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Zézé estava deitado na relva a espreitar uma abelha, pousada num malmequer amarelo – Que gira! Tão riscadinha! E está toda coberta de pó amarelo! – Zézé, vem lanchar! Chamava a sua mãe. Pão com mel e leitinho quente sabiam tão bem ao fim da tarde, depois de um dia de corridas e aventuras. Sentado junto à janela, Zézé saboreava e brincava com a colher dentro do frasco do mel. De onde viria o mel? A mãe tinha-lhe dito que fora o vizinho, o Major Pimentel, que lho tinha oferecido e que era produzido pelas abelhas das suas colmeias. Como seriam as colmeias? Fervilhava-lhe a imaginação e a curiosidade, mas ir falar com o Major Pimentel! Aquele homem carrancudo e antipático! Zézé morava ali à pouco tempo, antes vivia numa grande cidade e mal via árvores, quanto mais animais! Agora não, havia tanto para ver, tantos bichos, tantas árvores! E tantas férias, porque naquele dia, naquela mesma tarde tinham começado as férias grandes! 1

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Zézé estava deitado na relva a espreitar uma abelha, pousada nummalmequer amarelo – Que gira! Tão riscadinha! E está toda coberta de póamarelo!

– Zézé, vem lanchar! Chamava a sua mãe.

Pão com mel e leitinho quente sabiam tão bem ao fim da tarde, depois deum dia de corridas e aventuras.

Sentado junto à janela, Zézé saboreava e brincava com a colher dentro dofrasco do mel. De onde viria o mel? A mãe tinha-lhe dito que fora o vizinho,o Major Pimentel, que lho tinha oferecido e que era produzido pelasabelhas das suas colmeias. Como seriam as colmeias? Fervilhava-lhe aimaginação e a curiosidade, mas ir falar com o Major Pimentel! Aquelehomem carrancudo e antipático!

Zézé morava ali à pouco tempo, antes vivia numa grande cidade e mal viaárvores, quanto mais animais! Agora não, havia tanto para ver, tantosbichos, tantas árvores! E tantas férias, porque naquele dia, naquela mesmatarde tinham começado as férias grandes!

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No dia seguinte, o dia acordou com uma manhã radiosa, de sol intenso emilhares de flores a brilharem de cor pelo campo fora. O menino José“espreitador” de abelhas, saiu de casa montado na sua bicicleta com aintenção de dar um belo passeio. Vou visitar a minha avó Matilde, pensou ele.

Pelo caminho, ia parando sempre que via alguma coisa interessante, mas oque o fascinava eram as abelhas pousadas nas flores. Como zumbiam!

Estava ele, de cara rente ao chão concentrado nas suas observaçõesquando de repente mesmo à frente dos seus olhos surgiu um par desapatos dourados e bicudos, como os dos duendes das histórias quecostumava ler. Pôs-se de pé rapidamente e viu que o dono dos sapatos eraa D. Laurinha, a vizinha da avó Matilde.

– Bom dia Zézé! Que estás a fazer deitado na relva?

– Olá D. Laurinha, estava a ver as abelhas

– As abelhas?

– Sim! Elas brincam com as flores e a minha mãe disse que também produzem o mel.

– O mel?

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– A senhora sabe o que é o mel?

– O mel... “O mel caiu do céu, principalmente durante o nascimento dasestrelas e quando o arco-íris descansava sobre a Terra”, disse Aristóteles.

E depois de dizer isto, afastou-se pelo campo fora a cantarolar.

A D. Laurinha era uma senhora simpática mas um bocado esquisita. Liapoesia às plantas da sua varanda e vestia-se de forma extravagante.

Zézé almoçou com a avó e voltou para casa. À tarde, enquanto brincava nojardim da sua casa, viu o Major Pimentel sair de casa vestido de branco comum chapéu esquisito, redondo, com uma rede que nem se lhe via a cara.Outro vizinho maluco? Resolveu por isso segui-lo. O Major foi pelo campofora até um pequeno monte e desapareceu.

Onde é que ele se teria metido? De repente, do outro lado do monte láestava o Major a olhar para um grupo de caixas de madeira colocadas emcima de umas vigas de cimento. Entretanto, começou a ver fumo branco asair de um objecto que ele tinha na mão e que ia introduzindo nas colmeias.Mas nisto...

