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ANAIS DO III EGEAD
III ENCONTRO DE GEOGRAFIA DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO PIAUÍ
“Potencialidades e Vulnerabilidades do Nordeste Brasileiro”
ISSN: 2525-3573
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ANAIS DO III ENCONTRO DE GEOGRAFIA DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO PIAUÍ
TEMA CENTRAL:
“Potencialidades e Vulnerabilidades do Nordeste Brasileiro”
ORGANIZADORES
Prof. Me. José Francisco de Araújo Silva (COORDENADOR GERAL DO EVENTO)
Prof. Esp. João Correia da Silva(COORDENADOR GERAL DO EVENTO)
Prof. Dr. Raimundo Wilson Pereira dos Santos (COORDENADOR DO CURSO)
Prof. Me. Cicero Rodrigues de Sousa (COORDENADOR DE TUTORIA)
PERIODICIDADE BIANUAL
Picos - PI 2018
3
ORGANOGRAMA INSTITUCIONAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI
PROF. DR. JOSÉ ARIMATÉIA DANTAS LOPES REITOR
PROFª. DRª. NADIR DO NASCIMENTO NOGUEIRA
VICE-REITOR
PROF. DR. LUCAS LOPES ARAÚJO PRÓ-REITORIA DE ADMINISTRAÇÃO
PROF. DR. ANDRÉ MACEDO SANTANA
PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO
PROF. DR. NELSON JULIANO CARDOSO MATOS PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
PROFª. DRª. REGINA LÚCIA FERREIRA GOMES
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROF. DR. JOÃO XAVIER DA CRUZ NETO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
PROFª. DRª. CLEÂNIA DE SALES SILVA
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO
PROFª. DRA. ADRIANA DE AZEVEDO PAIVA PRÓ-REITORA DE ASSUNTOS ESTUDANTIS E COMUNITÁRIOS
PROFª. DRª. JACQUELINE LIMA DOURADO
SUPERINTENDÊNCIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
UNIVERSIDADE ABERTA DO PIAUÍ – UAPI
PROF. DR. GILDÁSIO GUEDES FERNANDES DIRETOR-GERAL DO CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEAD
CURSO DE GEOGRAFIA EAD/CEAD/ UFPI
PROF. DR. RAIMUNDO WILSON PEREIRA DOS SANTOS COORDENADOR DO CURSO DE
GEOGRAFIA EAD
PROF. ME. CÍCERO RODRIGUES DE SOUSA COORDENADOR DE TUTORIA DO CURSO DE GEOGRAFIA / EAD
REALIZAÇÃO
COMISSÃO ORGANIZADORA
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Comissão Geral Prof. Dr. Raimundo Wilson Pereira dos Santos (COORDENADOR DO CURSO)
Prof. Me. Cicero Rodrigues de Sousa (COORDENADOR DE TUTORIA)
Prof. Me. José Francisco de Araújo Silva (COORDENADOR DO EVENTO)
Profª. Esp. Glácia Lopes Araújo
Profª. Esp. Tyago Santos de Carvalho
Prof.Ma. Roneide dos Santos Sousa
Patrocínio e Logística
Natanael de Sousa Martins (Coordenador)
Afonso Gilberto Galvão
Glenia Regia de Araújo luz
Paula Andreia Ferreira Borges
Rosenilda Rosa de Moura
Francisca Adalgisa dos Santos Silva
Antônio Eusébio de Sousa
Comissão Científica EIXO 01 – Dinâmica urbana-rural e Potencialidades do Espaço Geográfico
Prof. Me. Sara Raquel Cardoso Teixeira de Sousa
Prof. Me. Fabiana da Silva Pessoa
Prof. Me. Ângela Oliveira Vieira
EIXO 02 – Diferentes linguagens do Ensino de Geografia
Prof. Me. Tiago Caminha de Lima
Prof. Doutorando Lineu Aparecido Paz e Silva
Prof. Me. Tailson Francisco Soares da Silva
EIXO 03 – Dinâmica, ocupação e Impactos Socioambientais
Prof. Doutorando Francílio Amorim dos Santos
Prof. Me. HikaroKayo de Brito Nunes
Prof. Me Leilson Alves dos Santos
Prof. Me. Jéssica Cristina Oliveira Frota
Comissão de Comunicação
José Francisco de Araújo silva (coordenador)
Fabiana da Silva
Leyliane Holanda Araújo
Marina Nunes Santana
Eliana de Sousa Barros
Paulo Sergio Batista de Barros
Atividade Cultural Glácia Lopes Araújo (Coordenadora)
Monica Sebastiana Brito de Sa
LyellaAraujo Buenos Aires Alencar
AntonioFredson da Silva Miranda
Lucas Ramon Rodrigues Leal
Sergio Matos Franco
Apoio/Monitores Maria Ronalda da Silva
Maria do Socorro Rocha Borges Patricia Kelly da Silva Cleide de Sousa Sa
Luciana Lima da Silva Leal Marcela Borges dos Santos
Leyliane Holanda Araujo Marina Nunes Santana
Fabiana da Silva LyellaAraujo Buenos Aires Alencar
Eliana de Sousa Barros Eva Graça Maria de Brito
Fernanda Camila Goncalves de Moura Francisca Adalgisa dos Santos Silva
Valdemir de Paula Matia
PROGRAMAÇÃO
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DIA 20 DE ABRIL DE 2018
ATIVIDADE HORÁRIO
Livre 7h às 13h
Credenciamento 14h às 18h
Janta RU 17h às 18h
Conferência de Abertura: “Piauí no Contexto Regional: MATOPIBA”
Palestrante: Profª. Dra. Marcia Regina Soares de Araújo – IFPI
Mediador: Prof. Me. HikaroKayo de Brito Nunes – UEMA
18h às 21h
Lançamento de livros 21h às 22h
Atividade cultural 21h às 23h
DIA 21 DE ABRIL DE 2018
Credenciamento 7h às 8h
Mesa I: “Desenvolvimento Regional do Piauí: Potencialidades e Vulnerabilidades”
Palestrante: Prof. Me. Felipe Mendes de Oliveira – UFPI/Prof. Aposentado
Departamento de economia
Palestrante: Prof. Mestrando Werton Francisco Rios da Costa Sobrinho –
UESPI
Mediador: Prof. Doutorando Juscelino Lima – IFPI/Picos
8h às 10h
Apresentação de trabalhos 10h às 12h
Livre 12h às 13h
Minicursos 14h às 16h
Mesa II: “A Energia Eolica e Solar na Organização do Espaço Nordestino 16h às 18h
Conferência de encerramento: “Pontencialidades e Vulnerabilidades do Nordeste Brasileiro”
Palestrante: Prof. Dr. Ailson Barbosa da Silva – UEMA
Mediador: Prof. Dr. Raimundo Wilson Pereira dos Santos – UFPI
18h às 20h
DIA 22 DE ABRIL DE 2018
GEOTUR 8h às 12h
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APRESENTAÇÃO
O III Encontro de Geografia da Educação a distância será sediado na Universidade
Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, na cidade de Picos/PI. Terá por
tema: Potencialidades e Vulnerabilidades do Nordeste Brasileiro, com carga horária de 30h.
Objetiva construir uma base alicerçada em temas que se interrelaciona com o fenômeno
educativo, compreendendo assim, o espaço como uma ferramenta de comunicação e de
participação social, promovendo o desenvolvimento de cidadãos críticos e reflexivos.
Espera-se, dessa forma, poder trabalhar questões educacionais de acordo com a
realidade do estado do Piauí e da região Nordeste, a fim de oferecer meios para qualificar o futuro
professor de Geografia com novas formas de intervenção no ambiente escolar, bem como na
utilização de ferramentas metodológicas inovadoras. Assim, trata-se de espaços destinados à
discussão e intercâmbio de conhecimentos atrelados a um conjunto de palestras, minicursos,
apresentação de trabalhos científicos e excursão de campo, propiciando troca de conhecimento
entre os participantes.
Coordenação do Evento
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SUMÁRIO
EIXO 1 – DINÂMICA URBANO-RURAL E AS POTENCIALIDADES DO ESPAÇO GEOGRÁFICO
O CULTIVO DA MELANCIA: IMPORTANCIA CULTURAL E ECONOMICA NO MUNICÍPIO DE JATOBÁ DO PIAUÍ-PI Camila Aparecida Oliveira França Antônio Wellington Viana da Silva Tyago Santos de Carvalho
14
A EXPANSÃO URBANA DE PICOS - PI: CRESCIMENTO VERTICAL PARA CIMA DOS MORROS
Luciana Lima da Silva Leal Marcela Borges dos Santos Maria Ronalda da Silva
24
TRÍADE HABITANTE-LUGAR-IDENTIDADE: EXPERIÊNCIAS E VIVÊNCIAS DOS MORADORES DO BAIRRO PONTE NO MUNICÍPIO DE CAXIAS – MARANHÃO Ana Angélica Sena Costa Tiago Caminha Lima
32
AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL OBTIDO DE DIFERENTES MATÉRIAS-
PRIMAS NO BRASIL ENTRE OS ANOS DE 2007 A 2017
Suzi Silva Ramalho Siara Silva Ramalho Tiago Caminha de Lima
41
SUBSÍDIOS PARA COMPREENSÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA OBRA “OS SERTÕES” DE EUCLIDES DA CUNHA Danusia Renata Lima do Nascimento Siara Silva Ramalho Suzi Silva Ramalho Tiago Caminha de Lima
53
TURISMO NA MICRORREGIÃO DE SÃO RAIMUNDO NONATO: MEIOS DE HOSPEDAGEM, HOTÉIS E POUSADA.
Jamilly de Sousa Santos Valdomir da Silva Costa Filho Elaine Cristina da Silva Campos Landim
65
A FUNCIONALIDADE DE URUÇUÍ - PI COMO CIDADE DO AGRONEGÓCIO Rui Barbosa de Freitas Paulo de Tárcio Costa Tyago Santos de Carvalho
74
POTENCIAIS DO SEMIÁRIDO E AS TÉCNICAS E TECNOLOGIAS APROPRIADAS
PARA O DESENVOLVIMNETO SUSTENTÁVEL
Afonso Gilberto Galvão Lucas Ramon Rodrigues Leal Valdemir de Paula Matias
83
8
ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE CABECEIRAS DO PIAUÍ. Odicélia Maria Silva de sousa Raimundo Luís da Silva Antonia Rosa de Oliveira Pereira Lusineide Sousa
94
AS CISTERNAS DE PLACAS: SEU USO E OS CUIDADOS COM SUA ÁGUA – ESTUDO DO CASO DA LOCALIDADE PASSAGEM FUNDA, AROEIRAS DO ITAIM – PI/BRASIL
Fernanda Camila Gonçalves de Moura
105
BARRAGENS JENIPAPO E PETRÔNIO PORTELA: PERSPECTIVAS DE USOS E
GESTÃO DOS RECURSOS HIDRÍCOS PARA O ATENDIMENTO DA POPULAÇÃO
DO SEMIÁRIDO DO PIAUÍ
Erikes dos Santos Torres
Cristiane Lucelina da Silva Almeida
Vanusa de Sousa Pais Rodrigues
Waldirene Alves Lopes da Silva
114
DESENVOLVIMENTO DAS POTENCIALIDADES TURÍSTICAS DA MICRORREGIÃO
DE SÃO RAIMUNDO NONATO
Erikes dos Santos Torres Kátia Mendes de Sousa Raquel de Brito Santos Flávio Ribeiro Magalhães
122
A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DA CIDADE DE PIRIPIRI: UMA REVISÃO DE LITERATURA Regiane Coelho de Andrade Dirceu do Nascimento Martins
130
O AGRONEGÓCIO E A QUESTÃO AGRÁRIA NO MUNICÍPIO DE BOM JESUS - PI Luanny FerreiraLima Erik Ribeiro da Costa Raquel de Brito Santos Flávio Ribeiro Magalhães
141
AGRICULTURA ORGÂNICA: POTENCIALIDADES E DESAFIOS NA FAZENDA CANTINHO, MUNICÍPIO DE PIRACURUCA (PI) Marineldo de Brito Lima Manuel Luiz Cardoso Junior Francílio de Amorim dos Santos
150
DINÂMICA URBANA: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA GLOBALIZAÇÃO
Eliana Michalchechen
Nathálya Maria de Sousa Soares Leilson Alves dos Santos
159
9
BARRAGEM DE BOCAINA, PIAUÍ: CONTEXTO DA CONSTRUÇÃO, FINALIDADES E
USO RECENTE.
Paulo Henrique Luz Rocha Maria do Socorro Rocha Borges Suiane Silva Costa
166
OS AGENTES SOCIAIS E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NO BAIRRO
ITARARÉ EM TERESINA-PI: DA LUTA PELA MORADIA AO SUBCENTRO
REGIONAL
Glécia Alves da Silva Bartira Araújo da Silva Viana
176
A COBRANÇA DE ROYALTIES SOBRE A ENERGIA EÓLICA: UM ESTUDO
PRELIMINAR A RESPEITO DA PEC 97/15
Wesley Fernandes Araújo Francisco Antônio Gonçalves de Carvalho Lucas de Moura Veloso
187
A FEIRA COMO CANAL COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DA AGRICULTURA
FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE COCAL DE TELHA-PI
Tatiele Martins Evangelista Renato Sérgio Soares Costa
197
HORTICULTURA URBANA E PERIURBANA: HORTAS COMUNITÁRIAS DO BAIRRO DIRCEU ARCOVERDE, TERESINA-PI Jhony Gonçalves de Lima Felipe Henrique da Silva Andrade
204
TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS E DINÂMICA SOCIAL EM CAMPO MAIOR-PI Francisca Reynária dos Santos Silva Rosana Saraiva
216
O MEIO RURAL E O MEIO URBANO: SUAS RELAÇÕES Eliana Michalchechen
Nathálya Maria de Sousa Soares Leilson Alves dos Santos
224
A DINÂMICA DA CIDADE E OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DA IMPLANTAÇÃO DOS CONDOMÍNIOS RESIDÊNCIAS HORIZONTAIS: um estudo de caso dos Condomínios Vila Vitória e Jardins do Angelim zona de Teresina – pi. Edileia Barbosa Reis
233
10
A IMPORTÂNCIA DA DRENAGEM DAS ÁGUAS PARA O SANEAMENTO BÁSICO NA CIDADE DE CAMPO MAIOR – PI Fernando Andrade Sousa Fausto Flávio Alves Carlos Ivan Sousa de Araújo Tyago Santos de Carvalho
243
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EIXO 1 - DINÂMICA URBANO-RURAL E AS POTENCIALIDADES DO ESPAÇO GEOGRÁFICO
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O CULTIVO DA MELANCIA: IMPORTANCIA CULTURAL E ECONOMICA NO
MUNICÍPIO DE JATOBÁ DO PIAUÍ-PI
Camila Aparecida Oliveira França 1 Antônio Wellington Viana da Silva 2
Tyago Santos de Carvalho 3
RESUMO: A agricultura possui grande destaque econômico e social no nosso país. No nordeste foi um dos fatores responsáveis pelas primeiras aglomerações. Nos municípios de pequeno porte o cultivo de produtos pode ser o alicerce da economia local, já que há predomínio do setor primário. Quando ocorre um êxito na produção, a tendência é que continue evoluindo e fazendo parte daquele lugar criando uma cultura que deve ser reconhecida. No município de Jatobá do Piauí, localizado na macrorregião meio norte, pertencente ao território dos carnaubais, o cultivo da melancia teve amplo impacto econômico-cultural. O objetivo deste trabalho é reconhecer e avaliar essa importância do cultivo para a economia e a cultura do município. No quesito cultural vai dá destaque para o Festival da Melancia, como uma festividade realizada pela prefeitura em parceria com produtores de melancia da região, e, que tem por objetivo celebrar a colheita, exibir os produtos e atrair compradores além de valorizar e manter a tradição do cultivo. No quesito econômico vai ser avaliado a renda que é gerada pela produção e os possíveis incentivos que poderiam multiplicar os resultados. Porém, o governo pouco produz tais incentivos para que haja um maior progresso do setor, resguardando de danos severos os produtores em caso de perdas na safra. A pesquisa é de natureza exploratório-descritiva, com fontes secundárias, tratando os resultados de forma qualitativa com o método hipotético dedutivo.
Palavras-chave: Agricultura, Produção, Renda, Costume.
1. INTRODUÇÃO
O Setor Agrícola brasileiro iniciou seu bom desempenho econômico a partir de 1990, de
acordo com transformações tecnológicas que ocorreram (Baccarin, 2011). Apesar de o nível de
protecionismo público á agricultura brasileira ser baixo se comparado á países desenvolvidos, de
acordo com o IPEA (2010), o setor agro apresenta números favoráveis gerando um PIB de 3,7%
ao ano. Contudo, a maior parte dos agricultores que produzem principalmente alimentos
perecíveis não tem acesso a benefícios de incentivo, valorização e de política agrícola. Mas de
acordo com Lima (2013), mesmo enfrentando muitas dificuldades naturais e sociais, é o pequeno
agricultor quem mais fornece alimentos á população piauiense.
No Nordeste o clima seco e quente, com solo arenoso e considerável potencial hídrico,
compõe o cenário da caatinga favorável á produção da Melancia, originando frutos de ótima
qualidade. De acordo com Santos et al (2004, p.10), “A melancia tem grande importância
1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
2 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
3 Especialista em Docência do Ensino Superior. Tutor do Curso de Geografia EAD-UFPI. E-mail: [email protected]
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socioeconômica no Nordeste brasileiro, por ser cultivada, principalmente por pequenos
agricultores, sob irrigação e água da chuva, devido ao seu fácil manejo e menor custo de
produção, quando comparada a outras hortaliças.” No município de Jatobá do Piauí a melancia
apresenta considerável peso econômico e cultural para a região. Pelo bom desempenho na
produção e qualidade dos frutos, o município ganhou o título de “Terra da Melancia”, devido
também o cultivo da melancia participar diretamente da economia e da cultura de Jatobá do Piauí,
sendo uma atividade que rege a vida de muitas pessoas que vivem da venda da fruta e seus
derivados. Segundo Santos e Silveira (2006, p.136), “Algumas cidades são herdeiras de uma
tradição surgida em períodos anteriores, mas cuja especialização se perfaz em décadas
recentes”.
A melancia é dessa forma um importante fator nas atividades econômicas do município de
Jatobá do Piauí – PI, „ A Terra da Melancia‟, bem como na identidade cultural do município, é fato,
já que faz parte da economia como o principal produto produzido e exportado para demais
regiões fronteiriças, no trabalho diário, nos costumes, e de certo modo até nos valores de
algumas famílias, sendo a mais produtiva fonte de renda de muitas pessoas da região. O trabalho
se desenvolverá com uma analise cultural do cultivo da melancia, dando destaque nesse aspecto
para a Festa da Melancia, realizada justamente como instrumento de valorização e fortalecimento
dessa cultura; vai abordar ainda a participação econômica, relevando os fatores favoráveis á
produção, que são os naturais, e os entraves que dificultam o progresso, os sociais.
Reconhecendo essa identidade que o município possui, surge então a pretensão de conhecer e
compreender as bases que o sustentam, averiguar os impactos socioculturais etc. As teorias,
porém, ainda se encontram em estágio inicial sustentados em conhecimentos sobre o município e
conteúdos científicos. Para Santo et al (2011, p.46-47), a pesquisa primeiro deve servir para
produzir conhecimento humano, assim o levando a descobrir, conhecer e compreender a
realidade seja natural ou social, de diversas formas.
Do ponto de vista teórico, a pesquisa que pertence á área da geografia agraria, irá
contribuir primeiramente para enriquecer o conhecimento pessoal acerca do assunto. Do ponto de
vista prático, as informações que serão recolhidas, avaliadas e sintetizadas, contribuirão no meio
acadêmico e social servindo de base para outros estudos, já que quase não existem textos
regularizados e de valor cientifico sobre a agricultura da região. Segundo Pereira e Hermano
(2009) o lugar é, simultaneamente, o espaço da solidariedade que por sua vez, define e gera
valores sejam eles culturais econômicos ou sociais e também o espaço de resistência, porque é
no lugar que as pessoas podem se unir e manifestar contra os processos perversos da sociedade
como a opressão, entre outros. Os critérios de seleção para as fontes de pesquisa serão aqueles
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que remetem geografia agraria. Este conteúdo científico poderá permitir uma visão mais crítica
para quem o leia, o capacitando a reformular ideias e identificar fatores positivos ou negativos,
gerando uma possível maior chance de intervenção social na região. Pois de acordo com Sato et
al:
Assim, devemos nos ocupar de problemas de pesquisa cujas respostas
contribuirão, de alguma forma, para mudar a realidade, melhorando algum aspecto
importante (ou até mesmo prioritário) da vida humana, do ponto de vista social,
político, econômico, cultural, artístico e ambiental (SATO et al, 2011, p.52-53).
O presente trabalho objetiva analisar a importância do cultivo da melancia para a cultura e
economia do município de Jatobá do Piauí, através de métodos exploratório-descritivos, por meio
de fontes secundárias, tratando os resultados de forma qualitativa e com o método hipotético-
dedutivo. No primeiro tópico será feito uma análise do cultivo da melancia e sua importância
cultural, dando destaque para o Festival da Melancia; no segundo tópico será abordado sobre a
importância econômica do cultivo da fruta para o município, destacando alguns pontos positivos
do cultivo e alguns que poderiam melhorar o sistema de produção.
2. O CULTIVO DA MELANCIA E SUA IMPORTANCIA CULTURAL
A agricultura é uma atividade que vem se desenvolvendo, passando por muitas
renovações e trazendo muitos impactos á sociedade. De acordo com Oliveira:
A agricultura desenvolveu-se em duas direções: de um lado, a agricultura especificamente capitalista, baseada no trabalho assalariado e nos arrendamentos; de outro, a agricultura baseada na articulação com as formas de produção não capitalistas (OLIVEIRA, 2007, p.21).
Atualmente o município de Jatobá do Piauí-PI, localizado na macrorregião Meio Norte, no
território de desenvolvimento que pertence á Campo Maior, possui uma população estimada de
4.786 habitantes, em uma área territorial de 650.681 k²; pertencente ao bioma da caatinga. O
principal produto cultivado na região é a melancia, que há anos vêm se tornando destaque no
município, tanto pela grande produção que é gerada, quanto pela qualidade do produto. O
município em questão é considerado um dos principais produtores da fruta no estado, é plantado
na região cerca de 480 hectares dedicados a fruta. Apesar do impacto cultural e econômico do
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cultivo, é notório que a região ainda precisa avançar muito na parte da agricultura e que haja
maior valorização do produto por todos. Podemos considerar que:
A região do Nordeste brasileiro apresenta uma agricultura bastante diversificada com diversas culturas e formas de cultivo, foi nessa região em que se iniciaram as primeiras formas de cultivos do país, e de forma surpreendente é essa região que ainda apresenta os menores índices em termos de desenvolvimento dessa atividade no país (FERREIRA; CRUZ, 2016, p.18-19).
Devido ao bom desempenho na produção e exportação da fruta, a melancia é parte da
cultura do município, já que conduz a vida de muitas pessoas que vivem da renda obtida com a
venda da fruta principalmente e de seus derivados. Pode se considerar que a abordagem cultural
na geografia não é recente, advém do período de estruturação da geografia humana no final do
século XIX e inicio do XX. Serpa (2008, p. 27) afirma que “Graças á cultura o homem torna-se um
ser social”. Essa cultura é celebrada com a „Festa da Melancia‟ que no ano de 2017 ganhou sua
XIII edição, para celebrar colheita e valorizar a cultura e os produtores com toda a população local
e cidades vizinhas. A festa conta com exposições de melancias para venda, vendas de produtos
oriundos da melancia, atrações artísticas, shows, dentre outros.
Figura 01. Mosaico Representando Produtos Oriundos da Melancia, o Galpão da Melancia e a Própria
Melancia Customizada para Consumo
Fonte: Sobrinho (2017)
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A comemoração conta ainda com competições como: Dança com a melancia na cabeça,
Concurso de maior melancia, Quem come a maior quantidade de melancia, em 2017 contou
ainda com a I Volta da melancia de ciclismo e o mais especial para os moradores que é o
concurso de Rainha da Melancia.
Figura 2. Mosaico de fotos da Festa da Melancia durante os shows e concurso da Dança com a melancia
na cabeça
Fonte: Sobrinho (2017)
Quando falamos em cultura, sempre nos vem a memoria o lugar. A cultura cumpre um
papel importante no processo de desenvolvimento de uma região; no caso de Jatobá, a cultura de
produzir a melancia contribui para o desenvolvimento, dando uma identidade singular ao lugar.
Figura 3. Melancias que tiveram o maior peso no concurso de 2017
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Fonte: Sobrinho (2017)
Nos últimos anos foi possível observar que os produtores estavam muito desestimulados,
houve muitas perdas e era notório que a venda de melancias para outras regiões havia diminuído,
mas, sempre houve muita persistência dos agricultores para a produção não sofrer uma queda
brusca e perder compradores. Este produto cultivado culturalmente no município de Jatobá
possui uma fama conhecida em todo o estado, por isso mesmo com a queda na produção e
elevação dos preços, os produtos continuaram sendo bem valorizados por outras regiões.
3. O CULTIVO DA MELANCIA E SUA IMPORTANCIA ECONOMICA
A agricultura representa no município de Jatobá do Piauí, com dados atualizados de 2015,
um valor em (R$) X 1000 de 5.708,39, sendo maior que o setor da indústria que é de 1.229,02
(R$) X 1000, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Estes índices
diferem totalmente dos índices estadual e nacional. Cálculos que foram realizados pela Secretária
de Agricultura, apontam que deveriam ser produzidas 18 toneladas por hectare, porém, devido à
seca os prejuízos chegam até 80%.
Gráfico 1. Dados da produção agrícola – Lavoura temporária, Jatobá do Piauí, com dados de 2016
Fonte: Dados do IBGE
Baccarin (2011), em seu livro titulado „Sistema de Produção Agropecuário Brasileiro:
Características e Evolução Recente‟, fala muito bem sobre o sistema de produção agropecuário e
seu desenvolvimento, iniciando com dados a partir de 1990 até atualmente, dissertando sobre o
mercado mundial, o sistema, as políticas relacionadas, as mudanças e a participação na
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economia. Segundo Baccarin (2011, p.160), “O Brasil se transformou em um dos maiores
exportadores mundiais de produtos de origem agropecuária [...]”.
Conforme Dantas et al (2011, p.150), “Na agricultura familiar, a diversidade e a
desigualdade na distribuição dos estabelecimentos, como também a heterogeneidade da
produção, caracterizam o desenvolvimento do setor”. Em jatobá do Piauí a produção da melancia
se dá por meio, principalmente, da agricultura familiar, que diferentemente da Agricultura
Patronal, não recebe tantos investimentos externos. Assim os principais produtores começaram
inicialmente com a ajuda dos filhos e conforme a demanda é que adicionaram mais
trabalhadores, mas na maioria dos casos alguém da família. Sabemos que para ter uma atividade
produtiva, há uma tríade que irá formar o desenvolvimento agrário de uma região, que são: o
capital, pois são necessários antes de tudo investimentos; o trabalho, pois é dele que resultam os
resultados, e a mão de obra se torna cada vez mais cara; e a terra que é o mais importante
recurso.
Figura 4. Melancias expostas durante a Festa da Melancia de 2017
Fonte: Sobrinho (2017)
São utilizados poucos recursos tecnológicos na produção, os produtos utilizados na
plantação dependem do poder aquisitivo do produtor para comprar a semente, preparar o terreno,
melhores métodos de irrigação, controle de pragas etc. Visto que, a produção da melancia por
vezes é imprevisível, podendo ser muito lucrativo ou devido á alguns agentes externos ser
totalmente danificada e dar grandes prejuízos já que não existem muitos incentivos aos
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produtores. Caso houvesse mais incentivos do governo ou da prefeitura para os pequenos e
médios produtores como assistência técnica, facilitação e disponibilização nos métodos de
comercialização dos produtos ou acesso á créditos, a situação seria mais favorável e haveria
possivelmente maior lucro. Podemos concretizar isso no seguinte trecho:
Pode-se, então, afirmar que a eficiência econômica dos grandes produtores nada mais é que a expressão do seu poder em obter auxílio do Estado. É muito mais uma eficiência política do que econômica, deixando claro que a modernização só foi possível mediante a intervenção do Estado, sendo um processo totalmente induzido pelas políticas públicas concentradoras. (MARTINE, 1990 apud Agra, SANTOS, p.3).
Considera se diante dos fatos que mesmo com alguns obstáculos a melancia é o principal
produto do município, e mesmo com perdas em algumas safras, pode-se garantir que foi o fator
responsável por impulsionar a economia local.
Figura 5. Plantação de Melancia na Comunidade Tamarindo em Jatobá do Piauí
Fonte : Sobrinho (2017)
A partir do capital adquirido com a produção da melancia é que foi possível haver
investimentos no setor de serviços do município, com a renda alguns produtores investiram no
comércio, na compra de gado, na educação dos filhos etc. Além de trazer uma forte identidade
para o lugar. Como pontos positivos do cultivo podem-se citar os fatores naturais do município
como o clima, o solo e o relevo; entre os pontos negativos que não contribuem para impulsionar a
economia podemos citar a falta de incentivos municipais e estaduais aos produtores, pois muitos
possuem terras, mas não possuem verbas para compra de sementes, como a semente Top Gun
que produz frutos de ótima qualidade, materiais de trabalho etc. Afinal, pode-se considerar que:
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Se houvesse incentivo por parte dos governantes esse segmento ganhava força, pois se percebe que tem papel crucial no desenvolvimento daquela área, pois parte da renda dessas famílias provém da agricultura e se não houver um apoio por parte dos governantes não existem condições de continuarem (MIRANDA; SILVA; SILVA, 2016, p.42-43).
Urge que haja também uma maior união dos agricultores para requerer esse apoio dos
órgãos municipais e estaduais. Que a associação existente na comunidade Tamarindo, para
plantadores de melancia, sirva para haver uma troca de experiências e técnicas de
aprimoramento da prática de cultivo da melancia na região. É preciso atitude para que a cultura
do cultivo perdure por muito tempo, e evolua junto com novos métodos do mercado contribuindo
para o crescimento cultural-econômico de Jatobá do Piauí.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos considera finalmente, que o cultivo da melancia em Jatobá do Piauí foi essencial
para promover o desenvolvimento de outros setores. Através da renda obtida com a melancia o
dinheiro passou a circular com mais intensidade e provocando muitos investimentos. É evidente
que se houvessem mais incentivos haveria um maior impacto na economia e a cidade teria se
desenvolvido melhor. Afinal, o impacto para que seja positivo tem que está ligado ao
desenvolvimento da região, á qualificação profissional das pessoas que nela residem, o aumento
da produção e qualidade dos produtos etc. Na cultura a melancia desempenhou seu papel com
bastante força, pois trouxe uma identidade singular à região que ficou conhecida como “Terra da
Melancia”. Assim, percebe-se que o cultivo da melancia desempenha na região mais que uma
questão econômica, mas também cultural e social. E é assim que começa o progresso de um
lugar.
REFERÊNCIAS
AGRA, Nadine Gualberto; SANTOS, Robério Ferreira dos. Agricultura Brasileira: Situação
Atual e Perspectivas de Desenvolvimento. Disponível em: https://scholar.google.com.br/
BACCARIN, José Giacomo. Sistema de produção agropecuário brasileiro: características e evolução recente. – 2. ed. – São Paulo: Cultura Acadêmica: Universidade Estadual Paulista, Pró-Reitoria de Graduação, 2011. DANTAS, Aldo; FRANÇA, Rosana Silva de; RAQUEL, Sara. Geografia Agrária, 2° ed., NATAL, EDUFRN, 2011.
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LIMA, I. M. M. F. A Realidade Socioambiental do Piauí. Publicado originalmente por SANTANA, R. N. Monteiro (org). Formação – desenvolvimento – perspectivas. Teresina, Halley, 1995. Digitalizado em 2013. OLIVEIRA, A.U. de. Modo Capitalista de Produção, Agricultura e Reforma Agrária. São Paulo: FFLCH, 2007. SANTOS, Francisco José de Seixas; RODRIGUES, Braz Henrique Nunes; CRÍSÓSTOMO, Lindbergue Araújo; SOUZA, Francisco de; OLIVEIRA, John Jackie Gonçalves. Manejo da Irrigação da Melancia: Uso do Tanque Classe „A‟. ed.1, Fortaleza, Circular Técnica On Line, 2004. SANTOS, M; SILVEIRA, M. L. O Brasil: Território e Sociedade no Inicio do Século XXI. – 9ª ed – Rio de Janeiro: Record, 2011. SATO, T. B; SILVA, F. das. C. R. da; JÚNIOR, J.R.L.B. Leitura e Produção de Gêneros Acadêmicos. – Teresina: EDUFPI, 2011. 188p. SERPA, A. org. Espaços Culturais: Vivências, Imaginações e Representações. – Salvador: EDUFBA, 2008. Disponível em: http://books.scielo.org. Acesso em: 09/04/2018 SOBRINHO, T. XIII Festa da Melancia. Disponível em: https://www.facebook.com/jatoba100fronteiras/. Acesso em: 25 de mar. 2018.
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A EXPANSÃO URBANA DE PICOS - PI: CRESCIMENTO VERTICAL PARA CIMA DOS MORROS
Luciana Lima da Silva Leal1 Marcela Borges dos Santos2
Maria Ronalda da Silva3
RESUMO: O presente trabalho busca apresentar um pouco da história de formação da cidade de Picos-PI
no início do Século XX e a sua expansão, principalmente o crescimento vertical das construções
imobiliárias para os morros, além de analisar suas consequências. Esse tema foi escolhido por conta do
crescente avanço das residências para os locais que podem causar graves problemas para a sociedade.
Assim, entende-se que o estudo se faz necessário para acompanhar as transformações urbanas e
orientar, com relação aos efeitos que isso pode trazer atualmente e no futuro para a cidade. Sendo que, os
objetivos desse estudo são mostrar como o desenvolvimento foi intenso e como a cidade se expandiu
durante os seus 127 anos de existência. Porém, vale destacar que o crescimento é bom, porém deve ser
planejado adequadamente para não trazer graves problemas para a população. Para isso foi necessário
buscar algumas fontes históricas, principalmente na internet, pois existem pouquíssimas fontes
bibliográficas sobre a cidade, além de registros fotográficos que foram feitos para demonstrar como a
cidade mudou ao longo dos anos. Outra fonte essencial para o desenvolvimento desse artigo foi o IBGE,
que forneceu informações relevantes e atuais para fundamentar os assuntos abordados.
Palavras-chave: Picos. Crescimento Vertical. Problema.
INTRODUÇÃO
A cidade de Picos-PI está localizada em uma região de clima quente e rodeada de montes
picosos, que influenciaram na definição do seu nome. A cidade teve seu início associado a
construção da Capela de Nossa Senhora da Conceição e a Fazenda Curralinho, que se
desenvolveu as margens do Rio Guaribas o que facilitou a criação de gado e a agricultura que era
favorável às margens do rio.
A cidade se expandiu e hoje é considerada uma das maiores cidades piauienses, o que a
torna muito favorável para o comércio. Com isso a cidade foi crescendo e atualmente possui 37
bairros, sendo que alguns ficam no centro da cidade e outros nos seus arredores.
1 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
2 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
3 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail:
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O que chamou a atenção foram os bairros que se desenvolveram nos morros, pois esses
cresceram muito nos últimos anos e não foram devidamente estudados para que acontecesse um
planejamento adequado das construções imobiliárias que atualmente possuem.
Essa falta de estudo e planejamento apropriado pode causar graves problemas ambientais
e sociais para a população e para os governantes. Um dos principais problemas é o deslizamento
de terra que pode trazer prejuízos as famílias que residem nesses locais, podendo ocasionar a
morte de pessoas em eventuais desastres.
Portanto, este trabalho tem como objetivo principal apresentar um pouco da história de
formação da cidade de Picos-PI no início do Século XX e a sua expansão, principalmente o
crescimento vertical das construções imobiliárias para os morros, além de analisar suas
consequências. Para isso, foram feitas pesquisas na internet e em sites, pois não foram
encontrados recursos históricos publicados em outras formas.
1 A HISTÓRIA DE PICOS
O município teve como marco inicial de seu povoamento a construção de uma capela em
1754, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição desenvolvida pelo sertanista Antônio
Borges Leal Marinho.
Figura 1. Capela de Nossa Senhora da Conceição
Fonte:<https://www.facebook.com/AcervoEMemoriaPicoense/photos/a.489717407729181.122348.489716304395958
/1824703900897185/?type=3&theater>, (2018).
O território de Picos, nessa época, fazia parte do município de Oeiras. Sendo que, grandes
áreas de terras nos arredores do município de Picos era ocupada pela Família Borges Leal.
Tendo a Fazenda Curralinho ou Retiro Curralinho, como também era chamada, como uma das
mais importantes fazendas de criação de gado solto, onde se aproveitou as terras propícias e as
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águas do rio Guaribas. Essa fazenda era gerida por um dos descentes da família Borges Leal,
Félix Borges Leal.
O desdobramento dessa fazenda ampliou profundamente o processo de povoamento do
município que recebeu o nome de Picos, por se encontrar em uma região rodeada por montes
picosos. O rio Guaribas proporcionou por muito tempo o abastecimento de água da população e o
plantio em suas margens.
Assim, o município atraiu muitas pessoas em busca de locais mais favoráveis para o seu
desenvolvimento de seus negócios. Atualmente a cidade tem 127 anos de história e expansão, é
situada na região centro-sul do estado sendo cortada pela BR-316, BR-407 e pela BR-230 ficando
em um ponto estratégico que liga o Piauí ao Maranhão, Ceará, Pernambuco e Bahia. Se tornando
um forte polo comercial no estado, com uma população de 73.414 habitantes de acordo com o
IBGE (2017)1.
2 A DISTRIBUIÇÃO EM BAIRROS DA CIDADE DE PICOS
Segundo o IBGE (2017), Picos encontra-se dividida em cinco zonas: Leste, Norte, Sul,
Centro e Sudeste. A cidade possuí uma grande quantidade de bairros, tendo um total de 37, são
eles: Aerolândia, Centro, São Vicente, Altamira, Cidade de Deus, Aroeiras do Matadouro,
Condurú, Paraibinha, Samambaia, DNER, Paroquial (Chão dos Padres), Bairro de Fátima,
COAHB, Morada Nova, Umari, Emaús, Parque de Exposição, Belo Norte, Ipueiras, Parque
Industrial (Pantanal), Boa Sorte, Jardim Natal, Passagem das Pedras, Boa Vista, Junco, Marcos
de Sousa, Bela vista, Malva, Pedrinhas, Bomba, Morada do Sol, Canto da Várzea, Morro da
AABB, Trizidela, São Sebastião, Catavento e São José.
3 O CRESCIMENTO VERTICAL PARA OS MORROS DA CIDADE
Os bairros cresceram e se desenvolveram significativamente ao longo dos anos. Abaixo
está uma comparação, por meio de imagens, de como eles eram antes e como estão atualmente,
serão destacados os principais locais da cidade e principalmente bairros que se encontram nos
morros.
Figura 2. Município de Picos no início do Século XX 1 IBGE, Censo 2017. População. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pi/picos/ panorama. Acesso em 03
de março de 2108.
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Fonte:<https://www.facebook.com/AcervoEMemoriaPicoense/photos/a.489717407729181.122348.489716304395958
/1824703900897185/?type=3&theater>, (2018).
Figura 3. Município de Picos no Século XXI
Fonte: <http://mapio.net/pic/p-69103782/>, (2018).
As imagens 2 e 3 formam uma comparação dos arredores da Igreja de Nossa Senhora da
Conceição, como pode ser observado a quantidade de imóveis rodeou toda a igreja e se
estendeu para os lados, formando ruas e uma das avenidas principais da cidade, Avenida Getúlio
Vargas.
Figura 4. Início da Avenida Getúlio Vargas e por traz o Morro da Mariana
Fonte: <http://mapio.net/pic/p-69103782/>, (2018).
A expansão foi além do centro da cidade e alcançou outros bairros como pode ser
observado nas imagens 8 e 9, abaixo:
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Figura 5. Morro da AABB
Fonte: <http://www.simoesonline.com.br/2013/12/picos-cerca-de-100-familias-vivem-em.html>, (2018).
Figura 6. Bairro Paroquial
Fonte: <http://www.diaadiapicos.com.br/print.php?maid=2053>, (2018).
Essas imagens demonstram o crescimento acelerado e evasivo para cima dos morros,
formando bairros sem o planejamento adequado. Isso pode trazer vários problemas para a
sociedade e para os governantes.
4 AS CONSEQUÊNCIAS DO CRESCIMENTO VERTICAL DA CIDADE DE PICOS
Na região de Picos a chuva não é predominante o tempo todo, porém nos invernos mais
chuvosos a população de bairros que ficam nos morros sofre com o risco que correm. A imagem
abaixo demostra a situação da população do bairro São José em março de 2014, onde aconteceu
um deslizamento de terra próximo a várias residências colocando em risco a vida das pessoas
que moram próximas.
Figura 7. Deslizamento no Bairro São José
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Fonte: <http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2014/03/defesa-civil-retira-familias-de-encosta-no-piaui-e-teme-novos-
deslizamentos.html>, (2018).
Em 2015 a situação se repete e dessa vez de acordo com Costa (2015) “os moradores
precisaram deixar suas casas após deslizamentos”, isso causa inúmeros transtornos.
Para Faria (2016) “o deslizamento de terra é um processo de vertente que envolve o
desprendimento e transporte de solo e/ou material rochoso encosta abaixo”.
Esse é um fenômeno comum em cidades que possuem morros aos arredores, porém o
risco de deslizamento pode ser agravado pelas ações humanas como destaca Faria (2016):
Embora os deslizamentos e outros movimentos de massa sejam fenômenos naturais, alguns fatores externos relacionados à ocupação antrópica interferem decisivamente na ocorrência ou agravamento destes movimentos. O principal é a ocupação desordenada de encostas e morros que adicionam carga extra ao peso da massa sedimentada já existente ali e a consequente supressão da vegetação natural que deixa o solo ainda mais exposto a ação do intemperismo físico (meteorização mecânica).
É exatamente isso que está acontecendo na cidade de Picos, a ocupação está se
expandindo para os morros e o deslizamento é uma das mais graves consequências, na qual a
sociedade está precisando conviver a cada inverno. A imagem abaixo mostra um deslizamento
que aconteceu no bairro São José em 2014.
Figura 8. Deslizamento no Bairro São José
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Fonte: <http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2014/03/defesa-civil-retira-familias-de-encosta-no-piaui-e-teme-novos-
deslizamentos.html>, (2018).
A cidade de Picos possui condições favoráveis para o deslizamento de terra, que de
acordo com a Secretária de Educação é necessário considerar três fatores de influência na
ocorrência dos deslizamentos que são:
- Tipo de solo: sua constituição, granulometria e nível de coesão; - Declividade da encosta: cujo grau define o ângulo de repouso, em função do peso das camadas, da granulometria e nível de coesão; - Água de embebição: que contribui para aumentar o peso específico das camadas; reduzir o nível de coesão e o atrito, responsáveis pela consistência do solo, e lubrificar as superfícies de deslizamento.
Dessa forma, é possível notar que são um conjunto de fatores que podem trazer sérios
problemas para a população, tendo como o principal, o deslizamento.
CONCLUSÃO
A cidade de Picos-PI tem suas qualidades, e por isso tem crescido bastante nos últimos
anos. Essa expansão se reflete nos arredores da cidade, principalmente nos bairros que ficam
localizados nos morros, como o bairro São José, Bairros da AABB, Morada do Sol, Aerolândia e
outros.
Esse crescimento acelerado tem trazido problemas para a população que vivi nesses
locais, como por exemplo, o deslizamento de terras que acontece na região nos períodos de
chuva intensa e prolongada muitas vezes gera a decretação da situação de emergência e até
mesmo a deslocamento de pessoas para locais mais seguros.
Esse problema acontece na maioria das vezes, por uma expansão acelerada e pelo mal
planejamento urbanístico das cidades, que querem crescer, porém não tem espaço plano
suficiente, é nesse momento que os morros viram o espaço mais acessível para a expansão que
causará graves problemas futuros.
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Portanto, a expansão faz parte das cidades e pode trazer excelentes resultados, porém é
importante destacar que tudo deve ser devidamente planejado e estruturado adequadamente
para não trazer problemas para a população e para os governantes.
REFERÊNCIAS
ACERVO E MEMÓRIA PICOENSE. Disponível em
<https://www.facebook.com/AcervoEMemoriaPicoense/photos/a.489717407729181.122348.4897
16304395958/1824703900897185/?type=3&theater>. Acesso em 14 de março de 2018.
COSTA, Catarina. Defesa Civil retira famílias de encosta do Piauí e teme novos
deslizamentos. Disponível em <http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/ 2014/03/defesa-civil-retira-
familias-de-encosta-no-piaui-e-teme-novos-deslizamentos.html>. Acesso em 14 de março de
2018.
COSTA, Catarina. Picos volta a registrar deslizamentos e 68 famílias estão em áreas de
risco. Disponível em http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/ 2015/01/picos-volta-registrar-
deslizamentos-e-68-familias-estao-em-areas-de-risco.html. Acesso em 14 de março de 2018.
FARIA, Carolina. Deslizamento de Terra. Disponível em <https://www.
infoescola.com/geologia/deslizamento-de-terra/>. Acesso em 14 de março de 2018.
IBGE, Censo 2017. População. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pi/picos/
panorama. Acesso em 03 de março de 2108.
PICOS PI. Disponível em <http://www.jornaldepicos.com.br/noticiadetalhe. php?id=950>. Acesso em 14 de março de 2018.
PICOS: CERCA DE 100 FAMÍLIAS VIVEM EM ÁREAS DE RISCO E TEMEM DESABAMENTO.
Disponível em http://www.simoesonline.com.br/2013/12/ picos-cerca-de-100-familias-vivem-
em.html. Acesso em 14 de março de 2018.
PORTAL DIA A DIA PICOS. Disponível em: http://www.diaadiapicos.com.
br/print.php?maid=2053. Acesso em 13 de março de 2018.
VISTA PANORÂMICA DO MORRO DA MARIANA. Disponível em http://mapio.net/pic/p-
69103782/. Acesso em 13 de março de 2018.
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TRÍADE HABITANTE-LUGAR-IDENTIDADE: EXPERIÊNCIAS E VIVÊNCIAS DOS MORADORES DO BAIRRO PONTE NO MUNICÍPIO DE CAXIAS – MARANHÃO
Ana Angélica Sena Costa1. Tiago Caminha Lima2.
RESUMO: O conhecimento e preservação das raízes e a origem de um povo, comunidade, garante ao sujeito a condição de existir e proteger a sua identidade, levando a valorizar e cultivar a sua história local, facilitando o entender e a inserção dos moradores no contexto histórico/ geográfico local. O entendimento e a informação local têm o poder de proporcionar aos moradores o reconhecimento como agente participativo e transformador do seu espaço de vivência.O presente artigo possui como objetivo geral analisar o estudo do lugar geográfico como possibilidade de construção da identidade espacial dos moradores do Bairro Ponte da cidade de Caxias - Maranhão. Para a construção da pesquisa tem-se como objetivos específicos: discutir os fundamentos que incidem em relação ao conceito de Lugar e Geografia Humanista, na ciência geográfica; caracterizar as vivências e experiências dos moradores do bairro Ponte da cidade de Caxias – MA, utilizando fundamentos teóricos do conceito de lugar, identidade espacial e cotidiano, e conhecer na História Local a importância dos processos e dos elementos geográficos construídos a partir das vivências dos moradores do bairro. A modalidade da pesquisa a ser utilizada é a qualitativa, pois esta abordagem considera o ambiente natural como fonte direta de dados, o pesquisador como principal instrumento, além disso, pressupõe a existência de uma relação dinâmica entre a realidade e o sujeito. Este estudo possui como procedimentos metodológicos: pesquisa bibliográfica a partir dos seguintes pensadores:Buttimer (1982), Carlos (1996-2007), Claval (1982), Heller (1972), Moraes (2007), Moreira e Hespanhol (2007), Moreira (2007), Santos (1994- 2004), Tuan (1975- 1983- 1930. Diante desse contexto, o estudo da vivência dos moradores deve fazer da história do bairro uma ferramenta de identidade, fazendo com que o entendimento das origens e raízes dos moradores como membros de uma comunidade ou em um grupo social faça, com que eles se sintam realmente agentes participativos do processo histórico/geográfico a partir do seu sentimento de pertencimento. O lugar, assim, pode ser entendido como produto das relações sociais, construídos através de sentidos, relações, vivências e experiências, formando identidade pelo qual o homem se reconhece. Ressalta-se que a pesquisa é decorrente do trabalho de conclusão de curso e encontra-se em andamento
Palavras Chaves: Lugar e identidade. Experiências e vivências. Cotidiano.
1 INTRODUÇÃO
No mundo a qual ocorre as relações sociais, nos deslumbramos com diversas paisagens,
vários lugares, que acabam nos impressionando, porém não sabemos ao certo o que acontece e
o que existe dentro do lugar. O lugar é um espaço construído através de nossas vivências, diz
respeito a maneira como cada indivíduo se comporta neste espaço.Portanto, é repleto de
1 Acadêmica do curso de Licenciatura Plena em Geografia – Centro de Estudos Superiores de Caxias - Universidade
Estadual do Maranhão - CESC/UEMA. E-mail:[email protected] 2Orientador. Professor substituto do curso de Licenciatura Plena em Geografia - Centro de Estudos Superiores de
Caxias - Universidade Estadual do Maranhão – CESC/UEMA. Tutor a Distância do curso de Licenciatura Plena em Geografia - Universidade Federal do Piauí. Mestre em Geografia - Universidade Federal do Piauí - UFPI. E-mail: [email protected]
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histórias que cada pessoa traz consigo. Um lugar descrito como um espaço vivido e de
experiências que são sempre renovadas, acaba levando a resgatar os sentimentos de identidade
e pertencimento.
Diz-se o lugar que se vive e que deve ser reconhecido pelos que ali vivem, pois deve-se
conhecer o espaço para nele saber se produzir como sujeito.A cidade, o lugar compartilhado
(território), o lugar de vida onde acontece a reprodução em determinado tempo e espaço é
considerado a realidade. O lugar se organiza a partir das pessoas e grupos sociais que ali
habitam, permitindo que criem uma identidade que as caracterizem. A identidade do lugar permite
que as pessoas se reconheçam e se identifique com o mesmo, mas é necessário que cada
indivíduo construa sua própria identidade. A memória que faz parte da história, expressa
sentimentos, a cultura do lugar. Esta cultura é o que da identidade.
O presente artigo possui como objetivo geral analisar o estudo do lugar geográfico como
possibilidade de construção da identidade espacial dos moradores do bairro Ponte no município
de Caxias - Maranhão. A modalidade dapesquisa a ser utilizada é a qualitativa, pois esta
abordagem considera o ambiente natural como fonte direta de dados, o pesquisador como
principal instrumento, além disso, pressupõe a existência de uma relação dinâmica entre a
realidade e o sujeito. Este estudo possui como procedimentos metodológicos: pesquisa
bibliográfica e de campo. A presenteanálisetem possui principais autores em sua fundamentação,
Tuan (1975), Buttimer (1982),Claval (1992), Lacoste (1988),Callai (2004), Moraes (2007), Moreira
e Hespanhol (2007), Moreira (2007) e Santos (1994-2004).
2LUGAR GEOGRÁFICO: ESPAÇO DE VIVÊNCIA A CONSTRUÇÃO SOCIAL
A renovação da Geografia deu-se a partir de 1978, passando por transformações e uma
linha de debates referentes a ela. A Geografia é uma ciência de análise, que faz parte da vida
cotidiana construindo práticas e técnicas e que vem se renovando a cada dia que passa,
estudando a Terra, relação do homem com o meio ambiente, discutindo sua identidade e seu
objeto de estudo. Teve várias escolas de pensamentos- tradicional, humanista, positivista, crítica,
cultural, etc. Foi sistematizada por volta do século XIX onde ocorreu grandes mudanças políticas,
sociais e econômicas.
[...] sistematização da geografia, sua colocação como uma ciência autônoma, foi um desdobramento das transformações operadas na vida social, pela emergência do modo de produção capitalista. E mais, a geografia foi, na verdade, um instrumento da etapa final deste processo de consolidação do capitalismo em determinados países da Europa. (MORAES, 2007, p. 57).
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A geografia foi sistematizada por uma série de pressupostos históricos, as quais
objetivavam o processo de avanço, principalmente no que condiz ao modo de produção
capitalista. A ideia do marxismo, acaba cruzando com a renovação da Geografia, sendo
generalizado por Marx como uma base filosófica, e política ideológica do pensamento geográfico.
A identificação da renovação da geografia acaba sofrendo críticas dos autores marxistas, o que
acabou a geografia deixando de ter um pluralismo de sua realidade na história da década de
1970.
A geografia desenvolveu um grande processo, principalmente no sentido ideológico,
envolvendo-se com o caráter político e epistemológico. Daí, começa o primeiro momento da
renovação da geografia. O primeiro ponto é a fase ideológica, baseada com a renovação de
Lacoste, o qual desenvolve dentro do seu pensamento organismos de crítica ideológica. Dentro
da concepção de Lacoste, a renovação da geografia estava ligada ao poder, onde o Estado fazia
da geografia uma ciência simples, inútil e ingênua, colocando a ideia de que o Estado como um
poderoso recurso, detinha a prioridade das ideias ideológicas.
A epistemologia discutia o surgimento e renovação da geografia. Para Lacoste (1988,
p.37), “o problema ideológico parece estar no cerne do problema epistemológico da Geografia”.
Lacoste coloca a ideia que a epistemologia e a ideologia, ambas estavam enfrentando os
mesmos desafios no caráter crítico de pensamento. Milton Santos (2004, p. 18), diz que “sempre,
e ainda hoje, se discute muito mais sobre a geografia que sobre o espaço que é o objeto da
ciência geográfica”. Segundo Santos, estamos interessados apenas em explicar e falar somente
da realidade espacial, deixando de lado a análise do espaço.
O espaço geográfico é construído da epistemologia, que dá a compreensão da geografia
como ciência social, dos objetos espaciais e espaço. Quando isolados, o arranjo espacial pode se
transformar numa categoria de análise dando total valor ao espaço. Assim, o arranjo espacial é
considerado uma base no processo de produção social.Moreira (2007) defende a ideia como
objeto da Geografia. A relação econômico-social advém do espaço como sendo seu objetivo.
Para o autor supracitado o espaço geográfico pode ser categoria de diálogos para os demais
cientistas que buscavam compreender a formação econômico-social.
A geografia e seu objeto são considerados como um produto social. O espaço é produzido
através da ação humana, portanto o objeto não é inerte, está sempre em transformação. Ora,
como a obra de transformação do meio é uma realização necessariamente dependente do
trabalho social (a ação organizada dos homens em coletividade), é o trabalho social o agente da
transformação do homem, de um ser animal para um ser social, combinando esses dois
momentos em todo o decorrer da história humana(ENGELS, 1978).
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Dentro do estudo da geografia, a relação homem-meio acaba se transformando em relação
homem-homem, que cabe a formação econômico-social, o que cabe colocar a geografia como
uma ciência de análise.A geografia é alvo de mudanças rápidas e permanentes, podendo mudar
através das correntes do pensamento geográfico, incluindo-se também dentro do ensino da
geografia, transformações ocorridas no espaço, fruto das relações do homem na sociedade e na
natureza (VESSENTINI, 1992).
A geografia passa por um arranjo de características sistemáticas desde a sua renovação.
No século XVI e XVII é considerada uma disciplina que diferencia a região, estuda a paisagem e
referencia os gêneros. É uma ciência que não ignora o homem, e sim coloca-o no centro de seus
estudos. A paisagem, elemento de grade estudo na ciência geográfica, é uma criação do homem,
a qual modifica de forma desacelerada por todo o país, causando o que se é conhecido como
aglomerações.
A lógica dos ordenamentos espaciais, só podem ser entendidas se colocar em primeiro lugar o complexo estudo do papel que o espaço tem na vida dos homens – espaço percebido, modelado e dominado, ou simplesmente sonhado- e se insistir na maneira como, dentro dos grupos sociais, se ordena a imensidão nos projectos individuais, e como aparece e são concretizadas as decisões. (CLAVAL, 1892, p. 16).
A geografia é um campo de observação e era tida como a descrição regional do mundo.
Seu objetivo era evidenciar os fatos espaciais e descrever os contornos do real, seguindo uma
evolução das paisagens e das organizações territoriais.
A nova geografia interessa-se bastante mais por uma explicação lógica do que por uma reconstituição histórica. Tenta propor uma interpretação teórica dos fenômenos espaciais: deseja libertar os princípios a partir dos quais é possível compreender a articulação desses fenômenos, apreender o seu funcionamento e reconstituir a sua lógica interna. (CLAVAL 1892, p. 30).
Verifica-se, que a renovação geográfica produz e reproduz no conhecimento ideológico, na
ciência, e na luta de classes no capitalismo.
Os geógrafos críticos, em suas diferenciadas orientações, assumem a perspectiva popular, a da transformação da ordem social. Buscam uma Geografia mais generosa e um espaço mais justo, que seja organizado em função dos interesses dos homens. (MORAES 2007, p. 132)
Segundo Moreira e Hespanhol (2007), o conceito de lugar, está diretamente ligado a
Geografia Humanística, “onde faz uma associação do lugar ao espaço vivido”. Essa corrente,
explica a construção do mundo, ressaltando a experiência e percepção.Buttimer, (1982) retrata
que O lugar é utilizado como principal conceito na abordagem humanística, cujas bases
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metodológicas estão associadas à fenomenologia e ao existencialismo - também chamado de
uma fenomenologia existencial, pelo diálogo estabelecido entre o homem e seu meio, através da
percepção, do pensamento, dos símbolos e da ação
Diz-se o lugar que se vive e que deve ser reconhecido pelos que ali vivem, pois deve-se
conhecer o espaço para nele saber se produzir como sujeito. A cidade, o lugar compartilhado
(território), o lugar de vida onde acontece a reprodução em determinado tempo e espaço é
considerado a realidade. O lugar se organiza a partir das pessoas e grupos sociais que ali
habitam, permitindo que criem uma identidade que as caracterizem. A identidade do lugar permite
que as pessoas se reconheçam e se identifiquecom o mesmo, mas é necessário que cada
indivíduo construa sua própria identidade. A memória que faz parte da história, expressa
sentimentos, a cultura do lugar. Esta cultura é o que da identidade.
Dento da Geografia Física o lugar deixa de ser estudado como o lugar vivido e passa ao
conceito de construção social. Para Santos (1994), o lugar abarca uma permanente mudança,
decorrente da própria lógica da sociedade e das inovações técnicas que estão sempre
transformando o espaço geográfico. A globalização trouxe consigo um grande desenvolvimento
no processo de produção e reprodução. O espaço torna-se elemento principal para o
desenvolvimento do lugar. Várias transformações ocorreram com o acelerado processo da
globalização, o capitalismo, porém, realiza suas atividades dentro do espaço produzindo novas
formas de gerar capital, possivelmente, se apropriando do lugar e transformando o espaço.
O cotidiano, elemento a qual faz referência à construção do lugar, nele está inserido o
homem ligado diretamente as atividades que realizam dentro da vida cotidiana. Cotidiano é o
conjunto de relações entre o homem e a sociedade formadas em diferentes lugares e em
determinados tempos históricos.Para Heller (1972), o cotidiano é a vida de todos os dias e de
todos os homens em qualquer época histórica.O cotidiano fica presente em todas as esferas da
vida do indivíduo.
O espaço faz parte da vida das pessoas, que é construído através da ação. A paisagem
retrata um determinado lugar, abarcando a visão de tudo, sendo a paisagem aquilo que vemos, o
que é visível aos olhos, formadas de cores, movimentos, odores e sons. Por outro lado, a
paisagem é resultado de elementos da natureza: vegetação, clima, relevo, mas também da ação
antrópica: os prédios, as casas, as estradas, as ruas.O lugar é construção de vínculos, onde as
pessoas estão ligadas aos lugares, fazendo com que seja compreendido o meio em que vive,
permitindo o sujeito a conhecer sua própria história. O lugar não é neutro, nele há diversas
histórias que ocorrem em um tempo e espaço.
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Na visão de Buttimer, (1982) a ideia de identidade cultural está intrinsecamente
relacionada à identidade com o lugar. As dimensões culturais, emocionais, políticas e biológicas
permitem ao indivíduo possuir redes de interações baseadas no lugar. Mesmo diante das
transformações no lugar, para o indivíduo e para a comunidade, a sensação de que as
características antigas permanecem, reforçam a identidade com o lugar.
