CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC
GABRIELLA DE CARVALHO AUSTRELINO
ANTEPROJETO URBANO-PAISAGÍSTICO DE
REQUALIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES DE UM
TRECHO NO CONJUNTO SANTO EDUARDO, POÇO,
MACEIÓ-AL
MACEIÓ-AL
2018/2
GABRIELLA DE CARVALHO AUSTRELINO
ANTEPROJETO URBANO-PAISAGÍSTICO DE
REQUALIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES DE UM
TRECHO NO CONJUNTO SANTO EDUARDO, POÇO,
MACEIÓ-AL
Trabalho Final de Graduação apresentado como requisito parcial, para conclusão do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário CESMAC, sob a orientação da Prof.ª Ms. Carlina Rocha de Almeida Barros e coorientação do Prof.º Francisco André Gomes Santos
MACEIÓ-AL
2018/2
GABRIELLA DE CARVALHO AUSTRELINO
ANTEPROJETO URBANO-PAISAGÍSTICO DE
REQUALIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES DE UM
TRECHO NO CONJUNTO SANTO EDUARDO, POÇO,
MACEIÓ-AL
Trabalho Final de Graduação apresentado como requisito parcial, para conclusão do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário CESMAC, sob a orientação da Prof.ª Ms. Carlina Rocha de Almeida Barros e coorientação do Prof.º Francisco André Gomes Santos
APROVADO EM: _____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
Prof.ª Ms. Carlina Rocha de Almeida Barros
Orientadora
Prof.º Francisco André Gomes Santos
Avaliador Interno
Prof.º Ms. Bianor Monteiro Lima
Avaliador Externo
RESUMO
Este Trabalho Final de Graduação (TFG) tem como objetivo propor um anteprojeto urbano-paisagístico de requalificação dos espaços livres de um trecho no parcelamento Santo Eduardo, Poço, Maceió-AL. Os processos de abandono e privatização dos espaços livres descaracterizam os propósitos destes, que deveriam ser acessíveis a todos, e assim restringem e segregam a população dos espaços. Os mesmos processos podem ser vistos nos espaços livres dos conjuntos habitacionais, e a partir dos benefícios propiciados por estes espaços, faz-se necessário a conscientização da importância destes para as cidades e seus habitantes, de modo que sejam espaços de interligação e que proporcionam qualidade em suas atividades. A partir de embasamento teórico, estudo de correlato e compreensão dos aspectos relacionados ao tema, o anteprojeto visa a integração dos elementos públicos, privados e ambientais que compõem o trecho, requalificando o espaço e resultando na valorização do mesmo.
PALAVRAS-CHAVE: Requalificação urbana. Espaços livres em conjuntos
habitacionais. Integração de espaços urbanos. Projeto de Arquitetura Paisagística.
ABSTRACT
The Final Graduation Project (FGP) aims to propose an urban-landscape draft of requalification for the free spaces of a stretch in the Santo Eduardo, Poço, Maceió-AL. The processes of abandonment and privatization of free spaces deprive their purposes which should be accessible to all, and thus restrict and segregate the population of the spaces, the same processes can be seen in the free spaces of the housing complexes and from the benefits provided by these spaces, it is necessary to raise awareness of their importance to cities and their inhabitants, so that they are spaces of interconnection and that provide quality in their activities. Based on a theoretical background, study of correlate and aspects related to the theme, the preliminary project aims at integrating the public, private and environmental elements that compose the stretch, requalifying the space and resulting in its appreciation.
KEY WORDS: Urban requalification. Free spaces in housing estates. Urban Spaces
Integration. Landscape Architecture Project.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 06
2 RELAÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES COM A CIDADE E OS CONJUNTOS
HABITACIONAIS ..................................................................................................... 09
2.1 Espaços livres: conceitos e tipologias ............................................................ 09
2.2 Os espaços livres nos conjuntos habitacionais e os recentes processos de
privatização ............................................................................................................. 14
2.3 Estudo de correlato ........................................................................................... 20
2.3.1 Requalificação do Cheonggyecheon, Seul – Coreia do Sul ............................ 21
3 LEVANTAMENTO E ANÁLISE DO OBJETO DE ESTUDO: TRECHO DO
PARCELAMENTO SANTO EDUARDO – MACEIÓ-AL ........................................... 25
3.1 Parcelamento Santo Eduardo, Poço, Maceió – AL ......................................... 25
3.2 Levantamento e análise do trecho em estudo ................................................ 27
3.3 Análise dos resultados do questionário .......................................................... 37
4 ANTEPROJETO URBANO-PAISAGÍSTICO DE REQUALIFICAÇÃO DOS
ESPAÇOS LIVRES DE UM TRECHO NO CONJUNTO SANTO EDUARDO, POÇO,
MACEIÓ-AL .............................................................................................................. 43
4.1 Condicionantes do anteprojeto ........................................................................ 44
4.1.1 Condicionantes legais ...................................................................................... 44
4.1.2 Condicionantes ambientais .............................................................................. 45
4.1.3 Análise de conforto ........................................................................................... 46
4.2 O anteprojeto ..................................................................................................... 49
4.2.1 Conceito e Partido Urbanístico ......................................................................... 59
4.2.2 Proposta viária para o trecho em estudo ......................................................... 51
4.2.3 Programa de necessidades .............................................................................. 52
4.2.4 Memorial descritivo e justificativo ..................................................................... 53
4.2.5 Memorial de piso .............................................................................................. 60
4.2.6 Memorial de mobiliário urbano .......................................................................... 62
4.2.7 Memorial botânico ............................................................................................ 65
4.2.8 Comunicação Visual ......................................................................................... 69
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 71
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 72
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO .............................................................................. 75
APÊNDICE B - PRANCHAS ..................................................................................... 79
6
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo geral propor um anteprojeto urbano-
paisagístico de requalificação dos espaços livres de um trecho no parcelamento Santo
Eduardo, Poço, Maceió-AL, diante da importância dos espaços livres em conjuntos
habitacionais, já que estes espaços, quando estruturados, podem proporcionar
qualidade de vida ao moradores de suas adjacências e também são agentes de
integração entre cidade, espaço e habitantes.
O espaço livre urbano pode ser dividido em diferentes tipos, tais como: os
parques, as praças, as ruas, os quintais, os pátios, as calçadas, os terrenos, além de
outros tantos por onde as pessoas transitam no seu dia-a-dia (HIJIOKA et al, 2007).
Teoricamente esses espaços estão assegurados entre as áreas dos
empreendimentos habitacionais, já que segundo a lei federal 6766/79, que trata sobre
o parcelamento do solo urbano, são obrigatórias áreas de uso comum nos
loteamentos, devendo ser prevista uma área equivalente a 35% sobre a área loteável
da gleba destinada a uso público com acesso livre de pessoas, dividindo-se em 5%
para área de equipamentos comunitários, 20% para o sistema viário e 10% para áreas
verdes/livres.
Uma parcela dessas áreas, que inicialmente foram projetadas para uso de
todos, atualmente passa por um processo de privatização, alimentando a segregação
urbana, que pode ser entendida como quando indivíduos e grupos perdem o contato
físico e social com outros indivíduos e grupos no espaço das cidades. Estes processos
acabam por descaracterizar a ideia inicial dos espaços livres, os quais deveriam ser
acessíveis a todos, restringem o movimento de passantes, canalizam percursos e
podem provocar o abandono de muitas áreas públicas (SERPA, 2007).
Diante da questão exposta acima, para o desenvolvimento deste trabalho, tem-
se como objeto de estudo um trecho do conjunto Santo Eduardo, localizado no bairro
Poço, na cidade de Maceió-AL, o qual é configurado por duas quadras de unidades
multifamiliares e um trecho do Riacho Gulandim.
As áreas livres do trecho com o passar dos anos sofreram com o abandono, a
deterioração e as privatizações, os espaços que, a princípio, eram destinados às
áreas verdes, em sua maioria possuem vegetação escassa, e passaram a ser
utilizados como estacionamentos, locais de comércio, delimitados pela construção de
7
muros dos empreendimentos habitacionais, inviabilizando o acesso de todos a essas
áreas, o que se repete em outras quadras do conjunto estudado. O Riacho Gulandim
também encontra-se em abandono, poluído, e não oferece as possibilidades que este
pode proporcionar para o espaço, como por exemplo o lazer próximo a um elemento
ambiental, a relação da população com este elemento e a contemplação do mesmo.
A conformação atual do trecho em estudo (uso indevido nas áreas livres,
degradação e privatização das mesmas, além da presença do elemento ambiental) e
a busca pela melhoria desses espaços por parte da autora deste trabalho (moradora
da área), motivaram a escolha por este, já que a integração entre estes espaços e a
cidade, bem como o verde e as atividades que os mesmos podem proporcionar, está
diretamente ligada à ideia de socialização e bem-estar, logo demostram a importância
da requalificação de espaços que encontram-se ociosos.
Especificamente busca-se compreender sobre a relação dos espaços livres
com a cidade e os conjuntos habitacionais, analisar os aspectos socioespaciais e
ambientais da área em estudo, e contribuir para a melhoria e valorização do trecho de
estudo a partir dos resultados dos levantamentos e análises realizadas sobre o local,
culminando no anteprojeto urbano paisagístico.
Para a elaboração do trabalho em questão, foram utilizados aporte teórico e
estudo de correlato, para compreender os aspectos relacionados ao tema escolhido,
por meio de autores que abordam a temática dos espaços livres, a relação entre os
espaços públicos e privados no meio urbano, como estes se relacionam com o
entorno, sua importância e o frequente abandono destes espaços, proporcionando
embasamento para um projeto de intervenção no local que atende aos usuários do
mesmo.
Foram realizadas visitas ao espaço para levantamento fotográfico,
levantamento físico cadastral (quanto à situação de suas áreas livres/verdes, os usos
que estas estão tendo, situação das privatizações dos empreendimentos habitacionais
e etc.), diagnóstico, juntamente à aplicação de um questionário para compreender o
desejo dos usuários quanto ao local, e assim desenvolver um anteprojeto que atende
às necessidades dos que dele se utilizarão, demonstrando a importância das áreas
livres e da intervenção específica atendendo aos anseios de cada lugar.
