Belarmino Carneiro da Silva Neto
A caça de mamíferos cinegéticos no semiárido do nordeste brasileiro: Uma análise com
base na hipótese da aparência ecológica
RECIFE
2013
ii
Belarmino Carneiro da Silva Neto
A caça de mamíferos cinegéticos no semiárido do nordeste brasileiro: Uma análise com
base na hipótese da aparência ecológica
RECIFE
2013
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Ecologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco
como parte dos requisitos para a obtenção do título de
mestre em ecologia.
Orientador:
Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque - UFRPE
Coorientadores:
Prof.ª Dr.ª Nicola Schiel – UFRPE
Prof. Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves - UEPB
iii
Ficha catalográfica
S586c Silva-Neto, Belarmino Carneiro da
A caça de mamíferos cinegéticos no semiárido do nordeste
brasileiro: uma análise com base na hipótese da aparência
ecológica / Belarmino Carneiro da Silva Neto. – Recife, 2013.
57 f.: il.
Orientador: Ulysses Paulino de Albuquerque.
Dissertação (Mestrado em Ecologia) – Universidade Federal
Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia, Recife, 2013.
Inclui referências e anexo(s).
1. Etnozoologia 2. Atividades cinegéticas 3. Checklist
4. Ecologia humana I. Albuquerque, Ulysses Paulino de,
orientador II. Título
CDD 574.5
iv
A caça de mamíferos cinegéticos no semiárido do nordeste brasileiro: Uma análise com
base na hipótese da aparência ecológica
Belarmino Carneiro da Silva Neto
Dissertação apresentada: ______/______/________
Orientador:
___________________________________________
Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Banca Examinadora:
___________________________________________
Prof.ª Drª. Elcida Lima de Araújo
Universidade Federal Rural de Pernambuco
(1º Membro)
___________________________________________
Prof.ª Drª. Rachel Maria de Lyra Neves
Universidade Federal Rural de Pernambuco
(2º Membro)
___________________________________________
Dr. Joabe Gomes de Melo
Universidade Federal Rural de Pernambuco
(3º Membro)
___________________________________________
Dr. Thiago Antônio de Sousa Araújo
Universidade Federal de Pernambuco
(Suplente)
Recife
2013
v
DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação às pessoas que
motivam minha vida, meu pai, Sr. Manoel
Carneiro Dornelas, minha mãe, Sr.ª Sônia
Dornelas e minha querida esposa, Sr.ª Jane Kelly,
pois sempre me estimularam a dar este grande
passo. Estas pessoas com muita sabedoria,
discernimento, bom senso e dedicação estiveram
ao meu lado me encorajando nas horas difíceis e
me aplaudindo nos momentos de glória. Obrigado
por serem minha família e minha fonte de
inspiração.
vi
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais, que sempre me orientaram a seguir os
caminhos do bem e a minha querida esposa, por toda paciência nesse difícil processo de
construção desse trabalho.
Agradeço ao meu Orientador, Professor Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque, que
sempre foi uma pessoa a qual admirei por seu profissionalismo, inteligência e principalmente
por sua humanidade. A ele agradeço por toda paciência e confiança. Além dele, agradeço à
Professora Dr.ª Nicola Schiel e ao Professor Dr. Rômulo Alves, que também pacientemente
buscaram a lapidação desta pesquisa através de suas orientações. Aos senhores o meus
sinceros agradecimentos. Muito obrigado por acreditar em mim.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRPE e às instituições financiadoras
e que apoiaram de forma efetiva desta pesquisa CAPES, CNPq, PRONEM/FACEPE.
Ao apoio do ICMBIO à realização de todas as etapas desta pesquisa, bem como à
grande força dos brigadistas da sede Santa Rita.
Agradeço a todos os moradores da comunidade de Horizonte, Jardim-CE, por sua
hospitalidade, em especial a Dilminha, Dona Nenêm, Sr Assis que nos receberam em suas
casas nos fazendo sentirmo-nos como membros da família.
Agradeço também a todos os meus colegas de laboratório que por muitas vezes pegaram
em minha mão para me ajudar a construir esse trabalho. Entre esses, quero dedicar
agradecimentos especiais aos meus colegas e amigos, André, Josivan, Poliana, Robson, Olga,
Washington, Ivanilda e Luciana Gomes e Sofia Fajardo, que foram as pessoas que me
ajudaram no entrosamento com a nova fase na qual passaríamos a viver. Vossas paciências e
nossos momentos de companheirismo não serão esquecidos. Vocês foram muito importantes,
pois me motivaram nos momentos de aflição e grandes dificuldades, possibilitaram-me a
experimentação de momentos muitíssimo agradáveis na academia e principalmente em
campo, além de terem contribuído de forma importante na construção do meu trabalho.
Saliento também minhas colegas Rosemary, Maria Clara, Juliana Loureiro, Noelia que com
suas simples atitudes, seja com suas presenças, um abraço, um sorriso ou com suas
importantes contribuições na construção do trabalho, me ajudaram muito. Enfim, agradeço a
todos os membros do Laboratório de Etnobotância Aplicada da UFRPE. Aos meus amigos o
meu muito obrigado.
Não posso deixar de expressar meus agradecimentos aos meus amigos da Escola
Lafayete Nunes Machado no município de Itambé-PE e também das Escolas Edgar Guedes da
Silva e Epitácio Pessoa, no município de Pedras de Fogo-PB, que tanto me compreenderam e
possibilitaram a realização deste curso. Destaco aqui agradecimentos aos meus amigos Jean
Carlos e Diócrate José, que em diferentes momentos dessa trajetória me ajudaram na
concretização desta etapa da minha vida.
vii
EPÍGRAFE
“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor,
mas lutei para que o melhor fosse feito. Não sou o
que deveria ser, mas graças a Deus, não sou o
que era antes”.
Marthin Luther King.
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Táxons de mamíferos, com suas respectivas espécies e nomes vulgares,
abundância percebida, biomassa e saliência, reconhecidos pelos informantes da
Comunidade de Horizonte, município de Jardim, Ceará, Brasil, como ocorrentes
na FLONA-Araripe, nordeste do Brasil................................................................. 40
Tabela 2 Percentual de citação dos critérios adotados para escolha dos recursos faunísticos
por coletores da comunidade de Horizonte, município de Jardim, Ceará, Brasil. . 41
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Fotografias de espécies de mamíferos utilizadas no checklist/entrevista na
comunidade de Horizonte, município de Jardim, Ceará, Nordeste do Brasil. ....... 31
Figura 2 - Fotografias da espécies de mamíferos não ocorrentes na região da FLONA-
Araripe utilizadas como controle no checklist/entrevista na comunidade de
Horizonte, município de Jardim, Ceará, Nordeste do Brasil. ................................ 35
Figura 3 - Estímulo visual apresentado aos informantes para indicação de abundância
percebida quanto às espécies de mamíferos de importância cinegética ................ 36
10
RESUMO
Em regiões semiáridas do nordeste brasileiro, muitas populações humanas apresentam
histórico de utilização dos recursos faunísticos, incluindo várias espécies de mamíferos.
Dentre essas relações, a caça, para diversos fins, pode ser colocada em destaque. Tendo em
vista a escassez de estudos que abordem o tema, o presente trabalho objetivou minimizar as
lacunas existentes nesta área de conhecimento ao investigar os padrões de consumo de
mamíferos na região semiárida do nordeste brasileiro, agregando a hipótese da “aparência
ecológica” a uma perspectiva etnozoológica. Desta forma, pretendeu-se avaliar se a
abundância, os hábitos de atividades e a biomassa de mamíferos podem explicar seu consumo
pelos caçadores locais e se tais padrões podem fornecer resultados que fortaleçam as ideias da
hipótese da aparência. A amostragem foi realizada de maneira não aleatória que incluía
“especialistas locais”, os quais foram identificados através do método de “Bola de Neve”. Foi
utilizada a técnica de checklist/entrevista com cada informante por meio de fotografias dos
mamíferos já registrados para a área, na qual o entrevistado respondeu questões relacionadas
aos aspectos ecológicos e cinegéticos de cada uma das espécies. Os resultados encontrados
nesta pesquisa sugerem que a abundância percebida das espécies é um fator relevante na
explicação de um potencial consumo cinegético pela comunidade. Os períodos de atividade
das espécies parecem não ser levados em consideração no momento da escolha de um
determinado recurso. A aparente vantagem de se coletar um determinado recurso durante o
dia, devido à claridade, acaba sendo desconsiderada. A biomassa das espécies não é levada
em consideração na potencial escolha do recurso.
Palavras Chaves: Atividade cinegéticas, checklist, ecologia Humana, etnozoologia.
11
ABSTRACT
In semi-arid regions of northeastern Brazil, several human communities have a strong use
relationship with faunal resources, including many mammal species. Among these
relationships, hunting for many purposes can be considered an important one. Considering the
scarcity of studies on this theme this research aimed to minimize the gaps in this knowledge
area by investigating mammals use patterns in association to the "ecological appearance"
hypothesis under an ethnozoological perspective in the semi-arid region of northeastern
Brazil. So, this research tried to evaluate if mammals abundance, activity period and biomass
can explain their use by local hunters and if these patterns can substantiate the "ecological
appearance" ideas. Sampling was not random and included "local specialists", who were
identified by using the "snow ball" method. The checklist/ interview technique was applied to
each informant by using photos of mammals registered from the area. In this method
informants answered questions related to ecological and hunting characteristics of each
species. Our results suggest that perceived abundance of species is a relevant element to
explain their possible use by the community. Species activity periods seem not to be
considered in the resource. The advantage of collecting a resource by the morning, when there
is light, is ignored. Species biomass is not considered in the possible resource selection.
Key words: Hunting activity, checklist, Human Ecology, ethnozoology.
