Acessibilidade para Pedestres com Deficiência em Espaços Turísticos Urbanos

download Acessibilidade para Pedestres com Deficiência em Espaços Turísticos Urbanos

of 13

Transcript of Acessibilidade para Pedestres com Deficiência em Espaços Turísticos Urbanos

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    1/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos:

    A Situao da rea Central de Balnerio Cambori (SC)

    Daniella Haendchen Santos1

    Simone Batista Tomasulo2

    Josildete Pereira de Oliveira3

    Resumo: Nesta anlise situacional sobre as condies de acessibilidade para pedestres comdeficincia na rea central de Balnerio Cambori (SC), considerou-se o sistema turstico deLeiper (1979; 1981) para qualificar a rota de trnsito dos pedestres com deficincia que voat a praia central para realizar atividades tursticas e/ou recreativas; e adotou-se a pesquisabibliogrfica, documental e de campo como procedimentos metodolgicos, utilizando-se dospasseios acompanhados para entrevistas e observaes. Concluiu-se que Balnerio Cambori(SC) uma cidade turstica integracionista, cujo espao pblico est em crise. A rea central de uso limitado e desigual aos pedestres com deficincia, restringindo-se aos lugares com amenor quantidade de barreiras fsicas, comunicacionais e instrumentais. O turismo inclusivoainda invivel, pois os ambientes urbanos no so de uso universal.

    Palavras-chave: Acessibilidade. Pedestres com deficincia. Espaos tursticos urbanos. rea

    central. Balnerio Cambori (SC).

    1 INTRODUO

    A incluso social um tema da atualidade que clama pela valorizao do espao

    pblico acessvel e pelo reconhecimento do direito de todas as pessoas de ir e vir com

    autonomia e segurana, independente dos seus atributos individuais. Para tanto, a

    acessibilidade a garantia da convivncia plena e harmoniosa entre as pessoas porque trata de

    equiparar as oportunidades oferecidas populao nos diversos setores da sociedade,

    eliminando as barreiras existentes nela. Deste modo, associar a acessibilidade ao turismosignifica dizer que todas as pessoas, sem exceo, tm o direito de viajar sem se defrontar

    com barreiras nos destinos tursticos, alm de participarem juntas das atividades tursticas

    e/ou recreativas realizadas em ambientes comuns a todos.

    1 Jornalista. Mestre em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itaja. Professora do Senac Itaja. |E-mail: [email protected] Turismloga. Mestre em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itaja. Professora da Univali

    Balnerio Cambori. | E-mail: [email protected] Arquiteta e Urbanista. Mestre em Cincias da Terra (Natureza, Meio Ambiente e Sociedade) e Doutora emCincias Humanas (Geografia) pela Universidade de Caen. Professora da Univali Balnerio Cambori. | E-mail:[email protected].

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    2/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    2 METODOLOGIA APLICADA

    Com o objetivo geral de analisar as condies de acessibilidade para pedestres com

    deficincia na rea central de Balnerio Cambori, tendo em vista a praia como o principal

    atrativo turstico, foi adotado como mtodo de pesquisa o estudo de caso qualitativo com

    enfoque sistmico. Para concretiz-lo, optou-se pela pesquisa bibliogrfica, documental e de

    campo, por meio dos passeios acompanhados, desenvolvidos por Dischinger (2000), que,

    aplicado ao ambiente urbano, possibilita apreender a capacidade interativa dos pedestres com

    deficincia com o espao turstico urbano de modo que, desta interface, se consiga qualific-

    lo como acessvel ou no.O universo de participantes de tais passeios constitudo por oito jovens e adultos com

    deficincia fsica, mental e sensorial; que residem ou possuem residncia secundria na cidade

    em questo; e que tm vida independente. Todos eles foram indicados aleatoriamente, pelo

    procedimento bola de neve, por pessoas envolvidas politicamente com as questes sociais

    do grupo em que esto inseridos, conforme o tipo de deficincia. De incio, foram feitas

    caminhadas solitrias pelas principais avenidas da cidade para sentir o espao urbano

    considerado e, com isso, obter as primeiras impresses sobre os lugares (in)acessveis. Emseguida, foram feitos os passeios acompanhados em si, nos quais se realizou as entrevistas

    centralizadas no problema e a observao dos fatos vivenciados no espao urbano.

