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REPORTAGEM
Miguel Sá
A músicaAos poucos, a grande rede assume o seu lugar no negócio da música,seja em portais de divulgação musical ou em iniciativas públicas. Nestareportagem, a Revista Backstage expõe três abordagens diferentes daInternet no mercado musical brasileiro.
e a Internet: do virtual para o real
Aos poucos, começa a se delinear a forma como a granderede vai ser utilizada no mercado da música, seja com avenda, seja como ferramenta de divulgação ou, até mes-
mo, de interação entre os atores deste mercado. A RevistaBackstage apresenta três abordagens diferentes do uso daInternet: o Trama Virtual, com o suporte da gravadora Trama,que hospeda informações e músicas de novas bandas com ênfaseno mercado independente; o Alternatilha, que se propõe a, alémde divulgar novas bandas e músicos, promover shows, eventos evender ou tornar músicas disponíveis; e o Música do Brasil, que éuma iniciativa pública de fomento de exportação da música bra-sileira, além de um banco de dados sobre músicos, gravadoras, rá-dios e tudo mais que tiver relação com este mercado.
Trama Virtual
A idéia do portal surgiu no ano 2000, quando AndréSzajman, um dos sócios da gravadora Trama, afirmou que eraimportante buscar um caminho fora do formato físico, já anteci-pando os movimentos do mercado. A construção do portal sedeu em várias fases: desde as reuniões de criação até o desen-volvimento de ferramentas, além de inúmeros testes. No seuinício, o portal foi construído também com a ajuda do produtormusical Carlos Eduardo Miranda. “Ficamos trabalhando duran-
te um ano e meio para um número menor de artistas, sem divul-gar, ouvindo críticas e aprendendo com o processo”, relembraJoão Marcello Bôscoli. O portal se tornou um local virtual ondeas bandas podem disponibilizar arquivos MP3 com suas músicase ter uma espécie de home page da banda, com release (textocom informações da banda) e fotos. “A Trama Virtual é umavitrine, um local de troca de informação musical”, comentaJoão. “São milhares de novos artistas fazendo música. Lá, é maisum local para mostrar essas obras”.
Dago, responsável pelo dia-a-dia do portal, explica quenão há seleção das músicas. Só não é permitida a colocaçãode covers e samples ilegais. A banda pode colocar apenasmúsicas próprias. Não há venda. Os downloads, com a per-missão das bandas, são gratuitos. “Há um termo que autorizaa Trama Virtual a distribuir a música. Esse termo inclui ambi-entes Trama Virtual fora do nosso site, como o programa deTV e o de rádio que é apresentado na Internet”, conta Dago.
“Estamos com a missão de articular asempresas e profissionais do setormusical, que são os artistas, sejameles famosos ou independentes,
e o público” (Jamelli)
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Uma equipe ajuda a selecionar possí-
veis destaques entre as cerca de 30 mil
bandas e artistas cadastrados.
Há alguns exemplos práticos de ban-
das que passaram do virtual para o real,
como as bandas Zeferina Bomba, Rock
Rocket e Cansei de ser Sexy, que hoje
fazem parte do selo chamado Trama Vir-
tual. “Hoje em dia temos o programa Tra-
ma Virtual no Multishow e convidamos
os artistas do site para tocar ao vivo. Di-
vulgamos os principais festivais do país e,
por conseqüência, as bandas que se apre-
sentam neles. Viajamos com a equipe do
programa freqüentemente. Há também
um quadro onde uma banda iniciante,
que nunca tenha entrado num estúdio
profissional, tem a oportunidade de gra-
var uma faixa e ficar com o master para
si. Pensamos muito em como ser cada vez
mais úteis. O site é um pontapé inicial.
Espero que nosso desejo de colaborar ain-
da faça mais”, afirma João Marcello.
Alternatilha
Eduardo Jamelli é o coordenador do pro-
jeto Alternatilha, além de consultor cultural
do Sebrae e assessor da presidência da Firjan
(Federação das Indústrias do Estado do Rio
de Janeiro). O empresário participou de um
estudo realizado pelo Sebrae chamado Estu-
do da Cadeia Produtiva da Música, onde foi
feita uma avaliação do funcionamento do
mercado brasileiro de música. A partir daí,
Jamelli chegou à conclusão que a forma
como a Internet pode colaborar de forma
mais efetiva é na articulação dos atores que
fazem parte deste mercado: as gravadoras,
os artistas e o público. “Estamos com a missão
de articular as empresas e profissionais do
setor musical, que são os artistas, sejam eles
famosos ou independentes, e o público”, re-
força o coordenador do portal. “Atualmen-
te, a pessoa entra no site, se cadastra como
pessoa. Posteriormente, se ela for uma banda
ou um artista, cria a comunidade, e se for
empresa, pode criar a vitrine da empresa
dentro do portal”.
