Brasil colonial: 1640-1711
Restauração do trono português, expulsão dos holandeses e a crise econômica portuguesa
Prof. Cristiano Pissolato
Fim da União Ibérica: restauração do trono português
• A elite comercial portuguesa estava descontente porque áreas como o nordeste do Brasil, Angola, feitorias na costa da África estavam sob controle holandês.
O rei espanhol Filipe IV necessitando de dinheiro realizou um aumento os impostos.
Restauração da Independência
• Em 1640 com apoio da Inglaterra iniciava-se uma nova rebelião portuguesa sob comando de D. João, duque de Bragança.
D. João, duque de Bragança era descendente distante do rei D. Manuel I que governou Portugal de 1495 a 1521.
A Espanha nesse momento encontrava-se em luta contra a França [Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)], conflito com a Holanda [Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648)] e a revolta na região da Catalunha iniciada em 1640.
• Em 1640 os restauradores portugueses tomam o poder em Lisboa e prenderam a duquesa de Mântua que governava Portugal.
Margarida de Saboia, duquesa de Mântua era prima do rei espanhol D. Filipe IV, sendo vice-rainha de Portugal de 1634 a 1640.
• Logo depois foi aclamado rei D. João IV, o primeiro da nova dinastia, a Dinastia de Bragança.
Coroação de D. João IV obra de José Maria Veloso Salgado (1908).
Com a reorganização do Exército português este consolidou a independência que foi reconhecida pela Espanha apenas em 1668.
D. João IV nasceu em Vila Viçosa (Portugal) em 1604; filho de D. Teodósio, duque de Bragança e da nobre espanhola Ana de Velasco. Líder do movimento de Restauração (1640) e fundador da quarta dinastia portuguesa (Bragança). Casou-se com uma nobre espanhola Luísa de Gusmão. No poder governou como um monarca absolutista até sua morte em 1656, tomando posse seu filho D. Afonso VI.
Rei João IV (1640-1656)
• A Dinastia de Bragança permaneceu no poder em Portugal de 1640 até 1910.
Escudo do Duque de Bragança e da Casa de Bragança.
LISTA DE REIS PORTUGUESES (1640-1826)
D. João IV 1640-1656
D. Afonso VI 1656-1683
D. Pedro II 1683-1706
D. João V 1706-1750
D. José I 1750-1777
D. Maria I 1777-1816
D. João VI 1816-1826
Relações entre Portugal e Holanda
• Buscando a paz e para a reorganização do Estado português o rei D. João IV firmou com os holandeses a Trégua dos Dez anos em 1641.
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No Brasil: declínio da Nova Holanda
• Ocorre a saída de Mauricio de Nassau em 1644 do posto de governador da colônia.
• A Companhia pressionou os senhores de engenho a aumentar a produção, maiores impostos, cobrança das dívidas atrasadas, ameaçando confiscar os engenhos.
• A tolerância religiosa foi extinguida e católicos foram proibidos de praticar livremente sua religião.
Fachada atual da Catedral da Sé em Olinda/PE. Construída no século XVI e recebendo melhorias no início do século XVII, foi profanada e sofreu um grande incêndio que destruiu parte da mesma durante a ocupação holandesa.
Insurreição Pernambucana (1645-1654)
• Um grupo formado por luso-brasileiros organizaram-se para combater os holandeses.
• Momentaneamente senhores de engenho, grupos indígenas e negros lutaram em conjunto.
O que levou a revolta?
• Crise na economia açucareira e a cobrança mais ferrenha por parte da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais das dívidas dos senhores de engenho.
• Restauração portuguesa de 1640 – sentimento pró-lusitano.
• Fim do governo de Maurício de Nassau em 1644, este era mais tolerante, sendo bem visto pela elite pernambucana.
Líderes do movimento
João Fernandes Vieira (1613-1681) nasceu em Faial (Ilha de Madeira), de origem humilde veio ao Brasil por volta de 1620. Chegou a trabalhar no comércio e para um senhor de engenho holandês, com a saída de Nassau de Pernambuco passa a se opor a ocupação neerlandesa. Acumulou bens, chegando a possuir em 1643, 16 engenhos e em torno de mil escravos, obtendo prestigio na sociedade pernambucana, mas era um dos maiores devedores frente a companhia holandesa.
