Efeitos tecnológicos e estruturais nas emissões de CO2 Brasileira: uma abordagem de
análise de decomposição estrutural (SDA)
Marcos Paulo Novais Silva
Concorrente ao Prêmio Paulo Haddad
RESUMO
O objetivo deste artigo é a mensuração dos diversos efeitos econômicos que estão por trás
das variaçãos nas emissões de dióxido de carbono brasileira. O método utilizado foi o de
análise de decomposição estrutural (SDA – Structural decomposition Analysis). Trata-se de
um método de insumo-produto, logo de estática comparativa, que permite detalhar melhor a
decomposição das mudanças tecnológicas e de demanda do processo produtivo. Para tanto
utiliza-se uma base de dados de emissão proveniente do balanço de emissões, energia
equivalente e final e matrizes IBGE de insumo-produto, ambos para os anos de 2000 e 2005
e adaptados para 15 setores econômicos brasileiros. Os principais resultados indicam que:
os setores de transportes, siderurgia e alimentos e bebidas são aqueles que se mostraram
mais propensos a aumento de emissões, quando considerada variação na demanda final, e
os setores indústria do cimento, de minerais não metálicos e papel e celulose se destacam
por redução de emissões devido a mudança tecnológica.
ABSTRACT
The aim of this paper is the measurement of the various economic effects that are behind
the change in carbon dioxide emissions in Brazil. The method used was the Structural
Decomposition Analysis. This is a method derived from of Input-Output allowing more
detail in the decomposition of technological change and demand of the production process.
Thus using a database of emissions from the balance of emissions, equivalent energy, and
electricity final and IBGE matrices of input-output, both for 2000 and 2005 and adapted for
15 Brazilians economic sectors. The main results indicate that the sectors of transport, steel
and food and beverages are those that were more likely to increase emissions, when
considered variation in final demand, and industry sectors of cement, non-metallic minerals
and pulp and paper stand out for reduction of emissions due to technological change.
Palavras Chave: Insumo-Produto, SDA, Emssões.
1. Introdução
Muitos compostos químicos encontrados na atmosfera da Terra atuam como "gases
causadores do efeito de estufa". Estes gases permitem que a luz solar entre na atmosfera
livremente, porém quando a radiação solar atinge a superfície da Terra, parte da radiação
é re-irradiada de volta para o espaço, e os gases do efeito interagem a nível molecular
criando como se fosse uma armadilha de calor na atmosfera, ou de uma forma mais
popular, cria uma estufa. Muitos gases apresentam esta propriedade, alguns deles
ocorrem na natureza, por exemplo, vapor de água, dióxido de carbono, metano e óxido
nitroso, enquanto outros são resultados da ação exclusivamente humana, como certos
gases industriais (ELETROBRÁS, 2000).
Akbostancı et al. (2006) referem-se ao uso acelerado de combustíveis fósseis
desde a revolução industrial, e a rápida destruição das florestas como as principais causas
do aumento da ocorrência do efeito estufa. Ainda, dentro de todos os gases causadores do
efeito estufa, o dióxido de carbono (CO2) é responsável por aproximadamente 60% de
todo o efeito.
Como resultado da importância do tema foram feitas reuniões globais, para
discussão e tomada de decisões a respeito. Em 1992 foi criada a Convenção das Nações
Unidas Sobre as Mudanças Climáticas, aprovada e iniciada na Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro1.
Segundo Hilgemberg e Guilhoto (2006) em 1997 foi celebrado, com o
compromisso de 37 países desenvolvidos, o protocolo de Kyoto. O Protocolo de Kyoto
começou a ser executado em 2005, depois que foi ratificado pelo Parlamento Russo. O
primeiro acordo determina a necessidade de redução na quantidade de emissão e aponta a
necessidade de dar um tempo para que isto seja feito. Por intermédio dele, os países
desenvolvidos comprometeram-se a reduzir, no período entre 2008 e 2012, suas emissões
de gases causadores do efeito estufa. Para que elas se tornem, em média, 5,2% inferiores
aos níveis de emissão observados em 1990.
O mais importante neste cenário de acordos para redução de emissões de CO2 é
entender como fazê-la. Assim cresce a importância de trabalhos na área. Alguns destes
trabalhos discutem:
- a evolução tecnológica e impacto sobre emissões (CASLER E ROSE, 1998)
- identificação de setores chave no que diz respeito a emissão (CARVALHO E
PEROBELLI, 2009)
- resultado de política de taxações sobre emissões (LABANDEIRA E LABEAGA. 2002)
- impacto dos componentes da demanda final nas emissões totais (HOEKSTRA E VAN
DEN BERGH, 2002).
Dentro desta literatura o presente trabalho objetiva decompor e mensurar quanto
da variação nas emissões advém dos componentes de demanda final e quanto do avanço
tecnológico, para tanto foi utilizado uma extensão do modelo de insumo-produto,
chamada de análise de decomposição estrutural2. As vantagens da incorporação do
modelo de insumo-produto diz respeito a desagregação setorial dos resultados, a
possibilidade de incorporação de regiões (matriz inter-regional) e o fato de ser um
1 Também chamada de Eco-92, ou Rio-92.
2 Structural decomposition analysis (SDA)
modelo balanceado de equilíbrio geral computável3.
A estrutura deste trabalho está organizada da seguinte forma: na seção 2 foi
introduzida uma revisão literária a respeito do método e trabalhos de insumo produto
aplicados ao tema emissão de dióxido de carbono para o Brasil, na seção 3 é apresentado
o método, na seção 4 a origem e análise exploratória da base de dados, na seção 5 os
resultados divididos por tipo de efeito, e na seção 6 algumas conclusões.