Após o estudo do local foi desenvolvido o anteprojeto, analisando as áreas,
para adequação de uso a cada espaço, com produção de conceito/partido, memorial
botânico, desenvolvimento e memorial de mobiliário etc.
8
As etapas seguidas na elaboração desta monografia foram estruturadas em
quatro capítulos, no primeiro a introdução, no segundo abordados os aspectos
teóricos sobre os espaços livres, sua relação com o meio no qual estão inseridos, os
processos de privatização do espaço público, juntamente ao estudo de um correlato,
fundamentando assim a importância destes e de seu conhecimento para elaboração
do anteprojeto.
No terceiro capítulo é apresentado o levantamento e análise de dados
socioespaciais e ambientais do parcelamento, e a análise do questionário aplicado
com usuários da área, de suma importância para uma proposta adequada de
requalificação do espaço, buscando sua reconexão com a cidade.
E por fim, o quarto capítulo apresenta o anteprojeto urbano-paisagístico de
requalificação dos espaços livres de um trecho no parcelamento Santo Eduardo,
Poço, Maceió-AL, tendo como base as leituras realizadas, assim como a dinâmica e
necessidades dos usuários do local identificadas ao longo do capítulo anterior.
Desta forma, observa-se a relevância do presente trabalho para valorização de
áreas urbanas, através da requalificação dos espaços, que por diversos motivos ao
longo do tempo, perderam seu significado na cidade.
9
2 RELAÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES COM A CIDADE E OS CONJUNTOS
HABITACIONAIS
2.1 Espaços livres: conceitos e tipologias
O aumento populacional, o fluxo de pessoas do campo para as cidades e o
surgimento da industrialização em larga escala, foram alguns dos fatores que
acarretaram no crescimento desordenado das cidades, por falta de um planejamento
adequado para as demandas urbanas. A urbanização acelerada nos grandes centros
fomentou a construção civil, e o aumento da densidade construída ocasionou a
diminuição dos espaços livres existentes em favor do surgimento de novas
edificações, fato que é visto até os dias atuais (SHAMS; GIACOMELI; SUCOMINE,
2009).
Segundo Magnoli (1982), “o Espaço Livre é todo espaço não ocupado por um
volume edificado (espaço-solo, espaço-água, espaço-luz) ao redor das edificações e
que as pessoas têm acesso”, sendo assim espaços livres de edificação. Os espaços
livres podem ser privados ou públicos. Os privados compreendem as áreas de
terrenos particulares (lotes, quadras ou glebas) não ocupadas por edificações cujo
acesso é controlado, sendo utilizados por um grupo de moradores/usuários com
características e interesses específicos, como para jardins, lazer, prática de esportes,
estacionamento, etc. Os públicos permitem o encontro com o outro, é onde se
fortalecem as relações coletivas, configurando-se como de uso comum, ou seja,
devendo permitir a acessibilidade de todos (SILVA; BARROS FILHO, 2017).
Os espaços livres públicos organizam-se em rede de forma a permitir a
distribuição e circulação, compreendendo, dentro de suas formas e funções, a
totalidade das vias: ruas e vielas, bulevares e avenidas, largos e praças, passeios e
esplanadas (PANERAI, 2006). Sobre a totalidade destes espaços Hijioka et al (2007)
diz:
O sistema de espaços livres de uma cidade é o conjunto de todos os espaços livres de edificação existentes na malha urbana, sua distribuição, suas conexões e suas inter-relações funcionais e hierárquicas. Portanto, o sistema de espaços livres de uma cidade engloba todos os espaços livres de edificação, ou seja, abarca todos os vazios que envolvem os cheios (volumes edificados) e que estão conectados pela atmosfera e tem uma inter-relação de dependência e hierarquia (HIJIOKA et al, 2007, p. 121).
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Uma das categorias dos espaços livres públicos são as áreas de lazer, que são
todo e qualquer espaço livre de edificação destinado prioritariamente ao lazer, seja
ele contemplativo, onde as áreas são dotadas de um valor cênico/paisagístico
expressivo, onde no interior destas o cidadão apenas passeia, contemplando o
cenário; ou ativo, como uma área para jogos e brincadeiras. Todos os parques, praias
e praças urbanos estão englobados dentro deste conceito, possibilitando por muitas
vezes uma utilização mista, tanto para o lazer passivo, como para o ativo (MACEDO,
1995). Como exemplo os Jardins de Versailles (Figura 01), situado na cidade de
Versailles, França, onde há grandes jardins ornamentais do palácio do século XVII,
canais, estátuas, fontes; e o Parque Ibirapuera (Figura 02), situado na cidade de São
Paulo, que possui ciclovias, passeio, descanso, lanchonetes, campos de futebol,
aparelhos de ginástica, entre outras atrações.
Figura 01 – Espaço livre de lazer passivo (privado), Jardins de Versailles, Versailles, França.
Fonte: https://www.pariscityvision.com/pt/visita-audioguia-versailles-1-dia.
11
Figura 02 – Espaço livre de lazer, Parque Ibirapuera, SP. Fonte:https://www.google.com.br/search?q=parque+ibirapuera&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwityfy92aDaAhUBUZAKHamSAcwQ_AUICygC&biw=1517&bih=735#imgrc=X-Gd-gr2oL5pUM:.
Há também as áreas de circulação, outra categoria de espaço livre que, em sua
maioria, funcionam como locais de passagem e como elementos de estruturação e
interligação entre todos os espaços. (MACEDO, 1995). Como exemplo da categoria
em questão, o passeio localizado na Avenida Amélia Rosa (Figura 03), no bairro
Jatiúca, em Maceió-AL, local que muitos utilizam de passagem pela região.
Figura 03 – Espaço livre de circulação, Avenida Amélia Rosa, Maceió-AL. Fonte:https://www.google.com.br/search?q=canteiro+da+amelia+rosa&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiH2JG1rrXaAhWKk5AKHTwiASIQ_AUIDygA&biw=1366&bih=613#imgdii=I4P5xKgTr
4zc2M:&imgrc=Hw6mJoqT3uDsWM:.
12
Os espaços livres, em geral, podem promover permeabilidade do solo, ao
mesmo tempo em que evitam ocupações indevidas, pois é dado um uso que pode ser
de lazer, recreação, estar, circulação, entre outros, permitindo uma relação de
convivência entre os moradores e usuários (LAY; REIS, 2005).
A carência de espaços livres públicos estruturados, com a destinação para usos
adequados aos usuários e com a devida segurança, ocasiona a sua diminuição nas
áreas urbanas, pois o entorno tende a transformar essas áreas moldando-as conforme
a realidade do local. De acordo com Mendonça E. (2007, s/p.), “a forma do ambiente
urbano se encontra necessariamente relacionada às articulações dos interesses e
esforços sociais e econômicos, envolvendo neste sentido, as pessoas, seus desejos
e intenções”. Com a redução destes espaços nas cidades, a sociedade acaba por
perder todos os benefícios (entretenimento, integração etc.) que os mesmos
proporcionam.
A ociosidade e/ou privatização desses espaços acontecem por diversas
causas. Na cidade contemporânea os atrativos oferecidos em lugares fechados, como
os shoppings e as tecnologias que mantém as pessoas em casa, retiram uma parcela
de usuários destes locais. Cerqueira (2013, p. 83) diz “a incorporação da tecnologia
ao modo de vida urbano é uma realidade inegável, assim como sua influência no
espaço, e também nas transformações sociais e culturais”.
A falta de manutenção dos espaços públicos também afasta os usuários, e por
consequência amplia a sensação de insegurança, que somada à criminalidade real
enfraquece a relação das pessoas com o ambiente (CERQUEIRA, 2013). A relação
entre movimento e segurança é explanada por Jane Jacobs (2000, p.35): “uma rua
movimentada consegue garantir a segurança; uma rua deserta, não”.
A privatização das áreas livres públicas (originalmente abertas) igualmente atua
na transformação dos espaços, de forma que Rocha e Mariano da Silva (2010)
argumentam:
[...] o fechamento dos espaços urbanos em “condomínios” desarticula o tecido
urbano e a malha viária, pois a existência de ruas fechadas e sem saída cria
barreiras que desconectam os espaços, formando “ilhas” e interrompendo a
permeabilidade e fluidez intra-urbana, seja no deslocamento de veículos seja
de pessoas. Além disso, cerceia o direito de ir e vir dos cidadãos,
constituindo-se em uma ação ilegal de acordo com as leis de Ordenamento
do Uso e da Ocupação. (ROCHA, MARIANO DA SILVA; 2010, p. 46).
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Além da privatização por meio do fechamento, há a ocupação irregular
ocasionada pelo tamanho das habitações, que não atendem à realidade de parte das
famílias brasileiras, fazendo com que estas ocupem os espaços para crescimento de
suas moradias, entre outros usos próprios (MACEDO, 2012).
Em maior escala podem ser vistas essas problemáticas nos casos dos espaços
que são construídos seguindo padrões construtivos (independentemente de onde
estes são aplicados), desconsiderando a morfologia e as particularidades do entorno,
ocasionando apropriação por parte da sociedade que molda o local conforme lhe é
conveniente (como citado anteriormente), ou abandono dessas áreas.
Para elucidar o exemplo acima, tem-se a implantação dos Conjuntos
Habitacionais no Brasil. Por volta de 1930, fundamentado a partir dos princípios
modernistas, os modelos adotados não consideraram os desejos e a demanda da
população, impondo modelos popularmente produzidos na reconstrução da Europa
de pós-guerra, sendo, no Brasil, produzidos dois padrões: de casas isoladas nos lotes
com jardins e quintais, voltado para padrões mais populares; e o modelo de edifícios
de apartamentos feitos em série, implantados geometricamente em meio a espaços
verdejantes. Esses modelos foram produzidos em larga escala a partir dos anos 1960
(MACEDO, 2012).
Os espaços livres foram executados de modo econômico, de forma que eram
construídos pequenos estacionamentos, ruas e vias de acessos muitas vezes sem
pavimentação concluída, e as áreas destinadas às praças raramente existiam nos
conjuntos. Na maioria das implantações, os espaços de recreação e lazer não são
nem ao menos projetados, por consequência desta vasta produção de conjuntos foi
gerado um grande volume de espaços livres desprovidos de qualquer forma de
tratamento paisagístico. Aos poucos esses espaços livres públicos vão sendo
ocupados de modos diversos pelos próprios moradores, como: garagens, anexos de
suas moradias, pontos comerciais e outros. Os espaços públicos abertos, sem donos
e sem gestão, abrem precedente para que os moradores usufruam da área com
ocupações irregulares (MACEDO, 2012).
