7/26/2019 A Cultura e a Comunicao do Conhecimento: A Fundao de Serralves enquanto veculo de transmisso do saber
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Diana Filipa Campos Martins
A Cultura e a Comunicao do Conhecimento:
A Fundao de Serralves enquanto veculo de transmisso do saber
Universidade Fernando Pessoa
Porto 2016
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Sumrio
Os museus tm um papel fundamental no que diz respeito transmisso da cultura e do
conhecimento, partindo desta premissa, o presente trabalho tem como objetivo analisar a
atuao levada a cabo pelo Museu de Arte Contempornea, parte integrante da Fundao
de Serralves, com base, essencialmente, nas teorias de Edmund Leach (1985), Marc Aug
(2005) e Maria Roque (1990).
Portanto, pretende-se descortinar de que forma esta instituio tem cumprido as suas
funes, tornando-se numa das mais importantes do nosso pas.
Abstract
Museums have an important role with regard to the transmission of culture and
knowledge, based on this assumption, this paper aims to analyze the work carried out by
the Museum of Contemporary Art, part of the Serralves Foundation, based, essentially,
on the theories of Edmund Leach (1985), Marc Aug (2005) and Maria Roque (1990).
Therefore, it is intended to unveil how this institution has fulfilled its function, becoming
one of the most important of our country.
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ndice
Sumrio ............................................................................................................................. 2
Abstract ............................................................................................................................. 2
Introduo ......................................................................................................................... 4
Captulo IA Gnese da Cultura ..................................................................................... 5
1. Cultura: A sua base e a dificuldade de alcanar uma definio ............................ 5
2. A diversidade culturalUma viso antropolgica ............................................... 6
3. O museu: Uma forma de transmisso cultural ...................................................... 8
Captulo IIA Fundao de Serralves: Um meio de educar ......................................... 10
1. Um olhar sobre a instituio ................................................................................ 10
2. Um dilogo: Serralves e o pblico ...................................................................... 11
3. A transmisso e a aquisio de conhecimento..................................................... 13
Concluso ....................................................................................................................... 15
Bibliografia ..................................................................................................................... 16
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Introduo
O interesse pela anlise da atuao do aclamado Museu de Arte Contempornea da
Fundao de Serralves surgiu no contexto de esta ser considerada como uma das mais
importantes instituies culturais do pas.
Neste sentido, o grande objetivo desta exposio perceber de que forma o museu em
questo relevante no que respeita transmisso do conhecimento e da cultura. Porm,
antes de chegar ao fulcro, indispensvel descortinar o conceito de cultura, de acordo
com Dietricht Schwanitz (2008), que nos fala acerca da sua base, com Edmund Leach
(1985), que tenta alcanar uma difcil definio e com Marc Aug (2005), que teoriza
acerca das mudanas que tm ocorrido no mundo, e que tero impacto na prpria cultura.
De seguida, assumiu uma grande importncia perceber o conceito de museu, assim como
a sua funo no seio da sociedade e, para tal, servi-me, essencialmente, do ponto de vista
de Maria Roque (1990), que define, claramente, a pedagogia como a funo principal do
museu, que deve ser capaz de se adaptar aos pblicos e aos contextos atuais.
Sendo este o ponto de partida, o ponto de chegada diz respeito anlise propriamente
dita, em que foram aplicados os conceitos tericos ao caso singular o Museu de
Serralves. O resultado uma anlise da ao levada a cabo por esta instituio que, parece
cumprir com os seus propsitos, demonstrando-se como uma fonte de conhecimento e
integrao, adaptvel e interativa.
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Captulo IA Gnese da Cultura
1. Cultura: A sua base e a dificuldade de alcanar uma definio
A cultura, nas palavras de Dietricht Schwanitz (2008, p. 23), no apenas um conjunto
de histrias que mantm unida uma sociedade. Inclui tambm as histrias das suas
origens. Assim, para este autor, so dois os textos que esto no centro da cultura
europeia: por um lado, a Bblia judaica, cujo autor foi Deus, por outro, os dois poemas
picos gregos que incidem sobre o cerco de TriaAIladae a Odisseia, da autoria de
Homero.