2 - Revisão de Literatura
Em Leontief (1970) já havia a preocupação em incorporar externalidades dentro de um
modelo convencional de insumo-produto, que é uma foto da economia nacional em um
determinado instante, e também em demonstrar que (uma vez que isso tenha sido feito)
os cálculos convencionais de insumo-produto podem produzir respostas concretas para
questões fundamentais ligados a efeitos ambientais.
O uso do método de análise de decomposição estrutural (SDA) vem crescendo
muito nos anos recentes (CASLER E ROSE (1998)), porém muitas aplicações estão
focando em mudanças no uso de energia, em detrimento de questões ambientais.
Casler e Rose (1998) fazem uma análise empírica do impacto de diversas
variáveis sobre a emissão de dióxido de carbono, na história recente dos EUA. Este
trabalho representa a primeira aplicação de análises SDA em emissão de gases causadores
do efeito estufa nos EUA. Ele incorpora o método SDA e ainda alguns refinamentos
deste, alem disso utiliza-se também uma matriz insumo-produto híbrida.
Os resultados dos autores indicam que o modelo SDA é uma ferramenta para
análise histórica de impacto da composição de insumos e mudanças na demanda final no
nível de emissão de dióxido de carbono. E, principalmente, mostram que embora o
crescimento econômico por si só tivesse gerado um aumento de emissões de dióxido de
carbono, esta fonte é mais do que compensada pelas mudanças no mix de demanda final,
substituição entre combustíveis e efeito tecnológico.
Labandeira e Labeaga (2002) também utilizaram o método de SDA, para obter as
intensidades de emissões de carbono para a economia da Espanha em 1992. O objetivo
do trabalho é calcular desagregadamente as intensidades de emissão de dióxido de
carbono de forma a estimar efeitos preço de uma taxação hipotética das emissões de
carbono, para o ano de 1998.
Algumas importantes conclusões indicam que, diante da necessidade de adoção
de uma estratégia de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa na
Espanha, o efeito de uma taxação aparece como um instrumento viável e eficiente, porém
não pode ser descartado a melhora na eficiência do sistema de uso energético.
Hoekstra e Van den Bergh (2002) ressaltam em seu trabalho a importância do
método SDA e as evoluções da aplicação deste método na área de meio ambiente.
Apresentam o método e mostram como outros pesquisadores vem utilizando este em
trabalhos de meio ambiente, ou seja, discutem a direção que a pesquisa em SDA vem
tomando.
Hoekstra e Van den Bergh (2002) ainda apresentam uma tabela onde procuram
3 Importante ressaltar que trata-se de um modelo de equilíbrio geral computável, com uma função Leontief
de retornos constantes e não substituição entre fatores de produção, o que traz consigo todos os limitantes
deste tipo de função produção.
referenciar os estudos que utilizam SDA aplicado a fluxos físicos da economia. Esta
tabela foi adaptada para este trabalho, de forma a apresentar somente aqueles trabalhos
que utilizaram o método SDA para mensurar impactos ambientais. A mesma está inserida
na Tabela 1 e revela, na ordem cronológica, os trabalhos que aplicaram a abordagem de
análise de decomposição estrutural para o meio ambiente, nos diversos países do mundo.
Tabela 1 – Estudos de Análise de Decomposição Estrutural (SDA) aplicada ao meio ambiente.
Fonte: adaptação feita a partir de Hoekstra e Van den Bergh (2002).
Autores Indicador de unidade
física Período
Região (número de
setores) Utiliza matriz Híbrida Comentário
Leontief e Ford (1971) SO2, HC, CO e NO. 1958-1980. Estados Unidos
(1990).
Sim (matriz hibrida
aumentada de Leontief)
É utilizado um modelo de insumo produto ambiental
aumentado de Leontief, e um método de estática
comparativa para projetar as emissões de 1980.
Common e Salma (1992) Emissões de CO2. 1974/1975-1979/ 1980-
1982/1983-1986/1987. Austrália (27). Não
Decompõem as emissões de CO2 por família assim
como por indústria. Está incluída também uma análise
de cenário.
Proops et al. (1992) Emissões de CO2.
1978-80-82-84-86-88
(Alemanha) 68-74-79-84
(Reino Unido) e SDA entre
países.
Alemanha e Reino
Unido (45). Não
Decompõem as emissões de CO2 por família assim
como por indústria. E realiza um estudo de CO2
utilizando INA, SDA , cenário e modelos de otimização.
Casler e Rose (1998) Emissões de CO2. 1972-1982. Estados Unidos (não
especificado). Sim
Realizou uma comparação entre a abordagem SDA e
KLEM neoclássica, e compara ainda dois trabalhos
anteriores. (Rose e Chen (1991) e Rose e Chen (1991b)
Chang e Lin (1998) Emissões de CO2. 1981-1991. Taiwan (34). Não Intensidade de emissão é expressa por unidade de valor
adicionado ao produto.
Chung (1998) Emissões de CO2. SDA entre países. China, Japão e Coréia
do Sul). Não
Trabalho utilizou um modelo SDA entre países em
detrimento de um SDA intertemporal. Os países foram
comparados para o ano de 1990.
Wier (1998)
Uso energético e
emissões de CO2, SO2,
NO.