    Na prtica, o modelo de sistema turstico bsico, de Leiper (1979; 1981), foi aplicado

    em pequena escala, cuja delimitao espacial a rea central de Balnerio Cambori, na qual

    os elementos que integram o sistema so: regio de origem - residncias principais e

    secundrias; regio de destino - a praia central; rota de trnsito, caracterizada pelos

    indicadores de qualidade da ANTP (1999): condio fsica das caladas; continuidade dos

    percursos; sinalizao e condio das travessias; residentes e turistas - elementos centrais,

    dominantes e dinmicos do sistema turstico; e o contexto local e global.

    De posse dos dados verbais e no-verbais, estes foram categorizados por similaridade e

    classificados em: relevantes, representativos e situaes-problema; alm destes, mapas

    especficos de Balnerio Cambori foram confeccionados para ilustrar a rea de estudo, os

    espaos pblicos e os percursos realizados pelos participantes da pesquisa, revelando uma

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    3/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    realidade integracionista. Para anlise descritiva e interpretativa, utilizou-se como direo o

    conceito4 de acessibilidade, estabelecido pelo Decreto n. 5.296/2004.

    3 DISCUSSES TERICAS

    3.1 Cidade, espao pblico e cidadania

    Em seus estudos, Borja (2003) reflete sobre o direito cidade para todos e, tambm,

    sobre o uso do espao pblico como lugar de exerccio da cidadania. Para o autor, a conquista

    da cidade ocorre quando os cidados utilizam os espaos pblicos para manifestar interesses

    coletivos, mesmo que sob condies polticas adversas, e construir novos alicerces cidade,principalmente, aqueles baseados na sustentabilidade, tais como: relevncia social, prudncia

    ecolgica e viabilidade econmica. No entanto, o exerccio da cidadania est fragilizado, pois

    a liberdade de uns no a mesma que de outros, o que caracteriza a excluso social e o

    domnio de uns sobre os outros, embora a cidade como espao pblico seja um lugar

    democrtico, de representao e expresso dos conflitos sociais (BORJA, 2003).

    Para extinguir esta dicotomia entre grupos excludos e grupos excludentes, o autor

    defende a ideia do resgate da cidadania para que as pessoas a exercitem diariamente,ocupando outra vez os espaos pblicos, e, deste modo, conquistem a cidade ideal. Logo,

    compreende-se que o espao pblico no pode ser relegado aos restos da cidade. preciso

    revaloriz-los para que os cidados possam reivindicar por novos direitos ou, ento, exigir

    que aqueles que j possuem legalmente se tornem reais. , neste sentido, que a acessibilidade

    como qualidade do espao pblico torna-se condio sine qua non para aquisio da

    cidadania, a qual implica no reconhecimento dos cidados como sujeitos livres, iguais e

    ativos, com direitos e deveres amparados pelas leis.

    3.2 Espao turstico urbano

    Boulln (2002; 2004; 2005) o autor que define o espao turstico como uma rea

    geogrfica na qual os atrativos, os empreendimentos e a infraestrutura esto distribudos de

    acordo com a abrangncia territorial que ocupam. Na diviso do espao turstico proposta por

    Boulln (2002; 2005), explicita-se aqui somente os centros tursticos - caso de Balnerio

    4 Condio para utilizao, com segurana e autonomia, total ou assistida, dos espaos, mobilirios eequipamentos urbanos, das edificaes, dos servios de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios decomunicao e informao, por pessoa portadora de deficincia ou com mobilidade reduzida (MINISTRIODA JUSTIA, 2004:03).

