8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos
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VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo
02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC
Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos:
A Situao da rea Central de Balnerio Cambori (SC)
Daniella Haendchen Santos1
Simone Batista Tomasulo2
Josildete Pereira de Oliveira3
Resumo: Nesta anlise situacional sobre as condies de acessibilidade para pedestres comdeficincia na rea central de Balnerio Cambori (SC), considerou-se o sistema turstico deLeiper (1979; 1981) para qualificar a rota de trnsito dos pedestres com deficincia que voat a praia central para realizar atividades tursticas e/ou recreativas; e adotou-se a pesquisabibliogrfica, documental e de campo como procedimentos metodolgicos, utilizando-se dospasseios acompanhados para entrevistas e observaes. Concluiu-se que Balnerio Cambori(SC) uma cidade turstica integracionista, cujo espao pblico est em crise. A rea central de uso limitado e desigual aos pedestres com deficincia, restringindo-se aos lugares com amenor quantidade de barreiras fsicas, comunicacionais e instrumentais. O turismo inclusivoainda invivel, pois os ambientes urbanos no so de uso universal.
Palavras-chave: Acessibilidade. Pedestres com deficincia. Espaos tursticos urbanos. rea
central. Balnerio Cambori (SC).
1 INTRODUO
A incluso social um tema da atualidade que clama pela valorizao do espao
pblico acessvel e pelo reconhecimento do direito de todas as pessoas de ir e vir com
autonomia e segurana, independente dos seus atributos individuais. Para tanto, a
acessibilidade a garantia da convivncia plena e harmoniosa entre as pessoas porque trata de
equiparar as oportunidades oferecidas populao nos diversos setores da sociedade,
eliminando as barreiras existentes nela. Deste modo, associar a acessibilidade ao turismosignifica dizer que todas as pessoas, sem exceo, tm o direito de viajar sem se defrontar
com barreiras nos destinos tursticos, alm de participarem juntas das atividades tursticas
e/ou recreativas realizadas em ambientes comuns a todos.
1 Jornalista. Mestre em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itaja. Professora do Senac Itaja. |E-mail: [email protected] Turismloga. Mestre em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itaja. Professora da Univali
Balnerio Cambori. | E-mail: [email protected] Arquiteta e Urbanista. Mestre em Cincias da Terra (Natureza, Meio Ambiente e Sociedade) e Doutora emCincias Humanas (Geografia) pela Universidade de Caen. Professora da Univali Balnerio Cambori. | E-mail:[email protected].
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2 METODOLOGIA APLICADA
Com o objetivo geral de analisar as condies de acessibilidade para pedestres com
deficincia na rea central de Balnerio Cambori, tendo em vista a praia como o principal
atrativo turstico, foi adotado como mtodo de pesquisa o estudo de caso qualitativo com
enfoque sistmico. Para concretiz-lo, optou-se pela pesquisa bibliogrfica, documental e de
campo, por meio dos passeios acompanhados, desenvolvidos por Dischinger (2000), que,
aplicado ao ambiente urbano, possibilita apreender a capacidade interativa dos pedestres com
deficincia com o espao turstico urbano de modo que, desta interface, se consiga qualific-
lo como acessvel ou no.O universo de participantes de tais passeios constitudo por oito jovens e adultos com
deficincia fsica, mental e sensorial; que residem ou possuem residncia secundria na cidade
em questo; e que tm vida independente. Todos eles foram indicados aleatoriamente, pelo
procedimento bola de neve, por pessoas envolvidas politicamente com as questes sociais
do grupo em que esto inseridos, conforme o tipo de deficincia. De incio, foram feitas
caminhadas solitrias pelas principais avenidas da cidade para sentir o espao urbano
considerado e, com isso, obter as primeiras impresses sobre os lugares (in)acessveis. Emseguida, foram feitos os passeios acompanhados em si, nos quais se realizou as entrevistas
centralizadas no problema e a observao dos fatos vivenciados no espao urbano.