14
2.2 Os espaços livres nos conjuntos habitacionais e os recentes
processos de privatização
Os espaços livres também estão presentes e associados aos conjuntos
habitacionais, disseminados por todo o Brasil. A disposição dessas áreas para os
espaços de uso comum possui relevância para os projetos de habitação, pois quando
bem projetados são importantes para a produção de moradias que ofereçam mais
qualidade de vida aos seus moradores, produzindo espaços de integração entre os
moradores e os demais espaços (CARVALHO; SCHUETT; PATRICIO, 2014).
Em “Planejamento e medição da qualidade de vida urbana”, explanando sobre
a importância de externalidades positivas (as áreas livres como um dos exemplos
destas) para a qualidade de vida relacionada a moradia, compondo itens como
infraestrutura etc., Mendonça J. (2006) diz:
[...] a avaliação da moradia, do ponto de vista do lugar onde ela se situa, tem
implicações que vão além das questões relativas à presença de infraestrutura
ou acessibilidade a serviços públicos e oportunidades de trabalho. A
proximidade de externalidades negativas e de externalidades positivas dá ao
lugar possibilidades concretas de conforto ou desconforto (proximidades de
fontes poluidoras ou, ao contrário, proximidade de áreas verdes exuberantes,
por exemplo) e também um (re)conhecimento social – posição de prestígio
ou, ao contrário, estigma. (MENDONÇA J., 2006, p. 16)
Com frequência os espaços livres dos conjuntos habitacionais são tratados
como resíduos ou locais apenas de passagem ou estacionamento, não recebendo a
devida atenção e não sendo percebidos como lugares da interação social, do
exercício, da troca de diferenças e opiniões, do descanso e do lazer. Estes espaços
precisam ser tratados como lugares onde a vida acontece, e a valorização do projeto
leva a que as pessoas queiram realmente morar nesses conjuntos (NOGUEIRA;
RIGHI, 2008).
Uma parcela dessas áreas, que inicialmente foram projetadas para uso de toda
a população (ao menos como circulação), atualmente passa por um processo de
privatização, alimentando a segregação urbana (processo de dissociação mediante o
qual indivíduos e grupos perdem o contato físico e social com outros indivíduos e
grupos no espaço das cidades). São fatos corriqueiros e facilmente detectados em
15
inúmeras cidades brasileiras através de empreendimentos habitacionais murados,
nas cercas e impedimentos de uso de vias e áreas públicas, bem como na utilização
dessas áreas para implantação de comércios, como por exemplo, espaços para
alimentação, chaveiros e etc. (MACEDO; BAROZZI, 2006).
Tipicamente do urbanismo moderno, idealizou-se um cenário urbano de prédios
isolados a partir de meados do séc. XX. Na cidade convencional, estes padrões,
quando aplicados, praticamente obrigaram a população a uma intervenção drástica
para adequá-los ao seu cotidiano, visto que cada ser humano tem suas próprias
necessidades e demandas. Este é um fato perceptível em qualquer cidade do país
que possua um conjunto habitacional construído por cooperativas ou companhias de
habitação estatais (as antigas COHAB´s1). Nestes lugares, na medida do possível
projetados dentro de cânones modernos, os primitivos espaços livres foram ocupados
e re hierarquizados, transformando a antiga configuração, de caráter modernista, em
um espaço urbano cuja configuração é similar ao da cidade tradicional (MACEDO,
1995). Ou seja, a inicial composição que podia ser vista, edificações e espaços livres,
deu lugar a edificações e áreas com novos usos, onde os moradores se apropriaram
dos espaços que anteriormente eram livres e de uso comum, associando-os aos seus
apartamentos, transformando esses locais em estacionamentos, entre outros usos
privativos.
Como exemplo, o Conjunto Habitacional Prefeito Mendes de Moraes de 1947,
mais conhecido como Pedregulho (Figuras 04 e 05). Exemplo de privatizações, as
soluções plásticas e funcional do mesmo se fundamentam nas correntes teóricas de
pensamento do urbanismo e da arquitetura moderna, que levantaram questões como
a solução dos problemas habitacionais através de cidades ou bairros autônomos, e
as mudanças de hábito para viver a era moderna. Os espaços originalmente
projetados para serem as áreas de lazer do conjunto não funcionaram como tal.
(SILVA, 2006).
1 Entre 1964 e 1965 são criadas, em diversas cidades do país, as Companhias de Habitação Popular
(COHABs), empresas públicas ou de capital misto que tinham como objetivo principal atuar na concepção e execução de políticas para redução do déficit habitacional, sobretudo através de recursos oriundos do BNH. Esse formato de empresa pública convergia com o ideal do governo da época de realizar uma política que tivesse uma gestão baseada em modelos empresariais.
16
Figura 04 – Conjunto Habitacional Prefeito Mendes de Moraes, o Pedregulho,
Rio de Janeiro. Fonte: https://diariodorio.com/historia-do-pedregulho-conjunto-residencial-prefeito-
mendes-de-moraes/.
Figura 05 – Implantação do Conjunto Habitacional “Pedregulho”, Rio de
Janeiro. Fonte: https://pt.slideshare.net/mdtrindade/ed-pedregulho-affonso.
17
A praça entre o posto de saúde e a escola (do conjunto), onde havia um campo
para praticar esportes, o poço de areia para a recreação das crianças e o lago, eram
utilizados pelos moradores de toda comunidade, sendo que o campo foi incorporado
à área da escola e, portanto, cercado. O ginásio, a piscina (Figura 06) e os vestiários
também foram incorporados à escola e os moradores não têm mais acesso. (SILVA,
2006).
Figura 06 – Piscina do Conjunto Habitacional “Pedregulho” gradeada, impossibilitando o acesso dos moradores. Fonte:
https://ocaroco.wordpress.com/2009/04/13/pedregulho-invisivel/.
Um outro exemplo é o Conjunto Habitacional Presidente Getúlio Vargas
(Figuras 07 e 08), de 1953/1954, inspirado, segundo Bonduki (1998), no Pedregulho,
possuía um programa com espaços de uso comum, áreas verdes, parques esportivos,
escola, posto de saúde, mercado e administração que lhe conferiam autonomia. A
moradia era reduzida às funções essenciais dentro de uma área mínima. Também
conhecido como Conjunto Deodoro, foi construído pela Fundação da Casa Popular.
Projeto do arquiteto Flávio Marinho Rego, que formalizou os princípios da arquitetura
moderna, o conjunto é um exemplo significativo das tendências da época, por sua
concepção arquitetônica e urbanística, com 1314 unidades, complexidade do
empreendimento e pelos programas assistenciais (DINIZ, 2007).
18
Figura 07 – Conjunto Habitacional Presidente Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. Fonte:
https://www.google.com.br/search?biw=1366&bih=662&tbm=isch&sa=1&ei=PlcVW_7AEYOBwgSz2524Bg&q=Conjunto+Habitacional+Presidente+Get%C3%BAlio+Vargas&oq=Conjunto+Habitacional+Presidente+Get%C3%BAlio+Vargas&gs_l=img.3...1220554.1220554.0.1221524.1.1.0.0.0.0.133.133.0j1.
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Figura 08 – Implantação do Conjunto Habitacional Presidente Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. Fonte: http://www.dau.puc-rio.br/arquivos/arq1339/arq1339.aula.04.pdf.
19
Neste conjunto, posteriormente o pilotis do térreo foi privatizado, no mesmo
foram construídas moradias independentes. Todos os posseiros da área do pilotis são
parentes dos moradores ou moradores. Alguns fizeram garagens ou abriram um
pequeno comércio, outros ainda transformaram em residência, cada posseiro
construiu o que lhe era conveniente, só que nem todos respeitaram os limites da
projeção do prédio (Figura 09), muito menos recuaram em relação a esta e invadiram
uma área que não lhes pertencia (DINIZ, 2007).
Figura 09 – À esquerda privatização do pilotis do Conjunto Habitacional Presidente Getúlio Vargas, a qual excede os limites da projeção do prédio. Fonte:
http://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/01/061.pdf.
Estes fatos e outros mais, levam a concluir que a imagem "modernista" de
espaço livre urbano verde e fluido é ineficaz para ser transformado em padrão, pelo
menos dentro de uma cidade diversa como a que se apresenta na
contemporaneidade. Esta imagem deve ser substituída por uma visão mais objetiva,
que vise atender às diferentes necessidades sociais de uso de tais espaços de modo
a ultrapassar tais conceitos e se utilizar outros mais adequados à vida urbana
contemporânea (MACEDO, 1995). A privatização dos espaços livres é cada vez mais
comum nas cidades de hoje, especialmente em empreendimentos como os
condomínios, os loteamentos fechados, etc, que não são exemplares modernistas,
mas que são tendências que se estruturam a partir de movimento norte americanos,
20
como o caso dos condomínios, de forma que mais uma vez é trazido um modelo para
o Brasil, não sendo-o necessariamente o adequado.
Desta forma os espaços livres pensados para os conjuntos habitacionais
devem ser projetados de forma especificamente para onde serão implantados e para
quem irá fazer uso destes espaços, a fim de evitar os processos de privatização que
acontecem e que segregam os conjuntos e os moradores do meio.
A segregação é uma tendência da estruturação do espaço ligada à
concentração de pessoas por camadas sociais (ROCHA E MARIANO DA SILVA,
2010). Seguindo essa tendência, os espaços públicos estão se tornando privados,
atendendo a uma demanda da população na busca por segurança (CERQUEIRA,
2013). O projeto dos espaços livres dos conjuntos habitacionais deve ser pensado
como uma contribuição para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes e da
população do entorno do conjunto (NOGUEIRA; RIGHI, 2008).
2.3 Estudo de correlato
O estudo de correlatos é uma importante etapa de embasamento no
desenvolver de um projeto, ele é um recurso que fornece repertório para criação de
propostas, por meio de análise de projetos que se assemelham e/ou fornecem
subsídios para o que estar a desenvolver, assimilando pontos positivos (que podem
compor) e negativos (que não devem estar presentes) no novo projeto.