O lugar pode ser considerado como um palco de acontecimentos, tornando fundamental
considerar como uma construção que é tecida pelas relações humanas no espaço vivido,
formando significados e sentidos, que são tecidos pela cultura e pela história. Segundo Carlos
(1996), o bairro é um lugar, pois tem o espaço imediato da vida das relações cotidianas, relações
de vizinhança, encontro dos conhecidos, laços de identidade entre os habitantes e o lugar.
Há pessoas que quando questionadas sobre O que seria o lugar para elas? Como se
identificam com o lugar? Muitas são as respostas, mas alguns indivíduos diriam que o lugar seria
o espaço em que vive, se relacionam e criam laços com outros sujeitos ou com o local. Podemos
morar num apartamento, quitinete, ou mesmo em uma casa de aluguel, mas não nos
relacionamos ou nos identificamos com o lugar, pois, o lugar propriamente dito é o constituído de
valores, culturas e identidades.
Para Tuan (1975) o lugar tem muitos significados que são atribuídos pelas pessoas e
traduz os espaços com os quais as pessoas tem vínculos mais afetivos e subjetivos que racionais
e objetivos: uma praça ou uma rua onde se brinca desde a infância, o alto de um morre onde se
observa a cidade.O lugar é onde estão os valores, realidades carregadas de afetividades, com a
qual desenvolvemos em nossas vidas, seja por convivência com o lugar o com outras pessoas. O
indivíduo traz consigo uma experiência com o lugar em que vive, onde se envolve e adquire
pertencimento.
EXPERIÊNCIAS, VIVÊNCIAS E IDENTIDADE
Na experiência, o significado de espaço frequentemente se funde com o de lugar. “Espaço”
é mais abstrato do que “lugar”. “O que começa como espaço indiferenciado transforma-se em
lugar à medida que o conhecemos e dotamos de valor” (TUAN, 1930, p. 7).Para a Geografia
Humanista o mundo vivido está relacionado a vida e experiência das pessoas, ao cotidiano,
buscando resgatar a essência das coisas, do meio, por meio da compreensão. A essência busca
fazer uma relação do homem e o meio a qual está inserido.
A experiência pode ser direta e intima ou pode ser indireta e conceitual, medida por
símbolos. Assim, podemos conhecer uma cidade, um bairro, um lugar, ou a nossa própria casa
através da experiência e vivência. Ao se fazer uma pesquisa sobre o conceito de experiência,
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veremos um apanhado de significados, porém, Tuan (1983, p. 9), dá a colocação de experiência
sendo: “o termo que abrange as diferentesmaneiras através das quais uma pessoa conhece e
constrói a realidade. Estas maneiras variam desde os sentidos mais diretos e passivos como o
olfato, paladar e tato, até a percepção visual ativa e a maneira indireta de simbolização
Para Tuan (1983), o lugar é marcado por três palavras-chave: percepção, experiência e
valores. Os lugares guardam e são núcleos de valor, por isso eles podem ser totalmente
apreendidos através de uma experiência total englobando relações íntimas, próprias (insider) e
relações externas (outsider).
O autor citado, faz uma distinção do que vem ser espaço e lugar. Certamente, o espaço
transforma-se em lugar quando a ele é atribuído, valores e significados. Quando o espaço é
produzido para consumo acaba perdendo seu significado para com a relação de conhecimento e
reconhecimento do lugar, o sujeito faz parte de uma prática social, pertencentes aos lugares em
que moram, criando sentidos, cultura, laços, em resumo, criando sua própria identidade. E lugar é
definido como o experienciado.
A experiência implica a capacidade de aprender a partir da própria vivência. Experiência é aprender; significa atuar sobre o dado e criar a partir dele. O dado não pode ser conhecido em sua essência. O que pode ser conhecido é uma realidade que é um constructo da experiência, uma criação de sentimentos e pensamentos.(TUAN, 1983, p. 10)
Segundo Callai (2004), o indivíduo adquire experiências, a partir do contato que tem com
o meio, com o objeto, e com o lugar. Ainda Callai (2004), o lugar pode ser considerado como um
objeto de experiências e vivências, no qual uma pessoa pode morar e criar vínculos. O lugar é
construído através da ação humana, dos grupos que nele vivem e trabalham. É cheio de histórias
que cada pessoa traz consigo. O cotidiano é um elemento essencial para a construção de
vivências, por onde as coisas acontecem. Um lugar é de espaço vivido e experiências novas,
resgatando sentido e identidades.
A identidade é construída através da experiência de uma pessoa. Baseada na cultura
onde o indivíduo se inter-relacionam, sendo considerado o indivíduo como um ator social. Cada
pessoa é apta a construir sua própria identidade, através de ações singulares, de um lugar em
que vive, e da própria cultura.
[...] no plano do vivido o que garante a construção de uma rede de significados e sentidos que são tecidos pela história e cultura civilizadora produzindo a identidade, posto que é aí que o homem se reconhece [...]. Mesmo diante de um mundo interligado por redes, o lugar é essencial para a produção das redes, já que os sujeitos precisam pertencer a um determinado lugar. (CARLOS, 2007, p. 22).
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Assim, com a relação de conhecimento e reconhecimento do lugar, o sujeito faz parte de
uma prática social, pertencentes aos lugares em que moram, criando sentidos, cultura, laços, em
resumo, criando sua própria identidade.Os lugares são construídos e se organizam através da
ação humana e das pessoas que ali habitam, permitindo que se crie uma identidade em cada
lugar que são elementos que as caracterizam. A identidade do lugar faz com que as pessoas se
identificam, sendo cada sujeito o construtor de sua própria identidade singular.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo da vivência dos moradores deve fazer da história do bairro uma ferramenta de
identidade, fazendo com que o entendimento das origens e raízes dos moradores como membros
de uma comunidade ou um grupo social faça, com que eles se sintam realmente agentes
participativos do processo histórico/geográfico. O lugar, assim, pode ser entendido como produto
das relações sociais, construídos através de sentidos, relações, vivências e experiências,
formando identidade pelo qual o homem se reconhece.
Sendo assim, para que haja uma construção de identidade e sentimento de
pertencimento para com o lugar, é necessário que o indivíduo passe por um processo geográfico,
desde o surgimento do espaço, compreendendo os elementos espaciais, pois, o espaço faz parte
da vida das pessoas, e é construído através da ação do homem com o meio. Nesta perspectiva,
essa pesquisa, que se encontra em andamento, vempossibilitando compreender como a
Geografia se faz presente através da vivência dos indivíduos no meio.
REFERÊNCIAS
BUTTIMER, Anna. Aprendendo o dinamismo do mundo vivido. In:CHRISTOFOLLETI, Antônio. Perspectiva da Geografia. São Paulo: Difel, 1982.
CALLAI, Helena Copetti. O estudo do lugar como possibilidade de construção da identidade e pertencimento.
Livros
CARLOS, A. F. A. O Lugar no/do Mundo. São Paulo. Hucitec, 1996.
______. O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007.
CLAVAL, Paul. A Nova Geografia. Trad. Filipi Machado. Coimbra: Livraria Almeida, 1982.
HELLER, A. O cotidiano e a história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.
LACOSTE, Yves, A Geografia Serve Antes De Mais Nada Para Fazer a Guerra, São Paulo, Editora Papirus, 1988.
MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica/ Antônio Carlos Robert Moraes- 21ª ed. – São Paulo: Annablume, 2007.
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MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em geografia: ensaios de história, epistemologia e ontologia do espaço geográfico/ Ruy Moreira. – São Paulo: Contexto, 2007.
SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo: Hucitec, 1994.
_____SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova: Da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica/ Milton Santos – 6ª ed. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004. – (Coleção Milton Santos; 2).
TUAN, Y. -F. Place: na Experiential Perspective.GeographicalReview, 65, pág. 151-165, 1975.
_____TUAN, Yi Fu. Espaço e Lugar: A perspectiva da experiência/ Yi Fu Tuan; tradução de Lívia de Nogueira. – São Paulo: Difel, 1983.
Revista científica
HESPANHOL, Rosângela Aparecida de Medeiros, MOREIRA, Erika Vanessa. O Lugar como
uma construção social. Revista Formação, n⁰14. volume 2 – p. 48‐60
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AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL OBTIDO DE DIFERENTES
MATÉRIAS-PRIMAS NO BRASIL ENTRE OS ANOS DE 2007 A 2017
Suzi Silva Ramalho1 Siara Silva Ramalho 2
Tiago Caminha de Lima3
RESUMO: O Biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes naturais e renováveis (oleaginosas, gordura bovina, de porco, óleo de fritura usado, etc.) que pode ser usado em qualquer motor de ciclo diesel, e um propulsor da inclusão social a partir do incentivo à participação da agricultura familiar no seu processo de produção. São notáveis o crescimento e a importância que as instituições de ensino superior têm dado ao Biodiesel, sendo os cursos de exatas e da terra os que desenvolvem trabalhos nesta área, dando enfoque para alternativas que possam melhorar o processo de obtenção do Biodiesel. Mediante a esta realidade, este trabalho propõe uma pesquisa bibliográfica para realizar uma avaliação econômica e sustentável da produção de biodieseis obtidos de diferentes matérias-primas no Brasil. A modalidade presente na pesquisa é quali-quantitativa. Para o desenvolvimento deste estudo considerou-se como metodologia o delineamento bibliográfico, pois, ao se tratar de pesquisa a reflexão teórica é fundamental principalmente quando se encontra agregados a elementos que inclui a utilização de inúmeras técnicas de pesquisas. Além de dados documentais da plataforma da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Através dos dados da ANP foi possível obter dados referentes à produção de biodiesel em nível nacional e por região desde o ano de 2007 até o mês de maio de 2017. Portanto, destaca-se que a produção de Biodiesel em escala industrial de acordo com ANP aumentou consideravelmente nos anos de 2007 a 2015, e umas das hipóteses para este resultado é por causa da obrigação de Biodiesel ao diesel a partir do ano de 2008 no Brasil. A produção de Biodiesel no ano de 2017 continua se concentrando na região Centro-Oeste devido à grande disponibilidade de matérias–primas (óleo de soja e gordura bovina) e da sua maior capacidade instalada da ordem de 1,2 bilhão de litros de Biodiesel por ano.
Palavras-chave: Biodiesel. Desenvolvimento Sustentável. Matérias-primas.
1INTRODUÇÃO As preocupações relacionadas com os problemas ambientais e a qualidade de vida no
planeta, tem se intensificado nos últimos anos. A emissão de poluentes provenientes dos
combustíveis fósseis derivados do petróleo são os responsáveis pelo agravamento da poluição
ambiental (GONÇALVES, 2013).O Biodiesel surge como uma solução a essa problemática, pois
1Graduada em Licenciatura em Química pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFMA - Campus
Caxias. E-mail: [email protected] 2 Discente do curso de Licenciatura Plena em Geografia do Centro de Estudos Superiores de Caxias - Universidade
Estadual do Maranhão – CESC/UEMA. E-mail: [email protected] 3 Professor de Geografia do Centro de Estudos Superiores de Caxias - Universidade Estadual do Maranhão –
CESC/UEMA. E-mail: [email protected]
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este biocombustível é derivado de fontes renováveis, diferente do diesel que é proveniente do
petróleo.
No Brasil a pesquisa sobre biodiesel intensificou-se a partir do Programa Nacional de
Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) em dezembro de 2004 pelo Governo Federal. Esse
programa foi pautado por determinadas diretrizes de política de inclusão social; aproveitamento
das oleaginosas de acordo com as diversidades regionais; segurança de abastecimento para o
novo combustível; garantia de qualidade para o consumidor; e busca da competitividade frente ao
diesel de petróleo (PORTAL BRASIL, 2014).
Para o desenvolvimento deste estudo considerou-se como metodologia o delineamento
bibliográfico, pois, ao se tratar de pesquisa a reflexão teórica é fundamental principalmente
quando se encontra agregados a elementos que inclui a utilização de inúmeras técnicas de
pesquisas. Para Amaral (2007), a pesquisa bibliográfica é uma etapa fundamental em todo
trabalho científico, de modo a influenciar todas as categorias de uma pesquisa na medida em que
se almeja uma base teórico que será a base do trabalho, consistem no levantamento, seleção,
fichamento e arquivamento de informações referentes a pesquisa.Portanto, os recursos desta
pesquisa são materiais já publicados constituídos principalmente de artigos, monografias,
dissertação, tese e a plataforma da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP).
REFERENCIAL TEÓRICO
Diversificação da Matriz energética
Desde a Revolução Industrial, o desenvolvimento de um país passou a ser influenciado
diretamente pela geração de energia.Segundo Ribeiro (p. 14, 2014) “a busca por geração de
energia passa a ser prioridade, ao passo que a energia foi sendo gerada a qualquer
custo,causando grandes impactos ambientais, como por exemplo, o uso exagerado do carvão e
petróleo que contribui para gases de efeito estufa”. Portanto, viu-se a necessidade de repensar a
composição da matriz energética, para que se possa combinar preservação do meio ambiente
com o desenvolvimento industrial. Ao longo do tempo, a análise da matriz enérgica de um país é
fundamental para a orientação do planejamento do setor energético, que precisa garantir a
produção e o uso adequado da energia que produz. Na década de 1970, com a crise do petróleo,
os investimentos em pesquisas de energia alternativa tiveram um rápido crescimento
(CHRISTOFF, 2006).
Nas últimas décadas do século XX a crise do petróleo que se instaurou, aliada ao aumento
da demanda por combustíveis e à crescente preocupação com o meio ambiente, preconizou a
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busca por fontes alternativas de energia no Brasil e no mundo proveniente de recursos naturais
capazes de se ressurgirem, como as energias eólica, solar, hidrelétrica e advinda da biomassa,
como o etanol e o Biodiesel (CASTELLANELLI, 2008).
Segundo Suarez e Meneghetti (2007), o início da história do aproveitamento de óleos e
gorduras e seus derivados teve uma concretização no final do século XIX, quando o inventor do
motor a combustão interna, Rudolph Diesel, o qual leva seu nome, utilizou em seus ensaios
petróleo cru e óleo de amendoim. O alto custo de produção de sementes desde aquela época foi
uma dificuldade para utilização do motor Diesel. (SILVA E FREITAS, 2008).A figura 1 apresenta a
posição do Brasil perante a produção mundial de biodiesel em bilhões de litros por ano, segundo
o Relatório da Rede de Políticas de Energias Renováveis (REN 21) no ano de 2016.
Figura 1 - Produção Mundial de Biodiesel em 2016. Fonte: REN, 2016.
Histórico de Biodiesel no Brasil
Uma análise da evolução dos biocombustíveis no Brasil é necessária, para compreender
como se estabeleceu e desenvolveu esse setor em nível nacional.Os primeiros registros do
interesse do Brasil por biodiesel ocorrem ainda na década de 1920, quando o Instituto Nacional
de Tecnologia testava combustíveis alternativos e renováveis. (SUAREZ E MENEGHETTI, 2007).
O uso de óleos vegetais puros em motores diesel também foi objeto de estudo,
ocasionando inclusive a proibição da exportação deste produto a fim de forçar uma queda no
preço e viabilizar o seu uso em locomotivas. Além desse estudo e do uso de óleos in natura,
houve no país, durante a década de 1940, relato de utilização da reação de craqueamento, mas
não há conhecimento se alguém tentou usar o processo de transesterificação (SUAREZ, 2015).
Na década de 1960, uma experiência partiria da iniciativa privada, mais propriamente das
indústrias Matarazzo. O grupo buscava produzir óleo comestível a partir dos grãos de café. Para
lavar o café de forma a retirar suas impurezas, impróprias para o consumo humano foi usada o
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álcool da cana-de-açúcar. A reação entre o álcool e o óleo de café resultou na liberação de
glicerina, redundando em éster etílico, ou seja, Biodiesel(CAMPOS, 2009).
Com a crise do petróleo, porém, surgi a primeira grande iniciativa governamental de
incentivo ao diesel de origem orgânica, é o Pró-Óleo (Plano de Produção de Óleos Vegetais para
Fins Energéticos), nascido em 1975. “Seu objetivo era gerar excedentes de óleo vegetal que
tornassem seus custos de produção competitivos com os do petróleo. Previa-se uma mistura de
30% de óleo vegetal ao óleo diesel, com perspectivas de sua substituição integral em longo
prazo”. No entanto, com a queda do preço do petróleo, o Pró-Óleo foi abandonado em
1986(CAMPOS, 2009).
Somente no final da década de 1990 o Biodiesel entrou novamente em pauta com a
crescente preocupação com os efeitos climáticos da queima de combustíveis fósseis e com a
crise mundial instalada no oriente médio, agravada em 2001, e com a real possibilidade de
esgotamento das fontes de petróleo. Após diversos estudos coordenados pelo então Ministério de
Ciência e Tecnologia (MCT), o governo federal lançou o Programa Brasileiro de Desenvolvimento
Tecnológico de Biodiesel (Probiodiesel) pela Portaria MCT Nº 702, de 30 de outubro de 2002.Em
2003, foi acrescentada a questão da inclusão social na produção de biodiesel e alterado o nome
para Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), sendo o biocombustível
finalmente inserido na matriz energética brasileira pela Lei Federal Nº 11097 de 13 de janeiro de
2005 (RACHED, 2012).
Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel - PNPB
O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) foi introduzido em 2004
para incentivar o uso do biodiesel em conjunto com o diesel mineral. Ao contrário do Programa
Nacional do Álcool (PROÁCOOL), associado à monocultura da cana-de-açúcar cultivada em
grandes propriedades, o PNPB buscou promover uma base mais diversificada de matérias-primas
e a inclusão e o desenvolvimento social de pequenos agricultores (MENDES e COSTA, 2010).
A estratégia de inclusão de pequenos agricultores na base produtiva do PNPB se deu por
meio da criação do selo combustível social, certificação gerida pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário. Para conseguir o selo, a usina deve comprar uma quantidade mínima
da matéria-prima proveniente de agricultores ou cooperativas que possuem declaração de
aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, fornecer serviços de
assistência técnica e desenvolver programas de capacitação.
Uma das matérias-primas que se encaixam na proposta de inclusão social do PNPB é a
mamona. Segundo César e Batalha (2011), o governo federal escolheu essa cultura como
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estratégica no contexto do PNPB, uma vez que apresenta baixo custo de implantação e
produção, adequação às condições climáticas do semiárido, sendo apta a ser produzida em
grande parte do Nordeste brasileiro.
Ademais, esses autores indicaram que a mamona é uma cultura mão de obra intensiva, o
que implica maior geração de renda dado o maior nível de emprego rural temporário. Assim,
considerando o fato de o Nordeste concentrar boa parte da pobreza rural no Brasil e ser uma área
de clima semiárido, a mamona seria ideal para o cumprimento dos objetivos do PNPB (SCHOLZ
e SILVA, 2008).
Contudo as regiões Nordeste e Norte desde o inicio do PNPB até o de 2017 apresenta
dados de produção de biodiesel baixos se comparado com as demais regiões. Isso mostra um
descompasso em relação à proposta do programa. A falta de variedade de oleaginosas e os
resultados dos certames sinalizam para a tendência concentradora dos grandes grupos de capital
nacional e estrangeiro voltados para a soja (principal matéria-prima para a produção do
combustível em questão) e a inserção de grupos mais organizados de agricultores familiares na
cadeia produtiva (CASTRO, 2011).
O Brasil, por ser detentor de uma grande extensão territorial, apresenta uma ampla
diversidade de matérias-primas para a produção de biodiesel, como a soja, o girassol, a mamona,
o milho, o pinhão-manso, o caroço de algodão, a canola, o babaçu, o buriti, o dendê, a macaúba
e o amendoim, além das de origem animal como o sebo bovino e as gorduras de frango e de
suínos. Óleos de descarte, óleos de vísceras de peixes e óleos usados para cocção de alimentos
(óleo de fritura) também são utilizados como matérias-primas alternativas (RACHED, 2012).
As oleaginosas são plantas que contém um alto teor de óleo, tanto a partir de suas
sementes (soja, colza/canola, girassol) como a partir de seus frutos (palma, babaçu, coco),
podendo ser utilizadas para a produção de óleo vegetal. Outra característica importante de
algumas dessas plantas é o fato de que após a extração do óleo, os subprodutos podem ser
utilizados para diferentes aplicações(PARENTE, 2003). No Brasil, com o modelo adotado para o
desenvolvimento do Programa Biodiesel, a cadeia de produção desse biocombustível utiliza como
principal matéria-prima espécies oleaginosas. A diversidade de culturas agrícolas (oleaginosas) a
serem empregadas é grande e varia conforme as características de cada região ou Estado
brasileiro (MENDES e COSTA, 2010).
Segundo Câmara (2006), as diferentes matérias-primas podem ser divididas por classes de
fontes renováveis: a) Óleos vegetais: líquidos à temperatura ambiente, como os óleos de soja,
algodão, amendoim, babaçu, canola, dendê, girassol, mamona; b) Gorduras animais: pastosas ou
sólidas à temperatura ambiente, como o sebo bovino, óleo de peixe, banha de porco, óleo de
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mocotó;c) Óleos e gorduras residuais: matérias-primas relacionadas ao meio urbano, como óleos
residuais originários de cozinhas domésticas e industriais (óleo de fritura); gordura sobrenadante
(escuma) de esgoto; óleos residuais de processamentos industriais
A região que mais produz biodiesel a partir do óleo de soja é o Centro-Oeste,
principalmente o estado de Mato-Grosso (ANP, 2017).O óleo de soja surgiu como um subproduto
do processamento do farelo de soja e tornou-se um dos líderes mundiais no mercado de óleos
vegetais. Pela importância que o agronegócio da soja representa para o mercado brasileiro, é
relativamente fácil identificar que essa oleaginosa detém o maior potencial para servir como
paradigma no desenvolvimento de um programa nacional de biodiesel. Houve um aumento
significativo da produção de biodiesel a partir da gordura bovina, isto baseado em dados da ANP,
sendo atualmente a segunda matéria-prima mais utilizada para produzir Biodiesel.Segundo
Freitas (2016) “A utilização do sebo bovino como matéria-prima para a produção do biodiesel
apresenta alguns benefícios, mostrando uma forma melhor de destinação para os resíduos
oriundos do abate de animais, como também transformando esses resíduos em fonte de energia
limpa”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Produção de Biodiesel em nível Nacional
A produção de Biodiesel, tanto no âmbito nacional como internacional, vem crescendo
cada vez mais. Após o lançamento do PNPB, o programa alavancou o número de investimentos
privados no setor de biodiesel em praticamente todo o Brasil e o mercado brasileiro deste
biocombustível deixou de ser quase inexistente para figurar entre os maiores do mundo
juntamente com Estados Unidos e Alemanha (EIA, 2015). A Figura 2apresenta dados do
crescimento da produção de biodiesel no Brasil desde 2007 até 2017 meses de JaneiroaMaio.
Figura 2 - Gráfico da evolução da produção de biodiesel (m3) no Brasil.
Fonte: ANP, 2017.
Após o lançamento do PNPB, em 2007 a produção de Biodiesel foi de aproximadamente
404.329 m3, e os próximos anos até 2015 a produção aumentou consideravelmente de um ano
Mil
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3
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para o outro.A Figura 3 apresenta dados precisos da produção de Biodiesel por região no ano de
2007.
Figura 3. Gráfico da produção de biodiesel (m3) por região em 2007.
Fonte: ANP, 2017.
Em 2007 a região Nordeste liderou a produção de Biodiesel no Brasil e totalizou um
número de 172.200 m3. Em segundo lugar a região Centro-Oeste com 125.808 m3, Sul com
42.708, Sudeste 37.023 e Norte 26.589 m3.A primeira fábrica de produção de biodiesel da
Petrobras foi instalada no Polo Industrial de Guamaré, a 160 quilômetros de Natal, no Rio Grande
do Norte. Seguindo os objetivos do PNPB produzia biodiesel em fase experimental a partir do
óleo da mamona.Enquanto afigura 4 apresenta dados da produção de Biodiesel em 2008.
Figura 4. Produção de Biodiesel (m3) por região em 2008.
Fonte: ANP, 2017
De acordo com a ANP (2017) a partir de 2008 a produção de Biodiesel por região está
centralizada na região Centro-Oeste em virtude desta concentrar o cultivo da soja que é a
principal matéria-prima para produção de Biodiesel.A Figura 4apresenta dados da produção de
Biodiesel no ano de 2017 entre os meses de janeiroàmaio em nível Nacional.
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Figura 5. Gráfico da produção de Biodiesel (m3) por região no ano de 2017.
Fonte: ANP, 2017.
Em 2017 entre os meses de janeiro a maio, a maior produção de Biodiesel advém da
região Centro-Oeste, produzindo cerca de 715.076 m3. A Região Sul produziu 643.411 m3,
seguida da região Sudeste 107.818 m3, Nordeste com 98.618 m3 e região Norte com 2.219 m3.A
região Nordeste que em 2007 liderava a produção de biodiesel B100, neste ano de 2017 diminuiu
consideravelmente, e isto pode ser observado desde 2008. Segundo Lins (2009) desde 2008 a
tendência da produção de biodiesel é de forte concentração na região Centro–Oeste, isto está
relacionado à grande disponibilidade de matérias–primas (óleo de soja e gordura bovina) e da sua
maior capacidade instalada da ordem de 1,2 bilhão de litros de biodiesel por ano.
Matérias-primas em nível nacional A Figura 6 apresenta as principais matérias-primas utilizadas para produção de Biodiesel
no ano de 2007.
Figura 6. Gráfico das matérias-primas no Brasil em 2007 (m
3) no Brasil.
Fonte: ANP, 2007.
No cenário brasileiro destaca-se o uso da soja para produção de biodiesel. Segundo
Mendes e Costa (2010), isso se deve ao fato de que quando o programa de incentivo ao biodiesel
foi lançado, o setor da soja era o que se encontrava melhor preparado, mais consolidado e com
m3
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alto desempenho para atender o mercado consumidor.A figura 7a seguir, apresenta as principais
matérias-primas para produção de biodiesel neste ano de 2017.
Figura 7. Gráfico das Matérias-primas em 2017 (m
3) no Brasil.
Fonte: ANP, 2017.
A soja permanece é a principal fonte para produção de biodiesel, seguido da gordura
bovina que teve um crescimento considerável durante esses anos de 2007 a 2017.A produção de
biodiesel a partir do óleo de soja foi de 2.203.578 m3, Gorduras animais(sebo bovino, óleo de
frango e de porco) foi de 508.657 m3, óleo de fritura foi de 38.746 m3 e o de algodão 4.548 m3.O
fato da competição direta com o ramo alimentício é o que evidencia à atual queda da utilização da
soja como matéria-prima para a produção de biodiesel. Muitos agricultores tem preferido a venda
da soja à outros setores do que as indústrias produtoras de biodiesel, devido ao melhor valor
agregado a tonelada da soja.
Matérias-primas por Região
Cada cultura, isto é, cada matéria-prima desenvolve-se melhor dependendo das condições
de solo, clima, altitude e assim por diante. E esses fatores dependem de cada região. Um dos
principais objetivos do PNPB é a diversificação da matéria-prima para produção de Biodiesel, em
decorrência disso, estabeleceram-se ainda no ano de 2005 as oleaginosas características de
cada região. A Tabela 4 apresenta as oleaginosas estabelecidas pelo PNPB para cada região e
as matérias-primas desse ano de 2017.
Região Matérias-primas segundo o PNPB
Matérias-primas em 2017
Nordeste Mamona, babaçu Óleo de soja, gordura bovina, óleo de algodão, óleo de palma e dendê.
Norte Dendê Gordura bovina Centro-Oeste
Óleo de soja Óleo de soja, gordura bovina, óleo de algodão, óleo de frango, óleo de porco e óleo de fritura usado.
Sudeste Amendoim, girassol Gordura bovina, óleo de soja, óleo de fritura usado, gordura de frango, gordura de porco.
Sul Canola, girassol Óleo de soja, gordura bovina, óleo de fritura usado, gordura de porco e frango e óleo de palma.
Tabela 1. Oleaginosas para produção de Biodiesel. Fonte:EMBRAPA, 2017.
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Entre as várias espécies de oleaginosas disponíveis para a produção de biodiesel a
mamona (Ricinuscommunis) foi eleita como a oleaginosa ideal para promover o desenvolvimento
social no Nordeste. O baixo custo de implantação e produção dessa oleaginosa, bem como sua
relativa resistência ao estresse hídrico, permite que a mamoneira se desenvolva em condições
adversas de solo e clima, condições características de grande parte do Nordeste brasileiro.
Contudo, o interesse do governo federal pela mamona não se traduziu em números
efetivos, uma vez que dados da ANP indicam que mais de 80% da matéria-prima utilizada para a
produção do biodiesel é o óleo de soja, enquanto a parcela referente à mamona é nula. Contribui
para essa parcela nula o fato de o óleo de mamona apresentar diversos usos na indústria química
fina, o que não torna a mamona uma alternativa custo-efetiva para a produção de biodiesel
(GONÇALVES, FAVARETO e ABRAMOVAY, 2013).
CONCLUSÃO
A principal matéria-prima para produzir Biodiesel desde 2007 até este ano de 2017
continua sendo o óleo de soja. Contudo houve uma diversificação da matéria-prima, ainda que
em números não expressivos, pois a gordura bovina aumentou durante esses anos e o óleo de
fritura.O Centro-Oeste é a região onde se concentra a maior produção de óleo de soja no país,
isto porque apresenta grande potencial para a cultura de soja. A partir dos trabalhos científicos
selecionados o estudo das análises físico-químicas da matéria a ser utilizada foram o óleo de soja
e gordura bovina e apresentaram resultados satisfatórios obedecendo as normas da ANVISA.
Somente o Índice de Peróxido no óleo de fritura não ficou dentro dos padrões.
Concluiu-se que a soja tem importância na constituição dos preços, isto porque esta é a
maior fonte de biodiesel segundo dados da ANP. Esse predomínio, aliado ao fato de se constituir
em um produto extremamente relevante no mercado brasileiro, torna a soja a matéria-prima de
referência, tanto pelo valor em grão, como pelo preço do óleo.E que os estudo dos testes de
eficiência de biodiesel ao diesel comprova a aplicabilidade desse biocombustível que se adequa
aos motores de ciclo-diesel não causando prejuízos ao mesmo, e traz benefícios ao meio
ambiente com a diminuição de emissão de hidrocarbonetos, partículas de enxofre e dióxidos de
nitrogênio.
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SUBSÍDIOS PARA COMPREENSÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA OBRA “OS SERTÕES” DE EUCLIDES DA CUNHA
Danusia Renata Lima do Nascimento1 Siara Silva Ramalho2 Suzi Silva Ramalho3
Tiago Caminha de Lima4
RESUMO: A compreensão das múltiplas dinâmicas que ocorrem no espaço geográfico exige um diálogo interdisciplinar e de caráter holístico dessa realidade complexa inserida e indispensável para o conhecimento. Na relação entre Geografia e Literatura observa-se a valorização e a inter-relação do espaço geográfico como experiência do homem no mundo vivido. Além de poder situa-lo em sua condição a partir do momento em que o mesmo se apropria do mundo, seja por experiências, seja por sentimentos.A Geografia Agrária busca compreender as questões referentes ao espaço agrário e agrícola, tanto inerentes à ocupação e modificação do espaço, quanto à luta em meio aos movimentos sociais, possui um leque de caminhos a serem abordados. O presente artigo possui como objetivo geral analisar os subsídios presentes na obra literária Os Sertões, que revelam a presença de movimentos sociais no campo, tendo como base o movimento de Canudos, levando em consideração a complexidade dos fatos em meio seu contexto histórico.A modalidade da pesquisa utilizada foi pesquisa qualitativa, por compreender que o espaço natural é fonte direta de informações e que o pesquisador é a fundamental ferramenta o objeto e o sujeito. Para o desenvolvimento deste estudo considerou-se como metodologia o delineamento bibliográfico, pois, ao se tratar de pesquisa a reflexão teórica é fundamental principalmente quando se encontra agregados a elementos que inclui a utilização de inúmeras técnicas de pesquisas. Conclui-se que foram apresentados subsídios que foram à base teórica para entendermos de forma mais abrangente a obra “Os Sertões”, que notoriamente alimentou requisitos de uma civilização agrária, com movimentos de lutas por posse de terra, traçando questões sociais, econômicas, culturais e até mesmo religiosas. Existe um consenso levantado pela obra, com reflexões nas quais se destaca muito bem o histórico da sociedade que lutou drasticamente pela democratização do acesso a terra, sendo persistentes para tomar atitudes diante do governo. Palavras-chave: Geografia e Literatura. Geografia Agrária.Movimentos Sociais. Conflito de Canudos.
INTRODUÇÃO
A Geografia é uma ciência que compreende uma multiplicidade de áreas do conhecimento,
haja vista seu caráter interdisciplinar, desta forma, muitos geógrafos encontram em outras áreas,
1 Acadêmica do curso de Licenciatura Plena em Geografia – Centro de Estudos Superiores de Caxias - Universidade
Estadual do Maranhão - CESC/UEMA. E-mail: 2 Acadêmica do curso de Licenciatura Plena em Geografia – Centro de Estudos Superiores de Caxias - Universidade
Estadual do Maranhão - CESC/UEMA. E-mail: [email protected] 3Licenciada do curso de Licenciatura em Química – Instituto Federal Educação, Ciência e Tecnologia –
IFMA/Campus Caxias. E-mail: [email protected] 4 Professor substituto do curso de Licenciatura Plena em Geografia - Centro de Estudos Superiores de Caxias -
Universidade Estadual do Maranhão - CESC/UEMA. E-mail: [email protected]
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meios para compreender e investigar realidades de cunho geográfico presentes em outros
contextos.
Percebe-se que algumas obrasda literatura como:Casa-Grande & Senzala,Grande
Sertão Veredas, Os Sertões, entre outras, queevidenciam conteúdos que são de interesses
geográficos, em especial inerentes àGeografia Agrária. Esta carrega em si uma série de questões
de cunho físico e social, onde abrange os confrontos sociais presentes no campo, assim como as
inúmeras variantes existentes no meio rural. Neste contexto, utiliza-se como referência a obra Os
Sertões de Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, haja vista que a mesma descreve um
movimento coletivo. Portanto, percebe-se que o movimento de Canudos buscava alcançar
mudanças sociais, política e econômicas.
Logo, o objetivo do presente artigo éanalisar os subsídios presentes na obra Os
Sertõesque retratam os movimentos sociais no campo, revelando a presença da Geografia
Agrária na Literatura.A modalidade da pesquisa utilizada foi pesquisa qualitativa, por
compreender que o espaço natural é fonte direta de informações e que o pesquisador é a
fundamental ferramenta o objeto e o sujeito.
Para o desenvolvimento deste estudo considerou-se como metodologia o delineamento
bibliográfico, pois, ao se tratar de pesquisa a reflexão teórica é fundamental principalmente
quando se encontra agregados a elementos que inclui a utilização de inúmeras técnicas de
pesquisas.Gil (2009) destaca que sua fundamental vantagem da pesquisa bibliográfica reside no
fato de permitir ao investigante a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que
aquela que poderia pesquisar diretamente. Posteriormente a escolha da metodologia a ser
seguida, realizou-se levantamento e leitura de documentos e leis federais, estaduais e municipais
concernente à temática estudada.
Para Fonseca (2002) o homem é por natureza um animal curioso, ao nascer interage com
a natureza e os objetos a sua volta, analisando o universo a partir das referências sociais e
culturais do meio em que vive, apropria-se do conhecimento através das intuições, que os seres e
os fenômenos lhe transmitem, fazendo das mesmas peças fundamentais para as elaborações de
conceitos.
GEOGRAFIA AGRÁRIA: FUNDAMENTOS E ASPECTOS BÁSICOS
Algumas interpretações a respeito da Geografia Agrária partem do pressuposto dos
estudos da história do pensamento geográfico que deram início aos primórdios do estudo agrário
edo campo, pois apresentam influências de importantes geógrafos que buscaram intensificar seus
estudos por meio da Geografia Humana.
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Para Suzuki (2011) até a Segunda Guerra Mundial o que foi produzido é somente
Geografia Humana e não uma Geografia Agrária, de tal forma que, para este autor, ainda não há
um campo de saber assim definido como Geografia Agrária. No entanto, o homem e o meio
passam a ser enfoque principal para reflexões de como se procede àsquestões agrárias que se
intensificaram fortemente só após o surgimento dos movimentos agrários no mundo rural por
volta da década de 1960.
Não há dúvidas de que as ocorrências que aconteceram no campo provêm de processos já
elaborados nos planos políticos que afetaram e despertaram esse lado mais perceptivo e
abrangente dos trabalhadores e proprietários de terras, que até então não tinham conhecimento
do que produziam e nem do valor que cabia a produção, só após técnicas desenvolvidas no
campo, passaram ter noção e crescer na própria produção, consequentemente tirando o foco
econômico das grandes cidades, para o mundo rural.
No entanto, foi um processo longo e duradouro até que chegasse ao fatodo campo ter
conhecimento no ponto de vista econômico. Tendo em vista que os movimentos sociais se dão na
resolução de problemas sociais, de toda uma dinâmica construída ao longo do tempo, resultado
da própria iniciativa, persistência e adaptação da população do campo. Desse modo, é
necessárioentender o que Alves e Ferreira (2011, p.11) tentaram expressar que:
O espaço rural foi altamente alterado com esse incremento de tecnologias e aaproximação das relações industriais em boa parte do campo brasileiro, mas estamudança vem sendo realizada paulatinamente desde a década de 1960, sendoacelerada pós 1990. Nesse sentido, as temáticas sobre a relação campo e cidadeou urbanização do campo vem ganhando força no discurso geográfico brasileiro.
No que se refere aos princípios e a base da Geografia Agrária, eventualmente verifica-se
para uma gama de fatores e bases de auxílio metodológico. A questão espaço/tempo é uma
característica importante da análise geográfica e passa pelo entendimento de como o homem
reagiu e vem reagindo às influências da natureza ao longo do tempo.Em relação ao conceito de
Espaço, segundo Carlos (2007, p. 14), “cada vez mais o espaço se constitui numa articulação
entre o local e o mundial, visto que, hoje, o processo dereprodução das relações sociais dá-se
fora das fronteiras do lugar específico até a pouco vigente”. No espaço, se encontram a brecha
objetiva (socioeconômica) e a brecha subjetiva(poética). Também se inscrevem e se realizam as
diferenças. Santos (1994, p. 104) discorreque este:
[...] é um sistema de valores que se transforma permanentemente. O espaçouno e múltiplo, por suas diversas parcelas, e através do seu uso, é um conjunto de mercadorias, cujo valor individual é função do valor que a sociedade, em um dado
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momento, atribui a cada pedaço de matéria, isto quer dizer que o espaço é a sociedade.
Nesse sentindo, observa-se que o espaço é apreendido como uma acumulação desigualde
tempos. Nele, inclui-se: a dimensão histórica, no alcance em que se concentra no tempopresente;
o local, onde o “aqui” (espaço – Geografia) se encontra com o “agora” (tempo –História), sendo
no presente, em que a Geografia e a Literatura cooperam no sentido de suscitaruma consciência
crítica voltada à condição humana de estar no mundo.
O CONTEXTO HISTÓRICO DA GEOGRAFIA AGRÁRIA BRASILEIRA
Para melhor compreender a históriada Geografia Agrária no Brasil é de tamanha
importância analisar a agricultura no cenário brasileiro, conhecer a superfície, detectar os
problemas mais agravantes, conhecer a produção, o cultivo, bem as suasTécnicas utilizadas. Por
outro lado, a agricultura por muito tempo foi e ainda é uma atividade econômica de subsistência
do homem do campo, não sendo somente a única atividade que se desenvolveu por muito tempo
no Brasil, mas o extrativismo vegetal e a pescasão marcas de uma civilização agrária que
também se estendeupelo Brasil até os dias de hoje.
Muitos autores contribuíram para o avanço da Geografia Agrária no Brasil, uns dos mais
criteriosos foram Pierre Monbeig,Leo waibel,Orlando Valverde, como alguns famosos Gilberto
Freire, Caio Prado Junior e Sérgio Buarque de Holanda, que propuseram um estudo mais
dinâmico da realidade nacional, abrangendo o campo e suas relações. Neste contexto, énotório
como a Geografia Agrária no Brasil sofreu influências da própria situação vivida, até então muitos
geógrafos desenvolveram esses métodos assimilando na medida do possível com a discussão e
a sistematização teórica desse campo de conhecimento, dentro da Geografia.
Ainda na perspectiva da agricultura, foi preciso definir um campo específico da Geografia
Agrária por conta de uma hegemonia que a mesma apresentava logo a questão agrícola se
intensificava dentro do país, o que contribuiu para o destaque do Brasil no setor agrícola sendo
requisitado por diversos países.
[...] É importante salientar que, durante o período colonial, a produção familiar, mesmo que ocupando um lugar subalterno na sociedade brasileira, teve uma grande importância para o Brasil naquela época, pois, enquanto as grandes propriedades estavam preocupadas em produzir açúcar para o mercado internacional, os produtores familiares produziam os produtos alimentícios (feijão, mandioca, milho, etc.) necessários à alimentação da população (MARTINS, 1997, p.12).
Segundo Martins (1997, p.12) a Geografia Agrária surge com seus pressupostos só então
no século XIX “surge à questão agrária quando a propriedade da terra, ao invés de ser
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atenuadapara viabilizar o livre fluxo e reprodução do capital, é enrijecida para viabilizar a sujeição
do trabalhador livre ao capital proprietário de terra”.Vale ressaltar um dos geógrafos de maior
importância na história da Geografia Agrária brasileira, Pierre Monbeig, que teve por influência em
seus estudos Albert Demangeon, que seguia pressupostos teóricos e sistematizados de Vidal de
La Blache, sendo que noBrasil ele desenvolveu seus maiores trabalhos científico, e teoricamente
seus estudos eram regionais relacionados ao desenvolvimento no campo.
ESPAÇO RURAL: MOVIMENTOS SOCIAIS
No presente estudo, é importante enfocar os movimentos agrários emitentes no Brasil.
Esta reflexão de cunho teórico para muitos é entendida como algo acabado e superado, o que na
realidade ainda persiste com menor destaque, mas ainda há indícios onde comprovam que os
movimentos agrários de fato não estão acabados.Inicialmente, faz-se uma análise do contexto
histórico das lutas de classe do qual a população se organizava em forma de protesto, formando
os chamados movimentos sociais do campo. Esses movimentos se constituíram nas lutas
constantes pela terra, nos conflitos armados e pelos trabalhadores sem terra.
Os principais movimentos se deram por volta do período colonial (século XVI ao XIX). No
século XX destaca-se movimento das ligas camponesas e o movimento dosTrabalhadores Rurais
Sem-Terra (MST) já na década de 1980.É visto que o primeiro movimento surgido „‟As ligas
camponesas‟‟ teve embasamento logo após o período da ditadura militar no país. "Através da
militarização, o governo tenta controlar e domesticar o demônio político que ele libertou com a
sua política agrária e econômica" (MARTINS, 1984, p. 15).
Com a multiplicidade que os fatos foram sucedendo resultou em conflitos propriamente
ditos como marcos da história dos movimentos sociais brasileiros. Vale então ressaltar a mais
marcante e extensa luta agráriaocorrida no Brasil,Guerra de Canudos que expunha o contexto
histórico politicamente de cenários, condições de atraso político e social da enorme massa
popular. Mais precisamente o confronto armado entre o exército e a população da comunidade de
Canudos na região do interior da Bahia, de base religiosa liderado por Antônio Conselheiro. Entre
as revoltas que se deram no Brasil Canudos foi a mais célebre, havendo então a necessidade da
narrativa intitulada obra „‟Os Sertões‟‟ de Euclides da Cunha, obra lançada em 1902 que fez
grande sucesso nos meios literários brasileiros.
GEOGRAFIA E LITERATURA: DIÁLOGO INTERDISCIPLINAR
Na tentativa de descrever e entender a realidade, a Geografia tem chamado a atenção de
outras áreas do conhecimento, em especial da literatura. Muitos geógrafos têm procurado na
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Literatura questões referentes à regiões, lugares e paisagens, para sua melhor compreensão,
tendo em vista que a literatura é um campo que não se limita apenas a descrição de uma
paisagem ou lugar, ela remete uma sensação de pertencimento e realidade, capaz de expressar
o que é sentido ou pensado, estabelecendo uma relação entre o homem, a terra e os sentimentos
escondidos atrás de uma obra. Como afirma Tissier (1991, p. 237):
A literatura é o grande depositário das relações como discursos ou como vínculos estabelecidos entre o homem e a terra. A obra faz do objeto uma leitura existencial que se liga aos enunciados que exprimem qualidade, a variedade, a generalidade dos sentimentos, das representações, das imagens que se elaboram entre o homem e o mundo.
Na relação entre Geografia e Literatura observa-se a valorização e a inter-relação do
espaço geográfico como experiência do homem no mundo vivido, além de situarmos sua
condição a partir do momento em que o mesmo se apropria do mundo, seja por experiências e
sentimentos. Fernandes (2012) destaca que as inter-relações entre Geografia e Literatura
ganharam renome, força e profundidade no mundo acadêmico quando da renovação e
repaginação dos fundamentos teórico-metodológicos. E, nesse ganho de forças, com o estudo da
Literatura abre-se um leque de relações e informações a respeito da dicotomia entre Geografia
Física e Geografia Humana, mostrando que essas duas vertentes geográficas estão interligadas.
Esse estudo com a literatura se torna cada vez mais necessário, pois este saber possui
um ideal subjetivo na caracterização do espaço geográfico, em que o ser humano está presente.
Esta análise, caracterizado nas obras literárias, articula-se na relação homem e o meio. Nessa
conjuntura, Marandola Junior e Oliveira (2009, p.488) afirmam que:
A ciência geográfica centrada no espaço possui conceitos e um método próprio que produz um discurso sobre o espaço que se abre ao diálogo interdisciplinar. Por esta via, muito tem se discutido a partir das noções de território, lugar, paisagem e região, tanto em sentido conceitual quanto metafórico.
Na construção da relação entre Ciência e a Arte são verificadas as singularidades
presentes nos objetivos, mas objetos diferenciados por parte de cada uma, assim pode-se
verificar e desvendar o mundo contribuindo nossa compreensão sobre ele. Ressalta Monteiro
(2002) que a Literatura através de suas obras possui como proposta favorecer uma visão
particular do mundo que de nenhum modo a criação literária substitua a Geografia e sim que
considere como uma complementação enriquecedora.A ciência geográfica tem a função de
proporcionar a arte literária os elementos específicos para a organização dos fatos, partindo do
espaço onde tudo acontece, a identificação e características do lugar, as técnicas oferecidas ao
meio, relação entre indivíduos, leitura da paisagem, além da cronologia entre espaço e tempo.
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Na tentativa de descrever e entender a realidade, a Geografia tem chamado a atenção de
outras áreas do conhecimento, em especial da literatura. Muitos geógrafos têm procurado na
Literatura questões referentes à regiões, lugares e paisagens, para sua melhor compreensão,
tendo em vista que a literatura é um campo que não se limita apenas a descrição de uma
paisagem ou lugar, ela remete uma sensação de pertencimento e realidade, capaz de expressar
o que é sentido ou pensado, estabelecendo uma relação entre o homem, a terra e os sentimentos
escondidos atrás de uma obra.
Uma das abordagens muito utilizada na literatura em junção com a geografia está situada
no campo da Geografia Cultural, que é responsável por entender as relações humanas em meio à
cultura, religião, economia e política dentro da organização espacial. Desta forma, a leitura e
interpretação de obras literárias, para o geógrafo humanístico e até mesmo físico, se transformam
em um objeto de investigação, tendo em vista que em diversas obras relatam inúmeras
características econômicas, culturais, históricas, assim como estilos de vida e aspectos naturais
de determinada região.
Essa perspectiva se revela na já citada obra Os sertões, obra na qual descreve em
detalhes como foi a Guerra de Canudos, e também relata aspectos naturais provenientes do
sertão, peculiaridades em meio a seca, características do povo sertanejo, bem como seus estilos
de vida e sua religiosidade, que se revela de forma marcante e muito representada pela figura do
líder Antônio Conselheiro. A obra mostra de fato essa relação da literatura e geografia, pois é
caracterizado tanto pelo relato do meio geográfico do local, quanto pelo movimento social que a
mesma representa.
OS SERTÕES: “CANUDOS”
A Guerra de Canudos foi um movimento de cunho sócio religioso, ocorrido no interior da
Bahia, em uma região chamada Canudos, em decorrência de fatores provenientes à época.
Portanto, inicialmente é importante ressaltar o contexto histórico do período para melhor
compreensão do movimento.
Em decorrência da Proclamação da República realizada por Marechal Deodoro da
Fonseca, a monarquia no Brasil foi derrubada, por meio de um golpe republicano articulado pelas
forças armadas em parceira com o PRP (Partido Republicano Paulista), assim sendo implantada
uma nova ordem política no Brasil, porém, muitos problemas sociais como o desemprego, saúde
precária, desigualdade sociais já existentes na monarquia arrastaram-se também para a
república. No que se diz respeito ao sertão nordestino, onde foi o palco do movimento já citado, a
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situação continuou inalterada, a seca, a miséria, os problemas referentes à fome e moradia
perduraram, mesmo com a mudança de governo.
Neste mesmo período, irá aparecer uma série de figuras místicas, em decorrência de um
fenômeno muito comum da época chamado messianismo, onde era caracterizado pela figura de
líderes religiosos, que levavam pregações para população e acreditavam serem seres enviados
pelo divino para liderar o povo para salvação, e um destes líderes messiânicos veio se tornar o
principal protagonista da Guerra de Canudos, denominado Antônio Conselheiro.
O líder do movimento de canudos era um homem da época, que veio a se tornar um
andarilho, onde discursava em praças públicas conteúdos religiosos e salvacionistas, e atingia
seguidores que acreditavam nas suas ideias, e o seguiam almejando a salvação. Em parte, esses
episódios coincidiram com a queda da monarquia, e em decorrência da Constituição Republicana
de 1891, o Brasil adotou o estado laico, ou seja, o catolicismo deixou de ser a religião oficial,
diferentemente de como era na monarquia, portanto ouve uma separação entre a Igreja Estadano
Brasil, a Igrejaperdeu o controle que tinha sobre os registros das crianças, foi criado o casamento
civil, os cemitérios deixaram de ter uma exclusividade católica e passaram a ser cemitérios
seculares, sob controle do estado.
Antônio Conselheiro se fixou na localidade conhecida como Canudos e fundou um arraial
chamado Belo Monte, e seus seguidores atraídos pelo seu discurso começaram a migrar para o
local, o que tomou uma proporção não esperada, pois ex-escravos, indígenas, trabalhadores
braçais, mestiços e fugitivos da lei, buscavam abrigo em Canudos, em busca de moraria e
melhores condições de vida, assim eram confortados pelo discurso de Conselheiro. O que
incomodou diversas autoridades, a princípio da Bahia, depois em plano nacional, chegando até o
governo do Presidente Prudente de Morais, pois era de se estranhar que uma comunidade pobre,
sem oportunidades, viesse a projetar tanto alvoroço (CUNHA, 1991).
Sendo assim, a guerra propriamente dita foi impulsionada a partir da propagação de
notícias referentes a Antônio Conselheiro, onde diziam que o mesmo era um fanático monarquista
que tramava contra a República, o que foi encarado pelo governo como uma ameaça. Então por
conta desse discurso antirrepublicano que supostamente a cidade tinha, o governo decidiu enviar
expedições armadas a Canudos. Ao todo, ogoverno enviou quatro expedições armadas, onde
três obtiveram falha, mas na quarta expedição Canudos foi destruído pelas tropas enviadas pelo
governo, e toda a população foi morta.
É exatamente nesse contexto que entra a figura de Euclides da Cunha, que foi um
jornalista, enviado pelo jornal O Estado de São Paulo para cobrir a Guerra de Canudos, e relatar
o que ali acontecera. Euclides presenciou a guerra e esteve presente no sertão nordestino, onde
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teve a oportunidade de descrever cada detalhe daquela experiência, escrevendo a obra Os
Sertões. O livro é permeado pelo determinismo, onde defendia que o meio, a raça e o momento
histórico determinava o homem, ou seja, o homem seria condicionado por fatores anteriores a ele,
por este motivo, Euclides se dirige ao sertão com esse pensamento, já que este se deslocava de
um Brasil litorâneo representado por valores de uma elite republicana, se dirigindo para aquela
parte árida e desértica do país, que até então era inexistente para o litoral.
O livro foi dividido em três partes, são elas: A terra, o homem e a luta. Que inicialmente,
como já foi dito, é escrito influenciado pelo pensamento advindo do litoral, onde se acreditava que
aquele homem do sertão seria determinado pelo clima e pela sua miscigenação, mas de acordo
com convivência de Euclides naquela região, ele acaba percebendo que por trás daquele
sertanejo pobre, existia também muita bravura.
A primeira parte da obra denominada, A terra, trata-se da descrição dos aspectos físicosda
região.O autor descreve sobre o clima, a fauna, a flora, a vegetação e o relevo, em detalhes,
descrevendo demais aspectos naturais, relatando sobre a existência de algumas plantas
características da região, assim como peculiaridades da caatinga e da seca, desde a entrada no
sertão. Como destaca o trecho:
Varada a estreita faixa de cerrados, que perlongam aquele último rio, está-se em pleno agreste, no dizer expressivo dos matutos: arbúsculos quase sem pega sobre a terra escassa, enredados de esgalhos de onde irrompem solitários, cereus rígidos e salientes, dando ao conjunto à aparência de uma margem de desertos. E o facies daquele sertão inóspito vai-se esboçando, lenta e impressionadoramente. (CUNHA, 1991, p.12).
A segunda parte, O homem, revela relatos sobre o próprio homem, sobre os jagunços,
vaqueiros e cangaceiros da região, assim como os costumes e devoção daquele povo. No trecho
fica explícito a seca presente naquela região, revelando a simplicidade e o drama vivenciado pelo
povo, evidenciados pela pobreza e pelas poucas condições existentes. Todos esses aspectos de
cunho geográfico e social foram percebidos utilizando um método baseado em pesquisas
documentais, através da análise desta obra literária, sendo o principal instrumento para
realização do trabalho.
Na plenitude das secas são positivamente o deserto. Mas quando estas não se prolongam ao ponto de originarem penosíssimos êxodos, o homem luta como as árvores, com as reservas armazenadas nos dias de abastança e, neste combate feroz, anônimo, terrivelmente obscuro, afogado na solidão das chapadas, a natureza não o abandona de todo. Ampara-o muito além das horas de desesperança, que acompanham o esgotamento das últimas cacimbas (CUNHA, 1991, p.37).
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E por fim, a última parte do livro, denominada, A luta, descreve a guerra de Canudos, onde
Euclides narra as quatro expedições realizadas pelo exército, e relata detalhes daquela luta. As
expedições deram-se início após um episódio desencadeado pela encomenda de uma remessa
de madeira para construção de uma igreja, madeira na qual não chega à Belo Monte,
ocasionando certa revolta em Antônio Conselheiro, o que gera rumores falsos, chegando a ser
relatado ao governo que aqueles sertanejos iriam buscar a madeira à força, portanto, é decido
mandar soldados em direção aquela região.
A primeira expedição foi liderada pelo Tenente Pires Ferreira, onde poucos homens foram
mandados à Canudos, não obtendo êxito. A segunda expedição tinha à sua frente o Major
Febrônio de Brito, com um número maior de soldados, mas também não tiveram sucesso. A
terceira expedição liderada pelo Coronel Moreira César, tinha o triplo de soldados, mas também
chega a falhar, pois como os sertanejos tinham mais conhecimento sobre a região, ganharam
vantagem sobre os soldados. Já na quarta e última expedição sob comando do General Artur
Oscar, foi recrutado milhares de soldados oriundos de diversas regiões do país, que incendiaram
o arraial e mataram toda a população existente.
Sendo assim, a Guerra de Canudos chega ao fim com a derrota dos sertanejos, mas
principalmente com a certeza da bravura daquele povo, que mesmo com poucas chances
resistiram até o final. Conclui-se então que, a Guerra de Canudos é classificada como um
movimento messiânico, de cunho social e popular, messiânico pelo fato de que seu líder julgava
ser enviado pelo divino para liderar as pessoas rumo uma vida melhor, e social por que essa
população não lutou apenas por interesses religiosos influenciados por Conselheiro, também
lutou pela pose de terra, contra a opressão dos coronéis daquela região, e principalmente por
uma vida mais digna, tendo em vista que este fato histórico ocorreu em um momento de transição
política, onde os problemas sociais da região Nordeste, e sua imensa população continuavam
excluídos e sem oportunidades em um governo republicano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho realizado teve por objetivo apresentar subsídios para compreensão dos
movimentos sociais, através da obra Os Sertões de Euclides da Cunha, que faz análiseda guerra
de canudos ocorrida no interior da Bahia, revelando de forma abrangente os aspectos do
pensamento geográfico, principal influenciador desta vertente, como de maior relevância no Brasil
nos de 1939 a 1960.
De fato, o propósito deste trabalho foi de apresentar subsídios para análise da obra Os
Sertões de Euclides da Cunhaque traz a baila à guerra de canudos como marco principal, como
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bem a importância da literatura com relação á Geografa tratando dos movimentos sociais, bem
como se deu a questão agrária no Brasil e seus impactos mais precisamente os movimentos
sociais centralizados no nordeste do país, representados pela literatura desenvolvida na obra „‟Os
sertões‟‟ de Euclides da Cunha, com bases que contém uma análise da Guerra de Canudos no
interior da Bahia. A análise geográfica feita aqui realça a dinâmica das transformações feitas no
espaço agrário durante esse movimento social, calcada nos ideais de um autor que representou
as mais diversas vertentes de um acontecimento.
Em termos gerais foram apresentadas como são ricas as possibilidades das análises de
uma obra literária na busca de conceitos e temas geográficos. A obra “Os Sertões” nos trouxe
uma abordagem genuinamente geográfica, quando retrata os movimentos sociais e as mais
diferentes perspectivas do homem do campo, suas lutas e ideais na busca por terra.Com base
em toda a contextualização da geografia agrária, literatura e movimentos sociais, foi possível
realçar aspectos da cultura, ações e posturas de um povo dentro de uma obra literária, repleta de
saberes que norteiam grande parte dos conceitos e saberes da geografia. Movimentos sociais,
lutas por terra, conflitos armados, construção de identidade e representação da paisagem, são só
algumas das ideias que fazem parte do livro “Os Sertões”.
REFERÊNCIAS
ALVES, Flamarion Dutra. & FERREIRA, Enéas Rente. Evolução e perspectiva da metodologia em Geografia Agrária. P 725-735. Seminário de pós-graduação em geografia da UNESP- Campus Rio Claro, v.7. Anais... Rio Claro: AGETEO, 2007. CARLOS, A. F. A. O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007. CUNHA, Euclides Da. Os Sertões. Rio de Janeiro: 35º ed. Francisco Alves Editora, 1991. FERNANDES, Marcos Aurélio. A Relação Cidade - Campo no Romance o MolequeRicardo de José Lins do Rego, 2012. 137f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federalda Paraíba, João Pessoa, 2012. GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2009 MARTINS, José de Souza. A questão agrária brasileira e o papel do MST. In: STÉDILE, João Pedro (org). A reforma agrária e a luta do MST. Petrópolis: Vozes, 1997. MARANDOLA JUNIOR, Eduardo; OLIVEIRA, Lívia de. Geograficidade eespacialidade naliteratura. Geografia, Rio Claro, v.34, n.3, p.487-508, set./dez. 2009. MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. O mapa e a trama: ensaios sobre o conteúdogeográficos em criações romanescas. Florianópolis: UFSC, 2002. PUMAIN. Denise (Sous la direction). Encyclopédie de Géographie. Paris: Economica, 1991.
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SUZUKI, Júlio César. C. Percursos teórico-metodológicos da Geografia Agrária brasileira: da formação à autonomia intelectual. In: Marcos Aurélio Saquet; Júlio César Suzuki; Glaucio Marafon. (Org.). Territorialidades e diversidade nos campos e nas cidades latino-americanas e francesas. 1 ed. São Paulo: Outras Expressões, 2011, v. 1, p. 23-40 SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo: Hucitec, 1994. TISSIER, J. Géographie et Litterature. In: BAILLY. Antoine; FERRAS.Robert.
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TURISMO NA MICRORREGIÃO DE SÃO RAIMUNDO NONATO: MEIOS DE HOSPEDAGEM, HOTÉIS E POUSADA.
Jamilly de Sousa Santos¹, Valdomir da Silva Costa Filho¹
Elaine Cristina da Silva Campos Landim¹
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo fazer uma avaliação da rede hoteleira relacionando-a com a oferta dos meios de hospedagem e hotelaria com o potencial turístico da região de São Raimundo Nonato-PI e Coronel José Dias-PI impulsionados principalmente pelo Parque Nacional Serra da Capivara. Os dados foram coletados em pesquisa de campo, e também através da literatura aplicada. Além de fazer um pequeno esboço dos leitos de hotéis disponíveis em São Raimundo Nonato e Coronel José Dias, procuramos enriquecer nosso trabalho com informações precisas sobre os valores e disponibilidade aliando-as à notoriedade que cada pousada e hotel pesquisada tem dentro da avaliação nas duas cidades.