12
CONTEÚDO
DEDICATÓRIA ................................................................................................................................................... V
AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................................ VI
EPÍGRAFE ........................................................................................................................................................ VII
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................................... 8
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................................................... 9
RESUMO ............................................................................................................................................................. 10
ABSTRACT ......................................................................................................................................................... 11
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................................... 15
Estudos sobre a Mastofauna de regiões semiáridas do Brasil. ............................................................ 15
A mastofauna e atividades cinegéticas. ................................................................................................ 16
Estratégias, técnicas e preferências de caça. ....................................................................................... 17
A Teoria da Aparência Ecológica. ....................................................................................................... 19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 20
ARTIGO - A CAÇA DE MAMÍFEROS CINEGÉTICOS NO SEMIÁRIDO DO NORDESTE
BRASILEIRO: UMA ANÁLISE COM BASE NA HIPÓTESE DA APARÊNCIA ECOLÓGICA. ........... 24
RESUMO ...................................................................................................................................................... 25
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 26
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................................... 28
Área de estudo ...................................................................................................................................... 28
Aspectos éticos e legais ........................................................................................................................ 29
Coleta de dados .................................................................................................................................... 29
Análise dos dados ................................................................................................................................. 37
RESULTADOS .............................................................................................................................................. 39
Abundância e potencial cinegético ....................................................................................................... 39
Biomassa versus pressão de caça ......................................................................................................... 42
Períodos de atividades versus pressão de caça .................................................................................... 42
DISCUSSÃO ................................................................................................................................................. 43
Abundância e potencial cinegético ....................................................................................................... 43
A influência da idade no conhecimento sobre a mastofauna local ....................................................... 44
Biomassa versus pressão de caça ......................................................................................................... 45
Períodos de atividades versus pressão de caça .................................................................................... 46
CONCLUSÃO ................................................................................................................................................ 47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 48
ANEXO ................................................................................................................................................................ 53
13
INTRODUÇÃO GERAL
Ao longo de toda história encontram-se várias evidências de que os humanos se
relacionam de diversas formas com outros animais. Estas relações são bastante antigas e
muito significantes para as sociedades, uma vez que elas estabelecem estreitas interações de
dependência ou co-dependência com recursos faunísticos (ALVES e SOUTO, 2010;
BARBOSA et al 2011).
Nas históricas interações existentes entre humanos e animais, destacam-se as
relações associadas à cadeia alimentar. Neste contexto, as pessoas obtém alimento através do
uso dos recursos naturais (EMIDIO-SILVA, 1998; ALVES et al 2009, 2010) e uma das
formas utilizadas pelos humanos para interagir com os recursos biológicos é a caça que apesar
da intensificação de ações protecionistas é, praticada por diversas populações humanas para
diferentes finalidades (ALVES et al 2009, 2010).
No processo das práticas cinegéticas, a preferência por um determinado recurso
pode ser influênciada por diversos fatores, dentre eles, a sua disponibilidade, tamanho
corporal da presa, esforço de captura, dentre outros. Logo, tais fatores são bastante relevantes
na coleta de um determinado recurso e na adoção de estratégias para a obtenção destes (ver
ROBINSON e REDFORD, 1991; CULLEN et al 2001).
Alguns estudos sugerem que os animais com maior porte são, geralmente,
preferidos para caça, levando em consideração que animais maiores fornecem mais carne que
pode ser utilizada como alimento, otimizando assim o custo benefício do processo de caça
(ROBINSON e REDFORD, 1991; CULLEN et al 2001). Outros trabalhos como o de Abruzzi
(1979), dão indícios de que caçadores têm preferência pela obtenção de recursos faunísticos
encontrados em áreas próximas de suas residências e durante o dia. O autor alega que
ambientes com áreas de vegetação mais aberta, tornam as presas mais visíveis o que facilita a
caça, concluindo que fatores como: local, horário e condições ambientais, influênciam de
alguma maneira no processo da caça.Por sua vez, Barbosa et al (2011), afirmam que a
disponibilidade do recurso animal no ambiente, também é levada em consideração. Esses
pesquisadores concluíram, que a escolha do tipo de presa é feita de acordo com a sua
abundância local, além de seu tamanho corporal.Assim, tamanho, abundância local
(BARBOSA et al 2011) e tipo de ambiente em que o animal é encontrado (ABRUZZI, 1979),
podem influênciar os padrões comportamentais dos caçadores.
14
Paralelamente, vários estudos reportam os mamíferos, como sendo um dos grupos
que apresentam maior interesse cinegético, tendo em vista que muitos dos componentes desta
classe possuem maior volume corporal, e consequentemente oferecem maior quantidade de
carne, quando comparado com espécies de outros grupos. Tais características aumentam a
importância deste grupo como alvo de caça, tornando-os, portanto, os animais mais cobiçados
pelos caçadores (PATTISELANNO, 2004; BARRERA-BASSOLS e TOLEDO, 2005;
TRINCA e FERRARI, 2006).
Tomando como base tais informações, o presente trabalho tem a finalidade de
investigar os padrões de preferência de mamíferos com importância cinegética em uma área
da região semiárida do nordeste brasileiro, acreditando que os padrões adotados pelos
caçadores locais sejam preditos com base na abundância do recurso, tamanho corporal e
hábitos de atividades das espécies caçadas. Desta forma postula-se que as espécies de
mamíferos citadas como mais abundantes, de maior biomassa, de hábitos diurnos, sejam mais
citados como mais caçados.
Deste modo, salienta-se a importância deste estudo uma vez que pesquisas com
este enfoque, além de escassas, são necessárias para uma melhor compreensão das relações
entre as pessoas-natureza e quais as influências dos fatores envolvidos nesses processos, tendo
em vista que o conhecimento sobre os padrões de consumo podem contribuir para a geração
de modelos conservacionistas minimizando assim os impactos decorrentes de ações
antropogênicas.
15
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Estudos sobre a Mastofauna de regiões semiáridas do Brasil.
Os mamíferos são animais que realizam complexas interações ecológicas se
comportando como polinizadores, dispersores, atuando na ciclagem de nutrientes e controle
das populações de presas que consomem, constituindo assim um grupo de extrema
importância no equilíbrio dos ecossistemas (ROBINSON e REDFORD, 1986).
Estima-se que no mundo existam 5.418 espécies de mamíferos (WILSON e
REEDER, 2005). Cerca de 652 são registradas para o Brasil, que eleva o país ao status de
detentor de maior diversidade de mamíferos do mundo (REIS et al 2006). Apesar disso,
estudos sobre mamíferos não são muito comuns, provavelmente esse fato se dá devido a
dificuldade de se capturar e visualizar os animais, em função dos seus hábitos discretos e das
densidades relativamente baixas (PIANCA, 2004).
De acordo com Oliveira et al (2003), a escassez de trabalhos sobre a mastofauna
se agrava quando se trata das regiões semiáridas do Brasil. Este autor afirma que a maior parte
dos estudos relacionados a este grupo de animais são desenvolvidos na Mata Atlântica. Willig
e Mares (1989), levantam a ideia de que a riqueza de espécies da mastofauna do semiárido
(caatinga) é significativamente menor quando comparada com a mata atlântica e com a
floresta amazônica, porém, Oliveira et al (2003) atribui esse fato ao escasso número de
trabalhos desenvolvidos nestas regiões, e conclui que se podem encontrar diversas espécies de
mamíferos, muitas delas sendo endêmicas da região.
Contudo, recentemente tem-se observado o crescimento do interesse dos
pesquisadores em estudar a mastofauna em outros biomas, Cruz e Campello (1998), por
exemplo, fizeram um levantamento, através de pesquisas etnobiológicas, sobre os mamíferos
a FLONA-Araripe, área que apresenta e revelaram que a região apresenta uma mastofauna
constituída por seis ordens contendo 15 famílias e 35 espécies. A ordem Rodentia possuindo
13 espécies é a mais bem representada na área, seguida pelas ordens Carnivora com 11
representantes, Pilosa com cinco representantes, Artiodactyla com quatro representantes e as
ordens Primates e Marsupialia com apenas um representante em cada.
Outro bioma enquadrado nas regiões semiáridas do Brasil é o cerrado, segundo
maior bioma brasileiro. Estudos sobre a mastofauna para esse bioma, revelam a existência de
cerca de 195 espécies de mamíferos, sendo 18 delas endêmicas (MMA, 2003).
16
Dentre as espécies de mamíferos ocorrentes no cerrado, alguns são considerados
de médio e grande porte e apresentam características ecológicas diferenciadas, principalmente
no que diz respeito à ocupação de grandes territórios. Consequentemente, essas espécies têm
sofrido forte impacto devido à destruição de seus habitats naturais e muitas delas se
encontram ameaçadas de extinção (MARINHO-FILHO et al 2002).
Tendo ciência da importância desses grupos de animais para a manutenção
saudável dos biomas que ocupam, necessita-se de estudos mais abrangentes sobre a
mastofauna das regiões semiáridas para que se tracem metas para a conservação desses
recursos faunísticos e dos biomas envolvidos.
A mastofauna e atividades cinegéticas.
A caça é considerada uma das principais formas de ameaça à biodiversidade
faunística (LEAL et al 2005), apesar disso, o número de pesquisas relacionadas a este tema
ainda são subestimados deixando de registrar a influência que essas atividades representam
em diversas regiões brasileiras, especialmente quando se trata do semiárido do nordeste, pois,
segundo Trinca e Ferrari (2006), as poucas pesquisas com essa abordagem estão, em sua
grande maioria, voltadas para os biomas mata atlântica e floresta amazônica.
Alguns estudos afirmam que a caça é geralmente realizada para subsistência,
estando intimamente ligada a fatores socioeconômicos como baixo poder aquisitivo, herança
cultural, e é prioritariamente realizada para suprimento de demandas alimentícias
(ROBINSON e BENNETT, 2000; DAVIES, 2002; ALVES et al 2010).