Durante as pesquisas feitas para o desenvolvimento deste, pôde-se observar
a carência da disposição e realização de projetos de requalificação de espaços
livres para conjuntos habitacionais, e que quando há, esses projetos são
desenvolvidos de forma privada para estes conjuntos (de forma que se encontram
adentrados de muros e gradis), segregados da cidade. Por este fato, este tópico
não apresentará correlatos diretamente ligados a estes, levando-se em
consideração usos para espaços livres em geral, de maneira que o projeto
desenvolvido nesse será um espaço aberto para o trecho em estudo.
Para este trabalho foi escolhido um caso que auxiliará na etapa do
anteprojeto, o qual adotou-se o projeto a seguir por este se tratar de uma proposta
21
de requalificação de um curso d’água, juntamente a um projeto para as áreas livres
que o margeiam.
2.3.2 Requalificação do Cheonggyecheon, Seul – Coreia do Sul
O rio Cheonggyecheon na cidade de Seul, na Coréia do Sul é um canal que foi
criado no período da Dinastia Joseon (1392-1410), seu objetivo era auxiliar no sistema
de esgoto da cidade, mas com o aumento da população e desenvolvimento da cidade
em torno do córrego, deu-se inicio a construção de uma Via expressa elevada sobre
o rio (Figura 10), por volta de 1958.
Figura 10 – Via expressa elevada construída sobre o córrego do Rio Cheonggyecheon, Seul.
Fonte: https://www.fag.edu.br/upload/contemporaneidade/anais/594c0c9f8584d.pdf.
Para atender ao crescimento econômico da cidade e do país, foram
desenvolvidas novas infraestruturas e rodovias com o intuito de atender a grande
demanda de veículos. Entre os anos de 1967 a 1976, o rio foi canalizado e
gradualmente coberto por concreto, criando cerca de 6km de vias elevadas.
22
Durante os anos 90 diversos problemas de segurança foram descobertos e
entre 2000 e 2001, foi notório que a via expressa era insustentável e assim passou a
se concretizar um projeto para requalificação do córrego (Figura 11).
Figura 11 – Intervenção urbana com a restauração do rio e criação de parque linear.
Fonte: https://www.fag.edu.br/upload/contemporaneidade/anais/594c0c9f8584d.pdf.
A ideia de demolir toda a via e restaurar o Cheonggyecheon como um córrego
aberto, uma via de recreação e uma oportunidade para melhorias do meio ambiente,
além de uma área de conservação histórica e um ponto de partida para a revitalização
econômica, ganhou impulso, através do Urbanista e Paisagista Yun-Jae Yang (vice-
prefeito da cidade na época), juntamente com grupo de engenheiros, arquitetos e
paisagistas que foram responsáveis pelas linhas gerais do projeto.
Com a recuperação do rio, foi criado um parque linear de 5,8km de extensão
(Figura 12), incluindo a construção de 22 pontes e outros inúmeros investimentos no
paisagismo.
23
Figura 12 – Extensão do projeto de intervenção urbana realizado no rio Cheonggyecheon.
Fonte: https://www.fag.edu.br/upload/contemporaneidade/anais/594c0c9f8584d.pdf.
O projeto abriga instalações públicas e de uso coletivo como ciclovias, pistas
de caminhada, caminhos alternativos para atravessar o rio sem precisar subir até o
viaduto, áreas de lazer, centro comunitário, museu contando a história da cidade e do
córrego, entre outras atividades envolvendo a população (Figuras 13 e 14).
Figura 13 e 14 – Projeto de intervenção urbana realizado do Rio Cheonggyecheon.
Fonte: https://www.fag.edu.br/upload/contemporaneidade/anais/594c0c9f8584d.pdf.
A hierarquia de passagem entre pedestres e veículos foi reconfigurada, o
espaço que era destinado a circulação de automóveis passou a priorizar os pedestres.
Esta ação, foi de importância fundamental para os numerosos e pequenos negócios
adjacentes ao Cheonggyecheon, já que a nova configuração trouxe a população para
as proximidades, podendo haver novos consumidores para os usos proporcionados
24
por esses comércios, bem como a segurança proporcionada pelos passantes, que
não eram propicias apenas com a passagem de veículos.
A requalificação do rio Cheonggyecheon mostra que a recuperação de cursos
d’água urbanos é possível, e que estes são um atrativo para o desenvolvimento de
atividades em suas margens, valorizando assim os espaços livres com os quais tem
ligação, movimentando a área e proporcionando todos os benefícios que este tipo de
projeto pode oferecer.
Em uma publicação na AU digital, o professor Peter Rowe (2013) fala sobre os
benefícios que a requalificação do rio possibilitou:
O efeito em rede do projeto de restauração foi definitivamente
positivo. Pesquisas confirmam uma grande aprovação pública da
contribuição do Cheoggyecheon para a qualidade ambiental da cidade, além
de ter criado oportunidades de encontro e um novo estilo de vida. Pesquisas
de monitoramento também mostram uma significante diminuição do efeito de
ilha de calor na cidade, ao lado de habitats mais diversificados e fortes. A
atividade econômica tem sido revivida, pelo menos em torno do distrito central
de negócios (o Central Business District), a extremo leste, e na área de
Dongdaemun, na parte central do projeto, nas quais uma vida noturna
renovada e atrações levaram as pessoas de volta à cidade. (ROWE, 2013).
Assim como neste projeto, o trecho no conjunto Santo Eduardo em estudo
possui um curso d’água e do mesmo modo como o rio Cheonggyecheon, pode ser
revitalizado e impulsionar atividades em suas proximidades. Dessa forma o correlato
chama a atenção em proposições como a escadaria às margens do rio, que aproxima
a população do mesmo, podendo também haver usos como a pesca, as diversas
pontes em sua extensão, os variados usos que o margeiam, tornando suas
proximidades espaço de contemplação, convívio e descanso. Estas ideias foram
consideradas na proposta de requalificação dos espaços livres de um trecho no
conjunto Santo Eduardo, Poço, Maceió-AL, assim como desenvolver os demais usos
em suas margens.
Vale ressaltar, que além dos prós citados anteriormente quanto a
contemplação, convívio e descanso, um projeto como esse é um ganho para a cidade
por também trazer valores ambientais, tanto pelo elemento ambiental existente que
25
deve ser preservado como os benefícios da vegetação/arborização presentes em
suas margens.
3 LEVANTAMENTO E ANÁLISE DO OBJETO DE ESTUDO: TRECHO DO
PARCELAMENTO SANTO EDUARDO – MACEIÓ-AL
3.1 Parcelamento Santo Eduardo, Poço, Maceió – AL
Com projeto de 1973, e aproximadamente 1302 metros de extensão em seu
comprimento, localizado no bairro Poço (Figura 15), o Conjunto Santo Eduardo (Figura
16) foi desenvolvido para habitação, de forma a reservar grandes quarteirões para os
edifícios residenciais multifamiliares (nove quadras no total) e quarteirões menores
que foram divididos em pequenos lotes de mesmas dimensões, distribuídos de forma
a conseguir o maior número de lotes possível por quarteirão, para residências
unifamiliares (ROMÃO; SANTOS; BADIRU, 2016).
Figura 15 - Mapa de localização do bairro Poço na cidade de Maceió-AL. Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Po%C3%A7o_(Macei%C3%B3)#/media/File:Po%C3%A7omacei%C
3%B3.png, com adaptações.
26
Figura 16 - Projeto do Conjunto Santo Eduardo, Poço, Maceió-AL.
Fonte: MEP – NÚCLEO DE ESTUDOS MORFOLOGIA DOS ESPAÇOS PÚBLICOS/ UFAL/ CTEC/ ARQ URB – FAPEAL – 2005
O conjunto mantém (Figura 17), em sua maior parte, o padrão de divisão de
lotes de seu projeto, podendo ser observadas mudanças nos usos, como por exemplo,
algumas residências unifamiliares que passaram a ser comércios de bairro. O mesmo
possui um traçado predominantemente ortogonal que o parcela em quarteirões
quadrangulares e retangulares. A presença da forma triangular de dois quarteirões se
sobressai na malha de ângulos retos, estes são divididos pelo córrego Gulandim,
sendo o córrego o único traço diagonal no conjunto. Estes dois quarteirões, junto ao
elemento ambiental, referem-se ao trecho em estudo.
Figura 17 – Recorte do Conjunto Santo Eduardo, Poço, Maceió-AL (atualmente).
Fonte: Google maps, 2018, adaptada.
Ao passar dos anos, os espaços livres do conjunto Santo Eduardo tornaram-se
ociosos, com isso muitos sofreram abandono e/ou foram privatizados (local comum
27
passou a ser murado, usado como estacionamento, entre outros usos). A importância
dos espaços urbanos para a cidade e seus usuários, bem como a necessária
requalificação desses espaços, quando não adequados, motivaram a escolha para a
elaboração deste trabalho, pois a melhoria dos espaços públicos e a conservação dos
mesmos proporciona qualidade de vida, socialização e bem-estar, aos que dele
usufruem.
3.2 Levantamento e análise do trecho em estudo
O trecho em estudo (Figura 18), como dito anteriormente, é composto por duas
quadras residenciais multifamiliares e uma fração do Riacho Gulandim. Para obtenção
de informações sobre o lugar e assim assimilar a atual situação do local culminando
em um anteprojeto que compreenda as necessidades do mesmo, faz-se necessário a
realização de um diagnóstico socioespacial que esclareça problemáticas e demandas
identificadas no trecho em estudo.
Figura 18 – Trecho em estudo.
Fonte: Google maps, 2018.
28
O diagnóstico será desenvolvido a partir da análise de quatro itens, que são:
arborização e áreas permeáveis, que tratará sobre a arborização e as demais
vegetações de outros portes existentes no trecho, o elemento físico (o riacho
Gulandim), a identificação das espécies que prevalecem e sua localização, forma de
utilização, estado de conservação dos elementos identificados e apropriação, uso e
ocupação do solo, que identifica os usos do local e de seu entorno, infraestrutura, que
irá pontuar os elementos de infraestrutura da área e estado em que se encontram, e
sistema viário, hierarquia viária – vias locais, coletoras e arteriais, identificação do
sentido das vias, passeios e estado de conservação destes. A análise foi desenvolvida
embasada nas visitas in loco para realização de levantamento socioespacial e
levantamento fotográfico, que culminaram na elaboração de mapas esquemáticos que
facilitam na identificação das problemáticas e consequentemente das demandas para
o trecho em estudo.
