8/14/2019 Zoonoses e Doenas emergentes transmitidas por animais silvestres

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Zoonoses e Doenas Emergentes

Transmitidas por Animais Silvestres

Prof. Dr. Jean Carlos Ramos Silva

No Brasil evidenciamos majestosos ecossistemas com gigantescabiodiversidade florstica e faunstica. Lamentavelmente, a destruio dessesecossistemas ainda continua em larga escala, cuja ao degradante do homem natureza, pode advir em conseqncias desastrosas vida na Terra. Oavano da agricultura e da pecuria prximo s reas naturais proporcionouum contato entre as populaes humanas e de seus animais domsticos comas populaes de animais silvestres nos seus habitats.

Este estreito contato facilitou a disseminao de agentes infecciosos e

parasitrios para novos hospedeiros e ambientes, estabelecendo-se assimnovas relaes entre hospedeiros e parasitas, e novos os nichos ecolgicos nacadeia de transmisso das doenas (CORRA e PASSOS, 2001). Comoconseqncias dessas interaes negativas podem ocorrer zoonoses comexpanso epidmica de animais suscetveis e o aumento da sua disseminaogeogrfica (BARLETT e JUDGE, 1997). A prpria definio de zoonoses comodoenas ou infeces que se transmitem naturalmente, entre os animaisvertebrados e o homem, ou vice-versa j denota a possvel a importanteparticipao dos animais silvestres na manuteno destas doenas nanatureza.

Alm disso, doenas que no eram conhecidas ou que j no possuamimportncia epidemiolgica, contudo apareceram em surtos ou epidemiasnuma populao e regio, podem ser denominadas como emergentes. Dessamaneira, o estudo da epidemiologia dessas doenas torna-se vital para omelhor conhecimento dos focos naturais das zoonoses, estabelecendo-seassim, os fatores de risco existentes em determinados ecossistemas, acirculao de agentes entre os animais silvestres, e a importncia doconhecimento das doenas nestes animais subsidiando as aes dos serviosde Sade Pblica Veterinria. Na verdade, estes estudos e pesquisas norepresentam tarefas fceis. O Dr. Abdussalam, chefe dos servios veterinriosda Organizao Mundial da Sade (OMS) afirmou que a escassez dainformao sobre a ecoepidemiologia dos animais selvagens, um dos fatores

que provocam dvidas e falhas quando se procura sua utilizao no estudo econtrole de zoonoses. Neste contexto, os mdicos veterinrios, bilogos,zootecnistas, agrnomos, socilogos e demais profissionais, possuem umaimportante funo no manejo da vida silvestre e na medicina da conservao.

Os animais silvestres da fauna brasileira esto localizados na natureza (vidasilvestre) ou no cativeiro vivendo em parques zoolgicos (zos), criadourosconservacionistas, cientficos ou comerciais, institutos de pesquisa, centros detriagem e reabilitao, ou em residncias de muncipes (criados ilegalmente

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como animais de estimao). Os animais silvestres, tanto em vida silvestrecomo em cativeiro, podem ser reservatrios e portadores de zoonoses. ACHAe SZYFRES (1986) descreveram estes fatores abaixo como os principaiscondicionantes para difuso dos fatores de risco existentes nos focos naturais,com possibilidades de estabelecer processos zoonticos:

a) introduo de animais domsticos e/ou homem em um foco natural;b) translocao de um hospedeiro infectado a um novo bitipo, donde existamhospedeiros suscetveis;c) modificao da dinmica dos hospedeiros ou alterao do equilbrioecolgico;d) falta de alimento, o que obriga os animais reservatrios a translocar-se aoutras biocenoses;e) interveno do homem na modificao dos ecossistemas;f) mutaes positivas no processo epidmico do agente etiolgico, facilitandosua disseminao;g) interveno das aves migratrias e dos vetores.

Com relao ao ambiente em cativeiro, apesar dos esforos dos profissionaisna manuteno de um rigoroso manejo sanitrio, o ambiente de zoolgicocontinua sendo propcio disseminao de uma gama de doenas, muitasdelas zoonticas (SEDGWICK et al., 1975; MONTALI e MIGAKI, 1980;SIEMERING, 1986; FOWLER, 1993; SILVA et al., 2001). Isto tambm pode seraplicado aos outros estabelecimentos que possuem animais silvestres. Vale apena salientar que estes animais em quase totalidade mascaram os sinaisclnicos, mesmo estando infectados com agentes etiolgicos, constituindo-seimportantes fontes de infeco para os animais domsticos, homens ou vice-versa (ACHA e SZYFRES, 1986; FOWLER, 1986; CUBAS, 1996).