Na prtica, o modelo de sistema turstico bsico, de Leiper (1979; 1981), foi aplicado
em pequena escala, cuja delimitao espacial a rea central de Balnerio Cambori, na qual
os elementos que integram o sistema so: regio de origem - residncias principais e
secundrias; regio de destino - a praia central; rota de trnsito, caracterizada pelos
indicadores de qualidade da ANTP (1999): condio fsica das caladas; continuidade dos
percursos; sinalizao e condio das travessias; residentes e turistas - elementos centrais,
dominantes e dinmicos do sistema turstico; e o contexto local e global.
De posse dos dados verbais e no-verbais, estes foram categorizados por similaridade e
classificados em: relevantes, representativos e situaes-problema; alm destes, mapas
especficos de Balnerio Cambori foram confeccionados para ilustrar a rea de estudo, os
espaos pblicos e os percursos realizados pelos participantes da pesquisa, revelando uma
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realidade integracionista. Para anlise descritiva e interpretativa, utilizou-se como direo o
conceito4 de acessibilidade, estabelecido pelo Decreto n. 5.296/2004.
3 DISCUSSES TERICAS
3.1 Cidade, espao pblico e cidadania
Em seus estudos, Borja (2003) reflete sobre o direito cidade para todos e, tambm,
sobre o uso do espao pblico como lugar de exerccio da cidadania. Para o autor, a conquista
da cidade ocorre quando os cidados utilizam os espaos pblicos para manifestar interesses
coletivos, mesmo que sob condies polticas adversas, e construir novos alicerces cidade,principalmente, aqueles baseados na sustentabilidade, tais como: relevncia social, prudncia
ecolgica e viabilidade econmica. No entanto, o exerccio da cidadania est fragilizado, pois
a liberdade de uns no a mesma que de outros, o que caracteriza a excluso social e o
domnio de uns sobre os outros, embora a cidade como espao pblico seja um lugar
democrtico, de representao e expresso dos conflitos sociais (BORJA, 2003).
Para extinguir esta dicotomia entre grupos excludos e grupos excludentes, o autor
defende a ideia do resgate da cidadania para que as pessoas a exercitem diariamente,ocupando outra vez os espaos pblicos, e, deste modo, conquistem a cidade ideal. Logo,
compreende-se que o espao pblico no pode ser relegado aos restos da cidade. preciso
revaloriz-los para que os cidados possam reivindicar por novos direitos ou, ento, exigir
que aqueles que j possuem legalmente se tornem reais. , neste sentido, que a acessibilidade
como qualidade do espao pblico torna-se condio sine qua non para aquisio da
cidadania, a qual implica no reconhecimento dos cidados como sujeitos livres, iguais e
ativos, com direitos e deveres amparados pelas leis.
3.2 Espao turstico urbano
Boulln (2002; 2004; 2005) o autor que define o espao turstico como uma rea
geogrfica na qual os atrativos, os empreendimentos e a infraestrutura esto distribudos de
acordo com a abrangncia territorial que ocupam. Na diviso do espao turstico proposta por
Boulln (2002; 2005), explicita-se aqui somente os centros tursticos - caso de Balnerio
4 Condio para utilizao, com segurana e autonomia, total ou assistida, dos espaos, mobilirios eequipamentos urbanos, das edificaes, dos servios de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios decomunicao e informao, por pessoa portadora de deficincia ou com mobilidade reduzida (MINISTRIODA JUSTIA, 2004:03).
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Cambori, os quais ocupam superfcies grandes ou pequenas, caracterizando-se como
conglomerados urbanos que tm atrativos, empreendimentos e infraestrutura suficientes, tanto
no seu prprio territrio quanto no seu entorno, para motivar uma viagem e, tambm, para
garantir a permanncia dos turistas por tempo determinado, pois, suas necessidades so
supridas no mesmo espao. Neste sentido, Boulln (2005, p.31) afirma que os centros
tursticos so o principal elemento que compe o espao turstico porque se comportam
como economias de aglomerao devido concentrao e diversidade de bens de consumo e
de servios disponveis aos turistas, movimentando a economia local.