Estes textos assumiram importncia aquando da inveno da imprensa, em 1444, que
permitiu a divulgao dos textos clssicos, que os humanistas haviam descoberto. Assim,
na pintura e no teatro da corte so estilizados os heris e as divindades da Antiguidade
Clssica: representa-se Jpiter e Apolo, Artemisa e Afrodite e cultiva-se a poesia
adequada. (Schwanitz, 2008, p. 24). Portanto, a base da cultura seria, neste sentido, a
mitologia grega.
Simultaneamente, os reformadores traduziram a bblia, permitindo que cada indivduo
fizesse a sua prpria interpretao da mesma, democratizando-se, assim, a religio.
Para este autor, o resultado destes fenmenos foi uma cultura mista aristocrtico-
burguesa portadora de uma tenso entre a religio e o Estado (2008, p. 24).
Porm, para compreendermos plenamente esta perspetiva, importa entender o conceito
desta palavra to vulgarizada que a cultura.
Para Edmund Leach (1985, p. 102), existem duas interpretaes deste termo: para alguns,
a cultura um estado que s pode existir singularmente; para outros, a cultura apenas
um adorno, e como tal, intercambivel e mltipla.
Inicialmente, a palavra cultura surgiu como um sinnimo de civilizao e, por esse
mesmo motivo, que Tylor (1920, p. 1) a entende como o conjunto complexo que inclui
o conhecimento, as crenas, a arte, a moral, o direito, o costume e toda a demais
capacidade ou hbito adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade.
Ento, a cultura consistiria em caractersticas mentais e comportamentais, que resultavam
da educao interiorizada pelo indivduo.
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Porm, tal como refere Leach (1985, p. 103), os sucessores de Tylor tornaram este
conceito mais abrangente, ao consideraram como cultura, embora material, corpos de
artefactos exteriores ao indivduo, mas caractersticos de um determinado ambiente tribal.
Mais tarde, por extenso, qualquer aspeto constituinte do ambiente fsico e social dohomem, que no fosse obra da natureza, mas sim dele prprio, passou a poder figurar no
seio da cultura.
No entanto, como aponta Leach (1985, p. 103), a questo que aqui se coloca a seguinte:
se a cultura for entendida como sinnimo dos atributos distintivos do ser humano, torna-
se um termo desnecessrio, e intil na sua tentativa de definir, quer a cultura, quer a
humanidade.
Simultaneamente, considerar a cultura como uma caracterstica humana distintiva, com a
justificao de que apenas o homem capaz de uma aprendizagem ao nvel simblico,
apenas um dogma. Na natureza, muitos animais adquirem hbitos, por fazerem parte de
uma sociedade, e no existe nenhuma razo clara para que estas atividades no sejam
consideradas culturais, tal como nos demonstra Leach (1985, p. 104), concluindo que a
cultura uma categoria mal definida e redundante.
2. A diversidade culturalUma viso antropolgica
Atualmente, a cultura o objeto de estudo da antropologia, que se ocupa de analisar a
diversidade dentro desta rea. Assim, partindo do princpio de que existem diversos
gneros de cultura, os antroplogos operam no sentido de os distinguir. Porm,
importante clarificar, tal como o faz Leach (1985, p. 104), que isto apenas uma ideia, e
no um facto.
Esta ideia decorre da caracterstica que todos os seres humanos possuem: natural
acreditarem que pertencem a um tipo diferente, distinguindo-se o grupo ns, ou a
individualidade eu, do grupo eles.
No entanto, no existem, hoje, diferenas significativas de capacidade inata ou de
temperamento entre uma e outra sociedade, pelo que a diversidade verificada, deve ser
atribuda s diferenas de educao cultural.
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Para Marc Aug (2005, p. 20), a antropologia trata de todos os outros () o outro dos
outros, o outro tnico ou cultural, que se define por referncia a um conjunto de outros
que se supem idnticos. Estas diferenas podem ser apontadas em variadas vertentes,
desde as distines de sexos, at s econmicas, tanto que no possvel falar de um
indivduo, sem a referncia a outros, pelo que, como conclui Aug, a total individualidade
inatingvel.
Assim, enquanto construo social, a representao do indivdo importa antropologia,
at porque representa, para alm disso, o lao social que lhe est inerente, pelos motivos
j explicitados acima.
Portanto, quando um qualquer indivduo de uma sociedade tomado como objeto de
anlise, este funciona como uma expresso dessa mesma sociedade.