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    4/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    Cambori, os quais ocupam superfcies grandes ou pequenas, caracterizando-se como

    conglomerados urbanos que tm atrativos, empreendimentos e infraestrutura suficientes, tanto

    no seu prprio territrio quanto no seu entorno, para motivar uma viagem e, tambm, para

    garantir a permanncia dos turistas por tempo determinado, pois, suas necessidades so

    supridas no mesmo espao. Neste sentido, Boulln (2005, p.31) afirma que os centros

    tursticos so o principal elemento que compe o espao turstico porque se comportam

    como economias de aglomerao devido concentrao e diversidade de bens de consumo e

    de servios disponveis aos turistas, movimentando a economia local.

    3.3 Turismo inclusivo e acessibilidade

    Pela retrospectiva histrico-conceitual das prticas sociais, feita por Sassaki (2003;

    2006) em seus estudos, isto , da excluso incluso, passando pela segregao e integrao,

    percebe-se que as atitudes e os comportamentos negativos contra as pessoas com deficincia

    no so mais tolerados em diversos setores da sociedade. No turismo, este pblico visto

    como novo segmento de mercado por ser uma demanda potencial, pois, assim como todos,

    sem exceo, as pessoas com deficincia tambm buscam a auto-realizao na atividadeturstica e/ou recreativa, na qual as necessidades subjetivas e objetivas so satisfeitas.

    De acordo com o autor, a incluso social um processo bilateral no qual as pessoas,

    ainda excludas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre

    solues e efetivar a equiparao de oportunidades para todos (SASSAKI, 2006, p.41). Neste

    sentido, as atividades tursticas e/ou recreativas devem ser modificadas para que todas as

    pessoas possam participar juntas e ativamente, usufruindo os mesmos espaos de convivncia.

    Logo, a acessibilidade deve ser promovida em todas as suas dimenses: arquitetnica,

    comunicacional, metodolgica, instrumental, programtica e atitudinal (SASSAKI, 2003).

    3.4 Sistema turstico bsico

    Leiper (1979; 1981) foi quem primeiro adaptou a Teoria Geral dos Sistemas, postulada

    por Bertalanffy (2008), da biologia para o turismo. Ele reproduziu os conceitos sistmicos

    relacionando-os interdisciplinaridade do turismo como fenmeno scio-econmico que

    ocorre no meio ambiente. Atualmente, Acerenza (2002) quem revalidou o sistema turstico

    de Leiper (1979; 1981) em seus estudos sobre o planejamento e a gesto do turismo. De

    acordo com ele, o enfoque sistmico uma referncia para anlise do turismo na sua total

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    5/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    complexidade porque oferece explicaes sobre a estrutura e o funcionamento do sistema

    turstico, o conhecimento interdisciplinar e o comportamento do conjunto.

    Para Acerenza (2002), o sistema turstico aberto, constitudo por um conjunto

    integrado de elementos que se inter-relacionam, de forma complexa e no-linear, com o

    objetivo comum de satisfazer as necessidades da demanda turstica em relao ao uso do

    tempo livre por meio das atividades tursticas e/ou recreativas. Os elementos do sistema

    turstico esto categorizados em: um dinmico (turista), trs geogrficos (regio de origem,

    rota de trnsito e regio de destino) e um econmico (indstria do turismo), os quais esto

    envolvidos pelo contexto fsico, tecnolgico, social, cultural, econmico e poltico.A relao entre estes elementos caracteriza-se pelo ser humano na posio de sujeito-

    turista, tornando-se o elemento central, dinmico e dominante do sistema; pelo conjunto de

    empresas prestadoras de bens e servios aos turistas; e pela regio de origem, regio de

    destino e rota de trnsito. Os rgos pblicos no integram este sistema porque Acerenza

    (2002) entende que a participao dos representantes eleitos no processo de elaborao do

    produto turstico se restringe a ampliar e/ou melhorar a infraestrutura urbana para atender a

    populao residente e, por extenso, a demanda turstica. No processo de comercializao, afuno deles promover em carter institucional o produto turstico j formatado pelas

    empresas que integram a indstria do turismo.