- Arborização e áreas permeáveis
O trecho em estudo possui variada vegetação (mais especificamente árvores),
com maior aglomeração nas extremidades das quadras e nas margens do riacho
Gulandim (Figura 19). Apresenta em sua maioria árvores de grande porte e frutíferas.
No local podem ser encontradas algarobeiras, amendoeiras, mangueiras, entre
outras.
As árvores existentes sombreiam suas proximidades, proporcionando conforto
a estas áreas. Pelo trecho não possuir arborização distribuída, por esta ser
concentrada, no caso de nova distribuição de usos as mesmas não são suficientes,
mas para sombreamento do passeio que margeia o riacho Gulandim e as edificações
presentes na área de estudo, que fazem a conformação atual do local, a porção de
árvores pode ser considerada satisfatória.
Seu entorno imediato é formado na maior parte por residências, sendo assim
não é vista vasta arborização além do próprio trecho, junto a um canteiro próximo.
29
Figura 19 – Arborização do trecho em estudo.
Fonte: Acervo do autor, 2018.
Além da arborização, no recorte há grande área permeável, visto que as
quadras de edifícios não possuem pavimentação, predominando assim terra batida e
poucas vegetações rasteiras.
O riacho Gulandim2 (Figura 20) também compõe o trecho, o conjunto Santo
Eduardo é cortado no sentido Nordeste-Sudeste pelo elemento, afluente pela margem
esquerda do riacho Reginaldo².
² Segundo Coelho (2008, p.08), a nascente do Reginaldo está localizada no Tabuleiro do Martins e deságua na praia da Avenida. Este passa a ser chamado de riacho Salgadinho a partir da planície litorânea.
30
/
Figura 20 – Riacho Gulandim no trecho em estudo.
Fonte: Acervo do autor, 2018.
Atualmente o riacho Gulandim é um elemento que não é valorizado pelos
moradores e/ou população de suas proximidades. Este encontra-se poluído, sem
cuidados e abandonado. De acordo com os cidadãos locais houve tempos em que o
local possuía água limpa.
Para melhor localização e analise destes elementos, foi desenvolvido o mapa
esquemático a seguir.
31
MAPA ESQUEMÁTICO DE ARBORIZAÇÃO E ÁREAS PERMEÁVEIS
32
- Uso e ocupação do solo
Como explanado anteriormente, o conjunto Santo Eduardo foi projetado com
caráter residencial, sendo reservados espaços para equipamentos públicos, como
demanda a lei. Com a contemporaneidade os ambientes se transformam e
atualmente, alguns dos lotes destinados ao uso residencial, transformaram-se em
comércios. Há também no conjunto usos como serviço. Para verificar como
atualmente encontra-se os usos do trecho em estudo e seu entorno elaborou-se um
mapa esquemático para tal.
33
MAPA ESQUEMÁTICO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
34
- Infraestrutura
Quanto à infraestrutura, pode ser visto que o local de estudo possui iluminação
pública, pavimentações nos passeios e nas vias e alguns mobiliários urbanos. Mas
apesar disso, ao pontuar cada um destes, vê-se que são insuficientes para o local. Há
trechos que não há pavimentação ou que estas estão degradadas. Mesmo com
algumas lixeiras, o número é insuficiente (Figuras 21, 22 e 23), já que há locais com
acúmulo de lixo no chão. Não existem bancos, e a parada de ônibus é sinalizada, mas
não há abrigo.
Figura 21 e 22 – Lixeiras no trecho em estudo.
Fonte: Acervo do autor, 2018.
Característicos no trecho em estudo e um dos pontos de abordagem do
presente trabalho são os muros (Figura 23 e 24). Eles vêm se expandindo pelo trecho,
criando ilhas de condomínios nas quadras e segregando os espaços.
35
Figura 23 e 24 – Muros no trecho em estudo.
Fonte: Acervo do autor, 2018.
- Sistema viário
Nas margens do trecho encontram-se: a via principal, de maior fluxo (Rua
Capitão Marinho Falcão) que funciona como via de ligação entre os bairros Jatiúca-
Poço-Farol e pela qual há a circulação de transporte coletivo com parada no trecho
em estudo mas que não possui abrigo; e as vias secundárias, de menor fluxo (Rua
Luiz Alberto Barreiros, Rua Dep. Joao Malta Tavares, Rua Pres. Augustinho da Silva
Neves, Rua Poe. Lourival Passos e Rua Srg. Benevides Montes), que funcionam
como rota alternativa. (Figura 25).
36
Figura 25 – Esquema de sistema viário.
Fonte: Google maps, 2018, adaptada.
Por não haver estacionamentos formais na área, os moradores, assim como
outros, improvisam os mesmos nas áreas livres e nas vias próximas (Figuras 26 e 27).
Há passeio nas imediações que em maioria encontram-se em más condições, porém
as quadras do trecho de estudo não possuem.
Figura 26 e 27 – Estacionamentos improvisados.
Fonte: Google maps, 2018, adaptada.
37
3.3 Análise dos resultados do questionário
O questionário foi aplicado com 24 pessoas, sendo um morador de cada
pavimento, em cada uma das 8 unidades multifamiliares que compõem o trecho,
para obtenção de informações pertinentes ao desenvolvimento do anteprojeto e
análise da realidade do local entre os dias 17 e 19 de julho de 2018. O
questionário foi aplicado em forma de questões objetivas e também foram
coletados dados quando os moradores discorriam sobre as questões presentes.
Para compreensão dos anseios dos moradores e perfil dos mesmos, foi
perguntado a estes a faixa etária dos moradores do apartamento, o tempo em
que eram moradores do Conjunto Santo Eduardo, o ponto de vista sobre a
infraestrutura do Conjunto Santo Eduardo e proximidades do Riacho Gulandim,
quanto às calçadas, segurança, limpeza, iluminação, áreas de lazer, arborização
e mobiliário urbano. Também foi perguntado como os moradores usufruem das
áreas livres que há nas proximidades de sua moradia, locais que costumam
frequentar nas horas livres, o que gostariam que fosse implantado nas áreas
livres do Conjunto e especificamente se seriam favorável à retirada dos muros
diante de um projeto para integração das áreas, já que neste trabalho é abordado
a questão das privatizações dos espaços livres, fato que acontece no conjunto.
Os resultados do questionário serão analisados graficamente a seguir:
O primeiro gráfico simboliza a porcentagem de pessoas do sexo masculino
e do sexo feminino que compõem os apartamentos nos quais o questionário foi
aplicado, onde é possível visualizar que a maioria são do sexo feminino, que
representam 69,5 %, enquanto os do sexo masculino representam 30,5 %.
38
Gráfico 01 – Quanto ao sexo dos moradores que compõem os apartamentos nos quais o questionário foi aplicado.
Fonte: Austrelino, 2018.
O segundo gráfico apresenta a faixa etária das pessoas que compõem os
apartamentos nos quais o questionário foi aplicado, essa variação de idade
mostra a possibilidade de diferentes perfis de usuários para as áreas livres a
serem requalificadas, fazendo assim necessário entender as vontades de cada
para uma proposta adequada.
Gráfico 02 – Quanto a faixa etária dos moradores que compõem os apartamentos nos quais o questionário foi aplicado.
Fonte: Austrelino, 2018.
39
Vê-se que a maior parte dos moradores que compuseram o questionário
é de adultos. O baixo índice de moradores abaixo dos 15 anos pode levar a
conclusão de que famílias que possuem estes em sua configuração optam por
residências que possuam estrutura para os mesmos e que não é encontrada no
trecho em estudo.
O terceiro gráfico mostra o tempo que os entrevistados moram no
conjunto, sendo o maior percentual de moradores que estão a mais tempo, de
forma que estes puderam acompanhar a evolução do conjunto e assim adquirir
uma relação com o mesmo.
Gráfico 03 – Quanto ao tempo de moradia no Conjunto Santo Eduardo.
Fonte: Austrelino, 2018.
O gráfico 04 aponta o nível de satisfação (ou insatisfação) dos moradores
quanto à infraestrutura do conjunto, onde os itens relativos à iluminação e arborização
obtiveram maior equilíbrio comparados aos demais. As calçadas foram consideradas
em estado regular de conservação em sua maioria. No que diz respeito às lixeiras,
embora haja insatisfação com as mesmas (há algumas pelo conjunto mas a maior
parte encontra-se degradada), os moradores estão satisfeitos com a limpeza do
trecho, advinda de uma boa coleta do lixo.
40
Gráfico 04 – Quanto a infraestrutura do Conjunto Santo Eduardo.
Fonte: Austrelino, 2018.
Os moradores mostram-se insatisfeitos com a segurança do local, mas citam
que esta sensação é de um todo da cidade, não restrito às proximidades de sua
moradia, e há também aqueles que consideram que a segurança na área é regular.
Os dois maiores itens de insatisfação são quanto às áreas de lazer e aos
bancos, que estão diretamente ligados às áreas livres e demonstram a necessidade
destes para os moradores.
O gráfico 05 mostra como os moradores usufruem das áreas livres do conjunto,
podendo ser escolhida mais de uma alternativa. Nenhum dos moradores entrevistados
utilizam essas áreas para lazer, 37,5% dos entrevistados consideram usar essas
áreas para convívio, 50% usam para estacionamento e 25% não usufruem.
Gráfico 05 – Como usufrui das áreas livres do Conjunto Santo Eduardo.
Fonte: Austrelino, 2018.
41
O gráfico 06 mostra os locais que os entrevistados costumam frequentar nas
horas livres. Nenhum dos moradores considerou praças como um local que
frequentam nas horas livres, reforçando a necessidade da criação de atrativos no
trecho para que os usuários tenham vontade de frequentar esse tipo de uso, 75% dos
entrevistados vão aos shoppings e 37,5% frequentam também praias, bares e
restaurantes.
Gráfico 06 – Locais que costuma frequentar nas horas livres.
Fonte: Austrelino, 2018.
O gráfico 07 exibe as intenções de usos e equipamentos para as áreas livres
do Conjunto Santo Eduardo. Foram dispostos nove itens que poderiam ser de
interesse dos moradores. Todas os itens dispostos no questionário foram opção para
50% ou mais das pessoas entrevistadas, o que demonstra a necessidade desses usos
e equipamentos para o entorno das unidades habitacionais em estudo. Os resultados
deste gráfico auxiliam no desenvolvimento do programa de necessidades para os
espaços livres do anteprojeto.