Dos vários recursos faunísticos existentes, os mamíferos destacam-se como sendo
um dos grupos que apresentam maior interesse cinegético. Isso se dá devido a muitos dos
componentes possuírem maior volume corporal, e consequentemente oferecerem maior
quantidade de carne, partindo do princípio de que as presas serão utilizadas para alimentação,
quando comparado com espécies de outros grupos. Tais características aumentam a
importância deste grupo como alvo de caça (PATTISELANNO, 2004; BARRERA-
BASSOLS e TOLEDO, 2005; TRINCA e FERRARI, 2006; BARBOSA et al 2011).
Conhecendo a importância dos mamíferos como recurso cinegético, Alves et al
(2010), em trabalho realizado no semiárido paraibano, trouxeram uma listagem dos
mamíferos mais caçados na região, a qual registraram 12 espécies que destacaram-se:
17
Kerodon rupestris (Mocó), Conepatus semistriatus (Tacaca), Dasypus novemcinctus (Tatu
verdadeiro), Euphractus sexcinctus (Tatu peba), Tamandua tetradactyla (Tamanduá),
Leopardus tigrinus (Gato maracajá), Puma yagouaroundi (Gato vermelho), Cerdocyon thous
(Raposa), Galea spixii (Preá), Caviaa perea (Preá) Galictis vittata (Furão) e Didelphis
albiventris (Timbu). De acordo com estes pesquisadores, todas essas espécies são utilizadas
em especial para fins alimentícios.
Conhecer as formas com que as comunidades locais exploram e interagem com o
meio é extremamente importante. Albuquerque (2005) afirma que a compreensão e a
utilização dos conhecimentos tradicionais em relação ao meio natural onde vivem, podem
facilitar conclusões e fornecer caminhos para a elaboração de estratégias de exploração
sustentável do ambiente.
Estratégias, técnicas e preferências de caça.
Na busca por suprir suas necessidades, o homem desenvolveu conhecimentos e
técnicas maximizadoras para obtenção dos recursos naturais (BARBOSA et al 2010). Sendo a
caça uma importante forma de exploração da natureza, vários estudos se voltam para analisar
este processo nos diversos biomas do Brasil, concluindo, portanto, que o modo de caça varia
com as condições do ambiente, clima, objetivos da caça e logicamente da espécie considerada
(ALVES et al 2009; BARBOSA et al 2010; 2011, BARBOZA et al 2011; KOSTER, 2008;
ABRUZZI, 1979; ROSS, 1978).
Em análise sobre estratégias de caça, Koster (2008), investigou a utilização de
cães de caça por grupos de índios Mayangna e caçadores Miskito, na Nicaragua, concluindo
que o uso de cães aumenta os encontros com as presas, embora estas nem sempre sejam as
mais rentáveis devido aos custos envolvidos na perseguição de presas que muitas vezes só se
pode identificar após a realização de grandes e difíceis caminhadas.
Abruzzi (1979), avaliou as vantagens e desvantagens da adoção do uso de redes e
o uso de arco e flecha por grupos de Pigmeus Mbuti, no leste do Zaire. O autor conclui que
devido ao grande investimento de trabalho humano requerido pelos caçadores com a rede,
agregado ao modo com que esses grupos se organizam socialmente, as estratégias por eles
adotadas tornam-se menos vantajosas que as utilizadas pelos arqueiros, que por sua vez, tem
organização social mais simples e consequentemente demandam menor quantidade de carne.
18
Um ponto importante abordado no trabalho de Abruzzi (1979) trata sobre o menor
gasto energético tido pelos arqueiros com a exploração de regiões próximas de suas
residências, que por possuírem áreas de vegetação mais aberta, tornam as presas mais visíveis,
o que acaba melhorando a relação de custo-benefício envolvido no processo de caça.
Outros estudos voltados a técnicas de caça foram desenvolvidos por pesquisadores
nas regiões semiáridas do nordeste brasileiro (ALVES et al 2009, 2010, BARBOSA et al
2010, 2011, BARBOZA et al 2011). Estes estudos afirmam que os caçadores desta região
utilizam basicamente as seguintes técnicas: Espera: na qual o caçador coloca uma isca em
local estratégico, esconde-se e aguarda a chegada do animal desejado; Caça com espingarda e
cachorro: Técnica muito comum e se baseia na perseguição dos animais com potencial
cinegético por cães treinados; Armadilhas: consiste na montagem de armadilhas para captura
dos animais.
No que diz respeito à preferência de presas, pesquisadores acreditam que os
caçadores optam por espécies que forneçam maior quantidade de carne (PATTISELANNO,
2004; BARRERA-BASSOLS e TOLEDO, 2005; TRINCA e FERRARI, 2006). Esses autores
destacam que os grupos dos mamíferos e das aves, são os de maior interesse cinegético e
justificam esse fato, afirmando que a abundância, o tamanho do animal e consequente
fornecimento de carne, são os principais fatores levados em consideração na hora da escolha
do recurso pelo caçador.
Barbosa et al (2011), em estudo sobre práticas de caça, realizado no estado da
Paraíba, concluíram que os grupos das aves e mamíferos são os mais intensivamente caçados,
devido à sua abundância local e seu tamanho corporal, corroborando, então com resultados
encontrados por outros pesquisadores, como por exemplo Robinson e Redford (1991) e
Cullen et al (2001), em estudos desenvolvidos em floresta atlântica, que também concluíram
que os animais com maior porte são preferíveis para caça. Pezzuti et al (2004), por sua vez,
realizaram um estudo no Parque Nacional do Jaú, Amazonas-Brasil e observaram ao longo de
quatro anos (1998-2002) a caça de 11 espécies de mamíferos 10 espécies de répteis, sete
espécies de aves, e acabaram por concluir que os mamíferos são preferidos para caça devido a
seu tamanho e maior fornecimento de carne.
19
A Teoria da Aparência Ecológica
De acordo com Albuquerque e Lucena, (2005), o termo “aparência ecológica” foi
primeiramente utilizado na década de 70, pelos pesquisadores Rhoades e Cates (1976), e
Feeny (1976) os quais tinham como objetivo avaliar a influência da disponibilidade de
recursos vegetais sobre os padrões de consumo por herbívoros.
Dessa forma, a hipótese da “aparência ecológica” classifica as plantas em dois
grupos : Plantas “Aparentes” e “Não aparentes”. Seriam enquadradas no primeiro grupo as
plantas lenhosas ou aquelas dominantes no ecossistema, enquanto as "Não aparentes" seriam
as espécies herbáceas (plantas, principalmente pequenas) com um ciclo de vida curto, bem
como os presentes nos estágios iniciais de sucessão ecológica. Esta teoria tem como hipótese
básica que as plantas “Aparentes” são mais suscetíveis ao forrageamento de animais
herbívoros (ALBUQUERQUE E LUCENA, 2005).
Estudos sobre o uso de recursos naturais por pessoas têm sido desenvolvidos e
agregam a hipótese da “aparência ecológica” para investigar os padrões de uso envolvidos
nesse processo (ver ALBUQUERQUE E LUCENA, 2005; LUCENA et al 2007; LUCENA et
al 2011).
Na transposição desta hipótese para análises com humanos que segundo é
assumido que as pessoas tomam o papel de forrageiros e demonstram o mesmo
comportamento que os herbívoros. Deste modo, as plantas mais importantes para uma cultura
particular seria mais "aparente" de um ponto de vista ecológico.
Neste sentido, se espera que plantas "aparentes" caracterizem mais fortemente o
conhecimento botânico local, ou seja, a maioria das plantas dominantes, e mais frequentes
devem ter o mais alto "valores de uso", não porque eles são necessariamente úteis, mas
simplesmente porque eles estão mais disponíveis ou visíveis para as comunidades humanas.
Portanto, seguindo o modelo de transposição das aplicações desta teoria, de ideias ecológicas
para ideias botânicas e etnobotânicas, neste trabalho se buscou analisar os princípios da teoria
da “Aparência ecológica” sob uma perspectiva da etnozoologia, tentando investigar se a
“aparência” de um determinado grupo de animais pode explicar seu uso por uma comunidade
local.
20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Human Ecology, v. 7, n. 2, p. 183-189, 1979.
ALBUQUERQUE, U. P. Etnobiologia e Biodiversidade. Nupeea - Livro Rápido – Recife-
PE, 2005.
ALBUQUERQUE, U.P.; LUCENA, R.F.P. Can apparency affect the use of plants by local
people in tropical forests? Interciencia, v. 30, n. 8, p. 506-510, 2005.
ALVES, R. R. N.; MENDONÇA, L. E. T.; CONFESSOR, M. V. A.; VIEIRA, W. L. S.;
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ilegal da avifauna silvestre por populações tradicionais do semiárido paraibano. Revista de
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24
Artigo - MAMÍFEROS CINEGÉTICOS NO SEMIÁRIDO DO NORDESTE
BRASILEIRO: UMA ANÁLISE COM BASE NA HIPÓTESE DA APARÊNCIA
ECOLÓGICA.1
Belarmino Carneiro da Silva Neto1, André Luiz Borba do Nascimento
1, Nicola Schiel
2,
Rômulo Romeu de Nóbrega Alves3, Antonio Souto
4, Ulysses Paulino de Albuquerque
1
1Departamento de Biologia, Laboratório de Etnobiologia Aplicada e Teórica, Universidade
Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife,
52171-030, Pernambuco, Brasil.
2Departamento de Zoologia, Laboratório de Etologia Aplicada, Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, 52171-030,
Pernambuco, Brasil.
3Departamento de Biologia, Área de Zoologia, Laboratório de Etnobiologia Aplicada,
Universidade Estadual da Paraíba, Avenida das Baraúnas, 351, Bodocongó, Campina Grande,
58109-753, Paraíba, Brasil.
4Departamento de Biologia, área de Zoologia, Laboratório de Etologia, Universidade Federal
de Pernambuco, Av. Prof. Moraes Rego, 1235, Cidade Universitária, Recife, 50670-901,
Pernambuco, Brasil.
1 Artigo com proposta de submissão para a revista Human Ecology. Normas do periódico no anexo 01
25
MAMÍFEROS CINEGÉTICOS NO SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO: UMA
ANÁLISE COM BASE NA HIPÓTESE DA APARÊNCIA ECOLÓGICA.