Em nosso pas, mesmo sendo proibido por lei, existe um aumento do nmerode pessoas que esto criando em suas casas rpteis, aves e mamferossilvestres, principalmente em grandes centros urbanos. Atualmente, bastantecomum estes animais silvestres e exticos serem encaminhados s clnicasveterinrias, zos, centros de triagem, expondo os profissionais e tratadores aum possvel risco de contrair zoonoses (CORRA e PASSOS, 2001).

Com o intuito de proporcionar um melhor entendimento sobre a temtica, oQuadro 1 mostra as principais zoonoses e doenas emergentes parasitrias einfecciosas que podem ser transmitidas pelos animais silvestres. Por fim,diversas aes poderiam ser implementadas por rgos competentes nas

esferas municipais, estaduais e federal, juntamente com ONGs, universidades,entre outras, visando o controle de zoonoses. Apresentamos algumaspropostas abaixo:

Programa de Controle de Zoonoses em Populaes de Animais Silvestres

- Planejar, coordenar, executar e avaliar as aes de controle e diagnstico;- Estudar a dinmica das populaes animais silvestres de interesse em sadepblica e animal;

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- Realizar o atendimento populao com relao ao controle das zoonoses;- Promover controle e a vigilncia entomolgica;- Realizar diagnsticos laboratoriais;- Divulgar resultados s entidades competentes;- Desenvolver programas em parceria com universidades, institutos depesquisas e com as instituies que possuem animais silvestres em seu

plantel;- Realizar a notificao de focos principalmente para as doenas (zoonoses) denotificao compulsria.

Neste enfoque, finalizamos este artigo sem a pretenso de esgotar o assunto,mas apresentar alguns elementos concernentes a importante temtica daszoonoses e doenas emergentes transmitidas por animais silvestres.

Referncias

ACHA,P.N.; SZYFRES,B. Zoonosis y enfermidades transmisibles comunesal hombre y animales. 2.ed. Washington: Organization Panamericana de la

Salud, 1986 (Publicacin Cientfica 503).

BARLETT, P.C.; JUDGE, L.J. The role of epidemiology in public health. OfficeInternational des Epizooties Scientific and Technical Review, v. 16, n. 2, p.331-336, 1997.

CORRA, S.H.R.; PASSOS, E.C. Wild animals and public health. In: FOWLER,M.E.; CUBAS, Z.S. Biology, medicine, and surgery of South American wildanimals. Ames: Iowa University Press, p. 493-499, 2001.

CUBAS, Z.S. Special challenges of maintaining wild animals in captivity inSouth America. Office International des Epizooties Scientific and TechnicalReview, v. 15, n. 1, p. 267-287, 1996.

DUBEY, J. P.; BEATTIE, C. P. Toxoplasmosis of animals and man. BocaRaton: CRC, 1988. 220 p.

FOWLER, M. E. (Ed.). Zoo and wild animal medicine. 2. ed. Philadelphia:W.B. Saunders, 1986.

FOWLER, M. E. (Ed.). Zoo & wild animal medicine. 3.ed. Philadelphia:W.B.Saunders, 1993. 617p.

HIRSH, D.C.; ZEE, Y.C. Microbiologia veterinria. Rio de Janeiro: GuanabaraKoogan, 2003. 446p.

MONTALI, R. J.; MIGAKI, G. The comparative pathology of zoo animals.Washington: Smithsonian Institution, 1980. 684 p.

REY, L. Parasitologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.

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SEDGWICK, C. J.; ROBINSON, P. T.; LOCHNER, F. K. Zoonoses: a zoosconcern. Journal American Veterinary Medical Association, v. 167, n. 9, p.828-829, 1975.

SIEMERING, H. Zoonoses. In: FOWLER, M.E. (Ed.). Zoo & wild animalmedicine. 2. ed. Philadelphia: W.B. Saunders, p. 63-68, 1986.