42
Gráfico 07 – Quanto aos usos e equipamentos para as áreas livres do Conjunto Santo Eduardo.
Fonte: Austrelino, 2018.
Playground e estacionamento estiveram nas escolhas de 50% dos
entrevistados, o número abaixo dos demais itens está relacionado a faixa etária entre
os moradores que compõem a pesquisa. Não havendo muitas crianças, há uma
tendência à diminuição da opção do playground. Quanto ao estacionamento, o
número está diretamente ligado aos que já fazem este uso nas áreas livres do
conjunto. Todos os demais itens tiveram altas porcentagens como opções a serem
implantadas, sendo as lixeiras unanimidade entre os entrevistados.
Por fim no questionário foi perguntado se os moradores seriam favoráveis à
retirada dos muros (construídos ao longo do tempo) diante de um projeto para
integração das áreas, o resultado está presente no gráfico 08.
43
Gráfico 08 – Quanto à retirada dos muros diante de um projeto para integração das áreas.
Fonte: Austrelino, 2018.
A retirada dos muros é um importante ponto para recaracterização do conjunto
bem como fator para integração dos espaços e seus habitantes. A sensação de
segurança trazida pelos muros passou a ser cultural ao longo dos anos e este é o fator
indicado pelo qual a maioria dos entrevistados responderam o não, 58,3%.
Logo, é possível perceber que o Conjunto Santo Eduardo possui alguns
problemas quanto à infraestrutura de seus espaços livres e que a resolução desses
são de anseio dos moradores, para isto o desenvolver do anteprojeto urbano-
paisagístico neste trabalho, proporcionando assim melhorias ao local.
4 ANTEPROJETO URBANO-PAISAGÍSTICO DE REQUALIFICAÇÃO DOS
ESPAÇOS LIVRES DE UM TRECHO NO CONJUNTO SANTO EDUARDO, POÇO,
MACEIÓ-A
Neste capítulo será tratado sobre o anteprojeto urbano-paisagístico de
requalificação dos espaços livres de um trecho no Conjunto Santo Eduardo, produto
que é resultado de aporte teórico sobre o tema e diagnóstico do local (através de
visitas ao mesmo e aplicação de questionário com os moradores das edificações
44
situadas no trecho). Dessa forma o capítulo tratará de algumas diretrizes que
embasam a proposta, assim como do anteprojeto em si e suas especificações
necessárias. Após as etapas elaboradas anteriormente, foi possível identificar as
necessidades do trecho e assim desenvolver um anteprojeto para requalificação das
áreas em questão, o qual tem por objetivo contribuir para melhoria e valorização do
trecho, buscando promover maior integração entre o espaço público e privado, as
edificações e seus residentes.
4.1 Condicionantes do anteprojeto
Para desenvolvimento do anteprojeto, assegurando que este alcance as
expectativas daqueles que dele irão usufruir, tem-se a importância dos condicionantes
que direcionam as implantações para este projeto. Dessa forma, foram determinados
alguns condicionantes básicos a serem considerados: condicionantes legais,
condicionantes ambientais e análise de conforto.
4.1.1 Condicionantes legais
O anteprojeto deve considerar duas questões legais essenciais: o fato de se
tratar de um conjunto habitacional regido por lei federal e municipal; e a presença no
trecho em estudo de um curso d´água canalizado que possui determinações legais de
afastamento em relação às suas margens segundo lei municipal.
Para os conjuntos habitacionais não existe uma lei especifica sobre a
requalificação das áreas livres, apenas que estes espaços estão assegurados entre
as áreas destes empreendimentos, já que segundo a lei federal 6766/79 que trata
sobre o parcelamento do solo urbano, são obrigatórias áreas de uso comum no
parcelamento, devendo ser prevista uma área equivalente a 35% sobre a área loteável
da gleba destinada a uso público com acesso livre de pessoas, dividindo-se em 5%
para área de equipamentos comunitários, 20% para o sistema viário e 10% para áreas
verdes/livres.
Mediante a lei 6766 e a previsão de áreas livres com acesso público, a proposta
do anteprojeto irá considerar a retirada dos muros que impossibilitam o livre acesso,
45
retomando assim uma característica originalmente prevista no projeto. Porém,
considerando a opinião da população, que em sua maioria defende que os muros
sejam mantidos por estes lhes proporcionarem segurança (como pode ser visto com
o questionário), serão propostos recursos que possibilitem a sensação de segurança
e privacidade após a retirada dos muros, como por exemplo as cercas vivas que
delimitam, mas permitem maior permeabilidade visual e conexão com o entorno.
No âmbito municipal, o Código de Urbanismo e Edificações de Maceió (2007),
trata sobre as faixas de proteção e domínio no artigo 158, quando no caso de cursos
d´água canalizados são previstos 5,00 m (cinco metros) de afastamento ao longo de
cada margem dos cursos d’água, sem áreas edificadas. É de extrema importância o
conhecimento (e adequação quando possível), das normativas que atuam em projetos
de todos os âmbitos. O trecho em estudo no Conjunto Santo Eduardo possui
edificações afastadas em mais de 10 metros das margens do Riacho, atendendo
assim às limitações requeridas, que também são consideradas no anteprojeto.
4.1.2 Condicionantes ambientais
O riacho Gulandim, além de estabelecer um condicionante legal, que são as
restrições à ocupação das suas margens; também é um condicionante ambiental,
visto que é um elemento natural que norteou o projeto desenvolvido para o trecho. O
riacho corta o Conjunto Santo Eduardo no sentido Nordeste-Sudoeste. Parte do riacho
foi canalizada a partir de 1972, compondo o sistema de drenagem da região.
De acordo com os moradores do conjunto, o riacho nem sempre foi poluído e
negligenciado como pode ser encontrado atualmente, houve tempos em que o local
possuía água limpa. Recuperar este elemento pode proporcionar diversas
possibilidades para o espaço e seu entorno, como por exemplo, o lazer próximo ao
mesmo e a relação da população com o elemento, incentivando a sua conservação.
Por ser um elemento natural e central no trecho em estudo, direcionou parte
das escolhas de implantação do projeto, para isso, sua mureta foi removida, foram
criados passeios e taludes gramados e usos desenvolvidos em suas margens,
integrando todo o trecho, tendo assim este elemento influenciando diretamente no
resultado do anteprojeto de requalificação.
A arborização existente no trecho também atua como um condicionante desta
categoria, presentes em maior concentração nas extremidades do trecho e no centro
46
do mesmo, foram mantidas em sua maior parte, condicionando a composição vegetal
do anteprojeto. As árvores são uma estratégia natural de sombreamento e
proporciona conforto térmico, entre outros benefícios, levando assim a ser uma opção
de área para locação de usos.
4.1.3 Análise de conforto
Considerando que o anteprojeto será desenvolvido para as áreas livres de um
trecho no Conjunto Santo Eduardo, o conforto térmico é fundamental para o bem-estar
dos usuários, já que os fatores climáticos atuam diretamente no local, sendo assim
foram analisados, orientação solar e ventos predominantes (Figura 28), na posição da
área em estudo.
A cidade de Maceió caracteriza-se por clima quente e úmido, com temperatura
média anual em torno de 25ºC e pequena variação térmica anual (3,4ºC), possui alta
umidade relativa média (78%), velocidade média anual dos ventos de 2,8m/s a
Sudeste (mais frequente), junto ao vento nordeste e pluviosidade considerável,
1654mm anuais (BARBIRATO et al, 2002).
47
Figura 28 – Atuação de fatores climáticos em trecho do Conjunto Santo Eduardo. Fonte: Google maps, 2018, adaptada.
O trecho possui arborização e edificações que influenciam na atuação dos
fatores. As edificações que conformam o trecho são verticais, desta forma uma parte
dos edifícios são obstáculos para a passagem dos ventos sudeste. Já os ventos
nordeste circulam com maior fluidez no trecho (principalmente na área central), pois o
entorno é em sua maioria horizontal e não formam barreiras para passagem do vento.
A arborização e as edificações do local interferem também quanto à insolação,
estas podem auxiliar no sombreamento do local, colaborando para ambientes mais
agradáveis. Para visualização deste processo e entendimento de como proceder com
relação aos fatores climáticos na elaboração do anteprojeto, foi desenvolvido um
estudo de insolação sobre o trecho (Figuras 29 e 30). O estudo mostra o
sombreamento no local às 9h, às 12h e às 16 horas, no solstício de inverno (21 de
junho) e no solstício de verão (21 de dezembro).
48
Figura 29 – Sombreamento no trecho do Conjunto Santo Eduardo (solstício de inverno).
Fonte: Austrelino, 2018.
Figura 30 – Sombreamento no trecho do Conjunto Santo Eduardo (solstício de verão).
Fonte: Austrelino, 2018.
49
O trecho possui sombreamento pontual durante a manhã, insolação direta ao
meio dia (ocasionada pela posição do sol) e maior sombreamento durante a tarde,
nas duas épocas do ano. O local dispõe de maior proteção no período do dia em que
as temperaturas tendem a aumentar e acontece em maioria na parte central, nas
proximidades do riacho Gulandim, onde há concentração arbórea, auxiliada pela
posição das edificações que também sombreiam o local. As áreas onde sempre há
insolação são as que não possuem em suas proximidades arborização, podendo a
disposição arbórea no local ser uma estratégia de sombreamento.
Essa análise é necessária para a produção do projeto, pois auxilia na
distribuição dos usos e na elaboração de estratégias que sejam necessárias, para
que, junto as demais características, se tenha como resultado um projeto que
proporcione conforto urbano.
4.2 O anteprojeto
O anteprojeto é o resultado da soma de todos os fatores citados anteriormente,
sendo desenvolvido de forma a integrar todo o trecho, gerando assim espaços que
propiciam diferentes usos.