Belarmino Carneiro da Silva Neto1, André Luiz Borba do Nascimento
1, Nicola Schiel
2,
Rômulo Romeu da Nóbrega Alves3, Antonio Souto
4, Ulysses Paulino de Albuquerque
1
1Departamento de Biologia, Laboratório de Etnobiologia Aplicada e Teórica, Universidade
Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife,
52171-030, Pernambuco, Brasil.
2Departamento de Zoologia, Laboratório de Etologia Aplicada, Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, 52171-030,
Pernambuco, Brasil.
3Departamento de Biologia, Área de Zoologia, Laboratório de Etnobiologia Aplicada,
Universidade Estadual da Paraíba, Avenida das Baraúnas, 351, Bodocongó, Campina Grande,
58109-753, Paraíba, Brasil.
4Departamento de Biologia, área de Zoologia, Laboratório de Etologia, Universidade Federal
de Pernambuco, Av. Prof. Moraes Rego, 1235, Cidade Universitária, Recife, 50670-901,
Pernambuco, Brasil.
Resumo
A caça de animais silvestres é uma atividade comum em várias partes do mundo,
especialmente nas comunidades rurais com precárias condições socioeconômicas. Ao
investigar os padrões de caça de mamíferos de interesse cinegético, este estudo tomou como
modelo uma comunidade rural situada nos arredores da FLONA-Araripe semiárido brasileiro,
para testar, sob uma perspectiva da teoria da aparência ecológica, se variáveis como:
abundância, períodos de atividades (diurno ou noturno) e biomassa das espécies, poderiam
influênciar o seu potencial consumo. Para realização deste trabalho foi utilizada a técnica de
checklist/entrevista, com 32 fotografias de mamíferos registrados na região e mais duas
fotografias de espécies não ocorrentes na região que atuaram como espécies “controle”, além
de outros estímulos visuais e listas livres. Todas as espécies apresentadas nas fotografias, com
exceção das espécies “controle” foram reconhecidas como ocorrentes na região. Quatorze
26
delas foram citadas como sendo as mais caçadas localmente. A Cutia (Dasyprocta
prymnolopha) foi indicada como a mais abundante e também a mais potencialmente caçada,
enquanto o Guaxiním (Procyon cancrivorus) foi reportado como a espécie menos abundante.
Observou-se que as espécies citadas como mais caçadas apresentaram média de abundância
maior que o grupo das menos caçadas. Porém não houve relação significativa entre a caça das
espécies e suas respectivas abundâncias percebidas localmente. Não foram encontradas
diferenças significativas entre a pressão de caça sofrida por espécies diurnas e noturnas e
também não se observou relação entre a biomassa e a pressão de caça. Nossos achados
sugerem que a abundância percebida é um fator relevante para a escolha de um recurso
faunístico, porém outros fatores como, por exemplo, finalidade de uso, sabor da carne,
vulnerabilidade à caça, entre outros, podem influenciar o uso potencial de uma espécie.
Palavras-Chaves: Atividade cinegéticas, checklist, ecologia Humana, etnozoologia.
Introdução
O uso de animais silvestres ainda se mostra uma prática comum para diversas
populações humanas do mundo (Morales 2000; Lechuga 2001). Tendo em vista que um
grande número de pessoas utilizam esses recursos para o suprimento de demandas
alimentícias de suas famílias, este fato apresenta um grande impacto socioeconômico,
principalmente para as populações de regiões mais pobres (Robinson e Bennett 2000; Davies
2002; Cullen-Junior 1997).
A carne de animais silvestres apresenta um alto teor proteico e é, em muitas
comunidades, a principal fonte de proteína animal (Redford 1997). O alto interesse por carne
de animais silvestres é percebido no semiárido brasileiro, onde a prática da caça é
impulsionada por questões de sobrevivência, tendo em vista que a utilização desses recursos
se dá para fins nutricionais (Barbosa et al 2011).
Associando o uso intensivo da carne de animais silvestres ao suprimento de
demandas alimentícias, o grupo dos mamíferos silvestres é evidenciado como o mais
pressionado pelas atividades de caça em diversas comunidades humanas (Mittermeier 1991;
Puertas e Bodmer 2004). Isso se deve ao fato de que muitos membros desse grupo oferecem
maior quantidade de carne quando comparados a outros grupos de vertebrados (Trinca e
Ferrari 2006).
27
O processo de busca por animais na natureza pode estar relacionado a diferentes
variáveis (Ramírez 2004), dentre as quais a abundância da espécie tem sido destacada como
relevante fator de influência na pressão de uso sofrida pela mesma (Guerra e Naranjo 2003;
Lira 2005; Contreras-Moreno et al 2012). Esse fato pode se dever a maior facilidade de se
encontrar o recurso na natureza.
A visibilidade de uma espécie pode estar associada também com o seu tamanho.
Os mamíferos com maior massa corporal são mais fáceis de serem vistos, fator que pode vir a
influênciar na coleta do recurso (Richard-Hansen e Hansen 2004). Alguns trabalhos sinalizam
a existência dessa relação, pois caçadores tendem a preferir capturar animais de maior porte
(Cullen et al 2001).
Outro fator que pode estar ligado com a facilidade de se encontrar uma espécie é o
período de atividade da mesma. Animais diurnos seriam mais facilmente encontrados do que
os noturnos, devido à visibilidade fornecida pela luz do sol. A atividade de caça durante a
noite é muitas vezes realizada com o auxílio de cachorros (Alves et al 2009), que se utilizam
do faro para a captura das presas, fornecendo indícios de que a caça noturna depende de
estratégias que superem os problemas de localização de espécies. Essas estratégias talvez
demandem um maior gasto energético, o que pode vir a inibir a atividade cinegética durante o
período noturno, havendo a necessidade de se testar se de fato isso ocorre.
Além dos fatores acima considerados, a experiência da pessoa, pode ser outra
determinante na forma com as mesmas percebem, visualizam e abordam os recursos naturais
(Bender et al 2013), assim, é possível que informantes com idades diferentes apresentam
variações de percepções sobre as abundâncias das espécies.
Tendo em vista que os trabalhos acima citados destacam as variáveis abundância e
visibilidade das espécies entre os critérios para seleção de recursos animais, podem-se
associar tais fatos às ideias propostas por Phillips e Gentry (1993), sobre a hipótese da
aparência ecológica, sugerindo que as espécies mais aparentes na natureza, ou seja, mais
fáceis de serem encontradas na floresta, tem uma maior probabilidade de ser usada pelas
pessoas. Embora as ideias destes pesquisadores tenham sido testadas, até o momento, apenas
em estudos com plantas, parece fazer sentido que o uso de animais silvestres por populações
humanas, tenham relação com tais hipóteses.
Portanto, este trabalho toma como base a hipótese da “aparência ecológica” a fim
de investigar se variáveis como: abundância percebida, biomassa e períodos de atividades
(diurno e noturno), e experiência do caçador, podem ser preditores do consumo de mamíferos
28
por caçadores locais. Para isso, testamos, neste trabalho, em função da percepção dos
informantes, as seguintes hipóteses: H1 - As espécies de mamíferos cinegéticos são caçadas
de acordo com a sua abundância percebida localmente; H2 – Os períodos de atividades
(diurno e noturno) dos mamíferos estão relacionados à pressão de caça sofrida por eles; H3 -
Os mamíferos são caçados de acordo com a sua biomassa.
Material e Métodos
Área de estudo
O trabalho de campo foi realizado em uma comunidade rural, que se situa nas
proximidades da Floresta Nacional do Araripe localizada na chapada do Araripe, região
situada no semiárido nordestino. A área possui uma extensão de 38.262,33 ha e foi criada a
partir do Decreto Nº 9.226, de 02 de maio de 1946. Abrange partes dos municípios do Crato,
Missão Velha, Santana do Cariri, Barbalha, Nova Olinda e Jardim, na microrregião do Cariri
cearense, Nordeste do Brasil, e é a primeira Floresta Nacional instituída no Brasil (IBAMA
2004).
A vegetação predominante é o Cerradão, mas também existem faixas de transição
que apresentam traços de Mata úmida, Cerrado e Caatinga, com uma rica diversidade
florística, faunística e de outros recursos naturais, fornecendo subsídios como lenha, frutos,
entre outros, aos habitantes que vivem nas proximidades (Costa et al 2004).
Em relação à fauna, na FLONA-Araripe se encontram espécies de diversos
grupos, como: insetos, anfíbios, répteis, aves e mamíferos entre outros (IBAMA 2004).
Restringindo-se à mastofauna, Cruz e Campello (1998), registraram para FLONA-Araripe
seis ordens contendo 15 famílias e 35 espécies. A ordem Rodentia possuindo 13 espécies é a
mais bem representada na área, seguida pelas ordens Carnivora com 11 representantes, Pilosa
com cinco representantes, Artiodactyla com 4 representantes e as ordens Primates e
Marsupialia com apenas um representante em cada.
A pesquisa foi desenvolvida especificamente na comunidade de Horizonte (S 07º
29’ 36.9”, W 39º 22’ 02.6”), pertencente ao município de Jardim, que dista em
aproximadamente 15 km do centro da sede. Esta comunidade apresenta um histórico de usos
dos recursos naturais, se mostrou um excelente cenário o desenvolvimento desta pesquisa. A
população de Horizonte foi registrada em aproximadamente 1.120 habitantes (censo dos
agentes de saúde da secretaria de saúde do município de Jardim) e conta com uma escola de
29
ensino fundamental e um posto de saúde. Os moradores desta comunidade precisam se
deslocar à sede para atender demandas mais específicas de saúde e educação (Balcazar, 2012).
A principal atividade dos habitantes gira em torno da agricultura de subsistência,
principalmente com o cultivo de feijão, mandioca e milho, tendo em alguns locais, a
manutenção de pequenos pastos para criação de gado, juntamente com a extração de recursos
naturais da FLONA, são as principais fontes de renda dos que residem na comunidade
(IBAMA 2004).