André Vidal de Negreiros (1606-1680) nasceu na Paraíba, teve papel de destaque ao mobilizar tropas no sertão nordestino. Participou da defesa de Salvador em 1624 e na Insurreição Pernambucana foi responsável por várias vitórias. Depois do conflito foi nomeado governador da Paraíba e depois de Angola.
Henrique Dias de origem africana, nasceu em Pernambuco. Participa a partir de 1633 junto com Matias de Albuquerque na luta contra os holandeses. Na Insurreição Pernambucana comandou o grupo de origem escrava. Depois da guerra recebeu algumas compensações, contudo bem abaixo de seu valor para a expulsão dos holandeses, falecendo pobre em Recife no ano de 1662.
Antônio Felipe Camarão (1600-1648) índio da tribo potiguar (localizada principalmente no atual estado do Rio Grande do Norte). Os jesuítas catequizaram a sua aldeia, assim sabia ler e escrever em português. A partir de 1630 juntou-se a Matias de Albuquerque para lutar contra os holandeses. Com a Insurreição Pernambucana volta a participar com seu grupo indígena. Faleceu devido a complicações de saúde relacionada a ferimentos de batalha.
Líderes do movimento
• A companhia holandesa não tinha muitos recursos para defender a colônia.
• Assim sucessivas vitórias luso-brasileiras levaram ao fim do poder holandês na região.
A Holanda estava mais preocupada com a Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648) contra a Espanha, com o objetivo de consolidar sua independência.
O Engenho, obra de Frans Post (1668). Na tela destaca-se o engenho, a capela e a casa grande.
• Cabe destaque as duas Batalhas dos Guararapes (1648 e 1649) onde os luso-brasileiros sagraram-se vitoriosos.
Batalha dos Guararapes obra de Victor Meirelles (1879).
• Recebendo pouca ajuda do governo holandês, a colônia mantinham a cidade de Recife.
Cidade Maurícia, obra de Frans Post (1653).
Em 1652 a Inglaterra governada por Oliver Cromwell decreta guerra a Holanda (Primeira Guerra Anglo-Holandesa) pela disputa do comércio ultramarino.
• Em 1653 o rei português D. João IV enviou ao Brasil uma poderosa esquadra.
• Cercados por terra e por mar os holandeses assinaram a rendição em Campina da Taborda em 1654.
Capitulação neerlandesa.
• Pelo último tratado entre Portugal e Holanda (1669), o governo português comprometeu-se em pagar uma indenização de sessenta e três toneladas de ouro (pelo nordeste brasileiro e as possessões da África).
Crise econômica portuguesa e revoltas (1640-1711)
• As medidas iniciais são o reforço do exclusivismo comercial, assim foi proibido que navios estrangeiros comercializassem em portos brasileiros e foram criadas as companhias de comércio.
São Luís
Salvador
Estado do Maranhão
Estado do Brasil
• Ainda criou-se o Conselho Ultramarino em 1642 que tinha responsabilidade sobre todos os assuntos relativos as colônias lusitanas.
O principal objetivo do Conselho Ultramarino era regular as atividades comerciais, além das decisões de guerra ultramarinas e ofícios de justiça. Na imagem o Paço da Ribeira (1650) as margens do rio Tejo em Lisboa onde desde o início do século XVI residia o rei, a sua corte e funcionava os órgãos governamentais.
• Criada em 1649 a Companhia Geral do Comércio do Brasil tendo o monopólio comercial em todo o litoral do Estado do Brasil.
• Fundada em 1682 a Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão, obtendo o monopólio comercial na região do Maranhão.
Revolta de Beckman (1684)
• A região do Maranhão estava em recesso econômico desde a década de 1650 e os senhores de engenho não tinham condições de pagar pelo escravo africano.
Moeda portuguesa de prata referente a três vinténs (sessenta réis) durante o reinado de D. Pedro II (1667-1706) em Portugal. Anota-se a escrita na língua latina “rex petrus II”.