    Todos os elementos integrantes do sistema turstico de Leiper (1979; 1981) mantm

    uma relao funcional e espacial, em razo dos propsitos estabelecidos e dos espaos em que

    cada um est inserido. Pelo fato de o sistema turstico ser muito sensvel ao contexto local e

    global, possvel reafirmar que o turismo um sistema aberto porque h fortes interaes

    entre os seus elementos com este contexto muito instvel. De acordo com Acerenza (2002,

    p.262), estas interaes implicam aes em dois sentidos: o funcionamento do sistema em

    seu conjunto vai influenciar o contexto e as variaes do contexto iro repercutir no

    funcionamento do sistema e [...] no desenvolvimento da atividade turstica.

    4 AS CONDIES DO TRNSITO PARA PEDESTRES

    4.1 Caractersticas da estrutura viria

    O sistema virio de Balnerio Cambori ordenado por sete vias principais: quatro

    paralelas praia (Avenida Atlntica, Avenida Brasil, Terceira Avenida e Quarta Avenida),

    duas transversais (Quinta Avenida que foi excluda deste estudo por no estar situada na

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    6/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    rea central e Avenida do Estado) e uma perpendicular (Avenida Central), como ilustrado

    na figura 01. Em seguida, descreve-se a estrutura de circulao de Balnerio Cambori de

    acordo com o posicionamento de cada avenida, no sentido leste-oeste.

    Figura 01: Mapa da rea de estudo e dos passeios acompanhados.

    Fonte: Helia Del Carmen Farias Espinoza (2010).

    Avenida Atlntica e Avenida Brasil: Caracterizam-se como arteriais. A primeira, de

    sentido sul-norte, margeia toda orla martima. A segunda, de sentido norte-sul, paralela

    primeira. Ambas tm larguras estreitas, se prolongam em linha reta e se interligam por ruas

    transversais menores, que so os acessos praia central. A pista de rolamento de ambas as

    avenidas pavimentada, sem canteiro central. H intensa movimentao de pedestres em

    torno dos restaurantes da Avenida Atlntica e dos estabelecimentos comerciais da Avenida

    Brasil. No entanto, a prioridade de passagem dos automveis. Os pedestres e os banhistastm seus espaos reduzidos s caladas e faixa de areia.

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    7/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    As caladas estreitas so padronizadas em petit-pav, dificultando o percurso contnuo

    dos pedestres devido irregularidade da superfcie e possibilitando danos sade. So usadas

    como extenso dos restaurantes e das lojas, e os mobilirios urbanos esto instalados

    indevidamente sobre elas, prejudicando a mobilidade dos pedestres que se expem s

    situaes perigosas por disputar o espao virio com os meios de transporte. Ambas as

    avenidas so usadas como roteiros pelos turistas e, ao mesmo tempo, como vias pelos

    residentes, causando congestionamentos. Quando h eventos diversos nestas avenidas, o

    trnsito de outras ruas e avenidas tambm fica obstrudo.

    Terceira Avenida e Quarta Avenida: Caracterizam-se como arteriais. A primeirainicia na Avenida Brasil e a segunda, na Rua 2550. Ambas se prolongam em linha reta para

    finalizar na Avenida do Estado. As pistas de rolamento so pavimentadas, com canteiro

    central na Terceira Avenida e ciclovia na Quarta Avenida. Tambm so usadas como roteiros

    pelos turistas e como vias pelos residentes, no entanto, a movimentao nesta parte da cidade

    no horrio comercial em torno do comrcio de bens e servios de maior porte, observando-

    se a prioridade de passagem para automveis e ciclistas, quando h ciclovia em lugar de

    canteiro central, o que dificulta a transposio das vias pelos pedestres.As caladas so feitas de blocos de concreto intertravados. Na Quarta Avenida, o

    diferencial so os pisos tteis para facilitar a locomoo das pessoas com deficincia visual

    em tese. Na Terceira Avenida, em alguns trechos, percebe-se a m conservao das caladas e

    a existncia de mobilirios urbanos que impossibilitam o percurso contnuo dos pedestres.