1966-70, 1971-75, 1976-80,
1981-85, 1985-88. Dinamarca (117). Não
Decomposição detalhada das emissões provenientes de
25 tipos de energia. Decompõem tanto o uso energético
das famílias quanto da indústria.
de Haan (2001) Emissões de CO2,
poluição do ar e lixo. De 1987 a 1998. Holanda (32) Não
Dados da matriz de contas nacionais incluindo variáveis
ambientais (NAMEA). Análise de sensibilidade das
formas de decomposição de Dietzenbacher e Los(1998)
No que tange a trabalhos de insumo-produto aplicados a emissão de dióxido de
carbono, para o caso brasileiro, é possível citar Carvalho e Perobelli (2008), Hilgemberg
e Guilhoto (2006) e Morais et al (2006). Hilgemberg e Guilhoto (2006) quantificam as
emissões de CO2 decorrentes do uso energético de gás natural, álcool e derivados de
petróleo, identifica os setores-chave no que concerne às emissões e o efeito sobre a
produção e o emprego de eventuais restrições à emissão de CO2. Para tanto utilizaram
um modelo de insumo-produto híbrido e inter-regional, com seis regiões brasileiras
Norte, Nordeste, Centro- Oeste, São Paulo, resto do Sudeste e Sul. O resultado mais
importante indica que as emissões em todas as regiões devem ser atribuídas em última
análise aos efeitos do aumento na produção sobre o consumo das famílias e que as
políticas de controle deveriam ser concentradas nos produtos que atendem a esse
consumo, principalmente nas regiões Nordeste e Sul.
Já Carvalho e Perobelli (2009) utilizam o método de insumo-produto em sua
forma inter-regional com o objetivo de, quantificar as emissões de CO2 decorrentes do
consumo de combustíveis energéticos, identificar setores-chave nas emissões através do
cálculo das elasticidades e ainda verificar a quantidade de CO2 incorporada nas
exportações. Estes utilizam a matriz insumo-produto do IBGE para o ano de 1996, onde
esta foi adaptada tornando-a híbrida (valores monetários e quantidade física de emissão),
e inter-regional sendo que as regiões discriminadas foram São Paulo e restante do Brasil.
Alguns resultados indicaram que o efeito de um aumento de R$ 1 bilhão na
demanda final é mais intenso nos setores localizados no restante do Brasil, onde em
média causa um acréscimo de 6,39 mil toneladas de carbono contra 4,85 mil toneladas na
região de São Paulo. Os setores considerados chave, ou seja, aqueles responsáveis por
emissões acima da média, tanto na região de São Paulo quanto no restante do Brasil, são:
siderurgia, metalurgia básica e transportes. No que concerne aos setores exportadores, o
trabalho apresentou evidências que no restante do Brasil e no estado de São Paulo, a
pauta de exportações se concentra em bens intensivos em poluição.
Morais et al. (2006) aprofundam o estudo a respeito das emissões de CO2
brasileira, por meio de utilização de decomposição estrutural, para os anos de 1990 e
2003. Eles verificam que setores com o de Transportes, Agropecuária, Mineral não
Metálico, Siderurgia, Elementos Químicos, Refino do Petróleo e Extrativa Mineral foram
os que mais contribuíram para este aumento de emissões de poluentes durante o período
analisado. Estes mesmos setores, indicados anteriormente, a exceção do setor de
transporte, foram também aqueles que mais contribuíram para o quesito eficiência
ecológica, ou melhora tecnológica. Outro resultado importante indicou que o total de
emissões de CO2 pela economia brasileira em 2003 foi muito maior do que em 1990,
devido à própria diversificação e expansão pela qual passou a economia nesses últimos
anos. E apesar da melhora no aspecto da eficiência ecológica de alguns setores, não foi
suficiente para reduzir o montante total de emissões.
3 – Metodologia
3.1 Modelos de análise de decomposição estrutural (SDA- Structural Decomposition
Analysis)
Rose (2002) ressalta que mudanças nos padrões do uso de energia e emissão de poluentes
são influenciados por muitos fatores como eventos sócio políticos, mudanças
comportamentais, inovações tecnológicas, escassez de recursos e ações do governo. Por
exemplo um aumento da OPEP nos preços do petróleo, levará a um efeito substituição
entre combustíveis e subseqüente adoção de mais tecnologia poupadora de energia,
acelerando assim o declínio da intensidade de uso de energia não renovável na indústria.
Outro exemplo ainda seria a imposição de uma taxa sobre a emissão de carbono pelo
governo, o que levaria a uma substituição de combustíveis fósseis por combustíveis mais
limpos, consequentemente a uma maior conservação do meio ambiente. A importância da
utilização do método SDA é exatamente quantificar, ou medir, este tipo de variação
citado acima.
DA (decomposition analysis) é um método de estática comparativa, e a
característica comum destes métodos é que eles ajudam a entender os efeitos
determinantes que influenciam o desenvolvimento de uma variável. Quando DA faz uso
de modelos de insumo-produto, temos o método SDA. Os modelos de SDA são capazes
de detalhar melhor a decomposição das mudanças tecnológicas e de demanda, por que
utiliza matrizes insumo produto (HOEKSTRA E VAN DEN BERGH, 2002).
A análise de decomposição estrutural em insumo-produto (I-O SDA) é uma
ferramenta alternativa de análise das respostas da produção a mudanças, no mesmo nível
de detalhes das formulações neoclássicas KLEM (Capital, labour, energy and material
agregates), porém com a necessidade de menor quantidade de dados (ROSE, 2002). É
também um método de estática comparativa utilizado para mensurar as mudanças
estruturais na economia, utilizando dados de matrizes de insumo produto. O método se
baseia na idéia de que, as mudanças no tempo de alguma variável, podem ser decomposta
entre mudanças em suas próprias variáveis determinantes (DIETZENBACHER E
HOEKSTRA, 2002).
O modelo básico de insumo-produto para cálculo de produto setorial, dado um
certo nível de demanda final é
yLx (1)
Onde 1)( AIL é a inversa de Leontief, a matriz A é a matriz de coeficientes
técnicos, também conhecida como matriz tecnológica e que define as requerimentos de
insumos por unidade de produto de cada setor, já a matriz I , por sua vez, é uma matriz
identidade.
Quando se incorpora as emissões de dióxido de carbono na equação (1), torna-se
possível escrever a equação (2),
yLeE (2)
onde, E representa um vetor de emissões de CO2 totais por setor, já o e mostra a
intensidade de emissão por produto para cada setor.
