André Cartell
DEZ LAUDOS QUE EU RECEBI
E NÃO SEI O QUE FAZER!
André Cartell
A POSSE DE UM MICROSCÓPIO NÃO CONCEDE PODERES DIAGNÓSTICOS AO
PORTADOR.
André Cartell
Dez laudos que eu não gostaria de receber, mas recebi. O que fazer agora
1. dermatite crônica inespecífica
2. infiltrado linfoide atípico
3. nevo de Spitz atípico, STUMP, AST, MELTUMP...
4. inflamação crônica granulomatosa
5. inflamação crônica ulcerada
6. inflamação crônica discreta com fibrose
7. discromia pós-inflamatória
8. dermatite psoriasiforme crônica
9. foliculite crônica discreta
10.material insuficiente para o diagnóstico
André Cartell
André Cartell
1- dermatite crônica inespecífica
HISTOLOGIAdermatite perivascular crônica superficial de
pequena intensidadegeralmente sem alterações epidérmicaspode parecer pele normal
CRÍTICAquem determina se um processo é inespecífico ou
não é o dermatologista ou cirurgião, frente aos comemorativos clínicos numa determinada situação
biópsia tem custo emocional
André Cartell
André Cartell
1- dermatite crônica inespecífica
REVERdiscrepância clínico-patológica (HD)pesquisa de fungos – infecções fúngicas
superficiais podem apresentar pouca repercussão histopatológica
tipo celular – mastócitos e Giemsa (TMEP)presença de mucina – PAS+AB, ferro coloidal
CONCLUSÃOa clínica AINDA é soberanacontato telefônico, examinar o paciente, tempo &
paciência especialmente na suspeita de MFAndré Cartell
André Cartell
1- dermatite crônica inespecíficaDOENÇAS FANTASMAS vitiligo, discromias pós-inflamatórias (EDP), nevo acrômico esclerodermia, atrofoderma eritemas figurados, exantema viral mancha café au lait, nevo de Becker amiloidose cutânea macular, notalgia parestética anetodermia nevo conjuntivo MHI, dermatófitos (especialmente a pitiríase versicolor), sífilis GVHD ictiose, hiperceratose palmo-plantar mucinoses, mixedema, escleromixedema, granuloma anular intersticial parapsoríase (MF,PAV), poiquilodermias urticária, livedo reticular, eritromelalgia, Raynaud, fase final das
vasculites neutrofílicas, Behçet mastocitose do adulto líquen simples crônico – quando não se tem topografia exata
André Cartell
André Cartell
http://anatpat.unicamp.br/laminfl17.html
André Cartell
André Cartell
O quadro histopatológico é, portanto, o de uma dermatite crônica inespecífica. A pesquisa de bacilos de Hansen (bacilos álcool-ácido resistentes ou BAAR) pela técnica de Ziehl-Neelsen resultaria negativa. Clinicamente a lesão teria o aspecto de uma mácula hipocrômica e hipoestésica.
http://anatpat.unicamp.br/laminfl17.html
André Cartell
http://anatpat.unicamp.br/laminfl17.html
A cada hora são diagnosticados cerca de 60 novos casos de hanseníase no mundo, sendo 11 em crianças!
hanseníase indeterminada
André Cartell
2- infiltrado linfoide atípicoHISTOLOGIAinfiltrado mononuclear contendo linfócitos de
aspecto não usualpode acometer epiderma e hipodermapode ser superficial, superficial e profundo ou
somente profundopode apresentar centro germinativo
CRÍTICAprocessos inflamatórios podem ser atípicos –
mononucleose, farmacodermia e PLEVA (LyP)linfomas podem ser brandos (MF, LBCF)
André Cartell
André Cartell
REVERcomemorativos clínicospadrão celular, arquitetura, disposição,
epidermotropismo, alterações associadasimunofenotipagemcontextualização
CONCLUSÃOdiagnóstico cooperativo e freqüentemente
multidisciplinarcontato telefônico, re-examinar o paciente e muita
paciência
2- infiltrado linfoide atípico
André Cartell
André Cartell
Estabelecer um diagnóstico de linfoma cutâneo é
complicado, difícil ou ambos. Maxwell Fung, 2002
André Cartell
linfomas cutâneosPROBLEMAS BÁSICOSlinguagem conflitiva – pathobabel → epônimos,
acrônimos, sinônimos e abreviações
dermatologista X cirurgião X oncologista X hematologista X patologista X paciente