    Pontos de nibus, por exemplo, foram construdos em meio s caladas sem os pisos de alerta

    nos arredores, o que os torna uma barreira fsica para pessoas com deficincia que precisam

    desvi-la de algum modo para continuar o percurso. Ou, ento, ir de encontro ao obstculo

    como acontece, muitas vezes, com as pessoas com deficincia visual.

    Avenida do Estado: Caracteriza-se como arterial interurbana. O trfego de passagem

    pelo fato de ser o acesso de entrada e sada da cidade. Atualmente, esta avenida apresenta sua

    capacidade de trfego saturada devido ao intenso fluxo de automveis, caminhes e nibus ao

    longo do dia, principalmente, nos horrios de pico, quando ocorre a mobilidade pendular, isto

    , as pessoas que trabalham e/ou estudam em cidades vizinhas, como Itaja e Cambori,

    transitam diariamente com transporte coletivo ou particular nesta avenida. Em 2010, foram

    iniciadas as obras de reurbanizao e revitalizao, cujo projeto arquitetnico considerou os

    preceitos da acessibilidade urbana.

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    8/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    Avenida Central: Caracteriza-se como via local. A pista de rolamento pavimentada,

    sem canteiro central, sendo predominante o trfego de automveis. As caladas so estreitas e

    padronizadas empetit-pav. No calado, situado entre a Avenida Atlntica e Avenida Brasil,

    a acessibilidade est comprometida. As pessoas no tm autonomia, conforto e segurana

    enquanto usufruem este espao pblico porque o disputam com os automveis devido s

    garagens dos edifcios construdos anteriormente. Prxima ao calado, a Praa Almirante

    Tamandar, na Avenida Atlntica, uma parte da cidade na qual as dinmicas scio-

    econmicas so intensificadas por ser um espao turstico aberto e de uso pblico, demarcado

    como palco para eventos nacionais e internacionais, sobretudo, os esportivos, que atraemintensa movimentao e concentrao de pessoas.

    Avenida Alvin Bauer: Caracteriza-se como coletora por distribuir o trfego na rea

    central, alimentando as avenidas principais. A pista de rolamento pavimentada, sem canteiro

    central. As caladas no so padronizadas, foram construdas com materiais diversos.

    4.2 Passeios acompanhados

    A praia central de Balnerio Cambori uma rea de lazer tanto para a populaoresidente quanto para os turistas e o seu entorno a imagem pblica que se faz diante dos

    principais mercados emissores - nacionais e internacionais, no os bairros. Por esta razo,

    optou-se pela rea central para a realizao dos passeios acompanhados de pessoas com

    deficincia fsica, mental e sensorial, partindo das residncias principais ou secundrias

    (regio de origem) e seguindo a p at a Praa Almirante Tamandar (regio de destino), um

    marco geral da cidade, conforme ilustrado na figura 01.

    Os passeios acompanhados de pessoas com deficincia fsica foram feitos, na maior

    parte, pelas pistas de rolamento. Muitas rampas de acesso s caladas possuem degraus,

    bueiros, desnveis e/ou inclinao acentuada. Alm disso, h barreiras fsicas nas prprias

    caladas que impedem a continuidade do percurso. Deste modo, tanto as rampas de acesso

    quanto as caladas revelam-se sem utilidade e, para evitar situaes complicadas, os sujeitos

    deficientes fsicos planejam seus itinerrios cotidianos antes de sair de casa.

    Na Terceira Avenida, esquina com a Rua 2300, por exemplo, no h como uma pessoa

    cadeirante transpor a via e continuar o percurso em linha reta para chegar praia central.

    Motivo: h rampas de acesso s caladas nos dois lados da avenida interligadas por faixas de

    segurana, porm, h degraus no canteiro central e uma floreira que impedem a passagem das

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    9/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    pessoas cadeirantes de um lado para outro da via. Em outras palavras, o desvio realizado at

    que se encontre uma rota livre de barreiras, ampliando o percurso.

