YNARI

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Ilustrações de Joana Lira ONDJAKI a menina das cinco tranças

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LEITURA DELEITE É ler pelo simples prazer de ler! Sem objetivos didático-pedagógicos, sem a "obrigação" de trabalhar em aula sobre o que foi lido... Quando fazê-la? Diariamente! A inserção do momento da Leitura Deleite na sala de aula permite ao aluno entender que em nossa vida lemos com várias finalidades (seguir instruções, obter uma informação precisa, revisar escrito próprio, aprender, etc.) e uma delas é a leitura só por prazer, para nos divertimos e distrairmos; Contribui para o alcance de um dos objetivos atitudinais: a formação de leitores, pois desperta o gosto pela leitura; A leitura deleite pode se tornar um entretenimento saudável que ensina, informa e forma crianças e jovens, de uma forma motivante e alegre. Estimula a imaginação e a curiosidade; Faz as crianças terem acesso a vários textos (e vários gêneros), conhecerem vários autores e estilos de escrita; À medida que a prática da leitura se sedimenta e se torna um prazer, que o leitor aprende a desfrutar, formulam-se juízos de valor sobre os significados apreendidos, sobre a validade e adequação das idéias, comparando-as com experiências e leituras anteriores. http://dialogoeducacao.blogspot.com

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Ilustrações de

Joana Lira

OndJakI

a menina das cinco tranças

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Copyright do texto © 2004 by Ondjaki e Editorial Caminho S.a., LisboaCopyright das ilustrações © 2010 by Joana Lira

Edição apoiada pela direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas/ Ministério da Cultura de Portugal

a editora optou por manter o vocabulário vigente em angola, observando as regras do acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa de 1990.

CapaHelen nakao

PreparaçãoSilvia Massimini Felix

Revisãoarlete ZebberVeridiana MaenakaLuciana Baraldi

Fotos das ilustraçõesEduardo delfi m

Tratamento de imagem

Simone R. Ponçano

2010

Todos os direitos desta edição reservados àeditora schWarcZ ltda.Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 3204532-002 — São Paulo — sp — BrasilTelefone: (11) 3707–3500Fax: (11) 3707–3501www.companhiadasletrinhas.com.br

dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

OndjakiYnari: a menina das cinco tranças / Ondjaki ; ilus-

tra ções de Joana Lira. – São Paulo : Companhia das Le trinhas, 2010.

isbn 978-85-7406-435-2

1. Literatura infantojuvenil I. Lira, Joana. II. Título.

10-04919 cdd-028.5

Índices para catálogo sistemático:1. Literatura infantil 028.52. Literatura infantojuvenil 028.5

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Para escrever uma estória como esta, eu tive que espremer um

sonho.

Ora, espremer um sonho, como se sabe, não é uma coisa muito

fácil de se fazer, por isso muitas vezes pedimos ajuda aos nossos

amigos. Por vezes, os nossos amigos não sabem que nos estão a ajudar,

mas a verdade é esta: uma frase dita tem muita força, um abraço tem

muito encanto, um olhar tem (pelo menos) mil gotas de sonho...

Não posso deixar de agradecer, aqui, a algumas crianças adultas

que de vez em quando me emprestam gotas dos sonhos deles: Vergílio

A. Vieira, Dada, Dario de Melo, Jacques dos Santos, Danuta e todas as

vozes, deste e do outro mundo, que estão sempre comigo quando

escrevo.

Ondjaki

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Para todas as crianças angolanas

e para as crianças de todo o mundo

e para ti, Angola

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Era uma vez uma menina que tinha cinco tranças lindas e se chama-

va Ynari. Ela gostava muito de passear perto da sua aldeia, ver o campo,

ouvir os passarinhos e sentar-se junto à margem do rio.

Certa tarde, já o sol se punha, Ynari ouviu um barulho. Não eram os

peixes que saltavam na água, não era o cágado que às vezes lhe fazia com-

panhia, nem era um passarinho verde. Do capim alto saiu um homem

muito pequenino com um sorriso muito grande. E, embora ele não fosse

do tamanho dos homens da aldeia de Ynari, ela não se assustou.

O homem muito pequenino andava devagarinho e devagarinho se

aproximou.

— Olá! — cumprimentou.

— Olá — respondeu Ynari, receando que estivesse a falar alto de-

mais para o tamanho do ouvido do homem muito pequenino. — Des-

culpa, mas não sei o teu nome…

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— Eu também não sei o meu nome… — desculpou-se o homem

muito pequenino. — Mas chamam-me homem pequenino.

— Ah, está bem... — sorriu Ynari, enquanto se deitava na relva pa-

ra ficar mais perto dele. — Eu tenho um nome só, quer dizer, uma só

palavra: chamo-me Ynari.

— Ynari é um nome muito bonito — o homem pequenino sentou-

-se, ficando, assim, ainda menor.

— Posso fazer uma pergunta, homem muito pequenino?

— Podes fazer muitas perguntas.

— De onde vens?

— Venho da minha aldeia, que fica mais para cima, junto à nascen-

te do rio.

— E lá, na tua aldeia, são todos pequeninos?

— Sim, somos todos menores que vocês, quer dizer, depende da-

quilo que entendemos por “pequeno”. Não achas?

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— Nunca tinha pensado nisso. Sempre pensei

que uma coisa menor fosse uma coisa pequena…

— Pode não ser assim… Conheces a palavra “coração”?— Conheço! — sorriu Ynari. — E não é só uma palavra, é isto que

bate dentro de nós — e mostrou no seu peito onde o coração batia.

— Claro, e… O coração é pequeno para ti?

— É… e não é! Cabe tanta coisa lá dentro, o amor, os nossos ami-

gos, a nossa família…

— Vês? — disse o homem menor que ela. — Às vezes uma coisa pe-

quenina pode ser tão grande…

Os dois ficaram por um tempo calados, olhando o sol que, do ou-

tro lado do rio, quase já tinha desaparecido. Assim, tão amarelada que

estava a tarde, parecia que o sol se ia afogar no rio e que os peixes, sal-

tando, se queimavam nos seus raios avermelhados.

Estiveram algum tempo assim, até que Ynari começou a brincar com

as suas tranças: eram cinco tranças lindas, negras, compridas.

A menina tinha olhos enormes que brilhavam muito e lábios carnu-

dos muito bonitos.

— E tu, de onde vens? — perguntou o homem menor que Ynari.

— Eu venho daquela aldeia ali — apontou a menina na direção das

cuba tas. — Vivo ali com a minha mãe, o meu pai, a minha avó e o meu

po vo.

— E quem te faz as tranças?