Palavras Chave: Serra da Capivara, Turismo, Hotel, Coronel José Dias, São Raimundo, Nonato
1. INTRODUÇÃO
São Raimundo Nonato é um município da micro e mesorregião do Sudoeste do Piauí,
tendo limites com os municípios de Brejo do Piauí, João Costa, Coronel José Dias, São Lourenço,
Dirceu Arcoverde, Fartura do Piauí, Várzea Branca, Bonfim e São Braz do Piauí. De acordo com
o censo populacional do IBGE de 2010 a cidade possui cerca de 32.327 habitantes.
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Figura 1: Localização do PARNA Serra da Capivara. MAIOR (2016)
Todos esses municípios e outros mais juntos formam a região turística do polo das origens,
onde tem o Parque Nacional da Serra da Capivara, e o Parque Nacional da Serra das Confusões,
como os principais atrativos turísticos. Segundo MAIOR (2016), O Polo das Origens da região de
São Raimundo Nonato é a região piauiense que mais atrai turistas de fora do país, cerca de
5,2%.
O Parque Nacional Serra das Confusões também é de grande relevância porém a
pesquisa está relacionada ao Parque Nacional Serra da Capivara por estar mais próximo aos
municípios de São Raimundo Nonato e Coronel José Dias que são o foco da pesquisa. O PARNA
Serra da Capivara conta com umagrande riqueza geológica, geomorfológica, arqueológica e
paleontológica que atrai a atenção de inúmeros cientistas, estudiosos e turistas do mundo inteiro.
Buscamos desenvolver uma pesquisa onde mostra a rede de hotelaria para a receptividade
dos turistas que visitam as respectivas cidades, bem como mostrar o perfil destes visitantes, seja
para lazer, negócios, saúde, estudos. Diante disso a pesquisa faz uma amostragem nos hotéis e
pousados superiores a 50 leitos.
Este artigo esta dividido nos seguintes tópicos: Turismo, Parque Nacional Serra da
Capivara, São Raimundo Nonato, Coronel José Dias.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Turismo
O turismo é uma pratica social que envolve o deslocamento de pessoas de seu local
habitual pelo território, esses deslocamento é superior a horas e inferior a um ano e pode ser
motivado por saúde, negócios, lazer, estudos, congressos e etc.
Segundo a OMT (Organização Mundial do Turismo) o turismo é uma modalidade de
deslocamento espacial que envolve a utilização de alguns meios de transporte e no mínimo um
pernoite no destino e no máximo um ano, caso contrário é considerado um excursionista ou
viajante, e esses deslocamento pode ser acontecer por várias razões, como lazer, estudos
negócios, saúde e vários outros (ARANHA E GUERRA 2014).
A atividade turística nasce da junção de vários recursos naturais, culturais, sociais e
principalmente econômicos. Desde o seu surgimento que a atividade turística é bastante rentável,
pois este fenômeno traz consigo um grande desenvolvimento para as áreas onde atua,
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principalmente um desenvolvimento econômico e social uma vez que é caracterizada como
atividade econômica, pois sendo explorado corretamente provoca mudanças intensas na
infraestrutura do lugar e consequentemente gera emprego local, além de permitir a criação de
potencialidades.
O turismo é uma atividade muito importante para o Brasil, uma vez que o país dispõe de
uma grande diversidade de potencialidades e atrativos turísticos naturais e culturais, bastante
diferenciados espalhados pelo seu território, e essas potencialidades tem atraído cada vez mais
turistas tanto nacionais como internacionais.
De acordo com CRUS (2001), a expressão lugar turístico é utilizada tanto para se referir a
lugares que já foram apropriados pela prática social do turismo como também a lugares
considerados potencialmente turísticos. Os meios de hospedagem e as infraestruturas de lazer
são objetos característicos de lugares turísticos.
Vale ressaltar que não é a infraestrutura local nem os serviços que o lugar turístico dispõe
que vai fazer dele um lugar turístico, porque infraestrutura de hospedagem e de lazer não são
atividades de uso exclusivo do turismo, o que vai fazer um lugar turístico é a presença de turistas.
2.2 PARNA Serra da Capivara
O Parque Nacional Serra da Capivara oferece uma diversidade geológica e
geomorfológica, além de uma paisagem exótica (fauna e flora). Declarado Patrimônio Histórico e
cultural da humanidade pela UNESCO, desde 1992, tem em seu acervo pinturas rupestres e
achados arqueológicos que varia entre 3 a 50 mil anos ou mais de acordo com estudos recentes,
os vestígios da presença humana no PARNA pode chegar a até 100 mil anos. Com uma área de
preservação ambiental com ecossistemas naturais e beleza cênica, o mesmo possibilita interação
para a recreação(lazer) ao turista, como também para fins educativos, pesquisas cientificas, além
de propagandas comerciais entre outros.
O PARNA com o seu potencial diversificado e histórico atrai turistas de vários lugares, isso
motiva a economia local, como a rede de hotelaria destes municípios que necessita de
infraestrutura para receber pessoas de todos os lugares tanto nacionais como internacionais.
Para MAIOR (2016), o parque dispõem de uma ótima infraestrutura de apoio ao turismo, o
mesmo conta com:
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Três acessos públicos, guardados por guaritas, que dispõem, além da
comodidades necessárias para o agente, radio, sala de descanso para os
turistas e sanitários com dispositivos para uso por deficientes físicos e lojas
souvenires, o sitio Boqueirão da Pedra Furada com iluminação noturna,
locais para descaço e piqueniques, quatrocentos quilômetros de estradas e
trilhas abertas aos turistas, mais de mil quilômetros de trilhas para
pedestres, placas indicativas e setas ao longo dos 14 circuitos turísticos,
quarenta e três condutores de turistas, dos quais 17 realizaram o curso no
SENAC, que os habilita a trabalhar com cadastro na Embratur, onze
acessos de serviços com guaritas (2016, pag.152 ).
O Parque Nacional Serra da Capivara, possui grande infraestrutura e acesso para vários
perfis de turistas inclusive pessoas com necessidades especiais como cadeirantes ou com
dificuldade locomotora.
2.3 Coronel José Dias
Coronel José Dias uma cidade pacata, dispõe de algumas pousadas para recepção de
turistas, como o Albergue Serra da Capivara que está localizado na localidade barreirinho, o
Camping Pedra Furada no vilarejo Sítio do Mocó, estes se encontram mais próximas ao PARNA,
dispondo de calmaria e tranquilidade por se encontrarem distantes da zona urbana e mais
próximas do ambiente natural.
A cidade de Coronel José Dias-PI está localizado na macrorregião de São Raimundo
Nonato, ambas estão no território do PARNA Serra da Capivara, berço do homem americano.
Coronel José Dias, localizado na latitude 08º4‟59” e longitude 42º30‟45”, com seu território
na microrregião de São Raimundo Nonato-PI, vem sendo alvo desses impactos. O IBGE (2015)
define a unidade territorial do município (km²) 1914.819, com uma população estimada para 2016
de 4.605 habitantes, e uma densidade demográfica de 2,37(hab./km²). (Fundação CEPRO)
Típica cidadezinha do Interior com pouco mais de 4 mil habitantes (IBGE, 2010), Coronel
José Dias apesar do déficit estrutural de recepção ao turista, conta com opções como o Camping
Pedra Furada, situada no vilarejo Sítio do Mocó se encontra a apenas alguns metros do PARNA e
também o Albergue Serra da Capivara que pode acomodar mais de 150 pessoas, com diária a
partir de 100 reais.
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As condições climáticas do município apresentam temperatura mínima de 18ºc e máxima
de 36ºc, com clima semiárido quente e seco. A precipitação pluviométrica média anual é
perceptível no regime equatorial continental, com média de 516,3mm, definindo quantidade anual
de precipitação em torno de 500mm em trimestre janeiro-fevereiro-marco ou dezembro-janeiro-
fevereiro sendo esses meses como os mais chuvoso (IBGE, 1970).
A vegetação mais comum na região onde se localiza o município de Coronel José Dias é
defina como caatinga do sertão árido ou savana estépica. A caatinga pode ser caracterizada
como florestas arbóreas ou arbustivas, compreendendo principalmente arvores e arbustos baixos
mas extremamente ramificados com galhos curtos e duros onde muitos dos quais apresentam
aspectos de espinhos, microfilia e algumas características xerofíticas, sendo que algumas perdem
suas folhas no período de seca, para que elas possam ter maior resistência no período de
estiagem e sobreviver por mais tempo. (IBGE, 1970).
De acordo com os dados da CPRM(2004), aproximadamente 70% da área do município é
representado por rochas pertencente ao embasamento cristalino, esta porcentagem que constitui
esse tipo de rocha são apresentados por aquíferos fissural, seja fraturas de diversas origens que
facilitam o armazenamento de agua em suas falhas. Como basicamente não existe uma
porosidade primária nesse tipo de rocha, a ocorrência de água subterrânea é condicionada por
uma porosidade secundária representadas por fraturas e fendas, o que se traduz por
reservatórios aleatórios descontínuo e de pequena extensão, os outros 30% ocupado por rochas
sedimentares.
Coronel José Dias apresenta uma grande variedade de formações geológicas ao longo de
sua extensão, o solo define suas características como latossolos vermelhos-amarelo distróficos,
associados a área quartzonas distróficas, solos litolicoseutroficos e solo bruno não cálcicos
(CPRM). Nesta região tem uma grande parte proveniente de arenito siltilos, folhelhos, granitos e
as vezes pedregosos e dentre eles predomina o latossolos com uma textura com uma textura
media que se mistura a argila, presença de mistura vegetal.
3.4 São Raimundo Nonato
Em São Raimundo Nonato a ainda o Museu do Homem Americano, que também é um
atrativo turístico, por conter em seu acervo fosseis e uma variedade de peças históricos. Muitos
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turistas fazem o roteiro para conhecer o Parna e o Museu, hospedando-se na cidade de São
Raimundo Nonato pelo fato de oferecer estrutura em hotéis, restaurantes e serviços bancários.
Devido à complexidade de avalição, requisitos e matriz de classificação de hotéis do
SBClass (Sistema de Classificação de Meios de Hospedagem) do Ministério do Turismo (Mtur),
bem como pouco tempo para o planejamento e realização deste trabalho, delimitamos nossa
pesquisa na rede hoteleira de São Raimundo Nonato e Coronel José Dias nos hotéis com
capacidade de cinquenta leitos de hospedagem ou mais.
O alvo da pesquisa é mostrar uma avaliação de disponibilidade de leitos de hospedagem e
como anda o fluxo de turistas motivados principalmente pelo Parque Nacional Serra da Capivara.
Os hotéis pesquisados em São Raimundo foram Real Hotel, Pousada Progresso, Pousada
Zabelê, Hotel Bela Vista, e em Coronel José Dias pousada Albergue Serra da Capivara e
camping Pedra Furada.
De acordo com o SBClass (2010), hotel, estabelecimento com serviços de recepção,
alojamento temporário, com ou sem alimentação, ofertados em unidades individuais e de uso
exclusivo dos hóspedes, mediante cobrança de diária.
No Real Hotel empreendimento LTDA, cadastrado pela Cadastur (Sistema de Cadastro de
pessoas físicas e jurídicas que atuam no setor de turismo), ou seja, prestadores de serviços
turísticas, tendo uma capacidade de acomodação de 75 pessoas, dispondo de 20 funcionários, o
valor da diária varia de acordo com os serviços de quarto, a tabela abaixo mostra a variação de
preço incluindo o café da manhã.
TIPO INDIVIDUAL DUPLO TRIPLO
Standa
rt
R$ 67,00 R$ 86,00 R$
110,00
Luxo R$ 160,00 R$205,00 R$
240,00
Master R$ 212,00 R$
300,00
R$
345,00
A pousada Zabelê também cadastrado pela secretaria do turismo do município ou seja,
prestadores de serviços turísticas, possui uma capacidade em acomodação de 48 pessoas
diariamente, sendo que uma diária individual é 120 R$, duplo 150R$, triplo 180R$ e quadruplo
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200R$. A quantidade média de turista recebidos tem uma variedade de 3 ou mais pessoas por dia
ou 30 ou mais turista por mês, sendo que a maioria veem a trabalho e uma quantidade mínima
somente para lazer. A pousado dispõem de 14 funcionários.
O hotel Bela vista cadastrado pela secretaria do turismo do município ou seja, prestadores
de serviços turísticas dispondo de 27 apartamentos com uma acomodação de 28 turistas
diariamente, recebendo em média 20 turista por mês, onde os mesmos veem a trabalho ou lazer,
valor mínimo da diária é de 100 reais por pessoa incluindo café da manhã. Disponibiliza apenas
de 6 funcionários.
Pousada Progresso é também cadastrado pela secretaria do turismo do município, ou seja,
prestadores de serviços turísticas possui 39 apartamento para uma acomodação de 90 a 100
turista por dia onde metade dele vem para lazer enquanto que a outra metade veem a trabalho,
sua diária é no valor de 65 R$. O hotel dispõem de 4 que trabalho com carteira assinada.
Segundo o Plano Diretor de São Raimundo Nonato-PI o potencial do turismo arqueológico
que dá notoriedade a região e as diretrizes para incrementar essa atividade como fonte de
emprego e renda e aumentar a demanda por visitantes.
De acordo com dados obtidos nos hotéis delimitados na pesquisa em São Raimundo
Nonato, os funcionários indicam que a principal motivação ou razão da hospedagem são viagens
a trabalho, como mostra o gráfico abaixo:
Fonte: coleta de dados de campo. Adptado por Costa Filho, 2017.
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A pesquisa de campo mostra que dentre as pousadas e hotéis visitados contam com cerca
de 601 leitos de hotel disponíveis e uma média de 13,33% dos leitos encontrados são ocupados
diariamente. Esses dados confrontam-se com dados da Fundação CEPRO, que indica uma
demanda anual de cerca de 10 mil turistas que visitam o Parque Nacional Serra da Capivara
Os dados coletados em campo indicam que não há segurança nas informações colhidas
quanto ao perfil das pessoas que procuram o serviço de hotelaria nas referentes pousadas e
hotéis, pois em todos os hotéis e pousadas o sistema apenas controla a quantidade de dia, nome
do cliente, e custo do serviço, apesar dessa deficiência de informações procuramos identificar o
perfil dos clientes que procuram o serviço que estão identificados no gráfico acima, segundo
relatos de funcionário dos hotéis ou pousadas indicam que a principal procura é . A maior
incidência de ocupação varia de acordo com os meses do ano, segundo informações dos
funcionário presentes durante a coleta dos dados informaram que a principal procura do serviço é
por clientes que vem à cidade a trabalho.
3. CONCLUSÃO
Em pesquisas on-line em sites popularmente conhecidos de reserva e pesquisa de hotéis
como Tripadvisor, Booking.com, Trivago, as informações sobre as pousadas ou hotéis
restringem-se somente há alguns dos hotéis da cidade o que torna a pesquisa insuficiente já que
apesar da quantidade de leitos ofertados já serem reduzidas, observa-se que não há interligação
suficiente de informações entre o lugar turístico e os demais meios de comunicações. As
informações de hotéis mais encontrados nos sites pesquisados foram: Real Hotel, Pousada
Zabelê e Pousada Bella Vista. Todos possuem avaliação de usuários que varia de uma a cinco
estrelas.
É evidente que para a ampliação e desenvolvimento do potencial turístico da Serra da
Capivara é essencial reverter o atraso estrutural que envolve a logística do turismo no Piauí, cabe
ressaltar que a Serra da Capivara possui uma grande infraestrutura de apoio e acessibilidade ao
turista, porem a superestrutura que envolve o desenvolvimento turístico na região necessita
passar por investimentos e políticas públicas sérias e precisas, como divulgação, informação,
qualificação dos serviços ofertados.
4- REFERÊNCIAS
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do Piauí: diagnostico municipal de Coronel José Dias. CPRM- serviço de geologia do Brasil,
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A FUNCIONALIDADE DE URUÇUÍ - PI COMO CIDADE DO AGRONEGÓCIO
Rui Barbosa de Freitas1 Paulo de Tárcio Costa²
Tyago Santos de Carvalho³
RESUMO: Alterações e transformações de diversas ordens se tornam perceptíveis no espaço, onde estão inseridas as atividades que geram o desenvolvimento nos moldes capitalistas. A cidade de Uruçuí é um exemplo de tal processo devido ao avanço do agronegócio, com destaque para a moderna agricultura implantada nas grandes fazendas monocultoras, as quais produzem principalmente soja e milho e necessitam de toda uma infraestrutura urbana que atenda sua demanda, indo desde a venda especializada de insumos e máquinas, prestação de serviços de diversos setores, à mão de obra especializada. Dessa forma, o objetivo do trabalho é compreender a funcionalidade de Uruçuí - PI como cidade do Agronegócio. Para tanto, foram realizados estudos de campo, levantamento e análise de dados das áreas e dos serviços ligados ao mesmo, bem como revisão bibliográfica. Como resultados, a pesquisa demonstrou que de fato, ao longo dos anos a cidade tem se organizado para atender a sua função de cidade do agronegócio, contando com áreas especializadas na prestação de serviços de diversas ordens voltados para o mesmo, além de formação de mão de obra especializa em diferentes níveis para atender esse mercado. Por fim, destaca-se como pontos positivos o crescimento econômico e à geração de emprego e renda, como negativo, tem-se a segregação socioespacial que já se percebe imposta pelo poder do capital do agronegócio.
Palavras-chave: Agricultura; Cidades; Desenvolvimento; Tecnologia; Soja.
1. INTRODUÇÃO
As cidades no decorrer da história adquirem características próprias com um dinamismo na
sua organização, dependendo das atividades que nelas predominam, e podem exercer diferentes
funções. Nesse contexto, Uruçuí - PI pode ser enquadrada na função de cidade do agronegócio.
De acordo com Elias (2011 p. 162), “a cidade do agronegócio é aquela cujas funções de
atendimento às demandas do agronegócio globalizado são hegemônicas sobre as demais
funções se configurando em uma nova tipologia de cidade”.
Tais cidades são comuns nas áreas de fronteira agrícola moderna. Denominadas como as
áreas ocupadas, a partir da década de 1970, por monoculturas intensivas em capital e tecnologia,
1 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
² Acadêmico do Curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
³ Especialista em Docência do Ensino Superior. Tutor do Curso de Geografia EAD – UFPI. E-mail: [email protected]
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em substituição à vegetação original, principalmente a paisagem ocupada originalmente pelo
cerrado (FREDERICO, 2011).
Os cerrados piauienses vêm passando por essas transformações, oriundos principalmente
da expansão da agricultura moderna. Tal dinâmica é resultado de um conjunto de ações estatal e
investidores de capital privado ligado á cadeia produtiva do agronegócio de grãos e seus
derivados (ARAÚJO; MORAES, 2005 apud Silva et al, 2016).
Uma das características dessas áreas é adaptabilidade das cidades em função do
agronegócio como destaca Elias (2011). Esta Agricultura intensiva exige que os espaços urbanos
próximos ao espaço agrícola racionalizado se adaptem para atender às suas principais
demandas, em virtude de fornecerem parte dos aportes técnicos, financeiros, jurídicos, de mão de
obra e de todos os demais produtos e serviços necessários à sua realização.
É nessa perspectiva que o trabalho foi desenvolvido, sendo relevante pela necessidade de
compreensão das cidades através dos seus arranjos produtivos ao longo do tempo, bem como
pela contribuição para a literatura que tem se debruçado no estudo dessas cidades que nas
últimas décadas tem se destacado em nível regional e nacional principalmente pelo o seu
potencial agrícola. Dessa forma, o objetivo do estudo é compreender a funcionalidade da cidade
de Uruçuí – PI como cidade do agronegócio.
A análise da área em estudo se fará a partir de uma adaptabilidade de Elias (2007) a partir
do que se considera necessário para caracterizar essas cidades como cidades do agronegócio,
que são: dinâmica na relação campo-cidade; desigualdade socioespacial e mercado de trabalho.
Para tanto foi realizado estudo de campo, levantamento de dados qualitativos e quantitativos de
diferentes áreas, além de revisão bibliográfica.
2. URUÇUÍ CIDADE DO AGRONEGÓCIO
O município de Uruçuí localiza-se no sudoeste do Estado do Piauí, entre a latitude
07º13‟46” sul e a longitude 44º33'22" oeste, está a uma altitude de 167 metros. Conta com uma
população estimada em 21.188 habitantes, com uma área 8.411,904 km² e densidade
demográfica 2,40 hab/km². É o maior em área do estado e compreende o bioma cerrado (IBGE,
2018). Sendo o que torna o município diferenciado é exatamente o fato de está dentro da área de
Cerrado, mas precisamente dentro da área conhecida como MAPITOBA.
Região considerada a grande fronteira agrícola nacional da atualidade, o MATOPIBA
compreende o bioma Cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia e responde por
grande parte da produção brasileira de grãos e fibras. (EMBRAPA, 2018).
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Figura 1 – Área da Mapitoba no Bioma Cerrado.
Fonte: Vestibular.uol.com.br. Acesso em: mar. 2018.
A importância dessa região nesse contexto fica claro quando se avalia os dados do
Levantamento Sistemático de Produção agrícola (LSPA) e do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatísticas (IBGE) de agosto 2017, onde indicavam crescimento de 176,90%, para a produção
agrícola do Piauí (cereais, leguminosas e oleaginosas), totalizando 3.645.022 toneladas,
enquanto no mesmo período do ano anterior a safra foi de 1.316.381 toneladas. Sendo os
principais responsáveis por tais números à soja e o milho onde representaram 55,15% e 39,64%,
respectivamente, na produção de grãos (CEPRO, 2017).
Nesse contexto Uruçuí se destaca por ser o maior produtor de soja do Estado com uma
moderna agricultura, onde desde a implantação desse modelo agrícola tem aumentado
consideravelmente sua produção.
Gráfico 1 – Aumento do cultivo de soja em Uruçuí – PI, nas últimas décadas.
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Fonte: https://www.agrolink.com.br/regional/pi/urucui/estatistica.
Segundo Rufo (2015), o processo de ocupação da área que abriga a modernização
agrícola nessa área do Piauí envolveu uma série de fatores, dentre eles: naturais, políticos,
econômicos e culturais. Destacam-se ainda, os elementos favoráveis relacionados à topografia do
relevo, a qualidade do solo e do clima tropical quente e úmido, vegetação menos densa e de fácil
remoção, recursos hídricos suficientes, subsídios e incentivos fiscais governamentais e créditos
bancários facilitados, como fatores motivadores da instalação da moderna agricultura nos
cerrados piauienses.
Como destacado pelo autor, para que essa agricultura intensiva e mecanizada se instale
em determinada área há necessidade de todo um aparato técnico e tecnológico, além de uma
infraestrutura completa de serviços das mais diferentes ordens para o seu funcionamento em que
a relação campo-cidade passa a ter outra dinâmica, já que boa parte desse aparato que o campo
necessita, é característica do espaço urbano, este por sua vez passa a se organizar em virtude
desse processo, onde as marcas são perceptíveis, tais marcas e características que essas
cidades passam a ter, faz com que sejam enquadradas em uma nova tipologia de cidades as
chamadas cidades do agronegócio.
Como o objetivo do estudo é compreender a funcionalidade de Uruçuí como cidade do
agronegócio serão analisados e discutidos alguns itens que devem ser compreendidos para tal
caracterização.
Segundo Elias (2007), para analisarmos o fenômeno das cidades funcionais ao campo moderno, deve-se levar em consideração três eixos de temas e processos: o primeiro refere-se às novas relações cidade-campo, pautadas, sobretudo, na funcionalidade dos núcleos urbanos às demandas do campo moderno; o segundo consiste na identificação do mercado de trabalho agropecuário e na dinâmica populacional; e o terceiro eixo considera o aprofundamento das desigualdades sócio espaciais inerentes à modernização excludente do campo e das cidades. Os eventos representativos dos três eixos se inter-relacionam e são ao mesmo tempo causa e consequência. (ELIAS 2007, apud FEDERICO 2011, p. 8).
2.1. A relação cidade-campo em Uruçuí
As cidades se relacionam com o campo de acordo com o contexto social, político,
econômico que está passando, no caso específico da cidade Uruçuí, a relação cidade-campo tem
se intensificado devido ao avanço da agricultura moderna, fazendo com que a cidade funcione
para atender sua demanda, através de suporte logístico, de conhecimento científico, e
principalmente de serviços, ligados a essa atividade.
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Em trabalho de campo verificou-se que em toda a cidade se encontra estabelecimentos
que são especializados para atender esse novo rural de Uruçuí de agricultura moderna, que onde
um passa a ser altamente demandante do outro, com destaque para venda de insumos, peças,
máquinas agrícolas, posto de combustíveis e transportadoras com maior concentração no Bairro
Portal dos Cerrados.
Este se originou exatamente devido ao avanço do agronegócio local e segundo os donos
ou gerentes desses estabelecimentos abordados durante o estudo, perfazendo um total de vinte,
dentre eles donos de estabelecimentos de venda de insumos agrícolas, de transportadora de
carga, de autopeças, gerente de posto de combustível, representante de vendas de máquinas
agrícolas, corretores imobiliários e oficinas de máquinas, a proximidade do campo e a logística
foram e são decisivos para implementação dos seus empreendimentos neste local.
Figura 2 – Serviços direcionados ao agronegócio em Uruçuí- PI.
Fonte: Autor, 2018.
Para ELIAS (2011) essa é uma das consequências desse processo de produção
intensificando as relações campo-cidade e a urbanização, uma vez que as redes agroindustriais
necessitam também de processos que se dão no espaço urbano próximo às áreas de produção
agrícola e agroindustrial, incrementando o crescimento de cidades totalmente funcionais ao
agronegócio, as quais passam a ter novas funções, tal como a de gestão desse agronegócio
globalizado.
Silva (2015) comenta que embasado sobre tudo na necessidade de eficiência da circulação
de produtos, insumos e matérias uma nova relação de campo e cidade se estabeleceu nessas
áreas.
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Com relação a outros serviços, como os de bancos, cabe destacar a presença dos três dos
principais bancos públicos do país, Banco do Brasil, Caixa Econômica e Banco do Nordeste e um
dos maiores bancos privados, Bradesco, o que se pode induzir que a presença desses se deu de
forma estratégica, já que apenas o primeiro se encontrava na cidade antes de se tornar uma
grande produtora de grãos, já que estes estão intimamente ligados ao agronegócio, cabendo a
eles na maioria das vezes serem os financiadores da produção.
De acordo com Frederico (2011) os agentes financeiros estão entre os mais importantes
serviços ligados ao agronegócio por anteceder e serem fundamentais à produção. A grande
densidade tecnológica da agricultura moderna e a significativa parcela da produção destinada à
exportação exigem a aquisição de vultosos créditos para investimento, custeio e comercialização,
por parte dos produtores e empresas privadas.
Outro tipo de serviço que também tem se destacado na cidade que estão diretamente
ligados ao agronegócio é o ramo imobiliário que atua tanto na venda de imóveis rurais quanto
urbano, principalmente de loteamentos e condomínios que surgiram nos últimos anos. Além do
setor hoteleiro que também tem se adequado a essa nova realidade local, já que nessas cidades
há uma grande circulação de pessoas ligadas a essa atividade como empresários, investidores,
vendedores, entre outros, onde o desempenho da mesma está diretamente ligado ao
agronegócio.
Figura 3 – Expansão do setor imobiliário e hoteleiro em Uruçuí – PI.
Fonte: Autor, 2018.
2.2. O novo urbano e a exclusão nas cidades do Agronegócio
Ao mesmo tempo em que se tem o aumento no número de condomínios e loteamentos na
cidade, bem localizado, contando com toda infraestrutura, temos a ocupação das áreas
periféricas também, de localização não privilegiada e com carência de infraestrutura de todas as
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áreas. A análise deste se faz importante na perspectiva de olhar a cidade não como um espaço
homogêneo, mas sim fragmentado que é característico das cidades em que o capital impõe sua
força, independente da atividade econômica realizada, não sendo diferente nas cidades do
agronegócio.
Figura 4 – Bairro sem infraestrutura e condomínio de Luxo em Uruçuí – PI, a força do capital.
Fonte: Autor, 2018.
De acordo com Santos e Pacheco (2012, p. 10) “A partir da estratificação social e, o
distanciamento entre aqueles atores que conseguem se apropriar dos meios de consumo
coletivos e os que a eles não têm acesso produz a denominada segregação social”. Na ótica
desses autores as formas como as residências estão distribuídas nas cidades, nos mostra as
diferentes funções destas nos seus espaços.
Frederico (2011) destaca que o resultado dessa nova dinâmica nas cidades do
agronegócio é o uso cada vez mais seletivo do território, acompanhado de uma geração de
riqueza cada vez mais concentrada, assim como da pobreza cada vez mais difundida, gerando
um espaço corporativo e fragmentado. O que de fato vem ocorrendo em Uruçuí – PI.
2.3. Agronegócio em Uruçuí e mercado de trabalho
Por fim, na busca da caracterização da funcionalidade de Uruçuí como cidade do
agronegócio foi analisado a mão de obra local, mas especificamente a formação desta em
diferentes níveis, que a partir de visita e aplicação de questionário com questões abertas e
fechadas junto ao Instituto Federal do Piauí (IFPI) e Universidade Estadual do Piauí (UESPI),
campus Uruçuí, sendo os responsáveis pelas informações os diretores das respectivas
instituições, constatou-se o seguinte.
Com relação ao primeiro (IFPI) todos os cursos técnicos são relacionados a essa atividade.
Sendo eles: Técnico em Agronegócio, Agropecuária, Agroindústria e Administração, enquanto
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que dois dos três de nível superior também segue essa linha (Agronomia e Biologia), ocorrendo o
mesmo com as especializações onde das três ofertadas duas também atende essa demanda
local (Ciências Ambientais e Agronegócio).
Em relação a UESPI os dados seguem o mesmo padrão já que dos três cursos ofertados
de forma regular pela instituição dois tem o perfil de atendimento direto a demanda do mercado
de trabalho local, e que segundo a mesma 92% desses profissionais formados em Agronomia e
Administração estão empregados no mercado local, e antes de se formarem as empresas do
ramo já os procuram.
Rufo (2015) relata que há nas cidades agrícolas piauienses, o surgimento de novas formas
urbanas e novos equipamentos urbanos, como a construção de estabelecimentos de ensino de
educação superior e escolas técnicas, com cursos vinculados à produção da agricultura moderna,
como engenharia agronômica, engenharia florestal, veterinária, administração e técnicos
agrícolas.
Para o atual diretor do IFP e da UEPI quando interrogado sobre os motivos que são
levados em consideração tanto para instalação, quanto para ofertas dos cursos nas instituições
ambos destacaram o arranjo produtivo local, mercado de trabalho, opinião da população bem
como a capacidade de estrutura do campus e pessoal para a oferta.
Dessa forma, percebe-se o poder do agronegócio local que por está em plena expansão,
continua a ser demandante cada vez mais de mão de obra especializada, cabendo então, às
instituições de ensino essa tarefa, já que, a modernidade e tecnologia empregada nas atividades
do setor vêm sendo o principal diferencial.
CONCLUSÃO
Diante do exposto conclui-se que Uruçuí – PI, ao longo dos anos tem se organizado para
atender a sua função de cidade do agronegócio, contando com áreas especializadas na
prestação de serviços funcional ao campo moderno, como de venda de insumos, máquinas,
transportadoras, imobiliárias, instituições de créditos, que podem ser encontradas em toda malha
urbana da cidade. Além de formação de mão de obra especializada em diferentes níveis.
Mudanças estruturais na organização da cidade devido a sua função são perceptíveis
como o surgimento de bairros que concentram grande parte dos aparatos técnicos e tecnológicos,
além de serviços, como o bairro Portal dos Cerrados.
Existem pontos positivos e negativos desse novo arranjo territorial para a cidade, podendo
ser considerado positivo a expansão do mercado de tralho e a geração de emprego e renda;
entre os negativos destaca-se a dificuldade da inserção de toda a sociedade de modo que
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participe e receba os benefícios desse desenvolvimento, bem como a segregação espacial, que
já é uma realidade presente na cidade, onde a força do capital impõe modos diferentes de
ocupação dentro da cidade como o aumento dos loteamentos privado e condomínios junto às
áreas periféricas sem infraestrutura.
REFERÊNCIAS
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POTENCIAIS DO SEMIÁRIDO E AS TÉCNICAS E TECNOLOGIAS APROPRIADAS PARA O DESENVOLVIMNETO SUSTENTÁVEL
Afonso Gilberto Galvão1 Lucas Ramon Rodrigues Leal2
Valdemir de Paula Matias3
RESUMO: O semiárido brasileiro, conforme nova divisão aprovada pelo Condel (Conselho Deliberativo da
Sudene), em novembro de 2017, ocupa uma área superior a 982.563,3 Km², correspondendo a mais de
11,54% do território brasileiro, mais de 63% do território nordestino, e encontra-se associado ao bioma
caatinga. Em 2010, conforme dados do IBGE, já era habitado por 22.598.318 pessoas, o que correspondia
a 11,85% da população brasileira. Apresenta precipitações médias anuais de no máximo 800 mm, porém
considerando uma média de 700 mm, isso corresponde a 750 bilhões de m3 de água, quantidade
suficiente para suprir todas as necessidades de consumo humano e desenvolvimento de atividades
agrícolas. No entanto, as chuvas são irregulares no tempo e no espaço, além da ocorrência de elevado
nível de evapotranspiração, devido às altas temperaturas. Este trabalho tem como objetivo por um lado,
mostrar os limites do semiárido, e por outro a sua rica biodiversidade de animais e vegetais, com grande
potencial para o desenvolvimento de atividades econômicas, destacando que para o uso adequado e
sustentável deste meio, faz-se necessário a adoção de técnicas e tecnologias apropriadas às
características climáticas do mesmo. Dentre os potenciais do semiárido, destacam – se os recursos
naturais como a carnaúba, o umbu a favela e pastos nativos, associados à criação de pequenos animais
como caprinos. Com a utilização de técnicas e tecnologias apropriadas como cisterna de placa, cisterna
calçadão, tanque de pedra, sistema PAIS, dentre outras, pode – se garantir a produção de hortaliças,
frutas e legumes durante o ano inteiro, além do consumo humano e animal de água. Para elaboração
deste trabalho, baseou-se em pesquisas bibliográficas em livros, cadernos e sites, que apresentam
abordagens acerca do tema, tendo obtido como resultado, relevantes constatações acerca dos potenciais
do semiárido, que explorado de forma sustentável, pode garantir condições suficientes para se viver bem
neste meio.
Palavras-chave: Bioma caatinga. Evapotranspiração. Recursos naturais. Biodiversidade.
1. INTRODUÇÃO
O clima semiárido, está presente no Brasil na região Nordeste e Norte de Minas Gerais, e
está associado ao importante bioma da caatinga, sendo este, o único bioma exclusivamente
1 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
2 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
3 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
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brasileiro, ocupando uma área de 734.478 km², o que corresponde a cerca de 7% do território
brasileiro, conforme SANTOS, SCHISTEK e OBERHOFER (2007).
O Brasil possui atualmente 5.570 municípios, sendo que destes, 1.262 estão em área
semiárida, envolvendo parte dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e o norte de Minas Gerais, conforme a nova delimitação
aprovada pelo Conselho Deliberativo da Sudene (Condel) em novembro de 2017. Segundo
SANTANA (2007, p. 24) a área semiárida correspondia naquele ano, a uma extensão de
982.563,3 Km², ou seja, 11,54% do território brasileiro, e 63% do território nordestino, ganhando
amplitude com a nova delimitação.
Conforme dados do Censo Demográfico de 2010 realizado pelo IBGE, o semiárido era
povoado naquele ano, por 22.598.318 habitantes, somando 11,85% da população brasileira,
sendo que 8.595.200 (44%) residiam na zonal rural e 14.003.118 (56%) na zona urbana, com
uma densidade demográfica de 23,6 hab/km², sendo que com a nova delimitação da SUDENE
(Condel, 2017) esta população passa a um número superior a 25 milhões de pessoas. No Piauí,
conforme a Portaria interministerial Nº 01 de 09 de março de 2005, 127 municípios faziam parte
da área do semiárido, número este que se amplia para 148, com a nova deliberação, passando a
corresponder a 66% dos 224 municípios do estado, que fazem parte dessa delimitação, o que
representa cerca de 165.556,28 km² dos 251.529 km2 totais do território piauiense, sendo que
segundo o IBGE (2010), 50,21% da população do semiárido piauiense, residiam na zona rural
naquele ano, o que representa 520.613 dos 1.045.547 habitantes residentes nesta região do
estado.
As altas temperaturas médias anuais, que variam em torno de 26oC, com pequena
variabilidade interanual, exercem forte efeito sobre a evapotranspiração potencial, chegando até a
3.000 mm/ano e precipitações médias anuais inferiores a 800 mm. (750 mm.). No entanto, não
existe ano sem chuva alguma, sendo que dificilmente chove menos que 200 mm. mesmo no ano
mais seco, o que faz do semiárido brasileiro, o mais chuvoso do planeta, segundo SANTOS,
SCHISTEK e OBERHOFER (2007, p. 35). Porém, ainda segundo esses autores, as chuvas são
irregulares no tempo e no espaço, mas se supomos uma média de 700 mm de chuva por ano nos
969.589,4 Km² do SAB – Semiárido Brasileiro temos 750 bilhões de m3 de água. Disso, 87 % são
absorvidos através da evapotranspiração e 4 % infiltram no subsolo, ficando 9 % de água que
escorre o que corresponde a 56,7 bilhões de m3.. A irregularidade das chuvas no tempo e no
espaço dificulta as atividades agropecuárias, sendo comum a escassez de água, principalmente
no período de estiagem.
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Com cerca de 80% do solo de origem cristalina, e os outros 20% representados por solos
sedimentares, o semiárido apresenta área geográfica apropriada para a lavoura bastante
reduzida, apresentando o seguinte potencial de utilização de suas terras: “Criação de animais
44%, reservas 36%, produção de sequeiro 16% e irrigação 4%”. SANTOS, SCHISTEK e
OBERHOFER (2007, p. 25).
Com base nas características apresentadas, desenvolveu-se ao longo do tempo, uma
série de técnicas e tecnologias apropriadas para a convivência com o semiárido, que são capazes
de revolucionar a produção de alimentos e geração de renda nesta região do país, em
consonância com os seus limites e potencialidades. Desta forma, este trabalho justifica-se, pois
objetiva apresentar as potencialidades e limites do semiárido, bem como técnicas e tecnologias
alternativas de desenvolvimento sustentável, rompendo com o paradigma de combate à seca,
impregnado por muito tempo na mente das pessoas, que muitas vezes passaram a olhar para o
mesmo, como um lugar impossível de se viver.
Para elaboração deste trabalho, a metodologia utilizada foi de natureza qualitativa,
através de pesquisas bibliográficas e análise de documentos, onde foram utilizadas obras de
autores que contribuíram com o tema da convivência com o semiárido e as técnicas e tecnologias
para o desenvolvimento sustentável, através de pesquisa em sites, cadernos e livros.
2. O SEMIÁRIDO E SEUS POTENCIAIS
O debate da convivência com o semiárido tem sido adotado, por um conjunto de
instituições da sociedade civil e pública, principalmente aquelas que compõem a ASA (Articulação
do Semiárido), com o objetivo de romper o paradigma do cambate à seca, que por muito tempo
predominou no país, e de modo específico na região semiárida do Nordeste brasileiro, que se
caracteriza principalmente, pela escassez de chuvas, onde de costume, possui um período de
duração de cerca de quatro meses com a ocorrência de chuvas, ficando o restante do ano, seco,
além de que mesmo no período chuvoso, estas costumam ser bastante irregulares, chegando a
chover bastante em um mês, e em outro não, ou as vezes uma semana inteira, e outra não,
sendo comum nestes períodos, a ocorrência de cheias e alagamentos. “[...] as secas são
fenômenos naturais periódicos que não podemos combater, mas com os quais podemos
conviver” ASA (1999, p. 5).
Porém, toda a água que cai com as chuvas, escorre através dos riachos e vai embora,
sendo que a outra parte que fica retida em reservatórios, em poucos dias desaparece através da
evaporação, devido às altas temperaturas. Encontrar água no subsolo também, não é comum,
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pois grande parte da região semiárida, encontra – se sobre rocha cristalina. “Os terrenos
cristalinos do semi-árido brasileiro são constituídos por rochas ígneas e metamórficas e ocupam
cerca de 70% da região conhecida como polígono das secas no Nordeste do Brasil” FEITOSA
(2004, p. 3). Esse fator dificulta a infiltração da água da chuva, tornando difícil o acesso, pois a
perfuração de poço tubular nestas regiões, não é uma medida viável, visto que muitas vezes não
encontra água, e quando a encontra, muitas vezes esta é imprópria para o consumo.
Porém, apesar de aparentemente e no senso comum caracterizar-se como uma região
pobre, quase impossível de se produzir, o semiárido apresenta muitos potenciais que vão desde
os seus recursos naturais, somando – se a diversas alternativas que foram sendo construídas a
partir dessa realidade, através das quais, possa-se produzir neste meio com características tão
adversas, através da captação da água da chuva e utilização dos recursos naturais como o
extrativismo. Daí a importância de se aprender a conviver com neste meio.
2.1 A CAATINGA SUA BIODIVERSIDADE E POTENCIALIDADES
Apesar da pouca quantidade de chuva, e do clima quente da região semiárida, a mesma
é rica em recursos naturais, possuindo um grande número de espécies vegetais, que podem ser
explorados de forma sustentável, constituindo – se como fonte de renda para a população sem
gerar danos ao meio ambiente. As espécies nativas do semi-árido que se destacam, pela
resistência à seca, e que fazem parte dos sistemas pecuários, além de apresentarem em sua
composição, alto nível protéico, fornecem outros produtos como madeira, frutos e túberas.
ARAÚJO 2001 (Apud. Pinto et al., 2006, p. 3).
O bioma caatinga, predominante no semiárido, com uma área de 734.478 km², ocupa
70% de todo o Nordeste, e possui cerca de 2500 espécies, sendo que das quais, 300 são
exclusivas deste ecossistema, constituindo-se assim numa grande diversidade tanto na fauna
como na flora, KIILL (s. d., p. 2). A seguir, alguns exemplos de plantas e animais adaptados a
este ecossistema, bem como os seus potenciais:
Umbu: Planta nativa da caatinga, adaptada ao clima semiárido, capaz de produzir
mesmo em anos de pouca chuva, sem necessitar de tratos que são necessários para plantas
cultivadas como a bananeira, a mangueira, dentre outras. Do fruto do umbu, assim como outras
frutas nativas, é possível se produzir uma série de produtos como geléia, doce, polpa, licor,
cerveja, dentre outros. SANTOS, SCHISTEK e OBERHOFER (2007, p. 14)
Carnaúba: Conhecida como árvore da vida, é uma palmeira que oferece uma infinidade
de usos. Dentre eles, as raízes têm uso medicinal, as palhas podem ser utilizadas para a
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confecção de artesanato, esteiras, vassoura, chapéu, cobertura de casas, e adubo. O pó é
altamente comercial, sendo utilizado na composição de diversos produtos industriais como
cosméticos, cápsulas de medicamentos, componentes eletrônicos dentre outros. O fruto rico em
nutriente para ração animal, e a madeira (tronco), de excelente qualidade para construção.
A cera de carnaúba é considerada um produto nobre, tendo os mercados internos e externos garantidos, principalmente pela exigência cada vez maior por produtos naturais e ecologicamente corretos. Além da infinidade de aplicações, a extração da cera não causa danos ao meio ambiente, pois as folhas retiradas na colheita são repostas no ano seguinte, atendendo também a exigência de alguns mercados por produtos de qualidade e base
natural. (NASCIMENTO, et. al. 2018.)
Favela: Encontrada em regiões mais secas da caatinga, é uma planta espinhosa, bem
adaptada ao clima semiárido e possui diversas funções, tanto alimentar como medicinal. Como
planta medicinal, pode utilizar-se o pó da casca para cicatrizar ferimentos, tratamento do bicho de
pé e a água da casca, pode ser utilizada para curar dor de dente. “Já o chá da casca, feito sem
ferver, serve para curar inflamações, principalmente no ovário”. HENRIQUE (2017).
As sementes da favela também podem ser utilizadas para a extração de óleo, para
produção de biocombustíveis e uso medicinal, além de servir de alimento para uma grande
diversidade de pássaros, e também alimentação humana.
As folhas da favela, constitui-se num rico alimento para animais, principalmente caprinos.
No período de estiagem, as folhas vão ficando maduras, caindo aos poucos, e os animais vão
comendo, o que faz com que a criação permaneça bem nutrida, mesmo no período de escassez
de pastagens. Ainda segundo HENRIQUE (2017), além das propriedades já descritas tanto da
sua utilização para humanos como animais, a favela também pode ser utilizada na recuperação
de áreas degradadas.
Criação de Caprinos: O caprino é um animal altamente adaptado às condições
climáticas do semiárido, sendo que a criação dos mesmos torna-se viável, sobretudo se
comparado a animais de grande porte, como bovinos, que necessitam de muito mais alimento e
água para sobreviverem. Enquanto uma cabra necessita de 273,75 kg de massa seca por ano, e
apenas 04 litros de água por dia para viver bem, uma vaca, por exemplo, necessita de 2190kg de
massa seca por ano, e cerca de 40 litros de água por dia, sendo que ao considerar que no
semiárido a natureza produz apenas 91/kg de massa seca por ano, torna evidente o potencial da
criação de caprinos neste meio. IRPAA, (2011).
“A vocação do SAB (Semiárido Brasileiro), considerando a irregularidade climática,
consiste na criação de animais, especialmente de caprinos e ovinos, de raças oriundas de
ecossistemas semelhantes ao SAB”. SANTOS, SCHISTEK e OBERHOFER (2007, p. 37).
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Fotografia 01 - Caprinos se alimentando da pastagem nativa, no período de estiagem
Fonte: EMBRAPA semiárido (2011)
2.2 TÉCNICAS E TECNOLOGIAS ADAPTADAS AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO
SEMIÁRIDO
Outro potencial do semiárido, é a possibilidade de captação da água da chuva, para a
produção de alimentos, consumo humano e animal, utilizando técnicas e tecnologias como:
Cisterna de placa, cisterna calçadão, cisterna de enxurrada, tanque de pedra, barragem
subterrânea, dentre outras tecnologias, pois apesar de uma das maiores dificuldades encontradas
neste meio, está relacionado à “falta” d‟água, o semiárido brasileiro é o mais chuvoso do mundo,
com capacidade hídrica para atender todas as necessidades de consumo e produção, pois
conforme SANTOS, SCHISTEK e OBERHOFER (2007, p. 35) “A água de chuva que cai todos os
anos no Semi-Árido representa uma fonte inesgotável; vale recordar que caem, em média, 750
bilhões de metros cúbicos de água de chuva no Semi-Árido, e apenas 30 bilhões são
aproveitados”.
Cisterna de placa: Construída a base de cimento, areia e ferro, tem capacidade para 16
mil litros, e recebe a água da chuva, que é captada do telhado da casa, durante o período
chuvoso. Uma cisterna de placa cheia é suficiente para uma família beber e cozinhar durante todo
o período de estiagem.
Cisterna calçadão: Idêntica à cisterna de placa, porém com maior capacidade de
armazenamento de água (52 mil litros), e tem como finalidade, a captação da água da chuva,
para a produção de alimento através do plantio de hortaliças e outras plantas frutíferas e/ou
medicinais, e também o consumo animal. Diferente da cisterna de placa para consumo humano, a
cisterna calçadão tem como forma de captação da água da chuva, um calçadão feito de cimento,
com 1002, rodeado por meio fio, onde a água da chuva ao cair no calçadão, escorre para dentro
da cisterna, de onde é retirada posteriormente através de bombas manuais ou elétricas, para
utilização no plantio ou para os animais.
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Fotografia 02 - Cisterna calçadão sendo utilizada para a produção de hortaliças e frutas.
Fonte: IRPAA (2013)
Cisterna de enxurrada: Parecida com a cisterna calçadão, a mesma capta a água da
chuva, que escorre através de enxurrada, onde é feito um desvio que leva a água para dentro da
mesma. Neste caso, é necessário construir uma forma de filtrar a água, antes de cair na cisterna,
evitando assim, que sujeiras arrastadas pela água, vá para dentro da cisterna, provocando o seu
aterramento. A água acumulada neste tipo de cisterna, tem a mesma finalidade da água
acumulada na cisterna calçadão.
Tanque de pedra: Construído em locais de rocha fixa, onde é comum se encontrar
caldeirões. Este tipo de reservatório de água é construído, com pequenas adaptações feitas nas
rochas, e a água acumulada serve para a utilização em plantios, consumo animal, e até para
algumas necessidades humanas, como para tomar banho e lavar roupas.
Fotografia 03 - Tanques de pedra completamente cheios
Fonte: IRPAA (2007)
Sistemas PAIS – Produção Apropriada Integrada e Sustentável: É uma forma de
aproveitar a água armazenada nestes reservatórios, de forma racional, onde se utiliza sistema de
irrigação por gotejamento, sendo os canteiros feitos em forma de círculos, tendo ao centro um
galinheiro, com capacidade para 10 galinhas, num sistema de 256 m2. Além de se utilizar adubos
e defensivos naturais nestes sistemas, também podem ser plantadas árvores frutíferas de
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pequeno porte no seu entorno, como mamão, banana, acerola dentre outras, que além de
produzir alimento servirá de barreira natural para a horta.
Barragem subterrânea: Construída em locais por onde escorre da chuva, e apresenta
uma camada de solo arenoso, porém se encontrando abaixo uma rocha fixa, com capacidade
mínima de infiltração. Num local adequado, deve ser feito um escavamento, até atingir a rocha,
onde deve ser construído uma parede com pedra ou tijolo, podendo ser utilizado também lona,
para que garanta que a água não seja infiltrada. Desta forma, no período chuvoso a água se
acumula no subsolo, permanecendo a superfície úmido durante o período seco, onde pode ser
plantado vários tipos de hortaliças, batata, macaxeira, dentre outras plantas, conforme pode – se
ver, na fotografia 04.
Fotografia 4 - Barragem subterrânea com plantio de feijão, em pleno período de estiagem
Fonte: IRPAA
(2007)
Banco de proteína com pastagem nativa: O semiárido, possui um ecossistema frágil e
com demorada ou pouca capacidade de reconstituição, sendo que esta fragilidade, é decorrente
dos próprios fatores e da pouca compreensão que se tem das características ambientais deste
meio. Com isso, faz-se necessário o cuidado com o desmatamento, principalmente para o plantio
de capim, tendo como uma de muitas alternativas, a utilização da pastagem nativa, para a
alimentação animal, onde os mesmos se alimentam direto na natureza, ou que podem ser
utilizadas na confecção de silos, podendo assim guardar alimento para os mesmos no período de
estiagem.
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[...] forrageiras nativas e introduzidas para a formação de “bancos de proteína” incluem: a cunhã (Clitoria ternatea (L), o guandu (Cajanus cajan (L.) Millspaugh), a gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.), a maniçoba (Manihot pseudoglaziovii Pax & Hoffman), a flor-de-seda (Calotropis procera (Ait.) R.Br.), a jureminha (Desmanthus virgatus), a estilosantes
(Stylosanthes sp.), entre outras. LIMA (et al 2007)
Plantas nativas do semiárido como o fedegoso (nome pelo qual é conhecido), possuem
enorme potencial na confecção de silos, bastando apenas adotar o manejo e as técnicas
adequadas.
3. CONCLUSÃO
O semiárido ocupa uma parte considerável do território brasileiro, que segundo
SANTANA (2007, p. 24) correspondia naquele ano a 11,54%, e apresenta muitas limitações
principalmente no aspecto do desenvolvimento de atividades agropecuárias, o que se deve em
grande parte, aos fatores climáticos como a irregularidade das chuvas no tempo e no espaço,
associado às altas temperaturas.
De toda a área do semiárido, apenas 20% é propício para o desenvolvimento de
atividades agrícolas, incluindo a produção de sequeiro, e irrigação. Os demais 80%, deve ser
mantido como área de reserva, extrativismo e/ou criação de pequenos animais. SANTOS,
SCHISTEK e OBERHOFER (2007, p. 25).
Associado ao bioma caatinga, o semiárido apesar dos limites apresentados, possui uma
rica biodiversidade de animais e vegetais, a exemplo do umbu, da carnaúba, da favela e
pastagens nativas, sendo que algumas plantas possuem grande potencial medicinal, extrativista
e/ou na alimentação de pequenos animais como os caprinos, que se adaptam bem às condições
climáticas deste meio.
Durante muito tempo, foi disseminada a idéia do combate a seca, com políticas e
programas como as frentes de emergência, que davam resultados mínimos, pois a seca é um
fenômeno natural. Com o tempo, e a partir dos potenciais do semiárido, e da reflexão de um
conjunto de organizações, principalmente aquelas que compõem a Articulação do Semiárido
(ASA), criou-se várias técnicas e tecnologias apropriadas para o desenvolvimento sustentável
neste meio, tornando – se possível, por exemplo, a captação e utilização da água da chuva para
a produção de alimento, com o cultivo de plantas e a criação de animais, onde a partir de então,
passa-se a falar em convivência com o semiárido, em vez de combate a seca.
Dentre as técnicas e tecnologias apropriadas para o desenvolvimento sustentável no
semiárido, destacam-se a cisterna de placa, cisterna calçadão, cisterna de enxurrada, tanque de
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pedra, barragem subterrânea, irrigação com gotejamento (sistema PAIS) e utilização da
pastagem nativa na alimentação animal, que são altamente viáveis e de baixo custo para
implementação.
REFERÊNCIAS
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https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm. Acesso em 04 de
abril de 2018.
Declaração do semiárido: Propostas da articulação no semiárido brasileiro para a
convivência com o semiárido e combate à desertificação. ASA: Recife, 1999.
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convivência com o semiárido e combate à desertificação. ASA: Recife, 1999.
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regional/829-resultado-reuniao-condel. Acesso em 25 de março de 2018.
FEITOSA, Fernando A. C. Aspectos sobre água subterrânea em terrenos cristalinos da região semiárida brasileira. CPRM - Recife – PE, 2004. HENRIQUE, Eduardo. Favela, faveleira: Planta medicinal da Caatinga. Disponível em: https://www.xapuri.info/caatinga-2/favela-faveleira-planta-medicinal-da-caatinga/. Acesso em 29 de março de 2018.
LIMA, G. F. da C.; ARAÚJO, G. G. L. de; MACIEL F. C. Produção e conservação de forragens
em escala para sustentabilidade dos rebanhos caprinos e ovinos na agricultura de base
familiar. Anais do III Simpósio Internacional sobre Caprinos e Ovinos de Corte João Pessoa,
Paraíba, Brasil, 05 a 10 de novembro de 2007.
NASCIMENTO, Edvânia Bezerra do. Et. al. A Cera de Carnaúba: Origem, Produção e
Mercados. VIII Encontro de engenharia de produção agroindustrial. Disponível em:
http://www.fecilcam.br/anais/viii_eepa/arquivos/12-03.pdf. Acesso em 05 de abril de 2018.
PINTO, M. S. C.; BORGES, M. A. C.; ANDRADE, M. V. M. Potencial forrageiro da Caatinga,
fenologia, métodos de avaliação da área foliar e o efeito do déficit hídrico sobre o
crescimento de plantas. Revista Electrónica de Veterinária REDVET ®, ISSN 1695-7504 Vol.
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Plano de Manejo Sustentável de um Fundo de Pasto. IRPAA, Juazeiro-BA, 2011.
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SANTOS, Cícero Félix dos; SCHISTEK, Haroldo; OBERHOFER, Maria. No Semiárido, Viver é
Aprender a Conviver: Conhecendo o Semiárido em Busca da Convivência. Juazeiro – BA:
IRPAA, 2007.
SANTANA, Marcos Oliveira (org.). Atlas das Áreas Susceptíveis à Desertificação do Brasil. 1 ed. Brasília: MMA, 2007. 134 p.
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KIILL, Lúcia Helena Piedade. Biodiversidade e potencialidades da caatinga. Embrapa
semiárido, Petrolina – PE.
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ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE CABECEIRAS DO PIAUÍ
Odicélia Maria Silva de sousa1 Raimundo Luís da Silva ²
Antonia Rosa de Oliveira Pereira ³ Lusineide Sousa 4
RESUMO: Nas últimas décadas, pode-se verificar um significativo crescimento e a transformação da
paisagem urbana nas cidades, tendo em vista este fato, a presente pesquisa teve como objeto de estudo o
planejamento urbano na cidade de Cabeceiras do PI, a partir da discussão dos instrumentos de gestão
urbana, indicando limites e desafios na organização enfrentados nos últimos anos. A pesquisa realizou-se
no segundo semestre do ano de 2016, durante o período em que foi ministrada a disciplina Geografia
Urbana. Teve como objetivo principal analisar as formas de organização do espaço urbano na cidade de
Cabeceiras do Piauí, onde foi realizada a observação da paisagem urbana, e também das atividades
econômicas locais e da percepção da população local. Os procedimentos metodológicos partiram de
pesquisa-ação, com visitas observacionais, com objetivo de construir um referencial teórico sobre os
temas norteadores que fundamentaram a mesma, buscou-se caracterizar a área em estudo. Foram
aplicados os conhecimentos adquiridos em sala de aula no que diz respeito à produção do espaço urbano,
os processos, as formas espaciais, o desenvolvimento das atividades econômicas e de suas
manifestações espaciais, bem como, a caracterização da paisagem urbana a partir da perspectiva
morfológica e funcional. Na pesquisa foram identificados com a ajuda dos residentes deste município os
tipos de paisagem, os problemas ambientais e socioeconômicos urbanos inerentes a Organização do
Espaço Urbano do município Cabeceiras do Piauí.
Palavras-chave: Organização Espacial, Espaço Urbano, Cidades
INTRODUÇÃO O espaço urbano pode ser definido como a área urbana de uma cidade, ou seja, o espaço
que apresenta um maior número de habitantes de maior
Densidade populacional, com presença de infraestruturas, maior desenvolvimento econômico,
com áreas comerciais, serviços de saúde, lazer etc.
Segundo Corrêa (1989) “o espaço urbano é definido como o centro da cidade, local de
concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão, áreas residenciais, industriais,
distintas em termos de formas e conteúdo social, de lazer, e entre outras, aquelas de reserva
para futura expansão” [...]
__________________________
1Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. Email:[email protected]
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2 Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
3 Acadêmico da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
4 Tutora presencial - Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
A presente pesquisa teve como objetivo principal caracterizar a paisagem da cidade de
Cabeceiras do Piauí a partir das perspectivas morfológicas e funcionais. Foram identificados na
paisagem urbana os problemas ambientais e socioeconômicos, onde realizou-se uma análise
crítica destes, além de levantar junto aos residentes a percepção desses fatores sociais.
Constatou-se a falta de uma gestão de planejamento baseada em instrumentos como o Estatuto
das Cidades.
A pesquisa-ação desenvolveu-se de forma sucinta nas seguintes etapas: primeiro foi feito
um levantamento bibliográfico, acerca dos temas: espaço urbano, organização, gestão e Estatuto
das Cidades. Posteriormente, fez-se uma discussão teórica, enquanto subsidio essencial para a
compreensão da realidade estudada. Sendo assim, recorreu-se, sobretudo, a autores que
estudam o espaço urbano por um viés dialético-marxista, com destaque especial para o trabalho
de Corrêa (1989 e 1997).
Em seguida, realizou-se a observação descritiva do sítio urbano, forma e estrutura da
cidade de Cabeceiras do Piauí; registro fotográfico dos locais estudados, entrevistas informais
com populares, observação descritiva dos agentes produtores do espaço urbano na cidade, com
uma análise crítica das potencialidades econômicas da cidade foco da pesquisa, finalizando com
a organização, análise e discussão dos dados coletados e produção textual.
PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DAS CIDADES
O planejamento é um componente de qualquer ação coletiva ou individual que visa obter
maior sucesso em alguma atividade. Culling-Worth (1997 apud Souza, 2002) aponta os
elementos do planejamento: pensamento orientado para o futuro; escolha entre alternativas;
consideração de limites, restrições, potencialidades, prejuízos e benefícios; possibilidades de
diferentes cursos de ações os quais dependem de condições e circunstancias variáveis; a
preocupação com a resolução de conflitos de interesses, quando se trata de algo com muitas
pessoas envolvidas. De acordo com Wanderley (2001, p.02)
“A pesquisa sobre os pequenos municípios parece permanecer à margem do
interesse dos pesquisadores, sem que se formule sobre eles uma reflexão mais
sistemática” (Wanderley, (2001, p.02).