Aspectos éticos e legais
Antes do início da coleta de dados, foram fornecidas aos possíveis envolvidos
informações quanto à natureza e os objetivos da pesquisa, solicitando-se aos entrevistados a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, permitindo com isso a coleta, o
uso e a publicação dos dados obtidos, conforme a exigência da legislação vigente (Resolução
n° 196, de 10/10/1996, do Conselho Nacional de Saúde). A pesquisa foi autorizada pelo
Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade – SISBIO com autorização de
número 35343-1, e pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Pernambuco com
aprovação de número CAAE 11770113.0,0000,5207.
Coleta de dados
Os primeiros contatos com os membros da comunidade foram estabelecidos por
meio de conversas informais nas quais o foco do diálogo foi conduzido para assuntos sobre o
uso dos recursos naturais pela comunidade, especialmente os animais de interesse cinegético.
A pesquisa teve uma amostragem não aleatória intencional, constituída por “especialistas
locais” (Albuquerque et al 2010), que neste trabalho foram considerados como as pessoas
conhecedoras da caça. A identificação dos “especialistas locais” foi realizada aplicando-se a
técnica de “Bola de neve” (Albuquerque et al 2010), tentando-se, abranger a totalidade dos
conhecedores das atividades cinegéticas na comunidade. Assim, foram entrevistados 67
informantes, todos do sexo masculino com idades que variaram de 18 a 82 anos.
A coleta de dados foi baseada no método de checklist/entrevista (Medeiros et al
2010) que partiu de fotografias de mamíferos já registrados na área em estudo anterior (Cruz e
30
Campello 1998) (Figura 1), além das fotos de algumas espécies não ocorrentes na região
(Figura 2). Foram utilizadas 34 fotografias, das quais 32 foram de espécies já registradas para
a região e duas de espécies não ocorrentes da região que atuaram como controle, Panthera leo
(Linnaeus, 1758) (Leão) e Equus burchelli (Graty, 1824) (Zebra).
31
Figura 1 - Fotografias de espécies de mamíferos utilizadas no checklist/entrevista na comunidade de Horizonte, município de Jardim, Ceará,
Nordeste do Brasil (a) Panthera onca (Linnaeus, 1758) (Onça-pintada), (b) Puma Concolor (Linnaeus,1771) (Maçaroca), (c) Puma
yagouaroundi (Saint-Hilaire,1803) (Gato mourisco), (d) Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) (Lagartixeiro), (e) Leopardus wiedii
(Schinz,1821) (Maracajá mirim), (f) Leopardus pardalis (Jaguatirica) (Linnaeus, 1758), (g) Cerdocyon thous (Wied-Neuwied,1824) (Raposa),
(h) Conepatus semistriatus (Boddaert,1785) (Ticaca).
(Fontes: (a) www.flickriver.com; (b) www.bluechannel24.com; (c) www.wotcat.com; (d) www.mae-da-lua.org; (e) www.klimanaturali.org; (f)
livingorganisms-joshua.blogspot.com.br; (g) www.flickr.com; (h) www.flickr.com).
32
(i) (j) (k) (l)
(m) (n) (o) (p)
Figura 1 (continuação): (i) Eira barbara Barbara (Linnaeus,1758) (Papa-mel), (j) Galictis vittata (Schreber, 1776) (Furão), (k) Procyon
cancrivorus (Cuvier, 1798) (Guaxiním), (l) Ozotoceros bezoarticus (Linnaeus, 1758) (Veado-gaieiro), (m) Mazama gouazoubira
superciliaris (Veado-mateiro), (n) Mazama gouazoubira namby (Fitzinger, 1879) (veado-comum), (o) Tayassu tajacu (Linnaeus, 1758)
(Caititú), (p) Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) (Tamanduá-mirim).
(Fontes: (i) iefrancaves.blogspot.com.br; (j) www.capitaldasnascentes.org.br; (k) flickriver.com; (l) pib.socioambiental.org; (m)
www.planet-mammiferes.org; (n) www.flickriver.com; (o) www.biolib.cz; (p) olhares.uol.com.br).
33
(q) (r) (s) (t)
(u) (v) (w) (x)
Figura 1 (continuação) - (q) Tolypeutes tricinctus (Linnaeus,1758) (Tatu-bola), (r) Euphractus sexcinctus (Linnaeus,1758) (Tatu-peba),
(s) Dasypus novemcinctus (Linnaeus,1758) (Tatu-verdadeiro), (t) Cabassous unicinctus (Linnaeus,1758) (Tatu-china), (u) Callithrix
jacchus (Linnaeus,1758) (Sauím), (v) Didelphis albiventris (Lund,1840) (Cassaco), (w) Kerodon rupestris (Wied-Neuwied,1820) (Mocó),
(x) Galea spixii (Wagler, 1831) (Preá).
(Fontes: (q) www.hurriyetdailynews.com; (r) www.natgeocreative.com; (s) www.summagallicana.it; (t)
combinacionanimal.blogspot.com.br; (u) www.biolib.cz; (v) www.faunaparaguay.com; (w) www.flickriver.com; (x) www.rbej.com).
34
Figura 1 (continuação): (y) Dasyprocta prymnolopha (Wagler,1831) (Cutia), (z) Mus musculus (Linnaeus,1758) (Camundongo), (aa)
Rattus norvegicus (Fischer de Waldheim, 1803) (Ratazana), (ab) Gracilinanus agilis (Burmeister,1854) (Rato-pequeno-da-mata, cuíca),
(ac) Calomys callosus (Rengger,1830) (Rato-de-seis-gramas), (ad) Rhipidomys sp. (Rato-de-árvore), (ae) Bolomys lasiurus (Lund,1841)
(Rato de capim), (af) Trichomys apereoides (Lund, 1839) (Punaré).
(Fontes: (y) dicionariotupiguarani.blogspot.com; (z) www.biolib.cz; (aa) www.scientific-web.com; (ab) licenciamento.ibama.gov.br; (ac)
www.faunaparaguay.com; (ad) www.ib.usp.br; (ae) www.infoescola.com; (af) www.flickr.com)
35
(a) (b)
Figura 2 - Fotografias da espécies de mamíferos não ocorrentes na região da FLONA-Araripe utilizadas como controle no
checklist/entrevista na comunidade de Horizonte, município de Jardim, Ceará, Brasil.
(a) Panthera Leo (Linnaeus, 1758) (Leão), (b) Equus burchelli (Graty, 1824) (Zebra).
(Fontes: (a) www.sciencephoto.com; (b) a-z-animals.com)
36
As fotografias das espécies não ocorrentes foram utilizadas para testar a
confiabilidade das informações fornecidas pelos entrevistados, logo, foi esperado que essas
duas espécies não fossem citadas pelos informantes como ocorrentes na região.
Os entrevistados foram convidados a identificar cada espécie apresentada nas
fotografias por meio de seus nomes vernaculares, e em seguida responderam questões sobre a
sua abundância local segundo sua percepção, os mamíferos de maior interesse cinegético, os
mamíferos mais caçados, critérios para escolha para caça e os horários de atividades (diurno
ou noturno) de cada espécie de mamífero.
Para estimar a abundância percebida pelo informante, para cada espécie
apresentada no checklist/entrevista, foi apresentado um estímulo visual para que o informante
indicasse o seu entendimento da abundância de um determinado recurso (Figura 3). Na figura
foram representadas imagens contendo diferentes números de pontos representando: (1) uma
pequena abundância, (2) uma abundância intermediária baixa, (3) uma abundância
intermediária alta e (4) uma alta abundância.
Visando obter informações relacionadas às espécies de mamíferos mais caçados,
foi utilizada a técnica da lista livre, em que cada informante citou as espécies de mamíferos
percebidas por eles como as mais caçadas. As espécies citadas nesta lista livre foram
consideradas como “espécies mais caçadas” e as espécies que não foram citadas nas listas
livres, porém, que foram citadas como caçadas na entrevista, foram consideradas como
“espécies menos caçadas”.
Com o intuito de avaliar quais os critérios de escolha das espécies a serem
caçadas, os informantes foram questionados sobre os principais motivos que os levavam a
escolher a espécie em detrimento de outra.
Figura 3 - Estímulo visual apresentado aos informantes para indicação de abundância
percebida quanto às espécies de mamíferos de importância cinegética. (1 – Pouco abundante;
2 – Intermediariamente abundante; 3 - Abundante; 4 – Muito abundante).
37
Para classificar as diferentes espécies de mamíferos quanto aos horários de
atividades de cada uma das espécies, foram consultadas fontes bibliográficas (Reis et al 2006;
Macdonald 2006). Além disso, durante as entrevistas, os informantes classificaram as
espécies apresentadas nas fotografias, de acordo com sua percepção, como sendo de hábitos
diurnos ou noturnos.
A fim de inferir os valores de biomassa das espécies de mamíferos registradas
para área, foram consultados os trabalhos de Reis et al (2006) e Macdonald (2006). Os valores
adotados como base para este trabalho foram as médias de todos os valores de biomassa
citados nestas literaturas para cada espécie.
Análise dos dados
Para realização dos testes estatísticos, primeiramente foi calculada a média de
abundância percebida de cada espécie reconhecida. Para tal, foram somados os valores de
abundância indicada para cada espécie (Figura 3) por cada informante e dividiu-se este valor
pelo número de informantes que reconheceram uma determinada espécie. Por exemplo: Se a
espécie “X” foi reconhecida como ocorrente na região por quatro informantes, os quais
atribuíram os respectivos valores de abundâncias: 3, 2, 3, 4, logo, a média da abundância
percebida para a espécie “X” será:
, assim teremos: ABX = 3.