3.3 Turismo inclusivo e acessibilidade
Pela retrospectiva histrico-conceitual das prticas sociais, feita por Sassaki (2003;
2006) em seus estudos, isto , da excluso incluso, passando pela segregao e integrao,
percebe-se que as atitudes e os comportamentos negativos contra as pessoas com deficincia
no so mais tolerados em diversos setores da sociedade. No turismo, este pblico visto
como novo segmento de mercado por ser uma demanda potencial, pois, assim como todos,
sem exceo, as pessoas com deficincia tambm buscam a auto-realizao na atividadeturstica e/ou recreativa, na qual as necessidades subjetivas e objetivas so satisfeitas.
De acordo com o autor, a incluso social um processo bilateral no qual as pessoas,
ainda excludas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre
solues e efetivar a equiparao de oportunidades para todos (SASSAKI, 2006, p.41). Neste
sentido, as atividades tursticas e/ou recreativas devem ser modificadas para que todas as
pessoas possam participar juntas e ativamente, usufruindo os mesmos espaos de convivncia.
Logo, a acessibilidade deve ser promovida em todas as suas dimenses: arquitetnica,
comunicacional, metodolgica, instrumental, programtica e atitudinal (SASSAKI, 2003).
3.4 Sistema turstico bsico
Leiper (1979; 1981) foi quem primeiro adaptou a Teoria Geral dos Sistemas, postulada
por Bertalanffy (2008), da biologia para o turismo. Ele reproduziu os conceitos sistmicos
relacionando-os interdisciplinaridade do turismo como fenmeno scio-econmico que
ocorre no meio ambiente. Atualmente, Acerenza (2002) quem revalidou o sistema turstico
de Leiper (1979; 1981) em seus estudos sobre o planejamento e a gesto do turismo. De
acordo com ele, o enfoque sistmico uma referncia para anlise do turismo na sua total
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complexidade porque oferece explicaes sobre a estrutura e o funcionamento do sistema
turstico, o conhecimento interdisciplinar e o comportamento do conjunto.
Para Acerenza (2002), o sistema turstico aberto, constitudo por um conjunto
integrado de elementos que se inter-relacionam, de forma complexa e no-linear, com o
objetivo comum de satisfazer as necessidades da demanda turstica em relao ao uso do
tempo livre por meio das atividades tursticas e/ou recreativas. Os elementos do sistema
turstico esto categorizados em: um dinmico (turista), trs geogrficos (regio de origem,
rota de trnsito e regio de destino) e um econmico (indstria do turismo), os quais esto
envolvidos pelo contexto fsico, tecnolgico, social, cultural, econmico e poltico.A relao entre estes elementos caracteriza-se pelo ser humano na posio de sujeito-
turista, tornando-se o elemento central, dinmico e dominante do sistema; pelo conjunto de
empresas prestadoras de bens e servios aos turistas; e pela regio de origem, regio de
destino e rota de trnsito. Os rgos pblicos no integram este sistema porque Acerenza
(2002) entende que a participao dos representantes eleitos no processo de elaborao do
produto turstico se restringe a ampliar e/ou melhorar a infraestrutura urbana para atender a
populao residente e, por extenso, a demanda turstica. No processo de comercializao, afuno deles promover em carter institucional o produto turstico j formatado pelas
empresas que integram a indstria do turismo.
Todos os elementos integrantes do sistema turstico de Leiper (1979; 1981) mantm
uma relao funcional e espacial, em razo dos propsitos estabelecidos e dos espaos em que
cada um est inserido. Pelo fato de o sistema turstico ser muito sensvel ao contexto local e
global, possvel reafirmar que o turismo um sistema aberto porque h fortes interaes
entre os seus elementos com este contexto muito instvel. De acordo com Acerenza (2002,
p.262), estas interaes implicam aes em dois sentidos: o funcionamento do sistema em
seu conjunto vai influenciar o contexto e as variaes do contexto iro repercutir no
funcionamento do sistema e [...] no desenvolvimento da atividade turstica.
4 AS CONDIES DO TRNSITO PARA PEDESTRES
4.1 Caractersticas da estrutura viria
O sistema virio de Balnerio Cambori ordenado por sete vias principais: quatro
paralelas praia (Avenida Atlntica, Avenida Brasil, Terceira Avenida e Quarta Avenida),
duas transversais (Quinta Avenida que foi excluda deste estudo por no estar situada na
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rea central e Avenida do Estado) e uma perpendicular (Avenida Central), como ilustrado
na figura 01. Em seguida, descreve-se a estrutura de circulao de Balnerio Cambori de
acordo com o posicionamento de cada avenida, no sentido leste-oeste.
