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antologia poética
jorge de lima
Seleção e posfácio fábio de souza andrade
15 poemas da infância
17 Eu queria saber versos
17 Minha madrinha Nossa Senhora
18 Benedito criado de meu pai
18 Tenho pena dos pobres, dos aleijados, dos velhos
18 O dia de hoje é o dia de anos
19 A serra de minha terra
19 Vi um menino cego
19 Moro em frente da Igreja
21 xiv alexandrinos
23 O acendedor de lampiões
25 poemas
27 O mundo do menino impossível
31 Bahia de Todos os Santos
37 g.w.b.r.
47 Mundaú
49 Painel de Nuno Gonçalves
54 Rio de São Francisco
62 Boneca de pano
63 Pai João
65 Santa Dica
69 novos poemas
71 Essa negra Fulô
75 Serra da Barriga
77 Comidas
80 Inverno
83 Madorna de Iaiá
85 Santa Rita Durão
87 Joaquina Maluca
88 Flos sanctorum
89 Cantigas
91 poemas escolhidos
93 Nordeste
94 Arranha-céu
95 Balada
96 Poema relativo
98 Felicidade
100 Poema do nadador
101 poemas negros
103 Passarinho cantando
105 Exu comeu tarubá
106 Ancila negra
108 Janaína
110 Xangô
113 Pra donde que você me leva
115 tempo e eternidade
117 Distribuição da poesia
119 A noite desabou sobre o cais
121 a túnica inconsútil
123 Onde está o mar?
125 O manto do poeta
127 O nome da musa
129 O grande desastre aéreo de ontem
130 Duas meninas de tranças pretas
132 A ave
135 anunciação e encontro de mira-celi
137 O inesperado ser começou a desenrolar as suas faixas...
139 Tu és, ó Mira-Celi, a repercutida e o laitmotivo
141 Acontece muitas vezes que a velha terra fendida de sepulturas
142 Mira-Celi é testemunha de que fui construído
143 Em tua constelação, várias de tuas irmãs não existem mais,
144 Mira-Celi e o herói
145 O avô tinha sido um ancião convencional,
146 Acontece que uma face
149 Mas acontece que fico muitas vezes
150 Sei que esperavas desde o Início
153 livro de sonetos
155 Os seus enfeites,
156 Sei teu grito profundo, e não me animo
157 Olhos, olhos de boi pendidos vertem
158 E são setas do céu (Ó sagitário!).
159 Se essa estrela de absinto desabar
160 A torre de marfim, a torre alada,
161 Sinto-me salivado pelo Verbo,
162 Depois vi o sangue coagular-se em letras
163 Não procureis qualquer nexo naquilo
164 O que há sob essa máscara é um pranto seco,
165 Como sombra invasora e transbordada
166 Quando tu dormes vêm as albergálias
167 Dormes. Surgem de ti coisas pressagas.
168 Nas noites enluaradas cabeleiras
169 Nas noites enluaradas as olheiras
170 Em que distância de hoje te modulo
171 Era louco e era poeta o sepultado.
172 Essa pavana é para uma defunta
173 Este é o marinho e primitivo galo
175 invenção de orfeu
177 canto i – fundação da ilha
177 Um barão assinalado
178 A ilha ninguém achou
179 E depois das infensas geografias
181 A proa é que é,
182 Na oscilação das noites e dos dias,
185 Há umas coisas parindo, ninguém sabe
186 A garupa da vaca era palustre e bela,
186 Desse leite profundo emergido do sonho
187 O céu jamais me dê a tentação funesta
189 Pra unidade deste poema,
192 Abrigado por trás de armaduras e esgares,
198 Sonâmbulas as flores
199 Há uns eclipses, há; e há outros casos:
200 Inda meninos, íamos com febre
200 Esquecidos dos donos, nós os bastos,
215 Nessa geografia, eis o pantomimo.
217 canto ii – subsolo e supersolo
217 É preciso falar-se das criaturas,
217 Vinha boiando o corpo adolescente,
218 Se me vires inúmero, através
220 Neste sepulcro de secreta lava
220 Ó Memória dos mares, Taprobana,
222 A mão de Orfeu, enorme destra
223 Existe um turno duplo (vos conjuro)
224 Os silêncios gritantes e os sóis mudos
238 Os jovens mortos tocam campainhas
239 Estavas linda Inês posta em repouso
243 canto iii – poemas relativos
243 Agora, escutai-me
243 Vós não viveis sozinhos,
245 Uma janela aberta
245 A sextina começa
247 A barba tão preta que era azul,
247 Contemplar o jardim além do odor
248 canto iv – as aparições
248 Um monstro flui nesse poema
249 Era um cavalo todo feito em chamas
249 Qual um fagote inúmero a ave aquática
250 Era um cavalo todo feito em lavas
251 Entre livro e cavalo o homem instalou
252 Vinde ó alma das coisas, evidências,
263 Intento contar logo
269 Nasce do suor da febre uma alimária
270 Eram harpas com asas as harpias
271 canto v – poemas da vicissitude
271 Que noite se condensa e que muralha
275 Há um céu áspero no colar de um sol,
276 Dos porões vem um cheiro à maresia
277 A estepe e a noite se deitaram juntas,
278 Os soluços da noite procuraram
280 canto vi – canto da desaparição
280 Aqui é o fim do mundo, aqui é o fim do mundo
280 Heróis existem os como:
282 Nem as boninas e outras flores nem