No final do sculo XIX, a maioria dos antroplogos descreviam qualquer conjunto de
artefactos recolhidos num estrato nico como uma cultura. Porm, os antroplogos
culturalistas americanos utilizavam essa expresso para se referirem aos costumes,
tradies e objetos materiais que poderiam ser utilizados para distinguir as tribos. Assim,
estes ltimos entendiam cada tribo como uma entidade distinta, com fronteiras
territoriais e culturais bem definidas, que poderiam ser encontradas pela comparao
entre os termos de um conjunto definido de traos (Leach, 1985, p. 106).
O problema aqui, como nota Leach (1985, p. 106), o pressuposto de que todos os povos
primitivos estariam organizados em tribos com culturas distintas, que poderiam
decompor-se num conjunto definido de traos, cada um deles independente do contexto
cultural em que se encontrava inserido.
Na perspetiva de Aug (2005, p. 24), o mundo contemporneo modificou a antropologia,
podendo identificar-se trs transformaes fundamentais: alteraram-se o tempo, o espaoe o ego.
A sobremodernidade caracteriza-se, primeiramente, pela acelerao da histria, devido
abundncia de acontecimentos na atualidade, sendo que o risco que estes percam a sua
significao.
A segunda transformao, refere-se ao espao: estamos na era das mudanas de escala,
em termos de conquista espacial evidentemente, mas tambm na terra (Aug, 2005, p.
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30), j que os meios de transporte, assim como as novas tecnologias, transformam o
mundo numa aldeia global, tal como teorizou Marshall MacLuhan.
Esta alterao corresponde, tambm, a modificaes fsicas considerveis:
concentraes urbanas, transferncias de populaes e multiplicao daquilo a quechamaremos no-lugares, que correspondem a instalaes necessrias circulao
acelerada das pessoas e dos bens (vias rpidas, ns de acesso, aeroportos) como os
prprios meios de transporte ou os grandes centros comerciais (Aug, 2005, p. 33).
Finalmente, a terceira caracterstica da sobremodernidade a figura do indivduo: Nas
sociedades ocidentais, pelo menos, o indivduo quer-se um mundo. Entende interpretar
por e para si prprio as informaes que lhe so fornecidas. (Aug, 2005, p. 35).
Para pensar e situar o indivduo, Michel de Certau, tal como refere Aug (2005, p 36),
fala das astcias das artes de fazer que possibilitam aos indivduos submetidos s
imposies globais da sociedade moderna desvi-las, e seguir nessa sociedade o seu
prprio itinerrio. Mas estas artes de fazer, remetem ora para a multiplicidade dos
indivduos mdios (o cmulo do concreto), ora para a mdia dos indivduos (uma
abstrao).
3. O museu: Uma forma de transmisso cultural
A primeira funo do museu foi a de preservar e exibir objetos com significao histrica,
que seriam smbolo de uma poca ou de uma cultura. Portanto, compreende-se bem o
cariz educacional que este tipo de instituio possui.
Desde o incio da Histria, o ser humano demonstrou um gosto pelo culto das artes, assim
como pelo colecionismo, embora, primeiramente, a nica funo destes objetos luxuosos
fosse decorativa ou, por vezes, religiosa, funcionando quase sempre como uma forma de
ostentao e de definio de determinada posio social (Maria Roque, 1990, p. 6).
Entretanto, com o renascimento, para alm das funes anteriores, a aquisio de
conhecimento tornou-se tambm um objetivo, atravs da criao de gabinetes de
curiosidades ou de cincias naturais destinados a estudiosos, assim como a pessoas que
procuravam j, tal como hoje, o prazer esttico possibilitado pelo museu
(Maria Roque,
1990, p. 7).
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No sculo XVII, comea a surgir a preocupao de tornar mais acessvel a leitura desses
objetos, pelo que as colees comeam a ser organizadas atravs de uma perspetiva
histria. No sculo seguinte, esta vontade tornou-se ainda mais evidente, atravs da
juno de legendas s peas, catlogos ou inventrios disponibilizados.
Mais tarde, devido s mudanas polticas e sociais trazidas pela Revoluo Francesa, a
cultura comeou a vulgarizar-se, dando resposta sede de conhecimento. Assim, as
colees antes possudas pelas classes mais favorecidas foram transformadas em bens
pblicos.
Neste contexto, na primeira metade do sculo XIX surgiram museus por toda a Europa,
frequentados por estudiosos, mas tambm pela populao em geral, que tinha como
objetivo a apreenso de conhecimento.