Figura 01: Mapa da rea de estudo e dos passeios acompanhados.
Fonte: Helia Del Carmen Farias Espinoza (2010).
Avenida Atlntica e Avenida Brasil: Caracterizam-se como arteriais. A primeira, de
sentido sul-norte, margeia toda orla martima. A segunda, de sentido norte-sul, paralela
primeira. Ambas tm larguras estreitas, se prolongam em linha reta e se interligam por ruas
transversais menores, que so os acessos praia central. A pista de rolamento de ambas as
avenidas pavimentada, sem canteiro central. H intensa movimentao de pedestres em
torno dos restaurantes da Avenida Atlntica e dos estabelecimentos comerciais da Avenida
Brasil. No entanto, a prioridade de passagem dos automveis. Os pedestres e os banhistastm seus espaos reduzidos s caladas e faixa de areia.
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As caladas estreitas so padronizadas em petit-pav, dificultando o percurso contnuo
dos pedestres devido irregularidade da superfcie e possibilitando danos sade. So usadas
como extenso dos restaurantes e das lojas, e os mobilirios urbanos esto instalados
indevidamente sobre elas, prejudicando a mobilidade dos pedestres que se expem s
situaes perigosas por disputar o espao virio com os meios de transporte. Ambas as
avenidas so usadas como roteiros pelos turistas e, ao mesmo tempo, como vias pelos
residentes, causando congestionamentos. Quando h eventos diversos nestas avenidas, o
trnsito de outras ruas e avenidas tambm fica obstrudo.
Terceira Avenida e Quarta Avenida: Caracterizam-se como arteriais. A primeirainicia na Avenida Brasil e a segunda, na Rua 2550. Ambas se prolongam em linha reta para
finalizar na Avenida do Estado. As pistas de rolamento so pavimentadas, com canteiro
central na Terceira Avenida e ciclovia na Quarta Avenida. Tambm so usadas como roteiros
pelos turistas e como vias pelos residentes, no entanto, a movimentao nesta parte da cidade
no horrio comercial em torno do comrcio de bens e servios de maior porte, observando-
se a prioridade de passagem para automveis e ciclistas, quando h ciclovia em lugar de
canteiro central, o que dificulta a transposio das vias pelos pedestres.As caladas so feitas de blocos de concreto intertravados. Na Quarta Avenida, o
diferencial so os pisos tteis para facilitar a locomoo das pessoas com deficincia visual
em tese. Na Terceira Avenida, em alguns trechos, percebe-se a m conservao das caladas e
a existncia de mobilirios urbanos que impossibilitam o percurso contnuo dos pedestres.
Pontos de nibus, por exemplo, foram construdos em meio s caladas sem os pisos de alerta
nos arredores, o que os torna uma barreira fsica para pessoas com deficincia que precisam
desvi-la de algum modo para continuar o percurso. Ou, ento, ir de encontro ao obstculo
como acontece, muitas vezes, com as pessoas com deficincia visual.
Avenida do Estado: Caracteriza-se como arterial interurbana. O trfego de passagem
pelo fato de ser o acesso de entrada e sada da cidade. Atualmente, esta avenida apresenta sua
capacidade de trfego saturada devido ao intenso fluxo de automveis, caminhes e nibus ao
longo do dia, principalmente, nos horrios de pico, quando ocorre a mobilidade pendular, isto
, as pessoas que trabalham e/ou estudam em cidades vizinhas, como Itaja e Cambori,
transitam diariamente com transporte coletivo ou particular nesta avenida. Em 2010, foram
iniciadas as obras de reurbanizao e revitalizao, cujo projeto arquitetnico considerou os
preceitos da acessibilidade urbana.