Uma decomposição da equação (2) seria:
3
01
2
01
1
0 yLeyLeyLeE o (3)
dessa forma, temos que uma mudança no nível de emissão de CO2 setorial é decomposto
em três efeitos. O primeiro termo do lado direito da equação (3) é o efeito intensidade
que mede as mudanças nas emissões por unidade de produto para cada setor, o segundo
termo representa o efeito dos coeficientes de insumo-produto que é devido a mudanças na
estrutura de transações intermediárias, e o terceiro termo diz respeito ao efeito da
demanda final refletindo as mudanças na estrutura ou nível de demanda final. Cada um
destes efeito são decompostos nas próximas seções.
Dietzembacher e Los (1998) mostraram que a média de dois casos especiais,
chamada decomposição polar, é uma boa medida para resultados baseados em n
decomposições. Na forma polar, todos os pesos no lado direito de um fator estão no
mesmo ano de todos os pesos do lado esquerdo do fator do outro ano. Na forma polar a
equação (3) ficaria da seguinte forma,
)(2
1
)(2
1)(2
1
0011
1001110
yLeyLe
yLeyLeyLeyLeE o
(4)
3.2. Decomposição das mudanças nos coeficientes de insumo-produto
As mudanças nos coeficientes de insumo-produto se dão por substituição de
insumos ou maior eficiência no uso dos mesmos. Ainda as mudanças podem resultar de
substituição entre insumos domésticos e importados. A mudança na inversa de Leontief
depende de mudanças na matriz de coeficientes técnicos A . Uma forma de analisar estes
efeitos é a decomposição4 aditiva da matriz inversa de Leontief, equação (5) (CASLER E
ROSE, 1998).
1)( AIL (5)
A equação (5) mostra que as variações na inversa de Leontief ( L ) provêm de
variações na matriz de coeficientes técnicos ( A ). Outra forma de tratar este mesmo
problema é a utilização do Método RAS. Este método é muito utilizado na análise de
insumo produto para atualizar os coeficientes de insumo produto, utilizando o total da
linha e coluna da matriz de consumo intermediária de um ano alvo, ou ano para o qual se
deseja obter os coeficientes de insumo produto, e uma estrutura de coeficientes técnicos
de um ano base (SOUZA E PEROBELLI, 2008). Neste trabalho foi este o método
adotado para a decomposição do componente tecnológico da matriz de insumo produto.
Dietzenbacher e Hoekstra (2002) desenvolveram o método de decomposição dos
4 A relação entre a matriz de coeficientes técnicos e inversa de Leontief pode ser decomposta de forma
aditiva ou multiplicativa (ROSE E CASLER, 1996 apud HOEKSTRA E VAN DEN BERGH, 2002)
coeficientes de insumo produto por meio da utilização do método RAS. De acordo com
estes, dado que 011 )()( LALLALL o , a equação (5) seria representada da seguinte
forma,
011 )(2
1)(2
1 LALLALL o (6)
onde, a atenção deve ser voltada para o componente A , que carrega as informações de
natureza tecnológica da matriz de insumo produto, e será decomposto a posteriori. A
abordagem, desenvolvida por Van der Linden e Dietzenbacher (2000), divide a variação
do coeficiente de insumo produto ( A ) em três fontes. Uma das fontes seria a variação
na coluna, ou efeito intensidade, que indica mudança advinda da estrutura de insumos
intermediários do setor. A segunda fonte seria aquela proveniente das mudanças nas
linhas, ou efeito substituição de insumos intermediários entre setores. A terceira e última
reflete mudanças na célula específica, ou mudanças que não são explicadas nem pelas
linhas, nem pelas colunas.
Mudanças na coluna implicam que, por exemplo, uma coluna de 0A para o setor
j é multiplicada por um escalar js . Isto significa que a mudança estrutural deste tipo
não altera o mix de insumos intermediários comprados pelo setor j dos demais setores.
Um exemplo seria um processo de inovação, ou economia de escala, que permite que a
mesma unidade de produto seja produzida usando a mesma porcentagem a menos de cada
insumo.
Em contraste com a definição acima, se uma linha i de 0A for multiplicada por ir ,
o resultado não é parecido com o anterior, por exemplo, no caso um processo de
inovação, pode implicar que cada setor utilize menos de um insumo intermediário, porém
neste caso pode ocorrer de algum insumo passar a ser mais utilizado naquele setor, por
isso efeito substituição.
Desde que os efeitos intensidade e substituição ocorram simultaneamente, de
acordo com Dietzenbacher e Hoekstra (2002), a matriz 0A é afetada da seguinte forma,
sArà ˆˆ01 (7)
onde, r e s são matrizes diagonais com os multiplicadores ir e js . O componente 1Ã
seria a matriz de coeficientes técnicos estimadas pela equação, é importante ressaltar que
1Ã não necessariamente é igual a 1A , ou verdadeira matriz de coeficiente técnico. E a
diferença entre elas é exatamente o terceiro componente da decomposição, a célula
especifica. As mudanças nas células especificas, são mensuradas como se fossem o
resíduo não explicado da equação (8).
sArAAA ˆˆˆ0111 (8)
Com relação as equações (7) e (8) os componentes que ainda são desconhecidos
são o ir e js , a forma de encontrá-los é utilizando a abordagem RAS. O método é
demonstrado em Miller e Blair (1985), e consiste em estimar a matriz de coeficientes
técnicos de um ano alvo 1t , dado uma matriz de coeficiente técnico em ot e o valor das
vendas e compras inter-industriais de 1t .