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Ao se observarmos os trabalhos da Geografia Urbana Brasileira, a partir dos anos 1950
até a década de 1990, identificar uma série de estudos ondem têm como prioridade as redes
urbanas e a relação das metrópoles com as cidades vizinhas.
No caso das pequenas cidades é cada vez mais importante que haja um planejamento de
ações pelos gestores no sentido de torná-las locais equilibrados e harmoniosos. A organização do
espaço urbano perpassa pelo social e ambientalmente e, sobretudo, pelas modificações ocorridas
diante das rápidas transformações trazidas pelas inovações tecnológicas. As relações se
intensificam a partir da expansão urbana. Ao crescimento urbano se associa problemas como a
violência, as desigualdades sociais, os problemas sociais e ambientais, daí a importância da
organização das cidades.
A maneira como as cidades são produzidas é fruto da disputa entre
vários interesses que, muitas vezes, são conflitantes. Nessa disputa,
vence quem tem maior poder de decisão, seja porque tem mais
informações, seja porque tem mais poder econômico. Com isso, grande
parte da população não tem suas necessidades atendidas, aumentando a
desigualdade social e a exclusão urbana (Cartilha Plano Diretor, 2006,
p.10).
A concepção de organização do espaço urbano requer diversos profissionais na busca não
mais de um modelo de cidade ideal, que soluciona todos os problemas, mas de uma cidade real
com mecanismos capazes de resolver seus problemas ao longo do tempo. Este é o novo desafio
do planejamento urbano que entende o espaço não mais como uma forma acabada, mas como
um processo distinto em constante transformação.
CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO MUNICÍPIO DE CABECEIRAS PIAUÍ
A cidade objeto de estudo – Cabeceiras do Piauí - está situada na região norte do estado
do Piauí, localizada na latitude de 04° 28‟ 35” sul e longitude de 42°18‟ 33” oeste, estando a uma
altitude de 0 metros. Sua população estimada em 2017 é de aproximadamente 10.406 habitantes,
com uma unidade territorial de 608,525 km² e uma densidade demográfica de 16,31 hab/km².
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Figura: 1 mapas da cidade de cabeceiras PI Fonte: googles maps
A cidade está localizada às margens da PI-113, distante à 91Km da capital Teresina. Sua
população é predominantemente situada na zona rural, sendo apenas 25% residente na área
urbana. Limita-se a Noroeste com as cidades de Miguel Alves e Lagoa Alegre; a norte com a
cidade de Barras; a leste com Boa Hora e Boqueirão e a sul com José de Freitas, Campo Maior e
Nossa Senhora de Nazaré. Sendo que a maior parte da população cabeceirenses vivem na zona
rural do município.
A tabela 1 figura 2 um demonstrativo com o percentual de pessoas que residentes nas
áreas urbana e rural da cidade de Cabeceira PI.
TABELA: 1
Habitantes por zona Rural e Urbana do Município de Cabeceiras do PI
Habitantes % sobre o total
População urbana 1657 25,00
População rural 8270 75,00
População total 9.927 100,0
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2010.
Cabeceiras do Piauí é uma cidade considerada pequena, tem sua economia apoiada no
comércio local, e na agricultura praticada na área rural. Apresenta alguns serviços básicos como:
hospitais, água, luz, escolas, supermercados, pousadas e etc. sua população vive de forma
pacata com baixo índice de violência, sendo que a maior parte vive na zona rural, a zona urbana
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possui 08 bairros 02 avenidas onde, uma é asfaltada e outra não, possui duas praças pública um
polo da Universidade Aberta 01 praça de eventos e etc. Os que residem na zona urbana se
concentram a maior parte próximos ao centro da cidade, como também as redes de comércios e
pousadas entre outros.
Segundo dados do (IBGE), a mesma apresenta 31.4% de domicílios com esgotamento
sanitário adequado, 95% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização e 0% de
domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada,
pavimentação e meio-fio). Quando comparado com os outros municípios do estado, fica na
posição 38 de 224, 26 de 224 e 84 de 224, respectivamente. Já quando comparado a outras
cidades do Brasil, sua posição é 3046 de 5570, 909 de 5570 e 4835 de 5570, respectivamente.
Estima-se que atualmente a população de Cabeceiras ultrapasse os 10.406 habitantes, pode-se
notar um crescente aumento populacional desde do último senso do IBGE realizado em 2010, e
como representado no gráfico 1 da figura.
Gráfico: 1 Gráfico Representativo do Processo de Transição Demográfica
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2010
A vida em pequenas cidades é marcada pela liberdade, pelo maior contato com a natureza
e a maioria das pessoas se conhecem. As relações sociais acontecem de maneira complexa
sobre o espaço urbano e suas ações são derivadas, de um lado, pela dinâmica da acumulação
capitalista e, de outro, e de maneira complementar e integrada, pelas necessidades de
reprodução das relações sociais (CÔRREA, 1989, SOUZA, 1988, CARLOS, 2001). As ações
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desses agentes são observadas no decorrer do tempo, produto histórico, e implicam uma
constante reorganização do espaço urbano.
O MEIO AMBIENTE NO ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE CABECEIRAS PIAUÍ
No município em estudo, foi observada forte presença do Estado,
Organizando espacialmente a cidade, de forma complexa e variável tanto no tempo como no
espaço, utilizando-se de instrumentos legais que contribuem com a sua atuação, com o
recolhimento de impostos e prestação de serviços públicos; os promotores imobiliários, com a
construção e especulação imobiliária. A arquitetura da cidade é simples e baseada em estrutura
de casas residenciais, as ruas são estreitas e com pouca pavimentação. Como apresentado na
figura 02, o comercio local é um dos fatores que movimenta a economia local.
Figura: 4 Ária comercial de Cabeceira PI
Fonte: Autores da Pesquisa
As principais atividades econômicas identificadas no município estão baseadas no
comércio que se distribui em varejista, bares, restaurantes, farmácias, supermercados e
pousadas etc. Prestação de serviços: unidade básica de saúde, escolas municipais e estadual,
serviços bancários: correios, casa lotérica e posto de atendimento do Bradesco.
Com o desenvolvimento urbano do município nota-se o crescimento das atividades de
comércio e construção civil, com a presença de obras residenciais, comerciais e urbanísticas. A
cidade tem como principal ponto turístico a piscina pública localizada nas proximidades do açude
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grande, onde a população local se reúnem em períodos como da semana santa, para momentos
de lazer, e não somente nessa época, mas durante o ano todo.
Figura: 5 Piscina pública de Cabeceiras
Fonte: Autores da Pesquisa
No perímetro urbano apresenta áreas verdes alternada com áreas de pouca vegetação.
Dentre os principais problemas urbanos cabe destacar a degradação ambiental do principal
açude do município. Nele foi observado que a população local deposita o lixo residencial, o
desmatamento da mata ciliar no entorno da área a ser preservada e a presença de animais para
pastagem.
É notório a necessidade de se desenvolver ações que visem a organização de alguns
espaços urbanos desta cidade, incluindo a recuperação de áreas naturais que foram degradadas,
tanto pela ação do homem como da natureza.
O açude grande é um dos pontos de referência da cidade de Cabeceira do PI, o mesmo
ocupa uma grande área em torno da cidade, infelizmente o mesmo apresenta situações
preocupante, quanto sua preservação. Como mostra a imagem abaixo.
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Figura: 6- Açude Grande- forte de presença de animais e a degradação da vegetação ciliar.
Fonte: Autores da pesquisa
A coexistência do urbano com áreas verdes ou naturais de preservação tem a função
ecológica, estética e de lazer, que contribuem para uma melhor qualidade de vida. A figura 06
retrata o açude da cidade e, apresenta toda a falta de cuidado com o mesmo. A sua proximidade
com o meio urbano inspira cuidados de conservação e preservação, pois o mesmo facilita o fluxo
gênico da fauna e flora.
A valorização destes espaços naturais em meios urbanos possibilita a consciência
ambiental promovendo funções sociais como espaço de lazer e recreação.
Observou-se a inexistência de banheiros públicos, bem como a pequena quantidade de
lixeiros em áreas públicas como praças e parques. A cidade apresenta limitação em obras de
saneamento básico, com exposição de esgotos nas principais áreas da sede do município, em
algumas ruas pode ser observado bastante quantidade de lixo deixados pelo chão e etc.
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Figura: 7- Esgoto a céu aberto nas proximidades do Espaço Cultural do município.
O município conta com abastecimento de água, encanada, com a presença de poço
artesiano, administrada pela AGESPISA (Companhia de Água e Esgoto do Piauí). Sua área conta
com 80% das ruas calçadas e pavimentadas. O serviço de coleta de lixo é realizado diariamente,
mediante coleta domiciliar, sendo disponibilizado à comunidade serviços de limpeza e capina, nas
principais ruas da cidade.
Diante do exposto é importante salientar que o Estatuto das Cidades não elemento
norteador da organização urbana não garante a efetiva participação das entidades
representativas nas diretrizes da política do desenvolvimento proposta para o município. Este
instrumento trás diretrizes no controle do processo de urbanização, que muitas vezes não são
levados em consideração, em especial em cidades de pequeno porte como Cabeceiras do Piauí.
Compreende-se ainda a importância do Plano Diretor, mais especificamente para o
município de Cabeceira, o plano contribuiria para minimizar os inúmeros problemas relacionados
ao uso e ocupação do solo, bem como ao acesso a serviços e equipamentos urbanos, com
ênfase na habitação e saneamento ambiental.
A organização do espaço urbano não pode ser responsabilidade de um só agente ou de
órgãos estatais, mas de todos, embora seja dever do estado as ações de funções públicas e
também as atividades inerentes à administração da cidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Como pôde ser observado nesta pesquisa, de forma concreta, o espaço urbano é dinâmico.
A todo o momento as suas formas são construídas e reconstruídas e, o principal problema nas
cidades é a questão da organização urbana motivada pelo crescimento populacional, que tem se
transformado em grave problema e também um desafio para a gestão dos municípios.
No contexto urbano de Cabeceiras do Piauí, pode se observa que a organização urbana
apresenta alguns problemas ambientais como por exemplo; a degradação dos solos em torno de
alguns pontos da cidade, poluição e etc. Isso têm adquirido dimensões preocupantes, acredita-se
que esses fatos estejam diretamente relacionado a falta de cuidado por parte da população local
com o meio ambiente, pode ser observado também, que, diferentemente das demais cidades
brasileira, a maior parte da população de Cabeceiras do PÍ, residem ou moram na zona rural,
isso ocorre por ser tratar de uma cidade pequena e não dispor de recursos suficientes que atenda
toda população, já que a principal renda da cidades vem das pequenas redes de comércio e da
agricultura.
Os resultados da presente pesquisa, apresentaram a constatação de fatos já conhecido e
baste discutido pela sociedade atual que é a questão da organização do espaço urbano em
pequenas cidades. O objetivo do trabalho foi de efetuar uma reflexão sobre das questões de
organização urbana, trazendo alguns conceitos que contribua para a formação de ideias que
possam ajudar no desenvolvimento de políticas públicas.
Pois há uma grande necessidade de implementar políticas públicas orientadas para tornar
as cidades social e ambientalmente sustentáveis, que representem a possibilidade de garantir
mudanças sócio institucionais que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais nos quais
se sustentam as comunidades urbanas.
É preciso incorporar a ideia de limite dos recursos naturais básicos, como a água, o solo e
o ar, buscar alternativas para reduzir a sua degradação e desperdício e, finalmente, construir,
viabilizar e respeitar os canais institucionais para o engajamento da população em práticas de
responsabilidade.
Assim, podemos concluir que o desafio atual da gestão nas cidades passa ainda pela busca
de modelos de políticas que combinem as novas exigências da economia globalizada à regulação
pública da produção da cidade e ao enfrentamento do quadro de exclusão social e de
deterioração ambiental.
REFERÊNCIAS:
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AS CISTERNAS DE PLACAS: SEU USO E OS CUIDADOS COM SUA ÁGUA – ESTUDO DO CASO DA LOCALIDADE PASSAGEM FUNDA, AROEIRAS DO
ITAIM – PI/BRASIL
Fernanda Camila Gonçalves de Moura1
RESUMO:O semiárido do Nordeste brasileiro passa por longos períodos de seca e estiagem. Durante o longo período de estiagem, as fontes de água usadas secam e os moradores precisam encontrar outras fontes para atender as suas necessidades diárias. Dessa forma, as cisternas de placas construídas pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) vem se mostrando uma solução sustentável para a convivência do homem com a seca, já que é mais barata e traz menores problemas ambientais. Esse trabalho teve como problema de pesquisa: Quais os usos e cuidados sanitários estão sendo dados a água armazenada nas cisternas de placas construídas na localidade Passagem Funda, município de Aroeiras do Itaim – PI? O presente trabalho tem como objetivo analisar se as cisternas de placas vem possibilitando acesso a água de qualidade pela população da localidade Passagem Funda; conhecer os usos que vem sendo dados a água armazenada nas cisternas de placas; e conhecer os cuidados que vem sendo tomados com a proteção sanitária da água armazenada. Como metodologia de pesquisa foi realizado pesquisa bibliográfica e de campo, com a aplicação de questionários, observação direta e registros fotográficos. Conclui-se que as cisternas não disponibilizam de água suficiente para atender as necessidades básicas das famílias pesquisadas, já que durante os longos períodos de estiagem é preciso repor a água. As famílias usam a água para beber, cozinhar e tomar banho, mas algumas utilizam para irrigar hortaliças para consumo próprio e para matar a sede de animais domésticos, mesmo a localidade tendo o fornecimento de água encanada, pois o mesmo é frequentemente interrompido. Dessa forma, as cisternas de placas são uma maneira de manter a população no campo, pois se sabe que sem água é impossível viver em qualquer lugar que seja.
Palavras-chave: Proteção Sanitária; Utilidades; Seca no Nordeste; P1MC.
1 INTRODUÇÃO
O semiárido brasileiro caracteriza-se pela variabilidade espacial e temporal das chuvas,
com dois extremos, tanto de seca quanto de chuvas (TAVARES et. al., 2007, p.1). O Nordeste
semiárido fica no “Polígono das Secas (TAVARES et. al., 2007, p.2). O semiárido fica em uma
área caracterizada pelas secas e estiagens prolongadas, possuindo uma desigualdade de chuvas
tanto espacial quanto temporal e também em quantidades pluviométricas. Sendo que em alguns
locais chove muito e em outros chove muito pouco.
Nas últimas décadas, a seca se tornou um tema muito abordado nos principais veículos de
comunicação brasileira. Devido aos baixos índices pluviométricos e ao drama vivenciado pelos
nordestinos que encontram-se com os seus reservatórios como açudes e barragens, secos. Sem
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água suficiente para a sobrevivência da população (Fernandes apud Queiroz, 2013 apud JUNIOR
et. al., 2015, p.1-2). A seca é um grande problema do Nordeste brasileiro, onde a escassez de
água torna a vida no semiárido, praticamente, impossível levando muitas pessoas a migrarem
para outros locais.
A escassez de água no semiárido nordestino brasileiro, ou em qualquer lugar do mundo,
pode ter seus efeitos amenizados a partir da adoção de tecnologias simples onde haja o
aproveitamento da água das chuvas, porém, se sabe que essa fonte é imprevisível e com uma
variabilidade espacial e temporal muito grande na maior parte do mundo (ALMEIDA, 2001 apud
ALMEIDA; LIMA, 2007, p.2). A água é um elemento natural de grande escassez em muitos
lugares de todo o mundo e como solução para essa escassez existente no semiárido o P1MCvem
construindo cisternas de placas com o objetivo de aproveitar a água das chuvas para uso das
populações que vivem no semiárido.
O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) foi realizado pelo governo federal para
beneficiar famílias nordestinas a partir da implantação de cisternas (JUNIOR, et. al., 2015, p.1). O
programa traz uma forma sustentável de armazenar água em locais em que as chuvas são
poucas e mal distribuídas.
A estiagem é um problema para a sobrevivência na região Nordeste e como solução foi
criado o P1MC que vem construindo cisternas de placas, colaborando com a diminuição dos
problemas de acesso a água de qualidade em regiões em que a população não tem acesso a
água com as condições necessária para o consumo humano, sendo muitas vezes, salobra, suja e
até compartilhadas com animais, levando a propagação de doenças.
O presente trabalho se justifica pelo fato de a água ser um elemento vital para a
sobrevivência de todos os seres vivos, inclusive do ser humano, e também de a estiagem e a
escassez de água serem uma realidade do nordestino e vivenciada pela autora. Além disso, as
cisternas são uma forma de manter os habitantes em locais de estiagem, se tornando um fator
importante para diminuir o êxodo rural.
Este trabalho teve como problema de pesquisa a seguinte pergunta: Quais os usos e
cuidados sanitários estão sendo dados a água armazenada nas cisternas de placas construídas
na localidade Passagem Funda, município de Aroeiras do Itaim – PI?
O presente trabalho tem por objetivo geral analisar se as cisternas de placas vem
possibilitando acesso a água de qualidade a população da localidade Passagem Funda,
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município de Aroeiras do Itaim – PI. E como objetivos específicos temos: conhecer os usos que
vem sendo dados a água armazenada nas cisternas de placas da localidade Passagem Funda;
conhecer os cuidados com a proteção sanitária que vem sendo tomados com a água armazenada
nas cisternas de placas construídas na localidade Passagem Funda.
A água das cisternas de placas, com a quantidade de água que cada uma pode armazenar
e com o longo período de estiagem vivenciado pelos nordestinos todo ano,não é suficiente para
atender a todas as necessidades diárias de uma família. A água, normalmente, é utilizada para
beber, cozinhar, tomar banho. E por isso, os 16.000 litros não suprem as necessidades básicas
de uma família durante os meses sem chuvas. Como cuidados com a proteçãosanitária,
recomendasse utilizar um balde exclusivo para a retirada da água ou utilizar a bomba presente
nas cisternas, não armazenar a água das primeiras chuvas; lavar, anualmente, a cisterna e
colocar produtos de tratamento na água.
Como metodologia utilizou-se a pesquisa em fontes primárias (artigos encontrados na
internet sobre o tema) e pesquisa de campo, com a aplicação de questionários as famílias
beneficiadas com a construção das cisternas na localidade Passagem Funda, município de
Aroeiras do Itaim – PI, além da observação direta e de registros fotográficos. O questionário foi
aplicado em 7 casas das 15 existente na localidade. As 7 casas possuem cisternas de placas e
uma das casas está sem morador, porém, como a água desta cisterna é utilizada por três famílias
vizinhas foi aplicado o questionário a uma das famílias que utilizam a água.
2 REFERÊNCIAL TEÓRICO
O semiárido brasileiro fica em uma área que abrange todos os estados da Região Nordeste
(86,48%), a região setentrional do Estado de Minas Gerais (11,01%) e o Norte do Espírito Santo
(2,5%), totalizando 974.752 km² (ASA, 2003, p.11) O semiárido fica em uma área marcada por
grandes períodos de seca e de estiagem, carregados de muita dificuldade de acesso a água de
qualidade para o consumo humano.
A água potável é um elemento indispensável à vida humana e, portanto, um dos maiores
problemas sociais do mundo (Almeida; Lima, 2007, p.2). A água de qualidade é um bem vital para
a nossa sobrevivência e por isso sua escassez é um grande problema para toda a humanidade.
No semiárido brasileiro, as cisternas de placas consistem em um sistema de captação e
armazenamento de água da chuva que se tornou uma solução não-coletiva de abastecimento de
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água para a população (Xavier, 2010, p.18). A cisterna é uma forma simples de garantir acesso a
água de qualidade, mesmo que essa não disponha de quantidade suficiente para manter as
famílias nordestinas nos períodos de estiagem.
A captação de água é feita nos telhados ou em calçadões para captar água, sendo
necessário realizar o descarte da água das primeiras chuvas (XAVIER, 2010, p.32). A água das
chuvas são captadas em duas formas, pelos telhados e a partir de calçadões construídos com
essa finalidade, sendo que nesses sistemas é necessário descartar a água das primeiras chuvas
devido à grande quantidade de resíduos acumulados nos telhados e nos calçadões, pois estes
contaminam a água e podem causar doenças. Na área de estudo todas as cisternas recebem
água da chuva a partir do telhado das casas.
3 MATERIAS E MÉTODOS
Como suporte ao trabalho de campo, a pesquisa teve contributo de fontes primárias
(artigos científicos encontrados na internet sobre o tema). Na pesquisa de campo foi aplicado
questionários aos proprietários das cisternas de placas na localidade Passagem Funda, município
de Aroeiras do Itaim, com observação direta e registros fotográficos.
Inicialmente foi selecionado a localidade Passagem Funda, localizada no município de
Aroeiras do Itaim – PI, que conta com 15 casas, sendo que destas apenas 7 possuem cisterna de
placas e uma não possui morador, porém, a água dessa cisternas é utilizada por famílias
vizinhas. A pesquisa foi realizada no dia 19 de fevereiro de 2018.
Imagem 1- Mapa de Aroeiras do Itaim-PI/Brasil
Fonte: Google, 2018
O município de Aroeiras do Itaim se localiza no Estado do Piauí no território brasileiro e
abrange uma área de 257,1 km². Em seu último censo contava com 2 442 habitantes (Cidade
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Brasil, 2016). Sendo que a maior parte de sua população reside no campo e que muitas das
localidades do município possuem dificuldades de acesso a água, entre elas a localidade
estudada.
Após a seleção da localidade, foi realizado um levantamento do total de casas presentes
na localidade e quais destas possuíam cisternas de placas. Depois foi aplicado os questionários
aos proprietários das cisternas e também foi realizado a observação direta e os registros
fotográficos. A localidade estudada possui 15 casas e apenas 7 foram beneficiadas com as
cisternas, sendo que uma das 7 está sem morador.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
As cisternas de placas construídas no sertão do Nordeste brasileiro tem se tornado uma
ótima alternativa para a melhor convivência do sertanejo com a seca, por ser uma forma de
captação de água sustentável. Principalmente, quando comparado com a construção de açudes,
barragens ou poços de água, pois geram diversos danos ambientais ((COSTA, 2013 apud
JUNIOR et. al. 2015, p.3). Um outro fator é o baixo custo da construção das cisternas de placas,
principalmente, quando se compara com a construção de açudes e barragens.
Se tornando uma forma de acesso sustentável de água, amenizando os efeitos da seca no
sertão nordestino (LEAL, 2013 apud JUNIOR et. al. 2015, p.3). As cisternas de placas se
tornaram uma forma sustentável de acesso a água de qualidade das populações nordestinas que
precisam conviver com a seca e com a estiagem. Na localidade Passagem Funda não há nenhum
reservatório de água, sendo que a população utiliza a água de poços de água, do rio, de alguns
riachos e atualmente, foram beneficiados com o encanamento de água, porém, esse
abastecimento é frequentemente interrompido, devido a problemas com a rede de fornecimento.
Neste sentido, o investimento feito pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome – MDS na construção de cisternas nos mostra uma forma eficaz de amenizar os efeitos da
seca nordestina. Corrobora com este quadro socioambiental a análise dos dados coletados na
localidade Passagem Funda na cidade de Aroeiras do Itaim no Estado do Piauí, que
evidenciaram a partir da pesquisa de campo um percentual de 47% de um total de 15 casas
apresentaram cisternas de placas, sendo que destas uma não possui morador, porém, continua
sendo utilizada por três famílias vizinhas que não foram agraciadas com a cisterna de placas,
Gráfico 1.
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Fonte: Autora, 2018 Fonte: Autora, 2018
Dos 7 questionários aplicados, sendo que um foi respondido por uma família vizinha a casa
sem morador, apenas uma família afirmou que continuaria morando na localidade mesmo sem a
cisterna, já que vivem ali a muito tempo e já estão acostumados com sua realidade. Os demais
afirmaram que a cisterna colaborou para continuarem morando na localidade. Todas as casas do
povoado possuem água encanada, porém, o abastecimento é interrompido com bastante
frequência e por isso, utilizam a cisterna com uma garantia de que terão água para atender as
necessidades básicas de suas famílias. Dessa forma, percebe-se que mesmo com a água
encanada, as cisternas ainda exercem sua funcionalidade, a de possibilitar acesso a água em
períodos de estiagem, já que na maior parte das comunidades rurais que possuem água
encanada o abastecimento ocorre de forma desigual e com grandes períodos sem fornecimento.
Na localidade estudada, em um pouco mais de 3 meses, o fornecimento já foi interrompido
diversas vezes. Assim, as cisternas de placas continuam sendo de extrema importância para o
abastecimento de água das famílias da localidade estudada.
Apenas duas famílias afirmaram que mesmo com as cisternas ainda buscavam água,
porém, o tempo utilizado para essa finalidade diminuiu bastante. Sendo que após o encanamento
de água essa atividade foi interrompida, já que enchem suas cisternas com a água que recebem
através das torneiras. Muitas vezes, a água que buscavam era salobra ou suja e até mesmo
compartilhadas com animais, aumentando os riscos de propagação de doenças. Atualmente,
apenas lavam roupas em outros locais como poços e riachos e isso quando estão sem o
fornecimento de água encanada. O fornecimento de água é barrado, principalmente, pela queima
da bomba.
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A água das cisternas são, em sua maioria, usados por apenas uma família, sendoque uma
das cisternas é usada por duas e outra por três famílias (casa sem morador). Percebe-se que
mesmo com o abandono de uma cisterna, a mesma, continua exercendo sua funcionalidade, a de
fornecimento de água.
Imagem 2- Cisterna de Placas
Fonte: Autora, 2018
A água armazenada nas cisternas de placas não vem apenas da chuva, segundo os
moradores, suas cisternas recebiam água de caminhões-pipa (antes da água encanada), além
disso, colocam a água da torneira vinda de um poço que fornece água para toda a localidade,
porém, esse fornecimento é frequentemente interrompido e por isso, os moradores misturam toas
as fontes de águas disponíveis, mesmo não sendo recomendado.
Os moradores beneficiados com o P1MC usam a água para a maior de suas necessidades
diárias, só não usam para lavar roupas, já que precisariam de muita água e poderiam ficar sem
água para atender as necessidades básicas de suas famílias. Eles usam a água para diferentes
funções como para beber, cozinhar, tomar banho, matar a sede de animais domésticos (como
galinhas) e irrigar hortaliças para consumo próprio, como mostra o Gráfico 3.
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Fonte: MOURA, 2018
A maior parte das famílias não realizam todos os cuidados necessários com a proteção
sanitária da água armazenada nas cisternas, sendo que apenas duas famílias das sete utilizam
um balde exclusivo para a retirar a água. Todos descartam a água das primeiras chuvas e todos
lavam a cisterna anualmente, porém, ninguém coloca produtos para tratar a água, sendo que nem
cogitam essa possibilidade e nem recebem nenhum apoio da rede de saúde pública do município.
Além disso, a maioria mistura a água da chuva com água de outras fontes como torneira,
principalmente, pelo medo de ficarem sem água para as necessidades básicas diárias de suas
famílias. Já que teriam de andar longas distâncias em busca de um pouco de água, onde muitas
vezes são de má qualidade, salobra ou suja e até compartilhadas com animais, aumentando as
chances de adquirirem doenças.
5 CONCLUSÃO
O semiárido nordestino passa por longos períodos de estiagem, ou seja, passa por
períodos sem chuvas e durante esse período os seus habitantes passam por muitas dificuldades
com relação ao acesso a água necessária para sua sobrevivência. Onde quando as fontes de
água usadas, normalmente, secam precisam ir em busca de novas formas de acesso a água, e
muitas vezes essas novas fontes são inapropriadas para o consumo humano, sendo suas águas
sujas, salobras e até usada por animais, podendo provocar a propagação de doenças. Como
solução o governo federal criou o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) que constrói
cisternas de placas em casas do semiárido nordestino buscando solucionar o problema causado
pela seca, a falta de água e dessa forma, diminuir ou até acabar com o êxodo rural. Percebe-se
que as cisternas de placas vem exercendo sua função, já que possibilitam acesso a uma água,
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que mesmo em quantidade insuficiente para ser usada em todo o período de estiagem, diminuiu a
dificuldade de acesso a água e ainda possui uma qualidade razoável para o consumo do homem.
REFERÊNCIAS
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Disponível em:<www.hidro.ufcg.edu.br/cisternas/Captação_e_manejo_de_agua_de_C...> Acesso
em: 13 de fevereiro de 2018.
XAVIER, R. P. Influência de barreiras sanitárias na qualidade da água de chuva armazenada
em cisternas no semiárido paraibano. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil e
Ambiental. Campina Grande – PB: UFCG, 2010.
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BARRAGENS JENIPAPO E PETRÔNIO PORTELA: PERSPECTIVAS DE USOS E GESTÃO DOS RECURSOS HIDRÍCOS PARA O ATENDIMENTO DA
POPULAÇÃO DO SEMIÁRIDO DO PIAUÍ
Erikes dos Santos Torres1 Cristiane Lucelina da Silva Almeida2
Vanusa de Sousa Pais Rodrigues3
Waldirene Alves Lopes da Silva4
RESUMO: O presente estudo se destina a fazer um levantamento dos principais usos e gerenciamento
dos recursos hídricos provindos das barragens Jenipapo, localizada no município de São João do Piauí, e
Petrônio Portela, situada no município de São Raimundo Nonato – PI. Uma análise centrada na
compreensão de como a população se beneficia a partir da implementação dessas barragens, se isso se
dá em maior parte através do consumo residencial ou de outras atividades, tomando o turismo e a
produção de frutas irrigadas como exemplo, pode-se delimitar os limites e horizontes possíveis que
impedem ou colaboram para que essas atividades possam significar uma possibilidade de ascensão social
e econômica em ambos os casos. Como parte do percurso metodológico desse trabalho foram feitas
revisões bibliográficas de artigos e livros específicos, pesquisas em campo a fim de obter registro
fotográfico e conversas informais com residentes locais, além de diálogos com técnicos da adutora
Garrincho. No contexto analisado a água precisa ser vista não só como um meio para suprir as
necessidades básicas de sobrevivência humana, mas também como um agente de transformação sócio
espacial, modificando a paisagem do lugar e os costumes de produção das populações, como nos casos
da barragem Petrônio Portela que permite o funcionamento do sistema adutor do Garrincho, um projeto
que foi realizado em 2006 visando o abastecimento da população de sete municípios da microrregião de
São Raimundo Nonato. Na adutora e na barragem Jenipapo percebe-se como a apropriação da natureza
pelo homem resultou em condições que contribuíram para a fixação da população nesse território.
Palavras chaves: Desenvolvimento; Consumo; Hidrografia.
INTRODUÇÃO
A vulnerabilidade social no semiárido piauiense associa-se em boa parte com as
dificuldades da população em ter acesso aos recursos hídricos, nesse contexto as práticas
advindas de políticas públicas representam alternativas de convivência com as disposições
1 Acadêmico do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail:
[email protected] 2 Acadêmico do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail:
[email protected] 3 Acadêmico do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail:
[email protected] 4 Docente do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail:
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climáticas da região. Uma alternativa para a equação desse cenário diz respeito ao sistema de
abastecimento residencial irrigado, proporcionado através da criação de barramentos em grande
escala, na região analisada esse barramento fica representado pela implantação das barragens
Jenipapo e Petrônio Portela, localizadas nos municípios de São João do Piauí e São Raimundo
Nonato – PI respectivamente.
Devido a representatividade dessas barragens para a sustentação da população, torna-se
necessária investigações a fim de se obter resultados que apontem as principais funcionalidades
dessas barragens para o espaço geográfico que elas abrangem, bem como as limitações e as
possibilidades de desenvolvimento que as mesmas oferecem à população. Nesse sentido torna-
se fundamental comparar e diferenciar os tipos de usos que a população faz das barragens
jenipapo e Petrônio Portela, bem como mostrar como é feito parte do processo de tratamento da
água na adutora do Garrincho, e por fim Identificar as possibilidades de desenvolvimento social e
econômico que elas oferecem para a área em torno.
As Barragens são de suma importância para a população do semiárido, podendo servir não
só para o consumo doméstico, mas também para propor outras formas de aproveitamento dos
espaços, partindo dessa hipótese surgiu o interesse em uma investigação de como estão sendo
feitos esses usos no semiárido, diante das circunstâncias a construção desse trabalho se assenta
em revisões bibliográficas de artigos e livros específicos, como também em pesquisas de campo,
a fim de obter registro fotográfico e entrevistas com pessoal.
BARRAGEM JENIPAPO
O uso de reservatórios para o abastecimento de água junto à população significa, do ponto
de vista humanitário, a equalização de problemas enfrentados por milhares de pessoas no sertão
do Piauí. Todavia os impactos provocados por esse tipo de intervenção na natureza se fazem ser
notados, tanto no meio social como no meio ambiente. Sob esse ponto de vista, no município de
São João do Piauí está localizada a barragem de Jenipapo, com grande potencial hídrico,
segundo o Atlas escolar do Piauí (2016,p.66), a barragem possui capacidade de 248.000m³
afluente, sendo considerada um importante propulsor para a economia local, tanto do ponto de
vista turístico, dispondo de balneários, como também através da produção irrigada de alimentos,
como a fruticultura. Seu balneário fica localizado a 16 km da cidade, com boa estrutura para
receber banhistas, conta ainda com via de acesso pavimentada não representando para os
turistas nem um transtorno no deslocamento até o local.
Figura A: Balneário de Jenipapo. Figura B: Barragem de Jenipapo.
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Fonte: Arquivo pessoal, 2017. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
A barragem Jenipapo é responsável por uma série de discussões e propostas de
desenvolvimento econômico para São João do Piauí, principalmente no que se refere à
piscicultura e fruticultura irrigada, propostas que atingiram as comunidades de assentamentos
rurais, tal qual o caso do Assentamento Marrecas em São João do Piauí é o principal exemplo.
Tendo em vista o acesso a estratégias de irrigação que têm, cada vez mais,
se mostrado útil ao desenvolvimento de culturas variadas no assentamento
Marrecas, as famílias assentadas passaram a vislumbrar possibilidades de
diversificação de sua produção com vistas ao aumento da renda média
anual e ao máximo aproveitamento dos recursos naturais por eles utilizados,
posto que, de acordo com estimativas do novo projeto de ampliação de
irrigação, cerca de 50% da capacidade da barragem do Jenipapo passará a
ser utilizada nas estratégias de irrigação do assentamento. (JERÔNIMO,
GOMES, et al. 2016, p. 103).
Além da barragem ser explorada como via econômica, para a agricultura irrigada, destaca-
se também o apelo turístico que as margens passam a oferecer, se tornando uma área de lazer
para a população já que ali estão instalados bares e pontos de recreação, uma estrutura
produzida para atrair banhistas. Por outro lado a instalação dessa área implica também em
impactos ambientais, tais como poluição e erosão pluvial, podemos entender que essa última:
[...] Se e inicia com as próprias gotas de chuva. Quando essas gotas
colidem com o solo desnudo e sem cultivo podem desacomodar e mover as
partículas de solo a uma distância surpreendente. No princípio do
escoamento superficial, a água é coletada em pequenas canaleta, que
podem erodir mais e evoluir para pequenos canais chamados ravinas. (G.
ARAUJO, J. ALMEIDA, A. GUERRA, 2009, p.77).
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Isso ocorre porque a vegetação da encosta foi retirada para a construção tornando o solo
desprotegido, dessa forma seria interessante que uma nova vegetação fosse inserida no local, às
margens da barragem, de modo que não atrapalhasse o fluxo turístico, mas também não
comprometesse a sustentabilidade do solo.
Figura C: Vestígios de fogueira. Figura D: Construção destinada ao lazer
turístico.
Fonte: Arquivo pessoal, 2017. Fonte: Arquivo pessoal, 2017.
Além disso, pode se observar outros meios de degradação, como fogueiras e resíduos
plásticos, no entanto o aspecto visual não chega a incomodar os turistas ou alguém que vá ao
balneário com outra finalidade, o lugar dispõe de atrativos para recreação e lazer, como bares e
espaço para acomodação de banhistas.
BARRAGEM PETRÔNIO PORTELA E SISTEMA ADUTOR
As barragem Jenipapo e Petrônio Portela possuem algumas similaridades quando o debate
em questão é assistência para a população, a primeira ganha funções no uso principalmente para
a fruticultura irrigada, além do uso para o turismo. A segunda conta com um grande sistema
interligado para o abastecimento dos munícipio da microrregião de São Raimundo Nonato - PI.
Esse sistema Adutor (Garrincho) fica localizado entre as cidades de São Raimundo Nonato
e Coronel José Dias na BR 020, ambas no Sudoeste do Piauí. A área de construção da adutora
se encontra no entorno dos Parques Nacionais Serra da Capivara e Serra das Confusões.
Segundo GUIDON (2005), o empreendimento Adutora do Garrincho está localizado numa das
mais importantes áreas arqueológicas das Américas.
O projeto Adutor do Garrincho teve início em 2006 pelo governo estadual do Piauí, no
mandato de José Wellington Barroso de Araújo Dias, beneficiando um total de sete municípios, a
saber: São Raimundo Nonato, Várzea Branca, Bomfim do Piauí, São Braz, Coronel José Dias,
Dirceu Arcoverde e São Lourenço.
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A barragem Petrônio Portela teve o inicio de sua construção em outubro de 1984, a partir
da assinatura de um convênio no PGE 07/84, firmado entre DNOCS e Governo do Estado. A obra
forma um lago de 4.500 ha que se estende ao longo de 14 km do rio Piauí1. A mesma conta com
uma estação de tratamento que faz o processo de desinfecção da água para a distribuição.
Conforme o Relatório Anual de Consumo (2006), o processo de tratamento de água passa
por algumas fases, sendo essas: Captação, Coagulação, floculação, filtração, desinfecção,
Correção de PH, reservação e distribuição. O fluxograma abaixo mostra de forma resumida esse
processo, depois de se tornar potável a água está propícia para reservação e distribuição.
O sistema funciona 24 horas por dia para garantir o abastecimento de água a população de
São Raimundo Nonato e região, porém a população sofre constantemente com interrupções no
abastecimento, originado principalmente pela falta de infraestrutura, o rompimento de canos é
algo constante.
Na adutora tivemos contato com um técnico de operação do sistema, quando interrogado
no que se refere ao processo de captação e tratamento da água, ele argumentou que:
A água bruta é captada da Barragem Petrônio Portela, conhecida
popularmente como Barragem da onça. Essa se encontra a vinte e cinco
quilômetros do sistema de tratamento. Existe uma bomba flutuante na parte
superficial nas margens da barragem, jogando água para um elevatório
onde há outra bomba de recalque, e esta faz com que chegue até a estação
de tratamento.
Posteriormente são usados alguns produtos químicos para a desinfecção da água como:
sulfato de cloreto, sulfato de alumínio, cloro e cloro gás. A forma de tratamento da água é
constituída de uma Flotação por ar dissolvido, com filtrações seguidas de desinfecção por cloro
gasoso. A Figura H mostra o equipamento utilizado para esse processo, no qual o saturador tem
a função de flotofiltração, onde é injetado água e ar, que posteriormente dissolvidos empurram os
elementos sólidos para a parte superior, sendo que a inferior passa pelo processo de filtração.
1 Disponível em: http://www.portalturismobrasil.com.br Acessado em: 15/04/2018.
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É importante ressaltar que mesmo quando a água se encontra com a coloração adequada
nas torneiras das residências locais, isso não é um sinônimo que tudo vá bem, pois mesmo assim
acontece o monitoramento na adutora, onde técnicos diariamente fazem a análise do PH da água
e acidez, tentando reverter situações impróprias da qualidade.
Os aparelhos usados para analisar a qualidade da água, são o Turbidimetro, este serve
para medir a turbidez; o PHmetro para medir o PH da água, e o Calorímetro para medir a
quantidade de cloro da água.
Depois de passar pelos processos de tratamento a água é levada através de tubulações
para um reservatório com capacidade de 500 mil litros, onde a mesma é considerada potável e
pronta para a distribuição nas residências.
Figura E: Turbidimetro. Figura F: PHgametro,
Fonte: arquivo pessoal, 2017. Arquivo pessoal, 2017.
Figura G: Colorímetro. Figura H: Saturador.
Figura G: Colorímetro. Figura H: Saturador.
Ademais alguns consumidores não utilizam a água para o consumo próprio diante do
aspecto da mesma que se apresenta salobra por natureza, ou seja, para ingestão, somente para
fins domésticos (limpeza), entre outros afazeres, pois mesmo tratada, pode-se perceber a
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coloração por vezes esverdeada ou amarelada, dificilmente a água está translúcida. Uma turbidez
que instiga desconfiança nos processo de tratamento apesar de termos observado que o mesmo
ocorre com seriedade na estação de tratamento local. Embora a água seja um recurso vital para a
humanidade, é fundamental que não haja desperdício já que, as gerações futuras necessitarão da
mesma para sobreviver.
CONCLUSÃO
A implementação de sistemas de irrigação por meio de barragens para a comunidade
sertaneja, diferentemente do que ocorre em outras regiões do Brasil, significa apenas um
conjunto a mais de alternativas para o acesso ao consumo da água potável, já que as secas são
constantes, sendo esse um dos principais caracterizadores do Sertão frente outras sub-regiões
do próprio Nordeste.
As barragens Jenipapo e Petrônio Portela atendem uma demanda de consumo
responsável por ajudar a fixar a população de várias cidades no sertão. A primeira se diferencia
pelo apelo turístico que desenvolveu em parte de suas margens, além de fomentar a ampliação
da produção fruticultura irrigada no município de São João do Piauí. A barragem Petrônio Portela
se destaca pelo seu potencial de abastecimento para a população, contando com uma grande
estrutura de distribuição, representada pelo sistema adutor do Garrincho.
A estrutura de tratamento no sistema adutor Garrincho, permite sua distribuição, mas com
uma qualidade contestável, pois nem toda a população abastecida usa a água para o consumo
em totalidade. Não é incomum ouvir reclamações sobre o aspecto da coloração, pois algumas
vezes ela não se apresenta inodora o que a remete à ausência das características naturais da
água adequada para consumo, necessitando ela ser: incolor, inodora e insípida. Sob tais
circunstâncias, muitas famílias fazem o uso da água distribuída pelo sistema de forma simultânea
com a utilização da água de cisternas que captam e reservam a água da chuva.
Ainda assim, as barragens significam para a população do semiárido a possibilidade de
consolidação de novos arranjos espaciais, a partir do momento em que estes são construídos. O
lugar adquire novas formas e funções, que são efetivadas através da tentativa de consolidar
novas práticas de vida e uso como o turismo e lazer, por exemplo, além de incrementar políticas
de desenvolvimento local através do desenvolvimento de culturas de plantações irrigadas, como a
fruticultura.
REFERÊNCIAS
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ARAUJO, Gustavo Henrique de Sousa. Gestão ambiental de áreas
degradadas/GustavoHenrique de Sousa Araujo, Josimar Ribeiro de Almeida, Antonio José
Teixeira Guerra. __4° ed – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
Atlas escolar do Piauí :geo-histórico e cultural. José Luis Lopes Araújo, coordenador. João
Pessoa, PB : Editora Grafset, 2001.
JERONIMO, Maria et al. Perspectivas de viabilidade econômica e ambiental: integração
entre a piscicultura e a fruticultura irrigada em São João do Piauí (PI). P. 103-109, Edição
especial, 2016.
GUIDON, N., FELICE, G., LIMA, C. F.M.VI. Salvamento Arqueológico na área da adutora do
Garrincho. Fhundam, São Raimundo Nonato, 2005.
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DESENVOLVIMENTO DAS POTENCIALIDADES TURÍSTICAS DA MICRORREGIÃO DE SÃO RAIMUNDO NONATO
Erikes dos Santos Torres1 Kátia Mendes de Sousa2 Raquel de Brito Santos3
Flávio Ribeiro Magalhães4
RESUMO: Este trabalho foi construído com a premissade analisar algumas atividades turísticas de maior relevância ou que atraem um número significante de visitantes para a microrregião de São Raimundo Nonato. Dentro desta perspectiva a intenção é verificar a importância das áreas de atração para os municípios da microrregião atingidos pelo fenômeno do turismo, constatando o quanto é imprescindível para a economia local. Assim procuramos salientar nessa pesquisa os seguintes tipos de turismo: o turismo religioso, o turismo de natureza ou eco turismo e o turismo científico, buscando diagnosticar as suas potencialidades para o fluxo turístico e atração de pessoas para a região.O turismo enquadra-se atualmente como uma das vias de desenvolvimento da microrregião de São Raimundo Nonato, o Parque Nacional Serra da capivara é o principal fomentador, mas não se restringe apenas às potencialidades do parque o apelo turístico da região, partindo disso esse levantamento aponta as principais atividades provedoras de fluxos humanos a partir do turismo. A construção desse trabalho se deu a partir de levantamentos e revisões bibliográficas, através de livros, artigos e publicações na internet, e pesquisas em campo a fim de perceber os anseios, dúvidas e opiniões da população de São Raimundo Nonato à cerca do fenômeno turismo.
Palavras chaves: Turismo; atrativos; potencial.
INTRODUÇÃO
A criação de uma microrregião se sustenta na necessidade de organização territorial pelo
Estado, a fim de atender melhor as necessidades da população o planejamento tem como
finalidade facilitar o acesso a serviços, tanto em esfera pública como na privada, de forma que a
barreira espacial não se torne um impedimento, tendo em vista que esses serviços ficarão
concentrados em um município, pode ser destacado também que órgãos públicos como o IBGE
se utiliza dessas regionalizações para sistematizar de maneira mais eficaz o conhecimento sobre
as regiões, e compreender o todo a partir da análise das partes. Tudo isso não faria sentido se o
1Acadêmico do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail:
[email protected] 2Acadêmico do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail:
[email protected] 3Acadêmico do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail:
[email protected] 4 Docente do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E – mail:
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objetivo final não fosse à busca do desenvolvimento a partir do aproveitamento das suas
potencialidades, e na microrregião de São Raimundo Nonato o atrativo turístico se destaca como
um possível propulsor para o desenvolvimento socioeconômico da população, o objetivo desse
trabalho é fazer uma análise dos atrativos turísticos da microrregião, dividindo essas
potencialidades em atrativos turísticos da natureza e aqueles produzidos ou criados pelo homem.
Para a construção desse trabalho fizemos pesquisas de campo e bibliográfica, utilizando livros e
artigos específicos. As observações em campo junto ao levantamento bibliográfico possibilitaram
o embasamento teórico necessário para a elaboração.
Turismo religioso
O caráter religioso que os municípios brasileiros apresentam abre portas para a criação de
uma demanda turística, fazendo uma analogia com Aparecida-SP, podemos ver o quanto à
religiosidade é mantenedora de força para o deslocamento de massas da população, São
Raimundo Nonato também tem uma tendência ao turismo religioso que influencia a microrregião
em escala menor do que Aparecida-SP, por exemplo, já que muitas pessoas se deslocam para
essa cidade a fim de fazer ou pagar promessas. O novenário do padroeiro tem prazo curto, e
nesse período centenas de vendedores estão em constante mudança de cidades, para onde
possam instalar suas “barracas” ou “quiosques” provisórios, para vender comidas e bebidas em
época de festejos.
A cidade de São Raimundo é o município que recebe um contingente mais diversificado de
pessoas, pois esta funciona como um polo para as demais. Eventos evangélicos e católicos,
como os festejos do padroeiro mobilizam milhares de pessoas todo ano. Procurando aumentar o
número de pessoas que visitam a cidade o poder público procura aliar as práticas religiosas com
atrações musicais, assim sendo há a possibilidade de atrair turistas que estão em busca de
atividades diferentes, ou que possam conciliar as duas, observa-se que cada vez mais a cultura
musical nacional vem tomando o espaço de artistas locais, pois na medida em que os
investimentos crescem se torna mais fácil trazer um artista da “moda”, com custos mais elevados,
em detrimento da preservação da identidade musical do lugar, pois a primeira opção apresenta
um apelo maior e um atrativo que resulta em um público maior.
O que analisamos potencialmente para esse tipo de turismo na região é que ele poderia
ser mais bem aproveitado se alinhassem o turismo religioso com outros tipos de atrativos, pois se
valorizasse a cultura local que cada cidade possui, junto com um investimento público maior,
criando eventos como, por exemplo, grandes exposições ou feiras artísticas e culturais absorveria
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uma maior quantidade de turistas e de outras localidades. Assim teríamos não apenas um turismo
religioso esporádico e sim algo que apresentasse um diálogo com o sociocultural da região.
O Turismo de Natureza e/ou Ecoturismo
Ecoturismo, turismo de natureza são algumas denominações de caráter geral atribuídas às
práticas de turismo que estão ocorrendo em áreas naturais. (CRUZ, 2001 p.17).
Uma das áreas que mais se destacam no que se refere ao turismo de natureza ou
ecoturismo na microrregião de São Raimundo Nonato é o Parque Nacional Serra da Capivara,
que abrange os municípios de São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, João Costa, e Brejo do
Piauí (os dois últimos municípios não pertencem à microrregião pesquisada). Outro destaque do
ecoturismo dessa região é o Parque Nacional Serra das Confusões tendo como cidades que
pertencem à microrregião Caracol, Tamboril do Piauí, Guaribas, Canto do Buriti e Jurema, fora da
microrregião ainda engloba Alvorada do Gurguéia, Bom Jesus, Brejo do Piauí Cristino Castro,
Curimatá, Redenção do Gurguéia e Santa Luz.
Analisando primeiramente o Parque Nacional Serra da Capivara e seu potencial voltado
para o turismo de natureza, é possível notar que suas riquezas naturais são abundantes, assim
podemos destacar a fauna e a flora da região como atrativo turístico do parque. Com relação à
fauna do parque:
Apesar do número não significativo de levantamentos, a fauna do Parque
Nacional Serra da Capivara apresenta uma grande diversidade de espécies,
algumas endêmicas da caatinga e outras de ampla distribuição geográfica
presentes no Cerrado e Amazônia, outras já ameaçadas de extinção como o
urubu-rei (Sarcoramphus papa) e arara-vermelha (Ara chlorptera), com
registro de 57 espécies de mamíferos, 208 espécies de aves, 36 de répteis,
17 de anfíbios e um número desconhecido de invertebrados. (BARROS et
al. 2011, p.16).
A flora local tem fisionomia bastante peculiar, composta por caatinga (a maior parte) e
cerrado, que atrai o turista que não pertence à região, pois independente da época do ano vai
apresentar belezas, no período chuvoso com vegetação verde e no período de estiagem com a
vegetação seca, seus galhos sem folha se torna algo peculiar para o turista. Segundo Cruz (2001)
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“Uma das principais motivações das viagens turísticas é a busca do exótico, daquilo que, de
alguma forma, se diferencia do cotidiano do turista”.
O turismo de aventura é cada vez mais comum na área do parque, a busca por trilhas que
percorre locais pouco acessíveis ao público em geral, outra prática desse turismo aventureiro é o
rapel, onde grupos de pessoas buscam adrenalina nos chapadões da serra da capivara.
O parque Nacional Serra da Capivara é o principal chamariz de turistas da microrregião,
assim sendo economicamente é muito importante para os municípios que o integram, já que os
turistas que vêm visitar o parque utilizam serviços oferecidos principalmente na cidade de São
Raimundo Nonato, onde o comercio e o ramo da hotelaria se beneficia do fluxo turístico
proveniente do parque.
Dessa maneira os investimentos deveriam ser principalmente em infraestrutura e hoteleira,
onde possa absorver um numero maior de pessoas e a melhoria da qualidade dos serviços
prestados oferecendo uma maior variedade de opções de lazer para o turista permanecer na
cidade, são dificuldades que se superadas ampliaria o potencial turístico local. Assim Barbosa
enfatiza a necessidade de infraestrutura para garantir a permanência do turista:
Tal como são oferecidos pela natureza, os recursos naturais são
insuficientes para garantir a permanência dos viajantes cuja deslocação se
origina. Torna-se, com efeito, necessária a construção de equipamentos
que, por um lado, permitam a deslocação (transportes, organização de
viagens, etc.) e, por outro, assegurem aquela permanência (alojamentos e
restaurantes, etc.). (BARBOSA, 2005 p.109).
Ainda no âmbito do turismo de natureza o Parque Nacional da Serra das Confusões tem
uma contribuição fundamental para atrair turistas, já que seu potencial paisagístico é tão
exuberante quanto o da Serra da Capivara. O que chama atenção e absorve um contingente
grande de turistas para o parque é a existência de grutas e cavernas sendo um ponto forte para
seduzir o visitante interessado no ecoturismo.
Outro aspecto que contribui positivamente para a visitação no parque é a possibilidade de
se fazer caminhada e trilhas de aventura. Além de poderem nessas trilhas observarem a fauna e
flora local, observando animais que compõem o ecossistema como: tatus, macacos e até mesmo
onça pintada.
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O parque serra das confusões está bastante ligado ao município de caracol, pois é onde os
turistas encontram suporte de hotelaria e local de alimentação. O grande obstáculo para quem
visita o parque da serra das confusões é a falta de estrutura, já que o parque se transformou
numa área de conservação há pouco tempo e ainda carece de investimentos para melhorar
ambiente de visitação, o parque necessita de um efetivo maior de guias turísticos para auxiliar o
viajante.
Turismo Científico
A denominação de turismo científico é um termo utilizado para identificar as pessoas que
se deslocam para algum ambiente com o propósito de realizar algum tipo de pesquisa ou
levantamento de dados por meio de aulas de campo. A ocorrência desse deslocamento turístico
na microrregião de São Raimundo Nonato, se faz muito presente, pois sendo essa área
privilegiada com duas áreas de conservação já citadas anteriormente: O Parque Nacional Serra
da Capivara e o Parque Nacional Serra das Confusões.
Nessa perspectiva iremos analisar o turismo cientifico abordando o interesse geológico e
arqueológico da região, já que são áreas do conhecimento onde há diversidade de material a ser
estudado, faz com que essa localidade atraia uma quantidade relevante de pesquisadores todos
os anos. Assim o potencial para o crescimento desse tipo de turismo é elevado, pois se enquadra
na categoria de “Potenciais sítios geoturísticos que vêm despertando não só interesse ambiental,
histórico, cultural e científico, como também inclui objetivos pedagógicos para visitas de
estudantes e professores dos mais diversos níveis escolares”. (PTATZGRAFF; TORRES;
BRADÃO, 2010).
Segundo Oliveira Filho (2007) (apud AGUIAR; CARVALHO 2012, p. 608) em sua
dissertação de mestrado ele pesquisou a “Valoração Econômica da Atividade Ecoturística no
Parque Nacional Serra da Capivara – Piauí” e fez um levantamento do perfil do turista que visita o
PNSC. Segundo o autor, 46,34% dos visitantes possuem ensino superior completo, 30,16% nível
superior incompleto, 11,09% segundo grau completo, 8,87% segundo grau incompleto e 1,11%
ensino fundamental completo. (Grafico1).
Segundo os dados listados acima é possível traçar o perfil dos visitantes do Parque Serra
da capivara, onde o maior percentual é de pessoas que terminaram o ensino superior, assim o
grau de instrução de quem visita o parque é alto, isso pode indicar que a aparição desse tipo de
turista tem caráter de interesse cientifico. Já que é uma área de pesquisa arqueológica, geológica
e ambiental dentre outras.
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O patrimônio geológico encontrado na microrregião é riquíssimo, no parque serra da
capivara é possível encontrar estruturas do período pré-cambriano como mármores, granitos e
formações de arenito compostos por relevo de cuesta vales e chapadas como o riacho do
boqueirão e serra branca, (Aguiar, 2004 apud BARROS et al. 2011) além de outras estruturas
dentre elas a pedra furada. Já na serra das confusões o destaque é o relevo cárstico
representado pelas cavernas e vales.
O turismo científico ainda é impulsionado pelo patrimônio arqueológico da região, pois é o
maior da América latina:
O Parque Nacional Serra da Capivara é hoje um santuário cultural da pré-
história que concentra o maior número de sítios com pinturas rupestres do
mundo que, na atualidade, somam em torno de mil sítios de pinturas e
gravuras, além de 292 sítios catalogados como aldeias, cemitérios,
acampamentos temporários e oficinas líticas e cerâmicas. (BARROS et al.
2011, p.18).
O parque está consolidado como o principal atrativo turístico da microrregião, mas
inegavelmente ainda necessita de implementações tanto na estrutura do próprio parque, como
também uma melhor organização dos espaços em seu entorno, para que assim possa atrair mais
turistas, e proporcionar experiências que deixem neles a vontade de retornar.
Limitações do crescimento do turismo e possíveis potenciais turísticos
A falta de suporte com relação ao acesso aos parques é algo que precisa ser superado,
pois é visível que se necessita de transporte diário que leve o turista ao seu destino, além do que
para os turistas que vem de outros estados brasileiros ou de outro país o funcionamento do
aeroporto seria de suma importância para aumentar o fluxo turístico. Já no parque da serra das
confusões que tem como grande empecilho também à falta de transporte aliado a acessibilidade
e a organização que é precária.
Dentre os aspectos negativos que afastam os turistas, podemos citar alguns básicos como:
a falta de integração entre os municípios menores e São Raimundo Nonato, maior investimento
em segurança e saúde, a ausência de qualificação dos profissionais, tanto os que trabalham no
parque quanto os que prestam serviços na cidade, um exemplo disso poderia ser o ensino de
outro idioma, que melhoraria as informações dadas aos turistas estrangeiros.
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A grande diversidade de sítios arqueológicos juntamente com o patrimônio geológico são
os atrativos mais significativos da microrregião de São Raimundo Nonato, mas que para atingir o
seu potencial, acima de tudo precisa de uma maior divulgação da mídia sobre o parque serra da
capivara como também o parque serra das confusões.
CONCLUSÃO
Diante das perspectivas turísticas que podem ser encontradas na microrregião de São
Raimundo Nonato, fica evidenciado que a população ainda não se deu conta do grau de
importância que a atividade turística pode desempenhar para o desenvolvimento local, isso se
sustenta no pouco conhecimento apresentado pelos populares sobre o fenômeno turístico local, o
governo estadual por outro lado ainda deixa a desejar e não consegue inserir a microrregião no
mapa do turismo nacional atingindo toda a sua potencialidade.
Consideramos os três tipos de turismo mencionados no texto, como sendo de notável
destaque para o desenvolvimento econômico e social local, é preciso antes notar onde cada um
destes se fundamenta, para que assim seja possível alavancar cada vez mais a demanda
turística do lugar. Entender o público alvo e o que esse espera encontrar é um primeiro passo
para explorar toda a potencialidade da região. O turismo religioso é o que se apresenta como um
costume mais antigo, portanto pode ser compreendido como aquele em que sua ocorrência se dá
de maneira mais autônoma, mas as novas práticas que somente a partir de pouco tempo
começam a ser mais enfatizadas, como o turismo de aventura, merece uma maior atenção e
colaboração de entidades responsáveis, através de divulgações mais efetivas, melhoramento de
condições para infraestrutura, tanto para a atração como para a assiduidade do turista no lugar.
Por contar com universidades federal e estadual, o município de São Raimundo já denota
alguma demanda para o turismo cientifico, mas a região se destaca por atrair pesquisadores de
diversos lugares do país, e esporadicamente alguma demanda internacional, sendo assim
percebe-se que o turismo cientifico pode ser responsável por contribuir de forma mais
contundente tanto para a preservação como para a sua divulgação, tendo em vista que o apelo
científico possui ressonância maior dentro do contexto da microrregião.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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AGUIAR, Eveline Porto Sales; CARVALHO, Stella Maria de Sousa. Turistas de São Raimundo
Nonato-PI: perfil e grau de satisfação quanto ao serviço de alimentação. Turismo em
Analise, vol.23 n.3, 2012.
BARBOSA, Fábia Fonseca. O turismo como um fator de desenvolvimento local e/ou
regional. Universidade Federal de Lavras - UFLA, 2005.
BARROS, J.S; FERREIRA, RV; GUIDON, N; SILVA, A.J. de C.L.P. Geoparque Serra da
Capivara: proposta. (Org.). CPRM, 2011.
CRUZ, R.C.A. da.Introdução à Geografia do Turismo. São Paulo: Rocca, 2001.
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Sustentável - Pólo das Origens. Piauí: Secretaria de Turismo do estado do Piauí, 2007-2010.
MINISTÉRIO DO TURISMO. Caderno de Avaliação: Serra da Capivara - Piauí: Caravana Brasil,
2009.
PTATZGRAFF, P.A.S.; TORRES, F.S.M; BRANDÃO, R.L.(Org.). Geodiversidade do estado do Piauí.
Recife: CPRM, 2010.