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Avenida Central: Caracteriza-se como via local. A pista de rolamento pavimentada,
sem canteiro central, sendo predominante o trfego de automveis. As caladas so estreitas e
padronizadas empetit-pav. No calado, situado entre a Avenida Atlntica e Avenida Brasil,
a acessibilidade est comprometida. As pessoas no tm autonomia, conforto e segurana
enquanto usufruem este espao pblico porque o disputam com os automveis devido s
garagens dos edifcios construdos anteriormente. Prxima ao calado, a Praa Almirante
Tamandar, na Avenida Atlntica, uma parte da cidade na qual as dinmicas scio-
econmicas so intensificadas por ser um espao turstico aberto e de uso pblico, demarcado
como palco para eventos nacionais e internacionais, sobretudo, os esportivos, que atraemintensa movimentao e concentrao de pessoas.
Avenida Alvin Bauer: Caracteriza-se como coletora por distribuir o trfego na rea
central, alimentando as avenidas principais. A pista de rolamento pavimentada, sem canteiro
central. As caladas no so padronizadas, foram construdas com materiais diversos.
4.2 Passeios acompanhados
A praia central de Balnerio Cambori uma rea de lazer tanto para a populaoresidente quanto para os turistas e o seu entorno a imagem pblica que se faz diante dos
principais mercados emissores - nacionais e internacionais, no os bairros. Por esta razo,
optou-se pela rea central para a realizao dos passeios acompanhados de pessoas com
deficincia fsica, mental e sensorial, partindo das residncias principais ou secundrias
(regio de origem) e seguindo a p at a Praa Almirante Tamandar (regio de destino), um
marco geral da cidade, conforme ilustrado na figura 01.
Os passeios acompanhados de pessoas com deficincia fsica foram feitos, na maior
parte, pelas pistas de rolamento. Muitas rampas de acesso s caladas possuem degraus,
bueiros, desnveis e/ou inclinao acentuada. Alm disso, h barreiras fsicas nas prprias
caladas que impedem a continuidade do percurso. Deste modo, tanto as rampas de acesso
quanto as caladas revelam-se sem utilidade e, para evitar situaes complicadas, os sujeitos
deficientes fsicos planejam seus itinerrios cotidianos antes de sair de casa.
Na Terceira Avenida, esquina com a Rua 2300, por exemplo, no h como uma pessoa
cadeirante transpor a via e continuar o percurso em linha reta para chegar praia central.
Motivo: h rampas de acesso s caladas nos dois lados da avenida interligadas por faixas de
segurana, porm, h degraus no canteiro central e uma floreira que impedem a passagem das
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pessoas cadeirantes de um lado para outro da via. Em outras palavras, o desvio realizado at
que se encontre uma rota livre de barreiras, ampliando o percurso.
A Avenida Palestina e a Avenida do Estado revelaram-se as vias da cidade mais
complicadas para travessia das pessoas cadeirantes porque h intenso fluxo de veculos leves
e pesados; h poucas rampas de acesso s caladas para o cruzamento seguro da vias; e, em
muitos casos, as caladas possuem mobilirios urbanos que impedem a continuidade dos
percursos, tornando as rampas de acesso sem utilidade. Por estas razes, as pessoas
cadeirantes so obrigadas a andar pelas pistas de rolamento, disputando o espao com os
automveis e colocando-se em situao perigosa.Na praia central, as pessoas cadeirantes so excludas das atividades recreativas. As
rampas de acesso faixa de areia tm inclinao muito acentuada e sem guarda-corpo. Alm
disso, possvel atolar a cadeira de rodas na areia, tornando-se necessria a ajuda de outra
pessoa. Caso contrrio, ir praia resume-se ao passeio pelo calado da Avenida Atlntica.
H tambm rampas em desuso, que no cumprem a funo primordial de acesso. Acredita-se
que muitas so construdas de qualquer modo, pois, o que vale a inteno de incluir. Caso da
Praa Almirante Tamandar, onde foi construda uma rampa sem objetivo.Pelo fato de todo itinerrio cotidiano ser realizado pelas pistas de rolamento, a vida til
da cadeira de rodas curta, em razo do forte atrito com o asfalto. E, ainda, as superfcies
irregulares, como as caladas petit-pav, podem acarretar danos sade: os problemas mais
comuns so o desvio das vrtebras e o agravamento das escaras, que so feridas expostas nas
ndegas (ou nas costas) de quem permanece muito tempo sentado (ou deitado).