Normalmente na literatura utiliza-se iU e iV para representar respectivamente as
vendas inter-industriais e as compras inter-industriais, ou seja, o somatório das linhas e
colunas da matriz intermediária (SOUZA E PEROBELLI, 2008).
nU
U
U
U
2
1
(9) n21 V .... V VV (10)
Logo é necessário então, para aplicar o método, a matriz de coeficientes técnicos
0A , o vetor coluna de vendas inter-industrias 1U e o vetor linha de compras inter-
industriais 1V , estes dois últimos para 1t . Os algarismos zero 0 e 1 que aparecem
representam, respectivamente, o ano base e o ano alvo.
De acordo com a metodologia de insumo produto,
111 XACI (11)
onde, 1X e 1CI são respectivamente valor bruto de produção e consumo intermediário
para 1t . Logo considerando 10 AA a equação (11) ficará da seguinte forma,
101 XACI . (12)
Entretanto ocorre que o somatório das linhas e colunas de 1CI , 1U e 1V , e o
mesmo somatório para )1(CI , representados por )1(U e )1(V , não são iguais como
deveria ser. No caso de )1(1 UU , significa dizer que os elementos da linha i são
maiores do que deveriam ser e no caso de )1(1 UU , significa a dizer que os elementos
da linha i são menores do que deveriam ser.
Logo para resolver este problema será necessário calcular a seguinte divisão 1/)1( ii UU ,
cujo resultado será 1
ir . Posteriormente multiplica-se cada elemento da linha 1 de 0A por
1
ir . Denotando 1
1111
1
1 )0( aar , 1
1212
1
1 )0( aar ... 1
11
1
1 )0( nn aar , essa nova mudança nos
coeficientes constitui a primeira estimativa para alcançar o alvo 1U . Faz-se um
procedimento parecido para encontrar 1
is, utilizando
1
11 /)1( VV , para posteriormente
multiplicar cada elemento deste vetor por 0A .
O processo descrito acima é interativo, ou seja, repetido tantas vezes quanto necessário
para que )1(U e )1(V encontrados se aproximem de 1U e 1V verdadeiros, e ainda
simultâneo, ou r e s são encontrados simultaneamente.
Por último utiliza-se os vetores diagonalizados 1
ir e 1
is , para encontrar a matriz estimada
de coeficientes técnicos do ano alvo, equação (13).
1
0
1
1 sArA (13)
A decomposição da equação 13 foi desenvolvida em Dietzenbacher e Hoekstra
(2002) e encontra-se representada abaixo,
)()ˆ(ˆ)ˆ(ˆ8
11001001100 fefeLIsAIrLLIsAIrL (14)
)()ˆ(ˆ)ˆ(ˆ8
11001001100 fefeLIsAIrLLIsAIrL (15)
)(4
110010110 fefeLLLL (16)\
onde: os subscritos 1 e 0 representam tempo, L inversa de Leontief, A matriz de
coeficientes técnicos, e vetor de intensidade de emissão e matriz que representa a
diferença entre as matriz estimada pelo método RAS e a verdadeira matriz para o ano de
2005.
As equações (14), (15) e (16) estão separadas por representarem, cada uma delas,
um tipo de efeito, a equação (14) tem como resultado efeito coluna (ou efeito
intensidade), a (15) o efeito linha (ou efeito substituição) e a (16) efeito célula especifico
(ou componente de erro).
3.3. Decomposição das mudanças estruturais na demanda final
A demanda final é o termo usado para as categorias de demanda como, exportações,
importações, gastos do governo, consumo das famílias e investimentos. A matriz de
demanda final tem dimensões i por j, onde i é o número de setores e j número de
categorias de demanda.
Hoekstra e Van den Bergh (2002) colocam a matriz de demanda final como uma
multiplicação entre três fatores, como descrito na equação (14), onde B representa os
elementos da demanda final dividido pela soma da coluna ao qual pertence, c é a
participação de cada categoria da demanda final na demanda final total e f seria um
escalar que representa o total de demanda final.
fcBY (14)
Uma decomposição da equação (7) ficaria desta forma:
fcBfcBfcBY (15)
)(2
1
)(2
1)(2
1
1100
11001100
fcBfcB
fcBfcBfcBfcBY (16)
onde, na equação (15) o primeiro, o segundo, e o terceiro termo do lado direito da
equação representam respectivamente, o efeito de deslocamento entre a combinação dos
n produtos consumidos (ou efeito combinação de produtos), efeito dos deslocamentos
ente as categorias de demanda final (ou efeito categoria), e o efeito crescimento no nível
geral de demanda final (ou efeito nível de demanda final). A equação (16) representa
equação (15), porém está disposta na forma polar.
4. Base de dados
Os dados utilizados no presente trabalho foram: o balanço de emissões, energia
equivalente e final disponíveis para os anos de 1970 a 2006, porém utilizou-se neste
trabalho somente as emissões de CO2 para os anos de 2000 e 2005, estes dados são
providos pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e Ministério de Minas e Energia; e as
matrizes de insumo produto brasileira para os anos de 2000 e 2005, disponibilizadas pelo
IBGE.
O Balanço de carbono, energia equivalente e final apresenta as emissões de
diversos gases causadores do efeito estufa, em especial e utilizado neste trabalho é o dado
de emissão de CO2, que se encontra dividida por fonte, ou por setores. Foram
disponibilizados 17 setores para tal informação.
No que tange à matriz de insumo produto, disponibilizada pelo IBGE, o número
de setores é 55. Logo foi necessária uma compatibilização dos dados, de forma que, no
resultado final os dados ficaram desagregados a um nível de 15 setores. A forma como
foi compatibilizada encontra-se em anexo.
Na Tabela 2 são apresentadas algumas variáveis utilizadas no trabalho, em
especial aquelas referentes a emissões, produção e emissão por produção5. É interessante
notar que em quantidade absoluta os setores que mais poluem são em ordem decrescente,
transportes, siderurgia, alimentos e bebidas e energético. No que tange a taxa de emissão
por produção é possível identificar que os setores indústria do cimento, siderúrgico,
transportes, e minerais não metálicos são aqueles mais intensivos em emissão de CO2.