Posteriormente, a partir da lista livre das espécies percebidas como mais caçadas,
foi calculada a saliência das espécies empregando-se o software Anthropac 4.0 (Borgatti
1996). A saliência das espécies é indicada por meio do índice de Smith, que é uma medida da
saliência que vai de 0 a 1 e se baseia nos maiores valores de frequência absoluta e maior
coincidência de posição de citação dos itens do ordenamento entre os informantes,
possibilitando assim, ordenamento dos itens da listagem que aparecem mais vezes nas listas
de citações avaliando também suas posições.
Visando testar a existência de relação entre a abundância percebida das espécies
de mamíferos mais caçadas e sua importância cultural, estimada pela saliência, foi empregado
o teste de correlação de Spearman (Ayres et al 2007). Para avaliar se as espécies mais caçadas
são percebidas como mais abundantes do que as espécies menos caçadas foi empregado o
teste U de Mann Whitney (Ayres et al 2007), comparando as médias de abundância percebida
desses dois grupos.
38
Devido a grande variação de idade dos informantes (18 a 82 anos), é possível que
a percepção sobre os recursos faunísticos da floresta dos mais jovens seja distinta dos mais
velhos, o que poderia influênciar nas inferências sobre a abundância percebida e uso da
mastofauna local. Nesse sentido, a fim de verificar se as percepções de abundâncias das
espécies reconhecidas como ocorrentes na área sofrem influência a depender de classes de
idade, os informantes foram divididos em dois grupos, sendo: os mais novos (até 40 anos de
idade) e os mais velhos (maiores de 40 anos de idade) (Monteiro et al 2006). Assim sendo,
foram comparadas as médias de abundância percebidas dos mamíferos em geral, pelos
informantes mais novos e mais velhos, utilizando o teste U de Mann Whitney (Ayres et al
2007).
Através do teste de Mann Whitney (Ayres et al 2007), as médias de abundâncias
percebidas do grupo dos mamíferos mais caçados e menos caçados foram comparadas de
acordo com as classes de idades dos informantes e posteriormente se testou a relação entre as
saliências das espécies mais caçadas e suas abundâncias percebidas de acordo com a faixa
etária dos informantes, para esta última análise foi utilizado o teste de correlação de Spearman
(Ayres et al 2007).
Para testar se a biomassa dos mamíferos está relacionada com a pressão de caça
sofrida por eles, foi tomado como base o grupo dos animais mais caçados e correlacionou-se o
valor da biomassa das espécies com os valores das saliências das espécies. Para isso foi
utilizado o teste de correlação Spearman (Ayres et al 2007). Foram comparadas as médias de
biomassa dos grupos dos mais caçados e menos caçados para verificar se existe diferença
entre essas variáveis com o teste de Mann Whitney (Ayres et al 2007).
No que diz respeito aos períodos de atividades (diurno ou noturno) das espécies,
foi testado se esta variável pode estar relacionada a possível pressão de caça sofrida pelas
espécies de mamíferos como recursos cinegéticos. Para isso, com base no grupo das espécies
mais caçadas, foram comparadas as médias das saliências de caça das espécies de hábitos
diurnos com as médias de saliências de caça das espécies de hábitos noturnos através do teste
de Mann Whitney (Ayres et al 2007).
Ainda a fim de avaliar questões relativas a períodos de atividades e pressão de
caça aplicou-se o teste G em tabelas de contingência (Ayres et al 2007), com intuito de
observar se existem diferenças nas proporções de espécies diurnas e noturnas entre os grupos
mais e menos caçados. A normalidade dos dados foi testada através do teste de Shapiro-Wilk
39
(Ayres et al 2007) e todos os testes foram realizados com a utilização do software BIOESTAT
5.0 (Ayres et al 2007).
Resultados
Abundância e potencial cinegético
Com exceção das duas espécies controle, Panthera leo (Linnaeus, 1758) (Leão) e
Equus burchelli (Graty, 1824) (Zebra), todas as outras 32 espécies apresentadas no
checklist/entrevista foram reconhecidas como ocorrentes na região. As espécies reconhecidas
apresentaram médias de abundância percebida variando de 1,16 (±0,37) a 3,81 (±0,40), sendo
a maior média pertencente a Dasyprocta prymnolopha (Wagler, 1831) (Cutia) (3,81±0,40,
n=67) e a menor a Procyon cancrivorus (Cuvier, 1798) (Guaxinim) (1,16±0,37, n=19)
(Tabela 1).
Um total de 14 espécies, dentre as 32 utilizadas no checklist, foi citado nas listas
livres, sendo estas consideradas aquelas que sofrem uma maior pressão de caça e foram aqui
classificadas como espécies mais caçadas. As espécies que não foram citadas nas listas livres
foram aqui classificadas como menos caçadas. Entre as espécies mais caçadas, a que se
apresentou mais saliente foi Dasyprocta prymnolopha (Cutia) (0,745) e as espécies
Tolypeutes trincinctus (Tatú-Bola) (0,002) e Trichomys apereoidess (Punaré) (0,002) foram as
menos salientes (Tabela 1).
40
Tabela 1 – Táxons de mamíferos, com suas respectivas espécies e nomes vulgares, abundância percebida, biomassa e saliência, reconhecidos
pelos informantes da Comunidade de Horizonte, município de Jardim, Ceará, Brasil, como ocorrentes na FLONA-Araripe, nordeste do Brasil.
Ordem Família Nome científico Nome vulgar
Média de
Abundância
Percebida
Hábitos de atividades
(Diurno ou Noturno)
Biomassa
média (kg)
Saliência das
espécies mais
caçadas
Status de
conservação
Panthera onca (Linnaeus, 1758) Onça-pintada (variante= preta) 1,26 Noturno 109,5 - Vulnerável
Puma Concolor (Linnaeus, 1771) Suçuarana (onça vermelha, lombo preto, bodeira, maçaroca) 1,76 Noturno 46.00 - Em perigo
Puma yagouaroundi (Saint-Hilaire, 1803) Gato mourisco, gato azul, gataçú 1,45 Noturno 3,8 - Vulnerável
Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) Gato-do-mato, lagartixeiro 1,7 Noturno 2,5 - Vulnerável
Leopardus wiedii (Schinz, 1821) Gato-maracajá, maracajá mirim 1,55 Noturno 3,3 - Vulnerável
Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) Maracajá-açu, gato-do-mato-grande 1,31 Noturno 10,1 - Em perigo
Canidae Cerdocyon thous azarae (Wied-Neuwied, 1824) Raposa, goró, mariano, güaspira 3,25 Noturno 7,4 0,031 Estável
Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785) Ticaca, gambá, gambalina, gambíra 2,75 Noturno 2,75 0,06 Estável
Eira barbara Barbara (Linnaeus, 1758) Papa-mel 2.00 Noturno 7,4 - Estável
Galictis vittata (Schreber, 1776) Furão 1,67 Noturno 2,25 - Estável
Proscionidae Procyon cancrivorus (Cuvier, 1798) Guará, guará-de-cana, guaxiním, guaraxiním 1,16 Noturno 6,25 - Estável
Ozotoceros bezoarticus (Linnaeus, 1758) Veado-campeiro, veado-mateiro 2,25 Diurno 35.0 0,008 Insuficiente
Mazama gouazoubira superciliaris (Gray, 1852) Veado-catingueiro, veado-capoeiro, veado-vermelho, veado-grande 3,05 Diurno 20.0 0,17 Estável
Mazama gouazoubira namby (Fitzinger 1879) Garapú, carapú, veado-roxo, veado-comum 2,86 Diurno 20.0 0,339 Estável
Tayassuidae Tayassu tajacu (Linnaeus, 1758) Porco-do-mato, cateto, caititú 2.00 Noturno 24.0 - Extinção Local
Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) Tamanduá-mirim 2,98 Noturno 5.0 0,015 Estável
Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758) Tatu-bola 1,69 Noturno 1,7 0,002 Extinção Local
Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) Tatu-peba 1,94 Noturno 4,8 0,31 Estável
Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) Tatu-galinha, tatu-verdadeiro 2,56 Noturno 4,65 0,526 Estável
Cabassous unicinctus (Linnaeus, 1758) Tatu-china, tatu-rabo-de-couro 1,74 Noturno 3,5 0,108 Estável
Primates Callitrichidae Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758) Sagüi-do-Nordeste, sauím 3,09 Diurno 0,375 - Estável
Marsupialia Didelphidae Didelphis albiventris (Lund, 1840) Timbú, cassaco, saruê 2,69 Noturno 1,65 0,012 Estável
Kerodon rupestris (Wied-Neuwied, 1820) Mocó 1,83 Diurno 0,6 - Estável
Galea spixii (Wagler, 1831) Preá 1,29 Diurno 0,45 0,204 Estável
Dasyproctidae Dasyprocta prymnolopha (Wagler, 1831) Cutia 3,81 Diurno 4,9 0,745 Estável
Mus musculus (Linnaeus, 1758) Camundongo, nova seita 1,78 Noturno 0,015 - Estável
Rattus norvegicus (Fischer de Waldheim, 1803) Ratazana, rato de esgoto 1,91 Noturno 0,3 - Estável
Gracilinanus agilis (Burmeister, 1854) Rato-pequeno-da-mata 3,5 Noturno 0,04 - Estável
Calomys callosus (Rengger, 1830) Rato-de-seis-gramas, guajapi 2,5 Noturno 0,025 - Estável
Rhipidomys sp,(Lund, 1840) Rato-de-árvore 2,62 Noturno 0,1 - Estável
Bolomys lasiurus (Lund, 1841) Pixuna, calunga, rato de capim 2,33 Noturno 0,065 - Estável
Echimyidae Trichomys apereoides (Lund, 1839) Punaré, cabudo, rabudo 2.00 Noturno 0,35 0,002 Estável
Cricetidae
Rodentia
Carnívora
Artiodactyla
Pilosa
Caviidae
Felidae
Mustelidae
Cervidae
Dasypodidae
Muridae
41
Entre os critérios citados pelos informantes para caracterizar a escolha por
determinadas espécies de mamíferos, a abundância percebida da espécie aparece em primeiro
lugar com 46 (46,5%) citações, seguido pelo sabor da carne com 35 (35,4%) citações. Outros
critérios estão listados na tabela 2.