    A Avenida Palestina e a Avenida do Estado revelaram-se as vias da cidade mais

    complicadas para travessia das pessoas cadeirantes porque h intenso fluxo de veculos leves

    e pesados; h poucas rampas de acesso s caladas para o cruzamento seguro da vias; e, em

    muitos casos, as caladas possuem mobilirios urbanos que impedem a continuidade dos

    percursos, tornando as rampas de acesso sem utilidade. Por estas razes, as pessoas

    cadeirantes so obrigadas a andar pelas pistas de rolamento, disputando o espao com os

    automveis e colocando-se em situao perigosa.Na praia central, as pessoas cadeirantes so excludas das atividades recreativas. As

    rampas de acesso faixa de areia tm inclinao muito acentuada e sem guarda-corpo. Alm

    disso, possvel atolar a cadeira de rodas na areia, tornando-se necessria a ajuda de outra

    pessoa. Caso contrrio, ir praia resume-se ao passeio pelo calado da Avenida Atlntica.

    H tambm rampas em desuso, que no cumprem a funo primordial de acesso. Acredita-se

    que muitas so construdas de qualquer modo, pois, o que vale a inteno de incluir. Caso da

    Praa Almirante Tamandar, onde foi construda uma rampa sem objetivo.Pelo fato de todo itinerrio cotidiano ser realizado pelas pistas de rolamento, a vida til

    da cadeira de rodas curta, em razo do forte atrito com o asfalto. E, ainda, as superfcies

    irregulares, como as caladas petit-pav, podem acarretar danos sade: os problemas mais

    comuns so o desvio das vrtebras e o agravamento das escaras, que so feridas expostas nas

    ndegas (ou nas costas) de quem permanece muito tempo sentado (ou deitado).

    Os passeios acompanhados de pessoas com deficincia mental foram feitos pelas

    caladas, aonde foram apontadas as barreiras fsicas que impedem a continuidade dos

    percursos, como: postes de iluminao pblica, telefone pblico e rvores no-sinalizados,

    placas e lixeiras instalados em locais indevidos, m conservao das caladas e rampas

    inclinadas. Destaca-se que estas foram apontadas como uma facilidade de acesso, sendo a

    qualidade no mencionada.

    Percebeu-se que a acessibilidade para os entrevistados com deficincia mental uma

    condio de mobilidade apenas do pblico cadeirante, e no de todas as pessoas. No entanto,

    observou-se a plena conscincia em relao ao espao que o pedestre deve ocupar no trnsito

    e a obedincia s regras, como: atravessar pela faixa de segurana, esperar a passagem dos

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    10/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    automveis ao sinal verde e prosseguir a caminhada ao sinal vermelho. Os trajetos cotidianos

    so definidos antes de sair de casa, desacompanhados.

    Os passeios acompanhados de pessoas com deficincia sensorial foram feitos pelas

    caladas sem pisos tteis e sinalizao sonora. Notou-se que as pessoas surdas tm facilidade

    de locomoo pelo ambiente urbano, mas tm dificuldade em se comunicar com as pessoas

    que no entendem a Lngua dos Sinais, principalmente, aquelas que atendem diretamente aos

    turistas. A barreira comunicacional um entrave na emisso e recepo de informaes

    inteligveis entre os interlocutores. Um dos entrevistados se comunica com os ouvintes pelo

    discurso escrito, o que nem sempre fcil, pois fora alfabetizado na Lngua dos Sinais e, porisso, no tem domnio sobre a gramtica da Lngua Portuguesa.

    Durante os percursos, foram relatados que: a inclinao acentuada das caladas de ruas

    transversais, como a Rua 1700, desconfortvel aos pedestres; a m conservao das caladas

    uma ameaa aos pedestres devido ao risco de queda; os ciclistas no respeitam a sinalizao

    semafrica e podem atropelar os pedestres; no calado da Avenida Atlntica, h conflito

    entre pedestres, ciclistas e banhistas no fim da tarde, quando uns querem caminhar, outros

    pedalar e outros sentar nas suas cadeiras de praia para conversar com amigos e parentes; ascaladas da Avenida Atlntica tm muitos obstculos, como as mesas e cadeiras disposio

    dos clientes dos restaurantes, que interrompem a continuidade do percurso das pessoas que

    caminham pelas caladas estreitas; alm disso, h as travessias das vias locais que exigem do

    pedestre paradas com ateno para passagem dos automveis.