problema da biópsia idealcrush artefactproblemas na avaliação imuno-histoquímicararidade de algumas apresentaçõesproblemas na classificação
– LyP é linfoma?André Cartell
André Cartell
linfomas cutâneosPROBLEMAS BÁSICOSnenhuma avaliação é perfeita, especialmente se
vista isoladamente
razões para insucessoimpossibilidade em excluir linfoma cutâneoevolução arrastada no caso da micose fungoidedificuldade em diferenciar linfoma de baixo grau
de infiltrado linfocitário reacional (pseudolinfomas)
falta de experiência pela raridade de algumas apresentações
André Cartell
André Cartell
linfomas cutâneosAVALIAÇÃO BÁSICAhistória e exame físico – idade, procedência
(HTLV-1), uso de imunossupressores e anticonvulsivantes
topografia, número e disposição das lesões– regra da linha da cintura
hemograma (células de Sézary), EQU, PFH, proteinograma, calcemia
sorologia: HIV, HTLV-1, EBV, VDRL e FTA-ABS, borrelia
imunofenotipagem– T, B e doença de Hodgkin
André Cartell
André Cartell
André Cartell
André Cartell
3- nevo de Spitz atípicoHISTOLOGIAnevo de Spitz que não preenche os critérios de
benignidade – assimetria, ulceração, índice mitótico, tamanho, extensão ao hipoderma, paciente acima de 40 anos, fotodano crônico
CRÍTICAnevos de Spitz são freqüentemente atípicoscontextualizar cada caso – a idade do paciente é
um aspecto fundamental no diagnóstico e no manejo terapêutico
shaving com ressecção parcial é a principal causa de erro diagnóstico na patologia
André Cartell
André Cartell
REVERcomemorativos clínicos – idade, dermatoscopia,
alterações recentesprocesso inflamatório, regressão (consumo
epidérmico), disseminação pagetoide, fotodano crônico, cluster mitosis – regra dos “ous”
Ipx: HMB45, bcl-2, ki67, ciclina D, CD99
CONCLUSÃOestabelecer critérios histopatológicos para cada
caso em particularinteressa menos o nome da lesão e muito mais o
que fazer com o paciente
3- nevo de Spitz atípico
André Cartell
André Cartell
André CartellAndré Cartell
André Cartell
aspectos clássicos, estereotípicosdiâmetro lateral menor que 6,0 milímetros cor avermelhada, rósea ou marrom-avermelhada –
diagnóstico diferencial com hemangioma ou granuloma piogênico
sem pêloscrescimento rápido por alguns meses (6) e após
permanece estável – diagnóstico diferencial com melanoma – lento, gradual e contínuo
face – bochechas, cabeça e pescoço; MMII (♀)sem preferência por gênerosem ulceração, sem halo freqüência 1,4/100.000 (MM=25,4), Spitz 5:100
melanoma, 1% dos tumores em dermatopatologia
3- nevo de Spitz atípico
André Cartell
André Cartell
IDADEmelanomas spitzoides são raros abaixo dos 20
anosapós os 50 anos a possibilidade de nevo de Spitz
deve ser analisada criteriosamente → histologia clássica sem mitoses no ⅓ inferior e sem disseminação pagetoide na ombreira com predomínio de células fusiformes – se epitelioide puro no derma pensar em melanoma
Spitz em área intensamente fotodanificada ↓↓↓numa série de 202 nevos de Spitz, apenas 4
ocorreram após os 50 anos e um após os 70 anos – →relutância diagnóstica(?)
em pacientes acima de 50 anos as lesões devem ser clássicas e estáveis por longos períodos
3- nevo de Spitz atípico
André Cartell
QUADRO CLÍNICOnevo de Spitz clássico apresenta
características clínicas inocentes por mais horrível que seja a histologia – essa informação clínica é fundamental ao patologista
somente 10% dos Spitz são maiores que 1,0 cm
ulceração espontânea é rara (consumação)Spitz tem crescimento inicial rápido (cerca
de seis meses) e estabiliza
3- nevo de Spitz atípico
André Cartell
André Cartell
3- nevo de Spitz atípico
PROFUNDIDADE DA LESÃO nevos de Spitz raramente atingem o
hipoderma a maioria dos melanoma spitzoides fatais
(Walsh, Human Pathology, 1998) era mais espessa que 2,0 milímetros – só 2 dentre 11 casos eram mais finos, apesar que um acometia quase todo o derma reticular → menor potencial metastático (?)