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– Ai! Ai! Ai!

O Zézé tinha sido picado por uma abelha e sacudia freneticamente as mãosà volta da cabeça, sem se aperceber que o Major tinha dado pela suapresença e já estava ao pé dele.

– Que estás tu aqui a fazer rapaz? E pára de te sacudir que irritas mais asabelhas!

Zézé ficou sem palavras e muito envergonhado. Para além disso doía-lhe onariz da picada.

– Não coces o nariz! Espera aí que já te tiro o ferrão da abelha.

O Major tirou-lhe o ferrão com todo o cuidado e a seguir aplicou-lhe umapomada antialérgica.

– Sabes, as abelhas são muito interessantes e úteis, mas temos que tercuidado pois podemos ser picados e o veneno pode provocar alergiasgraves, sobretudo a algumas pessoas sensíveis a essa substância.

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Zézé ouvia-o com muita atenção e começou a achar que o Major não eraassim tão antipático.

– Eu gosto muito de ver as abelhas pousadas nas flores! Não sabia que elaspicavam! E elas também produzem o mel, não é? Gostava de as ver nassuas colmeias!

– Calma! Tudo a seu tempo!

– Mas conte-me mais coisas sobre as abelhas...

– Hoje não! Amanhã à tarde, às quatro horas em ponto estás em minhacasa e peço-te o favor de comunicares o facto aos teus pais e de não teatrasares.

Que feitio! Pensava Zézé, mas a vontade era tanta de conhecer tudo sobreas abelhas e o mel que isso já não tinha importância.

Naquela noite sonhou com um rio de mel dourado e acordou muito cedo,ansiando pela hora da visita a casa do Major.

Às quatro menos cinco, Zézé estava parado no portão da casaem frente e olhava atentamente para o relógio, às quatro horas

em ponto tocou a campainha. Quando o Major lhe abriu aporta tinha um sorriso rasgado no rosto e o ar mais

simpático do mundo.

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– Olá Zézé! Então sempre vieste! Vejo que o teu interesse é grande e a tuacuriosidade genuína.

Foram até ao jardim do Major e sentaram-se debaixo da sombra generosade um castanheiro. Em cima da mesa estava uma jarra de vidro com umlíquido dourado com rodelas de limão a boiarem que o major serviu emdois grandes copos.

– Bebe, é àgua fresca com mel e limão.

Que refresco tão delicioso! Mas o que interessava eram as histórias que oMajor tinha para contar.

– Pois então... menino José “espreitador de abelhas”, essas nossas amigasnão são uns insectos tão simples como tu pensas! Esses bichinhos quetêm a barriga riscadinha de preto e amarelo vivem numa sociedade muitoorganizada, tão organizada como um exército.

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Nessa sociedade vivem três castas: as obreiras que são quem realmentetrabalha, os zangãos que são os machos e a rainha, abelha mestra ouabelha mãe que põe os ovos de onde nascem todas as abelhas, por isso éque lhe chamamos abelha mãe.

A colónia, ou seja o conjunto das obreiras, os zangãos e a rainha vivemnuma casa a que chamamos colmeia e que é feita de madeira mas tambémpodem viver num tronco de uma árvore, numa gruta ou outro local.

Dentro da colmeia as abelhas constroem os favos que são placas de ceracom muitos buraquinhos em forma de hexágono, onde armazenam osprodutos que recolhem no campo e também onde a rainha põe os ovos.

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– Elas recolhem o mel nas flores?

– Não directamente! Quando chega a Primavera, aparecem também muitasflores, como tu sabes. Nessa altura as obreiras ou seja as abelhas“trabalhadoras” saem da colmeia e começam a visitar as flores pararecolherem o néctar. Esta substância é um líquido açucarado que elaslambem e guardam num depósito que existe dentro do seu corpo chamadobolsa melária. Ao chegarem à colmeia entregam-no às suas companheirasque trabalham dentro da colmeia para estas armazenarem no favo.

Mas o mel não é só composto por néctar! Contém também substânciassegregadas pelas abelhas, água e pólen.

– Então as abelhas também colhem pólen?

– O pólen depois de colhido e trabalhado por elas é armazenado para elascomerem e darem também às larvas... As abelhas bebés.