Os passeios acompanhados de pessoas com deficincia mental foram feitos pelas
caladas, aonde foram apontadas as barreiras fsicas que impedem a continuidade dos
percursos, como: postes de iluminao pblica, telefone pblico e rvores no-sinalizados,
placas e lixeiras instalados em locais indevidos, m conservao das caladas e rampas
inclinadas. Destaca-se que estas foram apontadas como uma facilidade de acesso, sendo a
qualidade no mencionada.
Percebeu-se que a acessibilidade para os entrevistados com deficincia mental uma
condio de mobilidade apenas do pblico cadeirante, e no de todas as pessoas. No entanto,
observou-se a plena conscincia em relao ao espao que o pedestre deve ocupar no trnsito
e a obedincia s regras, como: atravessar pela faixa de segurana, esperar a passagem dos
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automveis ao sinal verde e prosseguir a caminhada ao sinal vermelho. Os trajetos cotidianos
so definidos antes de sair de casa, desacompanhados.
Os passeios acompanhados de pessoas com deficincia sensorial foram feitos pelas
caladas sem pisos tteis e sinalizao sonora. Notou-se que as pessoas surdas tm facilidade
de locomoo pelo ambiente urbano, mas tm dificuldade em se comunicar com as pessoas
que no entendem a Lngua dos Sinais, principalmente, aquelas que atendem diretamente aos
turistas. A barreira comunicacional um entrave na emisso e recepo de informaes
inteligveis entre os interlocutores. Um dos entrevistados se comunica com os ouvintes pelo
discurso escrito, o que nem sempre fcil, pois fora alfabetizado na Lngua dos Sinais e, porisso, no tem domnio sobre a gramtica da Lngua Portuguesa.
Durante os percursos, foram relatados que: a inclinao acentuada das caladas de ruas
transversais, como a Rua 1700, desconfortvel aos pedestres; a m conservao das caladas
uma ameaa aos pedestres devido ao risco de queda; os ciclistas no respeitam a sinalizao
semafrica e podem atropelar os pedestres; no calado da Avenida Atlntica, h conflito
entre pedestres, ciclistas e banhistas no fim da tarde, quando uns querem caminhar, outros
pedalar e outros sentar nas suas cadeiras de praia para conversar com amigos e parentes; ascaladas da Avenida Atlntica tm muitos obstculos, como as mesas e cadeiras disposio
dos clientes dos restaurantes, que interrompem a continuidade do percurso das pessoas que
caminham pelas caladas estreitas; alm disso, h as travessias das vias locais que exigem do
pedestre paradas com ateno para passagem dos automveis.
No caso das pessoas cegas, os trajetos cotidianos so aqueles j mentalizados para que
elas possam caminhar pelo espao urbano, com segurana e autonomia. Para os entrevistados
deste estudo, as barreiras fsicas so consideradas negativas quando o percurso pode ser
desvirtuado devido desorientao espacial, causada quando, por exemplo, surge um novo
elemento sem a sinalizao indicativa. Caso das barreiras mveis: cavaletes com anncios,
assentos, objetos decorativos etc. que so colocados ao amanhecer e retirados ao anoitecer
pelos comerciantes defronte dos seus estabelecimentos.
Foram registradas e/ou relatadas outras situaes negativas, como: as caladas com
reparaes mal feitas, em razo de obras diversas, so facilmente confundidas com os pisos
tteis direcionais; as barreiras areas no identificadas pela bengala de locomoo, gerando-se
o risco de coliso frontal com placas dependuradas, por exemplo; a falta de sinalizao sonora
para travessia das vias; as caladas com pisos tteis, como os da Quarta Avenida, que no so
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confiveis, pois foram colocados indevidamente, havendo barreiras em partes do percurso; a
ignorncia das pessoas quanto funo dos pisos tteis para pessoas cegas, muitas delas os
utilizam como demarcadores da fila de espera dos nibus.