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A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DA CIDADE DE PIRIPIRI: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Regiane Coelho de Andrade 1 Dirceu do Nascimento Martins2
RESUMO: Este artigo científico tem como objetivo delinear acerca do processo de emancipação política de Piripiri que teve como principal responsável, Padre Freitas. Este até chegar ao lugarejo Pery Pery passou por vários lugares, casou-se duas vezes, teve muitos filhos, perpassou por vários acontecimentos da história do Piauí e do Brasil até chegar às terras piripirienses e instalar-se com a família e seus escravos, atraindo muitas famílias para morarem à sua volta e sob sua liderança, por ocasião de doação de terras por ele impetrada. De início, buscou-se falar um pouco do instituto „emancipação‟ de um modo geral para posteriormente adentrar na cidade em questão. Para tal adotou-se como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica e documental. Bibliográfica porque utilizou-se como fonte de pesquisa livros de autores renomados na matéria proposta para discussão aqui e documental porque realizou-se pesquisas em documentos que trazem em seu bojo informações precisas e de grande valia para evidenciar as inquietações sobre a história da cidade de Piripiri. Espera-se que este trabalho sirva de base de estudo para os variados interessados sobre o assunto, de acadêmicos até historiadores.
Palavras-chave: Emancipação. História. Padre Freitas. Pery Pery. Piripiri..
INTRODUÇÃO
Piripiri é uma cidade piauiense localizada a 158,5 Km da capital Teresina. Dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017) afirmam que a cidade possui 62.733
habitantes com uma densidade demográfica 43,89 hab/KM2.
A cidade foi originada do lugarejo denominado Pery Pery fundada pelo Padre Domingos de
Freitas Silva, o qual teve duas mulheres e doze filhos, tendo deixado somente uma fotografia
como registro de sua imagem. Fundada em 16 de outubro de 1884, data provável em que o
Padre Domingos de Freitas se estabeleceu em uma região chamada Data Botica, sendo que da
primeira edificação resta atualmente, somente os alicerces (LUSTOSA, 2015).
O Padre Domingos de Freitas e Silva, como ficou conhecido o fundador de Piripiri, ficou
conhecido como um Padre que infringiu todas as regras instituídas pela Igreja Católica, visto que
casou-se, formou família e teve vários filhos (LUSTOSA, 2015).
1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
2 Tutor presencial do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI/EAD. E-mail: [email protected]
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Este artigo científico, tem o objetivo de discorrer acerca do processo de emancipação
política de Piripiri que teve como principal responsável, Padre Freitas.
Deste modo, adotaram-se duas modalidades de pesquisa: bibliográfica e documental. A
pesquisa bibliográfica foi com base em livros e artigos eletrônicos de maior relevância que versam
sobre a matéria. De acordo com Ramalho e Marques (2010, p. 102), “as informações na pesquisa
bibliográfica são obtidas por meio de fontes teóricas, ou seja, por meio de material publicado
como livros, revistas e artigos científicos”. Enquanto que a documental realizou-se a partir de
materiais resguardados no Museu de Piripiri que retratam os fatos históricos da cidade.
2 UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE O CONCEITO DE EMANCIPAÇÃO
A emancipação remonta ao século XVIII, apenas no século XX o termo surge na condição
de conceito político, para o devido conhecimento da história e de suas origens. A origem da
denominação de emancipação, em sua elaboração latina original emancipatio, é derivada de e
manu capere, o ato jurídico através do qual o pater famílias da República Romana podia libertar
seu filho do pátrio poder. A filha (ou filho) liberto da proteção de seu pai podia sair do seio familiar
e constituir a sua própria família, passando a ser, conforme o Direito Civil romano, uma pessoa
sui júris (TOMIO, 2002).
A emancipação somente poderia ser oriunda de um ato de vontade exclusivo do pater
famílias, caso os filhos que eram submetidos ao pátrio poder não possuíssem nenhuma
ferramenta jurídica que lhes conferisse a chance de pleitear a emancipação, de exigi-la de seus
pais. Fora o direito de abandonar a família e de não mais ser submetido ao pátrio poder, o
benefício principal que o filho emancipado passava a ter concentrava-se nos direitos de
propriedade. No entanto, era somente o ganho de direitos e a benéfica situação que
supostamente disso poderia resultar que configurava a emancipação (TOMIO, 2002).
Será somente com Marx que o conceito de emancipação vai se libertar do Estado. Aliás,
com ele o significado do conceito passa a ser, com precisão, o de libertar-se do próprio governo e
de suas instituições, como o direito.
Entretanto, o que importa frisar aqui é que em Marx a denominação de emancipação se
desvinculará do Estado. Aliás, como já dito anteriormente, a noção do conceito passa a ser
basicamente o de libertar-se do governo e de suas instituições, como o direito entre um processo
autoexecutável e auto reflexivo. Em outros termos, a emancipação sempre é uma auto
emancipação, mesmo que as pessoas estejam falando de sujeitos coletivos, como “o
proletariado”, “os judeus”, “os cidadãos” ou “a humanidade” (FERREIRA, 2010).
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3 A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE PERY PERY
3.1 Fatos importantes no contexto histórico da cidade de Piripiri/PI
Segundo os historiadores, a cidade de Piripiri e Padre Freitas se confundem nas suas
existências, visto que um dependeu do outro para começarem a conquista dos objetivos coletivos
e pessoais do fundador e da região.
A região que se constituiu a área urbana da cidade de Piripiri era formada de olhos
d‟água, rios e riachos com uma vegetação rica e com animais silvestres além de muitas fazendas
de gado. Pode ser citada como as principais fazendas Gameleira da família Castelo Branca; a
Casa das Lages, do casal Bernardo José do Rego Castelo Branco e Cândida Rosa Castelo
Branco; Casa da Caiçara de Geracinda Rosa de Melo e Diógenes Benício de Melo, entre outras.
Tudo isso era o que tinha naquela região chamada da Data Botica, antes da chegada do
desbravador bandeirante piauiense, o Padre Freitas (GETIRANA, 2012).
Foi na Vila de São João da Parnaíba por volta de 1798 que nasceu Domingos de Freitas
Caldas Júnior, o conhecido Padre Freitas. Seu pai Domingos de Freitas Caldas, natural de
Portugal, ligado por elos de parentesco com os familiares de Dias da Silva acabou se casando
com Rita Maria de Almeida e formou a sua família com cinco filhos, tais qual José, que faleceu
ainda criança, Maria Rita da Silva, Catarina de Sena e Silva, Bernardo de Freitas Caldas e o
caçula da família, Domingos de Freitas Caldas Júnior (FERREIRA, 2010).
Neste contexto indaga-se a razão do caçula ter recebido o sobrenome Silva ao invés de
Caldas. Isso justifica-se em razão de que o nome do Padre Freitas foi modificado para Domingos
de Freitas e Silva. Naquela época era comum que o afilhado recebesse o sobrenome de seu
padrinho, que no caso era o reverendo Henrique José da Silva.
Com base na historiografia de Parnaíba, o português Domingos de Freitas Caldas pai de
Padre Freitas chegou à região do litoral da então província do Piauí no século XVIII. Tratava-se
de uma pessoa amiga e de muita confiança da família de Dias e foi um extenso lapso temporal
responsável pelo Cartório da Vila de São João da Parnaíba onde exerceu a função de escrivão e
posteriormente passou a ser missão para o seu filho Bernardo de Freitas Caldas, portanto, irmão
de Padre Freitas (GETIRANA, 2012).
Padre Henrique José da Silva que era padrinho de Padre Freitas quando viu que seu
afilhado, inteligente e jovem, possuía um futuro promissor, dá a sugestão a seus pais de que ele
seja Padre e que poderia mantê-lo com todas as despesas necessárias. Com isso, decidiram
encaminhá-lo para estudar no Seminário de Olinda do estado de Pernambuco. Nesta cidade,
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acabou conhecendo a jovem Lucinda Rosa de Sousa, que era descendente de holandeses, e
começa então um relacionamento amoroso, o que acabou tornando insustentável a sua
permanência naquele município (GETIRANA, 2012).
Por causa disso, a direção da Diocese de Olinda, responsável pelo Seminário, neste
momento, o transfere para o Seminário de São Luis, capital do Maranhão, local onde concluiu os
estudos e é ordenado presbítero secular.
Também em São Luís, Padre Freitas começa sua vida ministerial, adquire imóveis, porém
posteriormente retorna à sua terra natal, a Vila de São João da Parnaíba, agora na condição de
sacerdote atuante e, em seguida, passa a ser regente da cadeira de latim (FERREIRA, 2010).
Quando se brota o movimento de Independência do Brasil, no dia 07 de setembro de
1822, em São Paulo, no episódio que ficou conhecido e que ocorreu às margens do Riacho
Ipiranga, a Vila de São João da Parnaíba, localizada no norte da Província do Piauí teve, em
primeira instância, conhecimento da separação do Brasil de Portugal.
Por causa disso, as lideranças políticas de Parnaíba simpáticas ao rompimento do Brasil
com a Coroa de Portugal, acabam aderindo ao movimento, se rebelam e no dia 19 de outubro de
1822, declaram independentes do Reino português.
João José da Cunha Fidié, naquela época, era o Governador das Armas do Piauí, e
estava na cidade de Oeiras, quando ficou sabendo do acontecido na Vila de São João da
Parnaíba, seguiu rumo ao Norte para reprimir o movimento na região litorânea, com seus
comandados, sendo que uns iam a cavalo, outros a pé, em uma longa marcha, penosa e
cansativa.
Com a aproximação das tropas de Fidié, os considerados “milicianos” do movimento
separatista da Vila de São João da Parnaíba, uma vez que reconheceu a inferioridade bélica,
resolveram no dia 04 de dezembro de 1822 se refugiarem na cidade de Granja no Ceará, e
somente depois de passados alguns meses, retornaram, porém temendo retaliações na Vila.
Padre Freitas acabou se refugiando em terras da região de Piracuruca no Piauí transformando
sua vida em um verdadeiro mistério, e que daí diversas versões se encarregam de permearem a
vida do sacerdote.
Quando os revolucionários estavam ainda em Granja no Ceará, Padre Freitas e outros
companheiros conseguiram mobilizar e trazer razoável quantidade de indivíduos para lutarem nos
movimentos do dia 22 de janeiro de 1823, na Lagoa do Jacaré, movimento este liderado por
Leonardo de Carvalho Castelo Branco, na Vila de Piracuruca e na Batalha do Jenipapo, no dia 13
de março de 1823, na Vila de Campo Maior.
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Após isso, Padre Freitas voltou à Vila da Parnaíba, contudo, sua presença não foi bem
aceita pela sociedade de então e pela Igreja, que foi sua transferência para a Paróquia de Nossa
Senhora do Monte do Carmo, localizada na Vila de Piracuruca, já casado com a dona Lucinda
Rosa de Sousa, onde dividiu com o Padre José Monteiro de Sá Palácio os destinos daquela
paróquia (LUSTOSA, 2015).
Convém destacar um documento de óbito de 1823 devidamente assinado pelo Padre
Freitas, na condição de vigário da paróquia de Piracuruca:
Aos vinte quatro do mêz de septembro de mil oitocentos e vinte e trêz nesta Igreja Matriz de Piracuruca sepultousse Roza Maria Brito, natural dessa freguezia, Viúva: morreu de febres: foi em volta em habito de S.Francisco emcomendado por mim e para constar fiz este assento que assigno= Vigário Padre Domingos de Freitas Silva (LUSTOSA, 2010, p. 38).
Quando Padre Freitas foi morar na então Vila de Piracuruca, fixou moradia na localidade
Gameleira com dona Lucinda e duas filhas dela oriundas de outra união, sendo uma delas
Lucinda Rita da Silva que casou com o capitão Bernardo Lopes Castelo Branco e Joana Paula da
Silva que se casou com Manoel da Silveira Sampaio, onde lá nasceram os filhos do casal,
chamados Raimundo de Freitas e Silva, Domingos de Freitas e Silva Júnior, este último chamado
de Freitas Júnior, Amélia Clemência da Silva, Antônio Francisco de Freitas e Porfírio de Freitas
Silva (LUSTOSA, 2015).
Na verdade, o Padre Freitas com sua primeira esposa, dona Lucinda Rosa de Sousa,
tiveram sete filhos, sendo que as duas primeiras morreram bem antes dele escrever seu
testamento.
Dona Lucinda, morreu no ano de 1839, na localidade Gameleira e foi enterrada na Igreja
de Nossa Senhora do Carmo. Sendo assim, no testamento escrito pelo próprio Padre Freitas, no
ano de 1862, ele menciona somente os cinco filhos vivos com Dona Lucinda e sete com a sua
segunda mulher dona Jesuína Francisca da Silva (FERREIRA, 2010).
A situação passa a ficar complicada e com a família formada, o Padre Freitas decide, no
ano de 1840, deixar a cidade de Piracuruca e ir primeiramente para a Fazenda Anajá (ao norte de
Piripiri, próximo ao que é hoje o açude Anajá). Naquele local, o Padre Freitas construiu uma casa
e uma capela de palha pequena além de ter instalado um engenho de cana, além de
equipamentos para fabricar alambique e farinha para a fabricação de cachaça; lá havia também
plantações de frutas e cereais, bem como criação de animais e escravos para os serviços do
campo e domésticos (LUSTOSA, 2015).
De 1840 até 1844, Padre Freitas compra da família Medeiros, terras na região chamada
Botica, que pertencia à Sesmaria concedida á Antônio Fernandes de Macedo, no ano de 1777.
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Foi próximo a um olho d‟água, depois chamado de “Olho D‟água de Nossa Senhora dos
Remédios”, que Padre Freitas construiu a sua Casa-Grande dos Freitas, da Fazenda Pery Pery
além de uma capela em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, em honra aos negros
escravos e também currais. Daí funda-se a cidade de Piripiri no ano de 1844 (FERREIRA, 2010).
3.2 Pery Pery de 1844 até a fundação de Piripiri
Em 1844, Padre Freitas saiu do sítio Anajá para morar na Casa-Grande dos Freitas, na
“Fazenda Piripiri”, com sua família, sua mulher dona Jesuína Francisca da Silva, conhecida por
Iaiá Zizu, com os cinco filhos com dona Lucinda Rosa de Sousa, além dos familiares, foram
também os seus escravos.
Padre Freitas dividia seu tempo ao ensino da língua latina e das primeiras letras, tudo
gratuitamente. Ele foi o primeiro professor de Piripiri, lecionava a doutrina católica aos adultos e
às crianças, demonstrando de forma clara ser um educador por excelência, manifestando
preocupação com a formação geral do ser humano.
No entanto, Padre Freitas não queria somente esta vida pacata, sem avanços, baseada
no cotidiano. Ele possuía um foco que era de transformar o lugarejo simples numa localidade
mais desenvolvida. A partir de 1855, com sua vontade de empreender e de ser benfeitor, que ele
dividiu as terras de sua propriedade em lotes pequenos e ofereceu a quem queria construir casas.
Importante ressaltar que não faltou quem quisesse residir em volta da capela e da casa de Padre
Freitas, trabalhando à sua volta: a afluência de pessoa foi tão grande que em 1857 já existiam
várias casas construídas alterando o aspecto para um promissor lugarejo.
A capela de Nossa Senhora do Rosário, a pioneira de Piripiri, construída também pelo
Padre Freitas, em honra a Santa protetora dos escravos era simples, de telha e alvenaria; se
situava onde é atualmente a pequena rua João de Freitas que se amplia desde o Museu de Pery
Pery à Escola Padre Freitas, frontalmente a esta instituição de ensino.
Trata-se de um local sagrado no qual o Padre Freitas celebrava as Santas Missas e
outras religiosas cerimônias. O fundador de Piripiri esteve á frente da capela no uso de suas
funções eclesiásticas até seus últimos dias de vida.
Quando Antônio de Freitas e Silva Sampaio, o Tenente Antônio de Freitas, filho do Padre
Freitas, nasceu no dia 16 de outubro de 1853, ano este no qual a padroeira da capela passou a
ser Nossa Senhora dos Remédios, a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, devido à
promessa que Padre Freitas realizou para o seu filho recém-nascido.
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Com o advento da Lei nº 509, datada de 25 de agosto de 1860, o povoado Pery Pery
passou a ser um Distrito de Paz, e fazendo proveito do crescimento visível do lugar, Padre Freitas
doa 300 braças quadradas de suas terras a Nossa Senhora dos Remédios, em uma visão de
desprendimento. Objetivava também fazer com que, futuramente, com a criação da paróquia,
esta possuísse condições financeiras de bem seguir com o pastoreio das ovelhas de Cristo
naquele povoado. Percebe-se claramente a concepção altruísta e humanitária do fundador Padre
Freitas.
A construção da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios aconteceu em 16 de outubro
de 1864. Acredita-se que a capela de Nossa Senhora dos Remédios foi “transformada” em igreja,
ainda no tempo que Padre Freitas era vivo. Idealizada por Dom Frei Luís da Conceição Saraiva
(OSB), Bispo de São Luís. Convém ressaltar que a primeira igreja foi inaugurada no ano de 1884
e demolida em 1953.
Em 1862 Padre Freitas previu a aproximação de sua partida bem como não deixar
problemas alusivos à herança à sua esposa, dona Jesuína e aos seus filhos, acabou redigindo do
próprio punho no total de seis laudas de papel o seu testamento. Mesmo se sentindo debilitado
pelos anos e a patologia que lhe acometia, nomeou como seus testamenteiros seus filhos,
Raimundo de Freitas Silva, Domingos de Freitas e Silva Júnior.
No testamento, Padre Freitas discorre acerca de sua segunda esposa exaltando as suas
virtudes, no tratamento concedido a ele na doença; os cuidados devidos na gestão da casa e da
prole. Dona Jesuína lhe acompanhou e foi dedicada a ele por extensos 28 anos, até o último dia
de sua vida.
Nestes tempos, a América do Sul se efervescia para sua afirmação na conquista de mais
territórios de seus países latinos. O Paraguai, por sua vez, almejava uma saída para o Oceano
Atlântico. Tratava-se no século XIX, no fim de 1864, o ditador do Paraguai Solano Lopez desejava
criar uma política de caráter expansionista e ampliar o território nacional. Para tal, invadiu terras
brasileiras e argentinas, mas a reação foi imediata e as três nações da bacia do Prata (Argentina,
Uruguai e Brasil) acabaram se unindo e constituíram a Tríplice Aliança para barrar o avanço do
Paraguai (TOMIO, 2002).
De forma célere, o Imperador Dom Pedro II iniciou a “convocação de voluntários” do
Brasil para lutarem em detrimento das forças paraguaias; foram arregimentados, em sua grande
parte, sobretudo, pobres e escravos. Naquela época quem governava o Piauí era Franklin
Américo de Meneses Dória, que fez parte, como tal, da articulação e mobilização com as
autoridades dos lugarejos, cidades e vilas piauienses.
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Padre Freitas, na condição de liderança do povoado Pery Pery, no dia 08 de junho de
1865, escreveu ao Presidente da Província informando as dificuldades do pequeno povoado e
apontou os nomes dos irmãos Raimundo Gomes das Neves e Antônio Gomes das Neves como
“voluntários da pátria” para lutarem em terras do Paraguai, como representantes do povoado local
(LUSTOSA, 2015).
Para realizar o recrutamento dos “praças” no Norte do Piauí ficou responsável o campo-
maiorense Lívio Lopes Castelo Branco e Silva. Enfim, os jovens piripirienses partiram para a luta
e o Brasil no final acabou conseguindo sair vitorioso, apesar das perdas financeiras e humanas.
À volta do Paraguai, da guerra marcada por muito sangue, retorna ao povoado Pery Pery,
somente o valente Raimundo Gomes das Neves, que foi considerado herói. Antes, ainda no Rio
de Janeiro, capital do Reino do Brasil, os combatentes foram recebidos com festa pelo então
Imperador que ao se aproximar da tropa viu uma coisa diferente em um dos soldados.
Tratava-se de Raimundo Gomes das Neves, perfilado com os outros, trazendo com ele
um cachorro e o instrumento musical. Foi daí que o Imperador com pena e frente a ele
exclamou: “Além dos tormentos porque passaste ainda trazes um cão às costas?!”... Ao chegar
a Teresina, a capital do Piauí, os guerreiros também foram recebidos pelas autoridades da
Província com várias festas (GETIRANA, 2012).
No dia 3 de setembro de 1870, mais precisamente às 06h30 min, aportou no cais do rio
Parnaíba, a barca que trazia os 140 combatentes e nove oficiais, vinda do município de Parnaíba
com os sobreviventes do combate. Consistiu numa recepção calorosa, com discursos, festas,
paradas militares etc. Isso tudo para recepcionar os heróis piauienses.
Na cidade de Piripiri, de certo, a chegada de Raimundo Gomes das Neves ao lugarejo
Pery Pery teve grande recepção, a contar dos entes da família e a alegria da noiva de Raimundo,
chamada Ana Joaquina Raimunda da Silva, que ficou a esperar que a promessa feita se
cumprisse. Raimundo falou à noiva que caso voltasse vivo ele casaria com ela. A promessa foi
devidamente cumprida. No entanto, infelizmente Padre Freitas não estava mais vivo para receber
seu filho herói.
Com a elevada idade e já debilitado pelo câncer externo, Padre Freitas cada dia corria
maior risco de vida. Importante ressaltar, como já falado anteriormente, sempre contando com o
apoio de sua esposa dona Jesuíta, os filhos, amigos e escravos. Já com 70 anos, após uma noite
de Natal, no dia 26 de dezembro de 1868, ele veio a óbito.
Por fim, importante frisar aqui que no dia 18 de setembro de 1874 foi elevada à categoria
de vila. Já a sua emancipação política foi datada de 04 de julho de 1910. Com sua
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independência, segundo a literatura, o crescimento do município foi acelerado marcado por
muitos desafios e um acelerado processo de desenvolvimento.
No dia 04 de julho de 1910, o então governador Antonino Freire da Silva, torna a vila em
cidade. neste período, o Piauí se depara com uma economia deficitária, fundamentada no
extrativismo como principal alicerce econômico. Os principais produtos eram algodão, borracha,
gado e carnaúba.
O Piauí também adentrou no processo de expansão por meio de instalação e extensão
das linhas férreas, que veio no começo do século XX. A ideia de impor dinamismo à rede de
municípios, crescimento, urbanização, celeridade e facilidade no escoamento de mercadorias,
trouxe uma considerável novidade: a ferrovia, nela esteve o anseio de encurtar as distâncias
entre localidades bem distantes, sobretudo áreas produtoras e portos de escoamento. O trem era
sinônimo de inovação cultural, material, visto que trazia modernidade e relações novas no dia-a-
dia das cidades (LUSTOSA, 2015).
A cidade de Piripiri passou a ocupar o lugar de ponto final da estrada de ferro, com
viagens de Parnaíba e voltavam para Luís Correia, o que acabou por influenciar e favorecer a
ocupação daquela área afastada do centro e com escassas construções no local. Este dinamismo
favoreceu o comércio colaborando para o desenvolvimento urbano do município. Neste tempo a
cidade começa a manifestar um crescimento com base na oferta de serviços.
A partir da década de 40, destacam-se investimentos do poder público federal em
educação bem como no combate à seca com ênfase para a construção do Açude Caldeirão,
proporcionando um abastecimento melhor de água para a cidade na década de 1860
(FERREIRA, 2010).
Nas décadas de 50 e 70 a cidade começou a passar por mudanças no cenário urbano
com abertura de vias novas, reformas nas calçadas, investimentos, construção de canteiros
centrais e construções de escolas. A presença de centros produtivos de pequeno porte e,
sobretudo comércio e serviços, foram os fenômenos atrativos principais, por meio do aumento da
concentração de mão-de-obra nestas atividades, nos anos 60. E somente a partir da década de
80 que a população das cidades representa a quantidade superior à população rural, situação em
que se consolidou nos anos subsequentes.
Nos anos 90, as ferrovias já estavam desativadas. No Piauí, as estações são somente
marcas e edificações de um tempo que marcou a prosperidade assim como o símbolo de
modernidade. Atualmente, a Estação Ferroviária em Piripiri, funciona como a Secretaria de
Cultura e Complexo cultural, local para realização de eventos e possui em seu espaço um
pequeno acervo de fotos e documentos antigos.
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A partir de 2000, Piripiri passa por um processo de mudanças de caráter social, com a
chegada do ensino superior e de expansão do território urbano com influência da política de
habitação e inserção social desenvolvida por ações do Governo Federal. Atualmente a cidade
detém um ensino superior representado pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI) como
também com faculdades privadas. Já o ensino técnico e tecnológico é ofertado pelo Instituto
Federal de Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), inaugurado no ano de 2010.
Segundo a Lei nº 819/2015, do dia 02 de julho de 2015, que determina um novo perímetro
urbano da cidade de Piripiri – PI, e os seus limites e dá outras providências, o município de Piripiri
é constituído por trinta bairros. A ampliação do perímetro urbano estendeu a oferta de serviços
públicos para os bairros mais afastados com a construção de escolas, serviços de pavimentação,
unidades básicas de saúde etc. Nos últimos 30 anos, a cidade tem passado por grandes
processos de transformações que geram ampliação da sua marcha urbana (REVISTA, PIAUÍ
TERRA QUERIDA, 2012).
CONCLUSÃO
No Brasil, a criação de municípios sempre foi visualizada como uma maneira de
descentralizar o Estado em localidades afastadas dos centros administrativos e no nosso país
isso se deu devido a grande extensão territorial.
As emancipações seguiram acontecimentos e fatos históricos, e sua frequência não foi
permanente, acontecendo períodos de grande emancipação, momentos de estagnação e
recessão, segundo as conjunturas políticas.
No caso específico da cidade de Piripiri, o processo de emancipação foi antecedido de
alguns fatos históricos especialmente a guerra do Brasil contra o Paraguai, país este que sob a
liderança do ditador Solano Lopez queria a todo custo expandir suas terras, o que demandou
para o Brasil enviar combatentes, inclusive do Piauí juntamente com as nações da bacia do Prata
para lutar em detrimento desta política expansionista paraguaia.
O fundador do lugarejo Pery Pery que originou a cidade de Piripiri trata-se de Domingos
Freitas, o qual instalou-se na região com sua família e seus escravos construindo-se sua casa-
residência, uma capela, seu engenho de cachaça e rapadura além de suas plantações. Em um
dado momento, ele decidiu que dividiria suas terras em pequenos lotes e as dividiria com as
pessoas da redondeza que tivessem vontade de morar ali. Daí em diante a localidade foi
crescendo até chegar à sua emancipação.
Pela investigação aqui realizada, a evolução histórica de Piripiri é bem instigante, e o
presente estudo não esgota esta temática. Trata-se de uma matéria digna de aprofundamentos
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da pesquisa para evidenciar cada vez mais a história desta promissora cidade situada ao Norte
do Piauí.
REFERÊNCIAS
GETIRANA, Luiz Mário Morais. História de Pery Pery a Piripiri – Parte I. 2012. ___________. História de Pery Pery a Piripiri – Parte II. 2012. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Curitiba: Departamento de Imprensa Oficial do Estado, 1988. FERREIRA, J.de. A. I. Trilhando novos caminhos: a cidade de Piripiri e as mudanças proporcionadas pela chegada da ferrovia – 1930-1950. 2010. 147 f. Dissertação (Mestrado em História) – UFPI-Teresina. LUSTOSA,Karithiane Haffizza Mill Medeiros– “Domingos de Freitas e Silva Para Além das Rupturas e Para Toda a Eternidade: o Homem Vestido de Batina”, 2015.. Revista Piauí Terra Querida: Liberdade – 4ª Edição, 2012. TOMIO, Fabrício Ricardo de Lima. A criação de municípios após a constituição de 1988. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 48, fev. 2002.
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O AGRONEGÓCIO E A QUESTÃO AGRÁRIA NO MUNICÍPIO DE BOM JESUS – PI
Luanny Ferreira Lima¹ Erik Ribeiro da Costa ¹
Raquel de Brito Santos ¹ Flávio Ribeiro Magalhães²
RESUMO: Este trabalho tem como premissa fazer uma análise do contexto atual do agronegócio em Bom Jesus-PI, tendo a Fazenda laranjeiras como o ponto principal para uma abordagem que objetiva caracterizar a presença do latifúndio na região e sua influencia num modelo de produção capitalista, e verificar nesse local o surgimento de novos meios de se produzir que até então não eram evidenciados. Em contrapartida, a esse modelo de plantio em larga escala, observando o assentamento como cenário antagônico daquele mencionado anteriormente, onde o objetivo é produzir para a subsistência, visando um consumo para uma área geográfica restrita. Em uma análise inicial buscando verificar os diferentes modos de produção agrícola existente no município de Bom Jesus-PI, já que a agricultura é à base da economia da cidade. A partir disso, cabe a observação de como está estruturado o agronegócio na região, para isso verifica-se a pecuária intensiva e agricultura mecanizada. Nessa perspectiva investigam-se também indícios da possibilidade de grilagem de terras, Por último discutir a necessidade de uma reforma agrária como forma de combater o latifúndio e a grilagem, possibilitando a redistribuição de terra que seria uma possível alternativa para a acumulação. A metodologia para elaboração textual teve como base o levantamento bibliográfico e pesquisa em campo. Para uma análise mais profunda sobre o assunto, foi utilizada uma abordagem qualitativa.
Palavras chave: terra, latifúndio, problemas sociais.
INTRODUÇÃO
O trabalho tem como finalidade observar as dinâmicas econômicas e sociais presentes na
região do Alto Médio Gurgueia, onde localiza-se a cidade de Bom Jesus em um ponto estratégico
economicamente inserido no contexto do agronegócio. A finalidade da pesquisa é analisar as
consequências provocadas pela inserção do agronegócio, como funciona a produção agrícola e
suas diferenças se comparado com a agricultura familiar.
Foi verificado in loco o processo de produção agrícola em larga escala, bem como o
manejo do gado. Como a pecuária também se faz presente na região de maneira bastante
acentuada da mesma forma da agricultura. Na exposição do trabalho, contatou-se a notável a
disparidade da produção agrícola e pecuária praticada em Bom Jesus-PI com relação à micro-
região de São Raimundo Nonato, já que apesar da pequena distancia geográfica possui
dinâmicas totalmente diferentes se considerarmos a forma de produção agrícola.
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A abordagem também voltou-se para uma comparação entre os modos de produção
observados na fazenda Laranjeira que está inserida no agronegócio e o assentamento conceição
voltado para a produção de subsistência, a fim de constatar a disparidade existente entre
produções agrícolas diferentes, em relação ao uso do solo, armazenamento de produção e a
quantidade produzida.
Todas as descrições feitas têm como base pesquisas bibliográficas realizadas a partir de
livros e artigos relacionados. Além da pesquisa bibliográfica, a observação em campo também foi
um método utilizado para construção desse artigo.
O CONTEXTO ECONÔMICO AGRÍCOLA DE BOM JESUS
A cidade de Bom Jesus-PI que se localiza na parte sul do estado do Piauí, mais
precisamente na microrregião do Alto Médio Gurguéia, Que de acordo com o censo demográfico
do IBGE de 2010 indica que a população total é de aproximadamente 22,6 mil habitantes, desses
17,6 mil (77,9%) vivem na zona urbana e 5 mil na zona rural (22,1%), a cerca de 635 km da
capital Teresina-PI (IBGE, 2010).
Já com relação aos aspectos fisiográficos da região de Bom Jesus, indica que a cidade fica
277m acima do nível do mar, com clima quente e úmido influenciando nas temperaturas que
variam de 18°C de mínimas e com máximas de 36 °C (AGUIAR 2004, p. 3). Com um regime
pluviométrico por volta de 800 a 1200 mm anuais. Com essas configurações, a cidade de bom
Jesus chamou a atenção para o agronegócio, mesmo que tardio com relação ao panorama
nacional.
A partir da década de 1950 o campo brasileiro se inseriu num processo de modernização,
que veio provocar mudanças radicais na forma de se produzir, essas mudanças tiveram muito
impacto na estrutura social do país (TEIXEIRA, 2005), através da mecanização do trabalho no
campo tivemos alguns impactos como êxodo rural e urbanização descontrolada.
O município de Bom Jesus-PI, através de diferentes modos de produção agrícola, pode ser
considerado um ambiente favorável para diversas interpretações e análises geográficas,
principalmente no que se refere às questões da geografia agrária. Nessa perspectiva observamos
o desempenho econômico alcançado pelo município de Bom Jesus, sendo fruto principalmente
da instalação da cultura do latifúndio, e em contraponto o assentamento rural, sendo esse o
cenário que anda na contramão e se opondo a esse sistema da grande produção.
INFRA-ESTRUTURA PRECÁRIA
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No que se refere à produção agrícola de Bom Jesus-PI, de fato está associado ao
agronegócio, já que a economia local e piauiense depende da agricultura em larga escala.
Segundo relatos do administrador da fazenda, em sua visão o desenvolvimento tanto educacional
com social é atribuído ao agronegócio, sendo esse o responsável por atrair instituições como uma
Universidade Federal, desconsiderando os benefícios e iniciativas da política governamental.
O grande problema diagnosticado que impede o crescimento da produção é a falta de
estrutura, já que o escoamento da produção fica comprometido, pois a malha viária local é
precária para não dizer inexistente, onde o acesso é difícil por conta da falta de pavimentação
(Figura 1), uma vez que esse tipo de problema. Dessa maneira os produtores colocam a
responsabilidade no estado, e reivindicam melhoria das condições de infra-estrutura, levantando
o questionamento se o estado tem a obrigação de intervir em áreas que são de cunho particular,
já que esse tipo de investimento deve partir da iniciativa privada.
A partir do relato do administrador da fazenda Laranjeira a necessidade do aprimoramento
da infra-estrutura do lugar, além de melhorar o escoamento da
produção, abre a possibilidade de um desenvolvimento mais amplo do local, já que a partir das
melhorias estruturais principalmente no que condiz a condição de transporte, poderia atrair
empresas e gerar empregos para a cidade de Bom Jesus-PI.
Figura 1 - Mostra a estrada por onde é escoada a produção da fazenda laranjeiras, alvo de
criticas por conta da sua precariedade.
Fonte direta (2017).
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Além disso, com aperfeiçoamento da malha viária, diminuiria o tempo de escoamento da
produção, como conseqüência o preço do frete se tornaria mais barato para os produtores
agrícolas.
A PRODUÇÃO AGRÍCOLA E PECUÁRIA INTENSIVA
Na fazenda laranjeira as terras utilizadas para a agricultura são arrendadas pelo dono da
fazenda para um grupo denominado Positivo Participações S/A. O grupo que arrenda a terra atua
no Estado do Piauí e também no Mato Grosso, onde possui outros segmentos como frigoríficos,
ramo imobiliário e de construção. Com relação à agricultura possui um dos três maiores
produtores de soja do Brasil e que utiliza para plantar em torno de 35 mil hectares de planta
diminuindo esse numero para 15 mil. Sendo que as culturas mais plantadas além da soja são:
milho, sorgo, arroz e algodão que ainda está em fase de teste, segundo dados cedidos pelo
administrador da Fazenda Laranjeira.
A soja em relação a outras culturas como a do algodão tem um custo de produção mais
barato, onde a soja, segundo as informações cedidas na fazenda Laranjeira. Sendo que o custa
para se produzir a soja está em torno de 2 a 2,5 mil reais, enquanto o algodão custa oito mil
reais, tornando a soja mais vantajosa para produzir. Em 2017, foram produzidos quarenta e sete
sacos de soja por hectares, considerado como uma boa colheita já que a média do Piauí é de
trinta e cinco sacos segundo o representante da fazenda seu valor da soja esta a partir de
sessenta a sessenta e cinco reais
A lavoura de milho da fazenda laranjeira produziu em 2017 em torno de 150 sacos por
hectares e a venda desse saco, no período em que foi realizada; o preço estava a partir de vinte e
cinco reais, segundo o interlocutor da fazenda, esse valor é baixo se comparado com anos
anteriores (provavelmente se referindo ao ano de 2016), que era de quarenta a cinquenta reais. A
produção outras culturas como a do sorgo, sendo que há na fazenda Laranjeiras o plantio de
duas variedades, sendo que a primeira foi colhida cerca de 40 sacos por ha e a segunda 70
sacos por ha. A produção tanto de soja como a do milho é toda mecanizada, e esse processo de
modernização segue outros modelos como cita Alves:
Apesar de constituir-se posteriormente como área de maior interesse da agricultura modernizada, o Sul do Piauí é parte do mesmo eixo de expansão dos grupos econômicos que segue inicialmente pelas bordas sul (Barreiras) e Oeste (Balsas) logo chegando ao Sul do Piauí. (ALVES, 2005, p.7).
Comparando o desenvolvimento da pecuária intensiva na fazenda laranjeira com produção
agrícola, haverá disparidade, já que a criação de gado está em fase de teste, mas podemos
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identificar que esse sistema intensivo de criação, onde depende de muito mais tecnologia e
técnicas envolvidas. O gado é criado confinado e para aumentar a produção utiliza-se insumos
que facilitam a engorda para o abate. (Figura 2)
Encontram-se discrepâncias se confrontarmos com o sistema de criação existente nos
demais municípios piauiense que não estão inseridos no contexto do agronegócio, onde os
animais são criados soltos e o uso de tecnologia é quase inexistente sendo manejado maneira
extensiva.
Esse aspecto sempre foi característica do Piauí desde o período colonial como cita Martins
(2003, p.49) “A pecuária extensiva firmou-se como atividade econômica básica do Piauí, situação
que perduraria até a segunda metade do século XX”.
Figura 2 – Pecuária intensiva da fazenda presente na fazenda laranjeira, onde o gado é destinado
totalmente ao abate. Fonte direta (2017).
LATIFÚNDIO, GRILAGEM E REFORMA AGRÁRIA.
Dentre vários, um dos maiores problemas vivenciados no campo brasileiro é a questão
fundiária e em Bom Jesus-PI, essa lógica de grande acumulação de terra também está em
evidencia, na fazenda laranjeira onde a propriedade possui mais de 70.000 hectares, dos quais
50.000 hectares já foram desmatados, assim o primeiro problema na consolidação desses
latifúndios é a destruição da mata nativa, ou seja, a modificação do ecossistema local. Nessas
áreas verificou-se in loco a imensidão de terra que foram devastadas para o plantio de culturas
como a soja e o milho.
Outro mecanismo que precisa ser eliminado é grilagem, já que seu funcionamento consiste
na tomada de terra por grupos ou especuladores que geram documentos, títulos ou certidões
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falsas atestando a posse da propriedade (OLIVEIRA, 2016). Dessa maneira é preciso combater
essas ações fraudulentas que muita das vezes é praticada por quem detém o econômico e
político.
O debate sobre a grilagem, e a indagação sobre essas áreas onde o latifúndio se faz
presente, é que essas terras podem ter sido obtidas de maneira ilegal. Já que por meio de um
dos representantes da fazenda, relatou que outras fazendas vizinhas da região já tiveram
problema com a justiça com relação a grilagem de terras, mas enfatizando que sua propriedade
não há perturbação com litígio de terra.
Diante das afirmações, não é possível afirmar que as terras da fazenda Laranjeira foram
obtidas a partir de grilagem. O que ocorrem em latifúndios semelhantes ao da área pesquisada é
incentivo do governo com relação a vendas dessas terras a preços baixos ou abatimento fiscal
que auxilia nessa apropriação ou seja, “verdadeiros latifúndios continuam sendo entregues "de
graça" para os grandes grupos econômicos especularem com a terra” (OLIVEIRA, 2016, p.400).
Num terceiro problema que pode ser citado são as terras improdutivas, pois grande parte do
latifúndio pesquisado não é utilizado para o plantio de nenhuma lavoura e servem para
especulação, com o intuito de aumentar seu valor.
A grande discussão por parte dos movimentos sociais que lutam contra essa acumulação
como é o caso do MST (O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), por exemplo, é que
essas terras sem utilidade ou improdutivas fosse redistribuídas para agricultores que realmente
produzissem nesses locais, dessa maneira a pauta sobre a reforma agrária se faz necessária, já
que não é aceitável, grandes extensões de terra ficar apenas nas mãos de apenas um
proprietário, e varias famílias sem um local para plantar.
A preocupação do governo com a questão da reforma agrária ainda é insatisfatória, em
Bom Jesus-PI observa-se que as autoridades quando executam a reforma agrária a fazem de
forma errônea, pois se preocupam apenas em garantir a instalação das famílias nas
propriedades, ou seja, nos assentamentos, mas se esquece da parte do assistencialismo que
essas famílias necessitam como saneamento básico, saúde e educação de qualidade, fazem à
reforma agrária como se somente quisessem se livrar de um problema social, que pode vir a
prejudicar seus interesses políticos, através de atos da população contra o governo, como
protestos e manifestações.
Para a garantia da uma reforma agrária eficaz, passa necessariamente pela eliminação
dos latifúndios, grandes extensões de terra que ficam concentrados nas mãos de poucas
pessoas, uma vez que, essas terras se tornam improdutivas apenas um processo que possibilita
a especulação.
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ASSENTAMENTO UMA SOLUÇÃO?
Segundo a concepção de assentamento é “basicamente, o assentamento rural é um
conjunto de unidades agrícolas independentes entre si, instaladas pelo Incra onde originalmente
existia um imóvel rural que pertencia a um único proprietário” (INCRA, 2018).
Nessa perspectiva totalmente diferente das fazendas inseridas no agronegócio, o
assentamento Conceição (Figura 3), que fica nas proximidades da cidade de Bom Jesus-PI.
Nesse local é possível perceber disparidade no modo de produzir, já que nesse tipo de agricultura
se utiliza pouca ou quase nenhuma tecnologia, pois o trabalho é basicamente feito de forma
manual, a maior parte do que é produzido é destinado para o abastecimento familiar sendo
repartido entre os moradores, como uma cooperativa, já o excedente é comercializado. Quando
se refere ocupantes ou assentados buscamos em Ablasser à explicação segundo ele:
Entende-se por ocupantes, além daqueles que são trazidos pelo governo, os ocupantes espontâneos e as populações locais. Os ocupantes espontâneos, que em sua grande maioria não têm qualquer ligação com os esquemas governamentais. (ABLASSER, 1987. p.46).
Figura 3 - Imagens do assentamento conceição. Lado esquerdo mostra as residências construídas para os
moradores do assentamento, do lado direito famílias debulhando fava, cultura que é produzida na comunidade.
Fonte direta (2017).
No assentamento Conceição, onde vivem essas famílias, o estado apenas proporcionou
instalação para essas pessoas, mas não deu nenhum tipo de assistência a essa população já que
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os serviços oferecidos são bem precários, pois o transporte público não chega até o
assentamento, o posto de saúde está desativado é possível verificar também a precariedade do
saneamento básico, já que não há nenhum tipo de pavimentação nessa área.
Diante desses fatos é pertinente levantar o questionamento sobre até que ponto o
assentamento se torna uma solução positiva para o melhoramento da condição social para a vida
daquelas pessoas. Será que esse modelo de reforma agrária é o ideal?
Na configuração atual ainda não é o ideal, pois necessita de políticas governamentais mais
eficazes deveriam ser aplicadas para o desenvolvimento social das famílias assentadas, assim o
estado deveria dar assistência tanto na compra de maquinas agrícolas para o melhoramento da
produção como também oferecer serviços que são essenciais em uma comunidade.
CONCLUSÃO
O latifúndio no Brasil ainda é uma questão a ser bastante debatida, pois cada vez mais
áreas são absorvidas pelo agronegócio fundamentadas pela lógica do capitalismo que se insere
em locais antes esquecidos (já que o agronegócio no Estado do Piauí se inseriu tardiamente se
comparados a outros estados da nação).
Outro problema a ser combatido é a grilagem de terra, pois o estado negligencia essa ação
ilegal, sendo ainda um problema que está longe de solucionado, porém essas questões que
referentes ao campo brasileiro possuem uma raiz histórica que remonta o período de colonização
do país, compreender e tentar romper com esse modelo é um desafio para toda a sociedade.
O desafio da reforma agrária no Brasil é pauta política brasileira há décadas, no entanto,
ainda não encontrou uma solução plausível, é algo que ainda caminha a passos lentos devido ao
jogo de interesse econômico que permeia a política brasileira.
Em Bom Jesus fica nítida a superioridade de poder que o Latifúndio possui em
comparação com as pequenas propriedades, isso no que se refere à forma de modificar os
espaços e o meio ambiente, enquanto o primeiro possui força para modificar parte da dinâmica do
município, o segundo sofre com uma exclusão que o coloca a parte da sociedade local, num
tempo espacial e social que não acompanha a velocidade do “progresso” alcançado pelas áreas
de inserção do agronegócio.
REFERÊNCIAS
ABLASSER, Gottfried. Questões de assentamento em novas terras. Finanças & Desenvolvimento. Março/1987.
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AGUIAR, Robério Bôto de. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, estado do Piauí: diagnóstico do município de Bom Jesus/ Organização do texto [por] Robério Bôto de Aguiar [e] José Roberto de Carvalho Gomes. - Fortaleza: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, 2004.
ALVES, Vicente Eudes Lemos. „Barreiras/Luiz Eduardo Magalhães (BA); Balsas (MA); Uruçui/Bom Jesus (PI): as novas cidades para o agronegócio nos cerrados nordestinos‟. III Simpósio Nacional de Geografia Agrária. Presidente Prudente: Unesp. 2005.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – População de Bom Jesus-PI. Censo demográfico 2010. Disponível em<http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/webservice/frm_urb_rur.php?codigo=220190>acessado em 13/07/2017.
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MARTINS, Agenor de Sousa. Piaui : evolução, realidade, desenvolvimento- 3a ed.- Teresina : Governo do Estado do Piaui, Secretaria do Planejamento, Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí, 2003.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. A Fronteira Amazônica Mato–Grossense: grilagem, corrupção e violência. São Paulo, Iandé Editorial, 2016.
TEIXEIRA, Jodenir Calixto. Modernização da agricultura no Brasil: impactos econômicos, sociais e ambientais. Revista Eletrônica da Associação dos Geógrafos Brasileiros, Três Lagoas, v.2, n.2, p.21-42, 2005.
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AGRICULTURA ORGÂNICA: POTENCIALIDADES E DESAFIOS NA FAZENDA CANTINHO, MUNICÍPIO DE PIRACURUCA (PI)
Marineldo de Brito Lima1 Manuel Luiz Cardoso Junior2
Francílio de Amorim dos Santos3
RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo realizar análise e mapeamento do modelo de produção agrícola desenvolvido na Fazenda Cantinho, situada no sudeste do município de Piracuruca. O estudo pautou-se em uma pesquisa descritiva, utilizando arquivos vetoriais associados ao uso do QGIS Desktop 2.14, para realização da caracterização preliminar da área estudada, além dos instrumentos: GPS Portátil Garnim Etrex 20x e smartphone. A pesquisa de campo e entrevista com um dos trabalhadores acerca da produção foi realizada nos dias 19 e 23 de março de 2018. A Fazenda Cantinho iniciou sua atividade produtiva em meados de 2015, cuja produção está voltada aos cultivos permanentes da banana (Musa spp.) e a goiaba (Psidium guajava L.) que ocupam, respectivamente, 22 e 5 hectares da área. O proprietário realiza anualmente análise do solo e adubações orgânicas e o sistema de irrigação dar-se por meio de micro aspersor em toda a área. Ressalta-se que apesar do uso do arado não ser muito aconselhado à produção orgânica foi necessário efetuar esse procedimento no plantio de goiaba para controlar a proliferação de ervas daninhas. A produção da Fazenda é comercializada nas cidades circunvizinhas, particularmente Piripiri e Batalha, no estado do Piauí, e Viçosa, no estado do Ceará. Nesse cenário, fica evidente que o uso do modelo orgânico comprova sua viabilidade no que diz respeito à questão econômica, ambiental e como fonte de renda e sustento às famílias no local pesquisado. Palavras-chave: Produção orgânica; Banana e Goiaba; Norte do Piauí.
INTRODUÇÃO
A agricultura é utilizada pelo homem há milênios, essencial ao processo de
sedentarização, tendo uma importância insubstituível para a sustentação das sociedades
complexas. O modelo de produção agrícola tem evoluído no tempo, particularmente devido ao
avanço das técnicas disponíveis em cada época.
Atualmente, é notável a preocupação com o meio ambiente, pois cientistas, pesquisadores,
ambientalistas, políticos e grande parte da sociedade em geral debatem cada vez mais sobre a
perspectiva de modelos de desenvolvimento sustentável. Essa preocupação advém,
principalmente, do modelo de produção agrícola intensivo, que utiliza grande quantidade de
1Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Piauí / Polo Território dos Cocais. E-mail:
[email protected]. 2Graduando em Geografia pela Universidade Federal do Piauí / Polo Território dos Cocais. E-mail:
[email protected]. 3Docente do Instituto Federal do Piauí / Campus Piripiri. Tutor do curso de Geografia da Universidade Federal do
Piauí / Polo Território dos Cocais. Mestre em Geografia. [email protected]
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mecanização e produtos químicos para maximizar a produção, mas ocasiona considerável
aumento do impacto sobre o meio ambiente, particularmente sobre os solos e recursos hídricos.
Nessa perspectiva, faz-se necessário inserir o conceito de desenvolvimento sustentável,
que está vinculado ao de sustentabilidade. Este, para Dovers e Handmer (1992), diz respeito à
capacidade de um sistema humano, natural ou misto resistir ou se adaptar à mudança endógena
ou exógena por tempo indeterminado. Os referidos autores destacam, ainda, que o
desenvolvimento sustentável seria um caminho para se alcançar a sustentabilidade.
Neste contexto, desde meados do século XX, têm surgido diversos movimentos em
diferentes partes do mundo, quase simultaneamente, mas independentes entre si, que se propõe
a contrapor os modelos agrícolas que utilizavam os recentes criados adubos químicos. Dentre
esses movimentos, destacam a agricultura biodinâmica, na Alemanha e Áustria, a agricultura
natural no Japão e a agricultura organobiológica, na Suíça e Áustria (ALVES et al., 2012).
Para Mazzoleni e Nogueira (2006), esses movimentos guardam pouca ligação com a
agricultura orgânica praticada nos dias atuais, visto que não havia padrões, regulamentos ou
interesses em questões ambientais e de segurança alimentar. Nesse sentido, o modelo de
produção orgânico vem obtendo grande destaque no cenário mundial, pois os agricultores
orgânicos conseguiram provar que seu sistema é diferente dos demais modelos agrícolas
convencionais e, ainda, sendo competitivo e capaz de fornecer produtos agrícolas de boa
qualidade (IFOAM, 1998).
Dessa forma, cabe salientar que no Brasil existe a Lei nº 10.831/03, também conhecida
como Lei da Agricultura Orgânica. Esta lei dispõe sobre o tema, conceituando agricultura
orgânica, como:
[...] sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente (BRASIL 2003).
Diante do exposto, evidencia-se a importância do modelo de produção agrícola orgânico,
como alternativa sustentável frente ao modelo agrícola mecanizado. Desse modo, o primeiro
sistema pode ser tomado como possibilidade viável para o desenvolvimento sustentável do ponto
de vista agrário. Nessa perspectiva, a pesquisa ora apresentada teve por objetivo realizar análise
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e mapeamento do modelo de produção agrícola desenvolvido na Fazenda Cantinho, situada no
sudeste do município de Piracuruca.
Localização e caracterização da área em estudo
O presente trabalhou foi realizado na Fazenda Cantinho, situada no setor sudeste do
município de Piracuruca, Norte do estado do Piauí. A sede municipal desse município está
localizada a 60 m de altitude e sua posição geográfica está delimitada pelas coordenadas
geográficas 03°55'41"S e 41°42'33"W. O município mencionado possui os seguintes limites
municipais: ao norte, Caraúbas do Piauí e Cocal; ao sul, Brasileira; a leste, Cocal dos Alves e São
João da Fronteira; a oeste, Caraúbas do Piauí, São José do Divino e Batalha (AGUIAR; GOMES,
2004), conforme está representado na Figura 01.
Figura 01. Localização da Fazenda Cantinho, sudeste do município de Piracuruca.
Fonte: IBGE (2015).
A área pesquisada está alicerçada sobre a Formação Cabeças, de natureza sedimentar é
composta por arenito, conglomerado e siltito, estando associados a depósitos colúvio-eluviais,
que data da era Cenozoica e período Quaternário (CPRM, 2006). Ressalta-se, também, a
presença de relevo plano a suave ondulado (0 a 8%) e presença de neossolo litólico (INDE, 2014;
SRTM, 2017).
Procedimentos metodológicos
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O estudo ora apresentado constitui uma pesquisa de cunho descritivo, que Siena (2007)
aponta como sendo aquela que se propõe a descrever as características de determinada
população ou fenômeno. Esse particularmente esteve voltado à caracterização das áreas
agrícolas, notadamente ligada à Fazenda Cantinho, sudeste no município de Piracuruca.
Realizou-se previamente levantamento e revisão bibliográfica sobre a temática agrícola, com
pesquisa de campo efetuada nos dias 19 e 23 de março de 2018.
Foram selecionados os seguintes arquivos vetoriais, como forma de aprofundar os
conhecimentos sobre a temática e compilar dados inerentes à pesquisa desenvolvida:
Geodiversidade do estado do Piauí, em escala de 1:1.000.000 (CPRM, 2006); Solos da Folha
SB.24 - Jaguaribe, em escala 1:250.000 (INDE, 2014); Malha municipal digital do Brasil, situação
em 2015, em escala 1:1.000.000 (IBGE, 2015).
De posse desse material, utilizou-se o QGIS Desktop 2.14, para realização de uma
caracterização preliminar da área estudada, além dos seguintes instrumentos: GPS Portátil
Garnim Etrex 20x, para obtenção da coordenada geográfica da Fazenda Cantinho; smartphone,
para obtenção de registro fotográfico. Diga-se, ainda, que a pesquisa se iniciou com
questionamentos acerca da produção no local por meio de entrevista com o proprietário, senhor
Geraldo Rocha Mapurunga.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir das incursões realizadas em campo e entrevista efetuada com um dos
trabalhadores foi possível obter dados referentes à Fazenda Cantinho. Diga-se, ainda, que a
pesquisa se iniciou com questionamentos acerca da produção no local por meio de entrevista
com o proprietário, senhor Geraldo Rocha Mapurunga. Desse modo, destaca-se que a Fazenda
Cantinho iniciou sua atividade produtiva em meados de 2015, cuja produção está voltada
principalmente para os cultivos permanentes associados à banana e a goiaba.
O trabalhador entrevistado ressaltou que todo ano o proprietário realiza análise do solo na
propriedade, cujo objetivo é a identificação da qualidade e composição do solo. Fato este que
permite selecionar o adubo adequado ao cultivo implementado. Nesse sentido, destaca-se que
foram realizadas duas aplicações de calcário na área para correção da acidez do solo e, também,
adubações orgânicas com esterco de caprino, palhada de carnaúba e urina da vaca diluída no
sistema de irrigação, visando fornecer ureia como fonte de nitrogênio para as plantas.
A propriedade conta com um sistema de irrigação por micro aspersor em toda a área
produtiva. A água utilizada para irrigação é proveniente da barragem de Piracuruca, sendo todo
esse processo regulamentado e fiscalizado pelos órgãos competentes, segundo as informações
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repassadas. Toda a irrigação é controlada por um equipamento central automatizado,
responsável por filtrar a água (Figura 02A) e distribui-la para toda propriedade de acordo com a
programação previa realizada (Figura 02B).
Figura 02. Máquina responsável pelo sistema de irrigação. Em A: o sistema de filtragem e distribuição de
água em B: o painel do equipamento, que lhe provem automatização.
Fonte: Arquivo dos autores (2018).
A área total da propriedade é cerca de 27,5 hectares, onde a parte agricultada ocupa
quase a totalidade do terreno, estando distribuída por cerca de 27 hectares. A banana ocupa a
grande maioria da área, estendendo-se por cerca de 22 hectares, que equivale a 80% da
propriedade, enquanto a goiaba ocupa pouco mais de 18% do total do terreno (Tabela 01).
Tabela 01. Tipo de cultivo e área destinada a sua plantação na Fazenda Cantinho, em 2018.
Cultura cultivada Área plantada (hectares)
Banana 22
Goiaba 5
Total 27
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Fontes: Dados fornecidos pelos proprietários.
De acordo com os dados obtidos, foi dada maior ênfase ao cultivo da banana (Figura 04)
por causa de seu ciclo produtivo ser bem distribuído durante o ano, diferente da goiaba. A
variedade cultivada no local é denominada de Musa spp (EMBRAPA, 2018), que apresenta
grande adaptabilidade em solos sedimentares e boa produção em locais de clima quente e seco,
desde que irrigado corretamente.
Figura 03. Plantio de banana na Fazenda Cantinho.
Fonte: Arquivo dos autores (2018).
O manejo utilizado na banana diz respeito ao que o trabalhador chamou de sistema avó,
mãe e filha, ou seja, são deixados apenas três galhos produtivos por raiz em comum. O objetivo
dessa forma de sistema é evitar sobrecarga na planta, aumentando a qualidade e o tamanho das
frutas, bem como, distribuir o ciclo de produtivo, possibilitando a produção constante no bananal.
Para tal, é realizada uma poda constante para a manutenção desse sistema.
Como consequência da poda realizada no sistema, supracitado, e quando é realizada a
colheita com a retirada do galho que produziu o cacho de banana, produz-se uma grande
quantidade de matéria vegetal. Essa matéria vegetal é utilizada no próprio plantio de banana, com
finalidade de formar uma camada protetora sobre o solo. Essa tem vários benefícios como: evitar
a evaporação do solo, reduzindo assim a quantidade de água utilizada na irrigação; gerar adubo
natural resultante da decomposição, mitigar a erosão do solo pela ação da água.
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O plantio de goiaba ocupa uma parcela bem reduzida da propriedade, cerca de 18%. No
entanto, o trabalhador afirma que o proprietário está otimista em relação à cultura e pretende
expandir a produção da mesma no futuro breve. A variedade cultivada no local é a Psidium
guajava L. (Figura 04), devido sua boa adaptação àquela configuração do sistema solo e clima.
Figura 04. Plantio de goiaba (Psidium guajava L.) na Fazenda Cantinho.
Fonte: Arquivo dos autores (2018).
O trabalhador ressaltou que, apesar da técnica de arado não ser muito aconselhada na
produção orgânica, em virtude de deixar o solo mais exposto, foi necessário realizar esse
processo no plantio de goiaba para controlar a proliferação das ervas daninhas. Sendo utilizada a
mão de obra humana neste controle por meio do roçado, apenas entre as plantas onde o trator
não pode passar e para evitar danificar o sistema de irrigação disposto ali.
A produção da Fazenda Cantinho é comercializada nas cidades circunvizinhas, dentre elas
destacam-se: Piripiri e Batalha, no estado do Piauí, e Viçosa, no vizinho estado do Ceará.
Ressalta-se que a produção de banana e a comercialização desse produto constitui a principal
fonte de renda da propriedade. Segundo as informações fornecidas, a produção semanal em
2018 é cerca de 500 caixas por semana, tendo a fazenda produzido no ano de 2017 cerca de 25
mil caixas de banana. Uma quantidade produzida por ser considerada boa, quando se considera
o modelo de produção empregado e o tamanho da área cultivada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O modelo de produção orgânico é comprovadamente uma alternativa em relação ao
modelo de agricultura intensiva, que utiliza alta utilização de insumos químicos e produtos
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transgênicos notadamente mais prejudiciais ao meio ambiente e a saúde humana. Inúmeros
produtores que utilizam o modelo orgânico comprovam que o sistema é viável do ponto de vista
econômico e ambiental, constituindo-se fonte de renda e sustento às famílias no local
pesquisado.
Em Piracuruca, a Fazenda Cantinho é um exemplo da viabilidade do modelo orgânico de
produção, embora não seja a única propriedade no município adepta deste modo de produção.
Ressalta-se a necessidade de mais trabalhos nesta temática, seja para fornecer subsídios a
futuros trabalhos e tomadas de decisões, seja para ajudar na divulgação dessas propriedades
que necessitam de apoio e incentivos principalmente governamentais, para continuar produzindo.
O presente trabalho logrou êxito, posto que à medida que o proprietário permitiu a
pesquisa sobre o local e disponibilizou dados para a produção desta obra. Sendo possível
realização de uma análise da propriedade Fazenda Cantinho, bem como a discussão acerca do
seu modelo de produção. Tendo este trabalho versado uma pequena contribuição acerca das
discussões sobre a produção agrícola em Piracuruca, propiciando divulgação para os produtores
orgânicos.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, R.B.; GOMES, J.R.C. (Org.). Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, estado do Piauí: diagnóstico do município de Piracuruca. – Fortaleza: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, 2004. ALVES, A. C. O.; SANTOS, A. L. S.; AZEVEDO, R. M. M. C. Agricultura orgânica no Brasil: sua trajetória para a certificação compulsória. Revista Brasileira de Agroecologia. 7(2): 19-27 (2012). BRASIL. Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.831.htm>. Acesso em: 20 mar. 2018. CPRM - Serviço Geológico do Brasil. Mapa Geológico do Estado do Piauí. 2ª Versão. Teresina, 2006. DOVERS, S.R.; HANDMER, J.W. Uncertainty, sustainability and change. Global Environmental Change, v.2, n.4, p.262-276. EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível em <https://www.embrapa.br/mandioca-e-fruticultura/cultivos/banana>. Acesso em: 24 mar. 2018. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Malha municipal digital do Brasil: situação em 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/>. Acesso em: 29 jan. 2018. IFOAM. General Assembly em Mar Del Plata. Argentina, Nov. 1998.