– Por isso é que elas ficam todas cobertas de pó amarelo... E elas nãocomem mel?

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– Comem, claro! Por isso é que elas trabalham tanto e guardam tantaquantidade, porque durante o Verão e o Inverno já não há tantas flores.

– Então o Senhor Major não devia lá ir buscar o mel... Elas trabalham tanto!

– Não te preocupes! A colmeia é como se fosse uma casa arrendada: eudou a casa e elas em troca pagam o aluguer em mel e ainda ficam commuito para comer no Inverno. Eu sou um apicultor justo!

– E hoje já foi buscar mel?

– Não, ainda não é a altura certa, só lá para o fim de Julho porque estamosnesta região, se estivéssemos numa zona mais quente colhíamos o melmais cedo porque as flores também aparecem mais cedo, estás aperceber?

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– Sim! E quando for a altura de ir buscar o mel leva o frasco para encher?

– Não, primeiro tens que perceber e ver como é composta uma colmeia.Vamos ao meu armazém de material.

Zézé seguiu atentamente o Major até uma construção rústica que ficavaatrás da casa grande. Quando entrou viu uma sala grande toda forrada aazulejos brancos que parecia mais uma cozinha, ao longo das paredeserguiam-se estantes que estavam cheias de frascos de mel muito alinhados.Noutra sala estavam guardadas pilhas de caixas de madeira e muitas outrascoisas, foi aqui que o Major parou. Abeirou-se daquilo que lhe pareceu serum caixote de madeira, partido ao meio, com uma tampa forrada a zinco.

– Estás a ver, isto é uma colmeia! Tem um estrado que é o fundo, em cimadeste estrado assenta esta caixa grande que é o ninho, cá dentro estãoestas peças rectangulares que são os quadros e em cima do ninhoassenta a alça e por fim a tampa ou telhado.

No ninho é onde vive a rainha. Chama-se ninho, pois é aqui que ela põe osovos, também onde a maior parte das abelhas nascem e aprendem atrabalhar. As obreiras começam primeiro por aprender os trabalhos de casacomo limpar, alimentar as larvas, etc. e só depois é que vão para o campo.

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– E o que são esses caixilhos com arames e papel amarelo dentro do ninhoe da alça?

– São os quadros e isto não é papel amarelo, é cera moldada. As abelhassegregam cera para construir o favo, mas nós anualmente damos umaajudinha retirando a cera dos favos que elas fizeram, derretemos emoldamos numa máquina que tem a configuração do favo natural, assimquando chega a altura de recolherem néctar já não têm que perder tantotempo com isso e produzem mais mel.

– Bem, então também ajudamos as abelhas!

– Continuando... A alça é o armazém do mel da colmeiae a colmeia pode ter várias alças.

Ora bem, para colher o mel, primeiro devemo-nosequipar muito bem com um fato e máscara própriospara a apicultura, depois devemos acender ofumigador com ervas aromáticas que deita um fumobranco perfumado e então depois de fumigar umbocadinho, abrimos a colmeia, vamos à alça eretiramos as abelhas com cuidado dos quadrosque têm mel, isto é quando o favo está cobertocom uma película branca e levamos só estesquadros com mel para casa, porque os outrosficam para as abelhas comerem.

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Para retirar o mel do favo, cortamos com uma faca a tal película branca, deum lado e do outro, a seguir colocamo-los dentro de uma máquina que sechama extractor que obriga o mel a sair através de centrifugação, depoispassa para outro recipiente onde fica a descansar ou seja a decantar ummês e por fim abre-se a torneira do fundo da tina e enchem-se os frascos.

– Tanto trabalho que dá o mel! Mas é tão bom...

Zézé estava tão fascinado com a história do Major Pimentel que nemreparou que este se tinha ausentado para a tal espécie de cozinha ondeestava a mexer numa grande arca de madeira. Estendendo-lhe um embrulhode papel castanho disse:

– Toma lá rapaz, espero que agora deixes de ser um “espreitador deabelhas” e passes a ser um aprendiz de apicultor!

Zézé abriu o embrulho que continha um fato-de-macaco, um casaco-máscara e umas luvas, tudo branco e novinho em folha. Saltou para opescoço do Major e agradeceu-lhe com um grande abraço, fazendo brilharmais do que a conta os olhos daquele militar carrancudo e antipático.

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