Por outro lado, h barreiras fsicas positivas que tornam o espao acessvel porque so
usadas como pontos referenciais dos destinos desejados. Por exemplo: os sons do trnsito
facilitam a travessia das vias, embora seja preciso estar atento aos rudos dos carros, pois a
poluio sonora pode confundir a percepo; as faixas de segurana dos pedestres direcionam
a travessia, de um lado para outro em linha reta, por isso, importante mant-las sempre
pintadas; os mobilirios urbanos fixos facilitam a identificao do percurso; e tanto a correntedo ar quanto a intensidade do sol so sinais de proximidade da praia e dos locais sombreados.
Na figura 02, observam-se algumas das situaes descritas anteriormente:
Figura 02: Passeios acompanhados de pessoas com deficincia.Fonte: Acervo fotogrfico particular (2010).
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5 CONSIDERAES FINAIS
Este estudo mostrou que Balnerio Cambori uma cidade turstica integracionista,
cujas barreiras fsicas, comunicacionais e instrumentais inviabilizam o desenvolvimento do
turismo inclusivo. No uso dos espaos pblicos, as pessoas com deficincia tm de superar,
por conta prpria e risco, as adversidades do trnsito. Assim, a cidade no conquistada por
este pblico, pois requer deles a constante ponderao sobre onde, como e quando
deslocar-se pelos espaos pblicos. Consequentemente, a liberdade restringe-se s partes da
cidade com menos obstculos, violando o direito de participar, de encontrar o outro e de ir e
vir em funo da estrutura de circulao ser inapropriada ao uso seguro e autnomo.Constatou-se tambm que, no processo de edificao da cidade, pouco restou aos
espaos pblicos e as caladas so estreitas porque a sobra do espao edificado, sem
planejamento urbano e turstico adequados. Por este motivo, a forma urbana est saturada e
influencia diretamente na acessibilidade e na mobilidade das pessoas, existindo conflitos
entre: moradores e turistas; pedestres e motoristas; pedestres, ciclistas e banhistas. Esta crise
existencial do espao pblico revela-se pela falta de plena acessibilidade, compreendida
neste estudo como a qualidade espacial que possibilita o reconhecimento do outro-diferente apartir do encontro sem barreiras.
Com a vivncia dos passeios acompanhados acredita-se que, baseando-se apenas em
experincias reais, possvel planejar a construo de ambientes inclusivos para atender s
necessidades e aos interesses de todas as pessoas. Desta maneira, valorizar-se- a diversidade
humana, a relao com o meio ambiente e a interao social. Numa cidade turstica, pode-se
dizer que quanto mais acessibilidade aos lugares, maior a atratividade e a competitividade
enquanto tal. Alm disso, trata-se de uma questo frente do bem-receber no sentido de
alimentar e hospedar ao turista com cortesia; significa facilitar e/ou qualificar o acesso aos
espaos tursticos para bem receb-lo, considerando tambm a imagem que se faz da cidade e
os sistemas de referncia que se utiliza para orientao espacial.
Sob esta perspectiva, percebe-se Balnerio Cambori como uma cidade turstica no-
hospitaleira. As condies de inacessibilidade praia central prejudicam a mobilidade dos
pedestres com deficincia e a rea central um espao pblico de uso limitado quilo que
conhecido e desigual porque no apropriado por todas as pessoas, independente dos seus
atributos individuais. Alm disso, as vias esto ordenadas para o uso prioritrio dos motoristas
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VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo
02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC
e so complexas para atender todas as demandas, sobretudo, as pessoas que, comumente, se
apropriam do espao turstico urbano a p.
Como este estudo no se encerra por aqui, sugere-se duas pesquisas complementares:
uma que contemple outros olhares sobre o tema, como as pessoas idosas, obesas e gestantes, e
outras posies do sujeito no trnsito, como os motoristas, motociclistas e ciclistas. A outra
sugesto refere-se adaptabilidade do mtodo dos passeios acompanhados na anlise das
condies de acessibilidade dos empreendimentos tursticos de Balnerio Cambori. Com
este direcionamento, possvel averiguar como o empresariado local e o poder pblico
institudo tratam a questo.
6 REFERNCIAS
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