4.2.1 Conceito e Partido Urbanístico
Durante o desenvolvimento deste trabalho, falou-se sobre a relação dos
Conjuntos Habitacionais com suas áreas livres, de como estas áreas encontram-se
muitas vezes ociosas, e também o quanto é comum haver apropriações indevidas
desses espaços quando estão nas adjacências dos conjuntos (como estacionamento
em locais que não tinham essa finalidade, aumento das próprias edificações, os
“puxadinhos”), apropriações estas que são frequentemente ocasionadas a partir de
uma inicial ociosidade das áreas em que as mesmas acontecem. Estes fatores geram
segregação do espaço e causam a sensação de insegurança quando há falta de uso
nesses locais.
Diante destes fatos, o anteprojeto tem como conceito INTEGRAR: espaços e
usuários, de forma que com a junção dos espaços das vias suprimidas aos terrenos
das edificações será gerada uma grande quadra, e nesta a integração dos espaços,
50
construídos e livres, ligados ao elemento natural como uma extensa área livre de lazer
e permanência, com diversidades de usos para todos os usuários.
Como elemento central do processo de integração, adotamos como partido o
riacho Gulandim, que embora hoje divida o trecho, será o elemento conector da
proposta. Este será uma área de contemplação e que reunirá os novos usos dos
espaços livres em suas margens, assim como as pontes-decks que ligarão um lado
ao outro do Riacho, e gerarão espaços de convívio e contemplação do Riacho.
Buscando essa conexão, foi também desenvolvida uma identidade visual envolvendo
o Riacho, a qual estará presente no projeto de algumas formas. (Figura 31).
Figura 31 – Identidade visual criada para o anteprojeto.
Fonte: Austrelino, 2018.
A identidade visual produzida é composta por quatro elementos, em seu centro há um
círculo na cor azul, representando o Riacho Gulandim, que também está na identidade
visual representado na direção em que este corta o terreno (vazio entre as linhas
curvas brancas). As duas linhas curvas brancas representam os espaços
(construídos: a cidade, as habitações; e as áreas livres) e os usuários, que se unem
para este projeto, juntos em um círculo cinza simbolizando o trecho requalificado. A
forma circular representa a ideia de integração de todos, e a cor cinza advém da
mistura do branco (junção de todas as cores do espectro de cores) e preto (resultado
51
de cor quando misturamos quimicamente), a ideia de integração esteve presente em
cada uma das escolhas. Esta estará atrelada a uma proposta de comunicação visual
no projeto, com placas, sinalização e escolhas para algumas áreas do projeto.
4.2.1 Proposta viária para o trecho em estudo
O trecho escolhido para implantação do anteprojeto (Figura 32), atualmente
consiste em duas quadras (115 e 116 do Conjunto Santo Eduard), cortadas
diagonalmente pela rua Dep. João Malta Tavares e pelo Riacho (canalizado)
Gulandim.
Figura 32 – Trecho do Conjunto Santo Eduardo (configurações atuais).
Fonte: Austrelino, 2018.
Observou-se que as vias internas ao trecho não possuem grande fluxo e as
vias do entorno proporcionam total fluidez na circulação dos veículos. Assim, para o
anteprojeto em desenvolvimento, as ruas que cortam a quadra foram extintas,
52
transformando as duas quadras em uma grande quadra (Figura 33) conectada pelo
Riacho que atua como elemento central e referencial do trecho.
Figura 33 – Trecho do Conjunto Santo Eduardo (proposta viária do anteprojeto).
Fonte: Austrelino, 2018.
Esta nova configuração possibilita integração total do trecho, aumentando a
área de uso das residências multifamiliares situadas no local, tornando-a uma grande
área livre e de lazer extensiva a todo o conjunto e à cidade, podendo priorizar usos às
margens do riacho, dando destaque a este elemento.
4.2.3 Programa de necessidades
Para apropriação do espaço por parte dos moradores, foi desenvolvido um
programa de necessidades (Figura 34) que atenda à demanda do público alvo,
demanda esta que foi colhida através do questionário e de conversas com os
moradores, resultando em espaços que propiciam integração, lazer e esporte.
53
Figura 34 – Tabela de programa de necessidades.
Fonte: Austrelino, 2018.
Com a criação deste foi possível dar uso a espaços ociosos, como as áreas
que ficavam externas aos muros no terreno das edificações, proporcionar usos que
não haviam no trecho, como os quiosques, espaços para esporte etc., que eram
anseios dos moradores e que foram informados através da aplicação do questionário;
e potencializar outros, como por exemplo a criação de um espaço para redário, que já
é uma prática adotada por alguns moradores do trecho.
4.2.4 Memorial descritivo e justificativo
Diante da proposta de integração, partindo do resgate do modernismo, em que
haviam áreas integradas a cidade com passagens livres, mas considerando o
momento presente em que as pessoas se adequam priorizando a segurança,
inicialmente o trecho para requalificação foi transformado em uma grande área na qual
seus setores foram distribuídos, sendo o equilíbrio entre esses dois pontos um dos
objetivos do projeto.
Para este projeto (Figura 35) foram retirados todos os muros construídos
posteriormente ao projeto inicial do conjunto, caracterizando a proposta inicial de
áreas abertas, sendo criada uma cerca viva para delimitação de espaço, nos limites
externos do trecho, onde as mesmas limitam a circulação (característica dos muros)
com permeabilidade visual, principalmente aos moradores térreos, que assim
adquirem mais privacidade. A ausência de usos próximos a estes espaços também
direciona as pessoas aos locais destinados ao encontro.
54
Figura 35 – Proposta de requalificação para o trecho.
Fonte: Austrelino, 2018.
De modo que áreas livres se situam junto a edificações, o conforto e privacidade
dos moradores foram sempre pensados, sendo assim todas as áreas próximas às
janelas de quartos e salas foram preservadas da proximidade de usos geradores de
barulho, ou que de alguma forma interfeririam no dia a dia destas pessoas.
Para o desenvolvimento dos caminhos e traçados do projeto, partiu-se da
geometria característica dos edifícios do trecho. A distribuição de atividades se realiza
no interior da quadra (Figura 36), nas áreas próximas ao riacho Gulandim, que é o
ponto central do projeto.
55
Figura 36 – Área central.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Nestas áreas foram distribuídos usos como a academia (Figura 37), que
proporcionará aos moradores um espaço para atividades físicas. Este espaço é
delimitado com piso emborrachado cinza, em forma circular (destacando-se dos
demais traçados), pois proporciona a interação entre os que por ali estão (a forma
circular não possui “cantos” como outras formas, a sensação de convívio é
aproximada por esta), assim como o playground (Figura 38) segue as mesmas
configurações, fazendo proveito da forma circular, que remete a identidade visual do
projeto, demarcando a área para esses usos específicos (Figura 39).
56
Figura 37 – Academia.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Figura 37 – Playground.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
57
Figura 39 – Academia e playground remetem a identidade visual.
Fonte: Austrelino, 2018.
Como entretenimento, além do playground disponibilizou-se também mesas
para jogos. Sombreados por ipês foram locados os redários (Figura 40), uso
potencializado pelo projeto, mas já existente próximo ao Edifício Santa Inez por
moradores que faziam uso de redes externas a sua moradia.
Figura 40 – Redário.
Fonte: Austrelino, 2018.
58
Também foram locados quiosques e mesinhas (Figura 41) nas proximidades
do riacho, gerando áreas de permanência e nas quais pode-se ter espaços de
alimentação.
Figura 41 – Espaços de alimentação e permanência.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Como local de permanência e contemplação, também foi locada uma escadaria
(Figura 41) às margens do riacho, possibilitando a convivência e o contemplar deste
elemento, além de atividades como pesca, considerando a sua revitalização. A
escadaria também funciona como acesso para um passeio mais próximo ao nível do
riacho (Figura 42), onde foram locados bancos para que os usuários pudessem
aproveitar o local.
59
Figura 42 – Escadaria.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Figura 43 – Passeio ao nível do riacho.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
60
A travessia de uma margem a outra se dá por duas pontes (Figura 43) que
ligam um lado ao outro do riacho e também funcionam como espaços para convívio.
Figura 43 – Ponte-deck.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Por ser desenvolvido para os moradores das quadras que ocupam o trecho,
entre os usos foi proposto estacionamento, locados em áreas do trecho próximas às
edificações. Foram distribuídos em quatro setores, totalizando 96 vagas, sendo uma
vaga por apartamento.
4.2.5 Memorial de piso
Para a pavimentação do trecho, foi escolhido de forma predominante o piso
intertravado, por este ser versátil, de fácil execução, de tráfego seguro e
principalmente, por proporcionar uma drenagem eficiente.
O piso foi escolhido em duas cores para demarcação de espaços, sendo elas:
na cor natural, para o passeio externo do entorno e o passeio as margens do riacho,
e na cor amarela, para os caminhos que se relacionam com os edifícios. O tom natural
61
também está presente no estacionamento, nas áreas que dão acesso as vagas e nas
vagas o uso do cobograma.
No passeio central/livre, onde se situa o ponto de integração do projeto com
suas diversas funções, utilizou-se o piso drenante cinza, que assim como o piso
intertravado possui alta absorção de água. Por possuir uma grande parcela
pavimentada deu-se a escolha por este, sendo o mesmo bastante resistente,
antiderrapante e atérmico.
Figura 44 – Tabela de memorial de piso.
Fonte: Austrelino, 2018
62
Há também o piso emborrachado cinza, que ficará em áreas que podem ter
algum impacto (academia e playground). Este piso estará disposto de maneira a
delimitar espaços a partir da forma circular por conta da ideia de união que se objetiva
com o projeto, como citado anteriormente.
Para a ponte-deck e a escadaria do talude optou-se por ripas de madeira de
eucalipto tratado, mantendo a identidade que tem se seguido no projeto.
4.2.6 Memorial de mobiliário urbano
Os mobiliários locados no trecho do anteprojeto visam colaborar com as
atividades que foram sugeridas para as áreas livres. Com exceção dos mobiliários que
foram especificados de acordo com o que é encontrado no mercado, os demais foram
desenvolvidos como ripas de madeira como elemento principal.
Os equipamentos dispostos na academia possuem material de acordo com o
disponível no mercado (metal e borracha), que apresentam baixa manutenção e alta
durabilidade, ideais para o uso para os quais foram especificados, com cores em tons
de azul, já que esta cor foi escolhida como uma das cores do projeto.
Assim como a cor azul, a madeira também foi escolhida para o projeto, esta
como material predominante. Em madeira foram desenvolvidos os bancos (Figura 45),
dispostos em alguns locais do passeio, que estão dispostos de forma isolada ou em
agrupamentos de dois ou mais bancos.