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao senhor José Vieira de Sousa, trabalhador que realizou a recepção no
local e forneceu os dados da propriedade, fornecendo importante contribuição para produção do
presente trabalho.
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DINÂMICA URBANA: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA GLOBALIZAÇÃO
Eliana Michalchechen 1
Nathálya Maria de Sousa Soares ² Leilson Alves dos Santos ³
RESUMO: O presente estudo trata sobre a globalização, sabe-se que este é um fenômeno social que atinge em escala global. Para o desenvolvimento deste estudo realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre o tema globalização em artigos científicos e monografias. Através deste, buscou-se mostrar os benefícios, vantagens e desvantagens da globalização. A Globalização, portanto, pode ser definida nas mais diferentes formas dependendo do ponto de vista de quem a analisa. Ela apresenta pontos positivos e negativos. Em termos econômicos a globalização foi importante no combate á inflação e ajuda a economia ao facilitar a entrada de produtos importados. Dessa forma, o consumidor tem acesso a produtos com preços mais acessíveis e de melhor qualidade tanto nacionais quanto importados.
Palavras-chave: Globalização; desenvolvimento; economia.
1. INTRODUÇÃO
Hoje vivemos em uma sociedade modernizada onde podemos encontrar diferentes
fatores que proporcionam diversas mudanças no nosso dia-a-dia e em todo o mundo. Tais fatores
contribuem para o crescimento da humanidade, proporcionando benefícios advindos da
globalização e seus diversos aspectos positivos e negativos.
A globalização é um fenômeno social que atinge em uma escala global, desse modo,
originando o termo globalização. Como o próprio nome já diz, este fenômeno é resultado de uma
integração mundial que se divide em aspectos: sociais, econômicos, culturais e políticos
(SANTOS, 2001).
Com a queda do sistema capitalista deu-se início ao período da globalização, com a
chegada dessa nova era, se expandiu o crescimento dos meios tecnológicos, transportes, os
setores industriais, dentre outros. Mas, como toda história possui seus lados positivos e
negativos, e com a evolução tecnológica não foi diferente, devido à má distribuição dos recursos
1
Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
² Geógrafa docente. Especialista em Geografia e Ensino pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail: [email protected]
³ Geógrafo docente. Mestre em Análise e Modelagem em Sistemas Ambientais – IGC/UFMG. E-mail: [email protected]
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muitas pessoas não têm acesso a essa tecnologia de que aumenta e se moderniza a cada dia
(CAMARGO, 2011).
Várias pessoas conhecem ou já ouviram falar em equipamento como o computador, o
celular, um avião, entre vários outros serviços, mas não possuem dinheiro para comprar pois a
globalização faz a integração na era da informação da mesma maneira que exclui os indivíduos
que não conseguem realizar as compras. Dessa forma, as pessoas que não tem acesso a
esses serviços citados anteriormente, provavelmente irão possuir maior dificuldade na hora de
conseguir um emprego. Visto que cada vez mais vivemos em um mundo mais informatizado as
pessoas que tiverem acesso a esses equipamentos estarão em vantagens. Para realizar este
estudo realizou-se a pesquisa bibliográfica sobre o tema globalização fazendo busca em artigos e
monografias e a partir daí, buscou-se mostrar os benefícios, as vantagens e desvantagens da
globalização.
2. GLOBALIZAÇÃO
A definição do termo globalização teve seu início na Guerra Fria e foi sendo destacada
como o assunto do momento, surgindo nos aspectos intelectuais e nos meios de comunicação,
tornando possível a aderência de países e povos, essa união nos dá a impressão de que as
distâncias estão ficando cada vez menores. Esse termo é um dos acontecimentos voltados para a
integração económica, social, cultural, política que teria sido estimulada pelo preço baixo dos
meios de transporte e comunicação dos países do mundo, no final do século XX e início do
século XXI (SANTOS 2001).
Para Cerutti e Citolin (2010) a globalização é um acontecimento que envolve a união dos
países no ramo comercial e político. Diante do desenvolvimento de novos recursos tecnológicos
puderam sanar as falhas de comunicação e transição entre países e continentes. É um fenômeno
criado pela necessidade da dinâmica do capitalismo de formar uma rede que permita maiores
mercados para os países centrais aqueles definidos como desenvolvidos no qual os mercados
internos já estão impregnados. O desenvolvimento da globalização diz respeito a forma como os
países interatuam e aproximam pessoas, ou seja, interligam o mundo, levando em consideração
os aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos.
Para Ortega e López (2008, p.23):
A globalização, como desenvolvimento de interconexões crescentes entre as unidades nacionais do mundo, corresponde a um processo de reestruturação do sistema de acumulação e reprodução dos centros capitalistas mundiais. [...] A
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reestruturação cobre, basicamente, todas as atividades produtivas, comerciais e financeiras, e apoia-se sobretudo nos consideráveis progressos da alta tecnologia da informação, dos transportes e das comunicações.
Podemos dizer que a globalização é uma ferramenta pela qual ocorre uma maior
integração social, econômica e cultural entre as diferentes regiões do planeta. Também por essa
razão é um dos termos mais usados para descrever a atual situação do sistema capitalista e sua
consolidação no mundo, sendo vista como a total ou por parte relacionada entre as diferentes
regiões do planeta.
Dessa maneira, Stefano e Oliveira (2000, p. 18) conceituam globalização como sendo:
[...] o conjunto de transformações na ordem política e econômica mundial que vem acontecendo nas últimas décadas. O ponto central da mudança é a integração dos mercados numa “aldeia-global”, explorada pelas grandes corporações internacionais. Os Estados abandonam gradativamente as barreiras tarifárias para proteger sua produção da concorrência dos produtos estrangeiros e abrem-se ao comercio e ao capital internacional. Esse processo tem sido acompanhado de uma intensa revolução nas tecnologias de informação – telefones, computadores e televisão. As fontes de informação também se uniformizam devido ao alcance mundial e à crescente popularização dos canais de televisão por assinatura e da Internet. Isso faz com que os desdobramentos da globalização ultrapassem os limites da economia e comecem a provocar uma certa homogeneização cultural entre os países.
Através deste processo, as pessoas, os governos e as empresas trocam ideias, realizam
transações financeiras e comerciais e espalham aspectos culturais por todo o planeta.
A globalização está multiplicando a riqueza e desencadeando forças produtivas numa escala sem precedentes. Tornou universais valores como a democracia e a liberdade. Envolve diversos simultâneos: a difusão internacional na notícia, redes como a Internet, o tratamento internacional de temas como meio ambiente e direitos humanos e a integração econômica global. (CARDOSO, 1996, p.82).
Assim podemos citar que ela afeta todos os aspectos da vida humana, até mesmo os
elementos mais subjetivos principalmente quando é abordada no setor econômico.
3. VANTAGENS E DESVANTAGENS DA GLOBALIZAÇÃO
De acordo com Pena (2017) existem vários aspectos que podem ser elencados como as
vantagens e desvantagens da globalização, no qual devem ser analisados conforme o processo
estudado como por exemplo: o fluxo de matérias-primas, produtos semiacabados, produtos
acabados e serviços para países estrangeiros, recursos materiais e humanos, uso massivo de
tecnologia, incluindo a da internet e a transferência de tecnologia e tecnologias de defesa.
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Esse processo objetiva designar o atual estado político, social, econômico do mundo, a
ligação existente entre os mais diversos países do globo, uma interdependência mundial da
chamada "aldeia global". (RAMPANELLI, 2008).
Conforme Carmo (2004) “foi criado uma espécie de “aldeia global”, pensamento do
intelectual canadense Marshall McLuhan, da Universidade de Toronto, na década de 1960, para
nomear os acontecimentos no mundo da comunicação.
A globalização a cada dia encontra mais avançada, intensificando-se e difundindo-se por
todo o mundo. Esse processo é representado pela integração no mundo com as diferentes
localidades por meio de avanços solicitados no ramo das comunicações e dos meios de
transportes, adequando uma relação global em condições econômicas, culturais, políticas e
sociais. (SANTOS, 2001).
A globalização pode ser vista como representativa do chamado “espírito do capitalismo” –
mas com ele não deve ser confundida –, no sentido em que resulta de tendências históricas
impessoais, que se combinam a mecanismos de mercado e de poder, fazendo com que os
processos estruturais de dominação e de exploração, sempre presentes em qualquer época e
sociedade, sejam eventualmente mobilizados em favor de determinadas forças políticas e sociais,
que deles então tiram “vantagens”, em detrimento de outros grupos sociais, que ficam
temporariamente com suas “desvantagens”. (ALMEIDA,2004).
O capitalismo se faz presente, em primeiro lugar, mediante as relações financeiras e de
comércio que os países mantêm entre si, mas é pelo setor produtivo que ela é suscetível de
impactar mais decisivamente o perfil e a própria estrutura das economias nacionais.
(ALMEIDA,2004).
Muitos estudiosos definem a globalização como o fenômeno mais importante no mundo em
relação às sociedades, mas existem críticos que consideram a globalização como um processo
prejudicial. Vale ressaltar, que a globalização apresenta vantagens e desvantagens.
Considerando várias conclusões de pesquisas já realizadas, apresentaremos as principais
vantagens e desvantagens da globalização.
3.1 VANTAGENS DA GLOBALIZAÇÃO
O sociólogo sueco Göran Therborn (2001), ao fazer uma reflexão sobre o conceito de
globalização, aponta cinco empregos frequentes da palavra: o principal deles é o econômico, que
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se refere a novos padrões de comércio, investimento, produção e empreendimento, interligando
todo o mundo.
Pena (2017) baseando-se na percepção de David Harvey que citou as vantagens da
globalização é a diminuição das distâncias e do tempo, fenômeno chamado de “compressão
espaço-tempo”. Isso teve início a partir da Revolução Técnico-Científica-Informacional conforme a
evolução dos avanços tecnológicos no campo da comunicação e dos meios de transporte. Essa
caracterização permitiu a difusão de observações e informações de forma mais veloz,
atravessando barreiras físicas e políticas no mundo.
Um aspecto considerado positivo da globalização é a minimização de preço médio dos
produtos, isso não significa que é característica constante. Através da formação dos Blocos
Econômicos, grande parte dos produtos tornaram-se mais em conta e mais abundantes, sendo
amplamente difundidos em todo o mundo. Em alguns casos, os produtos industrializados
apresentam seus processos produtivos descentralizados para outras partes do mundo, isso
favorece a diminuição dos custos. (SANTOS, 2001).
São evidentes as mudanças ocorridas no ramo científico e do conhecimento. Como cita o
espanhol Manuel Castells estamos vivendo na “sociedade do conhecimento”. Atualmente, quando
ocorre um novo descobrimento na área da medicina realizada em algum país, se torna uma
notícia mundialmente conhecida, é rápida a disseminação das informações, os dados sobre os
termos econômicos, políticos e sociais também são espalhados ligeiramente, colaborando para o
avanço de muitas áreas do conhecimento.
Outra vantagem da Globalização encontra-se no setor financeiro. Destacando-se os
investimentos mais fáceis de difundir em todo o mundo, considera também a maior
disponibilidade de meios para gerenciar as empresas e governos, a maior probabilidade de
amplos financiamentos de dívidas fiscais e a interação do sistema do banco mundial e também
outros elementos.
3.2 DESVANTAGENS DA GLOBALIZAÇÃO
Com relação as desvantagens da globalização citaremos algumas delas, que também
estão envolvidas principalmente ao sistema capitalista. Nestes casos, para o mundo a
globalização é a incidência política e econômica, de maneira acelerada ocorrida na segunda
metade do XX, que representa a consciência de que os fenômenos do sistema capitalista e a
difusão de valores dominantes para toda a sociedade global (SANTOS, 2001).
Conforme a percepção dos estudiosos como (Carneiro, 2006; Medeiros, 2011) uma das
desvantagens do processo de Globalização, é a forma desigual com que ela se amplia,
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favorecendo, quase sempre, as localidades economicamente mais desenvolvidas e acaba por
chegar “muito tarde” ou de maneira “inacabada” as regiões menos desenvolvidas fazendo com
que estas se tornem dependentes economicamente.
A principal desvantagem citada é a desigualdade que se relaciona no ritmo e no
direcionamento dos fluxos de informações. Ou seja, as regiões que apresenta maior
desenvolvimento garantem a expansão de maneira mais fácil os seus valores e suas
informações, isso não acontece com as áreas menos desenvolvidas.
No aspecto econômico, a questão da desigualdade surge novamente como centro dos
pontos negativos direcionadas à globalização. Por exemplo, o crescimento das empresas
multinacionais que mesmo diminuindo os custos, é um intenso golpe aos concorrentes. Além
disso, a condução das fábricas permite a obtenção de matérias-primas de custos baixos e o
emprego de mão de obra são mais em conta, diminuindo os salários e colaborando para a
liberação gradual das leis trabalhistas. Outra desvantagem da globalização no campo financeiro
são crises econômicas. (SANTOS, 2001).
4. CONCLUSÃO
A globalização, portanto, pode ser definida nas mais diferentes formas dependendo do
ponto de vista de quem a analisa. Ela apresenta pontos positivos e negativos. A globalização foi
importante no combate à inflação e ajudou a economia ao facilitar a entrada de produtos
importados. Podemos citar outra vantagem da globalização
como o desenvolvimento tecnológico, que dessa maneira atrai mais investimentos para os países,
melhora o relacionamento entre as pessoas, abrindo assim, novos caminhos para diferentes
culturas, classes sociais dentre outros. Uma das maiores desvantagens da globalização é a má
distribuição dos recursos, que exclui grande parte da população a terem acesso a esses meios
tecnológicos, aumentando o número de pessoas que vivem em extrema pobreza. Esperamos por
meio desta pesquisa bibliográfica, contribuirmos para que a sociedade possa repensar seus
valores contribuindo para um mundo mais justo e igualitário.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Informação e documentação –
Artigo em publicação periódica científica impressa – apresentação: NBR 6022. Rio de
Janeiro: ABNT, 2003.
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ALMEIDA, Paulo Roberto de. A globalização e o desenvolvimento: vantagens e
desvantagens de um processo indomável. Brasília, 1205: 11 de fevereiro de 2004.
CAMARGO, José Marangoni. CORSI, Francisco Luiz. Vieira, Rosangela de Lima. Crise do
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Pag 195.
CARMO, Paulo Sérgio do. O trabalho na economia global. 2ª edição reformulada, 8ª
reimpressão. São Paulo: Moderna, 2004. Pág. 14.
CARDOSO, Fernando Henrique - Veja, 3 de Abril, 1996 - página 82.
CERUTTI. Luiza ; CITOLIN, Michele. A Atuação da globalização sobre a sociedade atual . In:
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cultura e da informação. In O novo mapa do mundo - fim de século e globalização:
organizadores: SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia A. de; SCARLATO, Francisco Capuano;
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BARRAGEM DE BOCAINA, PIAUÍ: CONTEXTO DA CONSTRUÇÃO, FINALIDADES E USO RECENTE
Paulo Henrique Luz Rocha ¹ Maria do Socorro Rocha Borges ²
Suiane Silva Costa ³
RESUMO: A construção de barreiras artificiais dentro dos rios, para o represamento das águas, constitui
prática bastante utilizada no Brasil, sobretudo no semiárido, onde há escassez desse líquido. Tal técnica
está associada a vários impactos socioespaciais, dos mais variados tipos, envolvendo, principalmente,
questões agrárias e ambientais, como é o caso da Barragem de Bocaina, Piauí, construída no rio
Guaribas, na década de 1980. O presente estudo se propõe a analisar o contexto da construção da
Barragem de Bocaina, Piauí, além de identificar os principais objetivos da edificação de tal obra e apontar
os principais usos dos seus recursos hídricos na atualidade, sendo relevante no sentido de poder
sistematizar informações sobre a região, proporcionar uma visão geral sobre a temática e, potencialmente,
difundir conhecimentos locais para os interessados. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de abordagem
dedutiva, de natureza explicativa, de procedimentos predominantemente históricos e documentação direta
e indireta. A construção da barragem de Bocaina, Piauí, está inserida no contexto da implantação de obras
contra a seca, por parte dos órgãos do Governo Federal, e da contenção dos efeitos das enchentes no
município de Picos, Piauí. Construída pelo 3º Batalhão de Engenharia e Construção, teve por finalidades o
abastecimento de água, regularização de vazão e irrigação. Atualmente a barragem serve como área de
lazer, piscicultura, regularização da vasão do rio Guaribas e irrigação, sendo, também, um potencial
fornecedor de água para o abastecimento humano. A utilização dos recursos hídricos da barragem de
Bocaina, Piauí, não se dá de forma adequada, são explícitas as explorações ilegais, que desrespeitam a
legislação vigente, carecendo de intervenção pública imediata.
Palavras-chave: Bacia Hidrográfica. Obras Contra a Seca. Represamento.
INTRODUÇÃO
A construção de barreiras artificiais dentro dos rios, para o represamento das águas,
constitui prática bastante utilizada no Brasil, sobretudo no semiárido, onde há escassez desse
líquido. Tal técnica está associada a vários impactos socioespaciais, dos mais variados tipos,
envolvendo, principalmente, questões agrárias e ambientais, como é o caso da Barragem de
Bocaina, Piauí, construída no rio Guaribas, na década de 1980.
_____________
¹ Autor. Acadêmico do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected].
² Co-autor. Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
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³ Co-autor. Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail:
O presente estudo se propõe a analisar o contexto da construção da Barragem de Bocaina,
Piauí, além de identificar os principais objetivos da edificação de tal obra e apontar os principais
usos dos seus recursos hídricos na atualidade, sendo relevante no sentido de poder sistematizar
informações sobre a região, proporcionar uma visão geral sobre a temática e, potencialmente,
difundir conhecimentos locais para os interessados na temática.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa de abordagem dedutiva, por partir de teorias e leis
gerais para a análise de fenômenos particulares (MARCONI; LAKATOS, 2003), de natureza
explicativa, pois tem por finalidade “identificar os fatores que determinam ou contribuem para a
ocorrência de fenômenos” (Gil, 2002, p 42.), e de procedimentos predominantemente históricos.
Quanto às técnicas de pesquisa, utilizou-se da documentação direta e indireta.
A documentação indireta envolveu a análise de bibliografia pertinente, bem como a
consulta de documentos do acervo do 3º Batalhão de Engenharia e Construção. Já a
documentação direta foi realizada por meio da observação direta da área de estudo ao longo dos
anos.
A figura 01 apresenta a delimitação da área de estudo, qual seja a área da construção da
Barragem de Bocaina, que fica no município de Bocaina, na região sudeste do estado do Piauí, e
o rio Guaribas, que corre à jusante, banhando os municípios de Bocaina, Sussuapara e Picos,
também localizados no sudeste piauiense. A delimitação temporal vai desde a década de 1960,
quando começa-se a cogitar a construção da barragem, até o mês de março do ano de 2018,
fechamento da pesquisa.
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Figura 01 – Localização Aproximada da Barragem de Bocaina, Piauí.
Fonte: Santos, et al (2012). Adaptado.
PRINCIPAIS ÓRGÃOS PÚBLICOS DE ATUAÇÃO CONTRA OS EFEITOS DA SECA NO
NORDESTE
Desde o primeiro século da colonização do Brasil constata-se o efeito das secas no
nordeste, constituindo um fenômeno recorrente ao longo dos séculos, que afetava o
desenvolvimento da região, despertando a preocupação do Governo Imperial, que, em 1856,
instalou uma Comissão Científica de Exploração para realizar estudos e apontar soluções para o
problema da seca, sendo uma das recomendações a construção de açudes (MELLO;
PIASENTIN, 2011).
Segundo esse mesmo autor, a atuação pública no combate aos efeitos da seca no
nordeste se fez presente por meio de diversos órgãos, como a Superintendência de Obras contra
os Efeitos da Seca, criada em 1906, e a Inspetoria de Obras contra a Seca, de 1909, que, em
1945, se tornaria o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (MELLO; PIASENTIN, 2011).
De acordo com Figueiredo et al (2014), a partir da década de 1950 a engenharia do
exército passa a ser elemento chave para a realização das obras no nordeste, sobretudo por
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meio de quatro Batalhões de Engenharia e Construção, criados em 1958 para executar obras
rodoferroviárias e contra a seca, atuando em parceria com a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
(DNOCS), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (CODEVASF) e Programa Nacional de
Irrigação (PRONI).
Em 1959 é criada a SUDENE, autarquia diretamente subordinada ao Presidente da
República, como meio de intervenção do Estado no Nordeste, para organizar os órgãos federais
existentes, promover e coordenar as políticas públicas de desenvolvimento da região (CABRAL,
2011).
A SUDENE, em parceria com o 3º Batalhão de Engenharia e Construção (3º BEC), seriam
os principais órgãos responsáveis pela construção da barragem de Bocaina, Piauí, no início da
década de 1980.
O RIO GUARIBAS ANTES DA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DE BOCAINA, PIAUÍ.
O rio Guaribas é o principal rio da sub-bacia hidrográfica do Guaribas, compondo a sub-
bacia do Canindé, que, por sua vez, integra a Bacia do Parnaíba. Suas principais nascentes
encontram-se na Serra Grande, município de Pio IX e seu principal afluente é o rio Riachão, cujas
principais nascentes também encontram-se no município de Pio IX, nas imediações da Serra Dois
Irmãos (SANTOS, et al, 2012).
Embora esteja localizado no semiárido, a referência que se tinha do Guaribas era a de um
rio perene, que fornecia água o ano inteiro para o consumo humano e animal e para a agricultura.
De acordo com Gomes (2014), o rio Guaribas garantia o abastecimento de água o ano inteiro,
formando vazantes no seu leito, onde se praticava a agricultura.
Nesse mesmo sentido, dispõem Fonseca e Nóbrega (1993), segundo os quais, na época
das chuvas, o Guaribas era um rio de enxurradas, transbordando os leitos e inundando as
planícies, depositando fertilizantes naturais e, consequentemente, aumentando a produtividade
da agricultura, e, com o fim das chuvas, dava lugar a produção de hortaliças, sobretudo do alho,
cultivado em canteiros no leito do rio, desde as nascentes até a foz, no rio Itaim.
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Figura 02 – Plantação de Alho no Rio Guaribas
Fonte: Acervo pessoal de José Rodney Leal Brito.
As cheias do Guaribas também eram responsáveis por catástrofes, como as constantes
inundações da área urbana do município de Picos, Piauí, assentada na planície de inundação do
rio, sendo a cheia da década de 1960 a mais devastadora, ocasião na qual começa-se a discutir a
construção de obras de minimização de enchentes, como a construção de barragens a montante
do rio (FONSECA; NÓBREGA, 1993).
Figura 03 – Inundação do centro de Picos, Piauí, na década de 1960.
Fonte: Acervo pessoal da família Varão.
Embora houvesse a possibilidade de mudança da zona urbana de Picos, Piauí, que ainda
era incipiente, para uma área mais elevada, discutia-se a possibilidade de mitigar os efeitos da
força da natureza, ao invés de respeitar o curso do rio e liberar a ocupação das planícies de
inundação.
Nesse contexto de fenômenos naturais adversos, ora de seca, ora de enxurradas e
inundações, é que se começa o planejamento da construção da barragem de Bocaina, Piauí, obra
de grandes proporções que afetaria o quadro natural e socioeconômico da região.
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A CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DE BOCAINA, PIAUÍ.
Nos anos de 1979 a 1983, uma grande seca devastava o semiárido piauiense,
desencadeando um quadro social de carência e dependência política, fazendo com que a
população se submetesse aos trabalhos nas frentes de serviço das obras do governo, dentre
elas, a construção da barragem de Bocaina, Piauí, iniciada em julho de 1981 (ROCHA, 2011).
O açude Bocaina, que recebeu o nome do município no qual foi construído, tinha por
finalidades o abastecimento de água, regularização de vazão e irrigação, com volume de acúmulo
de água de até 106.000.000,00m³, ocupando uma área de 1.100,00 hectares, com recursos da
SUDENE e construção pelo 3º BEC, conforme se verifica nos dispositivos de trabalho do acervo
do 3º BEC.
A grande quantidade de água acumulada possibilitaria o abastecimento de
aproximadamente 150.000 pessoas, dos municípios de Picos e Bocaina (FIGUEIREDO, et al,
2014), além de poder promover o desenvolvimento socioeconômico devido ao controle de
enchentes e do potencial de irrigação, que ampliaria as culturas já existentes, além de introduzir o
cultivo de novos produtos (GOMES, 2014).
Para o poder público a barragem representava desenvolvimento socioeconômico, já para a
população ribeirinha significava desapropriação de suas terras, destruição de suas casas,
alteração de sua produção agrícola e de suas sociabilidades (GOMES, 2014).
Figura 04 – Construção da Barragem de Bocaina, Piauí.
Fonte: Acervo do 3º BEC.
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Segundo Rocha (2011), a obra da barragem foi realizada de modo autoritário, contra as
vontades dos moradores, atingindo diretamente 167 famílias, que foram expropriadas sem
receber a devida indenização, culminando com uma ação judicial de indenização, que fora
marcada por repressões e ameaças.
Os trabalhos eram realizados por meio das frentes de serviço, que se davam de modo
precário, com os trabalhadores sendo transportados em caçambas, jornadas de trabalho de até
11 horas por dia, saindo de suas casas de madrugada e só retornando a noite, tendo que levar
suas refeições, pois não era fornecida alimentação (GOMES, 2014).
Figura 05 – Inauguração da barragem de Bocaina, Piauí.
Fonte: Figueiredo (2014)
No dia 13 de março de 1985 é inaugurada a barragem de Bocaina (FIGUEIREDO, et al
2014), alterando drasticamente o quadro natural da região, uma vez que inundou as planícies
agrícolas localizadas no lago da represa, forçando os ribeirinhos a procurarem locais alternativos,
e interrompeu o ciclo natural de enchentes do rio Guaribas, responsável pela troca de materiais
orgânicos e inorgânicos que favorecem a produção vegetal.
Segundo Fonseca e Nóbrega (1993), com o fechamento das comportas, a agricultura das
vazantes entrou em declínio, pois a maior parte do fluxo era de águas salinas provenientes do
Riachão, modificando as características químicas do solo e interferindo diretamente na
produtividade agricultura.
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UTILIZAÇÃO RECENTE DOS RECURSOS HÍDRICOS DA BARRAGEM DE BOCAINA, PIAUÍ.
Atualmente o lago formado pelo represamento da água tem servido como espaço de lazer
de pessoas de diversos municípios, principalmente os do entorno, gerando renda, principalmente
pelo estabelecimento de restaurantes e bares nas suas margens. Entretanto, devido ao baixo
nível da água, os comerciantes relatam uma queda significativa na movimentação turística.
Outra forma de exploração dos recursos hídricos se deu com o estabelecimento da
piscicultura, com a criação de peixes em tanques-rede submersos nas águas do açude, que
também entrou em crise com a redução do nível da água, o que provoca a diminuição no nível de
oxigênio, causando a morte dos peixes e inviabilizando a criação.
A vazão para o rio Guaribas possibilita a captação de água por meio de bombas de sucção
e sua utilização na irrigação, abastecimento animal e piscicultura. Entretanto, a água
disponibilizada não é suficiente para abastecer todos os municípios à jusante, uma vez que
diversos represamentos ilegais e passagens molhadas dificultam a passagem da água, que, na
época da seca, não chegam sequer ao município de Picos. A agricultura de vazantes, tão
praticada outrora, é rara de ser localizada, estando a maior parte do leito do rio sem nenhuma
utilização, coberta por vegetação nativa, que formam uma floresta dentro de vários trechos.
A expansão comercial, sobretudo em Picos – PI, e o crescimento do serviço público,
absorveu uma grande quantidade de mão-de-obra, que associada ao aumento da oferta de
ensino do nível básico ao superior, têm possibilitado outras ocupações, o que teria proporcionado
o abandono da agricultura no Guaribas em busca de oportunidades mais vantajosas e menos
árduas do que o trabalho braçal na roça.
Quanto ao abastecimento humano, no ano de 2014 foi iniciada a construção da Adutora
Bocaina/Piaus II, executada pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
(SEMAR – PI), com recursos do Ministério da Integração Nacional através do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), com duração de 18 meses, cuja extensão é de 86,55Km e
capacidade de tratamento de 361 litros de água por segundo, para abastecer os municípios da
região, no caso da Adutora Bocaina, seria para abastecer os municípios de Bocaina, Sussuapara
e Picos (SEMAR, 2013). No entanto, a obra encontra-se inacabada, sem o devido funcionamento.
No que tange ao controle das enchentes e a consequente inundação da zona urbana de
Picos, Piauí, é evidente que tal efeito foi mitigado, mas não a ponto de evitar tal catástrofe. Prova
disso foi a grande enchente de 2004, que causou transtornos imensuráveis à população que
morava nas margens dos rios, desabrigando e desalojando uma grande quantidade de pessoas.
Embora a história do município de Picos – PI seja marcada por inundações devastadoras, a
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população e os gestores não tomam como lição, continuando a ocupar o leito do rio, contrariando
a legislação ambiental vigente e ignorando os perigos iminentes.
CONCLUSÃO
A construção da barragem de Bocaina, Piauí, foi um empreendimento de grandes
dimensões, marcada por injustiças sociais, e estabelecida numa base ideológica de
desenvolvimento que nunca chegou. As políticas públicas verificadas, voltadas para o
aproveitamento do potencial hídrico apresentam-se inacabadas ou funcionando de forma
ineficiente.
A obtenção de informações acerca do contexto da construção da Barragem depende da
identificação dos atores sociais envolvidos e de uma ampla pesquisa por meio de entrevistas,
uma vez que a documentação é escassa, disponível em algumas poucas publicações sobre o
tema. O acervo disponível no 3º Batalhão de Engenharia e Construção propicia informações
sobre os aspectos estruturais da construção e algumas imagens da época. No que tange as
repercussões socioeconômicas, que se estendem até o período recente, há carência de
informações, inclusive de informações sobre as políticas públicas desenvolvidas.
Sendo assim, verifica-se a necessidade de estudos sobre a área, a fim de caracterizá-la e
discutir a possibilidade de utilização da água de forma eficiente e rentável para a população,
criando projetos agropecuários e de lazer de maneira sustentável, que possam trazer o tão
esperado desenvolvimento para a região.
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OS AGENTES SOCIAIS E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NO BAIRRO
ITARARÉ EM TERESINA-PI: DA LUTA PELA MORADIA AO SUBCENTRO REGIONAL
Glécia Alves da Silva1 Bartira Araújo da Silva Viana2
RESUMO: Este trabalho versa sobre a dinâmica do espaço urbano em decorrência da ação dos agentes sociais que consomem e produzem o espaço citadino. Seu objetivo geral é caracterizar os agentes sociais produtores do espaço urbano que mais influenciaram na configuração do bairro Itararé, localizado na Zona Sudeste da cidade de Teresina, enfatizando as transformações ocorridas neste bairro desde seu surgimento no final da década de 1970, até os dias atuais, onde se verifica a presença de um subcentro regional de forte expressão na cidade. Para isso foi realizada pesquisa bibliográfica e documental, bem como observações no local para registros fotográficos. Também foram utilizados recursos do Google Earth para melhor visualização e localização do referido bairro no tecido urbano de Teresina. Entre o referencial teórico utilizado destaca-se as contribuições de Corrêa (2000); Façanha (1998); Leite (2013); Lima (2011), dentre outros. Constatou-se que nos primórdios do bairro Itararé era forte a participação dos grupos sociais excluídos e do Estado, este atuando muitas vezes como promotor imobiliário. Na atualidade, além das ações desses agentes, soma-se a força dos proprietários dos meios de produção (comerciantes e prestadores de serviços) na dinâmica daquele bairro e, consequentemente, da cidade. Palavras-chave: Agentes sociais. Dinâmica urbana. Produção do espaço.
INTRODUÇÃO
As cidades apresentam dinamismo e transformações provocadas pela ação dos agentes
sociais que produzem a cidade e deixam suas marcas na paisagem urbana. Conhecer esses
agentes que consomem e produzem o espaço urbano, bem como os reflexos de sua atuação é
essencial para que se possa compreender e explicar as formas espaciais que juntas compõem o
cenário urbano.
Teresina, localizada na região centro-norte do estado do Piauí, exemplifica bem essa
dinâmica vivida pelos espaços urbanos, pois apresenta atualmente uma configuração espacial
bem diferente daquela verificada em 1852 quando foi fundada para ser a nova sede da província
do Piauí.
As diferenças são observadas tanto em relação ao sítio urbano, que antes se restringia ao
espaço compreendido entre os rios Parnaíba e Poti (LIMA, 2002), como em relação aos 1 Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
2 Docente do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
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processos e formas espaciais, pois a cidade de Teresina nos seus primórdios apresentava uma
área central bem definida e sem núcleos secundários de forte expressão no tecido urbano da
cidade. Fato diferente do que se observa na atualidade quando a cidade apresenta subcentros
regionais caracterizados pela atividade comercial e prestação de serviços resultantes do processo
de descentralização.
Nesta perspectiva, este trabalho tem como objetivo geral caracterizar os agentes sociais
produtores do espaço urbano que mais influenciaram na configuração do bairro Itararé, localizado
na Zona Sudeste da cidade de Teresina (Figura 1), enfatizando as transformações ocorridas
neste bairro desde seu surgimento no final da década de 1970 até os dias atuais, onde se verifica
a presença de um subcentro regional de forte expressão na cidade.
Figura 1 – Localização do Bairro Itararé na zona sudeste de Teresina-PI
Fonte: IBGE (2015); Google Earth (2017). Geoprocessamento: Orleando Leite de Carvalho (2018).
Quanto aos procedimentos metodológicos, estes foram compostos de pesquisa
bibliográfica em livros, artigos, dissertações e teses envolvendo conceitos e discussões referentes
ao objeto de estudo, e observações com registros fotográficos no bairro Itararé. Também foram
utilizados recursos do Google Earth para melhor visualização e localização do referido bairro no
tecido urbano de Teresina. Entre o referencial teórico utilizado destaca-se as contribuições de
Corrêa (2000); Façanha (1998); Leite (2013); Lima (2011), dentre outros.
O presente trabalho permite conhecer os agentes sociais e sua influência na produção
urbana do bairro Itararé, colaborando para a sua configuração urbana atual. Para melhor
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sistematização, o texto apresenta-se dividido em três seções. A primeira traz algumas
considerações sobre o espaço urbano, destacando conceitos e características dos agentes
sociais à luz de alguns autores que abordam a temática. A segunda apresenta a evolução urbana
de Teresina e, por fim, são destacados os principais agentes sociais que atuaram e atuam no
bairro Itararé, localizado na zona Sudeste da cidade.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESPAÇO URBANO
O Espaço urbano é resultado de um conjunto de relações entre a sociedade e o meio
decorrente das ações humanas. Na tentativa de atender às suas particularidades, o homem
produz o espaço que lhe serve de abrigo condicionando, assim, a sua experiência na cidade.
Necessidades e objetivos diferentes permitem que a cidade abrigue em seu interior espaços
diversos, porém conectados e que juntos constituem o emaranhado que é o espaço urbano.
Para Corrêa (2000), os diferentes usos da terra urbana estão relacionados às diversas
finalidades que têm as parcelas do solo da cidade. Alguns espaços são destinados a residências,
outros concentram atividades comerciais, de serviços e gestão, e há ainda aqueles que se
destinam a futura expansão urbana.
Segundo este autor a diversidade de uso da terra urbana confere a esse espaço a
característica de fragmentado, ao mesmo tempo em que é articulado, pois “[...] cada uma de suas
partes mantém relações espaciais com as demais, ainda que de intensidade muito variável. Estas
relações manifestam-se empiricamente através de fluxos de veículos e de pessoas [...]”
(CORRÊA, 2000, p. 7).
Este espaço além de fragmentado e articulado é reflexo e condicionante social, apresenta
alguns símbolos e é também um campo de lutas, destaca-se que a luta é na cidade e pela cidade,
pelo direito de ter um espaço no solo urbano onde seja possível a reprodução social, fazendo
com que este espaço seja ao mesmo tempo o cenário e o objeto das lutas sociais (CORRÊA,
2000). Os símbolos que o espaço urbano assume resultam das vivências da sociedade ao longo
da história e das marcas e formas que vão ficando na cidade.
Este espaço é reflexo e condicionante social, pois reflete a sociedade e consequentemente
a divisão de classes que lhe caracteriza. Através da segregação residencial, marca da cidade
capitalista, o espaço urbano reflete a estrutura em classes daquele local (CORREA, 2000).
Ao mesmo tempo em que reflete a sociedade, este espaço condiciona a vida na cidade
pela forma como estão distribuídos seus objetos. Assim, “[...] o espaço urbano é espaço
socialmente produzido e historicamente determinado, partindo da premissa de que este se refere
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não apenas à configuração espacial, mas principalmente às relações sociais que aí se
estabelecem” (LEITE, 2013, p. 34).
As relações sociais que a autora destaca são engendradas pelos agentes sociais que
consomem e produzem o espaço citadino. Sobre esses agentes, Correa (2000, p. 11) explica que:
[...] São agentes sociais concretos, e não um mercado invisível ou processos aleatórios atuando sobre um espaço abstrato. A ação destes agentes é complexa, derivando da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações de produção, e dos conflitos de classe que dela emergem.
Entre os agentes responsáveis pela produção do espaço urbano podemos destacar os
proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o
Estado e os grupos sociais excluídos. Entender a atuação de cada um desses agentes que
deixam suas marcas na cidade é importante para que se possa fazer uma leitura do espaço
urbano e compreender o seu arranjo através das formas espaciais.
De forma breve, buscando caracterizar cada um desses agentes, afirma-se que, os
proprietários dos meios de produção compreendem os industriais, os comerciantes e os
prestadores de serviços (FAÇANHA, 1998), e “[...] necessitam de terrenos amplos e baratos que
satisfaçam requisitos locacionais pertinentes às atividades de suas empresas – junto ao porto, às
vias férreas ou em locais de ampla acessibilidade à população etc.” (CORRÊA, 2000, p.13).
Para caracterizar a atuação dos proprietários fundiários recorre-se a Façanha quando diz
que estes agentes:
[...] possuem um papel fundamental na produção do espaço urbano. As suas ações não dizem respeito somente ao processo de loteamento da terra urbana, pois, quando deixam as terras “ociosas”, criando vazios na cidade, eles promovem uma valorização dessas terras, que variam de preços, de acordo com sua localização, em relação à concentração de outros serviços (FAÇANHA, 1998, p.31).
Os promotores imobiliários são aqueles que realizam atividades como construção e
comercialização de imóveis sendo mais interessante a estes agentes produzir residências de
maior valor como os condomínios de luxo. Para Façanha (1998, p.34-35) estes agentes:
[...] exercem um papel importante na configuração territorial das cidades. As suas ações são decorrentes de várias operações voltadas, na sua grande maioria, para a produção de habitações. O promotor imobiliário coordena o jogo do mercado imobiliário nas cidades, reflexo de uma forte demanda que existe em busca de um local para morar. A alta demanda faz com que esse agente social controle o preço das habitações do mercado imobiliário.
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O Estado tem uma atuação enquanto agente social bastante complexa, uma vez que ao
mesmo tempo atua como industrial, proprietário de terras, promotor imobiliário, regulador do uso
do solo urbano e é alvo dos movimentos sociais urbanos (CORRÊA, 2000).
Os grupos sociais excluídos dizem respeito a parcela da população urbana marginalizada e
privada do seu direito de moradia digna no espaço urbano. Muitas vezes esses grupos se
obrigam a morar em locais que em nada colaboram com a sadia qualidade de vida, mas foi a
parte que lhes coube no emaranhado protagonizado pelos demais agentes sociais que colaboram
para a segregação residencial que caracteriza a cidade capitalista.
Após discorrer sobre o espaço urbano e caracterizar brevemente seus agentes torna-se
necessário que se conheça um pouco sobre a evolução urbana de Teresina para que se possa
compreender como o bairro Itararé alcançou a conjuntura que tem na atualidade.
UM POUCO DA EVOLUÇÃO URBANA DE TERESINA
Sob as coordenadas 5º05‟12‟‟ S e 42º48‟42‟‟ W Teresina ocupa hoje uma área de 1.391
km2 e uma população estimada de 850.198 pessoas (IBGE, 2017) sendo 271,94 km2 a sua zona
urbana (LIMA, 2016).
Fundada em 1852 para ser a nova capital da Província do Piauí, Teresina apresenta
atualmente uma configuração espacial bem diferente daquela da época de sua fundação, quando
o sítio urbano se concentrava no interflúvio Parnaíba e Poti (LIMA, 2002).
Antes de chegar ao aspecto que apresenta na atualidade, com quatro regiões
administrativas bem definidas (Centro-norte, Leste, Sudeste e Sul) (SEMPLAN, 2018), Teresina
passou por uma evolução tendo sua urbanização intensificada a partir das décadas de 1950 e
principalmente 1960.
Como afirma Façanha (1998, p. 72) “olhando a cidade de Teresina, entre as décadas de
1950 e 1960, observa-se que esse período foi fundamental para a construção da atual
configuração do seu espaço urbano”. De acordo com o Plano de Desenvolvimento Local
Integrado de Teresina (PDLI) (1969 citado por RODRIGUES; VELOSO FILHO, 2015) “os anos 60
marcaram a ocupação além do Rio Poti” […]. Assim, nessa época a expansão da cidade ocorreu
para o sul e para o leste, extrapolando o rio.
Ressalta-se que a política habitacional com o início da construção de conjuntos
habitacionais na cidade foi um dos fatores que contribuíram para a expansão da cidade em vários
sentidos, como também a construção de vias e avenidas. Assim, o espaço urbano de Teresina
passou de 22 bairros em 1969 (abrangendo as zonas Norte, Sul e Centro), para 107 bairros em
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1988, compondo as zonas Norte, Sul, Sudeste, Leste e o Centro (RODRIGUES; VELOSO FILHO,
2015).
Sobre a política habitacional implantada em Teresina a partir da década de 1960, é
possível observar, através de revisão bibliográfica, que esse processo ocorreu de forma
diferenciada nas zonas da cidade.
Constata-se que a Zona Sul foi a mais agraciada com as construções habitacionais, em
especial na década de 1980, com uma expressiva redução na década seguinte (RODRIGUES;
VELOSO FILHO, 2015). De acordo com Façanha (1998, p. 73):
Inicialmente, a Zona Sul foi ocupada devido às condições favoráveis de seu sítio urbano. A sua localização, entre os rios Parnaíba e Poti, e a existência de poucos obstáculos naturais contribuíram para a expansão da cidade de Teresina naquela direção entre as décadas de 50 e 60. Essa zona foi beneficiada com a implementação de serviços de infraestrutura, resultado de ações feitas pelo Estado Federal, através de políticas públicas, contribuindo para dinamizar toda essa área, transformando-a na principal área de expansão da cidade.
Constata-se que a Zona Norte recebeu pouca atenção das políticas habitacionais
governamentais, em virtude de fatores geográficos, porém, o cenário mudou na década de 1980
quando essa zona recebeu mais de 6000 construções.
A zona Leste, por ser uma parte da cidade destinada a moradias para grupos elitizados, a
cargo da iniciativa privada, representada pelos promotores imobiliários, recebeu pouca
intervenção de políticas habitacionais no período considerado.
Depois da zona Sul, a zona da cidade que mais recebeu unidades habitacionais foi a Zona
Sudeste, que resultou do desmembramento da zona Leste (FAÇANHA, 1998), com destaque para
os conjuntos habitacionais Itararé I e Itararé II, construídos em 1977 e 1980 respectivamente.
AGENTES SOCIAIS E SEUS REFLEXOS NO BAIRRO ITARARÉ
O Bairro Itararé está localizado na Zona Sudeste da capital piauiense e abriga em seu
espaço 2 vilas e 4 conjuntos habitacionais (SEMPLAN, 2014). De acordo com o documento Perfil
dos Bairros, publicado pela Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação em 2014, a
área do bairro compreende 3,47 km2 e em 2010 sua população representava 4,88% da cidade de
Teresina.
Para caracterizar os agentes sociais que atuaram e atuam nesta porção do espaço urbano
teresinense recorre-se à própria história de formação daquele bairro. De acordo com Araújo
(2014) existem duas maneiras para a formação de um bairro:
A primeira é através de projetos estrategicamente pensados e elaborados, nesse caso dizemos que eles são constituídos por meio dos agentes legais, Estado, Município ou particulares, que às vezes possuem terras e resolvem lotear com o
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aval do município. [...] A segunda maneira é por meio da ação cotidiana das pessoas que habitam a cidade através da ocupação de terras, e passam a reivindicar a legalização das terras e posterior construção de equipamentos urbanos [...] (ARAÚJO, 2014, p. 2).
A formação do bairro Itararé está associada a primeira forma apresentada pela autora.
Fazendo parte da política habitacional implementada pelo Governo Federal nas décadas de 1970
e 1980, foram construídos os conjuntos habitacionais Itararé I (1977) e Itararé II (1980), cujo
nome faz alusão à área em que foram construídos, visto que as terras pertenciam à fazenda de
mesmo nome e que, posteriormente, passariam a se chamar Dirceu I e Dirceu II em homenagem
ao ex-governador do Piauí Dirceu Mendes Arcoverde (ARAÚJO, 2014).
Os dois conjuntos atualmente formam o bairro Itararé, sendo que estes foram financiados
pelo Banco Nacional de Habitação (BNH). O primeiro compreendia 3.040 unidades e o segundo
4.254 (RODRIGUES; VELOSO FILHO, 2015). A literatura a respeito da construção destas
habitações informa que o projeto visava a moradia para as classes menos favorecidas como os
ocupantes da antiga favela Cohebe, onde hoje está situada a Companhia Energética do são
Francisco – CHESF (ARAÚJO, 2014).
Outros autores como Sousa Neto (2014) afirmam que o projeto serviu também para
“higienizar” alguns locais da Zona Leste da cidade, especialmente os bairros Fátima e Jóckey
Clube, cujas terras estavam sendo ocupadas de forma irregular por famílias carentes oriundas do
interior do estado, enquanto seus donos ainda residiam no centro da cidade.
Observa-se que a luta pela moradia e pelo direito a cidade permitiu o povoamento daquela
porção do cenário teresinense. Quando começou a receber as famílias, eram constantes as
reclamações em relação a distância até o centro da cidade e a falta de infraestrutura básica que
permitisse a vida digna na cidade. (Figura 2).
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Figura 2 – Início do processo de ocupação do Conjunto Itararé I
Fonte: Portal O Dia (2014).
Ruas sem pavimentação e carência de serviço de transporte coletivo eram algumas das
reivindicações dos moradores que pressionaram o poder público por melhorias estruturais, fato
que permitiu a construção da ponte ligando o bairro à zona Sul da cidade e a pavimentação das
vias de acesso (ARAÚJO, 2014).
A partir do relato apresentado, baseado em fatos da história daquele bairro, é possível
perceber e destacar a atuação dos grupos sociais excluídos, proprietários fundiários e do Estado
na produção do espaço urbano do bairro tomado como objeto de estudo. Acrescente-se que o
Estado atuou como proprietário fundiário e promotor imobiliário ao mesmo tempo em que foi alvo
dos movimentos sociais reivindicatórios. Sobre a atuação do Estado em Teresina Façanha (1998,
p. 128) afirma:
[...] o Estado, no âmbito federal, estadual e municipal, foi um indutor da dinâmica urbana. A literatura da trajetória desse estado o revela atuando em vários níveis e desempenhando as suas diversas formas de intervenção no espaço urbano.
Com o passar do tempo a área recebeu investimentos públicos e particulares. A presença
dos proprietários dos meios de produção, especialmente comerciantes e prestadores de serviços
é visível na paisagem urbana que se formou no bairro (Figura 3). O principal corredor urbano, a
Avenida José Francisco de Almeida Neto (conhecida popularmente como Avenida principal do
Dirceu) (Figura 3B) comporta em seu espaço estabelecimentos de vários segmentos (Figura 3D),
de pequeno e grande porte, farmácias, padarias, papelarias e agentes prestadores de serviços
ligados ao sistema financeiro a exemplo de agências bancárias (Figura 3A).
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A presença destes agentes sociais e dos empreendimentos fez surgir um núcleo
secundário comercial e de serviços, correspondente ao subcentro regional, resultante do
processo de descentralização que, por sua vez, está associado ao crescimento espacial da
cidade e a busca pela aproximação com o mercado consumidor (CORRÊA, 2000).
Caracterizando o subcentro regional, este autor afirma que este “constitui-se em uma
miniatura do núcleo central. Possui uma gama complexa de tipos de lojas e de serviços, incluindo
uma enorme variedade de tipos, marcas e preços de produtos” (CORRÊA, 2000, p. 51).
Sobre a principal avenida do bairro Itararé pode-se dizer que “é o principal corredor de
acesso ao interior da região e por onde passa um grande fluxo de veículos e pessoas que entram
ou saem dos bairros que compõem esta região” (LIMA, 2011, p. 158). Trata-se de fluxos que
movimentam e dinamizam a área caracterizando a centralidade (LIMA, 2011).
Figura 3 – Mosaico de fotografias mostrando aspectos da principal avenida do Bairro Itararé, Zona Sudeste de Teresina - PI
A: Presença de estabelecimento de atividade do serviço financeiro; B: Vista da Av. “Principal do Dirceu” com
presença de estabelecimento comercial de grande porte; C: Presença de estabelecimento comercial de abrangência regional; D: Variedade de estabelecimentos na Av. principal do Bairro.
Fonte: Silva (2018).
Por permitir a geração de emprego e renda para a população residente, e por dispor de
estabelecimentos nas categorias local, subcentral e regional (Figura 3C), bem como pela
estrutura funcional que atende a população em muitas de suas necessidades, permitindo que as
pessoas não necessitem se deslocar até o centro da cidade, pode-se concluir que a existência de
uma centralidade na Zona Sudeste de Teresina decorre do dinamismo econômico do bairro
Itararé.
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CONCLUSÃO
O aspecto que a cidade e seu espaço urbano apresentam resulta de um conjunto de forças
que atuam no tempo e naquele cenário, permitindo o seu crescimento espacial. Tal crescimento é
acompanhado por mudanças significativas nas relações sociais que se materializam nas marcas
deixadas na cidade. O caso que serviu de objeto para este artigo, retrata a configuração espacial
urbana decorrente da ação dos agentes sociais que consomem e produzem o espaço.
O bairro Itararé localizado na zona Sudeste da cidade de Teresina nasceu sob influência
da política habitacional do país (Estado em âmbito federal) quando muitos lutavam pela moradia
no espaço citadino. Com o passar do tempo e a ação dos agentes produtores do espaço, com
destaque para os grupos sociais excluídos e do Estado, sendo que este muitas vezes atuou como
promotor imobiliário, e em outros momentos atendeu ás demandas sociais, juntamente com as
ações dos comerciantes e dos prestadores de serviços, o bairro se transformou em um subcentro
regional de forte expressão na capital piauiense dinamizando o espaço da cidade.
REFERÊNCIAS
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SOUSA NETO, Marcelo de. Nasce um bairro, renasce a esperança, resiste a cidade: história e memória de moradores do Conjunto Habiacional Dirceu Arcoverde (Teresina-PI, décadas de 1970 e 1980). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA CULTURAL, 7., 2014. São Paulo-SP. Anais… São Paulo- SP: Universidade de São Paulo – USP, 2014. Disponível em: <http://gthistoriacultural.com.br/VIIsimposio/Anais/Marcelo%20de%20Sousa%20Neto.pdf>. Acesso em: 29 set. 2017.
TERESINA, Prefeitura Municipal de. Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação.. Perfil dos bairros, 2014. Disponível em: <http://semplan.teresina.pi.gov.br/wp-content/uploads/2016/08/ITARAR%C3%89-2016.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2018.
________. Divisão administrativa, S.d. Disponível em: <http://semplan.teresina.pi.gov.br/mapas-interativos/>. Acesso em 11 set. 2018.
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A COBRANÇA DE ROYALTIES SOBRE A ENERGIA EÓLICA: UM ESTUDO
PRELIMINAR A RESPEITO DA PEC 97/15
Wesley Fernandes Araújo1 Francisco Antônio Gonçalves de Carvalho2
Lucas de Moura Veloso3
RESUMO: O presente trabalho trata-se de uma breve análise sobre o que vem a ser a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 97/15 e seus possíveis impactos. A mesma, de autoria do Deputado Federal
Heráclito de Souza Fortes (DEM-PI), visa a cobrança de royalties sobre a energia eólica no território
brasileiro. Para tanto objetivou-se analisar o texto da referida PEC assim como informações recentes da
energia eólica no Brasil. Metodologicamente foi feito uma revisão bibliográfica sobre o tema e uma busca
nos principais sítios eletrônicos que abordassem dados do setor. Os resultados apontaram que os
principais motivos que levaram à criação da PEC 97/15 para que possam ser cobrados royalties no setor
de energia eólica, principalmente por impedir o desenvolvimento de atividades econômicas nos locais
onde so mesmos estão instalados. Contudo, foi visto que por se tratar de uma energia renovável e limpa
não caberia tal cobrança para o setor, além de uma série de vantagens que o mesmo traz tanto no âmbito
econômico, social e ambiental. Além disso, faria com que houvesse uma preferência nas buscas por
fontes de energias que são poluentes.
Palavras-chave: Royalties dos ventos. Setor eólico. Atividades econômicas. Desenvolvimento Econômico.
Desenvolvimento Ambiental.
INTRODUÇÃO
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Nº 97 de 2015 dá nova redação aos artigos
20, inciso VIII e parágrafo 1º, e 21, inciso XII, alínea “b”, da Constituição Federal, tem intuito de
incluir ao setor de energia eólica a cobrança de royalties assim como já é feito com o petróleo,
gás natural e fontes de energia de hidrelétricas. Em poucas palavras, é como se fosse cobrar pelo
espaço que suas usinas ocupam em cada região, alegando que a mesma impede o
desenvolvimento de outras atividades econômicas.
Este trabalho, traz uma breve abordagem do que é proposto na PEC 97/15 assim como
uma busca na literatura especializada que possa debater e explicitar se é viável ou não que tal
Proposta possa ser promulgada. A importância para este estudo se deve ao fato de ser algo
1Pós-Graduando em Gestão Empresarial, Instituto de Estudos Empresariais – IEMP. E-mail: [email protected]
2Especialista em Gestão de Pessoas, Faculdade Kuriós. E-mail: [email protected]
3Acadêmico do curso de Ciências Contábeis da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail:
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novo, com poucas informações e estudos já publicados, mas que merece uma atenção elevada
pois a mesma, por se tratar de algo que pode se tornar lei, precisa que as pesquisas se
aprofundem mais, para que não possa haver um inequívoco caso a referida PEC seja
considerada inviável por pesquisadores, empresários, e/ou ambientalistas.
Para tanto objetivou-se analisar o texto da referida PEC assim como informações recentes
da energia eólica no Brasil. Metodologicamente foi feito uma revisão bibliográfica sobre o tema e
uma busca nos principais sítios eletrônicos que abordassem dados do setor
BREVE ABORDAGEM SOBRE PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO 97/15
Este tópico apresenta a Proposta de Emenda à Constituição 97/15 no qual pode fazer com
que o Brasil seja o primeiro país a cobrar royalties da geração de energia advinda dos ventos, isto
é, da energia eólica. De autoria do Deputado federal Heráclito Fortes (DEM-PI), a PEC já teve sua
admissibilidade aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ).
(BRASIL, 2017)
Para entender melhor, é preciso primeiramente definir o que são a cobrança de royalties.
Conforme a Confederação Nacional de Municípios – CNM (2010, p. 7) “são uma das formas mais
antigas de pagamento de direitos e propriedade.” Além disso define como “uma indenização ao
proprietário e que não se aplica a qualquer atividade econômica, mas apenas àquelas que se
baseiam na extração de recursos finitos na natureza”. Em outras palavras, “é a extração desse
tipo de recurso natural e não os seus possíveis impactos no ambiente e na economia que geram
direito a royalties”
A PEC 97/15 tem por objetivo alterar os artigos 20 e 21 da Constituição Federal de 1988,
que passaria a vigorar a seguinte redação: (as alterações estão em destaque)
Art. 20. São bens da União: [...] VIII - os potenciais de energia hidráulica e de energia eólica; [...] § 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos e eólicos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração. [...] Art. 21. Compete à União: [...] XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
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b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água e dos ventos, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos e eólicos (BRASIL, 2015, grifo nosso)
O autor do projeto justifica o pedido de cobrança alegando que a exploração da energia
eólica "gera significativas alterações nas áreas próximas às fazendas destinadas a essa
atividade, de modo a limitar a realização de outras atividades econômicas". Dentre estas
atividades que são limitadas, segundo o Deputado, está o turismo:
O turismo, por exemplo, grande fonte de renda do litoral do Nordeste, onde se localiza o maior potencial eólico do Brasil, sofre danos irreparáveis, tanto pelas restrições físicas impostas pelos parques de geração como pela deterioração de extraordinárias paisagens naturais. Essa situação provoca a redução dos empregos e da renda, além de causar impactos adversos nas contas públicas dos Estados e Municípios situados nas regiões afetadas. (BRASIL, 2015)
O relator do projeto na CCJ da Câmara, deputado Tadeu Alencar (PSB-PE), em seu voto
favorável à PEC, destaca ainda que:
[...] as limitações e restrições impostas pela exploração de energia eólica afetam todo o povo brasileiro, tornando necessário que os responsáveis por tais atividades compensem os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e a União, o que deve ocorrer através de justa participação no resultado econômico auferido, tal como ocorre com a exploração de petróleo ou gás natural e de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica (BRASIL, 2017)
Em seu voto, o relator da proposta ainda reconhece que a produção de energia eólica deve
ser incentivada, por ser uma fonte de energia que independe de combustíveis fósseis. Contudo,
ao mesmo tempo, o mesmo afirma não existir “razão para que a este tipo de atividade seja dado
tratamento diferente do que a Constituição Federal”, alegando que mesmo sendo uma fonte de
energia limpa “a energia eólica tem algum custo, que tem sido suportado apenas pelos entes da
federação em que é produzida, sem qualquer forma de compensação.” (BRASIL, 2017)
O relator justifica ainda que a compensação financeira se vincula aos problemas que a
mesma gera, e não por causa da exploração em si. Para tanto, o mesmo traz à tona exemplos de
problemas ambientais, sociais e econômicos especialmente para os municípios onde se situam
as minas e as represas, podendo citar aqui: “remoção da cobertura vegetal do solo, poluição,
inundação de extensas áreas, comprometimento da paisagem”, além disso expõe que
“inviabilizam o desenvolvimento de atividades produtivas na superfície, privando Estados e
Municípios das vantagens delas decorrentes.” (BRASIL, 2017)
A aprovação da referida PEC pela CCJ data do dia 06 de dezembro 2017, e agora está
sujeita à apreciação do Plenário. O próximo tópico vem trazer algumas discussões sobre a PEC
97/15 e como ela pode impactar social, econômico e ambientalmente.
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PRINCIPAIS DISCUSSÕES JÁ EXISTENTES SOBRE PEC 97/15
Por se tratar de uma proposta de alteração constitucional bastante recente, há uma certa
dificuldade em se encontrar na literatura especializada trabalhos que abordem o tema, sendo que
os principais já existentes estão voltados para os estudos e as análises de cobranças de royalties
do petróleo e do gás natural, justamente por já estarem garantidos na Carta Magna. Contudo,
apesar de ser atual, e tendo ganhado força após aprovação na CCJ no final de 2017, já é
possível encontrar pessoas e entidades de discutam sobre tema.
Roque Antônio Carrazza, parecerista e professor de Direito Tributário na PUC-São Paulo,
conforme cita Soares (2018), “vê com ressalvas a cobrança de royalties sobre a atividade.
Entretanto, considera legítimos os argumentos do deputado Heráclito Fortes e acredita que o
Congresso poderá instituir tributos específicos para o setor.”
"Tratar o vento como patrimônio nacional, tal como o minério, não me parece apropriado. Porém, o proponente tem razão ao mencionar, no projeto, os impactos dos parques eólicos sobre o turismo em regiões onde a atividade é de grande importância, como o Nordeste", avalia. "Assim como já é feito na mineração, por meio da CFEM [Compensação Financeira pela Exploração de Recursos], poderia se pensar em outras formas de taxação." (CARRAZA, S/D apud SOARES, 2018)
Trigueiro (2018), de forma bem resumida, explica que a PEC além de ignorar o fato de que
a cobrança eventual será totalmente repassada para o consumidor (por meio de oneração junto à
tarifa de energia), a mesma “desconsidera os recolhimentos usuais desse setor, como PIS/Pasep [...] e
ISS [...], além da remuneração direta dos pequenos proprietários rurais que autorizam a instalação dos
aerogeradores em suas terras”
A presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Élbia
Gannoum, conforme Soares (2018), considera "absurda" a cobrança de royalties sobre a
exploração de um recurso não finito, como o vento, e ressalta que a oneração deve desacelerar o
desenvolvimento de uma fonte energética limpa no país. "O conceito de royalties não se aplica
aqui, porque o vento não é um recurso finito e tampouco causa impacto irreversível na
propriedade. Pelo contrário, os parques eólicos incentivam outras atividades, já que levam
energia elétrica para regiões onde não havia, [....]”. Além disso, é afirmado ainda que “a ocupação
de uma área reservada para a produção de energia eólica é de apenas 3%"
A ABEEólica elaborou um breve documento com fatos, que segundo a Associação, provam
que a PEC dos royalties dos ventos trará prejuízos do ponto de vista social, econômico e
ambiental. A seguir, trazemos um pequeno resumo do que foi exposto no referido documento.