5 Calculada a partir da divisão das emissões setoriais pelo valor bruto de produção setorial.
Tabela 2 – Dados de emissão e produção setorial
Setores
Emissões
(2000)
Emissões
(2005)
Valor Bruto
de Produção
(2000)
Valor Bruto
de produção
(2005)
Taxa de
emissão por
produção
(2000)
Taxa de
emissão por
produção
(2005)
1- Agropecuária 19533.31 22102.88 95761 194477 0.20 0.11
2- Extrativa Mineral 5601.21 7166.03 27898 83337 0.20 0.08
3- Minerais não metálicos 9491.70 10219.93 14418 25524 0.65 0.40
4- Siderurgia 58933.05 67718.05 30472 97054 1.93 0.69
5- Met não ferrosos e outros metais 6461.88 8105.20 12078 25263 0.53 0.32
6- Papel e Celulose 17000.47 21048.43 66493 115048 0.25 0.18
7- Química 14549.77 14982.21 110913 250425 0.13 0.05
8- Têxtil 1554.96 1495.55 55891 85333 0.02 0.01
9- Alimentos e Bebidas 35895.93 51426.01 123560 257295 0.29 0.19
10- Comércio e Serviços 2648.96 2424.70 733853 1256615 0.00 0.00
11- Transportes 125584.83 138849.97 92245 180897 1.36 0.76
12- Administração Pública 2101.48 1723.05 227161 432870 0.00 0.00
13- Ind Cimento 11721.43 10156.75 4440 6674 2.63 1.52
14- Setor energético 34551.19 47610.29 75590 144942 0.45 0.32
15- Outros Setores 9194.44 8829.51 332798 630917 0.02 0.01
total 354824.69 413858.63 2003571 3786683 0,18 0,11
Fonte: IBGE e balanço de emissões, energia equivalente e final6.
5. Resultados
Os resultados estão dispostos nas tabelas 3 a 5, sendo que, estão separados por
tipo de efeito. Na primeira tabela estão dispostos os efeitos totais que implicam na
variação da emissão de CO2 e na segunda e terceira tabelas foram feitas,
respectivamente, decomposições do efeito total de demanda final e tecnológico em três
outros tipos de efeitos.
A Tabela 3 decompõem a variação total das emissões de CO2 nos efeitos
intensidade, demanda final e tecnológico. No que tange ao efeito intensidade, que mede
as mudanças nas emissões por unidade de produto, os setores que mais se destacam são
siderúrgico e transportes com -78828 Gg/ano e -81105 Gg/ano, o que significa que estes
setores reduziram sua emissão por unidade de produto de 2000 para 2005 em montante
considerável. Com variações menores, mas não menos importante aparecem os setores
agropecuária, química, alimentos e bebidas e energético.
Com relação a variação na emissão de CO2 proveniente de variações na demanda
final os setores que mais se destacam continuam sendo o siderúrgico e transportes, porém
com maior participação dos setores de alimentos e bebidas e energético. Com relação a
estes resultados é possível verificar que o setor siderúrgico e transportes se despontam
com maiores valores devido a serem intensivos em emissão, fato já levantado na seção 4,
já alimentos e bebidas e energético por serem setores que têm consumo diretamente
6 Emissões em Gg/ano (Gigagrama de CO2) e valor bruto de produção em milhões/ano de R$.
ligado a demanda final. Analisando o efeito tecnológico, é possível inferir que somente os
setores de minerais não metálicos, papel e celulose, têxtil, comércio e serviços e
administração pública, obtiveram resultado de redução de emissões devido a algum
progresso tecnológico.
Tabela 3 – Decomposição dos efeitos totais em Gg/ano de CO2 (equação 4)
Efeito
Intensidade
Efeito demanda
final
Efeito
tecnológico
Parte não
explicada
(erro)
Total de
variação nas
emissões
1- Agropecuária -13108 14655 861 161.56 2569.56
2- Extrativa Mineral -6384 5926 1574 448.82 1564.82
3- Minerais não metálicos -5151 6588 -616 -92.76 728.23
4- Siderurgia -78828 61627 19448 6538.00 8785.00
5- Met não ferrosos e outros metais -3999 5571 68 3.32 1643.32
6- Papel e Celulose -6601 11312 -609 -54.04 4047.95
7- Química -12892 10737 2067 520.43 432.43
8- Têxtil -727 698 -27 -3.41 -59.41
9- Alimentos e Bebidas -17261 31252 1365 174.07 15530.07
10- Comércio e Serviços -1672 1499 -44 -7.25 -224.25
11- Transportes -81105 85137 7770 1463.13 13265.14
12- Administração Pública -1739 1371 -8 -2.42 -378.42
13- Ind Cimento -6215 7176 -2163 -362.67 -1564.67
14- Setor energético -14181 24526 2483 231.09 13059.09
15- Outros Setores -6569 5839 301 64.06 -364.9
Total -256432 273914 32470 9081,94 59033.94
Fonte: Resultados da pesquisa.
Na Tabela 4 é feita uma análise mais detalhada do efeito demanda final indicado
anteriormente. O efeito total é decomposto em três outros, efeito combinação, efeito
categoria e efeito variação no nível geral de demanda final, este procedimento é realizado
de acordo com equação (16) da seção 3. No efeito combinação de produtos é possível
identificar a variação nas emissões advindas, por exemplo, de uma redução de consumo
de um determinado setor em detrimento de aumento de consumo de outro setor, por parte
de um mesmo componente de demanda final (exemplo: uma família deixa de comprar um
bem da indústria siderúrgica e aumenta sua compra da indústria agropecuária), ou vice e
versa. Os setores que mais se destacaram, com relação a aumento de emissões, foram:
siderurgia, alimento e bebidas e transportes, já no que se refere a redução de emissão o
setor de papel e celulose apresentou resultado mais expressivo.