    No caso das pessoas cegas, os trajetos cotidianos so aqueles j mentalizados para que

    elas possam caminhar pelo espao urbano, com segurana e autonomia. Para os entrevistados

    deste estudo, as barreiras fsicas so consideradas negativas quando o percurso pode ser

    desvirtuado devido desorientao espacial, causada quando, por exemplo, surge um novo

    elemento sem a sinalizao indicativa. Caso das barreiras mveis: cavaletes com anncios,

    assentos, objetos decorativos etc. que so colocados ao amanhecer e retirados ao anoitecer

    pelos comerciantes defronte dos seus estabelecimentos.

    Foram registradas e/ou relatadas outras situaes negativas, como: as caladas com

    reparaes mal feitas, em razo de obras diversas, so facilmente confundidas com os pisos

    tteis direcionais; as barreiras areas no identificadas pela bengala de locomoo, gerando-se

    o risco de coliso frontal com placas dependuradas, por exemplo; a falta de sinalizao sonora

    para travessia das vias; as caladas com pisos tteis, como os da Quarta Avenida, que no so

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    11/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    confiveis, pois foram colocados indevidamente, havendo barreiras em partes do percurso; a

    ignorncia das pessoas quanto funo dos pisos tteis para pessoas cegas, muitas delas os

    utilizam como demarcadores da fila de espera dos nibus.

    Por outro lado, h barreiras fsicas positivas que tornam o espao acessvel porque so

    usadas como pontos referenciais dos destinos desejados. Por exemplo: os sons do trnsito

    facilitam a travessia das vias, embora seja preciso estar atento aos rudos dos carros, pois a

    poluio sonora pode confundir a percepo; as faixas de segurana dos pedestres direcionam

    a travessia, de um lado para outro em linha reta, por isso, importante mant-las sempre

    pintadas; os mobilirios urbanos fixos facilitam a identificao do percurso; e tanto a correntedo ar quanto a intensidade do sol so sinais de proximidade da praia e dos locais sombreados.

    Na figura 02, observam-se algumas das situaes descritas anteriormente:

    Figura 02: Passeios acompanhados de pessoas com deficincia.Fonte: Acervo fotogrfico particular (2010).

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    12/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    5 CONSIDERAES FINAIS

    Este estudo mostrou que Balnerio Cambori uma cidade turstica integracionista,

    cujas barreiras fsicas, comunicacionais e instrumentais inviabilizam o desenvolvimento do

    turismo inclusivo. No uso dos espaos pblicos, as pessoas com deficincia tm de superar,

    por conta prpria e risco, as adversidades do trnsito. Assim, a cidade no conquistada por

    este pblico, pois requer deles a constante ponderao sobre onde, como e quando

    deslocar-se pelos espaos pblicos. Consequentemente, a liberdade restringe-se s partes da

    cidade com menos obstculos, violando o direito de participar, de encontrar o outro e de ir e

    vir em funo da estrutura de circulao ser inapropriada ao uso seguro e autnomo.Constatou-se tambm que, no processo de edificao da cidade, pouco restou aos

    espaos pblicos e as caladas so estreitas porque a sobra do espao edificado, sem

    planejamento urbano e turstico adequados. Por este motivo, a forma urbana est saturada e

    influencia diretamente na acessibilidade e na mobilidade das pessoas, existindo conflitos

    entre: moradores e turistas; pedestres e motoristas; pedestres, ciclistas e banhistas. Esta crise

    existencial do espao pblico revela-se pela falta de plena acessibilidade, compreendida

    neste estudo como a qualidade espacial que possibilita o reconhecimento do outro-diferente apartir do encontro sem barreiras.