Tabela 2 - Percentual de citação dos critérios adotados para escolha dos recursos faunísticos
por coletores da comunidade de Horizonte, município de Jardim, Ceará, Brasil.
Ao verificar se existe correlação entre a saliência das espécies mais caçadas e suas
respectivas abundâncias percebidas, não se encontrou correlação significativa (n = 14; rs=
0,272; p = 0,345). Já quando foi comparada a média de abundâncias percebidas do grupo de
mamíferos mais caçados com os menos caçados, foram encontradas diferenças significativas
(U = 71; p = 0,0183).
Classes de idade dos informantes, percepção de abundância e potencial cinegético.
No que diz respeito à abundância percebida das espécies, observou-se que os
informantes mais jovens (até 40 anos de idade) perceberam uma menor abundância das
espécies quando comparada à percepção dos informantes mais velhos (acima de 40 anos de
idade). Quando comparadas, as médias de abundância percebida por estes dois grupos de
informantes, estas apresentaram diferenças significativas (U = 357.5; p = 0,019), sendo que os
informantes mais velhos perceberam uma maior abundância que os mais novos.
Quando foram comparadas as abundâncias percebidas das espécies mais caçadas e
menos caçadas separadamente por classe de idade, observou-se que tanto os informantes mais
jovens quanto os mais velhos percebem que as espécies do grupo dos mais caçados possuem
maior abundância que as espécies do grupo dos menos caçados (jovens: U = 38.5; p = 0,0123;
mais velhos: U = 75.5, p = 0,0275).
Critérios de Utilização Percentual de Citação
Abundancia da espécie 46.50%
Sabor da carne 35.40%
Quantidade de carne 17.20%
Facilidade na captura 9.10%
Prazer ao caçar 2.00%
Versatilidade de uso 2.0%
42
A correlação entre as saliências das espécies mais caçadas e suas respectivas
abundâncias separadamente por classes de idade, não foi significativa entre essas variáveis em
nenhum dos grupos de idade. Mais jovens: (n = 8; rs = 0,3952; p = 0,3325) e mais velhos (n =
14; rs = 0,198; p = 0,4974).
Biomassa versus pressão de caça
A espécie, apresentada no checklist, que possui o maior média de biomassa foi a
Panthera onca (Linnaeus, 1758), (109,5 kg), enquanto a espécie com a menor média de
biomassa é Mus musculus (Linnaeus, 1758) (0,015 kg).
Considerando apenas as espécies mais caçadas, observou-se que a biomassa dos
mamíferos não correlacionou-se significativamente com suas respectivas saliências de caça (n
= 14; rs = 0,2723, p = 0,3462). Foram comparadas também as médias de biomassa entre os
grupos dos mamíferos mais caçados e menos caçados e não se observou diferença
significativa (U = 93,50; p = 0,2170).
Períodos de atividades versus pressão de caça
No que diz respeito aos períodos de atividades das espécies de mamíferos (diurnos
e noturnos), das 32 espécies utilizadas no checklist, sete espécies foram classificadas como
diurnas e 25 espécies noturnas. Considerando-se apenas as 14 espécies classificadas como
mais caçadas, cinco foram caracterizadas como diurnas e nove como noturnas.
Dentre as espécies mais caçadas, observou-se que a média da saliência do grupo
de animais diurnos não se diferenciou significativamente do grupo de noturnos (U = 12, p =
0,16). Também não foram encontradas diferenças nas proporções de espécies diurnas e
noturnas entre os grupos mais caçados e menos caçados (G = 2.8134; p = 0,0935).
43
Discussão
Abundância e potencial cinegético
O presente estudo procurou analisar se os pressupostos da hipótese da aparência
ecológica explica a atividade de caça de mamíferos. Encontrou-se que as espécies de
mamíferos consideradas mais caçadas pelos informantes apresentam maior abundância
percebida que as menos caçadas. Esses dados indicam que espécies de mamíferos mais
disponíveis localmente tendem a sofrer maior pressão de caça, fato este observado em outras
pesquisas em Etnozoologia (Guerra e Naranjo 2003; Lira, 2005; Racero-Casarrubia et al
2008; Noss e Cuéllar 2008; Tlapaya e Gallina 2010; Contreras-Moreno et al 2012).
Considerando que a maior facilidade de se encontrar um recurso propicia mais eventos
de aprendizagem e experimentação do mesmo (Philips e Gentry 1993), a alta abundância de
uma espécie pode ter ampliado as oportunidades locais de coleta da mesma, conduzindo a um
maior acúmulo de conhecimento sobre o seu uso, e consequentemente aumentando o interesse
dos coletores por este recurso.
Contudo, isso não significa que a espécie mais abundante em uma localidade é,
necessariamente, a mais caçada. Os resultados indicam que, analisando-se exclusivamente o
grupo das espécies citadas como mais caçadas na comunidade de Horizonte, Jardim-CE, não
existe relação significativa da abundância percebida com a saliência de caça. Esses dados
indicam que embora haja uma tendência geral de maior utilização de mamíferos mais
abundantes, outros fatores também podem estar influênciando a escolha de uma espécie para
fins cinegéticos.
O sabor da carne, por exemplo, apresentou uma alta porcentagem de citação como
critério utilizado pelos informantes que os motiva a caçar mais uma determinada espécie,
sendo este um fator importante considerado por caçadores em outros trabalhos (Rezende e
Schiavetti 2010; Ramírez 2004). Esta característica está diretamente ligada à categoria de uso
alimentício, que é a principal finalidade da caça de mamíferos (Deutsch e Puglia 1990;
Bennett 2002; Naranjo et al 2004; Andaluz 2005). Nesse sentido, os atributos de uma espécie
que a tornem mais atrativas para um determinado uso aparentam ser co-variáveis consideradas
pelos caçadores na escolha das suas presas.
44
A influência da idade no conhecimento sobre a mastofauna local
A forma com que a comunidade percebe os recursos naturais pode exercer influência
sobre a sua utilização (Molares e Ladio 2012). No presente estudo, essa afirmação aparenta
ser verdadeira, uma vez que se encontrou que a percepção em relação à mastofauna variou
quando analisamos dados de diferentes classes de idade dos informantes. Os informantes mais
jovens percebem uma menor abundância do conjunto total de espécies, do que os informantes
mais velhos, o que pode estar relacionado ao fato de os informantes mais jovens ainda
estarem realizando atividades na mata e com isso podem perceber o estado atual da
abundância das espécies, enquanto os informantes mais velhos, por não estarem coletando
recursos faunísticos tão intensivamente nos tempos atuais, podem estar fazendo uma
avaliação “desatualizada” sobre a abundância das espécies, tomando como base as
abundâncias percebidas de tempos anteriores. Essa ideia é reforçada por Quinlan e Quinlan
(2007) quando afirmam que a falta de envolvimento com o meio torna as pessoais propensas a
perda de conhecimento sobre ele.
Levando em consideração a aceleração no desenvolvimento de zonas urbanas e que
estas, associadas ao desmatamento e ações antrópicas, estão relacionadas com a diminuição
da biodiversidade (Leal et al 2005), a percepção do grupo dos informantes mais jovens parece
ser mais fidedigna. Todavia, isso merece ser testado empiricamente com dados gerais de
abundância.
Por outro lado, Silva et al (2011), ao estudar o conhecimento de um grupo de pessoas
sobre plantas medicinais, encontrou que a idade dos informantes está diretamente ligada ao
número de plantas citadas por ele, demonstrando assim uma relação entre o conhecimento de
um informante sobre esse recurso e sua idade. Monteiro et al (2006) salienta a importância do
fator idade no acúmulo de conhecimento sobre recursos naturais, além disso, Quinlan e
Quinlan (2007) reforça que pessoas mais velhas tendem a ter mais conhecimento devido à
maior possibilidade de experimentação tida por eles e possuem menor vulnerabilidade à
efeitos externos que venham influênciar no conhecimento proliferado sobre um determinado
assunto.
De todo modo, embora apresentando diferenças nas formas de perceber o meio, os dois
grupos de informantes acabam por convergir para um mesmo modo de pensar. Ambos os
grupos citaram praticamente as mesmas espécies nas listas livres das mais caçadas, além
disso, ambos os grupos, reconheceram as espécies mais caçadas como sendo as mais
45
abundantes. Logo, a abundância das espécies parece também explicar a possível pressão de
caça a elas submetidas, independente das classes de idade nas quais os coletores estejam
enquadrados.
Biomassa versus pressão de caça
O valor de biomassa das espécies não parece ser um critério de seleção das presas no
momento da caça para a comunidade estudada. Isso é evidenciado pelo fato de ter-se
encontrado relações entre a biomassa e a saliência de caça das espécies. Tais resultados se
contrapõem ao que foi registrado por Robinson e Redford (1991), que afirmaram que as
espécies de animais são procuradas para caça devido a sua biomassa e consequentemente seu
maior fornecimento de carne (Rozin e Mayer 1961; Lebrasseur 1969).
Tendo em vista que a comunidade estudada se encontra em uma unidade de
conservação ambiental, onde ocorre uma intensa ação de agentes fiscalizadores, o
comportamento dos caçadores pode estar sendo influênciado pelos riscos envolvidos no
processo de coleta de recursos. Nesse sentido, acredita-se que a captura de animais de maior
biomassa, além de possivelmente exigir um maior esforço por parte dos informantes, pode ter
uma maior visibilidade frente à fiscalização. Segundo Rands e Cuthill (2001), quando existe
um alto risco envolvido no processo de forrageio, o predador acaba por mudar sua estratégia,
optando por recursos menos arriscados embora esses sejam menos valiosos.
Alguns aspectos abordados pela teoria do forrageamento ótimo, proposta por Macarthur
e Pianka, (1966), podem fornecer indícios explicativos para os fatos encontrados neste estudo.