O segundo efeito avaliado, chamado de efeito categoria, representa aquela
variação nas emissões provenientes de troca de categoria de demanda final, um exemplo
que pode ser elucidado seria pensar que, do ano de 2000 para 2005, houve um aumento
na participação da categoria exportações em detrimento de uma redução na participação
do consumo das famílias, no total da demanda final. Neste aspecto o setor que mais se
destaca com aumento de emissões é, novamente, o siderúrgico e com redução de
emissões o setor de transportes. Com menor expressão, no que tange a valor absoluto,
aparecem os setores de papel e celulose e metais não ferrosos, em ambos, ocorre aumento
de emissões.
O efeito variação no nível geral de demanda final representa aquela variação nas
emissões advindas de crescimento no total da demanda final como um todo. É
interessante notar que para este efeito as variações nas emissões de todos os setores foram
positivas. Este pode ser interpretado da seguinte forma, o crescimento de demanda como
um todo gera aumento de emissões em todos os setores brasileiros. Aqueles que mais se
destacam em ordem decrescente são: transportes, siderúrgico, alimentos e bebidas,
energético, agropecuária e papel e celulose.
Tabela 4 – Decomposição dos efeitos de demanda final em Gg/ano de CO2
Efeito combinação de
produtos
Efeito categoria Efeito crescimento de
Demanda final
Efeito total
1- Agropecuária 964.3 473 13217 14654.3
2- Extrativa Mineral 1678.6 103 4144 5925.6
3- Minerais não metálicos -298.4 617 6269 6587.6
4- Siderurgia 7818.5 11472 42337 61627.5
5- Met não ferrosos e outros metais -120 1102 4589 5571
6- Papel e Celulose -1519.9 1050 11782 11312.1
7- Química 538.1 650 9549 10737.1
8- Têxtil -254.9 -12 965 698.1
9- Alimentos e Bebidas 4434.1 65 26753 31252.1
10- Comércio e Serviços -56.5 -78 1634 1499.5
11- Transportes 1997.7 -437 83576 85136.7
12- Administração Pública 29.8 69 1272 1370.8
13- Ind Cimento 35.3 -15 7155 7175.3
14- Setor energético -425.1 -140 25090 24524.9
15- Outros Setores -9 36 5812 5839
Total 14812.6 14955 244144 273911.6
Fonte: Resultados da pesquisa.
E, na Tabela 5 estão dispostos os resultados para a decomposição do efeito
tecnológico. É importante notar que de forma geral não é possível dizer que, do ano de
2000 para 2005, ocorreu avanços tecnológicos de forma a reduzir emissões de CO2 no
Brasil. Novamente os resultados foram decompostos em três tipos de efeitos, o efeito
substituição, efeito intensidade e mudança especifica da célula.
O efeito substituição, descrito na seção 3, é caracterizado por alterações nas linhas
de magnitude igual a r (multiplicador do método RAS). Alterações estas que podem fazer
com que um insumo passe a ser mais utilizado que outro, causando um efeito do tipo
substituição. Neste componente os setores siderúrgico e transporte continuam a se
destacar com variação positiva nas emissões, em contraste a estes, com redução de
emissão aparecem os setores de energético, extrativa mineral e agropecuária.
No que se refere ao efeito intensidade, correspondente àquele efeito de variação
nas emissões, devido a redução por parte de uma indústria na utilização de todos os
insumos de produção em conjunto, o setor siderúrgico tem a variação mais expressiva
(17010 Gg/ano) e positiva, acompanhado pelos setores energético e de transportes, ou
seja, o efeito intensidade não contribuiu para redução nas emissões e sim para aumento
nestes setores. Já os setores metais não ferrosos e outros metais e papel e celulose se
destacam com redução em suas emissões de -1554 Gg/ano e -1264 Gg/ano,
respectivamente.
O terceiro efeito tecnológico avaliado, mudança especifica na célula, é aquele
efeito que não foi possível explicar por mudanças na linha ou coluna, um resíduo da
equação. No que tange a redução de emissões, a indústria de cimento, minerais não
metálicos e energético, apresentaram resultado expressivo de -2609, -1889 e -1082
Gg/ano, respectivamente. Já os setores de transportes, metais não ferrosos e outros metais
e siderúrgico continuam a ter efeito tecnológico de aumento de emissão de CO2.
No geral, a respeito dos efeitos tecnológicos, é possível inferir que somente a
indústria do cimento, minerais não metálicos e papel e celulose obtiveram redução em
suas emissões de CO2 decorrentes de mudança tecnológica.
Tabela 5 – Decomposição dos efeitos tecnológicos em Gg/ano de CO2 (equações 14,
15 e 16)
Efeito
Substituição
Efeito
Intensidade
Mudança específica na
célula
Total de efeitos
tecnológicos
1- Agropecuária -224.4 1359 -273.9 861
2- Extrativa Mineral -449.4 1622 401.2 1574
3- Minerais não metálicos 479.7 794 -1889.4 -616
4- Siderurgia 1078.5 17010 1359.8 19448
5- Met não ferrosos e outros metais 118.2 -1554 1503.8 68
6- Papel e Celulose 455 -1264 200 -609
7- Química 6.9 2491 -430.2 2067
8- Têxtil 33.3 -32 -27.6 -27
9- Alimentos e Bebidas 78.7 1839 -552.5 1365
10- Comércio e Serviços 33 -72 -4.7 -44
11- Transportes 2028.2 2268 3473 7770
12- Administração Pública 0.9 -7 -1.6 -8
13- Ind Cimento 523.2 -77 -2609.1 -2163
14- Setor energético -753.6 4319 -1082.4 2483
15- Outros Setores 127 57 116.4 301
Total 3535.2 28753 182.8 32470
Fonte: Resultados da pesquisa
6. Conclusões
Neste trabalho foi implementado o método de análise de decomposição estrutural nas
matrizes insumo-produto de 2000 e 2005, para o Brasil, disponibilizadas pelo IBGE,
focando no tema meio ambiente, mais precisamente emissões de dióxido de carbono. Este
tipo de trabalho não teve muitas aplicações para o Brasil, logo abre campo para
aperfeiçoamento e desenvolvimentos a posteriori.