• Procurando mão-de-obra os produtores de açúcar organizaram expedições para atacar aldeamentos jesuítas capturando índios e levando-os para o trabalho escravo.
Os padres jesuítas protestaram e o governo português proibiu a escravidão indígena, liberando apenas na situação de “guerra justa”.
Caçador de Escravos, obra de Jean-Baptiste Debret (1820-1830).
• Para resolver a questão o governo criou a Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão em 1682.
• A companhia tinha o compromisso de introduzir 500 escravos africanos por ano na região, durante vinte anos.
• Devido a crise econômica a empresa não conseguiu cumprir suas promessas agravando a crise econômica.
Foto atual do Centro Histórico de São Luís, nota-se fachadas azulejadas.
• Descontentes um grupo de colonos liderados por Manuel Beckman e Jorge Sampaio iniciaram a revolta.
• Objetivo: acabar com a Companhia de Comércio e a influência dos jesuítas da região, além de obter autorização para escravizar os índios.
• Os revoltosos tomaram São Luís e os padres jesuítas foram expulsos da região.
• Tomás Beckman foi enviando a Portugal para explicar o movimento as autoridades, mas foi preso.
• O governo de Portugal nomeou um novo governador e com o apoio de tropas retomou o controle da situação.
• Os líderes Manuel Beckman e Jorge Sampaio foram enforcados.
O novo governador e a Coroa portuguesa eliminaram o monopólio da Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão .
Praça Manuel Beckman localizada na Avenida Beira Mar em São Luís/MA construída no início do século XX no local onde o líder da revolta foi enforcado em 1865.
Concorrência do açúcar antilhano
• Depois de expulsos do Brasil os holandeses levaram mudas de cana-de-açúcar para as Antilhas na América Central.
• A concorrência holandesa provocou a queda de 50% no preço do açúcar.
Antilhas Holandesas
Guiana Holandesa (atual Suriname)
Tratados econômicos
• O governo português buscou ter a Inglaterra como aliada, assim os portugueses recebiam a proteção política da maior potência naval da época.
Rainha inglesa Ana I pertencente a Dinastia Stuart governou de 1702 a 1714. Ela também foi responsável pela aprovação do Tratado de União de 1707 onde Inglaterra e Escócia uniram-se e formaram o Reino da Grã-Bretanha.
• O principal acordo foi o Tratado de Methuen (1703) que estabelecia a compra por parte de Portugal de tecidos de lã fabricados pelo ingleses, em troca os britânicos adquiriam os vinhos portugueses.
Localização do Distrito do Porto.
O tratado assinado em 1703 também ficou conhecido como Tratado de Panos e Vinhos.
Rio Douro que corta o Distrito do Porto, região famosa pelos seus vinhos.
Distrito do Porto
Lisboa
Guerra dos Mascates (1710-1711)
• Até o final do século XVII, a cidade de Olinda era a principal cidade da capitania de Pernambuco.
Vista atual do centro histórico de Olinda tendo ao fundo a cidade de Recife.
Situação em Pernambuco OLINDA
Moravam os tradicionais senhores de engenho, que estavam em declínio devido a queda do preço do açúcar.
RECIFE (vila dependente da Câmara de Olinda)
Antiga capital da colônia holandesa no Brasil, a vila possuía um porto reestruturado, assim todas as transações de importação e exportação da região passavam pelo povoado. Moravam em Recife comerciantes em sua maioria portugueses natos.
Alagoas
Paraíba
Pernambuco
• Os senhores de engenho de Olinda necessitados passaram a pedir empréstimos principalmente para os comerciantes de Recife.
• Cobranças de dívidas impulsionou a rivalidade entre as duas povoações.
Os proprietários rurais de Olinda chamavam os comerciantes de Recife de mascates.
Os comerciantes de Recife chamavam os senhores de engenho de Olinda de pés-rapados.
• O pedido ao rei D. João V de elevação de Recife à cidade foi aprovada.
• Inconformados um grupo de senhores de engenho de Olinda invadiram a cidade de Recife em 1710.
• No ano seguinte o governo português interviu colocando fim a Guerra dos Mascates, os líderes olindenses foram presos e encaminhados para o exílio.
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