Para Maria Roque (1990, p. 9), na sequncia deste interesse generalizado pelo
conhecimento e pelo passado, o sculo XX o tempo dos museus.
Em pouco tempo, a humanidade sofreu fortes transformaes a nvel poltico, social,
econmico e cultural: a democratizao, a industrializao, a velocidade das novas
formas de comunicao e de transporte, o desenvolvimento das novas tecnologias e dos
meios audiovisuaisem suma, tal como refere Maria Roque (1990,p. 9), a evoluo domodo de vida deu-se no sentido da massificao e da acelerao provocando no indivduo,
cada vez mais carente de pontos de referncia no tempo e no espao, uma viragem para a
descoberta da histria humana.
Neste contexto, o museu passa a utilizar as suas colees tendo como finalidade a
educao do pblico, aproximando-o do objeto. Assim, esta instituio deve concretizar-
se como meio de aprendizagem e como espao ldico, transformando a cultura numa
fonte de prazer.
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Captulo IIA Fundao de Serralves: Um meio de educar
1. Um olhar sobre a instituio
A Fundao de Serralves foi criada em 1989, na cidade do Porto, num contexto ps-
revolucionrio, em que a populao pedia um espao onde a arte produzida pudesse ser
exibida e apreciada.
Constituda pela Casa, o Parque, o Museu de Arte Contempornea, o Auditrio e a
Biblioteca, esta , atualmente, reconhecida como uma das principais instituies
culturais portuguesas e a mais relevante do Norte de Portugal, tal como se pode ler n o
website da Fundao, que tem desenvolvido um grande esforo no sentido de projetar
nacional e internacionalmente a arte dos nossos dias e de divulgar o seu notvel
patrimnio arquitetnico e paisagstico.
Neste sentido, os seus esforos foram j reconhecidos diversas vezes, tendo sido
classificada como Imvel de Interesse Pblico (1996) e como Monumento Nacional
(2012). Por outro lado, a instituio foi tambm condecorada pelo ento Presidente da
RepblicaAnbal Cavaco Silva, com o grau de Membro Honorrio da Ordem Militar
de SantIago da Espada, pelo seu inestimvel contributo para a cultura em Portugal
(http://www.serralves.pt/pt/fundacao/a-fundacao/historia/).
Para a anlise que importa aqui fazer, ser o Museu, inaugurado em 1999, que assumir
maior importncia. Totalmente integrado no espao envolvente, ainda que criado mais
tarde, o Museu, projetado por lvaro Siza Vieira, iniciou o seu percurso, com Circa 1968,
analisando uma dcada de radical criao artstica coincidente com um perodo de
assinalvel transformao social e poltica em Portugal e no mundo
(http://www.serralves.pt/pt/fundacao/o-museu/historia/#sthash.aIPZDFdR.dpuf).Portanto, logo na sua inaugurao, promoveu a reflexo de quem o visitou, atravs de
uma temtica que, retratando um passado, embora muito recente, permitia um olhar sobre
o presente, j que, atravs dos signos visveis do que foi que alcanamos a decifrao
do que somos luz do que j no somos (Pierre Nora apud Mark Aug, 2005, p. 25).
Apresentando como sendo os seus objetivos estimular o interesse e o conhecimento de
diferentes pblicos por diversas reas arte contempornea, arquitetura, paisagstica e
por temas crticos para a sociedade, esta instituio parece estar perfeitamente de acordocom aquilo que um museu deve representar no mundo contemporneo, no entender de
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Maria Roque (1990, p. 10): intrprete da coleo, vnculo ativo de cultura que promove,
junto do pblico, a apreciao, a informao e a compreenso.
Assim, fcil de perceber as motivaes para que esta instituio sirva aqui de um timo
exemplo para explicitar os pontos acima tratados.
2. Um dilogo: Serralves e o pblico
Tal como afirma Maria Roque (1990, p. 13), a museologia atual pretende que o
espectador atue como uma personagem interveniente e atuante, como protagonista face
mensagem que lhe transmitida e em funo dos estmulos que a exposio lhe
proporciona.