SILVA, J.C.R; OGASSAWARA, S.; ADANIA, C.H.; FERREIRA, F.; GENNARI,S.M.; DUBEY, J.P.; FERREIRA NETO, J.S. Seroprevalence of Toxoplasmagondii in captive neotropical felids from Brazil. Veterinary Parasitology, v. 102,p. 217-224, 2001

Fonte: Associao Brasileira de Veterinrios de Animais Selvagens/ABRAVAS www.abravas.org.br

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Quadro 1 - Principais zoonoses e doenas emergentes transmitidas poranimais silvestres

Zoonoses eDoenas

Parasitrias

AgenteEtiolgico

PrincipaisFontes deInfeco e

Reservatrios

Vias de Transmisso

AmebioseEntamoebahistolytica

Mamferos

Ingesto de gua ealimentoscontaminados comcistos

Complexohidatidose-equinococose

Equinococcusgranulosus

Raposas e

cervdeos (ciclo

silvestre)

Ingesto de vscerascontaminadas comcistos hidticos

CriptosporidioseCryptosporidiumspp

Mamferos

Ingesto de gua ealimentoscontaminados com

oocistos

Dirofilariose Dirofilaria immitisCandeos e

prociondeos

Atravs do repastosangneo (inoculaode microfilrias) pelosvetores biolgicos -mosquitos (Culex,Aedes, Anopheles,etc.)

Doena deChagasTrypanosomacruzi

Mais de 200espcies de

mamferosprincipalmente ogamb Didelphissp

Contato com as fezesdos vetores biolgicos(hempteros)

principalmente dosgneros Triatoma,Panstrongylus eRhodnius contendotripomastigotas

Fasciolose Fasciola hepatica Herbvoros

Ingesto de gua evegetaocontaminada commetacercriasencistadas

Giardase Giardiaintestinalis Carnvoros

Ingesto de gua e

alimentoscontaminados comcistos

Larva migranscutnea

Ancylostomabraziliensis

CandeosSolo contaminado comovos do parasita eatravs da pele (larvas)

Larva migransvisceral

Toxocara canis CandeosFecal-oral (solocontaminado com ovos

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do parasita)

Leishmaniosetegumentar

Leishmaniabraziliensis

Roedores(principais),preguia,tamandu,candeos,eqdeos

Vetores biolgicosflebotomneosLutzomyia spp(mosquito-palha)

Leishmaniosevisceral

Leishmaniachagasi

Candeos

principaisreservatrios

Vetores biolgicosflebotomneosLutzomyia spp(mosquito-palha)

Sarcocistose Sarcocystis spp

Carnvoros(predadores) eherbvoros(presas)

Ingesto de oocistosno meio ambiente ecarnivorismo (ingestode sarcocistos)

ToxoplasmoseToxoplasmagondii

Feldeos eanimaisendotrmicos

Ingesto de oocistosesporulados na gua ealimentoscontaminados,carnivorismo (cistosteciduais-bradizotas)ou transplacentria(taquizotas)

Zoonoses e

doenas

infecciosas

AgenteEtiolgico

PrincipaisFontes deInfeco eReservatrios

Vias de Transmisso

Aspergilose Aspergillus flavus Aves

Atravs da ingesto

das condias no solocontaminado

BruceloseBrucella abortusB. suis, B. ovis eB. canis

Ungulados ecarnvoros

Ingesto de pastoscontaminados combruclas atravs defetos abortados,placenta e lquidosuterinos. Exposio pormeio das mucosasgenital e conjuntival, dapele e das vias

respiratrias

Campilobacteriose Campilobacter spAnimais e seussubprodutos

Via fecal-oral, direta ouindireta. Atravs daingesto de produtosde origem animalcontaminados comfezes infectadas.

Clamidiose Chlamydophyla Psitacdeos e Inalao de aerossis

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psittaci columbiformes(principais)

em ambientescontaminados ou pelavia digestiva (alimentoscontaminados,coprofagia ecanibalismo)

Febre maculosaRickettsia

rickettsii

Capivaras.

Principalreservatriosuspeito

Atravs de picadas decarrapatos,possivelmente dogneroAmblyommaspp

HistoplasmoseHistoplasma

capsulatumMorcegos e aves

Atravs da inalao dos

esporos dos fungos em

ambientes fechados,

cavernas principalmente

LeptospiroseLeptospirainterrogans.Diversossorovares

Roedores ecarnvoros

Por meio de contatode mucosas ou pele

com gua, fmites oualimentoscontaminados comurina dos animais(fontes de infeco)

Raiva LyssavirusMorcegos ecarnvoros

Atravs da mordedurade animais raivosos

Salmonelose Salmonella sppRpteis, aves emamferos

Atravs da ingestode salmonelas viveis

TuberculoseMycobacteriumtuberculosis e M.bovis

Mamferos:Herbvoros,carnvoros eprimatas

Atravs da inalao de

esporos no meioambiente,principalmentefechado.

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