;  h) Os  cidadãos  não‐livres  são  os  escravos,  que  trabalham  para  os  cidadãos 

livres;  i) Os cidadãos livres podem ser: sacerdotes, magistrados e guerreiros;  j) Os cidadãos livres são considerados virtuosos. 

 

Conclusão 

Como  forma  de  apresentação,  os  mapas  conceituais  organizam  o  tema  a  ser 

trabalhado  pelo  professor,  propiciando  ao  aluno  visualizar  na  totalidade  o  campo  da 

investigação que será realizada. Isso significa que, enquanto o aluno começa a apropriar‐

se dos  conceitos  e  elementos que  envolvem o  tema  em questão,  ele desenvolve uma 

competência  para  relacionar,  distinguir,  separar  e  selecionar  conceitos,  conforme  o 

objetivo estabelecido. 

Quando usados como estratégia de estudo, os mapas servem para guiar o foco do 

estudante durante a  leitura de um texto, exigindo dele máxima atenção para os termos 

centrais,  isto  é,  para  os  conceitos  mais  básicos  daquele  conteúdo.  Além  disso,  para 

estabelecer as ligações entre os conceitos e explicitá‐las no esquema gráfico, o estudante 

é impelido a reconstruir a linha de raciocínio adotada pelo autor do texto.  

Já  como  instrumento  de  avaliação,  os mapas  auxiliam  o  educador  na  tarefa  de 

mensurar o desenvolvimento das habilidades de seus alunos, seja no que diz respeito à 

análise  conceitual,  assim  como  no  desenvolvimento  da  argumentação  e  também  com 

relação  à  compreensão  do  conteúdo.  É  preciso  haver  coerência  nas  ligações 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.15 

 

X A

nped Sul

estabelecidas entre os conceitos de um mapa, e a coerência resulta do raciocínio  lógico, 

que está por trás da argumentação.   

Por  último,  como  instrumento  de  revisão,  o  mapa  conceitual  se  mostra  um 

excelente recurso didático tanto para professores quanto para alunos. Para o estudante 

ele fornece melhores condições de obter sucesso na demonstração de seu conhecimento 

acerca de dado conteúdo em provas e trabalhos escolares. Para o professor, é um meio 

mais rápido, prático e eficaz de retomar conteúdos vistos anteriormente junto aos alunos, 

cujo domínio é necessário para que haja avanço no estudo da disciplina.  

Como vimos, o mapa conceitual é um recurso versátil, capaz de assumir diferentes 

funções  no  âmbito  educacional.  Em  todos  os  casos  citados,  estão  envolvidas 

competências indispensáveis à promoção do pensamento crítico que, por sua vez, integra 

o quadro de  finalidades do ensino médio, conforme a  legislação do nosso país. No que 

concerne  ao  ensino  de  Filosofia  no  ensino médio,  especificamente,  o  uso  de  mapas 

conceituais se mostra não apenas em conformidade com as  leis que  regem a educação 

brasileira, mas  também  favorável  ao  exercício  da  Filosofia  como  uma  atividade  crítica 

que,  ao  constituir‐se  como  tal,  opera  por  conceitos,  enquanto  ferramentas  de 

investigação da realidade e sobre conceitos, enquanto espaço investigativo.  

 

Referências 

ARISTÓTELES. Política. Tradução de Mário da Gama Kury. 3ª edição. Brasília: Editora UNB, 1997. 317 p.  

AUSUBEL, David P; NOVAK, Joseph D; HANESIAN, Helen. Psicologia Educacional. Tradução de Eva Nick et al. 2ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Interamericana Ltda., 1978. 625 p. 

BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Tradução de Desidério Murcho et al. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. 437 p. 

BRASIL. Ministério da Educação. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2014. 

 Mapas conceituais: uma proposta para o ensino de Filosofia no ensino médio  Daiane Cristina Faust 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.16 

 

X A

nped Sul

BRASIL. Planalto. Lei 11.684, de 2 de Junho de 2008. Altera o art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007‐2010/2008/Lei/L11684.htm>. Acesso em: 16 mar. 2014. 

DEWEY, John. Como Pensamos. Tradução de Godofredo Rangel. 2ª edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1953. 274 p. 

FARIA, Wilson de. Mapas Conceituais: Aplicações ao Ensino, Currículo e Avaliação. São Paulo: EPU, 1995. 59 p.  

IHMC. CmapTools. [Software livre]. Disponível em: <http://cmap.ihmc.us/>. Acesso em 16 mar. 2014. 

MURCHO, Desidério. A Natureza da Filosofia e o seu Ensino. Lisboa: Plátano Edições Técnicas, 2002. 102 p. 

PLATÃO. Teeteto. In: ______.  Diálogos: Teeteto – Sofista – Protágoras. Tradução de 

Edson Bini. São Paulo: EDIPRO, 2007. p. 46 (145 d) – 58 (152 c). 

ROCHA, Ronai Pires da. Ensino de Filosofia e Currículo. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. 208 p. 

WILSON, John. Pensar com conceitos. Tradução de Waldéa Barcellos. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 166 p.