283 Um momento há na vida, de hora nula,
284 canto vii – audição de orfeu
284 A linguagem
284 Diante do que entrevi resolvi desdenhar-me
288 Maduro pelos dias, vi-me em ilha,
291 canto viii – biografia
291 [...] Nesse poema informe e sem balizas
304 canto ix – permanência de inês
304 Estavas, linda Inês, nunca em sossego
311 canto x – missão e promissão
311 Águas há subcelestes produzidas
313 Estava decorrido. E o remo leva-me.
318 Não a vaga palavra, corrutela
319 Pra conhecer a calma que há na vida
319 Agora tudo findo em guerra, em corvo,
329 Eis outro ser: (O sopro das cavernas
337 Ouvi já bastam: chuvas e cincerros,
342 Graças a vós ou não latentes causas,
354 No momento de crer,
357 arquivo
363 posfácio fábio de souza andrade
377 índice de primeiros versos
poemas da infância
17po
emas d
a infân
cia
Eu queria saber versos como o meu amigo Lau. Nunca vi versos mais belos como ele sabe lá.
Trocava até meu carneiro meu velocípede sim sem saber os seus versos meu Pai que será de mim?
Meu pai me bote na escola de meu velho amigo Lau quero aprender com ele versos e não b, a, bá!!!
(sete anos de idade)
Minha madrinha Nossa Senhora Está admirada de mim. Está me olhando agora Os olhos virados para mim.
(oito anos de idade)
18po
emas d
a infân
cia
Benedito criado de meu pai A ele chamam diabo Por ser preto esse rapaz Mas Benedito é meu amigo Por isto eu o bendigo E lhe digo muito ancho Benedito você é um anjo.
(oito anos de idade)
Tenho pena dos pobres, dos aleijados, dos velhos Tenho pena do louco Neco Vicente E da Lua sozinha no céu.
(nove anos de idade)
O dia de hoje é o dia de anos Da bela professora D. Moça Oh! Colegas alagoanos e pernambucanos Eu peço hoje que me ouçam. D. Moça é uma santa santa viva Seu marido João Marinho é S. José. Colegas neste dia de hoje tenham fé.
(dez anos de idade)
19po
emas d
a infân
cia
A serra de minha terra Sabe histórias de trancoso E histórias da negra guerra.
Quando eu for moço Irei lá para ver de cima O sobrado da família Lima.
(dez anos de idade)
Vi um menino cego Chorei por este menino. Minha tristeza não nego Vi um menino cego Choro por este menino.
(dez anos de idade)
Moro em frente da Igreja Vivo feliz com meus pais. Menino que mais desejas Quando entras, quando sais?
(onze anos de idade)
xiv alexandrinos
23xiv alexan
drin
os
o acendedor de lampiões
Lá vem o acendedor de lampiões da rua! Este mesmo que vem infatigavelmente, Parodiar o sol e associar-se à lua Quando a sombra da noite enegrece o poente!
Um, dois, três lampiões, acende e continua Outros mais a acender imperturbavelmente, À medida que a noite aos poucos se acentua E a palidez da lua apenas se pressente.
Triste ironia atroz que o senso humano irrita: – Ele que doira a noite e ilumina a cidade, Talvez não tenha luz na choupana em que habita.
Tanta gente também nos outros insinua Crenças, religiões, amor, felicidade, Como este acendedor de lampiões da rua!
poemas
27po
emas
o mundo do menino impossível
Fim da tarde, boquinha da noite com as primeiras estrelas e os derradeiros sinos.
Entre as estrelas e lá detrás da igreja, surge a lua cheia para chorar com os poetas.
E vão dormir as duas coisas novas desse mundo: o sol e os meninos
Mas ainda vela o menino impossível aí do ladoenquanto todas as crianças mansas dormem acalentadas por Mãe-negra Noite.O menino impossível que destruiu os brinquedos perfeitos que os vovôs lhe deram:
28po
emas
o urso de Nürnberg, o velho barbado jugoeslavo, as poupées de Paris aux cheveux crêpés, o carrinho português feito de folha de flandres, a caixa de música checoslovaca, o polichinelo italiano made in England, o trem de ferro de u.s.a. e o macaco brasileiro de Buenos Aires moviendo la cola y la cabeza.
O menino impossível que destruiu até os soldados de chumbo de Moscoue furou os olhos de um Papá Noel, brinca com sabugos de milho, caixas vazias, tacos de pau, pedrinhas brancas do rio...
“Faz de conta que os sabugos são bois...” “Faz de conta...” “Faz de conta...”
29po
emas
E os sabugos de milho mugem como bois de verdade...
e os tacos que deveriam ser soldadinhos de chumbo são cangaceiros de chapéus de couro...
E as pedrinhas balem! Coitadinhas das ovelhas mansas longe das mães presas nos currais de papelão!
É boquinha da noiteno mundo que o menino impossívelpovoou sozinho!
A mamãe cochila. O papai cabeceia. O relógio badala.
E vem descendo uma noite encantada
da lâmpada que expira lentamente na parede da sala...
Fonte fleischmann
Papel pólen soft 70 g/m2
Impressão geográfica
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