A teoria do forrageamento ótimo analisa as estratégias adotadas por predadores para captura
de suas presas e prega que a escolha de um recurso a ser coletado deve objetivar a
maximização da obtenção energética, de modo que o predador busque a presa que lhe traga o
melhor custo-benefício sob o ponto de vista energético (Macarthur e Pianka 1966).
Portanto, fazendo uma transposição das premissas da teoria do forrageamento ótimo
para analisar o comportamento dos caçadores da comunidade estudada, pode-se inferir que os
caçadores locais devem considerar mais vantajoso coletar as espécies que são mais facilmente
encontradas, possivelmente devido à abundância, fato que se assemelha com o que foi
encontrado por Noss e Cuéllar (2008) e Tlapaya e Gallina (2010). A caça por espécies com
maior biomassa poderia demandar mais tempo no processo e, tendo em vista os aspectos
proibitivos desta prática, o coletor estaria, consequentemente, correndo maiores riscos de ser
46
“capturado” pelos fiscais. Logo, o fato de a variável abundância, de modo geral, ser um fator
aparentemente mais relevante que a variável biomassa para a escolha de recursos parece ser
um método para otimização de coleta, adotado pelos extrativistas locais.
O crescimento das atividades agropecuárias tornou mais fácil o acesso à carne para fins
alimentícios oriundas de criações como frango, carne bovina, caprina entre outras (Alves et al
2009, 2010). Tal fato torna a caça para suprimento de demandas alimentícias menos
necessária. Na comunidade estudada, a caça foi citada como prática esportiva, informações
também foram registradas nos estudos de Barbosa et al. (2010, 2011). Logo, isso pode ajudar
na explicação do porquê de a biomassa não ser uma variável tão relevante, tendo em vista que
os informantes aparentemente buscavam o prazer proporcionado pela prática da caça
independente do volume de carne oferecido pela presa.
Períodos de atividades versus pressão de caça
Alguns estudos registram um maior interesse de caçadores por coletar recursos
faunísticos durante o dia, tendo em vista que nesse período, a luminosidade possibilita maior
visualização dos animais e consequentemente maior êxito em seus objetivos (Salvador e Reys
2008; Abruzzi 1979).
Na coletada de dados da presente pesquisa, pôde-se perceber que vários informantes
citaram a caça como sendo uma prática oportunista, forma de caça também comum em outras
comunidades (Salvador e Reys 2008). Muitas vezes, ao saírem de suas casas com outras
finalidades, seja para a coleta de lenha, trabalhar na agricultura ou cuidar das criações, as
pessoas se deparam com algumas espécies de mamíferos silvestres e optam pela captura.
Logo, tendo em vista que a maior parte das pessoas da comunidade estudada desenvolvem
suas atividades laborais durante o período do dia, esperar-se-ia que as espécies de hábitos
diurnos fossem mais pressionadas. Contudo, outros informantes, da mesma comunidade,
citaram a prática de caça noturna como mais comum, embora seja uma prática mais perigosa
devido aos riscos de ataque por serpentes e também pela maior dificuldade de observação do
ambiente. Isso se deve ao fato de, no turno da noite, existe maior discrição na prática de
atividades cinegéticas ante os órgãos fiscalizadores. Logo, o caráter proibitivo das práticas
cinegéticas parece moldar o comportamento dos caçadores, equilibrando a pressão de caça
aplicada às espécies de hábitos diurnos e noturnos.
47
Retomando as ideias da hipótese da aparência (Philips e Gentry 1993), possivelmente,
caso a prática de caça não fosse proibida, encontrar-se-ia uma maior pressão de caça sendo
submetida às espécies diurnas devido à facilidade destas serem visualizadas. Caso fosse
possível isolar o fator “fiscalização” seria mais fácil identificar se há um maior interesse por
espécies diurnas ou noturnas.
Conclusão
Os resultados encontrados nesta pesquisa sugerem que a abundância percebida das
espécies é um fator relevante na explicação do seu consumo cinegético pela comunidade,
porém esta não atua isoladamente, de modo que estudos mais detalhados sobre a relação do
consumo de mamíferos com outras variáveis devem ser desenvolvidos.
Os períodos de atividade das espécies parecem não ser levados em consideração no
momento da escolha de um determinado recurso por um potencial caçador. A aparente
vantagem de se caçar um determinado recurso durante o dia, devido à claridade, acaba sendo
desconsiderada, pois o que é realmente levado em consideração é a disponibilidade do recurso
em questão.
A biomassa das espécies não é levada em consideração no momento da escolha do
recurso, ou ao menos esta não é um fator prioritário. Percebe-se que os potenciais caçadores
buscam uma otimização energética optando pelo recurso que pode ser capturado com maior
facilidade, independente de seu porte corporal. Portanto, a biomassa torna-se irrelevante
quando se compara com a disponibilidade do recurso em questão.
A experiência do caçador, aqui considerada de acordo com separação por grupos de
idade, é um fator que altera a forma com que os mesmos percebem o recurso, de modo que,
tal fato, pode refletir no momento da elaboração de estratégias adotadas por indivíduos de
grupos de idade diferentes na escolha do recurso a ser caçado, desta forma, alterando a
pressão de caça submetida a determinadas espécies.
Agradecimentos
Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRPE e às instituições financiadoras
e que apoiaram de forma efetiva desta pesquisa CAPES, CNPq, FACEPE. Ao ICMBio e a
todos os moradores da comunidade de Horizonte – Jardim – CE, pelas contribuições para o
desenvolvimento desta pesquisa.
48
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Anexo 1 – Normas de Submissão do Periódico
INSTRUCTIONS FOR CONTRIBUTORS
All manuscripts should be submitted to the Human Ecology online submission
and review system, Editorial Manager. Note that PDF files are NOT supported for purposes
of submission.
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written transfer of copyright, which previously was assumed to be implicit in the act of
submitting a manuscript, is necessary under the U.S. Copyright Law in order for the publisher
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possible.
In order to provide timely review and publication, articles will be considered in
three categories:
Feature Articles, not to exceed 10,000 words
Research Reports, not to exceed 7000 words
Brief Communications, not to exceed 5000 words
While all submissions are externally peer reviewed, the turnaround time for
research reports and brief communications is usually shorter. However, it should be
emphasized that the standard of scholarship and research is the same for all submissions.
Illustrations (photographs, drawings, diagrams, figures and charts) should be
numbered in consecutive Arabic numerals. The captions for illustrations should be on a
separate page and include corresponding author's name. Consult Editorial Manager for
specific rules regarding submission of photographs. Either the original drawings or high-
quality photographic prints are acceptable. Identify all with author's name and number of the
illustration.
When your submission is accepted and forwarded to production, you might wish
to send us photos for possible selection as the Cover Photo of that issue. You will retain all
rights to these photos.
55
Each table should be on a separate sheet of paper, numbered and include
corresponding author's name.
Style Guide: In general, Human Ecology follows the recommendations of
the Style Manual for Biological Journals, published by the American Institute of Biological
Sciences, and it is suggested that contributors refer to this publication. The style guide used
by the American Anthropologist is also acceptable. When in doubt, authors should refer to
recent issues of Human Ecology for guidance. The journal is closely edited for clarity of
language and favors a concise presentation. Contributors are strongly urged to have their
submissions read by an experienced copy editor or proof reader. Manuscripts with serious
language or style issues may be returned to authors for further work which can occasion delay
in publication.
Language and Style: Submissions should be in English and avoid unnecessary
technical terminology and discipline-related jargon. Papers should be concisely and clearly
written and thus readily accessible to all scholars. Politically or ideologically loaded
terminology is always inappropriate.
Reprints and Page Charges: The journal makes no page charges. Reprints are
available to authors, and order forms with the current price schedule are sent with proofs.
Publication: All accepted papers are subject to final review by editors in the copy
editing process. All accepted and copy edited manuscripts will go to production and will be
published electronically (Online First) prior to the paper edition (unless the author prefers
otherwise). Final author and editor proof reading will occur after the manuscript is sent to
production.
Permissions: All inquiries regarding copyright release or permission to reprint
should be addressed to the Springer office at [email protected]. All other questions
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English Language Editorial Services: Human Ecology is committed to
publishing high quality manuscripts in English. Springer is pleased to offer Human Ecology
authors the opportunity to have their submissions reviewed by an independent language
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56
all payments to these contractors. Please note that the use of editing services does not
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International Science Editing
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Submissions should be classified as one of the following:
Feature Paper, Original Research
Feature articles address topics or problems of broad interest going beyond studies
of circumscribed regional and topical interest generally drawing on an identifiable body of
theory and presenting evidence based on well-defined methodology. Contributions should not
exceed 10,000 words, including footnotes (end notes are not used). The Editor will consider
longer submissions on their merits. An abstract no longer than 150 words should be
accompanied by 4-5 keywords which express the precise content of the manuscript and
research area. They are used in the external review process and for indexing purposes.
Research Reports
Research reports should present the results of current and timely research
including reference to problem addressed, methodology used, and likely relevance.
Contributions should not exceed 7,000 words, including footnotes; shorter manuscripts are
preferred. The Editor will consider special cases on their merits. An abstract no longer than
150 words should be accompanied by 4-5 keywords to express the precise content of the
manuscript as well as the venue of research. Keywords are important as they are used in the
review process.
Brief Communications
Brief communications address a wide range of problems and issues including
those of a speculative nature or where the contributors feel further work is called for and
focus on data presentation and methods. Contributions should not exceed 5,000 words,
including footnotes; shorter manuscripts are preferred. The Editor will consider special cases
on their merits. No abstract or keywords required.
57
Multiple Book Review Essays
By invitation of the Book Review Editor, contributions should not exceed 3,000
words. The editor will consider longer reviews where warranted.
Book Reviews
Book reviews should not exceed 1500 words and should be submitted in the
format used by the American Anthropological Association. See Instructions for Book
Reviewers. Unsolicited book reviews will not be published. You may, however, contact the
editor to indicate a willingness to review a book.
Commentary
Contributions should not exceed 1000 words and should directly relate to papers
recently published in Human Ecology.
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