André Cartell
André Cartell
Spitz atípico – resumoa distinção nem sempre é possívelsimetria: bilateral, faixas horizontais, ninhosbordas laterais bem demarcadasausência de mitoses no terço basalidade do paciente e características clínicas
de benignidade – acima dos 40 anos, apresentação clássica; abaixo, regra dos “ous”
hiperplasia epitelial, corpos de Kaminoestudos criteriosos de cada caso
André Cartell
André Cartell
André Cartell
André Cartell
4- inflamação crônica granulomatosa
HISTOLOGIAgranulomas – derma e/ou hipoderma
CRÍTICAgranulomas devem ser subtipificados – com ou
sem necrose, supurativos, necrobióticos, xantogranulomas, tipo corpo estranho, etc
salientar aspectos relevantes – periferia de nervo (MH), supuração (fungos), mucinose (GA)
história clínica é fundamental, assim como biópsia coerente – punch 1 para rosácea granulomatosa verso lúpus eritematoso → será parapsicologia em 99,9% das vezes
André Cartell
André Cartell
REVERcomemorativos clínicos – idade, suspeita de
doença infecciosa, alterações laboratoriaistopografia – granulomas superficiais indiciam
infecção fúngica, granulomas no hipoderma afastam MH
luz polarizada para corpo estranho
CONCLUSÃOgranuloma é um diagnóstico fácil (definir o padrão
histopatológico) e difícil (descobrir a causa)os detalhes clínico-laboratorial-histopatológicos
fazem toda a diferença
4- inflamação granulomatosa crônica
André Cartell
André CartellAndré Cartell
André Cartell
5- inflamação crônica ulcerada
HISTOLOGIAprocesso inflamatório crônico ulcerado – extensão
além do epiderma
CRÍTICAa biópsia deve conter a periferia da lesão
preferencialmente biópsia da úlcera = diagnóstico de ulceração –
óbvio ululantehipótese diagnóstica é fundamental para
estabelecer critérios de inclusão na avaliação microscópica – vasculite, infecção, neoplasia, patomímia
André Cartell
André Cartell
REVERcomemorativos clínicos – suspeita de doença
infecciosa, dermatopatia por estasetopografia, número, distribuição, patergia, dor,
alterações periféricas, estado imunitário (+ ou -) colorações especiais
CONCLUSÃOamostragem é fundamental – incluir
generosamente o hipoderma → artérias = tem de sangrar
sem o apoio da clínica, opta-se pelo famigerado I.C.U
5- inflamação crônica ulcerada
André Cartell
André Cartell
o aspecto histopatológico pode corresponder a ...
doenças inflamatórias cutâneas são incrivelmente dependentes das informações clínicas
a avaliação da biópsia PRECISA ser clínico-histopatológica
modelo do I.C.U.
A.H.P.C.cratera Barringer
(Daniel B.; 1860-1929), Flagstaff, Arizona
André Cartell
A.H.P.C.
pioderma gangrenoso dermatose neutrofílica intersticial
André Cartell
6- inflamação crônica discreta com fibrose
HISTOLOGIAprocesso inflamatório crônico com fibrose
dérmicao processo inflamatório pode ser mínimo ou
mesmo ausente
CRÍTICAfibrose é um processo tardio e final em diversos
processos inflamatórios de qualquer naturezaimportante incluir os comemorativos clínicos e
laboratoriais, topografia exata = puntiforme, hipóteses diagnósticas, amostragem adequada incluindo hipoderma, fazer pesquisa de mucina e fibras elásticas
André Cartell
André Cartell
REVERcomemorativos clínicos – suspeita de
esclerodermia, necrobiose lipoídica, mucinose, insuficiência renal crônica (gadolinium e DEN)
nevo azul verso dermatofibromatopografia, número, distribuição (acral, tronco),
alterações periféricas, edema, rubor, cianose colorações especiais
CONCLUSÃOamostragem adequada é fundamental – incluir
generosamente o hipoderma
6- inflamação crônica discreta com fibrose
André Cartell
André CartellAndré Cartell
André Cartell
7- discromia pós inflamatória
HISTOLOGIAprocesso inflamatório crônico superficial com
melanofagia ou incontinência pigmentar – sempre ao redor do plexo vascular superficial
CRÍTICAqualquer processo inflamatório especialmente
lesões pruriginosas em pacientes fototipos 5 e 6 vão gerar, inevitavelmente, algum grau de incontinência pigmentar
a biópsia deve ser considerada quando o resultado pode gerar alguma mudança na conduta terapêutica – amiloidose cutânea verso LSC
André Cartell
André Cartell
REVERcomemorativos clínicos – vitiligo X nevo
acrômico, EPF X EDPafastar depósitos amiloides – vermelho Congo sob
luz polarizada contagem de melanócitos (potencializado pela
proteína S100na IHQ) e Masson-Fontana
CONCLUSÃOcusto-benefíciodermatoses fantasmasem algumas situações pode ser importante
considerar biópsia dupla espelhada
7- discromia pós inflamatória
André Cartell
André Cartell
hiperpigmentação pós-varicela
André Cartell
André Cartell
André Cartell
www.dermlist.med.br/HipomelanoseTronco.html
André Cartell
www.dermlist.med.br/HipomelanoseTronco.html
Propionibacterium acnes and the Pathogenesis of Progressive Macular Hypomelanosis: Wiete Westerhof, MD, PhD; Germaine N. Relyveld, MD; Melanie M. Kingswijk; Peter de Man, MD, PhD; Henk E. Menke, MD, PhD Arch Dermatol. 2004;140:210-214.