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Primeiramente é afirmado que uma cobrança adicional sobre o setor de energia eólica, que
já paga todos os impostos, taxa e tributos que são exigidos por lei “acarretará em um custo
adicional e o novo valor será repassado para a tarifa nos leilões e, consequentemente, para o
preço que chega no consumidor”. Além disso, em épocas que o Nordeste passa por longos
períodos de estiagem, o setor eólico está evitando o uso das térmicas (que costumam ser mais
caras e prejudiciais ao meio ambiente). Por este motivo, “os royalties vão aumentar a tarifa de
energia e ainda podem beneficiar expansão de fontes poluentes” (ABEEÓLICA, 2017b).
Outro fator levantado é a questão da geração de emprego e renda principalmente nas
regiões onde estão instaladas suas usinas, pois “a energia eólica, além da arrecadação de
impostos, leva empregos para regiões afastadas, instalação de fábricas, capacitação técnica
especializada e promove a fixação do homem no campo” e com a implantação dos royalties tais
regiões só teriam a perder. Além disso, “os royalties podem significar uma séria desaceleração na
cadeia produtiva da energia eólica”, isso porque houve nos últimos anos um forte investimento de
empresas que construíram uma cadeia produtiva nacional com bastante tecnologia e eficiência,
sendo que “estão instalados no Brasil, produzindo e contratando aqui. [...] Pelo menos 80% dos
componentes de uma torre eólica são feitos no Brasil, [...]. Só em 2016, foram gerados 30 mil
postos de trabalho na cadeia eólica” (ABEEÓLICA, 2017b).
Na questão ambiental os royalties poderão reduzir “o potencial da energia eólica de ajudar
o Brasil a cumprir o acordo do clima”, por questões ambientais, [...] a eólica surge como a opção
chave para expandir o papel das renováveis na matriz elétrica. De baixíssimo impacto e de rápida
implantação, com zero emissão de CO2 [...] a eólica é destaque no cumprimento do Acordo do
Clima firmado em Paris. Além disso, é um grande contrassenso que haja mais uma cobrança
para setor no exato momento em que muitos outros países (que estão preocupados e
comprometidos com o futuro de nosso planeta) têm buscado “incentivar o crescimento saudável
das energias limpas, como é o caso das eólicas” (ABEEÓLICA, 2017b).
A Política energética nacional é outro fator que é diretamente atingido caso a cobrança de
royalties seja realmente aplicada, já que contraria o princípio de utilizar fontes alternativas de
energia, mediante o aproveitamento econômico dos insumos disponíveis e das tecnologias
aplicáveis, além de estar em desacordo com o preceito da Política de mitigar as emissões de
gases causadores do efeito estufa. Vale destacar ainda que “os parques eólicos não prejudicam a
fauna e a flora e não provocam impactos ambientais nas regiões onde são instalados”, já que
seus processos de instalação passam por rigorosos estudos e licenciamentos de Órgãos
Estaduais e Nacionais de Meio Ambiente. (ABEEÓLICA, 2017b).
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Klein (2018) traz à tona as palavras do presidente do Sindicato das Empresas de Energia
Eólica do Rio Grande do Sul (Sindieólica-RS), Guilherme Sari. Para o mesmo,
um novo encargo impactaria o preço da energia, encarecendo o produto para o consumidor final. O presidente do Sindieólica-RS recorda que a produção da energia eólica permite a manutenção de outras atividades produtivas, como a criação de gado ou a prática da agricultura no mesmo espaço em que estão situados os aerogeradores. [...] os complexos eólicos já dão retorno em impostos como o ICMS e ISS, além da geração de emprego que proporcionam. Sari adianta que se o investimento no segmento eólico no Brasil começar a ficar oneroso por causa de taxas, os empreendedores poderão começar a migrar para outros países da América do Sul como Argentina, Chile ou Peru. (KLEIN, 2018)
Por parte da população em geral, uma pesquisa realizada pelo DataSenado, em parceria
com a Universidade de Columbia, aponta para que a incidência dos royalties na energia
renovável não prospere, já que 85% dos entrevistados concordaram total ou parcialmente que o
Brasil invista mais nas fontes eólica e solar. Essa maioria é formada por 55% que concordaram
totalmente e 30% parcialmente com a aplicação de mais recursos nessa área. (DATASENADO,
2015)
De forma resumida, vimos que há poucas discussões relacionadas ao tema, e quem
defende a implantação da PEC 97/15 é pesquisador de direito tributário, enquanto quem é
contrário, são os próprios empresários que trabalham diretamente com o setor ou pesquisadores
ambientais. Como visto no tópico referente a PEC em estudo a maior preocupação está ligada
com a limitação que o setor eólico pode dar ao turismo de áreas litorâneas por causa de seu
avanço em áreas de paisagens naturais. Como já visto antes, estas ocupações chegam a apenas
ser entre 3% e 5%, segundo informações da ABEEólica, mas ainda colocamos no tópico a seguir
informações acerca da energia eólica no País e seus principais impactos.
NÚMEROS RECENTES DA ENERGIA EÓLICA NO BRASIL E SEUS IMPACTOS
O processo de produção eólica é uma das principais fontes de energia sustentável, limpa e
renovável. Esse processo vem ganhando destaque como fonte alternativa de produção de
energia elétrica, cuja produção em escala comercial teve início há pouco mais de 30 anos, mas
sua tecnologia vem avançando rapidamente (OLIVEIRA; SANTOS, 2008). Isso foi resultado de
significativos investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento e uma política de criação de
mercado através de políticas de incentivos em vários países, especialmente na Alemanha,
Dinamarca, Estados Unidos, e mais recentemente na Espanha (JANUZZI, 2003).
A produção de energia eólica no Brasil possui subsídios do Governo Federal através do
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA). Freitas e Dathein
(2013) observam que os custos relacionados a instalações de fontes renováveis se dão por duas
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formas: a primeira diz respeito aos custos relativos à aquisição de novas tecnologias e
equipamentos, e o segundo, são os relativos à aprendizagem, que normalmente são expressivos
quando se adota a mudança. Os altos preços do estágio inicial e desenvolvimento da energia
eólica lhe conferiam baixa competitividade, nesse viés mostrou-se de extrema importância os
subsídios do governo para a adoção dessa energia na matriz energética do país.
Outro ponto de destaque trazido pela implantação de usinas de produção de energia eólica
no Brasil é a contribuição para a redução na emissão de gás carbônico na atmosfera. Segundo a
ABEEólica (2017a), o total de emissões de CO2 evitadas no ano de 2016 chegaram a 17,81
milhões de toneladas, equivalente à quantidade produzida por praticamente toda a frota da cidade
de São Paulo.
Os novos investimentos em geração de energia eólica resultam na geração de empregos
nas cidades contempladas. Nesse sentido surgiu o termo Green Jobs (empregos verdes), que diz
respeito aos empregos que reduzem o impacto ambiental de empresas e de setores econômicos,
de forma que contribuam para a preservação ou restauração da qualidade ambiental (PNUMA,
2008). Para Simas e Pacca (2013), a discussão sobre a geração de empregos pelas energias
renováveis ganhou força no início da década de 2000, resultado das incertezas sobre a
efetividade econômica e seus efeitos sobre a economia. A produção de energia eólica no Brasil
gerou, no ano de 2012, 15 mil empregos diretos (MELO, 2013). O total de empregos criados na
produção de eletricidade através da energia dos ventos é cerca de cem vezes maior do que a
gerada por um reator nuclear, considerando quantidades idênticas de eletricidade (LUCON;
GOLDEMBERG, 2009).
O setor está em franca expansão: segundo relatório do Ministério de Minas e Energia, a
produção desse segmento no País cresceu 33% somente no período entre 2015 e 2016.
Atualmente, o Brasil tem capacidade de gerar 13 GW de energia por meio de seus 518 parques
eólicos já instalados, sendo que há ainda outros 4,87 GW de capacidade em construção, segundo
dados da Associação Brasileira de Energia Eólica. “Os 13 GW de capacidade instalada de
energia eólica ainda significam que o setor já gerou mais de 195 mil postos de trabalho desde seu
início, com grande concentração nos últimos oito anos” (ABEEÓLICA, 2018). A Tabela 1 a seguir
apresenta como estão divididos os parques e potência instalada por Estado, no qual podemos
observar uma participação maior dos estados pertencentes ao Nordeste Brasileiro.
Tabela 1 – Distribuição da capacidade instalada e potência do setor eólico por Estado da União
UF Potência (MW) Nº de Parques
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Rio Grande do Norte 3.722,45 137
Bahia 2.594,54 100
Ceará 1.950,46 75
Rio Grande do Sul 1.831,87 80
Piauí 1.443,10 52
Pernambuco 781,99 34
Santa Catarina 238,50 14
Maranhão 220,80 8
Paraíba 157,20 15
Sergipe 34,50 1
Rio de Janeiro 28,05 1
Paraná 2,50 1
Total 13.005,95 518
Fonte: Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE (2018a)
Outra informação nova do setor, são os dados consolidados do boletim InfoMercado
mensal da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, que revelou um crescimento de
26,5% da geração de energia eólica em operação comercial no Sistema Interligado Nacional –
SIN, em 2017, na comparação com 2016. No Período foi possível observar que o setor abasteceu
10% do País em agosto e 11% em setembro de 2017, passando pela primeira vez aos dois
dígitos na matriz nacional num mês. (CCEE, 2018b) “Além disso, chegamos a abastecer mais de
60% do Nordeste em vários momentos, na época que chamamos de “safra dos ventos”, que vai
mais ou menos de junho a novembro”, (ABEEÓLICA, 2018).
Além do desenvolvimento econômico trazido pela instalação dos parques eólicos, os
pequenos proprietários também são beneficiados pela regularização fundiária e lucram com a
renda extra do arrendamento de suas terras (CERNE, 2016).
Desta maneira, notamos que mesmo com a rápida ascensão do setor eólico no Brasil, há
uma série de benefícios econômicos, sociais e ambientais que por si só dispensam a
necessidade de uma cobrança de royalties que fariam com que tais vantagens fossem mitigadas,
o que poderia fazer o que País andasse na contramão das exigências e acordos já firmados no
mundo todo sobre o clima e produção de energia limpa.
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CONCLUSÃO
Ao longo deste trabalho foi observado os principais motivos que levaram a criação da PEC
97/15 para que possam ser cobrados royalties no setor de energia eólica, principalmente por
impedir o desenvolvimento de atividades econômicas nos locais onde so mesmos estão
instalados. Contudo, foi visto que por se tratar de uma energia renovável e limpa não caberia tal
cobrança para o setor, além de uma série de vantagens que o mesmo traz tanto no âmbito
econômico, ou social, ou como no ambiental, tais como a baixa emissão de CO2, geração de
emprego e renda, valorização da cadeia produtiva dentro do território nacional, e redução do uso
de termelétricas em período de estiagem.
De forma resumida, todos estes benefícios por si só já se tornam suficientes para que o
setor de energia eólica possa custear seus “impactos de localização”, mas vale lembrar que o
mesmo já tem suas atividades tributadas que são exigidas por leis, como PIS/Pasep e ISS. Mais
uma cobrança significaria perda de competitividade em leilões e mais um repasse no preço final
dos consumidores. Além disso, faria com que houvesse uma preferência nas buscas por fontes
de energias que são poluentes.
É claro que o trabalho aqui apresentado é um estudo breve, mesmo porquê as informações
encontradas ainda são poucas e recentes, trazendo principalmente a perspectiva de
pesquisadores das áreas ambientais ou profissionais do setor eólico, mas é de suma importância
que haja um aprofundamento das pesquisas por outros setores interessados, visto que é algo que
se entra em vigor na Constituição Federal poderá trazer consequências sérias e talvez até
irreversíveis para o País.
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Eólica – 2016. São Paulo, (2017a). Disponível em: <https://goo.gl/TfrwN5>. Acesso em março de
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A FEIRA COMO CANAL COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE COCAL DE TELHA-PI
Tatiele Martins Evangelista1 Renato Sérgio Soares Costa2
RESUMO:O referido instrumento trata-se de um estudo preliminar, que serve de esteio, ao Trabalho de Conclusão de Curso do curso de Licenciatura Plena em Geografia - Educação a Distância pela Universidade Federal do Piauí - UFPI, na qual o objeto está centrado na importância da comercialização dos produtos da Agricultura Familiar através da Feira Livre da Agricultura Familiar no município de Cocal de Telha-PI, tendo como objetivo diagnosticar como ocorre a comercialização dos produtos agrícolas na mencionada feira e município, bem como apontar os principais problemas enfrentados pelos feirantes. Além de destacar a relevância da feira aos agricultores familiares, no que se refere a comercialização e acréscimo de renda as famílias dos agricultores. Na metodologia foi realizado um levantamento bibliográfico acerca da temática em estudo e, uma visita ao Departamento da Secretaria Municipal de Agricultura do município, onde houve uma entrevista com a Chefa de Departamento de Abastecimento, na qual foi possível ter conhecimento mais aprofundado sobre a feira no município e, posteriormente, será feita a aplicação de um questionário quantitativo e qualitativo com questões do tipo abertas e fechadas, abordando o universo da Feira da Agricultura Familiar e os envolvidos na mesma. Por meio da previa, pôde-se perceber que a Feira da Agricultura Familiar no município de Cocal de Telha-PI tornou-se um instrumento de comercialização dos agricultores familiares do município e relevante no complemento da renda dos mesmos, pois já os auxilia no suprimento das necessidades familiares.
Palavras-chave: Feira livre; Agricultura Familiar; Cocal de Telha-PI.
INTRODUÇÃO
As feiras livres se originaram desde Antiguidade estando presente na cultura e no costume
da sociedade na qual se configura como um tipo de mercado tradicional e antigo.
O referido estudo está centrado na importância da comercialização dos produtos da
Agricultura Familiar através da Feira livre da Agricultura Familiar no município de Cocal de Telha-
PI. A feira acontecia mensalmente, especificamente, no segundo domingo de cada mês, na praça
principal da cidade, Praça São José Operário, no município de Cocal de Telha-PI.
Essa produção por ser um levantamento preliminar tende a desenvolver um estudo mais
aprofundado com contribuições de mais autores acerca da temática. A princípio esse trabalho foi
fundamentado com levantamento bibliográfico sobre a temática que retratassem acerca das feiras
livres. Dessa forma, GIL (2002, p.45) enfatiza que:
1
Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail:
Prof. Dr. do Instituto Federal do Piauí – IFPI. E-mail: [email protected].
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pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço. (GIL, 2002, p.45).
Foi realizado um levantamento bibliográfico com o intuito de verificar as referências
existentes sobre a temática de estudo, contudo, verificou-se apenas referências de outros lugares
que apresentasse exemplares de feiras livres e, assim foi realizado a correlação com o município
de Cocal de Telha-PI.
E também uma visita ao Departamento da Secretaria Municipal de Agricultura do
município, onde houve uma entrevista do tipo não estruturada com a Chefa de Departamento de
Abastecimento, na qual foi possível ter conhecimento mais aprofundado sobre a Feira da
Agricultura Familiar no município como que os feirantes possuem um cadastro na secretaria de
agricultura do município e ter acesso a alguns registros fotográficos da realização da Feira da
Agricultura Familiar.
Posteriormente, será feita a aplicação de um questionário quantitativo e qualitativo com
questões do tipo abertas e fechadas, abarcando o universo da Feira da Agricultura Familiar com
todos os feirantes que costumavam comercializar seus produtos na Feira da Agricultura Familiar
durante o período de existência e amostra de alguns consumidores dos produtos comercializados
na feira, com o intuito de fazer um levantamento sobre a temática.
De acordo com Gil (2002, p.120) na analise dos dados deve-se:
Verificar se todas as perguntas foram respondidas adequadamente, se as respostas dadas não denotam dificuldade no entendimento das questões, se as respostas correspondentes às perguntas abertas são passíveis de categorização e de análise, enfim, tudo o que puder implicar a inadequação do questionário enquanto instrumento de coleta de dados.
Nisso deve-se atentar as resposta obtidas por meio dos questionários para que a pesquisa
não fique vaga e sem coerência de dados e, posteriormente a realização da análise dos dados.
Segundo Gil (2002, p.125) “o processo de análise dos dados envolve diversos
procedimentos: codificação das respostas, tabulação dos dados e cálculos estatísticos”. Após a
coleta de dados será realizada a tabulação e analise dos dados obtidos com a pesquisa utilizando
o método descritivo e comparativo.
Após análise os dados extraídos da pesquisa em campo serão transformados em tabelas
e gráficos com o propósito de aperfeiçoar a compreensão dos resultados obtidos, percebe-se que
pesquisa serve como instrumento de caracterização da feira e forma de relação com os
resultados obtidos.
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Área de estudo
O município está localizado na microrregião de Campo Maior, compreendendo uma área
irregular de 313,84 km², tendo como limites ao norte os municípios de Capitão de Campos e
Boqueirão do Piauí, ao sul Campo Maior e Nossa Senhora de Nazaré, a leste Capitão de Campos
e Jatobá do Piauí, e a oeste Nossa Senhora de Nazaré e Boqueirão do Piauí. A sede municipal
tem as coordenadas geográficas de 04º33‟32” de latitude sul e 41º58‟19” de longitude oeste de
Greenwich e dista 116 km de Teresina, segundo CPRM (2004).
Figura 1-Localização do município de Cocal de Telha-PI.
Fonte: IBGE cidades (2010).
FEIRAS LIVRES NA COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR
As feiras livres tem se tornado um importante canal de comercialização de produtos dos
pequenos agricultores rurais. Nesse sentido, diante do exposto pretende-se perceber a
importância da feira para os agricultores do município que se beneficiava da feira para
escoamento de seus produtos, apresentando a realidade da feira no município na qual poderá
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servir como fonte de estudo posteriormente, pois este será o primeiro trabalho nessa temática no
município de Cocal de Telha-PI.
Segundo Pierri et al. (2005) as feiras livres são eventos periódicos, que ocorrem em
espaços públicos, onde homens e mulheres realizam trocas comerciais de mercadorias, com a
finalidade de garantir suas condições materiais de vida.
A feira se insere no setor informal, na economia de subsistência, contudo, tais aspectos não podem minimizam a sua importância: a feira é um espaço para comercialização da pequena produção rural; é a base de suprimento de gêneros alimentícios de pequenas cidades; é palco de luta pela sobrevivência tanto para comerciantes como para consumidores. (COUTINHO et al., 2006, p.5)
Nas feiras livres os agricultores têm a oportunidade de comercializar suas produções
gerando assim um complemento na renda dos mesmos, já que recebem logo o pagamento após
a venda, conforme Anjos et al.(2005) citado por Costa (2010):
Características das feiras-livres é a forma de pagamento, onde todas as vendas são a vista, ou seja, o recebimento é imediato, o que para a maioria dos produtores é importante, pois a principal fonte de renda dessas famílias é proveniente desse canal.
A Feira da Agricultura Familiar no município de Cocal de Telha-PI acontecia mensalmente,
especificamente, no segundo domingo de cada mês, na Praça São José Operário. A Feira é
apoiada pelos órgãos do município como a Secretária Municipal de Agricultura e Abastecimento,
Sindicato dos Trabalhadores Rurais- STTR, Casa do Empreendedor e Prefeitura Municipal. Esses
órgãos municipais são responsáveis pela realização e organização da feira e, devido a prefeitura
alegar problemas financeiros a realização da mesma não vem acontecendo a alguns meses.
Alguns aspectos acerca das feiras são bastante relevantes como importantes fontes de
abastecimento de alimentos frescos e sem uso de agrotóxicos o que aumenta ainda mais a
qualidade dos produtos. Outro aspecto é fato que se configuram como espaços de socialização
representando um resgate na cultura local.
Segundo Costa et al. (2007) as feiras por sua vez se tornam um ponto mais atrativo em
relação aos supermercados e frutarias, em função da maior diversidade, do frescor dos produtos,
da dinâmica peculiar de negociação do preço e o atendimento personalizado, possibilitando
manter-se uma relação bastante próxima com o produtor feirante.
Presencia-se muito durante as feiras a dinâmica de negociação entre produtor e
consumidor, principalmente no final quando os produtos estão acabando ou quando o consumidor
compra mais de um produto na mesma banca.
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As feiras ao longo dos anos têm sempre seu lado atrativo em relação aos supermercados
como afirma Araujo (2011, p.3):
As feiras livres de produtos do campo existentes nos municípios são, por um ponto onde se adquire alimentos frescos, colhidos no dia e, com procedência conhecida, um local onde ocorre a relação direta com o produtor, ou ainda um ponto de diversão e de lazer garantido pela oferta de alimentos prontos e brincadeiras oferecidas para as crianças, entre outros.
Segundo Costa (2010) as feiras apresentam-se como canal de distribuição que viabiliza a
comercialização direta entre consumidores e produtores e torna possível a distribuição sem exigir
de regularidade de oferta e padronização dos produtos impostas por outras instituições de
comercialização como o varejo tradicional. Nas feiras livres, mais especificamente aquelas que se
concentram em pequenos municípios não possuem fiscalização tanto na parte higiênica como na
padronização dos produtos, como exemplo, algumas fotografias da atividade da Feira da
Agricultura Familiar no município de Cocal de Telha-PI.
Figura 2- Imagem da Feira da Agricultura Familiar.
Fonte: Acervo da Secretária de Agricultura.
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Figura 3- Imagem da Feira da Agricultura Familiar. Fonte: Acervo da Secretária de Agricultura.
CONCLUSÃO
Diante do exposto no levantamento preliminar do Trabalho de Conclusão de Curso, pôde-
se perceber que a Feira da Agricultura Familiar no município de Cocal de Telha-PI tornou-se um
instrumento de comercialização dos agricultores familiares do município e relevante no
complemento da renda dos mesmos, pois já os ajuda no suprimento das necessidades familiares.
As feiras livres vão além de um espaço de comercialização de produtos sendo também um
espaço cultural e de lazer na qual os feirantes, consumidores e a população, em geral, se
divertem e se socializam no decorrer do funcionamento da mesma.
REFERÊNCIAS
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HORTICULTURA URBANA E PERIURBANA: HORTAS COMUNITÁRIAS DO
BAIRRO DIRCEU ARCOVERDE, TERESINA-PI
Jhony Gonçalves de Lima1 Felipe Henrique da Silva Andrade2
RESUMO: As hortas são denominadas urbanas ou periurbanas quando se situam dentro dos bairros ou
próximas às divisas das áreas rurais com ás áreas urbanas dos municípios.Considerando a importância do
projeto das hortas comunitárias desenvolvido pela Prefeitura de Teresina a partir da década de 1980 e sua
relevância na análise da ciência geográfica, realizou-se esta pesquisa com o objetivo central de investigar
quais as transformações espaciais ocorridas na área das hortas comunitárias do bairro Dirceu Arcoverde
na Cidade de Teresina- PI. A pesquisa foi de abordagem quali-quantitativa, e contou com os
procedimentos de revisão bibliográfica, observação de campo e entrevista com horticultores. Conclui-se
que o fenômeno das hortas urbanas ou periurbanas, evidenciado pelo Projeto de Hortas comunitárias
causam impactos de dimensões socioeconômicas, ambientais e políticas no espaço urbano onde estão
instaladas, que é de importante relevância nos estudos da ciência geográfica.
Palavras- chave: Hortas urbanas; Projeto; Transformações espaciais.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil a partir da década de 1950 ocorreu um intenso processo de urbanização das
cidades, vivenciado também pelo Piauí, principalmente na cidade de Teresina, capital do Estado.
Este processo ocorreu de forma rápida e desordenada gerando uma série de problemas sociais à
classe mais pobre, tais como: fome, desemprego e êxodo rural.
Observou-se então neste período um intenso êxodo rural de pessoas com poucas condições
financeiras, que vinham do interior para a capital, em busca de melhores condições de vida, como
a cidade não estava preparada para receber esta demanda populacional as transformações
espaciais no espaço urbano começaram a ser evidenciadas com o surgimento de áreas de
favelas.O fenômeno urbano se apresenta de forma dinâmica justamente por ser habitado, e ao
analisarmos as transformações que ocorrem neste espaço podemos perceber que ao ser
adensado e expandido as desigualdades nas condições de vida da população são cada vez mais
agravadas.
1 Graduando em Geografia; Universidade Federal do Piauí-UFPI; E-mail: [email protected].
2 Pós-graduando em Geografia e Pesquisa; Universidade Estadual do Piauí-UESPI; E-mail: [email protected].
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A partir do final de década de 80 o Estado iniciou uma política de construção de conjuntos
habitacionais para a população que estava nestas áreas carentes de infraestrutura. E não
somente queria oferecer melhores condições de moradia, como também permitir que estas
pessoas pudessem dispor de uma fonte de renda. Assim a partir de 1987 iniciou-se o projeto de
hortas comunitárias em Teresina, proporcionando as famílias o sustento e a geração de renda,
além de ocupar áreas ociosas na cidade, consideradas impróprias para a habitação.
Neste contexto o bairro Dirceu Arcoverde que é um dos maiores bairros de Teresina, foi
escolhido no final da década de 80 para receber o projeto de hortas comunitárias com o cultivo de
hortaliças. Os recursos que bancaram esta ação vieram da Fundação Nacional para o Bem Estar
Menor (FUNABEM), e vale lembrar que sob as hortas foram instalados fios de alta tensão da
Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), justamente para impedir a construção de
moradias consideradas de risco nesta região.
Vale ressaltar a importância das hortas comunitárias uma vez que estas promovem
transformações benéficas nas estruturas sociais, pois geram trabalho e renda para as famílias
carentes da região. Destaca-se ainda a particularidade principal das hortas comunitárias em
análise, que é o ponto de partida motivador deste estudo, o fato de estarem localizadas na área
urbana sendo denominadas de Horticultura Urbana ou Periurbana.
As hortas são denominadas urbanas ou periurbanas quando se situam dentro dos bairros ou
próximas às divisas das áreas rurais com ás áreas urbanas dos municípios (SECRETARIA DE
AGRICULTURA E ABASTECIMENTO- SP).Considerando a importância do projeto das hortas
comunitárias desenvolvido pela Prefeitura de Teresina e sua relevância na análise da ciência
geográfica, realizou-se esta pesquisa com o objetivo central de investigar quais as
transformações espaciais ocorridas na área das hortas comunitárias do bairro Dirceu Arcoverde
na Cidade de Teresina- PI.
Na realização do presente estudo, a pesquisa foi de abordagem quali-quantitativa, e contou
com os procedimentos de revisão bibliográfica e pesquisas in loco para observação e
preenchimento de planilhas de campo na horta comunitária em estudo, localizada no bairro
Renascença, região do bairro Dirceu Arcoverde, na ocasião foram entrevistados 20 horticultores
dentre as diversas famílias que cultivam nas terras.
A entrevista estruturada se deu no intuito de compreender como os horticultores avaliam a
projeto das hortas comunitárias empreendido pela Prefeitura de Teresina, bem como
compreender as transformações ocorridas na vida das famílias e no espaço em torno das hortas,
na percepção dos mesmos e além disso registro fotográfico. De posse das informações obtidas,
estas foram elaborados gráficos para posterior interpretação.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Na concepção de Corrêa (2000, p. 7) " O espaço de uma grande cidade capitalista constitui-
se, em primeiro momento de sua apreensão, no conjunto de diferentes usos da terra justapostos
entre si". Estes diferentes usos do espaço vão definir distintas áreas, tais como o centro da
cidade, locais de concentração comercial, de serviços, áreas residenciais, áreas industriais, áreas
de lazer, dentre outras. E ainda segundo Corrêa (2000, p. 7) "Este complexo conjunto de usos da
terra é, em realidade, a Organização espacial da cidade ou, simplesmente, o espaço urbano, que
aparece assim como espaço fragmentado".
Compreender o uso do espaço urbano é de fundamental importância para entendermos sua
produção e organização, é necessário associarmos à sua forma (a cidade), mas isso não é
suficiente tendo em vista que o espaço urbano expressa uma dinâmica mais complexa, não se
resumindo apenas a uma simples localização e um arranjo de lugares, expressa sobretudo um
modo de vida social. Deste modo Santos (2009, p. 6) coloca que este espaço:
Não está preso a uma mera representação social do espaço, pois o mesmo
extrapola os limites da cidade e/ou dos núcleos urbanos em ascensão, pois é
possível encontrar características urbanas no espaço rural e vice-versa. Tais
fenômenos, nessa superposição de áreas, geram atrativos para a reprodução
do capital e as condições de desenvolvimento financeiro, e por fim a
urbanização dessas áreas.
Assim o espaço urbano capitalista é um arranjo onde se percebe claramente a sociedade
organizada por meio de relações regida por uma base econômica pautada em clara divisões e
interesses. Corrêa (2000, p. 11) afirma que este espaço urbano está articulado, fragmentado e é
reflexo do condicionante social:
É um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e
engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. São agentes
sociais concretos, e não um mercado invisível ou processos aleatórios
atuando sobre um espaço abstrato. A ação destes agentes é complexa,
derivando da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis
de reprodução das relações de produção, e dos conflitos de classe que dela
emergem. A complexidade da ação dos agentes sociais inclui práticas que
levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz via
incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso do solo,
deterioração de certas áreas, renovação urbana, relocação diferenciada da
infra-estrutura e mudança, coercitiva ou não, do conteúdo social e econômico
de determinadas áreas da cidade.
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O espaço urbano é produzido por agentes e atores que produzem diretamente as formas e
processos espaciais. Estes agentes e atores Para Corrêa (2000) são: Os proprietários do meio de
produção; os proprietários fundiários; os promotores imobiliários; o Estado e os grupos sociais
excluídos. Ainda segundo o autor a dinâmica da atuação destes agentes produz os seguintes
processos e formas espaciais: centralização e área central; descentralização e núcleos
secundários; coesão e áreas especializadas; segregação e áreas sociais; dinâmica espacial da
segregação e inércia e áreas cristalizadas.
A partir de 1950 o Brasil passou por um processo de urbanização, vale destacar que este
processo ocorreu de forma rápida e desordenada, tendência esta que se seguiu por várias
cidades do país, bem como o estado do Piauí, gerando profundas transformações no
espaçopiauiense principalmente a capital Teresina que recebeu uma série de ações do poder
público voltadas para o planejamento urbano, das quais se destacam: obras de infraestrutura
básica, estradas, água, habitação popular, esgoto, energia e etc.
Segundo Façanha (1998, p. 55), entre os anos de 1940 a 1950, o espaço urbano de
Teresina:
Sofreu algumas transformações espaciais, gerando novas áreas de
crescimento na cidade, com destaque especial para as Zonas Norte com
crescimento dos bairros Mafuá, Vila Operária, Vila Militar, Feira de Amostra e
Matadouro e Sul. Na Zona Sul, a expansão acontecia em direção aos bairros
Piçarra, Vermelha, São Pedro e Tabuleta, seguindo os espaços entre os rios
Poti e Parnaíba. No entanto, o contorno das avenidas Miguel Rosa e Getúlio
Vargas (hoje Frei Serafim) servia como marco de limite de expansão do
espaço urbano.
No decorrer da década de 1950 o crescimento urbano de Teresina ocorria também nos
sentidos Leste Nordeste, devido as construções de infraestrutura que permitiram uma maior
articulação no espaço. Sabemos que o espaço urbano capitalista é uma produção social, ou seja,
a configuração de uma cidade é o resultado da ação dos agentes sociais (citados acima). Os
agentes produtores do espaço urbano de Teresina, bem como aqueles que envolvidos na
dinâmica da segregação, Abreu (1983, p.30-31) diz:
Os que promovem as condições de habitação e os que dela se usufruem. Na
primeira categoria distinguem-se: 1 – os proprietários do solo urbano,
possuidores da “matéria prima”; 2 – os construtores e incorporadores,
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incluindo-se aqui as firmas imobiliárias que só constróem e, as que, além da
construção, também vendem o imóvel; 3 – os corretores cuja atividade
principal é oferecer o “produto” - terreno ou habitação; 4 – instituições
financeiras, que propiciam condições de compra aos interessados, podendo
ser de caráter público, privado ou misto. Na segunda categoria, estão os
adquirentes do produto. Convém ainda, lembrar o Estado, em todas as suas
instâncias, agente cujo papel é extremamente complexo.
O bairro Dirceu Arcoverde localizado na Zona Sudeste de Teresina capital do Piauí, foi
criado no mandato de governo de Dirceu Mendes Arcoverde (1975-1978), no início o bairro se
chamava Itararé e possuía com 3.040 unidades. A construção do bairro Dirceu está atrelada a
política habitacional do Governo Federal na década de 1970 e 1980, esta política de construção
de moradias populares se refletiu em todo país. No Piauí o órgão responsável pela construção
dessas unidades habitacionais era a COHAB (Companhia de Habitação do Piauí), hoje
denominada ADH (Agência de Desenvolvimento Habitacional).
Assim o bairro Dirceu Arcoverde foi criado no ano de 1978, num contexto de grande
investimento do Governo Federal em moradias para classes menos favorecidas, e aos poucos
esta região da cidade foi se expandindo, após a concretização e pavimentação nas ruas de
acesso na região sudeste os investimentos na área sofreram um considerável aumento. Podemos
perceber claramente a atuação do Estado como agente social produtor do espaço influenciando a
vida dos grupos sociais menos favorecidos que se instalaram nesta região.
Após a instalação desta população na área e dos investimentos realizados, houve a
necessidade de criar condições para que estes indivíduos se mantivessem com a geração de
renda para as famílias. Nessa perspectiva foi implantado no bairro o Projeto de Hortas
Comunitárias como estratégia de gerar trabalho e renda para famílias pobres do município. Fez
parte de um conjunto de ações de enfrentamento à pobreza realizadas com o objetivo de garantir
meios, capacidade produtiva e de gestão a grupos comunitários, para a melhoria de suas
condições gerais de subsistência, elevação do padrão da qualidade de vida e sua organização
social.
Sua época de implantação se deu a partir de1987 no bairro em análise nas áreas de vilas e
favelas, identificadas como grandes bolsões de pobreza, cujas famílias residentes eram
basicamente de origem rural que migraram em busca de melhores condições de vida,
acarretando para Teresina sérios problemas de ordem econômica e social. Tal projeto de
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implantação das atividades agrícolas comunitárias gerado pela prefeitura municipal de Teresina
proporcionou uma dinâmica própria ao espaço urbano do bairro Dirceu Arcoverde.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A horta comunitária do Renascença está localizada na região do bairro Dirceu Arcoverde na zona
sudeste de Teresina, e foi criada em 1987 por um projeto da Prefeitura de Teresina juntamente
com o apoio da CHESF (Companhia Hidrelétrica do São Francisco) e a utilização de recursos
advindos da Fundação Nacional para o Bem Estar Menor (FUNABEM). Esta iniciativa do
município se deu para melhorar a qualidade de vida dos pequenos produtores de baixa renda do
bairro e ainda transformar um espaço até então ocioso em espaço autossustentável, gerando o
aumento da capacidade produtiva e novas oportunidades de ocupação e renda as famílias.
O terreno onde atualmente se localizam as hortas apresentava até o início do projeto eram
favelas, que constituíam verdadeiros núcleos de pobreza, habitados por famílias de origem rural
que fizeram parte do intenso processo de êxodo rural da época. Para a desocupação desta área
foram necessárias diversas ações do Estado e da CHESF, esta última instalou diversas redes de
alta tensão na região provocando o remanejamento destas famílias.Atualmente as hortas do
Renascença dispõe de um amplo espaço físico compreendido no entorno da avenida das hortas.
A pesquisa de campo realizada permitiu a constatação de que a área de horta é bem
localizada e apresenta grandes dimensões de extensão. Foram verificadas uma gama de
atividades econômicas (Foto 1) no seu entorno, um intenso fluxo de veículos na avenida, a
presença de transporte ferroviário (há a presença de ferrovia no entorno das hortas),
mercadinhos, supermercados, posto de gasolina, escola, igreja, comércio e serviços em geral.
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Figura 1- (A e B) Estabelecimentos comerciais no entorno da horta; (C e D) Trafego de veículos e atividades comerciais.
Fonte: Lima, 2017.
Ao analisarmos a parte interna das hortas com a planilha de campo e registro fotográfico,
percebeu-se que os produtos cultivados pelos horticultores são os mais variados (Foto 2), tais
como: coentro, alface, cebolinha, pimentão, pimenta, couve e etc. os horticultores ainda contam
com muitos equipamentos de irrigação espalhados por todo o espaço, como manilhas, para o
cultivo e foi registrada ainda a prensença dos fios de alta tensão da CHESF, justamente para
impedir que os horticultores habitem na área. Um importante detalhe observado é que já existem
áreas degradadas e em abandono nas hortas.
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Foto 2- (A) Cultivo de coentros em canteiros; (B) Manilhas para captura de agua para manutenção dos cultivos; (C) Fios de alta tensão da CHESF em meio as hortas; (D) Vista dos
canteiros; (E) Trecho abandonado da horta.
Fonte: Lima, 2017.
A realização de entrevistas com os horticultores permitiu a aquisição de informações de
grande relevância para esta pesquisa. Quanto ao perfil dos mesmos constatou-se que em sua
maioria é composta adultos e idosos, onde 75% dos entrevistados têm idade entre 41 e 60 anos e
25% têm 60 anos ou mais (Gráfico 1). É interessante observar que os horticultores afirmaram
trabalhar com familiares, dessa forma são várias famílias que trabalham em conjunto, algumas há
mais de 30 anos conforme relataram.
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Gráfico 1: Faixa etária dos horticultores entrevistados
Fonte: Lima 2017.
Quanto ao sexo destes trabalhadores, observou-se que 65% dos entrevistados são do
sexo masculino e 35% do sexo feminino (gráfico 2). Muitos relataram que são casais e muitos
afirmaram designar esta atividade agrícola para os filhos, perpassando gerações.
Gráfico 2: Sexo dos horticultores entrevistados
Fonte: Lima 2017.
Com relação ao grau de escolaridade dos horticultores, os dados revelaram que 60% são
analfabetos e 40% possuem o Ensino Fundamental completo (gráfico 3). Estas informações
revelam as dificuldades enfrentadas e as poucas oportunidades de escolarização na juventude
dos indivíduos, alguns relataram que por prioridade tiveram que deixar suas cidades de origem
optaram por trabalhar para poder ajudar suas famílias, impossibilitados assim de serem
escolarizados.
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Gráfico 3: Escolaridade dos entrevistados
Fonte: Lima 2017
Com relação á origem dos trabalhadores observou-se que, a maioria veio, de outras
cidades do Estado.8 dos 20 entrevistados responderam ter vindo de Campo Maior-PI sendo o
município com maior numero de horticultores, seguido de Alto Longá (6 horticultores), Altos (4
horticultores) e Teresina com apenas 2 horticultores conforme aponta o gráfico 4.
Gráfico 4: Cidade de origem dos entrevistados
Fonte: Lima 2017.
100% dos entrevistados afirmaram que avaliam o projeto das hortas como bom, muitos
citaram a geração de renda e quando questionados sobre o que havia mudado em suas vidas
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estes afirmaram que puderam a partir desta atividade melhorar suas condições de vida. Um dado
importante é que relataram a ter uma faixa salarial de até 2 salários mínimos por mês.
Questionados sobre o uso do terreno antes da implantação do projeto nenhum dos
entrevistados demonstrou conhecer o que existia no terreno, alguns disseram que havia apenas
vegetação e quanto aos responsáveis pelo terreno, afirmaram que o mesmo foi cedido pela
Prefeitura de Teresina. Mas não tem conhecimento dos reais motivos que levaram à implantação
das hortas no bairro Renascença.
Com relação às transformações espaciais ocorridas na área das hortas do bairro Renascença,
que é objetivo central da pesquisa os horticultores responderam ter sido a instalação deste
projeto que propiciou um novo uso da terra nesta localidade, que antes era ocupada por um
grande matagal e por algumas moradias irregulares. Outros afirmaramque a partir da instalação
das hortas os investimentos se voltaram para esta região modificando o espaço através de uma
infraestrutura antes não existente. Vários equipamentos urbanos chegaram na área, muitos
citaram a iluminação pública, o asfaltamento de vias, a instalação de comércios e serviços em
geral.
Vale destacar ainda que alguns tiveram uma percepção de mudança visual quanto ao aspecto
da paisagem, relatando que a paisagem anterior constituída apenas por matagal e favelas, foi
totalmente transformada dando origem a novas áreas verdes mais agradáveis. E dois
entrevistados não conseguiram relatar nenhuma percepção de transformações na área.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cidade de Teresina vivenciou um processo intenso de expansão a partir de 1950, essas
transformações são identificadas nas formas e processos espaciais que resultaram da atuação de
agentes (Estado) e atores sociais (contingentes populacionais oriundos da zona rural de cidades
do interior do Estado), dentre outros.
Esta nova configuração da cidade deu origem a diversas novas atividades e fenômenos que
modificaram o espaço, dentre estes podemos citar as hortas urbanas ou periurbanas, que
constituem em si uma atividade agrícola, onde o uso da terra está voltado para o cultivo de
diversas culturas agrícolas, mas que recebem esta denominação pela peculiaridade de estarem
situadas no perímetro urbano.
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No caso específico em estudo, às transformações espaciais ocorridas na zona sudeste,
especificamente na área da das hortas do bairro Renascença (região do Dirceu Arcoverde),
ocorreram por ações do Estado que por meio do Projeto de hortas comunitárias mudou o cenário
hostil de matagal e favelas presentes até então, para um novo contexto dotado de infraestrutura:
iluminação pública, abastecimento de água, pavimentação e asfaltamento de ruas, dentre outros.
Isto permitiu condições para a instalação de escolas, comércios, postos de gasolinas, padarias,
supermercados, moradias de melhor qualidade e etc.
Uma nova conotação socioeconômica foi assumida na região pois o comercio local foi
impulsionado ao mesmo tempo que houve a inclusão social de famílias de baixa renda que
vieram do interior do Estado onde viviam em situação vulnerável e foram incluídas neste projeto
passando a se dedicar a esta atividade, proporcionando-lhes uma ascensão social e salarial.
Esta dinâmica da atuação do Estado associada ao novo uso da terra no terreno propiciou,uma
série de mudanças nesta região que pode ser observada ao longo do tempo: uma área de
moradias precárias (favelas) e matagal que agora é área de produção e geração de renda, a
partir de uma atividade agrícola (hortas).Conclui-se que o fenômenodas hortas urbanas ou
periurbanas, evidenciado pelo Projeto de Hortas comunitárias causam impactos de dimensões
socioeconômicas, ambientais e políticas no espaço urbanoonde estão instaladas, que é de
importante relevância nos estudos da ciência geográfica.
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TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS E DINÂMICA SOCIAL EM CAMPO MAIOR-PI
Francisca Reynária dos Santos Silva1 Rosana Saraiva²
RESUMO: As relações estabelecidas entre grupos sociais presente no meio influenciam de forma direta a criação ou nova remodelação dos aspectos físicos de um dado espaço. Neste sentido, cada ambiente é constantemente alterado pelo homem, e as modificações ocorridas neste meio permitem o reflexo da história e cultura de um povo que nele habita. Nesse sentido este trabalho apresenta um recorte do conjunto de atividades desempenhadas pela sociedade campo-maiorense ao longo da sua história, o que revelou a formação de uma pequena cidade do interior do Piauí, conhecida como Campo Maior, assim chamada pelos vastos campos que apresenta. Atualmente o seu processo de construção e reconstrução faz referência em parte à história e luta de um povo, o qual muitos morreram pela independência dos seus desejos. Nessa perspectiva, o objetivo geral dessa pesquisa é buscar compreender determinadas transformações espaciais ocorridas no cenário campo-maiorense a partir de sua dinâmica social, que de certa maneira influenciou o desenvolvimento da cidade nos aspectos urbanos, bem como, certas relações sociais, além de fatos pontuais na história campo-maiorense. A pesquisa ocorreu través de uma metodologia qualitativa e revisão bibliográfica, além da utilização de algumas imagens do espaço campo-maiorense. Os resultados apontam de maneira previamente para o desenvolvimento das estruturas espaciais no âmbito urbano na cidade de Campo Maior-Piauí.
PALAVRAS CHAVES: Espaço. Relações Sociais. Transformações. Campo Maior-PI.
1 - INTRODUÇÃO
A pesquisa destaca algumas transformações espaciais ocorridas por meio da dinâmica
social na cidade de Campo Maior/PI. A partir dessa perspectiva comentam-se algumas ralações
sociais que movimentam a economia e acelera desta forma o desenvolvimento urbano na cidade.
Alguns fatos históricos importantes para a sociedade e a estrutura física da cidade. Nessa
perspectiva destacou-se também a cultura religiosa campo-maiorense, conjuntura que deu origem
o seu povoamento e, como essas relações entre a sociedade e a igreja católica contribuíram para
a produção do aspecto espacial urbanista atual. Dessa forma os motivos que levaram á escolha
da temática foram de contribuir com informações acerca das transformações espaciais ocorridas
por meio da dinâmica social na cidade de Campo Maior- PI dentro do universo acadêmico, haja
vista, que essa temática ainda precisa ser mais debatida já que o acervo de trabalhos relativos ao
tema ainda é pequeno. É importante frisar que, trabalhos nessa linha de pesquisa servirão como
fonte de consultas e investigações posteriores por outros pesquisadores que buscam discussões
1Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
2Graduada em Administração Pública pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Acadêmica do curso de
Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
3Tutora Orientadora de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
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semelhantes. O interesse parte também do sentimento de curiosidade e desejo de conhecer de
forma mais íntima a performance da evolução do objeto, ou seja, cada movimento ensaiado ou
não que a sociedade faz emergir no aspecto visual da cidade. Desse modo para a realização da
pesquisa utilizou-se do método qualitativo e descritivo onde procurou como base teórica autores
que já trabalharam de forma diretas ou indiretas temáticas semelhantes, entre tais, temos
Valdemir de Castro Miranda autor piauiense nascido na cidade de Esperantina, que trata a origem
e historicidade da cidade de Campo Maior-PI. Adrião Neto (2006), que em um trabalho chamado
Europeia do Jenipapo relata como ocorreu a Batalha do Jenipapo em solo campo-maiorense.
Também Milton Santos que discute o espaço e o método. Em outro livro com o titulo “Pensando o
espaço do homem”. Santos (1986) discute as relações sociais criando e determinando as
condições no espaço geográfico. Além de pesquisas em sites confiáveis na internet como Scielo,
Latindex e. Medline. Sendo assim o trabalho se divide em dois tópicos, no primeiro é feito uma
abordagem histórica sobre as lutas e vivencias da sociedade campo-maiorense nos primórdios de
sua organização. Também se busca demonstrar as principais características econômicas da
cidade. E no segundo tópico enfocam-se como as relações sociais criaram a atual configuração
espacial de Campo Maior-PI
2- CAMPO MAIOR UM RETRATO HISTÓRICO DE LUTAS E VIVÊ QUE MODIFICARAM SUAS
ESTRUTURAS ESPACIAS
O Rio Jenipapo é um rio perene localizado no município de Campo Maior. Em 13 de março
de 1823 ocorreu a Batalha do Jenipapo, que tem esse nome por fazer referência o rio uma vez
que essa batalha foi travada as suas margens. A data é tão importante para os piauienses que
passou a ser estampada na bandeira do Estado em reconhecimento da sua importância histórica
para a independência do Brasil.
Neste sentido segundo Gomes (2010, p.187 e 188) a batalha ainda é desconhecida pela
maioria dos brasileiros e seus resultados foram piores do que se imaginava cerca de duzentos
brasileiros mortos e mais de quinhentos feitos prisioneiros. Todavia o exercito brasileiro composto
em sua maioria por vaqueiros, comerciantes, alguns vereadores, um juiz, além de velhos e
adolescentes, consagraram na historia do povo campo-maiorense uma lição de bravura para
quem fica. Assim a cidade de Campo Maior é conhecida historicamente. Segundo Neto (2006,
p.61)
Ao raiar do dia 13 as tropas independentes, cerca de dois mil combatentes, compostas por mais de mil piauienses de todas as classes sociais, especialmente de vaqueiros e roceiros, alguns maranhenses e o restante de cearenses, sob o
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comando geral do Capitão Luís Rodrigues Chaves, perfiladas em frente da Igreja Matriz de Santo Antônio do Surubim, comandadas pelo som marcial de uma corneta, marcharam para as margens do rio Jenipapo, onde a tropa do Comandante das Armas teria que atravessar (NETO 2006, p.61).
Nesse sentido, em 1973 foi criado o monumento Heróis do Jenipapo na cidade de Campo
Maior para homenagear as pessoas que se sacrificaram na Batalha do Jenipapo. A criação
desse espaço, objetiva simbolizar a história e memoria do que foi a “guerra” dos piauienses frente
às tropas portuguesas em favor da independência do Brasil. Solidificando á identidade histórica e
cultural da cidade de Campo Maior. Contudo a partir dessa reconstrução do passado aflorou-se a
potencialidade do turismo cultural na cidade, possibilitando que o monumento surja como um
mecanismo de desenvolvimento para a vida da população e para o crescimento da economia e
do desenvolvimento estrutural da cidade.
Outro fator que impulsiona as transformações no meio na cidade é a presença marcante de
uma vegetação importantíssima que é Copernicia prunifera (mais conhecida como Carnaúba),
árvore que permite a cidade o apelido de "Terra dos Carnaubais". De acordo com Carvalho e
Gomes (2007, p.3), a partir da atividade de extração desse recurso, é possível ter um
aproveitamento de quase 100% da árvore, bem como, os frutos que são ricos em nutrientes para
a ração animal; o tronco é madeira de qualidade para construções; as palhas servem para a
produção artesanal, adubação do solo e extração de cera (cera de carnaúba), um insumo valioso
que entra na composição de diversos produtos industriais, tais como cosméticos, cápsulas
de remédios, componentes eletrônicos, produtos alimentícios, ceras polidoras. Outro recurso
natural importante presente na cidade é o Açude Grande que também apresenta destaque,
encantando turistas que passam pela cidade. Outros pontos turísticos são o Monumento dos
Heróis do Jenipapo já mencionado anteriormente, a "Serra" de Santo Antônio, a Barragem dos
Corredores, e a Catedral de Santo Antônio.
Neste seguimento, Campo Maior é uma cidade localizada geograficamente no norte do
Estado do Piauí, que aos poucos veio construindo representações de progresso e modernização
tanto no eixo espacial urbano como no eixo social. Nesta perspectiva, Pereira (2015 p.11), diz
que a economia dessa região foi impulsionada principalmente por volta das décadas de 1930 e
1940, período em que se tornou uma das maiores produtoras de cera de carnaúba do Piauí. O
autor menciona também que isso influenciou o processo de crescimento estrutural da cidade, e
dentre algumas das conquistas estruturais para a cidade podemos destacar a instalação da
iluminação elétrica, construção do Cineteatro Glória e do Grupo Escolar Valdivino Tito,
remodelação da Praça Rui Barbosa, abertura e pavimentação de ruas, edificação de prédios
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públicos como Correios e Telégrafos, Centro Operário, Ginásio Santo Antônio, Matadouro e
Mercado Público.
Neste sentido, ainda tratando da cera de carnaúba é importante comentar que ela foi um
dos principais meios que deu suporte econômico ao patrimônio público estadual, e de muitos
municípios piauienses durante esse período. Deste modo, Campo Maior que antes da exploração
da cera de carnaúba tinha como base econômica a pecuária, que já não gerava mais tanto lucro
quanto antes, passou a ter uma elevação vertiginosa da renda pública. Desse modo, Pereira
(2015, p.28) afirma, “após a cera tornar-se o maior suporte do patrimônio público campo-
maiorense, desempenhou importante papel como subsídio para a modernização urbana nos anos
1930 e 1940”. Outra relação social importante para o configuração espacial urbana de Campo
Maior também diz respeito a economia gerada com a cultura religiosa, á vista disso, faz-se
necessário comentar sobre os festejos do padroeiro Santo Antônio no período de 31 de maio a 12
de junho, evento religioso que tem referência atrativa em todo estado.
Segundo Carvalho (2012, p.10), Campo Maior era uma das sete primeiras vilas do estado,
e assim como as demais sofria interferência portuguesa visto que, surgiu de uma fazenda
chamada Bitorocara, e que era de propriedade de um português, desta forma, também teve
grande influência da Religião Católica que até então ainda era a religião oficial do território que
hoje constitui o Brasil. É tão resistente a tradição religiosa dessa região que recentemente a
Paroquia de Santo Antônio celebrou 300 anos de existência.
O historiador Valdemir de Castro Miranda publicou em um blog,
poetaelmar.blogspot.com.br, em 04.09.2015: um trabalho intitulado “Sobre as origens de Campo
Maior”, onde retrata detalhadamente como surgiu Campo Maior e a vivencia religiosa de sua
gente.
Campo Maior tem sua origem ligada à figura do mestre de Campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, fundador da Fazenda Bitorocara no ano de 1695, na confluência dos rios Longá com o Surubim. Por volta de 1706, o Pe. Thomé de Carvalho e Silva fez desobriga na região, fundando ali um curato. Mais tarde, com a ajuda de Bernardo de Carvalho e Aguiar, construiu a Igreja de Santo Antônio, batizada a 12.11.1712, com a instalação da Freguesia de Santo Antônio do Surubim ou Longá, a segunda do Piauí e ainda ligada ao Bispado de Pernambuco. O procedimento para a instalação da nova Freguesia, foi o mesmo adotado pelo Pe. Miguel de Carvalho quando da instalação da Freguesia da Mocha, reuniu os moradores da região para definir o local da edificação do templo. Não contando com a ajuda dos arrendatários das fazendas da região, mas com o cel. Bernardo de Carvalho e Aguiar que construiu a capela a suas custas, conforme consta em carta do Pe. Thomé de Carvalho e Silva, Vigário confirmado na Matriz de Nossa Senhora da Vitória do Piauí de Cima em toda ela Vigário da Vara, pelo ilustríssimo Sr. Dom Manuel Álvares da Costa, Bispo de Pernambuco e do Conselho de Sua Majestade, que Deus guarde (MIRANDA, 2015).
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Nessa conjuntura fica claro o manifesto da importância cultura religiosa dos campo-
maiorenses e como as relações entre a população e a igreja também influenciaram a modelação
espacial do meio em questão, uma vez que, o evento interfere de forma direta na economia da
cidade, na cultura, no turismo e no lazer da população, sendo notório que essas relações á
centenas de anos vêm modificando as estruturas espaciais de Campo Maior.
Nessa óptica, entende-se que as transformações espaciais nessa região ocorreram
conforme o desenvolvimento das relações sociais em especial as atividades relacionadas à
cultura religiosa, a economia gerada pelo setor comercial, turismo, extrativismo da carnaúba,
entre outros mecanismos influenciadores do desenvolvimento urbano.
Por seguinte, é relevante compreender que cada sociedade atribui conceitos e valores
diversos às paisagens e ao meio ocupado, e esses significados e valores atribuídos depende da
história, da cultura e dos símbolos que compõe a sociedade e a forma como seus indivíduos
interagem com esses, surgindo através das relações predominantes num dado espaço, sejam
elas, cultura, religiosidade, economia e, etc.
3 - CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DE CAMPO MAIOR APARTIR DAS RELAÇÕES SOCIAIS
ATUAIS
O processo de transformação dos espaços rurais em espaços urbanos, decorre das ações
humanizadas presentes neste meio. Deste modo, enfoca-se principalmente o crescimento da
populção e as práticas inerentes aos sítios urbanos como as atividades industriais e comerciais
consideradas no primeiro momento ações mediadoroas dessa nova configuração do espaço.
Nesta mesma diretriz a cidade de Campo Maior-PI nasce a partir do comércio de produtos
variados incentivando positivamente o desencolvimento da economia local.
Assim, os fatores que gradativamente constituiram o processo de urbanização na cidade
como por exêmplo, as edificações, intensificação do tráfego de veículos nas ruas, e aumento da
população por meio do exido rural, principalmente em razão de vínculos empregaticios no setor
comercial e também público, manifesta de maneira clara as transformações urbanistas ocorridas
no aspecto físico dessa cidade. Como mostram as imagens a seguir.
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A organizção do espaço urbano é cada vez mais recorrente nos dias atuais, nesta
perspectiva, observa-se nas imagens o efeito urbe que cada objeto influe na estrutura fisíca da
cidade, e como a dinâmica social cotidiana impulsiona cada vez mais as transformações nessa
esfera.
Desta forma, Santos (2008,p.67) diz que para expressar o espaço em termos mais
concretos, sempre que a sociedade em sua totalidade social sofre mudanças, as formas ou
objetos geográficos tanto novos como remotos assumem novas funções e a intensidade dessas
mudanças cria uma nova organização espacial.
Milton Santos (1986, p37-38) também diz que o espaço é acumulação desigual de tempos,
assim compreende-se que as interações da sociedade com a materia , a historia , e meio
modificam e reconfiguraram constantemente os ambientes naturais produzindo com esse
mecanismo o espaco geográfico , que por sua vez condiciona -se da coagulacao do trabalho
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social, materialização de idéias e c omo já dito anteriomente das acoes das sociedades sobre a
natureza. Nessa perspectiva o espaço vincula-se a dinâmica social, e as relações da comunidade
ali presentes surgem como responsáveis pela nova remodelação deste meio.
Não obstante, Campo Maior retrata nos dia atuais um conjunto de modificações espaciais
de um pontoa outro e embora o aspecto do bjeto reflita sobre o novo e urbano é notórioque
também que a sociedade se preocupou em preservar traços de sua história, cultura e essencia.
Assim demontram as imagens selecionas a seguir.
De acordo com as imagens é preceptivel as mudanças ocorridas com o passar do tempo,
entretanto, observa-se tambem que ainda existe uma forte presença da essencia do que
pertenceu cada objeto. com isso, logo compreende-se que o espaço se renova a cada movimento
que é submetido seja de forma natural ou não, e o que diferencia um espaço de um tempo a outro
não é apenas a intensidade ou grau de suas mudanças mais também como o ser humano o
conduz a mudar.
Desse modo, Campo Maior transita de forma meticulosa de uma configuração a outra,
todavia permitindo que seja possivel encontrar em diversos cenários a particularidade de cada
tempo, cultura e vevencias que apesar dos tempos mordernos ainda prevalecem.
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O dialogo com os autores apresentados ao longo desta pesquisa permite refletir sobre as
diversas transformações impostas tanto pelas relações sociais como, pela historicidade,
temporalidade mediante ao espaço campo-maiorense em questão. Neste sentido, como
analisado na pesquisa, considerar as transformações neste espaço também é considerar que o
mesmo é produto direto das relações do indivíduo com seus condicionantes, uma vez, que se
observam através do recorte temporal certos modos de produção das estruturas espaciais da
cidade e a particularidade de cada objeto disperso no meio, além de constatar através da história,
vivências e cultura sua identidade mais remota, entranhada em lutas, fé e amor por essa terra.
Deste modo, compreende-se que as transformações no aspecto físico de Campo Maior adjunto
com a dinâmica social permitiram uma urbanização considerada vantajosa no sentido de
infraestruturas básicas, como transporte, comunicação, energia e saneamento.
É relevante ressaltar que embora a sociedade campo-maiorense venha ao longo do tempo
modificando o cenário da cidade passando de um eixo rural para uma feição urbana entende-se
que paralelamente essas modificações permitiram ao espaço e sociedade um movimento
satisfatório no que diz respeito ao desenvolvimento também de estruturas importantes para
manutenção da vida social no meio urbano, como por exemplo, as possibilidades de empregos e
renda desencadeadas pelo crescimento do comércio, e ainda das atividades relacionadas ao
campo, como a extração da carnaúba, uma vez que são amparadas pelo setor de compra e
venda no comércio da cidade, bem como atividades relacionadas ao turismo, entre outras. Desta
maneira, conclui-se que através da dinâmica social, tais transformações foram se concretizando
dentro do espaço campo-maiorense e reformulando sua fisionomia até os dias atuais. Por fim,
cabe refletir que a partir dessas modificações e vivências no espaço campo-maiorense hoje é
possível contar histórias de sua origem e ao mesmo tempo sentir orgulho das lutas passadas e
também das relações sociais que continuam a reconfigurar a cidade de Campo Maior-PI.