Os principais resultados indicam que:
- No geral os setores de siderurgia e transportes são aqueles que se mostraram mais
propensos a aumento de emissões, quando considerados os efeitos demanda final e
tecnológico. Estes dois setores são intensivos em emissão, ou seja, para uma dada taxa de
produção o nível de emissão é maior que todos os outros setores.
- Um destaque para o desempenho dos setores de siderurgia e transporte no que se refere
ao efeito intensidade, pois neste, os dois setores mostraram uma redução nas emissões
por produto considerável.
- Já no que se refere a redução de emissões devido a mudança tecnológica, os setores que
se destacam são a indústria do cimento, de minerais não metálicos e papel e celulose.
- É interessante notar no que tange a alterações na demanda final que no geral mudanças
na demanda final, ou seja, no somatório de efeitos que a determinam, sempre resulta em
aumento nas emissões. Sendo que é necessária atenção maior sobre os setores de
transportes, siderurgia e alimentos e bebidas, que têm aumento nas emissões
consideravelmente superiores aos demais.
Este trabalho faz um mapeamento das emissões setoriais brasileiras, e mostrou
resultados no que tange a mensurar os efeitos de variação na produção, na tecnologia ou
na demanda sobre as emissões de dióxido de carbono. A análise e mensuração destes
efeitos são de extrema importância para a tomada de decisão do formulador de políticas
pública, que procura atender as expectativas de crescimento econômico e ao mesmo
tempo de sustentabilidade ambiental.
A análise de decomposição estrutural é um método de estática comparativa, e
ainda herda do insumo-produto uma função produção com retornos constantes, estes são
dois dos principais limitantes da metodologia, que podem ser flexibilizados, futuramente,
por meio da utilização de um modelo macroeconômico integrado com insumo-produto.
7. Referências bibliográficas:
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Acessado em 24/10/08.
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Anexos – Compatibilizações
Matriz insumo-produto IBGE de 55 setores para 15 setores econômicos
1 - Agropecuária 11 - Transportes
Agricultura, silvicultura, exploração florestal Transporte, armazenagem e correio
Pecuária e pesca 12 - Administração Pública
2 - Extrativa Mineral Educação pública
Petróleo e gás natural Saúde pública
Outros da indústria extrativa Administração pública e seguridade social
3 - Minerais não metálicos 13 - Outros Setores
Outros produtos de minerais não-metálicos Produtos de metal - exclusive máquinas e equipamentos
4 - Siderurgia Máquinas e equipamentos, inclusive manutenção e reparos
Minério de ferro Eletrodomésticos
Fabricação de aço e derivados Máquinas para escritório e equipamentos de informática
5 - Met não ferrosos e outros metal Máquinas, aparelhos e materiais elétricos
Metalurgia de metais não-ferrosos Material eletrônico e equipamentos de comunicações
6 - Papel e Celulose Aparelhos/instrumentos médico-hospitalar, medida e óptico
Celulose e produtos de papel Automóveis, camionetas e utilitários
Jornais, revistas, discos Caminhões e ônibus
Artigos de borracha e plástico Peças e acessórios para veículos automotores
7 - Química Outros equipamentos de transporte
Produtos do fumo Móveis e produtos das indústrias diversas
Refino de petróleo e coque Produtos farmacêuticos
Produtos químicos Construção
Fabricação de resina e elastômeros Perfumaria, higiene e limpeza
Defensivos agrícolas Produtos de madeira - exclusive móveis
Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 14 - Cimento
Produtos e preparados químicos diversos Cimento
8 - Têxtil 15 - Setor energético
Têxteis Eletricidade
Artigos do vestuário e acessórios Álcool
Artefatos de couro e calçados Gás encanado
9 - Alimentos e Bebidas
Alimentos e Bebidas
10 - Comércio e Serviços
Serviços de informaçãoIntermediação financeira e seguros
Serviços imobiliários e aluguel
Serviços de manutenção e reparação
Serviços de alojamento e alimentação
Serviços prestados às empresas
Educação mercantil
Saúde mercantil
Outros serviços
Comércio
Água e Esgoto
Balanço Energético Nacional (Balanço de emissões, energia equivalente e final) de
19 para 15 setores econômicos.
1 - Agropecuária 9 - Alimentos e Bebidas
AGROPECUÁRIO ALIMENTOS E BEBIDAS
2 - Extrativa Mineral 10 - Comércio e Serviços
MINERAÇÃO E PELOTIZAÇÃO COMERCIAL
3 - Minerais não metálicos 11 - Transportes
CERÂMICA TRANSPORTES RODOVIÁRIO
4 - Siderurgia TRANSPORTES FERROVIÁRIO
FERRO GUSA E AÇO TRANSPORTES AÉREO
FERRO LIGAS TRANSPORTES HIDROVIÁRIO
5 - Met não ferrosos e outros metal 12 - Administração Pública
NÃO FERROSOS E OUT. METALURG. PÚBLICO
6 - Papel e Celulose 13 - Outros Setores
PAPEL E CELULOSE OUTRAS INDÚSTRIAS
7 - Química 14 - Cimento
QUÍMICA CIMENTO
8 - Têxtil 15 - Setor energético
TÊXTIL SETOR ENERGÉTICO
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