Entre as ferramentas que estão sendo
aperfeiçoadas está o player exclusivo do
Alternatilha, que pretende oferecer o
máximo de opções possíveis para o usuá-
rio – como bloquear uma música que o
João Marcello Bôscoli
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usuário não goste ou possibilitara compra do arquivo MP3 queestá sendo ouvido. “Vai ter asinformações do CD, artista etudo mais. Se for um indepen-dente, vai mostrar se ele está fa-zendo show e em qual dia. Ele(o player) estará vinculado aum sistema de venda ou dispo-nibilização em MP3, todo o siteestá em cima do certificado dedireitos autorais baseado no cer-tificado Creative Commons”,explicita Jamelli. Como ele pre-tende comercializar as músicas, o projetoAlternatilha permitirá que os composito-res editem as músicas na editora própria.O Alternatilha recolhe os direitos autoraisdas músicas para o ECAD.
Jamelli afirma que a empresa não temcomo objetivo principal o lucro. O Alter-natilha tem uma associação musical semfins lucrativos para atividades nas quaisnão tenha lucro e a Alternatilha Produ-ções, que é a empresa que dá suporte àsatividades. “Como todo mundo, precisa-mos de dinheiro”, ressalta. SegundoJamelli, quando o Alternatilha servir deintermediário para a venda de músicas,não vai ganhar com isso. O artista équem vai definir o preço do download.Seriam descontadas apenas as taxas decartão de crédito. “O Alternatilha nãoganha dinheiro com relação à venda demúsica. Estamos propondo, primeiro parao artista independente, que ele entre no
site, cadastre a música dele, e faremosuma avaliação da qualidade do MP3”.Para viabilizar o funcionamento, o Alter-natilha conta com patrocínios e apoios.
No “mundo real”, o Alternatilha pre-tende favorecer, de forma ativa, os conta-tos entre empresas e músicos. Um estúdiode determinada região poderia oferecerum pacote para bandas locais que precisemgravar. Isto seria intermediado pelo Alter-natilha, que poderia juntar essas bandas eestúdios consultando o banco de dados dosite. O projeto também prevê a realizaçãode shows com as bandas associadas, em lo-cais como a casa de espetáculos Ribalta, noRio de Janeiro, que já é parceira do Alter-natilha. A empresa também já registrou noInstituto Nacional de Marcas e Patentesuma premiação calcada no download de
MP3, utilizando a já conhecidagraduação dos discos de ouro,diamante e platina.
Ainda há o projeto social,como explica Jamelli. “Esta-mos com um galpão na Man-gueira de uma ONG parceiranossa, a MCA (MangueiraComunidade Ativa), de 100metros quadrados, que estápassando por uma série de re-formas. Lá, vamos atender 50crianças ensinando música eoferecendo alimentação, bol-
sa-auxílio, estúdio-escola profissiona-lizante e oficina de luthieria”, explica.
Música do Brasil
O portal Música do Brasil é uma inici-ativa pública que partiu do Plano SetorialIntegrado (PSI) da Música. É uma açãoconjunta de três entidades, que são aABGI (Associação Brasileira de Gravado-ras Independentes), a ABMI (AssociaçãoBrasileira de Música Independente) e aBMA (Brasil Música e Artes), formada pordez empresas que se relacionam com artesem geral, que engloba desde o imusica atéempresas de produção cultural. O Ministé-rio da Cultura também participa da inicia-tiva. “O que acontece é que o governo doBrasil está fomentando a exportação damúsica”, explica Carlos de Andrade, presi-dente da ABMI. “Esta ação de fomento daexportação compreende esse PSI, onde asentidades propõem ações a serem financia-
“O que acontece éque o governo do
Brasil está fomentandoa exportação
da música”, explicaCarlos de Andrade,
presidenteda ABMI
Carlos de AndradeEduardo Jamelli e equipe Alternatilha
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cado de exportação. No item Documen-tos, por exemplo, o usuário do site encontravários estudos de mercado. “Estes estudossão complexos e extensos”, diz Carlos, “em-baixo há o manual do exportador, para quea pessoa tenha condições de saber como seexportam as coisas que ele produz”. Se a
das pelo governo para evidenciarou promover essa exportação.Por exemplo, a Apex, que é aagência de promoção da expor-tação, faz ações como trazer jor-nalistas estrangeiros ou levarshows do Brasil lá para fora e aju-dar em campanhas de promoçãode coisas que já estejam consoli-dadas”, explica.
A idéia do portal é que eleseja um banco de dados gigante.Para participar, basta o artista,banda ou empresa se cadastrar ecolocar o material de promoção on-line. Aidéia é que, no futuro, também se possavender música no portal. “Ele é um portalde acesso onde o estrangeiro vai nos ver enós vamos ver o estrangeiro”, expõe Carlos.
Há várias ferramentas que ajudam aempresa ou o artista a se situarem no mer-
empresa quiser exportar para aArgentina, por exemplo, há umestudo do mercado da Argenti-na traduzido para o português,além do manual do exportador.“Com o estudo, a pessoa vai sa-ber o que esperar daquele mer-cado como resultado”, exem-plifica Carlos de Andrade. Noportal, há ainda diversas infor-mações sobre impostos, tabelas edireitos autorais no Brasil, alémdo cadastro de músicos e em-presas. “O negócio dele (do por-
tal) é criar interação entre os players (usuá-rios)”, finaliza o presidente da ABMI.
www.tramavirtual.com.br
www.alternatilha.com.br
www.musicadobrasil.org.br
Para saber mais
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