5 – REFERENCIAS
Blog.poetaelmar.blogspot.com.br, em 04.09.2015: acesso em 14/03/18
CARVALHO, Elmar Bernardo de carvalho. Campo Maior origens. Campo Maior-PI. Jonh Kennedy Costa Pereira ( 2015 p.37).
CARVALHO e GOMES. Contribuição do extrativismo da carnaúba para mitigação da pobreza no Nordeste. Fortaleza,( 2007, p.3)
GOMES, Laurentino. 1822: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês
louco por dinheiro ajudaram D. Pedro I a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar
errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, (2010, p.187 e 188)
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http://www.tribunadebarras.com/2012/09/contrastes-do-piaui-urbano-e-rural.html acesso em 16/03/2018
http://www.fotosantigasdecampomaior.com.bracesso em 14/03/2018
NETO, Andrião. A Epopéia do Jenipapo. Teresina: Ed. Geração (2006, p.61).
PEREIRA. Raimundo Nonato Bitencourt. Modernização Urbana de Campo Maior-PI no Período Áureo da Cera de Carnaúba (1930-1947). Campina Grande/PB. (2015, p.28)
SANTOS, Milton. Pensando o espaco do homem. São Paulo:Hucitec, (1986, p. 37-38.)
SANTOS. Milton. Espaço e Método. 5.ed.São Paulo; Editora da universidade de São Paulo, (2008 p.68)
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O MEIO RURAL E O MEIO URBANO: SUAS RELAÇÕES
Eliana Michalchechen 1
Nathálya Maria de Sousa Soares ² Leilson Alves dos Santos ³
RESUMO: Na cidade e no campo ocorrem desenvolvimento dos conflitos ambientais, políticos e culturais, o campo por sua vez surge como um lugar de produção e cultivo da agricultura e pecuária, espaço que está intimamente ligado à moradia. Através deste estudo, procurou-se esclarecer os pontos positivos e negativos dessa relação tão complexa entre o homem e a natureza. Considerando as diferentes possibilidades de observações teórico-metodológicos sobre o meio rural e o meio urbano no Brasil, objetivando neste trabalho mostrar, por meio da revisão bibliográfica, e de campo algumas reflexões sobre a importância de se distinguir o campo e a cidade, assim como as formas que as relações de complementaridade entre cidade e campo podem assumir no país no período contemporâneo. Conclui-se que ao destacar as relações entre cidade/campo, verificando suas interpretações e seus processos diante da problemática, a dinâmica atribuída a ambos os espaços: urbano e rural, eles têm acompanhado o desenvolvimento econômico e a divisão territorial do trabalho.
Palavras-chave: Brasil. Relações campo-cidade. Rural-urbano. Particularidades.
1. INTRODUÇÃO
Para compreender as cidades atuais, suas formas de organização, funções e
características que foram se modificando ao longo da história, é preciso entender que: assim
como todo espaço geográfico ocupado pelo homem, a cidade é o resultado da sobreposição de
várias cidades preexistentes que, ao longo do tempo foram sendo transformadas, reconstruídas,
mudando de função, bem como de população predominante. (ABRÃO, 2010).
Há mais de 15 mil anos, no período paleolítico, o homem era um ser nômade, isto é, não
estabelecia vínculos com lugares específicos, mudando de lugar em momentos nos quais sentiam
a necessidade de buscar comida ou condições climáticas mais favoráveis para sua sobrevivência.
Mas, aos poucos, em um processo que demorou mil de anos, o homem passou a estabelecer
vínculos com a caverna que, mesmo não sendo uma moradia fixa, era o local escolhido para
guardar suas ferramentas, ou para se sentir seguro. (SILVA, 2009).
1
Acadêmica do curso de Geografia da Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: [email protected]
² Geógrafa docente. Especialista em Geografia e Ensino pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail: [email protected]
³ Geógrafo docente. Mestre em Análise e Modelagem em Sistemas Ambientais – IGC/UFMG. E-mail: [email protected]
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A diferenciação entre a cidade e o campo surge na História como decorrência do progresso
econômico e da diferenciação na estrutura social permitida por este progresso. O campo e a
cidade passaram por profundas transformações a partir da segunda metade do século XX, que
resultaram em novas dinâmicas (econômicas, sociais, culturais e políticas) nas relações entre
esses recortes territoriais, impondo a necessidade de ressignificações aos conteúdos de rural e
urbano. (HESPANHOL, 2013).
Verificou-se, assim, que as relações de complementaridade entre campo e cidade se
intensificaram, mas cada parcela do espaço geográfico mantém suas particularidades. A escolha
desse tema deu-se por causa de incontáveis problemas ocorridos na natureza, onde a maioria
deles foram ocasionados por alguns seres humanos que retiram dela seu sustento de modo
inadequado. Através deste estudo, procurou-se esclarecer os pontos positivos e negativos dessa
relação tão complexa entre o homem e a natureza.
As diferentes possibilidades de análises teórico-metodológicos sobre o meio rural e o
meio urbano no Brasil, abordada neste trabalho visa mostrar, por meio da revisão bibliográfica
algumas reflexões sobre a importância de se distinguir o campo e a cidade, assim como as
formas que as relações de complementaridade entre cidade e campo podem assumir no país no
período contemporâneo.
Os objetivos específicos são: verificar o papel que a sociedade como um todo desempenha
em relação homem e natureza; diferenciar os espaços geográficos em: Rural e Urbano, Campo e
Cidade; entender a importância da relação entre o homem e a natureza, bem como suas
responsabilidades, benefícios e consequências.
Para a realização deste trabalho utilizou a pesquisa bibliográfica, a partir da leitura de
livros, artigos científicos e websites sobre a temática apresentada, onde procurou-se esclarecer
que apesar das mudanças ocorridas no espaço geográfico a consolidação de relações de
proximidade entre os espaços rurais e urbanos estão associadas às condições de acesso a
infraestrutura, equipamentos coletivos e serviços à população rural que garantam a cidadania e a
autonomia.
2. RURAL E URBANO, CAMPO E CIDADE: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Conforme a afirmação de Whitacker (2010, p.191) para compreender o meio rural no
contexto contemporâneo é necessário conecta-lo ao campo e a cidade. Sendo assim, para
divulgar o que os termos compreendidos sobre campo/cidade e rural/urbano, é necessário citar
com clareza os seus significados.
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Esta diferenciação é necessária porque cidade e campo se caracterizam por representar concentração e dispersão (...). Urbano e rural se distinguem por serem atributos e constituintes, condições e condicionantes. Enfim, cidade e campo são formas espaciais. Urbano e rural apresentam (...) uma dimensão processual, são conteúdo e contingente. (WHITACKER, 2010, p.191).
Para Biazzo (2009, p. 144) campo e cidade são formas concretas, “materializam-se e
compõem as paisagens produzidas pelo homem; „urbano‟ e „rural‟ são representações sociais,
conteúdos das práticas de cada sujeito, cada instituição, cada agente na sociedade”. Ambos são
relacionados com a localização e representação das paisagens criadas pelo ser humano.
Segundo Souza (2010) citado por Lopes e; Wendel (2010, p. 195) historicamente esses
pares rural-urbano e campo-cidade não podem ser compreendidos separadamente, já que não
existiriam isoladamente, pois embora “apresentem um conteúdo social e histórico específico, só
podem ser compreendidos enquanto uma totalidade concreta do modo de produção capitalista”.
Campo e cidade, rural e urbano, expressam, numa perspectiva marxista, no modo de produção
capitalista, a culminância do processo de divisão técnica, social e territorial do trabalho. (SOUZA
apud LOPES; WENDEL, 2010, p. 195).
Além da relação existente entre rural-urbano e campo-cidade, faz–se necessário
considerar que a partir dos avanços da ciência, da técnica, e da informação ocorreu uma
disseminação de forma irregular no espaço geográfico, isso dificulta a distinção entre o meio rural
e o meio urbano.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 1950 a
sociedade brasileira era essencialmente rural, fato que teve seu perfil demográfico invertido e, na
atualidade é predominantemente urbana.
[...] anteriormente, era um fenômeno restrito ás grandes cidades. Hoje, processo analógico acontece em cidades médias e até pequenas tornando a periferização uma configuração urbana expandida, presente, praticante, em todo o território urbano nacional. Sua presença denota uma situação de precariedade e déficit de políticas públicas mais abrangentes que atingem os setores de infra-estrutura, equipamentos e serviços nas áreas de saneamento básico, habitação, saúde e educação. (...) Como agravantes, a sociedade lida com a violência urbana que desponta como um problema social generalizado, atingindo campo e cidade. (SILVA, 2011, p. 04).
Como consequência desses processos de expansão urbana, do maior desenvolvimento
dos meios de transporte e de comunicações e da máxima incorporação da ciência, da tecnologia
e da informação em todo o setor agropecuário nacional, o espaço rural tendeu a apresentar maior
complexidade e disparidade em termos da sua organização socioeconômica, das relações sociais
e, sobretudo, dos agentes/sujeitos que o compõem.
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Diante de várias mudanças, o entendimento do espaço rural era identificado apenas como
o lugar que ocorre a realização das atividades agropecuárias que pode bloquear a concepção de
outras funções, atividades e agentes/sujeitos presentes no campo. A partir da década de 1990,
foram reconhecidas as abordagens que procuraram apontar as novas ruralidades e o caráter
multifuncional dos espaços rurais. (CARNEIRO, 2006, MEDEIROS, 2011).
Conforme Moreira (2012, p. 18):
As características das múltiplas funções existentes no espaço rural são transformadas de acordo com cada região, e depende das potencialidades naturais, assim como da extensão dos centros urbanos e das obrigações sociais e econômicas.
Fora esses fatores, podem adicionar outros dados importantes em relação à
disponibilidade de base e equipamentos disponíveis, as condições socioeconômicas dos
consumistas urbanos e a maior (ou menor) valorização dos elementos culturais.
De acordo com Melo (2008) atualmente, compreender que o rural não é algo que se
diminui a seu campo. O relacionamento existente entre campo e cidade apresenta uma amplitude
cada vez maior e deve ser repensada na totalidade que as integra: estrutura, função, forma,
conteúdo e articulação regional. Os espaços rurais não podem mais ser objeto de estudo
deslocados do contexto (regional, estadual, nacional ou global) no qual estão inseridos.
Sendo assim, embora no período atual as articulações entre campo e cidade tenham se
intensificado, esses espaços continuam sendo representados pelas características que lhe são
especificas e particulares.
3. RELAÇÕES ENTRE O ESPAÇO RURAL E O URBANO, CAMPO E CIDADE
A cidade é o lugar do desenvolvimento dos conflitos ambientais, políticos e culturais.
Assim, o urbano se desenvolve através de meios de produção além de estar associado às
atividades do comércio. (BIAZZO, 2008).
De acordo com Carlos (1992, p.40), “a cidade é criação humana que vai sendo construída
no decorrer do processo histórico e que ganha consolidação concreta e diferenciada em função
de determinações históricas especificas”.
A autora cita ainda que “a cidade é um modo de viver, de pensar, mas também de sentir.
Sendo assim, o modo de vida na área urbana é representado por comportamentos, valores,
conhecimento, formas de lazer, e também uma cultura” (CARLOS, 1992,p.40)
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Sendo assim, a cidade é mais que um centro administrativo, pois os habitantes que nela
vivem constituem-se uma conexão mais afetiva à medida que expressam sua cultura e modo de
vida.
Spósito (1999,p. 31) diz que “a cidade define-se nas formas do espaço, ela pode então
elaborar gráficos ou mapas para que esta seja retratada por meio de fotos e imagens, já a
urbanização é a dinâmica expressada por essas características”. A urbanização, portanto, tem
exercido funções sobre o rural, teve suas origens com as novas formas dadas ao espaço,
provocadas pelas revoluções tecnológicas, ou seja, a cidade surgiu antes do surgimento e
desenvolvimento do campo.
Segundo Moreira (2007) a cidade nasce a partir da divisão social do trabalho, que
aparece com o aprimoramento das técnicas, permitindo um aumento da produtividade do
trabalho. Assim, com a geração dos excessivos na produção, parte da sociedade se disponibiliza
para a realização de atividades que não seja do ramo agrícola.
Com o processo de industrialização, as cidades passam a adicionar atividades do meio
rural, ligadas às fábricas industriais. A industrialização age sobre a urbanização e ambas são
responsáveis, pelas mudanças no campo e na cidade. O espaço rural se refere às paisagens
naturais, pouco modificadas pelo homem diferentemente da cidade que é fortemente modificada.
Conforme Marques (2002) o espaço rural é denominado como:
(...) um meio específico de características mais naturais, do que o urbano, que é produzido a partir de uma multiplicidade de usos, nos quais, a terra ou o “espaço natural”, aparece como um fator primordial, o que tem resultados muitas vezes na criação e recriação de formas sociais de forte inscrição local (MARQUES, 2002, p. 109).
A partir desse processo o campo surge como um lugar de produção e cultivo da agricultura
e pecuária, espaço que está intimamente ligado à moradia.
Lefebvre (1986) aponta que “o campo é onde a natureza prevalece, a agricultura e outras
atividades a modificam, mas não lhe retiram sua prioridade geográfica”. Ainda conforme Lefebvre
(1969) apud Endlich (2006 p. 91) “a comunidade rural como sendo composta por homens, cuja
disposição técnica é precária, são obrigados a dispor de muito tempo na produção e
sobrevivência, que realizam um árduo trabalho agrícola”.
Portanto, o modo de vida rural se reflete num trabalho mais intenso e uma jornada de
trabalho pouco definida, já nas cidades o cotidiano é bem mais barulhento e retornado para horas
de trabalho e os moradores do meio urbano possuem também várias formas de diversão.
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Para Carlos (2004), no campo o desenvolvimento pode–se avançar reproduzindo relações
especificamente capitalistas implantando o trabalho assalariado sem que as relações
camponesas desaparecessem e sem que a totalidade do trabalho no campo e da vida fosse
submetida integralmente a sujeição real do capital apesar do desenvolvimento da industrialização
da agricultura e da expansão das culturas para exportação no seio da economia global.
(CARLOS, 2004, p.9).
Nesse sentido, o campo não é mais um espaço primitivo de trabalho manual e com um
modo de vida onde não existe lazer e cultura. Então definido como um espaço que estabelece
relações entre o meio ambiente e o homem.
Nessa relação campo/cidade estão presente os fenômenos de urbanidade e ruralidades
decorrentes da modernidade. Porém, o conceito de ruralidade encontra-se em construção,
referindo-se as questões da atualidade, modernidade dos espaços geográficos, onde as cidades
adquirem hábitos do mundo rural.
Moreira, (2005 apud Canditto e Correa, 2008, p.28) ressalta que: “as ruralidades seriam
compostas por objetos, ações e representações peculiares do rural, com destaque para as
representações e identidades rurais dos indivíduos e grupos sociais”.
Já urbanidade é um processo que também se desenvolve no espaço rural, mediada pela
modernidade, o campo e seus habitantes adquirem características e elementos do meio urbano.
Esses dois processos definem as relações entre campo e cidade mostra que ambos os espaços
se completam tendo, cada vez mais, a influência do rural no urbano e do urbano no rural.
Diante de tais mudanças, as noções de rural-urbano e campo-cidade precisam ser
reformuladas.
além dos diferentes conteúdos assumidos pelos espaços urbano e rural no tempo (...), a contemporaneidade também comporta o diverso. A lei do desenvolvimento desigual e combinado nos remete a diferenças de ritmo e intensidade com que as mudanças se processam no campo e na cidade e internamente a esses espaços. (MARQUES, 2003, p. 108).
No meio rural mora uma quantia significante da população do país, que gera o êxodo rural
em muitas regiões. Assim, não se devem contestar de maneira unidimensional com
diferenciações rigorosas por meio da relação entre os espaços e sociedades rurais e urbanas,
reforçando-se, assim, as velhas perspectivas dicotômicas.
Marques (2003, p. 507) salienta que nos últimos anos a diferença entre urbano-rural tem
sido “substituída pelos novos relacionamentos entre o urbano e o rural, mostrando as correlações
funcionais e espaciais e a necessidade de propor uma maior integração e complementaridade
territorial”. Já para Tavares (2003, p. 38) o meio rural não deve ser definido em oposição ao
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espaço urbano, mas em sua relação de que complemente as cidades, “em que cada um não
perde a sua identificação socioeconômica e cultural”.
A consolidação de relações entre os espaços rurais e urbanos está relacionada ás
condições de acesso à base, e serviços á população rural que avalizem a cidadania e a
autonomia.
4. CONCLUSÃO
O principal objetivo deste trabalho foi mostrar a importância das características que
distinguem o campo e a cidade, bem como as formas e as relações de complementaridade entre
esses espaços rural e urbano principalmente no período contemporâneo.
Os espaços rurais e urbanos se ampliaram a partir da diferenciação e das mudanças que
aconteceram durante os processos de globalização, de urbanização e de reestruturação
produtiva, mas essa alteração não ocorreu ao mesmo tempo e nem com a mesma intensidade
em todos os lugares.
A partir da década de 1990 houve uma nova reflexão sobre as relações campo-cidade já
que para muitos estudiosos esse debate estava ultrapassado conforme as mudanças ocorridas
na agricultura a partir do processo de modernização tecnológica e que fizeram com que as
relações agricultura-indústria sofressem uma expansão.
Com este trabalho podemos concluir que o campo e a cidade a partir da segunda metade
do século XX, passaram por intensas transformações e os resultados foram novas formas
econômicas, sociais, culturais e políticas mudando todo o contexto de meio rural e urbano.
Este trabalho está centrado em uma série de discussões e argumentações a respeito da
relação campo/cidade e nos mostra o quanto essa relação pode afetar a vida da população da
cidade em geral já que existem fatores que comprometem o modo de vida desta população.
Conclui-se que ao destacar as relações entre cidade/campo, verificando suas
interpretações e seus processos diante da problemática, a dinâmica atribuída a ambos os
espaços: urbano e rural, eles têm acompanhado o desenvolvimento econômico e a divisão
territorial do trabalho.
Com esse trabalho pode-se enfatizar que as populações que habitam tanto o rural como o
urbano apresentam cada vez mais a variedade como realidade possível, compreendendo ainda,
as constâncias e reconstruções de novas “ruralidades e urbanidades” intercaladas nos circuitos
de convivências.
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Foi possível verificar que a relação campo/cidade não pode ser examinada de forma
desagregada, pois após o surgimento da industrialização as relações entre as atividades do
campo e as da cidade tornaram-se interdependente.
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A DINÂMICA DA CIDADE E OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DA IMPLANTAÇÃO DOS CONDOMÍNIOS RESIDÊNCIAS HORIZONTAIS: um estudo de caso dos condomínios Vila Vitória e Jardins do Angelim zona de Teresina –
PI
Edileia Barbosa Reis 1
RESUMO: A implantação do modelo de condomínios residenciais horizontais e o estilo de viver entre muros tem se disseminado na zona sul de Teresina trazendo implicações como os impactos socioambientais e transformações ao meio ambiente e a dinâmica do espaço urbano. Busca-se reconhecer como os condomínios podem causar alterações ao ecossistema urbano, como também estão passiveis a especulação imobiliária esta que manipula a produção espacial restringem as relações sociais por meio da segregação socioespaciais na forma de espaço privados. Neste sentido, a pesquisa se utilizou de método dialético-descritivo para construir uma matriz de impactos comparativa dos condomínios horizontais Vila Vitória e Jardins do Angelim e seus impactos socioambientais como uso técnicas como o levantamento bibliográfico e documental e georeferenciamento da área de estudo. A verificação proposta tem por intuito de diagnosticar os impactos socioambientais dos condomínios horizontais ao identificar as formas de ocupação do espaço urbano ao descrever a atuação dos agentes produtores do espaço como criar um comparativo dos impactos causados. E assim compreender como os condomínios horizontais se beneficiam de áreas verdes dotadas de um teor paisagístico estético que controlado pela especulação imobiliária ao restringir o acesso ao espaço a determinados grupos sociais. Dessa forma, a pesquisa aponta mudanças significativas no espaço e meio ambiente após o surgimento dos condomínios horizontais.
Palavras-chave: Gestão ambiental, condomínios horizontais, impactos socioambie-ntais.
1.INTRODUÇÃO
No Brasil o modelo de condomínios horizontais tem se tornado uma opção de moradia e
seu estilo de viver entre muros estes que chegam a Teresina na década 1990 anos mais tarde em
2008 na zona sul da cidade. Os condomínios tiveram sua origem nos Estados Unidos no século
XIX com os denominados Liewlly Park em New Jerse. No Brasil o aparecimento do primeiro
condomínio horizontal aconteceu em Barueri em São Paulo grupo Alphaville em 1973.
(PINHEIRO, 2011). Em Teresina o primeiro condomínio horizontal surge em 1997 chamava-se
“Jardins de Fátima” localizado no bairro de Fátima zona leste da cidade. (SILVA, 2015).
Os condomínios horizontais que atuam como agentes produtores do espaço em conjunto
com a especulação imobiliária ao comandar a dinâmica da cidade. Além de provocar impactos
ambientais através da modificação do ao meio em detrimento da construção de grandes
empreendimentos. Entre essas questões observa-se como os condomínios horizontais
1 Acadêmica do curso de Gestão Ambiental Instituto Federal Educação Ciência e Tecnologia – IFPI. E-mail: edileia-
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influenciam nas relações sócio-espaciais e o modo de reproduzir a cidade através de uma
realidade segregada através da privatização do espaço urbano como os ambientais que afetam
os ecossistemas urbanos (supressão de áreas verdes, compactação do solo etc.). Daí a
importância da gestão ambiental em reconhecer as transformações
Leva-se em consideração os impactos ambientais provocados pelos condomínios
horizontais haja vista que impactos ambientais são constituídos segundo Resolução Conama
001/1996 são caraterizados como “propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente
e são causados por alterações na forma de matéria ou energia” já os aspectos sociais são
resultantes de atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o
bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e
sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais. (BRASIL, 1986).
Neste sentido, para execução da pesquisa buscou-se o uso um método dialético-descritivo
através de uma investigação qualitativa na busca de diagnosticar os impactos socioambientais,
além de identificar as formas de uso e ocupação do solo e os impactos ambientais da área de
estudo e descrever como acontece à participação dos agentes construtores do espaço ao
comparar o potencial de impactos socioambientais dos condomínios horizontais estudados.
Elenca-se a possibilidade do uso dos condomínios horizontais venha a causar mudanças que vão
desde seu espaço construído, impactos a vizinhança uma como demanda de infraestrutura
urbana e outros.
Dessa forma, o artigo propôs um estudo de caso através de uma discussão sobre os
impactos socioambientais decorrentes da implantação dos condomínios residências horizontais
na zona sul de Teresina. Tendo em vista demostrar como a gestão ambiental avalia as
transformações ambientais e como os condomínios Vila Vitória e Jardins do Angelim reproduzem
o espaço urbano através do seu espaço construído.
2.Metodologia
A área de estudo corresponde aos condomínios Vila Vitória localizado no bairro Saci e o
Jardins do Angelim situado no bairro Angelim. Estes estão fixados em áreas variolizadas pela
especulação imobiliária. Devido a isso, a escolha da pesquisa foi motivada pela influência que os
condomínios exercem reprodução espacial da zona Sul, bem como a relevante necessidade de
se conhecer as alterações ambientais provenientes de modelos de moradia (de casas no formato
horizontal).
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Segundo Gil a opção pelo (2009 p. 42) uso do método dialético-descritivo tem por “objetivo
primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis”. Ao tratar de forma sobre as relações
socioambientais referentes à temática abordada.
Para então, desenvolvimento da pesquisa esta que foi executada em duas fases: a
primeira corresponde à identificação dos condomínios horizontais através de um levantamento
bibliográfico de teses, dissertações e artigos que permitiu um diálogo com os autores como:
Lobato Corrêa (1989), Guerra e Cunha (2001), Caldeira (2003), Costa (2015), Silva (2015). Bem
como a análise documental da legislação ambiental caso da Resolução Conama001/1986 entre
outras. E os planos urbanos municipais como o Plano de Diretor de Teresina (3.558/ 2006).
Na segunda fase destinada a visita aos órgãos ambientais SEMAM (Secretaria de Meio
Ambiente e Recurso Hídricos) e administrativos a SEMPLAN (Secretaria Municipal de
Planejamento e Coordenação). Que forneceram informações essenciais a essa pesquisa.
Contado com a ida ao campo nos condomínios horizontais Vila Vitória e Jardins do Angelim onde
foram observadas características naturais e sociais prescritas nos roteiros elaborado para essa
finalidade e por fim a confecção de mapa com um recorte temporal.
3.Fundamentação Teórica
A atuação da especulação imobiliária tem definido a forma de produção do espaço urbano
resultados da atuação dos promotores imobiliários e atores sociais que determinam a
funcionalidade do espaço, ou seja, manipulam de valores e localizações dos empreendimentos
(CORREA,1989). A organização do espaço urbano torna-se um produto histórico cultural, no qual
o Estado e Iniciativa privada detém o papel primordial na determinação das relações espaciais.
(CARLOS, 2007).
Neste contexto, o uso do espaço urbano ocorre de forma indiscriminada desconsiderando
o planejamento ambiental prévio idealizado ainda pelo Estatuto da cidade chamadas “cidades
sustentáveis”(BRASIL, 1991). Como se abstém do licenciamento ambiental, contudo sem arcar
com as consequências ocasionadas pela degradação ambiental que se manifesta de formas
distintas de intensidade, ocorrência, de elementos afetados que podem prejudica a dinâmica do
ecossistema urbano local como a geologia, geomorfologia, clima, vegetação, causa poluição
entre outros. (GUERRA , 2001).
No caso dos condomínios que surgem como fruto de um modelo idealizado pelas antigas
“cidades jardins” que pretendiam proporcionar uma qualidade ambiental para a Inglaterra durante
o século XVVIII, seu projeto então foi melhorado visado acoplar novos itens como segurança e o
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lazer nos chamados Liewllyn Park em New Jersey no século XIX e sua atual configuração se
assemelha aos “gated communities” criados no Arizona na década de 1960 nos Estados Unidos.
No Brasil o pioneiro foi o condomínio Alphaville em 1973 esse tipo de moradia que se dissemina
por várias partes do Brasil (PINHEIRO, 2011).
Os condomínios têm se popularizado em várias classes sociais em especial na classe
média são aqueles que habitam na periferia da cidade daí a denominação aos condomínios de
enclaves fortificados por serem cercados por muros.(CALDEIRA,2000).Os condomínios
horizontais aparecem como componentes que realçam a reprodução da cidade agem em
conjunto com processos paralelos como a verticalização deles nascem a segregação sócio-
espacial. A segregação promovida pelos condomínios que é comentada na citação a seguir.
Os condomínios e os loteamentos fechados se apresentam como sendo um espaço de escapismo de um cotidiano urbano dito violento, informal, ambientalmente deteriorado, e que proporcionariam exclusividade, lazer e segurança para os residentes. De maneira geral, essas construções são novas mercadorias imobiliárias que vêm conformando uma nova divisão social do espaço, que via produção residencial proporciona por um lado à autossegregação, e, concomitantemente, impõe a segregação no espaço. (SOUZA (2005) CITADO POR Zanotelli e Ferreira P. 171).
A segregação sócio-espacial é movida pela migração gerada pela mobilização dos
promotores imobiliários e pela escolha da população da classe média e baixa renda que se fixam
em áreas de vulnerabilidade ambiental em áreas de preservação permanentes proporcionando os
conflitos socioambientais, resultados da interferência da especulação imobiliária na dinâmica do
espaço urbano. (COSTA 2015).
Outra questão relevante desta temática refere-se aos impactos ambientais urbanos são
frutos de planejamentos não sustentáveis. Falta de normas urbanísticas que respeitem as
particularidades condição física da cidade e de seus problemas ambientais e sociais. (SÁNCHEZ,
2008).
Os impactos socioambientais identificados através do uso de ferramentas como o
georefeciamento e o zoneamento urbano que detectam os impactos ambientais tais como a
supressão de áreas verdes, erosão, os desvios de cursos d‟agua, aterramentos. (SEMAR, 2016).
Quanto ao aspecto social busca-se a superação de dilema quanto à legalidade dos condomínios
horizontais e sua inclusão no planejamento urbano no Plano de Diretor de Teresina (TERESINA,
3.558/2006) bem como no parcelamento do solo (TERESINA, 4.851/2015).
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4.Os impactos socioambientais dos condomínios horizontais Vila Vitória e Jardins do Angelim
A verificação dos condomínios horizontais permitiu analisar as condições socioambientais
perante as transformações após a implantação dos empreendimentos que abrangem desde as
mudanças da paisagem, como também os impactos sócio-espaciais decorrentes da privatização
do solo urbano e do parcelamento do solo. Os condomínios horizontais Vila Vitória e Jardins do
Angelim que estão localizados na zona sul.
Figura- 01 Os Condomínios Horizontais (Vila Vitória e Jardins do Angelim)
Fonte: Gomes Neto adaptado Google Earth, 2017.
O condomínio Vila Vitória fundando 2008 possui 150 casas sendo o primeiro
empreendimento no modelo condomínio horizontal fechado no bairro Saci. O condomínio vila
vitória estimado como o maior em extensão da zona sul este fruto da ação especulação
imobiliária que transforma loteamentos urbanos em potenciais empreendimentos imobiliários. Já
características físicas apontam para cenário que possui resquícios de área verde o Parque
Ambiental São João. A figura traz um recorte temporal ao demostrar as principais alterações.
Figura:02 O Condomínio Vila Vitória
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Fonte: Carneiro baseado no Google 2017.
Nota-se na figura 02 demostra os impactos ambientais que estão ligados à supressão de
áreas verdes, compactação do sol, as alterações na paisagem. A estrutura construída para
implantação do condomínio refere-se a pavimentação da rua serviços básicos também são
oferecidos rede elétrica e de abastecimento de água, sendo comprovado que o fornecimento
também acontece por meio de poço artesiano. A valorização imobiliária que também impulsionou
a construção de novas casas e possivelmente outros empreendimentos horizontais na região.
(SEMAR,2017).
Temos ainda como pontos negativos os impactos sociais dentro e fora do condomínio
horizontal é caso do isolamento social de classes sociais entre moradores e vizinhos dos
condomínios horizontais. A segregação sócio-espacial possivelmente pode desencadear conflitos
sociais no bairro e nas regiões próximas que também são afetadas como o Parque Ambiental São
João e CEAPI (Centro abastecimento do Piauí). Já dentro do condomínio horizontal é visível
baixo percentual de áreas verdes se levamos em conta o tamanho do empreendimento.
Já o condomínio Jardins do Angelim recebe o nome em homenagem ao bairro Angelim
onde está localizado. O condomínio horizontal tem 33 casas, tendo a presença de pontos de
áreas verdes bem como institucionais o condomínio é de pequeno porte se comparado com o
condomínio horizontal Vila Vitória na imagem a seguir o recorte temporal ao demostras as
mudanças que especiais e ambientais no local.
A B
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Figura: 03 O Condomínio Jardins do Angelim
Fonte: Fonte: Carneiro baseado no Google 2017.
Em breve descrição dos impactos socioambientais visíveis enumera-se os impactos
paisagísticos e estéticos, supressão de áreas verdes, destruição de habitats naturais, a divisão
em loteamentos urbanos, a criação de infraestrutura urbanística, e a valorização quanto
imobiliária, maior transito advindo da circulação de veículos e pedestres causando transtorno as
ruas próximas. Acredita-se assim que inserção do condomínio Jardins do Angelim possa ter
afetado o cotidiano dos moradores ao entorno do empreendimento. No quadro abaixo temos
maior detalhamento das diferentes realidades.
Quadro 01 Matriz de impactos socioambientais Impactos
socioambientais Vila
Vitória Jardins
do Angelim
Físicos Químicos Biológicos Antrópicos
Supressão de áreas verdes
P P X X
Alterações na paisagem
P P X
Problemas drenagem urbana
P P X X
A B
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escoamento superficial
Armazenamento incorretos de
resíduos sólidos.
P P X
Impactos de vizinhança
P P X
Isolamento social P P X
Urbanização X
Fonte: Reis, 2017.
O quadro síntese traz o modelo do roteiro de observação analisado na visita aos
condomínios horizontais, no qual podemos ressaltar os que os dois condomínios horizontais
sofrem com problemáticas ambientais semelhantes decorrentes das alterações na paisagem,
supressão de áreas verdes ocasionadas pela necessidade da urbanização e oferta de serviços
básicos, mas o que as diferencia são justamente a dimensão sócio-espacial.
Outro fator preponderante a essa discussão aspectos sociais é caso da infraestrutura do
condomínio Vila Vitoria que sobressam na qualidade dos serviços prestados aos moradores se
comparados ao condomínio Jardins do Angelim consequemente evidenciado assim as
disparidades socioeconômicas e ambientais. Acrescentasse também os conflitos sociais são
equivalentes quando tratamos questões isolamento social e distanciamento entre os vizinhos.
5.CONCLUSÃO
O diagnóstico socioambiental realizado demostra a importância da abordagem sobre os
condomínios horizontais este que agregam uma multiplicidade de funcionalidade que vem
conquistando o público da classe média em especial da zona sul de Teresina.
Ao destacar assim seus impactos abrangem ordens econômicas ao promover a divisão de
classes, social ao construir espaços coletivos ao mesmo tempo individuais que desencadeiam o
isolamento social e barreiras sócio-espaciais entre outros como a mobilidade urbana prejudicada
devido ao tamanho dos empreendimentos. Além de impactos ambientais que se configuram pela
gravidade da extinção de áreas verdes no espaço urbano dão lugar a loteamentos urbanos e
condomínios horizontais entre formas de ocupação.
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Soma-se a situação alterações significativas a paisagem torna-se fruto do espaço
construído com elementos que se configuram no contexto social como barreiras físicas caso da
imposição de muros que rodeiam os condomínios horizontais. A necessidade de promoção da
urbanização dos projetos de abastecimento de água, rede elétrica que demandam por
transformações ambientais.
No entanto, a pesquisa mostra que a cidade ainda não discutir os condomínios horizontais
como elementos de sua reprodução sócio-espacial, tampouco sobre os conflitos relacionados ao
parcelamento desigual do solo urbano como a falta de acesso a moradia entre outras questões.
Já problemática ambiental ainda desvalorizada pelo poder público em observa e admitir o
potencial que condomínios possuem em causar danos ao meio ambiente.
Como sugestões deve-se pensar em planejamento urbano e ambiental especifico que
contemple os condomínios seriam assim obrigatórios à confecção de estudos ambientais
detalhados e com proposições adequadas a cada modelo de condomínio. E por fins regulamentar
os empreendimentos normas e padrões urbanísticos.
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Fernando Andrade Sousa1 Fausto Flávio Alves2
Carlos Ivan Sousa de Araújo3 Tyago Santos de Carvalho4
RESUMO: Este trabalho objetiva o estudo sobre o saneamento básico na cidade de Campo Maior, abordando, principalmente, o tema da drenagem das águas pluviais e dos esgotos. Campo Maior é uma cidade localizada à latitude 04º49'40" sul e à longitude 42º10'07" oeste, com altitude média de 125 metros. Possui uma área de 1.676 km² e população de cerca de 45.177 habitantes, segundo o senso do IBGE de 2010. O Clima é o tropical, com chuvas mais ou menos intensas no verão, podendo ir de janeiro a junho. A cidade encontra-se na região de confluências dos Rios surubim, Longá e Jenipapo. Além desses importantes rios, que apesar de não perenes, apresentam, nos períodos chuvosos, um volume de água não desprezível, que não raras vezes levam ao alagamento daqueles bairros situados às suas margens, há ainda pequenos córregos ou riachos, como o Longazinho e o Pintadas. Não raro os alagamentos cheguem aos bairros mais centrai, mormente àqueles situados às margens do Açude Grande. A topografia da cidade, alta nas regiões noroeste e sul, com declive em direção aos rios Surubim, Jenipapo e Longá, tornam facilmente alagáveis os bairros Califórnia, Cariri e Matadouro, este último também sob a influência do córrego Pintadas, que inunda, vez por outra, o bairro Vila Papi. Uma ação estatal, no sentido de drenar as águas pluviais e os esgotos é necessária, pois as inundações chegam a atingir mais de 6.000 (seis mil) moradores, o que corresponde a mais de 10% (dez por cento) da população. Palavras-chave: Clima. Chuvas. Inundações. Cursos de água. Escoamento de águas pluviais e de esgotos.
INTRODUÇÃO
O tema do saneamento é tão antigo quanto a idade da colonização europeia do país.
Pouquíssimas cidades foram planejadas, pois os fatores
primordiais eram a distribuição e formatação das ruas e a localização dos principais prédios da
cidade: igreja, prefeitura, câmara, mercado, praça, etc. A drenagem das águas pluviais, o
direcionamento e tratamento do esgoto, o calçamento de ruas, a construção de fossas sépticas, a
construção de estação de tratamento de esgotos foram olvidadas, ignoradas ou realizadas de
forma precária.
1 Bacharel em Direito pela UNINOVAFAPI; docente de graduação em Geografia pela Universidade Federal do Piauí.
2 Docente de graduação em Geografia pela Universidade Federal do Piauí.
3 Docente de graduação em Geografia pela Universidade Federal do Piauí.
4 Docente de graduação em Geografia pela Universidade Federal do Piauí.
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No Brasil, a maioria das cidades surgiu ao redor de um templo católico e da praça que lhe
fazia frente ou a circundava. Campo Maior seguiu o mesmo modelo (PAIXÃO, 2015), tendo sido
construída a primeira capela por volta de 1711, a segunda, no mesmo lugar, por volta de 1779, e
a terceira, também no mesmo lugar, em 1940. Em volta dessas capelas, ao longo da história,
surgiram diversas fazendas, que deram origem à cidade. O estudo do relevo, da topografia do
lugar, do clima, da hidrografia, da vegetação, do direcionamento das ruas, da construção dos
prédios, os serviços básicos, nunca foram pensados ou o foram muito pouco.
Como fazer, agora, o saneamento básico na cidade tendo que enfrentar, além dos
problemas naturais do terreno, como relevo, drenagem das águas pluviais e esgoto, o lançamento
destes nos cursos d‟água; a distribuição dos bairros, ruas e residências? Como enfrentar o
desgaste do incômodo que se há de causar à população com a interdição de ruas, escavações, e,
quiçá, até desapropriações de imóveis? E o estudo a ser feito quanto do impacto ambiental da
construção de estações de tratamento para o tratamento das águas pluviais e do esgoto?
Em 2008 houve uma das maiores cargas pluviométricas já registradas na cidade, o que
causou alagamentos em praticamente todos os bairros de Campo Maior, principalmente naqueles
de relevo mais baixo pelos quais passam os rios e córregos que circundam ou atravessam a
cidade.
A lição de 2008, durante a qual centenas de famílias foram desalojadas, nunca será e nem
poderá ser esquecida. Todos os moradores que moravam às margens do Rio Surubim, do Riacho
Pintadas, do Riacho Longazinho, do Açude Grande, e de outros cursos d‟água, foram afetados,
principalmente os dos bairros mais baixos, como Cariri, Califórnia e vila Papi
Essas fotografias referem-se aos fatos ocorridos em 2008 e que se repetiu, embora em
menor escala, em 2014. É do domínio do saneamento tratar do esgoto da cidade, da assepsia
dos prédios residenciais e comerciais, do calçamento de ruas, e da drenagem das águas pluviais
bem como preparar a cidade para esse tipo de calamidade.
Não se pode olvidar de mencionar que os verões chuvosos de Campo Maior são
responsáveis pelo acúmulo de água que se transformam em criadouros de mosquitos, dentre eles
o Aedes Aegypti, vetor da Dengue, da Zica e da Chikungunya, que assolaram o Brasil de norte a
sul recentemente.
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Assim, saneamento básico não se reduz a calçamento de ruas, mas à otimização da
utilização do espaço físico da cidade pela sociedade, de tal forma a não só extrair o melhor que a
natureza tenha a oferecer (saneamento ambiental) mas, e muito mais, à forma como a sociedade,
através de ações eficazes, devolverá à natureza os elementos que lhes permitirão restaurar-se.
A questão da drenagem e do tratamento das águas pluviais e dos esgotos
O planeta está sobrecarregado. A natureza reage à forma furiosa com que o ser humano
tem avançado contra ela. Desmatamentos; mineração; retirada de materiais para construção;
extinção das matas ciliares; esgotos residências de indústrias e prédios comerciais lançados
diretamente nos rios e córregos; tudo isso nos faz pensar se é realmente possível o alardeado
desenvolvimento sustentável.
Campo Maior é uma cidade plana. Há quem diga que se deve a isso o nome da cidade,
dado também em homenagem à cidade portuguesa de Campo Maior. Não há morros ocupados;
não temos grandes indústrias para verter esgoto nos leitos de rios e córregos. Nosso Açude
Grande, a despeito de já impróprio para o banho ou a recreação, nem de longe se pode comparar
à contaminação do Rio Tietê, na grande São Paulo.
Não se pode esquecer que Campo Maior está localizada na confluência de três cursos
d‟água importantes e de grande volume nos períodos chuvosos que, em alguns anos chegam a
seis meses: os rios Longá, Surubim e Jenipapo. A despeitos de temporários, na época chuvosa o
volume de água desses rios não é desprezível, causando grandes alagamentos na cidade, como
está acontecendo agora em 2018.
Acidade conta com uma autarquia municipal, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de
Campo Maior – SAAE, responsável pelo recolhimento, tratamento e distribuição da água
consumida pela população. A tubulação de distribuição de água, feita por canos instalados no
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subsolo foi recentemente trocada, substituindo-se o encanamento antigo, de amianto ou ferro, por
canos de PVC.
Mexer nesse subsolo a fim de canalizar a água pluvial que corre sobre a superfície
impermeabilizada pelo asfalto, causando inundações, assim como canalizar o esgoto, é um
trabalho complexo. Obviamente um estudo geográfico e geológico para a implantação de um
saneamento básico eficaz em Campo Maior não pode ater-se apenas à sede do município. Toda
a microrregião deve ser considerada para se conhecer o impacto ambiental de medidas de
drenagem das águas e esgotos.
A micro região de Campo Maior é composta pelas seguintes cidades: Alto Longá,
Assunção do Piauí, Boqueirão do Piauí, Buriti dos Montes, Campo Maior, Capitão de Campos,
Castelo do Piauí, Cocal de Telha, Domingos Mourão, Jatobá do Piauí, Juazeiro do Piauí, Lagoa
de São Francisco, Milton Brandão, Nossa Senhora de Nazaré, Novo Santo Antônio, Pedro II, São
João da Serra, São Miguel do Tapuio e Sigefredo Pacheco.
Estudos geológicos já existem para dar sustentabilidade científica à drenagem de águas e
esgotos. Segundo PROJETO CADASTRO DE ABASTECIMENTO POR ÁGUA SUBTERRÂNEA –
Diagnóstico de Município de Campo Maior (AGUIAR, 2004), produzido pelo Ministério de Minas e
energia em março de 2004, o município de Campo Maior é caracterizado da seguinte maneira do
ponto e visto geográfico:
4 - CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CAMPO MAIOR 4.1 - Localização O município está localizado na microrregião de Campo Maior (figura 2), compreendendo uma área de 1.657,1 km2 e tendo como limites ao norte os municípios de Cabeceiras do Piauí, Nossa Senhora de Nazaré e Cocal de Telha, ao sul Alto Longá, Coivaras e Novo Santo Antônio, a leste Cocal de Telha, Jatobá do Piauí e Sigefredo Pinheiro, e a oeste José de Freitas, Altos e Coivaras. A sede municipal tem as coordenadas geográficas de 04 o 49‟40” de latitude sul e 42 o 10‟08” de longitude oeste de Greenwich e dista 78 km de Teresina. (...)
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4.3 - Aspectos Fisiográficos As condições climáticas do município de Campo Maior (com altitude da sede a 125 m acima do nível do mar), apresentam temperaturas mínimas de 28 o C e máximas de 35 o C, com clima quente tropical. A precipitação pluviométrica média anual (registrada, na sede, média anual de 1.305 mm) é definida no Regime Equatorial Marítimo, com isoietas anuais entre 800 a 1.600 mm, cerca de 5 a 6 meses como os mais chuvosos, e período restante do ano de estação seca. Os meses de fevereiro, março e abril correspondem ao trimestre mais úmido da região (IBGE – 1977). (...). As feições geomorfológicas da região compreendem superfície aplainada com presença de áreas deprimidas, que formam lagoas temporárias; superfícies tabulares reelaboradas (chapadas baixas), relevo plano com partes suavemente onduladas e altitudes variando de 150 a 300 metros; superfícies onduladas, relevo movimentado, correspondendo a encostas e prolongamentos residuais de chapadas, desníveis e encostas acentuadas de vales e elevações, altitudes entre 150 a 500 metros (serras, morros e colinas) e superfícies tabulares cimeiras (chapadas altas), com relevo plano, altitudes entre 400 a 500 metros, com grandes mesas recortadas (Projeto Radam, 1973). (grifamos).
Outro estudo importante é o artigo DIAGNÓSTICO DOS POÇOS TUBULARES E A
QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE CAMPO MAIOR – PI
(Veríssimo e outros, 2004)
LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA. A área de estudo constitui o município de Campo Maior, localizado na parte norte do estado do Piauí, a 78 km da cidade de Teresina (figura 1), capital do estado. A sede do município tem posição geográfica determinada pelo paralelo 040 49‟ 40 “de latitude sul e meridiano 420 10‟ 08” de longitude oeste de Greemwich; com área de 1.657 km2 correspondendo a 1,58 % do estado. O acesso rodoviário é feito pela BR-343, a partir da cidade de Teresina. O clima no município (com altitude da sede a 125 m acima do nível do mar) apresenta temperaturas mínimas de 28 o C e máximas de 35 o C (clima quente tropical). A precipitação média atual (1.305 mm) é definida no Regime Equatorial Marítimo, com isoietas anuais entre 800 e 1.600 mm. A rede de drenagem apresenta padrões retangulares, típicos de regiões sedimentares, sendo caracterizada por rios intermitentes, tendo como representantes principais os rios Longá, Jenipapo, Surubim e Maratoã. A geologia local é constituída por rochas sedimentares (formações Piauí, Longá e Cabeças) e basaltos (Formação Sardinha), pertencentes à Bacia do Parnaíba. A Formação Piauí agrupa arenitos finos a médios, folhelhos e calcários, com grande área de exposição. A formação Longá é constituída de folhelhos, siltitos e arenitos. Na parte inferior do pacote repousam os sedimentos da formação Cabeças, constituída de arenitos finos a médios, aflorando somente na poção sudeste do município. Os basaltos ocorrem em pequenos afloramentos na porção sudeste do município. Hidrogeologicamente no município ocorrem os domínios das rochas sedimentares e dos basaltos da Formação Sardinha. O primeiro domínio é constituído pelas formações Piauí, Longá e Cabeças. A Formação Piauí, pela característica litológica (arenitos, siltitos e folhelhos), comporta-se como uma única unidade hidrogeológica. A alternância de leitos mais ou menos permeáveis sugere comportamento de aqüífero e aquitarde. Tendo em vista a ocorrência da Formação Poti representar cerca de 35% da área do município, esta área de exposição torna-se uma opção do ponto de vista hidrogeológico, tendo uma importância relativa como manancial de água subterrânea. A Formação Longá constituise de folhelhos e siltitos, que são rochas que apresentam baixíssima permeabilidade, não apresentando importância hidrogeológica. As características litológicas da Formação Cabeças (arenitos e conglomerados) indicam boas condições de permeabilidade e porosidade, favorecendo assim o processo de recarga por infiltração direta das águas de chuvas. Constitui-se num importante elemento de armazenamento de água subterrânea do município, porém, tem como fator limitante, uma pequena área de ocorrência. O segundo domínio é constituído pelos basaltos da Formação Sardinha. São rochas impermeáveis, sem porosidade primária onde a ocorrência de água subterrânea é condicionada a porosidade secundária representada por fraturas, não representando nenhuma importância do ponto de vista hidrogeológico. (grifos nossos)
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Como em todo projeto de saneamento, principalmente no que se refere à drenagem das
águas pluviais e de esgoto, o levantamento topográfico de toda a zona urbana da cidade é
importantíssimo.
O estudo do relevo de Campo Maior nos mostra em que direção correm as águas e o
esgoto. As do centro da cidade tendem a correr para o Açude Grande, que, por sua delimitação
geográfica, tem levado a alagamentos na área central da cidade. Não houve qualquer
planejamento quanto ao tratamento do esgoto dos prédios construídos ao redor do Açude, fato
determinante para a sua poluição e inutilização para a recreação. As águas e esgotos dos bairros
São Luiz, São João, Lourdes, Parque Recreio, Renascer e Água Azul escorrem naturalmente
para o Rio Surubim, poluindo suas águas, que até poucos anos atrás eram usadas para o lazer.
O Surubim ainda é utilizado por parte da população para esse fim, mas os riscos à saúde são
grandes. Esse risco decorre de que, até bem pouco tempo, havia, na região do Bairro São Luiz,
no limite da zona urbana, o “lixão” da cidade, onde os resíduos sólidos colhidos pela prefeitura
eram lançados sem tratamento algum. Além da produção do chorume, que se infiltra no solo e
contamina os lençóis freáticos, o lixão atraía toda sorte de animais, que por sua vez serviam de
vetores para a proliferação de doenças. As aguas que lavavam o lixão desaguavam no Surubim e
para ele também, pela sua margem esquerda, escorrem, sem tratamento, as águas pluviais e
esgotos dos bairros Flores, Flor do Campo e Santa Rita, bem como, na zona semiurbana, das
localidades Poção I e II.
As condições dos bairros Cariri e Califórnia são mais graves devido ao seu baixo relevo.
Para eles escoam as águas do centro da cidade que, ao se encontrarem com as águas do Rio
Surubim, do Riacho Longazinho e do Córrego Pintadas, provocam grandes alagamentos. A
situação se agrava devido ao costume da população lançar toda sorte de lixo às suas margens.
Para o Córrego Pintadas e para o Riacho Longazinho, correm as águas e esgotos dos
bairros Matadouro, Santa Cruz, Vila Papi, Paulo VI e Bairro de Fátima. Já os bairros mais
distantes na direção leste da cidade, como o Fripisa, Conjunto Lindóia e a semiurbana
Fazendinha, bem como localidades situadas na zona rural naquela mesma direção, desaguam
seus dejetos líquidos sem nenhum tratamento, através de pequenos córregos, nos Rios Longá e
Jenipapo. O mais novo bairro da cidade, o Cidade Nova, lança suas águas e esgoto na Lagoa do
Araim, que fica por detrás do Hospital Regional de Campo Maior, recebendo, deste, alguns
dejetos, sobretudo líquidos.
O município conta com uma autarquia municipal, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto –
SAAE, que tem desempenhado excelente papel na coleta, tratamento e distribuição de água
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potável à população, tendo sido reconhecida como um órgão competente naquilo que se propõe a
fazer, estando entre os trintas melhores do Brasil e se destacando nas Experiências Municipais
mais exitosas. No entanto, se no tratamento da água esse órgão tem se mostrado competente,
quanto ao tratamento do esgoto não se pode dizer o mesmo, sobretudo por deficiência do poder
executivo municipal, que ainda não o capacitou ou lhe outorgou os meios para essa função.
Campo Maior carece de um sistema de drenagem de água e esgotos que os conduzam
para estações de tratamento, também inexistentes. O SAAE Campo Maior, como dito acima,
(Portal O Dia, 22/06/2017), está entre os 30 melhores serviços de tratamento de água do Brasil,
segundo noticiados em vários órgãos de imprensa, como no sitio citado:
O Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Campo Maior, (SAAE), está entre os 30 melhores serviços municipais de água do Brasil, segundo a Associação Nacional dos Serviços de Saneamento, (ASSEMAE). A escolha foi confirmada durante o 47º Congresso Nacional de Saneamento da ASSEMAE em Campinas/SP. Na terça-feira, (20/06), João Lima representou o prefeito Ribamar Carvalho na mesa de honra, ao lado do presidente da ASSEMAE Aparecido Hojaij, do presidente da SANASA Arly de Lara Romêo e várias autoridades de São Paulo e Minas Gerais. Na ocasião, foi lançada a publicação do livro que reúne “Experiências Municipais Exitosas em Saneamento – 2017” destacando relatos de 31 casos de sucesso de ações positivas voltadas para a saúde e qualidade de vida por meio do saneamento, entre elas a cidade de Campo Maior.
A Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – ASSEMAE,1
recentemente publicou reportagem, em seu sitio na internet (ASSEMAE, 2018), a respeito do
SAAE de Campo Maior, nos seguintes termos:
29 de Janeiro, 2018
Saae Campo Maior completa 59 anos
No dia 30 de janeiro o SAAE de Campo Maior (PI) completa 59 anos. E para marcar a data, a direção e os servidores realizaram na sexta-feira (26), uma solenidade alusiva em homenagem à autarquia.
(...)
1 A Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – Assemae é uma organização não governamental sem fins
lucrativos, criada em 1984. A Entidade busca o fortalecimento e o desenvolvimento da capacidade administrativa, técnica e
financeira dos serviços municipais de saneamento responsáveis pelos sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário,
manejo dos resíduos sólidos e drenagem urbana.
A Associação possui reconhecimento e credibilidade nacional e internacional, reunindo quase dois mil associados no Brasil. Em
defesa da universalidade do saneamento básico e melhoria da gestão pública, a Assemae se faz presente nas diversas esferas do
Governo Federal, participando do Conselho das Cidades, Conselho Nacional de Saúde, Conselho Nacional de Recursos Hídricos,
conselhos estaduais de saneamento e comitês de bacias hidrográficas, entre outros.
Ao longo de sua história, a Associação discutiu propostas municipalistas históricas, como a destinação de maior parte do Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço - FGTS para o saneamento, as campanhas sanitárias contra a dengue e cólera, a luta pela
manutenção do Ministério da Ação Social, e ainda as inúmeras mobilizações pela criação de legislação específica para o setor, a
exemplo da Lei do Saneamento (11.445/2007), Lei dos Resíduos Sólidos (12.305/2010), Lei dos Consórcios Públicos
(11.107/2005) e Lei dos Recursos Hídricos (9.433/1997).
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O diretor João Lima fez um levantamento histórico falando desde a fundação aos dias atuais. “Há 59 anos atrás um cidadão campomaiorense teve a coragem de instituir o Serviço Autônomo de Água e Esgoto. Naquela época era chamada de Departamento de Água e Esgoto e funcionava em uma pequena sala dentro da Prefeitura, a partir daí começou a história do SAAE. Em 1970 esse departamento foi elevado à condição de Autarquia Municipal, administrado através da FUNASA. E em 1991 foi destratado o convênio e o SAAE passa a ter autonomia administrativa e financeira diretamente”, lembrou o diretor.
Hoje o SAAE chega aos 59 anos com metas ousadas. Agora em 2018 o prefeito vai decretar a condição do SAAE uma agência executiva para ter condições de conveniar recursos, facilitando a vida burocrática dos órgãos federais e estaduais, sendo um avanço e desafio para os próximos anos.
João Lima falou ainda que ao longo dos anos os serviços do SAAE foram incorporados aos eixos: água, esgoto e drenagem urbana, os resíduos sólidos ficando com a secretaria de limpeza. “Em 2017, ficamos entre os 30 melhores SAAE do Brasil”, enfatizou.
Figura 05 - Construção de galerias subterrâneas para drenagem de água pluviais e esgotos pelo SAAE de Campo Maior
Campo Maior, portanto, conta com uma ferramenta essencial para planejar um saneamento que
vá além do calçamento de ruas e distribuição de água potável, mas, e principalmente, a
instalação de galerias subterrâneas e outras formas de drenagem e tratamento de água e
esgotos, o que resolveria, pelo menos em parte, os problemas de alagamentos. Os pontos mais
altos da cidade são o Centro e os Bairros de Flores, Flor do Campo e Santa Rita. Estão, portanto,
livres de alagamento, mas, por outro lado, lançam as águas que deles escoam no Rio Surubim. O
centro da cidade o faz no Açude Grande.
A cidade decresce em altitude do Oeste para o Leste, e do Norte para o Sul. Assim, Santa
Rita, Flores e Flor do Campo são bairros altos que declinam até chegar ao Rio surubim. A partir
daí, começa o centro da cidade, cujo aclive começa às margens do Rio Surubim, tendo a catedral
de Santo Antônio como um dos locais mais altos, junto com a Prefeitura, o Mercado Público e a
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Rodoviária. Do lado oeste da cidade, as águas descem em direção ao centro, tendo a Av. Santo
Antônio como um divisor: as águas à sua esquerda correm para o Surubim e as da sua direita
para o açude Grande. Parte dessa água corre para os bairros mais baixos de Campo Maior,
indicados alhures. Nesses bairros há, inclusive, regiões de permanentes charcos.
Na direção leste, apesar de um ligeiro declive após a Estação, devido ao Pintadas, o relevo
volta a se elevar, o que torna os bairros Santa Cruz, Fripisa, Lindóia e Residencial Amor elevados
o suficiente para não sofrerem com alagamentos. A exceção é a Vila Papi, que forma o vale do
córrego Pintadas, que recebe também as águas do bairro Paulo VI.
Portanto, a parte sudeste da cidade (bairros Cariri, Califórnia e Matadouro) e a Vila Papi
são as que mais sofrem com alagamentos. Quando as chuvas são mais intensas e fazem
transbordar Rio Surubim, os bairros às suas margens – Água Azul, pela margem direita, e Flores,
pela margem esquerda – são os mais atingidos. Para tentar corrigir ou amenizar esse problema, a
prefeitura de Campo Maior construiu uma bacia ou dique de contenção na margem esquerda do
Rio Surubim e a Av. Surubim na sua margem direita.
CONCLUSÃO
Como ficou demonstrado, o fim deste trabalho é oferecer um estudo pragmático,
estabelecendo paradigmas para alterar a nossa paisagem urbana e solucionar o problema de
drenagem de água e esgotos, não apenas para evitar a poluição dos cursos d‟água, mas também
para evitar as frequentes inundações, mormente nos verões mais chuvosos.
O assunto já é relativamente bem tratado em livros, revistas, artigos e estudos sobre o
assunto - como se pode conferir pelas citações e transcrições feitas -, contendo, inclusive,
levantamento geológico das bacias dos principais rios que banham a cidade, do relevo, do regime
de chuvas, dos aspectos fisiográficos, das feições geomorfológicas, das formações rochosas,
como a Formação Piauí, que se destaca, pela característica litológica, pela presença de arenitos,
siltitos e folhelhos, comportando-se como uma única unidade hidrogeológica, e de como, sob o
aspecto hidrogeológico, ocorrem os domínios das rochas sedimentares e dos basaltos da
Formação Sardinha. As características litológicas da Formação Cabeças (arenitos e
conglomerados) indicam boas condições de permeabilidade e porosidade, favorecendo assim o
processo de recarga por infiltração direta das águas de chuvas.
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Figura 06 - Construção de bacia de contenção no rio Surubim
Ficou cabalmente demonstrado aqui que estudos e meios existem para a instalação de um
programa de drenagem de água e esgotos eficaz. Para tanto, porém, não bastam os estudos
acima transcritos ou indicados, mas uma ação estatal no sentido de construção de estações de
tratamento de água e esgoto.
O enfoque do presente artigo recaiu sobre um dos elementos do saneamento básico, que
é a drenagem das águas pluviais e do esgoto, no sentido de prevenir a poluição dos cursos
d‟água mas também de evitar as constantes inundações como as que aconteceram em 2008,
2014 e que agora, neste exato momento, se repetem.
REFERÊNCIAS
Guimarães; Carvalho e Silva. IT 179 – Saneamento Básico Agosto/2007. Disponível em: <http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/Apostila%20IT%20179/Cap%201.pdf>, acessado em 27/03/2018.
Microrregião de Campo Maior - Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Microrregi%C3%A3o_de_Campo_Maior>, acessado em 06/11/2107
NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. São Paulo: Editora Método, 2009, 3 ed., 362/364.
PAIXÃO, Marcos Vinícios da Costa. Campo Maior: origens. Campo Maior: Edição do Autor, 2015.
Portal o dia. SAAE está entre os 30 melhores serviços municipais de água do Brasil. Disponível em: <https://www.portalodia.com/municipios/campo-maior/saae-esta-entre-os-30-melhores-servicos-municipais-de-agua-do-brasil-300877.html>
Saneamento - Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Saneamento>, acessado em 27/03/2018.
VERÍSSIMO, Liano Silva et al. Diagnóstico dos poços tubulares e a qualidade das águas subterrâneas no município de Campo Maior - PI. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS. 2004, São Paulo. Anais... ABAS: São Paulo, 2004. Disponível em: <aguassubterraneas.abas.org> e < http://www.cprm.gov.br/publique/media/hidrologia/mapas_publicacoes/congresso_aguas_subterraneas/diagnostico_pocos.pdf>
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* OS ARTIGOS PUBLICADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES *
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