63
Figura 45 – Bancos desenvolvidos para o projeto.
Fonte: Austrelino, 2018
Durante todo o trecho também são encontradas as lixeiras (Figura 46),
disponíveis tanto para as habitações como para a grande área de convívio, em
unidades para lixo orgânico e para reciclagem, incentivando assim a coleta seletiva
neste local. Estas lixeiras são confeccionadas em madeira eucalipto com 70
centímetros de altura e com pinturas que variam de acordo com o tipo da coleta
(marrom para orgânico, vermelho para plástico, azul para papel, amarelo para metal
e verde para vidro.
Figura 46 – Lixeiro utilizado no projeto.
Fonte: Austrelino, 2018
64
Figura 47 – Tabela de memorial de mobiliário.
Fonte: Austrelino, 2018.
65
Em madeira também são as mesas e cadeiras nas áreas de permanência e o
mobiliário encontrado no playground, do mesmo modo compondo a estrutura do
redário. A madeira utilizada na produção, o eucalipto tratado, apresenta uma alta
resistência e durabilidade, além de ser uma madeira preservada, ecologicamente
sustentável e renovável.
4.2.7 Memorial botânico
Para o anteprojeto buscou-se a manutenção da maior parte das árvores
existentes, ponto inicial das vegetações deste e também proposição de novas
vegetações que agregassem ao ambiente.
66
Figura 48 – Tabela de memorial botânico.
Fonte: Austrelino, 2018.
Dentre as vantagens trazidas pela arborização, tem-se: o controle da
temperatura, um ar mais refrescado, filtração da poluição do ar, redução da poluição
67
sonora, sombreamento, aumento da permeabilidade do solo, valorização da
paisagem, fornecimento de alimentos, preservação da biodiversidade no meio urbano,
além da valorização do entorno.
Desta forma, a preservação da flora existente no trecho foi considerada como
ponto principal na composição da cobertura vegetal e a integração desta no espaço.
A área no qual foi desenvolvido o anteprojeto possui variedades arbóreas, e estas,
apesar de não serem parte da vegetação nativa (como contam os mais antigos
moradores), foram consolidadas nos últimos anos. Sendo assim, essa vegetação foi
mantida e compôs o projeto, proporcionando todos os benefícios citados
anteriormente, sendo o grande fator de sombreamento que se tirou partido.
À exceção das demais árvores existentes, como dito anteriormente, optou-se
pela retirada do Ficus (espécie existente), por conta dos prejuízos que este poderia
ocasionar no piso e nas encanações. Outras espécies foram pontualmente retiradas
para adequação dos usos do projeto, mas sempre buscando a implantação de novas
para o caso da retirada das existentes.
Entre a vegetação que compõe a proposta, a maior concentração está nas
extremidades do terreno e às margens do riacho Gulandim (Figura 49). Há em sua
maioria árvores frutíferas, como por exemplo a mangueira e a amendoeira, que são
as árvores em maior quantidade e de grande porte e que já existem no terreno.
68
Figura 49 – Área de maior concentração de vegetação.
Fonte: Austrelino, 2018.
Para as áreas de gramado do projeto, que funcionam também como limitantes
para a circulação, foi escolhida a grama esmeralda. Embora não seja a intenção neste
caso, é uma grama propícia ao pisoteio e pode crescer até 15 cm.
Para as proximidades das margens do riacho foi proposto um talude, que
também possui a grama esmeralda, pois esta tem a capacidade de segurar a terra,
ideal para este local.
Assim como a grama esmeralda, para o projeto também foram propostos os
agaves que ficam pontualmente compondo o paisagismo com a herbácea vedélia, que
faz parte da composição interna do trecho, bem como nas jardineiras das pontes-deck
e da parada de ônibus; e as arbustivas pingo de ouro e clusia, que foram escolhidas
para compor a cerca viva no entorno da quadra, postas de forma que se intercalam
sequencias destas.
Os jasmins de Madagascar estão dispostos nas pérgolas para ornamentação
e sombreamento, e por fim, também como ornamentação e sombreamento (do
estacionamento) foi proposto o ipê roxo, sendo esta cor escolhida por ser próxima ao
azul (cor escolhida para os detalhes que compõem o projeto).
69
4.2.8 Comunicação Visual
A partir da criação da identidade visual do projeto, para este foram
desenvolvidos três elementos (Figura 45) para a comunicação visual, sendo eles: um
totem de sinalização do trecho do riacho Gulandim, uma placa de sinalização para
cada um dos edifícios e uma placa de informação para o ponto de ônibus, nesta
mostrando quais linhas e itinerários passam pelo local.
Figura 50 – Elementos de comunicação visual criados para o anteprojeto (sem escala).
Fonte: Austrelino, 2018.
A sinalização é importante para a orientação das pessoas e identificação do
que elas tratam. Por estarem sujeitas às intempéries, pois estão localizadas em área
externa, para este projeto foi proposto a confecção dos elementos em chapa
galvanizada com pintura automotiva, cobertura em chapa galvanizada lisa e suporte
de madeira eucalipto. Para os textos, o alfabeto padrão em letra Arial, com caixa alta
70
e baixa. As cores utilizadas foram as mesmas que a identidade visual usa, cinza,
branco e azul.
71
CONCLUSÃO
Durante a elaboração deste trabalho, pode ser observado a relevância e as
inúmeras potencialidades que os espaços livres podem proporcionar, mas a não
valorização dos mesmos tem gerado locais com usos indevidos e/ou locais ociosos,
contribuindo assim com a segregação urbana e com a sensação de insegurança
nesses lugares.
Com base nos entendimentos citados acima, assimilados ao longo da produção
teórica deste Trabalho Final de Graduação (TFG), foi desenvolvido como produto do
presente trabalho um anteprojeto, buscando, a partir da conscientização da
importância desses espaços e com o conhecimento da realidade do local (através de
diagnóstico da área, aplicação e análise de questionário), apresentar propostas e usos
adequados para os espaços livres de um trecho do conjunto Santo Eduardo,
localizado no bairro Poço, na cidade de Maceió-AL, e assim proporcionar os
benefícios para os usuários, uma vez que as proximidades não atendem à demanda.
O anteprojeto produzido para o trecho soluciona os problemas que os espaços
livres do local possuíam, onde a requalificação se faz necessária, já que estes
espaços são articuladores nas cidades, são espaços de integração com o meio e com
os habitantes, podem proporcionar permeabilidade, contribuem com a qualidade de
vida e ainda possuem valor estético, quando bem projetados e conservados. O
anteprojeto soluciona também a questão da segregação e da insegurança por meio
de cercas vivas que funcionam como barreira, mas proporcionam permeabilidade
visual. Deste modo foi possível resgatar os valores modernos de quadras livres, do
período no qual o conjunto foi implantado, balanceando com as demandas de
segurança da contemporaneidade, equilíbrio pretendido no projeto.
Sendo assim, com este foi possível assimilar o valor dos espaços livres e a
necessidade de requalificação desses espaços, podendo as premissas serem
expandidas para todo o conjunto Santo Eduardo, bem como a requalificação de
parques, praças, ruas, quintais, pátios, calçadas, e etc., resultando na melhoria das
áreas como um todo, e em uma cidade que proporciona ambientes de qualidade para
sua população.
72
REFERÊNCIAS
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74
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75
APÊNDICE A
(QUESTIONÁRIO)
76
QUESTIONÁRIO
PESQUISA COM MORADORES DE TRECHO DO CONJUNTO SANTO EDUARDO – POÇO
Figura questionário – Trecho do Conjunto Santo Eduardo para pesquisa.
Fonte: Google maps, 2018, adaptada.
Obs.: (*) Exemplos de áreas livres
1- Faixa etária dos residentes do apartamento:
IDADE QUANTIDADE DE PESSOAS POR IDADE
( ) abaixo de 15 anos ( )
( ) de 15 a 25 anos ( )
( ) de 26 a 35 anos ( )
( ) de 36 a 45 anos ( )
( ) de 46 a 55 anos ( )
( ) acima de 56 anos ( )
2- Há quanto tempo é morador do Conjunto Santo Eduardo?
( ) de 1 a 10 anos
( ) de 11 a 20 anos
( ) de 21 a 30 anos
( ) acima de 30 anos
*
* *
*
* * *
*
77
3- Ponto de vista sobre a infraestrutura do Conjunto Santo Eduardo e
proximidades do Riacho Gulandim (trecho da imagem acima):
Calçadas BOM ( ) REGULAR ( ) RUIM ( )
Segurança BOM ( ) REGULAR ( ) RUIM ( )
Limpeza BOM ( ) REGULAR ( ) RUIM ( )
Iluminação BOM ( ) REGULAR ( ) RUIM ( )
Áreas de lazer BOM ( ) REGULAR ( ) RUIM ( )
Arborização BOM ( ) REGULAR ( ) RUIM ( )
Lixeiras BOM ( ) REGULAR ( ) RUIM ( )
Bancos BOM ( ) REGULAR ( ) RUIM ( )
4- Como usufrui das áreas livres que há nas proximidades de sua moradia?
Obs.: (*) Exemplos de áreas livres, imagem acima.
( ) Lazer ( ) Convívio ( ) Estacionamento
( ) Outros: _____________________________________________________
( ) Não usufruo
5- Quais locais costuma frequentar nas horas livres?
( ) Praças ( ) Shoppings
( ) Praias ( ) Bares e restaurantes
( ) Outros: _____________________________________________________
6- O que gostaria que fosse implantado nas áreas livres do Conjunto Santo
Eduardo e proximidades do Riacho Gulandim (trecho da imagem acima):
( ) Quiosques/ Food Truck ( ) Espaços de esporte
( ) Áreas de convívio ( ) Jardins
( ) Playground ( ) Estacionamento
( ) Iluminação ( ) Bancos
( ) Lixeiras
( ) Outros: _____________________________________________________
7- Para integração entre as edificações e as áreas livres em um projeto de
requalificação do Conjunto Santo Eduardo, seria favorável à retirada dos
muros?
78
Obs.: (*) Exemplos de áreas livres, imagem acima.
( ) SIM ( ) NÃO ( ) DEPENDE
Por que?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
79
APÊNDICE B
(PRANCHAS)
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