Para alcanar este objetivo, era necessrio que o museu abandonasse a sua antiga postura
rgida, conseguida atravs de seguranas, que impedem a espontaneidade do pblico, que
se sente observado; de distncias obrigatrias entre o pblico e os objetos, que criam uma
imensa falta de interatividade; e da imposio de um determinado percurso a seguir, que
pode muito bem impedir a interpretao criativa de cada um. Neste contexto, a finalidade
inicial do museua sua funo social, parece comprometer-se, j que o visitante se sentir
limitado, no se captando, assim, a empatia de grande parte do pblico.
O Museu de Arte Contempornea da Fundao de Serralves, parece ter feito um esforo
bem conseguido neste sentido, embora a relao pblico/museu seja sempre viciada
pelos valores, ideologia e vontade de quem o organiza (Maria Roque, 1990, p. 14), j
que, tantas vezes, parece deixar em aberto grande parte das decises, para que o pblico
as possa tomar.
Sem um percurso propriamente definido e, tantas vezes, sem estabelecer barreiras entre
o pblico e o objeto, Serralves parece aproximar as duas realidades, desmistificando as
exposies: cada indivduo tem a liberdade para seguir o rumo que melhor lhe parecer,
sem se sentir perante uma autoridade superior a si mesmo, podendo retirar as suas prprias
concluses daquilo que observa.
Num contexto de acelerao, de que falou Marc Aug, as transformaes sociais so
incrivelmente rpidas e profundas, assim, para sobreviver o museu no poder
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permanecer enquanto um espao cristalizado atrs dos expositores imutveis (Maria
Roque, 1990, p. 15).
O ponto de partida do Museu de Serralves foram, exatamente, estas mudanas, j que
esse o fulcro de Circa 1968, que o inaugurou, e serviu de base a toda a Coleo deSerralves, que gira, portanto, em torno das grandes mudanas do mundo contemporneo:
polticas, sociais e culturais, que conduziram emergncia de um novo paradigma
artstico.
Simultaneamente, na nova concepo do museu, a sua capacidade de interatividade
assume uma enorme relevncia, uma vez que o Homem da contemporaneidade exige o
direito escolha e personalizao do mundo que o rodeia.
Portanto, para cativar o pblico, e cumprir a sua funo, Serralves assumiu uma postura
inventiva. Por exemplo, atualmente, atravs do projeto da autoria de Mariana Cal e de
Francisco QueimadelaO Livro da Sede, o Museu promove a imerso e a interatividade,
possibilitando aos recetores a edio e construo do seu prprio filme. Ao mesmo tempo,
a temtica tratada de extrema relevncia, j que tambm se foca numa das grandes
mudanas apontadas por Aug (2005): a perceo da passagem do tempo, as suas
manifestaes e interpretaes, l-se no website da Fundao. Quanto s imagens
utilizadas, que mostram vrias pessoas a saciar a sede, animais e criaturas mitolgicas
associadas a ritos ancestrais, como diabretes
(http://www.serralves.pt/pt/museu/exposicoes/#sthash.6L8uBxOD.dpuf), refletem a
validade do que Dietricht Schwanitz (2008) havia constatado: uma das bases da cultura
, de facto, a mitologia grega. Por outro lado, como a sede associada a instintos vitais
e liberdade (http://www.serralves.pt/pt/museu/exposicoes/#sthash.6L8uBxOD.dpuf),
a exposio pode, ainda, ser olhada como um estudo antropolgico, remetendo-nos s
nossas origens animalescas, que julgmos h muito superadas.
Neste sentido, pode considerar-se que o Museu de Serralves est perfeitamente adaptado
sociedade atual: responde-lhe, modifica-se, evolui.
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3. A transmisso e a aquisio de conhecimento
Como j analisado, a funo mais relevante de qualquer museu a pedaggica, portanto,
a de informar. No entanto, para que se alcance a etapa do conhecimento, necessrio
mais do que fornecer informao: preciso tambm disponibilizar as condies
necessrias para que o indivduo aprenda a ver, a sentir, a descobrir ou a maravilhar-se
perante aquilo que o museu, do passado ao presente, tem para lhe oferecer (Maria Roque,
1990, p. 17).
Neste sentido, e tal como constata Maria Roque, a funo pedaggica do museu pode
ocorrer a dois nveis, tal como se verifica no caso de Serralves. No primeiro nvel,
deparamo-nos com uma atuao bastante subtil por parte do museu. Embora as peas seencontrem estrategicamente colocadas e com as suas correspondentes legendas, quando
um visitante percorre os corredores do Museu de Serralves, observando, por exemplo a
exposio Quasi Tuttode Giorgio Griffa, no sugestionado a ultrapassar a barreira da
contemplao das pinturas e dos desenhos, assim como do consequente prazer esttico.