dermatite perivascular crônica com incontinência pigmentar focal – AHPC ao espectro das discromias pós-inflamatórias
André Cartell
André Cartell
8- dermatite psoriasiforme crônica
HISTOLOGIAprocesso inflamatório crônico com acantose
regulardermatite X dermatose
CRÍTICAé um dos padrões histopatológicos mais comunspsoríase tratada ou liquenificada, eczemas
crônicos, dermatite prurigoide, líquen simples crônico, farmacodermia, ictiose adquirida, acroqueratose paraneoplásica de Bazex, pitiríase rotunda, queratodermias, etc
dd com MF, doença de Bowen, dermatófitos, sífilis
André Cartell
REVER• comemorativos clínicos – topografia, simetria,
prurido, evolução• afastar micoses superficiais (PAS, Grocott) • sorologia (VDRL)
CONCLUSÃO• bom senso• excluir o que pode ser excluído• teste terapêutico• acompanhamento criterioso de lesões
psoriasiformes em áreas cobertas – MF• dermatite actínica crônica
8- dermatite psoriasiforme crônica
André Cartell
André Cartell
André Cartell
9- foliculite crônica discreta
HISTOLOGIAprocesso inflamatório crônico envolvendo o
infundíbulo – segmento superior do folículo piloso, do derma médio para cima
hiperceratose infundibular
CRÍTICApadrão reacional comumdermatites prurigoides, foliculites, alopécia,
dermatite atópica, alterações nutricionais (vitamina B e D), xerodermia
o hipoderma deve estar incluído – punch 4 a 6
André Cartell
REVERcomemorativos clínicos – topografia, prurido,
alopécia, evolução, padrão clínico, VDRLafastar micoses – PAS, GMS
CONCLUSÃOas foliculites de uma maneira geral apresentam
convergência morfológica, podendo ser muito difícil de caracterizar
foliculite eosinofílica – pode ocorrer sem eosinófilos e sem folículo piloso (descrição original de Ofuji)
dermatite prurigoide do tronco → pensar em fungos e doença de Grover eczematoide
9- foliculite crônica discreta
André Cartell
André Cartell
10- material insuficiente para o diagnóstico
HISTOLOGIAdiagnóstico de patologista inexperientecomum em curetagem de lesões pequenas
CRÍTICAcontextualizar – o objetivo da curetagem é
diagnóstico ou terapêutico?qual o tamanho ideal da biópsia?não colocar o material em gaze seca, pode ficar
incrustado e irrecuperávelmaterial constituído por crostas hemato-
melicéricas podem evanescer durante o processamento histotécnico André Cartell
André Cartell
REVERcomemorativos clínicos – o que foi biopsiado?checar se havia material ao fechar o frasco? –
caso de material preso no punch
CONCLUSÃOmaterial insuficiente nem sempre é pequeno, mas
pode ser inadequado – falta de hipoderma para avaliação de paniculite ou poliarterite nodosa
evitar esse diagnóstico a qualquer custodocumentar a macroscopia – foto digital, coar
toda formalina, fazer cell block
10- material insuficiente para o diagnóstico
André Cartell
André CartellAndré Cartell
nunca shave:- lesões melanocíticas atípicas ou suspeitas de melanoma- hipodermites, foliculites, suspeita de linfoma cutêneo- doenças sistêmicas, síndrome paraneoplásica, doença infecciosas
André Cartell
CONTEXTUALIZAÇÃODISCORDAR, INQUIRIR, PERGUNTAR
– não se dê por satisfeito – fez PAS?– o que você acha de...?– pilhas são saudáveis – nas as deixe acabar
ERRAR É HUMANO, PERSISTIR...– por que esse caso em especial deu xabu?
APRENDER COM OS ERROS, ESPECIALMENTE OS ERROS DOS OUTROS
– "Más empresas são destruídas por uma crise. Boas empresas sobrevivem a ela. Grandes empresas melhoram quando elas acontecem.” (Andrew Grove)
pitfall nº 10
André Cartell
André Cartell
Lyman alpha blob – a maior estrutura do universo foi descoberta há pouco mais de 10 anos!