    Com a vivncia dos passeios acompanhados acredita-se que, baseando-se apenas em

    experincias reais, possvel planejar a construo de ambientes inclusivos para atender s

    necessidades e aos interesses de todas as pessoas. Desta maneira, valorizar-se- a diversidade

    humana, a relao com o meio ambiente e a interao social. Numa cidade turstica, pode-se

    dizer que quanto mais acessibilidade aos lugares, maior a atratividade e a competitividade

    enquanto tal. Alm disso, trata-se de uma questo frente do bem-receber no sentido de

    alimentar e hospedar ao turista com cortesia; significa facilitar e/ou qualificar o acesso aos

    espaos tursticos para bem receb-lo, considerando tambm a imagem que se faz da cidade e

    os sistemas de referncia que se utiliza para orientao espacial.

    Sob esta perspectiva, percebe-se Balnerio Cambori como uma cidade turstica no-

    hospitaleira. As condies de inacessibilidade praia central prejudicam a mobilidade dos

    pedestres com deficincia e a rea central um espao pblico de uso limitado quilo que

    conhecido e desigual porque no apropriado por todas as pessoas, independente dos seus

    atributos individuais. Alm disso, as vias esto ordenadas para o uso prioritrio dos motoristas

  • 8/6/2019 Acessibilidade para Pedestres com Deficincia em Espaos Tursticos Urbanos

    13/13

    VIII Seminrio da Associao Nacional Pesquisa e Ps-Graduao em Turismo

    02 a 04 de outubro de 2011 UNIVALI Balnerio Cambori / SC

    e so complexas para atender todas as demandas, sobretudo, as pessoas que, comumente, se

    apropriam do espao turstico urbano a p.

    Como este estudo no se encerra por aqui, sugere-se duas pesquisas complementares:

    uma que contemple outros olhares sobre o tema, como as pessoas idosas, obesas e gestantes, e

    outras posies do sujeito no trnsito, como os motoristas, motociclistas e ciclistas. A outra

    sugesto refere-se adaptabilidade do mtodo dos passeios acompanhados na anlise das

    condies de acessibilidade dos empreendimentos tursticos de Balnerio Cambori. Com

    este direcionamento, possvel averiguar como o empresariado local e o poder pblico

    institudo tratam a questo.

    6 REFERNCIAS

    ACERENZA, M. A. Administrao do Turismo: conceituao e organizao.Bauru: EdUSC, 2002.

    ASSOCIAO NACIONAL DE TRANSPORTES PBLICOS. Transporte Humano: cidades comqualidade de vida. 2.ed. So Paulo: ANTP, 1999.

    BERTALANFFY, L. Von. Teoria Geral dos Sistemas: fundamentos, desenvolvimento e aplicaes.3.ed. Petrpolis: Vozes, 2008.

    BORJA, J. La ciudad conquistada. Madrid: Alianza Editorial, 2003.

    BOULLN, R. C. Planejamento do espao turstico. Bauru: EdUSC, 2002.

    BOULLN, R. C. Atividades tursticas e recreativas: o homem como protagonista. Bauru: EdUSC,2004.

    BOULLN, R. C. Os municpios tursticos. Bauru: EdUSC, 2005.

    DISCHINGER, M. Designing for all senses: accessible spaces for visually impaired citizens.Gteborg: Chalmers University of Technology, 2000.

    LEIPER, N. The framework of tourism: towards a definition of tourism, tourist, and the touristindustry. 1979. Disponvel em: . Acesso em: 13 maio 2008.

    LEIPER, N. Towards a cohesive curriculum in tourism: the case for a distinct discipline. 1981.Disponvel em: . Acesso em: 09 mar. 2008.

    MINISTRIO DA JUSTIA. Decreto-lei no. 5296, de 02 de dezembro de 2004. Dirio Oficial [da]Repblica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Braslia, DF, 03 dez. 2004.

    SASSAKI, R. K. Incluso no lazer e turismo. So Paulo: urea, 2003.

    SASSAKI, R. K. Incluso: construindo uma sociedade para todos. 7.ed. Rio de Janeiro: WVA, 2006.

    http://www.sciencedirect.com/http://www.sciencedirect.com/http://www.sciencedirect.com/http://www.sciencedirect.com/