Quanto ao segundo nvel, diz respeito a uma atuao mais relevante e especificamente
solicitada, por norma, por grupos de elite ou de aprendizes, que exigem programas
didticos com uma estrutura prpria e bem definida. Neste contexto, o Museu de Serralvesdisponibiliza visitas guiadas, permitindo, aos interessados a contextualizao dos objetos
que observam. Se, por um lado, til por garantir esse enquadramento, por outro, pode
tornar-se limitativo no que respeita liberdade interpretativa de cada um.
A exposio Quasi Tutto, j mencionada, apresentada pelo Museu nestas duas vertentes:
visita livre ou visita guiada, permitindo que cada um escolha aquilo que melhor se encaixa
nas suas expectativas de apreenso de conhecimento.
Outra questo que assume especial relevncia a da heterogeneidade do pblico: a
atuao por parte do museu deve ser capaz de se adaptar s caractersticas prprias de
cada grupo, quer atravs da elaborao de mltiplas estratgias que, partindo do mesmo
campo expositivo, permita experincias diversificadas, quer atravs da planificao de
atividades complementares e de objetivos variados conforme aqueles a que se destina
(Maria Roque, 1990, p. 18).
Tambm relativamente a esta questo, o Museu de Serralves parece ter encontradosolues, j que disponibiliza diversos programas, direcionados a diferentes pblicos.
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Para alm das tipologias de visitas disponibilizadas e j referidas livres ou guiadas,
Serralves oferece mensalmente, desde 2015, visitas orientadas em linguagem gestual
portuguesa, adaptando-se a este pblico e fazendo a cultura chegar mais longe.
Simultaneamente, no mesmo sentido de no ostracizar nenhuma tipologia de pblico,
possui oficinas, cujos programas se adaptam a grupos com necessidades especiais, de
acordo com as caractersticas prprias de cada um. Serralves atua, nestes dois casos, numa
ligao com instituies de cariz social, no primeiro caso com a Laredo Associao
Cultural e, no segundo, com instituis vocacionadas para o acompanhamento de grupos
com necessidades especiais.
Por outro lado, possui programas direcionados s crianas, quer estas visitem o Museu
com a escola ou com a famlia, numa tentativa de incutir, desde cedo, o gosto pelas artes,pela cultura e pelo conhecimento.
Assim, perfeitamente visvel a influncia e relevncia das instituies culturais para a
sociedade, podendo afirmar-se que, neste sentido, Serralves tem cumprido as suas
funes: promove a cultura, o conhecimento, o prazer esttico e a integrao de todos.
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Concluso
A cultura um daqueles termos que se tornaram banalizados mas que, no entanto, so
extremamente complexos e difceis de definir. Entendida como algo de existncia
singular, equiparvel prpria vida, ou como um mero adorno, com existncia plural,
uma coisa certa: a cultura est relacionada com o modo de vida do ser humano, falando-
nos da nossa histria.
Assim, com o objetivo de preservar e exibir objetos relacionados com a histria da
humanidade, nasceu o conceito de museu que, aquando do renascimento, passou a ter
uma funo pedaggica, que se foi acentuando, ao longo do tempo, at atualidade,
sendo, hoje, essa a sua principal funo.
Neste contexto, o Museu de Arte Contempornea, parte integrante da Fundao de
Serralves, representa um timo exemplar para a explorao do conceito de museu e da
sua funo na transmisso do conhecimento.
Adaptado ao mundo atual, acelerado e em constante transformao, este Museu parece ir
ao encontro das expectativas do pblico: promove a interatividade, a proximidade, a
personalizao e a reflexo, atravs de temticas relevantes para o presente.
Simultaneamente, procura adaptar-se s especificidades de cada um, disponibilizando
programas variados, que vo desde a opo entre uma visita livre ou guiada, at a
programas para crianas e grupos com necessidades especiais, possibilitando, desta
forma, o acesso de todos ao conhecimento.
Deste ponto de vista, o Museu de Serralves tem cumprido, desde o seu incio, as suas
funes com bastante sucesso, sendo por isso to relevante para a exposio aqui
desenvolvida.
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